BIODIVERSIDADE E CONSERVAÇÃO DA NATUREZA AGÊNCIA CASCAIS NATURA.
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Análise de Natura – NTCO3 – 02/01/2020 Página 1
Grupo Natura – NTCO3
O mundo é mais bonito com você
A Natura foi fundada em 1969, em São Paulo. Em 1983 foi a primeira fábrica de
bens de consumo contínuo a integrar em seu portfólio produtos com
possibilidade de refil, uma de suas marcas registradas até hoje e que de fato
agregam muito valor à marca e aos produtos, além do que – a natureza
agradece.
No final da década de noventa ela faz a aquisição de um negócio de
fitoterápicos, mas não era a marca que interessava, e sim a expertise na
produção a partir de plantas, a mesma estratégia que é usada até hoje e que
obteve imenso sucesso, e que continua sendo um grande diferencial.
Desenvolver produtos com a biodiversidade brasileira.
O IPO da empresa foi em maio de 2004 (R$8,44), e graças à força da marca e às
projeções de mercado consumidor em crescimento, houve uma demanda
superior à projetada inicialmente, o que aumentou a cotação do ativo e fez com
que subisse 18% no encerramento do primeiro dia das negociações. Em 2005, a
cotação do ativo havia valorizado 100%.
Ela passou a crise de 2008 sem grandes solavancos. Na verdade, naquele ano o
ativo teve uma valorização próxima de 20%, enquanto o índice sofria com a
queda, devido ao cenário externo, e isso não ocorreu por acaso. A empresa, na
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época, não tinha dívidas, apurava lucros consistentes, gerava caixa substancial,
tinha mais de 20% de market share e principalmente tinha a confiança do
mercado na gestão e na estratégia, além dos dividendos.
No ano de 2009 a empresa realiza oferta pública secundária de ações,
aumentando de 26,2% para 39,5% o freefloat;o preço foi de R$ 26,50 por ação
ecaptou R$ 1,5 bilhão.
A companhia sempre soube que não precisava esquecer a consultora, que foi o
que definiu a marca, mas precisava acompanhar a evolução digital e usá-la a
seu favor. Demorou demais para reagir e sentiu nos números o que ocorre com
negócios que demoram a compreender que a dinâmica de mercado precisa ser
respeitada e entendida, ser flexível na gestão e nas estratégias.
Em 2015 a empresa viu seus resultados retraírem 30% em relação a 2014, e no
primeiro trimestre de 2016, o primeiro prejuízo após IPO, além da queda para
11% na participação de mercado.
Em 2017 a companhia anuncia a compra da marca britânica The Body Shop
(tem o mesmo viés de extração e consumo consciente), que pertencia à francesa
L’Oréal, por 1 bilhão de euros. A marca está presente em 70 países, com1,8
milhão de consultoras independentes, 3.200 lojas (hoje são 2.863) em 66 países, o
que ia de encontro à necessidade da natura, que na época estava presente em
apenas 9 países, e com a marcaAesopem 20.
Porém, sabemos que balanços com dívidas não agradam mercado, mas na
época (2018), apesar da redução do lucro, a empresa apurou crescimento de
receita líquida em linha com o projetado (aumento de 54% no segundo semestre
de 2018).O mercado financeiro costuma precificar esses movimentos, às vezes
de forma positiva e outras negativa, mas para conseguir analisar se a operação é
rentável para o seu investimento, precisamos compreender os motivos que
levam os negócios a optarem por essa estratégia.
Além obviamente de perceber que não se trata apenas de adquirir o negócio e
rentabilizar no trimestre seguinte, é preciso tempo para ajustar os processos e
consolidar as sinergias, que por sua vez estarão precificadas antecipadamente
na cotação do ativo, seja puxando a cotação para baixo ou transformando o
ativo em um fenômeno de rentabilidade a curto prazo.
E a estratégia seguiu conforme o planejado, ela manteve o alcance com as
consultoras, ampliou o e-commerce (que ainda precisa de
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melhorias,principalmente em relação à disponibilidade de estoques) e expandiu
no mundo com uma rede já formada e uma marca respeitada.
Então veio a aquisição da Avon, que não estava em uma boa fase financeira,
afinal, apesar de ser a segunda maior empresa de venda direta do mundo e
uma das melhores em custo x benefício, vinha apurando, no Brasil, queda de
receita e prejuízos (margem operacional negativa). Lembrando que não apenas
no Brasil os números eram ruins, pois a marca apurava queda nas vendas
globais nos últimos cinco anos, ou seja, lutando para sobreviver mesmo com
um portfólio enorme e diversificado, bons preços e com mercado consumidor
cada vez maior.
Segundo a companhia, a sinergia/ano com a fusão dos negócios será de US$
150-250 milhões e o market share vai aumentar para cerca de 15%. Na
negociação, os acionistas da Natura ficam com 76% da empresa combinada e, a
Avon,com os 24% restantes.
Resultados do terceiro trimestre
Consolidado comparação 3T2019x3T2018
Receita Bruta: crescimento de 7,1%
Receita Líquida: crescimento de 7,2%
CMV: aumento de 11,5%
Lucro Bruto: aumento de 5,6%
Ebitda: recuo de 17,4% devido ao aumento das despesas corporativas e
administrativas
Lucro líquido consolidado: recuo de 48,4%
Margem bruta recuou 1,1 p.p–72,2%
Margem ebitda recuou 3,4 p.p – 11,5%
Margem líquida recuou 2,1 p.p – 2%
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Fonte: Release do terceiro trimestre da companhia – Natura – Disponível no RI
O ebitda sofreu impacto devido aos investimentos estratégicos, despesas não
recorrentes com a aquisição da Avon de R$ 32,0 milhões, relacionados
essencialmente a serviços profissionais e custos de planejamento.
As despesas financeiras líquidas apuradas no trimestre foram de R$ 171,9
milhões, devido aos custos financeiros associados à aquisição da Avon, de R$
23,3 milhões. Já as despesas financeiras com empréstimos e financiamentos
recuaram 7,6%, ficando em R$ 11,8 milhões,com um menor saldo médio da
dívida (queda da taxa CDI), assim como a receita financeira sobre
aplicações,que também recuaram 43,7%, ficando em R$ 8,7 milhões, devido a
um valor menor investido e também à taxa de CDI menor.
O lucro recuou devido a maiores custos com a Avon, R$ 36,5 milhões no
período, sendo R$ 23,3 milhões de custos de financiamento. Quando são
excluídos os efeitos não recorrentes, o lucro reduziu, no trimestre, 15,8%.
Com maior necessidade de capex e lucro menor, a empresa apurou uma
utilização maior de caixa, de R$ 74,3 nesse trimestre, contra R$ 9,9 no trimestre
de 2018. A desalavancagem segue, a dívida liquida/ebitda recuou de 3,27x no
3T2018 para 2,98x no trimestre atual, e a meta é chegar a 1,4x até 2021 (mesmo
múltiplo antes da aquisição da TBS).
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Concluindo
A aquisição da Avon pela Natura forma a quarta maior empresa de cosméticos
do mundo. Ou seja, ela é uma gigante, mas é preciso cautela ao analisar
negócios combinados e suas possibilidades de rentabilização, isso porque a
incorporação dos negócios demanda mais do que apenas boa vontade: é preciso
tecnologia adequada para tornar a junção dos processos algo viável, e isso não
apenas em termos de produção, mas comercialmente.
Lembrando que a aquisição da Avon foi aprovada pelas autoridades e a
empresa divulgou fato relevante sobre isso e também sobre cronograma de
fechamento.
Ou seja, é uma grande empresa, presente na América do Norte, Europa,
Oriente, África, Ásia, Pacífico, e América Latina, mas é preciso análise de
negócio, considerando que o plano de desalavancagem precisa continuar
funcionando, a receita precisa aumentar, a gestão precisa de modelos de projeto
eficazes para manter rentável um sistema que opera em vários mercados e
atende públicos distintos, além de uma gestão de custos mais eficaz e que as
sinergias de fato ocorram na prática para que possam ser vistas nos números.
Os múltiplos estão elevados porque o mercado acredita na demanda pelo
produto, e também gostou do fato da empresa ter retomado o market share e
deixado o Boticário em segundo lugar, além da capacidade de inovação dos
produtos e do aumento de mercado para consumo sustentável. Talvez o
próximo grande passo seja na sustentabilidade das embalagens, o que seria
sensacional, mas isso é assunto para análise de logística.
Informação é dinheiro.
Até a próxima semana,
Patrícia Rossari
Especialista em Gestão de Negócios – Logística
Vocês já devem ter ouvido aquela frase, ditado popular, que diz assim: “Você
vai por bem ou por mal?”. Não é verdade?
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Nós, seres humanos, em sua maioria (claro que existem exceções), temos uma
tendência a nos conformar com a nossa situação, ainda mais quando é um
período lucrativo da empresa. Quem nunca ouviu falar que “em time que está
ganhando não se mexe”?
Enfim, muitos gestores, CEOs, diretores de empresas, pensam dessa forma e
quando eles veem a necessidade de mudança, é quando já estão perdendo
rentabilidade ou participação de mercado. A Natura passou por isso em 2014 e
2015. Assim como a Cielo está passando agora, por exemplo.
A consequência final é a companhia entender “por mal” que ela precisa mudar
seu business. Ou seja, ela precisa melhorar e inovar sua forma de ganhar
dinheiro. A Natura entendeu isso tardiamente, quando comprou a The
BodyShop. Mesmo movimento que hoje a Cogna faz no setor de educação.
Percebam que existem algumas empresas, que inclusive já analisamos aqui, que
não precisam esperar o mercado tirar sua lucratividade para mudar. Aqui na
nossa Área de Podcast – Dica Beginner, já trabalhamos os cases da Wege(clique
aqui) e das Lojas Renner(clique aqui), por exemplo.
Outra empresa que busca se transformar antes do mercado “jogar ela para
baixo” e que está na nossa Carteira Dica Beginner, é a Engie – EGIE3. A
companhia percebeu a necessidade de geração por fontes renováveis, como
eólica e solar, e agora já dá os primeiros passos para entrar no mercado de gás,
com a aquisição de participação na TAG. Ou seja, a companhia está sempre
modificando seu business e se adaptando às necessidades do mercado.
Este é o racional atual da Natura, que recentemente mudou seu nome para
Natura Corporation, e seu código de NATU3 para NTCO3, mas continua
fazendo parte do Novo Mercado.
Eu me lembro bem, em 2017, quando a Natura comprou a The Body Shop,
porque foi uma compra que me ensinou uma grande lição. Mas antes veja
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abaixo a cotação da Natura, ainda como NATU3 na época. Marquei com um
retângulo vermelho o ano de 2017.
Fonte – site Fundamentus
Na imagem acima vemos como o mercado penalizou a compra da Body Shop,
fazendo a cotação cair de R$ 17,00 para R$ 11,36, mesmo patamar do pré-
impeachment da ex-presidente Dilma.
Os motivos eram o alto endividamento e a mudança de business de uma
empresa com poucos ativos (venda a partir de consultoras), para um business
com muitos ativos imobilizados em lojas ao redor do mundo.
Para piorar, o fato de estar espalhada por todo o mundo e ter uma receita em
moeda estrangeira era visto por muitos como algo ruim, uma vez que a
expectativa era que o real se valorizasse com a entrada de muitos recursos
estrangeiros que estavam vindo para o Brasil. Sim, em 2017 achávamos isso.
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Nessa época, por exemplo, a companhia tinha Preço/Lucro de 33x e Preço/Valor
Patrimonial de 10x. Números, na minha visão, completamente absurdos para o
Varejo. Estava precificada mais cara que a própria Magazine Luiza (MGLU3),
que já tinha alcançado uma alta superior a 500% em 2016 e partia para o
segundo ano seguido de alta de 500%, em 2017.
E tudo isso, com lucros em queda e com a dívida bruta que alcançou 570% do
Patrimônio Líquido.
O resultado eu já postei lá atrás e, quem comprou a R$ 11,00, triplicou seu valor
neste período.
Existem algumas empresas, como a própria Natura, que mais importante que
calcular o preço justo da empresa, é importante entender que as suas aquisições
funcionam de acordo com um ciclo. Veja a imagem abaixo:
Elaborada pela equipe Dica de Hoje Research
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O crescimento no preço da ação, motivado pela The Body Shop, já aconteceu.
Agora a Natura está tentando realizar as sinergias com a Avon para que ela
possa aumentar seus lucros.
Algumas observações pertinentes.
1. A Natura só começou a subir mais forte 18 meses depois da aquisição da
The Body Shop.
2. Excluindo casos peculiares, o mercado trabalha com um atraso frente à
operação da empresa. Ou seja, se você analisar a empresa, você tem
tempo de se posicionar.
3. Posicionar-se antes, nestes cases, significa ter paciência de, em alguns
casos, esperar alguns anos até a ação subir.
4. Na minha visão, a Natura está hoje com relação à compra da Avon, na
parte do aumenta endividamento e reportando resultados piores. Ou
seja, o mercado ainda deve demorar a olhar para ela.
5. Essa seria a hora ideal para o investidor de longo prazo e que acredita
nas sinergias começar a montar posição com calma.
6. Outras empresas que atualmente se encontram com sinergias em
andamento na mesma situação: M. Dias Branco e Cogna.
7. Sempre existe a possibilidade da aquisição dar errado, os resultados
piorarem indefinidamente e a companhia passar a ter prejuízos. Sim,
Bolsa de Valores tem risco associado, por isso ganhamos mais que na
Renda Fixa.
Agora, imaginando, uma sinergia de US$ 200 milhões por ano na compra da
Avon, e utilizando o câmbio de R$ 4,00, teríamos um aumento do Ebitda de R$
800 milhões frente ao Ebitda atual. Ou seja, é plausível imaginar um Ebitda para
a Natura de R$ 3,5 bilhões em 2020, baseado nas sinergias.
Além disso, podemos contabilizar algum acréscimo pelo crescimento do
próprio Brasil e das operações das consultoras, e-commerce e lojas “The Body
Shop”.
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Então, pensando um Ebitda de R$ 4 bilhões em 2020 ou 2021 projetado e com a
dívida líquida atual de R$ 6,35 bilhões, teríamos um indicador dívida líquida /
Ebitda de 1,6x perto daquele projetado pela companhia e um indicador
EV/Ebitda projetado de 9,5x.
Não é uma barganha, mas para aquela pessoa que busca investir em projetos
pode ser uma boa pedida, apesar do Preço/Lucro atual de 64,8x e projetado de
25x para 2021.
A nossa recomendação oficial é Neutra para Natura. Não vamos
atribuir preço justo, porque depende de inúmeros fatores de
sinergia. Mas sem dúvidas que é um projeto interessante de longo
prazo e que pode trazer ganhos, apesar de estar um pouco cara.
Abraços e Bons investimentos
Daniel Nigri
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Elaborado pelo analista independente Daniel Isaac Nigri, CNPI 1810, este relatório é de uso
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opiniões, aqui expressas, estão sujeitas a mudanças, por se tratarem de estimativas baseadas
em fundamentos e projeções de futuro, que podem ou não ocorrer.
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O analista responsável pela elaboração deste relatório declara, nos termos da Instrução CVM
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sua opinião e foram elaboradas de forma independente.
O analista Daniel Isaac Nigri CNPI é o responsável principal pelo conteúdo do relatório e pelo
cumprimento da Instrução ICVM 598.
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