Desenvolvimento Regional Sustentaval- Apostila EAD-BB

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    Desenvolvimento territorialorganizaes e gesto

    Braslia, 2006

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    Apresentao ................................................................................

    cones Organizadores ...................................................................

    Tema 1 Territrio e ambiente organizacional

    1.1 Organizaes e Ambiente: conceitos e signicados.................

    1.2 Territrio: conceitos e dimenses de espao e tempo..............

    1.3 Territrio Organizacional............................................................

    1.4 Consideraes nais..................................................................

    Tema 2 Gesto Contempornea e Gesto Social

    2.1 O que signica gesto?..............................................................

    2.2 Ecincia, eccia e efetividade: palavras-chave na gesto....

    2.2.1 Existe receita para fazer uma gesto eciente,

    ecaz e efetiva?.............................................................

    2.3 Gesto social: conceitos e signicados.....................................

    2.4 Campos da Gesto Social e Interorganizaes........................

    2.5 Desaos e proposies na gesto do desenvolvimento social.

    2.6 Quem e qual o perl para o gestor do desenvolvimento social?..

    2.7 Consideraes nais...........................................................................

    Tema 3 Desenvolvimento e Industrializao

    3.1 Desenvolvimento como crescimento econmico.......................

    3.1.1 Primeira revoluo industrial...........................................

    3.1.2 Primeira revoluo industrial...........................................

    3.2 Desenvolvimento e desequilbrio...............................................

    3.3 Desenvolvimento local, integrado e sustentvel........................

    3.4 Conceitos relevantes para compreender o desenvolvimentoterritorial....................................................................................

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    Sumrio

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    3.4.1 Regio.............................................................................

    3.4.2 Primeira revoluo industria............................................

    3.4.3 Capital social...................................................................

    3.4.4 Governana.....................................................................3.4.5 Infra-estrutura..................................................................

    3.4.6 Indicador de desenvolvimento humano..........................

    3.5 Sistematizando o conceito de desenvolvimento territorial.........

    Tema 4 Interorganizaes e Gesto do Desenvolvimento

    4.1 Desenvolvimento scio-territorial, escalas de gesto e interor-

    ganizaes uma introduo..................................................

    4.2 Principais teorias que explicam as interorganizaes...............

    4.3 Em sntese..................................................................................

    Tema 5 Estado, Sociedade e Desenvolvimento

    5.1 Desenvolvimento como crescimento econmico.......................

    5.2 Denindo o que a Sociedade Civil..........................................

    5.3 Breve histrico da formao do Estado.....................................

    5.3.1 Do Estado Liberal ao Estado Intervencionista................

    5.3.2 A entrada em cena do Estado neoliberal........................

    5.4 Estado no Brasil: O carter patrimonialista...............................5.4.1 O Estado no Brasil: dos anos 30 aos anos 80................

    5.4.2 O Estado no Brasil: Dos Anos 90 em Diante.................

    5.5 Estado e Sociedade no Brasil: O cenrio atual.........................

    5.6 Consideraes Finais.................................................................

    Tema 6 Sustentabilidade nos Negcios Orientados para p Desenvolvimento

    6.1 Desenvolvimento sustentvel: retrospectiva histrica...............

    6.2 Desenvolvimento Sustentvel: Um Conceito Multiuso............6.3 Sustentabilidade nos Negcios: Um imperativo e uma oportu-

    nidade........................................................................................

    6.4 O Bom Negcio da Sustentabilidade.........................................

    6.4.1 Foras de Presso Externas...........................................

    6.4.2 Foras de Presso Internas............................................

    6.5 Concluso...................................................................................

    Referncias.......................................................................................

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    Caro (a) aluno (a)

    A idia central desta primeira disciplina que voc tenha umaviso geral sobre os assuntos relativos ao Desenvolvimento Re-gional Sustentvel, que sero abordados durante o nosso MBA.Vrios dos temas aqui tratados sero recorrentes durante todoo curso.

    Territrio, ambiente, interorganizaes, arranjos produtivos, eco-nomia solidria, parcerias, redes, entre outras, so palavras queescutamos no nosso cotidiano e que vm fazendo parte do vo-cabulrio do gestor contemporneo. Tais palavras devem cada

    vez mais ser internalizadas e compreendidas em seus sentidosamplo e especco, a m de promovermos uma sociedade justa,economicamente vivel e ambientalmente sustentvel.

    Nesse mdulo, buscamos esclarecer alguns conceitos bsicos re-lacionados ao desenvolvimento territorial, organizaes e gesto.

    No tema 1, Territrio e ambiente organizacional, so apresen-tados os conceitos de organizaes e territrio, mostrando suasdiferentes formas e estruturas. Para isso, so explicadas comose conguram em distintas escalas de espao e tempo.

    No tema 2, Gesto Contempornea e Gesto Social, inicial-mente questionado o que gesto moderna e quais suas dife-renas com a gesto clssica. Destacam-se as palavras-chavedo gestor: ecincia, eccia e efetividade. A gesto social, em-preendida no Estado, mercado e sociedade civil caracterizadacomo denio emergente da contemporaneidade, sendo deta-lhados seus fundamentos e dimenses no sentido da gerenciaro desenvolvimento social e as interorganizaes. Neste contex-to, so destacadas as habilidades e competncias necessrias

    ao gestor social do desenvolvimento.

    No tema 3, Desenvolvimento territorial: conceitos e dimen-ses, so detalhados os aspectos histricos do desenvolvimen-

    Apresentao

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    to, a partir da Revoluo Industrial, mostrando suas diferentesvertentes desde o crescimento econmico noo de desenvol-vimento local, integrado e sustentvel. Apresentam-se tambmoutros conceitos bsicos necessrios para a compreenso do

    desenvolvimento territorial, tais como: regio, territorialidade, ca-pital social, infra-estrutura, entre outros.

    No tema 4, Interorganizaes e Gesto do DesenvolvimentoScio-territorial, aprofundamos tais conceitos, j trabalhadosno tema 2 e 3. Estudaremos as principais teorias que contri-buem para a formao do conceito de interorganizaes, citan-do as novas formas organizacionais que emergem no contextodo desenvolvimento territorial.

    No tema 5, Estado, sociedade e desenvolvimento, consolida-

    mos as bases para compreenso dos processos de desenvolvi-mento. Conceitua-se e caracteriza-se o Estado e a sociedadecivil, que so os principais elementos no processo desenvolvi-mentista. So apresentadas as transformaes ocorridas nes-tas entidades, enfatizando a ampliao do espao pblico e osnovos atores sociais na promoo do desenvolvimento.

    Por m, no tema 6, Sustentabilidade nos negcios orien-tados para o desenvolvimento, falamos de outro segmento,alm do Estado e da sociedade civil, responsvel pela promoo

    do desenvolvimento. Trata-se do mercado, que possui um papelfundamental neste contexto e deve basear-se nas noes desustentabilidade.

    Aps concluir o estudo desta apostila, conjuntamente com asvideoaulas e realizao das atividades no ambiente virtual aolongo da disciplina, pretende-se que voc esteja apto a identi-car os diferentes conceitos relacionados s organizaes e terri-trios, situando o campo da gesto social do desenvolvimento.

    Tnia Fischer

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    Conceitos ou idias que

    merecem destaque.

    Pensamento aprofundado de

    pontos importantes.

    Conhecimentos, habilidades e

    atitudes a serem desenvolvidos

    por voc.

    Espao reservado para voc

    fazer anotaes relativas ao

    tema estudado.

    Aps nalizao do tema,

    recomendamos que voc faa

    uma sntese dos assuntos

    estudados para consolidaoda aprendizagem.

    Aps a leitura do tema,

    solicitado que voc siga para a

    videoaula do tema em estudo.

    cones organizadores

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    Tema 1

    Territrio e Ambiente Organizacional

    Uma palavrinha inicial

    Nesse tema, trataremos dos conceitos de territrioe de am-biente organizacional, buscando demonstrar qual o campo deatuao dos processos de desenvolvimento regional sustent-vel, foco do nosso curso. Mostraremos, nesse contexto, comose conguram as dimenses, formas e estruturas organizacio-nais e dos territrios, em diferentes escalas, espaos e tempos.

    Ao nal desse estudo voc dever:

    Reconhecer os conceitos de organizaes e territrio Identicar como se conguram os ambientes organiza-

    cionais e territoriais em diferentes escalas (micro, mes-mo e macro)

    1.1 Organizaes e Ambiente: conceitos e signicados

    Alguns signicados so normalmente atribudos palavra orga-

    nizao:

    ato ou efeito de organizar(-se); modo pelo qualum ser vivo organizado; conformao, estrutura;modo pelo qual se organiza um sistema; associa-o ou instituio com objetivos denidos; orga-nismo; a designao ocial de certos organismos;planejamento, preparo (FERREIRA, 1999).

    As organizaes, enquanto objeto de estudo das Cincias Hu-manas e Sociais, conguram-se de diferentes formas e caracte-rizam-se sob diferentes acepes. Dentre elas, podemos citar:

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    12 DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL, ORGANIZAES E GESTO

    1. Organizaocomo ordem, signicando ordenar: a or-ganizao de tarefas, a organizao do tempo, a orga-nizao do espao etc..

    2. Organizaocomo entidade, que o mesmo que or-ganismo e, de modo geral, instituies formalizadas,por exemplo: as organizaes ou instituies religiosas(igrejas), de ensino (escolas, faculdades, universida-des), de sade, nanceiras (bancos); as organizaespblicas e privadas; as empresas, etc.

    3. Organizaocomo processo, isto : como processosocial e como resultado desse processo, congurandoo conjunto e produto de relaes sociais. Podem sercitados os mesmos exemplos das organizaes comoentidade, considerando tambm o processo que esta-belece a dinmica e a vida da organizao.

    A organizao como ordem, remete funo gerencial deorganizar determinadas estruturas, materiais e pessoas comvistas a se atingir determinado objetivo. Ou seja, consiste noestabelecimento da forma e estrutura de como deve funcionardeterminado processo.

    A organizao como entidade ou instituio, uma das con-cepes mais analisadas, tendo em vista a diversidade de formase especicidades de atuao que possuem, seja na rea pblicaou privada. Os termos organizao e instituio freqentementevm sendo utilizados como sinnimos, porm convm explicar adualidade presente no prprio emprego corrente destes termos,com base na Sociologia e na Teoria Organizacional.

    Um dos conceitos clssicos de organizao estabelecido porTalcot Parsons apudMenegasso (2002, p. 108), como unidades

    sociais (ou agrupamentos humanos) intencionalmente constru-das e reconstrudas, com vistas a alcanar objetivos espec-cos. Tal conceito aceito por autores como Etzioni (1974) queanalisa as organizaes complexas com caractersticas burocr-ticas, voltadas para a consecuo de metas especcas.

    Lapassade (1983) diferencia grupos, organizaes e instituiescomo nveis do sistema social, elucidando os diferentes momen-tos em que se constituem. Considera que os grupos formam onvel da base e da vida cotidiana das instituies. O segundonvel o da organizao ou do grupo que se rege, por novas

    normas, sendo este o nvel da burocracia. O terceiro nvel, dainstituio, compreende, portanto, ao mesmo tempo, grupossociais ociais (empresas, escolas, sindicatos) e sistemas de

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    13TEMA 1 TERRITRIO E AMBIENTE ORGANIZACIONAL

    regras que determinam a vida desses grupos. Ressalta queo conceito de instituio modicou-se desde o Sculo XIX, emque foi utilizado de diferentes formas na rea jurdica e na antro-pologia, passando a ser, a partir do comeo do Sculo XX, com

    Durkheim, um conceito central na Sociologia.

    Oliveira (2002, p. 13-14) explicita a relao entre os conceitosde organizao e instituio de forma bastante clara, armandoque a instituio o suporte das organizaes. Estas constituemsua parte visvel, mutvel, em torno do cumprimento de funescomuns s sociedades, denidas mais abstratamente enquantoinstituies sociais: socializao dos membros jovens, ou edu-cao; defesa; reproduo biolgica, produo da vida material,entre outras. Nesse sentido, a autora se refere existncia de

    uma parte institucional inconsciente, fruto do conjunto de me-mrias, comportamentos e aes que um determinado grupo so-cial foi acumulando ao longo dos sculos e referente resoluodos principais problemas da vida humana.

    WeberapudMotta (1987), em sua Teoria da Burocracia (basea-da no tipo ideal de racionalidade instrumental, normatizao me-diante regras e estatutos, hierarquia funcional e especializaoprossional, dentro de princpios de subordinao e de continui-dade dos funcionrios que a compem) considera a organizaocomo relao dinmica entre meios e recursos utilizados paraque os objetivos sejam alcanados ecientemente.

    Tendo em vista as diferenciaes feitas at aqui, justica-se aassertiva sociolgica de Etzioni de que muitas instituies soorganizaes, mas nem toda organizao uma instituio(MENEGASSO, 2002, p. 112). Assertivas como esta, em con-junto com o carter abstrato apontado para a instituio, pelamaioria dos autores, torna difcil, para o senso comum, a com-preenso de sua distino em relao s organizaes concre-tas, do plano da subjetividade, o que acaba por gerar um uso

    relativamente indiferenciado dos dois termos.

    Este o sentido original

    do conceito weberiano

    de burocracia. No

    senso comum, porm,

    compreendida apenas pelas

    suas disfunes, tomando

    muitas vezes um carter

    pejorativo (MOTTA, 1987.;

    MENEGASSO, 2002).

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    14 DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL, ORGANIZAES E GESTO

    Passemos agora anlise da organizao como processo.H uma tendncia a se privilegiar essa concepo, conceben-do-se a organizao como algo dinmicoque est sempre seconstruindo, reconstruindo-se, transformando-se e mudando.

    Nesse direcionamento tambm h uma tendncia a se superara idia de organizao como algo absolutamente racional, dadaa natureza do homem, cuja racionalidade evidentemente limi-tada, e como tal, produz entidades que, apesar dos esforos,fogem aos padres racionais.

    A organizao concebida, portanto, como algo que possui umaracionalidade limitada. Por m, reconhece-se geralmente que aorganizao no algo simples, mas complexo, porque proces-soantes de ser instituio, e sua racionalidade limitada, bem

    como porque envolve diversas dimenses e elementos. Comoprocesso, pode tambm ser concebida enquanto sistema abertoem que h nalidades (pblicas ou privadas) a serem atingidase, para tanto, possui entradas (matrias-primas, informaes,recursos nanceiros etc.), que passam por transformaes emvrios subsistemas (marketing, produo, administrao etc.) eresultam em produtos e servios para a sociedade. Assim, aorganizao constitui-se como um sistema complexo:

    possui objetivos mltiplos, objetos empricos e proces-

    sos sociais (CLEGG, 1996); compe-se alm de recursos materiais, nanceiros e

    informacionais, de indivduos, com seus sentimentos,conhecimentos, motivaes, aes, relaes, etc. e degrupos de indivduos ou grupos sociais, bem como derelaes interpessoais e sociais entre esses;

    , na sua totalidade, uma organizao social, econmi-ca, poltica e cultural;

    mantm, com outras organizaes e com a realidadeem geral, relaes sociais, econmicas, polticas, cul-turais, institucionais, etc.

    Pode-se armar, portanto, que as organizaes atuam nos maisdiferentes campos necessrios vida humana e que se concre-tizam a partir das demandas da sociedade, que vo gerando acada dia novas formas organizacionais (CLEGG, 1996). Nessesentido, Hardy e Clegg (1996) denem as organizaes como

    espaos de ao social, mais ou menos abertas,onde se distinguem campos disciplinares e de pr-ticas denidas como Marketing, Produo e outros;bem como tpicos de carter uido e interdiscipli-

    Para dar conta dessa

    complexidade, o campo

    dos estudos organizacionais

    integrou outros campos de

    conhecimento, tais como osda Sociologia, da Psicologia,

    da Poltica, da Antropologia,

    da Comunicao, da

    Informtica, da Engenharia,

    da Lingstica, da Semitica,

    da Filosoa, etc.

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    15TEMA 1 TERRITRIO E AMBIENTE ORGANIZACIONAL

    nar como gnero e cultura que remetem a camposdisciplinares e a conexes interdisciplinares comoAntropologia, Sociologia, Poltica e vrias outrasdisciplinas. (HARDY e CLEGG, 1996).

    A partir de tal denio, podemos inferir que ao longo da traje-tria da humanidade, as organizaes cresceram em nmero,em diversidade e, por conseguinte, em importncia. A realidadehumana tornou-se, assim, uma realidade organizacional. O ho-mem contemporneo, desde o seu nascimento at a sua morte,relaciona-se com (e integra-se a) inmeras organizaes (desdea famlia, as empresas, organizaes pblicas, ONGs, etc.) comdiferentes nalidades, de modo que esse homem pode ser con-siderado, em certa medida, um ser organizacional inserido emum dado ambiente.

    Para dar incio ao entendimento do que seja ambiente, podemosrecorrer a um dicionrio como o Novo Aurlio, no qual encon-tram-se os seguintes signicados:

    aquilo que cerca ou envolve os seres vivos ou ascoisas; meio ambiente; lugar, stio, espao, recin-to; meio; conjunto de condies materiais e mo-rais que envolvem algum; atmosfera; ambincia(arquitetura); num enunciado, a vizinhana de umdado elemento lingstico (lingstica); conjunto de

    caractersticas gerais de um computador, sistemaoperacional, ou programa; congurao (informti-ca) (FERREIRA, 1999).

    Como se pode ver, assim como o termo organizao, o ambiente hoje amplamente empregado sob os mais diversos signicados,dentre os quais se destacam os que apresentaremos a seguir.

    Quando indagamos a algum o que entende por ambiente, a res-posta quase sempre faz referncia ao ambiente natural, nature-za. Nesse sentido, considera-se que o ambiente composto pelo

    ar, a gua e o solo, alm de tudo que nele tido como natural.Tambm entendido como ambiente aquele que resulta dos va-lores, crenas e diferentes manifestaes humanas, chamadode ambiente cultural.

    O ambiente naturale o ambiente culturalcompem juntos omeio ambiente, que idealmente devem estar em equilbrio.

    Ambiente pode ser ainda entendido como tudo aquilo que prprio de um lugar especco, como as condies que fazemdaquele lugar algo desejvel ou indesejvel, adequado ou ina-dequado. Nessa perspectiva, so identicados o ambiente dafesta, o ambiente da rua, o ambiente do prdio, o ambiente dotrabalho, etc.

    Faa uma comparao dos

    ambientes que voc freqenta

    (no trabalho, em casa, com os

    amigos, etc.) e perceba suas

    caractersticas.

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    16 DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL, ORGANIZAES E GESTO

    O conceito de ambiente organizacional surgiu com a conceposistmica de organizao, isto , a organizao como um con-junto de partes articuladas entre si, um sistema organizacional.O sistema organizacional est inserido em um sistema mais am-

    plo, o sistema ambiental, com o qual se relaciona.

    Na relao entre o sistema organizacional e o sistema ambien-tal, identica-se uma outra caracterstica do sistema organizacio-nal, que a de ser aberto. Mas, ao conceituarmos a organizaocomo um sistema aberto, torna-se difcil denir quais so os limi-tes da prpria organizao, e estabelecer onde comeam ou ondeterminam o sistema organizacional e o sistema ambiental. Sendoassim, considera-se que aquilo que integra o sistema organiza-cional de certa forma integra tambm o sistema ambiental. Porexemplo, cada indivduo que integra um sistema organizacionalintegra tambm um sistema ambiental, porque esse indivduo parte da sociedade mais ampla. por isso que se entende que osistema organizacional, ao ser social, tambm aberto.

    Considerando tais signicados, podemos induzir o que vem aser o ambiente organizacional. Podemos pensar em ambienteorganizacional como aquele ambiente no qual a organizao seinsere, ou como algo que envolve a organizao. Constitui-secomo a interao dos diversos elementos internos que compema organizao, como proprietrios, colaboradores, estrutura fsi-

    ca, etc. (ambiente interno); bem como a relao desses com oselementos externos que interagem direta ou indiretamente coma organizao, tais como: competidores, clientes, parceiros, for-necedores, regulamentaes polticas, ambientais, econmicas,etc. (ambiente externo).

    A relao entre organizao e ambiente pode ser concebida detrs formas, em funo da inuncia de cada um dos lados so-bre o outro:

    A primeira concepo, que tem origem na teoria da

    contingncia, considera que o ambiente determina aorganizao, restando a esta ltima adaptar-se a ele.Segundo esse ponto de vista, o ambiente que impeas mudanas organizacionais.

    A segunda concepo diametralmente oposta pri-meira: considera que a organizao capaz de de-terminar inteiramente o ambiente e impor mudanasambientais que atendam a necessidades ou interesses

    dela prpria. A terceira concepo representa um meio termo entre

    as duas primeiras, ao estabelecer uma relao dial-

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    17TEMA 1 TERRITRIO E AMBIENTE ORGANIZACIONAL

    tica entre a organizao e o ambiente. Segundo esseponto de vista, o ambiente inuencia fortemente a orga-nizao, chegando eventualmente a impor mudanasmas, por outro lado, o ambiente pode ser inuenciadopela organizao a ponto de sofrer tambm mudanasprovocadas por ela.

    Desenvolvendo ainda mais o conceito de ambiente, podemosfazer uma distino entre o ambiente intra-organizacional e oambiente interorganizacional.

    O sistema organizacional, ou a organizao, pode ser umambiente intra-organizacionalquando a organizao for apenas uma, ou ambiente interorganizacional quando o

    sistema for composto por mais de uma organizao, como as redes organizacionais.Vale observar que os dois arranjos organizacionais iro denir os tipos de estrutura.

    O sistema ambiental sempre o ambiente interorganizacional,porque composto por vrias organizaes independentes e in-tegradas, como por exemplo as redes organizacionais. Nessecaso, possvel identicar fatores sociais, econmicos, polticos,culturais, tecnolgicos, institucionais, espaciais, etc.; mercado,

    clientes, fornecedores, agncias reguladoras, etc.; concorren-tes, novos entrantes ou entrantes potenciais, produtos substitu-tos, fornecedores e compradores; acionistas, fora de trabalho,fornecedores e clientes; e partes interessadas (stakeholders).

    1.2 Territrio: conceitos e dimenses de espao e tempo

    O termo territrio no to usado quanto ambiente, mas geralmente entendido como uma poro de solo, gua e ar den-tro de limites relativamente denidos, que pertence a um pas, a

    um Estado, ou a uma nao. O povo ou a sociedade do pas,do Estado, da nao possui o territrio, ao mesmo tempo emque pertence a ele. O territrio nacional e federal brasileiroest divido em territrios estaduais e municipais, bem como emterritrios regionais e locais.

    Genericamente, a idia de territrio refere-se parcela ge-ogrfica apropriada por um grupo humano ou animal, ou porum indivduo, visando assegurar sua reproduo e satisfa-o de suas necessidades vitais. H vrios sentidos figura-dos da palavra territrio; todos conservam a idia de dom-nio pessoal ou coletivo, remetendo a diferentes contextos eescalas: a casa, o escritrio, o bairro, a cidade, a regio, anao, o planeta. Cada territrio conseqentemente mol-

    OBrasil o quinto maior

    pas do mundo em superfcie,

    com uma rea total de

    8.547.403,5 km2 e 175milhes de habitantes.

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    18 DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL, ORGANIZAES E GESTO

    dado a partir da combinao de condies e foras internase externas, devendo ser compreendido como parte de umatotalidade espao-temporal.

    Para Vieira e Vieira (2002, p. 47) os conceitos de espao e tem-po tm recebido um amplo tratamento terico, particularmentenos estudos geogrcos. Os autores armam que

    o espao e o tempo constituem categorias analti-cas importantes nos estudos econmicos e geogr-cos. H uma indissociabilidade na noo espao-tempo, principalmente, considerando a origem doespao e do tempo atribuda pela fsica terica eexperimental. Para a fsica moderna, principalmen-te aps Einstein (1905), a matria cria o espao e omovimento da matria cria o tempo. Como ambos

    formam uma indissociabilidade, tem-se a congura-o da unidade espao-tempo. (VIEIRA e VIEIRA,2002, p. 47).

    A conceituao de espao-tempo est, portanto, ligada idiade um universo dinmico. Segundo Hawking apudVieira e Vieira(2002, p. 47):

    o espao e o tempo so atualmente consideradosquantidades dinmicas: quando um corpo se move,ou uma fora atua, afeta a curva do espao e do

    tempo e, por sua vez, a estrutura do espao-tem-po afeta a forma como os corpos se movem e asforas atuam. Espao e tempo no apenas afetam,mas tambm so afetados por qualquer coisa queacontea no universo. (HAWKING apudVIEIRA eVIEIRA, 2002, p. 47):

    Para Santos (1996, p.252), h uma multiplicidade de aes fa-zendo do espao um campo de foras multicomplexo, graas individualizao e especializao minuciosa dos elementos doespao. O espao econmico parece assumir, presentemente,

    uma proeminncia em relao aos demais: espao social, es-pao cultural, espao poltico, etc. A espacialidade mundial, nanova economia, destaca o papel do lugar, que embora constru-do por singularidades prprias , dela, parte irrefutvel, justi-cando a armao de Souza (1995) de que todos os lugaresso virtualmente mundiais. Na nova congurao da espacia-lidade econmica global h uma redescoberta da dimenso dolugar, conforme Fischer (1994).

    Com base na idia de espacialidade, o territrio pode se compre-

    endido sob diferentes dimenses (ALBAGLI e BRITO, 2003):

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    19TEMA 1 TERRITRIO E AMBIENTE ORGANIZACIONAL

    (a) fsica refere-se a suas caractersticas e condiesnaturais (clima, solo, relevo, vegetao) e daquelas re-sultantes dos usos e prticas territoriais por parte dosgrupos sociais;

    (b) econmica organizao espacial dos processos de pro-duo econmica o que, como e quem nele produz;

    (c) simblica as ligaes afetivas, culturais e de iden-tidade do indivduo ou grupo social com seu espaogeogrco;

    (d) scio-poltica meio para interaes sociais e relaesde dominao e poder quem e como o domina ou in-

    uencia.Ao analisarmos tais dimenses, percebemos que a noo dosenso comum sobre o territrio apenas como o espao fsicoque est sob o poder, ou domnio, ou mesmo sob controledo Estado deve ser ampliada. No territrio de um Estado,alm do prprio poder e de espao fsico, encontram-se so-ciedades, economias, culturas, instituies, etc. Esse terri-trio no s espao fsico, mas, tambm, espao socialque possui diferentes escalas de tamanho e abrangncia.

    Logo, o territrio pode ser conceituado como o resultado darelao entre homem e espao, isto : Territrio = Homem+ Espao. Homem entendido como o indivduo e coletivida-de, grupo social, organizao, sociedade, etc.; espao comoespao geogrfico, que por sua vez espao fsico e espaosocial, e, sendo social, tambm espao econmico, polti-co, cultural, institucional etc.

    Cabe aqui estabelecer as diferenas entre espao fsico e es-pao social: l) na relao sociedade/espao, se reconhece uma

    ordem e uma hierarquia a partir do papel ativo desempenhadopelos homens com respeito ao meio fsico; 2) o estudo do espa-o em seu aspecto fsico no permite analisar todos os proces-sos sociais nele sintetizados; 3) somente quando compreendidocomo produto global de estruturas e prticas sociais dialticasarticuladas que o espao construdo se converte em poderosoinstrumento de mudana social. As trs diferenciaes estabele-cidas ressaltam a importncia do meio fsico como suporte paraa construo do espao social e econmico, ou seja, o espaoconstrudo, e que gera processos evolutivos na relao socieda-

    de/natureza (BARRIOS apudVIEIRA, VIEIRA, 2002).Os espaos podem ser caracterizados em diferentes escalas, ouseja, instrumentos conceituais, metodolgicos e tcnicos necess-

    Qual a importncia de

    participar de um espao social,

    levando em considerao os

    valores coletivos no qual voc

    se insere.

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    20 DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL, ORGANIZAES E GESTO

    rios para alcanar a interpretao entre um objeto e seu observa-dor. As escalas so categorias dimensionais e formas de concei-tualizao que envolvem conceitos multidisciplinares relacionadosa espao, tempo, natureza e lugar (REBORATTI, 2001).

    Alm de medir em termos tcnicos, por exemplo, uma superfcieou uma distncia num territrio fsico, as escalas possuem dife-rentes tamanhos (do micro ao macro) e dependem da relaodos objetos que analisamos para delimitar um territrio.

    Na Sociologia e Demograa, por exemplo, h uma tendncia focalizao da tica dos problemas no nvel micro, que temgerado uma srie de aes com relao ao que chamamos delocal em contraponto com o global. Outro exemplo, so as clas-sicaes sobre as escalas entre o urbano e o rural, o nacional

    e o multinacional. Deve-se atentar que embora essas estejamclaras em sua primeira compreenso, muitas vezes so difusasquando analisamos algumas especicidades territoriais. Se fa-larmos de um pequeno povoado com 300 habitantes, est claroque nos referimos ao local, bem como se falamos sobre uma in-dstria petrolfera internacional instalada nas proximidades des-sa populao, estamos enfocando o global. Porm, o que sepassa entre um e outro? O sentido comum geogrco, portanto,no consegue explicar o que acontece entre o local, o regional,o nacional e multinacional, o continental e o mundial.

    Outro exemplo, quando indagamos: o que seria o local numagrande metrpole na Amrica Latina, com 10 a 12 milhes dehabitantes? Quais os critrios que so utilizados para delimitarno Brasil as chamadas mesorregies? O que local num con-texto de globalizao econmica?

    Com a nova ordem econmica internacional, os lugares passarama desempenhar um importante papel na denio das estratgiasglobais. Os lugares so disputados pela posio estratgica, pelasvantagens oferecidas, pela logstica instalada e pela infra-estrutura,

    elementos que permitem realizar, com ecincia e custos reduzidos,as operaes produtivas e circulatrias no processo de globalizao.Vieira e Vieira (2003) destacam que dentro da nova categorizao delugar, podem-se perceber os lugares-locais e os lugares-globais. Olugar-local o espao da herana histrica, base de sustentao doterritrio organizado; dele se projeta a percepo de realidades cons-trudas no passado, modernizadas de acordo com os ritmos econmi-cos e renovadas com os avanos culturais. O lugar-global a deni-o do espao em funo do processo de globalizao da economia; o espao para as estratgias mundiais das grandes corporaesmultinacionais, estabelecendo redenies territoriais e mudanasnos procedimentos de gesto. A gesto do territrio, na nova dimen-so dos lugares, depende das foras que sobre ele atuam.

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    21TEMA 1 TERRITRIO E AMBIENTE ORGANIZACIONAL

    Para discutir os espaos territoriais orientadas para o desenvolvimen-to regional sustentvel, preciso tambm compreender que existempoderes espacialmente localizados, com sua fragmentao e recon-gurao multiescalares em cidades, regies e outros recortes orga-

    nizacionais (FISCHER, 2002). No tema 3, adiante, aprofundaremosa relao entre os poderes locais/globais e territrios.

    1.3 Territrio Organizacional

    As denies de territrio o associam sempre ao Estado, comonao ou pas, o que pode ser estendido aos estados e munic-pios, mas no permite compreender o territrio organizacional.Dessa forma, analisados os conceitos de organizao, ambientee territrio, cabe agora associ-las para compreender a noode territrio organizacional.

    O desenvolvimento dos conceitos de ambiente organizacional ede territrio organizacional permite-nos ampliar nossa capacida-de de anlise e de gesto da realidade organizacional.

    O conceito de territrio organizacional pode ser entendido, talqual o ambiente, na perspectiva sistmica, dentro da qual sodenidos o sistema do territrio organizacional e o sistema doterritrio ambiental.

    O territrio organizacional, um sistema aberto, est inserido emum sistema mais amplo, o territrio ambiental, com o qual ele serelaciona. Ao se relacionar com o territrio ambiental, o territ-rio organizacional alimenta o seu processo de produo com aobteno de insumos do territrio ambiental e destina o produtodesse processo para o prprio territrio ambiental.

    No campo dos estudos organizacionais, possvel pensar a relaoentre territrio-organizao e territrio-ambiente de duas formas:

    o territrio-ambiente determina o territrio-organiza-o, restando a esse adaptar-se ao primeiro;

    o territrio-ambiente pode inuenciar o territrio-orga-nizao, assim como o territrio-organizao pode in-uenciar o territrio-ambiente.

    Pode-se conceituar territrio organizacionalcomo aquele territrio que pertencea uma organizao, ou do qual a organizao faz parte. Assim, um produto de

    relaes entre a organizao, com todos que a integram, e o espao(fsico e social);sendo essas relaes sociais, econmicas, polticas, culturais, institucionais, etc.

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    Desse modo, por exemplo, suciente existir um indivduo mem-bro de uma organizao se relacionando por meio da internetcom outros membros da prpria organizao ou com pessoasoutras que no pertenam organizao para que se congure

    um territrio organizacional.

    O conceito de territrio organizacional, alm de possibilitar aanlise e a gesto organizacional, ainda possibilita a expansoda realidade organizacional, com continuidade e sem limites,em funo do prprio conceito de espao em termos ampliados(MAC-ALLISTER, 2003).

    Ao trazer para a anlise e para a gesto da realidade organiza-cional o conceito de territrio organizacional e, em correlato, oconceito de espao organizacional, possibilita-se a reviso dadimenso espao-temporal da referida realidade. Para a revisoda dimenso espao-temporal da realidade organizacional, po-demos recorrer a Milton Santos (1994):

    [...] a questo do tempo pode ser trabalhada ao me-nos segundo dois eixos um o eixo das suces-ses e o outro o eixo das coexistncias. O tempoui e por conseguinte um fenmeno vem depois deoutro fenmeno. [...] A cada momento se estabele-cem sistemas do acontecer social que caracterizame distinguem tempos diferentes, permitindo falar dehoje e de ontem. Esse o eixo das sucesses. Te-mos tambm o eixo das coexistncias, da simulta-neidade. Em um lugar, em uma rea, o tempo dasdiversas aes e dos diversos agentes, a maneiracomo utilizam o tempo no a mesma. Os respec-

    tivos fenmenos no so apenas sucessivos, masconcomitantes, no viver de cada hora. Para os di-versos agentes sociais, as temporalidades variam,mas se do de modo simultneo. [...] Poderamos

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    23TEMA 1 TERRITRIO E AMBIENTE ORGANIZACIONAL

    mesmo dizer com certa nfase, talvez com um certoexagero, que o tempo como sucesso abstrato eo tempo como simultaneidade o tempo concreto,j que o tempo da vida de todos. O espao querene a todos, com suas diferenas, suas possibi-

    lidades diferentes do uso do espao (do territrio)relacionadas com possibilidades diferentes de usode tempo (SANTOS, 1994).

    A partir dessa perspectiva de Milton Santos sobre a dimensoespao-temporal, podemos reconhecer a realidade organizacio-nal como possuindo diversos espaos (ou territrios) e tempos,e diferentes possibilidades de uso do espao (ou territrio), rela-cionadas com as diferentes possibilidades de uso do tempo. Emfuno dessa diversidade, cada realidade organizacional requeranlises especcas e gestes adequadas.

    Esse ponto de vista permite-nos questionar, por exemplo, a cren-a de que a globalizao e a crescente instabilidade ambientalimpem mudanas organizacionais tais como a exibilizao desua estrutura, para uma maior adaptao ao ambiente. Dessaforma podemos ponderar que:

    o ambiente, ainda que globalizado e instvel, podeapresentar vrias situaes e diversos ritmos;

    a organizao pode desenvolver processos diferencia-

    dos em momentos tambm diferenciados;

    diante da globalizao e da instabilidade ambiental,cada organizao, na sua totalidade ou em parte, isto, cada territrio organizacional, pode encontrar a suaforma especca e adequada de se denir ou de seposicionar.

    1.4 Consideraes nais

    Podemos compreender neste tema que a organizaofoi de-nida como entidade e processo de racionalidade limitada e com-plexa, que se compe de indivduos (com seus sentimentos,conhecimentos, motivaes, aes, relaes, etc.) e de gruposde indivduos ou grupos sociais, bem como de relaes inter-pessoais e sociais; , na sua totalidade, uma organizao social,econmica, poltica, cultural, institucional, etc; e mantm, comoutras organizaes e com a realidade em geral, relaes so-ciais, econmicas, polticas, culturais, institucionais, etc.

    O ambiente organizacionalfoi conceituado em funo da re-lao entre a organizao, um sistema aberto, e o ambiente,o sistema no qual a organizao se insere, considerando-se a

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    possibilidade do ambiente determinar a organizao e a organi-zao adaptar-se ao ambiente, e a possibilidade da organizaoe o ambiente inuenciarem um ao outro.

    O territrio diz respeito ao produto de relaes, por um lado,entre indivduos, coletividades, grupos sociais, organizaes,sociedades, etc., e, por outro lado, o espao como espao fsicoe social, sendo essas relaes sociais, econmicas, polticas,culturais, institucionais, etc.

    Diante os trs conceitos anteriores, denimos como territrio organizacionalumproduto de relaes, por um lado, entre a organizao, com todos que a integram,e, por outro lado, o espao como espao fsico e social, sendo essas relaes

    sociais, econmicas, polticas, culturais, institucionais, etc.

    Os conceitos de ambiente organizacional e territrio organiza-cional, juntamente com os conceitos de espao e tempo, permi-tem ampliar a capacidade de anlise de modo a compreendermelhor a diversidade, a dinmica e a complexidade da realidadeorganizacional e, ao mesmo tempo, ampliar a capacidade degesto dessa realidade.

    Agora a sua vez! Faa uma sntese dos assuntos estudados no Tema1. Lembre-se: essa atividade uma importante estratgia de estudo paraconsolidao de aprendizagem, no exigindo envio tutoria.

    Voc j fez a sntese? Ento, nalizou o estudo do Tema 1. Portanto, agora

    est na hora de voc assistir a videoaula do tema abordado!

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    25TEMA 1 TERRITRIO E AMBIENTE ORGANIZACIONAL

    TEMA 1

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    Tema 2

    Gesto Contempornea e Gesto Social

    Uma palavrinha inicial

    Em que consiste a gesto contempornea? O que gesto so-cial? Como a gesto pode servir aos objetivos de transformar asociedade, promovendo o desenvolvimento?

    A complexidade dos processos de gesto de organizaes nacontemporaneidade requer gestores competentes, ou seja, ca-pazes de dar respostas aos problemas econmicos, polticos esociais.

    Neste texto discutiremos o campo da gesto social e seus desa-

    os, relacionando-o com os ideais de desenvolvimento, postosem prtica por processos que se propem a mudar e reestru-turar a sociedade. Discutem-se os requisitos da gesto social,concluindo-se com premissas sobre um possvel perl de gesto-res sociais.

    Ao nal desse estudo voc dever:

    Conhecer e diferenciar gesto moderna e gesto cls-sica;

    Reconhecer as denies de ecincia, eccia e efe-tividade para a gesto;

    Reconhecer as habilidades e competncias necess-rias ao gestor social do desenvolvimento;

    Identicar os campos da gesto social, interorganiza-es e seus desaos.

    2.1 O que signica gesto?

    Ao falarmos em gesto, as primeiras idias que vm a nossamente so relacionadas a administrar ou gerenciar organiza-

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    es pblicas ou privadas. A gesto pode ser vista como arte,processo, ao e cincia.

    Para Tenrio (2001), gerenciar a ao de estabelecer ou inter-

    pretar objetivos e de alocar recursos para atingir uma nalidadepreviamente determinada. Motta (2001) denomina como gestoa arte de pensar, de decidir e de agir; a arte de fazer aconte-

    cer, de obter resultados . Em ambas as denies, podemosentender que tal conceito sempre est voltado para a consecu-o de objetivos previamente denidos, utilizando as melhoresformas possveis para tal.

    Tradicionalmente, a gesto est associada aos atos de exercerfunes gerenciais para alcanar determinados ns nas orga-nizaes. Assim, gerenciar tambm o processo de planejar,

    organizar, dirigir e controlar. Tenrio (2001) explica as funesgerenciais como sendo:

    Planejar: determinar a nalidade e os objetivos da or-ganizao, prevendo as atividades, os recursos e osmeios necessrios para atingir os objetivos no tempodesejado.

    Organizar: agrupar pessoas e recursos, denir atribui-es, responsabilidades e normas para atingir o quefoi planejado.

    Dirigir: conduzir e motivar as pessoas a cumprirem asatividades planejadas conforme previsto.

    Controlar: comparar os objetivos e os recursos previs-tos com os objetivos realmente alcanados e os re-cursos efetivamente consumidos, a m de corrigir oumudar os rumos xados e os processos sucessivos deplanejamento, organizao, direo e controle.

    Tais funes gerenciais j eram destacadas nas duas primeiras

    dcadas do Sculo XX, por Henry Fayol, na Teoria Clssica daAdministrao, sendo denominadas como funes administra-tivas, remetendo previso, diviso do trabalho, execuo eacompanhamento.

    Contemporaneamente, Fischer (2002) conceitua a gesto comoum ato relacional que se estabelece entre pessoas, em espaose tempos relativamente delimitados, objetivando realizaes eexpressando interesses de indivduos, grupos e coletividades.

    Tal conceito remete ao gerenciamento como processo dinmi-co, constitudo por aes mobilizadoras por parte de mltiplasorigens e tendo muitas direes, nas quais as dimenses daprtica e da teoria esto entrelaadas. Nesse sentido, apren-

    Jules Henri Fayol

    (29/07/1841 - 19/11/1925) foi

    um dos tericos clssicos da

    Cincia da Administrao,

    sendo o fundador da Teoria

    Clssica da Administrao

    e autor deAdministrao

    Industrial e Geral.

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    29TEMA 2 GESTO CONTEMPORNEA E GESTO SOCIAL

    de-se a gerenciar com a prtica e o conhecimento se organizapara ilumin-la. Articular prtica e teoria desao no campoda gesto.

    Mas em que tipo de espaos, coletividades ou processos ocorrea gesto?

    claro que cada um de ns administra, de certa forma, suaprpria vida e seus afazeres particulares, mas a gesto torna-setanto mais necessria medida que os sistemas sociais tornam-se mais complexos. Assim, administrar nossa rotina pessoalou nosso grupo familiar demanda certamente menos esforos erecursos que administrar uma secretaria estadual, uma entidadelantrpica ou uma empresa multinacional.

    Nesse sentido, importante lembrar que as organizaes de todosos tipos, sejam elas organizaes pblicas, privadas ou da socie-dade civil (como as ONGs) so criadas justamente para que aspessoas alcancem objetivos que sozinhas no poderiam alcanar.

    Desta maneira, os processos de gerenciamento so vistos comofenmenos sociais que ensejam a emergncia de desenhos or-ganizacionais complexos e formas de gesto associadas a umapedagogia social em que se aprende, talvez, mais pelos erros doque pelos acertos.

    A gesto pressupe liderana e mandato, tenses permanentesentre construo e desconstruo, assimetria e contradies. Todaa ao gestora, seja ela exercida por indivduos ou coletividades,orienta-se por princpios de mudana e desenvolvimento, seja de mi-

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    30 DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL, ORGANIZAES E GESTO

    cro-unidades organizacionais, seja de organizaes com alto graude complexidade. Devemos lembrar que quando falamos em orga-nizaes complexas, remetemos quelas que permeiam todos osaspectos da vida social da sociedade moderna, como, por exem-

    plo, as empresas de negcios, as escolas, os hospitais, as igrejas,as prises, o exrcito, os rgos do governo, os partidos polticos,as fundaes empresariais, as organizaes no-governamentais,os sindicatos, etc. Tais organizaes requerem, portanto, processosde gesto que viabilizem o alcance dos objetivos desejados. Desteconjunto, cabe aqui destacar aquelas que atuam no campo social,quer sejam ONGs, fundaes empresariais, programas e projetosgovernamentais interinstitucionais, aes de responsabilidade socialempresarial, movimentos sociais, entre outras.

    Para fecharmos as primeiras idias apresentadas at ento, pode-mos armar sinteticamente que a gesto contempornea remete a:

    um processo social que implica em negociao e cons-truo de signicados sobre as coisas que devem serfeitas;

    um componente central das organizaes formais e,como tal, depende da hierarquia que limita autoridadee visibilidade;

    est dentro de contextos scio-econmicos externos organizao, contribuindo para a transformao scio-econmica e cultural destes;

    uma funo, identicada com a pessoa do gerente,mas passvel de ser exercida por outras pessoas egrupos circunstancialmente;

    Tem uma dimenso substantiva e outra simblica, quese traduzem em atos, pensamentos, valores, emoes,

    ideologias; contribuindo para produzir no apenas bense servios, mas identidades e subjetividades.

    2.2 Ecincia, eccia e efetividade: palavras-chave na gesto

    Conforme j vimos anteriormente, as organizaes so criadaspara que as pessoas alcancem objetivos que, sozinhas, nopoderiam alcanar; existem organizaes privadas (empresas),pblicas (rgos pblicos) e da sociedade civil (como, por exem-plo, as organizaes no-governamentais). Tais organizaesrequerem, portanto, processos de gesto que viabilizem o alcan-ce dos objetivos desejados. Para tanto, necessitam trabalhar demodo eciente, ecaz e efetivo.

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    31TEMA 2 GESTO CONTEMPORNEA E GESTO SOCIAL

    A efcincia diz respeito alocao de recursos da melhor forma possvel, commenor consumo; a melhor forma de fazer algo com os recursos existentes; como

    fazer as coisas corretamente, ou seja, refere-se aos meios que utilizamos para atingirobjetivos. A efcciarefere-se capacidade de cumprir o objetivo determinado; fazero que tem que ser feito; refere-se aos ns. A efetividade refere-se a capacidadede efetivar resultados de modo eciente, no tempo devido, tendo a capacidade deatender s expectativas e demandas da sociedade (TENRIO, 2001).

    Mediante os conceitos apresentados, podemos armar que sepode ter uma ao gestora eciente e no ecaz, bem como, e-caz e pouco eciente. Alm disso, podem ocorrer a ecincia

    e eccia, porm sem efetividade. Por exemplo, uma empresamultinacional atuante na rea de petrleo que se instale numa pe-quena comunidade ribeirinha de baixa renda, tem como objetivosalm do lucro, gerar emprego e renda para tal populao. Numprimeiro ano de funcionamento a companhia acaba empregandovrios dos moradores da comunidade local em seu quadro fun-cional, capacita-os para as funes de modo eciente, consegueatingir metas estabelecidas quanto produo de derivados dopetrleo. Um fato que ocorre, no entanto, que mesmo diantetoda a ecincia e eccia da gesto, acaba poluindo o rio, quecontinua a ser a principal fonte de subsistncia na regio. Pode-se, assim, questionar se a empresa foi efetiva.

    Ecincia e eccia vm sendo comumente usadas como pala-vras-chave do gestor. A efetividade, porm, nem tanto, emboraseja tambm fundamental e jamais deve ser esquecida, princi-palmente quando tratamos a gesto no campo social.

    2.2.1 Existe receita para fazer uma gesto eciente, ecaz e

    efetiva?

    At agora, tudo o que vimos remete a uma dimenso essen-

    cialmente racional e tcnica da atuao do administrador. A im-presso que ca a de que se o gestor cumprir essas funes risca, ter sucesso. Sabemos o que fazer e por que fazer, e li-vros que abordam o como fazer, do tipo Como ser um gerenteecaz, Como vender mais, etc., so cada vez mais vendidos.

    O que ns vemos que, apesar do campo da administraoser permeado por teorias e tcnicas, no existe receita para osucesso. evidente que h comportamentos gerenciais que socomuns entre gerentes de sucesso, decorrentes de habilidades

    que podem ser assimiladas e conquistadas na experincia co-tidiana. H tcnicas que foram experimentadas, deram certo epodem servir de referncia, mas nunca reproduzidas totalmenteiguais, porque cada realidade especca.

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    32 DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL, ORGANIZAES E GESTO

    Vale ressaltar, contudo, que existe uma dimenso no-tcnicaque permeia a funo gerencial. Acumular conhecimento sobreadministrao importante, mas por si s no garante a aodesejada. Motta (2001) d um exemplo simples que ilustra isso:

    muitos mdicos sabem que fumar prejudica a sade e fumam;o mesmo pode acontecer com o gestor: ele tem conhecimentosobre liderana, mas isso no signica que na prtica ele vailiderar melhor.

    Voltemos denio de Motta (2001) sobre gerncia: a artede pensar, de decidir e de agir; a arte de fazer acontecer, deobter resultados. A palavra arte remete ao lado intuitivo, doimproviso, da criatividade que permeia os processos de gesto.Isso porque as coisas no acontecem necessariamente como

    se pensa, como se planeja, como se espera: o ambiente muda,surgem coisas novas.

    A atuao do dirigente hbrida no sentido de mesclar a visoprescritiva (ideal) da gerncia que se caracteriza pela racio-nalidade administrativa, o planejamento, a formalidade e aviso realista da gerncia que trabalha com incertezas, frag-mentao, presses polticas, imediatismo, etc.

    Considerando tudo isso, senso comum no basta, necessriosim buscar a formao. Neste sentido, Motta (2001) enfatiza que

    o aprendizado gerencial envolve as seguintes dimenses: habili-dades cognitivas, analticas, comportamentais e de ao.

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    Quadro 1 Habilidades Gerenciais

    Fonte: MOTTA, 2001, p. 29

    O desenvolvimento de habilidades remete a conhecimentos quese complementam e sobre liderana e relaes interpessoais,processo decisrio, motivao, estratgia, poder, cultura e aodesenvolvimento de criatividade e esprito de inovao. Ressal-tando-se sempre que tudo isso envolve as dimenses da lgi-ca/racionalidade e da intuio, do planejado e do inesperado,enm, das limitaes do ser humano que gestor.

    O aprendizado importante tanto para dirigentes de alto nvelhierrquico (nvel estratgico) quanto para gerentes de nvel in-termedirio (nvel ttico) ou para os nveis de superviso (nveloperacional). Quanto mais conhecimento, mais a comunicaoocorre de fato (as pessoas entendem umas s outras, a partir

    Desenvolvera habilidade

    Signifca... Para...

    Cognitiva

    Aprender sobre administraoa partir do estoque deconhecimentos existentessobre denio de objetivos eformulao de polticas e asidias sistematizadas sobreestruturas, processos, tcnicas ecomportamentos organizacionais

    Saber categorizarproblemas administrativose ver relaes entrecategorias. Compreendero particular por meio doconhecimento do geral

    Analtica

    Aprender a decompor problemasadministrativos, identicarvariveis fundamentais,

    estabelecer relaes de causae efeito na busca de novassolues, objetivos, prioridadese alternativas de ao

    Saber a utilidade e apotencialidade dastcnicas administrativase adquirir mais realismo,profundidade e criatividadena soluo de problemas

    Comportamental

    Aprender novas maneirasde interao humana dentrepadres alternativos conhecidose validados socialmente, comonovas formas de comunicao,de interao grupal ou deexercer ou lidar com poder e

    autoridade

    Comportar-se de formadiferente do acostumadopara obter respostascomportamentais maisconsistentes com objetivosde ecincia, eccia,satisfao e segurana no

    trabalho

    De Ao

    Aprender sobre si prprio, sobresua funo e sobre os objetivose condies operacionais desua organizao. Desenvolvercomprometimento com a missoscio-econmica da instituioem que trabalha

    Desenvolver capacidade deinterferir intencionalmenteno sistema organizacional,ou seja, de transformarobjetivos, valores econhecimentos em formasefetivas de ao

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    34 DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL, ORGANIZAES E GESTO

    de uma linguagem comum, de uma mesma signicao para aspalavras) e os objetivos da organizao podem ser alcanadoscom mais facilidade.

    2.3 Gesto social: conceitos e signicados

    Agora que j apresentamos algumas denies do conceito degesto nas quais so as funes gerenciais bsicas, e discuti-mos as principais habilidades que devem ser desenvolvidas naformao do gerente, falaremos sobre a gesto contemporneacongurada com gesto social.

    Seja no mbito das organizaes do Estado, do mercado ou dasociedade civil, tem-se enfatizado bastante nos dias atuais a im-

    portncia dos valores ticos e solidrios, traduzidos na prticapor meio de aes sociais. No mundo empresarial, por exemplo,a responsabilidade social corporativa um tema recorrente, tra-zendo a noo de que a atividade empresarial envolve compro-missos com todas as partes interessadas da empresa: clientes,funcionrios e fornecedores, alm das comunidades, meio am-biente, governo e sociedade (SCHOMMER, 2000). O discursodo combate fome e misria adquiriu fora nos ltimos anosno apenas devido fora da sociedade civil, por meio das con-quistas de grupos e movimentos sociais, mas tambm devidos necessidades do prprio mercado, uma vez que a pobreza, afome, o analfabetismo e a violncia tm se tornado obstculos lucratividade (GOHN, 1997).

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    35TEMA 2 GESTO CONTEMPORNEA E GESTO SOCIAL

    Percebe-se, portanto, que o foco nas questes sociais deixa,cada vez mais, de ser uma preocupao apenas do Estado oude organizaes no-governamentais e passa a ser de todas asorganizaes. Desta forma, pauta-se a discusso sobre o que

    chamamos de gesto social, tema que tem sido evocado nosltimos anos para acentuar a importncia das questes sociaispara os sistemas-governo, sobretudo na implementao de po-lticas pblicas, assim como dos sistemas-empresa no gerencia-mento de seus negcios (TENRIO, 2001). Trata-se de justicara presena do Estado-mnimo na ateno focalizada, por meiode polticas sociais; e, ao mesmo tempo, foment-lo exibilizan-do as relaes de trabalho e de produo dos agentes econmi-cos. Em ambos os casos, o que se tem observado uma teoriae prtica de gesto social muito mais coerente com a gesto

    estratgica do que aquelas consentneas com sociedades de-mocrticas e solidrias (TENRIO, 2001).

    Vale salientar que, j nos anos 20 do sculo passado, a norte-americana Mary Parker Follett, conhecida como a profeta dogerenciamento, autora de diversos livros sobre administrao,democracia e relaes humanas, defendia o papel social doscidados e das empresas, numa poca em que a viso predo-minante considerava a empresa como instituio meramenteeconmica. Follet, ao contrrio, via a empresa como um servio

    prestado sociedade:

    Se um homem pensa a respeito de sua empresacomo um servio, certamente no aumentar seuslucros particulares custa do bem pblico. Almdisso, a empresa como um servio tende a acabarcom aquela concepo que era muito infeliz. Anti-gamente, havia a idia de que um homem ganhavadinheiro durante o dia. noite, prestava seu servio comunidade, por se sentar mesa de direo daescola ou de algum comit cvico. De outro modo,ele poderia ocupar sua vida durante a juventude

    a ganhar dinheiro, passando a prestar seu servi-o mais tarde, por gastar seu dinheiro de modo tilpara a comunidade. Isso, se no morresse antes!A idia muito mais salutar, que temos agora, ade que nosso trabalho em si deve ser nosso maiorservio para a comunidade (GRAHAM,1997).

    Follett entendia o gerenciamento como uma funo, no comouma ferramenta. O gerenciamento, em qualquer organizao fosse em uma empresa tradicional, uma associao, uma escolaou no governo tinha como nalidade tornar a sociedade mais

    justa (GRAHAM, 1997).Se entendermos organizao desta forma, a distino entre or-ganizaes pertencentes esfera do mercado, do Estado ou da

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    sociedade civil torna-se irrelevante, anal, conclui-se que todasas organizaes devem ser orientadas para e pelo social. istoque se admite para o entendimento do conceito de gesto so-cial, que pode ser denido como o processo intersubjetivo que

    preside a ao da cidadania tanto na esfera privada quanto naesfera pblica (TENRIO, 1998).

    Alguns autores, porm, focalizam o conceito de gesto social,muito mais aplicado para a gesto das organizaes da socie-dade civil, ou para a gesto das polticas pblicas desenvolvi-das pelo Estado. Por exemplo, Carvalho (1999, p. 19) associaa gesto social gesto das aes sociais pblicas, ou seja,a gesto das demandas e necessidades dos cidados. ParaFrana Filho (2003), este um conceito complexo que necessita

    ser desconstrudo e reconstrudo, j que de um lado, existemaqueles que o identicam a uma problemtica de sociedade, ede outro, aqueles que o associam a uma modalidade especcade gesto. Deste modo, a gesto social pode ser vista pela suanalidade (voltada para o social), bem como pelas dimenses eprocessos que opera.

    Pode-se caracterizar o campo da gesto social como um hbridode componentes societais, oriundo do Estado (tambm chama-do primeiro setor), Mercado (segundo setor) e Sociedade Civil

    (terceiro setor), associados aos requisitos de legitimidade e aosimperativos da ecincia, eccia e efetividade. Ao adotar o con-ceito de campo (e no o de setor) para orientar esta discusso,pode-se olhar os fenmenos gerenciais como dinmicas sociaisque ocorrem em espaos articuladores de organizaes gover-namentais, de mercado e aquelas originadas na sociedade civil,com as variaes e a diversidade que este espectro to amploapresenta (FISCHER, 2002).

    Podemos inferir, portanto, que a gesto social a gesto do de-

    senvolvimento e que ocorre no mbito pblico e privado, entreas organizaes do Estado, mercado e sociedade civil, tendocomo nalidades precpuas o desenvolvimento social. O desen-volvimento pode ser entendido como uma srie de processosarticulados de recursos e poderes individuais e coletivos nos ter-ritrios, voltados para sua melhoria econmica e social. Destaforma, concretiza-se como desenvolvimento local, integrado esustentvel, tema que detalharemos no tema 3.

    O campo da gesto social, portanto, o campo da gesto doque conceituado como interorganizaes, ou seja, organiza-es que trabalham juntas ou interorganizadas cuja principalcaracterstica a hibridizao e a complexidade. As interorgani-zaes so constitudas por organizaes diferenciadas, conec-

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    tadas por propsitos comuns, isto , integradas. A associao sefaz pela complementaridade portanto, pela busca do diferenteque possa cooperar para se atingir um resultado. Um exemplode interorganizaesexistentes na rea social so programas

    e projetos interinstitucionais executados por governos e ONGs,que articulam-se entre si mas tambm com organizaes per-tencentes a outras escalas de poder, tais como agncias inter-nacionais, redes de ao social e movimentos sociais.

    Ao considerarmos as articulaes interorganizacionais na ges-to social, temos que considerar a existncia de:

    Objetivos mltiplos e potencialmente competitivos/co-operativos;

    Componentes estruturais essencialmente diferenciados;

    Diversas lgicas sociais em confronto e coalizo;

    Disputas por recursos e espaos;

    Estilos de liderana e tecnologias de ao social diferentes;

    Especicidades culturais em cada um dos enclaves ousuborganizaes que integram o complexo.

    A gura a seguir demonstra a noo de gesto social explicadanesta seo:

    FONTE: FISCHER ( 2003)

    2.4 Campos da Gesto Social e Interorganizaes

    A construo social do desenvolvimento forjada por interor-ganizaes que reetem os interesses plurais das instituiesque operam no espao pblico. Governo local, empresas, or-

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    ganizaes sociais articulam-se dentro de uma trama singularde interesses criando modelos de aes coletivas, traduzidosem desenhos organizativos complexos, em que o poder ui di-ferentemente conforme a verticalizao ou horizontalizao das

    relaes, guardadas as contradies destes processos e jogosde interesses dos atores (FISCHER, 2002).

    A transversalidade ou a complexidade das relaes entre domi-nantes e dominados - com tenses, avanos e recuos perma-nentes, com ganhos e perdas reais e simblicas que podem seravaliados diferentemente conforme a perspectiva - faz com quese reconhea a crescente pluralidade do poder espacialmente lo-calizado, exercido nos chamados espaos pblicos. Assim, a ges-to social atua nos campos das interorganizaes. Mas, como se

    conguram as interorganizaes que atuam no desenvolvimentode territrios? Podemos represent-las pela gura abaixo, comouma rede em trs nveis de complexidade: o primeiro nvel o dasorganizaes; o segundo, das formas organizacionais articuladasem redes; e o terceiro, das redes de redes.

    FONTE: FISCHER (2006)

    Organizaes de primeiro nvel so as organizaes associati-vas, organizaes de governo e empresas, bem como agentesnanciadores, consultorias, fundaes, bancos de desenvolvi-

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    mento e outras organizaes discretas, que desenvolvem aesestratgicas sobre o territrio. Assumindo a forma de programase projetos conjuntos, parcerias, cooperativas, as organizaesarticulam-se em um segundo nvel: o das redes.

    Organizaes associativas podem articular redes temticas en-tre si, focalizando temas especcos como sade, infncia, g-nero, etc. Podem tambm articular redes na forma de parceriase alianas no desenvolvimento de programas e projetos, quecontam com ONGs como ns de tramas scio-produtivas.

    As redes de redes tm um grau maior de complexidade e podemser representadas por fruns e consrcios, associados a recor-tes territoriais na forma de arranjos scio-produtivos a espaosvirtuais (websites).

    A ao das ONGs em rede supe conguraes articuladas e aes estratgicascompartilhadas. Por exemplo, uma ONG pode ter como rea de abrangnciaum recorte territorial como um bairro, uma favela, um logradouro e se articularem parcerias para desenvolver programas setoriais que compreendam a cidade(mesolocal) ou uma rea metropoltica (macrolocal).

    A mesma ONG pode integrar um frum regional e fazer parte dealianas e movimentos nacionais e internacionais. As organiza-es de carter associativo designadas por ONGs so atoresparadoxais na articulao de interorganizaes orientadas aodesenvolvimento.

    Na gura abaixo, ilustra-se a indissociabilidade entre congura-es organizacionais e interorganizacionais, processos de ges-to e as escalas territoriais em que so exercidos, representan-do as conceituaes descritas que so envolvidas no campo dagesto social.

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    Sainsaulieu (2001) chama a ateno para as diferenas entrea situao em que h necessidade de alianas de negociaoe de regulao e aquelas em que os jogos de poder conduzema exigncias de dominao, de contrapoder ou a antagonismos

    recorrentes. No primeiro caso, pode-se chegar a formas de coo-perao aceitveis entre atores, grupos e organizaes. No se-gundo caso, os indivduos e coletivos chegaro confrontao,conito, ou usaro estratgias de ignorncia mtua. As situa-es concretas de gesto social podem produzir crises ou iden-tidades no rmar acordos e regulaes sociais legtimas (SAIN-SAULIEU, op. cit.).

    Complexidade e diferenciao/conexo so chamados de pro-priedades estruturais das interorganizaes por Alter e Hage

    (1993), agregando a essas duas a centralidade, que dependede coordenao ou gesto.

    Articulao estratgica o ponto focal do conceito. Desenvolvi-mento compreende, ao mesmo tempo, processos compartilhadose resultados atingidos; vises de futuro ou utopias construdaspor coletivos organizacionais e aes concretas de mudana.Trata-se, portanto, de estratgias processuais, isto , que seinscrevem no paradigma da racionalidade processual e contex-tual (MARTINET e THIETHART, 2001). Estratgias processuais ou tateantes, na concepo de Avenier (1997) so aesorientadas a ns potencialmente evolutivos, estabelecidos den-tro de uma dialtica permanente entre meios e ns em contextosque permitem o uso dos meios e a consecuo dos ns. Acei -tando-se esse conceito, viso e ao estratgica so, simultane-amente, processo e resultado, concretude e utopia, atendendoaos princpios de totalidade, transformao e auto-regulao,citados anteriormente.

    Portanto, processos de gesto verticais, horizontais ou trans-versais exercidos em escalas territoriais variveis ocorrem em

    organizaes e interorganizaes por meio de aes articuladascooperativas e/ou competitivas, como ilustrado a seguir.

    Interorganizaes atuam sobre escalas territoriais que vo demicro-local ao internacional e global, de forma sincrnica. Inte-rorganizaes tm texturas e conguraes diversas desde or-ganizaes hibridizadas, como as ONGs, at o formato em rede.Estas interorganizaes podem se converter em redes de redes,quer para a mobilizao coletiva, quer para compartilhar e difun-dir informaes, concretizadas em websites.

    Fruns em escala regional, nacional ou internacional para a pro-moo de desenvolvimento territorial assumem formas diversas,tais como os consrcios intermunicipais. So exemplares os f-

    Conhea mais sobre o

    assunto visitando o portal

    www.gestaosocial.org.br

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    runs de economia solidria de mbito nacional e estadual e oschamados sistemas produtivos locais.

    Yoguel, Novick e Martin (2001) referem-se aos conjuntos de

    agentes inter-relacionados (clusters, sistemas locais ou mi-lieu), presentes na literatura sobre as novas formas de organi-zao dos sistemas produtivos, e propem o conceito de tramaprodutiva, isto , de articulao entre agentes de desenvolvi-mento, atividades inovadoras e tecnologias de gesto social, oque inclui a organizao do processo de trabalho e o modelo derelaes trabalhistas vigentes(YOGEL et al, apud GUIMARESe MARTIN, 2001).

    A expresso mais recente das tramas produtivas o arranjoprodutivo local (APL) desenvolvido pela Redesist (Lastres e

    Cassiolato, 2002) e incorporado em polticas do governo brasi-leiro no mbito federal (Ministrio de Integrao e de Cincia eTecnologia, entre outros), nos estados e municpios. O sistemaS, especialmente o SEBRAE, bem como agncias (como a SU-DENE) e bancos de desenvolvimento adotaram os APLs comoestrutura em rede, bem como governos estaduais e municipais.

    Sob a designao de empreendimentos solidrios podem-se no-mear formas associativas de produo promovidas por ONGs,comunidades, movimentos sociais e setores governamentais; di-

    nmicas locais de orientao ecolgica e sustentvel (a despei-to das crticas e dissenses); movimentos feministas, voltadospara a incluso das mulheres nos processos de desenvolvimen-to; mecanismos para concesso de microcrdito e, nalmente,movimentos sociais em prol dos direitos terra e habitao(FRANA, 2004; 2003; 2002).

    Confrontadas as vertentes da competitividade e da solidarieda-de, h diferenas bvias e superposies tambm bvias en-tre o que se pode chamar de perspectivas de ao. Nos doissentidos, pressupe-se a existncia de organizaes complexas- interorganizaes - e estratgias processuais. As diferenasencontram-se no papel e no peso dos atores envolvidos nas for-mas de gesto e nos valores de fundo que orientam as duasperspectivas. Mesmo percebendo-se essas diferenas, no trivial distinguir tais processos nas prticas sociais, correndo-seo risco de um maniquesmo redutor. Nos argumentos de uns eoutros, so comuns os ideais utpicos de construo social deum futuro melhor. Sem dvida, a Economia Solidria enfatizaredistribuio e reciprocidade (LAVILLE, 2000), bem como redis-cute o espao pblico como espao social, mas cabe ressalvarque a retrica que sustenta os sistemas produtivos no descartao social, como pode ser constatado no documento do SEBRAEsobre territrios de baixa densidade empresarial (SEBRAE,

    As empresas que

    compem um APL, alm

    da proximidade fsica eda forte relao com os

    agentes da localidade, tm

    em comum uma mesma

    dinmica econmica.

    Contudo, tal dinmica pode

    ser determinada por razes

    bastante diversas.

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    para ser legtima deve ser eciente e para ser eciente, deve se legitimar,criando crculos virtuosos na lgica social que orienta a ao;

    requer competncias e qualicaes tcitas e uso de tecnologias de aosocial;

    deve ser apropriada em contextos de formao/capacitao que articulemreexo e prtica;

    requer instrumentos de coordenao e regulao articulados e convergentes;

    um desao criatividade.

    Fischer (2001) faz cinco proposies a respeito da gesto dodesenvolvimento social, que detalhamos a seguir:

    Primeira proposio

    A gesto do desenvolvimento social um processo de mediaoque articula mltiplos nveis de poder individual e social. Sendoum processo social e envolvendo negociao de signicados so-bre O QUE deve ser feito, POR QUE e PARA QUEM, a gestono uma funo exercida apenas por um gestor, mas por umcoletivo que pode atuar em grau maior ou menor de simetria/as-

    simetria e delegao, o que traz uma carga potencial de conitode interesses entre atores envolvidos e entre escalas de poder.

    A fragilidade dos processos de desenvolvimento social pode tan-to ser atribuda falta de competncia dos gestores para faz-los avanarem e promoverem mudanas efetivas de um ladoe, de outro, ao papel exageradamente protagonista dos lderescarismticos, que criam dependncia nas comunidades e pemem risco a continuidade de projetos.

    A passagem de uma congurao poltica baseada na predomi-nncia da ao governamental sobre o local para um policen-trismo do poder o trao mais caracterstico da dcada de 90.Muda tambm o estilo de gesto dos governos locais. Ser pre-feito hoje bastante diferente do que foi h dez anos. Mudam oscritrios de avaliao do que uma boa gesto, as exignciassobre a melhoria de qualidade so maiores e os papis em quese desdobram os gestores tambm so em maior nmero. Ojogo poltico tambm feito por um maior nmero de interes-sados, estando as elites urbanas mais visveis na vida pblica;a multiplicidade de agentes e iniciativas torna-as, praticamente,ingovernveis, no sentido tradicional. A participao comunitria valorizada desde a concepo de estratgias at o desenhode estruturas, desenvolvimento e avaliao, sendo um elemento

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    fundamental das best practices internacionalmente laureadas. Oespectro de iniciativas que vai dos arranjos competitivos eco-nomia solidria no linear. Os ns e conexes organizativosno so discretos, as estratgias so hbridas e dependem de

    indivduos, grupos e coletivos mais amplos.

    Segunda proposio

    A gesto do desenvolvimento social um campo de conheci-mento e um espao hbrido e contraditrio de prticas. A coo-perao no exclui a competio; a competitividade pressupearticulaes, alianas e pactos. Fazendo parte, essencialmente,do ser e agir humanos, o conito de percepes e interessesest presente tambm em formas organizativas solidrias que,por sua vez, esto embebidas em contextos capitalistas ociden-tais. Como projetos de resistncia e contradependncia dessescontextos, so experincias de ruptura e de construo de no-vos paradigmas do agir social e, como tal, so organizaesde aprendizagem da gesto do desenvolvimento. No fcilcompartilhar o poder e, muito menos, construir organizaes einterorganizaes, estratgias e estruturas eticamente relacio-nais e ecazes.

    Terceira proposio

    Orientada por valores e pela tica da responsabilidade, a ges-to do desenvolvimento social deve atender aos imperativosda eccia e ecincia. O que uma gesto ecaz e ecienteneste campo? Caracterizadas por uidez, agilidade e inovao,as organizaes e interorganizaes de cunho social enfrentamdesaos e correm srios riscos de insustentabilidade e extino.Como quaisquer outras organizaes, devem mapear necessi-dades, delinear estratgias conseqentes, desenvolver planos,gerir recursos escassos, gerir pessoas, comunicar-se e difundirresultados, construindo a identidade e preservando a imagem

    da organizao. Prestar contas sociedade, avaliar processose resultados e regular aes so tambm tarefas essenciais dogestor ecaz. No caso de organizaes de desenvolvimento so-cial, a ecincia funo de efetividade social, isto , da legiti-midade conquistada.

    Quarta proposio

    A gesto do desenvolvimento social gesto, tambm, de redes,de relaes sociais, mutveis e emergentes, afetadas por estilosde pessoas e comportamentos, pela histria do gestor, pela ca-pacidade de interao e por toda a subjetividade presente nasrelaes humanas. H um vis de anlise dessas organizaesque privilegia as dimenses sociais, minimizando ou excluindo as

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    dimenses subjetivas. O retorno do ator, como lembrou Alain Tou-raine (1978), um imperativo do momento, reconhecendo-se oindivduo como lder de transformaes sociais ou como gestor.

    Quinta proposioA gesto do desenvolvimento social um processo embebidoem contextos culturais que o conformam e para os quais con-tribui, reetindo e transformando esses contextos de forma tan-gvel e intangvel. O gestor social gestor do simblico e dovalorativo, especialmente quando se trata de culturas locais e daconstruo de identidades.

    Apesar da banalizao instrumental do conceito de capital social,presente na retrica do atual desenvolvimentismo,, inegvel o

    efeito inercial e cumulativo nas comunidades de experinciasbem (e mal) sucedidas. Ou seja, aprende-se com o sucesso,mas tambm com o fracasso. A pedagogia social imanente aosprocessos de desenvolvimento social, constituio de organi-zaes de aprendizagem.

    2.6 Quem e qual o perl para o gestor do desenvolvimento

    social?

    Segundo Fischer et al (2001), uma vez que identicamos o cam-

    po de aplicao da gesto social como sendo aqueles espaoshbridos, interorganizacionais e interinstitucionais, cabe-nos per-guntar quais as capacitaes que deve ter um gestor social equais as competncias que uma gesto com tal grau de comple-xidade requer.

    Conforme Fischer (2001, 2006), o gestor social um mediadormultiqualicado, situando-se em um contnuo que vai da capa-cidade de dar respostas ecazes e ecientes s situaes coti-dianas de enfrentar problemas de alta complexidade. A autora

    arma ainda que o papel do gestor social : articular mltiplas escalas de poder individual e societal;

    trabalhar a identidade de projeto, reetindo e criandopautas culturais;

    coordenar interorganizaoes ecazes;

    promover ao e aprendizagem coletiva;

    comunicar e difundir resultados;

    prestar contas sociedade;

    reavaliar e recriar estratgias processuais.

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    Para tanto, verica-se um perl necessrio a tais gestores quedevem desenvolver competncias necessrias para saber ser,saber fazer e saber gerir. Para isso, deve aprender com a prticaarticulada teoria.

    Dentro deste direcionamento, Milani, Schommer e Lordlo (2001) armam que ogestor social aquele que:

    1. atua num contexto de desaos e tenses entre a ecincia (busca deresultados) e a democracia (busca da participao social), o individual e ocoletivo, o poltico e o tcnico;

    2. deve ser tico e considerar as questes de forma integral, no fragmentada(aspectos sociais, culturais, ambientais, polticos e econmicos);

    3. deve ultrapassar as tenses dicotmicas entre teoria e prtica, local eglobal, disciplinar e inter/transdisciplinar;

    4. deve ter a capacidade de migrar entre esferas e de atuar em rede, o querequer formao generalista e habilidade de comunicao e articulao;

    5. necessita de disposio para trabalhar com a diversidade, respeitando acultura e a linguagem de cada local;

    6. deve ter a preocupao de criar referncias prprias do local, de contribuirpara a construo de sujeitos sociais em cada processo em que atua;

    7. precisa avaliar as aes, para no reproduzir modelos sem efetividade;

    8. deve ser um gestor de conitos, um mediador no sentido de desenvolverpessoas, organizaes e interorganizaes sua volta.

    Mas no seriam essas tendncias apontadas vlidas para todosos gestores, de modo geral? Certamente sim, o que ratica aperspectiva segundo a qual a gesto social simplesmente umaqualicao, ou um trao particularmente forte, da gesto con-

    tempornea.

    Uma reexo crtica pode ser feita aqui em relao ao termogesto social. O uso da palavra social implicaria, por acaso,a existncia de uma gesto no-social? Anal, o adjetivo so-cial indica algo que feitopara e pela sociedade. Mas isso nodeveria permear todo e qualquer processo de gesto, assimcomo qualquer ao humana (BASTOS; CARVALHO, 2001)?A respeito deste questionamento, pode-se dizer que o adjetivosocial funciona aqui como uma redundncia proposital, um

    pleonasmo voluntrio, com a simples nalidade de enfatizar oque, muitas vezes, o gestor esquece: que suas aes tm im-pactos sobre a sociedade.

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    47TEMA 2 GESTO CONTEMPORNEA E GESTO SOCIAL

    Para concluirmos esta seo, cabe ainda citarmos alguns dosindicadores de competncia, elaborados a partir das experin-cias de formao de gestores sociais empreendidas no mbitodo Programa de Desenvolvimento e Gesto Social, do Centro

    Interdisciplinar de Desenvolvimento e Gesto Social (CIAGS),da Universidade Federal da Bahia, que vem testando e validan-do modelos de formao de gestores sociais, no nvel de gra-duao, extenso e mestrado, articulados com pesquisas sobrediversos temas. Conforme Fischer (2002, 2006), os indicadoresde competncia dos gestores sociais do desenvolvimento so:

    Eticamente orientados promoo do desenvolvimento de indivduos, grupose instituies.

    Formuladores de diagnstico de necessidades e potencialidades territoriais.

    Formuladores de projetos de interveno em territrios.

    Articuladores de aes em diferentes conguraes scio-produtivas(programas, projetos e aes).

    Estrategistas da inovao e empreendedorismo no desenvolvimentoterritorial.

    Facilitadores das relaes entre indivduos, grupos e coletivos.

    Hbeis no trato da interculturalidade e sensveis s diversidades sociais;

    Mediadores de interaes em diferentes escalas territoriais.

    Articuladores de redes interorganizacionais, interinstitucionais e intersetorias;

    Coordenadores de aes, projetos e programas visando pactos territoriais decarter scio-produtivo.

    Facilitadores das relaes entre indivduos, grupos e coletividades e daparticipao do cidado.

    Capazes de alocar e gerir recursos e garantir sustentabilidade.

    Efetivos na consecuo de resultados.

    Promotores da valorizao humana e da diversidade cultural local, regional eglobal.

    Transformadores das realidades sociais em escalas territoriais variadas dentrode princpios scio ambientais desejveis, como mediadores de interessesinterinstitucionais.

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    48 DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL, ORGANIZAES E GESTO

    2.7 Consideraes nais

    Dando continuidade nossa srie de perguntas sobre a ges-to contempornea, ser que os ns justicam os meios? Esta

    questo , na verdade, a grande norteadora desta reexo -nal. Globalizao, competio acirrada e at mesmo a luta pelasobrevivncia no podem ser desculpas para aes egostas edesvinculadas de compromisso com a sociedade e com o meioambiente. Ao contrrio, devem ser um incentivo cooperao es prticas de gesto o