Ana Mendes 20111189

Dalí e o Surrealismo

Maio de 2012

Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa

Índice

Introdução

Origem do Surrealismo

Métodos do Surrealismo

Dalí

Dalí e o Surrealismo

Conclusão

Bibliografia

Introdução Neste trabalho vou falar acerca da relação de Dali com o Surrealismo.

A escolha deste tema foi feita pela admiração que tenho por este movimento

artístico e pelo artista em causa, pois identifico-me com ambos. Penso que a mente

humana pode criar algo extraordinário para nós, mesmo sendo a nossa própria obra. Não

podemos desperdiçar oportunidades de ver realidades novas por uma vida levada

demasiado seriamente, sem emoção.

Só os loucos é que fazem “a carroça andar para a frente”.

Origem do Surrealismo

O Surrealismo foi um movimento artístico, que se deu entre a Primeira e a

Segunda Guerra Mundial, iniciado na Europa, em París, propagando-se pelo resto do

mundo.

O Dadaísmo O Surrealismo surgiu a partir de um outro

movimento artístico, o Dadaísmo, onde grupos de

artistas se reunião no Cabaret Voltaire, mostravam,

apreciavam, discutiam e até criavam obras. O

Dadaísmo surgiu durante a Primeira Guerra Mundial,

como reacção ao que se estava a passar, o grupo

concluiu que a causa dos conflitos era o

conservadorismo, os costumes e regras. Portanto,

resolveram expressar-se numa forma despejada de

toda normas, razão e lógica, prezando então a

irracionalidade e a intuição.

Freud Sigmund Freud foi um neurologista Austríaco,

que conseguiu descodificar, entre muitas outras

coisas, o significado dos sonhos. Ou seja, algo que

era abstracto, confuso e desorientante, pôde

finalmente ser entendido, estudado e útil para tirar

conclusões acerca da mente da pessoa que as sonhou.

Hugo Ball, encenações e figurinos

Traumdeutung de Freud, o livro de

interpretação dos sonhos.

Breton e Vaché Durante a Guerra André Breton, o qual

tinha treino na área da medicina e psiquiatria,

serviu na ala do hospital neurológico de Nantes

onde havia soldados que sofriam de traumas de

guerra, aos quais usou os métodos sugeridos no

livro de Freud. Jacques Vaché foi convocado

para o exército em 1914. Uma vez ferido, foi

colocado na ala de Nantes. Quando saiu,

tornou-se interprete Inglês para as tropas.

Vaché tinha comportamentos anti-

sociais e um desprezo contra as tradições

artísticas previamente estabelecidas, o que

agradava Breton. Portanto, durante 1916 e 1918 Vaché e Breton trocaram cartas, onde

Vaché expressava conteúdos surrealistas. Vaché suicida-se em 1919 e as cartas foram

mais tarde publicadas no livro Cartas de Guerra por Breton.

Fundação do Surrealismo Tendo-se apercebido da grande

importância do subconsciente (pelos estudos de

Freud), Breton desenvolveu uma técnica nova:

o automatismo, que é a ausência de consciência

durante a criação de uma peça de arte. Assim, o

subconsciente seria o único responsável pelo

conteúdo, sendo este então, abstracto, irracional

e imprevisível, contudo, poderia ser

interpretado tal como os sonhos são, pela

existência de elementos reais e facilmente

reconhecíveis. Esta técnica foi usada

primariamente na literatura (Breton era

escritor), sendo depois usada pela comunidade fora, nos outros campos, teatro, pintura,

cinema, fotografia, …

Jacques Vaché, 1914

André Breton, 1924

Métodos do Surrealismo (apenas alguns exemplos)

Aerografia Técnica semelhante à pintura com spray e stencil, onde se substitui o stencil por

objectos tridimensionais.

Anelephantaday.blogspot.pt

(blog de um artista que se comprometeu a

desenhar um elefante por dia, usando uma técnica

diferente todos os dias)

Imaginedlandscape.blogspot.pt

Buletismo Nesta técnica, atira-se tinta contra a superfície a pintar (com uma esponja por

exemplo). O artista procede em desenvolver as figuras sugeridas pela mancha obtida.

Dali diz ter sido o inventor desta técnica, contudo, uma descrição da mesma foi

encontrada nos escritos de Leonardo DaVinci.

Ecce homo, Dali 1969 Saint Sebastien perce de Fleches, Dalí

“Calligramme” Texto ou poema onde as frases são colocadas de forma a formar uma figura,

normalmente que tenha que ver com o assunto do poema. Esta técnica foi desenvolvida

por Guillaume Apollinaire.

Guillaume Apollinaire

Colagem Técnica onde o artista corta bocados de o que lhe apetecer, normalmente papel

(colorido, jornal ou revista, fotografias, …) e rearranja as peças obtidas numa nova

composição.

Dentro da colagem, existem outras técnicas mais especializadas:

-Cubomania (os pedaços usados para a colagem são todos quadrados);

- “Cut-up” (são cortados pedaços de texto, os quais são rearranjados para criar

um texto novo);

Kurt Schwitters, Das Undbild, 1919 Die Jalousie , Juan Gris 1914 My Fantasy Arrives by Post , Daniel

C. Boyer 2004

“Coulage” Técnica usada na escultura, onde se verte um material moldável (metal, cera,

chocolate) em água, obtendo a forma com que o dito material condensa ao arrefecer

moldado pelo impacto e pressão. Haveria uma série de maneiras de manipular este

processo.

Decalcomania Técnica onde o artista verte sobre o suporte uma tinta grossa, precionando-lhe

com uma outra superfície. Retirada esta segunda superfície, a mancha torna-se a mancha

base para o desenho final.

Método Critico-paranóico Método de criação desenvolvido por Dali, onde o artista se apercebe de ligações

entre elementos ou objectos os quais na realidade não têm nada que ver um com o outro.

Dalí Pequena biografia para contextualização Salvador Domingo Felipe Jacinto Dalí i

Domènech, nasceu em Figueres em 1904. Andou

numa escola de desenho quando pequeno e mais

tarde entrou em contacto com Ramon Pichot, pintor

impressionista que fazia visitas regulares a Paris,

com o qual passou um verão, onde foi introduzido à

pintura moderna – isto no ano de 1916, teria Dalí 12

anos. No ano seguinte a esse verão, o pai de Dalí

organizou na casa de família uma exposição dos

desenhos a carvão.

Mais tarde, teve de se instalar na Residência de Estudantes de Madrid, para

atender a Academia de São Fernando. Lá

conheceu Pepín Bello, Luis Buñuel e

Federico Garcia Lorca, os quais seriam mais

tarde encenadores, realizadores e poetas

consagrados. Foi com pinturas cubistas que

começou a reunir atenção por parte de

colegas, contudo ainda não entendendo bem o

conceito desse movimento artístico, pelo que

só conhecia o que podia ver em revistas da

época pelo facto de ainda não haver artistas

cubistas em Madrid.

Em 1926, Dalí foi expulso da

Universidade por começar uma briga, pouco

antes dos exames. Foi então, nesse mesmo ano,

que fez a sua primeira visita a Paris, onde se

encontrou com Pablo Picasso, o qual era

venerado pelo, na altura, pequeno Dalí. Picasso

já tinha ouvido deste novo pintor, pela boca de

Juan Miro. Estes dois pintores, Picasso e Miro,

terão mais tarde um grande peso em varias

Dali fotografado por Man Ray

Nude Standing by the Sea, Piacsso 1929

The Hunter, Juan Miro 1924

obras de Dali.

Dalí e Buñuel Un Chien Andalou, um filme surrealista

de Buñuel e Dalí, nasceu de uma conversa acerca

de um sonho que Buñuel teve, onde ele se viu a

cortar a lua ao meio com uma lamina, como se

cortasse o olho a alguém. Dalí partilhou que

também teria tido um sonho peculiar, onde tinha a

mão pilhada de formigas. Ambos concluíram que

é fascinante o que a mente cria só por si. Então,

resolveram escrever um guião baseado nestes

dois sonhos e no conceito de emoções oprimidas.

Uma vez lançado o filme, este foi bem

recebido, para espanto e pena dos dois

realizadores. Este filme foi também o “bilhete de

entrada” para o grupo já criado por Breton dos

Surrealistas, em Montparnasse.

No seguimento do sucesso de Un Chien

Andalou de 16 minutos, realizaram outro, L’age

d’or.

Contudo, quando o filme estaria a ser

produzido, Dalí e Buñuel desentenderam-se, pelo

que Dalí acabou por não ter papel algum no

filme.

Capa do filme Un Chien Andalou

Dali como padre confuso (à direita)

Buñuel e Dali, 1933

Dalí e o Surrealismo Gala Pouco depois de realizar o Un Chien

Andalou, Dalí conheceu Gala, uma senhora

Russa, dez anos mais velha que ele, então casada

com o poeta surrealista Paul Éluard. Gala viria a

tornar-se a grande musa inspiradora de Dalí (e

também de outros artistas) e sua futura esposa.

Expulsão de casa. Desde à muito que a relação entre Dalí e o

seu pai era amarga: o pai rejeitava a sua relação

com Gala e os Surrealistas, pois achava ser uma má influencia para Dalí. Só, pouco

mais tarde, ao ver uma pintura onde se podia ler Ás vezes, por diversão cuspo no retrato

da minha mãe, acho ser a gota final. Pôr o filho fora de casa, cortou relações com ele, e

jurou deserda-lo.

No Verão seguinte, Dalí e Gala alugaram uma casinha na costa, numa praia de

pescadores, a qual mais tarde comprou e foi aumentando até ter uma pequena villa que

tanto sonhava. Foi aí que pintou a sua obra mais conhecia A persistência do tempo.

Introdução à América Mais tarde em 1934, Dalí foi introduzido na América pelo “fornecedor de arte”

Julian Levy. A exposição em Nova York foi um grande sucesso, sendo logo organizadas

festas e bailes, onde ambos Dalí e Gala apareciam com adereços surreais.

Expulsão do grupo dos surrealistas de Paris

Ainda na América, num Baile, Dalí e Gala vestiram-se de bebé Lindbergh

(referencia a um celebre bebé que teria sido raptado), e de raptor. Esta mascara foi vista

como afronta, pelo que Dalí pediu desculpa publicamente. Mais tarde, de volta a Paris,

Dalí foi confrontado pelo grupo dos surrealistas, os quais não aprovaram o pedido

publico de desculpas pela mascara, a qual era uma atitude surreal.

Com a ascensão de Hitler ao poder, o grupo começou a assumir as suas posições

politicas, que seriam de esquerda, ou seja, pelo menos contra a perseguição étnica,

Dalí e Gala, anos 20(30

política, sexual, etc. Contudo, Dalí não assumiu qualquer posição, defendendo que a

arte deve ser neutra e separada da política. Mas só em 1934, os surrealistas fizeram

quase que um julgamento, onde Dalí foi acusado de defender a irracionalidade dos actos

de Hitler, pelo que Dalí disse que não - contudo, pensava que a situação que se estava a

viver era, de facto, surreal. Daí, foi então, expulso também do grupo dos surrealistas de

Paris, protestando com a célebre “Não me podem expulsar do surrealismo. Eu sou o

surrealismo!”

De volta à América Após a expulsão dos surrealistas mostrou o

seu lado mais excêntrico ao público: em 1936,

houve em Londres uma Exposição internacional do

Surrealismo, Dalí deu uma palestra onde usou um

escafandro, justificando que estava a descer até às

profundidades da mente; noutra ocasião, na galeria

do seu primeiro representante na América (já acima

referido) Julian Levy, organizou-se uma sessão

estreia do filme Rose Hobart de Joseff Cornell, no

mesmo dia em que se fazia a primeira exposição

surrealista no Museu de Arte Moderna, onde

estariam alguns trabalhos de Dalí – Dalí atendeu à

sessão estreia do filme ao invés de estar presente na

sua exposição, onde a meio do filme, onde derrubou

o projector em fúria, justificando que, sim, era

mesmo essa a sua intenção, e até tentou pagar

alguém que o fizesse por ele. Nesta altura tinha

como “patrocinador”, o poeta britânico Edward

James, o qual, sendo extremamente rico, ajudou

Dalí, comprando os seus trabalhos e apoiando-o financeiramente durante dois anos,

colaborando também para o Lobster Telephone e Mae West Lips Sofá.

Lobster Telephone

Mae West Lips Sofa

Rainy Taxi

Dalí visto pelos surrealistas Em 1938, houve uma Exposição

Internacional do Surrealismo em Paris, organizada

por Breton e Paul Eluard na Galeria das Belas

Artes, desenhada por Marcel Duchamp, o qual

também foi o anfitrião. Lá, Dalí mostrou pela

primeira vez o seu Rainy Táxi. Mais tarde, em 1939,

os surrealistas começaram a mostrar o seu desprezo

e desagrado publicamente, face à atitude de Dalí em

relação à simples criação para comercialização.

Diziam – e notava-se de facto – Dalí só queria

engrandecer-se pela fama e fortuna.

Segunda Guerra Mundial Dalí e Gala encontravam-se na Europa quando

a guerra estava no auge, só em1940 voltaram para a

América, onde permaneceram por oito anos, durante os

quais Dalí dedicar-se ia de novo ao catolicismo e à

escrita de livros e catálogos para as suas exposições,

onde expôs que o Surrealismo serviu para dar uma

prova experimental de que a total esterilização e

tentativas de automatismo foram demasiado longe,

levando à totalização do sistema. A preguiça que se vê

hoje em dia e a total falta de técnica atingiu o seu

paradoxismo no significado psicológico do uso da

faculdade correntemente.

Dalí fotografado por Carl Van Vechter,

1939

“Surrealism will at

least have served to give

experimental proof that total

sterility and attempts at

automatizations have gone

too far and have led to a

totalitarian system. ... Today's

laziness and the total lack of

technique have reached their

paroxysm in the

psychological signification of

the current use of the

college.”

- Dalí

Últimos anos

Em 1949, Dalí voltou para a

Catalunha, onde começou a dedicar-se a

meios até então pouco convencionais, como o

uso de holografia, o uso de ilusões de óptica,

o que, mais tarde veio influenciar o

movimento Pop Art.

O seu pós guerra foi mascado pelo

crescente interessa pela matemática e ciências

naturais, o hipercubo, evidenciados

no Crucifixion (Corpus Hypercubus); pela

geometria, na escultura Rinoceronte vestido

con putillas, justificando que o corno do

rinoceronte é geometricamente perfeito pois é

construído a partir de um logaritmo espiral;

inspirado por fotografias da bomba atómica,

por pinturas como A Madonna de Port Lligat.

Dalí chamou a este período o seu

período Nuclear Mysticism.

Mais tarde em 1968, Dalí trabalhou

para uma marca de chocolate, para a qual fez

um anúncio televisivo onde aparecia dizendo

Eu sou doido pelos chocolates Lavin!,

desenhou o logótipo da Chupa-chups, fez o

design da campanha publicitária para o

Festival da Canção Eurovisão de 1969 e

desenhou uma enorme estrutura em metal

para o palco do Teatro Real de Madrid.

E para acabar, em 1980, a saúde de

Dalí dá uma reviravolta, morrendo mais

tarde, depois de Gala, em 1988, em Figeres.

Crucifixion (corpos hypercubus), Dalí 1954

Rinoceronte vestido com putillas, Dalí 1956

A Madonna de Port Lligat, 1949

Conclusão Dalí foi o mais surrealista dos surrealistas, pois queria ter uma atitude na vida

coerente com a sua atitude nas artes, sendo, felizmente, foi reconhecido e apreciado por

tal. O Surrealismo, o movimento artístico que apela à irracionalidade e uso do

subconsciente como principal criador de arte, abriu assim, novas portas para o mundo

do pensamento, uma nova área pronta a ser solidificada pelas gerações futuras.

Bibliografia Esta pesquisa foi feita a partir de todo o material que pude obter

durante duas semanas, na interrede. Filmes, pastas de imagens

cronologicamente organizadas, documentários.

Para informações de datas e eventos mais sólidas e detalhadas, usei o

site Wikipedia, em todos os tópicos mencionados nesta pesquisa (biografias

e tópicos diversos), em português e inglês – sendo que um tende em

completar o outro.

Disponibilizarei a partir do dia 28 de Maio, todo o material usado, no

meu site da escola: home.fa.utl.pt/~20111189/ na secção criada para a

disciplina de História das Artes e do Design:

home.fa.utl.pt/~20111189/area.php?n=história

Ana Mendes, Maio de 2012.

20111189

História das Artes e do Design ll

Design, primeiro ano.

Faculdade de Arquitectura da Universidade de Lisboa.