DEPRESSÃO PÓS-PARTO E O VÍNCULO AFETIVO MÃE-BEBÊ: uma ...

57
Andréia Duarte de Sousa DEPRESSÃO PÓS-PARTO E O VÍNCULO AFETIVO MÃE-BEBÊ: uma revisão sistemática Palmas TO 2018

Transcript of DEPRESSÃO PÓS-PARTO E O VÍNCULO AFETIVO MÃE-BEBÊ: uma ...

1

Andréia Duarte de Sousa

DEPRESSÃO PÓS-PARTO E O VÍNCULO AFETIVO MÃE-BEBÊ: uma revisão

sistemática

Palmas – TO

2018

2

Andréia Duarte de Sousa

DEPRESSÃO PÓS-PARTO E O VÍNCULO AFETIVO MÃE-BEBÊ: uma revisão

sistemática

Projeto de Pesquisa elaborado e apresentado como

requisito parcial para aprovação na disciplina de

Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) II do curso de

bacharelado em Psicologia do Centro Universitário

Luterano de Palmas (CEULP/ULBRA).

Orientador: Profa. Cristina D’Ornellas Filipakis

Palmas – TO

2018

3

Andréia Duarte de Sousa

DEPRESSÃO PÓS PARTO E O VÍNCULO AFETIVO MÃE-BEBÊ: uma revisão

sistemática

Projeto de Pesquisa elaborado e apresentado como

requisito parcial para aprovação na disciplina de

Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) II do curso de

bacharelado em Psicologia do CentroUniversitário

Luterano de Palmas (CEULP/ULBRA).

Orientador: Prof. Cristina D'Ornellas Filipakis

Aprovado em: _____/_____/_______

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________________________

Profa. M.e Cristina D'Ornellas Filipakis

Orientador

Centro Universitário Luterano de Palmas – CEULP

_____________________________________________________

Prof. M.e Iran Johnathan Silva Oliveira

Centro Universitário Luterano de Palmas

_______________________________________________________

Prof.a M.e Izabela Almeida Querido

Centro Universitário Luterano de Palmas

Palmas – TO

2018

4

RESUMO

SOUSA, Andreia Duarte. Depressão Pós-Parto e o Vínculo Afetivo Mãe-Bebê: uma

revisão sistemática. 2018. 57 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Curso de

Psicologia, Centro Universitário Luterano de Palmas, Palmas/TO, 2018.

A depressão é um estado que acomete cerca de 10 a 15% das mulheres no período que

compreende o pós-parto, tendo maior prevalência de ocorrência entre a quarta e oitava

semana posteriormente ao nascimento do bebê. Em geral expressa um grupo de sentimentos

como choro constante, irritabilidade, desesperança, falta de motivação, insegurança em

relação a maternidade, ansiedade, entre outros. Desta formaa presente revisão buscou

identificar as consequências da depressão pós-parto para o vínculo afetivo mãe e bebê.

Conhecendo as características,os sintomas, e as consequências do quadro depressivo, para a

mãe epara o desenvolvimento global da criança. Fatores como o papel da mulher na sociedade

desde tempos remotosaté os atuais, as ideologias acerca do papel de mãe, foram peças

fundamentais para a compreensão de tal fato. Através dos estudos analisados pode-se

considerar que a depressão puerperal afeta as mães, a relação de vínculo com o bebê, assim

como o desenvolvimento psicológico, social e cognitivo da criança, tendo em vista que a mãe

depressiva não se encontra disponível para estabelecer uma base segura e de qualidade com o

filho.

Palavras-chave: Depressão Pós-Parto. Mãe-bebê. Vínculo Afetivo.

5

ABSTRACT

SOUSA, Andreia Duarte. Postpartum Depression and the Affective Mother-Baby Bond: A

Systematic Review. 2018. 58 f. Course Completion Work (Undergraduate) - Psychology

Course, Lutheran University Center of Palmas, Palmas / TO, 2018.

Depression is a condition that affects approximately 10% to 15% of women in the postpartum

period, with a higher prevalence of occurrence between the fourth and eighth week after the

baby is born. In general it expresses a group of feelings like constant crying, irritability,

hopelessness, lack of motivation, insecurity regarding motherhood, anxiety, among others.

Thus, the present review sought to identify the consequences of postpartum depression for the

affective bond between mother and baby. Knowing the characteristics, the symptoms, and the

consequences of the depressive picture, for the mother and for the overall development of the

child. Factors such as the role of women in society from the earliest times to the present,

ideologies about the role of mother, were key to understanding this fact. Through the analyzed

studies, it can be considered that puerperal depression affects mothers, the relation of bond

with the baby, as well as the psychological, social and cognitive development of the child,

considering that the depressive mother is not available to establish a safe and quality

foundation with the child

Key Words: Postpartum Depression. Mother-baby. Affective Bond.

6

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Quadro 1: Subestágios da fase Sensório-Motor.......................................................................20

Quadro 2: Resumo da análise dos resultados...................................................................38

Figura 1: Resultados das buscas no GOOGLE ACADÊMICO com as palavras chave em

conjunto.................................................................................................................................... 35

Figura 2: Resultados das buscas no SCIELO com as palavras chave em conjunto..................36

Figura 3:Resultados das buscas no PEPSIC com as palavras chave em conjunto................... 37

Figura 4: Resultados das buscas no CAPES com as palavras chave em conjunto...................37

7

SUMÁRIO

2 REFERENCIAL TEÓRICO .......................................................................................... 10

2.1 O PAPEL DA MULHER NA SOCIEDADE E A MATERNAGEM ........................... 10

2.1.1 Maternagem X Maternidade ............................................................................ 14

2.2 DESENVOLVIMENTO INFANTIL DA CONCEPÇÃO AOS 2 ANOS .................... 15

2.3 TEORIA DO APEGO ................................................................................................ 22

2.4 CARACTERÍSTICAS DA DEPRESSÃO PÓS-PARTO E FATORES ASSOCIADOS

À SUA OCORRÊNCIA ................................................................................................... 26

2.4.1 Diagnóstico Diferencial e Prognóstico ............................................................... 30

3 METODOLOGIA ........................................................................................................... 32

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES ................................................................................... 35

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................... 52

REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 54

8

1 INTRODUÇÃO

O vínculo afetivo mãe-bebê se estabelece ainda durante a gestação, momento em que

Borsa (2007) aponta como sendo de grande expectativa da mulher em relação ao filho. A mãe

cria expectativas voltadas a um bebê imaginário, essas expectativas envolvem o sexo, o nome

e as características da criança. É no período gestacional que a mãe constrói a imagem do filho

desejado e direciona sentimentos a ele. Ainda segundo Borsa (2007), após o término da

gestação, e com o nascimento do bebê, o vínculo entre mãe e filho tende a se intensificar,

ainda que a imagem do bebê imaginário seja rompida, dando espaço ao bebê real, período em

que a mulher ressignifica o papel da maternidade.

Para Bowlby (1989), o período do pós-parto é essencial à mãe, pois é nesse período

ela possui inteira liberdade de ação, e toda a atenção possível deve ser direcionada ao bebê.

Cada momento de interação se inicia com trocas de expressões faciais e verbalizações por

parte da mãe, e o recém-nascido corresponde, sorrindo e movimentando braços e pernas. Com

o nascimento do bebê, toda atenção é voltada para ele, tudo o que se remete a criança, pode

despertar a atenção da mãe. “Normalmente chega um momento em que ela sente que o bebê é

ela própria” (BOWLBY, 1989, p.21). O período que corresponde aos primeiros meses de vida

do bebê é propício para estabelecimento do vínculo seguro, ocasião que, segundo Pontes

(2007), colabora com o desenvolvimento saudável da criança, possibilitando a ela sentimentos

de segurança/valorização. O apego seguro se dá através das interações entre mãe e filho, e que

deve consistir em um vínculo afetivo contínuo do bebê com a mãe.

Ao contrário do apego seguro, no inseguro a criança internaliza sentimento de

insegurança/desvalorização. E isso pode ocorrer na falta de cuidado físico da mãe em relação

ao bebê, como nas situações em que a mãe trabalha o dia inteiro e deixa a criança sob

cuidados de outras pessoas, que não estabelecem um vínculo afetivo com essa criança. Ou em

situações em que a criança é cuidada por muitos cuidadores, ou até mesmo em circunstâncias

em que os adultos não são receptivos e sensíveis aos cuidados com a criança, entre outras

situações.

Esse momento em que a mulher está vivendo, e que consiste em uma fase de

mudanças e adaptações em relação ao bebê, a depressão pode estar presente. A depressão pós-

parto consiste em um transtorno resultante de fatores biopsicossociais, "muitas vezes, não

podendo ser controlada, atuando de forma implacável ao seu surgimento" (TOLENTINO,

2016, p.61). Fatores como a pouca idade da mãe, o estado civil, as condições

socioeconômicas, a história de vida e gravidez indesejada, podem ser fatores importantes para

9

o desencadeamento da depressão. Portanto, este trabalho pretendeu verificar as consequências

da depressão pós-parto no estabelecimento do vínculo afetivo mãe-bebê, quando a mesma

apresenta depressão pós-parto.

O referido trabalho trouxe como problemática conhecer a relação entre a depressão

pós-parto, o estabelecimento do vínculo afetivo mãe-bebê e o desenvolvimento de crianças de

0 a 2 anos. Como objetivos específicos estabeleceram-se: (1) conhecer a depressão pós-parto,

suas características, etiologia, sinais, sintomas, diagnóstico diferencial e prognóstico; (2)

compreender a relação entre os diversos papéis assumidos pela mulher na contemporaneidade;

(3) investigar como se estabelece o vínculo afetivo entre a mãe e o bebê desde a gestação até

os 2 anos de vida da criança.

Esse tema é importante na medida em que mostra como a depressão pós-parto pode

impactar o desenvolvimento do vínculo afetivo entre a mãe e bebê, buscando compreender

esta interação quando a mãe se apresenta indisponível para prestar cuidados e afeto ao filho.

O vínculo afetivo é de importância vital para o bebê, pois dessa forma ele terá condições de se

desenvolver de forma segura e saudável.

No que se refere a dados, o DATASUS (2016) aponta que no Brasil, a cada quatro

mulheres, uma apresenta sintomas de depressão no período pós-parto e esse quadro pode se

manifestarem até 6 a 18 meses após o nascimento do bebê. A predominância do distúrbio no

Brasil foi mais alta que a apresentada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em países

de baixa renda, em que cerca de 19% das mulheres tinham algum transtorno mental, na sua

maioria depressão, em níveis mundiais a depressão pode afetar de 10 a 15% das mulheres.

Quanto ao papel do profissional de psicologia, ao lidar com mulheres com depressão pós-

parto, é o de trabalhar em conjunto com a equipe multiprofissional, ainda durante o pré-natal,

momento em que já é possível notar fatores de risco.

10

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 O PAPEL DA MULHER NA SOCIEDADE E A MATERNAGEM

Segundo Zanello (2016), na França no século XVII e parte do XVIII, era comum e

aceitável mulheres darem à luz aos bebês e os entregar no mesmo dia para amas de leite,

independente da classe social. As amas levavam as crianças em carroças cheias de recém-

nascidos, e como as crianças eram amontoadas, caiam ao longo do caminho e

consequentemente morriam. Por esse e outros motivos (como a falta de cuidado com os bebês

que sobreviviam) o número de mortalidade infantil era bastante alto na época, “de modo que

as mães desenvolviam uma frieza emocional a fim de não se apegarem a seus bebês e

sofrerem, caso o perdesse” (GUTIERREZ, 2011 S/P).

Isso era o normal dentro daquele momento histórico, naquela época ainda não havia o

chamado “sentimento de infância”, nem o sentimento materno, a família era uma instituição

social e moral, o valor sentimental da família não era levado em conta, não havia preocupação

com os laços afetivos, ou com a criação e educação das crianças. Por esses motivos as

mulheres não tinham receio de entregar os filhos à amas. Dentre as razões pelas quais as

mulheres optavam por entregar as crianças é que elas possuíam outros objetivos e prioridades

que nada tinha a ver com os cuidados a um bebê. As principais prioridades era a dedicação ao

marido e aos bens e interesses pessoais, e não a amamentação e os cuidados com a criança,

pois o marido possuía figura de autoridade, era o mantenedor da economia familiar, e dessa

forma, toda a atenção deveria ser dirigida a ele (BARBIERI, 2012). Algumas mulheres

preferiam não amamentar e cuidar das crianças, baseando-se nos seguintes motivos, segundo

Barbieri (2012):

(1) físico - dar de mamar faz mal à mulher já que o leite é algo precioso à sua

preservação e/ou por ter a saúde fraca (argumento também usado no contexto

brasileiro por Gilberto Freyre às mulheres brancas da casa grande); (2) estético -

deforma o peito e o faz ficar caído, perdendo assim sua beleza; (3) social e moral - o

ato de amamentar era pouco digno de uma dama, de uma mulher civilizada,

tornando-se assim, uma prática de distinção social; (4) pudor - mostrar o seio para

outras pessoas era um ato de desrespeito para a época, forçando a mulher ficar

reclusa durante cada amamentação, impedindo-a de um maior círculo social e (5) moda – principalmente no século XVIII era démodé a mulher ficar cuidando dos

filhos ao invés de participar e curtir a vida social e conjugal (BARBIERI, 2012,

S/P).

No século XVIII a sociedade considerava que a conduta da amamentação era uma

tarefa desagradável aos olhos de quem via, e principalmente aos homens que se queixavam e

11

consideravam o período de amamentação uma espécie de atentado ao exercício de sua

sexualidade/masculinidade, até mesmo uma forma de restrição de seu prazer. “Outros

demonstravam clara aversão pelas mulheres que amamentavam, com seu forte cheiro de leite

e seus seios que ressumavam sem cessar” (BANDITER, 1985, p. 96). E mesmo que o pai não

sentisse repulsa do bebê durante a amamentação, ele se sentia incomodado frequentemente,

pois os médicos e a classe moralistas daquela época proibiam a prática de relações sexuais

durante o período gestacional e de amamentação.

Médicos daquele período consideravam que o esperma estragava o leite materno e o

azedava, podendo colocar a vida do bebê em risco. O pai se sentia reduzido no que se diz

respeito ao prazer sexual. Boa parte dos homens, então, substituíam a esposa por outras

mulheres. Evidentemente as esposas não gostavam dessa situação. A estrutura familiar ficava

ameaçada devido a tais acontecimentos. Por tudo isso o bebê era um estorvo na vida dos pais,

um empecilho para a vida conjugal do casal. Ter que se ocupar de cuidados a uma criança

não era algo agradável, pois as mulheres queriam mesmo era continuar suas vidas sociais sem

que nada pudesse impedi-las.

Todas essas mulheres tinham a consciência bem tranquila, já que o meio em que

viviam admitia a necessidade da vida mundana quando se tem certa posição, e que os

próprios médicos reconheciam que tais obrigações são desculpas válidas para não

amamentar. Um médico, Moreau de Saint-Elier, afirmava em meados do século XVIII que o cuidado dos filhos "é um encargo constrangedor na sociedade".

(BANDITER, 1985, p. 98)

A isso pode-se acrescentar que nada era menos elegante, segundo o ideal mundano da

época, do que "parecer amar em demasia os filhos" e perder com eles seu precioso tempo

(BANDITER, 1985, p. 98). Ainda que a sociedade não se importava com o fato das mulheres

não se apropriarem da obrigação de cuidar dos filhos, elas, porém não tinham importância

nenhuma perante a sociedade. Desta forma, ainda durante os séculos XVII e XVIII, o governo

começa a pensar em tentativas de convencer essas mulheres a amamentar e a cuidar dos

filhos, pois se deram conta que futuramente precisariam dessas crianças para servir ao país.

Com a baixa de contingente de pessoas na Europa, em função das mortes provocadas

pela fome, doenças e guerra, bem como pelo alto índice de mortalidade infantil, os

governantes começaram a exaltar as mulheres para cuidarem de suas crias, pois a

elas caberia cuidarem do futuro do Estado. Discurso ideológico, mas altamente

sedutor: para quem não tinha direitos, a promessa de algum reconhecimento já

parecia grande coisa, (ZANELLO, 2016, p.105)

Juntamente com o passar das revoluções e início das guerras no antigo continente que

visava a busca de novas terras, o governo notou que necessitava das crianças vivas, pois

12

seriam o futuro da nação, e deu início a campanhas que tinham como meta o incentivo do

papel de maternidade na vida das mulheres, tendo como objetivo fazer com que

amamentassem e educassem os filhos. A tática usada pelo governo, “ao invés de vir pela

punição ou obrigação, veio pela sedução: elogios as “boas” mães. Além disso, havia promessa

de igualdade para elas (na divisão dos trabalhos, entre o âmbito público do homem e privado

das mulheres) e de felicidade na maternidade (ZANELLO, 2016). Dado esse interesse do

estado na disseminação de ideologias que exaltasse o papel da mulher, como mãe, cuidadora,

em um primeiro momento a ênfase foi o de convencer as mulheres a amamentar, pois elas não

amamentavam. Posteriormente a ênfase foi convencê-las a educar os filhos, e serem

responsáveis pelo caráter e modo de ser das crianças.

Por intermédio de recomendações de moralistas, e médicos da época, as mulheres que

eram mães iriam sendo incentivadas a amamentar os filhos, também foram motivadas a se

preocupar com a higiene e a saúde. A grande verdade é que as crianças passam a ter um valor

mercantilista, e começam a ser pensadas, como um meio de riqueza econômica e investimento

útil para a transferência do patrimônio do país, por isso o governo passa a preocupar- com a

perda das crianças (GUTIERREZ, 2011). O estado foi então dando lugar de reconhecimento

ao papel de mãe e cuidadora, e começa a fazer uma exaltação da mãe como provedora do

futuro da nação e dessa maneira, para quem nunca teve nada, no sentido de direitos e

reconhecimentos sociais, para as mulheres ter algum reconhecimento já era muita coisa, por

isso muitas mulheres começaram a se sentir confortáveis nesse novo papel (ZANELLO,

2016).

É nesse momento que a mulher passa a ser reconhecida como formadora de homens,

e torna-se público-alvo de livros de caráter pedagógico – manuais que ensinavam a

ser boa mãe e boa esposa. A entrada do discurso médico modificou as concepções

de leitura feminina – se até esse momento as mulheres liam romances ou receitas, o

lançamento de guias maternos incentivou a educação das mulheres (MATTOS,

2013, S/P).

''Para reforçar, o lugar da mulher, filósofos renomados, como Rousseau, passaram a

enaltecer a mulher-mãe. De Eva, perigosa e pecadora, a mulher passou a ser Virgem Maria,

mas só se fosse mãe” (LUNA, 2016, S/P). A maternidade foi glorificada e, agora, a mulher

não podia apenas gestar. Ela tinha que amamentar e educar. A mulher no século XVIII se

encontrava em um contexto de submissão ao homem, e passava a apropriar-se de um papel

idealizado, colocando-a como uma espécie de santa, livre dos pecados por conta da

dessexualização do sexo feminino, a autoridade do homem em seu papel de pai ia sendo

13

substituída pelo amor maternal, as mulheres iam então nesse período sendo incentivadas a

assumir todo o cuidado com a prole.

Porém, paralelamente a essas circunstâncias em que as mulheres se encontravam,

“vistas como homens menores, as mulheres não possuíam os mesmos direitos políticos que

eles. Nem as mesmas regalias e reconhecimento social” (ZANELLO, 2016), algumas delas

começaram a se conscientizar da situação de opressão em que se encontravam:

E começaram a buscar mais educação, formando grupos para discutir filosofia,

temas atuais e a condição de cada uma. Eram conhecidas como As Preciosas. No

seio desses grupos, nasceram mulheres que não queriam mais ter filhos, não queriam

continuar com o papel de dona de casa, reprodutora (LUNA, 2016, S/P).

E de certa forma essa conscientização por parte das mulheres foi tida como perigosa

para muitos homens, pois para eles o lugar de ocupação da mulher seria como dona de casa e

cuidadora dos filhos, que já eram considerados o futuro da nação.

A Igreja também teve bastante influência neste aspecto, contribuindo

significativamente com o imaginário social de divindade que é direcionado à mãe, como no

caso da associação à Virgem Maria.

Nesse momento, o controle sobre a mulher-mãe se altera e a defesa de pureza e

castidade começou a atuar na consciência coletiva de tudo que se relacionava à

maternidade e ao feminino. Nesse caso, todas as mulheres que pensavam em fugir

desse ideal puritano, acabavam sendo enquadradas como impuras e ligadas ao

pecado (CATTONY, 2016, S/P)

A igreja cumpria um papel na colonização e no povoamento, o que se vendia era a

ideia de que o matrimônio dentro da igreja protegia as mulheres, pois os homens eram

responsáveis por colonizar o país e deixavam as mulheres muitas vezes com a prole. Se essas

mulheres fossem casadas, a igreja defendia o direito de que os homens deveriam cuidar da

família (mandar dinheiro ou alguma forma com que elas pudessem se sustentar) e também

protegia da violência, pois violência dentro do matrimônio era visto com maus olhos pela

igreja. Dessa forma, essas ideologias se apresentavam como um meio de empoderamento para

as mulheres, porém um empoderamento colonizado. Criam-se então, diretos a partir de um

certo tipo de matrimônio e principalmente na exaltação da maternidade.

Com o passar dos anos (e dos séculos) as mulheres começaram a se inserir no mercado

de trabalho, buscando novas formas de realização pessoal, como a carreira profissional e os

estudos, dessa forma para muitas a maternidade se tornou algo distante ou um simples não

14

querer. Hoje a satisfação feminina está além da maternidade. As mulheres contemporâneas

podem decidir se querem ou não casar, possuem também maior liberdade de viver sua

sexualidade sem necessariamente estar em um matrimônio. Outro fator importante se refere

aos contraceptivos, que possibilitam a mulher a escolha de ter ou não ter, ou de quando ter um

filho. Foram descobrindo contentamento muito além das dedicações domésticas e familiares.

Mesmo que hoje as mulheres tenham mais liberdade de escolha se comparado há tempos

passados, ainda assim há sempre dilemas sociais em relações aos novos papéis que vêm sendo

assumido por elas (FARIA, 2012).

A Maternidade na contemporaneidade compõe-se de grandes polêmicas e posições

contrastantes, embora ofereça condições que amparam a mãe nos cuidados com o

bebê o que implica na facilidade, pelo menos aparente, de desenvolver a função

materna, as condições de vida na atualidade tendem a colocar em choque a visão

tradicional, do que se espera da atividade materna, com as condições atuais da

mulher na sociedade e na família (FARIA, 2012, p. 7)

Assim, pode-se perceber que vários são os caminhos e dilemas vivenciados pelas

mulheres contemporâneas, (além dos maternais), como as chances de conquistas profissionais,

porém como citado, as novas esferas e lugares que as mulheres vêm conquistando e sendo

inseridas, por vezes entram em choque/contrastam, e convergem com valores antigos. Bussab

(2002) faz uma referência a Hrdy (2001) e questiona de que forma criar filhos saudáveis (em

referência às mulheres que desejam ter filhos) emocionalmente e ao mesmo tempo obter

carreiras e vidas brilhantes. Busnel (2002) relata que não é à toa que as mães que optam por

trabalhar sintam um conflito muito maior do que as mães que não possuem escolha.

2.1.1 Maternagem X Maternidade

Tradicionalmente, a maternidade é representada pelos laços sanguíneos entre a criança

e a mãe, já a maternagem é caracterizada pelo vínculo afetivo e os cuidados que são

desenvolvidos da mãe para o bebê, sendo, portanto, conceitos diferentes. A maternidade

corresponde a fatores biológicos e a maternagem não tem como base preceitos biológicos, e

nem mesmo fatores ligados a gênero. Ela é amplamente baseada e fundamentada no afeto, no

vínculo e no cuidado à criança. Enquanto a maternidade é uma circunstância física, a

maternagem é atribuída como uma escolha, mesmo que posteriormente à gestação. Palombo

(2011) afirma que:

15

O conceito de amor materno foi assimilado de forma contundente, e por muito

tempo não questionável como se fosse uma situação “sine qua non”: mulher =

maternar. Afirmava-se que a necessidade de maternagem é uma característica

universal feminina, fazendo-a parecer um dom, um sentimento instintivo e

estritamente biológico que todas as mulheres vivenciaram independentemente da

cultura ou da condição socioeconômica: pré-concebido, pré-formado, esperava-se

apenas a ocasião para exercê-lo, sofrendo-se quando a oportunidade tardava

(TOURINHO, S/D, p.8)

Dessa forma, somente os fatores biológicos eram considerados aceitáveis, excluindo

outros fatores, como os psicológicos e culturais. Porém, algumas dúvidas ficaram, como por

exemplo o fato de algumas mulheres possuírem tais desejos maternos e outras não. E, como

citado nesse capítulo, no final do século XVIII, uma família considerada "boa" era respaldada

no amor, havendo então uma glorificação do amor materno, sendo chamado até mesmo de

instinto materno e amor incondicional. A definição de amor maternal passou a contextualizar

a família em torno dos filhos e a principal figura de cuidados de afeto era a mãe.

(TOURINHO, S/D). A mãe era encarregada de tudo, de todas as responsabilidades domésticas

e pela educação dos filhos. Essas tradições, no que se referem aos cuidados maternos ligados

somente a mãe, foram se estendendo, levando até mesmo a uma severa divisão de gênero,

resumindo as mulheres aos cuidados domésticos.

Enquanto a mãe apresentava uma figura afetiva, cabia ao pai uma figura mais

autoritária. Desta forma, pode-se notar que ao longo dos séculos os papéis assumidos pelas

mulheres se respaldaram na obrigação de ter e cuidar dos filhos. A romanização da

maternidade, atrelada a fatores inatos, foi sendo disseminada por gerações, como a ideia de

que uma "boa mãe" é aquela que abre mão de tudo para se dedicar somente aos filhos. Todo

esse discurso traz consequência para as mulheres até os dias atuais. No entanto, ainda como

defende Tourinho, é fundamental desconsiderar que a maternidade é superior a paternidade e

para isso é necessário desmitificar o amor materno como sendo algo inato. E entender também

que a interação da criança com o pai é fundamental e deve ser desenvolvida. É necessário

atribuir ambos (as interações) como de qualidades iguais, porém isso não quer dizer que não

existem diferenças entre o estabelecimento das funções tanto maternas quanto paternas, pois

ambos possuem suas singularidades.

2.2 DESENVOLVIMENTO INFANTIL DA CONCEPÇÃO AOS 2 ANOS

Segundo Papalia e Feldman (2013), o desenvolvimento humano acontece mediante

três etapas chamadas: germinal, embrionário e fetal, e ao longo dessas etapas da gestação, o

16

zigoto vai se desenvolvendo, se modificando, até se transformar em um embrião e

posteriormente em feto. Em se tratando dessas fases, a primeira delas, chamada de período

germinal, se refere às duas primeiras semanas da gestação, nesse período ocorre a divisão

celular e o desenvolvimento do blastócito, que se fixa no útero. Ainda segundo Papalia e

Feldman (2013), ao longo do período germinal, ocorre a divisão do zigoto, no período/tempo

de 36 horas depois o período de fecundação, se encontrando em uma circunstância de divisão

celular rápida. Em 72 horas após a fecundação, o zigoto já se dividiu em 16 células, e em

seguida em 32 células. Em um dia após a fecundação já são 64 células.

O óvulo fecundado demora 4 dias até chegar ao útero (enquanto isso percorre a tuba

uterina). Com a divisão do óvulo, ele se torna mais delicado e complexo e se fixa à parede do

útero. O período embrionário compreende a fase que se inicia na segunda e se estende até a

oitava semana de gestação. É descrita como um período em que os principais órgãos,

sistemas, músculos e nervos do corpo se desenvolvem rapidamente (MATOS, 2009). O

embrião mede por volta de 5 centímetros, e já é possível notar olhos, orelhas, boca, nariz,

coração, pernas, mãos. Já o período fetal se refere a oitava semana de gestação até o

nascimento do bebê. Pode ser identificada como uma fase em que o corpo aumenta de

tamanho. "bem como dos detalhes das diferentes partes que o constituem, ou seja, constitui

uma fase de aperfeiçoamento dos sistemas básicos já existentes" (MATOS, 2009, p. 5). É

também a última fase do período gestacional e é considerada o ponto divisório entre “a

sobrevivência e a não sobrevivência; os sistemas nervoso, circulatório e respiratório estão

todos suficientemente desenvolvidos para suportar a vida” (BEE, 1987, p.169).

Com o nascimento da criança, Papalia e Feldman (2013) apontam que os recém-

nascidos possuem certas características, como a pele mais fina. Os meninos tendem a ser

maiores que as meninas, e até mesmo mais pesados. Os recém-nascidos ainda em seus

primeiros dias de vida chegam a perder cerca de 10% do seu peso, passando a recuperá-los

por volta da segunda semana de vida. Após o nascimento, o bebê começa o processo de

contato e de vínculo com a mãe, "por isso a importância de já nos primeiros minutos de vida

haver o contato pelo colo materno" (TORRES, 2014, p.2). O estabelecimento do laço afetivo

entre mãe-bebê é o que aproxima/une os dois. E esse vínculo vai se dar por meio do contato,

da proximidade, da voz, dos cuidados, da atenção, do afeto, entre outros. Posteriormente ao

nascimento, os bebês já demonstram certas habilidades, para que possa interagir com o

ambiente a sua volta. Já acompanham estímulos (como objetos) colocados perto de si.

Entrando no segundo mês de vida já é possível que estique as pernas, façam movimentos com

17

a cabeça (movimentando para um lado e para o outro), já sendo capazes de fazer movimentos

de acordo com a voz que o acompanha (TORRES, 2014)

Falando sobre desenvolvimento psicossocial infantil, vários são os teóricos que

discorrem sobre esse tema, entre eles Vygotsky e Piaget. Para Vygotsky, o desenvolvimento

infantil se dá através da interação da criança com o meio, ela primeiramente aprende para

posteriormente se desenvolver. “deste modo, o desenvolvimento de um ser humano se dá pela

aquisição/aprendizagem de tudo aquilo que o ser humano construiu socialmente ao longo da

história da humanidade” (DUARTE, S/D, p. 293).

Segundo Vygotsky, os bebês nascem com poucas habilidades mentais (como a

percepção e a memória) e com o passar do tempo essas habilidades vão se desenvolvendo, e

sendo transformadas pela cultura e pelo ambiente, em que a criança está inserida. E as

habilidades mentais vão se tornando mais sofisticadas. A memória possui contribuição

bastante considerável no que se refere ao processo de aprendizagem da criança. Pois quando

há algum tipo de imperfeição nessa área o processo de desenvolvimento é afetado (RIBEIRO,

2014). Assim como a memória, pensamento e linguagem também são desenvolvidos mediante

o meio social ao qual pertence a criança “na primeira infância a criança deve explorar todos

os seus sentidos e, cabe ao adulto que estimule todos eles, o adulto deve apresentar a criança

todas as formas de sentir o mundo” (DUARTE, S/D, p.302). Possibilitando dessa forma o

desenvolvimento das funções mentais citadas, pois o meio social vai moldando e

transformando os comportamentos da criança, assim como os processos de aprendizagem.

Um fator importante na teoria de Vygotsky é a zona de desenvolvimento proximal,

Segundo Rabello (2005) a interação desenvolvimento/aprendizagem está ligada, no sentido de

que os indivíduos vivem em sociedade. Ou seja, para Vygotsky esse processo de

desenvolvimento se dá através do convívio social, pelo estabelecimento da socialização. Para

Vygotsky a criança pode ter toda estrutura biológica, todas as funções funcionando bem,

porém, se ela não estiver inserida em um ambiente com pessoas que a estimule,

proporcionando aprendizagem, não se pode esperar que a criança se desenvolva (como o

esperado) com o passar do tempo, pois ela não possui por conta própria recursos para

percorrer o processo de desenvolvimento/aprendizagem. Dessa forma entende-se que o

processo de estabelecimento de aprendizagem, acontece por intermédio das experiências e

vivências a que a criança teve acesso.

Já para Piaget o desenvolvimento se dá a partir da junção desenvolvimento biológico e

interação da criança com seu meio. A interação da criança com o meio deve ocorrer de

maneira ativa, porém “o caráter biológico e o maturacional são relevantes na teoria de Piaget,

18

ou seja, desenvolvimento é a base e suporte para que o processo de aprendizagem ocorra”

(RIBEIRO, 2014, 395). Diferente de Vygotsky, que argumenta que a aprendizagem é o que

leva ao desenvolvimento da criança, Piaget afirma que é a aprendizagem quem “empurra”

para desenvolvimento. Sua teoria é considerada maturacionista, pois também leva em consideração

o desenvolvimento das funções biológicas que atua como alicerce para os avanços da aprendizagem

“(RABELLO, 2005, P.4). Desta forma para Piaget a aprendizagem ocorre a partir das trocas

entre as funções biológicas e o meio ao qual a criança está inserida. As vivências contribuem

com a construção da capacidade de conhecimento da criança. “Produzem estruturas mentais

que, sendo orgânicas não estão, entretanto, programadas no genoma, mas aparecem como

resultado das solicitações do meio ao organismo” (CAVICCHIA, 2018)

Segundo Piaget o desenvolvimento cognitivo da criança acontece por intermédio de

estágios/fases sendo elas: sensório motor, pré-operatório, operatório concreto e formal. Como

este capítulo trata-se do período que abrange o nascimento, até os dois anos de vida da criança

e o estágio que corresponde a tal período é o sensório motor, com início no nascimento e

estendendo-se até os 24 meses de vida da criança. Ao longo dessa desse estágio a criança vai

desenvolvendo uma inteligência mais prática, que ocorre com base nas percepções e nas

ações/movimentos, com uma coordenação chamada sensório motora. Havendo expressões

específicas dessa etapa que podem ser divididas em movimentos circulares, primárias,

secundárias e terciárias.

Reações circulares primárias são os reflexos e hábitos que marcam os primeiros dias

de vida do bebê, que com o tempo (3 a 6 meses) vão se transformando em ações

inteligentes e práticas. Na próxima fase ocorrem as reações circulares secundárias,

onde as ações do bebê ainda estão marcadas por hábitos básicos, mas já é perceptível o surgimento da intencionalidade em torno de um objetivo, com a intenção de

mantê-lo, visto que já ocorre a assimilação dos objetos e consequentemente a

construção de esquemas de ação por parte do bebê (FERRARI, 2014, p. 170)

Já dos 10 aos 24 meses de vida da criança nota-se a chegada das reações circulares

terciárias, na qual as expressões que a criança reproduz, ocorrem de forma intencional, ela

então observa as ações a sua volta e repete tais comportamentos, por vezes de maneira

variada, a criança utiliza esquemas já habituais para ela, e mais complexos dentre as situações,

com intenção de obter novos resultados, sempre que desejar. Ainda não há o uso concreto ou

exato do pensamento. E esse tipo de inteligência determina certas ações, como pegar objetos

distantes ou ocultos. Para Piaget o desenvolvimento motor é a primeira inteligência na criança

e pela qual ela vai descobrindo e sentindo o mundo a sua volta. (FERRARI, 2014)

19

A criança nasce com uma série de características que são inerentes à espécie. Porém as

diversas aptidões que acompanha os recém-nascidos vão se desenvolvendo, como já citado

mediante o contato da criança com as relações sociais. Que vão dando lugar a novas e maiores

conquistas no que se refere a aprendizagem infantil. Uma dessas características é o

pensamento, que segundo Helen Bee ocorre de tal forma:

Os objetos e eventos são, de algum modo, representados mentalmente. Você tem

uma palavra para um objeto e uma imagem mental do objeto e você pode usar a

palavra e a imagem de diversas formas. Você pode se lembrar do objeto, compará-lo mentalmente com outros objetos, ou imaginar como ele é tudo isso em sua cabeça.

Durante o período sensório-motor, o bebê apenas começa a fazer estas coisas, e

ainda de uma forma muito primitiva (BEE, 2011, p. 144)

Desta forma os primeiros meses de vida das crianças, mais especificamente os 18

primeiros meses, eles tomam para si algumas representações internas básicas, como por

exemplo a permanência das coisas ao seu redor (objetos). Esse período que abrange os

primeiros 18 meses, os bebês ainda não possuem habilidades de manipulação das

imagens/representações de forma interna, para exercitá-las mentalmente, como realmente são

e explorá-las em combinações novas.

A maneira predominante de representar os objetos não se dá por meio de imagens

internas, mas sim por meio de ações que a criança possa desenvolver com elas (as ações). Por

exemplo, uma bola é representada pela sensação de tocar, agarrar, sentir a textura, direcioná-

la até a boca, observar a cor, etc. No período sensório motor o bebê vai adquirindo e tomando

para si as imagens dos objetos, e quando passa a ter as palavras acessíveis que possam já ser

utilizadas como rótulos para os objetos, elas atribuem uma maneira nova de representação

para as crianças.

20

Quadro 1: Subestágios da fase Sensório-Motor:

1ª subestágio: Exercício dos Reflexos.

0 a 1 ½ mês

Do nascimento até por volta de 1 mês e meio de vida. Os

comportamentos reflexos inatos quando praticados vão

sendo modelados e os recém-nascidos aprendem a

coordená-los. Durante os primeiros meses de vida os

bebês ainda não conseguem compreender a permanência

das coisas ao seu redor. Ou seja, não conseguem assimilar

que os objetos mesmo não estando diante de seus olhos,

existem da mesma forma (MENESES, 2012)

2º subestágio: Corresponde as primeiras

Adaptações que são adquiridas, assim

como a Reação circular primária.

1 ½ mês a 4 meses

A partir do contato do bebê com o meio, os

comportamentos reflexos vão apresentando alguns

desajustes e isso requer transformações. Esses desajustes

são referentes às resistências apresentadas quando o bebê

assimila objetos juntamente com o conjunto de suas

ações. Os desajustes vão sendo balanceados pela

acomodação. Por intermédio da assimilação e

acomodação, os comportamentos reflexos sofrem

mudanças e geram esquemas novos para que o bebê possa

se adaptar às mais variadas situações. O bebê começa a

levar tudo que vê até a boca, explora o mundo a sua volta

(CAVICCHIA, S/D). As ações que geram satisfação para

o bebê fazem com que o mesmo a repita, sempre que

quiser. Chama-se isso: reação circular primária. O corpo

do bebê é seu meio de manipulação, como

comportamentos de sugar e prestar atenção aos sons.

3º subestágio: Trata-se das adaptações

sensório-motoras intencionais, assim como

as reações circulares secundárias.

4 a 8 meses

Nesse estágio as reações circulares começam a ser

secundárias. Os bebês passam a direcionar sua atenção

aos eventos externos, no que se refere aos objetos e

desempenho de suas ações. Nas reações circulares

primárias a atenção e a forma de sentir o mundo era o

próprio corpo. Nas reações circulares secundárias o bebê

passa processualmente a direcionar esse comportamento

aos objetos externos. Esses comportamentos dão ênfase

para a mudança entre esquemas reflexos, para ações

inteligentes. Se anteriormente o bebê tateava, ou apenas

visualizar os objetos, agora ele pode balançar, sacudir,

etc. Se anteriormente o conceito de permanência não

existia agora essa permanência é mais longa a partir do

contato e das ações do bebê com o objeto, porém tal

objeto somente existe a partir da ação do bebê com o

mesmo.

21

4º subestágio: Coordenação dos esquemas

secundários e aplicação às situações novas.

8 a 12 meses

Nesse estágio os bebês começam a atribuir maior atenção

às suas ações, ou seja, eles já possuem um maior controle

sobre seus atos, são capazes de coordenar esquemas para

fins de obter o que desejam. A noção de permanência é

cada vez melhor desenvolvida, no sentido que os bebês já

conseguem ir atrás de objetos não visíveis para eles.

Passam a ampliar seus movimentos, tendo habilidade de

apanhar objetos de tamanhos minúsculos, podendo

inclusive ser capaz de apanhar um grão de feijão através

da movimentação da pinça, ou seja, dedo indicador e

polegar.

5º subestágio: Reação circular terciária e

descoberta dos meios novos por

experimentação ativa

12 a 18 meses

Corresponde a reação circular terciária, nesse estágio a

criança sonda os objetos desconhecidos de várias formas

como: pegar, balançar, repetir esquemas. A criança

experimenta e vai atrás de novidades. A criança percebe

por meio de suas ações que pode trazer para perto de si

objetos que estão distantes, e puxa-o para perto de si.

Começa a ter noções espaciais, a criança já consegue

obter interesse não somente em suas ações, mas

fundamentalmente no objeto em si. Nesse estágio a

criança dá início ao pensamento simbólico, ou seja, já

consegue obter e representar imagens mentais.

6º subestágio: Reação circular terciária e

descoberta dos meios novos por

experimentação ativa

18 a 24 meses

No último subestágio ocorre uma mudança da inteligência

sensório-motora para a inteligência representativa, a

criança já consegue entender o mundo ao seu redor de

maneira simbólica. Consegue retratar suas vivências

externas em sua mente, por meio de memórias e imagens,

já consegue representá-las e combiná-las sem o amparo de

ações externas. Durante brincadeiras, consegue fingir ou

fazer de conta (CAVACCHIA, S/D).

Portanto, como pode ser percebido no Quadro 1, os subestágios do período sensório

motor proposto por Piaget são o princípio da estruturação do intelecto das crianças, que vai

então se ajustando ao meio, através de suas ações, com base nas interações que vão criando

com as pessoas ao seu redor, fazendo uso das sensações e ações. Pode -se perceber também

que as ações da criança com seu meio são muito importantes para seu desenvolvimento

cognitivo. E as ações e movimentos da criança darão sustento às relações com os demais. O

contexto das habilidades motoras, assim como seu convívio social e habilidades cognitivas

possibilita que a criança possa explorar o mundo a sua volta de uma forma organizada

(RODRIGUES, 2009)

22

2.3 TEORIA DO APEGO

Segundo Gomes (2011), a teoria do apego surgiu em meados do século XX, sendo

desenvolvida por John Bowlby (psicólogo, psiquiatra e psicanalista britânico), e tendo

participação de Mary Ainsworth. Porém, o principal fundador da teoria foi Bowlby, devido

seus estudos terem trazido inovações para a época, e terem sido construídos com bases

científicas. Bowlby buscava entender como se dava o vínculo entre a mãe e a criança e os

impactos da quebra desse vínculo em seu desenvolvimento futuro. Segundo ele, os recém-

nascidos possuíam uma tendência inata a desenvolver laços afetivos com seus cuidadores, até

mesmo para sua sobrevivência. Durante a segunda guerra mundial Bowlby foi escolhido,

segundo Ramires (2010) pela OMS, para atuar na área de saúde mental, pois houve um grande

interesse nessa época, devido às consequências da guerra em investigar como se encontrava a

saúde mental das crianças. Seus estudos e pesquisas, envolviam as necessidades das crianças

que não tinham lar. E inicia, uma série de estudos que tinha como meta identificar como se

encontrava a saúde mental dessas crianças. Ele possuía interesse em entender como se

desenvolvia o apego, e se dispôs a investigar tais circunstâncias. Um estudo que o influenciou

bastante foram as pesquisas de Konrad Zacharias Lorenz (zoólogo austríaco) com aves, pois

Lorenz notou que elas partiam de um processo no qual aprendiam a reconhecer características

especiais de um dos cuidadores (geralmente a mãe) e criava um vínculo com ela.

Animais como os gansos recém-nascidos apresentavam o comportamento de seguir a

mãe e desenvolviam uma certa ansiedade quando estavam longe dela. As pesquisas dele

foram de suma importância durante a década de 30, chegando a receber o prêmio Nobel de

Medicina e Fisiologia tempos depois (no ano de 1973). Dessa forma, suas pesquisas

influenciaram e instigaram outros pesquisadores a se questionar, se em seres humanos

também acontecia esse tipo de comportamento (vínculo com o cuidador). Um desses

estudiosos foi Bowlby, que então começa a desenvolver sua teoria, sendo o grande pioneiro

nas pesquisas e estudos com seres humanos.

Bowlby (1989), acreditava que existia um laço de proximidade entre o bebê e o

cuidador, e que este não dependia da alimentação e dos instintos (como sustentava outras

teorias da época) e isso foi dando base para a construção de sua teoria (SILVA, 2017). Como

dito acima, sua teoria tinha como objetivo explicar como se dava o vínculo afetivo (e quais os

impactos da falta dele) entre bebê e cuidador, e os resultados obtidos foram na contramão do

que a psicanálise e o cognitivismo diziam na época, pois acreditava-se que as crianças

desenvolviam vínculo afetivo com a figura materna por intermédio da alimentação.

23

Segundo Bowlby (1989), ainda no século passado acreditava-se que o

desenvolvimento dos vínculos e do apego, se dava através do suprimento das necessidades,

como a alimentação, e por intermédio disso o bebê criava um vínculo com a mãe. O alimento

era considerado como sendo um impulso primário. Já os vínculos de apego eram tidos como

secundários. Porém, Bowlby não concordava com tal forma de pensar e até citou um exemplo

no qual dizia que se o apego se desenvolvesse somente por intermédio da alimentação,

qualquer pessoa que alimentasse a criança (de 1 ou 2 anos) seria capaz de fazer com que a

criança desenvolvesse um vínculo com ela. Naquela época, uma versão bastante conhecida

era a de Melanie Klein, na qual dizia que o seio da mãe é o primeiro e principal objeto de

contato da criança e fonte de alimento e sustento, por isso se defendia tanto que o

estabelecimento do apego se dava somente devido o alimento que vinha do seio materno.

Porém, para Bowlby essa teoria não era compatível com a sua vivência, com crianças.

Dalbem (2005) argumenta queele (Bowlby), procurou base científica para sustentar a sua

teoria e fugir de teorias simplistas e reducionistas da época. Sua teoria dava ênfase na

adaptação (ao mundo concreto e real) da criança na primeira infância, assim como as

habilidades dos seres humanos e o seu movimento em relação ao ambiente do qual está

inserido. Como foi citado anteriormente, Mary Ainsworth também contribuiu com a teoria

através de estudos, acerca do desenvolvimento do apego, e tratou de identificar as

determinações do vínculo entre as mães e os bebês. Ainsworth participou de um estudo na

Uganda sobre o desenvolvimento psicossocial e emocional ainda na primeira infância,

notando que o apego se dá ainda nas primeiras interações do bebê com uma figura provedora

de cuidado, e como os cuidadores se relacionam com o bebê (como é estabelecido o cuidado

com o bebê, no que se refere aos cuidados físicos, assim como também o afeto). Ela é tida

como coautora da teoria, pelo fato de ter contribuído com sua pesquisa. “E pelo

desenvolvimento de um método para avaliação dos tipos de vinculação - a Situação Estranha”

(SILVA, 2014, p.8).

Conforme Bowlby o apego se dá através de quatro fases sendo elas:

O pré apego (do nascimento até os 2 meses)

O bebê recém-nascido Segundo Silva (2014) interage com seu meio através do riso, do

choro, para assim poder chamar a atenção dos cuidadores. Essas ações do bebê se direcionam

a qualquer indivíduo que esteja perto. Quanto mais o cuidador (no caso a mãe) retribui aos

comportamentos do bebê (chorar, sorrir) mas ele se envolve e interage, com o cuidador em

questão. Um fator importante é a qualidade da interação cuidador - bebê, pois a qualidade do

vínculo influenciará o processo de desenvolvimento da criança.

24

Desenvolvimento do apego (dos 2 aos 6 meses)

O bebê, já se encontra em processo de desenvolvimento da visão, da audição, e

começa a diferenciar os adultos, respondem melhor aos estímulos da mãe (ou ao cuidador em

questão) “começar a direcionar de maneira um tanto mais ampla seus comportamentos de

apego. Ele pode sorrir mais para as pessoas que costumam cuidá-lo, podendo não sorrir de

imediato para um estranho” (BEE, P.169). Embora esteja mais amplo o comportamento de

apego do bebê, ele (o apego) ainda não está completamente desenvolvido.

Apego propriamente dito (dos 6 meses a 1 ano)

O bebê já interage com o meio de forma mais ativa, no sentido de buscar cada vez

mais contato com os cuidadores, isso se dá também pelo fato de que nessa fase já conseguem

se locomover. "começam a conseguir movimentar - se de maneira mais livre, arrastando - se e

engatilhando, eles são capazes de movimentar-se na direção dos promotores de cuidado, bem

como de instigar o provedor de cuidados a ir até eles"(BEE, P.169). Já pode enxergar no

cuidador uma base segura para que possa descobrir o ambiente.

Apego mútuo (a partir dos 2 anos)

A criança já enxerga o cuidador como alguém independente, isso em decorrência da

redução de seu "egocentrismo". Nessa fase a criança já tem consciência dos planos e vontades

de seus cuidadores e dessa forma pode tentar influenciá-los (ao querer algo a criança pode

implorar, subornar o adulto para obter o que quer ao invés de somente chorar como fazia em

outras fases).

M. Ainsworth (2018) contribuiu com os estudos de Bowlby e estabeleceu seus padrões

de apego através do experimento chamado situação estranha, na qual as ações das crianças no

contato com o cuidador e em uma situação em que eram separados foram analisadas. Esse

estudo deu base e identificou certas características e padrões de apego, entre o provedor de

cuidados e a criança. Os padrões foram chamados de seguro, ambivalente ou resistente e

evitativo. Ainsworth, com base nesses estudos de observações em laboratórios, identificou

dois importantes tipos de apego, os inseguros e os seguros. Os estudos dela puderam

demonstrar que crianças com apego seguro aparentavam confiança ao explorar o ambiente em

que se encontravam e utilizavam seus cuidadores como base para explorá-lo. Já as crianças

tidas como sendo inseguras, possuíam uma capacidade inferior de explorar o ambiente (se

comparadas às crianças com padrão de apego seguro), apresentavam também mínima ou forte

relação com seus cuidadores (DALDEM, 2005).

25

Ainsworth considera que quando a criança desenvolve uma base segura com seu

cuidador, ela consegue explorar o mundo a sua volta com entusiasmo e motivação, quando se

sentem ameaçadas, com medo, se mostram confiantes que terão o cuidado de seus provedores.

Crianças seguras podem até se irritar ou se inquietar com a ausência dos pais (ou cuidadores),

porém de forma amena, não exagerada como pode ocorrer com crianças inseguras. Para que

as crianças possam desenvolver essa base segura é preciso que os cuidadores possam agir de

forma cooperativa, dando instruções e monitorando as crianças, ao mesmo tempo em que

também possa encorajá-las a serem independentes (RIBAS, 2004).

Já nos outros padrões de apego, como o resistente ou ambivalente, a criança reage

anteriormente a separação dos cuidadores, comportando-se de forma mais imatura (se

comparado a sua idade), assim como seu interesse em explorar o ambiente é ameno, sempre

direcionando sua atenção aos cuidadores, e quase sempre de forma preocupada. Quando

ocorre a separação, tende a se sentir desconfortável e retraído em relação às pessoas

desconhecidas. Quando volta a ter contato com os cuidadores, não se aproxima imediatamente

e reveza a forma de agir entre a busca pelo contato/proximidade e o sentimento de raiva.

Ainsworth argumenta que isso se dá devido a determinadas situações em que a criança

pode ter recebido cuidados de acordo com suas demandas e necessidades, e não ter recebido

em outras (cuidador não disponível). Dessa forma, situações assim podem gerar uma falta de

confiança da criança em relação ao cuidador (BALDEM, 2005).

Já crianças que se enquadram em um padrão evitativo tendem a brincar de uma

maneira mais branda/tranquila, durante as brincadeiras, comunicam-se menos com os

cuidadores, são menos inibidas e retraídas com pessoas desconhecidas, podendo até mesmo

brincar e dar atenção a essas pessoas, e isso pode ocorrer sem a presença dos cuidadores.

Quando os cuidadores estão presentes elas continuam afastadas, não precisam

necessariamente procurá-los para conseguir conforto. Ainsworth relatou que são crianças que

buscam menos o seu cuidador, e a proteção que esse lhe passa, quando vivenciam situações

estressantes, entre outros fatores como desprezo e abandono.

Já o padrão desorganizado é caracterizado por crianças que por vezes tiveram

vivências desfavoráveis para que pudessem melhor se desenvolverem. Por vezes podem ter

experienciado situações complexas e não tiveram recursos para buscar estratégias para

resolver tais experiências. O padrão desorganizado está intimamente ligado à situações em

que a criança sofreu maus tratos, negligência e descuido. Para Bowlby (1989), o apego seria a

motivação para a busca e interação com o cuidador.

26

Cabe ressaltar que tanto o vínculo afetivo como o apego são estados internos. Os

comportamentos de apego, por sua vez, são observáveis e organizados nas

interações das crianças com seus cuidadores, permitindo que a criança consiga ter e

manter a proximidade. Tais comportamentos podem ser muito variados, sendo

alguns dos mais comuns chorar, chamar, balbuciar, sorrir e agarrar-se (RIBAS,

2004, p. 316).

Desta maneira, a criança começa a se desenvolver e assim obter representações

mentais que Bowlby denomina modelo interno de funcionamento, e que dá base às

simbolizações de experiências da criança, como suas percepções em relação ao ambiente,

percepção de si mesmo, assim como dos provedores de cuidado. As primeiras interações e

vínculos, entre cuidador e criança posteriormente se tornará uma generalização de

expectativas da mesma, tanto no que se refere a sua percepção dos outros, quanto de si

próprio. São as configurações do estágio sensório motor (as experiências) de base segura,

tidas na infância que resultarão em representações mentais, por intermédio de um sistema em

que a criança vai moldando e construindo representações mais complexas (H. WATERS, C.

HAMILTON& N. WEINFIELD 2000 apud BALDEM 2005).

2.4 CARACTERÍSTICAS DA DEPRESSÃO PÓS-PARTO E FATORES ASSOCIADOS À

SUA OCORRÊNCIA

Segundo o DSM 5 (2013) episódios de humor, como a depressão podem surgir ao

longo da gestação ou no pós-parto. Mesmo as estimativas sendo diferentes segundo o período

de acompanhamento do pós-parto, 3 a 6% das mulheres vão apresentar quadro depressivo

maior ao longo da gestação, ou em semanas e até meses após o parto. E cerca de 50% desses

quadros depressivos maiores no pós-parto, iniciam-se na verdade anteriormente ao

nascimento. Desta forma, os quadros depressivos levam o nome de episódios do Peri parto.

As mulheres que apresentam depressão maior no período Peri parto desenvolvem

frequentemente ansiedade grave e até mesmo ataques de pânico. Segundo o DSM 5(2013),

estudos vêm apresentado que os sintomas como o de ansiedade e humor ao longo do período

gestacional, assim como o baby blues1, podem aumentar consideravelmente as chances de a

mulher desenvolver depressão maior no pós-parto.

Para o DSM 5 (2013), a característica mais comum identificada no transtorno

depressivo é o aparecimento de humor triste, vazio ou irritável, juntamente com a presença de

mudanças psicossomáticas e cognitivas, que interferem na possibilidade de funcionamento da

1Baby Blues ou melancolia do pós-parto é a forma mais branda da depressão pós-parto (CAMPOS,2012)

27

pessoa. Quando há persistência e intensificação dos sintomas (em pelo menos 2 semanas,

com, no mínimo, cinco dos seguintes sintomas), a mulher pode estar apresentando depressão:

1.Humor deprimido na maior parte do dia, quase todos os dias, 2 Acentuada

diminuição do interesse ou prazer em todas ou quase todas as atividades na maior

parte do dia, quase todos os dias. 3. Perda ou ganho significativo de peso sem estar

fazendo dieta, ou redução ou aumento do apetite quase todos os dias. 4. Insônia ou

hipersônica quase todos os dias. 5. Agitação ou retardo psicomotor quase todos os

dias. 6. Fadiga ou perda de energia quase todos os dias. 7. Sentimentos de

inutilidade ou culpa excessiva ou inapropriada quase todos os dias. 8. Capacidade

diminuída para pensar ou se concentrar, ou indecisão, quase todos os dias 9.

Pensamentos recorrentes de morte (não somente medo de morrer), ideação suicida

recorrente sem um plano específico, uma tentativa de suicídio ou plano específico

para cometer suicídio. (DSM 5, 2013)

Dessa forma, pode-se notar que as características dos sintomas encontrados na

depressão pós-parto envolvem humor inconstante, tristeza, emocional instável, sentimentos de

irritabilidade, choro, cansaço. Assim, é possível entender as complexidades de se desenvolver

vínculo afetivo da mãe com o bebê (BORSA, 2007).

Pode-se enfatizar, que não há um denominador comum acerca do diagnóstico da

depressão pós-parto, assim como o tempo de sua ocorrência. Quanto aos

materiais/instrumentos Usados para que se possa obter o diagnóstico da depressão pós-parto,

um deles é a Escala de Depressão Pós-Parto de Edimburgo- EPDS (CAMPOS, 2012). Os

objetivos dessa escala de avaliação é investigar a presença de sintomas depressivos após o

parto, é de fácil manejo, e pode ser aplicado por profissionais da área da saúde.

É uma ferramenta de auto registro. Contém 10 elementos que são pontuados de 0 a 3,

e podem mudar dependendo da presença e do vigor dos sintomas “e a mãe assinala as

respostas que melhor descrevem o modo como tem se sentido na última semana. Seus itens

incluem a investigações dos sintomas já listados como diagnósticos nos manuais de saúde

mental” (CAMPOS, 2015, p.20). A escala abrange sintomas relacionados a tristeza,

desvalorização de si mesmo, sentimento de culpa, ideação suicida, falta de prazer em coisas

que antes eram prazerosas, fadiga, insônia e choro frequente. O resultado dos pontos pode

chegar até 30, sendo considerado estado depressivo valores iguais ou maiores que 12

(RUSCHI, 2007).

Desta forma, pode-se notar a importância dos profissionais da saúde para a

investigação e identificação dos quadros depressivos das mães no momento do pós-parto, a

fim de diminuir os riscos tanto na mãe, quanto no bebê e em toda família (RUSCHI, 2007).

Segundo Coutinho (2008), a gestação e o parto provocam uma série de alterações

físicas, psicológicas e hormonais na vida de uma mulher, a chegada de um filho pode ser

28

considerada um momento feliz, porém é repleto de adaptações e de muito trabalho

direcionado aos cuidados com o bebê. A família e a sociedade desejam e esperam que a mãe

expresse toda a sua satisfação com a maternidade, mas nem sempre isso é possível, pois é

natural e muito frequente que a mãe se sinta cansada, fragilizada, com medo, triste e insegura

com os cuidados ao bebê. Geralmente esses sentimentos costumam desaparecer em algumas

semanas, porém quando persistem é importante cogitar a possibilidade de depressão pós-

parto. Em algumas mulheres a alegria da chegada do bebê contrasta com as dificuldades da

recuperação do parto e a necessidade de cuidar do filho e além disso, a mulher deve mostrar

aos demais que está tudo bem, quando na verdade pode não está.

O período da gestação desencadeia na imaginação da gestante uma série de

momentos belos que viverá junto ao seu bebê, porém, a realidade não segue

necessariamente para tais momentos. A gestação é um momento de mudanças fisiológicas, sociais, familiares e psicológicas, podendo também ser um período em

que se observa um aumento de sintomatologia ou de desenvolvimento após o

nascimento do bebê (TOLENTINO, 2016, p.60).

Para Tolentino (2016), as mudanças ocorrem muito rapidamente em todos os âmbitos

da vida da mulher. Ela vivencia os mais variados sentimentos, como a da perda do corpo que

tinha antes, e que em função das transformações que ocorrem ao longo da gestação, acaba

passando por transformações. Com a chegada da criança, a mulher pode se sentir sozinha,

pois as atenções se voltam para o recém-nascido. Dessa forma, os mais variados sentimentos

vivenciados pela mãe podem acarretar transtornos depressivos, como a depressão pós-parto.

Muitas mulheres sentem culpa por não estar sentindo o que achavam que iriam sentir, ou o

que é esperado que sintam, em relação ao bebê, como o afeto, e acabam sofrendo por não

conseguir cuidar da criança, podendo se sentir incapaz.

Desde a infância, as mulheres são preparadas para serem amáveis, compreensivas,

tranquilas, ternas, equilibradas e acolhedoras, características que são cobradas em

todos os momentos de sua vida e em tempo integral. Diante dessas qualificações,

espera-se, portanto, o modelo de “mãe perfeita”, uma imagem romanceada da

maternidade, criada ao longo dos últimos séculos, para dar sustentação ao sistema

patriarcal, capitalista e de domínio masculino, fato que tem significado um alto custo

emocional para as mulheres, pois, quando não correspondido, estas vivenciam significativos estigmas, preconceitos e exclusões da sociedade (JUNIOR, 2009, p.

517)

Por essa imagem romantizada da maternidade, como jácitado, muitas mulheres ao

longo da gravidez se sentem empolgadas para o nascimento do filho, e quando esse momento

chega, algumas delas podem perceber que não estão sentindo o amor, carinho e o apego, da

29

maneira que imaginavam que iriam sentir. “A frustração de não conseguir responder às

expectativas do papel de mulher/mãe abre espaço para um conflito entre o ideal e o vivido,

instaurando-se um sofrimento psíquico que pode vir a se configurar como uma base para a

depressão pós-parto” (JÚNIOR, 2009, p.517). Devido ao fato de muitas vezes não conseguir

responder às expectativas esperadas e destinadas ao papel de mãe, muitas mães acabam se

afastando do bebê, não criando vínculo. Arrais (2005) argumenta que durante o período

gestacional, a importância maior de boa parte das pessoas se direciona a questões materiais

como: enxoval, chá de bebê, decorações, e em toda a estrutura que se prepara para receber o

bebê.

Dificilmente ou até mesmo raramente se pensa no estado emocional que a maioria das

mulheres experiência durante a gestação, e no pós-parto, sendo esse um período novo

deveres/tarefas, que surgem com o nascimento da criança.

Já se sabe que para algumas mulheres acompanhar o desenvolvimento de um novo ser

pode ser algo sublime, já para outras, a maternidade pode implicar em alterações nos diversos

âmbitos da vida da mulher, sejam eles: emocionais, profissionais ou sociais, e que podem

desencadear sofrimentos (ARRAES, 2005). O pós-parto é um momento de muito estresse o

que faz com que seja um período em que tenha muita vulnerabilidade para o aparecimento de

transtornos mentais como a depressão. O surgimento da depressão pós-parto ocorre, em

grande parte dos casos, desde as primeiras duas semanas após o nascimento do bebê,

chegando em sua intensidade máxima a partir dos seis primeiros meses.

Os sintomas mais comuns são desânimo persistente, sentimento de culpa, alterações

do sono, ideias suicidas, temor de machucar o filho, diminuição do apetite e da libido, diminuição do nível de funcionamento mental e presença de ideais obsessivos

ou supervalorizadas (MORAES, 2006, S/P)

Alguns dos fatores que podem estar associados a depressão pós-parto inclui-se baixa

escolaridade e baixa renda familiar, “principalmente pelo nível de estresse causado por

dificuldades financeiras, das quais decorre pouco acesso a recursos de educação, saúde,

alimentação, transporte e moradia” (SALUM, 2015, S/P). Já os fatores psicossociais podem

incluir “Baixo suporte social, história de doença psiquiátrica, tristezapós-parto, depressãopré-

natal, baixa autoestima, ansiedade pré-natal, stress na vida, gravidez não planejada”

(MORAES, 2006, S/P). Outro fator importante associado a depressão pós-parto é o fato da

mulher já ter tido quadros depressivos e/ou ansiedade anteriormente.

30

A falta de apoio do companheiro (falta de suporte), assim como de familiares

(dificuldades de relacionamento com os pais), e amigos, também são importantes

desencadeadores do desenvolvimento da depressão pós-parto (SALUM,2015).

Embora não se conheça claramente sua etiologia, sabe-se que alguns fatores podem

contribuir para a precipitação da DPP, como: baixa condição socioeconômica; não

aceitação da gravidez; maior número de gestações, de partos e de filhos vivos;

menor tempo de relacionamento com o companheiro; história de problemas

obstétricos; maior tempo para tocar no bebê após o nascimento; violência doméstica;

pouco suporte por parte do companheiro; sobrecarga de tarefas; e experiência

conflituosa da maternidade (JUNIOR, 2009, p. 517)

E quando a mulher possui amparo/suporte através da família, do meio social como um

todo, ela pode se sentir mais amparada, cuidada e segura, podendo até mesmo considerar que

as pessoas ao seu redor se preocupam com ela, esse envolvimento social pode ser favorável

para a mulher enfrentar o quadro depressivo, pois um ambiente saudável e confortável

exercem papel imprescindível na vida da mulher, com a chegada do bebê.

2.4.1 Diagnóstico Diferencial e Prognóstico

O diagnóstico diferencial corresponde a técnicas sistemáticas a fim de diferenciar

distúrbios/transtornos que possuem semelhanças de sintomas com outros transtornos. Tem

como objetivo detalhar e particularizar as origens e características dos transtornos. Tudo

começa a partir de uma hipótese em que o clínico leva em consideração o conjunto de

sintomas encontrados na paciente e identificados a partir dos resultados de exames e testes.

Dos resultados são tidos posteriormente as comparações com as demais e possíveis doenças,

por intermédio de um processo de exclusão. Como algumas doenças podem consistir em

sintomas semelhantes, é nesse ponto que o diagnóstico diferencial se encontra, sendo

fundamental para um diagnóstico preciso. Também é através dele que será viável a maneira

correta de tratar o transtorno (VANSO, 2018). Traçando e evitando prováveis chances de a

doença ocorrer futuramente.

Deve-se levar em conta também o prognóstico que na área da saúde compreende-se

que o prognóstico é o conhecimento prévio realizado por um profissional da saúde e que se

sustenta no diagnóstico, para que se possa conhecer as melhores formas de intervenções em

relação a uma doença ou quadro clínico. Pois quando se conhece a fundo o surgimento de

31

uma doença ou transtorno, poderá assim melhor tratá-la, de forma adequada e de forma

individualiza e de acordo com a sua intensidade (BARBOSA, 2011)

A depressão pós-parto não possui uma manifestação única, sendo semelhante, no que

se refere aos sintomas, ao surgimento de quadros depressivos identificados em outros

momentos da vida. Porém, segundo Fonseca (2009), mulheres com depressão pós parto

podem ter sintomas específicos como: apreensões demasiadas em relação a segurança do bebê

e o fato de estar exercendo bem o seu papel de cuidadora, medo de causar danos ao bebê

(machucá-lo), medo de não conseguir criar vínculo com o bebê, falta de libido pelo parceiro,

diminuição da capacidade de ter foco e se dedicar a rotina do dia a dia.

É importante que se faça um diagnóstico diferencial a fim de diferenciar a depressão

pós-parto do baby blues, ou da melancolia pós-parto.

A depressão pós-parto se diferencia dos sintomas transitórios do “baby blues”,

caracterizados por crises de choro, irritabilidade, nervosismo, insônia e reações

emocionais desproporcionais. O “baby blues” afeta 75% das puérperas, tendo início

entre um ou dois dias e remite no máximo em dez dias após o parto (PITTA, 2008,

p.9)

Já a melancolia pós-parto “é uma condição clínica comum (estimativas de incidência

de 40 a 80% das mulheres), transitória e benigna, que habitualmente ocorre nos primeiros três

a cinco dias pós-parto e tem uma duração limitada” (PITTA). Além de ser considerada

comum, devido às mudanças (físicas, psicológicas, sociais) que ocorrem nesse período.

Quando a depressão pós-parto é identificada precocemente, o tratamento pode

amenizar os impactos biopsicossociais não favoráveis para a mãe e para o bebê. Quando não

há uma intervenção imediata, a mulher corre riscos bem maiores de desenvolver a doença e os

sintomas se agravarem, pois, mulheres com depressão não diagnosticada e tratada

demonstram também baixa de suas práticas cognitivas e sociais, assim como outros sintomas

como baixa autoestima, impactos na qualidade de vida e maiores chances de maus tratos às

crianças. Como já citado, uma interação falha entre mãe (deprimida) e bebê pode gerar sérias

consequências no que se refere ao desenvolvimento da criança (PEREIRA, 2014).

32

3 METODOLOGIA

O estudo envolveu uma revisão sistemática que, segundo Sampaio (2007), consistiu

em uma maneira de pesquisar, que fez uso de conteúdos da literatura sobre o assunto/tema

que se pretendeu conhecer. Este éum tipo de pesquisa útil na medida em que visou propiciar a

assimilação de dados de estudos/pesquisas que foram realizados individualmente, sobre

determinado assunto e que resultam em informações que podem ser dentro do esperado, ou

apresentar resultados conflitantes que precisam de mais estudos futuros. Tem como base os

estudos/pesquisas das plataformas: SCIELO, CAPES, PEPSIC e GOOGLE ACADÊMICO.

Os critérios de inclusão basearam-se em: artigos científicos de periódicos nas bases de

dados citadas e que abordem as palavras-chave, em conjunto: depressão, depressão pós-parto

interação e vínculo afetivo mãe-bebê e depressão materna, e que foram publicados nos

últimos 15 anos. Buscou identificar como se estabeleceu o vínculo entre mãe e bebê, e as

consequências da depressão no estabelecimento desse vínculo. Foram excluídos os artigos

científicos que não continham as palavras chave, ou que continham as palavras chave, mas o

artigo não falou do vínculo afetivo, ou falava do vínculo porém não da depressão pós-parto.

Também foram excluídos os artigos que fugiram da data estabelecida.

Quanto à finalidade metodológica, tratou-se de uma pesquisa básica, tendo como

objetivo produzir/reproduzir informações proveitosas para o desenvolvimento científico,

visando interesses e verdades coletivas/universais. Quanto a abordagem apesquisa consistiu

em qualitativa. Segundo Gerhardt (2009), as pesquisas que utilizam o método qualitativo têm

por objetivo explicar o porquê das coisas, expondo o que corresponde ser feito, porém, sem

quantificar os dados. A pesquisa visou a produção de informações, atentando-se para

conteúdo da realidade e centrando-se na compreensão das dinâmicas sociais. Quanto ao

objetivo metodológico compreendeu-se uma pesquisa explicativa, pois preocupou-se em

reconhecer as condições que influenciam a existência dos fenômenos e informam o porquê

dos fatos por intermédio de resultados oferecidos, podendo até mesmo dar continuidade a uma

outra pesquisa descritiva. Quanto ao procedimento metodológico tratou-se de pesquisa

bibliográfica, pois foi realizada por meio de recolhimento de referencial teórico já publicado

seja por intermédio de livros, artigos ou trabalhos de pesquisa. Todo estudo científico começa

a partir da pesquisa bibliográfica que atua como forma de instrução ao pesquisador, no sentido

de explorar o que já foi feito em relação ao tema que se pretende pesquisar (FONSECA,

2002). A metodologia utilizada para a realização da revisão, consistiu em sete passos,

segundo Rother (2007), sendo eles: a formulação da pergunta, localização dos estudos,

33

avaliação crítica dos estudos, coleta de dados, análise e apresentação dos dados, interpretação

dos dados e aprimoramento, e por fim atualização da revisão

Segundo Galvão (2007) o primeiro passo, consistiu na formulação/definição de uma

pergunta, pois uma revisão sistemática de qualidade deve ser baseada na definição de uma

pergunta, que servirá como um guia para o estudo. Embora possa parecer simples é tida como

a mais importante e determinante dentro do processo de produção da revisão. Uma pergunta

bem definida é o ponta pé inicial para a obtenção de resultados, um outro fator importante

para o sucesso da pesquisa é a constatação da existência de estudos, sobre a pergunta a ser

investigada. Contendo os critérios de inclusão e exclusão do estudo em questão (PEREIRA,

2006).

O segundo passo referiu-se a localização dos estudos: a busca (localização) dos

estudos é segundo Galvão (2004), uma das partes mais importantes do processo de produção

da revisão sistemática, foi utilizado uma tática vasta de buscas de dados, nas bases eletrônicas.

Um fator importante é a procura dos estudos em várias bases de dados. Antes de começar o

estudo foi feito uma seleção deperiódicos. Identificando se coincidiam com os critérios pré-

estabelecidos (inclusão e exclusão). A avaliação crítica dos estudos. A função de uma revisão

sistemática, provém da qualidade, dos estudos selecionados. O processo de avaliação crítica

equivale ao momento em que os estudos escolhidos serão avaliados com rigidez

metodológica. É uma fase complexa pois demanda uma avaliação rígida de cada pesquisa

(como foi conduzida, quais resultados foram obtidos). Até mesmo porque a função de uma

revisão sistemática provém da qualidade, dos estudos selecionados (GALVÃO, 2004).

São critérios para determinar a validade dos estudos selecionados. Essa avaliação

crítica permite determinar quais estudos irão ser utilizados na revisão. Os que não

preencherem os critérios de validade deverão ser citados e explicados o motivo de sua

exclusão (ROTHER, 2007, P. 2).

Dessa forma como exposto a avaliação crítica dos estudos, tem como meta estabelecer

a validade de cada estudo que foi admitido, visando identificar quais deles estão aptos a serem

usados na revisão. A coleta de dados, os materiais (dados) usados durante a revisão, são

provenientes de estudos individuais escolhidos, e que são apanhados por intermédio de

instrumentos que tem como objetivo garantir que os dados importantes sejam selecionados.

Outro objetivo é que se possa diminuir a quantidade de possíveis erros na reprodução.

Assegurando a exatidão na verificação dos dados. A seleção de dados muda de estudo

para estudo e está atrelada a pergunta apresentada a princípio. Na parte de análise e

34

apresentação dos dados, os estudos deverão ser agrupados baseados na semelhança entre os

estudos. Cada um desses agrupamentos deverá ser preestabelecido no projeto, assim como a

forma de apresentação gráfica e numérica, para facilitar o entendimento do leitor (ROTHER,

2007, p.2)

A interpretação dos dados foibaseada nos dados colhidos na avaliação crítica dos

estudos, deve-se então identificar as semelhanças com o referencial teórico, verificando as

conclusões desencadeadas da revisão sistemática (FIGUEIREDO, 2014). É decretado o vigor,

das evidências localizadas, a aplicação dos dados obtidos. Identificando as fronteiras entre os

benefícios e os riscos. E por fim o aprimoramento e atualização da revisão, quando publicada

a revisão sistemática deve passar pelo processo de avaliação crítica, sugestões, ideias e que

serão englobadas a edições posteriores devendo ser aprimorada, atualizada por autores

externos, sempre que aparecer estudos recentes ao tema (ROTHER, 2007). Por último a

atualização da revisão, sabe-se que quando publicada a revisão sistemática deve passar pelo

processo de avaliação crítica, sugestões, ideias e que serão englobadas a edições posteriores

devendo ser aprimorada, atualizada por autores externos, sempre que aparecer estudos

recentes ao tema.

35

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Para obter os resultados desse trabalho, primeiramente, realizou-se a busca dos artigos

sobre a depressão pós-parto e vínculo afetivo mãe-bebê, através da busca direta e

combinações das palavras-chaves em conjunto: depressão puerperal, depressão pós-parto,

depressão materna e vínculo ou interação mãe-bebê, nas bases de dados do Portal de

Periódicos GOOGLE ACADÊMICO SCIELO, CAPES e PEPSIC. Os artigos

selecionadosalém de apresentar as palavras chaves, são estudos lançados nos últimos 15 anos.

Alguns dos artigos foram encontrados em mais de uma das plataformas de busca.

Figura 1: Resultados das buscas no GOOGLE ACADÊMICO com as palavras chave em

conjunto

Como ilustrado na figura 1 foram identificados na base de dadosGOOGLE

ACADÊMICO, na busca pelas palavras chave em conjunto, o total de 3.270 artigos, porém

destes foram selecionados 19 artigos, na qual os títulos demonstravam que estavam

relacionados com o tema desejado. Ao término do resumo dos artigos, sobraram 12 artigos

que de fato se relacionavam com o tema. Os artigos excluídos totalizaram em três mil

36

duzentos e setenta, pois não se adequaram aos critérios de inclusão após verificação do título

e resumo.

Figura 2: Resultados das buscas no SCIELO com as palavras chave em conjunto

Conforme ilustrado na figura 2 na base de dados SCIELO foram encontrados um

número de setenta e sete resultados, sendo selecionados 4 com base nos critérios de inclusão e

foram excluídos 73 artigos que não se adequaram.

37

Figura 3:Resultados das buscas no PEPSIC com as palavras chave em conjunto

Na PEPSIC ilustrada na figura 3, somente 1 artigo dos 6 encontrados foi selecionado,

5 artigos foram excluídos por falta de critérios de inclusão.

Figura 4: Resultados das buscas no CAPES com as palavras chave em conjunto

Na CAPES ilustrado na figura 4, somente 1 artigo foi selecionado. Desta forma 11

artigos foram excluídos da pesquisa, como citado a cima, pela falta de critérios de inclusão.A

38

partir dos resultados apresentados, ao final foram selecionados 12 artigos. É importante

destacar que mesmo na troca de bases de dados, alguns artigos se repetiram, porém foram

considerados apenas uma vez. O motivo para exclusão dos artigos envolveu o fato de que

alguns deles mesmo falando sobre a depressão pós-parto não evidenciavam o vínculo afetivo

mãe-bebê e suas consequências para o desenvolvimento da criança. Ou falavam sobre o

vínculo mãe-bebê, porém não enfatizava a depressão pós-parto.

O quadro a seguir demonstra um resumo dos artigos analisados, apresentando os

nomes dos autores e o ano da publicação do artigo, as principais ideiasdo autor, as

características de cada estudo e o enfoque principal da conclusão dos trabalhos.

Quadro 2: Resumo da análise dos resultados

Autores / Ano Principais Ideias do autor Característica do

Estudo

Conclusões

Frizzo (2005) Faz uma alusão aos vários

fatores que podem desencadear

a depressão pós-parto, e como

a presença do pai pode

amenizar as consequências

Consiste em uma revisão

da literaturasobre vínculo

mãe-bebê quando a mãe

se encontra depressiva

Os impactos do quadro

depressivo materno,

quanto ao bebê, irão

depender de fatores,

como a forma de

interação mãe-bebê, o

grau de intensidade do

transtorno, e o apoio familiar

Schwengber

(2003)

Evidenciou-se que o quadro

depressivo materno apresenta

consequências negativas no

estabelecimento de vínculo

mãe-bebê, destacou que a

interação que vai sendo

estabelecida entre mães

depressivas e seus bebês

possuem um nível menor de

ações e interação

Trata-se de um estudo de

revisão bibliográfica e

estudos empíricos

Destacou a importância

de novos estudos que

utilizem abordagem

longitudinal sobre a

depressão pós-parto,

sempre levando em conta

a série de fatores que

prolongam o quadro

Silva (2005) Foi feito uma revisão da

literatura sobre a depressão

pós-parto e seu impacto na

relação mãe e filho e sua

repercussão negativa e

desgaste emocional tanto para

a mulher quanto para o bebê e

a família

Revisão da literatura O puerpério é um

período de bastante

mudanças na vida da

mulher, na qual altera

seucontexto

biopsicossocial, requer

entendimento e afeto dos

familiares. Destaca a

importância de

profissionais que deem

importância a ações de

prevenção à saúde da gestante de forma geral

Azambuja (2017) Procurou-se compreender

através de uma pesquisa com

Realizou-se uma

pesquisa, com 27 mães e

O fator escolaridade foi

significativo, no que se

39

27 mães participantes, nove

com depressão pós-parto e 18

sem depressão. Através dos

resultados dos estudos pode-se

notar que a depressão pós-

parto pode levar a déficits na

relação entre mães e seus

bebês. Além de gerar

consequências no

desenvolvimento do bebê.

seus bebês. refere a interação entre

ambos, tendo em vista

que mulheres que tinham

nível superior, possuíam

maior interação com os

filhos, em contrapartida

as mulheres de

escolaridade fundamental

ou médio

Felipe (2009) Identificar as consequências da

depressão pós-parto para a

interação mãe-bebê, e para o

desenvolvimento infantil.

Consistiu em uma

pesquisa longitudinal do

projeto temático da

FAPESP. Sendo 25 mães

com depressão pós-parto

e 50 que não

apresentavam os

sintomas. As mães foram entrevistadas e filmadas

ao longo de 3 minutos.

Aos quatro meses de

vida do bebê. Para que

fosse possível observar a

interação entre mãe e

bebê.

O estudo pode notar

como fatores como apoio

conjugal e familiar,

conflitos ambientais,

sofrimentos emocionais

podem influenciar no

surgimento e duração do

quadro depressivo da mãe.

Luca (2005) A depressão pós-parto afeta

negativamente não somente a

mãe, como também o pai, os familiares e principalmente

desenvolvimento do vínculoda

mãe com o bebe. O pai pode

amenizar esse período em que

a mãe se encontra indisponível

para criar laços afetivos, com o

bebe. Amenizando assim as

consequências para a mãe e a

criança.

Tratou-se de uma revisão

bibliográfica

O autor ressalta a

importância de novos

estudos que abordem o tema da depressão pós-

parto e suas

consequências na relação

mãe e bebe

Borsa (2007) A relação mãe-bebê é essencial para a comunicação dos dois.

A base para o desenvolvimento

do vínculo se dará através do

olhar, do toque, dos sorrisos e

cuidados da mãe com o filho.

Para que a criança se

desenvolva de maneira

saudável é preciso essa

interação.

Foi feito uma revisão bibliográfica sobre o

tema.

O autor ressalta que nem todas as vivências

resultaramem

consequências severas,

porém, é fundamental

perceber as dificuldades

enfrentadas por mulheres

no contexto da depressão

pós-parto

Calesso (2011) Foi analisado a repercussão da depressão pós-parto para a

interação mãe e filho suas consequências no

desenvolvimento da criança.

Revisão da literatura A partir da literatura revisada pode-se notar que

a depressão da mãe gera consequências não

somente para a mesma,

como na criança, gerando consequências em seu

desenvolvimento global. O autor cita consequências

como, desordens comportamentais e

linguísticas.

Silva (2010) Com base no estudo, o autor Estudo qualitativo, Os cuidados com a

40

argumenta que os principais

sentimentos encontrado nas

puérperas foram a frustração

em relação à maternidade e a

Insegurança, por considerar

que não são capazes de cuidar

do bebê.

exploratório, as

participantes foram

quatro puérperas com

depressão materna,

foram feitas visitas

domiciliares e

entrevistas. as

participantes

frequentavam o centro de

atenção psicossocial do Ceará.

mulher gestante devem

ter início ainda no pré-

natal, com métodos que

avalie a autoestima da

mulher, e que verifique

seu suporte social.

Schwengber

(2004)

O estudo sustentou algumas

teses como a de que a

depressão puerperal pode

afetar a interação mãe-bebê

Consistiu em uma

pesquisa, sendo 26 mães

e seus bebes

Através do estudo pode-

se notar que mães com

depressão pós-parto

aparentaram mais frieza

ao lidar com os filhos

além de se comunicar de

forma, mas negativa com

os filhos.

Ramos (2007) Um envolvimento de menor

qualidade da mãe com filho,

também pode ser

compreendido através dos

sintomas vivenciados pela

mulher durante o quadro depressivo, que leva em conta

a tristeza, a perda de interesse,

e de confiança em si mesmo, e

nos demais, e que tendem a

estar ligados a conflitos e

dificuldades sociais e

conjugais, sendo estes fatores

que influenciam à insatisfação

e as dificuldades da mãe para

lidar com a maternidade.

Estudo exploratório As mais variadas

situações vivenciadas

pela mulher nesse

períodocontribuem para

o aparecimento da

depressãopós-parto.

Teixeira As primeiras interações com os

cuidadores são a base para as

outras relações futuras.

Revisão da literatura Os impactos da

depressão da mãe podem

se alongar até a vida

adulta do bebê. Gerando

consequências negativas

no desenvolvimento da

criança.

A partir dos resultados apresentados, ao final foram selecionados 12 artigos. É

importante destacar que mesmo na troca de bases de dados, alguns artigos se repetiram,

porém foram considerados apenas uma vez. O motivo para exclusão dos artigos envolveu o

fato de que alguns deles mesmo falando sobre a depressão pós-parto não evidenciavam o

vínculo afetivo mãe-bebê e suas consequências para o desenvolvimento da criança. Ou

falavam sobre o vínculo mãe-bebê, porém não enfatizava a depressão pós-parto.

41

Assim, ao final, os 12 artigos selecionados foram analisados e o resultado deste

trabalho segue com os detalhes e discussões abaixo. Destacando que o resultado dos artigos

selecionados para a revisão é intercalado juntamente com o referencial teórico deste trabalho.

Artigo 1: Frizzo (2005), no artigo intitulado “Interação mãe-bebê em contexto de

depressão materna: aspectos teóricos e empíricos", faz uma revisão da literatura acerca da

interação mãe-bebê em contextos em que a mãe se encontra com depressão materna.

Particularmente o autor buscou analisar os vários fatores que podem interferir no impacto da

depressão pós-parto no desenvolvimento do bebê, como as questões emocionais e de

comportamento futuros da criança. O artigo aponta que o quadro depressivo da mãe gera

consequências negativas não somente a ela, mas no bebê também.

O estudo indica que um pai presente e a falta de situações conflituosas conjugais são

motivos que podem diminuir as consequências da depressão da mãe para o bebê, além disso

os impactos da depressão materna podem se ampliar se estendendo além da infância pois os

primeiros vínculos afetivos com os cuidadores são uma base para as relações futuras. O pós-

parto é um momento que tende ao surgimento de crises pois a mulher passa por mudanças

psicológicas, físicas e sociais. Oautorevidências que a futura mãe necessita alterar o centro da

sua identidade de filha para mãe, e em muitas vezes abdica de sua profissão para a vivência

somente materna. O que pode causar emoções adversas para a mãe. É uma fase de adaptação

a novas mudanças. Como conclusão evidenciou-se a partir do estudo de Frizzo (2005) que a

depressão materna pode afetar tanto a mãe como o bebê tendo em vista que a mesma pode não

conseguir desenvolver uma base segura para o filho, apresentando uma interação mais frágil,

menos responsivo às necessidades do bebê.

Entretanto as consequências da depressão no que se refere ao bebê vão depender de

variados fatores como a idade da criança, seu temperamento, a cronicidade do quadro

depressivo da mãe, e a forma de interação da mãe que se encontra deprimida. É necessário

também o apoio familiar, assim como as atividades preventivas e interventivas que visem a

promoção de saúde tanto para a mãe e bebê quanto para a família.

Assim como afirma Borsa (2007). A presença e apoio do pai e familiares é

fundamental nesse período, para que a mãe se sinta amparada. O psicólogo também é

necessário nesse momento agindo de forma a amenizar os sentimentos pelas quais a mulher

vem experienciando, como culpa, insatisfação, decepção, etc. Acerca dos papéis da mulher na

sociedade contemporânea, é evidenciado ao longo do referencial teórico do trabalho por

Bussab (2002) que questiona, de que forma criar filhos saudáveis (em referência às mulheres

que desejam ter filhos) emocionalmente e ao mesmo tempo obter carreiras e vidas brilhantes.

42

Pois muitas mulheres precisam abrir mão de suas carreiras e de seus objetivos pessoais para se

dedicar ao bebê, o que pode gerar conflitos entre seus desejos e sonhos e o exercício da

maternidade.

Artigo 2: Schwengber (2003), no artigo intitulado "O impacto da depressão pós-parto

para a interação mãe-bebê", apresenta âmbitos teóricos e estudos empíricos sobre o impacto

da depressão pós-parto para essa interação. O autor analisa as características da depressão

pós-parto sendo elas: a irritabilidade, choro fácil, sentimento de abandono, desesperança, falta

de motivação, alterações no sono, sentimento de incapacidade, etc. Apresentando também

como o estado depressivo da mãe afeta a interação saudável com o bebê, podendo afetar o

desenvolvimento do mesmo, tendo em vista que as consequências da depressão materna no

que se refere a criação de vínculo entre ambos, estão intimamente ligadas à uma série de

fatores, como a severidade dos sintomas.

O autor argumenta que questões biológicas, psicológicas e sociais são fatores que

contribuem para o aparecimento do quadro depressivo. O estudo indica que a depressão da

mãe tem consequências negativas ainda nas primeiras interações com o bebê, assim como em

seu desenvolvimento. O autor afirma que o vínculo que vai sendo criado entre mães

depressivas e os bebês apresentam um nível menor de atividades, ações e interações da mãe

com o filho, levando em consideração que tais mulheres se encontram indisponíveis para

desenvolver de forma qualitativa essa relação, no sentido do cuidar e de dar afeto ao bebê.

Pode-se concluir que o surgimento da depressão em um dado momento,

posteriormente ao nascimento do bebê, não é por si só a permissão para a realização do

prognóstico preciso, sobre as consequências na qualidade do vínculo que se desenvolverá

entre mãe e bebê nos meses seguintes. Dessa forma, é imprescindível que se busquem estudos

que façam uso de uma abordagem longitudinal sobre a depressão pós-parto e que levem em

consideração a série de fatores que a prolongam. É necessário que se pense em estratégias

ainda precoces no que se refere a intervenções e que leve em conta as particularidades da

depressão pós-parto analisadas desde o nascimento do bebê.

Assim como destaca Pereira (2014), quando a depressão pós-parto é identificada

precocemente, o tratamento pode amenizar os impactos biopsicossociais não favoráveis para a

mãe e para o bebê. Quando não há uma intervenção imediata, a mulher corre riscos bem

maiores de desenvolver a doença e os sintomas se agravarem, pois, mulheres com depressão

não diagnosticada e tratada demonstram também baixa de suas práticas cognitivas e sociais,

assim como outros sintomas como baixa autoestima, impactos na qualidade de vida e maiores

chances de maus tratos às crianças. Como já citado, uma interação falha entre mãe

43

(deprimida) e bebê pode gerar sérias consequências no que se refere ao desenvolvimento

global da criança, como a aprendizagem.

Artigo 3:Schwengber (2004) no seu artigo intitulado "Depressão materna e interação

mãe-bebê no final do primeiro ano de vida", o objetivo do estudo foi de verificar as diferenças

na interação mãe-bebê, entre mães que se encontravam em quadros depressivos e com mães

sem depressão. Até o final do primeiro ano do bebê, foram 26 mães e bebês participantes,

sendo que 11 delas (mães) tinham indícios de depressão e 15 não tinham. As técnicas

aplicadas foram aplicação do Inventário de Beck de Depressão e observação de mães e bebes

enquanto brincavam. Os resultados encontrados se deram a partir dos escores do Inventário de

Beck e das análises das observações feitas. E pode-se identificar

Que mães com quadros depressivos se mostraram menos facilitadoras em suas

interações com a criança (apresentar brinquedos, estimular, chamar a atenção). Se mostraram

mais apáticas, demonstrando uma menor afeição ao filho, se comparado as mães sem

depressão. Quanto ao Inventário, as mães com depressão tiveram escores maiores que as mães

que não apresentavam quadro depressivo. Pode-se concluir com base no estudo que a

depressão materna pode afetar negativamente a relação mãe e filho.

Assim como nos estudos de Azambuja (2017) e Felipe (2009), nesse estudo as mães

analisadas, que se encontravam com quadro depressivo, apresentaram menor interação com os

filhos, se comparadas com as mães sem depressão pós-parto. O que sustenta ainda mais que a

depressão pós-parto pode afetar de forma negativa o vínculo mãe e bebê.

Artigo 4: Azambuja (2017) na dissertação intitulada "Depressão pós-parto materna:

interação mãe-bebê e processamento de faces", argumenta que a depressão é um quadro muito

frequente na sociedade. O transtorno é uma condição com alta ocorrência ao longo da

gestação ou no pós-parto, sendo o período gestacional e o pós-parto períodos de risco para o

surgimento ou crescimento de transtornos nas mulheres, dando ênfase para a depressão

puerperal. Trata-se de um estudo empírico separados em duas partes, a primeira delas refere-

se às consequências da depressão puerperal para o estabelecimento do vínculo entre mãe e

bebê, analisando os âmbitos tanto da mãe quanto do bebê e dos dois em conjunto. A primeira

parte do estudo teve a colaboração de 27 duplas, sendo que dessas, nove apresentavam os

sintomas da depressão e dezoito delas não apresentavam o transtorno.

O estudo foi realizado no Rio Grande do Sul. As mães responderam a um questionário

sobre questões gerais e que foi feito para essa pesquisa, e outros métodos avaliativos como: a

Escala de Depressão Pós-natal de Edinburgh (EPDS), as Escalas de Beck para depressão

(BDI) e para ansiedade (BAI), também foi utilizada a entrevista clínica semiestruturada e

44

respaldada nos fundamentos do DSM-IV (SCID), a Escala Wechslerde Inteligência, (WASI),

gravações, e a Escala Global de Interação (GRS). Foram feitas também análises descritivas de

correlação, MANOVA e MANCOVAs com o objetivo de apurar variantes, como escolaridade

da mãe, sexo do bebê, e MANCOVAs, que tem o objetivo de averiguar as consequências da

depressão pós-parto no contexto da relação mãe e bebê.

No que se trata dos resultados encontrados, foi notada uma presença de depressão pós-

parto com índice 33% maior que o visto na literatura. Fatores como a escolaridade estão

intimamente ligados aos melhores índices maternais de vínculo. Em todos os âmbitos da

escala de interação mãe-bebê, a relação de mulheres que tinham depressão foimenor, se

comparado aos resultados obtidos de mulheres sem o transtorno.

Em se tratando do segundo estudo, o mesmo apresenta o processamento das

expressões faciais, dos adultos e dos bebês. A amostra foi realizada com uma parcela das

mães do estudo anterior. Vinte e duas mães participaram, na qual dezenove delas realizaram a

tarefa das faces adultas e outras vinte e duas a de bebês. Entre elas, oito estavam deprimidas e

14 eram controles. Nesse estudo além dos métodos de avaliação materna, tarefas de

reconhecimento de faces também foram introduzidas. Para que as análises pudessem ser feitas

o programa SPSS foi empregado, assim como ANOVA e MANCOVA, como citado acima.

Concluiu-se com base nos resultados mais significativos encontrados, como o fato de

que mulheres com depressão puerperal tinham menor conformidade, rigor e precisão quanto

às expressões faciais de bebês e adultos e categorizaram as faces com menor vigor, sempre

que o tempo de exposição aumentava se correlacionadas as mulheres do grupo controle. Foi

identificado déficits no que se refere à constatação e reconhecimento de expressões faciais,

quando a mãe apresentava depressão pós-parto, o que consequentemente afeta e diminui a

qualidade da interação mãe-bebê, pois as respostas convenientes às necessidades do bebê são

afetadas pelas deturpações quanto ao reconhecimento das emoções apresentadas pela criança.

Relações de baixa qualidade afetam no desenvolvimento da criança.

O que foi encontrado no estado indica uma precisão de mais estudos e pesquisas

quanto a este tema, podendo colaborar com a prevenção e o tratamento da depressão pós-parto

a fim de uma maior qualidade da relação mãe e bebê, quando a mãe se encontra deprimida.

Através do estudo pode-se identificar que a depressão materna pode diminuir a qualidade da

interação mãe e filho, tendo em vista que os bebês necessitam dessa interação para se

desenvolver.

Assim como destaca Torres (2014) que o estabelecimento do laço afetivo entre mãe-

bebê é o que aproxima/une os dois. E esse vínculo vai se dar por meio do contato, da

45

proximidade, da voz, dos cuidados, da atenção, do afeto, entre outros. Posteriormente ao

nascimento, os bebês já demonstram certas habilidades, para que possa interagir com o

ambiente a sua volta. Já acompanham estímulos (como objetos) colocados perto de si.

Entrando no segundo mês de vida já é possível que estique as pernas, façam

movimentos com a cabeça (movimentando para um lado e para o outro), já sendo capazes de

fazer movimentos de acordo com a voz que o acompanha. Quando a mãe apresenta quadro

depressivo essa interação pode ocorrer com menos qualidade, tendo em vista que a mãese

encontraindisponível para estabelecer um vínculo de qualidade com o filho.

Artigo 5: Felipe (2009) na dissertação intitulada "Análise do efeito da depressão pós-

parto não interação mãe-bebê via categorias comportamentais e estilos interativos maternos"

apresenta uma pesquisa longitudinal acerca da depressão pós-parto, as possíveis razões para

seu surgimento e os impactos no vínculo mãe-bebê, assim como para o desenvolvimento da

criança. Para a realização do estudo foi necessário que participantes fossem entrevistadas

durante o terceiro trimestre de gravidez, e os dois juntos (mãe e bebê) foram observados dois

dias posteriormente ao parto, depois no terceiro mês, e no quarto mês de vida do bebê.

Durante o quarto mês de vida da criança certos comportamentos foram observados e avaliados

sendo eles: o olhar, o toque, os sorrisos, a frequência do choro e a comunicação. Sendo tais

comportamentos importantes na relação entre a mãe e o filho. Foram avaliados os tipos de

interação materna, como o intrusivo, o retraído e a boa interação. O autor relata que os

métodos utilizados tinham como base a escala pós-parto de Edimburgo. Ao longo do terceiro

mês, as participantes do estudo se dividiram em dois grupos, sendo um deles a de mães que

apresentavam quadro depressivo, (25 mães), e o segundo grupo o de mães não depressivas (50

mães). As 75 mães foram então monitoradas (filmadas), aos quatro meses, em um período de

três minutos.

Ainda sobre o mesmo estudo, o mesmo encontrou os seguintes resultados, com base

na metodologia usada: mães com baixa escolaridade, grandes números de filhos, e mães que

já possuíam histórico de depressão antes mesmo da gravidez, apresentaram probabilidades

maiores de desenvolver a depressão pós-parto. Segundo o autor, relações importantes foram

detectadas: A. Livre da depressão puerperal crianças de mães que planejaram a gravidez, na

maioria das vezes se comunicavam mais. B. Específicas de interação com a depressão pós-

parto: no que se refere a quantidade de filhos, quanto maior a quantidade destes menos a mãe

verbalizava, se comunicava e interagia com o bebê. E quanto maior era a quantidade de

crianças (porém sem grau de parentesco com o bebe), vivendo na mesma residência mais os

bebês se comunicavam com as mães. C. Específica de relações sem a depressão pós-parto:

46

quanto maior era o número de outros filhos, mais os bebês interagiam e se comunicavam com

as mães.

Concluiu-se que apesar das interações sem e com depressão puerperal não mudarem

no que se trata a frequência dos comportamentos, a depressão puerperal apresentou

consequências diferentes quanto aos arranjos participativos diádicos, embora mães sem

quadros depressivos tinha um certo padrão relacionado de comunicação, a forma de sorrir, de

olhar que era direcionado a seus filhos. Da mesma maneira seus filhos também tinham

padrões relacionados de comunicação. O autor separou os comportamentos relacionais de

mães e bebês a partir de três fatos. Sendo o primeiro deles a "afetividade positiva e

diádica“como o sorriso que a mãe direcionava ao bebê, a comunicação e a falta de choro da

criança. 2. "O olhar do bebê em resposta ao toque da mãe" como quando o bebê respondia aos

toques da mãe, olhando para a mão dela por exemplo e ausência de contato no que se trata ao

olhar do bebê. 3. " A comunicação da mãe direcionada ao bebê. (O olhar e a comunicação da

mãe).

No que se refere a análise geral, quanto ao arranjo das frequências e dos tipos

interativos maternos os mesmos ocorreram de tal forma: no que se trata a boa interação foi

encontrado o resultado de 57,3 %, seguido de intrusivas 33,3 e retraídas 9,3. Apenas as mães

que não tinham depressão pós-parto, porém eram retraídas olhavam e em seguida se

comunicavam menos com seus filhos, se comparadas com as outras mães. Conclui - se que a

falta de diferenças quanto às médias dos comportamentos mostrados pelas mães e bebês em

decorrência da depressão puerperal indica para a presença de instrumentos compensatórios

maternais. O autor cita o "enfrentamento contra a indisponibilidade emocional", e o "fator de

proteção do bebê". A depressão puerperal pode impactar o vínculo mãe-bebê fazendo com

que seja menos firme, consistentes. Mas mesmo com tais limitações, mães depressivas podem

se relacionar corretamente com seus filhos. Para finalizar, o autor defende que a depressão

puerperal no que se refere a intervenção mãe e bebê e sobre o desenvolvimento da criança

deve ser analisado e investigado em conjunto com outros fatores também de riscos, incluindo

sempre fatores biopsicossociais e de riscos.

Tanto Felipe (2009) quanto Azambuja (2008) em seus artigos, argumentam que os

primeiros contatos entre mãe e bebê são imprescindíveis para o desenvolvimento do vínculo

afetivo entre ambos, gerando assim um desenvolvimento infantil consistente e de qualidade.

Ambos os autores também defendem com base em seus estudos que a depressão materna pode

impactar e gerar consequências negativas para o desenvolvimento, tanto cognitivo, como

47

afetivo e social futuramente da criança. A mãe depressiva pode sim conseguir estabelecer

interação com o bebe porem essa interação pode menos firmes e consistentes.

Artigo 6: Borsa (2007) no artigo intitulado “A relação mãe-bebê em casos de

depressão pós-parto”, argumenta que a interação entre ambos é imprescindível para o

estabelecimento do vínculo afetivo, bem como para o desenvolvimento cognitivo da criança.

Foi visto que o estabelecimento desse vínculo acontece em decorrência do contato da mãe

com o bebê, seja ele através do olhar, do falar, do cuidar, da atenção às necessidades do bebê,

e do ato de amamentar. Pois dessa forma o bebê experiencia o mundo através da mãe, que é

umas das principais figuras de apego, do bebê.

Assim como afirma Bowlby (1989)que quanto mais o cuidador (no caso a mãe)

retribui aos comportamentos do bebê (chorar, sorrir) mas ele se envolve e interage, com o

cuidador em questão. Um fator importante é a qualidade da interação cuidador - bebê, pois a

qualidade do vínculo influenciará o processo de desenvolvimento da criança.

Artigo 7: Silva (2015) no artigo intitulado "Depressão puerperal- uma revisão de

literatura", defende que o pós-parto é um período de intensas mudanças no contexto

biopsicossocial de uma mulher. Desta forma, os perigos para o surgimento de transtornos

psiquiátricos, como a depressão pós-parto, aumentam. A depressão materna é de grande

prevalência e causa mudanças, tanto emocionais, quanto cognitivas, físicas e

comportamentais. Geralmente a depressão puerperal aparece em grande parte das vezes, entre

2 ou 4 semanas posteriores ao parto. O autor defende a importância de se entender a depressão

materna tendo em vista que a mesma afeta negativamente a relação mãe-bebê, gerando um

desgaste nessa relação e até mesmo com os familiares.

Como defende Tolentino (2016) a gestação é um momento de mudanças fisiológicas,

sociais, familiares e psicológicas, na vida da mulher. as mudanças ocorrem muito rapidamente

em todos os âmbitos da vida da mulher. Ela vivencia os mais variados sentimentos, como a

perda do corpo que tinha antes da gestação, e que em função das transformações que ocorrem

ao longo da gravidez, acaba passando por transformações. Com a chegada da criança, a

mulher pode se sentir mais sozinha, pois as atenções se voltam em boa parte do tempo para o

recém-nascido. Dessa forma, os mais variados sentimentos vivenciados pela mãe podem

acarretar o quadro depressivo. Muitas mulheres sentem culpa por não estar sentindo o que

achavam que iriam sentir, ou o que é esperado que sintam, em relação ao bebê, como o afeto,

e acabam sofrendo por não conseguir cuidar da criança, podendo se sentir incapaz.

Artigo 8: Luca (2005) no artigo intitulado "Os efeitos da depressão pós-parto na

interação mãe-bebê". Este trabalho foi desenvolvido por meio de uma revisão bibliográfica, a

48

fim de procurar e identificar as consequências da depressão puerperal para a relação entre a

mãe e o bebê, sendo que a depressão pós-parto pode ser desenvolvida por diversos motivos

diferentes (biopsicossociais). O autor defende, a partir dos estudos que foram levantados, que

é por meio das primeiras relações e interações com a figura materna que se dará início as

demais relações. A depressão materna afeta não somente a mulher, como a criança, os

familiares mais próximos e o pai.

Assim como defende Luca (2005) que é a partir das relações e interações iniciais com

a figura de cuidado(nesse caso a mãe), que se daráinício para as demais relações. Bolwby

(1989) também acredita que é a partir das primeiras interações e vínculos, entre cuidador e

criança, que posteriormente se tornará uma generalização de expectativas da mesma, tanto no

que se refere a sua percepção dos outros, quanto de si próprio. A criança vai moldando e

construindo representações mais complexas.

Artigo 9: Calesso (2011), no artigo intitulado "Dialogia mãe-filho em contextos de

depressão materna: revisão de literatura", analisa estudos científicos dos últimos 5 anos acerca

da depressão materna, no âmbito da interação mãe-filho e suas consequências para o

desenvolvimento da criança. A autora notou, com base na revisão feita, que a depressão

materna impacta não somente a mãe, mas o desenvolvimento global do bebê, apresentando

que as consequências da depressão da mãe resultam de forma negativa no desenvolvimento do

bebê, gerando problemas cognitivos, afetivos, comportamentais e sociais. Assim, a depressão

pós-parto em um dado momento do nascimento pode afetar no desenvolvimento do vínculo

afetivo entre a mãe e o bebê e deve ser tratada de forma mais precoce possível.

O autor argumenta que a depressão pós-parto é um fator que pode interferir no

exercício da maternagem principalmente no primeiro ano de vida do bebê. Cita consequências

quando a interação mãe-bebê não é qualitativa, como por exemplo, o desenvolvimento da

linguagem, que se estabelece principalmente através da interação dialógica entre mãe e o

bebê. Segundo o autor, com base nos estudos levantados, a comunicação ainda nos primeiros

instantes de vida do bebê possui um papel fundamental para a formação de vínculo entre os

dois. Sendo esse uma troca não apenas de informações que agem de forma a guiar a obtenção

da linguagem verbal da criança, assim como a vivência do afeto que deve ser vivenciado

nesses momentos.

O vínculo espontâneo com a mãe é imprescindível no contexto de desenvolvimento da

interação. É através da comunicação, dos cuidados, do toque, que a mãe vai permitindo ao

bebê suas primeiras expressões. Sendo assim, segundo o artigo, a privação desses fatores

citados nos primeiros anos de vida da criança podem gerar atraso ou paralisação do

49

desenvolvimento cognitivo da criança. Crianças que passam por negligências e maus tratos

podem apresentar menores habilidades sociais. Estudos mostram que a depressão no pós-

parto, aponta algumas características emocionais da mãe e que podem ter base em fatores

psicossociais, como o contexto de vida da mulher, dificuldades com o parceiro, desamparo

familiar, e gravidez indesejada. O autor argumenta que 10 a 15% das mulheres possuem

depressão ainda nos primeiros três meses após o parto. Os sentimentos manifestados podem

ser: sentimento de incapacidade para cuidar do bebê, dificuldades de lidar com essa nova fase

da vida, sentimento de culpa, alterações no humor.

Desse modo, o que mais se destacou foi que a revisão feita pode demonstrar que a

depressão pós-parto além de afetar a mãe impacta também no desenvolvimento global do

bebê. O estudo pode identificar que as consequências da depressão da mãe geram

consequências negativas em seu desenvolvimento, como citado acima, questões de ordem

comportamentais, afetivas e cognitivas.

Calesso (2011) enfatizou que a depressão pós-parto pode afetar o desenvolvimento

cognitivo da criança, como é o caso da linguagem e privação de fatores como o cuidado, o

olhar, o toque, podem gerar consequência negativas para o desenvolvimento da criança. Como

também defende Vygotsky, um fator importante na teoria dele é a zona de desenvolvimento

proximal, a interação desenvolvimento/aprendizagem está ligada, no sentido de que os

indivíduos vivem em sociedade. Dessa forma, para Vygotsky o processo de desenvolvimento

se dá através do convívio social, e pelo estabelecimento da socialização. Para ele uma criança

pode ter toda estrutura biológica, funcionando bem, para que possa se desenvolver, porém, se

ela não estiver inserida em um ambiente com pessoas que a estimule, proporcionando assim a

aprendizagem, não se pode esperar que a criança se desenvolva (como o esperado) com o

passar do tempo, pois ela não possui por conta própria recursos para percorrer o processo de

desenvolvimento/aprendizagem. Dessa forma pode-se concluir que o processo de

estabelecimento de aprendizagem, acontece por intermédio das experiências e vivências a que

a criança teve acesso.

Artigo 10: Silva (2010) no artigo intitulado "Depressão pós-parto em puérperas:

conhecendo interações entre mãe, filho e família" trata-se de um estudo qualitativo,

exploratório e que teve quatro puérperas que apresentavam depressão pós-parto e que foram

acolhidas em um centro de atenção psicossocial no estado do Ceará. Foram feitas entrevistas e

visitas a domicílio. As características mais citadas pelas mulheres foram choro fácil,

irritabilidade, frustração e insegurança quanto a vivência da maternidade. Um fator a ser

citado é que os familiares não tinham conhecimento quanto ao problema da depressão pós-

50

parto. Destinado a compreender o contexto no qual as mulheres estavam inseridas, o estudo

concluiu que ao observar as mudanças emocionais mais evidentes do pós-parto foram o choro

a tristeza e a irritabilidade. As mulheres do estudo estavam sentindo-se frustradas e sofriam

por se sentir fracassadas, se considerando incompetentes para o exercício da maternidade. A

vivência da gestação pode tanto causar na mulher uma nova visão e dimensão de vida

contribuindo para o seu crescimento pessoal, assim como pode também causar uma desordem

e ruptura quanto aos vínculos e papéis antes vividos por ela.

Da mesma forma Coutinho (2008), enfatiza que a gestação e o parto provocam uma

série de alterações físicas, psicológicas e hormonais na vida de uma mulher, a chegada de um

filho pode ser considerado um momento feliz, porém é repleto de adaptações e de muito

trabalho direcionado aos cuidados com o bebê, e nesse sentido sentimentos como o de

fracasso e de incompetência podem surgir tendo em vista que na maioria das vezes a família e

a sociedade desejam e esperam que a mãe expresse toda a sua satisfação com a maternidade,

mas nem sempre isso é possível, pois é natural e muito frequente que a mãe se sinta cansada,

fragilizada, com medo, triste e insegura quanto os cuidados com o bebê.

Artigo 11: Ramos (2007) com o artigo intitulado "Depressão puerperal e interação

mãe-bebê: um estudo piloto". Com o intuído de entender e assemelhar o perfil de vínculo

mãe-bebê com mães que apresentavam depressão pós-parto e com mães que não

apresentavam, isso no terceiro mês posteriormente ao parto, 22 mães (sem limites de idade)

realizaram uma entrevista para verificar o contexto social ao qual pertenciam. As mulheres

que participaram do estudo pertenciam ao Serviço de Puericultura do Centro Comunitário de

Saúde da Vila Lobato.

As mães responderam a escala de avaliação da interação mãe-bebê, e a escala de

Edimburgo, que tem o objetivo de identificar depressão pós-parto. Os resultados mostraram

que mães depressivas após o parto tiveram um resultado geral inferior no que se refere a

escala de avaliação da interação mãe-bebê, em contrapartida as mães que não deprimidas,

obtiveram resultados maiores na escala. Alterações precisas entre os dois grupos de mães

surgiram quanto a comunicação pós-parto, o tipo de relação, de vínculo afetivo. Porém não

foram encontradas diferenças grandiosas no que se refere ao pré-natal, as expectativas criadas

sobre a criança, isso sugere que a depressão materna se concentrou prejudicialmente na

relação mãe-bebê ao longo do período pós-parto. O autor conclui que um envolvimento de

menor qualidade da mãe com filho, também pode ser compreendido através dos sintomas

vivenciados pela mulher durante o quadro depressivo, que leva em conta a tristeza, a perda de

interesse, e de confiança em si mesmo, e nos demais, e que tendem a estar ligados a conflitos

51

e dificuldades sociais e conjugais, sendo estes fatores que influenciam à insatisfação e as

dificuldades da mãe para lidar com a maternidade.

Assim como nos demais artigos exploratórios já citados, nesse artigo pode-se concluir

com base nos resultados que a depressão pós-parto gera impactos negativos para a relação

mãe-bebê, além da mulher com quadro depressivo apresentar dificuldades de interagir e

cuidar do filho, sentindo-se por vezes incapaz. Assim como defende Junior (2009) a

frustração por não conseguir se adequar às expectativas do papel de mulher e de mãe, deixa

um espaço para um conflito entre aquilo que é ideal e o que é realmente real, podendo gerar

sofrimento para a mulher.

Artigo 12: Teixeira (2006) no artigo intitulado "Depressão materna e sua repercussão

na relação inicial mãe-bebê" a autora com base em uma revisão da literatura, argumenta que

as primeiras interações com os cuidadores são a base para as outras relações futuras. Os

impactos da depressão da mãe podem se alongar até a vida adulta do bebê. Gerando

consequências negativas no desenvolvimento da criança.

Teixeira (2006) assim como Calesso (2011), também enfatiza a importância das

primeiras relações, como uma forma de base segura para relações futuras da criança, pois os

impactos da depressão materna podem se estender até a vida adulta do bebê.

Pode-se notar, a partir da síntese dos artigos que foram selecionados, que há uma

unanimidade no que diz respeito aos impactos negativos da depressão pós-parto para o

estabelecimento do vínculoafetivo mãebebe. Todos os artigos selecionados, que envolviam

estudos exploratórios ou somente revisão da literatura foram unanimes ao argumentar com

base nos resultados das pesquisas as consequências negativas da depressão pós-parto, tanto

para o estabelecimento do vínculomãe bebe, quanto na qualidade de vida da mulher e no

desenvolvimento global da criança.

Tendo em vista que a mãedepressiva se encontra indisponível para o desenvolvimento

c de laços afetivos e de apego. Foiressaltado a importância do pai nesse momento, assim

como da família, de forma a amparar e dar apoio para a mulher. Os artigos analisados relatam

a importância do diagnóstico e prognostico ainda durante o pré-natal, e a importância de

estudos novos e maisdetalhados sobre os impactos da depressão tanto para a mãe, quanto para

o bebê e toda a família.

52

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pode-se notar com base no referencial teórico descrito ao longo do trabalho,

juntamente com os resultados dos artigos selecionados e analisados que a maternidade mesmo

sendo algo comum na sociedade, ainda envolve temas que geram polêmicas e discussões, até

mesmo pelo fato de existir um conflito entre modelo ideal e condições realmente concretas

acerca da maternidade. Na contemporaneidade diversas mudanças no que diz respeito a

mulher a família, ao modelo tradicional de mãe vem sofrendo mudanças, conforme

apresentado no decorrer do trabalho a sociedade atual vem percebendo uma maior

atuação feminina no Mercado de trabalho, elas têm investido na carreira, nos estudos, etc.

Pois durante longos anos a maior função atribuída as mulheres era a de ser mãe e dona de

casa.

Hoje pode-se notar, que muitas mulheres optam por adiar a maternidade, ou

simplesmente não desejam. Todas essas mudanças e papéis novos assumidos pelas mulheres

na contemporaneidade pode vir a gerar conflitos e pressões, mesmo que elas possuam maior

liberdade de escolha, se comparado a outros tempos. Muitas mulheres vivem conflitos quando

optam pelo exércitoda maternidade, porém, também possuem sonhos e objetivos profissionais

ou pessoais. Ou quando vivem a maternidade real e acabam se frustrando, pois, a sociedade

ainda romantiza bastante a gravidez e a maternidade, como algo sublime. Porém muitas

mulheres ao vivenciaram esse momento

A revisão pode identificar que a depressão materna ao longo do pós-parto pode

interferir no desenvolvimento de vínculo mãe-bebê. Tendo em vista que fatores

biopsicossociais podem ser agentes que influenciam no surgimento da mesma. Todos os

artigos revisados, tanto os que se tratavam de revisão da literatura, quanto aos que envolveram

pesquisa exploratórias, puderam identificar que mães com depressão pós-parto apresentam

diferenças de interação com os bebês, em relação a mães não depressivas. As mães com

depressão nos estudos que envolviam estudos exploratórios, através de métodos como visita

domiciliar e gravações, obtiveram como resultados observatórios uma baixa no que se diz

respeito a comunicação com os filhos. Aspectos como escolaridade, e ambiente, foram

levados em conta perante os resultados. Desta forma pode-se notar que fatores sociais, afetam

de maneira significativa a relação mãe-bebê. Assim deve- se levar em conta toda a história de

vida da mãe e os eventos antecedentes que contribuíram com o surgimento da depressão.

Deve se ressaltar a importância da preservação de saúde da mulher, e um acompanhamento

53

que abranja não somente a mulher enquanto gestante, mais toda a sua história. Tendo o

profissional de Psicologia um papel fundamental nesse processo.

54

REFERÊNCIAS

AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. DSM-5: manual diagnóstico e estatístico de

transtornos mentais. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. 992p.

AZAMBUJA, Carolina Viecili. DEPRESSÃO PÓS-PARTO MATERNA: INTERAÇÃO

MÃE-BEBÊ E PROCESSAMENTO DE FACES. Rio Grande do Sul, jan. 2017

BADINTER, Elisabeth. Um amor conquistado: o mito do amor materno. Rio de Janeiro,

Nova Fronteira, 1985.

BARBOSA, Lucimar Bóh et al. EVIDÊNCIAS EM ESTUDOS PROGNÓSTICOS.

Fisioterapia e Saúde Funcional, Fortaleza, v. 2, n. 1. 2011

BARBIERI, Carolina Luísa Alves. As amas de leite e a regulamentação biomédica do

aleitamento cruzado: contribuições da socioantropolologia e da história. Cad. Hist.

Ciênc., São Paulo, v. 8, n. 1, jun. 2012. disponível

em: http://periodicos.ses.sp.bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1809-

76342012000100003&lng=pt. Acesso em: 21 set. 2017.

BUSNEL, Marie Claire. A comunicação entre mãe e feto. In: V Encontro Brasileiro para o

Estudo do Psiquismo Pré e Perinatal. 1999. São Paulo. Anais... São Paulo. Casa do Psicólogo.

2002.p. 109-122.

DALBEM, Juliana Xavier. Teoria do apego: bases conceituais e desenvolvimento dos

modelos internos de funcionamento. 2005. Disponível em:

<http://seer.psicologia.ufrj.br/index.php/abp/article/view/40/57>. Acesso em: 19 mar. 2018.

BEE, Helen. O Ciclo Vital. Tradução Regina Garcez. Porto Alegra: Artmed, 1997.

BEE, H. BOYD, D. A criança em desenvolvimento. 12. ed. Porto Alegre: Artmed, 2011.

568p.

BORSA, Juliane Callegaro. A relação mãe-bebê em casos de depressão pós parto.

Psicologia.pt: O portal dos psicólogos, Rio Grande do Sul, p.1-12, 26 nov. 2007. Disponível

em: http://www.psicologia.pt/artigos/textos/A0384.pdf. Acesso em : 18 Nov 2017.

BOWLBY, J. (1989). Uma base segura: aplicações clínicas da teoria do apego (S. M. Barros,

Trad.). PortoAlegre:Artes Médicas.

CAVICCHIA, Durlei de Carvalho. O Desenvolvimento da Criança nos Primeiros Anos de

Vida. S/D. Disponível em: <https://acervodigital.unesp.br/bitstream/123456789/224/1/01d11

t01.pdf>. Acesso em: 19 mar. 2018.

55

CAMPOS, Bárbara Camila de. Depressão pós-parto materna: crenças, práticas de

cuidado e estimulação de bebês no primeiro ano de vida. Pepsic, Porto Alegre, v. 46, n. 4,

2015

CARLESSO, Janaína Pereira Pretto. DIALOGIA MÃE-FILHO EM CONTEXTOS DE

DEPRESSÃO MATERNA: REVISÃO DE LITERATURA. Rev. Cefac, Rio Grande do

Sul, 2011.

COUTINHO, Maria da Penha de Lima. Depressão pós-parto: considerações teóricas. Estud.

Pesqui. Psicol, Rio de Janeiro, v. 8, n. 3, p.1-2, dez. 2008.

DALBEM, Juliana Xavier. Teoria do apego: bases conceituais e desenvolvimento dos

modelos internos de funcionamento. Pepsic, Rio de Janeiro, v. 57, n. 1, jun. 2005. Disponível

em :http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1809-52672005000100003.

Acesso em 30 out. 2017.

DUARTE, Bruna da Silva. DESENVOLVIMENTO INFANTIL: Importância das

Atividades Operacionais na Educação Infantil. Londrina, S/D. Disponível

em: http://www.uel.br/eventos/semanaeducacao/pages/arquivos/ANAIS/ARTIGO/SABERES

%20E%20PRATICAS/DESENVOLVIMENTO%20INFANTIL.pdf.

FARIA, Juliana Toledo de. A Maternidade: A Construção de Um Novo Papel Na Vida da Mulher. São Paulo, 2011.

FELIPE, Renata Pereira de. Análise do efeito da depressão pós-parto não interação mãe-

bebê via categorias comportamentais e estilos interativos maternos. São Paulo, 2009.

FERRARI, Dercio. DESENVOLVIMENTO COGNITIVO: AS IMPLICAÇÕES DAS

TEORIAS DE VYGOTSKY E PIAGET NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM.

2014. 39 f. Monografia (Especialização) - Curso de Pedagogia, Universidade Tecnológica

Federal do Paraná, Paraná, 2014

FIGUEIREDO, Maria do Livramento Fortes. Revisão Sistemática: um caminho para

evidências na produção científica de enfermagem. Revista Saúde em Foco, Teresina, v. 1, n.

1, p.72-81, jun. 2014.

FONSECA, Ana; CANAVARRO, Maria Cristina. Depressão pós-parto. In: CANAVARRO,

Ana Fonseca e Maria Cristina. Depressão pós-parto. Coimbra: Artmed, 2017. p. 38

FRIZZO, Giana Bitencourt. INTERAÇÃOMÃE-BEBÊ EM CONTEXTO DE

DEPRESSÃO MATERNA: ASPECTOS TEÓRICOS E EMPÍRICOS. Maringá, v. 10, n. 1. 2005.

GALVÃO, Cristina Maria; SAWADA, NamieOkino; TREVIZAN, Maria Auxiliadora.

Revisão Sistemática: recurso que proporciona a incorporação das evidências na prática da

enfermagem. Revista Latino-americana de Enfermagem, Ribeirão Preto, v. 3, n. 12, p.549-

556, maio/jun. 2004. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rlae/v12n3/v12n3a14>.

Acesso em: 18 set. 2017.

56

GERHARDT, Tatiana Engel; SILVEIRA, Denise Tolfo (organizadoras). Métodos de

Pesquisa. 1ª Ed. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2009

GOMES, Adriana de Albuquerque. A teoria do apego no contexto da produção cientifica contemporânea. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2011. 396 p.

GUTIERREZ, Denise Machado Duran. Vínculos mãe-filho: reflexões históricas e

conceituais à luz da psicanálise e da transmissão psíquica entre gerações. Rev. Nufen, São

Paulo, v. 3, n. 2, 11 dez. 2011. Disponível

em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2175-25912011000200002.

Acesso em: 22 Set. 2017.

HRDY, Sarah Blaffer. Mãe natureza: uma visão feminina da evolução: maternidade, filhos e

seleção natural. Rio de Janeiro. Campos, 2001.

LUCA. Bruna Lira. Os efeitos da depressão pós-parto na interação mãe-bebê. Brasília.

2005.

LUNA, Ana. NUNCA QUIS TER UM FILHO”, DIZEM MAIS E MAIS BRASILEIRAS.

São Paulo: Az Mina, v. 2016. Disponível em: http://azmina.com.br/2016/01/nunca-quis-ter-

um-filho-dizem-mais-e-mais-brasileiras/. Acesso em: 21 Sete. 2017.

MATTOS, Maria Cecília. História da maternidade. Maternidade no Divã, São Paulo, 2013.

MENESES, Hélem Soares de. O Período Sensório-Motor de Piaget. 2012. Disponível em:

<https://psicologado.com/psicologia-geral/desenvolvimento-humano/o-periodo-sensorio-

motor-de-piaget>. Acesso em: 19 mar. 2018.

PAPALIA, D. E.; FELDMAN, R. D. Desenvolvimento humano. 12. ed. Porto Alegre:

AMGH, 2013. 800p.

PEREIRA, Ângela Lima; BACHION, Maria Márcia. Atualidades em revisão sistemática de

literatura, critérios de força e grau de recomendação de evidência. Revista Gaúcha de

Enfermagem, Porto Alegre, v. 4, n. 27, p.491-498, dez. 2006. Disponível em:

<http://seer.ufrgs.br/index.php/RevistaGauchadeEnfermagem/article/view/4633/2548>.

Acesso em: 15 Set. 2017.

PONTES, Fernando Augusto Ramos et al. Teoria do apego: elementos para uma concepção

sistêmica da vinculação humana. Aletheia, n. 26, p.67-79, 23 jul. 2007. Disponível

em: http://www.redalyc.org/html/1150/115013567007/. Acesso em: 18 Nov 2017

RAMOS, Sofia Helena Amarante da Silva. Depressão puerperal e interação mãe-bebê: um

estudo piloto. Psicol. Pesq., Juiz de Fora, v. 1, n. 1, 2007.

RIBAS, Adriana F. Paes. Responsividade Materna e Teoria do Apego: Uma Discussão

Crítica do Papel de Estudos Transculturais. 2004. Disponível em:

<http://www.scielo.br/pdf/prc/v17n3/a04v17n3.pdf>. Acesso em: 19 mar. 2018

RIBEIRO, Lady Daiane Martins. VYGOTSKY E O DESENVOLVIMENTO

INFANTIL. Goiás, p.1-18, 2014.

57

RABELLO, Elaine. Vygotsky e o desenvolvimento humano. p.1-10, 2005. Disponível

em: http://www.josesilveira.com/artigos/vygotsky.pdf. Acesso em: 2 set. 2017

ROTHER, Edna Terezinha. Revisão sistemática X Revisão narrativa. Redalyc.org, São

Paulo, v. 20, n. 2, p.1-3, abr./jun. 2007. Disponível em:

<http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=307026613004>. Acesso em: 20 Nov. 2016.

SANTOS JUNIOR, Hudson Pires de Oliveira. DEPRESSÃO PÓS-PARTO: um problema

latente. Rev. Gaúcha de Enfermagem, Porto Alegre, v. 4, n. 1, p.105-4, set. 2009.

SCHWENGBER, Daniela Delias de Sousa. O impacto da depressão pós-parto para a interação mãe-bebê. Estudos de Psicologia, Rio Grande do Sul, n. 15. 2003. SILVA, Nuno Francisco Ferreira. Teoria da Vinculação. 2014. 39 f. Tese (Mestrado) - Curso

de Medicina, FMUP, Portugal, 2014. TORRES, Luiz Carlos Bleggi. ETAPAS DO

DESENVOLVIMENTO HUMANO. ColeçãoAgrinho, 2014.

SILVA, Alessandra TurineBolsoni et al. A teoria do apego no contexto da produção

contemporânea. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2011. 396 p.

TEIXEIRA, Geovana Ferreira. Depressão Materna e sua Repercussão na Relação Inicial

Mãe Bebê. Contemporânea - Psicanálise e Transdisciplinaridade, Porto Alegre, 2007.

TOLENTINO, Eraldo da Costa. DEPRESSÃO PÓS-PARTO: CONHECIMENTO SOBRE

OS SINAIS E SINTOMAS EM PUÉRPERAS. Rev. Ciênc. Saúde Nova Esperança, João

Pessoa, p.59-66, abr. 2016.

TORRES, Luiz Carlos Bleggi. ETAPAS DO DESENVOLVIMENTO

HUMANO. ColeçãoAgrinho, 2014.

TOURINHO, Julia Gama. A mãe perfeita: idealização e realidade - Algumas reflexões sobre a maternidade. Riodejaneiro: 2006

VANSO, Vinicius. A importância do diagnóstico diferencial. 2018. Disponível em:

<http://revistasimplesmente.com.br/a-importancia-do-diagnostico-diferencial/>. Acesso em:

26 mar. 2018.

RAMIRES, Vera Regina Röhnelt. Revisitando alguns Conceitos da Teoria do Apego: Comportamento versus Representação. Psicologia: Teoria e Pesquisa, Rio dos

Sinos, v. 26, n. 1, p.4-4, mar. 2010.

ZANELLO, Valeska. Dispositivo materno e processos de subjetivação: desafios para a

Psicologia. In: (ORGS), Valeska Zanello &Madge Porto. ABORTO E (NÃO) DESEJO DE

MATERNIDADE(S): questões para a Psicologia.Brasília: Conselho Federal de Psicologia,

2016. Cap. 10. p. 105-171.