Desempenho Do Software ECOTECT No Cálculo Da

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2º. Simpósio Brasileiro de Qualidade do Projeto no Ambiente Construído X Workshop Brasileiro de Gestão do Processo de Projeto na Construção de Edifícios 03 e 04 de Novembro de 2011 – Rio de Janeiro, RJ – Brasil Desempenho do software ECOTECT no cálculo da luz natural em edificações Ecotect Performance concerning Natural Lighting Calculation in Buildings Juliana Amaral de São José Arquiteta pela Universidade Federal de Juiz de Fora e Mestre em Arquitetura e Urbanismo. | e-mail: [email protected] | CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/4621495568334912 | Eduardo Breviglieri Pereira de Castro Professor Doutor da Universidade Federal de Juiz de Fora | e-mail: [email protected] | CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/3914315677247265 | RESUMO Proposta: A necessidade de conhecer o comportamento da luz natural no ambiente construído leva os arquitetos e engenheiros a buscarem cada vez mais o uso de ferramentas para calcular esse comportamento durante as fases de projeto. Entre as ferramentas existentes no mercado, o software Ecotect apresenta uma ampla gama de instrumentos que possibilitam analizar o conforto lumínico, térmico e acústico. Devido a sua penetração no mercado de projetos de arquitetura, é importante determinar qual seu desempenho e em que fase do processo de projeto ele pode ser utilizado de maneira ideal. Método de pesquisa/Abordagens: Para avaliação deste desempenho foram realizadas simulações para se determinar a capacidade do código em calcular o iluminamento de uma sala considerando-se diversas situações geográficas. Além disso, comparou-se os resultados destas simulações com medições tomadas em ambiente real. Resultados: Conclui-se que a modelagem 3D é o fator que mais interfere nos resultados simulados, uma vez que o software não considera nos cálculos dados climáticos do local simulado. Isso leva a concluir que o software em questão pode ser utilizado nas fases iniciais de projeto, mas não se aplica à pesquisa de resultados lumínicos mais precisos. Contribuições: Com estes procedimentos, estabeleceu-se o nível de adequação e usabilidade do software na otimização do processo de projeto, particularmente no que diz respeito à influência da iluminação natural na concepção arquitetônica. Dessa forma o estudo em questão mostrou a devida aplicabilidade da ferramenta na etapa de projeto melhor indicada para tal. Palavras-chave: Iluminação Natural. Simulação computacional. Ecotect. ABSTRACT 779 10.4237/sbqp.11.245

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2º. Simpósio Brasileiro de Qualidade do Projeto no Ambiente Construído X Workshop Brasileiro de Gestão do Processo de Projeto na Construção de Edifícios

03 e 04 de Novembro de 2011 – Rio de Janeiro, RJ – Brasil

Desempenho do software ECOTECT no cálculo da luz natural em edificações

Ecotect Performance concerning Natural Lighting Calculation in Buildings

Juliana Amaral de São José Arquiteta pela Universidade Federal de Juiz de Fora e Mestre em Arquitetura e Urbanismo. | e-mail: [email protected] | CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/4621495568334912 |

Eduardo Breviglieri Pereira de Castro Professor Doutor da Universidade Federal de Juiz de Fora | e-mail: [email protected] | CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/3914315677247265 |

RESUMO

Proposta: A necessidade de conhecer o comportamento da luz natural no ambiente construído leva os arquitetos e engenheiros a buscarem cada vez mais o uso de ferramentas para calcular esse comportamento durante as fases de projeto. Entre as ferramentas existentes no mercado, o software Ecotect apresenta uma ampla gama de instrumentos que possibilitam analizar o conforto lumínico, térmico e acústico. Devido a sua penetração no mercado de projetos de arquitetura, é importante determinar qual seu desempenho e em que fase do processo de projeto ele pode ser utilizado de maneira ideal. Método de pesquisa/Abordagens: Para avaliação deste desempenho foram realizadas simulações para se determinar a capacidade do código em calcular o iluminamento de uma sala considerando-se diversas situações geográficas. Além disso, comparou-se os resultados destas simulações com medições tomadas em ambiente real. Resultados: Conclui-se que a modelagem 3D é o fator que mais interfere nos resultados simulados, uma vez que o software não considera nos cálculos dados climáticos do local simulado. Isso leva a concluir que o software em questão pode ser utilizado nas fases iniciais de projeto, mas não se aplica à pesquisa de resultados lumínicos mais precisos. Contribuições: Com estes procedimentos, estabeleceu-se o nível de adequação e usabilidade do software na otimização do processo de projeto, particularmente no que diz respeito à influência da iluminação natural na concepção arquitetônica. Dessa forma o estudo em questão mostrou a devida aplicabilidade da ferramenta na etapa de projeto melhor indicada para tal.

Palavras-chave: Iluminação Natural. Simulação computacional. Ecotect.

ABSTRACT

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10.4237/sbqp.11.245

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Proposal: The need to understand the behavior of natural light in the built environment lead architects and engineers to use computer tools to calculate this behavior during the design phases. Among the available tools, the Ecotect software features a wide range of instruments that allow architects to analyze natural lighting, acoustic and thermal performances of a building. Due to its market penetration among architecture professionals, it is important to determine the code performance and at what stage of the design process it can be used optimally. Research method / approaches: To evaluate this performance simulations were carried out to determine the code ability to calculate the illuminances in a room considering different geographical locations. In addition, the results of these simulations were compared to measurements taken in a real environment. Results: One can conclude that 3D modeling is the main factor that interferes with the simulated results, since the software do not consider in the calculations specific local climatic data. This leads to the conclusion that the software in question can be used in the early stages of design, but is not adequate for accurate and advanced luminous calculations. Contributions: With these procedures, the adequacy and usability of the software on the optimization of the design process was established, particularly with regard to the influence of natural light in architectural design. Thus the study in question showed what is the design stage best suited to use the considered computer tool.

Key-words: Natural lighting. Computational simulation. Ecotect.

1 INTRODUÇÃO

O comportamento da luz durante as fases de concepção bem como de desenvolvimento e amadurecimento das formas arquitetônicas durante o processo de projeto se faz importante na medida em que o aproveitamento máximo de recursos naturais é reconhecidamente um meio eficiente na obtenção de uma maior sustentabilidade das edificações, refletindo tanto na melhoria da qualidade do espaço interno da edificação quanto na economia de energia elétrica. Para tal, deve-se prever a utilização destes recursos ainda nas primeiras fases de elaboração do projeto, tornando primordial para arquitetos e projetistas o conhecimento da relação de causa e efeito entre o objeto projetado e os recursos naturais disponíveis. Este é o caso do aproveitamento da luz natural. Esse conhecimento se faz importante para garantir tanto ao arquiteto quanto ao futuro usuário que o resultado obtido em relação ao efetivo funcionamento da edificação seja alcançado. Com este objetivo, a utilização de softwares de simulação pode simplificar a tarefa de elaboração de idéias e adequação de técnicas em todas as fases do projeto (CARVALHO, 2009). Em termos específicos da utilização da luz natural, as diversas formas de simulação e imagens sintetizadas por softwares específicos têm contribuído muito no campo da iluminação, facilitando a compreensão de fatores pré e pós projetuais (PUPO, 2007). Entretanto, na maior parte das vezes, o projetista confia nos resultados das simulações para tomar as decisões inerentes ao projeto, sem que se tenha feito uma verificação adequada do resultado alcançado pelas simulações. Essa prática apresenta o risco de que estudos que lançam mão de tais simulações possam vir indicar soluções de projeto baseadas em dados imprecisos ou incoerentes com a situação analisada. Dessa forma, justifica-se um estudo de avaliação do software para a verificação da adequação e confiabilidade de seus resultados na prática arquitetônica. Isso garante que a ferramenta possa ser utilizada de forma apropriada.

Nos últimos anos, entre as ferramentas mais utilizadas por arquitetos para o estudo da iluminação natural nos ambientes, está o software Ecotect. Devido a esta penetração entre os profissionais de projeto arquitetônico, levanta-se a questão da adequação e confiabilidade dos resultados obtidos por este código ao ato de projetar, especificamente. As questões a serem respondidas são: qual a precisão dos resultados para diversas condições de implantação da edificação, como localização geográfica; qual a confiabilidade de seus resultados quando comparados com dados reais de medições; conhecendo-se seu desempenho, em que etapa do projeto o software pode ser utilizado; e quais as limitações do mesmo no processo de projeto. O objetivo deste estudo se apresenta, assim, em

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determinar qual a etapa melhor indicada para uso do sotware, no que tange as questões de iluminação natural. Para isso, foi estudado o procedimento de cálculo do iluminamento utilizado pela ferramenta, além de analisadas simulações no software em questão para legitimar o processo e verificar a aplicação dos resultados para um ambiente determinado. Além disso, os resultados destas simulações foram comparados com outros provenientes de medições feitas no local. Esses experimentos nos mostram que, de maneira global, o software nos oferece resultados interessantes para a fase de concepção inicial do projeto, que implicam diretamente na escolha forma arquitetônica, mas que existem limitações de seu uso em etapas mais avançadas do processo de concepção.

2 ECOTECT E ILUMINAÇÃO NATURAL

O software Ecotect é uma ferramenta computacional desenvolvida pelo Square One Research Pty Ltd, escrito e apresentado em uma tese de doutorado do Dr. Andrew Marsh na Faculdade de Arquitetura e Belas Artes na Universidade da Austrália Ocidental (CARDOSO, 2007). Depois desta versão acadêmica, a versão 2.5 se tornou a primeira a ser lançada comercialmente, em 1997. Para Sibilio (2008), o software é um líder na indústria da construção permitindo aplicar em um modelo 3D todas as ferramentas para um planejamento energético eficiente e sustentável. Atualmente, a partir de 2009, é comercializado pela empresa Autodesk sob o nome de Autodesk Ecotect Analysis, e possui uma interface de fácil interação com o usuário. Integrado com os processos de projeto, o Ecotect visa auxiliar a tomada de decisões em qualquer etapa do projeto.

Compatível com o sistema operacional Windows, o Ecotect possui ferramentas para avaliação do desempenho lumínico, térmico e acústico. Em relação a questões voltadas para o estudo da iluminação de ambientes, o software exibe os níveis de iluminação em qualquer ponto do modelo ou sobre um grid de análise. Dessa forma, o software torna possível a avaliação da iluminação no interior de um ambiente a partir de uma fonte de luz natural, além de possuir um módulo dedicado ao cálculo de distribuição de luminárias e fornecer a visualização dos vetores de luz. Em termos de visualização realística de resultados, o software possibilita a exportação da modelagem 3D e dos dados de materiais para outros softwares mais específicos de acabamento de imagem.

Segundo a documentação fornecida pela Ecotect Community Wiki, disponível on-line, o software Ecotect utiliza o método BRE de Fluxo Dividido para a determinação dos níveis naturais de luz em pontos dentro de um modelo geométrico. Este método se baseia no Fator de Luz do Dia que é a razão entre a iluminância de um ponto específico dentro do modelo para sua correspondente exterior desobstruída (CARDOSO, 2007) (figura 1).

Figura 1: Daylight Factor Definition. Sendo: Daylight Factor = Inside Illuminance / Outside Illuminance x 100. Fonte: disponível em: http://isites.harvard.edu/fs/docs/icb.topic541048.files

/L14.DaylightSimulations.pdf. Acesso em: 2 maio 2011

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Segundo o mesmo autor, a análise básica de iluminação natural deve utilizar dois tipos céu correspondentes, céu encoberto padrão e céu limpo, seguindo a norma da Commission Internacionale de L´Eclairage (CIE). Além disso, os dados geométricos do local, tais como latitude, longitude e orientação do edifício, devem ser preenchidos para o alcance dos resultados que podem ser apresentados numericamente ou graficamente em formatos distintos. Para Sibilio (2008), o método BRE é baseado no pressuposto de que existem três componentes da luz natural que atinge qualquer ponto dentro de um ambiente, ignorando a luz solar direta. As componentes são:

- Sky Component (SC): Componente proveniente diretamente do céu, penetrando no ambiente através de uma abertura, como uma janela;

- Externally Reflected Component (ERC): Componente refletida no chão, árvores ou outros edifícios, previamente sua penetração no interior do ambiente;

- Internally Reflected Component (IRC): Componente proveniente da inter-reflexão de uma ou mais superfícies no ambiente (figura 2).

Figura 2: Método de Fluxo dividido da UK Building Research Establishment (BRE). Sendo: Daylight Factor = SC+ERC+IRC. Fonte: disponível em:

http://isites.harvard.edu/fs/docs/icb.topic541048.files/L14.DaylightSimulations.pdf. /icb.topic541048.files/L14.DaylightSimulations.pdf. Acesso em: 2 maio 2011.

3 METODOLOGIA

A determinação do desempenho do Ecotect para determinar a quantidade de luz natural disponível numa edificação foi realizada através de simulações, e visaram dois objetivos distintos. Primeiramente, determinar a influência da localização geográfica do sítio e do clima nos resultados do cálculo da iluminação natural. Para isso, simulações foram realizadas com dados da cidade de Juiz de Fora e comparadas com simulações feitas para outras cidades de diferentes latitudes e comportamento climático. Os dados utilizados foram obtidos a partir da importação de arquivos .epw disponíveis para o programa Energyplus (U.S. DEPARTAMENT OF ENERGY, 2011) oferecido de forma gratuita através de site oficial da instituição onde é desenvolvido. As cidades escolhidas foram Juiz de Fora, cidade brasileira em que estudo e as medições in loco foram feitos; Rio de Janeiro, cidade brasileira com latitude próxima ao Trópico de Capricórnio; Manaus, cidade brasileira com latitude próxima ao Equador; Hong Kong, cidade chinesa com latitude próxima ao Trópico de Câncer; e Moscou, cidade russa da Ásia Setentrional com latitude elevada e clima bem adverso se comparado com o clima da cidade de estudo (figura 3). Todo o procedimento de simulação foi feito com o auxílio de um tutorial disponibilizado pela organização Ecotect Community Wiki (2011), disponível on-line.

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Figura 3: Imagem do globo terrestre planificado com locação das cidades em relação aos trópicos. Fonte: do autor.

Num segundo momento, as simulações visaram determinar o quanto os resultados obtidos pelo programa para a cidade de Juiz de Fora se aproximam dos resultados reais, obtidos através de medições. Para isso, foi realizada uma comparação entre os resultados medidos no local e os dados simulados. Essa proposta foi realizada repetindo-se a simulação para o mesmo intervalo horário das medições, considerando tanto o céu encoberto padrão CIE quanto o céu limpo. Os resultados das medições e simulações foram compilados de forma a serem comparados os momentos correspondentes a cada tipo de céu ocorrido durante o dia de medição.Para o desenvolvimento desse trabalho, foram levantados dados climáticos da cidade e determinada a geometria de uma sala de aula na faculdade de Engenharia da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Minas Gerais. O local apresenta uma latitude de 21º 77' S e uma longitude de 43º 36' W. A sala está localizada no segundo pavimento do edifício projetado por Marcos Martins Borges como ampliação do edifício da faculdade de Engenharia existente no campus da UFJF, situado ao lado do restaurante universitário (figura 3). Seus 50 m² são iluminados por duas janelas na fachada noroeste e seus revestimentos possuem propriedades segundo listagem da tabela 1.

Figura 4 - À esquerda, implantação da sala de aula na Faculdade de Engenharia da UFJF. À direita, planta de locação da sala de aula, em frente ao Restaurante Universitário e corte transversal. Fonte: do autor.

Tabela 1: Refletância média das superfícies (HOPKINSON, 1975)

Paredes 85%

Piso 30%

Teto 85%

Janelas 15%

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A fim de comparar os resultados dos níveis de iluminação real do local e os iluminamentos simulados pelo software, foram realizadas medições em intervalo de uma hora, das 07h da manhã às 19h da noite, no dia 17 de fevereiro de 2011, em 9 pontos da sala, utilizando para tanto um aparelho luxímetro digital modelo Instrutherm LD–209 (figura 5).

A distribuição dos 9 pontos na sala respeitou o seguinte critério: foram traçadas duas linhas medianas, uma vertical e uma horizontal dividindo a sala em 4 quadrantes. Em cada quadrante também foram traçadas duas linhas medianas, configurando 3 linhas horizontais e 3 linhas verticais. Na primeira linha vertical, próxima à porta de acesso foram fixados os pontos 1, 2 e 3 nas interseções dos alinhamentos. Na segunda linha vertical, ao centro da sala, foram fixados os pontos 4, 5 e 6, e sucessivamente, na terceira linha vertical, mais afastada da porta de acesso, foram fixados os pontos 7, 8 e 9 (figura 5). Para estabelecer uma relação do iluminamento sem interferências da componente de reflexão interna da sala, foram feitas medições também no mesmo intervalo de uma hora, para os horários de 07h da manhã às 19h da noite, em ambiente externo. Foi utilizado para tal procedimento, o mesmo aparelho luxímetro digital modelo Instrutherm LD-209. Para registro do aspecto geral da iluminação existente, a cada momento de medição foi tomada uma fotografia com uma câmera digital modelo Canon Power Shot S3 IS em modo automático.

Figura 5: À esquerda, modelo do luxímetro utilizado para as medições. No centro, imagem da sala de aula fotografada após o momento de medição às 11h da manhã. À direita, planta baixa da sala de aula com

marcações dos pontos de medição e posicionamento da câmera. Fonte: do autor.

Em seguida à campanha de medições, procedeu-se a elaboração de um modelo virtual do ambiente, que foi realizado utilizando-se o software AutoCAD. Inicialmente, determinou-se as projeções em 2D dos elementos presentes na edificação, a partir de levantamento planimétrico feito no local. Posteriormente o ambiente foi modelado em 3D, utilizando-se o software 3dStudioMAX, também comercializado pela empresa Autodesk. Finalmente, após a modelagem da geometria em três dimensões, o modelo foi transferido em arquivo 3ds para o software Ecotect e nele então foram atribuídos materiais respectivos aos elementos de alvenaria, piso, janela, estruturas e teto, disponíveis na biblioteca de materiais do próprio software. A comunicação de dados em todas estas etapas foi facilitada por se tratar de softwares da mesma empresa e com compatibilidade entre exportação e importação em arquivos com extensão comum entre eles. Isto se tornou um facilitador para o desenvolvimento do estudo.

Com o objetivo de simular o iluminamento nos mesmos pontos estabelecidos no local, modelou-se em uma grelha virtual repousada a 0,02m da superfície do piso, com 21 colunas e 18 linhas, o que configura uma malha com 378 pontos (figura 6). A cada ponto o Ecotect apresenta um valor específico em lux, plotando graficamente este resultado numa escala de tonalidades sobre a superfície da malha. A divisão dos pontos dessa grelha foi criada de modo a apresentar uma coincidência entre alguns pontos com aqueles fixados na sala de aula e usados para as medições. Isto permitiu a comparação dos resultados entre as duas situações.

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Figura 6: Sala de aula modelada em 3d com grelha de análise disposta sobre o piso. Fonte: do autor.

4 ANÁLISE DOS RESULTADOS

Com base no método BRE de Fluxo Dividido, a figura 7 mostra o resultado apresentado pelo software para a cidade de estudo, Juiz de Fora, às 14h com condição de céu encoberto. Na imagem em escala de cor é perceptível a influência das aberturas na fachada noroeste, bem como a redução do iluminamento próximo à fachada, devido à altura do peitoril.

Figura 7: Análise considerando céu encoberto às 14h para a cidade de Juiz de Fora.

Repetindo a simulação para as cidades escolhidas de diferentes localizações no globo, o resultado se repete para todas elas (figura 8). Transferindo a simulação para o céu limpo, o resultado se mostra diferente do primeiro simulado em céu encoberto, porém continua se repetindo para as diferentes localizações no globo (figuras 9 e 10).

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Figura 8: Simulação às 14h com condição do céu encoberto. Escala de cor em lux variando de 320 a 6420+. Em cima à esquerda, para a cidade do Rio de Janeiro (latitude 22º 88' S, longitude 43º 18' W). Em cima à direita, para a cidade de Manaus (latitude 3º 10' S, longitude 60º W). Embaixo à esquerda, para a

cidade de Hong Kong (latitude 22º 20' N, longitude 114º 20' E). Embaixo à direita, para a cidade de Moscou (latitude 55º 70' N, longitude 37º 60' E). Fonte: do autor.

Figura 9: Simulação às 14h com condição do céu limpo. Escala de cor em lux variando de 320 a 6420+. À esquerda, para a cidade do Rio de Janeiro (latitude 22º 88' S, longitude 43º 18' W). À direita, para a cidade

de Manaus (latitude 3º 10' S, longitude 60º W).

Figura 10: Simulação às 14h com condição do céu limpo. Escala de cor em lux variando de 320 a 6420+. À esquerda, para a cidade de Hong Kong (latitude 22º 20' N, longitude 114º 20' E). À direita, para a cidade de

Moscou (latitude 55º 70' N, longitude 37º 60' E). Fonte: do autor.

Estes primeiros resultados demonstram que no Ecotect, o cálculo dos níveis de iluminação interiores a uma edificação, é obtido considerando apenas variáveis geométricas do local simulado e luminâncias padrão do céu, considerando tanto o céu encoberto CIE, quanto céu limpo CIE. Estas variáveis geométricas se mantêm constantes para qualquer posição geográfica do sítio em estudo. Este comportamento se mostra consistente à observação apresentada em nota existente na interface do software durante o momento da simulação, na qual se divulga que não são utilizados os dados climáticos das cidades para fazer o estudo, sendo ele baseado no método de fluxo dividido (figura 10). Entretanto, características importantes para o cálculo da iluminação natural são desconsideradas, como a turbidez atmosférica, influência da altitude e clima do local, entre outras.

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NOTE: Natural light levels are NOT date or time dependant - they represent worst-case design conditions based on an 'average' cloudy or uniform sky distribution in mid-winter. Calculations are based on the BRE Split Flux Method which uses daylight

factors and the design sky illuminance value to determine likely natural light levels in your model (AUTODESK, 2010).

Figura 10: Nota na interface do software durante o momento de simulação. Fonte: do autor.

Para o segundo grupo de simulações, comparando-se os dados obtidos nas simulações e das medições, o gráfico 1 mostra a as diferenças de valores encontradas para as duas condições de céu, para uma mesma data. O dia em questão apresentou variações de aspecto, com momentos de céu encoberto e momentos de céu claro. Para suplantar esta dificuldade, os dados teóricos utilizados na comparação foram retirados de diferentes simulações (céus claro e encoberto CIE) e plotados no mesmo gráfico, a cada hora considerada.

Os resultados revelam que, tanto em momentos de céu limpo (claro) quanto em momentos de céu encoberto, o resultado da simulação permanece constante apresentando apenas uma pequena variação entre essas duas situações. Além disso, podemos ver que existe uma variação considerável entre o resultado medido e o resultado simulado, havendo alguns picos de luminosidade durante o dia no local de medição. A melhor concordância foi encontrada para o horário de 13h, em que existe uma aproximação grande entre o valor medido e o valor simulado. De qualquer forma, o fato de não considerar outras variáveis climáticas e geográficas na simulação, comprometem os resultados das simulações.

Gráfico 1: Comparação dos iluminamentos provenientes de medição e de simulação para o dia 17 de fevereiro de 2011 em condição de céu encoberto e limpo. Fonte: do autor.

5 CONCLUSÃO

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O software Ecotect não leva em consideração os dados específicos do local para efetuar o cálculo do iluminamento em Lux. Dessa forma, os resultados obtidos para determinada localidade se equivalem aos resultados obtidos para qualquer outra localidade do mundo. Em outras palavras, o software considera a luminosidade proveniente da abóbada celeste igual para qualquer ponto na superfície terrestre. De maneira conservadora, o cálculo é efetuado considerando-se o pior caso para as condições de projeto, ou seja, a média de distribuição de luminâncias do céu limpo e do céu encoberto no inverno. O estudo realizado nos mostra que, ao contrário do que se esperava inicialmente – pois existem campos específicos para tal na interface do código computacional -, o preenchimento dos dados geométricos do local, como latitude, longitude e altitude não interferem nos resultados. Esta característica do programa computacional implica numa absoluta influência das formas geométricas e, portanto, da modelagem 3D, nos resultados das simulações. Isso indica possíveis ocorrências de discrepâncias e interferência nos resultados, conforme o grau de precisão do modelo geométrico submetido às simulações. Esta conclusão corrobora o estudo realizado por Ibarra (2009), que revelou alteração nos resultados dos experimentos produzidos pelas divergências entre diversos modelos distintos.

Devido a tudo isso, ao compararmos os dados simulados com os dados medidos no local, verifica-se um considerável desvio entre os valores obtidos. Isso demonstra a importância dos dados climáticos do local no cálculo dos iluminamentos, além daqueles relacionados à geometria da sala. Assim, quando houver necessidade de se investigar com precisão os níveis de iluminação natural que podem ser obtidos com a utilização de janelas ou outros dispositivos, é necessário exportar o modelo para outro software que considere as variáveis climáticas na simulação. Da mesma forma, por utilizar o método de fluxo dividido do BRE, a componente direta da luz, proveniente do sol, não é considerada nos cálculos executados pelo Ecotect, o que limita um pouco sua utilização no projeto de dispositivos passivos de reflexão da luz como lightshelves, por exemplo. Também neste caso, outro software deve ser utilizado para a obtenção de resultados mais precisos. Tudo isto implica que o Ecotect não se aplica a realizar análises precisas dos níveis de iluminação em ambientes, limitando o software a estudos basicamente conceituais do projeto, ou seja, em etapas muito precoces da concepção do prédio.

Em contrapartida, o software Ecotect revela-se uma ferramenta muito útil na visualização da distribuição espacial da luz natural na sala em estudo, ou seja, ele é capaz de mostrar claramente as áreas da sala mais e menos iluminadas, considerando uma situação padrão, ou seja, um céu sem presença do sol. Assim, duas ou mais geometrias diferentes podem ser simuladas e comparadas para se obter uma primeira escolha em termos de desempenho do edifício perante este tipo de fonte de luz natural. Muitas vezes, apenas isso já é suficiente para se alcançar melhores resultados do que os que podem ser obtidos sem o uso de nenhuma ferramenta de simulação, durante as fases iniciais do projeto. Essa característica auxilia, portanto, a se obter maior sustentabilidade e qualidade de uma edificação.

6 REFERÊNCIAS

AUTODESK, Ecotect Analysis. Lighting Analysis. 2010.

CARDOSO, C.; ALMEIDA, M; BRAGANÇA, L. Natural illumination availability in Ponte da Pedra apartament block – a case study. In: Portugual SB07. Sustainable Construction, Materials and Practices. Portugal, 2007.

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CARVALHO, C. R. Avaliação do programa APOLUX segundo protocolos do relatório CIE 171:2006 referentes a iluminação natural. Florianópolis, 2009. Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2009.

ECOTECT Community Wiki. Archived Ecotect Resources - Comunity Wiki. Disponível em: <http://wiki.naturalfrequency.com>. Acesso em: 02 abr. 2011.

HOPKINSON, R. G; PETHERBRIDGE, P; LONGMORE, J. Iluminação Natural. Tradução de Antônio S. Lobato de Faria. 2. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1975.

IBARRA, Diego I.; REINHART, Chistoph F. Daylight Factor Simulations – How close do simulation beginners 'really' get? In: Eleventh International IBPSA Congerence. Glasgow, 2009.

PUPO, R. T.; SCARAZZATO, P. S.; DELBIM, S. Metodologia para a escolha de programas de simulação de iluminação artificial em ambientes, através de análise e comparação de softwares. In: IX Encontro Nacional e V Latino Americano de Conforto no Ambiente Construído. Ouro Preto, 2007.

SIBILIO, Sergio, FALCONETTI, Pasquale; MAFFEI, Luigi. 475: Daylighting design for low energy buildings in south Italy. In: 25 th Conferenceon Passive and Low Energy Architecture. Dublin, 2008.

U.S. Departament of Energy. Energyplus Energy Simulation Software. Disponível em: <http://apps1.eere.energy.gov/buildings/energyplus/>. Acesso em: 02 abr. 2011.

7 AGRADECIMENTOS

Os autores deste presente artigo agradecem a todos que colaboraram para a realização da pesquisa, em especial ao Mestrado em Ambiente Construído - PROAC da Universidade Federal de Juiz de Fora, à CAPES e ao Ministério da Educação.

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