De Onde Somos E Para Onde Vamos - Um Olhar Pos-moderno Em Lost

download De Onde Somos E Para Onde Vamos - Um Olhar Pos-moderno Em Lost

of 19

Transcript of De Onde Somos E Para Onde Vamos - Um Olhar Pos-moderno Em Lost

  • 7/23/2019 De Onde Somos E Para Onde Vamos - Um Olhar Pos-moderno Em Lost

    1/19

    649Palabra Clave - ISSN: 0122-8285 - Vol.15 No. 3 - Diciembre de 2012

    De onde somos e para onde vamos?Um olhar ps-moderno em Lost

    Lucas Gomes-Thimteo1

    Nncia Ceclia Ribas Borges-Teixeira2

    Recibido: 2012-06-29Aceptado: 2012-08-23

    Para citar este artculo / To reference this article / Para citar este artigoBorges-Teixeira, N., Gomes-Thimteo, L. De onde somos e para onde vamos?Um olhar ps-moderno em Lost. Palabra Clave 15 (3), 649-667.

    ResumoEse arigo faz uma anlise do seriado elevisivo Los a parir de dois olha-res. O primeiro caracerizando sua esruura como uma narraiva ransmdia,um formao resulane da chamada culura da convergncia, esa que emergeem nosso empo com a massificao de conedos e meios de comunicaoque nos circundam. Isso faz com que os diversos exos que se enconram es-palhados necessiem da auao do especador para ec-los e, assim, criarnovos significados. Alm disso, alguns elemenos presenes na srie se mos-ram correlacionados a emas abordados pela ps-modernidade, dessa for-ma, ena-se demonsrar como a narraiva apresenada reproduz siuaes

    da realidade em sua fico, proporcionando uma idenificao do sujeiops-moderno com o seriado.

    Palavras-chavePs-modernidade, ransmdia, Los, culura da convergncia, homogenei-zao culural.

    1 Mestrando do Programa de Ps-graduao em Letras da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro).

    Brasil. [email protected] Ps-doutora, Doutora em Letras. Professora Adjunta da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro).

    Brasil. [email protected]

  • 7/23/2019 De Onde Somos E Para Onde Vamos - Um Olhar Pos-moderno Em Lost

    2/19

    650 De onde somos e para onde vamos?... - Lucas Gomes-Thimteo - Nncia Ceclia Ribas Borges-Teixeira

    De dnde somos y hacia dnde vamos?

    Una mirada postmoderna sobre Lost

    ResumenEse arculo analiza la serie elevisiva Los desde dos miradas. La primeracaraceriza su esrucura como una narraiva ransmedia, un formao resul-ane de la culura de la convergencia, la que emerge en nuesro iempo conla masificacin de conenidos y medios de comunicacin que nos circun-dan. Ello hace que los diversos exos exisenes necesien de la acuacin delelevidene para ejerlos y, as, crear nuevos significados. Adems, algunos

    elemenos presenes en la serie se muesran correlacionados a emas abor-dados por la posmodernidad; de esa forma, se propone demosrar cmola narraiva presenada reproduce siuaciones de la realidad en su ficcin,lo que proporciona una idenificacin del sujeo posmoderno con la serie.

    Palabras clavePosmodernidad, ransmedia, Los, culura de la convergencia, homoge-nizacin culural.

    Where we are and where we are going?

    A Post-Modern look on Lost

    AbstractTis aricle analyzes he elevision series Los from wo perspecives. Tefirs characerizes is srucure as a ransmedia narraive, a forma resuling

    from convergence culure, emerging in our ime wih he mass conen andmedia ha surrounds us. Tis means ha he various exising exs neededfor he performance of he viewer, o work and hus creae new meanings.In addiion, some elemens in he series are correlaed o issues raised byposmoderniy; in ha way, proposing o demonsrae how he narraivepresened reproduces siuaions of realiy in heir ficion, which provides aPos-Modernis subjec idenificaion wih he series.

    KeywordsPosmodernism, Transmedia, Los, Convergence Culure, Culural Homogenizaion.

  • 7/23/2019 De Onde Somos E Para Onde Vamos - Um Olhar Pos-moderno Em Lost

    3/19

    651Palabra Clave - ISSN: 0122-8285 - Vol.15 No. 3 - Diciembre de 2012

    IntroduoA indsria do enreenimeno elevisivo parece no ver limies em queses

    como a maerializao do imaginrio e as cifras invesidas nessas produes.Em 23 de maio de 2010, foi ao ar o limo episdio da srie elevisivaLos.Uma rajeria de seis emporadas, com 121 episdios exibidos na ele-viso, que eve incio em 22 de seembro de 2004. A rede nore-americanaABC, responsvel pela srie, invesiu apenas no piloo3cerca de 10 milhesde dlares. Obeve com isso, segundo maria do sie Observario da Im-prensa4, aproximadamene 18 milhes de especadores em sua esreia, en-quano no Brasil (lanado em 7 de maro de 2005, pela Rede Globo deeleviso), o ndice Ibope alcanou 16 ponos. Ambas as audincias con-sideradas elevadas para um lanameno.

    Losinicia sua narraiva com a queda de um avio comercial da roaenre Sidney, Ausrlia, e Los Angeles, Esados Unidos, em uma ilha apa-renemene desera. Os sobrevivenes aguardam a chegada do resgae e, du-rane essa espera, aconecimenos miseriosos ocorrem com o grupo e com

    cada personagem especificamene. Eles descobrem no esarem sozinhosna ilha e que os ouros ocupanes so hosis. A cada nova emporada no-vos faos revelam que o local onde eles caram era muio mais do que umasimples ilha. Corporaes cienficas, civilizaes anigas, viagens no em-po, curas miraculosas, esudos paranormais e vrios ouros aconecimen-os foram ransformando aquele local em um universo paricular. Alm dahisria como um odo, o enfoque dado a cada personagem mosra o em-

    bae pessoal enre si e o grupo de sobrevivenes. O enrave culural, que-bra de pr-conceios e paradigmas preesabelecidos so posos em chequequando sua sobrevivncia depende da adapao social. Para Glauco o-ledo (2011, p. 141), [...] o especador deve ser levado a crer que, naquelailha, ceras coisas so possveis. Cria-se um enredo com ramas de suspen-se, misrio, fico cienfica e sobrenaural. Para aingir a verossimilhana, necessrio que os argumenos e ponos de virada sejam coesos.

    3 ermo dado ao primeiro episdio de um seriado.

    4 Disponvel em: htp://www.observaoriodaimprensa.com.br/news/view/epoca--31677. Acesso em: 27 de maio de 2012.

  • 7/23/2019 De Onde Somos E Para Onde Vamos - Um Olhar Pos-moderno Em Lost

    4/19

    652 De onde somos e para onde vamos?... - Lucas Gomes-Thimteo - Nncia Ceclia Ribas Borges-Teixeira

    EmLos, segundo Arlindo Machado:

    [...] a temporalidade da narrativa apresenta no linearidade. [...] nas

    trs primeiras temporadas predomina uma estrutura de flashbacks,que nos remete ao passado de cada personagem em momentos an-

    teriores ao acidente. A partir do final da terceira temporada, a srie

    comea a empregar tambm flashfowards, mostrando o que acon-

    tecer depois, quando os losties forem resgatados. Na quarta tem-

    porada, o personagem Desmond passa a viver o passado e o futuro

    alternadamente e, na quinta, a prpria ilha comea a viajar no tempo,

    fazendo com que os personagens no apenas se recordem, mas revi-

    vam situaes que aconteceram no passado (2011, p. 91).

    Afonso de Albuquerque, apud Machado (2011), afirma que h ou-ro ipo de no linearidade envolvendoLosque no diz respeio apenas sua esruura narraiva. A disponibilizao de maerial complemenar, sejana inerne, seja para celular (os chamados mobisdios), acrescena dadospara a evoluo da narraiva que no eso no programa de eleviso. A ABCproduziu reze mobisdios que originalmene eram desinados aos celula-res e depois foram disponibilizados no sie da rede e, muios deles, preen-

    chem elipses imporanes da narraiva, explicando por que deerminadascoisas aconeceram.

    Assim, noa-se que, em Los, a esruura narraiva vai evoluindo, oque parecia uma rama simples desdobra-se, segundo Machado (20011),em labirinos borgesianos que parecem inesgoveis de aconecimenos.

    No foi somente em seu primeiro episdio queLost

    teve uma gran-de repercusso. Durante todo o tempo em que esteve no ar (e at mesmoaps seu encerramento), os temas e tramas tratados em sua narrativa fo-ram motivos de inmeras discusses. Os debates gerados a partir da s-rie tinham como foco questes mltiplas, tais como: qual o sentido da

    vida? Qual o meu lugar no mundo? Quem sou eu e a qual lugar perten-o? Como Umberto Eco (2010, p. 14) afirma sobre o papel das fices,os variados sentimentos queLost gerouem seus espectadores podem ter,

    muitas vezes, ajudado a dar sentido s suas vidas, servindo de receptcu-lo das paixes de cada um.

  • 7/23/2019 De Onde Somos E Para Onde Vamos - Um Olhar Pos-moderno Em Lost

    5/19

    653Palabra Clave - ISSN: 0122-8285 - Vol.15 No. 3 - Diciembre de 2012

    odos os quesionamenos que a srie proporcionou e o sucesso queela obeve enre o pblico podem ser (mesmo que parcialmene) explica-dos por raar de assunos caracersicos do indivduo enquadrado como

    ps-moderno. Queses raadas por Suar Hall (2001; 2003) e ZygmunBauman (2004) como a globalizao, a compresso empo-espacial dasidenidades, as culuras nacionais imaginadas e as ransies idenirias,emas cenrais da ps-modernidade, sero explanadas nese arigo e aplica-das emica deLos. Ainda ser debaida a queso do formao narraivodo seriado. Sua formao ransmidiica proporciona aos elespecadoresa possibilidade de vesir novas idenidades emporariamene, conformeese ransia pelas diferenes mdias e pelas comunidades formadas para dis-cuir o enredo e misrios oferecidos pela srie.

    Segundo Mauro Pommer (2011), os personagens deLos agem comose nossa civilizao houvesse se ornado invivel, resando apenas comosada para a reorganizao espao-emporal o reorno quela ilha primeva.Na impossibilidade de aunicos projeos pessoais, na incapacidade de so-nhar e fanasiar posiivamene em uma sociedade formada por um coidia-

    no opressivo, em que o empo subjeivo adminisrado como quanidadede espao a percorrer (2011, p. 139), aquela ilha permanenemene amea-ada de desaparecimeno passa a raduzir oda a vivncia das personagenscomo somaizao da economia afeiva (2011, p. 139).

    Siuada nessa espcie de Alnida reemergida, a srie no se propea explicar o que poderiam er feio ali os seres de alguma pregressa civiliza-o, que erigiram a esculura a uma divindade com quaro dedos nos ps.

    O que impora que a ilha consiui o paradeiro daquilo que em nenhumouro espao-empo enconra seu lugar.

    Transmdia como uma montagemna ps-modernidadeOs esudos referenes comunicao digial ineraiva enfrenam alguns de-safios no apenas no que se refere sua conceiuao, mas ambm e, alvez,

    principalmene, com relao compreenso das pricas e dos usos sociaisque se engendram a parir da comunicao mediada por essa ecnologia.

  • 7/23/2019 De Onde Somos E Para Onde Vamos - Um Olhar Pos-moderno Em Lost

    6/19

    654 De onde somos e para onde vamos?... - Lucas Gomes-Thimteo - Nncia Ceclia Ribas Borges-Teixeira

    Carlos Albero Scolari (2011) afirma que odas as eorias so consrudasa parir de um conjuno bsico de conceios. Consruir uma eoria das no-vas formas de comunicao no fcil, orna-se uma espcie deLei de Mo-

    ore Semnica; pois a vida il dos conceios diminui e devemos renov-los.Essa presso semnica vem do mundo do markeing, no qual os produose os discursos que o susenam devem ser renovados permanenemene.Os discursos ericos no podem seguir esse rimo e o discurso cienfi-co deve enconrar seu prprio rimo, que diferene do rimo do discur-so do markeing ecnolgico. Nesse conexo, apareceram conceios comocross-media, ransmedia soryelling, convergncia enre ouros. O conceio

    de cross-media muio uilizado no mbio profissional, embora alguns pa-ses como a Ilia o empreguem ambm no mundo acadmico. Transme-dia soryelling um conceio inroduzido por Henry Jenkins por vola doano 2003 mais especfico e soa muio mais erico. Em geral, ambos osconceios fazem referncia a produes que se desenrolam aravs de dife-renes meios e plaaformas, como as redes sociais, o YouTube ec. Por ourolado, Jenkins deu muia imporncia aos conedos gerados pelos usurios.Se falamos de ransmedia soryelling, evidenciamos a dimenso narraiva

    dessas produes, enquano cross-media um ermo mais amplo que im-plica ambm ouras dimenses, no somene a narraiva. Scolari (2008)uiliza os ermos como sinnimos.

    Dessa forma, quesiona-se como uma narraiva pode alcanar o maiornmero possvel de leiores (nese caso, elespecadores), em um mundoglobalizado? A chamada culura da convergncia poderia ser uma respos-

    a a isso. Segundo Henry Jenkins (2009), oda hisria que enha algo deimporane e que despere o ineresse nas pessoas ser conada, compar-ilhada e propagada. O consumidor ser seduzido por mliplas plaafor-mas, desde as que eso na palma de sua mo a as que o circundam emseu ambiene de rabalho, sua escola, seu local de lazer, enfim, no meio aoqual ele es inserido. Uma simples informao pode parir de uma pessoada Indonsia que, em queso de segundos, ser lida por algum na Ale-manha, que ir comparilhar e acrescenar algo para algum do Brasil, ese

    poder abrir um frum de discusses acerca da mensagem, e o auor, queiniciou ese ciclo, poder enrar no debae criado do ouro lado do mun-

  • 7/23/2019 De Onde Somos E Para Onde Vamos - Um Olhar Pos-moderno Em Lost

    7/19

    655Palabra Clave - ISSN: 0122-8285 - Vol.15 No. 3 - Diciembre de 2012

    do, udo em um curo perodo. O conceio dado por Jenkins a essa culuraaribui ao recepor das informaes o desejo e a iniciaiva de buscar as in-formaes que eso convergindo em sua direo. Para ele,

    A circulao de contedos por meio de diferentes sistemas de m-dia, sistemas administrativos de mdias concorrentes e fronteirasnacionais depende fortemente da participao ativa dos consumi-dores. Meu argumento aqui contra a ideia de que a convergnciadeve ser compreendida principalmente como um processo tecnol-gico que une mltiplas funes dentro dos mesmos aparelhos. Emvez disso, a convergncia representa uma transformao cultural, medida que consumidores so incentivados a procurar novas infor-maes e fazer conexes em meio a contedos de mdia dispersos

    (Jenkins, 2009, p. 26-27).

    A parir da anlise dessa prica social de comparilhameno de in-formaes, de esar consanemene ligado a uma ferramena que sirva decaminho ao global, idenificamos queLosse aproveiou dessa endncia eespalhou sua narraiva pelos variados meios de comunicao que permeiama sociedade e os indivduos dios ps-modernos.

    A esse formao, Jenkins aribuiu o nome de ransmdia. Ele a definecomo sendo:

    uma histria que se desenrola atravs de mltiplas plataformas demdia, com cada novo texto contribuindo de maneira distinta e valio-sa para o todo. Na forma ideal de narrativa transmdia, cada meio fazo que faz de melhor a fim de que uma histria possa ser introduzi-da num filme, ser expandida pela televiso, romances e quadrinhos;seu universo possa ser explorado em games ou experimentado como

    atrao de um parque de diverses. Cada acesso franquia deve serautnomo, para que no seja necessrio ver o filme para gostar dogame, e vice-versa (Jenkins, 2009, p. 138).

    Scolari (2011) assevera que as narraivas ransmidiicas podem serrepresenadas como um processo cenrfugo: a parir de um exo inicial seproduz uma espcie de big bang narraivo de onde vo se gerando novosexos a chegar aos conedos produzidos pelos usurios. Dessa perspec-

    iva, o ransmedia soryelling acaba por gerar uma galxia exual. As radu-es inersemiicas seguem caminhos bem mais lineares (do livro ela,

  • 7/23/2019 De Onde Somos E Para Onde Vamos - Um Olhar Pos-moderno Em Lost

    8/19

    656 De onde somos e para onde vamos?... - Lucas Gomes-Thimteo - Nncia Ceclia Ribas Borges-Teixeira

    dos quadrinhos eleviso ec.) e menos explosivos. oda raduo, por-ano, um processo ransformador do exo, no qual sempre se perde e seganha algo, alvez as adapaes possam ser incorporadas como uma das

    esragias possveis das narraivas ransmidiicas.

    Os leiores deLosm em suas mos a capacidade de enrelaar di-ferenes exos oferados pela narraiva da srie. David Harvey afirma queesse enrelaameno inerexual em vida prpria e que vo enar do-minar um exo, porque o perpuo enreecer de exos e senidos es forado nosso conrole; a linguagem opera aravs de ns (2009, p. 53-54); po-demos relacionar as cosuras feias pelos elespecadores como uma en-aiva de domar a complicada e elaborada narraiva, ao mesmo empo, osfs que acabam por buscar e ecer mais peas do que ouros veem uma lin-guagem mais rica nascer dessa monagem. A parir disso, Harvey desacao impulso desconsrucionisa de procurar um exo denro de ouro exo,de dissolver um em ouro ou embuir um em ouro (2009, p. 54). O auor

    considera a colagem/montagem a modalidade primria de discur-so ps-modernos. A heterogeneidade inerente a isso nos estimula,

    como receptores do texto ou imagem, a produzir uma significaoque no poderia ser unvoca nem estvel. Produtores e consumi-dores de texto participam da produo de significaes e sentidos(Harvey, 2009, p. 55).

    Todas as intertextualidades e fragmentos presentes em Lost, espa-lhados por variados meios, fazem com que a produo de seu significadonecessite de uma mnima desconstruo para compreender sua essncia.

    Na atualidade, alm dessa prtica interpretativa ativa que j estava presen-te no consumo dos meios massivos, agregam-se outras prticas produtivasnas quais o consumidor, em muitos casos, assume um papel de produtore, a partir do texto original, cria um novo produto textual, por exemplo,um postem um blogou um vdeo no YouTube. Isso o que Nicolas Bor-riaud denomina ps-produo; outros pesquisadores reivindicam um con-ceito de Alvin Toffler dos anos 1970: o prossumidor, ou seja, a soma doprodutor mais o consumidor. Nesse campo precisamos afinar os concei-

    tos, j que se tratam de fenmenos novos que, s vezes, custam ser colo-cados no discurso.

  • 7/23/2019 De Onde Somos E Para Onde Vamos - Um Olhar Pos-moderno Em Lost

    9/19

    657Palabra Clave - ISSN: 0122-8285 - Vol.15 No. 3 - Diciembre de 2012

    H um elemeno ineressane que afea os processos de inerprea-o. Segundo Eco, ao ler um livro ou ver um filme, criamos mundos poss-veis, hipeses que raam de anecipar o decorrer da hisria. Assim, ao

    observarmos Lose sua esruura ransmdia, veremos que a narraiva seesendeu de al modo que pode cercar seu pblico aravs dos meios queacompanham as pessoas em odos os seus momenos. Sua espinha dorsalfoi a eleviso, mas podemos desacar ouros meios, como os mobisdios5,um conjuno de 13 episdios de cura durao, que narram siuaes banaisou cmicas e algumas explicaes imporanes que complemenam a his-ria principal. Oura expanso marcane da narraiva foram osARG6, jogosderivados dos RPG (Role Playing Games), [...] raa-se de um esilo van-guardisa de enreenimeno ineraivo, em que seus paricipanes raam anarraiva como se fosse uma exenso da realidade e as aividades propos-as peneram em seu coidiano (Scaliari, 2007, p. 2). Foram desenvolvidosrsARGdurane a srie:Los Experience, Find 815(eses disponibilizadosna inerne) eDharma Iniiaive Recruiing Projec, ese limo foi lanadoaravs de um comercial elevisivo no qual se avisava sobre um possvel re-cruameno para a Fundao Dharma (empresa perencene narraiva) e

    marcava horrio e local para enrevisas reais. Essa forma de ampliao dahisria, que se uilizou de meios elevisivos, elefnicos e inerne, provo-ca um alo grau de imerso na narraiva e faz com que a aeno do recep-or eseja focada em odas as eapas da leiura. O ermo imerso proposopor Jane Murray para designar, meaforicamene, a

    experincia fsica de estar submerso na gua. Buscamos de uma ex-perincia psicologicamente imersiva a mesma impresso que ob-temos num mergulho no oceano ou numa piscina: a sensao de

    estarmos envolvidos por uma realidade completamente estranha,to diferente quanto a gua e o ar, que se apodera de toda a nossaateno, de todo o nosso sistema sensorial (Murray, 2003, p. 102).

    Assim, a consruo de uma narraiva ransmdia pode proporcionar aosleiores sua insero no universo proposo pela hisria e fazer com que elesprprios assumam novos papis e idenidades. medida que o relao avan-a, muitas dessas hipteses no se verificam e devemos descart-las. Esse

    5 ermo empregado para produes criadas para exibio em aparelhos celulares.

    6 Sigla inglesa para Jogos de Realidade Alernaiva.

  • 7/23/2019 De Onde Somos E Para Onde Vamos - Um Olhar Pos-moderno Em Lost

    10/19

    658 De onde somos e para onde vamos?... - Lucas Gomes-Thimteo - Nncia Ceclia Ribas Borges-Teixeira

    processo individual, os mundos possveis so uma consruo cogniivado leior ou especador. Agora se d um fenmeno diferene: em ceros ca-sos, a consruo de hipoicos mundos possveis se ornou um processo

    coleivo. Basa erminar a emisso de um episdio de uma srie elevisivapara, poucos minuos depois, os fruns e pginas web enrarem em esadode agiao. Os especadores discuem o exo que acabaram de ver, anali-sam suas possveis coninuaes e debaem sobre os personagens e a ramado episdio. Ou seja, em muios casos, a consruo de mundos possveisdeixou de ser um processo individual para converer-se em um processocoleivo que se desenvolve nas redes sociais.

    Los possui caracersicas pariculares em sua narraiva; uma de-las pode ser enendida como algo eclico, que mescla diferenes esilos elinguagens; oura como algo que lembra o fansico, um mundo possvelque beira o surreal. Sua narraiva gerou vrias incgnias que os especado-res debaem e especulam solues mesmo depois de a srie er erminado.

    A culura da convergncia possibiliou que a hisria, em seu decor-

    rer, no aingisse seu exremo considerando o modelo linear radicionalde comunicao emissor-mensagem-recepor; ela no ermina no recep-or. A busca por informaes em blogs, sies, redes sociais e a paricipaocolaboraiva de quem acompanhou o seriado, em relao aos emas da srie,proporcionou a idenificao enre personagens e fs. Um simples exemplodisso foi o aplicaivo da rede social Facebook, chamado Que personagemdeLos voc?7. Vrias pergunas sobre sua personalidade so feias e, con-forme a combinao de suas resposas, voc er um espelho de sua ideni-

    dade a parir das caracersicas de um personagem da srie.

    imporane desacar que o modo comoLostfoi recebido, provocandoa participao dos telespectadores de todo o mundo, a concretizaoda ideia de Jenkins sobre a cultura da convergncia. No importa se o se-riado foi concebido para mltiplas plataformas miditicas, mas sim a ini-ciativa do pblico em coletar dados para enriquecer a narrativa e dar vazoaos desejos pessoais em buscar idenificaes com o mundo ficcional. E a

    7 ese disponvel em: htp://www.liquidgeneraion.com/Media/Games/Quizzes-Puzzles/Personaliy-Quizzes/Which-Los-Characer-Are-You. Acesso em 6 de junho de 2012.

  • 7/23/2019 De Onde Somos E Para Onde Vamos - Um Olhar Pos-moderno Em Lost

    11/19

    659Palabra Clave - ISSN: 0122-8285 - Vol.15 No. 3 - Diciembre de 2012

    cada novidade criada para se discuir ou foralecer a srie, os fs volam-se aela como sendo algo essencial sua prpria exisncia. Esse fenmeno liga-se s comunidades guarda-roupa proposas por Bauman (2004, p. 37), elas

    so reunidas enquano dura o especulo e pronamene desfeias quandoos especadores apanham os seus casacos nos cabides. Quando uma redesocial es com um novo game relacionado Los, por exemplo, odos osque se idenificam com aquilo iro vesir esa nova comunidade forma-da, mas basar surgir ouro para que a roupa seja rocada. Isso represenauma crise de idenidades dos consumidores ps-modernos, os quais bus-cam enconrar, em um mundo globalizado, seu local e seu perencimeno.

    Identidades perdidasDispora diz respeio sada dos povos de sua erra de origem para viveremem ouros pases ou em ouros coninenes. Pode ocorrer de forma imposaou por opo prpria. Esses povos que abandonam sua casa jamais se desa-pegam das origens e manm, por meios da radio, a culura na qual nas-ceram. Isso se d pela manueno da lngua, da religio, modo de pensare agir. Mas essa culura original, no conexo diasprico, es em consane

    ransformao, de maneira que novos cosumes acabam sendo assimiladose inerferem no apenas na idenidade pessoal como ambm na idenidadecoleiva, que por sua vez reflee a idenidade culural de deerminado grupo.

    Para Juliana Cancian (2012, p. 2):

    Por no estarem totalmente desapegados da terra natal, aqueles quepassam pela dispora mantm consigo o desejo do retorno, da volta

    ao local do nascimento. Muitos conseguem esse feito, outros cons-troem a vida mantendo essa esperana. De fato, parece que uma dasimplicaes da dispora est, alm da hibridizao cultural pelo efei-to da zona de contato, no desejo de querer regressar ao ponto zero,por um processo consciente ou inconsciente.

    A Hisria, enquano relao que preserva os aconecimenos ao lon-go do empo, ou pelo menos uma verso deles, es cheia de evenos dis-poros, seja no perodo de formao de colnias e ocupao dos espaos

    errioriais, ou modernamene, quando povos vo em busca de melhorescondies de vida e rabalho em ouros pases. Mas no apenas ela incon-

  • 7/23/2019 De Onde Somos E Para Onde Vamos - Um Olhar Pos-moderno Em Lost

    12/19

    660 De onde somos e para onde vamos?... - Lucas Gomes-Thimteo - Nncia Ceclia Ribas Borges-Teixeira

    fundivelmene marcada pela dispora. As hisrias, significando relaos ver-dadeiros ou ficcios a parir de narraivas consrudas por auores, ambmso influenciadas e enconram-se maizadas por ese elemeno que pr-

    prio da vida, seja de pessoas ou de personagens.

    Em suas reflexes sobre a dispora afro-caribenha para o Reino Uni-do, Suar Hall (2003) nos faz pensar sobre a queso da idenidade e damigrao no mundo conemporneo. O conceio que ele nos raz sobrecomunidades imaginadas e sujeio imaginado apresena uma preocupaoquano ao perencimeno a uma nao (ou ideia de nao) diane da di-spora. Com a inensificao cada vez maior do processo de globalizao,ano fsica quano virual, como so formadas as idenidades? Ouro ponoraado o das idenidades mliplas, consiudas a parir do deslocamen-o do indivduo de seu local de origem e de sua reidenificao simblicacom as culuras circundanes. A modelagem ideniria passa a se encon-rar, na ps-modernidade, em uma siuao de consane deslocameno, as-sim como Hall afirma que:

    esta a sensao familiar e profundamente moderna de deslocamen-to, a qual parece cada vez mais no precisamos viajar muito longepara experimentar. Talvez todos ns sejamos, nos tempos modernos aps a Queda, digamos o que o filsofo Heidegger chamou de un-heimlicheit literalmente, no estamos em casa (Hall, 2003, p. 27).

    Dessa forma, podemos acompanhar o raciocnio do auor em comoas sociedades acabam por mesclar diferenes elemenos culurais e, a par-ir disso, novos conceios surgem como semelhana, diferena, hibridismo

    e a esica da dispora.Se aplicarmos o conceio de deslocameno Los, poderemos iden-

    ificar a presena de uma dispora culural marcane. Denre os principaispersonagens, enconramos oio diferenes nacionalidades e, pelo fao deeles esarem em uma ilha, compleamene isolados de suas naes e culu-ras de origem, ocorre o que Hall prope como deslocameno. A siuaoproposa na narraiva, de um acidene areo, em que inmeras pessoas so

    iradas de seus pases e jogadas em um erririo isolado pode ser enca-rada como uma mefora de uma dispora. A conjunura na ilha acaba for-

  • 7/23/2019 De Onde Somos E Para Onde Vamos - Um Olhar Pos-moderno Em Lost

    13/19

    661Palabra Clave - ISSN: 0122-8285 - Vol.15 No. 3 - Diciembre de 2012

    ando as pessoas a uma experincia inensiva de globalizao culural, cujoresulado ser o afrouxameno dos laos culurais dos personagens comseus locais de origem e a aproximao com a comunidade que acabar por

    se formar. Isso demonsra uma deserriorializao e uma pica paisagemmigraria da ps-modernidade.

    Suar Hall (2001), ao raar das concepes de idenidade, ideni-fica rs diferenes modelos, o do sujeio do iluminismo, o do sujeio so-ciolgico e o do sujeio ps-moderno. As caracersicas apresenadas peloauor ao sujeio ps-moderno, como aquele que possui mliplas idenida-

    des, fragmenadas, descenradas, so ponos-chave em sua obra. Ele desacaque essa muliplicidade incenivada pela mediao imposa pelo merca-do global de esilos, lugares e imagens, pelas viagens inernacionais, pelasimagens da mdia e pelos sisemas de comunicao globalmene inerliga-dos (Hall, 2001, p. 75) e que vrias idenidades acabam nos fazendo apelospara darmos prioridade a cada uma em especial. Paralelo ao pensameno deHall, Culler desaca a idenidade como resulado da juno de vrias paresde ouras, o que resula em algo nunca compleo, segundo ele, a idenida-

    de o produo de uma srie de idenificaes parciais, nunca compleadas(Culler, 1999, p. 112). Bauman comparilha do mesmo raciocnio; para eleajusar peas e pedaos para formar um odo consisene e coeso chamadoidenidade no parece ser a principal preocupao de nossos conempor-neos (Bauman, 2004, p. 59); porano, o indivduo, mesmo buscando es-sas pares para compor sua idenidade, nunca a er de forma plena e issoacaba no sendo um propsio para si.

    O especador de Lospode se enquadrar em um perfil ps-moder-no, como o proposo por Hall. Da mesma maneira, a prpria lngua nopode ser considerada como algo fixo e imuvel. No h um significado fi-nal e fixo para as palavras; ele surge nas relaes de similaridade e diferen-a (Bauman, 2004, p. 40). Dessa forma, uma narraiva ransmidiica, aparir dessa definio, pode ambm ser caracerizada como ps-moderna,no s por ela ser fragmenada por naureza, mas ambm por possibiliar

    que o significado seja varivel; conforme novas peas da hisria vo sen-do agregadas pelo especador, ela acaba por se ornar uma narraiva des-

  • 7/23/2019 De Onde Somos E Para Onde Vamos - Um Olhar Pos-moderno Em Lost

    14/19

    662 De onde somos e para onde vamos?... - Lucas Gomes-Thimteo - Nncia Ceclia Ribas Borges-Teixeira

    cenrada eo sujeio que recebe al hisria em a possibilidade de empregarmais de um senido essa monagem. Esse leior, apesar de seus melhoresesforos, [] no pode, nunca, fixar o significado de sua idenidade. As

    palavras so mulimoduladas. Elas sempre carregam ecos de ouros signi-ficados que elas colocam em movimeno (Hall, 2001, p. 41).

    Denro da narraiva, os novos habianes da ilha deLosacabam porcriar um novo senido de perencimeno, pois m que reconsruir e re-definir suas idenidades. Simulaneamene a essa reconsruo, o formaonarraivo apresenado recapiula e compara as formaes culurais dos per-sonagens em seus pases de origem aravs deflashbacks.

    Assim, podemos idenificar em cada um, ao mesmo empo, quais ra-os de uma nova culura so insiganes ao pono de um deslocameno deconceios e o agregar de novos prpria idenidade e quais fragmenosforam deixados para rs, mas que enram em uma espcie de choque in-erior, no permiindo ao personagem se desvencilhar das radies de suaerra naal. Ao omarmos como exemplo o proagonisa Jack, um mdico

    profissionalmene reconhecido, mas que em sua vida pessoal omada pordramas familiares. Na ilha, ele enconra a possibilidade de se redimir de er-ros do passado e redefinir sua idenidade, uilizando seus conhecimenosmdicos para ajudar as pessoas e ornando-se o lder da nova comunidadeformada. No s com Jack, mas vrios ouros personagens m e buscamese objeivo, o de se livrar dos fragmenos do passado e buscar novas per-sonalidades diane da siuao imposa.

    A ilha colocada como a nova nao para pessoas de diferenes paresdo mundo acaba por reduzir as diferenas e disines culurais que, aeno, definiam a idenidade de cada um. Surge, conforme Hall, uma ln-gua franca inernacional em que odas as diferenes idenidades podemser raduzidas (2001, p. 75-76). Ou seja, uma homogeneizao culural.

    Losapresena uma consane insero de emas de cunho moral nosaconecimenos presenes na narraiva. Noa-se um desconforo nas aes

    dos personagens que ora senem o desejo de reorno s suas origens, ssuas idenidades suposamene formadas e consolidadas, ora enam formar

  • 7/23/2019 De Onde Somos E Para Onde Vamos - Um Olhar Pos-moderno Em Lost

    15/19

    663Palabra Clave - ISSN: 0122-8285 - Vol.15 No. 3 - Diciembre de 2012

    uma nova culura social, mais homogeneizada, com os demais habianesda ilha. A srie, nese pono, raz um debae anagnico, em que os perso-nagens, divididos enre duas siuaes sociais disinas, passam a omar de-

    cises com base na nova sociedade que es se formando e no mais na desuas razes. O meio ao qual eles eso inseridos se sobressai. Ao se deslo-car para a realidade, a hisria esabelece idenificaes com os fs que nose senem saisfeios com as naes em que eso inseridos e que m o de-sejo de ambm ir para uma ilha, ou melhor, uma nova sociedade. Essapressuposio, em um primeiro momeno, por pare de quem recebe a nar-raiva, pode parecer arrojada ou fora dos paradigmas esereoipados, mas

    acaba sendo exaamene aquilo que se esava esperando, assim como afir-ma Marn-Barbero (2008, p. 194):

    A, nessa juno interior de intriga e moral convencional e no nas

    posies reacionrias ou reformistas dos personagens onde ope-

    ra a ideologia e a consolao produzida. Tais solues, que o leitor

    saboreia como inovadoras, mas que so em ltima instncia tranqui-

    lizadoras, so as que ele esperava.

    Esse exemplo fica muio claro quando aplicado ao personagem SayidJarrah. Iraquiano, oficial da Guarda Republicana do Iraque, auou comoorurador na Guerra do Golfo. odos eses momenos so enfocados nosflashbacksdo personagem, mas enquano um novo cidado da ilha, ele semosra uma pessoa em prol do grupo, proeor e companheiro. Com seusnovos amigos, ele enconra uma forma de afrouxar os laos com sua iden-idade e culura aneriores, e passa a se ornar algum essencialmene bom.

    Isso o que podemos enender como uma enaiva de recomeo, de co-mear do zero. O desligameno com o passado, no caso de Sayid, umarepresenao disso.

    O fao de vrias nacionalidades erem que conviver e se comunicarem um nico espao acaba por ser uma analogia do que vivemos hoje emrelao ao consumo global de um mesmo produo, nese caso, a prpria s-rie. Esse processo de homogeneizao culural, pico da ps-modernidade,

    enconrado enre os personagens, apesar de haver os momenos de reme-morao com suas naes de origem, por meio dosflashbacks, eles acabam

  • 7/23/2019 De Onde Somos E Para Onde Vamos - Um Olhar Pos-moderno Em Lost

    16/19

    664 De onde somos e para onde vamos?... - Lucas Gomes-Thimteo - Nncia Ceclia Ribas Borges-Teixeira

    por desconsiderar qualquer diferena de cosumes que haja no grupo desobrevivenes e passam a adoar uma nova e homognea culura.

    Essa homogeneizao ambm se d pela crise de idenidades pre-sene enre os personagens. De acordo com Bauman (2004), a globaliza-o faz com que haja um colapso de hierarquia das idenidades. Porano,haveria uma mudana ou a mesmo dvida para muios em como respon-der perguna quem voc?. Podemos enender o sucesso e reconheci-meno global que a srie obeve por cona dessa homogeneizao culuralciada acima. O fao de que a globalizao significa que o Esado no em

    mais o poder ou o desejo de maner uma unio slida e inabalvel com anao (Bauman, 2004, p. 34) mosra que o disanciameno de uma ideni-dade volada para a nao algo comum (e fora do conrole) a odos, e queuma busca por uma nova idenidade acaba se ransformando na colea devrias ouras, fragmenadas, deslocadas e homogeneizadas. Em alguns ca-sos, essa absoro de idenidades pode ocasionar uma aceiao cega, semcririo de qualquer espcie de culura ou prica culural.

    Se o discurso presene em Lostgera esse enrave pessoal no que dizrespeio queso da idenidade, podemos expandir isso para ouras esferase emas sociais que ambm eso presenes na narraiva. A busca por livros,

    blogs, sies, comunidades de discusso e anos ouros produos relaciona-dos srie, no simples objeo agregador da franquia, mas prova de comoas queses relacionadas ps-modernidade causam desconforo e mal-es-ar nas pessoas que vo de enconro a odo esse maerial disponibilizado.

    ConclusoA conjuntura estabelecida pelos meios de comunicao na atualidade pos-sibilitou o surgimento de uma nova prtica cultural. A cultura da conver-gncia, assim denominada por Henry Jenkins, passa a fazer parte do meiosocial em que as pessoas esto inseridas. Seja por uma busca de informa-es, por entretenimento ou a trabalho, a coliso dos/entre conhecimen-tos fazem do receptor desse contedo algo que vai alm do termo a ele

    aqui empregado. Ele no passa apenas a receber algo, mas tambm a con-tribuir e interagir.

  • 7/23/2019 De Onde Somos E Para Onde Vamos - Um Olhar Pos-moderno Em Lost

    17/19

    665Palabra Clave - ISSN: 0122-8285 - Vol.15 No. 3 - Diciembre de 2012

    Esse processo comunicacional, esabelecido por essa prica, pdeproporcionar aos seus leiores um formao narraivo que se adapa a essafluidez do olhar de quem recebe al conedo. A chamada narraiva ransm-

    dia se uiliza das vrias ferramenas que a prpria mdia disponibiliza paralevar hisrias a especadores ao redor do mundo e eses serem capazes deunir as peas dessa narraiva e ecer seu prprio significado. Dessa forma,no h froneiras, fsicas ou viruais, enre um exo e seu leior.

    A narraiva ransmdia adoada como exemplo nese arigo, o seria-do elevisivoLos, faz uma abordagem de elemenos da ps-modernidade

    em seu enredo. Assunos como a idenidade dos personagens, a globaliza-o e a consequene homogeneizao culural elucidam-se e isso pode serum moivo do seu grande sucesso. ais emas so, segundo alguns ericos(Lyoard, 2010; Bauman, 1998), picos do nosso empo e se ornam ara-enes aos indivduos ps-modernos, os quais podem buscar nas fices umsenido para a vida e resposas para queses inquieanes. Da mesma formaque Umbero Eco afirma que no devemos deixar de ler hisrias de fic-o, porque nelas que procuramos uma frmula para dar senido a nossa

    exisncia. Afinal, ao longo de nossa vida buscamos uma hisria de nossasorigens que nos diga por que nascemos e por que vivemos (Eco, 2010, p.145),Losinsiga queses como essas e deixa ao especador reflexes so-bre sua realidade e sua prpria vida.

    Referncias

    Bauman, Z. (2004).Idenidade:

    enrevisa a Benedeto Vecchi. Rio de Janei-ro: Zahar.

    Bauman, Z. (1998). O mal-esar da ps-modernidade. Rio de Janeiro: Zahar.

    Cancian, J. R. (2007). O conexo da dispora na consruo da idenidadeculural: a experincia do personagem Jos Viana, do romance SemNome, de Helder Macedo. Disponvel em:< htp://www.bocc.ubi.

    p/pag/cancian-juliana-conexo-da-diaspora.pdf >. [Daa da con-sula: 10 de agoso de 2012].

  • 7/23/2019 De Onde Somos E Para Onde Vamos - Um Olhar Pos-moderno Em Lost

    18/19

    666 De onde somos e para onde vamos?... - Lucas Gomes-Thimteo - Nncia Ceclia Ribas Borges-Teixeira

    Culler, J. (1999). Teoria Lierria:uma inroduo. So Paulo: Beca Pro-dues Culurais Lda.

    Eco, U. (2010). Seis passeios pelos bosques da fico. So Paulo: Compan-hia das Leras.

    Hall, S. (2003). Da dispora: idenidades e mediaes culurais. Belo Hori-zone: Ediora UFMG.

    Hall, S. (2001).A idenidade culural na ps-modernidade. Rio de Janeiro:

    DP&A.

    Harvey, D. (2009). Condio ps-moderna. So Paulo: Edies Loyola.

    Jenkins, H. (2009). Culura da convergncia. So Paulo: Ed. Aleph.

    Lyoard, J. (2010).A condio ps-moderna. Rio de Janeiro: Jos Olympio.

    Machado, A. (2011). Fim da eleviso? Revista Famecos:mdia, cultura e tecno-logia. Disponvel em: htp://revisaseleronicas.pucrs.br/ojs/index.php/revisafamecos/aricle/viewFile/8799/6163. [Daa da consul-a: 10 de agoso de 2012].

    Marn-Barbero, J. (2008). Dos meios s mediaes: comunicao, culura ehegemonia. Rio de Janeiro: Ediora UFRJ.

    Murray, J. (2003). Hamle no Holodeck: o fuuro da narraiva no ciberespao.So Paulo: Ia Culural: Unesp.

    Pommer, M. (2011). Em: Borges, G. e al. (Orgs.), volume 1. Televiso: for-mas audiovisuais de fico e documenrio. Faro e So Paulo: EdiesCIAC. p. 129-140.

    Scaliari, K. e al. (2007). Alernae Realiy Game (ARG) como Suporepara a Produo de Conedos Ineraivos. Em:XXX Congresso de

  • 7/23/2019 De Onde Somos E Para Onde Vamos - Um Olhar Pos-moderno Em Lost

    19/19

    Cincias da Comunicao,30, 2007, Sanos/So Paulo. Anais..., San-os/So Paulo: Inercom/Unisana/Unisanos/Unimone, p. 1-7.

    Scolari, C. (2011). A consruo de mundos possveis se ornou um proces-so coleivo. RevisaMarizes, So Paulo, v. 4, n. 2. Enrevisa con-cedida a Maria Crisina Mungioli. Disponvel em: htp://www.marizes.usp.br/index.php/marizes/aricle/view/53. [Daa daconsula: 10 de agoso de 2012].

    oledo, G. (2011). L for Los. Em: Borges, G. e al. (Orgs.), volume 1. Tele-viso: formas audiovisuais de fico e documenrio. Faro e So Pau-lo: Edies CIAC, p. 141-150.