DEZEMBRO 2014

8
E D I T O R I A L ÓRGÃO DA FUNDAÇÃO CHRISTIANO ROSA DISTRIBUIÇÃO GRATUITA PIQUETE, DEZEMBRO/2014 - ANO XVI - N o 215 O ESTAFETA Às vésperas do Natal nossos olhos se voltam para a simplicidade do primeiro pre- sépio. Despojado de riquezas materiais, um Menino vem à luz trazendo mensagens de esperança, salvação e alegria para o cora- ção dos homens. A contemplação e a celebração do nas- cimento desse Menino fortalecem a fé e nos oferecem a possibilidade do reencontro com sua mensagem, sempre atual, e que, cada vez mais, precisa ser introjetada no coração dos homens. Ao término de mais um ano e envolvi- dos pelo espírito festivo e de confraterniza- ção que caracteriza o Natal, temos, infeliz- mente, de conviver com tristes realidades: uma grande seca decorrente das mudanças climáticas por que passa o planeta e a corrupção histórica que nos envergonha e nos enche de tristeza. Essas tristes realida- des decorrem do individualismo, do desa- mor e do egoísmo de pessoas que estão na contramão da mensagem do Menino do Pre- sépio. A partir de reflexões a respeito do signi- ficado do Natal, são necessárias, por parte de toda a sociedade, ações efetivas para que possamos garantir água pura para todos, preservando, assim, a vida em sua plenitu- de, e também apontar e condenar toda for- ma de corrupção, deveres de todo cristão. Natal, tempo de aprendizado Às vésperas do Natal devemos nos ale- grar e não deixar que a desesperança preva- leça. Busquemos força e renovação. O Na- tal lança luzes e questiona nosso modo de ser e de viver o Evangelho em meio à reali- dade que interpela nossa consciência e prá- tica cristã. Natal é aprendizado. Ocasião em que somos chamados a viver com convic- ção a mensagem cristã da fraternidade. É um apelo para que nos empenhemos na cons- trução de uma sociedade solidária, sem dis- criminação, sem ressentimentos, de maneira que todos possam ter acesso a condições dignas, exercendo a cidadania plena. É tem- po de romper com o individualismo e se doar. É tempo de tocar as mãos e os corações. É tempo de partilhar, de oferecer amor, acolhi- da e paz para os que estão ao nosso redor. Jesus Cristo, que assumiu a humanida- de com sua fragilidade, limites e pecados, a redimiu, e nos convida a seguir os seus pas- sos. Celebremos o Natal com gestos de par- tilha, proclamando a presença de Cristo, re- conhecendo e afirmando o valor da digni- dade da pessoa, participando da vida da comunidade e comprometendo-nos com a construção de uma sociedade pacífica e sem exclusão e nos empenhando no combate à corrupção. Desejamos a todos um feliz Natal e um Ano Novo cheio de esperança e paz. Chegamos a mais um final de ano. Se fizermos uma retrospectiva de 2014 sob o aspecto político e social do país, ficaremos desanimados, tal o grau de violência e corrupção entranhado em nossa sociedade. Esses indicadores negativos mantêm entre si íntima rela- ção: com a corrupção e os desvios de recursos públicos, deixamos de inves- tir em saúde, educação, segurança, as- sistência social. Consequentemente, cresce a violência. Diariamente, denúncias de cor- rupção chegam a nós pelos meios de co- municação. Parecem não ter fim. Por ou- tro lado, nunca se descobriram tantas falcatruas, desvios de dinheiro e des- mandos na administração pública brasi- leira como nos últimos anos. O montan- te de dinheiro desviado pelas máfias que se formaram nas entranhas dos go- vernos é incalculável. O noticiado pela imprensa é apenas a ponta do iceberg. Há muito a ser investigado e descober- to. Constata-se que a maioria dos casos denunciados tem viés político. O clien- telismo e o favorecimento de políticos e de pessoas por eles indicados para car- gos públicos têm facilitado a subtração do erário. A não punição exemplar dos envolvidos em corrupção estimula mui- tos a pleitear esses postos-chave da ad- ministração pública. O que parecia até bem pouco tempo não ter conserto está mudando. E até bem rápido, parece. A sociedade não pactua com o malfeito e está cada vez mais alerta condenando os desvios e aplaudindo o trabalho da polícia federal e da imprensa, que têm se mostrado incansáveis nas investigações e apurações desses escândalos. Vive- mos uma grave crise de valores. Acredi- tamos, porém, que por meio de educa- ção, debates e esclarecimentos da po- pulação as mudanças tão sonhadas pela sociedade serão efetivadas. Chegamos a mais um final de ano. Esperançosos aguardamos que o próxi- mo ano seja melhor e que os mecanis- mos voltados ao combate da corrupção sejam mais eficientes. Jesus Cristo, que assumiu a humanidade com sua fragilidade, limites e pecados, a redimiu, e nos convida a seguir os seus passos. Celebremos o Natal com gestos de partilha e proclamando a presença de Cristo. Feliz Natal! (Imagem: detalhe da pintura “Natividade”, de Munir Alawi) Reproduções

description

Edição 215, de dezembro de 2014, do informativo O ESTAFETA, órgão da Fundação Christiano Rosa, de Piquete/SP.

Transcript of DEZEMBRO 2014

Page 1: DEZEMBRO 2014

E D I T O R I A L

ÓRGÃO DA FUNDAÇÃO CHRISTIANO ROSA

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA PIQUETE, DEZEMBRO/2014 - ANO XVI - No 215

O ESTAFETA

Às vésperas do Natal nossos olhos sevoltam para a simplicidade do primeiro pre-sépio. Despojado de riquezas materiais, umMenino vem à luz trazendo mensagens deesperança, salvação e alegria para o cora-ção dos homens.

A contemplação e a celebração do nas-cimento desse Menino fortalecem a fé e nosoferecem a possibilidade do reencontro comsua mensagem, sempre atual, e que, cadavez mais, precisa ser introjetada no coraçãodos homens.

Ao término de mais um ano e envolvi-dos pelo espírito festivo e de confraterniza-ção que caracteriza o Natal, temos, infeliz-mente, de conviver com tristes realidades:uma grande seca decorrente das mudançasclimáticas por que passa o planeta e acorrupção histórica que nos envergonha enos enche de tristeza. Essas tristes realida-des decorrem do individualismo, do desa-mor e do egoísmo de pessoas que estão nacontramão da mensagem do Menino do Pre-sépio.

A partir de reflexões a respeito do signi-ficado do Natal, são necessárias, por partede toda a sociedade, ações efetivas para quepossamos garantir água pura para todos,preservando, assim, a vida em sua plenitu-de, e também apontar e condenar toda for-ma de corrupção, deveres de todo cristão.

Natal, tempo de aprendizadoÀs vésperas do Natal devemos nos ale-

grar e não deixar que a desesperança preva-leça. Busquemos força e renovação. O Na-tal lança luzes e questiona nosso modo deser e de viver o Evangelho em meio à reali-dade que interpela nossa consciência e prá-tica cristã. Natal é aprendizado. Ocasião emque somos chamados a viver com convic-ção a mensagem cristã da fraternidade. Éum apelo para que nos empenhemos na cons-trução de uma sociedade solidária, sem dis-criminação, sem ressentimentos, de maneiraque todos possam ter acesso a condiçõesdignas, exercendo a cidadania plena. É tem-po de romper com o individualismo e se doar.É tempo de tocar as mãos e os corações. Étempo de partilhar, de oferecer amor, acolhi-da e paz para os que estão ao nosso redor.

Jesus Cristo, que assumiu a humanida-de com sua fragilidade, limites e pecados, aredimiu, e nos convida a seguir os seus pas-sos. Celebremos o Natal com gestos de par-tilha, proclamando a presença de Cristo, re-conhecendo e afirmando o valor da digni-dade da pessoa, participando da vida dacomunidade e comprometendo-nos com aconstrução de uma sociedade pacífica e semexclusão e nos empenhando no combate àcorrupção.

Desejamos a todos um feliz Natal e umAno Novo cheio de esperança e paz.

Chegamos a mais um final de ano.Se fizermos uma retrospectiva de 2014sob o aspecto político e social do país,ficaremos desanimados, tal o grau deviolência e corrupção entranhado emnossa sociedade. Esses indicadoresnegativos mantêm entre si íntima rela-ção: com a corrupção e os desvios derecursos públicos, deixamos de inves-tir em saúde, educação, segurança, as-sistência social. Consequentemente,cresce a violência.

Diariamente, denúncias de cor-rupção chegam a nós pelos meios de co-municação. Parecem não ter fim. Por ou-tro lado, nunca se descobriram tantasfalcatruas,  desvios de dinheiro e des-mandos na administração pública brasi-leira como nos últimos anos. O montan-te de dinheiro desviado pelas máfiasque se formaram nas entranhas dos go-vernos é incalculável. O noticiado pelaimprensa é apenas a ponta do iceberg.Há muito a ser investigado e descober-to. Constata-se que a maioria dos casosdenunciados tem viés político. O clien-telismo e o favorecimento de políticos ede pessoas por eles indicados para car-gos públicos têm facilitado a subtraçãodo erário. A não punição exemplar dosenvolvidos em corrupção estimula mui-tos a pleitear esses postos-chave da ad-ministração pública. O que parecia atébem pouco tempo não ter conserto estámudando. E até bem rápido, parece. Asociedade não pactua com o malfeito eestá cada vez mais alerta condenandoos desvios e aplaudindo o trabalho dapolícia federal e da imprensa, que têm semostrado incansáveis nas investigaçõese apurações desses escândalos. Vive-mos uma grave crise de valores. Acredi-tamos, porém, que por meio de educa-ção, debates e esclarecimentos da po-pulação as mudanças tão sonhadas pelasociedade serão efetivadas.

Chegamos a mais um final de ano.Esperançosos aguardamos que o próxi-mo ano seja melhor e que os mecanis-mos voltados ao combate da corrupçãosejam mais eficientes.

Jesus Cristo, que assumiu a humanidade com sua fragilidade, limites e pecados, a redimiu, e nosconvida a seguir os seus passos. Celebremos o Natal com gestos de partilha e proclamando a presençade Cristo. Feliz Natal! (Imagem: detalhe da pintura “Natividade”, de Munir Alawi)

Reproduções

Page 2: DEZEMBRO 2014

Página 2 Piquete, dezembro de 2014

A Redação não se responsabiliza pelos artigos assinados.

Diretor Geral:Antônio Carlos Monteiro ChavesJornalista Responsável:Rosi Masiero - Mtd-20.925-86Revisor: Francisco Máximo Ferreira NettoRedação:Rua Coronel Pederneiras, 204

Tels.: (12) 3156-1192 / 3156-1207Correspondência:Caixa Postal no 10 - Piquete SP

Editoração: Marcos R. Rodrigues Ramos

Laurentino Gonçalves Dias Jr.

Tiragem: 1000 exemplares

O ESTAFETA

Fundado em fevereiro / 1997

Imagem - Memória

Patrimônio cultural de Piquete, o Espor-te Clube Estrela foi por muitas décadas oresponsável por levar o nome do municípioàs diversas cidades da região. Patrocinadopela Fábrica de Pólvora, formou geraçõesde grandes jogadores e contratou outrostantos craques que enriqueceram o time, tra-zendo importantes vitórias para alegria dostorcedores. Até 1976 o Esporte Clube Estre-la foi sinônimo de raça, técnica e habilidadecom a bola. Respeitado pelos adversáriosda região, assistir aos jogos do Estrela erauma aula de garra, força e amor à camisademonstrada por uma plêiade de jogadoresque elevaram o nome do time.

Paixão nacional, o futebol chegou a Pi-quete após a fundação da Fábrica. Recém-introduzido no Brasil, esse esporte de ori-gem inglesa já havia sido assistido por mili-tares e mestres no Rio de Janeiro ou em SãoPaulo, que aqui vieram trabalhar. Quandoem 14 de dezembro de 1914 um grupo dejovens operários resolveu fundar o EsporteClube Estrela, recebeu todo o apoio dessepessoal. No início daquele 1914, JorgeMartins, que já conhecia o futebol no Riode Janeiro, chegou a Piquete com uma bola,uma bomba para enchê-la e um manual cominstruções de como praticar esse esporte.Na Av. Major Pedro, ele e alguns outros jo-vens adaptaram um campinho e passaram abrincar, improvisando uma pelada. Tomaramgosto e resolveram então fundar um time.

Se na Inglaterra, berço do futebol, asregras eram seguidas à risca, aqui no Brasilele se caracterizava pelas habilidades e qua-lidades individuais e a improvisação rápidade jogadores. A ginga e os dribles desen-volvidos pelos brasileiros deixavam os es-pectadores boquiabertos. Em Piquete, osnovos atletas não eram diferentes. De ma-neira empírica, começaram a desenvolver umjeito próprio de jogar. Nos primeiros tem-pos, não obedeciam a maneira metódica detreinamento, queriam era correr atrás da bola

e chutar de qualquer jeito. A improvisaçãoimperava. Pouco disciplinados, não procu-ravam técnicas para jogar, preferindo pôr emevidência suas qualidades individuais e aimprovisação rápida de jogadas. Apesar doespetáculo individual mostrado em campo,passaram a estudar o manual trazido porJorge Martins, apoiados pelos poucos mili-tares que conheciam o jogo. Disciplina econdicionamento físico foram-lhes impos-tos.

Desde que os técnicos ingleses elabo-raram a formação em “W”, não procurarammodificá-la. Com o ataque dessa forma, osmeias procuravam possuir fôlego inesgotá-vel, inteligência, ânimo e velocidade, con-trole perfeito da bola e precisão nos passes.Essa tática oferecia a vantagem de que, quan-do a defesa estivesse apertada, os meias,recuando, uniam-se aos médios, elevandopara cinco o número de homens. Quando oquadro atacasse, os médios os acompanha-vam formando um ataque de oito homens.Após esse aprendizado, os jogadores doEstrela foram se adaptando às regras eaprendendo a jogar com grande habilidadee segurança, e logo conquistaram vitórias erespeito na região. Tornaram-se, ao longodo tempo, referência como um dos melho-res times do interior paulista.

Resgatar a importância do Esporte Clu-be Estrela para a cultura piquetense se faznecessário. Ao longo dos anos foram mui-tos os cronistas que se preocuparam em re-gistrar em jornais e revistas especializadasum pedaço dessa bela história. Um nome aser lembrado é o de José Osmar D’Amico,importante guardião de longo período damemória de nosso futebol: em 1950 passoua ser Diretor de Esportes do Estrela, cargoem que permaneceu por dezesseis anos.Depois, como seu último presidente, forammais dez anos, até 1976. Durante 24 anos,D’Amico foi correspondente da Gazeta Es-portiva, órgão da Fundação Cásper Líbero,

de São Paulo, referência nacional no regis-tro do futebol brasileiro. Por meio dele OESTAFETA parabeniza todos os ex jogado-res e técnicos do Estrela.

Relembrar os anos de ouro do Estrela éum agradável exercício de memória. É preci-so resgatar e passar para as novas gera-ções essas histórias. Muitos de seus ex-jo-gadores estão aí. Gravar e documentar seusdepoimentos é um desafio a ser enfrentado.

Esporte Clube Estrela, patrimônio cultural de Piquete

Fotos arquivo Pro-Memória

01 03

02 04

Fotos: 01) Equipe campeãa da 2a Divisão 1961:Em pé (d/e): Mário, Ivo, Cotinho, Giba, Goular,Ney, Didi, Daniel e Celso Torino. Agachados:Geninho, Barbará. Ely, Ivan, Ilto e Pingo; 02)Equipe do Estrela em 1971: Em pé (d/e): Rubens,Sarlo, Jorginho, Bela, ?, Baicerê. Agachados:Binha, Paulo Borges, Valtinho, Carlinhos eParaguaio; 03) Estrela em Pouso Alegre, MG:Hélio Guilherme, Alfredo. Sgto. Pereira.Armandinho, Durvalzinho, Miguel, Sérgio,Adeodato, Catrica, Vítor, Edward, Diomiro, Cel.Michel, ?, ?, Jair de Melo. Batista, Zé Pretinho,Torresmo, Véio e Joel. 04) A equipe da primeirapartida do Esporte Clube Estrela, em 7 defevereiro de 1915: José Luiz Ferreira, MessiasHenrique Ribeiro, Oscar Guilherme Jansen, ?,Tristão de Souza, Sebastião de Lima, Amélio Bar-bosa, Tonico Cardoso, Benedito Marques, ?,Carlos Alberto Jansen, Alcides de Melo.

O ESTAFETA

Page 3: DEZEMBRO 2014

O ESTAFETA

GENTE DA CIDADEGENTE DA CIDADE

Página 3Piquete, dezembro de 2014

Bídi Luiz Flávio Rodrigues

Acordo cedo. O sol ainda amarela ohorizonte. Deitado no quarto de janelaaberta, só percebo o muro que separa mi-nha casa e a da vizinha, de cor amareladapela luz e pedindo pintura. A trinca faz umdesenho estranho que parece um peque-no rio visto lá do alto. O serpenteio melembra a vida toda cheia de percalços. Le-vantar é um sacrifício. Então serve pensar.O que espera por mim nesse dia? Os pla-nos que fiz decerto não acontecerão denovo. De noite, ao me deitar, o “por fazer”ainda estará ali numa das curvas daquelatrinca. Imutável. Que desafios se apresen-tam? Todos os dias os mesmos e os no-vos. Acumulam-se feito sacos de carvãonas carroçarias dos caminhões. Cada diamais alto. Até que tombam um dia qual-quer. Quem encontrarei? Os mesmos ros-tos de sempre? E darei o mesmo e secobom dia. Sorriso amarelo no rosto. Bomdia! Bom dia! O pedreiro que enrola umcigarro para pitar na esquina. Bom dia! Oscatadores de lixo que fuçam nos sacos àprocura de ouro. Bom dia! A trabalhadoraapressada que todo dia quase perde a con-dução. Bom dia! Os idosos que esperam ocarro da saúde. Bom dia com muita espe-rança. Os mais idosos que apenas espe-ram o dia de partir. Bom dia! Bom dia comvoz rouca e sem forças. Uma pequena ora-ção, ainda deitado. Senhor, fazei-me ins-trumento de vossa paz. Onde houver ódio,que eu leve o amor. Os pensamentos dis-traídos pelo canto do bem-te-vi vão sole-trando as palavras. Onde houver dúvidas,que eu leve a fé. Antes do “fazei que euprocure mais” me ponho de pé. Descalçosinto o chão frio do banheiro. É dando quese recebe. Apesar da reprovação daquelaimagem no espelho deixarei a barba paraamanhã. Reparando aqueles tantos fiosbrancos que não tinha poucos anos atráse ainda pensando: e é morrendo que sevive para a vida eterna. A vida eterna éfácil. Difícil é chegar a ela, dizem os teólo-gos. Para isso preciso tomar meu café comleite e comer aquele pão amanhecido quetorro na chapa, com manteiga. As palavrasda pequena oração vão se perdendo e afilosofia da vida toma conta do meu dia.Roupa trocada, dentes escovados, perfu-me, crachá, telefone, canetas. O mesmo ri-tual diário. E então saio às ruas, onde háódio, onde há ofensa, onde há discórdia,onde há dúvida, onde há erro, onde há de-sespero, onde há tristeza e onde há tre-vas. E assim, na densa nuvem da incertezado dia, sumo por entre a neblina da vida.Ainda que saiba que ao final do dia a mes-ma trinca esteja em meu muro, quem sabeum pouco mais crescida, me perco nas vi-elas do consolo, da compreensão, do per-dão e da morte. Corto algumas cabeçasdo “por fazer”, que se comporta como aHidra de Lerna. Não me resta alternativaao seu bafo mortal. Corto as que posso.Os encontros se repetem. Boa tarde! O Solfechou seu arco. No ocaso, resta-me amar.Profundamente. De volta aos muros. Aoquarto. À trinca. Boa noite e até amanhã!

Boa noite!

A conversa para alimentar as informa-ções deste texto começa após o término daretirada do mato existente entre os paralele-pípedos do trecho da rua em frente à suacasa. “Com essa chuva, ele cresce muitorápido... Se não retirar, fica muito feio...”. Umcidadão... Assim é Alcebíades Rodrigues daSilva. Assim é o pai, o avô e bisavô Bídi,como é conhecido em casa e pelos amigos.

Bídi nasceu na vizinha Cruzeiro, SP, emvinte e três de abril de 1944, segundo filhoentre os cinco do casal Adeodato Rodriguesda Silva e Ana Rosário da Silva. Quandocontava quatro anos, o pai foi contratadopela Fábrica Presidente Vargas para traba-lhar e atuar como goleiro do Estrela FutebolClube, um dos melhores times da região àépoca. “Meu pai pôde escolher entre ir parao Rio de Janeiro ou vir para Piquete. Homemde visão, escolheu o Estrela, pois teria, as-sim, além da vaga no time, um emprego fixoe mais estabilidade. Fez a escolha certa...”,conta Bídi, orgulhoso do pai, grande golei-ro da equipe piquetense.

Em Piquete, Bídi foi estudar no GrupoEscolar da FPV. Nas horas vagas, acompa-nhava o pai nos treinos. Nascia ali uma pai-xão que o acompanharia para a vida toda: ofutebol. Fez parte de todas as categorias doEstrela: infantil, juvenil, amador e profissio-nal. “Além de meu pai, quem me fez ingres-sar no futebol foi o Salvador, que incentiva-va o esporte entre as crianças. Foi um gran-de amigo”, afirma. Ainda em Piquete, con-cluiu o ginasial.

Em 1968 passou a jogar em Rezende, noestado do Rio de Janeiro. A viagem pela ro-dovia Presidente Dutra, no entanto, fez comque retornasse para Piquete: “Era muito pe-rigoso. Todo dia havia acidentes. Minhamãe insistiu para que eu deixasse a equipeem função dos riscos das viagens constan-tes pela Dutra. Eu cedi, pois ela tinha razão– havia acidentes todos os dias; a Dutra eramuito perigosa àquela época, com uma pis-ta só”, lembra. Nesse mesmo ano, casou-secom Maria Brasilino, em dezenove de mar-ço: “A gente se conheceu no estádio doEstrela... Naquela época, havia arquibanca-das separadas para homens e mulheres e,assim, as meninas podiam ir nos assistir. Foidessa forma que nos conhecemos e casa-mos...”, conta, entusiasmado.

Da união nasceram três filhos, que lhes de-ram quatro netos e três bisnetos.

Em 1969, seguindo os conselhos dadospelo pai, decidiu ir para São Paulo em buscade novas oportunidades de emprego. Ficoupor lá até 1971, quando uma oferta para tra-balhar em Cruzeiro, na FNV (Fábrica Nacio-nal de Vagões) fez com que deixasse a capi-tal. “Passei a trabalhar e a fazer parte dotime da empresa. Logo no primeiro ano fo-mos campeões da cidade”, conta, orgulho-so. Em 1975, um amigo do mesmo ramo pro-fissional o aconselhou a prestar concursopara a Rede Ferroviária Central do Brasil.Aprovado, Bídi ingressou como auxiliar eaposentou-se, vinte anos depois, em 1995,como maquinista. “Foi uma vida de muitasviagens; os cursos eram constantes paraencarar o desenvolvimento tecnológico e adifícil missão de atuar em uma grande malhaferroviária como as das capitais carioca epaulista. Atuei em muitas linhas... O famoso‘trem de prata Rio - S.Paulo’ foi comandadopor mim... Tínhamos muitas vantagens comofuncionários, tudo do bom e do melhor, ho-téis de primeira. A única dificuldade era adistância constante da família, a impossibi-lidade de ver os filhos crescerem...”.

Desde a aposentadoria, optou por ficarem casa e curtir a família:“Foram muitos anos longede casa e quis recuperá-los”. Bídi é o responsávelpela casa: “Ele cuida de mime da casa com muita aten-ção”, afirma carinhosamen-te a esposa...

Bídi é caseiro. É assimque cultiva e transmite àsua descendência os va-lores que recebeu de seuspais. Seus hábitos saudá-veis lhe proporcionaramboa saúde e ele aprovei-ta para desfrutá-la com afamília que tanto ama.

Flamenguinho: Em pé: Português, José Tertuliano, Nilson, Amer-

quinho, Márcio, Mazinho e Salvador. Hugo, Bidi, Glaidon, Ediemar

e Vítor

Page 4: DEZEMBRO 2014

O ESTAFETA Piquete, dezembro de 2014Página 4

Um dos temas mais discutidos relativa-mente à formação nacional é o da Históriapela memória coletiva, isto é, aquela quemolda o presente a partir das influências dopassado para, no conjunto da população,antecipar o futuro.

A coletividade, cultivando o passadocomum, reverencia o que foi selecionadopelas tradições para autenticar um desenhobaseado nas linhas dadas como oficiais. Oenriquecimento dos conteúdos armazena-dos no imaginário que faz da nação umaentidade imaginada e aceita. Acatada ofici-almente por todos.

Teoricamente coerente, a política da me-mória se apresenta com clareza e difunde-sepelo sistema educacional, as solenidades, ocultivo familiar e os diferentes pontos decontato para, como argamassa, organizar opatrimônio cultural. Solidificada pela difu-são e aceitação, modela o corpo da pátria.Portanto, as tradições inventadas simboli-zam, por sua aceitação, o corpo pátrio re-presentando-se pela coesão social. Todosas repetem, seja nas formas orais, seja nasgráficas ou artísticas. Por exemplo, no fa-moso quadro de Pedro Américo que repre-senta a independência do Brasil por DomPedro I, o monarca apresenta-se oficialmen-te vestido, monta um belo cavalo brancotodo ajaezado, como para uma solenidadede gala. Hoje discute-se a representação,mas a imagem tornou-se oficial. Repete-setodas as vezes nas quais o ato é rememorado.Fixa-se na memória coletiva.

Esta forma social e as demais, cuja re-presentação invoca atos para servirem deparadigmas, referências, e assim, inculcarcrenças e valores. Ao se tornarem comuns,pela convicção de verdade ou da prática,não necessariamente escritas, transmitem-se através de gerações e oficializam-se pe-los regimes políticos na construção da au-toridade. Há os casos dos objetos que trans-cendem e sobrevivem através de “testemu-nhas”, ou depoimentos dados por pessoasadmitidas como merecedoras de crédito.Sobrevivem na repetição, principalmente, dahistória oral.

É o caso, por exemplo do relato sobre a“origem” de Piquete.

A origem do núcleo de habitantes de Pi-quete, segundo pesquisamos, associa-se aomovimento de tropas de abastecimento quede Minas demandavam os portos do litorale voltavam num processo em que ocupa-ções surgiam de acordo com esse comércio

A memória coletiva – uma discussãoque vicejava gerando riquezas. Paralelamen-te, fazendas se instalaram e se ligaram a essecomércio.

Pois bem. No evento da comemoraçãodo 67º aniversário da emancipação políticadesse núcleo, em 1958 foi fixada uma placajunto a uma pedreira na Rua do Piquete.Pedreira hoje substituída por construções euma parede externa onde a citada placa seencontra. Continua à vista de todos.

Ela é rememorada como “marco do lo-cal em que acampou o Piquete de Cavalariacomandado pelo Ten. Vicente Eufrázio, en-viado pelo Duque de Caxias durante a Re-volução do 2º Império, fato que sugeriu oatual nome desse lugar, antes conhecidocomo Arraial de São Miguel”. (Cópia textu-al). Entretanto, não há documentos ofici-ais sobre tal evento. Provavelmente foi umamemória inventada e tornada tradicionalpelos relatos de história oral. Na consultaao arquivo do Estado, o que consta de maisantigo são listas de moradores do Bairrodo Piquete, da 7ª Cia. de Ordenanças daVila de Lorena, datadas de 1828 (data ante-rior à da Revolução liberal de 1842, prova-velmente a da citação, que afetou São Pau-lo e Minas). Mesmo depois de publicadasessas observações, a começar por esseperiódico “O Estafeta”, e citações em pa-lestras, discursos e outros meios, ainda senotam recorrências àquela placa gravadana pedra e difundida por vozes dadas comode autoridade.

Pois bem. A memória coletiva, isto é, deum povo ou comunidade, expressa-se atra-vés de gerações pelos meios de comunica-ções orais, escritas e televisivas, pelas “re-des sociais” e canais informativos. Perpe-tua-se. Daí ser difícil e demorado corrigirdados superados por pesquisas maisaprofundadas. Os documentos arquivadosoficialmente são fontes de pesquisa paraaferir dados conservados por essa memó-ria que se torna coletiva. Os chamados “fa-tos” históricos” são dados aceitos, porém,devem ser ressignificados para ter credibi-lidade. Para isso, a documentação registrasem entretanto constituir “verdade” aca-bada, isto é, incontestável. Pois, mesmo osdocumentos podem servir aos interessesde quem os emite ou permite que sejam ofi-cializados. Há ainda, os apócrifos, isto é,forjados. Daí a necessidade de con-textualização. Os acontecimentos são atre-lados à razões históricas e interesses polí-ticos. Revelam-se nas sociedades como

símbolos a retratar uma época e seus pro-tagonistas. A Guerra do Paraguai (1865-1870) é vista de diferentes formas pelosdois lados da fronteira: o brasileiro e oparaguaio. Este, espoliado pelo brasileiroque é mostrado pela heroicidade. Entretan-to, nas análises históricas, o protagonismorepresentado por um sujeito pode ser subs-tituído por outro, atendendo a mudançasque a sociedade exige. Dependendo doenfoque dado. Por exemplo, a heroicidadede um grupo dado como hegemônico podeser substituído pelo que, sujeito à domina-ção, passe a ser relevado.

Nos “westerns” americanos, os bran-cos dizimavam os indígenas com a aprova-ção da sociedade e dos espectadores “co-lonizados” pelas ideias dos vitoriosos, re-presentantes do capitalismo em curso e as-censão. A vitória do “mais forte” era aplau-dida. Nos finais de século 20, um revisio-nismo histórico dando voz aos vencidospassou a ser aprovado e seguido por umasociedade preocupada em rever as posi-ções e iluminada pela teoria difundida emnovos conceitos sociais de crítica aos sis-temas de dominação.

Novos teóricos passaram a anunciar umnovo tempo de lutas pelos direitos huma-nos democraticamente proclamados. Na “ló-gica” da tradição, o rico, o “bem nascido”estava acima do pobre, deserdado dasbenesses da sorte e da riqueza.

Os desmandos dos poderosos donosdos bens eram tacitamente aceitos e a pró-pria Igreja pactuava com eles, garantindo-lhes o privilégio de classe. Hoje, o pensa-mento é outro e o próprio papa Francisco,recomenda uma prática social mais inclusi-va como símbolo cristão e democrático.

Em nome de uma “nova” moralidade, amemória coletiva seleciona dados do trans-correr histórico e das motivações sociaispara, no presente, recolocá-los numa ruptu-ra não afastada de conflitos, mas superadapelos motivos moldados e mobilizados numapostura revolucionária social.

O passado, a tradição, com vistas aoarmazenamento dos conceitos é ressigni-ficado no presente, para indicar aos parti-cipantes sociais a função da memória co-letiva, e integrá-los pelas tensões e revi-sões ao código que admite as trocas detendências como elemento da dinâmicaque o anima.

Dóli de Castro Ferreira

Há mais, muito mais para o Natal do que luz de vela e alegria. O Natal é o espírito da amizade que brilha

o ano todo... É a consideração e a bondade... É a esperança renascida novamente para promover a paz, o

entendimento e a benevolência entre os homens de boa vontade. Vamos comemorar o nascimento de Jesus.

Feliz Natal e um 2015 de muito sucesso são os votos da Fundação Christiano Rosa.

Page 5: DEZEMBRO 2014

O ESTAFETA Página 5Piquete, dezembro de 2014

Em atmosfera de justiça e de justeza,houve um homem chamado Dom – DomHélder Pessoa Câmara.

Veio para calibrar o significado dosensinamentos de Jesus Cristo.

Dom se sentia desconfortável diantedaquela fração da cristandade que solta-va, com melodia, a sua voz afirmando:

“Tu, Senhor, és meu pastor.Não me falta coisa alguma”Dom se agitava – Como não falta? Fal-

ta casa, falta comida, falta remédio, faltaroupa, falta escola. Falta terra. Falta água.

Onde estão as outras frações da cris-tandade? Onde está o “vede como seamam”? Onde está o “dividiam tudo entresi”?

Pode ser que estes dividissem – quetinham para dividir?

Termina a celebração. O homem da fé,da esperança, da caridade tira os paramen-tos.

Dom vira cidadão. Agora não podemais pensar no “mundo que há de vir”.Tem que calibrar o significado do mundoque aqui está.

Duas línguas faladas por nações po-derosas se juntam para traduzir a realida-de que têm diante dos olhos: República,Democracia.

Dom entendeu com facilidade. Afinal,no seminário a língua latina e a grega cor-riam soltas em companhia do hebraico edo aramaico.

Ah! Aqueles monges que gastavam osolhos copiando os livros sagrados! Ah! Ogrande Jerônimo queimando as pestanasnas traduções!

E agora? Onde estão os textos? Ondeestão os copistas? Quem traduziu melhor?

Dom encontra Rui – “A Pátria é a famí-lia amplificada!”

Dom ouve o coral de Heitor:“Brasil, usina do mundo,Nova oficina de Deus”.Dom verifica que os fundamentos são

os mesmos.A Pátria, o Brasil, é uma família. Logo –

os brasileiros todos somos irmãos.Dom medita – os irmãos cristãos não

entenderam a Boa Nova.E os irmãos brasileiros? Dividem tudo

entre si? A nova oficina de Deus está aber-ta a todos, produz para todos?

Dom, dom, dom! Os sinos dobram. Domnão está mais.

Terá ido discutir com os mongescopistas? Terá marcado uma tertúlia se-mântica com Jerônimo e seus pares?

Ou terá preferido acertar alguns pon-tos com Rui e Heitor?

Dom, por favor!Na voz do vento, no coral da passara-

da, no agito do mar, no riso da criança,revela para nós a verdade!

Dom e a verdadeAbigayl Lea da Silva

“A Terra em si é de mui bons ares... Aságuas são muitas, infinitas; em tal manei-ra é graciosa, que, querendo-a aprovei-tar, dar-se-á nela tudo por bem das águasque tem”.

Constata-se a diminuição do volume deágua potável por todo o mundo, fruto dodesmatamento inconsequente provocadopelo homem ao longo da história. O proble-ma toma tal dimensão, que muitos pesqui-sadores acreditam que ela será a causa deinúmeros e sérios conflitos no futuro.

A descrição da epígrafe acima, feita porPero Vaz de Caminha quando do descobri-mento do Brasil, há muito deixou de ser rea-lidade.

Com a colonização, iniciou-se um pro-cesso de desmatamento da Mata Atlânticae consequente diminuição da água. A flo-resta, com sua rede de raízes, age como umpoderoso filtro, ao mesmo tempo em queevita as enchentes e a erosão. As raízesajudam a água a se infiltrar no solo, alimen-tando, assim, o lençol freático. Com isso,além de filtrar a água, a mata garante, ain-da, o seu fornecimento durante todo o ano.Seus solos, com grande quantidade de de-tritos e folhas, funcionam como esponjasretendo a água da chuva e liberando-a aospoucos. É o que se conhece por RegimeHídrico Permanente.

Apesar de degradados e continuamen-te corroídos por desmatamentos ilegais, osúltimos remanescentes de Mata Atlânticaainda garantem a água para o abastecimen-to de aproximadamente 120 milhões de bra-

sileiros na extensa faixa leste do país, res-ponsável por 70% do PIB. Boa parte dosrios que nascem em tais remanescentesdeve a qualidade de suas águas à existên-cia de florestas, sobretudo nas áreas derelevo acidentado, onde a retirada da ve-getação nativa significa acelerar processosde erosão e deterioração ou ressecamentode nascentes.

Este valioso serviço prestado pelas ma-tas, no entanto, nem sempre é conhecidoou reconhecido. Por isso, ambientalistas epesquisadores têm buscado mobilizar a so-ciedade para ações de conservação e recu-peração desses recursos.

Localizado no domínio de Mata Atlân-tica, o município de Piquete é cortado pelaSerra da Mantiqueira, local que tem em suasencostas a nascente de inúmeros ribeirõestributários do Paraíba do Sul. A Mantiqueiraé, na verdade, grande produtora de água.Para que continue a exercer esta função,no entanto, são necessárias ações imedia-tas para reparar questões referentes a agra-vos ambientais como desmatamento emáreas de mananciais, erosões de encostas,assoreamento dos rios com diferentesdejetos, desperdício de água etc.

Nos últimos anos, este informativo veminsistentemente chamando a atenção paraessas questões. Espera-se que o municípiopriorize a Educação Ambiental contribuin-do para a formação de uma consciênciapreservacionista. Nossos governantes têmde ser cobrados para que ajam em favor domeio ambiente.

Águas e florestas da Mata Atlântica

Fot

o ar

qu

ivo

Pro

-Mem

ória

Page 6: DEZEMBRO 2014

O ESTAFETAPágina 6 Piquete, dezembro de 2014

Crônicas Pitorescas

Palmyro Masiero

Diálogo de vinténs...

Papai Noel é meu pai...Edival da Silva Castro

Juninho: quatro anos, esperto e sabido.Quando ouvia falar em Papai Noel, saía

com essa:– Papai Noel não existe. Ele é o meu pai.Os pais de Juninho ficavam aborrecidos

com a insistência do filho em não acreditarno Papai Noel. Achavam que faz parte domundo encantado das crianças acreditarnele.

No condomínio, quando se juntava comos amiguinhos, na pré-escola, o menino erao protagonista da não existência do velhi-nho.

Em dezembro, quase o mês todo o garo-to presenciava o pai se vestir de Papai Noela fim de trabalhar. Talvez por isso a descren-ça.

Seus pais, encabulados com a opiniãodo filho, resolveram preparar-lhe um ardil eprocuraram a pessoa certa.

Quando iniciou dezembro, perguntaram-lhe o que gostaria de ganhar pelo Natal, eele, taxativamente, respondeu:

– Quero ganhar do meu pai um MP3.Papai Noel não existe.

Na noite de Natal, sem que ele notasse,na sala de jantar o Papai Noel badalava asineta. Quando entrou na sala, foi logo di-zendo:

– Ah, papai, quer me enganar? Eu seique é você!

Papai Noel ao lado da árvore-de-nataltrazia no rosto um sorriso de expectativa.Juninho aproximou-se e recebeu das mãosdele um pequeno embrulho. Num gesto ines-perado, o menino começou a puxar-lhe abarba, dizendo:

– Tira essa barba, papai! Tira essa bar-ba!

O Papai Noel, segurando-lhe as mãos,refutou:

– Juninho, eu sou o verdadeiro PapaiNoel. Seu pai falou-me que você não acredi-tava em mim, pois aqui estou. Agora tenhoque ir, a fim de continuar meu serviço deentrega de presentes a outras crianças. Otrenó ficou lá fora. Feliz Natal, meu garoto!

Como combinado, o pai de Juninho apa-receu de repente:

– O que está acontecendo aqui? O que éisso na sua mão?

Juninho, sem saber o que responder, seadmirou quando viu o pai. Abriu o pequenopacote e ficou duvidoso por se tratar doMP3.

– Viu como o Papai Noel é bonzinho?!Trouxe-lhe o presente que você havia mepedido. Agora está tudo bem. Feliz Natal,meu filho! Vou trocar de roupa. Hoje é Na-tal!

(...)

A – Você notou como quase todos ospolíticos fazem a mesma jogada?

B – Não captei bem a intenção da per-gunta...

A – Pior é que até os aspirantes a entrarno círculo mordômico já rezam pela mesmacartilha!

B – Demagogia?A – Conhece “O Príncipe”?B – E eu lá sou gente pra conhecer prín-

cipe?!A – Tô falando do livro “O Príncipe”, de

Niccoló Machiavelli.B – Já ouvi comentários... Um livro so-

bre política, não é?!A – Vamos dizer que sim... Mas, como

me referia, parece que os homens que estãopor cima e os pretendentes a desbancá-lostêm como breviário essa obra.

B – Então o livro é um espanto.A – Pontos de vista... O autor estudou

durante quase quinze anos a “arte do Esta-do” para escrevê-lo. Pra você sentir o pesodo bruxo, Bayle, no século XVII, já dizia que“... maquiavelismo e a arte de reinar tiranica-mente são termos sinônimos”. Morou? Ne-gócio é segurar o poder a qualquer preço,doa a quem doer, estoure onde estourar.

B – Mas a que vêm essas suas observa-ções?

A – Porque estou escrevendo um livroque será a antítese de “O Príncipe”.

B – Como é que é?A – O autor Machiavelli virou Maquia-

vel, de onde se originou o maquiavelismo.Este tomou conotação maligna e a ela fun-de-se o da razão do Estado. Sendo assim,quem conhece bem o livro e atualiza seuscapítulos para grudar no poder está semprena crista. Os que tentam ser poderosos tam-bém o utilizam. Vem a grande pergunta: comoficam os que não postulam nada?

B – E eu que sei?!A – Aí é que está. Ninguém quer saber.

Por isso estou escrevendo “O Miserável”.B – Victor Hugo já escreveu um livro de

cunho social com esse título.A – O dele chama-se “Os Miseráveis” e

o herói é um cara que foi condenado a tra-balhos forçados por roubar um pão. Atualís-simo! O meu não tem nada a ver com isso.Terá, como em “O Príncipe”, XXVI capítu-los... Ali, em romanos mesmo!

B – A quem é dirigido e que mensagemleva?

A – Pelo título, o alvo está evidente.Quanto à mensagem, nenhuma. Seu objeti-vo é ensinar o povão como suportar alambada advinda dos maquiavelistas. Emcada capítulo, transformo o proposto paraos poderosos em meios de o miserável con-seguir sobreviver à porretada. Entendeu?

B – Começou a escrever o livro?A – Os dois primeiros capítulos... Em “O

Príncipe”, os capítulo I tem como título “Dequantas espécies são os principados e dequantos modos se adquirem”. Já no “O Mi-serável” o título é o seguinte: “De que esca-la é o político e de quantos modos pode meacertar”. Técnicas de jogo de cintura...

B – Tô pegando a coisa...A – O capítulo II de “O Príncipe” trata

“Dos principados hereditários”. O mesmocapítulo do meu livro cuida “Dos políticosprofissionais”. É como dar nome aos bois...

B – Cara, essa obra vai ser um sucesso.A – Não tô botando muita fé, não...B – Mas por qual motivo?A – A clientela... Onde vai arrumar di-

nheiro para comprar o livro esse bando depés-rapados, duro, miserável, em que foitransformada a grande massa eleitora dessepaís? Isso sem falar no percentual analfabe-to...

Um anjo do Senhor apareceu a José em sonhosdizendo: José, filho de Davi, não tenha medo de re-ceber Maria por esposa, pois o que nela está geradoé do Espírito Santo.

Ela dará à luz um filho e chamarás o seu nomeJesus, porque ele salvará o seu povo de seus peca-dos.

Tudo isto aconteceu para que se cumprisse oque o Senhor falou pelo profeta:

Eis que a Virgem conceberá e dará à luz umfilho, que se chamará Emanuel, que significa “DeusConosco”. José, despertando, fez como o anjo do

Senhor lhe havia mandado e recebeu sua esposa. Sem que ele a tivesseconhecido, ela deu à luz o seu filho, o primogênito que recebeu o nome de Jesus.

Mateus 1:20-25, Bíblia Sagrada

Page 7: DEZEMBRO 2014

O ESTAFETAPiquete, dezembro de 2014 Página 7

Sinto dificuldade em escrever sobre pes-soas que admiro. Tenho receio de exagerarna adjetivação e ferir a simplicidade quedelas emanava como das principais carac-terísticas. Coloquei o verbo no passadoporque são pessoas já sem o cabedal físico,já tornadas memória cintilando num céu pon-tuado dos brilhos memorizáveis, nas ausên-cias dos convívios imediatos. Resgatáveispelas emoções e sensibilidades.

Estou me referindo ao Cel. Alfredo Ara-újo, que pontuou sua vida em Piquete, mar-cando a presença tornada indelével por terassumido a condição que lhe fora outorga-da pela Câmara Municipal e tornou-se umcidadão ativo. Ele com a esposa Anacyr for-mavam um casal “piquetense” pela intensaparticipação na vida social da cidade. Comomuitos dos que chegam à cidade, foram cap-turados pelo encantamento do lugar. Reco-nhecia o privilégio como pertencente à dire-toria da IMBEL junto à Fábrica “PresidenteVargas”, mas não esmoreceu em dedicaresforços para recuperar símbolos do nossopatrimônio histórico-cultural. Procurou osmeios para recuperar parte do ramal férreo ea máquina locomotiva importada e seus va-gões de passageiros e carga e os fez insta-lar. Só então, junto à estação da Estrella doNorte é tornado ponto de atração turística ememorial. Empenhou-se na recuperação daUsina Rodrigues Alves e participou da equi-pe que levou à sua reinauguração e instala-ção de um museu Memorial da Fábrica.

Contribuiu igualmente na constituiçãodo movimento para a recuperação da esta-ção ferroviária “Rodrigues Alves”.

O casal estava entre os organizadoresdas exposições piquetenses no Parque daÁgua Branca, em São Paulo, por ocasião doFestival “Revelando São Paulo”. Testemu-nhei e já registrei neste periódico as ativida-des participativas desse homem culto ebatalhador que os piquetenses aprenderama admirar.

Era importante passar rente à residênciado casal na Vila Militar da Estrela e sentiraquelas presenças no jardim em frente, napraça da Estação da Estrela e nas feiras quese faziam de artesanato naquela estação. Acasa transpirava a presença de gente feliz edotada de paz. Uma boneca artesanal sen-tada à janela junto a vasinhos de flores eramensageira alegre para os transeuntes. Acasa, confortável, tinha na decoração a in-fluência da artista plástica que era Anacyr.Várias de suas pinturas eram expostas nas

Ao modo das pérolasparedes. Os quadros de Anacyr foram ex-postos no recinto de encontros culturais daFundação Christiano Rosa, no local do Es-paço Cultural Celia Ap. Rosa. Inicialmente,os quadros possuíam uma linha de expres-são solar com flores radiosas como os gi-rassóis. Um deles, de tons amarelos, me fas-cinava. Comunicava-me a presença de umaradiação enriquecedora de luz e vida. Anacyradoeceu e inspirava muitos cuidados. Nosquadros mais recentes passava a dominar aluz crepuscular em tons de azuis e cinza e setornaram mais sombrios, porém mais sofis-ticados com a sugestão das formas huma-nas. Anacyr parecia se tornar mais in-trospectiva.

O casal optou pela vida em Piquete, ad-mitindo fixar-se. Para o Coronel, já na reser-va, era uma opção possível. As quatro fi-lhas pareciam aprovar, com visitas frequen-tes. No momento em que Anacyr partiu paraoutra dimensão, o Coronel permaneceu nacasa e, quando, por agravamento de pro-blemas de saúde, teve de se retirar para aresidência de uma das filhas, relutava emdesfazer-se da moradia em Piquete. E paraaqui retornava sempre que era possível.Sempre entusiasmado, o Coronel não sedeixava abater. Lia muito e disse-me gostardos livros bem escritos por J.R.R. Tolkien.Lia no original.

Por fim, admitiu a necessidade de reco-lher os bens acumulados e ficar longe dolugar que demonstrava amar. Não sobrevi-veu muito a essa empreitada. Recolheu-se etransformou-se de matéria física em memó-ria viva. Assim é que o Coronel e Anacyrpermanecem na vida etérea da cidade e nonosso memorial imorredouro. Quais pérolasencontradas em conchas ao sabor das cor-rentes, a matéria orgânica transformada empeças de jóias raras, para permanecer nabeleza da forma e na espiritualidade do bri-lho.

Nota: os livros de J.R.R. Tolkien tratamdas sagas e dos significados da história ar-caica da Inglaterra. Narrativas de mitos elendas que estão no substrato da formaçãodos habitantes da área da Grâ-Bretanha.Pertencem ao seu imaginário. São os que,por exemplo, relataram as sagas do ReiArthur e os Cavaleiros da Távola Redonda.J.R.R. Toklien enriqueceu essa literatura coma saga do Senhor dos Anéis, a Queda deArthur e Hobbit, além de muitos outros, to-dos ricos de aventura e imaginação.

Dóli de Castro Ferreira

Laurentino Gonçalves Dias Jr.

(...) Vi Jesus Cristo descer à terraTornado outra vez menino.Tinha fugido do céuEra nosso demais para fingirde segunda pessoa da Trindade (...).O título desta coluna e os versos aci-

ma são extraídos de um dos mais belos po-emas sobre o Menino Jesus .

Estamos em dezembro. Os versos, deFernando Pessoa, no entanto, não são so-bre um Menino Jesus no Natal, períodoem que Ele se faz ainda mais protagonista.Os versos mostram um Menino Jesus hu-mano, “nosso demais”... Um Menino Je-sus que “limpa o nariz ao braço direito,que chapinha nas poças de água, que ati-ra pedras aos burros, que rouba a frutados pomares, que foge a chorar e a gritardos cães”...

É desse Menino que precisamos, meusamigos. É desse Menino apenas que pre-cisamos para alavancar nossa fé, pois a fétem de vir com a pureza de uma criança, deum menino arteiro, risonho, que não secansa de brincar. Assim vem se mostran-do o papa Francisco – uma criança sim-ples, nossa demais... Suas palavras apon-tam um caminho em direção a Deus Pai, aoDeus Filho e ao Deus Espírito Santo, quedeve ser percorrido com inocência, comalegria, com caridade. Simples assim...

Fernando Pessoa humaniza o MeninoJesus e também mostra, com clareza e be-leza poéticas, que Ele é acessível, que Elenão nos visita somente por ocasião doNatal. O Menino é presente sempre, emtodos os lugares, em tudo e em todos. Anós cabe apenas encontrá-lo, e, para isso,basta sermos crianças, sermos inocentes...Enfim, basta sermos puros de coração, con-forme vem pregando Francisco e de acor-do com os deliciosos versos de Pessoa.

Todos aguardamos o mês de dezem-bro, o mês das férias, de muito calor... De-zembro é tempo de presentes , de confra-ternizações, de encontros... Antes de tudo,porém, dezembro é tempo de renovar oNatal. É tempo de perdoar mais, de abraçarmais, de receber o Menino Jesus com todaa pureza da primeira infância... Não que osdemais meses não sejam tempo pra tudoisso... Dezembro, porém, é especial, pois éo aniversário d’Ele.

Vamos tornar este e outros dezembrosuma oportunidade de estar mais pertod’Ele, um dezembro “nosso demais”!

Que neste e a cada Natal renasçamoscom o Menino Jesus! Que vivamos a fénuma eterna infância arteira e feliz!

Que venha o Menino e, com Ele, um2015 de esperanças renovadas!

“Que seja eu a criança,o mais pequeno”

Page 8: DEZEMBRO 2014

O ESTAFETA Piquete, dezembro de 2014Página 8

A poesia do saudoso Manoel de Bar-ros é simplesmente fantástica. Disse ele queuma menina foi desmoçada por um gavião,ficou emprenhada e dela nasceu uma goia-beira. Deu à luz... Sua mãe e ela comeramgoiabas. A poesia não se dobra à ordemnatural das coisas. As pedras podem setornar pássaros, não estão condenadas aser sempre pedras. Só as palavras conser-varam seus deslimites, não foram castiga-das com a ordem das coisas que, segundoo poeta, veio depois.

As coisas da religião também brotamno chão em que nasce a poesia, não per-tencem ao mundo da factualidade, da obje-tividade científica que a tudo ordena comprecisão e rigor. Nas narrativas da religiãonão há limites para as palavras: uma virgempode ser mãe e Deus pode ser um meninopobre. Isso é maravilhoso. A fé nos libertada dureza da vida, do rigor da ordemestabelecida. Na poesia da fé tudo é possí-vel, o mundo e a ordem dos fatos podemser criados e recriados como fez Deus noinício de tudo.

O Natal resgata-nos da frieza do mundoe nos faz habitar a poesia; talvez por issonos encante tanto. Cantam os anjos: “Gló-

O Natal subverte a ordem do mundoria a Deus nas alturas! Paz aos homens deBoa vontade!” No presépio, o Deus glorifi-cado nas alturas dorme sobre as palhasnuma manjedoura; os pobres pastores, gen-te de boa vontade, possuem a paz, enquan-to ricos e poderosos fazem guerras mundoa fora. É uma desordem que só faz sentidonos deslimites da poesia.

Penso hoje em um menininho que há denascer em um presídio por esses dias. Suamãe está no término da gestação e aguardaum julgamento. Nascerá, como Jesus, naperiferia da existência. O mundo não esperamuito dele, pois é filho de uma presidiária.No mundo em que impera a ordem das coi-sas – nas palavras de Manoel de Barros –as pedras estão condenadas a rolar comopedras para sempre. Na poesia do Natal, po-rém, esse menino nos enche de esperança.A vida se renova nele.

O evangelista João, no prólogo de suasnarrativas sobre Jesus, diz que o Verbo sefez carne e entre nós passou a habitar. Issoé uma notícia que nos enche de alegria. EmJesus, a palavra, que Manoel de Barros diznão ter sido castigada com a ordem das coi-sas, convive conosco, tem carne como nós.Podemos coabitar o mundo com a palavra

feita carne. O Natal torna possível uma for-ma mais originária de viver, um viver maispoético, como nos desvela o poeta pan-taneiro: “Naquele tempo de dantes nãohavia limites para ser. Se a gente encostavaem ser ave, ganhava o poder de alçar. Se agente falasse a partir de um córrego, a gen-te pegava murmúrios. Não havia compor-tamento de estar. Urubus conversavam so-bre auroras. Pessoas viravam árvores. Pe-dras viravam rouxinóis.”

No Natal, o que era impossível na for-malidade da lógica do mundo acabou acon-tecendo – Deus fez-se menino, pobre e in-defeso. Isso abalou toda a ordem esta-belecida, o grande se tornou débil, a pobre-za se tornou riqueza, a fragilidade virtude.Tudo se desorganizou.

Prenhes da poesia do Natal, podemoster esperança diante das contradições domundo. Contemplar a pequenez de Deusna manjedoura de Belém nos ajuda a vernos pequenos, nos pobres, em tantos me-ninos e meninas que nascem em diversasperiferias existenciais a potência da vidaque se refaz a nos encher de esperança.

Pe. Fabrício Beckmann

Este ano o Sudeste brasileiro sofreu ter-rivelmente com uma estiagem sem prece-dentes em sua história. A seca, decorrentedo aquecimento global, e o consequenteracionamento d’água evidenciaram a fragi-lidade dos governos no trato da questãoambiental.

A falta de política pública efetiva quepriorize o meio ambiente aliada à falta deestudos e ações estratégicas voltadas paraa conservação e uso sustentável dos recur-sos naturais, contribuiu para a situação.Deverá ser cada vez maior e mais frequentea estiagem prolongada intercalada por chu-vas torrenciais. O desenvolvimento preda-tório e socialmente excludente, aliado àcorrupção em todas as esferas de governo,contribuiu para que o patrimônio ambientalfosse dilapidado com sérios prejuízos paraa sociedade.

O Natal renova sublimes propósitos defraternidade, reconciliação, desejos de fe-licidade. As luzes que iluminam as cidadesindicam a presença de Deus, que ilumina

nossos corações e reacende sentimentose valores adormecidos: a importância da fa-mília, o anseio por justiça, a atenção aospobres, o respeito à dignidade do ser hu-mano, às diferenças culturais e ao meio am-biente.

Que no ano que se aproxima, a ecologiase torne prioridade e compromisso univer-sal, acima de ideologias. Que a defesa domeio ambiente, mais que um bom propósi-to, seja tarefa urgente de todos os paísesantes que se torne tarde demais para a hu-manidade. O aquecimento global e as alte-rações climáticas aumentarão enquanto per-sistirem a poluição das águas e do ar, aperda da biodiversidade, a acumulação dolixo na terra e nos rios, a desertificação dasflorestas e a perda da capacidade deautorrecuperação da vida.

A sociedade precisa não só estar atentaàs causas da destruição ambiental, mas tam-bém saber cobrar de nossas autoridades fis-calização, cumprimento das leis e políticaspúblicas eficientes voltadas para o meio

ambiente, de maneira que catástrofesambientais a que temos assistido com maiorfrequência não se repitam.

Aproveitemos o Natal para um diálogointerior cheio de bons propósitos e para to-mada de posição e mudança de postura,corrigindo nossos erros, fortalecendo nos-sos acertos e planejando ações para o pró-ximo ano. Mais que o nascimento de ummenino, o Natal é o fortalecimento da certe-za de que somente por meio do compromis-so e do amor alcançaremos o que todos de-sejamos: a felicidade.

Que no próximo ano, os governos dei-xem os discursos de ocasião e passem paraações efetivas, priorizando a questãoambiental. Recuperar nossas nascentes,encostas e matas ciliares deverá ser priori-dade de nossos governos e a palavra deordem há de ser sustentabilidade.

Ano Novo: pensar e agir de maneira sustentável

Fotos arquivo Pro-Memória

Legendas: Ilustram este texto fotos quemostram a produção e o plantio de mudasdurante projetos de recuperação de mataciliar da Fundação Christiano Rosa.