DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA Memóriase Notícias...Pinhal de Leiria — a que vai da Mina do Azeche...

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PUBLICAÇÕES DO MUSEU MINERALÓGICO E GEOLÓGICO DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA N.° 9 Memórias e Notícias COIMBRA TIPOGRAFIA DA ATLANTIDA 1936 Versão integral disponível em digitalis.uc.pt

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PUBLICAÇÕES DO MUSEU MINERALÓGICO E GEOLÓGICODA

UNIVERSIDADE DE COIMBRA

N.° 9

Memóriase Notícias

COIMBRA

TIPOGRAFIA DA ATLANTIDA

1936

Versão integral disponível em digitalis.uc.pt

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sar em Pataias, e voltando outra vez para oriente vai até ao vale do Valado.

O aparecimento de várias manchas do Secundário, quere no vale do Liz junto de Monte Real, quere na área que se estende para S W de Leiria até Pataias, quere ainda na costa do oceano, das Pedras Negras até quási à Nazaré, mostram que a disposição dos vários terrenos se não passou com a simplicidade atrás indicada, mas que intensos fenó­menos geológicos aqui se passaram, e, alterando a disposi­ção normal dos estratos, fizeram vir à superfície, através de formações mais modernas, terrenos que são da base do Secundário.

Paulo Choffat, eminente geólogo que estudou os nossos terrenos secundários e terciários, fez sobre esta região vários estudos desde 1880 até ao fim da sua vida, tendo ainda há pouco (1927) já depois da sua morte, sido publicados traba­lhos seus abrangendo esta região (1).

Em 1882 (2) descreve pela 1.a vez este geólogo uma série de importantes fenómenos que se passaram nesta região (e um pouco para o Sul), a que deu o nome de áreas ou vales tifónicos, por analogia com a lenda do Tifo ou Tifão que rompeu o ventre da mãi-Terra para nascer, pois que tam­bém aqui veem à luz as entranhas do princípio do Secundá­rio da Terra.

Diz este geólogo que em certas montanhas da Extrema- dura ao norte do Tejo, como no Monte-Junto e na Serra Rasa (3) de Leiria os estratos mergulhando para as duas

(1) Cartas e Cortes Geológicos — feitos debaixo da direcção de Paulo Choffat — Distrito de Leiria e Coimbra.

(2) Note préliminaire sur les vallées tiphoniques et les éruptions d’ophite et de teschenite en Portugal. Ext. da Bul. de la Soc. Geol. de France.

Posteriormente em Comunicações do Serviço Geológico de Portugal, tomo V, pág. 49 e seg., tomo x, pág. 159, tomo I, pág. 113.

(3) Serra Rasa chama êle à cumeada já gasta pela erosão que se entende de Leiria a Pataias.

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vertentes formam uma abóbada anticlinal mais ou menos regular cujo eixo ou parte central é formada por estratos de idade que varia do Liássico ao Jurássico superior, mas, nos pontos onde a erosão gastou esta abóbada não apare­cem os estratos imediatamente anteriores, mas outros mais antigos do Infraliássico ou mesmo do Triássico.

Fica assim a parte central formada por terrenos do Triás­sico ou Infraliássico, argilosos, sem estratificação clara, con­tendo muitas vezes gesso, lâminas de mica, havendo ainda às vezes cabeços de rochas ígneas tão características desta região, e de que voltaremos a falar adiante.

Os dois flancos do vale (pois que esta parte central foi em geral mais gasta pela erosão dos ribeiros e fica for­mando o fundo do vale) são formados por colinas calcáreas em geral do Jurássico superior.

Êste vale tifónico fica limitado por falhas quási verticais.A figura n.° 1, do mesmo autor representa esquemàtica-

mente uma destas áreas ou vales.

Vê-se no centro um cabeço de rocha ígnea tendo dum e doutro lado as margas Dagorda, argilosas (do Infraliássico ou Triássico) quási sem estratificação. Dentro destas mas­sas aparecem camadas calcáreas dolomiticas quási verticais do Infraliássico ou Sinemuriano (Liássico).

Veem por último, dum e doutro lado, as camadas calcá­reas do Jurássico superior, mergulhando para a parte de fora.

Nuns casos parece que os dois macissos laterais calcá­reos se enterraram provocando a subida da parte central, argilosa, com as massas ígneas. Noutros casos, como nos parece suceder em S. Pedro de Moel, o macisso calcáreo

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foi empurrado de fora, e escorregou por cima da parte argi­losa, como parece indicar um retalho do Jurássico superior, que na parte direita da figura assenta discordantemente sobre as margas Dagorda.

Nestas áreas costumam aparecer fontes sulfurosas ou salgadas, frias ou quentes, e às vezes depósitos metálicos.

Na figura n.° 2 vão representadas por li­nhas pontoadas as 5 áreas indicadas por Choffat, 2 das quais contornam a área que estudamos—a de Pa- taias a Leiria, e a de Monte Real a Monte Redondo, ficando uma terceira toda dentro do Pinhal de Leiria — a que vai da Mina do Azeche até ao Rio Tinto, na Ponte Nova.

Como tôda esta re­gião está coberta de areias as áreas tifóni- cas vão marcadas pelos cabeços de rocha que marcam o seu eixo. Alguns são bastante

altos, como o de S. Bartolomeu, perto da Nazaré, coroado por uma ermida donde se disfruta um panorama soberbo; como o de Leiria onde foi construído o Castelo, ou o de Monte Redondo, que deu nome à povoação.

Outros são baixos, mal afloram à superfície da terra como os que ficam no Pinhal entre a estrada da Marinha e da Ponte Nova, ao norte das Pedreiras, actualmente explorado para a construção de paralelipípedos para estra­das.

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São formados duma rocha holo-cristalina, nuns com o aspecto granitoide, como em Monte Real, noutros com grão muito fino, como em S. Pedro de Moel (junto do Eucalipal) e constituído essencialmente por plagioclase neutra, e augite, pelo que lhe atribuímos o nome já dado por Carlos Ribeiro, o fundador da geologia portuguesa, de dioritos de augite com textura um pouco ofitica.

Picos tão altos como o de S. Bartolomeu, mostram bem que estas massas que romperam a crusta da terra, não se espandiram ao ar livre, duma vez só, ou dum jacto nem viriam no estado partoso que tinham no interior da terra. Foram pouco a pouco subindo já perfeitamente sólidas e frias na sua parte superior, obrigados por uma pressão pro­funda, de origem ainda hipotética, que, à medida que ia actuando sobre o magma, o obrigava a romper pelos pontos mais fracos da crusta.

Nalguns cabeços êste magma ainda quente, no interior, metamorfisou o calcáreo, como se vê no cabeço de Fama- licão onde êle está transformado quási em mármore preto.

Quando se deram estas erupções?Choffat procurando responder em 1884 (1) a esta pre-

gunta estudou um vale tifónico do Rio Maior e provou que êle se formou depois do depósito do calcáreo lacustre ter­ciário (Miocénio), supondo ainda que foi nesta altura que os dioritos romperam até à superfície da terra.

O problema é difícil de resolver porque a nossa região, coberta de areias pliocénicas, e em parte quaternárias não deixa ver bem as relações entre as várias camadas, e tem sido poucos os jazigos de fósseis encontrados.

Antes de entrarmos nesta questão vejamos como aquêle geólogo classificou as rochas da região de S. Pedro de Moel (2), que é uma área tifónica, como vamos ver:

(1) Comunicações, tomo pág. 118.(2) Comunicações, tomo v, pág. 70.

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DESCRIÇÃO DA COSTA

A praia larga e toda de areia que vem já desde a Praia da Vieira, na foz do Liz, começa a mudar de aspecto nas Pedras Negras, formadas de margas escuras, e avermelha­das, contendo bastantes placas de gesso e fósseis.

São as margas Dagorda, do Infraliássico, as mais antigas da região, (da base do Secundário) e que só voltam a apa­recer num poço a 1.000 m. a NE de S. Pedro, e lá para o Sul, na Mina do Azeche, a 8 quilómetros de S. Pedro. São estas rochas que veem acompanhadas pelos afloramentos dióticos, tão abundantes entre a região da Ponte Nova e nas Pedreiras (Velhas) da estrada da Marinha.

Nesta mesma região aparecem várias pedreiras de cal- cáreo margoso, umas vezes todo triturado como se vê no Canto do Ribeiro e um pouco mais a montante e junto do Eucalipal, outras vezes em estratos delgados que estão sendo aproveitados para a construção de estradas da região, apesar da sua pouca resistência. O rochedo da N. Sr.a da Vitória (figura n.° 3), ao Sul, forma um pequeno cabo a que chamam Castelo, e é constituído também por cal­cáreos do Infraliássico e dolomias já do Sinemuriano infe­rior.

A praia para o Sul das Pedras Negras começa a ser limitada a oriente por um levantamento da costa que o ribeiro corta (figura n.° 4), junto da sua foz, passando a chamar-se a Praia Velha.

O vento, arrastando as areias do Norte tapa de vez em quando o ribeiro, obrigando-o assim a procurar saída mais ao Sul, e alargando a praia, emquanto a natureza do terreno, lho permitiu, até ao Penedo do Cabo, uma escarpa calcárea de 3o m. de altura que termina pelo Sul esta praia.

Aqui os estratos do calcáreo dolomítico quási verticais, mergulhando para o mar, com muitos fósseis são do sinemu­riano médio.

Esta parte da costa é uma planície de abrasão marinha

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cõ casais da Vieira e da Pasagem 30. Monte Reall tem 19 vizinhos. . ..

Outro termo de Leiria... os casais da Marinha e Sãta Maria de Leiria e da Gorneganha 8.

A vila de Alcobaça... Aldeia de Pataias tem 11. Aldeia do Barbas 9.

Segundo Fortunato de Almeida (História de Portugal, Tomo iv, Pag. 246) devemos atribuir o valor médio de 4 habitantes por casal, ou fogo, que é o mesmo que vizinho. A 1.a Marinha deve corresponder à hoje chamada Marinha Pequena, a 2.a à Marinha Grande, e a 3.a à outra povoação para o norte de Leiria.

Como em S. Pedro de Moel não haveria mais que 4 fogos, e 0 Casal de Álvaro Gil era tão pequeno que se perdeu a sua tradição, ficam para a Marinha Grande e a Coucinheira (hoje uma aldeia) situada ao sul, cêrca de 60 habitantes.

No Manuscrito n.° 5o3 da Biblioteca da Universidade de Coimbra «Notícias remetidas à Academia real debaixo da real protecção do mui alto e muito poderoso Rei N. Snr. D. João 5.° — Leiria, 1 7 2 1 — O Provedor da Comarca Brás Raposo da Fonseca», na folha 10 : Algumas notícias da quali­dade e abundância dêste Bispado — diz que ha neste Bispado 46 freguezias, cinco vilas, Ourem, Porto de mós, Batalha, Alpedriz e Aljubarrota, e uma Póvoa a que intitulam vila de Monte Real por privilégios de EIRey D. Denis que naquele assistiu e a Rainha Santa Izabel, onde ainda aparecem ves­tígios do Paço, que na mesma edificou uma ermida dedicada à mesma Rainha Santa.

Diz ainda que é tradição desta Póvoa que, assistindo nela, o dito Rei mandou semear todos os matos que havia desde a lagoa da Sapinha, até ao lugar da Vieira, de pinhões bravos, região que constitue hoje uma das grandes propriedades dos reis de Portugal, e chamam-lhe o Pinhal de Elrei. 'Tem de comprido 3 léguas grandes, da lagoa da Sapinha até ao dito lugar da Vieira e de largo légua e meia começando no lugar da Marinha até ao mar com o qual confronta. Tem por dentro vários ribeiros entre os quais o maior se chama de Moel que

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principia na dita lagoa, e se vai meter no mar no sítio onde chamam o Cabo, que dista meia légua do sítio de S. Pedro de Moel, Ermida a que concorre muita gente em romaria.

A folhas 47 diz que a vintena da Marinha é situada ao sul, com 5o vizinhos, onde há uma igreja da N. S. do Rosá­rio, a aldeia da Garcia ao norte com 3o vizinhos, com uma capela de Santa Barbara, o lugar de S. Pedro de Muel com uma igreja do mesmo santo junto ao mar, com 4 vizinhos, uma aldeia chamada Marinha Pequena ao nascente com 24 vizinhos.

Diz mais que a vintena da Moita está ao sul e tem 11 vizi­nhos, com uma capela de S. Silvestre; lugar da Martingança ao nascente, com 13 vizinhos, lugar de Pica Sinos à mesma parte com 13 vizinhos. Lugar da Ordem ao norte com i3 vizinhos. Lugar do Torneiro ao poente com 4 vizinhos. A vintena da Vieira tem 100 vizinhos. Folha 147 v. — diz que a aldeia de Pataias tem 45 vizinhos.

Tendo verificado que já no princípio do século xvi exis­tiam várias povoações com nome de Marinha estudamos com cuidado a Carta Corográfica de Portugal de 1:100.000, daquela região, e verificamos que muito perto da curva de nível de 75 do vale do Liz se encontram 7 povoações com aquele nome:

Ao sul: Marinha Grande e Marinha Pequena.A oriente de Monte Real, Marinha João da Rua.A oriente de Monte Redondo, Marinha do Engenho.A 9 quilómetros mais ao norte, Marinha.Outros 9 quilómetros mais ao norte, Marinha das Ondas

e Marinha de Baixo.Noutros tempos a palavra comum marinha não significava,

como hoje, o local onde se faz o sal (1), mas a parte baixa, junto do mar ou do rio. A primeira vez que encontramos esta palavra aplicada a povoação é em documento de 1258 (2).

(1) Ver Portugalia Monumenta Histórica — Diplom. et chartae. Doc. n.o 341 de 1045, relativo a Leça, «damus vobis nostras salinas cum sua vita ve tallios in illa marina » e outros.

(2) In Inquisitiones (Port. Mon. Hist.) a pág. 459 referindo-se a uma povoação ao norte do Porto, a que chama marinas.

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Estes factos levam-nos a formular uma hipótese, que expli­caria a situação de tantas Marinhas. Bastava que o nível da região estivesse cêrca de 75 metros mais baixo que hoje, para todas essas povoações ficarem junto da costa.

Como a palavra marina é de origem latina, devíamos supor que as povoações existiam ou foram fundadas no tempo dos romanos, tempo em que um braço do mar chegava à actual curva de 75 metros de cota.

O Dr. Manuel Heleno no seu já citado estudo sobre anti­guidades de Monte Real, com 97 páginas, conclue que aí havia uma numerosa população neolítica, e que pelos séc. 11 e III da era de Cristo, se prestou aí culto à Deusa Fontana.

Vimos já pela moeda de Teodósio I que no séc. iv de Cristo, a região era frequentada, e teria a mesma cota de hoje, com a queda para o moinho, em S. Pedro de Moei.

Devemos porisso excluir a hipótese da região ter baixado depois do séc. iv, para estar já de novo levantada quando D. Afonso Henriques construiu o castelo de Leiria, em Terra deserta (1). Note-se que êste abaixamento teria reduzido Leiria a uma pequena ilhota.

Mesmo êste intervalo de tempo era muito curto para uma deslocação tão grande de nível, e era pouco provável que voltasse à posição anterior, como exige o moinho de S. Pedro de Moel..

Só nos fica pois o intervalo de tempo que vai entre os tempos neolíticos e o séc. II da era cristã.

Teria sido nesta altura que a região abateu, tendo os romanos que aqui chegaram, no séc. II antes de Cristo, achado a costa na actual curva de nível de 70 metros ?

Ainda durante o domínio dêste povo, até ao séc. 111 de Cristo ter-se-ia a região levantado até à altura que aproxi­madamente tem hoje.

(1) O Sr. José Saraiva (Monumentos de Portugal, Leiria) não acre­dita na autenticidade do foral de D. Afonso Henriques em que diz ter fun­dado Leiria em terra deserta, e supõe que há entre Collipo e Leiria um grande intervalo de tempo em que se perdeu a memória da cidade romana.

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Êste intervalo parece-nos também muito pequeno para tais movimentos, e teríamos de supor a região muito povoada.

Não se vê porisso meio de aproveitar esta hipótese.Tantas povoações com a mesma cota, e com o mesmo

nome, também se não pode explicar pelo acaso.Para o caso da Marinha Grande e Marinha Pequena, pode­

ríamos supor que, como relativamente a Leiria eram povoações que ficavam para o lado da costa, daí viesse a sua designação.

Há no norte do País outra povoação com o mesmo nome: uma no concelho de Espozende (já citada) e outra no de Vila Nova de Gaia, ambas perto do mar. Neste sentido emprega o Dr. Amorim Girão, no seu já citado «Esboço duma carta regional de Portugal» pág. 80 a mesma palavra — «Beira Alta e a Beira Litoral (a Serra e a Marinha, no dizer do povo)».

POPULAÇÃO DA MARINHA GRANDE

E’ interessante ver como a população da freguesia tem aumentado quási numa progressão geométrica, devido prin­cipalmente à indústria do vidro.

Depois do estabelecimento aí da fábrica de vidros em 1748 a população dobrou, devido à imigração que para aí se estabelece. Para ver como é grande a corrente imigra­tória note-se o que diz o censo da população do País em 1900 onde cêrca de 10% não nasceram na freguesia, havendo ainda 16 estranjeiros.

Resumo da população da freguesia.

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Em 1930 há :

NOTA FINAL

Durante a impressão do presente trabalho comunicou-me e Sr. Reginald Cox que se crê hoje, em virtude dos últimos estudos, que não há entre o Plaisanciano e o Astiano mais que uma diferença de facies. A ser assim, não há entre os jazigos indicados grande diferença de idade.

Devemos no entanto notar que, no nosso caso, o jazigo da Mina, indicado como astiano nos parece posterior aos outros, Este facto e a grande espessura da camada de areias que há por cima destas camadas, no Castelo da N. Sr.a da Vitória, levam-nos a supor, como atrás fica dito, que os movimentos que elevaram as ditas areias à altura que hoje teem foram relativamente recentes.

J. Custódio de Morais.

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