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DESIGN COMO FATOR CHAVE PARA O
PROCESSO DE INOVAÇÃO DE
PRODUTO NO SETOR DE ROCHAS
ORNAMENTAIS
Romeu e Silva Neto (IFF )
THAIS FERREIRA TORRES (IFF )
O setor industrial tem sofrido modificações profundas, ao passar por
uma completa reestruturação produtiva. Inovação e design passam a
ter papel fundamental na competitividade das indústrias. Essas
inovações podem ser classificadas em inovaação de produto, processo,
marketing e operacional. As inovações de produto referem-se à
introdução de bens e serviços novos ou de melhorias em relação às
ofertas existentes. A importância da inovação de produto no setor de
rochas ornamentais da região Noroeste do Estado do Rio de Janeiro é
o tema central deste artigo, que objetiva analisar e descrever o
processo de desenvolvimento da inovação para a modernização e
diversificação do portfólio de produtos das empresas do setor. Este
trabalho tem um caráter exploratório e descritivo, realizado por meio
de visitas técnicas e uma extensa pesquisa bibliográfica. Inicialmente,
busca-se apresentar o atual quadro tecnológico em que se encontra o
setor. Em seguida, busca-se conceituar e descrever conceitos
importantes como ‘inovação de produtos’ e ‘processo de
desenvolvimento de produtos’. Por fim, busca-se analisar e descrever o
processo de desenvolvimento da inovação para a modernização e
diversificação do portfólio de produtos das empresas do setor,
procurando-se identificar os impactos positivos desse processo para as
empresas do setor. São apresentadas alternativas de inovação de
baixa, média e alta complexidade para os produtos no setor. No
entanto, a adoção das inovações de produtos de média e alta
complexidade, que geram maior lucratividade, só se apresentam
viáveis para as empresas que adotem as inovações de processo
disponíveis, que exigem investimentos em equipamentos mais
modernos.
Palavras-chave: Design, inovação de produtos, competitividade,
rochas ornamentais
XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil
João Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016.
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1. Introdução
Ao longo dos últimos anos, o setor industrial tem sofrido modificações profundas, ao passar
por uma completa reestruturação produtiva resultante das inovações técnicas, organizacionais
e mercadológicas adotadas pelas empresas. As mudanças estabelecidas nas organizações
cunharam um novo padrão produtivo, no qual inovação e design passam a ter papel
fundamental na competitividade das indústrias (NAVEIRO; GOUVINHAS, 2010). Essas
inovações, segundo Cunha, oliveira, Rozenfeld (2013), podem ser classificadas em inovação
de produto, processo, marketing e operacional.
As inovações de produto, objeto de investigação deste trabalho, referem-se à introdução de
bens e serviços novos ou de melhorias em relação às ofertas existentes. O processo de
inovação de produtos pode ser descrito como a combinação de passos, atividades, decisões e
objetivos que, se bem executados, entregarão novos produtos e/ou serviços aos clientes.
Divide-se em quatro subprocessos: planejamento da inovação, desenvolvimento de
tecnologias, desenvolvimento de produtos e lançamento no mercado. O planejamento da
inovação corresponde ao início do processo de inovação. Ele começa com a identificação de
uma oportunidade de mercado e termina com a aprovação de um novo projeto para
desenvolvimento. (CUNHA, OLIVEIRA, ROZENFELD, 2013)
A importância da inovação de produto no setor de rochas ornamentais da região Noroeste do
Estado do Rio de Janeiro e de como o planejamento desse processo podem se tornar
diferenciais competitivos para as empresas do setor são os temas centrais deste artigo, que
objetiva analisar e descrever o processo de desenvolvimento da inovação para a modernização
e diversificação do portfólio de produtos das empresas do setor.
Esse processo de inovação se justifica pela necessidade de se mudar o atual quadro de
estagnação e crise vivenciado pelas empresas do setor. A resistência a mudanças ao longo de
mais de quatro décadas e a falta de capacitação técnica e profissional de empresários e
trabalhadores são alguns dos fatores que têm inibido as práticas de inovação no setor. Os
principais produtos comercializados pelas empresas no setor ainda são a tradicional lajinha
11,5 cm x 23,0 cm e algumas de suas derivações. E o processo de produção da maioria das
empresas ainda é muito artesanal, de alto impacto ambiental, intensivo em mão de obra e com
poucos equipamentos tecnologicamente avançados.
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Este trabalho tem um caráter exploratório e descritivo. Inicialmente, busca-se apresentar o
atual quadro tecnológico em que se encontra o setor de rochas ornamentais no Noroeste
Fluminense. Para tanto, realiza-se uma pesquisa de campo com visitas técnicas a cinco
empresas da região, sugeridas pelo SINDGNAISSES (Sindicato de Extração e Aparelhamento
de Gnaisses no Noroeste do Estado do Rio de Janeiro) como as mais representativas da
região. O instrumento de coleta de dados foi um questionário aberto aplicado in loco a
empresários e trabalhadores do setor. Além disso, desenvolve-se uma extensa pesquisa
bibliográfica sobre o tema “rochas ornamentais” na região objeto de investigação. Em
seguida, busca-se conceituar e descrever conceitos importantes como „inovação de produtos‟,
„planejamento da inovação‟ e „processo de desenvolvimento de produtos‟. Nesse sentido,
desenvolveu-se uma vasta pesquisa bibliográfica em publicações especializadas sobre o tema,
como livros, artigos científicos de congressos e de periódicos nacionais e internacionais
indexados em bases de dados eletrônicas, bem como teses e dissertações dos principais
programas de pós-graduação do Brasil. Por fim, busca-se analisar e descrever o processo de
desenvolvimento da inovação para a modernização e diversificação do portfólio de produtos
das empresas do setor, procurando-se identificar os impactos positivos desse processo para as
empresas do setor.
2. As rochas ornamentais no Brasil e na Região Noroeste Fluminense
O termo “rocha ornamental” é utilizado para caracterizar materiais rochosos utilizados para
fins de ornamentação e revestimento. No setor extrativo mineral, as rochas ornamentais têm
se destacado como um dos negócios mais promissores da área. O Brasil está entre os cinco
maiores produtores mundiais de Rochas Ornamentais, movimentando nos mercados interno e
externo, transações comerciais de US$ 4,1 bilhões/ano. Cerca de 11.300 empresas integradas
à cadeia produtiva no setor geram, aproximadamente, 140 mil empregos diretos e 420 mil
empregos indiretos. (ABIROCHAS, 2012).
A Região Noroeste do Estado do Rio de Janeiro é uma das áreas produtoras no país.
Caracterizado como o principal polo mineral do Estado, atuam nesse setor na região mais de
300 pedreiras e 76 serrarias, que empregam cerca de 3.000 pessoas (DRM/RJ, 2012). As
rochas da região diferem dos mármores e granitos da região de Cachoeiro do Itapemirim, no
Estado do Espírito Santo, e são classificadas como gnaisse, tendo sua aplicação principal em
muros, fachadas, pisos e paisagismo, mas com valores de comercialização significativamente
menores que os mármores e granitos capixabas.
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As empresas do setor na região têm como características principais micro porte, baixo nível
tecnológico e baixo nível de qualificação técnica e gerencial. Apesar da importância
econômica, o setor apresenta dificuldades, tanto no que diz respeito à capacitação tecnológica
dos empresários e trabalhadores quanto com relação ao meio ambiente e à sustentabilidade.
Embora a exploração e produção de rochas ornamentais tenham crescido bastante nos últimos
anos, as técnicas de extração e produção rudimentares e artesanais têm comprometido a
produtividade e a competitividade das empresas, além de aumentarem os impactos ambientais
das atividades na região (SILVA NETO; SILVESTRE, 2013). Mas um dos principais
problemas do setor e que prejudica a comercialização dos produtos é a falta de inovação e a
pouca variedade do portfólio de produtos.
3. Inovação tecnológica
A inovação tecnológica é essencial para o aumento da produtividade e da competitividade das
empresas. A atividade de concepção e desenvolvimento de novos produtos está estreitamente
vinculada aos processos de inovação tecnológica praticados nas empresas, que têm plena
consciência de que seu sucesso é fortemente dependente da maneira como projetam seus
produtos e de sua habilidade de “organizar, processar e aprender através das informações
relacionadas ao ciclo de desenvolvimento de seus produtos”. (NAVEIRO; GOUVINHAS,
2010, p. 45).
Existem diversas definições distintas para o conceito de inovação. Para o Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), a inovação é a introdução no mercado, com
êxito, de produtos, serviços, processos, métodos e sistemas que não existiam anteriormente,
ou contendo alguma característica nova e diferenciada da que estava em vigor até o momento.
Quanto à sua classificação, ainda segundo o BNDES (2015), ela é dividida em quarto tipos:
Inovação de processo - significa introduzir na organização empresarial um processo
produtivo novo ou significantemente aprimorado, ou seja, instalar novas tecnologias
de produção ou tecnologias significantemente aperfeiçoadas, assim como também
métodos de oferta de serviços e equipamentos de suporte à produção.
Inovação de produto - é a introdução no mercado de um produto novo, sendo este um
produto em que suas características fundamentais, como especificidades técnicas e
componentes, se diferenciam de todos os produtos previamente produzidos. Também
pode ser a introdução de um produto significantemente aprimorado, onde um produto
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previamente existente tem seu desempenho substancialmente aperfeiçoado, como, por
exemplo, através da utilização de matérias-primas de maior rendimento.
Inovação organizacional - consiste na implementação de nova gestão ou de
significativas mudanças na organização funcional do trabalho e nas relações externas.
Esse tipo de inovação deve resultar de decisões estratégicas tomadas pela direção da
empresa e buscar constituir uma novidade organizacional para esta.
Inovação de marketing - é a utilização de novas estratégias ou conceitos, diferentes
dos já utilizados no mercado. Pode consistir em mudanças na forma de
comercialização, nos canais de venda e em suas divulgações. Não ocorrem mudanças
nas características funcionais ou de uso do produto. Esse tipo de inovação pode ser
utilizada para melhor atender as necessidades dos clientes, conquistar novos mercados
ou relançar no mercado um produto.
3.1. Inovações tecnológicas no setor de rochas ornamentais da Região Noroeste
Fluminense
A partir dos anos 1980 e, mais incisivamente, a partir de 1990, diversas iniciativas para o
desenvolvimento tecnológico do setor de rochas ornamentais da região Noroeste Fluminense
foram desenvolvidas. No entanto, embora com impactos significativos no setor, sempre
estiveram mais ligadas diretamente à inovação de processo, conforme definido anteriormente,
focando os esforços, preferencialmente, no desenvolvimento de tecnologias que viessem
aumentar a produtividade e reduzir os impactos ambientais das atividades, conforme se pode
observar na Figura 1, a seguir.
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Figura 1 – Inovações tecnológicas na indústria de rochas ornamentais da Região Noroeste
Fluminense
Fonte: SILVA NETO; SILVESTRE (2013)
Apesar do esforço das diversas instituições em desenvolver essas tecnologias para o setor de
rochas ornamentais, estas não se encontram amplamente difundidas na região Noroeste
Fluminense. Os principais obstáculos são a falta de informação, falta de profissionais
qualificados e resistência à mudança por parte das empresas (SILVA NETO e SILVESTRE,
2013; SILVESTRE e SILVA NETO, 2013; SILVESTRE e SILVA NETO, 2014).
Observou-se, nas visitas técnicas e nas entrevistas realizadas, que as inovações de processo
não têm sido suficientes para aumentar a competitividade do setor, tornando-se necessário
investir mais nas outras modalidades de inovação: de produto, organizacionais e de
marketing.
Embora já existam, atualmente, iniciativas em desenvolvimento de cunho organizacionais e
de marketing, este trabalho focará as iniciativas de inovação de produto, por estas já se
encontrarem em estágio mais avançado no setor na região objeto de estudo.
4. Inovação de produto
As empresas da região oferecem pouca variedade de produtos. Seu produto principal é a
tradicional lajinha de 11,5 cm x 23,0 cm muito comumente utilizada no revestimento de
muros externos e calçadas, conforme se pode observar na Figura 2, a seguir. Muito poucas
empresas têm condições de oferecer produtos diferenciados e customizados em função da
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falta de equipamentos especializados, problema que foi agravado pelas dificuldades de
difusão tecnológica no setor.
Figura 2: Lajinha tradicional utilizada em muros e calçadas externas
Fonte: arquivo pessoal dos autores
Para reverter esse quadro de falta de inovação nos produtos, faz-se necessário desenvolver
esforços articulados com instituições de apoio para o desenvolvimento de produtos
alternativos às tradicionais lajinhas, uma vez que as empresas, por si só, não têm condições
para tal iniciativa. Para tanto, faz-se necessário recorrer aos modelos de Planejamento de
Desenvolvimento de Produto (PDP).
São diversas as abordagens, terminologias, conceituações e modelos para o PDP. Embora
cada proposta traga algumas diferenças, em essência, são muito semelhantes. Rozenfeld et al.
(2006, p.3) apresenta uma boa definição e um bom modelo para o âmbito deste trabalho:
“[...] um conjunto de atividades por meio das quais se busca, a partir das
necessidades do mercado e das possibilidades e restrições tecnológicas, e
considerando as estratégias competitivas e de produto da empresa; chegar às
especificações de projeto de um produto e seu processo de produção; para que a
manufatura seja capaz de produzi-lo [...]”
O modelo desenvolvido por Rozenfeld et al. (2006), o qual é denominado Modelo Unificado
de PDP, estrutura-se de forma sistemática, divide-se em macrofases (Pré-desenvolvimento,
Desenvolvimento e Pós-desenvolvimento), fases, etapas e atividades. Esta divisão permite
uma melhor compreensão e facilita o uso no desenvolvimento de produtos nas empresas,
conforme apresentado na Figura 3.
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Figura 3 - Modelo de desenvolvimento de produto
Fonte: Rozenfeld et al. (2006)
Seguindo essas fases, este trabalho propõe desenvolver propostas de inovação em três classes
de complexidade:
baixa complexidade, para propostas que não exijam grandes mudanças, apenas um
melhor aproveitamento da matéria-prima e dos resíduos gerados;
média complexidade, para propostas de novos produtos, com layouts diferenciados e
melhor aproveitamento da matéria-prima; e
alta complexidade, para lançamento de produtos mais sofisticados e com melhor
acabamento.
Essa classificação da complexidade das propostas de inovação dos produtos se justifica
devido à variedade de graus de especialização que será exigido das empresas do setor, no que
se refere à qualificação de mão-de-obra e disponibilidade de equipamentos especializados,
para a produção dos novos produtos. A partir das visitas técnicas e entrevistas com
empresários e trabalhadores, observou-se que a maioria das empresas só terá condições de
adotar as inovações de produtos de baixa complexidade.
4.1. Baixa complexidade: reutilização de cacos e novos cortes da rocha como elementos
decorativos
Nos processos de extração e beneficiamento, alguns fragmentos de rocha que sobram após o
esquadrejamento (corte) do bloco possuem o formato de tiras ou filetes (formato alongado).
Os filetes de rocha são bastante utilizados na arquitetura, já sendo comercializados em
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formatos regulares. Esses filetes residuais pós-corte possuem um de seus lados irregular.
Regularizá-lo seria inviável por conta de seu tamanho. Dessa forma, a alternativa seria tirar
proveito dessa irregularidade, utilizando-a a favor da decoração.
Esses filetes podem ser utilizados, por exemplo, em painéis decorativos ou no revestimento de
pilares. A irregularidade e a forma dos filetes resultam em texturas e sombras interessantes.
Da mesma forma, os cacos residuais do processo de extração e beneficiamento das rochas
ornamentais também podem ser usados como elementos decorativos, revestindo, por exemplo,
paredes em fachadas ou muros.
Figura 4 – Filetes aplicados em muros Figura 5 – Bloquinhos telados
Fonte: arquivo pessoal dos autores Fonte: arquivo pessoal dos autores
O volume diferenciado das rochas ornamentais confere movimento ao elemento decorativo e
criam um efeito de luz e sombra. Aplicar as rochas ornamentais de maneira padronizada pode
se tornar um elemento decorativo de destaque na edificação. Essa utilização é interessante
para o cliente, que obtém um produto diferenciado e também para os empresários, que podem
agregar mais valor ao produto por conta dessa diferenciação e aumentar a lucratividade
comercializando as rochas e também os resíduos provenientes de sua exploração e
beneficiamento.
Embora todas as 76 empresas do setor tenham condições de adotar esse tipo de inovação de
baixa complexidade, o grande desafio inicial será desvencilhar-se dos vícios do processo de
corte, adotando-se novos procedimentos que privilegiem o cuidado com o armazenamento e o
tratamento dos resíduos. O retorno financeiro na venda destes antigos rejeitos industriais
poderá justificar essas mudanças de procedimentos.
4.2. Média complexidade: modulação e paginação para novas linhas de produtos
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Os revestimentos de piso são elementos de destaque e de grande importância na percepção e
composição dos espaços internos das edificações. „Paginação de piso‟ é um projeto que define
a aplicação do revestimento, visando à otimização do uso do material e a estética. A
paginação pode ainda prever desenhos específicos, com a mistura de peças em diferentes
cores, texturas e tamanhos. Além de pisos, a paginação pode ser utilizada para dar destaque
aos revestimentos de paredes, como, por exemplo, o muro de uma edificação.
Nessa linha de ação, o SEBRAE/RJ, com a ajuda de consultores especializados e com o apoio
do SINDGNAISSES, vem desenvolvendo uma importante ação. A empresa Hok Inovação,
com a designer Claudia Kayat, trabalhou como parceira do SEBRAE para o desenvolvimento
de projetos de novos produtos para as empresas do setor de rochas ornamentais do Noroeste
Fluminense, propondo novos cortes da rocha e paginações. A seguir ilustramos alguns desses
modelos propostos:
Design Linha Xadrez
Figura 6 - Exemplo de proposta de Design
para a Linha Xadrez Amarelo com Branco
Figura 7 – Exemplo de proposta de Design
para a Linha Xadrez Cinza com Branco
Fonte: KAYAT, 2015 Fonte: KAYAT, 2015
Esta linha de design utiliza a rocha em cortes retangulares, com larguras diferenciadas. As
variadas cores apresentadas pelo gnaisse criam um efeito decorativo diferenciado.
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Design Diamante
Figura 8 - Exemplo de proposta de Design
para a Diamante em formato de Diamante
Figura 9 – Exemplo de proposta de Design
para a Diamante em formato de Hexágono
Fonte: KAYAT, 2015 Fonte: KAYAT, 2015
A linha de design Diamante utiliza como base diferentes formatos de paginação das peças
„diamante‟, que podem ser encaixados de diferentes formas, garantindo a personalização do
revestimento.
Essas e outras novas linhas de produtos poderão valorizar a aplicação das rochas ornamentais
através dos projetos de paginação, aumentando significativamente o valor de venda do
produto. Ao se agregar valor à mercadoria, através da diferenciação, as empresas tornam-se
mais competitivas, aumentam suas margens de lucro e conquistam novos clientes. Entretanto,
nem todas as empresas do setor conseguirão produzir os produtos com grau de média
complexidade, pois eles exigem um trabalhador mais qualificado e alguns modelos precisam
de equipamentos mais especializados. De acordo com as visitas técnicas e as entrevistas
realizadas com empresários, trabalhadores e com o SINDGNAISSES, apenas cinco das 76
empresas do setor teriam condições e pré-disponibilidade de adotar esse tipo de inovação de
produtos.
4.3. Alta complexidade: bancadas, pias e outros itens de fino acabamento
Conforme visto, o design desempenha um papel central na revalorização dos materiais
originais. Com a matéria-prima existente, e até com seus resíduos de extração e
beneficiamento, pode-se desenvolver projetos de pias, bancadas, tampões de mesa, jardineiras
e bancos de praça. Ou seja, a idéia é que se invista em novos produtos, com design
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diferenciado, de forma a agradar o consumidor que valoriza a personalização e a boa
qualidade.
Como benchmarking para esta linha de produção, este trabalho sugere como referência as
empresas italianas que trabalham com serizzo, um tipo de rocha muito parecida com o gnaisse
da região Noroeste Fluminense. Como modelo de referência, pode-se citar a empresa de
rochas Moro, conhecida em uma visita técnica realizada por um dos autores deste trabalho,
localizada em Val d‟Ossola, na região de Piemonte, Itália. Esta empresa trabalha com a
ambientação de interiores utilizando rochas ornamentais, e escolheu como marca registrada o
termo “Il Cuore della Pietra”, que pode ser traduzido como “O Coração da Rocha”. Nas
Figuras 10 e 11 podem ser observados produtos desenvolvidos pela empresa italiana Moro e
que poderiam ser produzidos e comercializados pelas empresas da região.
Figura 10 - Pia de banheiro e banheira Figura 11 - Banco de praça
Fonte: Catálogo Moro, 2015 Fonte: Catálogo Moro, 2015
A empresa Moro carrega um conceito de comercialização onde as peças só são produzidas em
edição limitada e comercializadas com certificado.
As rochas ornamentais classificadas como gnaisses, existentes no Noroeste Fluminense e
estudadas nesse trabalho, podem ser utilizadas em ambientes externos, como nos bancos de
praça, e em ambientes internos, mesmo em locais que exijam boa qualidade para que não
ocorram danos com a utilização diária, como banheiros e cozinhas. No entanto, segundo as
entrevistas realizadas, apenas uma empresa teria condições de adotar as inovações de produto
de alta complexidade, tanto em função da falta de trabalhadores qualificados como da falta de
equipamentos especializados de corte e acabamento das rochas.
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5. CONCLUSÕES
Acredita-se que, se as inovações de processo disponíveis para o setor tivessem sido
amplamente difundidas para as empresas do setor de rochas ornamentais da Região Noroeste
Fluminense, teria sido possível redesenhar os processos produtivos atuais, permitindo-se
atingir avanços significativos na competitividade do setor, com impactos positivos na
produtividade, na qualidade dos produtos e na minimização das consequências ambientais das
atividades produtivas. No entanto, grandes dificuldades foram encontradas no processo de
difusão tecnológica, com destaque para a falta de pessoal qualificado, a resistência dos
empresários a mudanças nas empresas, a dificuldade de articulação das empresas com
instituições de pesquisa e o custo da tecnologia.
Sem a difusão das inovações de processo, as inovações de produtos, especialmente as de
média e alta complexidade, também passam a ter pouca capacidade de aumentar o nível de
competitividade do setor, uma vez que ficam limitadas a poucas empresas. Assim, apenas a
inovação de produtos não é suficiente para se obter um desenvolvimento satisfatório do setor,
sendo necessária sua implementação conjunta e simultaneamente à inovação de processos e
sua difusão.
As soluções de processo disponíveis e as de produtos apresentadas neste trabalho poderão
resultar em vantagens econômicas significativas para as empresas. Os investimentos feitos na
produção, acrescidos do aproveitamento dos resíduos e a criação de novas linhas de produtos
modulados ou mais sofisticados, agregarão valor ao produto final. Com produtos
diferenciados, as empresas terão mais chances de se tornarem mais competitivas e
aumentarem suas margens de lucro.
No entanto, ainda que de enorme avanço para o setor, as inovações de processos e de produtos
não serão suficientes para a completa elevação do patamar de competitividade das empresas
do setor. Também serão necessárias inovações de marketing e organizacionais. Será
necessário atingir canais de comercialização como as grandes redes de distribuição de
materiais de construção para que o produto ganhe capilaridade nos grandes centros e, assim,
tenha sua demanda ampliada. Com a demanda ampliada, o pequeno porte das empresas não
será suficiente para atender a demanda crescente, então será necessário estimular a articulação
dessas pequenas empresas em consórcios produtivos, com maior capacidade de produção e
economias de escala. Esses são desafios próximos do setor e sugestão de estudos futuros deste
trabalho.
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