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Anais do XX Encontro de Iniciação CientíficaISSN 1982-0178 Anais do V Encontro de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação ISSN 2237-0420 22e 23 de setembro de 2015 DETERMINAÇÃO DAS PROPRIEDADES FÍSICAS E MECÂNICAS DE CONCRETO C40 E C50 EXECUTADO COM AGREGADOS RECICLADOS CINZA Caio Henrique Tinós Provasi Faculdade de Engenharia Civil CEATEC [email protected] Lia Lorena Pimentel Grupo Tecnologia do Ambiente Construído CEATEC [email protected] Resumo: O setor de construção civil mostrou-se o grande responsável pela degradação ambiental de- vido à quantidade de resíduos gerados e depostos em locais inapropriados e em aterros. Desse modo, a reciclagem apresenta-se como solução para reduzir esse problema, assim como para a preservação de recursos naturais. A incorporação do agregado reci- clado no concreto afeta diretamente sua qualidade, pois as características do agregado reciclado são muito variáveis. Atualmente, há especificações técni- cas as quais permitem o uso do agregado reciclado na produção de concreto não estrutural. Este traba- lho tem por objetivo estudar a viabilidade do uso de resíduos de construção e demolição na produção de concreto estrutural, sendo necessário o desenvolvi- mento de proporções de mistura para atingir classes de resistência C40 e C50, assim como a avaliação de permeabilidade deste concreto, para uma efetiva análise de sua durabilidade. O trabalho se inicia com o desenvolvimento de revisão bibliográfica na se- qüência foi feita a caracterização dos agregados e o estudo de dosagem para as duas classes de resis- tência propostas. Para cada classe de resistência foi executada uma mistura referência e outra com 30% de substituição da brita pelo agregado reciclado, sendo essa substituição definida pelo resultado de maior massa unitária compactada da mistura de agregado natural e agregado reciclado. Para o con- creto foi determinada a resistência à compressão axial e à tração por compressão diametral, o módulo de elasticidade, e as características físicas relacio- nadas à durabilidade, como absorção de água por imersão e por capilaridade. Os resultados mostram- se favoráveis e apontam a viabilidade do uso do agregado reciclado na produção do concreto para fins estruturais. Palavras-chave: Resíduos de construção; Concreto; Durabilidade. Área do Conhecimento: Engenharias I Materiais e componentes de Construção CNPq. 1. INTRODUÇÃO Diante do grande investimento em edificações e infraestrutura, a construção civil desponta como grande causadora de impacto ambiental, visto que no Brasil, cerca de 60% em massa dos resíduos gerados são provenientes das atividades de constru- ção e demolição, com 500 kg/hab.ano[1]. Na cidade de Campinas a geração de RCD é de 3000 tonela- das por dia. Tamanha quantidade é usualmente des- tinada a aterros ou locais inapropriados, sendo con- tribuição direta para a degradação da qualidade am- biental, ocupação de áreas urbanas valorizadas e para problemas de saneamento público. A maior parte desses resíduos são restos de argamassa, tijolo, alvenaria, concreto, cerâmica, gesso, madeira, metais, entre outros, classificados como inertes [2]. A falta de qualidade de bens e serviço causa perdas materiais e aumentam a geração de resíduos, sendo, então, a primeira solução para essa problemática, o desenvolvimento de uma boa gestão da obra [3]. Considerando a resolução CONAMA nº 307 em 2002 [4], é de responsabilidade dos geradores o destino final dos resíduos de construção civil. Para que a gestão e o gerenciamento dos resíduos sejam efica- zes, toma-se fundamental a não geração dos mes- mos, depois a reutilização, a reciclagem, e pôr fim à disposição adequada dos rejeitos, os quais não têm mais utilidade, sendo instrumento para essa gestão o Plano Municipal de Gestão de Resíduos da Constru- ção Civil. Pela impossibilidade de zerar a geração de resíduos e de modo a evitar a ocupação excessiva dos aterros, a reciclagem no próprio setor torna-se uma solução viável. Para a utilização dos resíduos é necessário que seja feito sua britagem ou a moa- gem, sendo a primeira usada geralmente para obter grãos maiores, como agregados graúdos, e a segun- da para grãos mais finos, agregado miúdo. A aplica- ção desses resíduos com agregado reciclado está associada aos concretos sem função estrutural e de pavimentação, como especificada pela norma NBR 15116:2004 [5].

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22e 23 de setembro de 2015

DETERMINAÇÃO DAS PROPRIEDADES FÍSICAS E MECÂNICAS DE CONCRETO C40 E C50 EXECUTADO COM AGREGADOS

RECICLADOS CINZA

Caio Henrique Tinós Provasi Faculdade de Engenharia Civil

CEATEC [email protected]

Lia Lorena Pimentel Grupo Tecnologia do Ambiente Construído

CEATEC [email protected]

Resumo: O setor de construção civil mostrou-se o grande responsável pela degradação ambiental de-vido à quantidade de resíduos gerados e depostos em locais inapropriados e em aterros. Desse modo, a reciclagem apresenta-se como solução para reduzir esse problema, assim como para a preservação de recursos naturais. A incorporação do agregado reci-clado no concreto afeta diretamente sua qualidade, pois as características do agregado reciclado são muito variáveis. Atualmente, há especificações técni-cas as quais permitem o uso do agregado reciclado na produção de concreto não estrutural. Este traba-lho tem por objetivo estudar a viabilidade do uso de resíduos de construção e demolição na produção de concreto estrutural, sendo necessário o desenvolvi-mento de proporções de mistura para atingir classes de resistência C40 e C50, assim como a avaliação de permeabilidade deste concreto, para uma efetiva análise de sua durabilidade. O trabalho se inicia com o desenvolvimento de revisão bibliográfica na se-qüência foi feita a caracterização dos agregados e o estudo de dosagem para as duas classes de resis-tência propostas. Para cada classe de resistência foi executada uma mistura referência e outra com 30% de substituição da brita pelo agregado reciclado, sendo essa substituição definida pelo resultado de maior massa unitária compactada da mistura de agregado natural e agregado reciclado. Para o con-creto foi determinada a resistência à compressão axial e à tração por compressão diametral, o módulo de elasticidade, e as características físicas relacio-nadas à durabilidade, como absorção de água por imersão e por capilaridade. Os resultados mostram-se favoráveis e apontam a viabilidade do uso do agregado reciclado na produção do concreto para fins estruturais.

Palavras-chave: Resíduos de construção; Concreto; Durabilidade.

Área do Conhecimento: Engenharias I – Materiais e componentes de Construção – CNPq.

1. INTRODUÇÃO Diante do grande investimento em edificações e infraestrutura, a construção civil desponta como grande causadora de impacto ambiental, visto que no Brasil, cerca de 60% em massa dos resíduos gerados são provenientes das atividades de constru-ção e demolição, com 500 kg/hab.ano[1]. Na cidade de Campinas a geração de RCD é de 3000 tonela-das por dia. Tamanha quantidade é usualmente des-tinada a aterros ou locais inapropriados, sendo con-tribuição direta para a degradação da qualidade am-biental, ocupação de áreas urbanas valorizadas e para problemas de saneamento público. A maior parte desses resíduos são restos de argamassa, tijolo, alvenaria, concreto, cerâmica, gesso, madeira, metais, entre outros, classificados como inertes [2]. A falta de qualidade de bens e serviço causa perdas materiais e aumentam a geração de resíduos, sendo, então, a primeira solução para essa problemática, o desenvolvimento de uma boa gestão da obra [3]. Considerando a resolução CONAMA nº 307 em 2002 [4], é de responsabilidade dos geradores o destino final dos resíduos de construção civil. Para que a gestão e o gerenciamento dos resíduos sejam efica-zes, toma-se fundamental a não geração dos mes-mos, depois a reutilização, a reciclagem, e pôr fim à disposição adequada dos rejeitos, os quais não têm mais utilidade, sendo instrumento para essa gestão o Plano Municipal de Gestão de Resíduos da Constru-ção Civil. Pela impossibilidade de zerar a geração de resíduos e de modo a evitar a ocupação excessiva dos aterros, a reciclagem no próprio setor torna-se uma solução viável. Para a utilização dos resíduos é necessário que seja feito sua britagem ou a moa-gem, sendo a primeira usada geralmente para obter grãos maiores, como agregados graúdos, e a segun-da para grãos mais finos, agregado miúdo. A aplica-ção desses resíduos com agregado reciclado está associada aos concretos sem função estrutural e de pavimentação, como especificada pela norma NBR 15116:2004 [5].

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22e 23 de setembro de 2015

São possibilidades para a reciclagem de RCD, a produção de agregados para aplicação em: camadas de base e sub-base para pavimentação, coberturas primárias de vias, fabricação de argamassas de as-sentamento e revestimento, fabricação de concretos e de pré-moldados não estruturais, camadas drenan-tes e etc. A análise da composição granulométrica é de impor-tância para verificar a influência da mudança granu-lométrica na resistência do concreto, assim como na trabalhabilidade e no grau de compacidade. A granu-lometria dos agregados reciclados varia com o tipo de resíduo, os equipamentos do beneficiamento e sua granulometria original, gerando uma curva gra-nulométrica particular [3]. Os RCDs são compostos de materiais porosos acar-retando na diminuição da massa específica e da massa unitária do agregado reciclado quando com-parados aos naturais, assim como o aumento da capacidade de absorção de água. A determinação de massa específica, massa unitária e absorção de água são necessárias para o estudo de dosagem do concreto, e especialmente a absorção de água para a análise da durabilidade. Devido a essa absorção elevada, há necessidade da pré-molhagem do mate-rial para que este não absorva a água de hidratação do cimento e trabalhabilidade do concreto [3]. A alta porosidade e quantidade de fissuras do agre-gado promovem diminuição da resistência, assim como a presença de impurezas prejudiciais ao de-sempenho do concreto [6]. Os concretos produzidos com esse tipo de agregado apresentam suas propriedades variáveis, devido às propriedades dos agregados serem variáveis tam-bém. A resistência à compressão, durabilidade, tra-balhabilidade, permeabilidade e higroscopia são as propriedades ligadas ao agregado [7]. A quantidade, tipo, tamanho e distribuição dos poros dos agrega-dos e da pasta de cimento são determinantes para as propriedades do concreto. Porém, a heterogenei-dade dos agregados provenientes de RCD faz com que os valores de resistência sejam muito diferentes, dificultando a relação clara entre a resistência mecâ-nica do concreto com a porosidade do agregado [8]. Patologias correlacionadas a fenômenos de carbona-tação, corrosão, penetração de cloretos, e outros, declaram o fim da vida útil, assim como esta também será influenciada pela qualidade do concreto e sua execução [9]. Para que haja uma longa vida útil da estrutura, de modo que a armadura esteja protegida, o concreto deve ser durável, e este está envolvido com a permeabilidade, o movimento de fluidos a-gressivos ao interior do concreto e com mudanças

físico-químicas [10]. São critérios para determinar a durabilidade do concreto: a absorção capilar, perme-abilidade e difusão. A composição, dosagem e execução do concreto deve receber atenção de modo que os critérios de-terminantes para a durabilidade sejam otimizados. A porosidade do agregado graúdo afeta a absorção de água, assim como a relação água/cimento [11]. A característica porosa dos agregados reciclados faz com que esta proporcione menor durabilidade ao concreto, sendo um ponto fraco para a produção de concreto estrutural.

2. MATERIAIS E MÉTODOS O trabalho teve como base diversas publicações existentes sobre o uso de agregado reciclado em concreto estrutural. Para a produção dos concretos a serem analisados, foram utilizados os seguintes ma-teriais:

Cimento Portland CP V ARI de resistência 38MPa aos 28 dias;

Areia quartzosa natural de leito fluvial;

Brita 1, sendo este o agregado graúdo basáltico natural;

Agregado reciclado proveniente do beneficiamen-to de Resíduos de Construção e Demolição clas-se A de uma Unidade Recicladora de Várzea Paulista – SP;

Aditivo Glenium 3400 (teor de sólidos = 45%). Para cada classe de resistência C40 e C50, foram executados dois traços: sem agregado reciclado (C40N e C50N)e com 30% de substituição do agre-gado graúdo natural pelo reciclado (C40R e C50R). Este valor de substituição foi definido em função da massa unitária compactada obtida pela NBR NM 45 [12] para diversas proporções de mistura, 30% foi a que apresentou maior massa unitária compactada. Primeiramente foi feito um estudo de dosagem se-gundo o método IPT/EPUSP, definindo as propor-ções de mistura para obtenção de resistências de 40MPa e 50MPa. Para os traços com agregado reci-clado, a substituição considerou a massa especifica menor deste agregado. Previamente ao estudo de dosagem houve a carac-terização dos agregados através de uma curva gra-nulométrica pela NBR NM 248 [13], determinação de massa específica e absorção pela NBR NM 53 [14], e especialmente o agregado reciclado teve o teor de finos. Posteriormente os corpos de prova foram moldados segundo a NBR 5738 [15], e suas características mecânicas e físicas foram mensuradas pelos seguin-tes ensaios:

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Determinação da consistência do concreto no estado fresco utilizando abatimento de tronco de cone, segundo NBR NM 67:1998 [16].

Determinação da resistência à compressão axial, segundo NBR 5739:2007 [17].

Determinação da resistência à tração por com-pressão diametral, NBR 7222:2010 [18].

Determinação do módulo de elasticidade, segun-do NBR 8522:2008 [19].

Absorção de água por imersão, segundo NBR 9778:2005 [20].

Absorção de água por capilaridade, segundo NBR 9779:2012 [21].

As idades de ensaio foram 7, 28 dias e após 7 se-manas de envelhecimento acelerado, que constituí-ram-se em ciclos de 7 dias, no qual os corpos de prova ficaram imersos em água por 3 dias, depois eram colocados na estufa à uma temperatura de 60°C por 2 dias e resfriavam por 2 dias para serem submersos novamente. O traço definido pelo estudo de dosagem está ex-presso na Tabela 2.

Tabela 2. Traço utilizado na produção dos concretos

Cimento Areia Brita RCD a/c aditivo

40N 1 1,76 2,24 - 0,42 0,50%

40R 1 1,76 1,56 0,57 0,50 0,50%

50N 1 1,12 1,74 - 0,33 0,75%

50R 1 1,12 1,22 0,44 0,35 0,75%

3. RESULTADOS 3.1. Caracterização dos agregados Com base no ensaio de determinação granulométri-ca, o agregado miúdo possui dimensão máxima ca-racterística de 2,36 mm e módulo de finura de 2,68 (zona ótima), sendo classificada como areia média. Do mesmo modo, pôde-se obter a composição gra-nulométrica para os agregados graúdos utilizados: natural e reciclado. As curvas granulométricas so-brepostas, expressas na Figura 1, são um compara-tivo entre os agregados, salientando a maior parcela de agregados de dimensões superiores na composi-ção da amostra dos agregados naturais.

Figura 1. Curva granulométrica dos agregados graudos

Pôde-se determinar a massa específica e a capaci-dade de absorção de água dos agregados, sendo expressos na Tabela 1, juntamente com as outras características dos agregados graúdos obtidos pelo ensaio de composição granulométrica.

Tabela 1. Resultados da caracterização dos agre-

gados graúdos

Dimensão máxima

(mm)

Módulo de

finura

Massa específica

(g/cm³)

Absorção de água

(%)

Agregado Natural

25 7,50 2,72 0,10

Agregado reciclado

25 8,71 2,30 5,84

Nota-se a elevada absorção de água do agregado reciclado, evidenciando sua estrutura porosa, o qual influencia nos resultados de absorção do concreto. Devido à absorção do RCD é necessário fazer uma molhagem anteriormente à realização da mistura para que o agregado reciclado possa estar um pouco saturado e não afete a hidratação do cimento. O teor de finos do agregado reciclado pode ser men-surado pelo ensaio, sendo igual a 2,56%. Tal carac-terística pode afetar no preenchimento dos vazios do concreto, influenciando na permeabilidade e na resis-tência.

3.2. Caracterização do concreto Nas tabelas 3 e 4, estão os resultados da caracteri-zação dos quatro traços produzidos. Os valores são de abatimento pelo tronco de cone, massa específica do concreto no estado fresco (γ), relação á-gua//cimento (a/c), resistência a compressão axial (Fck), resistência a tração por compressão diametral (FtD) e módulo de elasticidade (E).

Tabela 3. Características do concreto no estado fresco

abatimento (mm) γ (kg/m³) fresco a/c

40N 15 2378 0,42

40R 145 2384 0,50

50N 33 2396 0,33

50R 20 2391 0,35

Tabela 4. Características do concreto no estado

endurecido

Fck (MPa) FtD (MPa) E (GPa)

28 dias Env 28 dias Env 28 dias Env

40N 43,66 38,65 5,06 3,80 55,63 45,78

40R 46,27 25,75 3,83 3,23 40,28 34,27

50N 61,42 47,80 5,01 4,14 53,96 41,89

50R 49,07 38,30 5,09 4,88 54,11 43,39

0,00

20,00

40,00

60,00

80,00

100,00

120,00

0 10 20 30 40

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a (%

)

abertura peneira (mm)

Reciclado

Natural

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A variação do abatimento e seus valores baixos fo-ram devido à utilização variada de aditivo e relação a/c, sem visar uma determinada consistência. Os gráficos a seguir, nas figuras 2, 3 e 4 que mos-tram a resistência à compressão axial (Fck), resis-tência à tração por compressão diametral (FtD) e Módulo de elasticidade permitem fazer o comparativo entre os traços referência e os com substituição de agregado reciclado, para idades de 7 e 28 dias e após envelhecimento acelerado.

Figura 2. Resistencia à compressão axial em Mpa de cada

traço em cada idade

Em quase todas as situações os resultados mos-tram-se como se esperava: os valores do concreto com agregado reciclado são inferiores comparados com os do referência. Em 28 dias o traço 40R obteve valores superiores ao 40N. Vale notar que o 40R possui relação a/c maior que o 40N. Com isso mostra-se eficaz o uso do a-gregado reciclado, sendo possível a obtenção de boas resistências.Na classe 50, com relação a/c mais próxima, o 50R obteve resultado inferior. O concreto com agregado reciclado da classe 40 teve maior queda de resistência comparado ao con-vencional. Na classe 50 essa maior queda foi do concreto sem agregado reciclado.

Figura 3. Resistencia à tração por compressão diametral

em MPa

Os traços da classe de resistência C40 obtiveram resultados de resistência à tração como se esperava: resultados inferiores do concreto com agregado reci-clado e mais significativa a 28 dias. Para a classe C50, os resultados foram mais satisfa-tórios, a 28 dias e após envelhecimento, quando o 50R obteve resistência superior ao 50N.

Figura 4. Modulo de elasticidade em GPa

Na avaliação do módulo de elasticidade, o concreto com agregado reciclado mostrou-se satisfatório ape-nas na classe de resistência C50, a qual obteve re-sultados equivalentes ou superiores ao concreto convencional. Já para a classe C40, o traço 40R mostrou-se inferior ao convencional, porém ressalta-se a maior relação a/c desse traço. Desse modo pode-se esperar que o concreto com agregado reci-clado consiga atingir valores significativos. Como era esperado, o concreto com substituição de 30% de agregado reciclado atingiu valores inferiores nos ensaios mecânicos comparados com o concreto convencional. Em situações em que houve uma in-versão, pode ter ocorrido o aumento da resistência devido a cura interna resultante da água absorvida pelos agregados reciclados ou mesmo um processo de empacotamento devido ao elevado teor de finos que o agregado reciclado apresenta. Tendo em vista uma análise sobre durabilidade, os ensaios de absorção foram realizados e os valores de absorção por imersão estão expressos na tabela 5.

Tabela 5 – Absorção de água em % para concreto a 28

dias e após envelhecimento

28 dias envelhecido

40N 3,56 3,40

40R 3,24 3,09

50N 3,39 1,70

50R 4,14 2,42

0,00

10,00

20,00

30,00

40,00

50,00

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7 dias 28 dias Envelhecido

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28 dias Envelhecido

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40N

40R

50N

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A absorção superior do traço 50R evidencia a influ-ência do agregado reciclado na absorção do concre-to. Esperava-se que o traço 40R obtivesse a maior absorção dos quatro por possuir agregado reciclado e por ter maior relação a/c, podendo ser devido ao elevado teor de finos do agregado reciclado. Após o envelhecimento, os resultados de absorção foram inferiores e seguiram o mesmo padrão que os de 28 dias, sendo que a queda dos valores da classe C50 foi maior. Os valores do coeficiente de capilaridade para cada traço a 28 dias e após envelhecimento podem ser visualizados pelos gráficos da figura 5 e 6.

Figura 5. Coeficiente de capilaridade a 28 dias em g/cm²

Figura 6. Coeficiente de capilaridade após envelhecimento

dias em g/cm²

Após 72 horas de ensaio, os traços de maior resis-tência possuíram menor coeficiente de capilaridade, sendo este valor compatível com a influência da maior quantidade de finos na mistura proporcionando maior preenchimento dos vazios. Esperava-se uma maior absorção dos concretos com agregado reci-clado. Para a classe C40 constata-se essa afirma-ção, sendo o coeficiente de capilaridade do concreto 40R superior ao 40N. Além do mais, o traço 40R possui relação a/c superior. Para a classe C50, há

uma inversão, o traço 50N mostrou-se mais suscetí-vel à absorção por capilaridade, podendo ser uma influência do alto teor de finos no traço 50R, o qual obteve valor menor de coeficiente de capilaridade. Após os ciclos de envelhecimento acelerado, apenas o 50R manteve-se com o menor resultado e o 40R com o maior. Na classe C40 o concreto com agrega-do reciclado foi superior ao convencional, e na classe C50 o contrário.

6. CONCLUSÃO Considerando os resultados de ensaios mecânicos, os concretos produzidos com 30% de substituição por agregado reciclado evidenciou-se capaz de atin-gir resistências altas e próximas dos valores do con-creto referência, sendo este resultado esperado com base em publicações realizadas sobre o tema. Os concretos com agregado reciclado em geral possu-em valores de resistência inferiores ao convencional, porém valores satisfatórios, assim como a existência de amostras que se demonstram mais resistentes. Os ensaios de absorção mostraram a influência do agregado reciclado, o qual possui absorção elevada, colocando em questão a durabilidade. O concreto 40R obteve resultados de resistência a compressão axial a 28 dias elevado, e considerando sua alta relação a/c comparado ao referência, os resultados podem ser considerados satisfatórios. É importante considerar o teor de finos elevado dos agregados reciclados que pode gerar maior preen-chimento dos vazios, a qual afeta a resistência. Po-rém em resultados de capilaridade este traço não se demonstrou de qualidade. Os traços da classe C50 mostraram-se eficientes nos ensaios mecânicos, assim como na capilaridade. O ensaio de envelhecimento mostrou a continuidade das características do concreto com agregado reci-clado após os ciclos de envelhecimento. De modo geral, é eficiente o uso do agregado reci-clado no concreto, propondo uma solução ambiental para os resíduos de construção civil, assim como a diminuição do consumo de outros agregados graú-dos, como a brita. Pretendendo-se um concreto de qualidade, é imprescindível o controle do beneficia-mento dos resíduos, sua caracterização e um estudo para o melhor uso do agregado reciclado específico utilizado na produção, atentando-se para sua hetero-geneidade.

AGRADECIMENTOS Agradecemos à FAPESP pelo auxílio à pesquisa – Projeto 2014/20486-8 e à Pontifícia Universidade Católica de Campinas pela bolsa de Iniciação cienti-fica.

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REFERÊNCIAS [1] Pinto, T.P. (2005) Gestão Ambiental de Resí-

duos da Construção Civil: A experiência do Sin-dusCon-SP. São Paulo, SP.

[2] Costa, N. et al. (2007) Planejamento de progra-mas de reciclagem de resíduos de construção e demolição no Brasil: Uma análise multivariada. v. 12, n.4.

[3] Lovato, P.S. (2007)Verificação dos parâmetros de controle de agregados reciclados de resíduos de construção e demolição para utilização em concreto. 180p. Dissertação Universidade Fede-ral do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, RS.

[4] Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA). (2002) Resolução CONAMA nº 307 - Diretrizes, critérios e procedimentos para a ges-tão dos resíduos da construção civil.

[5] Associação Brasileira de Normas Técnicas. (2004)NBR 15116: Agregados reciclados de re-síduos sólidos da construção civil – Utilização em pavimentação e preparo de concreto sem função estrutural – Requisitos.

[6] Moreira, L.H.H. (2010)Avaliação da influencia da origem e do tratamento dos agregados recicla-dos de resíduos de construção e demolição no desempenho mecânico do concreto estrutural. 92p. Dissertação Escola Politécnica da Univer-sidade de São Paulo. São Paulo, SP.

[7] Bauer, F. (2000) Materiais de construção. Vol 1. 5ªedrevisada. LTC.

[8] Angulo, S.C. (2005)Caracterização de agregados de resíduos de construção e demolição recicla-dos e a influência de suas características no comportamento de concretos. 167p. Tese Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. São Paulo, SP.

[9] Rebmann, M.S. (2011)Durabilidade de concretos estruturais com baixo consumo de cimento Por-tland e alta resistência. 186p. Dissertação (Mes-trado em Engenharia Civil) - Escola de Engenha-ria de São Carlos, Universidade de São Paulo. São Carlos, SP.

[10] Rosa, M.A. (2001)Efeito da cura térmica e de cimentos com escoria granulada de alto-forno na durabilidade do concreto de cobrimento. 154p.

Dissertação Universidade Estadual de Campi-nas. Campinas, SP.

[11] Vieira, G.L. (2003) Estudo do processo de corro-são sob aação de íons cloreto em concretos ob-tidos a partir de agregados reciclados de resí-duos de construção e demolição. 150p. Disserta-ção. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, RS.

[12] Associação Brasileira De Normas Técnicas. (2006) NBR NM 45: Agregados - Determinação da massa unitária e do volume de vazios.

[13] Associação Brasileira De Normas Técnicas. (2003) NBR NM 248: Agregados - Determinação da composição granulométrica.

[14] Associação Brasileira De Normas Técnicas. (2009)NBR NM 53: Agregado graúdo - Determi-nação da massa específica, massa específica aparente e absorção de água.

[15] Associação Brasileira De Normas Técnicas. (2003) NBR 5738: Concreto - Procedimento para moldagem e cura de corpos de prova.

[16] Associação Brasileira De Normas Técnicas. (2003) NBR NM 67: Concreto –Determinação da consistência pelo abatimento de tronco de cone.

[17] Associação Brasileira De Normas Técnicas. (2007) NBR 5739: Concreto Ensaios de com-pressão de corpos-de-prova cilíndricos.

[18] Associação Brasileira De Normas Técnicas. (2011) NBR 7222: Concreto e argamassa – De-terminação da resistência à tração por compres-são diametral de corpos de prova cilíndricos.

[19] Associação Brasileira De Normas Técnicas. (2008) NBR 8522:Concreto - Determinação do módulo estático de elasticidade à compressão

[20] Associação Brasileira De Normas Técnicas. (2005) NBR 9778: Argamassa e concreto endu-recidos - Determinação da absorção de água, índice de vazios e massa específica

[21] Associação Brasileira De Normas Técnicas. (2005) NBR 9779: Argamassa e concreto endu-recidos — Determinação da absorção de água por capilaridade

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