Dados Biográficos de Famílias de Lavras

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Cândido Acrísio Costa Gente da Gente Dados Biográficos de Famílias de LAVRAS ( V. ALEGRE E CEDRO Fortaleza - Ceará - 1974

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Conheça um estudo aprofundado da genealogia das famílias de Várzea Alegre e Cedro, no Ceará.

Transcript of Dados Biográficos de Famílias de Lavras

  • Cndido Acrsio Costa

    Gente da Gente

    Dados Biogrficos de Famlias de LAVRAS ( V. ALEGRE E CEDRO

    Fortaleza - Cear - 1974

  • 9 HONRA AO MRITO

    CORONEL CELSO VIANA DE ARAJO - Eng.-Militar, Com. do 4 Batalho de Engenharia de Construo. DR. EUDES OLIVEIRA - Juiz Federal do Trabalho - prefaciador deste 1ivro... DR. JOO VIANA DE ARAJO - Deputado estadual por 3 legislaturas e colaborador deste livro. DR. OBI VIANA DINIZ - Prefeito atual de Cedro pela segunda vez, e Deputado em duas legislaturas. Grande colaborador de GENTE DA GENTE. SR. RAIMUNDO VIANA DOS SANTOS - Amigo e grande entusiasta do nosso livro SR. ANTNIO GONALVES VIANA - Batalha.dor e cooperador incondicional de GENTE DA GENTE. SR. ANTNIO VALDER VIANA - Batalhador e cooperador in condicional de GENTE DA GENTE. SR. CELSO ALVES DE ARAJO E SILVA - Patriarca da famlia e grande chefe poltico em Cedro. Forte entusiasta do nosso livro e amigo do Autor. DR. ANTNIO BITU DOS SANTOS - Mdico famoso e meu amigo incondicional!... DR. CANDIDO JOS DA COSTA - Primeiro mdico filho do Cedro, meu primo e amigo!... DR. JOS BEZERRA VIANA - Advogado dos mais competentes e amigo muito sincero do tio e autor. SR. VICENTE BALBINO DINIZ - Her~ pai de 18 filhos. Ele sabe que a perseverana a porta do sucesso! . SR. JOSU ALVES DINIZ - Primo e amigo certo, das horas incertas, que deu apoio ao livro GENTE DA GENTE. SR. SALUSTIANO GONALVES MOURA - Sinceridade personificada, primo bom! MANOEL VANDIR VIANA - O grande amigo do tio - eu mesmo - Acrsio. SR. LUIZ GONZAGA DE MOURA - Honradez, trabalho e muita perseverana. DR. JOAQUIM ELLERY DINIZ - Um benemrito que merece a nossa estima! SR. FRANCISCO SILVE IRA DE AGUIAR - Entusiasta de GENTE DA GENTE. SR. PLACIDO GONALVES VIANA - Irmo do autor, que concordou com a publicao deste livro.

  • 10

    Ao genro amigo:

    Dr. Eudes Oliveira

    E s noras:

    Alda Fernndez Costa Simone de Frana Costa Rosa Rosa de Lima Gonalves Costa Dulce Maria Bezerra Costa Maria Cira Coutinho Costa

    a nossa elevada estima e considerao.

    HOMENAGEM PSTUMA:

    Aos queridos pais e sogros, de saudosas memrias:

    Ant6nio Guedes Viana Antnia Cndida Costa Joo Gonalves Dino nsia Beronsia de Carvalho Dino

  • 11

    A Francisquinha

    _ esposa querida, este trabalho, minha estima e eu...

    A tia Gonalves Viana, irm do meu pai e irm da minha me, - minha dupla estima

    Aos queridos filhos:

    Joo Alverne Costa Pricles Gonalves Costa

    Antnio Ruy Costa Victor Hugo Costa

    Jos Bonifcio Costa Maria Terezinha Costa;

    fonte de inspirao e encorajamento nossa luta, a eles, oferecemos este trabalho, o nosso

    imenso amor e ns...

  • 12

    QUEM CANDIDO ACRSIO COSTA

    Agrada-me. Sem dvida, dar aqui oportuno esclarecimento, no que diz respeito ao meu sobrenome COSTA, ao invs de VIANA. Na verdade, sou neto de JOAQUIM GONALVES VIANA e filho de ANTNIO GUEDES VIANA, personagens que serviram de fontes de referncias s indagaes dos acontecimentos, de antes e depois, para a narrao da histria de "GENTE DA GENTE". Portanto, est visto que sou puramente VIANA!

    Fui, todavia, o herdeiro na pia batismal do nome do av materno, CNDIDO JOS DA COSTA, da a origem do meu sobrenome COSTA, - como era na poca. Neste ensejo, o autor faz veemente apelo a todos os seus componentes vivos aqui cadastrados a conhecerem a histria e origem de sua gente!

  • 13

    P R E F C I O

    Somos um povo de pouco amor tradio. Por temperamento, talvez, ou por pouco amor ao passado, ignoramos a histria da terra, do. nosso povo, das nossas famlias. Nossas origens familiares ficam esquecidas, ou apenas anotadas na memria de alguns membros. mais velhos. Os nomes dos grandes personagens que construram o Cear, o nome e a fora da terra, descoloram-se em placas de ruas e logradouros, ou em esttuas que perdem aos olhos do povo o primitivo sentido de reconhecimento e perenizao patriticas. A famlia , no uma clula, mas um rgo, s vezes muito considervel do organismo social. Estudar uma famlia desde suas origens mais remotas estudar a histria vvida de um Estado: princpio j antigo que do estudo do passado emergimos para um conhecimento mais claro do presente. Para maior mrito de nossas letras, ultimamente renasceu entre ns o gosto por tais estudos histricos. Neste novo surto intelectual, Nertam Macedo desponta, estudando a histria de grandes e tradicionais famlias do Cear... Seguindo este fluxo literrio, aparece-nos agora Cndido Acrsio Costa, heroicamente, com seu Gente da

  • 14Gente, onde estuda, desde muitas geraes passadas, o evoluir das famlias VIANA, DINIZ, SANTOS, COSTA ARAJO e BEZERRA, oriundas dos sertes de Lavras, Cedro e Vrzea Alegre. um trabalho louvvel, feito base de demoradas indagaes e juntando ao mrito da pesquisa, a graa de um estilo despretensioso, mas vivo, alegre e agradvel. Atravs dele, dezenas de pessoas atentaro para esquecidos laos sanguneos, e em decorrncia renascer, para os membros da famlia, a unio e a fraternidade. Para os estranhos se apresentar um longo trato da histria de importante zona geo-econmica do Estado, pontilhada do colorido de interessantes incidentes da vida familiar. H escolas sociais que negam o valor histrico decisivo das personalidades. Somos contra tal pensamento. A vida, o valor, as decises do indivduo, fazem a histria embora sob o controle inarredvel das infra-estruturas que o condicionaram. E quantas modificaes histricas no nascem de pequenos acontecimentos sociais, como um casamento, uma viagem,uma doena? Apresentamos portanto ao pblico este valioso trabalho de Cndido Acrsio Costa - que nos mostra a fascinante saga de um cl, de uma famlia que na sua irradiao biolgica e social fez histria em Cedro, Vrzea Alegre, Lavras, e enfim.,no Cear.

    Fortaleza, maio de 1973

    EUDES OLIVEIRA

  • 15

    A P R E S E N T A O

    Minha gente, no tive a pretenso de apresentar uma obra erudita, mas to-somente a histria real da Gente da Gente. Aos familiares, parentes, amigos e dignos conter-rneos dos municpios: - LAVRAS DA MANGABEIRA, VARZEA ALEGRE e CEDRO, tenho o prazer de apresentar esta histria real, da descendncia da numerosa famlia que na verdade representa hoje poderosa parcela dos habitantes dos trs municpios acima citados. Situados no sul do Cear, em zona frtil da regio do Cariri, onde a densidade demo grfica se faz sentir com maior eficincia, tanto pelo nmero de habitantes como tambm pelo elevado ndice do poder econmico e cultural, em toda a sua vasta rea. Gente amiga, compreensiva e boa, pensei de incio deixar mesmo com vocs a tarefa de julgamento do meu despretensioso e modesto trabalho. Todavia, tirei a concluso de que realmente vocs me merecem o maior respeito, e da, o dever que tenho de apresentar esta nota de esclarecimentos. Portanto gente quero advertir a todos, que no se trata de uma obra de erudio ou de ensinamentos, mas sim, da

  • 16narrativa histrica, de cunho verdico, de uma famlia de 300 anos de existncia, da qual sou parte integrante. No foi fcil porm identificar todas as ovelhas do grande rebanho humano, pois existem muitas desgarradas e em lugares ignorados. Houve outrossim incompreenses por parte de muitos amigos a quem recorri, pedindo-Ihes informaes, como valiosas colaboraes e, por falta de boa vontade, me foram negadas!... Da o meu sincero pedido de desculpas, a todos os descendentes dos mesmos troncos, que no tiveram aqui o registro dos seus nomes, como foi o meu grande desejo, para a apresentao de um trabalho completo e perfeito. Porque na verdade o principal objetivo desta obra simples, composta to-somente desta gente boa da gente, foi sem dvida no sentido de se lanar um veemente apelo a todas as clulas vivas individualizadas, - razes, galhos e ramos, procedentes dos mesmos troncos, para que, pelo amor de Deus, no esqueamos jamais, (tambm em nossas oraes) daqueles que nos deram oportunidade doce vida, muitos anos de carinho e paternal amor!. . . Vamos em frente, e de agora em diante, todos juntos, elevemo-nos categoria e dignidade de bons irmos, herdeiros que somos do mesmo sangue e companheiros dos mesmos caminhos. Faamos pois, com que o passado, o presente e o futuro, se abracem e se apertem as mos para sempre e que deste amplexo, venha surgir outros livros, perpetuando-se assim, no tempo e no espao, a grata lembrana dos nossos antepassados. A base est lanada.. Aos meus netos, de tendncia para a literatura, histria real, romance, contos e lendas, autorizo a continuao deste livro. E agora, com a vida moderna, e o desenvolvimento cientfico atual e futuro, interessante confrontar, com a vida dos nossos tetravs, que desconheceram trem, automvel, avio, rdio e televiso!... O neto Francisco Saulo Costa Oliveira, que es-critor nato, de admirvel vocao romntica, conforme atestam suas fabulosas descries escolares, forte cndidato!...Com 11 anos, cursando o 3.0 ginasial, est claro, inspira confiana ao seu vov Acrsio. No lhe falta muito, para atingir a galeria

  • 17do gnio jovem, que o Brasil precisa!... O Dr. Eilson Oliveira, mdico de elevada cultura, tio do Saulinho, e gosta de extasiar-se diante do conhecimento geral do garoto prodgio! E entra ento, em dilogo, faz perguntas, apresenta-lhe testes sobre a histria antiga do Egito, e o Saulo responde tudo e faz divagaes a respeito das respostas certas etc E o Eilson faz-lhe esta pergunta: - por que os antigos egpcios pintavam as mmias de dourado? E o Saulo hesitante pensou um pouco e saiu-se com esta: ah .... o tio, em nosso estudo, no descemos ainda a estes detalhes fnebres!. Isto apavorante para um aluno de minha idade! ... . o E o tio riu gostosamente, pela evasiva to ardilosa do sobrinho. Quando o Saulo matriculou-se no Colgio Cearense, tinha 11 anos e tranqilamente obteve aprovao para o 3. Ginasial. . o Vem no dia seguinte para aula e quando entrava no salo do 3. ano, foi logo obstaculado por um rapago, que interrogava ao Saulo: menino voc sabe que classe esta? E ele: bvio e patente que sei! E o rapaz em tom de mofa, diz para os colegas: vejam, e aponta para o Saulo: - disse que bvio e patente, que esta a classe dele ... E o Saulo: claro, eu no ousaria penetrar neste salo, se no fosse minha classe - o terceiro ginasial! ...E os rapazes se entreolharam pasmados! ...

    Fort., maro 1974 O AUTOR

  • 18

  • 19I N T R O D U O

    A histria que apresento neste trabalho, est na verdade vinculada aos trs importantes municpios do sul do Estado do Cear, qual sejam: Vrzea Alegre, Lavras e Cedro, interligados territorialmente e por laos familiares entre suas populaes. E como o municpio do Cedro novo, em relao aos outros dois, necessrio que, antes de entrar no mrito da histria, na pesquisa dos fatos e no cadastramento das famlias, objetivos principais do livro, seja dado a conhecer algo no que diz respeito antiga Fazenda, ao Povoado, Vila e mais tarde importante Cidade do Cedro. E como este municpio, por motivos bvios, tornou-se a sede da famlia, objeto deste livro, interessante que a jovem guarda do embalo e da pesada conhea os fundadores, os lderes e benfeitores de sua cidade natal - o Cedro!

    Iniciando com:

    UM PREITO DE SAUDADES A JOO CNDIDO DA COSTA FUNDADOR DA CIDADE DO CEDRO

    O comeo da histria do Cedro fazenda e do Cedro cidade. Cedro fazenda, era a propriedade agropastoril do meu tio Joo Cndido da Costa. Foi ele tambm meu padrinho de

  • 20batismo e por sinal muito estimado por mim e pela famlia em toda sua vida, pois na intimidade foi sempre tratado por "Joozinho".

    Uma surpresa para muita gente: - a Fazenda Cedro, foi comprada por Joo Cndido, a conselho do Padre Ccero Romo Batista, sabia, gente? Por sorte, temos ainda, uma testemunha de vista, cuja palavra uma consagrao da verdade em qualquer instncia! Ela no outra, seno, Maria Gonalves Viana, a querida Tia Gonalves, que contava na poca 15 anos e era linda, linda! A propriedade pertencia ao Sr. Loureno Cansano. Joo Cndido era um homem bom, inteligente e idealista, que sempre sonhou com posio social elevada, conseguindo-a na verdade, graas ao surgimento da importante cidade do Cedro, da qual foi o fundador, chefe natural do lugar e prefeito eleito do municpio. Teve rpida ascenso social e foi de marcante personalidade na recuada poca do amanhecer deste sculo.

    Havia apenas duas casas na Fazenda Cedro. A casa grande, no cimo do morro, tinha uma janela e 3 portas, sendo 2 de frente e a outra de lado, que dava entrada para um salo novo, que no incio serviu de igreja para a vila que surgia. A casa tinha a frente caiada, que era luxo na poca; alpendrada e com um gradil de madeira (parapeito) circundando o dito alpendre, tendo um portozinho de entrada ao lado, junto parede do oito sul, que depois foi mudado para a frente, at hoje. Ao lado norte da casa, havia 2 grandes umbuzeiros e mais 2 ps de cajaranas, muito frondosos e que davam frutos a valer... Era muito bonito o panorama que do alpendre da casa se nos oferecia, vendo-se l embaixo um vasto e cerrado carnaubal, de folhas em forma de leques tremulantes, apontando e acenando para o cu, como que agradecendo a Deus pela beleza da paisagem.

    E bem no sop do morro, corria o riacho Vaca-Brava, cruzando o caminho que dava acesso casa, subindo forte

  • 21ladeira at o p da calada. Havia outrossim, na passagem do riacho, um frondoso umarizeiro, debaixo do qual, tomvamos banho, nos anos de 1910 a 1912, em trajes de Ado a rigor, eu e os meus primos, Francisco Costa e Cndido Jos da Costa. O primeiro reside aqui em Fortaleza; competente contabilista aposentado; e o segundo, trata-se de famoso mdico, residente em Belo Horizonte, Minas Gerais, ambos filhos de Joo Cndido, o proprietrio da antiga fazenda Cedro.

    E continuando a descrio: - ficava l mais ao meio do carnaubal, a casa do solitrio vaqueiro da fazenda, um senhor de muita confiana de nome Firmo. No esqueo a casa simptica da Fazenda Cedro, (ainda existe) de onde se descortinava um lindo tapete verde, formado pelo copado balouante do carnaubal, que visto do alto, soprado pelo vento, dava a viso perfeita de uma grande toalha esmeraldina, estendida naquele pedao de cho, preservado por Deus, para surgimento da grande cidade, que eu vi nascer e crescer, servindo mais tarde de meu ninho de amor e bero, onde nasceram todos os meus filhos!. . ..

    E agora peo a ateno dos leitores para um fato notvel, relacionado com o aparecimento da cidade de Cedro. Trata-se de um pronunciamento do Padre Ccero Romo Batista (meu Padrinho Ccero) naturalmente por inspirao divina, quando ele regressava de Roma no ano de 1900 e descansava na casa da Fazenda Cedro. Foi um fato verdico assistido por todos da comitiva e uma narrativa do meu saudoso pai, Antnio Guedes Viana, que assistiu pessoalmente ocorrncia naquele dia, na Fazenda Cedro. Aconteceu no ms de maro, do ano de 1900, portanto ao amanhecer deste sculo, quando Joo Cndido da Costa, proprietrio da fazenda, foi surpreendido, em sua casa, por uma ilustre comitiva, composta de vrios cavaleiros, que pedia rancho para descansar da fadiga do sol quente do meio dia e almoar.

  • 22 Era o estimado e venerado Padre Ccero Romo Batista, que regressava da sua longa viagem de Roma, rumo ao Juazeiro a cidade que ele fundou com todo carinho.

    A notcia de que o Padre Ccero estava na casa de Joo Cndido, correu clere pelas fazendas vizinhas. E dada a importncia da informao, houve grande afluncia de gente, pois, j naquele tempo, se falava de virtudes sobrenaturais do Padre Ccero!. ... Redes foram armadas na sala e no alpendre da casa, para maior descanso do pessoal, sendo servido mais tarde abundante e saboroso almoo!

    s 3 horas da tarde, recomeou a arrumao para a lenta e enfadonha viagem a cavalo, para o Juazeiro, a cidade do Padrinho Ccero: No momento da partida, quando j o nmero de visitantes era grande, o Padre Ccero, em p, colado grade do alpendre, olhando longe, assumiu posio imponente do Bem-Aventurado e solenemente levantou e estendeu o brao direito em direo ao carnaubal, l embaixo, benzendo-o majestosamente, pronunciando em voz baixa as palavras rituais do ato da santa bno. Foi a ento que aconteceu o mais importante: quando a assistncia ali presente, fazia silncio absoluto, todos ouviram muito bem, aps a bno, o Padre Ccero, como que, em estado de xtase, falando a ss, com palavras pausadas e cheias de encantos, sem no entanto se dirigir a ningum, dizia serenamente, - que ali ainda havia de surgir uma cidade! Os assistentes se entreolharam espantados, mas sem comentrios, sobre o que acabavam de ouvir.

    Todavia, depois que o Padre Ccero, do alpendre da casa de Joo Cndido, benzeu a Fazenda Cedro e o carnaubal, a notcia se espalhou por toda a redondeza, que meu Padrinho Ccero, alm de benzer a Fazenda, profetizou que ali, futuramente, seria uma grande cidade! Isso ocorreu no longnquo ano de 1900 e somente em 1913 Joo Cndido recebia a segunda grande surpresa, em sua vida tranqi1a de

  • 23fazendeiro. Chegava ali um ilustre Engenheiro de nome Dr. Zabulon, com uma turma de operrios, (chamados na poca de cassacos), abrindo a picada para a construo da via frrea, que teria de passar na propriedade de Joo Cndido, que a esta altura dos acontecimentos, j no tinha mais dvida sobre a previso do Padre Ccero. O engenheiro Dr. Zabulon, foi recebido condignamente, teve a melhor acolhida e lhe foi dado o maior conforto possvel.

    No tardou que Joo Cndido, verdadeiro fidalgo no modo de tratar indistintamente as pessoas, qualidade que sempre lhe foi peculiar, se tornasse logo credor da boa amizade do engenheiro Dr. Zabulon e se constitussem dois bons amigos.

    Da em diante, tudo foi fcil para Joo Cndido, que aceitou sem restrio o resultado do primeiro estudo topogrfico do engenheiro, que dizia respeito necessidade do desvio do curso natural das guas do riacho Vaca Brava, para dar lugar passagem por ali da via-frrea, construo da estao e automaticamente da cidade. E ento, foi logo construda a grande barragem, com quase um quilmetro de extenso, que recebeu o nome de "desvio", at hoje, embora deficiente!...

    E comeou nos idos de 1913, o povoamento da Fazenda Cedro, que foi na verdade como uma bomba, em termo de exploso demogrfica, porque crescia do dia para a noite, o nmero de casas e ruas dentro do carnaubal, que dava lugar vila que nascia. A esta altura, j se destacava a notoriedade do nome de Joo Cndido, como proprietrio e fundador do lugar, que de incio recebeu o nome de "Cedrinho de Acar" pelos habitantes da poca, como um atestado da bondade e da atrao do lugar. . . Foi exatamente neste tempo, que o nome de Joo Cndido projetou-se rapidamente no cenrio da regio, atingindo o pice do prestgio social local, porque era ele a nica autoridade para resolver todos os casos! De imediato

  • 24foi cognominado de Coronel Joo Cndido, pelo aglomerado de gente, que aumentava dia a dia. E ele ento achou de bem convidar os familiares e os seus amigos, para juntos planejarem e construrem a cidade que a est!. . .

    ANO DE 1913

    Os primeiros familiares convidados por Joo Cndido, para construrem a cidade do Cedro, no ano de 1913, poca da construo da ento Estrada de Ferro de Baturit, que somente em 1916 foi inaugurada. Eu contava na poca 9 anos de idade, garoto ativo e super curioso e me lembro de tudo, nos seus mnimos detalhes!. .. Aps os familiares, chegaram os primeiros amigos de Joo Cndido.

    PRIMEIROS FAMILIARES

    Joaquim Gonalves Viana: - padrasto de Joo Cndido; o patriarca e o guia intelectual da famlia. Joaquim Alves dos Santos: - cunhado de Joo Cndido e uma das bandeiras. Foi prefeito da Cidade. Jos Gabriel Diniz: - primo e cunhado de Joo Cndido, que j era poltico em Vrzea Alegre, constituiu-se um dos chefes de maior prestgio do lugar e permaneceu como poltico em Cedro, at o fim de sua vida. Foi prefeito do municpio e lutou muito pela cidade. Antnio Guedes Viana: - cunhado, um brao forte que ajudou desde o incio, na fundao da vila do Cedro e continuou ajudando a construir nossa cidade, que hoje uma metrpole. Jos Alves Diniz: - sobrinho e um dos primeiros comerciantes do Cedro. Cndido Alves Diniz: - sobrinho; e comerciante por vrios anos. Foi tambm em Cedro um dos primeiros professores.

  • 25Aquilinio Alves Diniz: - sobrinho e construtor de muitas casas na cidade, e um dos primeiros delegados. Raimundo Bezerra da Costa: - sobrinho; comerciante e industrial do lugar com fbrica de algodo e arroz. Cndido Bezerra da Costa: - sobrinho e construtor de ruas inteiras: a rua CeI. Luiz Felipe, foi uma delas. Tibrcio Olau de Almeida: - agricultor e proprietrio do stio So Vicente - antigo Vaca Brava. Jos de Almeida Zeza: - agricultor e proprietrio de terras em So Vicente e Umari-Torto.

    OS PRIMEIROS AMIGOS DE JOO CNDIDO

    Antnio Afonso da Silva (Seu Tonho), veio de Vrzea Alegre com muita disposio e boa vontade, trazendo toda a famlia e foi de imediato, com f e esperana, fixando residncia, comprando propriedades, construindo boas casas de moradias e para comrcio, inclusive a instalao de uma fbrica de beneficiar algodo, que foi um forte impulso para a formao do lugar, bem como no comrcio de tecidos. Como proprietrio, radicou-se definitivamente na Vila de Cedro, tendo ajudado muito na sua fundao e construo, se tornando logo, um dos maiores proprietrios. Mais tarde, a sua luta foi continuada pelos 2 filhos mais velhos.

    Os irmos: Caetano Afonso da Silva e Miguel Afonso da Silva: so, na verdade, duas rochas vivas da dignidade humana, que vem dando tudo de seus esforos, pelo desenvolvimento da nossa atual cidade, que deles tambm, porque juntos lutaram e ajudaram a construir o Cedro. So, sem dvida, dois abastados agropecuaristas, donos de ricas propriedades, com valiosos audes! Sem dvida, so homens trabalhadores, dignos e honrados. Francisco Varela: foi tambm pioneiro na instalao de indstria em nossa cidade - Cedro, e sem dvida trabalhou muito pelo progresso da vila da cidade e da terra!

  • 26O Cedro o reconhece como um grande benemrito no desenvolvimento do lugar, no setor industrial e comercial! Celso Alves de Arajo e Silva: homem que integrou-se logo ao progresso da terra, comprando as grandes propriedades vizinhas, entrou na poltica e foi prefeito 2 vezes! Um dos fundadores que mais lutou e lutou muito, batalhando por toda a sua existncia e continua, incansavelmente, ano aps ano, com a mesma disposio de sempre e sem desfalecimento, trabalhando como ningum, pela prosperidade e progresso da cidade que tambm dele, e mais que isto, o bero dos seus filhos.

    Vicente Bezerra da Costa: no podemos esquecer este baluarte, que lutando no silncio das suas fazendas, e nos stios Barreiros e Caiana, contribuiu muito tambm para o desenvolvimento do Cedro. E alm de tudo isto, deixou um filho, Manoel Bezerra, homem trabalhador e honesto, considerado hoje como o maior proprietrio de terras do municpio. casado em segundas npcias com uma nossa estimada prima.

    Jos Vicente da Silva, Manoel Gonalves Torres, stio So Vicente, antigo Vaca Brava. Miguel F. Vieira - Buraco D gua; Manoel Gonalves Viana - Assuno; Joaquim David - Vara da Prensa; Raimundo David (Chico), Vicente Teixeira, Jos Raimundo, Jovino Euzbio de Moura, Manoel Monsenh Monteiro, Dr. Jos Gonalves Monteiro - Advogado brilhante; Chiquinho Teixeira, Jos Duarte Passos - todos dos stios Angicos e Vrzea Feia; Antnio Pereira da Silva - Pastor; Manoel Pereira da Silva - comerciante; Quirino Dutra, Joo Dutra, Vicncia e Tereza Dutra - Assuno; Manoel Gonalves de Moura, e Joaquim do Carmo - Umari-Torto; Jos Tomaz de Aquino - Stio Buraco; Manoel Alexandre - Crrego; Manoel Flix Diniz - Nogueira; Vicente Moreira - Cachoeira; Antnio Moreira - 1. tabelio; Jos Milito - advogado; Aristides Milito - escrivo; Quinco Paula, Joaquim Moreira - S. Picada; Jos Alves Bezerra da Costa - ex-prefeito; Joa-

  • 27quim Luiz de Oliveira; Pedro Luiz e Jos Luiz de Oliveira, do comrcio de tecidos; Seu Marcos, sogro de Chico Varela. E da nova gerao, h mais um dos irmos - Afonso: - Antnio Afonso Filho, proprietrio do stio Novo Horizonte - homem de bem, trabalhador e honesto, pai de numerosa famlia, cuja turma estuda e trabalha pelo engrandecimento do nosso amado Brasil.

    OS PRIMEIROS PREFEITOS DO CEDRO

    Joo Cndido da Costa, Jos Gabriel Diniz, Joaquim Alves dos Santos, Francisco Silveira de Aguiar.

    PRIMEIROS VIGRIOS DA FREGUESIA

    Pe. Jos Alves de Lima, pe, Francisco Rosa, pe. Medeiros, pe. Emdio Lemos, pe. Feitosa, depois Monsenhor, pe. Sobreira e o atual,- Monsenhor Costa, o stimo vigrio do Cedro que h muitos anos dirige com zelo e cuidado o rebanho catlico da nossa cidade.

    PRIMEIROS MDICOS DO CEDRO

    Dr. Gilberto Lopes, Dr. Incio,Dr. Eduardo Studart, Dr. Manuel Caminha, Dr. Antenor Cavalcante e Dr. Valdemar Cavalcante, ex-prefeito. E mais tarde, Drs. Leandro Correia, Luiz, Obi Viana Diniz, A. Bitu dos Santos e Rubens B. Albuquerque.

    PRIMEIROS FARMACUTICOS DO CEDRO

    Joaquim Marques, Joo Moreira e Ant6nio Leopoldo Serra - ex-interventor de Cedro. Mais tarde - Jos Firmino, que foi tambm prefeito; D Vicentina, Luiz Soares e Joaquim Cavalcante - T. E depois Manoel Costa (o Dr. Machado) e Heber Gomes Moreira.

  • 28

    PRIMEIROS AGENTES DA ESTAO

    Pedro de Figueiredo, Luiz Teixeira, Jos Nocrato, Jos Gomes de Mesquita, Antnio Sampaio e Jos Medeiros.

    PRIMEIROS AGENTES DO CORREIO

    Professor Jos de Figueiredo (Seu Cazuza), depois a esposa, D.a Otlia de Figueiredo, Antnio Pereira da Silva (Pastor Protestante), depois a filha Hilda Pereira da Silva.

    PRIMEIROS TABELIES

    Antnio Moreira da Silva e Evaldo Pimenta da Silveira.

    PRIMEIROS PROFESSORES

    Jos Duarte Passos, Antnio Moreira da Silva e (Seu Cazuza de Figueiredo); Professoras: - Maria Linhares, D.a Conceio, D Raimundinha, D Carmozinda, D Zezinha Mendes, ex-diretora das escolas reunidas, e D. Enoi, que tambm foi diretora.

    PRIMEIRA BANDA DE MSICA

    (Arranjada pelo Aguiar), maestro: mestre Silveira; msicos: Gerson, Evaldo, Clvis, Benone, Opitato Pimenta da Silveira, Z Meireles, Z de Anjinha, Zezinho de Tibrcio, Vicente e um outro da bateria.

    PRIMEIROS ALFAIATES

    Antnio Aranha, Joo Gualberto, Tibrcio Pereira e Mestre Silveira.

  • 29PRIMEIROS BARBEIROS

    Joo Terto, Jos Gomes, Licurgo Ricarte, Candinho Bezerra, Domingos Leandro, Manoelzinho Ferreira e Chico Nunes.

    PRIMEIROS HOTELEIROS DO CEDRO

    Cabo Chico, D. Catarina, D. Genu e o Centro das Novidades, empresa de Joo Cndido, - gerenciado por Jos dos Reis, tendo como garons, Chico Benedito, Antnio Joaquim, e cozinheira Maria Juca, famosa na arte culinria.

    PRIMEIROS OURIVES DO CEDRO

    Paulo Procpio e Osterno Mota.

    PRIMEIROS SAPATEIROS

    Manoel de Ouro e Constantino Batista.

    PRIMEIROS ESTAFETAS DO CEDRO

    Dois estafetas provisrios. Por nomeao, s mesmo o ilustre e digno amigo Francisco Duarte Passos ou "Chiquinho Carteiro", figura que marcou poca no Cedro, pela sua popularidade congnita, pela dignidade de homem de bem, honrado e trabalhador. Foi tambm fiel cobrador de luz da cidade por 18 anos! Fez no Cedro um vasto crculo de boas amizades e continua distribuindo bondade aos montes, aqui em Fortaleza, entre os seus semelhantes e especialmente com seus conterrneos do Cedro, cidade que ele muito estima e defende at as ltimas conseqncias, pois tem grande amor boa terra, bero dos seus filhos que so homens de bem, dignos e honrados. H entre eles, o Dr. Raimundo Valdir Duarte Passos, bravo e

  • 30justiceiro Delegado da Capital - que orgulha a sua terra o Cedro. - Parabns de Gente da Gente e do autor Acrsio.

    PRIMEIROS MARCHANTES DO CEDRO

    Manoel Amrico, Antnio Alves, Barbozinha, Raimundo Valdivino, Emiliano, Antnio Cassund, Chico Matias, Z Piqui, Antnio Piqui e o mais forte de todos, Manuel Firmino de Aquino.

    PRIMEIROS CARRETEIROS DO CEDRO

    Antnio Crispim, Z Crispim, Adriano, Raimundo Coelho (Pau Velho), Z Teles, Chico Barbadinho, Joo de Pedrina, O Sete, Antnio Miguel, Arturzinho, Z Alves, Chico Nico, Chico Benedito e Cirilo.

    PRIMEIROS ENGRAXATES DO CEDRO

    Z da Cachorra, T de Dourinha, Bastinho, Z Paimeira, Z Tumbica, Antnio Cara Inchada, P no Loro e Vicente Ferreira.

    PRIMEIRAS LOJAS DE TECIDOS DO CEDRO

    Loja de Joo Cndido (casa do alto); loja de Antnio Afonso (Seu Tonho); loja de Macial Teixeira e D. Naninha; loja de Francisco Silveira Aguiar; loja de Jos Alves Bezerra da Costa; loja de Joaquim Luiz de Oliveira, e mais os lojistas: Raul Nogueira, Z Tomaz, Andr Nunes, Ismael Siqueira, Nezinho e Raimundo Batista, Alexandre Papalo, Joquinha e Zequinha Bezerra, Joaquim Siqueira, Chiquinho Tomaz,- depois os filhos. Caetana Afonso foi forte lojista em Cedro e o Miguel Afonso, - padro de honestidade, continua com a mesma loja que foi do Sr. seu pai - "Seu Tonho Afonso"!.

  • 31

    OUTRA GERAO QUE CONTINUA CONSTRUINDO A NOSSA CIDADE

    Joaquim Teixeira Diniz - ex-vice-prefeito e vereador de Cedro; Horcio Medeiros - chefe poltico e vereador por vrias vezes; Antnio dos Santos, foi coletor e prefeito; Jovino Euzbio, escrivo; Jos G. Viana, vereador; Jos de Moura, Salstiano Moura, vereador; Manoel Monsenhor, vereador; - Zeca Pinheiro, vereador; Ccero Fernandes vereador; Antnio Ferreira Bind, vereador; Antnio Viana Arajo (falecido), vereador; Clia Viana de Arajo, vereadora; Luiz Gonzaga de Moura, escrivo e coletor; Nilo Viana Diniz, vereador por vrias legislaturas e prefeito duas vezes (salvo engano); Jlio Alves dos Santos, vereador; Vicente Cadeira, vereador; Srgio Moreira, vereador; Joo Ricarte de Moura; Andr Ivan de Freitas, vereador; Jos Vieira e Silva, tabelio; Chico Dias, vereador; Joo Varela, vereador; Joel Passos, vereador; Tibrcio Olau, vrias vezes vereador; Jos Bezerra e Silva, vereador; Alvaro dos Santos, prefeito e vereador; Vicente Balbino, vereador; Humberto dos Santos, vereador; Antnio Bitu, prefeito, vereador; Artur Cortez, vereador; Hlton Varela Cortez, vereador; Luiz Noberto, vereador; Francisco Luiz de Oliveira, vrias vezes vereador, vice-prefeito e prefeito em exerccio; Jos Clementino vrias vezes vereador; Sr. Branco Leandro, vereador; Raimundo dos Santos, tabelio; Jos Bezerra Viana, tabelio.

    Como esta a minha faixa de idade, devo registrar aqui que fui duas vezes vereador, tendo exercido o cargo de presidente da Cmara - eu: - Cndido Acrisio Costa. Temos ainda Clodoaldo Nunes - grande amigo do autor de Gente da Gente, vereador e homem de uma capacidade de trabalho fora de srie e em verdade tem vergonha na cara!. . . Francisco Sebastio - o "Chico Sebastio" - incansvel pai de famlia, homem da palavra de ferro e do

  • 32carter de ao, cujos filhos so do mesmo material humano. Sr. Jos Quintino - nosso grande amigo.

    A NOVA GERAO A SERVIO DO CEDRO

    Entre os benfeitores da nova gerao acima, de justia ressaltar o destaque de Francisco Luiz de Oliveira - o "Chico Luiz", que na verdade tem o seu nome vinculado nossa cidade do Cedro. pelos relevantes cargos ocupados por ele, na vida administrativa do municpio. uma figura de proa nos meios polticos, sociais e administrativos. Foi prefeito da cidade, porque era o vice, eleito em pleito livre e disputado; prestou bons servios coletividade e cidade, abrindo ruas e construindo praas. Por vrias legislaturas tem exercido o mandato de vereador, e em verdade, no se pode negar o seu prestgio poltico e a evidente prova de homem inteligente e lutador! Parabns Chico Luiz, voc fez jus admirao de Gente da Gente, com sua digna esposa e estimados filhos. MUlta gente em Cedro no sabe o verdadeiro nome desta mulher extraordinria, me de famlia exemplar e distinta esposa de Chico Luiz. O nosso livro Gente da Gente, em sua pesquisa rigorosa, publica o legtimo nome da Sr.a Joaquina Crispim de Oliveira, a digna e estimada Quininha! Parabns ao casal e aos filhos, estudiosos e inteligentes e com destaque a Diana e o Mannho.

    MAIS UM BEMFEITOR DO CEDRO:

    Francisco Ferreira: - conhecido na intimidade por Chico Ferreira, que tem representado a dignidade, honradez e trabalho, por toda sua vida. Na verdade, a histria de Chico Ferreira daria um bonito romance. com o belo exemplo do sucesso e da grande vitria na luta honrosa e contnua, pelo

  • 33trabalho e bravura de homem de bem! : hoje uma das maiores fortunas do Municpio - parabns! - Acrsio.

    UM OUTRO BEMFEITOR, AMIGO DO CEDRO:

    Jos Quintino: - Gente da Gente no podia deixar de ressaltar, com o devido e merecido destaque, esta criatura muito digna, que Jos Quintino. Ele foi sempre um amigo fiel de nossa famlia, e sobretudo, do nosso nunca esquecido primo Nilo Viana Diniz, que eram na verdade inseparveis! Obrigado, Quintino! Nilo era o Cedro e o Cedro era Nilo! Antnio Ferreira Bind: - homem de bem, trabalhador e muito digno, que chegou em Cedro como modesto barbeiro e enfrentou uma tremenda luta e de cabea erguida, ento, foi sempre subindo e subindo sempre, como declarei em uma sua campanha poltica vitoriosa, e hoje rico!. . . Edval Batista: - em verdade, este jovem, antes de se casar e por motivo'prprio da idade, assumiu uma filosofia de vida, base da diverso, por algum tempo. Todavia, quem for agora a Cedro, ver a transformao total do jovem, em comerciante rico, conceituado e digno de nossa terra. Parabns com votos de prosperidades a voc Edval, pela sua brilhante vitria na carreira comercial!. . . Manoel Flix: - ativo e muito inteligente: agricultor, comerciante, corretor e at criador. Homem de bem, trabalhador e honesto e nosso amigo sincero. Como criador, gostou sempre do gado de raa selecionada e leiteira. Conheci uma sua vaca da cara rajada, de sua estimao, qu em verdade valia muito dinheiro!. . . Heber Gomes Moreira: - inteligente e perseverante boticrio em Cedro, e conceituado vendedor de drogas, homem de alto critrio, trabalhador e honesto. Recebe a orientao de sua digna esposa, farmacutica Elita Marques Gomes Moreira. Parabns a vocs. - Acrsio.

  • 34HOMENAGEM DE JUSTIA A FRANCISCO SILVEIRA DE AGUIAR

    Sou dos que entendem que se no pode falar em Cedro, especialmente no que toca de perto a seu florescimento, sem aludir-se a pessoa de Francisco Silveira de Aguiar, seu quarto prefeito, havendo exercido o cargo por nomeao e a seguir por eleio. Nascido em Tau, chegou a Cedro no momento exato em que, em termos de exploso demo grfica, a antiga Fazenda passava a Municpio autnomo em razo de ter demorado como ponto de linha, em 1916, da ferrovia que, mais tarde, ligaria Fortaleza a Crato. Aguiar, como conhecido pelos cedrenses, integrou-se, de tal forma terra, que, dentro em pouco, passou a ser um dos seus lderes. O primeiro automvel que ali apareceu foi levado por ele, um carro marca Overland, bem assim a primeira mquina de datilografia. Ali instalou uma fbrica de beneficiar algodo que, conjugada a seus armazns e lojas, tornou-se um complexo econmico potente, concorrendo de logo para o desenvolvimento do recm criado Municpio. Merc da influncia exercida, por ele, no meio, batalhou pela criao da Freguesia de Cedro, da qual foi o padre Jos de Lima, depois Monsenhor, o 1. vigrio, e, pelo Termo Judicirio, sendo o primeiro Juiz o Dr. Manoel Santana, mais tarde Desembargador do Tribunal de Justia do Cear. Empenhou-se e conseguiu, com o concurso dos cedrenses: a instalao das oficinas da Rede de Viao Cearense, com seu grande parque fabril para restaurao de locomotivas e vages; a criao do primeiro Grupo Escolar, do Posto de Sade do Estado; da Residncia Agrcola, da Coletoria Federal, de que foi o primeiro coletor, e vrios empreendimentos que engrandeceram o Cedro, como por

  • 35exemplo, o SENAI, unidade escolar de aprendizagem industrial.

    Como prefeito, construiu o edifcio do Pao Municipal, o primeiro jardim pblico da cidade, chamado, no interior, de Avenida; instalou o servio de iluminao eltrica, renovou o mercado pblico, promoveu o alinhamento de ruas tortuosas da Urbs, demolindo inmeras casas, dando assim, feio urbanstica cidade, por sinal elevada a essa categoria por Lei da Assemblia em 1925, de autoria do deputado Luiz Felipe.

    Como deputado Aguiar o autor da emenda constitucional que erigiu o termo de Cedro a Comarca, pelo que o Municpio entrou no Quadro Judicirio do Cear, como unidade judiciria em entrncia superior inicial. Foi o chefe poltico local, no municpio, por muitos anos. Na poltica, empobreceu-se, ao contrrio de muitos, que nela se enriquecem. Por motivo de sade, mora, hoje, em Fortaleza, depois de ter assistido o nascimento e o crescimento de Cedro, como sendo sua cidade natal.

    O governo Plcido Castelo imortalizou-lhe o nome, na regio, denominando de ponte Silveira Aguiar a que o DAER construiu sobre o rio do Machado, nos limites de Cedro com Lavras da Mangabeira. Portanto, por esse ato de justia do governo Plcido Castelo, dando o nome importante obra d'arte, como seja a ponte sobre o Rio do Machado, de Ponte Silveira Aguiar, ns cedrenses, somos muitos gratos, pois, conforme foi dito no incio desta homenagem, no se pode mesmo falar em Cedro, sem se fazer aluso a de Aguiar ou vice-versa. natural tambm que, quando algo em bom sentido lhe dado como galardo, os cedrenses sintam-se de fato recompensados e felizes. E, aps arrolar uma srie de melhoramentos conseguimos e realizados por Aguiar, com a eficiente ajuda dos cedrenses, no que diz respeito ao progresso da cidade de Cedro, h ainda um fato interessante que deve ser lembrado e nunca esquecido. Sim, em verdade, sabe-se que a luta para a

  • 36retirada das Oficinas da Rede de Viao Cearense para Iguatu, era antiga e conhecida por todos; todavia, enquanto Silveira Aguiar residiu em Cedro, no foi possvel ningum retir-las de l. Fica a, a interessante observao no ar, e quem sabe, no futuro podero ser conhecidos os culpados ou responsveis pelo grande mal que fizeram cidade e sua gente. E prestando esta justa homenagem a Francisco Silveira Aguiar, temos a mxima satisfao em perpetu-la nas pginas do nosso livro, Gente da Gente, que sem dvida um pedacinho do Municpio de Cedro, cuja cidade lhe agradece, com um muito obrigado por tudo!

    Resende, Estado do Rio, junho de 1972.

    Cndido Acrsio Costa

    HOMENAGEM AOS INDUSTRIAIS DE CEDRO

    Gente da Gente - tem o prazer de prestar justa homenagem aos empresrios das grandes indstrias que atuaram em nossa cidade, contribuindo grandemente para o desenvolvimento da boa terra e como lgico, aos que bravamente continuam a luta! USINA VARELA: Francisco Varela, Artur e Natanael Cortez. USINA MONTENEGRO: - Siridio Montenegro e Adauto Castelo, de saudosa memria, Dr. Luiz Montenegro e Byron Coelho. EXPORTADORA CEARENSE: - F. Moreira e Jos Pinto Albuquerque. USINA 14 DE JULHO: - Joo Damasceno. USINA TABAJARA: - na pessoa de to saudosa memria, Nilo Viana Diniz, e dos irmos: Antnio e Joo Marques. Continuando agora, encampada pela Cooperativa do Cedro, sob a direo de valorosa equipe, representada pelos Srs.: Dr. Antnio Bitu, dos Santos, Diretor Presidente; Dr. Jos Bezerra Viana, Diretor-Secretrio; Celso Alves de

  • 37Arajo e Silva, Diretor; Alusio Alves dos Santos, Diretor; Luiz Norberto, Diretor; Luiz Gonzaga de Moura, Diretor-Gerente.

    PADARIA PORTUGUESA: - de Manoel Dias Branco. - Decorria a recuada dcada de 1930! Chegava ao Cedro, progressista cidade garota do Cear daquele tempo, - o jovem portugus Manoel Dias Branco. Moo esperanoso, cheio de f e bravura, de extraordinria inteligncia e capacidade de trabalho, caracterstica alis, prpria do bom portugus, e sobretudo muito confiante em Deus, decidiu-se, ento, fixar residncia em Cedro. Ainda bem jovem, elegante e de trato fidalgo para com seus clientes em particular, e de um modo geral, com todos, fez em Cedro vasto e bem selecionado crculo de amigos, com eles convivendo condignamente, por 8 longos anos de intensa atividade no comrcio local. Somos testemunhas de vista e podemos dizer como foi difcil e honrosa a sua luta inicial! E o melhor de tudo isto: casou-se quando morava em Cedro, para o destino nos brindar, a ns cedrenses, com um conterrneo do quilate deste homem, super-dinmico, de extraordinrio conceito no alto mundo industrial e comercial do pas e do estrangeiro - o ilustre e nobre cavalheiro Ivens Dias Branco! um cedrense legtimo que engrandece e orgulha a sua cidade natal - Cedro! Receba pois os parabns de Gente da Gente, cujas pginas representam pedacinhos do nosso querido Cedro, que se regozija por ser o bero deste to ilustre filho, Ivens Dias Branco, a fidalguia em pessoa e nobreza de esprito.

    Fortaleza, setembro - 1973.

    Cndido Acrsio Costa

  • 38

  • 39FIGURAS REPRESENTATIVAS DOS TRS MUNICPIOS: - LAVRAS DA MANGABEIRA, VRZEA ALEGRE E CEDRO.

    DE LAVRAS

    D.a Fideralina Augusto Correia Lima, Cel. Gustavo Augusto Correia Lima, ex-prefeito e chefe poltico de Lavras; ex-deputado e ex-vice-governador do Cear; Cel. Honrio Augusto Correia, ex-prefeito de Lavras. Os irmos: Raimundo Augusto e Joo Augusto Correia Lima, ex-chefes polticos ~ prefeitos de Lavras; Raimundo Augusto foi tambm deputado. Atualmente tem como chefe em evidncia, o Dr. Vicente Augusto - que foi prefeito, deputado estadual, deputado federal, suplente em exerccio de senador e no momento chefe da Casa Civil do Governo do Estado.

    DE VRZEA ALEGRE

    Os irmos: Antnio e Jos Correia Lima, ex-chefes polticos e prefeitos de Vrzea Alegre. Tambm Jos Viturino, Vicente Honrio, Josu Alves Diniz - 2 vezes prefeito. Joaquim e Antnio Afonso Diniz - este tambm foi deputado Estadual. E ainda, o Dr. Joaquim de Figueiredo Correia, que foi deputado estadual, por vrias legislaturas, deputado federal, _.secretrio da Educao e vice-governador do Estado, tendo assumido o cargo de governador por vrias vezes e foi tambm candidato a senador, obtendo expressiva votao no Estado.

    DE CEDRO

    Cel. Joo Cndido da Costa - fundador da cidade e o primeiro prefeito do Cedro. Cel. Joaquim Alves dos Santos - chefe poltico e prefeito municipal. Jos Gabriel Diniz - prestigioso chefe poltico e prefeito do Municpio.

  • 40Cel. Francisco Silveira de Aguiar - ativo chefe poltico, por muitos anos, o quarto prefeito da cidade - coletor federal - deputado por duas legislaturas. Cel. Celso Alves de Arajo e Silva - chefe poltico por toda longa vida, lutador incansvel de memorveis e duras campanhas eleitorais - foi duas vezes prefeito. Dr. Moacir Aguiar vasta cultura a servio do Cedro e do Cear - poltico inteligente - duas vezes deputado - chefe da Casa Civil do Governador Virglio Tvora. Dr. Obi Viana Diniz - chefe poltico - duas vezes deputado - duas vezes prefeito. Dr. Joo Viana de Arajo - poltico atuante - trs vezes deputado e secretrio da ARENA.

    MUNICPIO DO CEDRO

    Limites com os Municpios Vizinhos

    a) Ao oeste de Cedro cl Vrzea Alegre, comea na foz do riacho Mondubim, no riacho do Machado; sobe por este at a foz do riacho Olho D'gua; continua por este acima, at a sua nascente; da ento, o limite toma diretamente o divisor de guas, entre a vertente do riacho So Miguel e a do riacho Vaca Brava; segue por este divisor, no rumo do boqueiro do Baldinho, no riacho So Miguel; e da vai em linha reta, para o serrote da Lagoa dos Cavalos, que confronta com o referido doqueiro;

    b) ainda a oeste do Cedro c/ Caris: - comea no serrote referido no fim da alnea a; segue pelo divisor de guas, entre o rio Jaguaribe e riacho So Miguel, at a incidncia do divisor de guas entre os riachos Cangati e Defuntos; c) ao norte, limites com Iguatu: - comea na incidncia referida letra b, e segue pelo divisor de guas, entre as vertentes do rio Jaguaribe e do rio Salgado, at onde ele incide sobre a estrada de ferro;

  • 41d) ainda ao norte e a leste, agora c/ o Municpio de Ic: - comea na ltima letra c, segue pela via-frrea para o sul, at o pontilho do riacho do Mosquito. Desce por este at a sua foz com o riacho do Umari ou Jatob. Vai por este abaixo at a foz do riacho Cachoeirinha; da segue em linha reta para a foz do riacho So Miguel; deste ponto, continua por linha reta para a foz do riacho Umarizinho, no rio Salgado;

    e) ainda a leste e ao sul com o Municpio de Lavras: - comea na foz do riacho Umarizinho no rio Salgado; subindo por este at a confluncia do riacho Timbaba; continua por este acima, at a foz do riacho Paiano, e sobe at sua nasce:p.te; passa direto nascente prxima do riacho Curicaca; desce por este e vai foz no riacho Machado, pelo qual prossegue at a foz do riacho do Mondubim. 2. A linha divisria entre Cendro e Vrzea Alegre: comea no ponto onde Vrzea Alegre corta o riacho So Miguel e desce por este at extrema com o Municpio de Ic.

    Transcrito do cadastro dos Municpios, na Assemblia Legislativa do Estado, em maro de 1973.

    CURVANDO-ME A JESUS FIZ UMA PRECE. . .

    DEUS - na verdade, poder absoluto, divino e sobrenatural! . .. Olha gente, nada mesmo se pode dizer em contrrio. Recorri a Ele com toda humildade e cheio de f; e sem dvida, ficou bem claro, que fui evidentemente encorajado a olhar para trs, buscando muito longe, com fatos e detalhes a importante histria dos nossos maiores e de nossa origem. Pois natural que desejamos conhecer as pilastras mestras do edifcio da nossa procedncia.

  • 42 Lancei portanto, um olhar retrospectivo, bem longe... at o perder de vista. .. ao longo da curva do caminho, por onde passou a caravana dos nossos avoengos audazes, atravs dos sculos, enfrentando a poeira dos tempos e a tudo resistindo e vencendo, acompanhando o galopar dos anos, at o amanhecer dos nossos dias. Seguindo e acreditando em um conceito lapidar, de que a vida bem vivida consiste na recordao do passado, resolvi ento, por esta razo, apresentar com prazer este modesto porm significativo trabalho!. . . Portanto, o meu principal objetivo, sem dvida o desejo de avolumar mais e mais a gratido que todos ns devemos aos nossos heris antepassados, e nunca deix-los perdidos e esquecidos pela fraca memria dos indiferentes e acomodados seres humanos, dentro da vastido do sculo que passa.

    No sabemos e nem podemos calcular, como foi a luta daqueles super-homens pela sobrevivncia, em poca afastada por centenas de anos, da tecnologia e de tudo mais que diz respeito cincia. De sorte que, a esses nossos antepassados, que como natural, no chegamos a conhecer, no os vimos, mas levando-se em considerao as palavras pronunciadas peremptoriamente por JESUS, ...verdadeira sentena imposta aos homens de pouca f ...quando declarou: "bem aventurados os que no viram e creram"!... portanto, gente, na verdade no os vimos, mas eles existiram e por isto merecem toda a admirao, o respeito e a gratido eterna de todos ns, descendentes de geraes passadas, da presente e para a futura. E, lembrando aos presentes, o dever que temos para com os nossos predecessores, sem dvida valiosa contribuio histrica, para ser levada adiante pelos nossos filhos, netos ou parentes em graus mais distantes; contanto que continuemos com a importante narrao da histria da famlia, mostrando de onde procedemos e ampliando-a mais e mais!

  • 43 Quem de ns, ainda em vida, no desejar ser lembrado aps a morte, pelos seus entes queridos? claro que este sentimento natural de vaidade humana, perdurar duplamente, isto , em ns vivos, e por ns, depois de mortos. assim sendo, obedeamos ao velho adgio: tudo aquilo que queremos para ns, devemos tambm desejar aos outros... Obrigado meu DEUS... obrigado...

    Fortaleza, 5 de agosto de 1971.

    Cndido Acrsio Costa

  • 44

  • 45Captulo I

    Ano de 1770

    INICIO DA HISTRIA DE NOSSA GENTE

    DADOS BIOGRAFICOS DE MANOEL GONALVES SALES o 6. av MARIA ISABEL SALES a 6.a av

    (Segundo narrativa de JOAQUIM GONALVES VIANA, tetraneto destes e meu av).

    Um pouco de histria, a respeito das duas colunas mestras do edifcio da nossa gerao. Manoel Gonalves Sales ou (Major Sales), portugus louro, de olhos azuis, homem forte, disposto e muito enr -gico, chefe de numerosa famlia, enfim, um homem rico, conceituado e respeitado por todos. Era pai de seis filhos, dirigia e dava assistncia a vrias outras famlias de pa- rentes seus que conseguiu trazer de Portugal, formando assim uma pequena comunidade na sua movimentada fazenda. Dos seis filhos do casal, quatro eram mulheres e por sinal muito bonitas. A mais nova Maria Gonalves Sales, (a Sinhazinha) moa desenvolvida, de uma beleza sem igual e de um tino administrativo admirvel, era na verdade, uma

  • 46lder natural da famlia, a quem todos obedeciam passivamente suas ordens, porque viam no seu planejamento a razo do desenvolvimento da fazenda. Essa moa extraordinria, lder, de importantes predicados e de uma rara beleza fsica, bem alva, loura e de olhos azuis, no era outra, seno a nossa 6. a av, a "Sinhazinha", como era tratada pelos numerosos escravos da fazenda, filha caula do Major Sales, e considerada o brao direito do pai, na administrao da fazenda.

    O Major Sales era dono de grande senzala, com muitos escravos e tambm foi um forte "sesmeiro", isto , proprietrio de uma sesmaria concedida pelo Rei de Portugal, para o cultivo agropecurio. Era uma sesmaria de 10 lguas de terras. A lgua de sesmaria, contm 3 000 braas ou 6 600 metros de extenso. Conseguiu o major Sales, com esforo e muita luta, a ajuda dos familiares e o trabalho dos escravos, desenvolver bastante uma boa parte das suas terras, se destacando pela criao de gado, cujo comrcio era Pernambuco de onde vinham os boiadeiros para a compra de gado, j encomendado em outras viagens. Tambm vendeu vrias partes das terras de sua sesmaria para a mesma cultura. Houve uma das glebas vendidas, que se destacou sobre todas as outras pelo seu desenvolvimento rpido, na criao de gado e na cultura da cana, do milho, arroz e feijo. Esta parte da propriedade foi vendida a um homem natural da provncia de Pernambuco, dono de. uma grande fortuna em dinheiro. J por duas ou trs vezes, tinha vindo comprar gado ao Major Sales, e pagava toda boiada a dinheiro contado vista.

    Era um homem alto, bem moo, parecendo muito disposto e trabalhador. Embora fosse moreno, tinha cabelos lisos, fisionomia fina, muito elegante, no podendo esconder os traos evidentes da raa branca. Era mameluco: - cruzamento de um austraco com ndia brasileira. Era pela terceira vez que o referido boiadeiro vinha fazenda do Major Sales, a negcio de compra de gado, para o seu comrcio em Pernambuco. Notava-se no entanto, um certo

  • 47interesse do mesmo, em discutir a parte comercial com aquela moa desenvolvida e de uma beleza impressionante, - a Sinhazinha que alis tomava parte ativa em todos os negcios da fazenda, pois era chamada pelo pai para resolver tudo. Muito embora no se pudesse acreditar, em virtude do preconceito racial rigoroso naquela poca, nascia sem dvida o histrico romance de amor entre os dois: - Antnio Luiz Vienna depois Vianna e a Sinhazinha de origem fidalga, de Portugal. Era, na verdade, o incio de um grande romance de amor, que custou, naquela recuada poca, "lgrimas, suor, e sangue". E durante trs anos, houve absoluto sigilo, conservado entre quatro pessoas: Maria Gonalves Sales (a Sinhazinha) e seu escravo de confiana, - o negro Gonalo; e o moo rico Antnio Luiz Viana e o seu fiel e destemido escravo, - o negro Leandro! Durante os trs anos, houve uma tremenda luta oculta e silenciosa, sem porm, nenhum recuo e sempre para a frente, com um nico objetivo: a vitria final, e a realizao do grande sonho, para a obedincia do "crescei e multiplicai" do Velho Testamento. Eis a a famlia do Major Sales - portugus louro, olhos azuis e de origem fidalga.

    CASAL:

    Manoel Gonalves Sales - Major Sales - sesmeiro de terras. Maria Isabel Sales - Esposa, me de seis filhos nobres portugueses.

    FILHOS:

    Manoel Gonalves Sales Filho - Safilho Maria Isabel Sales Filha - Mariquinha Joaquim Gonalves Sales - Quinco Sales Maria Ins Gonalves Sales - Marins Maria Jos Gonalves Sales - Maz Maria Gonalves Sales - Sinhazinha, nossa 6.a av!...

  • 48

  • 49Captulo II

    Dados Biogrficos de Antnio Luiz Viana O 5. Av

    Cognominado de Antnio Luiz da Batalha (Segundo narrativa de Joaquim G. Viana, trineto deste e av

    do autor).

    Antnio Luiz Viana: - a segunda e slida coluna do nosso monumento familiar. Era filho do austraco, Hendrik Cavendish de Vienna e da ndia brasileira Andira, da tribo tupi, do litoral pernambucano, que aprendeu a ler! Era ele na verdade bem moreno, teve a cor da me, todavia, no apresentava um s trao caracterstico da raa negra, pois tinha cabelos lisos e castanhos, lbios finos e nariz aquilino. Homem alto, forte e esguio, muito elegante e vistoso, s trajava bem e era sem dvida de boa aparncia. Dotado de linhas finas em corpo e fisionomia, fugindo assim, r de modo absoluto, aos mnimos sinais que. caracterizam a raa dos homens de cor. No obstante ser bem moo ainda, era entretanto, um homem rico, que possua uma boa fortuna em dinheiro e ouro! Sim em ouro tambm, conforme veremos como conseguiu. Era filho de austraco com uma ndia brasileira.

  • 50 Foi Antnio Luiz Viana, desde criana, recebido por um casal sem filhos, muito rico para a poca, dono de uma grande fazenda denominada "Fazenda Fortuna", perto do litoral pernambucano, onde o garoto teve toda a sua infncia.

    Cresceu e se fez rapaz como filho do casal fazendeiro. Cedo, se caracterizou como um menino homem, na expresso legtima da palavra e jamais se ouviu falar em uma mentira sua, tornando-se um autntico representante da verdade, em quaisquer circunstncias de luta ou negcios.

    O sobrenome Viana, para Antnio Luiz, e para a nossa famlia, tem sua origem no prprio nome do pai, o Austraco Hendrik Cavendish - de Vienna - capital da Austria, onde este nasceu. E o nome Vienna pegou e passou para a famlia. Traduzido para o portugus, deu o nome Vianna, que h pouco tempo foi modificado para Viana.

    Na verdade, o pai adotivo de Antnio Luiz Viana - o Sr. Miguel Gonalves Vieira, conservou no menino sobrenome do pai, que foi expulso com os holandeses. Muito jovem ainda, assumiu a direo dos trabalhos e negcios da fazenda. Seus pais adotivos: Miguel Gonalves Vieira e Maria Ramalho Vieira, confiavam tudo, pois alm de muito trabalhador era honestssimo, muito srio e logo se tornou credor da confiana geral.

    E porque era o vendedor dos gados da fazenda dos seus pais, habituou-se a negcios de compra e venda de gado para a cidade do Recife.

    Mais tarde, em sua luta cotidiana pela fazenda, margem de um riacho, debaixo de um oiticical, frondoso, Antnio Luiz Viana, notou que na barranca do aludido riacho, aparecia um canto de um caixo, que a eroso, pelas guas, se encarregara de corroer, descobrindo enorme caixa de madeira de cedro, que ali havia sido enterrado, talvez pelos holandeses e scios em fuga, pois aquelas terras foram por eles ocupadas muitos anos. Com dificuldade e muito receoso, conseguiu o moo Antnio Luiz Viana quebrar uma tbua no canto da caixa, enterrada como estava, pensando

  • 51mais em descobrir, quem sabe, uma ossada humana" do que outra coisa qualquer.

    Qual porm no foi a surpresa, ao deparar-se com um enorme tesouro, dentro da caixa, que estava cheia de ouro em barra, at a tampa. A concluso certa a respeito daquele tesouro enterrado foi bem fcil, pois nos arredores havia runas de pequenas casas, naturalmente de garimpeiros, do holands e de um austraco pai de Antnio Luiz Viana, que no lhe foi possvel conduzir o produto do seu trabalho, quando expulsos da regio, e nem o filho, que era brasileiro!

    Antnio Luiz Viana foi rpido em casa, levou ao conhecimento do pai adotivo, que cheio de surpresa e alegria, falou assim: - voc bom filho e merece ser rico, foi Deus quem lhe deu este tesouro, que alis era aqui a propriedade do seu pai. Transportou em dois animais o precioso achado e sabiamente guardou sigilo a respeito da grande fortuna que surpreendentemente lhe havia chegado s mos. Ficou daquela data em diante vendendo o seu depsito de ouro em Recife e utilizando o dinheiro em negcio de sua compra e venda de gado, para o comrcio daquela grande cidade, Recife.

    verdade que Antnio Luiz Viana, desde a ltima viagem que fizera fazenda do Major Sales, na provncia do Cear, em sua terceira compra de gado, naquela fazenda, ficara, grandemente impressionado com a beleza da moa loura, de olhos azuis, com quem havia negociado as boiadas.

    Era ela a encarregada daquele setor comercial, bem como da administrao da fazenda, pois somente a Maria Gonalves Sales (Sinhazinha) tinha capacidade, conhecimentos, desenvoltura e vocao, no que dizia respeito ao campo comercial e relaes publicas. Pois bem, Antnio Luiz Viana, alm de ter ficado encantado com a beleza impressionante da Sinhazinha, (nossa 6.a av paterna) que jamais conseguiu retir-la do pensamento e durante meses,

  • 52via em sua mente a todo instante, pregado retina dos seus olhos, a imagem daquela moa loura, linda e bem alva.

    Moo progressista e sonhador, disposto a lutar e vencer a batalha do suposto preconceito de cor, pelo poder econmico, e ento, se casaria com aquela moa: que alm de branca e muito bonita era uma tima administradora de fazenda de criar gado, especialidade do moo Antnio Luiz Viana, desde os 15 anos!

    O que porm, mais perturbava ao moo bem intencionado, ntegro e honrado boiadeiro, era sem dvida o contraste entre a cor de sua pele morena e da pele branca da Sinhazinha. Mas o que sentia por ela, no podia suportar em silncio e estava disposto a recorrer a quaisquer meios, contanto que fosse alcanado aquele objetivo. A esta altura, j havia, sob rigoroso segredo, uma remota esperana entre os dois, por meio de uma nica carta e tambm uma resposta.

    No entanto, o destino resolvia tudo ocultamente e o rapaz descobriu o fabuloso tesouro! Naquele exato momento a lembrana de Sinhazinha se fez sentir com mais fora e um raio de luz mostrava-lhe o rumo a seguir. E ento resolveu, agora com mais calma, o moo rico e despreocupado, a enfrentar tudo, mostrando como, se pode quebrar a barreira do preconceito racial exagerado, e se decidiu a provar pela fora do amor ou do ouro, que a base real da vida no est somente na cor da pele mas sobretudo na cor do sangue, no aspecto fsico e estrutural da criatura humana.

    Pois bem, est provado que temos no aspecto a mesma forma e no sangue a mesma cor, dizia Antnio Luiz Viana. E, movido por esta fora invisvel do amor, abriu-se o horizonte do seu raciocnio e ele viu longe!. .. Imediatamente planejou tudo e resolveu organizar uma caravana. E com os seus tanjerinos de costumes e mais dez escravos que j possua, inclusive escravas, para cuidar dos trabalhos de cozinha. E com toda pressa viajou para a provncia do Cear.

  • 53 A caravana, que era composta de vinte e duas pessoas, todas a cavalo, e mais vrias cargas de bagagens e mantimentos, seguia em marcha regular. Com menos de um ms de viagem, a caravana chegava ao seu destino. A notcia correu..rapidamente por toda a fazenda. Ele chegou antes da data marcada para o recebimento da boiada, que tinha comprado anteriormente. Moo rico, que j se tornara assim conhecido por todos da fazenda, em virtude das suas mos abertas, nas gratificaes aos agregados, comandados pela Sinhazinha, que ajudavam na pega, na formao e na ferra da boiada. E alm de tudo, j havia um zum-zum na senzala, embora debaixo de sete chaves, que o moo rico, h uns trs meses antes tinha mandado um dos seus escravos, com uma carta, em papel ~de amizade, para a Sinhazinha. Foi entregue na senzala ao escravo Gonalo, negro da confiana e dos mandados da Sinhazinha. Ela recebeu ocultamente das mos do negro, e este jurou guardar segredo!. O moo Antnio Luiz Viana deixou parte da caravana, com escravos e bagagens, em um rancho distante cinco lguas da fazenda, se apresentando ao Major Sales, com seu auxiliar e nove tanjerinos. Depois dos cumprimentos de estilo, o moo Antnio Luiz Viana foi logo falando que na verdade havia chegado antes do prazo combinado, e por isto, aceitava qualquer condio que o Major lhe sugerisse em relao ao negcio. O Major porm, com a calma que lhe caracterizava e o porte elegante de fidalgo portugus, confirmava o que o moo rico acabava de dizer, adiantando que de fato ele chegara vinte dias antes da data combinada, mas a boiada estava pronta, faltando apenas juntar o gado. Mandou o Major Sales chamar a Sinhazinha em sua sala de trabalho e esta lhe atendeu de pronto. Entrando na sala do pai, foi cumprimentando a todos os presentes, com um bom dia amistoso. E como que se assustando da surpresa pela presena ali do moo Antnio Luiz Viana; e marchou para ele, corando a pele do lindo rosto e nervosamente esfregando as mos, ao mesmo tempo que, estendendo a sua mo para cumpriment-lo, simulava com palavras mgicas e cheias de

  • 54encanto, que no sabia que ele havia chegado. .. disfarando assim perante o pai. Ele levantou-se confuso e tonto, de tanta beleza e encanto que quase no podia falar e apenas confirmava as palavras da Sinhazinha, se curvando em sinal de respeito e cortesia acrescentando: verdade. No entretanto, Antnio Luiz Viana ficara esttico com aquele insinuante pronunciamento da Sinhazinha, pois, dois dias antes, ela havia sido avisada por um dos escravos que ele fez chegar adiantado, e por intermdio do negro Gonalo, fez entrega de uma carta para ela, que dizia o dia exato da sua chegada.

    Houve um momento de silncio interrompido porm pelo Major Sales, que se dirigindo a Sinhazinha, perguntou: o que se pode fazer? Com relao a problemas da fazenda, ela estava sempre por dentro e logo respondeu, que dentro de 5 dias a boiada estaria pronta! Terminou o dilogo e comeou o movimento na fazenda, com as ordens de comando em todos os setores, dadas pela Sinhazinha, que era na verdade dinmica e incansvel!

    Dentro do prazo de 5 dias, determinados pela Sinhazinha, foi entregue a boiada ao moo Viana e este ordenou ou seu auxiliar imediato e aos nove tanjerinos que seguissem com aquela boiada para o seu encarregado de vendas em Recife e voltassem todos, que ele ficava Fez uma carta ao seu pai adotivo, na "Fazenda Fortuna" distante vinte e cinco lguas do Recife. Pagou ao Major Sales toda a boiada, contratando logo outra, para dois meses depois.

    Todos os negcios foram discutidos e realizados por intermdio da Sinhazinha, com quem teve bastante tempo para conversar sobre outros assuntos... Disse-lhe que tinha em seus planos comprar uma grande propriedade para criar gado, j agora desta viagem e perguntou o que a Sinhazinha achava de tudo isto.

  • 55 Ela respondeu que ele estava certo, e que o pai era sesmeiro, isto , autorizado a vender terras. Ele, o moo rico Antnio Luiz Viana, depois da sugesto da Sinhazinha, falou logo com o Major Sales que se interessou em vender-lhe uma grande parte da sua "sesmaria" e imediatamente entraram em negcios. Dois dias depois, aps conhecer parte das terras, fez negcio de duas lguas quadradas em um lado de terras boas para a lavoura e criao de gado. Deu a metade do dinheiro vista e o resto daria quando recebesse as escrituras, tudo de acordo, negcio feito.

    O moo Viana, como era tratado na fazenda, pediu ao Major Sales, que aceitasse o resto do dinheiro em troca de um documento provisrio, pois lembrara que jamais havia constitudo nenhuma dvida contra si, em toda sua vida de negcios. Mas o Major Sales, homem digno e justo, no aceitou!

    O ROMANCE DE AMOR

    As duas lguas de terras custaram uma soma fabulosa, pois j havia algumas benfeitorias em desmatamentos, para pastagens e criao de gado. O custo da terra, que foi noticirio da poca, com grande destaque por toda a redondeza, foi de um conto de ris (1.000$000) ou seja 500 mil ris, por cada lgua de terra. E logo tomou posse da fazenda!. . . Tudo corria bem na provncia e o moo Viana homem dinmico, rico e muito trabalhador, traou planos, idealizou projetos, e procurou executar tudo dentro de um ritmo acelerado, dos seus sonhos de grande progresso, para aquela futura fazenda, onde via atravs dos olhos do corao a figura encantadora da Sinhazinha dirigindo tudo e em tudo dando ordens. . . E durante trs anos suportaram debaixo do maior sigilo o grande romance, que pareceu aos dois, Antnio Luiz e Sinhazinha, um sculo de lutas para a realizao do sonho

  • 56de amor puro e verdadeiro. Ambos porm combinaram em convencer o Major Sales, primeiramente pelo destaque do grande progresso da fazenda, que se desenvolvia rapidamente em todos os setores da cultura e da pecuria. E a organizao modelo que fixou em todos os seus trabalhos e tambm uma administrao exemplar, de muita ordem e respeito absoluto, chamava a ateno de todos. E o trabalho da fazenda em ritmo acelerado e tudo em muita ordem, com trinta operrios e vinte e um escravos em senzala, bem instalados, com requinte de moradia para seres humanos. Tudo isto com objetivo preconcebido, de estimul-los e naturalmente tirar melhor rendimento do brao escravo, nos trabalhos da fazenda.

    Esse seu gesto muito humano no trato aos seus escravos teve grande repercusso naquela poca, em que o escravo no era tido como gente e sim como coisa. Os escravos do moo Antnio Luiz, viviam em absoluta unio, uns com os outros, bem como em total obedincia e disciplina com o seu estimado senhor, de quem se orgulhavam muito. E a fama de um bom senhor de escravos se espalhou pelas fazendas da regio. Em verdade, constituiu motivo de ciumadas e at de reclamaes, por parte dos proprietrios das fazendas vizinhas, que estranharam aquele mtodo posto em prtica pelo moo Viana, tratando os seus escravos como seres humanos, o que no era permitido!

    O seu plano era quase revolucionrio para com os outros senhores de escravos, porque ele era na verdade muito humano! E tudo isto deu um excelente resultado, excedendo mesmo a expectativa do prprio moo Viana, que inteligentemente traou e executou o proveitoso plano. ,

    Os seus escravos trabalhavam o duplo dos escravos das fazendas vizinhas, todos alis com muito gosto. E faziam os maiores elogios ao estimado amo Antnio Luiz Viana, que se tornou logo conhecido como protetor de escravos em toda a regio. Os outros senhores de escravos, vendo o progresso

  • 57extraordinrio da fazenda do moo de pele morena e a grande estima que desfrutava no meio dos seus escravos e tambm dos escravos -de fazendas vizinhas, ficavam preocupados com tudo aquilo, balanavam as cabeas e pareciam at assustados; murmuravam entre eles mesmos, dizendo que talvez fosse por fora natural do sangue da raa, a proteo que dava aos negros! Mas ele no era negro, e sim moreno, brasileiro de Pernambuco, descendente de austraco! Entretanto, o progresso da fazenda saltava a vista de todos e o moo Viana triplicava rapidamente a sua "fortuna. Os boiadeiros j vinham diretamente em sua fazenda. Aumentava de dia para dia o nmero de escravos. Eles fugiam de fazendas distantes e pelas notcias que corriam nas provncias vizinhas, vinham. se valer do humano senhor de escravo. E o moo Viana os recebia e dava-Ihes trabalho e os estimulava, com a promessa de compr-los aos seus senhores, de acordo com as leis que regulamentavam o comrcio para os negros fugidos.

    Arranjava ento o endereo de cada senhor dos escravos fugidos para a sua fazenda e de acordo com a lei, enviava um de seus empregados de categoria, com cartas, propostas dinheiro para pagamento de escravos. Dava tambm os nomes de cada escravo, o dia do ms que havia chegado sua fazenda e a motivao por que no queria mais voltar. E as transaes eram sempre realizadas, pois, os senhores de escravos, sabiam que o negro depois de fugir uma vez, no merecia mais confiana, e procuravam logo vend-los pela primeira proposta, porque j os julgavam perdidos. E assim, aumentava rapidamente a senzala do moo Viana e o progresso da fazenda, a essa altura, j chamava a ateno de todos e servia de modelo para a vizinhana. O prprio Major Sales vivia surpreso com o extraordinrio movimento da fazenda do moo Viana, seu vizinho, a quem

  • 58vendera aquela parte da "sesmaria" e por esta razo gostava muito dele e no perdia oportunidade em dizer aos amigos da admirao que tinha pelo moo de bem, trabalhador e de tino administrativo admirvel. Por isto, se sentia muito feliz em ver vitorioso o seu cliente de terras da "sesmaria" cujo progresso alis agradava s autoridades constitudas da provncia. Ento o Major Sales visitava com mais freqncia a fazenda vizinha dando uma prova de estmulo pela grande vitria e ao mesmo tempo aproveitava a lio administrativa, observando tudo e todos. Via sempre aquelas festas dos escravos do Viana, como coisa rara no meio daquela gente, que era por ndole uma raa triste e temperamental. E ento, quando o encarregado da compra dos escravos fugidos chegava, com todos os negcios realizados e com as escrituras assinadas pelos ex-senhores, era na verdade motivao de animadas festas e muita alegria entre eles. Havia ento as danas e cnticos tpicos de origem africana e cujas festas eram assistidas pela vizinhana, a ttulo de curiosidade para ver e conhecer aqueles costumes completamente estranhos para a gente de c da outra banda. Era a alegria natural dos negros, pela fixao de companheiros da mesma raa e do mesmo infortnio para a fazenda. Claro que tudo corria bem para a propriedade. O tirocnio administrativo, capacidade de liderana e o poder de realizao j comprovados do moreno Viana, eram indiscutveis! O movimento e o progresso chamavam a ateno de todos os fazendeiros vizinhos e de outros mais distantes, em virtude da justa propaganda realizada em alta escala pelo prprio Major Sales, at para regies mais afastadas. E por tudo isto, a fazenda de Antnio Luiz Viana tornou-se famosa e notvel, como ponto de atrao, porque j servia de modelo para as fazendas da regio.

  • 59Captulo III

    No sabia o Major Sales que todo aquele desenvolvimento obedecia em verdade a um plano adredemente bem estudado, rigorosamente traado e de objetivo oculta. mente executado. Vejam o que acontecia por trs de tudo isto: j decorriam dois anos e somente quatro pessoas sabiam do romance de amor entre Antnio Luiz Viana e Maria Gonalves Sales (Sinhazinha). As duas outras pessoas eram os escravos: Gonalo e Leandro respectivamente da confiana da Sinhazinha e do moo Viana, que faziam ligaes conduzindo cartas. verdade que ainda no incio do namoro o moo Viana desejou levar logo ao conhecimento do fidalgo portugus Major Sales, mas a Sinhazinha no concordou, dizendo ao moo Viana, que conhecia muito bem o pai e sabia como ele era exagerado na observncia de preconceitos raciais. Na verdade, sabia tambm que o moo no tinha medo de nada e que topava qualquer parada. .. Todavia, ela pediu-lhe, recorrendo para a pureza dos sentimentos de amor e apelando para a moderao impulsiva do jovem, convidando-o para vencerem a batalha na base do trabalho honesto e pelo poder econmico. Aceitou ento o convite, sem objeo, porque era mesmo louco pela Sinhazinha e sem delonga, corajosa e decididamente, deu incio definitivo para a arrancada do grande progresso da fazenda, que na verdade

  • 60tornou-se a maior e a mais rica da regio naquele tempo!... E o desenvolvimento foi rpido e os negcios tomaram vulto. Comprava todo gado dos vizinhos a dinheiro! Da o entusiasmo demonstrado e posto em prtica pelo Major Sales, fazendo suas vrias visitas por semana fazenda do moo Viana. E com prazer confessava aos seus amigos e (Sinhazinha ouvia tudo) declarava que j-mais na vida, tinha visto tamanho desenvolvimento, em to pouco tempo, em fazenda nenhuma! . . . E que organizao perfeita em todos os setores de atividade!. . . Dizia tambm que ele era um cidado digno da admirao de todos, pois se tratava de um homem de bem, de negcios limpos e bonitos! pena ter a pele um tanto escura!. " A Sirihazinha era como se fosse um reprter, passava tudo o que ouvia para ele e consolava-o, dizendo: basta que eu goste e lhe ame loucamente, como vou provar, o que venho de afirmar em um futuro prximo!. . .

    Com o efeito produzido pela frase final da ltima carta enviada pela Sinhazinha, e mais um recado que a mesma mandou pelo seu escravo de confiana, - o negro Gonalo, para o moo Viana, lembrando-lhe que diante da real situao e do extraordinrio progresso da fazenda, que foi visto, admirado e comentado por toda vizinhana, inclusive pelo seu prprio pai, quando em seus. Comentrios, relativos fazenda, fez o merecido de;;taque e com palavras elogiosas confessava a sua admirao e o respeito por ele, dizendo: o moo na verdade um homem digno, honrado e trabalhador!

    E por tudo isto, adiantava a Sinhazinha em sua carta: - est provado o resultado positivo, dos planos traados por ns dois e realizado por voc, graas sua capacidade de trabalho e extraordinrio tino administrativo. Foi tudo executado rigorosamente, pelo meu bravo heri escurinho, a cor da minha simpatia e da minha paixo. Portanto, no havendo mais dvidas sobre tudo o que se esperava, creio que chegou o momento apropriado da grande surpresa. E

  • 61ento perguntou o que ele achava da oportunidade de uma das visitas de, seu pai fazenda, para pedi-Ia em casamento. Ele respondeu ento que em ocasio de visita no ficava bem, porque o visitante nunca se sente vontade, por falta de ambiente como bvio e do direito de se expressar vontade, como se estivesse em sua prpria casa, sem constrangimento! Fique tranqila Sinhazinha, a nossa luta se aproxima do fim e o objetivo ser alcanado, embora tenhamos de enfrentar duras provas, pois o orgulho do Major Sales, no se abater pelo nosso poderio econmico! Constrangido, mas serei obrigado a aceitar a qualquer preo, o custo de nosso sonho, que sem sombra de dvida est escrito no livro do nosso destino e ser realizado! Creio que o lugar par:a um assunto to srio e de suma importncia como este, que nos envolve os destinos para a sublime vida do amor, merece ser na verdade um lugar do maior destaque. Escuta querida Sinhazinha, minha linda deusa de fina louania, espero que voc h de convir comigo, no que diz respeito ao local apropriado para o momentoso ato, o mais importante de toda minha vida: - pedi-Ia em casamento!. .. Voc, bela Sinhazinha, com a fabulosa inteligncia que Deus lhe deu, com a grandiosidade da sua formosura e seu rico corao, estou certo, concordar comigo. Claro que vai entender e compreender a razo por que quero dar um super destaque ao ambiente escolhido para o suntuoso ato! Vamos nos lembrar, que naquele exato momento, vai se tratar de um assunto, que servir, com certeza, de um marco divisor do nosso destino.

  • 62

  • 63Captulo IV

    O Pedido de Casamento

    E para dar ao ato maior colorido de seriedade, deveremos, eu e voc, ocupar a sala das visitas de cerimnias, da casa do Sr. seu pai, logo aps a minha chegada. E assim procedendo, depois de tudo combinado e ensaiado entre os dois, pelas cartas conduzidas pelo negro Gonalo. Aguardaram, ento, o grande dia da deciso!... Estava tudo combinado!... Em manh chuvosa, o movimento da fazenda comeou mais cedo, pois desde alta madrugada o moo Viana, sem poder dormir, levantou-se, bateu a sineta da senzala, e como uma mola automtica, 32 negros fortes e dispostos, estavam de p e s ordens do amo estimado! Todos sabiam, debaixo do maior sigilo, que chegara o dia que o amo ia pedir a mo da moa branca - a Sinhazinha, em casamento. E faziam promessas com So Benedito, para o moo amo ser muito feliz, e bem sucedido no seu desejo. Comeou ento o movimento da fazenda s 5 horas da manh. O dia corria rapidamente e o moo Viana se mostrava alegre, disposto e feliz. Almoou bem, e sempre consultando o relgio e deixando transparecer alegria e ansiedade ao mesmo tempo. Quando o relgio da sala da casa do moo Viana bateu sonoramente duas horas e meia da tarde, o escravo

  • 64Leandro chamou o seu amo, dizendo o cavalo "asa branca" est bem prontinho, e at que ficou muito bonito com a montaria nova, - meu amo!. .. Est na hora da viagem e meu So Benedito seja o guia do meu amo... Na hora da partida, todos os escravos, em nmero de 32, deram um viva ao senhorzinho e ficaram de joelhos, rezando pela boa sorte do estimado amo. De uma, a outra fazenda, era apenas meia lgua. Chegava o moo Viana s 3 da tarde, exatamente hora combinada, em um bonito cavalo, muito bem preparado com arreios novos. E, logo que descobriu o enorme ptio da casa grande, divulgou imediatamente a figura impressionantemente encantadora da Sinhazinha, que transparecendo nervosismo, andava com passos apressados, de um para o outro lado do grande alpendre da casa da fazenda. O ptio da casa grande do Major Sales avanava talvez uns 300 metros, todo destocado e conservado sempre bem limpo. Ptio vasto e bem conservado das casas grandes de fazendas importantes, era como que o carto de visita!... Era tambm usado por medida de segurana na poca, e servia ainda para a dormida de gado e dos rebanhos de ovelhas e de outras criaes da rica fazenda e at das fazendas vizinhas.

    O moo Viana se aproximava do alpendre da casa grande, em marcha lenta, em seu bonito cavalo "asa branca", pois a boa educao e o respeito, em uso na poca, no permitiam que se chegasse correndo a cavalo. em frente casa de gente importante, porque era como se fosse insulto!...

    Parou bem ao p da calada e ainda a cavalo, com um gesto respeitoso de cabea, falou com a Sinhazinha, cumprimentando-lhe com um amistoso boa tarde, no que foi correspondido por ela, que de imediato convidou-lhe a desmontar. Aceitando o convite, desceu do cavalo, que logo entregou ao negro Gonalo, que ali estava presente, de prontido, para amarrar o "asa branca" debaixo da lata como o fez. Logo em seguida, o moo Viana recebeu outro convite

  • 65da sinhazinha e desta vez para entrar. Com um natural muito obrigado, aceitou e ambos penetraram na sala de visitas, que por sinal tinha sido adredemente bem ornamentada pela prpria Sinhazinha. No primeiro momento, ainda os dois a ss, na sala, alis ele j sentado e ela dando uma melhor forma no mobilirio, desejo de amenizar a austeridade do ambiente, mudando a posio de cadeiras na sala, antes da chegada dos seus pais e mais familiares. Ela, em tom de gracejo, segredou baixinho ao ouvido do moo, dizendo..lhe: no tenha medo, pois quaisquer que sejam os resultados, eu estarei ao seu lado!...

    O moo ouviu tudo, com um riso de simpatia nos lbios e com a calma que sempre lhe caracterizou, agradecendo primeiramente a valiosa e significativa solidariedade da Sinhazinha, afirmando que aceitava o nobre gesto, como a mais elevada prova de amor, de grandeza d'alma e de compreenso. Todavia, disse o moo, que se sentia devendo uma explicao a essa criatura digna e extraordinria; primeiramente agradecendo de corao o oportuno encorajamento, que franqueou, mas precisava dizer a Sinhazinha, o seguinte: - que no se lembrava, se no perodo da vida escolar, ou na compra e venda de gado, e ainda, na administrao de fazendas, - se ao menos uma s vez, havia escrito a palavra medo e jamais usara!...

    Ambos riram gostosamente do curto dilogo, aproveitando os poucos minutos que faltavam para a chegada dos pois e familiares que a esta altura a Sinhazinha j havia mandado chamar pela escrava Benedita. A negra levou um recado para os pais, as trs irms e para os dois irmos, dizendo que todos viessem sala de visitas, onde a Sinhazinha e o moo Viana tinham assunto importante a tratar. Todos receberam o chamado da Sinhazinha, atenderam de imediato, e assustados foram para a sala de visitas da casa grande, onde a Sinhazinha e o moo Antnio Luiz Viana os aguardavam com ansiedade.

  • 66

    Foi at este momento ignorado por toda famlia o romance amoroso que existia j h 3 anos, entre os dois, em luta silenciosa, porm titnica, em todos os setores de atividades, para o progresso rpido da fazenda em particular e dos negcios em geral, com um nico objetivo: - vencer o exagerado preconceito racial, por meio do domnio pelo poder econmico, que na verdade a fortuna do moo fazendeiro j superava com grande vantagem, a todos os. outros da regio. A maioria dos fazendeiros da vizinhana tomava dinheiro emprestado ao moo Viana, inclusive o prprio Major Sales, que sempre recebia dinheiro adiantado, para descontar na entrega das boiadas, como alis, nesta ocasio, j estava adiantado em muito dinheiro, pois devia a elevada importncia de duzentos mil ris - 200$000!

    Voltando sala de visitas, onde quase todos j se achavam reunidos, com a exceo do Major Sales, que no momento estava dando ordens aos trabalhadores um pouco afastado. Os que iam chegando sem saberem do que se tratava, ficavam em silncio, se entreolhando reciprocamente. Os rapazes julgavam que fosse negcio de compra de gado e as irms, de nada entendiam, mas obediente ao chamado e curiosas pelo assunto importante, como disse a negra Benedita, aguardavam firmes a conversa. Alm dos dois, Sinhazinha e Antnio Luiz Viana, somente duas pessoas mais sabiam do grande segredo de trs anos: o negro Gonalo, escravo de confiana da Sinhazinha e o negro Leandro, escravo da confiana do Antnio Luiz Viana. E mais ningum conhecia o romance, a no ser, que na vspera, o moo Viana tenha chamado o negro de sua confiana, e lhe autorizando a levar ao conhecimento dos outros 31 escravos aquele segredo que guardou por trs longos anos! Ateno! Amanh, o estimado Senhorzinho vai pedir uma moa em casamento: a Sinhazinha, filha do Major Sales. Houve ento muita alegria entre eles, e vivas ao amo!... E porque Leandro disse aos companheiros, que talvez corresse perigo ao Senhorzinho, ficaram muito preocupados e a noite

  • 67no dormiram. Houve na hora da sada, uma manifestao espontnea de solidariedade e deram mais vivas ao Senhorzinho. E quando ele j saa do grande ptio da sua casa, olhou para trs e viu uma cena que lhe comoveu: os 32 escravos estavam todos de joelhos, com as mos postas, olhando para o cu e contritamente rezando a So Benedito, pela boa sorte do estimado Senhorzinho. Quando olhou, que viu o gesto sublime de solidariedade espontnea dos seus escravos, comoveu-se e acenou com a mo, em sinal de despedida. Aquele gesto do amo provocou inquietao e cuidados aos escravos, que em alvoroo, liderados pelo negro Leandro, se mandaram no rumo da outra fazenda, por dentro do mato, margeando o caminho, at prximo ao ptio da casa grande, onde avistavam o cavalo "asa branca" amarrado debaixo do latado. Ali ficaram uns dez escravos, todos muito bem armados e municiados, olhando ocultamente para a frente da casa do Major Sales. Os outros foram distribudos ao longo do caminho, pelo lder Leandro, escravo de confiana do amo Viana.

    Neste momento, chega sala de visitas, o Major Sales, acompanhado da esposa Dona Maria Isabel Sales, que embora no tendo nenhuma idia sobre aquele chamado, foi, ela prpria, trazer o Major Sales. Antes de chegar sala, o Major perguntava a Maria Isabel, para que seria o chamado da Sinhazinha, atendendo um pedido do moo Viana. verdade, estou no momento, devendo muito dinheiro a ele. Devo-lhe a importncia de duzentos mil ris, mas com negcio feito para descontar na venda da primeira boiada, dentro de mais dois meses.

    Foi entrando e pedindo desculpas pela demora aos que se achavam na sala e marchou para o moo Antnio Luiz Viana, dando-lhe a mo, cumprimentando-o. Como de praxe, todos tinham se levantado, quando o respeitvel casal penetrava no recinto, cujo ambiente estava naturalmente carregado e sombrio, diante do desconhecimento da motivao, para uma reunio, com assunto importante a

  • 68tratar. O Major Sales, depois das palavras .de bom estilo com visitas, convidou todos a se sentarem, no que foi obedecido imediatamente. Estava presente toda famlia, assim constituda: Manoel Gonalves Sales (Major Sales), Dona Maria Isabel; Manoel Gonalves Sales Filho (Safilho), Maria Isabel Sales Filha -(Mariquinha), Joaquim Gonalves Sales (Quinco Sales), Maria Inez Gonalves Sales (Marinez), Maria Jos Gonalves Sales (Maz) e Maria Gonalves Sales (Sinhazinha). Depois de todos sentados, houve quase um minuto de silncio absoluto. Ento o Major Sales, com um hbit9 muito comum no serto, sentado como estava, bateu com as mos sobre os joelhos, quebrando o silncio e em voz pausada falou: estou s ordens, pode tratar do negcio - gesticulando maneirosamente com a mo direita, como que oferecendo a palavra ao moo Viana. Este ento, comeou com um muito obrigado, por ter o Major lhe facultado a palavra. Bem Major, po se trata propriamente de um negcio, mas de assunto muito elevado e portanto acima de uma transao comercial, por mais honesta e valiosa que ela seja.

    A esta altura, o Major mudou de cor e ainda sem de nada saber, disse: moo, por favor, pode se explicar que eu no estou entendendo. - Major, o senhor tem razo, no fcil mesmo de entender, porque na verdade deve constituir motivo de grande surpresa. Portanto Major, justamente pelo impacto que a surpresa poder lhe causar, que antes quero lhe dirigir um veemente apelo, e o fao com a devida sensatez. Diante da delicadeza do objetivo de minha conversa, espero contar com a compreenso, inteligncia e o bom senso do digno Major, para podermos assim, com calma, em discusso amistosa, chegarmos a bom termo. Certo moo, pode falar que estou avisado, embora no me passe pela cabea o suposto problema. Todavia, atendendo ao seu amvel e amistoso apelo, farei o possvel para suportar qualquer impacto, sob o controle dos meus nervos. Muito bem Major, estou deveras satisfeito com o que me promete, muito

  • 69obrigado! Mas, a minha amizade e o respeito pelo senhor so to elevados e desejo tanto conserv-los com pureza, que rogaria a sua palavra de honra, como garantia de um pronunciamento amigvel, no que diz respeito ao assunto de nossa conversa. Sim, homem de Deus, vejo que a minha Maria Isabel, j no est se sentindo muito bem, fala de vez! Na verdade, a Dona Maria Isabel estava plida, e de rosrio mo, rezando baixinho, transparecendo porm, a angstia e o nervosismo!... Tendo ela nesta ocasio se manifestado, pedindo todavia desculpas, por no ter sido chamada ainda, para dar opinio, mas a tenso nervosa, j est nos martirizando a todos, e por isto, eu pediria ao moo, atender ao apelo do meu Manoel e falar de uma s vez, o que deseja. Todos apoiaram a interferncia da Dona Maria Isabel, inclusive o prprio moo Viana, que falou: muito bem, apoiado! Eu estava esperando a interferncia valiosa da Exma. Senhora e sinceramente, me senti mais a vontade, notadamente cumprindo ordens de atender ao Major, que me mandou falar de uma s vez..

    Era exatamente esta autorizao que eu aguardava com ansiedade e agora peo, com todo respeito, para me ouvirem: - na verdade, um acontecimento de alta surpresa para todos. Muito embora a senhorita Sinhzinha e eu tenhamos heroicamente conservado e suportado o martirizante segredo, com absoluto respeito e dignidade, para, somente agora, neste exato momento, confessarmos, que h trs longos anos, somos noivos. E agora com todo respeito, em ambiente digno e muito solene, na presena dos ilustres pais: Major Manoel Gonalves Sales e Exma. Senhora Maria Isabel Sales e todos os familiares, eu tenho a honra de pedir a mo da senhorita Sinhazinha em casamento.

    O choque inesperado foi tremendo, violento e emocionante!... Houve dois minutos de profundo silncio, na mais cruel e dolorosa ameaa de olhares surpresos e raivosos, trocados na sala entre o pai e os filhos, que eram na verdade fuzilantes!

  • 70 E o moo Viana aguardava a resposta, com uma calma impressionante, apresentando tambm, muita elegncia no porte e um sorriso de simpatia nos lbios. Em dado momento, o Major Sales, ainda como que tomado pelo impacto, levantou-se bruscamente, com um gesto tambm arrebatado, empurrou a cadeira para trs, dando a entender que ia sair, sem levar em considerao o pedido do moo Viana. Este porm, pediu calma ao Major Sales, lembrando-lhe que estava em jogo a sua palavra de honra dada h poucos instantes!... Tem uma resposta a mim e que certamente, com todo meu respeito, aguardo o pronunciamento do Major!

    Ele voltou, pediu desculpas, mas ainda com aspereza na voz e foi se sentando novamente e dizendo: parece-me que, pelo que eu ouvi, est encerrada a conversa, pois segundo a minha concluso, o moo com certeza est delirando ou em estado de alucinao. Interferindo imediatamente na conversa, a Sinhazinha tomou a palavra e foi dizendo, antes que qualquer outro falasse: no papai, ele no est delirando nem um alucinado! Tudo o que ele falou, foi de acordo comigo e autorizado por mim, e lhe afirmo papai, que ele est em pleno gozo de suas faculdades mentais. O senhor, papai, me conhece muito bem, somos, alm de pai e filha, grandes amigos, isto incontestvel, portanto, rogo ao querido pai, mais ateno para com o moo