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Descanso Espiritual Silvio Dutra Set/2016

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Descanso Espiritual

Silvio Dutra

Set/2016

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A474

Alves, Silvio Dutra

Descanso Espiritual./ Silvio Dutra Alves. – Rio

de Janeiro, 2016.

77p.; 14,8x21cm

1. Cristianismo. 2. Paz. 3. Reconciliação.

I. Título.

CDD 207

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Sumário

1 - Devemos Entregar Nossos Fardos a Jesus.............................................................................

4

2 - Alívio Garantido..............................................

8

3 - Palavras para Descansar..............................

11

4 - Descansa no Senhor......................................

14

5 - Salmo 27.1............................................................

22

6 - Bem-Aventurados os Que Morrem no Senhor........................................................................

24

7 – Descanso dos Santos......................................

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1 - Devemos Entregar Nossos Fardos a Jesus

“6 Não andeis ansiosos por coisa alguma; antes em tudo sejam os vossos pedidos conhecidos

diante de Deus pela oração e súplica com ações de graças;

7 e a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os

vossos pensamentos em Cristo Jesus.” (Fp 4.6,7)

Este texto de Fp 4.6,7 foi-me passado, certa

ocasião, por uma pessoa querida, para ilustrar a experiência que tivera em relação a um sério

problema que um de seus filhos estava enfrentando. Ela havia tomado o fardo dele para

si. Com isso perdeu a paz, e só via o problema agravar-se dia a dia.

Isto prevaleceu até o Senhor exortá-la por um dos seus profetas, que nada sabia acerca do seu problema, através de um idioma irreconhecível

para o próprio, e para as demais pessoas presentes à igreja onde ela fora cultuar a Deus;

exceto para ela, que tudo discernia em sua própria língua.

A mensagem foi introduzida com o vocativo do seu nome, e afirmava-lhe o Senhor que queria abençoá-la mais, entretanto, ela estava

impedindo-Lhe de agir. O Senhor também

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lembrou que o seu filho era também Seu filho, e que dele, Ele mesmo cuidava.

Ora, diante de tal exortação, e sob impulsão do

Espírito Santo em seu espírito, ela pôde pedir perdão ao Senhor pela sua ansiedade e falta de

confiança prática na Sua providência, entregando-lhe o filho em Suas mãos na mesma hora. Veja bem! Entregou o filho, não

propriamente seus problemas. Com isto, todos os problemas foram resolvidos logo no dia

seguinte.

Que poder real! Que competência!

Esta experiência foi-me relatada para orientar-me, pois eu mesmo lhe dei ocasião, pois estava

compartilhando a situação que estava vivendo com uma pessoa muito querida, que se

encontrava em profunda depressão, pela qual eu vinha orando ansiosamente, sem ver o

problema resolvido. Nem médicos ou remédios estavam dando conta do problema.

Eu havia tomado aquele fardo sobre meus ombros, e confesso que estava bastante sobrecarregado.

Mas, o compartilhar daquela noite abriu meu entendimento espiritual, e agi da mesma forma, conforme sentia testificar no meu

espírito. Entreguei também a citada pessoa nas

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mãos de Deus. Afirmei que ela lhe pertencia e não cabia a mim, tomar a dianteira do Senhor

para a solução do problema.

E o que sucedeu depois disto?

A alegria veio pela manhã, para um choro que havia durado várias noites e dias.

É necessário reconhecer que nem todas as respostas para nossos problemas nos vêm de

forma tão rápida.

É preciso lembrar que para o Senhor mil anos são como um só dia (II Pe 3.8). Mas, bem faremos em não abandonar nossa esperança e confiança

nele. De buscarmos seu poder, que lança para bem longe a ansiedade, de maneira que sua paz

guarde nossas mentes e corações, em Cristo Jesus.

O importante é que estejamos quietos e sossegados em nosso coração,

independentemente das circunstâncias adversas.

Temos conhecimento que há muitos que têm servido fielmente ao Senhor, em meio às

maiores tribulações. Há crentes tetraplégicos com um tremendo testemunho de vida cristã.

Gente com todo tipo de enfermidade congênita ou adquirida, que tem prosseguido adiante com

uma fé inabalável na providência de Deus,

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sabendo que Ele está no comando de todas as coisas.

O fundamental a ser aprendido de tudo isto, é que não importa o grau das tribulações que

sofremos, o Senhor quer que estejamos em paz e sossegados, com paz espiritual em nossas

mentes e corações, por confiarmos nEle, e permanecermos firmes na fé, não propriamente para resolver nossos problemas,

mas para não permitir que a nossa comunhão com Ele seja arranhada ou abalada, seja pelo que

for.

Sabemos não apenas que ele tem disposto todas as coisas de forma que cooperem para o nosso bem, especialmente no tocante ao nosso

crescimento na graça e na santificação, e também e principalmente, para provarmos que

o nosso amor por ele é maior do que o que temos por nós mesmos, por nossos amados, pelas

coisas que aspiramos, de modo que nos gloriamos em nossas tribulações, tal como o

apóstolo Paulo, por sabermos que por este meio, nos tornamos coparticipantes dos sofrimentos

de Cristo, e assim confirmamos para nós mesmos que somos de fato filhos de Deus, pela

paz que ele nos concede para prosseguirmos adiante, livres de inquietações e ansiedades,

desejando que em tudo Jesus Cristo seja glorificado, quer na nossa vida, quer na nossa

morte.

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2 - Alívio Garantido

Temos no Salmo 31 mais uma das orações

modelares de Davi que ele costumava fazer quando se encontrava debaixo de aflições e de angústias. Faríamos bem em lhe seguir os

passos toda vez em que nos encontramos nas mesmas condições que ele havia

experimentado, quando por causa do Seu amor pelo Senhor, muitos lhe armavam laços às

ocultas, e nas quais sempre fazia do Senhor a sua fortaleza, e entregava o seu espírito nas Suas

mãos para ser livrado.

Ele sabia perfeitamente que era uma coisa vã recorrer a ídolos para receber livramento.

Ao contrário, os laços aumentariam, porque Deus abomina os que adoram ídolos.

Sua confiança estava colocada inteiramente no Deus invisível, cuja vontade está revelada na

Bíblia.

Ele somente se alegrava e se regozijava quando o Senhor lhe manifestava a Sua benignidade o livrando das mãos dos inimigos, que

angustiavam e afligiam a sua alma, e firmando os seus pés num lugar espiritual espaçoso, em

que já não podia mais estar sendo oprimido.

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A misericórdia do Senhor para com ele era tão grande, que mesmo quando Davi chegava a

desesperar da vida, pensando que Ele lhe havia abandonado, e que seria destruído por seus

inimigos, o Senhor sempre se manifestava no fim, lhe dando livramento.

De modo que a sua fé nEle, na Sua bondade e misericórdia, aumentava cada vez mais, pois via

como Ele envergonhava os perversos, e emudecia os lábios mentirosos que falam

insolentemente contra o justo, com arrogância e desdém.

Davi aprendeu que Deus sempre age assim com aqueles que se refugiam nEle.

Livrava Davi. Livra você. Livra a mim.

Crer no Senhor na hora da aflição é alívio garantido.

Certamente a fraqueza do espírito é mui grande na hora da angústia, e parece não ter forças ou sequer desejo de confiar em Deus e nem em si

mesmo, mas é preciso lhe pedir socorro ainda que seja com um sinal de um levantar de um

dedo, dizendo: “Senhor olha para mim. Sê o meu auxílio!”

Isto é infalível, porque Ele não se nega a ajudar a qualquer que o busque com um coração

arrependido e sincero.

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Por isso Davi conclamava todos a amarem ao Senhor, porque Ele preserva os fiéis para Si, para

que o amem e o sirvam.

Ele havia aprendido também que a fé é sempre colocada à prova pelo Senhor, nas aflições que sofremos, para que aprendamos a não

confiarmos em nossa própria justiça, em nossa santidade, em nossa capacidade, que são muito

importantes, mas não para nos livrar no dia da angústia, porque nestas ocasiões temos que

colocar toda a nossa confiança no poder de Deus, esperar com fé pela sua resposta e

intervenção, clamando-Lhe por socorro.

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3 - Palavras para Descansar

“Sede fortes e corajosos, não temais, nem vos

assusteis por causa do rei da Assíria, nem por causa de toda a multidão que está com ele;

porque um há conosco maior do que o que está com ele. Com ele está o braço de carne, mas

conosco, o SENHOR, nosso Deus, para nos ajudar e para guerrear nossas guerras. O povo

cobrou ânimo com as palavras de Ezequias, rei de Judá.” (II Crôn 32.7,8)

Aquele que pode ajudar a outros deve ser um

homem que tem respeito pela Palavra de Deus. Podemos descansar com segurança nas

palavras de um homem que, como Ezequias, suas palavras sejam cheias de Deus, e quando, evidentemente, ele não tem nada para dizer,

senão o que Deus disse a ele primeiro.

Um homem torna-se o meio pelo qual Deus fala

à sua alma. "Com ele está um braço de carne, mas conosco o Senhor nosso Deus, para nos

ajudar e para guerrear por nós." Mesmo que isso fosse dito por outro, era uma verdade divina e

qualquer pessoa poderia ter recobrado ânimo sobre ela.

Quando um homem tiver uma mensagem de Deus, ouçam-no com sinceridade, com uma mente aberta pronta para ser ensinada, mas

nunca pense em fazer dele o mestre de seu

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espírito. "O próprio povo descansou nas palavras de Ezequias, o rei" e eles fizeram bem ao fazê-lo,

pois ele era um homem digno de sua confiança. Mas se eles estivessem sob um outro tipo de rei,

ou um homem de caráter e temperamento diferente, poderiam ter-se arruinado, confiando

nas palavras que ele lhes falasse.

Você pode descansar com segurança em

palavras que o exortem à fé em Deus. Você pode muito bem descansar em palavras que o convidem a crer em Cristo, e você pode, sem

medo, acreditar nele, que tem toda a graça e sabedoria e poder para salvar e para lhe

abençoar!

Se as nossas palavras tendem a criar a fé e a fomentá-la, ela irá no caminho certo, mas, por mais que sejam inteligentes as palavras que

possam ser ditas, se a tendência é a de minar a fé e se as palavras que você ouve aumentam essa

tendência, elas serão um entrave eterno para as almas dos homens!

Você nunca poderá estar errado em descansar com as palavras de Deus, mesmo em sua maior

fraqueza você pode olhar para ele e dizer que está confiando nele para vencer.

Se aposse das promessas de Deus, e quando você

se sente deprimido, quando o vento está no leste, quando o fígado não funciona, quando

você tem um verdadeiro coração ferido, quando

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o filho querido e a mulher amada estão enfermos, quando há problemas em casa por

qualquer motivo, então, possam as palavras do Senhor fazer com que seja sempre dito de você:

"O povo cobrou ânimo nas palavras do Rei Jesus, o Rei dos reis e Senhor dos senhores!"

Citações extraídas do sermão de nº 2250 de

Charles Haddon Spurgeon, traduzidas e adaptadas pelo Pr Silvio Dutra.

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4 - Descansa no Senhor

"Descansa no Senhor e espera nele." (Salmo 37.7)

Irmãos e Irmãs, o Senhor, como se para nos

mostrar que Ele tem prazer em nos dar descanso, Ele mesmo descansou de suas obras

no sétimo dia. É inconcebível que Ele poderia ficar cansado! Seria blasfêmia supor que aquele

que não desmaia, nem se cansa possa estar em uma condição de precisar de descanso! E ainda

assim Ele fez repouso, pois quando ele tinha acabado de todas as obras de Suas mãos nos seis

dias da criação, o Senhor "descansou no sétimo dia e o abençoou e santificou."

Este fato é altamente instrutivo e nos ensina que Deus descansa em um trabalho perfeito e que quando esse trabalho é prejudicado o Senhor

repousa em um sacrifício perfeito – no próprio Senhor Jesus Cristo! Ele tem um descanso lá e

Ele fala da nossa "entrada em Seu descanso". Há um descanso de Deus, então, e continua a haver

um descanso para o povo de Deus. E esse descanso, não está meramente em seu mais alto

desenvolvimento no Céu, mas em seu gozo presente na terra, de modo que é dito: "Descansa

no Senhor."

Consideremos então alguns passos para essa Câmara Real de Descanso. Como é que vamos

chegar a esse lugar de repouso sagrado? Os

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passos estão no Salmo diante de nós. O primeiro é: "Não te indignes a ti mesmo." Enquanto você

está lá fora, entre aqueles que cobiçam as coisas más e se rebelam contra a Providência do

Senhor, você não pode descansar. Enquanto você está se agitando para ganhar o que outros

homens cobiçam e desfrutar aquilo em que outros homens têm prazer, você está perdendo os privilégios peculiares dos filhos de

Deus! Enquanto o seu espírito estiver sobrecarregado de cuidados mundanos, você

não pode desfrutar da paz que Jesus deixou como legado a seus discípulos.

Afaste-se deles e pare de admirar a sua felicidade transitória e para de lamentar o seu

sofrimento presente. Você tem inveja de transgressores? Considere-se tolo e ignorante

ao fazê-lo, porque cedo serão ceifados como a relva e murcharão como a erva verde! Eleve-se

acima das coisas que se veem, pois são temporais! Despreze as coisas que satisfazem a

carne, porque essa leve aflição é apenas por um momento.

A primeira escada é: "Confia no Senhor e faze o bem." (v. 3). Você acredita no amor do Senhor?

Prove a sua confiança por se comprometer com Aquele que você ama. Você acredita na Expiação

de Jesus? Voe para a limpeza do sangue que foi derramado por você! Você acredita na glória de

seu Senhor ressuscitado? Comprometa todo o

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seu futuro Àquele com quem sentar-se-á no trono um dia!

Assim como em todas as suas provações, continue crendo em Deus. Não deixe que nada te faça duvidar ou desconfiar do seu Deus. Saiba

que Ele é Deus e "Sua misericórdia dura para sempre", e confie nEle para sempre! Mas que

esta fé seja prática - "Confia no Senhor e faze o bem." Uma fé morta, sem obras, vai lhe trazer

senão um pobre conforto. É por meio do exercício da fé que o conforto vem ao coração,

assim como o exercício dos nossos membros fortalece a nossa estrutura corporal.

Quando você tiver aprendido a confiar, você terá ascendido a escadaria nobre do palácio real?

Você adentrará na sala de jantar do rei, onde está escrito, "Na verdade você deve ser

alimentado." Observe a promessa, se você tem uma fé viva, ativa, você deve ser provido! Suas necessidades corporais serão atendidas. Suas

necessidades mentais, também, devem ser satisfeitas. E quanto às grandes demandas de

seu espírito, o Deus Todo-suficiente suprirá todas elas. "Então você deve morar na terra e

verdadeiramente será alimentado."

Quando você tem prazer, começa a desejar. Abra a boca e o Senhor irá enchê-la! Amplie as suas petições e Ele irá atendê-las. Deseje mais graça,

mais santidade, mais amor, mais conhecimento

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de Cristo. Peça o que quiser e será feito a ti, pois será feito conforme a vontade de Deus, que pelo

Espírito te ensinará o como, o sobre e o quando pedir!

Aqui Ele manda você abrir o seu coração e derramar seus desejos secretos, pois Ele vai lhe dar os dons do Seu amor e lhe encher de toda a

Sua plenitude!

Você agora deve subir outra escada de descanso

ainda: "Entrega o teu caminho ao Senhor, e confia nele." Quanto àquela parte do seu

caminho que lhe concerne e está sob seu controle, se empenhe para andar de acordo com

a mente do Senhor.

Mas todas aquelas partes do seu caminho que você não entende, e não tem nenhum poder

sobre elas, deixe inteiramente à vontade absoluta de Deus! "Todos os passos de um

homem bom são ordenados pelo Senhor." Se você deve andar através do deserto, se você vai

avançar sem a orientação da coluna de nuvem e fogo que é fornecida para você, para onde você

irá? Seu julgamento falível e força fraca estão prestes a falhar! Deixe a vontade de seu Senhor

ordenar cada passo que você deve dar e peça somente para conhecer a Sua vontade e que seja

capaz de seguir a Sua orientação. Não deseje se intrometer nos segredos do futuro, mas

"Entrega o teu caminho ao Senhor."

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Não se preocupe com os problemas ou o presente, mas deixe o seu caminho onde você

tem deixado sua alma. Diga ao Senhor: "Meu Pai, uma vez que esta estrada é muito difícil para os

meus pés infantis, praza-te em me conduzir, assim como tens feio com todo o Seu povo em

todas as épocas.”

Então você precisa de uma lâmpada para andar no caminho que estiver escuro, como se vê no

verso 6: "Ele deve trazer a tua justiça como a luz, e o teu juízo como o meio-dia." Você se sente

convencido de que o que é deixado com Deus é seguro.

Agora, vamos tentar formar uma ideia do descanso, em si, do que é concedido a nós nesta

Câmara Real. Primeiro, é um descanso da mente, cujo ingrediente importante é a

sensação de segurança e calma, uma crença fixa nos ensinamentos do Espírito Divino e no Evangelho que recebemos. É uma sensação de

ter apreendido as bênçãos que esse Evangelho detém para nós e, portanto, um sentimento de

certeza da nossa aceitação diante de Deus e da nossa segurança eterna, por Cristo Jesus.

Em seguida, este descanso é, em outro aspecto, contentamento – perfeita satisfação com a

nossa porção terrena. A ambição destrói o descanso. A ganância constante da avareza

coloca o descanso fora de questão. A

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preocupação, o desejo de acumular, de querer mais, a impaciência cobiçando mais do que

Deus tem o prazer de dar, tudo isso arruína o descanso. Oh, diga: "Oh Senhor seja feita a tua

vontade! Tendo alimento e vestuário, estou contente." "Eu aprendi a viver contente em toda

e qualquer situação".

Em seguida, há neste descanso uma confiança

perfeita em Deus, de modo que quando debaixo de grande provação, a alma diz: "Eu tenho

certeza de que Deus é justo no que faz. Eu não posso ver a razão, mas eu sei que a provação é

enviada em amor.

Oh, mas isso é uma coisa abençoada, estar bastante confiante de que Deus não pode errar, não pode abandonar, não pode mudar, não pode

deixar de amar e que, portanto, tudo o que vem de Deus vem no caminho certo, na hora certa,

na medida correta e que tudo está bem e vai acabar bem!

Este descanso significa, também, paz - a paz da alma consigo mesma, com seus semelhantes,

com Deus. Os homens podem até não gostarem de você, mas eles devem ser colocados em

cheque, pois, "quando os caminhos do homem agradam ao Senhor, faz que até os seus inimigos

tenham paz com ele."

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Este descanso significa felicidade tranquila, calma interior. A alma tem ficado onde deseja

estar e não tem intenção de se deslocar de sua posição.

O próprio Senhor é o nosso descanso pois se diz: "Descansa no Senhor." O Senhor se revelou a nós nestes dias na pessoa de Seu Filho unigênito!

Jesus, semelhante a nós por natureza! Jesus, nosso Substituto e Fiador! Jesus, o nosso Tudo

em Todos!

Embora este é obviamente o principal

significado, podemos acrescentar que, "Descansa no Senhor", significa descanso nEle

como seu Deus da Aliança. Você não tem que lidar com uma divindade abstrata que se

mantém distante como seu Criador ofendido. Eis Amado, se você acredita em Jesus, o Senhor

entrou em uma aliança eterna com você, em tudo bem ordenada e segura! Ele disse a seu respeito: "Eu não deixarei de lhe fazer o bem." Ele

prometeu mantê-lo e preservá-lo e trazê-lo para sua eterna glória, por um pacto assinado e

selado com o precioso sangue de Cristo!

Descanse, também, na fidelidade de Deus. O que Ele prometeu Ele irá executar. Ele não é homem para que minta, nem filho de homem para que

se arrependa. Ele tem dito e ele não deve fazê-lo? Descanse também em Sua Palavra que Ele tem

escrito para sua consolação. O Espírito Santo, de

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mil maneiras, declarou a boa vontade divina para você, medite sobre o que Ele tem ditado.

Tão completa, quanto o céu está tão cheio de estrelas, estão as Escrituras com promessas!

Tome estas preciosas promessas, uma por uma. Creia nelas e ore ao Senhor, dizendo: "Cumpra

esta palavra para o seu servo pela qual me fez ter esperança. Oh Senhor, faça o que você tem dito."

Então docemente descanse na veracidade eterna, pois o Senhor irá cumprir cada uma de

Suas promessas para você.

Partes de um sermão de Charles Haddon Spurgeon, traduzidas e adaptadas pelo Pr Silvio

Dutra.

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5 - Salmo 27.1

“O Senhor é a minha luz e a minha salvação; de

quem terei medo? O Senhor é a fortaleza da minha vida; a quem temerei?” (Salmo 27.1)

Certamente, também há repouso, mesmo em meio à tentação. Agora, Deus faz com que as

coisas sempre vão morro acima, morro abaixo e, logo, outra vez, morro acima. Ora é noite, ora é dia, e logo volta a ser noite, e nem sempre é dia.

O dia e a noite se sucedem, assim que ora é noite, ora é dia e, logo em seguida, é noite outra

vez. É assim que ele governa a sua Igreja cristã, como mostram todas as histórias do Antigo e do

Novo Testamento. E isso se chama força, a saber, que o Senhor não é conselheiro e consolador

daqueles que se limitam a palavras e não fazem nada além disso. Não, ele também ajuda para

que tudo seja superado. Quando estamos em meio à tentação, ele nos dá seu fiel conselho e

nos fortalece com sua palavra, para que não desfaleçamos de fraqueza, mas possamos ficar

firmes. Agora, quando é chegada a hora e já sofremos o suficiente, ele se põe do nosso lado

com seu poder, para que superemos o momento crítico e saiamos vitoriosos. Precisamos de

conselho para nos consolar e sustentar no sofrimento, ou seja, de consolo em meio às

tentações e sofrimentos, para que não sucumbamos, mas tenhamos esperança e

paciência. É assim que ele dirige toda a

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cristandade. É assim que ele governa. Quem desconhece isso, não sabe o que significa ter

Cristo por Rei.

Por Lutero, traduzido e adaptado por Silvio Dutra.

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6 - Bem-Aventurados os Que Morrem no Senhor

"Bem-aventurados os mortos que morrem no

Senhor. Sim, diz o Espírito para que descansem das suas fadigas, pois as suas obras os

acompanham "(Apocalipse 14:13).

Temos aqui o testemunho de Deus Pai e o do Espírito Santo, ambos atestando que é uma coisa

boa morrer no Senhor.

Aqui estão duas testemunhas declarando que a

morte perdeu seu aguilhão, e que a sepultura foi vencida.

O mundo diz: "Bem-aventurados são os vivos", mas Deus diz:" Bem-aventurados os mortos.

O mundo julga as coisas pelos seus sentidos, pela sua aparência exterior, mas Deus julga

segundo o verdadeiro valor e pelo prisma da eternidade.

Por isso, bem-aventurados são os mortos, mas não todos os mortos, mas apenas "aqueles que

morrem no Senhor."

Estreito é o caminho que conduz à vida eterna, e são poucos os que andam por ele.

Assim disse Jesus Cristo.

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Nem todos os que parecem ramos são ramos da videira verdadeira.

A seiva da vida que é experimentada enquanto estamos neste mundo é a mesma seiva

espiritual que nos manterá vivos em espírito na presença de Deus, depois que deixarmos este

corpo de carne e osso.

Aqueles que morrem em Cristo são bem-aventurados porque serão consolados, recompensados, e descansarão de todas as suas

obras neste mundo.

O que faz com que tudo aqui se torne trabalhoso e difícil é o pecado, a oposição de Satanás e do mundo e o peso da nossa velha natureza.

A vida do cristão fiel é uma vida de muita luta e trabalho.

Mas quando morre no Senhor, descansa dos seus labores.

A oposição de Satanás e a luta com o pecado,

cessa, e um viver plenamente abençoado e venturoso começa.

Partir e estar com Cristo é estar para sempre livre de toda forma de luta e tribulação.

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7 – Descanso dos Santos

“Esforcemo-nos, pois, por entrar naquele

descanso”

Por Richard Baxter, traduzido e adaptado por

Silvio Dutra.

“Portanto, resta um repouso para o povo de Deus. Porque aquele que entrou no descanso de

Deus, também ele mesmo descansou de suas obras, como Deus das suas. Esforcemo-nos,

pois, por entrar naquele descanso, a fim de que ninguém caia, segundo o mesmo exemplo de

desobediência.” (Hb 4.9-11).

A epístola aos Hebreus foi escrita de fato com o principal propósito de exortar os crentes à maturidade. Mas ela faz isto de um modo

especial, demonstrando que é uma necessidade imperiosa mais do que buscar a maturidade, a

de que o crente viva na fé que o salvou, que ele caminhe de acordo com aquilo a que foi

destinado a ser na eternidade com Deus.

Um crente que não busque diligentemente a santificação e a paz é uma aberração, assim

como dizemos das coisas que não são o que deveriam ser conforme a sua própria natureza

específica. Imagine um gato que tivesse nascido com um focinho de cachorro. Chamamos a isto

de aberração. Agora imagine um filho de Deus

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que não trouxesse consigo a semelhança de Cristo. Ele seria uma aberração aos olhos de

Deus.

Os capítulos 3 e 4 da epístola aos Hebreus,

tratam basicamente do descanso de Deus para os seus filhos. O descanso que sendo de Deus é também o descanso dos crentes.

Há uma casa espiritual preparada para os crentes, para confortá-los de suas canseiras em

sua jornada terrena, da luta do bom combate da fé, um descanso que não poderá ser desfrutado

pelo incrédulo. Mas este descanso não deve ser esperado passivamente pelos crentes. Eles

devem se empenhar diligentemente em todos os dias da sua vida, caminhando de modo digno

dos que têm alcançado a grande bênção de herdar tal descanso. Fazendo isto pela fé. “Nós,

porém, que cremos, entramos no descanso; conforme Deus tem dito: Assim jurei na minha

ira: Não entrarão no meu descanso; embora, certamente, as obras estivessem concluídas

desde a fundação do mundo.” (Hb 4.3).

Um coração endurecido pela incredulidade é o que nos impede de herdar o descanso, ou então, uma vez tendo obtido a herança pela fé, não

vivermos pela fé, e assim, não experimentamos na terra as virtudes do descanso, que será

perfeito e pleno no céu, mas que pode ser vivido

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ainda que não plena e ininterruptamente, aqui embaixo, pela fé.

Os que não creem em Cristo, assim como os israelitas incrédulos nos dias de Moisés, ficarão para sempre impedidos de entrarem no

descanso de Deus, como Ele mesmo tem declarado:

“Assim, pois, como diz o Espírito Santo: Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais os vossos corações como foi na provocação no dia da

tentação no deserto, onde os vossos pais me tentaram pondo-me à prova, e viram as minhas

obras por quarenta anos. Por isso me indignei contra essa geração, e disse: Estes sempre

erram no coração; eles também não conheceram os meus caminhos, Assim jurei na

minha ira: Não entrarão no meu descanso.”.

Deste modo, para o crente, uma vez obtida a fé

que salva na conversão, a posição de se viver na mesma fé, vivendo por fé e não por vista, não é

uma opção, mas um dever, uma necessidade, uma obrigação.

É completamente estranha à Bíblia a falsa ideia de que Deus está interessado somente em que a pessoa confesse a Cristo como Salvador, e que

uma vez salva pela fé, ela possa descansar em relação à sua vida presente e futura. Ao

contrário, agora que é crente é exortada

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firmemente a lutar, a buscar incessantemente o descanso do Seu Senhor. Este descanso neste

mundo se traduz principalmente pela paz da consciência de estar fazendo aquilo que é

agradável a Deus, por uma vida de fé autêntica e ativa. Pela aprovação do Espírito no coração de

que tudo vai bem. Daí soar a exortação: “Tende cuidado, irmãos, jamais aconteça haver em qualquer de vós perverso coração de

incredulidade que vos afaste do Deus vivo, pelo contrário, exortai-vos mutuamente cada dia,

durante o tempo que se chama Hoje, a fim de que nenhum de vós seja endurecido pelo

engano do pecado. Porque nos temos tornado participantes de Cristo, se de fato guardarmos

firme até ao fim a confiança que desde o princípio tivemos.”.

Observe que a exortação de toda esta porção bíblica é dirigida a crentes. Eles são advertidos do fato de que um coração perverso de

incredulidade é o que os afasta do Deus vivo. É pois imperioso cuidar da fé e viver na fé, porque

sem fé é impossível agradar a Deus. Para tal propósito devem se exortar mutuamente aqui

embaixo, enquanto viverem neste mundo, para que nenhum deles seja endurecido pelo engano

do pecado. Para que vivam em santidade de vida purificando-se do pecado, mortificando os

feitos do corpo diariamente. A perseverança dos santos é a prova da sua participação de Cristo. A

participação da vida do Senhor exige que se

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mantenha até o fim da vida neste mundo, a mesma confiança que os crentes tiveram na sua

conversão. Este é o único modo de se viver dignamente agradando a Deus. Ninguém se

engane, portanto, com uma falsa doutrina que ensine que a graça é tolerante com os nossos

pecados, ou que é algo que consinta que vivamos conformados ao mundo, amando as coisas que são do mundo. Porque foi exatamente para

mortificar o pecado e os nossos afetos pelo mundo que a graça nos foi concedida por Deus.

“Esforcemo-nos, pois, por entrar naquele descanso, a fim de que ninguém caia, segundo o

mesmo exemplo de desobediência.” É portanto a ordem do Espírito Santo não apenas para que

alcancemos a salvação em Cristo Jesus, como também para que não vivamos

desobedientemente a Deus, provocando a Sua ira, depois de termos nos tornado seus filhos.

Como podemos afirmar que este descanso é realmente precioso, que é a pérola de valor inestimável, se vivemos negligenciando a busca

séria deste descanso de Deus? Como podemos afirmar que este descanso espiritual é o nosso

grande e precioso tesouro se vivemos como carnais e não como espirituais?

Os que são carnais não têm nem coração nem tempo para buscar este descanso. “Ó pecadores

insensatos quem lhes fascinou?”. O mundo

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fascina os homens tornando-os como que irracionais, e os leva até mesmo à loucura. Ele os

faz correr de um lado para o outro para atingirem uma posição mais elevada no mundo,

correndo atrás de coisas de nenhum valor, enquanto as coisas de valor eterno são

negligenciadas. Eles se esquecem ou não conseguem entender a seriedade das advertências do Senhor quanto ao cuidado do

mundo, que podem sufocar o crescimento e desenvolvimento do reino de Deus na terra

espinhosa de seus corações. “Acautelai-vos por vós mesmos para que nunca vos suceda que os

vossos corações, fiquem sobrecarregados com as consequências da orgia, da embriaguez e das

preocupações deste mundo, e para que aquele dia não venha sobre vós repentinamente, como

um laço.” (Lc 21.34). “ O que foi semeado entre os espinhos é o que ouve a palavra, porém os

cuidados do mundo e a fascinação das riquezas sufocam a palavra, e fica infrutífera.” (Mt 13.22).

Grande é de fato a misericórdia e graça de Deus para salvar o pior dos pecadores, que venha a se arrepender e crer, mas isto não significa em

momento algum complacência do Senhor em relação ao pecado daquele que salvou, pois Ele

mesmo nos admoesta a não pecarmos mais, isto é, a não vivermos mais debaixo do domínio do

pecado, permitindo-lhe ser o senhor de nossas palavras, pensamentos e ações. Deus pode

justificar o pior dos pecadores, mas jamais

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justificará o menor dos pecados. Por isso, na justificação perdoa o pecador em Cristo, por ter

pago na cruz o preço pelos seus pecados, mas nunca fará vista grossa para qualquer pecado ou

declarará o pecador inocente do mal que praticou. Por isso perdoa e não inocenta, porque

não somos inocentes do mal que praticamos.

Quantos há que são realmente diligentes em seus negócios pessoais relativos a aumentarem suas posses materiais, mas nem um pouco em

hábitos de meditarem e praticarem a Bíblia, e de oração? Eles são amigos do mundo e desprezam

as coisas de Deus. Mas o que o mundo poderá fazer por eles na vida por vir? Jesus falou de um

rico no inferno pedindo a Lázaro no paraíso que refrescasse a sua língua com uma gota de água.

E isto não nos faz refletir nem um pouco sobre a devida consideração que devemos ter pelas

riquezas e prazeres deste mundo, e o quanto isto pode nos impedir de viver de modo

inteiramente agradável a Deus? Estas coisas passageiras são de maior valor do que o

daquelas do nosso descanso eterno? Ou elas compensarão a perda daquele tesouro

duradouro? O tesouro eterno não é algo cuja posse podemos arriscar, vivendo longe do

mesmo pelo endurecimento do pecado e pelo amor ao mundo que é inimizade contra Deus,

pois quem ama o mundo se faz inimigo de Deus (Tg 4.4). Assim, apesar de sabermos que a nossa

salvação em Cristo é eterna e segura, em

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nenhum momento somos incentivados pela Bíblia a negligenciarmos tão grande salvação

por um viver negligente e descuidado. São inúmeras as advertências da Palavra para que

progridamos na fé e no conhecimento da graça e de Jesus Cristo a bem da segurança das nossas

almas. Há advertências diretas quanto a isto e ilustrações através de parábolas, como a do servo vigilante, dos talentos e das dez virgens. E

como em face de tantas advertências ousaríamos arriscar o nosso destino eterno por

um viver descuidado neste mundo? Nenhum crente sensato e sábio jamais arriscaria tentar

saber quanto pode um salvo viver em pecado ou experimentar o amor ao mundo, seguindo o

pendor da carne e não o do Espírito sem o risco de perder a sua salvação. Tal ideia não é

concebida por Deus conforme está revelado na Palavra, porque não foi para isto que Ele nos

salvou, isto é, para continuarmos debaixo do domínio do pecado. “Que diremos, pois?

Permaneceremos no pecado para que seja a graça mais abundante? De modo nenhum.

Como viveremos ainda no pecado, nós os que para ele morremos?” (Rom 6.1,2). Ao contrário,

somos exortados, quando o assunto se refere à certeza e segurança eterna da salvação, a

confirmarmos nossa vocação e eleição com diligência cada vez maior, para nos livrar da

corrupção das paixões que há no mundo, pela busca das graças espirituais (fé, virtude,

conhecimento, domínio próprio, perseverança,

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piedade, fraternidade e amor), como vemos por exemplo, em II Pe 1.4-11. Nunca desprezemos

pois as boas obras porque é por elas que comprovamos a nossa salvação. É de fato

somente pela graça mediante a fé que somos salvos, mas esta salvação, se for genuína, será

comprovada pela nossa perseverança na prática das boas obras.

Os crentes são em grande parte estimulados a associarem a bênção de Deus pela obtenção de

bens materiais, e há um grande perigo nisto, quando não é pregado e ensinado de modo

adequado e bíblico, porque pode fazer com que fiquem apegados às coisas que são da terra e não

às que são do céu. Os nossos afetos não devem ser dados ao mundo e ao que no mundo está,

mas a Deus que faz com que apreciemos e usufruamos todas as coisas com alegria de

espírito e de forma adequada. O povo de Israel quando recebeu muitas bênçãos materiais de

Deus quando entrou em Canaã, não obedeceu a advertência que o próprio Senhor lhes fizera

anteriormente através de Moisés, de que O abandonariam e se prostituiriam com as

práticas da terra que conquistariam quando Ele os fizesse prosperar, e foi efetivamente o que

ocorreu. E é isto que sempre ocorre com o povo de Deus, quando não vigia e não se acautela

deste laço de desviar o seu tesouro do Senhor para as coisas do mundo, porque onde estiver o

nosso tesouro, ali estará também o nosso

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coração. (Diz-se que no século dezoito quase todas as pessoas de Nova York eram crentes, em

razão do grande avivamento havido naquela cidade. Mas tendo aqueles crentes prosperado,

e tendo a sua descendência usufruído da prosperidade material que experimentaram,

voltaram as costas para Deus, e a iniquidade que existe hoje naquela cidade testemunha a verdade de que quando o crente prospera, ele é

tentado a virar as suas costas para Deus. Cuidemos portanto de vigiar contra este perigo,

amando as coisas que recebemos do Senhor, esquecendo-nos dAquele de quem as

recebemos – nota do tradutor.)

O Salmo 106 é introduzido com a afirmação de

que o Senhor é bom e a causa disto é que a sua misericórdia dura para sempre (verso 1), e a

consequência disto é que ninguém poderá contar os inumeráveis feitos poderosos do

Senhor (verso 2). Isto é um fato inconteste, pois por Sua bondade, Deus faz com que o Seu povo

prospere, e isto é motivo para alegria deles e de seus irmãos (verso 5). Mas, como somos

advertidos pelo autor de Hebreus a não nos deixarmos endurecer pelo pecado, tal como

sucedera com Israel, e cujo exemplo foi registrado na Palavra para nossa advertência,

não é incomum que apesar de tantas advertências e exemplos do Senhor, que

caiamos muitas vezes no mesmo tipo de desobediência. Os milagres, misericórdias e

providências do Senhor abundam ao nosso

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redor, ensinando-nos que Ele deve ser adorado, amado, temido e servido, em face de tal bondade

revelada a nós, mas o que geralmente fazemos? Esquecemos do Senhor, e colocamos o nosso

coração nas coisas que temos recebido, e fazemos com que a obtenção de novas e maiores

posses sejam o alvo de nossas vidas, e em não as obtendo passamos a ser murmuradores contra Deus, tal como fizera Israel no passado: “Nossos

pais, no Egito não atentaram às tuas maravilhas; não se lembraram da multidão das tuas

misericórdias, e foram rebeldes junto ao mar, o Mar Vermelho.” (Sl 106.7). Mas, ainda assim se

diz que: “Mas ele os salvou por amor do seu nome para lhes fazer notório o seu poder.” (Sl

106.8). O Senhor quer ser agradecido, louvado e glorificado pela manifestação da Sua

misericórdia e poder. Por isso mesmo em face da rebeldia de Israel, continuou manifestando

as Suas obras, e assim: “Salvou-os das mãos de quem os odiava, e os remiu do poder do inimigo.

As águas cobriam os seus opressores, nem um deles escapou.” (verso 11). Tal como ocorre

conosco, quando mesmo imerecidamente testemunhamos ou somos o objeto dos grandes

livramentos do Senhor, a consequência imediata é que: “Então creram nas suas

palavras, e lhe cantaram louvor.” (verso 12). Mas, como a carne é fraca, e são muitas as

cobiças que nela militam para obter o nosso afeto, dá-se que: “Cedo, porém, se esqueceram

das suas obras, e não lhe aguardaram os

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desígnios; e tentaram a Deus, na solidão.”. Quando somos provados em nossa fidelidade ao

Senhor, deixando-nos sem atender as coisas que desejam os nossos corações, costumamos

esquecer-nos dele e nos entregamos à construção da nossa própria torre de Babel.

Tentamos então obter pelo nosso próprio esforço aquilo que desejamos sem depender de Deus ou atender à Sua vontade. Não podemos

esperar pelo cumprimento dos propósitos de Deus em nossas vidas e assim somos apanhados

pela nossa própria cobiça e ansiedade. Nossas orações não são petições com gratidão em

nossos corações. Mas são como uivos de quem chora por dinheiro, roupa, comida, quando já

temos o suficiente para o nosso sustento, porque a providência do Senhor para conosco

nunca falha. Israel obteve do Senhor aquilo que murmurando lhe pediram, tentando-o, como

que exigindo que a satisfação da cobiça da carne deles pelo Senhor fosse a prova da Sua real

bondade e interesse por eles. Ele lhes mandou codornizes mas lhes fez definhar a alma. Por isso

a piedade é para tudo proveitosa com o contentamento que vem da parte do Senhor.

Porque sem isto, de nada vale acumular bens, se o Senhor não nos concede a alegria de viver.

“Concedeu-lhes o que pediram, mas fez definhar-lhes a alma.” (verso 15).

A razão deste endurecimento pelo pecado do povo de Israel decorria do fato de que eles não

davam nenhum valor às coisas de Deus, ao seu

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descanso eterno que havia preparado desde antes da fundação do mundo para aqueles que O

amam. E assim, não era o Senhor mesmo que tinha real valor para eles, mas aquilo que

poderiam obter do Senhor. Assim, quando chegaram no Monte Sinai, saídos do Egito, já

tendo desagradado a Deus por inúmeras vezes e de diversas formas, também se esqueceram rapidamente do Senhor no Sinai, fazendo para si

um bezerro de ouro, não tendo qualquer consideração para com o Senhor pelos

portentosos feitos e maravilhas que fizera diante deles no Egito (versos 21 e 22). De tal modo

O provocaram à ira que Ele os teria destruído a todos se Moisés não tivesse intercedido em

favor deles. De igual modo, quando esquecemos do Senhor e levantamos ídolos em nossos

corações que passam a ter os nossos pensamentos e corações, nós despertamos a

Sua cólera contra nós, e como eles, não somos destruídos porque temos a Jesus como nosso

Sumo-Sacerdote intercedendo em nosso favor. Mas, como Deus não muda, assim como Ele fez

com os crentes coríntios, continua a fazer com o seu povo em todas as épocas, tomando alguns

como exemplo para que os demais temam, sujeitando-os à destruição da carne por Satanás,

em razão de viverem deliberadamente na prática do pecado, não sendo poucos os que são

enfermados e até mesmo punidos com a morte física. Daí Paulo ter dito aos crentes de Corinto

que estavam comendo carne sacrificada aos

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ídolos: “Não podeis beber o cálice do Senhor e o cálice dos demônios: não podeis ser

participantes da mesa do Senhor e da mesa dos demônios. Ou provocaremos zelos no Senhor?

somos acaso mais fortes do que ele?” (I Cor 10.21,22). E esta advertência foi colocada por ele

no contexto do seu ensino sobre as coisas que sobrevieram a Israel no passado como exemplo e advertência para a Igreja de Cristo. “Todos eles

comeram de um só manjar espiritual, e beberam da mesma fonte espiritual, porque

bebiam de uma pedra espiritual que os seguia. E a pedra era Cristo.” (I Cor 10.3,4). Como povo de

Deus, os israelitas participavam dos benefícios e bênçãos da pedra espiritual que os seguia,

Cristo. Mas, apesar disto se diz também deles: “Entretanto, Deus não se agradou da maioria

deles, razão por que ficaram prostrados no deserto.”. O pecado neles, assim como em nós,

não pode agradar a Deus. As nossas cobiças de coisas que são reprovadas por Deus (ídolos,

vícios etc) impossibilitam que o Senhor possa estar se agradando de nós: “Ora, estas cousas se

tornaram exemplos para nós, a fim de que não cobicemos as cousas más como eles

cobiçaram.” (10.6). Quase toda uma geração de israelitas foi impedida de entrar em Canaã, em

razão do pecado da incredulidade, porque temeram os cananeus e não creram na Palavra

do Senhor de que lhes daria vitória sobre eles. Eles não deram o devido valor à terra de Canaã e

desejaram voltar ao Egito, ainda que na

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condição de serem feitos de novo escravos. Crentes há, e não são poucos, que não valorizam

a Canaã celestial e seus tesouros, e sentem saudades dos velhos hábitos da vida de pecado,

antes de terem conhecido a Cristo. As suas más cobiças, fazem com que suspirem pelo tempo

em que eram escravos do pecado. Mas, tendo sido feito povo de Deus, por termos sido livrados da escravidão do pecado, do mundo e de

Satanás, pelo sangue de Cristo, não há outra alternativa de vida para nós, senão a de não nos

fazermos idólatras (10.7) amando mais outras pessoas ou coisas do que a Deus, que deve ser

amado acima de todas as cousas, com toda a nossa alma, força, mente e coração. Lembrando

sempre, que quando ocorre o contrário não somente desagradamos a Deus, como também

ficamos sujeitos aos seus juízos. Os israelitas rebeldes receberam a sentença de morte, ainda

que muitos deles não tenham sido mortos fisicamente pelo Senhor no momento em que

proferiu a sentença, mas eles viveram com tal sentença de morte, em sua grande maioria, por

quarenta anos. Eles experimentaram o desagrado do Senhor não podendo

experimentar, e nem sequer ver a terra que manava leite e mel, porque a desprezaram no

seu coração e amaram a antiga vida que tinham no Egito. Não é possível ao crente experimentar

as delícias da Canaã celestial se ele tem desprezado em seu coração os seus tesouros. E

além de tudo, ainda que vivo em Cristo, vive

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como se estivesse morto, por não experimentar a plenitude da graça do Senhor em seu coração,

por estar vivendo de modo que Lhe seja agradável. Mas, Paulo prossegue dizendo que

não devemos também praticar a imoralidade porque alguns dos israelitas o fizeram no

deserto e caíram num só dia vinte e três mil deles (10.8). Um abismo chama outro abismo. Um pecado leva a outro pecado. Quando

experimentaram o desagrado do Senhor, em vez de se arrependerem e voltarem à prática do que

é bom, entregaram-se à imoralidade. Um crente pode pensar que já que está errado mesmo, nada

importa se errar um pouco mais. Isto é um grande engano, porque estará atraindo outras

más consequências e juízos corretivos de Deus sobre a sua vida. Uma fraqueza não justifica um

desprezo maior pelas coisas santas do Senhor. Não será se chafurdando mais na lama do

pecado que obterá uma maior misericórdia ou favor do Senhor. Ao contrário, despertará uma

maior ira. Ainda que não para condenação eterna, caso tenha sido livrado desta pela graça

de Cristo, há de arcar com as consequências por estar provocando tão deliberadamente a Deus

praticando o pecado e fazendo aquilo que Lhe desagrada.

Não se deve colocar a bondade do Senhor à prova pela prática voluntária do pecado de

tentar usá-lo para atender às cobiças do nosso coração, de modo que não venhamos a perecer

pelas mordeduras das serpentes venenosas

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(10.9). Isto dá acesso à atuação dos demônios sobre as nossas vidas, porque além de sermos

tentados pelas nossas próprias cobiças, somos também tentados por Satanás e seus agentes,

que procuram desviar a nossa atenção do Senhor e das coisas relativas ao reino de Deus,

para as coisas que são deste mundo, de modo que possam ganhar inteiramente os nossos desejos e afetos para elas. E nossa busca do

Senhor será interesseira. Uma falsa busca, porque não temos real apreço por Ele e pelo que

é dEle, mas para simplesmente obter o que é de nosso próprio interesse egoísta e relativo às

coisas deste mundo. E assim, finalmente o apóstolo nos exorta a não murmurarmos (verso

10), porque os israelitas o fizeram e foram destruídos pelo exterminador. A gratidão é

exigida pelo Senhor porque tudo contribui para o bem dos que o amam, e todos os seus atos são

de pura bondade e amor. Nossa impaciência, carnalidade, ansiedade, dentre outros motivos,

é o que nos impede de enxergar e entender isto. Mas bem faríamos em ser pacientes em nossa

jornada, e mesmo em face de aparentes ausências do Senhor e do seu cuidado,

deveríamos ter a certeza da fé de que Ele nunca nos abandonará e deixará de cuidar de nós, se o

buscarmos de todo o nosso coração, porque Ele prometeu honrar os que O honrarem. Não

devemos ser como Israel, que mesmo depois de ter entrado em Canaã e terem experimentado

toda a bondade e providência do Senhor vieram

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a fazer o que está relatado no Salmo 106.24,25: “Também desprezaram a terra aprazível, e não

deram crédito à sua palavra; antes murmuraram em suas tendas, e não acudiram à

voz do Senhor.”. Por meio de Jesus estamos a caminho da Terra Prometida, da Canaã

Celestial. Que nunca a falta de fé de um coração perverso faça com que venhamos a desprezar esta terra aprazível, por não darmos crédito à

Palavra do Senhor que a tem prometido a nós. Como murmuraremos contra o Senhor por

estarmos insatisfeitos com qualquer carência ou provação deste mundo, quando Ele tem

proposto a nós por herança um tal descanso eterno?

O Espírito Santo nos foi dado para nos conduzir a esta terra aprazível, não deste mundo, e como

ficaremos indignados assim como ficaram os israelitas nas águas de Meribá? Como seremos

rebeldes ao Espírito de Deus fazendo com que os nossos guias fiquem também sujeitos a pecar

por causa da nossa rebelião, assim como os israelitas rebeldes levaram Moisés a falar

irrefletidamente, tornando-o sujeito ao juízo do Senhor? (Sl 106.32,33). Não aproveitaria melhor

a nós e aos nossos próprios líderes espirituais que andemos obedientemente sujeitos à

vontade de Deus?

Devemos nos esforçar, portanto, para sermos encontrados como aqueles que buscam o

descanso de Deus, aqueles que valorizam as

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coisas eternas e divinas. Aqueles cujo tesouro está nos céus e não nas coisas deste mundo.

Porque em assim fazendo seremos de fato agradáveis a Deus e úteis para o Seu serviço,

abençoando a outros pelo nosso próprio exemplo de vida. Não devemos provar que onde

abundou o pecado superabundou a graça, por continuarmos na prática do pecado, de modo a demonstrar que Deus é de fato misericordioso e

que pode nos perdoar inúmeras vezes. Isto é coisa de um coração perverso que não pode

agradar a Deus. E tal é a dureza que o pecado produz que não será o muito perdoar do Senhor

que nos convencerá da Sua infinita bondade e misericórdia, tal como se deu com os israelitas,

que tendo sido alvo de tantos e inúmeros livramentos nem por isso abandonaram o seu

mau caminho: “Muitas vezes os libertou, mas eles o provocaram com os seus conselhos e. por

sua iniquidade, foram abatidos. Olhou-os, contudo, quando estavam angustiados, e lhes

ouviu o clamor; lembrou-se, a favor deles, de sua aliança, e se compadeceu, segundo a

multidão de suas misericórdias.” (Sl 106.43-45).

O Senhor deve ser amado e servido voluntariamente, isto é, de coração. Devemos

ser como Daniel que preferiu ser lançado aos leões do que deixar de orar três vezes por dia em

sua casa, onde seus inimigos poderiam ouvi-lo. Daniel orava voltado para Jerusalém porque o

seu coração não estava em Babilônia mas na

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cidade de Deus. De igual modo devemos orar com os nossos corações voltados para as

Jerusalém celestial, para o lugar do nosso eterno descanso, que é lugar do próprio descanso de

Deus. Se o fazemos assim, é porque de fato é ali o lugar onde está o nosso tesouro, porque é ali

que está o nosso coração.

É tão importante para Deus que demos o devido valor ao tesouro que Ele tem preparado para nós, ao descanso eterno que Ele nos oferece

livremente pela sua graça, que Ele tem ordenado que tudo o que nos mandou guardar

nos seja ensinado. E para isto chama e prepara homens para o ministério, e os sujeita a um

maior juízo dizendo que muito será pedido a quem muito é dado. Isto é assim, porque é

desejo do seu coração que o seu povo ande de modo digno com a sua vocação. Que Ele aprenda

e viva de modo digno do céu. E que lástima é tanto para os líderes quanto para o povo, quando

estes são carnais e não ensinam como convém a Palavra da verdade, e em vez disso, ensinam

coisas mundanas e carnais, de nenhum valor, senão para perverter a fé dos ouvintes, porque a

boca fala daquilo que está cheio o coração, e o desses líderes está repleto das coisas que são do

mundo que eles têm amado mais do que têm amado a Deus e aquilo que é de Deus. Tendo

desprezado o tesouro de grande valor, não têm sequer pérolas e coisas preciosas para lançarem

aos cães e aos porcos, porque o tesouro de seu

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coração está vazio destas coisas, porque não valorizam o tesouro do céu tanto quanto as

coisas deste mundo. Pessoas assim, quando lideram, costumam desprezar os julgamentos

que outros têm sobre suas pessoas. Em vez de abraçarem com humildade e carinho a verdade

revelada, eles se entregam a controvérsias e debates, porque gostam de vencer as opiniões dos outros com suas próprias opiniões acerca da

verdade que eles têm de fato desprezado em seus corações. A religião deles reside apenas no

seu cérebro, mas não no seu coração, e isto fica demonstrado no fato de raramente falarem com

sinceridade e humildade das grandes coisas de Cristo e de suas ordenanças para o seu povo. O

coração deles não está fortalecido com graça e assim são levados por vários ventos de doutrina,

embora afirmem que haja uma só sã doutrina conforme revelada na Bíblia. Eles pregam com

toda a ênfase a prosperidade material como um fim da vida cristã, mas alegam que o supremo

fim da fé é Cristo. Eles não são, portanto, íntegros no seu ensino, porque o coração deles

não é integro diante de Deus, porque o amor deles pelo mundo é muito grande, para se

contentarem com as coisas terrenas que têm alcançado no que se refere a fama, bens,

dinheiro e poder. Nunca estão satisfeitos e sempre querem muito mais. São como

imitadores dos falsos mestres que não conhecem a Cristo, esquecidos de que há uma

terrível sentença de destruição proclamada

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sobre os tais, denotando assim o grau de descontentamento do Senhor por eles. E se não

serão juntamente condenados com eles, por terem de fato o Espírito de Cristo, por que

imitam as suas obras malignas? “Esses, todavia, como brutos irracionais, naturalmente feitos

para presa e destruição, falando mal daquilo em que são ignorantes, na sua destruição também hão de ser destruídos, recebendo injustiça por

salário da injustiça que praticam. Considerando como prazer a sua luxúria carnal em pleno dia,

quais nódoas e deformidades, eles se regalam nas suas próprias mistificações, enquanto

banqueteiam junto convosco; tendo olhos cheios de adultério e insaciáveis no pecado,

engodando almas inconstantes, tendo coração exercitado na avareza, filhos malditos;

abandonando o reto caminho, se extraviaram, seguindo pelo caminho de Balaão, filho de Beor,

que amou o prêmio da injustiça.” (II Pe 2.12-15).

Todo pastor e líder do rebanho de Deus deve se

cuidar destes erros. A própria Bíblia os adverte sobre este dever de cuidarem de si mesmos e do

rebanho que o Senhor colocou debaixo do cuidado deles, para não incorrerem nestes

mesmos erros daqueles que não conhecem ao Senhor. Quantos não se extraviam em seus

ministérios porque foram dominados pelos desejos da carne? Pelas cobiças do mundo?

Vigiar e orar em todo o tempo. Meditar na Palavra dia e noite, e aplicar o coração à verdade,

com humildade diante do Senhor é

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absolutamente necessário, especialmente quando a obra de Deus começa a progredir

debaixo do nosso cuidado. Os muitos afazeres poderão nos desviar da verdade, ainda que

tenhamos por alvo permanecer na verdade. Os ventos de doutrina poderão nos arrastar

facilmente porque não estaremos consistentemente cheios da graça de Jesus, mediante a habitação rica da Sua Palavra em

nós, que nos torna consistentes o bastante, por não estarmos vazios, de modo que nenhum

vento possa nos arrastar, ao contrário daqueles que estão vazios e que leves como plumas ou

nuvens sem água são facilmente impelidos pelo vento, sendo deslocados da posição original em

que se encontravam.

São como falsos Moisés que estão conduzindo o

povo para Canaã, mas estão sempre lhes lembrando e apontando as coisas que ficaram

para trás no Egito, levando-os a sentirem saudades do Egito. Pretextuam estarem

servindo a Deus e ensinando o povo a fazer o mesmo, mas só que com a boca falam uma coisa mas com o coração cobiçam outras que não são

agradáveis ao Senhor, ou então que desviam o Seu povo da única direção verdadeira que

deveriam seguir, porque há um só caminho e este é estreito.

A semente do Evangelho não pode prosperar onde seja sufocada por espinhos de cuidados e

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desejos mundanos. Em seu julgamento tal pessoa pode dizer que Deus é o bem principal;

mas o coração dele e afetos nunca disseram isto. O mundo tem mais dos afetos dele do que Deus,

e então é o seu deus. Embora ele não corra atrás de opiniões e novidades, como o mundo,

contudo ele será daquela opinião que servirá melhor a sua própria vantagem mundana. E assim, esta pessoa é possuída por uma

disposição mundana, e será fraca na oração em secreto, porque o seu coração não tem real

prazer no Senhor e nas coisas relativas ao Seu reino. Será superficial no autoexame para

descobrir e matar o pecado e também na sua meditação. Será fraca em vigiar o seu coração,

para amar e caminhar com Deus, alegrando-se nele, e Lhe desejando. Quando Jesus ordenou

aos apóstolos que se cuidassem do fermento dos fariseus que é a hipocrisia, ele estava também

incluindo todos os crentes a se prevenirem desta disposição carnal de afirmar amor e temor

a Deus com a boca e viver de acordo com o mundo.

É importante lembrar que não podemos agir em relação às coisas do céu, conforme agimos em relação às coisas do mundo. Isto é, não podemos

dar o mesmo tratamento às coisas celestiais e às terrenas. Porque coisas espirituais se

discernem espiritualmente, e necessitamos do mover, da direção e instrução do Espírito Santo,

até mesmo para ler, entender e praticar a

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Palavra de Deus. É preciso estar no reino para viver as coisas do reino que são justiça, paz e

alegria no Espírito Santo. É preciso render-se, sujeitar-se a Deus em adoração, louvor, serviço

e oração, para que possamos de fato fazer o que lhe é agradável. É preciso mortificar o pecado,

andar na verdade, no amor, na paz, em comunhão uns com os outros, sem o que, o Deus que não muda, não nos abençoará com a

manifestação da Sua vida e paz.

Em Fp 4.2-6 Paulo determina pelo Espírito, aos crentes filipenses, que vivessem em unidade,

pensando concordemente no Senhor, que se alegrassem sempre no Senhor, e que vivessem

com moderação diante de todos os homens, e que não andassem ansiosos de coisa alguma,

mas que em tudo orassem a Deus com ações de graça. E o resultado de todo este procedimento

seria qual? “E, a paz de Deus que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e as

vossas mentes em Cristo Jesus.”. O resultado da paz é para aqueles que andam em paz com Deus.

Para aqueles que semeiam a paz. E também lemos em Fp 4.8, na sequência: “Finalmente,

irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é puro,

tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se alguma virtude há e se algum louvor existe,

seja isso o que ocupe o vosso pensamento.”. E ainda, no início do verso 9: “O que também

aprendestes, e recebestes, e ouvistes, e viste em

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mim, isso praticai.”, Ora, e qual será também o resultado desta forma de proceder? “e o Deus da

paz será convosco.” (Fp 4.9b). Esta é uma fórmula única e antiga. Não foi inventada de

modo nenhum por Paulo. Se alguém quer ter a bênção verdadeira do Senhor e andar

concordemente com Ele, sendo-Lhe agradável, deve tratar de ter um procedimento de acordo com o que é verdadeiro. Por isso o Senhor diz

que será achado pelos que O buscam de todo o seu coração, e estes são aqueles que se

humilham e oram, convertendo-se dos seus maus caminhos (II Crôn 7.14).

(Se Jesus determinou o dever de vigiar numa época em que não havia nem televisão, nem

mídia, nem Internet, o que diremos nós em nossos dias? – nota do tradutor)

E devemos vigiar por amor, porque agora somos filhos de Deus, alcançados pelo seu amor e para

viver em amor com Ele e com nossos irmãos na mesma fé comum que nos salvou. Somos

também a noiva de Cristo, e estaremos para sempre unidos a Ele. E qual esposo gostaria de

ver que os melhores e maiores afetos de sua esposa não são para ele, mas para outros, ou até

mesmo para as coisas que dele tem recebido? Vigiemos e oremos para que não suceda assim

conosco. Se Deus é nosso pai, onde está a honra que lhe é devida? Se Jesus é nosso esposo, onde

o nosso respeito e submissão? Se Ele é nosso

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Mestre por que não ouvimos e obedecemos os Seus ensinos? E o que é melhor: suportar o

trabalho como servos do Senhor, ou a vara da correção? Ou nossos trabalhos negam o que

nossas palavras confessam?

A recompensa será de acordo com o nosso

trabalho. A semente que é enterrada e morta produzirá uma colheita abundante. Tudo que fazemos ou sofremos, o descanso eterno pagará

por tudo. Não há nenhum sofrimento no céu. Lá, nós poderemos dizer, como Paulo, que os

sofrimentos e trabalhos deste tempo presente não são merecedores de serem comparados

com a glória que será revelada em nós. Nós nos afadigamos aqui neste mundo, mas em breve

nós descansaremos para sempre.

Por isso, quando pregamos a Palavra na sua integridade e inteireza e os homens nos acusam de sermos muito rígidos, quem eles estão

acusando: a Deus ou a nós? Como podem os que são dirigidos pela carne reconciliar o idioma

deles com as leis de Deus? O reino é tomado por esforço. Ele exige de nós diligência, vigilância,

mortificação do pecado e tantas outras coisas necessárias para que possamos experimentar

de fato o reino que se manifestará dentro de nós pelo fluir de vida eterna do Espírito Santo. Mas

na ausência destas coisas necessárias, por não nos esforçarmos por elas, como poderá o reino

ser tomado por nós? Ele não é visível, e por isso

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somente pode ser experimentado por um viver não segundo a vista, mas segundo a fé. E esta fé

precisa se firmar na Palavra de Deus. Ela se alimenta dela, e nos dá a visão celestial pela qual

a própria fé viverá em nós. E a prova da fé que vive em nós será o nosso empenho, a nossa

diligência em nos esforçarmos em fazer as coisas que sabemos que devem ser realizadas por nós.

E o descanso sempre tem que se seguir ao trabalho. Se não nos cansamos trabalhando para o Senhor aqui neste mundo, que descanso

esperamos ter no céu? De que obras descansaremos se não realizamos nenhuma?

Como apreciaremos a promessa do descanso se não temos nos cansado pelo nosso empenho nas

coisas que são de Deus? Se não damos a Deus o que é de Deus, até o que damos a César não terá

o devido valor, porque não foi dado por amor à vontade de Deus de que assim procedamos. Por

isso se diz que “sem santidade ninguém verá o Senhor". A prova da nossa sinceridade é a nossa

separação das coisas que são do mundo e a vida que temos vivido para Deus. E quando falamos

de separação, não dizemos sair do mundo, mas não dar o nosso afeto e desejos ao mundo. Não

dar ao mundo o governo do nosso coração.

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O LUGAR DE DESCANSO DOS SANTOS NÃO DEVE SER PROCURADO NA TERRA

Nós ainda não chegamos ao nosso lugar de descanso. Nós não teremos prosperidade

ininterrupta aqui neste mundo até que Cristo volte. A carne sempre lutará contra o Espírito e

este contra a carne enquanto estivermos neste tabernáculo, e podemos apenas dizer

juntamente com Paulo: “E por isso, neste tabernáculo gememos, aspirando por ser revestidos da nossa habitação celestial.” (II Cor

5.2). E também: “Pois, na verdade, os que estamos neste tabernáculo gememos

angustiados, não por queremos ser despidos, mas revestidos, para que o mortal seja absorvido

pela vida.” (II Cor 5.4). Enquanto estivermos neste corpo não poderemos experimentar da

plenitude do descanso que é o próprio Cristo, tendo nós sido revestidos de toda a Sua

plenitude. Por isso se diz quanto ao nosso futuro glorioso com Ele no porvir: “Pois a nossa pátria

está nos céus; de onde também aguardamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo, o qual

transformará o nosso corpo de humilhação, para ser igual ao corpo da sua glória, segundo a

eficácia do poder que ele tem de até subordinar a si todas as cousas.” (Fp 3.20,21). Os que são de

Cristo vivem nesta expectativa porque sabem que o seu tesouro está nos céus, eles não são

como os inimigos da cruz de Cristo, dos quais Paulo diz que “o destino deles é perdição, o deus

deles é o ventre, e a glória deles está na sua

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infâmia; visto que só se preocupam com as cousas terrenas.” (Fp 3.19).

Seria portanto um pecado e loucura que o

crente tente estabelecer e procure o seu descanso eterno aqui neste mundo. Que faça

disto a sua filosofia e alvo de vida, pela busca de confortos permanentes, de prosperidade

ininterrupta e de prazeres terrenos. Há um descanso prometido. E como pode haver

descanso sem trabalho e dificuldade anterior? Pode haver descanso sem cansaço? Primeiro o

trabalho, e depois o descanso. Por que o curso da graça seria pervertido mais do que o curso da

natureza? Primeiro as tribulações, o combate da fé, e depois o descanso eterno de todas as

aflições deste mundo, que ficarão para trás quando formos para o céu e quando voltarmos

para reinarmos com Cristo, quando da Sua segunda vinda. É um decreto estabelecido que

nós devemos, por muitas tribulações, entrar no reino de Deus (Atos 14.22); e que, se nós

sofrermos com Cristo, reinaremos juntamente com Ele. Primeiro a cruz e depois a coroa. E

como poderemos então inverter os estatutos de Deus a nosso bel prazer? É possível fazê-lo?

Somos mais poderosos do que Ele?

Os que buscarem um descanso perfeito na terra no presente século por crerem que esta seja a

promessa de Deus para eles, haverão de viver à beira da insanidade. Porque não poderão ter paz

de mente e harmonia com a vontade de Deus,

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que tem determinado que entremos no reino por meio de muitas tribulações, e que sejamos

aperfeiçoados por meio de muitas provações. As aflições falarão e ensinarão mais

convincentemente do que qualquer sermão pregado pelos pastores. Enquanto neste mundo,

as tribulações são muito úteis a nós, por nos conduzirem à perseverança que produz esperança do nosso descanso eterno. As aflições

nos fazem aspirar pela nossa habitação celestial.

O movimento de um crente na direção do céu é voluntário, e em constrangimento. Então, esses

meios são muito úteis, que o ajudam a compreender para onde ele vai. O engano mais

perigoso para nossas almas é tentar levar a terra para o céu. Muitos crentes estão direcionando

seus pensamentos para a riqueza, para o agrado da carne, para a fama e para o louvor próprio, e

perdem com isso o seu prazer em Cristo e na alegria pelas coisas que são de cima, até que o

Senhor quebre o seu orgulho, a sua confiança no seu poder e riqueza, ou mesmo que mexa com a

sua saúde ou de seus filhos, revelando a instabilidade de todas as coisas aqui debaixo,

das quais ele estava tentando fazer a sua montanha forte. Não há nenhuma outra Rocha

que eu conheça, diz o Senhor de si mesmo na Sua Palavra. Não há de fato nenhuma outra

Rocha na qual possamos estar de fato seguros. Assim, se o Senhor não nos mantivesse ligados

a Ele e não a este mundo, colocando estes

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espinhos sobre a nossa cabeça, nós jogaríamos fora a nossa vida e perderíamos a nossa glória.

Lutero, dizia que a aflição é o melhor dos

mestres; e Davi disse que antes que fosse afligido andava errado, mas agora guardava a

palavra do Senhor.

Embora a Palavra e Espírito façam o trabalho principal, enquanto o sofrimento desatarraxa a porta do coração para que a Palavra entre mais

facilmente.

As aflições servem igualmente para apressar o nosso passo na direção do nosso descanso.

Como meio a serviço da misericórdia de Deus, o açoite afiado não permitirá que sejamos

negligentes como as cinco virgens néscias da parábola.

Que diferença há entre nossas orações na saúde e na enfermidade; entre nossas petições na prosperidade e na adversidade. Ah! se não

sentíssemos a espora, com que passos lentos caminharíamos na direção do céu!

Quem se preocupa e se aflige muito com as aflições é a nossa carne, porque na maioria dos nossos sofrimentos, a alma está liberta, a menos

que nós mesmos a aflijamos voluntariamente. Por isso devemos trazer o nosso corpo em

sujeição, tal como fazia o apóstolo Paulo. Por que

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ele e Silas não deveriam louvar depois de terem sido açoitados e encarcerados em Filipos? Os

espíritos deles não estavam aprisionados. Não murmuremos então, e nunca esperemos que a

carne entenda o significado da vara da aflição, porque ela chamará o amor de ódio, e dirá que

Deus está destruindo, quando na verdade Ele está salvando.

Nunca podemos esquecer entretanto que é na maioria das vezes, em meio aos nossos sofrimentos que Deus nos dá as nossas

experiências mais profundas com Ele, e uma melhor visão do nosso descanso eterno futuro.

Especialmente quando nossos sofrimentos são por amor a Ele e pela causa do evangelho. Mas

quando nossos sofrimentos são devidos a nossos pecados, raramente Ele adocica o cálice

amargo.

Os mártires tiveram as alegrias mais elevadas. Estevão viu o céu aberto, quando ele estava

dando a sua vida para o testemunho de Jesus. Por isso, se nós estivermos procurando um céu

de delícias carnais, nós estaremos nos enganando.

Deus está efetivamente no controle de todas as aflições de seus filhos, de modo que não permite

que sejam provados além das suas forças, e sempre provê livramento para que possam

suportar a tentação.

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É idolatria total fazer qualquer criatura, ou meio, ser o nosso descanso. É prerrogativa do

próprio Deus ser o descanso da nossa alma. Por isso Jesus ordena que busquemos descanso para

as nossas almas nEle mesmo, e não naquilo que possamos receber dEle. Ele é o nosso descanso.

Assim é uma idolatria evidente, ainda que mais refinada, colocar nosso descanso em riquezas ou honras.

Assim, se Deus o vir começar a se instalar no

mundo, e dizer: "eu descansarei aqui", não será nenhuma surpresa se Ele trouxer instabilidade

sobre você; porque ele vê que você está se destruindo.

Enquanto nós estivermos no corpo, nós estamos ausentes do Senhor; e enquanto nós estivermos

ausentes dele, nós estamos ausentes do nosso descanso.

Os crentes que estão bastante convictos pela sua intimidade com Deus, tal como o apóstolo Paulo,

de que a morte é apenas um fechar de olhos neste mundo tenebroso e de miséria e pecado,

para serem abertos no céu de glória, não têm qualquer visão temerosa da morte, porque

sabem que o viver é Cristo e o morrer é lucro, porque é a forma usual de se ingressar na glória

que está prometida por Deus aos crentes.

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E Paulo chegou a afirmar: “estamos em plena confiança, preferindo deixar o corpo e habitar

com o Senhor.” ( II Cor 5.8). Se a morte o conduziria de um estado de miséria para uma tal

glória, como seria contrário a morrer?

“Se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de

todos os homens.” (I Cor 15.19). Se nossos objetivos em sermos de Cristo se fixassem apenas neste mundo, isto seria uma visão muito

mesquinha, muito pequena, muito miserável, em face das grandes e preciosas coisas que nos

têm sido prometidas como herança depois desta vida. Mas como Paulo estava plenamente

esclarecido de tudo o que diz respeito à glória do evangelho, ao plano de Deus para os seus filhos,

ele amava de todo o coração que o Senhor Jesus viesse logo para inaugurar o seu reino de justiça

eterna na terra, para que pudesse reinar juntamente com Ele. Veja o argumento do

apóstolo em face dos litígios que existiam entre os crentes coríntios: “”não sabeis que os santos

hão de julgar o mundo? Ora, se o mundo deverá ser julgado por vós, sois acaso indignos de julgar

as cousas mínimas? Não sabeis que havemos de julgar os próprios anjos; quanto mais as cousas

desta vida? “I Cor 6.2,3). Isto demonstra claramente que ele estava familiarizado com a

visão da vida que espera pelos crentes depois desta vida, e que ele tinha uma perspectiva

fixada no futuro glorioso que lhe estava

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prometido, e não somente a ele, como a todos os filhos de Deus, por meio da fé em Jesus Cristo.

Ele não vivia contemplativamente neste mundo, mas com uma visão constante na vida a ser

revelada, e pautava todas as suas ações nesta vida pela vida que haveria ainda de se

manifestar, trabalhando incansavelmente para que o evangelho fosse pregado a toda criatura, porque será este o fator propulsor do retorno do

Senhor à terra.

Daí afirmar: “Não que eu o tenha já recebido, ou tenha já obtido a perfeição, mas prossigo para

conquistar aquilo para o que também fui conquistado por Cristo Jesus. Irmãos, quanto a

mim, não julgo havê-lo alcançado; mas uma cousa faço: esquecendo-me das cousas que para

trás ficam e avançando para as que diante de mim estão, prossigo para o alvo, para o prêmio

da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus.” (Fp 3.12-14).

E mais: “Todo atleta em tudo se domina; aqueles para alcançar uma coroa corruptível; nós, porém, a incorruptível. Assim corro também eu,

não sem meta; assim luto, não como desferindo golpes no ar. Mas esmurro o meu corpo, o

reduzo à escravidão, para que, tendo pregado a outros, não venha eu mesmo a ser

desqualificado! (I Cor 9.25-27).

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Vemos que para Paulo, a busca do descanso eterno implicava consequentemente em se

cansar até à exaustão neste mundo no serviço de Cristo, porque este é o modo digno de se viver

enquanto se almeja pelo descanso glorioso. Não há sentido em se esperar um descanso quando

se vive descansado.

Há uma carreira proposta para todos os crentes. Há um combate a ser travado contra os poderes das trevas e contra o pecado em prol do avanço

do reino de Cristo, e por isso Paulo disse quando estava próximo o seu martírio: “Combati o bom

combate, completei a carreira, guardei a fé. Já agora a coroa da justiça me está guardada, a qual

o Senhor, reto juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos quantos

amam a sua vinda.” (II Tim 4.7,8). É portanto uma grande hipocrisia dizer que amamos o

Senhor, que desejamos a sua companhia, e termos verdadeiro horror e temor da morte, em

razão da tristeza pelo que deixaremos para trás neste mundo. Mas mesmo neste caso, isto é

uma grande ignorância do que nos está prometido segundo o plano de Deus, porque

haveremos de voltar à terra com o Senhor, para reinar juntamente com Ele num mundo

infinitamente melhor, e onde habitará a justiça eterna; estando nós aperfeiçoados e em corpos

glorificados que já não mais enfermam.

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O Senhor Jesus Cristo estava disposto a vir do céu para a terra por nossa causa, e nós devemos

estar tão pouco dispostos em ir da terra para o céu para estar para sempre com Ele? Teríamos

um coração tão endurecido e incrédulo para não confiar inteiramente nas Suas promessas?

Ou seríamos tão infiéis e ainda apegados às cousas do mundo, de modo que não desejemos de fato sair deste mundo para estar com Ele?

Deus nos tem dotado, pela sua providência, do instinto de autopreservação para que cuidemos de nossa vida e a preservemos, e não a

destruamos e atentemos contra ela até o extremo do suicídio. E isto nos tem sido

concedido por Deus para que gastemos nossas vidas de modo útil ao nosso próximo e para os

interesses do reino do Senhor. Mas devemos nos cuidar de estarmos apegados a este mundo,

de modo a que não venhamos a tentar poupar e sim a gastar a nossa vida para Deus, e assim em

vez de perder, ganharemos a nossa vida, porque teremos encontrado o sentido da vida e

saberemos que há vida eterna somente no Senhor, e esta vida se manifesta em nós quando

nos consagramos a Ele, e caminhamos como aqueles que tem o seu olhar espiritual fixado no

futuro e em todas as coisas que nos foram prometidas e que herdaremos depois que o

Senhor nos tiver chamado deste mundo.

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A forma de sair daqui pela morte é apenas o meio usual determinado por Deus, mas não

podemos esquecer que ele arrebatou ao céu tanto a Enoque quanto a Elias, e fará o mesmo

com aqueles que estiverem vivendo na terra quando Cristo vier arrebatar a igreja, para

demonstrar que para o crente, a morte não significa o fim da vida com Deus, antes, significa uma maior plenitude de participação na

natureza divina, e aperfeiçoamento de todas as graças que Ele nos tem concedido pela fé em

Cristo.

É verdade que o temor da morte serve também para nos prevenir de perigos, de modo que

podemos evitar muitos acidentes, mas para um membro do corpo de Cristo, ter medo de entrar

na sua própria herança é um medo inútil. E pelo temor da morte é possível até mesmo negar a fé,

para que sejamos poupados. João Batista seguiu corajosamente com a sua pregação porque não

temia a morte, sabendo que havia uma grande recompensa lhe aguardando. Mas foi por temor

da morte que Pedro negou a Jesus no início do seu apostolado. O medo da morte tem feito

muitos apóstatas ao longo da história da igreja, mas aqueles que permaneceram fiéis em face

da morte alcançaram bom testemunho de terem agradado a Deus, por terem perseverado

em meio às perseguições que sofreram. “Eles, pois, o venceram por causa do sangue do

Cordeiro e por causa da palavra do testemunho

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que deram; e, mesmo em face da morte, não amaram a própria vida.” (Apo 12.11).

“Mulheres receberam, pela ressurreição, os

seus mortos. Alguns foram torturados não aceitando seu resgate, para obterem superior

ressurreição; outros, por sua vez, passaram pela prova de escárnios e açoites, sim, até de algemas

e prisões. Foram apedrejados, provados, serrados pelo meio, mortos ao fio da espada;

andaram peregrinos, vestidos de peles de ovelhas e de cabras, necessitados, afligidos,

maltratados, homens dos quais o mundo não era digno,” (Hb 11.35-38).

Quando falamos de descanso eterno o assunto

não é morte física, porque esta, como vimos, é uma rápida transição, um rápido piscar de olhos

que nos dá acesso a uma vida ainda melhor. O assunto não é portanto morte, é vida. E vida

eterna. E estando em Cristo, temos experimentado em maior ou menor grau

amostras deste descanso, que temos nele mesmo, mas vimos que este descanso será

perfeito e permanente, depois desta vida. Vimos também que não é lícito procurar por uma outra

forma deste descanso enquanto estivermos neste mundo, substituindo-o equivocadamente

por prazeres e consolações terrenas, considerando que isto significa estar livre de

aflições e tribulações. O descanso do Senhor vence a angústia, a tribulação, e a própria morte,

porque Ele nos reveste com graça e nos dá uma

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maior experiência do Seu poder que nos faz regozijar em meio ás circunstâncias difíceis,

que estão cooperando para o nosso aperfeiçoamento espiritual.

A IMPORTÂNCIA DE UMA VIDA SANTIFICADA

NA TERRA

Se existe um descanso para o povo de Deus no porvir, por quê então, nossos pensamentos não são mais voltados para ele? Por que nossos

corações não estão continuamente lá? Qual é a causa desta negligência? Se a Bíblia está repleta

de promessas que se referem à nossa morada eterna com Deus, à expectativa do seu reino de

justiça e paz, à volta de Jesus para inaugurar o seu reino milenal na terra com os seus servos,

se são tantas as referências em todos os livros proféticos do Velho Testamento, em relação a

isto, se disto falam os Salmos, se são abundantes as referências desde os evangelhos até o livro de

Apocalipse, porque a igreja dá tão pouca atenção e não pauta a sua caminhada neste mundo,

como aqueles que estão rumando efetivamente e de fato para uma pátria celestial e eterna?

Mesmo quando estivermos na terra durante o milênio seremos cidadãos do céu, porque então

estaremos a caminho da Nova Jerusalém, na nova terra que o Senhor criará, na condição de

quem terá livre acesso ao céu, e que viverá na terra a plenitude da vida celestial que Deus

planejou para os Seus filhos amados desde antes

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da fundação do mundo. Os desejos mais fortes de nossos corações não deveriam buscar isto?

Nós cremos nisto, e ainda assim o esquecemos e negligenciamos?

Para que propósito a Palavra de Deus nos ordenaria que fixemos os nossos afetos e

pensamentos nas coisas que são de cima e não nas que são terrenas, se não houvesse um real interesse da parte do Senhor que pautássemos

nossa caminhada neste mundo em conformidade com a nossa vocação, isto é, para

aquilo que fomos chamados? Se estamos destinados a governar juntamente com Cristo, e

eternamente, não seria este um dos principais motivos de nos purificarmos de todo o pecado e

de buscarmos diligentemente o nosso aperfeiçoamento nas cousas que são do alto?

Não executaríamos todos os nossos deveres terrenos de acordo com a vontade de Deus? Isto

é, de acordo com padrões que ele tem estabelecido para nós na Sua Palavra?

Principalmente pela certeza da vitória final sobre o pecado e a morte, o cristianismo é uma

vida de alegria. A certeza de que o sangue de Cristo purifica a nossa consciência de obras

mortas, de que como crentes não conheceremos nenhuma condenação no

inferno, e ao contrário, desfrutaremos das delícias que Deus tem preparado para os que O

amam, eternamente, que herdaremos a terra

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numa forma restaurada, em condições muito parecidas às que existiam no início da criação

antes da entrada do pecado no mundo, é motivo para regozijo em toda e qualquer situação que

tenhamos que experimentar nesta vida no presente século. Afinal, por maior que seja a

tribulação ela é relativamente leve e momentânea se comparada ao eterno peso de glória de tudo o que Deus tem reservado para

nós, e das próprias transformações gloriosas que experimentaremos tanto em nosso corpo,

quanto espírito e alma. Seremos aperfeiçoados e glorificados, com a mesma glória de Cristo.

Afinal, é em Cristo que temos a esperança da glória (Col 1.27). Por isso Paulo diz em I Tes 2.12:

“exortamos, consolamos e admoestamos, para viverdes por modo digno de Deus, que vos

chama para o seu reino e glória.”. E também em Fp 3.21: “o qual transformará o nosso corpo de

humilhação para ser igual ao corpo da sua glória, segundo a eficácia do poder que ele tem

de até subordinar a si todas as cousas.”.

O reino é dado por graça aos crentes, mas é conquistado por esforço, isto significa que apesar de o trabalho de fixar nos corações no

céu ser o trabalho de Deus, contudo é dever dos crentes vigiarem e permanecerem firmes na fé;

que embora sem Cristo nada possam fazer, contudo podem e devem fazer muito, e nada

será feito se forem negligentes.

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As exortações bíblicas para que os crentes se santifiquem porque Deus é santo, são quase que

uma constante ao longo de todo o texto bíblico. E qual é a razão principal disto senão a de que de

fato são herdeiros de um reino onde habita a justiça e que o estado eterno daqueles que

viverão para sempre com Deus é o estado de santidade. A plenitude disto será obtida no porvir, mas os crentes são chamados por Deus a

viverem esta vida a partir do momento em são transformados em novas criaturas por meio da

fé em Cristo. Por isso se diz em Hb 12.14: “Segui a paz com todos, e a santificação, sem a qual

ninguém verá o Senhor.”. A santificação deve ser seguida porque ela é a nossa vocação, o

estado de vida que está proposto a nós e que vai adiante de nós; é a prova de que de fato os

crentes foram transformados em cidadãos do céu, que mesmo que ainda estejam neste

mundo, não pertencem ao mundo, mas ao céu. Ainda que governando na terra quando Jesus

inaugurar o seu reino de justiça no milênio, serão representantes do céu na terra. O sistema

de governo que obedecem não é o terreno, formulado ou deturpado pelo diabo ou pelos

homens, mas do céu, planejado por Deus desde antes da fundação do mundo.

É por isso que o apóstolo João afirma: “de fato somos filhos de Deus. Por essa razão o mundo não nos conhece, porquanto não o conheceu a

ele mesmo. Amados, agora somos filhos de

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Deus, e ainda não se manifestou o que havemos de ser. Sabemos que, quando ele se manifestar,

seremos semelhantes a ele, porque havemos de vê-lo como ele é. E a si mesmo se purifica todo o

que nele tem esta esperança, assim como ele é puro.” (I Jo 3.1-3).

Diante da expectativa do retorno de Jesus para inaugurar o seu reino de justiça na terra, Pedro

indica o modo como devem então viver os crentes: “Visto que todas essas cousas hão de ser

assim desfeitas, deveis ser tais como os que vivem em santo procedimento e piedade,

esperando e apressando a vinda do dia de Deus por causa do qual os céus incendiados serão

desfeitos e os elementos abrasados se derreterão. Nós, porém, segundo a sua

promessa, esperamos novos céus e nova terra, nos quais habita justiça.” (II Pe 3.11-13).

Deus nos tem prometido uma coroa de glória, e prometido colocá-la brevemente em nossas cabeças, e nós não vamos ocupar o nosso

pensamento nisto? Ele nos ordena a vivermos gratos e alegres em todo o tempo em razão

disso, e nós vamos reclamar pela falta de confortos e prazeres carnais neste mundo,

sabendo que importa sofrermos juntamente com Cristo até que entremos na glória

prometida?

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Tal é excelência da glória que nos está prometida no nosso descanso eterno com Deus,

que o Senhor Jesus ensinou repetidamente em seu ministério terreno que a autonegação e a

renúncia a todas as coisas deste mundo seriam plenamente compensadas por Deus àqueles que

gastarem as suas vidas por amor a Ele e ao evangelho, especialmente no trabalho de ganhar e edificar almas, livrando-as da

condenação futura e conduzindo-as aos pés de Cristo para que sejam justificadas, regeneradas

e glorificadas.

O Senhor não acende nossas alegrias enquanto

nós estamos inativos. Ele dá os frutos da terra, enquanto nós aramos, semeamos, capinamos e

regamos, e aguardamos com paciência a Sua bênção; assim ele concede as alegrias da alma,

recompensando o nosso trabalho. E o benefício excede abundantemente o trabalho.

Ter o coração no céu é um preventivo excelente contra as tentações do pecado. Isto mantém o coração bem ocupado. Quando nós estamos

inativos, nós tentamos o diabo para nos tentar; como as pessoas descuidadas fazem com os

ladrões. Um coração no céu pode responder ao tentador, como fez Neemias: “Estou fazendo

grande obra, de modo que não poderei descer; por que cessaria a obra, enquanto eu a deixasse

e fosse ter convosco? (Ne 6.3).

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Uma mente santificada está mais livre de pecados, porque tem mais apreensões

verdadeiras de vivências de coisas espirituais. Ela tem uma perspicácia mais profunda do mal

do pecado, da vaidade da criatura, do embrutecimento dos prazeres carnais,

sensuais. "Em vão a rede é lançada”, diz Salomão, "à vista de qualquer pássaro". Assim também o pecado não nos apanhará se podemos

observar os seus movimentos, por termos uma mente santificada. E assim Satanás colocará em

vão suas armadilhas para atrair a alma que claramente as vê. A terra é o lugar para as

tentações dele, e a sua isca ordinária: e como estas enlaçarão o crente cujo pensamento não

está naquilo que é terreno, mas sim naquilo que é do céu? (Col 3.1-3). Como ele conseguirá ter a

atenção e o tempo de crentes que deixaram a terra para passear com Deus? Se a conversação

com homens instruídos é o modo para se tornar um sábio, muito mais será a conversação com

Deus.

Enquanto o coração está fixado no céu, a pessoa está debaixo da proteção de Deus. Se Satanás nos assaltar então, Deus está mais comprometido

para a nossa defesa, e se levantará indubitavelmente por nós e dirá, "a minha graça

te basta.".

O homem que for sério e dedicado em seu trabalho terreno será certamente bem

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sucedido. De igual forma se a busca de Deus for sincera, séria e diligente, esforçando-se aquele

que o busca em fazer o que Lhe é agradável, certamente será bem sucedido no que fizer.

Tiago conhecia isto por experiência própria e por isso escreveu: “Mas aquele que considera

atentamente na lei perfeita, lei da liberdade, e nela persevera, não sendo ouvinte negligente, mas operoso praticante, esse será bem

aventurado no que realizar.” (Tg 1.25).

A lei perfeita, a lei da liberdade, é a Palavra de Deus, cujo praticante, será bem-aventurado em tudo que realizar. E a Palavra do Senhor é uma

palavra que não é deste mundo, é uma palavra que é do céu. Esta lei não é a lei natural e nem a

lei dos homens, mas a lei do céu. Assim, se o crente mantiver diligentemente o seu coração

nestas cousas que são do céu e praticá-las, isto manterá vivas todas as suas graças e haverá vida

em todos os seus deveres. O crente santificado é um crente vivo, porque a vida de Cristo se

manifestará em tudo o que este crente fizer, porque tem se alimentado com a comida que

subsiste para a vida eterna e que somente o Senhor pode dar, quando se vive em santidade.

Todos os sofrimentos serão nada a nós, se tivermos verdadeira comunhão com o Senhor,

pois isto nos apoiará.. Quando a perseguição e o medo fecharem as portas, Cristo pode entrar, e

se levantar no meio, e dizer aos seus discípulos:

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"Paz seja convosco". Se o Filho de Deus estiver caminhando conosco nós podemos estar

seguros no meio daquelas chamas que devorarão aqueles que nos lançaram nelas.

Aquele que, como Estevão, vê a glória de Deus, e Jesus que está de pé à direita de Deus, aguentará

a chuva de pedras confortavelmente. A alegria do Senhor é a nossa força, e se nós caminhamos sem nossa força, quanto tempo nós poderíamos

provavelmente suportar?

Aquele cuja conversação procede do céu, é um crente útil em todo o lugar que ele estiver. Quando um homem está num país estrangeiro,

quão contente ele fica na companhia de alguém da sua própria nação! Quão é isto agradável de

poder falar do próprio país deles, dos seus conhecidos, dos negócios da sua pátria! Quando

um homem mundano falará de nada mais do que o mundo, e de política de negócios de

estado? Mas um homem santo estará falando das coisas do céu e com as suas palavras poderá

transformar seus ouvintes em outros homens!

Felizes as pessoas que têm um pastor santo! Felizes os filhos que têm pais santos! Feliz o homem que tem um amigo santo, que o

fortalecerá quando estiver fraco, e que lhe dará alegria, quando estiver triste. Se você negociar

com alguém assim, ele lhe aconselhará a comprar a pérola de grande preço. Se você o

prejudicar, ele poderá lhe perdoar, enquanto

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lembra que Cristo tem perdoado as suas próprias ofensas. Se você estiver irado, ele

estará manso, considerando a mansidão do Seu Senhor.

Por que, então, você não aprecia a companhia dos santos um pouco mais, e não aprecia a conversa deles? Porque todo santo irá

pessoalmente para o céu, e frequentemente está lá em espírito. Da minha parte eu prefiro a

companhia de um crente espiritual mais do que a de homens doutos e instruídos.

Nenhum homem tem honrado mais a Deus, do que aquele cuja conversação está fixada nas

coisas do céu. Um pai não é desonrado quando os seus filhos se alimentam de cascas, e se

vestem de trapos, andando na companhia de mendigos? E o nosso Pai celestial, também não

é desonrado quando nos dizemos seus filhos aqui na terra, mas o traje de nossas almas é igual ao das pessoas do mundo; e nossa conversação

se dirige ao pó, em vez de se levantar continuamente na direção da presença de nosso

Pai?

Como pode o crente esquecer-se de Deus, por estar aprisionado às alegrias passageiras deste mundo, sabendo que Deus nunca esquece de

seus filhos? Que grande ingratidão! Deus disse a Israel que ainda que uma mãe venha a se

esquecer do seu filho ainda não desmamado, Ele

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nunca se esqueceria de seu povo. Assim, não devemos dar causa para que o Senhor nos

repreenda por deixarmos de visitá-lo todas as manhãs, e fazendo com que nossos corações

estejam voltados para Ele e nEle, todos os momentos de nossas vidas.

Considerando que os céus têm que reter a Cristo até o tempo de restauração de todas as coisas, isto é, até que Ele venha arrebatar a Sua igreja e

depois da Sua segunda vinda, deixaríamos de estar com Ele em espírito nas regiões celestiais,

até que Ele venha?

Além disso, nossa casa está no céu, porque

sabemos que se a nossa casa terrestre deste tabernáculo for destruída, nós temos um

edifício de Deus, uma casa não feita por mãos, eterna nos céus. Por que nós não olhamos

frequentemente para isto, desejando ser revestidos da nossa habitação celestial? Nós somos herdeiros de uma herança incorruptível

no céu e não deveríamos esperar com muito maior alegria a nossa entrada na posse de uma

tal herança?

Se não é em Deus e nas coisas do céu que o nosso coração deve estar fixado, em que deveria então? Se não é Deus quem deve ter o nosso

coração, quem deve? Há algum outro deus, ou algo que possa ser o nosso descanso eterno?

Podemos ter nas coisas da terra alguma

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felicidade eterna? Onde está? Do que é feito? Qual foi o homem que já o encontrou? Onde ele

está? Qual era o seu nome? Quando Satanás tenta às pessoas mostrando-lhes a exuberância

dos reinos deste mundo, elas fariam bem em lhe perguntar se é neles que poderão encontrar o

seu lugar de descanso eterno. Ele não tem resposta para isto, porque o reino do nosso Deus não é deste mundo.

Até mesmo todos os nossos procedimentos no mundo, nossas ações de comprar e vender, nosso comer e beber, edificar casas, casar etc,

em nada têm a ver diretamente com a vida por vir, mas são meios de demonstrar que tudo

fazemos para a glória de Deus, enquanto estamos neste mundo. E são também meios de

prova permanente de nossos afetos e corações, dando-nos oportunidade de demonstrar que

nossos corações estão ligados ao Senhor, e a nada mais deste mundo. Gostamos de muitas

coisas que o próprio Deus criou para o nosso aprazimento, apreciamos de fato a beleza da

variedade da criação, mas não nos deixaremos prender por nenhuma delas, sabendo que

somente o nosso Deus é digno de ter a posse de todo o nosso coração. Porque fomos criados

nEle e para Ele, para o Seu inteiro agrado, e para nada e ninguém mais. Até mesmo as relações

que mais estimamos e que são construídas neste mundo (pais, esposos, filhos) deixarão de existir,

mas a que temos com o nosso Pai e com nossos

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irmãos em Cristo entrarão pela eternidade afora.

Não permitamos portanto que nenhuma das ocupações desta vida possam nos afastar do

Deus vivo, e assim esfriemos na fé, e fiquemos com um coração endurecido pela

incredulidade, que nos privará de caminhar com a santidade de vida que convém aos

cidadãos do céu.