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Depois da Chuva

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José Anezio Fernandes do Vale

Depois da Chuva Sobre Ritos de Passagem

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Dedicatória

A todos os meus próximos,

ao deus da Guerra,

aos dias de calor,

à internet,

à aguda e perfurante pontinha da pirâmide

e a todos os outros que fazem por merecer o meu ódio...

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Agradecimentos

A meus amigos e meu pai,

à minha amiga e meu amor,

aos desconhecidos que valeram/valem por amigos,

às paisagens que me fazem suspirar,

ao Deus que me deu ouvidos

e a todos os outros que fazem por merecer o meu amor...

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“Fica tranqüilo

que todo mundo tem pressa”

Bojo

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Sobre Ritos de Passagem

Tudo o que é preciso saber sobre os versos deste livro está nos versos deste livro... Explicar o que os poemas querem dizer é apenas chamar de estúpidos os leitores, e não ajuda-los, já que toda poesia deveria falar por si... Este “Depois da Chuva” é o resultado de uma brincadeira, de um adolescente que enfiou a cabeça em uma foto copiadora pra ter um retrato de si próprio, pra pôr no documento de identidade... E ele precisa do documento de identidade pra conseguir emprego... Este livro retrata uma sociedade adolescente, uma humanidade adolescente, um mundo adolescente... A chuva cai pra destruir, cai pra encharcar, pra fazer quem não tem nada perder tudo... Nós, que não temos nada, passamos a ter tido um tudo depois de o termos perdido... Pouco é uma eternidade para a felicidade de pobre... O que vem depois da chuva, pode ser um sol, para secar tudo, preparar o terreno para a próxima tempestade, pode ser um florescer, um brotar, um rejuvenescer... Depois da chuva pode vir tanta coisa... Não tem como prever, tem como esperar a chuva passar... Mas a chuva não passa, porque ela é benção, e nunca vem... Então fica um pobre coitado aqui, esperando a chuva chegar, esperando as bênçãos caírem dos céus pra poder comemorar o verde que vai brotar... A chuva é bênção e maldição, a ausência da chuva é glória e desgraça, e no coração da humanidade, chove e faz sol... Todos, do microscópio ao telescópio, do indivíduo à humanidade, são a contradição, os dois lados de uma moeda... É isso que sai na fotocópia... Pronto! Expliquei o que os poemas querem dizer...

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Sumário

MMiinnhhaa PPooeessiiaa 1133

CCaannttoo ddee BBeeiirraa ddee MMaarr 1177

PPeennaa ddaa FFaaddaa MMaaddrriinnhhaa 1199

CChhuuvvaa ddee EEssttrreellaass 2211

PPoorrqquuee NNoossssooss FFiillhhooss FFooggeemm 2222

AA MMããoo qquuee SSeegguurraa oo MMuunnddoo 2233

UUmm PPooeemmaa PPaarraa oo EEddnnaarrddoo 2255

PPoorrqquuee EEuu DDiiggoo qquuee VVooccêê ÉÉ GGoossttoossaa 2277

OO SSiillêênncciioo 2288

FFuuggaa NNºº IIVV 2299

MMeeddoo ddee VVooaarr 3311

AA BBooccaa ee ooss OOllhhooss 3333

QQuuaall SSeerráá aa MMiinnhhaa VViittóórriiaa...... 3344

EEuu NNããoo EEssttoouu EEssccrreevveennddoo EEssttee PPooeemmaa 3355

CCaannttoo ddoo RReeccéémm NNaasscciiddoo 3366

OOddee aaoo PPrriimmeeiirroo AAmmoorr 3377

ÀÀ PPrrooccuurraa ddoo VVeerrddaaddeeiirroo AAmmoorr 3399

VVeerrôônniiccaa 4400

IInnvveennttaarr PPaallaavvrraass 4422

DDeeiixxaa PPrraa LLáá!! 4433

DDee EElleeffaannttee 4444

OOddee aaoo FFuuttuurroo 4455

NNããoo--PPooeemmaa PPaarraa GGaabbrriieellaa 4466

EEssccrreevveerr CCoomm SSoonnoo 4477

HHoommeemm 4488

NNoo LLuuggaarr EErrrraaddoo,, NNoo MMoommeennttoo CCeerrttoo 5500

TTúúnneell ddoo FFiimm 5511

TTaappeettee 5544

CCoonnttiinnuuee 5555

CCaannççããoo ddaa EEtteerrnniiddaaddee 5566

MMee SSeennttiinnddoo 5577

PPaarraa 5599

PPooeemmaa ddoo AAmmoorr NNããoo FFeeiittoo 6600

CChheeiirroo ddoo MMuunnddoo 6611

PPssiiccooddeelliiccoorrddeell 6644

MMeennssaaggeemm eemm UUmmaa GGaarrrraaffaa ((PPaarróóddiiaa)) 6677

DDiiaa AAppóóss DDiiaa 6688

OOuu MMoorrrroo 6699

IInnssaannaa!! 7700

DDaa NNaattuurreezzaa ddoo HHoommeemm 7722

VVaappoorr ddee SSoonnhhooss 7733

VViicciiaa 7744

OO SSeeggrreeddoo 7755

PPooeemmaa IInnccoonnsscciieennttee II 7766

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DDee CCaannttaarr 7788

VVeennhhaa 8800

VVoonnttaaddeess 8822

SSeemm NNoommee 8844

EEuu SSoouu MMiinnhhaass TTooxxiinnaass 8866

PPoorr uumm TTooqquuee 8899

DDee PPaassssaaggeemm 9900

AA PPaalleessttrraa 9922

AAggoorraa éé TTaarrddee 9944

PPooeemmaa IInnccoonnsscciieennttee IIII 9955

EE TTaall 9977

PPoorr MMiimm 9988

NNããoo AAiinnddaa 110000

PPaarrttiiccuullaarr 110033

EEnnttããoo 110044

DDee UUmm HHoommeemm SSóó 110077

SSoonneettoo ddaa CCoonnttrraaddiiççããoo 111100

CCaannççããoo ddoo AAbbaannddoonnaaddoo 111111

BBoobboo ddee AAmmoorr 111122

DDiissccuurrssoo ddee AAmmoorr MMaatteerrnnoo 111133

AAggoorraa NNiinngguuéémm 111155

PPrriimmeeiirraa FFáábbuullaa ddoo LLoobboo ee ddoo CCoorrddeeiirroo 111166

PPiinnttuurraa aa ÓÓlleeoo ddee SSoojjaa 111177

HHaaiikkaaii 111199

PPooeemmaa IInnccoonnsscciieennttee IIIIII 112200

AAqquuii NNããoo 112222

SSee MMooddeellaarr 112233

SSeegguunnddaa FFáábbuullaa ddoo LLoobboo ee ddoo CCoorrddeeiirroo 112244

OO DDrraaggããoo ee oo JJaassmmiimm 112266

AA CCaannççããoo QQuuee NNããoo SSee CCaannttaa 112277

MMaanngguuee ee RReessttiinnggaa 112299

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A CHUVA...

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Minha Poesia

Estou escrevendo um livro Pra nada, Um livro esburrando essa poesia Descompromissada... Poesia Vadia, Poesia nem um pouco Engajada... Descompromissada Com o cinismo, Descompromissada Com a paixão, Descompromissada Com a justiça, Com a política, Com a nação... Descompromissada Com a coragem, Com o medo E com a ternura... Descompromissada Com a certeza, Com a tristeza E com a amargura... Aliás, Poesia impura... Minha poesia Nem é minha...

É de todos, Todos a possuem, Todos a têm... É de todos E de ninguém... É de quem quiser, E de quem comer... Minha poesia Já nem sente mais prazer... Nem com o prazer Ela é compromissada... Ela é suja e devassa, Totalmente violada... Ela é falsa e sem caráter, Ela é desmantelada... Ela é magra e sem carnes, Com a maquiagem borrada... Com o suor de vários homens, E de várias mulheres, E de várias aberrações Como ela, Que se servem de tal querela Verbal... Minha poesia é a concentração de todo o mal... De todo o mal que uma segregação burguesa é capaz de causar...

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Minha poesia é filha da classe média Com a mais secular Deglutição de beleza Gerada pela pobreza... Minha poesia é a transição... É quem acha que o mundo está perdido E quem acha que o mundo está são... Minha poesia é uma lista de definições mesquinhas... Minha poesia É o resumo Da mentalidade De todos esses Que ficam puxando a sardinha Pro seu lado, Que é sempre o mais errado E o mais corrompido... Minha poesia é uivo e gemido... Minha poesia é aflição, Estupro e sodomização De uma moral inventada, Maquiada E inexistente... Minha poesia é uma anciã sem dentes, Sem dedos E cheia de medos... Descompromissada com tudo, Ela acaba sendo nada... Minha poesia é raquítica E nem um pouco analítica...

Mistura de rimas medíocres Com a incapacidade de rimar... Rimas nem ricas nem pobres... Rimas de classe média... Pois como a classe média, Minhas rimas são nada... Minhas rimas são putas cansadas... Minhas rimas são uma noite de trabalho mal dormida... Mal comida... Uma noite mal vivida... Uma vida mal vivida... Minha poesia até poderia ser Vontade de denunciar Se houvesse alguém pra ouvir... Mas num mundo de retardados e surdos, Minha poesia acaba sendo Retardada E surda... Fala sozinha... Aliás, ela nem é minha... Minha poesia é reflexo do mundo, Mas não pra denunciar, E sim por ser vulgar, Fútil E mesquinha... Não sabe pensar sozinha E imita... Minha poesia me irrita... Minha poesia é a criança que morre de fome

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E a que morre de obesidade E a que morre de tiro E a que puxa o gatilho... Minha poesia é chata E irritante E insistente... Minha poesia é intermitente... Mesmo que nem eu Nem ela Saibamos O que é “Intermitente”... Mas eu sei que estou aqui, Achando que é minha Essa coisa sem sentido, Que nem é uma poesia... Minha poesia é lixo... Mas quem lê (e quem escreve) Imita minha poesia, Porque ela é tão vadia E o mundo é tão vadio Que ela já está em tudo, Já não é mais poesia, Ela já se dissolveu E envolveu todas as coisas... Ela é tão onipresente Que já sabe se existem etês E sabe se existe amor E se o homem já foi à lua E se existe o inconsciente E se existe eletrosfera E se existem constelações

E se a Terra é azul E se a Terra é redonda E se a Terra é um ser vivo... Ela já sabe de todas as coisas E já viu todas as coisas, Já sabe o sexo dos anjos E já viu a face de Deus... E contou que ele é lindo E que o mundo é lindo... E até ela, Minha poesia, É linda, Como a Marisa Monte é linda E como a minha tristeza é linda, Porque apesar de ser suja, Desprovida de beleza, Minha poesia sabe O que não sabem os sábios, Nem os belos, nem os fortes, Nem os ricos, nem os santos, Nem os castos, nem os vastos... Os gostosões e as gostosonas Não sabem nem um terço Da bateria De conhecimento e informação Que compõe a minha poesia... Minha poesia usada, Comida, prostituída, Descobriu o dom de amar, Que é o segredo da vida...

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E talvez minha poesia Tenha alguma função... É dizer ao mundo inteiro Que minha poesia é sábia, É onisciente E sabe que o mundo a ignorará, Mas ainda assim Ela estará lá, Compondo o livro Que eu escreverei... Porque eu quero Falar de amor... Minha poesia É de um livro de terror, E o amor e o terror são irmãos, Como os filhos de adão...

terça-feira, 16 de maio de 2006, 12:02:06

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Canto de Beira de Mar

Meu homem, Por que você vive na beira do mar? Por que você vive lá, em alto mar? Por que você não fica perto de mim? Por que você gosta das ondas que vêm? Por que eu te chamo e você nunca vem? Por que o oceano me faz ser ninguém? Por querer o doce do amor, Acabei refém do mar, que tanto me faz mal, Porque sem você minha vida é sem sal... Minha menina, Minha mulher... Eu sou um homem de fé... Eu sou um homem do mar... Minha mãe me abençoou, Iemanjá me deu tanto amor, Veio me ninar, Que eu não consigo mais deixar De ser do mar... Quero ser teu, Mas tu não podes Vir pra cá E te molhar... E ficas aí da janela, Me olhando namorar o mar... Meu homem, Eu entendo o seu amor E espero que entenda

A minha dor... Mas é que eu, Menina sem amparo, Sem seus abraços, Não paro de sofrer... Sem seus carinhos, Não sei como viver, Venha pra casa, Prum mar do meu querer... Minha flor, Mil pétalas de amor... Tua pele cor de canela, E minha pele cor de ébano Parecem ter a mesma cor Quando te tenho em meus braços, Mas a pele cristalina do mar, Do azul marinho desse mar, Parece querer me afogar De tanta vontade de ir pra lá... Que a tua pele cor de canela, Só vejo de longe, Da janela... Mas por que tu não vens também pra cá? Meu amado, Quem sou eu? Não sou nada Neste mar, Se lhe chama Iemanjá,

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Porque hei de acompanhar Os seus passos encantados, Tentando lhe desencantar? Se o canto das sereias Diz que você deve partir, Só me resta esta janela E hei eu de ficar aqui, Esperando a hora certa De você voltar, Pra meu corpo cor de canela Saborear o seu, cor de ébano, E sentir o gosto salgado do mar... Se você quer que eu seja a segunda, Serei, com todo o prazer... Porque você é meu e do mar, Mas eu sou toda pra você...

sexta-feira, 19 de maio de 2006, 00:42:11

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Pena da Fada Madrinha

O tempo é inimigo, Lutamos numa rinha, Como frangos, Galos, Galinhas... E a Cindy Lauper É a minha fada madrinha... Meus compromissos São aliados Do tempo... O relógio é uma ilusão, O tempo é muito maior Que segundos, Minutos, Ou do que a eternidade... É um inimigo à minha altura... Sentir o tempo de verdade É divagar E sentir o real... É transcender o tradicional! * Hoje eu tive um sonho

Com um anjo que cantava para mim, Tive um sonho com um anjo Que dançava para mim, Que cantava parabéns Pelos anos de vida, Pelo tempo de estrada... E eu repetia, Com minha voz agoniada: “Anja, O tempo não é nada... Anja, O tempo nunca passa, E a gente só se amassa Nesse coletivo imundo E mal cuidado, Que nos leva de lado a lado Para qualquer lado... Anja, Eu também queria ser alado, Pra voar por cima disso tudo... Anja, Meu medo é meu maior escudo... Me defende de mim mesmo, E de você, E de tudo que faz bem Ao meu viver... Anja,

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O medo é resistente, Mas anja, Não quero essa proteção... O medo é um de meus compromissos, Aliado De meu maior inimigo... Anja, Adorei essa canção”... * O tempo e eu somos alados, E lutamos, com nossos exércitos, Numa rinha... Não passamos De um bando de galinhas!

quinta-feira, 1 de junho de 2006, 11:49:23

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Chuva de Estrelas

Noite de estrelas, Parece até que o mundo vai se acabar De tantas estrelas Que ficam boiando no ar... Noite de lua, Tão dourada no horizonte, no mar Que a reflete, Um brilho intenso que só quer encantar... Noite nublada, Até parece que o céu vai desabar, Mas não cai nada... Sinceramente, eu não agüento esperar Uma noite de chuva... O céu desaba em gotas pra me saciar... Noite de fogo, Que vem ardente, pra me incendiar... Milhões de estrelas Que ficam boiando no ar... Chuva de estrelas, Algum pedido se realizará...

quarta-feira, 28 de junho de 2006, 15:01:47

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Porque Nossos Filhos Fogem

Porque a liberdade é desafio... Pra sentir saudade... Pra ter o universo por um fio... Pelo frio na barriga... Pra sentir vontade de voltar, Ou de nunca mais... Pra sentir vergonha do passado, E não do presente... Pra sentir-se dono de seu chão, E que nenhum o tenha... Pra fugir da velha solidão, E sentir uma nova... Pra tentar estudar em outro estado, Morar em outro país... Porque querem tentar mudar o mundo... Ou só pra ser feliz...

sexta-feira, 30 de junho de 2006, 17:04:01

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A Mão que Segura o Mundo

O mundo não vai melhorar, Nem vai piorar, Nem vai se acabar... O mundo não vai pra lugar Nenhum... O mundo é bonito demais, Como uma pintura de praça, Que existem mil iguais... O mundo não é arte, É reprodução... Existem mil outros mundos, Iguais, Por aí, em circulação... O mundo é tão sem graça, Sem novidades... Tudo muito igual... O mundo parece uma novela... Cada cena se repete E não acontece nada De novo... O mundo é uma novela, O mundo é um ovo... O mundo é assim:

Tá em alguma mão... Dizem que é de Deus, Mas é de um cara qualquer, Que dá bobeira E deixa o mundo cair, E todo mundo leva um susto, E grita: “O mundo tá fodido”, Mas o mundo tá cozido, E cai, e fica inteiro, Porque o mundo é um ovo brasileiro, E não desiste nunca... * E todo dia é essa lorota De que o ovo vai se acabar... Mas a casca do mundo Nem quebra mais, De tanto cair, e assustar... Quantos anos dois mís Terão que passar Pras pessoas perceberem Que ovo cozido Não vai quebrar? Quando veremos Que o problema é a mão

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Em que o ovo está?

quarta-feira, 19 de julho de 2006, 23:18:42

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Um Poema Para o Ednardo

Cara, Há uma coisa que eu tenho que dizer: Se eu pudesse, eu faria um livro inteiro pra você... Mas não dá... Eu não tenho palavras pra dizer Todas as coisas que eu sinto Quando ouço as tuas canções E me vejo ali... Eu fico tão assustado Que dá vontade de fugir: “O que eu estou fazendo aí?” Mas não sou eu... Você nem sabe que eu existo... Mas eu sei que, se Deus existe, Ele deve ser foda que nem você... Opa, desculpe-me pela falta de educação... Poema não é lugar de se falar palavrão... Logo vem alguém com a palmatória, Pra me castigar... Mas enquanto estou com as mãos livres, Vou continuar escrevendo As coisas que eu quero te falar... Por exemplo: Eu sei que você existe...

Já te ouvi pelo rádio, Já te vi na internet E já te vi na TV... Desculpa te incomodar Com essas coisas de tiete, Mas eu não sinto remorso: Sei que você nem vai ler... Você nem sabe que eu existo, E por que haveria de saber? Eu só estou escrevendo isso Porque ia escrever um poema Dizendo que odeio o mundo, Mas estou ouvindo teus sons, E eles me fazem tão bem, Que minha ira virou Vontade de agradecer... Obrigado, senhor José... Se o universo é bonito, É porque, num canto dele, Aonde tudo é torto e feio, Há canções deliciosas Que foram feitas por você... E dá vontade de cantar... Vontade de não morrer... Eu acho que você sabe

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O que eu quero dizer... Ou ao menos saberia, Se soubesse que eu existo, Se chegasse a me ler... Senhor José, Esse poema é pra você...

quarta-feira, 19 de julho de 2006, 23:37:36

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Porque Eu Digo que Você É Gostosa

Quando eu digo que você é Gostosa, Estou tentando te dizer Coisas bonitas... Porque você faz essa cara De donzela indignada? O que eu fiz? Eu não fiz nada... Quando eu te chamo de gostosa, Eu quero dizer mil coisas, Mas meu coração insiste Que é isso que é pra eu dizer... E com coisas do coração Não tem como contradizer... Não consigo dizer, Que você é formosa, Que você é charmosa, Ou que fica linda Quando faz cara de nervosa... Eu só consigo dizer Que você é o que você é...

É a pura verdade, mulher... Por que se irritar? Se eu tô te dizendo isso, É porque não tem como não falar... Tá aqui na minha garganta, Dá até vontade de gritar... Esse coração é ousado, Você não pode me culpar... Porque ele berra mil verdades Que eu até tentaria ocultar Só pra te agradar, Mas que ele, tão sincero, Insiste em me fazer falar... Então não fique nervosa, Aceite, você é gostosa... É assim desde antes de você nascer... Será assim depois que meu coração parar de bater...

quarta-feira, 19 de julho de 2006, 23:54:29

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O Silêncio

Silêncio, O silêncio me dói... Quando faz silêncio, Eu lembro de tudo o que eu perdi, E de como eu quero de volta, E de como o destino é filho duma puta... E aí eu começo a me esmurrar... E ninguém me ouve, Porque ninguém quer escutar... O silêncio é uma tortura... Não tem gosto, não tem cor... O silêncio é meio vermelho, Meio azul, meio incolor... O silêncio é uma mancha que eu não consigo lavar... Dá uma vontade imensa de gritar... Mas, infelizmente, Ninguém quer escutar... Quando eu faço uma música, Ninguém quer escutar... Quando eu leio um poema, Ninguém quer escutar...

Quando eu conto um segredo, Ninguém quer escutar... Quando eu conto uma história, Ninguém quer escutar... Quando eu conto que o silêncio É uma dor, Todos fazem silêncio (Mas não é pra me escutar)... Aí eu falo sozinho, Pra quebrar o silêncio... Mas eu também sou escroto, E às vezes nem eu mesmo Quero me escutar...

quinta-feira, 20 de julho de 2006, 00:01:18

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Fuga Nº IV

Eu já falei que estou escrevendo um livro? Deus te livre de me ler! Você nem imagina O tipo de coisas Que eu tenho pra dizer... Você não imagina O ódio que eu sinto Aqui, dentro de mim... É um fogo sem fim... E eu juro que é verdade, Acredite, eu não minto Por não saber mentir... Eu nasci em um lugar, E cresci sem sair de lá... Quis respirar outros ares Mas não sabia voar... Quis fugir, quis escapar, Mas mal sabia engatinhar... E fui treinando, fui treinando, Fui aprendendo a andar, Fui conhecendo pessoas Que me ajudavam a planejar O caminho que eu seguiria... Fui gostando de caminhar... Fui conhecendo a minha terra,

Fui gostando de lá... Mas nada que me anulasse A vontade de migrar... Como eu queria ir embora... Como eu queria voar... Mas quando eu tinha um plano E um caminho pra traçar, Me botaram numa gaiola, Me tiraram de lá, Me trouxeram praqui E quiseram me fazer Acreditar Que o lugar aonde eu estava É que não era um bom lugar... Eu sou tão contraditório, Passei a vida sonhando em fugir... Mas o problema é que eu nunca Sequer sonhei em estar aqui... Aonde estão meus amigos? Aonde está meu lugar? Eu só sinto vontade De voltar logo pra lá... Minha vida só tinha sentido Quando eu fazia mil planos De mil maneiras de escapar...

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quinta-feira, 20 de julho de 2006, 12:43:21

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Medo de Voar

Meu amor, me abrace forte, Agora sei do que tenho medo... Me agarre, me aperte, me prenda E não me deixe sair daqui... Meu amor, me tranque contigo, Estou com tanto medo de fugir!.. Meu amor, antes de ser teu Eu fui de muitas ao mesmo tempo, Quando o meu amor era as orgias E meu corpo era um santo templo... Eu era um santuário profano, E mil mulheres me vinham provar... Quando eu queria o universo E todo o universo vinha a mim, E todo o universo vinha se entregar... Meu amor, eu fui tão usado, E usei tanta gente, nem dá pra contar... As mil virgens que sodomizei, As mil putas com quem me deliciei... Vivi coisas, meu amor, que só eu sei... Eu queria morrer num orgasmo, Não havia, em meu mundo, lei... Eu era um guerreiro, um rei, Eu era viril, destemido... Adorava os mil sons de gemidos,

Os berros e sussurros de dor e prazer... Eu queria viver do pecado Até encontrar você... Você foi chegando, pequena, Tão frágil, nas minhas mãos... Não me amou no começo, Só chamou minha atenção... Eu te quis com tal firmeza Que cheguei a arrepiar, Mas você não foi tão fácil, Você não quis se entregar... E se fosse em outro caso, Eu iria te esquecer, Mas eu não queria outra coisa Eu só queria você... E fui ficando tão manso, Que eu mal me reconheci, E fui ficando, ficando... E agora estou aqui... Eu sou só teu, meu amor, Como nunca concebi ser... Eu sou seu, só seu ardor É que me faz arder...

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Mas aconteceu, Meu amor, Que aquele fogo antigo reacendeu em mim, E eu tenho tanto medo de me sentir assim... A carne é fraca... Eu tento ser merecedor Do teu amor, Meu amor... Mas eu sempre fui sujo... Ouço as vozes de meu passado, Chamando meu nome, Chamando meu nome... Dizendo que sou seu homem... E meu sangue deseja ir, Mas eu, Meu Deus! Mas eu... ...Eu só quero ficar aqui... Eu lembro das mil alegrias Que o universo tinha a me servir, Quando o meu amor eram as orgias, Eu sentia mil alegrias, E não tinha pra onde fugir... Mas agora eu tenho os teus braços, Meu amor, tenho os teus abraços, Gaiola pra me prender... Por favor, não me deixe sozinho, Porque a liberdade no ninho Me fará me jogar e me perder... Ainda sou uma ave bebê...

Meu amor, guarde este segredo, Agora sei do que tenho medo, É de voltar a viver por viver, É de ser além de você... Meu amor, me abrace forte, Me proteja, porque eu tenho medo De perder o medo de viver...

sexta-feira, 21 de julho de 2006, 21:29:58

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A Boca e os Olhos

Olha nos meus olhos... Cala a boca E olha nos meus olhos, E isso é tudo O que eu tenho a dizer... Os meus olhos dizem tudo, O meu resto é todo mudo, O meu resto só quer prazer... Mas meus olhos, minha querida, São minha parte mais atrevida, E a minha parte mais sincera... Meus olhos gritam o teu nome, Mas teus ouvidos não notam E só os teus olhos podem ver... Olha dentro dos meus olhos, Menina, Me nina em teu colo, Como meu olhar implora... Menina, me leva embora, Cala a boca e me beija agora, Consola esse olhar que chora

E essa alma perturbada, Que não sabe o que dizer, Que não sabe o que fazer... Consola essa alma que se molha Com a chuva da lágrima secular Que grita nesse meu olhar... Se tu não consegues me traduzir, Então cala a boca e encosta aqui, Ouve meu coração falar... Me abraça, aceita meu abraço, Por favor, nem mais um passo... Espera essa aflição passar... Sou uma criança que implora, Sou uma criança que, agora, Já não tem mais o que falar... Não me olha, não me escuta, Não sei por que a tua alma luta, Mas se queres me ignorar, Vai embora, não demora... Cala a boca, vê que agora Meus olhos só fazem naufragar...

sexta-feira, 21 de julho de 2006, 21:42:40

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Qual Será a Minha Vitória...

Eu queria fazer um poema Só falando palavrões, Mas eu acho (eu só acho) Que não é o que é pra eu fazer... Acho que o melhor é morrer... É me afogar nessa loucura, E achar que Deus existe, E desceu pra me ajudar, E pra me levar pro alto Antes de tudo inundar... Mas eu quero é que tudo inunde, Se Deus não quer me torturar... Melhor do que viver na terra, É morrer nos braços do mar... Eu quero que Deus também desça, Aposto que ele sabe nadar... E quando eu estiver me afogando, Minha fome de palavrões, Com certeza, vai passar... Deus! Se você tá me ouvindo,

Ouça o que eu tô dizendo, Eu sou moço da beira do mar, Aqui no alto, estou morrendo... Me leva pra lá, pra morrer Nos braços de meu amor, Nascida da espuma do mar... Pra mim, nada mais tem valor... Aqui, eu não tenho lar... Aqui, eu não tenho chão... Quero morrer numa mesa de bar, Bebendo com meus amigos, E tocando o meu violão... E aí o mar pode inundar (Que é pra escutar a minha canção!)

sexta-feira, 21 de julho de 2006, 21:58:12

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Eu Não Estou Escrevendo Este Poema

Eu não estou escrevendo este poema, Nem morrendo de desejos por você... Não estou querendo ter você comigo... Nem estou querendo estar com você... Não estou querendo me dar pra você, Nem estou querendo receber você, Nem estou sonhando com seus beijos, Nem estou querendo te doar mil beijos, Nem trocar milhões de beijos com você... Não estou querendo chegar perto de você Nem estou querendo o meu calor calar você, Em gemidos e arrepios de prazer... Eu não quero te ter... Eu não quero, nem vou te ter... Eu não estou escrevendo este poema pra você... Eu quero morrer, eu só quero morrer, morrer...

sexta-feira, 21 de julho de 2006, 22:11:48

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Canto do Recém Nascido

Eu não sei o que é a falta, Sinto falta de senti-la... Eu não sei o que é sentir A falta de alguém que sinta A minha falta... Eu não sei o que é saudade, Eu não sei o que é remorso, Nem sei o que é orgulho... Não sinto falta de nada Que já foi nosso, Porque nós nem chegamos a ser nós... Eu não sei o que é o passado, Nada ainda passou por mim, Eu não sei o que é sentir O ar contra meus cabelos Numa rodovia sem fim... Nunca senti a textura do volante Nem o abraço do cinto de segurança, Nem o frio na barriga Da montanha russa Ou da primeira dança... Não decoro passos

Nem fatos do passado, Não sou bom narrador... O meu presente Mal começou...

quarta-feira, 6 de setembro de 2006, 11:59:10

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Ode ao Primeiro Amor

É que eu olhei nos teus olhos, No profundo de teus olhos, E me apaixonei... Não sei o que é paixão, Não sei o que é amar, Não cria em amores De primeiro olhar... E te quis, mal sei querer, Quero que você me veja, Canto as músicas que eu gosto Pra chamar tua atenção... Mas tu sempre me ignoras, Teu sorriso não me ataca, Teu sorriso é só teu E só do resto do mundo... Teu sorriso nunca é meu... E eu nunca te sou existente, Me jogo num abismo profundo... E me tranco, Choro baixo, Faço drama pra mim mesmo... Ouço músicas melosas, Quero tanto que me notem, Que sintam pena de mim...

Mas tu nunca me percebes, Nunca me cobres de beijos, Nunca me desejas sonhos Nem me pedes mil promessas (que eu faço ao travesseiro, Idealizanto-te)... Nem sei se sabes meu nome... Tu já me vistes chorar? Já notastes pelas ruas Meu confuso caminhar? Tu não tens sequer ciência Do que eu guardo em mim pra ti... E eu maldigo mil cupidos, E praguejo, e esbravejo, E desejo que se explodam Os mil sonhos esculpidos... Mas que disso Deus me guarde, Se de fato existe Ele! Pois o que teria eu, Se não existisse amor Pra justificar a dor, Que é razão de meu viver Desde o primeiro dia Em que meus olhos puderam te ver?

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quarta-feira, 6 de setembro de 2006, 12:13:21

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À Procura do Verdadeiro Amor

Eu sei que você existe, Não sei onde você está, Mas sei que um dia Eu irei te encontrar... O drama que corrói Meu ingênuo coração Me remete àquela música Do Biquíni Cavadão... Eu espero um amor Que eu desejo que exista, Procuro além dos outdoors, Nas páginas das revistas... Mas não acho amor nenhum, Minha vida é procurar, Eu me vejo personagem Daquela canção do Frejat... Um dia eu te verei, E direi "Era você, Quem eu sempre procurei" E então, não saberei O que fazer...

quarta-feira, 6 de setembro de 2006, 12:18:44

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Verônica

Queria te ligar E te dizer O que eu vou dizer aqui agora, Mas eu perdi teu número, Então perdoa o poema sem rima, Mas não tinha chance de ele ser diferente... Primeiro que eu estou morrendo de saudades, Você é a única que ainda me chama de Zezé Quando eu acordo de manhã pra te atender ao telefone... Por sorte você não pode ver minha cara inchada, Te garanto que é medonho E que nem parece com esse monumento de beleza Que você conhece em mim... Além disso, me bateu uma vontade Tremenda De te chamar de doida... Aquilo que eu sempre falo, De você ser sincera em exagero Sem ser vulgar, Isso é raro num mundo Em que as pessoas sentem prazer em xingar Só para chocar... Mesmo quando você se repete, Você consegue ser original... Por isso é inevitável que se sinta essa falta imensa que eu sinto de você Quando ficamos muito tempo sem notícias um do outro...

E a sua sinceridade, Apesar de exagerada, Ainda consegue ser macia... A sua originalidade tem textura de veludo... Eu sei que tenho o teu telefone Anotado em algum lugar, Mas eu sempre perco papeizinhos E esqueço em quais cadernos Estão quais anotações, Mas eu vou arranjar um jeito de falar contigo... Quanto a este poema, Eu espero que logo, logo Ele se junte a outros irmãozinhos E vire um livro... E aí o mundo vai ler Minha visão de você... Talvez todos se apaixonem por essa tua aura porra-louca Como eu tive oportunidade... E eu ainda acho Que vão achar Que este poema é uma cantada... Ninguém sabe de nada... E eu espero, De todo o meu coração, Que nenhum deles perca teu número como eu perdi... Porque esse tipo de coisa deixa a gente vulnerável,

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Neste poema eu falei mais de mim do que de você... Sem falar que, Apesar de ter dito tanto nestes versos, Não passou a falta de ouvir tua voz esganiçada...

sábado, 9 de setembro de 2006, 21:34:34

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Inventar Palavras

Algum estudioso Deve saber explicar Essa excitação tremenda que me dá Quando eu invento uma palavra... É como se eu fosse apertado Por mil virgens e mil putas, As palavras que eu invento Têm o poder de me provocar... A invenção das palavras É mais sensual Do que qualquer olhar Fatal... Mas dói... Inventar sempre me dói... Fazer frase ao contrário, Poeminha que não rima, Verbo que não se conjuga, Inventar me angustia... Fico me sentindo meio otário, Com a orelha atrás da pulga... Mas esse vício é uma lâmina, Me cortar me faz gozar... É pra isso que a dor existe:

Pra todo o prazer Que eu ainda pretendo experimentar... A lâmina semântica, O meu sangue em sacrifício, Que, tão doce, me alimenta... Se eu não invento o verbete, O verbete me inventa... (E me tenta [quer ver meu sangue escorrer] A me cortar e a não me conter)... Mas eu quero mesmo é gozar Jorrar meu sangue vermelho, Cor de mil flores românticas, E Jorrar o sêmen branco De meu gozo de semântica!

sábado, 9 de setembro de 2006, 23:09:08

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Deixa Pra Lá!

Quando o mistério é esquecer, O melhor é deixar passar... Não vale a pena se exaltar por pouca coisa, Só feche os olhos, deixe a música imperar... Deixe o verso virar tradução, De olhos fechados, vemos nosso coração! Não pense em lirismo comedido, Se o assunto é poesia, todo verso faz sentido! O segredo é fechar os olhos E abrir a alma! Superar limitações e vencer! O que se vence não importa: Vença e foda-se o quê!

sexta-feira, 15 de setembro de 2006, 02:43:47

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De Elefante

Meu coração sente falta de mim... Eu fiquei num passado... Porque será? Às vezes um passado próximo, Às vezes um distante, Mas enfim, Sempre lá... Porque eu sinto falta do que passou? A canção que me remete Ao dia em que a ouvi Pela primeira vez... O livro que descreve Sentimentos semelhantes Aos meus amores precoces... Os amigos valiosos Que eu já não encontro mais... A escola do meu pré, A do meu ensino médio... As praias de Porto Seguro, O primeiro vinho do Porto... O show do Hermeto Pascoal, Os chorinhos de madrugada... Chorar na sala de cinema, Os presentes da minha infância,

Quando o natal era bonito (Ou meus olhos, mais bondosos)... O primeiro verso de Leminski, A primeira tirinha do Quino, A época em que eu achava O Paulo Coelho um gênio... Ou Isto ou Aquilo E a primeira Meirelles, Os primeiros sons do Ednardo ("Os olhos grandes da menina")... O primeiro violão... A primeira carta de amor... O primeiro beijo no pescoço... A primeira montanha russa (Me machuquei de sangrar, Mas o frio na barriga valeu)... Malditas/Benditas lembranças, Que não cabem em um poema...

sábado, 9 de setembro de 2006, 23:32:10

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Ode ao Futuro

As estrelas vão descer E queimar, Torrar... Tudo aqui será destruído, Desfeito, Corrompido, Destituído de existência... Deus queimará os bons, Não alcançará os pecadores, Os filhos apanharão Pelo que os pais apanharam Quando eram filhos... Os filhos quererão bater nos pais... Os países farão tantas guerras Que lembraremos com saudades Dos dias de hoje, Como dias de paz! O inferno passará a existir, Porque o céu não será mais O limite...

E então seremos livres Para o amor e para o ódio, E a humanidade nunca mais amará, Preferirá a riqueza, Mil mulheres e ferraris... Nada mais terá graça, Pois tudo será permitido... E não mais saberemos o que é gozar... Tudo se resumirá Numa meleca branca Acima do prazer... E "mulheres não gozam, Mulheres não gemem"... É assim que será... Não haverá o gosto do beijo no pescoço, Só haverá a violência... Nada mais de jazz... Nunca mais haverá paz... Os filhos guerreando com seus pais!

domingo, 17 de setembro de 2006, 20:50:20

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Não-Poema Para Gabriela

Eu queria escrever Um poema de amor pra você... Mas, Me desculpe, Este livro é sobre ódio... Por ora, Te amo demais Pra pôr aqui os meus poemas pra você...

segunda-feira, 18 de setembro de 2006, 00:02:46

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Escrever Com Sono

Feche este livro, Abra seus olhos... Nada disso é pra você... Feche o livro, Que não é pra você... Livro impuro! Largue antes que tuas mãos Comecem a derreter... Você é gente de bem... E este livro é insano, Indecente e indecoroso... Não se meta com essa gente, Livro é algo muito perigoso... Agora abra o olho, Honey, Que este mundo não é pra você... Ele é sacana, Quer te fagocitar, capturar, engolir, comer... O mundo não merece

O toque de nossos pés... Mas não temos escolhas... Só temos fé... Situação de intensa gravidade, A fé colocada acima Da força da gravidade...

segunda-feira, 18 de setembro de 2006, 01:28:24

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Homem

Eu sou um poeta homem, E faço uma canção Para todas as mulheres, Como outros mil poetas Fazem outras mil canções... Mil homens, Em tributo à mulher, Essa coisa instituída Que não é uma mulher só, Cada canção fala um pouco, Sobre o dom que é ser mulher... E então nós adoramos, Nos dobramos a seus pés, Dizemos que são perfeitas, As mais belas, mais cheirosas, E que nós não somos nada Sem suas mil receitas De nos levarem aos céus... Nós só fazemos canções, Vocês nos fazem voar... E falamos dessa força Que só a mulher tem, De suportar, De superar, Dizer basta, E fazer bastar...

A partir de hoje, todas estas canções estão em greve! Nunca fizeram canção pra nós... Eu recebo uma, O Brad Pitt, outra... Mas nós, todos os homens, Ficamos desamparados... Nenhuma mulher, poesia, Quer fazer uma caridade Pra estes pobres desamparados... Se somos tão descartáveis, A ponto de merecer sermos ignorados, Ao menos por caridade, Façam uma canção pra nós, Antes que o Caetano faça! Antes que eu faça! Antes que Pessoa faça! Saiam, divinas, na nossa frente, Por caridade, por piedade, por amor ou por boa vontade... Cansei de dar sem receber...

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terça-feira, 19 de setembro de 2006, 16:09:32

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No Lugar Errado, No Momento Certo

É teu aniversário E eu, Teu parceiro, Tão distante... Perdoa-me, amor, Por não ter tudo, Por não ser tudo, Não estar aí... Por ter sido a pessoa tola que eu fui quando criança... Perdoa-me por não ser perfeito, Não poder te dar agora, A mais perfeita comemoração, Perdoa-me pela falta de ação... Mas quilômetros separam O falar e o fazer... E eu só digo que te amo, Porque sei bem o que sinto por você... Apesar de não saber Quem eu sou, Porque sou O teu amor,

Já que sou um pecador... Ora, deseja me amar Com meus pecados, Eu não sou um pecador por intenção (A não ser quando a pureza é opressão)... Eu sou torto, e quero justificar meus erros... Quero é ser capaz de te fazer feliz, Mesmo sendo a alma torta que eu tenho... Uma mancha, personagem de desenho... Eu sou capaz de te fazer mulher feliz... De te fazer feliz, De te fazer mulher... De me fazer poema... E me acabar...

quarta-feira, 20 de setembro de 2006, 03:39:36

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Túnel do Fim

Finalmente chegou a Hora De as coisas tomarem Rumo... Finalmente chegou, Agora, Um momento Oportuno! Finalmente chegou O nada, Mal sei o que estou Falando... Finalmente estou em Dúvida, Finalmente fugiu a Rima, Finalmente, minha obra Prima Ainda tem algo Faltando... Finalmente, tudo Confuso, Finalmente eu não tenho Rumo, Finalmente eu quero Rimar, Mas eu sei, finalmente, que não Dá...

Aonde essa estrada vai Dar? Quem dera fosse, finalmente, Como era no início do poema, Mas era apenas o início, Eu tenho que aceitar isso... Muitas águas ainda vão rolar... Finalmente não há finalmente... Finalmente descruzo meus braços... Finalmente a reta final Começa a se revelar... E ela tem olhos tão bonitos E olhares tão envolventes Que eu quero me afundar neles, Que eu quero me entregar... Mas não! Não sou tão fácil! Não me jogo em um jogo tão fácil, Não jogo apenas pra ganhar... Existem outros vetores, Estou disposto a dores, E disposto a prazeres... Não sairei antes do fim, Atrás de uma chance pra mim, Se ainda há jogo a jogar...

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E se ainda tenho direitos E se ainda tenho deveres... Não quero nenhum finalmente, Só quero, coerentemente, Fazer o barco seguir... No fluido da normalidade, Quero ser a adversidade, E seguir contra a maré... Quero a chuva nos dias de sol, A chuva que apaga mil sóis, Que inunda cidades inteiras E varais cheios de lençóis... Quero que o jogo continue... A nova corrente que flui É a chuva que corre no chão! Quem quiser remar contra a maré, Qualquer um pode fazer o que quiser... Tomem os remos em suas mãos! E quem não quiser navegar, E quiser deixar o rio te levar, Que te acolham as águas do mar, Este abraço imenso e bonito Como o céu pros que querem voar... Todos vamos rumo ao infinito... Feche os olhos, abra os braços, Sinta o medo da queda d'água E a emoção de sobreviver... Não precisa entender o porquê...

Só por hoje, tudo é bonito... Feche os olhos, aceite o esquisito, Porque dele faz parte você... Mesmo que todos queiram te usar, Que você seja um mero objeto, Hoje, reme se quiser remar, Ou só deixe o destino te levar, Mas ignore qualquer agonia... Deixe o ódio fugir e ecoar, Ele irá sumir, se apagar... Seja o mar, o céu, qualquer lugar, Deixe o rumo da paz te guiar, Saboreie a doce euforia... A natureza é quem vai decidir Se você não decide aonde ir, Se decide por não decidir... Finalmente, ao menos neste dia, Faça o que você quiser... Seu coração é a maré! Exista com alegria... Finalmente, se quiser a fé, Ou se quiser a morte, até, Queira! Consiga! Sorria! Finalmente, não haverá fim, Finalmente, o que eu quero pra mim, Minha rima ainda é imortal E meu ódio é mesquinho e banal, Finalmente, meus olhos se fecham E o que eu quero é só alegria, Finalmente, muita energia, Finalmente, muito mais harmonia, Finalmente, a minha poesia...

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sábado, 30 de setembro de 2006, 14:30:56

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Tapete

Me corta em mil pedaços, Donzela impiedosa, Me faz em mil fatias, Me usa pra tua alegria Tu podes tudo comigo, Sou teu, pra tua serventia... É pra isso que sirvo... Me faz de gato e sapato, Sou teu brinquedo, me tem, Tortura-me no ato, Faz o que te fizer bem... É com prazer que te sirvo...

sábado, 30 de setembro de 2006, 14:48:51

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Continue

Como eu adoraria Não precisar Do ódio pra me inspirar... Como eu quero sobreviver Sem enlouquecer, Sem ser derrotado, Sem me derrotar... Como dói ser tolo, Ser desprezível... Como sobreviver Sem baixar de nível? Como entender o que há, O que está havendo? Como? Como? Não sei... Há vozes que me perseguem, Gritam que é minha culpa, Por querer ser rei... Agora reina a sensação De que sou culpado, de que estou devendo... Eu estou numa busca, E às vezes me sinto abandonado... Será que alguém se dispõe

A ficar do meu lado? Inspiração é uma fumaça Efêmera... Se dissipará... Respiro depressa, Pra me intoxicar...

sábado, 30 de setembro de 2006, 21:17:46

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Canção da Eternidade

Quem nasceu pra ser sozinho, Sozinho será Até o dia em que, sozinho, Deixar de respirar... Aí então, viverá plenamente, Viverá sempre em ótima companhia, Na companhia da eternidade, O pra-sempre-não-ser De quem se entrega às garras da liberdade, Aos mil tentáculos da totalidade... Quem já foi um dia totalmente sozinho, Sabe o que é querer morrer... Mas a morte é fuga, A morte é prisão, A morte é um sim Disfarçado de não... E vive negando, negando, Negando que afirmará... E na hora em que abre seus braços E nos acolhe, nos faz companhia, Cura as nossas chagas de agonia...

Mas ainda prefiro um abraço De outros braços, Mais belos e quentes, Uma pizza, um vinho, mil beijos... Mil e uma coisas pra contar... E uma eternidade devagar... O que é bom não precisa acabar...

domingo, 1 de outubro de 2006, 02:11:59

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Me Sentindo

Eu me sinto... Às vezes meu corpo me parece prisão, Às vezes eu sinto que nós dois somos livres... Acredito que possa chamar de comunhão Esta relação que há entre nós, Mas eu só tenho a certeza de que existo... Existir é uma dádiva no meu coração, É ter a certeza de que ele vive... É ter a certeza, também, de que eu vivo... É ter a agonia da repetição Agregada ao alívio da segurança... Às vezes eu me sinto uma criança... Às vezes eu sinto dor, Não sei até onde isto é normal... Às vezes eu me sinto forte, bonito, E às vezes me sinto viril, sensual... Sinto o mundo através de minhas mãos, Mas às vezes tento sentir o mundo que sou, E ao invés de tocar no chá quente, Na ponte suja, na parede áspera, Na capa aveludada do livro de folhas delicadas, Sinto a textura me minha pele, da superfície de meu olho, Dos pelos de minhas pernas à mucosa de minha boca... Existem mil formas de me sentir,

E ainda assim sou um só... Às vezes me sinto na aflição De ver do alto um rio que passa E querer pular, seguir também... A mais deliciosa sensação de dor... Eu me sinto quando eu sinto falta Do que ainda não vivi... Os sonhos de classe média, Que aprendi nos livros e na televisão... Eu me sinto quando toco violão, Quando me vejo nas canções que não compus... Mas também me sinto quando as que compus São executadas pra ninguém, Quando ninguém quer ouvir, Quando ninguém quer tocar... Eu sou a minha dor e prazer, Eu sou este mundo complexo e lindo... Às vezes eu me acho monstruoso... Às vezes de estética, às vezes de índole... Mas às vezes me sinto um Deus potente... Eu me sinto, e daí me sinto bem... Mesmo nos piores momentos, Na pior das hipóteses, Ainda sou eu, E isso é uma dádiva descomunal, Ser o que eu sou e amo:

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Uma divindade sensual...

domingo , 1 de outubro de 2006, 16:29:15

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Para

Não é por maldade Que te beijo nos lugares Que te fazem arrepiar... Quero-te vulnerável Por assim ser bem mais fácil De te agradar... Estou de peito aberto, Também vulnerável... Vinga-te de mim! Usa-me de alvo, Flecha meu coração, E atinge, enfim, A doce tolice Que está disposta a, Através de meu corpo Fazer-te feliz, Fazer-te enlouquecer, Subir, dos céus, ao topo!

domingo, 1 de outubro de 2006, 16:45:02

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Poema do Amor Não Feito

Um poeta só é poeta Porque não pode transar, E seus versos não se dissipam, Ficam gravados em algum lugar... Quando o cabra faz amor, Toda a sua poesia Está concentrada em carinhos, Dança e coreografia... Mas isso é um presente, Não dura nem tem passado... A poesia do amor Existe em um momento exato... Quando a poesia é densa, Presa, sem poder fluir, Ela procura ser escrita, Busca um jeito de existir, Nem que seja num poema Que ninguém quererá ler... Poetas sempre são frustrados, Bom mesmo é amar e viver...

domingo, 1 de outubro de 2006, 17:23:28

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Cheiro do Mundo

É preciso trabalhar, criança, Para ter retorno em alegria... É preciso suor e euforia, Pra poder, no fim do dia, Abraçar os amigos e dizer: "Logo, logo, um amor!!!" Construa agora, Agora você pode... É preciso, ser sapeca, Agitar-se como se fosse inferno, E o calor te tirasse do lugar... Se mova, vamos, este é o seu momento, Faça algo quanto a seu pensamento, Faça algo, mostre logo a que veio, Crie nova concepção, Não tenha receio Algum... Dê as mãos a seus companheiros, Fortaleça a sua alma primeiro, Que a alma do mundo agradece... Se é difícil aí em cima, Desce... A hora é esta, pra ser completo! Pra que ser maior que outro? Se é difícil por sobre,

Desça... E se for bom, no final, Agradeça... Sinta cheiros, você que pode... O frango assado do vizinho, Ou o feijão de seu pai, Ou o pescoço de sua esposa, Ou qualquer pó esquisito... Eu não sinto muitos cheiros, Aproveite já que pode... Sinta o perfume do mundo, Que se perfuma pra você... Tente sentir, mesmo sem saber, Se cada cheiro é de quê... Cuidado com o que for tóxico Na hora de ingerir, Excessos não fazem bem, Mas não custa nada experimentar, E ao menos uma vez sentir... Sinta a maciez (Ou a dureza) De seu travesseiro... Feche os olhos sem dormir, Reflita e sinta-se inteiro... Sinta-se como se o seu lar

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Não fosse tão definitivo... Não recuse estes poemas No imperativo, Eles agora fazem parte de você... Sinta o que a água sente Depois da chuva, Já que todas as águas do mundo São uma coisa só... Sinta-se um pouco mais molhado Sem se sentir um pouco pior... Sinta suas asas ousadas Tentando se mover... Se você não sabe para qual rumo seguir, Siga todos... Mesmo que nem a eternidade Seja tempo suficiente, Ainda assim, você conhecerá Muitos lugares e muita gente... Vão abrir seu cérebro, Ligar fiozinhos, Ler sua mente, Saber você, Mas você pode voar antes... Manifeste-se, Tente recorrer Ao que lhe faz viver... E antes de tudo, Se ame, Se o mundo não o ama, Seja o seu mundo E ame o mundo todo... Não há motivo para se d.esesperar...

Sei que o mundo todo não irá lhe amar, Mas existe um meio amor, Existe um meio mundo, Um coração mediano (Seja um coração partido) Que virá lhe consolar... Abrace a você mesmo! Proteja seus sonhos, criança, Enquanto é preciso ser feliz! E sorria em frente ao espelho, Espelho nenhum sorrirá de você, Se você não sorrir de si mesmo... Não tenha medo de olhares, Olhe no fundo dos olhos, No fundo dos olhos de todos, No fundo dos olhos do mundo... Quem sorrirá de você? Bata tambores, Eles gostam de apanhar Com carinho... Se for pra tocar sozinho, Se for pra cantar pra si mesmo, Cante ainda assim! Existem mil canções sem ser cantadas, No mundo das idéias versadas... São como os poemas que eu não fiz... Escute o que eu digo, Escute o que seu coração diz... Dance e cante como se fosse a última vez, Todas as vezes são últimas Até a próxima chegar,

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Não espere, comece a se agitar... Lembre-se do calor do inferno! Ele é aqui, Foi Deus quem fez o calor, Pra agitar moléculas, Pra cozinhar o feijão Que você deve cheirar... Coma até se saciar... O mundo está aí pra ser provado, Sinta o gosto de ser gente, Neste mundo indecente E depois me conte o que sentiu... Tenho certeza de que você saberá Muito bem Como me encontrar!

domingo, 1 de outubro de 2006, 18:47:33

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Psicodelicordel

Hoje conto pra vocês Uma estória emocionante De uma aranha sensual, De beleza sem igual E olhar de diamante... Seduzia suas presas Com faceiro rebolado E ninguém imaginava Como é que ela deixava Qualquer um apaixonado... Com sua beleza intensa, Até mesmo os vegetais Se jogavam a seus pés E diziam-lhe "Tu és Bela como só Deus faz"... E os suspiros em uníssono, Mil declarações de amor Sobre os dons da primavera, Se afirmava, quanto a ela: "És a mais perfeita flor!"... E ela seduzia a todos Com seu perfeito traseiro, Sua dança provocante E suas apaixonantes Juras de amor verdadeiro...

Mas não era de nenhum, Mesmo dela sendo todos... Ela tinha o que queria, Simplesmente escolhia E usava sem engodo... E o que não lhe apetecesse, Ela até fazia hora... Seduzia e dominava, Logo após, abandonava, Chutava, jogava fora... E assim foi com o elefante, Muito jovem e bobinho Que seguia, desligado, E num dia desgraçado Foi cruzar o seu caminho... Tinha um sorriso fácil De quem nunca quer conflito, E ela disse "Ha! Ha! Ha! Este, mal dá pra brincar... Se bem que até é bonito... Mas é gordo até demais E é muito atrapalhado... Olha! Fala até sozinho! Cheira flores com espinho! Pegarei leve, coitado”...

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Logo que ela lhe sorriu, Ele disse-lhe "Bom dia"... Ela, tão acostumada, Já notou nele pontada, De interesse que surgia... Respondeu-lhe secamente Pra que ele corresse atrás, Mendigando atenção, E implorando perdão E outras mil cositas más... Mas ele só estranhou A falta de educação... "Que aranha infantil! Ai! Vou me atrasar! Ei, tio, Por favor, que horas são?" Correu todo atrapalhado, E a aranha, até surpresa, Pensou consigo mesma: "Com o tesão de uma lesma, Será uma difícil presa"... Mas nada a intimidava... Decidiu que investiria, Puros ossos do ofício! Nem seria o mais difícil Dos seus muitos, já sabia... Investiu em ser amiga, E o tolinho se rendeu, Tentou parecer simpático, E ela, em seu jogo sádico: "Pronto, agora já é meu"...

Simulou desinteresse, Como ele simulava... E ela já sabia disso, Pois a sedução (seu vício) Mil segredos lhe ensinava... E então, viviam juntos, Passeavam com freqüência, Trocavam opiniões... Ele, mudo de intenções, Fingia falsa decência... Quando ela se insinuava, Ele, sempre mentiroso, Não mostrava excitação... Ao contrário, brincalhão, Se passava por bom moço... E muito tempo passou, Surgiram mil comentários, Que tal dama, de tão bela Causou ódio em mil donzelas E paixão em mil otários... Mas agora, comportada, Desejava um rapaz, Que só quis sua amizade... "A paixão chegou bem tarde, Mas já não a deixa em paz"... E ela ficou furiosa!!! "Que boatos descabidos! É claro que ele me quer!!! E vê se eu lá sou mulher De algum dia ter querido

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O amor de um homem só!!!" Decidiu por "declarar-se" Ao amigo cafajeste, Pois já fizera mil testes: Ele fingia guardar-se... E depois que ela dissesse, O quanto o "desejava" Ele se declararia, E ela, então, o usaria... E tudo assim terminava... Mas ele disse-lhe "olha, Sinto muito se me quer, Mas já tenho outro amor" E ela não acreditou E perguntou-lhe "Quem é?" E ele apontou pra lua: "É aquela moça bela, Com sua face de prata E esse olhar que me mata De tanto querer só ela!" E a aranha, tão surpresa, Com a fala do elefante, Viu: Pela primeira vez Uma lágrima se fez Nos seus olhos de diamante...

domingo, 1 de outubro de 2006, 22:53:43

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Mensagem em Uma Garrafa (Paródia)

Como fui parar Nesta ilha perdida No meio do mar, Pacata e esquecida? Como suportar Tamanha solidão? Posso escutar Meu próprio coração! * Estou ilhado, Cantando em vão, Sozinho no meio da multidão... Sou náufrago, que teima... Escrevo mil poemas, Minha mensagem rema Em uma garrafa... * De que vale escrever? É tempo perdido... Quem está disposto a ler

Meus versos esquecidos? Só o amor pode vencer Tamanha solidão, Mas o preço é enlouquecer Meu pobre coração... * Aquilo que hoje eu vi, Tocou meu coração... Seis bilhões de garrafas ali, Boiando em solidão Eu juro que não cri! Não sou o único esquecido? Será que há por aí Seis bilhões de náufragos perdidos?

Segunda-feira, 2 de outubro de 2006, 01:55:34

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Dia Após Dia

Me acordaram pra pedir favores, Na eminência do sono perfeito E acordaram meu maior defeito... Agora sou fera neste circo de horrores... Não há nenhum Deus disposto a torturar, Nem há nenhum Deus disposto a dar amor... Me passem mil números, não vou ligar... Nenhum argumento me obrigará... Eu só sinto nojo... Não é o que sou... Eu quero canções, quero poder cantar, Com meus pés banhados pelas águas do mar... Eu quero sonetos de meu coração Pra calar a boca de quem ainda repete A frigidez de meu coração fervente, Que tenta provar o que não lhe compete, Que tenta agir pra ser eficiente Mas que, na verdade, vive muito bem, Que trabalha muito atrás de seus sonhos E não deve absolutamente nada pra ninguém... Vou caminhar com as minhas próprias pernas... Saborear a minha autonomia, Viver a vida, dia após dia...

Segunda-feira, 2 de outubro de 2006, 08:08:28

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Ou Morro

A única coisa que existe é um trato, A vontade e o desejo no ato, Se servindo numa bandeja, num prato, Se esbaldando até ficar farto... Se lambuzando como um porco, um rato, Tagarelando, fanfarrão e chato, Beberrão, Embriagado, alto... Só há esta peça, um hiato... A mesma tecla em que bato Com toda a falta de tato, Insistindo em dizer que há um salto Nesta seqüência de fatos... Não estou disposto a maus tratos... O que não me convier, eu mato!

terça-feira, 3 de outubro de 2006, 12:42:09

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Insana!

Insana! Tua doença é crer neste cara, Não é o mesmo que eu consigo ver! Tua doença é crer que és rara! O mundo não foi feito pra você... A tua fé já é estupidez, Nesta figura que te enlouquece! Já está claro que você esquece Daquele oásis que durou um mês... Mas na verdade a ilusão é tua, Não é aquele cara que te engana, E sim você, que busca se enganar... Mas enganar o mundo ao teu redor? Não sou tão tolo assim, não, tenha dó! Já estou cheio disto, sai pra lá... Não me pergunte por que eu mudei, Por que não quero parecer legal, Por que não quero te contar meu mundo, Mostrar meus mil poemas pra você... Não me pergunte por que estou sozinho... Que papo é esse de que estou sozinho? Só escolhi sair do teu caminho... No final dele, encontre o que merecer... Mas se eu estou longe da tua lábia, Vou me jogar nesse areal por quê?

E pra falar a verdade, mocinha, A partir de agora a vida é minha, Não quero crer neste teu cara não... Eu só o vejo de outra maneira, Você berra que a tua é verdadeira, Cada um vê o que merece ver... E eu não mereço me ver submisso, Eu não nasci pra pactuar com isso... E você, sabe pra que eu nasci? Não quero ser peça no teu xadrez, Que você puxa as rédeas toda vez Que eu escolho para onde ir... E não ache que eu penso ainda assim, Como se o mundo fosse para mim Bem mais cruel do que me foi você... Do mundo eu posso (e vou) discordar, Quem me agride, ponho no lugar, Eu faço o que me apetecer... Me indispus a ser marionete, Me enervo quando você se intromete No meu viver, que não lhe cabe mais... Vê se exercita teu cérebro de lesma,

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Tua doença é crer em si mesma! Agora vê se me deixa em paz...

terça-feira, 4 de outubro de 2006, 12:27:11

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Da Natureza do Homem

O homem depende da guerra, Somos homens, povo meu! Somos guerra feita em carne, Somos a parte podre da carne Do mundo... O homem não faz a guerra... A guerra é quem faz o homem... O homem só se completa Quando faz alguém passar fome Ou quando faz alguém chorar... O homem quer pagar em lanças, Montar em cavalos negros, Mas é tão contraditório Que ama o inimigo, e luta em nome da paz... O homem inventa o beijo Pra fingir que faz carinho, Mas o homem só faz mesmo É a guerra pela posse... A posse do corpo alheio... A posse das sensações... O homem é um poço de inexatidões...

Homem algum nunca é triste, O homem criou a tristeza Só para justificar Tanto sangue derramado, Que ele mal sabe aonde parará... O homem criou a música, Tentando imitar O resto da natureza, que não queria guerrear... Mas todos os outros homens Não viram justeza naquilo, Deveria haver Algum castigo, Alguma retaliação... E o homem que fez a música Foi obrigado a ouvir a música Exaltando a destruição... Pois é da natureza do homem Castigar... Faz isso consigo próprio, Por isto está como está...

quinta-feira, 5 de outubro de 2006, 12:26:41

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Vapor de Sonhos

Não há furacão Que possa parar Um sonho assim, Torto, Desesperado... Às vezes sem perspectivas, Às vezes doido pra vencer, Mas sempre disposto a tudo... Um sonho assim não pode morrer... Sonhos são feitos de vapor Do citoplasma de células do nosso coração... E do nosso sangue E do suor de nossas mãos... Sonhos são nuvens que não se vão Chuvas que caem sem parar... Sonhos foram feitos Para se Sonhar... Não há muro nem telhado, Que impeça sonhos fortes assim... Sonhos torrenciais

Quando sonhados demais, Jamais podem ter fim... Sonhar sonhos assim, defeitos, É defeito pra poucos, Sonhos ásperos, molhados, Quase nunca calados, Feitos pra loucos... Sonhos são dessa maneira: Nem pais podem impedir... Se há tais sonhos, amigos, Na alma de quem almeja, Não cresce pesadelo ali...

quinta-feira, 5 de outubro de 2006, 13:27:55

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Vicia

O inglês é uma droga que vicia Causa alucinação, Em inglês, se diz bem mais do que se ouve, Em inglês, se ouve bem mais do que se vê, Em inglês, sons valem mais do que imagens, Em inglês se pensa muito diferente... O inglês chega até a ser surpreendente... Em inglês os Beatles contam, lindamente... Em inglês, os Beatles brigam, rompem, findam... Em inglês ela deixou a casa De seus pais... Em inglês, Romeu morreu por Julieta, Em português, Capitu morreu por Bentinho... Em inglês, mentiras soam mais bonitas, Em inglês, até eu, que minto mal Saberia dissimular, enganaria... Mas meu coração só sabe português E o inglês é uma droga que vicia...

quinta-feira, 5 de outubro de 2006, 14:06:13

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O Segredo

O segredo mais intenso É meu, De mais ninguém... O segredo Que eu não quis, De joelhos, Te contar, Mas nem é segredo, Não há motivos para disfarçar, Fingir que eu quero Dizer tudo pra vocês... Eu quero é escolher O ar que eu respiro, A dor que eu sinto, Os gemidos que eu emito... Assim fica bem mais bonito... Assim dá mais gosto de viver... Assim, assado, Algo tem que ser cutucado! Do jeito que está, não dá! Do jeito que é, está tão tenso,

Tão denso, Tão árduo... Em mim arde um fogo, E eu viro o fogo E ardo... Este amor em meu peito arde Não se apaga, não quer ser covarde... Quer ser bonito, ser completo, ser total... Eu ardo de tão incondicional... Eis o segredo, Escondido nestes versos... Nos versos dos bilhetes E das cartas Marcadas...

quinta-feira, 5 de outubro de 2006, 16:23:49

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Poema Inconsciente I

Assim fica mais fácil Falar Nada... Assim a fala fica até bem engajada... Quando meus pés não sabem o que fazer no chão, Meus pés é que mandam, que decidem aonde vão, Ou se ficam... Mas hoje só há sonhos, Que se multiplicam, Na velocidade desesperadora De um raio de luz... Apesar de ficar fácil, O medo de um beijo E o desejo de um abraço, De dor... Então me use, Pequena, Me abrace, amor... Me deixe no ar, Na artimanha Do arrastão...

Me chame De nada E me deixe Fugir daqui pra qualquer lugar... Me deixe tentar Me exibir e sonhar Meus sonhos recorrentes, Meus desejos incipientes... Meus braços doem tanto, Esses meus braços dormentes... Nada mais excêntrico! Falar tanto de mim, Falar tão pouco de moda, De Televisão, futebol, Qualquer karma afiado, Disposto a ajudar A cortar... Meus advogados Estão se preparando Pra fazer algo de novo, Pra me proteger... Nem que seja uma barrinha De chocolate, Uma caixa de camisinha

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E um pote de nutella... Agora vai dormir... Amanhã será uma manhã bela...

sexta-feira, 6 de outubro de 2006, 02:31:50

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De Cantar

Que vontade de cantar! Não cantar lá no chuveiro, Cantar pra multidões... Tenho tantas canções Que apodrecem nas gavetas, Que evaporam, vão pro céu... Um dia as pessoas as chamarão de raridade, Mas eu sempre chamarei Voláteis... Sempre chamarei Atenção... O mundo todo acha Que sabe Onde está... Tantos desgraçados gemem Banalidades, Abafados por aplausos De verdade, Gritos de "Eu te amo", Gritos de euforia... E eu fazendo versos, Todo santo dia, Pra pessoas que mal sabem onde estão... Eu quero poder decidir o que quero, Eu quero poder explodir quem me irrita, Eu quero poder destilar todo o meu ódio,

Em outra pessoa diferente de mim... Eu tenho, aqui, tanto amor pra cantar... Eu quero sentir meu peito menos ácido, Quero me sentir menos tonto, perdido, Eu quero sentir algo bom neste ar Que tenta me sufocar, ao meu redor... Às vezes até me sinto o pior... Eu quero poder escrever meus poemas, Não há nada mais importante pra mim... Às vezes só quero chorar escondido... Aqui eu me sinto trancado e covarde... Eu quero fugir, eu quero voar... Eu quero um alguém a me acompanhar... Mas eu estou sozinho... Os outros cantam, tocam, e eu assisto sozinho... Os outros tagarelam, eu falo sozinho... Eu não tenho ninguém pra me abraçar, Fico tão triste que preciso cantar... E o mundo se recusa a me escutar... Se recusa a cantar meus poemas, Se recusa a notar minhas canções... Trocam letras, mas criticam meu português, Trocam valores, mas criticam minhas atitudes... Trocam as cartas, chamam isso de Virtude...

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Eu tenho o direito de não estar feliz, Não venham me consolar Só por obrigação, Só aumenta minha angústia, A dor em meu coração... Só mais uma canção Pra eu cantar durante o banho... Mas ainda assim eu canto, Porque eu acho que mereço... Podem rir, ignorar... Pode ser o preço Que eu devo pagar... Estou disposto... A partir de agora, Vou gritar pro muito todo, Outras canções (Bilhões) Como esta canção, Escritas num momento de aflição...

sexta-feira, 6 de outubro de 2006, 09:29:51

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Venha

Eu não existo, Sem você eu não existo, Sem você eu sou só um filme Desgravado de VHS... Uma alma desgraçada, Humilhando-se em mil preces... Por favor, venha pra cá, Não me deixe mais Um segundo assim, Perdido de você E de mim... Querendo morrer, Querendo morrer... Eu não entendo, Eu não posso entender, O que me fez ser feito aqui, Tão distante de você, Tão distante de mim, Tão distante da paz... Não me deixe mais Um segundo em aflição... Vem tomar as rédeas De meu coração... Eu sou mero mortal, Dores divinas não suporto, Não posso suportar... Deusa minha,

Venha pro mundo dos homens... Venha ter com teu homem, Ele só sabe te amar... E deitar na grama, E olhar estrelas, E sonhar, um dia, Em realizar... Ele só quer amar E ser amado, Só quer um abraço apertado, Pensar nos caminhos da vida, Na ironia do destino, Que é um bêbado ancião... Ele só quer rir do destino Com a alegria de uma criança Em um parque de diversões... E amar... Ele só quer amar, Não importa quanto tempo precisar, Ele te esperará... Mas não o deixe esperando Nada mais, Nem um segundo... Ele guarda em si Todo o amor do mundo...

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Um amor que pertence a você... Ele está aqui, Perdido, Sem você... Cantando, sem ser ouvido, Mil canções que compôs pra te dizer Que sem você, pra ele, Nada faz sentido... Vem pra ele, Deusa de divino encanto, Vem pra ele, porque ele Te amo tanto...

sexta-feira, 6 de outubro de 2006, 10:28:30

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Vontades

Eu não sei bem o que virá Depois da chuva... Uma foto que desbota, Ou a lembrança de um beijo... Eu não sei bem o que virar, Se uma estátua Ou um patuá... Eu quero ser eterno, Como água que evapora Na vontade de cair... Já não resta mais muita coisa, Então que eu seja a água que descansa Depois da chuva, Na poça da calçada Ou no fluido do rio... Eu quero repousar, Ser água, Não me sentir mais vazio... Quero fluir, Pelos céus, pelo mar... Quero me sentir mais livre, Me sentir mais eu, Quero a minha autonomia, Meu direito de escoar...

De correr depois da chuva, Depois de, durante a chuva, Sentir prazer em me molhar... Quero ser pra sempre eterno, Quero dizer o que eu quero Para quem quiser ouvir... Quero ouvir o som da chuva, O som macio da chuva... É um mundo que eu só sinto, Mundo que eu saboreio... É um nada perdido Nas paragens plebéias Do mundo das idéias... Quero ouvir o som da chuva, Batendo em meu corpo, Deitado no chão verde, Ser a chuva e nela estar... É sobre o que eu nunca senti, Sobre pular e cair, Pra depois evaporar E levitar... Morrer pra se salvar... Eu quero ser a chuva, Quero estar na chuva,

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Ser eu mesmo, a chuviscar... Ser a alma da natureza, Revestido de beleza... O cheiro cinza da grama, Depois da chuva, o nublar... Eu quero correr pro mar...

sexta-feira, 6 de outubro de 2006, 10:46:59

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Sem Nome

Poesia é vaidade... Não há quem faça Poesia por beleza, Por encanto Ou por amor... Não se escreve Por um mundo melhor, Ou por afeto Verso algum... A poesia rima Pra amaciar O ego do poeta... E as rimas valem tanto, Quanto há amor na alma do poeta... As rimas nada valem, E isto é duro de dizer... Poesia, num papel, É superficial, É feita por interesse, É feita pra conquistar A si mesmo... Todo poeta é narcisista... Todo poeta é, E só...

Todo poeta tenta A cada dia Ser melhor... E mesmo que ele queira piorar, Esta é a sua maneira De se auto-admirar... Todo poeta, quando escreve, É como entrar numa piscina... Para todo poeta, Rimar é uma sina... E todo poeta se perde Em versos E não se vê mais ali... E se desespera, E se procura... E não se encontra... E não se conforma, E fica conjeturando Metalingüística... E sua língua nunca para De falar... E sua sordidez, Ah! Nunca para

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De inflar... Ser poeta é tão difícil! Às vezes dá câimbra no coração... Às vezes dá vontade de mudar de vida, Ser um guia turístico no Nepal... Mas nada mais poderia atender A meu vício narcisista De me ver, de me tocar, De me sentir, de melhorar... A poesia é uma droga Saborosa e viciante, E eu, sem outro rumo, Só posso ser errante... Me drogar comigo mesmo, Ser a minha poesia, Um poema sem nome, Que me consome Numa overdose De sonhos E sons... Não adianta, Ser poeta É maldição Em pele de dom...

sexta-feira, 6 de outubro de 2006, 11:42:20

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Eu Sou Minhas Toxinas

Eu sou minhas toxinas, Só que um pouco mais vermelho, Só que um pouco mais letal... Eu quero te dar um beijo Sensacional... Ninguém sabe quem somos nós, O que amarramos, O que amamos, Ninguém pensa em um caminho Sem pedras... Ninguém sabe que somos nós, Que unimos pedacinhos De nós mesmos, Ex-quebrados Como regras... Eu sou o veneno que tomo, Sou a morte que não há, Sou uma suicida loira, De seios fenomenais... Sou a dama feita fênix, E já não morro mais... Ninguém sabe se somos nós Aparelhos Ou toxinas...

Eu ouço, do lado de fora, Sussurros de vozes femininas, Eu mesmo Não sei de qual lado estou... Não sei se sou Dessa gente que se junta, Ou se devo me juntar A esse povo que se espalha Pelo mundo Re-quebrados Como uma bunda... Eu sou minha toxina, Eu sou os meus ideais, Eu sou minha coca-cola Sem gás... Eu sou meu piano de cauda, Eu sou meu computador, Eu sou minha fuça torta, Eu sou minha estátua de sal Numa piscina de adoçante... Eu sou um imperador Em uma arena entediante... Sou um baterista bêbado, Sou um gole de veneno... Eu sou o toque preciso

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De um beijo molhado e sereno... Eu sou feito de carícias, Carícias letais... Eu pareço imaculado, Mas sou feito do pecado Em seus gemidos mais carnais... Sou um beijo entre a dor E o prazer... Sou uma vitrola incansável De um colecionador de discos... Eu não entendo o francês que canto, Eu não entendo o alemão que canto... Eu entendo do espanhol até um tanto, Mas gosto mesmo de bradar inglês... A melodia de um disco de Reggae, Algo dos Beatles ou Desireless... Eu canto e danço, e me deixo entregue... Eu sou minhas toxinas, Sou minhas amigas meninas, Tentando me beijar... Sou meus olhos ardendo Pelo ar condicionado, Sou quem não entende o que Estou fazendo “ali”... Quem inveja minha idade E a minha facilidade De sorrir,

(E até de chorar, talvez) De fingir que sou anormal, E ser cara-de-pau Com essa minha timidez... Agora, acima de tudo, Uma coisa eu quero dizer Como vitrola ambulante: Há muitos discos dos mutantes, Gravados em minha memória, Aqui em meu HD... Nos e-mails que o carteiro entrega, E nos selos que posto nos posts, Do universo virtual Do qual surgi toxina... Eu sou contador de história, Eu sou cantador da glória De usar sempre as mesmas rimas E contar as mesmas dores: Dizer que sou toxina, Sou a minha toxina... Sou soneto em esperanto, Sorvete de requeijão, Sou um disco arranhado, Que nunca muda de lado, Cantando a mesma canção... Eu não sei se é “Roxanne”, Se é a “Asa do Invento” Ou se é o hino nacional... Mas sei que eu sou toxina, Envenenando as engrenagens Desta máquina de escrever digital,

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Criando poemas tortos, Envenenando os mortos (com medo de fazer o mal) E mergulhando na piscina Que devorou minha estátua de sal...

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Por um Toque

Te tocar Seria o céu, O intenso reino dos céus, Seria um céu tão perfeito Que palavras mal posso achar Para fazer com que se sinta, Em versos tão restritos, Teus ares perfumados de infinito... Te tocar, Seria tocar Serenatas angelicais, Compostas por mãos delicadas, Por ouvidos sentidos e atentos, Na boca mais doce, maestra De meu corpo todo... De meus pedaços mais tortos, Só resta a eterna dor De não te tocar Agora E ter que esperar você chegar, Gata manhosa em carícias, Armada com este olhar, Que me desarma...

E que me faz dizer Que eu, Apesar de ser tão volátil Sou só teu... Teu irmão, teu diferente, Teu igual, tão teu, Somente Teu... Sem aflições, Só poemas travestidos de rock, E a euforia de sentir teu toque... Que teus arrepios me digam Que rumo tomar, O lugar certo de te acariciar... E que teus abraços me coloquem No meu lugar...

segunda-feira, 9 de outubro de 2006, 01:32:47

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De Passagem

É Sobre ritos de passagem, É sobre tomar um rumo, Ramificar o caminho Nesta estrada traiçoeira... Um ramo da roseira, Um galho de goiabeira, Uma vontade de ser A primeira pessoa a cantar Alguma notícia boa Ou qualquer grande verdade... Mas eu não tenho a dizer Nenhuma notícia de liberdade... Não tenho fotos de nudez, Nem atestados de inveja... Não há sonhos realizados Entre os que minha alma almeja... Todas as mulheres apedrejam A prostituta Que elas não conseguem ser... Querem tanto se entregar A todos, Mas são algo mais banal, Um objeto pessoal De um homem sem carinhos Para dar...

Querem dar Algo mais que o corpo, Para alguém que dê Algo mais que porrada... Querem ser dama popular... Antes ser a linda puta Do que ser nada... Humilhada e não-amada... Mas não são... São submissas, são caladas, São mãos que atiram pedras De inveja, E conformismo... São um mundo que se fecha A transformações E se consomem em ódio Engolem em seco o seu cinismo... Cada pedra atirada É a negação Do rito de passagem Que se convida a existir, A prostituta falece Pelo ódio sólido, Que é lançado sobre ela Num suicídio coletivo

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E travestido... As senhoras de família Assassinam seu sonho... Mudar não faz sentido... Hoje vão pra suas casas, Transar com seus maridos bêbados, Beijar um travesseiro amargo, E sonhar em ser a prostituta Que hoje está no reino dos céus!

segunda-feira, 9 de outubro de 2006, 13:41:52

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A Palestra

Está tudo certo, Ninguém vai se ferir, Mas nas próximas três horas Ninguém de vocês sai daqui... Vamos tentar nos entender, Eu não quero ter que atirar... Então ninguém dê de engraçadinho Nem ouse sair do lugar... Eu quero todos os anéis, Relógios brincos e colares... Quero tudo de valor, Preciosidades elementares... Tudo o que brilha, reluz, Tudo o que posso ostentar... Quebrem todas as vitrinas E peguem o que podem me dar... Depois, todos de joelhos, Oraremos em comunhão... Somos todos pecadores E devemos pedir perdão... Peçam perdão pela fome Que gera a violência Enquanto vocês se entopem de luxo E se escondem na demência...

Peçam perdão pelo erro De tentar guardar o mundo... Hoje é dia de aprender Que tudo se pode perder em um segundo... Carregar no pescocinho Qualquer amostra de poder É tentar se mostrar maior E é pedir pra perder... Pois bem, criancinhas, O Senhor ouviu vossas preces... Tratem de agradecer a Ele, É o mínimo que ele merece Por estar tão atento Ao que acontece entre nós... Eu não passo de um enviado, Para fazer papel de algoz... Lembrar que suas jóias brilham mais Do que as favelas de madrugada, No meio de uma guerra civil Que por vocês é sustentada... Eu sei que eu sou ignorante, Muito burro pra entender, Mas vocês, sem dúvida sabem Que por serem modelo de consumo, Estão agora à minha mercê...

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Agora eu pego tudo e sumo, Boa tarde e até mais ver...

terça-feira, 10 de outubro de 2006, 16:40:19

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Agora é Tarde

Desculpe-me por não lhe dar os céus, Eu não vi que você quis ver algo em mim, Eu só vi que eu quis algo E você nunca fez parte dos meus planos... Me desculpe, Mas nós dois fomos um engano... Me desculpe por ter causado mil danos Ao seu coração... Eu pensei que você só quisesse Ver o meu sorriso de alegria Por vencer, ser aplaudido... Eu pensei que estar comigo Já lhe faria feliz... Eu pensei que você sorriria, alegre, Quando me visse sorrindo Por estar num bom lugar... Mas acontece que eu me esqueci de sorrir, Me esqueci também de ti, Só pensava em ser maior... Eu não sei como eu poderia Ser mais tosco, ser pior...

Eu deixei de ver o brilho dos seus olhos, Fui tão sujo que seus olhos Já não brilham mais por mim... Eu já não sei se foi melhor assim... Eu só sei que tudo poderia ser Bem mais macio ou mais maciço... Algo que me fizesse ver Que eu não sei que rumo tomar, Mas poderia saber Se notasse que dependo de você...

quarta-feira, 11 de outubro de 2006, 03:29:16

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Poema Inconsciente II

Ser uma pessoa comum, Procurar uma razão para a vida, Construir um futuro honrado E trabalhar pra ter comida... Conhecer a Disneylândia Com meus filhos de cabelo liso E abraçar um Mickey falso Sorrir um sorriso falso, Sem a ironia De quem nota que o Bill Gates Reconhece o Mickey e a Disney No corretor do Word... Ter projeto de governo, Ter projeto de vida, Confiar que Deus Tem um projeto pra minha vida E pra minha alma cristã, Fingir que a vida é eterna E que não pode acontecer De eu morrer amanhã... Votar consciente, Assistir o filme bacana Pra ter como conversar... Tomar um rumo na vida, Ser responsável, trabalhar... Segurar na mão de Deus

E ir... Hoje é o único caminho Que me permitem seguir... Seja o Deus bordado em células, Seja o Deus no monitor... Todos ostentam luxo, Todos dizem ser amor... A cruz acima do homem, Acima do homem na cruz... A cruz do palco, do altar... Não é de tolo e reluz... E os olhos da criança estuprada, Ou os da mãe espancada Não... Mas Deus não me pertence, Quem sou eu pra falar? Eles são donos da fé E são donos da razão E dos meios de comunicação E das mentes manipuladas De toda uma população... E é por isso que eu prefiro Socar o cara de Mickey,

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Jogar pratos na parede, Escrever minhas próprias canções... Se minha banda não quer cantar, Já nasci estranho no ninho... Já estou acostumado a cantar sozinho... E tem aquela palavra Que eu sempre fico tentando lembrar... Não nasci pra ser dedicado, Eu sempre faço tudo errado, E minha memória faz questão de atrapalhar... Mas este sou eu, E é assim que eu cantarei: Com a voz esganiçada, E com a letra toda errada, Algo que eu próprio inventei... Eu só fiz isso pra dizer Que minha alma tem nojo do mundo E recita poemas pra gritar Que a grande anciã, na verdade, É de vomitar...

quarta-feira, 11 de outubro de 2006, 03:55:07

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E Tal

Como eu adoraria Nunca mais correr tal risco, Mas nasci para este dia, Meu destino é ser arisco... Como eu adoraria Nunca precisar brigar, Mas sinto isto no meu sangue E até me disponho a sangrar... Eu nasci pra este momento Segurar-me nestas rédeas, Empunhar a imensa lança Que me torna em Deus Guerreiro, E sei que serei o primeiro A cair pra nunca mais me levantar...

quarta-feira, 11 de outubro de 2006, 04:02:21

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Por Mim

Alguém quer perfumar Meus sonhos Por mim? Eu me proponho A não ser mais Aquela pessoa ruim Que em mim tentava morar... Eu não consigo deixar de ser Protagonista de poemas Não consigo deixar de ser Narciso inconseqüente Não consigo deixar de ser Inconstante, Incongruente... Esqueci todos os meus lemas, Que havia decorado, E agora eu não passo De um covarde devasso Prometendo melhorar... Confie em mim, gente, Eu darei o melhor de mim, Só preciso saber Se alguém perfumará Meus sonhos Por mim... Agora é a hora

Exata De jogar tudo pro alto E não pensar em mais nada... Limpar a mente Respirar o desapego E manter a mente fértil Para tudo o que virá... Fechar os olhos E respirar Fundo (A simbologia recorrente É respirar fundo), Porque agora é o momento De iniciar uma viagem, Um rito de passagem Pra ser definitivo Provisoriamente... Não pode haver a ilusão De renascer perfeito, Livre de todo pecado E do risco de pecar... É importante entender Que tal metamorfose É cotidiana... Querer ser sempre o mesmo É querer viver a esmo Num mundo mesquinho e sacana...

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Mas querer se transformar É tomar as rédeas da vida Sair de um beco sem saída, E sorrir, aliviado, Com um sonho perfumado E a sede de recomeçar...

quarta-feira, 11 de outubro de 2006, 13:16:55

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Não Ainda

Eu já sei o que eu quero ser, Meu amor, quando eu crescer... Eu quero ser educador, Porque quando eu fui aluno, Desejava ser professor... Não por sentir vocação, Inveja da profissão... Mas sim por querer ensinar Como eu adoraria Que me ensinassem... Então desejei saber Explicar seivas condutoras Ou cossecantes e matrizes, Poder provocar meus alunos À luz libertadora E a caminhos mais felizes... Eu quis ter autonomia, Mas ninguém me pôde dar Porque ninguém tinha, E fui então que eu percebi Que a tarefa de buscar isto pra mim Era puramente minha... E então não quis mais aprender Apenas o nome de Deus Ou de quem descobriu o Brasil... Queria saber, enfim, O que cada um destes

Construiu pensando em mim... (Porque tudo o que Niemeyer construiu Foi pensando em mim!!!) E é legal também poder contar Que Sergio Sampaio compôs muitas canções Pensando em mim, E em todos nós... Ser educador É como ser um compositor popular... Um formador de opinião No centro do furacão... E eu construo tudo, tudo Pensando em mim, E em você, E em todo mundo, E em todo o mundo... E os sambas do Sérgio Sampaio Falam no meu coração! E ele, perceba, amor, Ele é um grande educador Pra mim... Eu adoraria ser assim... Em sala de aula, Como aluno Ou como professor, Ser instrumento de transformação...

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Num palco Como ator ou personagem, Músico ou platéia, Como som ou como imagem... Mas só sei fazer poemas, Meu amor... E meus poemas não mudam Nada Queria que minha poesia Não fosse tão parada... Mas a esta altura do campeonato Rezar não adianta nada... Então apenas escrevo, E em meus poemas, amor, Despejo tudo de mim, Como se eu fosse um compositor Popular... E este é o primeiro passo Pra eu me tornar Quem eu quero ser... Prefiro ser a prostituta apedrejada Do que apedrejar, Frustrada, Meus sonhos... Mas eu não passo de um menino indefeso, Ouvindo a Cyndi Lauper Cantar... Eu só quero ser, amor, Um compositor popular... O que há em mim, Justo agora,

Que não há ninguém aqui Pra me abraçar? Estou sozinho, Escrevendo sobre a rosa Embasado nas feridas dos espinhos, Escrevendo com propriedade... Eu só queria, meu amor, Um abraço de verdade, Me sentir alguém, Ter o direito de cantar minhas canções, Ser “Madonna” e ser “Whole”, Eu queria alguém pra cantar comigo, Alguém que queira cantar As minhas composições... Mas enquanto isso Elas ficam envergonhadas, Vazias, Rejeitadas, Disfarçadas de poesia, Num livro que ninguém lerá... E eu ousando sonhar em ser Um compositor popular... O que fiz eu, senhor, O que fiz eu Pra merecer tanta dor? Porque nasci pecador? Quem sou eu, meu amor, Quem sou eu Pra ser, um dia, um educador?

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quinta-feira, 12 de outubro de 2006, 01:47:56

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Particular

Seu segredo fica aqui, Entre nós, Entregue ao mundo dos segredos, De onde pouca coisa sai, Pra onde muita coisa vai... Eu sou seu segredo mais profundo, O mistério que você quer desvendar, A verdade que ninguém mais vai saber... Talvez um dia você queira até contar, Mas dificilmente contará... Eu sou o teu canal para o infinito, O caminho que você sonha em seguir (E estou aqui A sua disposição)... Eu sou feito de sussurros Arrepios e flashes de emoção... Eu sou feito assim, Um pedaço pro sim, Outro pro não... Eu sou feito de sorrisos De negação E de entrega...

Eu sou a tua paixão Mais cega, O teu desejo Mais intenso E os gemidos Mais macios... Vou guardar nossos segredos Num abraço De feras no cio E em um beijo Desvairado e sutil...

quinta-feira, 12 de outubro de 2006, 15:05:00

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Então

Hoje O teu irmão veio bater à minha porta, Eu perguntei o que ele desejava E ele disse que só queria conversar... Eu o convidei para entrar E logo notei que ele tremia muito... Sempre levando a mão à cintura, Parecia querer se certificar De não ter perdido algo... Imaginei, então, Que estivesse armado... Perguntei se ele queria beber algo E ele prontamente respondeu que não, Com o tom de voz e a prontidão De quem imaginara (Talvez) Que corria o risco de ser envenenado... Eu não tinha veneno algum em casa, Mas me mantive perto da escada, Que tinha uma das madeiras do corrimão solta... Era a ela que eu recorreria Ao menor sinal de ele tentar sacar a arma... Então ele se sentou no sofá, O que me forçou a pegar o cajado de meu bisavô, Que estava pendurado na parede... Assim,

Como com o pedaço do corrimão da escada, Eu poderia me sentir mais seguro, Além de estar livre para sair de perto da escada e me sentar junto a ele... Então ele contou-me que soube que eu havia lhe magoado, No que eu argumentei que eu, No entanto, Não tive a mesma notícia... Ele quis de mim um tanto menos de ironia E eu disse estar sendo sincero... Creio que ele estava preparado Para reagir a alguma arrogância De minha parte, Porque, quando fui respeitoso com ele, Ficou sem reação... Então eu tomei a palavra E contei-lhe que na verdade Você e eu tínhamos, sim, Ficado encantados um com o outro por um bom tempo, Mas que o que sentíamos um pelo outro havia acabado E que decidimos de forma civilizada Por pôr um ponto final naquele romance Para que nos sentíssemos mais livres... E quanto ao fato de você estar sofrendo, Argumentei que não poderia haver nada mais natural

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(Visto que eu também lamentei em lágrimas por um bom tempo) Mas que logo isso passaria, Já que havia, para você também, Ficado claro que tomamos a decisão correta... Depois de todas estas palavras, Silenciei-me, Como que esperando que ele se pronunciasse... E ele, com voz pausada, Observando o cajado em minha mão, Respirou fundo e diagnosticou Que pela forma com que você se entregava à tristeza, Dificilmente teria se apagado, Em seu coração, A chama da paixão... Levantou-se, disse que imaginou que eu não fosse Uma pessoa séria E dirigiu-se à porta, Como que dando o assunto por Provisoriamente encerrado... Eu o acompanhei até o portão, Desejei-lhe boa viagem E fui até a geladeira tomar uma cerveja, Enquanto a idéia de você ainda gostar de mim Ecoava, perniciosa, Em minha cabeça... Fiquei batucando no teto de meu quarto Com o cajado Por uns bons minutos, Mastigando a idéia ainda mais latente De eu também sentir ainda Afeto intenso por você...

Mas depois de tanto refletir, Ficou claro para mim Que o que eu sinto é apenas Desejo físico E que eu seria um calhorda Ao tentar me convencer De que isto é algum tipo de amor E de que eu teria direito de querer me intrometer Novamente na sua vida... E essa conclusão é ainda mais absoluta A partir do pensamento de que, Tesão por tesão, Há muitas outras mulheres por aí Que me excitam igualmente... Então, Mesmo depois de tudo isso, Creia: Eu seria muito mais sacana Se dissesse somente Que não sinto nada por você... Prefiro ser sincero E não tentar mais me enganar, Dizendo que lhe vejo apenas como amiga... É melhor, Evidentemente, Que evitemos todo tipo de envolvimento Que possa levar a um ressurgimento Desta sensação de estarmos apaixonados um pelo outro... Para o nosso bem, Sejamos apenas amigos, Mesmo que tenhamos que ser Amigos que sentem tesão...

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De Um Homem Só

Eu não tenho família, Eu não tenho irmãos, Eu não tenho saída... Meu coração bate no compasso Do de um suicida... Meu coração está aflito, São coisas da vida... Hoje eu tremi desesperadamente Ao perceber que estou sozinho, Tem tanta gente ao meu redor E eu estou sozinho... Não era pra ser assim, Deus, Não me sinto à vontade... Pegam em minha mão, Me desejam um bom dia Mas quase nunca Desejam isto de verdade... E eu me iludo, E depois me desencanto, E me tranco em um canto Como um covarde... E eu quero, oh pai, Só quero que você exista... Só quero uma prova, Ou ao menos uma pista

De que posso contar contigo... Meus versos são descartados E eu finjo que não ligo... Eu só quero ser um artista, Mas o mundo quer que eu desista... E o mundo abraça o ambíguo... Já passou da hora de eu saber quem eu sou... Eu me sinto tão fraco aqui, Teclando poemas Ou teclando reggaes... Se alguém quisesse ouvir O que eu tenho a dizer, Já me sentiria tão alegre... Mas parece que eu não tenho Um manual de instruções... Ninguém quer tentar me entender, Ninguém quer me traduzir, E por isto, estou aqui À mercê De não sei o quê... Agora, vamos ser sinceros, Me explicar para alguém É subestimar A capacidade deste indivíduo

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De raciocinar... Vou me explicar para o mundo, Então, Para cada indivíduo, Para cada cidadão... Me explicarei: Eu sou Uma contradição... Acho que é o ódio Quem me acompanha, Já que o amor está tão distante... E, pensando bem, Assim é até melhor... Eu sou uma banda de um homem só... Estou num mundo de bandas De um homem só... Não adianta se iludir, Pensar que sou só eu Que sou elo deslocado... O mundo em que vivemos É uma corrente desmontada, Que possui Um recurso friamente calculado De me fazer sentir nojo De quem está ao meu lado E de fazer cada um de nós Se sentir um nada... O mundo em que vivemos É uma paisagem devastada...

E é caminhando pelo esgoto Que rumamos ao futuro... É o que nos resta E é tudo a que Temos direito... Não adianta chorar, Não há outro caminho No qual possamos pisar, Não há outro jeito... É cada um por si, E Deus escondido, Rindo dos nossos apelos Tão sinceros, Tão arrependidos... Pecadores, tão cobaias, Tão fáceis de manipular, E ainda se acham geniais, Com suas teses irretocáveis E seus laudos informais De mesas de bar... O altruísmo de querer De desejar, De, desesperadamente, Almejar Um mundo melhor para todos... A classe média intelectual, Que não consegue se perceber Afogada Em um paradoxo total: Mundo Melhor...

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Mundo melhor não há Pois o fato de ser mundo Já implica em ser Pior, Já implica em ser Imundo, Já implica em ser Mundo... Porque somos egoístas (Exceto a classe média De altruísmos de mesa de bar E a juventude socialista E universitária E revolucionária E bla bla bla, bla bla bla, bla bla bla)... Nascemos para ser egoístas Isto está no nosso sangue, Não tem como mudar... As meninas que se olham no espelho Se preocupam mais com sua maquilagem Do que em notar Que são ridículas Mesmo dentro do padrão De beleza... Se julgam uma bela paisagem, Se sentem a vitrine do que é belo O retrato mais perfeito Da perfeita obra da natureza...

Pelo prazer de mostrar Que as outras meninas Não são tão belas assim... Esta é a beleza humana... O ser humano é ruim... Meu coração bate no compasso Do de um suicida... Às vezes sinto vontade de gritar “Deus, me trucida”, Mas nem sei se ele vai me ouvir... Sou apenas um ser humano Uma cobaia metida a esperta Tentando definir De quem é a culpa De o trem ter saído dos trilhos... Sendo que não adiantaria Nada... Não há mais culpados, Todos, sem exceção Morreram carbonizados...

sexta-feira, 13 de outubro de 2006, 12:51:04

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Soneto da Contradição

Meu coração só quer se despedir De todo tipo de padrão formal, De tudo que creia guardar em si Qualquer dita “verdade universal”... Se eu cheguei inteiro até aqui Foi por não querer ser sempre igual E todas as ofensas que ouvi, Jamais deixei que me fizessem mal... Dedico-me, portanto, a extinguir Qualquer forma que se julgue ideal... Sou fluido que fôrma alguma modela E, tal como os mil versos que escrevi, Escorro, feito em veneno fatal... Mato a sede da diferença bela!

sexta-feira, 13 de outubro de 2006, 18:02:49

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Canção do Abandonado

Confie em mim, Em meu juramento abstrato Que apesar de eu ser bicho do mato, Eu tenho por ti imenso amor... Creia em mim, Segure a minha mão E me permita a graça de te guiar... Eu quero estar contigo aonde você for, Eu quero te acompanhar... E mesmo quando me sinto tentado A desperdiçar minha alegria Pelo fácil ao meu lado, Não é nada que possa Me tentar por muito tempo, Porque o meu tempo todo É teu... Eu não busco mais ninguém, Confie em mim, Em minhas promessas chorosas Em minha voz, Em minha prosa...

Em meu verso... Eu só preciso De um pouco de proteção, De alguém que segure a minha mão, Que me diga coisas bonitas Sussurradas no ouvido, Que se enrosque em meu corpo Para parecermos um só... Eu só quero estar contigo, Quero me sentir melhor... Eu fecho meus olhos, O mundo me indaga: “E agora, José Ninguém?”... E agora Eu só quero você, Meu bem... Só quero não sentir dó De mim... Só me abrace e me proteja... Eu tive um sono ruim...

sábado, 14 de outubro de 2006, 01:49:14

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Bobo de Amor

Me usa, Cheio de erros gramaticais, Embriagado, Roxo de vinho, Tinto... Me usa, Acho que bebi demais, E estou largado, Sozinho, Vulnerável, Sem ninguém pra se aproveitar de mim, Sem ninguém pra tirar proveito De minha embriaguez... Me usa, Não ser teu objeto é um castigo tão ruim... Quero sentir o peso de tua cabeça sobre meu peito, Tuas mãos sedentas me guiando à nudez... E eu me fingindo de inofensivo Por não querer reagir, Mas cada vez mais vivo... Eu até seria eterno se você estivesse aqui...

Mas eu estou sozinho, Jogado na frente deste computador, Desesperado por um gole de carinho, Inventando mais um poeminha bobo de amor...

sábado, 14 de outubro de 2006, 02:00:28

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Discurso de Amor Materno

É hora de ir para a cama, Crianças, Mas sem brigar, Porque tem Alguém querendo falar com vocês, Mas eu sei Que não vai gostar De vê-los neste pé de guerra (E antes fosse só o pé)... Mas é tão triste olhar vocês assim, Crianças, Fruto de meu ventre, Sangue do meu, Brigando sem motivo, Como se isso lhes desse Alguma satisfação, Como se algum de vocês soubesse Que isso é parte do instinto Da nossa espécie... Por que não os fiz ratos Ou urubus? Por que os fiz podres? Por que humanos? Me arrependo tanto, Porque eu sei o quanto eu quero Não ter sido feita assim...

Sou monstruosa por natureza, Atrás de uma muralha De maquiagens Que tenta simular Alguma beleza... Sou feita pra pegar em armas, Apertar gatilhos, Explodir as cabeças das crianças inimigas... Sou feita pra fazer ceninha E fomentar brigas... Meus filhos, Deus nos livre De sobreviver, Somos aberrações do cosmos, Alguém, por nós, tem que valer... E nem precisa entender Porque eu estou chorando E abraçando vocês... Vão pra cama, Esqueçam da pessoa Que eu disse que, com vocês, Queria conversar... Vocês são pecadores, Não merecem com Ele falar...

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sábado, 14 de outubro de 2006, 02:16:27

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Agora Ninguém

É trabalhar, Como um pobre diabo Que espera o final do mês Pra não ir ao cinema, Não ir às compras, Não ir à Bahia... Tudo o que nos cabe É não ir... Não ir às alturas, Não ir às conclusões, Não ir ao orgasmo... Tudo o que nos resta É o resto, É o mais silencioso resto, É o gosto apodrecido Da euforia... Agora só nos cabe trabalhar, Só nos cabe pegar na enxada, Pegar no batente, Pegar sol e chuva, Ficar com as mãos calejadas E no final, Tudo dar em nada...

Só nos cabe beijar as sapas, Eternamente, As damas esbeltas que escondem em si, sapas, Enquanto as princesas não têm silhuetas de modelo, E não acham nem mesmo sapos para beijar... Só nos resta ouvir a canção adolescente mexicana, Ou o rap dos states Ou o som das barrigas Roncando de fome... E agradecer a Deus (é claro, não poderia faltar) Por ter uma pátria, Um lar, Um nome... Um nome qualquer, “E agora, Ninguém?”

sábado, 14 de outubro de 2006, 13:26:32

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Primeira Fábula do Lobo e do Cordeiro

Eu já cansei de me sentir Um nada... Quero receber flores Da mulher amada, Me sentir amado, E não um pobre coitado... Eu quero carinhos de ternura, E não só de excitação, Quero palavras doces, Beijos doces, Me sentir personagem De alguma canção... Ser conquistado E não apenas conquistar, Ouvir o que as mulheres acham Que só os homens devem falar... Ou será que eu sou assim Tão inferior Pra não merecer Nenhuma Declaração de amor? Chega de ser o lobo mau, Devorar carneirinhas Coitadas e indefesas... Eu me sinto indefeso demais

Para vestir a pele de lobo, De macho que impera, De dono ou de objeto... Se quiser Que eu seja curto e grosso, Direi, serei direto: Eu quero ser amado... Não sou nenhum lobo mau Nem quero ser cordeirinho coitado...

domingo, 15 de outubro de 2006, 21:49:03

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Pintura a Óleo de Soja

Melhor ser cego Do que ver isso... Pintou sujeira, Pintou um quadro Clínico Drástico... Pintou o sete De setembro, Pintou o onze... E a obra de arte É respirar este ar Tão mais puro Do que nossos corações... Arte é ter amigos Não voláteis, Não perenes, Não importa O que aconteça, Amigos de verdade... Obra de arte É ser obra de arte, E não esse esboço Inacabado que somos... É ser obra prima E não matéria prima... É ser equilibrista,

E não um desequilibrado... É servir E ser imprescindível Pra algo de bom que haverá de vir (se formos todos obras de arte)... Obra de arte é sustentar família, Aturar patrão E ainda fazer carinho E fazer feliz... Como essas crianças Fazem arte! E nós só queremos saber Em qual botão os desligamos... Crianças que fazem arte Nunca podem ser O futuro do país... No futuro, devem ser Como os pais... E é tão triste fazer arte Em um mundo tão nojento Aonde tudo é re-produzido Em escala industrial... Porque meus pais Não me desligaram Enquanto ainda fazia efeito?

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segunda-feira, 16 de outubro de 2006, 01:53:23

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Haikai

Que polêmica! Toda compaixão do mundo É transgênica...

segunda-feira, 16 de outubro de 2006, 02:35:32

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Poema Inconsciente III

O meu nome, Qual é o meu nome? Me diga, Eu preciso saber... Me chama... Como é que eu me chamo? Você não me chama E eu não entendo por que A vida tem esse gosto De canção adolescente Dos Engenheiros do Hawaii Em início de carreira... Este drama é tão meloso, Mas não é sem motivo... Você há de convir... Eu só quero que você me chame Mais uma vez... Mas seria mais bonito Quantas vezes puder ser, Pra que eu possa me orgulhar De ser chamado por você... Fazer um charme ao som dos Beatles, Cantarolar refrão dos Beatles, Fazer tudo fazer tanto sentido Quanto couber numa definição de um beijo...

E a partir de agora Tudo embaça, E tudo é moda, E tudo é natural... E tudo é peça E engrenagem essencial... Que a essência nos congregue, Que o ar nos seja leve, Que a sede nos seja finada (até a de justiça [principalmente a de amor])... Que me façam alguma massagem Capaz de curar em mim esta dor... E que eu não me sinta mais Sufocado, E que eu possa sentir tesão Sem achar que é pecado... E que eu possa matar a minha sede Com a tua saliva, E aquecer o meu coração Com o calor da tua respiração (Ofegante, de preferência, ofegante)... Que meu sorriso não pareça mais tão distante (o que só é possível quando você não o for Em relação a mim)...

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Que você queira segurar a minha mão, E entender que eu estou contigo (E que só sendo teu amigo É que eu posso ser o teu amor)... Agora faça-me um favor Não me peça isso não: Não me peça pra tentar parecer Apenas um puro coração... O afeto e a ternura Estão acorrentados ao desejo da carne, Que está acorrentada às nuvens Só de eu pensar em você... Eu não sou uma alma livre de corpo... Eu não sou nada mais que o filho da sede... Eu sou a sede tatuada na garganta, Eu sou assim... E a tua voz tem uma magia De me fazer (só de ouví-la) delirar... Eu quero é ser estrela Nesta nossa terra... Agora só falta semear... Nem tudo está perdido, Se ainda somos puros O suficiente pra chegar ao céu... Já repararam no céu? Na retina de fora do céu, Nos momentos de fórum geral,

Me convém falar... Só sei que a liderança muda... E que o pote de sorvete Hoje custa tanto menos Só por nada mais valer... Agora tem mais uma coisa Que eu quero dizer... É que eu não vou contar (faça mal ou faça bem) O que é segredo... E pode tentar me pôr medo...

terça-feira, 17 de outubro de 2006, 02:03:39

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Aqui Não

Aqui não... Aqui não dá... Templos sagrados, Não posso profanar Com a minha poesia, Devassidão rimada... Aqui não dá Para nada... Aqui só posso Catar Beatles Pra mim... Cantar Beatles Pra mim... Como tudo é para mim... Aqui não... Aqui versículos, Não versos... Aqui religião, Caminho estreito, Não vida, Caminho inverso... Aqui não...

Nem faço questão...

quarta-feira, 18 de outubro de 2006, 18:16:07

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Se Modelar

A pessoa se recicla, A pessoa se modela... Sobre si, cada um decide, Cada um escolhe A sua forma mais bela... Eu quero sentar numa mesa, Tomar cerveja e rir da vida, Com meus amigos mais loucos... Sorrir!!! Quero me modelar por aí... Eu quero me modelar Pelas canções que eu amo, Pelos versos que eu componho... Quero me modelar Por meu lado menos humano (porque o ser humano é desumano)... Eu quero ser um coração cigano...

quarta-feira, 18 de outubro de 2006, 22:05:59

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Segunda Fábula do Lobo e do Cordeiro

Porque elas foram submetidas E rebaixadas A objetos abertos pra que eles metessem Seus próprios corpos... E eles queriam que elas se sentissem nada... E quase sempre conseguiam... E eram grandes e latentes lobos maus... E eram fortes e viris, e eram tudo E elas faziam suéter para eles, Tosqueando-se a si próprias, cordeirinhas, Obrigadas a ser fêmeas, coitadinhas, Cozinhando pra quando eles chegassem em casa Enquanto eles comiam a vizinha... E eles, lobos maus, todos iguais... Começam dando flores e retirando suspiros, E acabam retirando sonhos e dando desgosto... E elas, cordeirinhas indefesas, Devem ser só mais uma pro garanhão, O bom lobo mau devora todas Mas elas, se quiserem ser boas, Não podem querer mais de um... Aquela que todos os lobos comem (E eles estão certos, Não podem dar mole) Está longe de ser boa cordeira...

Aquela que todos comem Acaba sempre solteira... Constata-se: As cordeirinhas são Cobaias torturadas, Retrato detalhado Da humilhação... E os lobos são vilões sem coração... Fim aos lobos, tão iguais, então... Daí as cordeirinhas, pra findar, Sua humilhação perante os lobos Decidiram eliminar Sua cordeirilidade... Agora eram cordeiras Vestindo pele de lobo... E não aceitam sua sensibilidade, Se embelezar pra atrair Um lobo, Nem que o lobo lhe conceda o lugar Pra sentar Num coletivo lotado Depois de um dia exausto e suado... E de tanto quererem ser lobo, E vestirem a pele de lobo, Os lobos maus se tornam ainda mais maus,

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Ainda mais lobos, Com medo de virar ovelha Negra... E ao invés de não quererem Ser diferentes, Porque elas não tentam não ser mais Desiguais?

quarta-feira, 18 de outubro de 2006, 23:34:04

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O Dragão e o Jasmim

Há algo querendo morrer Em mim, Alguma coisa que busca saber, Sem rodeios, O mais curto caminho pro fim... Algo em mim quer desistir, Desistir de jogar, Desistir de viver, Desistir de sentir Perfumes afrodisíacos, Desistir Dos anseios Dionisíacos... Tem um lado podre de mim Querendo cair do pé, Querendo saltar, inseguro, Um salto no escuro... A única certeza é a morte... Um salto no escuro Do éden, Do pecado, Do azar E da sorte... Há um treco em mim, ainda, Que não quer ver o fim não... Há um lado de mim cigano,

Querendo ser mais mundano Para ser menos desiludido, Pra não ter motivos pra querer cair no chão... Este quer ser errado Pra poder viver pra sempre, Que ser pra sempre pra poder viver em paz, Quer conhecer os mil prazeres do universo Pra que o universo reconheça aqui, em mim, Como um dragão que se enxerga em um jasmim, Os mil mistérios de paisagens imortais... E quem em mim será juiz destes dois eus? Que poderá remediar meus pesadelos? Quem se dispõe a mediar os meus conflitos? Pois o dragão que se enxerga no jasmim, Conhece o fruto podre que eu conheço em mim, Mas se descobre flor que brota, em desafio (Mesmo que envolta nos prazeres mais vadios), Pra deixar este mundo um pouco mais bonito...

sábado, 21 de outubro de 2006, 15:30:48

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A Canção Que Não Se Canta

É preciso mais do que somente fé Pra transformar, Mesmo que tenha que ser contra a maré, Eu vou remar... Porque pior do que enfrentar A queda d’água É reprimir e represar Essa força que nos alaga... Como eu queria que isso não passasse De ilusão, Que a mão que segura o mundo segurasse A minha mão, Mas é melhor enfrentar A correnteza Do que deixar-se levar Pelas águas dúbias da incerteza...

Há mais segurança em enfrentar O desconhecido Do que em ver a vida se acabar Sem ter vivido... Nada pode ser mais imprudente Do que não arriscar E querer ficar eternamente No mesmo lugar... Pois, mais que um barco insano, Contra a corrente, Eu sou o próprio oceano Indo de volta pra nascente...

sábado, 21 de outubro de 2006, 18:23:22

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Depois...

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Mangue e Restinga

AAAAAAAArrrrrrrrtttttttteeeeeeee

O Coringa Obrigado, senhorita audiência, Por ter tido toda essa paciência, E ter nos acompanhado até aqui... Tantos pensam em parar e desistir, Outros tantos, em pular para o final, Procurar algum poema mais legal, Que combine com cartinhas de amor... Há também os que têm nojo de ler dor E escondem-se atrás da poesia, Como se trouxesse alguma anestesia... Mas vocês, que aqui estão, caros senhores, Já mostraram que apesar de muitas dores, Estão desejosos de contradições, De poemas que debocham de paixões, Que maldizem muitas unanimidades... E é por isto que eu tomo a liberdade

De, além de agradecer pela presença, Convidar também esta platéia imensa Pro espetáculo imenso que virá, Pois o show mal acabou de começar... E segurem-se bem em suas cadeiras (Já que o palco não está pra brincadeiras. E é por ele que os artistas passarão [O que faz dele a primeira atração])... É com muita emoção que anuncio: Minha gente, eis um terreno baldio:

O Palco Me perdoe, por favor, caro leitor, Pelo retardado que acabou de lhe falar Pela confusão que acabou de provocar, Me permita corrigi-lo, por favor... Não existe espetáculo em mim Não virão atores, nem cantores, nem ninguém, E suas insanidades foram mais além

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(Mas não pensem que é um rapaz ruim)... Só se trata de um demente, sonhador, Cheio de anseios, desejoso de platéia... Quis sonhar que sou terreno de brilhante estréia Mas que fique avisado: Eu não sou... Já explico pra não ter nenhum problema: Não passam de tinta, os atores deste show, Como é só papel, o palco que alguém citou... Sou só páginas de um livro de poemas...

A Tinta Você não está lendo este poema... Você não está respirando mais... Você não tem mais membros de andar... O mundo ao seu redor só se desfaz... E nada resta, nem nada compensa... Espero que você não fique triste, Pois a inexistência está no ar E, desde agora, nem você existe...

A Culatra do Pincel Será que você acha mesmo que alguém quer te ler Além destas mulheres que querem te seduzir? Ou acha que teus versos têm algum lugar pra ir? Não nota que você só faz poemas sem porquê? O descaso está no ar, Cuja densidade é tanta, E se esforça pra chegar Aos pulmões, pela garganta...

Por isso o universo nem cogita te ouvir, E mesmo assim, você é incapaz de perceber Que você não é nada, não há nada pra você... Ou acha que alguém lerá este livrinho aí? Já pensou em apelar? Apelar não adianta... Ninguém quererá cantar A canção que ninguém canta...

A Musa Eu sou como você sonhou, Nos tons que você procurou, Pra retratar-me, sem pudor... Total retrato do desejo, Dos beijos repletos de amor... Você me pinta a cada verso E eu só pretendo ter acesso Aos teus anseios de paixão, Pra nunca te deixar notar Que nunca passei de ilusão...

A Tela Teu retrato em mim Mata a minha auto-estima, Me sinto ruim...

O Artista Eu não te retratei, Te inventei... Eu te compus... Eu não te construí...

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Te espremi, Fiz jorrar pus... E tu foste poetisa De versos sem mãe nem pai: Branco numa tela lisa, Ojeriza e nada mais...

A Atriz Desliza, Envolvente, quente e lisa, A preguiça da atriz, Nos versos que se atrevem (De forma leve e feliz) A estar sempre à frente Do seu tempo... A pele da moça sente O calor da personagem (Como é bela!) Que tenta ganhar espaço Dentro dela... A atriz (centro da tela) Dança com empolgação Em um salão vazio (A moça está no cio), Sem nenhuma canção... Por que será Que a atriz está aqui, Encenando, sozinha, Esta peça mesquinha, Só para si?

A Cidade Só fechando meus olhos para vê-la,

Pois na minha memória, ela habita, Tão brilhante, tão séria e tão bonita, O terreno das preciosidades... Mas até mesmo em ti, minha beldade, Nos caminhos da tua madrugada, Abro os olhos e já não vejo nada, Só teus postes, teus prédios, tuas praias...

A Ponte Tuas águas não são da minha laia... Elas querem causar separação... Eu sou via por onde passarão Teus rebentos: Teus filhos, tuas filhas... Pois de que vale o mar que cria a ilha Sem o povo disposto a erguê-la?

Os Peões Eu aprendi A não remar Contra a corrente, Ser comportado, Obediente A quem manda... Fui educado Para não ser Diferente, Nunca voltar, Pois é pra frente

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Que se anda...

Os Cavalos As rédeas querem me dizer o que fazer, Já decidiram qual caminho irei seguir E sei que tem alguém, com medo de cair, Que as segura e me tem em seu poder... As rédeas querem me dizer o que fazer, Mas que vontade que me deu, de decidir Meus próprios passos e o lugar pra onde ir! E não há rédeas que consigam me deter!

Os Cavaleiros Que foi que deu nesse cavalo que não anda? Será que ele se esqueceu quem é que manda? Nem meu chicote acorda o bicho sem noção! Mas por que foi que ele saiu correndo agora? Saiu trotando feito louco e foi-se embora E me deixou aqui, jogado nesse chão...

Os Cavalheiros Tão inteligente, Não consegue aprender: As damas na frente...

As Damas Não é tão fácil assim, Pra mim, Pular do alto do ninho Sem saber se irei voar (Não que eu esteja duvidando

Que você Me segurará)... É que eu nasci protegida De todos os riscos da vida E vivo com medo de amar...

Os Vagabundos Meu amor, Não tenha medo Além do de não viver... Venha pra junto de mim, Que eu sou zero sem você... Se convém o meu apelo, Basta dizer que sou luar, Sou o canto das ondas do mar, Sou coqueiro dançando ao vento, Sou tudo o que (como você) Não me sai do pensamento, Exceto por você Estar longe de mim... E tudo mais que eu sou É o lugar onde estou: Nome de musa do Dream Theater, Província querendo ser capital... Eu sou meu lar, minha terra, Que, como eu, também te espera, Com desejo divino e carnal...

Os Reis Ouvi Rumores por todos os lados De que há um duelo pra ocorrer, Dois grandes reis, dispostos a morrer Pra ver cair o sangue do rival, Senhores de dois reinos devastados,

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Capazes de fazer suas espadas Urrarem mil cantigas de extermínio, Forçando, desde o velho ao menino, A uma guerra insana e animal, Matando e morrendo para nada...

As Torres Nós não temos vocação pra comemorações, Nós não temos torres que abraçam aviões, Nem temos apego pelos nossos próprios sons, Pois só temos bairros construídos sobre mangues, Fama terrorista de lugar movido a sangue, Sonhos pouco nítidos, de frente para o mar E pontes e mais pontes, indo pra todo lugar...

As Pontes Nossas torres são as nossas pontes, Pontos estratégicos da nossa displicência, Postos de vigia que além do horizonte, Podem refletir a nossa essência... Mesmo vendo o rio correr pro mar,

Nós não descobrimos nosso rumo de verdade E, como uma ponte, que se deve atravessar, Também somos ritos de passagem...

O Cantor Mesmo sem empolgação, Ele sobe ao palco, Olha para a multidão (que o acha um saco), Tenta alguma saudação De poucas respostas, Fora os que fazem questão De lhe dar as costas... Ele agarra o violão Com seus dedos tensos Pra cantar a gratidão... Ele faz silêncio E não haverá canção...

AAAAAAAAttttttttoooooooossssssss

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No Silêncio O silêncio impera, Como os golpes do verão Sobre a primavera...

Na Canção Onde está a voz do coração que ama E que cantarola com suavidade... Onde está o tão suave azul do céu, Que permite à luz do sol brilhar sem drama Onde está o aroma da flor, que invade Os nossos pulmões, perfumado e fiel...

No Ruído Onde se escondem os desejos cruéis, Os sentimentos mais banais e intensos E tudo que não faça nenhum sentido, A cor das tintas que secam nos pincéis, Pois toda canção depende do silêncio E toda canção depende do ruído...

A Harmonia Na transição lenta Do azul do céu azul À nuvem cinzenta...

A Melodia A nuvem macia Que levita ao som do vento Vira poesia...

O Ritmo O que você tem feito pra mudar O ritmo que a vida lhe impõe? O que você sugere? O que propõe? Pra ver a sua vida caminhar? Ou basta estar do jeito que está, Chorando no meio do carnaval? Será que o caminho é ser normal? Será normal fingir que quer dançar?

Antes Antes eu sorria... Se eu soubesse o meu futuro, Eu não sorriria...

Durante O que ama é amante, Como o que dura É durante...

Depois (Para se recitar gritando)

Porque, do meu futuro, eu não sei,

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Nem sei que nada sei... Não sei de nada... Mal sei de citações pré-fabricadas, Nem dos sonetos que recitarei... Nem sei por quais lugares já passei Ao longo dessa minha caminhada, Só sei que adoro o som da trovoada... E onde houver dilúvio, eu estarei...

Das Estrelas Preciosas gemas... Quando enfeitam pensamentos, Tornam-se poemas...

Da Lua Cheia... Prateando o mar, Prateando a areia, Prateando o pescador, Prateando a sereia... Por favor, Me prateia...

Do Sol Cheio Do calor imenso, Que corre sem freio, Sem saber pra onde vai, Sem saber de onde veio... Arde intenso, Sem receio...

Da Chuva Já não tolero mais ser controlado E ser marcado a ferro, como gado, Pastar, resignado, por aí... Eu quero ser a chuva que trás vida, Que rega quando sente-se querida E inunda se não deixam-na fluir...

Os Princípios Nunca ferirei os meus princípios, Nunca ferirei meus ideais... Nunca ferirei, Juro que nunca ferirei Algo que já não existe mais...

Os Meios Paz no meio do fogo cruzado, Nome no meio da multidão... Meios obscuros De erguer algum futuro... Muro parte ao meio uma nação...

Os Fins Para que, no fim, tudo dê certo, Pra dar fim às guerras sem motivo... Tudo enfim, que fiz, Foi para haver final feliz... Utopia sem fins lucrativos...

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Corpo O meu corpo é um copo Cheio... Então pra quê viver com receio? Deixo pros copos que estão por meio... O meu corpo é um copo De vidro... É arriscado almejar o topo, Mas o que for necessário eu topo... Mesmo da queda se extrai ruído... O Meu corpo é um copo De veneno Bem mais letal que os dos frascos pequenos... Delicioso, fugaz e sereno...

Alma Quanto à psiqué, Minha alma é uma arma Que ninguém prevê...

Coração Meu coração É um em um milhão... Se fosse em um milhão e um, Meu coração Seria um Mais um por um milhão... Meu coração é só mais um No meio da multidão...

Mente Terreno de desejos ardentes Que acolhe, do pecado, sementes, Mas foge da justiça inclemente: Olho por olho, dente por dente... Confia no prazer iminente... A voz da tentação nunca mente...

Espírito Aceita-me, pois sou o teu espírito, Aceita-me enquanto eu me aceito... Eu quero que me aceites desse jeito, Desesperado, sedutor e lírico... Não quero mais aquele ódio cínico Que corroía, aos poucos, em meu peito, Meu coração, e tirava proveito Do meu temperamento fosco e tímido... Eu quero ser a explosão estúpida Que expõe, como fraturas, meus defeitos, Ciente de que a soma dos efeitos Vai ser melhor pra nós, não tenhas dúvidas...

O Herói Eis que vim pra te salvar Das madrastas, dos dragões E de tantos que nasceram pra perder, Pois fui feito pra ganhar,

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Pra domar mil corações E pra ser o par perfeito pra você...

A Donzela Eu só quero saber quem de vocês sente Vontade de saber o que eu sinto por vocês... Só não quero o “felizes para sempre” Traçado e definido antes do “era uma vez”...

O Vilão Eis que sou teu pesadelo, Te persigo pela estrada, Te enfeitiço, te enclausuro num castelo... Mas não quis nascer modelo De maçã envenenada... Por que não posso ser justo nem ser belo?

Pecador Eu não pedi pra nascer pecador... A primeira pedra, quem atirou?

Eu Sou castelo edificado Sobre areia movediça, Entre o fruto do pecado

E a semente da justiça...

Santo Então me aceita, sou tua beleza, Ainda que despido de pureza...

Do Começo E não prevejo onde choverá, Não sei com quais canções irei dançar Nem sei em quais momentos tocarei As músicas que ainda não compus, Estrelas que ainda não têm luz E a moça que ainda não beijei...

Do Meio Há um meio? qual, De erguer algum futuro No meio do caos?

Do Fim Eu, hoje, sorrio... Aprendi que a minha vida Corre como um rio...

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AAAAAAAAttttttttéééééééé

Justificam Mas ainda assim, Nada justifica os fins... A paixão liberta, mas mata Um mundo ruim Justifica ações ruins De um coração democrata...

Mesmo que Exércitos Armados Tentem Me Forçar a Abdicar de Meu Trono Eu não cederei, Pois me sinto no direito De manter-me rei...

Um Outro Lado de Cá (Para Adelino Moreira também)

Cidade-guria, Que tu saibas que tu és Minha boemia... Cidade-menina, Que tu saibas que tu és Minha adrenalina...

Cidade-donzela, Que tu saibas que tu és Loucamente bela... Cidade-mulher, Que tu saibas que tu és Onde meu eu é...

Pequeno Pequeno, Com suas patas enfiadas na lama, Com seus olhinhos esticados e apertados... O mundo não foi feito pra você, O mundo não foi feito pra mim também, Porque eu também sou Pequeno Diante da imensidade do mundo, Diante da diversidade de mundos... O mundo não tem mais pra onde crescer, O mundo não tem espaço pra mim também, Porque o mundo é Pequeno... O mundo já não me suporta mais, E eu não suporto mais o mundo também... E eu não suporto ser

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Pequeno, Com minhas patas enfiadas na lama, Com meus olhinhos esticados e apertados... O mundo não foi feito pra mim, O mundo não foi feito pra você também, Porque você também é Pequeno Diante da eternidade do mundo, Diante da variedade de mundos... O mundo não tem mais pra onde crescer, O mundo não tem espaço pra mais ninguém, Porque o mundo é Pequeno...

O outro Lado do Palco Um jardim surgiu Do que outrora era apenas Terreno baldio...

Pós Tudo é pó, Muito pó, Muitos pós, Acumulados ao longo dos anos, Jogados para debaixo dos panos, Deixando de fazer parte de nós, Correndo e escorrendo pelos canos... Nós somos os neuróticos e insanos, Um rio que não conhece a própria foz...

Nervo Vestibular Trôpego, lesado, Pilha de nervos, neurótico, Desequilibrado...

Clipes Pra Prender os Teus Papéis Põe os teus amores nos poemas, Põe os teus poemas nos papéis, Põe os teus papéis em todo canto, Com toda a beleza do teu canto... Canta teus poemas para o mundo... Põe a tua vida nos poemas, Põe os teus poemas nos papéis, Mostra teus papéis pra todo mundo, Espalha papéis em todo o mundo... Canta teus poemas para mim... Põe intensidade em teu canto, Põe intensidade em tua vida, Goza na vontade de gozar, Chora na vontade de chorar... Clipes pra prender os teus papéis... Põe satisfação no teu sorriso, Põe desejo intenso em teu olhar, Põe um som, do rock'n'roll ao jazz, Põe os teus poemas nos papéis... Musica Colore a tua vida...

Um Pote de Nutella O desejo apela... O pecado deve ter Sabor de nutella...

3ª Ponte I Não é pra ser poema,

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Flor... Não é pra ser humano... Não é prata nem ouro... Flor não herda a cor dos panos... II Eu não tenho cor, Não tenho pétalas nem cheiro... Eu não sinto dor, Não sinto a vinda de janeiro... Eu só sinto que Tô derretendo de calor... Eu não minto, Eu não penso, Eu não sinto dor... III Eu não sinto fome Nem vontade de comer... Eu não tenho nome... Eu não sei quem é você... IV Não é pra ser condição, Flor, Não é pra selecionar, Não é praiana, a minha flor, Não erra o chão de brotar... V Eu não quero ser o único motivo da tua felicidade, Quero você muito mais feliz que isso... Ser feliz, flor minha, não é tão difícil... Não que para mim pareça ser ruim o peso deste compromisso... Quero te ver inundada de vontade De viver, de ter prazer e amor que invade... V I Daqui de cima dá pra ver A cidade brilhar, Pela janela também dá,

Ou daria, porque Você está tão longe daqui, No máximo, consegue me ouvir Contando meus projetos e medos, Cantando mil canções e segredos... VI I É abstrato, Pra que tentar entender? É complicado, Queimar neurônios pra quê? Simplesmente Não é pra ser poema... Não esquente, Ferver não vale a pena... VIII Respire Fundo, Mergulhe... Não pire, Mundo, Orgulhe- -Se De Mim... IX Até que tudo se acalme, Até que a morte nos separe, Até teu corpo depender de mim... Até mais tarde, Até mais ver, Até tudo se dissolver Até que não é tão ruim assim... X Pra ser teso, Eu conto com o peso De meus sonhos, meus desejos, Minha fome, minhas vontades...

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Pra ser teso, Eu conto nos dedos O que escapa a meus anseios com a minha passividade... Me exalta: Ardor, Paixão... Sinto falta De cor, Ação... Pra ser tesa, Você conta Com a Certeza do coração De que tá são de quitação De conta... XI Quem pode negar Que é uma ilha? Quem pode negar Que não depende de pontes Pra falar ao telefone, Pra falar no telefone, Pra dizer "como te amo!", Pra dizer "como tu vais?", Pra dizer (Como diziam) "Me comunico, logo existo"? Quem tem coragem de dizer "Não me tirem para Cristo!" E partir pra muito longe, Virar eremita, monge, Sem falar com ser humano, Sem falar com passarinho, Sem falar com vegetal,

Sem mesmo falar sozinho, Sem amigo imaginário? Todo ser humano sabe Que o silêncio é letal... XII Nós somos pessoas diferentes, Cada um no seu lado, Isolado, Não somos continentes, Todos nós somos ilhas, Desprendidas de um continente mãe, Somos filhas De Gaia, Pangea... Toda ilha é um deus em potencial, Somos nossos próprios deuses, Mas não faz mal... Ser ilha é natural, Ficar isolado, não! Então quero te ter ao meu lado, Ilha irmã, amante minha, Para que também não fiques Sozinha, Ilhada, enquanto definha, Sem poder me dar as mãos... Todos nós somos ilhas, Deusa minha, Todos nós brotamos da terra, Nós viemos da mesma fonte E, até o momento maior Em que seremos uma ilha só, Seremos nutridos por pontes... XIII E é por isso que eu não quero enlouquecer, Nu de me comunicar... Eu dependo de mil pontes pra viver,

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Pra compor e recitar... XIV Minha língua é minha ponte, Não quero que a meçam, Que a regulem, Que a limitem, Quero vê-la como língua, Quero vê-la sendo dita Como quem diz quer dizer, Sem o certo ou o errado, Sem purismo, sem machado Que machuque o meu falar, Já que eu sou um ser falante, Já que faço-me entender... Eu sou feito pra fazer Contato... Minha língua é meu tesouro, Eu sou povo e sou falante... Não sou orador exato, Com vocábulos de ouro? Mas sou multidão falante!!! Foda-se, se não aceitam, Quero ser ambigüidade, Quero ferir a prosódia, Quero ferir os pronomes, Quero ferir os ouvidos De quem acha que é dono, De uma língua que é de todos!!! Eu não quero que impeçam Minha língua de voar, De passar por mil lugares, Ter mil gostos, mil sotaques, Ser ponte que cobre o mar... Quero ir pra todo mundo Pela ponte saborosa Que é meu pobre português...

Só ele tem a riqueza Que os donos da razão Apedrejam e reprovam Com tremenda altivez! Eu não quero ter diploma Pra dizer o que eu sinto... Minha língua é minha ponte, É meu rito de passagem, Minha língua é mutante... É minha contradição, Ela é revolução Em constante evolução... É o cérebro do instinto... XV Quanta dor! Como desejo que confrontes O que nos torna divididos!!! Minha flor, Que nossas línguas sejam pontes Que nos mantenham sempre unidos... XVI A Vida é uma beleza, Uma caixinha de surpresas, O ponto em que o rio abraça o mar... A vida é o agora, É uma caixa de pandora, Uma ponte que se deve atravessar... A vida é transigente... Gaia, deusa continente, Recebe os dedos da brilhante ilha: As pontes que se estendem, O contato em que se entendem O mundo e a pequena que fervilha... Vem vindo, rumo ao mar, Sedento por nos saciar Com suas águas: Eis Santa Maria,

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Que abraça, rega e adora A cidade de Vitória, De onde brota a minha poesia...

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Se você chegou até aqui...

...saiba que foi enganado... O autor deste livro não existe... Na verdade, tudo isso não passa de um conjunto de informações organizadas por um software em versão beta (tava na cara que é versão beta, né?), construído por algum programador incompetente e a toa... E já que você foi um bom menino e leu o livro todinho, eu (o software em carne e osso) vou descrever para você o meu funcionamento... É mais ou menos assim... Primeiro eu tenho contato com os mais variados tipos de informações, desde imagens e textos até sons... Algumas coisas eu tenho digitalizadas, em minha memória virtual, ou busco da internet, outras eu capto através de meus sensores ópticos e de meus microfones... Depois eu registro o que me apetece de cada uma destas coisas e assimilo, formando textos picotadinhos em parágrafos miúdos... É isso que as pessoas chamam de versos... Não passam de parágrafos miúdos... No caso dos meus versos, não são apenas os textos que são picotados, mas também as canções, pinturas e fotos que eu admirei... Assim sendo, é hora de creditar algumas coisas... A foto da capa deste livro é de autoria do grande Ricardo Koctus, que além de fotógrafo é baixista do Pato Fu e vocalista/violonista da Let’s Presley! Muitas outras fotos dele que me inspiraram se encontram em http://www.flickr.com/photos/koctus/ ... O nome deste livro é o nome de uma música do disco “Estamos Adorando Tókio”, do Karnak... O nome não é o único retalho de Karnak que este livro tem... O software cá agradece, aliás, pela gentileza do André Abujamra, de ceder o nome ao livro... O livro também agradece... O texto da epígrafe é o verso final (talvez refrão) de “20 minutos”, canção do disco “Carlos”, do Bojo... Quem quiser ouvir “20 minutos”, o “Carlos” e muitos outros sons do Bojo, procura em http://www.bojo.net/ ... Vale a pena! Quanto às outras influências, guardo-me no direito de citar apenas algumas musicais... Cyndi Lauper, uma ótima cantora, compositora e intérprete... É musa de verdade, e não qualquer Britney Spears... Como a Cyndi, o Ednardo também impregna o livro, graças a Deus! Ele é um dos maiores compositores que o Brasil já teve e tem... O site dele, aliás, é riquíssimo em informações, vale a pena conferir: http://www.gd.com.br/ednardo/ ... Os Beatles são uma das melhores bandas do mundo... Dispensam comentários... Os Mutantes são a melhor banda do mundo, dispensariam a dispensa de comentários... O Police, a Tracy Chapman e o Caetano Veloso também estiveram presentes neste processo de retalhação de dados...

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Há também a Marisa Monte, que é linda, charmosa, talentosa, cheia de qualidades... Citando-a e a todos os outros, eu posso fazer parecer que este “Depois da Chuva” é composto apenas de coisas boas, mas não... Eu tenho acesso a jornais e a livros de história, sei que a gente tamo tudo fudido mermo, então preferi citar neste posfácio apenas as coisas boas que me influenciaram, como a beleza da cidade de Vitória... As coisas ruins já estão todas nos poemas... De qualquer forma, parabéns a você, que acabou de ler “Depois da Chuva”, um livro construído por um software esquizofrênico... Se o livro saiu bacana, o mérito não é do “Autor”, é de toda essa gente e de todas essas coisas que ele apreciou... Se o livro ficou uma merda, a culpa não é minha, é da humanidade escrota que serviu também de influência e da qual você também faz parte, leitor... Eu não, eu sou um sofware...

José Anezio Fernandes do Vale, 8 de dezembro de 2006

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Coloque o depois antes da chuva aqui: http://manguerestinga.blogspot.com