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VOLUME 105 1995

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VOLUME 105

1995

INDICE

Revista de Guimaraes - 1995

1 SANTOS SIMOES - Na passagem do centenario de laquo0 Archeologo

JORGE DE ALARCAO - A Arqueologia como semiologia da cutura

MARlA DE LA SALETE DA PONTE - A Arqueologia e 0 arqueologo

Luis RAposo - Algumas rejlexoes e propostas acerca da conslilui9iio

FRANCISCO DE SANDE LEMOS - Martins Sarmento e a Arqueologia

SONIA MARiA GARCiA MARTiNEZ - La epigrajia romana del concelho

ANTONIO BELTRAN - EI arte rupestre del Noroeste Espanol y las corrientes cuturales entre el Atlantico la meseta y el

Portuguesraquo 7

material 21

JOSE D ENCARNACAO - A rqueologia Investiga9iio e Patrimonio 45

neste final de seculo 59

de um Conselho Superior de Arqueologia 63 FRANCISCO J S ALVES - Memorando(s) 99

portuguesa dos anos setenta e oilenta do seculo XIX 117

MANUELA MARTINS - Martins Sarmento e a Arqueologia dos Castros 127

de Guimariies Un estado de la cuestion 139

mediterraneo 173

1 AMADO MENDES - A Arqlleologia industrial ao servi90 da histaria

MANUEL CARVALHO MONIZ - Os suburbios de Evora nos principios

ALBERTO LAMEIRAS - Festas e rituais com que vivemos Nivelamento

JuSTINO PEREIRA DE MAGALHAES - A Sociedade Martins Sarmento uma Institui9iio Secular ao Servi90 da Educa9iio e da Cultura

local 203

doseculoXIX 219

ou dijerencia9iio 251

- um apontamento sobre sua junda9iio 271

--MARTINS SARMENTO E A ARQUEOLOGIA DOS CASTROS I

Manuela Martinsmiddot

Muitos foram ja os bi6grafos de Martins Sarmento que tentaram atraves dos seus escritos publicados ou ineditos ou de urn conhecimento mais ou menos directo da sua personalidade definir 0 caracter e a obra deste ilustre investigador vimaranense Entre eles podemos citar Alberto Sampaio (1899-1903) Mario Cardoso profundo conhecedor da sua obra (1927 115-185 1933) ou ainda Mendes Correia (1933) Alfredo Pimenta (1933) e Vergilio Correia (1933) autores que 0 homenagearam pelas suas qualidades humanas e cientificas

No entanto e talvcz nas palavras de E Hubner ilustre inshyvestigador alemao que com ele conviveu e manteve intensa e proficua correspondencia que podemos apreender algo da comshyplexa personalidade de M Sarmento bern como da sua notavel erudiyao E Hubner define-o como ilustre investigador das citashynias interprete sagaz de A vieno cicerone intrepido dos Argoshynautas pelas longinquas regioes do Ocidente onde ele pr6prio nasceu e viveu consagrado a tudo 0 que e born e honesto cultor feliz da Hist6ria pMria e das Musas Afirma ainda que M Sar-

I Conferencia proferida na Sociedade Martins Sannento em 9 de Maryo de 1991

bull Professora Associada da Universidade do Minho

MARTINS SARMEN70 E A ARQUEOWCfA DOS CASTROS 127

REVISTA DE

GYIMARAES

mento honrou a sua telTa 0 seu pais e 0 seu tempo Tentemos justificar porque razao julgamos serem as palavras de HUbner bem definidoras do homem e da obra

Quando em 1874 M Sannento decide dar inicio as escashyvasoes da CWinia de Briteiros inaugurando uma fase da sua vida intelectual a de cientista possuia uma s6lida fonnasao aushytodidacta em linguas artes e humanidades que constituiu a base para 0 seu trabalho Tao s6lida preparasao serviu-Ihe para alicershysar quer a sua obra erudita que se baseanl no exame atento e na crftica das fontes litenirias permitindo a edisao de obras como a Ora Maritima de Avieno (1880) e os Argonautas (1887) quer 0

seu trabalho no telTeno cujo objectivo principal seria a identifishycasao das origens dos habitantes antigos do telTit6rio portugues Enesta ultima orientasao que se inserem os trabalhos de escavashyvao da Citania e Sabroso as inumeras prospecsoes que realizou no Entre-Douro-e-Minho acsoes que fazem nascer a Arqueoloshygia dos castros E ainda nesta orientasao que se incluem muitos dos seus escritos relativos a Etnologia peninsular designadashymente os seus artigos sobre Os Lusitanos (1880) Os Celtas na Lusitania (1882) ou aquele outro intitulado Lusitanos Ligures e Celtas (1890-91) De facto M Sannento nao se esgotou na inshyvestigasao dos castros e a arqueologia foi sempre para ele mais do que um objectivo um modo de aceder aos homens e as orishygens do povo portugues

Este objectivo hist6rico que se encontrava no cerne de toshydas as pesquisas de M Sannento era profundamente patri6tico mas a verdade e que ele projectava entre n6s uma concepsao e interesse cientificos que faziam escola alem fronteiras Martins Sarmento honrava 0 seu pais na busca das suas remotas origens mas honrava tambem 0 seu tempo mostrando a sua actualizashysao Com efeito 0 terceiro quartel do sec XIX viu desabrochar fulminantemente os estudos da Pre-Hist6ria europeia que irao ter em Portugal os seus ecos nas primeiras explorasoes das grutas e povoados estremenhos trabalho a que se encontram ligados noshy

128 MANUELA MARTINS

mes como Carlos Ribein pouco mais tardio e 0 int pelas antiguidades preshyproto-hist6ricos inicia-se 1871 nas colinas de Hi~

Homero rapidamente all sas descobertas orientais ropeus dando-se assim citados nas fontes liteniri Ligures Ora a obra cie Portugal a orientasao de culo XIX Profunda actuCl nas palavras de E Htibne

E a procura das IU

ser possivel encontrar a M Sarmento a iniciar as tro anos depois de iniciac homerica Toda a sua obi nol6gica Estudos em cas servem-Ihe conjuntamen critas para tentar comprel rit6rio nacional Fixar a I

cavasoes sem interrupsa( pouco ia desenterrando Sarmento No entanto c uma base comparativa pa vasoes simultaneas no quatro anos (1876-1880 ambito das suas pesquisa~

N a verdade tudo 0 (

prospectou 0 Entre-Dour ral tendo identificado m realizar 0 primeiro invenl do e classificando nume

MARTINS SARMENTO E A ARQU

RE VI TA DE

GVIMARAES

mes como Carlos Ribeiro Nery Delgado e Pereira da Costa Urn pouco mais tardio e 0 interesse que se generaliza na Europa culta pelas antiguidades pre-classicas Este interesse pelos povos proto-hist6ricos inicia-se com as explora90es de Schlieman em 1871 nas colinas de Hissarlik onde julga descobrir a Tr6ia de Homero rapidamente alargadas a Micenas e Tirinto As fabuloshysas descobertas orientais mpolgaram facilmente os eruditos eushyropeus dando-se assim inicio ao estudo dos diferentes povos citados nas fontes literarias como os Germanos Celtas Iberos e Ligures Ora a obra cientifica de M Sarmento cristaliza em Portugal a orienta9ao de estudos europeus do ultimo ter90 do seshyculo XIX Profunda actualidade a deste homem que homou bern nas palavras de E HUbner degseu tempo e 0 seu pais

E a procura das nossa raizes pre-romanas onde julgava ser possivel encontrar a nossa verdadeira identidade que levam M Sarmento a iniciar as escavaltoes d Briteiros em 1875 quashytro anos depois de iniciados os trabalhos de Schlieman na Tr6ia homerica Toda a sua obra e a partir de entao arqueol6gica e etshyno16gica Estudos em castros inventario e estudo dos materiais servem-Ihe conjuntamente com a interpreta9ao das fontes esshycritas para tentar compreender as origens do povoamento do tershyrit6rio nacional Fixar a cronologia da Citania onde realiza esshycava90es sem interrupyao ate 1884 e da civilizayao que pouco a pouco ia desenterrando constituiu 0 objectivo primario de M Sarmento No entanto considerava indispensavel a cria9ao de uma base comparativa para os seus dados pelo que realiza escashyvayoes simultaneas no vizinho povoado de Sabroso durante quatro anos (1876-1 880) Insatisfeito ainda decide alargar 0 ambito das suas pesquisas ao Entre-Douro-e-Minho

Na verdade tudo 0 que se referia aos castros 0 interessava prospectou 0 Entr -Douro-e-Minho especialmente a parte litoshyral tendo identificado mais de meia centena de castros tentou realizar 0 primeiro inventario arqueo16gico do Minho ordenanshydo e classificando numerosos achados consagrou centenas de

MARTINS SARMENTO E A ARQUEOLOGIA DOS C ASTROS 129

I

REVISTA DE

GVIMAMES

paginas as suas reflexoes sobre os castros muitas das quais pershymanecem ainda ineditas

Deve-se assim a M Sarmento 0 inicio da ardua tarefa de inventario e catalogasao dos castros portugueses que ainda hoje quase urn seculo volvido nao esta completa Atraves desse arshyduo trabalho deu a conhecer dezenas de castros que divulga em trabalhos monograiicos como a sua serie Materiais para a Arshyqueologia do distrito de Viana (1882) Materiais para a Arqueshyologia da comarca de Barcelos (1894) e Materiais para Arqueshyologia do concelho de Guimariies (1884-96) cuja edisao foi concluida postumamente entre 1901-1909 Podem ainda enconshytrar-se numerosas referencias aos castros noutros trabalhos deshysignadamente Sobre as antigas cidades da Iberia (1879) A propos ito de castros (1883) Cidade Velha de Monte Cordova (1895)

Deve-se igualmente a M Sarmento 0 conhecimento de uma das maiores citanias do NO peninsular conhecida e referida na bibliografia desde 0 sec XVI A CiHinia comelta por ser divulshygada por urn folheto com que Sarmento faz acompanhar uma colecsao de 37 fotografias que reuniu das escavaltoes A partir de 1879 a Citania passara a ser conhecida alem fronteiras e em 1880 merecera a visita dos congressistas do IX Congresso de Antropologia e Arqueologia Pre-Hist6ricas 0 trabalho de M Sarmento foi entao difundido e conhecido nos meios eruditos europeus recebendo os maiores elogios de homens como H Hubner Virchow E Cartailhac e A Schulten

Mas M Sarmento nao recebeu apenas elogios Houve quem 0 criticasse por nao ter produzido urn trabalho de grande fOlego sobre a Citania e sobre Sabroso Criticas talvez injustas atendendo a que 0 investigador redigiu mais de 4000 paginas sobre as duas estaltoes tendo mesmo em projecto escrever uma obra sobre 0 assunto que a morte prematura impossibilitou

De facto entre os seus ineditos conservados na Sociedade Martins Sarmento contam-se entre outros os manuscritos Cishy

130 MANUELA MARTINS

tania e Sabroso (1873- rejlexoes criticas sabre dois castros ou ainda 0

dito Mas nao devemos

de M Sarmento era 0 cc sitanos Ele foi essencial escrevendo sobre temas ressava como meio de gues

o pr6prio M San valtoes tinham por linic guiassem mais seguraml sas origens etnicas Nunl

De facto nao 0 p coleccionista do termo pesquisador de coisas an M Sarmento procurava objectos interessavam-II simples pedras sobrepos cia dos longinquos hal Sarmento e muito mais Mas essa exigencia de ~ simultaneamente uma gem porque dos seus 11 de reconstituiltao secun ca Urn inconveniente I zia-o aspirar a deduy5es gia-lhe urn tempo de ref com a sua curta vida El corajavarn a publicar ur ltoes de Briteiros e Sal sobre 0 problema dos c lato descritivo das suas

MARTINS SARMENTO E A AR

REVISTA DE

GYIMAMES

tania e Sabroso (1873-1883) com 0 subtitulo Notas diarias e rejlexoes criticas sobre as explora~oes arqueologicas destes dois castros ou ainda 0 seu diario de escavayoes tambem ineshydito

Mas nao devemos talvez esquecer que 0 objectivo ultimo de M Sarmento era 0 conhecimento das origens etnicas dos Lushysitanos Ele foi essencialmente e sempre urn etnologo Embora escrevendo sobre temas de arqueologia esta disciplina so 0 inteshyressava como meio de docurnentar as origens do povo portushygues

o proprio M Sarmento chega a afirmar as minhas escashyvayoes tinham por unico objectivo procurar elementos que me guiassem mais seguramente que os livros no problema das nosshysas origens etnicas Nunca pretendi honras de arqueologo

De facto nao 0 preocupavam as antigualhas no sentido coleccionista do termo nem 0 movia a simples curiosidade do pesquisador de coisas antigas Atraves das escavayoes da Citftnia M Sarmento procurava fazer reviver 0 passado Mais do que os objectos interessavam-Ihe os homens mais do que os muros simples pedras sobrepostas e alinhadas interessava-Ihe a vivenshycia dos longinquos habitantes citanienses Neste sentido M Sarmento e muito mais urn antropologo do que urn arqueologo Mas essa exigencia de M Sarmento fazia a si proprio constituiu simultaneamente urna vantagem e urn inconveniente Vantashygem porque dos seus trabalhos ressalta sempre urn forte poder de reconstituiyao secundado por uma solida preparayao cientifishyca Urn inconveniente porque a sua inclinayao especulativa fashyzia-o aspirar a deduyoes mais amplas e generalizantes Isso exishygia-lhe urn tempo de reflexao que acabou por nao ser compativel com a sua curta vida Ele proprio exprimiu amiude aos que 0 enshycorajavam a publicar urn estudo monografico sobre as explorashyyoes de Briteiros e Sabroso ou mesmo uma obra de conjunto sobre 0 problema dos castros que nao podia limitar-se a urn reshylato descritivo das suas descobertas resultantes da simples anali-

MARTINS SARA1poundNTO E A ARQUEOLOGIA DOS CASTROS 131

132 MANUELA MARTINS M ARTINS SARMENm EA AR(

RE VISTA DE

GVIMARAES

se dos documentos arqueologicos Por outro lado defrontava-se nao SO com a morosidade do trabalho arqueologico como com a acumulayao de materiai s e os encargos com as escavayoes No entanto chegou a conceber 0 projecto de urn trabalho que tencishyonava publicar na Portugruia sob 0 tema Materiais para a Arshyqueologia do Entre-Douro-e-Minho que a mOlte prematura inshyviabilizou

Do trabalho de M Sarmento r lativo aos castros ressaltam alguns aspectos dignos de nota Ele foi de facto 0 primeiro inshyvestigador a interessar-se de wn modo sistematico e cientifico por uma area cultural precisa no ambito da nossa proto-historia caracterizada pela presenya de largas centenas de castros Estes povoados eram conhecidos por Joao de Barros (Geografia do Entre-Douro~e-Minho sec xv I) Frei Bernardo de Brito (Moshynarquia Lusitana 1598) Gaspar Estayo (Varias Antiguidades de Portugal 1625) Antonio Carvalho da Costa (Corografia Portushyguesa 1706) e ainda J Contador de Argote

Dos seus estudos comparativos deduz M Sarmento a antishyguidade dos castros considerando que os construtores das citashynias haviam sido povos pre-rornanos e pre-celtas oriundos das primeiras migrayoes arianas estabelecidos em epocas remotas no Ocidente da Iberia A origem pn-celta dos Lusitanos que deshyfende e original pois recusa urn dos preconceitos enta~ vigenshytes 0 do celtisrno que marcava a interpretayao das nossas antishyguidades Ao defender a tese ligillica para a origem dos Lusitashynos demonstra nao so urn proftmdo conhecimento da Etnologia europeia como tambem 0 seu espirito avesso a aceitayoes demashysiado simplistas Afinna mesmo num trabalho seu sobre a Arte pre-romana (1879) no meio da ignorancia em que estamos acershyca dos primeiros povos de origem indo-europeia que ocupavam a P Iberica 0 celtismo tornou-se urn recurso banal Esperamos poder demonstrar que tal denominayao deve ser proscrita quando se fala de Lusitanos e Galegos que muito provavelmente ja esshy

tavam na posse desta par dos Celtas nestas regioes

Martins Sannento pioneiras em terrnos de J recusa a aceitar 0 Celtisn pelo terreno faci do orie autonomia das culturas Mediterraneo oriental ~ area nebulosa da investi etnica das comunidades batida mas ainda hoje P modo independentemen mento ele foi 0 precurso interpretayao da etnogem

Ao sabio vimarane do de muitos problemas serviu de ponto de partid tigadores Por outro lado ram articular entre si os nho e da Galiza e pree -historica portuguesa CI

Geologicos de Portugal Herculano

Martins Sannento grupo de jovens entusia~ ologia grupo que funda Integrando hom ens com~

seca Cardoso ao qual se dara origem em 1890 a aqual sucedeu em 189S vestigadores serao segu castros Jose Fortes rea Fonseca Cardoso e Ri( gunte e Vilarinho de C(

REVISTA DE

GYIMARAES

tavam na posse desta parte da Europa seculos antes da apariyao dos Celtas nestas regioes

Martins Sarmento revelou de resto outras caracteristicas pioneiras em termos de investigayao arqueologica Tal como se recusa a aceitar 0 Celtismo dos Lusitanos nao se deixa fascinar pelo terre no facil do orientalismo entao em yoga salientando a autonomia das culturas pre-historicas atlanticas em relayao ao Mediterraneo oriental M Sarmento mergulhava assim numa area nebulosa da investigayao do nosso passado a da origem etnica das comunidades peninsulares tematica sobejamente deshybatida mas ainda hoje profundamente controversa De qualquer modo independentemente da validade das asseryoes de Sarshymento ele foi 0 precursor dessa vertente de investigayao que e a interpretayao da etnogenese dos povos peninsulares

Ao sabio vimaranense cabe a gloria de ter iniciado 0 estushydo de muitos problemas relativos as nossas origens etnicas que serviu de ponto de partida para novos trabalhos de outros invesshytigadores Por outro lado as pesquisas de M Sarmento permitishyram articular entre si os dados respeitantes as provincias do Mishynho e da Galiza e preencher a lacuna entre a realidade Preshy-historica portuguesa cujo estudo foi iniciado pelos Serviyos Geologicos de Portugal e a Idade Media sistematizada por A Herculano

Martins Sarmento teve ainda 0 merito de atrair a si urn grupo de jovens entusiastas pelas ciencias naturais e pela arqueshyologia grupo que funda em 1887 a Sociedade Carlos Ribeiro Integrando homens como Ricardo Severo Rocha Peixoto e Fonshyseca Cardoso ao qual se juntara tambem Jose Fortes este grupo dara origem em 1890 a Revista de Ciencias Naturais e Sociais a qual sucedeu em 1899 a revista Portugalia Alguns destes inshyvestigadores serao seguidores de M Sarmento na pesquisa dos castros Jose Fortes realiza escavayoes em Alvarelhos (1899) Fonseca Cardoso e Ricardo Severo respectivamente em Bashygunte e Vilarinho de Cotas Outras escavayoes como as do cas-

MARTINS S ARMENTO E A ARQUEOLOGJA DOS CASTROS 133

REVISTA DE

GYIMARA ES

telo de Guiroes (Matosinhos) cividade de Terroso (Povoa de Varzim) man tern vivo 0 genuino interesse de M Sarmento peshylos castros da regiao do Minho

Os homens da Portugalia tal como M Sarmento e L de Vasconcelos opunham-se a afirmayao de A Herculano relativa a inexistencia de relayoes genealogicas entre os portugueses e as populayoes pre e proto-historicas especialmente com os Lusitashynos Defendiam em contrapartida 0 nacionalismo etnico asshysunto que constitui 0 corolario dos estudos de Alberto Sampaio outro colaborador da Portugalia que procurou filiar as origens dos modemos nucleos de povoamento do pais nas cividades e ci1imias proto-historicas

Apos a morte de Sarmento as investigayoes nos castros irao prosseguir essencialmente Jigados ao grupo da Portugitlia ate pelo menos 1908 No entanlo posteriormente a esta data sera o Museu Etnologico Portugues fundado em Lisboa em 1894 ligado a figura de 1 Leite de Vasconcelos que ira manter uma estreita ligayao com investigadores locais servindo mesmo de insvestigador de escavayoes e prospecyoes como as que serao realizadas por F Alves Pereira na regiao dos Arcos de Valdevez ou divulgando trabalhos e resultados na revista 0 Arqueologo Portugues fundada em 1895 Assim acontecera por exemplo com os trabalhos de alguns investigadores locais como Albano Belino que entre 1893 e 1900 realiza escavayoes em castros da regiao de Braga especialmente no Monte Redondo

o fim do grupo da Portugalia coincide com os inicios de urn periodo pouco feliz para 0 estudo dos castros e de urn modo geral para a arqueologia portuguesa A urn periodo de intensa actividade que caracteriza as ultimas decadas do sec XIX ira sushyceder-se urn profundo marasmo quebrado por raras e honrosas contribuiyoes que nao chegam para minimizar nem a demissao dos poderes publicos em relayao ao estudo da Pre-historia portushyguesa nem 0 atraso que desde entao nos distancia cada vez mais da investigacao europeia

134 MANUELA MARTINS

E verdade que a il de urn modo pouco cons mulayao de materiais rei uma total insuficiencia lti melhorar a qualidade d eram estudados pois na( a investigacao Os musel deiros depositos de peyc yoes de proveniencia C sem uma necessaria reno tros vivera nas primeiras yO e trabalhos de amadm rayao tecnica Deste qua yoes de investigadores Ii versidade do Porto criac logia e Etnologia (1919 sentayoes cartograficas I

Este tipo de abordagem austro-hlingara nos fina culturais e sugerir hipote~ difusao de modelos cult Pinto serao entre nos d encontra bern representac nologia da P Iberica EI

os esforyos de sintese de com a sua obra Os Pavo Pre-romana inserida na (1928)

Todavia a partir d gram 0 conhecimento s honrosamente havia com ser elaboradas aiem fron passam desde entao a peninsular e europeu atr

M ARTINS S ARMEiTO pound A ARQ

REVISTA DE

GYIMARAES

E verdade que a investigayao dos castros prossegue mas de urn modo pouco consequente Regista-se uma paulatina acushymulayao de materiais recolhidos em museus mas e perceptivel uma total insuficiencia de meios e de tecnicas que permitissem melhorar a qualidade das pesquisas Os materiais raramente eram estudados pois nao existiam organismos que suportassem a investigayao Os museus por sua vez tornan1-se entao verdashydeiros depositos de peyas muitas vezes sem quaisquer indicashyyoes de proveniencia 0 conhecimento estiola em repetiyoes sem uma necessaria renovayao De facto a arqueologia dos casshytros vivenl nas primeiras decadas do sec xx sobretudo do esforshyyO e trabalhos de amado res e curiosos quase sempre sem prepashyrayao tecnica Deste quadro sombrio se destacam as contribuishyyoes de investigadores ligados a Faculdade de Ciencias da Unishyversidade do Porto criadores da revista Trabalhos de Antroposhylogia e Etnologia (1919) e introdutores em Portugal das represhysentayoes cartograficas na distribuiyao de estayoes e achados Este tipo de abordagem desenvolvlida pela escola geografica austro-hungara nos finais do sec XIX permitia definir areas culturais e sugerir hipoteses de migrayoes de povos bern como a difusao de model os culturais Mendes Correia e Rui de Serpa Pinto serao entre nos dois cultores desta metodologia que se encontra bern representada nos trabalhos de sfntese sobre a Etshynologia da P Iberica E nesta perspectiva que podemos integrar os esforyos de sintese de Mendes Correia (1924) principalmente com a sua obra as Povos Primitivos da Lusitdnia e A Lusitdnia Pre-romana inserida na Historia de Portugal de Damiao Peres (1928)

Todavia a partir dos anos 20 as grandes sinteses que inteshygram 0 conhecimento sobre os castros cuja investigayao tao honrosamente havia comeyado com Martins Sarmento passam a ser elaboradas alem fronteiras Os povos e culturas portuguesas passam desde entao a inserir-se sistematicamente no ambito peninsular e europeu atraves dos trabalhos de P Bosch Guimpeshy

MAR7JVS SARMENTO E A ARQ EOLOGIA DOS CASTROS 135

i

RREVI STA DE GGY IMARA ES

ra a uern se dev a de miy30 da Cultura dos castros e a sua cashyra t rizay3 no funbito da Il Idad do Ferro peninsular com base na tipologia dos seus p voados e na planta das habitayoes Porshytugal perd peso na investigayao deste dominio arque010gico tao pre iso m que havia sido pioneiro

Isso nao significa que nao se realizassem entre nos trabashylhos ou que novas pubJicayoes nao fossem dadas a estampa Na realidade merecem justa homenagem os esforyos de F Alves Pereira e em particular os de Rui de Serpa Pinto cuja brilhante inteligencia 1he facultava urn louvavel poder de sintese A sua morte precoce privou a arqueologia portuguesa de urn dos seus mais notaveis e promissores vultos

A arqueologia dos castros passara a ser dominada pela fishygura de F Lopez Cuevillas que durante 40 anos (anos 20-60) produz urn extenso rol de trabalhos de caracter monografico e de sintese que contribuira para precisar as caracteristicas da Cultushyra castreja Entre nos e com uma aCyao de algurn modo compashyravel podemos destacar a figura de Mario Cardoso que a partir dos anos 30 presidira aos destinos da Sociedade Martins Sarshymento dando continuidade aos trabalhos do seu fundador Com uma vultuosa obra que constitui urn ponto de referencia para toshydos os que ao tema dos castros se dedicam M Cardoso soube homar a Sociedade liderando a investigayao dos castros no Norte de Portugal ate a decada de 70

Todavia a actividade arqueologica em Portugal nao acompanhou 0 passo dos restantes paises europeus Nao Ise reshynovaram as tecnicas nem a problematica de investigayao 0 nosso pais manteve-s a margem dos debates teoricos que anishymaram a comunidade arqueologica internacional e que questioshynaram 0 senti do e a interpretay30 das sociedades pre e protoshyhistoricas Nos anos 70 0 estudo das nossas culturas registava urn notavel atraso em relayao as suas congeneres europeias

A partir dos anos 70 assistiremos a urn renovado interesse pelo estudo dos castros traduzido por urn significativo aurnento

136 MANUELA MARTfNS

do numero de escavayoes novayao metodologica Ai lho que deixam de se cen1 da cultura material passan tivas da Cultura castreja E guns dos trabalhos de sinte cada de 80 No entanto e fase embrionaria de invest damental nos da conta d4 nacional

Por isso nao deixa d tecer mais uma vez a figu dade do seu pensamento e duziu em termos europeu mente a investigayao dos I

pois so a muito custo se inumeras dificuldades que ologico

BIBLIOGRAFA CONSULT

CARDOSO M (1927) Bibliol pp 115 e 185

- (1933) Dr Francisco Martin nagem a Martins Sarmento

- (1945) Os fundadores da S Revista de GuimarCies 55 r

- (1956) Francisco Martins Sa Guimaraes

CORREA M (1933) No cen Estudos Portugueses do Int

- (1947) Histoire des rechercl Antropologia e Etnologia I

MElRA1 (1921) Homenagel 31 pp 176

MARTINS SA RivlENTO E A ARQU

REVISTA DE

GYI M ARAES

do numero de escavacoes mas tam bern por uma importante reshynovacao metodol6gica Alargaram-se as perspectivas de trabashylho que deixam de se centrar exc1usivamente na caracterizacao da cultura material passando a polarizar-se nas questOes evolushytivas da Cultura castreja E nesta perspectiva que se inserem alshyguns dos trabalhos de sintese sobre os castros produzidos na deshycada de 80 No entanto estes trabalhos inserem-se ainda numa fase embriomiria de investigacao que nao deixando de ser funshydamental nos da conta do consideravel atraso da arqueologia nacional

Por isso nao deixa de ser a todos os titulos legitimo enalshytecer mais uma vez a figura ilustre de M Sannento pela vitalishydade do seu pensamento e pela actualidade do trabalho que proshyduziu em termos europeus 0 pioneirismo portugues relativashymente it investigacao dos castros nao mais voltou a registar-se pois s6 a muito custo se conseguiu ultrapassar entre n6s as inumeras dificuldades que inibem ainda hoje 0 trabalho arqueshyol6gico

BlBLlOGRAFIA CONSUL TADA

CARDOSO M (1927) Bibliografia Sarmentina Revista de Guimarfies 37 pp 115 e 185

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CORREA M (1933) No centenario do nascimento de Martins Sarmento Estudos Portugueses do Integralismo Lusitano 2 12

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M ARTINS SARMENTO E A ARQUEOLOGfA DOS C ASTROS 137

REVISTA D E

GVIMARAES

PIMENTA A (1933) Martins Sarmento Literato e Historiador Ed Fernanshy LA EPIGRAFIA ROM des Junior Lisboa GUIMARAES UN ES~

SAMPAIO A (1899-1903) F Martins Sarmento 9 de Manyo de 1833 - 9 de Sonia Maria Garcia MalAgosto de 1899 Portugalia I pp 417

En este estudio s cuesti6n sobre el avance I

Concelho de Guimaraes Ante to do se debe c

del legado cientifico de Francisco Martins Sarme propulsores del saber hi prerromano de la actual rl

Doctora en Historia y 0 Clasicos-Area de Historia Ani I Se ha elaborado un Corl apartados 1- Inscripciones Inscripciones monumental-he de propiedad rotulos de ca Monumentos anepigrafos y v un numero de identificacion emplazamiento la lectura y 1

misma Por el momento no se han il para un ulterior amll isis 2 Cf los diferentes articulo apunta al final de este articulo

LA EPIGRAFfA ROMA NA DEL G138 MANUELA MARTINS

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INDICE

Revista de Guimaraes - 1995

1 SANTOS SIMOES - Na passagem do centenario de laquo0 Archeologo

JORGE DE ALARCAO - A Arqueologia como semiologia da cutura

MARlA DE LA SALETE DA PONTE - A Arqueologia e 0 arqueologo

Luis RAposo - Algumas rejlexoes e propostas acerca da conslilui9iio

FRANCISCO DE SANDE LEMOS - Martins Sarmento e a Arqueologia

SONIA MARiA GARCiA MARTiNEZ - La epigrajia romana del concelho

ANTONIO BELTRAN - EI arte rupestre del Noroeste Espanol y las corrientes cuturales entre el Atlantico la meseta y el

Portuguesraquo 7

material 21

JOSE D ENCARNACAO - A rqueologia Investiga9iio e Patrimonio 45

neste final de seculo 59

de um Conselho Superior de Arqueologia 63 FRANCISCO J S ALVES - Memorando(s) 99

portuguesa dos anos setenta e oilenta do seculo XIX 117

MANUELA MARTINS - Martins Sarmento e a Arqueologia dos Castros 127

de Guimariies Un estado de la cuestion 139

mediterraneo 173

1 AMADO MENDES - A Arqlleologia industrial ao servi90 da histaria

MANUEL CARVALHO MONIZ - Os suburbios de Evora nos principios

ALBERTO LAMEIRAS - Festas e rituais com que vivemos Nivelamento

JuSTINO PEREIRA DE MAGALHAES - A Sociedade Martins Sarmento uma Institui9iio Secular ao Servi90 da Educa9iio e da Cultura

local 203

doseculoXIX 219

ou dijerencia9iio 251

- um apontamento sobre sua junda9iio 271

--MARTINS SARMENTO E A ARQUEOLOGIA DOS CASTROS I

Manuela Martinsmiddot

Muitos foram ja os bi6grafos de Martins Sarmento que tentaram atraves dos seus escritos publicados ou ineditos ou de urn conhecimento mais ou menos directo da sua personalidade definir 0 caracter e a obra deste ilustre investigador vimaranense Entre eles podemos citar Alberto Sampaio (1899-1903) Mario Cardoso profundo conhecedor da sua obra (1927 115-185 1933) ou ainda Mendes Correia (1933) Alfredo Pimenta (1933) e Vergilio Correia (1933) autores que 0 homenagearam pelas suas qualidades humanas e cientificas

No entanto e talvcz nas palavras de E Hubner ilustre inshyvestigador alemao que com ele conviveu e manteve intensa e proficua correspondencia que podemos apreender algo da comshyplexa personalidade de M Sarmento bern como da sua notavel erudiyao E Hubner define-o como ilustre investigador das citashynias interprete sagaz de A vieno cicerone intrepido dos Argoshynautas pelas longinquas regioes do Ocidente onde ele pr6prio nasceu e viveu consagrado a tudo 0 que e born e honesto cultor feliz da Hist6ria pMria e das Musas Afirma ainda que M Sar-

I Conferencia proferida na Sociedade Martins Sannento em 9 de Maryo de 1991

bull Professora Associada da Universidade do Minho

MARTINS SARMEN70 E A ARQUEOWCfA DOS CASTROS 127

REVISTA DE

GYIMARAES

mento honrou a sua telTa 0 seu pais e 0 seu tempo Tentemos justificar porque razao julgamos serem as palavras de HUbner bem definidoras do homem e da obra

Quando em 1874 M Sannento decide dar inicio as escashyvasoes da CWinia de Briteiros inaugurando uma fase da sua vida intelectual a de cientista possuia uma s6lida fonnasao aushytodidacta em linguas artes e humanidades que constituiu a base para 0 seu trabalho Tao s6lida preparasao serviu-Ihe para alicershysar quer a sua obra erudita que se baseanl no exame atento e na crftica das fontes litenirias permitindo a edisao de obras como a Ora Maritima de Avieno (1880) e os Argonautas (1887) quer 0

seu trabalho no telTeno cujo objectivo principal seria a identifishycasao das origens dos habitantes antigos do telTit6rio portugues Enesta ultima orientasao que se inserem os trabalhos de escavashyvao da Citania e Sabroso as inumeras prospecsoes que realizou no Entre-Douro-e-Minho acsoes que fazem nascer a Arqueoloshygia dos castros E ainda nesta orientasao que se incluem muitos dos seus escritos relativos a Etnologia peninsular designadashymente os seus artigos sobre Os Lusitanos (1880) Os Celtas na Lusitania (1882) ou aquele outro intitulado Lusitanos Ligures e Celtas (1890-91) De facto M Sannento nao se esgotou na inshyvestigasao dos castros e a arqueologia foi sempre para ele mais do que um objectivo um modo de aceder aos homens e as orishygens do povo portugues

Este objectivo hist6rico que se encontrava no cerne de toshydas as pesquisas de M Sannento era profundamente patri6tico mas a verdade e que ele projectava entre n6s uma concepsao e interesse cientificos que faziam escola alem fronteiras Martins Sarmento honrava 0 seu pais na busca das suas remotas origens mas honrava tambem 0 seu tempo mostrando a sua actualizashysao Com efeito 0 terceiro quartel do sec XIX viu desabrochar fulminantemente os estudos da Pre-Hist6ria europeia que irao ter em Portugal os seus ecos nas primeiras explorasoes das grutas e povoados estremenhos trabalho a que se encontram ligados noshy

128 MANUELA MARTINS

mes como Carlos Ribein pouco mais tardio e 0 int pelas antiguidades preshyproto-hist6ricos inicia-se 1871 nas colinas de Hi~

Homero rapidamente all sas descobertas orientais ropeus dando-se assim citados nas fontes liteniri Ligures Ora a obra cie Portugal a orientasao de culo XIX Profunda actuCl nas palavras de E Htibne

E a procura das IU

ser possivel encontrar a M Sarmento a iniciar as tro anos depois de iniciac homerica Toda a sua obi nol6gica Estudos em cas servem-Ihe conjuntamen critas para tentar comprel rit6rio nacional Fixar a I

cavasoes sem interrupsa( pouco ia desenterrando Sarmento No entanto c uma base comparativa pa vasoes simultaneas no quatro anos (1876-1880 ambito das suas pesquisa~

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prospectou 0 Entre-Dour ral tendo identificado m realizar 0 primeiro invenl do e classificando nume

MARTINS SARMENTO E A ARQU

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mes como Carlos Ribeiro Nery Delgado e Pereira da Costa Urn pouco mais tardio e 0 interesse que se generaliza na Europa culta pelas antiguidades pre-classicas Este interesse pelos povos proto-hist6ricos inicia-se com as explora90es de Schlieman em 1871 nas colinas de Hissarlik onde julga descobrir a Tr6ia de Homero rapidamente alargadas a Micenas e Tirinto As fabuloshysas descobertas orientais mpolgaram facilmente os eruditos eushyropeus dando-se assim inicio ao estudo dos diferentes povos citados nas fontes literarias como os Germanos Celtas Iberos e Ligures Ora a obra cientifica de M Sarmento cristaliza em Portugal a orienta9ao de estudos europeus do ultimo ter90 do seshyculo XIX Profunda actualidade a deste homem que homou bern nas palavras de E HUbner degseu tempo e 0 seu pais

E a procura das nossa raizes pre-romanas onde julgava ser possivel encontrar a nossa verdadeira identidade que levam M Sarmento a iniciar as escavaltoes d Briteiros em 1875 quashytro anos depois de iniciados os trabalhos de Schlieman na Tr6ia homerica Toda a sua obra e a partir de entao arqueol6gica e etshyno16gica Estudos em castros inventario e estudo dos materiais servem-Ihe conjuntamente com a interpreta9ao das fontes esshycritas para tentar compreender as origens do povoamento do tershyrit6rio nacional Fixar a cronologia da Citania onde realiza esshycava90es sem interrupyao ate 1884 e da civilizayao que pouco a pouco ia desenterrando constituiu 0 objectivo primario de M Sarmento No entanto considerava indispensavel a cria9ao de uma base comparativa para os seus dados pelo que realiza escashyvayoes simultaneas no vizinho povoado de Sabroso durante quatro anos (1876-1 880) Insatisfeito ainda decide alargar 0 ambito das suas pesquisas ao Entre-Douro-e-Minho

Na verdade tudo 0 que se referia aos castros 0 interessava prospectou 0 Entr -Douro-e-Minho especialmente a parte litoshyral tendo identificado mais de meia centena de castros tentou realizar 0 primeiro inventario arqueo16gico do Minho ordenanshydo e classificando numerosos achados consagrou centenas de

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I

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paginas as suas reflexoes sobre os castros muitas das quais pershymanecem ainda ineditas

Deve-se assim a M Sarmento 0 inicio da ardua tarefa de inventario e catalogasao dos castros portugueses que ainda hoje quase urn seculo volvido nao esta completa Atraves desse arshyduo trabalho deu a conhecer dezenas de castros que divulga em trabalhos monograiicos como a sua serie Materiais para a Arshyqueologia do distrito de Viana (1882) Materiais para a Arqueshyologia da comarca de Barcelos (1894) e Materiais para Arqueshyologia do concelho de Guimariies (1884-96) cuja edisao foi concluida postumamente entre 1901-1909 Podem ainda enconshytrar-se numerosas referencias aos castros noutros trabalhos deshysignadamente Sobre as antigas cidades da Iberia (1879) A propos ito de castros (1883) Cidade Velha de Monte Cordova (1895)

Deve-se igualmente a M Sarmento 0 conhecimento de uma das maiores citanias do NO peninsular conhecida e referida na bibliografia desde 0 sec XVI A CiHinia comelta por ser divulshygada por urn folheto com que Sarmento faz acompanhar uma colecsao de 37 fotografias que reuniu das escavaltoes A partir de 1879 a Citania passara a ser conhecida alem fronteiras e em 1880 merecera a visita dos congressistas do IX Congresso de Antropologia e Arqueologia Pre-Hist6ricas 0 trabalho de M Sarmento foi entao difundido e conhecido nos meios eruditos europeus recebendo os maiores elogios de homens como H Hubner Virchow E Cartailhac e A Schulten

Mas M Sarmento nao recebeu apenas elogios Houve quem 0 criticasse por nao ter produzido urn trabalho de grande fOlego sobre a Citania e sobre Sabroso Criticas talvez injustas atendendo a que 0 investigador redigiu mais de 4000 paginas sobre as duas estaltoes tendo mesmo em projecto escrever uma obra sobre 0 assunto que a morte prematura impossibilitou

De facto entre os seus ineditos conservados na Sociedade Martins Sarmento contam-se entre outros os manuscritos Cishy

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tania e Sabroso (1873- rejlexoes criticas sabre dois castros ou ainda 0

dito Mas nao devemos

de M Sarmento era 0 cc sitanos Ele foi essencial escrevendo sobre temas ressava como meio de gues

o pr6prio M San valtoes tinham por linic guiassem mais seguraml sas origens etnicas Nunl

De facto nao 0 p coleccionista do termo pesquisador de coisas an M Sarmento procurava objectos interessavam-II simples pedras sobrepos cia dos longinquos hal Sarmento e muito mais Mas essa exigencia de ~ simultaneamente uma gem porque dos seus 11 de reconstituiltao secun ca Urn inconveniente I zia-o aspirar a deduy5es gia-lhe urn tempo de ref com a sua curta vida El corajavarn a publicar ur ltoes de Briteiros e Sal sobre 0 problema dos c lato descritivo das suas

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tania e Sabroso (1873-1883) com 0 subtitulo Notas diarias e rejlexoes criticas sobre as explora~oes arqueologicas destes dois castros ou ainda 0 seu diario de escavayoes tambem ineshydito

Mas nao devemos talvez esquecer que 0 objectivo ultimo de M Sarmento era 0 conhecimento das origens etnicas dos Lushysitanos Ele foi essencialmente e sempre urn etnologo Embora escrevendo sobre temas de arqueologia esta disciplina so 0 inteshyressava como meio de docurnentar as origens do povo portushygues

o proprio M Sarmento chega a afirmar as minhas escashyvayoes tinham por unico objectivo procurar elementos que me guiassem mais seguramente que os livros no problema das nosshysas origens etnicas Nunca pretendi honras de arqueologo

De facto nao 0 preocupavam as antigualhas no sentido coleccionista do termo nem 0 movia a simples curiosidade do pesquisador de coisas antigas Atraves das escavayoes da Citftnia M Sarmento procurava fazer reviver 0 passado Mais do que os objectos interessavam-Ihe os homens mais do que os muros simples pedras sobrepostas e alinhadas interessava-Ihe a vivenshycia dos longinquos habitantes citanienses Neste sentido M Sarmento e muito mais urn antropologo do que urn arqueologo Mas essa exigencia de M Sarmento fazia a si proprio constituiu simultaneamente urna vantagem e urn inconveniente Vantashygem porque dos seus trabalhos ressalta sempre urn forte poder de reconstituiyao secundado por uma solida preparayao cientifishyca Urn inconveniente porque a sua inclinayao especulativa fashyzia-o aspirar a deduyoes mais amplas e generalizantes Isso exishygia-lhe urn tempo de reflexao que acabou por nao ser compativel com a sua curta vida Ele proprio exprimiu amiude aos que 0 enshycorajavam a publicar urn estudo monografico sobre as explorashyyoes de Briteiros e Sabroso ou mesmo uma obra de conjunto sobre 0 problema dos castros que nao podia limitar-se a urn reshylato descritivo das suas descobertas resultantes da simples anali-

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se dos documentos arqueologicos Por outro lado defrontava-se nao SO com a morosidade do trabalho arqueologico como com a acumulayao de materiai s e os encargos com as escavayoes No entanto chegou a conceber 0 projecto de urn trabalho que tencishyonava publicar na Portugruia sob 0 tema Materiais para a Arshyqueologia do Entre-Douro-e-Minho que a mOlte prematura inshyviabilizou

Do trabalho de M Sarmento r lativo aos castros ressaltam alguns aspectos dignos de nota Ele foi de facto 0 primeiro inshyvestigador a interessar-se de wn modo sistematico e cientifico por uma area cultural precisa no ambito da nossa proto-historia caracterizada pela presenya de largas centenas de castros Estes povoados eram conhecidos por Joao de Barros (Geografia do Entre-Douro~e-Minho sec xv I) Frei Bernardo de Brito (Moshynarquia Lusitana 1598) Gaspar Estayo (Varias Antiguidades de Portugal 1625) Antonio Carvalho da Costa (Corografia Portushyguesa 1706) e ainda J Contador de Argote

Dos seus estudos comparativos deduz M Sarmento a antishyguidade dos castros considerando que os construtores das citashynias haviam sido povos pre-rornanos e pre-celtas oriundos das primeiras migrayoes arianas estabelecidos em epocas remotas no Ocidente da Iberia A origem pn-celta dos Lusitanos que deshyfende e original pois recusa urn dos preconceitos enta~ vigenshytes 0 do celtisrno que marcava a interpretayao das nossas antishyguidades Ao defender a tese ligillica para a origem dos Lusitashynos demonstra nao so urn proftmdo conhecimento da Etnologia europeia como tambem 0 seu espirito avesso a aceitayoes demashysiado simplistas Afinna mesmo num trabalho seu sobre a Arte pre-romana (1879) no meio da ignorancia em que estamos acershyca dos primeiros povos de origem indo-europeia que ocupavam a P Iberica 0 celtismo tornou-se urn recurso banal Esperamos poder demonstrar que tal denominayao deve ser proscrita quando se fala de Lusitanos e Galegos que muito provavelmente ja esshy

tavam na posse desta par dos Celtas nestas regioes

Martins Sannento pioneiras em terrnos de J recusa a aceitar 0 Celtisn pelo terreno faci do orie autonomia das culturas Mediterraneo oriental ~ area nebulosa da investi etnica das comunidades batida mas ainda hoje P modo independentemen mento ele foi 0 precurso interpretayao da etnogem

Ao sabio vimarane do de muitos problemas serviu de ponto de partid tigadores Por outro lado ram articular entre si os nho e da Galiza e pree -historica portuguesa CI

Geologicos de Portugal Herculano

Martins Sannento grupo de jovens entusia~ ologia grupo que funda Integrando hom ens com~

seca Cardoso ao qual se dara origem em 1890 a aqual sucedeu em 189S vestigadores serao segu castros Jose Fortes rea Fonseca Cardoso e Ri( gunte e Vilarinho de C(

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tavam na posse desta parte da Europa seculos antes da apariyao dos Celtas nestas regioes

Martins Sarmento revelou de resto outras caracteristicas pioneiras em termos de investigayao arqueologica Tal como se recusa a aceitar 0 Celtismo dos Lusitanos nao se deixa fascinar pelo terre no facil do orientalismo entao em yoga salientando a autonomia das culturas pre-historicas atlanticas em relayao ao Mediterraneo oriental M Sarmento mergulhava assim numa area nebulosa da investigayao do nosso passado a da origem etnica das comunidades peninsulares tematica sobejamente deshybatida mas ainda hoje profundamente controversa De qualquer modo independentemente da validade das asseryoes de Sarshymento ele foi 0 precursor dessa vertente de investigayao que e a interpretayao da etnogenese dos povos peninsulares

Ao sabio vimaranense cabe a gloria de ter iniciado 0 estushydo de muitos problemas relativos as nossas origens etnicas que serviu de ponto de partida para novos trabalhos de outros invesshytigadores Por outro lado as pesquisas de M Sarmento permitishyram articular entre si os dados respeitantes as provincias do Mishynho e da Galiza e preencher a lacuna entre a realidade Preshy-historica portuguesa cujo estudo foi iniciado pelos Serviyos Geologicos de Portugal e a Idade Media sistematizada por A Herculano

Martins Sarmento teve ainda 0 merito de atrair a si urn grupo de jovens entusiastas pelas ciencias naturais e pela arqueshyologia grupo que funda em 1887 a Sociedade Carlos Ribeiro Integrando homens como Ricardo Severo Rocha Peixoto e Fonshyseca Cardoso ao qual se juntara tambem Jose Fortes este grupo dara origem em 1890 a Revista de Ciencias Naturais e Sociais a qual sucedeu em 1899 a revista Portugalia Alguns destes inshyvestigadores serao seguidores de M Sarmento na pesquisa dos castros Jose Fortes realiza escavayoes em Alvarelhos (1899) Fonseca Cardoso e Ricardo Severo respectivamente em Bashygunte e Vilarinho de Cotas Outras escavayoes como as do cas-

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telo de Guiroes (Matosinhos) cividade de Terroso (Povoa de Varzim) man tern vivo 0 genuino interesse de M Sarmento peshylos castros da regiao do Minho

Os homens da Portugalia tal como M Sarmento e L de Vasconcelos opunham-se a afirmayao de A Herculano relativa a inexistencia de relayoes genealogicas entre os portugueses e as populayoes pre e proto-historicas especialmente com os Lusitashynos Defendiam em contrapartida 0 nacionalismo etnico asshysunto que constitui 0 corolario dos estudos de Alberto Sampaio outro colaborador da Portugalia que procurou filiar as origens dos modemos nucleos de povoamento do pais nas cividades e ci1imias proto-historicas

Apos a morte de Sarmento as investigayoes nos castros irao prosseguir essencialmente Jigados ao grupo da Portugitlia ate pelo menos 1908 No entanlo posteriormente a esta data sera o Museu Etnologico Portugues fundado em Lisboa em 1894 ligado a figura de 1 Leite de Vasconcelos que ira manter uma estreita ligayao com investigadores locais servindo mesmo de insvestigador de escavayoes e prospecyoes como as que serao realizadas por F Alves Pereira na regiao dos Arcos de Valdevez ou divulgando trabalhos e resultados na revista 0 Arqueologo Portugues fundada em 1895 Assim acontecera por exemplo com os trabalhos de alguns investigadores locais como Albano Belino que entre 1893 e 1900 realiza escavayoes em castros da regiao de Braga especialmente no Monte Redondo

o fim do grupo da Portugalia coincide com os inicios de urn periodo pouco feliz para 0 estudo dos castros e de urn modo geral para a arqueologia portuguesa A urn periodo de intensa actividade que caracteriza as ultimas decadas do sec XIX ira sushyceder-se urn profundo marasmo quebrado por raras e honrosas contribuiyoes que nao chegam para minimizar nem a demissao dos poderes publicos em relayao ao estudo da Pre-historia portushyguesa nem 0 atraso que desde entao nos distancia cada vez mais da investigacao europeia

134 MANUELA MARTINS

E verdade que a il de urn modo pouco cons mulayao de materiais rei uma total insuficiencia lti melhorar a qualidade d eram estudados pois na( a investigacao Os musel deiros depositos de peyc yoes de proveniencia C sem uma necessaria reno tros vivera nas primeiras yO e trabalhos de amadm rayao tecnica Deste qua yoes de investigadores Ii versidade do Porto criac logia e Etnologia (1919 sentayoes cartograficas I

Este tipo de abordagem austro-hlingara nos fina culturais e sugerir hipote~ difusao de modelos cult Pinto serao entre nos d encontra bern representac nologia da P Iberica EI

os esforyos de sintese de com a sua obra Os Pavo Pre-romana inserida na (1928)

Todavia a partir d gram 0 conhecimento s honrosamente havia com ser elaboradas aiem fron passam desde entao a peninsular e europeu atr

M ARTINS S ARMEiTO pound A ARQ

REVISTA DE

GYIMARAES

E verdade que a investigayao dos castros prossegue mas de urn modo pouco consequente Regista-se uma paulatina acushymulayao de materiais recolhidos em museus mas e perceptivel uma total insuficiencia de meios e de tecnicas que permitissem melhorar a qualidade das pesquisas Os materiais raramente eram estudados pois nao existiam organismos que suportassem a investigayao Os museus por sua vez tornan1-se entao verdashydeiros depositos de peyas muitas vezes sem quaisquer indicashyyoes de proveniencia 0 conhecimento estiola em repetiyoes sem uma necessaria renovayao De facto a arqueologia dos casshytros vivenl nas primeiras decadas do sec xx sobretudo do esforshyyO e trabalhos de amado res e curiosos quase sempre sem prepashyrayao tecnica Deste quadro sombrio se destacam as contribuishyyoes de investigadores ligados a Faculdade de Ciencias da Unishyversidade do Porto criadores da revista Trabalhos de Antroposhylogia e Etnologia (1919) e introdutores em Portugal das represhysentayoes cartograficas na distribuiyao de estayoes e achados Este tipo de abordagem desenvolvlida pela escola geografica austro-hungara nos finais do sec XIX permitia definir areas culturais e sugerir hipoteses de migrayoes de povos bern como a difusao de model os culturais Mendes Correia e Rui de Serpa Pinto serao entre nos dois cultores desta metodologia que se encontra bern representada nos trabalhos de sfntese sobre a Etshynologia da P Iberica E nesta perspectiva que podemos integrar os esforyos de sintese de Mendes Correia (1924) principalmente com a sua obra as Povos Primitivos da Lusitdnia e A Lusitdnia Pre-romana inserida na Historia de Portugal de Damiao Peres (1928)

Todavia a partir dos anos 20 as grandes sinteses que inteshygram 0 conhecimento sobre os castros cuja investigayao tao honrosamente havia comeyado com Martins Sarmento passam a ser elaboradas alem fronteiras Os povos e culturas portuguesas passam desde entao a inserir-se sistematicamente no ambito peninsular e europeu atraves dos trabalhos de P Bosch Guimpeshy

MAR7JVS SARMENTO E A ARQ EOLOGIA DOS CASTROS 135

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RREVI STA DE GGY IMARA ES

ra a uern se dev a de miy30 da Cultura dos castros e a sua cashyra t rizay3 no funbito da Il Idad do Ferro peninsular com base na tipologia dos seus p voados e na planta das habitayoes Porshytugal perd peso na investigayao deste dominio arque010gico tao pre iso m que havia sido pioneiro

Isso nao significa que nao se realizassem entre nos trabashylhos ou que novas pubJicayoes nao fossem dadas a estampa Na realidade merecem justa homenagem os esforyos de F Alves Pereira e em particular os de Rui de Serpa Pinto cuja brilhante inteligencia 1he facultava urn louvavel poder de sintese A sua morte precoce privou a arqueologia portuguesa de urn dos seus mais notaveis e promissores vultos

A arqueologia dos castros passara a ser dominada pela fishygura de F Lopez Cuevillas que durante 40 anos (anos 20-60) produz urn extenso rol de trabalhos de caracter monografico e de sintese que contribuira para precisar as caracteristicas da Cultushyra castreja Entre nos e com uma aCyao de algurn modo compashyravel podemos destacar a figura de Mario Cardoso que a partir dos anos 30 presidira aos destinos da Sociedade Martins Sarshymento dando continuidade aos trabalhos do seu fundador Com uma vultuosa obra que constitui urn ponto de referencia para toshydos os que ao tema dos castros se dedicam M Cardoso soube homar a Sociedade liderando a investigayao dos castros no Norte de Portugal ate a decada de 70

Todavia a actividade arqueologica em Portugal nao acompanhou 0 passo dos restantes paises europeus Nao Ise reshynovaram as tecnicas nem a problematica de investigayao 0 nosso pais manteve-s a margem dos debates teoricos que anishymaram a comunidade arqueologica internacional e que questioshynaram 0 senti do e a interpretay30 das sociedades pre e protoshyhistoricas Nos anos 70 0 estudo das nossas culturas registava urn notavel atraso em relayao as suas congeneres europeias

A partir dos anos 70 assistiremos a urn renovado interesse pelo estudo dos castros traduzido por urn significativo aurnento

136 MANUELA MARTfNS

do numero de escavayoes novayao metodologica Ai lho que deixam de se cen1 da cultura material passan tivas da Cultura castreja E guns dos trabalhos de sinte cada de 80 No entanto e fase embrionaria de invest damental nos da conta d4 nacional

Por isso nao deixa d tecer mais uma vez a figu dade do seu pensamento e duziu em termos europeu mente a investigayao dos I

pois so a muito custo se inumeras dificuldades que ologico

BIBLIOGRAFA CONSULT

CARDOSO M (1927) Bibliol pp 115 e 185

- (1933) Dr Francisco Martin nagem a Martins Sarmento

- (1945) Os fundadores da S Revista de GuimarCies 55 r

- (1956) Francisco Martins Sa Guimaraes

CORREA M (1933) No cen Estudos Portugueses do Int

- (1947) Histoire des rechercl Antropologia e Etnologia I

MElRA1 (1921) Homenagel 31 pp 176

MARTINS SA RivlENTO E A ARQU

REVISTA DE

GYI M ARAES

do numero de escavacoes mas tam bern por uma importante reshynovacao metodol6gica Alargaram-se as perspectivas de trabashylho que deixam de se centrar exc1usivamente na caracterizacao da cultura material passando a polarizar-se nas questOes evolushytivas da Cultura castreja E nesta perspectiva que se inserem alshyguns dos trabalhos de sintese sobre os castros produzidos na deshycada de 80 No entanto estes trabalhos inserem-se ainda numa fase embriomiria de investigacao que nao deixando de ser funshydamental nos da conta do consideravel atraso da arqueologia nacional

Por isso nao deixa de ser a todos os titulos legitimo enalshytecer mais uma vez a figura ilustre de M Sannento pela vitalishydade do seu pensamento e pela actualidade do trabalho que proshyduziu em termos europeus 0 pioneirismo portugues relativashymente it investigacao dos castros nao mais voltou a registar-se pois s6 a muito custo se conseguiu ultrapassar entre n6s as inumeras dificuldades que inibem ainda hoje 0 trabalho arqueshyol6gico

BlBLlOGRAFIA CONSUL TADA

CARDOSO M (1927) Bibliografia Sarmentina Revista de Guimarfies 37 pp 115 e 185

- (1933) Dr Francisco Martins Sarmento Esboyo bio-bibliognlfico Homeshynagem a Martins Sarmento Guimaraes

- (1945) Os fundadores da Sociedade Carlos Ribeiro e Martins Sarmento Revista de Guimariies 55 pp 13

- (1956) Francisco Martins Sarmento Esboro da slia vida e Obra cientfjica Guimaraes

CORREA M (1933) No centenario do nascimento de Martins Sarmento Estudos Portugueses do Integralismo Lusitano 2 12

- (1947) Histoire des recherches pre-historiques en Portugal Trabalhos de Antropologia e Etnologia II pp 115

MElRA 1 (1921) Homenagem a Martins Sarmento Revista de Guimarfies 31 pp 176

M ARTINS SARMENTO E A ARQUEOLOGfA DOS C ASTROS 137

REVISTA D E

GVIMARAES

PIMENTA A (1933) Martins Sarmento Literato e Historiador Ed Fernanshy LA EPIGRAFIA ROM des Junior Lisboa GUIMARAES UN ES~

SAMPAIO A (1899-1903) F Martins Sarmento 9 de Manyo de 1833 - 9 de Sonia Maria Garcia MalAgosto de 1899 Portugalia I pp 417

En este estudio s cuesti6n sobre el avance I

Concelho de Guimaraes Ante to do se debe c

del legado cientifico de Francisco Martins Sarme propulsores del saber hi prerromano de la actual rl

Doctora en Historia y 0 Clasicos-Area de Historia Ani I Se ha elaborado un Corl apartados 1- Inscripciones Inscripciones monumental-he de propiedad rotulos de ca Monumentos anepigrafos y v un numero de identificacion emplazamiento la lectura y 1

misma Por el momento no se han il para un ulterior amll isis 2 Cf los diferentes articulo apunta al final de este articulo

LA EPIGRAFfA ROMA NA DEL G138 MANUELA MARTINS

Page 3: 1995repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/13355/1/Revista de... · INDICE . Revista de Guimaraes - 1995 . 1. SANTOS SIMOES - Na passagem do centenario de «0 Archeologo . JORGE

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Manuela Martinsmiddot

Muitos foram ja os bi6grafos de Martins Sarmento que tentaram atraves dos seus escritos publicados ou ineditos ou de urn conhecimento mais ou menos directo da sua personalidade definir 0 caracter e a obra deste ilustre investigador vimaranense Entre eles podemos citar Alberto Sampaio (1899-1903) Mario Cardoso profundo conhecedor da sua obra (1927 115-185 1933) ou ainda Mendes Correia (1933) Alfredo Pimenta (1933) e Vergilio Correia (1933) autores que 0 homenagearam pelas suas qualidades humanas e cientificas

No entanto e talvcz nas palavras de E Hubner ilustre inshyvestigador alemao que com ele conviveu e manteve intensa e proficua correspondencia que podemos apreender algo da comshyplexa personalidade de M Sarmento bern como da sua notavel erudiyao E Hubner define-o como ilustre investigador das citashynias interprete sagaz de A vieno cicerone intrepido dos Argoshynautas pelas longinquas regioes do Ocidente onde ele pr6prio nasceu e viveu consagrado a tudo 0 que e born e honesto cultor feliz da Hist6ria pMria e das Musas Afirma ainda que M Sar-

I Conferencia proferida na Sociedade Martins Sannento em 9 de Maryo de 1991

bull Professora Associada da Universidade do Minho

MARTINS SARMEN70 E A ARQUEOWCfA DOS CASTROS 127

REVISTA DE

GYIMARAES

mento honrou a sua telTa 0 seu pais e 0 seu tempo Tentemos justificar porque razao julgamos serem as palavras de HUbner bem definidoras do homem e da obra

Quando em 1874 M Sannento decide dar inicio as escashyvasoes da CWinia de Briteiros inaugurando uma fase da sua vida intelectual a de cientista possuia uma s6lida fonnasao aushytodidacta em linguas artes e humanidades que constituiu a base para 0 seu trabalho Tao s6lida preparasao serviu-Ihe para alicershysar quer a sua obra erudita que se baseanl no exame atento e na crftica das fontes litenirias permitindo a edisao de obras como a Ora Maritima de Avieno (1880) e os Argonautas (1887) quer 0

seu trabalho no telTeno cujo objectivo principal seria a identifishycasao das origens dos habitantes antigos do telTit6rio portugues Enesta ultima orientasao que se inserem os trabalhos de escavashyvao da Citania e Sabroso as inumeras prospecsoes que realizou no Entre-Douro-e-Minho acsoes que fazem nascer a Arqueoloshygia dos castros E ainda nesta orientasao que se incluem muitos dos seus escritos relativos a Etnologia peninsular designadashymente os seus artigos sobre Os Lusitanos (1880) Os Celtas na Lusitania (1882) ou aquele outro intitulado Lusitanos Ligures e Celtas (1890-91) De facto M Sannento nao se esgotou na inshyvestigasao dos castros e a arqueologia foi sempre para ele mais do que um objectivo um modo de aceder aos homens e as orishygens do povo portugues

Este objectivo hist6rico que se encontrava no cerne de toshydas as pesquisas de M Sannento era profundamente patri6tico mas a verdade e que ele projectava entre n6s uma concepsao e interesse cientificos que faziam escola alem fronteiras Martins Sarmento honrava 0 seu pais na busca das suas remotas origens mas honrava tambem 0 seu tempo mostrando a sua actualizashysao Com efeito 0 terceiro quartel do sec XIX viu desabrochar fulminantemente os estudos da Pre-Hist6ria europeia que irao ter em Portugal os seus ecos nas primeiras explorasoes das grutas e povoados estremenhos trabalho a que se encontram ligados noshy

128 MANUELA MARTINS

mes como Carlos Ribein pouco mais tardio e 0 int pelas antiguidades preshyproto-hist6ricos inicia-se 1871 nas colinas de Hi~

Homero rapidamente all sas descobertas orientais ropeus dando-se assim citados nas fontes liteniri Ligures Ora a obra cie Portugal a orientasao de culo XIX Profunda actuCl nas palavras de E Htibne

E a procura das IU

ser possivel encontrar a M Sarmento a iniciar as tro anos depois de iniciac homerica Toda a sua obi nol6gica Estudos em cas servem-Ihe conjuntamen critas para tentar comprel rit6rio nacional Fixar a I

cavasoes sem interrupsa( pouco ia desenterrando Sarmento No entanto c uma base comparativa pa vasoes simultaneas no quatro anos (1876-1880 ambito das suas pesquisa~

N a verdade tudo 0 (

prospectou 0 Entre-Dour ral tendo identificado m realizar 0 primeiro invenl do e classificando nume

MARTINS SARMENTO E A ARQU

RE VI TA DE

GVIMARAES

mes como Carlos Ribeiro Nery Delgado e Pereira da Costa Urn pouco mais tardio e 0 interesse que se generaliza na Europa culta pelas antiguidades pre-classicas Este interesse pelos povos proto-hist6ricos inicia-se com as explora90es de Schlieman em 1871 nas colinas de Hissarlik onde julga descobrir a Tr6ia de Homero rapidamente alargadas a Micenas e Tirinto As fabuloshysas descobertas orientais mpolgaram facilmente os eruditos eushyropeus dando-se assim inicio ao estudo dos diferentes povos citados nas fontes literarias como os Germanos Celtas Iberos e Ligures Ora a obra cientifica de M Sarmento cristaliza em Portugal a orienta9ao de estudos europeus do ultimo ter90 do seshyculo XIX Profunda actualidade a deste homem que homou bern nas palavras de E HUbner degseu tempo e 0 seu pais

E a procura das nossa raizes pre-romanas onde julgava ser possivel encontrar a nossa verdadeira identidade que levam M Sarmento a iniciar as escavaltoes d Briteiros em 1875 quashytro anos depois de iniciados os trabalhos de Schlieman na Tr6ia homerica Toda a sua obra e a partir de entao arqueol6gica e etshyno16gica Estudos em castros inventario e estudo dos materiais servem-Ihe conjuntamente com a interpreta9ao das fontes esshycritas para tentar compreender as origens do povoamento do tershyrit6rio nacional Fixar a cronologia da Citania onde realiza esshycava90es sem interrupyao ate 1884 e da civilizayao que pouco a pouco ia desenterrando constituiu 0 objectivo primario de M Sarmento No entanto considerava indispensavel a cria9ao de uma base comparativa para os seus dados pelo que realiza escashyvayoes simultaneas no vizinho povoado de Sabroso durante quatro anos (1876-1 880) Insatisfeito ainda decide alargar 0 ambito das suas pesquisas ao Entre-Douro-e-Minho

Na verdade tudo 0 que se referia aos castros 0 interessava prospectou 0 Entr -Douro-e-Minho especialmente a parte litoshyral tendo identificado mais de meia centena de castros tentou realizar 0 primeiro inventario arqueo16gico do Minho ordenanshydo e classificando numerosos achados consagrou centenas de

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paginas as suas reflexoes sobre os castros muitas das quais pershymanecem ainda ineditas

Deve-se assim a M Sarmento 0 inicio da ardua tarefa de inventario e catalogasao dos castros portugueses que ainda hoje quase urn seculo volvido nao esta completa Atraves desse arshyduo trabalho deu a conhecer dezenas de castros que divulga em trabalhos monograiicos como a sua serie Materiais para a Arshyqueologia do distrito de Viana (1882) Materiais para a Arqueshyologia da comarca de Barcelos (1894) e Materiais para Arqueshyologia do concelho de Guimariies (1884-96) cuja edisao foi concluida postumamente entre 1901-1909 Podem ainda enconshytrar-se numerosas referencias aos castros noutros trabalhos deshysignadamente Sobre as antigas cidades da Iberia (1879) A propos ito de castros (1883) Cidade Velha de Monte Cordova (1895)

Deve-se igualmente a M Sarmento 0 conhecimento de uma das maiores citanias do NO peninsular conhecida e referida na bibliografia desde 0 sec XVI A CiHinia comelta por ser divulshygada por urn folheto com que Sarmento faz acompanhar uma colecsao de 37 fotografias que reuniu das escavaltoes A partir de 1879 a Citania passara a ser conhecida alem fronteiras e em 1880 merecera a visita dos congressistas do IX Congresso de Antropologia e Arqueologia Pre-Hist6ricas 0 trabalho de M Sarmento foi entao difundido e conhecido nos meios eruditos europeus recebendo os maiores elogios de homens como H Hubner Virchow E Cartailhac e A Schulten

Mas M Sarmento nao recebeu apenas elogios Houve quem 0 criticasse por nao ter produzido urn trabalho de grande fOlego sobre a Citania e sobre Sabroso Criticas talvez injustas atendendo a que 0 investigador redigiu mais de 4000 paginas sobre as duas estaltoes tendo mesmo em projecto escrever uma obra sobre 0 assunto que a morte prematura impossibilitou

De facto entre os seus ineditos conservados na Sociedade Martins Sarmento contam-se entre outros os manuscritos Cishy

130 MANUELA MARTINS

tania e Sabroso (1873- rejlexoes criticas sabre dois castros ou ainda 0

dito Mas nao devemos

de M Sarmento era 0 cc sitanos Ele foi essencial escrevendo sobre temas ressava como meio de gues

o pr6prio M San valtoes tinham por linic guiassem mais seguraml sas origens etnicas Nunl

De facto nao 0 p coleccionista do termo pesquisador de coisas an M Sarmento procurava objectos interessavam-II simples pedras sobrepos cia dos longinquos hal Sarmento e muito mais Mas essa exigencia de ~ simultaneamente uma gem porque dos seus 11 de reconstituiltao secun ca Urn inconveniente I zia-o aspirar a deduy5es gia-lhe urn tempo de ref com a sua curta vida El corajavarn a publicar ur ltoes de Briteiros e Sal sobre 0 problema dos c lato descritivo das suas

MARTINS SARMENTO E A AR

REVISTA DE

GYIMAMES

tania e Sabroso (1873-1883) com 0 subtitulo Notas diarias e rejlexoes criticas sobre as explora~oes arqueologicas destes dois castros ou ainda 0 seu diario de escavayoes tambem ineshydito

Mas nao devemos talvez esquecer que 0 objectivo ultimo de M Sarmento era 0 conhecimento das origens etnicas dos Lushysitanos Ele foi essencialmente e sempre urn etnologo Embora escrevendo sobre temas de arqueologia esta disciplina so 0 inteshyressava como meio de docurnentar as origens do povo portushygues

o proprio M Sarmento chega a afirmar as minhas escashyvayoes tinham por unico objectivo procurar elementos que me guiassem mais seguramente que os livros no problema das nosshysas origens etnicas Nunca pretendi honras de arqueologo

De facto nao 0 preocupavam as antigualhas no sentido coleccionista do termo nem 0 movia a simples curiosidade do pesquisador de coisas antigas Atraves das escavayoes da Citftnia M Sarmento procurava fazer reviver 0 passado Mais do que os objectos interessavam-Ihe os homens mais do que os muros simples pedras sobrepostas e alinhadas interessava-Ihe a vivenshycia dos longinquos habitantes citanienses Neste sentido M Sarmento e muito mais urn antropologo do que urn arqueologo Mas essa exigencia de M Sarmento fazia a si proprio constituiu simultaneamente urna vantagem e urn inconveniente Vantashygem porque dos seus trabalhos ressalta sempre urn forte poder de reconstituiyao secundado por uma solida preparayao cientifishyca Urn inconveniente porque a sua inclinayao especulativa fashyzia-o aspirar a deduyoes mais amplas e generalizantes Isso exishygia-lhe urn tempo de reflexao que acabou por nao ser compativel com a sua curta vida Ele proprio exprimiu amiude aos que 0 enshycorajavam a publicar urn estudo monografico sobre as explorashyyoes de Briteiros e Sabroso ou mesmo uma obra de conjunto sobre 0 problema dos castros que nao podia limitar-se a urn reshylato descritivo das suas descobertas resultantes da simples anali-

MARTINS SARA1poundNTO E A ARQUEOLOGIA DOS CASTROS 131

132 MANUELA MARTINS M ARTINS SARMENm EA AR(

RE VISTA DE

GVIMARAES

se dos documentos arqueologicos Por outro lado defrontava-se nao SO com a morosidade do trabalho arqueologico como com a acumulayao de materiai s e os encargos com as escavayoes No entanto chegou a conceber 0 projecto de urn trabalho que tencishyonava publicar na Portugruia sob 0 tema Materiais para a Arshyqueologia do Entre-Douro-e-Minho que a mOlte prematura inshyviabilizou

Do trabalho de M Sarmento r lativo aos castros ressaltam alguns aspectos dignos de nota Ele foi de facto 0 primeiro inshyvestigador a interessar-se de wn modo sistematico e cientifico por uma area cultural precisa no ambito da nossa proto-historia caracterizada pela presenya de largas centenas de castros Estes povoados eram conhecidos por Joao de Barros (Geografia do Entre-Douro~e-Minho sec xv I) Frei Bernardo de Brito (Moshynarquia Lusitana 1598) Gaspar Estayo (Varias Antiguidades de Portugal 1625) Antonio Carvalho da Costa (Corografia Portushyguesa 1706) e ainda J Contador de Argote

Dos seus estudos comparativos deduz M Sarmento a antishyguidade dos castros considerando que os construtores das citashynias haviam sido povos pre-rornanos e pre-celtas oriundos das primeiras migrayoes arianas estabelecidos em epocas remotas no Ocidente da Iberia A origem pn-celta dos Lusitanos que deshyfende e original pois recusa urn dos preconceitos enta~ vigenshytes 0 do celtisrno que marcava a interpretayao das nossas antishyguidades Ao defender a tese ligillica para a origem dos Lusitashynos demonstra nao so urn proftmdo conhecimento da Etnologia europeia como tambem 0 seu espirito avesso a aceitayoes demashysiado simplistas Afinna mesmo num trabalho seu sobre a Arte pre-romana (1879) no meio da ignorancia em que estamos acershyca dos primeiros povos de origem indo-europeia que ocupavam a P Iberica 0 celtismo tornou-se urn recurso banal Esperamos poder demonstrar que tal denominayao deve ser proscrita quando se fala de Lusitanos e Galegos que muito provavelmente ja esshy

tavam na posse desta par dos Celtas nestas regioes

Martins Sannento pioneiras em terrnos de J recusa a aceitar 0 Celtisn pelo terreno faci do orie autonomia das culturas Mediterraneo oriental ~ area nebulosa da investi etnica das comunidades batida mas ainda hoje P modo independentemen mento ele foi 0 precurso interpretayao da etnogem

Ao sabio vimarane do de muitos problemas serviu de ponto de partid tigadores Por outro lado ram articular entre si os nho e da Galiza e pree -historica portuguesa CI

Geologicos de Portugal Herculano

Martins Sannento grupo de jovens entusia~ ologia grupo que funda Integrando hom ens com~

seca Cardoso ao qual se dara origem em 1890 a aqual sucedeu em 189S vestigadores serao segu castros Jose Fortes rea Fonseca Cardoso e Ri( gunte e Vilarinho de C(

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GYIMARAES

tavam na posse desta parte da Europa seculos antes da apariyao dos Celtas nestas regioes

Martins Sarmento revelou de resto outras caracteristicas pioneiras em termos de investigayao arqueologica Tal como se recusa a aceitar 0 Celtismo dos Lusitanos nao se deixa fascinar pelo terre no facil do orientalismo entao em yoga salientando a autonomia das culturas pre-historicas atlanticas em relayao ao Mediterraneo oriental M Sarmento mergulhava assim numa area nebulosa da investigayao do nosso passado a da origem etnica das comunidades peninsulares tematica sobejamente deshybatida mas ainda hoje profundamente controversa De qualquer modo independentemente da validade das asseryoes de Sarshymento ele foi 0 precursor dessa vertente de investigayao que e a interpretayao da etnogenese dos povos peninsulares

Ao sabio vimaranense cabe a gloria de ter iniciado 0 estushydo de muitos problemas relativos as nossas origens etnicas que serviu de ponto de partida para novos trabalhos de outros invesshytigadores Por outro lado as pesquisas de M Sarmento permitishyram articular entre si os dados respeitantes as provincias do Mishynho e da Galiza e preencher a lacuna entre a realidade Preshy-historica portuguesa cujo estudo foi iniciado pelos Serviyos Geologicos de Portugal e a Idade Media sistematizada por A Herculano

Martins Sarmento teve ainda 0 merito de atrair a si urn grupo de jovens entusiastas pelas ciencias naturais e pela arqueshyologia grupo que funda em 1887 a Sociedade Carlos Ribeiro Integrando homens como Ricardo Severo Rocha Peixoto e Fonshyseca Cardoso ao qual se juntara tambem Jose Fortes este grupo dara origem em 1890 a Revista de Ciencias Naturais e Sociais a qual sucedeu em 1899 a revista Portugalia Alguns destes inshyvestigadores serao seguidores de M Sarmento na pesquisa dos castros Jose Fortes realiza escavayoes em Alvarelhos (1899) Fonseca Cardoso e Ricardo Severo respectivamente em Bashygunte e Vilarinho de Cotas Outras escavayoes como as do cas-

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telo de Guiroes (Matosinhos) cividade de Terroso (Povoa de Varzim) man tern vivo 0 genuino interesse de M Sarmento peshylos castros da regiao do Minho

Os homens da Portugalia tal como M Sarmento e L de Vasconcelos opunham-se a afirmayao de A Herculano relativa a inexistencia de relayoes genealogicas entre os portugueses e as populayoes pre e proto-historicas especialmente com os Lusitashynos Defendiam em contrapartida 0 nacionalismo etnico asshysunto que constitui 0 corolario dos estudos de Alberto Sampaio outro colaborador da Portugalia que procurou filiar as origens dos modemos nucleos de povoamento do pais nas cividades e ci1imias proto-historicas

Apos a morte de Sarmento as investigayoes nos castros irao prosseguir essencialmente Jigados ao grupo da Portugitlia ate pelo menos 1908 No entanlo posteriormente a esta data sera o Museu Etnologico Portugues fundado em Lisboa em 1894 ligado a figura de 1 Leite de Vasconcelos que ira manter uma estreita ligayao com investigadores locais servindo mesmo de insvestigador de escavayoes e prospecyoes como as que serao realizadas por F Alves Pereira na regiao dos Arcos de Valdevez ou divulgando trabalhos e resultados na revista 0 Arqueologo Portugues fundada em 1895 Assim acontecera por exemplo com os trabalhos de alguns investigadores locais como Albano Belino que entre 1893 e 1900 realiza escavayoes em castros da regiao de Braga especialmente no Monte Redondo

o fim do grupo da Portugalia coincide com os inicios de urn periodo pouco feliz para 0 estudo dos castros e de urn modo geral para a arqueologia portuguesa A urn periodo de intensa actividade que caracteriza as ultimas decadas do sec XIX ira sushyceder-se urn profundo marasmo quebrado por raras e honrosas contribuiyoes que nao chegam para minimizar nem a demissao dos poderes publicos em relayao ao estudo da Pre-historia portushyguesa nem 0 atraso que desde entao nos distancia cada vez mais da investigacao europeia

134 MANUELA MARTINS

E verdade que a il de urn modo pouco cons mulayao de materiais rei uma total insuficiencia lti melhorar a qualidade d eram estudados pois na( a investigacao Os musel deiros depositos de peyc yoes de proveniencia C sem uma necessaria reno tros vivera nas primeiras yO e trabalhos de amadm rayao tecnica Deste qua yoes de investigadores Ii versidade do Porto criac logia e Etnologia (1919 sentayoes cartograficas I

Este tipo de abordagem austro-hlingara nos fina culturais e sugerir hipote~ difusao de modelos cult Pinto serao entre nos d encontra bern representac nologia da P Iberica EI

os esforyos de sintese de com a sua obra Os Pavo Pre-romana inserida na (1928)

Todavia a partir d gram 0 conhecimento s honrosamente havia com ser elaboradas aiem fron passam desde entao a peninsular e europeu atr

M ARTINS S ARMEiTO pound A ARQ

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GYIMARAES

E verdade que a investigayao dos castros prossegue mas de urn modo pouco consequente Regista-se uma paulatina acushymulayao de materiais recolhidos em museus mas e perceptivel uma total insuficiencia de meios e de tecnicas que permitissem melhorar a qualidade das pesquisas Os materiais raramente eram estudados pois nao existiam organismos que suportassem a investigayao Os museus por sua vez tornan1-se entao verdashydeiros depositos de peyas muitas vezes sem quaisquer indicashyyoes de proveniencia 0 conhecimento estiola em repetiyoes sem uma necessaria renovayao De facto a arqueologia dos casshytros vivenl nas primeiras decadas do sec xx sobretudo do esforshyyO e trabalhos de amado res e curiosos quase sempre sem prepashyrayao tecnica Deste quadro sombrio se destacam as contribuishyyoes de investigadores ligados a Faculdade de Ciencias da Unishyversidade do Porto criadores da revista Trabalhos de Antroposhylogia e Etnologia (1919) e introdutores em Portugal das represhysentayoes cartograficas na distribuiyao de estayoes e achados Este tipo de abordagem desenvolvlida pela escola geografica austro-hungara nos finais do sec XIX permitia definir areas culturais e sugerir hipoteses de migrayoes de povos bern como a difusao de model os culturais Mendes Correia e Rui de Serpa Pinto serao entre nos dois cultores desta metodologia que se encontra bern representada nos trabalhos de sfntese sobre a Etshynologia da P Iberica E nesta perspectiva que podemos integrar os esforyos de sintese de Mendes Correia (1924) principalmente com a sua obra as Povos Primitivos da Lusitdnia e A Lusitdnia Pre-romana inserida na Historia de Portugal de Damiao Peres (1928)

Todavia a partir dos anos 20 as grandes sinteses que inteshygram 0 conhecimento sobre os castros cuja investigayao tao honrosamente havia comeyado com Martins Sarmento passam a ser elaboradas alem fronteiras Os povos e culturas portuguesas passam desde entao a inserir-se sistematicamente no ambito peninsular e europeu atraves dos trabalhos de P Bosch Guimpeshy

MAR7JVS SARMENTO E A ARQ EOLOGIA DOS CASTROS 135

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RREVI STA DE GGY IMARA ES

ra a uern se dev a de miy30 da Cultura dos castros e a sua cashyra t rizay3 no funbito da Il Idad do Ferro peninsular com base na tipologia dos seus p voados e na planta das habitayoes Porshytugal perd peso na investigayao deste dominio arque010gico tao pre iso m que havia sido pioneiro

Isso nao significa que nao se realizassem entre nos trabashylhos ou que novas pubJicayoes nao fossem dadas a estampa Na realidade merecem justa homenagem os esforyos de F Alves Pereira e em particular os de Rui de Serpa Pinto cuja brilhante inteligencia 1he facultava urn louvavel poder de sintese A sua morte precoce privou a arqueologia portuguesa de urn dos seus mais notaveis e promissores vultos

A arqueologia dos castros passara a ser dominada pela fishygura de F Lopez Cuevillas que durante 40 anos (anos 20-60) produz urn extenso rol de trabalhos de caracter monografico e de sintese que contribuira para precisar as caracteristicas da Cultushyra castreja Entre nos e com uma aCyao de algurn modo compashyravel podemos destacar a figura de Mario Cardoso que a partir dos anos 30 presidira aos destinos da Sociedade Martins Sarshymento dando continuidade aos trabalhos do seu fundador Com uma vultuosa obra que constitui urn ponto de referencia para toshydos os que ao tema dos castros se dedicam M Cardoso soube homar a Sociedade liderando a investigayao dos castros no Norte de Portugal ate a decada de 70

Todavia a actividade arqueologica em Portugal nao acompanhou 0 passo dos restantes paises europeus Nao Ise reshynovaram as tecnicas nem a problematica de investigayao 0 nosso pais manteve-s a margem dos debates teoricos que anishymaram a comunidade arqueologica internacional e que questioshynaram 0 senti do e a interpretay30 das sociedades pre e protoshyhistoricas Nos anos 70 0 estudo das nossas culturas registava urn notavel atraso em relayao as suas congeneres europeias

A partir dos anos 70 assistiremos a urn renovado interesse pelo estudo dos castros traduzido por urn significativo aurnento

136 MANUELA MARTfNS

do numero de escavayoes novayao metodologica Ai lho que deixam de se cen1 da cultura material passan tivas da Cultura castreja E guns dos trabalhos de sinte cada de 80 No entanto e fase embrionaria de invest damental nos da conta d4 nacional

Por isso nao deixa d tecer mais uma vez a figu dade do seu pensamento e duziu em termos europeu mente a investigayao dos I

pois so a muito custo se inumeras dificuldades que ologico

BIBLIOGRAFA CONSULT

CARDOSO M (1927) Bibliol pp 115 e 185

- (1933) Dr Francisco Martin nagem a Martins Sarmento

- (1945) Os fundadores da S Revista de GuimarCies 55 r

- (1956) Francisco Martins Sa Guimaraes

CORREA M (1933) No cen Estudos Portugueses do Int

- (1947) Histoire des rechercl Antropologia e Etnologia I

MElRA1 (1921) Homenagel 31 pp 176

MARTINS SA RivlENTO E A ARQU

REVISTA DE

GYI M ARAES

do numero de escavacoes mas tam bern por uma importante reshynovacao metodol6gica Alargaram-se as perspectivas de trabashylho que deixam de se centrar exc1usivamente na caracterizacao da cultura material passando a polarizar-se nas questOes evolushytivas da Cultura castreja E nesta perspectiva que se inserem alshyguns dos trabalhos de sintese sobre os castros produzidos na deshycada de 80 No entanto estes trabalhos inserem-se ainda numa fase embriomiria de investigacao que nao deixando de ser funshydamental nos da conta do consideravel atraso da arqueologia nacional

Por isso nao deixa de ser a todos os titulos legitimo enalshytecer mais uma vez a figura ilustre de M Sannento pela vitalishydade do seu pensamento e pela actualidade do trabalho que proshyduziu em termos europeus 0 pioneirismo portugues relativashymente it investigacao dos castros nao mais voltou a registar-se pois s6 a muito custo se conseguiu ultrapassar entre n6s as inumeras dificuldades que inibem ainda hoje 0 trabalho arqueshyol6gico

BlBLlOGRAFIA CONSUL TADA

CARDOSO M (1927) Bibliografia Sarmentina Revista de Guimarfies 37 pp 115 e 185

- (1933) Dr Francisco Martins Sarmento Esboyo bio-bibliognlfico Homeshynagem a Martins Sarmento Guimaraes

- (1945) Os fundadores da Sociedade Carlos Ribeiro e Martins Sarmento Revista de Guimariies 55 pp 13

- (1956) Francisco Martins Sarmento Esboro da slia vida e Obra cientfjica Guimaraes

CORREA M (1933) No centenario do nascimento de Martins Sarmento Estudos Portugueses do Integralismo Lusitano 2 12

- (1947) Histoire des recherches pre-historiques en Portugal Trabalhos de Antropologia e Etnologia II pp 115

MElRA 1 (1921) Homenagem a Martins Sarmento Revista de Guimarfies 31 pp 176

M ARTINS SARMENTO E A ARQUEOLOGfA DOS C ASTROS 137

REVISTA D E

GVIMARAES

PIMENTA A (1933) Martins Sarmento Literato e Historiador Ed Fernanshy LA EPIGRAFIA ROM des Junior Lisboa GUIMARAES UN ES~

SAMPAIO A (1899-1903) F Martins Sarmento 9 de Manyo de 1833 - 9 de Sonia Maria Garcia MalAgosto de 1899 Portugalia I pp 417

En este estudio s cuesti6n sobre el avance I

Concelho de Guimaraes Ante to do se debe c

del legado cientifico de Francisco Martins Sarme propulsores del saber hi prerromano de la actual rl

Doctora en Historia y 0 Clasicos-Area de Historia Ani I Se ha elaborado un Corl apartados 1- Inscripciones Inscripciones monumental-he de propiedad rotulos de ca Monumentos anepigrafos y v un numero de identificacion emplazamiento la lectura y 1

misma Por el momento no se han il para un ulterior amll isis 2 Cf los diferentes articulo apunta al final de este articulo

LA EPIGRAFfA ROMA NA DEL G138 MANUELA MARTINS

Page 4: 1995repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/13355/1/Revista de... · INDICE . Revista de Guimaraes - 1995 . 1. SANTOS SIMOES - Na passagem do centenario de «0 Archeologo . JORGE

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GYIMARAES

mento honrou a sua telTa 0 seu pais e 0 seu tempo Tentemos justificar porque razao julgamos serem as palavras de HUbner bem definidoras do homem e da obra

Quando em 1874 M Sannento decide dar inicio as escashyvasoes da CWinia de Briteiros inaugurando uma fase da sua vida intelectual a de cientista possuia uma s6lida fonnasao aushytodidacta em linguas artes e humanidades que constituiu a base para 0 seu trabalho Tao s6lida preparasao serviu-Ihe para alicershysar quer a sua obra erudita que se baseanl no exame atento e na crftica das fontes litenirias permitindo a edisao de obras como a Ora Maritima de Avieno (1880) e os Argonautas (1887) quer 0

seu trabalho no telTeno cujo objectivo principal seria a identifishycasao das origens dos habitantes antigos do telTit6rio portugues Enesta ultima orientasao que se inserem os trabalhos de escavashyvao da Citania e Sabroso as inumeras prospecsoes que realizou no Entre-Douro-e-Minho acsoes que fazem nascer a Arqueoloshygia dos castros E ainda nesta orientasao que se incluem muitos dos seus escritos relativos a Etnologia peninsular designadashymente os seus artigos sobre Os Lusitanos (1880) Os Celtas na Lusitania (1882) ou aquele outro intitulado Lusitanos Ligures e Celtas (1890-91) De facto M Sannento nao se esgotou na inshyvestigasao dos castros e a arqueologia foi sempre para ele mais do que um objectivo um modo de aceder aos homens e as orishygens do povo portugues

Este objectivo hist6rico que se encontrava no cerne de toshydas as pesquisas de M Sannento era profundamente patri6tico mas a verdade e que ele projectava entre n6s uma concepsao e interesse cientificos que faziam escola alem fronteiras Martins Sarmento honrava 0 seu pais na busca das suas remotas origens mas honrava tambem 0 seu tempo mostrando a sua actualizashysao Com efeito 0 terceiro quartel do sec XIX viu desabrochar fulminantemente os estudos da Pre-Hist6ria europeia que irao ter em Portugal os seus ecos nas primeiras explorasoes das grutas e povoados estremenhos trabalho a que se encontram ligados noshy

128 MANUELA MARTINS

mes como Carlos Ribein pouco mais tardio e 0 int pelas antiguidades preshyproto-hist6ricos inicia-se 1871 nas colinas de Hi~

Homero rapidamente all sas descobertas orientais ropeus dando-se assim citados nas fontes liteniri Ligures Ora a obra cie Portugal a orientasao de culo XIX Profunda actuCl nas palavras de E Htibne

E a procura das IU

ser possivel encontrar a M Sarmento a iniciar as tro anos depois de iniciac homerica Toda a sua obi nol6gica Estudos em cas servem-Ihe conjuntamen critas para tentar comprel rit6rio nacional Fixar a I

cavasoes sem interrupsa( pouco ia desenterrando Sarmento No entanto c uma base comparativa pa vasoes simultaneas no quatro anos (1876-1880 ambito das suas pesquisa~

N a verdade tudo 0 (

prospectou 0 Entre-Dour ral tendo identificado m realizar 0 primeiro invenl do e classificando nume

MARTINS SARMENTO E A ARQU

RE VI TA DE

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mes como Carlos Ribeiro Nery Delgado e Pereira da Costa Urn pouco mais tardio e 0 interesse que se generaliza na Europa culta pelas antiguidades pre-classicas Este interesse pelos povos proto-hist6ricos inicia-se com as explora90es de Schlieman em 1871 nas colinas de Hissarlik onde julga descobrir a Tr6ia de Homero rapidamente alargadas a Micenas e Tirinto As fabuloshysas descobertas orientais mpolgaram facilmente os eruditos eushyropeus dando-se assim inicio ao estudo dos diferentes povos citados nas fontes literarias como os Germanos Celtas Iberos e Ligures Ora a obra cientifica de M Sarmento cristaliza em Portugal a orienta9ao de estudos europeus do ultimo ter90 do seshyculo XIX Profunda actualidade a deste homem que homou bern nas palavras de E HUbner degseu tempo e 0 seu pais

E a procura das nossa raizes pre-romanas onde julgava ser possivel encontrar a nossa verdadeira identidade que levam M Sarmento a iniciar as escavaltoes d Briteiros em 1875 quashytro anos depois de iniciados os trabalhos de Schlieman na Tr6ia homerica Toda a sua obra e a partir de entao arqueol6gica e etshyno16gica Estudos em castros inventario e estudo dos materiais servem-Ihe conjuntamente com a interpreta9ao das fontes esshycritas para tentar compreender as origens do povoamento do tershyrit6rio nacional Fixar a cronologia da Citania onde realiza esshycava90es sem interrupyao ate 1884 e da civilizayao que pouco a pouco ia desenterrando constituiu 0 objectivo primario de M Sarmento No entanto considerava indispensavel a cria9ao de uma base comparativa para os seus dados pelo que realiza escashyvayoes simultaneas no vizinho povoado de Sabroso durante quatro anos (1876-1 880) Insatisfeito ainda decide alargar 0 ambito das suas pesquisas ao Entre-Douro-e-Minho

Na verdade tudo 0 que se referia aos castros 0 interessava prospectou 0 Entr -Douro-e-Minho especialmente a parte litoshyral tendo identificado mais de meia centena de castros tentou realizar 0 primeiro inventario arqueo16gico do Minho ordenanshydo e classificando numerosos achados consagrou centenas de

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I

REVISTA DE

GVIMAMES

paginas as suas reflexoes sobre os castros muitas das quais pershymanecem ainda ineditas

Deve-se assim a M Sarmento 0 inicio da ardua tarefa de inventario e catalogasao dos castros portugueses que ainda hoje quase urn seculo volvido nao esta completa Atraves desse arshyduo trabalho deu a conhecer dezenas de castros que divulga em trabalhos monograiicos como a sua serie Materiais para a Arshyqueologia do distrito de Viana (1882) Materiais para a Arqueshyologia da comarca de Barcelos (1894) e Materiais para Arqueshyologia do concelho de Guimariies (1884-96) cuja edisao foi concluida postumamente entre 1901-1909 Podem ainda enconshytrar-se numerosas referencias aos castros noutros trabalhos deshysignadamente Sobre as antigas cidades da Iberia (1879) A propos ito de castros (1883) Cidade Velha de Monte Cordova (1895)

Deve-se igualmente a M Sarmento 0 conhecimento de uma das maiores citanias do NO peninsular conhecida e referida na bibliografia desde 0 sec XVI A CiHinia comelta por ser divulshygada por urn folheto com que Sarmento faz acompanhar uma colecsao de 37 fotografias que reuniu das escavaltoes A partir de 1879 a Citania passara a ser conhecida alem fronteiras e em 1880 merecera a visita dos congressistas do IX Congresso de Antropologia e Arqueologia Pre-Hist6ricas 0 trabalho de M Sarmento foi entao difundido e conhecido nos meios eruditos europeus recebendo os maiores elogios de homens como H Hubner Virchow E Cartailhac e A Schulten

Mas M Sarmento nao recebeu apenas elogios Houve quem 0 criticasse por nao ter produzido urn trabalho de grande fOlego sobre a Citania e sobre Sabroso Criticas talvez injustas atendendo a que 0 investigador redigiu mais de 4000 paginas sobre as duas estaltoes tendo mesmo em projecto escrever uma obra sobre 0 assunto que a morte prematura impossibilitou

De facto entre os seus ineditos conservados na Sociedade Martins Sarmento contam-se entre outros os manuscritos Cishy

130 MANUELA MARTINS

tania e Sabroso (1873- rejlexoes criticas sabre dois castros ou ainda 0

dito Mas nao devemos

de M Sarmento era 0 cc sitanos Ele foi essencial escrevendo sobre temas ressava como meio de gues

o pr6prio M San valtoes tinham por linic guiassem mais seguraml sas origens etnicas Nunl

De facto nao 0 p coleccionista do termo pesquisador de coisas an M Sarmento procurava objectos interessavam-II simples pedras sobrepos cia dos longinquos hal Sarmento e muito mais Mas essa exigencia de ~ simultaneamente uma gem porque dos seus 11 de reconstituiltao secun ca Urn inconveniente I zia-o aspirar a deduy5es gia-lhe urn tempo de ref com a sua curta vida El corajavarn a publicar ur ltoes de Briteiros e Sal sobre 0 problema dos c lato descritivo das suas

MARTINS SARMENTO E A AR

REVISTA DE

GYIMAMES

tania e Sabroso (1873-1883) com 0 subtitulo Notas diarias e rejlexoes criticas sobre as explora~oes arqueologicas destes dois castros ou ainda 0 seu diario de escavayoes tambem ineshydito

Mas nao devemos talvez esquecer que 0 objectivo ultimo de M Sarmento era 0 conhecimento das origens etnicas dos Lushysitanos Ele foi essencialmente e sempre urn etnologo Embora escrevendo sobre temas de arqueologia esta disciplina so 0 inteshyressava como meio de docurnentar as origens do povo portushygues

o proprio M Sarmento chega a afirmar as minhas escashyvayoes tinham por unico objectivo procurar elementos que me guiassem mais seguramente que os livros no problema das nosshysas origens etnicas Nunca pretendi honras de arqueologo

De facto nao 0 preocupavam as antigualhas no sentido coleccionista do termo nem 0 movia a simples curiosidade do pesquisador de coisas antigas Atraves das escavayoes da Citftnia M Sarmento procurava fazer reviver 0 passado Mais do que os objectos interessavam-Ihe os homens mais do que os muros simples pedras sobrepostas e alinhadas interessava-Ihe a vivenshycia dos longinquos habitantes citanienses Neste sentido M Sarmento e muito mais urn antropologo do que urn arqueologo Mas essa exigencia de M Sarmento fazia a si proprio constituiu simultaneamente urna vantagem e urn inconveniente Vantashygem porque dos seus trabalhos ressalta sempre urn forte poder de reconstituiyao secundado por uma solida preparayao cientifishyca Urn inconveniente porque a sua inclinayao especulativa fashyzia-o aspirar a deduyoes mais amplas e generalizantes Isso exishygia-lhe urn tempo de reflexao que acabou por nao ser compativel com a sua curta vida Ele proprio exprimiu amiude aos que 0 enshycorajavam a publicar urn estudo monografico sobre as explorashyyoes de Briteiros e Sabroso ou mesmo uma obra de conjunto sobre 0 problema dos castros que nao podia limitar-se a urn reshylato descritivo das suas descobertas resultantes da simples anali-

MARTINS SARA1poundNTO E A ARQUEOLOGIA DOS CASTROS 131

132 MANUELA MARTINS M ARTINS SARMENm EA AR(

RE VISTA DE

GVIMARAES

se dos documentos arqueologicos Por outro lado defrontava-se nao SO com a morosidade do trabalho arqueologico como com a acumulayao de materiai s e os encargos com as escavayoes No entanto chegou a conceber 0 projecto de urn trabalho que tencishyonava publicar na Portugruia sob 0 tema Materiais para a Arshyqueologia do Entre-Douro-e-Minho que a mOlte prematura inshyviabilizou

Do trabalho de M Sarmento r lativo aos castros ressaltam alguns aspectos dignos de nota Ele foi de facto 0 primeiro inshyvestigador a interessar-se de wn modo sistematico e cientifico por uma area cultural precisa no ambito da nossa proto-historia caracterizada pela presenya de largas centenas de castros Estes povoados eram conhecidos por Joao de Barros (Geografia do Entre-Douro~e-Minho sec xv I) Frei Bernardo de Brito (Moshynarquia Lusitana 1598) Gaspar Estayo (Varias Antiguidades de Portugal 1625) Antonio Carvalho da Costa (Corografia Portushyguesa 1706) e ainda J Contador de Argote

Dos seus estudos comparativos deduz M Sarmento a antishyguidade dos castros considerando que os construtores das citashynias haviam sido povos pre-rornanos e pre-celtas oriundos das primeiras migrayoes arianas estabelecidos em epocas remotas no Ocidente da Iberia A origem pn-celta dos Lusitanos que deshyfende e original pois recusa urn dos preconceitos enta~ vigenshytes 0 do celtisrno que marcava a interpretayao das nossas antishyguidades Ao defender a tese ligillica para a origem dos Lusitashynos demonstra nao so urn proftmdo conhecimento da Etnologia europeia como tambem 0 seu espirito avesso a aceitayoes demashysiado simplistas Afinna mesmo num trabalho seu sobre a Arte pre-romana (1879) no meio da ignorancia em que estamos acershyca dos primeiros povos de origem indo-europeia que ocupavam a P Iberica 0 celtismo tornou-se urn recurso banal Esperamos poder demonstrar que tal denominayao deve ser proscrita quando se fala de Lusitanos e Galegos que muito provavelmente ja esshy

tavam na posse desta par dos Celtas nestas regioes

Martins Sannento pioneiras em terrnos de J recusa a aceitar 0 Celtisn pelo terreno faci do orie autonomia das culturas Mediterraneo oriental ~ area nebulosa da investi etnica das comunidades batida mas ainda hoje P modo independentemen mento ele foi 0 precurso interpretayao da etnogem

Ao sabio vimarane do de muitos problemas serviu de ponto de partid tigadores Por outro lado ram articular entre si os nho e da Galiza e pree -historica portuguesa CI

Geologicos de Portugal Herculano

Martins Sannento grupo de jovens entusia~ ologia grupo que funda Integrando hom ens com~

seca Cardoso ao qual se dara origem em 1890 a aqual sucedeu em 189S vestigadores serao segu castros Jose Fortes rea Fonseca Cardoso e Ri( gunte e Vilarinho de C(

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GYIMARAES

tavam na posse desta parte da Europa seculos antes da apariyao dos Celtas nestas regioes

Martins Sarmento revelou de resto outras caracteristicas pioneiras em termos de investigayao arqueologica Tal como se recusa a aceitar 0 Celtismo dos Lusitanos nao se deixa fascinar pelo terre no facil do orientalismo entao em yoga salientando a autonomia das culturas pre-historicas atlanticas em relayao ao Mediterraneo oriental M Sarmento mergulhava assim numa area nebulosa da investigayao do nosso passado a da origem etnica das comunidades peninsulares tematica sobejamente deshybatida mas ainda hoje profundamente controversa De qualquer modo independentemente da validade das asseryoes de Sarshymento ele foi 0 precursor dessa vertente de investigayao que e a interpretayao da etnogenese dos povos peninsulares

Ao sabio vimaranense cabe a gloria de ter iniciado 0 estushydo de muitos problemas relativos as nossas origens etnicas que serviu de ponto de partida para novos trabalhos de outros invesshytigadores Por outro lado as pesquisas de M Sarmento permitishyram articular entre si os dados respeitantes as provincias do Mishynho e da Galiza e preencher a lacuna entre a realidade Preshy-historica portuguesa cujo estudo foi iniciado pelos Serviyos Geologicos de Portugal e a Idade Media sistematizada por A Herculano

Martins Sarmento teve ainda 0 merito de atrair a si urn grupo de jovens entusiastas pelas ciencias naturais e pela arqueshyologia grupo que funda em 1887 a Sociedade Carlos Ribeiro Integrando homens como Ricardo Severo Rocha Peixoto e Fonshyseca Cardoso ao qual se juntara tambem Jose Fortes este grupo dara origem em 1890 a Revista de Ciencias Naturais e Sociais a qual sucedeu em 1899 a revista Portugalia Alguns destes inshyvestigadores serao seguidores de M Sarmento na pesquisa dos castros Jose Fortes realiza escavayoes em Alvarelhos (1899) Fonseca Cardoso e Ricardo Severo respectivamente em Bashygunte e Vilarinho de Cotas Outras escavayoes como as do cas-

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REVISTA DE

GYIMARA ES

telo de Guiroes (Matosinhos) cividade de Terroso (Povoa de Varzim) man tern vivo 0 genuino interesse de M Sarmento peshylos castros da regiao do Minho

Os homens da Portugalia tal como M Sarmento e L de Vasconcelos opunham-se a afirmayao de A Herculano relativa a inexistencia de relayoes genealogicas entre os portugueses e as populayoes pre e proto-historicas especialmente com os Lusitashynos Defendiam em contrapartida 0 nacionalismo etnico asshysunto que constitui 0 corolario dos estudos de Alberto Sampaio outro colaborador da Portugalia que procurou filiar as origens dos modemos nucleos de povoamento do pais nas cividades e ci1imias proto-historicas

Apos a morte de Sarmento as investigayoes nos castros irao prosseguir essencialmente Jigados ao grupo da Portugitlia ate pelo menos 1908 No entanlo posteriormente a esta data sera o Museu Etnologico Portugues fundado em Lisboa em 1894 ligado a figura de 1 Leite de Vasconcelos que ira manter uma estreita ligayao com investigadores locais servindo mesmo de insvestigador de escavayoes e prospecyoes como as que serao realizadas por F Alves Pereira na regiao dos Arcos de Valdevez ou divulgando trabalhos e resultados na revista 0 Arqueologo Portugues fundada em 1895 Assim acontecera por exemplo com os trabalhos de alguns investigadores locais como Albano Belino que entre 1893 e 1900 realiza escavayoes em castros da regiao de Braga especialmente no Monte Redondo

o fim do grupo da Portugalia coincide com os inicios de urn periodo pouco feliz para 0 estudo dos castros e de urn modo geral para a arqueologia portuguesa A urn periodo de intensa actividade que caracteriza as ultimas decadas do sec XIX ira sushyceder-se urn profundo marasmo quebrado por raras e honrosas contribuiyoes que nao chegam para minimizar nem a demissao dos poderes publicos em relayao ao estudo da Pre-historia portushyguesa nem 0 atraso que desde entao nos distancia cada vez mais da investigacao europeia

134 MANUELA MARTINS

E verdade que a il de urn modo pouco cons mulayao de materiais rei uma total insuficiencia lti melhorar a qualidade d eram estudados pois na( a investigacao Os musel deiros depositos de peyc yoes de proveniencia C sem uma necessaria reno tros vivera nas primeiras yO e trabalhos de amadm rayao tecnica Deste qua yoes de investigadores Ii versidade do Porto criac logia e Etnologia (1919 sentayoes cartograficas I

Este tipo de abordagem austro-hlingara nos fina culturais e sugerir hipote~ difusao de modelos cult Pinto serao entre nos d encontra bern representac nologia da P Iberica EI

os esforyos de sintese de com a sua obra Os Pavo Pre-romana inserida na (1928)

Todavia a partir d gram 0 conhecimento s honrosamente havia com ser elaboradas aiem fron passam desde entao a peninsular e europeu atr

M ARTINS S ARMEiTO pound A ARQ

REVISTA DE

GYIMARAES

E verdade que a investigayao dos castros prossegue mas de urn modo pouco consequente Regista-se uma paulatina acushymulayao de materiais recolhidos em museus mas e perceptivel uma total insuficiencia de meios e de tecnicas que permitissem melhorar a qualidade das pesquisas Os materiais raramente eram estudados pois nao existiam organismos que suportassem a investigayao Os museus por sua vez tornan1-se entao verdashydeiros depositos de peyas muitas vezes sem quaisquer indicashyyoes de proveniencia 0 conhecimento estiola em repetiyoes sem uma necessaria renovayao De facto a arqueologia dos casshytros vivenl nas primeiras decadas do sec xx sobretudo do esforshyyO e trabalhos de amado res e curiosos quase sempre sem prepashyrayao tecnica Deste quadro sombrio se destacam as contribuishyyoes de investigadores ligados a Faculdade de Ciencias da Unishyversidade do Porto criadores da revista Trabalhos de Antroposhylogia e Etnologia (1919) e introdutores em Portugal das represhysentayoes cartograficas na distribuiyao de estayoes e achados Este tipo de abordagem desenvolvlida pela escola geografica austro-hungara nos finais do sec XIX permitia definir areas culturais e sugerir hipoteses de migrayoes de povos bern como a difusao de model os culturais Mendes Correia e Rui de Serpa Pinto serao entre nos dois cultores desta metodologia que se encontra bern representada nos trabalhos de sfntese sobre a Etshynologia da P Iberica E nesta perspectiva que podemos integrar os esforyos de sintese de Mendes Correia (1924) principalmente com a sua obra as Povos Primitivos da Lusitdnia e A Lusitdnia Pre-romana inserida na Historia de Portugal de Damiao Peres (1928)

Todavia a partir dos anos 20 as grandes sinteses que inteshygram 0 conhecimento sobre os castros cuja investigayao tao honrosamente havia comeyado com Martins Sarmento passam a ser elaboradas alem fronteiras Os povos e culturas portuguesas passam desde entao a inserir-se sistematicamente no ambito peninsular e europeu atraves dos trabalhos de P Bosch Guimpeshy

MAR7JVS SARMENTO E A ARQ EOLOGIA DOS CASTROS 135

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RREVI STA DE GGY IMARA ES

ra a uern se dev a de miy30 da Cultura dos castros e a sua cashyra t rizay3 no funbito da Il Idad do Ferro peninsular com base na tipologia dos seus p voados e na planta das habitayoes Porshytugal perd peso na investigayao deste dominio arque010gico tao pre iso m que havia sido pioneiro

Isso nao significa que nao se realizassem entre nos trabashylhos ou que novas pubJicayoes nao fossem dadas a estampa Na realidade merecem justa homenagem os esforyos de F Alves Pereira e em particular os de Rui de Serpa Pinto cuja brilhante inteligencia 1he facultava urn louvavel poder de sintese A sua morte precoce privou a arqueologia portuguesa de urn dos seus mais notaveis e promissores vultos

A arqueologia dos castros passara a ser dominada pela fishygura de F Lopez Cuevillas que durante 40 anos (anos 20-60) produz urn extenso rol de trabalhos de caracter monografico e de sintese que contribuira para precisar as caracteristicas da Cultushyra castreja Entre nos e com uma aCyao de algurn modo compashyravel podemos destacar a figura de Mario Cardoso que a partir dos anos 30 presidira aos destinos da Sociedade Martins Sarshymento dando continuidade aos trabalhos do seu fundador Com uma vultuosa obra que constitui urn ponto de referencia para toshydos os que ao tema dos castros se dedicam M Cardoso soube homar a Sociedade liderando a investigayao dos castros no Norte de Portugal ate a decada de 70

Todavia a actividade arqueologica em Portugal nao acompanhou 0 passo dos restantes paises europeus Nao Ise reshynovaram as tecnicas nem a problematica de investigayao 0 nosso pais manteve-s a margem dos debates teoricos que anishymaram a comunidade arqueologica internacional e que questioshynaram 0 senti do e a interpretay30 das sociedades pre e protoshyhistoricas Nos anos 70 0 estudo das nossas culturas registava urn notavel atraso em relayao as suas congeneres europeias

A partir dos anos 70 assistiremos a urn renovado interesse pelo estudo dos castros traduzido por urn significativo aurnento

136 MANUELA MARTfNS

do numero de escavayoes novayao metodologica Ai lho que deixam de se cen1 da cultura material passan tivas da Cultura castreja E guns dos trabalhos de sinte cada de 80 No entanto e fase embrionaria de invest damental nos da conta d4 nacional

Por isso nao deixa d tecer mais uma vez a figu dade do seu pensamento e duziu em termos europeu mente a investigayao dos I

pois so a muito custo se inumeras dificuldades que ologico

BIBLIOGRAFA CONSULT

CARDOSO M (1927) Bibliol pp 115 e 185

- (1933) Dr Francisco Martin nagem a Martins Sarmento

- (1945) Os fundadores da S Revista de GuimarCies 55 r

- (1956) Francisco Martins Sa Guimaraes

CORREA M (1933) No cen Estudos Portugueses do Int

- (1947) Histoire des rechercl Antropologia e Etnologia I

MElRA1 (1921) Homenagel 31 pp 176

MARTINS SA RivlENTO E A ARQU

REVISTA DE

GYI M ARAES

do numero de escavacoes mas tam bern por uma importante reshynovacao metodol6gica Alargaram-se as perspectivas de trabashylho que deixam de se centrar exc1usivamente na caracterizacao da cultura material passando a polarizar-se nas questOes evolushytivas da Cultura castreja E nesta perspectiva que se inserem alshyguns dos trabalhos de sintese sobre os castros produzidos na deshycada de 80 No entanto estes trabalhos inserem-se ainda numa fase embriomiria de investigacao que nao deixando de ser funshydamental nos da conta do consideravel atraso da arqueologia nacional

Por isso nao deixa de ser a todos os titulos legitimo enalshytecer mais uma vez a figura ilustre de M Sannento pela vitalishydade do seu pensamento e pela actualidade do trabalho que proshyduziu em termos europeus 0 pioneirismo portugues relativashymente it investigacao dos castros nao mais voltou a registar-se pois s6 a muito custo se conseguiu ultrapassar entre n6s as inumeras dificuldades que inibem ainda hoje 0 trabalho arqueshyol6gico

BlBLlOGRAFIA CONSUL TADA

CARDOSO M (1927) Bibliografia Sarmentina Revista de Guimarfies 37 pp 115 e 185

- (1933) Dr Francisco Martins Sarmento Esboyo bio-bibliognlfico Homeshynagem a Martins Sarmento Guimaraes

- (1945) Os fundadores da Sociedade Carlos Ribeiro e Martins Sarmento Revista de Guimariies 55 pp 13

- (1956) Francisco Martins Sarmento Esboro da slia vida e Obra cientfjica Guimaraes

CORREA M (1933) No centenario do nascimento de Martins Sarmento Estudos Portugueses do Integralismo Lusitano 2 12

- (1947) Histoire des recherches pre-historiques en Portugal Trabalhos de Antropologia e Etnologia II pp 115

MElRA 1 (1921) Homenagem a Martins Sarmento Revista de Guimarfies 31 pp 176

M ARTINS SARMENTO E A ARQUEOLOGfA DOS C ASTROS 137

REVISTA D E

GVIMARAES

PIMENTA A (1933) Martins Sarmento Literato e Historiador Ed Fernanshy LA EPIGRAFIA ROM des Junior Lisboa GUIMARAES UN ES~

SAMPAIO A (1899-1903) F Martins Sarmento 9 de Manyo de 1833 - 9 de Sonia Maria Garcia MalAgosto de 1899 Portugalia I pp 417

En este estudio s cuesti6n sobre el avance I

Concelho de Guimaraes Ante to do se debe c

del legado cientifico de Francisco Martins Sarme propulsores del saber hi prerromano de la actual rl

Doctora en Historia y 0 Clasicos-Area de Historia Ani I Se ha elaborado un Corl apartados 1- Inscripciones Inscripciones monumental-he de propiedad rotulos de ca Monumentos anepigrafos y v un numero de identificacion emplazamiento la lectura y 1

misma Por el momento no se han il para un ulterior amll isis 2 Cf los diferentes articulo apunta al final de este articulo

LA EPIGRAFfA ROMA NA DEL G138 MANUELA MARTINS

Page 5: 1995repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/13355/1/Revista de... · INDICE . Revista de Guimaraes - 1995 . 1. SANTOS SIMOES - Na passagem do centenario de «0 Archeologo . JORGE

RE VI TA DE

GVIMARAES

mes como Carlos Ribeiro Nery Delgado e Pereira da Costa Urn pouco mais tardio e 0 interesse que se generaliza na Europa culta pelas antiguidades pre-classicas Este interesse pelos povos proto-hist6ricos inicia-se com as explora90es de Schlieman em 1871 nas colinas de Hissarlik onde julga descobrir a Tr6ia de Homero rapidamente alargadas a Micenas e Tirinto As fabuloshysas descobertas orientais mpolgaram facilmente os eruditos eushyropeus dando-se assim inicio ao estudo dos diferentes povos citados nas fontes literarias como os Germanos Celtas Iberos e Ligures Ora a obra cientifica de M Sarmento cristaliza em Portugal a orienta9ao de estudos europeus do ultimo ter90 do seshyculo XIX Profunda actualidade a deste homem que homou bern nas palavras de E HUbner degseu tempo e 0 seu pais

E a procura das nossa raizes pre-romanas onde julgava ser possivel encontrar a nossa verdadeira identidade que levam M Sarmento a iniciar as escavaltoes d Briteiros em 1875 quashytro anos depois de iniciados os trabalhos de Schlieman na Tr6ia homerica Toda a sua obra e a partir de entao arqueol6gica e etshyno16gica Estudos em castros inventario e estudo dos materiais servem-Ihe conjuntamente com a interpreta9ao das fontes esshycritas para tentar compreender as origens do povoamento do tershyrit6rio nacional Fixar a cronologia da Citania onde realiza esshycava90es sem interrupyao ate 1884 e da civilizayao que pouco a pouco ia desenterrando constituiu 0 objectivo primario de M Sarmento No entanto considerava indispensavel a cria9ao de uma base comparativa para os seus dados pelo que realiza escashyvayoes simultaneas no vizinho povoado de Sabroso durante quatro anos (1876-1 880) Insatisfeito ainda decide alargar 0 ambito das suas pesquisas ao Entre-Douro-e-Minho

Na verdade tudo 0 que se referia aos castros 0 interessava prospectou 0 Entr -Douro-e-Minho especialmente a parte litoshyral tendo identificado mais de meia centena de castros tentou realizar 0 primeiro inventario arqueo16gico do Minho ordenanshydo e classificando numerosos achados consagrou centenas de

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GVIMAMES

paginas as suas reflexoes sobre os castros muitas das quais pershymanecem ainda ineditas

Deve-se assim a M Sarmento 0 inicio da ardua tarefa de inventario e catalogasao dos castros portugueses que ainda hoje quase urn seculo volvido nao esta completa Atraves desse arshyduo trabalho deu a conhecer dezenas de castros que divulga em trabalhos monograiicos como a sua serie Materiais para a Arshyqueologia do distrito de Viana (1882) Materiais para a Arqueshyologia da comarca de Barcelos (1894) e Materiais para Arqueshyologia do concelho de Guimariies (1884-96) cuja edisao foi concluida postumamente entre 1901-1909 Podem ainda enconshytrar-se numerosas referencias aos castros noutros trabalhos deshysignadamente Sobre as antigas cidades da Iberia (1879) A propos ito de castros (1883) Cidade Velha de Monte Cordova (1895)

Deve-se igualmente a M Sarmento 0 conhecimento de uma das maiores citanias do NO peninsular conhecida e referida na bibliografia desde 0 sec XVI A CiHinia comelta por ser divulshygada por urn folheto com que Sarmento faz acompanhar uma colecsao de 37 fotografias que reuniu das escavaltoes A partir de 1879 a Citania passara a ser conhecida alem fronteiras e em 1880 merecera a visita dos congressistas do IX Congresso de Antropologia e Arqueologia Pre-Hist6ricas 0 trabalho de M Sarmento foi entao difundido e conhecido nos meios eruditos europeus recebendo os maiores elogios de homens como H Hubner Virchow E Cartailhac e A Schulten

Mas M Sarmento nao recebeu apenas elogios Houve quem 0 criticasse por nao ter produzido urn trabalho de grande fOlego sobre a Citania e sobre Sabroso Criticas talvez injustas atendendo a que 0 investigador redigiu mais de 4000 paginas sobre as duas estaltoes tendo mesmo em projecto escrever uma obra sobre 0 assunto que a morte prematura impossibilitou

De facto entre os seus ineditos conservados na Sociedade Martins Sarmento contam-se entre outros os manuscritos Cishy

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tania e Sabroso (1873- rejlexoes criticas sabre dois castros ou ainda 0

dito Mas nao devemos

de M Sarmento era 0 cc sitanos Ele foi essencial escrevendo sobre temas ressava como meio de gues

o pr6prio M San valtoes tinham por linic guiassem mais seguraml sas origens etnicas Nunl

De facto nao 0 p coleccionista do termo pesquisador de coisas an M Sarmento procurava objectos interessavam-II simples pedras sobrepos cia dos longinquos hal Sarmento e muito mais Mas essa exigencia de ~ simultaneamente uma gem porque dos seus 11 de reconstituiltao secun ca Urn inconveniente I zia-o aspirar a deduy5es gia-lhe urn tempo de ref com a sua curta vida El corajavarn a publicar ur ltoes de Briteiros e Sal sobre 0 problema dos c lato descritivo das suas

MARTINS SARMENTO E A AR

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GYIMAMES

tania e Sabroso (1873-1883) com 0 subtitulo Notas diarias e rejlexoes criticas sobre as explora~oes arqueologicas destes dois castros ou ainda 0 seu diario de escavayoes tambem ineshydito

Mas nao devemos talvez esquecer que 0 objectivo ultimo de M Sarmento era 0 conhecimento das origens etnicas dos Lushysitanos Ele foi essencialmente e sempre urn etnologo Embora escrevendo sobre temas de arqueologia esta disciplina so 0 inteshyressava como meio de docurnentar as origens do povo portushygues

o proprio M Sarmento chega a afirmar as minhas escashyvayoes tinham por unico objectivo procurar elementos que me guiassem mais seguramente que os livros no problema das nosshysas origens etnicas Nunca pretendi honras de arqueologo

De facto nao 0 preocupavam as antigualhas no sentido coleccionista do termo nem 0 movia a simples curiosidade do pesquisador de coisas antigas Atraves das escavayoes da Citftnia M Sarmento procurava fazer reviver 0 passado Mais do que os objectos interessavam-Ihe os homens mais do que os muros simples pedras sobrepostas e alinhadas interessava-Ihe a vivenshycia dos longinquos habitantes citanienses Neste sentido M Sarmento e muito mais urn antropologo do que urn arqueologo Mas essa exigencia de M Sarmento fazia a si proprio constituiu simultaneamente urna vantagem e urn inconveniente Vantashygem porque dos seus trabalhos ressalta sempre urn forte poder de reconstituiyao secundado por uma solida preparayao cientifishyca Urn inconveniente porque a sua inclinayao especulativa fashyzia-o aspirar a deduyoes mais amplas e generalizantes Isso exishygia-lhe urn tempo de reflexao que acabou por nao ser compativel com a sua curta vida Ele proprio exprimiu amiude aos que 0 enshycorajavam a publicar urn estudo monografico sobre as explorashyyoes de Briteiros e Sabroso ou mesmo uma obra de conjunto sobre 0 problema dos castros que nao podia limitar-se a urn reshylato descritivo das suas descobertas resultantes da simples anali-

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se dos documentos arqueologicos Por outro lado defrontava-se nao SO com a morosidade do trabalho arqueologico como com a acumulayao de materiai s e os encargos com as escavayoes No entanto chegou a conceber 0 projecto de urn trabalho que tencishyonava publicar na Portugruia sob 0 tema Materiais para a Arshyqueologia do Entre-Douro-e-Minho que a mOlte prematura inshyviabilizou

Do trabalho de M Sarmento r lativo aos castros ressaltam alguns aspectos dignos de nota Ele foi de facto 0 primeiro inshyvestigador a interessar-se de wn modo sistematico e cientifico por uma area cultural precisa no ambito da nossa proto-historia caracterizada pela presenya de largas centenas de castros Estes povoados eram conhecidos por Joao de Barros (Geografia do Entre-Douro~e-Minho sec xv I) Frei Bernardo de Brito (Moshynarquia Lusitana 1598) Gaspar Estayo (Varias Antiguidades de Portugal 1625) Antonio Carvalho da Costa (Corografia Portushyguesa 1706) e ainda J Contador de Argote

Dos seus estudos comparativos deduz M Sarmento a antishyguidade dos castros considerando que os construtores das citashynias haviam sido povos pre-rornanos e pre-celtas oriundos das primeiras migrayoes arianas estabelecidos em epocas remotas no Ocidente da Iberia A origem pn-celta dos Lusitanos que deshyfende e original pois recusa urn dos preconceitos enta~ vigenshytes 0 do celtisrno que marcava a interpretayao das nossas antishyguidades Ao defender a tese ligillica para a origem dos Lusitashynos demonstra nao so urn proftmdo conhecimento da Etnologia europeia como tambem 0 seu espirito avesso a aceitayoes demashysiado simplistas Afinna mesmo num trabalho seu sobre a Arte pre-romana (1879) no meio da ignorancia em que estamos acershyca dos primeiros povos de origem indo-europeia que ocupavam a P Iberica 0 celtismo tornou-se urn recurso banal Esperamos poder demonstrar que tal denominayao deve ser proscrita quando se fala de Lusitanos e Galegos que muito provavelmente ja esshy

tavam na posse desta par dos Celtas nestas regioes

Martins Sannento pioneiras em terrnos de J recusa a aceitar 0 Celtisn pelo terreno faci do orie autonomia das culturas Mediterraneo oriental ~ area nebulosa da investi etnica das comunidades batida mas ainda hoje P modo independentemen mento ele foi 0 precurso interpretayao da etnogem

Ao sabio vimarane do de muitos problemas serviu de ponto de partid tigadores Por outro lado ram articular entre si os nho e da Galiza e pree -historica portuguesa CI

Geologicos de Portugal Herculano

Martins Sannento grupo de jovens entusia~ ologia grupo que funda Integrando hom ens com~

seca Cardoso ao qual se dara origem em 1890 a aqual sucedeu em 189S vestigadores serao segu castros Jose Fortes rea Fonseca Cardoso e Ri( gunte e Vilarinho de C(

REVISTA DE

GYIMARAES

tavam na posse desta parte da Europa seculos antes da apariyao dos Celtas nestas regioes

Martins Sarmento revelou de resto outras caracteristicas pioneiras em termos de investigayao arqueologica Tal como se recusa a aceitar 0 Celtismo dos Lusitanos nao se deixa fascinar pelo terre no facil do orientalismo entao em yoga salientando a autonomia das culturas pre-historicas atlanticas em relayao ao Mediterraneo oriental M Sarmento mergulhava assim numa area nebulosa da investigayao do nosso passado a da origem etnica das comunidades peninsulares tematica sobejamente deshybatida mas ainda hoje profundamente controversa De qualquer modo independentemente da validade das asseryoes de Sarshymento ele foi 0 precursor dessa vertente de investigayao que e a interpretayao da etnogenese dos povos peninsulares

Ao sabio vimaranense cabe a gloria de ter iniciado 0 estushydo de muitos problemas relativos as nossas origens etnicas que serviu de ponto de partida para novos trabalhos de outros invesshytigadores Por outro lado as pesquisas de M Sarmento permitishyram articular entre si os dados respeitantes as provincias do Mishynho e da Galiza e preencher a lacuna entre a realidade Preshy-historica portuguesa cujo estudo foi iniciado pelos Serviyos Geologicos de Portugal e a Idade Media sistematizada por A Herculano

Martins Sarmento teve ainda 0 merito de atrair a si urn grupo de jovens entusiastas pelas ciencias naturais e pela arqueshyologia grupo que funda em 1887 a Sociedade Carlos Ribeiro Integrando homens como Ricardo Severo Rocha Peixoto e Fonshyseca Cardoso ao qual se juntara tambem Jose Fortes este grupo dara origem em 1890 a Revista de Ciencias Naturais e Sociais a qual sucedeu em 1899 a revista Portugalia Alguns destes inshyvestigadores serao seguidores de M Sarmento na pesquisa dos castros Jose Fortes realiza escavayoes em Alvarelhos (1899) Fonseca Cardoso e Ricardo Severo respectivamente em Bashygunte e Vilarinho de Cotas Outras escavayoes como as do cas-

MARTINS S ARMENTO E A ARQUEOLOGJA DOS CASTROS 133

REVISTA DE

GYIMARA ES

telo de Guiroes (Matosinhos) cividade de Terroso (Povoa de Varzim) man tern vivo 0 genuino interesse de M Sarmento peshylos castros da regiao do Minho

Os homens da Portugalia tal como M Sarmento e L de Vasconcelos opunham-se a afirmayao de A Herculano relativa a inexistencia de relayoes genealogicas entre os portugueses e as populayoes pre e proto-historicas especialmente com os Lusitashynos Defendiam em contrapartida 0 nacionalismo etnico asshysunto que constitui 0 corolario dos estudos de Alberto Sampaio outro colaborador da Portugalia que procurou filiar as origens dos modemos nucleos de povoamento do pais nas cividades e ci1imias proto-historicas

Apos a morte de Sarmento as investigayoes nos castros irao prosseguir essencialmente Jigados ao grupo da Portugitlia ate pelo menos 1908 No entanlo posteriormente a esta data sera o Museu Etnologico Portugues fundado em Lisboa em 1894 ligado a figura de 1 Leite de Vasconcelos que ira manter uma estreita ligayao com investigadores locais servindo mesmo de insvestigador de escavayoes e prospecyoes como as que serao realizadas por F Alves Pereira na regiao dos Arcos de Valdevez ou divulgando trabalhos e resultados na revista 0 Arqueologo Portugues fundada em 1895 Assim acontecera por exemplo com os trabalhos de alguns investigadores locais como Albano Belino que entre 1893 e 1900 realiza escavayoes em castros da regiao de Braga especialmente no Monte Redondo

o fim do grupo da Portugalia coincide com os inicios de urn periodo pouco feliz para 0 estudo dos castros e de urn modo geral para a arqueologia portuguesa A urn periodo de intensa actividade que caracteriza as ultimas decadas do sec XIX ira sushyceder-se urn profundo marasmo quebrado por raras e honrosas contribuiyoes que nao chegam para minimizar nem a demissao dos poderes publicos em relayao ao estudo da Pre-historia portushyguesa nem 0 atraso que desde entao nos distancia cada vez mais da investigacao europeia

134 MANUELA MARTINS

E verdade que a il de urn modo pouco cons mulayao de materiais rei uma total insuficiencia lti melhorar a qualidade d eram estudados pois na( a investigacao Os musel deiros depositos de peyc yoes de proveniencia C sem uma necessaria reno tros vivera nas primeiras yO e trabalhos de amadm rayao tecnica Deste qua yoes de investigadores Ii versidade do Porto criac logia e Etnologia (1919 sentayoes cartograficas I

Este tipo de abordagem austro-hlingara nos fina culturais e sugerir hipote~ difusao de modelos cult Pinto serao entre nos d encontra bern representac nologia da P Iberica EI

os esforyos de sintese de com a sua obra Os Pavo Pre-romana inserida na (1928)

Todavia a partir d gram 0 conhecimento s honrosamente havia com ser elaboradas aiem fron passam desde entao a peninsular e europeu atr

M ARTINS S ARMEiTO pound A ARQ

REVISTA DE

GYIMARAES

E verdade que a investigayao dos castros prossegue mas de urn modo pouco consequente Regista-se uma paulatina acushymulayao de materiais recolhidos em museus mas e perceptivel uma total insuficiencia de meios e de tecnicas que permitissem melhorar a qualidade das pesquisas Os materiais raramente eram estudados pois nao existiam organismos que suportassem a investigayao Os museus por sua vez tornan1-se entao verdashydeiros depositos de peyas muitas vezes sem quaisquer indicashyyoes de proveniencia 0 conhecimento estiola em repetiyoes sem uma necessaria renovayao De facto a arqueologia dos casshytros vivenl nas primeiras decadas do sec xx sobretudo do esforshyyO e trabalhos de amado res e curiosos quase sempre sem prepashyrayao tecnica Deste quadro sombrio se destacam as contribuishyyoes de investigadores ligados a Faculdade de Ciencias da Unishyversidade do Porto criadores da revista Trabalhos de Antroposhylogia e Etnologia (1919) e introdutores em Portugal das represhysentayoes cartograficas na distribuiyao de estayoes e achados Este tipo de abordagem desenvolvlida pela escola geografica austro-hungara nos finais do sec XIX permitia definir areas culturais e sugerir hipoteses de migrayoes de povos bern como a difusao de model os culturais Mendes Correia e Rui de Serpa Pinto serao entre nos dois cultores desta metodologia que se encontra bern representada nos trabalhos de sfntese sobre a Etshynologia da P Iberica E nesta perspectiva que podemos integrar os esforyos de sintese de Mendes Correia (1924) principalmente com a sua obra as Povos Primitivos da Lusitdnia e A Lusitdnia Pre-romana inserida na Historia de Portugal de Damiao Peres (1928)

Todavia a partir dos anos 20 as grandes sinteses que inteshygram 0 conhecimento sobre os castros cuja investigayao tao honrosamente havia comeyado com Martins Sarmento passam a ser elaboradas alem fronteiras Os povos e culturas portuguesas passam desde entao a inserir-se sistematicamente no ambito peninsular e europeu atraves dos trabalhos de P Bosch Guimpeshy

MAR7JVS SARMENTO E A ARQ EOLOGIA DOS CASTROS 135

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RREVI STA DE GGY IMARA ES

ra a uern se dev a de miy30 da Cultura dos castros e a sua cashyra t rizay3 no funbito da Il Idad do Ferro peninsular com base na tipologia dos seus p voados e na planta das habitayoes Porshytugal perd peso na investigayao deste dominio arque010gico tao pre iso m que havia sido pioneiro

Isso nao significa que nao se realizassem entre nos trabashylhos ou que novas pubJicayoes nao fossem dadas a estampa Na realidade merecem justa homenagem os esforyos de F Alves Pereira e em particular os de Rui de Serpa Pinto cuja brilhante inteligencia 1he facultava urn louvavel poder de sintese A sua morte precoce privou a arqueologia portuguesa de urn dos seus mais notaveis e promissores vultos

A arqueologia dos castros passara a ser dominada pela fishygura de F Lopez Cuevillas que durante 40 anos (anos 20-60) produz urn extenso rol de trabalhos de caracter monografico e de sintese que contribuira para precisar as caracteristicas da Cultushyra castreja Entre nos e com uma aCyao de algurn modo compashyravel podemos destacar a figura de Mario Cardoso que a partir dos anos 30 presidira aos destinos da Sociedade Martins Sarshymento dando continuidade aos trabalhos do seu fundador Com uma vultuosa obra que constitui urn ponto de referencia para toshydos os que ao tema dos castros se dedicam M Cardoso soube homar a Sociedade liderando a investigayao dos castros no Norte de Portugal ate a decada de 70

Todavia a actividade arqueologica em Portugal nao acompanhou 0 passo dos restantes paises europeus Nao Ise reshynovaram as tecnicas nem a problematica de investigayao 0 nosso pais manteve-s a margem dos debates teoricos que anishymaram a comunidade arqueologica internacional e que questioshynaram 0 senti do e a interpretay30 das sociedades pre e protoshyhistoricas Nos anos 70 0 estudo das nossas culturas registava urn notavel atraso em relayao as suas congeneres europeias

A partir dos anos 70 assistiremos a urn renovado interesse pelo estudo dos castros traduzido por urn significativo aurnento

136 MANUELA MARTfNS

do numero de escavayoes novayao metodologica Ai lho que deixam de se cen1 da cultura material passan tivas da Cultura castreja E guns dos trabalhos de sinte cada de 80 No entanto e fase embrionaria de invest damental nos da conta d4 nacional

Por isso nao deixa d tecer mais uma vez a figu dade do seu pensamento e duziu em termos europeu mente a investigayao dos I

pois so a muito custo se inumeras dificuldades que ologico

BIBLIOGRAFA CONSULT

CARDOSO M (1927) Bibliol pp 115 e 185

- (1933) Dr Francisco Martin nagem a Martins Sarmento

- (1945) Os fundadores da S Revista de GuimarCies 55 r

- (1956) Francisco Martins Sa Guimaraes

CORREA M (1933) No cen Estudos Portugueses do Int

- (1947) Histoire des rechercl Antropologia e Etnologia I

MElRA1 (1921) Homenagel 31 pp 176

MARTINS SA RivlENTO E A ARQU

REVISTA DE

GYI M ARAES

do numero de escavacoes mas tam bern por uma importante reshynovacao metodol6gica Alargaram-se as perspectivas de trabashylho que deixam de se centrar exc1usivamente na caracterizacao da cultura material passando a polarizar-se nas questOes evolushytivas da Cultura castreja E nesta perspectiva que se inserem alshyguns dos trabalhos de sintese sobre os castros produzidos na deshycada de 80 No entanto estes trabalhos inserem-se ainda numa fase embriomiria de investigacao que nao deixando de ser funshydamental nos da conta do consideravel atraso da arqueologia nacional

Por isso nao deixa de ser a todos os titulos legitimo enalshytecer mais uma vez a figura ilustre de M Sannento pela vitalishydade do seu pensamento e pela actualidade do trabalho que proshyduziu em termos europeus 0 pioneirismo portugues relativashymente it investigacao dos castros nao mais voltou a registar-se pois s6 a muito custo se conseguiu ultrapassar entre n6s as inumeras dificuldades que inibem ainda hoje 0 trabalho arqueshyol6gico

BlBLlOGRAFIA CONSUL TADA

CARDOSO M (1927) Bibliografia Sarmentina Revista de Guimarfies 37 pp 115 e 185

- (1933) Dr Francisco Martins Sarmento Esboyo bio-bibliognlfico Homeshynagem a Martins Sarmento Guimaraes

- (1945) Os fundadores da Sociedade Carlos Ribeiro e Martins Sarmento Revista de Guimariies 55 pp 13

- (1956) Francisco Martins Sarmento Esboro da slia vida e Obra cientfjica Guimaraes

CORREA M (1933) No centenario do nascimento de Martins Sarmento Estudos Portugueses do Integralismo Lusitano 2 12

- (1947) Histoire des recherches pre-historiques en Portugal Trabalhos de Antropologia e Etnologia II pp 115

MElRA 1 (1921) Homenagem a Martins Sarmento Revista de Guimarfies 31 pp 176

M ARTINS SARMENTO E A ARQUEOLOGfA DOS C ASTROS 137

REVISTA D E

GVIMARAES

PIMENTA A (1933) Martins Sarmento Literato e Historiador Ed Fernanshy LA EPIGRAFIA ROM des Junior Lisboa GUIMARAES UN ES~

SAMPAIO A (1899-1903) F Martins Sarmento 9 de Manyo de 1833 - 9 de Sonia Maria Garcia MalAgosto de 1899 Portugalia I pp 417

En este estudio s cuesti6n sobre el avance I

Concelho de Guimaraes Ante to do se debe c

del legado cientifico de Francisco Martins Sarme propulsores del saber hi prerromano de la actual rl

Doctora en Historia y 0 Clasicos-Area de Historia Ani I Se ha elaborado un Corl apartados 1- Inscripciones Inscripciones monumental-he de propiedad rotulos de ca Monumentos anepigrafos y v un numero de identificacion emplazamiento la lectura y 1

misma Por el momento no se han il para un ulterior amll isis 2 Cf los diferentes articulo apunta al final de este articulo

LA EPIGRAFfA ROMA NA DEL G138 MANUELA MARTINS

Page 6: 1995repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/13355/1/Revista de... · INDICE . Revista de Guimaraes - 1995 . 1. SANTOS SIMOES - Na passagem do centenario de «0 Archeologo . JORGE

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GVIMAMES

paginas as suas reflexoes sobre os castros muitas das quais pershymanecem ainda ineditas

Deve-se assim a M Sarmento 0 inicio da ardua tarefa de inventario e catalogasao dos castros portugueses que ainda hoje quase urn seculo volvido nao esta completa Atraves desse arshyduo trabalho deu a conhecer dezenas de castros que divulga em trabalhos monograiicos como a sua serie Materiais para a Arshyqueologia do distrito de Viana (1882) Materiais para a Arqueshyologia da comarca de Barcelos (1894) e Materiais para Arqueshyologia do concelho de Guimariies (1884-96) cuja edisao foi concluida postumamente entre 1901-1909 Podem ainda enconshytrar-se numerosas referencias aos castros noutros trabalhos deshysignadamente Sobre as antigas cidades da Iberia (1879) A propos ito de castros (1883) Cidade Velha de Monte Cordova (1895)

Deve-se igualmente a M Sarmento 0 conhecimento de uma das maiores citanias do NO peninsular conhecida e referida na bibliografia desde 0 sec XVI A CiHinia comelta por ser divulshygada por urn folheto com que Sarmento faz acompanhar uma colecsao de 37 fotografias que reuniu das escavaltoes A partir de 1879 a Citania passara a ser conhecida alem fronteiras e em 1880 merecera a visita dos congressistas do IX Congresso de Antropologia e Arqueologia Pre-Hist6ricas 0 trabalho de M Sarmento foi entao difundido e conhecido nos meios eruditos europeus recebendo os maiores elogios de homens como H Hubner Virchow E Cartailhac e A Schulten

Mas M Sarmento nao recebeu apenas elogios Houve quem 0 criticasse por nao ter produzido urn trabalho de grande fOlego sobre a Citania e sobre Sabroso Criticas talvez injustas atendendo a que 0 investigador redigiu mais de 4000 paginas sobre as duas estaltoes tendo mesmo em projecto escrever uma obra sobre 0 assunto que a morte prematura impossibilitou

De facto entre os seus ineditos conservados na Sociedade Martins Sarmento contam-se entre outros os manuscritos Cishy

130 MANUELA MARTINS

tania e Sabroso (1873- rejlexoes criticas sabre dois castros ou ainda 0

dito Mas nao devemos

de M Sarmento era 0 cc sitanos Ele foi essencial escrevendo sobre temas ressava como meio de gues

o pr6prio M San valtoes tinham por linic guiassem mais seguraml sas origens etnicas Nunl

De facto nao 0 p coleccionista do termo pesquisador de coisas an M Sarmento procurava objectos interessavam-II simples pedras sobrepos cia dos longinquos hal Sarmento e muito mais Mas essa exigencia de ~ simultaneamente uma gem porque dos seus 11 de reconstituiltao secun ca Urn inconveniente I zia-o aspirar a deduy5es gia-lhe urn tempo de ref com a sua curta vida El corajavarn a publicar ur ltoes de Briteiros e Sal sobre 0 problema dos c lato descritivo das suas

MARTINS SARMENTO E A AR

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GYIMAMES

tania e Sabroso (1873-1883) com 0 subtitulo Notas diarias e rejlexoes criticas sobre as explora~oes arqueologicas destes dois castros ou ainda 0 seu diario de escavayoes tambem ineshydito

Mas nao devemos talvez esquecer que 0 objectivo ultimo de M Sarmento era 0 conhecimento das origens etnicas dos Lushysitanos Ele foi essencialmente e sempre urn etnologo Embora escrevendo sobre temas de arqueologia esta disciplina so 0 inteshyressava como meio de docurnentar as origens do povo portushygues

o proprio M Sarmento chega a afirmar as minhas escashyvayoes tinham por unico objectivo procurar elementos que me guiassem mais seguramente que os livros no problema das nosshysas origens etnicas Nunca pretendi honras de arqueologo

De facto nao 0 preocupavam as antigualhas no sentido coleccionista do termo nem 0 movia a simples curiosidade do pesquisador de coisas antigas Atraves das escavayoes da Citftnia M Sarmento procurava fazer reviver 0 passado Mais do que os objectos interessavam-Ihe os homens mais do que os muros simples pedras sobrepostas e alinhadas interessava-Ihe a vivenshycia dos longinquos habitantes citanienses Neste sentido M Sarmento e muito mais urn antropologo do que urn arqueologo Mas essa exigencia de M Sarmento fazia a si proprio constituiu simultaneamente urna vantagem e urn inconveniente Vantashygem porque dos seus trabalhos ressalta sempre urn forte poder de reconstituiyao secundado por uma solida preparayao cientifishyca Urn inconveniente porque a sua inclinayao especulativa fashyzia-o aspirar a deduyoes mais amplas e generalizantes Isso exishygia-lhe urn tempo de reflexao que acabou por nao ser compativel com a sua curta vida Ele proprio exprimiu amiude aos que 0 enshycorajavam a publicar urn estudo monografico sobre as explorashyyoes de Briteiros e Sabroso ou mesmo uma obra de conjunto sobre 0 problema dos castros que nao podia limitar-se a urn reshylato descritivo das suas descobertas resultantes da simples anali-

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RE VISTA DE

GVIMARAES

se dos documentos arqueologicos Por outro lado defrontava-se nao SO com a morosidade do trabalho arqueologico como com a acumulayao de materiai s e os encargos com as escavayoes No entanto chegou a conceber 0 projecto de urn trabalho que tencishyonava publicar na Portugruia sob 0 tema Materiais para a Arshyqueologia do Entre-Douro-e-Minho que a mOlte prematura inshyviabilizou

Do trabalho de M Sarmento r lativo aos castros ressaltam alguns aspectos dignos de nota Ele foi de facto 0 primeiro inshyvestigador a interessar-se de wn modo sistematico e cientifico por uma area cultural precisa no ambito da nossa proto-historia caracterizada pela presenya de largas centenas de castros Estes povoados eram conhecidos por Joao de Barros (Geografia do Entre-Douro~e-Minho sec xv I) Frei Bernardo de Brito (Moshynarquia Lusitana 1598) Gaspar Estayo (Varias Antiguidades de Portugal 1625) Antonio Carvalho da Costa (Corografia Portushyguesa 1706) e ainda J Contador de Argote

Dos seus estudos comparativos deduz M Sarmento a antishyguidade dos castros considerando que os construtores das citashynias haviam sido povos pre-rornanos e pre-celtas oriundos das primeiras migrayoes arianas estabelecidos em epocas remotas no Ocidente da Iberia A origem pn-celta dos Lusitanos que deshyfende e original pois recusa urn dos preconceitos enta~ vigenshytes 0 do celtisrno que marcava a interpretayao das nossas antishyguidades Ao defender a tese ligillica para a origem dos Lusitashynos demonstra nao so urn proftmdo conhecimento da Etnologia europeia como tambem 0 seu espirito avesso a aceitayoes demashysiado simplistas Afinna mesmo num trabalho seu sobre a Arte pre-romana (1879) no meio da ignorancia em que estamos acershyca dos primeiros povos de origem indo-europeia que ocupavam a P Iberica 0 celtismo tornou-se urn recurso banal Esperamos poder demonstrar que tal denominayao deve ser proscrita quando se fala de Lusitanos e Galegos que muito provavelmente ja esshy

tavam na posse desta par dos Celtas nestas regioes

Martins Sannento pioneiras em terrnos de J recusa a aceitar 0 Celtisn pelo terreno faci do orie autonomia das culturas Mediterraneo oriental ~ area nebulosa da investi etnica das comunidades batida mas ainda hoje P modo independentemen mento ele foi 0 precurso interpretayao da etnogem

Ao sabio vimarane do de muitos problemas serviu de ponto de partid tigadores Por outro lado ram articular entre si os nho e da Galiza e pree -historica portuguesa CI

Geologicos de Portugal Herculano

Martins Sannento grupo de jovens entusia~ ologia grupo que funda Integrando hom ens com~

seca Cardoso ao qual se dara origem em 1890 a aqual sucedeu em 189S vestigadores serao segu castros Jose Fortes rea Fonseca Cardoso e Ri( gunte e Vilarinho de C(

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GYIMARAES

tavam na posse desta parte da Europa seculos antes da apariyao dos Celtas nestas regioes

Martins Sarmento revelou de resto outras caracteristicas pioneiras em termos de investigayao arqueologica Tal como se recusa a aceitar 0 Celtismo dos Lusitanos nao se deixa fascinar pelo terre no facil do orientalismo entao em yoga salientando a autonomia das culturas pre-historicas atlanticas em relayao ao Mediterraneo oriental M Sarmento mergulhava assim numa area nebulosa da investigayao do nosso passado a da origem etnica das comunidades peninsulares tematica sobejamente deshybatida mas ainda hoje profundamente controversa De qualquer modo independentemente da validade das asseryoes de Sarshymento ele foi 0 precursor dessa vertente de investigayao que e a interpretayao da etnogenese dos povos peninsulares

Ao sabio vimaranense cabe a gloria de ter iniciado 0 estushydo de muitos problemas relativos as nossas origens etnicas que serviu de ponto de partida para novos trabalhos de outros invesshytigadores Por outro lado as pesquisas de M Sarmento permitishyram articular entre si os dados respeitantes as provincias do Mishynho e da Galiza e preencher a lacuna entre a realidade Preshy-historica portuguesa cujo estudo foi iniciado pelos Serviyos Geologicos de Portugal e a Idade Media sistematizada por A Herculano

Martins Sarmento teve ainda 0 merito de atrair a si urn grupo de jovens entusiastas pelas ciencias naturais e pela arqueshyologia grupo que funda em 1887 a Sociedade Carlos Ribeiro Integrando homens como Ricardo Severo Rocha Peixoto e Fonshyseca Cardoso ao qual se juntara tambem Jose Fortes este grupo dara origem em 1890 a Revista de Ciencias Naturais e Sociais a qual sucedeu em 1899 a revista Portugalia Alguns destes inshyvestigadores serao seguidores de M Sarmento na pesquisa dos castros Jose Fortes realiza escavayoes em Alvarelhos (1899) Fonseca Cardoso e Ricardo Severo respectivamente em Bashygunte e Vilarinho de Cotas Outras escavayoes como as do cas-

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REVISTA DE

GYIMARA ES

telo de Guiroes (Matosinhos) cividade de Terroso (Povoa de Varzim) man tern vivo 0 genuino interesse de M Sarmento peshylos castros da regiao do Minho

Os homens da Portugalia tal como M Sarmento e L de Vasconcelos opunham-se a afirmayao de A Herculano relativa a inexistencia de relayoes genealogicas entre os portugueses e as populayoes pre e proto-historicas especialmente com os Lusitashynos Defendiam em contrapartida 0 nacionalismo etnico asshysunto que constitui 0 corolario dos estudos de Alberto Sampaio outro colaborador da Portugalia que procurou filiar as origens dos modemos nucleos de povoamento do pais nas cividades e ci1imias proto-historicas

Apos a morte de Sarmento as investigayoes nos castros irao prosseguir essencialmente Jigados ao grupo da Portugitlia ate pelo menos 1908 No entanlo posteriormente a esta data sera o Museu Etnologico Portugues fundado em Lisboa em 1894 ligado a figura de 1 Leite de Vasconcelos que ira manter uma estreita ligayao com investigadores locais servindo mesmo de insvestigador de escavayoes e prospecyoes como as que serao realizadas por F Alves Pereira na regiao dos Arcos de Valdevez ou divulgando trabalhos e resultados na revista 0 Arqueologo Portugues fundada em 1895 Assim acontecera por exemplo com os trabalhos de alguns investigadores locais como Albano Belino que entre 1893 e 1900 realiza escavayoes em castros da regiao de Braga especialmente no Monte Redondo

o fim do grupo da Portugalia coincide com os inicios de urn periodo pouco feliz para 0 estudo dos castros e de urn modo geral para a arqueologia portuguesa A urn periodo de intensa actividade que caracteriza as ultimas decadas do sec XIX ira sushyceder-se urn profundo marasmo quebrado por raras e honrosas contribuiyoes que nao chegam para minimizar nem a demissao dos poderes publicos em relayao ao estudo da Pre-historia portushyguesa nem 0 atraso que desde entao nos distancia cada vez mais da investigacao europeia

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E verdade que a il de urn modo pouco cons mulayao de materiais rei uma total insuficiencia lti melhorar a qualidade d eram estudados pois na( a investigacao Os musel deiros depositos de peyc yoes de proveniencia C sem uma necessaria reno tros vivera nas primeiras yO e trabalhos de amadm rayao tecnica Deste qua yoes de investigadores Ii versidade do Porto criac logia e Etnologia (1919 sentayoes cartograficas I

Este tipo de abordagem austro-hlingara nos fina culturais e sugerir hipote~ difusao de modelos cult Pinto serao entre nos d encontra bern representac nologia da P Iberica EI

os esforyos de sintese de com a sua obra Os Pavo Pre-romana inserida na (1928)

Todavia a partir d gram 0 conhecimento s honrosamente havia com ser elaboradas aiem fron passam desde entao a peninsular e europeu atr

M ARTINS S ARMEiTO pound A ARQ

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GYIMARAES

E verdade que a investigayao dos castros prossegue mas de urn modo pouco consequente Regista-se uma paulatina acushymulayao de materiais recolhidos em museus mas e perceptivel uma total insuficiencia de meios e de tecnicas que permitissem melhorar a qualidade das pesquisas Os materiais raramente eram estudados pois nao existiam organismos que suportassem a investigayao Os museus por sua vez tornan1-se entao verdashydeiros depositos de peyas muitas vezes sem quaisquer indicashyyoes de proveniencia 0 conhecimento estiola em repetiyoes sem uma necessaria renovayao De facto a arqueologia dos casshytros vivenl nas primeiras decadas do sec xx sobretudo do esforshyyO e trabalhos de amado res e curiosos quase sempre sem prepashyrayao tecnica Deste quadro sombrio se destacam as contribuishyyoes de investigadores ligados a Faculdade de Ciencias da Unishyversidade do Porto criadores da revista Trabalhos de Antroposhylogia e Etnologia (1919) e introdutores em Portugal das represhysentayoes cartograficas na distribuiyao de estayoes e achados Este tipo de abordagem desenvolvlida pela escola geografica austro-hungara nos finais do sec XIX permitia definir areas culturais e sugerir hipoteses de migrayoes de povos bern como a difusao de model os culturais Mendes Correia e Rui de Serpa Pinto serao entre nos dois cultores desta metodologia que se encontra bern representada nos trabalhos de sfntese sobre a Etshynologia da P Iberica E nesta perspectiva que podemos integrar os esforyos de sintese de Mendes Correia (1924) principalmente com a sua obra as Povos Primitivos da Lusitdnia e A Lusitdnia Pre-romana inserida na Historia de Portugal de Damiao Peres (1928)

Todavia a partir dos anos 20 as grandes sinteses que inteshygram 0 conhecimento sobre os castros cuja investigayao tao honrosamente havia comeyado com Martins Sarmento passam a ser elaboradas alem fronteiras Os povos e culturas portuguesas passam desde entao a inserir-se sistematicamente no ambito peninsular e europeu atraves dos trabalhos de P Bosch Guimpeshy

MAR7JVS SARMENTO E A ARQ EOLOGIA DOS CASTROS 135

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RREVI STA DE GGY IMARA ES

ra a uern se dev a de miy30 da Cultura dos castros e a sua cashyra t rizay3 no funbito da Il Idad do Ferro peninsular com base na tipologia dos seus p voados e na planta das habitayoes Porshytugal perd peso na investigayao deste dominio arque010gico tao pre iso m que havia sido pioneiro

Isso nao significa que nao se realizassem entre nos trabashylhos ou que novas pubJicayoes nao fossem dadas a estampa Na realidade merecem justa homenagem os esforyos de F Alves Pereira e em particular os de Rui de Serpa Pinto cuja brilhante inteligencia 1he facultava urn louvavel poder de sintese A sua morte precoce privou a arqueologia portuguesa de urn dos seus mais notaveis e promissores vultos

A arqueologia dos castros passara a ser dominada pela fishygura de F Lopez Cuevillas que durante 40 anos (anos 20-60) produz urn extenso rol de trabalhos de caracter monografico e de sintese que contribuira para precisar as caracteristicas da Cultushyra castreja Entre nos e com uma aCyao de algurn modo compashyravel podemos destacar a figura de Mario Cardoso que a partir dos anos 30 presidira aos destinos da Sociedade Martins Sarshymento dando continuidade aos trabalhos do seu fundador Com uma vultuosa obra que constitui urn ponto de referencia para toshydos os que ao tema dos castros se dedicam M Cardoso soube homar a Sociedade liderando a investigayao dos castros no Norte de Portugal ate a decada de 70

Todavia a actividade arqueologica em Portugal nao acompanhou 0 passo dos restantes paises europeus Nao Ise reshynovaram as tecnicas nem a problematica de investigayao 0 nosso pais manteve-s a margem dos debates teoricos que anishymaram a comunidade arqueologica internacional e que questioshynaram 0 senti do e a interpretay30 das sociedades pre e protoshyhistoricas Nos anos 70 0 estudo das nossas culturas registava urn notavel atraso em relayao as suas congeneres europeias

A partir dos anos 70 assistiremos a urn renovado interesse pelo estudo dos castros traduzido por urn significativo aurnento

136 MANUELA MARTfNS

do numero de escavayoes novayao metodologica Ai lho que deixam de se cen1 da cultura material passan tivas da Cultura castreja E guns dos trabalhos de sinte cada de 80 No entanto e fase embrionaria de invest damental nos da conta d4 nacional

Por isso nao deixa d tecer mais uma vez a figu dade do seu pensamento e duziu em termos europeu mente a investigayao dos I

pois so a muito custo se inumeras dificuldades que ologico

BIBLIOGRAFA CONSULT

CARDOSO M (1927) Bibliol pp 115 e 185

- (1933) Dr Francisco Martin nagem a Martins Sarmento

- (1945) Os fundadores da S Revista de GuimarCies 55 r

- (1956) Francisco Martins Sa Guimaraes

CORREA M (1933) No cen Estudos Portugueses do Int

- (1947) Histoire des rechercl Antropologia e Etnologia I

MElRA1 (1921) Homenagel 31 pp 176

MARTINS SA RivlENTO E A ARQU

REVISTA DE

GYI M ARAES

do numero de escavacoes mas tam bern por uma importante reshynovacao metodol6gica Alargaram-se as perspectivas de trabashylho que deixam de se centrar exc1usivamente na caracterizacao da cultura material passando a polarizar-se nas questOes evolushytivas da Cultura castreja E nesta perspectiva que se inserem alshyguns dos trabalhos de sintese sobre os castros produzidos na deshycada de 80 No entanto estes trabalhos inserem-se ainda numa fase embriomiria de investigacao que nao deixando de ser funshydamental nos da conta do consideravel atraso da arqueologia nacional

Por isso nao deixa de ser a todos os titulos legitimo enalshytecer mais uma vez a figura ilustre de M Sannento pela vitalishydade do seu pensamento e pela actualidade do trabalho que proshyduziu em termos europeus 0 pioneirismo portugues relativashymente it investigacao dos castros nao mais voltou a registar-se pois s6 a muito custo se conseguiu ultrapassar entre n6s as inumeras dificuldades que inibem ainda hoje 0 trabalho arqueshyol6gico

BlBLlOGRAFIA CONSUL TADA

CARDOSO M (1927) Bibliografia Sarmentina Revista de Guimarfies 37 pp 115 e 185

- (1933) Dr Francisco Martins Sarmento Esboyo bio-bibliognlfico Homeshynagem a Martins Sarmento Guimaraes

- (1945) Os fundadores da Sociedade Carlos Ribeiro e Martins Sarmento Revista de Guimariies 55 pp 13

- (1956) Francisco Martins Sarmento Esboro da slia vida e Obra cientfjica Guimaraes

CORREA M (1933) No centenario do nascimento de Martins Sarmento Estudos Portugueses do Integralismo Lusitano 2 12

- (1947) Histoire des recherches pre-historiques en Portugal Trabalhos de Antropologia e Etnologia II pp 115

MElRA 1 (1921) Homenagem a Martins Sarmento Revista de Guimarfies 31 pp 176

M ARTINS SARMENTO E A ARQUEOLOGfA DOS C ASTROS 137

REVISTA D E

GVIMARAES

PIMENTA A (1933) Martins Sarmento Literato e Historiador Ed Fernanshy LA EPIGRAFIA ROM des Junior Lisboa GUIMARAES UN ES~

SAMPAIO A (1899-1903) F Martins Sarmento 9 de Manyo de 1833 - 9 de Sonia Maria Garcia MalAgosto de 1899 Portugalia I pp 417

En este estudio s cuesti6n sobre el avance I

Concelho de Guimaraes Ante to do se debe c

del legado cientifico de Francisco Martins Sarme propulsores del saber hi prerromano de la actual rl

Doctora en Historia y 0 Clasicos-Area de Historia Ani I Se ha elaborado un Corl apartados 1- Inscripciones Inscripciones monumental-he de propiedad rotulos de ca Monumentos anepigrafos y v un numero de identificacion emplazamiento la lectura y 1

misma Por el momento no se han il para un ulterior amll isis 2 Cf los diferentes articulo apunta al final de este articulo

LA EPIGRAFfA ROMA NA DEL G138 MANUELA MARTINS

Page 7: 1995repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/13355/1/Revista de... · INDICE . Revista de Guimaraes - 1995 . 1. SANTOS SIMOES - Na passagem do centenario de «0 Archeologo . JORGE

REVISTA DE

GYIMAMES

tania e Sabroso (1873-1883) com 0 subtitulo Notas diarias e rejlexoes criticas sobre as explora~oes arqueologicas destes dois castros ou ainda 0 seu diario de escavayoes tambem ineshydito

Mas nao devemos talvez esquecer que 0 objectivo ultimo de M Sarmento era 0 conhecimento das origens etnicas dos Lushysitanos Ele foi essencialmente e sempre urn etnologo Embora escrevendo sobre temas de arqueologia esta disciplina so 0 inteshyressava como meio de docurnentar as origens do povo portushygues

o proprio M Sarmento chega a afirmar as minhas escashyvayoes tinham por unico objectivo procurar elementos que me guiassem mais seguramente que os livros no problema das nosshysas origens etnicas Nunca pretendi honras de arqueologo

De facto nao 0 preocupavam as antigualhas no sentido coleccionista do termo nem 0 movia a simples curiosidade do pesquisador de coisas antigas Atraves das escavayoes da Citftnia M Sarmento procurava fazer reviver 0 passado Mais do que os objectos interessavam-Ihe os homens mais do que os muros simples pedras sobrepostas e alinhadas interessava-Ihe a vivenshycia dos longinquos habitantes citanienses Neste sentido M Sarmento e muito mais urn antropologo do que urn arqueologo Mas essa exigencia de M Sarmento fazia a si proprio constituiu simultaneamente urna vantagem e urn inconveniente Vantashygem porque dos seus trabalhos ressalta sempre urn forte poder de reconstituiyao secundado por uma solida preparayao cientifishyca Urn inconveniente porque a sua inclinayao especulativa fashyzia-o aspirar a deduyoes mais amplas e generalizantes Isso exishygia-lhe urn tempo de reflexao que acabou por nao ser compativel com a sua curta vida Ele proprio exprimiu amiude aos que 0 enshycorajavam a publicar urn estudo monografico sobre as explorashyyoes de Briteiros e Sabroso ou mesmo uma obra de conjunto sobre 0 problema dos castros que nao podia limitar-se a urn reshylato descritivo das suas descobertas resultantes da simples anali-

MARTINS SARA1poundNTO E A ARQUEOLOGIA DOS CASTROS 131

132 MANUELA MARTINS M ARTINS SARMENm EA AR(

RE VISTA DE

GVIMARAES

se dos documentos arqueologicos Por outro lado defrontava-se nao SO com a morosidade do trabalho arqueologico como com a acumulayao de materiai s e os encargos com as escavayoes No entanto chegou a conceber 0 projecto de urn trabalho que tencishyonava publicar na Portugruia sob 0 tema Materiais para a Arshyqueologia do Entre-Douro-e-Minho que a mOlte prematura inshyviabilizou

Do trabalho de M Sarmento r lativo aos castros ressaltam alguns aspectos dignos de nota Ele foi de facto 0 primeiro inshyvestigador a interessar-se de wn modo sistematico e cientifico por uma area cultural precisa no ambito da nossa proto-historia caracterizada pela presenya de largas centenas de castros Estes povoados eram conhecidos por Joao de Barros (Geografia do Entre-Douro~e-Minho sec xv I) Frei Bernardo de Brito (Moshynarquia Lusitana 1598) Gaspar Estayo (Varias Antiguidades de Portugal 1625) Antonio Carvalho da Costa (Corografia Portushyguesa 1706) e ainda J Contador de Argote

Dos seus estudos comparativos deduz M Sarmento a antishyguidade dos castros considerando que os construtores das citashynias haviam sido povos pre-rornanos e pre-celtas oriundos das primeiras migrayoes arianas estabelecidos em epocas remotas no Ocidente da Iberia A origem pn-celta dos Lusitanos que deshyfende e original pois recusa urn dos preconceitos enta~ vigenshytes 0 do celtisrno que marcava a interpretayao das nossas antishyguidades Ao defender a tese ligillica para a origem dos Lusitashynos demonstra nao so urn proftmdo conhecimento da Etnologia europeia como tambem 0 seu espirito avesso a aceitayoes demashysiado simplistas Afinna mesmo num trabalho seu sobre a Arte pre-romana (1879) no meio da ignorancia em que estamos acershyca dos primeiros povos de origem indo-europeia que ocupavam a P Iberica 0 celtismo tornou-se urn recurso banal Esperamos poder demonstrar que tal denominayao deve ser proscrita quando se fala de Lusitanos e Galegos que muito provavelmente ja esshy

tavam na posse desta par dos Celtas nestas regioes

Martins Sannento pioneiras em terrnos de J recusa a aceitar 0 Celtisn pelo terreno faci do orie autonomia das culturas Mediterraneo oriental ~ area nebulosa da investi etnica das comunidades batida mas ainda hoje P modo independentemen mento ele foi 0 precurso interpretayao da etnogem

Ao sabio vimarane do de muitos problemas serviu de ponto de partid tigadores Por outro lado ram articular entre si os nho e da Galiza e pree -historica portuguesa CI

Geologicos de Portugal Herculano

Martins Sannento grupo de jovens entusia~ ologia grupo que funda Integrando hom ens com~

seca Cardoso ao qual se dara origem em 1890 a aqual sucedeu em 189S vestigadores serao segu castros Jose Fortes rea Fonseca Cardoso e Ri( gunte e Vilarinho de C(

REVISTA DE

GYIMARAES

tavam na posse desta parte da Europa seculos antes da apariyao dos Celtas nestas regioes

Martins Sarmento revelou de resto outras caracteristicas pioneiras em termos de investigayao arqueologica Tal como se recusa a aceitar 0 Celtismo dos Lusitanos nao se deixa fascinar pelo terre no facil do orientalismo entao em yoga salientando a autonomia das culturas pre-historicas atlanticas em relayao ao Mediterraneo oriental M Sarmento mergulhava assim numa area nebulosa da investigayao do nosso passado a da origem etnica das comunidades peninsulares tematica sobejamente deshybatida mas ainda hoje profundamente controversa De qualquer modo independentemente da validade das asseryoes de Sarshymento ele foi 0 precursor dessa vertente de investigayao que e a interpretayao da etnogenese dos povos peninsulares

Ao sabio vimaranense cabe a gloria de ter iniciado 0 estushydo de muitos problemas relativos as nossas origens etnicas que serviu de ponto de partida para novos trabalhos de outros invesshytigadores Por outro lado as pesquisas de M Sarmento permitishyram articular entre si os dados respeitantes as provincias do Mishynho e da Galiza e preencher a lacuna entre a realidade Preshy-historica portuguesa cujo estudo foi iniciado pelos Serviyos Geologicos de Portugal e a Idade Media sistematizada por A Herculano

Martins Sarmento teve ainda 0 merito de atrair a si urn grupo de jovens entusiastas pelas ciencias naturais e pela arqueshyologia grupo que funda em 1887 a Sociedade Carlos Ribeiro Integrando homens como Ricardo Severo Rocha Peixoto e Fonshyseca Cardoso ao qual se juntara tambem Jose Fortes este grupo dara origem em 1890 a Revista de Ciencias Naturais e Sociais a qual sucedeu em 1899 a revista Portugalia Alguns destes inshyvestigadores serao seguidores de M Sarmento na pesquisa dos castros Jose Fortes realiza escavayoes em Alvarelhos (1899) Fonseca Cardoso e Ricardo Severo respectivamente em Bashygunte e Vilarinho de Cotas Outras escavayoes como as do cas-

MARTINS S ARMENTO E A ARQUEOLOGJA DOS CASTROS 133

REVISTA DE

GYIMARA ES

telo de Guiroes (Matosinhos) cividade de Terroso (Povoa de Varzim) man tern vivo 0 genuino interesse de M Sarmento peshylos castros da regiao do Minho

Os homens da Portugalia tal como M Sarmento e L de Vasconcelos opunham-se a afirmayao de A Herculano relativa a inexistencia de relayoes genealogicas entre os portugueses e as populayoes pre e proto-historicas especialmente com os Lusitashynos Defendiam em contrapartida 0 nacionalismo etnico asshysunto que constitui 0 corolario dos estudos de Alberto Sampaio outro colaborador da Portugalia que procurou filiar as origens dos modemos nucleos de povoamento do pais nas cividades e ci1imias proto-historicas

Apos a morte de Sarmento as investigayoes nos castros irao prosseguir essencialmente Jigados ao grupo da Portugitlia ate pelo menos 1908 No entanlo posteriormente a esta data sera o Museu Etnologico Portugues fundado em Lisboa em 1894 ligado a figura de 1 Leite de Vasconcelos que ira manter uma estreita ligayao com investigadores locais servindo mesmo de insvestigador de escavayoes e prospecyoes como as que serao realizadas por F Alves Pereira na regiao dos Arcos de Valdevez ou divulgando trabalhos e resultados na revista 0 Arqueologo Portugues fundada em 1895 Assim acontecera por exemplo com os trabalhos de alguns investigadores locais como Albano Belino que entre 1893 e 1900 realiza escavayoes em castros da regiao de Braga especialmente no Monte Redondo

o fim do grupo da Portugalia coincide com os inicios de urn periodo pouco feliz para 0 estudo dos castros e de urn modo geral para a arqueologia portuguesa A urn periodo de intensa actividade que caracteriza as ultimas decadas do sec XIX ira sushyceder-se urn profundo marasmo quebrado por raras e honrosas contribuiyoes que nao chegam para minimizar nem a demissao dos poderes publicos em relayao ao estudo da Pre-historia portushyguesa nem 0 atraso que desde entao nos distancia cada vez mais da investigacao europeia

134 MANUELA MARTINS

E verdade que a il de urn modo pouco cons mulayao de materiais rei uma total insuficiencia lti melhorar a qualidade d eram estudados pois na( a investigacao Os musel deiros depositos de peyc yoes de proveniencia C sem uma necessaria reno tros vivera nas primeiras yO e trabalhos de amadm rayao tecnica Deste qua yoes de investigadores Ii versidade do Porto criac logia e Etnologia (1919 sentayoes cartograficas I

Este tipo de abordagem austro-hlingara nos fina culturais e sugerir hipote~ difusao de modelos cult Pinto serao entre nos d encontra bern representac nologia da P Iberica EI

os esforyos de sintese de com a sua obra Os Pavo Pre-romana inserida na (1928)

Todavia a partir d gram 0 conhecimento s honrosamente havia com ser elaboradas aiem fron passam desde entao a peninsular e europeu atr

M ARTINS S ARMEiTO pound A ARQ

REVISTA DE

GYIMARAES

E verdade que a investigayao dos castros prossegue mas de urn modo pouco consequente Regista-se uma paulatina acushymulayao de materiais recolhidos em museus mas e perceptivel uma total insuficiencia de meios e de tecnicas que permitissem melhorar a qualidade das pesquisas Os materiais raramente eram estudados pois nao existiam organismos que suportassem a investigayao Os museus por sua vez tornan1-se entao verdashydeiros depositos de peyas muitas vezes sem quaisquer indicashyyoes de proveniencia 0 conhecimento estiola em repetiyoes sem uma necessaria renovayao De facto a arqueologia dos casshytros vivenl nas primeiras decadas do sec xx sobretudo do esforshyyO e trabalhos de amado res e curiosos quase sempre sem prepashyrayao tecnica Deste quadro sombrio se destacam as contribuishyyoes de investigadores ligados a Faculdade de Ciencias da Unishyversidade do Porto criadores da revista Trabalhos de Antroposhylogia e Etnologia (1919) e introdutores em Portugal das represhysentayoes cartograficas na distribuiyao de estayoes e achados Este tipo de abordagem desenvolvlida pela escola geografica austro-hungara nos finais do sec XIX permitia definir areas culturais e sugerir hipoteses de migrayoes de povos bern como a difusao de model os culturais Mendes Correia e Rui de Serpa Pinto serao entre nos dois cultores desta metodologia que se encontra bern representada nos trabalhos de sfntese sobre a Etshynologia da P Iberica E nesta perspectiva que podemos integrar os esforyos de sintese de Mendes Correia (1924) principalmente com a sua obra as Povos Primitivos da Lusitdnia e A Lusitdnia Pre-romana inserida na Historia de Portugal de Damiao Peres (1928)

Todavia a partir dos anos 20 as grandes sinteses que inteshygram 0 conhecimento sobre os castros cuja investigayao tao honrosamente havia comeyado com Martins Sarmento passam a ser elaboradas alem fronteiras Os povos e culturas portuguesas passam desde entao a inserir-se sistematicamente no ambito peninsular e europeu atraves dos trabalhos de P Bosch Guimpeshy

MAR7JVS SARMENTO E A ARQ EOLOGIA DOS CASTROS 135

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RREVI STA DE GGY IMARA ES

ra a uern se dev a de miy30 da Cultura dos castros e a sua cashyra t rizay3 no funbito da Il Idad do Ferro peninsular com base na tipologia dos seus p voados e na planta das habitayoes Porshytugal perd peso na investigayao deste dominio arque010gico tao pre iso m que havia sido pioneiro

Isso nao significa que nao se realizassem entre nos trabashylhos ou que novas pubJicayoes nao fossem dadas a estampa Na realidade merecem justa homenagem os esforyos de F Alves Pereira e em particular os de Rui de Serpa Pinto cuja brilhante inteligencia 1he facultava urn louvavel poder de sintese A sua morte precoce privou a arqueologia portuguesa de urn dos seus mais notaveis e promissores vultos

A arqueologia dos castros passara a ser dominada pela fishygura de F Lopez Cuevillas que durante 40 anos (anos 20-60) produz urn extenso rol de trabalhos de caracter monografico e de sintese que contribuira para precisar as caracteristicas da Cultushyra castreja Entre nos e com uma aCyao de algurn modo compashyravel podemos destacar a figura de Mario Cardoso que a partir dos anos 30 presidira aos destinos da Sociedade Martins Sarshymento dando continuidade aos trabalhos do seu fundador Com uma vultuosa obra que constitui urn ponto de referencia para toshydos os que ao tema dos castros se dedicam M Cardoso soube homar a Sociedade liderando a investigayao dos castros no Norte de Portugal ate a decada de 70

Todavia a actividade arqueologica em Portugal nao acompanhou 0 passo dos restantes paises europeus Nao Ise reshynovaram as tecnicas nem a problematica de investigayao 0 nosso pais manteve-s a margem dos debates teoricos que anishymaram a comunidade arqueologica internacional e que questioshynaram 0 senti do e a interpretay30 das sociedades pre e protoshyhistoricas Nos anos 70 0 estudo das nossas culturas registava urn notavel atraso em relayao as suas congeneres europeias

A partir dos anos 70 assistiremos a urn renovado interesse pelo estudo dos castros traduzido por urn significativo aurnento

136 MANUELA MARTfNS

do numero de escavayoes novayao metodologica Ai lho que deixam de se cen1 da cultura material passan tivas da Cultura castreja E guns dos trabalhos de sinte cada de 80 No entanto e fase embrionaria de invest damental nos da conta d4 nacional

Por isso nao deixa d tecer mais uma vez a figu dade do seu pensamento e duziu em termos europeu mente a investigayao dos I

pois so a muito custo se inumeras dificuldades que ologico

BIBLIOGRAFA CONSULT

CARDOSO M (1927) Bibliol pp 115 e 185

- (1933) Dr Francisco Martin nagem a Martins Sarmento

- (1945) Os fundadores da S Revista de GuimarCies 55 r

- (1956) Francisco Martins Sa Guimaraes

CORREA M (1933) No cen Estudos Portugueses do Int

- (1947) Histoire des rechercl Antropologia e Etnologia I

MElRA1 (1921) Homenagel 31 pp 176

MARTINS SA RivlENTO E A ARQU

REVISTA DE

GYI M ARAES

do numero de escavacoes mas tam bern por uma importante reshynovacao metodol6gica Alargaram-se as perspectivas de trabashylho que deixam de se centrar exc1usivamente na caracterizacao da cultura material passando a polarizar-se nas questOes evolushytivas da Cultura castreja E nesta perspectiva que se inserem alshyguns dos trabalhos de sintese sobre os castros produzidos na deshycada de 80 No entanto estes trabalhos inserem-se ainda numa fase embriomiria de investigacao que nao deixando de ser funshydamental nos da conta do consideravel atraso da arqueologia nacional

Por isso nao deixa de ser a todos os titulos legitimo enalshytecer mais uma vez a figura ilustre de M Sannento pela vitalishydade do seu pensamento e pela actualidade do trabalho que proshyduziu em termos europeus 0 pioneirismo portugues relativashymente it investigacao dos castros nao mais voltou a registar-se pois s6 a muito custo se conseguiu ultrapassar entre n6s as inumeras dificuldades que inibem ainda hoje 0 trabalho arqueshyol6gico

BlBLlOGRAFIA CONSUL TADA

CARDOSO M (1927) Bibliografia Sarmentina Revista de Guimarfies 37 pp 115 e 185

- (1933) Dr Francisco Martins Sarmento Esboyo bio-bibliognlfico Homeshynagem a Martins Sarmento Guimaraes

- (1945) Os fundadores da Sociedade Carlos Ribeiro e Martins Sarmento Revista de Guimariies 55 pp 13

- (1956) Francisco Martins Sarmento Esboro da slia vida e Obra cientfjica Guimaraes

CORREA M (1933) No centenario do nascimento de Martins Sarmento Estudos Portugueses do Integralismo Lusitano 2 12

- (1947) Histoire des recherches pre-historiques en Portugal Trabalhos de Antropologia e Etnologia II pp 115

MElRA 1 (1921) Homenagem a Martins Sarmento Revista de Guimarfies 31 pp 176

M ARTINS SARMENTO E A ARQUEOLOGfA DOS C ASTROS 137

REVISTA D E

GVIMARAES

PIMENTA A (1933) Martins Sarmento Literato e Historiador Ed Fernanshy LA EPIGRAFIA ROM des Junior Lisboa GUIMARAES UN ES~

SAMPAIO A (1899-1903) F Martins Sarmento 9 de Manyo de 1833 - 9 de Sonia Maria Garcia MalAgosto de 1899 Portugalia I pp 417

En este estudio s cuesti6n sobre el avance I

Concelho de Guimaraes Ante to do se debe c

del legado cientifico de Francisco Martins Sarme propulsores del saber hi prerromano de la actual rl

Doctora en Historia y 0 Clasicos-Area de Historia Ani I Se ha elaborado un Corl apartados 1- Inscripciones Inscripciones monumental-he de propiedad rotulos de ca Monumentos anepigrafos y v un numero de identificacion emplazamiento la lectura y 1

misma Por el momento no se han il para un ulterior amll isis 2 Cf los diferentes articulo apunta al final de este articulo

LA EPIGRAFfA ROMA NA DEL G138 MANUELA MARTINS

Page 8: 1995repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/13355/1/Revista de... · INDICE . Revista de Guimaraes - 1995 . 1. SANTOS SIMOES - Na passagem do centenario de «0 Archeologo . JORGE

132 MANUELA MARTINS M ARTINS SARMENm EA AR(

RE VISTA DE

GVIMARAES

se dos documentos arqueologicos Por outro lado defrontava-se nao SO com a morosidade do trabalho arqueologico como com a acumulayao de materiai s e os encargos com as escavayoes No entanto chegou a conceber 0 projecto de urn trabalho que tencishyonava publicar na Portugruia sob 0 tema Materiais para a Arshyqueologia do Entre-Douro-e-Minho que a mOlte prematura inshyviabilizou

Do trabalho de M Sarmento r lativo aos castros ressaltam alguns aspectos dignos de nota Ele foi de facto 0 primeiro inshyvestigador a interessar-se de wn modo sistematico e cientifico por uma area cultural precisa no ambito da nossa proto-historia caracterizada pela presenya de largas centenas de castros Estes povoados eram conhecidos por Joao de Barros (Geografia do Entre-Douro~e-Minho sec xv I) Frei Bernardo de Brito (Moshynarquia Lusitana 1598) Gaspar Estayo (Varias Antiguidades de Portugal 1625) Antonio Carvalho da Costa (Corografia Portushyguesa 1706) e ainda J Contador de Argote

Dos seus estudos comparativos deduz M Sarmento a antishyguidade dos castros considerando que os construtores das citashynias haviam sido povos pre-rornanos e pre-celtas oriundos das primeiras migrayoes arianas estabelecidos em epocas remotas no Ocidente da Iberia A origem pn-celta dos Lusitanos que deshyfende e original pois recusa urn dos preconceitos enta~ vigenshytes 0 do celtisrno que marcava a interpretayao das nossas antishyguidades Ao defender a tese ligillica para a origem dos Lusitashynos demonstra nao so urn proftmdo conhecimento da Etnologia europeia como tambem 0 seu espirito avesso a aceitayoes demashysiado simplistas Afinna mesmo num trabalho seu sobre a Arte pre-romana (1879) no meio da ignorancia em que estamos acershyca dos primeiros povos de origem indo-europeia que ocupavam a P Iberica 0 celtismo tornou-se urn recurso banal Esperamos poder demonstrar que tal denominayao deve ser proscrita quando se fala de Lusitanos e Galegos que muito provavelmente ja esshy

tavam na posse desta par dos Celtas nestas regioes

Martins Sannento pioneiras em terrnos de J recusa a aceitar 0 Celtisn pelo terreno faci do orie autonomia das culturas Mediterraneo oriental ~ area nebulosa da investi etnica das comunidades batida mas ainda hoje P modo independentemen mento ele foi 0 precurso interpretayao da etnogem

Ao sabio vimarane do de muitos problemas serviu de ponto de partid tigadores Por outro lado ram articular entre si os nho e da Galiza e pree -historica portuguesa CI

Geologicos de Portugal Herculano

Martins Sannento grupo de jovens entusia~ ologia grupo que funda Integrando hom ens com~

seca Cardoso ao qual se dara origem em 1890 a aqual sucedeu em 189S vestigadores serao segu castros Jose Fortes rea Fonseca Cardoso e Ri( gunte e Vilarinho de C(

REVISTA DE

GYIMARAES

tavam na posse desta parte da Europa seculos antes da apariyao dos Celtas nestas regioes

Martins Sarmento revelou de resto outras caracteristicas pioneiras em termos de investigayao arqueologica Tal como se recusa a aceitar 0 Celtismo dos Lusitanos nao se deixa fascinar pelo terre no facil do orientalismo entao em yoga salientando a autonomia das culturas pre-historicas atlanticas em relayao ao Mediterraneo oriental M Sarmento mergulhava assim numa area nebulosa da investigayao do nosso passado a da origem etnica das comunidades peninsulares tematica sobejamente deshybatida mas ainda hoje profundamente controversa De qualquer modo independentemente da validade das asseryoes de Sarshymento ele foi 0 precursor dessa vertente de investigayao que e a interpretayao da etnogenese dos povos peninsulares

Ao sabio vimaranense cabe a gloria de ter iniciado 0 estushydo de muitos problemas relativos as nossas origens etnicas que serviu de ponto de partida para novos trabalhos de outros invesshytigadores Por outro lado as pesquisas de M Sarmento permitishyram articular entre si os dados respeitantes as provincias do Mishynho e da Galiza e preencher a lacuna entre a realidade Preshy-historica portuguesa cujo estudo foi iniciado pelos Serviyos Geologicos de Portugal e a Idade Media sistematizada por A Herculano

Martins Sarmento teve ainda 0 merito de atrair a si urn grupo de jovens entusiastas pelas ciencias naturais e pela arqueshyologia grupo que funda em 1887 a Sociedade Carlos Ribeiro Integrando homens como Ricardo Severo Rocha Peixoto e Fonshyseca Cardoso ao qual se juntara tambem Jose Fortes este grupo dara origem em 1890 a Revista de Ciencias Naturais e Sociais a qual sucedeu em 1899 a revista Portugalia Alguns destes inshyvestigadores serao seguidores de M Sarmento na pesquisa dos castros Jose Fortes realiza escavayoes em Alvarelhos (1899) Fonseca Cardoso e Ricardo Severo respectivamente em Bashygunte e Vilarinho de Cotas Outras escavayoes como as do cas-

MARTINS S ARMENTO E A ARQUEOLOGJA DOS CASTROS 133

REVISTA DE

GYIMARA ES

telo de Guiroes (Matosinhos) cividade de Terroso (Povoa de Varzim) man tern vivo 0 genuino interesse de M Sarmento peshylos castros da regiao do Minho

Os homens da Portugalia tal como M Sarmento e L de Vasconcelos opunham-se a afirmayao de A Herculano relativa a inexistencia de relayoes genealogicas entre os portugueses e as populayoes pre e proto-historicas especialmente com os Lusitashynos Defendiam em contrapartida 0 nacionalismo etnico asshysunto que constitui 0 corolario dos estudos de Alberto Sampaio outro colaborador da Portugalia que procurou filiar as origens dos modemos nucleos de povoamento do pais nas cividades e ci1imias proto-historicas

Apos a morte de Sarmento as investigayoes nos castros irao prosseguir essencialmente Jigados ao grupo da Portugitlia ate pelo menos 1908 No entanlo posteriormente a esta data sera o Museu Etnologico Portugues fundado em Lisboa em 1894 ligado a figura de 1 Leite de Vasconcelos que ira manter uma estreita ligayao com investigadores locais servindo mesmo de insvestigador de escavayoes e prospecyoes como as que serao realizadas por F Alves Pereira na regiao dos Arcos de Valdevez ou divulgando trabalhos e resultados na revista 0 Arqueologo Portugues fundada em 1895 Assim acontecera por exemplo com os trabalhos de alguns investigadores locais como Albano Belino que entre 1893 e 1900 realiza escavayoes em castros da regiao de Braga especialmente no Monte Redondo

o fim do grupo da Portugalia coincide com os inicios de urn periodo pouco feliz para 0 estudo dos castros e de urn modo geral para a arqueologia portuguesa A urn periodo de intensa actividade que caracteriza as ultimas decadas do sec XIX ira sushyceder-se urn profundo marasmo quebrado por raras e honrosas contribuiyoes que nao chegam para minimizar nem a demissao dos poderes publicos em relayao ao estudo da Pre-historia portushyguesa nem 0 atraso que desde entao nos distancia cada vez mais da investigacao europeia

134 MANUELA MARTINS

E verdade que a il de urn modo pouco cons mulayao de materiais rei uma total insuficiencia lti melhorar a qualidade d eram estudados pois na( a investigacao Os musel deiros depositos de peyc yoes de proveniencia C sem uma necessaria reno tros vivera nas primeiras yO e trabalhos de amadm rayao tecnica Deste qua yoes de investigadores Ii versidade do Porto criac logia e Etnologia (1919 sentayoes cartograficas I

Este tipo de abordagem austro-hlingara nos fina culturais e sugerir hipote~ difusao de modelos cult Pinto serao entre nos d encontra bern representac nologia da P Iberica EI

os esforyos de sintese de com a sua obra Os Pavo Pre-romana inserida na (1928)

Todavia a partir d gram 0 conhecimento s honrosamente havia com ser elaboradas aiem fron passam desde entao a peninsular e europeu atr

M ARTINS S ARMEiTO pound A ARQ

REVISTA DE

GYIMARAES

E verdade que a investigayao dos castros prossegue mas de urn modo pouco consequente Regista-se uma paulatina acushymulayao de materiais recolhidos em museus mas e perceptivel uma total insuficiencia de meios e de tecnicas que permitissem melhorar a qualidade das pesquisas Os materiais raramente eram estudados pois nao existiam organismos que suportassem a investigayao Os museus por sua vez tornan1-se entao verdashydeiros depositos de peyas muitas vezes sem quaisquer indicashyyoes de proveniencia 0 conhecimento estiola em repetiyoes sem uma necessaria renovayao De facto a arqueologia dos casshytros vivenl nas primeiras decadas do sec xx sobretudo do esforshyyO e trabalhos de amado res e curiosos quase sempre sem prepashyrayao tecnica Deste quadro sombrio se destacam as contribuishyyoes de investigadores ligados a Faculdade de Ciencias da Unishyversidade do Porto criadores da revista Trabalhos de Antroposhylogia e Etnologia (1919) e introdutores em Portugal das represhysentayoes cartograficas na distribuiyao de estayoes e achados Este tipo de abordagem desenvolvlida pela escola geografica austro-hungara nos finais do sec XIX permitia definir areas culturais e sugerir hipoteses de migrayoes de povos bern como a difusao de model os culturais Mendes Correia e Rui de Serpa Pinto serao entre nos dois cultores desta metodologia que se encontra bern representada nos trabalhos de sfntese sobre a Etshynologia da P Iberica E nesta perspectiva que podemos integrar os esforyos de sintese de Mendes Correia (1924) principalmente com a sua obra as Povos Primitivos da Lusitdnia e A Lusitdnia Pre-romana inserida na Historia de Portugal de Damiao Peres (1928)

Todavia a partir dos anos 20 as grandes sinteses que inteshygram 0 conhecimento sobre os castros cuja investigayao tao honrosamente havia comeyado com Martins Sarmento passam a ser elaboradas alem fronteiras Os povos e culturas portuguesas passam desde entao a inserir-se sistematicamente no ambito peninsular e europeu atraves dos trabalhos de P Bosch Guimpeshy

MAR7JVS SARMENTO E A ARQ EOLOGIA DOS CASTROS 135

i

RREVI STA DE GGY IMARA ES

ra a uern se dev a de miy30 da Cultura dos castros e a sua cashyra t rizay3 no funbito da Il Idad do Ferro peninsular com base na tipologia dos seus p voados e na planta das habitayoes Porshytugal perd peso na investigayao deste dominio arque010gico tao pre iso m que havia sido pioneiro

Isso nao significa que nao se realizassem entre nos trabashylhos ou que novas pubJicayoes nao fossem dadas a estampa Na realidade merecem justa homenagem os esforyos de F Alves Pereira e em particular os de Rui de Serpa Pinto cuja brilhante inteligencia 1he facultava urn louvavel poder de sintese A sua morte precoce privou a arqueologia portuguesa de urn dos seus mais notaveis e promissores vultos

A arqueologia dos castros passara a ser dominada pela fishygura de F Lopez Cuevillas que durante 40 anos (anos 20-60) produz urn extenso rol de trabalhos de caracter monografico e de sintese que contribuira para precisar as caracteristicas da Cultushyra castreja Entre nos e com uma aCyao de algurn modo compashyravel podemos destacar a figura de Mario Cardoso que a partir dos anos 30 presidira aos destinos da Sociedade Martins Sarshymento dando continuidade aos trabalhos do seu fundador Com uma vultuosa obra que constitui urn ponto de referencia para toshydos os que ao tema dos castros se dedicam M Cardoso soube homar a Sociedade liderando a investigayao dos castros no Norte de Portugal ate a decada de 70

Todavia a actividade arqueologica em Portugal nao acompanhou 0 passo dos restantes paises europeus Nao Ise reshynovaram as tecnicas nem a problematica de investigayao 0 nosso pais manteve-s a margem dos debates teoricos que anishymaram a comunidade arqueologica internacional e que questioshynaram 0 senti do e a interpretay30 das sociedades pre e protoshyhistoricas Nos anos 70 0 estudo das nossas culturas registava urn notavel atraso em relayao as suas congeneres europeias

A partir dos anos 70 assistiremos a urn renovado interesse pelo estudo dos castros traduzido por urn significativo aurnento

136 MANUELA MARTfNS

do numero de escavayoes novayao metodologica Ai lho que deixam de se cen1 da cultura material passan tivas da Cultura castreja E guns dos trabalhos de sinte cada de 80 No entanto e fase embrionaria de invest damental nos da conta d4 nacional

Por isso nao deixa d tecer mais uma vez a figu dade do seu pensamento e duziu em termos europeu mente a investigayao dos I

pois so a muito custo se inumeras dificuldades que ologico

BIBLIOGRAFA CONSULT

CARDOSO M (1927) Bibliol pp 115 e 185

- (1933) Dr Francisco Martin nagem a Martins Sarmento

- (1945) Os fundadores da S Revista de GuimarCies 55 r

- (1956) Francisco Martins Sa Guimaraes

CORREA M (1933) No cen Estudos Portugueses do Int

- (1947) Histoire des rechercl Antropologia e Etnologia I

MElRA1 (1921) Homenagel 31 pp 176

MARTINS SA RivlENTO E A ARQU

REVISTA DE

GYI M ARAES

do numero de escavacoes mas tam bern por uma importante reshynovacao metodol6gica Alargaram-se as perspectivas de trabashylho que deixam de se centrar exc1usivamente na caracterizacao da cultura material passando a polarizar-se nas questOes evolushytivas da Cultura castreja E nesta perspectiva que se inserem alshyguns dos trabalhos de sintese sobre os castros produzidos na deshycada de 80 No entanto estes trabalhos inserem-se ainda numa fase embriomiria de investigacao que nao deixando de ser funshydamental nos da conta do consideravel atraso da arqueologia nacional

Por isso nao deixa de ser a todos os titulos legitimo enalshytecer mais uma vez a figura ilustre de M Sannento pela vitalishydade do seu pensamento e pela actualidade do trabalho que proshyduziu em termos europeus 0 pioneirismo portugues relativashymente it investigacao dos castros nao mais voltou a registar-se pois s6 a muito custo se conseguiu ultrapassar entre n6s as inumeras dificuldades que inibem ainda hoje 0 trabalho arqueshyol6gico

BlBLlOGRAFIA CONSUL TADA

CARDOSO M (1927) Bibliografia Sarmentina Revista de Guimarfies 37 pp 115 e 185

- (1933) Dr Francisco Martins Sarmento Esboyo bio-bibliognlfico Homeshynagem a Martins Sarmento Guimaraes

- (1945) Os fundadores da Sociedade Carlos Ribeiro e Martins Sarmento Revista de Guimariies 55 pp 13

- (1956) Francisco Martins Sarmento Esboro da slia vida e Obra cientfjica Guimaraes

CORREA M (1933) No centenario do nascimento de Martins Sarmento Estudos Portugueses do Integralismo Lusitano 2 12

- (1947) Histoire des recherches pre-historiques en Portugal Trabalhos de Antropologia e Etnologia II pp 115

MElRA 1 (1921) Homenagem a Martins Sarmento Revista de Guimarfies 31 pp 176

M ARTINS SARMENTO E A ARQUEOLOGfA DOS C ASTROS 137

REVISTA D E

GVIMARAES

PIMENTA A (1933) Martins Sarmento Literato e Historiador Ed Fernanshy LA EPIGRAFIA ROM des Junior Lisboa GUIMARAES UN ES~

SAMPAIO A (1899-1903) F Martins Sarmento 9 de Manyo de 1833 - 9 de Sonia Maria Garcia MalAgosto de 1899 Portugalia I pp 417

En este estudio s cuesti6n sobre el avance I

Concelho de Guimaraes Ante to do se debe c

del legado cientifico de Francisco Martins Sarme propulsores del saber hi prerromano de la actual rl

Doctora en Historia y 0 Clasicos-Area de Historia Ani I Se ha elaborado un Corl apartados 1- Inscripciones Inscripciones monumental-he de propiedad rotulos de ca Monumentos anepigrafos y v un numero de identificacion emplazamiento la lectura y 1

misma Por el momento no se han il para un ulterior amll isis 2 Cf los diferentes articulo apunta al final de este articulo

LA EPIGRAFfA ROMA NA DEL G138 MANUELA MARTINS

Page 9: 1995repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/13355/1/Revista de... · INDICE . Revista de Guimaraes - 1995 . 1. SANTOS SIMOES - Na passagem do centenario de «0 Archeologo . JORGE

REVISTA DE

GYIMARAES

tavam na posse desta parte da Europa seculos antes da apariyao dos Celtas nestas regioes

Martins Sarmento revelou de resto outras caracteristicas pioneiras em termos de investigayao arqueologica Tal como se recusa a aceitar 0 Celtismo dos Lusitanos nao se deixa fascinar pelo terre no facil do orientalismo entao em yoga salientando a autonomia das culturas pre-historicas atlanticas em relayao ao Mediterraneo oriental M Sarmento mergulhava assim numa area nebulosa da investigayao do nosso passado a da origem etnica das comunidades peninsulares tematica sobejamente deshybatida mas ainda hoje profundamente controversa De qualquer modo independentemente da validade das asseryoes de Sarshymento ele foi 0 precursor dessa vertente de investigayao que e a interpretayao da etnogenese dos povos peninsulares

Ao sabio vimaranense cabe a gloria de ter iniciado 0 estushydo de muitos problemas relativos as nossas origens etnicas que serviu de ponto de partida para novos trabalhos de outros invesshytigadores Por outro lado as pesquisas de M Sarmento permitishyram articular entre si os dados respeitantes as provincias do Mishynho e da Galiza e preencher a lacuna entre a realidade Preshy-historica portuguesa cujo estudo foi iniciado pelos Serviyos Geologicos de Portugal e a Idade Media sistematizada por A Herculano

Martins Sarmento teve ainda 0 merito de atrair a si urn grupo de jovens entusiastas pelas ciencias naturais e pela arqueshyologia grupo que funda em 1887 a Sociedade Carlos Ribeiro Integrando homens como Ricardo Severo Rocha Peixoto e Fonshyseca Cardoso ao qual se juntara tambem Jose Fortes este grupo dara origem em 1890 a Revista de Ciencias Naturais e Sociais a qual sucedeu em 1899 a revista Portugalia Alguns destes inshyvestigadores serao seguidores de M Sarmento na pesquisa dos castros Jose Fortes realiza escavayoes em Alvarelhos (1899) Fonseca Cardoso e Ricardo Severo respectivamente em Bashygunte e Vilarinho de Cotas Outras escavayoes como as do cas-

MARTINS S ARMENTO E A ARQUEOLOGJA DOS CASTROS 133

REVISTA DE

GYIMARA ES

telo de Guiroes (Matosinhos) cividade de Terroso (Povoa de Varzim) man tern vivo 0 genuino interesse de M Sarmento peshylos castros da regiao do Minho

Os homens da Portugalia tal como M Sarmento e L de Vasconcelos opunham-se a afirmayao de A Herculano relativa a inexistencia de relayoes genealogicas entre os portugueses e as populayoes pre e proto-historicas especialmente com os Lusitashynos Defendiam em contrapartida 0 nacionalismo etnico asshysunto que constitui 0 corolario dos estudos de Alberto Sampaio outro colaborador da Portugalia que procurou filiar as origens dos modemos nucleos de povoamento do pais nas cividades e ci1imias proto-historicas

Apos a morte de Sarmento as investigayoes nos castros irao prosseguir essencialmente Jigados ao grupo da Portugitlia ate pelo menos 1908 No entanlo posteriormente a esta data sera o Museu Etnologico Portugues fundado em Lisboa em 1894 ligado a figura de 1 Leite de Vasconcelos que ira manter uma estreita ligayao com investigadores locais servindo mesmo de insvestigador de escavayoes e prospecyoes como as que serao realizadas por F Alves Pereira na regiao dos Arcos de Valdevez ou divulgando trabalhos e resultados na revista 0 Arqueologo Portugues fundada em 1895 Assim acontecera por exemplo com os trabalhos de alguns investigadores locais como Albano Belino que entre 1893 e 1900 realiza escavayoes em castros da regiao de Braga especialmente no Monte Redondo

o fim do grupo da Portugalia coincide com os inicios de urn periodo pouco feliz para 0 estudo dos castros e de urn modo geral para a arqueologia portuguesa A urn periodo de intensa actividade que caracteriza as ultimas decadas do sec XIX ira sushyceder-se urn profundo marasmo quebrado por raras e honrosas contribuiyoes que nao chegam para minimizar nem a demissao dos poderes publicos em relayao ao estudo da Pre-historia portushyguesa nem 0 atraso que desde entao nos distancia cada vez mais da investigacao europeia

134 MANUELA MARTINS

E verdade que a il de urn modo pouco cons mulayao de materiais rei uma total insuficiencia lti melhorar a qualidade d eram estudados pois na( a investigacao Os musel deiros depositos de peyc yoes de proveniencia C sem uma necessaria reno tros vivera nas primeiras yO e trabalhos de amadm rayao tecnica Deste qua yoes de investigadores Ii versidade do Porto criac logia e Etnologia (1919 sentayoes cartograficas I

Este tipo de abordagem austro-hlingara nos fina culturais e sugerir hipote~ difusao de modelos cult Pinto serao entre nos d encontra bern representac nologia da P Iberica EI

os esforyos de sintese de com a sua obra Os Pavo Pre-romana inserida na (1928)

Todavia a partir d gram 0 conhecimento s honrosamente havia com ser elaboradas aiem fron passam desde entao a peninsular e europeu atr

M ARTINS S ARMEiTO pound A ARQ

REVISTA DE

GYIMARAES

E verdade que a investigayao dos castros prossegue mas de urn modo pouco consequente Regista-se uma paulatina acushymulayao de materiais recolhidos em museus mas e perceptivel uma total insuficiencia de meios e de tecnicas que permitissem melhorar a qualidade das pesquisas Os materiais raramente eram estudados pois nao existiam organismos que suportassem a investigayao Os museus por sua vez tornan1-se entao verdashydeiros depositos de peyas muitas vezes sem quaisquer indicashyyoes de proveniencia 0 conhecimento estiola em repetiyoes sem uma necessaria renovayao De facto a arqueologia dos casshytros vivenl nas primeiras decadas do sec xx sobretudo do esforshyyO e trabalhos de amado res e curiosos quase sempre sem prepashyrayao tecnica Deste quadro sombrio se destacam as contribuishyyoes de investigadores ligados a Faculdade de Ciencias da Unishyversidade do Porto criadores da revista Trabalhos de Antroposhylogia e Etnologia (1919) e introdutores em Portugal das represhysentayoes cartograficas na distribuiyao de estayoes e achados Este tipo de abordagem desenvolvlida pela escola geografica austro-hungara nos finais do sec XIX permitia definir areas culturais e sugerir hipoteses de migrayoes de povos bern como a difusao de model os culturais Mendes Correia e Rui de Serpa Pinto serao entre nos dois cultores desta metodologia que se encontra bern representada nos trabalhos de sfntese sobre a Etshynologia da P Iberica E nesta perspectiva que podemos integrar os esforyos de sintese de Mendes Correia (1924) principalmente com a sua obra as Povos Primitivos da Lusitdnia e A Lusitdnia Pre-romana inserida na Historia de Portugal de Damiao Peres (1928)

Todavia a partir dos anos 20 as grandes sinteses que inteshygram 0 conhecimento sobre os castros cuja investigayao tao honrosamente havia comeyado com Martins Sarmento passam a ser elaboradas alem fronteiras Os povos e culturas portuguesas passam desde entao a inserir-se sistematicamente no ambito peninsular e europeu atraves dos trabalhos de P Bosch Guimpeshy

MAR7JVS SARMENTO E A ARQ EOLOGIA DOS CASTROS 135

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RREVI STA DE GGY IMARA ES

ra a uern se dev a de miy30 da Cultura dos castros e a sua cashyra t rizay3 no funbito da Il Idad do Ferro peninsular com base na tipologia dos seus p voados e na planta das habitayoes Porshytugal perd peso na investigayao deste dominio arque010gico tao pre iso m que havia sido pioneiro

Isso nao significa que nao se realizassem entre nos trabashylhos ou que novas pubJicayoes nao fossem dadas a estampa Na realidade merecem justa homenagem os esforyos de F Alves Pereira e em particular os de Rui de Serpa Pinto cuja brilhante inteligencia 1he facultava urn louvavel poder de sintese A sua morte precoce privou a arqueologia portuguesa de urn dos seus mais notaveis e promissores vultos

A arqueologia dos castros passara a ser dominada pela fishygura de F Lopez Cuevillas que durante 40 anos (anos 20-60) produz urn extenso rol de trabalhos de caracter monografico e de sintese que contribuira para precisar as caracteristicas da Cultushyra castreja Entre nos e com uma aCyao de algurn modo compashyravel podemos destacar a figura de Mario Cardoso que a partir dos anos 30 presidira aos destinos da Sociedade Martins Sarshymento dando continuidade aos trabalhos do seu fundador Com uma vultuosa obra que constitui urn ponto de referencia para toshydos os que ao tema dos castros se dedicam M Cardoso soube homar a Sociedade liderando a investigayao dos castros no Norte de Portugal ate a decada de 70

Todavia a actividade arqueologica em Portugal nao acompanhou 0 passo dos restantes paises europeus Nao Ise reshynovaram as tecnicas nem a problematica de investigayao 0 nosso pais manteve-s a margem dos debates teoricos que anishymaram a comunidade arqueologica internacional e que questioshynaram 0 senti do e a interpretay30 das sociedades pre e protoshyhistoricas Nos anos 70 0 estudo das nossas culturas registava urn notavel atraso em relayao as suas congeneres europeias

A partir dos anos 70 assistiremos a urn renovado interesse pelo estudo dos castros traduzido por urn significativo aurnento

136 MANUELA MARTfNS

do numero de escavayoes novayao metodologica Ai lho que deixam de se cen1 da cultura material passan tivas da Cultura castreja E guns dos trabalhos de sinte cada de 80 No entanto e fase embrionaria de invest damental nos da conta d4 nacional

Por isso nao deixa d tecer mais uma vez a figu dade do seu pensamento e duziu em termos europeu mente a investigayao dos I

pois so a muito custo se inumeras dificuldades que ologico

BIBLIOGRAFA CONSULT

CARDOSO M (1927) Bibliol pp 115 e 185

- (1933) Dr Francisco Martin nagem a Martins Sarmento

- (1945) Os fundadores da S Revista de GuimarCies 55 r

- (1956) Francisco Martins Sa Guimaraes

CORREA M (1933) No cen Estudos Portugueses do Int

- (1947) Histoire des rechercl Antropologia e Etnologia I

MElRA1 (1921) Homenagel 31 pp 176

MARTINS SA RivlENTO E A ARQU

REVISTA DE

GYI M ARAES

do numero de escavacoes mas tam bern por uma importante reshynovacao metodol6gica Alargaram-se as perspectivas de trabashylho que deixam de se centrar exc1usivamente na caracterizacao da cultura material passando a polarizar-se nas questOes evolushytivas da Cultura castreja E nesta perspectiva que se inserem alshyguns dos trabalhos de sintese sobre os castros produzidos na deshycada de 80 No entanto estes trabalhos inserem-se ainda numa fase embriomiria de investigacao que nao deixando de ser funshydamental nos da conta do consideravel atraso da arqueologia nacional

Por isso nao deixa de ser a todos os titulos legitimo enalshytecer mais uma vez a figura ilustre de M Sannento pela vitalishydade do seu pensamento e pela actualidade do trabalho que proshyduziu em termos europeus 0 pioneirismo portugues relativashymente it investigacao dos castros nao mais voltou a registar-se pois s6 a muito custo se conseguiu ultrapassar entre n6s as inumeras dificuldades que inibem ainda hoje 0 trabalho arqueshyol6gico

BlBLlOGRAFIA CONSUL TADA

CARDOSO M (1927) Bibliografia Sarmentina Revista de Guimarfies 37 pp 115 e 185

- (1933) Dr Francisco Martins Sarmento Esboyo bio-bibliognlfico Homeshynagem a Martins Sarmento Guimaraes

- (1945) Os fundadores da Sociedade Carlos Ribeiro e Martins Sarmento Revista de Guimariies 55 pp 13

- (1956) Francisco Martins Sarmento Esboro da slia vida e Obra cientfjica Guimaraes

CORREA M (1933) No centenario do nascimento de Martins Sarmento Estudos Portugueses do Integralismo Lusitano 2 12

- (1947) Histoire des recherches pre-historiques en Portugal Trabalhos de Antropologia e Etnologia II pp 115

MElRA 1 (1921) Homenagem a Martins Sarmento Revista de Guimarfies 31 pp 176

M ARTINS SARMENTO E A ARQUEOLOGfA DOS C ASTROS 137

REVISTA D E

GVIMARAES

PIMENTA A (1933) Martins Sarmento Literato e Historiador Ed Fernanshy LA EPIGRAFIA ROM des Junior Lisboa GUIMARAES UN ES~

SAMPAIO A (1899-1903) F Martins Sarmento 9 de Manyo de 1833 - 9 de Sonia Maria Garcia MalAgosto de 1899 Portugalia I pp 417

En este estudio s cuesti6n sobre el avance I

Concelho de Guimaraes Ante to do se debe c

del legado cientifico de Francisco Martins Sarme propulsores del saber hi prerromano de la actual rl

Doctora en Historia y 0 Clasicos-Area de Historia Ani I Se ha elaborado un Corl apartados 1- Inscripciones Inscripciones monumental-he de propiedad rotulos de ca Monumentos anepigrafos y v un numero de identificacion emplazamiento la lectura y 1

misma Por el momento no se han il para un ulterior amll isis 2 Cf los diferentes articulo apunta al final de este articulo

LA EPIGRAFfA ROMA NA DEL G138 MANUELA MARTINS

Page 10: 1995repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/13355/1/Revista de... · INDICE . Revista de Guimaraes - 1995 . 1. SANTOS SIMOES - Na passagem do centenario de «0 Archeologo . JORGE

REVISTA DE

GYIMARA ES

telo de Guiroes (Matosinhos) cividade de Terroso (Povoa de Varzim) man tern vivo 0 genuino interesse de M Sarmento peshylos castros da regiao do Minho

Os homens da Portugalia tal como M Sarmento e L de Vasconcelos opunham-se a afirmayao de A Herculano relativa a inexistencia de relayoes genealogicas entre os portugueses e as populayoes pre e proto-historicas especialmente com os Lusitashynos Defendiam em contrapartida 0 nacionalismo etnico asshysunto que constitui 0 corolario dos estudos de Alberto Sampaio outro colaborador da Portugalia que procurou filiar as origens dos modemos nucleos de povoamento do pais nas cividades e ci1imias proto-historicas

Apos a morte de Sarmento as investigayoes nos castros irao prosseguir essencialmente Jigados ao grupo da Portugitlia ate pelo menos 1908 No entanlo posteriormente a esta data sera o Museu Etnologico Portugues fundado em Lisboa em 1894 ligado a figura de 1 Leite de Vasconcelos que ira manter uma estreita ligayao com investigadores locais servindo mesmo de insvestigador de escavayoes e prospecyoes como as que serao realizadas por F Alves Pereira na regiao dos Arcos de Valdevez ou divulgando trabalhos e resultados na revista 0 Arqueologo Portugues fundada em 1895 Assim acontecera por exemplo com os trabalhos de alguns investigadores locais como Albano Belino que entre 1893 e 1900 realiza escavayoes em castros da regiao de Braga especialmente no Monte Redondo

o fim do grupo da Portugalia coincide com os inicios de urn periodo pouco feliz para 0 estudo dos castros e de urn modo geral para a arqueologia portuguesa A urn periodo de intensa actividade que caracteriza as ultimas decadas do sec XIX ira sushyceder-se urn profundo marasmo quebrado por raras e honrosas contribuiyoes que nao chegam para minimizar nem a demissao dos poderes publicos em relayao ao estudo da Pre-historia portushyguesa nem 0 atraso que desde entao nos distancia cada vez mais da investigacao europeia

134 MANUELA MARTINS

E verdade que a il de urn modo pouco cons mulayao de materiais rei uma total insuficiencia lti melhorar a qualidade d eram estudados pois na( a investigacao Os musel deiros depositos de peyc yoes de proveniencia C sem uma necessaria reno tros vivera nas primeiras yO e trabalhos de amadm rayao tecnica Deste qua yoes de investigadores Ii versidade do Porto criac logia e Etnologia (1919 sentayoes cartograficas I

Este tipo de abordagem austro-hlingara nos fina culturais e sugerir hipote~ difusao de modelos cult Pinto serao entre nos d encontra bern representac nologia da P Iberica EI

os esforyos de sintese de com a sua obra Os Pavo Pre-romana inserida na (1928)

Todavia a partir d gram 0 conhecimento s honrosamente havia com ser elaboradas aiem fron passam desde entao a peninsular e europeu atr

M ARTINS S ARMEiTO pound A ARQ

REVISTA DE

GYIMARAES

E verdade que a investigayao dos castros prossegue mas de urn modo pouco consequente Regista-se uma paulatina acushymulayao de materiais recolhidos em museus mas e perceptivel uma total insuficiencia de meios e de tecnicas que permitissem melhorar a qualidade das pesquisas Os materiais raramente eram estudados pois nao existiam organismos que suportassem a investigayao Os museus por sua vez tornan1-se entao verdashydeiros depositos de peyas muitas vezes sem quaisquer indicashyyoes de proveniencia 0 conhecimento estiola em repetiyoes sem uma necessaria renovayao De facto a arqueologia dos casshytros vivenl nas primeiras decadas do sec xx sobretudo do esforshyyO e trabalhos de amado res e curiosos quase sempre sem prepashyrayao tecnica Deste quadro sombrio se destacam as contribuishyyoes de investigadores ligados a Faculdade de Ciencias da Unishyversidade do Porto criadores da revista Trabalhos de Antroposhylogia e Etnologia (1919) e introdutores em Portugal das represhysentayoes cartograficas na distribuiyao de estayoes e achados Este tipo de abordagem desenvolvlida pela escola geografica austro-hungara nos finais do sec XIX permitia definir areas culturais e sugerir hipoteses de migrayoes de povos bern como a difusao de model os culturais Mendes Correia e Rui de Serpa Pinto serao entre nos dois cultores desta metodologia que se encontra bern representada nos trabalhos de sfntese sobre a Etshynologia da P Iberica E nesta perspectiva que podemos integrar os esforyos de sintese de Mendes Correia (1924) principalmente com a sua obra as Povos Primitivos da Lusitdnia e A Lusitdnia Pre-romana inserida na Historia de Portugal de Damiao Peres (1928)

Todavia a partir dos anos 20 as grandes sinteses que inteshygram 0 conhecimento sobre os castros cuja investigayao tao honrosamente havia comeyado com Martins Sarmento passam a ser elaboradas alem fronteiras Os povos e culturas portuguesas passam desde entao a inserir-se sistematicamente no ambito peninsular e europeu atraves dos trabalhos de P Bosch Guimpeshy

MAR7JVS SARMENTO E A ARQ EOLOGIA DOS CASTROS 135

i

RREVI STA DE GGY IMARA ES

ra a uern se dev a de miy30 da Cultura dos castros e a sua cashyra t rizay3 no funbito da Il Idad do Ferro peninsular com base na tipologia dos seus p voados e na planta das habitayoes Porshytugal perd peso na investigayao deste dominio arque010gico tao pre iso m que havia sido pioneiro

Isso nao significa que nao se realizassem entre nos trabashylhos ou que novas pubJicayoes nao fossem dadas a estampa Na realidade merecem justa homenagem os esforyos de F Alves Pereira e em particular os de Rui de Serpa Pinto cuja brilhante inteligencia 1he facultava urn louvavel poder de sintese A sua morte precoce privou a arqueologia portuguesa de urn dos seus mais notaveis e promissores vultos

A arqueologia dos castros passara a ser dominada pela fishygura de F Lopez Cuevillas que durante 40 anos (anos 20-60) produz urn extenso rol de trabalhos de caracter monografico e de sintese que contribuira para precisar as caracteristicas da Cultushyra castreja Entre nos e com uma aCyao de algurn modo compashyravel podemos destacar a figura de Mario Cardoso que a partir dos anos 30 presidira aos destinos da Sociedade Martins Sarshymento dando continuidade aos trabalhos do seu fundador Com uma vultuosa obra que constitui urn ponto de referencia para toshydos os que ao tema dos castros se dedicam M Cardoso soube homar a Sociedade liderando a investigayao dos castros no Norte de Portugal ate a decada de 70

Todavia a actividade arqueologica em Portugal nao acompanhou 0 passo dos restantes paises europeus Nao Ise reshynovaram as tecnicas nem a problematica de investigayao 0 nosso pais manteve-s a margem dos debates teoricos que anishymaram a comunidade arqueologica internacional e que questioshynaram 0 senti do e a interpretay30 das sociedades pre e protoshyhistoricas Nos anos 70 0 estudo das nossas culturas registava urn notavel atraso em relayao as suas congeneres europeias

A partir dos anos 70 assistiremos a urn renovado interesse pelo estudo dos castros traduzido por urn significativo aurnento

136 MANUELA MARTfNS

do numero de escavayoes novayao metodologica Ai lho que deixam de se cen1 da cultura material passan tivas da Cultura castreja E guns dos trabalhos de sinte cada de 80 No entanto e fase embrionaria de invest damental nos da conta d4 nacional

Por isso nao deixa d tecer mais uma vez a figu dade do seu pensamento e duziu em termos europeu mente a investigayao dos I

pois so a muito custo se inumeras dificuldades que ologico

BIBLIOGRAFA CONSULT

CARDOSO M (1927) Bibliol pp 115 e 185

- (1933) Dr Francisco Martin nagem a Martins Sarmento

- (1945) Os fundadores da S Revista de GuimarCies 55 r

- (1956) Francisco Martins Sa Guimaraes

CORREA M (1933) No cen Estudos Portugueses do Int

- (1947) Histoire des rechercl Antropologia e Etnologia I

MElRA1 (1921) Homenagel 31 pp 176

MARTINS SA RivlENTO E A ARQU

REVISTA DE

GYI M ARAES

do numero de escavacoes mas tam bern por uma importante reshynovacao metodol6gica Alargaram-se as perspectivas de trabashylho que deixam de se centrar exc1usivamente na caracterizacao da cultura material passando a polarizar-se nas questOes evolushytivas da Cultura castreja E nesta perspectiva que se inserem alshyguns dos trabalhos de sintese sobre os castros produzidos na deshycada de 80 No entanto estes trabalhos inserem-se ainda numa fase embriomiria de investigacao que nao deixando de ser funshydamental nos da conta do consideravel atraso da arqueologia nacional

Por isso nao deixa de ser a todos os titulos legitimo enalshytecer mais uma vez a figura ilustre de M Sannento pela vitalishydade do seu pensamento e pela actualidade do trabalho que proshyduziu em termos europeus 0 pioneirismo portugues relativashymente it investigacao dos castros nao mais voltou a registar-se pois s6 a muito custo se conseguiu ultrapassar entre n6s as inumeras dificuldades que inibem ainda hoje 0 trabalho arqueshyol6gico

BlBLlOGRAFIA CONSUL TADA

CARDOSO M (1927) Bibliografia Sarmentina Revista de Guimarfies 37 pp 115 e 185

- (1933) Dr Francisco Martins Sarmento Esboyo bio-bibliognlfico Homeshynagem a Martins Sarmento Guimaraes

- (1945) Os fundadores da Sociedade Carlos Ribeiro e Martins Sarmento Revista de Guimariies 55 pp 13

- (1956) Francisco Martins Sarmento Esboro da slia vida e Obra cientfjica Guimaraes

CORREA M (1933) No centenario do nascimento de Martins Sarmento Estudos Portugueses do Integralismo Lusitano 2 12

- (1947) Histoire des recherches pre-historiques en Portugal Trabalhos de Antropologia e Etnologia II pp 115

MElRA 1 (1921) Homenagem a Martins Sarmento Revista de Guimarfies 31 pp 176

M ARTINS SARMENTO E A ARQUEOLOGfA DOS C ASTROS 137

REVISTA D E

GVIMARAES

PIMENTA A (1933) Martins Sarmento Literato e Historiador Ed Fernanshy LA EPIGRAFIA ROM des Junior Lisboa GUIMARAES UN ES~

SAMPAIO A (1899-1903) F Martins Sarmento 9 de Manyo de 1833 - 9 de Sonia Maria Garcia MalAgosto de 1899 Portugalia I pp 417

En este estudio s cuesti6n sobre el avance I

Concelho de Guimaraes Ante to do se debe c

del legado cientifico de Francisco Martins Sarme propulsores del saber hi prerromano de la actual rl

Doctora en Historia y 0 Clasicos-Area de Historia Ani I Se ha elaborado un Corl apartados 1- Inscripciones Inscripciones monumental-he de propiedad rotulos de ca Monumentos anepigrafos y v un numero de identificacion emplazamiento la lectura y 1

misma Por el momento no se han il para un ulterior amll isis 2 Cf los diferentes articulo apunta al final de este articulo

LA EPIGRAFfA ROMA NA DEL G138 MANUELA MARTINS

Page 11: 1995repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/13355/1/Revista de... · INDICE . Revista de Guimaraes - 1995 . 1. SANTOS SIMOES - Na passagem do centenario de «0 Archeologo . JORGE

REVISTA DE

GYIMARAES

E verdade que a investigayao dos castros prossegue mas de urn modo pouco consequente Regista-se uma paulatina acushymulayao de materiais recolhidos em museus mas e perceptivel uma total insuficiencia de meios e de tecnicas que permitissem melhorar a qualidade das pesquisas Os materiais raramente eram estudados pois nao existiam organismos que suportassem a investigayao Os museus por sua vez tornan1-se entao verdashydeiros depositos de peyas muitas vezes sem quaisquer indicashyyoes de proveniencia 0 conhecimento estiola em repetiyoes sem uma necessaria renovayao De facto a arqueologia dos casshytros vivenl nas primeiras decadas do sec xx sobretudo do esforshyyO e trabalhos de amado res e curiosos quase sempre sem prepashyrayao tecnica Deste quadro sombrio se destacam as contribuishyyoes de investigadores ligados a Faculdade de Ciencias da Unishyversidade do Porto criadores da revista Trabalhos de Antroposhylogia e Etnologia (1919) e introdutores em Portugal das represhysentayoes cartograficas na distribuiyao de estayoes e achados Este tipo de abordagem desenvolvlida pela escola geografica austro-hungara nos finais do sec XIX permitia definir areas culturais e sugerir hipoteses de migrayoes de povos bern como a difusao de model os culturais Mendes Correia e Rui de Serpa Pinto serao entre nos dois cultores desta metodologia que se encontra bern representada nos trabalhos de sfntese sobre a Etshynologia da P Iberica E nesta perspectiva que podemos integrar os esforyos de sintese de Mendes Correia (1924) principalmente com a sua obra as Povos Primitivos da Lusitdnia e A Lusitdnia Pre-romana inserida na Historia de Portugal de Damiao Peres (1928)

Todavia a partir dos anos 20 as grandes sinteses que inteshygram 0 conhecimento sobre os castros cuja investigayao tao honrosamente havia comeyado com Martins Sarmento passam a ser elaboradas alem fronteiras Os povos e culturas portuguesas passam desde entao a inserir-se sistematicamente no ambito peninsular e europeu atraves dos trabalhos de P Bosch Guimpeshy

MAR7JVS SARMENTO E A ARQ EOLOGIA DOS CASTROS 135

i

RREVI STA DE GGY IMARA ES

ra a uern se dev a de miy30 da Cultura dos castros e a sua cashyra t rizay3 no funbito da Il Idad do Ferro peninsular com base na tipologia dos seus p voados e na planta das habitayoes Porshytugal perd peso na investigayao deste dominio arque010gico tao pre iso m que havia sido pioneiro

Isso nao significa que nao se realizassem entre nos trabashylhos ou que novas pubJicayoes nao fossem dadas a estampa Na realidade merecem justa homenagem os esforyos de F Alves Pereira e em particular os de Rui de Serpa Pinto cuja brilhante inteligencia 1he facultava urn louvavel poder de sintese A sua morte precoce privou a arqueologia portuguesa de urn dos seus mais notaveis e promissores vultos

A arqueologia dos castros passara a ser dominada pela fishygura de F Lopez Cuevillas que durante 40 anos (anos 20-60) produz urn extenso rol de trabalhos de caracter monografico e de sintese que contribuira para precisar as caracteristicas da Cultushyra castreja Entre nos e com uma aCyao de algurn modo compashyravel podemos destacar a figura de Mario Cardoso que a partir dos anos 30 presidira aos destinos da Sociedade Martins Sarshymento dando continuidade aos trabalhos do seu fundador Com uma vultuosa obra que constitui urn ponto de referencia para toshydos os que ao tema dos castros se dedicam M Cardoso soube homar a Sociedade liderando a investigayao dos castros no Norte de Portugal ate a decada de 70

Todavia a actividade arqueologica em Portugal nao acompanhou 0 passo dos restantes paises europeus Nao Ise reshynovaram as tecnicas nem a problematica de investigayao 0 nosso pais manteve-s a margem dos debates teoricos que anishymaram a comunidade arqueologica internacional e que questioshynaram 0 senti do e a interpretay30 das sociedades pre e protoshyhistoricas Nos anos 70 0 estudo das nossas culturas registava urn notavel atraso em relayao as suas congeneres europeias

A partir dos anos 70 assistiremos a urn renovado interesse pelo estudo dos castros traduzido por urn significativo aurnento

136 MANUELA MARTfNS

do numero de escavayoes novayao metodologica Ai lho que deixam de se cen1 da cultura material passan tivas da Cultura castreja E guns dos trabalhos de sinte cada de 80 No entanto e fase embrionaria de invest damental nos da conta d4 nacional

Por isso nao deixa d tecer mais uma vez a figu dade do seu pensamento e duziu em termos europeu mente a investigayao dos I

pois so a muito custo se inumeras dificuldades que ologico

BIBLIOGRAFA CONSULT

CARDOSO M (1927) Bibliol pp 115 e 185

- (1933) Dr Francisco Martin nagem a Martins Sarmento

- (1945) Os fundadores da S Revista de GuimarCies 55 r

- (1956) Francisco Martins Sa Guimaraes

CORREA M (1933) No cen Estudos Portugueses do Int

- (1947) Histoire des rechercl Antropologia e Etnologia I

MElRA1 (1921) Homenagel 31 pp 176

MARTINS SA RivlENTO E A ARQU

REVISTA DE

GYI M ARAES

do numero de escavacoes mas tam bern por uma importante reshynovacao metodol6gica Alargaram-se as perspectivas de trabashylho que deixam de se centrar exc1usivamente na caracterizacao da cultura material passando a polarizar-se nas questOes evolushytivas da Cultura castreja E nesta perspectiva que se inserem alshyguns dos trabalhos de sintese sobre os castros produzidos na deshycada de 80 No entanto estes trabalhos inserem-se ainda numa fase embriomiria de investigacao que nao deixando de ser funshydamental nos da conta do consideravel atraso da arqueologia nacional

Por isso nao deixa de ser a todos os titulos legitimo enalshytecer mais uma vez a figura ilustre de M Sannento pela vitalishydade do seu pensamento e pela actualidade do trabalho que proshyduziu em termos europeus 0 pioneirismo portugues relativashymente it investigacao dos castros nao mais voltou a registar-se pois s6 a muito custo se conseguiu ultrapassar entre n6s as inumeras dificuldades que inibem ainda hoje 0 trabalho arqueshyol6gico

BlBLlOGRAFIA CONSUL TADA

CARDOSO M (1927) Bibliografia Sarmentina Revista de Guimarfies 37 pp 115 e 185

- (1933) Dr Francisco Martins Sarmento Esboyo bio-bibliognlfico Homeshynagem a Martins Sarmento Guimaraes

- (1945) Os fundadores da Sociedade Carlos Ribeiro e Martins Sarmento Revista de Guimariies 55 pp 13

- (1956) Francisco Martins Sarmento Esboro da slia vida e Obra cientfjica Guimaraes

CORREA M (1933) No centenario do nascimento de Martins Sarmento Estudos Portugueses do Integralismo Lusitano 2 12

- (1947) Histoire des recherches pre-historiques en Portugal Trabalhos de Antropologia e Etnologia II pp 115

MElRA 1 (1921) Homenagem a Martins Sarmento Revista de Guimarfies 31 pp 176

M ARTINS SARMENTO E A ARQUEOLOGfA DOS C ASTROS 137

REVISTA D E

GVIMARAES

PIMENTA A (1933) Martins Sarmento Literato e Historiador Ed Fernanshy LA EPIGRAFIA ROM des Junior Lisboa GUIMARAES UN ES~

SAMPAIO A (1899-1903) F Martins Sarmento 9 de Manyo de 1833 - 9 de Sonia Maria Garcia MalAgosto de 1899 Portugalia I pp 417

En este estudio s cuesti6n sobre el avance I

Concelho de Guimaraes Ante to do se debe c

del legado cientifico de Francisco Martins Sarme propulsores del saber hi prerromano de la actual rl

Doctora en Historia y 0 Clasicos-Area de Historia Ani I Se ha elaborado un Corl apartados 1- Inscripciones Inscripciones monumental-he de propiedad rotulos de ca Monumentos anepigrafos y v un numero de identificacion emplazamiento la lectura y 1

misma Por el momento no se han il para un ulterior amll isis 2 Cf los diferentes articulo apunta al final de este articulo

LA EPIGRAFfA ROMA NA DEL G138 MANUELA MARTINS

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RREVI STA DE GGY IMARA ES

ra a uern se dev a de miy30 da Cultura dos castros e a sua cashyra t rizay3 no funbito da Il Idad do Ferro peninsular com base na tipologia dos seus p voados e na planta das habitayoes Porshytugal perd peso na investigayao deste dominio arque010gico tao pre iso m que havia sido pioneiro

Isso nao significa que nao se realizassem entre nos trabashylhos ou que novas pubJicayoes nao fossem dadas a estampa Na realidade merecem justa homenagem os esforyos de F Alves Pereira e em particular os de Rui de Serpa Pinto cuja brilhante inteligencia 1he facultava urn louvavel poder de sintese A sua morte precoce privou a arqueologia portuguesa de urn dos seus mais notaveis e promissores vultos

A arqueologia dos castros passara a ser dominada pela fishygura de F Lopez Cuevillas que durante 40 anos (anos 20-60) produz urn extenso rol de trabalhos de caracter monografico e de sintese que contribuira para precisar as caracteristicas da Cultushyra castreja Entre nos e com uma aCyao de algurn modo compashyravel podemos destacar a figura de Mario Cardoso que a partir dos anos 30 presidira aos destinos da Sociedade Martins Sarshymento dando continuidade aos trabalhos do seu fundador Com uma vultuosa obra que constitui urn ponto de referencia para toshydos os que ao tema dos castros se dedicam M Cardoso soube homar a Sociedade liderando a investigayao dos castros no Norte de Portugal ate a decada de 70

Todavia a actividade arqueologica em Portugal nao acompanhou 0 passo dos restantes paises europeus Nao Ise reshynovaram as tecnicas nem a problematica de investigayao 0 nosso pais manteve-s a margem dos debates teoricos que anishymaram a comunidade arqueologica internacional e que questioshynaram 0 senti do e a interpretay30 das sociedades pre e protoshyhistoricas Nos anos 70 0 estudo das nossas culturas registava urn notavel atraso em relayao as suas congeneres europeias

A partir dos anos 70 assistiremos a urn renovado interesse pelo estudo dos castros traduzido por urn significativo aurnento

136 MANUELA MARTfNS

do numero de escavayoes novayao metodologica Ai lho que deixam de se cen1 da cultura material passan tivas da Cultura castreja E guns dos trabalhos de sinte cada de 80 No entanto e fase embrionaria de invest damental nos da conta d4 nacional

Por isso nao deixa d tecer mais uma vez a figu dade do seu pensamento e duziu em termos europeu mente a investigayao dos I

pois so a muito custo se inumeras dificuldades que ologico

BIBLIOGRAFA CONSULT

CARDOSO M (1927) Bibliol pp 115 e 185

- (1933) Dr Francisco Martin nagem a Martins Sarmento

- (1945) Os fundadores da S Revista de GuimarCies 55 r

- (1956) Francisco Martins Sa Guimaraes

CORREA M (1933) No cen Estudos Portugueses do Int

- (1947) Histoire des rechercl Antropologia e Etnologia I

MElRA1 (1921) Homenagel 31 pp 176

MARTINS SA RivlENTO E A ARQU

REVISTA DE

GYI M ARAES

do numero de escavacoes mas tam bern por uma importante reshynovacao metodol6gica Alargaram-se as perspectivas de trabashylho que deixam de se centrar exc1usivamente na caracterizacao da cultura material passando a polarizar-se nas questOes evolushytivas da Cultura castreja E nesta perspectiva que se inserem alshyguns dos trabalhos de sintese sobre os castros produzidos na deshycada de 80 No entanto estes trabalhos inserem-se ainda numa fase embriomiria de investigacao que nao deixando de ser funshydamental nos da conta do consideravel atraso da arqueologia nacional

Por isso nao deixa de ser a todos os titulos legitimo enalshytecer mais uma vez a figura ilustre de M Sannento pela vitalishydade do seu pensamento e pela actualidade do trabalho que proshyduziu em termos europeus 0 pioneirismo portugues relativashymente it investigacao dos castros nao mais voltou a registar-se pois s6 a muito custo se conseguiu ultrapassar entre n6s as inumeras dificuldades que inibem ainda hoje 0 trabalho arqueshyol6gico

BlBLlOGRAFIA CONSUL TADA

CARDOSO M (1927) Bibliografia Sarmentina Revista de Guimarfies 37 pp 115 e 185

- (1933) Dr Francisco Martins Sarmento Esboyo bio-bibliognlfico Homeshynagem a Martins Sarmento Guimaraes

- (1945) Os fundadores da Sociedade Carlos Ribeiro e Martins Sarmento Revista de Guimariies 55 pp 13

- (1956) Francisco Martins Sarmento Esboro da slia vida e Obra cientfjica Guimaraes

CORREA M (1933) No centenario do nascimento de Martins Sarmento Estudos Portugueses do Integralismo Lusitano 2 12

- (1947) Histoire des recherches pre-historiques en Portugal Trabalhos de Antropologia e Etnologia II pp 115

MElRA 1 (1921) Homenagem a Martins Sarmento Revista de Guimarfies 31 pp 176

M ARTINS SARMENTO E A ARQUEOLOGfA DOS C ASTROS 137

REVISTA D E

GVIMARAES

PIMENTA A (1933) Martins Sarmento Literato e Historiador Ed Fernanshy LA EPIGRAFIA ROM des Junior Lisboa GUIMARAES UN ES~

SAMPAIO A (1899-1903) F Martins Sarmento 9 de Manyo de 1833 - 9 de Sonia Maria Garcia MalAgosto de 1899 Portugalia I pp 417

En este estudio s cuesti6n sobre el avance I

Concelho de Guimaraes Ante to do se debe c

del legado cientifico de Francisco Martins Sarme propulsores del saber hi prerromano de la actual rl

Doctora en Historia y 0 Clasicos-Area de Historia Ani I Se ha elaborado un Corl apartados 1- Inscripciones Inscripciones monumental-he de propiedad rotulos de ca Monumentos anepigrafos y v un numero de identificacion emplazamiento la lectura y 1

misma Por el momento no se han il para un ulterior amll isis 2 Cf los diferentes articulo apunta al final de este articulo

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REVISTA DE

GYI M ARAES

do numero de escavacoes mas tam bern por uma importante reshynovacao metodol6gica Alargaram-se as perspectivas de trabashylho que deixam de se centrar exc1usivamente na caracterizacao da cultura material passando a polarizar-se nas questOes evolushytivas da Cultura castreja E nesta perspectiva que se inserem alshyguns dos trabalhos de sintese sobre os castros produzidos na deshycada de 80 No entanto estes trabalhos inserem-se ainda numa fase embriomiria de investigacao que nao deixando de ser funshydamental nos da conta do consideravel atraso da arqueologia nacional

Por isso nao deixa de ser a todos os titulos legitimo enalshytecer mais uma vez a figura ilustre de M Sannento pela vitalishydade do seu pensamento e pela actualidade do trabalho que proshyduziu em termos europeus 0 pioneirismo portugues relativashymente it investigacao dos castros nao mais voltou a registar-se pois s6 a muito custo se conseguiu ultrapassar entre n6s as inumeras dificuldades que inibem ainda hoje 0 trabalho arqueshyol6gico

BlBLlOGRAFIA CONSUL TADA

CARDOSO M (1927) Bibliografia Sarmentina Revista de Guimarfies 37 pp 115 e 185

- (1933) Dr Francisco Martins Sarmento Esboyo bio-bibliognlfico Homeshynagem a Martins Sarmento Guimaraes

- (1945) Os fundadores da Sociedade Carlos Ribeiro e Martins Sarmento Revista de Guimariies 55 pp 13

- (1956) Francisco Martins Sarmento Esboro da slia vida e Obra cientfjica Guimaraes

CORREA M (1933) No centenario do nascimento de Martins Sarmento Estudos Portugueses do Integralismo Lusitano 2 12

- (1947) Histoire des recherches pre-historiques en Portugal Trabalhos de Antropologia e Etnologia II pp 115

MElRA 1 (1921) Homenagem a Martins Sarmento Revista de Guimarfies 31 pp 176

M ARTINS SARMENTO E A ARQUEOLOGfA DOS C ASTROS 137

REVISTA D E

GVIMARAES

PIMENTA A (1933) Martins Sarmento Literato e Historiador Ed Fernanshy LA EPIGRAFIA ROM des Junior Lisboa GUIMARAES UN ES~

SAMPAIO A (1899-1903) F Martins Sarmento 9 de Manyo de 1833 - 9 de Sonia Maria Garcia MalAgosto de 1899 Portugalia I pp 417

En este estudio s cuesti6n sobre el avance I

Concelho de Guimaraes Ante to do se debe c

del legado cientifico de Francisco Martins Sarme propulsores del saber hi prerromano de la actual rl

Doctora en Historia y 0 Clasicos-Area de Historia Ani I Se ha elaborado un Corl apartados 1- Inscripciones Inscripciones monumental-he de propiedad rotulos de ca Monumentos anepigrafos y v un numero de identificacion emplazamiento la lectura y 1

misma Por el momento no se han il para un ulterior amll isis 2 Cf los diferentes articulo apunta al final de este articulo

LA EPIGRAFfA ROMA NA DEL G138 MANUELA MARTINS

Page 14: 1995repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/13355/1/Revista de... · INDICE . Revista de Guimaraes - 1995 . 1. SANTOS SIMOES - Na passagem do centenario de «0 Archeologo . JORGE

REVISTA D E

GVIMARAES

PIMENTA A (1933) Martins Sarmento Literato e Historiador Ed Fernanshy LA EPIGRAFIA ROM des Junior Lisboa GUIMARAES UN ES~

SAMPAIO A (1899-1903) F Martins Sarmento 9 de Manyo de 1833 - 9 de Sonia Maria Garcia MalAgosto de 1899 Portugalia I pp 417

En este estudio s cuesti6n sobre el avance I

Concelho de Guimaraes Ante to do se debe c

del legado cientifico de Francisco Martins Sarme propulsores del saber hi prerromano de la actual rl

Doctora en Historia y 0 Clasicos-Area de Historia Ani I Se ha elaborado un Corl apartados 1- Inscripciones Inscripciones monumental-he de propiedad rotulos de ca Monumentos anepigrafos y v un numero de identificacion emplazamiento la lectura y 1

misma Por el momento no se han il para un ulterior amll isis 2 Cf los diferentes articulo apunta al final de este articulo

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