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CÂMARA DOS DEPUTADOS
DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO
TEXTO SEM REVISÃO
COMISSÃO DE RELAÇÃO EXTERIORES E DE DEFESA NACIONAL(Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática)
EVENTO: Audiência Pública N°: 1383/03 DATA: 09/09/03INÍCIO: 15h26min TÉRMINO: 20h01min DURAÇÃO: 04h35minTEMPO DE GRAVAÇÃO: 04h32min PÁGINAS: 88 QUARTOS: 55
DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃO
JOSÉ VIEGAS FILHO - Ministro da Defesa.ROBERTO ÁTILA AMARAL VIEIRA - Ministro da Ciência e Tecnologia.LUIZ CARLOS DA SILVA BUENO - Diretor do Departamento de Pesquisas e Desenvolvimentoda Aeronáutica.LUIZ BEVILACQUA - Presidente da Agência Espacial Brasileira.
SUMÁRIO: Esclarecimentos sobre o acidente ocorrido na Base de Alcântara no dia 22 deagosto de 2003.
OBSERVAÇÕES
Há oradores não identificados.Há intervenções inaudíveis.
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A SRA. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) - Está aberta a presente
reunião de audiência pública conjunta com a Comunicação de Ciência e Tecnologia,
Comunicação e Informática, com a presença do Sr. Ministros da Defesa, Dr. José
Viegas Filho; do Sr. Ministro da Ciência e Tecnologia, Dr. Roberto Átila Amaral
Vieira; do Comandante da Aeronáutica, Tenente-Brigadeiro-do-Ar Luiz Carlos da
Silva Bueno; do Diretor do Departamento de Pesquisas e Desenvolvimento da
Aeronáutica, Tenente-Brigadeiro-do-Ar Sérgio Pedro Bambini; do Diretor do Centro
Técnico Aeroespacial, Major-Brigadeiro-do-Ar Tiago da Silva Ribeiro; do Presidente
da Comissão de Investigação, Brigadeiro-do-Ar Marco Antônio Couto do
Nascimento; e do Presidente da Agência Espacial Brasileira, Dr. Luiz Bevilacqua,
com a finalidade de prestarem informações sobre o trágico acidente na Base de
Alcântara, ocorrido no dia 22 de agosto, envolvendo o VLS-1. Esta audiência pública
é resultado do Requerimento nº 68, de 2003, de autoria dos Deputados Dra. Clair,
Wasny de Roure, Maninha e Terezinha Fernandes, do Requerimento nº 69, de 2003,
de autoria da Deputada Terezinha Fernandes, do Requerimento nº 70, de 2003, do
Deputado Ivan Ranzolin, do Requerimento nº 73, de 2003, do Deputado Luiz Carlos
Hauly, e do Requerimento nº 74, de 2003, da Deputada Nice Lobão.
Contamos também com a presença do Presidente da Comissão de Ciência e
Tecnologia, Comunicação e Informática, Dr. Corauci Sobrinho, a quem passarei a
palavra antes de concedê-la aos nossos convidados.
Aviso aos senhores que temos um espaço destinado aos Deputados, aos
assessores dos Ministros e às autoridades que compõem a Mesa. E há, claro, os
lugares também dos nossos outros convidados. Só quero deixar bem claro que
temos um espaço para os Deputados que comparecerem.
Antes de conceder a palavra aos convidados desta nossa audiência pública
de hoje, passo a palavra ao Presidente da Comissão de Ciência e Tecnologia.
O SR. DEPUTADO CORAUCI SOBRINHO - Obrigado, Deputada Zulaiê
Cobra. Apenas para agradecer a presença de todas as autoridades já nominadas,
fazendo uma menção especial aos 2 Ministros aqui presentes.
Quero dizer que na nossa Comissão também apresentamos vários
requerimentos, já aprovados naquela mesma semana, de modo que essa audiência
conjunta, no meu entendimento, cumpre, ao menos por hora, os objetivos daqueles
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requerimentos apresentados na Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e
Informática.
Da mesma forma, queremos aproveitar o ensejo para comunicar que o
plenário da Câmara dos Deputados aprovou uma Comissão Externa de Deputados,
organizada a partir da indicação dos Líderes de cada partido ao Presidente João
Paulo, que me designou a coordenação desses trabalhos. Devemos fazer a primeira
reunião desta Comissão Externa provavelmente amanhã, para definir um
planejamento, uma estratégia de trabalho, contando também, evidentemente, com a
participação dos 2 Ministros, da Agência que trata do assunto e das autoridades.
Faremos os deslocamentos necessários para que a Comissão Externa cumpra os
seus objetivos.
A Deputada Zulaiê Cobra me pede para comunicar que a lista de inscrições
para os Senhores Deputados que queiram formular suas perguntas já se encontra à
disposição junto da secretaria desta Comissão.
Antecipadamente, quero agradecer a presença de todas as autoridades e
dizer também da importância desse momento para ambas as Comissões, tanto a de
Relações Exteriores, tão bem presidida pela Deputada Zulaiê Cobra, como a de
Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) - Muito obrigado, Sr.
Presidente, Deputado Corauci.
Obedecendo à ordem de inscrição previamente estabelecida, concedo a
palavra ao nosso Ministro de Estado da Defesa, Dr. José Viegas Filho, pelo tempo
de 20 minutos, prorrogáveis à vontade de S.Exa.
O SR. MINISTRO JOSÉ VIEGAS FILHO - Sra. Presidenta, Sras. e Srs.
Deputados, meus amigos, vou fazer uma breve intervenção em duas partes: a
primeira será uma exposição genérica sobre o Programa Espacial Brasileiro e a
segunda sobre o andamento das investigações que estão sendo procedidas.
Como é do conhecimento de V.Exas., Srs. Deputados, o Programa Espacial
Brasileiro é conduzido pela Agência Espacial Brasileira (AEB), criada por lei em
1994. As atividades espaciais brasileiras são organizadas sob forma sistêmica, pelo
Sistema Nacional do Desenvolvimento das Atividades Espaciais, estabelecido em
1996, tendo a Agência Espacial Brasileira como órgão central e o Departamento de
Pesquisas e Desenvolvimento do Comando da Aeronáutica e o Instituto Nacional de
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Pesquisas Espaciais do Ministério da Ciência e Tecnologia como órgãos setoriais e
executores diretos dos programas.
Os objetivos e diretrizes que norteiam as ações do Governo brasileiro,
voltados à promoção do desenvolvimento das atividades espaciais de interesse
nacional, constam da Política Nacional de Desenvolvimento das Atividades
Espaciais, aprovada em 1994.
O Programa Nacional de Desenvolvimento das Atividades Espaciais, previsto
na criação da AEB, estabelece grandes programas para a consecução da Política
Nacional de Desenvolvimento das Atividades Espaciais, que visam contemplar as
necessidades da sociedade principalmente nas áreas de sensoriamento,
meteorologia, oceanografia, telecomunicações, geodésica e navegação.
São prioridades do programa, no período do próximo PPA, o desenvolvimento
e a consolidação da capacitação tecnológica e industrial brasileira em sistemas
espaciais, com destaque para o desenvolvimento dos satélites de recursos terrestres
CBERS 3 e 4, em parceria com a China, a conclusão do satélite de sensoriamento
remoto com o imageamento óptico SSR-1 e o desenvolvimento do satélite com o
imageamento radar SSR-2.
A conclusão do desenvolvimento do primeiro veículo lançador de satélite
nacional o VLS-1 e o início do desenvolvimento do VLS-2, bem como o
desenvolvimento dos foguetes de sondagem VSB-30, sonda 3-A, VS- 40A e VS-43.
A capacitação e os sistemas de controle de altitude e de órbitas e guiagem, e são
também prioritárias as ações voltadas a viabilização dos Centro de Lançamento de
Alcântara o que passa necessariamente por sua qualificação perante o mercado
internacional para a prestação de serviços de lançamento de satélites em bases
comerciais.
No período do PPA de 2004-2007 buscar-se-á, ainda em caráter prioritário,
uma maior aproximação com a indústria aeroespacial, bem como com as instituições
nacionais de ensino e pesquisa que serão estimuladas a desenvolver projetos de
pesquisas e desenvolvimento na área espacial.
A cooperação internacional estará presente em algumas ações, constituindo
alternativa essencial para a viabilização de iniciativas de maior complexidade. Novas
parcerias deverão ser consolidadas ao longo do próximo quadriênio.
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As atividades espaciais, a cargo do comando da Aeronáutica, são executadas
pelas organizações subordinadas ao Departamento de Pesquisas e
Desenvolvimento, na condução dos programas dos veículos lançadores e foguetes
de sondagem, implementados pelo CTA e pela implantação das infra-estruturas de
apoio ao desenvolvimento e lançamento do Centro de Lançamento de Alcântara —
CLA e do Centro de Lançamento da Barreira do Inferno.
Na área de desenvolvimento de foguetes de sondagem destacam-se os
foguetes da família Sonda, já desenvolvidos e em desenvolvimento e que
alcançaram um alto grau de desempenho e qualidade, tendo sido objeto de
inúmeros lançamentos em cooperação com as instituições de pesquisa brasileiras e
universidades, e também com entidades estrangeiras, principalmente com a
participação da agência espacial alemã DLR, que já adquiriu e lançou 2 foguetes
brasileiros, inclusive custeando o desenvolvimento de um reforçador propulsivo para
aumentar o tempo dos experimentos em ambientes de microgravidade.
Há, também, estudos daquela instituição para a aquisição de mais 9 foguetes
pela Alemanha para atender ao programa de microgravidade da Agência Espacial
Européia. Até a presente data, já foram lançados mais de 300 foguetes de
sondagem com diferentes cargas úteis experimentais nacionais e estrangeiras. O
grande projeto de veículos lançadores é o nacionalmente conhecido VLS-1, de
pequeno porte, constituído de 4 estágios de propulsão sólida. O desempenho
esperado do VLS-1 permitirá a inserção de satélites com massa de 100 até 350
quilogramas em órbitas circulares de até 1000 quilômetros de altitude.
O perfil de lançamento e colocação do satélite em órbita mostra a
complexidade de um projeto dessa magnitude onde são incorporados
conhecimentos e tecnologia de ponta no seu desenvolvimento, como, por exemplo,
na área de estruturas, aerodinâmicas, mecânica fina, máquinas e materiais
especiais, ligas metálicas e materiais compósitos a base de fibras de Kevlar e
carbono-carbono, entre outras.
Estão presentes também as áreas de eletrônica, pirotecnia, telemetria para
aquisição de dados e radar para a recepção da trajetória do veículo em tempo real e
software embarcado.
Deve-se destacar que, durante o desenvolvimento do veículo, foram
implantados no país vários laboratórios e instalações e ensaios para sua
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qualificação. Destaque deve ser dado ao desenvolvimento de laminados de aços
especiais que alavancaram a capacitação nacional, permitindo inclusive a sua
exportação. Outros benefícios também foram auferidos pelas indústrias dos setores
da química, da eletrônica e de softwares especializados, permitindo ganhar os
mercados internacionais.
Merecem ainda particular atenção a implantação da única usina de fabricação
e de carregamento de propulsores de grande porte existentes no hemisfério sul.
Essa instalação é um complexo industrial pertencente ao CTA, unidade estratégica
para o País, onde se processa o combustível dos foguetes de sondagem e do
veículo lançador de satélite.
Todos os foguetes são testados no CTA e depois transportados para os
centros de lançamento, pelas aeronaves de transporte da Força Aérea Brasileira. No
centro de Alcântara como no centro da Barreira do Inferno são integrados e
lançados.
O Centro de Lançamento de Alcântara está operacional para o lançamento de
foguetes de sondagem suborbital e para veículos lançadores para órbitas baixas.
Inclusive temos a intenção de fazer um lançamento ainda este ano do VS-40
suborbital a partir da base de Alcântara.
Nas 3 campanhas do VLS-1, puderam ser comprovadas as instalações e os
equipamentos do centro que, apesar das dificuldades de pessoal, pôde
desempenhar o seu papel com resposta. O centro de lançamento da Barreira do
Inferno tem como missão o lançamento de foguetes de sondagem e atua como
estação de rastreio das trajetórias de veículos nacionais e estrangeiros do programa
Ariane.
Além dos benefícios para a indústria nacional e para a exportação, deve-se
salientar o potencial dual dessas tecnologias que têm beneficiado o emprego nas
Forças Armadas Brasileiras.
Apresento agora a situação atual das análises realizadas sobre as possíveis
causas do acidente ocorrido com o terceiro protótipo do VLS-1. Os trabalhos que
estavam sendo realizados na torre, no momento do acidente, eram de natureza não
perigosa, onde especialistas estavam realizando a integração e a montagem final
das calhas do quarto estágio.
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Ajustes de câmara de vídeo na câmara de umbilicais, pressurização de
nitrogênio e óleos ainda em baixa pressão para o sistema de tubeira móvel e
separação de estágios e ajustes de desplugamernto de conectores elétricos na parte
superior do veículo.
Das imagens gravadas e da inspeção dos destroços do acidente, verificou-se
que houve a ignição intempestiva de um dos motores do primeiro estágio do veículo,
provavelmente ocasionado por uma corrente elétrica, com amperagem suficiente
para iniciar a ignição dos propulsores. As investigações estão sendo realizadas no
prazo de 30 dias, e deverão ser inclusive realizados ensaios para simular as causas
prováveis que levaram ao acidente, uma vez que até o momento nenhum erro maior
de operação das equipes foi detectado.
Deve-se acrescentar que, ao longo das várias décadas de atividades
espaciais, o CTA sempre realizou centenas de ensaios de queima em bancos de
prova e também o lançamento de centenas de foguetes de sondagem dos dois
primeiros protótipos do VLS -1, sem nenhum acidente envolvendo vidas humanas.
O acidente ficou confinado a um raio de 40 metros, não trazendo danos às
instalações e ao pessoal que estava próximo à torre móvel de integração. Deve-se
ressaltar que esse acidente pode ser considerado como o pior que poderia ser
esperado de um veículo do porte do VLS-1. E, apesar disso, os destroços ficaram
confinados à área de 40 metros em torno da plataforma de lançamento do CLA.
Estão em curso um inquérito policial militar e uma investigação técnica
conduzida por dois oficiais generais da Aeronáutica. No IPM, o encarregado
procedeu a oitivas do pessoal do Centro de Lançamento de Alcântara e do Centro
de Lançamento da Barreira do Inferno. O encarregado do IPM solicitou a
participação da Polícia Técnica Federal, que já esteve na área do acidente, fazendo
levantamento de dados para a perícia técnica. E a área já foi liberada para a
Comissão Técnica de Investigação do Acidente. O IPM está em fase de coleta de
provas, aguardando os laudos técnicos da Polícia Federal e do Instituto Médico
Legal. Além da participação da Polícia Federal e do Instituto Médico Legal, o
encarregado do IPM encontra-se na área de São José dos Campos para realizar a
oitivas de pessoal do Instituto da Aeronáutica e Espaço, órgão subordinado ao CTA,
que participava da Operação São Luís.
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A investigação técnica inicialmente contou com a participação de
especialistas do próprio Instituto de Aeronáutica e Espaço, que realizaram as
primeiras análises técnicas e a preservação do local para futuras ações
investigativas.
O oficial general encarregado da investigação técnica estruturou a Comissão,
de acordo com o Centro de Investigação de Acidentes Aeronáuticos, em 4 fatores: o
material, o humano, o operacional e o meteorológico. Cada uma dessas
Subcomissões está sendo chefiadas por pessoas que não pertencem ao IAE nem
estavam envolvidas com a operação de lançamento.
Em paralelo, a Comissão Técnica está sendo assessorada por especialistas
russos, num total de seis, todos com a titulação de doutorado nas áreas de projetos
de motores à base de combustível sólido, de física e química do processo de
combustão, de envelhecimento de combustíveis sólidos e de desempenho de
motores foguetes. A equipe russa conta também com um cientista especializado na
investigação de acidentes que envolvem mísseis e foguetes, com grande
experiência de investigação.
Após as análises que estão sendo efetuadas para se identificarem as causas
do acidente, provavelmente mudanças no sistema de segurança serão
implementadas, além de outras ações de melhoria na operação da torre móvel de
integração.
Espera-se que, no prazo máximo de 3 anos, o País esteja em condições para
lançar o quarto protótipo do VLS-1. Ações para consecução desse objetivo estão
sendo realizadas em vários escalões do Governo, principalmente na reposição dos
quadros de pessoal do CTA, do Centro de Lançamento de Alcântara, que até hoje
não dispõe de quadro próprio de pessoal e do Centro de Lançamento da Barreira do
Inferno.
Aos esforços para reposição e recompletamento dos quadros de pessoal para
o Programa Espacial somam-se iniciativas que visam a inclusão de aporte financeiro
no Plano Plurianual de ação do Governo, para continuação dos programas
constantes do Programa Nacional de Atividades Espaciais.
Além das ações mencionadas, deve-se refletir sobre o futuro do Programa
Espacial, no qual metas planejadas estão aguardando a aprovação de amplitude
nacional para a realização dos próximos programas voltados para o
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desenvolvimento de novos satélites e veículos de maior porte, quando deverá haver
uma maior participação do segmento industrial, das instituições de pesquisa e
universidades brasileiras e de cooperação internacional.
A imprensa de hoje divulga notícias segundo as quais teria havido uma
queima de transdutores causada por corrente elétrica. A esse respeito, conversei
com os investigadores da Aeronáutica que conduzem os processos de investigação
técnica, e as averiguações, até aqui, indicam que, realmente, houve a queima dos
transdutores. Foi feita a investigação da razão. Esses transdutores não têm nada
que ver com a ignição dos motores. Os estudos feitos quanto à causa da queima
dos transdutores indicam que não houve pane elétrica. Se houvesse pane elétrica
na falha dos transdutores, ela tampouco se relacionaria com o incêndios dos
ignitores, porque a malha elétrica dos transdutores é independente da malha elétrica
dos ignitores.
A matéria prossegue dizendo que a plataforma estava dando choque elétrico
em quem a tocasse. Essa informação não pode ser confirmada. Não há nenhum
relato que indique a ocorrência desse fato.
O terceiro ponto da matéria a que quero me referir aqui diz que — e estou
citando a matéria — o protocolo de segurança dita que a instalação dos iniciadores
pirotécnicos deve ser a última operação na preparação do foguete, mas a norma não
foi seguida. Aqui também devo desmentir: não é verdade que a norma previsse isso
e que tivesse sido desrespeitada.
Infelizmente, essas notícias, assim como os comentários que faço a respeito
delas, não nos aproximam da determinação da causa real do acidente. E não
descansaremos enquanto não tivermos uma informação, ainda que com base em
cálculos de probabilidades ou probabilidades de hipóteses, até que tenhamos
esgotados os recursos à nossa disposição para a investigação. A participação dos
doutores russos vem se fazendo de forma harmoniosa e deixam mais esperançosos
aqueles se interessam pela apuração das causas do acidente.
No dia de amanhã, vou a São José dos Campos, onde pretendo ter um
contato com os familiares dos mortos para expressar-lhes novamente a
solidariedade do Governo brasileiro e conhecer mais de perto o ponto de vista deles.
Muito obrigado.
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A SRA. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) - Muito obrigada, Ministro da
Defesa, Dr. José Viegas Filho.
Antes de conceder a palavra ao Ministro da Ciência e Tecnologia, Dr. Roberto
Átila Amaral Vieira, solicito um pouco de compreensão aos senhores assessores,
pois há Deputados que chegam à Comissão mas não encontram lugares onde se
sentar e alguns assessores estão ocupando o espaço reservado aos Deputados. O
Deputado Feu Rosa acaba de chegar e está em pé, apenas olhando. Peço aos
assessores de Deputados que cedam o lugar — não me refiro aos assessores dos
Ministros, pois alguns estão aqui ocupando determinados lugares. Então, peço
compreensão a todos, pois há Deputados chegando e olhando, enquanto alguns
assessores continuam sentados tranqüilamente.
Concedo a palavra ao Ministro da Ciência e Tecnologia, Dr. Roberto Átila
Amaral Vieira, que disporá de 20 minutos, prorrogáveis pelo tempo necessário.
O SR. MINISTRO ROBERTO ÁTILA AMARAL VIEIRA - Sra. Presidenta
Zulaiê Cobra, Sr. Presidente da Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e
Informática, Srs. Parlamentares, caro amigo, Ministro José Viegas Filho, demais
membros da Mesa, senhoras e senhoras, permito-me que minhas palavras sejam de
congratulações pela iniciativa da Comissão e da Câmara dos Deputados de
constituírem uma Comissão Externa. Essa iniciativa, com o corolário da atuação que
vem tendo o Congresso brasileiro, que é um colaborador desse programa, atende o
grande propósito das investigações do Governo Lula, que é de assegurar a máxima
transparência. Consideramos que este é o momento de promovermos,
nacionalmente, uma discussão em torno do programa, para que ele seja visto como
ele realmente é: um programa de Estado e da sociedade brasileira.
Como enunciou o Ministro Viegas, a Comissão de Investigação, que mal
começa os seus trabalhos, incorpora representantes não só do CTA, como da
Agência Espacial Brasileira, do INPE e técnicos e cientistas indicados pela
academia. São eles representantes da Sociedade Brasileira para o Progresso da
Ciência, da Academia Brasileira de Ciências e da Sociedade Brasileira de Física.
Essa comissão tem ainda a presença de um representante das famílias das vítimas.
Por que isso? Porque queremos. Não só é do interesse do Estado brasileiro a
identificação das causas do acidentes, como é de nosso interesse que tudo seja
feito com a máxima transparência. O Governo brasileiro não tem o que esconder
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nesse lamentável episódio; ao contrário, quer conhecê-lo da forma mais profunda
possível e quer partilhar com o Congresso Nacional e com a sociedade brasileira,
em particular, com a sociedade científica brasileira, as causas desse acidente.
Sra. Presidenta e Srs. Parlamentares, permitam-me, ainda, fazer uma
observação sobre o que me parece ser o cerne do Programa Espacial Brasileiro.
Esse programa não é um empreendimento técnico, e nem pode ser analisado desse
ponto de vista. Ele não tem objetivos comerciais ou econômicos. Portanto, ele não
pode ser examinado do ponto de vista da relação custo/benefício ou da
rentabilidade. Ele é um programa fundamentalmente político e estratégico —
estratégico do ponto de vista do desenvolvimento científico e tecnológico, da
segurança, dos interesses e dos projetos do nosso País, por seu papel no hemisfério
sul e na América do Sul, e por causa de seu projeto de desenvolvimento.
O Programa Espacial Brasileiro é tripartite e um dos únicos que reúnem essas
características. Ele compreende o centro de lançamento, a Base de Alcântara, o
programa de satélites, que desenvolvemos com tecnologia própria, e vários projetos
com tecnologia associada, como é o caso do mais importante deles, o CBERS 1 e
CBERS 2 — esperamos chegar ao CBERS 3 e 4, em associação com a China. Além
disso, o Programa Espacial Brasileiro compreende o projeto nacional de construção
de um veículo lançador, do mesmo porte do VLS 1, como ponto de partida para
outros, ainda que considerando que outros veículos já tivemos para lançamentos
suborbitais, sondas e transporte de equipamentos com menos de 100 quilos.
Sua importância diz respeito à nossa política de comunicação. O programa é
fundamental para a política de segurança de vôo e para a política necessária a um
país de nossas extensões, para o imageamento da Amazônia, para a agricultura
brasileira, para o monitoramento ambiental, para usos e cobertura da terra, para a
safra agrícola, para a meteorologia, para a antecipação e previsão de acidentes
meteorológicos, para a vigilância das fronteiras, dos recursos hídricos, do nosso mar
territorial e, inclusive, da expansão ou, se quiserem os senhores, da explosão
urbana.
Segundo a NASA, o mercado global espacial envolve hoje algo em torno de
10 bilhões de dólares. Mas não é isso o que mais nos preocupa. Darei um exemplo:
o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais faz o permanente monitoramento da
Amazônia, acompanha o desmatamento, a progressão das fronteiras agrícolas,
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monitora e faz o relatório anual que serve de base insubstituível para a política
agrícola e para a política ambiental brasileira — e isso só pode ser feito por meio de
imageamento e de satélites. Nós alugávamos um satélite americano, o Landsat, e,
até pouco tempo, o CBERS 1, que deixou de atuar, pois perdeu vigência e não está
mais em operação. O Landsat saiu de operação também com defeito. Hoje, não
temos, em nosso País, condições de fazer esse monitoramento. Mas vamos lançar,
no programa da linha CBERS, juntamente com a China, entre o final do mês de
setembro e o início de outubro, o CBERS 2, exatamente para fazer esse trabalho e
cobrir a América Latina e a África, a quem prestaremos serviços.
Para que não ficássemos desaparelhados, sem condições de fazer esse
acompanhamento, até que o CBERS 2 entre em órbita, fomos obrigados a alugar
um satélite francês, o SPOT , por 2 meses, pelo qual estamos pagando 3 milhões de
reais.
Poucos países têm o controle de um programa espacial e dessas tecnologias.
São eles Estados Unidos, Rússia, França, Israel, Índia e China. Podemos e
precisamos ser o oitavo país a entrar nesse fechadíssimo clube, no qual a
transferência de tecnologia é bloqueada ou dificultada.
Agora, preciso dizer aos senhores que a China e a Índia estão hoje em estado
bastante mais adiantado que o nosso. Mas esses 2 países já estiveram no mesmo
nível do Brasil.
O Governo está trabalhando em um amplo programa de cooperação
internacional. Com vistas ao uso pacífico exterior, já firmamos acordos com a
Argentina, com a China, com os Estados Unidos, com a França, com a Rússia, com
a Ucrânia e com a Agência Espacial Européia. Presentemente, estamos discutindo
outros níveis de cooperação com Israel e com a África do Sul. Além disso, firmamos
com a Ucrânia um acordo essencial e fundamental para a consolidação do Centro
de Lançamento de Alcântara. Tal acordo admite, inclusive em alguns aspectos, a
transferência de tecnologia, o que possibilitará a presença de técnicos brasileiros no
desenvolvimento do quarto estágio do Ciclone 4. Esta Casa já aprovou esse acordo,
que se encontra em processo de tramitação final.
Para nós, do Ministério de Ciência e Tecnologia, que compreendemos a
impossibilidade de crescimento do País sem desenvolvimento, e que não há
possibilidade de desenvolvimento sem haver investimos maciços, permanentes e
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sistemáticos em educação, ciência e tecnologia, esse programa significa um
instrumento de desenvolvimento da ciência e da tecnologia do País, além de apoio
extraordinário à indústria brasileira de ponta, principalmente à indústria de base
tecnológica.
Os benefícios econômicos diretos dessas atividades decorrem da exploração
comercial dos produtos de alto valor agregado. Essa característica faz com que a
exportação e a substituição de importações venha contribuir, de forma importante,
para o equilíbrio de nossa balança comercial. Cálculos da Associação das Indústrias
Aeroespaciais do Brasil indicam, por exemplo, que o valor agregado em reais, por
quilograma do produto final, seria, aproximadamente, 0,30 centavos para o setor
agrícola, 10 para automóveis, 100 para eletrônicos, 1.000 para aviões e 50.000 para
satélites.
Como conseqüência do desenvolvimento dos nossos satélites e dos 3
protótipos do VLS-1, já podemos inventariar como transferência de tecnologia para a
indústria nacional a tecnologia de materiais compostos e ligas carbono-carbono,
desenvolvidos para turbinas e motores de foguetes, que está sendo empregada, por
exemplo, em separadores, água, óleo de plataformas off-shore de petróleo; ligas de
aço de ultra alta resistência, desenvolvidas para a estrutura do quarto estágio do
Veículo Lançador de Satélite nacional, atualmente empregadas na produção, pela
indústria nacional, de peças metálicas estruturais de alta resistência e durabilidade,
como trens de pouso de avião.
Os sistemas computacionais de interação e controle de dados, concebidos
originalmente para bancos de testes de foguetes, estão sendo utilizados na
automação das operações em praças de pedágio e rodovias brasileiras. O
conhecimento adquirido do desenvolvimento de equipamentos embarcados de
satélites e veículos lançadores está sendo transferido para empresas brasileiras,
que produzem hoje sistemas de comunicação de curta distância na faixa do
infravermelho e larga aplicação na automação de processos produtivos, bem como
equipamentos médicos destinados à monitoração de sono, por exemplo. Estamos
formando pessoal técnico de alto nível, formados dentro do Programa Espacial
Brasileiro, que tem contribuído, de forma significativa, para o sucesso de empresas
de nosso setor aeroespacial.
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Por fim, o Ministério da Ciência e Tecnologia deixa para reflexão dos Srs.
Parlamentares, talvez como contribuição à Comissão Externa, que teremos o maior
prazer em receber e com ela dialogar, algumas sugestões, a fim de que o Programa
Espacial Brasileiro se desenvolva, nos prazos e cronogramas, dos quais
necessitamos, e atendendo à determinação do Presidente da República no sentido
de que seja lançado o quarto protótipo do VLS-1 ainda em seu mandato: reforços de
recursos, no valor de 130 milhões para o ano fiscal de 2004; abertura de concurso
para recompor os quadros das instituições do sistema, particularmente o IAE, o CTA
e o Centro de Lançamento de Alcântara, hoje os mais deficitários em recursos
humanos. Precisamos de 40 vagas para o Centro de Lançamento de Alcântara e 60
vagas no IAE e no CTA, bem como a reconstrução do quadro de pessoal da Agência
Espacial Brasileira. É necessária a continuidade dos programas de cooperação
internacional com a China na produção dos Satélites CBERS, da série CBERS, e
implantação do acordo com a Ucrânia para exploração comercial de Alcântara e o
desenvolvimento cooperativo de veículos lançadores; dar continuidade também às
negociações com outros países; estímulo a cooperação com as universidades,
aumentando a capacidade de produção científica e tecnológica do programa;
ampliação do volume e do leque de encomendas ao setor industrial brasileiro,
inclusive sua maior participação na construção do Protótipo IV do VLS-1; agilizar o
término da infra-estrutura geral do Centro de Lançamento de Alcântara, permitindo a
implantação de outros sítios para outros lançadores; conclusão do assentamento
das famílias deslocadas para outros sítios em Alcântara e soluções rápidas para
questões fundiárias, proporcionando um melhor relacionamento entre a comunidade
de Alcântara e os funcionários do centro de lançamento; revisão da estrutura
organizacional do sistema de atividades espaciais e projetos de implantação de uma
nova carreira para a área espacial, com salários competitivos e critérios de seleção e
promoção adequados.
Sra. Presidenta, Srs. Parlamentares, muito obrigado. Fico à disposição para o
momento dos debates.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) - Muito obrigada, Ministro da
Ciência e Tecnologia, Dr. Roberto Átila Amaral Vieira.
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Passo a palavra agora ao Comandante da Aeronáutica,
Tenente-Brigadeiro-do-Ar Luiz Carlos da Silva Bueno, que terá o prazo de 20
minutos, podendo ser prorrogáveis.
O SR. LUIZ CARLOS DA SILVA BUENO - Sra. Presidenta, Srs. Ministros,
Srs. Deputados, após nossa apresentação no Senado, houve muitas perguntas
sobre as ações de segurança executadas e implementadas em proveito desta
operação de lançamento. Por esse motivo, conversando com o nosso Ministro
Viegas, há a intenção de expormos todas aquelas medidas que tomamos quanto a
segurança para efetuarmos este lançamento.
Ora, todos sabemos que o Brasil situa-se entre os únicos 15 países do mundo
a ter desenvolvido com sucesso um satélite próprio, e ele dispõe de um dos 14
centros de lançamento de satélites sem condições operacionais em todo o mundo.
Muitos países demonstram interesse em compartilhar conosco pesquisas e projetos,
portanto, na área espacial.
Os esforços do Brasil, nos últimos anos, na busca do domínio da tecnologia
espacial, no entanto, nos têm mostrado que a pesquisa e o desenvolvimento na área
espacial não são questões simples para países emergentes como o nosso. A
cooperação internacional, a transferência de tecnologia e mesmo as relações
internacionais tornam-se cada vez mais difíceis devido ao caráter dual das
tecnologias envolvidas, bem como da preocupação em proteger tecnologias de valor
comercial estratégico, aspecto que tem se tornado mais evidente, como agora há
pouco o nosso Ministro Roberto Amaral falou.
Assim, quanto os preparativos para o lançamento do terceiro protótipo do
veículo e considerando a importância que o mesmo tem para o nosso programa
espacial, foram adotadas todas as medidas de segurança julgadas necessárias para
que os procedimentos de lançamento e operação do VLS pudessem ser realizadas
de acordo com o planejado pelo CTA, INPE e AEB.
Os planejamentos realizados abrangeram todas as áreas que, direto e
indiretamente, pudessem gerar interferências nos procedimentos de lançamento e
operação. São elas:
Proteção eletrônica, com a finalidade de dar segurança e proteção ao sistema
de guiagem no VLS, ao sistema de controle de posição do veículo, aos sistemas de
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comunicação da missão e garantir a qualidade dos sinais eletrônicos necessários ao
lançamento e operação deste veículo.
Segurança organizacional, com a finalidade de incrementar os procedimentos
de segurança das instalações físicas do centro de lançamento, bem como os
procedimentos afetos às comunicações e o acesso de pessoas não autorizadas a
ingressar no centro.
Controle de área marítima, terrestre e controle do espaço aéreo, com a
finalidade de restringir, nas áreas críticas para o lançamento, a presença de navios,
embarcações de veículos, pessoas e de aeronaves. Vou até revelar algo que
aconteceu. Um pouco antes de colocarmos o veículo lá, roubaram cerca de 400
metros dos cabos de comando. Só para os senhores terem o exemplo dos cuidados
que temos de ter.
Comando e controle, com a finalidade de permitir o controle e a coordenação
das várias organizações que estavam atuando em proveito da segurança do VLS,
bem como buscar o máximo de proveito e eficiência nas ações desenvolvidas.
Ação social, com a finalidade de informar e dar conhecimento às
comunidades vizinhas a respeito dos preparativos para o lançamento e,
principalmente, conscientizá-los a não acessar a área patrimonial do CLA, a fim de
garantir a segurança dos mesmos durante o lançamento.
Proteção eletrônica, com a finalidade de dar segurança e proteção ao sistema
de operação, controle e guiagem do VLS, ou seja, telemetria, telecomando e radar.
Foram executadas ações de proteção eletrônica, especificamente dirigidas
aos sistemas acima listados. Considerando a complexidade dos sistemas que
integram o veículo lançador, bem como a dos equipamentos de apoio ao
lançamento, torna-se compreensível que tenham sido adotadas medidas
excepcionais para garantir uma adequada proteção eletrônica ao lançamento. Para
obter-se essa proteção, foram designadas duas aeronaves R-99 com a missão de
controlar o espectro eletromagnético, principalmente nas faixas de freqüência dos
radares utilizados pelo CLA para acompanhamento do veículo, bem como as faixas
de freqüências utilizadas pelos sistemas de telemetria, telecomando e radar.
Foram, ainda, utilizadas duas equipes pertencentes ao Centro Integrado de
Guerra Eletrônica do Exército brasileiro com equipamento e pessoal especializado
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para esse tipo de missão, também visando ao controle do espectro eletromagnético,
com destaque para as faixas de freqüência de interesse.
Uma terceira equipe, composta por engenheiros do Centro Técnico
Aeroespacial do Comando da Aeronáutica — CTA realizou um trabalho semelhante
ao CIGE, no interior do CLA, com a missão de detectar sinais espúrios, além de
procurar atestar a qualidade dos sinais eletrônicos necessários ao funcionamento e
a operação do sistema do veículo lançador.
Nos trabalhos realizados ao longo dos meses de julho e agosto do corrente
ano, seja pelas aeronaves R99 seja pelas equipes de terra do CIGE e do CTA, em
nenhum momento foi detectado qualquer sinal eletrônico que possa ser classificado
como espúrio ou hostil. Havia muita dúvida a esse respeito. Volto a frisar para os
senhores: em nenhum momento foi detectado qualquer sinal eletrônico que possa
ser classificado como espúrio ou hostil. Todas as emissões de interesse para a
missão foram originadas em equipamentos do centro de Lançamento de Alcântara
ou do próprio veículo lançador.
Segurança organizacional, buscando maximizar os procedimentos de
segurança orgânica, com o foco principal direcionado para as medidas de segurança
de áreas: pessoal, de documentação, material, comunicação e processamento de
dados. Foram destacadas equipes especializadas para avaliar e incrementar com
ações adicionais os procedimentos de segurança já adotados pelo Centro. A
complexidade de um centro de lançamento, como o de Alcântara, exige medidas de
segurança adicionais. Nos dois meses que antecederam a operação de lançamento
tais medidas foram intensificadas com a reavaliação do plano de segurança orgânica
e sua posterior implementação com a oportunidade.
O Posto de Comando à Operação de Segurança, localizado nas
dependências dos destacamentos de proteção ao vôo de São Luís, também recebeu
o mesmo tratamento. Foram, ainda, implementadas medidas específicas de
segurança para garantir a integridade de suas instalações. Paralelamente a essa
atividade foram realizadas varreduras eletrônicas nas instalações e no posto de
comando, tornando o ambiente de trabalho seguro contra dispositivos de escuta
clandestina. Foi estabelecida uma rede de comunicações, telefonia e transmissão de
dados, com a proteção criptográfica interligando as localidades de São Luís, Brasília
e São José dos Campos com todos os integrantes da operação, o que veio a
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permitir confiança para tratar de qualquer assunto, facilitando as ações de comando
e controle.
Controle de área marítima: a área de São Luís apresenta um fluxo intenso de
tráfego marítimo, tendo como destino ou origem a América Central ou a região do
Caribe, além de inúmeras pequenas embarcações na região da Baía de São
Marcos, área que separa a cidade de São Luís do centro de lançamento de
Alcântara. Com a finalidade de restringir o ingresso de navios ou embarcações na
área crítica de lançamento, principalmente com vistas a garantir que essas
embarcações não interferissem no lançamento, bem como garantir a própria
segurança dessas embarcações durante as operações, foram adotadas medidas
coma finalidade de restringir o tráfego de navios ou barcos menores nas áreas
críticas que contaram com o apoio do 4º Distrito Naval, 4 navios-patrulhas e 4
lanchas, trabalhando em conjunto com 3 aeronaves de patrulha P-45 da Força
Aérea Brasileira. Esse trabalho, realizado em coordenação com a Marinha do Brasil,
semanas antes do lançamento, teve a finalidade de obter o controle marítimo da
região. Foram realizados vôos de patrulha marítimas por aeronaves P-95 em toda a
região de interesse para o lançamento.
Aqui, vou fazer uma pausa. Por exemplo, houve um navio americano que saiu
de Natal e passou em frente ao Centro de Lançamento, isso umas 2 semanas antes.
Era um navio, vamos dizer assim, de grande atividade eletrônica, e nós
acompanhamos esse navio durante todo o seu percurso até ele abandonar a área
marítima nossa, entrando lá pelo lado das Guianas. Nós fizemos o
acompanhamento completo desse navio.
O controle da área marítima também é fundamental nos riscos existentes nas
proximidades da área de lançamento, bem como nas áreas com possibilidades de
queda de fragmentos do primeiro e segundo estágios, após a sua separações
normais do veículo em vôo.
Muitas vezes a gente é surpreendido quando estamos até numa contagem
final com pequenas embarcações que vão para a área próxima à área perigosa de
lançamento. E há uma necessidade de vigilância absoluta por parte não só dos
nossos navios, mas também dos nossos aviões para tirar, muitas vezes são
jangadeiros, pescadores, que entram, não estão por dentro das coisas e entram
nessas áreas perigosas.
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Nos trabalhos realizados ao longo das semanas que antecederam o
lançamento não foi detectado e nem identificado nenhum navio estrangeiro naquela
região, nem nas áreas previstas para os impactos dos primeiro e segundo estágios
nos treinamentos.
Em que pese a imprensa de um modo geral ter divulgado a presença de
navios estrangeiros naquela área, inclusive na Baía de São Marcos, o que de fato
pôde ser comprovado foi a presença nos meses anteriores dos navios de pesquisa
oceanográfica a serviço da PETROBRAS, mas que deixaram aquela região 3
semanas antes da data prevista para o lançamento. Eram navios franceses que
estavam fazendo avaliação sismográfica contratada pela PETROBRAS. Vale
ressaltar ainda que segundo a Capitania dos Portos do Maranhão houve uma
diminuição de aproximadamente 70% do tráfego da Baía de São Marcos nesse
período.
Controle da área terrestre: os procedimentos executados para garantir o
controle da área terrestre que circunda o CLA tiveram a finalidade de restringir o
acesso de viaturas e pessoas não-autorizadas nas áreas críticas, de forma a impedir
que esses veículos e pessoas realizassem ações que interferissem na operação do
veículo e que viesse a sofrer danos pela operação do mesmo. As ações envolveram
vôos de reconhecimento de aeronaves e helicópteros nas áreas de interesse. Essas
ações também tiveram a participação de militares do 24º Batalhão de Caçadores do
Exército Brasileiro, sediado em São Luís, que auxiliou nas patrulhas e no controle
das estradas e áreas adjacentes, garantindo assim a sua integridade.
Defesa aérea: as ações voltadas para a defesa aérea tiveram a finalidade de
restringir o ingresso de aeronaves na área crítica de lançamento, visando a que
essas aeronaves não interferissem na operação do veículo e principalmente
garantindo a segurança desses mesmos setores durante o lançamento. Foram
planejadas missões com essa finalidade, para o período que antecederia o
lançamento. Para essas missões de defesa aérea foram alocadas 3 aeronaves
AT-27 que ficariam em situação de alerta em vôo, garantindo assim o controle de
espaço aéreo na região de interesse.
Comando e controle: o plano de segurança para garantir as condições
necessárias ao lançamento e operação contou com a colaboração de várias
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organizações, entre as quais destacamos e agradecemos a participação do Exército
e da Marinha.
Com a finalidade de permitir o controle e a coordenação dessas
organizações, foi estabelecido em São Luís um centro de comando e controle com
vistas a alcançar o máximo proveito e eficiência nas ações desenvolvidas.
Aqui outra coisa muita ventilada em que trocamos muitas idéias. Quero
mostrar aos senhores o que tem sido feito na área social, ou seja, ação social.
Foram realizadas diversas ações que envolveram as comunidades vizinhas ao
centro com finalidade de dar-lhes conhecimento sobre os preparativos para o
lançamento, assim como conscientizá-los a não acessar a área do CLA durante
esse período em função do risco que poderia representar. É importante salientar que
o relacionamento das comunidades vizinhas com o centro é bastante antiga e muito
amigável.
A escolha de Alcântara foi conseqüência de conjunção de fatores favoráveis
que apontavam ser ali o melhor local do Brasil para as atividades de veículos
espaciais. Dentre outras, podemos destacar as seguintes vantagens: privilegiada
posição geográfica, próxima à Linha do Equador, o que garante economia de
combustível; de frente para o Oceano Atlântico, permitindo aos foguetes trajetória
segura sobre o mar longe de áreas habitadas; fácil acesso por terra e por mar, o que
facilita as atividades de logística e movimentação de grandes cargas; proximidade
com grande centro urbano e todas as vantagens que isso oferece em termos de
conforto e qualidade de vida.
Com a decisão de instalar o novo Centro de Lançamento em Alcântara foram
criadas imensas expectativas pela população local em termos de possíveis
benefícios que teriam com a chegada da Força. Mesmo não sendo a sua função
constitucional, nem o seu objetivo na região, a Força Aérea, desde o início,
preocupou-se em encontrar soluções para os mais graves problemas da
comunidade local. As enormes carências sociais e as dificuldades visíveis que a
população de Alcântara experimentava motivou uma série de ações de caráter social
por parte do Comando da Aeronáutica. Foram projetados e instalados cinco distritos
agrícolas e suas respectivas agrovilas ao reunir nessas comunidades pessoas que
ali estavam há mais de três séculos — aqui não foram pessoas, foram comunidades
que ali estavam.
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Uma das maiores preocupações no desenvolvimento desse projeto foi a
preservação dos laços culturais e familiares que uniam esses grupos. Cada família
assentada recebeu uma gleba rural de 15 hectares e um lote urbano de mil metros
quadrados, bem como uma residência de alvenaria.
Dentre outras benfeitorias, a FAB destinou a essas famílias equipamentos
comunitários como lavanderia, casa de farinha, casa de festa, campo de futebol,
escola, posto assistencial e igreja. Todos os distritos agrícolas são dotados de
eletrificação rural instalada por meio de acordo entre a FAB, o Governo do Estado
do Maranhão e a Prefeitura Municipal de Alcântara. Técnicos do CLA passaram a
prestar assistência técnica e agroveterinária nos distritos agrícolas e ajudaram a
implantar projetos com recurso do PROCERA de fruticultura irrigada, de coco anão,
banana, melancia, mamão e maracujá, incluindo financiamento de equipamentos
implementados, implementos, ferramentas agrícolas e tratores. Grande parte da
produção desses distritos agrícolas é adquirida pelo próprio CLA para ser utilizada
nas refeições servidas aos funcionários civis e militares, isso garante renda e
permite estabilidade financeira às famílias que antes viviam da agricultura de
subsistência e de pesca artesanal.
Na busca de colaborar com as comunidades vizinhas, ainda fomos
responsáveis por levar energia elétrica até a sede do Município de Alcântara;
melhorar as condições das estradas de acesso à região; construir o porto da cidade,
recentemente ampliado e melhorado também com recurso da Aeronáutica; possuir e
ajudar a manter uma escola de Primeiro Grau Caminho das Estrelas; doar dois
ônibus para o transporte escolar para as crianças da região; realizar constantemente
ação cívica e social, oportunidade em que são oferecidos medicamentos,
tratamentos médicos, dentários e assistência social aos moradores carentes da
região.
Outra ação constante da Força em proveito das comunidades vizinhas
relaciona-se aos pedidos de emergência médica, ocasião em que doentes graves
ou pessoas acidentadas são transportadas em aeronaves do CLA para a cidade de
São Luís, onde inúmeras vidas são salvas com esses procedimentos.
Outros benefícios que o CLA proporciona para as comunidades está ligado a
oportunidade oferecida aos jovens da região que prestaram serviço militar inicial no
Centro de Lançamento. Além de ocupação regular com renda garantida esses
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jovens têm chance de adquirir conhecimentos profissionais que lhes garantem futuro
melhor, até mesmo com oportunidade de seguir carreira militar na Força Aérea.
O Município de Alcântara se beneficiou com a receita gerada pelo aumento da
atividade econômica na região e com a projeção nacional que o lugar ganhou a
partir da instalação do CLA, e ampliou o fluxo turístico e o interesse de agências de
fomento ao desenvolvimento econômico, além de organizações não-governamentais
que têm, atualmente, forte atuação na área.
Muitas outras ações realizadas pela FAB em proveito das comunidades
vizinhas têm tido o apoio possível, e é um trabalho que muito orgulha a nossa
instituição, porque tem sido sempre reconhecido pela sociedade local.
Resultados das ações de segurança: garantia de proteção eletrônica, garantia
do controle terrestre, marítimo e do espaço aéreo, incremento da segurança
organizacional do CLA, o que facilitou e otimizou os procedimentos operacionais
para o lançamento do VLS. Esse lançamento e a operação plena do Centro de
Lançamento de Alcântara permitirão que o nosso País passe a ter uma possibilidade
concreta de disputar uma importante fatia do mercado internacional de lançamento
de satélites e de toda a gama de prestação de serviços existentes no setor
aeroespacial, também como disse o nosso Ministro Roberto Amaral.
Muito obrigado.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) - Muito obrigada,
Tenente-Brigadeiro-do-Ar Luiz Carlos da Silva Bueno.
Comunico aos Srs. Deputados que contamos com a presença do Presidente
da Comissão de Ciência e Tecnologia, Deputado Corauci Sobrinho, pois 2
Comissões estão irmanadas em um só objetivo.
Concedo a palavra ao último convidado da Mesa, Dr. Luiz Bevilacqua,
Presidente da Agência Espacial Brasileira, que disporá do tempo regimental de 20
minutos, prorrogáveis.
O SR. LUIZ BEVILACQUA - Sra. Presidenta, Srs. Ministros, Sras. e Srs.
Deputados, terei pouco a acrescentar ao que foi dito, uma vez que os principais
temas já foram cobertos. Talvez seja perda de tempo repetir o que foi dito.
Entretanto, ressaltarei e reforçarei alguns pontos.
De fato, o programa espacial desenvolve-se em 3 objetivos principais: o
Centro de Lançamento de Alcântara, o programa de lançadores e o programa de
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satélites e aplicações. Como pano de fundo, temos a cooperação internacional e
nacional com as várias instituições que citarei brevemente.
Com relação ao VLS, devo dizer que o mesmo já foi bastante desenvolvido.
Acrescento, apenas, que o programa de desenvolvimento desses veículos
essencialmente foi feito entre os anos de 1985 e 1997 — ou seja, foram necessários
12 anos de trabalho —, e, pelo que sei, por uma equipe extremamente dedicada,
que contou com entusiasmo fora do comum.
Desejo falar um pouco das aplicações espaciais e da importância desse
programa para o Brasil. Hoje, nosso País não pode dispensar a tecnologia espacial.
Essa é uma tecnologia que teremos de desenvolver ou usar, queiramos ou não.
Para a vigilância de fronteiras, para manter sua soberania, para monitorar todos os
recursos naturais da Amazônia, para checar o desfloramento, o uso da terra, os
incêndios e as questões agrícolas e, enfim, para manter sua autonomia, um país
com a nossa extensão territorial necessita de um programa espacial. Acrescento um
ponto, às vezes por nós esquecido, porque se trata de uma questão mais recente:
trata-se da presença do Brasil nos acordos internacionais, como os acordos do clima
e da biodiversidade. Essas reuniões internacionais congregam países que
desenvolvem cenários e modelos profundamente assentados no desenvolvimento
de tecnologias espaciais. Seja a partir de imagens de faixa ótica e de imagens da
faixa de outras bandas de radares, os cenários se desenvolvem com o suporte
essencial da tecnologia espacial.
Portanto, em uma reunião dessa importância, se o Brasil não tem os dados
possíveis de serem coletados com os seus próprios satélites ou o seu próprio
desenvolvimento de programas que possam projetar esse cenário, estaremos em
uma situação de inferioridade e dificilmente teremos capacidade de tomar decisões
que sejam obtidas com os nossos próprios meios.
Quero chamar a atenção sobre isso. Existe um desenvolvimento muito ativo,
um desenvolvimento muito importante na projeção de cenários e isso tem sido cada
vez mais usado como medidas até para definir questões econômicas internacionais.
É uma outra questão que é importantíssima para a nossa autonomia.
Portanto, precisamos dessa tecnologia espacial. A decisão é a seguinte: ou
nós paramos o nosso desenvolvimento e estaremos então sujeitos à compra dessa
tecnologia, portanto, gastando recursos da mesma maneira e gastando recursos
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sem termos o controle total dos dados que nos são oferecidos, que nós poderemos
usar, ou então utilizaremos esses recursos para o nosso próprio desenvolvimento.
Quero lembrar aos senhores que o lançamento de um satélite com uma
massa mais ou menos de uns 300, 400 quilos está na ordem de 20 milhões de
dólares. É mais ou menos o que custa um VLS. Portanto, ou nós pagamos isso para
termos esses serviços ou nós desenvolveremos a nossa própria tecnologia.
Isso tem sido discutido na agência e com o Ministério de Ciência e Tecnologia
também e a nossa avaliação é que é indispensável que o Brasil continue nesse
caminho, composto por esses três setores, lançadores, satélites e o centro de
lançamento.
Reforço também a questão da intensificação da cooperação com
universidades e com o setor industrial. As universidades têm um contingente
admirável de pessoas competentes que não têm sido usadas ainda como poderiam
ser para cooperar no desenvolvimento de novas tecnologias no setor espacial.
Então, essa é uma das prioridades da agência nesse próximo ano com o novo
orçamento que teremos que usar no ano que vem.
Segundo, a intensificação de comentas ao setor industrial. Os próprios VLS e
esses foguetes da série sonda, que têm tido um sucesso muito grande, podem, já
estão maduros para serem encomendados no setor industrial, naturalmente no setor
industrial qualificado para a execução dessas tarefas, e isso daria um grande
impulso ao nosso desenvolvimento, inclusive um desenvolvimento integrado.
Os senhores provavelmente sabem que o Brasil hoje produz cerca de 5 mil
doutores por ano. Vários deles nas áreas de ciência e tecnologia e há um
armazenamento, quer dizer, não há vagas para todos esses doutores no setor
industrial e essa é uma área que aproveita pessoas extremamente qualificadas.
Se os senhores tiverem a oportunidade de visitar essas indústrias em São
José dos Campos, que estão atuando na área aeroespacial, é extraordinário o
número de pessoas qualificadas com mestrado e doutorado com a utilização de
suas teses no processo produtivo que se encontra naquela região. De modo que é
um absorsor fantástico desse número de pessoas muito qualificado que está sendo
posto no mercado. Então, esse é um outro ponto que queremos intensificar não
apenas para a indústria espacial, mas com essa visão global também de
aproveitamento da formação de recursos humanos.
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Um outro ponto também que queria ressaltar é a área científica. A área
espacial tem permitido um outro ambiente experimental, o ambiente de
microgravidade ou gravidade nula quando se tiver, praticamente nula, essa estação
espacial, por exemplo. Então, esse novo ambiente está permitindo já experimentos
que têm trazido conhecimentos na área biológica, na área de materiais, que vão ser
extremamente importantes para o conhecimento de certos fenômenos, por exemplo,
o funcionamento do Sistema Nervoso Central. Já existem resultados nessa linha,
cristalização de proteínas, na área de materiais. Então, essa área científica também
temos que considerar como importante para o País.
Quero reforçar também a cooperação internacional. Já foi mencionada a
cooperação com a China, que tem sido muito boa. Estamos intensificando a
cooperação com a Argentina. E quero ressaltar a importância e a urgência dessa
cooperação com a Ucrânia, que, além de proporcionar uma exploração comercial
com retorno a longo prazo de Alcântara com o veículo Ciclone-4, também nos trará
uma oportunidade excelente de cooperação tecnológica, não apenas de
transferência de tecnologia, que é um fato, mas principalmente de cooperação
tecnológica.
Já estamos em condições de cooperar tecnologicamente com outros países
praticamente de igual para igual em certos setores. Eu citaria como exemplo
propostas que têm sido feitas com a Ucrânia e outros países, como o
desenvolvimento de motores com propelente líquido e de sistemas de guiagem e
controle, que já foi citado aqui. Então, são várias oportunidades que surgem para a
cooperação e o desenvolvimento comum nessa área espacial.
Outros países, como os Estados Unidos, a Alemanha, a Rússia, a França, a
Comunidade Européia e Israel, são também parceiros que têm trazido benefícios
para nós nessa questão de cooperação científica e tecnológica.
Quero fazer um pequeno reforço na questão de quadro de pessoal. Já foi
comentado o déficit que temos no quadro de pessoal no CTA, em Alcântara, e
também no INPE. E esse déficit de quadro de pessoal é extremamente crítico nessa
área. Eu gostaria que os senhores considerassem isso, porque nessa área há uma
competição enorme com o setor industrial.
Tenho dados que me foram passados pelo CTA. Em 1997 saíram do CTA 90
engenheiros. Uma instituição que perde isso... Existe essa demanda na época de
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pico da EMBRAER. Toda vez que a EMBRAER ou outro setor aumenta sua
demanda por engenheiros, cria-se uma competição muito grande. Portanto, além de
completar esse quadro de pessoal, estamos considerando fortemente estudar uma
carreira que torna esse quadro competitivo com o setor industrial, porque é ali que
temos uma competição muito grande.
O aporte de recursos para a continuação do PNAE, que já foi citado, é
extremamente importante. Para o próximo ano, estamos revendo o orçamento em
face desse trágico acidente de Alcântara para recuperar o Centro e acelerar o
desenvolvimento da nova versão do VLS-1, que seria a versão 4, de maiores
encomendas no setor industrial. Também pretendemos firmar o acordo com a
Ucrânia e, portanto, permitir a implantação desse sítio para o Ciclone-4 e a infra-
estrutura geral de Alcântara e também complementar o nosso esforço na área de
satélite.
Quero lembrar aos senhores que temos dois satélites totalmente brasileiros,
os Satélites Coleta de Dados 1 e 2, que estão em funcionamento. O primeiro foi
lançado em 1992 ou 1993, se não me engano. Já tem uns 10 anos, já passou do
prazo, está funcionando felizmente. O SCD-2 também está funcionando. Mas são
prazos que já estão sendo ultrapassados.
Não podemos deixar de ter esses dados. É preciso reforçar esse nosso
programa com o projeto de lançamento de mais satélites de coleta de dados. Temos
cerca de 600 a 800 plataformas de coletas de dados espalhadas pela Amazônia e
no Atlântico. Essas plataformas coletam dados relativos à umidade, precipitação,
temperatura, vento etc. — dados meteorológicos —, que servem para previsão do
tempo e, além disso, proporcionam um registro de dados, uma série histórica, que
depois será extremamente útil para o processo de regressão e determinação de
precipitação e variação de temperatura no futuro.
Não podemos perder esses dados. Portanto, precisamos também continuar
com esses nossos satélites de coleta de dados. Isso é essencial e crítico para o
País. E por isso precisamos desses recursos para a continuação do PNAE, o
desenvolvimento do VLS com uma cooperação forte da indústria e universidades, a
recuperação do Centro de Lançamento com a implantação desse projeto com a
Ucrânia e a complementação do programa de satélites brasileiros.
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Chamo a atenção dos senhores. Comecei na Agência há pouco tempo, mas,
nos poucos lugares em que já estive, todos os diretores de agências equivalentes à
nossa e de países desenvolvidos me disseram que a atividade espacial não é
comercialmente viável. Se não houver poder de compra do Estado, ela não existe.
Não é business ainda.
A aviação é business. A Aeronáutica é uma atividade comercialmente difícil, é
muito competitiva. Vemos a EMBRAER competindo com outras empresas. Mas a
área espacial não é negócio ainda. No futuro pode se tornar, mas hoje tem que ter
um aporte importante do Estado através do poder de compra.
Finalmente, quero também citar que são preocupações do Ministério da
Ciência e Tecnologia e da Agência Espacial Brasileira essa questão fundiária e o
desenvolvimento das populações locais de Alcântara. Estamos trabalhando na
implementação de um plano de desenvolvimento econômico sustentável local para
essa região de Alcântara. Uma cooperação foi firmada entre a AEB, o PINUD e o
Ministério das Relações Exteriores. Está sendo implantado um projeto de
desenvolvimento local integrado sustentável nesse Município de Alcântara. Vários
passos já foram tomados com diversos parceiros.
Estamos implementando algumas ações que vão requerer a cooperação tanto
do MCT, com o qual já trabalhamos junto, como com a Aeronáutica, que também
está disposta a ajudar. Tem-se mostrado disposta a cooperar conosco também a
Advocacia Geral da União, porque há problemas complicados a serem resolvidos do
ponto de vista legal. Com a comunidade ativa da própria região também temos tido
cooperação. Além disso, contamos com o apoio do Governo do Maranhão, através
da Gerência de Desenvolvimento Social — GDS, do SEBRAE, que tem oferecido
apoio às pequenas e microempresas, do próprio CLA e da Prefeitura de Alcântara, o
Governo local.
Cito algumas das ações que já foram conseguidas ao longo desses anos.
Através desse programa, o Município de Alcântara foi incluído no Programa Fome
Zero do Governo Federal. Foi feita a regularização de 18 escolas rurais no
Município, estando atualmente aptas a fornecer certificados aos seus alunos. Houve
apoio do Estado do Maranhão na melhoria de 25 unidades habitacionais.
Programas de agentes comunitários de saúde estão sendo regularizados.
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Em relação ao meio ambiente, turismo e cultura, há um projeto de gestão
integrada de resíduos sólidos aprovado pelo pela Gerência de Meio Ambiente do
Estado do Maranhão. Cursos de capacitação pelo SEBRAE estão sendo oferecidos
nas áreas de empresariado, culinária, artesanato, liderança cooperativa e guia
turístico. Há um projeto forte, já bastante adiantado, para a questão de
desenvolvimento turístico da região.
Em relação à agropecuária, também há apoio do GEAGRO e do Governo do
Maranhão em vários projetos. E, finalmente, a regularização fundiária em articulação
com o CLA.
Essas são algumas idéias que quis trazer para complementar a exposição
dos que me antecederam.
Muito obrigado.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) - Muito obrigada, Dr. Luiz
Bevilacqua, Presidente da Agência Espacial Brasileira.
Vou passar a palavra primeiramente aos autores dos requerimento para
realização desta audiência pública. Podemos fazer um revezamento: 1 Deputado da
Comissão de Relações Exteriores e depois 1 Deputado da Comissão de Ciência e
Tecnologia, Comunicação e Informática.
O SR. DEPUTADO JOÃO ALMEIDA – Sra. Presidenta, gostaria de um
esclarecimento.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) – Pois não.
O SR. DEPUTADO JOÃO ALMEIDA – V.Exa. concederá a palavra aos vários
autores e só depois aos inscritos?
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) – Os autores de
requerimento têm preferência.
O SR. DEPUTADO JOÃO ALMEIDA – São quantos?
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) – São 5 autores da
Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática e 5 da Comissão de
Relações Exteriores.
V.Exa. gostaria de dar alguma sugestão, Deputado João Almeida?
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ SEM REVISÃONome: Comissão de Relação Exteriores e de Defesa NacionalNúmero: 1383/03 Data: 09/09/03
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O SR. DEPUTADO JOÃO ALMEIDA – Se V.Exa. conceder a cada um o
direito explícito do Regimento, não haverá tempo para os demais se pronunciarem.
Precisamos negociar essa questão.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) – Se os autores dos
requerimentos não se importarem, podemos adotar a seguinte ordem: 1 autor de
requerimento, 1 Deputado da lista de inscrição e 1 autor de requerimento. Repito:
pelo Regimento, os autores de requerimento têm preferência, porque eles
requereram a realização desta audiência pública.
Então, vamos começar; senão ficaremos aqui discutindo o óbvio.
Passo a palavra à Deputada Maninha, autora de requerimento.
Peço aos Deputados que façam perguntas objetivas, e não explanações.
O SR. DEPUTADO CÉSAR BANDEIRA – Sra. Presidenta, peço a palavra
para uma questão de ordem.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) – Pois não.
O SR. DEPUTADO CÉSAR BANDEIRA – Concordo com o Deputado João
Almeida. Inclusive, entre os inscritos, há 3 Parlamentares do Estado do Maranhão.
Nossos conhecimentos não são maiores que dos outros, mas mais aprofundados.
Também queremos ter oportunidade de falar.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) – Claro. V.Exa. terá a palavra
logo depois da Deputada Maninha.
O SR. DEPUTADO CÉSAR BANDEIRA – Muito obrigado.
A SRA. DEPUTADA MANINHA – Sra. Presidenta Zulaiê Cobra, Sr.
Deputado Corauci Sobrinho, Sr. Ministro José Viegas Filho, Sr. Ministro Roberto
Amaral, Sr. Luiz Bevilacqua, Sr. Tenente-Brigadeiro-do-Ar Luiz Carlos da Silva
Bueno, farei algumas perguntas, mas, em primeiro lugar, quero elogiar a forma
como o Governo vem tratando essa questão, que se tornou manchete de vários
jornais e assunto de interesse nacional.
Todos têm discutido a respeito, desde o cidadão comum até os intelectuais,
pesquisadores etc. Porque isso mexe com o que é mais caro ao brasileiro, que é a
sua auto-estima. Esse programa significa, para qualquer brasileiro, um pouco dessa
auto-estima que queremos tanto manter em relação ao mundo e ao nosso próprio
País.
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Por isso, elogio o Governo pela forma transparente com que está tratando tal
questão, expondo-se, revelando que não há mistérios e que deseja de forma clara
mostrar o que aconteceu em Alcântara.
Recebi alguns questionamentos e gostaria de transmiti-los a V.Exas. São
preocupações de servidores que trabalharam no programa aeroespacial. Gostaria
que tais perguntas fossem respondidas para que também não restassem dúvidas
sobre as questões que irei formular.
A primeira delas é com relação à suspensão da Operação São Luís.
Informações obtidas junto a funcionários do CTA/IAE dão conta de que a operação
de lançamento do VLS-1/VO-3, denominada Operação São Luís, sofreu uma
interrupção repentina a mando do Comandante da Aeronáutica.
As razões que levaram a tal decisão nunca foram devidamente esclarecidas,
nem mesmo as pessoas envolvidas diretamente na campanha do lançamento.
Sabe-se, contudo, que não se tratou de uma decisão técnica e que naquela ocasião
o VLS-1/VO-3 já se encontrava em adiantado estágio de integração na torre de
lançamento.
Tão surpreendente quanto a suspensão da Operação São Luís, foi sua
retomada a cerca de 2 meses depois, quando então os técnicos do CTA/IAE foram
novamente enviados a Alcântara. Considerando-se que a interrupção não foi
causada por questões técnicas, é primordial que sejam esclarecidos os motivos que
levaram à brusca interrupção da Operação São Luís, bem com sua posterior
retomada.
Segunda questão: segurança na casamata. A casamata, localizada a cerca
de 200 metros da torre de lançamento, tem, entre os seus objetivos, o controle, o
monitoramento do VLS. Quando ocorreu o acidente, vários funcionários estavam no
seu interior. Em função da sua proximidade com a torre de lançamento, a mesma
possui uma estrutura altamente resistente ao impacto de objetos.
Por ocasião do acidente, uma grande quantidade de gases tóxicos, resultante
da queima de 40 toneladas de combustível, foi liberada. Felizmente, em função da
direção do vento, no momento do acidente, essa nuvem de gás não se propagou em
direção à casamata. De acordo com relatos obtidos junto a técnicos do CTA, o
sistema de condicionamento de ar da casamata é desprovido de filtragem desses
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ SEM REVISÃONome: Comissão de Relação Exteriores e de Defesa NacionalNúmero: 1383/03 Data: 09/09/03
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gases tóxicos. Além disso — afirma esses mesmos técnicos —, não havia máscaras
de proteção disponíveis. Essa informação procede?
Registro que essas perguntas me foram enviadas. Portanto, gostaria que
V.Exas. nos esclarecessem a respeito.
Dispositivo Mecânico de Segurança — DMS. O jornal Vale Paraibano, em sua
edição de 31 de agosto de 2003, informa que, em sua concepção original, o sistema
de ignição dos motores do VLS dispunha de um sistema mecânico denominado
Dispositivo Mecânico de Segurança, DMS, cuja função era impedir, sob quaisquer
circunstâncias, a ignição dos motores.
Informações obtidas pelo Sindicato dos Servidores da Área de Ciência e
Tecnologia de São José dos Campos dão conta de que foi um desses dispositivos
que causou a falha na primeira tentativa de lançamento do VLS-1/VO-1, em 1997.
Naquela ocasião, um dos 4 propulsores, no primeiro estágio, não acendeu. A
comissão encarregada de analisar as falhas, instaurada, à época, pelo Ministério da
Aeronáutica, recomendou que esse sistema fosse aperfeiçoado para os próximos
veículos.
Especialistas da área de propulsão, consultados pelo Sindicato, nos
informaram — segundo eles — que dispositivos mecânicos são utilizados tanto nos
propulsores sólidos do Space Shuttle americano, quanto naqueles do Ariane-5,
francês. Informam ainda essas fontes que tais sistemas somente são
mecanicamente desativados nos minutos que antecedem ao lançamento — como
funcionava, no caso, o sistema do VLS-1.
Há outras perguntas, mas, para que os Deputados do Maranhão e demais
membros da Comissão possam também se pronunciar, depois as encaminharei por
escrito a V.Exas.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) – Muito obrigada, Deputada
Maninha.
Passarei a palavra aos nossos convidados, para responderem às perguntas.
Podemos começar com o Sr. Comandante da Aeronáutica.
(Não identificado) – Sra. Presidenta, pela ordem.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) – Pois não.
(Não identificado) – Solicito a V.Exa. que faça um bloco de 5 ou 6 pessoas.
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A SRA. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) – Sim, podemos fazer um
bloco de autores.
Aviso aos Srs. Deputados que há apenas 2 autores de requerimento da
Comissão de Ciência e Tecnologia. Portanto, toda aquela lista...
O SR. DEPUTADO JOÃO ALMEIDA – Se V.Exa. me permitir, gostaria
também de dar uma sugestão.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) – Pois não.
O SR. DEPUTADO JOÃO ALMEIDA – Os demais inscritos que tiverem uma
catilinária igual à da Deputada Maninha que a mandem pelo correio. A Deputada
Maninha escreveu isso em Quito, deveria ter mandado pelo correio.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) – Está bem, Deputado João
Almeida.
Passo então a palavra ao Deputado César Bandeira.
A SRA. DEPUTADA MANINHA – Sra. Presidenta, pela ordem.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) – Um instante, Deputada
Maninha.
Deputado João Almeida, ressalto que antes de V.Exa. falarão os Deputados
Paulo Marinho e Gastão Vieira, também do Estado do Maranhão.
O SR. DEPUTADO JOÃO ALMEIDA – Mas V.Exa. passou a palavra para
mim.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) – Passarei a palavra aos 3.
Informo a V.Exas. que temos tempo suficiente para que todos os inscritos se
pronunciem. Os Ministros estão dispostos a responder a todos os questionamentos.
Não temos pressa nenhuma. Estamos acostumados a trabalhar até a meia-noite —
ou mais.
Passo a palavra ao Deputado César Bandeira, do PFL do Maranhão. S.Exa.
está com a palavra.
O SR. DEPUTADO CÉSAR BANDEIRA – Sr. Presidente da Comissão de
Ciência e Tecnologia, Sra. Presidente da Comissão de Relações Exteriores, Srs.
Ministros e autoridades presentes, companheiros e companheiras, antes de ser
maranhense eu também fui Presidente da Comissão de Ciência e Tecnologia,
justamente na época em que discutíamos nesta Casa o acordo Brasil/Estados
Unidos, sobre o qual ninguém aqui se referiu.
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Mas eu queria me deter sobre Alcântara, que conheço bem, e tenho
autoridade de falar desse assunto, Presidente, porque sou engenheiro. Conheço o
início de Alcântara e participei dele ativamente, como Presidente da Comissão. Por
essa razão, tenho algumas considerações a fazer.
Na implantação do CLA, todos nós que estudamos a sua implantação
percebemos que houve em Alcântara um erro brutal da Aeronáutica com relação à
colocação e às transferências dos moradores que tinham a cultura centenária, que
foram transferidos para a agrovila sem nenhum treinamento. Com isso, criou um
problema social muito grande em Alcântara. Eles eram pescadores, foram
transferidos para essa agrovila com outras atividades.
Tive oportunidade, como Presidente, de levar a Comissão de Ciência e
Tecnologia até lá. Inclusive, neste recinto, temos algumas pessoas que me
acompanharam na ocasião. Lá realizamos uma audiência pública, o que foi o ponto
principal das discussões. Com isso criei uma Subcomissão, da qual era Presidente
a Deputada Luíza Erundina, que muito contribuiu para que a Agência Espacial e o
Ministério da Ciência e Tecnologia e a Aeronáutica realizasse reparos naqueles
erros iniciais. Posteriormente, os moradores transferidos para a agrovila foram
indenizados.
Com relação ao aspecto tecnológico, durante as visitas que fizemos a
Alcântara pudemos perceber que ficaram claras as dificuldades do Centro de
Lançamento por falta de verba, equipamentos obsoletos e tantos outros problemas
surgidos naquele local.
O atual Ministro da Ciência e Tecnologia disse, logo após a tragédia do dia
22, que um dos motivos daquilo haver acontecido seria a falta de verbas, com quem
concordei plenamente da tribuna da Câmara. Todos os que conhecem o sistema
espacial brasileiro sabem da carência de recursos naquele lugar. Está presente
conosco o ex-presidente da Agência, que pode colaborar conosco confirmando o
trabalho que tivemos naquela ocasião para a implementação de acordos, não só
com os Estados Unidos, mas com outros países, visando a viabilidade econômica do
Centro de Lançamento de Alcântara.
Realizamos, na Comissão de Relações Exteriores e na Comissão de Ciência
e Tecnologia, um amplo debate a respeito do acordo Brasil/Estados Unidos. Tanto
uma como a outra apresentaram sugestões ao Governo brasileiro, visando
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mudanças em um acordo mal redigido e mal conduzido que afetava não só a
soberania, mas era prejudicial à ciência e à tecnologia do nosso País.
Qual foi a nossa surpresa após essa longa batalha? O atual Governo, por
meio da ação de vários Parlamentares — e assisti a isso, Sr. Presidente — sugeriu a
retirada desse acordo, que acabou sendo retirado pelo Ministério da Ciência e
Tecnologia.
Pergunto: onde está esse acordo? Foram feitas as sugestões pelo Congresso
Nacional para que o Governo brasileiro mudasse esse acordo com os Estados
Unidos ou simplesmente ele foi retirado e jogado no esquecimento?
O que nos causa espécie é que um país que detém 80% da tecnologia
mundial de lançamento, que são os Estados Unidos, ser excluído e colocar a
Ucrânia, que não tem 3% do mercado internacional de lançamento de foguetes.
O que me causa espécie e queria que me fosse respondido é por que a
escolha dos técnicos russos e qual foi o critério para acompanhamento da tragédia
de Alcântara. Isso também me deixou um pouco apreensivo, porque aqueles que
detêm a tecnologia com maiores condições ficaram de fora e outros países que
detêm também essa tecnologia, como a França, não foram convidados. Qual foi o
critério para escolha dos russos?
Queria saber também não só do Ministro, mas do Presidente da Agência,
quais as providências para a reconstrução do Centro de Lançamento de Alcântara.
Porque se está falando apenas em apuração, mas não se está falando da
reconstrução. Qual o custo previsto, se existe essa intenção de reconstrução?
Queria falar mais a respeito de Alcântara, mas acredito que o meu tempo seja
curto, porque há outros companheiros que querem manifestar-se. Apenas queria
dizer que, como maranhense, criei, através de um projeto, o Fundo Tecnológico do
Maranhão. Eram recursos que poderiam ser gerados com a parte comercial do
Centro de Lançamento de Alcântara: 15% desses recursos seriam destinados às
universidades, ao centro tecnológico e à área social de Alcântara. Esse projeto foi
aprovado na Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática, foi
para a Comissão de Finanças e Tributação e caiu no esquecimento. Enfrentei uma
barreira muito grande com o então Governo Fernando Henrique Cardoso, com o
Ministro da Ciência e Tecnologia, que não queria que fosse aprovado esse fundo
porque queriam ver o Maranhão como hoje o maranhense vê os grandes projetos da
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Vale, da Alcoa, queriam ver só a fumaça dos foguetes passando na Bahia de São
Marcos, coisa que o maranhense hoje não aceita. Queria retomar esse projeto. O
Maranhão precisa participar desses recursos quando o Centro de Lançamento de
Alcântara tornar-se um centro de lançamento comercial.
Inicialmente, eram essas as minhas considerações.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) - Quero dizer aos Srs.
Deputados que aqui, na mesa, está o Sr. Cláudio Almeida, Presidente da
Associação das Famílias Vítimas do Acidente com o VLS-1. Pedi a S.Sa. que se
sentasse à mesa. S.Sa. trouxe uma correspondência em nome das viúvas e
familiares das vítimas do acidente:
“Aproveitando a oportunidade para comunicar a
V.Exas. que estaremos formando uma associação que
terá, como objetivo principal, não deixar que o programa
espacial brasileiro pare e, acima de tudo, que ele seja
tratado com a prioridade que merece, diante da sua
grandeza e necessidade para a soberania do Brasil”.
Fiz questão que S.Sa. se sentasse à mesa também, porque está entre os
nossos convidados.
Concedo a palavra, agora, ao Deputado Luiz Carlos Hauly, que também é
autor de requerimento.
O SR. DEPUTADO LUIZ CARLOS HAULY - Sra. Presidenta, Sr. Presidente,
Srs. Ministros, Sr. Comandante, Sr. Presidente da Agência, Presidente da
recém-criada associação, mais uma vez, o nosso mais profundo sentimento de
solidariedade a todas as famílias.
Primeiro: a importância da tecnologia espacial. Sim, concordamos e
entendemos que é fundamental a participação do Brasil.
Segundo: a posição do Brasil em relação aos parceiros está correta, tem de
ser com a Ucrânia mesmo, com os russos, associar-se a quem dividiu por décadas a
disputa espacial, tem tecnologia e pode ser sócio porque com a maior potência do
mundo, evidentemente, não seríamos mais que empregados deles.
Terceiro: não adianta apenas boas intenções. Acho que a questão
orçamentária é fundamental, não só orçamentária, mas também a luta contra o
contingenciamento.
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Vi o pedido da Agência, 187 milhões, e aprovaram, no PPA, quarenta e
poucos, apenas 25%. Então, parece que há muito conteúdo de cortes nisso, o que
compromete a qualidade do produto.
Sabemos que tecnologia não se improvisa: você tem ou não tem. E, quando
falta dinheiro, há compromisso, metafísico e financeiro curto, começa-se a
improvisar. Esse, também, é um problema.
Outro ponto: concordo que a questão da evasão de cérebros é um problema
sério e tem todo nosso apoio. Acho que a Comissão e o Congresso Nacional
deveriam debruçar-se de maneira global sobre a questão dos recursos humanos e
dos recursos financeiros, de forma geral, para o programa de tecnologia espacial
brasileira das três linhas: Alcântara, satélites e lançadores.
E, por último, quero dizer que, para aqueles que acompanham o processo,
fica a suspeita muito grande de que houve, realmente, algum tipo de problema.
Creio que até o manual de procedimento... Por que o combustível já estava colocado
antes do dia do lançamento?
Considero mesmo que a questão é comercial: se desenvolvermos a
tecnologia rapidamente, tomaremos posição no mercado mundial, e isso incomoda
muita gente.
Eram essas as minhas considerações.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) - Temos aqui, inicialmente,
os 3 Deputados. Acho que vou conceder palavra a mais 1, ficarão 4.
Tem a palavra a Deputada Terezinha Fernandes, que é autora também.
Depois, dou a palavra aos maranhenses que estão inscritos.
A SRA. DEPUTADA TEREZINHA FERNANDES - E do Maranhão também.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) - V.Exa. também é do
Maranhão, eu sei. Está mais tranqüila.
A SRA. DEPUTADA TEREZINHA FERNANDES - Exato. Quero
cumprimentá-la, cumprimentar os nossos convidados: o Ministro Roberto Amaral; o
Ministro José Viegas; o Tenente-Brigadeiro-do-Ar, Luiz Carlos da Silva Bueno; o
Presidente da Agência Espacial, Dr. Luiz Bevilacqua; o Deputado Corauci Sobrinho,
da Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática.
Em primeiro lugar, mais uma vez, quero apresentar aqui os meus sentimentos
aos Srs. representantes do Governo que atuam diretamente nessa área e ao
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representante dos familiares das vítimas, que aqui se encontra. Lamentamos
profundamente esse trágico acidente que causou um prejuízo muito grande. E acho
que o menor foi o financeiro, o grande prejuízo, na verdade, foram as vidas que ali
perderam-se e que, para nós, eram muitíssimo importantes — para os senhores
muito, mas para nós, também, brasileiros, porque eles detinham parte do
conhecimento acumulado pelos brasileiros ao longo das últimas décadas nessa área
espacial . Sem dúvida, foi um prejuízo muito grande para todo povo brasileiro.
Quero destacar que um dos problemas sobre os quais temos de nos debruçar
a partir daqui — acho que esta Comissão e esta Casa têm uma responsabilidade
muito grande nisso — é na discussão do problema espacial brasileiro. E um dos
graves problemas que nós, a grosso modo, à distância, podemos dizer que vêm
causando problemas ali é a questão financeira.
Visitei o Centro de Lançamento de Alcântara no início do meu mandato, em
fevereiro — se não me falha a memória —, conversei com o Comandante, à época,
Coronel Prates, que me recebeu muito bem, e pude perceber as graves dificuldades
financeiras por que passava o Centro de Lançamento de Alcântara.
Então acho que, a partir deste momento, temos de assumir um compromisso
maior com esse projeto, acompanharmos de perto, de fato, estarmos mais próximos,
a fim de que possamos não só dar sugestão, mas ajudar a dar sustentação ao nosso
projeto espacial brasileiro.
O primeiro questionamento que gostaria de fazer aos Srs. Ministros é com
relação à informação — e não sou profunda nem média conhecedora dessa área, na
verdade, sou apenas curiosa — de que o Brasil investe, além do nosso projeto
espacial, no projeto espacial da NASA. É um debate que esta Casa precisa fazer,
sobre o que é prioritário para nós. E não tenho conhecimento sobre que vantagens o
povo brasileiro terá com essa nossa participação no projeto da NASA. E me
pergunto, se não tivemos um projeto próprio desenvolvido, nem tecnologia nessa
área, se vai adiantar muito nossa participação nesse outro projeto. Essa é uma
questão que eu gostaria que os senhores nos respondessem, porque, de fato, tenho
dúvidas, embora minha posição, neste momento, é que para nós o prioritário é
investir em nosso próprio projeto, mas pode ser que eu esteja enganada. Então,
gostaria de ouvir dos senhores informações que nos esclarecessem melhor nesse
assunto.
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E também saber — acho que o Ministro Roberto Amaral foi quem afirmou há
pouco que 130 milhões seriam investidos, nos próximos anos para que fosse feito
mais um lançamento, o 4º lançamento, ainda no Governo Lula — quanto seria
investido nesse projeto, e qual é a previsão de investimento para o outro projeto,
para nossa participação no projeto da NASA, nesse mesmo intervalo de tempo.
Quanto seria gasto?
A outra pergunta é uma dúvida também, porque se comenta que nosso
projeto ainda utiliza equipamentos que podem ser considerados obsoletos. Se, neste
momento, considerando-se o acidente que aconteceu, vai-se fazer uma revisão
desse projeto, para que possamos, a partir daqui, começar sobre um novo patamar,
aplicando equipamentos e tecnologias mais adequadas, mais atualizadas, de acordo
com o mercado atual nessa área.
A vantagem do lançamento a partir de Alcântara, todos sabemos disso — e
por isso é que muita gente tem interesse em que nosso projeto não vá para a frente,
não tenha sucesso —, é nossa localização, porque, a partir dali, estamos a 2.3 graus
ao sul do Equador. Próximo de nós há a base de Kourou, na Guiana Francesa, a 5.6
graus ao norte. Mas já há uma base móvel, a Sea Launcher, se não me engano,
construída a partir de um consórcio liderado pelos Estados Unidos, que poderá,
num futuro muito próximo, ser adversária nossa, já que ela pode se localizar na linha
do Equador. Quais as possibilidades de perdermos esse trem da história, perdermos
esse lugar privilegiado que temos hoje, relativo à localização? Isso se os senhores
tiverem informação nessa área. Qual é possibilidade de vir a dar certo a junção da
plataforma com a embarcação que traz o satélite para ser lançado, de modo que
possam se juntar em alto mar e o lançamento ser feito a partir dali, sem maiores
despesas para eles, considerando que hoje o problema, na verdade, parece-me que
é basicamente esse. Qual é a possibilidade que temos de avançarmos, num futuro
não muito distante, para não perdermos essa posição privilegiada de que dispomos
hoje?
Uma das coisas que tem levantado muito discussão, principalmente no
Maranhão, são as causas do acidente. E um debate forte que se trava é a
possibilidade de sabotagem. Acho que foi o Tenente-Brigadeiro-do-Ar Luiz Carlos
que levantou a questão do trabalho de patrulhamento que foi feito, dos cuidados que
tiveram no sentido de se evitar exatamente esse tipo de problema, a sabotagem.
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Mas sabemos que a Baia de São Marcos é um local onde aportam navios de várias
partes do mundo, que ficam ali dias, aguardando a entrada no porto para embarcar.
Não haveria, a partir dali também, a possibilidade de que, através de algum tipo de
equipamento, ondas eletromagnéticas, pudesse se provocar esse acidente?
Fiquei feliz com as observações feitas por Luiz Bevilacqua relativas às
questões sociais, que, acredito, serão implementadas a partir daqui, porque essa é
uma reivindicação antiga, que vem inclusive causando problemas de relacionamento
entre a população e o Centro de Lançamento.
A população hoje em Alcântara vê o Centro de Lançamento como algo
prejudicial, danoso aos seus interesses, porque eles tiveram os seus interesses
prejudicados. Famílias foram deslocadas das suas residências, locais em que
moravam há anos.
Temos terras que são remanescentes de quilombos que nunca tiveram o seu
direito garantido. Temos ali pessoas que viviam da pesca, da agricultura familiar e
que mudaram todo o seu modo de vida em função do deslocamento e que não tem a
titulação das suas terras garantidas até hoje. Enfim, mudou-se o modo de vida de
grande parte da população de Alcântara. Infelizmente, até agora, essas questões
não haviam sido levadas em consideração.
Quando estive em Alcântara, este ano, o comandante informou-me sobre a
parceria do Governo Federal com o Governo do Estado e com o do Município. De
fato, isso não acontece. A própria estrada, que tem de transportar do porto até a
base veículos que são sensíveis, equipamentos que são sensíveis, aquela estrada –
conheço-a porque ando por lá, de vez em quando estou em Alcântara – é
simplesmente uma verdadeira tábua de pirulito, que poderá causar, inclusive,
prejuízos muito grande à base.
A Prefeitura de Alcântara não tem absolutamente condições de dar alguma
contrapartida em relação aos graves problemas sociais que a população de
Alcântara enfrenta. Há pouco tempo, parece-me que o Prefeito foi afastado porque
não estava pagando o salário dos funcionários.
Há uns meses convidei o Ministro Roberto Amaral para ir lá discutir com a
comunidade esses problemas. Infelizmente, devido ao problema de agenda, não foi
possível. Mas há que se fazer um debate entre o Centro e aquela comunidade.
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Ministro Viegas, ao mesmo tempo que temos no Brasil o de mais avançado
em tecnologia na área espacial, em Alcântara, do outro lado há uma pobreza
extrema. Acho que não é interessante, não é isso o que queremos. O povo brasileiro
quer que o projeto dê certo. Sou defensora disso. Temos de buscar mais parcerias
com outros países que possam nos ajudar, principalmente transferindo tecnologia,
mas precisamos respeitar os direitos e interesses daquela comunidade, que convive
ali paralelamente com aquele projeto.
Digo que com relação à questão da presença dos russos, confio nos
senhores. Acredito que se o fizeram é porque certamente reúnem as condições de
buscar, juntamente com a equipe brasileira, as respostas de que precisamos.
Digo também que recebi a carta da Associação das Famílias de Vítimas do
Acidente, da mesma forma que também recebi o documento dos funcionários do
CTA e do INPI, no sentido de pedir apoio para que se crie uma comissão
independente que investigue as causas daquele acidente. Digo que estamos
solidários com o Governo, estamos aqui no sentido de ajudar, a fim de buscarmos
alternativas para que possamos resolver, ter o nosso programa espacial exitoso e o
Brasil possa fazer parte do restrito mercado de países que detêm esse
conhecimento e essa tecnologia.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) - Vou dar a palavra aos
nossos convidados, os Ministros, atendendo a 4 perguntas: da Deputada Maninha,
Deputado César Bandeira, Deputado Luiz Carlos Hauly e Deputada Terezinha
Fernandes.
O SR. DEPUTADO IVAN RANZOLIN - Quero fazer uma sugestão, Sra.
Presidenta. Data venia, peço aos Deputados que sejam mais sucintos. Ao final, que
eles fizessem a exposição, porque as perguntas serão mais ou menos no mesmo
sentido.
O que queremos ouvir, na realidade, são os Ministros e as autoridades.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) - Está certo. A sua sugestão
é para continuar os Deputados?
O SR. DEPUTADO IVAN RANZOLIN - Quero que os Deputados façam
perguntas, porque os Deputados do Maranhão, evidentemente, têm uma história
mais próxima.
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A SRA. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) - Está certo. São Paulo
também tem história, porque os mortos são todos de São Paulo.
O SR. DEPUTADO IVAN RANZOLIN - Bom, estou dizendo história ligada.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) - Então, vamos lá. A sua
sugestão é aceita por todos os Srs. Deputados? Dou a palavra a todos os inscritos,
a todos autores de requerimento, e eles vão responder tudo de uma vez só? Penso
que é melhor responder a esses 4 Parlamentares e, depois, nós continuamos as
perguntas com mais 4 Deputados, com a devida vênia.
Com a palavra o Ministro da Defesa, Dr. José Viegas Filho.
O SR. MINISTRO JOSÉ VIEGAS FILHO - Muito obrigado, Deputada Zulaiê
Cobra, vou cooperar com todos. Buscarei ser muito conciso nas minhas respostas,
que, ademais, serão apenas parciais, porque muitos dos pontos aqui tocados não
cabem a mim responder.
Em primeiro lugar, eu quero registrar a presença do Sr. Cláudio Almeida.
Presto, por meio dele, uma vez mais, as minhas homenagens aos técnicos falecidos
em Alcântara. Estarei com os familiares das vítimas, na quinta-feira, em São José
dos Campos. Peço que seja transmitida toda a minha solidariedade e a
solidariedade do Governo brasileiro. Congratulo-me com a sua atitude, que é a
atitude dos referidos familiares, que, desde o primeiro momento, expressou o desejo
de manter vivo o programa espacial brasileiro. Isso é uma enorme demonstração de
perseverança, de força, de fé, de confiança no futuro que todos vocês estão dando.
É um exemplo maravilhoso, e a Nação certamente se orgulhará de segui-lo. Assim ,
também agradeço a manifestação do Deputado Hauly e da Deputada Terezinha
Fernandes no sentido de ratificar o apoio ao prosseguimento do projeto espacial
brasileiro. É evidente que serão necessários recursos adicionais para que nós nos
recomponhamos dos danos materiais causados pelo acidente, uma vez que os
danos humanos são irrecuperáveis.
Com relação aos questionamentos da Deputada Terezinha Fernandes sobre
a presença de navios estrangeiros e de eventuais sinais eletromagnéticos, eu quero
lhe dizer que, desde o dia 15 de agosto, não havia mais navios estrangeiros na área.
Nós acompanhamos os navios estrangeiros que estiveram presentes. Eram
basicamente 2 navios estrangeiros que operavam para a PETROBRAS, mas que se
afastaram da área duas semanas antes do acidente. Também havia um navio
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norte-americano, que tinha plano de navegação conhecido, e que, portanto, não
estava fazendo nenhuma missão extravagante, mas que abandonou a área no dia
15 de agosto.
Quanto aos sinais eletromagnéticos, segundo toda a informação de que eu
disponho — e eu as busquei —, uma das poucas certezas que nós temos é de que
não houve emissão de sinais eletromagnéticos na hora do acidente, porque nós
estávamos especialmente preparados para isso, ou seja, se houvesse sinais
magnéticos, nós poderíamos reagir em tempo real. Então, não houve sinal
eletromagnético na hora do acidente.
Quanto à questão social que a senhora traz, eu quero lhe dizer que é de todo
interesse do Ministério da Defesa, nas questões que ele se envolve, e certamente do
Governo brasileiro como um todo dar toda atenção a esta questão de corresponder
aos direitos das populações locais, tanto pela consciência social, que todos os
governantes devem ter, como, especificamente, porque é do nosso interesse
estabelecer uma relação de solidariedade com a população local. Isso certamente
aumentará, em muito, a segurança da base dos nossos próximos lançamentos. De
maneira que a senhora conte com a devida atenção do Governo para essa questão.
Quanto à presença de técnicos russos, que o Deputado Bandeira abordou:
por que russos?
O SR. DEPUTADO CÉSAR BANDEIRA - Não é por que russos, mas qual o
critério da escolha dos russos.
O SR. MINISTRO JOSÉ VIEGAS FILHO - Sim. Por que russos? Porque nós
podemos esperar uma cooperação não só da Rússia. Também há outros países
interessados de uma maneira mais franca e desinibida do que outros países que ou
expressaram sérias reservas e resistências ao desenvolvimento do programa
espacial brasileiro, ou que, por serem concorrentes diretos nossos, é natural que,
com relação a eles, nós nos acautelemos um pouco mais, embora não tenhamos
nenhuma suspeita a respeito de suas atitudes. Essa é a explicação.
Além disso, há uma outra explicação, os técnicos russos que nos visitam
neste momento têm alta competência técnica e têm experiência específica nesse
campo de acidente ocorrido.
Quanto à cooperação brasileira com o programa da NASA. Não, o Brasil,
salvo engano, que o Ministro Roberto Amaral corrigirá, a cooperação que o Brasil
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desenvolve não é com a NASA, é com a Estação Espacial Internacional, que é um
programa internacional. Aí, realmente, temos um programa de cooperação
tecnológica com eles. São peças produzidas no Brasil, que serão incorporadas à
estação. Além disso, temos um astronauta em treinamento.
Quanto a perder o trem da história, risco que todos nós corremos e que a
carência de recursos acentua, para que nós não percamos o trem da história será
necessário que nós invistamos um pouco mais no projeto, de uma maneira mais
sistemática, mais segura, mais continuada.
Não acredito que as bases móveis, a que a senhora se referiu, sejam os
nossos principais rivais. As bases móveis, primeiro, têm um custo de operação
extraordinariamente alto; segundo, elas devem operar próximas às costas da zona
do Equador, portanto, próximas às costas brasileiras, servindo-se de serviços
logísticos que estão na costa. Não são muitos os lançamentos feitos a partir de
bases móveis.
A viabilização comercial da base de Alcântara, que certamente nos ajudará
muito a dar prosseguimento ao nosso programa espacial, requer a reconstrução da
nossa torre, requer o desenvolvimento de cooperação internacional com outros
países. Estamos avançado no programa de cooperação com a Ucrânia. Temos uma
boa chance de fechar as negociações e de desenvolver com eles um programa de
lançamento de satélites, inclusive de terceiros países, com lançadores ucranianos
que serão desenvolvidos especialmente para esse tipo de operação. Será
necessário também investimento adicional para isso.
Quanto ao acordo de salvaguardas com os Estados, que o Deputado
Bandeira também questionou. A respeito do que o Deputado perguntou, eu posso
lhe dizer que o assunto não está morto. Ao contrário, eu recebi comunicações do
Governo americano que são bastante promissoras quanto à retomada de
negociações que poderão permitir que cheguemos a um resultado almejado por nós,
ou seja, ter um acordo de salvaguarda com os Estados Unidos que viabilizará o uso
da base para lançamento comerciais, uma vez que os americanos detêm
praticamente 90% do mercado de satélites. Tudo isso em condições de pleno
respeito a nossa soberania.
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Já dei conhecimento dessas novidades para o Ministro da Ciência e
Tecnologia e para o Ministro das Relações Exteriores. Nós vamos trabalhar e
estamos trabalhando nesse sentido em bases novas.
Obrigado.
O SR. DEPUTADO CÉSAR BANDEIRA - Presidente, eu queria, só para
completar, perguntar ao Ministro se vai continuar aquele acordo com as sugestões
ou se vai ser feito novo acordo com os Estados Unidos no caso de haver
entendimento entre os países.
O SR. MINISTRO JOSÉ VIEGAS FILHO - Posso responder?
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) - Pode.
O SR. MINISTRO JOSÉ VIEGAS FILHO - Nós vamos tomar como base a
parte do acordo que não foi contestada pelos Srs. Deputados, e fazer um processo
de revisão do acordo naqueles pontos que foram objeto de contestação.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) - Com a palavra o Sr.
Ministro da Ciência Tecnologia.
O SR. MINISTRO ROBERTO ÁTILA AMARAL VIEIRA - Sr. Presidente, Srs.
Parlamentares, serei muito rápido, porque parte das informações que eu devo ao
Plenário, já foram antecipadas pelo Ministro Viegas.
Vou responder sem ordem dos questionamentos. Primeiro, os lançadores
ucranianos são dos melhores do mundo. Essa série, a série Ciclone, de 103
lançamentos, teve apenas 3 insucessos. Portanto, é uma tecnologia de altíssima
segurança e de altíssima qualidade.
Estamos muito atentos à questão social. Recebi vários Parlamentares no
Ministério, discutimos isso inclusive com a Deputada Terezinha Fernandes, e recebi
um relatório da Deputada Luiza Erundina. Estávamos marcando audiência em
Alcântara, com a presença do Ministro das Cidades, quando os fatos conhecidos
tornaram-na inviável. Estamos conscientes do fato. Concordo com o Deputado que a
forma de instalação, a metodologia, não foi a correta, mas encontramos o fato e
vamos tentar corrigi-lo.
O Presidente da Agência Espacial Brasileira fez um relato de providências
que já estamos tomando. Temos uma Secretaria no Ministério só para cuidar disso e
estamos em entendimento com o Governo do Estado do Maranhão. Estive em São
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Luís, na semana passada, assinando acordos nesse sentido com o Governador
José Reinaldo; o acordo é para a construção da Estação Internacional Espacial.
Encontrei, no início do ano, para este exercício uma previsão em torno de 4
milhões, mas fiz um levantamento junto a autoridades — o Brigadeiro Reginaldo
chefiava a Ciência e Tecnologia do Ministério da Defesa — e chegamos à conclusão
de que estávamos, pura e exclusivamente, transferindo recursos para a Boeing. As
encomendas que ficavam para a indústria brasileira, na expressão conhecida, eram
“porcas e parafusos” e os demais equipamentos, numa intermediação com a
EMBRAER, seriam feitos para a Boeing.
Entendi que num momento de tanta dificuldade não poderíamos nos dar o
luxo de investir na indústria aeronáutica americana. Então paramos essa
cooperação e o novo Presidente da Agência espacial Brasileira, Professor
Bevilacqua, retomou em bases que julgo aceitáveis. São bases que respeitam os
interesses brasileiros, a saber: só vamos assumir compromissos com aqueles
equipamentos que puderem ser feitos na indústria brasileira e que transfiram
tecnologia para a indústria brasileira. Eles estão aceitando a nova posição do
Governo brasileiro e para o Orçamento de 2004 foi prevista importância de 6
milhões, o que são exatamente 3% do total dos recursos da Agência espacial
Brasileira.
Há no bojo desse acordo um outro que é o envio de um astronauta brasileiro
por um dos veículos da NASA. Já estava sem data marcada, porque fizemos um
acordo para a viagem do astronauta brasileiro de investir na sua formação e colocá-
lo à disposição da NASA, mas não cobramos data para o seu vôo. Evidentemente,
esse vôo foi mais uma vez postergado com o último acidente. Não sabemos se a
defesa dos interesses brasileiros pode retardar ainda mais a viagem do nosso
astronauta, que hoje está pronto, já foi treinado e está à disposição da NASA, a
quem presta serviços.
Os Estados Unidos não têm 80% da tecnologia, eles têm 80% do mercado
civil. Nós não temos nenhuma necessidade de reconstruir o centro de lançamentos
— ele não foi atingido; foram atingidos, pura e simplesmente, o veículo e a
plataforma correspondente àquele veículo. Por exemplo, quando fixarmos o acordo
com a Ucrânia, teremos outro sítio dentro do centro de lançamento e, portanto, uma
plataforma adequada ao ciclone.
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Às informações precisas do Ministro da Defesa sobre por que os russos,
quero acrescentar mais uma razão: eles se ofereceram. Nossas restrições ao acordo
de salvaguarda com os Estados Unidos são as mesmas que fez o nobre Deputado:
a forma da negociação e os termos, que, do meu ponto de vista, afetam a soberania
e os interesses brasileiros, que foram corrigidos — e muito bem corrigidos — pela
Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática, na avaliação e na
apreciação do acordo de salvaguardas com a Ucrânia. Todos os interesses de
nosso País ali foram preservados, e ouso dizer que ele aponta para um caminho de
negociação. Não fosse arriscado dizê-lo, eu diria que os Estados Unidos estão
retomando as negociações exatamente porque o Parlamento brasileiro soube
encontrar uma alternativa, quando muito se apostou que não teríamos alternativa.
Obrigado.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) – Concedo a palavra ao
Comandante da Aeronáutica, Tenente-Brigadeiro-do-Ar Luiz Carlos da Silva Bueno,
para responder às questões técnicas feitas pela Deputada Maninha.
O SR. LUIZ CARLOS DA SILVA BUENO – Muito obrigado pelas perguntas,
que devem provir de atentos participantes do VLS. Tudo isso é muito importante
para nós e, como vê V.Exa., não estamos escondendo nenhuma informação,
estamos respondendo a todas as perguntas.
Sobre os dispositivos mecânicos de ignição, realmente houve suspeitas e,
tendo havido falha na primeira vez, passou-se a usar o dispositivo eletrônico, que já
havia sido testado em vários outros foguetes de sondagem sem nunca oferecer
nenhuma falha. Por esse motivo se estava mudando a modo de operação, mas,
antes de se empregá-lo no VLS — e V.Exa. há de convir tratar-se de foguete bem
mais avançado —, checamos bastante tal dispositivo de segurança, que, por
enquanto, aparentemente, não apresentou nenhuma falha.
Quanto à suspensão da Operação São Luís, fui eu quem a determinou. Isso é
muito normal: até quando já estávamos lá, com o foguete montado dois dias antes,
atrasamos seis horas numa contagem regressiva. Há dispositivos técnicos, que são
necessidades técnicas, que muitas vezes verificamos de longe. Por exemplo, nessa
época, achamos que havia necessidade de comprar determinados equipamentos de
segurança de comunicação entre a base, o CTA e Brasília, o que fizemos. Esse
dispositivo, por exemplo, foi fabricado por nosso próprio pessoal, antes da
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necessidade de comprar equipamentos e tudo o mais. Mas não havia nada técnico a
respeito do foguete, não houve nenhuma ingerência a respeito disso.
Quanto à segurança da casamata, ela dista cerca de 100 metros do local de
lançamento, e quem lá estava realmente não sofreu nenhum acidente, nem por
calor, que não chegou ao abrigo. Temos feito experiências dentro do CTA, onde
sempre estamos queimando combustível, sempre estamos fazendo simulações
como se fosse um foguete. E imediatamente os gases se dissipam. Pela
temperatura, eles sobem imediatamente e não se propagam. E, qualquer vento que
haja, eles nunca chegam à distância de 100 metros. Não há possibilidade de isso
acontecer. Portanto, esses gases nunca vão atingir essa casamata. V.Exa. e todos
os Deputados podem ficar certos de que damos muita prioridade à questão da
segurança do homem. Esse acidente só nos pegou de surpresa, porque, segundo
nossa avaliação, não havia o menor perigo. Por isso, tínhamos 21 homens nessa
plataforma. E eles também sentiram isso.
Quando existe qualquer operação em que haja risco, só entra uma equipe. Os
procedimentos seriam feitos justamente por uma equipe de 2 homens que iriam
colocar os iniciadores nos outros 2 foguetes. Seriam 2 pessoas mais e todos os
outros estariam fora. Esses homens estavam embaixo do foguete, num alojamento
embaixo, quando houve o acidente. Não aconteceu nada com eles, porque estavam
dentro do dispositivo de segurança. Então, esse foi o problema.
Creio que respondi todas as perguntas de V.Exa.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) - Vou passar a palavra ao
Deputado Corauci Sobrinho, que também é autor de requerimento.
O SR. DEPUTADO CORAUCI SOBRINHO - Obrigada, Deputada Zulaiê
Cobra.
Quero apenas lembrar que um dos autores de requerimento, Deputado Bispo
Wanderval, ainda vai usar da palavra. Quero também registrar que temos na nossa
Comissão um relatório muito preciso, do ano passado, elaborado pela Deputada
Luiza Erundina, que foi encaminhado novamente, este ano, ao Ministro da Ciência e
Tecnologia, Roberto Átila Amaral Vieira, e está à disposição de todos os Srs.
Deputados. Em relação a essas questões que estão sendo debatidas aqui,
especialmente na área social — a Vila antiga de Pescadores, lembrada pela
Deputada Terezinha Fernandes —, esse relatório é bastante importante, no meu
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entendimento, para que possamos avaliar melhor a situação atual. De modo que
tenho certeza de que a Deputada Luiza Erundina, que vai falar daqui a pouco
também, vai tocar nesse assunto. Mas, como Presidente da Comissão, quero
colocar à disposição de todos os interessados esse relatório técnico e minucioso,
elaborado pela Deputada Luiza Erundina e aprovado pela Comissão.
Gostaria de fazer rapidamente algumas perguntas. Inicialmente quero saudar
o Ministro da Ciência e Tecnologia, o Brigadeiro Luiz Carlos da Silva Bueno, e o
Presidente da Agência Espacial Brasileira, Luiz Bevilacqua. Registro também nossa
solidariedade ao representante da Associação dos Moradores. Minhas perguntas
são mais em função do que ouvi aqui hoje do que propriamente em relação às
questões específicas do acidente.
O Brigadeiro fez uma menção a um roubo de 400 metros de cabos. A minha
pergunta é exatamente essa. Gostaria de que o Brigadeiro ou o próprio Ministro
respondesse. Se numa base espacial alguém pode ingressar — estou imaginando
que alguém entrou de fora para dentro —, extrair dali, roubar, para usar a expressão
do Brigadeiro, 400 metros de cabos, e sair de lá com esse material, sem ser
molestado — se isso foi ou não comentado aqui —, não é também crível supor que
alguém pode ingressar numa base espacial, ou pelo mar ou pela terra, ou por
qualquer circunstância, e providenciar, digamos, um processo de sabotagem? Essa
é a primeira pergunta que formulo ao Brigadeiro.
A outra pergunta é dirigida ao Sr. Luiz Bevilacqua, que também vai, de certa
maneira, nessa linha da preocupação ou com a desinformação ou com a falta de
controle — e não diria falta de controle, porque já foi mostrado aqui hoje que havia
controle. Mas o Sr. Bevilacqua, no dia do acidente, ao ser inquirido pela imprensa
sobre uma eventual explosão, disse o seguinte — eventual, não, porque a imprensa
estava falando da explosão: “Só se for de um foguete de São João”. E toda a
imprensa mostrou esse fato.
Sem entrar no mérito de uma declaração evidentemente infeliz, qualquer um
de nós pode cometer uma incontinência verbal, a pergunta que eu quero fazer é se
isso não pertenceu a um sistema que, ao mesmo tempo que era de falta de controle,
pode ter sido também de um sistema de desinformação de alguém que, afinal de
contas, é Presidente do Programa Espacial Brasileiro.
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O nosso Presidente declarou que os recursos humanos das universidades
estão sendo pouco aproveitados pelo sistema espacial brasileiro. Eu queria que
S.Exa. nos relatasse qual a razão dessa pouca utilização. Quem fez essa afirmativa
foi o Dr. Luiz Bevilacqua.
Por último, eu queria perguntar aos 2 Ministros, sei que as investigações
estão apenas no início, mas se o Ministro da Defesa e o Ministro de Ciência e
Tecnologia descartam de pronto qualquer possibilidade de sabotagem nesse
acidente trágico para o nosso País.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) - Com a palavra o Deputado
Gastão Vieira, o primeiro inscrito.
O SR. DEPUTADO BISPO WANDERVAL - Pela ordem, Sra. Presidente.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) - Estamos seguindo autores
e lista. V.Exa. não é o próximo. Ainda temos 6 autores. Depois, sim, na outra leva
será outro autor. O Deputado Gastão Vieira é o primeiro inscrito da lista, Deputado
Bispo Wanderval. S.Exa. chegou no começo da explanação e somente agora vou
conceder a palavra a S.Exa.
O SR. DEPUTADO BISPO WANDERVAL - Longe de mim, Sra. Presidenta,
contestar V.Exa.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) - Tenho certeza disso,
Deputado Bispo Wanderval, até porque V.Exa. é um bispo.
Com a palavra o Deputado Gastão Vieira.
O SR. DEPUTADO GASTÃO VIEIRA - Sra. Presidenta, Sr. Presidente da
Comissão de Ciência e Tecnologia, Srs. Ministros, Sr. Tenente-Brigadeiro-do-Ar Luiz
Bevilacqua, vou fazer duas perguntas objetivas e uma ironia.
Primeiro comentário: Tenente-Brigadeiro, fiquei profundamente preocupado
quando V.Exa. disse que roubaram 400 metros de fios da base. Como representante
do povo de Alcântara, tenho a dizer a V.Sa. que eu, como Deputado Federal, fui
barrado sempre que tentei chegar no aeroporto de Alcântara, controlado pela
Aeronáutica, sem licença prévia. Portanto, com essa insinuação pode alguém
interpretar que o pessoal de Alcântara foi lá. Tenho pelo senhor o maior respeito, a
maior consideração, e gostaria que o senhor rapidamente esclarecesse, se assim
lhe parecer necessário, o sentido dessa afirmação.
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O segundo comentário eu faço ao Sr. Ministro da Ciência e Tecnologia.
Gostei muito da sua posição no dia do acidente ao afirmar que o problema era falta
de verbas. Acompanhando aquele projeto desde o final do Governo Sarney,
passando por todos os Presidentes, ultimamente estavam preservados os
equipamentos necessários ligados ao lançamento, mas as casas estavam fechadas,
o mato tomava conta da base, realmente havia uma interrupção de verba. E eu
lamentei, fiquei muito triste porque no dia seguinte V.Exa. recuou daquela posição,
que era uma posição que daria a este debate uma característica extremamente
apropriada.
Último comentário, Tenente-Brigadeiro. O que acontece é que um jornal do
Maranhão, de circulação maior no Estado, circula no dia do acidente com o seguinte
comentário: a Aeronáutica, preocupada, deslocou aviões, etc., com a possibilidade
de uma sabotagem etc. E às 13h30 aconteceu o acidente.
Eu quero fazer duas perguntas objetivas. Primeiro, o senhor já admitiu a um
professor da Universidade Federal do Maranhão, ucraniano, que não é usual 21
pessoas estarem na plataforma de lançamento. O normal são pequenos grupos em
pequeno espaço de tempo; 3 pessoas, 10 minutos. E eu gostaria de saber do senhor
por que Isso aconteceu.
Em segundo lugar, gostaria de ler uma nota publicada na Agência Estado, do
dia seguinte ao acidente. Trata-se de uma declaração da jovem Sabrina, irmã do
técnico Daniel Faria Gonçalves, de 20 anos, que morreu no acidente. A nota diz
exatamente o seguinte:
“A última conversa da família com o técnico, que
trabalhava há um ano no CTA e estava pela segunda vez
na base de Alcântara, foi no domingo. Segundo Sabrina,
ele estava confiante de que tudo iria dar certo. A irmã
disse que Daniel havia sentido pressão de superiores
para que o projeto fosse concretizado rapidamente, antes
que um alto graduado, que ela não soube identificar, se
aposentasse”.
São informações da Agência Estado do dia seguinte ao acidente. Não estou
inventando absolutamente nada. Se V.Exa. quiser o recorte está inteiramente à
disposição. Essa família não falou mais. Ela nem sabia que o irmão tinha morrido
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naquele dia. Ela soube depois, mas há essa declaração surpreendente do rapaz de
que havia uma pressão para terminar os trabalhos, enfim, porque um alto... Não vou
entrar em detalhe. Está escrito, não preciso fazer comentário nenhum.
Hoje, o Jornal Folha de S.Paulo diz uma coisa que, no Maranhão,
comentava-se muito. O pessoal trabalhou na sexta-feira intensamente, porque
queria folgar no sábado. Segundo o mesmo jornal, edição de hoje, no sábado,
haveria um churrasco de comemoração do sucesso previsto para o lançamento.
Portanto, gostaria de obter resposta para essas duas perguntas. A ironia é
que o Ministro da Ciência e Tecnologia disse que os russos se ofereceram. Eu vi
uma briga, na CCJ, com o acordo com os americanos, porque eles não queriam dar
acesso aos brasileiros da tecnologia do foguete deles. É claro que se os russos vão
tomar parte na descoberta do que houve, eles vão ter conhecimento de toda a
tecnologia brasileira de foguete. Eu não vejo porque não se está tendo a mesma
reação que se teve com americanos.
Era essa a minha intervenção.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) - Tem a palavra o Sr.
Deputado Ivan Ranzolin.
O SR. DEPUTADO IVAN RANZOLIN - Obrigada, Deputada. Inicialmente,
cumprimento a Sra. Presidente e o Presidente da Comissão de Ciência e Tecnologia
pela reunião conjunta que possibilitou esse nosso encontro de hoje. Na realidade, é
uma das formas também de tornar absolutamente transparente toda essa
ocorrência. Na nossa Comissão, temos discutido muito a questão de Alcântara, os
acordos há alguns meses. Vários Deputados apresentaram requerimentos. Já
discutimos também, apesar de não ter sido o objetivo específico da sua vinda a esta
Casa, com o Comandante da Aeronáutica. A verdade é que agora estamos diante,
talvez, do acidente mais grave que teve o Brasil, em função de 21 técnicos
altamente qualificados terem desaparecidos e do atraso, que não se sabe até
quando irá, de um programa espacial, que todos nós entendemos da maior
importância. Na verdade, são 2 assuntos principais que trouxeram os Srs. Ministro
Roberto Amaral e José Viegas Filho, o nosso Comandante da Aeronáutica e o Dr.
Luiz Bevilacqua a esta Comissão. A presença dos senhores é da maior importância.
Farei duas breves indagações. Sugiro que os documentos que os senhores
trouxeram, que são importantes, preciosos, sejam encaminhados aos Presidentes
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ SEM REVISÃONome: Comissão de Relação Exteriores e de Defesa NacionalNúmero: 1383/03 Data: 09/09/03
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das Comissões, para que tenhamos uma pasta de documentos em mãos para
acompanhar e que os futuros acordos, que estão sendo tratados, sejam
encaminhados antes, para que a gente possa, não só na hora da deliberação,
apresentar sugestões. Na realidade, as duas Comissões estão altamente
interessadas em achar soluções, mesmo depois da ocorrência do acidente, porque o
entendimento maior — não sei se é unânime — é que o programa deve continuar.
Sugiro que sejam encaminhados, em invés de perguntar sobre os acordos, o
que vai ser feito. Seria bom que os Ministérios encaminhassem e que a gente
tivesse isso aqui previamente, antes da definição dos acordos, para podemos dar a
devida colaboração.
Também com relação a custos, nesta Casa nós vamos votar este ano o
Orçamento Anual. Votamos a Lei de Diretrizes Orçamentárias. Se nós soubermos
previamente de um programa, do orçamento prévio, do que isso vai custar, a gente
poderia, num entendimento com o Executivo, nesta Casa, na Comissão Mista de
Planos, Orçamentos Públicos e Fiscalização, estabelecer programas. É possível? É
possível. Senão nós ficamos discutindo se foi ou não foi a falta de recursos, se foi
um recurso contingenciado ou descontingenciado.
Por fim, eu gostaria de fazer uma observação com relação ao assunto social,
das famílias das pessoas que morreram, dos técnicos que morreram. Os jornais
publicaram que eles estavam pleiteando adicionais de periculosidade e de
insalubridade, que não conseguiram. Por que não conseguiram? Por que eles
tiveram que ir à Justiça para buscar isso se eles são técnicos tão capacitados?
Por fim, Sr. Comandante, o Deputado Luiz Carlos Hauly fez uma pergunta:
por que é que o combustível foi colocado muitas horas antes do lançamento? Este
não seria o último ato a ser praticado? Teria que ser antes? Na realidade, nós, como
leigos, não entendemos. Mas eu acho que faltou uma resposta da sua parte. A sua
exposição foi brilhante com relação à segurança. Mas por que o combustível antes?
Será que não haveria problema com o combustível ficando muito tempo, um ou dois
dias antes, visto que ocorreu a explosão?
Obrigado.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) - Tem a palavra o Deputado
Paulo Marinho.
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O SR. DEPUTADO PAULO MARINHO – Sra. Presidente, senhores
convidados, Sras. e Srs. Deputados, boa parte das minhas indagações já foram
feitas. Eu vou ser bem objetivo. Ainda tenho algumas dúvidas que eu queria ver se
consigo tirar antes de sair daqui.
Minha pergunta é para o Sr. Ministro da Defesa: Sr. Ministro, essa
cooperação dos russos tem custo para o Brasil?
Para o Ministro Roberto Amaral: qual a ligação do programa espacial com o
SIVAM? V.Exa., na sua explanação, enumerou uma série de atividades que seriam
desse programa que, no meu entender, tem tudo a ver com o SIVAM. E o Governo
pagou uma fortuna. Objetivamente, por que até agora o VLS não deu certo? Houve
negligência? Sabotagem? Falta de verba? Falta de apoio científico e tecnológico?
Falta de cooperação tecnológica? A pergunta objetiva: por quê? Sr. Ministro, se a
Índia e a China estiveram no mesmo nível do Brasil, como V.Exa. afirmou, por que
nós não avançamos?
Para o nosso Tenente-Brigadeiro-do-Ar: em relação a essa questão dos
cabos, realmente, como maranhense, Brigadeiro, eu fiquei muito preocupado. O
Deputado Gastão Vieira fez aqui uma grande justiça para com todos os
maranhenses. Nós ficamos muito preocupados. Parece que aconteceu um certo
furto. Mas o nosso Presidente da Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação
e Informática afirmou com muita clareza. É estranho que alguém consiga. Nós, que
já fomos à base algumas vezes, verificamos que houve restrições para chegar lá. É
muito esquisito que alguém consiga chegar ali e roubar cabo. Então, nós precisamos
esclarecer isso melhor, porque quem sabe aí não está a razão do que aconteceu por
lá.
Outra coisa com relação à qual eu fiquei meio encucado refere-se ao navio
americano a que o senhor se referiu. O senhor disse que esse navio tinha atividades
eletrônicas. Eu anotei bem isso aqui. Brigadeiro, eu não entendo muito disso, mas,
veja bem, nós, que conhecemos São Luís, sabemos que os navios que atracam ali
ficam no aguardo de ir ao Porto de Itaqui para carregar duas coisas básicas: minério
de ferro e soja. Então, como é que o senhor sabe que tinha um navio ali na costa de
Alcântara, na Bahia de São Marcos, com atividades eletrônicas? Eu ouvi. Só se eu
ouvi mal. Mas eu ouvi o senhor dizer isso aqui. E o senhor me disse mais, que
estava vindo lá do Rio Grande do Norte. Então, por que é que um navio americano
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sai do Rio Grande do Norte para passear no Maranhão? Para carregar minério de
ferro? Para carregar soja? Fazendo o que ali, se não é rota do navio? Então, nós
ficamos ouvindo o senhor e ficamos preocupados. Afinal, nós queremos saber o que
aconteceu de fato com esse navio.
Queria também fazer algumas perguntas ao Sr. Bevilacqua. O senhor acha
que esses salários baixos não obstam talentos? O senhor até falou nas indústrias de
ponta que estão na região de São José dos Campos. Como o senhor pode ter
pessoas capazes pagando salário inferiores aos que são pagos pelas indústrias?
Voltando à questão social, para esclarecer, certa feita, um Prefeito de Alcântara me
disse que as empresas que construíram aquela base nunca recolheram ISS. Se
tivessem pago esse imposto, seria suficiente para resolver os problemas sociais da
cidade inteira.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) - A Mesa responde. Começa
com o Ministro da Defesa, Dr. José Viegas Filho.
O SR. MINISTRO JOSÉ VIEGAS FILHO - Obrigado, Sra. Presidenta. Quanto
à indagação de sabotagem, vou apenas repetir o que tenho dito. Uma vez que nós
ainda não apuramos a causa do acidente, não podemos descartar nenhuma
hipótese. Faz parte de qualquer processo de investigação. O que se pode dizer é
que, de todos os dados compulsados por nós, não há nenhum que nos leve a levar
que tenha ocorrido um ato de sabotagem.
As investigações não terminaram, estamos atentos, construímos um ambiente
de proteção ao lançamento frustrado. Vamos continuar atentos, mas é meu dever
alertar a opinião pública brasileira para o fato de que não há nenhum indício que nos
leve a suspeitar especificamente de sabotagem.
Quanto ao roubo de cabos, peço ao Brigadeiro que me permita falar antes
dele. Foram cabos telefônicos e não foram roubados de Alcântara. Atenção,
população de Alcântara, não foram vocês.
Os cabos estavam em São Luís, próximos à base do aeroporto, onde dei uma
entrevista à imprensa no dia 22. Isso ocorreu cerca de 2 meses antes das datas
previstas para o lançamento e antes que nós tivéssemos desenvolvido a operação
de proteção do lançamento.
Permita-me, Bevilacqua, falar primeiro. Não acredito que se possa dizer que
houvesse desinformação. Aquela foi uma reação espontânea, no primeiro jato de
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informação e revela, a meu ver — o professor pode me corrigir se estiver errado —,
na verdade, a sensação de confiança que o professor tinha no êxito do projeto. Se
explodiu, só se foi num foguete de São João e não num VLS, ou seja, é uma reação
de incredulidade diante de um fato que a todos surpreendeu e não de
desinformação, porque o acidente tinha ocorrido minutos antes.
Quanto às acusações de que tenha havido pressão para acelerar o
lançamento porque algum figurão se aposentaria, certamente não sou eu.
(Não Identificado) - Ministro, figurão pode ter um sentido que não foi dado
pela matéria. Aqui fala graduado, é diferente de figurão.
O SR. MINISTRO JOSÉ VIEGAS FILHO - Está bem. Não sei de nenhum
graduado que estivesse na iminência de se aposentar.
(Não Identificado) - Também, depois dessa, não irá se aposentar tão cedo.
O SR. MINISTRO JOSÉ VIEGAS FILHO - Houve também uma outra
afirmação de que haveria pressão para acelerar o lançamento antes que algum
graduado se aposentasse. Por outro lado, há uma informação de que a turma estava
querendo fazer um churrasco. Então, vamos ter que escolher qual é a notícia que
tem mais credibilidade, se é a da pressão para acelerar ou se é a do churrasco, que
implica um ambiente de alegria e de tranqüilidade na Base. Uma não é compatível
com a outra.
Quanto ao navio americano, embora eu não possa precisar neste momento a
natureza da missão que ele desenvolvia, ele não aportou nas costas do Nordeste.
Ele estava se dirigindo ao Caribe e continuou a viagem; seguiu para o Caribe e se
afastou das costas brasileiras no dia 15 de agosto, portanto, 7 dias antes do
acidente.
São essas as informações que posso prestar neste momento.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) – Muito obrigada, Sr. Ministro
José Viegas Filho.
Tem a palavra o nobre Ministro da Ciência e Tecnologia, Dr. Roberto Amaral.
O SR. MINISTRO ROBERTO ÁTILA AMARAL VIEIRA – Sra. Presidenta,
Sras. e Srs. Deputados, não obstante a oportuna intervenção do Ministro Viegas,
peço licença também para antecipar-me à resposta do Prof. Bevilacqua. E eu
pediria, se me permitisse V.Exa., para evitar constrangimento de um colaborador
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meu, em quem deposito a maior confiança e por quem tenho a maior admiração,
que eu próprio respondesse.
Sua frase, que eu não chego a chamar de infeliz, explorada,
descontextualizada, reflete que nós, principalmente ele, que estava muito envolvido
emocionalmente no processo, tínhamos plena confiança no projeto.
Estava o lançamento — a informação só convivia conosco — marcado para a
segunda-feira de manhã. E não havia, não há, pela nossa memória, a possibilidade
nem teórica de que pudesse haver um acidente antes do lançamento. Até porque
nossa memória lembrava os dois acidentes no lançamento. Portanto, tínhamos
reservado nossas emoções para a segunda-feira. Ele estava coroando um grande
trabalho, fechando um acordo de transferência de tecnologia com a Ucrânia, na
sexta-feira, quando chegou o repórter e disse que o foguete havia explodido. Ele,
incrédulo, disse que só se fosse uma bomba de São João.
Isso não revela desinformação, não revela desrespeito a ninguém, não revela
desrespeito ao projeto. Revela a emoção de um homem simples, que foi atacado, de
surpresa, que não tem tradição de funções públicas; é um professor universitário,
que sabia da impossibilidade do acidente.
Eu tive reação parecida. Eu estava no Rio quando me chegou a informação
do acidente. Imediatamente eu disse que não era possível, porque o lançamento
seria na segunda-feira. Pedi que ligassem ao Ministro Viegas para saber se foi
antecipado, porque nós estávamos preparados para a segunda-feira.
Não sei se expliquei a reação do Dr. Bevilacqua, mas eu quero dizer aos Srs.
Deputados que se trata de um brilhante cientista, de um grande patriota, de um
homem que está dedicando todo o seu esforço ao programa.
Retorno à questão do porquê dos custos, e há uma surpresa na minha
afirmação de que eles se ofereceram e nós aceitamos e que, no entanto, a Casa
não aceitou, na discussão da salvaguarda dos Estados Unidos. Data venia, são
duas questões absolutamente distintas, que só têm em comum o fato de os Estados
Unidos se chamarem Estados Unidos e a Rússia, Rússia. O acordo com os Estados
Unidos proibia o Brasil de ter acesso à tecnologia deles. O que pode decorrer da
presença dos russos aqui é eles terem acesso à nossa tecnologia. Venhamos que
eles não vão acrescentar muita coisa à tecnologia espacial deles.
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Segundo, há outro dado. Não estou aqui para fazer comparações entre as
relações dos países, mas para dar as informações que os senhores desejam,
demandam e merecem. Ao contrário de outros países, a Rússia já vinha
colaborando com o nosso programa e transferindo tecnologia em áreas muito
sensíveis, posso dizer a V.Exa., nas quais não tínhamos ainda controle e domínio. O
SIVAM não se relaciona com o programa espacial, é outra área. Eu me referi ao
trabalho, à importância de termos os nossos satélites para podermos fazer
imageamento.
E foi feita, creio que pelo Deputado Marinho, a pergunta: por que não
avançarmos? Vou tentar, respondendo ao Deputado Marinho, responder também à
V.Exa. com uma informação que só aparentemente não está ligada ao nosso
programa espacial.
Há 23 anos, exatamente em 1980, todos os índices de desenvolvimento da
Coréia do Sul eram inferiores aos do Brasil, todos — publicação de trabalhos
científicos, patente de escritório americano, índice de industrialização etc. —, ao
ponto de eles virem ao Brasil visitar a nossa FINEP para conhecer o nosso
programa de incentivo à inovação.
Passados exatamente 20 anos, todos os índices da Coréia do Sul são
superiores aos nossos, todos, e não apenas modestamente superiores. Em 2000,
eles apresentaram 5 mil e 700 pedidos de registro de patente de escritório
norte-americano, e nós apresentamos 273. E hoje nós importamos carros coreanos,
com marca coreana, com tecnologia coreana.
O que houve nesses 20 anos? A Coréia investiu em ciência e tecnologia 3% a
3,6% do seu PIB. Nós investimos, até o ano passado, menos de 1%, e tivemos uma
média de 0,5%. Não sei se respondi.
O SR. DEPUTADO CORAUCI SOBRINHO - Ministro, eu gostaria de reiterar
uma pergunta e reforçar uma do Deputado Gastão Vieira, que, parece-me, não ficou
muito clara. É a minha pergunta ao Dr. Bevilacqua, que V.Exa. pode responder: em
sua fala, o Presidente disse que não tem havido a colaboração das universidades na
expectativa que se imaginava. E o Deputado Gastão fez uma pergunta que
considero muito importante, mas que teria que ser respondida pelo Ministro da
Defesa. Um jornal de São Luís, de grande veiculação no Maranhão, dedicou
manchete para o fato de que teria havido um deslocamento maior do que o usual de
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aviões da Aeronáutica brasileira no mesmo dia do acidente a pretexto de uma
eventual sabotagem que poderia estar se materializando. Houve esse deslocamento
maior de aeronaves? Não houve? Essa é pergunta que eu gostaria de reiterar; e, ao
nosso Presidente, a questão das universidades.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) - Eu vou dar a palavra agora
ao Comandante da Aeronáutica e ao Presidente da Agência. O senhor falou em
Ministros. Os Ministros voltam também? Então, de novo, o Ministro da Defesa,
depois o Ministro da Ciência e Tecnologia e, em seguida, o Comandante da
Aeronáutica e o Presidente Bevilacqua.
O SR. MINISTRO JOSÉ VIEGAS FILHO - Obrigado, Sra. Presidenta. Houve
realmente um deslocamento de aviões na manhã do dia do acidente porque estava
sendo praticado um exercício de evacuação, do qual participam aviões e
helicópteros. Um dos helicópteros estava numa simulação de operação de resgate
de vítimas e de transporte para São Luís. As imagens aéreas que se viram foram
tomadas por esse helicóptero. Talvez isso explique a reportagem do jornal, que foi
baseada em observações visuais de pessoas que estavam em São Luís.
Obrigado.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) - Ministro de Ciência e
Tecnologia, Dr. Roberto.
O SR. MINISTRO ROBERTO ÁTILA AMARAL VIEIRA - Muito rapidamente.
A referência do Deputado ao Governo Sarney, eu, na minha resposta, deixei passar
em branco, mas é de meu dever, e eu não faço favor nenhum, dizer que foi o único
período, o período da Gestão José Sarney, em que o País investiu suficiente e
sistematicamente no Programa Aeroespacial.
O SR. DEPUTADO GASTÃO VIEIRA - Foi isso o que eu lhe disse, Ministro,
desculpe. Não ponha na minha cabeça coisas que eu não pensei. Depois do
Governo Sarney, eu acompanhei Fernando Collor, Itamar Franco...
O SR. MINISTRO ROBERTO ÁTILA AMARAL VIEIRA - O senhor não me
entendeu, eu estou aqui, estou dizendo...
O SR. DEPUTADO GASTÃO VIEIRA - Eu pensei que o senhor estivesse
insinuando que eu tivesse dito que ali não se aplicou. Pelo contrário, eu disse que foi
quando mais se aplicou.
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O SR. MINISTRO ROBERTO ÁTILA AMARAL VIEIRA - Eu jamais insinuaria
do senhor uma afirmação dessa ordem, até porque o que eu vou dizer aqui eu disse,
dias atrás, no Senado Federal. O que eu disse é que o senhor fez uma referência ao
Governo Sarney e eu não a havia confirmado. Eu quero aproveitar essa
oportunidade para fazê-lo.
Em 1988, o Governo investiu 129 milhões de dólares — 130 milhões de
dólares, porque foram 129 milhões e 915 mil; em 1989, 102 milhões; em 1990, 57
milhões. Então, ele investe 97, 130, 102 e 57 milhões. O programa começa em
1995, com 91 milhões e, no ano passado, em 2002, recebeu 14 milhões de dólares.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) - Com a palavra agora o
Comandante da Aeronáutica, Tenente-Brigadeiro-do-Ar Luiz Carlos da Silva Bueno.
O SR. LUIZ CARLOS DA SILVA BUENO - Muito obrigado. Deputado
Ranzolin, quanto a adicional de periculosidade, nós temos que seguir determinadas
leis que são regidas pelo Ministério do Trabalho.
Existe realmente uma comissão — na qual existe um médico do trabalho e
um engenheiro do trabalho —, que, em São José, é quem faz o julgamento dos
locais onde trabalham as pessoas e recomenda que seja paga periculosidade ou
não. Desse modo, se o Diretor do CETEL mandar pagar, vai ser feita carga no seu
vencimento daquilo que ele está pagando.
Havia 4 que não tinham — 2 tinham sido negados por essa comissão e 2 que
estavam em processo de pagamento de periculosidade. Mas isso é regra, e eu acho
que teremos que mudar essa lei.
O SR. DEPUTADO IVAN RANZOLIN - Eu fiz essa observação porque eu vi
no jornal que havia uma ação na justiça...
O SR. LUIZ CARLOS DA SILVA BUENO - Exatamente.
O SR. DEPUTADO IVAN RANZOLIN - E que o juiz aventou que não tinha
ainda decidido em dar a periculosidade que era devida.
O SR. LUIZ CARLOS DA SILVA BUENO - Positivo. E por que o combustível
é colocado antes? Esse combustível é colocado mais de 1 ano antes; ele fica
estocado em São José. E esses foguetes vão inclusive de avião, de Hércules
ele fica estocado em São José. Esses foguetes vão inclusive de avião, de Hércules.
Vão dois com combustível. Ele não é perigoso. Não há perigo algum. Depois que
coloca o iniciador é que ele fica... Aquelas laterais estavam aguardando a colocação
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dos iniciadores, os dois que estavam na frente. São 4 estágios. Eles são montados
com os iniciadores, porque há os isoladores eletrônicos que impedem a passagem
de corrente e a iniciação dos foguetes.
Então, os foguetes carregados não têm absolutamente nenhum perigo.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) – Com a palavra o
Presidente Bevilacqua.
O SR. LUIZ BEVILACQUA – Em primeiro lugar, agradeço aos Ministros da
Defesa e da Ciência e Tecnologia as palavras ao explicarem a minha reação
naquele dia trágico.
Com relação ao aproveitamento do contingente universitário para o Programa
Espacial Brasileiro, essa foi uma iniciativa que teve um pequeno período de 2 anos,
há 5, 6 anos, depois foi descontinuado por falta de recursos e por estabelecimento
de outras prioridades. Entretanto, logo que cheguei à Agência, conversando com a
diretoria, concluímos que essa é uma iniciativa que precisa ser retomada a
curtíssimo prazo porque, primeiro, é necessário aproveitar essas pessoas que, em
vez de estarem oferecendo suas pesquisas, suas publicações e suas investigações
a serviço de uma comunidade maior de problemas que interessam, sim, à ciência de
um modo geral, poderiam focalizar projetos e iniciativas que interessam mais
especificamente ao País e eles estão dispostos a fazer isso. Então, não é apenas
por falta de recursos. Esse é um ponto que já incluímos no próximo orçamento e
vamos aproveitar não apenas os orçamentos da Agência, mas os recursos que
provêm também dos fundos, principalmente, do fundo espacial, fundo aeronáutica,
pelo menos em parte naquilo em que essas pesquisas têm em comum, que são as
duas áreas e as fundações de amparo e pesquisa dos Estados. A união desses
esforços permitirá a retomada dessa cooperação. É preciso que inclua também o
pessoal do INPE, do CTA. Não adianta simplesmente as universidades estarem
dispostas a fazerem isoladamente, mas que o INPE e o CTA estejam dispostos a
propor problemas que sejam atrativos e importantes para esse setor.
Já estive em algumas universidades conversando sobre esse assunto. A
resposta é extremamente positiva e tanto o INPE quanto o IAE, que é o instituto que
cuida da área de projeto de foguetes, estão abertos para essa cooperação.
Então, estamos programando para este semestre, setembro ou outubro, uma
reunião entre pesquisadores do INPE e das principais universidade brasileiras para
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levar adiante esse projeto. De modo que essa é uma iniciativa que consideramos
prioritária agora no programa espacial.
Com relação às indústrias, a falta de aproveitamento no setor industrial se
deve, simplesmente, a poucas encomendas ao setor. Quer dizer, a indústria
aproveita os egressos muito bem qualificados das universidades, quando elas têm
encomendas, quando nós temos, dentro de um projeto de desenvolvimento. Quer
dizer, as indústrias estão tendo os recursos e os projetos suficientes de alta
tecnologia que permitem essas contratações.
Como disse anteriormente, há uma disposição de se aumentar a encomenda
às indústrias tanto na área dos lançadores quanto na área de satélites. Portanto,
com isso, certamente, haverá uma maior contratação desses egressos das
universidades, o que seria extremamente importante também para o próprio
estímulo ao setor universitário.
Finalmente, perguntou-se se os salários baixos impedem a contratação de
pessoas mais talentosas. Quero fazer um comentário que acredito que seja
importante nessa ocasião. Até cerca de 5 anos atrás havia outro componente, que
existe ainda, mas que era muito forte para a contratação não só nessas áreas que
solicitam pesquisas de profundidade, investigação científica e tecnológica: a paixão.
Os senhores podem ter certeza de que nas universidades, institutos de pesquisa e
centros de investigação existentes no País, eu diria que 100% das pessoas hoje
trabalham por paixão, porque aquilo é o que elas gostam de fazer na vida. Muitos
deles, e posso dar testemunho de vários, recusam e recusaram empregos no setor
industrial, onde hoje poderiam estar muito bem colocados do ponto de vista
econômico, porque essa paixão era irresistível. Entretanto, de 5 anos para cá, tenho
percebido que nas instituições de onde sou egresso, UFRJ/COP e Laboratório
Nacional de Computação Científica, isso não é mais atrativo. Conheço pessoas que
fazem os concursos, ficam um mês e saem, porque, infelizmente, chegamos a um
nível tão baixo que a paixão não é suficiente, principalmente agora nessa área
espacial, onde há forte concorrência do setor industrial. A EMBRAER é um ótimo
exemplo, onde os engenheiros são contratados para tratar de assuntos igualmente
desafiadores, com salários maiores. De modo que reputo isso como um ponto
extremamente importante para o programa espacial: salários e uma carreira
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competitiva, para que possamos ter um programa que siga adiante com qualidade e
recursos suficientes.
Gostaria também de responder a uma pergunta com relação ao investimento
em ciência e tecnologia no Maranhão, nas universidades maranhenses. O MCT está
promovendo uma cooperação tecnológica e científica tanto com a Universidade
Federal do Maranhão como com a Universidade Estadual do Maranhão, e a agência
tem o maior interesse em aproveitar aquelas pessoas, aqueles cientistas. Estive lá
em julho e conversei com alguns professores, principalmente da Universidade
Federal do Maranhão, onde tive a oportunidade de ir. Temos o maior interesse em
cooperação. Também no CEFET do Maranhão há um grupo extraordinário na área
de materiais. Esse estímulo pode ser feito com vários recursos, inclusive com
recursos dos fundos setoriais, que destinam 40% para a região Norte e Nordeste.
Portanto, é nossa intenção aproveitar essas pessoas e quero que fique muito claro
que não é por pena, porque lá tem gente muito competente. Se o fizermos não é
porque é no Maranhão, mas porque estivemos lá e observamos a presença de
pessoas extremamente competentes. Falta-lhes oportunidade e essa oportunidade
daremos.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) - Muito obrigada, Presidente
Luiz Bevilacqua, da Agência Espacial Brasileira.
Com a palavra o Deputado Bispo Wanderval, autor de requerimento.
O SR. DEPUTADO BISPO WANDERVAL –Sra. Presidenta, Srs. Ministros,
Dr. Luiz Bevilacqua e Tenente-Brigadeiro-do-Ar Luiz Carlos da Silva Bueno, na
administração do então Presidente da Ciência e Tecnologia César Bandeira foi
criada uma Subcomissão para ir à Alcântara. Acompanhamos esse problema há
muito tempo, dadas as questões sociais que lá se encontram. Na oportunidade, o
Deputado Gastão Vieira também participava dessa Subcomissão, então presidida
pela Deputada Luiza Erundina.
Com respeito às agrovilas criadas, a Deputada do Maranhão lembrou o
quanto sofrem as pessoas que foram remanejadas da sua cultura e colocadas em
agrovilas, em terras improdutivas, como se elas se alimentassem de parede, como
se comessem tijolo. Estão sem assistência médica e educação. É uma injustiça e,
tenho certeza, o Governo Lula a corrigirá, levando esse projeto à frente. Pela ordem
cronológica de investimentos — 14 milhões — é como se esse projeto estivesse não
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sei em que plano. Alegra-me muito, conforme a carta que V.Exa. recebeu hoje da
associação recém criada, o pedido daquelas famílias para que esse projeto não
pare. É um orgulho não somente para as famílias enlutadas mas para todos nós,
brasileiros. É uma injustiça que o Governo Lula terá que corrigir.
Como autor do projeto, Sra. Presidenta, Srs. Ministros, senhores convidados,
a fim de que a Comissão de Ciência e Tecnologia seguisse de perto essas
apurações, apresentei requerimento de minha autoria e do Presidente Corauci
Sobrinho, que foi aprovado por unanimidade. Com a perda dessas vidas, perdemos
conhecimentos, qualificação técnica e empreendimento. Essas perdas são
incalculáveis. Quero seguir nessa mesma linha. Há também a questão dos
residentes daquela localidade que, segundo dados da imprensa, não estão sendo
informados dos procedimentos que foram ou que deveriam ser adotados pela
segurança da unidade junto aos moradores da região. É uma das preocupações que
mencionei em meu requerimento.
Gostaria de fazer uma pergunta. Como o Ministro disse, todas as hipóteses
terão que ser levadas em consideração. Eu estava preocupado com o roubo de cabo
e falei: “Ufa, graças à Deus que foi o cabo de telefone” — que não estava nem nas
dependências da base. O Ministro já respondeu, mas me deparei com a notícia de
que militares envolvidos nas investigações vasculharam os hotéis de São Luís, a
Capital maranhense, e ficaram surpresos — temos que levar isso em consideração
— com o elevado número de estrangeiros, entre os quais muitos americanos,
hospedados na cidade na semana da catástrofe. Essa matéria foi publicada na
Revista IstoÉ. Eu gostaria de saber se confirmam isso, se essas informações foram
e estão sendo apuradas e quais são as conclusões, já que o Ministro respondeu que
o problema de sabotagem também não está descartado.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) – Com a palavra a Deputada
Dra. Clair.
A SRA. DEPUTADA DRA. CLAIR – Sra. Presidenta, Srs. Ministros, Sras. e
Srs. Deputados, demais convidados, inicialmente gostaria de parabenizá-los pelas
exposições e dizer que todos nós, a população brasileira, sabemos da importância
desse projeto. A sociedade brasileira está acompanhando esse processo de
investigação e quer saber quais são as causas da explosão. É uma preocupação
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nossa, da Câmara. Quero parabenizar as Comissões que nos estão dando a
oportunidade de discutir esse assunto.
Gostaria de fazer algumas perguntas também nesse sentido. Em relação à
nossa segunda tentativa de lançamento desses satélites, qual foi a causa desse
acidente? Pelo que sei através da imprensa, há uma controvérsia em relação às
causas daquela explosão.
Então, perguntaria ao Exmo. Sr. Ministro da Defesa se aquela explosão, a
destruição daquele veículo poderia ter sido ocasionada por sinal transmitido de fora
do Centro de Lançamento da Base de Alcântara.
Pergunto também a V.Exa: em que sentido está ocorrendo essa
investigação?
V.Exa. já levantou que descarta a hipótese de ter sido sinal eletrônico de fora
da Base de Alcântara. Perguntaria a V.Exa. se isso não está sendo investigado. Se
V.Exa. já descartou essa hipótese, em que sentido estão ocorrendo as investigações
sobre as causas dessa explosão?
Obrigada.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) – Deputado Wasny de
Roure.
A SRA. DEPUTADA DRA. CLAIR – Sr. Presidente, também em relação a
nossa segunda tentativa de lançamento de satélite, gostaria de saber se naquela
oportunidade estava presente um navio americano.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) – Com a palavra, então, o
Deputado.
O SR. DEPUTADO WASNY DE ROURE – Sra. Presidenta, Sr. Presidente da
Comissão de Ciência e Tecnologia, Sr. Ministro Roberto Amaral, Sr. Ministro José
Viegas, Sr. Tenente-Brigadeiro Luiz Carlos da Silva Bueno, Sr. Presidente da
Agência Espacial, Dr. Luiz Bevilacqua — o representante das famílias dos atingidos
não se encontra mais presente —, este é um momento singular. Preocupo-me com
o fato de repetir-se na imprensa e nestas duas Comissões a anuência imediata da
retomada do programa. Creio que ninguém o esteja questionando, até porque se
alguém questioná-lo neste momento será visto quase como herético do processo.
Enfim, cabe fazer questionamento, sim. Não é momento de avaliação do
Programa Espacial Brasileiro, mas levantar os motivos de vários acidentes e qual é,
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em última instância, a perspectiva de construção do mais importante para a
sociedade brasileira. A sociedade brasileira necessita mais de resposta do que
simplesmente sessões em memória daqueles cidadãos que tiveram suas vidas
ceifadas em situação que nenhum de nós gostaria de vivenciar ou alguém de nossa
família. A sociedade quer resposta mais aprofundada, mais conseqüente, se de fato
é essa a trajetória, ou melhor, se esse projeto é de interesse da sociedade brasileira.
Merecemos resposta mais qualificada do que simplesmente algo em reação
àquilo que é soberania nacional, auto-estima e todo esse discurso que gostamos de
ver reproduzido. A sociedade merece análise mais aprofundada do custo/benefício
de projeto dessa natureza.
Parabenizo a transparência do Governo. Diante do fato, como disse o
Deputado Corauci Sobrinho, de que não se descarta a possibilidade de ter sido ação
criminosa, o Governo teve postura firme e muito transparente. Esta é a minha
opinião.
Pergunto ao Ministro da Defesa: o que V.Exa. espera do Congresso Nacional
no sentido de potencializar e aprofundar a construção e a revisão do Programa
Espacial Brasileiro?
O que necessitamos em termos de novos passos para que seja aprofundado
este debate?
E uma pergunta óbvia, de quem não entende absolutamente nada, dirigida
mais especificamente ao Tenente-Brigadeiro Luiz Carlos: qual seria o momento mais
adequado para o abastecimento da aeronave? Qual seria o momento mais
apropriado para que pudéssemos evitar o risco de um acidente desta proporção?
Gostaria ainda de fazer uma pergunta ao Sr. Ministro da Ciência e
Tecnologia. Nesta avaliação dos programas de apoio à pesquisa que o Ministério
vem desenvolvendo, de fato, a partir desse acidente, há um interesse maior ou ele
está ainda na mesma perspectiva anterior?
Muito obrigado.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) – Agora seguiremos a lista
normal dos inscritos.
Concedo a palavra ao nobre Deputado Ribamar Alves. (Pausa).
Ausente.
Concedo a palavra ao nobre Deputado João Almeida.
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O SR. DEPUTADO JOÃO ALMEIDA – Sra. Presidenta, ilustres convidados,
meus companheiros, venho de longo tempo me perguntando quem, afinal, tem a
responsabilidade da condução do Programa Espacial Brasileiro. Sabemos que a
definição clara da missão de uma instituição ou de um programa é uma coisa
fundamental para o seu sucesso. O seu desenho institucional, o modelo gerencial,
também é um fator da maior importância. Eu não identifico quem é o responsável,
quem conduz, quem responde pelos seus resultados e quem deve ser
responsabilizado pelo insucesso ou pelo sucesso.
Vejo aqui os Srs. Ministros e o Tenente-Brigadeiro-do-Ar fazerem exposições
completas, claras e objetivas. E reservaram um último momento para o Dr. Luiz
Bevilacqua, que é o Presidente da Agência Espacial, para completar o que os
outros não disseram — o Ministro da Ciência e Tecnologia, o Ministro da Defesa e o
ilustre Tenente-Brigadeiro-do-Ar.
Qual é a natureza desse programa? É civil ou militar? Tenho dúvidas e as
exposições aqui me deixam com dúvida. Vejo o Tenente-Brigadeiro falar de Inquérito
Policial Militar — IPM que apura as causas do acidente. Acho que quem deveria
apurar as causas do acidente deveria ser uma comissão independente, autônoma.
Como aconteceu nos Estados Unidos com a NASA, que é uma referência? Quem
investigou esse último acidente e por quê? Atendeu-se ao apelo da comunidade
científica, que pediu uma investigação autônoma, conduzida por um cientista
independente dos envolvidos na causa? Parece que incluíram nessa Comissão 2 ou
3 representantes, mas o comando, a direção, não é de um cientista independente,
como pretendia a comunidade científica. Afinal, esse não foi um acidente qualquer.
Nos últimos 30 anos não tivemos perda de vidas dessa monta em atividades
relacionadas, segundo nos dizem. Com esse acidente ganhamos um crédito
estatístico para 20 lançamentos, e se usarmos os padrões ucranianos, para 100
lançamentos. Nós já perdemos 3 em estágios diferentes da operação.
Precisamos esclarecer tudo isso. E eu pergunto: será tudo isso não tem a ver
com a falta da definição clara dos objetivos do programa, do seu modelo institucional
e gerencial e da natureza do programa?
Muitas vezes, nas exposições, aparecia uma verdadeira sopa de instituições,
siglas as mais variadas, vinculadas aos mais diversos Ministérios. É possível
trabalhar integrado? Sim, se tiver uma definição clara de quem comanda o processo
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e faz a integração. Porque se trabalham como ilhas, podem produzir essas coisas
que o próprio corporativismo de qualquer instituição civil ou militar produz.
Vi o Ministro Viegas abandonando o argumento da pressão porque ia comer
churrasco. Acho que não devemos abandonar, não. Cede-se à pressão e come-se
o churrasco. Por que não? Claro! Se tem um graduado do programa que quer
aposentar-se — e não deveria ser, porque esse é defeito de político, que é inaugurar
antes de se aposentar — ele pode ter feito a pressão. E o que a moça disse foi: “Vai
dar tudo certo, mas fizeram uma grande pressão para acontecer e nós vamos
comemorar num churrasco”. Lógico! Cede-se à pressão e come-se o churrasco. Por
que não? Mas talvez o espírito corporativo já começa a descartar hipóteses. Quem
não está envolvido no processo e não tem responsabilidade não tem compromisso
com nada disso. Tudo que passar, pega. Toda hipótese parece razoável.
Essa coisa do cabo, que depois transformou-se em cabo telefônico, me
deixou impressionado, porque o Tenente-Brigadeiro disse: “Temos que tomar conta
até dos cabos, porque roubam cabos”. E se a segurança é tão boa que chegam a
roubar os cabos, como podemos garantir a segurança? A segurança, ali muito bem
apresentada e convincente — realmente, não entendo nada disso —, mas como
garantir que essa segurança teria a qualidade desejada? E haveria integração
perfeita nessas ações ou as ilhas não se comunicam adequadamente?
Eu também estou levantando hipóteses. Não estou fazendo acusações,
absolutamente, porque não tenho fundamentos para isso. Estou levantando
hipóteses em torno da questão.
Quanto ao problema da natureza civil ou militar, impressionou-me quando o
Tenente-Brigadeiro disse: “Não há sinal eletrônico espúrio ou hostil”. Esses são
adjetivos de código militar. Eu duvido — duvido, não; suspeito — que isso não seja
de código eletrônico. O navio de observação dizia isto: “Não há sinal eletrônico
espúrio ou hostil”. Essa é uma linguagem de jargão militar. Não estou dizendo que o
militar não possa estar nisso. Mas a natureza do serviço é civil ou militar? É natural.
O estilo gerencial de comando militar é um e o civil é outro. Os 2 são importantes e
úteis, mas há missões são diferentes.
Eu levantaria essas questões e perguntaria apenas isto: a natureza do
programa e onde o orçamento aloca os recursos para esse programa. Alocados à
Agência Espacial Brasileira ou um pouquinho em cada Ministério, pois ninguém faz a
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integração perfeita, não há um gerenciamento sistêmico adequado? Quem gerencia
o CLA e a Barreira do Inferno?
Ficou uns dias no céu, não tinha dono, entregaram à INFRAERO — coisas
do Governo passado, não importa. A INFRAERO, depois disso: “Não, mas aqui não
dá para cobrar na hora que lança nada. Isso não me serve. Isso só me dá despesa”.
A INFRAERO o devolveu. É esse nosso programa espacial, sujeito a todo esse tipo
de problema , que vamos conseguir levar à frente?
É só e é muito.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) – Obrigada.
Concedo a palavra ao nobre Deputado Arlindo Chinaglia.
O SR. DEPUTADO ARLINDO CHINAGLIA – Sra. Presidenta e Sr.
Presidente, gostaria de cumprimentar a ambos e aos nossos convidados, pela
exposição que fizeram.
Sou um daqueles vários Parlamentares que não dominam o tema. Portanto,
vou fazer apenas reflexões a partir daquilo que ouvimos e do que temos pensado
anteriormente.
Quero usar uma frase do Brigadeiro Luiz Carlos, Comandante da Aeronáutica,
quando falou: “Todas as medidas de segurança julgadas necessárias foram
tomadas”. E ele frisou o “julgadas” porque, é o óbvio, se todas as margens de
segurança tivessem sido cobertas, não teria havido o acidente.
Eu falo isso, mas queremos, evidentemente, limpar a área, porque seria cruel
demais responsabilizarmos cientistas pelo acidente. Ou seja: que eles não teriam
pensado em todas as hipóteses, portanto, se transformaria, não intencionalmente —
mas, por esse tipo de raciocínio —, numa limitação técnica, que, creio, eles não têm
nenhuma.
Portanto, creio que não cabem simplificações da seguinte ordem: o programa
não tem dinheiro. É verdade, o programa tem algumas décadas, e, como disse aqui
o prezado Ministro Roberto Amaral, já estivemos no nível de países que hoje estão à
nossa frente. Mas creio que não dá, e não pode haver uma relação direta do
acidente com o programa que não se desenvolveu por falta de verbas, obviamente
também porque seria um menosprezo à capacidade daqueles cientistas, que
arriscariam as próprias vidas, no momento em que percebessem que ali havia
insegurança porque não houve o investimento devido, o que, ao longo do tempo,
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resultaria numa bomba. E dezenas deles estariam ali, e morreriam a seguir,
lamentavelmente.
Creio que devemos aqui separar as questões para podermos tentar raciocinar
da melhor maneira.
O que eu diria, com certo temor, e concluindo, é que, de fato, não tivemos
condições, e não sei a explicação, de apreender todas as variáveis. E isso tem uma
conseqüência extremamente grave, porque se não houver uma conclusão
absolutamente cristalina da causa do acidente, não vejo como continuar o programa
nos mesmos moldes. Seria colocar em risco outros cientistas. Portanto, se não se
tem um diagnóstico preciso, não há como insistir em algo em que não se tem
segurança.
Dito isso, a conseqüência imediata é que, na verdade, a investigação das
causas do acidente passará por uma profunda revisão do próprio programa. Creio
também que não seja o momento de fazer questionamentos — não que não devam
ser feitos —, mas, no esclarecimento do programa, se tem duplo comando, se é
militar e civil, tudo isso vai ser discutido na continuidade. Mas também não é a
causa, porque quem estava operando eram as pessoas que tinham o maior e melhor
conhecimento do País. E se o País não tem um profundo conhecimento, não temos
por que insistir e fazer disso, digamos, quase que um “Ame-o ou Deixe-o”.
Não é assim. Quer dizer, então, nesse sentido, temos que agora, a partir dos
objetivos aqui relatados pelos nossos Ministros e demais componentes da Mesa,
evidentemente que não se questiona, e aí todas as autoridades que falaram o
fizeram bem, na seguinte linha: o programa não será paralisado. Não significa repetir
os mesmos passos, o programa não será paralisado. Então, os objetivos são
nobres, a segurança é igualmente nobre. Temos que combinar agora essas duas
coisas. Desgraçadamente houve o acidente, e isso chama a uma maior
responsabilidade, dado a perda de vidas humanas.
Outro ponto diz respeito à viabilidade da continuação do programa, porque
um país como o nosso, que faz superávit primário de 4,25%, que não tem alternativa
na sua política econômica a não ser romper contratos internacionais, — o que eu
não defendo, até gostaria que houvesse essa possibilidade, mas, como avalio que
não há, então não defendo — está num outro estágio; a comparação mecânica com
a Argentina creio que é muito pobre, muito primária.
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Pois bem, temos todos esses problemas na educação, na saúde, segurança
pública, transporte, infra-estrutura, apagão, e assim por diante. Então, a sociedade,
o Parlamento, o Governo, todos temos o direito e a obrigação de estabelecer quais
são as prioridades. Aí eu pergunto: na medida que o programa é importante para as
telecomunicações, para a safra agrícola, etc., não seria o caso de criar algo que se
assemelhasse ao chamado imposto de melhoria? Ou seja, é uma ação de Estado?
É. Não tem, digamos, viabilidade comercial? Não. Mas eu creio que isso não impede
que aqueles que são beneficiados comercialmente ou que venham a sê-lo
contribuam em dinheiro para o desenvolvimento do programa.
É útil para o País o Estado investir em pesquisa básica, mas temos
necessidade e pressa. Quem sabe não deveriam essas multinacionais que operam
no Brasil colaborar com esse programa brasileiro!
Por estar satisfeito com as exposições, não tenho perguntas a fazer.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) – Deputado Almir Moura.
(Pausa.) Ausente.
Deputado José Thomaz Nonô.
O SR. DEPUTADO JOSÉ THOMAZ NONÔ – Sra. Presidenta, senhores
expositores, em primeiro lugar, quero cumprimentá-los pela exposição. Essa reunião
prolongada, vamos para o quinto estágio, para o sexto, deveu-se muito à clareza
dos expositores, o que de certa forma prejudicou as perguntas; e quando não temos
perguntas, somos tentados a tergiversar. Adorei o surto psicótico grave. Vi-me na
iminência de declarar guerra aos Estados Unidos. Vi a conspiração dos russos de
saberem nossos segredos espaciais. Foi uma sessão, sem dúvida, de descoberta e
aprendizado. Sinto-me enriquecido.
Tenho, entretanto, algumas dúvidas, com as cautelas de quem não entende
nada da matéria, de quem não acha que isso é um problema maranhense, isso é um
problema nacional. Não entendo nada e por não entender nada quero traduzir
dúvidas de leigos. Tenho uma deformação profissional da qual não posso fugir
nunca: 21 anos nesta Casa, muito tempo de Comissão de Orçamento, autor da
fusão desta Comissão. Vi de tudo, e houve uma expressão que o Ministro Viegas
deixou escapar, uma expressão singela chamada investimento adicional. Acho que é
nessa palavra que vamos centrar as nossas perplexidades.
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Primeiro, a questão do acidente. Não ouso entrar nesse campo, se foi ou não
sabotagem. Bom, houve uma explosão. No meu conhecimento de leigo, para um
motor daquele tamanho entrar em ignição tem que ser ligado de alguma forma. E
segundo a capacidade investigativa ímpar de alguns periódicos e revistas
brasileiras, a Folha de hoje diz que é bom estudar aqui uma corrente elétrica. Diz
que a plataforma estava dando choque dias antes e por isso queimou o medidor de
pressão. Bom, não entendo disso. E na minha visão de leigo, quando vejo essa
fotografia patética, dramática, fico imaginando como é que se faz uma perícia nisso.
Deve haver algum critério técnico, sem dúvida alguma, mas imagino que não será
fácil.
Acostumado ao ritmo célere dessas investigações, tenho certeza de que
quando nosso quarto veículo tiver êxito, temos alguma chance de ter condição de
certeza quanto a essa matéria. O acidente é de todo lamentável. Temos 100% de
fracasso e isso é terrível: três lançamentos, três fracassos. Essa é uma estatística
cruel. Esse foguete deve-se chamar Treze Treze. É azaradíssimo, sem nenhuma
ofensa aos que têm esse número. Estou dizendo que esse programa foi marcado,
até agora, por uma série de insucessos. Não é nada disso, até porque certas coisas,
quando são lançadas pela quarta vez, têm sucesso.
Então, estamos discutindo agora o foguete. Vejam bem, as minhas perguntas
são de outra... Ah, caiu a ficha. Demorou, mas caiu.
(Não identificado) - Vai haver certas coisas que vão ser lançadas dez vezes
e não vão dar certo.
O SR. DEPUTADO JOSÉ THOMAZ NONÔ – É verdade. Eu só quero discutir
o foguete, Excelências, não quero discutir esses lançamentos exitosos outros, até
em homenagem a alguns companheiros.
Vejam bem, a minha primeira pergunta — eu não sei a quem dirigir — é
quanto a uma eventual obsolecência do VLS-1. Eu ouvi dizer — novamente
pergunta de leigo — que o projeto tinha 12 anos de maturação, além de mais 4
anos. Quer dizer, um projeto de, no mínimo, 16 anos ainda é contemporâneo, hábil?
É uma pergunta, não é nenhum prejulgamento.
Segundo. Eu não sei, mas há alguma maneira técnica, houve registro, talvez
eletrônico, computador, gravação — não sei nem o que é —, mas há algum registro
que fique fora da tal área que virou uma imensa ferragem que permita que se
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recupere o que aconteceu naqueles segundos que determinaram essa ignição? Há
alguma coisa que permita isso?
Terceira, a pergunta cruel. É o tal do investimento adicional. na indigência
contumaz na área de ciência e tecnologia e na área de defesa, ambas. Ora, eu
convivo com Chefes das Forças Armadas desde a época em que eles eram
Ministros. Aliás, eu estou aqui desde a época de um deles, do Figueiredo. Faz muito
tempo! Desde essa época não tem dinheiro para nada. O submarino da Marinha
agoniza, e embutido nele está um programa nuclear. As aeronaves, pelo amor de
Deus! O nosso Brigadeiro me perdoe, não vai aqui nenhuma agressão, mas os
nossos Mirages, pelo amor de Deus! Medalha de herói para quem voa naquilo. Eu
não vejo recurso para nada!
A pergunta é: qual foi o prejuízo em dinheiro, em dólares, com tudo aquilo que
virou fumaça? Quanto é necessário para repor isso? Dentro de que prazo? Porque
os jornais, maldosamente, noticiam: “Não, vai levar 3 anos, porque ainda no
Governo Lula”... Isso pouco interessa, o programa é nacional, o programa é do
Brasil. O que interessa saber é quanto temos de injetar em cada Orçamento para
permitir que se faça essa torre ou outra, enfim, o que se pode agregar de dinheiro
para isso.
Enquanto tivermos aqui — é uma observação conjuntural — o famoso
superávit primário, não há perigo disso acontecer. Não há o menor risco, por mais
doloroso que seja; 4.25, traduzidos em bilhão de dólar, confrontado com a
desvinculação das receitas da União, que apontam também para onde vai ser
canalizada essa massa de recursos, me fazem antever um futuro negro para esse
programa — negro!
Então, é essa a pergunta que faço, sob pena de estarmos nos envolvendo em
uma outra hecatombe, mais silenciosa, mas igualmente danosa. Quer dizer, não ter
foguete, não ter base, não ter lançamento, não ter coisa nenhuma. Não vai morrer
ninguém, isso é verdade, mas, em compensação, o Brasil não ganha nada em
desenvolvimento tecnológico, em avanço do seu campo, em treinamento de pessoal,
em intercâmbio salutar com russo, ucraniano, chinês, indiano... Quem tiver
tecnologia nisso deve ser chamado, concorrente é que não podemos chamar. Isso é
óbvio, não é nenhuma consideração xiita, nem de esquerda, nem coisa nenhuma. É
uma conclusão absolutamente prática, pragmática.
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Não conheço conglomerado... Ajudando aqui o Deputado João Almeida: a
simbiose entre a comunidade científica e a comunidade militar nesse campo é
universal. Desconheço um navio que foi desenvolvido 100% pela sociedade civil,
um avião que voou só por conta da sociedade civil, fora o de Santos Dumont. De lá
para cá, há uma saudável inter-relação entre esses 2 campos. É por isso que os
profissionais, os PHDs, boa parte deles, são castrenses, são militares. O Brasil
investiu uma fortuna na formação deles. Então, perder-se isso é um crime, é um
absurdo, é uma aberração.
Agora, com o Orçamento que aí está, com a LDO que aí está, eu fico
tranqüilo de que não haverá mais acidente, porque não haverá mais lançamento. E
as comunidades afro, as comunidades terceirizadas, aliás, as comunidades
paupérrimas do Maranhão, as comunidades sofridas terão uma base imensa para
montar um grande play ground, porque de lá não sai foguete. Nunca! Ao custo que
se dá cada lançamento desse, ao custo que se dá cada foguete desse, não há
lançamento.
Quanto à perda humana, faço também pergunta de leigo. Li em todos os
jornais deste País que aqueles profissionais vitimados representavam, digamos
assim, boa parcela da nata da inteligência nacional ou dos operadores, digamos
assim, porque havia jovens, pessoas de 20 anos. Imagino que ainda não eram o
superego da inteligência nacional, mas eram operadores. Como formar essas
pessoas? Imagino que eram profissionais de alta qualificação, que não estão
disponíveis no mercado. É como sino de igreja e anel de papa, produtos difíceis de
serem encontrados. Eu não posso encontrar um especialista desse na esquina.
Então, faço minha última pergunta. O que pensa o Governo, o Ministro Roberto
Amaral, meu particular amigo, a respeito de se acertar essa defasagem no campo
pessoal, de formação de pessoas?
Essas eram as perguntas objetivas. Desculpe-me se excedi no tempo.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) - Deputado José Thomaz
Nonô, foram muito objetivas as suas perguntas.
O SR. DEPUTADO JOSÉ THOMAZ NONÔ - Agradeço a tolerância de V.Exa.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) - Agradeço a explanação,
que é sempre brilhante.
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O SR. DEPUTADO JOSÉ THOMAZ NONÔ - É uma homenagem a nossa
paciência cívica.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) - Como V.Exa. já ouviu
outras também, estamos todos de acordo.
Com a palavra o Deputado Babá.
O SR. DEPUTADO BABÁ - Quando eu estava na Comissão de Ciência e
Tecnologia, lá foi debatido o tal acordo com os Estados Unidos que, felizmente, não
foi concretizado. Segundo dados da época, o Governo brasileiro iria receber 14
milhões de dólares anuais pelo aluguel da base. Entretanto, de acordo como estava
para ser firmado no acordo, na verdade ia era entregar parte do território brasileiro
ao governo norte-americano. E ainda com uma série de pressupostos de que até o
dinheiro recebido pelo aluguel não poderia ser utilizado no desenvolvimento dos
veículos, o que era um absurdo, como também o impedimento de entrada de
autoridades brasileiras sem o consentimento da embaixada norte-americana,
também um absurdo.
Esses projetos que são na verdade pesquisas de ponta. Infelizmente, vimos
sofrendo cortes subseqüentes tanto na área de educação quanto— e principalmente
— na área de pesquisa. Esse é um problema que irá se agravar porque a meta de
superávit firmada com o FMI, de 4,25, impõe que mais cortes sejam feitos tanto na
área de ciência e tecnologia quanto na reforma agrária. E isso faz falta para nosso
desenvolvimento tecnológico. Digo isso, porque entendemos que o Ministério da
Ciência e Tecnologia tem papel importantíssimo, mas não é aquinhoado com as
verbas necessárias para a responsabilidade desse Ministério, assim como a própria
Agência Espacial.
Aliás, antes de mais nada, quero sugerir que uma das 5 emendas desta
Comissão seja destina a esse projeto. Seria pelo menos um aceno de que uma das
5 emendas da Comissão de Relações Exteriores, mesmo porque que existem
acordos internacionais sendo assinados para viabilizar esse projeto. Faço
antecipadamente a sugestão de que esta Comissão destine uma das emendas. Se
não for suficiente, que a Comissão de Ciência e Tecnologia se comprometa com
outra, já que as duas estão à mesa. Faço essa sugestão porque isso é muito
importante para o desenvolvimento.
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Não consideramos ser essa a solução, porque a solução seria o rompimento
efetivamente com os acordos firmados com o Fundo Monetário Internacional . Mas
essa não é a situação em destaque aqui.
Um dia desses eu estava num shopping, passaram 2 jovens e me entregam
cópia de um artigo publicado em um jornal do Maranhão no dia em que aconteceu o
acidente, na sexta feira. Vou lê-lo aqui, porque me sinto na obrigação. Vai na linha
do que o Deputado chegou a dizer aqui. Diz o seguinte:
“Suspeita no ar.
Engana-se quem pensar que a operação em que
se prepara o lançamento de mais um foguete do tipo VLS
em Alcântara está limitada à movimentação de
especialistas em parafernália tecnológica espacial. Em
paralelo, e com igual intensidade, está em andamento
uma outra operação, esta comandada pelo setor de
inteligência do Programa Espacial Brasileiro e destinada a
prevenir contra improváveis, mas não impossíveis, ações
de sabotagem.
O foguete está pronto para ser lançado. Todos os
testes que antecedem ao acionamento dos motores já
foram feitos repetidas vezes e os resultados emitiram
sinal verde para que a missão seja realizada. O
VLS-1/VO-3 poderia ter sido lançado tranqüilamente na
terça-feira, mas o estado de alerta extremo com a
segurança recomendou que a ativação dos motores só
aconteça na próxima semana, em data ainda a ser
definida.
O que está acontecendo, então? Ninguém no CL
abre o jogo, mas circulam rumores de que a ordem para
manter o foguete no chão foi disparada de Brasília, há
alguns dias. Em seguida, desembarcou em Alcântara uma
grande equipe ligada à área de inteligência, que
imediatamente acionou todo um aparato de monitoração.
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Há fortes suspeitas - não confirmadas, é claro - de
que o fracasso do último lançamento poderia ter sido
provocado por estranhas ondas de rádio, que os mais
sofisticados equipamentos de monitoração do CLA não
puderam identificar. Tais ondas teriam interferido nas
comunicações, concorrendo para o descontrole do
foguete já no ar.
Esse monitoramento explicaria os intensos vôos
num grande raio em torno da Base de Alcântara, em
busca das ondas desconhecidas. Além disso, unidades de
caça estariam sendo mantidas em estado de ''alerta
vermelho'' nas bases aéreas de Boa Vista, Fortaleza,
Natal e até no poderoso Grupo de Defesa Aérea, sediado
em Anápolis.
Não há qualquer informação de que as operações
de lançamento estariam sendo sabotadas. Mas os
rumores dão conta de que essa hipótese está incluída na
lista de possibilidades do serviço de inteligência.
Fiz questão de ler a publicação porque me foi entregue por dois jovens que
passaram e que inclusive me disseram que o responsável aqui em Brasília por esse
processo, coincidentemente ou não, havia morrido em um acidente de carro. Não sei
nem o nome do cidadão, mas faço questão de não guardar isso só para mim. Esses
jovens estavam distribuindo essas fotocópias de matéria publicada no jornal O
Estado do Maranhão, do dia 22. Essa é uma preocupação, pois falam tanto de
sabotagem, e eu não sei de fato o que aconteceu.
Na minha opinião esse programa tem que ser evidentemente apoiado, tem
que ter verbas necessárias para seu desenvolvimento, porque a impressão que dá é
que o Brasil quer chegar à Lua ou em Marte, e não é. Há papéis básicos,
necessários de que o Brasil poderia ficar independente dessa situação de estar com
a sua própria tecnologia e ficar independente de tecnologias estrangeiras.
Portanto, presto solidariedade às famílias dos mortos. Demonstro essa
preocupação e sugiro novamente que a Sra. Presidenta, Deputada Zulaiê Cobra,
defenda a idéia de destinar uma das 5 emendas desta Comissão para o projeto,
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bem como que tal idéia também seja defendida na Comissão de Ciência e
Tecnologia. Muito obrigado.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) - Muito obrigada, Deputado
Babá.
Com a palavra a Deputada Luiza Erundina.
A SRA. DEPUTADA LUIZA ERUNDINA - O fato de ser última implica não ter
muito o que acrescentar.
Fico sempre muito aflita com essas audiências públicas. Elas são bastantes
elucidativas, cumprem o objetivo delas em si mesmo, mas depois o que acontece?
Quero retomar alguns pontos que pudessem dar alguns sinais de que algo
possa ser feito para que não se termine essa audiência e se retome a rotina dessas
comissões e da Casa até que ocorra outra situação extrema para se convocar outra
audiência pública. Essa é um pouco a dinâmica desta Casa. Diante dessa realidade
tão terrível, não podemos nos dar o direito de fazer dessa forma.
Em um projeto que já consumiu 300 milhões de dólares não é simples dizer
“não vamos dar continuidade ou vamos dar continuidade”. Mas dar continuidade em
que termos? Tudo bem. Pode-se destinar uma emenda em cada uma dessas duas
comissões, mas se trata de um projeto estratégico, um projeto de médio e longo
prazos, que uma ou outra emenda de um orçamento anual não irá resolver.
Temos, por exemplo, o PPA. O que o PPA prevê de investimentos nessa área
para dar consistência e sentido a esse programa espacial brasileiro? Porque, na
forma como esse programa está, é uma falência absoluta. Ele deve ser definido
como uma política de Governo, mais do que isso, uma política de Estado, prioritária.
E se é prioritário, tem que ser posto em ordem de preferência na destinação dos
recursos, estabelecendo metas de curto, médio e longo prazos. Por isso, penso não
só na LDO, no Orçamento de 2004, mas no PPA, que prevê um tempo maior de
planejamento de Governo. Se, de fato, houver a definição de que essa área é
prioritária, que isso se concretize, incluindo recursos mais substanciais no PPA do
atual Governo.
Não podemos misturar as coisas. Um aspecto é o acordo com os Estados
Unidos, com outros países. Isso está sendo encaminhado de forma correta. Foi
correto o Governo ter retirado o acordo com os Estados Unidos. Não havia nenhum
consenso na Casa em torno dele. Porém, ele teve o mérito de acordar a Casa para
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uma tragédia humana que aconteceu naquela região, há 20 anos, quando se
implantou aquele projeto de alta tecnologia, com tremendo impacto numa
comunidade em estágio primitivo de vida, de remanescentes de quilombos, que
viviam da pesca, não tinham energia elétrica, nem onde armazenar os produtos que
pescavam. Puseram a população a uma enorme distância, para poder instalar
aquele projeto, absolutamente defasado do estágio em que se encontrava aquela
comunidade.
Não estou dizendo que agora temos que revertê-lo, porque ele é irreversível.
O País tem que entrar no patamar de desenvolvimento tecnológico, que deve ser
prioridade, se é que queremos investir no futuro e não apenas em um Governo de 4
anos. Fica muito mau para o Estado brasileiro interromper esse programa, mas isso
tem que ser posto numa linha que, efetivamente, dê consistência a essa decisão
política.
Não podemos esquecer a tragédia humana, não só fruto da explosão, mas a
que ocorreu com a implantação daquele projeto em Alcântara. Foram mais de 300
famílias que sofreram impacto social, econômico, cultural e de vida, situação que
precisa ser recuperada pelo Estado. Existe o relatório que aponta soluções,
iniciativas. Em vez de aquela população sofrer o impacto negativo do projeto, o
Centro de Lançamento de Alcântara, que se utilize o mesmo procedimento para
estabelecer um plano de desenvolvimento regional, envolvendo investimentos dos
Governos Federal, Estadual e Municipal, para ressarcir o prejuízo humano que
aquele investimento provocou naquela comunidade, há 20 anos. Se hoje o quadro
do País em relação a recursos para um investimento dessa ordem é frágil, imaginem
20 anos atrás.
Essa questão tem que ser pensada em seu todo, o gerenciamento do
Programa Espacial. Não dá para entender que um pedaço, o campo de lançamento,
fique com os militares, o CTA com outro, a Agência Espacial com um terceiro. Por
que não integrar essas áreas num único órgão, no caso a Agência Espacial,
gerenciando o satélite, o VLS-1, o Centro de Lançamento? Isso seria mais racional,
daria talvez até melhor condição para averiguar as reais causas de tamanha
tragédia.
Como estão as investigações? Quem é o responsável por elas? Não seria o
caso de haver uma comissão de investigação independente, para não existir
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nenhuma dúvida? Qual o grau de intercâmbio tecnológico com países em estágio
mais avançado que o Brasil em relação a essas pesquisas espaciais, Rússia,
Ucrânia, China e Índia? Não poderia haver um intercâmbio de técnicos e de
conhecimento tecnológico, a partir deste momento, para salvar esse projeto?
São essas as reflexões que gostaria de agregar ao que já foi dito. Foi
bastante esclarecedor o que os Ministros, o Comandante e o Presidente da Agência
nos trouxeram, só que não podemos ficar apenas com essas explicações,
informações. Precisamos retomar a rotina das sessões ordinárias e das audiências
públicas, do contrário não vamos ficar com a consciência tranqüila. Temos também
de dar uma atenção, um acompanhamento permanente a esses familiares. Mais que
isso, temos de enfrentar esses problemas junto com o Governo — temos um novo
Governo. Não podemos ficar chorando o leite derramado de governos passados.
Pela forma como o Governo se comportou em relação ao acordo, aquele que estava
nesta Casa, sinaliza-nos a possibilidade de haver uma ação conjunta destas 2
Comissões com ele, no sentido de acertamos o passo em relação a um setor, a uma
área estratégica. Não posso imaginar o País retornar, reverter ou paralisar suas
ações, seus investimentos e suas prioridades em relação a esse setor, a menos que
queira parar no tempo e não queira investir no futuro.
Era o que tinha a dizer.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) - Muito obrigada, Deputada
Luiza Erundina.
Concedo a palavra ao Deputado Vittorio Medioli, último inscrito.
O SR. DEPUTADO VITTORIO MEDIOLI – Gostaria de, muito rapidamente,
fazer algumas perguntas ao Brigadeiro Luiz Carlos da Silva Bueno.
Faço minhas as palavras dos Deputados Gastão Vieira e Babá quando se
referem à gravidade da matéria publicada na imprensa, no mesmo dia em que
aconteceu o acidente. É indubitável, fora de qualquer questão que havia um sério
risco naquele dia. Nenhuma imprensa pode sonhar ou tirar da cartola uma matéria
como a que foi lida, confirmando, no mesmo dia, o acidente que vitimou 21 pessoas.
Foi dito aqui que havia em curso uma operação de evacuação da base. Pelo
menos, o Ministro...
(Intervenção inaudível.)
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O SR. DEPUTADO VITTORIO MEDIOLI – Exato. Um treino, um exercício de
evacuação da base. Toda evacuação me parece, falando como leigo, que é adotada
em caso de vasamento de material radioativo.
(Intervenção inaudível.)
O SR. DEPUTADO VITTORIO MEDIOLI – Não, tudo bem. Gostaria que
depois me explicassem o porque da evacuação de uma base como essa. Na
hipótese de que estivesse ocorrendo uma evacuação, porque as 21 vítimas não
participaram dela, estavam trabalhando junto ao foguete? Parece-me estranho.
Uma vez, encontrava-me em Angra dos Reis quando houve uma operação de
evacuação. Todo mundo participou, até a própria cidade. Então, por que as 21
vítimas não participaram dessa evacuação?
Com que freqüência ocorrem essas operações, esses exercícios de
evacuação? Quem seria o oficial comandante dessa operação? Esta Comissão
poderia ter acesso ao relatório da operação de evacuação do dia 22 e da anterior?
Não sei quando esta ocorreu, mas deve ter havido outra operação de evacuação.
Dessa forma, tiraremos todas as dúvidas sobre o fato, se aconteceu de forma
meramente casual, e não anunciada, como os jornais estavam dizendo.
Obrigado.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) – Antes de conceder a
palavra aos Ministros, aos nossos convidados do Comando da Aeronáutica e o
Presidente Bevilacqua, quero avisar aos senhores que temos possibilidade de
participar de uma Comissão Externa, criada pelo Deputado Corauci na Comissão de
Ciência e Tecnologia. A Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional
também poderá participar. Será importante termos os nomes dos Deputados que
vão compor essa Comissão Externa, com a participação dos hoje nossos
convidados, que farão também as nossas informações serem mais esclarecidas.
Concedo a palavra, inicialmente, ao Deputado — acho que todos são
Deputados —, ao Ministro da Defesa, Dr. José Viegas Filho, para fazer sua
explanação final.
O SR. MINISTRO JOSÉ VIEGAS FILHO – Seria a maior honra para mim
pertencer a esta Casa, Sra. Presidente.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) – Para nós é uma honra.
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O SR. MINISTRO JOSÉ VIEGAS FILHO – Peço permissão para que minha
primeira palavra seja de agradecimento aos Deputados que aqui estão, alguns deles
desde as 3 horas da tarde, num gesto de paciência e de clara demonstração de
interesse pelo o que aconteceu em Alcântara. O apoio, o interesse, o trabalho e a
contribuição dos senhores é fundamental para que o nosso projeto possa ter um
destino diferente daquele que o Deputado Nonô prevê. Isso requer um esforço
conjunto da sociedade. Embora seja uma ação basicamente do Estado, ela não se
pode desenvolver se não houver uma clara consciência nacional quanto ao seu
propósito, ao seu interesse na geração do conhecimento científico e tecnológico.
Quanto às causas do acidente, a Deputada Dra. Clair formulou a pergunta
com toda a clareza: “Qual é a causa?” Pois é, Dra. Clair, isso é o que eu quero
saber, é o que todos queremos saber. Não vamos descansar até saber o que
aconteceu. Não é só a sociedade civil, muito ao contrário. A sociedade pode ter um
interesse episódico, emocionada que ficou com o acidente. Mas o nosso interesse,
do Governo e dos órgãos que participam mais diretamente do Programa Espacial
Brasileiro é permanente em saber, determinar, com toda a precisão possível, a
causa do acidente. Não vamos descansar enquanto não souber o que foi que
aconteceu. É fundamental saber o que aconteceu para que o programa possa-se
retomar em seu vigor, em sua plenitude, com a confiança de todos, porque sem isso
não pode haver confiança de todos.
Como fazer para determinar a causa do acidente? Fazer as investigações
técnicas. A emoção não é boa conselheira. Leva-nos a pistas falsas. As pistas
verdadeiras descobrimos com métodos, critérios de análise. É isso que buscamos
fazer.
Quanto à sua pergunta com relação ao lançamento de 1999, a senhora me
perdoe, mas não tenho a resposta, não sei agora, mas posso dizer-lhe que a
encontrará em um site da Internet, assim como várias outras informações a respeito
do que aconteceu nos lançamentos anteriores. O site é www.vls.org.br. O que
sabemos está lá em termos de informação existente. Eu não poderia acrescentar-lhe
neste momento outra coisa.
Sinais de fora não houve. Essa é uma das poucas certezas que nós temos.
No momento do incêndio, não houve emissão de sinais eletromagnéticos.
Estávamos — já disse isso antes — especificamente preparados para isso. Essa é
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uma das primeiras providências que se toma quando se desenvolve uma operação
de proteção ao lançamento, operação essa que foi desenvolvida com alguns meses
de antecipação. Portanto, estávamos preparados para isso. Toda informação que
tenho leva-me a afirmar que não houve emissão de sinal externo.
A senhora perguntou: “Em que sentido vão as investigações?” Vão num
sentido muito amplo. Sabemos algumas coisas, por exemplo, onde houve o
incêndio, que foi no primeiro estágio. Não chegamos a saber, mas suspeitamos
fortemente de que a causa imediata, o deflagrador desse incêndio tenha sido uma
corrente elétrica. Sabemos que a corrente elétrica para deflagrar a explosão do
combustível, que é estável, precisaria ter uma amperagem não inferior a 1 ampère,
provavelmente 1 ampère e meio, que é uma fonte de energia bastante grande. Não
é uma fonte de energia portátil. Ninguém consegue gerar uma carga dessas
individualmente. Tem que ter um aparelho com um certo volume para fazer isso, o
que nos corrobora a desacreditar a tese da sabotagem. Mas nós não sabemos o que
terá causado a corrente elétrica.
Nesse sentido vão as investigações. Naturalmente, enquanto não soubermos
a causa, não podemos desprezar o espectro amplo que aparece nos manuais de
investigação. Naturalmente, precisamos da ajuda externa. Por isso, os técnicos
russos que têm experiências específicas de acidentes semelhantes a esses
estão-nos dando o apoio possível. Também por causa disso e pelo nosso desejo de
mostrar o interesse crucial que tem o Governo, que tem o Ministério da Defesa...
(Intervenção inaudível.)
O SR. MINISTRO JOSÉ VIEGAS FILHO – Está bem, uma correção. Muito
obrigado pela correção. O endereço eletrônico é www.vls.gov.br.
Continuando o raciocínio, quero dizer que não podemos desprezar outras
causas. Temos, ao mesmo tempo em que concentramos esforço numa investigação
específica sobre o que poderá causado uma corrente elétrica naquela momento, não
descartamos outros aspectos também. Não podemos descartar. Enquanto não
soubermos, não podemos descartar plenamente nenhum aspecto. Isso faz parte dos
manuais de operação.
Houve uma série perguntas sobre o custo/benefício do projeto e sobre a
continuidade dele. Antes disso, quero, sem abandonar as investigações, também
houve um par de Deputados que trouxeram a conveniência de que haja uma
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Comissão independente. Eu lhes digo o seguinte: o Governo tem a obrigação de
investigar isso. Repito: o Governo tem a obrigação de investigar isso. Se vocês
quiserem formar uma Comissão independente que formem. Agora, eu tenho a
obrigação de investigar isso! Ao mesmo tempo que outras Comissões possam-se
formar. Queremos trabalhar com transparência. Estamos convidando os membros
da comunidade científica brasileira. Aliás, já recebemos as listas dos integrantes da
comunidade científica brasileira. Já estamos em condições de anunciar os seus
nomes. Também queremos incorporar os representantes dos familiares dos mortos.
Mas, tudo bem, é preciso, sim, que se faça uma investigação ampla; é preciso, sim,
que se faça uma reflexão sobre os rumos do nosso projeto. Temos que aproveitar o
momento da crise para gerar a oportunidade que a crise contém, que é uma
oportunidade de desenvolver o projeto em bases mais sólidas, em bases de um
financiamento mais previsível, com apoio real da comunidade científica. Eu e o
Ministro Roberto Amaral falamos da importância de acentuar o apoio da indústria, a
inter-relação entre essa nossa atividade, que é uma atividade de Estado em
qualquer lugar do mundo, como a indústria.
Sobre civil ou militar, houve um Deputado que expressou perplexidade. Penso
que tem que ser civil e militar. Não é só no Brasil. Em muitos países é assim. No
caso do Brasil é especificamente, porque temos uma tradição de geração de
tecnologia, de conhecimento, que vem da Força Aérea, do ITA, do CTA, que tem
décadas de tradição, que é o centro de excelência do pensamento tecnológico
espacial brasileiro. Se quisermos fazer um programa espacial no Brasil, temos que
ter essa gente trabalhando conosco, porque são eles que trabalham. Por que civil?
Porque o programa não é militar, o objetivo do programa não é militar, o Brasil não
está produzindo mísseis com cargas militares, o Brasil está produzindo lançadores
de satélites, que têm inclusive uma vocação comercial, daí o nosso interesse em
viabilizar comercialmente a Base de Alcântara. Então, isso requer, necessariamente,
uma junção de conhecimento militar e de conhecimento civil. A operação é militar
porque ela é gerada em instituições que pertencem à Aeronáutica, especificamente
o CTA e o CLA — Centro de Lançamento de Alcântara.
Por que temos um IPM? Porque criou um quartel e porque morreu gente, e
quanto morre gente num quartel, você tem que fazer um IPM. Não é uma questão de
escolha, é uma obrigação, e o IPM tem 40 dias de prazo. O IPM não é a única
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investigação. Além do IPM, fazemos uma investigação técnica, que tem 30 dias de
prazo, podendo ser prorrogáveis.
Esses são os esforços que estamos fazendo, mas convido o Congresso a
participar dessa reflexão ampla. Temos a oportunidade de redimensionar nosso
programa espacial. Tivemos 3 fracassos. Quem é que pode ficar contente com isso?
Ninguém. Mas isso traz o interesse revigorado da Nação brasileira para que
superemos essa situação e desenvolvemos, a partir daqui, o caminho certo. Como é
que se chega a esse caminho certo? Através de uma reflexão ampla sobre as bases
em que se desenvolveu o processo, sobre o grau de obsolescência que o projeto
pode ter, sobre o nível de cooperação internacional que podemos esperar. Desejar é
uma coisa, esperar concretamente é outra. São poucos os Países que se dispõem a
cooperar nessa área. Uma área onde há fortíssimas restrições é o intercâmbio
tecnológico, o que nos empurrou a uma linha praticamente de auto-suficiência, que
não é desejável, mas que era a única que ficou aberta ao nosso alcance.
Vamos expandir a cooperação internacional? Sim, já estamos expandindo a
cooperação internacional, já temos negociações avançadas com os ucranianos, já
temos os técnicos russos que nos ajudam nesse projeto. Quem sabe podemos
estabelecer outros tipos de cooperação técnica e científica com a Rússia!
Investimentos adicionais. Deputado José Thomaz Nonô, não tenho uma cifra
ainda concreta e confiável. Nos primeiros dias, estimei uma em 100 milhões de
reais. Depois disso, se não me engano, o Ministério da Ciência e Tecnologia falou
em 130 milhões, de maneira que, em aproximações sucessivas, vamos chegar a
uma quantificação mais sólida, mas acredito que seja mais ou menos uma
vizinhança desses números.
Como recuperar a perda humana? Com o ITA. O ITA produz mais de 100
cientistas por ano. Temos expectativa, portanto, de que isso propicie uma renovação
natural de nosso conhecimento científico tecnológico. Claro que o nível salarial é
preocupante. O Prof. Luiz Bevilacqua tem toda razão quando diz que as pessoas
trabalham por paixão. É verdade, eu também, eu também trabalho por paixão.
Agora, paixão não está na moda. Esse também é um problema de todos, não é só
nosso não.
O que espero do Congresso? Espero do Congresso a manutenção contínua
do interesse que estou vendo aqui presente nos Srs. Deputados; espero do
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Congresso uma atenção, um acompanhamento atento das investigações para que
não haja dúvidas de que as investigações são honestas e bem feitas; espero do
Congresso o apoio para um programa espacial regenerado, para que não nos falte
coragem, tenacidade e recurso para reformular no que tiver que ser reformulado, e
não sabemos ainda o que é o Programa Espacial Brasileiro, para que tenhamos,
sim, acesso ao clube fechado, pequeno, dos países capazes de lançar satélites,
para que possamos dar um boa utilização comercial à Base de Alcântara.
Estou seguro de que podemos contar com esse apoio, porque vejo nos
senhores esse interesse. Essa é a única coisa que lhes peço — única, não; estou
pedindo 3, mas uma delas é a continuação desse interesse. Não vamos deixar
escapar uma oportunidade tão dolorosa, como essa que se nos impôs, para
aproveitar aquilo que toda crise traz, que é a oportunidade da regeneração e do
novo crescimento.
Obrigado, Deputada.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) - Muito obrigada, Ministro
José Viegas Filho.
Passo a palavra agora ao Ministro Roberto Átila Amaral Vieira, da Ciência e
Tecnologia, para suas observações finais.
O SR. MINISTRO ROBERTO ÁTILA AMARAL VIEIRA - Minhas
considerações finais são, fundamentalmente, considerações de agradecimentos e
apreço. Agradecer à Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática
a cooperação que vem dando ao Ministério da Ciência e Tecnologia do País; à
Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional por nos haver convidado
para esse debate. Gostaríamos também de agradecer a cada um dos Srs.
Parlamentares a presença e principalmente as intervenções.
Devemos muito, mas muito mesmo. Foi perguntado como recuperar o que
perdemos com as vidas que se foram. Não vamos recuperar nunca, porque vidas
não se substituem. Devemos muito a eles pelo projeto. Eles nos deixaram uma
herança muito importante de apreço, de paixão, de sentimento de Pátria; que vale a
pena investir no interesse público; que, às vezes, é mais importante se preocupar
com o coletivo do que com a sua carreira pessoal; que é possível trabalhar com
salários minguados.
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Por isso, abro um parêntese e faço um apelo aos senhores: podem levantar
todas as hipóteses. Inclusive do ponto de vista metodológico, devemos levantar
todas as hipóteses, menos uma, que aqueles profissionais acederam a pressões
para apressar o projeto. Isso não condiz com os nossos conceitos, com os conceitos
que temos revelado, que os senhores têm revelado sobre a qualidade daqueles —
vou usar uma expressão que está ficando démodé, a censura manda devolver — ,
acima de tudo, patriotas. Eles legaram tirar o Programa Espacial Brasileiro do
escaninho, do ignorado, do fechado, da ostra e trouxeram para a luz do público.
Deixou de ser um projeto resultado da insistência e da obsessão do CTA, do INPE,
da Agência Espacial Brasileira para, principalmente a partir desta sessão, se
transformar num programa de Estado.
A partir de hoje podemos dizer que a previsão do meu querido amigo
Deputado José Thomaz Nonô não se realizará. Por quê? Há primeiro a decisão de
Governo de retomar o processo, de levá-lo avante; há a decisão do Congresso
Nacional de levá-lo avante. E temos hoje, como foi fito aqui, uma sociedade
brasileira que se identifica com esse programa, que vai fazer esse programa
permanente. E também estamos possibilitando algo que antes não tínhamos entre
nós, do Governo, que é o espaço da reflexão. Estamos abertos à reflexão sem
limites. A partir da investigação, estamos dispostos a discutir com esta Casa, sem
limites. É o que queremos e esta Casa também o quer: identificar as causas do
acidente para corrigi-los, retomar o projeto e assegurar no horizonte ainda de nossas
vidas a autonomia do Programa Espacial Brasileiro, que é amplo, dele o VLS é um
projeto que foi atingido, mas que não está morto.
Precisamos da cooperação do Congresso Nacional, por meio da sua
vigilância. Fiquem os senhores tranqüilos quanto à transparência. Ninguém pode ter
mais interesse na transparência do que o atual Governo, por todas as razões, as
mais óbvias. Chamamos a participação da sociedade acadêmica, da academia, das
sociedades científicas as mais representativas do País. Não queremos esconder
nada e queremos conhecer tudo.
Hoje, fomos informados da belíssima iniciativa desta Casa de constituir uma
Comissão Externa. Que não se estabeleçam limites e que discutam conosco o
modelo, o programa. Não estamos aqui apenas para discutir recursos, pois estes
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são uma conseqüência do acordo que tivermos e não tivermos em torno do que
deve ser o Programa Espacial Brasileiro.
Quanto à questão dos recursos, caro amigo Deputado Arlindo Chinaglia, não
se pode estabelecer relação de casualidade, mas há uma questão que o Governo do
Presidente Lula, na sua área de decisão, vai enfrentar e que precisamos do
Congresso Nacional para que não seja episódio no Governo do Presidente Lula a
ciclotimia dos recursos. O grande problema que o Programa enfrentou até aqui foi a
ciclotimia, que é o que impede o planejamento de médio e longo prazo, impede
segurança, impede investimentos, impede planejamento. O Governo que
compreende a importância, transfere recursos. Mas há governos que acham isso
irrelevante, então, retira os recursos, e o projeto vai aos sopapos, aos soluços e não
há planejamento científico que resista a isso.
Por fim, gostaria de por o Ministério da Ciência e Tecnologia, a Agência
Espacial Brasileira, o IMPI, enfim, por todos à inteira disposição da Comissão
Externa destas duas Casas do Congresso Nacional.
Aos senhores, muito obrigado.
O SR. DEPUTADO CORAUCI SOBRINHO - Quero, em nome da Comissão
de Tecnologia, Comunicação e Informática, agradecer a presença aos nossos dois
preclaros Ministros, assim como ao Presidente da Agência Espacial Brasileira e ao
Comandante da Aeronáutica.
Esta foi uma reunião bastante esclarecedora, elucidativa. Quero tranqüilizar a
nossa querida Deputada Luiza Erundina no sentido de que nós, a par de continuar
as nossas costumeiras reuniões, não vamos perder de vista a importância deste
assunto, deste momento, não só na Comissão Externa, que eu terei a honra e a
responsabilidade de coordenar, mas também no âmbito da nossa Comissão. E não
poderia ser diferente, porque V.Exa. está sempre vigilante a este tipo de
responsabilidade.
Portanto, em nome da nossa Comissão, muito obrigado aos Srs. Ministros e
aos demais convidados. Oportunamente teremos um novo contato para a
continuidade dessas discussões, da busca de soluções.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) - Fizemos hoje nesta Casa
uma coisa muito importante. Não só os Deputados estão até agora, como os
Deputados que passaram por aqui, o Sr. Ministro da Defesa, o Sr. Ministro da
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Ciência e Tecnologia, nosso Comandante da Aeronáutica, nosso Presidente da
Agência. Estamos aqui com um só objetivo e é bom que se deixe bem claro: nossa
maior preocupação é realmente com a transparência. Eu tenho certeza de que os
senhores aqui hoje fizeram vir à tona todo o trabalho dos dois Ministérios, com o
trabalho do Comando da Aeronáutica, com o trabalho da Agência, e saímos daqui
convictos de que queremos ajudar. Aqui não temos partidos, aqui não temos
interesse. O interesse aqui é do Brasil. Nós tivemos hoje aqui o presidente da
associação dos parentes das vítimas que estão convictos na mesma posição que a
nossa. Portanto, só tenho a agradecer.
Acho que os Srs. Ministros fizeram hoje um esforço digno de elogios. Ficaram
aqui das 3 da tarde até às 8 da noite. Nosso Comandante da Aeronáutica, um
homem acostumado à disciplina, mas nós não estamos acostumados a tanta
disciplina, e também o nosso Presidente da Agência, que também sofreu bastante
aqui com a presença nesse tempo todo. E os Srs. Deputados, é claro, com o
interesse que nós temos de ajudá-los a resolver definitivamente esse programa.
Eu quero agradecer ao meu colega, esse Deputado bravo, maravilhoso que é
o Deputado Corauci Sobrinho, que é do meu Estado e que é das duas Comissões.
Irmamente fizemos um bom trabalho.
Convocamos os Srs. Deputados da minha Comissão para uma reunião
amanhã, às 10h, neste mesmo plenário.
Muito obrigada.
Está encerrada a sessão.
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