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DESENVOLVIMENTO LOCAL E INOVAÇÃO: UM OLHAR PARA O MUNICIPIO
DE SCHROEDER-SC.
Carla Eunice Gomes Corrêa (FURB/UNIVALI – [email protected] )
Walter Henrique Fritzke (FURB – [email protected])
Romero Fenili (FURB/UFSC – [email protected] )
RESUMO
A inovação também tem sido foco atual das discussões acadêmicas sobre o desenvolvimento
local. O conhecimento e a informação tornaram-se os alicerces para a criação de novos bens e
serviços, essenciais para sobrevivência das empresas perante a competitividade que se
desencadeia nos dias atuais, onde a inovação está inserida trazendo mudanças que influenciam
significativamente no processo de tomada de decisão. Estamos em uma época em que ao se
pensar em desenvolvimento, refletimos sobre um conjunto de dimensões que vão além das
questões econômicas, tais como: social, ambiental, cultural e políticas. Neste contexto, alguns
municípios brasileiros vêm na inovação uma forma de alavancar o desenvolvimento local.
Este artigo tem por objetivo analisar como a inovação pode ser indutora do desenvolvimento
local no município de Schroeder - SC. Para alcançar os objetivos inicialmente partiu-se de
uma revisão bibliográfica, visando estruturar a teoria em torno desta temática. Num segundo
momento coletou-se der dados secundários sobre a formação econômica do Município de
Schroeder - SC, que nos apresenta-se um panorama sobre a formação econômica do
município. O município de Schroeder devido sua característica de cidade dormitório, tem
enfrentado problemas de infra-estrutura urbana que contribuem diretamente neste processo de
desenvolvimento. Entretanto, o município vem trabalhando para realizar investimentos que
contribuam para a construção de um novo cenário. Assim, este artigo está organizado em três
seções, além da introdução. Na primeira, apresentamos a definição de desenvolvimento local
que orienta este trabalho. Em seguida, retomamos as principais abordagens sobre sistemas de
inovação. Na terceira seção, apresentamos uma breve contextualização sobre a formação
socioeconômica do município de Schroeder e as estratégias de inovação que possam
influenciar nas potencialidades de desenvolvimento do município.
Palavras-Chave: Desenvolvimento local; Inovação; Schroeder.
1. INTRODUÇÃO
Nos últimos anos e principalmente com a globalização dos mercados, o enfoque dos
sistemas de inovação tem sido o foco de atenção em diversos países, como guia para
formulação de políticas publicas e também pelos empresários como instrumento de
competitividade (CASSIOLATO; LASTRES; ARROIO, 2005). Entretanto, por tratar-se de
uma temática complexa, esse processo de inovação tem apresentado grandes desafios para a
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maioria dos países. No caso do Brasil, cujas disparidades regionais, influenciam diretamente
de forma negativa na eficácia de políticas públicas, pois, nem todas as regiões encontram-se
aptas para aproveitar as condições favoráveis das políticas nacionais, esse desafio tem sido
ainda maior.
Diante disso, o conhecimento e a informação tornaram-se os alicerces para a criação
de novos bens e serviços, essenciais para sobrevivência das empresas num ambiente de
competitividade. E, a inovação está inserida nestas mudanças de forma a influenciar
significativamente no processo de tomada de decisão, uma vez que é responsável pela
introdução de ferramentas que favorecem o desenvolvimento das empresas bem como, a
região onde está encontra-se inserida (CARVALHO, 2001).
O papel da região (território local) como indutor do desenvolvimento também tem
recebido maior destaque pelos economistas desde a década de 1980. Geralmente, os estudos
desenvolvidos por estes, tentam desenvolver metodologias que expliquem como os fatores
regionais ou locais podem potencializar o desenvolvimento econômico das regiões.
Entende-se por regiões localidades ou lugares que correspondem a uma certa área
geográfica de extensão sub-nacional. Essa área apresenta um determinado grau de
desenvolvimento, associado à presença de uma dada comunidade de indivíduos – pertencentes
a distintos grupos e classes sociais – e de suas atividades socioeconômicas (SCOTT, 1998;
CORRÊA, 2000).
Partindo deste contexto, este artigo tem por objetivo analisar como a inovação pode
ser indutora do desenvolvimento local no município de Schroeder - SC. Para alcançar os
objetivos inicialmente partiu-se de uma revisão bibliográfica, visando estruturar a teoria em
torno desta temática.
Num segundo momento coletou-se dados secundários sobre a formação econômica do
Município de Schroeder - SC, que nos apresenta-se um panorama sobre a formação
econômica do município.
Assim, este artigo está organizado em três seções, além da introdução. Na primeira,
apresentamos a definição de desenvolvimento local que orienta este trabalho. Em seguida,
retomamos as principais abordagens sobre sistemas de inovação. Na terceira seção,
apresentamos uma breve contextualização sobre a formação socioeconômica do município de
Schroeder e as estratégias de inovação que possam influenciar nas potencialidades de
desenvolvimento do município.
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2. DESENVOLVIMENTO LOCAL
A temática do desenvolvimento em nível local ganhou maior intensidade a partir dos
anos 90, devido à necessidade de se explorar estratégias de empreender as iniciativas de
desenvolvimento levando em consideração as particularidades e características de cada
localidade. Pode-se dizer que a teoria do local pode ser apresentada como o resultado do
esgotamento dos modelos tradicionais de desenvolvimento fundado no Estado nacional como
principal agente promotor do desenvolvimento, dando espaço ao território como indutor do
desenvolvimento.
Por tratar-se de um modelo de desenvolvimento ainda em construção a literatura
apresenta diversos conceitos. Para Buarque (1999, p. 9) entende-se por desenvolvimento local
“um processo endógeno registrado em pequenas unidades territoriais e agrupamentos
humanos capaz de promover o dinamismo econômico e a melhoria da qualidade de vida da
população”.
Já, Bosier (2005) coloca a temática do desenvolvimento local como um processo de
mudança sociocultural, mapeado pelo território próximo, ou seja, trata-se de um processo
caracterizado pelo caráter endógeno (autonomia, reinvestimento, inovação e identidade),
pelos agentes e cultura local, que tem como resultado uma sinergia que envolve o progresso
do território com o tecido social.
“Mais do que um simples conceito, o desenvolvimento local é um ideal. Traz consigo
a promessa de um modelo alternativo de desenvolvimento, de uma solução para o problema
do desenvolvimento desigual, para o crescimento impelido por forças exteriores.” (POLÈSE.
1998, p. 217).
Desta forma, a partir das colocações desses autores observa-se que o desenvolvimento
local apresenta uma abordagem integradora das dimensões econômicas, sociais, políticas e
técnicas, ou seja, o desenvolvimento não é apenas um fenômeno econômico, mas sim,
engloba uma mudança de cultura e de relacionamentos uma vez que os agentes interagem
entre si.
A mobilização dos atores locais, de um mesmo espaço geográfico são instrumentos
que tem possibilitado aos territórios novas formas de inserção produtiva e contribui para uma
atenuação das desigualdades sociais. Neste contexto, quando enfatizamos a questão local,
estamos propondo um modelo de desenvolvimento estruturado a partir dos próprios atores
locais, a partir de uma metodologia construída de baixo para cima.
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Geralmente, neste processo “as comunidades procuram utilizar suas características
específicas e suas qualidades superiores e se especializar nos campos em que têm uma
vantagem comparativa com relação às outras regiões” (HAVERI, 1996, apud BUARQUE,
2006, p 30).
Neste sentido, Tenório (2007) apresenta algumas características que marcam esse
processo como: (a) as localidades e as instituições são as forças motoras do desenvolvimento
econômico; (b) inicia-se uma análise interdisciplinar sobre o desenvolvimento econômico; (c)
as externalidades começa a se destacar, assim como as inovações; e formação do capital social
passa a ser o novo paradigma do ambiente competitivo.
Cabe salientar que cabe ao município identificar os espaços de competitividade de
acordo com as suas condições e potencialidades, ou seja, devem se estimular que mesmos as
atividades econômicas mais simples devem ser estimuladas a alcançar produtividade e
qualidade para que se tornem competitivas a médio e longo prazo (BUARQUE, 2006).
Buarque (2006) coloca ainda que embora, na grande maioria das vezes as decisões
externas – de ordem política ou econômica – tenham um papel decisivo na reestruturação
sócio-econômica do município ou localidade, o desenvolvimento local requer sempre alguma
forma de mobilização e iniciativas dos atores locais em torno de um projeto coletivo. Quando
esse processo ocorre de ordem inversa, geralmente as mudanças não se traduzam em efetivo
desenvolvimento e não sejam internalizadas na estrutura social, econômica e cultural local,
desencadeando a elevação das oportunidades, o dinamismo econômico e aumento da
qualidade de vida de forma sustentável. Devemos lembrar que “cada lugar é um lugar, [...] na
implantação do programa, deve-se considerar e respeitar a cultura local. Dentro de uma
mesma cidade, cada região é uma região, [...] cada vila é uma vila. E os resultados precisam
ser mais discutidos e analisados [...].” (PERUSO, 2010, p. 33).
A realidade tem mostrado que, para obter sucesso nos processos de
desenvolvimento local, é preciso manter um diálogo constante e construir parcerias
efetivas entre todos esses atores, estabelecendo novos padrões de governança
territorial, que possibilitem ampliar o alcance e evitar os riscos de gerar ações
altamente meritórias do ponto de vista conceitual, mas de impacto extremamente
reduzido quando confrontadas com a dimensão dos problemas que se dispõem a
enfrentar. Como realizar essa tarefa e qual o papel das fundações comunitárias na
instituição desses novos modelos de governança são alguns dos pontos que exigem
maior discussão e aprofundamento (SETUBAL; GABRIEL LIGABUE, 2010, p.
10).
Sendo assim, a reflexão a escala local, deve ser realizada a partir do cotidiano das
comunidades, isto é, devem ser observados os problemas relevantes, as potencialidades de seu
entorno ou lugar, porém, sem perder de vista suas interações com outras escalas ou níveis de
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análise, pois, “o local” é o um espaço interativo dos acontecimentos, onde se desenvolvem os
fenômenos naturais e humanos e estes por sua vez, produzem seus efeitos.
3. O PAPEL DA INOVAÇÃO NO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO LOCAL
Os estudos sobre inovação na manufatura tiveram como ponto de partida o trabalho de
Schumpeter que, por sua vez, associou a inovação à possibilidade de desenvolvimento no
sistema capitalista (SCHUMPETER, 1988); sobretudo, a partir da descrição, já bastante
conhecida, do que denominou o processo de “destruição criadora” (SCHUMPETER, 1988).
O argumento de que o conceito de inovação é particularmente útil para países em
desenvolvimento, vem sendo reforçado na literatura internacional, de forma a evitar que os
esforços se concentrem nos países que já se encontram em posição tecnológica avançada.
Neste sentido, autores como Lundvall (2001) e Lastres; Albagli (1999), acreditam que a
definição de SNI possa ser útil como ferramenta analítica e como instrumento para a
promoção do crescimento econômico sustentável de países menos desenvolvidos e, portanto,
que são necessárias adaptações para contemplar as situações encontradas em tais nações.
[...] embora a noção de sistemas nacionais de inovação tenha sido elaborada com
base nas experiências dos países industrializados, esta também possui relevância
para a realidade dos países menos desenvolvidos. Neste contexto, é preciso analisar
não apenas o desenvolvimento local de tecnologia, mas também os processos de
transferência internacional. Os autores enfatizam que estes sistemas são bastante
influenciados pelas políticas publicas, sejam as voltadas ao desenvolvimento
científico e tecnológico, sejam aquelas relativas à promoção de concorrência entre
as firmas domésticas. (IGLIORI, 2001).
Freemann (1995) constrói uma ampla análise evidenciando as diferenças dos sistemas
nacionais de inovação no Japão, Rússia, Leste Asiático (contempla os quatro “Tigres
Asiáticos”) e América Latina (especialmente o Brasil). Para os dois últimos grupos de países,
o autor mostra que há, nos anos 80, uma forte diferença entre os seus sistemas. Os países do
leste asiático em 1950 possuíam uma fraca base industrial se comparado com a da América
Latina. Porém, nos anos 80 esta situação se inverteu. Segundo Freeman (1995), a situação
pode ser explicada pelas mudanças sociais implementadas, com ênfase para a educação
universal e reforma agrária, que proporcionaram significativas melhorias naqueles países.
Bartsch; Antunes (2007) colocam que na América Latinas as políticas voltadas a
inovação das industriais, como de ciência e tecnologia são retóricas. Os investimentos nessas
áreas tem se desenvolvido, mas ainda há muito por se fazer. As literaturas sobre o assunto
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apontam que, inclusive o Brasil possui um SNI com estrutura fraca, que ainda não cumpre por
completo o papel de facilitador, mediador e indutor dos fluxos de conhecimento capaz de
desenvolver os processos de aprendizagem que, por sua vez, estimulam os processos de
inovação.
De acordo com Casiolato; Lastres (2007), o conceito de sistemas produtivos e
inovativos locais no Brasil, foi criado e desenvolvido pela Rede- Sist, na década de 1990 e
rapidamente incluído nas discussões acadêmicas e governamentais.
Após uma década, podemos observar no contexto brasileiro que ciência, tecnologia,
indústria e inovação, são temas que estão cada vez mais inseridos como alicerces das
sociedades atuais, que buscam incessantemente um modelo de desenvolvimento baseado na
inteligência e informação.
Neste sentido, Bartsch; Antunes (2007) colocam que cada vez mais, a busca pelo
desenvolvimento tem evidenciado que este caminho tem como pontos fundamentais a ciência,
a tecnologia e a inovação. Para esses autores, trata-se de uma relação complexa, que vai além
de questão de fazer ciência para depois se alcançar patamares tecnológicos, é necessário
compreender que o processo de inovação e construção da competitividade local, envolve uma
série de fatores tais como: financiamento, condições macroeconômicas, além do
desenvolvimento científico e tecnológico.
De acordo com Rodrigues; Salmi (2008) o investimento público em pesquisa necessita
ser precisa ser mais eficiente, não apenas para produzir mais conhecimento e tecnologia, mas
para criar uma infra-estrutura que possibilite comercializar e disseminar esse novo
conhecimento.
4. CARACTERIZAÇÃO HISTÓRICA, GEOGRÁFICA E ECONÔMICA DE SCHROEDER
O município de Schroeder está localizado ao norte do estado de Santa Catarina. O
município possui uma área territorial de 143,4 Km², e faz divisa com os municípios de
Joinville, Jaraguá do Sul e Guaramirim (Figura1). Em 2010 a população era de 15,3mil
habitantes e o município contava com 16,2 mil habitantes, sendo que a e teve a grande
maioria em área urbana, ou seja, cerca de 80% da população.
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Figura 1 – Mapa de Localização do Município e Schroeder-SC.
A colonização do município iniciou no início do século XX com os imigrantes
alemães. Até nos dias atuais, ainda podemos encontrar os traços germânicos no povo e na
cultura do município.
O nome do município tem origem com o senador alemão Christian Mathias Schroeder,
de Hamburgo, que recebeu as terras onde hoje está localizada Schroeder, para que fossem
colonizadas. Desde o início o município teve sua economia baseada na subsistência, tendo na
agricultura o principal segmento econômico do município na época, até os tempos recentes.
O minifúndio sempre havia sido a principal fonte de renda da população, mas com o
passar dos tempos, a concorrência dos produtores agrícolas, e a divisão das terras entre as
novas gerações, o Schroedense (gentílico da população de Schroeder), sentiu-se obrigado a
procurar por novas fontes de renda.
Devido ao município estar localizado entre duas cidades industrializadas, Joinville e
Jaraguá do Sul, este passou a ser denominada como cidade dormitório, pois, com a ausência
de postos de trabalho, que absorva a população economicamente ativa, a população começou
a buscar emprego nas cidades vizinhas e, retornavam a cidade a noite para dormir.
Com isso, desde então se observa um êxodo da população para as regiões urbanas da
cidade, e a agricultura passou a representar cada vez menos a economia de Schroeder. Isso se
comprova ao se observar o PIB da agricultura que atualmente é de R$ 6,6 milhões, enquanto
que a indústria apresenta um PIB de R$ 70,3 milhões.
Dados recentes, disponibilizados pelo Ministério do Trabalho observa-se que, de Julho
de 2010 a julho de 2012, surgiram na cidade 1,25% mais empregos, ou seja, mais do que a
média estadual do período (0,2%). A maioria das vagas surgiu na indústria de transformação,
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que, em 31 meses, aumentou em 1,99% a quantidade de empregos formais criados pelo setor.
Mas este cenário ainda não é o suficiente para que a cidade deixe de ser cidade dormitório.
A taxa de crescimento demográfico do município foi de 3,5%, ultrapassando a média
de crescimento nacional que foi de 1.6%.
4.2 – DESAFIOS AO PROCESSO DE INOVAÇÃO NO MUNICIPIO DE SCHROEDER
O município de Schroeder, assim como outros municípios da região do Vale do
Itapocu1, apresentam potencialidades ao desenvolvimento local, porém enfrentam ainda vários
obstáculos que influenciam diretamente neste processo. Desta forma, podemos observar
diversos fatores contribuem de forma positiva ou negativamente para esse desenvolvimento,
por exemplo, a mão-de-obra. O alto crescimento demográfico possibilitou a concorrência
entre mão-de-obra e por consequência a necessidade de qualificação profissional por parte do
proletariado.
Tabela 1 – Número de Empresas e Trabalhadores por segmento econômico.
Segmentos Econômicos Nº
Emp.
Nº
Trab. %
Rem. Média
mensal
Extrativa mineral 1 1 0,0% 1.381,67
Indústria de transformação 112 2.583 68,2% 1.292,53
Serviços industriais de utilidade pública 1 3 0,1% 1.001,46
Construção civil 7 54 1,4% 813,54
Comércio 77 451 11,9% 1.072,95
Serviços 61 252 6,7% 1.343,70
Administração pública 2 384 10,1% 1.474,24
Agropecuária, extrativa vegetal, caça e
pesca 20 61 1,6% 737,84
Total 281 3.789 100,00% 1.272,25
Fonte: RAIS-2010/SENAI-2010.
Observa-se na tabela 1 que em 2010 o município empregou um total de 3.789 pessoas
nos principais segmentos econômicos. Deste total a indústria de transformação foi
responsável por absorver 68% desta mão-de-obra, ou seja, 2.583 pessoas. Entende-se que
1 O Vale do Itapocu é uma região que abrange politicamente sete municípios: Barra Velha, São João do Itaperiú,
Massaranduba, Guaramirim, Schroeder, Jaraguá do Sul e Corupá.
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qualificação da mão-de-obra é um fator primordial para o desenvolvimento local, com relação
ao processo de inovação.
O Município de Schroeder tem um bom potencial de mão-de-obra a ser explorado,
mas para tanto, assim como em todo o território brasileiro, é necessário que sejam criadas
novas vagas de trabalho, para que seja possível realocar a mão-de-obra qualificada em
funções que demandem maior produtividade e necessidade de inovação.
O fato de o município estar localizado entre dois pólos industriais, e a razão de
Schroeder oferecer excelente qualidade de vida, foram fatores decisivos para esse aumento
populacional. Hoje já existe mão-de-obra abundante no município, mas que por certas razões
não está sendo aproveitada pelas empresas de Schroeder. Notam-se dois principais aspectos
que contribuem para que o município ainda tenha a fama de “cidade dormitório”, são eles:
baixa criação de vagas de trabalho em Schroeder, e a renda real média ser maior nas cidades
vizinhas.
O primeiro aspecto pode apresentar incoerência, considerando que ocorre também que
as empresas do municio empregam mão-de-obra de outras cidades, mas esse fenômeno pode
ser explicado pela qualificação da mão-de-obra que ocorre em maior grau nas cidades
vizinhas, considerando que as mesmas possuem mais opções de ensino e qualificações.
Outro fator a se destacar a infra-estrutura urbana do município. A ausência de
infraestrutura urbana, do município tem dificultado a comercialização de terrenos e com isso,
as novas famílias que chegam ao município já não conseguem mais o acesso de moradias.
Essa falta de infra-estrutura, principalmente em relação a energia elétrica e saneamento
também é um fator que impede a expansão das atividades econômicas, pois, para instalar suas
unidades fabris, a empresas necessitam realizar um alto investimento na compra de geradores
o que torna a implantação no município inviável economicamente.
Desde 1988 com a Constituição Federal, os municípios adquirem a autonomia política,
com a escolha direta de seus governantes e para elaboração da lei orgânica e demais leis
necessárias para a gestão municipal (TEXEIRA, 2002). Isso faz com que suas competências
sejam ampliadas em áreas prioritárias como: a política urbana e transportes coletivos. Assim,
a literatura aponta a gestão publica como um dos fomentadores do desenvolvimento local, e
cabe as prefeituras, através de políticas públicas, criar os mecanismos necessários.
Políticas públicas são diretrizes, princípios norteadores de ação do poder público;
regras e procedimentos para as relações entre poder público e sociedade, mediações
entre atores da sociedade e do Estado. São, nesse caso, políticas explicitadas,
sistematizadas ou formuladas em documentos (leis, programas, linhas de
financiamentos) que orientam ações que normalmente envolvem aplicações de
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recursos públicos. Nem sempre porém, há compatibilidade entre as intervenções e
declarações de vontade e as ações desenvolvidas. Devem ser consideradas também
as “não-ações”, as omissões, como formas de manifestação de políticas, pois
representam opções e orientações dos que ocupam cargos (TEXEIRA, 2002, p. 2).
Sendo assim, observa-se que cada vez mais aumenta a responsabilidade do município
em relação em relação às iniciativas voltadas para a melhoria das condições de vida e à busca
de soluções dos problemas urbanos e, enfim, da gestão local (VITTE, 2006).
É importante enfatizar que nos pequenos municípios a cobranca por parte da sociedade
em relação a esta responsabilidade é maior, pois, de acordo com as colocações de Bacelar
(2005, p. 6) “Na pequena com a cidade, os endereços não têm a menor importância. Conhece-
se a pessoa pelos apelidos ou filiação.” Neste espaço, a cultura ainda apresenta pequenos
detalhes e sentimentos, que não percebemos nas médias e grandes dos centros urbanos.
Outro aspecto que não favorece ao desenvolvimento do município está no fato de que
a media salarial paga pelas empresas dos municípios vizinhos, faz com que os munícipes
venham a se deslocar em busca de colocação profissional.
1033,18
1682,49
1724,95
999,24
2379,62
929,65
1350,081263,69
813,54
770,85
1001,46
680,73
1381,67
R$ -
R$ 500,00
R$ 1.000,00
R$ 1.500,00
R$ 2.000,00
R$ 2.500,00
Renda Média Mensal por Segmento
Renda Média Mensal
Figura 2 – Média salarial paga pelos segmentos econômicos – Jan/2010.
Fonte: Rais 2010
A média salarial do município de Schroeder está em R$ 1.282,44. O segmento que
possui a maior média salarial é a eletroeletrônica com uma média de R$ 2.379,00. Seguido do
metalmecânico com R$ 1.724,25 e da Metalurgia R$ 1.682,00.
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Embora os segmentos que trabalham com maior nível de salários sejam os que
também investem em tecnologia e inovação, traçar perspectivas futuras para o município
através do processo de inovação ainda é um desafio e parece ser uma realidade muito distante.
4.3 – POTENCIALIDADES DO MUNICÍPIO COM RELAÇÃO AO
DESENVOLVIMENTO E INOVAÇÃO
Schroeder apresenta muito potencial imobiliário a ser explorado, o fim do minifúndio
deu lugar a áreas para construir indústrias, e esse fenômeno já está podendo ser notado em
algumas regiões do município que antes eram conhecidas pela agricultura, e hoje já abrigam
plantas industriais.
O potencial logístico onde o município está se enquadrando pode, e certamente será,
um dos fatores primordiais para a expansão da indústria e inovação. Esse potencial logístico
que agregará valor ao desenvolvimento de Schroeder diz respeito à duplicação da rodovia BR-
280, no trecho de São Francisco do Sul a Jaraguá do Sul, onde Schroeder será contemplada. A
rodovia, que hoje não passa pelo município de Schroeder, irá contornar a cidade de Jaraguá do
Sul e, portanto, irá adentrar no município de Guaramirim, e passar por Schroeder.
O bairro por onde irá passar o novo trecho da rodovia (o bairro Schroeder I), já está
sentindo os fenômenos econômicos que essa obra está proporcionando. Como por exemplo, a
valorização imobiliária e a procura de lotes industriais por empresas que pretendem se
estabelecer próximo à rodovia.
O segundo fenômeno que se espera com a alocação de novas indústrias no município é
o investimento de capital pela iniciativa privada, que irá gerar novas oportunidades de
trabalho em Schroeder, o que por sua vez irá proporcionar uma “guerra-salarial” entre as
empresas para conseguirem mão-de-obra.
Se os dois fatores supracitados atenderem as expectativas, é possível que então a renda
média mensal de Schroeder eleve-se a um nível competitivo das cidades vizinhas, fazendo
com que Schroeder tenha em suas fábricas a mão-de-obra que supostamente lhe pertence.
Mas não são apenas as ações do governo federal que interferem no desenvolvimento
de Schroeder. O governo do município também tem suas metas e ambições que favorecem o
crescimento do município, como a expansão da urbanização de Schroeder, que pode ser
verificada com os projetos de expansão das vias, entre elas a tão esperada Avenida dos
Imigrantes, que trará maior visibilidade ao município.
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De acordo com o Prefeito Municipal de Schroeder, o Exmo. Sr. Osvaldo Jurck, as
empresas também serão diretamente afetadas positivamente por novos incentivos que o
município de Schroeder irá oferecer. Ele também afirma que num futuro bem próximo
empresas de grande potencial na região irão se estabelecer na cidade.
5. CONCLUSÃO
Observou-se no desenvolvimento deste trabalho que o município de Schroeder
apresenta um crescimento contínuo, porém, por questões históricas, políticas e até mesmo
geográficas, fizeram com que este pequeno município localizado ao norte do Estado de Santa
Catarina tivesse um desenvolvimento menor comparado às cidades próximas, como Joinville
e Jaraguá do Sul, porem, nunca um crescimento nulo.
Como descreve o artigo, o desenvolvimento local é tratado como um processo de
iniciativas endógenas, cujos traços socioculturais são fatores que influenciaram no resultado
final. E a integração de agentes econômicos (tal como, órgãos públicos, iniciativa privada e
comunidade), é de extrema importância para o processo desenvolvimento local, seja, no caso
o município de Schroeder ou outra localidade.
Por conseqüência do desenvolvimento latente do município, observa-se que o grau de
inovações e processos inovativos em Schroeder é bastante baixo. Identificamos como maiores
gargalos de desenvolvimento e da inovação no município, a falta de mão-de-obra qualificada
e a saturação da infraestrutura urbana, o que limitam o avanço na região.
Conclui-se que sem o investimento na qualificação profissional, o desenvolvimento
local fica restrito a iniciativas externas. Atualmente, encontramos poucos agentes
qualificadores de mão-de-obra no município. Um dos principais agentes que atua como
formador de mão-de-obra qualificada é a unidade de Serviço Nacional de Aprendizagem
Industrial (SENAI), de Schroeder, que nos últimos anos vem formando profissionais
qualificados para o mercado de trabalho.
Também é possível estimar que o crescimento de Schroeder deve passar por um
período mais intenso, considerando que haverá no município alto potencial logístico, e
aumento no número de indústrias. E com isso a demanda de empregos tende a crescer, e com
isso o nível de renda. Mas para que haja maior desenvolvimento logo, mais inovação, é
necessário que as empresas possuam o discernimento de realocar a mão-de-obra qualificada
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para funções de maior produtividade, e com isso também incentivar o aprimoramento
profissional com níveis superiores de renda.
Espera-se do município, portanto, atuar como um agente facilitador do
desenvolvimento endógeno, a atuar mais forte nas vantagens comparativas que o município
detém. E, principalmente desenvolver a infraestrutura, para que o crescimento não seja
impedido por questões de infraestrutura urbana como o caso da capacidade energética, ou de
saneamento, fatores estes que não só inibem o crescimento demográfico, como também,
impedem a alocação e expansão de novas plantas industriais em Schroeder.
Contudo, não são apenas ações estruturalistas que o município pode tomar para
desenvolver, pode também, por exemplo, incentivar as empresas mais inovadoras e produtivas
e também facilitar o acesso de profissionais para conseguirem atingir maior grau de
qualificação.
O município de Schroeder certamente tem muito potencial, e irá crescer muito nos
próximos anos. A cidade está localizada em uma região próspera, e de grande valor
sociocultural. Mas o desenvolvimento local se depara com desafios, tanto para a gestão
pública municipal, como para a iniciativa privada. E dado o tamanho do município, qualquer
iniciativa tem reações para a população. Entende-se, portanto, não ser papel exclusivo do
governo municipal o desenvolvimento do município, e sim de todos os agentes que interagem
nesse mesmo sistema econômico e cultural.
6. REFERERNCIAS
BARTSCH, Alessandra Sliwoska; ANTUNES, Adelaide Maria de Souza. A importância da
ciência e tecnologia para a construção da competitividade no Brasil. Revista Gestão e
Planejamento Salvador,�V. 8, � N°.1, p. 68-88, jan./jun. 2007.
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