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    "Luiz Carlos Prestes entrou vivo

    no Panteon da Histria.

    Os sculos cantaro a 'cano de gesta'

    dos mil e quinhentos homens da

    Coluna Prestes e sua marcha de quase

    trs anos atravs do Brasil.

    Um Carlos Prestes nos sagrado.

    Ele pertence a toda a humanidade.Quem o atinge, atinge-a."

    (Romain Roland, 1936)

    DANIEL AARO REIS E A BIOGRAFIA DE LUIZ CARLOS PRESTES: AFALSIFICAO DA HISTRIA POR UM HISTORIADOR

    Escrito por Anita Leocadia Prestes

    Estamos diante de um livro, escrito por um historiador[1], que poderia ser usado em sala de aula de um curso de Histria como modelo para os estudantes

    do que no deve ser um trabalho de historiador. Para E. Hobsbawm[2], o historiador deve ter um compromisso com a evidncia e, portanto, escrever uma

    Histria no s apoiada em documentos como tambm baseada na comparao do maior nmero possvel de fontes documentais que lhe permitam obter

    os elementos necessrios para uma aproximao confivel dessa evidncia. Caso contrrio, o historiador ficar sujeito a reproduzir e difundir informaes

    falsas, assim como interpretaes errneas e parciais da realidade que pretende retratar.

    Nada disso considerado por D. A. Reis. No seu l ivro, no se apresentam as fontes documentais das afi rmaes veiculadas. Em notas, presentes no finalda obra, so citados livros ou arquivos de maneira genrica (por exemplo, Fundo PCB no Arquivo da Internacional Comunista, no qual existem milhares de

    documentos), deixando, portanto, o leitor privado da possibilidade de consultar o documento ao qual o autor se refere. Dessa forma, o leitor induzido a

    aceitar como verdades indiscutveis afirmaes cuja origem dificilmente poderia ser comprovada.

    Tal metodologia adotada por D. A. Reis, marcada pela incompetncia e a irresponsabilidade do pesquisador, contribui para que nos encontremos diante de

    um texto repleto de erros factuais e de informaes falsas, assim como de anlises supostamente psicolgicas de Prestes e dos demais personagens

    retratados no livro, embora no conste que o autor possua formao de psiclogo.

    Entre inmeros erros, constantes da obra de D. A. Reis, para citar apenas alguns - se fossem listados todos, seria necessrio escrever outro livro -, pode-se

    apontar, por exemplo, o de antecipar o episdio da campanha da Reao Republicana de Nilo Peanha de 1921-1922 para o ano de 1919 (p. 26), quando

    foi eleito presidente da Repblica Epitcio Pessoa. Outro exemplo: o autor afirma que os dirigentes comunistas Ramiro Luchesi e Fragmon Carlos Borges

    foram assassinados (p. 347), no incio dos anos 1970, quando na realidade faleceram de morte natural; da mesma maneira, escreve que o general Miguel

    Costa j teria falecido em maro de 1958 (p.279), sem indicar quando, o que s veio a ocorrer em dezembro de 1959; tambm afirma que, em maro de

    1990, entre as quatro irms de Prestes, s Lygia restara viva (p. 480), enquanto, na realidade, Lcia faleceu em 1996 e Eloiza em 1998. Em diversos pontos

    da obra, o autor cita documentos constantes dos anexos no livroA Coluna Prestes, de A. L. Prestes, mas a referncia includa na bibliografia de outro livro

    da mesma autora (Uma epopia brasileira: a Coluna Prestes).

    Em diversos momentos, D. A. Reis, que se considera entendido nas obras dos clssicos do marxismo, ao abordar a luta constante de Prestes tanto contra o

    oportunismo de direita quanto contra o oportunismo de esquerda, lhe atribui posies centristas (p. 330, 333, 358, 437), revelando desconhecimento dessa

    temtica no marcos da teoria marxista. Segundo tal interpretao, V. I. Lenin, que sempre combateu os desvios de esquerda e de direita no seio dos

    movimentos socialistas e comunistas, teria sido um poltico de centro...

    No que se refere s legendas das fotos reproduzidas no livro, verifica-se que inmeras esto erradas: o tenente Victrio Caneppa, carcereiro de Prestes (

    poca diretor da Casa de Correo), apresentado como sendo o diplomata Orlando Leite Ribeiro, amigo de Prestes; a foto da formatura de Prestes no

    Colgio Militar (aos 18 anos) figura como se fosse da formatura da Escola Militar (aos 22 anos); as fotos de Anita, filha de Prestes, no correspondem s

    datas que lhes so atribudas; o retrato da me de Prestes, tirado em Londres, em 1936, atribudo ao perodo do exlio no Mxico; etc.

    Estamos diante de um texto eivado de fofocas, mexericos, intrigas e mentiras, em que se reproduzem as invencionices da viva de Prestes, assim como de

    antigos dirigentes do PCB e de comandantes da Coluna Prestes, que viraram inimigos de Prestes. Este foi o caso de Joo Alberto Lins de Barros, autor de

    memrias publicadas trs dcadas aps a Marcha, em que revela ressentimentos por seu antigo comandante haver se tornado comunista. Da mesma

    maneira, vrios ex-dirigentes do PCB, em depoimentos prestados ao autor do livro, recorrem falsificao dos fatos para justificar seus ressentimentos por

    Prestes ter rompido, em 1980, com a direo do partido da qual faziam parte.

    Trata-se de um livro anticomunista, cujo objetivo a desqualificao de Prestes, da sua me, de suas irms e tambm da sua esposa, Olga Benario

    Prestes; a desqualificao dos comunistas em geral. O autor tem a canalhice de tentar desmoralizar minha me, ao afirmar que ela teria abandonado um

    filho em Moscou (p. 171, 205, 495), como se Olga fosse capaz de semelhante gesto. Os documentos citados e pior ainda, o autor no cita documento

    algum, mas apenas o Fundo PCB no AIC - no so verdadeiros, pois conheo a documentao da Internacional Comunista, inclusive a pasta referente aOlga. Se algum, em algum lugar, afirmou tal coisa a respeito de Olga, mentira; conheci muitos amigos e amigas da minha me da poca em que ela

    viveu em Moscou e a afirmao do autor mentirosa.

    O anticomunismo, disfarado sob a capa de uma suposta objetividade histrica, revelado a cada pgina da obra de D. A. Reis, tanto atravs das

    numerosas informaes falsas que divulga quanto da repetio de juzos de valor questionveis. Assim, a adoo por Prestes de posies polticas em que,

    incompreendido, ficou s, e as derrotas, enfrentadas por ele e pelos comunistas durante sua longa vida, seriam episdios desmerecedores da sua trajetria

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    como homem pblico e revolucionrio, que se empenhou na conquista de um mundo sem explorados e exploradores, sem oprimidos e opressores.

    Ao rebater os juzos de valor adotados por D. A. Reis, vale lembrar William Morris, o revolucionrio ingls do final do sculo XIX, cuja biografia constitui o

    primeiro trabalho importante de E. P. Thompson [3]. Conforme foi assinalado por Josep Fontana, W. Morris, em 1887, ao comemorar uma dessas grandes

    derrotas coletivas, escreveu:

    A Comuna de Paris no seno um elo na luta que teve lugar ao longo da histria dos oprimidos contra os opressores; e, sem todas as derrotas do

    passado, no teramos a esperana de uma vitria final.[4] Tambm Paul Eluard, o poeta da Resistncia francesa, pronunciou-se a respeito das

    derrotas:

    Ainda que no tivesse t ido, em toda minha vida, mais do que um nico momento de esperana, teria travado este combate. Inclusive, se hei de perd-lo,

    outros o ganharo. Todos os outros.[5]

    Embora os intelectuais a servio dos interesses dominantes, comprometidos com a preservao do sistema capitalista, como o caso de D. A. Reis,

    empreendam todo tipo de esforos para desmoralizar e destruir a imagem de lutadores pelas causas populares, como Luiz Carlos Prestes e Olga Benario

    Prestes, no o conseguiro, desde que as foras democrticas e progressistas se mantenham alertas e atuantes na preservao do legado revolucionriodesses homens e mulheres que deram a vida por um futuro de justia social e democracia para toda a humanidade.

    *Anita Leocadia Prestes doutora em Histria Social pela UFF, professora do Programa de Ps-graduao em Histria Comparada da UFRJ epresidente do Instituto Luiz Carlos Prestes

    [1] REIS, Daniel Aaro. Lus Carlos Prestes. Um revolucionrio entre dois mundos.So Paulo: Companhia das Letras, 2014. [2] HOBSBAWM, Eric. Sobre

    a Histria; ensaios. So Paulo: Companhia das Letras, 1998, p.286-287. [3] THOMPSON, E.P. William Morris; romantic to revolutionary. Londres: Merlin

    Press, 1977. [4] MORRIS, William. Why we celebrate the Commune of Paris. Commonweal, 3, n. 62, p. 89-90, Mars 1887, apudFONTANA, Josep. A

    histria dos homens. Bauru, SP: EDUSC, 2004, p.490. [5] ELUARD, Paul. Une leon de morale, prefcio, em Ouvres compltes. Paris: Gallimard, 1984. II,

    p. 304,apudFONTANA, Josep. Obra citada, p. 490.

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