DEZEMBRO 2012

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E D I T O R I A L Reprodução ÓRGÃO DA FUNDAÇÃO CHRISTIANO ROSA DISTRIBUIÇÃO GRATUITA PIQUETE, DEZEMBRO/2012 - ANO XV - N o 191 O ESTAFETA Dezembro! Nem bem pensamos no editorial do ano passado e cá estamos a elaborar o editorial de encerramento de mais um ano. Este, como sempre, traz um sentimento dúbio de tristeza e de ale- gria. De tristeza,porque mais um ano passou voando e, obviamente, muitas coisas ficaram por fazer. De alegria, por- que um novo se apresenta com suas perspectivas, oportunidades e possibi- lidades. Além disso, ao rememorar o ano de 2012, nos recordamos de muitas coi- sas boas e, infelizmente, de algumas ru- ins. Num balanço preliminar, as alegrias são as que devem prevalecer sempre. Fazendo uma retrospectiva das prin- cipais manchetes dos jornais do ano que termina, constatamos que predominou o assunto corrupção na esfera pública brasileira. Essa praga nociva, que cor- rompe e corrói a sociedade, é a principal responsável por privar o cidadão de di- reitos constitucionais como saúde e educação de qualidade. O dinheiro des- viado por quadrilhas instaladas nas ad- ministrações públicas deixa de ser em- pregado em ações que beneficiam toda a população. O que surpreende e desa- ponta os cidadãos de bem é que muitos políticos, aparentemente idôneos e de ilibada reputação aos olhos públicos, quando no poder, se especializam em fraudar o erário. Toda sorte de malan- dragem passa a dominar. Um movimento de combate à corrupção, no entanto, apoiado pela so- ciedade vem crescendo. Nessa cruzada, a imprensa investigativa e a polícia fe- deral têm-se empenhado com sucesso, formulando denúncias junto ao ministé- rio público. O resultado é que assisti- mos políticos que até então se julgavam acima da lei serem condenados e exem- plarmente punidos, perdendo seus car- gos eletivos. Uma luz se acende. A Lei e a Ordem hão de imperar. Ao término de mais um ano,quando o clima de festas contagia a todos, de- sejamos a você leitor um Feliz Natal e um Ano Novo com muita saúde, paz, fe- licidades e sonhos realizados. Fim de ano é tempo de reflexão. É hora de olharmos para o passado e, agradecidos por tudo que conseguimos realizar, encarar o futuro com novos planos. Enquanto o Natal tem significado de fé, o simbolismo do Ano Novo é justamente o de esperança e de renovação, que sempre se revigora no calor da amizade e da união. É no Menino da manjedoura que vamos buscar inspiração para fortalecer nossos propósitos de viver o amor, a reconciliação e a paz. A contemplação e celebração do nascimento de Jesus Cristo fortalece a fé em Deus, que vem até nós oferecendo a pos- sibilidade do encontro com Seu filho. Em 25 de dezembro todos comemoram o Natal. Ele está enraizado na vida de nosso povo. É um momento mágico que impulsio- na nosso coração a salientar os mais caros valores morais e espirituais que acreditamos serem ingredientes indispensáveis para a felicidade de qualquer pessoa neste mun- do. No entanto, esses valores vão se esva- ziando durante o ano à medida que ele avan- ça. Muitos desses bons propósitos vão fi- cando para trás. Não é fácil nos espelharmos no Menino do presépio e vivermos de acor- do com os seus ensinamentos, como pode- mos observar em nosso cotidiano, em que o desamor e seus reflexos permanecem. Apesar de o Brasil ser uma das maiores economias do mundo, suas desigualdades sociais são imensas. O desenvolvimento econômico do país não solucionou a situa- ção de miséria, fome, violência organizada e degradação do meio ambiente, dentre ou- tras mazelas que ameaçam a vida e geram insegurança das mais variadas. Essa reali- dade é fruto do egoísmo que orienta a orga- nização da sociedade, que segue a lógica da concentração de bens e riquezas e da exclusão social. Uma das principais causas de nosso atra- so social está justamente na corrupção de nossos governantes. Observamos, no en- tanto, mudanças radicais na sociedade bra- sileira, que clama por justiça e mais mudan- ças. Essas mudanças passam por uma con- jugação de forças de pessoas bem intencio- nadas, nas quais prevalece todos os dias do ano o espírito de Natal. Ao celebrarmos o Natal, devemos forta- lecer nossos sentimentos de esperança e renovação. No ano que passou, apesar de sérias di- ficuldades por que passou nosso municí- pio, tivemos importantes conquistas. Os piquetenses elegeram a primeira prefeita de sua história. Ela se propõe a trabalhar norteada pelo espírito de Natal. Que seu tra- balho concorra para as mudanças tão dese- jadas pela população, que aspira por uma Piquete justa, solidária, carregada de amor e de paz. Viveremos todos os dias o Natal quando nossas ações se voltarem para o crescimento do outro. Feliz Natal e Próspero Ano Novo!

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Edição de Natal de O ESTAFETA

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Page 1: DEZEMBRO 2012

E D I T O R I A L

Reprodução

ÓRGÃO DA FUNDAÇÃO CHRISTIANO ROSA

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA PIQUETE, DEZEMBRO/2012 - ANO XV - No 191

O ESTAFETA

Dezembro! Nem bem pensamos noeditorial do ano passado e cá estamos aelaborar o editorial de encerramento demais um ano. Este, como sempre, trazum sentimento dúbio de tristeza e de ale-gria. De tristeza,porque mais um anopassou voando e, obviamente, muitascoisas ficaram por fazer. De alegria, por-que um novo se apresenta com suasperspectivas, oportunidades e possibi-lidades. Além disso, ao rememorar o anode 2012, nos recordamos de muitas coi-sas boas e, infelizmente, de algumas ru-ins. Num balanço preliminar, as alegriassão as que devem prevalecer sempre.

Fazendo uma retrospectiva das prin-cipais manchetes dos jornais do ano quetermina, constatamos que predominouo assunto corrupção na esfera públicabrasileira. Essa praga nociva, que cor-rompe e corrói a sociedade, é a principalresponsável por privar o cidadão de di-reitos constitucionais como saúde eeducação de qualidade. O dinheiro des-viado por quadrilhas instaladas nas ad-ministrações públicas deixa de ser em-pregado em ações que beneficiam todaa população. O que surpreende e desa-ponta os cidadãos de bem é que muitospolíticos, aparentemente idôneos e deilibada reputação aos olhos públicos,quando no poder, se especializam emfraudar o erário. Toda sorte de malan-dragem passa a dominar.

Um movimento de combate àcorrupção, no entanto, apoiado pela so-ciedade vem crescendo. Nessa cruzada,a imprensa investigativa e a polícia fe-deral têm-se empenhado com sucesso,formulando denúncias junto ao ministé-rio público. O resultado é que assisti-mos políticos que até então se julgavamacima da lei serem condenados e exem-plarmente punidos, perdendo seus car-gos eletivos. Uma luz se acende. A Lei ea Ordem hão de imperar.

Ao término de mais um ano,quandoo clima de festas contagia a todos, de-sejamos a você leitor um Feliz Natal eum Ano Novo com muita saúde, paz, fe-licidades e sonhos realizados.

Fim de ano é tempo de reflexão. É horade olharmos para o passado e, agradecidospor tudo que conseguimos realizar, encararo futuro com novos planos.

Enquanto o Natal tem significado de fé,o simbolismo do Ano Novo é justamente ode esperança e de renovação, que semprese revigora no calor da amizade e da união.

É no Menino da manjedoura que vamosbuscar inspiração para fortalecer nossospropósitos de viver o amor, a reconciliaçãoe a paz. A contemplação e celebração donascimento de Jesus Cristo fortalece a féem Deus, que vem até nós oferecendo a pos-sibilidade do encontro com Seu filho.

Em 25 de dezembro todos comemoram oNatal. Ele está enraizado na vida de nossopovo. É um momento mágico que impulsio-na nosso coração a salientar os mais carosvalores morais e espirituais que acreditamosserem ingredientes indispensáveis para afelicidade de qualquer pessoa neste mun-do. No entanto, esses valores vão se esva-ziando durante o ano à medida que ele avan-ça. Muitos desses bons propósitos vão fi-cando para trás. Não é fácil nos espelharmosno Menino do presépio e vivermos de acor-do com os seus ensinamentos, como pode-mos observar em nosso cotidiano, em que odesamor e seus reflexos permanecem.

Apesar de o Brasil ser uma das maioreseconomias do mundo, suas desigualdadessociais são imensas. O desenvolvimento

econômico do país não solucionou a situa-ção de miséria, fome, violência organizada edegradação do meio ambiente, dentre ou-tras mazelas que ameaçam a vida e geraminsegurança das mais variadas. Essa reali-dade é fruto do egoísmo que orienta a orga-nização da sociedade, que segue a lógicada concentração de bens e riquezas e daexclusão social.

Uma das principais causas de nosso atra-so social está justamente na corrupção denossos governantes. Observamos, no en-tanto, mudanças radicais na sociedade bra-sileira, que clama por justiça e mais mudan-ças. Essas mudanças passam por uma con-jugação de forças de pessoas bem intencio-nadas, nas quais prevalece todos os diasdo ano o espírito de Natal.

Ao celebrarmos o Natal, devemos forta-lecer nossos sentimentos de esperança erenovação.

No ano que passou, apesar de sérias di-ficuldades por que passou nosso municí-pio, tivemos importantes conquistas. Ospiquetenses elegeram a primeira prefeita desua história. Ela se propõe a trabalharnorteada pelo espírito de Natal. Que seu tra-balho concorra para as mudanças tão dese-jadas pela população, que aspira por umaPiquete justa, solidária, carregada de amor ede paz. Viveremos todos os dias o Natalquando nossas ações se voltarem para ocrescimento do outro.

Feliz Natal e Próspero Ano Novo!

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Fotos arquivo Pro-MemóriaImagem - Memória

A Redação não se responsabiliza pelos artigos assinados.

Diretor Geral:Antônio Carlos Monteiro ChavesJornalista Responsável:Rosi Masiero - Mtd-20.925-86Revisor: Francisco Máximo Ferreira NettoRedação:Rua Coronel Pederneiras, 204

Tels.: (12) 3156-1192 / 3156-1207Correspondência:Caixa Postal no 10 - Piquete SP

Editoração: Marcos R. Rodrigues Ramos

Laurentino Gonçalves Dias Jr.

Tiragem: 1000 exemplares

O ESTAFETA

Fundado em fevereiro / 1997

Página 2 Piquete, dezembro de 2012

Patrocinado pela FPV, por iniciativa deseu diretor, o coronel Adhemar Pinto, acon-teceu, em dezembro de 1963, em Piquete, umafesta de Natal de proporções até então nun-ca vistas na cidade. Foi um presente de finalde ano dado pela Fábrica não só para seusfuncionários e familiares, mas para todos osmoradores do município.

Para a execução desse grandioso even-to foi constituído um grupo de trabalho in-tegrado por especialistas – todos funcioná-rios daquele estabelecimento: desenhistas,carpinteiros, pintores, montadores – a fimde decorar toda a Praça Duque de Caxias esuas adjacências com motivos natalinos.Havia grande entusiasmo entre esses tra-balhadores. Logo nos primeiros dias de de-zembro, teve inicio a decoração. Uma imen-sa árvore de Natal e um presépio foram mon-tados no centro da praça. As árvores e asfachadas dos edifícios foram iluminadas commilhares de luzes coloridas que piscavamem sincronia, causando efeitos especiais.Encimando o Grêmio Duque de Caxias, umafaixa de quinze metros transmitia a mensa-gem da Fábrica: “Feliz Natal às famílias daFPV”. Logo à entrada do prédio, um PapaiNoel de sete metros de altura dava boas-vindas à criançada. A decoração, à medidaque ia sendo concluída, provocava verda-deiro deslumbramento, não só nas criançascomo em todos os que por ali passavam.Nos dias que antecederam o Natal, a Praci-nha tornou-se local para encontros e con-fraternizações. Toda a cidade ia até lá, admi-

rar o presente dado pela Fábrica.O dia 25 de dezembro amanheceu radi-

ante. A festa oficial estava marcada para ini-ciar às 15h. Desde cedo, porém, a praça foisendo tomada por crianças ansiosas paraver tudo. Um verdadeiro paraíso infantilhavia sido criado. O toque original dos fes-tejos foi um trenzinho que circulava pelasruas da cidade com músicos da CorporaçãoPiquetense tocando animadamente peças derepertorio natalino. Todas as crianças que-riam embarcar e fazer essa viagem de so-nhos. O Parque General Altair de Queiróz,ao lado do cinema, com seus brinquedosrestaurados parecia um formigueiro de cri-anças. As maiores arriscavam transpor olaguinho em pernas de pau. No terreno atrásdessa praça, um bem montado parque dediversões, com roda gigante, chapéu mexi-cano, barquinhos, carrossel, aviõezinhos euma variedade de barracas distribuindo brin-des. Dentro do “Elefante Branco” eram sor-teados ricos brinquedos às crianças e bici-cletas aos funcionários. Ao lado desse clu-be, barracas coloridas e enfeitadas distribu-íam refrescos, sanduiches, garapa, pipoca,algodão doce a todos que ali acorriam. NoCine Estrela, desenhos e variedades eramprojetados em sessões ininterruptas. DeLorena veio um “trem especial” alegremen-te decorado e repleto de famílias de operári-os.

O Natal das crianças de Piquete naquele1963 foi completo. Havia até um Papai Noelpercorrendo as ruas da cidade distribuindo

balas e bombons à criançada. A festa en-trou noite adentro e acabou só pela madru-gada. Parecia um sonho do qual ninguémqueria acordar. Aquele Natal ficou gravadona memória da cidade. Ficou também um agra-decimento àquele que soube proporcionaràs crianças de Piquete, ricas ou pobres, fi-lhas de funcionários ou não, uma verdadei-ra festa de Natal, um paraíso de sonhos esurpresas. O sucesso fez com que, nos anossubsequentes, a Praça Duque fosse deco-rada, cada vez mais com bom gosto e origi-nalidade. O que foi feito em Piquete, patro-cinado pela FPV, por mais de uma década noperíodo de Natal, só bem mais tarde foi imi-tado em outras cidades, tornando-as umaatração turística. É uma pena que nossa fes-ta, como todo conto de fadas, tenha acaba-do. É de se lamentar...

No reino de Papai Noel

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O ESTAFETA

GENTE DA CIDADEGENTE DA CIDADE

Página 3Piquete, dezembro de 2012

Vicente Levino dos Santos“Eu nasci em Virgínia, Minas Gerais, em

30 de dezembro de 1932. Com três anos mu-dei-me para a cidade de Queimada, hojeMarmelópolis. Em 1940 vim para Piquete.Éramos dez pessoas: meus pais, AntônioLevino dos Santos e Orminda Maria de Je-sus, cinco irmãs e três irmãos, contandocomigo. Éramos muito pobres: meu pai eralavrador, trabalhava na roça. Naqueles tem-pos era muito difícil condução para fazermudança e para transportar nossasmuambas usamos animais – assim viemospara Piquete. Chegamos no dia 20 de setem-bro. Descemos a serra pela estrada velha,pois a nova ainda estava sendo construída.Chegamos ao bairro da Tabuleta, onde per-manecemos por uma semana, na casa dosenhor Benedito Vaz. Meu pai veio cortarlenha para a Fábrica de Pólvora, na mata dosertão do Benfica e na Serra dos Marins.Ele, meus irmãos e mais alguns cortadoresde lenha que moravam na Tabuleta subiama serra todos os dias, às cinco horas damanhã. Meu pai arrumou uma casa antigade pau-a-pique perto da mata, na serra, e lámoramos por um ano. Depois viemos para oBambuzinho, atual bairro de Santo Antônio.Havia poucas casas, no mais eram roças demilho, feijão e arroz. No lugar da igreja haviauma olaria. Depois, viemos morar em frentea igreja de São José. Voltamos para oBambuzinho e eu fui para a escola da pro-fessora Ricarda Godoy Lopes, numa casalocalizada num campinho, em frente à fazen-da do Senhor Nhô, marido da DonaJosephina Uchôas. Essa casa escola aindaexiste. Dona Ricarda foi uma mãe para mim.Ela me tratava muito bem. Todos os dias, nahora do recreio, ela repartia seu lanche co-migo. Isso foi em 1944, eu já estava com 11anos. Meus irmãos começaram a trabalharna Fábrica Presidente Vargas. Minha mãeera lavadeira de roupas e carregadeira dealmoço para a Fábrica. Por essa época co-meçou a construção do hospital, do cine-ma, do Clube Elefante Branco e de duaspontes, uma ao lado do hospital e uma emfrente à rodoviária. Eu trabalhei carregandoalmoço para dois operários do hospital. Nashoras vagas, eu e mais alguns colegas brin-cávamos no buraco aberto para o elevador.Em 1947, meu pai faleceu. Ele trabalhava naestrada nova e um dia, antes do almoço, elee mais seus companheiros de serviço carre-garam um caminhão com pedras. Quandodesciam a serra, arrebentou o freio. O moto-rista gritou para que não pulassem, mas ele,que já contava 72 anos, ao ver os mais no-vos pularem, pulou também.

Bateu num barranco e caiu por debaixo docaminhão. Após sua morte, minha mãe, maisdois irmãos e eu, fomos morar na VilaVicentina. Eu fui para a Escola Agrícola daFPV. Em 1948, fui para o Exército. Em feverei-ro de 1950, deixando o quartel fui para SãoPaulo. Quando retornei, trabalhei na fábricaSulfoquímica Deteluque onde é aJ.Armando. Comecei a namorar MariaAparecida dos Santos. Logo após ter fica-do noivo, fui despedido. Desempregado,mas para sustentar minha palavra, casei-meno dia 20/03/1958. Fui morar perto do Cam-po do Vila. Trabalhava roçando campo ecapinando quintais. Um belo dia, trabalhan-do na casa do senhor Luis Vieira Soares, eleme perguntou porque eu não trabalhava naFábrica. Respondi que eles não me queriamlá. Ele disse que ia falar com os maiorais,brincando comigo. À tarde, ao retornar doserviço, me disse que tinha arrumado com oSr. José de Castro para eu trabalhar na pa-daria, entregando pão. Comecei no dia se-guinte, me apresentando às três horas damadrugada para o José de Assis. Assinavao ponto todos os dias naquela hora. Logofui transferido para a 3a Divisão, comocaldeireiro. Mais tarde, fui trabalhar no 4ºGrupo, onde me aposentei, em 6 de dezem-bro de 1982.

Dizendo a verdade, fui criado na cidadede Piquete e na Fábrica Presidente Vargas.

Vieram 5 filhos e 5 filhasque me deram 10 netos e10 netas, 4 bisnetas e 3bisnetos. Já completei 30anos de aposentado e nofinal desse mês comple-to 80 anos de idade. Soucristão, legionário, con-gregado mariano,vicentino. Graças aobom Deus tenho saúdee sou feliz. Repouso efelicidade absoluta so-mente na vida eterna, omelhor e maior de todosos prêmios. Assim es-pero merecer. Que as-sim seja!”

Mais um ano percorrido... Parece-mecada vez mais forte a sensação de que otempo passa mais rápido. Apesar deEinstein, sabemos que, para nós, “pobresmortais”, isso é impossível. Acho a res-posta para esta maior rapidez do tempo emnossas atribulações pessoais e profissio-nais. A cada dia que passa, somos mais emais exigidos e, sempre, com prazos maiscurtos. A vida de quem está no mercadode trabalho é baseada em agendas que jáse estendem para muito além do chamado“horário comercial”. Com isso, ao cumprir-mos nossos consecutivos compromissos,quando nos damos conta, como agora, jáestamos às vésperas de um novo ano.

2012 foi-me um ano excepcional.Profissionalmente falando, comecei

com perspectivas outras, que se alterarame se transformaram em metas que estão àsvésperas de se concretizar. Invadirão, por-tanto, 2013 – as expectativas alcançampelo menos maio de 2013... Um ano já é umprazo curto para nos programarmos.

Pessoalmente falando, também foi es-pecial. Turbulento no início e muito felizao final. Lugares, pessoas e projetos queme completaram e prometem mudançassignificativas para melhor. Neste campoestá incluída a expectativa com relação ànova administração municipal, de TecaGouvêa. Para os piquetenses que acredi-tamos em sua capacidade e lhe confiamosnosso voto, ela é sinônimo de mudanças.Estou certo de sua capacidade, sua garrae força de vontade para provar que Pique-te é viável e pode ser bem administrado,proporcionando resultados práticos e pe-renes. Sabe-se, no entanto, da caótica si-tuação em que se encontra nosso municí-pio. Isso me deixa apreensivo, pois difi-cultará o trabalho de nossa primeiraprefeita. Conhecendo-a, porém, sei queesta situação lhe será um incentivo para –se é que isso é possível – trabalhar aindamais e com mais afinco.

Ao final do último dezembro, desejeique se fizesse brilhar a estrela de TecaGouvêa sobre minha cidade natal; e ela bri-lhou! 2012 foi decisivo para Piquete e seráo marco inicial de uma época que mudarápara melhor os rumos de nossa cidade.

Que venha 2013! Que venha um novogoverno! Que transbordem sobre ospiquetenses os frutos de um trabalho sé-rio e comprometido! Dessa forma, o tempopode voar, que, ainda assim, será acompa-nhado e muito bem aproveitado, sempre!

Um abençoado e feliz Natal! Um des-bravador e brilhante 2013!

Um ano de 2013repleto de estrelas!

Laurentino Gonçalves Dias Jr.

Vicente Levino e alunos da Escola Agrícola da FPV, em 1948

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O ESTAFETA Piquete, dezembro de 2012Página 4

Peter ArmandoMudança transcendental de cunho trá-

gico afastou-o de nosso convívio e deslo-cou-o para outra dimensão.

A morte não interrompe uma amizade.Mas interrompe uma sequência de aconte-cimentos que fazem a biografia de uma pes-soa.

É nosso sentimento profundo que oamigo Peter Armando tenha se afastado denossas percepções físicas, mas o importan-te é o fato de que tenha existido e tenhamarcado seu trânsito de maneira indelével.

A criatividade artística e cultural que lheera peculiar refletiu-se e expandiu-se impreg-nando obras de notável valor. O que é ates-tado em objetos de variada extração, sejaem cerâmica, papel ou tecido.

Conservo fielmente alguns trabalhos dePeter: belas e sensíveis aquarelas de temáticapiquetense no seu relevo – a imponente serrada Mantiqueira e o Marins, suas cores, lu-zes e translucidez. E também a representa-ção da paisagem de nossa cidade em umacaneca que me foi presenteada pelo amigocomum Antônio Carlos M. Chaves. E ainda,presente de Peter, uma belíssima Madona eo Menino impressos em cerâmica de muitobom gosto. Mestre ceramista qualificado emLondres, na Inglaterra, foi professor e pes-quisador de notória produtividade.

Nós nos víamos poucas vezes e nosdespedíamos com a promessa de uma próxi-ma oportunidade, na expectativa de uma

vida inteira pela frente, eternizada na pere-nidade do minuto que passa – o amanhãviria, e muitos outros...

Como dizem os pensadores, “doença ouvelhice nos preparam para suportar a mor-te”. – ainda que “jamais possamos aceitá-la, mostrar-lhe uma causa” no dizer da filó-sofa Marilena Chaui. Pois, parece-nos im-possível dar-lhe o que não pode ter, isto é,sentido; daí contarmos com algum consolo.Mas, quando a implacável visita chega semaviso e repentinamente corta o fio de ma-neira trágica, o que resta é no imediato uma

lembrança caótica e um gosto amargo dederrota, para se tornar memória construídavagarosamente, à medida que no alargamen-to do tempo a dor se consolide.

Peter, que valorizava a paisagem nativada cidade que o viu nascer e se tornar artis-ta, tinha no seu ambiente a luta pelo desejoda permanência traduzida em beleza. Sercompassivo para ele era sinônimo de vida ea prática da espiritualidade lhe garantia ummodo de caminhar junto, ou seja, a paixãopelo humano, o pathos (que entre os gre-gos é a paixão), na plena aceitação do queum corpo animado revela. Mesmo para falardele, as palavras não são suficientes nemfieis tradutoras. Afinal, o paradoxo da con-tingência nos petrifica, mas é preciso regis-trar sua passagem, para que não morra, paraque na fatalidade, a presença se reforce emmemória e possa sobreviver.

Que os pontos de luz que iluminaram suaexistência permaneçam em nós como exem-plo, farol, raios luminosos e bênçãos. Deonde está, Peter, acredito, nos vê, escuta,lê, e revela-se no embalo da brisa que ame-niza a vista dos contornos abruptos e sua-viza as agruras da célere passagem. Que,como nas estrelas, das quais somos partes,do nascer até o fim da trajetória luminosa,nos individualize e permaneça como luz... Eque mais não digo em respeito ao caráterdespojado do amigo.

Dóli de Castro Ferreira

Eis que Teca Gouvêa chega ao poder.Alimentada pelo fluxo das esperanças

de um povo desiludido e convencido, final-mente, de que o caminho tortuoso e trágicodeve ser mudado. Movida pela paixão polí-tica, mas com a capacidade necessária aocargo de liderança, tem fôlego e estruturapara desempenhar bem o papel que lhe cabe.Autodeterminada, já teve oportunidade depôr à prova o talento de administradora. Sa-ber planejar é um dos seus apanágios.

Treinada no empenho exigido dosplanejadores, sabe que o importante é terprojetos exeqüíveis, isto é, dotados de pos-sibilidade do êxito na execução. Conhece-dora dos caminhos da política e dos ata-lhos, às vezes, complexos e sombrios, de-verá fazer a luz se manifestar.

Vencida, enfim, a grande prova – a dasurnas, com uma aceitação bastante convin-cente –, prende-se a um arco de expectati-vas de largo espectro, ou seja, de váriosparadoxos, motivações e desafios. Saber semovimentar, galvanizar as pontas para torná-las harmônicas e fazer despertar o empenhoconjunto da população em todos os extra-tos e derivações deverão ser sua grandemeta. Inteligência, coragem e visão não lhefaltam. Até porque essas coordenadas cru-zam-se no lugar certo – e a perspectiva doespaço dinâmico não lhe escapa: ela é, pro-priamente, arquiteta.

A arquitetura tem em si o bom encontro

entre as questões humanas e sociais com aexatidão das normas que exigem o conheci-mento espacial, a diferença dos pesos, aqualidade dos materiais e a estética dascomposições. Que o novo ano lhe seja, e anós, propício!

Vivemos numa sociedade em mudança:à hierarquia criada a partir do patriarcalismo,responsável por grande parte da exclusão,miséria e defasagens sociais em educação esaúde, principalmente, somou-se a engen-drada pelos militares que tornaram Piquetee sua indústria bélica uma referência obri-gatória. Tudo temperado e pretensamenteatenuado pelo varguismo, que por aqui plan-tou raízes num arcabouço arbóreo cujos fru-tos ainda se manifestam com eloquência.

Visibilidade propiciada pela análise das fa-ces que queiramos abordar. Quero dizer que,em Piquete, as marcas dessa influência sãoeloquentes.

Preparada pela academia e pela práticados costumes, a nova prefeita, por ser mu-lher e atuante, deverá saber se conduzir. Paratanto, foi alvo do resultado das urnas. Onovo, que o partido a que se vincula anun-cia veementemente, pode ser um paradigmaadequado, principalmente se vinculado àrealidade que não se esconde. É por demaisexplícita.

Saber vislumbrar o futuro e poder con-tar com o apoio material, econômico, dosfluxos de caixa e investimentos, não só dolado monetário, mas também do social epragmático, deverão, penso, ser seus obje-tivos. A força necessária dos encaminha-mentos não falta a ela. Dotada da lucideznecessária, merece o apoio que, evidente-mente, espera, pois a vontade popular bemsedimentada não é apenas a escolha do votofeita à frente do aparelho eletrônico e dasmanifestações jubilares. Depende de traba-lho, empenho e solidificação da argamassaque sustenta o edifício na construção har-mônica.

Ninguém melhor do que Teca sabe dis-so. Deus a abençoe e nosso Arcanjo prote-tor São Miguel a conduza no combate, eleque é farol e invicto batalhador.

Dóli de Castro Ferreira

Teca –uma nova proposta

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O ESTAFETA Página 5Piquete, dezembro de 2012

Quem me dera...Gosto de escrever e ofaço para crescer... Minha meta em OESTAFETA é que meu “original” nâo tenhaum só “vermelho” do Chico Máximo; atéagora só cheguei perto...

Mas... Recebemos, no dia 1o de dezem-bro, eu e dr. Antônio Carlos Monteiro Cha-ves, a Menção Honrosa do Prêmio Cultural“Eugênia Sereno”, outorgado pelo Institu-to de Estudos Valeparaibanos (IEV), deLorena. Representamos ainda, como organi-zadores da obra, o padre Fabrício Beckmanne Dóli de Castro Ferreira, responsáveis pelapesquisa que consta do livro.

Emocionei-me... Foi uma honra para umprofissional de exatas que não pensava terseu nome na capa de um livro, ainda quecomo organizador. E, logo no primeiro, umapremiação... Foi bom demais... E, melhor ain-da, poder estar ao lado de pessoas que lu-tam pela qualidade de vida no Vale doParaíba, que doam seu trabalho pela comu-nidade... Pessoas como o professor NélsonPesciotta, 90 anos, sociólogo, e o Dr. HugoDi Domênico, 98 anos, médico, que aindaproduzem e fazem planos para o futuro... Sãoexemplos que nos impulsionam a crescerpessoal e profissionalmente...

Este livro surgiu do trabalho de resgateda história da Diocese que vinha sendo re-alizado pelo padre piquetense Fabrício

Beckmann, pároco de Silveiras/SP. Apósuma fatalidade, passei a ajudá-lo naformatação do informativo que, a cada mês,num total de doze, contava parte da históriada Diocese de Lorena. Incentivado pelo ACChaves, Fabrício sugeriu ao Bispo a publi-cação. Neste ínterim, os doze informativosforam encaminhados para a professora Dólide Castro Ferreira, que os alinhavou ecomplementou com sua experiência de his-toriadora. Pouco tempo antes de 31 de ju-lho, data de oficialização da Diocese em 1937,um telefonema: “Podem mandar imprimir omaterial... Mas precisamos para o dia 15 deagosto, dia da padroeira de Lorena”. A par-tir de então, foi uma correria... Muitas noi-tes até tarde ao computador, correções via“skype”, idas e vindas de arquivos... Ai denós se não fosse a tecnologia da internet...Enfim, conseguimos...

O “Diocese de Lorena – 75 Anos” mate-rializou um trabalho que visa a recuperar etrazer à memória inúmeros elementos quecompõem a identidade da sociedade valepa-raibana, sobretudo os ligados à tradiçãocatólica. Isso vem ao encontro das premia-ções do IEV que têm o objetivo de valorizare estimular ideias, atitudes de preservaçãodo patrimônio histórico, artístico e culturale a produção científica que promovam amelhoria das condições de vida e o desen-

volvimento sustentável em todo o Vale doParaíba.

Numa cerimônia objetiva e muito bemorganizada, recebi, orgulhoso, a premiação.O responsável pelos agradecimentos foi oAntônio Carlos, médico, historiador eambientalista, um dos instituidores da Fun-dação Christiano Rosa (FCR). Uma das pes-soas que mais luta pela história de Piquete,coletor de um acervo documental e fotográ-fico riquíssimo, enalteceu o trabalho de ins-tituições como o IEV e a FCR, que mantêmvivo muito da história da região. AC ressal-tou a importância do resgate da história paraa formação de cidadãos e um desenvolvi-mento sustentável. Destacou, ainda, a ne-cessidade de se promover um trabalho dedocumentação iconográfica de nossas pa-róquias, observada durante a edição do li-vro, quando se evidenciou a quase ausên-cia de registros históricos e até atuais.

Durante a premiação, estava acompa-nhado de amigos que corroboraram a im-portância deste prêmio. Ressalto, mais umavez, a emoção que senti por poder colabo-rar com o padre Fabrício Beckmann e comseu abnegado trabalho, no qual visualizouma sincera vocação. Obrigado IEV! Valeu,Fabrício! Que venham outros prêmios, paraque um dia eu mereça ser chamado escritor!

Laurentino Gonçalves Dias Jr.

Eu, escritor...

Uma nova arquitetura para PiquetePiquete entrará em 2013 fazendo histó-

ria. Empossará no dia 1º de janeiro sua pri-meira prefeita, desde que se emancipou deLorena, há 122 anos.

Teca Gouvêa encontrará uma cidade ca-rente em todas as áreas: saúde, educação,turismo, cultura, finanças... Não será fáciladministrar o município. Será preciso empe-nho e trabalho árduo, além de nova enge-nharia administrativa...

Um político moderno é o que enxergamais longe, capaz de reconhecer que somen-te através de um trabalho amplo, com uma

equipe competente e compromissada, garan-tirá uma administração que proporcionequalidade de vida e progresso para sua ci-dade.

E é dessa forma que os piquetenses – osque lhe confiaram o voto ou não – esperamque Teca se apresente: uma política moder-na, com perfil de executiva, mas que admi-nistre em cumplicidade com a comunidade.Espera-se, ainda, que Teca se mantenha emsintonia com os Conselhos (de educação,saúde, turismo, esportes, menor etc.), quepoderão lhe proporcionar uma visão maisampla dos problemas do município em suasrespectivas áreas. Também as Associaçõesde Amigos de Bairro, quando ouvidas, tra-zem os problemas reais que o administradortem de enfrentar em cada canto do municí-pio. Para que tudo isso funcione, porém, osconselhos e associações citados precisamestar bem organizados; é essencial que te-nham consciência de sua importância e po-der quando conduzidos com seriedade e ob-jetividade e estruturados legal e eticamente.

Também será essencial à prefeita TecaGouvêa a integridade da Câmara Municipal.Em uma cidade do porte de Piquete, é fácilpara o Legislativo atuar juntamente com oExecutivo sem mostrar submissão. Se a fi-nalidade é o bem de Piquete, votos contrári-os deverão ser defenestrados. Espera-se danova Câmara a mesma atitude moderna einovadora de Teca Gouvêa: seriedade, bus-ca constante pela excelência e compromis-so com a comunidade.

Que Teca Gouvêa seja a arquiteta de umfuturo brilhante para a Cidade Paisagem!

Fotos Andréia Marcondes e Arquivo Pro-Memória

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O ESTAFETA

Edival da Silva Castro

Página 6 Piquete, dezembro de 2012

Crônicas Pitorescas

Palmyro Masiero

Missa do galo

O zurro do burro

Acesse na internet, leia edivulgue o informativo

“O ESTAFETA”“O ESTAFETA”“O ESTAFETA”“O ESTAFETA”“O ESTAFETA”

www.issuu.com/oestafeta

www. fundacaochristianorosa.cjb.netou

Sou um burro bonito. Cinza-escuro, ore-lhas grandes e pelos eriçados. Sou resis-tente às longas caminhadas e de tração porexcelência. Por isso fui escolhido pra amas-sar barro numa pipa de olaria.

Um dia, logo de manhãzinha, cingirammeu corpo e pescoço com pilchas, depoisfizeram-me rodar, rodar, rodar...

As voltas ininterruptas fatigavam-me,não tinha a quem recorrer. O oleiro não meparava pro devido descanso, tampouco pramatar minha sede e fome.

A lida ia do amanhecer ao anoitecer.O lema era barro e mais barro pra encher

as formas, pra depois elas irem ao forno. Ostijolos coziam aos milhares e eu lá, burromesmo, só rodava, rodava, rodava...

À noite, quando me punham no pasto,não tinha ânimo de andar, de tanto ter anda-do durante o dia. O capim suculento estavasob minhas ventas, mas eu ficava a ruminardesejo. Cabisbaixo, pensativo, às vezes mecoçava num mourão de cerca. O relento eraminha estrebaria.

O dia mal repontava pro meu tormentocomeçar. Pra mim, o oleiro aspirava traba-lho.

Com voz de mando, gritava:– Traz o burro pra pipa! Está na hora de

virar barro!Tanto tempo se passou e não notaram

que eu passei.Agora estava idoso, tão idoso que nem

seria preciso baixar minha maxila pra espiarmeus dentes.

Outro dia, de tardinha, não aguentei orepuxo. Meu corpo suava, eu sequioso eaquelas coisas pesando no meu lombo; pa-rei, ajoelhei.

O oleiro, vendo que não tinha mais jeito,desatrelou-me, e soltou-me no campo. Láfiquei abandonado, solitário e de olhar re-melento branco-avermelhado.

Inda ouvi quando ele disse:– Agora é a vez do burrico castanho-

fulvo! O cinza já era!As voltas que dei no picadeiro amas-

sando barro são incontáveis, inimagi-náveis.

Espero que a terra que irá me cobrir sejamais leve do que aquela da pipa, a qual bulia vida inteira.

Oh, se eu fosse um puro-sangue!

Fato e personagens reais. Por razões quese evidenciarão omitiremos os nomes, as-sim como a cidade do Vale que foi palco doevento.

Ela, ocotogenária, cabelos branquinhose bem cuidados, suavemente maquiada, ves-tindo-se sempre com apuro e elegância, tra-zia consigo vestígios de uma aristocracia jápassada. Há muitos e muitos anos profes-sora de piano e notável concertista. Apesarda idade, seus dedos ainda correm livres esoltos pelo teclado, como se incontestáveisborboletas pousassem aqui e ali.

Ele, mais jovem, pouco ultrapassando acasa dos setenta, esbelto e vaidoso dentrode seu terno eternamente impecável, alvacabeleira longa... Excepcional solista no ins-trumento que notabilizou Paganini. Seus de-dos sinistros apertavam as cordas e o arcomanejado pela destra deslizava liberto sobreelas, deixando no ar sons que transportavamos ouvintes para uma singular dimensão.

Conheciam-se e respeitavam-se pessoale artisticamente. Algumas vezes apresenta-ram-se juntos e os amantes da música eru-dita saíam embevecidos do concerto, comose retornando de um mundo extrassensorial.Uma dupla de virtuosos.

Ambos foram convidados para, junta-mente com um coral de quarenta seminaris-tas, se apresentarem na celebração da Mis-sa do Galo, dita na Noite de Natal, emAleluias ao nascimento de Deus feito ho-mem.

Aceitaram. Ela tocaria órgão. O maestrojá preparara os arranjos e tiveram início osensaios. A cada dia, chegava-se mais pertoda perfeição melódica. Casamento perfeitodo coral, em quatro vozes, com os acordesdo órgão e a linha musical, aveludada, so-nora, do violino.

Véspera do Natal, meia-noite.A catedral (pista...) estava maravilhosa-

mente decorada, com suntuosa iluminaçãoe abarrotada de fiéis.

Os harmoniosos acordes envolviam anave da casa do Senhor. Missa para dela sesair confiante no amor como fonte única devida. Hora transcorrendo na paz da louva-ção.

A missa foi sobejamente enternecedora.Apesar do que aconteceu no último ensaio:leviandade maliciosa. Após a passagem fi-nal de todo o repertório, magistralmente in-terpretado, o maestro, num lance espontâ-neo, não se conteve em elogios àperformance dos dois vetustos músicos. Oviolinista, em sua candidez, falou:

– Eu e a ... sempre fomos afinados...Foi a vez dela exprimir o que sentia:– Quando harmonizo com o ... nós sem-

pre acabamos juntos.Ouviu-se um coral de risos dos semina-

ristas, sonoro, irreverente, em pleno altaronde se realizava o derradeiro ensaio, comcada um em seu definitivo lugar. Os doisanciãos enrubeceram, enquanto os rapazesrecebiam uma artilharia de flechas atiradaspelo olhar fulminante do maestro.

Como já disse, a missa foi divinal.Prova de que Deus entendeu a pureza e

intenção dos artistas sobre o que disseram.A missa foi sublime, repetimos. Sinal de

que durante o ato sagrado os seminaristascomponentes do coral estiveram sob per-dão. Se passada a cerimônia o Homem apron-tou-lhes algum castigo, aí eu não sei.

Onde já se viu passar tal malícia pelacabeça dos futuros ministros de Deus!?

Mas... Quem não peca não pode pedirperdão e, de acordo com o samba do Ataul-fo, perdão foi feito pra gente pedir, confere?

Festividades de Posse daPrefeita Teca Gouvêa e dos

Vereadores Eleitos

Dia 1o de Janeiro de 2013

10h Missa Solene na Matriz de

São Miguel

17h Sessão Solene no Salão de

Festividades “Luiz Vieira

Soares”

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O ESTAFETAPiquete, dezembro de 2012 Página 7

Quando Jesus nasceu, o Anjo não foiavisar os que se encontravam nas hospe-darias lotadas pela urgência do recensea-mento. Buscou os pastores que estavam to-mando conta de suas ovelhas.

Será que o Anjo julgou que os hóspe-des e os donos da hospedaria não estavampredispostos a acreditar que a Salvação ja-zia em uma manjedoura e estava envolta emfaixas?

Parece que a vida da humanidade se de-senvolveu substituindo os senhores porchefes e patrões; e os escravos por subor-dinados e empregados.

Os inconformados eram submetidos acastigos violentíssimos como o das galés,embarcações a remo, em que o escravoinsubmisso remava até morrer.

Os excluídos do sistema eram, em geral,os aleijados e portadores de doenças con-tagiosas.

Hoje, a nossa sociedade é regida pelaLei.

Os que obedecem à Lei são os cidadãos.Os fora da lei são os que conhecem a

Lei, mas a desprezam. Conforme o grau dedesobediência, pagam multas, fianças, ousão recolhidos a prisões.

O braço da Lei é curto e não alcança boaparte da população.

A Lei é escrita e são muitos os que nãosabem ler. As relações tomam corpo atravésde documentos escritos e grande númerode pessoas não sabem escrever.

A cidadania se concretiza através dopagamento de impostos e taxas e boa parteda população não consegue saldar estescompromissos.

Vamos admitir: o mesmo Jesus que co-nhecemos vai nascer, no Brasil, no próximo25 de dezembro.

José era um carpinteiro, trabalhava porconta própria. Não era, portanto, um excluí-do.

Somos informados de que não havia lu-gar na hospedaria – é possível que José ti-vesse condições de pagar pela hospedagem.

O nascimento de Jesus no presépio ou

Deus Conoscolapa foi uma emergência. Chegara o momen-to de Maria de Nazaré e não havia possibili-dade de procurar outro local.

Nas mesmas condições, onde nasceriahoje o Menino Deus? Na fila do Posto deSaúde? No corredor do Pronto-socorro? Naambulância do SAMU? Na viatura da Polí-cia Militar ou do Corpo de Bombeiros?

Nascido o Menino, a quem o Anjo dariaa notícia da Salvação?

Aos médicos e enfermeiros que traba-lham em condições precárias? Aossocorristas do SAMU, aos policiais milita-res e aos bombeiros que permanecem alertacomo os pastores?

Ou o Anjo buscaria as comunidades quecultivam o modelo de vida apreciado porJesus – as que se assemelham a crianças;as vacinadas contra a ambição; as que so-frem sem revoltar-se; as que buscam a con-ciliação; as que lutam incansavelmente pelajustiça; as generosas, solidárias; as que nãose abatem com as calúnias e perseguições,as que tem o coração inclinado à beleza, àbondade e à verdade?

Ou será que o Menino Deus vai preferirnascer entre os excluídos?

E se o Menino Deus nascesse sob a lonapreta de um acampamento de sem-terra? Ouà sombra de um caminhão velho demigrantes expulsos por cataclismos ou pelaespeculação imobiliária?

É difícil decidir.Não importa onde o Menino Deus vai

nascer.O essencial é que o Anjo tenha a quem

anunciar a Salvação.O que hoje chamamos de presépio ou

lapinha ficaria lindo também se fosse arma-do à sombra de um caminhão velho demigrantes; ou no interior de uma viatura doCorpo de Bombeiros ou da Polícia Militar.

O indispensável é que nossas mentes ecorações estejam impregnados das luzes dagrande expectação – A Salvação que vem.

Vem, Senhor Jesus!Vem, Menino Deus!

Abigayl Lea da Silva

Comemorado no dia 25 de dezembro, oNatal lembra o nascimento de um menino –Jesus Cristo. No entanto, nem as SagradasEscrituras, nem a História relacionam a datacom o acontecimento. Foi a partir do PapaJúlio I, no século IV, que este dia foideterminado como a data de nascimento deJesus. Aos poucos, a data tradicionalmentefoi-se consagrando. A festa natalinaenraizou-se com o tempo.

Em 1220, graças a São Francisco deAssis, surgiu o presépio, humanizandoainda mais o nascimento do Menino. E aárvore de Natal, embora só surgisse naAlemanha no início do século 19, conseguiudar à festa natalina ambiente maisprofundamente familiar. De certo modo, osfestejos natalinos transcenderam o aspectomeramente religioso, e o Natal, comosímbolo de esperanças renovadas, passoua representar o eterno anseio do homem emconstante busca de Paz, Amor e Alegria.

É quase impossível alguém ficar àmargem do Natal. As canções, a alegria dascrianças, o colorido das ruas e o sentimentode confraternização e congraçamentocontagiam a todos.

No Brasil, além de seu caráter religioso,o Natal assumiu, também, características defesta popular. Em várias regiões do país,Natal dá origem ao verdadeiro ciclo debailados e autos tradicionais. Até o Dia deReis, a 6 de janeiro, principalmente nas áreasonde a tradição se mantém mais viva, podemser vistos o bumba-meu-boi, cheganças,marujadas, congadas, reisados, pastoris eoutros festejos que dão ao Natal o genuínocaráter popular, humanizando-o, apesar doapelo comercial que ocorre nesse períodonas áreas urbanas. Mas, mesmo ali mantém-se viva a mensagem da fé, que os homensalmejam sempre, aspirando a uma vidamelhor e mais justa, mais humana, como foraanunciada pelo Menino Jesus.

Fotos arquivo Pro-Memória

É Natal!

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Reproduções

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O ESTAFETA Piquete, dezembro de 2012Página 8

No dia 25 de dezembro faremos memóriada noite santa na qual ocorreu um dos fatosmais marcantes da história da humanidade.Conforme afirma a tradição cristã, numa hu-milde manjedoura, em Belém da Judeia, o Fi-lho de Deus, sendo de condição divina, nãose apegou à sua igualdade com Deus. Pelocontrário, esvaziou-se a si mesmo, assumin-do a condição de servo e tornando-se se-melhante aos homens (Fl 2, 6-7). Com esseacontecimento deu-se o início de nossa erachamada de era cristã.

Na liturgia da Igreja Romana, há umabela oração eucarística, a número quatro,na qual lemos: “Verdadeiro Homem, conce-bido do Espírito Santo e nascido da VirgemMaria, viveu em tudo a condição humana,menos o pecado...”. Não é difícil constatarque, ainda hoje, muitos cristãos não podemcompreender que Deus viveu entre nós,esvaziado da divindade, deixando- nos o iti-nerário para uma vida humana em comunhãocom Ele.

A fé cristã nos ensina que a encarnaçãonão foi algo aparente, mas de fato aconte-ceu. Estamos habituados a dizer que Jesusé Deus, mas estranhamos quando alguémdiz que ele é homem como nós. Se nossaconcepção acerca de Jesus se aproxima deuma visão monofisita, ou seja, se menos-prezamos a importância de sua naturezahumana para afirmarmos apenas a divinda-de, Jesus de Nazaré torna-se irrelevante paramuitas pessoas.

Certa vez atendi uma senhora que guar-

Deus fez-se um de nós

dava muita mágoa de algumas pessoas quea tinham ofendido e humilhado. Ela não sesentia confortável em ter vizinhos com quemnão se relacionava, morava em um lugarpequeno, com pouca vizinhança. Desejavaa reconciliação, mas isso parecia muito difí-cil. Então a fiz recordar-se do testemunhode Jesus registrado no Evangelho de Lucas,no capítulo 23 versículo 34. Disse a ela queao crucificarem a Jesus, ele orava a Deuspor seus algozes: “Pai, perdoa-lhes! Elesnão sabem o que estão fazendo!” Pronta-mente respondeu-me ela: “Mas Jesus era

Deus!!!”. Embora tenha me silenciado, sen-ti muita vontade de dizer a ela que Jesus erahumano e que é possível imitá-lo. Acentuardemasiadamente a divindade de Jesus, emdetrimento de sua humanidade, é um equí-voco que torna seu legado espiritual um iti-nerário aparentemente impossível de ser per-corrido pelos seres humanos normais. Tal-vez a isto se deva o fato de que, não rara-mente entre os cristãos, outras personali-dades assumam a centralidade da fé, como,por exemplo, os santos mais populares. Amuitos eles parecem mais humanos que Je-sus e por isso mais aceitáveis como exem-plos a seguir.

Dizer que Jesus é verdadeiro homem nãoreduz sua glória, mas nos faz compreender agrandiosidade de seu amor por nós. Ele quis,como afirma o evangelho de João, no iníciodo capítulo 14, ao encarnar-se, ser para to-dos nós o caminho, a verdade e a vida, demodo que ninguém pode ir a Deus, a quemchamou de Pai, senão por Ele.

Que na noite da celebração do SantoNatal, contemplando o presépio, possamoscompreender um pouco melhor o mistérioda humanidade de Jesus, que, sendo decondição divina, humildemente se fez um denós, para que pudéssemos, por ele, ser le-vados à comunhão com Deus; a experimen-tar, ainda que em meio a tantas contradi-ções da existência, o dom da vida plena efeliz, que costumamos chamar de salvação.

Pe. Fabrício Beckmann

Sobre Natal e turismo...Pela televisão, assistimos, no final do

ano, cidades de diferentes lugares do mundopreparando-se para receber turistas porocasião do Natal. No Brasil, são tradicionaisas decorações natalinas de Gramado, Caxiasdo Sul e Canela, na serra gaúcha, Curitiba,no Paraná, e Campos do Jordão, aqui naMantiqueira. Essas cidades recebemcaravanas e mais caravanas de visitantes.Cada uma delas procurando superar-se nocolorido, nas luzes, nos desfiles, nascantatas, nos balés e tantos outrosatrativos. As árvores-de-Natal e ospresépios são uma atração à parte. Haja

inventividade de seus criadores!O turismo é a indústria que mais cresce

no mundo. Nos diferentes países, ao longodos anos, os governos têm investido nessafonte de desenvolvimento, geração deempregos e crescimento da economia.Piquete, nas décadas de 1960 e 1970, foipioneira na região na elaboração e execuçãode festas natalinas, que ficaram guardadasna memória de muitas pessoas. O que foifeito na cidade no passado não deixava adesejar em criatividade em relação ao que éfeito hoje nas cidades citadas. Tudo erapreparado com capricho e paixão. É bem

verdade que a FPV era a patrocinadoradessas festas, em torno das quais, a cadaano, uma equipe coesa se empenhava adesenvolver um novo tema. Assim, tivemoso “Natal dos Sonhos da FPV”, “NatalFantasia”, “Natal na FPVlândia”, “Natal noSitio do Pica-Pau Amarelo”. Por muitos anos,a cidade foi presenteada com essas festas,que atraíam muitos visitantes por seu beloespetáculo, em que o espírito de Natalreinava absoluto. Será que não é hora de ospiquetenses se unirem e buscarem parceriasa fim de voltarem a ter o Natal de sonhoscom que a cidade sonha e que merece?

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