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DEBATES GA CINT O informativo sobre os debates no âmbito do Gacint Grupo de Análise da Conjuntura Internacional N o 35 / 2015 Desdobramentos Recentes da Crise Econômica Mundial Instituto de Relações Internacionais Ricardo Sennes, Luiz Afonso Simoes da Silva e Roberto Luis Troster C om foco sobre as questões financeiras e monetárias internacionais, a primeira reunião do segundo semestre de 2015 do Grupo de Análise da Conjuntura Internacional da USP (GACINT/ USP) recebeu Luiz Afonso Simoens da Silva, pesquisador do Instituto de Estudos de Economia Internacional (IEEI) da UNESP. Coordenada pelo cientista político Ricardo Sennes, a mesa também contou com a participação de Roberto Luís Troster, doutor pela FEA-USP, sócio da Troster & Associados e membro do GACINT. Para contextualizar a discussão, Simoens iniciou sua fala referindo- se à turbulência financeira iniciada em 2007 e agravada em 2008, com a falência do banco de investimentos norte-americano Lehman Brothers. Identificou duas causas: a frágil regulação financeira e a instabilidade sistêmica do capitalismo. Na sua visão, a principal consequência desse processo foi a tendência de concentração de renda e de riqueza que, por sua vez, dificulta ainda mais a resolução da crise, tese também defendida pelo economista Joseph Stiglitz. Perspectiva Histórica Depois de falar da crise financeira, Simoens voltou sua argumentação para a primeira metade do século XX, ao lembrar da lei norte-americana Glass-Steagall Act, de 1933, e dos acordos de Bretton Woods, de 1944. Após a crise de 1929, o governo Roosevelt trabalhou para implementar forte regulação financeira. A lei de 1933 representou um aumento considerável no controle governamental sobre os bancos comerciais, de investimento e de poupança, fazendo com que cada um ocupasse nichos determinados de mercado. Onze anos mais tarde, os acordos de 1944 estabeleceram os pilares econômicos do pós-guerra. Simoens comentou que, nesse momento, o país se encontrava em uma posição bem confortável para defender seus interesses, tendo mais da metade do produto industrial do mundo e dois terços das reservas internacionais. Assim, os pilares definidos incluíram taxas de câmbio administradas, taxas de juros fixas e controle de capitais de curto prazo. Como resultado, a ordem econômica emergente contou com bancos submetidos aos interesses produtivos e comercias em um ambiente de grande estabilidade. Citando Paul Krugman, Simoens ressaltou que o sistema financeiro nascente era primitivo e altamente funcional para o capitalismo industrial, conforme o crescimento vigoroso verificado entre 1940 e 1970. Também conhecido como os trinta anos gloriosos, esse período foi marcado pela hegemonia do dólar e pela desconcentração de renda e de riqueza. Contudo, ainda na década de 1970, esforços para a liberalização desse sistema começaram a modificar esse cenário de estabilidade. Simoens destacou três fatores primordiais, sendo o primeiro, a especulação do Japão e da Alemanha contra o dólar. Já recuperadas, essas duas economias passaram a especular contra a moeda norte-americana, bastante fragilizada pelos recorrentes desequilíbrios orçamentários decorrentes da guerra contra o Vietnã. O segundo ponto levantado foram os choques do petróleo, ocorridos em 1973 e em 1979, responsáveis por fortes pressões inflacionárias. O último fator remete ao processo de internacionalização do fluxo de capitais.

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DEBATES GACINTO informativo sobre os debates no âmbito do Gacint Grupo de Análise da Conjuntura Internacional

No 35 / 2015

Desdobramentos Recentes da Crise Econômica Mundial

Instituto de Relações Internacionais

Ricardo Sennes, Luiz Afonso Simoes da Silva e Roberto Luis Troster

Com foco sobre as questões financeiras e monetárias internacionais, a primeira

reunião do segundo semestre de 2015 do Grupo de Análise da Conjuntura Internacional da USP (GACINT/USP) recebeu Luiz Afonso Simoens da Silva, pesquisador do Instituto de Estudos de Economia Internacional (IEEI) da UNESP. Coordenada pelo cientista político Ricardo Sennes, a mesa também contou com a participação de Roberto Luís Troster, doutor pela FEA-USP, sócio da Troster & Associados e membro do GACINT.

Para contextualizar a discussão, Simoens iniciou sua fala referindo-se à turbulência financeira iniciada em 2007 e agravada em 2008, com a falência do banco de investimentos norte-americano Lehman Brothers. Identificou duas causas: a frágil regulação financeira e a instabilidade sistêmica do capitalismo. Na sua visão, a principal consequência desse processo foi a tendência de concentração de renda e de riqueza que, por sua vez, dificulta ainda mais a resolução da crise, tese também defendida pelo economista Joseph Stiglitz.

Perspectiva HistóricaDepois de falar da crise financeira, Simoens voltou sua argumentação para a primeira metade do século XX, ao lembrar da lei norte-americana Glass-Steagall Act, de 1933, e dos acordos de Bretton Woods, de 1944. Após a crise de 1929, o governo Roosevelt trabalhou para implementar forte regulação financeira. A lei de 1933 representou um aumento considerável no controle governamental sobre os bancos comerciais, de investimento e de poupança, fazendo com que cada um ocupasse nichos determinados de mercado.

Onze anos mais tarde, os acordos de 1944 estabeleceram os pilares econômicos do pós-guerra. Simoens comentou que, nesse momento, o país se encontrava em uma posição bem confortável para defender seus interesses, tendo mais da metade do

produto industrial do mundo e dois terços das reservas internacionais. Assim, os pilares definidos incluíram taxas de câmbio administradas, taxas de juros fixas e controle de capitais de curto prazo. Como resultado, a ordem econômica emergente contou com bancos submetidos aos interesses produtivos e comercias em um ambiente de grande estabilidade.

Citando Paul Krugman, Simoens ressaltou que o sistema financeiro nascente era primitivo e altamente funcional para o capitalismo industrial, conforme o crescimento vigoroso verificado entre 1940 e 1970. Também conhecido como os trinta anos gloriosos, esse período foi marcado pela hegemonia do dólar e pela desconcentração de renda e de riqueza.

Contudo, ainda na década de 1970, esforços para a liberalização desse sistema começaram a modificar esse cenário de estabilidade. Simoens destacou três fatores primordiais, sendo o primeiro, a especulação do Japão e da Alemanha contra o dólar. Já recuperadas, essas duas economias passaram a especular contra a moeda norte-americana, bastante fragilizada pelos recorrentes desequilíbrios orçamentários decorrentes da guerra contra o Vietnã. O segundo ponto levantado foram os choques do petróleo, ocorridos em 1973 e em 1979, responsáveis por fortes pressões inflacionárias. O último fator remete ao processo de internacionalização do fluxo de capitais.

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Luis Afonso Simoes da Silva

Nesse sentido, a chegada de Ronald Reagan à presidência dos Estados Unidos, em 1981, marcou o ponto de partida da visão neoliberal. Para Simoens, esse novo período foi marcado por um grande avanço das questões financeiras e da concentração de renda.

Origens da crise de 2007Focando em aspectos relacionados à financeirização da riqueza, Simoens procurou explicar as origens da crise recente. Com a ajuda de tabelas e gráficos, explicitou como a riqueza foi se tornando crescentemente financeira, sob a forma de ações, títulos de dívida pública e privada, e aumentando em relação ao produto interno bruto (PIB). Ao contrário do que se via no capitalismo industrial, Simoens esclareceu que o conceito de riqueza passou a estar associado a ativos mais líquidos. Mencionou, exemplo, que, entre 2007 e 2008, o mercado de ações sofreu uma queda de US$ 28 trilhões de dólares, mas já no ano seguinte começou a se recuperar.

Observando também a distribuição da renda e os lucros das instituições financeiras e não financeiras nos Estados Unidos, Simoens avaliou que, até a década de 1980, houve desconcentração de renda. A remuneração do trabalhador representava 68% do total nacional. Sob o capitalismo regulado, os lucros das empresas caíram. Todavia, nas décadas seguintes, a remuneração do trabalhador caiu para 62%, afetando a capacidade de consumo deles, ao mesmo tempo em que os lucros das instituições financeiras subiam consideravelmente.

Ao mencionar Stiglitz, reforçou a visão de que a concentração da renda não pode ser considerada um fator causador da crise, mas que, certamente, dificultou a resolução dela pelo enfraquecimento da classe trabalhadora.

O impacto da crise sobre a posição do dólar e dos Estados Unidos Em seguida, Simoens buscou contextualizar a discussão sobre os desdobramentos da crise, partindo da análise sobre as principais moedas globais e seus emissores.

Ao avaliar primeiro a posição do dólar, Simoens comentou que a crise foi subestimada pelos Estados Unidos. George W. Bush e Barack Obama consideraram-na uma crise de liquidez e não de solvência, e essa interpretação inicial acabou por produzir uma resposta regulatória insuficiente.

A Reforma de Wall Street e a Lei de Proteção ao Consumidor, conhecida como Lei Dodd-Frank, contêm alguns aspectos positivos, como a exigência de maior capital e de diminuição na alavancagem dos bancos e, também, uma tentativa de enquadrar as atividades de agências de classificação de risco. Como principal aspecto negativo, a lei promulgada em 2010 ignorou uma série de operações que estiveram no cerne da crise, como securitizações, derivativos, credit default swap (CDS) e instituições muito grandes que poderiam falir.

Não obstante, essa medida ainda deve ser regulamentada por uma série de organismos. Simoens notou ainda que parte deles, citando o Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC) e o Conselho de Diretores do Federal Reserve System (FED), têm pouco ou nenhum interesse em dar continuidade a esse processo.

Assim, boa parte dos problemas que ocasionaram a crise não foram enfrentados, receberam atenção insuficiente, ou ainda dependem de consenso para avançar na esfera regulatória norte-americana, segundo o palestrante.

Simoens lembrou, ainda, que a imprensa voltou, em 2013, a comemorar os lucros de Wall Street e a queda do risco sistêmico. Depois de um período complicado de fusões, incorporações, reestruturações, grandes baixas contábeis relacionadas a ativos tóxicos, acordos judiciais e incremento de capital, os balanços patrimoniais dos bancos se revelaram mais sólidos e robustos, impactando positivamente também a qualidade do crédito.

Mas afirmar que o risco sistêmico tinha caído só é aceitável, para Simoens, ignorando-se o fato de que os lucros foram retomados exatamente porque a sociedade norte-americana continua a realizar as mesmas operações que a empurraram para a crise. Esse risco persiste e é revelado pela contradição entre mudanças estruturais importantes e a manutenção dessa lógica financeira.

De um lado, mencionam-se a questão energética, os salários deprimidos e o dólar desvalorizado,

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Geraldo Zahrama

segundo o palestrante. Já o sistema paralelo atende às necessidades de financiamento de pequenas e médias empresas privadas.

Dessa maneira, Simoens acredita que o mesmo problema encontrado nas economias capitalistas ocidentais também existe na China. Parte dos recursos captados pelo sistema paralelo foi direcionado para o mercado imobiliário, originando uma grande bolha.

O principal problema, afirmou Simoens, concentra-se na assimetria chinesa entre a capacidade de fornecimento de produtos e de absorção, via consumo. As autoridades, por sua vez, aplicam políticas de crédito familiar com o intuito de estimular o investimento em bolsa de valores. Como resultado, grandes quedas nas bolsas de Xangai e Shenzhen foram verificadas no primeiro semestre de 2015. Logo em seguida, as grandes empresas foram proibidas de vender ações, e empresas públicas, obrigadas a comprar.

Em alusão ao economista Paul Krugman, Simoens assinalou que a intervenção estatal foi desastrada, pois o sistema financeiro chinês é complicado e complexo. Quando o governo age no sentido de uma liberalização, comete alguns pecados e tenta, rapidamente, retomar o controle da situação.

Ao contrário do yuan, o euro é uma moeda sem Estado. Mesmo sendo o segundo maior mercado mundial, de acordo com Simoens nenhum país parte da zona do euro tem autoridade para falar sobre a moeda, enquanto o grupo não avançar no sentido da uma federalização. E seguir esse caminho requer enfrentar três problemas importantes. O primeiro – criação de zonas de fundos monetários regionais – foi superado em 2012, com o estabelecimento de dois fundos que, somados, conseguem disponibilizar cerca de um trilhão de euros para os países do bloco. O segundo – federalização bancária – esbarra em dificuldades, pois exige que os bancos se submetam exclusivamente ao Banco Central Europeu (BCE). A terceira ideia – emissão de títulos de dívida por um Tesouro Europeu – encontra grande resistência alemã.

contribuindo para o retorno de parte da indústria de alta produtividade. Simplificadamente, a produção de gás de xisto barateou enormemente a energia nos Estados Unidos e teve repercussão internacional ao aumentar, também, a competitividade do país em relação às indústrias europeia e chinesa. Já os salários e a renda eram pressionados para baixo desde meados de 1980, com a recolocação industrial em direção à Ásia.

Por outro lado, o risco continua a ser atribuído a instituições e empresas, e as expectativas, a fatores econômicos relevantes. No primeiro caso, Simoens enfatizou a ideia elaborada pelo economista Hyman Minsky de que o risco não se associa a nenhuma entidade em particular, tratando a evolução do sistema como um todo, em função das regulações e inovações financeiras. No segundo caso, esclareceu que as expectativas se dão por uma questão puramente mimética. É o que Minsky chamou de “criação endógena de risco sistêmico”. Trata-se do fato de as expectativas de cada investidor estarem apoiadas nas expectativas dos demais, ou, de uma aposta em como o mercado como um todo vai reagir a mudanças na regulação e inovação.

Essa combinação, disse Simoens, resulta que “os Estados Unidos estão voltando a crescer, mas as crises financeiras continuam à espreita, logo ali na esquina”.

O impacto da crise sobre as demais moedasQuanto à moeda japonesa, Simoens afirmou que a influência do iene já foi maior porque seu PIB foi de 14% do PIB mundial, em 1999, e caiu para 8%, em 2012. Apesar dos grandes superávits alcançados nos anos 1980, o palestrante reforçou que a economia japonesa sempre dependeu do dólar. Em 2013, com a estagnação e a deflação, o iene sofreu uma forte desvalorização, em torno de 30%. De acordo com Simoens, essas ações fortaleceram o setor exportador e indicaram um reposicionamento dessa economia no comércio internacional.

Apresentando tendência inversa à do Japão, a China representava 3% do PIB mundial, em 1999, e subiu para 11%, em 2012. A posição yuan, todavia, esbarra na sua inconversibilidade. Segunda maior economia do mundo, Simoens disse que o yuan “tem Estado demais, enquanto o euro tem Estado de menos”, parafraseando o economista Barry Eichengreen.

Com uma série de limitações, as autoridades chinesas empreenderam esforços para tornar a sua moeda conversível, sem se envolver nas instabilidades do mercado. Uma dessas limitações diz respeito à divisão do seu sistema financeiro. O sistema oficial chinês conta com grandes bancos, que emprestam para grandes e médias empresas públicas, com base em “critérios não exatamente relacionados a uma disciplina de crédito”,

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Membros do Gacint ADHEMAR DA COSTA MACHADO FILHOADRIANA SCHOR ADRIANO HENRIQUE REBELO BIAVA AFFONSO CELSO DE OURO PRETO AFFONSO DE ALENCASTRO MASSOTALBERTO PFEIFER ALEXANDRE BARBOSAALEXANDRE RATSUO UEHARA AMÂNCIO JORGE S. NUNES DE OLIVEIRAANGELO DE OLIVEIRA SEGRILLO ANTONIO CARLOS PEREIRA ANTONIO CORRÊA DE LACERDA ANTONIO RUY DE ALMEIDA SILVABORIS FAUSTO CARLOS EDUARDO E CARVALHOCARLOS EDUARDO LINS DA SILVACELSO GRISICELSO LAFER CELSO NUNES AMORIMCHRISTIAN LOHBAUER CLAUDIO GONÇALVES COUTO CORONEL UBIRAJARA NEVESDANIELA CARLA DECARO SCHETTINIDÉCIO ODDONE DEISY VENTURA DEMÉTRIO MAGNOLI FELIPE LOUREIROGELSON FONSECA JUNIOR GERALDO DE FIGUEIREDO FORBES

GERALDO ZAHRANGILMAR MASIERO GIORGIO ROMANO SCHUTTE GONZALO BERRONGUNTHER RUDZITHELGA HOFFMANN HENRI PHILIPPE REICHSTUL JACQUES MARCOVITCH JAIME SPITZCOVSKYJANINA ONUKI JOÃO GRANDINO RODAS JOÃO PAULO CANDIA VEIGA JOSÉ LUIZ PIMENTA JÚNIORJOSÉ LUIZ CONRADO VIEIRAKAI ENNO LEHMANNKJELD AAGAARD JAKSOBSEN LEANDRO PIQUET CARNEIRO LENINA POMERANZ LOURDES SOLALUCIA NADERLUCIANA NICOLALUIZ AFONSO SIMOENS DA SILVA LUKAS LINGENTHALMARCO AURÉLIO GARCIAMARIA ANTONIETA DEL TEDESCO LINS MARIA HELENA TACHINARDI MARIA HERMÍNIA TAVARES DE ALMEIDA MARIANA LUZOLIVER STUENKEL

OTAVIANO CANUTO PATRÍCIA CAMPOS MELLOPAULO ROBERTO FELDMANPAULO SOTERO PEDRO BOHOMOLETZ DE ABREU DALLARI PEDRO MENDONÇAPETER ROBERT DEMANT PETERSON FERREIRA E SILVAPHILIPPE LAVANCHYRAFAEL DUARTE VILLA RAFAEL SOUZA FONSECARICARDO UBIRACI SENNES ROBERTO ABDENUR ROBERTO RODRIGUES ROBERTO TEIXEIRA DA COSTA RODRIGO TAVARESRONALDO SARDEMBERGROSSANA ROCHA REIS RUBENS ANTÔNIO BARBOSARUY MARTINS ALTENFELDER SILVASAMUEL FELDBERGSÉRGIO ERNESTO ALVES CONFORTOSÉRGIO FAUSTO SÉRGIO SILVA DO AMARALTULLO VIGEVANI VAHAN AGOPYAN VERA THORSTENSEN YI SHIN TANG

Gacint Coordenador Geral Ricardo SennesVice-CoordenadorAlberto Pfifer

DiretorPedro Dallari

Debates Gacint Coordenador ExecutivoAndré Luiz Siciliano

IRI Contato: [email protected]ção Daniele Gave

ColaboradoresAndré Michelin

Coordenadora de ProduçãoPatrícia Tambourgi

FotografiaPatrícia Tambourgi

ComentáriosAo iniciar sua fala, o comentarista discordou que exista uma crise de regulação. Para ele, a crise está relacionada a gestão, para o qual é tão importante quanto a regulação. Troster também ressaltou que as soluções para crise americana compensaram os bancos, tornando os banqueiros mais ricos e os devedores mais pobres. A solução irlandesa, por outro lado, protegeu os devedores, deu uma solução para seu endividamento, e impôs perdas aos bancos que especularam.

Sobre a China, o comentarista colocou que dois meses antes da reunião no GACINT, ele participara de uma reunião do Banco dos BRICS, tendo observado que os chineses possuem objetivos e visões definidas, diferentemente do Brasil.

Finalizou os comentários aprofundando sua avaliação sobre a situação brasileira, prevendo uma tormenta financeira. Afirmou que se gastam 10,7% de receita do PIB com juros por operação de crédito, pagos a instituições financeiras, sem incluir serviços cobrados junto a operações de crédito e outros juros. No mais, somam-se a isso 6% do PIB de juros da dívida pública, fora a crise de inadimplência, com mais da metade das empresas no Brasil com pelo menos uma notação no SERASA e mais de 1/3 das pessoas físicas também no SERASA. Concluiu deixando no ar a pergunta: o Brasil não está entrando em uma armadilha da dívida?

Para Simoens, para avançar a federalização, os desiguais precisam se tornar iguais, fazendo com que a riqueza seja distribuída. No entanto, o bloco europeu foi concebido como um projeto de convivência democrática entre desiguais, culturas diferentes e estágios econômicos distintos, e só se sustenta entre desiguais. Também os gregos e os povos do Norte se opõem à federalização. A recente rodada de negociação grega com a Troika, lembrou Simoens, exemplifica como a questão econômica está dissociada da questão política. O país não é irresponsável ou incapaz de cumprir metas e ajustes, uma vez que apresentou melhora em termos de déficit fiscal. Mesmo assim, a Grécia teve de aceitar um acordo que nem mencionou a questão da dívida bruta, necessidade indicada, inclusive, pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).

Em geral, Espanha e Irlanda também demonstram melhora com o euro mais barato. Simoens considera, todavia, a posição da Alemanha escandalosa, dado seu saldo em conta corrente, que alcança 7,5% do PIB. Ao entrar na zona do euro, esse país encontrou um mercado altamente cativo, dispondo de tecnologia avançada e sendo fonte de produtos e empréstimos. Mencionando os economistas John Keynes e Nouriel Roubini, Simoens observou que países superavitários estão igualmente em desequilíbrio, e, por isso, existe a necessidade de os alemães passarem a comprar, já que fazem parte de uma comunidade. Concluiu dizendo que “a União Europeia, enquanto ideia de possibilidade voltada para a paz, já morreu. Os ressentimentos dessa rodada de negociação são enormes. O futuro do euro é uma questão em aberto”.