Dedico este livro aos amigos, - esextante.com.br · A MINHA MORTE 29 3. O GURUFIM 39 4. RECONEXÃO...

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Dedico este livro aos amigos, presentes e ausentes, e também àqueles que sonham e lutam por um mundo melhor... Mesmo que seja outro mundo.

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Agradeço à Lou, aos meus filhos e

a todos que me ajudarem na tarefa da Reconexão.

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SUMÁRIO

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NOTA INICIAL 11 PERSONAGENS 13 INTRODUÇÃO 17 1. O MORTO-VIVO 23 2. A MINHA MORTE 29 3. O GURUFIM 39 4. RECONEXÃO 51 5. KINA 59 6. CORINTHIANS 69 7. SANTA TERESA 77 8. A COMISSÃO DE FRENTE 85 9. PAULO GRACINDO 97 10. A PRAÇA DA ALEGRIA 107 11. CASSIANO GABUS MENDES 119 12. LAURO BORGES E CASTRO BARBOSA 129 13. RGE 137 14. NAS NUVENS 145 15. CHICO ANYSIO 159 16. CHACRINHA 171 17. DERCY GONÇALVES 179 18. C* DE FORA 187 19. ACELERA, AYRTON 197 20. CASTOR DE ANDRADE 207 21. IBRAHIM SUED 217 22. SÉRGIO CARDOSO 225 23. CHURRASCO DA DIRETORIA 233 24. TELECATCH 245 25. WALTER CLARK 255 26. ROBERTO MARINHO 267 27. A PAZ 277 NOTA FINAL 287

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NOTA INICIAL

Quando escrevi o Livro do Boni

fiquei, por semanas, em segundo lugar na lista dos mais vendidos

de não ficção da revista Veja. No primeiro lugar, sempre o livro

biográfico do brilhante e genial Steve Jobs, lançado no mesmo

período. Se ele não tivesse morrido, não teria vendido tanto.

Por isso, resolvi morrer.

Boni

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PERSONAGENS

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Velha guarda: José ScatenaRodolfo Lima Martensen Roberto Corte RealZé Carioca

Ala dos compositores: Herivelto MartinsRonaldo BôscoliTom JobimVinicius de Moraes

Puxadores: MaysaSimonalTim MaiaMário Reis

Diretores de bateria: Maestro CipóMaestro Erlon ChavesMaestro Radamés GnattaliMaestro Simonetti

Diretores de harmonia: Carlos MangaGeraldo CaséGonzaga BlotaMarcos PauloPaulo UbiratanWalter AvanciniWalter CamposZiembinski

Diretores administrativos: Edwaldo PacoteRenato Pacote

Presidente: Boni

Presidente de honra: Roberto Marinho

Porta-bandeira: Kina de Oliveira, minha mãe

Mestre-sala: Orlando de Oliveira, meu pai

Relações-públicas: João Araújo

Comunicação: João Carlos Magaldi

Carnavalescos: Arlindo RodriguesFernando Pinto Joãozinho Trinta

Comissão de frente: Armando NogueiraDias GomesJanete ClairLuiz Eduardo BorgerthPaulo Francis

Pesquisa: Homero Sanchez PerigaultPaulo Augusto Montenegro

Iluminação: Peter Gasper

Grêmio Recreativo Escola de Samba Unidos do Outro Mundo:

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Ala da família: Vó Nicota Vó Pura

As tias paulistas: Marina, Isaura, Iris, Thereza e Ruth

As tias cariocas: Artêmia, Sandra Branco e Nair

Os tios: Zezinho, Zéito, Noêmio e Flores

Abelardo Barbosa (Chacrinha)Assis ChateaubriandAyrton SennaCassiano Gabus Mendes Castor de Andrade Castro BarbosaChico AnysioDercy GonçalvesEdson LeiteGiuseppe GhiaroniHebe CamargoIbrahim Sued

João SaadJosé WilkerLauro Borges Lili MarinhoLuiz Carlos MieleManuel de NóbregaMax NunesPaulo GracindoSérgio CardosoTeófi lo de Barros FilhoWalter ClarkYoná Magalhães

Os destaques por ordem alfabética:

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GRES Mocidade Sobreviventes de Botafogo:Carlos VizeuDr. Felipe Albuquerque

GRES Beija-Flor:

Presidente de Honra:Anísio Abraão David

Diretor de Carnaval:Laíla

Comissão de Carnaval:Fran

Relações-públicas e produtor: Abi-Rihan

Os personagens vivos:

GRES Acadêmicos de São Conrado:Lou Oliveira, minha esposaKika, secretária da LouChristina, minha secretária

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INTRODUÇÃO UM SEGREDO MORTAL

Este livro é uma obra de pura ficção. Pra começo de conversa, não morri.

Estou aqui, do alto dos meus 80 anos, firme e forte.

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Trata-se de uma brincadeira, baseada em aconte-cimentos reais e na minha convivência com pes-soas que já se foram. Os leitores vão encontrar mais diálogos do que narrativas, como o subtítulo – dialogando com os mortos – entrega. Na realidade, este livro é mais uma homenagem aos amigos que nos deixaram.

A vida após a morte tem sido objeto de pesquisas científicas e de crenças e religiões seculares. Por anseio de sobrevivência, desde os primórdios da história da humanidade, cultiva-se o contato com espíritos: sejam deuses ou, simplesmente, entes queridos. Meu pai, Orlando de Oliveira, partiu aos 33 anos, quando eu tinha 7. Aos 17, perdi minha avó paterna, Ana Carolina de Toledo, vó Nicota, a quem eu amava de paixão. Depois da sua morte, vivi du-rante anos à procura de alguma notícia. Nas inú-meras investidas, encontrei de tudo: por um lado, fraudes grosseiras, enganações; por outro, tentati-vas piedosas de me confortarem, falseando os con-tatos. Nenhuma verdade concreta. Nenhuma pista.

Recebi a notícia de que ela estava mal enquanto vi-sitava, pela primeira vez, Nova York. Voltei. Na épo-ca, a viagem até São Paulo durava 30 horas, em um DC-4, com escalas em Washington, Miami, Caracas e Belém. Cheguei em casa à noite e apaguei. No dia seguinte, fui ao hospital. O quarto dela estava vazio. Morrera de madrugada, chamando pelo meu nome. Carrego comigo até hoje o trauma. Havíamos

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prometido, um ao outro, que o primeiro de nós dois a morrer faria contato. Ela temia me perder em um acidente, como o que sofri aos 15 anos, quando de bicicleta enfrentei um ônibus. Era elegante, inteli-gente, montava a cavalo, escrevia e falava corrente-mente o francês, pois estudou em Paris na infância. Viveu até os 93 anos, coisa rara no passado.

No final da vida, dona Nicota morava em um quarti-nho alugado numa casa de família, em Osasco, São Paulo. Quando ia visitá-la, exigia que eu dormisse na única cama que havia, enquanto colocava, no chão, um colchão para si. No inverno úmido, ela me espe-rava chegar e passava primeiro a minha cama com ferro a carvão, me deixando dormir no quentinho. Só depois passava a caminha dela também. Minha avó e eu guardávamos um segredo, um código de comunicação só nosso. A pergunta-chave para um contato pós-morte era: “Onde você dorme?” A se-nha dela seria “No chão”; a minha, “Na cama quen-tinha”. Nunca revelamos isso a ninguém.

Quando frequentava mesas brancas, místicos ou mesmo centros espíritas e havia alguma manifes-tação supostamente dela, eu sapecava a pergunta: “Onde você dorme?” E as respostas variavam entre banais e estapafúrdias: “No quarto”, “Nas nuvens”, “No céu”, “Com os anjos” e até “Com Deus”. Essas coisas acabaram aguçando minha curiosidade, e transformei a procura por um contato com minha avó numa busca metódica, já despida da relação afetiva.

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O artista plástico Laerte Agnelli me acompanhou em várias tentativas de contato. Ele foi mais feliz na sua busca. Escreveu um lindo e emocionante livro sobre Chico Xavier e outro intitulado Existe morte após a vida? Das minhas pesquisas, é verdade, restou algu-ma coisa: aprendi, nos centros espíritas, a prática da caridade e testemunhei quanto amor existe no seio dessa comunidade. Nos centros esotéricos, recolhi ensinamentos que tornaram inequívoca a minha confi ança na força do pensamento. Encontrei bon-dade e compreensão em muitos lugares e pessoas de diversas religiões: católica, evangélica, umbanda, candomblé e tantas outras. Também encontrei mer-cenários e trapaceiros, ávidos por dinheiro.

Não concluí nada, absolutamente nada. Sou cético em relação a novas vidas. Na prática, sou agnóstico pensante. Concordo com o físico e fi lósofo francês Blaise Pascal em tudo que escreveu e destaco um dos seus pensamentos para fechar a introdução:

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O homem não passa de um caniço, o

mais fraco da natureza, mas é um caniço

pensante. Não é preciso que o Universo

inteiro se arme para esmagá-lo. Um vapor,

uma gota d’água, é o bastante para matá-lo.

Mas, mesmo que o Universo o esmagasse,

o homem seria ainda mais nobre do que

o que o mata, porque sabe que morre; e a

vantagem que o Universo tem sobre ele, o

Universo a ignora. Toda a nossa dignidade

consiste, pois, no pensamento.

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1.

O MORTO-VIVO DE PARIS AO SAMARITANO

Consegui falar com o médico dele,

que me posicionou sobre a gravidade da situação,

avaliada como “morte absoluta”.

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O restaurante parisiense Ledoyen, nos Champs--Élysées, criado em 1791 pelo traiteur Pierre-Michel Doyen, tem história. Naquela época, a Avenue Dutuit, onde se localiza o restaurante, era uma tra-vessa de terra, cercada por quiosques, barracas e carroças. No Ledoyen, reuniam-se Danton, Marat e Robespierre para conspirar diante de um bom pra-to de resistência. Em 1889, o local tornou-se reduto dos pintores Degas, Monet, Manet e Cézanne. Em 2015, num sábado à tarde, almoçando no Ledoyen, recebi um telefonema urgente da minha secre tária, Christina:

– O Vizeu está à morte.

O susto foi inevitável. Eu havia deixado o Vizeu no Rio de Janeiro, em plena forma… Vizeu é Carlos Alberto Vizeu, responsável por fazer a interface entre os acionistas e o grupo gestor da Vanguarda. Na prática, meu braço direito no posicionamento da empresa, no marketing, e parceiro na criação de peças promocionais e na comunicação institucional. Consegui falar com o médico dele, que me posicio-nou sobre a gravidade da situação, avaliada como “morte absoluta”. Hemorragia digestiva. Perdeu sangue em excesso pelas varizes esofagianas e teve rompimento do duodeno. Tudo isso agravado pelo pedido de socorro médico só ter acontecido três dias depois do início do quadro.

Liguei imediatamente para minha agência de via-gem, mas não havia nenhum lugar disponível em

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voo Paris-Rio naquele dia. Topei fazer o trajeto para o aeroporto Tom Jobim via Guarulhos, em São Paulo. O diabo é que tinha ido de Nova York para Paris só com uma malinha de mão, sem carteira, somen-te com os cartões de crédito internacionais e uns euros no bolso. O celular brasileiro também tinha ficado em Nova York. Estava apenas com meu tele-fone internacional, sem todos os contatos do Brasil. Consegui o telefone do Dr. Denílson Albuquerque, meu amigo e cardiologista, que topou sair direto do consultório para o Hospital Samaritano, onde esta-va internado o Vizeu. Ligou de lá:

– Olha, Boni, o Vizeu está em coma, na UTI. O estado dele é gravíssimo e o prognóstico, o pior possível.

Pedi ao Denílson que interferisse, com urgência, mas ele me disse que seria impossível. O Sama-ritano não permitia a interferência no caso de um paciente de outro médico. Além disso, estava de viagem marcada naquela noite para compromis-so, inadiável, em Lisboa. Poderia colocar seu filho, Dr. Felipe Albuquerque, na parada, uma vez que ele era médico intensivista do próprio Hospital Sa-maritano. Aceitei. De Paris, falei com o Dr. Felipe, que, paralelamente ao médico do Vizeu, passaria a cuidar dele. Marcamos encontro, às 11h30 do dia seguinte, no Samaritano. Cheguei a São Paulo num voo perfeito da Air France e embarquei em um helicóptero direto para a Lagoa Rodrigo de Freitas, conseguindo chegar meia hora antes do combinado com o médico.

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O que aconteceu com o Vizeu pode ser melhor com-preendido com a carta que enviei, posteriormente, ao Dr. Felipe Albuquerque:

Quis a sorte que o médico do Vizeu, cujo nome não quero citar, abandonasse o caso. Nesse momento, em que tudo parecia perdido, você, menino de 35 anos, que eu conheci ainda estudante, revelou-se um gigante de coragem e um mestre de competência.

Não piscou nem titubeou um só segundo. Assumiu o caso e passou a comandar todo o processo com segurança absoluta, apesar de todos os riscos que enfrentava. Foi nos informando de todos os obstáculos que ia ultrapassando. Qual um Pelé da medicina, foi driblando esses obstáculos, no peito e na raça, marcando gols sem aceitar cumprimentos ou comemorações. Dizendo sempre: “Vitória... só quando o jogo acabar.”

Dr. Felipe Albuquerque, você faz parte de uma geração de médicos modernos, humanos mas francos e sinceros. Seu

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conhecimento transcende o que se espera de um jovem médico de sua idade. Mas essa expectativa eu tinha de você, fi lho de quem é...

O que me surpreendeu foi sua vontade de brigar, o sorriso amável, a maneira simples com a qual você veste o seu jaleco de luta para enfrentar e nocautear a morte.

Obrigado, amigo Felipe.

Com o Vizeu salvo, reduzi a correria e passei a vi-sitá-lo já no quarto, à espera da completa recupe-ração. Diariamente, fazia o trajeto São Conrado--Samaritano, em Botafogo, via avenida Niemeyer, apreciando a construção da ciclovia sobre o mar. “Vai fi car sensacional, como todo o Rio, quando forem concluídas as obras para as Olimpíadas”, pensava em voz alta. Havia paz. Mas, como dizia Shakespeare, “tragédia só ocorre quando há a bo-nança”. E aconteceu comigo.

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