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Daniela Ortiz dos Santos Pequeno vocabulário de Le Corbusier: 1928-1929

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Daniela Ortiz dos Santos

Pequeno vocabulário de Le Corbusier: 1928-1929

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Daniela Ortiz dos Santos

Pequeno vocabulário de Le Corbusier: 1928 Pequeno vocabulário de Le Corbusier: 1928 Pequeno vocabulário de Le Corbusier: 1928 Pequeno vocabulário de Le Corbusier: 1928 –––– 1929192919291929

Dissertação de Mestrado em Urbanismo

Orientadora Prof. Dra Margareth da Silva Pereira

Universidade Federal do Rio de Janeiro

Faculdade de Arquitetura e Urbanismo

PROURB – Programa de Pós-Graduação em Urbanismo

Rio de Janeiro, 2009

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S237

Santos, Daniela Ortiz dos, Pequeno vocabulário de Le Corbusier: 1928-1929/ Daniela Ortiz dos Santos. – Rio de Janeiro: UFRJ/FAU, 2009. 165f. Il.; 30 cm. Orientador: Margareth Aparecida Campos da Silva Pereira. Dissertação (Mestrado) – UFRJ/PROURB/Programa de Pós-Graduação em Urbanismo, 2009. Referências bibliográficas: p.135-141. 1. Arquitetura – História. 2. Le Corbusier, 1887-1965. I. Pereira, Margareth Aparecida Campos da Silva. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Programa de Pós-Graduação em Urbanismo. III. Título.

CDD 720.9

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Daniela Ortiz dos Santos

Pequeno vocabulário de Le Corbusier: 1928 – 1929

Aprovada por:

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Prof. Dra. Margareth da Silva Pereira

PROURB-FAU/UFRJ

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Prof. Dra. Beatriz Santos de Oliveira

PROARQ-FAU/UFRJ

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Prof. Dr. José Barki

PROURB-FAU/UFRJ

Rio de Janeiro, dezembro de 2009

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Dedico este trabalho a todos que amam a vida

e acreditam que a paixão move-nos a cada dia.

A todos os que buscam experimentar e

conhecer novos horizontes.

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Agradecimentos

O presente trabalho é fruto de uma pesquisa cujas reflexões iniciais tomaram forma em 2005. Este consiste no período em que estive em Paris como bolsista da Fundação Le Corbusier. Naquele momento, o estudo sobre Le Corbusier foi literalmente uma imersão em suas obras. A experiência de pesquisar por quase um ano na Maison Jeanneret-La Roche, bem como residir em uma das cellules d’étudiants da Maison du Brésil, emociona.

As reflexões e discussões com Margareth da Silva Pereira já datavam desta época. Sua orientação antecede o período em que estive cursando o mestrado no PROURB. As curtas, porém , intensas conversas nos cafés de Paris, os encontros em seu apartamento, as lições nas aulas de historiografia ainda como ouvinte, e, mais adiante, os longos debates juntamente com os colegas do laboratório de estudos urbanos, enfim, não faltam palavras para descrever seu carinho e atenção. Por ontem, por hoje e pelo que virá, muito obrigada.

Esta pesquisa é, sobretudo, uma construção coletiva. Somente através dos debates, considerações e reflexões de diversas mentes e vozes logramos construir este trabalho.

Iniciarei meus agradecimentos a começar por aqueles que estiveram mais recentemente presente nas discussões sobre o trabalho.

Agradeço assim, aos professores Beatriz Santos de Oliveira, José Barki e Roberto Segre pela amizade, atenção e interesse em compartilhar reflexões sobre Le Corbusier e arquitetura moderna, quando ainda aluna de graduação e jovem pesquisadora de iniciação científica.

Agradeço igualmente aos meus colegas do laboratório de estudos urbanos (Leu-PROURB) por participarem deste processo de construção pessoal e coletiva. Gostaria de expressar minha gratidão ao grupo pelo carinho, cobrança e atenção no esforço em tornar mais complexo o entendimento sobre a história do pensamento urbanístico e das culturas. Em especial, agradeço a Mário Magalhães e Priscilla Peixoto pelas reflexões que permitiram a construção de alguns trabalhos conjuntos, a Denise Nunes (e também ao Mário) pelo apoio na interpretação dos discursos dos atores de língua alemã, a Luisa Bogossian, pela essencial ajuda na finalização da dissertação. Agradeço também a Isabela Gonzalez, Aline Couri, Jorge Fleury, Célia Paes e Paula de Paoli pela presença nas nossas discussões.

Agradeço imensamente a Jean-Louis Cohen, Arthur Rüegg, Tim Benton, Caroline Maniaque e Claude Prelorenzo que, ao longo de suas visitas ao Rio de Janeiro nos últimos três anos, possibilitaram dedicar tempos preciosos a ouvir meus questionamentos sobre o estudo de Le Corbusier. Suas considerações foram fundamentais para este trabalho.

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Gostaria de expressar meus agradecimentos aos professores, colegas e funcionários do PROURB, pelos esforços em construir uma rede compartilhada dos saberes no campo da arquitetura, da paisagem e do urbanismo. Em especial, agradeço a Ana Lucia Britto, Carlos Murad, Cristóvão Duarte, Eliane Bessa, Flávio Ferreira, Ivete Farah, Lilian Vaz, Sérgio Magalhães e Sonia Schultz, pelas considerações em sala de aula, ao longo das disciplinas cursas durante o curso de mestrado.

O sentimento de gratidão estende aos meus colegas do Docomomo-Rio. Agradeço, em especial, a Gustavo Rocha Peixoto, Marlice Nazareth de Azevedo, Renato Gama-Rosa, Maria Cristina Cabral, Maria Lobo, Ceça Guimaraens, Carlos Feferman, Inês El-Jaick e Maria Helena Salomon pelo carinho e lutas em prol da documentação e ampliação dos estudos sobre o movimento moderno.

Os debates travados com Tony Rizzuto, Maria Candela Suarez e Marta Sequeira, em ocasião do encontro sobre Le Corbusier em Atlanta, bem como as conversas com Paola Berenstein e Pasqualino Magnavita, durante o evento Corpocidade em Salvador, foram capitais para o desenvolvimento deste trabalho.

Esta pesquisa não seria possível sem o apoio recebido da CAPES, que financiou os meus estudos ao longo de todo o curso de mestrado no PROURB.

O apoio e o acolhimento da Fundação Le Corbusier, cujos documentos foram a base deste trabalho, foi capital. Em especial, agradeço a atenção de Claude Prelorenzo, Michel Richard, Arnaud Dercelles, Christine Mongin, Delphine Studer, Isabelle Godineau e Paula de Sá Couto.

Agradeço a atenção de Daniel Weiss, dos arquivos do gta/ETH Zürich, sempre prestativo, mesmo à distância.

Pelo carinho e acolhimento na Maison du Brésil, em Paris, agradeço à Inez Salim e Denise Leitão.

Agradeço aos meus queridos vizinhos da Maison du Brésil. Em especial aos amigos Andre Pietsch Lima, Annick Vandecappelle, Andréa Borde, Daniel Cunha, Giselle de Faria e Maria Luiza Pires, pelo carinho e pelos debates preciosos no período de pesquisa e estudos em Paris, anteriores ao mestrado, mas que me incentivaram a ir mais longe.

Gostaria de expressar, por fim, minha imensa gratidão aos meus pais Suzana e Ney, a minha irmã Fabíola e ao meu grande amor Meindert. Obrigada pelo carinho, investimento, atenção, paciência e, principalmente por acreditar em mim.

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Resumo O presente trabalho visa realizar uma análise do discurso, escrito e iconográfico de Le Corbusier durante 1928 e 1929, a fim de contribuir ao estudo de suas expressões na arquitetura, pintura e na escrita. Pretende-se identificar e estudar, portanto, um pequeno vocabulário de Le Corbusier, atento aos processos e à construção de algumas das noções por ele compartilhadas, ao longo da década de 1920, e que percorrem seu pensamento e obra nas décadas seguintes. O recorte temporal foi estabelecido por levantarmos algumas considerações sobre este período. Na verdade, durante os anos 1928 e 1929 existem vários nós que se intensificam, mais que isso, ligam-se, desfazem-se e criam também novas possibilidades de articulação. Este momento parece testemunhar reflexões, permanências e rupturas nas mais diversas poéticas de Le Corbusier. Neste período por ele considerado ‘maquinista’ aparecem novamente questões sobre a cidade, natureza e os corpos, surgem igualmente as travessias: Arcachon, Barcelona, Buenos Aires, Rio de Janeiro, Moscou e, logo em seguida, Argel. Esforçamo-nos assim, a compreender um homem consciente de sua época que, apesar de pertencer a uma era ‘da máquina’, na qual a produção do conhecimento também passava por um processo de especificação e compartimentação do saber, jamais externou seu conhecimento e sua reflexão sobre o mundo de forma compartimentada. Através da leitura de suas impressões, interpretações poéticas dos elementos da natureza e da própria sociedade mesma, assim como também das suas expressões plástica, escrita e arquitetônica, apresentamos Le Corbusier como um homem complexo, contraditório, sensível.

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Abstract

The present work is the result of a study that focuses primarily upon Le Corbusier’s discourse specifically during the years 1928 and 1929. It aims to identify, firstly, a vocabulary – written and iconographic – of Le Corbusier, and then proceeds to analyze it; considering his social and intellectual processes, as well as the eventuality of ruptures with certain given concepts.

Throughout this decade in particular, Le Corbusier frequently worked on such notions as the machine, geometry, the body, and nature. As a matter of fact, the later years of the 1920’s were indeed dedicated to great voyages, discoveries and in consequence – to new attitudes on life. Arcachon, Barcelona, Moscow, Buenos Aires, Rio de Janeiro, and Algiers were cities where Le Corbusier established in effect fruitful relationships.

As an instrument of research, History arises within the role of an imminent method whose approach concerns the study of the written, architectural and plastic work of Le Corbusier. This research reveals, therefore, not only a new perspective regarding the transformation of his concepts throughout these two years, but also reflects the possible perpetuation and ruptures of his following discourses.

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Résumé

Le petit vocabulaire de Le Corbusier est le résultat d’une étude dont l’attention se penche sur les discours écrits et iconographiques de Le Corbusier pendant les années 1928 et 1929. Cette approche envisage, à partir de l’Histoire, de contribuer de manière plus attentive à l’étude de l’œuvre écrite, architecturale et plastique de Le Corbusier, pendant un moment où certaines notions semblent être développées ou refusées par l’architecte lui même.

Parmi ces questionnements, Le Corbusier s’interroge notamment sur le concept de la machine, la géométrie, la nature et les corps. Cette période est, en vérité, consacrée aux grands voyages et, par conséquence, aux nouvelles découvertes. Arcachon, Barcelona, Buenos Aires, Rio de Janeiro, Moscou, puis Alger sont des villes où Le Corbusier va établir une féconde relation avec la Nature et, notamment, avec sa propre pensée.

Nous réfléchissons donc non seulement sur ces notions présentes dans son vocabulaire des années 1920, mais aussi sur les possibles permanences et ruptures dans son discours ultérieur.

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Sumário 19. Introdução

Le Corbusier : um acrobata de formas e palavras 21. Entre o ‘homem e o mito’ 27. Pequeno vocabulário de Le Corbusier 29. Capítulo 1.

Acerca das noções de geometria e máquina 29. A sedução pela máquina 29. A estética da máquina e a arte na máquina 31. A construção da noção de máquina em Le Corbusier 35. A máquina e as noções de ‘padrão’ 37. A máquina em arquitetura: a máquina de morar 37. A geometria, os deuses e o pitoresco 47. Capítulo 2.

1928: les noires années sont passées 49. Charlotte Perriand no atelier da Rue de Sèvres 59. Paul Otlet e os projetos para Genebra 65. Sigfried Giedion e Le Corbusier: encontro em La Sarraz 73. Conversas em Moscou : Le Corbusier e os construtivistas 85. Capítulo 3.

1929: aventuras e desventuras do homem moderno 89. Acerca de uma estandardização em arquitetura ou reflexões sobre

a lei Loucheur 99. Das neues Bauen ou Architecture Moderne: (des)encontros em

Frankfurt 105. Vers le Sud: arquitetura em tudo, urbanismo em tudo... poesia em

tudo 109. Revisitando o vocabulário da era da máquina

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113. Diário de viagem : breve reflexões sobre um pequeno vocabulário 113. No transatlântico: um corpo que sente 115. No Avião: olhos que veem 119. Corpos humanos, corpos urbanos 123. A arquitetura no intervalo entre corpo e natureza 127. Conclusões

Corpos à reação poética 135. Bibliografia 141. Versão original dos textos em língua estrangeira

Anexos 150. Cronologia de 1928 153. Cronologia de 1929 163. Tabela de desenhos de Le Corbusier – 1928-1929 (FLC)

Lista de principais abreviações utilizadas no texto Arquivo J-L C: Arquivo Jean-Louis Cohen CIAM: Congrès internacionaux d’architecture moderne (Congressos internacionais de arquitetura moderna) CIRPAC: Comité internationale pour la réalisation du problème architectural contemporain (Comitê internacional para a solução do problema da arquitetura contemporânea) Centrosojuz: Centralnyj sojuz potrebitel’skih obščestv (União central das cooperativas de consumação) FAU / UFRJ : Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro FLC: Fondation Le Corbusier gta/ETH : Geschichte und Theorie der Architektur / Eidgenössiche technische Hochschule Zürich (Departamento de História e Teoria da arquitetura / Escola Federal politécnica de Zurique) HBM: Habitation à bon Marché (Moradia popular) LC: Le Corbusier LeU / PROURB / UFRJ: Laboratório de estudos Urbanos Programa de Pós-Graduação em Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro PROURB / UFRJ: Programa de Pós-Graduação em Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro

Superior: texto em conferência à Buenos Aires, 1929Acima: Desenho de Le Corbusier fei(FLC)

Superior: texto em conferência à Buenos Aires, 1929Acima: Desenho de Le Corbusier feiSuperior: texto em conferência à Buenos Aires, 1929Acima: Desenho de Le Corbusier fei to pelo professor Willi Baumeister, 1928

Superior: texto em conferência à Buenos Aires, 1929to pelo professor Willi Baumeister, 1928

Superior: texto em conferência à Buenos Aires, 1929 to pelo professor Willi Baumeister, 1928 to pelo professor Willi Baumeister, 1928

to pelo professor Willi Baumeister, 1928 - 1930.

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Capa do livro Vers une architecture ,1923.

Capa do livro

Urbanisme ,1924.

Capa do livro L’art décoratif d’aujourd’hui ,

1925.

Capa do livro Almanach d’architecture moderne ,

1925

Capa do livro La peinture moderne , 1925

Capa do livro Une

Maison – Un Paiais , 1928

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Introdução

Le Corbusier: um acrobata de formas e palavras Le Corbusier, assim como outros homens de seu tempo, foi alguém que desestruturou uma forma de pensar e agir sobre a cidade e, consequentemente, sobre a vida do homem em si. Uma figura polêmica, criticada, respeitada, enfim, um homem que se esforçou em externar seu ponto de vista e atuar direta e indiretamente na sociedade. Além de construir por volta de uma centena obras de arquitetura e urbanismo, publicou 79 livros, produziu mais de 450 pinturas a óleo, dezenas de esculturas, azulejos, e por volta de 6000 desenhos.1 Na década de 1920, em especial, seus projetos e alguns de seus escritos como Vers une Architecture e Urbanisme, rapidamente difundidos pelo meio artístico, intelectual e político da época, contribuíram a tornar Le Corbusier um importante ator no cenário internacional. Como consequência, as teorias e manifestos presentes nestes escritos geraram ecos e polêmicas que acabaram por cristalizar a obra Le Corbusier no espaço e tempo. Contudo, sua compreensão sobre a noção de máquina em 1920, por exemplo, não necessariamente se manifesta de forma homogênea na pintura, na arquitetura ou nos livros. Ela tampouco permanece estanque no tempo. Pelo contrário, há um estado de tensão que não cessa. ‘Agir é movimentar-se, pegar, manipular, ver e olhar’2. Le Corbusier observa, pensa e julga a todo instante. Desse modo, há um longo e constante processo de sedimentação do saber que sofre rupturas e renovações. Cabe-nos revisitar este momento a fim de estudar de modo mais fino a obra de Le Corbusier, contemplando as suas expressões na arquitetura, pintura e na escrita. ‘Sempre terei em mim a certeza de que o homem é um ser ativo num mundo em ação, e não um elemento passivo. O próprio faquir me confirma isso. Um ser ativo tem um espírito de verdade que é seu juízo. Seu juízo é arbitrário, dirime a todo minuto. É um imperativo que é, ao mesmo tempo que a força, a lucidez. Não há fórmula do espírito de verdade; não é encontrada nas farmácias. Esse espírito de verdade é a força do homem’.3 Esforçamo-nos assim, a compreender um homem consciente de sua época que, apesar de pertencer a uma era ‘da máquina’, na qual a produção do conhecimento também passava por um processo de especificação e compartimentação do saber, jamais externou seu conhecimento e sua reflexão sobre o mundo de forma compartimentada. Através da leitura de suas impressões, interpretações poéticas dos elementos da natureza e da própria sociedade mesma, assim como também das suas expressões plástica, escrita e arquitetônica, apresentamos Le Corbusier como um homem complexo, contraditório, sensível.

1 Acervo da Fondation Le Corbusier

2 LE CORBUSIER. L’art décoratif d’aujourd’hui. Paris : Edition G. Crès et Cia, 1925. Versão em português, São Paulo : Martins Fontes, 1996. p.45. 3 Idem, p.182 (publicação brasileira).

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Desenho de Le Corbusier feito pelo professor Willi Baumeister , 1928 - 1930. (FLC)

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Para isso realizamos uma leitura dos escritos de Le Corbusier – livros, artigos, diários, carnets, cartas pessoais e correspondência oficial dos CIAM e do atelier Rue de Sèvres –; das fontes iconográficas, dentre elas destacamos seus desenhos, carnets, pinturas, croquis de viagem, fotografias e filmes; como também das fontes externas à Le Corbusier, sejam estes atas de conferências, notas de jornais ou livros de divulgação. Dito de outra forma, os documentos pessoais de Le Corbusier compunham o corpo documental do trabalho. O presente trabalho visa, assim, estudar o vocabulário de Le Corbusier, os conceitos aos quais lança mão e que estruturam o seu discurso. Isto significa realizar, a partir da História, uma análise de discurso, escrito e iconográfico de Le Corbusier durante 1928 e 1929, a fim de contribuir de modo mais fino ao estudo de seu pensamento e obra. Buscamos como objetivos gerais deslocar o modo cristalizado que se estuda Le Corbusier, criar novas possibilidades de recortes temporais e compreender as diversas temporalidades de suas práticas. O objeto de estudo será o discurso de Le Corbusier compreendido a partir de suas práticas e as suas redes sociais. Entre o ‘homem e o mito’ Ao longo da década de 1920, e, em especial durante os anos de 1928 e 1929, Le Corbusier apresenta reflexões que parecem marcar de modo fecundo o seu pensamento, bem como suas expressões plásticas e arquitetônicas. Em arquitetura, por exemplo, a década de 1930 é reconhecida pelo próprio Le Corbusier como um novo momento de criação4. Em sua oeuvre complète, Le Corbusier indica o uso deste recorte temporal para periodizar a produção como urbanista de grands travaux. Alguns autores como Stanislaus von Moos, Margareth Pereira e Jean-Louis Cohen pontuam, graças à leitura fina que fizeram de Le Corbusier, uma mudança de escala, um pensar sobre a cidade e sobre as questões urbanas em um período que se inicia nas viagens ao sul da França, mas que se acentuar com as viagens à URSS, ao Brasil e, logo em seguida à Argélia. Stanislaus von Moos será um dos primeiros autores a levantar uma densa documentação e a elucidar importantes reflexões sobre a vida e obra de Le Corbusier, desde a formação do jovem Charles-Edouard Jeanneret até o seu período mais maduro. A persistente e constante pesquisa de von Moos, no livro Le Corbusier: Elemente einer Synthese, de 1968, até os mais recentes trabalhos sobre o entendimento de Le Corbusier da ‘síntese das artes’, do ‘pitoresco’, bem como a sua relação com o mediterrâneo, merecem atenção. Juntamente com Arthur Rüegg, organizam a publicação Le Corbusier before Le Corbusier. Applied arts, architecture, painting, photography, 1907-1922, cujo esforço repousa no entendimento dos processos e sedimentação dos saberes de Jeanneret5. Esta obra, publicada em 2002, vem a contribuir com os estudos sobre a formação de Le Corbusier, realizados por Paul Turner na década de 1980. A atenção aos cahiers, às anotações nos livros adquiridos, ou o levantamento das leituras realizadas nas bibliotecas em La Chaux-de-Fonds ou em Paris, testemunham o trabalho minucioso e fino, a fim de construir uma cronologia do pensamento e obra de Le Corbusier deste momento.

4 Ao divulgar seus trabalhos na coleção Oeuvre complète, Le Corbusier reconhece este momento como uma ruptura em sua obra. Os volumes foram assim divididos: 1910-1929; 1929- 1934;1934-1938; 1938-1946; 1946-1952; 1952-1957; 1957-1965. 5 LE CORBUSIER BEFORE LE CORBUSIER. APPLIED ARTS, ARCHITECTURE, PAINTING, PHOTOGRAPHY, 1907-1922. Stanislaus von Moos, Arthur Rüegg (org.). New York: New Haven, 2002.

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Fotografia de Le Corbusier e Yvonne de Galis, sua f utura esposa, final da década de 1920 (FLC)

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Jean-Louis Cohen igualmente estará interessado nos processos, permanências e rupturas durante os anos de épanouissement de Le Corbusier. Sua atenção, sobretudo, às viagens de Le Corbusier à URSS, à Alemanha e aos países da Europa do Leste contribui a tornar mais complexa as relações do arquiteto com os atores sociais do período de grandes movimentos sociais, artísticos e intelectuais das cidades soviéticas e de língua germânica. Em seu recente trabalho, Cohen logra apresentar Le Corbusier na sua intimidade6. As angústias ou desejos, revelados nas cartas aos pais ou em desenhos soltos, por exemplo, ajudam a revelar um Le Corbusier mais carnal. Um homem contraditório, dúbio, mas ao mesmo tempo sensível. Ao considerar os primeiros estudos sobre a relação entre Le Corbusier e o Brasil, Margareth Pereira vem estabelecendo ao longo de mais duas décadas novos debates e contribuições sobre as noções compartilhadas entre Le Corbusier e os arquitetos modernos brasileiros, em especial, Lucio Costa7. A vinda do arquiteto ao Brasil, bem como as experiências de Le Corbusier, desde o ‘ar’ ou com os corpos e a natureza tropical, levam Pereira a refletir sobre o entendimento de ‘moderno’ para Le Corbusier, bem como a sua relação com a História. Os esforços de Carlos Martins em tornar mais complexo os debates travados neste período entre os atores de vanguarda européia e brasileira merecem igualmente atenção8. Assim como Pereira, o crítico italiano Giordani percebe por conta da viagem de avião e também a experiência dos trópicos esta mudança na escala de preocupações deste período9. Um terceiro grupo de autores – Arthur Rüegg, Tim Benton, Danièle Pauly etc – enfoca de maneira mais fina, a questão dos objetos à reação poética. Arthur Rüegg também contribui ricamente com o estudo dos atores que participaram da criação e da reflexão sobre a noção de ‘espaço’ da casa moderna e, consequentemente, do mobiliário moderno e dos processos de industrialização do equipamento doméstico no início do século XX. A atenção de Rüegg aos estudos sobre a palheta de cores criada por Le Corbusier no início dos anos 1930 revela o rigor metodológico de Le Corbusier, a aproximação de uma industrialização da construção da arquitetura e, ao mesmo tempo, da sensibilidade do arquiteto na reflexão sobre o espaço interior doméstico10. As realizações e reflexões de Le Corbusier ao longo década de 1920 será o objeto de estudo de Tim Benton. Sua atenção manifesta-se no rigoroso levantamento de dados sobre as casas pensadas, projetadas e/ou construídas neste momento. Tim Benton estará atento não somente aos estudos das casas em série, como também das ‘villas’, atrelados à noções de ‘standard’ e ‘tipo’. Estas serão igualmente abordadas por Benton ao examinar o modo como Le Corbusier constrói um discurso teórico sobre estas noções e as apresenta em suas conferências11.

6 COHEN, J-L. Le Corbusier. Le Grand. London – New York: Phaidon, 2008. 7 Dentre os escritos de Margareth Pereira, destacamos os seguintes: Le Corbusier e o Brasil. São Paulo: Tessela/Projeto Editora, 1987; Corpos escritos. Paisagem, memória e monumento : visões da identidade carioca. In: Revista Arte & Ensaios. Rio de Janeiro: EBA-UFRJ, 2000. vol. Ano 7 n. 7, pp. 98-113.; Quadrados brancos: Le Corbusier e Lucio Costa. « Lucio Costa: um modo de ser moderno ». São Paulo, Cosac & Naif, 2004. p.220-245. 8 MARTINS, C. Razón, ciudad y naturaleza. La génesis de los conceptos em El urbanismo de Le Corbusier. Tese de doutorado. Escuela Técnica Superior de Arquitectura de Madrid. Madri, 1992. 9 GIORDANI, J-P. Visioni Geografiche. In Casabella, n. 531-2. Sep. 1987, pp. 18-33. 10 Sobre os escritos de Arthur Rüegg, destacamos: Autobiographical interiors: Le Corbusier at home, pp. 117-161. In: Le Corbusier. The Art of Architecture. Alexander von Vegesack, Stanislaus von Moos, Arthur Rüegg, Mateo Kries (org.). Weil am Rhein: Vitra Design Stiftung gGmbH, 2007; Polychromie architectural. Farbenklaviaturen von 1931 und 1959/ color keyboards from 1931 and 1959. Arthur Rüegg (org.) 2a edição. Boston: Birkhäuser, 2006. 11 Sobre os escritos de Tim Benton, destacamos: From Jeanneret to Le Corbusier: Rusting Iron, Bricks and Coal and the modern utopia. In: Massilia, Annuaire d’études corbuséennes, 2003, pp. 28-39; The Villas of Le Corbusier and Pierre Jeanneret. 1920-1930. Basel: Birkhäuser, 2007; Le Corbusier conférencier. Paris : Moniteur, 2007.

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Carnets de Voyage , 1936. (FLC) Estudo para ‘Deux figures Rio ’, 1936 (FLC 2992) Deuz femmes em buste, 1957 (FLC 41)

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Em relação à pesquisa sobre o movimento Purisme e a relação entre Le Corbusier e Ozenfant, destacamos as considerações de Danièle Pauly12 e Françoise Ducros13. As interpretações de Françoise de Franclieu sobre a pintura de Le Corbusier14, bem como o estudo minucioso de Jean-Pierre e Näime Jornod15 em documentar e catalogar toda a obra plástica de Le Corbusier igualmente foram essenciais para o presente trabalho. Não podemos deixar de mencionar os esforços de Jacques Lucan ao organizar uma enciclopédia de Le Corbusier16. Este trabalho logrou reunir inúmeras reflexões sobre os mais diversos temas e conceitos estudados até o final da década de 1980. Em adição, indícios percebidos durante a atual pesquisa evidenciam igualmente a prevalência de uma produção que durante os anos 1927-1936, enfatizava a temática dos corpos na obra plástica de Le Corbusier; a presença de documentos pessoais de Le Corbusier que indicam uma forte sensibilização a partir da experiência nos trópicos17. Entretanto, poucos são os estudos sobre a sua obra plástica realizados neste período e, ainda mais reduzidos são os trabalhos que relacionam tais reflexões, presentes em arquitetura, em meio às demais poéticas de Le Corbusier. Dentre as noções que mais fortemente marcaram este momento para Le Corbusier: quais delas podemos dizer que sofreram permanências e rupturas? Como percorreram os diversos campos de ação de Le Corbusier? Manifestaram-se com a mesma intensidade? Quem são os atores que contribuíram para tais questionamentos? Cabe retomar o estudo de Le Corbusier, buscando compreender, através de um novo olhar mais comprometido com todas as ações e relações deste ator inserido no seu tempo, um forte reconhecimento e valor diante de suas reflexões sobre o próprio ser humano e, como conseqüência sobre a cidade. ... Estou feliz , estou num carro , numa lancha , num avião ; nado diante de meu hotel , de ‘peignoir’ pego o elevador e volto ao meu quarto a trinta metros da água; de noite perambulo a pé ; faço amigos a cada instante... Corolário Brasileiro. Conferência no Rio de Janeiro. 08-12-29

12 Dentre os escritos de Danièle Pauly, destacamos aqui a sua tese de doutoramento, intitulada Les dessins de Le Corbusier. 1918-1928. Tese de doutorado, Université de Strasbourg – UER des Sciences Historiques, dirigé par A.E. Chatelet, 1985. 13 DUCROS, Françoise. La peinture puriste et L’Esprit Nouveau. Tese de doutorado 3o ciclo, Université de Paris IV, Paris, 1986. 14 FRANCLIEU, Françoise. Peinture. In : Le Corbusier : une Encyclopédie. Paris : G. Pompidou, 1987. 15 JORNOD, J-P ; JORNOD, N. Le Corbusier : catalogue raisonné de l’œuvre peint. Milan : SKIRA, 2005. 16 LE CORBUSIER: UNE ENCYCLOPÉDIE. Jacques Lucan (org.) Paris : George Pompidou : 1987. 17 Nosso trabalho sobre os desenhos e a pintura de Le Corbusier no período entre as décadas de 1920 e 1930 teve início em 2005 ao participar do programa de jovens bolsistas da Fondation Le Corbusier, cujas reflexões estão presentes nos seguintes escritos: Le Corbusier et le Brésil: les corps à réaction poétique. Relatório de pesquisa à Fondation Le Corbusier, Paris, 2006 ; Le Corbusier and Rio de Janeiro: Time Space and Poetry. In: Annual Dean’s Symposium Le Corbusier Revisited, 2009, Atlanta. Annual Dean’s Symposium Le Corbusier Revisited, 2009.

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Superior: rascunho do desenho gráfico do livro Urbanisme, publicado em 1924 Acima: Títuilo do recorte de jornal (1929), bibliot eca pessoal de Le Corbusier (FLC)

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Pequeno Vocabulário de Le Corbusier Ao ler o título deste trabalho, o leitor poderia se perguntar os motivos pelos quais não o organizamos segundo o próprio vocabulário de Le Corbusier. Por que escolhemos o modo cronológico para apresentá-lo? Provavelmente seria mais didático estruturar a dissertação segundo o seu vocabulário. Contudo, consideramos que tal modo poderia ‘apagar’ o próprio processo da construção metodológica do trabalho, visto que a escolha deste vocabulário não foi realizada à priori. Isto é, os conceitos e noções apresentados foram resultados de um estudo atento a própria historicidade de Le Corbusier. À medida que estudávamos as suas ações, pudemos sublinhar como e quando algumas questões foram se tornado um ‘tema’, ou melhor, uma questão para si. Ou ainda, quando elas sofreram mudanças ou rupturas. Diante de um campo ainda frágil do estudo da historiografia do pensamento arquitetônico e urbanístico no Brasil, o ‘apagamento’ deste processo metodológico não permitiria compartilhar – de modo evidente – com o leitor neste momento, noções de processo e historicidade do próprio Le Corbusier. Deste modo, no primeiro capítulo, tratamos de abordar algumas noções que aparecem de modo mais expressivo para Le Corbusier durante a década de 1920. Debruçamo-nos, assim, sobre questões que giram em torno das noções de geometria e máquina, presente em seus escritos da época. Igualmente incorporamos estas noções nas demais poéticas de Le Corbusier – desenhos, pinturas e arquitetura. Não pretendemos apresentar de modo exaustivo as reflexões de Le Corbusier durante este período. Nossa ambição é mais modesta para o presente trabalho: compartilhar determinadas idéias que surgiram e foram colocadas pelo arquiteto, através de suas obras, a fim de compreender de modo mais fino e complexo os processos de ruptura e permanência ocorridos no final desta década. No segundo capítulo, estudamos o vocabulário de Le Corbusier de modo atento às suas ações, movimentos e obra em 1928. Através da cronologia, tentamos examinar as questões que mais fortemente marcaram-no neste momento. Estas são apresentadas a partir das relações, do compartilhamento de idéias ou dos debates, entre Le Corbusier e determinados atores sociais que contribuíram para o pensamento ou para a obra de Le Corbusier. Em especial, destacamos as relações com Charlotte Perriand, Paul Otlet, Sigfried Giedion e os arquitetos soviéticos Aleksandr Vesnin e Moisei Ginzburg. No terceiro capítulo, realizamos semelhante método de abordagem cronológica, mas, neste momento para o ano de 1929. De fato, tratamos de apresentar as reflexões e trabalhos de Le Corbusier através, sobretudo, do seu discurso escrito e gráfico registrado ao longo deste ano. As considerações sobre a lei Loucheur e a industrialização da arquitetura na França são questões que, por exemplo, percorrem o discurso de Le Corbusier. Os debates sobre a noção da Wohnung für Existenzminimum e da noção de Sachlichkeit com os colegas do CIAM levam Le Corbusier a repensar o seu próprio entendimento sobre moderno. A viagem à América do Sul, realizada no final deste ano, será uma nova descoberta e relação com os corpos e a natureza. O último capítulo contempla, por fim, as considerações finais acerca deste período estudado, bem como, abre possíveis novas questões sobre o estudo da obra e do vocabulário de Le Corbusier.

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Capa do Livro Après le cubisme , 1918

Fernand Léger. Elément mécanique sur fond rouge, 1924. Huile sur toile Doação Nadia Léger et Georges Bauquier, 1969 Musée national Fernand Léger, Biot.

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Capítulo 1

Acerca das noções de geometria e máquina A sedução pela máquina ‘Ponha em funcionamento a máquina. Todas as portas se abrem, tudo é confusão na alegria. Convém mesmo lembrar que somos a primeira geração em milênios que vê as máquinas, e devem-se perdoar tais admirações exacerbadas. ’18 A estética da máquina Estética Mecânica Ninguém nega hoje a estética que surge das criações da indústria moderna. Cada vez mais as construções industriais, as máquinas se estabelecem com proporções, os jogos de volumes e matérias tais que muitas dentre elas são verdadeiras obras de arte, porque comportam o número, ou seja, a ordem. O avião e a limusine são puras criações que claramente caracterizam o espírito, o estilo de nosso tempo. As Artes Contemporâneas devem igualmente assim proceder.19 i(L’Esprit Nouveau n.1, 1920) O vocabulário da máquina e do período maquinista, presente nos escritos da década de 1920, não é novo para Le Corbusier. Escritos anteriores, notadamente a publicação Après le Cubisme20 (3), confirmam a atenção pela máquina e a sua relação com as artes e arquitetura. Contudo é, sobre tudo, nesta década que Charles-Édouard Jeanneret explora de modo mais intenso e expressivo a sua representação sobre a máquina. Neste momento atores como Amedée Ozenfant 21(4) e Fernand Léger22estarão próximos de Jeanneret e contribuirão fortemente o seu pensamento e obra. De fato, as noções compartilhadas entre Ozenfant e Jeanneret neste período vão além das co-autorias em livros. É uma simbiose, cujas leis estabelecidas a partir do movimento purista transcendem a relação artística e profissional. 23

18 LE CORBUSIER. L’art décoratif d’aujourd’hui... p.114 (publicação brasileira) 19 OZENFANT ; JEANNERET. L’Esthétique Mécanique. In: L’Esprit Nouveau 1, Paris,1920. 20 Em 1918, Ozenfant e Jeanneret publicam em Paris o livro Après le Cubisme. 21 Amédée Ozenfant (1886-1966), pintor e teórico francês, conhece Charles Édouard Jeanneret através de Auguste Perret, em 1918. Ao longo de quase uma década, a relação de Ozenfant e Charles Édouard será intensa. Ambos constroem uma poética através das artes plásticas e a nomeam Purisme. Escrevem juntos o livro Après le Cubisme, em 1918, e criam em 1920 a revista L’Esprit Nouveau. In: ELIEL. C. ; DUCROS, F. L’Esprit Nouveau: Purism in Paris 1918-1925. Los Angeles - New York: Abrams, 2001 22 Fernand Léger (1881-1955) nasce em Argentan, Normandia. Estuda na Ecole des Arts Décoratifs e na Académie Julian. Em 1911 e torna-se membro do grupo Puteaux e compartilha as idéias do movimento cubista na França. Aproxima-se das reflexões de Charles-Edouard Jeanneret e Ozenfant a partir do final da década de 1910, dando início a uma intensa relação de amizade. Em 1925 expõe no Pavilhão do Esprit Nouveau, projetado por Le Corbusier, Pierre Jeanneret e Charlotte Perriand. Informações extraídas da biografia apresentada pelo Musée National Fernand Léger, França. 23 O período de maior proximidade e compartilhamento de idéias entre Ozenfant e Jeanneret será entre 1918 e 1925. Após esta data, Le Corbusier rompe a relação de busca e experimentação plástica com o artista. Sobre a relação de Le Corbusier e Ozenfant, ver : DUCROS, F. La peinture puriste et L’Esprit Nouveau. Tese de doutorado 3o ciclo, Université de Paris IV, Paris, 1986.

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Jeanneret. Nature morte au violon rouge , 1920. Paris FLC.

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‘Durante toda esta manhã de domingo trabalhei em minha pintura sem obter resultados úteis. Contudo, acreditamos que estamos no caminho certo e, Ozenfant avança forte e nós temos nossa estética que enlevará’. ii(Domingo, 16 de novembro de 1919. FLC, R1-6-77) A construção da noção de máquina em Le Corbusier Turner relaciona as leituras de juventude de Jeanneret à construção da noção de máquina apresentada por Le Corbusier nos anos 1920. Segundo Paul Turner, as ideias e expressões de Henry Provensal 24 sobre a questão da arte e a ciência, bem como o papel do artista face a um sentimento coletivo, são recolocadas por Jeanneret e ‘ajustadas’ no contexto da nova era da Máquina25. Provensal afirma que o artista tornar-se-á uma grande figura diretora, o ‘chefe iminente’ que presidirá à elevação da alma ‘do homem em direção da vida toda harmoniosa’ 26. A arte nova, iminente, reverterá uma expressão coletiva. 27 Em Après le Cubisme, Jeanneret escreve que tal ‘sentimento coletivo substitui o antigo espírito do artesão’ e que esta ‘transformação’ lhes parece um ‘progresso’, como um ‘fator considerável da vida moderna’. 28 A máquina para o Jeanneret de Apès le Cubisme parece representar o mais belo produto do homem moderno. O jovem suíço exalta as criações da indústria moderna, pois nelas ele encontra pura ordem geométrica. Ao reconhecer o uso da geometria nas coisas, sejam elas nas peças de uma máquina, sejam elas nas partes componentes de um quadro ou de uma casa, Jeanneret considera escapar do arbitrário. Para ele, o arbitrário conduz ao desperdício e distancia-se da essência mais bela e pura nas coisas. Em Nature morte au violon rouge, Jeanneret produz o jogo proporcional de volumes, luz e sombra. É uma composição das partes relacionadas com o todo. Carlos Martins considera que a máquina para Le Corbusier aparece em determinados momentos como ‘metonímia’, ou seja, como ‘símbolo e expressão do processo industrial’, mas também como ‘metáfora da realização da ordem’, seja esta finalidade de ‘ordem das ‘necessidades materiais’ ou ‘espirituais’29.Martins percebe uma tensão no discurso de Le Corbusier do início dos anos 1920, ainda Jeanneret. Em suas palavras, esta tensão transita entre o entendimento da máquina como um ‘instrumento’ e como um ‘contraponto humano à perfeição funcional das criações da natureza’. A máquina é não somente uma extensão que ‘aperfeiçoa os membros do homem’ a fim de concretizar produtos com o

24 Henry Provensal, autor do livro ‘L’Art de demain’, nasce em 1868 e estuda na Ecole des Beaux-Arts de 1887 à 1892. Diplomado em 1896, ele constrói um pavilhão para a Exposição Universal de Paris em 1900. Nos anos 1890, expõe nos Salons dos projetos como ‘L’Asyle du Rêve’, ‘Fontaine arabe et Minaret à Tunis’, ‘Tombeau du Poète’ e, em 1902, ‘Harmonie de l’espace’. In: TURNER, P. La formation de Le Corbusier: idéalisme e mouvement moderne. Paris : Macula, 1987. 25 TURNER, P. La formation de Le Corbusier...p. 20-32 26 Idem. 27 Idem. 28 JEANNERET; OZENFANT. Après le Cubisme...p.26. In : Turner. La formation de Le Corbusier… p.25. 29

MARTINS. C. Razón, ciudad y naturaleza..., pp. 30-31

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Charles -Édouard Jeanneret (à direita), seu irmão Albert e Amedée Ozenfant no

bureau da Revista L’Esprit Nouveaur, por volta de 1920 (FLC)

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mesmo rigor e precisão, mas também ‘potencializadora dos sentidos do homem’, permitindo-o ‘ampliar seus conhecimentos sobre a própria natureza e ações sobre a mesma’30. Através dos escritos mais íntimos de Jeanneret, o jovem arquiteto expressa tais hesitações entre o elogio à matemática, e consequentemente à máquina - ao seu puro, exato e belo jogo proporcional entre as partes e o todo - e um sentimento arbitrário e perturbador da vida ordinária. O jovem artista parece, assim, oscilar entre um estado de razão e paixão 31, uma tensão que busca libertar o espírito, mas ao mesmo tempo o controla. Em seus escritos íntimos, expõe este tenso sentimento: ‘A vida tem sido dura. Ela torna-se cada vez mais dura. Não acreditem que eu tenha me tornado insensível. Fui obrigado a escolher, pois os anos passam tragicamente rápido e não se pode deixar que minha obra me escape. Vocês não imaginam a luta que é em Paris. (...) Criam-se distâncias no campo do entendimento e dos espíritos. Estas distâncias afastaram-me bastante dos meus velhos amigos, por exemplo. Mas as falsas gentilezas sucumbem e permanecem a estima e o afeto. Eis o que sinto bastante por aqui, onde estou pleno de coragem e de certeza.’iii (Carta de 10 de novembro de 1920 aos seus pais FLC R1-6-93) Em Urbanisme, Le Corbusier vai buscar esclarecer esta tensão entre a razão e emoção ao definir a noção do ‘belo mecânico’. Neste momento, seu discurso público apresenta já um Le Corbusier mais maduro onde sua tese agora defende a beleza não como um simples efeito da pura matemática, mas como um sábio jogo de juízos e valores estéticos, científicos com o sentimento de paixão: Se pudéssemos admitir que o belo mecânico fosse de pura razão, a questão por certo poderia ser dirimida claramente: a obra mecânica seria perecível. Qualquer obra mecânica seria mais bela do que a que a precedeu, seria eclipsada pela futura. Assim beleza efêmera, logo caída no ridículo. Ora, praticamente, não acontece isso; a paixão intervém em pleno rigor de cálculo. (...) A máquina se põe a viver, tem rosto e alma, seu fator de decadência diminui ao mesmo tempo que o problema se estende para além do cálculo puro e simples. 32 (Urbanisme, 1924)

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Idem. 31 Franclieu indica esta tensão, bem como compartilha esta reflexão com demais autores como von Moos, Pauly, entre outros. In: FRANCLIEU, F. Panorama de l’oeuvre peint…p. 107. 32 LE CORBUSIER. Urbanisme. Paris: Edition G. Crès et Cia, 1924. p.46-47 (versão brasileira)

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Fernand Leger , Actualités . in: Varietés, Bélgica, 15 de fevereiro de 1929.

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A máquina e as noções de ‘padrão’ ‘O automóvel é um objeto com uma função simples (rodar) e para fins complexos (conforto, resistência, aspecto), que colocou a grande indústria diante da necessidade imperiosa de padronizar. (...) O estabelecimento de um padrão procede da organização de elementos racionais conforme uma linha de conduta igualmente racional. A massa envolvente não é preconcebida, ela resulta. (...) O padrão estava fixado. Veio o aperfeiçoamento’. 33 (Vers une Architecture, 1923) ‘Padrão em toda parte, uniformidade no detalhe. Tranquilidade do espírito. As grandes ordenações podem, então, elevar seu canto. (...) Os elementos tenderão à uniformização. (nota: ocorreu um grande acontecimento: a aplicação universal do cimento armado. Esse meio novo propõe ao inventor e ao artista plástico soluções novas de importância decisiva)’. 34 (Urbanisme, 1924)

As palavras acima de Le Corbusier, escritas em 1923 e 1924, sugerem-nos que as noções de ‘universal’ e ‘uniformidade’ caminham juntas frente ao período da grande indústria. A uniformização dos elementos parece tender a uma universalização da aplicação dos mesmos. A uniformização, ou melhor, a padronização das coisas reforçaria o sentido de universalização dos usos das mesmas. Em relação a estas noções, Le Corbusier parece assim, neste momento, fundi-las. Uma importante consideração que François Jullien 35 faz sobre o entendimento de universal na História é mostrar que nem sempre a noção de universal esteve próxima à noção de uniformidade. Neste período do início do século, Le Corbusier parece aproximá-las, mas como veremos mais adiante, tal entendimento será posto em cheque nas décadas seguintes. Fazer arquitetura segundo ‘padrões’ 36, reclamar uma ‘uniformidade no detalhe ao fazer urbanismo’ 37, buscar ‘a escala humana definindo padrões humanos’ 38. Le Corbusier está preocupado em agir segundo determinados padrões, pois considera ser uma ação coerente e necessária face às questões da sociedade moderna. É preciso agir segundo o ‘espírito de seu tempo’. Se a dura vida maquinista, que é o nosso quinhão, impõe a nosso espírito uma feição áspera e severa, é porque uma página foi virada; e está aí uma existência nova, que não é muito amiga de brincadeiras. (...) Não espernear, mas participar com alegria dessa magnífica corrente e organizar o curso de uma vida mais ampla, empenhada no trabalho, visando a metas criativas, à qual se deve dar descanso com a recreação do corpo e encher de alegria com as investigações da mente. (...) Trata-se, portanto, sobretudo de uma questão de organização, de mecânica interior. 39 (L’art décoratif d’aujourd’hui, 1925)

33 LE CORBUSIER. Vers une Architecture. Paris: Edition G. Crès et Cia, 1923. p.93 (versão brasileira) 34 LE CORBUSIER. Urbanisme... p.67 (versão brasileira) 35 JULLIEN, F. O diálogo entre as culturas. Rio de Janeiro: Zahar, 2009. Publicado originalmente em francês um ano antes. 36 LE CORBUSIER. Vers une Architecture... p.99 (versão brasileira) 37 LE CORBUSIER. Urbanisme... p.69 (versão brasileira) 38 LE CORBUSIER. L’art décoratif d’aujourd’hui… p.67 (versão brasileira) 39 Idem, p.42-43-46

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Charles-Édouard Jeanneret, Nature morte verticale , 1922, óleo sobre tela (Kunstmuseum Basel). Croquis preliminar de planta baixa para o projeto d a Villa La Roche/Jeanneret, Paris 1923-25. in: Von Moos, Ar t...pp81.

Artigos fabricados em série, livro L’art décoratif d’aujourd’hui , 1925

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Com estas palavras, Le Corbusier convida o leitor a rever o seu comportamento perante a nova realidade, pois seria através deste ‘bom caminho’ que se alcançaria a harmonia e, portanto, a felicidade. O autor está consciente de que a vida moderna trouxe uma nova ‘mecânica ao espírito’ e, isto não pode ser ignorado. Novos temas e problemas surgem e devem assim ser debatidos. ‘A grande indústria deve se ocupar da construção e estabelecer em série os elementos da casa’ 40. A habitação em série e, consequentemente da produção em série do seu mobiliário são possibilidades de soluções face às questões emergidas neste período maquinista. ‘É preciso criar o estado de espírito da série. O estado de espírito de construir casas em série. O estado de espírito de residir em casas em série. O estado de espírito de conceber casas em série’. 41

A máquina em arquitetura: a máquina de morar ‘As coisas atuais da arquitetura não respondem mais à nossas necessidades. No entanto os padrões da habitação existem. A mecânica traz consigo o fator de economia que seleciona. A casa é uma máquina de morar’. 42 (Vers une Architecture, 1923) A casa para Le Corbusier será apresentada como tendo duas finalidades neste momento. Ela será uma máquina, ou seja, um jogo cujas peças – mobiliário, conforto, ventilação, iluminação, tecnologia construtiva – articulam- se harmoniosamente, destinadas a conferir ao homem moderno o suporte eficaz às exigências do corpo. Todavia, é indispensável que a casa seja bela, o lugar que acolhe o espírito e o conduz à meditação. 43 A geometria, os deuses e o pitoresco ‘A máquina é toda de geometria. A geometria é nossa grande criação e nos enleva. (...) A máquina faz brilhar à nossa frente discos, esferas, cilindros de aço polido, de aço talhado com uma precisão de teoria e uma acuidade que jamais nos mostrou a natureza. Os sentidos ficam emocionados ao mesmo tempo que nossa mente reencontra no estoque de nossas recordações os discos, as esferas dos deuses do Egito e do Congo. Geometria e deuses pontificam juntos!’ 44 (L’art décoratif d’aujourd’hui, 1925) Durante a década de 1920, Le Corbusier revisita os autores estudados com L’Eplattenier 45 em La Chaux-de-Fonds. Méthode de composition ornamentale, d’Eugène Grasset, Grammar of Ornament d’Owen Jones, assim como várias obras de Ruskin estarão presentes nas reflexões de Le Corbusier em livros como L’art décoratif d’aujourd’hui, de 1925. Ao descrever as ‘influências’ de sua juventude, Le Corbusier evoca Grasset como o ‘geômetra e algebrista das flores’, adicionando que, ‘cumpria admirar com ele, até no âmago de sua estrutura, todas as flores,

40 LE CORBUSIER. Vers une Architecture... p.159 (versão brasileira) 41 Idem. Ibidem. 42 Idem, p. 69 43 LE CORBUSIER. Almanach d’architecture moderne. Paris: Edition G. Crès et Cia, 1926. In: Le Corbusier, une encyclopédie. Jacques Lucan (org.). Paris : Centre Pompidou, 187. p.243. 44 LE CORBUSIER. L’art décoratif d’aujourd’hui… p.VIII (versão brasileira) 45 Charles L’Eplattenier (1874-1946) nasce em Neuchâtel, Suíça. Estuda na Ecole des Beaux- Arts de Paris (1893) e torna-se professor de desenho (1898) e diretor (1903) na Ecole de La Chaux-de-Fonds, Suíça. In: Turner. La formation de Le Corbusier..., p. 204; Von Moos. Le Corbusier, p. 13-14)

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Citè Frugèes, Pessac França, 1924.

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Citè Frugèes , Pessac França 1924 - Traçado regulador.

Jeanneret . Nature morte du Pavillion de L’espirit nouveau, 1924. Paris FLC.

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Immeuble-villas , 1922-25 Loteamentos fechados com alvéolos - fachada. Immeuble-villas , 1922-25. Loteamentos fechados com alvéolos - perspectiva e corte axonométrico.

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amá-las tanto que era de rigor espalhá-las em todas as obras que gostaríamos de empreender. 46 Le Corbusier admitia que, naquele momento, ‘apenas a natureza poderia ser bela’ e, por isso, estaria condenado a tornar-se somente ‘imitador de suas formas e de suas maravilhosas matérias’ 47. Com Owen Jones, The Grammar of Ornament, Le Corbusier atribui uma influência mais importante no entendimento entre natureza, homem e criação 48. Ah! Mas, é que encontrávamos lá muito mais o homem da natureza e, se a natureza era onipresente, o homem estava lá inteiro com suas faculdades de cristalização, com sua formação geométrica. Da natureza passávamos para o homem. Da imitação para a criação. (...) Com aquele livro, sentíamos que se formulava o problema: O homem cria uma obra que o emociona. 49 (L’art décoratif d’aujourd’hui, 1925)

Segundo Turner, o interesse de Le Corbusier pelos sistemas de proporções atravessa os seus anos de juventude. O ‘ângulo reto, a matemática, a geometria, a máquina têm um significado moral e espiritual’ 50. Pelas palavras, pela arquitetura e pela pintura, Le Corbusier encarna este ‘espírito de verdade e moral’, permitindo-se não mais imitar a natureza, porém criar, e, portanto, emocionar. Este sentimento humano permite doravante libertar o Homem dos ‘caprichos e incertezas da natureza’ e experimentar um novo patamar de criação, àquele junto à abstração e ao ‘absoluto’ 51. A busca por uma formação clássica, bem como a afirmação desta formação nos primeiros anos de 1920, parece tornar uma questão central para Le Corbusier. ‘A obrigação da ordem. O traçado regulador é uma garantia contra o arbitrário. Proporciona a satisfação do espírito. O traçado regulador é um meio; não é uma receita. Sua escolha e suas modalidades de expressão fazem parte integrante da criação arquitetural’ 52. (Por uma arquitetura, 1923) A pureza das formas primárias e do sentido de ‘ordem’ seduz o arquiteto. Este ‘absoluto formal’ e a noção de ‘beleza ideal’, defendida por Provensal, ao referir-se à estética em Platão, aparenta ser uma questão de grande prioridade no pensamento de Le Corbusier neste momento. Turner menciona, por exemplo, a crítica de Le Corbusier à obras de um teatro projetado por Auguste Perret 53, publicado em 1924, no Bulletin de la vie artistique, onde as considerações de ordem prática parecem tornar-se secundárias se conflitadas com a expressão da forma pura. 54

46 LE CORBUSIER. L’art décoratif d’aujourd’hui… p.134-135 (versão brasileira). In : TURNER. La formation de Le Corbusier… p. 16. 47 LE CORBUSIER. L’art décoratif d’aujourd’hui… p.135 (versão brasileira). 48 TURNER. La formation de Le Corbusier… p. 16. 49 LE CORBUSIER. L’art décoratif d’aujourd’hui… p.135 (versão brasileira). 50 TURNER. La formation de Le Corbusier… p. 201. 51 Idem. 52 LE CORBUSIER. Vers une Architecture... p.41 (versão brasileira) 53 Auguste Perret (1874-1954) estuda na Ecola des Beaux-Arts, mas antes mesmo de terminar seus estudos, ele colabora na empresa de construção de seu pai, juntamente com seus irmãos Gustave e Claude. Sua obra é notória pelo pioneirismo em experimentar na França o concreto armado na construção civil. Ao colaborar no escritório de Perret em Paris a partir de 1908, Jeanneret depara-se aos novos processos técnicas construtivas no campo da arquitetura, marcando o seu pensamento e obra doravante. In: TURNER. La formation de Le Corbusier... p. 57. 54 In: TURNER. La formation de Le Corbusier... p. 185-187.

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Ozenfant e Jeanneret. Sur la plastique. Revista de L’Espirit nouveau 1920

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Le Corbusier jamais frequenta a École des Beaux-Arts. Contudo, a construção de um pensamento baseado na formação clássica, segundo Stanislaus von Moos, é resultado de ‘ações viscerais a partir de uma ativa busca pelos princípios de base e fundação das artes’.55 Dentre estes princípios, está a noção de ‘proporção’. Von Moos indica uma tensão no entendimento desta noção para Le Corbusier. O conceito de proporção, para o arquiteto, é construído segundo tensões de um pensamento racional, mas, também ‘humanista (oposto a funcional ou utilitário)’. 56 ‘A necessidade de ordem é a mais elevada das necessidades humanas. Ela é a causa mesa da arte’iv. (Sur La Plastique, L’Esprit Nouveau n.1, 1920) As formas geométricas primárias, em particular as formas cúbicas foram assim, pouco a pouco, associadas ao pensamento e reflexão de Le Corbusier. Sua defesa nos primeiros escritos públicos parece constar as contradições e lutas internas que Le Corbusier tem consigo mesmo. São, nos momentos mais íntimos ,que podemos reconhecer um homem menos dogmático, confuso, errante. ‘Meus pensamentos de arte elevam-se em direção à plástica, uma forma, uma linha cada vez mais esotérica. Meus ensaios são disformes, decepcionante. Toda a minha imaginação trabalha. Quero uma clareza, uma polidez, uma lucidez que tolere apenas o puro lápis, disciplina de ritmo, e moderação da cor. E eu pinto lixos. (...) Instintivamente, vou para casa para escapar das amizades frívolas. Ou se me atiro nos bulevares onde estão as moças, é para encontrar uma expressão da mais ideal matemática a este sonho de beleza que meus pincéis esforçam- se a querer criar (...) Tenho cada vez mais fé na pintura moderna, mais fé naquelas tantas pessoas que como eu sonham, mas que realizam por serem melhor dotadas. Como um homem está sozinho no mundo’. v(Cahier 12 maio, 1918. FLC) Em seu artigo Art, Spectacle and Permanence: a rear-mirror view of the Synthesis of the Arts, Von Moos , coloca em suspensão o problema da perseverança do arquiteto ao explorar a ‘cultura do pitoresco’ 57. Segundo o historiador, há um esforço de Le Corbusier em situar a arquitetura na paisagem, bem como incorporar a natureza na arquitetura e na pintura. A geometria seria o instrumento, um caminho e, portanto, uma ‘linguagem’ do homem moderno.58 Não é nosso intuito aqui aprofundar as questões para Le Corbusier cujas reflexões estão relacionadas àquelas tematizadas por autores de língua alemã do século XIX, como, por exemplo, as noções de pitoresco e sublime. Nossa proposta é mais modesta, a dizer, trazer a luz os possíveis momentos onde tornam-se mais evidentes as tensões, ou melhor, as oscilações do seu pensamento, dito, ‘ora racional’, ora ‘romântico’. Esse esforço permite já deslocar um aparente entendimento de um Le Corbusier apenas pragmático e positivista. Em seus registros durante a viagem à América do Sul, Le Corbusier evidencia esta tensão num profundo momento de experiência e reflexão sobre a vida. ‘E eis aqui o que pensava na floresta de S. Martinho, às doze horas de trem do litoral, na direção do centro do Brasil: É preciso saber estar em estado de

55 VON MOOS, S. Art, Spectacle and Permanence: a rear-mirror view of the Synthesis of the Arts. In: Le Corbusier. The Art of Architecture. Alexander von Vegesack, Stanislaus von Moos, Arthur Rüegg, Mateo Kries (org.). Weil am Rhein: Vitra Design Stiftung gGmbH, 2007. p. 89 56 Idem, p. 90 57 VON MOOS, S. Art, Spectacle and Permanence… p. 90. 58 LE CORBUSIER. Vers une Architecture... p.44 (versão brasileira)

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Le Corbusier em Paquetá, Rio de Janeiro, 1929. (FLC )

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julgamento, sempre. Esteja você nos trópicos do Brasil, nos pampas argentinos, em Assunção dos índios, etc. Saber vencer o cansaço ambiente e julgar por um critério-padrão, em si, uma coisa que está em harmonia com tudo, e que, consequentemente, não choca em nada. Salvo a terra muito vermelha e as palmeiras, encontramo-nos na paisagem eterna de toda a parte: estepes ou pampas não passam de pura extensão; floresta virgem ou bosque francês nada mais são que ramificações. Compreender! Ver os negros, os mulatos, os índios na massa humana de São Paulo! Considerar o estilo de Buenos Aires! (...) A floresta virgem é como as outras; há cipós, entretanto; não podemos ignorá-los (...) A floresta é silenciosa, imóvel, abafada, impenetrável – ameaçadora, talvez. (...) Tudo está dentro da floresta americana, mas não se vê nada. Esperar, espreitar, escutar, um, dois dias seguidos, e a floresta falará. Mas nunca se tem tempo! Do mesmo modo na vida! Saber estar em estado de julgamento!’ 59 Através da experiência sensível da imponência da natureza tropical e do esforço humano a controlar esta própria natureza, Le Corbusier reflete sobre a própria noção de sujeito e da relação deste com as coisas. ‘Saber estar em estado de julgamento’, eis uma reflexão que Le Corbusier registra em seu caderno de viagem, um gesto consciente e banhado no pensamento kantiano e de futuros leitores de Kant, como por exemplo, Nietzsche. De fato, os registros das viagens de Le Corbusier às Américas parecem apresentar, pela primeira vez, de modo mais evidente – se tomarmos como referência a sua obra anterior – esta tensão, bem como, diálogo com alguns dos autores do movimento romântico alemão.Cabe-nos, assim, analisar de modo mais fino, seus escritos e obras, em relação ao meio social e cultural em que esteve imerso durante este final da década de 1920.

59 Le Corbusier. Prólogo Americano. In : PEREIRA. Le Corbusier e o Brasil..., p. 80-81.

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Capítulo 2

1928: les noires années sont passées ‘Minha querida mamãe, Esta manhã, uma carta sua. Eu a esperava há muito (...) Estou cheio de frenesi depois da minha pintura. A manhã passa e, as noites ao desenho. E os dias passam, devoram. Desde minha partida de Corseaux, o caso PdN* segue uma trilha de cólera. A reação é forte por todos os lados. Invectivas. Mas eu, jogando em terreno seguro, tentei fazer outra coisa. E, talvez isso não seja nada mal. (...) Tenho a impressão de que os ‘anos negros’ passaram.’60vi. *Palácio das Nações Noite de 20 de Janeiro de 1928. É inverno na cidade de Paris. Contudo, as horas dedicadas à pintura animam Le Corbusier a escrever uma carta à sua mãe antes do repouso. As palavras de ‘boas novas’ confirmam seus desejos e metas que percorrerão todo o ano de 1928. ‘Les noires années sont passées’, ‘os anos negros passaram’. De fato, o ano porvir trará luzes e marcará a vida do arquiteto. Determinado a agir perante a indignação do resultado do concurso para a sede da Sociedade das Nações em Genebra, Le Corbusier encabeçará lutas por mudanças na arquitetura, no urbanismo, na vida do homem moderno. O ano de 1928 será intenso para Le Corbusier: escritos que resultarão no livro Une Maison – Un Palais, conferências em novos lugares, viagens a um novo mundo, projetos e pinturas com um novo patamar de cores. Se, em fevereiro Le Corbusier concentra-se, juntamente com Pièrre Jeanneret e Charlote Perriand, em projetos no atelier da Rue de Sèvres61 para as Vilas La Roche e Church; em julho, ele viaja à Suíça a participar do primeiro congresso internacional de arquitetura moderna, no Château de La Sarraz 62. Durante o segundo semestre, seus passos vão ainda mais longe. Le Corbusier prepara-se para a sua primeira viagem à Moscou, a ser realizada na primeira semana de outubro. De fato, será um ano repleto de convites e compromissos. Contudo, alguns deles trarão novos desafios a Le Corbusier, em especial, o convite do jurista belga Paul Otlet a desenhar a sede de um Centro dos saberes mundiais e universais para a cidade de Genebra, o Mundaneum 63 e, o convite para

60 Carta de Charles Edouard Jeanneret à sua mãe, em 20 de janeiro de 1928. In : Jean Jenger. Le Corbusier – Choix de lettres, pp. 191, 192. 61 Rue de Sèvres, 35 foi o endereço em Paris do escritório de arquitetura de Le Corbusier e Pierre Jeanneret por quase quatro décadas (1924-1965). 62 A Mansão em La Sarraz, na Suíça, será o lugar oferecido pela Senhora Madame Hélène de Mandrot (1867–1948), patrona do Werkbund suíço, a sediar o primeiro encontro dos Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna em 1928. 63 A idealização do Mundaneum tem sua origem no final do século XIX. Criado por iniciativa de dois juristas belgas, Paul Otlet (1868-1944) e Henri La Fontaine (1854 – 1943), ganhador do premio Nobel da Paz, o projeto visava reunir o conjunto dos ‘saberes’ do mundo, bem como a classificação dos mesmos segundo o sistema de Classificação decimal universal (CDU) – desenvolvida pelos próprios Otlet e La Fontaine. O Mundaneum foi concebido como um centro de documentação de caráter universal, bem como uma ferramenta dos conhecimentos para a paz mundial. Um projeto mais grandioso, em seguida, tomou forma: Cité Mondiale. O seu objetivo era reunir de forma global, as principais instituições do trabalho intelectual: bibliotecas, museus e universidades. Otlet convida Le Corbusier a realizar os projetos de arquitetura e urbanismo para o Mundaneum e, em seguida, para a Cité Mondiale. Contudo, o projetos de Le Corbusier, pensados para Genebra jamais foram realizados.

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LC, Perriand e Jeanneret. Foto-colagem no Equipement intérieur d’une habitation,L’architecture vivante , verão de 1930.

Colar. Design de Charlotte Perriand, 1927. Le Corbusier e Charlotte Perriand, 1928.

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palestrar em Moscou e participar do concurso da sede da União Central de Cooperativas de Consumação, o Centrosojuz. Ao longo deste ano, alguns personagens contribuem ricamente ao pensamento e a obra de Le Corbusier. Às vezes tais contribuições serão mais explícitas no campo da criação, como é o caso da colaboração de Charlotte Perriand 64 no atelier da Rue de Sèvres. Outras vezes elas manifestam-se na ampliação dos conceitos, como será a relação com Otlet. Algumas relações tornam-se férteis pelos debates travados e pela divergência no modo de agir e pensar sobre a cidade. A relação de Le Corbusier com o grupo de arquitetos alemães e suíços dos CIAM, por exemplo, será muitas vezes tensa e complexa. Não obstante, a visita à Moscou será uma grande descoberta. Ao lado dos russos Moisei Ginzburg 65, Aleksandr Vesnin66 e Andrej Burov 67, Le Corbusier conhece fragmentos de uma sociedade cuja lógica social, econômica e política é distante daquela compartilhada pela sociedade ocidental. Por compreender que as palavras e o discurso de Le Corbusier nesta época serão profundamente marcados pela relação com estes atores, trataremos no presente capítulo de abordar a relação do arquiteto com aqueles que provocaram, de certa forma, ecos mais fortes nos escritos e na arquitetura de Le Corbusier. Charlotte Perriand no atelier da Rue de Sèvres ‘ A mulher moderna cortou os cabelos. Nossos olhares conheceram a forma de suas pernas. O espartilho deixou de existir. ‘A etiqueta’ sumiu. A etiqueta nasceu na corte. Nela, apenas algumas pessoas tinham o direito de sentar e precisavam fazê-lo de uma certa maneira. Mais tarde, no século XIX, o burguês tornou-se rei e encomendou poltronas infinitamente mais esculpidas e douradas do que aquelas de uso dos príncipes de sangue. As ‘boas maneiras’ foram ensinadas no convento. Pois bem, hoje tudo isto nos entedia! Uma pessoa distinta jamais perde sua distinção, mesmo no carnaval. Quanto a isto estamos

64 Charlotte Perriand (1903-1999) nasce e estuda em Paris. De 1921 à 1925, cursa com uma bolsa a Ecole de l’Union centrale des arts décoratifs, sob a direção de Henri Rapin. Ainda jovem, participa diversas vezes do Salon des artistes décorateurs e inicia sua colaboração no atelier de Le Corbusier em novembro de 1927. De 1940 à 1946 reside e trabalha no Japão, convidada pelo ministério do Comércio e Indústria, como conselheira de arte industrial japonesa. Sobre a vida e obra de Perriand: PERRIAND. C. Une vie de création. Paris : Odile Jacob, 1998. 65 Moisei Ginzburg (1892-1946) nasce em Minsk em meio de uma família cujo pai era arquiteto. Estuda em Milão e, durante a 1ª guerra mundial retorna à Moscou. É membro fundador do grupo OSA (Organização de arquitetos contemporâneos) e faz parte do movimento construtivista russo. Aproxima-se das reflexões de Le Corbusier desde os escritos da revista L’Esprit Nouveau. Todavia, na década de 1930, sua relação com o arquiteto franco-suíça complexifica-se ao propor a noção de desurbanismo, contestada por Le Corbusier. In: COHEN. Le Corbusier et la mystique… 66 Alexander Aleksandrovic Vesnin (1883-1959) graduou-se em engenharia e trabalhou junto com seus irmãos Leonid e Viktor Vesnin. Participa ativamente do movimento construtivista russo. Suas idéias aproximaram-se das reflexões de Le Corbusier, tornando-se um grande difusor das teorias e obras do arquiteto franco-suíço na URSS. 67 Andrej Burov foi aluno de Vesnin. Durante a estadia de Le Corbusier na URSS, Burov é o cicerone, mostrando-lhes as recentes construções moscovitas. Foi responsável por introduzir o arquiteto franco-suíço ao cineasta Sergej Ejzenštejn. In: COHEN, J.L. Le Corbusier et la mystique de l’URSS. Théories et projets pour Moscou 1928-1936. Paris : Pierre Mardaga, 1987. pp.73.

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Le Corbusier, Pierre Jeanneret e Charlotte Perriand : fauteil pivotant , 1927-28 ; fauteil à dossier basculant, 1928 ; fauteil grand confort , 1928

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tranquilos! E, sobretudo agora nos sentamos melhor! E a casa foi esvaziada de seus móveis. O espaço e a luz são abundantes. Circula-se, age-se rapidamente’. Conferência em 19 de outubro, 1929, Buenos Aires. As palavras de Le Corbusier em sua décima conferência em Buenos Aires, no ano de 1929 revelam algumas questões importantes para o arquiteto naquele momento. Sua visão sobre a mulher moderna, bem como o comportamento dos homens e mulheres modernos – dentro ou fora de casa – são questões que percorrerão o pensamento mais íntimo, bem como o discurso público de Le Corbusier. É nesse período que as ideias e as ações do arquiteto aproximam-se àquelas da jovem Charlotte Perriand. A partir do último bimestre de 1927, a presença e convívio diário de Charlotte no atelier da Rue de Sèvres trarão ricas contribuições no pensar e agir de Le Corbusier. De fato, Charlotte Perriand logrará concretizar nos projetos de arquitetura de interiores noções presentes no discurso oral e escrito de Le Corbusier. Segundo Tim Benton, Charlotte ‘pode consagrar seu tempo e senso do detalhe à ‘aventura do mobiliário’, anunciada por Le Corbusier em suas conferências, mas que jamais havia sido realizada’ 68. ‘Le métal est à l’agencement intérieur ce que le ciment a été en architecture. C’est une révolution’ 69. ‘O metal é para o design de interiores, aquilo que o cimento foi para a arquitetura. É uma revolução’. Ao longo dos anos de 1927, 1928 e 1929, o estudo e trabalho sobre o metal no mobiliário, a pré-fabricação e o desenho de peças metálicas tubulares fará parte do discurso defendido por Charlotte, antes mesmo de colaborar com Le Corbusier. De fato, tal discurso moderno estenderá os limites do desenho de interiores. O colar de bolas en cuivre chromé, os ‘cabelos curtos’ e o desejo em decidir vestir livremente calças ou saias em lugares e situações diversas fazem parte da atitude moderna de Charlotte. Certamente, a relação de Le Corbusier e Charlotte foi tensa, marcada por posicionamentos diversos na vida social e política e, possivelmente, marcada por ciúmes da relação mais íntima que Charlotte viria a ter com Pierre Jeanneret.70 Uma noite, por volta das 6 horas, Corbu me convida à acompanhá-lo às obras do Pavilhão suíço. Jamais esquecerei este dia, marcado de forte incompreensão mútua. (...) Corbu pára em um dos quartos de estudante e, de modo inesperado, me pergunta: ‘Como vive depois do seu divórcio?’ Fiquei estupefata. Esta pergunta incongruente, seria econômica? Afetiva? Por quê? ‘Bem’, respondi. Diante do meu espanto, ele continua : ‘Ama as mulheres? Posso entender. – ‘Certamente que não, que idéia !’ (…) ‘Devo dizer a você que no atelier há um nobre moço, Pierre, que só pensa em você, pense nisso’. Fui tomada de grande surpresa. (...) Era a eterna história de Adão e Eva, e Eva era caçada no paraíso. Com Corbu, ofendido, nada foi como antes’.vii

68 BENTON, T. Charlotte Perriand: les années Le Corbusier. In : Charlotte Perriand. [org. Marie- Laure Jousset]. Paris : Éditions du Centre Pompidou – Adago, 2005. p.14 69 Charlotte Perriand. Wood or Metal? A Reply to John Gloag’s Article in our January Issue. The Studio, n.97, 1929, p. 278-279. In: BENTON, T. Charlotte Perriand: les années… p. 15. 70 BENTON, T. Charlotte Perriand: les années… p. 13.

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Herman Louis de Koninck, inventário de elementos de cozinha Cubex , prospecto da empresa Van der Ven, Bruxelas, 1935, documento de Arthur Rüegg. Cozinha, Salon d’Automne . in Oeuvre complète , 1929-1934. Parede que divide a sala da cozinha. Salon d’Automne . in Oeuvre complète , 1929-1934.

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Todavia, tais momentos fizeram parte de um período de rica contribuição e reflexão aos três arquitetos. Em arquitetura, por exemplo, Le Corbusier viria a afirmar a construção um novo vocabulário que substituiria a noção de mobiliário: o equipamento doméstico 71. Ao longo dos primeiros anos de colaboração, Charlotte logrou compartilhar os conceitos de Le Corbusier, presente em seus discursos públicos sobre a máquina, a produção em série e um novo mobiliário moderno, desenhado para o homem e a mulher moderna. Os projetos da mesa extensible avec fauteil tournant, a chaise longue basculante, ou o fauteil Grand Confort, bem como o projeto de interiores para as Vilas Church e La Roche, na França, ou para os espaços apresentados no Salon d’automne de 1929, em Paris, são exemplos desta rica relação do trio Le Corbusier, Jeanneret e Perriand. Arthur Rüegg considera que o conceito de unidades modulares, presente no ‘movimento internacional de reforma da art ménager’, é entendida e praticada pelo trio de arquitetos até nas pequenas divisões de ordenação dos espaços destas unidades 72. Dito de outra forma, tal modulação, racionalização e ordenação será pensada inclusive nas pequenas divisões em casiers (caixas) metálicos standards e justapostos das cozinhas, por exemplo. ‘Graças à diversificação de sua configuração interna, os mesmos elementos poderiam acolher igualmente panelas, louça ou produtos alimentícios, bem como servir de passa-prato’ 73. Para Rüegg, tal proposta torna-se uma tentativa de uma ‘análise científica’ do processo de preparação e cozimento da refeição, apoiadas nas teorias desenvolvidas pela indústria do americano Frederick W. Taylor. 74 Não é possível afirmar que Charlotte Perriand colaborou em todos os projetos de interior no escritório de Le Corbusier e Pierre Jeanneret entre os anos de 1927 e 1937.75 Tensões e discordâncias no método de conceber o mobiliário eram constantes. Tim Bentom e Arthur Rüegg mencionam o tema da mesa de jantar como um ponto de divergências entre Charlotte e Le Corbusier.76 ‘Se, uma vez por semana, eu recebo para jantar dez amigos por um período de três horas, devo ficar desconfortável por toda a minha vida com esta mesa gigantesca que ocupa toda a minha sala de jantar?’ 77,

71 Os estudos de Tim Benton e Arthur Rüegg consideram que as reflexões de Le Corbusier sobre a questão do mobiliário serão ricamente contribuídas a partir da colaboração com Perriand. A noção de equipamento doméstico é, sobretudo, uma construção coletiva. Ver: RÜEGG. A. Charlotte Perriand: Livre de Bord. Basel – Boston – Berlin: Birkhäuser, 2004; RÜEGG. A. Les ‘cellules vitales’ : cuisson et sanitaire. In : Charlotte Perriand. [org. Marie-Laure Jousset]. Paris : Éditions du Centre Pompidou – Adago, 2005. p. 130-140 ; BENTON, T. Charlotte Perriand: les années Le Corbusier. In : Charlotte Perriand. [org. Marie-Laure Jousset]. Paris : Éditions du Centre Pompidou – Adago, 2005. p.12-24. 72 RÜEGG. A. Les ‘cellules vitales’ … p. 131-132. 73 Idem. p.132 74 Idem. 75 BENTON, T. Charlotte Perriand: les années… p. 15. 76 Ver nota 13. 77 ‘Si une fois par semaine, je reçois pendant trois heures dix amis à dîner, vais-je être encombré toute ma vie d’une gigantesque table remplissant toute ma salle à manger? ’Citação de Le Corbusier em L’Architecture Vivante. Printemps-été, 1928, p.33. In : BENTON, T. Charlotte Perriand: les années… p. 15. RÜEGG. A. Charlotte Perriand: Livre de Bord, op. cit. , p. 24-25. In : BENTON, T. Charlotte Perriand: les années… p. 15.

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Interior da residência de Charlotte Perriand. Arquivo Charlotte Perriand. Le Corbusier, Pierre Jeanneret e Charlotte Perriand; perspectiva da sala de jantar da Villa Church, 1928.(FLC)

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questiona Le Corbusier. A solução do arquiteto é a criação de um conjunto de mesas standards, justapostas, e de base em aço tubular. Já Charlotte Perriand projeta uma mesa única, porém, extensível. A mesa é composta por duas peças em madeira cobertas por uma camada de ‘borracha’ que desliza e amplia a dimensão da mesa. Ela realiza um primeiro modelo para o seu apartamento em 1927 e, num segundo instante a fabrica em uma versão ‘luxo’ em 1930. Segundo Arthur Rüegg, Charlotte decide seguir a via ‘décorateur-inventeur avant-gardiste’, enquanto que Le Corbusier prefere evitar mudanças radicais na criação do mobiliário para resolver os problemas cujas soluções seriam simples e apropriadas. Tais divergências confirmam a personalidade forte em ambos os arquitetos, bem como o respeito mútuo no campo da criação. Mesmo após deixar de trabalhar no atelier Rue de Sèvres, Perriand é convidada por Le Corbusier a colaborar em futuros projetos, como a Casa do Brasil na Cidade Internacional Universitária de Paris, em 1959. Tais atitudes demonstram uma relação que foi, certamente, mais além dos muros do atelier. A partir do final dos anos 1920 e, principalmente ao longo de toda a década de 1930, ambos interessar-se-ão pelos objetos à reação poética. As experiências e registros sobre a luz provocadas pelo gelo contra o sol; as formas e sombras de conchas e coquillages nas areias das praias francesas; todo este ambiente é de pura experimentação e lirismo. Charlotte compartilhava, sobretudo, a noção de moderno compreendida por Le Corbusier. Assim como Pierre Jeanneret e Fernand Léger, Charlotte e Le Corbusier concordavam que o espírito consciente, mas ao mesmo tempo livre, poderia gerar novas poéticas ao ser humano moderno e possibilitar assim, a sua felicidade. Tais poéticas pronunciavam-se às vezes nos prazeres mais simples da vida: num banho de mar, nas caminhadas nas montanhas, em casa... ‘E quem sabe sentiremos prazer em nos entregar a nossos pensamentos nesta hora de repouso e relaxamento em nossa casa? Eis o fundo da questão: pensar em algo. Na harmonia das proporções, ou em algum poema da mecânica, da vida dos povos modernos ou antigos, até mesmo em um poema em versos, ou em alguma música, ou em alguma escultura, algum quadro, em um gráfico, ou em uma determinada fotografia de um fenômeno simples ou sublime, fundamental ou excepcional. A vida nos oferece muitas ocasiões de juntarmos bibelôs que sejam objetos que nos levem a pensar: Este seixo do mar, esta admirável pinha, estas borboletas, estes escaravelhos, este elemento de aço polido retirado de uma máquina ou este fragmento minério. Os deuses? É o espírito que os forma com as coisas da Terra. E a aventura? Ah, sim, a aventura do mobiliário? O acontecimento prossegue: a noção de mobiliário desapareceu. Foi substituída por um vocabulário novo: ‘o equipamento doméstico’. 10ª conferência, 19 de outubro: A aventura do mobiliário

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Charlotte Perriand, Pierre Jeanerret, «Pedaço de gelo». Circa1936. Arquivo Charlotte Perriand.

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Projeto Cité Mondial e, 1928.

Projeto do Mundaneum , 1928. Le Corbusier, Paul

Otlet e Hélène de Mandrot. Paris, Arq. Ch. Perriand

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Paul Otlet e os projetos para Genebra ‘Vejam então o promotor do Mundaneum, e as razões pelas quais eu abracei a sua causa. Ele é um desses jovens ardentes de cabelos brancos. Seu despertar intelectual data de 1870; atravessando assim fenômenos sociais e econômicos encontrados hoje entre nós, jovens, diante das tarefas já formuladas. Estas, outras, que já esquecemos, ele já as havia formulado. É um destes visionários, líderes, suscitador de correntes magnéticas, captadores e emissores de ondas. Há vinte anos que Paul Otlet havia fundado a União das Associações Internacionais e redigido o estatuto de uma Sociedade das Nações. viii ‘Visionário’, ‘provocador’, um ‘jovem ardente de cabelos brancos’ cuja história pessoal atravessou momentos de rupturas e permanências no mundo, passando por guerras e novas reorganizações geográficas, políticas e do capital. Assim nos é apresentado Paul Otlet por Le Corbusier. Suas palavras de admiração e respeito à obra e vida deste jurista belga confirmam a atenção do arquiteto às idéias defendidas por Otlet. De fato, os escritos de Paul Otlet, bem como daqueles que compartilharam esta ‘nebulosa 78’ intelectual, merecem maiores atenção entre nós arquitetos e historiadores da arquitetura e do urbanismo. Paul Otlet pensou, sobretudo, em criar possibilidades de compartilhamento dos saberes, noção esta entendida como livre e universal.79 Para isso, visualizou um espaço físico que abrigasse estes centros de cultura e história. Apesar de não ser arquiteto, sua mente ambiciona e projeta a construção de uma cidade – aberta, internacional e universal – que contemplasse este lugar concentrado dos saberes construídos pelos homens na História. Algumas noções defendidas por Otlet, desde o final do século XIX e nas primeiras décadas do século XX, serão compartilhadas por Le Corbusier e Pierre Jeanneret e marcarão o pensamento e a obra dos arquitetos neste momento. ‘A tese de Paul Otlet é a seguinte : para gerir bem uma reformulação do mundo (já que o maquinismo nos impõe isso sem pena), é indispensável conhecer o estado comparado das nações, dos povos, das raças, das cidades que, hoje em dia, participam do cenário mundial, onde: ‘edifício, continentes, Estado, Cidades’, isto é, o urbanismo ou tudo aquilo que os homens reunidos em sociedade, em povoações ou comunidades, realizaram sob a marca da cooperação, da solidariedade. Então, precisamos que todas as tentativas de organização das novas teses, as coalizões contra o egoísmo, as obras de colaboração humana sejam conhecidas, que [tais] homens conheçam-se uns aos outros, participem mutuamente em seus trabalhos e tenham uma sede comum condensadora, receptora e centro de ação: daí, o ‘Edifício das Associações Internacionais’. ix

78 Margareth Pereira introduz a noção de nebulosa no campo da historiografia do pensamento urbanístico. Ver: PEREIRA, M. Las nebulosas. Conferência apresentada para o Seminário ‘Fuentes no convencionales’ no Postgrado de Teoría e Historia y el Arte de la Facultad de Artes de la Universidad Nacional de Colombia. Bogotá, Noviembre de 2005. 79 Sobre os estudos de Paul Otlet e a relação com Le Corbusier, ver: MATTEONI, D. Mundaneum ; COURTIAU, C. Otlet (Paul). In : Le Corbusier : une encyclopédie. [org. Jacques Lucan]. Paris : Éditions du Centre Pompidou, 1987. p. 261-263 e 278-279 ;

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Croqui do Mundaneum realizado durante oitava conferência, Buenos Aires, 1929.

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Otlet foi responsável pela criação em 1895 do Instituto Internacional de bibliografia, juntamente com o ganhador do Prêmio Nobel da Paz, Henri la Fontaine. Desde 1914, o belga contribuiu para a criação da Sociedade das Nações em Genebra e, posteriormente, defenderá a construção de dois projetos: o Mundaneum e a Cité Mondiale. O projeto do Mundaneum, menor, estaria contido no programa do projeto para a cidade mundial. Amplos contemplariam uma orientação de vocação cultural e intelectual que complementasse as organizações já estabelecidas na cidade suíça. Sobre o Mundaneum, Le Corbusier considera-o como uma obra ‘inspirada nas diretivas da arquitetura moderna cuja economia repousa sobre a função interna dos edifícios e não sobre uma decoração custosa e sobreposta’. 80 Le Corbusier recebe em abril de 1928 o dossier de Otlet no qual apresenta o Mundaneum 81. As palavras do jurista referem-se à criação de um lugar que pudesse ser a ‘imagem total do mundo, do lugar sagrado inspirador e coordenador de grandes idéias. 82 Ao estudar de modo mais atento ao projeto, Dario Matteoni destaca as palavras de Otlet nas quais afirmam a necessidade do projeto contemplar ‘quatro funções correspondendo às formas de organização que poderiam ser úteis ao trabalho intelectual: uma documentação universal (biblioteca, instituto de bibliografia com repertório bibliográfico universal e enciclopédico), uma universidade internacional, um museu e as associações científicas internacionais’.83 Nas palavras de Matteoni, o Mundaneum apresenta-se como ‘um percurso de conhecimentos com a representação da história, classificação e síntese do saber, e um guia científico dos esforços da humanidade em favor da paz universal’. 84 O projeto pensado por Le Corbusier e Jeanneret, notadamente por sua forma e dimensão, gera polêmica entre alguns colegas do milieu social pela ‘causa moderna’. Em especial, destacamos a crítica do tcheco Karel Teige 85, difusor da arte e arquitetura moderna através das revistas RED e Stavba. As palavras de Teige, expressas na revista Stavba em 1929, acusam ‘não haver arquitetura’ no projeto de Le Corbusier86. Segundo Teige, a construção de edifícios que não

80 MATTEONI, D. Mundaneum. In : Le Corbusier : une encyclopédie. [org. Jacques Lucan]. Paris : Éditions du Centre Pompidou, 1987. p. 261-263 81 Carta de Otlet à Le Corbusier e Pierre Jeanneret, em dois de abril de 1928. (FLC). Nos arquivos pessoais de Le Corbusier encontram-se as seguintes publicações : OTLET, Paul. – Le Corbusier. Mundaneum. Bruxelles : Union des Ass. Internationnales, 1928. (FLC) ; OTLET. P. Cité Mondiale. Geneva : World Civic Center : Mundaneum. Le Plan architectural de MM. Le Corbusier et Jeanneret. Bruxelles : Union des Ass. Internantionnales, 1929. (FLC). 82 MATTEONI, D. Mundaneum. p. 261 83 Idem. 84 Idem. 85 Karel Teige (1900-1951) foi historiador e sociólogo nascido em Praga. Participa aos vinte anos da fundação do Devětsil, movimento iconoclaste de jovens intelectuais tchecos. Seu interesse por cinema, escultura, poesia e arquitetura, em especial pelas implicações sociais da arquitetura moderna, conduzem-no a prestar atenção às reflexões e obras de Le Corbusier. Foi autor de diversos artigos na revista Stavba e convidado por Hannes Meyer a lecionar na Bauhaus em Dessau. In: COHEN, J-L. TEIGE (Karel). In : Le Corbusier : une encyclopédie. [org. Jacques Lucan]. Paris : Éditions du Centre Pompidou, 1987. p. 401-402. Sobre a obra e vida de Teige : DLUHOSCH, E.; SVĂCHA. R. Karel Teige (1900-1951): L’Enfant Terrible of the Czech Modernist Avant-Garde. Cambridge: The MIT Press, 1999. 86 Palavras de Le Corbusier no artigo em resposta à Teige. LE CORBUSIER. Défense de l’architecture… p. 13

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Capa da revista RED, 1929 -31. (Arquivo New York Public Library)

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fossem ditados pela ‘necessidade social e pela economia’ não poderia ser um projeto com um programa moderno. O crítico tcheco acusa Le Corbusier de projetar edifícios como um Sarcrarium – incondizente com os programas necessários para a sua época – em pleno coração da cidade e da Ciência moderna.87 Em resposta, Le Corbusier retoma seus conceitos sobre a noção de moderno bem como confirma compartilhar tais noções defendidas por Otlet. ‘No ano passado, ao terminar os planos do Mundaneum (…) havia em nosso atelier um sopro de revolta: a pirâmide, que é um dos elementos do projeto, atormentava os jovens. (...) De repente, o argumento categórico partiu de uma voz: ‘o que é útil é belo!’ Ao mesmo tempo, Alfred Roth (de temperamento impetuoso) deu um pontapé na lixeira de papel [feita de] treliças metálicas que se recusava a suportar a massa de velhos desenhos que [Roth] destruía. Sob a pressão enérgica de Roth, a lixeira de curva tecnicamente sachlich (expressão direta à trança de fios metálicos) deforma-se e toma forma mostrada neste esboço. Todos riram. ‘É terrível !’ Disse Roth. ‘Desculpe, eu respondi, esta cesta de papéis contém agora muito mais e é mais útil, portanto, é mais bela! Seja coerente com seus princípios!’ Este exemplo é engraçado só porque as circunstâncias que fizemos surgir foram oportunas. Logo em seguida restabeleci um equilíbrio acrescentando: ‘a função beleza é independente da função utilidade’; são duas coisas. O que é desagradável ao espírito, é o desperdício, pois o desperdício é estúpido; é por isso que o útil nos agrada. Mas o útil não é belo.’ Se deixamos de lado o plano da plástica para investigar os efeitos da sachlichkeit, em benefício do conforto, - na ocorrência, para ver a que ponto nós estamos satisfeitos pelo progresso do maquinismo - posso pensar assim: o luxo mecânico não é uma função direta da felicidade. (...) No meu caso, pessoalmente, estou privado de todo conforto. Mas, crio e sou perfeitamente feliz. (...) Se a adaptação às vantagens da máquina é automática, e, portanto, as alegrias que ela traz, efêmeras, o caminho à felicidade espiritual é permanente e particularmente, devemos isso à harmonia.x

A lixeira de papel do ateliê da Rua de Sèvres, ante s e depois do pontapé de Alfred Roth, em « Défense de l’architecture ».

87 (32) Idem. p. 15

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Fotos CIA M, La Sarraz, 1928.

(Arquivo gta/ETH)

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Ser moderno era ser livre para escolher. Mesmo que isto significasse pensar em formas utilizadas em um passado, como a pirâmide, pois o gesto e o modo de como pensar em conceber a arquitetura moderna seriam, estes sim, embebidos pela técnica e ciência moderna. Assim como Otlet, Le Corbusier acredita em uma universalidade nas coisas. Em arquitetura, o arquiteto entende que as formas puras são universais e, desse modo, contemporâneas em todos os tempos. Neste momento, aparenta-se não haver tensão no seu entendimento da noção de universal. Serão necessárias novas descobertas, novas realidades, novos meios sociais – notadamente, a partir das grandes viagens realizadas a partir de outubro de 1929 à América do Sul, seguidas pelas viagens à África e América do Norte nos anos 1930 – para que Le Corbusier desestabilize o seu entendimento sobre universal. Todavia, Le Corbusier percebe que, apesar dos inúmeros escritos e esforços, a sua noção não é igualmente compartilhada entre o seu meio social. DEFENSE DE L’ARCHITECTURE é um esforço em compartilhar determinadas questões e romper outras que, sob o olhar do arquiteto, enrijecem, estancam e acomodam o pensar, o fazer e o criar em arquitetura e na cidade. Sigfried Giedion e Le Corbusier: encontro em La Sar raz Em Fevereiro de 1928, recebi uma carta de Madame Hélène de Mandrot. Escreveu-me que viria visitar-me em Zurique. Mesmo antes de deixarmos a plataforma em que me apanhava, ela começou a explicar-me a finalidade da sua visita. Queria convidar os principais arquitetos da atualidade, em sua mansão em La Sarraz, localizada a algumas milhas ao norte do Lago de Genebra, Vaud. [...] Madame de Mandrot já havia falado com Le Corbusier e outros amigos em Paris. O tempo parecia maduro para isso. [...] Anteriormente, em 1927, por ocasião das atividades em Weissenhof, Stuttgart, uma tentativa já havia sido feita por arquitetos alemães em criar eine Vereinigung (uma associação, um grupo), mas que não foi bem sucedida. 88xi As palavras de Sigfried Giedion89, apesar de publicadas apenas em 1942, contribuem para a construção do cenário existente neste primeiro semestre de 1928. Die Zeit schien reif dafür, O tempo parecia maduro para isto. De fato, a frase

88 O texto de Giedion foi publicado como introdução do livro: Can our Cities Survive? Cambridge, 1942. Em alemão foi publicado em: STEINMANN. M. CIAM: Dokumente 1928-1939. Basel – Stuttgart: Birkhäuser, 1979. p. 9 89 Sigfried Giedion (1888-1968) nasceu em Praga, filho de um industrialista co-proprietário de um negócio de fiação no cantão de Zug, Suíça. Estudou primeiramente engenharia mecânica na Technische Hochschule em Viena, e completou seu doutorado em história da arte com Heinrich Wöllflin em Munique. Giedion conhece Le Corbusier em Paris logo após a publicação de ‘Vers une Architecture’. In: MUMFORD. E. The Ciam Discourse ... p. 279.

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Palácio des Nations , Genebra, 1927. «A voz da academia». in: Une maison - un palais , 1928.

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de Giedion, secretário do CIAM durante quase três décadas, expõe com bastante clareza os inúmeros acontecimentos nos quais levaram à criação dos CIAM. Les Congrès Internationaux d’Architecture Moderne, ou internationale Kongresse für neues Bauen 90, foram criados sobre bases e esforços de diferentes atores da vanguarda europeia. Seus interesses eram, sobretudo, compartilhar esforços e ações em relação à arquitetura do início do século XX, inserida nas questões sociais, econômicas e tecnológicas. 91 Apesar dos escritos publicados pelos membros dos CIAM, ao longo de três décadas, gerarem ecos e repercussões globais como o esforço de um corpo coeso e uníssono, inúmeros foram os debates travados e as divergências entre os seus membros desde os primeiros encontros. 92 Segundo Eric Mumford, o primeiro CIAM foi resultado de esforços cujas origens são diversas. Ele destaca a campanha internacional em favor do projeto de Le Corbusier rejeitada no concurso do Palácio das Nações, bem como os encontros em Weissenhof envolvendo membros do Ring, em Berlim, e do Werkbund suíço em 1927.93 Mumford considera igualmente os esforços anteriores de El Lissitzky, bem como dos holandeses do De Stijl, em promover uma associação internacional de arquitetos, cujas ações resultaram em diversos periódicos de vanguarda pela Europa 94. A desqualificação do projeto de Le Corbusier e Pierre Jeanneret para o Palácio em Genebra provocou críticas e posicionamentos diversos em prol da nova arquitetura. Dentre eles, podemos destacar o seu amigo bruxelois Victor Bourgeois, o professor Karl Moser, o holandês H. P. Berlage 95 – ambos jurados do concurso e à favor do projeto de Le Corbusier – e o ainda jovem crítico de arte e arquitetura, Sigfried Giedion. A partir do ano 1927 e, principalmente durante o ano de 1928, com a criação dos CIAM, Le Corbusier estará próximo a vanguardistas do meio intelectual europeu. O convívio mais regular, devido aos encontros dos CIAM 96 e CIRPAC 97, contribuirá aos debates, bem como a aproximação daqueles onde há empatia cujas noções sobre a arquitetura e o urbanismo são mais fortemente compartilhadas. É neste contexto em que Le Corbusier vê Giedion como um forte aliado. Os escritos do crítico divulgarão, dentre outras questões da arquitetura e arte moderna, a obra do arquiteto 98. Em especial, destacamos a publicação Space, Time, Architecture, uma organização das reflexões e palestras de Giedion em Harvard.

90 Internationale Kongresse für Neues Bauen era o termo utilizado na época pelos atores cuja língua era alemã. Havia um esforço em suprimir noção de Architektur (arquitetura) e substituí-la por Bauen (construção). 91 Sobre os estudos dos CIAM ver: STEINMANN. M. CIAM: Dokumente 1928-1939. Basel – Stuttgart: Birkhäuser, 1979; MUMFORD. E. The Ciam Discourse on Urbanism, 1928-1960. Cambridge – London: The MIT Press, 2000. 92 Mumford já considera que apenas são recentes as novas abordagens e objetos sobre a história dos CIAM. As divergências e lutas internas começam doravante a tornar uma questão para os pesquisadores na última década. In: MUMFORD. E. The Ciam Discourse… p. 9. 93 MUMFORD. E. The Ciam Discourse… p. 9-15. 94 Idem. 95 Victor Bourgeois (1897-1962); Karl Moser (1860 – 1936);Hendrik Petrus Berlage (1856 -1934) 96 CIAM: Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna. 97 CIRPAC: Comité International pour la Réalisation des Problèmes d’Architecture Contemporaine 98 Giedion publica a viagem de Le Corbusier à Moscou em 1929. GIEDION. S. Le Corbusiers ‘Zentrosoyus’ in Moskau, in Neue Zürcher Zeitung, Zurich, 19 de julho de 1929.

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Catálogo da exposição Kunsthaus, Zurich, 1938. P refácio de Giedion.

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‘É raro nesta nossa era da especialização, encontrar pintor e arquiteto reunidos em uma única pessoa. Pela sua natureza ‘leonardesca’, Le Corbusier foi uma exceção. Em seu horário de trabalho diário, a manhã era consagrada à pintura, a tarde à arquitetura. Não existiam dificuldades com as criações em arquitetura, enquanto envolvido às reais lutas com a pintura. A concepção do espaço é a base de suas atividades. Assim, arquitetura e pintura eram apenas dois meios diferentes de expressão para Le Corbusier’. 99xii Ainda são poucos os estudos mais finos sobre a relação que perdurou por quase quatro décadas, interrompida pelo falecimento de Le Corbusier em 1965. Ao contrário dos outros atores abordados neste capítulo – Charlotte Perriand, Paul Otlet e mais adiante Moisei Ginzburg – não há especificamente um estudo que explique a relação do arquiteto com Giedion na obra Le Corbusier. 100 Todavia, as trocas de cartas por estas quase quatro décadas confirmam a relação de amizade entre ‘Corbu’ e ‘Dr. Pep’ 101. Em uma carta escrita ao amigo em 19 de setembro de 1951, Giedion afirma Le Corbusier ser o único a desenvolver como arquiteto uma nova teoria para o emploi des proportions’, e, por isso, insiste no ‘interesse em apresentar [em Milão] suas ideias a pessoas de outras disciplinas’.102 Tanto Moser, quanto Berlage contribuirão – cada um a seu modo 103 – para a criação do primeiro encontro dos CIAM em 1928, contudo, será Giedion o personagem chave neste momento. Seu relacionamento próximo à Mme de Mandrot, à Le Corbusier e aos arquitetos alemães, suíços e holandeses será fundamental não somente para a concretização do encontro em La Sarraz, mas também às futuras decisões administrativas e políticas do próprio CIAM. 104 Para Mumford, Giedion – mesmo após reconhecer as dificuldades de Mies van der Rohe nos encontros em Stuttgart – já visualizava a necessidade da criação de um novo movimento, desta vez liderado por Gropius, Mies, Le Corbusier, J. P. Oud, Van Eesteren, Mart Stam e Hans Schmidt. Em uma carta escrita em novembro de 1927 à Oud, Giedion expõe a necessidade do nascimento deste novo movimento moderno em resposta aos esforços de Mies.105 Apesar de divergências em relação às práticas e ao modo de pensar dos arquitetos e intelectuais da neue Sachlichkeit, Le Corbusier reconhece os esforços e a necessidade do encontro para trocar experiências e saberes. De fato, o

99 GIEDION. Espace, Temps, Architecture... p. 302. 100 Na publicação ‘Le Corbusier, une encyclopédie’ em homenagem ao centenário do arquiteto, Jacques Lucan esforça-se em reunir em mais de 140 artigos, estudos sobre a vida, obra, momentos, eventos e descobertas de Le Corbusier, bem como a relação com alguns importantes atores que puderam influenciar de algum modo Charles-Edouard Jeanneret-Gris. Contudo, percebe-se a ausência de estudos mais finos da relação de Le Corbusier e Giedion. 101 Nas correspondências entre Gropius, Neutra e Giedion, o modo carinhoso como este último era chamado por seus colegas era ‘Dr. Pep’. Ainda não foram encontradas correspondências entre Le Corbusier e Giedion cuja saudação mencione tal apelido. Em geral constavam amigáveis saudações como ‘Cher Corbu’ ou ‘Cher Ami/Giedion’. De qualquer modo, estes gestos reforçam o vínculo de amizade entre alguns dos delegados do CIAM. Arquivo gta-ETH Zurich. 102 Carta de Giedion à Le Corbusier em 19 de setembro de 1951. Arquivo gta-ETH Zurich. 103 Moser, como um respeitado professor em Zurich, oferece um apoio, sobretudo, institucional e de legitimação ao movimento que se forma. Berlage, ao aceitar o convite de participar do evento em La Sarraz, e fazer a conferência inicial, igualmente dá legitimidade ao grupo. 104 Giedion será o secretário geral dos CIAM. 105 Carta de Giedion à Oud em 17 de novembro de 1927, mencionado no artigo de Richard Pommer e Christian Otto, Weissenhof 1927 and the Modern Movement in Architecture (Chicago, 1991), 272-273, n.1 In: MUMFORD. E. The Ciam Discourse… p. 11.

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Declaração de La Sarraz, 1928.

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arquiteto suíço visualiza a possibilidade de divulgação e compartilhamento de suas ideias no milieu vanguardista da arquitetura moderna. Le Corbusier, assim, não somente aceita o convite de Mme de Mandrot, mas contribui, juntamente com Giedion e Gabriel Guévrékian 106, para os arranjos do encontro em La Sarraz, realizado entre os dias 26 e 28 de junho de 1928. 107 Le Corbusier desenvolve em dois momentos, duas versões do ‘Programa de Trabalho’ a serem discutidas nos eventos. Tanto no primeiro programa, quanto no segundo (mais detalhado), Le Corbusier trata de temas nos quais percorrem todo o seu questionamento neste momento. Eles são apresentados em seis tópicos: as técnicas modernas em arquitetura; a estandardização; o urbanismo e as questões sanitaristas; a educação doméstica e escolar e a relação entre o Estado e a Arquitetura. 108 Apesar da Declaração de La Sarraz, estabelecida no final do evento, aparentar uma expressão de um corpo coeso, divergências foram constantes nos debates travados. Certos posicionamentos e diferenças tornaram-se mais evidentes como os de Le Corbusier, Ernst May, Mart Stam, Hans Schmidt, Hannes Meyer e André Lurçat. 109 Não obstante, o evento possibilitou encadear uma série de encontros e debates cujos temas farão parte dos seguintes congressos. Eles não serão uma exposição uníssona, pelo contrário, tais encontros serão, como afirma o próprio Giedion, congressos baseados na cooperação: ‘Abordar os problemas que um arquiteto não poderia resolver de modo isolado’: eis o objetivo do CIAM defendido por Giedion. 110 xiii

106 Gabriel Guevrekian (1892-1970) 107 In: MUMFORD. E. The Ciam Discourse… p. 9-24. 108 STEINMANN. M. CIAM: Dokumente 1928-1939... p. 12-21. 109 In: MUMFORD. E. The Ciam Discourse… p. 19 110 O termo utilizado por Giedion foi: ‘Zusammenarbeit’ , o que significaria trabalho em conjunto. Em alemão foi publicado em: STEINMANN. M. CIAM: Dokumente 1928-1939. Basel – Stuttgart: Birkhäuser, 1979. p. 9.

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Croquis feitos sob o casaco em Moscou, 1928. (FLC)

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Conversas em Moscou: Le Corbusier e os construtivis tas Não há cafés em Moscou. É impossível sair e tomar algo. As pessoas não riem. Entre eles, há um ar de ‘saber se virar’. E em um clube! A grande idéia. (...) 1 clube = sala de cinema, teatro (o palco abre-se para o interior e o exterior), educação e cultura física, biblioteca, sala de trabalho em comum! Voilà le type. (...) Visitei os armazéns Centrosoyuz, formigueiro, onde todos trabalham. Nos corredores, cartazes interessantes por seus múltiplos imaginários. Luta contra o álcool, a luta contra a igreja = ignorância e capital. A cada semana é exibido o jornal do Instituto, da empresa (...) impresso em máquinas, aquarelados, teses, propostas para os líderes, os debates para as tomadas de decisões.xiv (Le Corbusier, Agenda VII, iniciada em 1o de outubro de 1928, p.36-37-38, FLC In: Cohen p. 68) No dia 1º de outubro de 1928, Le Corbusier parte de Paris em direção à Moscou. É a sua primeira visita à União Soviética. De fato, é a primeira visita de um arquiteto francês ao país soviético 111. Através de seus registros de viagem, acompanhamos suas descobertas, experiências e julgamentos deste mundo que não lhe é familiar. ‘Não há cafés em Moscou’. O arquiteto e, ao mesmo tempo, um estrangeiro na cidade, descobre a capital soviética. Nesta viagem, há mais escritos que desenhos. Le Corbusier foi impedido de poder desenhar livremente pela cidade, jamais chegou tal permissão. Mesmo assim, desenhou às escondidas 112. Com um lápis e pequeno caderno à mão, ele desenha debaixo do casaco manteau, vestimenta necessária para suportar o frio do outono russo. São croquis inacabados, com um traçado rápido, que registram seu olhar sobre os monumentos e praças da cidade: o muro de Kremlin, a torre Nikol’skaja, a praça vermelha, a catedral de Arcanjo Mihajl, o Instituto do Marxismo-Leninismo 113 e o monumento à Revolução na praça Sovetskja .114 Entretanto, Le Corbusier não viaja como turista. Foi convidado oficialmente pela União central de cooperativas de consumação, Centrosojuz, a vir à Moscou. Os objetivos principais da visita à URSS eram claros: apresentar pessoalmente o projeto do Centrosojuz, encomendado durante o mês de maio de 1928, bem como ouvir as modificações desejadas pelos soviéticos para o concurso 115. De fato, sua viagem foi inteiramente financiada pelo próprio Centrosojuz, malgrado a existência de uma instituição específica aos assuntos culturais estrangeiros, a VOKS. Esta última era encarregada desde 1925 pelos intercâmbios culturais com o exterior, bem responsável pelos visitantes estrangeiros no país, do mais ilustre ao mais modesto116.

111 COHEN. Le Corbusier et la mystique… p. 63 112 Idem. p. 74 113 Projeto construído por Sergel Cernysev em 1926. 114 Projeto construído por Dimitri Osipov e Nikolaj Andreev em 1918. 115 COHEN. Le Corbusier et la mystique… p. 63 116 Idem. p. 64

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Aleksandr Vesnin, cobertura de Stil’ i epoha de Moisei Ginzburg, 1924. (Museu de arquitetura Scusey, Moscou). Le Corbusier com um grupo de arquitetos soviéticos, outubro de 1928 (FLC) In: COHEN, Le Corbusier...pp 51,66.

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A especificidade deste fomento evidencia os interesses estratégicos por parte dos dirigentes soviéticos na recepção de um arquiteto cujas teorias e reflexões estavam sendo compartilhadas e geraram ecos no meio arquitetônico, político e intelectual soviético. A ‘autoridade de Le Corbusier em Paris’, bem como a visibilidade de suas teorias no meio social e político europeu – e, inclusive no meio moscovita – são tais que os ‘dirigentes soviéticos não poderiam deixar de tomar atenção e captar uma fração da energia na qual Le Corbusier radia por toda a Europa a partir da metade dos anos 1920’. 117 Jean-Louis Cohen destaca assim, a atenção destes dirigentes soviéticos ao meio cultural e intelectual francês, considerado como um importante campo de ação e formação na Europa. Em adição, esta aproximação e abertura de portas acontece, sobretudo, em um momento de desinteresse nas relações técnicas e culturais com a Alemanha.118 Segundo Cohen, Le Corbusier não era um desconhecido no meio intelectual soviético. Seu trabalho e escritos difundidos principalmente pelas vozes de Moisei Ginzburg e Aleksandrovic Vesnin chega à jovem geração de arquitetos e igualmente aos atores dos mais altos cargos soviéticos. Meus livros passaram o bloqueio. Eu sou muito conhecido, muito popular. Minhas palestras são realizadas em uma sala a transbordar .xv (Le Corbusier, Agenda VII, iniciada em 1o de outubro de 1928, p.36, FLC. In: Cohen, p. 66)

117 Idem. p. 10 118 Idem. p. 10

Henri Hertz, « Lénine», em L’Espirit nouveau no 21, março de 1924

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Centrosojuz , perspectiva à partir da Mjasnickaja, Moscou, 1928.(FLC) Centrosojuz , perspectiva dos pilotis, 1928. (FLC)

Centrosojuz , perspectiva do hall do térreo, 1928. (FLC) Le Corbusier, Palais des Soviets , 1931, 1932. Desenho de sucessivas variantes do grupo de salas, de 6/10 a 23/11, dezembro 1931. (FLC)

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O auditório da sede da Associação pela Difusão dos Conhecimentos Políticos e Científicos permanece repleto de jovens, ávidos por ouvir Le Corbusier e suas noções sobre urbanismo, circulação, densidade, verdure, higiene e beleza. A todo instante há concursos para fábricas, institutos, clubes. (...) As associações são encarregadas pelo Estado a estabelecer a concorrência e nomear o conselho (...) Os arquitetos estão trabalhando constantemente (ao contrário de nós). Qualidade individual? Veja! É uma outra forma, mais coletiva, pois já existe efetivamente uma tendência que une todos os jovens e que obriga até mesmo os mais velhos. (...) O ensino da Faculdade de Arquitetura é uma manifestação massiva de uma crença ‘do moderno’. Aqui estão reconstruindo esse novo mundo, construído como a mística, uma técnica pura. O Construtivismo é uma bandeira que bate bem forte. (...) Alex Vesnine sorri para a vida. (...) Fórmula categórica, gosto talvez. (...) Eles constroem em toda parte clubes nos estilos mais modernos, idem fábricas, fazendas, usinas hidráulicas. Eles constroem grandes encomendas e têm 30 anos de idade. xvi (Le Corbusier, Agenda VII, iniciada em 1o de outubro de 1928, p.37-39-40, FLC. In Cohen. P. 70) As ações, idéias e obras dos artistas e arquitetos soviéticos não eram desconhecidas a Le Corbusier. De fato, o próprio Le Corbusier, juntamente com Ozenfant, publica artigos e posiciona-se face ao construtivismo russo na Revista L’Esprit Nouveau. 119 Em novembro de 1924, Ginzburg dedica-lhe um exemplar de Stil’ i Epoha, um livro manifesto cujo formato e conteúdo, segundo Cohen, aproximam-se fortemente aos artigos de Le Corbusier publicados na Revista L’Esprit Nouveau e posteriormente organizados no livro Vers une Architecture, de 1923. O tema da arte russa na França será marcado notadamente com a presença da URSS na Exposição de Arts Décoratifs et Industriels Modernes em Paris no ano de 1925, onde recentes projetos de arquitetura, bem como expressões artísticas soviéticas, estarão expostos no pavilhão construído por Konstantin Mel’nikov. Contudo, a visita à Moscou marca Le Corbusier. O contato mais próximo, tête à tête, com estes personagens que compartilhavam os discursos do arquiteto suíço, em especial sobre a questão da estética da máquina e das técnicas modernas para uma sociedade moderna, sensibiliza Le Corbusier e vínculos mais fortes são estabelecidos. Não é por acaso, que Le Corbusier escreverá ao presidente do CIAM Karl Moser, em 1929, recomendando a organização de um grupo dos CIAM na URSS e, nomeando Aleksandr Vesnin como presidente e Moisei Ginzburg como délégué no CIRPAC.

119 Ozenfant e Le Corbusier publicam em vários números textos sobre o construtivismo russo. Podemos mencionar: La Tour de Tatline. In L’Esprit Nouveau, n.14, janeiro de 1922; Jean Epstein. Les livres. In L’Esprit Nouveau, n.14, janeiro de 1922 ; Ozenfant, Ivan Pougni. In L’Esprit Nouveau, n.23, maio de 1924; Ivan Pougni. Russie. In L’Esprit Nouveau, n.22, abril de 1924; Le Corbusier. Etude construtivisme russe. In L’Esprit Nouveau, n.25, julho de 1924. Sobre os estudos de Le Corbusier e a URSS ver: COHEN, J.L. Le Corbusier et la mystique de l’URSS. Théories et projets pour Moscou 1928-1936. Paris : Pierre Mardaga, 1987.

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Maison -commune , perspectiva da sala de refeições, Moscou, 1929. (Arq. J-LC) Projeto de foyer para 80-100 pessoas, axonométrica dos apartamentos, Moscou 1929. (Arq. J-LC)

Moisei Ginzburg, Ignatii Milinis, Maison-commune du Narkornfin, Moscou, 1928-29. (Arq. J-LC)

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Cohen considera tal proposta de Le Corbusier como uma estratégia a servir de contrapeso face à influência dos alemães no CIAM, uma vez que a hegemonia do grupo francês perdia força por discordâncias internas. 120 Os russos tem uma organização OCA*, muito forte, ativa, com aproximados 100 membros e que publica uma grande revista cujo comitê é formado por Vesnin, Ghinsbourg, Léonidoff (excelente). Por uma razão de equilíbrio numérico, 100 russos não poderiam fazer parte do congresso, não é mesmo? É necessário então pedi-los a formar um grupo, provisório, para começar Vesnin como presidente, Ghinsbourg como delegado no Cirpac... (Carta de Le Corbusier à Moser, Paris, 4 de setembro de 1929, FLC. In : Cohen. p. 58) xvii *OCA: União dos arquitetos contemporâneos É sob este olhar atento às redes de sociabilidade de Le Corbusier que destacamos a relação do arquiteto com o professor Vesnin e o arquiteto Ginzburg. Ambos Vesnin e Ginzburg participam do movimento construtivista e produzem, nos anos 1920, escritos cujas noções sobre moderno e máquina, são compartilhadas neste momento por Le Corbusier. ‘Digo então que o Construtivismo, cujo nome expressa uma intenção revolucionária, é em realidade a titular de uma lírica intensa, capaz mesmo de superação; ela trai fervorosamente o entusiasmo futuro. Sinto que, no final das contas, o que interessa a todos estes russos é uma idéia poética’ . xviii As novas construções projetadas e teses defendidas tanto pelos irmãos Vesnin, quanto por Ginzburg aproximam-se daquelas defendidas por Le Corbusier. Ambos serão igualmente responsáveis pela difusão das teorias e trabalhos de Le Corbusier na URSS, seja pelo ensino, no caso de Vesnin, seja pelas revistas e livros, no caso de Ginzburg. ‘Único. Em suas obras, Le Corbusier-Saugnier alcançou não somente revelar a inventividade própria ao seu caráter nacional, como também dar uma forma nova e contemporânea. Le Corbusier é, sobretudo, a própria figura do homem novo, cheio de energia e de perseverança na propaganda de suas idéias. No intervalo de dois-três anos, ele conseguiu criar uma revista verdadeiramente contemporânea (que infelizmente não durou [muito]), L’Esprit Nouveau, escrever três livros, Vers une Architecture, Urbanisme et L’Art Décoratif d’Aujourd’hui, repletos de luzes deste espírito tão francês e lançados de precisas propagandas’.xix (Moisei Ginzburg. 1926.)

120 COHEN. Le Corbusier et la mystique… p. 156

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Desenho oferecido por Le Corbusier à Vesnin, s.d. (Arq. J-L C) Mihajl Barsc, Moisei Ginzburg, Ville verte nos arredores de Moscou, 1930, sistema de ensinamento e transporte. (Museu de arquitetura Scusev, Moscou)

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Certamente, a viagem à Moscou é assim um momento marcante para os três atores. Será o início de um longo debate, concordâncias e discordâncias sobre temas que percorrerão, sobretudo, Le Corbusier neste momento. O arquiteto realizará três viagens anuais entre 1928 e 1930. As duas primeiras consagram-se às modificações demandadas para dar sequência às etapas do concurso da sede do Centrosojuz. Após ganhar o primeiro lugar, Le Corbusier viaja em 1930 para dar início, enfim, às obras do projeto que finalizarão somente em meados da mesma década. Enquanto as relações de Le Corbusier e Vesnin, durante este triênio, parecem permanecer constantes e sem grandes atribulações, a relação do arquiteto suíço com Ginzburg será mais tensa e complexa. Cohen considera, por exemplo, que as noções de coletividade e hôteliers na obra de Ginzburg contribuirão de modo fecundo para a construção da noção de rue en l’air em Le Corbusier: 121 Moscou é uma fábrica de planos, a Terra Prometida dos técnicos (sem Klondyke). O país está sendo equipado! Um afluxo surpreendente de projetos: fábricas, represas, unidades manufatureiras, moradias, cidades inteiras. Este conjunto se coloca sob um único signo: tudo o que contribua para o progresso. A arquitetura se infla, se agita, estremece, dá à luz sob o sopro e a fecundação daqueles que sabem algo e daqueles que simulam saber. (…) A Cidade Verde. Eis de que se trata: Na União Soviética foi suprimido o domingo, introduziu-se o descanso do quinto dia. Este descanso se dá por alternância: cada dia do ano, um quinta da população da União Soviética descansa; amanhã é a vez do outro quinto e assim por diante. O trabalho não pára. Comissões de médicos estabeleceram a curva de intensidade produtiva do trabalho. Esta curva se inflecte fortemente no fim do quarto dia. (...) A medicina moderna, aliás, orienta-se de acordo com um postulado novo: Não se cura homens doentes, faz-se homens sadios. Férias anuais vêm tarde demais. (...) Decidiu-se então pela criação das Cidades Verdes, dedicadas ao descanso do quinto dia. 122 (Atmosfera Moscovita, p. 254-255-256) Em adição, a proposta do conceito da Ville Verte desenvolvida pelos arquitetos russos chamará a atenção de Le Corbusier. De fato, o arquiteto será convidado em 1930 a examinar e redigir um relatório sobre o recente concurso da Cidade Verde de Moscou. Todavia, o modo de pensar, construir a Cidade Verde, bem como a relação desta com os centros urbanos como Moscou serão os pontos divergentes entre os arquitetos. O tema em debate concentra-se na noção de ‘desurbanização’. Ginzburg defende a construção de cidades verdes em detrimento da centralização dos grandes centros urbanos.

121 COHEN. Le Corbusier et la mystique… p. 154-158 122 Le Corbusier. Atmosfera Moscovita. Escrita em Moscou, em março de 1930 e publicada no livro Précisions sur um état présent de l’architecture et de l’urbanisme em 1930. In: Martins. P. 254-255-256.

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Le Corbusier, « un homme dans une hutte de chaume ou de branchages » «expressão simbólica» da «desurbanização », desenho publicado em La ville radieuse , 1935. (Arq. J-L C)

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Não obstante, Le Corbusier entende a noção de Cidade Verde como um complemento vital das grandes concentrações urbanas. Desse modo, Le Corbusier critica, sem perder a elegância, o projeto do amigo russo. O homem sente a necessidade de agrupar-se – sempre, em todos os países, em todos os climas. O agrupamento proporciona-lhe a segurança da defesa, o prazer da companhia. Mas, a partir do momento em que o clima se torna hostil, o agrupamento provoca a atividade industrial, a produção por meio da qual os homens vivem (vestemse, buscam conforto). E a produção intelectual é filha do trabalho dos homens reunidos.(...) Meu caro Ghinsbourg, o arquiteto moderno tem precisamente por missão magnífica organizar a vida das coletividades. Fui o primeiro a proclamar que a cidade moderna deve ser um parque imenso, uma cidade verde. Mas, para permitir-me esse luxo aparente, quadrupliquei e densidade da população e – em vez de estendê-la – diminui as distâncias. (...) Rogo, portanto, que não vejo nenhuma atitude hostil em minha afirmação serena e decidida: O homem tende à urbanização. Aprecie este detalhe característico: um dos projetos de desurbanização de Moscou propõe, entre outras medidas, a construção de cabanas de palha na floresta da Cidade Verde. Bravo, magnífico!... contanto que seja para os fins de semana! Não digam, porém, que tendo construído cabanas de palhas, agora poderão arrasar Moscou. (Atmosfera Moscovita, p. 259-260-261)

Para Cohen, as reações e os debates travados sobre a Ville Verte neste período serão fecundos para a reflexão e origens da noção de Ville Radieuse para Le Corbusier em 1930, onde será publicado o livro de mesmo nome cinco anos mais tarde .123 Certamente, o período de viagens à URSS, iniciado em 1928, foi um campo fértil de reflexões para Le Corbusier. Ao deparar-se com outra realidade, social, política e econômica, onde a jovem geração gera incessantemente novos produtos direcionados para a mente e para o corpo do homem moderno, Le Corbusier vê nesse primeiro instante uma possibilidade de suspiro, de crença na construção real de um novo mundo. O que talvez lhe parecesse certo encontrar em Moscou adversários próximos ao grupo germânico da Neue Sachlichkeit, deparou-se com outra realidade: ‘pura poesia’. Tal surpresa possa ter motivado o arquiteto a imergir neste universo, a ponto de olhar mais longe e suprimir em seus escritos públicos as possíveis dificuldades impostas para a permanência deste novo mundo que se constrói. ‘Não encontrei antagonismos espirituais, mas adeptos fervorosos do que eu considero fundamental no trabalho humano; a nobre intenção que eleva esta obra além das simples funções do servir e que lhe confere o lirismo dos mais puros’. 124 xx (Le Corbusier. L’architecture à Moscou. 1928)

123 COHEN. Le Corbusier et la mystique… p. 163-203 124 Le Corbusier. L’architecture à Moscou. 1928. In: Cohen. p.279

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Desenho de Le Corbusier feito pelo professor Willi Baumeister , 1928 - 1930. (FLC)

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Capítulo 3

1929: aventuras e desventuras do homem moderno

‘Querido amigo, (…) estou muito feliz pela grande obra soviética. Meus sinceros cumprimentos! Seu artigo contra os arquitetos secos da Alemanha está ótimo. Saudações a você e ao seu primo, também da parte da minha esposa’.125 As correspondências de Willi Baumeister126, enviadas ao longo do ano de 1929 a Le Corbusier, oferecem em um tom bem humorado o posicionamento e o apoio do professor alemão às realizações do amigo suíço neste período127. De fato, este ano de 1929 será um momento de continuidades e rupturas em diversas dimensões. As ‘lutas’ contra a academia permanecem. Os debates com os arquitetos de vanguarda alemã nos CIAM são esforços em romper os conceitos previamente estabelecidos pelos atores da neue Sachlichkeit. A defesa de uma industrialização em arquitetura – de modo atento às necessidades econômicas e sociais, sem perder a poesia e o lirismo da arte de viver – ainda é uma constante no discurso escrito e oral do arquiteto. A viagem aos trópicos amplia o horizonte poético do arquiteto e do artista. A experiência do olhar humano desde o avião desperta em Le Corbusier novas reflexões sobre a cidade e o urbanismo. Enfim, serão meses fecundos na ação e reflexão deste homem que não cessa de olhar, sentir e criar. Certamente a agenda do arquiteto é intensa em 1929. Ao longo do ano, Le Corbusier escreve mais de uma dezena de artigos 128 – apresentados em congressos, periódicos e revistas – e culmina com a publicação do livro Précisions, sobre as conferências e experiências na viagem à América do Sul. As viagens oficiais são igualmente numerosas. Em fevereiro, Le Corbusier viaja à Basiléia para o encontro do CIRPAC 129. Quatro meses depois, o arquiteto visita

125 Carta de Willi Baumeister à Le Corbusier, em 13 de junho de 1929.( Arquivo FLC) 126 Willi Baumeister (1889-1955) foi um artista plástico, designer e professor de arte. Nascido em Stuttgart, cursou o Königlich Württembergische Akademie em 1905-1906. Ao prestar serviços militares durante a 1a guerra mundial, Baumeister percorre a Europa e conhece importantes atores do meio artístico, entre eles o pintor Oskar Kokoschka e o arquiteto Adolf Loos em Viena. Tornou-se membro do movimento berlinense Novembergruppe e, em Stuttgart, funda o grupo Üecht. No início da década de 1920, inicia uma relação de amizade com Fernand Léger, Amédée Ozenfant, Paul Klee e Le Corbusier. Em 1927 é convidado a lecionar na Escola de Artes Aplicadas em Frankfurt (Städel). Em 1930, recebe o premio Württemberg State pela obra Line Figure. (Correspondências entre Le Corbusier à Willi Baumeister nos arquivos da FLC: cartas de Baumeister de 13/06/29, 11/06/30; dois cartões postais de 5/0829 e s/d; três desenhos de Roth; carta de Le Corbusier à Baumeister de28/06/30). 127

Le Corbusier se naturalizará francês somente em 1930, ao casar-se com Yvonne de Gallis.em 18 de dezembro. 128 Artigos escritos por Le Corbusier em 1929 (FLC) : Monsieur l’éditeur : interview sur publication d’un ouvrage sur l’état actuel de l’architecture. Studio Londres, Londres, 01/1929; Réflexions sur la loi Loucheur. In : Revue des Vivants, França, 2 séries printemps-été de 1929 ; La signification de la cité jardin du Weissenhof à Stuttgart. In : La Città futurista, Italia, abril de 1929 ; Economie domestique et construction économique. Artigo apresentado no IV Congrès international de l’organisation scientifique tu travail : le Moniteur des travaux publiques. Paris : 19 a 23 de junho de 1929; L’avis de l’architecte… la rue. l’Intransigeant, França, 20/05/1929 ; Defense de l’Architecture, texto datilografado, via Moscou, 8 juin 1929; Prologue Américain, texto escrito à mão, a bordo do Lutétia, dezembro de 1929 (FLC); Corollaire Brésilien, texto escrito à mão, conferência no Rio de Janeiro, dezembro de 1929 (FLC) ; L’Esprit de la Sud-Amérique, texto escrito à mão, dezembro de 1929 (FLC). 129 Le Corbusier reúne-se com os outros membros délégués do CIRPAC, a fim de discutir e organizar os preparativos do 2º CIAM a ser realizado em outubro de 2009. Estiveram presentes Bourgeois, Breuer, Le Corbusier, Josef Frank, Häring, Sartoris, Schmidt, e Stam; José Manuel Aizpúrua, da Espanhan; e Szymn Syrkus da Polônia. In: Mumford, p.27

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«Ville Savoye, esquisses: le travail d’un architecte.». (FLC)

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Moscou para acompanhar as decisões do projeto Centrosojuz. Em setembro, a viagem à América do Sul. Serão dois meses e meio de ausência do atelier na Rue de Sèvres, em Paris. Em paralelo, as atividades do escritório não cessam. Durante o ano, Le Corbusier e Pierre Jeanneret desenham novos projetos, executam àqueles em andamento e recebem demandas de reformas de obras já finalizadas. Neste momento, o grupo de arquitetos do atelier concentra-se nos projetos das casas Savoye, La Roche, Le Lac, Planeix, Cook - na França - e do imóvel Wanner, em Genebra. Trocam igualmente correspondências sobre os projetos Armée du Salut e Pavilhão Suíço, ambos em Paris. Em adição, há ainda projetos não realizados, mas que igualmente eram estudados, cujos programas eram os mais variados: encomendas para a realização de casas, particulares ou em série, igreja, hotel, de urbanização e inclusive, para a construção de uma cidade 130. Não podemos deixar de mencionar as metódicas horas dedicadas à pintura e ao desenho, bem como àquelas dedicadas à leitura, à filosofia, à poesia e ao amor. Não há dúvida de que são inúmeros os compromissos e os projetos de Le Corbusier. São registros que testemunham a sua complexidade, bem como a sua ambição. O momento é para agir. La vague est à la réaction. Pour moi, je crois à une chose : construire. Et en peinture aussi. Para mim, creio em apenas uma coisa: construir. E, na pintura também.131 Fazer arquitetura para os homens e dedicar-se à pintura. Eis o seu impulso que o leva mais alto e mais longe. Os voos

130 Projetos de Arquitetura realizados ao longo do ano de 1929 (arquivo FLC) : Villa Savoye – France – Poissy - correspondências, trabalho no canteiro, Villa Baizeau – Tunisie – Carthage – construção do edifício, pintura Apartamento de Beistegui – France – Paris – relação com os arquitetos, empreiteiros, grandes obras, construção Villa la Roche – France – Paris – correspondência para reforma Villa Le Lac – Suisse – Corseaux (Vevey) Villa Cook – France – Boulogne sur Seine – permissão de construir, esquadrias, grandes obras, honorários, correspondências Maison Planeix – France – Paris - permissão de construir, grandes obras, honorários, correspondências Amenagement de la rive droite – Suisse – Genève – programa do concurso, 29. Immeuble Wanner – maison RUF – Suisse – Genève – correspondências Centrosoyus – URSS – Moscou – standards fabrication de portas, correspondências entre LC e o ministério des Affaires Etrangères, contrart entre a União central de cooperativismo de consumação da URSS e os arq. LC e Jeanneret Villa Church – France Ville d’Avray – fornecedores Pavillon Suisse – France – Paris – estudos de construção e correspondências (29 ate 33) Armée du Salut – Palais du Peuple – France- Paris – correspondências, A. Peyron, Vanderkam (28 e 29) Armée du Salut – Cité de Refuge – Paris – obras, correspondências com Vanderkam (29-32) Projetos não realizados : Casa Para o Sr. A. Harvey – cartas 04-01-29 Casa para o Sr. Grimar – cartas 10-06-29, Bruxelles Casa Para o Sr. A. Knopff Marlien, cartas 12-07-29, 19-08-29, Bruxelles Projeto de urbanização – carta Delia Del Careil, com brochura sobre o programa do concurso, Madrid, 1929 Casas e apartamentos do State Athletic Club, Oklahoma City, cartas com Sr. Easterday, 18-04- 29, 02-01-30 Villa Jacquin, casas em série, Bois-Colombes, cartas com Albert Jacquin, 28-06-29 Casas metálicas, cartas da S.A da Cites-Jardins da Região Cannaise, 09-10-29, Cannes Casa, Carta com A. Stirnemann, 31-05-29, 19-10-30 com desenhos, Colmar Modernização local da redação e gráfica do petit dauphinois, cartas com Sr. Andry FArcy, 04-06- 29, 19-07-29, Grenoble Igreja, carta com o padre de Plant-Champigny, 26-04-29, 05-06-29, France, Le Tremblay Construção de uma cidade, Orgement, France, carta 10-04-29 American Hotels Corporation, carta com o presidente L. Kincaid, 17-07-29, Genebra 131 Carta de Le Corbusier à Willi Baumeister, em 28/06/1930. (FLC)

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Perspectiva interna da Maison Loucheur.1929 (FLC) Perspectiva externa da Maison Loucheur, ourubro de 1928. (FLC)

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mais altos de Le Corbusier certamente ainda estão por vir 132. Contudo, será durante este momento em que o arquiteto refletirá sobre alguns conceitos determinantes doravante no seu modo de pensar e agir. Alguns deles serão re-estabelecidos, como por exemplo, os conceitos derivados do seu entendimento sobre a máquina e o período maquinista. Outros conceitos serão deslocados e, portanto, novamente criados. Como são as noções de corpo e matéria, universo e indivíduo. Trataremos assim nas próximas páginas, de abordar tais noções, presentes neste período não somente em seus escritos, mas também em seus desenhos. Acerca de uma estandardização em arquitetura ou ref lexões sobre a lei Loucheur

Em 15 de janeiro de 1929, o escritor francês Jean Prévost 133 introduz e questiona um problema que também parece inquietar Le Corbusier ao longo de todo o ano de 29: a industrialização na arquitetura e a formação dos arquitetos. Em seu artigo publicado na revista francesa JAZZ 134 e intitulado Crise du ciment ou crise des architectes, Prévost expõe de forma militante sua preocupação em um momento cujos saberes científicos sobre as técnicas construtivas são dominados, por parte sobretudo de um corpo de engenheiros, mas que não são ainda compartilhados pela geração de arquitetos que se forma na École de Beaux Arts de Paris. É sob este contexto que o escritor elogia as ações de arquitetos como Le Corbusier cuja obra, escrita e construída, vem a confirmar a importância do papel do arquiteto frente aos interesses, sobretudo econômicos, do empresário. Este e inúmeros outros artigos arquivados por Le Corbusier, ao longo deste ano, confirmam o interesse do arquiteto em reconhecer os posicionamentos de diversos atores sociais (políticos, artistas, arquitetos, empresários e escritores) nos debates travados sobre o problema da arquitetura e da grande indústria na época.135

132 Será durante as décadas de 1940 e 1950 que Le Corbusier construirá projetos com alto grau de maturidade e complexidade. Entre eles, podemos destacar os projetos de Marseille (1946- 1952) e La Tourette (1957-1960), na França e Chandigard (1950-1965), na Índia. 133 Jean Prévost (1901-1944), nasceu em Saint-Pierre-lès-Nemours, França. Em 1919, ingressou na Ecole Normale Supérieure. Foi jornalista, cronista (nos periódicos e revistas franceses e europeus), ensaísta (Plaisirs des sports, 1925; Dix-huitème année, 1928), romancista (Les frères Bouquinquant, 1930; Le sel sur la Plaie, 1934 entre outros), historiador (Histoire de la France depuis la guerre, 1932), sociólogo (La Terre est aux hommes, 1936 etc), crítico literário e de arte. Foi amigo de Saint-Exupéry, entre outros personagens de vanguarda francesa.eur de la France. Villeneuve-d’Ascq : Presses universitaires du Septentrion, 2000 (collection «Histoire et civilisations»). 134 PREVOST, J. Crise du ciment ou crise des architectes. In: JAZZ, França, 15/01/1929. Arquivo FLC. 135 Le Corbusier reunia não somente artigos cujas críticas mencionavam o seu nome ou obra, mas também artigos de revistas ou periódicos sobre assuntos diversos e de origens diversas. No ano de 1929, podemos destacar os seguintes artigos presentes na FLC: DUFET, M. Le Home et la musique mécanique. In: Revue de la femme, França, 01/01/1929 ; Léger, F. A l’Athénée. Le XXV concours Diday et le problème de l’architecture moderne. In : La Suisse, Suisse, 19/01/1929; MAGNAT, G. E. La standardisation en architecture. In : Gazette de Lausanne, Suisse, 25/02/1929 ; BAUGNIET, M.L. L’architecture, art collectif. Cité-jardin à Los Angeles. In : Le Monde, France, 02/03/1929 ;CHARLES, G. Le plan Loucheur et les architectes. In : Le Monde, France, 30/03/1929 ; JENSEN, A. Auf dem Spuren alter Menschheitskultur. VI. Der moderne Neger in Afrika. In: Freiburger Zeitung, Alemanha, 10/03/1929 ; FONDANE, B. Réflexions sur le spectacle. In : Cahier de l’etoile, France, Março de 1929 ; RAMBOSSON, Y. La société des Nations n’appliquerait- elle pas ses propres règlements? In : Comoedia, France, 02/06/1929 ; SIDIBE, K. La peinture nègre inconnue. In : Lumière, France, 02/11/1929.

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Planta baixa da Maison Loucheur, 1928 - 1929. (FLC) Revue de l’habitation «Ma petite maison», dezembro de 1929. (FLC)

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Em plena vigência da recém aprovada lei Loucheur 136, Le Corbusier se posiciona, face às questões de produção em massa e da construção de casas populares em série. Através de publicações em revistas e jornais da época, o arquiteto expõe seu entendimento e modo de ‘fazer arquitetura’ em um período ‘mundial’ de industrialização 137. Em um artigo de La Revue des Vivants, igualmente publicado no mês de janeiro de 1929, Le Corbusier registra o questionamento do délégué da Comissão de Forges 138 sobre a necessidade de aumento na venda de aço para a construção civil. Em resposta, ele escreve: E se considero que a indústria do ferro é uma das maiores indústrias do país, que a questão da habitação é um dos mais vastos programas do país e constitui um dos maiores mercados do país, eu respondo ao delegado da Comissão de Forges: é preciso construir a casa ‘à sec’ (pré-fabricadas, grifo do autor), na fábrica, fornecida no local e montada por encarregados de colocar, no respectivo lugar, as peças fabricadas. As casas não serão estandardizadas ou tipificadas, senão que os elementos das mesmas, estes modulares e passíveis de serem estabelecidos por acordos internacionais. xxi Le Corbusier. ‘Réflexions sur la loi Loucheur’. In : Revue des Vivants, França, 2 séries printemps-été de 1929. (Arquivo FLC) Tal afirmação nos leva a considerar um Le Corbusier já reflexivo sobre as noções de standard, tipo e internacional. Esta última parece conter as duas noções anteriores, contudo sua definição é ainda mais ampla. A internacionalização para o arquiteto não se trata de uma uniformização dos modos de vida. De fato, neste momento, reconhecemos um Le Corbusier consciente da noção de uniformidade como produção de mercadorias em cadeia, passíveis de adaptação aos diferentes modos de vida. Seu esforço não é racionalizar e uniformizar os modos de morar do homem, mas creditar aos processos produtivos elementos que compõem a casa. Isso evitaria o desperdício e economizaria os custos da construção: ‘Não significaria estandardizar casas pequenas, médias ou grandes; significaria estandardizar um sistema de estrutura: digo que não é necessário trazer um progresso industrial no plano de novas casas, mas um novo sistema de estrutura. Este traria ricas conseqüências que poderiam determinar uma variedade infinita de planos, dando respostas às múltiplas modalidades da vida e às diferentes concepções de existências. Eis a criação de um sistema de estrutura que responderia aos pequenos, médios ou grandes programas. xxii (Le Corbusier. La signification de la cité jardin du Weissenhof à Stuttgart. In : La Cittàfuturista, Italia, abril de 1929 (Arquivo FLC)

136 Louis Albert Joseph Loucheur (1872-1931) foi um homem político francês da 3ª República Francesa. Nasceu em Roubaix, França, e integrou a Ecole Polytechnique em 1890, tornando-se engenheiro e iniciando a sua profissão no Chemins de fer du Nord. Em 1925, torna-se o ministro das Finanças e, em 1928, ministro do Trabalho e da Previdência Social. Os movimentos sociais e a crise da habitação social no período do pós-guerra aceleram os processos para a criação da loi Loucheur, em julho de 1928, prevendo em um projeto quinquenário, a construção de 200 mil moradias populares e 60 mil moradias para aluguel à classe média. O projeto da lei Loucheur é defendido por Le Corbusier e fará parte dos seus discursos neste momento. Ver: CARLS, Stephen Douglas. Louis Loucheur, 1872-1931 : ingénieur, homme d’État, modernisateur de la France. Villeneuve-d’Ascq : Presses universitaires du Septentrion, 2000 (collection «Histoire et civilisations»). 137 Dentre estes textos, podemos mencionar : Réflexions sur la loi Loucheur. In : Revue des Vivants, França, 2 séries printemps-été de 1929 ; La signification de la cité jardin du Weissenhof à Stuttgart. In : La Città futurista, Italia, abril de 1929 ; Economie domestique et construction économique. Artigo apresentado no IV Congrès international de l’organisation scientifique tu travail : le Moniteur des travaux publiques. Paris : 19 a 23 de junho de 1929. 138 Organização patrona da siderurgia nacional francesa, cirada em 1864. Em 1940, foi substituída pelo Comité d’organisation de la sidérurgie.

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Weissenhof, Stuttgart, 1927. (FLC) LC, Mies, outros, Stuttgart, 1927. (FLC)

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No trecho acima, intitulado La signification de la cité jardin du Weissenhof à Stuttgart e publicado em abril de 1929 pela Citta Futurista, Le Corbusier considera que as pesquisas de construção de casas, sob condições sociais e econômicas da época, devem fixar-se não por uma ‘quimera planta-tipo, mas por um novo sistema de estrutura concebido de tal maneira a autorizar as combinações imagináveis e responder às necessidades destas numerosas categorias de indivíduos’. O arquiteto reconhece assim, uma pluralidade dos homens e, considera tal multiplicidade como um problema de categorias dos indivíduos – ‘solteiro, casado, com ou sem filhos’ 139. A sua compreensão de tipo, ao recorrer os estudos da língua francesa, é definida por como ‘dupla e controversa’. Segundo o arquiteto, ‘uma deformação do sentido conduziu à equivalência no dito popular: um homem – um tipo; e desde que o tipo se tornou um homem, nós tomamos a possibilidade de uma extensão considerável do tipo’. Se por um lado, existe ‘uma complexa forma de um tipo físico único, no qual se pode aplicar uma estandardização suficiente’, por outro, existem os ‘tipos morais diversos e, por consequência, padronizados somente por categorias’ 140. Após uma longa descrição sobre os exemplos das casas em Stuttgart, bem entendidas como uma ‘demonstração de liberdade proporcionada pela técnica’ e, que possibilitou assim ‘criar casas segundo bases totalmente novas’ 141, Le Corbusier deixa em aberto suas reflexões sobre o tema ao concluir ser um erro a crença na casa tipo. Na verdade, tais questões percorrerão o pensamento de Le Corbusier durante mais de duas décadas. Serão necessárias lutas intelectuais e debates travados entre o próprio Le Corbusier com os seus contemporâneos e a geração de arquitetos e críticos seguinte, para que o arquiteto entenda que a recepção de suas ideias não éhomogênea. Pelo contrário, seu discurso, divulgado por suas conferências ou escritos, foi recebido por pessoas diferentes em momentos diferentes. 142

139 Idem. 140 Idem. 141 Idem. 142 Le Corbusier recebeu inúmeras solicitações para publicar seus livros em outras línguas. Algumas publicações, como Vers une Architecture, de 1923, foi rapidamente traduzida em quatro línguas. O meio intelectual de língua alemã é um dos primeiros a interessar-se pela tradução de diversos livros de Le Corbusier. Ver: SMET, C. Vers une architecture du livre; Le Corbusier: édition et mise en pages 1912-1965. Baden, 2007. O discurso de Le Corbusier gerou ecos em cidades cujo meio intelectual compartilhava ou interessava- se nas idéias do arquiteto e, acabavam por convidá-lo a realizar projetos ou conferir palestras. Como veremos nos casos do meio intelectual e político soviético em 1928 e no meio artístico argentino em 1928-1929, com a Sra Ocampo. No caso do Brasil, o arquiteto Gregori Warchavchik foi um dos primeiros a publicar sobre os escritos de Le Corbusier e do primeiro encontros dos Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna. O círculo intelectual paulistano no qual Warchavchik freqüentava, já havia acolhido em São Paulo o escritor Blaise Cendrars, amigo de Le Corbusier. Um dos poucos assinantes da revista L’Esprit Nouveau (1920-1925) no Brasil foi o empresário Roberto Simonsen. A convite de Simonsen Warchavchik vem ao Brasil trabalhar em sua firma, a Companhia Construtora de Santos, em 1923. Ver: PEREIRA, M. [et al.]. Le Corbusier e o Brasil. São Paulo: Tessela/Projeto Editora, 1987; FALBEL, A. As vicissitudes de dois arquitetos modernos. Revista Projeto, São Paulo, n. 346, pp.112-115, dezembro, 2008 ; LIRA, José Tavares Correia de. Fraturas da vanguarda em Gregori Warchavchik. Tese de Livre Docência apresentada à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, julho de 2008; SANTOS, D., MAGALHÃES, M., PEIXOTO, P. Cartas sobre cartas - a contribuição silenciosa brasileira na construção dos primeiros Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna. Artigo apresentado no VIII Docomomo Brasil, Rio de Janeiro, setembro, 2009.

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Casa em série 72m². in: LC. Vers une Architecture .

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De fato, Le Corbusier já percebe a necessidade de recolocar, bem como esclarecer determinados conceitos apresentados no início da década de 1920 como, por exemplo, a noção da casa como une machine à habiter. Durante IV Congrès de l’Organisation scientifique du travail, realizado entre os dias 19 e 23 de junho de 1929, Le Corbusier apresenta o texto Economie domestique et constructions économique e reconhece o termo como internacionalmente ‘empregado como tanque para atacar a fortaleza da academia’ 143. Todavia, em outro documento escrito em resposta à Karel Teige apenas onze dias antes do evento acima mencionado, Le Corbusier sente a necessidade de reposicionar o nascimento do termo da ‘casa: máquina de morar’ e, vai mais longe ao situar ao crítico tcheco que o problema está no modo como devemos nela morar: ‘A ‘máquina de morar’ foi o termo lapidário no qual, em 1921, apostrofei as academias. É ao Sr. Nénot que falo da ‘máquina de morar’; mas não é a mim que você deve retornar esta injunção. Porque, deixando o caso acadêmico, para olhar para trás em nós mesmos, eu imediatamente pergunto: ‘Para morar como?’ E não coloco, aqui, nada mais que a questão da qualidade’. xxiii (Le Corbusier. Défense de l’architecture) Escrito datilografado do artigo a ser publicado na Revista Stavba em 1929. P.7, Arquivo (FLC) O trecho acima mencionado foi escrito durante a sua segunda viagem à Moscou. Le Corbusier parte de Paris no dia 6 de junho em direção à capital da antiga URSS a defender seus projetos para o Palácio de Centrosoyus. Seu impulso em escrever o texto Defense de l’Architecture é, como já mencionado anteriormente, uma reação às críticas de Teige sobre recentes projetos, em especial, os projetos para Moscou e os desenhos à Paul Otlet. No momento, tomaremos atenção às palavras introdutórias de Le Corbusier dirigidas à Teige. Antes de reagir às críticas do editor theco aos projetos Mundaneum e Cité Mondiale, Le Corbusier posiciona-se face a certos conceitos trazidos dos debates com o grupo de arquitetos e intelectuais cuja língua compartilhada é o alemão (holandeses, alemães, suíços do cantão alemão, e, em parte os tchecoslováquios). Le Corbusier chama este grupo de vanguardas da ‘neue Sachlichkeit’, cujas ações resultaram na morte das palavras Baukunst e Kunst 144 e, na sua substituição por Bauen e Leben 145: ‘Há em vocês o diletantismo do novo romantismo, aquele da máquina. Para outros (os práticos) trata-se de uma medida policial quiçá oportuna (...). E como aquilo que conectava as massas com o passado – com a arquitetura, com a arte – eram palavras, isto é, noções com um fundamento sentimental, primeiro tenta-se fazer admitir que a época maquinista suprimiu inevitavelmente a arte e a arquitetura. Se você adota a atitude de condutor dos

143 Le Corbusier. Economie domestique et construction économique. Artigo apresentado no IV Congrès international de l’organisation scientifique tu travail : le Moniteur des travaux publiques. Paris : 19 a 23 de junho de 1929. (Arquivo FLC) 144 Baukunst e Kunst foram entendidos por Le Corbusier como Arquitetura (architecture) e Arte (art). In: Défense de l’architecture. P.1 (FLC) 145 Bauen e Leben foram entendidos por Le Corbusier como Construção (construire) e Vida (la vie). In: Défense de l’architecture. P.1 (FLC)

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Charles-Édouard Jeanneret Vista do Paternon para Piraeus. Atenas, 1911.(FLC)

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povos, quiçá tenha razão em admitir também medidas de lei marcial. Mas eu, que pretendo salvaguardar orgulhosamente minha completa liberdade, meu espírito de artista ou criador, pretendo manter-me em minha anarquia (com relação a suas medidas policiais) e prosseguir dia após dia uma busca apaixonante: aquela de uma harmonia.xxiv. (Le Corbusier. Défense de l’architecture. Escrito datilografado do artigo a ser publicado na Revista Stavba em 1929. (Arquivo FLC) Não entraremos aqui em detalhes sobre a relação de Le Corbusier com o movimento romântico alemão, iniciado no século XIX e presente no discurso de um grupo de intelectuais, artistas e arquitetos de língua germânica ao longo da primeira metade do século XX. Tal abordagem mereceria um estudo mais fino sobre os discursos do próprio século XIX. Contudo, reconhecemos os anos de 1928 e 1929 como um período cujas relações e compartilhamento de ideias intensificaram-se. Novos termos farão parte do vocabulário de Le Corbusier doravante. O conceito de Sachlichkeit para Le Corbusier é ao mesmo tempo preciso, objetivo e controverso. Ela implica igualmente ‘no espírito de seus inventores um sentido inacabado’, onde se ‘quisermos ser Sachlich’, será necessário dizer: ‘Isto funciona, mas, entendo que isto me agrada, me sacia, me interessa, me faz cócegas, me excita, etc. 146’ Eu lhe pergunto poeta, qual é o motivo que impede aos homens de fazerem revolução, um alvoroço e depois, morrer de fome em suas ruínas? É que somente podemos e devemos considerar este instrumento como um liberador que permite, em primeiro lugar, resistir à concorrência, em seguida, ganhar tempo e, por fim permitir a cada um, pôr em ordem as atividades cotidianas, pensar em algo e sonhar alguma coisa. E você me concederá que esta esperança de comer a cada dia seu alimento espiritual – por mais frustrante que seja – é o que fará tolerar a dura vida da Sachlichkeit e dará esperança de uma saída, o sentimento de criar algo, de criar, de ter uma ideia. Aí está a reserva de resistência dos homens, o orgulho humano... ou a ilusão, se quiser ser cético. xxv (Le Corbusier. Défense de l’architecture. Escrito datilografado do artigo a ser publicado na Revista Stavba em 1929. p. 6-7 Arquivo FLC) Sachlich para Le Corbusier é, sobretudo uma atitude, um instrumento necessário, portanto, efêmero. O arquiteto aproxima-se deste movimento, pois o considera ‘honesto’ e que ‘protesta contra as mentiras dos acadêmicos e, que por outro lado, os problemas urgentes da época são aqueles por construir casas, moradias mínimas porque há pouco dinheiro e, porque àquelas projetadas por acadêmicos eram inabitáveis e custosas’.147 xxvi Certamente não é coincidência Le Corbusier mencionar a questão da moradia mínima ao então colega e companheiro tcheco, também atuante nos Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna. Este tema será aquele abordado não somente durante o encontro do CIRPAC, preparatório para o segundo CIAM e realizado em fevereiro

146 Idem. P.6 147 Le Corbusier. Monsieur l’éditeur : interview sur publication d’un ouvrage sur l’état actuel de l’architecture. Studio Londres, Londres, janeiro de 1929 . (Arquivo FLC, F3-1)

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CIAM II, 1929. (gta/ETH)

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de 1929 148, como principalmente no próprio congresso em si, realizado em Frankfurt entre os dias 24 e 26 de outubro de 1929. A própria decisão em sediar o encontro na cidade alemã tampouco é aleatória. Das neues Bauen ou Architecture Moderne : (des)encontros em Frankfurt Nos registros do segundo congresso, podemos confirmar a participação de Le Corbusier conjuntamente com Pièrre Jeanneret com o trabalho: Analyse des éléments fondamentaux du problème de la ‘maison minimum’. 149 Nele, Le Corbusier retoma questões previamente estudadas como o conceito de estandardização e a defesa de um sistema de estrutura na construção das casas. Os exemplos e as experiências realizadas na França, graças ao ministro do trabalho Louis Loucheur, são igualmente apresentadas.150 Le Corbusier e Jeanneret concordam que o problema arquitetônico poderia concentrar-se sobre uma questão de equipamento na moradia, devendo ser construídas não de modo isoladas. A defesa dos arquitetos na densificação do lote, ao construir edifícios residenciais multifamiliares é clara. A moradia mínima isolada, com ou sem jardim, é um resíduo de séculos passados. Ela não se presta à aplicação racional de novas técnicas – aquecimento, ventilação, refrigeração e refrigeradores; ela deixa o problema inteiro e insolúvel da domesticidade ou da relação doméstica; ela não traz nenhuma solução à questão esportiva (...). A moradia mínima isolada é, nos dias de hoje, uma profunda causa de desperdício e de um antagonismo à sobre-guarda [preservação] do corpo xxvii (Le Corbusier, 1929) Salvo alguns dados estatísticos recentes do ano de 1928 ou 1929, bem como a vigência da lei Loucheur desde 1928, o escrito de Le Corbusier não é de modo algum novidade em seu discurso. Tampouco se difere de outros arquitetos e críticos como Giedion, Gropius, Bourgeois entre outros.151 Algumas ideias, por exemplo, já haviam sido apresentadas anteriormente desde a revista l’Esprit Nouveau ou no recém publicado livro em 1928, Une Maison, un Palais. O artigo de Bourgeois: ‘Os problemas essenciais da arquitetura moderna não podem ser resolvidos nem por um arquiteto, nem mesmo pela corporação de arquitetos; deve-se às experiências unidas de numerosas técnicas, a fim de encontrar as melhores soluções arquitetônicas. (...) Como um argumento é eficaz na medida em que consente em limitar-se e à simplificar-se, e que nos parece essencial estabelecer

148 Após o primeiro congresso em La Sarraz em junho de 1928, foi organizado um encontro mais fechado em fevereiro de 1929 na Basiléia, Suíça, para discutir as bases e programas do 2º congresso. Nele, estava presente Le Corbusier, bem como os demais délégués do Comité International pour la Réalisation des Problèmes d’Architecture Contemporaine, CIRPAC. 149 LE CORBUSIER, JEANNERET, P. Analyse des éléments fondamentaux du problème de la ‘maison minimum’. In : Ma petite maison. Les maisons en acier à l’exposition de l’habitation. La Revue de l’Habitation. França : dezembro de 1929 (Arquivo FLC). O artigo foi igualmente publicado em : STEINMAN, M. CIAM. Dokumente 1928-1939. Basel und Stuttgart : Birkhäuser, 1979. 150 Steinman, p. 61. 151 Idem. P. 38-65

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CIAM II, 1929. (gta/ETH)

Programa do CIAM II, 1929. (gta/ ETH)

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sem mais demoras algumas noções claras (...) pensamos que seja útil haver provisoriamente um tipo internacional de habitação urbana. Por um lado, a internacionalização dos meios de vida não permitiria a elaboração de um programa geral? Por outro, a industrialização do campo não se aproxima aos modos de existência que parecem até agora incompatíveis?’ xxviii ‘Mas a habitação para a existência mínima é também, sobre o outro ponto de vista, ainda uma questão em aberto: enquanto a tarefa de edificar. A solução de um problema no qual velhas concepções e velhos métodos fracassaram não fará frutificar apenas todo o construir, senão, para além disto, aos homens, uma interação recíproca. xxix (Giedion. Die Wohnung für das Existenzminimum, 1929). A persistência e militância de Le Corbusier na criação de um encontro em 1928 que discutisse, sobretudo, direcionamentos e posições sobre a arquitetura e a vida nas cidades, parecem não repercutirem no texto que foi apenas lido por Jeanneret no dia 25 de outubro em Frankfurt. Le Corbusier, não esteve presente no encontro na cidade alemã. Suas preocupações e prioridades naquele momento parecem focar-se em novos projetos e aberturas, sobretudo, no continente americano. Ao longo de todo o ano de 1929, Le Corbusier esteve presente nos preparativos para a criação do CIAM II 152, bem como foram constantes as correspondências com os demais délégués e membros do CIRPAC. Tal presença demonstraria seu interesse em decidir e julgar não somente quais temas deveriam ser abordados, mas em qual cidade o encontro poderia acontecer. Contudo, os motivos pelos quais levaram Le Corbusier a dar a voz ao seu amigo Jeanneret em seu lugar na conferência ainda não podemos precisar. O que podemos é construir algumas reflexões possíveis segundo os documentos persistentes ao tempo. Se, por um lado, a criação dos CIAM teve início a partir de questionamentos compartilhados por Le Corbusier e diversos arquitetos e críticos europeus face ao resultado do concurso do Palácio das Nações de 1927 – um projeto premiado e considerado pelo arquiteto suíço como a ‘voz da academia’ 153 – por outro, a constituição e o andamento dos próprios congressos foram revelando, pouco a pouco, certa complexidade e diferenças nos modos de pensar e agir destes atores sobre a cidade. O segundo encontro na Alemanha já confirma esta divergência. Le Corbusier responde, assim, às críticas de Teige em junho de 1929 154 e, tal decisão é justamente um esforço em tentar compartilhar determinados valores comuns entre aqueles considerados pelo arquiteto como também ‘revolucionários’. Ao saber das lutas e ações de alguns intelectuais tchecos, dentre eles o próprio Karel Teige – criando e divulgando revistas, manifestos, poemas e projetos sobre os atuais problemas da arte e da arquitetura – Le Corbusier esforça-se em tornar mais complexo seu diálogo com o escritor por entender que os dois poderiam caminhar, senão juntos, pelo menos na mesma direção.

152 Ver nota 148. 153 Le Corbusier. Une Maison, un Palais. Paris : Les éditions G. Crès, 1928. P. 172. 154 O próprio Le Corbusier admite não ser comum responder às críticas que recebe. In: Défense de l’Architecture. P.1.

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Capa da revista Das Neue Frankfurt 10, 1929. (gta/ETH)

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Em 1929, os alemães certamente estavam mais preparados e organizados para sediar o encontro.155 Na Alemanha, havia um campo já estabelecido para discutir tais problemas de habitação. Haviam exemplos de construções populares, onde Gropius e May lograram obter subsídio federal para desenvolver loteamentos habitacionais para estudar e aplicar os modelos de estandardização e racionalização.156 O próprio Ernst May já havia criado a revista Das Neue Frankfurt cujas informações tratavam das inovações tecnológicas para a construção de casas em série e dos equipamentos internos. Le Corbusier reconhece tal organização de May e seus colaboradores, apesar das restrições quanto às atitudes Sachlich dos alemães. Sua ausência no segundo congresso, bem como a opção em escrever um texto basicamente informativo e sem atribulações, venha a ser o modo encontrado para não enfrentar os seus colegas délégués. Assim, a decisão em aceitar os convites para viajar à América do Sul no segundo semestre, onde poderia divulgar e criar terreno para futuras trocas intelectuais e de projeto, seria a atitude mais conveniente e polida face às inquietações do arquiteto.

155 Sobre os estudos dos CIAM, ver : STEINMAN, M. CIAM. Dokumente 1928-1939. Basel und Stuttgart : Birkhäuser, 1979; MUMFORD, E. The CIAM Discourse on Urbanism, 1928-1960. Cambridge – Londo: The MIT Press, 2000. 156 Mumford, p. 27-44.

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Croquis de Le Corbusier. Década de 1930. (FLC)

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Vers le Sud: arquitetura em tudo, urbanismo em tudo... poesia em tudo Deve-se fugir do pesadelo do caos das cidades que materializam esta etapa da época maquinista, cujo primeiro ato já foi encenado e sobre o qual cai a cortina atualmente. Deve-se representar o novo ato. Levantar as cortinas sobre um outro empreendimento, sobre diretrizes que provenham de uma digestão, de uma assimilação, de uma conclusão. Crepúsculo, talvez, de Nova York. Aurora, certamente, na América do Sul. Latinos, eis aqui a voz do seu destino: Sorridente, claro, belo. 157 Os escritos e os desenhos de Le Corbusier durante a viagem à América do Sul, bem como aqueles concebidos imediatamente depois da viagem impressionam. Eles causam impressão em número e emocionam pela poesia em palavras ou em desenho. Foram muitas e intensas as experiências: pelo mar, como a visão da esplêndida Baía de Guanabara desde o transatlântico Massília 158; pelo ar, do alto do avião Latécoère, atento às ‘gigantescas’ terras e pequenos povoados argentinos e paraguaios a 1.200 metros de altitude159; ou ainda a pé, nas trilhas de terra vermelha da fazenda São Martinho no interior do estado paulista. 160 Em apenas dois meses de viagem, Le Corbusier visitou capitais, cidades médias e pequenas, ilha, fazenda, mata... Não havia tempo para registrar tudo. O olho e a mente eram mais rápidos que a mão e o lápis: ... tudo é conforme as escrituras: a floresta virgem, os Pampas. A Terra é verde, no verão, em toda parte. (...) Há onças; mataram uma há oito dias. Mas não se vê nada. Fica-se à espreita dentro da floresta virgem. Espera-se ¼ de hora: Nada.(...) Tudo isto está na floresta, na América, mas não vemos nada. Esperar, espreitar, escutar, um ou dois dias, e a floresta falará. Nunca temos tempo. 161 É um momento de intensa exploração. Novos mares, novas luzes, novos corpos. Le Corbusier deixa Paris por completo, sua alma e razão estão inteiramente obcecados pelo novo mundo dos trópicos. Em uma carta enviada por sua noiva Yvonne, clamando por notícias, ‘Corbu’ parece estar longe.

157 Le Corbusier. O Espírito Sulamericano (1929). In : PEREIRA, M. [et al.]. Le Corbusier e o Brasil. São Paulo: Tessela/Projeto Editora, 1987. P. 68-69. 158 Le Corbusier chega parte de Bordeaux no início de setembro e cruza o oceano Atlântico pelo transatlântico Massília. No final de novembro, o arquiteto retornar de Buenos Aires em direção à Montevidéu, Santos e, em seguida ao Rio, à bordo do Giulio Cesare, juntamente com Joséphine Baker. Em 27 de novembro, Joséphine Baker realiza o espetáculo Baby em São Paulo. Em 3 de dezembro, Le Corbusier chega à capital federal. Em 9 de dezembro, Le Corbusier retorna à França à bordo do navio Lutétia. 159 Le Corbusier. Prólogo Americano. A bordo do Lutetia, dezembro de 1929. In: PEREIRA, M. [et al.]. Le Corbusier e o Brasil. São Paulo: Tessela/Projeto Editora, 1987. P. 72-86. 160 Carnet de Voyage B4. (FLC) 161 Texto escrito na Fazenda S. Martinho utilizado com ligeiras modificações no “Prólogo Americano”. In: PEREIRA, M. [et al.]. Le Corbusier e o Brasil. São Paulo: Tessela/Projeto Editora, 1987. p. 49.

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Le Corbusier e Pierre Jeanneret. Oeuvre complète 1910 – 1929 / 1929-1934.

Le Corbusier, desenho para desenvolvimento urbano do Rio de Janeiro. Publicado em Précisions sur un état présent de l’architecture et de l’urbanisme , 1930. (FLC)

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E você meu querido Corbu, a esta hora você paira ainda sobre o Atlântico, (...) você gosta do mar. Não tenho novidades suas, pois ao retornar encontro a casa vazia, Yvonne’. xxx (Carta de Yvonne à Le Corbusier em 22 de setembro de 1929. FLC E2-13-105) Através de seus desenhos e escritos percebemos que a viagem marcou o arquiteto de diversas formas. Ainda na França, antes de embarcar no transatlântico Massilia em setembro de 1929, pareciam-lhe claras as atividades e interesses: palestrar em Buenos Aires – divulgando seu pensamento sobre a arquitetura e urbanismo segundo o ‘espírito da época’ – e, visitar o Rio de Janeiro e São Paulo – conhecendo assim os atores sociais envolvidos no projeto da construção da ‘cidade de um milhão de almas: Planaltina’162. Durante o primeiro semestre de 1929, as correspondências entre Le Corbusier e os seus anfitriões, notadamente Paulo Prado163 no Brasil e Sra Ocampo 164 em Buenos Aires, confirmaram a viagem, bem como precisavam detalhes. As palestras a serem conferidas em Buenos Aires começavam a ser esboçadas já durante o mês de julho. 165 Contudo, se, num primeiro instante, tais interesses, ditos ‘práticos’ para a profissão do arquiteto, pareciam precisos a Le Corbusier, num segundo instante, ao longo destes dois meses de viagem, novas experiências renderam reflexões e criações em outras poéticas: nas Artes, na Comunicação ou na própria Arquitetura. Certamente, não seria coincidência a sua decisão em optar pelo ano de 1929 como o momento de divisão na apresentação de seus trabalhos em sua Oeuvre Complète. Na verdade, tal série seria mais uma confirmação deste momento de grandes permanências e rupturas em seu pensamento e prática. Este ano de 1929, culminado com a viagem à América do Sul, seria um período de extrema complexidade na vida e obra de Le Corbusier. 166 ‘Em 1930 inaugurava-se uma etapa de novas preocupações: as grande obras (les grands travaux), os grandes eventos da arquitetura e do urbanismo, a era prodigiosa do equipamento de uma nova civilização maquinista. Tendo redigido o livro, ‘Précisions’, a bordo do navio que me levava de Buenos Aires à Bordeaux, terminava meu manuscrito assim: ‘Não falarei mais da revolução em arquitetura que realizou-se. É a era das grandes obras que começam, é o urbanismo que se torna a preocupação dominante’. Assim foi, em nosso atelier, uma série

162 Documento dossiê nominativo Cendrars (FLC). In : Pereira. P.34. 163 Paulo Prado foi um mecenas de arte, personalidade pública e intelectual, patrocinando a vinda de Blaise Cendrars e Le Corbusier ao Brasil. ‘A própria família Prado será também responsável pela introdução de Le Corbusier no meio artístico e intelectual carioca’. In: Pereira, p.33-35. 164 Victoria Ocampo (1891-1962), argentina, foi mecenas de arte e patrocinou a vinda de Le Corbusier à Argentina. Encomendou o projeto de sua casa ao arquiteto em 1928. 165 Em carta ao amigo Cendrars, Le Corbusier confirma sua decisão em ir à Buenos Aires, bem como o desejo de ir à São Paulo realizar um série de conferências. O arquiteto compartilha os temas de suas possíveis palestras. Correspondência escrita em sete de maio de 1929 (FLC). In: Pereira, p. 43. 166 Os estudos de Stanislaus von Moos, Margareth Pereira, Carlos Martins, Jean-Louis Cohen e Tim Benton, igualmente confirmam este momento de grandes reflexões e descobertas em Le Corbusier, notadamente no que se refere aos projetos de urbanismo.

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Projeto para Buenos Aires, desenhos preparatórios para a nona conferência. (FLC)

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ininterrupta de grandes estudos: a urbanização das grandes cidades existentes ou a serem criadas; a urbanização do campo – a reorganização agrária’. xxxi (Oeuvre Complète, 1929-1934) Em urbanismo, será um período, segundo o próprio Le Corbusier, dedicado aos grands travaux.167 Contudo, este momento ainda é pouco estudado em relação às suas demais poéticas, entre elas o desenho e a arte de palestrar 168(54); Em relação às suas conferências, por exemplo, o ciclo de dez palestras em Buenos Aires foi uma descoberta neste ‘ofício de conferencista’ onde viveu ‘no decorrer das conferências, momentos agudos de lucidez, cristalização do pensamento’.169 Segundo as próprias palavras de Le Corbusier: Nunca tivera a ocasião de exprimir-me tão abundantemente. Estava feliz de poder apresentar fatos precisos e, entretanto, em cada uma de minhas conferências, a hora me perseguia: teria podido fazer cem conferências! 170 Pretendemos assim abordar nas próximas páginas reflexões sobre este pequeno vocabulário, escrito e iconográfico, que foi ‘empregado’, modificado, solidificado ou construído por Le Corbusier nos diversos momentos, íntimos ou públicos, de sua viagem à América do Sul. Revisitando o vocabulário da era da máquina O mundo está em plena perturbação. Algo de novo aconteceu: o maquinismo. (...) Adotamos novos costumes, aspiramos a uma nova técnica, procuramos uma nova estética, e, para tudo isto, que espécie de autoridade? Resta-nos uma constante: o homem, com sua razão e suas paixões, seu espírito e seu coração e, nesta questão da arquitetura, o homem com suas dimensões. 171 Logo em sua primeira conferência em Buenos Aires, Le Corbusier nos chama a atenção ao período da máquina. Esta noção não é nova nem ao público, nem ao próprio Le Corbusier, mas o arquiteto considera importante expô-la como um problema dos homens de sua época. Não é necessário repudiar a máquina, tampouco venerá-la, mas reconhecer a sua existência e força a fim de ‘sanar a arquitetura’ e ‘salvar a grande cidade’. É nesta ação em busca de uma liberdade do indivíduo e, consequentemente do coletivo, que a máquina pode ser ‘poesia’ e ‘lirismo’, segundo o discurso de Le Corbusier em 1929. Ao estudar de modo mais atento a relação de Charles-Edouard Jeanneret com a noção de máquina, percebemos que esta percorrerá de modos diversos os seus

167 Os estudos de von Moos, Cohen e Pereira trazem à luz reflexões sobre este período considerado marcante e de novas reflexões no campo do urbanismo. 168 Sobre as conferências de Le Corbusier, ver : BENTON, T. Le Corbusier conférencier. Paris: Éditions du Moniteur, 2007. 169 Le Corbusier. Prólogo Americano. A bordo do Lutetia, dezembro de 1929. In: PEREIRA. P. 86. 170 Idem. 171 Le Corbusier. Précisions sur un état présent de l’architecture et de l’urbanisme. Paris : Les éditions G. Crès, 1930. 1a Conferência realizada em 3 de outubro de 1929.

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Composition à la lanterne et à la guitare , 1919. Kunstmuseum, Basel.

Figure rouge. 1929. Coleção Heidi Weber.

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diferentes campos de ação, sobretudo, a partir do período em que está próximo de Ozenfant.172 Conforme apresentado anteriormente, tal relação, muitas vezes complexa, será recorrente ao longo de toda a década de 1920. Ora a máquina será um objeto de extrema pesquisa e objeto plástico, cuja paixão e prisão estarão presentes nas telas puristas ou no próprio comportamento mecânico de Jeanneret ao lado de Ozenfant; ora será o motor para a ‘liberdade’ e ‘cura’ do homem moderno. Concordamos com Carlos Martins, ao afirmar que ‘este tema recorrente nos permite acompanhar os avatares de uma relação [de Le Corbusier] atormentada com a máquina – metonímia do mundo da técnica’ 173 – e que vai marcar o seu pensamento ao longo dos anos 1920. De fato, tal relação, muitas vezes contraditória, vai percorrer de modo profundo o discurso plástico e, consequentemente o comportamento de Jeanneret desde a publicação ‘Depois do Cubismo’, em 1918, até o período de sua viagem às Américas. Durante esta década, o entendimento sobre a máquina parece não apresentar grandes mudanças e rupturas em seu discurso oral e escrito. Todavia, sua expressão plástica parece deixar marcas de um novo vocabulário. Em figure rouge, Le Corbusier explora novos patamares de cores e objetos, em especial a presença de corpos. Permanências: ‘Hoje em dia, precisamos reconhecer: o trabalho em série imposto pela máquina vela mais ou menos ao trabalha dor os resultados de seus esforços. Contudo, os produtos fabricados,graças ao programa rigoroso da fábrica moderna, são de uma tal perfeição que produzem às equipes de operários um sentimento de orgulho coletivo. (...) A evolução atual do trabalho caminha desde o ‘utiliário’ à síntese e à ordem. Definimos como ‘taylorismo’, sem uma conotação pejorativa. Na verdade, isto não seria outra coisa senão a exploração inteligente das descobertas científicas. (...) Já as máquinas, devido ao seu condicionamento pelo número, evoluiu mais rapidamente, atingindo hoje um apuramento notável. Este criou em nós um sentimento novo, um novo prazer, cuja importância leva-nos a refletir; ele é um novo fator no conceito moderno da arte. xxxii (Fragmentos do livro Après le Cubisme, 1918) Em 1929, Le Corbusier escreve: O maquinismo perturbou tudo: comunicações, interpenetração, aniquilamento das culturas regionais, mobilidade súbita, ruptura brutal com os costumes seculares, modos de pensar. 174

172 Amédée Ozenfant (1886-1966), pintor e teórico francês, conhece Charles Édouard Jeanneret através de Auguste Perret, em 1918. Ao longo de quase uma década, a relação de Ozenfant e Charles Édouard será intensa. Ambos constroem uma poética através das artes plásticas e a nomeam Purisme. Escrevem juntos o livro Après le Cubisme, em 1918, e criam em 1920 a revista L’Esprit Nouveau. In: ELIEL. C. ; DUCROS, F. L’Esprit Nouveau: Purism in Paris 1918-1925. Los Angeles - New York: Abrams, 2001 173 Carlos Martins. Uma Leitura Crítica. Posfácio da versão em português do livro Précisões. P. 273. 174 Fragmento da 1ª Conferência em Buenos Aires, 03/10/29. In: Précisions.

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Carnet de Voyage , Rio de Janeiro, 1929. (FLC) Croquis realizado na conferência em Buenos Aires e publicado em Précisions sur un état présent de l’architecture et de l’urban isme , 1930.

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‘Padronização, industrialização, taylorização. Três fenômenos consecutivos que geram sem piedade a atividade contemporânea, que não são nem cruéis, nem atrozes, mas que, ao contrário, conduzem à ordem, à perfeição, à pureza, à liberdade’. Trecho da 2ª Conferência em Buenos Aires, 05/10/29. Diário de viagem: breves reflexões sobre um pequeno vocabulário No transatlântico: um corpo que sente Sob este elogio e admiração pelas criações humanas possíveis através do engenho da máquina, está o navio transatlântico. Ao lado do avião, o transatlântico é a grande obra que fará parte do discurso escrito e iconográfico de Le Corbusier durante a sua viagem à América do Sul. É através dele, que o arquiteto cruza os mares e chega ao ‘outro mundo’. São duas semanas nesta ‘grande casa’, por ele chamada: ‘Existem de 2.000 a 2.500 pessoas neste navio. É uma grande casa. Ali não reina a menor confusão, mas uma disciplina perfeita. Nele se come, se dorme, se dança, se medita, se passeia. Todos nós que estamos em terra, sem exceção, sentimos uma admiração profunda pelo navio. Estamos diante de um novo dimensionamento da casa’. 175 Le Corbusier experimenta o navio. Desenha-o por fora, por dentro; corta-o lateralmente, transversalmente; descreve-o como um todo, em detalhes; filma-o. Sua obsessão e admiração não têm limites, seu pensamento voa enquanto esquece o ‘tumulto continental’ 176 e acalma-se na ‘solidão das águas’. Seu coração bate mais forte ao navegar nesta grande máquina por águas atlânticas a conhecer este ‘outro mundo’. É a bordo do navio Lutétia, desde o ‘ponto mais calmo’ 177 que o próprio Le Corbusier consegue ‘levar a cabo a redação dessas dez conferências de Buenos Aires que foram improvisadas, faladas e desenhadas’ 178. Assim, o discurso sobre o transatlântico para Le Corbusier, construído e sedimentado desde os textos apresentados na revista L’Esprit Nouveau, vem a ser reafirmado neste momento, não somente como uma obra mestra da engenharia moderna, mas, sobretudo como uma metáfora da nova casa do homem moderno: útil, precisa, ordenada e, por fim, bela.

175 Le Corbusier. Précisions. 2a conferência realizada em Buenos Aires em 5 de outubro de 1929. 176 Le Corbusier. O Espírito Sulamericano. In : Pereira, p. 68. 177 Le Corbusier. Prólogo Americano. In : Pereira, p. 72. 178 Idem.

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Ilustração do livro Aircraft, 1935.

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No Avião: olhos que veem Em paralelo ao navio, Le Corbusier enaltece outro produto da engenharia humana: o avião. Este igualmente faz parte de seu vocabulário desde os primeiros escritos da L’Esprit Nouveau179, mas, suas experiências ao sobrevoar cidades, pampas, florestas e costas brasileiras, argentinas, uruguaias e paraguaias irão marcar doravante Le Corbusier. ‘Este país da América [Argentina] é dimensionado pelo avião. Parece-me que a rede aérea haverá de se tornar seu sistema nervoso eficaz. Observem o mapa: tudo é gigantesco e de tempos em tempos surge um povoado, uma cidadezinha. Tinha em mente o problema das casas baratas de nossa Europa, envenenada pelos príncipes da Renascença, os papas ou o Sr. Nénot, e minha eterna conclusão, após tantos países percorridos há mais de vinte anos, torna-se cada dia mais precisa: é o conceito de vida o que se tem de mudar, é a noção de felicidade o que se deve resgatar. A reforma está nisso, o resto é apenas conseqüência’.180 (Prólogo Americano, 1929) Desde o avião Le Corbusier emociona-se, homem e natureza parecem um só. ‘Contemplation of the earth from above conduces to meditation’ 181. Tudo parece calmo e tranquilo para os olhos humanos e, por isso, Le Corbusier definirá que a escala do avião é, sobretudo, uma escala humana, uma escala do corpo. 182 ‘A 500 ou 1000 metros de altitude e a 180 ou 200 km/h a visão que se tem do avião é a mais calma, regular e definida que se possa desejar. (...) Tudo adquire a precisão de uma épura. O espetáculo não é apressado, mas muito lento, sem rupturas. Com exceção do avião, somente um transatlântico e os pés do caminhante na estrada permitem o que se poderia chamar de visões humanas: contempla-se e o olho transmite calmamente, enquanto denomino desumanas ou infernais as visões oferecidas de um trem, de um automóvel, até mesmo de uma bicicleta. Só existo na vida com a condição de ver’. 183 (Prólogo Americano, 1929) Aqui, Le Corbusier nos eleva a uma reflexão que somente poderia ser escrita por alguém consciente às temporalidades humanas, àquelas curtas, necessárias a contemplar o sublime da vida e apreciar o presente mais imediato, a encontrar poesia no instante dos tempos que o olho humano capta com a luz no espaço. Ver e sentir, eis aqui as condições para viver e, portanto, criar. Em passagem ao Rio

179 A série de artigos publicados por Charles-Edouard Jeanneret ao longo das primeiras edições da Revista L’Esprit Nouveau, criada em 1920, resultou no livro Vers une Architecture, 1923. 180 Le Corbusier. Prólogo Americano. In : Pereira, p. 73. 181 LE CORBUSIER. Aircraft. Londres : The Studio Ltd, 1935. P. 113 (título do capítulo 13). 182 Carlos Martins considera que ‘a visão do caminhante e do navegante correspondem, ainda à escala do corpo. A experiência do vôo significou para Le Corbusier, a conquista da vue d’oiseau, da visão à ‘escala do espírito’. In: Uma leitura crítica. Posfácio da versão brasileira de Précisions. P.281. 183 Le Corbusier. Prólogo Americano. In : Pereira, p. 77.

Carnets de voyage, 1929. (FLC)Carnets de voyage, 1929. (FLC)

Carnets de voyage, 1929. (FLC)

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de Janeiro, a bordo mais uma vez de um pequeno avião, Le Corbusier sente-se penetrar neste ‘corpo, movimentado e complexo’ que é a cidade carioca. O urbanista, ‘sensível às magnificências naturais e um espírito ávido por conhecer o destino de uma cidade’, não hesita exprimir com liberdade os primeiros traços urbanos que acompanham a topografia dos morros cariocas. Após os estudos mais cartesianos das cidades de Montevidéu e São Paulo, Le Corbusier reconhece a imponência da paisagem carioca e a valoriza: ‘Mas quando no Rio tudo está em festa, pois tudo é tão sublime e magnífico, quando voou-se longamente de avião como pássaros planadores sobre a cidade, as idéias nos invadem. .. No avião, peguei meu bloco de desenhos e desenhei à medida que tudo me parecia claro. Exprimi as idéias de urbanismo moderno’. 184 Se por um lado, tais ideias do urbanismo moderno, de acordo Le Corbusier, foram expressas segundo uma sensibilidade humana desde um avião – estimulada pelo sentido, sobretudo, o olhar – por outro lado, a própria noção de moderno para o arquiteto foi amadurecida pela sua atenção a outras sensibilidades, em especial àquela percebida pelo homem a pé. Em outras palavras, a noção de moderno em Le Corbusier é uma construção de sensibilidades do corpo em diversas dimensões. Margareth Pereira 185, já em 1987 e, posteriormente Carlos Martins186 em 2004, indicam esta relação de Le Corbusier com os ‘corpos dos índios’ em Assunção ou dos negros nos morros do Rio, como uma experiência da diferença, do exótico, ingênua e ao mesmo tempo cósmica. Neste momento, ele encanta-se pelas máquinas e, por isso, sente a necessidade de tornar público tal encantamento. Como um sujeito consciente de suas práticas, Le Corbusier age conforme o ‘espírito de sua época’. Contudo, sua construção de moderno é mais complexa, tensa e, transita por dimensões do sensível e do sublime. Percorrer a cidade, vagar pelas ruas e perder-se, são atos de liberdade de espírito e, por conseqüência, modernos para Le Corbusier. Mas, neste momento, ele não torna público este sentimento. Ele não precisa torná-lo, pois este não é seu ‘campo de batalha’. São experiências íntimas que o engrandecem como pessoa, que o ‘enlevam’. Seus croquis não publicados, seus carnets de voyage guardados para si, revelam esta tensão que vai percorrer doravante a vida de Le Corbusier. A pé, o arquiteto sente a cidade com outras partes sensíveis do corpo. Em meio aos morros das favelas, ou à praia da Glória, Le Corbusier, olha, ouve, cheira e toca fragmentos da cidade carioca. Olha as moças bonitas que passam ao perambular pela noite boêmia nas ‘ruas destinadas aos marinheiros’ 187, ouve o samba no pé dos morros das favelas 188, cheira o aroma da brisa que bate à sua janela no Hotel Glória189, sente em sua pele a umidade do verão

184 Le Corbusier. Corolário Brasileiro. In : Pereira, p. 89. 185 PEREIRA, M. [et al.]. Le Corbusier e o Brasil. São Paulo: Tessela/Projeto Editora, 1987. 186 MARTINS, C. Uma Leitura Crítica. Posfácio do livro Précisions, de Le Corbusier. São Paulo: Cosac&Naif, 2004. 187 Le Corbusier. Corolário Brasileiro. In : Pereira, p. 87-88. 188 Idem. P. 87 189 Idem. Ibidem

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Trois musiciennes, 1936 (FLC 2321) Trois musiciennes, 1936. (Colec. particular) Deux musiciennes (FLC 706)

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carioca e o prazer em tomar um banho de mar 190. Quase a totalidade de seus desenhos realizados na viagem evidencia este sentimento encarnado sobre a cidade, os homens e à natureza, os olhares próximos e distantes.

Corpos humanos, corpos urbanos A experiência de Charles-Édouard Jeanneret com os corpos esteve sempre presente em sua vida, às vezes de forma menos expressiva, às vezes revelava-se de modo mais evidente. Os anos ao lado de Ozenfant, por exemplo, fizeram parte de um período único onde Jeanneret não representou em nenhum momento a figura humana em seu trabalho plástico.191 Aos seus pais ele escreve: ‘Eu mudei, não sou mais comunicativo. Vivendo uma vida muito dura, que vocês não compreenderam, e seguindo as metas audaciosas e elevadas, eu me volto sob mim mesmo e não sei mais me interessar aos detalhes e não sei mais ser um homem de companhia’.192 O interesse pelo corpo e, em especial pelo corpo feminino, é demonstrado novamente, com grande expressividade, na segunda metade dos anos vinte, em paralelo ao seu rompimento com Ozenfant. Entre 1925 e 1929, Le Corbusier viaja às praias de Arcachon, Barcelona, Rio de Janeiro e, em 1930 à Argel. Françoise de Franclieu precisa este momento do resgate da figura humana e dos objetos à reação poética, considerando que eles são ‘o ponto de partida de uma série extremamente rica na sua diversidade’193, onde linhas e volumes se complementam. A partir do ensaio de Antoine Pace194, compreendemos que Le Corbusier havia dado início às transformações dos principais elementos da sua pesquisa plástica. Segundo Pace, entre os anos de 1928 e 1939, Le Corbusier terá pintado mais de cem telas sob as quais o corpo era sujeito e objeto evidenciado em seu trabalho. O aparecimento do estudo dos corpos em seus carnets de voyage à América do Sul vem a confirmar esse período de exploração de um mundo novo. Seu olhar nesse momento é de um homem que deseja ‘controlar’ a natureza e os corpos. Ele sente-se livre para experimentar. ‘Então, no Rio de Janeiro, cidade que parece desafiar radiosamente toda colaboração humana com sua beleza universalmente proclamada, somos acometidos por um desejo violento, quem sabe louco, de tentar também aqui uma aventura humana – o desejo de jogar uma partida a dois, uma partida ‘afirmação-homem’ contra ou com ‘presença- natureza’. 195

190 Idem. Ibidem 191 SANTOS, D. Le Corbusier et le Brésil: les corps à réaction poétique. Relatório de pesquisa à Fondation Le Corbusier, Paris, 2006. 192 Carta de Charles-Edouard a seus pais em 10 de novembro de 1920. (Arquivo FLC, R1-6- 93) 193 FRANCLIEU, F. Peinture. In : Le Corbusier : une Encyclopédie. Paris : G. Pompidou, 1987. P. 295. 194 PACE. A. Évolution de la peinture chez Le Corbusier et les rapports à son architecture. Escrito realizado em setembro de 1985, Paris. (FLC) 195 Existem mais de 6000 desenhos de Le Corbusier nos arquivos da Fondation Le Corbusier. Sobre o estudo e a catalogação dos desenhos que contemplam o corpo, ver: Daniela Ortiz dos Santos. Le Corbusier et le Brésil: les corps à réaction poétique. Relatório de pesquisa à Fondation Le Corbusier, Paris, 2006.

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LC. Desenho, 1929. (FLC 4522)

Carnets de voyage, 1929. (FLC)

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Le Corbusier concebeu ao longo de sua vida mais de 6.000 desenhos. Estes concernem não somente à arquitetura, mas às vezes às coisas que fazem simplesmente parte da sua vida, tal como as plantas, os barcos, as mulheres, os músicos etc, nos quais 3.000 desenhos são consagrados à representação do corpo. Quase a metade de todos os seus desenhos concebidos ao longo de sua vida. A pesquisa sobre técnicas e cores neste momento em Le Corbusier, vem a representar sua mudança na palheta de cores anteriormente estabelecida no início dos anos 20 ao lado de Ozenfant. A partir das viagens à Arcachon, às cidades na península Ibérica, à Argel e ao Rio de Janeiro, Le Corbusier usa cores mais fortes, há mais contrastes. Seu registro acumula uma ‘herança visual’ adquirida nas suas relações com outras naturezas.196 Em passagem ao Rio de Janeiro, Le Corbusier desenha em aquarela, em lápis de cor, guache. O arquiteto consagra seu tempo à pintura e à exploração de diferentes técnicas no esforço de registrar as curvas, as sombras e as cores vivas da natureza e dos corpos, como se buscasse objetivar a natureza.

196 COLLI, M. Vers une polychromie architecturale. Article de l’ouvrage « LE CORBUSIER : UNE ENCYCLOPEDIE », publié à l’occasion de l’exposition « L’aventure de Le Corbusier » produit par le Centre de Création Industrielle et presentée l’octobre 1987 à janvier 1988, dans le Grand Galerie du Centre National d‘Art et de Culture George Pompidou à Paris, pp. 104-110.

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Vistas do Rio de Janeiro. Fotogramas da filmagem de Le Corbusier, 1929. (FLC)

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A arquitetura no intervalo entre corpo e natureza Algumas questões apresentadas por Le Corbusier durante a viagem ao Brasil, não somente persistirão, como também amadurecerão ao longo dos anos 1930. Em 1936, Le Corbusier retorna ao Rio de Janeiro, sob outros aspectos sóciopolíticos. Sua atenção, todavia, às questões sobre o corpo e a plástica dos os objetos à reação poética permanecem. O estudo dos corpos ‘volumosos’, desviantes da noção de corpo ‘tipo’, vem a confirmar um período de exploração ao longo de mais de duas décadas. Seu sentimento é de um homem que busca ‘controlar’ o instante presente desta natureza e corpos através da experiência carnal e do registro escrito e gráfico. A carta que escreve desde o Hotel Glória, o mesmo hospedado em sua viagem em 1929, é um manifesto consciente de suas experiências e reflexões: ‘Amiga (...) Fim de jornada de duro trabalho, o barraco aí na sua casa é na beira da praia, assim como o meu daqui da minha “Gloria”. Que coisa engraçada este fenômeno de harmonia que às vezes se manifesta entre dois elementos. Em arquitetura, ... eu não estou nem aí. Já entre dois seres. Voilà ! Eu não consigo compreender como pude dormir com estas negras. Aqui elas são loucas, são belas. Tanto faz. (...) Toutou, brave toutou! Eu não faço amor desde 13 de dezembro. É idiota. É sobretudo idiota revelar o fato de parecer e ver aquilo que seja. Nos deparamos com estas observações de pequenos fatos que são perfeitamente inexplicáveis. Além da aritmética, nada se explica. Nadamos no incompreensível’. 197 Tais palavras acima escritas à amiga Margueritte Tjader-Harris, íntimas por excelência, apresentam um Le Corbusier menos dogmático e exposto às intempéries da vida carnal. Neste instante, para ele, os corpos das negras eram a cidade do Rio de Janeiro. O fenômeno de harmonia é a experiência do corpo com a natureza. E nesta relação, não há controle de sentimento. A aritmética é uma prática que se controla, o resto é dúbio. A arquitetura encontra-se assim neste intervalo entre controle e descontrole, entre aquilo que se explica e não se explica, entre ações e recepções, entre o corpo e a natureza. Isto significaria considerar um movimento se não contraditório, pelo menos tenso, na forma de Le Corbusier pensar a própria noção de homem tipo neste momento. Poderia-se dizer então, que em seus escritos e em suas obras plásticas deste período constatamos uma tendência que pende pensar o indivíduo como um ‘Homem, um ser de carne e osso’.198 Contudo, em seus projetos de escala urbana tal tendência aparenta ainda não existir. Seria um problema de escala que justificaria certo distanciamento aparente da noção de indivíduo como um homem encarnado? Este gesto no traço em escala urbana, que não suprime tal noção de indivíduo encarnado, já seria para Le Corbusier uma questão neste momento?

197 Carta de Le Corbusier à amiga Tjader-Harris, em 1936. (Arquivo FLC, E3-10) 198 Através das suas viagens às Américas, África, Europa Central, do Leste e Mediterrânea inclusive ao Oriente, Le Corbusier foi um homem extremamente sensível e aberto a experimentar de forma intensa as diversas trocas e relações com outros povos e culturas, sejam elas intelectuais, amorosas ou apenas visuais.

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Projeto de Urbanismo, Rio de Janeiro, 1929 (FLC) Trois femmes debout de dos, 1933 (FLC)

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Através dos registros encontrados e as reflexões até hoje nos indicam que há um processo de sedimentação dos saberes em Le Corbusier, bem como de uma busca de experimentação das coisas que será manifestada de modo contraditório e irregular e, em tempos diversos. Através de estudo mais fino e atento aos processos e temporalidades, interpretamos tal movimento assim, como uma tensão em Le Corbusier, inerente ao processo de reflexão, complexidade e maturação de seu pensamento e obra. Jacques Sbriglio 199, assim como diversos autores, considera que o período de maior maturidade na obra de Le Corbusier acontece no período de pós-guerra. Contudo, acreditamos que a expressão plástica e escrita parece atingir, já neste momento, um patamar de reflexão mais complexo e maduro se, comparado aos seus projetos de arquitetura. A riqueza poética presente nas palavras de L’Esprit de la Sud-Amérique ou em Quand les cathédrales étaint blanches, bem como o jogo cores e corpos em seus croquis da década de 1930, são testemunhos deste momento fecundo nos campos da escrita e pintura. Neste instante, Le Corbusier, sob com um gesto consciente de liberdade poética e controle geométrico, logra transmitir um sentimento vers le sublime que nos enleva, nos enriquece. Pura harmonia.

199 Sbriglio realiza um profundo estudo sobre a Unité d’habitation em Marseille. Em sua recente passagem ao Brasil, acompanhando como curador do circuito da exposição ‘Le Corbusier, entre dois mundos’, tive a oportunidade de discutir rapidamente a sua tese sobre a obra de Le Corbusier. Ele defende que o período de pós-guerra seria aquele mais maduro para Le Corbusier, logrando conceber obras com um grande grau de complexidade e maturidade. De fato, em arquitetura, pude concordar plenamente com Sbriglio. Contudo, reconsiderei que, em relação à pintura e aos seus escritos, a década de 1930 já anuncia um período de grande reflexão e ação madura para Le Corbusier. Arquitetura, urbanismo, pintura, desenho e escrita não manifestaram-se de modos iguais e constantes. Algumas lograram atingir um grau de maturidade antes de outras.

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Croquis des de o avião, Rio de Janeiro, 1929 (FLC) Croquis no carnet de voyages, 1929 (FLC)

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Conclusões

Corpos à reação poética Em alto mar ou em pleno ar, nas cidades ou nos corpos, Le Corbusier sente, pensa, cria. A partir destas experiências sensíveis, manifestadas, sobretudo, nos escritos, desenhos e pinturas do final da década de 1920, percebemos que Le Corbusier não somente revisita algumas noções previamente concebidas, como também reflete sobre novos conceitos que percorrerão doravante o seu pensamento e obra. Seu entendimento sobre a máquina, por exemplo, parece tornar-se doravante menos dogmático. O discurso sobre a ‘era maquinista, manifestado em Vers une Architecture, Urbanisme e L’art décoratif d’aujourd’hui, bem como os esforços para a constituição de um grupo uníssono em prol da ‘causa moderna’, já merecem um novo julgamento. Le Corbusier parece, assim romper com o entendimento da arquitetura como um problema apenas das massas ou voltadas para um homem-padrão. Os debates e conflitos entre o grupo da Neue Sachlichkeit, as reflexões a partir das viagens às cidades como Moscou, Rio e, logo em seguida à Argel, contribuem Le Corbusier a repensar duas noções. A primeira repousaria sobre o seu entendimento da noção de ‘rua’. Caminhar pelas ruas do Rio, observar as relações dos negros nos morros cariocas ou sentir as experiências construídas pelos arquitetos russos para a jovem nação soviética, enfim todo este mundo novo parece provocar em Le Corbusier um julgamento novo sobre o seu próprio entendimento de ‘rua’. Este tenso movimento percorre o pensamento de Le Corbusier às vezes de modo mais íntimo, como as reflexões desde as viagens de juventude, bem como a atenção dos trabalhos de Benoît-Lévy 200, Camillo Sitte 201 e Tony Garnier202; às vezes de modo mais evidente, como a criação das sete vias para Chandigard, a partir de 1945. 203 Permanências e rupturas, sentimentos de grande emoção. Este sentimento que move Le Corbusier ao defender a morte da ‘rua-corredor’, no livro Urbanisme, parece desconstruir-se ao sentir a emoção dos jogos dos corpos nas danças carnavalescas de rua, no antigo tecido carioca. Aquela rua carioca, a pequena rua dos morros, provocava naquele momento um sentimento nobre, verdadeiro. Pura alegria, pura poesia. Modernidade e espírito do tempo. ‘Quando escalamos as ‘Favelas’ dos negros, os morros altos e inclinados onde prendem suas casas de madeira e taipa pintadas com cores vivas, pregadas como os mariscos nos rochedos do porto (...); não há nem rua, nem caminhos – tudo é muito inclinado – mas veredas que são ao mesmo tempo enxurrada e esgoto; desenvolvem-se ali cenas de vida popular animadas por uma tão magistral dignidade (...); do alto das ‘Favelas’ vê-se sempre o mar, a bacia, os portos, as ilhas, o oceano, as montanhas, os

200 TURNER. La formation de Le Corbusier… p. 129, 140-150, 165, 219. 201 Idem, p. 81, 133 ; COHEN. Le Corbusier. Le Grand. Londo – New York : Phaidon, 2008. 202 Idem, p. 31, 60, 182, 211. 203 Em Manière de penser l’Urbanisme, em 1946, Le Corbusier já coloca a noção de rua no estudo das ‘unidades de circulação’, bem como apresenta reflexões sobre a noção de ‘cidade linear’ e ‘cidade industrial’.

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Le Corbusier, Nature morte à la racine et au cordage jaune, óleo sobre tela, 1930, Paris, FLC Photogrammes de Le Corbusier, década de 30 (FLC) Le Corbusier, ‘Étude de deux os’ , 1954. Grafite sobre papel (FLC)

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estuários (...) há uma altivez no olho do negro que vê tudo isso; o olho do homem que vê vastos horizontes é mais altivo, os vastos horizontes conferem dignidade; esta é uma reflexão de urbanista.’ 204 (Prólogo Americano, 1929) Uma segunda reflexão sobre as recentes experiências nos últimos anos de 1920 seria o deslocamento, em Le Corbusier, da noção de homem-tipo e, por tanto, a noção de universalismo nas coisas. A atenção às diferenças e à experiência pessoal aproxima Le Corbusier a um mundo sensível e carnal, menos abstrato e passado por um processo empírico. Um problema que anteriormente era colocado como ‘problema-padrão’ será doravante posto em cheque, pois já não será possível pensar somente em necessidades padrões e, por tanto, soluções-padrões. A noção de ‘universal’, para Le Corbusier, parece já não mais fundir-se ao conceito de uniformidade. De fato, este primeiro conceito amplia-se, transcende as questões baseadas segundo a lógica absoluta da mecânica e do cálculo. A relação com a natureza e com os objetos à reação poética são testemunhos desta nova meditação. As descobertas compartilhadas com Fernand Léger, Charlotte Perriand e Pierre Jeanneret marcam este período de intensa busca e experimentação dos objetos à reação poética. ‘A natureza pode, por sua vez, criar um contingente maravilhosamente sensível. Testemunhos qualificados de objetos à reação poética e que, pela sua forma, dimensão, matéria, possibilidade de conservação, são capazes de ocupar nosso espaço doméstico. (...) Através deles, as características enunciam-se: masculino e feminino, o vegetal e o mineral, a gema e a fruta (...), todas as nuances (...). E nós, homens e mulheres colocados na vida e reagindo às nossas sensibilidades rudes, temperadas, afiadas, criando em nosso espírito coisas do nosso espírito, sendo agitadas ou não, menos passivas ou desatentas; agitando e, por consequência: participando. Participando, mensurando, apreciando. Felizes neste curso ‘em sintonia’ com a Natureza que nos fala de força, pureza, unidade e diversidade. E eu chamo vocês a verem desenhos a partir de seus lápis estes eventos plásticos, testemunhos de vida orgânica, manifestações bem eloquentes sob volume aqui restrito às leis e regras naturais e cósmicas: pedras, cristais, plantas ou seus rudimentos, a lição que prorroga até as nuvens com a chuva, até às erosões ao seio da realidade geológica, e até estes espetáculos decisivos, descobertas desde o avião (...), onde a natureza – nosso asilo – é apenas o incessante campo de batalha dos elementos em luta. Isto substituiria estes superficiais estudos dos antigos gessos que mancharam a consideração que nós adquirimos assim dos gregos e romanos, bem como o catecismo havia deflorado a nós a glória das Escrituras’ xxxiii. (Le Corbusier. Entretien avec les étudiants des écoles d’architecture, 1943) Todavia, esta reflexão e, portanto, a reconstrução do conceito de universal não será imediata, tampouco linear. Em relação à sua obra plástica, por exemplo, esta tensão torna-se neste momento mais evidente. Ao estudar de modo mais fino os desenhos realizados a partir do final da década de 1920, percebemos a repetição de algumas composições formais ao longo de duas ou três décadas. 205 Estas parecem estar relacionadas não somente a fotografias, cartões e observações de

204 Le Corbusier. Prólogo americano, 1929. In : Pereira. Le Corbusier e o Brasil... p. 88. 205 SANTOS. D. O. Le Corbusier et le Brésil… p. 16-42

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Femmes, Nova York, 1947. (FLC) Desenho para o quadro «Les deux amies» ou « Deux femmes sur une plage». (FLC 410)

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Le Corbusier ao longo da década de 1930, mas também a diversos desenhos concebidos décadas posteriores. Uma espécie de ‘composição comum’ poderia ser estabelecida entre tais desenhos, cuja técnica contemplaria, sobretudo, o uso da geometria. Para Le Corbusier, os traçados reguladores, num primeiro momento, e o modulor, num segundo, eram certamente uma maneira de impedir o ‘aleatório’. Em 1929, sobre os traçados reguladores ele escreve: ‘O traçado regulador é um meio geométrico e aritmético que permite dar a uma composição plástica (arquitetural, pictórica ou escultural), uma precisão quase que absoluta na proporção. Não há mística, nem mistério; há simplesmente uma retificação, uma apuração das intenções que o artista plástico emprega em sua obra’. Tracés Regulateurs, 1929 (FLC, A3-2 – 108) ‘[O modulor] é uma medida harmoniosa, concebida de maneira simples, pelo cálculo dos números e da estatura humana em seus três pontos essenciais (... Em suma, é uma linguagem de proporções. Vejam os números aqui presentes neste papel: eles são o resultado daquilo obtido e com os quais eu criei esta medida que representa, em última análise, um gama de proporções que facilitam o meu próprio trabalho e de meus colaboradores. Eu mesmo apliquei esta proporção nos desenhos e pinturas que vemos aqui’ xxxiv (Le Corbusier, década de 1950) Esta obsessão pela forma e proporção não aparenta ser somente uma retomada temática, mas, uma nova reflexão sobre o rigor de Le Corbusier no método compositivo e sobre o seu entendimento das artes e da arquitetura. Em outras palavras, o fecundo trabalho de Le Corbusier poderia estar principalmente no seu próprio processo criador, onde os corpos, nesse instante, seriam os sujeitos ditos ‘objetivados’. Seus objetos de pesquisa à reação poética seriam matéria orgânica e viva, ou seja, seriam ‘corpos à reação poética’. 206 A tensão de Le Corbusier entre corpos e objetos parece apresentar-se como uma busca incessante a uma essência ou atributos essenciais e, portanto, universais nas coisas e corpos. Camadas de espaço e tempo sobrepõem-se sem limite a fim de alcançar uma essência da forma: Poesia da Forma. Por mais de três décadas Le Corbusier sente os corpos, estuda-os, ‘objetualiza’-os. Ao longo de sua maturidade, Le Corbusier parece atingir uma abstração formal que transcende a materialidade do próprio corpus. Em arquitetura ou nas artes, tais sentimentos universais que o moveram a criar novos espaços, comovem-nos, gera-nos experiências íntimas, um sentimento nobre. Uma atitude de Le Corbusier, poderíamos assim dizer, sobretudo, sachlich, mas, que será fecunda para o seu entendimento da arquitetura, da noção de espaço e do sentimento de sublime.

206 Compartilhamos o pensamento de Franclieu ao afirmar que “diversas telas terminadas posteriormente se referem à momentos de execução diferentes. Ela considera também a existência de um “caminho interior” que prolongaria a concretização de suas obras, fazendo parte de uma evolução vital onde a essência estaria não somente na meta final, mas principalmente em seu processo. In: FRANCLIEU. F. Peinture. Article de l’ouvrage :LE CORBUSIER: UNE ENCYCLOPÉDIE, publié à l’occasion de l’exposition “L’aventure de Le Corbusier” produit par Le Centre de Création Industrielle et présentée l’octobre 1987 à janvier 1988, dans la Grande Galerie du Centre National d’Art et de Culture Georges Pompidou à Paris. p. 295.

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Projeto para o Rio de Janeiro, 1929 e croqui de mulheres e arquitetura, carnets de voyage, Rio de Janeiro. (FLC) Abaixo, projeto para Argel, 1931 e croqui de mulher, carnets de voyage, Argel. (FLC)

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Versão original dos textos em língua estrangeira i Versão original em francês: ‘Nul ne nie aujourd’hui l’esthétique qui se dégage des constructions de l’industrie moderne. De plus en plus les constructions industrielles, les machines s’établissent avec des proportions, des jeux de volumes et de matières tels que beaucoup d’entre elles sont de véritables oeuvres d’art, car elles comportent le nombre, c’est-à-dire l’ordre. (…) L’avion et la limousine sont des créations pures qui caractérisent nettement l’esprit, le style de notre époque. Les Arts contemporains doivent également en procéder’. OZENFANT ; JEANNERET. L’Esthétique Mécanique. In: L’Esprit Nouveau 1, Paris,1920. ii Versão original em francês : ‘Je travaillé toute cette journée de dimanche à ma peinture sans résultat utile. Toutefois, on se sent dans la bonne voie et Ozenfant lui, avance fort et nous avons notre esthétique qui aboutira’ (Domingo, 16 de novembro de 1919. FLC, R1-6-77) iii Versão original em francês : ‘La vie m’a été dure. Elle devient de plus en plus. Ne croyez pas que je deviens insensible. Je suis obligé de choisir, car les années passent tragiquement vite et il ne faut pas que mon œuvre m’échappe. Vous n’imaginez pas ce qu’est la lutte à Paris. (…) Il se crée des distances qui sont celles de l’esprit et de la compréhension. Ces distances ont par exemple éloigné beaucoup de mes anciens amis. Mais les fausses gentillesses tombent et il reste l’estime et l’affection. Ce que je ressens ici très fort, où je suis plein de courage et de certitude’. (Carta de 10 de novembro de 1920 aos seus pais, FLC R1-6-93) iv Versão original em francês : ‘Le besoin d’ordre est le plus élevé des besoins humains ; il est la cause même de l’art’. In : LE CORBUSIER ; OZENFANT. Sur La Plastique. L’Esprit Nouveau n.1, Paris, 1920.

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v Versão original em francês: ‘Mes pensées d’art s’élèvent vers la plastique, une forme, une ligne toujours plus ésotérique. Mes essais sont difformes, décevants. Toute mon imagination travaille. Je veux une clarté, un poli, une netteté qui ne tolèrent que pur crayon, discipline de rythme, et modération de couleur. Et je peins des ordures. (…)D’instinct je rentre chez moi pour fuir les camaraderies futiles. Ou si je vais vers l’attirance des boulevards où sont les femmes, c’est pour trouver une expression de la plus idéale mathématique à ce rêve de beauté que mes pinceaux s’ingénient à vouloir créer. (…) J’ai toujours plus foi dans la peinture moderne, plus foi dans ceux si nombreux qui comme moi rêvent, mais qui mieux doués réalisent. Comme un homme est seul au monde’. In : Cahier 12 de maio de 1918, p. 91. FLC. vi Carta de Charles Edouard Jeanneret à sua mãe, em 20 de janeiro de 1928. In : Jean Jenger. Le Corbusier – Choix de lettres, pp. 191, 192. Versão original em francês: “Ma chère petite maman, Ce matin ta lettre. Je l’attendais depuis longtemps (…). Je suis pris de frénésie après ma peinture. Le matin y passe et les soirs au dessin. Et les jours passent, dévorants. Depuis mon départ de Corseaux, l’affaire PdN suit une marche hors des sentiers de la colère. La réaction est forte partout. Les invectives. Mais mois, j’ai tenté de faire autre chose, en jouant sur terrain sûr. Et il se peut que cela n’aille pas mal. Il se peut que le Maréchal Lyautey (fort épris de mes initiatives) accepte d’être en tête du mouvement. (…) Au Redressement Français le patron Mercier, est venu exprès pour me dire tout ce qu’il pensait de mon rapport : ‘je désirai voi l’homme qui a fait ce rapport’. (…) J’ai l’impression que les noires années sont passées. Ma petite maman bonne nuit et affection de ton Edouard”. vii Versão original em francês : Un soir vers 6 heures, Corbu m’invita à l’accompagner sur le chantier du Pavillon suisse. Je ne suis pas prête d’oublier ce jour, marqué de beaucoup d’incompréhension mutuelle […]. Corbu s’arrêta dans une des chambres d’étudiant et, contre toute attente, me demanda : ‘Comment vivez-vous depuis votre divorce?’ J’étais sidérée. Cette question incongrue, était-elle économique? affective? pourquoi? ‘Bien’, répondis-je. Devant mon air étonné, Il précisa: ‘Aimez-vous les femmes? Je pourrais le comprendre’. –‘Certes non, quelle idée !’ […] ‘Je dois vous dire qu’à l’atelier un grand garçon, Pierre, ne rêve qu’à vous, réfléchissez’. La foudre tombait à mes pieds. […] C’était l’éternelle histoire d’Adam et Ève, et Ève était chassée du paradis. Avec Corbu, rien ne fut plus comme avant, je l’avais blessé. C. Perriand. Une vie de création. Paris : Odile Jacob, 1998. P. 54. In : BENTON, T. Charlotte Perriand: les années… p. 13. viii Versão original em francês : ‘Voyons donc le promoteur du Mundaneum, et pourquoi j’ai pu faire cause commune avec lui. Il est un de ces jeunes ardentes aux cheveux tout blancs. Son éveil intellectuel date de 1870 ; ainsi a-t-il traversé des phénomènes sociaux et économiques entiers qui nous trouvent nous, les jeunes, devant des tâches déjà formulés. Ces tâches, d’autres, que nous oublions déjà, les avaient formulées. Ce sont les visionnaires, les manieurs d’esprits, les susciteurs de courants

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magnétiques, les capteurs et les émetteurs d’ondes. Il y a vingt ans déjà, Paul Otlet avait fondé l’Union des Associations Internationales et rédigé les status d’une Société des Nations’. Le CORBUSIER. Défense de L’Architecture. Texto datilografado. 8 de junho de 1929, via Moscou. p. 15, (Arquivo FLC). ix Versão original em francês : ‘La thèse de Paul Otlet est la suivante : pour gérer bien un monde en refonte (tel que le machinisme nous l’impose sans merci) il est indispensable de connaître l’état comparé des nations, des peuples, des races, des villes qui participent aujourd’hui au concert mondial, d’où : ‘bâtiment, des Continents, Etat, Villes’, c’est-à-dire l’urbanisme, c’est-à dire tout ce que les hommes réunis en société, en peuples ou en communes, ont réalisé sous le signe de la coopération, de la solidarité. Puis, il faut que toutes les tentatives d’organisation les thèses nouvelles, les coalitions contre l’égoïsme, les oeuvres de collaboration humaine soient connues, se connaissent les unes les autres, participent mutuellement à leurs travaux et aient un siège commun condensateur, réceptacle et centre d’action : de là, le Bâtiment des Associations Internationales’. Le CORBUSIER. Défense de L’Architecture. Texto datilografado. 8 de junho de 1929, via Moscou. p. 16-17, (Arquivo FLC). x Versão original em francês : ‘L’an dernier, à la terminaison des plans de ce Mundaneum […] il y avait dans notre atelier des zéphirs de révolte : la pyramide, qui est l’un des élément du projet, tracassait les jeunes. […] Tout à coup, l’argument péremptoire sortit d’une des bouches : ‘ce qui est utile est beau !’. Au même instant, Alfred Roth (tempérament fougueux) envoyait un grand coup de pied dans une corbeille à papier sen treillis métallique qui se refusait à engloutir la masse de vieux dessins qu’il était occupé à détruire. Sous la pression énergique de Roth, la corbeille d’un galbe techniquement sachlich (expression directe du tressage des fils) se déforma et prit l’allure que montre ce croquis. Tout le monde s’esclaffa. ‘C’est affreux !’ dit Roth. ‘Pardon, lui répondis-je, cette corbeille contient maintenant bien davantage ; elle est plus utile, donc elle est plus belle ! soyez conforme à vos principes !’. Cet exemple n’est amusant qu’à cause des circonstances qui l’ont fait surgir si opportunément. J’ai de suite rétabli une balance équitable en ajoutant : ‘la fonction beauté est indépendante de la fonction utilité ; ce sont deux choses. Ce qui est déplaisant à l’esprit, c’est le gaspillage ; car le gaspillage est bête ; c’est pour cela que l’utile nous plait. Mais l’utile n’est pas le beau’. Si nous quittons le plan plastique pour rechercher les effets de la sachlichkeit, dans les bienfaits du confort, - en l’occurrence, pour voir à quel degré nous sommes satisfaits par le progrès du machinisme – je puis raisonner ainsi : le luxe mécanique n’est pas fonction directe du bonheur. […] En ce qui me concerne, je suis personnellement privé de tout confort. Mais je crée et je suis parfaitement heureux. J’apprécie d’autant ce bonheur et suis d’autant moins tenté par tout autre que, charrié par la vie pendant bien longtemps, j’en ai été durement privé. Si l’adaptation aux bienfaits de la machine est automatique, et, par là, les joies qu’elle procure, éphémères, l’accession aux bonheurs spirituels est permanente et particulièrement ceux que nous

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devons à l’harmonie’. In : Le Corbusier. Défense de l’architecture… p. 10-11-12 xi Versão original em alemão : ‘Im Februar 1928 erhielt ich einen Brief von Madame Hélène de Mandrot, die mir schrieb, sie werde mich in Zürich besuchen. Noch bevor wir den Bahnsteig verliessen, auf dem ich sie abholte, begann sie mir den Zweck ihres Kommens auseinanderzusetzen. Sie wollte die wichtigsten Architekten der Gegenwart einladen, sich in ihrem Schloss in La Sarraz, einige Kilometer nördlich des Genfersees, im Waadtland, zu treffen. (...)Madame de Mandrot hatte in Paris schon mit Le Corbusier und anderen Freunden gesprochen. Die Zeit schien reif dafür, [dass die Protagonisten der verschiedenen Bestrebungen in Frankreich, Belgien, Holland, Deutschland, Österreich, der Schweiz, Italien und Spanien an einem zentral gelegenen Ort zusammenkamen]. Ein früherer, 1927 anlässlich der Weissenhof-Woche in Stuttgart von deutschen Architekten unternommener Versuch, eine Vereinigung zustande zu bringen, war erfolglos geblieben’. O texto de Giedion foi publicado como introdução do livro: Can our Cities Survive? Cambridge, 1942. Em alemão foi publicado em: STEINMANN. M. CIAM: Dokumente 1928-1939. Basel – Stuttgart: Birkhäuser, 1979. p. 9 xii Versão original em francês : Il est rare, à notre époque de spécialisation, de trouver réunis en une seule personne la peintre et l’architecte. Par sa nature léonardesque, Le Corbusier faisait partie de l’exception. Dans son horaire de travail quotidien, la matinée était consacrée à la peinture, l’après-midi à l’architecture. Il n’y avait aucune difficulté avec les créations architecturales alors qu’il engageait de véritables luttes avec la peinture. La conception de l’espace est à la base de ces deux activités. Ainsi, l’architecture et la peinture n’étaient pour Le Corbusier que des moyens d’expression différents. In : GIEDION. Espace, Temps, Architecture... p. 302). xiii Versão original em alemão: ‚Die Vereinigung, die wir damals bildeten, wurde Congrès Internationaux d’Architecture Moderne – abgekürzt CIAM – genannt. Das Wort wurde in seinem eigentlichen Sinn verwendet: Es sind Kongresse, die auf Zusammenarbeit beruhen, nicht Kongresse, and denen die einzelnen nur ihren Spezialgebieten berichten wie im 19. Jahrhundert’. Este fragmento faz parte do texto de Giedion publicado como introdução do livro: Can our Cities Survive? Cambridge, 1942. Em alemão foi publicado em: STEINMANN. M. CIAM: Dokumente 1928-1939. Basel – Stuttgart: Birkhäuser, 1979. p. 9. xiv Versão original em francês : La conséquence de la journée finissant à 3h, c’est la fondation des clubs. Les clubs commencent avec le principe des écoles du soir complémentaires. (…) Il n’y a pas de cafés à Moscou. Impossible d’aller boire un verre. Le monde ne rigole pas. Chez eux, ils ont l’air de savoir s’arranger. Et dans un club ! La grande idée. (…) 1 club = salle de cinéma, théâtre (la scène ouvre dedans et en plein air), culture physique, bibliothèque, salle de travail en commun ! Voilà le type. (…) J’ai visité les entrepôts du Centrosoyuz, fourmillière où tout le monde travaille. Dans les vestibules, des affiches intéressantes par leur multiple imaginaire. Lutte contre l’alcool, lutte contre l’église = ignorance et capital. Est affiché

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chaque semaine le ‘journal’ de l’Institut, de la firme (…) tapé à la machine, aquarellé, exposés de thèses, propositions aux chefs, les discussions des mesures à prendre. (Le Corbusier, Agenda VII, commencé le 1er octobre 1928, p.36-37-38, FLC. In : Cohen p. 68) xv Versão original em francês : ‘Mes livres ont passes le blocus. Je suis très connu, très populaire. Mes conférences sont dans une salle débordante’. Le Corbusier, Agenda VII, commencé le 1er octobre 1928, p.36, FLC. In : Cohen, p. 66 xvi Versão original em francês : ‘A tout instante des concours pour une usine, un institut, un club. (…) Les associations sont chargés par l’Etat d’établir le concours et de nommer le jury (…) Les architectes collaborent constamment (contrairement à nous). Qualité individuelle? Voire! C’est une autre forme plus collective, car il y a déjà effectivement une unité de tendance qui unit tous jeunes et qui oblige même les vieux. (…) L’enseighement à l’Ecole Supérieure d’Architecture est une massive manifestation d’un credo moderne. Ici se rebâtit ce monde nouveau, construit comme la mystique qui fait une technique pure. (Le) Constructivisme est un drapeau qui claque bien. La foule écrasante des étudiants avec toujours pénurie vestimentaire. On s’écrase, on s’étouffe. Alex Vesnine sourit à perpétuité. (…) Formule catégorique, goût parfois. (…) Ils font partout des clubs en styles les plus modernes, des usines idem, des métairies, des usines hydrauliques. Ils bâtissent d’énormes commandes et ils ont 30 ans’. (Le Corbusier, Agenda VII, commencé le 1er octobre 1928, p.37-39-40, FLC. In : Cohen, p.70) xvii Versão original em francês : Les Russes ont une organisation OCA*, très forte, active, qui publie une grande revue avec, au comité Vesnin, Ghinsbourg, Léonidoff (excellent) et qui comprend environ 100 membres. Par raison d’équilibre numérique, 100 Russes ne peuvent faire partie des Congrès, n’est-ce pas ? Il faut donc leur demander de former une union, provisoirement, pour commencer, Vesnin président, Ghinsbourg délégué à Cirpac … (Carta de Le Corbusier à Moser, Paris, 4 de setembro de 1929, FLC. In : Cohen. p. 58) xviii Versão original em francês : ‘Je dis donc que le Construtivisme, dont la dénomination exprime une intention révolutionnaire, est en réalité le porteur d’une lyrique intense, capable même d’outrepassement ; il trahit avec ferveur l’exaltation du futur. J’ai le sentiment que ce qui intéresse tous ces Russes, c’est en fin de compte une idée poétique’. Le Corbusier. L’architecture à Moscou. 1928. In: Cohen. p.281 xix Versão original em francês : ‘Seul, Le Corbusier-Saugnier est parvenu dans ses oeuvres, non seulement à révéler l’inventitivé propre à son caractère national, mais à lui donner une forme nouvelle et contemporaine. Le Corbusier est surtout la figure même de l’homme nouveau, plein d’énergie et de persévérance dans la propagande pour ses idées. En l’espace de deux-trois ans, il a réussi à créer une revue réellement contemporaine (et qui, malheureusement, n’a pas duré), L’Esprit Nouveau, à écrire trois livres, Vers une Architecture, Urbanisme et L’Art Décoratif d’Aujourd’hui, pleins des éclairs de cet esprit si français et de slogans

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lancés avec précision’. Moisei Ginzburg. Meždunarodnyj front sovremennoj arhitektury. In Sovremennaja Arhitektura, n.2, 1926. P.37 In: Cohen. p.52 xx Versão original em francês : ‘Or, je trouvai pas des antagonismes spirituels, mais des adhérents fervents à ce que je considère comme fondamental dans l’oeuvre humaine ; l’intention élevé qui soulève cette oeuvre au-dessus des simples fonctions de servir et qui lui confère le lyrisme qui nous caractérisées, si possible, les plus pures’. Le Corbusier. L’architecture à Moscou. 1928. In: Cohen. p.279 xxi Versão original em francês: Et si je considère que l’industrie du fer est l’une des plus grandes industries du pays ; que la question de l’habitation est un des plus vastes programmes du pays constituant l’un des plus grands marchés du pays, je réponds au délégué du Comité des Forges : Il faut construire la Maison à sec, en usine, expédiée sur place et montée par des monteurs. Les maisons ne seront pas standardisées ou typifiées, mais bien les éléments de la maison et cela suivant des modules qu’il est possible d’établir par des accords internationaux. Le Corbusier. ‘Réflexions sur la loi Loucheur’. In : Revue des Vivants, França, 2 séries printemps-été de 1929. (Arquivo FLC) xxii Versão original em francês: Il s’agit surtout d’avoir une conception exacte du champ d’activité de ce programme et voici l’affirmation que je me permets de soumettre à votre jugement : il ne s’agit pas de standardiser des maisons, de petites maison, de plus grandes maison ou de très grandes maisons ; il s’agit de standardiser un système de structure : Je dis donc qu’il ne faut pas chercher a apporter un progrès industriel au plan de nouvelles maisons, mais un système nouveau de structure assez riche de conséquences pour qu’il puisse déterminer une variété infinie de plans, répondre à des modalités multiples de vie, répondre à des conceptions de l’existence fort différentes, répondre à des programmes petits, moyens ou grands : créer un système de structure. Le Corbusier. La signification de la cité jardin du Weissenhof à Stuttgart. In : La Città futurista, Italia, abril de 1929 (Arquivo FLC) Le Corbusier. La signification de la cité jardin du Weissenhof à Stuttgart. In : La Città futurista, Italia, abril de 1929 (Arquivo FLC) xxiii Versão original em francês : ‘La « machine à habiter » fut le terme lapidaire dont, en 1921, j’apostrophai les académies. C’est à M. Nénot que je parle de « machine à habiter » ; mais ce n’est pas à moi que vous devez retourner cette injonction. Car, quittant le cas académique pour me retourner sur nous-mêmes, je me suis immédiatement posé la question. « Pour habiter comment?» Et Je ne pose, ici, rien d’autre que la question de qualité’. Le Corbusier. Défense de l’architecture. Escrito datilografado do artigo a ser publicado na Revista Stavba em 1929. P.7, Arquivo FLC) xxiv Versão original em francês : ‘Chez vous, c’est le dilettantisme d’un romantisme nouveau, celui de la machine. Chez les autres, (les praticiens) c’est une mesure policière peut-être opportune (…). Et comme des mots, à vrai dire des notions à fondement sentimental rattachaient cette masse au passé – l’architecture, l’art – on va d’abord essayer de leur faire admettre que l’époque machiniste a supprimé inéluctablement l’art et l’architecture. Si vous adoptez l’attitude de conducteur de peuples, peut-être avez-vous

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raison d’admettre aussi des mesures de loi martiales. Mais moi, que prétends sauvegarder farouchement mon entière liberté, mon esprit d’artiste ou de créateur, j’entends rester dans mon anarchie (par rapport à vos mesures policières) et poursuivre jour après jour une recherche passionnante : celle d’une harmonie. Je vous dirais donc, sans plus tarder, qu’à mon avis, l’esthétique est une fonction fondamentale humaine. Le Corbusier. Défense de l’architecture. Escrito datilografado do artigo a ser publicado na Revista Stavba em 1929. (Arquivo FLC) xxv Versão original em francês: Car, poète, je vous le demande : quel est le mobile qui empêche les hommes de se mettre en révolution, de tout saccager et de mourir ensuite de faim sur leurs ruines? C’est qu’on ne peut et qu’on ne doit considérer l’outil que comme un libérateur qui permet d’abord de tenir tête à la concurrence, ensuite de gagner du temps, et enfin qui permet à chacun, par la mise en ordre des activités quotidiennes, de penser à quelque chose et de rêver à quelque chose. Et vous concéderez que c’est cet espoir de manger chaque jour sa nourriture spirituelle – si fruste soit-elle – qui fait tolérer la dure vie de la sachlichkeit et qui donne l’espoir d’une issue, le sentiment de créer quelque chose, de créer, d’avoir une idée. Là est la réserve de résistance des hommes, la fierté humaine… ou l’illusion si vous voulez être sceptique. Le Corbusier. Défense de l’architecture. Escrito datilografado do artigo a ser publicado na Revista Stavba em 1929. P. 6-7 Arquivo FLC) xxvi Versão original : A entendre ces théoriciens, il n’est autre chose au monde que des fonctions matérielles : produire, dormir, manger etc ; Un spectateur étranges constate pourtant que ce purs de la théorie sont de fois architectes, ingénieurs, plasticiens, artistes, et que derrière leurs mots, il y a une passion : faire de la belle architecture. L’explication de cette contradiction se trouve dans ceci c’est que ces gens honnêtes. Protestent contre le mensonge des académies et que d’autre part les problèmes urgents de l’époque sont de construire des maisons, des maisons minimum parce qu’on a peu d’argent, et bien agencés, par ce qu’in s’est aperçus que les maisons faites par les académiciens étaient inhabitables et couteuses. In : Le Corbusier. Monsieur l’éditeur : interview sur publication d’un ouvrage sur l’état actuel de l’architecture. Studio Londres, Londres, janeiro de 1929 . (Arquivo FLC, F3-1) xxvii Versão original em francês: La Maison minimum isolée, avec ou sans jardin, est un résidu des siècles passés. Elle ne se prête pas à l’application rationnelle des nouvelles techniques – chauffage, aération, frigorifiques et frigorifères ; elle laisse entier le problème insoluble de la domisticité ou de l’entretien domestique ; elle n’apporte aucune solution à la question sportive (…). La maison minimum isolée est, à l’époque actuelle, une profonde cause de gaspillage et un antagoniste à la sauvegarde du corps. In : STEINMAN, M. CIAM. Dokumente 1928-1939. Basel und Stuttgart : Birkhäuser, 1979. P.63 xxviii Original em francês : Les problèmes essentiels de l’architecture moderne ne peuvent être résolus ni par un architecte, ni même par la corporation des architectes ; il appartient aux expériences unies de nombreuses techniques de trouver les meilleurs solutions architecturales.

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(…) Comme une argumentation est efficace dans la mesure où elle consent à se limiter et à se simplifier, et qu’il nous paraît essentiel d’établir sans retard quelques notions claires (…) nous pensons qu’il est utile de nous en tenir provisoirement à un type international d’habitation urbaine. D’une part, l’internationalisation des façons de vivre ne permet-elle l’élaboration d’un programme général? D’autre part, l’industrialisation des campagnes ne rapproche-t-elle pas des modes d’existences qui semblaient jusqu’ici incompatible? BOURGEOIS, V. Le programme de l’habitation minimum. STEINMAN, M. CIAM. Dokumente 1928-1939. Basel und Stuttgart : Birkhäuser, 1979. P.50-54. xxix Original em alemão: Aber die Wohnung für das Existenzminimum ist auch in anderer Hinsicht noch ungelöst: als Bauaufgabe. (...) Das Haus für das Existenzminimum muss zugleich eine neue Wohnform werden. (...)Die Lösung eines Problems, an dem alte Anschauungen und alte Methoden versagt haben, wird nicht nur das ganze Bauen befruchten, sondern darüber hinaus den Menschen. Wechselwirkung. (GIEDION. S. Die Wohnung für das Existenzminimum. In: STEINMAN, M. CIAM. Dokumente 1928-1939. Basel und Stuttgart : Birkhäuser, 1979. P.38-39) xxx Versão original em francês: ‘Et toi mon cher Corbu, dire que à cette heure tu flottes encore sur l’Atlantique, (…) tu n’as pas le mal de mer. Je n’ai pas tes dernières nouvelles car mon retour j’ai trouvé la maison vide, Yvonne’. (Carta de Yvonne à Le Corbusier em 22 de setembro de 1929. FLC E2-13-105). xxxi Versão original em francês: ‘1930 inaugurait une étape de préoccupations nouvelles : les grands travaux, les grands événements de l’architecture et de l’urbanisme, l’ère prodigieuse de l’équipement d’une nouvelle civilisation machiniste. Ayant rédigé, sur le bateau qui me ramenait de Buenos-Ayres à Bordeaux, le livre : ‘Précisions’, j’achevais mon manuscrit par ceci, à peu près : ‘Je ne parlerai dorénavant plus de la révolution architecturale qui est accomplie. C’est l’ère des grands travaux qui commence, c’est l’urbanisme qui devient la préoccupation dominante’. Alors ce fut, dans notre atelier, une série ininterrompue de fortes études : l’urbanisation de grandes villes existantes ou à créer ; l’urbanisation des campagnes – le réorganisation agraire’. (œuvre Complète, 1929-1934. P. 11-14. xxxii Versão original em francês: ‘Aujourd’hui il faut le reconnaître, le travail en série imposé par la machine voile plus ou moins à l’ouvrier l’aboutissement de ses efforts. Pourtant, grâce au programme rigoureux de l’usine moderne, les produits fabriqués sont d’une telle perfection qu’ils donnent aux équipes ouvrières une fierté collective. (…) L’évolution actuelle du travail conduit par l’utile à la synthèse et à l’ordre. On l’a définie ‘taylorisme’, et cela dans un sens péjoratif. A vrai dire, il n’était question d’autre chose que d’exploiter intelligemment les découvertes scientifiques. (…) Déjà les machines, à cause même de leur conditionnement par le nombre, avaient évolué plus rapidement, atteignant aujourd’hui un épurement remarquable. Cet épurement crée en nous une sensation nouvelle, une délectation nouvelle, dont l’importance donne à réfléchir ; elle est un nouveau facteur dans le concept moderne de l’art’. LE CORBUSIER;

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OZENFANT. Après le Cubisme. Paris : Altamira, 1999. (1a versão publicada em Paris, 1918). xxxiii Versão original em francês : ‘La nature peut, à son tour, ajouter un contingent merveilleusement sensible. Témoins qualifiés d’objets à réaction poétique et qui, par leur forme, leur dimensions, leurs matières, leurs possibilités de conservation, sont capables d’occuper notre espace domestique. (…) Et nous, hommes et femmes placés dans la vie et réagissant de nos sensibilités aguerries, affûtées, aiguisées, créant dans notre esprit des choses de notre esprit, étant agissants ou non moins passifs ou inattentifs ; agissants et, par conséquent : participant. Participant, mesurant, appréciant. Heureux dans cette course ‘en prise directe’ avec la Nature qui nous parle force, pureté, unité et diversité. Et je tiendrais à vous voir dessiner de vos crayons ces événements plastiques, ces témoins de vie organique, ces manifestations si éloquentes sous leur volume ici restreint des lois et règles naturelles et cosmiques : cailloux, cristaux, plantes ou leurs rudiments, prolongeant leur leçon jusqu’aux nuages avec leurs pluies, et jusqu’à l’érosion au sein des réalités géologiques, et jusqu’à ces spectacles décisifs, découverts d’avion (…), où la nature – notre asile – n’est autre que l’incessant champ de bataille des éléments en bagarre. Ceci remplacerait ces plates études de plâtres antiques qui ont terni la considération que nous acquérions ainsi des Grecs et des Romains, au même titre que le catéchisme avait défloré pour nous l’éclat des Ecritures’. Le Corbusier. Entretien avec les étudiants des écoles d’architecture. Paris : Denöel, 1943. In: JENGER, J. Le Corbusier. L’architecture pour émouvoir. Paris: Gallimard, 1993. p. 121 xxxiv Versão original em francês : ‘[Le modulor] est une mesure harmonique, faite de manière très scientifique, pour le calcul des chiffres et de la stature humaine dans ses trois points essentiels (…) En somme, est un langage de proportions. Voyez le chiffres qui sont là, dans ce papier : ils sont le résultat de ce que j’ai obtenu, et avec lesquels j’ai crée cette mesure qui représente, en dernière analyse, un gamma de proportions qui facilite le travail de mes collaborateurs et de moi moi-même. Cette mesure, je l’ai appliquée moi-même dans les dessins des mes peintures qu’on voit ci-dessous’. In : Conversa com Le Corbusier após sua volta das Indias. Article d’un journal brésilien des années cinquante. Archive Recherche Le Corbusier et le Brésil, PROURB, Rio de Janeiro, Brésil.

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Anexo

Cronologia 1928 Colaboração de Charlotte Perriand: trabalha com LC de 1927 à 1937. Viagens: Primeiro CIAM – viagem à La Sarraz em junho Evento CIAM 1 : 26/06/1928-28/06/1928, La Sarraz Em direção à URSS – viagem em outubro Parte de Paris em 1º de outubro de 1928 Terceira vistia de LC à Praga na primeira semana de outubro de 1928 1ª visita à Moscou, chega no dia 10 de outubro e permanece por 3 semanas. Arquitetura : Villa Baizeau Sainte Monique - Carthage (Tunisie) Centrosoyus Rue Miasnitzkaya N 35/41 - Moscou (Russie) Villa Savoye 82, Chemin de Villiers - 78300 Poissy (Autoroute A13 depuis Paris) Tél : 01 39 65 01 06 Projets : Villa Ocampo - Buenos Aires (Argentine) Immeuble Wanner - Genève (Suisse) 1928 Appartement type Weissenhof - Paris (France) – 1928 176 Arrault, logements ouvriers - Tours (France) - 1928 Baizeau, villa - Carthage (Tunisie) - 1928 Bonnet, logements pour le personnel - Suresnes (France) - 1928 Centrale - Bobriki (U.R.S.S.) - 1928 Centrosoyus - Moscou (U.R.S.S.) – 1928 Church, villa - Ville-d’Avray (France) – 1928 Cité ouvrière - Suresnes (France) – 1928 Concours d’habitation - Leipzig (Allemagne) - 1928 Dargouge, établissements - Langeais (France) – 1928 Duplessis Faunié, villa - - Biarritz (France) – 1928 Gaunier, maison pour enfants (sans lieu) - 1928 Immeubles-villas - Boulogne-sur-Seine (France) - 1928 Knyff de, villa (France) - 1928 La Casinière de, maison - Bernheim (France) - 1928 Marquise de Villevigia, villa - Biarritz (France) - 1928 Nestlé, pavillon - Paris (France) – 1928 Ocampo, villa - Buenos Aires (Argentine) – 1928 Sanjurgo d’Arellano, bioplastic institute (sans lieu) - 1928 Thorin, maison - Cherbourg (France) - 1928 Wanner, immeuble - Genève (Suisse) – 1928

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Winter docteur, hôpital (sans lieu) - 1928 Escritos : - Une Maison, un Palais / Le Corbusier. - Paris : Crès, 1928. - «Architecture et urbanisme» Cahiers de l’Etoile - 02/1928 - Relatório endereçado à Société des Nations / Le Corbusier e Pierre Jeanneret. - Paris : Imprimerie Union, 1928. - Edição «MUNDANEUM» publicada em 1928, em colaboração com PAUL OTLET (FLC A3-14) - «L’aménagement intérieur de nos maisons du Weissenhof à Stut177 tgart» - manuscrit – 1928 (FLC) - «Architecture à Moscou», l’Intransigeant - 1928 (FLC) - Relatório sobre «la ville future» de L.C. - «Conferência no Museu politécnico, sobre arquitetura e urbanismo» Moscou, 26/10/1928 Correspondências : Cartas à sua mãe: 1928 (não está precisado o mês) (livro Le Corbusier Choix de lettres, p 188) Carta de 20 de janeiro (livro Le Corbusier Choix de lettres, p 191) Carta de 7 de fevereiro (livro Le Corbusier Choix de lettres, p 193) Carta de 15 de janeiro de 28 à Piero Bottoni, arquiteto italiano. (livro Le Corbusier Choix de lettres, p 189) BAUCHANT, ANDRE Bauchant / L.C. - 04/01/1928 - 07/12/1928 BAYLON, GASTON Gaston Baylon actionnaire de l’Esprit Nouveau / L.C., Mazamet : différend à propos de la société l’Esprit Nouveau - 28/12/1928 REDRESSEMENT FRANÇAIS Sommaire du Redressement Français 01/05/1927 Correspondance avec L.C. 15/11/1927 - 01/12/1927 Rapport de L.C. pour le Redressement Français : «Vers le Paris de l’époque machiniste» ALLENDY, DOCTEUR Lettre à L.C. - 03/02/1928 AUDOUIN, A - HOTELIER A VILLEDOMER (INDRE ET LOIRE) 178 Lettre relative à une toile de L.C. - 18/10/1928 Lettre 29/11/1928 Lettre relative à la vente d’un tableau - 05/12/1928 BOTTONI, PIERO Bottoni architecte-ingénieur/L.C., Milan - 05/1927 et 12/12/1927 L.C./Bottoni : réflexions sur la polychromie architecturale - 15/01/1928 BUDRY, JEAN

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Jean Budry éditeur/L.C., Paris : relative à la publication d’un ouvrage d’Ozenfant sur l’art et demande de photographies - 25/06/1928 Note L.C. BACKLUND, SVEN Lettre du 08/02/1928 BUDRY, PAUL L.C./P. Budry - 07/07/1928 - 24/03/1945 CLERC-RENAUD, J.M. J.M. Clerc-Renaud/L.C. - 03/09/1928 L.C./J.M. Clerc-Renaud - 24/09/1928 DE LOS CAMPOS Carte postale L.C. 1927 – 1928 ETCHELLS, FRÉDÉRICK - LONDRES Lettre à L.C 03/07/1928 ECOLE DES ARTS INDUSTRIELS PRAGUE (UMELECKO - PRUMYSLOVA SKOLA PRAHA) Lettre à L.C 05/10/1928 179 FEDERATION INTERNATIONALE DES UNIONS INTELLECTUELLES Lettre à L.C : invitation congrès Prague 04/10/1928, Vienne 18/06/1928 Lettre à L.C : aide mémoire pour congrès Prague, Vienne 06/1928 GIEDION, SIGFRIED - ARCHITECTE Lettres de L.C 02/04/1927 - 18/05/1928 IKEDA, HIDEO Correspondance Ikéda / L.C. 17/01/1928 - 10/02/1928 KLEMM, THÉODOR Lettre à L.C. 10/12/1928 LAPERSONNE, B. Lettre à L.C. 19/07/1928 MANDROT, HÉLÈNE de Télégramme à L.C. 30/06/1928 MERCIER, ERNEST Lettre à L.C. 21/01/1928 Lettre à L.C. 10/02/1928 MOSER, G. - PHOTOGRAPHE Correspondance avec L.C. 11/05/1928 OTLET Carta de Otlet à Le Corbusier e Pierre Jeanneret, em dois de abril de 1928. (FLC). Nos arquivos pessoais de Le Corbusier encontram-se as seguintes publicações : OTLET, Paul. – Le Corbusier. Mundaneum. Bruxelles : Union des Ass. Internationnales, 1928. (FLC) ; OTLET. P. Cité Mondiale. Geneva : 180 World Civic Center : Mundaneum. Le Plan architectural de MM. Le Corbusier et Jeanneret. Bruxelles : Union des Ass. Internantionnales, 1929. (FLC).

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OZENFANT - 24/05/1928 PRUDHOMME, ANDRE Lettre à L.C. 27/11/1928 REVERDY, JEAN Carte de visite Lettre à L.C. 18/04/1928 ROBERT Lettre à L.C. 27/11/1928 - 02/12/1928 ROSENBERG, EUGÈNE Lettres de L.C. 12/11/1928 ROTH, ALFRED Correspondance avec L.C. 24/11/1928 CORRESPONDANCE LE CORBUSIER / RITTER - 1928 Lettre 16/12/1928 LA SARRAZ CORRESPONDANCE L.C. - 1928/1929 Giedion - Argus - Gubler - Michelin - Thomas - Budry - Mies Van der Rohe - Oud - Fontaine - Moser - Farkas Molnar - Badovici - Otlet - Mercadal - Berlage - Devinat - Teige - Florentin Guevrekian - Le journal - Société des Nations - Magnat - Budry - Devinat - Institut International d’Organisation Scientifique du Travail - Lurçat - Städtis181 ches Hochbauamt Frankfurt am Main - Das neue Frankfurt - Sartoris Giedion - Rava - Haring - Huisman - Florentin - Gubler - Ecole de Broderie de la Sarraz - De Mandrot - Giedion/L.C. : 18/01/1928 au 03/05/1929 Madame de Mandrot/L.C. 1928 Pr. Moser/L.C. Walter Gropius/L.C. Guevrekian Schwab 1929 Correspondências: LC e BAUCHANT, ANDRE Bauchant / L.C., Azouer - 06/06/1929 - 07/09/1929 - 08/10/1929 - 10/11/1929 - 12/11/1929 - 14/11/1929 - 15/11/1929 - 17/11/1929 -21/11/1929 - 26/12/1929 BAUMEISTER, WILLI Willi Baumeister / L.C. Francfort - 13/06/1929 Willi Baumeister / L.C., Francfort - 11/06/1930 Lettre L.C. / Baumeister, Paris - 28/06/1930

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BAYLON, GASTON Gaston Baylon actionnaire de l’Esprit Nouveau / L.C., Mazamet : différend à propos de la société l’Esprit Nouveau - 05/01/1929 -15/01/1929 182 BIERBAUER, VIRGIL Lettre Virgil Bierbauer/L.C., Ascona - 18/05/1929 BOUCHER ET BEAURAIN L.C./Boucher et Beaurain gérant rue Jacob, Paris : travaux de plomberie : 20/11/1929. FUJI - TRADUCTEUR Lettre à L.C : traduction en japonais de (Vers une architecture(, 25/06/1929 FREY, ALBERT - ETATS - UNIS Lettre à L.C. 25/09/1929 GUILLOT MUNOZ, A. Lettre à L.C. 03/12/1929 JEANNERET-AUGSPURGER - MICHIGAN Correspondance L.C. / Jeanneret Augspurger 02/10/1929 JOURDAIN, FRANTZ Correspondance L.C. / Jourdain 20/10/1929 - 10/12/1929 R1-12 CORRESPONDANCE YVONNE - L.C Cartes postales L.C. / Yvonne 29/09/1929 MASAMI, MAKINO Lettre à L.C. 25/05/1929 NEUFERT, E. - STAATLICHE HOCHSCHULE FÜR HANDWERK UND BAUKUNST WEIMAR Lettre à L.C. 10/10/1929 PAULO PRADO Lettre Albert Jeanneret pour Le Corbusier / Paul Prado 09/07/1929 PILZER, LÉOPOLD - VIENNE Lettre à L.C. 28/09/1929 ROSENTHAL, LÉONARD Correspondance avec L.C. 12/07/1929 - 27/05/1930 REDRESSEMENT FRANÇAIS 183 Sommaire du Redressement Français 01/05/1927 Correspondance avec L.C. 15/11/1927 - 01/12/1927 RLARAKI - STRASBOURG Lettres à L.C. 08/06/1920 - 04/03/1929 SCHNIEWIND Correspondance avec L.C. 07/08/1929 SIMMONDS, E. HAYTER Correspondance avec L.C. 11/07/1929 - 16/07/1929 SUTER Lettre de L.C. 19/03/1929 VAUTHIER - COLONEL

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Correspondance avec L.C. 22/12/1929 WYBO, GEORGES Lettre à L.C. 30/01/1929 SCHWOB, LUCIEN Menu dédicacé 16/11/1929 SERT, JOSÉ - LUIS Correspondance 1929 SIMMONDS, E. HAYTER Correspondance avec L.C. 11/07/1929 - 16/07/1929 Projetos de Arquitetura: Villa Savoye – France – Poissy - correspondências, trabalho no canteiro, Villa Baizeau – Tunisie – Carthage – construção do edifício, pintura Appartement de Beistegui – France – Paris – relação com os arquitetos, empreiteiros, grandes obras, construção Cité Fruges – France – Pessac – encontro com arquitetos, problemas jurídicos, correspondências, esquadrias, colloques, congres, medias, syndicat de defense du quartier du monteil 184 Villa la Roche – France – Paris – correspondências Villa Le Lac – Suisse – Corseaux (Vevey) – diversos Villa Cook – France – Boulogne sur Seine – permissão de construir, esquadrias, grandes obras, honorários, correspondências Maison Planeix – France – Paris - permissão de construir, grandes obras, honorários, correspondências Amenagement de la rive droite – Suisse – Genève – programa do concurso, 29. Immeuble Wanner – maison RUF – Suisse – Genève – correspondências Centrosoyus – URSS – Moscou – standards fabrication de portes, correspondências entre LC e o ministério des Affaires Etrangères, contrart entre a União central de cooperativismo de consumação da URSS e os arq. LC e Jeanneret Villa Church – France Ville d’Avray – fornecedores Projetos não realizados – Yougoslavie – Zagreb – M. Ivo Stern Pavillon Suisse – France – Paris – estudos de construção e correspondências (29 ate 33) Armée du Salut – Palais du Peuple – France- Paris – correspondências, A. Peyron, Vanderkam (28 e 29) Armée du Salut – Cité de Refuge – Paris – obras, correspondências com Vanderkam (29-32) Correspondências com José Luis Sert, 29-45 Demandes de photos (T1-1) – jan. à juin 29, Juillet à décembre 29

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Projetos não realizados Casa Para o Sr. A. Harvey – cartas 04-01-29 Para o Sr. Grimar – cartas 10-06-29, Bruxelles Casa Para o Sr. A. Knopff Marlien, cartas 12-07-29, 19-08-29, Bruxelles Projeto de urbanização – carta Delia Del Careil, com brochura sobre o programa do concurso, Madrid, 1929 Casas e apartamentos do State Athletic Club, Oklahoma City, cartas com Sr. Easterday, 18-04-29, 02-01-30 Villa Jacquin, casas em série, Bois-Colombes, cartas com Albert Jacquin, 28- 185 06-29 Casas metálicas, cartas da S.A da Cites-Jardins da Região Cannaise, 09-10- 29, Cannes Casa, Carta com A. Stirnemann, 31-05-29, 19-10-30 com desenhos, Colmar Modernização local da redação e gráfica do petit dauphinois, cartas com Sr. Andry FArcy, 04-06-29, 19-07-29, Grenoble Igreja, carta com o padre de Plant-Champigny, 26-04-29, 05-06-29, France, Le Tremblay Construção de uma cidade, Orgement, France, carta 10-04-29 American Hotels Corporation, carta com o presidente L. Kincaid, 17-07-29, Genebra Informações levantadas mês à mês Janeiro «Monsieur l’éditeur...» : Interview sur publication d’un ouvrage sur l’état actuel de l’architecture - Studio Londres - 01/1929 (FLC F3-1) Mundaneum – Musée Mondial – relatório feito pela Union des associations internationales mémoire : Genève, centre cité internationale - 01-1929 Message du monde au monde commémoration de 10 années de paix (FLC F1- 15) La Revue des Vivants (France) “ Reflexions sur la loi Loucheur” Autor :LC numero de agosto (FLC A3-2) Revue de la Femme (France) : Le home et la musique mécanique. Michel Dufet. 1er Janeiro de 1929. Revue JAZZ (France) : Crise du ciment ou crise des architectes. Jean Prevost. 15 de janeiro de 1929 La Suisse (Suisse) : A l’Athénée. Le XXV concours Diday et le problème de l’architecture modnerne ». L.F. (Fernand Leger) 19 de janeiro de 1929.

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(FLC) 186 Publicado no jornal Depeche Algerienne. Le problème des espaces libres. Jardins publics, terrains de jeux et de sports. Autor : Pasquier-Bronde. 26 janeiro de 1929. (FLC) Correspondências com : Légation de Suisse, A. Hoechel (architecte), Légation de la république Tchécoslovaque, Wanner, Trottet, H. Baumgartner, Jackh, Osusky, Loucher, Benès, Ambassade du Japon, Bate, Fontaine, Thomas Fevereiro Encontro do CIRPAC: 2 de fevereiro em Basel. Estavam no encontro os délégués: Bourgeois, Breuer, Le Corbusier, Josef Frank, Häring, Sartoris, Schmidt, and Stam; José Manuel Aizpúrua (1904-36), of Spain; and Szymn Syrkus of Poland. Projetos não realizados – correspondências E. May, Aktiengesellschaft für Haus – U.G. rundbesitz Gazette de Lausanne (Suisse): La standardisation en architecture. Autor : G.E.Magnat, 25 février 1929. Varietes (Belgique). Actualités. Fernand Léger. 15 de fevereiro de 1929. Salut Public (France). « La cité future et les gratte-ciel » 25 de fevereiro de 1929 Coupure de presse en allemand sur une construction à Leipzig «Stein Holz Eisen», Frankfort - 28/02/1929 Março Correspondance L.C / L’Intransigeant L.C / Les Carnets de la semaine 26/03/1929 Publicada na seção Março-Abril no Cahier de l’etoile o artigo guardado por LC : Réflexions sur le spetacle, de Benjamin Fondane (FLC X8 ou 9 -08) Le Monde (France) : Le plan Loucheur et les architectes. Autor : Géo Charles. 30 Mars 1929. 187 Freiburger Zeitung (Alemanha): Auf dem Spuren alter Menschheitskultur. VI. Der moderne Neger in Afrika. Autor: Adolf Jensen. 10 Março 1929. Le Monde (France) : L’architecture, art collectif. Cité-jardin à Los Angeles. Autor : M.L. Baugniet. 2 Março 1929 Abril Journal (France). Problèmes à résoudre. 20 abril 1929 La Citta Futurista (Italie). La signification de la cité jardin du Weissenhof à Stuttgart. Autor : LC. Abril 1929. (FLC A3- 2) Correspondências sobre Palais de la Societe des Nations –Genève 11-0128

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et 04-0429 com P. Jeanneret Artigo « Disposition optimistes » para Badovici, abril 29 (FLC U3-5) Coupure de presse en allemand Bäder-Blatt der Frankfurter Zeitung, 14/04/1929 Artigo La signification de la cité jardin du Weissenhof à Stuttgart. In : La Città futurista, Italia, abril de 1929 Maio Carta de LC à Cendrars em 07 de maio 29, confirmando ida à Buenos Aires e desejo de parar no Brasil. Invitation «L’Urbanisme Moderne» Conférence L.C. à l’Athénée Municipal - Bordeaux - 23/05/1929 (C3- artigos) Artigo : La Rue 1929 (B3-5) - La Rue : texte manuscrit pour l’Intransigeant 20/05/1929 L’intransigeant (France). L’avis de l’architecte… la rue. Le Corbusier. 20 maio 1929. Carte de Blaise e resposta de LC em 07-05-29 (sobre viagem) Artigo na Chaiers d’art. “Maison du Centrosoyus de Moscou”, Autor : LC . Maio de 1929 Artigo na Chaiers d’art. “Maison de l’union des cooperatives de l’URSSS à 188 Moscou », Autor : LC L’avis de l’architecte… la rue. l’Intransigeant, França, 20/05/1929 ; Em carta ao amigo Cendrars, Le Corbusier confirma sua decisão em ir à Buenos Aires, bem como o desejo de ir à São Paulo realizar um série de conferências. O arquiteto compartilha os temas de suas possíveis palestras. Correspondência escrita em sete de maio de 1929 (FLC). In: Pereira, p. 43. Junho LC parte em 6 de junho de 1929 à Moscou (informação retirada na carta de LC à Mme de Salle - FLC U2-9) LC retorna no dia 29 de junho de Moscou Artigo. Defense de l’Architecture – 8 juin 1929. Autor: LC. Escrito datilografado no acervo da FLC, publicado apenas em 1933 pela revista Stavba, Praga. Comoedia (France). ‘La société des Nations n’appiquerait-elle pas ses propres règlements?’ Autor : Yvanhoé Rambosson. 2 Junho 1929 Déclaration L.C. 1er CIAM – La Sarraz 06/29 (saiu na Architecture Vivante – primavera-verão 29) (A3-2) Économie domestique et construction économique - Congrès de l’Organisation scientifique du travail. « Economie domestique et constructions économique

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». Comunicação de LC. Paris – 19 a 23 de Junho de 1929 (FLC X1-10- 152) Texto de outro autor no IV Congrès International de l’organisation scientifique du travail. Paris 1929. Les standards du bâtiment en Bulgarie. Autor : M. Trendafil K. Trendafiloff. (architecte et Ingénieur) Mundaneum – Musée Mondial – rapports - union des associations internationales communiqué : 05-29 (F1-15) Carta de Willi Baumeister à Le Corbusier, em 13 de junho de 1929 Julho 189 Projetos não realizados – Zurique – correspondência com Ternet et Chopard – Dufresne 29-07-1929, 17-09-1929 sobre Galeries Lafayette Carta de LC a Paulo Prado em 28 de julho de 29, fixando bases para a sua viagem ao Brasil. Escrita na casa do Mr Vidal, Le Picquey, Gironde . Agosto Mundaneum – Musée Mondial – rapports - union des associations internationales réunion : 23 -08-29 (F1-15) L’Architecture vivante (France) Tracés régulateurs AV pr.- éte 29 (A3-2) (A3- 7) Circulaire du CIAM - Programme du Congrès du 21/08/1929 Setembro Jornais e artigos : Recortes de jornais sobre Palais de la societe des nations- Genève 08-09- 1929 Paris-Times (France)Artigo: The book of the Day. The City of To-morrow and its planning. Autor: LC., 30-09-29 LC parte para a América do Sul pelo transatlântico Massília. 15 de setembro, L.C. chega a Lisboa a bordo do Massília (informação pela carta de LC à Easterday) O navio Massília aporta no Rio (LC está de passagem) O navio Massília aporta em Santos (LC está de passagem) Outubro Temporada em Buenos Aires Neste período realiza duas visitas à Montevidéo: avião e barco 190 Conferências em Buenos Aires Textos manuscritos “Se délivrer de tout esprit académique – conferência

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1, Buenos Aires dia 3-10-29 Les Amis des Arts – In : Précisions (C3-7) « Urbanisme en tut, architecture en tout » conferência 3, dia 8-10-29, Faculté des sciences exactes – In : Précisions « Le plan de la Maison Moderne » conferência 5, dia 11-10-29, Les Amis des Arts – In : Précisions (C3-7) « Un homme : une cellule – des cellueles – la ville – une ville contemporaine de trois millions d’habitants Buenos Aires est-elle une ville moderne ?” conferência 6, dia 14-10-29 Amigos de la Ciudad, In : Précisions « Une maison, un palais – le palais de la société des Nations à Genève » conferência 7, dia 15-10-29, Fac. Sc. Exactes, In : Précisions « La Cité Mondiale » et considération peut-être inopportunes , conferência 8, dia 17-10- 29, Fac. Sc. Exactes, In : Précisions « L’aventure du mobilier », conferência 10, dia 19-10-29, Les Amis des Arts – In : Précisions (C3-7) 24 a 29 de outubro de 1929, Crise de 1929: queda da bolsa de Nova York 24 a 26 de outubro: CIAM II – Frankfurt No CIAM II, Pierre apresenta o texto de autoria dele com o LC: Analyse des éléments fondamentaux du problème de la maison minimum Carta de 29 de outubro de LC à sua mãe. (livro Le Corbusier Choix de lettres, p 188) Novembro Inaugurado o Salon d’automne no dia 3 de novembro de 1929. Viagem de avião partindo de Buenos Aires: passa por Assunção. Chega em Santos Le Corbusier chega a São Paulo em novembro, e faz duas conferências: uma sobre arquitetura e outra sobre urbanismo. Viagem à fazenda S. Martinho, de propriedade de Paulo Prado. Artigos e jornais : Annales (France). Les expositions – Le prix Dru. André Warnod. 1º novembro 1929. 191 Lumière. (France). La peinture nègre inconnue. Kalifala Sidibé. 2 novembro 1929. Diário Popular (Brasil, São Paulo). Falla-nos o urbanista francez Le Corbusier. 20 novembro 1929 Diário Popular (Brasil, São Paulo). Urbanismo e Architectura. 21 novembro

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1929 Diário Popular (Brasil, São Paulo). A conferencia de Le Corbusier. 27 novembro 1929 La Suisse (Suisse). Le deuxième congrès d’architecture moderne à Francfort. 24-26 octobre 1929. Novembro de 1929. F.G. 27 de novembro, espetáculo Baby de J. Baker em SP. Le Corbu esteve presente (In: précisions) Dezembro Viaja de Santos ao Rio pelo navio Giulio Cesare, junto com Joséphine Baker. Chega ao Rio no dia 03 de dezembro. A família Prado será também responsável pela introdução de LC no meio artístico e intelectual carioca. O próprio prefeito Antonio Prado Junior, já comprometido com Agache, mostra a cidade a seu hóspede Conferência no Rio de Janeiro 8 de dezembro de 1929, Associação dos Arquitetos Embarque no Lutética em 9 de dezembro. Prólogo Americano escrito em 10 de dezembro de 1929, a bordo do Lutétia Artigos e jornais: Vient de Paraitre (France). Une exposition de livres et de tableaux des Editions Crès. Raymond Cogniac. 1o dezembro de 1929. Diário Popular (Brasil, São Paulo). Le Corbusier na Capital Federal. 3 dezembro 1929 La revue de l’habitation. (France?). Ma petite Maison. Les maisons en acier 192 à l’exposition de l’habitation. Le Corbusier et Pierre Jeanneret. Dezembro de 1929. Retorno à França, foto tirada de LC e Baker em ocasião das “Fêtes de la ligne” (passage de l’Equateur) à bord du Lutetia, Rio de Janeiro – Bordeaux. Josephine et Corbu obtiennent le premier prix de travestis décerné par lês voyageurs eux-mêmes. Parte do Rio à bordo do Lutétia em direção à Bordeaux: 09 de dezembro Carton de compagnie de navigation Sud Atlantique «L’Atlantique Sud» 20/12/1929 (FLC) Chegada em Bordeaux: 21 de dezembro Corollaire Brésilien, texto escrito à mão, conferência no Rio de Janeiro, dezembro de 1929 (FLC) Prologue Américain, texto escrito à mão, a bordo do Lutétia, dezembro de

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1929 (FLC); Le Corbusier. Prólogo Americano. A bordo do Lutetia, dezembro de 1929. In: PEREIRA. P. 86. 193

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Tabela de desenhos de Le Corbusier

19281929 (FLC)

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