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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” INSTITUTO A VEZ DO MESTRE DEPRESSÃO NA TERCEIRA IDADE: A APOSENTADORIA COMO FATOR DETERMINANTE DE EPISÓDIOS DEPRESSIVOS EM IDOSOS Por: Alessandra Genê Mascarenhas Orientador Prof. Maria Poppe Rio de Janeiro 2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

DEPRESSÃO NA TERCEIRA IDADE:

A APOSENTADORIA COMO FATOR DETERMINANTE DE

EPISÓDIOS DEPRESSIVOS EM IDOSOS

Por: Alessandra Genê Mascarenhas

Orientador

Prof. Maria Poppe

Rio de Janeiro

2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

DEPRESSÃO NA TERCEIRA IDADE:

A APOSENTADORIA COMO FATOR DETERMINANTE DE

EPISÓDIOS DEPRESSIVOS EM IDOSOS

Apresentação de monografia ao Conjunto

Universitário Candido Mendes como condição

prévia para a conclusão do Curso de Pós-

Graduação “Lato Sensu” em Terapia de Família.

Por: Alessandra Genê Mascarenhas

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DEDICATÓRIA

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AGRADECIMENTOS

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RESUMO

A depressão é um dos distúrbios psiquiátricos mais comuns do idoso,

chegando a constituir-se em um problema de saúde pública. Apresenta elevada

prevalência, acarreta sofrimento, causa desorganização familiar, tem conseqüências

econômicas e é relacionada a um aumento de morbidade e mortalidade. Fatores de

estresse como a aposentadoria, representando o fim da idade produtiva, a morte de

amigos, familiares, cônjuge, falta de perspectiva de futuro, e a solidão podem somar-

se as perdas da idade e desencadear manifestações psíquicas de depressão.

Busca-se com este estudo investigar as influências da aposentadoria na

manifestação de episódios depressivos em indivíduos da terceira idade.

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METODOLOGIA

A metodologia utilizada nesta monografia foi a pesquisa bibliográfica.

Utilizou-se como fonte de consulta de consulta livros, monografias, artigos e

publicações eletrônicas que abordam o tema em análise.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO................................................................................................. 08

CAPÍTULO I

A TERCEIRA IDADE....................................................................................... 10

CAPÍTULO II

DEPRESSÃO......................................................................................................... 20

CAPÍTULO III

DEPRESSÃO NA TERCEIRA IDADE............................................................. 29

CONCLUSÃO ................................................................................................. 41

BIBLIOGRAFIA ............................................................................................... 42

ÍNDICE ............................................................................................................ 47

FOLHA DE AVALIAÇÃO ................................................................................ 49

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INTRODUÇÃO

A depressão é um transtorno mental crônico que desafia a ciência a

buscar formas mais efetivas de tratamento que conduzam os paciente deprimidos a

uma remissão sintomática e a um desaparecimento do processo fisiopatológico e

mórbido. Está presente no indivíduo provavelmente desde o início da humanidade,

já que muitos são os mitos, lendas, relatos bíblicos e contos que abordam este tipo

de sofrimento humano.

Nos dias atuais, o termo depressão pode ser utilizado tanto para sintomas

isolados (situações normais de vida ou associados à manifestações clínicas), como

em síndromes clínicas com vários sinais e sintomas depressivos, ou ainda como

uma perturbação primária do humor.

Os afetos depressivos podem aparecer como uma resposta a situações

reais, através de uma reação vivencial depressiva, quando diante de fatos

desagradáveis, aborrecedores, frustrações e perdas. Trata-se, neste caso, de uma

resposta a conflitos íntimos e determinados por fatores vivenciais. Daí denominação

depressão reativa, ou seja, em reação a alguma coisa real e acontecida, a uma fonte

exógena que pode ser casualmente relacionada àquela reação.

Fatores de estresse como a aposentadoria, representando o fim da idade

produtiva, a morte de amigos, familiares, cônjuge, falta de perspectiva de futuro, e a

solidão podem somar-se as perdas da idade e desencadear manifestações

psíquicas de depressão.

A aposentadoria faz com que ocorra uma mudança concreta e real na

vida das pessoas devido à interrupção de um ritmo com o trabalho estabelecido há

anos. Ao aposentar-se, a pessoa vivencia o momento de afastar-se da rotina do

trabalho formal que pode resultar em sofrimento e angústia devido à ruptura de

costumes e hábitos.

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É nesse contexto que surge o ponto principal desse estudo, cujo

questionamento que norteará toda a pesquisa: quais são as influências que a

aposentadoria tem sobre a manifestação de episódios depressivos em indivíduos da

terceira idade?

A partir desse questionamento, o estudo apresentado tem como objetivo

geral investigar a depressão na terceira idade. Os objetivos específicos consistem

em: apresentar um breve levantamento teórico acerca do envelhecimento humano,

apresentando o conceito de envelhecimento e suas características; apontar os

principais aspectos clínicos da depressão, enfocando epidemiologia, sintomas e

fatores causais; investigar a aposentadoria como fator de depressão na terceira

idade

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CAPÍTULO I

A TERCEIRA IDADE

1.1 Envelhecimento humano: conceitos

A conceituação do termo Terceira Idade mostra que o universo ao qual se

refere apresenta algumas peculiaridades no modo de pensar, de sentir e de querer.

Conceituar a Terceira Idade não é estabelecer associação com uma fase na qual

ocorrem sucessivas deficiências. Para muitos especialistas e estudiosos da área da

Biologia, o universo da Terceira Idade compreende a fase do envelhecimento que

pode ser vista como um processo biológico, econômico e social.

O termo pressupõe a fase da vida do ser humano onde ocorrem

alterações de diversas ordens. Conforme Heschel (apud SHALOMI; MILLER, 1996),

deve-se entrar a Terceira Idade da mesma maneira como se entra no último ano de

uma faculdade: antecipando a realização.

Os anos da Terceira Idade são anos de formação, ricos de possibilidades

de desaprender as tolices de toda uma vida, de perceber as próprias ilusões, de

aprofundar a compreensão e a compaixão, de ampliar o horizonte da franqueza, de

refinar o sentido de justiça.

A fase de maior maturidade do ser humano, compreende, conforme a

Organização Mundial da Saúde, 4 estágios: meia idade - de 45 a 59 anos; idoso - de

60 a 74 anos; ancião - de 75 a 90 anos; e, velhice extrema - de 90 anos em diante.

Furtado (1997) informa que estudos mais recentes já estabelecem outra

classificação: "jovens-idosos" - de 60 a 69 anos; "meio-idosos" - de 70 a 79 anos; e,

"idosos-velhos" de 80 anos em diante.

Há outros modelos, como ressalta Furtado (1997), a velhice é percebida

de formas variadas nas diferentes culturas e épocas da história do homem. Há,

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assim, diferentes definições da velhice e diferenças entre as velhices socialmente

construídas.

Quaresma (1988, p. 227) afirma que a Terceira Idade terá que ser

compreendida na sua totalidade enquanto "processo complexo para o qual

concorrem fatores de ordem biológica, social, econômica e cultural, agindo no

sistema de relação do indivíduo com a sociedade e o meio ambiente". Embora exista

um indicador cronológico convencional para determinar a que faixa etária pertence a

pessoa idosa, outros fatores individuais influenciam a classificação. Assim, o

envelhecimento não estaria relacionado unicamente a um processo biológico ou

genético, sendo significativa a participação dos fatores ambientais, sociais e

culturais na especificação de seus processos e características.

Envelhecer é um fenômeno natural, inerente ao desenvolvimento

biológico do organismo humano, em vista disso, cabe ressaltar que as

características da sociedade condicionam tanto a expectativa de vida de seus

habitantes, como as condições de vida, durante a velhice. A concepção de

envelhecimento como um processo social admite, como unidade de análise da

sociedade e atenção centrados no estudo das suas características e na forma em

que estas se configuram em similares oportunidades e condições de vida para os

idosos.

Papaléo Neto e Borgonovi (1999) definem o envelhecimento como um

processo dinâmico e progressivo, no qual há modificações morfológicas, fisiológicas,

bioquímicas e psicológicas, que determinam a perda gradual da capacidade de

adaptação do indivíduo ao meio ambiente, ocasionando maior vulnerabilidade e

conseqüentemente maior incidência de processos patológicos.

Robledo (1994) esclarece ainda que o envelhecimento pode ser

conceituado através de diversos aspectos de referência, quais sejam: cronológico,

biológico, psíquico e social. O cronológico considera o tempo decorrido desde o

nascimento, no qual o envelhecimento é gradativo para alguns e mais rápido para

outros, a depender de fatores socioeconômicos, doenças crônicas e modos de vida;

o biológico compreende os aspectos expressos nos nível molecular, celular, tissular

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e orgânico do processo; o psíquico, evidenciado pela dimensão cognitiva e

psicoafetiva, interferem na personalidade e afeto; e o social é aquele que engloba os

papéis desempenhados pelos idosos. Existe ainda o enfoque fenomenológico, que

representa a avaliação subjetiva da idade, que adquire valor quando analisados os

mecanismos de adaptação que conduzem ao envelhecimento com êxito.

Sob o ponto de vista fisiológico, diz Furtado (1997), o envelhecimento é o

resultado de um processo contínuo de mudanças irreversíveis ao longo da vida, que

ocorre desde o momento em que o ser humano nasce. Portanto, não é um fato

estático ou determinado por uma única causa específica. O envelhecer de cada

indivíduo relaciona-se com os múltiplos aspectos ambientais, além dos fatores

genéticos. O declínio do organismo pode ser acelerado ou retardado por inúmeros

fatores, como o nível de saúde, a hereditariedade, hoje chamado fator DNA, o meio

ambiente familiar, as emoções, os hábitos passados de trabalho e a classe social.

Birren et al. (1996) apresentam as seguintes definições aceitas hoje sobre

o envelhecimento humano: envelhecimento primário, também referido corno

senescência ou envelhecimento normal; envelhecimento secundário ou patológico,

que engloba o estado de senilidade e terciário ou terminal.

Envelhecimento primário – trata se de um fenômeno universal, que atinge

a todos os seres humanos pós reprodutivos, por mecanismos genéticos típicos da

espécie: é progressivo e afeta gradual e 1acumulativamente o organismo. Seu

resultado diminui a capacidade de adaptação e, diante disso, o indivíduo está sujeito

à influência concorrente de muitos fatores, dentre eles: dieta, exercícios, estilo de

vida, exposição a eventos, educação, posição social, e que podem ocasionar

diferentes maneiras de envelhecer.

O padrão de envelhecimento primário diz respeito às mudanças

intrínsecas do processo irreversível, progressivo e universal, porém não patológico.

Como exemplo, tem-se o embranquecimento dos cabelos, o aparecimento de rugas,

a diminuição da estrutura óssea e massa muscular, dificuldades no equilíbrio,

declínio da força e rapidez de movimentos e pensamentos, como também mudanças

na memória, interesse em novos conhecimentos, entre outros.

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Envelhecimento secundário ou patológico - diz respeito às alterações

ocasionadas por doenças associadas ao envelhecimento que não se confundem

com as mudanças normais desse processo. Tais doenças podem ser moléstias

cardiovasculares, cerebrovasculares e certos tipos de câncer que aumentam a

probabilidade de ocorrência com o passar da idade, causados, em parte, por

mecanismos genéticos, ou por- fatores ambientais, estilo de vida e personalidade. O

envelhecimento secundário está relacionado às mudanças causadas por doenças

dependentes da idade. A progressão da idade acarreta o aumento da exposição a

fatores de risco desencadeadores de doenças, a exemplo, as cardiovasculares e

cerebrovasculares.

Envelhecimento Terciário ou Terminal - está relacionado a um padrão de

declínio terminal caracterizado por grande aumento de perdas físicas e cognitivas,

quer por doenças dependentes da idade, quer pela acumulação dos efeitos do

envelhecimento.

Atualmente muito mais importante que o envelhecimento

cronologicamente determinado é o envelhecimento bem sucedido. Este último é

definido como a manutenção do funcionamento físico e mental e do envolvimento

com as atividades sociais e de relacionamento (DREWNOSKI, 2003).

Para Duarte (1998), envelhecer de maneira saudável significa, além da

manutenção de bom estado físico, dar às pessoas reconhecimento, respeito e

segurança, para que se sintam socialmente úteis. A valorização da velhice repercute

direta e indiretamente no idoso, família e comunidade, refletindo sobre como

alcançar um estilo de vida saudável.

1.2 Características do envelhecimento

As principais transformações que ocorrem durante o processo de

envelhecimento dizem respeito aos aspectos orgânicos, emocionais e sociais.

Contudo, apesar de estarem sendo abordados de forma isolada, esses aspectos

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estão intimamente ligados, pois, quaisquer alterações em um deles reflete

diretamente nos demais.

1.2.1 Aspectos orgânicos

Várias transformações decorrentes do envelhecimento podem iniciar-se

na idade adulta e culminar na terceira idade, um desgaste contínuo que irá

influenciar o funcionamento de determinado órgão ou tecido. Por exemplo, o enfarte,

que aparece na Terceira Idade, pode ter as causas originadas na fase da vida ativa.

Furtado (1997) afirma que apesar das diferenças individuais, alguns sinais

marcam o envelhecimento, como o embranquecimento dos cabelos, a calvície, as

rugas, a obesidade, a diminuição da força muscular e da agilidade motora.

O sistema respiratório tem a sua capacidade ventilatória máxima reduzida

à metade a partir dos 60 anos, o que provoca uma perda da elasticidade torácica e

da atividade dos músculos respiratórios. Ocorrem também modificações importantes

na função cardiovascular. O coração tem que trabalhar mais devido ao aumento da

resistência vascular, causado pelo processo da esclerose. A freqüência cardíaca

máxima declina e observa-se, também, uma diminuição do miocárdio e como

conseqüência, uma redução na capacidade de fluxo sangüíneo periférico. A pressão

arterial tende a aumentar.

Ainda conforme Furtado (1997), a alteração da circulação é um fator

preponderante na redução do desempenho físico da pessoa da terceira idade; isso

afeta a sua capacidade de trabalho, limitando o seu desempenho em exercícios de

longa duração.

As alterações do sistema nervoso central e do periférico podem interferir

negativamente na sensação, na percepção e na compreensão de estímulos internos

e externos, dificultando a adaptação. O sistema nervoso central sofre uma involução.

Há diminuição no volume do encéfalo e da medula nervosa, os neurônios atrofiam-

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se e tornam-se menos excitáveis, o tempo de reação fica mais lento, a atenção e a

capacidade de concentração diminuem, a compreensão das idéias é mais lenta.

Assim, as mudanças neurológicas afetam as funções cognitivas e afetivas

da pessoa da terceira idade (FURTADO, 1997).

A diminuição do fluxo sangüíneo cerebral em torno de 30% é outra

característica importante na involução do sistema nervoso central, acarretando a

diminuição da reserva de oxigênio, da atividade enzimática, entre outras. As

alterações do sistema nervoso também são responsáveis pela redução da ação do

sistema proprioceptivo, da cinestesia e pela menor sensibilidade dos órgãos dos

sentidos que, tendo a sua ação reduzida, principalmente em resposta a movimentos

bruscos, pode ocasionar desequilíbrio e quedas (FURTADO, 1997).

Sabe-se que a pele vai perdendo a suavidade, o frescor, a tonicidade, a

elasticidade e enruga-se. Nos mais velhos, há diminuição da percepção das

variações de temperatura tanto ao tocar um objeto quanto ao ajustar-se às variações

climáticas. Os ouvidos e os olhos são os órgãos que mais sofrem ao longo dos anos

com as agressões externas. A sensibilidade auditiva diminui, o cristalino e a córnea

ficam cada vez mais comprometidos.

O processo de envelhecimento implica ainda na diminuição do tônus

muscular, na perda da força e na diminuição da velocidade de condução nervosa. A

diminuição da massa muscular provoca perda da mobilidade e limitações do

desempenho físico.

O corpo, e especialmente os ombros, curvam-se para frente, a cabeça

inclina-se, a curvatura dorsal acentua-se, os joelhos tendem a dobrar-se, produzindo

uma curvatura geral e, em conseqüência disso, a altura do indivíduo diminui. Além

disso, pode-se incluir também a diminuição do líquido dos discos intravertebrais e

compressão das vértebras o que produz uma redução de até 5 centímetros na

estatura do indivíduo. Para muitos, o corpo perde sua atração, sua capacidade de

criar sociabilidade, de agradar. A diminuição do vigor físico pode tornar a pessoa

dependente de terceiros na realização de suas tarefas pessoais, diminuindo a

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autonomia. O reconhecimento social fica afetado, assim como a capacidade de criar

novas relações.

1.2.2 Aspectos emocionais

Outro elemento que costuma modificar-se consideravelmente com o

passar da idade é o temperamento das pessoas. Grinberg (1999) destaca quatro

tipos principais de mudanças, apontando as formas de procedimento que vão

caracterizar as pessoas:

§ Eufóricos ou ativos: têm auto-estima, apreciam a vida. São otimistas. Procuram

sempre estar em atividade. Odeiam ficar sem fazer nada. Amam e,

provavelmente são amados. Embora possam ter algum distúrbio orgânico,

mantêm-se sob controle. Sociáveis, trabalhadores, criativos. Dizem que

costumam viver mais.

§ Deprimidos: angustiados, atormentados, desanimados, pessimistas. Esperando

sempre o pior. Estão em dificuldades por algum problema psicológico ou físico.

Podem se sentir desprezados ou humilhados. A auto-estima está abalada.

Ociosos ou não, hipocondríacos, no geral. Melancólicos.

§ Assustados: pessimistas, hipocondríacos, preocupação doentia com o

funcionamento dos órgãos. Preocupação excessiva. Tristeza profunda. Medo à

flor da pele. Receio permanente com uma ou mais causas ou efeitos. Queixam-

se amargamente da vida, das pessoas que poderiam auxiliá-los nos transes, nos

momentos aflitivos. Improdutivos, estão sempre pensando em marcar uma

consulta com o médico, ou fazer exames laboratoriais.

§ Indiferentes: em qualquer situação não se queixam. Parecem não ter uma exata

idéia da vida em si. Podem até se considerar muito seguros, mesmo que seja

aparentemente. Insensíveis, apáticos. Pessoas que no geral não têm ódio, nem

amizade por outras. Desinteressados de qualquer religião ou sistema político.

Podem até se considerar felizes. Para eles a vida só é para ser vivida. Vão

matando o tempo, até com um certo desprezo ou mesmo desinteresse. Não

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aborrecem e não gostam de ser incomodados. Tanto faz ter amigos ou não ter

amigos. Deixam o tempo passar. Aparentemente desprendidos, despreocupados.

Não existe uma resposta exata que explique a ocorrência de todas essas

modificações emocionais na terceira idade. Essas variações podem ser causadas

por vários fatores reais que estão diretamente ligados às variações de humor ou

mesmo de desvio/alteração da personalidade. Azambuja (1995, p. 97) afirma que:

(...) a estas condições somam-se o declínio de suas características

físicas tais como rugas, cabelos brancos, diminuição da memória e

dos sentidos e muitas outras, que unidas à sua marginalização,

determinam alterações psíquicas como a perda da confiança, a

angústia e a depressão (...).

Na terceira idade as pessoas sentem-se incapazes como homens e

mulheres após perceberem que seus filhos já saíram de casa. Acreditam que sua

missão no mundo está cumprida. Não recebendo incentivo por parte dos mais novos

para iniciar outro projeto de vida, a auto-estima e a motivação ficam abaladas,

deixando-as, por vezes, sem ânimo para continuar ou re-aprender a viver em clima

de felicidade.

1.2.3 Aspectos sociais

Segundo Penteado (2000, p. 86), o envelhecimento do ser humano e o

que isso reflete social, econômica e politicamente, representa “desafios prementes

enfrentados por políticos, administradores de empresas, médicos, gerontólogos e

educadores do mundo inteiro”. E complementa o autor afirmando que:

As sociedades modernas escondem preconceitos de muitos matizes

e perpetuam estas discriminações de forma, muitas vezes, insidiosa,

além de alimentar a desvalorização de minorias étnicas, raciais, de

sexo e de pessoas idosas. Há falta de informação mais exata sobre a

realidade da dimensão social das pessoas idosas no mundo, e tal

precariedade de dados dificulta, ou mesmo impede, a formulação de

campanhas de conscientização junto à população e a conseqüente

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implantação de políticas públicas ou privadas mais eficazes para

estancar a contínua desqualificação social dos mais idosos

(PENTEADO, 2000, p. 86).

Para Hutz (1983, p. 63-66),

Outro problema que enfrenta o idoso são os preconceitos em relação

à velhice, tanto por parte dele próprio, quanto por parte das pessoas

das demais faixas etárias. Os mais comuns são: a rejeição da velhice

como se fora uma “doença incurável”, o impedimento de execução

de certas atividades tendo como falsa justificativa, apresentada

muitas vezes ao velho de uma forma “carinhosa” o fato de “por já ter

trabalhado muito, deve descansar”. Estas são algumas das pressões

bastante castradoras que fazem com que o idoso reforce sua

impressão de ser incapaz. [...] A inatividade é sempre uma forma de

parasitismo. É porque o problema gravíssimo do relacionamento dos

idosos, é devido, principalmente à interrupção definitiva do trabalho

profissional e das atividades físicas e recreativas que os priva do

contato diário e interestado com muitas outras pessoas [...].

Nesse mesmo sentido, Brito (1992, p. 6) afirma que “a idade não significa

apenas um espaço de tempo, mas um modo diferente de vida. Na Terceira Idade,

surge grande sentimento de inutilidade. O indivíduo sente-se só e marginalizado no

contexto social.”

Aliados a esses aspectos orgânicos, sociais e emocionais estão as

habilidades e dificuldades do indivíduo idoso. Todas estas características inerentes

ao processo de envelhecimento permitem compreender que a abordagem do

paciente idoso é bastante complexa e marcada por muitas nuances.

1.3 Dados demográficos da terceira idade no Brasil

Nos anos de 1900, menos de 5% da população tinha 65 anos de idade.

Atualmente, as pessoas idosas com mais de 65 anos contabilizam mais de 12% da

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população dos EUA. Por volta de 2020, o departamento de Censo americano estima

que a população idosa com mais de 85 anos triplique (ROACH, 2001).

O Brasil, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

(IBGE), possuía uma população de 7,7 milhões de indivíduos com mais de 60 anos

de idade em 1980, sendo que este número dobrou nas últimas décadas, e de acordo

com o Censo populacional de 2001, a população brasileira com idade ou superior a

60 anos é da ordem de 15 milhões da habitantes, correspondendo a 9,1% da

população do país. As projeções indicam que em 2025 o Brasil deverá possuir uma

população de 30 milhões de idosos, o que corresponderá a aproximadamente 14%

de sua população (IBGE, 2001).

De acordo com Ramos (1993), por essa época, o Brasil terá a sexta maior

população de idosos do mundo, situação essa que acarretará grande inquietação

social, uma vez que essa parcela da população vive, em sua maioria, em situação

financeira precária, o que poderá desencadear problemas de dimensão política com

repercussões agravantes sobre a qualidade da atenção à saúde, aumentando,

assim, as deficiências nessa área.

Estima-se que a partir de meados do século XXI, a população brasileira

com mais de 60 anos será maior que a de crianças e adolescentes com menos de

14 anos (GOLDSTEIN, 1999).

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CAPÍTULO II

DEPRESSÃO

2.1 Conceito

A depressão está presente na história da humanidade de maneira

constante, podendo ser observada nos relatos de Hipócrates no séc. IV a.C., sob a

nomenclatura de melancolia. Vários autores, destacando-se os romantistas,

descreveram em suas obras sintomas claramente depressivos que só foram melhor

estudados e aglutinados em uma única síndrome no século XIX, época em que a

doença passou a ser denominada depressão, do grego depremere ou "empurrar

para baixo". É a partir do século XX que a depressão passa a ser considerada uma

doença mental, catalogada na Classificação Estatística Internacional de Doenças e

Problemas Relacionados com a Saúde (CID) e no Manual de Diagnóstico e

Estatística das Perturbações Mentais (DSM), recebendo abordagens científicas,

como a biomédica, a psicanalítica e a cognitiva (KAPLAN; SADOCK, 1997).

O termo depressão, na linguagem corrente, tem sido empregado para

designar tanto um estado afetivo normal (a tristeza), quanto um sintoma, uma

síndrome e uma (ou várias) doença(s). A tristeza constitui-se na resposta humana

universal às situações de perda, derrota, desapontamento e outras adversidades.

Enquanto sintoma, a depressão pode surgir nos mais variados quadros clínicos,

entre os quais: transtorno de estresse pós-traumático, demência, esquizofrenia,

alcoolismo, doenças clínicas, etc. Pode ainda ocorrer como resposta a situações

estressantes, ou a circunstâncias sociais e econômicas adversas. Enquanto

síndrome, a depressão inclui não apenas alterações do humor (tristeza, irritabilidade,

falta da capacidade de sentir prazer, apatia), mas também uma gama de outros

aspectos, incluindo alterações cognitivas, psicomotoras e vegetativas (sono, apetite).

Enquanto doença, a depressão tem sido classificada de várias formas, na

dependência do período histórico, da preferência dos autores e do ponto de vista

adotado. Entre os quadros mencionados na literatura atual encontram-se: transtorno

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depressivo maior, melancolia, distimia, depressão integrante do transtorno bipolar

tipos I e II, depressão como parte da ciclotimia, etc (DEL PORTO, 1999).

Kaplan e Sadock (1997) caracterizam a depressão como um episódio

patológico no qual existe perda de interesse ou prazer, distúrbios de sono e apetite,

retardo motor, sentimento de inutilidade ou culpa, distúrbios cognitivos, diminuição

da energia e pensamento de morte ou suicídio.

2.2 Epidemiologia

De acordo com Takei e Scivoletto (1999), ao menos 2-3/100 homens e 5-

10/100 mulheres apresentam depressão atualmente. A expectativa durante toda a

vida é de 10% para homens e 20% para mulheres. A idade média de início do

quadro é de 40 anos, sendo que 50% ocorrem antes dos 40 anos e 10% ocorrem

após os 60 anos. Pode atingir qualquer raça, havendo risco aumentado para os

pacientes que possuam parentes de primeiro grau com história de alcoolismo,

depressão ou que tenham história de perda de um dos pais antes dos 13 anos.

2.3 Classificação da depressão

De acordo com o Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações

Mentais - DSM IV (1994), o episódio depressivo pode se manifestar da seguinte

forma: transtorno depressivo (que se subdivide em transtorno depressivo maior,

transtorno distímico e transtorno depressivo sem outra especificação) e transtornos

bipolares (que se subdividem em transtorno bipolar I, transtorno bipolar II e

transtorno bipolar sem outra especificação).

O episódio depressivo maior apresenta, como característica essencial, um

período mínimo de duas semanas durante as quais há humor deprimido ou perda de

interesse ou prazer por quase todas as atividades, além de alterações no apetite ou

peso, sono e atividade psicomotora, diminuição da energia, sentimento de desvalia

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ou de culpa, dificuldades para pensar, concentrar-se ou tomar decisões, ou

pensamentos de morte ou ideação suicida. Tais sintomas devem persistir na maior

parte do dia, sendo acompanhado de sofrimento ou prejuízo clinicamente

significativo do funcionamento social, profissional ou de outras áreas importantes da

vida do indivíduo (DSM-IV, 1995).

Os critérios diagnósticos para o episódio depressivo maior são os

seguintes:

A) Cinco (ou mais) dos seguintes sintomas estiveram presentes

durante o mesmo período de 2 semanas e representam uma

mudança no funcionamento anterior; pelo menos, um dos sintomas é

(1) humor deprimido ou (2) perda do interesse ou prazer:

1. humor deprimido na maior parte do dia, quase todos os dias,

indicado por relato subjetivo (por ex., sente-se triste ou vazio) ou

observações por outros (por ex., parece prestes a chorar). Obs: em

crianças e adolescentes pode ser humor irritável.

2. interesse ou prazer acentuadamente diminuídos por todas ou

quase todas as atividades na maior parte do dia, quase todos os dias

3. perda ou ganho significativo de peso quando não está realizando

dieta ou diminuição ou aumento no apetite quase todos os dias

4. insônia ou hipersonia quase todos os dias

5. agitação ou retardo psicomotor quase todos os dias

6. fadiga ou perda de energia quase todos os dias

7. sensação de inutilidade ou culpa excessiva ou inapropriada quase

todos os dias

8. capacidade diminuída para pensar ou concentrar-se, ou indecisão,

quase todos os dias

9. pensamentos recorrentes sobre morte (não apenas medo de

morrer), ideação suicida recorrente sem um plano específico, ou uma

tentativa de suicídio ou um plano específico para cometê-lo.

B) Os sintomas não satisfazem os critérios para um Episódio Misto.

C) Os sintomas causam sofrimento clinicamente significativo ou

comprometimento no funcionamento social, ocupacional ou em

outras áreas importantes da vida do indivíduo.

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D) Os sintomas não são devido aos efeitos fisiológicos diretos de

uma substância ou uma condição médica geral.

E) Os sintomas não são melhor explicados por Luto, isto é, após

perda de alguém amado, persistem por mais de 2 meses ou são

caracterizados por acentuado comprometimento funcional,

preocupação mórbida com inutilidade, ideação suicida, sintomas

psicóticos ou retardo psicomotor (BALLONE, 2010, p. 01).

O transtorno distímico, também chamado de distimia, está classificado

pela CID-10 dentro dos transtornos persistentes do humor como uma depressão

crônica na qual os pacientes apresentam, usualmente, períodos de dias ou semanas

quando descrevem a si mesmos como estando bem, mas na maior parte do tempo

(com freqüência por meses) se sentem cansados e deprimidos. Tudo é um esforço e

nada é desfrutável. Eles se preocupam e se queixam, dormem mal e se sentem

inadequados, mas são usualmente capazes de lidar com as exigências básicas do

dia a dia.

O transtorno bipolar é caracterizado por episódios repetidos nos quais o

humor e os níveis de atividade do paciente estão significativamente alterados, sendo

que em algumas ocasiões há uma elevação do humor e aumento da energia e

atividade (mania ou hipomania) e em outras há um rebaixamento do humor e

diminuição de energia e atividade (depressão). A recuperação entre os episódios é

usualmente completa. Os episódios maníacos, quando não tratados, tendem a

durar, em média, quatro a cinco meses, enquanto que os episódios depressivos

duram seis meses. No transtorno bipolar, os critérios para o episódio maníaco são:

A) Um período distinto do humor expansivo anormal e

persistentemente elevado ou irritável, durando pelo menos, uma

semana.

B) Durante o período de perturbação do humor, 3 ou mais dos

seguintes sintomas persistiram e estiveram presentes em um grau

significativo:

1. auto-estima inflada ou grandiosidade

2. necessidade diminuída de sono

3. mais falante do que o habitual ou pressão para continuar falando

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4. fuga de idéias ou experiência subjetiva de que os pensamentos

estão correndo

5. distração

6. aumento na atividade dirigida ao objetivo ou agitação psicomotora

7. envolvimento excessivo com atividades agradáveis com um alto

potencial para conseqüências dolorosas.

C) Os sintomas não satisfazem os critérios para Episódio Misto.

D) A perturbação do humor é suficientemente severa para causar

comprometimento acentuado no funcionamento ocupacional ou nas

atividades sociais ou relacionamentos costumeiros com outros, ou

para exigir a hospitalização, como um meio de evitar danos a si

mesmo e a outros, ou existem aspectos psicóticos.

E) Os sintomas não são devido ao efeito fisiológico direto de uma

substância ou uma condição médica (BALLONE, 2010, p. 01).

2.4 Sintomas

De acordo com a literatura no diagnóstico da depressão levam-se em

conta: sintomas psíquicos; fisiológicos; e evidências comportamentais.

a) Sintomas psíquicos

• Humor depressivo: sensação de tristeza, autodesvalorização e sentimentos de

culpa. O humor pode ser irritável, ou “rabugento”, em crianças e adolescentes.

Alguns pacientes mostram-se antes “apáticos” do que tristes, referindo-se muitas

vezes ao “sentimento da falta de sentimentos”. Tudo lhes parece vazio e sem graça;

os pacientes costumam aludir ao sentimento de que tudo lhes parece fútil, ou sem

real importância. Acreditam que perderam, de forma irreversível, a capacidade de

sentir alegria ou prazer na vida (TAKEI; SCIVOLETTO, 1999).

O deprimido, com freqüência, julga-se um peso para os familiares e

amigos, muitas vezes invocando a morte para aliviar os que o assistem na doença.

São freqüentes e temíveis as idéias de suicídio. As motivações para o suicídio

incluem distorções cognitivas (perceber quaisquer dificuldades como obstáculos

definitivos e intransponíveis, tendência a superestimar as perdas sofridas) e ainda o

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intenso desejo de pôr fim a um estado emocional extremamente penoso e tido como

interminável. Outros ainda buscam a morte como forma de expiar suas supostas

culpas. Os pensamentos de suicídio variam desde o remoto desejo de estar

simplesmente morto, até planos minuciosos de se matar (estabelecendo o modo, o

momento e o lugar para o ato). Os pensamentos relativos à morte devem ser

sistematicamente investigados, uma vez que essa conduta poderá prevenir atos

suicidas, dando ensejo ao doente de se expressar a respeito (DEL PORTO, 2002).

• Redução da capacidade de experimentar prazer na maior parte das atividades,

antes consideradas como agradáveis. Os deprimidos podem relatar que já não se

interessam pelos seus passatempos prediletos. As atividades sociais são

freqüentemente negligenciadas, e tudo lhes parece agora ter o peso de terríveis

“obrigações” (DEL PORTO, 2002).

• Fadiga ou sensação de perda de energia. As pessoas deprimidas podem relatar

fadiga persistente, mesmo sem esforço físico, e as tarefas mais leves parecem exigir

esforço substancial. Levam mais tempo para execução das tarefas (TAKEI;

SCIVOLETTO, 1999).

• Diminuição da capacidade de pensar, de se concentrar ou de tomar decisões.

Usualmente os deprimidos relatam que decisões antes tomadas quase

automaticamente, parecem custar esforços intransponíveis. O paciente pode se

demorar infindavelmente para terminar um simples relatório, pela incapacidade em

escolher as palavras adequadas. O curso do pensamento pode estar notavelmente

lentificado. 25,26,32 Por exemplo, professores experientes queixam-se de não

conseguir preparar as aulas mais rotineiras; programadores de computadores

pedem para ser substituídos pela atual “incompetência”. Em função da fatigabilidade

e déficit de atenção, desinteresse generalizado, geralmente crianças e adolescentes

apresentam queda em seus rendimentos escolares (LAFER et al., 2000).

b) Sintomas fisiológicos

• Alterações do sono (mais freqüentemente insônia, podendo ocorrer também

hipersonolência). A insônia é, mais tipicamente, intermediária (acordar no meio da

noite, com dificuldades para voltar a conciliar o sono), ou terminal (acordar mais

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precocemente pela manhã). Pode também ocorrer insônia inicial. Com menor

freqüência, mas não raramente, os indivíduos podem se queixar de sonolência

excessiva, mesmo durante as horas do dia (TAKEI; SCIVOLETTO, 1999).

• Alterações do apetite (mais comumente perda do apetite, podendo ocorrer também

aumento do apetite). Muitas vezes a pessoa precisa esforçar-se para comer, ou ser

ajudada por terceiros a se alimentar. As crianças podem, pela inapetência, não ter o

esperado ganho de peso no tempo correspondente. Algumas formas específicas de

depressão são acompanhadas de aumento do apetite, que se mostra

caracteristicamente aguçado por carboidratos e doces (DEL PORTO, 2002).

• Redução do interesse sexual da libido (do desejo sexual) e da resposta sexual

(disfunção erétil, orgasmo retardado ou anorgasmia) (DEL PORTO, 2002).

c) Evidências comportamentais

Observa-se retraimento social; crises de choro (choro fácil ou freqüente);

sintomas afetivos como comportamentos suicidas; pessimismo em relação a tudo,

idéias de arrependimento e de culpa; visão de mundo marcada pelo tédio (“a vida é

vazia, sem sentido, nada vale a pena”), idéias de morte, desejo de desaparecer,

dormir para sempre, ideação e planos ou atos suicidas como alterações ideativas;

retardo psicomotor e lentificação generalizada, ou agitação psicomotora. A tendência

a permanecer na cama por todo o dia (com o quarto escuro, recusando visitas etc);

aumento na latência entre as perguntas e respostas; lentificação psicomotora até o

estupor; diminuição da fala, redução da voz, fala muito lentificada; mutismo

(negativismo verbal) e negativismo (recusa à alimentação, a interação pessoal, etc)

como alterações da volição e da psicomotricidade (TAKEI; SCIVOLETTO, 1999).

2.5 Aspectos biopsicossociais

Os autores pesquisados apontam como fatores causais da depressão

tanto os fatores biológicos, como os genéticos e os psicossociais:

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a) Aspectos biológicos

Segundo Lafer et al. (2000), os principias sistemas envolvidos na

fisopatologia da depressão são os sistemas monoaminérgicos da noradrenalina,

serotonina e dopamina. De acordo com esses autores um grande número de

estudos relata várias anormalidades nos metabólitos das aminas biogênicas, como a

noradrenalina que sugere uma regulagem para baixo dos receptores b -adrenérgicos

e receptores pré-sinápticos a 2-adrenérgicos, levando uma diminuição da

quantidade de noradrenalina liberada. Outra amina biogênica relacionada é a

serotonina, sendo que as evidências são que sua depleção pode precipitar a

depressão e o fato de que os inibidores seletivos de recaptação de serotonina

(ISRS) e outros antidepressivos serotonérgicos foram eficazes no seu tratamento. A

dopamina também estaria associada à fisiopatologia da depressão sendo que

estaria diminuída na depressão e aumentada na mania.

b) Aspectos genéticos

A literatura relata que os dados genéticos indicam fortemente que a genética

é um fator significativo no desenvolvimento de um transtorno de humor. O

componente é mais forte para a transmissão do transtorno bipolar I do que para a

transmissão do transtorno depressivo maior (LAFER et al., 2000).

c) Aspectos psicológicos

Do ponto de vista psicanalítico, acredita-se que os processos depressivos

estão associados a fantasias inconscientes ou fruto da significação atribuída

inconscientemente às vivências emocionais, ou é o resultado final da dificuldade de

elaboração, por parte do aparelho psíquico, da ansiedade depressiva.

Nas últimas décadas houve crescente desenvolvimento no estudo dos

aspectos psicológicos dos transtornos depressivos, que contribuíram não apenas

para melhorar a compreensão da depressão, mas também para o seu tratamento.

Ao tentar conhecer e compreender a depressão sob o aspecto psicológico

são apontadas algumas abordagens teóricas, tais como: (a) comportamental - utiliza

técnicas de reforço positivo ou de ausência de reforço, solução de problemas, do

desamparo aprendido; (b) cognitiva - abordagem diretiva racional-emotiva, utiliza

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técnicas de auto-instrução e de reestruturação cognitiva; (d) interpessoal - centra-se

no aqui e agora tendo como referência a comunicação; (e) construtivista - trabalha

com base na reconstrução dos esquemas, dos pressupostos e das crenças básicas

(LAFER et al., 2000).

d) Aspectos sociais

A literatura aponta a relação entre o funcionamento da família e o início e

curso dos transtornos de humor, assim como o grau de psicopatologia na família po

afetar o índice de recuperação, o retorno dos sintomas e o ajuste pós-recuperação

do paciente (LAFER et al., 2000).

A vida moderna também pode propiciar o aparecimento e o curso das

doenças depressivas. A vida urbana caracterizada por um ambiente competitivo e

criador de grandes expectativas, o desemprego, a situação sócio-econômica,

histórico de doenças graves e deteriorantes (como por exemplo, câncer, doença de

Parkinson, doença de Alzheimer, acidente vascular cerebral) podem desencadear a

depressão, por ativarem padrões cognitivos relacionados ao pessimismo,

insegurança, baixa auto-estima, desespero, sensação de incapacidade, inutilidade,

podem ter como conseqüência sintomas afetivos, comportamentais e emocionais da

depressão.

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CAPÍTULO III

DEPRESSÃO NA TERCEIRA IDADE

3.1 Aspectos gerais

A depressão consiste em enfermidade mental freqüente no idoso,

associada a elevado grau de sofrimento psíquico, chegando a constituir-se em um

problema de saúde pública (STELLA et al., 2002; GAZALLE et al., 2004; MUNK;

LAKS, 2005; LEITE et al., 2006).

A maioria dos estudos internacionais estima que a prevalência de

sintomas depressivos na população acima de 65 anos de idade vivendo na

comunidade varia entre 10,3% e 13,5% (MAZO et al., 2005). Pesquisas brasileiras

indicam uma prevalência de sintomas depressivos na população de 65 anos ou mais

vivendo na comunidade entre 2 e 14%, sendo que em idosos que residem em

instituições, a prevalência da depressão chega a 30% (GAZALLE et al., 2004).

Em indivíduos portadores de doenças clínicas essas taxas são ainda mais

elevadas. Por exemplo, até 45% dos pacientes com doença coronariana apresentam

sintomas depressivos graves. Taxas semelhantes são descritas em associação com

uma série de doenças clínicas típicas do idoso, como doença de Parkinson, doença

cerebrovascular e doença de Alzheimer (ALMEIDA; ALMEIDA, 1999).

Inúmeros são os fatores que levam um indivíduo da terceira idade a iniciar

o processo de depressão, pois o mundo que enfrentam atualmente é considerado

novo e, para muitos, é preciso ir à busca de um sentido de vida, agir em favor de seu

mundo.

Griffa e Moreno (2001) consideram que os primeiros fatores que

influenciam negativamente no processo de envelhecimento são: privação de uma

atividade ocupacional; condenação à passividade; doenças físicas e

enfraquecimento corporal; lentidão das funções psíquicas; diminuição ou exclusão

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das atividades prazerosas e agradáveis da vida; medo diante da aproximação da

morte.

A literatura aponta, ainda, que a morte de amigos, familiares, cônjuge,

falta de perspectiva de futuro, e a solidão podem somar-se as perdas da idade e

desencadear manifestações psíquicas de depressão nos idosos (MAZO et al., 2005).

A Escala de Depressão em Geriatria (Geriatric Depression Scale - GDS) é

um dos instrumentos mais freqüentemente utilizados para a detecção de depressão

no idoso. Os estudos disponíveis na literatura internacional demonstram que a GDS

oferece medidas válidas e confiáveis para a avaliação de transtornos depressivos.

Além disso, versões reduzidas da GDS com 1, 4, 10, 15, e 20 questões (em

contraste com as 30 questões da versão original) vêm sendo utilizadas de forma

cada vez mais freqüente (ALMEIDA; ALMEIDA, 1999).

No Brasil, Almeida e Almeida (1999) aplicaram a EDG-15 em 64 idosos de

um ambulatório psiquiátrico, segundo os critérios do DSM-IV para o diagnóstico de

depressão maior ou distimia. Eles obtiveram no ponto de corte 5/6, sensibilidade de

85,4% e a especificidade de 73,9%. Já no ponto de corte 6/7, a sensibilidade foi de

84,8% e a especificidade de 67,7%. Para esses autores, a EDG-15 mostrou-se

confiável e válida em um ambulatório especializado, mas suas características de

medida eram desconhecidas em ambientes de atendimento não especializado.

Na população idosa os quadros depressivos têm características clínicas

peculiares. Nos idosos, há uma diminuição da resposta emocional (erosão afetiva) e,

com isso, há um predomínio de sintomas como diminuição do sono, perda de prazer

nas atividades habituais, ruminações sobre o passado e perda de energia

(GAZALLE et al., 2004).

Além dos sintomas comuns, a depressão costuma ser acompanhada por

queixas somáticas, hipocondria, baixa auto-estima, sentimentos de inutilidade,

humor disfórico, tendência autodepreciativa, alteração do sono e do apetite, ideação

paranóide e pensamento recorrente de suicídio (LEITE et al., 2006). Os sintomas,

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apresentados na tabela a seguir, em geral, estão associados à presença de doenças

físicas ou ao uso de medicamentos.

Tabela 1 - Sintomas da depressão no idoso

Sintomas do estado de humor

Sintomas Neurovegetativos

Sintomas cognitivos

Sintomas psicóticos

- Deprimido/ disfórico - Irritabilidade - Tristeza - Desânimo - Sentimento de abandono - Sentimento de inutilidade - Diminuição da auto-estima - Retraimento social/solidão - Anedonia e desinteresse - Idéias auto-depreciativas - Idéias de morte - Tentativas de suicídio

- Inapetência - Emagrecimento - Distúrbio do sono - Perda da energia - Lentificação psicomotora - Inquietação psicomotora - Hipocondria - Dores inespecíficas

- Dificuldade de: concentração, memória - Lentificação do raciocínio

- Idéias paranóides - Delírios de ruína - Delírios de morte - Alucinações mandativas de suicídio

Fonte: STELLA et al. (2002)

O diagnóstico da depressão no idoso passa por várias etapas: anamnese

detalhada, com o paciente e com familiares ou cuidadores, exame psiquiátrico

minucioso, exame clínico geral, avaliação neurológica, identificação de efeitos

adversos de medicamentos, exames laboratoriais e de neuroimagem (LEITE et al.,

2006).

Cohen e Eisdorfer (1997) destacam que a importância no trato da

depressão na terceira idade se dá porque em primeiro lugar são tratáveis, se

crônicos são resultado de um tratamento inapropriado, segundo, as depressões

severas são um grande problema de saúde pública e terceiro, o suicídio está entre

as 10 principais causas de morte entre idosos.

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Outro ponto importante é o fato de que a depressão geriátrica geralmente

está relacionada à piora da qualidade de vida e à maior morbidade e mortalidade;

ela piora a percepção do doente quanto à própria saúde, gerando aumento da

utilização dos serviços de saúde e conseqüente aumento dos custos para o sistema

de saúde.

3.2 Aposentadoria como fator de depressão na terceira idade

3.2.1 Envelhecimento, desligamento do trabalho e aposentadoria

O envelhecimento emerge como uma nova etapa da vida, gerando

questionamentos quanto à capacidade de produção e qualidade de ação do homem

e da mulher envelhecidos, tendo a idade cronológica se tornado um marcador no

desligamento da vida produtiva, que ocorre através da aposentadoria, vocábulo que,

etimologicamente, remete à noção de recolhimento ao interior da habitação, dos

aposentos, ou estado de inatividade do funcionário público ou funcionário de

empresa particular ao fim de certo tempo de serviço, com determinado vencimento.

Nas sociedades capitalistas, coloca-se o trabalho, a vida profissional,

como a referência-chave para a vida social das pessoas, estuda-se com o objetivo

de ter competências para trabalhar, para ter uma profissão. Nesse sentido, Carlos

(1999) aponta que a associação corrente entre envelhecimento e aposentadoria nos

remete a uma representação coletiva em que a pessoa não é mais percebida como

sujeito de bens e serviços mas é conseqüentemente marginalizada nos contextos

sociais contemporâneos que são pautados pelo valor produtivo. E acrescenta que:

Quando um conjunto social se pauta por valores utilitários como no

caso a sociedade contemporânea, a ausência de inserção no modelo

proposto e em suas formas organizacionais e relacionais, repercutem

na qualidade de vida e na integração de sua população (CARLOS,

1999, p. 86).

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Para o autor, ainda se verifica a ocorrência de uma dupla aposentadoria no

plano subjetivo: a primeira, legal, por tempo de serviço e a segunda, nem sempre com

reconhecimento oficial, mas sim determinada pelos limites impostos pelo corpo como

doença ou idade e pelo processo de exclusão do mundo do trabalho.

Para Salgado (1999), na sociedade atual, a aposentadoria aparece como

uma das mais fortes organizações sociais dos sistemas sociopolíticos. Reveste-se

de um caráter de lei social, de uma evolução do sistema de organização voluntária

por parte de alguns trabalhadores, para um sistema organizado pelo Estado, tendo

como obrigatória a contribuição financeira.

A seguridade social,1 operacionalizada pela Previdência Social,2

reconhece o direito do trabalhador ao benefício da aposentadoria. A Previdência

Social

É um sistema de proteção social que assegura o sustento do

trabalhador e de sua família, quando ele não pode trabalhar por

causa de doença, acidente, gravidez, prisão, morte ou velhice. A

Previdência Social mantém dez benefícios diferentes, incluindo

aposentadorias, pensão por morte, salário-maternidade e auxílio-

doença. Quando o trabalhador fica doente, é a Previdência Social

que paga o seu salário até que ele recupere as condições de exercer

suas atividades. A Previdência Social também é responsável pelo

salário-maternidade nos 120 dias de licença-gestante das

trabalhadoras (http://www.previdenciasocial.gov.br).

Nos ensinamentos de Castro e Lazzari (2001, p. 39), a Previdência Social

“é o ramo da atuação estatal que visa a proteção de todo o indivíduo ocupado numa

atividade laborativa remunerada, para proteção dos riscos decorrentes da perda ou

redução, permanente ou temporária, das condições de obter seu próprio sustento”.

1 Seguridade Social – é o conjunto de ações integradas de iniciativa dos Poderes públicos e da sociedade destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social. 2 Previdência Social – é o conjunto de medidas destinadas a amparar pessoas a ela vinculadas, decorrentes da cessação do trabalho ou necessidades especiais arroladas pela Lei – tem sentido ilimitado e pressupõe vinculação através de pagamento.

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Os primeiros sistemas de previdência considerados institucionalizados

surgiram no século XIX, nos Estados Unidos, com a criação do primeiro sistema de

aposentadoria em 1875, pela empresa American Express Company. Logo em

seguida, na Alemanha, foi instituído o primeiro programa público de bem-estar

social, com ênfase na previdência:

Em 1883, a Alemanha adotou o primeiro ordenamento legal para

cobertura compulsória dos riscos por acidente de trabalho, não se

exigindo do trabalhador a prova de culpa do empregador para a

percepção de benefício; foi deste ano também a lei que instituiu o

seguro-doença, e em 1889, foi promulgada a lei que criou o seguro-

invalidez e por velhice. Outros países da Europa Ocidental adotaram,

na mesma época, conduta semelhante. Na Inglaterra foi promulgada,

em 1907, uma lei de reparação de acidente de trabalho, e em 1911,

uma outra lei tratou da cobertura à invalidez, à doença, à

aposentadoria voluntária e à previsão de desemprego, tornando-a,

na época o país mais avançado em termos de legislação

previdenciária (CASTRO; LAZARI, 2001, p. 33).

No Brasil, segundo Giambiagi e Além (1999), foi com a Lei Eloy Chaves,

em 1923, que o país contou com o primeiro marco legal, com a criação das caixas

de aposentadorias e pensões, as chamadas CAPs. Essa lei garantia a

aposentadoria dos ferroviários e assegurava a inatividade desses funcionários.

Ainda segundo o autor, deu-se nos anos seguintes a criação de diversas CAPs,

como dos portuários (1926), dos serviços telegráficos e radiotelegráficos (1930), de

força, luz e bondes (1930). Com o surgimento desordenado de diversas “Caixas”, o

Estado passou a assumir a gestão das instituições separadamente por categoria

profissional, surgindo, então, os Institutos de Aposentadoria e Pensão (IAPs).

Na década de 1960, com a promulgação da Lei Orgânica da Previdência

Social (LOPS), foram uniformizadas as contribuições e os planos de previdência

com extensão aos empregadores e autônomos em geral, o que veio a se consolidar

em 1966, com a criação do Instituto Nacional de Previdência Social (INPS),

unificando a estrutura dos IAPs (GIAMBIAGI; ALÉM, 1999).

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Na década de 1970, com a ampliação do universo de pessoas que

passavam a receber benefícios do sistema, decorrência natural do envelhecimento

gradativo da população, ocorreram as primeiras preocupações das conseqüências

fiscais, somadas ao avanço do conceito de seguridade social (saúde, assistência e

previdência), criando-se, então, o Ministério de Previdência e Assistência Social.

A criação desse ministério foi um novo marco na evolução da

previdência social brasileira. Nesse contexto, em 1977, o INPS foi

desmembrado em três órgãos: o INPS propriamente dito, com a

responsabilidade de arcar com o pagamento dos benefícios

previdenciários e assistenciais; o Instituto de Administração da

Previdência e Assistência Social (IAPAS), destinado a administrar e

recolher os recursos do INPS; e o Instituto Nacional de Assistência

Médica da Previdência Social (INAMPS), criado com o fim de

administrar o sistema de saúde [...]. Posteriormente, mais de uma

década depois, em 1988, a LBA foi deslocada para a pasta de

habitação e bem estar social; em 1990, o INPS foi refundido com o

IAPAS, mudando o nome para INSS (Instituto Nacional de

Seguridade Social), e, no mesmo ano, o INAMPS foi absorvido pelo

Ministério da Saúde (GIAMBIAGI; ALÉM, 1999, p. 214).

A Previdência Social é prestada somente às pessoas que efetivamente

contribuíram, sendo então de caráter contributivo e, somente essas pessoas fazem

jus, depois de cumpridos determinados requisitos, a algum benefício fornecido por

ela.

Vale acrescentar que existem diferentes tipos aposentadoria: a)

aposentadoria especial - concedida ao segurado que, contando com no mínimo 50

anos de idade e 15 anos de contribuições, tenha trabalhado durante, 15, 20 ou 25

anos pelo menos, conforme a atividade profissional, em serviços que, para esse

efeito, forem considerados penosos, insalubres ou perigosos, por Decreto do Poder

Executivo; b) aposentadoria por idade - devida ao segurado que completar 65 anos

de idade, se homem e 60 anos, se mulher, reduzidos esses limites para 60 e 55

anos, respectivamente, para os trabalhadores rurais, observado o período de

carência exigida pela Lei 8.213/91, que é de 180 contribuições; c) aposentadoria por

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36

invalidez - devida ao segurado que, estando ou não em gozo de auxílio doença, for

considerado incapaz para o trabalho e insusceptível de reabilitação para o exercício

de atividade que lhe garanta a subsistência, sendo o benefício pago enquanto

permanecer nessa condição. É, portanto, um benefício temporário; d) aposentadoria

por tempo de contribuição – devida ao segurado que completar 30 (trinta) anos de

serviço, se do sexo feminino, ou 35 (trinta e cinco) anos, se do masculino, observado

o período de carência exigida pela Lei 8.213/91, que é de 180 contribuições.

A inatividade profissional representada pela aposentadoria provoca

mudança no estilo e vidas dos aposentados exigindo um grande esforço de

adaptação a esta nova etapa de sua vida, pois pode ameaçar o equilíbrio

psicoemocional ao influenciar a identidade profissional como pessoa e como ser

social. Para Gonçalves (2006, p. 90), "são perdas decorrentes do afastamento dos

companheiros de trabalho, interrompendo as amizades que o trabalhador construiu

como redes de apoio de longa data”.

Portanto a pessoa, ao se aposentar, vivencia perdas de atividades e de

vínculos, faz-se necessário desenvolver motivações para novos interesses, a fim de

possibilitar a manifestação de suas potencialidades, mantendo e estabelecendo

novas redes sociais que dêem significado à vida do aposentado e repercutam

positivamente em sua qualidade de vida (LEON, 2000).

3.2.2 Depressão pós aposentadoria

A aposentadoria, às vezes, mais do que um direito adquirido é uma

verdadeira condenação social e econômica. Com a aposentadoria, geralmente

ocorre a queda do status econômico; em muitos casos também ocorre a diminuição

do prestígio social e profissional. Para o aposentado,

a constatação da incapacidade para a produção, bem como sua

exclusão do ciclo de rentabilidade equivale a uma condenação, ou

seja, a morte social pelo fato de ter percebido que ele foi apenas um

instrumento de trabalho sem ter tido tempo e condições de usufruir

daquilo que fazia e gostava (GARCIA, 1999, p. 37).

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37

A perda desse papel profissional, que durante muito tempo, foi valorizado

pelo trabalhador e sua família, pode significar para esse indivíduo um choque, ou até

mesmo um grande vazio, principalmente para aqueles aposentados que fizeram do

trabalho a maior fonte de referência de suas vidas.

Zanelli e Silva (1996, p. 26) apontam que:

Outra idéia difundida diz respeito ao tempo de que se dispõe na

aposentadoria. De imediato é ligado ao ócio, ao não fazer, ao deixar

a vida correr. O sentimento que é contraposto ao direito de aproveitar

o tempo, é o da inutilidade. Revela-se, então, toda positividade que é

colocada no ato de trabalhar, mais ou menos intensamente conforme

o contexto cultural, classe social ou religião a que se filia a pessoa.

Dessa forma, o afastamento da pessoa de terceira idade do ambiente de

trabalho e a sua conseqüente inatividade, acabam deixando-a isolada do mundo

social ao qual estava habituada, pois ser aposentado passa a equivaler “a estar

psico e fisicamente incapacitado, a sofrer perdas mentais, a ser economicamente

dependente, a experimentar isolamento social e perda de status social” (LORDA;

SANCHES, 1995, p. 14).

De acordo com Néri et al. (2005), quando os idosos se aposentam é

comum sentirem-se inúteis, sem rotina diária e improdutivos, sendo estes

sentimentos uma influência negativa em sua saúde emocional.

Bossé et al. (apud NERI et al., 2005) consideram que a aposentadoria

contribui para o declínio na saúde física e mental do indivíduo baseados três

premissas: uma classificada de dedutiva, outra, chamada de observacional, e uma

terceira, denominada de histórica. A premissa dedutiva refere-se à concepção de

que os indivíduos constroem suas identidades tendo como referencia a ocupação ou

papel profissional. Assim, a perda do papel é a concomitante perda da identidade

gerariam estresse, ansiedade e predisposição a depressão. A premissa

observacional centra-se no fato de realmente alguns aposentados tornarem-se

doentes ou mesmo morrerem, e assim, a causalidade desses eventos é atribuída à

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38

aposentadoria em si. Finalmente, a premissa histórica centra-se na visão do

capitalismo e da ética protestante, que vê o trabalho como norma salutar e,

conseqüentemente, o “Não-Trabalho” como exceção a essa norma.

A aposentadoria também pode estar associada à diminuição do poder

aquisitivo, pois para a grande maioria dos idosos brasileiros, a aposentadoria

significa uma condição socioeconômica inadequada, dificultando até mesmo o

suprimento de necessidades básicas do cotidiano, ocasionando o rebaixamento de

sua qualidade de vida, e alguns aposentados passam a depender financeiramente

de seus filhos devido a insuficiência de recursos monetários para se manterem

(MAGALHÃES et al., 2004).

Neste sentido pode-se afirmar que o afastamento dos idosos do trabalho

significa uma situação de precariedade e não a conquista de um beneficio recebido

após uma vida de trabalho, pois a inatividade geralmente implica na queda dos

rendimentos, passando a aposentadoria a representar a continuação das

dificuldades com que sempre lutaram. O que contribui para que muitas pessoas

aposentadas desenvolvam angústias, sofrimentos e predisposição a depressão.

Dessa forma, para o indivíduo da terceira idade, a inatividade pelo fim da

atividade formal, a sensação de inutilidade, a perda de prestígio e até mesmo do

convívio com os colegas de trabalho e a falta de perspectivas na aposentadoria

associadas a uma rotina totalmente inédita, sem grandes responsabilidades, podem

levar a um sentimento de depressão que, consequentemente, compromete a saúde

do indivíduo na terceira idade.

A susceptibilidade à depressão do idoso aposentado também é um risco à

sua integridade cognitiva. Estudos demonstram que idosos que sofrem de

depressão apresentam desempenho rebaixado em testes de memória, e

comprometimento ainda maior nas funções executivas, seguidos de déficits na

atenção e diminuição na velocidade de processamento (TAVARES, 2007).

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3.3 Atuação da Terapia de Família

O idoso aposentado com quadro depressivo necessita de medicamentos

e suporte psicoterápico, para que recupere a auto-estima e a motivação em

encontrar uma nova atividade que devolva aquilo que parece ter sido retirado, e a

família ocupa um papel importante na observação dos primeiros sintomas.

A terapia familiar é importante e muitos profissionais já reconhecem que o

idoso não pode ser tratado isoladamente, pois a compreensão, por parte do idoso e

seus familiares, da patologia, seus sintomas, evolução e tratamento costuma

melhorar a adesão ao tratamento e os índices de recuperação.

Para González et al. (2001) a família representa para o idoso a

possibilidade de permanência em um grupo, já que é comum o desaparecimento de

grupos do qual o idoso fazia parte, neste sentido é conveniente que as relações

familiares sejam harmoniosas, fato que contribui para o conforto emocional dos

idosos.

Na maioria das vezes o idoso vai acompanhado ao consultório, sendo que

o profissional deve fazer esforço para se juntar à família, garantindo uma

cooperação com o plano biopsicossocial (BLAZER, 1998), sendo que este contato

com a família é relevante principalmente se houver risco de suicídio.

O terapeuta, em relação à família, pode encorajá-los a incentivar o idoso

a procurar ajuda (caso este se recuse), pode estar dando instruções de como se

comunicar melhor com ele, encorajar à socialização, aumento da auto-estima e

autovalorização.

A família deve ser estimulada a participar na elaboração do plano de

tratamento, ajudando a definir áreas e comportamentos-alvo de mudanças. Além

disso, a terapia comportamental conscientiza a pessoa sobre ações dela que

mantém o quadro de depressão. Isso possibilita mudanças nos pensamentos

depressivos e sentimentos depressivos, buscando fazer com que o idoso perceba

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que a redução do tempo de trabalho pode suscitar uma redistribuição de energia em

outros papéis sociais (PAULIN; OLIVEIRA, 2009).

Por exemplo, muitas são as formas em que o idoso pode manter-se ativo

após a aposentadoria. Uma das alternativas para alcançar este tipo de

envelhecimento é o estímulo ao trabalho voluntário, considerado uma forma de

ajuda mútua, onde os idosos que o realizam assessoram a outras pessoas ao

mesmo tempo em que se sentem úteis e inseridos na sociedade, sendo que esta

troca também reflete na saúde e na qualidade de vida dos voluntários (SOUZA;

LAUTERT, 2008).

Outra maneira de preservar a positividade e o equilíbrio emocional frente

à terceira idade e a aposentadoria é a busca por novas atividades de lazer e a

participação em grupos ou em universidades da terceira idade (ALVARENGA et al.,

2009).

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41

CONCLUSÃO

Com base na pesquisa realizada pode-se observar que a depressão

consiste em um conjunto de alterações comportamentais, emocionais e de

pensamento, tais como, afastamento do convívio social, perda de interesse nas

atividades profissionais, acadêmicas e lúdicas, perda do prazer nas relações

interpessoais, sentimento de culpa ou autodepreciação, baixa auto-estima,

desesperança, apetite e sono alterados, sensação de falta de energia e dificuldade

de concentração, contribuindo, em muitos casos, no desenvolvimento de

comportamento suicida. Os fatores desencadeantes da depressão incluem aspectos

biológicos, psicológicos e sociais.

A depressão em idosos constitui condição mental nem sempre

diagnosticada, o que favorece a cronificação desta enfermidade, agravando o

sofrimento psíquico do paciente. Além disso, devido à íntima relação entre

depressão e doenças clínicas gerais no idoso, a não identificação e o não

tratamento da depressão contribuem para o agravamento de eventuais doenças

orgânicas que acometem o paciente, aumentando a morbidade e o risco de morte.

Um dos fatores desencadeantes da depressão em indivíduos da terceira

idade é aposentadoria, vista pelo idoso como uma das perdas mais relevantes da

vida social das pessoas, pelo rompimento com o trabalho formal, gerando sensação

de inatividade e inutilidade, perda do convívio com os colegas de trabalho e a falta

de perspectivas.

Cabe ressaltar a importância da intervenção do terapeuta familiar no

tratamento do idoso com depressão, podendo contribuir para que os idosos sejam

sujeitos ativos ao se reconhecerem diante da nova situação, através de atividades

que contribuem para uma ação transformadora, em que a relação que se estabelece

na tríade terapeuta-paciente-atividade é sustentadora de todo o processo

terapêutico.

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47

ÍNDICE

DEDICATÒRIA................................................................................................ 03

AGRADECIMENTOS....................................................................................... 04

RESUMO......................................................................................................... 05

METODOLOGIA ............................................................................................. 06

SUMÁRIO........................................................................................................ 07

INTRODUÇÃO................................................................................................. 08

CAPÍTULO I

A TERCEIRA IDADE......................................................................................... 10

1.1 Envelhecimento humano: conceitos...................................................... 10

1.2 Características do envelhecimento........................................................ 13

1.2.1 Aspectos orgânicos....................................................................... 14

1.2.2 Aspectos emocionais.................................................................... 16

1.2.3 Aspectos sociais........................................................................... 17

1.3 Dados demográficos da terceira idade no Brasil................................... 18

CAPÍTULO II

DEPRESSÃO........................................................................................................... 20

2.1 Conceito................................................................................................. 20

2.2 Epidemiologia......................................................................................... 21

2.3 Classificação da depressão................................................................... 21

2.4 Sintomas................................................................................................ 24

2.5 Aspectos biopsicossociais...................................................................... 26

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CAPÍTULO III

DEPRESSÃO NA TERCEIRA IDADE............................................................... 29

3.1 Aspectos gerais...................................................................................... 29

3.2 Aposentadoria como fator de depressão na terceira idade................... 32

3.2.1 Envelhecimento, desligamento do trabalho e aposentadoria....... 32

3.2.2 Depressão pós aposentadoria...................................................... 36

3.3 Atuação da Terapia de Família.............................................................. 39

CONCLUSÃO.................................................................................................... 41

BIBLIOGRAFIA.................................................................................................. 42

ÍNDICE.............................................................................................................. 47

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição: Universidade Candido Mendes

Título da Monografia: Depressão na terceira idade: a aposentadoria como fator

determinante de episódios depressivos em idosos

Autor: Alessandra Genê Mascarenhas

Data da entrega:

Avaliado por: Conceito: