Dezembro de 1950 — Vol. XI, n.° ia AUTORES B LIVRO Página...

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Dezembro de 1950 Vol. XI, n.° ia AUTORES B LIVRO Página 143 ÍNDICES RELAÇÃO DOS FASCICULOS PUBLICADOS ATÊ HOJE primeiro volume (De Agosto a Dezembro de 1941) N.° 1 ¦ N.° Z ¦ NP 3 ¦ NP 4 - N.° 5 NP 6 ¦ NP 7 ¦ NP 8 ¦ NP 9 ¦ H.o 10 tt? 11 NP 12 ¦ NP 13 NP 14 N.° 15 - NP 16 N.° 17 - NP 18 - NP 19 - N.° 20 - N.° 21 - . (10-8-1941) æ(24- 8-1941) . (31- 8-1941) ( 8- 9-1941) . (14- 9-1941) . (21- 8-1941) æ(28- 9-1941) ( 5-10-1941) . (12-10-1941) . (19-10-1941) )26-10-1941) ( 2-11-1941) ( 9-11-1941) (18-11-1941) (23-11-1941) (30-11-1941) ( 7-12-1941) (14-12-1941) (21-12-4941) (28-12-1941) ( 4- 1-1942) Vários assuntos; Fagundes Varela; Eduardo Prado; Inglês de Sousa; Raimundo Correia ; Laurindo Rabelo e França Júnii/r Machado de Assis; Francisco de Castro; Casimiro de Abreu; Artur Azevedo e Moreira Sampaio; Araripe Júnior, Joaquim Serra e Amadeu Amaral; Jackson de Figueiredo; Gonçalves Dias; Marilia de Dirceu e Francisca Júlia;; Raul de Leonl; Augusto dos Anjos; Humberto de Campos e Xavier Marques, Salvador de Mendonça; Raul Pompéla e Maranhão So- brinho; Olavo Bilac; Índice geral e remissivo do pri- meiro volume. Segundo volume (De janeiro a junho de 1942) N.<>1 ¦ N.°2 ¦ NP3 - N.o4 - N.°5 ¦ NP6 - N.°7 N.°8 N.°9 - N.o10 - N."11 ¦ NP12 - NP13 - N.o14 - N.o15 - N.o16 . N.o17 - NP18 - NP19 - NP20 - (11- 1-1942) (18- 1-1942) (25- 1-1942) ( 1- 2-1942) ( 8- 2-1942) (15- 2-1942) ( 1-3-1942) ( 8-3-1942) (15-3-1942) (29-3-1942) ( 5-4-1942) (12- 4-1942) (26-4-1942) ( 3-5-1942) (10-5-1942) (17-5-1942) (31-5-1942) ( 7-6-1942) (14-6-1942) (28-6-1942) José de Alencar; Mário de Alencar; Franklin Távora; Joaquim Nabuco (1.° fasciculo); Joaquim Nabuco (2.° Fasciculo); Vários autores. Trata-se de uma pequena antologia sobre o Car- naval; Stefan Zwelg; Alberto de Oliveira; Castro Menezes; Graça Aranha; Aluizio Azevedo; Visconde de Taunay; Joaquim Manuel de Macedo; Antero do Quental (1.° fasciculo); Antero de Quental (2.° fasciculo); Luís Delfino; José Veríssimo; Ronald de Carvalho; Afonso Arinos; Índice geral e remissivo do se- gundo volume. Terceiro volume (De julho a dezembro ie 1942) NP N.o NP NP - ( 5- 7-1942) (12- 7-1942) (19- 7-1942) (12- 8-1942) _ (16 8-1942' li _ (23- 8-1942) 7 - ( 6- 9-1S42) NP 8 (13- 9-1942) NP 3 _ (20- 9-1942) NP 10 ( 4-10-1342) NP 11 (11-10-1342). NP 12 (18-10-1942) NP 13 - ( 1-11-1942) 14 - ( 8-11-1942) NP 15 (15-11-1942) NP 16 (22-11-1942) NP17 _ ( 6-12-1942) NP 18 _ (13-12-19421 NP 19 - (27-12-1942) Rui Barbosa; José Ribeiro; Barbosa Rodrigues; Vicente de Carvalho; Euclides da Cunha (l.° fasciculo); Euclides da Cunha (2P fasciculo); Vários autores. Trata-se de uma pequena antologia do heroísmo brasileiro;. * . Castro Alves; Alvares de Azevedo; Celso de Magalhães; Cruz e Souza; B. Lopes; Alphonsus de Guimarães (1.° fas- ciculo); Àlphonms d eGuimarães (2.° fas- ciculo); Gonzaga Duque; Mário Pederneiras; Lima Campos; Tristáo da Cunha e Lacerda Cou- tinho; índice; Quarto volume (De janeiro a junho de 1942) NP 10 np n NP 12 NP 13 a o H NP 15 NP 16 NP 17 NP 18 (21- ( 7- (14- (21- NP 19 NP 20 ( 3- 1-1943)Carlos de Laet; 10- 1-1943)José do Patrocínio; (17- 1 1943)Alcindo Guanabara; (24- 1-1943)Quintino Bocaiúva; ( 7- 2-1943)Lúcio Mendonça; (14- 2-1943)Medeiros e Albuquerque; 2-1943)Constando Alves; 3-1943)Paulo Barreto (João do Rio); 3-1943)Bernardo Guimarães; ,.-*- 3-1943)Manuel Antônio de Almeida; < 4- 4-W43)Júlio Ribeiro; (11- 4-1943)Coelho Neto; (18- 4-1943)Lima Barreto (IP fasciculo); ( 2- 5-1943)Adolpho Caminha; ( 9- 5-1943)Paulo Setúbal; (16- 5-1943)Antônio de Alcântara Machado; (23- 5-1943)Lima Barreto (2° fasciculo); ( 6- 6-1943)Teixeira e Sousa; (13- 6-1943)Ângelo Agostini e Júlio Verim (Luís de Andrade); (27- 6-1943)índice. NP N.o NP Quinto volume (De julho a dezembro de 1943) 1 ( 4- 7-1943)Artur Jacesuai; ^ (11- 7-1943)Junqueira Freire; J (18- 7-1943)Luis Guimarães Júnior; 4 ( 1- 8-1943)Gonçalves de Magalhães; NP 5 ( 8- 8-1943) NP 6 (15- 8-1943) NP 7 (22- 8-1943) NP 8 ( 5- 9-1943) NP 9 - (12- 9-1943) N.° 10 (19- 9-1943) NP 11 ( 3-10-1943) NP 12 (10-10-1943) NP 13 (17-10-1943) NP 14 24-10-1943) NP 15 - ( 7-11-1943) NP 16 (14-11-1943) NP 17 (21-11-1943) NP 18 ( 5-12-1943) NP 19 (12-12-1943) NP 20 (25-12-1943) Sexto volume (1 NP 1 - ( l- 1-1944) NP2 - NP3 - NP4 - NP5 NP6 NP7 ¦ NP8- NP9 . N.o 10 NP 11 . NP 12 ¦ NP 13 - NP 14 - NP 15 - NP 16 - NP 17 ¦ NP 18 - NP 19 . NP 20 ¦ ( 8- 1-1944) (16- 1-1944) (23- 1-1944) ( 6- 2-1944) (13- 2-1944) (20- 2-1944) ( 5- 3-1944) (12- 3-1944) . (19- 3-1944) ( 1- 4-1944) æ( 9- 4-1944) . (16- 4-1944) . (22- 4-1944) æ( 7- 5-1944) (14- 5-1944) (21- 5-1944) . ( 4- 6-1944) (11- 6-1944) . (25- 6-1944) Dutra e Melo; Araújo Porto Alegre; Francisco Otaviano; Pedro Luís; José Bonifácio, o moço; Gonçalves Crespo; Hermes Fontes; Emílio de Menezes; Adelino Fontoura; Faria Neves Sobrinho; Afonso Celso; Teófilo Dias; Rodrigues de Abreu e Laurindo Leão; Pedro Américo; W. Shakespeare; Índice geral e remissivo do quinto volume. Miscelânea de vários trabalhos acadêmicos, contendo o discurso do Sr. Getúlio Vargas, ao assu- mir a sua cadeira, como sucessor de Alcântara Machado;'o discur- so de saudação ao Sr. Getúlio Vargas, feito pelo Sr. Ataulfo de Paiva; o discurso do Sr. Menoti dei Pichia ao assumir a sua ca- deira, como sucessor de Xavier Marques; o discurso de saúda- ção, ao Sr. Menotti dei Ficchia feito pelo Sr. Cassiano Ricardo; o discurso do Sr. Macedo Soares, ao deixar a presidência da Aca- demia Brasileira; os discursos do Sr. Múcio Leão, fazendo o re- trospecto literário do ano de 1943 e assumindo a presidência da Instituição; Francisco Adolfo de Varnhagem; João Francisco Lisboa; Barão do Rio Branco; Capistrano de Abreu; Eduardo Prado (2.° fa^ículo); Alcântara Machado; Rocha Pombo; Oliveira Lima e Gabrlela de An- drada Dias; Alfredo de Carvalho e Carlos Leão; Barbosa Lima; Fandiâ Calógeras; João Ribeiro (2.° fasciculo); Tobias Barreto; Sílvio Romero; Martins Júnior; Sousa Bandeira e Cândido Mariano de Oliveira; Artur Orlando; Anatole France e Maviaeldo Prado; índice geral e remis&ivo do sexto volume. Sétimo volume (De julho a dezembro ãe 1944) NP1 ¦ NP2 ¦ NP3 - NP4 ¦ NP6 - NP6 - NP7 ¦ NP8 - ( 9-7-1944) (16-7-1944) (23-7-1944) (30-7-1944) ( 6-8-1944) (13-8-1944) (20-8-1944) ( 3-9-1944) NP 9 (10- 9-1944) NP 10 - NP 11 - NP 12 ¦ NP 13 - NP 14 ¦ NP 15 - NP 16 - (17- 9-1944) æ( 1-10-1944) æ( 8-10-1944) æ(15-10-1944) (22-10-1944) ( 5-11-1944) (12-11-1944) NP 17 (19-11-1944) NP 18 NP 19 NP 20 ¦ NP 21 - ( 3-12-1944) (10-12-1944) (17-12-1944) (31-12-1944) Araripe Júnior (2.° fasciculo); Alberto Faria; Lafayette Rodrigues Pereira; Pedro Lessa; Laurindo Leão; Farias Brito; Tomaz Antônio Gonzaga; Antologia dos poetas bissextos (1.° fasciculo) ~- Eugênio de Castro; Antologia dos poetas bissextos (2.° fasculo); Apolinario Porto Alegre; Augusto de Lima; José Carlos Rodrigues; Pereira da Silva (A. J.); Goulart de Andrade; Guimarães Passos. Lindolfo Esteves e Dranmor (Lu- dwig Ferdinand Schimid); João Júlio dos Santos João Ne- pomuceno Kubstscheck Albino Esteves João Cândido da Costa Sena; Raimundo Correia (2.° fasciculo); Carmen Cinira Ursula Garcia Vera Marta Cândida Maria; Verlalne; Índice geral e remissivo do sétimo volume. Outavo volume. Deste volume saíra seis fa^ci: (De 14 ãe janeiro a 11 de marçt de 1315) N.°1 ²(14- 1-1945)Antônio de Morais Silva- NP2 ²(21- 1-1945)Carneiro Ribeiro; NP3 ²( 4- 2-1945)Rui Barbosa; NP4 ²(18- 2-1945)Pacheco Júnior; NP5 ( 6- 8-1944)Heráclito Graça; NP6 ²(11- 3-1945)Deolindo Tavares; Nono volume (De junho a dezembro de 1948) NP1 ( 6- 6-1948)Pero Vaz de Caminha; NP2 ²(20- 6-1948)Pero Lopes de Souza; NP3 ²( 4- 7-1948)Manuel da Nobrega; NP4 ²(18- 7-1948)José de Anchieta; NP5 ²( 1- 8-1948)Gabriel Soares de Sousa; NP6 ²(15- 8-1948)Bento Teixeira; NP7 ²(29- 8-1948)Pedro de Magalhães Gandavo; NP E (12- 9-1948) NP 9 (26- 9-1948) NP 10 (10-10-1948) NP 11 - (24-10-1948) NP 12 ( 7-11-1948) NP 13 (21-11-1948) NP 14 ( 5-12-1948) NP 15 - (25-12-1948) Fernão Cardim; Qulrino Caxa; Jeronimo Rodrigues; Leonardo do Vale; Luís Figueirai; Antônio de Araújo; Inclui as notícias referentes a dez jesuítas do primeiro século do Brasil que são os seguintes: ~ Vicente Rodrigues; ²Afonso Braz; ²Antônio Pires; ²Diogo Jácome; ²Francisco Pires; ²João de Azpilcueta Navarro; ²Leonardo Nunes; ²Luís da Grã; ²Antônio Rodrigues; ²Pero Correia; ²Pero Rodrigues; Chateaubriand. índice remissivo, por autores, do novo volume; Décimo volume (De 1 de janeiro a dezembro de 1949) NP NP IIP NP NP NP NP NP NP < 1- 1-1949) (15- 1-1949) ( 1- 2-1949) (15- 2-1949) ( 1- 3-1949) (15- 3-1949) ( 1- 4-1949) 1 - ( 1- 5-1949) 9 (Junho de 1949) Padre Antônio Vieira; Gregorio de Mates; Euzébio de Matos; Manuel Botelho de Oliveira; Frei Vicente do Salvador; Diálogo das Grandezas do Brasil; Diogo Gomes Carneiro; Antônio de Sá; Nuno Marques Pereira; Rocha Pita; João de Brito Lima; Antônio de Oliveira; Luís Canelo de Noronha; Gonçalves Soares de França; Joaquim Nabuco; Antônio José; Fontes sobre Joaquim Nabuco; Matias Aires; Alberto de Oliveira (entrevista com Múcio Leão); Teresa Margarida da Silva e Orta; Goethe; Índice Geral e remissivo do 10.° volume. Décimo primeiro volume (de janeiro a dezembro de 1950): NP 10 (Julho de 1949) NP 11 (Agosto de 1949) N.° 12 (Setembro de 49) NP 13 Outubro de 49) NP 14 Novembro de 49) NP 15 Dezembro de 49) NP 1 (janeiro de 1950) NP 2 (fev. de 1950) NP 3 (março de 1950) NP 4 (abril de 1950) NP'5 (maio de 1950) NP 6 (junho de 1950) NP 7 (julho de 1950) NP 8 (Agosto 1950) NP 9 (Setun. de 1950) André João Antonll; ²Iniciativa em prol da Cul- tura, Histórico da Lei np 1.024. Alexandre de Gusmão (1.°); ²Azambuja Euzano. Maria Antonieta Tatagiba. Frei Manoel Calado; ²Marquez do Basto; ²Rafael de Jesus; ²Francisco de Brito Freire; ²Bernardo Vieira Ravasco. Bartolomeu de Gusmão; Alexandre de Gusmão (2) ²Frei Gapar da Madre de Deus; ²Pedro Taques; ²Júlio Salusse. ²Vários autores do século XVII; ²Frei Paulo da Trindade; ²Manuel de Morais; ²Manuel de Macedo; ²Pedro de Morais Madureira; ²Fr. Paulo de Santa Catarina; ²Domingos Barbosa; ²Francisco de Souza; ²Cristóvão de Madre de Deus Luz; ²Fr. Ruperto de Jesus; ²Salvador de Mesquita; ²Inácio Ramos; ²Gaspar Ribeiro Pereira; ²José Borges de Barros; ²Gonçalo Ravasco Cavalcanti de Albuquerque; ²Antônio da Piedade; ²Manuel da Madre de Deus Bulhões; ²João Alvares da França; ²Fr. Francisco Xavier de Santa Tereza; ². .ita Joana de Souza. Frei Antônio de Santa Maria Ja- boatão; Feliciano Joaquim de Souza Fon- seca; ²Frei Itaparica; ²Augusto Frederico Colin. Vários Autores dos séculos XVII e XVIII. Martinho de Mesquita; Frei José da Natividade Frei Manoel do Desterro; Domingos Ramos;><-. *?, Gonçalo Ravasco; Manuel Madre de Deus Bulhões; José de Mirales; Mateus da Encarnaçâo Pina José dos Santos Cosme e Damião; Luiz Botelho do Rosário; José de Oliveira Serpa; José Pereira de Santa Ana; Silvestre de Oliveira Serpa;

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Dezembro de 1950 — Vol. XI, n.° ia AUTORES B LIVRO Página 143

ÍNDICESRELAÇÃO DOS FASCICULOS PUBLICADOS ATÊ HOJE

primeiro volume (De Agosto a Dezembro de 1941)

N.° 1 ¦N.° Z ¦NP 3 ¦NP 4 -N.° 5 •NP 6 ¦NP 7 ¦NP 8 ¦NP 9 ¦H.o 10 •tt? 11 •

NP 12 ¦NP 13 •NP 14 •N.° 15 -NP 16 •N.° 17 -

NP 18 -NP 19 -

N.° 20 -N.° 21 -

. (10-8-1941)(24- 8-1941)

. (31- 8-1941)( 8- 9-1941)

. (14- 9-1941)

. (21- 8-1941)(28- 9-1941)

( 5-10-1941). (12-10-1941). (19-10-1941)

)26-10-1941)

( 2-11-1941)( 9-11-1941)(18-11-1941)(23-11-1941)(30-11-1941)( 7-12-1941)

(14-12-1941)(21-12-4941)

(28-12-1941)( 4- 1-1942)

Vários assuntos;Fagundes Varela;Eduardo Prado;Inglês de Sousa;Raimundo Correia ;Laurindo Rabelo e França Júnii/rMachado de Assis;Francisco de Castro;Casimiro de Abreu;Artur Azevedo e Moreira Sampaio;Araripe Júnior, Joaquim Serra eAmadeu Amaral;Jackson de Figueiredo;Gonçalves Dias;Marilia de Dirceu e Francisca

Júlia;;Raul de Leonl;Augusto dos Anjos;Humberto de Campos e Xavier

Marques,Salvador de Mendonça;Raul Pompéla e Maranhão So-

brinho;Olavo Bilac;Índice geral e remissivo do pri-meiro volume.

Segundo volume (De janeiro a junho de 1942)N.<> 1 ¦N.° 2 ¦NP 3 -N.o 4 -N.° 5 ¦NP 6 -

N.° 7 •N.° 8 •N.° 9 -N.o 10 -N." 11 ¦NP 12 -NP 13 -N.o 14 -N.o 15 -N.o 16 .N.o 17 -NP 18 -NP 19 -NP 20 -

(11- 1-1942)(18- 1-1942)(25- 1-1942)( 1- 2-1942)( 8- 2-1942)(15- 2-1942)

( 1- 3-1942)( 8- 3-1942)(15- 3-1942)(29- 3-1942)( 5- 4-1942)(12- 4-1942)(26- 4-1942)( 3- 5-1942)(10- 5-1942)(17- 5-1942)(31- 5-1942)( 7- 6-1942)(14- 6-1942)(28- 6-1942)

José de Alencar;Mário de Alencar;Franklin Távora;Joaquim Nabuco (1.° fasciculo);Joaquim Nabuco (2.° Fasciculo);Vários autores. Trata-se de uma

pequena antologia sobre o Car-naval;

Stefan Zwelg;Alberto de Oliveira;Castro Menezes;Graça Aranha;Aluizio Azevedo;Visconde de Taunay;Joaquim Manuel de Macedo;Antero do Quental (1.° fasciculo);Antero de Quental (2.° fasciculo);Luís Delfino;José Veríssimo;Ronald de Carvalho;Afonso Arinos;Índice geral e remissivo do se-

gundo volume.

Terceiro volume (De julho a dezembro ie 1942)NPN.oNPNP

- ( 5- 7-1942)— (12- 7-1942)— (19- 7-1942)— (12- 8-1942)_ (16 8-1942'

li _ (23- 8-1942)7 - ( 6- 9-1S42)

NP 8 — (13- 9-1942)NP 3 _ (20- 9-1942)NP 10 — ( 4-10-1342)NP 11 — (11-10-1342).NP 12 — (18-10-1942)NP 13 - ( 1-11-1942)

14 - ( 8-11-1942)NP 15 — (15-11-1942)NP 16 — (22-11-1942)NP17 _ ( 6-12-1942)NP 18 _ (13-12-19421NP 19 - (27-12-1942)

Rui Barbosa;José Ribeiro;Barbosa Rodrigues;Vicente de Carvalho;Euclides da Cunha (l.° fasciculo);Euclides da Cunha (2P fasciculo);Vários autores. Trata-se de uma

pequena antologia do heroísmobrasileiro; . * .

Castro Alves;Alvares de Azevedo;Celso de Magalhães;Cruz e Souza;B. Lopes;Alphonsus de Guimarães (1.° fas-

ciculo);Àlphonms d eGuimarães (2.° fas-

ciculo);Gonzaga Duque;Mário Pederneiras;Lima Campos;Tristáo da Cunha e Lacerda Cou-

tinho;índice;

Quarto volume (De janeiro a junho de 1942)

NP 10np nNP 12NP 13a o HNP 15NP 16NP 17NP 18

(21-( 7-(14-(21-

NP 19 —

NP 20 —

( 3- 1-1943) Carlos de Laet;10- 1-1943) José do Patrocínio;

(17- 1 1943) Alcindo Guanabara;(24- 1-1943) Quintino Bocaiúva;( 7- 2-1943) Lúcio dé Mendonça;(14- 2-1943) Medeiros e Albuquerque;

2-1943) Constando Alves;3-1943) Paulo Barreto (João do Rio);3-1943) Bernardo Guimarães;

,.-*- 3-1943) Manuel Antônio de Almeida;< 4- 4-W43) Júlio Ribeiro;(11- 4-1943) Coelho Neto;(18- 4-1943) Lima Barreto (IP fasciculo);( 2- 5-1943) Adolpho Caminha;( 9- 5-1943) Paulo Setúbal;(16- 5-1943) Antônio de Alcântara Machado;(23- 5-1943) Lima Barreto (2° fasciculo);( 6- 6-1943) Teixeira e Sousa;(13- 6-1943) Ângelo Agostini e Júlio Verim

(Luís de Andrade);(27- 6-1943) índice.

NPN.oM°NP

Quinto volume (De julho a dezembro de 1943)1 — ( 4- 7-1943) Artur Jacesuai;^

— (11- 7-1943) Junqueira Freire;J

— (18- 7-1943) Luis Guimarães Júnior;4 — ( 1- 8-1943) Gonçalves de Magalhães;

NP 5 — ( 8- 8-1943)NP 6 — (15- 8-1943)NP 7 — (22- 8-1943)NP 8 — ( 5- 9-1943)NP 9 - (12- 9-1943)N.° 10 — (19- 9-1943)NP 11 — ( 3-10-1943)NP 12 — (10-10-1943)NP 13 — (17-10-1943)NP 14 — 24-10-1943)NP 15 - ( 7-11-1943)NP 16 — (14-11-1943)NP 17 — (21-11-1943)

NP 18 — ( 5-12-1943)NP 19 — (12-12-1943)NP 20 — (25-12-1943)

Sexto volume (1NP 1 - ( l- 1-1944)

NP 2 -NP 3 -NP 4 -NP 5 •NP 6 •NP 7 ¦NP 8-NP 9 .

N.o 10 •NP 11 .NP 12 ¦NP 13 -NP 14 -NP 15 -NP 16 -NP 17 ¦

NP 18 -NP 19 .NP 20 ¦

( 8- 1-1944)(16- 1-1944)(23- 1-1944)( 6- 2-1944)(13- 2-1944)(20- 2-1944)( 5- 3-1944)(12- 3-1944)

. (19- 3-1944)( 1- 4-1944)( 9- 4-1944)

. (16- 4-1944)

. (22- 4-1944)( 7- 5-1944)(14- 5-1944)(21- 5-1944)

. ( 4- 6-1944)• (11- 6-1944). (25- 6-1944)

Dutra e Melo;Araújo Porto Alegre;Francisco Otaviano;Pedro Luís;José Bonifácio, o moço;Gonçalves Crespo;Hermes Fontes;Emílio de Menezes;Adelino Fontoura;Faria Neves Sobrinho;Afonso Celso;Teófilo Dias;Rodrigues de Abreu e Laurindo

Leão;Pedro Américo;W. Shakespeare;Índice geral e remissivo do quinto

volume.

Miscelânea de vários trabalhosacadêmicos, contendo o discursodo Sr. Getúlio Vargas, ao assu-mir a sua cadeira, como sucessorde Alcântara Machado;'o discur-so de saudação ao Sr. GetúlioVargas, feito pelo Sr. Ataulfo dePaiva; o discurso do Sr. Menotidei Pichia ao assumir a sua ca-deira, como sucessor de XavierMarques; o discurso de saúda-ção, ao Sr. Menotti dei Ficchiafeito pelo Sr. Cassiano Ricardo;o discurso do Sr. Macedo Soares,ao deixar a presidência da Aca-demia Brasileira; os discursosdo Sr. Múcio Leão, fazendo o re-trospecto literário do ano de1943 e assumindo a presidênciada Instituição;

Francisco Adolfo de Varnhagem;João Francisco Lisboa;Barão do Rio Branco;Capistrano de Abreu;Eduardo Prado (2.° fa^ículo);Alcântara Machado;Rocha Pombo;Oliveira Lima e Gabrlela de An-

drada Dias;Alfredo de Carvalho e Carlos Leão;Barbosa Lima;Fandiâ Calógeras;João Ribeiro (2.° fasciculo);Tobias Barreto;Sílvio Romero;Martins Júnior;Sousa Bandeira e Cândido Mariano

de Oliveira;Artur Orlando;Anatole France e Maviaeldo Prado;índice geral e remis&ivo do sextovolume.

Sétimo volume (De julho a dezembro ãe 1944)

NP 1 ¦NP 2 ¦NP 3 -NP 4 ¦NP 6 -NP 6 -NP 7 ¦NP 8 -

( 9- 7-1944)(16- 7-1944)(23- 7-1944)(30- 7-1944)( 6- 8-1944)(13- 8-1944)(20- 8-1944)( 3- 9-1944)

NP 9 — (10- 9-1944)

NP 10 -NP 11 -NP 12 ¦NP 13 -NP 14 ¦NP 15 -NP 16 -

(17- 9-1944)( 1-10-1944)( 8-10-1944)(15-10-1944)

(22-10-1944)( 5-11-1944)(12-11-1944)

NP 17 — (19-11-1944)

NP 18 •NP 19 •

NP 20 ¦NP 21 -

( 3-12-1944)(10-12-1944)

(17-12-1944)(31-12-1944)

Araripe Júnior (2.° fasciculo);Alberto Faria;Lafayette Rodrigues Pereira;Pedro Lessa;Laurindo Leão;Farias Brito;Tomaz Antônio Gonzaga;Antologia dos poetas bissextos (1.°

fasciculo) ~- Eugênio de Castro;Antologia dos poetas bissextos (2.°

fasculo);Apolinario Porto Alegre;Augusto de Lima;José Carlos Rodrigues;Pereira da Silva (A. J.);Goulart de Andrade;Guimarães Passos.Lindolfo Esteves e Dranmor (Lu-

dwig Ferdinand Schimid);João Júlio dos Santos — João Ne-

pomuceno Kubstscheck — AlbinoEsteves — João Cândido da CostaSena;

Raimundo Correia (2.° fasciculo);Carmen Cinira — Ursula Garcia

— Vera Marta — Cândida Maria;Verlalne;Índice geral e remissivo do sétimo

volume.

Outavo volume. Deste volume só saíra seis fa^ci:(De 14 ãe janeiro a 11 de marçt de 1315)

N.° 1 (14- 1-1945) Antônio de Morais Silva-NP 2 (21- 1-1945) Carneiro Ribeiro;NP 3 ( 4- 2-1945) Rui Barbosa;NP 4 (18- 2-1945) Pacheco Júnior;NP 5 ( 6- 8-1944) Heráclito Graça;NP 6 (11- 3-1945) Deolindo Tavares;

Nono volume (De junho a dezembro de 1948)

NP 1 — ( 6- 6-1948) Pero Vaz de Caminha;NP 2 (20- 6-1948) Pero Lopes de Souza;NP 3 ( 4- 7-1948) Manuel da Nobrega;NP 4 (18- 7-1948) José de Anchieta;NP 5 ( 1- 8-1948) Gabriel Soares de Sousa;NP 6 (15- 8-1948) Bento Teixeira;NP 7 (29- 8-1948) Pedro de Magalhães Gandavo;

NP E — (12- 9-1948)NP 9 — (26- 9-1948)NP 10 — (10-10-1948)NP 11 - (24-10-1948)NP 12 — ( 7-11-1948)NP 13 — (21-11-1948)NP 14 — ( 5-12-1948)

NP 15 - (25-12-1948)

Fernão Cardim;Qulrino Caxa;Jeronimo Rodrigues;Leonardo do Vale;Luís Figueirai;Antônio de Araújo;Inclui as notícias referentes a dez

jesuítas do primeiro século doBrasil que são os seguintes:

~ Vicente Rodrigues;Afonso Braz;Antônio Pires;Diogo Jácome;Francisco Pires;João de Azpilcueta Navarro;Leonardo Nunes;Luís da Grã;Antônio Rodrigues;Pero Correia;Pero Rodrigues;

Chateaubriand. índice remissivo,por autores, do novo volume;

Décimo volume (De 1 de janeiro a dezembro de 1949)NPNPIIPNPNPNPNPNPNP

< 1- 1-1949)(15- 1-1949)( 1- 2-1949)

— (15- 2-1949)— ( 1- 3-1949)— (15- 3-1949)— ( 1- 4-1949)

1 - ( 1- 5-1949)9 (Junho de 1949)

Padre Antônio Vieira;Gregorio de Mates;Euzébio de Matos;Manuel Botelho de Oliveira;Frei Vicente do Salvador;Diálogo das Grandezas do Brasil;Diogo Gomes Carneiro;Antônio de Sá;Nuno Marques Pereira;Rocha Pita;João de Brito Lima;Antônio de Oliveira;Luís Canelo de Noronha;Gonçalves Soares de França;Joaquim Nabuco;Antônio José;Fontes sobre Joaquim Nabuco;Matias Aires;Alberto de Oliveira (entrevista com

Múcio Leão);Teresa Margarida da Silva e Orta;Goethe;Índice Geral e remissivo do 10.°

volume.

Décimo primeiro volume (de janeiro a dezembro de 1950):

NP 10 (Julho de 1949)

NP 11 (Agosto de 1949)N.° 12 (Setembro de 49)

NP 13 Outubro de 49)

NP 14 Novembro de 49)NP 15 Dezembro de 49)

NP 1 (janeiro de 1950)

NP 2 (fev. de 1950)

NP 3 (março de 1950)

NP 4 (abril de 1950)NP'5 (maio de 1950)

NP 6 (junho de 1950)

NP 7 (julho de 1950)

NP 8 (Agosto dé 1950)

NP 9 (Setun. de 1950)

André João Antonll;Iniciativa em prol da Cul-

tura, Histórico da Lei np 1.024.Alexandre de Gusmão (1.°);Azambuja Euzano.• — Maria Antonieta Tatagiba.Frei Manoel Calado;

Marquez do Basto;Rafael de Jesus;Francisco de Brito Freire;Bernardo Vieira Ravasco.

Bartolomeu de Gusmão;Alexandre de Gusmão (2)

Frei Gapar da Madre de Deus;Pedro Taques;Júlio Salusse.Vários autores do século XVII;Frei Paulo da Trindade;Manuel de Morais;Manuel de Macedo;Pedro de Morais Madureira;Fr. Paulo de Santa Catarina;Domingos Barbosa;Francisco de Souza;Cristóvão de Madre de Deus

Luz;Fr. Ruperto de Jesus;Salvador de Mesquita;Inácio Ramos;Gaspar Ribeiro Pereira;José Borges de Barros;Gonçalo Ravasco Cavalcanti

de Albuquerque;Antônio da Piedade;Manuel da Madre de Deus

Bulhões;João Alvares da França;

Fr. Francisco Xavier de SantaTereza;

. .ita Joana de Souza.Frei Antônio de Santa Maria Ja-

boatão;Feliciano Joaquim de Souza Fon-

seca;Frei Itaparica;Augusto Frederico Colin.

Vários Autores dos séculos XVIIe XVIII.

Martinho de Mesquita;Frei José da NatividadeFrei Manoel do Desterro;Domingos Ramos; ><-. *?,Gonçalo Ravasco;Manuel Madre de Deus Bulhões;José de Mirales;Mateus da Encarnaçâo PinaJosé dos Santos Cosme e Damião;Luiz Botelho do Rosário;José de Oliveira Serpa;José Pereira de Santa Ana;Silvestre de Oliveira Serpa;

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."'¦

Página 144 AUTORES E LI VRO

N.o 10 (out. de 1950).

N.° 11 (Nov. de 1950).

N.° 12 (dez. de 1950)

i

José Pires de Carvalho Albu-querque;

Francisco Calmon;Antônio Nunes de Siqueira;Simão Pereira de Si (1.°);Simão Pereira de Si (2.°);Valentim Mendes;

Conselheiro Soares Brandão;—Vários autores dos séculos XVII

e XVIII:Prudèncio do Amaral;Manuel de Macedo;Costa Gadelha;Bartolomeu Antônio Cordovil;Antônio Mendes Bordalo;

—João Manso Pereira;Pontes Leme;Joaquim de Amorim Castro;Arruda C mara;Diogo de Toledo Lara e Ordo-

nhes.Vários autores do século XVIII:

Manoel Caetano de Almeida e Al-buquerque — Domingos Simões daCunha — José Arouche ToledoRendon — Francisco Xavier Feijó— João da Silva Feijó — Franciscode Melo Franco — Baltazar da SilvaLisboa — Manoel Aires do Casal —José Vieira do Couto — José doPatrocínio Filho — Stela Leonardosde Lima Cabassa.Ferreira de Araújo;

Galeria Jornalística. Estudossobre história do jornalismo, feitospelos alunos do primeiro ano docurso de Jornalismo da Faculdadede Filosofia da Universidade doBrasil.

IIRELAÇÃO DOS AUTORES INCLUÍDOS NA "ANTOLOGIA

DA LITSRATURA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA"I — Manuel Bandeira — 3-1-1943;

II — Monteiro Lobato — 10-1-1943;m — Cecília Meireles — 17-1-1943;IV — Olegárlo Mariano — 24-1-1943;

V — Alcides Maya — 7-2-1943;VI — Carlos Drumond de Andrade — 14-2-1943;

VII — Roquete Pinto - 24-2-1943;VIII — Jorge de Lima — 7-3-1943;

IX — Viriato Correia — 14-3-1943;X — Adelmar Tavares — 21-3-1943;

XI — Oliveira Viana — 4-4-1943;xn — Ribeiro Couto - 11-4-1943;

XIII — João Neves — 18-4-1943;XIV — Vinícius de Morais — 9-5-1943;XV — Afonso Arinos de Melo Franco — 16-5-1943;

XVI — Alceu Amoroso Lima (Trlstao de Atayde) —23 de maio de 1943 ;

XVII — Murilo Mendes — 13-6-1943;XVIII - Cassiano Ricardo — 4-7-1943;

XIX — Dante Mllano — 11-7-1943;XX — Mário de Andrade — 18-7-1943;

XXI — Raul Bopp — 1-3-1943;XXII — Onéstaldo de Pennafort — 8-8-1943;

XXIII — Murilo Araújo — 15-8-1943);XXIV — Henriqueta Lisboa - 22-8-1943;XXV — Abgar Renault — 5-9-1943;

XXVI — Alphonsus de Guimarães Filho — 12-9-1943;SXXVII — João Cabral de Melo Neto — 3-10-1943;

XXVÜI — Maria Eugênia Celso — 10-10-1943;XXIX — Vargas Neto — 24-10-1943;XXX - Emílio Moura — 23-1-1944;

XXXI — Lúcio Cardoso — 6-5-1944;XXXII — Ascenso Ferreira — 20-2-1944;

XXXni — Afranio Peixoto — 5-3-1944;XXXIV — Marques Rebelo — 12-3-1944;

XXXV — Da Costa e Silva — 19-3-1944;XXXVI — Joio Alphonsus - 1-4-1944;

XXXVII — Aníbal Freire — 9-4-1944;XXXVIII - Barbosa Uma Sobrinho — 16-4-1944;

XXXIX - Lila Ripoll - 23-4-1944;XL — Luis Edmundo — 24-5-1944;

XLI — Clovis Beviláqua — 4-6-1944;XLII — Qllberto Freire — 9-7-1944;

XLIII - Antologia dos Poetas bissextos (l.« fascículo_ 3-9-1944;

Constando Alves;Tristão da Cunha;Lucilo Bueno;Carlos Alberto de Araújo (Tácito de Al-meida);Lucilo Blank;Aníbal Machado;Pedro Dantas;

XLIV — Antologia dos Poetas bissextos (2.° Fascículo)10-9-1944;Pedro Nava;Gilberto Freyre;Luís Aranha;Afonso Arinos de Melo Franco;Rubem Braga;Rodrigo Melo Franco de Andrade;Joaquim Cardoso;

XLV — Augusto Frederico Schmidt — 8-10-1944;XLVI — Amando Fontes — 15-10-1944;

XLVII — Mário Quintana — 22-10-1944;XLVIII — Menotti dei Picchia — 5-11-1944;

XLIX — Sousa da Silveira — 17-12-1944;L — José Maria Belo — 4-3-1945;

LI — Valfredo Martins — ¦ 6-6-1948;LII — Graciliano Ramos — 20-6-1948;

LIII - Nilo Bruzi — 4-7-1948;LIV — Augusto Meyer — 18-7-1948;

LV — Gilberto Amado — 1-8-1948;LVI — Miguel Osório de Almeida — 15-8-1948;

LVII — Ana Amélia de Queirós Carneiro de Mendonça26-9-1948;

LVIII — José Lins do Rego — 10-10-1948;LIX - Agriplno Grieco — 24-10-1948;LX — Homero Prates — 21-11-1948;

LXI — Celso Vieira — 15-1-1949;LXII — Léo Vaz - 1-2-1949;

LXIII — Carlos Magalhães de Azeredo — Março de 1949;LXIV — Guilherme de Almeida — Abril de 1949;LXV — Josué Montelo — maio de 1949;

LXVI — Oliveira e Silva — Julho de 1949;LXVII — Ribeiro Couto (prosa) março de 1950;

LXVHI - Gilka Machado — junho de 1950;LXIX — Paula Aquiles — dezembro de 1950;LXX — Álvaro Moreyra — dezembro de 1950.

inRELAÇÃO DOS INCLUÍDOS NA "PAGINA DOS

AUTORES NOVOS"XIX — Roberto Vieira Júnior — 1-8-1948;XX — Lausimar Laus Gomes — 29-8-1948;

SXXI — Luis Afonso Sarmento — 12-9-1948;XXII — Van Jafa — 7-11-1948;

SXXIII — Débora Leão — 15-1-1949;XXIV — Heloísa Carneiro Leão — 15-2-1949;XXV — José Maria Delgado Tubino — 15-3-1949;

XXVI — Maria Vitória — 1-4-1949;XXVII — Leticia de Figueiredo — 1-5-1949;

XXVIII — Maria Teresa Galvão Bueno (setembro del949).XXIX - Rodrigo Lute de Andrade (Outubro de 1950).XXX — Maria José Muniz (Dezembro de 1950).

I — Raquel Crotman Braune — 5-9-1943;II — Ledo Ivo — 12-9-1943;

III — Osvaldino Marques — 17-10-1943;IV — Eros Volusia — 24-10-1943;

V — Nídia Moura — 7-11-1943;VI — Antônio Rangel Bandeira — 14-11-1943;

VII — Breno Accioly — 5-12-1943;VIII — Haydée Nlcolussi — 16-1-1944;

IX — Lígia Fagundes — 6-2-1944;X — Maria de Lourdes Pires da Rocha — 15-4-1944;

Deiembro de 1950— Vol, XI, jj.» 12

XI - Sérgio Soares — 21-5-1944;XII — Elcio Xavier — 16-7-1944; *

XIII — Geraldina Marx — 23-7-1944;XIV — Nazareno Alphonsus — 30-7-1944;

XV — Mauro de Morais e Castro — 5-11-1944;XVI — Ester Leão da Cunha Melo — 12-11-1944.

XVir— Milton Condessa — 4-2-1945;XVIII — Selene Medeiros — 18-7-1948;

XXIX — Rodrigo Luiz de Andrade (outubro de 1950) •XXX — Maria José Muniz (dezembro de 1950). '

IVRELAÇÃO DOS AUTORES INCLUÍDOS NA HISTÓRIA m

JORNALISMO DO BRASIL ¦ " U

Hipólito da Costa. Vol. 9, pág. 57.Evaristo da Veiga. Idem, pág. 70.Frei caneca. Idem, pág. 36.João Francisco Lisboa. Idem, pág. 98.Francisco de Sales Torres Homem. Idem, pág. 105.Justiniano José da Rocha. Idem, pás. 121.Francisco Otaviano. Idem, pág. 135.Ferreira de Araújo. Idem, 145.Josá do Patrocínio. Idem, pág. 159.Galeria Jornalística. Idem págs. 163 a 168.Encerra os seguintes trabalhos firmados por alunos doCurso de Jornalismo da Faculdade de Filosofia:

rimou e a Técnica das Revoluções, de Renato SérgioFausto Jobim.Justiniano José da Rocha, de Adhamyr Ribeiro do

Vale de Araújo Lima.Machado de Assis, de Maria Cecília Ribas Corneivo,Alcindo Guanabara, de Hugolino Guanabara Figueiradc Mendonça.Cípriano José Barato, de Maria de Lourdes RodriguesBaldaque Guimarães.Um jornalista fora da banca (F. de S. Torres Homem)de Cristóvão Monteiro Freire.A obra de Ferreira de Araújo, de Sérgio Veloso.Joaquim Serra, de Vera Margarida Faria.Em tôrvo dc Evaristo da Veioo, de Jefferson Barata.João Ribeiro, de Zulmira Amador Colpaert.

Henrique Chaves — Vol. 10, pág. 29 .Januário da Cunha Barbosa — Vol. 10, pág. 107.Joaquim Gonçalves Ledo — Vol. 10, pág. 107.História do Jornalismo no Brasil Trabalhos de alunos do

curso de Jornalismo. Autores e Livros — Vol. 10, n.» in,pág. 116. Encerra:

Frei Sampaio, de Sarah Behar.Um jornalista da independência (Ledo), de OscarMartins Lobato.A imprenso na época da Independência do Brasil —Frei Caneca, de Maria das Dores Silva Berlinck.

Joaquim Nabuco (Conferência de Múcio Leão no Ins-tituto Histórico). Vol. 10, pág. 122.Fr. Sampaio — Vol. 10, n.° 12 (pág. 138).Galeria Jornalística. Provas de estágio dos alunos doprimeiro ano do Curso de Jornalismo da Faculdade deFiolosofia do Brasil em 1950, encerrando os seguintes

trabalhos: Volume 11, pág. 125.Um jornalista da Independência, Hipólito da Costa,por Izabel de Almeida.Joaquim Gonçalves Ledo, por José MilitoFrei Sampaio, por Helena Ribeiro da Silva.Januário da Cunha Barbosa, por Antony Banciüira.Frei Caneca no cenário político do Brasil, por HélioNunes Machado Aroxa.João Francisco Lisboa, de Rui Baldaque Guimarães.Luiz Gama, por Maurício Silva Castro.Ferreira de Araújo, por Marcílla MarinariJustiniano José da Rocha, por Branca Maria GarciaFerraz Praça.Cinco Fases de José ão Patrocínio, por Marta Casa-blanca.

—.Quintino Bocaiúva, por WHma LUchesi.—Joaquim Nabuco, de Rosalia Beatriz Lemos de Abreu,

Rui Barbosa, de Jorge Chaloupe Sobrinho.Carlos ãe Laet, de Regina Rosa de Laet.Machado de Assis, por Helena Ribeiro da Silvei.Joõo Ribeiro, por Jacyra Vilhena Soares.Alcindo Guanabara, por Osório Antônio Pereira.

índice Geral e RemABREU, Capistrano de

TRABALHOS DO AUTOR:Duas Cartas a Afonso Taunay

,4BREN, Casemiro de

ESTUDOS E REFERÊNCIAS:CARLOS MAUL, Carta ao Dr. Moacyr de Paula Lobo

sobre o livro "Casemiro de Abreu" de Nilo BruzziMoacyr Paula Lobo, resposta à carta do Dr. CarlosMaul •'

REDAÇÃO — Por causa de "Casemiro de Abreu",de Nilo Bruzzi

ABREU. Rosalia Ramos de

TRABALHOS DO AUTOR:

Joaquim Nabuco" .

AUBUQ.UERQUE, José Pires de Carvalho

ESTUDOS E REFERÊNCIAS:

REDAÇÃO — Noticia sobre J. P. C. A. ...

ALBUQUERQUE, Manoel Caetano de Almeida e

ESTUDOS E REFERÊNCIAS:

REDAÇÃO — Vários autores do sec. XVIII

AUBUPUERQUE, Medeiros eTRABALHOS DO AUTOR:

"Um censor censurável"

issivo de Autores incluídos no presente volumeALMEIDA, Isabel do ANDRADE, Rodrigo Luis de

TRABALHOS DO AUTOR: TRABALHOS DO AUTOR:"Um jornalista de independência 125 — o Canto da Noite Escura I'2

ALMEIDA, João Carlos do ~ Serenata Postima IU

TRABALHOS DO AUTOR: — Tristeza

26 "Eutanasia por dignidade" 134 ANT0NIL

TRABALHOS DO AUTOR:ALONSO, Anibal Martins

26 Algumas páginas de Antonil 192ESTUDOS E REFERÊNCIAS: ., „..„„., iAfonso Taunay, "Antonil e Vieira *

26 REDAÇÃO - "Extrangeiros no Brasil" 9 Capistrano de Abreu, Duas Cartas a Afonso Taunay 5

ALVES, Castro REDAÇÃO — Noticia sobre Antonil 191

TRABALHOS DO AUTOR; Silvio Romero "O livro de Antonil" 5

131 "Adormecida" (poesia) 32 AQUILES, Paula"O Gondoleiro do Amor" 68 TRABALHOS DO AUTOR:

AMARAL, Prudèncio do Poesias:

M TRABALHOS DO AUTOR: ' AlegoriaII Amar«Geografia Brasileira, Carto Primeiro 107 m AparÍção

ESTUDOS E REFERÊNCIAS: IV Canto da saudade estranhaNota biográfica 105 J^f"860 ,,,113 VI Determinismo 1!í

ANDADRE, Carlos Drumond de VII Hora extrema

TRABALHOS DO AUTOR: V™ \,X,"!lLOIX Meu grito74 "O sonho do um sonho" . 142 X Paisagem marinha

Page 3: Dezembro de 1950 — Vol. XI, n.° ia AUTORES B LIVRO Página ...memoria.bn.br/pdf/066559/per066559_1950_00012.pdf · Dezembro de 1950 — Vol. XI, n.° ia AUTORES B LIVRO Página

Dezembro de 1950 -^ Vol. XI, n.° 12

XI roemaXU poema dos Carrilhíes

XIH c|mmd0 tud° P»ssarviv Koteiro estranho . .-

xv sinfonia do Inevltlvel

XVI Sombras do passado

AQUIUiS, l'»"'»ESTUDOS E REFERÊNCIAS:

EEDAÇAO — "Noticia sobre Paula Aquiles"

/IBANHA, GraçaESTUDOS E REFERÊNCIAS:

jo5o Ribeiro, Cartas a O. Carta ao embaixador José de Barros Pimentel

,iRARTPfi JúniorTRABALHOS DO AUTOR:

Artigo sobre Ferreira de Araújo "Aos sábados" "Macaquinhos no Sotão" "O Divórcio e o Senado" " üm jornal nasce" Marcíüa Silva "Ferreira de Araújo"Múcio Leão "Ferreira de Araújo"

Sérgio Velloso — A obra de Ferreira de Araújo...Necrológio •Alguns artigos sobre F. de A"

ARAÚJO, MuriloTRABALHOS DO AUTOR:

Carta a Múcio Leüo " Oração de graças" (poesia)

ARôXA, Hélio Nanes MachadoTRABALHOS DO AUTOR:

"Frei Caneca no cenário político do Brasil"

ASSIS. Machado deTRABALHOS DO AUTOR:

"Atügo sobre Ferreira de Araújo" "Venus! Divina Venust (conto) Helena Ribeiro da ffllva, "Machado de Assis"

ATAIDE, Austregesllo deTRABALHOS DO AUTOR:

"Vaka com minha filha""

AZEVEDO, ArturTRABALHOS DO AUTOR:

"Artigo sobre Ferreira de Araújo"

BAHIA, AlcinoTRABALHOS DO AUTOR:

"üm Poeta Contemporâneo" BANDEIRA, Antony

TRABALHOS DO AUTOR:"Jmtuário da Cunha Barboza"

bandeira, ManuelTRABALHOS DO AUTOR:

"As três marias" (poema) BARBOZA, Januário da Cunha

ESTUDOS E REFERÊNCIAS:Antony Bandeira, •¦ J. da Cunha Barbosa"

BARCOZA, KV!TRABALHOS DO AUTOR:

Necrológio de Ferreira de Araújo Medeiros e Albuquerque, "Um censor censurável" ...Jorge Chaloupp Sobrinho, "Rui Barbosa" José Veríssimo "Uma Ilçío de português"

BAÜBOZA, SimõesESTUDOS E REFERÊNCIAS:

HEDaçao ._ Simões Barbosa BAItRETO, Dantas

ESTUDOS E REFERENCIAS:BiubosaLima Sobrinho — A popularidade de Dan-tas Barreto

ESRCDOS E REFERENCIASMimo Le&o - Alterna Bell

""'¦AC, OlavoTRABALHOS DO AUTOR:

Artigo sobre Ferreira de Araújo "° Voador" liOCAWVA, Ojitall»,

TRABALHOS DO AUTOR:"Necrolo«_o de Ferreira de Araújo"

Wilma Luchesl. "(julntlno Bocaiúva"

AUTORES E LIVROS Página 145

BOItnu.o. Antônio MendesESTUDOS E REFERÊNCIAS:

138 —Nota biográfica

BRAGA, Raul138 TRABALHOS DO AUTOR:

Poesias:I Ao luar

136 II A pálida MariaIII Devassando uma almaIV No leito de morte

V Prece27 VI Quand même.

VII Dona chievm Mística

IX Vida reflexa

BANDAO, Soares (D. Maria Ana)120 ESTUDOS E REFERÊNCIAS:

Oliveira Lima — Uma Senhora124 — Cartas de Joaquim Nabuco a D. Maria Ana Soares124 Brandão 123 BANDAO. Soares iConsehleiro Francisco de Carvalho)

Joaquim Nabuco — Evocaçáo de Soares BrandãoCarta a Soares BrandãoOliveira Lima — Evocação de Soares Brandão ...Oliveira Lima — Uma Senhora (Madame Soares

120 Brandão)Redação — Nota biográfica do Conselheiro SoaresBrandão

US BRUZZI, Nilo

38 TRABALHOS DO AUTOR:"Júlio Salusse, o ultimo Petrarca"

ESTUDOS E REFERÊNCIAS:

127 Carlos Maul, Carta a Dr. Moacyr de Paula Lòmo ...Elmano Cardím "Dois Livros de Nilo Bruzzi" Moacyr de Paula Lobo, Resposta a carta do Dr. Carlos

Maul 121 Míício Leão, " O último Petrarca"

87 REDAÇÃO — Por causa do "Casimiro de Abreu", de133 Nilo Bruzzi

BULHÕES, Manuel do Madre de Dens,Cabassa, Stela Leonardos da Silva Lima (V. Leonardos

Sstela)134

CALABARESTUDOS E REFERÊNCIAS:

Frei Manuel Calado, "A morte de Calabar" 121

CALADO, ManuelTRABALHOS DO AUTOR:

"A morte de Calabar" "Vernandes Vieira" "Justiça Holandíza"" "Maurício de Nassau"

126 "Morte de D. Luiz de Rojas" "Nassau contrabandista de negros" "Nassau e as damas pernambucanas"

142 "O valoroso Lucideno e triunfo da liberdade" "Pernambuco antes dos holandeses"

ESTUDOS E REFERÊNCIAS120 REDAÇÃO — Notícia sobre Frei Manuel Calado ,.,.

CAIADO, FranciscoESTUDOS E REFERÊNCIAS:

1" REDAÇÃO:

CÂMARA, Arruda, Manuel de132 ESTUDOS E REFERÊNCIAS:

REDAÇÃO:

CAMARATE, AlfredoTRABALHOS DO AUTOR:

"Artigo sobre Ferreira de AraúJ

CAMÕESESTUDOS E REFERÊNCIAS:

96 Dante Milano, Homenagem a Camões .poesia)

CANECA, FreiESTUDOS E REFERÊNCIAS:

102Hélio Nunes Machado Arocha, "Frei Caneca no cena-

nário político do Brasil" .

CARDIM, Elmano111

TRABALHOS DO AUTOR:33

"Dois livros de NUo Bruzzi"

CASABLANCA, Marta

lu TRABALHOS DO AUTOR:

130 "Cinco fazes de José do Patrocínio"

CASAL, Manuel Aires deESTUDOS E REFERÊNCIAS:

REDAÇÃO:

CASTRO, Joaquim de AmorimHEDAÇAO:

CASTRO, Maurício SilvaTRABALHOS DO AUTOR:

"Luiz Gama"

CHALOUFE Sobrinho, JorgeTRABALHOS DO AUTOR:

"Rui Barbosa"

COELHO, Duarte de Albuquerque139 ESTUDOS E REFERÊNCIAS:

REDAÇÃO: — Três historiadores da guerra do Brasila Holanda

ati COUN, Augusto FredericoTRABALHOS DO AUTOR:

98Poesias:

A amizade.06 II A melancolia98 III A mulher.„ IV A saudade

A virgem que eu amoVI Ala

VII Os túmulosVIII Triste do vateIX Um riso

COI1126

CORDOVIL, Bartolomeu AntônioREDAÇÃO — Nota biográfica

CORREIA, LeôncloTRABALHOS DO AUTOR:

— Canto do Cisne "CORREIO das Aries"

ESTUDOS E REFERÊNCIAS:REDAÇÃO ¦— Recado ao C. das

COSME e Damião, José dos SantosESTUDOS E REFERÊNCIAS:

REDAÇÃO:

COSME, SoteroTRABALHOS DO AUTOR:

Galeria Sotero Cosme, n.° 2 Retrato de MulherOoleria Sotero Cosme, n.° 1 — Cavalo

COSTA.H.pólIto daESTUDOS E REFERÊNCIAS:

Isabel de Almeida "Um jornalista de independência"

COUTO, José Vieira doESTUDOS E REFERÊNCIAS:

REDAÇÃO — "Vários autores do sec. XVIII'

2321252522 COUTO, Ribeiro

TRABALHOS DO AUTOR:"Diário de amor de um moço delicado" "Fuga" "Isaura" (trecho de novela) . "Nostalgia Importuna"

ESTUDOS E REFERÊNCIAS:REDAÇÃO — "Nota bibliográfica sobre R.C."

COX, DilermandoESTUDOS E REFERÊNCIAS:

Agripino Crieco, "Carta a D. C." REDAÇÃO — "Um romance de misria"

CUNHA, Domingos Simões daREDAÇÃO -- "Vários autos do sec. XVIII1' ,,.

3031

EBOLI. TerezinhaREDAÇÃO -

Eboll" . .'.TulRamentc na horta de Tereainha

FALCÃO, RubemTRABALHOS DO AUTOR:

"Academias Literárias"

FEDER, ErnestoTRABALHOS DO AUTOR:

"Autores e Livros homenageia Goethe" .."João Ribeiro traduz Heine"

92ei

FEIJO', Francisco XavierTRABALHOS DO AUTOR:

REDAÇÃO — "Vários autores do sec. XVffl"

FEIJO', Jato d* «InREDAÇÃO — "Vírlos autores do sec. Xvm" .

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MB

Página 1É6

FONSECA, Olymplo Monat ,,i;., ,7^77TRABALHOS DO AUTOR: ¦

"Janelas" (poesia) ..i... i"-"

FRANCO, Francisco MeloREDAÇÃO — "Vários autores do sec. XVIII"

FREIRE, Francisco de BritoESTUDOS E REFERÊNCIAS:

REDAÇÃO — Três historiadores da guerra do Brasilcom a Holanda

GADELHA, Costa (José Jones da)ESTUDOS E REFERÊNCIAS:

REDAÇÃO — Nota biográfica

GALVÃO, RamiíTRABALHOS DO AUTOR:

Artigo sobre Ferreira de Araújo

GAMA, LuilESTUDOS E REFERÊNCIAS:

Maurício Silva Castro "Luiz Gama"

GOETHETRABALHOS DO AUTOR:

Canção dos Soldados (Trad.)

GRIECO, AgripinoTRABALHOS DO AUTOR:

Carta a Dilermando Cox

GUANABARA, AlcindoTRABALHOS DO AUTOR:

Necrológio de Ferreira de Araújo ....;7...7.7Osório Antônio Pereira "Alcindo Guanabara" .....

GUIGNARDTRABALHOS DO AUTOR:

Ilustração pjira o". Gondoleiro do Amor", de CastroAlves

GUIMARAENS, Arcanjelus deESTUDOS E REFERÊNCIAS:

Múcio Leão, Arcangelus e Gulmaraens REDAÇÃO — ''Arcangelus de Guimarães" ...........'

GUIMARÃES, Rui BaldaqueTRABALHOS DO AUTOR:

"João Francisco Lisboa" sv.í-ikK.--3$'-

GUSMÃO, Alexandre ie »1)ESTUDOS E REFERÊNCIAS:

REDAÇÃO — Notícia sobre A. de G. (I) ...,....'.''

GUSMÃO, Alexandre de (II)ESTUDOS E REFERÊNCIAS:

REDAÇÃO — "Noticia sobre A. de O." .

TRABALHOS DO AUTOR:Algumas poesias de A. de G, ''Censura sobre a Henriqueida" "Dissertação supostamente dirigida a um amigo e

a seu pedido sobre a relaxação das Ordens Re*ligiosas"

GUSMÃO, Bartoiomeu deTRABALHOS DO AUTOR:

"Manifesto sumário para os que ignoram poder-senavegar pelo elemento do ar"

"Petição sobre a Passarola""Problema filosófico: Qual é mais ilustre, se a Pru-

dôncia, se a Temperança" "Sermão do Corpo de Deus"

ESTUDOS E REFERÊNCIAS:Afonso de Taunay, — "A morte de B. de G."Olavo Bilac — O Voador, (soneto) —REDAÇA — "Notícia sobre B. de G." . .. REDAÇÃO — Bibliografia de B. de G. . ...'.'..„...REDAÇÃO — Fontes sobre B. de G

HEINEESTUDOS E REFERÊNCIAS:

Emest Feder, "João Ribeiro traduz Heine"

1TAFARICA. Frei Manoel de Santa MariaTRABALHOS DO AUTOR:

JPoesias" ESTUDOS E REFERÊNCIAS:

REDAÇÃO — "Frei Manoel de Santa Maria Itaparica

J ABO AT IO, Frei ,MbmTRABALHOS DO AUTOR:

"Algumas páginas do novo Orbe gráfico"* S>:'''!'!?!??. .'.'(1"Impressão do '^tàciH .°.íí.?9.'.\H IH:'}?.

.'¦*" "O Rio sáò'SSaricisco" ."..o.-....:.'.':: .¦.'.,.':'.Oliveira Lima ^Impressão sobre F. 3.''n^. ¦ v ¦; -.• ¦_• ¦ <REDAÇÃO —."Noticia sobre P. J."

/X . i'.')/.<

A UT OR E S B LIVROS

ESTUDOS E REFERÊNCIAS:Silvio Romero "Frei JaboataSolt

99 JESUS, Rafael deESTUDOS E REFERÊNCIAS:

113 REDAÇÃO — Três historiadores da guerra no Brasilcom a Holanda

JOAO LusoESTUDOS E REFERÊNCIAS:

28 REDAÇÃO — "João Luso"

JOBIM, RenatoTRABALHOS DO AUTOR:

105 "Poesia, onde estás"

LACERDA, Aurélio deTRABALHOS DO AUTOR:

122 "O Corvo" Tradução de Poe

LAET, Carlos deESTUDOS E REFERÊNCIAS:

128 Regina Rosa de Laet "Carlos de Laet" •

LAET, Regina Ro» tleTRABALHOS DO AUTOR:

81 . "Carlos de Laet"

LAS Casas, ÁlvaroESTUDOS E REFERÊNCIAS:

5* REDAÇÃO — "Álvaro Las Casas"

LEÃO, MúcioTRABALHOS DO AUTOR:

119 Arcangelus de Guimarães134 — Celso Pinheiro e Da Costa e Silva

"Dafnis e Cloé" "Ferreira de Araújo" "Merimée" . ..'."

58 "O Ultimo Petrarca" "Patrocínio Filho" "Um s"mbolo de Pernambuco"

29 ESTUDOS E REFERÊNCIAS:29

Alcino Bahia "Um poeta contemporâneo"Murilo Araújo "Um livro de versos'?.-. .. ('...shoíi

Murilo Araújo — Carta a Múcio Leão , I*8 REDAÇÃO — "Iniciativa em prol da Cultura" ......

LEDO. Joaquim GonçalvesESTUDOS E REFERÊNCIAS:

13 José Milito "Joatniim «Gonçalves Ledo" .....

LEME. Pedro Taqncs dc Almeida PaisESTUDOS E REFERÊNCIAS:

41 REDAÇÃO — "Dois historiadores paulistas" .....

LEME, Pontes (Antônio Pires da Silva)44 REDAÇÃO — Nota Biográfica: 43

LIMA, Oliveira

42 TRABALHOS DO AUTOR:" Impressão sobre Frei Jaboatdo

Soares Brandão a moção de Oliveira Lima Uma Senhora (Madame Soares Brandão)

3» LIMA SOBRINHO, Barbosa.40 TRABALHOS DO AUTOR:

A popularidade de Dantas Bixreto39

34 LINHARES, AugustoESTUDOS E REFERÊNCIAS:

Sérgio Vellozo, Carta a Augusto Linhares 3733 LISBOA, Baltazar da Silva33 ESTUDOS E REFERÊNCIAS:33 REDAÇÃO — "Vários autores do sec. XVIII"

LISBOA, Joio Francisco'ESTUDOS E REFERÊNCIAS:

Rui Baldaque Guimarães "João F. Lisboa" m,51 LOBO, Moacyr de Paula

TRABALHOS DO AUTOR:Resposta à carta do Sr. Carlos Maul, sobre o livro

85 "Casemiro de Abreu" de Nilo Bruzzi .*¦ ¦

ESTUDOS E REFERÊNCIAS:

8g Carlos Maul, Carta ao Dr, Moacyr de Paula Lobosobre o livro "Casemiro de Abreu" de Nilo Bruzzi

LUCHESI, Wilma ...ri ,khtTRABALHOS DO AUTOR:1 70 "Quintino Bocaiúva" ¦ ,3jtl ... ¦¦.,.-!, . m ..-- -mil atoa1

72 MACHADO, Manuel de - '

69 REDAÇÃO — Nota biográfica >!:.: .. '¦<Hilv,-iu'í lü vr,\, nii «Ml «MlO1

Dwembro dt 1950 — Vol, XI, n,° 12MACHADO, Gilka

69 TRABALHOS DO AUTOR:Poesias de Gilka Machado «i

ESTUDOS E REFERÊNCIAS:REDAÇÃO — "Noticia sabre Gilka Machado „

26 •MADRE DE DEUS, Frei Gaspar

ESTUDOS E REFERÊNCIAS:REDAÇÃO — "Dois historiadores paulistas" ...

32 "44MARTINS Júnior

TRABALHOS DO AUTOR:(Duas traduções) Amor Descoberto 01

135 MMAUL, Carlos

Certa ao Dr. Moacyr de Paula Lobo, sobre o livro"Casemiro de Abreu", de Nilo Bruzzi 67

MELO FRANCO, Francisco deREDAÇÃO — Nota biográfica ^

133 MELLO, Séivulo deTRABALHOS DO AUTOR:

"Poesias de S. de M." ^

131 MACEDO ValentimESTUDOS E REFERÊNCIAS:

REDAÇÃO — Nota Biográfica jj

33 MENDONÇA, Lúcio deTRABALHOS DO AUTOR:

"Artigo sobre Ferreira de Araújo" 12129 ESTUDOS E REFERÊNCIAS:

101 João Ribeiro, Carta a L. de 2176

U3 MERIM1E. Vrosper

Í4 ESTUDOS E REFERÊNCIAS:

118 Mucio Le&o, "Merimée" st

11* MESQUITA, Martinho de67 ESTUDOS E REFERÊNCIAS:

REDAÇÃO — Nota biográfica

84 MILANO, Dante119 TRABALHOS DO AUTOR:129 "Homenagem a Camões" (poesia) .

1 Tradução de um trecho do Inferno de Dante (CartaXXV) 102

MILITO, José .. , ..,.;., .y.ir126 TRABALHOS DO AUTOR:

"Joaquim Gonçalves Ledo" 125

MIRALES, José de44 ESTUDOS E REFERÊNCIAS:

REDAÇÃO — Nota Biográfica »

108 MORAIS, ViníciusTRABALHOS DO AUTOR:

"BALADA DO MORTO VIVO" ....,< »

73 "Hollywood & sombra" (poesia) 97 MOREIRA, ÁlvaroBB TRABALHOS DO AUTOR:

"Algumas m«títaç«ões" ¦...., ^

MOREIRA, Álvaro96 TRABALHOS DO AUTOR:

"Epitafio" 1*"J0S0 Ribeiro" . ..;.,.. 14>"Máos Postos" 14ü"Os burros" 14í"Pregões do Rio de Janeiro I41

ESTUDOS E REFERÊNCIAS:114 ,.,REDAÇÃO - "Noticia sobre A. M." ""

MOTA. MauroTRABALHOS DO AUTOR:

"Boletim sentimental da guerra no Recife" ...*-¦ '

NABUCO, JoaquimTRABALHOS DO AUTOR:

2g — Soares Brandão na evocação de Joaquim Nabuco— Cartas ao Conselheiro Soares Brandão e a D. Maria

Ana Soares Brandão

ESTUDOS E REFERÊNCIAS:131Rosalia Lemos de Abreu "Joaquim Nabuco"

IA.>"NASSAU, Maurício dc * Ob ;.-i,,u- «d»

í30 • TRABALHOS DO AUTOR:Frei Manuel Calado "Maurício de N(Uflau!;,p.:;.¦.¦.•' =

-; Frei Manuel Caiado "Nassau contrabandista de negros''

SI, Frei Manuel Calado "Nas»u,e os dattias pernambu- a108 canas" 7 , .'.'..',..'....".....'081 v../juiiKi£[ íM.-iirdj.»,)' .fcMfc'-

ir:. ¦ .

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Dtoêmbrffcft ¥950 OM Voli Xtfiifi g| AÜf tifcfc 93 E* Lí VS ÒS Píglnt 147

uatividaois, r. i*u «»ESTUDOS E REFERENCIAS:

UEDAÇaW - Nota biográfica v,:.a-;(..,.a,a ,- ! a.l»

«IINES, Feliciano Joaquim de Sousa

TRABALHOS DO ACTOR:

Algaaaaiaas páginas do F.J.S.N S2

ESTUDOS E REFERÊNCIAS!

Aiber!o de Oliveira "Feliciano Nunes" . 84

joãc Ribeiro "Or Discursos Político-Morals" 83

OtlMriO. DomingosTRABALHOS DO AUTOR:

'¦Ncrrólogio de Ferreira de Araújo" 115

OUVHIi *•¦ Alberto

TRABALHOS DO AUTOR:"pelicano Nunes" 84

OBDONltAS, Diogo de Toledo Lara e

TRABALHOS DO AUTOR:

redação — Nota biográfica 106

PATRIOTA, AntônioTRABALHOS DO AUTOR:

"Evaristo da Veiga" 127

PATROCÍNIO, José do

TRABALHOS DO AUTOR:"Necrológio de Ferreira de Araújo" 115

ESTUDOS E REFERÊNCIAS

Marta Casablanca, "Cinco fases de J. do P." ..,.. 128

PATROCÍNIO FILHO, José

TRABALHOS DO AUTOR:"A Labareda do Pecado" ., si»fiie

ESTUDOS E REFERENCIAS

Múcio Leão "Patrocínio Pilho" 115redação — Notícia sobre J. P. -,¦ -,..¦. at 115

FAURIIJO, Carlos

TRABALHOS DO AUTOR:"Olhos verdes" (conto) .',\. •*'¦¦' H 37

PENNAFORT, Onestaldo de

TRABALHOS DO AUTOR:Taadurão da "Canção dos soldados, de Goethe" 81

PEREGRINO, Umberto

TRABALHOS DO AUTOR:Palavras de Pé 32REDAÇÃO - "Um livro de Humberto Qeregrino" .. 32

PEREIRA, João MansoNota Biográfica 106

PEREIRA, Osório Antônio

TRABALHOS DO AUTOR:"Alcuido Guanabara" 134

PESSOA, Fernando

TRABALHOS DO AUTOR:"Ulalume"

(tradução) 29

MtlENTEL, Barra»iJuas cartas do arquivo do embaixador Barros Pi-ni™'<*l 119

Domicio da Gama — Carta ai. de Barros Pimen-W 119

~ Graça Aranha — Carta a Barros Pimentel .... 119pINA, .'-Xateus da Encarnação

REDAÇÃO _ Nota biográfica 94PINHEIRO, Celso

Mtaaaio Leão — Pedro Pinheiro e Da Costa e Silva,. 101P»E, Ealsar Allan

TRABALHOS DO AUTOtta"O corvo" (trad. de Aurélio de Lacerda) 67"Dlalaime"

(trad. Fernando Pessoa) 29PRAÇA, Branca Ferrai

TRABALHOS DO AUTOR:"Justiniano

José da Rocha" 120"ITNAM, Samuel

REDAÇÃO - stamuei rumam 28R«OS, Domln,„

REDAÇÃO - Nota biográfica 93R*v*sco, !!„„„„„ VMn

TRABALHOS DO AUTOR:Poesias de B. V. 23

RAVASCO, Bernardo Vieira ' • • ¦ i I )

TRABALHOS DO AUTOR:

Soneto seguido de Glosa ....REDAÇÃO — Pontes sobre B. V. REDAÇÃO - Noticias sobre B. V.

RAVASCO, Fancalo

TRABALHOS DO AUTOR:

REDAÇÃO:

Notícia sobre Álvaro MoreiraNotícia sobre Antonil ".Notícia sobre Azambuja suzano Notícia sobre Bartolomeu de Gusm&o Notícia sobre Bernardo Vieira Ravasco . Notícia sobre Feliciano Joaquim de Souza Nunes ,.."Notícia sabre Frei Jaboat&o" Notícia sobre Frei Manuel Calado "Notícia sobre Frei Manuel de Santa Maria ItaparicaNotícia sobre José do Patrocínio Pilho"Notícia sobre Gilka Machado" Notícia sobre Paula Aquiles Notícia sobre Hibeiro Couto Notícia sobre Stella Leonardo da Silva Lima Cabassa"Cs Estados da República e a Academia" "Os prêmios Nobcl de 1950" "Poesia de Augusto Frederico Colin" "Por causa do "Casimiro de Abreu", de Nilo Bruzzi..Recado ao l'orreio das Artes" "Samuel Putman" " Simões Barboza" "Teoria dos correspondentes""Trás historiadores da guerra do Brasil com a

Holanda" "Uma antologia de poetas pernambucanos" (nota") ..Uma história da Literatura Brasileira (nota) "Um Livro de Humberto Peregrino" "Um romance da miséria""Vários autores do século XVIII"

Martinho de Mesquita Slmío Pereira de Si (1.°) :............José da Natividade , Manoel do Desterro (F.) Domingos RamosGeraldo Ravasco avalcanti de Albuquerque . —Manoel de Madre de Deus BulhõesJosé de MirandaMateus da Encarnação Pina Valentim Mendes José dos Santos Cosme e Damião Luiz Botelho do Rosário José de Oliveira Serpa José Pereira de Santa Ana Silvestre de Oliveira Serpa José Pires de Carvalho AlbuquerqueFiancisco Calmon Antônio Nunes de Siqueira Simão Pereira de Sá (2.°) Prêmios Acadêmicos Nota sobre o Conselheiro Soares BrandãoPoesias da Fase Perdida, de Carneiro Ricardo . ..A Vida dos Livros Frêmios Acarèmicos

Álvaro Las Casas (Nota) "A mesquinhez de um grande crítico""Arcangelus de Guimaraens

Bibliografia de Bartolomeu de Gusmão"Despedida de Autores e Livros"

"Diogo Grasson Tinoco" "Dois historiadores Paulistas" " Extrangeiros no Brasil" "Falecimento de Pires do Rio"

Fontes sobre Bartolomeu de Gusmão

Fontes sobre Bernardo Vieira Ravasco "Iniciativa em prol da Cultura"" João Luso" "João Pinto da Silva" "Julgamento na horta, de Terezinha Eboli"No pórtico do undéctmo volume"

Nota Biográfica sobre Ribeiro Couto "Nota a este n." de Autores e Livros"

. "Nota ao presente n,0 de Autores e Livros"

Nota sobre o presente número de "Autores e Livros"

Noticia sobre Alexandre de Gusmlo

"Noticia sobre Alexandre de Gusmão" } .vwrííjWífô. fc^HíW"Notícias sobre alguns escritores seiaceiittstas" 57

28 KEDON, Toledo28 TRABALHOS DO AUTOR

REDAÇÃO — "Vários autores do sec. XVIII ,3Tj«j$

RIBEIRO, JoãoTRABALHOS DO AUTOR

Cartas a José Veríssimo .27"Correspondência" 27

140 "Os piscursos Político-Morais" 83

Correspondência do João Ribeiro Cartas a José13 Verfssimo,Lucio de Mendonça e Graça Aranha .. 2733 ESTUDOS

E REFERÊNCIASÁlvaro Moreira "Jo&o Ribeiro" 141Ernest Feder "João Ribeiro traduz Heine" 57Jacyra Vilhena Soares "João Ribeiro" 133

21

85 RICARDO, Cassiano

115 Sonetos de última hora 9

62 IA desterrada

136 II Chuva

30 III Cristal

120 IV Desejo

63 V Lara a mulher verde

33 VI Incógnita

80 VII Geografia do sono

26 VIII O acontecimento sarri

20 IX O galo das cinco horas

28 X O O soneto das trsê dores

68 XI Morena Lua

40 XII Psico autogrfo. (ííi"Poemas da face perdida" 80— Já sofri tanto, por conta 102

* — A graça de ser pobre 10213 —O Escafandro . 10232 ~ Boi Blau fiobee Campo de Prata 10468 "Pedido a um oficial de gabinete" 142

113 redação — Poeaaias da Pace Perdida (nota) 10294

93 RIO, Pires do

83 REDAÇÃO — "Falecimento de Pires do Rio" ...... u> 91

93 ROCHA. Justiniano José da93 Branca Ferraz Praça "J. J. da Rocha" 12Ô

ROCHA, Manuel da93 TRABALHOS

DO AUTOR94

Necrologia de Ferreira de Araújo 11894

94 ROJAS, D. Luiz de

94 Frei Manuel Calado, A morte de D. L, de 25

94 ROMERO, Sílvio94 TRABALHOS DO AUTOR94 Frei JaboalSo 6994 "O livro de Antonil" .". 59494 ROOSEVELT, FrankHn Delano

94 — Sônia Regina — Nn Memória de F. D. Roosevelt .. 191

94 ROSÁRIO, Luiz Botelho do96 - Nota Biográfica 0496

SA', Simão Pereira dc (1.°)102

REDAÇAA — N. 93104

96 SA', Simão Pereira ie (2."q

33 REDAÇÃO _ N. 84

92 SAINTE Beiavc29 ESTUDOS E REFERÊNCIAS:

REDAÇÃO — 'A mesquinhez de um grande crítico" ... 92113

g0 SALUSSE, Júlio

.. TRABALHOS DO AUTOR44Poesias de Júlio Salusse 47

591 ESTUDOS E REFERENCIAS a

33" • Múcío Leão "O último Petrarca" 119

28 Nlio Bruzzi, "Júlio Salusse, o último Petrarca" 49

' SAMPAIO, Frei32 ESTUDOS E REFERÊNCIAS:

135 Helena Ribeiro da Silva, "Frei Sampaio" 12631

191 SANTA ANA, José Pereira de

30 ESTUDOS E REFERÊNCIAS:

2j REDAÇÃO — N. B. 14

124 SERPA, José de Oliveira13 ESTUDOS E REFERÊNCIAS:13 REDAÇÃO — N. «4

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¦ ¦ <'¦ 'wmm "•*™T*7;P

Pifte» M8í

KERPA. Sllve.tr* de OHvelieTRABALHOS DO AUTOR

— Oançào (O Monarca doeREDAÇÃO — ».

SETE, MárioESTUDOS E REFERENCIAS:

Múcio Leão, "Um símbolo de Pernambuco" ..

SHAKESPEAREESTUDOS' E REFERENCIAS:

Sociedade Brasileira de Shakespeare (Estatuto),,.,A.

SILVA. Ds Costa eESTUDOS E REFERENCIAS:

Múcio Leso. Celso Pinheiro e Dt Costa e Silva

SILVA, Helena Ribeiro da

TRABALHOS DO AUTOR"Frei Sampaio" '•¦••¦"Machado de Assis" .

SILVA, Joio Pinto dsESTUDOS E REFERÊNCIAS:

REDAÇÃO — "João Pinto da Silva —

SILVA, MarciUsTRABALHOS DO AUTOR

"Ferreira de Aratijo" ....;

SILVA, Oliveira eREDAÇÃO — "Uma antologia de poetas Pernambu

canos" (Nota)

TRABALHOS DO AUTOR"Um homem se confessa" . .........

SIQUEIRA, Antônio Bsrroe deESTUDOS E REFERENCIAS:

REDAÇÃO — N. B. .

SOARES, JACIRA VILHENATRABALHOS DO AUTOR

"Joio Ribeiro"

SOCIEDADE Brasileira de ShekespeareEstatutos

Cri Ta*zt\ ív. "w^TT «¦ ^jHbIHHBISsBBbgnfjgP

A U f O 93 «a «?. *ág 101 l»rWm»)Wd»W»0»»'VQli3aa.9i9

SÔNIATRABALHOS DO AUTO»

In Memória de Frsnklin Delsno RooseveltSonata so Luar .

canções:I Consto da morte lio mar.

n Ingênua canção de origem ¦¦

ESTUDOS I REFERÊNCIAS:

STELLA, Leonardos Lica Cabais* -

TRABALHOS DO AUTOR:Poesia

I Canção de amorII Lenda do Jaçanã lapuna

m«*«iv«« ~~'.«www ¦ww™ J». A> *.1U TAUNAV, Afonso ie

',"""'',:..; "' TRABALHOS DO AUTOR:

"A morte de Bartolomeu de Guamio" . ,,

l4J "Antonll e Vlelrs"

ESTUDOS I REFERÊNCIAS:is Capistrano de Abreu — Duas csrtss de O de A aAlonso Tsunsy

ESTUDOS E REFERÊNCIAS:REDAÇÃO — Noticia síbre S. L. L.

SUZANO, AismbnjsTRABALHOS DO AUTOR:

O Capitão Silvestre e Frei Velloso (Trecho de romance)

ESTUDOS E REFERÊNCIAS:REDAÇÃO — Noticia sobre A. S. .

TATAOIBA, MsrU Antonieta „.TRABALHOS DO AUTOR:

Poesias:A BandeiraA Cruz da Aldeia

AngelusA Rede de OuroBalada Azul ..Ceticismo . ..

;. — FlamboyartFrauta agreste

Fructidor'.".''.'.'. '. '. '. Genuflexfto

Idllio

Lus doe Tristes . Morrer Moça

O Carro de BoisÕ Riso . . ..

Outono..............;....._.— Quando eu sonhava o amor .

Serenata...Tarde de ChuvaVitória Colona

Autógrafo

TINOCO, Diogo Graaaon

ESTUDOS E REFERÊNCIAS:REDAÇÃO — "Diogo Grasson Tinoco" ....

VEIGA, Evaristo da

ESTUDOS B REFERÊNCIAS:AntAnlo Patriota "Evaristo da Veira"

VELLOZO, Sérgio o x'x.,1 oiwlol iij ujóici ,fiAK.TRABALHOS DO ACTOR

)0i — A obra de Ferreira de Araújo . ..................."Carta a Augusto Linhares""Nadir" ,,,........,."Odiado "Fico" e a República" "Poema"

VERÍSSIMO, JosiTRABALHOS DO AUTOR

Artigo sobre Ferreira de Araújo"Uína liçfto de português*'

ESTUDOS E REFERÊNCIAS:Joio Ribeiro "aCrtas a J. V.),

VIEIRA, AntínioESTUDOS E ^REFERÊNCIAS:

Afonso Taunay "Antonll e Vieira"

VIEIRA, Feinanile*ESTUDOS ¦ REFERÊNCIAS:

Frei Manuel Calado "Fernandes Vieira" . .

VIGNY, _ESTUDOS E REFERENCIAS:

REDAÇÃO "A mesquinha de um grande critico"

. :'í/.!'^c,<_'.n.í;;

' i:iMvyMírjvtx a¦Boaaiüatí£li.v_- ; ... "o_m_._ii._S fríl" .BriiB . ií) MisKiM Bi!-..»!

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BfJPffPN»" » ,:?í»:-!*»!E'rfv:''l,»:>:f, mm | pi

AIUlTío)!^l n Vfe ©

Ano XDezembro de 1050

Diretor e redator: MUCIO LEÃOGerente: LEONARDO MARQUESSecretário: SÉRGIO R. VELLOZO

P R E ç O : — Cr$ 3,00

FERREIRA DE ARAÚJOUm médico sem vocação

José Ferreira de Souza Araújonasceu a 25 de março de 1848, naantiga rua do Cano, hoje rua Setede Setembro. Era filho de um ca-sal de portugueses — o industrialJosé Ferreira de Souza Araújo eD Helena Mariana Ferreira deAraújo. Fêz os estudos primários esecundários, e, de acordo com avontade paterna, matriculou-se naFaculdade de Medicina, doutoran-do-se em 1867. Era o tempo daguerra do Paraguai, e Ferreira deAraújo serviu a sua profissão, noshospitais de guerra. Prestou tam-bem grandes serviços médicos acolônia italiana, por ocasião deum dos freqüentes surtos de febreamarela que invadiam a cidade.Isso motivou a concessão que lhefoi feita pelo governo da Itáliade uma distinção honorífica da-quele pais.

Evidentemente, porém, não eraa vocação medica a que sentia emsi Ferreira de Araújo. Esta seria,antes, a vocação jornalística, avocação literária. Nesses temposde sua primeira mocidade, é ele umardente apaixonado do teatro, ealiás continuará fiel a essa pai-xão até o fim da vida. Escreve pe-ças para as companhias que re-presentam no Bio de Janeiro, e osteatros são os lugares certos emque o podem encontrar aqueles queprecisam de se avistar com êle. Foiprovavelmente na frequentaçãodesses teatros que êle veio a tra-var relações com aqueles rapazesque mais tarde se constituíramseus grandes amigos — Elisio Men-des, Manuel Carneiro, Alfredo Ca-marate, Henrique Chaves, o grupocom o qual êle vai realizar a maissugestiva e interessante das aven-turas jornalísticas que ainda sor-riram a um escritor brasileiro.As origens de um grande jornal

Juntos, Elisio Mendes e ManuelCarneiro, que exerciam a profissãode guarda-livros e que eram sedu-zidos pelo ideal jornalístico, ti-nham fundado uma pequena ga-zeta intitulada O Jlíosçuiío, cujaspáginas eram glorificadas pela pena de Bordalo Pinheiro e de ÂngeloAgostini. E' o próprio Ferreira deAraújo quem conta... Nos dias emquo a permanência no porto doRio de Janeiro de navios destina-dos ã Europa coincidia com o tra-balho da elaboração do Mosquito,os dois guarda-livros ficavam semo tempo necessário para a organi-zação de sua folha. Costumavam,em tais ocasiões, recorrer a amigoscapazes de atividade jornalística,que os auxiliassem. E um dessesamigos era êle, Ferreira de Araújo.A experiência do Mosquito deuresultado, e daí partiu aquele grupode rapazes para a fundação de umórgão mais feito e mais respon-sável — o Diário de Notícias. Nãoobstante constituir ainda umaaventura de pouca responsabili-ãade, já o Diário de Notícias ani-mou aquele grupo de rapazes, mos-trando-lhes que a orientação quehaviam tomado era apta a asse-gurar a vitória a um jornal. Assim,tendo afinal falhado o Diário deNoticias, aquele grupo de idealis-tas deliberou fundar a folha quese intitulou Gazeta de Notícias,e cujo primeiro número saiu a 2de agosto de 1875.

MÚCIO LEÃOEmíle de Girarãin

A Gazeta de Notícias estava des-tinada a operar, no melo jornalís-tico brasileiro, a mais importantedas revoluções. E, pelo muito queela representou, podemos dizer queFerreira de Araújo assume no qua-dro do Jornalismo brasileiro umpapel equivalente àquele que tevena evolução do jornalismo francêsEmile de Oirardln.

Emile de Oirardln era filho adul-terino do Conde Alexandre de Oi-rardin, oficial de Cavalaria, e, deMadame Jules Dupuy, senhora derara formosura — baste dizer-seque fora o modelo da Jeune FíüeA Ia Colombe, de Oreuse. Era elacasada com um funcionário colo-nial, indivíduo que Unha o bomgosto de, sendo marido de damatão formosa, passar a sua vidaafastado dela — ela em Paris e êlenos desterros da África. Nascida detais amores adulterinos, a criaçãofoi batizada com o falso nome deDelamonthe. Ao crescer, porém, In-formado das condições do seu nas-cimento, o rapaz Delamonthe de-liberou adotar o nome de Oirardln;e foi esse fato visto com bonsolhos pelo seu pai.

Dotado de grande espírito prá-tico e grande vocação Jornalística,Emile de Oirardln não tardou ainiciar as suas atividades nesseterreno. Iniciou-as com a publica-ção de um jornal sni-seneris — LeVolettr — titulo expressivo parauma folha cuja feitura consistiano recolher os principais trabalhosaparecidos na imprensa parisien-se e coser com eles uma espéciede antologia. Tendo obtido bonsresultados com essa experiência,Emile de Girardin passou a outrasiniciativas — revistas de modas, ai-manaques, etc. Tais Iniciativas ti-veram a finalidade de demonstrar-lhe que um jornal não vive apenas

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da venda avulsa, não vive apenasdo contacto direto com o leitor;serviram para demonstrar-lhe queexistem outros recursos para a vidapratica de um jornal, como sejamos anúncios, a matéria paga dequalquer natureza, etc. Foi com opropósito de por em realização asconvicções a que chegara, que elefundou, em 1836, a sua La Presse.

Desde logo esse Jornal se cons-Utuiu uma revolução, na imprensafrancesa. Numerosas foram as no-vidades nele introduzidas e que vle-ram a constituir coisas do dia a diada imprensa francesa e da lm-prensa do resto do mundo. Regls-tre-se, porém, como o principalcaracterístico da folha de Girar-din, o fato de ter ela congregadoem suas colunas tudo o que a inte-ligência francesa possuía, no ter-reno literário, de mais alto, de maisbelo, de mais puro. Era aquela ahora em que o romantismo seachava no seu máximo esplendor.Oirardln chama para La Pressetoda aquela geração ardente, res-plandescente, inquieta. Em suascolunas encontram-se nomes quesão hoje títulos de orgulho daFrança, titulos de orgulho da Hu-manidade; Balzac e Victor Hugo,Sainte-Beuve e Alexandre Dumas,George Sand e Jules Sandeau, Teo-phile Gautier e tantos outros. FoiGirardin assim, quem teve o con-dão de fazer comunicar o grandegênio literário com o povo, supri-mindo aquelas imensas distanciasque até ao aparecJrnento de LaPresse separavam da multidãoanônima a grande literatura.Um emulo -te Girardin

A Ferreira de Araújo coube opapel de fazer, na imprensa e naliteratura brasileira, uma revolu-ção semelhante àquela que na

(Continua na página seguinte)

Ferreira de Araújo, num desenho de Bordalo Pinheiro

SUMARIO

DESPEDIDA DE "AUTORES E LIVROS"Ds Autores e Livros, com o seu

número de hoje, as suas despedidosao amigos. O fascículo Que hojesai representa o fecho desta re-vista.

Não é sem saudades gue assimnos despedimos dos leitores. Mas atanto nos obrigam as extremas di-fículdades com que vimos Intan-do em todos os terrenos.

Autores é Livre; saiu, de 1941 a1945, como suplemento literário deA Manhã. Tendo interrompido asua circulação naquele último ano,só veiu a reaparecer em 1948. Des-de então até agora, vencendo osmil óbices que se nos antolhavam,e fazendo sacrifícios de toda a or-dem, timbramos em levar avantea responsabilidade que tínhamosassumido: a de dar todos os mesesum número desta folha. Já agora,forem, desistimos de tudo...

Autores e Livros desaparece aodar por completo o seu décimo¦primeiro volume.

Seus onze volumes estão assimdispostos: Primeiro volume (1941)ilfascículos; segundo volume Ipri-meiro semestre ie 1942) 20 /asei-culos; terceiro volume {segundosemestre de 1942) 19 fascículos;quarto volume Iprimeiro semestrede 1943) 20 fascículos; quinto vo-lume (segundo semestre de 1943)

20 fascículos; sexto volume (pri-meiro semestre de 1944) 20 fasci-culos; sétimo volume (segundo se-mestre de 1944) 21 fascículos; oi-tavo volume (primeiro trimestrede 1945) 6 fascículos; nono volu-me (ano de 1948) 15 fascículos;décimo volume (ano de 1949) 15fascículos, décimo primeiro volu-me (ano de 1950) 12 fascículos.

Isso forma um total de 189 fas-ciculos, com mais de treís mil pa-ginas. Na coleção se acham incluí-dos para mais ãe mil autores, amaior parte deles com a sua bio-grafia, a sua bibliografia, retratosseus, fac-similes de edições de suasobras, o melhor crítica que ins-pirou...

O conjunto ãe Autores e Livroso leitor poderá verifica-lo, desdefá (com um simples olhar ã páginado Índice Geral que vai mais adiante) constitui uma riquíssima, ãocumentadissíma história ãa literá-tura brasileira.

Ficamos aqui, pois nada que-remos iteer que pareça íisonja ouelogio ao nosso trabalho. O leitorque nos julgue, e que, agora quedamos por encerrada a nossa pu~blicação, diga se ela vale, realmenteo sacrificio que por ela durantetantos anos fizemos...

Ferreira de Araújo, por Mú-cio Leão.

—Despedida de Autores e Livros.Páginas 115, 116, 117, 118 e 119:

Ferreira de Araújo e a im-prensa carioca. Necrologia do gran-de jornalista, reproduzida das se-gulntes folhas da capital da Repú-blica: I — Cidade do Rio (José doPatrocínio); H — O Comércio(Domingos Olimpio); III — Gazetade Notícias; IV — A Imprensa(Rui Barbosa); V — Jornal doComércio; VI — A Noticia (Manoel da Rocha); VII — O Pais(Quintino Bocaiúva); VIII — ATribuna (Alcindo Guanabara).

Páginrs 120, 121 e 122:Alguns artigos sobre Ferreira

de Araújo.Páginas 123 e 124:Alguns trabalhos de Ferreira de

Araújo:Vm jornal nasce...Aos sábados (duas crônicas)Macaquinhos no sotão

O Divórcio e o Senado.Nota ao presente número de

Autores e Livros.Páginas 125, 126, 127, 128, 129,

130, 131, 132 e 133:Histórias do Jornalismo no

Brasil Trabalho dos alunos do pri-meiro ano do Curso ãe Jornalismoda Faculdade ãe Filosofia:

—¦ Galeria jornalística.Vm jornalista da Indepen-déncia. Hipàlito da Costa, por Isa-zel de Almeida.

Joaquim Gonçalves Ledo, porJosé Milito.

Frei Sampaio, por Helena Ri-beiro da Silva.

Januário da Cunha Barbosa,por Antony Bandeira.Frei Caneca no cenário poli-tico do Brasil, por Hélio NunesMachado Aroxa.

Evaristo da Veiga, por Anta-nio Patriota.

João Francisco Lisboa de RuiBaliaque Guimarães.

Luto Gama, por Maurício Sil-va Castro

Ferreira áe Araújo, por Mar-cília Marinesi Silva,

Justiniano José da Bocha, porBranca Maria Garcia Ferraz Praça.

Cinco Fases de José ão Pa-trocínio, por Marta Casablanca.

Quintino Bocaiúva, por WilmaLuchesi.Joaquim Nabuco, de Rosa-lia Beatriz Leivas de Abreu.

Rui Barbosa, de Jorge Cha-loupe Sobrinho.

Carios de laet, de Regina Ro-sa de Laet.

Machado de Assis, por Hele-na Ribeiro da Silva.

João Ribeiro, por Jacira Vi-lhena Soares.Alcindo Guanabara, por Osó-rio Antônio Pereira

dede

Página 134:Valsa com minha filha,

Austregesilo de Ataide.Eutanasia por dignidade,João Carlos de Almeida

Página 135:João Pinto da SilvaDois livros de Nilo Bruzzi, de

Elmano Cardlm.Poesia, onde estás, de RenatoJobim.

Páginas 136 e 137.Antologia da Literatura Brast-leira Contemporânea. — Primeirasérie — Antologia da Poesia.XXXIX — Paula Aquiles:

Paula Aquiles (Nota biográ-fica).

Poema —Aparição — AmarPátria — Poema dos CarrilhõcsQuando tudo passar — Velho

Engenho — Meu grito — RoteiroEstranho — Canto do Homem defé — Invocação — Determinismo

Sombras do Passado — Alego-ria — Canto áa Saudade estranha

Sinfonia do inetftá»e! — Desí-lusão ~ Paisagem Marinha —Hora Extranha — Marinheiro.

páginas 138 e 139:Baíatía do Morto Vivo, de

Vinicius de Morais.Poesias de Raul Braga: Pre-

ce — Puand même — A PálidaMaria — Ao luar — Levassandouma alma — No leito de Moret —Dona Chie.

Páginas dos Autores Novos:XXX — Maria José Muniz (no-

ta biográfica).Poemas Números 1, 4 e 2, deMaria José Muniz.

Páginas 140 e 141:Antologia da Literatura Bra-

sileira Contemporânea. Segundasérie — Antologia da Prosa. XXIXÁlvaro Moreira:

Nota biográfica sobre ÁlvaroMoreira.Bibliografia de Álvaro Mo-reira. Algumas fontes sobre ÁlvaroMoreira.Os burros — Mãos postas —Algumas meditações — Epitáfio —José do Patrocínio Filho — F""*~gões do Rio ãe Janeiro.

Página 142:¦— Pedido a v.m oficial de gdbi-nete, de Cassiano Ricardo.

O sonfto de um Sonho de Car-los Drumonã de Anárade.Nadir, de Sérgio Veloso.

Boletim sentimental ãa guer-ra no Recife, de Mauro Mota.As três Marias, de ManuelBandeira.Duas canções de Sônia Re-gina: Canção ãa Morte no Mar —Ingênua Canção de Origem.

Páginas 143, 144, 145, 146, 147 e148. índice geral dos autores con-tidos no décimo primeiro volumede Autores e Livros.

PAGINAÇÃÕ INCORRETA

Page 8: Dezembro de 1950 — Vol. XI, n.° ia AUTORES B LIVRO Página ...memoria.bn.br/pdf/066559/per066559_1950_00012.pdf · Dezembro de 1950 — Vol. XI, n.° ia AUTORES B LIVRO Página

Página 114 AUTORES E LIVROS Dezembro de 1950 — Vol. XI, n.° 12

FERREIRA DE ARAUJOFrança havia feito Emile de Girar-din. São paralelas, nesse sentido,a ação de La Presse e a da Gazetade Noticias.

Aparecia a Gazeta de Notícias emuma hora em que a função jor-nalistica no Brasil era, antes detudo, uma função dos partidos po-liticos. Havia, é certo, o Jornal ãoComércio, já grave, já solene, jáprocurando colocar-se acima defacções e de tendências partida-rias. Mas o Jornal do Comércio,era um jornal sem contacto como grande público e seu papel eraantes o de um vasto arquivo deinformações oficiais de toda or-dem. Faltava, no quadro jornalís-tico brasileiro, uma folha que ti-vesse como ponto de programa oencontrar as aspirações do leitorcomum, uma folha que procurassealigeirar o seu tom, uma folha queprocurasse ser, afinal, o que é ojornal de hoje — um órgão de in-formações exatas, concebido numaforma accessivel, simples, leve. Foiesse o programa que realizou Fer-reira de Araújo. Assim, no pri-meiro editorial de sua folha, ex-primia ele como sendo uma aspira-ção de mocidade, o pensamento quenorteava a redação da Gazeta deNoticias: "A mim, coníesso-o, sóuma coisa seria capaz de entriste-cer-me deveras: chegar à convic-ção de que dia virá em que hei dedeixar de ser moço. Deixar de olharo mundo pelo seu lado bom; por departe a santa boa fé para entrln-cheirar-me atrás da cautela; nãoestender francamente a mão aooprimido para dar atenções aoagressor; deixar de rir porque nestemundo, disse-o já não sei que es-pirito doentio, após o riso vem sem-pre o pranto, seria viver morto.

De onde viemos? Da mocidade!Que somos? A mocidade! O quequeremos? Viver, mas viver moços,rindo, amando, crendo no que ébem e justo, respeitando o quemerece respeito, desrespeitando oque deve ser desrespeitado, er-guendo altares a quem fôr dignodeles, abatendo as estátuas dos fal-sos ídolos, tendo em mão o incensopara o talento e a virtude, na ou-tra um chicote para os vendilhõesdo templo.

A nossa pretenção é simples: di-zer o que pensamos e sentimos, sero que somos".

Um jornal renovadorEm um estudo comparativo queféz acerca dos primeiros números

dados pela folha de Ferreira deAraújo com os números nas mes-mas datas editados pelo Jornal ãoComércio, pelo Correio Mercantil epor outras folhas, que eram entãoos principais jornais da Capitalbrasileira, Sérgio Velozo deixouevidenciada a novidade que, pelasua leveza, pela preocupação de irao encontro do interesse do leitor,representava a Gazeta de NoticiasMas o principal segredo da folhade Ferreira de Araújo não esteve,apenas, nessa preocupação de irao encontro do interesse do leitorcomum. Isto seria o segredo deum êxito que, mais cedo ou maistarde, algum jornalista de talentoencontraria.

O grande papel da Gazeta de No-tidas estava representado na preo-cupação que o diretor da nova fô-lha sempre teve de reunir em suascolunas tudo aquilo que a inteli-gencia brasileira produzisse de maisfúlgido e de mais significativo. E'nesse terreno, sobretudo, que, pa-rece, devemos traçar o paralelismoda ação operada no Rio de Janeiropor Ferreira de Araújo com a açãooperada na França por Emile deGirardin. A Gazeta de Noticias,realmente, congregou em seu seiovalores os mais diversos e os maiseminentes. Nela passaram, na fasede Ferreira de Araújo. Machado deAssis, cuja obra, em parte, apare-ceu originalmente nas colunas dafolha; Alberto de Oliveira e OlavoBilac, Ferreira de Menezes, Josédo Patrocínio e Joaquim Serra,Araripe Júnior e Raul Pompeia,Coelho Neto, Aluizio Azevedo, Ar-thur Azevedo e Guimarães Passos,Luiz Guimarães, Emilio de Mene-zes e Pedro Rabelo, Capistrano deAbreu e Ramtz Galvão, Pardal Mal-let, Domlcio da Gama, Melo Mo-rals Filho, Tomaz Alves lilho (Hp-

frog) e Cruz e Souza e Lúcio deMendonça è Franca Júnior. Nãose circunscrevia aos brasileiros ointeresse de Ferreira de Araújo,Para o êxito de sua folha, êle nãovacilava em contratar grandes es-critores estrangeiros, cujos nomespudessem despertar o maior inte-rêsse dos leitores. Conseguiu, assim,a colaboração de Eça de Queiroz,quja obra, em parte, é, como a deMachado de Assis, aparecida ini-cialmente na Gazeta de Noticias,contando-se no meio de tais vo-lumes não apenas as coleções decrônicas, porém um romance dosmais importantes, como A Reli-guia; Ramalho Ortigão, cuja obra-prima, A Holanda, foi, também,inicialmente publicada naquela fô-lha; e Max Nordau, e Mariano Pina,e Guilherme de Azevedo, e Pinhei-ro Chagas, e tantos, tantos outros.Ferreira de Araújo como escritor,

No meio dessa constelação, quereunia em sua folha, Ferreira deAraújo ressaltava como um va-ior autêntico. Escritor ele era, dosmais hábeis daquele tempo, e es-critor de uma fecundidade incom-parável. Era o jornalista que fre-quentava com Igual brilho todasas colunas de sua folha. Era oJosé Telha dos Macaquinhosno Sotão, curiosa sessão onde bri-lhava o humorismo, era o LuluSênior das Balas de Estalo, umadas mais importantes colunas daGazeta de Noticias, na qual tam-bém colaborava Machado de Assiscom o seu pseudônimo de Manas-sés, e na qual apareciam, igual-mente, José do Patrocínio, ManoelRocha e tantos outros. Era o autorda sessão Jornal do Ausente, oautor da sessão Coisas de Politica.

E simultaneamente com essasatividades da Gazeta de Noticias,colaborava na Noticia, colaboravano Filhote (espécie de suplementoque a Gazeta por alguns anos pu-blicou); e, no fim da vida, aindatinha tempo para colaborar naRevista Brasileira, de José Verís-simo, onde estampou importantesestudos de crítica social, e em jor-nais de São Paulo.

A conduta de um jornalista.Se tinha tanto, zelo pelo aspecto

puramente intelectual da Gazetade Noticias, Ferreira de Araújo ti-nha o mesmo desvelo pelos aspec-tos puramente morais da folha quedirigia. Alguns episódios de suavida o evidenciam. Citarei, em pri-meiro lugar, o episódio de 1B84, oprocesso em que o envolveu o Con-selheiro Moreira de Barros. —Havia a Gazeta estampado uns ar-tigos contra o Conselheiro, e estedeliberou mover uma ação contraFerreira de Araújo. Ao jornalistaseria fácil demonstrar a sua ne-nhuma responsabilidade em taisartigos; porém, levado pela preo-cupação de nunca se deixar vercomo testa-de -ferro, o diretor dafolha assumiu inteira responsabi-lidade das acusações ali publica-das. Foi conduzido, assim, a barrado tribunal. Nesse feito, foi Fer-reira de Araújo defendido porQuintino Bocaiúva e Sizenando Na-buco. Quintino tomou a si a partedoutrinária da questão, suisten-tando, antes de tudo, a tese da li-berdade de imprensa. E foi nessaoração, que, caracterizando a fi-gura do seu confrade, expendeuaquele conceito, que ficou famosoe que tantas vezes tem sido re-petido — que Ferreira de Araújorepresentava no Brasil os três es-píritos que constituíam a glóriada atuação jornalística na Fran-ça — o de Girardin, o de JulssJanin e o de Armand Carrel. Size-nando Nabuco reservou para si adefesa do reu, encarando própria-mente o imputado fato criminal.

A esse propósito, dizia um jornalda época: "Na fisionomia dos ju-rados, como se lia a impaciênciade prestarem com a absolviçãounanime do feliz acusado a suahomenagem de respeito à liberdadeda imprensa. Terminado o deba-te, recolheram-se à sala secreta,e à sua volta, quando o presidentedo júri, o venerando Senador Ja-guaribe, proferiu a absolvição una-iiime, o auditório rompeu em es-frondosa saíra de palmas: "Salveimprensa livre"!.

O segundo episódio ocorreu doisanos depois. Entrara a Gazeta deNotícias em polêmica com O País,e os mais ásperos doestos vinhamsendo trocados entre as duas fô-lhas. Em certo momento, a umaagressão mais violenta o Pais, odiretor da Gazeta de Noticias desa-fia o diretor daquele jornal — oConde São Salvador de Matosinhos— a um duelo. Reunem-se os ad-versários e as suas testemunhasnuma das ilhas da Guanabara. Eali, depois de esboçarem os adver-sários um começo da luta, chegamos quatro padrinhos à conclusão dcque fora dada suficiente satisfaçãode honra do ofensor ao ofendido.Lavra-se uma ata do duelo, quenão chegou a ser completamentetravado, e encerra-se assim o epi-sódio. — Mas ficara provado queFerreira de Araújo, na defesa dobom nome moral de sua folha,não vacilava em ir até ao campoda honra.

A um terceiro fato desejo repor-tar-me, a fim de mostrar o zelocom que Ferreira de Araújo cuida-va da posição moral em que a Ga-zeta de Noticias devia colocar-sesempre. Refiro-me a certo depoi-mento dado por ocasião da mortedo diretor da Gazeta de Noticiaspelo jornalista Carlos Ferraz. Foraesse jornalista correspondente emPetrópolis da Gazeta ãe Noticias,no momento em que presidia o Es-tado do Rio o ilustre Alberto Tór-res, amigo dos mais chegados deFerreira de Araújo. Um dia estam-para a Gazeta um telegrama vindode Petrópolis, referente a um fa-to que interessava ao governo doEstado do Rio, telegrama em quetransparecia certo espírito de fac-ciosismo. No dia seguinte, recebiaCarlos Ferraz a seguinte carta deFerreira de Araújo:

"Petrópolis, 25 de abril 99. —Meu caro colega. — O seu telegra-ma de hoje está redigido como sea Gazeta fosse um jornal politico,partidário. Dizer que "consta quea mesa da presidência foi viradacom o fim de esmagar alguns mem-bros da minoria" chega a ser pilhe-ria. Eu estou intimamente ao ladodo dr. Alberto Torres, em facede princípios; mas não está emmeus princípios esta parcialidadena narração de fatos e nos comen-tários a eles, e isto pela razão muitosimples de que, narradas as coisasdeste modo, ninguém lhes dá cré-dito. Está claro que não é pos-sível que. havendo tanta exal-tação de parte a parte, os gover-nistas sempre sejam corretos emtudo e por tudo, e os oposicionistasem tudo e por tudo desarrazoáveise violentos. O resultado é que opúblico passa a acreditar tanto noque diz a Ga~eta como no que diz aCidade âo Rio.

Peço-lhe que modifique o seuprocesso, mesmo em bem da causaem que ambos estamos empenha-dos. Sempre teu — Araújo".

Crepúsculo e fim de um jornalistaO excesso de trabalho a que se

dedicava Ferreira de Araújo nãotardou em produzir os resultadosfatais, que ele, sendo médico, de-veria ter previsto. Em breve, pro-nunciavam-se os sintomas da ar-terio-esclerose que lhe começava aminar o organismo. Um dos seusmelhores amigos, Manuel Rocha,logrou fixar o dia em que Ferreirade Araújo teve, como resultado deum exame médico adequado, a pri-meira idéia do estado gravea que ia chegar a sua saúde. Era a25 de setembro de 1896, e naqueledia Manuel Rocha fora despedir-se do amigo, por ter de seguir emviagem para a Europa. Ferreira deAraújo contou-lhe então que pelamanhã tinha recebido o resultadodo exame médico a que se subme-terá, e adiantou que o seu caso eraum caso líquido de artério-escle-rose. Acrescentou então: "Você nãodtga nada a ninguém; não há nadamais triste do que a gente serolhado como se fosse um mori-bundo. "Comenta Manuel Rocha:"Não se mostrava impressionadosenão por motivos nos quais o seupróprio interesse era a menor dascausas: Filho de pais diabéticos, aidéia de morrer cedo, cedo entrarano seu espírito. Mostrava-se, sim,

disposto a lutar com valentia con-tra a moléstia; mas os progressosda enfermidade na sua primeirafase foram bem mais rápidos doque se podia supor".

Com efeito, já em 1897 Ferreirade Araújo teve uma segunda crise,considerada perigosissima, Mudoude tratamento, entregondo-se àcompetência de Joaquim Murtinhoe depois à de Teodoro Gomes. Aenfermidade pareceu estacionar.No ano seguinte, acreditando tal-vez que o seu estado de melhoraestivesse consolidado, voltou àmesma febril atividade de outrostempos. Passou o verão em Petró-polis; e, ao regressar ao Rio, pôdedar-se, pelas últimas vezes, aoseu divertimento predileto — o defreqüentar os teatros da cidade.Sobrevieram as crises finais. EmPetrópolis atacou-o a erlsipela emum dos pés, e veio para não maisceder. Em junho de 1900, já noRio de Janeiro, seu estado agra-vou-se extremamente, até que, pe-los melados de julho, apareceram-lhe fenômenos urêmicos. A mortesobreveio a 21 de agosto.

O ENTERRO DE FERREIRADE ARAÚJO

A morte de Ferreira de Araújoteve esplendores de consagração.

No dia seguinte àquele em quese verificara a catástrofe, toda aimprensa do Rio de Janeiro se pro-nunciou, da maneira mais exal-tada, acerca do fundador da Ga-zeta de Noticias.

Era isso em uma época ilus-tre em que o jornalismo cariocapossuía uma constelação incom-parável de jornalistas, constela-ção na qual brilhavam, como es-trelas de primeira grandeza, RuiBarbosa, Quintino Bocaiúva, Josédo Patrocínio, Alcindo Guanaba-ra... Todos eles, cada um em suacoluna, deu sobre o confrade de-saparecido o depoimento sincero.Bocaiúva, que talvez não seja oautor do editorial em que O Paiscelebrou o jornalista morto, deuo seu depoimento em um discursodo Senado. Ao grupo dos grandeshomens puramente dedicados àimprensa, juntou-se o daquelesque, vivendo também na impren-sa, eram antes homens de letras,romancistas, poetas, ensaístas. Foiassim que a Gazeta dos dias se-guintes à morte de Ferreira deAraújo coligiu um documentáriopreciosíssimo a propósito do seufundador, documentário em quefulgem, ao lado dos nomes citados,os de Machado de Assis, Olavo Bi-lac, Alberto de Oliveira, Coelho Ne-to, José Veríssimo, Filinto de Al-meida, Alfredo Camarate, tantosoutros.

Existe, assim, a ser recolhido eeditado, um valioso e riquíssimoIn Memoriam de Ferreira deAraujo.

A consagração que na impres-sa coroou a fronte empalidecidado jornalista morto, foi corres-pondente àquela que cercou o seuenterro. Ferreira de Araújo fale-ceu na rua das Laranjeiras, nâolonge do Largo do Machado.

Na hora de sair o corpo, nãodeixaram os amigos que ele fossecolocado sobre a carreta, fizeramquestão de conduzi-lo a braço.Assim o fizeram até atingirem oLargo do Machado.

Só ali foi o caixão colocado den-tro do carro fúnebre, e'se organizouc cortejo. Estavam ali reunidos oshomens que o Brasil possuia demaior expressão, na politica nasociedade, nas letras, no jornalis-mo. O presidente da Repúblicamandara representante. O vice-presidente comparecera pessoal-mente. Ao lado dos dois, que encar-navam a majestade da Repúblicapolítica, marchava Machado deAssis, que simbolizava a majestadeda República Literária.

O cortejo formou-se, e caminhouem direção à cidade. Subiu a rua1.° de Março e rumou pela do Ou-vidor. Ferreira de Araujo ia assimdar a ultima despedida ao seuquerido jornal..., Dali, recebendosempre as homenagens dos outrosjornais, defronte de cujas redaçõespassava, rumou para o cemitériode S. Francisco Xavier.

Começava a escurecer quandoali chegou o cortejo.

E quando os coveiros foram dp-positar o caixão na terra, verifica-ram que as dimensões dele excc-diam às da abertura da cova! EmFerreira de Araújo, homem agigantado, tivera que ser conduzido cmcaixão especial, feito sob medida.para ele, que excedia as medidasdos homens comuns...

O caixão teve então que ser de-positado na capela do cemitériuE só no dia seguinte, pela malhaloi feita a inumação do grandejornalista.Principais datas de Ferreira dp.

Araújo1B48 (25-3) — Nasce no Rio eis

Janeiro, José Ferreira de SouzaAraújo, filho de José Ferreira oSouza Araújo e D. Helena Mariana de Souza Araújo.

1862 — Ferreira de Araújo matricula-se na Faculdade de Medi-cina do Rio de Janeiro.18S7 — Ferreira de Araújo douto-ra-se em Medicina no Rio de Ja-neiro.

1869-75 — Colabora no Mosquito.Nesse período funda o Diário ãe.Notícias.

1875 — Funda a Gazeta de Noti-cias (2-8)

1884 — E* processado pelo Con-selheiro Moreira de Barros.1886 — Bate-se em duelo (Gazeta,19-8) com o Conde S. Salvador cieMatosinhos (João José dos ReisJúnior).

1900 (21-8) Falece no Rio dc Ja-neiro.

BIBLIOGRAFIA DE FERREIRADE ARAÚJO

Do alimentação. Do valor re-lativo dos sinais diagnósticos daprenhez. História medico-legal doaborto. Do diagnóstico e tratamentodas febres perniciosas mais fre-quentes no Rio de Janeiro — Teseapresentada à Faculdade de Me-dicina, etc. — 51 págs. — Rio, 1867.

Depois da morte ou a vida ju-tura, segundo a ciência, por louisFiguier — Versão — 386 págs. —Havre, 1877.

O Primo Basilio — Comédiaem um ato, a propósito do roman-ce de Eça de ueiróz. Foi escrita es-pecialmente para o benefício doator Silva Pereira. Representada,pela primeira vez, na Fenix Dra-mática, em 27 de maio de 1878.

Jonathan — Comédia em 3atos Goudinet, Osvaldo Gefferd —Tradução — 189 págs. Rio, 1880.Foi representada no Rio, pela pri-meira vez, no Teatro Lucinda, em11 de julho de 1880.A filha única — Drama de Teo-baldo Ciconi. Tradução de Ferreirade Araújo e Vivaldo Coaraci.Representado no Teatro S. Luiz,em 21 de agosto de 1881.

Coisas políticas — Artigos pu-blicados na Gazeta ãe Noticias, deMarço a dezembro de 1883 — 25opágs. — Rio, 1884.Fagundes — Comédia de co*tumes em 3 atos — Levada à cenaem outubro de 1884.

—Batas ãe Estalo — Rio — 1887.E' uma série de artigos humorís-ticos da Gazeta ãe Notícias, naqual Ferreira de Araújo tinha aresponsabilidade de um pseudo-nimo — Lulú Sênior — ao lado deMachado de Assis (Lelio), Hen-rique Chaves (Riancho, Manuel daRocha (Ly).Macaquinhos no Sotão — Rio.1888. E' outra seção do mesmo gè-nero está diária — também daGazeta de Notícias. Ferreira deAraújo nela usa o pseudônimo deJosé Telha.

Os Médicos — Peça em 3 atos.acomodada à cena brasileira. Re-presentada pela primeira vez noTeatro Lucinda, em 6 de julho de1888.

A Baronesa — comédia em 4atos, traduzida do francês. Foi re-presentada no Teatro S. Luiz.

Vm chapéu de Palha da Itália— Drama em cinco atos de Teo-baldo Ciconi. Tradução de Fer-reira de Araújo e Vivaldo Coaraci.Representado no Teatro S. Luiz.

A Politica — E' uma coleçãonumerosa de artigos publicados naRevista Brasileira, a partir de ja-neiro de 1896.

Comércio de São Paulo. Alimanteve Ferreira de Araújo, com o

(Continua na pág. 122)

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Dezembro de 1950 — Vol. XI, n,° 12 AUTORES LIVROS Página US

Ferreira de Araújo e a Imprensa cariocaI _ Cidade áo Rio (José do Pa-

trocinlo).Desde hontem, à noitlnha, o Dr.

Ferreira de Araújo passou a seruma saudade e um ensinamento.

A Imprensa da capital pranteiaunanime a perda do grande inicia-dor da vida nova do nosso jorna-lismo e o cerca de uma fotosferatle benquerêncla, que surpreende edeslumbra.

Dos Estados ja chegam os ecosda consternação dos nossos cole-gas, que nos acompanham na deso-jação e no luto.

Nem parece que estamos assis-lindo aos funerais de um grandebatalhador, cuia pena feriu osmaiores combates, em prol das nos-sas liberdades e por isto mesmoviu-se obrigado a ferir fundo, aabrir caminho para os seus ideaissem reparar nos golpes, que vi-brava contra os adversário.

A memória de Ferreira de Araújopaira sobre um coro de hosanas aoaeu talento e ao seu coração, comuns toques bonançosos' de sol ma-tinal, que nunca tivesse subido atéo zenith para desfechar, a pinosobre os erros políticos, e as mons-truosidades sociais ratos fulmi-nantes.

De fato, o fundo moral de Per-reira de Araújo era a bondade.Foi por ela, que durante a moci-dade, na Faculdade de Medicina,conquistou amigos, cuja maioria seconservou fiel a essas primeiras re-lacões e na imprensa adquiriu essafeição suavíssima, em que prepon-derava a Ironia, que poucas ve-zes chegava á mordacidade.

A bondade, porém, nãò excluiao civismo e quando era precisomostrá-lo irredutível e adamantinonenhuma pena excedia a de Fer-reira de Araújo, que era ao mesmotempo florete e massa, caniculae tempestade.

Pode-se comparar a sua obra ado estatuário que a princípio des-basta a rudes golpes de escôproo bloco de que há de sair a cria-cão imortal, mas em seguida animaas feições, que brotaram do traba-lho violento e com o mesmo cari-nho com que aprimora as linhas,rtcama as vestes, ou alisa a nudez.

A Gazeta de Noticias, que é aobra capital de Ferreira de Araújo,não foi sempre essa corrente lim-pida, que hoje flue entre os maisgraves acontecimentos e em queo povo vê refletida a sua sensateze o seu espírito de ordem.

Nos primeiros tempos da dire-cão de Ferreira de Araújo, a Go-zeta, hoje estuário plácido das con-quistas nacionais, era um rio cau-daloso, que se encachoeirava deencontro aos preconceitos, que pre-tendiam obstruir-lhe a curso, le-vando longe o fragor das suaságuas e enchendo de espanto osretrogados pela vertigem da suacorrenteza.

Era da alma de Ferreira de Araú-jo que partia o estímulo para oscombates, que se alistaram sobo seu comando e que de 1877 a 1889se revesaram nas primeiras linhasdas batalhas vencidas pela Gazeta.

Dizer-se que foi nessas colunasgloriosas, que se iniciou a campa-nha de dez anos, que só terminoucom a abolição da escravidão, éaquinhoar Ferreira de Araújo coma melhor porção dos louros imar-cessíveis dessa vitória.

Agora é moda pintar como umabatalha de flores essa luta em queo espírito cristão dos abolicionls-tas tinha de haver-se com o in-terêsse sem entranhas do escravls-mo. Parece agora que a propagan-da teve caminhos aveludados enão encontrou urzes em que ferisseos pés.

A verdade será um dia escrita ever-se-á que foi preciso multo sa-crifício para desbravar o solo, emque se plantou a sementeira sa-irada, que se converteu na maisdourada das messes da glória na-cional.

Não podia dirigir na Gazeta ahumérica campanha um Jornalis-ta de glbão arminhado, mas. umliciador capaz de suportar o pesode uma armadura e não contar nemnúmero, nem qualidade dos con-trários.

Caracteres indomáveis como o deFerreira de Menezes e JoaquimSerra não se submeteriam um diasiquer à direção de um chefe queos impedisse de cair a fundo sobre

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Ferreira de Araújo, em uma charge de J. Jacaré (1898)

as misérias políticas e sociais dotempo.

Quem se lembra da redação daGazeta de Notícias nessa fase decombate, deve ficar surpreendidovendo abençoadas as cicatrizes pe-los próprios que receberam os gol-pes mortíferos da falange deAraújo.

Nâo foi por ser mestre em cor-tezanias que em 1880, na revoluçãodo vintém, a Gazeta tornou-se alvoprincipal da cólera do governo; nãoToi também por ser fácil em toleraros erros dos homens, que a vidade Ferreira de Araújo correu perigomuitas vezes, e que as portas dasua indestrutível oficina foram ar-Bitràriamente fechadas, durante olongo fraticldio de 1893 a 1894.

Reivindicamos para a históriada liberdade nacional a figura he-róica de Ferreira de Araújo, Porser prudente e comovido comoNestor não lhe pesavam nas mãosas rédeas dos carros de guerra, nemo fazia medir golpes o horror damortualha.

Não! O nosso mestre, aquele quenos ensinou a ver na imprensa umsacerdócio, aquele que nos esti-mulava com a sua ilimitada con-fiança, aquele que nos abroquelavacom o seu prestigio, quando encen-tavamos a carreira de martírio,que é o nosso único quinhão napartilha das benemerências ini-quas, não abriu aula de toleràn-cia para com os indivíduos, queprejudicavam a pátria. Ao con-trário, nos ensinou co mo seu exem-pio a vara-los, ehterrando-lhes noscorações duros a espada da jus-tiça, até os copos.

Um domingo, à tarde, encontra-mo-lo a estudar a sua lição de ei-tara, e lhe gabamos a paciência,provada pelo estudo do instrumentoingrato.

— Um dia, quando eu tocar coisaque se ouça, quero que me aplaudacomo eu aplaudo os que estão ar-rançando dò coração duro dos se-nhores acordes de piedade.

Nesta frase está toda a filoso-fia do jornalista de Ferreira deAraújo. Era necessário, era pre-ciso tirar da dureza humana acõrdes de bondade, mas para istoera mister não ter medo da fadigamas ao contrário magoá-la.

Não tinha transigência na suaproflssío. Sentou-se no banco dosréus, para não humilhar o seu jor-nal a ter um tinta de ferro.

Não recuou também diante doduelo.

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Bateu-se com a altivez, o brio, acoragem de quem sabe que sóa honra pôde empunhar uma penapara dizer o que sente, o que pensa.

Tal era o jornalista, o nosso querido mestre.

Não era um instrumento mo-nocordio e por isso mesmo cantavaem baladas como em crônicas deum bom humor panglossiano, ren-dilhava folhetins, burilava perio-dos para o teatro.

Tendo-se feito para a sua pro-fissão, não hesitou, para honra-Ia pelo saber, em sentar-se, comoum colegial, no banco de um cursode alemão e inglês, apesar de serja o redator-chefe da Gazeta, res-peitado pelas potesdades do gene-ro e das finanças. Ferreira de Araú-jo tinha a bonomia dos fortes; daío preferir esse estilo, que tantoprendia nos seus folhetins, e nosseus artiguetes ligeiros, que eramfeitos de retalhos do ridículo so-ciai, a que ele juntava guisos debom senso.

Além dos grandes nomes, que se-cundavam o esforço de Ferreirade Araújo, amanheceram ali paraas letras e para a ciência grandenúmero de moços, que perpetuaramos seus nomes.

Não tinha ciúmes dos que po-diam fulgurar: dava-lhes ao con-trário lugar e liberdade ao seulado, fazendo seus, da Gazeta, ostriunfos que eles obtinham.

O grande ensinamento que Fer-reira de Araújo nos lega é a sele-Ção que fez para organizar a Ga-zeta, quando assumiu diretamentea sua redação.

Longe de temer a concurrência denomes já feitos e de poderosos ta-lentos que começavam Ferreira deAraújo chamou e acolheu quan-tos quizeram colaborar com êle nagrande obra da reforma do nossojornalismo.

Foi o pai espiritual do jorna-lismo deste último quarto de sé-culo. Foi a Gaseta que nos ensinoua todos a vida própria indepen-dente do cativeiro dos partidose dos sindicatos; o jornal do jor-nalista e não do dinheiro e dasopiniões dos outros, o éco dosgovernos e dos poderosos.

Está nesta revolução o seugrande merecimento, a sua imor-talidade.

Sereno, jovial, era a encarna-cão do desinteresse, e das dedica-ções extraordinárias. Governava,com a afinidade, a vida e o mo-vimento dos átomos, sem que nin-guém percebesse que a sua von-tade, e só a sua vontade, estavadominando o espírito da sua re-dação.

Foi um forte na expressão maispositiva da palavra. Os seus hon-rados progehitores lhe haviam en-celeirado à independência e èlesoube usar desse legado de modo ase constituir um dos mais podero-sos fatores do que temos de bomna sociedade contemporânea".

TI - O COMERCIO (DomingosOlimpio)

Desgraçadamente sobreveiu o de-sastre que, há já tantos dias. erareceiado por todos quantos se in-teressam pela glória intelectual duBrasil. Faleceu hontem, às 6 datarde, José Ferreira de Souza Araú-jo, redator-chefe da Gazeta ãe No-tícías.

A perda é Irreparável. O mal ésem remédio...

Em vã.o, pelo vasto arraial daimprensa, hoje enlutado pela mortede Ferreira de Araújo, os olhos sealongam, buscando anciosamenteo substituto do mestre, o jornalistaa quem se deva entregar o bastãode comando, hoje saido por terra.

Não nos faltam, é certo, jorna-listas de alto mérito e de alta pro-bidade profissional; felizmente, onivel intelectual do Brasil, apezarde todas as causas que concorrempara a nossa decadência, ainda semantém numa altura brilhante.Mas, onde achar quem, como Fer-reira de Araújo, possa, num dadomomento, encher com o seu ta-lento todo um jornal, desdobran-do-se por todas as seções, atacan-do todos os problemas, — pensandoe doutrinando no artigo de fundo,sorrindo na crônica ligeira, arra-nhando e mordendo na polêmicapolítica, fixando fatos com umaprecisão de máquina fotográfica no

Íioticiário, polvilhando de fina ma-

icia a anedota e o conto, desfa-zendo-se em flechas envenenadasna sátira, afestoando-se de floresno registro da vida elegante, des-cobrindo com a rapidez e a fulgu-ração de um relâmpago o mot delafin, — e sempre com a mesmavibração de moeidade e de forçasempre com o mesmo inalterav*»'bom senso, e a mesma impecávelcorreção de maneiras e cortezia delinguagem?

Este, possuidor da mais vastaerudição, apercebido da mais fartabagagem literária e cientifica, po-dera mais fundo esgotar um as-sunto social ou político... Aquele,de temperamento mais ardente, po-dera com mais paixão empenhartoda a sua alma na rude batalhade uma propaganda, e levar de ven-cida todos os obstáculos a golpesterríveis de audácia e de gênio...Aquele outro, mais frio, mais afei-to ao calmo papel de doutrinador,poderá com mais segurança acharo ponto fraco de uma contro-vérsia, e com mais precisão de ata-que manejar o argumento argu-cioso... Mas nenhum outro terá.como Ferreira, aquela maleabili-dade de espírito, aquela faculda-de de se assenhorear de chofre detoda a complicada e mobil fisiono-mia moral de um povo.

Repita-se, ainda uma vez, o quejá tantas vezes foi dito; Ferreirade Araújo foi no Brasil o criadordo jornal — do jornal verdadeira-mente jornal, entenda-se bem —do jornal que é como um vasto es-pelho, em cuja face se vêm refle-tir toda a alma e todo o caráterde uma nação.

Antes do aparecimento da Gazetaãe Notícias, a imprensa do Rio deJaneiro (e, portanto, a de todo oBrasil, porque ainda hoje toda 9vida brasileira se concentra nasvielas da velha cidade de Mem deSá) era massuda e pedante, peja-da de artigos partidários, — sim-pies registro de interesses de poli-ticagem, onde o partido que estavapor terra vinha expectorar a suabilis contra o partido oue estavano poder.

Aoui e ali, no seio dessa estagna»Ção e dessa monotonia, — uma ououtra notícia escassa e mal feita,um ou outro folhetim literário, pr-tilando um romantismo rançoso,uma ou outra poesia de versos mo-les...

A Gazeta entrou irreverentemen-to Dor essa casa de velhos, com odesembaraço de uma rapariga pe-tulante. Entrou, e transformoutudo.

Os jornais eram intratáveis e se-veros: ela fez-se leve e alegre. Osjornais eram caros: ela fez-se ba-rata, de modo a poder entregaros seus encantos aos pobres, comoaos ricos. Os jornais eram poli-ticos: ela colocou-se acima de to-dos os partidos, e começou a lhesapontar os ridículos sem parciali-dade. Os jornais eram prudentes,e temiam os desmandos de Iin-

guagem dos moços: ela abriu assuas colunas e todos os rapazes detalento... E quem fez isso tudofoi o grande, o excepcional jor-nalista que acaba de desaparecer,levado por uma longa e crudelis-sima enfermidade.

Um golpe rápido de vista, lan-çado sobre a fecunda existência deFerreira de Araújo, basta para fa-zer o seu alto valor.

O fundador da Gazeta ãe Noti-cias nasceu em 25 de março de1848. Tinha, portanto, 52 anos deidade: estaria em plena exuberân-cia de vida, em plena maturidadede espírito, si a mais terrível dasmoléstia lhe não tivesse vindo mi-nar a existência.

Contava apenas 14 anos, quando,em 1852, se matriculou na Escola deMedicina, de onde saiu formado em1867. Mas a profissão de médicoera contrária à sua índole, e nãosorria ao seu temperamento. Ape-nas saido da Escola, começou aescrever, e a esbanjar talento everve pelas pequenas folhas daépoca. O Mosquito, o Guaranq, eoutras.

Quando, a 2 de agosto de 1876,apareceu a Gazeta ãe Notícias, oespírito do escritor estava forma-do e aparelhado para a luta.

O que foi, em 26 anos de vida, aGazeta ãe Notícias, sob a direçãode Ferreira de Araújo, — não épreciso dizê-Io. Estuário vasto e lu-minoso, a que os mais brilhantes efortes talentos do Brasil tem vindotrazer o seu contingente de traba-lho, a Gazeta honra a civilizaçãosul-americana, pelas suas critério-sa imparcialidade, e tem pres-tado os mais relevantes serviços àPátria brasileira, pugnando pelaconquista de todos os seus ideais.

O que é preciso lembrar, agorae sempre, é o sopro infatigável devida com que o ilustre jornalista,hoje morto, soube sempre animaraquele vasto corpo. Sem filiar já-mais o seu espirito a qualquer dospartidos políticos do Brasil, a opi-nião de Ferreira de Araújo pesavadecisivamente na balança de tô-das as discussões. Nunca houve,talvez, aqui, uma seção de jornal,que tivesse a repercussão das Cou-sas Políticas, — artigos lúcidos esóbrios, em que Ferreira de Araú-jo, às segundas feiras, registravatodas as oscilações da opinião pú-blica, encaminhando-a e esclare-cendo-a, Muita mediocridade pre-tenciosa, muita ambição desregra-da, muitos interesses perversos einconfessáveis viram partir da-quela coluna o golpe formidávelque os aniouilava. Ao lado de Josédo Patrocínio e de Ferreira deMenezes, Ferreira de Araújo ocupouvanguarda do exército abolicionis-um dos mais arriscados postos nata. E, quando a República se fir-mou, essa vitória foi em grandeparte devida à ação demolidora daGazeta ãe Notícias.

Mas, nas outras colunas da fõ-lha, com que prodigalidade espa-lhava o seu talento o valente jor-nalista! Nas Balas de estalo, nosMacaquinhos no sotâo, nos Apa-nhaãos, nos folhetins As quintas,nos artigos de crítica dramática,nas pequenas novelas maliciosas,a sua verve palpitava e cintilava,inegotável e onimoda.

Houve um tempo, em que a ati-vidade de Ferreira rie Araújo setornou verdadeiramente mar a vi-lhosa. Foi há poucos anos. Pareciaimpossível que um cérebro humanopudesse resistir a tamanha 'tarefae a tão prodigioso desdobramentode aptidões. O jornalista mantinhatodas as suas seções na Gazeta, ecolaborava n'A Notícia, escrevendoos folhetins Aos sábados, os artigosde crítica sobre Noveli e aquelesadmiráveis artiguetes, assinados F.que a brilhante folha da tardepublicava diariamente na primeirapágina, — pequenos trechos de im-pressões, moldados na fôrma dosartigos de Francis Magnard, noFigaro. E não era tudo: Ferreirade Araújo escrevia ainda a Rese-nha Política, da Revista Brasileira,os ilíocios de Ver, n'0 Filhote, e duasvezes por semana mandava arti-gos ao Comércio de S. Paulo...

Foi na agitação dessa faina so-bre humana, que o colheu a doençapérfida. A agonia do corpo foi lon-ga e tremenda. Mas o espirito so-breviveu à matéria, até á última

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Ferreira de Araújo e a imprensa cariocahora, sagaz e claro, equilibrado clorte.

Sòiriente agora, que vemos fe-char-se a sepultura sobre os res-tos mortais desse brasileiro ilus-tre, é que podemos medir toda aextensão da poderosa influênciaque êle exerceu sobre os nossoscostumes e sobre a nossa forma-ção de povo.

A perda é incalculável. O malé sem remédio...

Os nossos pezames não devemser dirigidos apenas à Gazeta deNotícias, órfã da sua preciosa di-reção.

O Comercio endereça os seus pe-zames a toda a Pátria Brasileira,tão rudemente ferida por esta ir-reparável desgraça.

Aos jornais matutinos coube atriste missão de notificarem a mor-te do Dr. Ferreira de Araújo, re-dator-chefe da Gazeta de Noticias.

Por eles se sabe que o ilustre jor-nalista exhalou o último suspiroàs 6 horas da tarde de ontem,após três horas de tormentosa ago-nia, cercado sempre de sua incon-solável esposa, seus extremosos fi-lhos e de amigos dedicadissimos.

Às 9 horas da manhã de hoje,chegou à casa da familia do Dr.Ferreira de Araújo um nosso re-presentante, que, em nome destaredação, apresentou à familia asnossas sinceras condolências.

A esta hora achava-se ainda ocorpo colocado sobre um estradona sala de visitas, coberto por umacolcha branca.

Em torno do corpo viam-se qua-tro tocheiros, ficando-lhe aos pésuma pequena mesa, com um cru-cifixo e três castiçais em que ar-diam velas de cera.Duas ricas grinaldas, uma ofe-recida pela família Bocha, e outra

pela A Noticia, Já estavam coloca-das ao lado do corpo, havendo tam-bem algumas bandejas com fio-res naturais.Velavam, por esta ocasião, ocorpo uma filha do Dr. Ferreira deAraújo, e algumas senhoras.Durante a noite, fizeram quartoao cadáver a viúva e filhos, viúvaRocha Lima e filhos, Luiz de Cas-tro e senhora, viuva Oodoy, Hen-rique Chaves, José do Patrocínio,

Dr. Oscar Oodoy, Dr. Dermevalda Fonseca, Afonso Montaury, Coe-lho Neto, Olavo Bilac, GuimarãesPassos, Plácido Júnior.O Sr. presidente da Repúblicamandou hoje à casa do Dr. Fer-reira de Araújo uma belíssima co-roa, para ser depositada sobre ocaixão fúnebre, e deu ordens paraque os chefes das suas casas civile militar acompanhem o enterroem carro do palácio.(O Comércio, 22-8-1900).III — GAZETA DE NOTICIAS

Acabou-se. Foi esta frase sinls-tra que hontem, às 6 horas da tar-de, nos anunciou a morte do nossochefe, o Dr. Ferreira de Araújo.Era para nós, para os seus amigospara os seus íntimos, o desenlacefatal angustiosamente esperado hamuito tempo, pois que a moléstiaque o acometeu era de natureza da-quelas que marcam previamente asua marcha, deixando esboçartraiçoeiramente uns lampejos deesperança, para logo os desvanecercom a sua ascendência assustadorae terrível.

Morreu Ferreira de Araújo, e nos-so dever de jornalista, de compa-nheiro e principalmente de amigo,na acepção mais verdadeira, maissincera, mais santa que essa pa-lavra possa ter, é registrar nestaspáginas, que ele tanto iluminoucom os fulgores do seu fecundo ta-lento e com o brilho do seu espíritocintilante, a desgraça que acaba deferir a imprensa brasileira.

E' nas páginas da Gazeta queestá revelada toda a fisionomia,toda a individualidade dessehomem, agora inerte e gelado pelamorte.

Durante 29 anos em que ele dl-rigiu esta folha, intervindo em tô-das as questões políticas e sociais,panando por todas as crises quea alma nacional atravessou, numaquadra de transformações e de In-decisões, nunca nenhum Jornalistanenhum escritor tendo & sua dispo-alção este Instrumento — o jornal— o excedeu, nem na luta prelosprincípios que pefendla, nem na

soberana independência com quenela se mantinha.Ferreira de Araújo apareceu na

imprensa justamente na época emque, por assim dizer, eram laten-tes os germens das transformações1por que temos passado.A política, entregue aos antigospartidos sem programas e sem idé-ais, ou antes com ideais e progra-mas que só lhes serviam de pre-texto para se revezarem no govêr-no da nação, não tinha para ele omenor atrativo. A sua índole re-pugnava o que diziam ser condi-ções essenciais dos partidos — aabdicação da própria opinião e asubserviência cega, em nome dasconveniências, aos chefes daquelaagremiações.

Partidário era ele, mas do par-tido das idéias e não dos homens,que, subindo em nome delas, mui-tas vezes as atraiçoavam.

E' na sua índole, na sua maneirade compreender a política, larga-mente, patrioticamente, que se en-contra a explicação, mais do queisso, a justificação do seu modo dever, como jornalista.Em politica, nunca foi em ab-soluto por um partido, nem siste-matlcamente contra outro. Apoioue combateu todos, segundo, no seumodo de ver, eles agiam ou nãono sentido de atender aos grandesinteresses da sua pátria.Bateu-se, e valentemente, pelaabolição dos escravos, não levadopelo sentlmentalismo, mas princi-palmente por considerar esse atoum fator importante e indispen-sável da reorganização econmlcae social do pais.Feita a abolição, não cruzou osbraços, nào so deu por satisfeitocom essa vitória, devida em parteaos seus esforços, e lançou-se, coma pertinácia e constância com quetomava a peito todas as lutas etodas as questões que o interessa-vam, na puroa pela reorganiza-ção do trabalho, Já sugerindo sin-ceramente os alvitres que se lheantolhavam convenientes, já apo-lando os que outros apresentavamjá combatendo os que se lhe afi-guravam Inúteis ou inexequlvels.

Veiu em seguida a República eele não teve necessidade de cons-tranger-se para ir ao encontrodela.Eminentemente democrata, virarealizada no governo a forma dasua predileção. Mas, ainda assimao passo que ele procurava prestl-glar com a sua palavra, com o seuaplauso, muitos atos de um go-vêrno que encetava uma nova or-dem de cousas, não tardou muito

que a sua pena rompesse em hos-tilidade a algumas medidas do en-tão ministro da Fazenda.Foi essa uma das mais valentes

pugnas do pujante lutador agoraineste.Tinha ele por adversário umadas maiores mentalidades nacio-

nais.O objeto da controvérsia não era

da especialidade dos seus estudos,de nenhum modo estava preparadopara a luta com um adversárioapadrinhado sempre, ou quasi sem-pre, pelas opiniões de grande nú-mero de autoridades, publicistas eescritores especialistas, Apesar dis-so, porém, deve estar na memóriade todos essa grande questão dasemissões, da fundação de bancospara as fazerem e de outras refor-mas financeiras, e à lembrançade então devem juntar-se os fatosde hoje, prova de quanto era verda-deiro e justo o ponto de vista donosso querido chefe.

Sereno e ponderado, nunca aspaixões políticas o dominaram ousequer influíram no seu modo deapreciar os homens e os fatos,

Essa serenidade e essa pondera-ção, manteve-se ele em todas asagitações por que tem passado aRepública.

Quando, em 1893, rebentou a cha-mada revolta de setembro, a Oa-zeta da véspera publicava um ar-tigo em que se advertia o Congressodo perigo que havia em votar umamedida que atingisse pessoal ehostilmente' o chefe da nação. Dalem diante procurou apreciar o mo-vlmento com a maior imparclall-dade, o que nem sempre foi com-preendldo.

Em política, como em tudo mais,o seu ideal era a justiça e, parachegar a ela, o caminho direto.

Desligado de agremiações, que-rendo ser e sendo o instrumento doseu pensar e do seu sentir, é realmente preciso que o ilustre, ogrande morto reunisse um conjun-to de qualidade excepcionalissi-mas, e entre elas uma grande forçade vontade, para que a sua voz fos-se ouvida e as suas opiniões tan-tas vezes triunfante.

Mas, como jornalista não eramsomente os negócios políticos a suaúnica preocupação.

O seu talento fecundo espargia-se por todo o jornal sob a sua di-reção.

Em seguida ao artigo serio, mes-mo ao artigo de polêmica, que lhesahia ao correr da pena, como sefosse de improviso, escrevia os Ma-caquínhos no sotão, Balas de estalo,Apanhados, folhetins e todas essasseções que ele imortalisou com opseudônimo de Lulu Sênior, en-quanto lhe permitiu o seu estado desaúde.

Para ele, o jornalismo não eraum meio, nem de fazer carreirapolítica ou literária, nem de puroindustrialismo: era o posto que elehavia escolhido como o melhor eo mais adequado à sua indole e àssuas tendências, para servir os Ie-gitimos e os grandes interesses desua pátria, com a coragem de umforte e com a altivez que emanada força da própria consciência.

Era este, a grandes traços, ojornalista que tanto honrou e no-bilitou a imprensa brasileira, nestemomento mutilada num dos seusfocos mais luminosos.

Nasceu jornalista e jornalistamorreu.Não foi, não quiz e nada mais

queria ser.Desapareceu, tendo talvez num

momento lúcido de sua prolon-gada agonia a visão santa do amorda sua família e da sua profissão.Mas se a imprensa vé sumir-seum dos seus mais nobres e maisilustres representantes, nós pran-teamos a perda, não de um chefe,mas de um companheiro, de umamigo e de um Irmão, de umhomem cujo coração valeu tantocomo o cérebro, em quem as ma-nifestações áo talento se confun-diam com os rasgos de abnegação,de desinteresse, de inalterável be-nevolência, de imperturbável bo-nhomia.

Perdemos, em obediência à fa-tal lei da natureza, esse compa-nheiro adorado, essa alma de elei-ção, onde não havia lugar paranenhum desses sentimentos que fa-zem os homens indiferentes ou

Perdemos e para sempre essequerido e doce amigo, que nos dei-xa indelével, a imperecivel saúda-de de uma longa e intima convi-vencia, de um carinhoso e cons-tante afeto sem igual, nunca per-turbado, nunca empanado pelamais tênue e subtil nuvem de umacontrariedade.

Descansa em paz, pobre e grandeamigo, descança em paz da tuacurta mas gloriosa viagem. A terravai encobrir para todo o sempreo teu corpo de gigante. O que elanão pôde, porém, é apagar damemória dos que cã ficam nem oteu honrado e ilustre nome, nemo teu exemplo, que será o farol quenos guiará no caminho que nosensinaste e que havemos de seguiriluminado pela luz de teu grandeespírito.

O Dr. José Ferreira de SouzaAraújo nasceu a 25 de março de1848, filho legítimo de José Fer-reira de Souza Araújo e de D.Helena de Souza Araújo.

Estudou preparatórios no ColéetfoVitorio, e em 1862, tendo 14 anos deidade, matriculou-se na Faculda-de de Medicina, fazendo um cursobrilhantíssimo a par de Barata Ri-beiro, Pizarro Gabizo, Matos Ro-drigues Gervásio Pereira, Mon-teiro de Azevedo, Luiz José Pereirada Silva, Lacerda, seus companhei-ros de formatura em 1807.

Formado, dedicou-se à clínicaexercendo-a com grande tino eproficiência, e como médico taisserviços prestou à colônia italianaque o rei de Itália o galardoou como gráo de cavaleiro e depois como de comendador da ordem de SãoMaurício e S. Lázaro.

Abandonando a clínica em 1817,dedicou a sua atividade exclusiva-mente a Qaztta de Notícias, daqual era um dos fundadores.

Antes, porém, já havia colabora-do em diversos jornais, entre osquais o Diário de Noticias, cujaduração foi efêmera, o Mosquitoe o Guarany.

Ao teatro também prestou o con-curso do seu talento, dando-lhe oPrimo Basilio e primorosas tradu-ções do Assomoir e do Jonathas.

Em 1873 casou-se com a Exma.Sra. D. Elvira Ferreira de Souza,de quem houve três filhas, Adal-giza, Apolinia e Carmen de Araú-jo, e um filho .Carlos.

Havia quatro anos que o Dr. Fer-reira de Araújo estava doente,

A moléstia era daquelas que nãoperdoam: era uma arterio-scle-rose.

Todos os clínicos foram cônsul-tados, e todos haviam aconselhadoo que em semelhantes casos a ciên-cia prescreve; mas todos os esfór-ços foram baldados, depois de umaviolenta crise em 1897, teve algu-mas melhoras, que se acentuaramno inverno de 1899, tanto que tor-nou a freqüentar a sociedade e osteatros, que formavam o seu diver-timento favorito.

As últimas recitas a que assistiuforam as de Clara Delia Guardiã,sobre a qual escreveu brilhantesartigos de critica de arte... osúltimos.

Em fins de setembro do ano pas-sado, recaiu e desde então até hojenunca mais conseguiu levantar-seda cama.

Teve no curso da moléstia alter-nativas das mais inexplicáveis; osamigos que o rodeavam, os compa-nheiros de redação que o visitavamdiariamente, que o consultavamnas questões de mais importância,o encontravam, sempre pronto deinteligência e de espirito, semprecheio de interesse pelo seu jornal,ao qual dedicava, apezar da moles-tia grave que o afligia, todas asenergias do seu talento, todos ostesouros da sua experiência e doseu tato.

Mas a moléstia podia às vezesIludir a família que o adorava; osmédicos e ele mesmo não se ilu-diam. Nos últimos tempos, em Pe-trópolis, mais de uma vez Inspiroucuidados, apresentou fenômenosgraves de uma próxima catástrofe,e quando voltou ao Rio d eJaneiroo mai foi-se agravando aos poucos,de maneira oue a mesma famíliaabandonou as últimas esperançasque alimentava a respeito do seuchefe adorado.

O Dr. Murtinho, que dele tratavae o Dr. Teodoro Gomes, seu médicoassistente, já haviam declarado queo desenlace fatal estava próximo.Hontem, num momento de deses-pero, a familia pediu a intervençãoimediata do Dr. Murtinho, o qual

Teodoro Gomes declarou que tudoseria inútil, o Dr. Murtinho encon-traria um cadáver, porque o DrAraújo não poderia chegar comvida até as 0 horas da tarde.

E assim foi. As 3 horas o enfer-mo, que desde o dia anterior pei-havia prometido ir visitar o ilustreenfermo às 4 horas, mas o Dr,dera os sentidos, chamou pela mu-lher, pelas filhas, pelo filho, fitoaa-os com anciedade estranha apertoua mão ao Castro Viana, que estevesempre ao seu lado, e entrou ntiagonia.

Três horas tormentosas que opena não pode descrever! A mu-lher e os filhos, com o suplício naaalma, contendo com esforço in-dizível as lágrimas e os soluços,orodeavam, acompanhando todo;,

os movimentos.tos das palpèbra.-que enconbriam os olhos já vítreose imóveis e o afanoso arfar dopeito.

O Sr. Teixeira Bastos e a suaExma. senhora acudiam à fama-lia; o Dr. Gabizo, o amigo fiel ale40 anos, segurava-lhe o pulso e aamão com a vela mortuária e osnossos colegas Viana e Palagrecoe aExma Sra. Rocha Lima e duasoutras senhoras assistiam à cenafatal procurando consolar a famíliadesolada.

Eram 6 horas da tarde em pontoquando o Dr. Ferreira de Araújoexalou o último suspiro.

Momentos depois chegava o Dr,Cesário Alvim.

O cadáver .extraordinariamenteinchado, foi a multo custo vestidoe colocado sobre um catafalso im-provisado na sala de visitas, queficou transformada em câmara ardente.

O seu enterro realisa-se hoje, às4,1/2 horas da tarde, saindo o fe-retro da casa da rua das Laranjei-ras n.° 59 para o cemitério de SãFrancisco de Paula.

Foram visitar a familia do Dr.Ferreira de Araújo, logo depois dacatástrofe, os Srs. Drs. Cesário Al-vim, Osmar Godoy, Ramiz Galvão,Srs. conde Antoneli, ministro daItália, Dr. Alberto Torres, governa-dor do Estado do Rio, Jose do Pa-trocínio, Manuel Rocha e senhora,João Godoy, Carlos de IpanemaMoreira, Dr. Belisário AugustoSoares de Souza, João Andréa eMário Cardoso, do Pais, Luiz Gul-marães (filho), Guimarães Passos.A. Pinheiro, da Cidade do «io, Otá-vio Silva, da Imprensa, Eurico Go-doy, Pedro Rabelo, além dos com-panheiros dedicados e outros.

Convido por uma comissão dccolegas da imprensa fluminense, oilustre senador Ruy Barbosa acei-tou com multo prazer o encargi

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Ferreira dc Arai)., iu época sares is Gazeta de Noticias(Fototrsti» d» Brasil Portugal)

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Dezembro de 19S0 — Vol. XI, n.° 12 AUTORES E LIVRO Página 117

Ferreira de Araújo e a Imprensa cariocad ..pronunciar o discurso à beira*0O senador Quintino Bocaiu-

lõmará parte no enterro don S erreira oe Araújo, fazendo-seacnuipanhar de representantes de?.,„ is as seções do Pais.

t,- los os jornais desta capital,mn. que souberam da morte do,0. - - ilustre cheie hastearam aL, lidra em funeral.

/ penas circulou a tristíssima no-va da enorme perda que sofremos,vieram a nossa redação, em nome([¦n pais, os nossos colegas JoãoArroiia e Gomes da Silva Estes„„ Oscolegas nos comunicaram quea -eelente folha matutina, querepresentavam, tinha cerrado assu';.-. partas.

L. go em seguida trouxeram-nos, pressões de suas condolências

os V Dr. Domingos Niobey, Hen-ii,,. Blater. secretário da reda-cãvi Ia Noticia; em nome dessa re-daèuo, Que cerrou as suas portas;j,',.. do Patrocínio e Dr. Derme-vai cia Fonseca, redator chefe e se-cie . 'io da Cidade doRio, cujasportas também se fecharam; Cas-tro Soares e Dr. Arthur Dias, pelaImprensa, que acompanhou os ou-troa jornais no mesmo testemunhodtOa-èsar; Antônio Leitão, Vasco deAbreu e Juvenal Pacheco, do Jor-nal do Comércio, cujo escritóriotambém teve as suas portas cerra-das' Rodolfo Abreu, denutado fre-ral e nosso colega d'0 Pais, padreNicolàu Jacome NavP7Ío, vlsàrlo deManca; Teofilo Barbosa, Dr. FelixBocavuva, Abreu Soares, nosso co-lera á'A Imvrensa: Dr. Pedro Luís,Dr. Feliciano Castilho, caDitão Jo-sé Sena, d'0 P«fs, Dr. Torres Ca-mnra, por si e nela Revista de Ju-risnrudéncia: João Barbosa, renre-sentando o Sr. Senador QuintinoBocavuva: James Fsnaty. EmílioBarbosa, Francisco Barroso. 6»e-tario Seereto, Dr. Torres Cot-rlm,diretor ?eral da diretoria ri<» hi^ie-ne ila municinalldade: Alvares deAzevedo, â'A NottrUt: Dr. ZeferinoCândido. João de Souza Lage.

0 pessoal da redação da Gazetaãe Noticias, em sinal de pezar pelofalecimento do seu querido chefe,resolveu tomar luto por oito dias.

o conselho da Sociedade ítalia-na de Beneficência e Mutuo Co-corro, ao ter noticia do infaustopassamento do nosso redator-che-fe. eimiu-se em sessão de urgênciafez inserir na ata um voto de pro-fundo pezar e deliberou tomar lu-to pnr sete dias, acompanhar e de-positar uma coroa sobre o feretroe oesentar pezames à família dofiüiido que era sócio honorário eber pmérito da mesma sociedade."Dou à redação da Gazeta osmeus sentimentíssimos pezames eiOv deles meus interpretes o Hen-rlque e o João Chaves, pedindo-n-t-s, por sua vez apresenta-los ào.,ia. família do nosso pranteadoFe .-reira de Araújo. — João Josédt Abreu".

O conselho administrativo da>OOdade Propagadora das Belasí*.)Os celebrava, hontem, sessão' o.nária, quando recebeu a triste

cia do falecimento do sócio be-ocrito Dr. Ferreira de Araújo

7 7 demonstração de seu profun-¦ pezar, resolveu suspender a ses-¦¦. cerrar as portas do seu edifí-cio durante 8 dias, hasteando em" ''ai a bandeira social e nomea-'¦ i o comissões de sócios para re-sentar a Sociedade no segui-1 oo fúnebre e bem assim naoa do sétimo dia e mais atos- exéquias do benemérito ÍI-

"A1 desolada redação da Gazeta¦'" f.nticias pezames pelo rude gol-V filie vem de sofrer com o desa-."cimento de Ferreira de Araú-1 — Dr. F. Gatão. — 21-8-190".' lustre confrade Sr. H. Chaves.F; a primeira vez, creio, que nanmrensa brasileira se abre uma^' a impossível de preencher-se.Oue fatalidade*;pprmita-me aue o acompanhesinceramente, lealmente ,na dôrPtmaentlsslma que ora lhe santrraa alma de amigo. — Mota Val-Plo-I ido".

Meu caro Henrique. — Dou-te ostjiais sinceros pezames pela perdatie um amigo tão precioso e quetambém o era meu. Foi neste,'os que todos nós iniciamos apasseia e sinto-me perplexo aoi.«nbrar-me que seu primeiro cam-»• caiu tão cedo na luta. Paz à

Charge da Bevue du Brésil. Ilustra-a o seguinte dialogo:Ferreira de Araújo — Olha, Quintino, como o teu povo republicano ainda

compreende a liberdade de imprensa!Quintino Bocaiúva — Náo, meu amigo: aquilo n&o são republicanos, são

os últimos selvagens africanos que ainda por ai ficaram depois da.Abolição.

sua alma e pezames à sua familia.— Antônio G. Gomes Ferreira.

S. Paulo, 21O pensamento de Ferreira de

Araújo é uma grande perda paraa família e enorme para o Brasil.Pezames à Gazeta, à pátria e à fa-milia. — Mangini.

S. Pauto, 21Pezames. — Redação do Estado

ie São Paulo.Não há palavras para descrever

o meu estado de espírito ante enor-me des-raça. Acompanho-vos navoss? imensa dôr. — Manuel Leitos.

S. Paulo, ilMuito sentida a morte do Dr. Fer-

reira de Araújo. Logo que os jornaisefixarara boletim do estado gra-víssimo do grande jornalista, mui-tas oessoas Iam às redações infor-mar-se com vivo interesse do es-tadr- do srande morto.

A confirmação da morte do Dr.Ferreira de Araújo lançou verda-delrn contestação aos admiradorese arinos, que são aqui em grandenúmero.

IGi-Ha de Notícias).O "osso colega Henrique Chaves

recebeu o seguinte telegrama:S. Paulo, 21

Peço-lhe aceite e transmita àExma familia de Ferreira de Araú-jo e a todos da Gazeta os meussinceros pezames pelo tristíssimofato de hoje. — José Barbosa.

(Gazeta de Notícias, 22-8-1900)

IV — A Imprenso (Rui Bar-bosa).

A imprensa está de luto pelaamarga perda, que acaba de sofrer.Em um dia resplandecente de azule sol, a notícia cal sobre nós comouma mão regelada. A nossa difícil-mente obedece à pena, sob umadessas impressões em que o espíritoquereria devanear sozinho dascoisas que se sentem e não se sa-bem dizer. Em relação a esse, amissão, tantas vezes repetida nes-te nosso oficio de louvar os quemorreram, não tem nem a aridezda convenção nem o pesadume datarefa. Por via de regra, ao me-nos a respeito dos homens públi-cos, esta homenagem prestadasobre a cova, é a última ironia,com que deles se despede o mun-do. Saclou-os, talvez, de maligni-dades, caluniou-os nos seus me-lhores sentimentos, feriu-os nal-ma, desconheceu-os na hora, e vemafinal prestar as suas corteziasao túmulo mudo. Está a responder-lhe aquele silêncio: "Deixa soce-gar os que passaram. Tuas retra-taçóes não valem nem para os queforam, nem para os que ficam,nem para os que têm de vir. Osvivos te desprezam; os mortes tedispensam; os vindouros apenas sereverão na tua duplicidade". Maseste, o companheiro agora distan-ciado, é dos raros, que tiveram e

mereceram a fortuna de não en-centrar quasi por toda a parte se-não bem dizentes.

Deve haver um condão de bon-dade naqueles que lograram atra-vessar dezenas de anos de jorna-lísmo, com o crime de um grandemerecimento, deixando tão poucosinimigos. DEUS ter-lhes-há reser-vado o privilégio sutil de sua gra-ça, que, por amor de nós, obscure-ceu em seu próprio filho, crucifi-cado pela perfeição da sua subli-midade. Porque o nosso fadário,nesta profissão estéril, é semeare colher espinhos, ensangüentar-nos e ensangüentar com as urzesdas nossas convicções e dos nossosafetos, dos nossos erros e das nos-sas paixões, ferir, quando nos fe-rimos, quando abrimos as veias donosso coração pela justiça, pelapãtrla, pela humanidade, magoar,amando, e, matando-nos condenar-nos.

Mas este saudoso amigo de to-dos nós, por entre as agruras doseu mister, soube fazer o bem do-cemente. Do seu semblante, do seugesto, da sua larga estrutura, doseu estilo chão, persuaslvo, sua-vemente luminoso, esmaltado deespírito em laivos iriados, em pre-ciosas pepitas de ouro, se derrama-va a mais amável das qualidadeshumanas, a benevolência. Há na-turezas, de onde o homem interiortransparece assim, numa espéciede claridade lunar.

Outros dirão facilmente do seutalento, da sua feição intelectual,da sua maestria, das suas glóriasde artista não menos expontâneoque feliz, não menos pronto quedelicado: um composto de amenl-dade, bom senso e perfume lite-rário, insinuativo, salutar e benfa-zejo como o ar oxigenado. Nós nãoqueremos, senão deixar efundir-sea simpatia pela benignidade do seutemperamento, a gratidão pela in-fluêncla abonançadora do seu pa-pel entre as nossas lutas. Uma cor-rente impetuosa de egoismo cadavez mais bárbaro vai-nos arrastan-do para a malquerença, para a de-sunião, para a brutalidade. Ferreirade Araújo não vogava nessas águasSeu exemplo ensinou sempre amoderação e a polidez. Não se podeser mais útil quando a autoridadedo modelo vem de eminência tãoelevada, e a excelência da liçãobaixa sobre um meio tão reverso.Muitas vezes divergimos, comba-temos, êle e o autor destas linhas,desde 1889, em épocas de agitação,de violências, de rancores; e dessasescaramuças, algumas prolongadase ardentes, salmos sempre com amutua estima intacta, estendendo-nos as mãos, como agora poderia-mos estendê-las, por sobre a lousa,que nos separa.

Amanhã ela estará coberta deflores, derradeiro carinho da fa-milia, dos amigos, dos confradesreunidos em torno de uma campa,a que não faltarão lágrimas stnce-

ras. Ninguém tem o direito de abriros lábios aos mortos, de lhes des-cerrar os olhos, selados por DEUSno mistério da eternidade. Mas, seaquelas palpebras se erguessem, sese mexessem aqueles lábios, ima-ginamos que seria para sorrir aesse último tributo de afeiçõescomovidas, e agradecer ao Creadôrnesse momento de benção semmescla o pago generoso dos sacri-íícios da jornada. Tudo o mais valemenos: o sulco dos triunfos, bemdepressa apagados na imensidadeonde sumimos, a singradura dabarca da vida na memória esque-cediça dos homens, nome, _poder,honras, celebridade, páginas donosso nada que voam e desapa-recém no ar como as folhas efe-meras da nossa passagem pelosprelos. O destino do jornalista é aimagem mais viva da criatura hu-mana. Bemaventurados nele os quetransitaram pela terra aplacandoas paixões de seus semelhantes,adormeceram amado* na morte evem florir-lhes Imaculada sobre oataúde a pureza da saudade.

(22-8-1900).

A vida jornalística tem as suasapoteoses tardias, mas grandiosas.

Os que a professam tem, na con-sagração póstuma dos seus ser-viços ao público, um triste, mas,em verdade, extraordinário galar-dão.

E quando essa consagração atin-ge a grandeza e amplitude de so-lenidades como à que assistiu,hontem, toda a cidade do Rio deJaneiro, então pode-se dizer dessavida jornalística que ela não éInteiramente uma função desgra-cada entre nós outros; e há dese acrescentar que aquele que lhededicou suas forças foi útil à suapátria e aos seus contemporâneos,mesmo quando ji desapareceu domeio deles.

Aquele que passou ontem no seuataude por entre a multidão emalas, silenciosa e comovida, levan-do apoz o seu carro fúnebre o se-quito soluçante dos amigos, dosparentes e dos confrades no labordo jornalismo, lutou muito, amar-gou muito dessas adversidades, quesão a partilha do jornalista emtoda a parte, mas teve ontem aconsagração mais rigorosamentepublica que homem poderia ambi-cionar.

Fazia-lhe séquito ao corpo feridopela morte os representantes de to-dos os jornais desta cidade e muitosde fora, representantes do governo,que ele tanta vez combateu poramor dos governados; representan-tes do alto comércio e do capital,aos quais ele nunca adorou, pordefender o operário e o desvalido;representantes, enfim, de todas asclasses vitoriosas, como das classesobscuras, estas a quem serviu co-

mo advogado e protetor, aquelas aque ele servia com a crítica, com oexame, com o conselho, com acensura ou com a expugnação fran-ca e clara.

Impressionava principalmente, edava a característica daquela ma-gestosa ceremonia a memória domorto, a presença dos grêmios deletras e ciências, com os seus estan-dartes e o seu pessoal representa-tivo.

Era de fato nessas células matri-zes da intelectualidade nacional,que o grande jornalista desapare-cido baseava a sua obra: era nelasque êle enibebia as funções da suaforça edificativa e criadora: eradelas, por fim, que lhe provinhatoda aquela cópia de energia, deprecisão, de segurança nas campa-nhas que sustentou pelo povo.

Fizeram bem, levando o corpo deFerreira de Araújo, ainda uma vez,a derradeira, pela rua do Ouvidorque, durante um quarto de século,foi o teatro mais contíguo dosseus trabalhos, foi o acampamentodonde se divisa a sua tenda delutas.

Essa passagem de hontem nãoera, como se poderia dizer, umadespedida, um adeus melancólicoda eterna separação; mas sim umarevista de mostra à sua milicia, quelhe sobrevive, uma como exortaçãosolenal aos que ficam, um derra-deiro brado de — corageml não es-morecer nunca! com que ele nosimpõe, a todos os que laboramosna pugna, o continuar-lhe a obra,o nao retroceder um ponto, jamais,nas conquistas obtidas pela penacontra as influências depressorasque nos envolvem, que nos estrei-tam, que nos oprimem.

E que faríamos nós outros, senãoouvir-lhe a última notificação?

Como poderíamos ser dignos damissão jornalística nestes tempos,sem procurar imitá-lo, na sua ln-trepidez contra o poder, na suasinceridade contra os embustes detoda a ordem, na sua bondadediante a perversão crescente detodas as coisas, na sua infrangí-vel confiança no triunfo final dasboas coisas, no seu patriotismo de-sinteressado oposto às torrentesdesencandeadas da ambição, doegoismo, da soberba, e da maldadeque parecem dominar tudo?

Fizeram bem no trazer às por-tas dos jornais o grande jornalistaextinto; se a recordação da suaobra benéfica não se perpetuar tãolargamente, entre os que lhe so-breviveram, quanto fora de desejarque, ao menos, o espetáculo gran-diosamente raro daquela procição,daquele preito coletivo, daquela sa-gração soleníssima sirva para ates-tar aos bem intensionados, a segu-rança duma identificação cívicaque existe sempre, posto que só semanifesta nessas demonstraçõespóstumas, entre o jornal e o seu

_ O N^ag^

Outra charge de Nostag ft., publicada na Revue du Brésil. Trai a seguintelegenda: "La Gaieta de Natidas a Ia reeherehe dun sauveur des financet".

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Página 118 AUTORES E LIVROS Dezembro de 1950 — Vol. XI, n.° 12

Ferreira de Araújo ea Imprensa carioca

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tempo,entre o Jornalista e o seupúblico.

Essa identificação temo-la nóssentido sempre: ela é que nos dáa consciência do nosso papel pe-rante o mesmo público; ela é quenos impele a registrar hoje, em co-munhão com o povo, nestas colunasd'A Imprensa, a homenagem gran-diosa de hontem a Ferreira deAraújo — o jornalista.

V — Jornal do Comércio"Feriu-nos ontem a triste nova

de haver falecido o nosso estima-do colega Dr. José Ferreira de Sou-za Araújo, redator-chefe e um dosfundadores da Gazeta de Noticias.

Desde muito moço consagran-do-se às letras na medicina emque era formado, apenas se poderiaconsiderar amador se nos primei-ros anos da sua carreira não o hou-vesse exercido com bons créditos enão pequena clientela.

Nascido nesta cidade do Rio deJaneiro, filho de pais portugueses,matriculou-se na escola de Medi-cina aos 14 anos, e antes dos 20doutorava-se, começando logo aclinicar com a maior dedicação,servindo como interno no hospi-tal da Misericórdia e depois comoclinico no da Saúde e no militardo Andarai, nos últimos tempos daguerra do Paraguai.

Seduzido pelo aplauso das pia-teias e não menos atraido pelo na-tural pendor do espirito largamentejovial de que era dotado, para asfugidias glórias do palco, tradu-zmdo umas e imitando outras co-médias de autores modernos e dosmais festejados, Ferreira de Arajonao foi, nesse periodo, dos escrito-res brasileiros que menos concor-reram para o periodo áureo donosso teatro.

O gosto pelos trabalhos drama-ticos o levou ao caminho da cri-tica e mque chegou a mostrar-setao brilhantemente que quer nasartes da plástica e do desenho,quer na literatura, a sua opiniãofez-se respeitável e respeitada. Senem sempre nela predominava aprofundez da competência, rara-mente deixava de impor-se pelobom gosto, que era, pode-se dizero seu mais belo apanágio de es-critor.

Uma vez à beira da corrente, con-templando-a de perto, foi-lhe Im-possível resistir à sereia; estrean-do-se com ligeiros escritos "emprosa e verso", como se diria outro-ra dos antigos poligrafos, no heb-domandario literário O Guaraniç no periódico satírico ilustrado OMosquito, não tardou que desapa-recesse o médico e surgisse o escri-tor. o jornalista que tanto deviahonrar a Imprensa fluminense.Serviu-lhe de crisol uma folha-zinna diana. improvisada por umrapaz inteiramente desconhecidoque, vindo a esta cidade tentar for-tuna, ocorreu-lhe ensaiar a publi-cação de um jornal para o povode leitura rápida, como o PetitJournal, de Paris, ou o Diário deNoticias, de Lisboa, do qual ado-tou-lhe o nome e a formaTan FÍárJ. í" N0t^'1tS dO Rio deJaneiro foi bem uma criação boi-mia sem tipografia própria e semcapitais: saído das oficinas ondeacabava de emudecer o Dezesseiscte Julho, apareceu um dia nelasruas da cidade, nas mãos dos ven-dedores, que o aprovam a 40reis e justamente pela modieidadedo preço e novidade da forma es-gotava-se em profusão.No seu pessoal de redaçSo agre-miaram-se os novos escritores daépoca.

Dos escritores da época, cujosnomes só em mui resumido nü-mero hoje ainda fulguram na im-prensa, fazia parte Ferreira deAraújo, que foi convidado paraescrever, em artigo de fundo, con-selhos higiênicos.

O médico, porém, que já andavamuito arredio da clínica, termi-nando uma qualquer coisa sobreo asseio do corpo com este pro-fundo conceito — "para os gran-des banhos grandes bênçãos", —de uma vez para sempre conven-ceu a clientela que hábil clínicose transformava de todo em espi-rltuoso folhetinlsta.

Estava operada a metamorfose:da crisalida sairá iriante a borbo-leta à conquista da luz e das íiô-res.

O Diário de Noticias não tardoua findar a sua missão, que era deservir de precurssor à imprensa po-pular.

Pouco tempo decorrido, reunidosElisio Mendes, Manuel Carneiro nFa-eira ae Araújo, como sóciosprincipais, c Henrique Chaves en-tre os primeiros redatores, funda-ram a Gaseta de Noticias, dandoà publicidade o número inauguralem 2 de agosto de 1875, assumin-do Ferreira de Araújo a direçãopolítica e literatura em novembroseguinte.

Contava 27 anos; achava-se novigor da mocidade e a partir deentão tornou-se o brilhante escri-tor que todos conhecemos e aplau-dimos, esmaltando as páginas daGaseta ãe Noticias de produçõesde matizes tão múltiplos e tão vá-rios como o iris desferido pelosraios de luz das facetas do dia-mante.

Na política, nas letras, nas ar-tes, em tudo enfim, quanto cons-titui a vida de uma grande cidadecomo a nossa, intervinha o jor-nalista emitindo uma opinião, quese nem sempre era justa, nuncaieixava de ser digna e sobretudocortez.

Sabia apropriar os assuntos a sualinguagem dutil e corrente; nasCoisas Políticas mostrava-se co-nhecedor dos assuntos de que seocupava, e não menos do meio emque vivia; coníeur de fino espirito,encantava tanto pelo estilo comopelo espírito, um tanto livre às ve-zes, é certo, mas sem descair paraa indecência.

Ferreira de Araújo era, pode-seafirmar sem receio de contradita,um jornalista moderno na maisampla acepção da frase; o jorna-lista que notícia, que crítica, quese ocupa de todos os assuntos semfazer praça de erudição, tantas ve-zes aliás cardada nos livros deconsulta, mas sem descer a banalí-dades que enfastiam o leitor.

A esses dotes literários Juntavaos de um espírito meigo, risonho,sempre inclinado ao bem e à ami-zade. Ferreira de Araújo tinha, novelho dizer português, um coraçãode ouro; por isso era tão amadodos seus, quanto querido dos que oconheciam de perto.

O seu desaparecimento dentre osvivos deixa um vácuo que pormuito tempo será sentido; quer nasociedade, quer na imprensa seunome será sempre lembrado comsaudade e apontado como um beloexemplo.

Três famílias cobrem-se hoje decerrado luto: — a do lar honesto,de que foi extremoso marido e pai;a da Gazeta de Notícias, de quefoi chefe amado, e a do jornalismofluminense, de que foi ornamento eglória.

Fazendo parte desta última, sónos resta curvarmo-nos respeito-sos, depondo as nossas profundascondolências ante aquelas que nes-te momento se estreitam no maisdoloroso amplexo,

— O ilustre jornalista padeciadesde 1896 de um arteriosclerose,moléstia pertinaz que durante qua-tro anos lhe foi aniquilando o orga-nismo.

Em setembro daquele ano par-tiu para a Europa e do lá voltouem estado ainda mais grave,

Em 1897 a enfermidade agravou-se assustadoramente. Passou po-rém, essa fase angustiosa e noano imediato o jornalista de us-cól poude reassumir durante ai-gum tempo o seu posto de tra-balho.

Em setembro de 1899 começarama aperecer os últimos fenômenosagudos da moléstia. Há quinze diasque o ilustre brasileiro estava, porassim dizer, agonisando; a ciênciaapenas se empenhou no generosoesforço de prolongar por mais ai-guns dias a sua vida preciosa.

VI — A NOTICIA

(Manuel Rocha)Ferreira de Araújo, o mestre glo-

rioso que hoje rendeu a alma aoCriador, era, sem a menor dúvida,a mais completa organização jor-nalística ao serviço da imprensanacional; e é curioso notar como seoperou a evolução do seu primo-roso talento. Não se formou escri-tor no tranqüilo estudo de gabi-

nete, pela superposição lenta dcconhecimentos adquiridos; formou-se na luta diária, consoante ás ne-cessidades de cada momento, exa-minando as questões quando elasapareciam, instruindo-as e instru-indo-se, para servir ao público, coma rapidez desta destruídora ativi-dade do jornalismo quotidiano, assuas impressões e o seu modo dever.

As disciplinas a que os primeirosanos de sua mocidade se dedica-ram foram as disciplinas médicas.Completando preparatórios aindamenino, matriculou-se tendo umano menos do que a idade regula-mentar. Formado, exerceu algumtempo essa nobre profissão; mas àcabeceira do enfermo não estudavaapenas como médico os sofrimen-tos fisicos, impression ando-o maisdo que elles o espetáculo das doresmorais que se desenrolavam ao seuperscrutador olhar de moço, e quetanto serviram para avigorar-lheno caráter a sua extrema, a suainextinguível bondade. Essa ins-trução acadêmica foi sem dúvida,como preparo positivo, uma basesólida para a carreira que depoisabraçou; mas os prodígios que fezna imprensa foram devidos espe-cialmente, absolutamente, à espan-tosa dutilidade do seu espírito, umainexcedível faculdade assimilado-ra, e a um bom senso prático deque era a mais completa personifi-cação.

Nâo se traça preliminarmente —ou antes, nào se traçava nos tem-pos em que foi fundada a Gazetade Noticias — o plano de um jor-nal como esse é. O que Ferreirade Araújo sabia, ao funda-la, éque o seu jornal ia ser uma cousadiferente do que os outros eram,e aliás ahi é que está exactamenteo segredo do seu colosal sucesso.Fossem dizer-lhe que ia operar amais benéfica das evoluções danossa imprensa; fossem dizer-lheque a pequenina Gazeta ia exerceruma alta função social, e veriamabrir-se nos seus grossos lábiosaquele bondoso sorriso motejadorque era tão seu, tào propriamenteseu... E entretanto a Gazeta foiisso, foi o marco inicial de umaevolução de imprensa e exerceuuma alta função social nos nossoshábitos, na nossa vida, tornandouma necessidade pública o que erao luxo de alguns, lnsinuando-se emtodas as camadas, expondo todasas questões ocurrentes, provocandoa análise, formando a opinião,apaixonando os espíritos, corrigin-do os exageros, apaziguando osexcessos, e desbravando o caminhoque nós todos seguimos hoje vita-riosamente, contentes de uma vi-tória de que não somos senão tar-tüos colaboradores, operários quetivemos a fortuna de chegar nobom tempo da ceifa para ceifar asmesses de culturas'já feitas.

Nesse trabalho, a figura de Fer-reira de Araújo aparece com umrelevo immorredouro, num admi-rável e inegualaoo desdobramentointelectual, Ele multiplicava-senessa faina em que reciproca-mente o jornalista formava o jor-nal e o jornal formava o jorna-lista; fazia tudo, a critica dc tea-tro, o folhetim, o conto, a notícia,o pequeno éco, o artigo político,intervinha em todas as seções,jgando simultaneamente, e com amesma felicidade, a análise pro-funda, o comentário rápido, a mor-dacidade inclemente, a nota de ah-gria e as expansões comovedor-is.E sobre todas estas faculdades pai-rava predominante a mais notáv»*lqualidade do seu espírito, o poderde síntese que o fazia dizer em ai-gumas linhas, com algumas pala-vras, tudo quanto cada fato »xi-gia, com uma singeleza, com umalimpidez, com uma segurança, comuma simplicidade taes que a forçada sua argumentação invadia e em-polgava quem o lia, vencendo tran-quilamente as maiores resistências,impondo-se persuasiva e triunfa-dora.

Nesta folha, n'A Notícia, que de-ve a Ferreira de Araújo uma enor-me parte da sua situação de hoje,e de cujo diretor, para orgulhoimorredouro nosso, disse êle queera o "pai espiritual" no seu pri-meiro folhetim, aqui; nesta folha,talvez mais do que na própria Oa-zeta, vê-se o exemplo frizante da-quele espirito de síntese nos artigos

diários que por tanto tempo abri-lhautaria as suas colunas. Eramuma espécie dos maignards doFigaro, uma tira de trinta linhas,e nessas trinta Unhas as questõesexpostas e discutidas tão completa-mente quanto deviam ser. Na Ga-zeta, como seções idênticas, lem-bramo-nos dos Macaquinhos noSotão, onde algumas linhas sõ-bre a morte de Francisco Beltsá-rio disseram mais do que tudoquanto se disse nessa ocasião —triste ocasião para a pátria a cuioserviço seguramente estaria hojeo grande brasileiro; os Apanhados;e no Filhote, os Moãos de ver.O Jornal do Ausente, escrito du-rante a última viagem de Ferreirade Araújo à Europa, era uma sé-rie de artigos vasidos no mesmomolde, más ?m regra sòbie assim-tos estrangeiros. As Causas Poli-ticas, que começaram no mesmotom humorístico das Balas de Es-talo, tão preferido por Ferreira deAraújo, e a propósito dc um ceie-bre aviso do ministério da agri-cultura sobre burros magros e bur-ros gordos. torn°"am-se modelosde iust"?a. de critério e até de pre-visão do acontecimento, sendo aídiscutidas todas is questões de ad-ministração pública, entre as de íi-nanças, a que desde 188B Ferreirade Arattjo afeiçoára o seu espirito,e de que nos deu a última notano extraordinário artigo A Crise,publicado a 10 de novembro doano passado, quando já a moléstiaque o prostrou estava cm agudoperíodo.

Essa moléstia cruel fez a invasãono seu pujante organismo em 1890.Por uma circunstância toda par-tlcular, podemos precisar a datado primeiro exame médico: 25 desetembro. Nesse dia, em viagempara a Europa, e ao fazer suasdespedidas a Ferreira de Araújo, odiretor desta folha recebia dele aconfidencia horrível de que foraexaminado pela manhã e que eraum caso liquido de artério-scle-rose. "Você nada diga", recomen-dava-lhe; e acrescentava com oseu tranqüilo ar despreocupado que"não há nada mais triste do que agente ser olhado como se fosseum moribundo". Não se mostravaimpressionado senão por motivosnos quais o seu próprio interesseera a menor das causas; Filho depai diabético, a idéia de morrercedo, cedo entrará no seu espírito.Mostrava-se, sim, disposto a lutarcom valentia contra a moléstia,mas os progressos da enfermidadena sua primeira fase foram bemmais rápidos cio que se podia su-por.

Em 1897 teve uma crise conside-rada pon:>osissima. Foi nesse mo-mento que recorreu, mudando detratamento, à competência do Sr.Dr. Murtinho, que até fins do anopassado acompanhou mais de per-to a moléstia, e ainda agora, emvisitas mais ou menos freqüentes,prestava o concurso dos seus con-selhos ao ilustre assistente Dr.Theobaldo Gomes. A enfermidadepareceu estacionar; as crises eraminterrompidas por longos períodos.Talvez que um- grande repouso au-xiliasse esse estacionamento, masa ele não se entregou Ferreira deAraújo. No ano de 1898, ao contra-rio, deu-se a uma febril atividade:além dos árduos trabalhos da di-reção efetiva da Gazeta, escreviapara o Filhote, diariamente, dià-riamente escrevia um artigo, portelegrama, para o Comércio de S.Paulo, escrevia todas as semanaspara o Estado c fddas as quintas-feiras um folhetim para a GazetaA estação de Petrópolis, esse anno,passou-a em excelentes condições;em tão boas condições desceu o anopassado para o Rio, que pôde fre-quentar com certa assiduidade o Li-rico e a comprnhia Delia Guardiã- dando-se assim a um dos seusmaiores prazeres, o prazer do tea-tro. Veio, porém o mês de setem-bro o terrível setembro que tive-mos em 1899, dias de grande ca-lor intercalados de dias de grandeschuvas, atmosfera ora pesadíssimaora extremamente humlda, ora si-multâneamente humlda e pesadaProstrou-o no leito uma outra cri-se, pode-se dizer a crise final, por-que desta nunca mais se libertouembora tivesse tido Intervalos dealivio. Em Petrópolis manifestou-se-lhe a erlsipela em um pé para

nao mais ceder; aqui, há cerca dPdois meses, a edemacia foi cojulii»tando terreno; os fenômenos 'fmicos acentuaram-se há cerca th,15 dias. Só a dedicação extrai»dinária do seu médico assistenteso os cuidados Imensos da tamlia que o adorava puderam retsr"dar o fim inevitável, o desaparecimento desse grande espirito 0i»tão intensamente iluminou o im*nalismo brasileiro, sol cujo brilhüdifu-idiu-se por tantos espirit™cujo calor vlvificou tantas vom.ções.

Do homem particular nad:> &mmos nestas tristes linhas* m*™as escreve, e que tanto deve aomestre querido, conheceu pel-i mTpria experiência o que valia .-.quêle caráter, a inefável doçura ciosseus sentimentos afetivos, a inque-brantabilidade da sua conduta Masexpansões desta natureza não sãoobjetos de publicidade: ficam nocoração de cada um para :íeremtransmitidas, no pequeno mundodo lar doméstico, como lição ecomo exemplo, entre lágrimas clio-radas fundamente, com os extre-mos de uma saudade que não ésó nossa, que não é só desta casamas de muitas almas onde a me-mória de Fernandes de Araújoconstituirá sempre uma evocaçãoconsoladora e um ensinamento pe-rene.

Ferreira de Araújo nasceu nestacapital a 25 de março de 1948. Erafilho de José Ferreira dc SomaAraújo e D. Helena deSouza Araú-jo, ambos portugueses. Matriculou-se em 1862 na Escola de Medicina,com 14 anos de idade. Recebeu ograu de doutor em 1867. Foi, comoaluno, interno do hospital da Mi-sericórdia, e foi médico do lios-pitai militar durante a guerra doParaguai. Exerceu clinica civil du-rante cerca de dez anos; tais ser-viços prestou à colônia italiana,que foi condecorado pelo governodo Rei da Itália. Antes da funda-ção da Gazeta, colaborou no Mas-quito no Guarany. Colaborou tam-bem para o teatro; entre outrostrabalhos escreveu a comédia 0Primo Basílio. Deixa viuva, a Exma.Sra. D. Elvira Ferreira de SouzaAraújo, um filho, Carlos, ma tri-culado na Escola Politécnica e trêsfilhas, Adalgisa, Apolinia e Car-men. Faleceu tendo recebido os Sa-cramentos da Igreja, na casa darua das Laranjeiras n.° 59, quehabitava desde que desceu de Pe-trópolis. A sua Exma. família, nosnossos ilustres colegas da Gaseta,a Noticia presta os mais sincerospêsames.

VII — o PaísOntem, i noite, uma notícia cleso-

ladora encheu de luto o espíritoda cidade. Toda a gente que li eque por circunstância de horáriode vida se achava ainda nas ruascentraes, na agitação dos últimosmomentos da tarde, procurando orepouso do lar ou vindo já ao .--abornoturno, dos divertimentos ou ciasoficinas, recebeu num ímpeto im-previsto o golpe desta notícia;morreu Ferreira de Araújo.

Sabia-se, entretanto, que o v.v.la-tor-chefe da Gazeta de Nclhá mais de três anos decldoente, era nestees três mesecorridos um homem fisicanmorto, a quem alentavam a proclada medicina amiga e as cem-nassempre vivíssimas de seu ele-.-.-io,franco e formoso espírito de e<im-batente. Mas, como quando alr-"mnos é caro, somente no derra^1'"'0dos extremos pode a gente conven-cer-se de que éle nos desapart-»ficamos inconsoláveis, duvid;ainda da tremenda verdade, ontem,ao saber-se a triste nova que '¦¦¦:>?•reu de boca em boca como um bua-to, informando que morrera r»t-reira de Araújo, a vida Intelectualda cidade sofreu uma crise miuia,de magoa, e a silhouette do iras-tre brasileiro, simpática e sadia.apareceu a todos os olhos, na evo-cação dessa hora fúnebre. Acredi"tava-se, mas não se admitia.

Realmente, para nós, que mt»1'-rejamos neste ofício de jornal, qneFerreira de Araújo tanto Ilustrou otanto enobreceu, conquistando pn-ra êle num dado momento de suaevolução no Brasil, a força de Quedispõe hoje, fazendo-se o simpa-tico e necessário ao público, p°"

adode-.ite

do

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Dezembro de 1950 — Vol. XI, n.0 12 AUTORES E LIVROS Página 119

Ferreira de Araújo e a imprensa cariocaum mo'cm qu."

.vimento espontâneo e felizse firma o primeiro marcodo grande progresso e ex-

m sáo espiritual entre nós maisZ (lue para os outros, para aque-í

" nue o aplaudiam vivamente e

viWnente o combatiam, o rouboII se faz à imprensa, com a ex-Jitsão desse lutador e mestre, éincranensurável.

Todos o queríamos, os compa-nhdrcw dos primeiros passos rege-nnirtores e os últimos chegadosnora a nobre liça, os veteranosíeuerrldo» e aposentados, cober-tos tle louros e cicatrizes, e os no-tos os recrutas, incertos da va-Üa'do perigo a afrontar, guiadosoela estrela polar dos mestres. To-dos sem distinção de paixões, decultos de sentimentos políticos ourcí'. iosos, de gêneros de literaturai„rr,5listica, alegre ou grave, llgei-ra ou conceltuosa, todos sentimos,ao encarar o norte, para onde nosatrae a luz esplêndida do ideal, oamortecer da estréia polar, naagonia inenarrável de um sonho.

Também os que não lidavamanui nos jornais, fazendo o possi-v 1 para seguir-lhe as pegadashoméricas, sofreram. Apagou-se-lhes a esperança de rever, delicio-somente, em qualquer Intervalopassageiro das ocupações, aquelesii iniitávels artigos, cheios de sen-satez e de forma, sobre os proble-mas da vida política brasileira, queiluminavam a Gazeta de ffoffciasem períodos semanais com o ti-tulo sintético e despretencloso deCoisas políticas. Para lies, comopara os outros, ficou apenas a re-corüacão alegre e brilhante de JoséTelha nos buliçosos, meigos, insl-minutes e artísticos Macagtiinftosno Sotão, a mordacidade e bulhaesuirituosa das Salas de Estalo, on-de entre um grupo admirado depseudônimos queridos avultava gi-gai.:toscamente, como uma fanfarrano meio de instrumentos de corda,o popular e amado Lulú Sênior.

Para todos, enfim, acabara o ar-tista, vibrante de bom humor ecouraçado de triunfos, que o cor-rer do tempo só fazia multiplicar;o articulista de fundo, rápido, opor-tuno, ferindo a nota capital doassunto, convincente e incompa-rávcl em sua maneira, toda sua, dedizer em duas palavras o que osmais hábeis diriam em multo mais;o humorista imaginoso, de escava-ções fáceis no ridículo das coi-sas e dos homens, cintilante namais leve, na mais sutil das pi-lherias, de duas linhas, como noscoutos elegantes e de Impressão,facetados como os diamantes, iri-sados de todas as explêndidas co-res das alvoradas e dos dias desol.

Foi uma perda considerável.Quem náo o conhecia de perto ounão ligava as iniciais e os pseudo-nimos que êle adotava em baixo deseus artigos, e quem lia as suas crô-nicas, os seus versos, a opinião doseu jornal e sentia neles a vibra-Ção comunicativa de seu espíritoprivilegiado, sem conhecer o seuretrato sequer, julgava estar diantecie um moço .apertar a mão de umvalente rapaz de eternos trintafinos, isento do desverdor com queo tempo prateia os cabelos e aimaginação dos homens. Esses nãopodiam, de modo algum, suporQue quem os convencia, ilustrava,lhes abrandava as paixões poli-tlcas, lhes desalterava o figado eencantava, criando em torno desuas produções um ambiente per-lümado e embriagador de chiste,bom senso e amisade, que de pron-to se exprimentava pelo articulis-ta, que aconselheva, criticava ousimplesmente dizia, esses não po-filam de forma concebível crerQue Ferreira de Araújo fosse umhomem de 52 anos, com o organis-mo ferido por doenças graves pie-no da certeza de seu fim humanodentro de tempo próximo.

Nào se podia perceber que tão fu-gaz, tão pronto, tão gracioso, tãodisposto para o combate e para a"ida, na manifestação do Jornal,pudesse um homem, o autor des-sas páginas que perdurarão, peloteu intenso brilho tmarcessívelPela sua fulgurante leitura, peolseu inimitável estilo de prosadorconsagrado, ser um sofredor comoos outros, reduzido ã contingênciacomum da miséria orgânica, daagonia física e da morte.

Ferreira de Araújo

o encanto irradiante de seus es-critos, menos efêmero do que osnúmeros dos jornais, que só vi-vem aquele dia, porque provinhamde um foco astral de primeiragrandeza, deixava e deixa no es-pirito de quem o recebe a impres-são indelével das coisas impereci-veis. O escritor, porém, feito e re-feito na luta, cercado das frivoli-dades e das tristezas dos assun-tos pelos ideais, guia de suas pró-prias aspirações infinitas, sacudidopelo ondear estonteante e rumorosodas vagas, foi efêmero como asquinquilharias mundanas com queele jogou em vida, para criar oseu prazer próprio e manter a si-tuação deliciosa de seus admira-dores. Dele ficam os escritos e a suavenerada memória. A pena partiu-se, os assuntos passaram.

A dor que deprime a nossa fõr-ça e que lnutilisa o desejo grandeque nos enche de traçar neste ins-tante, doloroso para o jornalismobrasileiro, uma vasta e digna ho-mená^em ao vencido, obriga-nos àfrivolidade destes lugares comuns,cujo emprego nem todos sabem dis-pensar, e só êle e poucos privlle-giados podiam remover.

Seja o neclolosrio do grande bra-sileiro nestas colunas, o bosquejorápido de sua vida e de seu valor,cujas linhas quizemos acentuar,destacando-as quanto possível, áspressas, na confusão de espiritoagora inseparável de quem traçaesta noticia dolorosa.

Digamos, entretanto, mais algu-mas linhas, mais preciosas, sobrea vida do Dr. Ferreira de Araujo.

Filhõdò honrado negociante por-tugués José Ferreira de SouzaAraújo e de D. Helena Mariana deSouza Araújo, que o deu a luz nes-ta cidade e na mesma casa onde arua Sete de Setembro, funcionamatualmente as oficinas da Gazetaed Noticias, Ferreira de Araujoque recebeu o mesmo nome de seupai, nasceu aos 25 de março de1848.

Aos sete anos de idade entroupara o colégio Vitorio, que fre-quentou durante seis anos e dondesaiu, com todos os preparatóriosfeitos, para matricular-se na Fa-culdade de Medicina.

Foi um estudante distintíssimo,da mesma turma de Rocha Lima,Gabtzo e outros, que a êle se li-garam por vigoroso afeto, só des-truido pela morte.

Seu pai, português da velha tem-pera, não o queria jornalista, —tanto mais que o filho, não obstan-te a sua vocação literária, naoera um médico de bobagem. Fer-reira de Araújo, que colocava o res-peito filial acima de todos os outrossentimentos, fez a vontade ao seuprogenitor e clinicou até à suamorte. Mas, depois de órfão, atirouàs urtlgas o seu diploma e entrouresolutamente para o jornalismo,com o ânimo deliberado de não seroutra coisa senão um Jornalista.

Aos 25 anos, casou-se com D. El •vira Xavier Rabelo, distintíssimasenhora, que sobrevive ao esposoem companhia de três filhas e umfilho, primorosamente educados.

Ferreira de Araújo foi sempre umchefe de família exemplarissímo,o modelo dos pais afetuosos, extre-moso, austero e ao mesmo tempomeigo, porque esta qualidade nãoexclue aquela.

E como não devia ser bom paraos seus quem foi sempre tão bompara os estranhos? Sabe-se queninguém lhe pediu a mão que elelh'a negasse. Não tem conta osque foram protegidos pela sua boi-sa, pela sua influência, pelos seusconselhos, Se todos quantos lhedevem alguma coisa acompanhas-sem o seu enterro, o corpo serialevado ao cemitério por uma popu-lação.

Os artistas, especialmente, de-vem-lhe muito. Grande amador debons quadros, de magníficos bron-zes, de excelentes gravuras e maisobjetos de arte, Ferreira de Araújomostrava excepcional interesse portodos os moços que revelavam ai-gum talento artístico, fazia-o aponto de concorrer ocultamente pa-ra que alguns se aperfeiçoassem naEuropa.

A Gazeta de Noticias, que elefundou com Manuel Carneiro,Elisio Mendes, Henrique Craves eoutros , esse vitorioso diário quetem a glória de haver intrriuzidono Brasil a imprensa popular, nãofoi a única folha que Ferreira deAraújo serviu com a sua pena. Depronto, neste artigo escrito diantedo seu cadáver ainda quente, nãopodemos acompanha-lo em todasas escalas da sua prodigiosa ativi-dade. Já lembramos O Mosquito,em cujas preciosas coleções se en-contram as primiclas do seu talen-to; lembraremos as duas últimaspublicações periódicas que tiverama honra da sua colaboração: A No-tia, que durante muito tempo pu-blicou o seu Interessante Au jour lejour, além de uma série de magní-ticos folhetins semanais, e a Re-vista Brasileira, em cujas páginasapreciou, durante algum tempo, onosso movimento político.

Apaixonado pelo teatro, propa-gandista ardente da arte drama-tica, Ferreira de Araújo deixa,além de algumas traduções, duascomédias originais, Primo Basllío eOs Fagundes, Esta última esteveem ensaios, mas o autor reclamouo manuscrito na véspera da repre-sentação.

Ferreira de Araújo voltou da suasegunda viagem à Europa em ju-nho de 1893; nesta ocasião O Al-bum publicou o seu retrato, acom-panhado das seguintes Unhas donosso colaborador A. A.:

"Prometemos publicar o esboçobiográfico de Ferreira de Araújo.Para que? Há porventura quem onão conheça?

Há aqui quem Ignore que ele nas-ceu no ano revolucionário de 48,nesta boa cidade, num'sobrado darua do Cano, hoje Sete de Setem-bro. o mesmo em que atualmentese acham as oficinas da Gazeta ãeNCI-ias?

Há ai quem Ignore que, tenden-du--.; j.uiiiiauo em medicina pelaFaculdade do Rio de Janeiro, aban-doijou a profissão de médico, de-pois de exercê-la com brilhantismodurante alguns anos?

Há aí quem ignore que foi êleum dos fundadores e é o redator-cheie da referida Gazeta de Noti-cias, o jornal que mais influênciatem tido no desenvolvimento danossa civilização intelectual?

Há aí quem ignore que Ferreirade Araújo é o Lulú Sênior d'0Mosquito c das Balas de estales,o José Telha dos Macaquinhos nosotão, o A. do Jornal do ausente,o espirituoso escritor de tantas crô-nicas elegantes, de tantas novelasengraçadas e conceituosas, e o au-tor daquele a-propósito cômico,, OPrimo Basílio, que fêz as deli-cias das nossas platéias e escanda-lisou as de Campos de Goitacazes?

Há ai quem ignore que, a pardesses ligeiros e graciosos desaba-fos do espirito, ele nâo só temproduzido artigos políticos e finan-ceiros de primeira ordem, comotambém discutido, com singularcritério, as mais complexas e mo-mentosas questões sociais?

Defendendo-o um dia no tri-bunal do júri, onde o levara nãosei que artigo anônimo, cuja res-ponsabilldade nobremente assumiucomo diretor da Gazeta, disse Quin-tino Bocaiúva que Ferreira deAraújo era ao mesmo tempo o ar-mand Carrel e o Jules Janin danossa imprensa; o jornalista dasCoisas políticas e das Croniquetasjamais desmentiu esse honrosoconceito.

Que mais direi? E' um cavalheirode alta distinção, pai de famíliamodelo, bom amigo, homem degosto, colecionador de objetos dearte e protetor de artistas pobres,

Teve um duelo, o famoso dueloda ilha d'Agua".

E aí está em pálidas linhas, es-critas às pressas e sob a terrívelimpressão do desaparecimento deum prezado mestre e adorável co-lega, o perfil, que outros comple-tarão, desse ilustre fluminense,carioca da gema, respeitador dalíngua portuguesa, que se chamouJosé Ferreira tíe Souza Araújo e foiuma das figuras mais originais emais simpáticas da imprensa flu-minense no último quartel do sé-culo que termina.

O seu nome figurará na preciosagaleria em que se ostentam os Eva-ristos, os Justinianos, os Otavlanos,os luminares célebres do nosso jor-nalismo.

VIII — A Tribuna {AlcindoGuanabara)

Teve termo a longa agonia. Nãofoi fácil à mão da fatalidade, quesobre todos pousa ameaçadora-derruir o carvalho poderoso, àcuja sombra todos nós achámosum lugar nesta vereda do pensa-mento e da palavra. Havia quatroanos que o mal de morte o ferira;

e durante esses quatro anos de so-frimento, de angustia, de lutacruel, o espírito radiante e forte deFerreira de Araújo poude váriasvezes triunfar da fragilidade dacarne assolada e dar ã imprensaa impressão exata sobre os fatose os homens, influindo na vida deque cada vez se afastava. A lutasombria teve ontem o desenlace fa-tal. O que era pó volveu ao pó; e oespírito luminoso ascendeu aos pésde Deiis. Ferreira de Araújo aca-bou de morrer...

Temos a sensação de um grandevácuo. Agora, que ele não existe,pode-se avaliar o espaço que ocupa-va pelo vazio que ficou. Certo, hàna imprensa fluminense muitos es-píritos brilhantes e eruditos, es-critores primorosos, panfletistasacerados, espirituosos e mordazes,polemistas vibrantes, cronistas de-liciosos, toda uma constelação detalentos que são a honra e a gló-ria da cultura nacional, mas nãohá mais um jornalista... O jor-nalista resume tudo isso e é issotudo, no momento e na ocasião emque o seu jornal, para o qual vivee do qual vive, exige que o seja.

Nada lhe é estranho no seu me-canismo. Todas as suas peças lhesão familiares. Como um coman-dante de navio, que se afeicoa àsquatro taboas, que são o seu mu 1-do, ele ama com ardor e paixão asquatro páginas do seu jornal, queé a sua glória e o seu tormento, oseu maior prazer e a sua maisprofunda amargura. Filho de seucérebro, filho de seu coração, dá-lhe tudo quanto possue de dedi-cação e de carinho, de inteligênciae de sentimento. Nada nele lhe éindiferente. Corre a compo-lo emtodas as minúcias, a corri ír-lhe osdefeitos, a aperfeiçoar-lhe a belezacomo mãe carihosa que vela aten-tamente pelos vestidos da filhaadorada, sonhando-a e querendo-aa mais bela entre todas as da suaidade. Ama-o e padece desse amor;vibra por ele e esgota nele todo oseu vigor do espírito, dando-lhecom prodigalidade as riquezas quepossue, mineiro insensato! que ca-va à noite a mina para, no dia se-guinte, loucamente atirar pelas pá-ginas negras do jornal as pepitasque acumulou! Esse amante apai-xonado tem todas as gamas da se-dução; está em toda a parte e étudo, de modo que o jornal è ele, eele é o jornal, unidos indissolu-velmente, na mais completa fusãoque jamais existiu. Foi assim ojornalista que acabou. E não hámais quem o seja...

Esse molde de jornalista — ojornalista profissional que ama asua profissão — é — podemos ai/é-lo à beira da sepultura do maiordeles — é o modelo do homem ab-negado que, vive a vida dos outros;que sofre, luta, expõe-se, amargu-ra-se e padece por amor de todos,por amor da colecividade indife-rente e fria, que não percebe, quenão suspeita, que não avalia o sa-crificio que lhe é feito diária-mente! Não há dor que não re-percuta nele; não há aspiração queele não traduza; não há alegria que

(Continua na pág. 120)

Fnmrah ie Ferreira de Araújo. Fotografia publicai» pela Revista daSemana per ocaitao do falecimento io jornalista

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Página 120 AUTORES LIVROS Dezembro de 1950 —•Vol. XI, n.° ]•>

Alguns artigos sobre Ferreira de Araújo

}

Alcindo Guanabara(Pangloss)

Há idéias que, uma vez lançadasestão triunfantes; a de Bilac, emrelação a Ferreira de Araújo, estáneste caso. Há dias, num de seusmagníficos registros diários da No-ticia, o nosso grande poeta aproxí-mou a ação áo fundador do Diáriode Noticias, ãe Lisboa, ãa âo cria-dor da Gazeta de Notícias aqui; eassim como lá se vai erguer ummonumento que perpetue a memó-ria ão jornalista popular, ele su-geriu a idéia de se fundir em bron-ze o busto do jornalista brasileiroque sobre uma herma seria colo-cado no Passeio Público.

A população desta cidade deveesta homenagem a Ferreira ãeAraújo. Nos últimos trinta anos,ninguém- exerceu sobre a opiniãopública brasileira maior, mais in-tensa e mais benéfica influência.Colocando-se entre os dois partidospolíticos que se revesavam no po-der, alheio aos interesses de qual-auer deles, considerando as quês-toes do ponto ãe vista âo interessenacional, ele reagiu sobre ambos.animando-os ou combatenão-os,conforme as inclinações que inani-festavam, de tal sorte que se podedizer que não houve um só ato,uma só lei, uma só reforma que nãotivesse sido por muito obra sua. Ainfluência impessoal desse homem,que nunca quiz ser senão jornalistae que, por conseguinte, nunca va-leu senão por efeito da sua pena edo seu jornal, foi considerável enunca foi exercida senão para obem. Sob este ponto de vista, ahomenagem reclamada por Bilaclhe é devida não só por esta cidade,mas por todo o Brasil. E ela foi dejato tão funda, que estou absoluta-mente certo que âe todos os pontosdo país o apelo feito ao povo paraa criação desse monumento seráouvido com solicitude.

No desenvolvimento intellectuale artístico desta cidade a influen-cia ãe Araújo não faí menos sen-

sível que na política. A Gazeta fezuma verdadeira revolução nasidéias, no sentimento, na educa-ção do povo. Nós todos que hojemanejamos uma pena e não era-mos nos dias do apogeu âa Gazetaterão assinantes a essa hora, po-denão bem testemunhar a exten-são dessa influência. Em tornodele, giravam nomes dos mais bri-lhantes do pais e ão estrangeiro.A oitava coluna ãa Gazeta valiapela consagração literária do no-me; e cie conseguia fazer um jor-nal qae era nimiamente populare altamente literário, consorcíandocom grande tato o que agradavao grosso público e aos espíritos fí-nanceíros educados. Era ele queconsagrava os escritores, os poe-tas, os pintores, os artistas dra-máticos, assim como fazia popula-res ou impopulares os ministérios eos parlamentares. Em espirito tãocomplexo, uma tão vasta capaci-dade jornalística, era naturalmenteuma exceção e como exceção ficouNem antes nem depois dele houveou hâ, quem pretenda poder igua-lá-lo.

A cidade ama naturalmente osque a serviram assim, educando-a.impulsionando-a para o progresso,ãefenâendo-lhe os direitos e fazen-do-o sem calores de profeta bi-blieo, sem clamores ãe vingadorprovincial, mas com um bom hu-mor sadio e inalterável. Na paisa-gem risonha do Passeio Público, oboato ãe Ferreira de Araújo está nolugar que lhe compete. E' precisoque não âemoremos a criação dessaherma, não áeíxemos a idéia deBilac arrastar-se sem execução. Nóstodos, que fomos seus discípulos ecom ele aprendemos este oficio,não teremos dificuldades em éle-ger dentre nós a pequena comissãoque tome a si a honrosa missão delevar por diante a idéia, com tantomaior facilidade quanto por umlado não é preciso para isso o te-souro dos Jesuítas e por outro po-demos ter a certeza de que nosnão faltará o apoio material porparte da população.

Há idéias que uma vez lançadasnão podem deixar de vingar: esta

Ferreira de Araújo e a imprensa carioca(continuação ãa página 119).

êle não externe; não há sofrimentoque ele não espose; não há pro-testo, não há revolta, não há ne-cessidade que ele não formule, nãosustente, não ampare! A vida nãolhe é própria: não são os seus sen-timentos que êle traduz; não é asua vontade que ele manifesta.Aparelho delicadíssimo, de umasensibilidade excepcional, expostoa todos os ventos do quadrante, eleage e reage sobre a sociedade emque vive, até que chega a horasuprema em que lhe vem, com oeterno repouso, a cessação dessaluta perene por amor de outrem.Ah! a sociedade moderna não temórgão cuja função se lhe compare!Apartados de toda a força mate-rial, esses heróis valem mais e sa-crifícam tanto como os heróis dacavalaria! O mais caro de seusafetos, os mais vivos de seus sen-timentos, as mais poderosas desuas impressões, o melhor de suavida, eles o sacrificara quando omomento soa e é preciso faze-lopor amor do Interesse superior, queé o interesse de todos — e que, porIsso mesmo que o é, ninguém sesente obrigado a agradece-lo, con-tentando-se de recolher-lhe o pro-veito. Ah! a civilisação deve a es-ses evangelistas o melhor de seustriunfos! E' nas páginas desses Jor-nais que diariamente o governo e opovo encontram-se e confabulam.Aí trocam-se idéias, permutam-seimpressões, desfazem-se enganos,esclarecem-se dúvidas, dissipa-se oerro; ai eleva-se o espirito, ai en-sina-se, aí doutrina-se, alegra-se avida, encoraja-se o fraco, cimenta-se a união social, Justifica-se o sen-itmento pátrio... Toda vida socialreflue para ai e dai parte mais vivae mais ampla, como as ondas damaré montante revertem do ro-

ehedo em que se quebram, enca-choeiradas, espumantes, largas, re-mançosas... Uma vida toda dededicação a essas funções exercidaseom a tranqüilidade de ânimo e aserenidade de consciência, que fo-ram sempre o apanágio de Ferreiro.de Araújo, uma vida toda de amore de carinho, dedicada a seu jor-nal, que fizeram dessa Gazeta ãeNoticias uma revolucionária na im-prensa e uma propulsora efetivado progresso social, vale bem ahomenagem que o Brasil inteiro,à beira de seu túmulo recém-aberto, lhe presta, honrando neleo talento, o afeto, o carinho, a ab-negação ,o amor do progresso, ozelo pela pátria...

A Imprensa,Niobe inconsolável,chorará a perda do maior de seusfilhos, com lágrimas que não seestancarão. Maior, porém, e a per-da da Pátria, que se vê privadado apoio, do auxílio, do consolo, doconselho, do incitamento daquelapena serena e justa, que durantemais de vinte anos traduziu, comoespelho fiel, as suas impressões eas suas aspirações, mergulhou,como bisturi acerado, nas carnesapodrecidas, repercutiu, como êcoraro, as suas dores e os seus sofri-mentos, gemeu com ela, com elariu e chorou...

Quem escreve estas linhas ator-montadas, o mais humilde dosaprendizes do jornalismo desta ter-ra, deveu a esse espirito mais deuma lição, aprendeu nas suas pa-lavras, inspirou-se no seu-exem-pio; e, nesta hora, rende-lhe nestapágina a mais sincera homenagemà sua memória lmperecivel, queficará pairando sobre a imprensa,que êle tanto amou, como os espi-ritos das mães pairam, imortais eangustiados, sobre os filhos quedeixam neste baixo mundo...

é uma delas. Ponhamos quanto an-tes, no Passeio, o busto do nossogrande jornalista!

(O Pais)

FERREIRA DE ARAÚJO

Alfreio Camarate.Ferreira de Araújo, de quem o

telégrafo nos comunicou brutal-mente o falecimento, apareceu naimprensa jornalística do Brasil ro-deado de uma pleiade de amigose companheiros que a êle se haviamreunido pela estima que lhes me-reciam, a um tempo, o homem eo escritor.

Surgindo nas lides da imprensa,Ferreira de Araújo, apresentou,pois consigo uma nova geração deescritores: uns de fino quilate, ou-tros de mais modesto valor, mas to-&dos, sem exceção, imbuídos nas no-vas idéias, todos, sem exceção,acompanhando a evolução litera-ria que então se efetuava em Por-tugal.

Reunira-os desinteressadamenteo Mosquito, esse jornal humorísti-co, mas que, com o seu humorismo,castigava e corrigia as carrancicese preconceitos de então; que con-tou como seus desenhadores e ca-ricatudstas, vultos da estatura deÂngelo Agostini e de Bordalo Pi-nheiro e com eles se mediam, pelomérito e bons desejos, muitos dosseus redatores.

Deste grupo de rapazes nasceua sociedade comandatária que deuà luz a Gazeta de noticias, a únicafolha que ousou viver, quando oJornal âo Comércio monopoüsavatoda a publicidade jornalística da-queles tempos!

Juntaram-se a Ferreira de Araú-jo, como fundadores da nova falhaManuel Carneiro, Elísio Mendes,Henrique Chaves e o humilde escri-tor destas linhas e, em menos deum ano, a Gazeta de Noticias esta-va seguramente esteiada, nos seusrendimentos, no favor público e naconsideração dos poderes públicos,que já consideravam a nova folhacomo um elemento com o qual eraforçoso contar.

Ferreira de Araújo e HenriqueChaves foram os únicos fundado-res da Gazeta de Noticias que aacompanharam nos seus triunfos,nas suas contrariedades e nas suascrises, desde o seu primeiro númeroaté hoje; e, nos vinte e cinco anosda existência desta folha, Ferreirade Araújo teve a seu cargo dife-rentes seções e que, quasi todas es-critas no gênero da dos Macaqut-nhos no Sotão, aumentavam con-siderávelmente a venda da folhanos dias em que elas ali figuravam.

Como escritor Ferreira de Araú-jo, que possuía uma instrução hu-manitária de extraordinária soli-dez, nunca fêz estilo, nunca re-buscou frases cheias de filigranase arrebiques: escreveu sempre coma fluência e simplicidade com quefalava; era um construtor de idéiase não um fazedor de palavras; etodos nós, os seus companheiros detrabalho, procurávamos inútil-mente imitá-lo; mas, nas produ-ções da arte e da literatura, não hánada mais complicado do que sersimples; nada mais itficíl do queser fácil!

A sua lógica, docemente envol-vida nas scintilações do humoris-mo, ostentava-se, entanto, numalógica de ferro, e era tal a suatempera de jornalista que foi oúnico que ousou bater-se com ovelho Dr. Luiz de Castro, umasvezes vencedor, outras vencido;mas, das vitórias ou das derro-tas, sempre havia de tirar glória,porque o Dr. Luiz de Castro eraum gigante que, mesmo vencendo,enchia de honra a quem por elefosse vencido.

A Gazeta ie Noticias e com elaa literatura brasileira, perdem umdos seus mais poderosos campeã-dores; mas a Gazeta de Noticiascontinuará a viver, com toda a pu-jança e esplendor; porque Ferreirade Araújo deixou, no seu pessoal,imorredouras lições de ordem, bomsendo, atividade e honradez.

Eu — o mais velho e, ao mesmotempo, o mais humilde compa-nheiro do Ilustre falecido — cur-vo-me resignado diante dos decre-tos da Providência e, em espírito

cubro de flores o ataúde que car-rega os seus últimos despojos!

(Comercio de S. Paulo. Trans-crito na Gazeta de Notícias de 21de agosto de 1900).

FERREIRA DE ARAÚJOArarípe Júnior.

Estávamos em 1878.A Gazeta de Noticias tinha nesse

tempo atingido, na imprensa, pó-de-se dizer, à puberdade. Fulgiapela audácia e pela graça; e osmoços para ela olhavam como pa-ra o jornal que melhor exprimia assuas aspirações.

Ferreira de Menezes, José doPatrocínio e Henrique Chaves alidespediam então as forças mais in-Umas dos seus talentos,

i Araújo era quem dirigia a má-quina, mas como o seu nome nãoaparecia nos rodapés, nem em bai-xo dos artigos, era preciso conhe-cê-lo na intimidade da redaçãopara avaliar o grau de sugestão queas suas aptidões de jornalista exer-ciam sobre a turma dos colabora-droes da Gazeta.

Não direi a surpresa que tivequando cheguei a saber que o re-dator-chefe desta folha era o seucritério político, e mais ainda, oregulador do gosto que suas colu-nas difundiam.

Foi, pois, o jornal das minhassimpatias, quando nesta capital es-tabeleci os meus penates. Moçoainda e cheio de aspirações litera-rias, pode-se calcular o desejo quenutria de publicar um trabalho naGazeta. Esse anhelo não tardouem ser cabalmente satisfeito.

Nessa época eu não renunciaraainda às veleidades de escrever ro-mances. Impressionado com o fa-to histórico da Pedra Bonita emPernambuco, tinha começado umacrônica dos moldes do que entãose chamava o romance histórico.

Por que não falas ao Araújo?disse-me o Paula Ney, um diaencontrando-me na rua do Ouvi-dor. Se queres uma apresentação...aqui estou eu.

Não conhecia senão de vista oredator-chefe da Gazeta. No diaseguinte subíamos as escadas dacasa da rua Sete de Setembro, e oNey expunha o caso. Ferreira deAraújo sorriu, tomando o cadernoem que estavam escritos os primei-ros capítulos do Reino encantado,e disse-me:

O povo nao gosta de romancesrealistas, e vocês, rapazes, só pen-sam em Zola.

Respondi-lhe que a minha crô-nica nada tinha de realista e que,para o paladar dos devoradores derodapés, havia nela nunca menosde 82 vitimas, pois tantos eram osfanáticos sacrificados ao furorsupersticioso em Pedra Bonita.

Ferreira de Araújo leu os capí-tulos concluídos e fê-los publicarcomo folhetim da folha. O resto doromance foi escrito au jour le jour.

E assim começaram as minhasrelações com a Gazeta, cuja chefese me apresetara nesse primeiroencontro como pontífice dos aspi-rantes e dotado de uma bonomiacomparável talvez á que se atribulaa Jules Janin, a Henan e a outrosescritores tranquilisados pelo gostodas boas letras.

Depois disto, passei a ler comoutra atenção o que na Gazetapresumia sair de sua pena. Os seusmérito de publicista não me lm-pressionaram tanto como quando oseu estilo adquiriu o máximo de au-toridade, pela clareza e forte bomsenso, nas Cousas Políticas, arti-gos que incontestávelmente signi-ficavam uma das mais brilhantesfases do seu talento, senão da im-prensa diária.

Estes artigos não eram doutri-nários nem se revestiam da soleni-dade repassada de erudição comque alguns jornalistas procuramfazer acreditar ao público na infa-libilidade de suas lucubrações. Elenem subia a tripode, como a Pytho-nisa para deitar oráculos, nem pro-curava vatlclnar desgraças, reno-vando as ameaças de Cassandra

Espirito simples, sem complica-çoes, Ferreira de Araújo, observavaos fatos, submetla-os ao critério deuma filosofia prática, espontâneae de primeira mão, e não punha naexpressão dos seus conceitos nempretençoes oratórias nem arguclas

ou sutilezas de ordem metafísica.O seu unieo fito era percurtit „ L,se lhe afigurava erro ou hipocrisia*mas toda a sua crítica lhe sai-, ciobico da pena desanuviada de intenções ocultas e sempre tem™perada de um humorismo sX"consoante a benignidade, que X'tituia o fundo d'aima do esc-itorNao huove ministro que no tempo da monarquia se prestasse lantnao ridículo como o Dr. Ávila . „,;:ao mesmo tempo afrontasse ma,os ódios das coletivioaues ir',7triais. * s"

Pois bem; o redator-cheie daGazeta não se deixou tonwr dascóleras que assaltaram a muitagente, nem abusou dessa arma incruenta que foi o forte de VuliaireA sua critica à administração'da'quele personagem rlo-grandenselimitou-se a ligeiras ironia- masque certamente obrigaram o cri-tico a refletir muito mais do queos ataques brutais de inimigos in-tolerantes.

As páginas que então Ferreirade Araújo escreveu sobre a célebrequestão dos "burros gordos e burrosmagros" 3 dos bonds mostraramo proveito que o publicista pode ti-rar da malícia posta a serviço dajustiça. Não fez senãc recorrer aobom senso de Sancho Pansa' epondo diante dos olhos do ministroalguns conselhos tirados das por-tarias que o herol grotesco de Cer-vantes expedia na ilha Baratariaquando ai ordenava os seus nego-cios públicos, levou-o talvez a pre-munir-se, pelo menos de algumaagressão, por parte dos ofendidosem seus direitos, menos humana;"Aconsejoos que de aqui adelanteno os burleis con la justicia, por-que toparels con alguna que os décon la burla em los cascos".

O grande segredo de Ferreira deAraújo como Jornalista residia naintuição que ele tinha do pontoonde estava o eixo do negócio, Atrapalhada é em regra e meio deque se servem para chegar aos seusfins aqueles que só sabem pescarem águas turvas; o gesto largo euma linguagem transcendentetambém é o recurso de que se i.ti-lisam os que ainda supõem o povouma criança grande, e portantosusceptível de ser enganada peloterror que causam os especialistassabedores das coisas divinas e hu-manas.

As Coisas Políticas de Ferreirade Araújo tinham em si a virtudedissipar essas manhas e essestrues.

O jornalista fazia consistir o seutalento em simplificar as questõese familiarizar o público com o as-sunto discutido, que os especialis-tas de ordinário buscavam cercarde ministério pelo esoterismo buro-crático, e de metafísica pelo con-tingente que lhes trazia a ber-meneutica dos jornalistas.

Questões havia que irrompiamferoses como touros na arena acos-sados pelas farpas que de todos oslados lhe atiravam os capinhas daimprensa. A esses touros, o jor-nalista da Gazeta não tardava emamansar com a clareza da sua cri-tica e com o bom humor da suafrase sempre comedida. O seu alvoraro deixava de descarnar a ver-dade por um sorriso, afasta»-do os ódios e contendo os desviosda razão.

Às vezes Ferreira de Araújotransformava-se em Alceste e pro-feria palavras acerbas embora emestilo sempre blindado de gentUe-za. Mas isto só lhe sucedia quandose lhe apresentava alguma questãode ordem social.

Um dos seus mais belos e incísi-vos artigos foi o que ele escreveuquando se propalou que o conded Eu ia comprar a fazenda de Fa-quequer para nela estabelecer uraasilo de frades. Logo que isto soube,o jornalista empunhou o seu fio-rete mais brilhante e acerado, fia-gelou os instintos shylocklanos eas alianças conventuais da fanu-lia Orleans e mostrou o perigo quénaturalmente resultaria da imi-gração Francesa e que se procura-va sorrateiramente introduzir noBrasil sob os auspícios do consor-te da herdeira presumtiva dotrono."Em matéria de colonisação, dis-se êle, não é precisamente a depadres a que mais pode convir aoBrasil. Apesar de ser o chim uma

Page 15: Dezembro de 1950 — Vol. XI, n.° ia AUTORES B LIVRO Página ...memoria.bn.br/pdf/066559/per066559_1950_00012.pdf · Dezembro de 1950 — Vol. XI, n.° ia AUTORES B LIVRO Página

Detumbro de 1950 — Vol. XI, n.° 12 AUTORES E LIVROS PáKtna 131

Alguns artigos sobre Ferreira de Araújoverdadeira calamidade que o altotmo administrativo dos que nosgovernam tem pendente sobre asnossas cabeças; apesar de ser ochim um trabalhador que a umavantagem única, o trabalho barato,reúne todas as outras desvantagenspossíveis e imagináveis, entre asquais sobresaem a de não ficar nopais, não o povoar, e ao mesmotempo arredar a concurrêncla deoutros colonos, que ficariam; senos derem a escolher entre o chime o padre, nós preferiremos, semhesitar, o chim".

ferreira de Araújo, neste capí-tulo era intransigente; e força éconfessar que não pedia messas aosmais arrojados. E tinha razão,iembrando-se do México, entendidoajaae era em medicina, ele verificavafacilmente a diatese existente nocorpo da nação brasileira; comba-lia por isso com violência os sinto-mas clericais, desde que os pres-sentia. Que o publicista brasileirotinha carradas de razão, proceden-do assim, mostra-o exuberantemen-te o movimento que hoje em pie-aaa República, estão fazendo osmonarquistas católicos, no senti-do de povoar o país com os fradesque sairiam atormentados da Fran-ca e foram expelidos das Filipinas.

Nos aludidos artigos, que consti-tu em uma espécie de kaleidoscópio,: m que por algum tempo se refe-riu a vida nacional com coloridopouco vulgar, deixou-nos Ferreiradc Araújo magníficos retratos dehomens políticos, alguns em bus-ao. outros a corpo inteiro. A ga-leria, se não é abundante é carac-terística.

Otaviano, Pedro II, FerreiraVianna, Dantas e Lafayete passampelos olhos do. leitor na esfusiadade um crayon sempre fiel à impres-.são exata do desenhista; e se nãoros fornecem a medida inteira docaráter intelectual de cada retra-tado, são todavia clichês apanha-dos em momentos políticos que for-çaram esses personagens a perder¦d pose e a virar pelo avesso todamia psicologia.

Várias vezes ocupou-se Ferreirade Araújo com o perfil do conse-lheiro Lagayete, que ele conside-rava um dos homens mais inteli-gente, penetrantes e espirituososque têm tido este país. Observandoa sua política molieresca e aten-dendo às suas frases à Rivarol, nãopoude dissimular a convicção deque o jurisconsulto, transformadoem estadista e presidente do con-selho, não comprometeria nem oseu talento, nem o seu espírito,dando murros em ponta de faca.Cético, filósofo, e artista de eru-dição excepcional, não cogitariaem reformar, nem tãopouco emdoutrinar os partidos monarqui-cos, nos quais não acreditava. Pos-lo, assim, entre o imperador e osseus vassalos, o conselheiro Lafay-ete rir-se-ia de todos, tendo comoúnica preocupação o não fazer as-neira, como muitos não tinhamfeito, nao se prestando ao papel deComte Oscar.

Era um original; e como tal ain-da soube dar curso ao seu dileta-mismo de cético, aceitando, maspara representá-lo com a alma deFigaro, o papel de Monsieur Jour-dain, o bourgeois gentilhome."A sua intervenção nos negóciospúblicos devia ser como a desseherói de Molière; e quando brigas-sem, o Sr. Correia, mestre de ar-ras, o Sr. Ferreira Viana, mestrede filosofia na Câmara, com o sr.Dantas, mestre de dansa na Sibériao, Sr. Cândido de Oliveira, mestrede música na Cadeia Velha, o Sr.Lafayete, limitar-se-ia a dizer:Oh! battez vous tant quêil vousvlaira; je n'y saurais que faire, etie n'irai pas gâter ma robe pourvous scparer. Je serais bien /oa dem'tiller íourrer parmi eux, pourrecebour quelque coup, qui me fa-rait mal".Há muita graça em todo esse dizer.E se é verdade que o conselheiroera assim posto em foco à luz dosraios X, como se diria hoje, nãoo menos certo que esse estadistasalva-se no conceito dos homens deespirito pela grande diferença quefazia da comparsarla posta ao fun-ao do quadro em verdadeira hip-nose ministerial. Não cabe aqui fa-lar senão da faculdade capital quedistinguta Ferreira de Araújo, e

Ferreira de Araújo. Desenho et-tampado no Correio da Manhü de

11-7-1937

por onde mais influência exerceusobre a sociedade fluminense.

Amoroso da arte e escritor es-pontâneo, ele nunca se volvia paraos assuntos colaterais da imprensapolítica, sem que deixasse o traçode um espírito ateniense. Capazde compor contos como Voltairee de burilar frases de primor, nãolhe sobraram lazeres para umaobra literária qual imaginava.

(Gazeta de Notícias, 21-9-1900).

PALESTRAA. A. (Artur Azevedo)

Desenganado há dois anos, mor-rendo aos poucos, padecendo hor-rores, Ferreira de Araújo é o ates-tado mais doloroso de quanto éinjusta a distribuição dos benefí-cios e das maldades da sorte.

Esse homem, que desaparece naforça da idade e do talento, foisempre bom para todos: teve sem-pre uma palavra de animação e deaplauso para qualquer esforço dainteligência dos outros, teve sempreum sorriso para as alegrias que nãoeram suas e uma lagrima para asdores alheias.

Se o destino de Ferreira de Araú-jo dependesse da vontade de quan-tos o conheceram, ele viveria naopulência, não sofreria nunca omais leve dissabor, chegaria aoscem anos cercado de todas as ven-turas, e morreria de velho, semsequer perceber a aproximação damorte. Mas o destino é cego...

A bondade de Ferreira de Araújonão estava unicamente na sua bolsae no seu coração, cada qual maisfranco; estava também na suapena, ou antes nas suas penas,pois eram duas: uma fazia pensare a outra fazia rir, aquela esclare-cia e esta alegrava os espíritos;eram beneméritas ambas.

Na imprensa fluminense nin-guém teve mais graça; póde-semesmo dizer que o seu talento dehumorista enobreceu e reformou avelha chalaça carioca, que há trin-ta anos ainda parecia em letraredonda, e cujo ideal eram os es-critos de Pafuncio Semicupio Pe-chincha.

Por vezes as alfinetadas do LulúSênior ou José Telha penetravamum pouco mais fundo; nenhuma, entretanto, chegou a tirar sangue;nenhuma lhe trouxe um desafetograve. Ele encontrava, com umahabilidade admirável, a nota cô-mica das coisas mais sérias semferir nem magoar ninguém. Naprópria ironia mostrava certa ge-nerosidade, porque, indubitaável-mente, era uma honra ser "troça-do" por Ferreira de Araújo.

E easse homem, que foi tão mag-nanlmo, tão prestimoso, tão útil;que tantos serviços prestou à civi-lização intelectual do seu paiz; quedeu a mão a tantos para evitar quetropeçassem, que caíssem que sedesviassem do bom caminho; essehomem, que foi o beijinho dos aml-gos, o modelo dos jornalistas, oespelho dos cidadãos, o exemplodos pais de família, — esse homemmorre supliciado por uma moléstia

lenta e implacável, morre como de-veriam morrer os malvados, se nãofora a cegueira do destino!

(O Pais, 23-8-1900).

IMPRESSÃO DE FERREIRADE ARAÚJO

José Veríssimo.Não foi o meu conhecimento de

Ferreira de Araújo tão completoque eu possa nele julgar com se-gurança o homem e o publicista.

O homem me fez, desde que coméle tive a fortuna de tratar, a im-pressão, que um comércio mais de-morado confirmou, de um bom atéà com descendência, talvez até àfraqueza.

O publicista, o jornalista que eleera sobretudo, de uma inteligênciadas mais claras, das mais lúcidas,das mais perspicazes que tenho co-nhecido, aumentada de valor pormuito espírito às vezes do melhor,e por muita graça.Dele dirão outros mais e superior-mente; eu não sei dizer melhor.

(Gazeta de Notícias, 21-8-1900).

CARTA A HENRIQUE CHAVESMachado de Assis

Meu caro Henrique. — Esqueça-mos a morte do nosso amigo. Nemsempre haverá tamanho contrasteentre a vida e a morte de alguém.Araújo tinha direito de falecerentre uma linha grave e outra Jo-vlal, como indo a passeio, rísonhoe feliz. A sorte determinou outracoisa.

Quem o via por aquelas nolta-das de estudante, e o acompanhoude perto ou de longe, na vida deescritor, de cidadão e de pai defamília, sabe que não se perdeunele somente um jornalista eméritoe um diretor seguro; perdeu-setambém a perpétua alegria. Nin-guem desliga dele essa feição carac-terística. Ninguém esqueceu asboas horas que ele fazia viver aopé de si. Nenhum melancólico pra-ticou com êle que não sentisse deempréstimo outro temperamento.Vimo-lo debater os negócios pú-blicos, expor e analisar os proble-mas do dia, com a gravidade e aponderação que eles impunham;mas o riso vinha prestes retomar olugar que era seu, e o bom humorexpelia a cólera e a indignaçãodeste mundo.'Pai era o condão daquela moci-dade. A madureza não alterou aalegria dos anos verdes. Na ve-Ihice ela seria como a planta quese agarra ao muro antigo. E porqueesta virtude é ordinariamente ge-mea da bondade, o nosso amigo erabom. Se teve desgostos, — e deviatê-los porque era sensível, — es-oueceu-os depressa. O resentimentoera-lhe insuportável. Era desses es-piritos feitos para a hora presente,que não padecem das ancias do fu-turo e escassamente terão saúda-des do passado; bastam-se a simesmo, na mesma hora que vaipassando, viva e garrida, cheia depromessas eternas.

Mal se compreende que umavida assim acabasse tão longa e do-loridamente; mas, refletindo me-lhor, não podia ser de outra ma-neira. A ínimisade entre a vida e amorte tem graduações; não admiraque uma seja feroz na proporçãoda lepidez da outra. E' o modo debalancear as duas colunas da es-crita.

Agora que ele se foi, podemosavaliar bem as qualidades do ho-mem. Esse polemista não deixouum inimigo. Pronto, fácil, franco,não poupando a verdade, não in-fringindo a cortesia, liberal semconfissão, atento aos fatos e aoshomens, cumpriu o seu ofício compontualidade e grandesa de animoe aquele estilo vivo e conversadoque era o encanto dos seus escri-tos. As letras foram os primeirosensaios de uma pena que nunca asesqueceu inteiramente. O teatro foia sua primeira sedução de autor.

Vindo à imprensa diária, nãocedeu ao acaso, mas á própria in-clinação do talento. Quando fundouesta folha, começou alguma coisaque, trazendo vida nova ao jorna-lismo, ia também com o seu espíritovivaz e saltltante, de vária feição,curioso e original, à está dito e re-dito o efeito prodigioso desta fô-lha, desde que apareceu; podia ser

a novidade, mas foram também adireção e o movimento que elelhe imprimia.

Nem se contentou de si e doscompanheiros da primeira hora.Foi chamando a todos os que po-diam constituir alguma coisa, osnomes feitos e as vocações novas.Bastava falar a língua do espíritopara vir a esta assembléia, ocuparum lugr e discretar com os outros.A condição era ter o alento da vidae a nota do interesse. Que poetasse,que contasse, que dissesse do pas-sado, do presente ou do futuro, dapolitica ou da literatura, da ciên-cia ou das artes, que maldissessetambém, contanto que dissesse bemou com bom humor, a todos aceita-va e buscava, para tornar a Ga-zeta um centro comum de ativi-dade.

A todos esses operários bastavafaze-los companheiros, mas era di-fícil viver com Araújo sem acabaramigo dele. nem êle podia terconsigo que se não fizesse amigo detodos. A Gazeta ficou sendo assimuma comunhão em que o dissenti-mento de idéias, quando algumhouvesse, não atacaria o coraçãoque era um para todos.

Tu que eras, dos seus mais inti-mos, meu caro Henrique Chaves,dír'as se o nosso amigo não foisempre isso mesmo. Quanto à ad-miração e afeição públicas, já tô-das as vozes idôneas proclamaramo grau em que ele as possuiu, semquebra de tempo, nem reserva depessoa. O enterramento foi umaaclamação muda, triste e unâni-me. As exéquias de amanhã dir-lhe-ão o último adeus da terra eda sua terra.

20 de setembro.(Gazeta de Notícias, 21-9-1900).

FERREIRA DE ARAÚJOOlavo Bílac.

Que seria de nós, que seria detodos nós que hoje nos cobrimosde luto, se não tivéssemos a cer-teza de que nem tudo nos pôdearrebatar a Morte? O que nos valena amargura deste doloroso passo,é aquele consolo que o divino Hugotão humanamente - exprimiu nosversos de Le Poete au ver ãe terre:"Non! tu n'as pas tout monstre!et tu me prends point 1'âme:

Não! nem tudo se vai como osque se vão! o suor do trabalho, aslágrimas choradas, as vigílias e ossocrifícios frutificam na terra: eas grandes almas se perpetuam noque sonharam, no que criaram, noque amaram.

A vida de Ferreira de Araújo tevea nobreza e a santidade de umapostolado. Ninguém como eleamou jamais a Verdade; ninguémcomo ele tinham jamais em fazerda sua existência uma constantelição e um benéfico exemplo. Nuncaferiu por prazer: quando a sua pe-na estilava o veneno da ironia, erasempre para fulminar um erro ou

uma perversidade, e nunca paraservir um interesse. Por vinte e ein-co anos no alto da imprensa, comoa luz providencial que um farolvigilante. Fervessem em baixo aspaixões no sorvedouro agitado, ru-gissem os ventos maus da maldadehumana encapelassem o oceano danossa vida de povo, — quem erguiaso olhos via sempre lã em cima aclaridade do seu bom senso, do seuaviso desinteressado, do seu ta-lento sagaz, e do seu profundo sa-bem,"um saber só ãe experiência feito"

Os mesmos inimigos (que sem-pre os tem quem ama o esplendorda verdade,..) nunca puderamduvidar da pureza do seu carátere da castidade imaculada dosideais que o levaram ã luta. Que elo-gio maior se lhe pode fazer?

A paralização daquela mão forteque tantas paixões conteve e tan-tos benefícios espalhou, a extinçãodaquele lúcido espírito a quem aPátria deveu tanto conselho e tan-to conforto — cobrem de um lutopesado e enchem de uma infinitasaudade a alma brasileira. Masesse mesmo luto perpétuo e essamesma saudade inapagável serãopara os que ficam um incentivo euma égide. Quem se lembrar dogrande e nobre papel que Ferreirade Araújo representou na terra,como diretor da opinião de todoum povo e orientador de um quar-to de século da sua vida política, —nào prostituirá nunca a pena noserviço dos interesses sórdidos, nemjamais enlameará o coração noamor das baixezas.

Nem tudo nos arrebatou aMorte... — B.

(A Notícia, 23-8-1900).

MEMÓRIAS LITERÁRIASLúcio de Mendonça

Há vinte anos, pelo correr de1872 a sala da redação da Repú-blica, na rua do Ouvidor, onde éhoje a confeitaria Gailtau, era umponto de encontro de nobreshomens de letras do tempo: alémdos da casa, que eram QuintinoBocaiúva, Salvador de Mendonça,Ferreira de Menezes, Luiz Barbosada Silva, lá iam freqüentementeJoaquim Serra, Francisco Otavia-no, Machado de Assis, Joaquim Na-buco, Caetano Figueiras, >e, uma ououtra vez, José de Alencar, que es-crevia para a folha o romance decostumes da roça O Til. Sem fa-lar num conversador extrema-mente simpático, um calvo, defartos bigodes, que era o grande

poeta chileno Guilherme BlestGama, ministro da sua pátria. Senão entre os freqüentadores, entreas relações de boa camaradagemda República estava a redação doMosquito, folha ilustrada, com evi-dentes propensões republicanas.No improvisado escritório do Mos-

Charge de Ângelo Agostini, publicada na Revista Ilustrada, a propósitode oma dai polemicai de Ferrei» de Araújo eom Bnl Barbo». Trai alegenda .seguinte: "Feia Imprenia, Rol Barbosa e Ferreira de Aratijo deluvas de pelica, batem-H como os amigos cavaleiros, merecendo gerais

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Página íaa AUTORES B LIVROS Dezembro de 1950 — Vol. XI, n,° 12

Alguns artigos sobre Ferreira de Araújoquito, Ia asim pelas alturas darua dos Ourives, se me não falha amemória, costumava-se reunir umgrupo de alegres companheiros —Henrique Chaves, Abranches Galo,Manuel Carneiro e o seu compa-dre Oliveira, de Santos, e um hu-morista português, que, segundopenso, era Eduardo Garrido. Havia,então, certas noites, um grandeponche, com palestra em redor, pa-ra o qual se.convidava com a fan-tástica denominação de — exposi-ção ãe feras. Cuido que foi numadessas exposições de feras que vi,pela primeira vez Ferreira de Araú-jo, num vivo tiroteiro de espíritocom os companheiros do Mosquito.O calouro de imprensa, que euera, com os meus dezoito anos deidade e o curso de direito interrom-pido, fazendo então a cozinha naredação da República, achava umarequintada delícia, uma bela orgiaintelectual, aquele convívio degente nova e quasi ilustre, de bomhumor e do bons ditos.

A figura de Araújo, tão acen-tuada e distinta que era absoluta-mente inconf udível, mal se me des-taça, entretanto, naquele grupo,apagado pelo tempo como uma ve-lha fotografia... Assim era que ain-da mal o conhecia quando, poucosanos depois, vi em S. Paulo, na re-dação da Provincia, o primeiro nú-mero da Gazeta de Notícias, de for-mato modesto e colunas estreitas,mas com o que. cjne fosse, em to-do o feitio, que ja revelava, paraos do ofício, uma folha que haviade ficar. Depois, em fins de 1877,quando voltei de S. Paulo, ou nocorrer de 1878, quando entrei amandar para a Gazeta alguma co-laboração literária, versos e prosa,foi que comecei a aproximar-me dogrande jornalista a que depois mehavia de afeiçoar tanto; mas sómuito depois, já nestes últimosanos, é que tive verdadeiramente afelicidade de o conhecer de perto etoda a magnificência do seu vastoespirito, alegre e claro como umdia de verão de nossa terra, e asua incomparável bondade, feitade superioridade, e de tolerânciae o bom humor ingenito, que erao perpétuo encanto de sua compa-nhia.

Entre os ricos dotes daquela ai-ma, um menos vulgar do que pa-rece, era a faculdade de admirar,com entusiasmo, todas as verda-deiras manifestações do talento.Lembro-me, como exemplo, do pra-zer que lhe causou a leitura dosprimeiros números da Tribuna deAlcindo Guanabara, que ele consí-derava um jornalista completo,porque sabia fazer todas as seçõesde uma folha, e de tal modo dirigiae harmonisava o trabalho dos cola-boradores, que efetivamente pare-cia que a folha inteira era escritapor éle.

Talvez por me recordar bem desteconceito comoveu-me como ne-nhum outro, no concerto de ho-menagens da imprensa desta ca-pitai, o tributo que o jornalista daTribuna rendeu ao mestre que de-saparecia.

Nestes domínios do Jornal, poronde também tenho peregrinadodesde muito cedo. com a despre-tenção de um amador, mas ao mes-mo tempo com a religiosidade deum crente, e onde tantas superio-ridades mentais tenho conhecido,não encontrei nunca outra figuratão simpática, tão profundamentedominadora, que tão longa sau-dade deixasse, como a do gigantepacífico, do grande escritor pater-nal que se chamou Ferreira deAraújo.

Rio, setembro de 1900.(Gazeta de Notícias, 21-9-1900).

CARTA A FEL1X PACHECORamiz Galvão.

Prezado colega e amigo Felíx Pa-checo:

Beijo-lhe as mãos, agradecido,pelo mimo com que me obsequiou:a segunda edição do formoso Dis~curso pronunciado em 1912, quan-do se inaugurou a herna de Fer-reira de Araújo no Passeio Público:

Essa homenagem, prestada aoinsigne Araújo, o maior jornalistada sua época, representa um atode justiça que eu estava no casode aplaudir totls vtribus, porquetrabalhei .a seu lado e sob sua dire-

ção por espaço de nove anos naGazeta ãe Notícias, de 1890 a 1899.

Já eu conhecia a Araújo desdeos bancos da Escola de Medicina,onde ele se matriculou em 1862,sendo pois meu veterano em 1863,quando ali iniciei os estudos.

Desse tempo dataram as nossasrelações de amizade, que depoisse estreitaram em Petrópolis, de1882 a 1889, quando ali passávamoso verão: eu, preceptor dos principesfilhos da princesa D. Isabel, — eleproprietário e exímio redator-che-fe da Gaseta. As minhas filhas eas de Araújo eram deveras cama-radas.

Graças a estas excelentes rela-ções, fui pedir-lhe trabalho emprincípios de 1890, após a procla-maçào da República. Nessa oca-siâo me faleciam meios de vida,porque, para o serviço da educa-ção dos netos do imperador, eu,que lhe era muito grato, tudo sa-crificara: o meu cargo de Diretorda Biblioteca Nacional e a minhacadeira de lente da Escola de Medi-cina, conquistada em concurso.

Araújo, gentilíssimo, acedeu depronto à minha situação precária,dando-me a função de colaboradorda Gazeta, e pouco depois a de se-cretário da Redação, quando va-gou esse lugar. Neste posto me con-servei até 1899, — data da minhanomeação para diretor do AsiloGonçalves de Araújo.

O convívio de nove anos com oinsigne jornalista permitiu-me tra-ta-lo de mais perto e conhecer-amplamente todo o seu valor comopaladino da Imprensa, à qual eledera nova feição, como brilhante-mente assinalou o meu ilustre co-lega no seu Discurso.

Os conselhos de Ferreira deAraújo foram-me sempre utilissi-mos. Acode-me à lembrança umexemplo, entre muitos outros.

Em 1890 era eu Já Diretor daInstrução Primária e Secundáriada República, por indicação do be-nemérito Benjamim Constant, —e nessa qualidade colaborei no de-creto, que então reformou o refe-rido serviço.

Em semelhante ocasião, às cri-ticas feitas por um ilustre educa-dor brasileiro tive de responder pe-Ias colunas na Gazeta e, como erade meu dever, submeti o meu longoartigo à apreciação de Ferreira deAraújo.

Pois bem; este o aprovou, masaparando-lhe as arestas e supri-minão todas as expressões maisou menos azedas da minha calo-rosa argumentação. Um ótimo con-selho e um auxílio valioso que meprestou. Era o seu feitio, quandodiscutia todos os altos assuntosde que se ocupava na grande folha,que fez época como se sabe.

Tinha Araújo o dote precioso dechamar para Junto de si os bonse novos talentos daquela geração,como no seu Discurso o meu dignocolega acentua. Feita exceção, éclaro, de quem escreve estas li-nhas, estão ali enumerados alguns.Peço-lhe só permissão para lem-brar os nomes esquecidos de CoelhoNeto, Luiz Guimarães Filho e Pe-dro Rabelo, que colaboraram naGazeta por esse tempo, e que todostrês, ou pertenceram à nossa gloriosa Academia, ou ainda hojeconstituem ornamento dela.

Por falar em Academia, ocorre-me esta leve observação. Sabe omeu dileto amigo que Araújo foiconvidado em 1897 para a funda-ção da nossa Companhia, e que eledeclinou desse convite, alegandoque não tinha feitio Se acadêmico.Porque não aludiu a esse por-menor?

Salvo isto, a luminosa homena-gem prestada a Ferreira de Araújoé completíssima e constitui novotestamento do seu talento e do seucaráter adamantino.

Pela reedição do Discurso aceitepois um fraternal abraço e felici-tações do admor. e companheiroobrigado. — Ramiz Galvão.

(12-11-933).

FERREIRA DE ARAÚJOCoelho Neto.

Quando ontem o vi, longamenteestirado entre cirios, na sala nuae triste da casa em que morreu,tive a impressão de achar-mediante do corpo formidável de umgigante como o que encoutrou S.

Ferreira de Araújo

Patrício na terra inculta da Ir-landa.

A moléstia deu-lhe ainda maisvulto, a Morte fê-lo ainda maior;aquele corpo cresceu na agoniacomo o sol parece crescer no oceano.

O homem atorreado impunha-secomo um farol — a sua cabeça do-minava a multidão e a claridadedo seu espirito, simples como aprópria luz, espalhava-se ilumi-nando o caminho com o esplendorsereno da verdade.

O homem que ontem caiu foi oreformador da imprensa brasileira.

Realisando o tipo perfeito dojornalista moderno. Ferreira deAraújo era o espírito do seu jor-nal: èle animava todo aquele gran-de corpo doutrinando no artigo es-sencial, comentando um fato nacrônica, causticando um ridículocom uma ironia, animando a vidaartística com o influxo benéficodos seus folhetins, respondendo,às ocultas, com a esmola se via cor-rer uma lágrima, acudindo à llçaprontamente se o chamavam àpeleja.

O seu gênio subdividia-se comoa luz, e, em toda a parte em queaparecia fulgurava: aqui mos-trando o perigo, ali descobrindo ovício, além desnudando o gro-tesco, mais longe aquecendo comoo raio de sol ou queimando como umcautério.

Foi ele que começou a faze» aemancipação espiritual do povopondo o jornal na mão do opera-rio e transformando a folha, dan-tes sorrateira que nos entrava porbaixo da porta, como a medo, nacotovia da alvorada voando à pri-meira luz, por todas as ruas, anun-ciando, glorificando e animando avida.

Foi ele o protetor dos intelectu-ais. Conscio da sua grandeza nuncatemeu a concurrência e, longe decercar-se de urzes rasteiras, quizarvores fortes; longe de recrutar,como Sir John, os cambros, os man-chegos, os estropiados para o seubando, fez como Gedeão — esco-lheu os mais fortes e, nem por issosucumbiu vencido, impoz-se cadavez mais e conseguiu a glória ter-na de deixar uma legião.

A bondade do seu coração inefá-vel foi a sua resistência maior —o homem intrépido na luta tor-nou-se resignado no sofrimento, obatalhador, sentindo a morte pró-xima, lançou um olhar à espadacom que combatera e não empa-lideceu de medo nem se arrepiou deremorso — na lâmina não haviauma só gota de sangue injusta-mente arrancada porque como Du-randal, ela nunca se prestara senãoà defesa do Justo e, cravando-ano solo, ainda achou no seu punhoa cruz porque foi com ela e bei-jando-a que ele se empenhou nascampanhas em favor do Bem dasua Pátria, e foi com ela que seachou na hora suprema quandosentiu que sua alma se despregavado coração para o grande vôo àregião da Esplendida Verdade.

Doce mestre com que lágrimate há de chorar o mais humildedos teus discípulos?

Repouza no seio claro de Deus,tu que d'Ele saiste, como um mis-sionário de Amor vindo trazer &nossa terra o Evangelho sublime doverdadeiro patriotismo.

(Cidade do Rio, 22-8-1800).

GALERIA JORNALÍSTICAFerreira de Araújo

Se este homem não é o que sechama um feliz, então desconheçoque sorte de ingredientes devemcompor a felicidade.

Co-proprietário e redator-chefeda folha de maior circulação doBrasil, moço, dotado de bom sensoprático e de índole moderada, bem-quisto, cortejado, adulado, talen-toso, isento da tarantula de am-bicões políticas, abundante emnickeis, amante das belas cousas edas cousas boas — o Dr. Ferreirade Araújo parece navegar serena-mente sobre o mar tempestuoso davida, derivando sorrateiramentepor entre os arrecifes e bordejandoà cate de ventos propícios, tendopor bússola o senso e por leme obem humor.

Digo parece, porquanto a ven-tura neste pedaço de mundo velhoque habitamos é qual delicada sen-sitiva, que murcha ao mais levecontato de corpo estranho!

Quem sabe lá se o homem nãotem no dedo mínimo de um péalgum calo irredutível e intransi-gente, o qual sempre venha turbara doce beatitude de sua alma?

Machado de Assis mostrou algu-res que muita vez a felicidade es-tá em um par de botas.

Pode-se também provar que ou-trás vezes a desgraça provêm deum bom calo.

Quem sabe lá se em seu abdomeme partes circunjacentes não existealgum excesso de banha, esta causaatroz, medonha, horrosa, chamadaíecitio adiposo — monstro gordu-roso que aniquila as ilusões, com-promette a plástica, materialisao amor, embota a imaginação, ge-ra o tédio, amortece os nervos,produz o egoísmo, transforma D.Quixote em Saneho Pança e fazsupor que o homem descende, nãodo macaco, mas do porco?

Todos concordam em achá-lolhano, afável, benevolente, e des-presumido. Demasiadamente, tal-vez. Aquela inalterável Igualdadedo humor e da amenidade no tra-to para com todos que se lhe apro-xlmam, sejam amigos ou estranhos,bons ou maus, inteligentes ou nés-cios, deixa transparecer sob a suaaparente bonhomia certa doze deindiferença diluída em doce pessi-mismo e amável misantropia.

A serenidade é predicado valiosopara o jornalista; mas não assim acomplascência e longanimidade sis-temáticas, que acabam por amole-cer a energia, destruir a resoluçãoe a franqueza.Dulcíter in modo, fortiter in re.

Como escritor, Ferreira de Araú-jo notabilisou-se com as suas Cou-sas Políticas e Balas de estalo,conquistando reputação sólida ebrilhante. Estilo bora enfant, sóbriode imagens e limitado no vocabu-lário, mas agradável, bem equíli-brado e sobretudo afinado pelo dia-pazão dos leitores. Deita artigo defundo com a familiaridade do bur-guez de paletó branco e chinelas detapete, a discretear depois do jan-tar. Tem golpe de vista pronto ecritério seguro para apreciarhomens e fatos da política mili-tante. Raras vezes remonta-se aconsiderações transcendentais, e asua proza não deixa de roçar devez em quando pela banalidade...Mas como evitá-lo na tal literaturapolítica, esta cousa chata e chilraà forca de ser cultivada por todacasta de prumitivos?

Neste gênero, se gênero existe, éimpossível mostrar originalidade.O artigo político é a "mãe Joana"da literatura.

Prefiro-o nas balas de estalo. Aivê-se a sua nota pessoal, que é ochiste e o bom humor. Engenhosoem descobrir o lado cômico dosassuntos do dia, põe-n'os em relevousando de um processo muito sim-pies, e por isso mesmo muito difícil:aplica com muito a propósito egraça certos ditos e facecias vul-garíssimas, destas que ouvimos atodos os instantes da boca do Zé-povinho.

O efeito é seguro, e as suas baiastornam-se em pelourinhos de umridículo macio e deshervado, maspor isso menos temível.

Quem há no Rio de Janeiro queao vêr o ilustre sr. comendadorMalvino Reis, não murmure entredentes:

— "Aquele comendadô Marvlnoé um marvádo! Ele finge st bomhome, mas é por cárculo!?"

Je pouvais encore écrlre certa!-nes petites choses sur Mr. Araújomais je n'ai pas d'aspace plug'Dizent qu'il est un bon patron eiqu'il goute de soupe macarroni11 est passloné pour Paris et souesprit est parlsien de Ia jauned'oeuf. Aussi il a une eau-de-vicspeciale pour ce qu'on appelle enjargon brésilien — grandes poissemsde jupe. Ses haines principales sontpour Mr. Hudson, appelé Ia Musedu Povo, pour Ia Feuille Neuve dcMr. Emmanuel Mouton, a laquellt:il dirige tous les à jours de gráceapesées et des colibets qui íontaracher cuir et cheveux. On ditqu'il touche bien piano, mas quaiuton eui prie ca il reste dàmé.

En somme, tirant tout ce que nepréte pas, il est beaucoup bon.

Zeca (A Semana).

Ferreira de Araújo(Conclusão da pág. 114).

título de Opiniões, uma série tioartigos, cuja relação é a seguinte:

Barbosa Lima — 13-3-95.O Rio Grande — 20-3-95.A Escola Militar — 21-3-95.O Rio Grande — 6-4-95.Ainda o Rio Grande —10-4-95.As indenizações — 17-4-95.

A imprensa Paulista — 1 demaio de 1896.A Mensagem — 9-595.Rio Grande... for ever — 17de maio de 1895.Campos Sales — 22-5-95.

O caso do Ministro — 29-5-05.Boatos e apreensões — 5 dejunho de 1895.A Balburdla — 15-6-95.A Paz — 18-8-95.O empréstimo externo — 22de agosto de 1895.A temesse — 28-8-95.Depois da pacificação — 4 desetembro de 1895.A anistia — 5-9-95.Afonso Celso — 20-9-95.Afonso Celso — 23-9-95.Afonso Celso — 2-10-95.Coisas do Rio Grande — 6 deoutubro de 1895.A Restauração — 9-10-95.A Restauração — 15-10-95.A Restauração — 27-10-95.Contra palpos — SO-10-95.

Algumas Fontes Sobre Ferreira deAraújo.

Autores e Livros — Vol. 9.",n.° 12 (7-11-948).

Contem:História do Jornalismo ms

Brasil: Ferreira de Araújo.Ferreira de Araújo (nota bio-

cráfica)Bibliografia de Ferreira ce

Araújo.Algumas fontes sobre Ferreira

de Araújo.Camões e os Lusíadas, de Fer-

reira de Araújo.O Divórcio e o Senado, de

Ferreira de Araújo.Do Artigo de apresentação da

Gazeta de Noticias - Lulú Sênior(Ferreira de Araújo).

Barbosa, Rui — A imprensa— 22 de agosto de 1900.

Bilac, Olavo — Ferreira deAraújo, in "Crítica e Fantasia"pág. 221.

—Bilac, Olavo — Introdução aIronia e Pieãaãe.

A Cigarra, 6 de junho de 189a(nota com retrato).

Dom Quixote (várias cahges2-8-1895, 8-8-1896.

Gaícria Nacional — vol. 1.°.pág. 92.

Gama, Chlchorro da (A.c.) —Escorços Literário — página 162.

Gazeta Literária — Nota sobreCoisas Políticas — 20 de março de1884 - pág. 230.

Mequetrefe — Retrato — ja-neiro de 1891.

Pacheco, Feüx — Discurso nasolenidade da inauguração do bus-to de Ferreira de Araújo no Pas-seio Público — Almanaque Garnierde Janeiro de 1914 — pág. 447.

il Semana — 13-6-1885 e21-8-1688.

Semana ilustrada (váriascharges) — 8-1-1879, 30-8-1879,1-11-879, 10-7-880, 2 de outubro de1880 e 23 de outubro de 1880.

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Dezembro de 1950 — Vol. XI, n.° 12 AUTORES E LIVROS Página 123

Alguns trabalhos de Ferreira de AraújoUM JORNAL NASCEI... Se QUereS. nolS. Viver a nilS tn parir, nnr pies nas mPsmoK f>nrtril. mais nn cnu au mia n nraln mmn n Tma iralhinltn Knhn nnnea.UM JORNAL NASCE..

Ferreira de AraújoVm jornal nasce com a idade do

espírito de seus redatores.Idade do espirito, digo, porque

embora seja tão íntima a liga-rão entre a matéria e o espirito,nue alguns fazem depender estedaquele, ha homens cuja alma senão amolga a rugas do corpo, comohá moços cujo espirito envelheceprematuramente.

A Gazeta de Notícias tem vintet ., tantos anos.

Quer istodizer que ainda temcoração para falar de amor àsmoças, ainda sabe rir com os ra-pazes e apezar de recém-nascida,sabe talvez já ter Juizo como osvelhos, mas a seu modo.

Mas realisa então o ideal daventura neste mundo, a Gazeta?Ama, ri, pensai Parece muito! Poisxião é! Se o que eu deixo dito se re-ferisse ao indivíduo Fulano de tal,leria razão de ser a dúvida, masrefere-se a um corpo coletivo e asoma dos sentimentos, da alegriae do juízo de todos há de dar coisadigna de se ver.

Suponhamos que o mais ajuizadode nós quer impedir que o outroerga um altar à memória da víti-ma honrada de uma grande in-nimia, porque os algozes que fi-caram vivos são freguezes e deixammais lucro que o pobre diabo quejá não dá mais lucro a ninguém.

Revolta-se o entusiasmo do poetanue quiz entoar hossanas; um ar-gumenta com sentimento, e outroargumenta com a caixa, mas comoapezar de ter já algum juizo, temainda também um pouco de co-ração, cede, com restrições; porexemplo, chega-se a um acordo ediz-se que a tal miserável infâ-mia que fez cair uma vitima, 'um... negócio infeliz ""

Talvez nem todosGazeta ése tratar iquementosveze»,

-

pri

Se queres, pois, viver o que teresta, se queres gozar o que apren-deste, faço como eu que ainda es-tou aprendendo; alija a pesadacarga dos cuidados e ri, que estemundo só é um vale de lágrimaspara quem não quer rir.

Não tiveste o berço bafejado pelaventura? Passaram já por ti osdias lentos da miséria? Viste ba-quear os que amavas? Mentiram-teao coração? Tocou-te a infâmia?Um amigo chavou-te um punhalpelas costas, quando te abaixavaspara lhe arredar as pedras do ca-minho? Pois guarda no peito a sau-dade dos que morreram e espera,que ainda serás com eles; esquecea mentira, despreza a infâmia,perdoa ao ingrato, ama o berço pu-bre, o canto da terra em que nas-ceste; abençoa a miséria passada,se foi honesta, abre tua alma aossentimentos bons, família, pátria,humanidade, Deus, e deita fora atua pretenclosa experiência, que denada vale, que para nada serve, anão ser para dlstilar fei na taça denectar que tens de beber.

Sê bom e justo, e viverás feliz,o que é melhor do que viver muitoe a choromingar.

A Gazeta de Notícias apresenta-seassim. Não é isto um programa, éum retrato. Não diz o folhetim oque nós pretendemos fazer, diz oque somos.

De onde viemos? Da movidade!Que somos? A mocidade! O quequeremos? Viver, mas viver moços,rindo, amando, crendo no que ébom e justo, respeitando o quemerece respeito, despresando o quedeve ser despresado, erguendo al-tares a quem fôr digno deles, aba-tendo ai estatuas doi falsos Ídolos

cado por eles, nas mesmas condi-ções de ato Idêntico praticado pornós, fazendo pesar em favor donosso todas as atenuantes e contrao deles as agravantes todas.

— Você me conhece?Fosse a gente a responder, apro-

veitasse a mascara para confes-ar-se ao menos uma vez cada ano,como exigem os mandamentos, esairia para a rua muito podre quepensa estar bem escondido. E' tal-vez por isso, por pura cautela, queo carnaval é quasi unicamente afesta dos moços, dos que ainda nãotêm história. Que se pôde ter feitoaos vinte anos? Juras falsas? E'que não são tão falsas, pois no mn-mento em que foram feitas, dita-va-as a sinceridade, fosse emborauma sinceridade feita de excltabi-lidade nervosa.

Estabelece-se uma corrente elé-trica entre uns olhos doces, doces,e uma pele de rapaz em que o san-gue não pôde estar parado; e vai osangue, e põe-se a girar, a girar,e vai ao coração, e vai ao cérebroe desce à lingua, e sai em protestosde amor eterno. Depois outrosolhos, e as mesmas juras, sempresinceras e sempre esquecidas. Quemnunca as fez, quem tem a consciên-cia limpa atire a primeira pedraaos que a fazem. E ai! dos que nãofizeram! ai! dos que não foramsinceramente mentirosos. Da massados que muito mentiram é que sefazem as criaturas que não men-tem nunca, porque uma cousa éter ouvido dizer que não é bommeter a mão no fogo e outra cousaé ter metido a mão no fogo e sa-ber o que dóe. E' que tudo nestemundo tem a sua contra-partida.Se houvesse entes privilegiados aquem a natureza tivesse concedi-do a faculdade de mentir, se aos

nao chegasse a sua" mentirem aag&aaiMHuM V* mentem

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Tirta.ru-

estúpida aria melhormento, <mlo Inverso: ,lágrima faz _riso? lato ao 1

Dizem quando o __.tarda a noltei quando a ..„ .,_^,.brocha: amanha estar* murcha!pensa no inverno qua Ntlno veriol pensar na morte, em ve«de gozar a vldal Mai para que «dt*antar o relógio Inexorável? Tempovirál Deus deixa cate sobre nósuma chuva de flores, e luzes e ri-sosl Pois, vamos recebe-la no co-ração! Amanha...

Amanhã, provavelmente, toma achover!.

Nio tem jutzo lato? Mas o Juizo,respeitáveis velhos, homens de ex-pertencia, é uma coisa relativa, émesmo a coisa mais relativa dessemundo I Tu que tens sessenta anosque tens o espirito dez, cem vezesmais velho que o corpo, tu, quetanto viste, que tanto te enganaste,pensas que tens a ciência da vida?Olha que se o pensas, ainda tens osbeiços mais ingênuos que os meus!Olha que a tua experiência quetalvez alguma vez foz-te ao abri-eo dos laços de outrem, não teabriga de ti, sizudo velho!Pensas que te não enganas, In-falivel! repara que infalível só é opapa, e Isso mesmo é só há unstempos a essa parte; antes enga-nava-.se como qualquer um de nós.

matarem

moe nomiaoíitemos a torvar-sestímulos de nitu_sim qúe parte daquela Indulgên- {da a que acima me referi, nós a,congregamos em julgar aqueles aquem queremos bem: entre esses:há alguns a quem queremos bemdeveras, porque lhes queremos poreles mesmos e somos capazes deversa — nem sempre — algu-mas vezes entre pares que nãopassaram pela igreja e nunca já-mais entre sogra e gênso, Ha ou-tros a quem julgamos querer bem,mas de quem gostamos por nós imesmos pelo bem que nos faz anós o querer bem a eles. E' a estesque mais perdoamos, Justamentecomo a nós mesmos, e precisamosfazê-lo para justificar a nossa fra-queza aos nossos próprios olhos.Ao Invés disto, somos severos, se-veros, até a crueldade, para comos que-nos tiram parte do nossoquinhão de sol. Podemos chegarmesmo a condenar um ato prati-

uno» uu afivelaconftfine * a sua mas-cara de patriotismo, de dedicaçãodé ariior; a mascara da virtude, ada religião, a da caridade. Nio selembram do "cólera", que aindahá pouco flagelou as populaçõesda margem do Paraíba? Era umamascara com que hábil artistaprocurava representar a utilidadedo Instituto Sanitário. NSo se lem-bram de um decreto que fez a Ca-sa de Correção prisão política? Foiuma mascara que se fêz para apobre Constituição, que é a cria-tura que mais se mascara em to-dos os países do mundo e em todasas estações do ano, desde que háconstituições. Somente essas são asmascaras tristes. Eu prefiro, e mui-to, as mascaras de verdade, aS mas-caras do carnaval.

Há raparigas que, mascarando-se, fazem crer que precisam de es-conder o rosto para mostrar as per-nas. E' uma doce Ilusão, que con-vém respeitar, porque dela nascealegrias comunlcativas. Não há

mais, ou sou eu que o creio, comotodos os velhos saudosos do seutempo, aqueles bailes a que ia tô-da a gente, mas onde realmente sóse encontrava gente que queria seencontrar. Fervia a Intriga, comrancor e sem maldade, a Intrigaque fazia rir, entabolavam-se co-nhecimentos, que às vezes iam pelaquaresma fora, e outros acabavamem decepções, brincava-se, ria-se,talvez um pouco demais, talvez atéà fadiga, e à ruina de saúde, mascom um "entrain" de todos osdiabos, porejando vida e mocidade,transmudando alegrias, e o maiscompleto descuido do dia de ama-nhã. Depois o carnaval tornou-semais pretencloso. Organlsou-se,em sociedades, teve idéias, teve es-pírito fixado de antemão em pro-grama, e saiu à rua precedido declarins e de anúncios. As mulheresexigiram lugar em um carro ale-górico, muito chie, em que elasficassem de modo que toda a genteas vissem bem, — mas o que sechama ver bem? — e os homensmandavam distribuir o espírito,impresso em papel de cores. E' pos-sível que este carnaval de hoje sejamelhor que o carnaval de meu tem-po; naturalmente eu não lhe achotanta graça, não só por não sero meu, mas principalmente porquenão sou Tenente, nem Feniano,nem Democrático. Pode bem serque a diferença não esteja no car-naval, esteja na minha idade, eque, de vinte para quarenta, e...

A propósito. Li há dias nas " Fes-tas e tradições populares do Bra-sil", de Melo Moraes, um artigomuito interessante sobre o antigocarnaval. Nele se fala nas sumi-dades carnavalescas e nos masca-ras e nos dominós que iam ao Li-rico, e em tudo qúe foi a nossa fe-licidade e nossas alegrias nessestempos que não voltam. E fala-setambém na Petalógica, do largo doRocio, a Petalógica do Paula Britoonde se reuniam homens de letras,

flor da boêmia literária, deb tempo dispersou como

flores. Para mui-aqueles livros na-

nomes, quenós cora-

em nossa his-que os co-

ios bem,détò-

entre elesglorioso so-

„_Jl'àf dá-me«nucas contas

que tem avtaát mo*

0 livro dèo nome do

escrevosó para ele,

e entendendo,' «étMo. Dizfuie^S, esse meu"ms Mascaras

Devia enUtotnos, para se

IHÍrilM'30 eom 40, que_ja de então para 'cá...aldade do JoSo Velhinho...

AOS BABADOSj ¦> >l ialií Sênior.

Eu também quero contar, nãocomo se fez a Gazeta, mas comose fizeram os gazeteiros, e maisumas coisas que sucederam nessestempos. O Manuel Carneiro tinhao Mosgutto, em que colaboravacom ele, asslduamente o Ellsio, am-bos guarda-livros. Quando o nú-mero do Moscutto coincidia com asalda de paquete para a Europa,os guarda-livros ficavam entala-dos com a correspondência e cha-mavam a serviço os batalhões dereserva, que tinham os seus quar-tels-generais na caixa do teatroS. Luiz, onde imperava o FurtadoCoelho.

O soldo de campanha era substi-tuido por um ponche, arranjadopelo Manuel Carneiro, que enten-dia disso como um homem. Compa-reclam a esses serviço, lá pela voltada meia-noite, o Visconti Coaracy,o Henrique Chaves, o João Velhl-nho, o adorável boêmio que sechamava Abranches Galo e a ml-nha pessolnha. Ia-se ao ponche enos intervalos cada um escreviaalguma coisa, e o número de oMosquito estava feito. De uma vez,o Coaracy escreveu uma parodia daJuâia.

O João Velhinho tinha conse-guido dar corpo a um dos sonhosde sua remota mocidade, com-prando a crédito um chapéu doChile, e o Henrique chamava-lhepor isso o Chile, alcunha que pegoue durou até que a idade o substituiupela alcunha atual.

Na parodia, Coaracy descrevia asala da redação do Mosquito, de-pois do ponche, onde o Sr. TomazRibeiro diz:

E ao fundo, Jerusalém,a cena que o poeta tinha presente

fê-lo dizer:E ao fundo, o Chile a dormir,

o que dá idéia do uso que do pon-che tinha feito essa grande poten-cia sul-americana, nossa irmã dealém dos Andes.

Por esse tempo, apareceu o Diá-rio ãe Notícias. Isto é que foi umrico jornal. Não tinha capital, nãotinha casa, não tinha redatores,não tinha nada. O fundador o quetinha era topete.

Tratou a impressão da folha comuma tipografia da rua GonçalvesDias; pediu emprestada ao donoda tipografia uma salinha de pou-cos palmos; recrutou a redação noMosquito e no S. Luiz e andavapor ai a arranjar também por em-préstimo jornais do estrangeiro edas províncias. Eu deitava artigossobre higiene, com o título modestoLições ao povo, por sinal que os tra-dúzia quasi literalmente de uns li-vrinhos de Meleschott, o que menão impedia de os impingir comooriginais, e fiz folhetins sobre umacompanhia lírica de que era te-nor o Lelmi.

O João Velhinho soprava-me pa-ra esses folhetins, umas coisas quetinha aprendido em Lisboa, fre-quentando o S. Carlos. O referidoJoão Velhinho também dava 11-ções ao povo sobre economias po-líticas, provàvelmtínte pelo meu sis-tema de Maleschott, e andava afli-to por escrever sobre química, pa-ra utilizar um Pelouset Frémy, queera o orgulho da sua biblioteca. OHenrique fazia a crítica teatral,em que Já era forte no Diário deNoticias, de Lisboa. Lembro-ceque de uma vez embasbacou-mecom uma frase que me ficou gra-vada no espírito até hoje como aúltima palavra do gênero. Falandode uma peça de Scribe, disse queFurtado Coelho tinha apresenta-cão de ministro em papel de mlnis-tro. '

No fim do primeiro mês, o jornalfazia .sucesso e nós que éramos re-datpres revteores ao mesmo tempo,não chegamos a saber se tinha en-trado algum dinheiro para caixa.

Consolamo-nos sabendo que des-sa ignorância angélica comparti-lhava toda gente. Vm cidadão, oCltabamedis, que era caixa, admi-nistrador, guarda-livros e não seio que mais, também não tinha or-denado ; irias o proprietário da fã-lha tinha-lhe aberto conta hohotel, e o homem que era gordocomeu em trinta dias cerca de seis-centos mil reis;

E ainda se sacrificou porque naotinha ordenado. Que jóia de admi-nistrador!

No segundo mês, a mesma mú-slca. Eu comecei a achar a coisamonótona e puz-me ao fresco. OManuel Carneiro e o Ellsio já poresse tempo andavam matutando emfundar a Gazeta e puzeram-se afazer-me a corte. E eu que nãoera soberbo derreti-me todo comeles, e ficou assentado que quandofundassem a folha podiam contarcomigo.

Continuei a colaborar no Mos-quito. O Diário de Notícias teve seusdias de sucesso, principalmentequando publicou as façanhas dofeiticeiro Jucá Bosa e por fim de-aringolou.

Fundou-se a Gazeta.Achamos a casa da rua do Ouvi-

dor, onde ainda estamos.Tratou-se de dar seis contos de

luvas: apareceu logo um freguezque ofereceu dez, pelo fato de seroficial do mesmo ofício e quererser amável conosco; como o homemque tinha tratado conosco era no-nesto, avisou-nos, marcando prazopara entrarmos com o dinheiro. Aempreza ainda não estava organi-sada, mas o Ellsio então já eraabonado e explicou-se. O ilustrecolega que pretendera auxiliar-nos,impedindo-nos de dar esse dlnhel-rão de luvas, tentou então comprar

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Página 124 AUTORES E LIVROS Dezembro de 1950 — Vol. XI, n.° 12

Alguns trabalhos de Ferreira de Araújoa casa para por-nos na rua; mas ocontrato era seguro e ele teve deresignar-se a ver a Gazeta apare-cer-lhe ali mesmo às barbas.

Ainda lhe restava uma esperança.Vendo-nos desfalcar em seis con-tos o capital de trinta, só em luvaspara casa, éle imaginou que iamosgastar o resto em luxos e teve umdesapontamento quando nos viunos primeiros dias receber assina-turas em uma porta velha, postasobre duas barricas vasias, substi-tuidas triunfalmente dias depoispor um balcão comprado em se-gunda mão, O homem cocou o na-riz, considerando-se roubado.

Na Gazeta as coisas não corriamcomo no Diário.

Desde o princípio todos tinhamordenado, todos, menos eu, graçasa Deus. E que então eu tinha a clí-nica a sério — a fé é que nos salva— e combinamos que eu escreveriafolhetins quando me aprouvesse,sobre higiene, quando me apeteces-se, mas não faria estada no jor-nal, não teria obrigação efetiva,ao passo que o Manuel Carneiroabandonou tudo para dirigir o bar-co e o Elisio andou a distribuir osseus lugares de guarda-livros pelosamigos, guardando para si um só,por tal sinal que guardou justa-mente o melhor; mas aquilo erasair do banco e vir para a Gazeta,todo o resto do dia fazer econo-mias. O Henrique continuou na suaespecialidade de critica e com talgeito se houve que tivemos logoanúncio de teatro; o que é a sur-premo aspiração da crítica impar-ciai. O João Velhinho não entrou,logo, o que me pareceu uma indig-nidade de tal ordem, que algumtempo depois estando no Globonos desancou, o miserável, com tò-da a química de que era capaz.

A nossa primeira campanha sé-ria foi a dos Lasaristas. A políciatinha proibido a peça e nós qui-zemos faze-la representar em no-me de uma sociedade, sem vendade bilhetes; somente estes eramsubstituídos pelos recibos dos só-cios. Muita gente quiz ser sócio, eentre outros o presidente do Con-servatório, que mandou um tipoqualquer entrar para a sociedade epela facilidade com que foi admi-tido concluiu que a ordem policialestava burlada, e a policia proibiua festa. Houve pancada e a má-quina da Gazeta teve de trabalharo dia inteiro para dar vasão ásencomendas.

Resultado, estávamos tirandocinco mil exemplares por dia, nes-ses dias angustiosos tiramos dezoitomil e terminada a questão o pú-blico tinha tomado gosto ã folha eficamos com onze mil diários.

Bem bom, e Deus dê saúde aoSr. Antônio Ennes, autor da peçae ao presidente do Conservatório,que se lembrou de a proibir.

Algum tempo depois o ManuelCarneiro desligou-se. Eu tomei con-ta do barco com um medo, só com-parável ao que tinha tido porocasião de certos exames, quandoos lentes tinham má cara. So-mente fiz como o Elisio com o ban-co e não deixei a clínica.

Raio de vida que vivi dois anospreso à Gaseta e com uma clínicaque se parecia com a nossa la-voura extensiva, tendo de percor-rer os quatro pontos da cidade paraacolher principalmente bençãoquando os doentes não iam destapara melhor. Ao fim deste tempoas balanças animadoras por umlado, e por outro o Hilário de Gou-veia, que me prevenia amigável-mente de que a continuar assim euficaria cego, o que me faria um -certo transtorno para escrever fo-lhetins e ver doentes, resolvi pou-par a vida de meu semelhante, me-ti o diploma na gaveta e fiquei ga-zeteiro para o resto de minha vida.

O Elisio tinha deixado o banco,quando saiu o Carneiro; quando eudeixei a clínica, como ele tinha des-coberto o Júlio, que Deus fizera àsua imagem e semelhança, — nãoa imagem e semelhança de Deus, ado Elisio — foi para a Europa edepois para a China e dai em dian-te viveu sempre e tuna vida de cor-roplo.

De uma vez apanhel-o cá, e ras-pel-me eu. Voltei, raspou-se ele. Efiquei à espera que ele voltasse e«orno nunca mais voltou tornei a Irretemperar a fibra, e dessa vez comtenção de Ir por uns tempos fora.

Não durou tanto como eu pensa-va a folga e cá estou outra vezno cepo, curtindo os meus pecados,lembrando-me do que fomos todoshá vinte anos, descuidosos, alegres,vivos, e vendo em redor de mimo Henrique calvo, o João Velhinhosem química, a não ser a que apli-ca em si para conservar os cabelospretos, mas com esta consolaçãode que por dentro somos todos,quasi tão moços como éramos en-tão.

{Transcrito da Notícia de 3 deagosto de 1895. Gazeta de Noticias,21-9-1900).

.MACAQUINHOS DO SOTAOJosé Telha

Se este jornal de hoje não esti-vesse destinado a ir para a his-tória como quem vai cuidar da suaobrigação, eu conheço um sujeitoque a estas horas, ao invés de es-crever estava mas era no meio darua a dar vivas.

Benza-me Deus, há oito dias nãome ocupo em outra coisa. De ma-nhã, quando o meu despertadorme entra pela janela do quartoa avisar-me de que é tempo de ircuidar da vida eu, ao invés defazer o sinal da cruz, grito vi-vas a Patrocínio! Ao puxar acorrente do chuveiro, a bulha da-gua parece-me música, e eu bra-do viva Joaquim Nabuco! Ao in-vés de pedir café, saudo o meucompadre André Rebouças, queanda por aí mais contente queum rato a quem se oferecesse umqueijo.

Ao almoço é um berreiro dosmeus pecados. João Clapp, o Sei-xas das Malas, o Ângelo da Revis-ta, o Radical, são o molho de to-dos os meus pratos, cada garfada,um viva; cada gole um hurrah. APrincesa Regente, essa então vivenum sarilho, porque é a minhaquantidade constante, todas as ve-zes para variar: viva o Patroci-nio e a Regente, viva o Nabuco ea Regente, viva o Rebouças e aRegente, de modo que à hora doadormecer, feitas as contas, quemreuniu maior número de votos foia Regente, e é com esse viva queeu fecho a serie e os olhos.

Porque, aqui entre nós que nin-guem nos ouça, todos temos fei-to muito, a começar por mim, mo-destia à parte; que me conste,ainda ninguém gritou viva a JoséTelha, porque o dia do beneficioé a véspera da ingratidão; masisso é porque estão à espera queeu estique a canela para me le-vantarem uma estátua; depois demim todos os beneméritos; masnós todos, se bem me recorde, es-távamos na filiação desconhecida,e ainda Unhamos que suar muitoo topete, quando chegou a regen-te, e sem artigo de fundo, sem con-ferência, sem discurso, dizendosimplesmente aãeusinho ao Sr.Barão de Cotegipe e chamando aS. Cristóvão o Sr. João Alfredo,deu com esta quitanda toda depernas para o ar.

E ao invés das desordens doaprofetas de má morte, o que scvê por essas ruas é festa, festae festa. Os pretinhos receberama notícia domingo, deram vivascomo qualquer de nós, e segun-da-feira foram trabalhar, no quemostram'muito mais juízo do queeu, que, segunda-feira, em boahora o digo, não fiz mais nadasenão dar vivas.

Também, posso gabar-me deque se bem o gozo, é porque ga-nhel com suor do meu rosto. E ogoverno do meu país — viva aRegente! — há de reconhecer aimportância dos meus serviços emais dia, menos dia, cai-me poraí o suspirado hábito da Rosa.

Poderei então morrer satisfeito,exclamando como o outro: Poste-ridade, és minha!

Jornal do Comércio de 19-11-933.

O DIVÓRCIO E O SENADO

Ferreira ãe Araújo

Caiu no senado, aliás por umapequena matéria de cinco votos,o projeto de lei do divórcio. 8a-be-se que o projeto era eminen-temente conservador, pois apenasautorizava essa medida em doiscasos: adultério provado e tenta-tiva de assassinato.

Ainda assim, só permitia o di-vórclo ao cabo de dois anos de se-paração, para dar tempo aos con-juges de bem pensarem a situa-ção em que se achavam, aquelaem que iam colocar-se, e a situa-ção em que ficavam os filhos. Nãoobstante isso foi rejeitado. O quequer dizer que o Senado brasileiroentende que o cônjuge traído éobrigado a pagar durante toda avida a culpa do outro; e que quandoa vítima é a mulher, ela tem derenunciar a toda a esperança defelicidade, a todo bem estar, e fi-car para sempre presa a quema desprezou. Quer dizer mais, que ocônjuge contra cuja vida outroatentou, não tem o direito de pro-curar em sua fraqueza o apoio deterceira pessoa dotada de melho-res instintos.

O Senado brasileiro não desço-nhece que as leis não têm forçacontra as paixões, contra as neces-sidades materiais, mas prefere queo cônjuge que tem razão para di-vorciar-se se entregue ao concubi-nato, constitua família irregular,procrie filhos privados do direitode herdar e de usar o nome de seusprogcnitores.

O Senado teve em sua campa-nha contra a lei moralizadora ejusta o aplauso dos sacerdotescatólicos. E' uma verdadeira aber-ração do espírito religioso o queleva o padre a pregar a indissolu-bilidade do casamento civil, que éleconsidera uma coisa sem valor,quasi uma coisa não existente. Pa-ra as almas dos crentes só háum verdadeiro casamento, é o querecebe a benção do ministro deDeus. Podem todas as leis humanasdecretar o divórcio, o crente con-siderar-se-á casado, e não contrai-rá nÕvàs núpcias, enquanto vivero outro cônjuge; portanto, aosolhos da gente religiosa, a lei dodivórcio não pode produzir efeito,e só se considerarão divorciadosaqueles que obtiverem do SantoPadre a anulação do laço matrimo-

, nial, anulação que aliás é possivelobter em casos mais numerosos doque aqueles a que se referia a leirejeitada. Si os padres atentassema esta ordem de idéias, deveriaser-lhes indiferente que as leiscivis autorizassem ou não o divór-cio.

Mas, não de hoje, mas de hámuito, não só nestas mas em tô-das as questões, o poder católico éessencialmente intolerante. Paraêle o que importa é domínio dasleis que êle dita; o que importa éque os indivíduos se submetam àssuas exigências, que cumpram ospreceitos que tenham as aparèn-cias da religiosidade, que entremno rebanho a risco embora de oempestar.

Compreende-se o padre que dizaos verdadeiros crentes que só ocasamento religioso é válido aoaolhos de Deus, não se compreendeo que diz aos que não crém que ocasamento civil é um concubinato;mas o que de todo brada aos céusé quererem os padres que isso queeles chamam concubinato, não se-j a um contrato indissolúvel.

Não há melo de os convencer queo reino de Jesus Cristo não é odeste mundo, que a obediência aospreceitos da Igreja serve para ga-rantir às almas dos crentes abemaventurança que eles esperamalcançar além túmulo, e que ocasamento civil só entende com avil matéria e cora os direitos dafamília durante a vida terrena.

Os padres sabem mais que bastamudar de religião para que os indi-víduos casados religiosamente en-contrem quem os case de novo; opr6prio sacerdote católico não re-conhece a validade do casamentocontraído perante o ministério deoutra crença, e portanto não podeestranhar que lhe paguem na mes-ma moeda; sabe a facilidade comque mudam de religião os indivi-duos, que não tendo esta ou aque-Ia crença, pouco se importam defigurar como fazendo parte desteou daquele grêmio; mas na sua In-tolerância, pretendem impor assuas leis a todos, pretendem a su-jeição dos que desconhecem a suaautoridade, e por Isso procurampesar todos os meios sobre os quetêm em relação a eles qualquerdependência, e obter da fraquezahumana o que já não obtém pre-gando a doutrina.

Em sua obcessão, o padre nãovè a própria incoerência, não vêque falseia completamente o espi-rito de sua religião. De uma quês-tão de fé, que é e deve ser espon-tanea, faz um melo de domíniomesmo sobre os espírito mais re-beldades às crenças religiosas, equando obtém pela cabala, pelapressão, vitória como esta, procla-ma que a maioria da população écatólica, por isso que a maioriada representação nacional em umadas casas do Congresso votou nosentido de suas exigências. SI sefosse, porém, a prescrutar o pro-cedimento religioso de cada um dosque votaram contra a lei, e dosque votaram a favor dela por se-guirem o preceito de que há coi-sas que são de Deus, mas tam-bém há outras que são de César,talvez o resultado desse examenão fosse muito favorável aos após-tolos da intolerência.

E' o eterno Cré ou morre, modifi-cado pelas circunstâncias, impostopela manha, uma vez que já nãoé possível impô-lo pela força. E'a Inquisição que subsiste, aca»-telada nas últimas trinceiras paraonde a impeliu a civilização, e deonde domina as consciências, es-preitando o lado fraco de cadauma para atacá-lo. Somente, hojeimpõe-se a obediência aos que aprofessam, e pretende-se uma so-ciedade em que há parte que se-gue diversos credos e parte quenão segue credo algum, seja regidapor leis ditadas de acordo comum credo único, ou antes, leis maisrestritas ainda do que algumas queesse credo tem promulgado.

E' aue todos os argumentos queos padres formulam contra o divór-cio cedem diante de uma conside-ração única: si o pedido de divór-cio for dirigido ao Santo Padre.Ora, sem a lei civil de divórcio, oSanto Padre pode anular quantasvezes quizer o casamento religioso,e nos países em que houver casa-mento civil este continuará a vi-gorar para os cônjuges que o Papadivorciou, e si estes contrairemnovas núpcias os filhos que das no-vas uniões provierem ficarão pri-vados de seus direitos civis. E aiestá ao que leva o espírito de in-tolerância: nos paizes em que hácasamento civil, e não há divórcio,

uma sentença do Santo Padre temde ser desatendida pelas autoii-dades civis, e cônjuges divorciado -nao podem contrair segundas nvl-cias, porque a lei civil não lhes per-mite o que a lei religiosa os au-toriza a fazer.

Não há, porém, razão para quese considere perdida esta cam»?.nha. Não há quem ignore que paiaa derrota do projeto concorreu rcircunstância de ser este ano ô deeleições, e que a influência do pa-dre na cabala eleitoral, uma dasmaiores misérias humanas em queêle gostosamente se envolve, aindaé considerável. Apelando para oespírito religioso de uns, para oegoísmo daqueles que, sendo bemcasados, não vêm o martírio dosque não têm igual felicidade, paraas pequenas ambições destes e pa-ra a incapacidade manifesta da-queles, o Padre pacientemente fez oseu trabalho de formiga, e dá-seas aparências de apóstolo de umacrença, quando não é mais que osoldado de um partido político, quotanto maneja as armas humanasda intriga como as divinas dapromessa de um mundo melhor.promessa que facilmente se trans-forma em ameaça, sedução que nãoraro apela para o terror.

Mas, a opinião está formada, ea lei há de passar. E seria estranhaque não passasse em um país e sobum regime que libertou a Igrejade todas as peias que lhe impunhao regime anterior que aliás obede-cia aparentemente às ordens deRoma. Aí -.'stão reabertos os con-ventos, e o governo não mais co*bica os bens das ordens religiosas;aí estão restabelecidas as práticasdo culto externo, que o impérioproibiu; aí está a Igreja livre naescolha de seus ministros, senhoraabsoluta do campo em que se de-ve exercer a sua ação.

Não é provável que os homensque representam a nação sob tairegime, que pôs em prática todasas tolerâncias para com a Igrejacatólica, como para com todas asoutras, se resignem a ser vitimasda intolerância de uma delas, apermitir que a liberdade religiosaque decretaram, se exerça princi-palmente para ferir e coarcitar asua liberdade civil.

(Revista Brasileira, 1-8-1896).

Este último., número ãe Autorese Livros, deliberamos fazê-lo du-piamente consagrado ao jornalis-mo brasileiro. Primeiro, escolhe-mos para objeto de nosso principalestudo uma figura impar ãa im-prensa nacional, aquele que refor-mou o nosso jornalismo — o gran-de Ferreira de Araújo. Depois, in-cluimos em nossas páginas umasérie de estudos excelentes, algunsdeles notáveis, produzidos pelosalunos ão primeiro ano do Cursode Jornalismo da Faculdade de Fi-losofia ãa Universidade do Bra-sil, acerca de grandes figuras his-tóricas da imprensa brasileira.

Torna-se assim duplamente pre-cioso este derradeiro número ãeAutores e Livros.

Quanto ao material escolhido pa-ra formar as páginas que ãeâica-mos a Ferreira de Araújo, verá oleitor que é de primeira ordem.Nele incluímos os artigos necroló-gicos que abrindo o noticiário re-lativo ao jornalista, no dia de suamorte deram os mais importantesjornais do Rio. A responsabiliâadeüe tais artigos — embora não tra-gam eles a assinatura dos direto-res das folhas — cabe, evidente-mente, aos mestres jornalistas queem cada uma daquelas tribunasexercia o cargo de diretor ou deredator-chefe. E' fácil sentir, porexemplo, no artigo da Tribuna aelegância e a finara de AlcindoGuanabara, no da Imprensa a elo-qulncia comovida de Rui Barbosa,

de "Autores e Livros"no da Cidade do Rio o apaixonar!/;impeto ãe José do Patrocínio...

Também incluímos nestas pâgi-nas alguns dos melhores traba -lhos jornalísticos ãe Ferreira tí?Araújo e entre estes uma páginapara a qual chamamos a atençãoáos leitores: o estuão relativo aodivórcio.

Quanto à Galeria Jornalística, -'¦o fruto ãos trabalhos âe estágiofeitos pelos alunos do Curso deJornalismo para a cadeira de Ética,Legislação e História de Imprei-sa. Ja nos anos de 1948 e 1949 £»''-ííios ocasião de publicar trabalhosde real valor ãas turmas respec-Uvas.

No número ãe hoje avulta a ím-portância de tais escritos, pois nc-le se contêm 18 ensaios {chame-mo-los assim) nos quais se achamestudados dezoito jornalistas devárias fazes brasileiras. A páginafica valendo, portanto, como uma-verdadeira síntese da parte que àHistória do Jornalismo dedica em-sua aula o professor da cadeira-

Por um compreensível escrúpulodiante dos seus alunos, o professorda cadeira de Ética, Legislação oHistória do Jornalismo declara queos trabalhos relativos a QuintinoBocaiúva e a João Ribeiro, e assi-nados pelas alunas Wilma Lucchesie Jacira Viihena Soares, não fo-ram apresentados como estágio.São ensaios autônomos, por elasescritos especialmente para estenúmero de Autores e Livros.

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Dewmbro dé 1950 — Vol XI, n." 12 AUTORES BLIVROS Página US

GALERIA JORNALÍSTICAA exemplo do que tol feito nos

dois anos anteriores, publicamosnoje provas de estagio da cadeirade Ética, Legislação e História daimprensa, do Curso de Jornalls-mo da Faculdade de Flolosolla."

A galeria deste ano encerra 18trabalhos — desde Hipólito daCosta até Alclndo Guanabara —E pelo puro teor literário de mui-tos desses trabalhos pode o leitoraciuilatar o alto nível cultural aque vão atingindo as turmas quefreqüentam aquele curso.

UM JORNALISTA DA INDEPEN-DÊNCIA — HIPOLITO DA COSTA

Izabel de Almeida

_ Hipólito da Costa: 1774-1808.Do nascimento ao aparecimento

do Correio Brasiliense.II _ O Correio Brasiliense: 1808,

1822.A campanha da Independência.III — O fim de uma carreira:

1822-1823.Diplomacia da Ora Bretanha.IV — Bibliografia.

I — HIPÚUTO DA COSTA1774-1808

A semelhança do que ocorreraem vários paises, também no Bra-sil a imprensa teria papel salientenas lutas pela emancipação poli-tica. Foram decisivos, sem dúvl-da, os esforços do Correio Bra-slliense e do Hevérbero Constitu-cional Fluminense, e o espirito bri-lhante de uma plêlade de Jorna-listas notáveis, liderados por hipó-lito da Costa, Joaquim GonçalvesLedo e Januário da Cunha Bar-bosa.

A história da independência doBrasil está, efetivamente, intima-mente ligada à história do Cor-reio Brasiliense e á vida de seu re-dator e fundador Hipólito da Costa.

Pode-se dizer com segurança —afirma um de seus biógrafos —que a educação política da geraçãoque no Brasil preparou e realizoua Independência foi feita pelo Cor-reio Brasiliense. (1).

Filho do JUferes de OrdenançaFelix da Costa Furtado de Men-donça e de D. Ana Josepha Pe-reira, nascida a 13 de agosto de1774, na Colônia do Sacramento,que então nos pertencia em vir-tude do Tratado de Madrid, o fu-turo fundador da imprensa bra-sileira, e, verdadeiramente, umadas glórias do jornalismo brasi-leiro: Hipólito José da Costa Pe-reira Furtado de Mendonça.

Fêz os primeiros estudos no Riode Janeiro, seguindo então paraPortugal, onde, na Universidadede Coimbra, anos mais tarde, ob-tinha o grau de bacharel em Leise Filosofia.

Em 1798, logo após o término docurso, por incumbência de D. Ro-drigo de Souza Coutinho, futuroConde de Linhares, seguiu para osEstados Unidos e México, a fimde estudar nesses países novos pro-cessos para a cultura do tabaco,algodão, cana de açúcar, canna-mo e cochonilha, bem como o sis-tema de obras hidráulicas realiza-das nesses dois países.

Durante sua permanência nosEstados Unidos, Hipólito da Costanão se limitou apenas ao estudodeterminado por D. Rodrigo deSouza Coutinho. Entusiasmadocom as observações que fizera sõ-bre a aplicação dos novos prlncí-pios políticos na democracia ame-ricana, filiou-se à Maçonaria, pas-sando a pertencer a uma Loja Ma-çônica de Filadélfia.

Após dois anos de permanênciano continente americano, Hipólitoda Costa voltou para Lisboa, re-cebendo, em 1801, nova missão doConde de Linhares. Designado paraa função de Diretor Literário naImprensa Regia, partia para a In-glaterra, em começo do ano de1802, a fim de adquirir materialpara a Biblioteca Nacional de Lis-boa e máquinas para a ImprensaRegia.

De volta a Lisboa, três ou quatrodias após a chegada é Hipólitoda Costa surpreendido com umaordem de prisão e confisco de seuspapéis determinada pelo Inten-dente Geral Fina Manique, sob a

alegação de que viajara sem pas-saporte. Apesar de contestar a le-galidade do ato, apresentando opassaporte que se dizia inexistlr eprovando que efetivamente viaja-ra a serviço do Rei, foi Hipólito daCosta encarcerado na prisão do Ll-moelro.

Durante sua permanência emLondres, a serviço do governo por-tuguês, Hipólito da Costa havia en-trado em contacto com os grandesexpoentes da Maçonaria Inglesa,chegando a firmar, na qualidadede emissário das Lojas portuguê-sas, importante acordo com oGrande Oriente da Inglaterra.

D. Rodrigo, amigo de Hipólito,certamente não desconheceria asatividades maçônicas de seu emis-sárlo na Grã Bretanha. Todavia,pouco a pouco iam aumentando emPortugal os rumores contra Hipó-lito. Altas personalidades portu-guisas pertenciam à Maçonaria, eera Interesse do Governo saberquais os coniventes com Hipólitoda Costa. Para isso, assim que vol-tasse deveria ser preso.

D. Rodrigo, em conversa comamigos, deixou transparecer a ln-tenção do Governo de prender HI-pólito. Avisava-o, assim, Indireta-mente. listes amigos logo infor-maram-no do perigo que correria,se voltasse a Portugal insistia HI-pólito, porém, vindo a consumar-se a previsão do Conde de Linha-"¦es. . ., ,Após seis meses de prisão ordinà-ria, foi entregue á Inquisição: O"processo" de Hipólito da Costa,ante o Santo Oficio, constitui qua-se uma raridade, pois que giraapenas em torno de um assunto: ofato de pertencer o acusado & Ma-çonaria. Geralmente, a denomina-da "heresia maçônlca" vinha sem-pre ao lado de outras, como: "pos-sulr o Indivíduo obras de Rousseaue Voltaire; ridicularizar o pecadooriginal; não ter procedimento ca-tólico l?); falar mal da Inquisição _e dos seus ministros; viver em in-Umidade com Ímpios, ou adeptos daFilosofia Natural e do Raclonalis-mo". (2).

Hipólito da Costa, desde início,apenas foi acusado de maçon,sua única culpa foi haver perten-cido a uma Loja dos Estados Uni-dos, já que, de suas atividades naInglaterra havia apenas suspeitas.

Por esse crime, foi condenado,passando na prisão quase três anos,conseguindo evadir-se em 1805 pa-ra a Inglaterra, através da Espa-nha e Glbraltar.

Do "processo" e do que sofreudurante os três anos de encarce-ramento, deu-nos Hipólito da Costauma descrição preciosa, real e semartifícios. Os exageros sobre a rea-lldade dos processos de julgamen-to e tortura usados pelo SantoOficio, tão comuns em diversostrabalhos sobre a Inquisição emPortugal, não existem na Narrati-va" de Hipólito da Costa, que ésempre uma descrição serena esem fantasias daquilo que realmen-te viu e sofreu durante quase trêsanos de encerramento.

A obra de Hipólito da Costa,composta em dois volumes, veio alume em 1811. Nela, além de nar-rar sua perseguição, apresentaHipólito da Costa dois documen-tos valiosíssimos: a reprodução li-teral dos dois últimos Regimentosdo Santo Ofício, os de 1640 e1774.

A divugação desses Regimentosveio ter influência sensível no pen-sar de muitos portugueses e brasi-leiros, que ignoravam a realidadedos processos, inquisitórios. Asqueixas dos que passavam pelostribunais da Inquisição, o SantoOficio apresentava desmentidos taobem urdidos, que o povo, à exceçãode uns poucos, continuava inteira-mente iludido. Quando até juristaseminentes, como Pascoal Jose deMelo Freire, consideravam corretoo procedimento jurídico dos Tribu-nais da Inquisição, que poderia fa-zer o povo?

Importantíssima, assim, foi a di-vulgação do Regimento do SantoOficio, pouco conhecido, aliás co-mo afirma Mendes dos Remédios:"A maioria dos empregados doSanto Oficio conhecia dele tao só-mente a parte que lhe respeitava

e que lhe era comunicada por ex-trato. O segredo em tudo e paratudo." (3). t

'. _, ,„.

Em sua Importante obra, de uu-cio, estranha Hipólito da Casta,que ainda existisse aquele tempo"um tribunal com a faculdade deprender Indivíduos e processá-los,por culpas que se devem conslde-rar como Imaginárias, visto quenão existem no Código Criminalda Nação", confessando, outrosslm,que considerava a Inquisição frutoda Ignorância e da superstição quedominava a Europa.

A situação de Hipólito da Costano cárcere da inquisição, enquantoaguardava o Julgamento, foi dasmais penosas: praticamente ta-comunicável, num Infecto cubículosempre úmido de tal forma que,durante o Inverno, ficava com seustrajes inteiramente molhados co-mo se tivesse saído de um banho;sem sequer ser-lhe permitida amudança da roupa que vestia des-de que havia sido preso; com ali-mentação precária, com os maustratos peculiares às prisões do San-to Ofício e ainda tendo que resls-tlr aos Interrogatórios com que osinquisidores pretendiam arrazá-lo.

Com Hipólito, porém, a Inqulsl-ção não logrou êxito algum. Encon-trando uma Inteligência vigorosae convicção Inabalável, os interro-gatórios, para o Santo Ofício, nadamais eram que derrotas fragoro.sas, ante a superioridade indis-cutível do acusado, sob todos osaspectos.

O processo de Hipólito versoufundamentalmente sobre questõesde ordem filosóficas cuidou-se,apenas, da Maçonaria. Os PapasClemente XII e Benedito IV, comoposteriormente Iriam fazer Pio Vn,Leão XII, Pio IX e Leão XIII, pormeio de Bulos haviam declarado, deforma soberana, tratar-se a Maço-narla de "uma seita herética".

Embora não demonstrando cia-• ramente o erro da Igreja, Hipólito,

em resposta à afirmação do JuizEclesiástico, afirmava não ser aMaçonaria contrária à religião ca-tólica, como não o era a qualqueroutra; respeitava a todas, Igual-mente. Noutros interrogatórios,queriam os inquisidores conhecera organização da Maçonaria por-tuguêsa, mas sempre encontravamem Hipólito um acusado irreduti-vel. E assim, até que conseguiuevadlr-se, foram passandos os me-ses sem grande sucesso para oSanto Oficio ante a resistência in-teligente que lhe oferecia Hipólitoda Costa.

Sobre a vida de Hipólito da Costa,na Inglaterra, durante os três anosseguintes à sua fuga de Portugal,de 1805 a 1808, pouco ou nada seconhece. Ao que parece, deve terficado sob a proteção do então Che-fe da Maçonaria Inglesa, o Duquede Sussex, Filho do rei da Ingla-terra. Tendo deixado diversasobras de tradução, filologia e histó-ria, acredita-se haver sido pura-mente literária a sua ocupação du-rante esse período.

A paitlr de 1808, assim, começa averdadeira carreira Jornalística deHipólito da Costa, em defesa dosinteresses do Brasil, dos princípiosconstitucionais e da causa da liber-dade dos povos americanos.

O CORREIO BRASILIENSE1808-1822

Fundado e redigido por Hipó-lito da Costa, surge em Junho de

mazém Literário, editado em Lon-dres, e que continuaria a apareceraté Dezembro de 1822. Trazia, co-mo lema, algumas palavras deCamões:

novo Jornal, e que seria seguidaatéa publicação do derradeiro nú-mero:"O primeiro dever do homem emsociedade é ser útil aos membrosdela; e cada um deve, segundo assuas forças físicas ou morais, ad-ministrar, em benefício da mesma,os conhecimentos.- ou talentos, quea natureza, a arte, ou a educaçãolhe prestou. O Indivíduo, queabrange o bem geral de uma so-ciedade, vem a ser o membro maisdistinto dela: as luzes, que êle es-palha, tiram das trevas, ou da Ilu-são, aqueles que a ignorância pre-clpltou no labirinto da apatia, dainépcia e do engano. Ninguém maisútil pois do que aquele que se des-tina a mostrar, com evidência, osacontecimentos do presente, e de-senvolver as sombras do futuro.Tal tem sido o trabalho dos reda-tores das folhas públicas, quandoestes, munidos de uma crítica sã,e de uma censura adequada, repre-sentam os fatos do momento, asreflexões sobre o passado, e as só-lidas conjecturas sobre o futuro.Feliz eu, se posso transmitir a umanação longínqua e sossegada, nalingua que lhe é mais natural econlircida, os acontecimentos des-ta parte do mundo, que a confusaambição dos homens vai levandoao estado da mais perfeita barbari-dade. O meu único desejo será deacertar na geral opinião de todos,e para o que dedico a esta em-presa todas as forças na persua-ção de que o fruto do meu trabalhotocará a meta da esperança a queeu me propus".

Durante catorze anos, ininter-ruptamente, pugnou o Correio Bra-slliense pela independência doBrasil. Varnhagem, estudando osgrandes vultos da Inpedendência,teve para Hipólito da Costa pala-vras que são, a bem dizer, verda-deira consagração: "Não cremosque nenhum estadista concorressemais para preparar a formação noBrasil de um império constitucio-nal do que o ilustre redator do Cor-reio Brasiliense. (4).

O Correio Brasiliense foi o pri-meiro periódico brasileiro a clrcu-lar no Brasil. Ainda que editadoem Londres, o que determinava acirculação no Brasil com váriassemanas de atraso, o Correio Bra-sillense provocou verdadeira revo-lução nos meios brasileiros e por-tuguêses, sustentando campanhasardentes em favor da adoção demedidas que viessem beneficiar opais; batalhando pela divulgaçãodo orçamento, como escrevia numde seus primeiros números:

"No Brasil, seguindo o sistemade Portugal, envolve-se tudo quediz respeito ao erário com um véudo mais profundo segredo, e a nin-guém, ninguém absolutamente, épermitido examinar as contas pú-blicas, e portanto está a porta fe-chada a todo remédio".

Também pelas páginas do Cor-reio Brasiliense, defendeu Hipólitoa imigração de agricultores, queviriam trabalhar livremente noBrasil. Não deveria continuar otrabalho escravo, inconpatível como progresso do país. Todavia, aindaque contrário à escravidão, Hipó-lito Julgava que esta não deveriaser abolida de um só golpe, repen-tinamente, pois esse ato traria,certamente, graves perturbações

para o Brasil; perturbações não sode ordem politica, como social eeconômica,

A repentina extinção da escra- vidão africana no Brasil "seria per-

o Correio Brasiliense ou Ar- n_c_0sa; logo, não poderia dar-se-ím T..terárin. editado em Lon- j^e me];^r remédio do que a sua

graduaí?jlíbolição, simultânea coma imigração de habitantes do norteda Europa".

"Temos por várias vezes indica-do a necessidade de procurar aoBrasil uma população tirada dasnações européias. E isto para finsmorais, políticos e físicos. Porque,a não obrar assim, a raça portu-guêsa se estragará totalmente coma mistura, tão comum no Brasil,com os negros africanos, cuja com-plelção e figura viciam o físico dasgerações mistas, e cujos costumesdevassos, e moral estragada pelosmaus hábitos Inerentes à condiçãode escravo, servem de um exemplofatal à mocidade, que com eles se

cria nos seus mais tenros anos, eassim adquire péssimos costumes,que de tal modo se arraigam, queduram depois por toda a vida. Osbrasileiros devem escolher entreestas duas alternativas: ou nuncahão de ser um povo livre ou hãode resolver-se a não ter consigo aescravatura".

A questão da permanência daCorte portuguesa no Brasil semprefoi amplamente comentada peloCorreio Brasiliense, Achava Hipó-lito que D. João V deveria perma-necer no Brasil, pois sendo o uni-co monarca em território ameri-cano, indiscutivelmente teria si-tuação de destaque, que não po-derla ter na Europa.

Embora defendendo em prlncí-pio a unidade do Reino, após o re-gresso a Lisboa de D. João VI,quando D. Pedro, então regente,não obedeceu ao chamado das Côr-tes, Hipólito da Costa passou aadvogar entusiàsticamente a au-tonomia para o Brasil. Após o de-creto das Cortes chamando D. Fe-dro a Lisboa, escrevia Hipólito:"uma provocação mais e os Bra-silienses darão seu último passo pa-ra a Independência".

E, efetivamente, a independênciaestava a um passo, embora a pro-clamação de D. Pedro só fc.3se rea-lizada meses mais tarde.

São verdadeiramente extraordi-nárias as apreciações e previsões,quase que perfeitas, que fazia Hi-pólito da Costa sobre todas asquestões do Reino. Estudando arealidade brasileira a tão grandedistância e recebendo as notíciasjá com semanas de atraso, o Cor-reio Brasiliense dir-se-ia ser edi-tão no Brasil, tal a oportunidadeda matéria contida em seus comen-tários. Não raro, escrevia Hipólitoda Costa a respeito de fatos queeram inteiramente resconhecidosda maioria dos leitores brasileirose portugueses. A política do tudoocultar, como em Portugal, flores-cia cada dia mais no Brasil.

Certamente, um jornal livre decensura e que expunha claramen-te a politica do Reino não seriabem visto pela Corte. Por váriasvezes tentara D. João VI impedira circulação do Correio Brasilienseem Portugal e nos domínios por-tuguêses. Não obstante, embora emvigor a proibição real, continuouHipólito a publicação cie seu jor-nal e influindo sem dúvida cadavez mais no espírito dos leitoresdo Brasil e de Portugal.

Antes de proibir a circulação doCorreio Brasiliense, já havia ten-tado o Governo português umacampanha de descrédito, pro-curando subornar Hipólito daCosta oferecendo-lhe quinhentasassinaturas, desde que o CorreioBrasiliense modificasse seus co-mentários em que atacava a CortePortuguesa. Rejeitada a proposta,iniciou o Governo outra forma decombate ao jornal de Hipólito:subvencionou vários folhetos quecirculariam em oposição ao CorreioBrasiliense.

O primeiro foi "Reflexões sobre oCorreio Brasiliense", editado emLisboa; sendo dos mais importan-tes o "Investigador Português emInglaterra", lançado em Londresem junho de 1811, e que constituíauma verdadeira réplica ao jornalde Hipólito da Costa.

Como os demais, pouco duroueste adversário do Correio Brasi-liense, pois circulou apenas atéFevereiro de 1819.

"Na quarta parte nova os camposIara,

E se mais mundo houvesse lá che-Igara".

e apresentava, regularmente, qua-tro seções: Política, Comércio eArtes, Literatura e Ciências e Ml-celãnea. Como introdução, apre-senta Hipólito, no primeiro númerodo Correio Brasiliense, algumaspalavras que constituem verdadeiraprofissão de fé, exemplo da normade conduta que então Iniciava o

1 — saí. Homem de Melo: Revistado Instituto Historio», Vol. XXXV.

(2) Evaristo de Moraes:Fogueiras da Inquisição.

Cárceres < (3) — Mendes dos Remédios:Judeus em Portugal.

(4) Yerrthagem: História da Inde-pendência.

III — O FIM DE UMA CARREIRA:1822-1823

Proclamada a Independência,Julgou Hipólito da Costa estar en-cerrada a sua missão patriótica.Embora distante, lutara pela au-tonomia do Brasil tanto ou talvezmais que muitos dos que sempreaqui haviam permanecido.

Em dezembro de 1822, com o der-radeiro número do Correlro Bra-sillense surgia o último trabalhojornalístico de Hipólito da Costa:

"Cumprlram-se enfim os prog-nósticos, e alcançaram as Cortes dePortugal realizar a desmembraçãoda antiga monarquia portuguesa,estimulando o Brasil apesar dos de-sejos de união daqueles povos, adeclarar a sua total lndependén-

"Este periódico, destinado sem-pre a tratar, como objeto primário,

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GALERIA JORNALÍSTICA

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dos negócios relativos ao Brasil,tem, há alguns meses, sido quaseexclusivamente ocupado com ossucessos daquele país ou com osde Portugal, que lhe diziam res-peito; e os acontecimentos últimosdo Brasil fazem desnecessário aoredator o encarregar-se da tarefade recolher novidades estrangeiraspara aquele país, quando a liber-dade da imprensa nele, e as mui-tas gazetas que se publicam nassuas principais cidades, excusameste trabalho, dantes tao neces-sáriò"."Deixará, pois, o Correio Brasi-liense de imprimir-se mensalmen-te; e só, todas as vezes que se ofe-recer matéria sôbre que' julgamosdever dar a nossa opinião, a bemda nossa Pátria".

Suspensa a circulação do CorreioBrasilienses, não deixou porémHidólito de dedicar-se às coisas doBrasil. Assim é que, em Fevereirode 1823, apresentava a José Boni-fáeio um plano para o serviço decorreio, estradas e colonização nopaís.

Colaborou ativamente, também,nas negocições para o reconheci-mento da Independência do Brasilpela Inglaterra. Quando da no-meação de Caldeira Brant, depoisVisconde e Marquês de Barbacena,para eu funções de Encarregado deNegócios na Inglaterra, escreviaJosé Bonifácio a Hipolito da Cos-ta, recomendando-lhe que entras-se em contacto com Brant, pro-curando ajudá-lo nos assuntos só-bre os quais fosse consultado; e,mais tarde, quando ciente de queHipolito aceitava a incumbência,agradecia, em nome do Imperador,"os seus patrióticos sentimentos,dignos de um verdadeiro brasilei-ro", acrescentando que D. Pedropretendia dar-lhe um emprego di-plomático, tão logo estivessem fir-mes as relações políticas com aInglaterra.

Realmente, D. Pedro pretendiaconfiar-lhe o Consulado Geral doImpério em Londres.Aos quarenta e nove anos, apósrápida moléstia, a 11 de Setem-bro de 1823, falecia Hipolito daCosta em Kensington, nos arrabal-des de Londres.A 20 de Setembro de 1823 assina-va D. Pedro o decreto de nomeação

de Hipolito da Costa para o lugarde Cônsul Geral, com a graduaçãode Conselheiro de Legação.O reconhecimento do Governoíora tardio, porém...

Joaquim Gonçalves LedoJosé Milito,

Alma das mais representativas denossa Independência, tendo antece-dido Bonifácio na ação deste movi-mento. Mais liberal e democrata queeste, cedo entrou em conflito como velho Andrada, com cuja políticaautoritária e despótica não concor-dava. Amigo e aliado do Conego Ja-nuário da Cunha Barbosa, foi com êle,n_> "Reyérboro Constitucional", umdos principais fatores de nossa eman-cipação política.

Nasceu na Provincia do Rio, a 11de dezembro de 1781, sendo filho deAntônio Gonçalves Ledo e D. An-fcônia Maria dos Reis Ledo. Estudavaera Coimbra, e por morte de seu paivoltou ao Brasil sem terminar o curso.Tornou-se autodidata de não peque-na cultura literária. Pouco se sabe desua vida até 1820, além de que foioficial de secretaria do Arsenal deGuerra. Aparece em 1821, ao ser con-vocada a assembléia de eleitores deparóquias, que formariam o colégioeleitoral dos representantes de cornar-cas, eleitores finais dos deputados.Esta assembléia, convocada por Sil-vestre Pinheiro Ferreira, teve por se-cretários Joaquim Gonçalves Ledo eJosé Clemente Pereira. Reunida a20-4-821 na Praça do Comércio, a As-sembléia ultrapassou seu mandato,exigindo a adoção da constituição es-panhola e pretendendo impedir a idade D. João VI para Portugal. Envia-da delegação ao Paço, voltou ela coma anuência do Rei, que mandava ata-car traiçoeiramente os eleitores a gol-pes de baioneta. Ledo conseguiu esca-par ã soldadesca, ocultando-se até de-pois da partida de D. João. A 15 deSetembro de 1821 publicou com o cô-nego Januário o 1.° número do Rever-bero Constitucional, discreto arautoda independência nacional, segundoAfonso de Taunay.

Apesar de ardoroso republicano, foi,ao lado de José Clemente, Frei Sam-paio, Nobrega e J. J. da Rocha, umadas principais figuras do episódio ao"Fico" de 9 de janeiro, almejando,apesar disto, a independência do Bra-sil, sob forma monárquica. Esta reali-zação de Ledo prende-se a seu amorh Independência e salvação do Bra-sil unido entre si, quando deixasse desê-lo a Portugal,

Na Convocação do Conselho dePrcuradores de Província, foi Ledoeleito representante do Rio de Janei-ro, tendo nesta assembléia se mostra-

FREI SAMPAIO

BIBLIOGRAFIA:Afonso de Taunay: Os grandesvultos da Independência.Alberto Faria: O Jornalismo bra-sileiro.Alcebiad.es Furtados Ensaio sò-bre Hipolito da Costa.Arthur Mota: Rev. da AcademiaBrasileira de Letras N.° 93.Basilio ãe Magalhães: Jornalis-tas da Independência.Camilo Castelo Branco: Preláciodos Ratos da Inquisição.Chichorro ãa Gama: Dicionário

de Autores Clássicos. Rev. do Ins-tituto Histórico e Gegráfico Brasi-leiro, n.D 13.José Veríssimo: História da Lite-ratura Brasileira.Gustavo Barroso: Centenário deHipolito da Costa. Rev. da Acade-mia Brasileira de Letras n.° 2.728.Bão. Homem de Melo: Revista doInstituto Histórico, e Geográficovol. 35.Pereira da Silva: Varões ilus-tres do Brasil. Vol. II.Rocha Pombo: História do Bra-sil.Bonald de Carvalho: Pequena

História da Literatura Brasileira.Mendes dos Remédios: Os Judeusem Portugal.Varnhagem: História da Inde-

pendência.Hélio Vianna: * Contribuição àhistoria da Imprensa Brasileira.Carlos Rizini: • o livro, o Jor-nal e a tipografia no Brasil.Hildebrando Accioly: • o reco-

nhecimento da Independência doBrasil.

Evaristo de Mores: • Cárceres eFogueiras da Inquisição.

•: livros consultados.

do um dos mais ardorosos defensoresda imediata separação do Brasil.

Ascendendo Bonifácio ao poder, de-senhou-se logo a luta entre as duascorrentes, sendo Bonifácio partidárioda calma adaptação, enquanto Ledopreferia um rompimento brusco. Esteantagonismo levou-os a um inimizadede duras conseqüências para ambos.

Assinado a 3-6-1822 pelo principeregente um decreto de autoria de Ledo,no qual se convoca a Constituinte Bra-sileira, resultou a cisão da Maço-naria, ficando o Apostolado com osAndradas e O Grande Oriente comLedo. sabido que este era de grandeinfluência nos acontecimentos,

A 1 de Agosto de 1822, Ledo lançouseu célebre manifesto, que represen-tava sem reticências a atitude da Re-gência, e acelerava os acontecimen-tos para o Grito do Ipiranga. Depoisde 7 de Setembro foi ainda Ledo quemtrabalhou para a proclamação de D.Pedro imperador constitucional doPaís. A 25 de outubro o Andrada man-dou fechar o Grande Oriente, ordemrevogada por D. Pedro. O Andrada sedemite a 27, voltando porén^ao podera 30. Receando as represai* ^ dos ad-versários, Ledo se esconde «jlcge paraBuenos Aires, enquanto José Clemente,Nobrega e Januário da Cunha Bar-bosa são deportados para a Europa.Com a queda dos Andradas e sua de-portação, em Novembro de 23, voltaLedo ao Brasil, sendo eleito deputadoGeral de 1826 a 1833, e agraciado coma Comenda de Cristo, (Signatário doCruzeiro e conselheiro de Estado.

Era no Parlamento um orador ele-gante e eloqüente, sendo seu estiloflorido e ameno. Em face de sua ati-tude — passar de republica e libe-ral a monarquista e cortesão — per-deu o apoio dos amigos velhos e apopularidade, sendo violentamenteatacado pela imprensa liberal e porVasconcelos de Drumond, em suas"Memórias". Com a queda de PedroI ficou no ostracismo, perdendo em34 sua cadeira de deputado. Aproxl-

Frei Francisco de Santa Tereza deJesus Sampaio, tonsurado desde osquinze anos de idade, foi um dos maio-res oradores sacros do Brasil na épo-ca de transição, entre a Colônia e oImpério.

Possuía qualidades que o fizeram omelhor pregador do seu tempo — obrilhantismo das imagens, a riquezae liabiüdade dialetais, orientados aogosto contemporâneo; era dono de umabela voz, forte, sonora, complementa-da por um físico atlético.

Dele nos restam poucas contribui-ções ,a não ser os seus sermões decaráter politico, que se tornaram fa-mosos. O próprio Sílvio Romero. emsua História da Literatura Brasüeira,confessa a impossibilidade de traçarum perfil psicológico com tão es-casso e inadequado material para pes-quisas dessa natureza.

Entretanto Basilio de Magalhães jãno-lo apresenta como um homem decaráter débil, maleável apesar de seu

mou-se novamente dos liberais e fe-seamigo de Bernardo de Vasconcelos,__ quem auxiliou na campanha contrao Regente Feijó. Datam dai os versos eartigos satíricos que escreveu, ridi-cularizando o regente de 35. Aindaassim não conseguiu entrar no Parla-mento, apenas obtendo a caaeira dedeputado provincial no Rio de Janei-ro. Desgostoso, retirou-se para a suafazenda do Sumidouro, em SanfAnado Macacu, onde faleceu, a 19 deMaio de 1847.

Era de espírito vivo e brilhante, tem-peramento alegre e comunicativo. Foium dos mais elegantes oradores do pe-ríodo da Independência e distinguiu-setanto na escrita como na prosa, pelaeloqüência da forma e expressão. Dei-xou, além da colaboração no Rever-bero Const. (1821-1822), a Represen-tação dirigida ao Regente em 3-5-1852,o Manifesto de 1-8-1822, a Represen-

'tação de 17-9-1822, tendo queimadoas obras, como sua Autobiografia esuas memórias exceção do drama "Oórfão", que ficou inédito (Baseadona História do Romantismo no Bra-sil, de Haroldo Paranhos).

Helena Ribeiro da Silva,

patriotismo, cultura e inteligência.Faltaria nele a indomabilidade, a in-trepidez para fazê-lo um autêntico lu-tador. Para ilustrá-lo, cita inciden-tes que patenteiam este aspecto des-favorável de sua personalidade.

Conforme as crônicas, o franciscanocomparecia as suas reuniões maçônicassecretas, sempre acompanhado deguarda-costas. Depois há o episódiolesenrolado em uma das sessões do"Grande Oriente".

Por volta de 1821 Frei Sampaio erao orador da loja "Comércio e Artes"que, mais tarde, seria uma das prin-cipais integrantes daquela a que per-tenceu o Príncipe Pedro,

Posteriormente redator do Regida-dor BraHllo-Lnso (fundado em 19 dejulho de 1822) mais tarde (1823) Re-gulador Brasileiro. Em verdade erao Frei Sampaio o orientador mentaldo órgão do "Grande Oriente", o qual,como o Reverbero Constitucional Flu-minense, era uma das mais ardoro-sas folhas de propaganda emancipa-cionista. Em suas colunas verteu FreiSampaio toda a vitalidade e pujançaintelectual a serviço de um patriotismovibrante,

Sabe-se da inserção de artigos deeminente contraste com a orientaçãopolítica da folha.

Sabe-se também da memorável ses-são maçônica de 23 de agosto de 1822,em que o franciscano foi severamentecensurado e acusado de alta traiçãoe quebra de juramento. Sua defesa éfraca, pouco convincente — estribou-se principalmente na alegação de quea matéria publicada, embora sem as-sinatura, provinha de "fontes respei-táveis", alguém a quem a consideraçãoera difícil de ser negada. GonçalvesLedo. um dos maiores batalhadoresda Independência, presidia a sessãohistórica.

Em Basilio de Magalhães há umclaro quanto a este pormenor mas, pelomenos aparentemente, há uma certaligação com o fato e o rumor de tersido o Príncipe o autor de tais arti-gos de tendência absolutista.

O mesmo autor chama-o de "dela-tor" quando, da "Bonifácia", pra-

Januário da Cunha BarbosaAnto-ny Bandeira.

Uma das expressões máximas doJornalismo brasileiro na época daindependência e um dos mais ar-dorosos defensores das Idéias íiberals, foi este padre que se chimou Januário da Cunha Barbos"Filho de Leonardo José da CunhaBarbosa e de D. Bernarda Maria i1*Jesus, nasceu na cidade do Rio tiJaneiro a 10 de julho de 1780 Or-denou-sc padre secular em 1803 e

pouco depois era elevado à dlgnl-dade de pregador da Capela Rra;Em 1808 era cavalheiro da Orclcrde Cristo, e em 1814 lente cátedra-tico de filosofia.

Juntamente com Joaquim Gor-çalves Ledo fundou uma impren-sa no Rio de Janeiro em defesados princípios liberais com o jor-nal "O Reverbero ConstitucionalFluminense".

Proclamada a Independênciavai a Minas Gerais para difundi»e acelerar a compreensão do povono novo estado de coisas, procuran-do demonstrar a necessidade de

(Continua na página seguinte!

cesso movido pelo Andrada, apontouseus antigos colegas de maçonan...José Bonifácio, em sua tarefa ingraude consolidador do regime, teria ne-cessãriamente que afastar os agita-dores, tinha de agir com mão de ferro.Talvez o Frei Sampaio aí figurassi.como um simples instrumento paraos seus propósitos.

Entretanto há mais saldos favorá-veis na sua folha de serviço à Pátria,de cuja emancipação foi incontesteobreiro, pesar, de seus defeitos, aliáshumanos que não podem dirimi-lo noconcito da Posteridade.

Helena Ribeiro da Silva.Bibliografia:

História âa Literatura Brasileira.Sílvio Romero.

História ãa Literatura Brasüeira.Basilio de Magalhães.

A Margem da História.Euciides da Cunha.

Miscelànea (Bibliografia Nado-nal).

haam

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CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO: - José Pessoa d. Queira, Presidente; SArmando de Queira Monteiro, Secretário; Luís Inácio Pessoa de Melo, Tesou- Breiro; Manuel Caetano de Brito, Diretor; Manuel Maroja, Diretor. ?CONSELHO FISCAL: - Membros efetivos; Júlio Queira, Leôncio Araújo ie Romero Cabral da Costa; Suplentes: José Lopes d. Siqueira Santo,, Afonso SFreire e Fnock Maranhão. g

a

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Deiembro dê 1980 — Vol XI, n.° 12 AUTORES B LIVROS Página 127

GALERIA JORNALÍSTICAFrei Caneca no cenário político do Brasil EVARISTO DA VEIGA

DADOS BIOGRÁFICOS

Chamava-se Frei Joaquim do.imor Divino Rabelo Caneca.

Nasceu na Cidade de Recife, nomês de Julho de 1779. Filho dedomingos da Silva Rabelo e D».francisca Alexandrina Siqueiraiiabelo.

Ordenou-se a 8 de outubro de79f3. Imediatamente dedica-se aomagistério como professor de re-órica e poética. Foi ainda lente

de Geografia e professor de Filo-sofia. Era um dos expoentes de

altura do seu tempo.Ao que se sabe da sua personali-

dade, Frei Caneca devia ter sido-,\m predestinado. Supõe-se que a

aidade de seus pais tivesse influi-cio no erro da sua vocação. Tur-oulento como êle era, custa-noscrer tivesse jamais, em idade adul-ta, aceito o noviciado. Seu feitionolítico demonstra um amplo graude independência de caráter. Eranm tanto liberal com o sexo fracoo dizem até que deixou filhos.

Como político, tomou parte nomovimento nativista ao lado deDomingos Martins e Teotonio Jor-ge, com os quais, promove o levan-te que obrigou Miranda Montene-oro a refugiar-se na fortaleza doBrnm.

Esteve preso na Bahia e depoisde anistiado regressou a Pernam-ijuco. De novo, agora como Jor-ialtsta, funda o jornal "Tyfis Per-

nambucano", com a intenção dereacender o ideal nacionalista.

No seu jornal, verberada comsenso de justiça e amor pela li-berdade, prega ao povo, e, ensina ase nutrir ferrenho ódio pelos rei-nos, que espoliavam o país. Comentusiasmo e fé concita a segundarevolução para independência doNordeste, que se chamou de "Con-federação do Equador".

Morreu fuzilado na praça da For-raleza das Cinco Pontas a 13 de ja-jieiro de 1825.

Quando, no ano de 1820, o Cons-üLucionalismo Português abordan-do a corte de Lisboa, assentadomima Junta Governativa, irradiousua expansão ao reino de alémmar, uma brisa de liberdade, atra-vessando os mares, veio soprarmais de perto os corações já entãoincandescentes, dos Nativístas doBrasil.

Era o gênio mestiço, que se jul-gava com direito à liberdade, re-cém-nata, para dar combate aoubsolutismo do rei D. João VI, aquihomiziado. Chega o momento dereagir aos abusos da corte, queíazia do Brasil um campo de cul-tura especulativa. Serviram-se osrevoltados de tudo que tinha fôrmade panfleto, e sairam à luz os "Au-rora", "Cega-Rega", "Conciliador"e "Palmatória". Os dois primeirosvm Pernambuco. Contestando asbenfeitorias trazidas pelo Reino ea personalidade política, que acha-vam incompatível com o territóriobrasileiro e com seu povo, inteli-gente e pujante; exaltavam nosseus protestos, graves denúncias,contra os reinóis, que se julgavam,sempre com direito aos quinhõesmelhores.

A medida que o Brasil progre-dia, com o influxo dos negócios es-Tanoeiros, chegarçi cada vez maisinsolentes patrões, pretextando Ie-aidade ao seu rei no exílio para-disiaco. Desembarcavam aos lotes,cada dia maiores, e vinham paraaumentar as fileiras dos donos daferra, e negar com desprèso, di-reito de liberdade de opinião aosnaturais do país.Havia mesmo desenfreados res-sentimentos, entre natos e foras-teiros, Estes, no afã de ostentaremseus títulos nobiliárquicos, ganhosa custa de bajulações e retórica,achincalhavam da inferioridadedos mamelucos que, revoltados, re-vidam os insultos, aumentando asciissenções, até ao ponto dos cho-quês individuais constantes.

Cercado dessa atmosfera, o Bra-sil-Reino prosseguia nos seus dl-tames, enquanto D. João VI, refes-telado no trono, sonhava perpe-tuar-se no mais rico dos seus do-mmios de além mar. Por isto, co-metia toda sorte de desmandos einjustiças em favor de portuguê-ses e ingleses.

Hélio Nunes Machado ArôxaA chama de liberdade que crepi-

tava na Europa transladou-se aProvíncia de Pernambuco, sempreinsubordinada e reacionária ao des-potismo. Aproveitando a confusãoda época, grupos de patriotas tra-mavam para acabar, de uma vez,com aqueles abusos dos reinóis. Efoi em meio a esses bravos quesurgiu, repentinamente, a figurade um sacerdote, modesto e va-lente, imbuído de fé religiosa e cí-viça, que incentivava por todos osmeios ao seu alcance, reação con-tra os poderosos.

Esse herói, que tempos depoissofreria execução em praça públi-ca e humilhações t antas, diante dopovo, ao qual queria libertar, queaté andou acorrentado pelo pes-coco, nas principais ruas da Pro-vincia, qual um animal selvagem,chamava-se Frei Joaquim do AmorDivino Rabelo, Caneca, ou "FreiCaneca", e foi um líder incompa-rável nos movimentos liberais dePernambuco. Tomou hábito defrade do Convento de N. S. do Car-mo, ainda hoje existente em Recife,aos 22 anos de idade. Filho de paispobres, admitiu o acnome de Ca-neca, com o fim de mostrar suapaternidade. Seu pai trabalhava detanoeiro, por isto ganhara a ai-cunha de "Caneca", que o filhoachou de bem admitir. Ninguémcomo esse carmelita, íntegro decaráter e resoluto nas ações, soubeamar tanto a liberdade e a justi-ça, a que devotou sua inteligênciasagaz e penetrante.

Erudito de grande envergadura,manejava Latim e Grego, com fa-cilidade igual à com que manejavaa língua portuguesa; cita os clãs-sicos com entendimento próprio, eaté parece saber de cor os Luzia-das, a Eneida, e, outras obras pri-mas da literatura antiga. Dá-se aensinar retórica e poética, filosofiaracional e moral.

Possuído de acentuado amor pe-Ia causa da liberdade e direitos dohomem, chega a querer, com seuinigualável dom de persuasão, di-tar regras de ética aos reis. A estes,considerava meros símbolos dosentimento místico das massas po-pulares. Veementemente, negava-lhes natureza divina. Dizia que orespeito ao qual os reis tinham di-reito ficava condicionado à integri-dade moral dos seus atos, pois nãoos via senão como enunciados desoberania contra os seus súditos.

No dizer da sua quarta epístola,de Pitia a Damão, recrimina a re-aleza no Brasil. Invoca uma cons-tituicão consentânea com o povobrasileiro, que ao seu ver só podiamanter classes superiores à custa

. de sacrifícios ou por vaidade. Alémdo que, via o país desintegrado,sem unidade, e as províncias vale-rem conforme estivessem maispróximas ou mais longe da corteregia. Cada uma delas, êle a acha-va mais egoísta, como o são os ini-migos.

Discordando do sistema tributa-rio, "Frei Caneca" falava de ônusque dizia, pesarem sobre as pro-víncias: "a saída dos dinheiros pa-ra o Rio de Janeiro". "Com essemesmo dinheiro, nos faz a guerrae escraviza". Era de uma lógicafecunda e poderosa; tinha inten-ção de aplicar no Brasil, os ensina-mentos de Montesquieu, no tocan-te às bases governamentais. Eraseu ideal, que cada provência segovernasse por si mesma, empres-tando, de modo limitado, sua con-tribuição financeira à Corte.

Enquanto que o equilíbrio admi-nistrativo, entre o poder centrale as províncias, devia assentar embases e condições obrigatórias deajuda mútua; uma federação co-operando pela unidade nacional eo poder central, por sua vez, salva-guardando a integridade moral,territorial e política de cada com-ponente da união; um por todos etodos por um.

Prodigioso Jornalista, nem mesrmo o resultado funesto que recaiuem seus companheiros, na revolu-ção de 1817, o fêz calar. Logo emseguida ao decreto de D. Pedro I,outorgando liberdade à imprensano Brasil, em 22 de novembro de1823, aproveita-se da oportunidadee sai a campo com seu "Tyfis Per-

Exemplo de AutodidatismoEvaristo Ferreira da Veiga, nas-

ceu no Rio de Janeiro no dia 8 deoutubro de 1799, filho de Francis-co Luiz Saturnino da Veiga de na-cionalidade portuguesa, mestre-escola e livreiro, desde moço ra-dicado no Brasil. Faleceu na mes-ma cidade a 12 de maio de 1837,

Evaristo foi um dos vultos maisrelevantes da hitória da imprensabrasileira e do cenário político na-cional do seu tempo, deste desapa-recendo prematuramente, quandocontava apenas 37 anos de idade emenos de 10 anos dedicados à cau-sa política. Moço de origem humil-de, não seguiu nenhuma escola su-perior, não se formou portanto re-gularmente em nenhuma acade-mia, nem estudou em Coimbracomo desejara em sua juventude eera costume na época, nas elitesbrasileiras.

A princípio trabalhando no co-mércio na livraria de seu pai, maistarde associado ao seu irmão JoãoPedro no mesmo ramo de negócioe finalmente dono de livraria, Eva-risto foi um verdadeiro autodidata,um "self-made man".

Filro de pais humildes, sem an-cestrais ilustres, sem títulos nemdiplomas, sem nunca haver se au-sentado do Brasil, Evaristo elevou-se por esforça próprio, numa "ex-pressão feliz de autodidatismo" nodizer de seu biógrafo Otávio Tar-quinio de Souza, à posição de ár-bitro de causas políticas, oráculodo poder, guia e orientador dosdestinos públicos. De índole mo-desta e bondosa, jamais consentiuque a glória e as honrarias con-quistadas turvassem-lhe a cabeça,empanassem, mesmo de longe, aatuação elevada que teve na vidapública do pais. Num testemunhoeloqüente de modéstia e desinte-rêsse pessoal, nunca almejou aosaltos cargos e, mesmo depois deeleito deputado em duas legislatu-ras não desdenhava da sua modés-ta profissão de livreiro nem escon-dia a sua humilde origem. Ao con-trário, afirmam os seus biógrafos,muitas vezes deixava a Câmara de-pois de uma sessão e voltava aobalcão de sua livraria à Rua dosPescadores, onde atendia pessoal-mente aos misteres normais donegócio.

Possuindo um brando coraçãoEvaristo era indulgente e nobre,esquecia as ofensas recebidas e as

perdoava e tafco singular, com tô-da essa s__igt_ieza de atitudes, ca-rença de títulos, oriir;"i apaga-das e outras desvantagens paraum político, este homem galgouaos píncaros da glória e do poder,sem aa menos possuir, para lhefacilitar a tarefa, uma personali-dade física que irradiasse sim-patia pois era gordo, baixoto e de-sageitado, tipo físico prosaico deque se valiam os seus inimigos parao ridicularizarem.

A despeito de tudo isso, Evaristodominou, venceu. Foi poeta, autordo hino constitucional brasileiro, ocelebre "brava gente brasileira",musicado por D. Pedro I. Estudoueconomia, foi historiador, tendocoadjuvado, pelo menos (há quemdiga ser de sua autoria), na Histó-ria do Brasil de John Armitage,de quem foi excelente amigo. Comojornalista, a sua atuação não en-controu paralelo na imprensa gra-sileira até os seus dias. Os serviçosprestados à causa pública pelo seujornal a "Aurora Fluminense" fô-ram inestimáveis.

A "Aurora Fluminense"No ano de 1827, aos 21 de de-

zembro, foi fundado no Rio de Ja-neiro o jornal "Aurora Fluminen-se". Segundo alguns historiadoresEvaristo foi um dos seus fundado-re,s entretanto, no livro "Evaristoda Veiga" de Octavio Tarquínio deSouza encontramos opinião dife-rente. Baseado no depoimento deDe Simoni, dado por ocasião doelogio fúnebre, em sessão de 12 deagosto de 1837 (nove anos depoisda fundação da "Aurora", na So-ciedade Amantes da Instrução, dizTarquínio de Souza: A "Aurora"foi iniciada por um jovem brasi-leiro hoje falecido, José Apoliná-rio de Moraes, um outro seu pa-trício e um estrangeiro ilustrado".O estrangeiro ilustrado seria ofrancês Sigaud e, quanto ao ter-ceiro, ainda de acordo com a mes-ma opinião, foi Francisco Valde-taro. Evaristo, continua de Simoni,resolveu associar-se aos colabora-dores da "Aurora" passando empouco tempo de colaborador a "re-dator principal e finalmente úni-co" (sic).

A "Aurora Fluminense" foi pu-blicada até 30 de dezembro de1835; tendo tido a duração, por-tanto, de oito anos. No último nú-mero encontramos o artigo em queEvaristo se despede do seu público

nambucano", jornalzlnhc, em cujoprimeiro número, saído a 25 dedezembro do mesmo ano, escreve:"Quando a nau da pátria se achacombatida por ventos embraveci-dos;"quando, pelo furor das ondas,ela ora se sobe às nuvens, ora sesubmerge nos abismos; quando, le-váda do furor dos euripos, feitaao ludríbio dos mares, ela ameaçanaufrágio e morte, todo cidadãoé marinheiro; um deve sustentaro timão, outro pôr a cara ao as-trolábio, ferrar o pano outro, ou-tro alijar ao. mar os fardos, que asobrecarrega e afunda, cada umprestar a diligência ao seu alcance,e, sacrificar-se pelos seus concida-dãos em perigo".

Era assim que Frei Caneca ex-probava em público seus ressenti-mentos pela política do prínciperegente contra os opressores dosideais nativistas, e preparava a opi-nião para o novo fracasso prático,que resultou da revolta seguinte.Quando, mais tarde, D. Pedro I,fechando a Constituinte, suprimiua liberdade de pensamento, quemal havia começado, Frei Canecainsurgiu-se de novo contra o im-perador, e conclamou as provin-cias nordestinas a que se tornas-sem independentes, em face, dadespótica traição deste soberano.E escreveu no seu "Tyfis Pernam-bucano":"Não aspira a outra glória o ei-dadão benemérito, que a sobrevi-vencia na memória da posteri-dade; e nós seríamos muito poucopatriotas, se deixássemos fenecerno pó do esquecimento, os nomesdaqueles nossos patrícios e concl-dadãos, que, pelo desempenho deseus deveres, se têm feito credoresda nossa consideração".

Os protestos que dele partiampor escrito, em palavras eivadasde fé, deram lugar ao surto revo-lucionário que Irrompeu em Per-nambuco no mês de julho do anode 1824 com a denominação de"Confederação do Equador", queliderado por Manoel de CarvalhoPais de Andrade e outros, se irra-diou pelas províncias do Ceará eRio Grande do Norte, atraindogrande número de adeptos maçonse republicanos.

Fracassado o movimento, quenão encontrou bastante firmeza,dada a falta de popularidade dePais de Andrade, encontrava-seFrei Caneca no Ceará, para ondefigura. Iludido pelas autoridadesque lhe prometeram anistia, voltoua Pernambuco, onde foi imedia-tamente preso, julgado e condena-do a força. Mas, não havendo quemo quisesse enforcar, muito emboraas autoridades empregassem todosos meios para impelir os escolhidosa fazê-lo, resolveu a Junta Militarmodificar a sentença, decretandoseu fuzilamento.

Foi então o grande líder revo-lucionário pernambucano ,e pátrio-ta imortal, o escritor, o filósofo, ofilólogo, o soldado, o sacerdote, ohomem, ajuntado na expressão demártir sereno e estóico, enfrentarum pelotão que cumpria ordenscriminosas. Porém, ainda assim, êleo inquebrantável gênio político,teve a iniciativa de mostrar a seusexecutores, a coluna de pau, ondequeria que o amarrassem naquelemomento trágico da sua vida.

Morreu fuzilado, no dia 13 deJaneiro de 1825, no Forte das CincoPontas.

Rio de Janeiro, 15 de outubro de

Antônio Patriota.leitor, por considerar cumprido oseu objetivo como jornalista. E'uma página que muito nos contadas atividades do jornal; é umresumo das campanhas vencidas.Nela Evaristo faz um balanço davida do Jornal e da orientação quelhe imprimira durante aquela eta-pa tão difícil da história do Bra-sil, aqueles oito anos de profícuolabor pela causa nobre dos des-tinos da pátria, pela elevação dosprincípios éticos prevaiescentes naépoca, pelo desenvolvimento doJornalismo em si. para o qual con-tribuiu com um elevado espíritode moderação e justiça desconhe-cido até então. Termina Evaristoo seu último artigo na "Aurora"concluindo que a atividade do jor-nalista iria ceder lugar à carreirado legislador, iria éle dedicar-seinteiramente à politica.

O seu espírito moderado e justorefletido permanentemente nas co-lunas desse jornal em campanhasmemoráveis, juntamente com a no-breza de ânimo que deixava trans-parecer em todos os seus atos,grangearam-lhe o reconhecimentogeral dos seus concidadãos ao pon-to de, sem nunca haver saído doRio de Janeiro, ter sido eleito depu-tado geral pela Província de Mi-nas Gerais, em 1830, Província quesó iria conhecer em 1836. Este fatobem atestou a influência do jor-nalista, antes livreiro e agora depu-tado.

A retidão de caráter foi o apa-nágio da vida de Evaristo. Por elapautou a diretriz de sua existèn-cia e jamais variou desse modo deproceder. Num admirável exemplode compustura, Evaristo nunca fêzpropaganda própria, publicava to-dos os seus artigos sem assinatura.Atestando-lhe ainda mais a gran-deza de espírito, diz o seu biógrafocitado, Evaristo auxiliou pecunia-riamente a vários estudantes po-bres, tendo custeado a viagem dePorto Alegre à Europa para aper-feiçoar-se em pintura. Felix Pa-checo, em o Publicista da Regên-cia relatou que também Sales Tôr-res Homem viajou à Europa porconta da generosidade de Evaristoe assim outros foram por êle aju-dados, como Paulo Cândido, Tho-raz Gomes dos Santos e FranciscoFreire Allemão.

Nos episódios que antecederamà abdicação de Pedro I e nos acon-tecimentos políticos dos anos quese seguiram, os da Regência, Eva-risto foi incansável, desdobrando-se em atividades. Todas as boascausas contaram com o seu apoioe participação ativa. E, foi nessaquadra da história pátria que a"Aurora" teve a sua mais relevan-te atuação. A pena infatlgável doseu redator não deu guarida aosinimigos da liberdade e da consti-tuição. As suas campanhas porém,foram todas elas vazadas num es-pirito que primava sempre porelevado senso de justiça, correçãode linguagem, compustura no pro-ceder — moderação enfim. Estenotável exemplo serviu para ele-var o nível do jornalismo-panfle-tário da época, e, Evaristo Elepróprio é, por todos os pontos, umexemplo a ser imitado.

Januário da Cunha Barbosa(Continuação da página anterior)

trabalharem todos com o mesmoobjetivo; sem divergências de opi-niões para a consumação da Inde-pendência que era a Aclamaçãode D. Pedro I.

De volta dessa viagem é preso a7 de dezembro de 1822 por ordemde José Bonifácio, então primeiroministro do império. Levado paraa Fortaleza de St». Cruz, dali nodia 19 do mesmo mês, sem ser ins-taurado processo, é deportado paraa Europa, e não lhe é concedidoqualquer auxilio para sua manu-tenção na terra estranha.

Em 1823 é permitida sua volta àpátria depois de reconhecida suainocência, e por ironia da sorte,atravessando o Atlântico, cruza nomar com o navio que leva agora

(Continua nn pág. 135)

1 XX'

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Página 128 AUTORES B LIVROS Deiembro de 1950 — Vol. XI, n.° 12

GALERIA JORNALÍSTICAJoão Francisco Lisboa

Rui Baldaque Guimarães.Pela variedade e qualidade da

obra deixada, João Francisco Us-bôa situa-se entre os jornalistasbrasileiros do século passado, co-mo um dos mais laboriosos e eru-ditos. Filho do Maranhão, ondenasceu a 22 de Março de 1812, erao primogênito de Jão Francisco deMelo Lisboa e de Gertrudes RitaGonçalves Nina.

Na idade de 15 anos, na capitalmaranhense, trabalha como xai-xeiro no estabelecimento comercialde Francisco Marques Rodrigues,ao mesmo tempo que estuda huma-nidade revelando singular inteli-gência e grande aplicação.

Em 23 de agosto de 1832, cons-tando apenas 20 anos, Lisboa prin-cipia a revelar o talento que fariadele o maior jornalista do seutempo. E' a data em que lançou"O Brasileiro", diário que vinha,de certa fôrma, substituir o "FarolMaranhense", cuja circulação forasuspensa. Com a morte de Moraese Silva, diretor do "Farol", Fran-cisco Lisboa fecha "O Brasileiro" epõe-se a frente do Jornal cujotítulo gozava já de prestígio e fa-ma. Conserva-se por dois anos nadireção do "Farol Maranhense"que abandona em 1834, para fun-dar e dirigir o "Éco do Norte" até1836. Neste ano estabelece umasolução de continuidade em suacarreira de jornalista, para tor-nar-se secretário de Antônio Pedroda Costa Ferreira, Barão de Pin-daré. Deputado em duas legisla-tura à Câmara da Província, suaatuação nos assuntos da instru-ção pública foi constante e pro-veitosa. O assassinato do chefe doPartido Liberal, Raimundo TeixeiraMendes, não tendo provocado açãoimediata e enérgica por parte doGovernador para punição do cri-minoso, faz com que FranciscoLisboa se afaste da administraçãodemitindo-se do cargo de Secreta-rio do Governo e voltando ao jor-nalismo. Em 1838 vêmo-lo dirigln-do a "Crônica Maranhense". E em1840 retira sua candidatura paradeputado provincial, quando sur-preendeu os manejos imorais quese faziam em torno dela. Recolhe-se à vida particular, entregando-se à literatura e a trabalhos jurí-dicos. Conquista lugar de desta-que como juriseonsulto.

Sua missão porém há de ser eum-prida no jornal, e em 1842 encon-trâmo-lo novamente à testa do"Publicador Maranhense", queacaba de fundar. Neste e no "Écodo Norte" faz crônica notável, de-dicando-se também ao folhetim.

Em 1848 é indicado para depu-tado provincial, depois de ter re-cusado a indicação para deputadogeral em 1847. Data de então o fa-moso discurso sobre a Anistia, queconstitue um dos mais notáveistrabalhos, versando aquele assuntona literatura brasileira.

Novo recolhimento à vida parti-cular, dedicado e estudar o proble-ma da escravidão, que resolvecombater através de um romance,cujas linhas gerais já estavamtraçadas, quando leu a famosa obrade Harriet Beecher Stowe "A caba-na do Pai Tomaz". Entendendo quede sua pena nada sairia que já nãoestivesse contido no célebre ro-mance, desistiu do propósito, pri-vando assim a literatura de obraque, sem dúvida traria a marcado talento que lhe sobrava. Se,porém, restringiu assim o acervode sua obra literária, legau-nos, noapogeu de sua inteligência apli-cada às letras, o "Jornal de Ti-mon", cujo 1.° número apareceua 25 de junho de 1852, seguindo-semais quatro números, ainda nomesmo ano. Em 1853, com mais 10números formou o primeiro volumeda obra tão notável, dedicada aoassunto das eleições, mas genera-lizando-se sobre a evolução poli-tica não só do Brasil mas do mun-do. Em análise minuciosa, expres-sada em estilo claro e brilhante,Lisboa revela-se historiador e so-ctólogo de peso, no estudo queabrange desde a. antigüidade gregaaté os nossos dias. Estudos his-tóricos sobre o Brasil formam o se-gundo e terceiro volume onde sãoabordados todos os assuntos refe-rentes ao descobrimento da Amé-rica, evolução do nosso Pais, errosna colonização, invasão francesa

LUIZ GAMA Maurício Silva Castro

Pouca coisa de sua vida deixouescrito Luiz Gama.

De subsídios que facilitassemmelhor o estudo dessa dinâmica efulgurante figura de nossa histó-ria pátria, só temos notícia de umdocumento e uma carta auto-bio-gráfica que enviou a Lúcio deMendonça.

Todavia, a história, não sei por-que encanto ou sortilégio, sabequais são os seres que devem nelaingressar.

As vezes, forças obscuras e re-trógradas agem deslealmente, pro-curando omitir do conhecimentohumano vultos que lutaram e maisfizeram nesse esforço constante eglorioso de empurrar o mundo pa-ra frente. Interessante, porém, éobservar que essas forças levamsempre a pior.

De fato, não podemos fugir desseprincípio: "A evolução é uma leinatural".

O caso de Luiz Gama é típico.A história, entretanto, gravou, àfogo nos livros dos homens ou fo-ra deles, os feitos desse "pretinho"de caráter cuja existência é todamitério.

Seu comportamento, de um mo-do geral, foi o de luta titânica con-tra o instituto odioso da escravidãoLutou; até o fim e só aqueles queconhecem e observam o que re-presenta a árdua tarefa de traba-lhar pelo progresso da humani-dade, podem avaliar a existênciade Gama.

Essa luta gloriosa que sempreabre as portas da História aos seusvultos mais queridos, muita veztraz o desânimo e o ceticismo.

Mas Luiz Gama jamais se aba-teu nessa tremenda peleja.

Enfrentou a reação hidrófoba,pugnando pela causa justa da li-berdade dos de sua raça.

Pregou e agiu pela abolição numpaís onde imperava o escravagis-mo. De sua pena e do seu verbojorravam paiavras candentes con-tra o crime de lesa humanidade.

Não se vergou, porém, o jorna-lista, e morreu defendendo suacausa.

Luiz Gonzaga Pinto da Gamanasceu na cidade do Salvador. Depai desconhecido, era filho de D.Luiza Mahin, mulher valorosa e decaráter. Os elementos de raça pre-ta da Bahia eram originários dasmelhores tribus africanas. D. Lui-za pertencia â tribu dos Nagôs.

Seu pai pertencia a fidalguiabaiana. Um dia, o "nobre" levou ofilho a passeio e deixou-o a bordode um patacho que conduzia es-cravos. Tinha o menino 10 anosde idade.

Após esse ato nefando, sa-bemos que Luiz Gama apareceuem São Paulo, incluído numa levade escravos.

Os de origem baiana eram, naocasião, regeitados pelos compra-dores. Várias revoltas rebentaramna Bahia de iniciativa desses in-felizes. Quanto mais aumentavama opressão e a tirania, maior vigore resistência encontravam de par-te dos escravos. E as rebeliões sesucediam. Por isso os propríetá-

e holandesa, sobre Anchieta,, No-brega e Vieira, sobre lei, povo eterras brasileiras.

Além do "Jornal de Timon" dei-síou também alguns trabalhos bio-gráficos, entre os quais a vida deOdorico Mendes e o volume Vidado Padre Antônio Vieira, obra sô-bre a qual recomendou: fosse quei-mada sem ser lida, e que PedroLessa considera o principal tra-balho de Lisboa, suplantando o pró-prio "Jornal de Timon".

Em 1855 veio para o Rio de Janeiro, sendo mandado logo depoispara Portugal, com a missão de pes-quizar nds arquivos de Lisboa do-cumentos elucidativos de nossa his-toria. Lá se conservou até 1859quando voltou ao Brasil em férias,para regressar ainda no mesmoano. Na sua estada em Portugalfez-se amigo de Herculano e Lo-pes Mendonça. E a 26 de abril de1863 faleceu em Lisboa, tendo sidoseus restos mortais transferidosmais tarde para São Luiz e guar-dados na capela-mor do Conventode Nossa Senhora do Carmo.

É patrono da cadeira n.° 18 daAcademia Brasileira de Letras.

rios de seres humanos geralmente,não compravam os de procedênciabaiana.

De São Paulo, Luiz Gama foi le-vado para Santos e, posteriormentepara Campinas, onde aprendeu acozinhar e a copeirar. Mais tarde,seu protetor Antônio R. Prado Jú-nior lhe ministrou as primeiras le-trás.

Havendo obtido provas, secreta-mente, de que não era escravo.Gama foge para São Paulo.

Adotou seu nome para lançarum disfarce, quanto ao nome dopai.

Na capital bandeirante assentapraça na Milícia de São Paulo,onde chegou a graduação de caboTeve, porém, uma altercação comum oficial e é submetido a con-selho de guerra, que o exclue daMilícia por ato de insubordinação.

Em São Paulo, tendo uma bi-blioteca à sua disposição, desen-volveu bastante a sua cultura.

Possuidor, então, de bôa ins-trução, candidata-se ao vestibularda Faculdade de Direito. Após pro-vas brilhantes, ingressa nessa es-cola superior.

A pressão que sofreu por partedos colegas foi tremenda, com com-bate revestido das característicasde trotes, os "arianos" da escolanão perdiam vasa para o humilhar.Gama, desiludido, abandonou aFaculdade.

Ingressou no funcionalismo pú-blico, obtendo um lugar de ama-nuense na própria Milícia de ondefora excluído.

Depois desse acontecimento, de-senvolveu suas atividades poli-ticas e foi para o Partido Liberal.

Convém assinalar que Luiz Gamatambém foi poeta. Publicou, então,nesse período de sua vida: Primei-ras trovas burlescas de Getulino";no volume apareceu a poesia:"Quem sou eu?".

Em 1864 publicou com ÂngeloAgostini o jornal "O diabo coxo"e cinco anos mais tarde o "Radl-cal Paulistano", com Rui Barbosa.

Há algumas passagens, de saborhumorístico, na vida desse bata-lhador brasileiro.

Conta-se que de uma feita hou-ve um duelo de palavras entre elee Carneiro Leão. Era costume, naépoca, designar-se os pretos, pejo-rativamente, de "bode". No duelocitado, Carneiro Leão mencionoutermo. Gama respondeu-lhe;

Sabes que somos parentes? Souteu primo.

Carneiro Leão, que era brancoracista, mostrou-se admirado eGama concluiu gozando a raivado outro:

Então o "carneiro" não é primodo "bode"?

De outra vez, efetuava-se o re-censeamento paulista. O formula-rio fora entregue ao agente semdeclaração da cõr. O funcionárioo procurou várias vezes em seu es-critério. Um dia encontraram-sena escada e perguntou-lhe o agen-te do censo se conhecia Luiz Gon-zaga Pinto Gama. Este respondeu-lhe afirmativamente. Então, prós-seguiu o funcionário; "como viés-se aqui, várias vezes, e não encon-trasse esse senhor, resolvi colocara côr branca no formulário". Gamaretrucou-lhe: "Acertou. Pode irtranqüilo".

Outra passagem notável da vidadesse abolicionista ocorreu em umpleito ante o juiz. Falava o outroadvogado" "Meritissimo Snr. Juiz.Lendo estes autos fui descendo, des-cendo, descendo e quem encontrei?Este bode..."

Quando Gama usou da palavradeu-lhe a devida resposta: "Meri-tissimo Snr. Juiz. Lendo esses au-tos, fui subindo, subindo, subindoe quem encontrei? o filho da exce-lentíssima..."

E' da tradição que Gama hou-vesse proferido perante o Tribunal:"Snr. Juiz, é legítimo todo crimedo escravo contra o senhor".

Rui Barbosa disse que a "maiorglória de sua vida foi conhecerLuiz Gama".

Numa tarde chuvosa de agostode 1882, faleceu, em São Paulo,essa figura que era ídolo dos desua raça e dos brasileiros que ali-mentam em seus corações o sen-timento de fraternidade.

Seu enterro foi um dos grandes

espetáculos assistidos pela popula-ção paulista.

A multidão, a pé, debaixo elechuva conduziu o corpo pelas ruasda cidade até o cemitério.

A beira da sepultura, falaramvários oradores. O ambiente era o opesada tristeza e até a própria na-tureza chorava.

Foi nessa ocasião que se ouviuuma vós que ecoou no silêncio docemitério, prometendo que os pre-sentes continuariam a sua luta.

Há dúvida quanto a pessoa queproferiu. Uns afirmam que foi cu -maço Barbosa e outros AntônioBento.

E assim, nessa tarde lúgubre,perdeu o Brasil um de seus glorio-sos filhos.

CRONOLOGIA1830 — 21 de junho — Nasce na

cidade do Salvador — Rua doBângala — Luiz Gama;

1838 — E' batizado na matriz deItaparica;

1840 — E' vendido como escravopelo próprio pai;

1847 — Aprendeu a ler na casaem que é escravo, sendo seu pro-fessor Antônio Rodrigues do PradoJúnior.1848 — Obtém provas secretas deque não é escravo. Foge da casado seu suposto senhor e assentapraça na Milícia de São Paulo.1854 — Respondeu a Conselho deGuerra. E' excluído da Milícia Pau-lista por ato de insubordinação.

1858 — E' nomeado amanuenseda Secretaria da Polícia de SaoPaulo.1850 — Apareceu o livro "Primeirastrovas burlescas de Getulino".

1865 — Luiz Gama publicou o seujornal: "O diabo coxo", tendo comocompanheiro Ângelo Agostini.

1869 — Redige, com Rui Barbosa,o "Radical Paulistano".1882 — 24 de agosto — Faleceu emSão Paulo.1932 — Na Praça Alexandre Her-culano — São Paulo — é, por ini-ciativa dos negros brasileiros, inau-gurado o busto de Luiz Gama.

Rio de Janeiro, 28 de Outubrode 1950.

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Dezembro de 1950 — Vol. XI, n,° 12 AUTORES E LIVRO Página 129

GALERIA JORNALÍSTICAFERREIRA D ARAÚJO Cinco Fases de José do Patrocínio

JfíirciMa Marimri Silva

po

vimos nos ocupar hoje de uma,,'.".Maiores Inteligências do jor-,,'ai.rio brasileiro — Ferreira de

!„,-,a0 _- filho de José Ferreira...aaza Aratijo e de D. Helena

•a . na de Souza Araújo. Nasceu,„' Rio de Janeiro em 25 de Marçole 1948.

ceu pai exercia atividade comer-.-,-,: mais almejava para o menino,7 . inalo mais honroso e, para tal,'í'o

mediu sacrifícios. Em 1862'¦".'¦¦ vjculou o filho na Escola de

\> - tina, da qual, cinco anos mais•arde o jovem José Ferreira deáaJiJríi Araújo sai com o título dejoutor em medicina.

Dedicado aos estudos, tornou-senl. lai.m médico, sendo distlaiRuldo,J'n Colônia Italiana, e por curas-.,:, com facilidade realizava.

.-•¦icero e sobretudo modesto, co-•ui são os espíritos bem iorma-J|,' 7 Ferreira de Araújo caníassavali ¦ de medicina nada .sabia, maspr, , uva sempre o contrário quan-lí i ,-r dispunha a curar um doente.

Apesar de exercer com relativama* a^tría a profissão do médico, re-coaaliecia que saia vocação m"ao eraaquela. Sentia-se imensamente fe-ii? caiando rodeado de homens que,devido à sua inteligência e cultu-ra, formavam a plêiarte lumino-sa mi consteis cão cios expoentes dalí,.: aliara, das letras e daa; artesincluindo a oratória, naquele tem-

;sim sendo, o inevitável accn-Ferreira de Araújo ingres-

sou., cedo, na agitada vida jorna-lístiea, iniciando sua carreira no"Míssaquito", jornal de caricaturas;e logo a seguir seu nome apareceunas colunas do "Guarani", outrojornal do mesmo estilo.

Seu entusiasmo crescia e aumen-tava cada dia mais e cada vez maiase dedicava aos trabalhos de jor-nal. Ao deixar o "Mosquito", íun-dou o "Diário dé Notícias".

Cheio de coragem, de esperança,dono de uma inteligência sagaze sólida cultura, conheceu desdelogo as deficiências da ImprensaBrasileira e compreendeu o que fal-tava para preencher as lacunasexistentes.

E assim foi que idealizou criar nanjornal baseado em moldes dife-re ates dos de então. Sua força devontade aliada à capacidade derealizador muito o auxiliaram aconcretizar o seu grande ideal.

Ern 1875 fundou a "Gazeta de'No-lidas".

A "Gazeta de Notícias" revolu-cionau não só os meios literáriosejornalísticos como também o pú-blico ledor. pelo modo com que eraapresentada. Seus artigos desper-lavam interesse e aguçavam admi-ração. Tornou-se em pouco tempoi 'símbolo das reformas operadasno jornalismo brasileiro", no dizerdo ilustre Acadêmico Múcio Leão,

O médico jornalista era incansá-vel no seu afã de sempre apresen-f ar novidades e não raro buscava

inspiração nas fontes de povosmais adiantados.

Seguia o exemplo do notável Jor-nalista francês Emílio de Girardin,diretor de um dos mais importan-tes jornais de Paris, La Presse.Esse jornal publicava trabalhos dosmaiores escritores da França, ad-mirados em todo o universo, poisque a velha e heróica França eraainda o berço da literatura univer-sal.

Ferreira de Araújo conseguiu fa-zer o mesmo aqui no Rio. Para isso,reuniu um corpo de redatores e co-labor adores composto de nomescomo — Machado de Assis, OlavoBilac, Coelho Neto, Elisio MendesManuel Carneiro, Henrique Chaves(introdutor do sistema de esteno-grafia no senado Federal), PedroAmérico Emílio de Menezes, Eça deQueirózo principe dos romancistasportugueses, com seu estilo incon-fundível, José do Patrocínio, Ar-thur Azevedo e muitos outros no-mes de indiscutível valor.

Como não podia deixar de ser,Ferreira de Araújo elevou a "Ga-zêto de Notícias" aos píncaros daglória, a um êxito sem precedentesna história do jornalismo nacio-nal. Criou, assim, uma nova men-talidade jornalística, e tudo issograças ao seu talento aliado àNoeiino - Emendas - 194.699 23-2-grande capacidade de trabalhoconstrutivo.

Eis aqui algumas das mais di-vulgadas seções da "Gazêto deNoticias" ao tempo do seu saudosofundador:

"Macaquinhos do Sótão" — as-sinada por João Sem Telha.

"Cartas do Ausente" — assina-da com a letra "A".

"Balas de Estalo" — assinada porvários escritores."A Semana" crônicas de Machadode Assis, hoje reunidas em 3 vo-lumes das suas Obras Completas.

As seções "Macaquinhos 'no So-tão" e "Cartas do Ausente" eramescritas por Ferreira de Araújo.

O elemento feminino não foramenosprezado. Para êle, Ferreirade Araújo volta sua atenção, pres-tando homenagens de modo edici-ente e instrutivo, dedicando-lhepágina dc Moda, Beleza, Poesias eoutras delicadezas que tanto agra-dam à versátil e sutil alma íe-minina.

A "Qazêta de Notícias" repro-duzla fielmente o que o tituloanunciava, Seus artigos, escn-tos por tão altas capacidades inte-lectuais, davam ao Jornal um bri-lho sem par. Seu redator-chefe as-sinava vários artigos e por isso foidenominado "o jornalista com-pleto", porque escrevia, com faci-lidade, clareza e bom humar, to-dos os gêneros jornalísticos.

Incansável no afã de produzirmais e melhor, dava ao leitor o en-sejo de ler trabalhos escritos nomais belo estilo e na mais perfeita

Justiniano José da RochaBranca Maria Garcia Ferraz Praça

"Fé em Deus, fé nas instituiçõese fé no futuro".

Estas expressivas palavras dei-xaram assinalada a nobre trajeto-i'ia da vida jornalística de Justi-niano José da Rocha.

Quasi ao apagar as clntilações<ie um espírito de escól, deixouêle, nas páginas do "Regenerador",este testemunho de elevado idea-Usino. Pouco depois falecia, em1862, multando unicamente no Jor-nal ão Comércio como simples re-ilator, este homem que durante suavida havia tido a chefia de inúme-1 'os jornais: O Atlante e o Cronista,íe 1338 até 1839, periódicos conser-vadores que combateram forte-mente a Feijó; o Brasil em 1840.flelensorda causa da maioridade deD. Pedro II, periódico de atuaçãonos dois grandes partidos Liberale Conservador, concorrendo para aanaeda do Liberal e vitória do Con-servador, seu partido; de 1853 a 1854orientou O Velho Brasil, de dura-cão efêmera, mercê da política doMarques do Paraná, que extermi-noou seu partido; seguiram-se os

jornais Constitucional eRegenera-dor, até 1860.

Natural da cidade maravilhosaRio de Janeiro, onde nasceu em 8de novembro de 1812, muito jovemingressou no colégio Henri IV naFrança, adquirindo apreciável cul-tura, bem longe de seu país natal.

Voltou ao Brasil para fazer ocurso de Ciências Jurídicas e So-ciais em S. Paulo. Ao bacharelar-se, em 1833, iniciou o magistério,com as cadeiras de História e Geo-grafia no Imperial Colégio Pedro II.

Mais tarde, em 1841, na EscolaMilitar do Elo de Janeiro, foi cate-drático de Direito Militar, de Fran-cês e Latim.

A politica então o arrastou. Emtrês legislaturas foi eleito deputadopor Minas Gerais. Não possuía odom da palavra, motivo que o le-vou a dedicar-se dessa época emdiante ao jornalismo, pois domi-nava com rara elegância a com-bativa polêmica, faculdade que uti-lizou em defesa das mais altas cau-sas patrióticas.

ética jornalística, o que até hojenos desperta admiração.

Foi donominado defensor daAbolição. Bateu-se em favor da 11-berdade de religião. Defendeu aRepública. Foi partidário do di-vórcio, sobre o qual redigiu ar-tigos brlhantes em defesa dos côn-juges.

Como crítico teatral era de umaimparcialidade admirável. Escre-veu peças de teatro e vários contos.Era colaborador da "Revista Bra-sileira" e ainda escrevia para doisjornais de S. Paulo.

Ferreira de Araújo também teveinimigos e um deles, certa vez,o processou (18B4). Foi o Conse-lheiro Moreira de Barros. Mas onosso escritor defendeu-se herói-camente. Naquele mesmo ano re-solveu reunir em um livro os seusartigos sobre política, ao qual deuo título de "Coisas Políticas".

Trabalhava sempre com alegriae entusiasmo, uma das razões doseu triunfo. Do amor ao trabalho,da dedicação e alegria com que sãoleitos certos empreendimentos, de-pende em grande parte seu êxito.

Ferreira de Araújo defendia-segalhardamente de tudo o que podiaimpedir-lhe os passos na marchavitoriosa para o progresso. E issofazia com que o seu conceito crês-cesse perante o público, que o ad-mirava e rendia-lhe tributo comhomenagens sinceras.

Conta-se que, certa véz, umamultidão de admiradores de Fer-reira de Araújo e de José do Pa-trocínio reuniu-se na rua do Ou-vidor, em frente à redação do jor-nal "A Cidade do Rio", para ren-der homenagem a José do Patroci-nio, seu fundador e diretor, ao queo brilhante orador agradeceu comum caloroso discurso. A seguir aturba entusiástica dirige-se paraa redação da "Gazeta de Notícias",e ali reclama a presença de Fer-reira de Araújo, pois queria ouvir-lhe a voz.

Ferreira de Araújo ficou emba-raçado. sabia êle não ser bomorador... Afinal decidiu-se. Apa-rece na sacada ao lado de José doPatrocínio e dirige-se ao povo as-sim:"Eu sou jornalista, quando queroexpressar minhas idéias o faço porescrito. Por isso peço ao meu co-lega José do Patrocínio que digapor mim o que eu desejaria dizer".

José do Patrocínio fêz com gran-de brilho outro discurso, que em-nolgou ainda mais os ouvintes.

Um outro episódio interessantena vida do insigne jornalista foio duelo que teve de empreendercom o Conde de Matozinhos, dire-tor do "O País".

Ressentidos e ofendidos em suadignidade, resolveram o caso comum duelo a pistola. Aconteceu quena hora exata em que os dois pu-xaram o gatilho do revolver as ar-mas negaram fogo, o que sausouprofunda admiração aos presentese surpreza aos duelistas. Devido aoinesperado incidente, a paz foifeita entre os maguados, que derampor encerrada a questão, termina-dos os ressentimentos e com issolavada.a honra de cada um.

Passaram-se os anos e eis quesurge a aurora de 1900. O nossoilustre escritor não estava predes-tinado a viver no novo século. Ata-cado de terrível moléstia, artério-esclerose, foram em vão todos osesforços, as viagens de cura e re-pouso empreendidas. O mái nãopoude ser debelado, e Ferreira deAraújo faleceu aos 21 dias do mêsde agosto do mesmo ano.

Todos os jornais prestaram-lhesentidas homenagens. Seu feretrosaiu da rua das I aranjeiras n.° 59,tendo comparecido as mais ilus-tres personalidades, dentre elasdestacando-se o Vice-Presidente daRepública e o maior romancistabrasileiro — Machado de Assis.

Diante de sua sepultura foramproferidos os mais calorosos dis-cursos, exaltadas suas qualidadesde grande empreendedor, de bata-lhador incansável em prol de umjornalismo melhor e de uma Na-ção mais culta. Foram as últimasdeferências dos amigos e admira-dores, que assim ficaram Impossi-bllitados, para sempre, do conví-

INTRODUÇÃOHá no mundo vidas tranqüilas

e aprazíveis, aquelas vidas de quefala Péguy, "qui se déroulent com-me un bei ècheveau de latnes", etambém há vidas tumultuosas, ar-dentes e agitadas, egoístas ou gene-rosas, abnegadas ou frívolas. Tam-bém há vidas meteóricas, que con-quistam brilho e fama ao dedicar-se inteiramente a uma grande cau-sa e atingem o seu máximo ex-plendor, quando conseguem vertriunfante o seu ideal.

Tal foi a vida de José do Pa-trocínio, "pois todo êle ardia nu-ma chama única, e como um pro-digloso Batista negro, percorria oNorte e a sua aridez, arrastandomultidões deslumbradas, como quetransfiguradas diante de uma no-va revelação" (1).

João Marques, seu amigo, tinharazões, ao dizer-lhe naquele diaglorioso da abolição, estas pala-vras proféticas onde a admiraçãose mistura já com nm pouco deazedume: "Que belo dia para mor-reres, Patrocínio, nunca mais en-contrarás outro igual! Morrerásem plena apoteose a tua morteabalará o Brasil e ribombará portodo o mundo. Tua família, coma efervcrèncía que há, ficará a sal-vo de todas as necessidades, talvezmilionária. Teus filhos serão ado-tados pela nação. Teu enterro seráum triunfo maior do que os triun-ios romanos e teu túmulo seráoutro Santo Sepulcro!" (2).

Nesta personalidade batalhadorae ativa que foi Patrocínio, "o tu-multo feito homem", como o quali-ficara Araripe Júnior, podemos des-tacar várias facetas, todas Igual-mente interessantes, porque cadauma delas descobre o seu caráterde um ângulo diferente: em pri-meiro lugaar, o homem, marcadodesde o seu nascimento pelo duploestigma da ilegitimidade e da cõrá oabolicionista inflamado, que soubeentregar-se de corpo e alma àque-le alvo sagrado; o jornalista mili-tante e infatigável, em torno doqual se agrupava a mocidade daépoca; o orador que arrastava asmultidões embora sem ter dialé-tica, nem obedecer às formas aca-dêmicas, nem preparar prévia-mente os seus discursos, e final-mente, o escritor, cujos romancessó alcançaram uma popularidadefugaz, reflexo daquela que irra-diava a ilustre figura do seu autor.

I. O HOMEM. — Filho de umaquitandeira, Justina Maria do Es-pírito Santo, e do padre João Car-los Monteiro, nasceu José do Patro-cinto em 8 de outubro de 1854. Dosua mãe herdou o sentimento vin-gatlvo da raça oprimida, e do pai,que segundo as crônicas, era pes-soa de grande inteligência, aqueletalento que devia distingui-lo des-de o começo.

Em 1868, fatigado da vida abor-recida da paróquia de Campos, _epossivelmente também para _ nãover mais os sofrimentos da mãe, onosso rapaz decide viajar à Corte,sem dinheiro no bolso, mas comgrandes ilusões no coração.

As ilusões são próprias da idademoça e aquela atitude nos parece,não só natural, mas também admirável, porque demonstra o seudesejo de escapar a uma vida mes-

(1) Viana, Oliveira, O Ocaso ãaImpério, 2.a ed., (São Paulo, 1925)págs. 73-74.

(2) Orico, Osvaldo, Patrocínio, 2.*ed.. (Rio de Janeiro, 1935) págs. 169.

vio amável do esclarecido escritor.. Ferreira de Araújo desapareceudentre os vivos, mas teve a glóriade continuar na lembrança e noscorações dos homens que cultuame hão de cultuar as letras, enquan-to houver no mundo Academias,jornais e jornalistas que se inte-ressem pelas coisas mais elevadas...

BIBLIOGRAFIA:Literatura Brasileira deHist

Sílvio Romero.Antologia Brasileira de Eny Wer-

neck.Notas tomadas em aula do Pror.

Mucio Leão.

Marta Casablanca(Bolsista argentina)

quinha para escalar posições nasociedade.

E' impossível agora imaginar avida de José na capital, perceben-do apenas dezoito mil réis mensais.Aprendiz extranumerário da Far-macia da Santa Casa, foi depoisempregado na casa de saúde da Dr.Batista dos Santos. Graças à bon-dade do Dr. Joaquim Pedro d'Aqui-no, seu mestre e amigo, consegueos meios para estudar os prepara-tórios de Farmácia e os de Medi-cina. A hostilidade de um profes-sar, porém, lhe barra o diploma demédico e êle deve contentar-se tãosomente com a farmacopéia. ümcolega, Sebastião Catão Calado,fornecia-lhe generosamente casae comida, até que, em 1874, quan-do conquistava o seu grau, encon-trou-se numa séria dificuldade.Calado partia para Santa Catarinae éle ficava só, com uma carta defarmácia que só lhe servia paraser alugada, pois a falta de recur-sos não lhe permitia estabelecer-se.

"Resolvi morrer de fome", escrvenaquela época. A providência ba-teu à sua porta, na pessoa de umcondiscípulo do externato, JoãoRodrigues Vila Nova. Possivel-mente nunca pensou Patrocínio quena casa do capitão Emiliano Rosa,padrasto de João, ia decidir-se oseu futuro. O capitão simpatizou-secom aquele moço cujos olhos de-viam luzir de ambição e de en-tusiasmo, e lhe ofereceu morar nacasa, como professor dos seus fi-lhos. Infelizmente, êle não sabiaou tinha esquecido que um pro-fessor jovem e Inteligente podeexercer grande influência sobre ocoração das suas alunas. E BibiSena, de dezenove anos, não tar-dou em apaixonar-se por José, sen-do ardentemente correspondida porêle.

O amor vence todos os obsta-culos, e o casamento se realizou,apesar da contrariedade do pai,que, embora liberal, não gostavamuito daquele genro mulato.

Não temos motivos para suporque Patrocini onão fosse bom ma-rido nem bom pai. Os seus bió-gratos lembram alguns incidentesque parecem querer demonstrar asua infidelidade, mas, neste caso,como aliás cm muitos outros, quemé que pode atirar a primeira pe-dra?,

Devia ser um homem desses quequando trabalhou esquecem tudo.Preocupado com a campanha abo-licionist.a, com os jornais, com osseus ideais visionários, é pos,sívelque alguma vez tenha deixado delado os seus deveres e obrigaçõesno lar. Mas ninguém é prfeito, euma das glórias de Patrocínio é naotê-lo sido.

Já na maturidade, ardor doseu temperamento o levou a inter-nar-se nas lutas políticas da Re-pública. Floriano não o perdoou eno dia 10 de abril de 1892 foi as-sinado o decreto que condenava ogrande jornalista ao degredo emCucuí, terra inóspita de cujo pre-sídio ninguém voltava jamais.

O exílio poderia ser consideradouma pena infamante, se Napoleão,Victor Hugo, Tomás Gonzaga emuitos outros grandes vultos não otivessem honrado e engrandecido.O embarque dos prisioneiros foitriste, porque a polícia de Florianoimpediu que mesmo a família e osamigos íntimos fossem levar aosdesterrados o supremo conforto deuma palavra de adeus. Só Rui Bar-bosa se tinha aventurado na ves-pera na fortaleza onde se acha-vam, para apertar as suas mãos.

Tudo chega ao seu fim, e com aanistia, Patrocínio é devolvido aosseus, regressa ao Rio, depois de terrecebido, durante a viagem, entu-siásticas manifestações de simpa-tia das populações nortistas.

Mesmo com a velhice e a ine-vitável decadência, o tribuno nãose recolheu para descansar das fa-digas daquela imensa jornada.Durante o dia mantinha na suar.asa uma escola, na qual êle e Bibilecionavam gratuitamente a qua-renta crianças pobres. À noite, Jo-gava bisca ou "rams" corri algunsamigos. A sua saúde ia progressi-vãmente enfraquecendo-se. Du-

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Página 130 AUTORES LIVROS Dezembro de 1950 — Vol. XI, n.° 12

GALERIA JORNALÍSTICACINCO FASES DE JOSÉ DO PATROCÍNIO

rante uma homenagem a SantosDumont foi acometido de hemop-tlses. O seu estado piorou e a mor-te chegou até o escritório e o sur-preendeu enquanto êle escrevia umartigo sobre a Sociedade Prote-tora de Animais. Era a 30 de ja-neiro de 1904.

"Morreu como vivera, defendendoos fracos, batendo-se pela Piedade.O seu último apelo fora em proldos animais, talvez mais gratos doque os homens", escreveu CoelhoNeto. E nós acrescentamos: foium lutador, e morreu na sua lei,combatendo até o fim.

II O ABOLICIONISTA. — A his-tória do abolicionismo no Brasiljá foi escrita em forma prolixa edocumentada e todos os hitoria-dores estão de acordo em decla-rar que "o negro admirável cons-titui, sem favor, a figura central,dominando o imenso quadro dessaformosíssima conquista" (3).

O abolicionismo estava nas con-ciências ilustradas, nos jornais devanguarda, na própria mente doImperador, qne destinava gran-des somas para a liberação dos es-cravos e assim "o. monoíito rolava,empurrado irremissivelmente pelaargumentação candente de JoaquimNabuco e pela eloqüência irresis-tível e avassaladora de Rui Barbo-sa, cuja cabeça Patrocínio chama-va "a basílica de São João de La-trão do Abolicionismo" (4).

Na infância de Patrocínio hadois espisódios que demonstrarama precocidadô daquele sentimentoabolicionista. Um dia, levado porum movimento de cólera, bateunum escravo, mas também outravez, vendo um bárbaro castigo queseu pai mandava dar aos negros, sejogou do alto de uma escada, numgesto heróico de protesto. Do pri-meiro data o seu íntimo remorso,enquanto que o segundo é o pri-meiro elo de uma longa correntede lutas.

Ao negar-se uma vez a respon-der a um artigo injurioso de Sil-va Jardim, disse com voz indigna-da: "José do. Patrocínio não éagora um homem, é uma causa,que me insultem à vontade! As in-júrias não logram abalar o motivoque represento".

A glória da sua campanha nãoestá só nos seus artigos, mas nassuas conferências públicas. Bahia,Pernambuco e Ceará representa-vam na vida brasileira a parte pro-gressista, porque lá os fazendeiroslibertavam em massa os seus es-cravos. Os abolicionistas cariocasjulgaram propício pedir a Patro-cínio que se dirigisse ao Norte, pa-ra animar aquela zona com o fole-go da sua palavra. Foi recebido,triunfantemente, especialmente noCeará, que éle nunca esqueceu e aoqual chamava de "Terra da Luz".

Em Campos, sua terra natal, osescravocratas lutavam contra oslibertadores. Lá foi também ctribuno, que voltava da Europa, on-de tinha recolhido novas experi-ências e descortinado novos hori-zontes.

As mais emocionantes homena-gens foram tributadas então àmodesta mãe de Patrocínio. Ven-cendo a sua resistência, conseguiutrazê-la para o Rio, onde morreupouco tempo depois, como conse-qüência de uma operação. O des-tino de Justina foi a antítese da-quela desgraçada rainha que nas-ceu na corte mais luxuosa da Eu-ropa e morreu na guilhotina en-tre os insultos do povo. A pobrevendedora de hortaliças, a quemDeus concedeu a honra de dar àluz um titã, deixou o mundo acom-panhada pela multidão dos aboli-cionistas e pelo que de mais repre-sentativo possuía o país no jor-nalismo, na administração, na elo-qüência e na literatura.

O abolicionismo foi um enérgicomovimento de rebeldia. "Por êlebatalharam os nossos maiores ora-

<3> Pacheco. Félix. A vida útil egloriosa da Academia Brasileira de Le-tra$ e o amanhã da lingua portu-çuesa encarado atravez da reformaortográfica em andamento. (Rio deJaneiro, 1932) pág. 32.

(4) toldem, pág. 37.

dores, os nossos maiores jorna-listas, os nossos maiores poetas, asnossas maiores consciências. Porêle os nossos Ruis, os nossos Na-bucos, os nossos Patrocínios, osnossos Castro Alves, o entusiasmoda nossa macidade e a sensibili-dade das nossas mulheres. Todasessas grandes forças espirituais seuniram, se arregimentarem, se mo-bilízaram numa solidariedade im-pressionante para o ofensiva irre-sistível contra a velha instituiçãoservil" (5). E Dantas escrevia:"A escravidão é uma causa per-dida, ferida de morte desde 1817, eo governo apenas trata de dar-lhemorte lenta". (6).

Desde aquele glorioso 13 de maio,Patrocínio, que tinha simpatias re-publicanas, desviou o curso dos seusideais e se dedicou a louvar a Prin-cesa Redentora, que quiz honrá-locom o título de Barão da Reden-ção. O seu fanatismo inspirou aGuarda Negra, que tantos infortú-nios ocasionou.

Invocando a lealdade, a conside-ração e a gratidão de que era cre-dora D. Isabel, os antigos escravosdedicaram-se a semear a indisci-plina nas ruas, interrompendo. _ãsvezes as mais puras manifestaçõesde patriotismo. ¦

Costumava o Partido Republica-no aproveitar as grandes festas dahumanidade, para realizar desfilese fazer propaganda. 14 de julhode 188!) era o dia por demais pro-pício, e organizou-se um cortejoque marchou desfraldando no aruma grande bandeira onde se lia:'Homenagem à França". No meioda festa, a Guarda Negra irrompenaquelas fileiras, com as nava-lhas na mão. e muita gente rolouferida pelo chão.

Na "Cidade do Rio" escreveu Pa-trocínio no dia seguinte que "sóa mais infame especulação podiaconseguir que partisse de homenscie cõr a perturbação de uma festaque tinha por fim honrar a me-mória da Revolução que teve comoum dos seus dogmas a libertaçãodos cativos e a igualdade políticada raça negra".

A desaprovação, porém, chegavatarde demais. E pena que patrocí-nio esquecesse que naqueles espi-ritos perdurava ainda a excitaçãoque a liberdade provocara, e quequando alguém consegue algumpoder sobre as multidões nunca de-ve servir-se dele para exercer ademagogia.

A posteridade honrou ao "leader"como éle merecia, Eliseu César as-sim se descobre perante êle: "Josédo Patrocínio... José de Arimatea,que ajudaste a descer da cruz oCristo do cativeiro!" (7).

Em 13 de outubro, de 1906, em Be-lo Horizonte, Joaquim Nabuco lem-brava-o desta maneira expressiva:"O grande rio da abolição deságua-rá na posteridade por duas grandesbocas, das quais uma — a dinás-tica-será chamada Princesa Isa-bei e a outra — a democrática —José do Patrocínio". A posteridadeacrescentaria a essas duas a ter-ceira boca — a aristocrática —que se chama Joaquim Nabuco (Si

IIIO Jornalista. — Desde que Ou-temberg inventou a imprensa, o es-pirito adquiriu asas e as grandesrevoluções religiosas, filosóficas ouliterárias obtiveram os meios de seespalharem.

O movimenta abolicionista, gra-ças à imprensa, desenrolou umagrande e inteligente campanhaacessível a todos. "Se é verdadeque a imprensa é um sacerdócio,ninguém o exerceu com mais entu-siasmo que José do Patrocínio", es-creve Souza Bandeira (9).

Em 1877 entrou para a "Gazetade Noticias", graças à simpatia quesoube inspirar a Ferreira de Araú-jo. Logo depois de ler três sonetosde amor, da sua autoria, o grandejornalista interessou-se por êle elhe facilitou um emprego, Além do

'5) Oliveira Viana, op. dt., pág. 70.(61 Ibidem. pág, 72.(7) Orico, Osvaldo, op. cit., pági-nas 136-37.(8) Cf. Osvaldo Orico, op. cit., pâ-

gina 26S.(9) Página* Literárias, (Rio de Ja-

neiro) 1917). pág. 69.

seu trabalho anônimo, Patrocínioescrevia dois folhetins por sema-na, sendo um deles, no começo, em

. verso, "Gazeta Métrica", mini-atura de jornal com todas as sessõesdepois a "Semana Parlamentar",e os debates da Câmara acenderamgrandes entusiasmo no seu espíritocombativo. Esse foi o período degestação. Só em 1879, depois dasprimeiras agitações populares dacampanha libertadora, a boa von-tade de Ferreira de Araújo o auto-riza a começar a luta pela tribunajornalística.

A agitação tronsborda para oscomícios e conferências, alentadapela "Gazeta da Tarde", que di-rigia então Ferreira de Menezes,A 3 de agosto de 1880, Patrocí-nio surge pela primeira vez nutribuna das conferências e o seuespírito inquieto começa a acharestreito o campo da "Gazeta de No-tícias", já que o jornal, emborasimpático à causa, era conserva-dor.

José deixa então a Gazeta, e,graças aos quinze contos de réisque lhe facilita o sogro, compra a"Gazeta da Tarde", que acabava deperder um dos proprietários, Fer-reira de Menezes,

Resolutamente, desde 1879, :"t"Gazeta da Tarde" se coloca ao la-do das aspirações gerais, e Pa-trocínio recebeu a colaboração deRebouças e Vicente Sena, amboí;mulatos, dc Luis Andrade, Júliode Lemos, Gonzaga Duque, Cam-pos Porto, Leite Ribeiro, Dias daCruz e João Ferreira Serpa Jú-nior.

Naquela época, escrevia tambémna "Revista Ilustrada", que diri-gia o talentoso Ângelo Agostini.

A vida jornalística de Patrocínioacompanha de perto a sua vidaboêmia. O tribuno passava o diatodo nu redação, ka vezes nem se-quer interrompia o seu trabalhopara comer, e se contentava comuma refeição muito simples que ai-gum dos seus colaboradores lhetrazia. Jovial e acolhedor, grato kcordialidade com que fôra recebidopor Ferreira de Araújo, vivia ro-deado de talentos nascentes. "Zédo Pato", como o chamavam to-dos familiarmente, ajudou a CoelhoNeto no começo da sua carreira, e ogrande escritor devia mais tardelembrá-lo, dedicando-lhe páginasmaravilhosas.

Patrocínio nunca conseguiu equi-librar as suas finanças e estavasempre endividado. As vezes os ope-rários do jornal passavam mesessem perceber nenhum dinheiro.Mas o entusiasmo do patrão os com-pensava; quando aquele começavaa decair, Patrocínio chamava-os,dobrava os seus ordenados e aquelamágica promessa agia como enér-gico estimulante.

Junto a Coelho Neto surgiramlogo Luiz Murat, Olavo Bilac, PaulaNei, Guimarães Passos, Raul Pom-péa, Aluisio Azevedo, Emílio Ro-uéde e Pardal Mallet. Todos sen-tlam a fascinação que irradiavapersonalidade que só não podiaser idolo por ter os pés de argila,o que o tornava também mais ace-sivel e mais humano.

Logo achou Patrocínio que a"Gazeta da Tarde" não podia con-ter aquele imenso caudal de sen-timentos, e começou a procurar no-no escoadouro. Então concebeu aidéia de fundar um jornal moder-no que soubesse reunir ao mesmotemptf os ideais abolicionistas e osda mocidade. Assim nasceu em 28de setembro de 1887, a "Cidade doRio", cuja saída marcou um acon-tecimento festivo na vida carioca."Não principiamos, continuamos",escrevia Patrocínio na primeira fô-lha.

O jornal não contribuiu para afortuna de ninguém, porém, mar-cou uma fase do jornalismo bra-sileiro e fixou nas suas colunasaquela época de efervescência noscorações.

Um serviço de copa foi inaugu-rado no jornal e aquela mesa, se-melhante à Mesa Redonda do reiArtur, pelos cavaleiros andantesque a freqüentavam, atraia o ape-tite das rodas líricas da cidade.

O dia 13 de maio marcou o perio-do áureo de Patrocínio e também,

como conseqüência, o apogeu da"Cidade do Rio". O declínio virialogo, inevitável. Durante o governodo Marechal Floriano, aquele jor-nal o combateu, com a mesma fú-ria e ardor com que tinha comba-tido os déspotas escravocratas. So ostempos tinham mudado: outrasfiguras ocupavam agora a grandecena política, mas o jornalista nãose desviava do seu rumo: o seualvo era sempre o mesmo, a Liber-dade.

IV. O ORADOR. — "Quando Pa-trocínio tomava a palavra, escreveSouza Baniera, era fascinador.Não persuadia, demolia" (10). Jáestá dito tudo.

Nào era do feitio de QuintinoBocaiúva, por evemplo, orador cal-mo, refletido, que se destacavapela ponderação. "A eloqüência dePatrocínio não tinha raízes no pen-samento. Florescia da emoeão, suafôrça vinha da fôrça do ambiente".ampHando-se ã medida que se am-pliava o espetáculo. Suas oraçõesnâo obedeciam ao ritmo da orató-ria clássica, Não eram recitadas.Éle as recitava diante dos auditó-rios suspensos e perplexos. Feiodeselegante, pouco harmonioso naestatura, de repente desaparecia aimagem humana para dar lugara uma voz que comunicava a todasas platéias o poder de sua sensi-bilidade bravia" (12).

— "Nâo peço a palavra, disse nu-ma ocasião, tomo a palavra!". Tal-vez pela raça, talvez pela vida quevibrava nas suas frases, talvez pelapaixão incontida que transbordavados olhos fulgurantes, o certo é quePatrocínio foi o primeiro orador dacampanha. Isso não. quer dizer quefosse o maior, o mais meritório,mas era sem discussão o preferidodo público. Sua maneira de falai'não entrava nos moldes conheci-dos, foi um romântico da oratória.O classicismo é o vaso perfeito. Oromantismo é a água que enche ovaso e transborda; assim era a fia-ma do "leader" negro. Sabia apro-veitar-se das ocasiões para ganharo aplauso, conhecia a psicologia doauditório, provocava do mesmojeito o espanto e a admiração. Suafrase curta, incisiva, afiada comoum punhal, feria o ouvido e provo-cava uma reação imediata.

Um dia, um grupo de republi-canos que náo lhe perdoavam ofavor que lhe dispensava a Prin-cesa Redentora, pôs-se a rir nomomento em que Patrocínio come-cava uma frase dizendo: "O Bra-sil..." Mas o orador não perdeu acalma e a resposta chegou, opor-tuna: "O Brasil... que somos nós?que somos nós? Somos um povo queri quando devia chorar". E o aplau-so coroou a réplica."Quem uma vez o viu na tribuna— escreve Coelho Neto — guardapor certo, na lembrança a sua es-tranha figura semi-bárbara, qua-se grotesca, Não era um orador deescola, disciplinado e elegante; eraum ímpeto. A sua palavra não ti-nha melodia, era silvo ou rugido;o seu gesto era desmantelado, o seuolhar despedia faúlhas. Avançava,recuava, agachava-se, retraiá-se,despejava-se, ficava nas pontas dospés, arremangado, com a gola riocasaco tão subida que, às vezes,parecia um capuz de monje; o co-lete sungado deixava espoucar acamisa: era um desmantelo trá-gico de tormenta".

Apostrofado uma vez por SilvaJordim, que o apresentava como"o cativo de um beijo com que aprincesa ameigara o filho", pare-ceu perder toda a serenidade. Pau-ia Nei, prevendo a derrota, gritouoculto entre a multidão: "Cala aboca, negro!". Foi bastante parafazer brotar da sua garganta umapeça oratória magistral.

Patrocínio conhecia todos os re-cursos do orador, que prepara asvezes as introduções das palestrasmas que as troca por outras queno momento, lhe parecem maisadequadas. Certa vez foi convidado2 *ííui,eln uma data comemorativado 13 de maio. Era um belo dia de

04) Souza Bandeira, op. cit, náel-na 73. "*(12) Orico, Osvaldo, ofl. cit ni-

Bina 122. "

sol e Patrocínio começou ú\,mSnque a alegria da natureza - °°ciava & alegria dos coraçõe. il„,"depois no jantar, alguém o ^cimentava e dizia que não imjg;nava o que o orador teria teitôfosse um dia chuvoso.

— "Multo simples — 1(sr,nndeu êle — em vez de louvar o m"plendor do sul, a beleza da im»enalteceria justamente a melüicolia e a nevoa do ambiente ri"zendo o contrário do que cli-i «tarde de hoje nos deixa umã lembranca. Na hora em que nos renimos para esta festa, a n ature,«pranteia os nossos irmãos mie m"„puderam gozar as doçuras da íberdade que hoje disfrutamos"

Patrocínio era mulato escuroquase preto, "negro pela cór ,J{ariano pelo. espírito", na opiniãode Félix Pacheco (13).

A apóstrofe de "negro" que mui-tas vezes lhe foi lançada em t) cn„rosto, delxava-o indiferente _"Negro, sim — disse uma vez

Deu-me Deus a côr de otelo parater ciúmes da minha pátria!" £arrastou a miltidão que o escutava,V. O ESCRITOR E O POLEMIS-

TA. — Patrocínio não foi «vincaum escritor de valor. Na sua ju-ventude escreveu algumas poesiasde Inspiração medíocre e toda suaobra literária é, em geral, pobre ecarente de interesse."Mota Coqueiro ou A Pena deMorte", e "Pedro Espanhol", sáoromances históricos, "Os Retiian-tes" é o relato de uma terrível aê-ca no Ceará. Além disso, teve atl-vidade como tradutor e publico»"As meninas Godim" comédia emtrês atos de Maurice Ordomncaux,levada no Teatro Recreio Drama-tico, em 1898.

Deixou inacabados outros ro-mances, entre os quais se destaca.um de costumes brasileiros. "Deu-den", e a tradueíão de "A Guerrae a Paz" de Tolstoi.

Ds todas as suas polêmicas, amais célebre foi .a que mantevecontra Rui Barbosa, que por serbreve não deixou de ser encarni-cada. Foi um duelo singular, semarmas desembainhadas, sem sau-gue, que deixou como lembrançadois grandes artigos que foram "Adifamação" e "A Hipocrisia"."A Difamação", de Rui Barbosa,é a silhueta do Aretino, o célebrecaluniador, antecessor dos moder-nos- chantagistas, tipo do eternotrâsfuga que corre trás o poder eabandona os seus protetores nadesgraça. Libelista, não têm medode nada porque todos o temem,Negocia sobretudo cam o medo "Alinguagem do século é oficiosa,adulatória; a sua, desprezadora eimpudente. As calúnias impressaseram piores que punhaladas. Coi-sa estampada queria dizer coisaverídica. E éle põe a preço a ca-lúnia, o silêncio, o elogio". Rui ter-mina o artigo dizendo que porqueexistam Aretinos a imprensa náodeixará de ser livre e que a probi-dade não há de desaparecer porqueele a ameaça (14).

A resposta não se podia fazeresperar. Na "Cidade do Rio", trêsdias depois, aparecia um artigo dePatrocínio, "A Hipocrisia". Toda asua habilidade de jornalista estáali, justificando a opinião de SousaBandeira, que disse que "a suaprincipal e poderosa arma foi apena do Jornalista que nele tomoutodas as formas e feições, desde amacia penugem que titila delicio-samente a vaidade, até o ferro ra-candescente que faz palpitaremde dór as carnes e deixa a marcafunda e in apaga vel, sem esquecero acldulado alfinete da ironia, queresvalando pela epiderme, torturaa vítima com as mais cruciantesdores" (15).

O autor descreve a figura re-pugnante de Tartufo, o herói tleMolière, o mais perigoso de todosos intrigantes por que é um enve-

(continua na página seguinte'.

(13) Pacheco, Félix. Robles e Co-gumelos, Jornal do Comércio, 31 dejaneiro de 1905.

(14) Barbosa, Rui. A DUamacão,publicado n'"A Imprensa", de 13 dedezembro de 1898.

15) Souza Baniera, op. cit., pág. 69-

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Dezembro de 1950 — Vol, XI, n.° 12 AUTORES E LIVRO Página 131

GALERIA JORNALÍSTICAQUINTINO BOCAIÚVA JOAQUIM NABUCO

Wilma Luchesi.," a história atestará mie nós

criiiiparecemas ao cenário político danossa pátria, armados como cavalhei-i»f:<i e em batalha franca, leal. since-ia..." — E' este um trecho do dis-curso ç.ue Quintino Bocaiúva pronun-ciou no banquete político oferecido pe-)C3 republicanos paulistas em maio tíeÚ-?,9, ao receber a investidura de chefeti, partido republicano brasileiro.Essas palavras traduzem bem a ati-tude e a personalidade do grande jor-niilista e político.

Quintino Ferreira de Souza, nascidojio Riu de Janeiro aos 4 de dezembrodf' lb"o, adotou o nome de Bocayuvaem São Paulo, onde se inscrevera noCurso Anexo da Faculdade de Dl-re-ito. Batalhou desde muito jovempela causa da República, fundandocom Ferreira Viana, o jornal "AHonra". Colaborou também no "Acaya-ba". impelido poi- dificuldades finan-eelras e por motivos de saúde, veiupara o Rio, e em 1852 estava no Quadrodos colaboradores efetivos do "Diá-rio do R:o de Janeiro", de SaldanhaMarinho. No "Correio Mercantil" pu-blica artigos referentes a assuntesamericanos. Numa viagem ao Prata,durante a guerra rio Paraguai, consoli-cia .suas idéias republicanas.

Em 1870. com Saldanha Marinho,fuiidpva o Partido Republicano. OManifesto por è\e redigido em colabo-nino com Salvador de Mendonça eSaldanha Marinho, publicado no pri-meiro número do Jornal "A Repú-'Mica", inaugurou oficialmente umacampanha, que seria tenaz, ardente,e .onvicta. em favor de um alto idealpolítico,

Quintino foi sempre o batalftador se-reno. porém ciente de sua força; cai-mo, porém disposto a não ceder nunca.TT.is rodas políticas e no ambiente deimprensa, era chamado de Príncipe,A linha absoluta, a serenidade fidalgada pessoa, não as deveu, porém, a ilus-tre linhagem. Quintino era nobre naMia essência, aristocrata na conduta,pela finura de seu espírito bem for-mado. Na oratória, tanto quanto nosescritos, dominava a palavra, nâo sedeixando nunca seduzir pela dema-gcgia ôca que tende a impressionar.Conforme Ubaldino do Amaral, pos-

Cíiieo toses ile José do Patrocínio(Continuação cia página anterior)

nenador de consciências. Hipócri-Ias religiosos hão de existir semprepara vergonha da humanidade, ecomo agem dissimuladamente, asua suposta inocência assegura-lhes a impunidade. Tartufo é pa-triota, mas por amor à paga, acei-ta a causa do filho do homem quedizimou ferozmente a população doseu país.

Suo estes artigos duas obras pri-mas e talvez seja a de Patrocí-r.lo a que tenha mais valor. A penade Rui era mestra em obras pri-mas e não precisava daquilo paraconquistar o renome de escritor.Patrocínio, que nunca foi escritor,conseguiu brilhar naquelas pági-nas, o que prova que o rancor podefazei- brotar fontes de límpida ins-pi ração.

NAo sei se o monumento a Pa-trocínio já foi erigido, mas é certo(ue enquanto êle não o tenha, ficaúe pé aquele outro grande manu-isento que èle ajudou a levantar cque por isso, é também o seu: a lei«o 13 de maio.

BIBLIOGRAFIABarbosa, Rui, A Difamação, n"'Aimprensa", de 13 de dezembro dc18S8.Homenagem a José do Patrocí-tm, em 8 de outubro dc 1883, (Rioae Janeiro, 1883).Moraes, Evaristo de, A escravidão

tísS""" "° Br"sií <sâo Paul0,Oliveira Viana, O Ocaso do Im-

perio, 2.» ed. (São Paulo, 19251 .Orico, Osvaldo, Patrocínio, 2.» ed.mio de Janeiro, 1935).Pacheco, Pélix, A vida útil e gla-riosa da Academia Brasileira detetras e o amanhã ia lingua por-tiuiuesa, encarado atravez ia re-lorma ortográfica em aniamento(Kio de Janeiro, 1932).Pacheco, Féllx, Jtobles e Cogu-meios, em Jornal do Comércio, de¦"de janeiro de 1905.Patrocínio José do, Conferência' «Mica, em 17 de mtli0 dc J885»„ 1 í£?cínl° ,osé *>. A Hipocrisia,™ Cidade do Rio" de le de de-'embro de 1898.«„8oi}S Bandeira, Páginas Litera-"as (Rio dc Janeiro, 1917).

1950

RUI BARBOSARosallna Beatriz Lemos âe Abreu

"Aqui o estadistaa escola: dispensa-a

Lembro-me de certa passagemdos "Espectros" de Ibsen quandoMadame Alvlng diz: "são coisasque não vivem, mas que nem porisso deixam de estar presentes emnós mesmos e de que nunca con-seguimos libertar-nos". Há coisasassim. Há criaturas também. Mor-rem fisicamente, mas o espírito éo verdadeiramente eterno. Esse es-pirito imortal possuiu Joaquim Au-rélio Barreto Nabuco de Araújo.sul uma qualidade excepcional paraum político e jornalista: "a de dizersomente o que queria".A moderação dos seus artigos, a to-lerância para com os adversários c orespeito pela opinião alheia, ao lado da.sólida convicção qu& o impulsionavana causa republicana, completam suapersonalidade de "Príncipe dos Jor-nalistas" e de "Patriarca da Repú-blica", título com os quais o homsna-geou Afranio de Melo Franco.

Empastelado seu Jornal "A Repú-blica", ao que parece por obra dapolícia, Quintino passa a dirigir "OGlobo". Após seis anos de atividadedescontínua, foi 0 mesmo defintiva-mente fechado em ,'383. Dois anosmais tarde, opôs ter colaborado no"O Cruzeiro", entra para o "País".Em breve Rui entrega-lhe a direçãodesta folha.

Quintino aparece-, então, cemo asentinela avançada da causa repu-blicana, e como jornalista merece deFerreira de Araújo o título de "Prin-cipe do Jornalismo". Sua pena e suainteligência entram na luta que cn-frentou soberbamente, como articulis-ta e como brasileiro, Seu prestígio po-lítico vem a ser afirmado pela inen-vel superioridade de votos que obte-ve na campanha para deputado cio6.° Distrito do Maranhão, última elei-ção da Câmara do Império.

A suprema vitória chegou com aadesão do Deodoro na luta de oposi-cão ao Gabinete de Ouro Preto. Dc-veu-a Quintino à sua grande capa»cidade de político e diplomata. Em15 de Novembro vê cristalizado senideal patriótico. A liberdade de- peu-lamento e a proteção de todos os di-reitos dos cidaçãos estavam assegura-dos pela democracia de um governorepublicano.

Desde então a Nação, o Brasil, ospósteros, contraíram com QuintinoBocayuva uma dívida de gratidão sempar. Os batalhadores e os apologistasdas liberdsdes humanas herdaram .umexemplo vivo e palpitante de forçasadia e serena, mas confiante e indo-brável nos seus principies.

Couberam-lhe postos de destaquena direção tio país, como o de Ministrodas Relações Exteriores e Ministro In-termo da Agricultura no Governo Pro-visórlo. Sua viagem ao Rio da Prataem 1890, a fim de assinar o tratado delimites (Tratado das Missões), trou-xe-lhe o desgosto de se ver criticadoe até mesmo caluniaáo de haver advo-gado a causa argentina. A atitudedigna, porém, e a refutação honestae comprovada de todas as injustiça1;que lhe atribuíram, varreram toda asombra de dúvida sobre sua integri-dade de homem e de brasileiro. O Con-gresso reconheceu, com "um voto so-.Iene de respeito e profunda admi-ração", a lealdade de sua ação noassunto.

Ao deixar o Governo Provisório pas-sou a ocupar o lugar de Senador pel'»Estado do Rio na Constituinte Repu-blicana e .continuou na direção do"País". Quando do golpe de Estadode Deodoro, foi preso como conspira-dor contra a República. Renunciou aoseu mandato, paia ser reeleito em 1892.Em 1899 foi eleito Presidente do Eí-tado do Rio e em 1908 Senador pelomesmo Estado. No ano seguinte é fei-to Presidente da Comissão Executivado Partido Republicano Conservadore enfrenta Rui na Campanha Civilista.

Quintino Bocayuva foi também poe-ta. teatrólcgo, sociólogo, crítico lite-ráiic; traduziu diversas peças de tea-tro do italiano e do espanhol.

À glória de construtor da Repúblicauniu outra, sublime, a do Abolícionis-mo. Da politica serviu-se paia con-cretizar um conceito de governo de-mocrático e liberal para a Pátria. Dojornal utilizou-se para esclarecer eorientar a opinião pública, pelo es-tilo simples, incisivo e claro. Respei-tava cs inimigos e enfrentava-os coma superioridade consciente da retidãodo caráter e da inteligência límpida.

Seu testamento "Para quando eufaleça" é o corolário da vida nobre-mente simples e digna que levou. Ahumilde que nele transparece eviden-cia a grandeza de sua alma, liberta.humana, bela.

Por ser honesto morreu pobre comonascera. Maior foi sua glória e maisalto o orgulho da terra onde viveu.

Novembro de 1950 — Rio.

nasce, como nasce o poeta; precedeaté".Alexandre Herculana

Ser fiel aos grandes espíritosnão é reproduzir o que neles ta-lhou a limitação da sua época."mas continuar a impulsão cria-dora, transformadora, de que saiua sua obra".

De tudo escrito sobre Nabucodigo como Petrarca: não se nas-ce nobre e sim "fica-se" nobre pelomodo de viver. Acontece que Joa-quim Nabuco nasceu nobre e "fi-cou nobre".

Da sua família paterna, filho doDr. José Tomaz Nabuco de Araújo,velha família de políticos com ascredenciais de três senadores doImpério,, herdara a fibra do esta-dista; de sua mãe D. Ana BenignaBarreto Nabuco de Araújo, ilustreestirpe de Pernambuco, "muito cio-sa dos seus foros de aristocracia.aristocracia das grandes planta-ções de cana de açúcar, dos latifún-dios dos escravos que, pelos seus as-pectos sociais, virtudes e defeitos,de perto lembrava a das grandesculturas de algodão no sul dos Es-tados Unidos", ficara-lhe a "delica-tesse", o doce perfil de fidalgo, doamável senhor cuja vida é um es-tilo, um estilo de serena neeli-gência. Entretanto, Nabuco jamaisfoi "snob". Um dos ângulos maissimpáticos da sua personalidadeapreciamos no fato de ter sido au-tentico fidalgo e ao mesmo tempocorreto homem do povo, atentoàs exigências humanas tais comosão na realidade e não como apa-recém nas iluminuras, com as quaisn "Parvenu" enfeita os seus su-postos conhecimentos das massaspopulares.

Nabuco desce do seu pedestal defidalgo para apertar cordialmentea mão do negro e condoer-se damísera sorte do escravo fugido àssanhas do bárbaro senhor. Quedesde menino teve como um cha-mado cívico. Pois o fato se passoucom o pequeno Joaquim, de oitoanos, em Pernambuco, à porta doengenho Massangana, onde decor-reu a sua primeira infância, cuida-da pelo carinhoso desvelo da suaboa madrinha D. Ana Rosa.

As idéias — diz Rivarol — sãofundos que não produzem ju-ros senão entre as mãos do talen-to. Altos foram os juros de JoaquimNabuco. Não os disperdicou — nemjuros, nem capital. Vindo da aris-tocracia, conservava puro o seubrazão no tumulto das lutas parti-darias da República — o seu ca-pitaLFertencendo a uma classeabastada, escolhe o árduo ca-

caminho da liberdade e abraça acausa da abolição — os seus juros.

Escritor político e sociólogo, nosseus livros "Balmaceda", "Inter-venção Estrangeira na Revolta daArmada" e, sobretudo, "Um Es-tadista do Império", Nabuco utlli-za sua própria força, forma suaprópria concepção do mundo» de-termina seus atos, mas aumentasua glória com o admirável livro"Minha Formação" de tão mar-cante influência renaniana, segun-do alguns, mas onde encontramos overdadeiro Nabuco, onde o verda-deiro espírito de Nabuco segurao facho que, no longo e escuro cor-redor dos séculos, ilumina seuspassos até ã porção de atualidadedas suas obras entre os coevos.

No ano de 1873, Nabuco faz asua primeira viagem à Europa.Homem de profunda sedução pes-soai, aproxima-se das intelectual;-dades mais eminentes da época efaz-se amigo de Renan e de Geor-ge Sand.

Ama a Inglaterra. Encontra navelha Albion a crítica disciplina-dora, a ordem, a exatidão, & pro-bldade — disciplinas da intellgên-cia e do caráter, tão do agrado efeitio temperamental de Nabuco.

De volta ao Brasil, ingressa naDiplomacia como adido da nossalegação em Washington. Poucoscomo éle possuindo os predicadosbásicos para a carreira diploma-tica, a "carriére" onde tantos abu-sam das lantejoulas...

Joaquim Nabuco sabia que nocampo especulativo "o legítimo na-cíbnalismo, o nacionalismo bem

A personalidade complexa de Ruyfaz com que cada um de nós ve-ja nele o aspecto parcial mais pró-ximo dos nossos próprios pendo-res.

Para o homem de letras, agi-ganta-se o estilista, o mestre in-comparável da língua, na opulén-cia faustosa das imagens e dos ad-jetivos. Outros louvam o orador quetrazia em suspenso, horas a fio, aatenção arisca dos auditórios.

Os juristas exaltam a pugnaci-dade, a dialética e a capacidade depersuadir do advogado de tantospleitos famosos.

Os estudiosos de finanças as-sombram-se da lucidez e da assi-milação rápida, reveladas pelo Mi-nistro da Fazenda, que, antes deassumir o cargo, jamais fôra umespecialista.

Os pedagogos surpreendem-secom a profundidade do conheci-mento dos problemas educacionaisdaquele relator dos Pareceres sô-bre o ensino, no Parlamento mo-nárquíco.

Até estrategistas e cultos oficiaisda marinha chegaram a confessaro espanto que a poliédrica ilustra-ção de Ruy lhes causou em assun-tos de guerra naval.

Essa apreciação unilateral nãoé pecado encontradlço apenas norói imenso dos entusiasta daqueleespírito solar. Os advogados dodiabo, no processo de glorificaçãode Ruy, não se eximem do vício degeneralizar qualquer de suas mui-ti pias faces.Denigrem-no, alguns, sob o calorde que não passava de talento ver-bal — simples artista de frase arendilhá-la sobre o. vazio dos pro-blemas. Esses são os "ruianos deantologia", os que reduzem o seutrato com a obra à leitura, emtom cadenciado, dos conhecidos

entendido, é o estudo e elaboraçãodas realidades nacionais feitos sobos métodos e finalidades de um es-pirito universal". Espírito universalcerto era o que Nabuco amava —espírito universal de diplomata quesempre foi.

Não agrada a Nabuco a peque-nez das rixas políticas. A politicanunca o absorveu senão como umfenômeno social. "A politica — se-gundo êle — que é História; para apolítica propriamente dita, que éa local, a do país, a dos partidos,tenho dupla incapacidade: não sóum mundo de coisas me parece su-perior a elas, como também a mi-nha curiosidade, o meu interessevão sempre para o ponto onde aação. do drama contemporâneo uni-versai é mais complicada e mais in-tensa." A Quem pensa assim nãoé um "distante", "sonhando com asgraças mundanas do século XVIIIe a distinção da fidalguia inglesa",Claro que tinha o culto das elites,mas não creio que. no íntimo, des-confiasse das multidões? Tempobastante houve para entendêlas nacampanha abolicionista.

Quando, esquecido da coisa pú-blica e por gratidão Y princesa Isa-bel, dedica-se à sua vida parti-cular no seu retiro de Paquetá, re-cebe o convite de Rodolfo Dantaspara fazer parte do "Jornal' doTlrasil", E' o primeiro redator-che-fe e conserva-se nesse posto até oregimem de Floriano, no qual asmtolerâncias cedo o desiludem.Jornalista, foi dos mais fecundos eindependentes.

Proclamada a República, conser-va-se monarquista. fiel ã princesaIsabel. Entretanto, aceita o cargode embaixador, porque acima dasintransigências partidárias estavaa Nação. Para os homens do Impe-rio, do porte de um Nabuco, "umterremoto poderia subverter as ins-tituições, mas o Brasil resistiriasempre, e à sua voz seria precisoacudir, qualquer que fosse o ven-daval em torno e quanto mais fe-rido, mais mutilado, mais exausto,maior o dever de não abandoná-lo"

Se, no dizer de Bernardes, vir-tude são hábitos bons; hábiotsbons adquirem-ss por exercício deatos; exercício depende de oca-Mões e ocasiões quem as há deministrar senão uns aos outros?Joaquim Nabuco possuiu todas asvirtudes e fez obra civilizada.

Jorge Chaloupe Sobrinho.trechos sobre o jogo, o artigo doAno Bom, o credo político e ou-tros excertos famosos.

Há os pseudos-sociólogos, quenuma gravidade cômica de sábiosfrastos, concedem a Ruy apenasuma cultura Hvresca de caráter li-mitadamente jurídico-institucional.Para eles, o estadista que modelou,em certos momentos, a história dupaís, merece palmas como um bome teimoso advogado, que, na suuinópia inveterada, jamais percebeuque o habeas-corpus e o parlamentoseriam tão impossíveis aqui comouma nevada no Nordeste, E comsuperioridade olímpica, aplicam aRuy a nota do "marginal" pelo pre-tendido exotismo das suas idéiasde áurista alheio à realidade bra-sileira. O mais categorizado dessescríticos, em livro recente, confessaa sua decepção por ter encontrado,de página virgem, o livro que en-viara a Ruy com dedicatória alam-bicada. E dai conclui que Ruy nãoconhecia estudos sobre o Brasil.,.

Não se deve estranhar, entre-tanto, a reiterada tendência a me-dir o valor de Ruy por uma sódimensão, desde que se leve emconta a imensidade de sua obra, namaior parte esgotada, dispersa eelevada à categoria tíe raridade bi-bliográfica. Graças à bemfazejatenacidade de Américo Lacombe.uns trinta volumes foram explen-didamente reeditados com anota-ções.

As obras todas formarão cercade 200 volumes, que classificam ofilólogo da '•Réplica" como o maisfecundo escritor da nossa língua.Mas não são muitos, mesmo noscírculos cultos, os conhecedores detodo esse tesouro de idéias, obser-vações e comentários. Daí a fie-quência das generalizações erro-neas à luz restrita de poucos tra-balhos do mestre excelso.

O pensamento de Ruy sobre de-terminado assunto, quase sempre,é exposto em diversos trabalhos, apretexto de eircunst ncias diferen-tes, o que constitui outra ciladapara os críticos apressados.

Que caracterizará, então, a figa-ra intelectual de Ruy?

Cremos que. acima de tudo, élefoi o político, o homem de Estado.o pensador dos problemas públicosdo País. Pouco importa que hou-vesse sido o. maior artista da pa-lavra escrita ou falada, dentre seuscontemporâneos. Ou que se hou-vesse distinguido como o mais sa-bedor dos problemas técnicos deeducação, de finanças, de direito,de linguagem, de quase tudo en-fim, na universidade de uma in-teligência e de uma cultura semcontrastes no país. Todos essesprimados, eram instrumentos dopolítico, pois que Ruy os punhaa serviço de suas idéias e de suaação sobre as instituições, costu-mes e problemas coletivos de seusconcidadãos.

Escreveu tanto e tão bem, queninguém o excedeu, mas, como êlepróprio o reivindicou no JubileuLiterário, jamais pretendeu fazervida de homem de letras, nem aesta se entregou como evasão doartista.

A forma lapidar era, em Ruy, acouraça das idéias, o meio de pre-servã-las de toda a destruição, acomeçar pela do tempo.

A erudição incrível lhe valia dereação contra o empirismo. —consciente de que, na maior parte,os problemas nacionais não são es-pecíficos do Brasil, mos comunsa todos os países no. estado atualda civilização, no mesmo grau dedesenvolvimento econômico. Daírecolher sempre a experiênciaalheia, poupando-nos a erros edesalentos, já soÇridos por outrospovos em idênticas circunstâncias.Engana-se quem o supõe obsecadopelas instituições britânicas, ame-ricanas ou francesas. Inúmeras ve-zes as criticou e invocou violências,abusos, atitudes demogógicas eanárquicas de ingleses, americanose franceses, demonstrando que nãotinha o fanatismo de formas degoverno. Não raro, pelo estado ru-dimentar da economia brasileira,invocava exemplos da política co-lonlal e socorria-se de experiên-cias de povos novos, como os da

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Página 132 AUTORES LIVROS Dezembro de 1950 — Vol. XI, n.° 12

GALERIA JORNALÍSTICARUI BARBOSA

Austrália, da África, da Américado Sul e até da América Central,Os exemplos poderiam ser multipli-

Leiam-se, para prova disso, osseus estudos sobre a emancipaçãodos escravos nas colônias da Áfricaou América, sobre a reíorma agri-ria, lei Torrens, finanças do Chi-ie, imigração argentina e tantosoutros.

Ao contrário do que supuzeramaqueles sociólogos ressentidos, Ruyconhecia com imensa objetividade,o Brasil. Filho e parente de homenspúblicos tendo convivido com es-tadistas, como Saldanha Marinho,José Bonifácio, Dantas Saraiva,enfim os maiores da época, desdemuito cedo sabia não só a tradiçãomorai, mas, pelas citações dos Pa-receres do ensino de 1882, do Rela-tório de 1891 e outros trabalhos,pode ser observado que examinava,detidamente, estatísticas, atos, ofi-dos, relatórios e precedentes deautoridades, e realizava verdadeirosinquéritos sobre a vida nacional.Quando relata a educação, porexemplo, revela notícia exata dofuncionamento efetivo e realistadas instituições existentes, por de-poimentos confidenciais, hoje des-cobertos nos seus artigos. Certavez, chegou a lèr, da tribuna daassembléia geral, uma apostiia, emoue um professor da Faculdade deSão Paulo não dizia palavra doassunto precipuo da sua cátedra.

Se nos for permitida uma inter-pretação, de Ruy, procurando con-densar em núcleo fundamental aexuberância de suas idéias e o vi-gor de sua ação enérgica e após-tolar, diremos que tese politica bá-sica não é absolutamente de fun-do jurídico, como proclamam ai-gunSj mas, acima de tudo, econò-mica: econômica nas suas raízes,econômica nos seus esgalhamentos,econômica até na solução preço-nizada. Sob esse ponto de vista, porescandaloso que pareça, Ruy re-flete Karl Marx, cujo nome, aliás,foi dos primeiros a citar no Brasil,embora o fizesse poucas vezes.

Para Ruy, a chave da solução dosproblemas brasileiros, inclusive ospolíticos, deveria ser buscada naradical transformação dos seusprocessos de produção econômica.Ao invés de exportar em bruto,matérias primas de origem ruralou mineral, cumpria-nos industria-lizá-las aqui mesmo, para que fos-sem embarcadas como produtosmanufaturados. Issc elevaria o ni-vel de vida do povo.

Mas Ruy compreendia perfeita-mente que elevar a potência in-dustrial de uma nação, secular-mente manietada por uma agri-cultura rotineira, do mais baixotipo colonial e primário, era tarefaenorme e dependente de inúmerosoutros problemas paralelos. Adver-te desde logo, que o protecionismoalfandegário não constituía meioeficiente para esse "desideratum".A sua fórmula, insistentementeaconselhada, era esforço heróicopara a elevação do homem, física,moral, intelectual e tecnicamente,pela educação intensiva.

Foi êle dos primeiros a defen-der o esporte como base da me-lhoria fisica da raça. Educar semmedir sacrifícios; educar, gastan-do, para isso, tanto quanto nãoregatearíamos para salvar a pere-nidade da nação empenhada numaguerra, até porque a defesa nacio-nal dependia visceralmente do seunível de cultura.

Quem tiver dúvida sobre a afir-mação, consulte os discursos sobrePombal, sobre o Liceu e os Pare-ceres sobre o ensino (1882).

No Governo Provisório, Ruy resol-ve assumir o papel de Hamilton, opouco democrático e nada liberalministro das finanças de Washin-gton, quando as suas tendências odeveriam aproximar do idealismosimpático de Jefferson, que, comoéle, era culto, amigo do ensino erealizador da separação entre aIpreja e o Estado. Luiz Viana e J. P.Normano já assinalaram, aliás, apredileção de Ruy por A. Hamil-ton.

Nisso, há também a predominan-cia do homem político e o primadodo fator econômico na tese de Ruy.

Êle prepara rapidamente a cons-tituicão de 1891, temendo as amea-ças restauradoras e cesaristas, quetocaiam a República recem-nata,mas não confia, de modo algum,na pura eficiência das íórmulasinstitucionais de caráter jurídico.Sua ação é inteiramente a do po-lítico preocupado em grangear,para o regime novo, a simpatia dasclasses médias e o apoio dos in-terêsses da nascente riqueza mo-biliárla, representada pelo comer-cio, indústria e bancos.

A exemplo de Hamilton, realizauma política de valoiização e amor-tização sistemática das apólicesque representavam grande partedas economias das classes médias,como colocação legal e costumeirade economias de viúvas, órfãos,pessoas retiradas do comércio, ms-tituições, etc. Cria um banco paracentro radical do sistema da moe-da e crédito.. Lança a lei Torrenscom o confessado propósito de mo-bilizar e comercializar, fragmentan-do os latifúndios. Advoga impostospessoais em substituição a tributacão indireta. E, por fim, transigecom uma tarifa aduaneira prote-cionista, declarando, sem disfar-ces, que o fazia mais por motivospolíticos do que econômicos: —•era necessário destruir o poderpolítico da aristocracia rural, quemonopolizara a direção do país, du-rante o Império. Tal qual Hamil-ton, que como éle, não possuía ter-ras, fora perseguido pela aristocra-cia agrária.

Observados esses fatos, que po-dem ser documentados pelos de-cretos e palavras de Ruy, compre-ende-se, claramente, a luta que,em 1890 e nos 15 anos seguintes,havia de se travar entre Ruy eCampos Sales, este fazendeiro, fi-lho e genro de fazendeiros emCampinas, destinado a encarar opapel do fazendeiro Jefferson naprimeiro República, já pela dire-triz favorável ao café — agricul-tura básica — já pela "politica dosgovernadores", tradução rudimen-tar da excessiva autonomia localdo solitário de Monticello, com-batida por Hamilton, como Ruycombateu, em nome da unidadenacional, os exageros federalistasna Constituição de 1890.

Tal a tese de Ruy: — industria-lizar o Brasil, pela porta da edu-cação, nada poupando para conse-guí-lo; vincular a democracia asclasses médias e à riqueza mobi-liaria, emancipando-a da lôrça po-lítica das elites rurais; eliminaras oligarquias pelo predomínio dosentido nacional de nossa evoluçãopolítica.

Queiram ou não, os atuais poli-ticos, quando se agitam e pensamdirigir os acontecimentos, nadamais são que inconscientes instru-mentos desses interesses, tendên-cias e aspirações, que Ruy e Cam-pos Sales, em campos opostos, tãobem compreenderam e simboliza-iam, como já o havia feito, nos Es-tados Unidos, Hamilton e Jeffer-son, lançando as diretrizes funda-mentais dos dois grandes partidosque, alternativamente, dirigemaquele pais.

Como vemos, tão ampla e taogigantesca é a obra de Ruy, eminúmeros setores da vida humana,tão polimorto e tão descomunalfoi seu talento, que medi-los, inter-pretá-los, estimá-los, requer tra-balho de equipe: está acima daspossibilidades de um só homem. Oexame de sua vida, exigiria umasérie de trabalhos. Dele, podemosdizer, parafraseando o velho VictorHugo, ao se referir a Voltaire: Ruycaracteriza a inteligência e a cul-tura das Américas. Ou, se quizer-mos, aproveitando uma frase feliz:"A Itália teve a Renascença; aAlemanha teve a Reforma: o Brasilteve Ruy.

Não somos nós, portanto, simplesmortais, que iremos analisar aqui,esse Everest do saber. Nossa lun-ção é bem outra. Pretendemos, tãosó, e dentro das nossas possibill-dades, levantar um pouco o véuque se estende sobre um angulotalvez inédito, do homem que,

no dizer de Lobato, é uma espéciede império Britânico do vernáculo.

Ruy, nascido na Bahia em 1849.unanimemente considerado o

maior dos brasileiros contemporâ-neos, revelou, desde o berço, inte-ligência invulgar. Concluiu tão ra-pidamente os seus preparatórios,em 1864, que não conseguiu matri-cular-se logo em escola superior.Só em 1866 é que ingressou na Fa-culdade de Direito do Recife, emque cursou os dois primeiros anosEm 1868 parte para São Paulo,onde conclue o curso jurídico etrava relações com pessoas queviriam a desempenhar papeis derelevo no país, como Joaquim Na-buco, Castro Alves, Afonso Pena,Rodrigues Alves, Bias Fortes e ou-tros. Na mesma ocasião aproxima-se de José Bonifácio, seu professorda Faculdade, e dá o seu primeiropasso na campanha abolicionista.

E' de sua autoria a proposta poréle apresentada na Loja America-na, segundo a qual os filiados a es-sa organização maçonica são obri-gados a considerar livres os filhosde mulheres escravas: Em 1870,com seu curso jurídico concluido,regressa a Bahia. Pertinaz doençao ataca, impiedosamente, razãoporque só no ano seguinte se es-tréa, de modo memorável, na tri-bulla forense.

De então por diante, começa a seprojetar no cenário do país, atravésde fatos memoráveis e alguns detranscendental relevância. E as-sim:

Sm 1872 — ingressa na impren-sa, colaborando no "Diário daBahia". No ano seguinte assumea chefia do órgão;

Em 1876 — casa-se com D. Ma-ria Augusta Viana Bandeira, aquem mais tarde havia de cha-mar-se "a mais tenaz e digna com-panheira dos momentos difíceis".

Em 1878 — é eleito deputado àassembléia Provincial da Baria.Em 1879 — é eleito deputado geral,sendo o mandato renovado até1884. Nesse mesmo ano êle recusauma pasta no gabinete Souza Dan-tas. Dedica-se à imprensa e pugna,eficientemente, pela abolição daescravatura.

Em 1889 — Escreve o 1." artigono "Diário de Notícias", ao qualsucedem outros audaciosamente re-publicanizadores. Proclamada a Re-,pública, para' o que havia contri-buido grandemente assume a pastada Fazenda e ocupa o lugar de vi-ce-chefe do Governo Provisório.

Em 1892 — Recusa a chefia doEm 1907 — Destacando-se, na

lhe quer entregar, e, divergindo dovelho marechal, renuncia às van-tagens de sua situação oficial,passando para as fileiras da opo-sição.

Em 1893 — Com a revolta da Ar-mada, é apontado como cúmplicee forcado a exilar-se para a Ar-gentina e, posteriormente, para aInglaterra;

Em 1895 — Regressa ao Brasil,sendo reeleito senador pela Bahia;

Em 1896 — Recusa o convite nosentido de assumir o posto de Mi-nistro plenipotenciário do Brasil,na Capital da França;

Em 1790 — Destacando-se, naConferência de Haia, como notáveljurista, eleva, gloriosamente, o no-me do Brasil, onde é recebido, porocasião de seu regresso, com calo-rosas manifestações como verda-deiro ídolo nacional;

Em 1910 — Candldata-se à Presi-dencia da República, em oposiçãoao marechal Hermes da Fonseca;

Em 1918 — E' comemorado seujubileu literário, o que constituiverdadeira consagração nacional;

Em 1922 — Comparece no Sena-do, pela última vez, para votar oestado de sítio solicitado pelo Go-vérno, então ameaçado pela re-volta de 5 de julho.

Em 1923 — Falece em Petrópolis,enchendo de consternação todo opaís.

Além do idioma pátrio, Ruy fa-lava fluentemente o francês, o in-glês e o espanhol e escrevia emlatim, italiano e alemão.

Foi presidente da Academia Bra-sileira de Letras. A sua bibliotecaera considerada a maior dentre tõ-das as que existiam no Brasil. Dei-xou o maior número de obras, devalor incomensurável, na sua quasetotalidade. São os seguintes osprincipais trabalhos por êle dei-xado:

PRINCIPAIS OBRAS

1876 — A Igreja e o Estado —Conferência do Vale dos Benediti-nos. Rio, 1913, Tip. Hildebrand.

1877 — O Papa e o Concilio, deJanus. Versão e Introdução de Ruytesta, duas vezes maior do que otexto). Rio, edição de Brow & Eva-risto, ,.

1881 — Decenário de Castro Al-ves — Elogio do Poeta dos Escra-vos. Tip. "Diários da Bahia".

1882 — Reforma do Ensino Se-cmiãário e Superior — Parecer eprojeto. Imp. Nacional;

1882 — Centenário io Marquezde Pombal — Rio, Tip. Leuzinger;

1883 — Reforma do Ensino Pri-mário — Parecer e Projeto Imp.Nacional;1884 — Féria Política — Traços pa-ra história da oposição. Coletâneados artigos publicados sob o pseu-donlmo de Salisbury. Imp. Na-cional;1884 — Emancipação dos Escravos—Parecer acerca do projeto n.° 43.Imprensa Nacional;

1885 — Homenagem ao MinistroDantas — Tip. Central;

1886 — Primeiras lições ãe cousasde N. A. Calkins versão e adap-

tacâo de 40.a edição Rio;ÍS87 — Elogio a José Bonifácio

São Paulo, Tip. King;1S88 — Swift — Prefácio às Via-

gens de Oulliver. Rio. Ed. de Laem-mert:

1888 — Ano Político de 1887 —Rio, Tip. Gazeta de Notícias;

1891 — Relatório ão Ministérioâa Fazenda — Rio, Imp. Nacional;

1892 — O Estado de Sitio, suanatureza, setts limites — Rio, Cia.Impressora;

1892 — Finanças e Políticas ãaRepública — Discursos escritos. RioCio. Imp.;

1893 — Visiía à Terra Natal —Bahia, Tip. do "Diário da Bahia";

1893 — Os Atos Inconstitucionaisáo Congresso e do Executivo antea Justiça Federal. Rio, Cia. Im-pressorá;

1896 — O Júri e a responsabili-dade penal dos juizes — Rio, Tip.do Jornal do Comércio;

1896 — Anistia Inversa — Casode teratologia jurídica. Rio, Of. doJornal do Brasil;

1896 — Cartas de Inglaterra —Rio, Tip. Leuzinger:

1897 — O Partido RepublicanoConservador — Rio, casa Montai-verne;

1897 — O Fogo Fátuo e o Santel-mo — Discurso no Senado contraCezar Zama, em 1896. Edição deOuro Preto;

1898 — A culpa civil das aãmi-nistrações públicas. Rio, Tip. doJornal do Comércio;

1900 — Posse de direitos pessoaisRio, Tip. de Olimpio de Campos;

1881 — Preservação ãe uma obrapia — Rio, Of., do Jornal do Bra-sil;

1902 — Parecer sobre a redaçãoão projeto do Código Civil — Rio,Imp. Nacional;

1903 — Réplica às defesas ãareâação ào projeto ãe Código Ci~vil — Rio, Imp. Nacional

1903 — Discurso ãe Paraninfono Colégio Anchieta — Friburgo;

1904 — Seguro Marítimo — Rio,Cia. Tip. do Brasil;

1904 — Limites entre o Ceará eo Rio Grande do Norte — Rio, Cia.Tip. Brasil;

1904 — Vendas e trocas entre as-cenãentes e descendentes — Rio,Cia. Tip. Brasil;

1905 — Exposição de Motivos doPlenipotenciário vencido — Rio;

1906 — A Transação áo Acre notratado ãe Petrópolis — Rio, Jor-nal do Comércio;

1906 — O Acre Setentrional —Rio, Jornal do Comércio;

1907 — Discursos e conferênciasPorto, Imp. Lit. e Tip. Editora;

1907 — Luz e Energia Elétrica —Bahia, Tip. da Gazeto do Povo;

1907 — Deuxiéme Conférence deLa Paix — Actes et Discours. Haye;

1908 — Os privilégios exclusivosna jurisprudência americana —Rio, Jornal do Comércio;

1908 — Ação Rescisória — Ma-

nuel Lavrador contra a FazendaMunicipal — Rio, Tip. Jornal doComércio;

1909 — Anatole France — Dis-cours à 1'Académie Brésilienne —Rio, Imp. Nacional;

1909 — Excursão Eleitoral ao Es-tado de S. Paulo — S. Paulo, casaGarraux; '

1910 — Contra o Militarismo __Campanha Eleitoral. Rioa Jacinto;

1910 — Excursão Eleitoral, aosEstados ãa Bahia e Minas Gerais— S. Paulo;

1910 — Plataforma — Bahia:1910 — Direito do Amazonas do

Acre Setentrional — Rio, Tip. Jor-nal do Comércio;

1910 — Memória sobre a eleiçãopresidencial — In Anais do Con-gresso Nacional;

1913 — As cessões ãe Clientela —Rio, Tip. Fotomccânica;

1913 — Ruinas ãe um Governo —(Conferências que seriam promm-ciadas em Juiz de Fora, Belo Hori-sonte, Santos e São Paulo) reuni-das em volume por Fernando NeriRio. 1931;

1914 — -Ação de nulidaãe de ar-bitramento movida pelo Estado ãoEspírito Santo contra Minas Ge-rais na questão ãe limites entre' estes dois Estados. Rio, Pap. Ame-ricana;

1916 — Nulidaãe de arbitramentopor excesso de poderes arbitrais —Razões de Apelação do E. de MinasGerais para o Supremo TribunalFederal na ação contra aquele mo-vida pelo Américo Werneck. Rio,Tip. Jornal d oComércio;

1916 — Admissão do curador Ge-ral ãe Órfãos — Rio, Tip. Jornal doComércio;

1916 — Problemas de Direilo In-ternacional — Conferência na Pa-culdade de Direito de Buenos Aires.Londres, Truscott & Son Ltd.

1917 — Osvaldo Cruz — Discursoio, Manguinhos;

1917 — A grande guerra — Con-ferência em Petrópolis. Rio,Tip. Jornal do Comércio;

1917 — Questão Minas — Ver-neck — Rio, Tip. Jornal do Co-mércio;

1918 — Américo Werneck CersusMinas Gerais. Sustentação dr Em-bargos. Rio.

1919 — A questão dos poria- noBrasil — Bahia. Est. dos Dois Mim-dos;

1919 — Campanha Presidencial(1919) — Bahia. Liv. Catilina;

1921 — Oração aos moco* — S.Paulo, "O Livro";

1920 — O art. 6.° da Constituiçãoe a intervenção ãe 1920 na Bahia.Rio, Liv. Castilho;

1921 — A queda do Império- —Rio Liv. Castilho.

COLETÂNEASPages Choises ãe Ruy Barbosa.

Trad. de Clemente Oazet. Rio.1917 — Ed. Briguiet. Prefácio de

Paul Deschanel. Páginas lltertnas— Bahia, 1918. Organizadas porHomero Pires. Liv. Catilina Estm-te Clássica da Revista da LínguaPortuguesa. Vol 1 Rio;

1920 — Coletânea Literário., or-ganizada por Batista Pereira. Ba.Não;

1828 — Diretrizes de Ruy Bar-zosa (Biblioteca do PensamentoVivo) coletânea organizada porAmérico Jacobina Lacombe. SaoPaulo, 1944. Liv. Martins.

CORRESPONDÊNCIACartas Políticas e Literárias —

Organizadas por Homero Pires.Bahia, 1919 — Liv. Catilina,

Corresponâêncía íntima de MVBarbosa — Bahia. 1921 Imp. O!"ciai do Estado. Organizadas P°rAfonso Ruy. Correspondência ~-Organizada por Homero Pires, SaoPaulo;

1932 — Moeidade e Exílio - S'Paulo, 1934 — Ed. Nacional.

Cartas de Ruy aos seus primosAlbino José Barbosa de Oliveira eAntônio d'Araújo Ferreira Jaco-bina, reunidas em volume por Ame-rico Jacobina Lacombe.

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GALERIA JORNALÍSTICACarlos de Laet MACHADO DE ASSIS JOÃO RIBEIRO

mei»triái*co»

Regina Rosa de Laet

a srlori, a personalidade de Car-leisáa Laet apresenta-se-nos doml-nada »or três paixões; a Igreja, aMonarquia e a Filologia. Sem dú-vida aue avulta nestas caracte-!sli, ,-', pelas quais é mais conhe-MC, *m que a sua verdadeira per-™trnide possa ser julgada sô-

através deste prisma. E' um»o demasiado estreito parapersonalidade tão rica em

mntr istes e feições. Principalmen-te di» ser conhecido como pole-mista c estudioso da sua língua quesic f.**.'i'oe, como poucos, alçar acl,j,,r,p meias, dando-lhe uma pias-ticidade toda sua. Em toda a suaobra é evidente o acerado de suafrase, a mordacidade, a Ironia, orelampejo contundente. E isto nãonode partir de um espírito aquilo-sado tle três paixões, vendo e ob-gervando o mundo através de trêsfunis Era vigoroso e bom. Entu-sia^*- .*¦ ardente. Amou a vida e omie fia tem de belo. Bateu-se peloom n Ho. Fez frente aos poderosos.E a (íurindana de sua serve fals-cante vibrou sempre grandes gol-pes em favor dos humildes e decausas justas. Na polêmica comCam:.'" evidencia-se o traço do seuespírito aberto à evolução, fazendoa c!p: *a da língua falada no Bra-sil ds. sua prosódia, do seu direitode es» rir em face da Lingua Mãe,o que bem demonstra o espíritopioüi* ssista de que era animado.Se cm algumas vezes o seu amorà Igreja e à Monarquia o cegou emface da certos aspectos do mundomoderno, isso deve ser levado emconta aos contornos às vezes vio-lentos que esses mesmos aspectostomam em diversos momentos deseu desenvolvimento. E Carlos deLaet era antes de tudo, um iniml-go declarado da violência, da pre-potência e da estupidez que aindahoje entope o crânio da maioria denossos contemporâneos, ainda en-trincbeirados em defesas obso-letas. E depois, na Igreja, com seuuniversalismo, há lugar para SantoAgostinho, São Francisco de Assis,Sào Vicente de Paula e para Tor-cuemada; ainda hoje, jesuítas edominicanos, defendem pontos devista diferentes, dentro do grandepatrimônio comum do Cristianis-mo, Quanto ao amor de Carlos deLaet ã Monarquia, deriva talvez dasua lucidez em torno de nossos pro-blernas políticos de então, vendona tomada do poder dos adversa-rios que até pouco tempo viviamria convivência do homem que nãosoube e não quiz ajudar Mauá, amer;» troca de homens, com o mes-mo fundo cultural, as mesmasidéias, ressalvando-se as exceçõeshon* sas de um Benjamim Cons-tai;, de um Floriano Peixoto, etc.Realmente, o Brasil continuou oque era, basicamente enfeudado àsruelas classes. E Carlos de Laet,sentimentalmente preso à Monar-Qi-'-"'-. eom os anos, não podia divor-cia; -se do que êle julgava o melhorPi.. ;so de governar, pois não seP" .beu grande diferença. Depoisa -ia oposição a Floriano Peixoto,ftiyMi pelo ponto de vista político,foi 'ma oposição à prepotência deÇur c-m boa hora usou o Marechalce i'*?rro para assegurar definiu-Vã:;: nte a República e o que ela«¦¦¦"¦¦• de melhor. Era a oposição àtorça bruta, marcando com isto,Va;'*fl3 de Laet, o seu nítido amora Democracia.

Ká um fato que poucas pessoascomecem e que corrobora a minhaasserção: quando do falecimentoae seu pai, este lhe deixou pori".».*;r;mça dois escravos que imedia-<-;•'¦';:ente Carlos de Laet alforriou.Foi abolicionista. Sei de um casoe» Minas, quando fugido, em quearnscou a vida para salvar umaes na da mão tle dois malfeitores.hei ainda de outro fato verificadomim colégio de freiras onde «lee»a professor, onde êle protestoueontra a prisão em quarto escuroue uma menina de 4 anos que vi-n»»a sendo irracionalmente casti-SMa. Além do platonlsmo do pro-.,s,10, (e qualquer outro se teriasatisfeito e apaziguado a conscl-encia, à vista das possíveis reaçõesoe caráter econômico...) exigiu auoertaçao da criança, havendo ex-ESad° ° fat0 «"«hte <»e «uantasmadres lhe apareceram. E ex-

Joaquim Maria Machado de As-sis nasceu no Rio de Janeiro, a 21de Junho de 1839, vindo a falecernessa mesma cidade, em 20 de se-tembro de 1908.

Uns assinalam como lugar doseu nascimento, a rua São LuizGonzaga em Sã Cristovam e ou-tros, o morro do Livramento.

Filho de Francisco José de AsslseLeopoldina Machado de Assis, es-cravos ou ex-escravos, perdeu estaaos 6 anos e dois anos depois, o pai.A mestiça Maria Inez, segunda es-posa de Francisco José, foi o ca-rinho e o desvelo maternal da in-fància áspera e isolada do escritor.Para atender ao sustento de am-bos, Maria Inez cozinhava e faziabolos que o menino Joaquim ven-dia. E também foi com ela queaprendeu as primeiras letras e ataboada.

Iniciou-se em português com opadre Silveira Sarmento e em fran-cês com o padeiro Gallot, chegandoa uma perfeição notável no manejoda língua de Racine. E assim, emtodos os sentidos, os pendores in-telectuais do jovem Joaquim se re-velavam aos poucos. Seu amor aoestudo e aos livros era significa-tivo, permanecendo, assim pelavida afora, pois já em idade ma-dura Machado de Assis aprendiagrego. Desse modo, quase sozinho,adquiriu uma respeitável bagagemcultural.

Aos 16 anos publicava sua pri-meira poesia, "Um Anjo", na re-vista literária "Marmota", editadapor Paula Brito. Este livreiro teveinfluência, podemos dizer decisiva,na sua vida literária, pois por seuintermédio abeirou-se de valorescomo Francisco Otaviano e Quin-tino Bocaiúva. Paula Brito era umdletante, prosador e poeta médio-cre mas um admirador entusiastados intelectuais que em sua livra-ria faziam ponto de reunião.

Nessa livraria Machado de As-sis trabalha como revisor ao dei-xar a Imprensa Nacional onde eratipógrafo, passando-se, logo após,para o "Correio Mercantil", aindacomo revisor, pela mão de Fran-cisco Otaviano.

Nessa época, além de na "Mar-

probado à sua maneira, com ener-gia e inteligência. São fatos queevidenciam a alma aberta de Car-los de Laet, a sua lntrepidez moral,o seu amor aos fracos e às suascausas.

Sua obra, espersa em milharesde artigos escritos em vários de-cênios de jornalismo, pode-nos ser-vir de guia para nos dar uma visãomais nítida de Carlos de Laet, dasua personalidade tão rica, ser-vindo para a esquematisação maisampla de um homem que soube es-crever, pelo sentido intelectual quedeu à sua pena, sempre em defesado que lhe pareceu Justo e huma-no. E se erros' há, mais à conta depaixão momentânea os devemoslevar, de que à vera feição de seutemperamento de homem de com-bate. Durante quase 60 anos hon-rou a nossa Imprensa e, de suaobra, com exceção de alguns estu-diosos que dele cuidam e se es-forçam por lhe demonstrar o va-lor, nada se realizou para comple-tá-la, reuni-la, condensá-la. Enti-dade alguma, nem mesmo o govêr-no, tratou de publicar o que Carlosde Laet escreveu. E' o prêmio desua irreverência, do chiste chico-teante de sua frase, do relampejode sua inteligência atacando o queera tacanho e repulsivo, seja numaestocada a um colega, seja des-mascarando a estultice de um Pa-checo qualquer, travestido de mi-nistro ou de alto funcionário. Co-mo êle se deve rir! Um eso fortee rabelalsiano, estourando o espar-Olho do convencional, capaz de,num acesso mais intrépido, arreba-tar no cautério das palavras virise bem marcantes e bem verdadel-ras!

A tudo Isso, junte-se o escritorcheio de verve, de audácia, de "es-

prit", de conhecimento solido dasua língua, havendo escrito pági-nas que merecem ficar gravadascomo modelo de elegíncia, con-cisão e perfeito conhecimento deidioma no qual escreveu Camões!

Helena Ribeiro da Silvamata" tem suas colaborações no"Parahiba" e em 1895, funda a re-vista :Espêlho", com Eleutério deSouza, a qual teve curta duração.

Daí em diante, de revista emreyista e de jornal em jornal, vaiimpondo seu nome como personali-dade literária nos círculos inte-lectuais do país.

A amizade com Quintino Bo-caiuva valeu-lhe a colaboração no"Diário do Rio de Janeiro", ondeescreve na seção literária, passan-do para a crônica dos debates doSenado, crônica essa que amadure-cendo-o como jornalista, lhe con-feriu foros de verdadeiro profísslo-nal. Escreve também na "Gazetade Notícias", mas sem o mesmo ar-dor combativo.

Deixando o "Diário do Rio deJaneiro", vai trabalhar na Impren-sa como ajudante do Diretor e napublicação do "Diário Oficial". Da-ta dessa época, sua carreira bu-rocrática: como oficial da Secreta-ria da Agricultura e mais tarde,como oficial de gabinete de Buar-que de Macedo e Pedro Luiz. Em se-gulda, foi nomeado Diretor deObras do Ministério da Viação,cargo posteriormente suprimidopor uma reforma que o deixouprofundamente desgostoso.

Chamado pelo Ministro Sebastiãode Lacerda para seu secretário, comêle trabalhou até 1902, data em queLauro Muller o fez reverter a seuposto no Ministério da Viação.

Em 1869 contraiu núpcias comCarolina Xavier de Novaes, irmã dopoeta Faustino de Novaes.

A vida de Machado de Assis éaparentemente incolor, monótonae rotineira.

De origem multo humilde, haviade carregar através de toda a suavida o complexo de seu nasci-mento obscuro e como visou sem-pre subir na escala social, pro-curou fazer amizades influentes ecriou em si um tipo externo quenem sempre correspondeu à suaverdadeira personalidade. Foi ohomem de mais tintas, de meiaspalavras, de meios ideais e meiossistemas; apagado, discreto, nuncaousou tomar atitude desabrida oucorajosa; os grandes acontecimen-tos de seu tempo a Abolição e aProclamação da República, se fi-zeram sem sua participação. Quedistância infinita medeia entreêle e José do Patrocínio!.

Mulato e pobre, parece ter-seempenhada em toda sua vida emapagar qualquer vestígio que oprendesse ao passado, tudo o querelembrasse sua origem humilde;chegou mesmo a abandonar MariaInez sua madrasta, que lhe servirade mãe desvelada e carinhosíssimaSua natureza doentia (desde crlan-ça fora epilético) talvez explicasseesta grande falha de caráter.

Casando-se com Carolina, queera de fina estirpe e esmerada edu-cação, conseguiu firmar-se numaposição social de destaque, para aqual contribuiu também a pro-jeçào que alcançara no domínio li-terário. Tornou-se mesmo tão gran-de no seu prestígio, que Castro Al-ves, o jovem poeta bahiano, bus-ca sua amizade e proteção ao che-gar ao Rio.

Machado de Assis foi uma dasmais altas expressões literárias ejornalística do Brasil: espírito sen-sível e altivo, é um alto exemplo dehonestidade intelectual.

A Academia Brasileira de Letrasfundada em 1896, conta-o como aprimeira figura literária de umgrupo brilhante, constituído porNabuco, Visconde de Taunay,Eduardo Prado, Lúcio de Mendon-ça, etc, sendo daquela casa o pri-meiro presidente.

Sua carreira literária pareceapresentar duas fases distintas; oprimeiro período de mocidade, comobras ainda pouco significativas,onde a poesia ainda constituía amelhor parte. São dessa época"Um anjo" e as "Crlsálldas" e emprosa, "Queda que as mulheres têmpelos tolos" e "Desencantos". Abre-se depois, a grande fase da maturi-dade, que durou 30 anos, onde avul-tam "Memórias póstumas de BrazCubas", "Dom Casmurro", "Esaúe Jacó", "Relíquias da Casa Velha","Memorial de Aires", etc.

Contrariando a maneira geral de setraçar o perfil de um homem, ini-ciaremos essa ligeira conversa sobreJoio Batista Ribeiro de Andrade Fer-nandes, pelo fim da vida dèsse ilus-tre brasileiro.

João Ribeiro teve, no fim de suavida uma qualidade excepcional: sou-be envelhecer, professor de 3 geraçõesfoi sempre contemporâneo da moci-dade, renovando constantemente suacultura, nas fontes científicas maisadiantadas do mundo. Humberto deCampos, sobre esse aspecto da vida deJoão Ribeiro, diz com propriedade oseguinte: "descendo o rio da Vida,êle derrama cada dia, a água de suabilha, para enchê-la de água nova,e tem-na sempre fresca..."

João Ribeiro foi popular no Brasil,durante mais de meio século. Nascidoem Sergipe no dia de Sáo João doano de 1860, cedo perdeu os pais, indoentão residir em caso do avô materno,João Ribeiro, que possuia espírito li-beral e apreciava a literatura portu-guêsa, especialmente Hereulano e Sal-danha Marinho. Aos 7 anos, Já lia nabiblioteca do avô o "Panorama", o"Almanack de lembranças Luso-Bra-sileiras", o "Manual Enciclopédico" eoutros livros. Esses livros constitui-ram o gênesis de todas as letras e artesdo grande brasileiro, copiando gravu-ras do "Panorama", João Ribeiro de-monstrava suas tendências para a ar-te, tendências que também se evlden-ciava no gosto das montagens que, porocasi&o do Natal, realisava, de presé-pios, etc.

Ainda criança estudou um pouco de

Sem poder pretender ao titulode grande poeta, Machado de Assisfoi, não obstante, um poeta. Nãoversejou por moda, mas por ne-cessidade psicológica; foi grnde-napoesia íntima, confidencial. Nelaexpandia seus sofrimentos, seussonhos, suas dúvidas.

Toda sua obra de escritor, da-nos o exemplo de um ecletismo ma-neiroso, ponderado e discreto, re-fletindo um espirito plácido e tran-quilo.

Sob o ponto de vista da naciona-lidade é um dos nossos, um genuínorepresentante da raça brasileiracruzada.

Dá-nos, através de suas paginas,a impressão de pessismismo velado,quase doce e comunicativo, prlnci-palmente nos seus grandes roman-ces; segundo Oliveira Lima, "Me-mórias Póstumas de Braz Cubas"é uma fotografia de sua alma; Tal-vez fosse acertado dizer, o espelhodo mundo. Seu pessimismo era o deum sofredor, uma espécie de pro-testo a favor da mais perfeita or-ganização das coisas; seus tipos,entretanto, quer gerais e huma-nos quer mais particulares e brasi-leiros, não lograram entrar na ca-tegoria dos universais. São apenasesboços, embora muito bem feitos.

Como prosador, Machado de As-sis situa-se como aquele que noBrasil, mais fundo penetrou, noromance e no conto, os abismos daalma humana.

Seu estilo é correto, gracioso,plácido e igual, sem vivacidade,embora. Com um punhado deidéias, um vocabulário que não édos mais ricos, fez muitas e re-petidas voltas em torno de fatos;na falta de outras qualidades maisbrilhantes, revela graça e corre-ção e apuro gramatical; é o artistada frase média cadenciada, medi-da, onde cada palavra é tratadacom especial interesse.

Durante os cinqüentas anos detrabalho e através de seus trintavolumes de produção, revela uni-dade, embora evoluindo e mani-testando real progresso no que con-cerne ao manejo do vernáculo,maior correção de estilo, no maisapurado da observação e no maispenetrante da análise, em alarga-mento de idéias, enfim. Nesseaperfeiçoamento não deve ser ex-tranha a influência de sua esposa:amiga, confidente, conselheira esua mais assídua leitora.

Como jornalista, é Importantesobretudo sua fase do "Diário doRio de Janeiro", onde colaborouao lado de Quintino Bocaiúva e noqual, ultrapassando os limites dascrônicas, revelou-se excelente pe-rlodlsta.

Jaoyra Viihena Soaresmúsica, tocando órgão, piano e ílau-ta. Aos 13 anos Já fazia bons versos,escrevendo-os nas aparas que fazianas margens da revista que o avô assi-nava-o "Arquivo Econômico", daBahia, Certa feita afirmou mesmo quese fizera poeta, unicamente porque, àsua disposição, tinha papel esplendidopara versos. Dessa época foi a Brasi-leida, inspirada num episódio do "Pa-norama", sobre os amores de uma In-dia tupinacuim com um português dafrota de Cabral.

Seus primeiros estudos êle os íêi. emsua terra natal. Transferindo-se de-pois para o Ateneu de Sergipe, sendosempre um dos primeiros alunos de sua-classe. Quando teve que escolher suacarreira, pensou ser médico. Foi paraa Bahia e se matriculou na Faculdadede Salvador, logo verificando, porém,não ser aquele seu ideal. Embarcou en-tão para o Rio, a fim de seguir o cursode Engenharia.

Enquanto duraram essas duas ten-tativas, jamais deixou de lado suasprimitivas atividades, fazendo pintura,música, literatura, e estudando filo-logia. Constatando iue de novo seenganara, passa, a partir de 1881,, adedicar-se com entusiasmo ao Jor-naslimo.

Faz-se amigo de vultos brilhantescomo Quintino Bocaiúva Patrocínio eAlcindo Guanabara é colabora emvários jornais com grande sucesso.

João Ribeiro, que havia trazido parao Rio Alguns livros seus, submete-os aum julgamento, ao travar conheci-mento com o seu conterrâneo SílvioRomero. Romero acha-os ótimos e,incontinente faz grandes elogios aonovo autor na Revista Brasileira. Osergipano estava, pois, lançado nomeio literário do pais. Apaixonadopelos assuntos de filosofia e históriaquiz -ser professor. Paz concurso paraa cadeira de português do Colégio Pe-dro II, escrevendo a tese "Morfologiae Colocação de Pronomes". Nomeado3 anos depois para a cadeira de His-tória Universal, leciona em outros ca-légios e ensina na Escola Dramáticado Distrito Federal até por ocasião desua morte.

Casa com D, Maria Luiz FonsecaRamos. Teve desse matrimônio 16 fi-Uios. Um deles, Joaquim Ribeiro, ehoje um escritor de mérito com li-vros publicados de critica, filologia efolclore. _

Em 1894, forma-se em Direito. Foresta ocasião colaborava em A Semana,ao lado de Lúcio de Mendonça.Rodn-go Otávio, Henrique Magalhães. Aipublica o conto S. Boemimío, com oqual vence um concurso de contos.E' desta época também a série de ar-tigos sobre filologia, que vieram aconstituir os "Estudos Filológicos".

Gostando muito de viajar, fez diver-sos passeios a Europa, tendo morado 1ano na Alemanha e visitado a Áustria,a Itália, a Inglaterra e a Suiça. Essasviagens não eram meramente tuns-ticas: JoSo Ribeiro aproveitava-as in-tensamente, não só aperfeiçoando seusconhecimentos, como o fez na Alemã-nha onde publicou uma revista emportuguês chamada "O Novo Mundo".Ainda em Berlim, matriculou-se numcurso de pintura, fazendo o mesmomais tarde na Itália, onde prosseguiuas lições tomadas no Brasil com Ba-tista da Costa. Certa vez realizou noRio uma exposição de suas produções,exposição que náo logrou boa critica.Alguns de seus amigos no entanto,ainda guardam quadros seus. comn ío caso do acadêmico Múcio Leão.

Pretendendo fixar-se na Europa,vendeu suo preciosa biblioteca. Aorebentar a guerra em 1914, teve toda-via de voltar à Pátria.

João Ribeiro colaborou em váriostornais, com pseudônimos os mais di-versos. Como jornalista teve uma vio-lenta polêmica com Carlos de Laet,mestre no gênero. Deixou virlas obras,além de sua farta e ji mencionada co-laboracão cm jornais tais como: oCorreio ia Manhã, a Impardal, o Jornal a Gazeta de Ifotidos, o jornal doBrasil, o Estado de São Pauto, bemcomo em diversas revistas.

Brasileiro eminente, dotado de f«n-tisttea multiplicidade de conheci-mentos e de grande projecio mundialautor de livro» didático» de grandeaceitação no pai», filóiora e neOft J«f ilologos, historiador, tradutor de gran-du literato» do ocidente europeu, pin-tor erudito, eis o que foi Joio Ribeiro,que faleceu no ano de 19H no a»13 de abril. ,_..,•¦«

Rio de Janeiro, Deeembro de lw

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Valsa com minha filha Eutanásia por dignidadeDançarei contigo a valsa do im-

peraãor.Quando o relógio marcar a pri-

meira hora ãa antemanhã, longeainda a alvorada, uma voz haveráãe convidar-nos para que juntoscheguemos ao centro ão salão,cheio de luzes e coberto de rosas..

Seguiremos com o passo firme,.com orgulho um do outro e assimque romperem os compassos davalsa, no seu ritmo enobrecido pe-Ia decadência dos ritmos que su-cederam, eu te cingirei, minha íi-lha, com um amor que não temigual,

Eis que assim aconteceu. Temiasque tantos anos depois da últimavalsa, nâo soubesse mais repeti-la,que me faltasse a coordenação, agraça viril e o domínio cavalhei-resco, aquela virtuosidade que nes-sas coisas parece ser o atributo pró-prio da primeira juventude, masque ganha em beleza e sentido hu-mano, quando renasce e esplende"nél mezzo dei camin", ou paraalém dele, não sendo ainda o cre-músculo, mas tendo passado o fui-gor do meio dia.

Vi a tua surpresa, Foi como sedissessen os teus olhos: — Comoainda é leve e airoso! Eu que o jui-gava de um tempo tão distante ediverso! A valsa, minha filha, foio ponto ãe encontro. Ambos fize-mos um pouco de caminho, tu pa-ra frente e eu para trás, e naquelemomento funãimo-nos na perpétuaunidade ãa vida.

Enquanto dançávamos, foi ummundo de recordações.

A minha primeira valsa, tão de-'^ajeitada, num baile ãe província,quando se tratava a dama aindapor "Vossa Excelência'' e era obri-gatório dizer-lhe que era a rainhada festa.

Cessada a música, desfilavam ospares e com tantas mesuras os ca-

Austregesilo de Athayde.valheiros levavam as se?ihoríta$aos seus lugares e curvanão-se pe-rante elas, davam-lhes os mais cá-lidos e gentis agradecimentos,

E quando foi a primeira valsacom tua mãe, num arrebatamentoãe angelitude e beleza, num panorama de sonhos, com o futuro abertodiante ãe nós como uma aléia ta-petada de flores e coberta de sol!E ao tomar-te nos braços, no diaão teu nascimento, mal egresso damorte, sorriste~me como por mila-gre, com olhos que eram então ãeuni azul puríssi7iio, como se disses-ses: — "Vive, pois que cheguei paraviver contigo..."

Aqui estas ãe novo em meusbraços, numa palpitação ãe en-cantamento, esvoacando no salão,pousados os olhos ãe todos sôbrenós, na curiosidade insonte de vercomo dançam os pais com as suasfilhas ãe quinze anos.

Pois digo-lhes: não senti o pesoão meio século, carregado de res-ponsabilidades, Foi como se des-cesse à plenitude do começo e íõ-das ns ilusões viessem em bando cos hinos antigos soassem e os deu-ses imortais, de muito sepultos cm-meu coração, ressurgissem para agloria daquela madrugada, Foi co-mo se houvesse retornado o tempo,e a mãe e a filha fôssein a mesma eúnica pessoa{ num mistério ãa san--tíssima tíualiãaãe.

Foi uma glorificação que só seacende nas almas dos pais, ao per-ceberem que nos filhos se reencar-'nam as esperanças e a corrente ãapoesia humana não cessa nunca.

Minlia filha: Jamais esquecerása Valsa do Imperador, aqueles mi-mitos ficarão no fundo da tua ai-ma, como se fossem eternos. Os ra-ros minutos da existência em queparece se juntarem todos os esti-mulos espirituais para dar à viãao seu sentido imortal.

GALERIA JORNALÍSTICAALCINDO GUANABARA

Alcindo Guanabara, que nasceuno dia 19 de junho de 1865, foi,sem dúvida alguma, figura de vul-gar esplendor no jornalismo bra-sileiro.

Filho de pais pobres, passou asua primeira infância num lar mo-desto, no pequeno distrito de Gua-pi-Mirim, Município de Magé, seutorrão natal.

Seus pais, o professor ManuelJosé da Silva Guanabara e a pro-üessora Júliada Silva de AimeidaGuanabara ministraram-lhe asPrimeira Instruções no Lar pater-no, até aos 12 anos de idade.

Conseguiu emprego de bedel noColégio Paixão, cie Petrópolis, on-de, durante as aulas dos alunosque se achavam sob os seus cuida-dos, prestava atenção às lições ediscretamente fazia as suas ano-tações.

Certo dia pediu aos dirigentesdaquela casa de ensino que o dei-:;assem fazer os seus exames e,dotado de uma inteligência privi-legiada, conseguiu terminar o cur-so primário, o que lhe proporcio-nou passar de bedel a professor dematemática elementar daqueleeriucandário; e ao mesmo tempofez-se colaborador do "Avante".

Em 1884 matricula-se na Pacul-dade de Medicina do Rio de Ja-neiro e em 1886 funda o seu pri-meiro jornal A "Fanfarra. Teve en-tão o lugar de inspetor de umasilo de crianças abandonadas.Não tardou, seu temperamento agi-tado de jornalista o fez ingressarna Gazeta da Tarde. Os seus ar-tigos eram veenmentes e torna-ram-no popular.

Em 1887, convidado que foi paradirigir o Novidades", ingressouneste jornal onde deu expansãoaos seus Ideais patrióticos, ao com-bater com desassombro contra aabolição da escravatura.

Em 1887 redige com sua pena vi-brànte o Correio do Povo.

Quando deputado pelo seu esta-do natal, levado pelo seu idealis-mo, foi o primeiro que assinou omaíüfesto contra o golpe de Es-tado de Deodoio.

Osório Antônio PereiraTendo passado dois anos na Eu-

ropa, como Superintendente deImigração, regressou ao Brasi,lpasando a dirigir o jornal A Repu-blica.

No governo Prudente de Moraisdepois de muito perseguido, foi exi-lado em Fernando de Neronha, deonde regressou com uma maiorpopularidade.

De volta do exílio, fundou a TH-buna, em 1898, em cujas colunasfez a propaganda da candidaturaCampos Sales à Presidência da Re-pública.

Nos anos subsequentes dirige OPais e A Nação, voltando depois afundar A Imprensa.

Alcindo Guanabara revelou-setambém um politico de grande en-vergadura. Eleito senador pelo Dis-trito Federal, soube honrar o man-dato que lhe confiara o povo, de-fendendo os seus interesses poli-ticos, econômicos e sociais.

Não se deixou dominar por as-suntos políticas e ao lado de ou-tros líderes da imprensa cultivouas artes e as letras, tendo traba-lhado para a fundação da Acade-mia Brasileira de Letras.

Nutria uma grande simpatia pe-los militares, tendo sido, ao ladode Olavo Bilac, o criador do ser-viço militar obrigatório. Este ser-viça, que a princípio foi veemente-mente combatido pelo povo, depoisteve a sua aceitação, convencidopela pena maSgistral e respeitávelda quele. cuja bagagem literáriafoi e é motivo de orgulho para anossa Pátria.

Ao lado das grandes qualidadesde jornalista e político, AlcindoGuanabara era bondoso, possuindouma alma caridosa, recebendo osfrutos dessa generosidade todos osnecessitados que dele se aproxi-mavam.

A 20 de agosto de 1918, no Riode Janeiro, acometido de um malsúbito, falece no apogeu da glóriao principe dos jornalistas bra-sileiros.

Rio, 23 de outubro de 1950.

A noite caíra com esplendor,tempo firme, e o ambiente favorá-vel, sob todos os pontos-de-vista,para uma festa verdadeiramentefamiliar.

A casa apalacetada, em meio devasto terreno, apresentava, com oseu tom festivo, a morada da fe-licidade.

Com que alegria festejava a fa-mília do Sr. Gervásio Pinto o ani-versário de seu filho mais velho,o Paulino, rapaz de robustez pou-co vulgar, atlético mesmo, de tem-peramento ardoroso, tendo semprenos esportes quando ainda estu-dante, que como tal, foi sempremedíocre, de comportamento pés-simo e algumas vezes perverso.

No entanto, já homem feito, comvinte e três anos de idade, revela-ra-se, como trabalhador, sagaz eráveis nos negócios em que se me-tia; e de tal facilidade nasceu umdevotamento para com a família,que culminava em uma generosi-dade excessiva, enchendo-a cons-tantemente ed presentes. Isto di-minuia a personalidade de seu ir-mão Alfredo, rapaz sizudo, grandeestudioso, mas cuja atividade nâoapresentava os resultados pecuniá-rios e já famosos do seu irmão maisvelho. Não dava presentes!

Em redor da mesa estavam sen-tados o dono da casa, Sr. GervásioPinto, a sua mulher, D. Etelvina,e os três filhos do casal, Paulinode 23 anos, Alfredo de 20 e Rosa-lina de 17, mas já uma moça, emvésperas de se formar em profes-sòra e de casar, pois ali estavatambém seu noivo, Raimundo An-drade, rapaz bom. de caráter limpo,que trabalhava na polícia da ei-dade, dada a sua vocação pelos as-suntos de criminologia. Cursava aAcademia de Direito, onde preten-dia terminar ainda o curso no fimdo ano, com os estudos necessá-rios a um grande advogado, poisera um rapaz de talento. Convida-dos, íntimos da família: comple-tavam a mesa.

A família festejava o aniversá-rio de Paulino com grande rego-sijo, notando-se, porém, uma certatristeza no semblante de Raimun-do, que pouco falava.

Atribuía o Sr. Gervásio à predi-leção que tinha o noivo de sua filhapelo seu filho Alfredo, e assimjulgava que as homenagens ao pri-mogênito lhe trouxessem aquelatristeza.

Era uma questão dc predileção eciúme, a que Paulino fingia nãoentender, dizia D. Etelvina.

As coisas corriam assim e emtudo parecia que a felicidade ti-nha transbordado naquela casa,onde nada faltava, pois o Sr. Ger-vásio, homem honesto e trabalha-dor, tinha juntado o suficiente pa-ra, como comanditário de sua an-tiga casa comercial, poder viverconfortàvelmente. Muitas vezes emconversa, na ausência de Paulino,em tom de mofa, dizia o Sr. Ger-vásio a Alfredo:

Porque não aprendes com teuirmão a ser um homem de nego-cios que dêem vantagens e nãodeixas este laboratório, onde teconsomes nas pesquisas interminâ-veis que a ciência obriga, que po-dem um dia da-te até a glória, mas,que, vamos e venhamos, não é umavida muito agradável e presente-mente pouco vantajosa?

Ao que Alfredo, suavemente, res-pondia, com argumentos convin-centes de que a sua aspiração decientista, quando terminasse o seucurso na Faculdade de Medicina,pois com afinco estudava já noquinto ano, havia de ter um im-pulso, que êle esperava com a se-gurança de quem tem confiançaem si mesmo. E assim dizendo, com-pletava:Deixa lá o Paulino com seusnegócios, que eu desejo sejam osmais vantajosos possíveis; eu per-manecerei cá na minha trilha.

O pai, homem de negócios, nãoachava grande vantagem e nãoaplaudia aquelas idéias, que só tãoremotamente poderiam trazer lu-eros pecuniários, louvava o filhomais velho em sua atividade finan-ceira e concluía: breve estará mi-lionário!

Raimundo se tornava cada vezmais apreensivo, e Rosalina quel-xava-se à mãe que o noivo tinhasempre uma tristeza profunda,

João Curtos de Almeida

quando se referia, por qualquermotivo, a Paulino.

A mãe falava, procurando meiosde não magoar a filha; dizendo noentanto, de si para sl: "Inveja, pu-ra inveja!"

A tristeza de Raimundo, porém,tinha motivos muito mais sérios.Êle sabia, como policial, donde vi-nha aquele dinheiro. Misto de pie=dade com a família e de certo te-mor de Paulino, que êle sabia ca-paz de uma vingança pelas ar-mas obrigava-no a deixar correr otempo e os fatos, à espera, de umahora para outra, da desgraça da-quela família tão feliz, que eratambém a sua própria desgraça,pois amava Rosalina loucamente.

Não fora este amor, os outrosmotivos seriam afastados, e já te-ria, como policial, desmascaradoPaulino, que êle sabia ser chefe deuma quadrilha de ladrões.

Paulino, inteligente e destemido,era por todos respeitado e de qual-quer roubo que um elemento daquadrilha fizesse, tinha o seu qui-nhão garantido, como chefe queera.

Dia a dia, êle se tornava mais,audacioso e em breve a polícia pòr-lhe-ia as mãos em cima. Se istoainda não tinha acontecido, eraporque éle, Raimundo, sempre des-viava as diligências policiais do ru-mo do rapaz. Aquele dia, porém,alta madrugada, chegara preso aoDistrito um temível ladrão por de-núncia de um guarda, que o viraandar espionando uma casa ban-caria da cidade.

Entre contradições, apertado pe-lo interrogatório seguido, o Mao-de-Gato, vulgo do bandido, deixouescapar o suficiente para Raimun-do ficar sabendo que a quadrilhade Paulino atacaria à mão armadaaquela casa bancária, na madru-gda do domingo seguinte. Na De-legacia de Polícia houve o comen-tário sobre o interrogatório e con-cluiram os policiais que algum la-drão, mais inteligente, havia pre-parado o assalto à mão armadae que, se a polícia não tomasseenérgicas providências, a coisa se-ria levada a termo com vantagem

para os ladrões. Ordens fórrm rt»das secretas e severas. Ruim,,;?:saiu do Distrito Policial e foi to?curar Alfredo. Contou-lhe &tudo que sabia, assaltos, roubos» „caminho todo já percorrido nor m,irmão na escala do crime na™vésperas de se tornar 0 bsuidtjomais temido da cidade. Antechegada de Raimundo bora-

doistório, Alfredo tinha com ma1colegas pesquisado e chiadoconclusão de estudos sôbre an terrível veneno, insípido, crisi iin„ Ide efeito mortífero imediato sendoa sua aparência quase de ia„ mtável. Estas pesquisas tinham tidoseu inicio no pedido de mitoti-dades alfandegárias para eliminarmilhares de ratos, que asis.^avamos armazéns e porões dos naviosAlfredo estava satisfeito com a des-coberta que lhe ia trazer vaniugerispecuniárias grandes e ria-se aolembrar-se que seu pai por certohavia de ficar contentíssimo.

A narrativa de Raimundo selou,o. Tudo desmoronado! Teve impe-tos de sair ao encontro de J^tulinoe abatê-lo a tiros, antes cio assaltoRaimundo, porém, ponderou queaté D. Etelvina, desconhece», ti o tu-do. diria que tinha sido por inveja,Alfredo concordou tristemente efoi para casa, depois de paasar naDelegacia e saber de viva voz doladrão preso que seu irmão era ochefe da quadrilha, a quan êle,Mão-de-Gato, muito temia e res-'peitava.

Chegou a casa, entrando logopara seu quarto, nos fundou tio pré-dio, o qual era junto ao do Paulino,ligados por uma porta de comud-cação, sempre fechada.

Deitou-se e percebeu que seu ir-mão se achava no quarto e arru-mava coisas com atividade dequem traz grande nervosismo oude quem está para viajar, Levan-tou-se e espiou pelo buraco da fe-chadura. O que viu aterrou-o, Doistipos da pior espécie estavam empé, silenciosos, assistindo Paulinocarregar pistolas modera as domaior calibre. Postas as armas den-tro de uma maleta, os homens

(Continua na página seguinte}

AUTORES E LIVROSPropriedade de MUCIO CARNEIRO LEÃO

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pezagmbfo dd 1&S0-—Vol,Xtpnfi ífc ASüLJU&l* a»g lí VSO s Péglna 13S

pr «pHl JOiO PWIO DASD.VA POESIA, ONDE ES TÁ S'?té* fll iflAaTna mt*ti,mir*m\ «_ . ™fCoaaíimUfío ai» piflaia anterior)aceitaram as explicações de Pau-lino,cone

acenos de cabeça, tudociando, Em seguida, um dos

homens apanhou a maleta e sai-rain ambos, sem fazer ruido, co-mo ladrões que eram.

Alfredo teve ímpeto de bater naporta, mas calculou que talvezfosse "torto ali, como conhecedordo si edo, e quedou-se.

Th *.* cio bolso um pequeno fras-co {je amostra do terrível venenoe neiwm em suicidar-se, mas, nes-i;e ir: iciito, de repente, Paulino,perci'ovndo-0 no quarto chamou-o abiiüdo em seguida a porta, quenunc; au quase nunca se abria.Abri li-:i porém, somente uns qua-tro ci dos e fez uma pergunta com-proaa-.Ltcdora:~i' tas ai ha muito tempo?

__ rão, cheguei agora mesmo,resp'^ 'ieu Alfredo. Paulino, comvo? cir quem dissimula, já conven-cído cie que nada vira seu irmão,per? ü iou, pedindo ao mesmo tem-po;

— Jí."*.;i moringa tem água? A mi-,nha * íá vasia, queres dar-me umcopo üngua? E, acrescentou, des-culpa o atrevimento; disse comoquem quer pilheriar...

Cor-io um relâmpago, a idéiaatravessou o cérebro de Alfredo; e,sem raciocinar mais, despejou ovenero no copo, pôs um pouco dá-gua cia moringa, colocou-a com fôr-ça sobre a cômoda, como para mos-trar cue a água era mesmo da mo-ringa e levou rápido o copo dáguaao irmão. Paulino, que estava can-sacio e excitado, com o desassossê-go rio espirito e ainda com o calordo quarto, sorveu a água toda qua-se cie um só trago. Era uma dosefortíssima, Em poucos minutosfulminou-o. Alfredo ficou de pé,sem dizer palavra. Retirou-se emseguida para o seu quarto, le-vando o copo, que lavou com cuida-do. Paulino morrera sem nada per-ceber. .Alfredo voltou ao quarto, ve-rificando o óbito. Com a cabeçaem fogo, apanhou o chapéu e saiupara aa raia. Bom e honesto, ado-rando o pai, a mãe, a irmã c o pró-paio irmão, parou na esquina, numentroncamento de ruas, querendoraciocinar. Teve ímpeto de pro-curar Raimundo a quem cada veamais estimava, mas recusou daridéia por não poder falar no queacontecera e continuou com seupróprio raciocínio: Não posso terremorsos, salvei a nossa dignidadeAte paru Paulino foi muito melhor,ele há cie me julgar lá onde estáo melhor dos irmãos e o maior dosamigos.

Encontrado morto, na cama, porseu pai, este gritou chamando portodos. O médico da assistência che-sou minutos após, contatando amorte natural por colapso. O en-terro le? o Sr. Gervásio com o má-xnno aparato, o acompanhamentoíiiiaii/i 'arande, dada a amizade dalamalaa e 0 conhecimento no mun-cia. coaiiM-cial da cidade do Sr. Ger-rasio, era uma demonstração dePezar, que se manifestava de tal*"'•" a o que se traduzia nas pala-"¦'«•. dc coaifórto cheias de elogios¦"' rapaz, que quase enloqueciam a". i-jolvina e a Rosalina, as quais oor. uervasio, em meio a grande"oi procurava consolar dizendo:— E' assim mesmo, os grandes, os"'¦¦as. amarrem cedo. Ele era umJ* aaa de dignidade e trabalho,¦¦¦ '.aua de mais para este mundo,paJ-J.'Ia

la !ím'Zl' muito! Era de--¦ Morreu como um grande e'}' ' homem, dizia consicao Al-"•!"; -"-dor de meus pais e de mi-™ '-llul e a saudade que êle dei-¦¦"' como um ótimo filho, um bo-"«•'; ao irmão e um digno cidadão,sao icnatavos para mim.•.i.aaaaiando-se

junto ao esquife"•• arara, da saída do féretro, AI-••• . pedaa perdão a Paulino do¦•'_ ato com o qual salvou todaeaJ ,f am!lia da «esgraça imi-

dei™ a-ele* scu irmâo. de »ma<•';¦¦'•.aça ainda maior.caS',"1»;?0* no dla «guinte, abra-fe«»™ A"rea°' 1™ nada lhe «>n-[,','.''

"* ,c,°municava-lhe que dera

clr,=",a,í0, Mao-de-oato e que o ban-u. a.™droes afiado por Pau-

C't™ a,mo?e InoPinada deste,to nfe?doJevad0 a ««"o o assai-«ceuale,ad°. diWrsou o desapa-«ceia da cidade, e concluiu:

Alfa-el2™ente está tudo salvo.nensna?, ' c?m a aIma em PedaçosPensou consigo mesmo e balbiciou:

Em Genebra, na Sulçà, õndê sé en-contrava exercendo suas atividade»consulares, faleceu o escritor JoãoPinto da Silva.Estava éle ha longos anos ausentedo Brasil, e seu nome pouca reper-cussão encontrará, J4 agora, entre osleitores. Além de estar ha longos anosausente, êle deixara também há lon-

gos anos, de editar livros. Parece quefindou por descrer da necessidade detrabalhar no âmbito literário, no âm-bito que nos começos de sua vidaamava tanto. E silenciou desde então,Mas João Pinto da Silva era umescritor dos mais interessantes doBrasil de hoje, Ensaísta e crítico, elese deu à pesquisa de arquivos e M-bliotecas, à reconstituição de figurasde poetas e de prosadores, ã interpre-tação dos fatos e dos espíritos lite-rários.

De sua apaixonada meditação de¦crítico ficou esse curioso volume queintitulou Fisionomias de Novos. Nelese acham estudados e interpretados,os principais valores das letras nacionais, naquele período que' corres-ponde às vésperas e às primeiras con-seqüências da guerra dc 1914 — aquelaque era então chamada a GrandeGuerra, e que depois do conflito de1939-1944 perdeu tanto de sua impor-tância...

De real valor, também, são os volu-mes da série Vultos do m^u Caminho,nos quais Jcão Pinto da Silva fixou osretratos espirituais dos grandes auto-res. brasileiros ou estrangeiros, emcujo contato fêz a sua educação dehomem de letras.

No entanto não é essa a principalcontribuição que João Pinto da Silva,legou ao espírito brasileiro, A sua con-tribuição principal, na ordem dos es-tudos literários em nosso País, é a suaHistória Literária ão Rio Grande doSul. Dir-se-ia que João Pinto da Silvateve diar..te dos olhos, ao elaborar estasua obra, a Pequena História ãa Li-teratura Brasileira, de Ronald de Car-valho — tal o senso de medida, tal afinura de apreciações que nela encon-tramos.

Cerca de 1930 — talvez um poucoantes — fixou-se êle no Rio de Ja-neiro, e daqui só saiu para o exterior,tendo Ingressado no corpo de funcio-nários do Itamarati. Faleceu agoraaos 61 anos de Idade, em terra estra-nha, deixando um fundo pesar nocoração daqueles que o conheceram,o pPEzaram e o estimaram.

João Pinto da Silva nasceu em Ja-guarão, Rio Grande do Sul. em 24 dejunho de 1889. Foi nomeado adidocomercial em fevereiro de 1928, masnesse mesmo ano foi servir no RioGrande do Sul, como secretário dapresidência do Estado. Em outubrode 1930, foi exonerado do cargo deadido comercial, mas voltou a serpara êle nomeado em março de 1932.

Em 1937, foi Comissário Geral doBrasil junto à Exposição Internacio-nal de Artes Técnicas Aplicadas àVida Moderna. No ano seguinte, foidelegado do Brasil à Conferência doInstituto de Cooperação Internacio-nal em Paris.

Em 1941, foi transferido para oCorpo Diplomático. Faleceu em Ge-nebra onde exercia o cargo de cônsulgeral do Brasil, em 12 de novembrode 1950.

Escreveu:Estalactites — Versos — Porto

Alegre — 1910.Vultos do meu caminho — (Estu-

dos e impressões de literatura) — JoséEnrique Rodo, Vicente de Carvalho,Cruz e Souza, Euclides da Cunha, Emi-le Verhaehen. Alcides Maia, FontouraXavier, Zeferino Brasil Marcelo Ga-ma, Leal de Souza, Victor Silva, Octa-veMirbeau — 288 pág. — Editores:Barcelos Bertase e Cia. — Porto Alegre

:9is.Vultos do meu caminho — Estudos

e impressões de Literatura (2,a Ediçãorefundida e ampliada) II." Série —Brasileiros: Euclides da Cunha. Cruze Souza, Alberto Torres, Amadeu Ama-ral, Celso Vieira, Vicente de Carvalho,Olavo Bilac, Rosalina Coelho Lisboa,O Rio Grande e a poesia, Em Iou-vor do Romantismo — 216 págs. —Edição da Livraria do Globo ¦— PortoAlegre — 1926.

Bolhas ãe espuma —¦ Crônicas —Barcelos Bertaso e Cia. — Porto Ale-gre — 1920.

— Fisionomias de Novos — CríticaXV-258 págs. — Monteiro Lobato e

Cia. São Paulo — 1922.HístaSrio Literária do Rio Gronaie

Paradoxal a nossa felicidade!Enfim, está salva a honra de Pau-Uno e a dignidade de todos nòs.Amargue eu o resto da vida.., , *.

De que vive atualmente a nossapoesia? Que mensagem revolucio-nária pretendem traduzir os poe-tas? Haverá realmente um sen-tido até agora oculto, num feixe deversos livres? Toda arte precisa deuma definição que, se não esclareceexatamente o seu significado, pelomenos sugere alguma coisa. Ninguém cria uma verdadeira artesem os requisitos que lhe são in-trinsecos por natureza: — a formae o fundo. Sem forma não há fun-do que resista; sem fundo a for-ma peca pela superficialidade epela imprecisão.

Salvo algumas exceções, não hánovidade na produção dos poetaschamados "post-modernistas", Ob-serva-se um certo esnobismo lite-rário, e evidentemente um poucode beleza. Também esta beleza ori-gínu-se desse esnobismo, porqueambos são falsos. O esnobismo éa*also por princípio; a beleza, comoo presente colorido, não deixa deaer, circunstancialmente, falsa. No-va substância na frase dúbia deum verso, "post-modernista"? Eporque não? A arte está cheia depseudo-artistas que descobrem,num ponto negro e insignificante,a oitava maravilha do mundo.

Uma coisa é distinta quando na-da posse de outra; e quando sobre-vém. uma coisa a outra, é evidenteque aquela "é" depois desta. Se o"Post-modernismo" fosse realmen-te um movimento que sucedesse ao"modernismo", então nada haveria

Renato Joblm,a observar quanto ao seu prefixo.Mas uma coisa não pode ser ela e,ao mesmo tempo, outra; um corponão ocupa espaço em dois lugares.Se o "Post-modernismo" continuasendo, paradoxalmente, puro e sim-pies modernismo, só pode ser o queé, e não o que pretende ser.

Acontece atualmente no nossopequeno mundo literário (esta in-fiação de poetas e mais poetas) oque aconteceu há dez, vinte, quasitrinta anos atrás. A única dife-rença, por sinal bem grande, é quea geração de 22, além de amar aslutas, o entusiasmo fácil, vivia dasingularidade. E foi precisamentepela singularidade que os poetasmodernistas se firmaram. A gera- -ção de hoje, entusiástica e luta-dora, não é singular. Alguns poe-tas fazem poesia nova, mas sãopoucos; a maré montante sufocaesses mariscos insolentes...

Quando Carlos Drumond de An-drade, récem-saído da Semana daArte Moderna, pegou da caneta eescreveu a história da "pedra nocaminho", não o fez para que osprofessores retrógrados se rissemdiante dos alunos; havia naquelabarbaridade poética um sentidoverdadeiro, pungente, e sobretudoum "complot" da técnica. Os Nculosdo poeta obrigavam-no a sofrer apresença daquela pedra, e êle téc-nicamente, revolucionàriamente,contou a história a seu modo. Foium modo subjetivo, de que até

então muito pouco se ouvira falarno Brasil. O desprezo pelo "lirismopúblico" representa o mesmo fe-nómeno. Até na poesia exótica doSr, Luís Aranha, foi Mário deAndrade,com aquela astúeia parti-cular, descobrir o que chama de"ginasialismo" d epoeta. O certo éque, nesse e em outros poetas, avul-ta a verdadeira nota de originali*dade, ou-quando menos, de curió-sidade.

Encaremos esta dura verda-de: — o modernismo revolveu tãoa fundo os alicerces da nossa poe-sia, que passou a constituir umuniverso a parte dos pequenos uni-versos que as escolas representa-ram. E' difícil, agora, removê-lo doseu lugar de honra; os nossos ra-pazes acabam nele mesmo,

Não -cremos que o interesse dapoesia seja o das histórias em qua-drinhos. A poesia exige mais doque um interesse efêmero pela suadisposição oral ou escrita; exige,sobretudo, acuidade analítica. Osubstrato, da poesia medra nos se-res e nas coisas no critério ani-mado da natureza. Dispor este cri-tério artisticamente (muitas ve-vezes ilògicamente), eis o ofício dopoeta. E porque sentimos a ausên-cia de arte na poesia de hoje, por-que a poesia de hoje não superoua modernista, e não passa de umacópia desonesta, prosaica e pe-dante, é que esperamos um res-surgimento nas nossas letras.

DOÍS livrOS dê NÜO BrUZZi Januário da Cunha Barbosa(Palavras na Academia)

Trago à Academia dois livros deum poeta, publicados com algumespaço, de tempo um do outro einspirados pela vida, de dois poe-tas, bastante diferentes, mas comseu lugar assinalado nas letrasbrasileiras. O Sr. Nilo Bruzzi, poetade fina sensibilidade, narrou nes-ses dois livros a vida de Casemirode abreu e a vida de Júlio Sa-lusse. Estudou duas épocas e doistemperamentos, Analisou o lirismode um e o romantismo de outro.Fez o julgamento de dois caracté-res, a psicologia de duas almas, oprocesso de duas vidas, com a emo-ção do seu entusiasmo pela altis-sonância do canto dos dois gran-des vates e a honesta decisão deser justo e verdadeiro na revela-ção dos fatos e episódios a ambosreferentes. O poeta, afinal, foi ven-cido pelo ensaísta, que o Sr. NiloBruzz revela ser, com todas as qua-lidades de pensador, de analista,de erudito, numa obra que fixa, noquadro social do país, dois aspec-tos profundamente curiosos. Duasépocas, duas fases de evolução,dois momentos marcantes, com afigura central dos poetas que o es-critor Nilo Bruzz escolheu para oseu estudo e a sua evocação. Ca-semiro de Abreu sugere ao seu bió-grafo aguda observação da vidafluminense no século passado, le-va-o a descobrir, na evolução eco-nômica do país, uma influênciaainda não estudada e que poderiaser considerada com o ciclo damadeira na formação da nossa ri-queza, abrindo a vereda para ospesquisadores da história pátriaqúe queiram fixar o sentido dessecapítulo do desbravamento e ex-ploração do território nacional. Enoutro ângulo, mostrando o que afama de Casemiro de Abreu deveuao entusiasmo do caixeiro viajante,desperta o Sr. Nilo Bruz i a aten-ção dos sociólogos para o fenôme-no de penetração intelectual queteve por agente, no Brasil, entãosem contatos e sem ressonâncias,a alegria, a juventude, a inteligên-cia do "cometa" que varava o ser-

do Sul — V-270 págs. — Edição da Li-vraria do Globo — Porto Alegre — 1924,

A Província de S. Pedro — Liv.do Globo — Porto Alegre — 1930.

Fontes:JoSo Ribeiro — Vultos do meu

caminho (Imparcial — 2-6-1918)— Vultos do meu caminho ( Jor-

nal do Brasil — 19-10-927)Nestor Victor — Cartas à gente

nova.Xavier Pinheiro — Mundo Li-

teririo — 5-12-924, paus. 245.

Elmano Cardim.tão e levava ao interior o conforto,a moda e a literatura,

Júlio Salusse, que o Sr. NiloBruzz aproximava de Fetrarca,não pela paridade poética, maspela identidade romântica na ins-piração do amor platônico, com aexistência em ambos os corações deuma Laura, musa inspiradora detão sublimes estos, — Júlio Salus-sepermite ao Senhor Nilo Bruzzibasquejar um aspecto da sociedadebrasileira na transição do séculoe sobretudo descobrir, na ascen-dência do poeta, um marinheiro deNapoleão vindo para cá, herói ba-tido na batalha de Trafalgar, paraque, ao lado do General exilado nasmatas do Corcovado, Exército eMarinha do grande Corso trouxes-sem para o Brasil uma nota me-lancólica da sua legenda e de suaderrota.

Os dois livros do Sr. Nilo Bruzzique chegam à Academia por meuintermédio, são dois ensaios valio-sos. Não importa que hajam pro-vocado celeuma, atiçado paixões,originado críticas e censuras. Já odiz um provérbio árabe que não sepasseia pela multidão o facho daverdade sem chamuscar as barbasde algum... O Sr. Nilo Bruzzi, semdiminuir o seu culto pelo poeta Ca-semiro de Abreu, reviveu o homemcom todas as suas franquezas, pa-ra reabilitar a memória de um pai,que a crônica vilipendiara, restau-rando um quadro de família triste,mesquinho, infeliz, no qual so—bressai a figura do genial cantordas "Primaveras". Fez o Sr. NiloBruzzi obra de historiador e os poe-tas talvez não gostem .Mas o autorfoi sincero e justo. Na historiogra-fia literária do país, o livro do poe-ta de "Dona Lua" sobre Casemirode Abreu vale por uma revisão detudo o que antes se publicara sobrea sua vida. Sofre o lirismo do poe-ta? Não. Perde o homem um poucoda ternura e da piedade que a suamorte prematura despertou no co-ração dos seus biógrafos? Talvez.Mas não importa. Ganha a verda-de histórica, beneficia-se a impar-cialidade do julgamento crítico, en-riquece-se a bibliografia pátriacom um estudo de valor, probo,erudito, atraente.

Ao lado do ensaio sobre Case-miro, a evocação do admirável poe-ta dos "Cisnes", feita ainda quan-do ele vivia, nos derradeiros Iam-pejos de uma velhice ignoradados contemporâneos constituiuuma nota consoladora para o seucoração, porque lhe deu a alegriade sentir a sua glória reviver, pe-la voz de um poeta ilustre, seu Ir-

(Continuação- da pág. 127)para o exílio o ministro José Bo-nifácio.

À sua chegada é recebido peloimperador e pelo povo com enti-slásticas manifestações de regosijoe reconhecimento patriótico. Emseguida é eleito deputado à pri-meira legislatura pelas provínciasde Minas Gerais e Rio de Janeirosimultaneamente. Suas atividades*jornalísticas recomeçaram, já ago-ra cooperando com o ministério;redigia o "Diário Fluminense"Ocupou o cargo de diretor da Im-prensa Nacional e depois da Biblio-teca Nacional. Foi fundador como Gen. Raimundo José da Cunhado Instituto Histórico e Geográ-fico Brasileiro.

Nesse periodo de nossa história,Januário Barbosa, embora não se-ja uma expressão literária com-parável a Frei Caneca ou mesmoao impulsivo Frei Sampaio, con-seguiu, graças à sua boa colabo-ração com o governo, uma proje-cão e certa popularidade verda-deiramente extraordinárias.

E' inegável seu trabalho na pro-paganda da Independência e seusrelevantes serviços prestados aosestudos históricos e literários doBrasil.

Não nos deixou Januário Barbo-sa obras de valor literário mar-cante. Escreveu muitos sermões,orações fúnebres, inclusive a deD. Maria I, rainha de Portugal edo Brasil, falecida no Rio de Ja-neiro, discursos e principalmentebiografias de alguns escritores bra-sileiros.

Além de sua colaboração no"Reverbero Constitucional Flumi-nen.se" e outros de menor impor-tância ainda são conhecidas ai-gumas de suas produções poéticascomo "Niterói" e "Garimpeiros".

Pertenceu a muitas associaçõesliterárias e cientificas nacionais eestrangeiras; foi dos homens doseu tempo o que mais títulos ho-noríficos possuiu — há quem digaque vinte e seis. E depois de umavida inteiramente devotada as li-herdades em todas as suas for-mas, faleceu na mesma cidade emque nasceu, a 22 de fevereiro de1E48, um ano antes de JoaquimGonçalves Ledo, seu companheirode imprensa e de lutas.

mão de alma e seu confidente delongos anos, para a imortalidadeque o há de ter sempre entre osgrandes poetas do Brasil.

Os dois livros do St'. Nilo Bruzzireafirmam expressivamente aasqualidades que o distinguem nasletras brasileiras, como poeta derica inspiração e como escritor bri-lhante, fecundo, original".

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Antologia da Literatura Brasileira ContemporâneaPrimeira série • Antologia da Poesia XXXIX • Paula Achilles

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Paula AchUles

Francisco de Paula Achilles — Nasceu em Corumbá,Estado de Mato Grosso, a 4 de maio de 18B9 — Estudos:primário em Corumbá, secundário e superiores na MarinhaNacional. Prosador, poeta e jornalista. Professor do quadroda Armada em 1914. Técnico de educação no Estado do Rioem 1926. Catedrático de História Oeral do Instituto deEducação c Escola Normal de Niterói, em 1930. Redator dosjornais "O Estado", "Gazeta Fluminense", "Correio Flu-minense" e da revista "Ilustração Fluminense". Professorde Latim do Colégio Militar. Diretor Geral do Departa-mento de Imprensa Nacional, em comissão. Membro daAcademia Fluminense de Letras e da Sociedade Brasileirade Geografia. E' possuidor das Medalhas comemorativasdo Esforço de Guerra, dos centenários do Barão do RioBranco, de Caxias e de Ruy Barbosa. E' autor de "Torre deBabel", versos (1930); "Novos Rumos Educacionais", prosa(1935); "Uma Escola para o Brasil", prosa (1937); "Brasilde Oeste", prosa (1940); "O Brasil em Marcha", prosa(1942)' "Outono que vai passando", versos (1946); "A dançafia vida", versos (1948): "Silêncio do meu destino", versos(1950); "Sombras e Paisagens", prosa (1950).

POESIAS DE PAULA ACHILLES

Suplico ao meu destino e vivo a implorar que eu tenhaUm pensamento cheio de visões, cheio de mundos, cheio ãe

[alvoroço;Qae se eleve nn espaço e não volte para a terra,Singre o oceano das estréias,Caminhe na asa das ventanias, no arrojo das tempestadesE prossiga, sem cessar, pela escalada em que se abismamAs sucessões áo insonúávél do infinito;Um pensamento cheio de harmonias e contrastes.Que

'seja a ardência do sol e a brandura dos luares,Que cante e vã cantando, a vida inteira;Seja um hino de amor à beleza e à perpetuação da graçaE não trema nem vacile ante o terror da morte.

Vm pensamento que alcanãore, em ouropéis ãe encanto,O que alcance e não alcance;Que vibre e qne se exalte,Acredite na esperança e creía em todo engano;Mergulhe no mar profundo e corra entre montanhas,Seio tale e planura, encosta, floresta e praia;Vm pensamento maior que todos os pensamentoStQue semelhe a rebelião de um sentido profundo,Seja caos e sttèndo;Que em si mesmo agrilhoado em turbilhões tremendos,Quando tudo passar, pelo tempo vencido,Pare glorioso e forte e fique, serenamente,Sentindo a tragédia ImensaDo poente que se apressou para chegar tão cedo,Da aurora que se atrasou para chegar tão tarde!

APARIÇÃO

Pioneira dc.s vigílias continuadas,Visão do meu roteiro sem ventura!Testemunha das horas desoladasQue consumo na estrada horrenda e durai

Tu que tens a clemência da alma pura,O desvelo das coisas mais sagradas,Não me abandones,nunca nesta escuraVereda ãe incertezas tumultuadas!

Dâ-me o consolo no teu manso abrigo,Recolhe-me em teu selo, estou cansado,Vencido de esUrter, por onde sigo!

Só teus braços me servem de carinho,Grandioso resplenâor serenizaão,Divina aparição âo meu caminho!

AMAR

Por que amo e por que tenho este amor transborãantePor tudo quanto vejo e tudo quanto sinto?Por que trago na idéia a alma febricitanteUo mundo a palpitar no eterno labirinto?

Amo aqueles que vão conduzindo por dianteA esperança maior do sonho nunca extinto;Amo'toda a expressão da verãaãe triunfanteE a mentira imortal que em mim mesmo consinto!

Aviar para ser forte e justo e verdadeiro,Esquecer c perdoar ódios e dissabores,Para ser,, entre os bons, o melhor e o primeiro;

Amar para sentir, depois de ter amado,Dentro d'alma o esplendor ãe todos os amoresMorrer, como um clarão, na luz glorlflcado!

PÁTRIA

Por ti. por esta unção, aos teus pés, olhos fitosNa imensa estrada real do teu grande futuro,Ajoelhado me vejo entre hossanas, aos gritosDa vitória que tens como um sonho seguro.

Pátria! E' na ária imortal desta idéia que auauroVer a glória pompeanâo em teus dias benditos!Em teu aelo de amor sempiterno enclausuroMeu delírio e meu ser, dentro em mim circunscritos/

Vou de mira para mim. aos teus braços, absorto,Cheio de orgulho estremo, a alta continuidaãeConvertendo a razão, como um justo conforto.

Mãe sagrada ãe heróis! Em teu céu sempre novoO Cruzeiro imortal a. áurea perpetuidaáeJorra em ondas de luz no esplendor do teu povol

POEMA DOS CARRILHÕES

Km confusão delirante passam no caminho do tempo,Vão seguindo em louca disparada pelos quadrantes do espaçoO eterno agrupamento de todas as raças, de todos os instintos,E os povos que se conjuntam separados pelas fronteiras.Pelos mares, pelo idioma, pela história e pela idéia...

Procissão dr tantas vidas em ovações trlunfantesDesfilam, vão passando e hão de passar indefinidamentePara a derrota inevitável de todos os destinos,K os carrilhões das horas, sobre tudo, em toda a vidaContinuam badalando, badalando, badalando...

Na inquietação da ansiedade passara todos os momentos,E' de alerta, a cada instante, o roteiro dessa viagemNo inicio que se desencontra para a mesma finalidade,E o mesmo quadro é sempre novo, a noite é a mesma, o dia é o

[mesmo;Por qne é que o tempo se adianta e por que é que nós ficamos?

Poesia do belo, poesia do horrível, do encanto e do desencanto,Sinfonia do («ue se percebe e do que nunca se alcançaE* o panorama da terra inteira, é a paisagem do tempo em marcha;E c por essa multiplicação de enganos c desenganosQue os velhos carrilhões continuam badalando, badalando, bada-

[lando...

Que espera o pássaro cantando, que espera a árvore florescendo,Por que uivam os ventos, por que gritam e se espadanam os oceanos.Por que brilham as estrelas, por que os espaços se iluminam?E a natureza emudecida permanece indecifrável...Que faz o homem nesse mundo infinito da inconsciència?

Que pensam, que fazem, que desejam, os que vão seguindo?Para onde foram os que cansaram, os qoe tombaram, os qne pa-

[raram?Todos os sentidos se confundem na Babel tremendaE os carrilhões das horas, compassados pela Insõnla do Infinito,Continuam badalando, badalando, badalando...

Desespero humano, incontentamento de todos os desejos,Na «Investida de todos «os sentidos, na vertigemDe arremesses tremendo* é a paisagem da noite em debandada;E dormem nesse mondo os caminhos «sinistros do desertoPor onde as «caravanas vão seguindo e desaparecendo...

Na pavimentação desses instantes ha nm* força «ne m exaltarara a eoniraiata insatisfeita do qne ae quer e nao vem nanea;Existem sonho* nascem esperanças, morrera todas as graças,E rondando eua impressão de nm seguido oao sentimosOs velhos carrilhões continnam badalando, badalando, badalando...

QUANDO TUDO PASSAR

Nem de sim, nem de nio serviu-me a vidaE fulgo-a piedosíssima e clemente;Milagrosa, santíssima, querida,Ela tem sido sucessivamente.

Tenho-a, no pensamento, enaltecida,Sinto-a, na idéia lúcida, eloqüente,E quando separar-nos a partidaQue eu caia, sem chorar, por tê-la ausentei

Que eu me curve, no fim do meu roteiro,Na certeza de estar tudo acabado,Consciente desse instante derradeiro...

Sereno, emancipado, convencidoDo destino, que eu morra compensadoNa glorlficação de ter vivido!

VELHO ENGENHO

Neste roldão do tempo, engenho amigo,Pelos dias que passam pela vida,Esta saudade vem gemer comigoComo um resto de sonho em despedida...

Venho encontrar-te velho e sem abrigo,Sobre a terra cansada e comburida;Votto, recordo a tua ausência e sigoPensando na distância percorrida.

Que valem meus anseios rutilantes,Para onde foram todas as auroras,Todas as graças que já tive dantes?

Nestas horas de angústias infinitas,Eu quisera chorar como tu choras,Eu quisera gritar como tu gritas!

MEV GRITO

Ideal! Para onde vais? Quem ie ouve e quem te espera?Louco! Desordenado, o teu corcel avançaE procura atingir a longínqua moneraQue o infinito rumor entre os séculos lança...

Woite e dia, em mim mesmo, essa imensa crateraVulcanisa em meu sonho, entre lavas, a aliançaQue è delírio, que é sangue, e é rugido de fera.Desengano imortal, convertida esperançai

Por tanto tempo, embalde, ambos nós percorremosO caminho triunfal, esperando que viesseA promessa que até hoje ainda não conhecemos...

Procuro-te em delírio e no anseio profundo,Meu grito não te alcança, agoniza e falece,Destroçado esplendor, no silêncio de um mundo!

CANTO DO HOMEM DE FE'

Crê na vida. crê em tudo o que ela tem de bom e o qu réItetU,

Na cantiga dolente das águas que vão correndo,Na serenata que vem de longe pela harpa dos espaços,Pela boca dos ventos, pelos olhos das estrelas,Pela alma dos luares, pelo sonho das montanhas,Pelo esplendor dos mares e pelo esplendor áa terra.

Crê no pensam.e?ito que te eleva e te reaníma,Crê na idéia iluminada ãe todos os teus encantos.Crê nas horas felizes, crê nos momentos amargos,Crê no que possas fazer, cré no bem, crê no mal, crê no

Crê na fúria das águas, crê na angústia da tarde, cri no «*•Mo W*

Crê na flor que perfuma, crê no canto dos pássaros.Crê no dia qne incenâe, crê no que vês, crê no que sentes-

Toma-te surdo, torna-te cego, muitas vezes, e anda...Ergue em teu coração o monumento ãe tua alegria;Tudo ê belo, tudo é imenso, apenas tu não entendesA razão ãe sentir, de contemplar e ãe ter compreendidoA história que representas, o drama que te pertence.;Alegra-te, caminha, confia, vai pelo tempoSeguro de que uma glória, pelo menos uma, existeNas horas que tens vivido...

Crê na esperança que por acaso tenhas,Sorri como em tudo sorri, âeslumbradoramente,A natureza em festa...Não recuses à tua alma o que o sentido te oferece,Crê na melhor intenção das coisas mais discordantes,E que nunca duvides com firmeza nem afincoE que nunca vaciles írrevogàvelmente...

Sufoca os dissabores e aprende a amar a alegriaE vê como em ti mesmo palpita o mundo inteiro.. ¦Perdoa e, perdoando, eleva, enobrece, alimentaA virtude de não odiar, ãe ser justo e ter confiança;Crê nas horas que passam, crê nos dias que voltam,

Aguarda e não desesperes porque não atcançasteO desejo que te vinha engrandecendo;Espera, permanece na esperança que tiveres,Não desanimes nunca e nem nunca te acobardes,Cri que setas forte e capaz e, moderando os tewsenw»*Homem, gloriosamente cri no poder do teu destino!

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AUTORES E LIV R O S Página 137Dezembro de 1950 — Vol. XI, n.° 12

Antologia da Literatura Brasileira ContemporâneaPrimeira série • Antologia da Poesia XXXIX • Paula Achilles

ROTEIRO ESTRANHO

Vírfe rumo do tempo onde se arrastaO cspeco numa eterna cavalgada,CompSaber

do o todo em mim, mas não me bastaapenas vejo, em tudo, nada!

Na imagem do que penso e pela castaAmbição de seguir, desgovernadaNau sem roteiro na salsugem vasta,Minha idéia é uma viagem condenada...

veio o sem-fim das mesmas nebulosaskcssc .strcmho deserto que se alagaDe noites e alvoraãas misteriosas...

E auscullo nesse mar de sons profundos,Na investida ãe vaga sobre vaga,A pletora ãe munâos sobre mundos!

INVOCAÇÃO

lias tuas mãos deponho o meu ãestinoE me confesso exausto, consumido...Mem erros, meu clamor, meu desatinoE minha vida, entrego-te vencido!

Companheiro ão incauto peregrino,Rastro indelével ão esplenãor peráião!Quero alcançar-te, mediador ãivino,Qucro-te em mim, tumulto emudecido!

is a imagem que surge sem alarde,Coma um traço ãe luz quase apagado,Como vin resto ãe sol num fim de taráe...

E nos olhamos, neste instante mudo,Ambos sabendo que não somos nadaAmbos sentindo que já fomos tudo!

DETERMINISMO

Esta explosão ãe cóleras distantesE èste clamor tremendo que não cansaSão gritos, se?isações turbilhõnantes,Que a caãa passo o desespero alcança.

7a luz ãe eada estrela uma bonançaPalpita pelos munâos cintilantes;No alcance inabordável ãa esperançaAs dores são gemidos lancinantes.

Regresso para a mesma luta intensa...Mais espaço è o que »eío tumultuandoE a caãa instante sobre mim crescendo.

Vou prosseguinão na planura imensa,S çiríto como os outros vão gritandoE morro como os outros vão morrendo!

SOMBRAS DO PASSADO

Nebulosas da noite, ideais, remotasMiragens das alturas singulares;Traços, distantes de infinitas rotas,Água? desertas ãe longínquos mares;

Distâncias que orientais perâiãas frotas,Nos rumos dessas luzes milenares,a sois, nessa amplidão de eras ignotas,0 império das paragens estelares;

CanSon.Sus

'iiheiras ão espaço inatingíveis,- as de incautas gerações passadas,es de eternos mundos invisíveis;

Parai em meu desejo e em tôãa esta ânsia,ô mortas, longas solidões nevadas,No profundo silêncio ãa distância!

ALEGORIAH& ííe correr, seguir, neste ãestino,p C7x-Inr a(> termo ãa jornada,%.à°> como um cansado peregrino,«e* ae parar, sei?i rumo, em plena estrada.

Neste arremesso e neste ãesatino,Por èste desespero em debandaâa,Na anteporá áo tempo, em mim, confinoA esperança, ãe há muito, amortalhaãa.

Eu sou do mesmo bando ãos que seguem e vão segutnâo,Dos que buscam alcançar o que está morando no pensamento,O que está vibrando no coração e correndo pelos nervos;Eu tenho a alma que os outros têm, eu grito como os outros

tgritam,Choro como os outros choram, rio como os outros riemE conduzo a mesma condenação de todos os outros condenados.

Eu me pareço muito com os que são tristes e os que sâolalegres,

Com os que têm resignação e com os que são incontentados,Com os que aspiram encontrar o bem e sentem que o mal

íexiste;Eu me pareço muito com os que param e pensam,Reconciliam o pensamento, prosseguem, continuam,E no silêncio pensam mais ão que estavam pensanâo...

Eu sinto como os outros sentem, trago uma sombra como osíotitros trazem,

Adoro como os outros adoram, desejo como os outros desejam,Adormeço como os outros adormecem, acordo como os outros

tacorãam,E existe em minha viãa o mesmo anseio ãe tôãas as vidas,A mesma inquietação humana e avassaladora,O mesmo deslumbramento, o mesmo encanto e o mesmo

«sc a tortura, em tudo indefinida,"»e o momento austero que antevejo,«mb a sentença eterna do que vive...Nessa hora há de restar-me a despedidaDe tudo o que iá tive e não desejo,Be tudo o que desejo e nunca tive!

CANTO DA SAUDADE ESTRANHA

nl ür mreS° muito com todos os que vão passandoSem, pre^aios no <**>. sem dizer uma palavra,¦m ver nada do que está acontecendo oo seu Iodo;-' os que vüo para o Norte, para o Sul, para Leite, paraPnr,- __._. tQiUa,lihp ." quadrantes dos caminhos do mundo e da vida,¦ «.noa vão encontrando o dia e ainda vão encontrando a

[noite.

O/ço o tempo correndo e vou pelas horas caminhando,Passo pelos instantes, sigo por todos os momentos,Sinto o que toãos sentem e o que todos jâ sentiram,Tenho a impressão tremenda de todas as impressões maiores,Silencio no que suponho e tumultuo em minha idéia,Avalio as sensações que os outros também avaliam...

Em tudo eu me assemelho aos que conheço e não conheço,Nada em mim difere dos que encontro e não encontro,Nossos destinos são os mesmos e nos conduzem unidos;Apenas, por ser poeta, a saudaãe que me castigaE me conãena, é sem tamanho, ê o munão inteiro,E' o que conheço e não conheço, é uma saudade diferente!

SINFONIA DO INEVITÁVEL

Alvorada, procissão triunfal, raio de luz que despontaE invade o sono do munão e fá-lo despertar para a vida.Caminha sobre as águas, sobre as florestas, sobre as mon-

Manhas,Sacode os nervos do vento, reanima a alma ãa sombra,Cresce, canta, pompeia e na apoteose refulgente,Sobre a terra incende. avança e como um delírio volta,E' o sol que está nascendo...

Acorda, homem, está na hora de despertar para a terra,Teu pensamento vai produzir ãe novo,Teu coração vai palpitar mais forte, mais violentoE os teus olhos vão contemplar o mesmo quaãro de ontemNa mesma impressão de hoje, mas hoje é outro dia...Lembra-te, homem, da noite que te disse adeus e foi-se embora.

O dia veio saber que é que a noite andou fazendoE a noite nada disse por que estava dormindoE tu nada disseste, homem, porque também âormisteE a natureza naâa respondeu porque teve medo da alvorada,Porque foi sombra dentro da noite,Porque foi silêncio...

E então o sol foi passando em seu carro de glória;A tarde chegou, apareceu o poente,A luz foi cansando, loi sumindo, foi desaparecendo;Outra vez âormiste, homem, o sono da tua indiferença,As vidas se recolheram, a tarde acenou de longe,E' a noite que te domina...

A marcha eterna do infinito é a glória da imensidade,As estrelas são vigílias âessa paisagem,O luar é uma granãe saudade sem ãestino,JS' a serenata ãa hora morta.

üb fores forte e contiveres a ansiedade que em ti palpita;Se a tudo ofereceres a conformação latente dos teus desejosE deres por começado o que parece que está terminaão,Homem, então concluirás ãa atitude ão tempoE verás que vais fugindo e correndo mais áo que êle...

Tôãas as manhãs o dia volta e todas as tardes a noite regressa,E tu continuas na vertigem delirante da corrida;Se alegre, se feliz, ãe coração satisfeito,Vê em tudo a bondade e a razão de ti mesmoE nessa alucinação de incontida esperançaSegue, observa, raciocina, pensa, continua;Que nada te detenha e nada aos teus olhos se oponhaÀ corrida que te leva pelo tempoE coi te conduzindo para a noite que te espera...

Homem, tu guardas n'alma o poema que não terminaE conjugas em ti mesmo as vozes todas do mundo;E' por isso que te apressas e corres alucinado,Ouvindo a sinfonia telúrica da terra,Correnáo para a noite,Soletrando o poema intraduzível do mistério...

Tão mudado me vejo, que o sentidoDe me reconheceres é um intentoBalâaáo neste anseio reviviâoPara o nosso amortalhado pensamento.

Desse instante fatal que, assim, libertoEu prossiga na estrada que distendeAo meu destino este caminho incerto!

Temamos esse encontro, por sabermosQue tudo, para nós, se desentendeNo silêncio infinito ãe ãois ermos.

PAISAGEM MARINHA

Velho mar, trovador que há milênios rebramasNos rochedos da encosta, em tremendas porfias;Que no anseio imortal sobre a terra esparramas,Na epopéia do mundo, as espumas bravias.

Ao longe, em teu fragor, nas velhas penedías,Exaltas teu império e teu poder proclamas,Na eterna sucessão das noites e dos dias,No apanágio que incende o teu cetro ãe flamas!No tremendo estertor, assim, quando encaãeíasO avanço da procela, as ondas, numa escoltaDe angústia e sensação, morrem sobre as areias...

Teu delírio insuflado enfurece em teu grito,A ânsia dos vagalhões refletindo, em revolta,A ampliado que avassala e arrebata o infinito!

HORA EXTREMA

Pensaáor, que chegaste, arquejando, vencido,Ao ponto que te espera, ao fim ão teu roteiro,Da voz do teu comando o que resta é um gemido,Sobre a terra deserta atirou-te o pampeiro...

Vinhas não sabes ãe onde e apuraste o sentidoPara seres, em tudo, o maior e o primeiro;Transformou-se no engano o teu sonho perdidoNo instante que te leva ao estertor derraáeiro!

Tíveste em teu áelirio o agasalho do nada,Pelo olhar alcançaste o mistério profundoE a tragédia da vida em ti mesmo estampada...

E, andarilho cansado, em farrapos, ãe rastros,De ãía compreenãeste o alvoroço ão munãoE, à noite, interrogaste o silêncio dos astros!

MARINHEIROS

Barcarolas cantando sobre o mar, no estribilho das ondas,Ao rugir das ventanias, alma aberta ao sabor dos espaços,Olhos fitos na amplidão longínqua e indeterminaãa,Vão seguinâo, vão rumanâo, áia e noite, os marinheiros...

Imensamente os céus se estendem sobre o munão das águas,Esplende no sem-fim o sol e pelo incêndio glorioso.Hóstia ãe luz, arrebatadora iluminação tríunfante,Abre-se como o esplendor no clarão de uma esperança.

Lá vão êles sobre a amuraãa dos navios fumegantes,Guardanâo no coração a lembrança que vai crescendo,Avançando, avançando, prosseguinão, prosseguinão,Olhando em tudo a amplidão, vendo em tudo o imensurável.

E à noite, na hora morta, quando as estrelas brilham sobre[o mundo,

Quando o silêncio é distoaão pelo triste rumor das vagas,O barco inteiro ê uma sauáaâe levada pela passagemDe estradas que não tem rastros, de espumas que fosforescem,

Marujos, eu tenho inveja de vocês porque vocês são felizes.Porque vocês não sentem, como os que vivem sobre a terra,Este impulso ofegante, este embate delirante e empedernidoDe ensaiar, a cada instante, o mesmo passo sem descanso.

DESILUSÃO

Temo encontrar-te e temo que esquecidoEu ande para o teu recolhimento.Temo que eu seja um grito convertidoA lembrança dc um grande assombramento.

Vocês são embalados pela rêãe (A alma que vocês conáuzem ê uma idéia mais liberta;Vocês abrem o sentimento para a confissão ãos oceanos,Marujos, vocês têm alguma coisa de singular, ãe diferente...

Eu tenho a fascinação dos abismos que se abrem nas tem-[pestades,

Das bússolas que se desnorteiam, dos roteiros que se con.[fundem;

Adoro a vigilância dos faróis, o deserto das ilhas.Os penhascos que se levantam nó caminho ãos navegantes,

Oiço em mim o uivo sinistro dos ciclones que passam, gritam,E, às vezes, sou transportado ao mistério das enseadas...O mar tem de mim o destino amargo dos torturadosE esta condenação fatal de eterno incontentamento...Marujos dos mastros reais, dos traquetes e das gáveas,Que se movem na oscilação das velas e das quílhas;Marujos do quarto d'alva. das bujarronas das enxárclas,

Idos traquetes,Marujos ãa roda ãe leme, de boreste t de bombordo; _

Marujos, eu tenho inveja da confiança que você» condiam,Tenho desejos de seguir eomo voeis seguem, para longe,..Vocês guardam na retentiva o imponderável das distanciai,Vovés recolhem na retina o infinito dos horizontes!

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Página 138 AUTORES E LIVRO Dezembro de 1850 — Vol. XI, n.° ij

BALADA DO MORTO-VIVOTatiana, hoje vou contarO caso do inglês espiritoOu melhor: do morto-vivo.

Diz que mesmo sucedeuE a dona protagonistaSe quiser pode ser vistaNo hospício mais relativoAo sítio onde isso se deu.

Diz também que é muito raroQue por mais cético o ouvinteNão passe uma noite em claroSendo assim, por conseguinteSe quiser diga que eu paro.Se achar que é mentira minhaOlhe só para essa peleFeito pele-de-galinha.Dou início: foi nos faustosDa borracha no Amazonas.A's margens do rio NegroSobre uma balsa habitávelUm dia um casal surgiuEla chamada LunalvaFormosa mulher-de-côrÊle com a alcunha de BillUm inglês comercialAgente da "Rubber Co."Mas o fato é que talvezPor cer nascido na EscóciaE ser portanto escocêsNinguém de Bill o chamavaCom exceção de LunalvaMas simplesmente de inglês.Toda manhã que Deus davaLunalva com muito amorFazia um café bem quenteDepois o Inglês acordavaE o homem saía contenteFumegando o seu cachimboNa sua lancha a vapor.Toda a manhã que Deus davaSomente com o sol-das-almasO Inglês à casa voltava.

Que coisa engraçada: espiaComo só de pensar nissoMeu cabelo se arrepia.

VINIC.US DE MORAIS

Um dia o Inglês nao voltou.

A janta posta, LunalvaAté o cerne da noiteEm pé na porta esperou.

Uma eu lhe digo, TatianaA lua tinha enloucadoNesse dia da semana.Era uma lua tão alvaEra uma lua tão friaQue até mais frio faziaNo coração de Lunalva.No rio negroluzenteAs árvores baloucantesPareciam que falavamCom seus ramos tateantesTatiana, do incidente.Um constante balbucioComo o de alguém multo em máguaParecia vir do rio.Lunalva, num desvarioNão tirava os olhos dágua.A's vezes, dos igapósSubia o berro animalDe algum jacaré ferozPraticando o amor carnalDepois caía o silêncio.E então voltava o cochichoDa floresta, entrecortadoPelo rir mal-assombradoDe algum mócho excomungadoOu pelo uivo de algum bichoNa porta em luz cancaradaSó lunalva lunalvada.

Súbito, ó Deus justiceiro!Que é esse estranho ruídoQue é esse escuro rumorSerá um sapo-ferreiroOu é o moço meu maridoNa sua lancha a vapor!Na treva sonda Lunalva...Graças, meu Pai! Graças mil!Aquele vulto... era o BillA lancha... era a "Arimedalva"!

"Ah, meu senhor, que desejoDe rever-te em casa em paz.Que frio que está teu beijo!Que pálido, amor, que estás!"Efetivamente o BillTalvez devido à triagemQue crepltava no rioVoltara dessa viagemMuito branco e muito frio."Tenho nada, minha negaSenão fome é amor ardenteDá-me um trago de aguardenteTraz o pão, passa a manteiga!E aproveitando do ensejoMe apaga esse lampiãoEstou morrendo de desejoAmemos na escuridão!"Embora estranhando um poucoA atitude do maridoLunalva tira o vestidoSemillouca de paixão.Tatiana, naquele instanteDeitada naquela camaLunalva se surpreendeuNão foi mulher, foi amanteAgiu que nem mulher-damaTudo o que tinha lhe deu.no outro dia, manhãzinhaAcordando estremunhadaLunalva soltou risadaAo ver que não estava o BillMuito Lunalva se riuVendo a mesa por tirar.Indo se mirar ao espelhoLunalva mal pôde andarDe fraqueza no joelho.E que olhos pisados tinha!Ah que Lunalva se riaDe ver tanta marca roxaNo corpo que lhe doia.Ah que Lunalva se ria...Não rias, pobre LunalvaNão rias, morena florQue a tua agora alegriaTraz a semente do horror.

Eis senão quando, no rioUm barulho de motor.

A* porta Lunalva voaEm tempo de ver chegandoUm bando de montariasCom cabras dentro remandoTudo isso acompanhandoA lancha a vapor do BillCom um corpo estirado à proa.Tatiana, põe só a mão:Escuta como disparaDe medo o meu coração.

Em frente da balsa paraA lancha com o corpo em cimaOs caboclos se descobremLunalva se aproximaLevanta o pano, olha a caraE dá um medonho grito."Meu Deus, o meu Bill morreu'Por favor me diga, mestreO que íoi que aconteceu?

E o mestre contou contado:O Inglês cairá no rioTinha morrido afogado.

Quando foi ' ontem de tarde"Diz que ninguém esqueceuA gargalhada de loucaQue a pobre Lunalva deu.Isso não é nada, Tatiana:Ao cabo de nove luasUm filho varão nasceuO filho que ela pariuDiz Tatiana, que eraA cara escrita do Bill:A cara escrita e escarrada.Diz que até hoje se escutaO riso da louca insanaNo hospício, de madrugada...E' o que lhe digo, Tatiana...

Hollywood, maio de 1614,

POESIAS DE RAUL BRAGAA Santa que me gerou

Mãe! ouvi, d'onde estais, meu brado altivo,Ouvi de um peito o soluçar maguado:Que destino me destes, qual meu fado,Si nesta luta atroz eu ainda vivo?!Era eu o vosso filho bem-amado...Sempre por vós não tive o amor mais vivo?!Porque, porque, si assim, o amor me é esquivo,E serei, toda a vida, um torturado?Baixai os olhos para mim e a ingrataVida que arrasto, e vede: ela me mataE eu preciso viver, que a vida eu anio.Ahi vede quem meu coração magoai...Para vós a minha alma, ardente, vóa,E o vosso apoio, proteção, reclamo.

29 de dezembro de 1902.

QUAND MÍTMEOuça o mundo impiedoso o meu gemido,Olhe, um instante, para o meu tormento:De beijos ter o coração sedento.Viver de amor o coração banido.Debalde! em vão, em vão, eu tudo tento:Onde o amor encontrar, hoje, perdido?!Onde esse coração, amante e fido,A calma me trazendo ao sentimento? I,,.

Hoje, ela desce ao Nada: o selo brancoJá não anceia. Um dia,

Hei-de ir vê-la, bem breve: eu sinto a vidaFugir-me, — agora, para mim perdidaA pálida Maria.Quanta vez, ao meu lado, ela sonhava

E, sorrindo, dizia:"Quando morrer, serei aos céus levada..."Ela, a pura. ela, a meiga, a ingênua fada, —

A pálida Maria.Quem sabe quanta prece por minh'alma

A sua voz sombria,Agora, não murmura! Eu, também queroMorrer: em bem pouco, reunir-me esperoA pálida Maria.Não te perdôo, ó Morte: a sós eu vivo...Inanimada e fria,Vão levá-la ao sepulcro; e eu fico em prantoPor ela que eu amava, e amava tanto, —

A pálida Maria!...Recife, 1887.

AO LUAR

E deste modo sigo, à mágua entregue...Al que sl assim a vida continua,Que os céos me matem ou que Deus me cegue!.Debalde! esfalma de paixão estua...Qué o mundo o amor ao coração me negue,Al não pode negar que esfalma é tua!...

28 de março de 1903.

A PÁLIDA MARIA

A Gastão Bousquet.Essa mulher que a Morte, agora, leva

& tumba negra e fria,Multa vez, ao meu lábio tive-a, ardente,N'um delírio de amor, louca e fremente, —

- A pálida Maria.

A face, a soluçar, nas mãos mergulho, escondo:Ai que, na vida, eu só a amargura conheço!A alma toda percorro, e eu a Inquiro, e eu a sondo,Analyso-a, perscruto-a, e tenaz, indefesso...Quando nos céos, à noite, acaso os olhos pondo,Eu, a luz do luar, me extasio, embeveço,Ai, de certo, eu, então, um alienado pareço!Ai o meu coração eu, então, não escondo!...Lua, a inundar o céu do teu clarão, eu te amolLua, por ti, toda a alma eu de poesia inflamo,Alucinas-me com o teu doce cia tão!Choras, lua, e o teu pranto, eu o compreendo, lua!Todo um mundo de dor em tua luz flutuaE se exparge por toda a celeste amplidão!...

28 de março de 1903.

DEVASSANDO UMA ALMAIndiferentemente, o olhar tranqüilo lançoEm roda, a Interrogar: nada, nada compreendo.Sôbre o seu colo nú, porém, o olhar descanço,E a sua alma gentil vou, doce e doce, lendoO alvoroço que o mundo em torno faz eu vendoConfesso que me Inquieto: o valor nio lhe alcanço;Toda essa alma, porém, doce e meiga alma, entendo,E percorrendo-a vou, e lelo-a, manso e manso.

E' toda amor essa alma, é toda essa almo afago;Nada um cisne de luz, como dentro de um lago.No nevado cristal de seus olhos tranqüilos.E' o amor! e é o amor a ave do céu benditaQue a minha alma suavisa e o coração me agita:Basta ter ao ouvido os seus doces plpilos

9 de agosto de 1902.

NO LEITO DE MORTE

Abre-me os braços, mãe; para o teu ladoEis que ascendo, afinal, e, emfim, repouso:Como me sinto, agora, venturosoE. num instante, esqueço o meu passado!Em busca da ventura, desse pousoPara que vou, enfim, — desventuradoTudo sofreu teu filho bem-amado,..Como contar-te?! eu te ferir não ouso...Ah! mas que importa! tu, também, sofreste.Também tu amargaste a vida, nesteMundo vil, mundo torpe, mundo abjeto.E tão feliz eu sou! pensar que, em breve,Juntos seremos, ver que, em pouco, deveIr mimYalma abrigar-se ao teu afeto!...

26 de setembro de 1902.

IISaiba o mundo cruel que ainda existo,Veja o meu pranto e escute o meu soluço,A febre ainda me queima e eu ainda tusso...Ai! um penar assim jamais foi vistoSi para a cova Já eu me debruço,E sl da tumba já bem pouco disto,Que Importa, ó Deus! de calma eu me revistoE nem por Isso é que o sofrer aguço.Vivo — olhai! e, sl à dor não busco alivio,st para a cova sigo, passo a passo.Feliz, sorrio, entanto, satisfeito.O mais ardente dos amores, tive-o,O estro Jamais me foi, um dia, escasso,E sempre repousei n'um fofo leito.

5 de outubro de 1902.

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Dezembro da 1950 — Vol. XI, n.° 12 . AUTORES B LIVROS Página 139

Página dos Autores NovosXXX — Maria José Munlz

MARIA JOSE' MUNIZMoscou na cidade de Pinhal, Estado de

c3„ raulo, e é filha de Ramiro de Oli-h'i Leite e D. Maria José Alves Lima.

JKmou-se pela Escola Normal de Cae-ÍVÍn de Campos, da capital de S. Paulo,„ dir.mte 5 anos, em várias cidades delint-i catarina e do Bio Grande do Sul.««roeu o magistério público. Foi, depois,mmissionada em inspetora federal do En-1Í„0 secundário. Exerceu o magistériomitinilar, como professora de Física, Qui-mica e História Natural. Foi, mais tarde,àdicl? ao gabinete do Dr. Gustavo Capa-„ema Ministro da Educação. Recebeu en-íõ0 áo Ministro o encargo de elaboraro apresentar os programas culturais doMinistério da Educação.

Abandonou o magistério e serviço pú-blieo e entrou para o Rádio. Trabalhou naBádio .Tornai do Brasil, onde organizou.com Sérgio Vasconcelos e Elol Pontes, ouroraaKia intitulado Tesouros Imortais, nonuai se mostravam os reflexos dos gran-des monumentos da literatura nas ou-tras rates. Passou para a Rádio Guana-baia na sua nova emissora, e ali dlrl-Ein todos os programas femininos, crlan-do a campanha do otimismo entre as mu-lheres •— o programa intitulado A Felici-dade é quasi nada.

Um ano depois, era contratada pelasEmissoras Associadas, levando para elaso piügiama A Felicidade é quasi nada ecriando um novo programa, Maria Munize o seu Teatrínho Infantil. E' um progra-ma cie rádio-teatro especialisado paracrianças com histórias originais da autora.Criou ali ainda outro programa — Umapalavra amiga — que é uma crônica dlá-ria, onde focallsa sempre uma figura fe-minina que se tenha destacado em qual-quer coisa. Faz ali campanhas filantrópi-cas, em benefícios das crianças e dos des-validos.

Tem publicado poemas avulsos emJornais e revistas, como O Jornal, Gazetade Noticias, A Esfera,

POEMAS DE MARIA MUNIZ

Poema n.° 1Uma simples cruz numa estrada.Aqui, o livro dos segredosabriu para nós sua primeira página.Marcou tua face o estigma dos desterrados

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Maria José Munlz

e a minha mão de heroína

teceu para o amora alva dos condenados.

Mas sorrias o teu risodelicioso e dolradoe cobrlas de alvaladeas chagas dos negros pensamentos.Eram negros os dedosque o mágico estendeupara marcar no azul

caricata e[rldicula

as rotas que meusdeveriam vencer.Fôlego imenso arrastou-mepara as largas aberturasdas tuas ambições desabrldas.

Aqui, o livro dos segredosabriu para nós sua página segunda.Marcou tua fronte o brazão dos privilégiose minha mão de dama de ouros de baralhoteceu para o amora túnica de púrpuraque ocultou a alva dos condenados.E sorrias o teu risodelicioso e dolradoe cobrlas de alvaiadeas chagas dos negros pensamentos.

Eram claros os dedosque o mágico estendeupara emudecer as assembléiase pude ouvir os sinos, os clarins...Aqui, o livro dos segredosabriu para mim, só para mim, sua ultima

[páginaA face dos inocentesnão tem o estigma dos desterrados.Meu filho não tem na fronteo infamante brazão dos privilégios.Já não sou a heroína caricata e ridícula,nem a dama de ouros de baralho.Minhas mãos rasgarama túnica de púrpuraque ocultava a alva dos condenados.

Amassei os meus sonhosnas vigílias sem fim.Dobrei os joelhose sobre a relva maciao meu pranto correu.

POEMA N.° 4

A treva caiu sobre a terra.A treva caiu sobre o mar.A noite rola lá fora,Sem forma, sem nervos tensos.Imensa, descomunal.

Sem gestos e sem palavrasVou-me desarticulando...Meus humores não resistemAs mil sugestões da noite.

Agora sou como a chuvaQue a terra embebendo vai.Olho este céu sem estrelasE os longos cordões de luzesMe deixam indiferente.

No mar uma luz vermelhaBrilha de quando em vez..,Marca um rochedo perdido?Que importa, se sou a noiteImensa e descomunal?

POEMA N.° 3

Pelas vielas sombrias,Fustigada pelos ventos da tragédia(Resto de todos os naufrágios)Balouça desengonçada a pompa da mi-

tséria.

Quem te vira, mulher sem fortuna...Das linhas buriladas do teu corpo esguío(Domesticado na volúpia para festins de

[pecado)Rolaram todas as flores,Tombaram todos os véus!

Onde é o teu lar, mulher sem raízesQue o vento gélido arrasta pelas vielas

[imundasDa cidade deslumbrante?Quem diria

Que a harmonia dos teus gestosTeceu com tanto caprichoAs malhas estreitas da rede que pesca o

[oiroNo mar escuro do vício...... E aplaca a dor de pecar?Quem diria

Que os teus olhos tão macios,

Cheios das visões tranqüilasDos campos e dos bosquesOnde os teus pés pequeninosPerseguiram borboletas,Seriam um dia o espelho torturadoDe tua alma vagabunda?...

POESIAS DERAUL BRAGA

MÍSTICAQue palidez é essa que te cobreO rosto fino e pulcro!„e essas olheirasRoxas, te dando os ares dessas freirasTristes, plangentes, que um convento encobre!Passa na tua voz o som de um dobre;Pensattva, cismando, horas Inteiras,Bir-se-á, na tua cor, que já te abeirasDa tumba que te espera, funda e pobre.Um cicio de prece, no teu passo;Dolentes ares, ares de cansaço,Em tudo: no falar, andar, sorrir...B a essa tua visão sagrada e pura,Vejo, alfim, aclarar-se esfalma escuraE a visão de outra vida em mim se abrir...

23 de abril de 1903.

DONA CHICDonairosa e gentil, a cavalo, passeia,A tarde, essa madona a quem eu amo e adoro.Ao ve-la sinto opresso o coração e coro,Ao fogo da paixão que no meu peito ateia.Hi um perfume em torno, um capltoso e odoro«>Por ao derredor. Seu olhar lncendeta.t» embora essa mulher que nem conheço, feia,a Pranto o chão que pisa o seu cavalo Irroro.De prazer esse pranto a áurea e rutlla umbelaQue a cabeça lhe cobre uma graça, tal chie,Tem, e o vestuário e o porte uma elegância tal,Que a sombra mesma luz, si ela a corta e se estrela,*° fulgor vesperal do seu garbo e arreblque,« sua airosa mão ao gesto mais banal.

A MARCHA(De ANNA MARIA)

Na noite das noites,O mar que existe no meu coraçãoSe ergueu do silêncio invencível;Ondas, ondas, cruas ondas, ondasProfundas, enfileiram-se numa coorteTalhada no mármore daquela águaSem estremecimentos de superfície,Naquela água que só conhecia do somUm verbo soberbo.

O mar se ergueu de uma só vez,Rompendo as muralhas do coração;E se desatou em praias selvagens,Que só a êle podiam receber,Nas praias abismalmente selvagens,Feitas de areia devassa e virgem;Onde as ondas cessaram o assalto,E reverteram a si mesmas.Comovidas e domadas pela amplidão.

De longe, na noite das noites,Compassados remos começaramA limitar o infinito do mar;Belos, infinitos, firmes, pesados, lentos,Quase imperiais, iniciaram a jornadaSobre as muralhas derruidasNa água do mar;De longe, traziam nos amplos movimentosO orgulho de deuses querendo.

Vieram ritmados, únicos, crescentes,Indefensáveis, em sublime Unha cerrada,Lado a lado, as pontas se tocandoComo a luz das estrelas se toca no espaço;

Luiz Affonso Sarmento

Ressoando em passadas de ouroDe legendários cavalos.Vieram altivos, puxando barcos enormesQue fendlam o mar profundamente,E punham as espumas como crinas ao vento.

E o rumor rasgava as cores que havia,Porque, para os sentidos,Só devera existir aquele cântico triunfal;Os remos aceleravam seus arcos luminosos.Arrancando da velocidade o ecoarDenso dos tambores de guerra;E as batidas infinitas e maioresAtingiam o mar no fundo das areias,Sacudindo-as e revolvendo-as e penetrando-as.

A água era pouca,O som era pequeno para repetirIncansavelmente a lenda guerreiraQue os remos narravam;E mais altos, clclópicos, monumentais,Em fantásticas brigadas de mil velocidades iguais,Entoavam um único hino.Em coro de glória e de fimNas catedrais sem teto das ondas.Na noite das noites,O mar que existe em meu coraçãoSe acalmou; no grande silêncio.As últimas ondas me deram a mensagemQue os barcos trouxeram;E eu reergui as muralhas, e aprisioneiAs águas do mar no meu coração outra vez;E, delas, o rumor brando e lentoSó eu hei-de ouvir,Na quletude do campo marinho.

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Página .140 AUTORES B LIVROS Dwembro dt 1950 mVql, XI. n.° 12

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Antologia da Literatura Brasileira ContemporâneaSegunda série • Antologia da prosa XXIX • Álvaro Moreyra

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Álvaro Moreyra

Álvaro Moreira da Silva nasceuera Porto Alegre em 23 de novem-bro de 1888, e é filho de João Mo-reira da Silva e D. Maria Rita daFonseca Moreira da Silva. Estu-dou no Colégio Ivo Courseil, emPorto Alegre, e no Ginásio NossaSenhora da Conceição, em S. Leo-poldo.

Começava, desde então, a suaatividade jornalística. Êle mesmocontará, em sua A Vida é de ca-beca baixa, esse início de sua car-reira de homem de imprensa:

"Pertenço a essa família há trin-ta e três anos. Fui do colégio dosPadres, em São Leopoldo, para ojornal, em Porto Alegre. Direta-mente da fábrica para o consumi-dor... O jornal, de acordo com aminha idade, se chamava "PetitJournal", dirigido por Batista Xa-vier, que já partiu de vez. O meucompanheiro maior, Jacyntho Go-doy Gomes, hoje é diretor do Hos-pício, prova de que teve mais juizodo que eu, que continuei na mesmaloucura. Porque como o mundo estáorganizado ('modo de dizer...),como a vida precisa de ser vivida,— revelar, todos os dias, o que sesente, o que se pensa, e com o de-sejo dc instruir, educar, esclare-cer, é uma coisa fora das normas,uma coisa insensata, muitas ve-zes perigosa. Entretanto, nós so-mos apenas a voz que se escuta an-tes. Depois, todas as vozes, nos re-petem, murmurando ou gritando.Evangelhista da realidade. Os úl-timos poetas. Sem idade, Ficamsempre meninos. Contamos tudo.A nossa casa nào tem portas nemjanelas. O sol entra, o vento passa,a gente vai e vem. Podia ser atorre de marfim. E' o albergue dospobres. Pobres que dão e não pe-dem. Do "Petit Journal" passeipara o "Jornal da Manhã", que Al-cides Maya fundara, com CarlosPeixoto na gerência, Fábio Barros,José Picoreli, Homero Prates, Fe-lipe de Oliveira entre os redatores,Pedro Velho na revisão. Pinto daBocha dirigia a "Gazeta do Comer-cio" e chamava para lá a juventu-de. A juventude perdera a fé novelho mestre e acompanhava osdiscípulos rebelados, dentro d'"0Debate", Getúlio Vargas, Odon Ca-valcanti, João Neves, Maurício Car-doso. Vim para o Rio concluir ou-tro curso, o de Direito. De volta,rias primeiras férias, ao lado do"Correio do Povo" e d'"A Federa-çào", parentes mais antigos, en-

contrei "O Diário" e n'"0 Diário"Eduardo Guimarães. Depois..."

Estudante de Direito (formou-senesta capital em 1917) entrou êlepara a redação de "Fon-Fon" em1910. e alí teve, desde logo, ao ladode Mário Pederneiras, Gonzaga Du-que e Lima Campos, uma atuaçãoliterária das mais notáveis.

Casado com a escritora e artistaEugênia Álvaro Moreira, com elaorganizou companhias teatrais,que levaram no Rio e em outrascidades, peças de sua autoria e daautora de outros escritores, na-cionais e estrangeiros.

ALGUMAS FONTES SOBREÁLVARO MOREIRA

Agripino Greco — Evoluçãod aProsa Brasileira.

Agripino Grieco — Evoluçãoda Poesia Brasileira.

Álvaro Moreira — A vida é ãecabeça baixa — Autores e Livros.

Vols. I, II, III (veja os índices).Andrade Mauricy ¦¦—- A Nova

Literatura Brasileira.Dante Milano — Antologia dos

Poetas Modernos.~- Francisco Schetino — A Cida-

de Novela — Mundo Literário —5-11-923.

Guilhermina Krag e Nelly Re-zende Carvalho — Letras riogran-denses.

Henrique Perdigão — Dicioná-rio Universal ãe Literatura.

Humberto de Campos — Per-fis, 2.° vol. — Crítica, 2° vol.

João Pinto da Silva — Fisio-nomias ãe Novos.

João Ribeiro — A Boneca ves-tida ãe Arlequim — Jornal do Bra-sil — 8-2-928.

Circo — Jornal ão Brasil -—29-5-1929 — Caixinha ãos três se-credos — Jornal ão Brasil — 21 dejunho de 1933.

O Brasil contínua — Jornal ãoBrasil — 22-2-934.

Joel Silveira — Uma tarde comÁlvaro Moreyra — "Vamos Ler".— 6-4-939.

Lanterna Verãe — Bibliogra-fia ãe Álvaro Moreira - n.° 2 -pág. 134.

Mucio Leão — Adão, Eva e ou-trás pessoas ãa família — "Jor-nal do Brasil" — 15-5-927.

Tempo perdião — Idem- —1936.

Revista Acadêmica (Maio,1938)

Contem juízos sobre ÁlvaroMoreira assinados pelos seguintes

OS BURROSE' preciso acabar com esse des-

preso. Ou com esse equívoco. Osburros não são burros. Olhem osolhos deles.

Eu gosto dos burros. De quasetodos. Principalmente dos que an-dam, tão desgraçados, na dura lidasobre as pedras das ruas, sobre obarro das estradas, ao sol, à chuva.dia e noite. Tristes, tristes. Semuma queixa.

Que humildade! que paciência!Que coragem!

Pensam para dentro. Não pro-curam impor nem a sua vontadenem a sua opinião. Obedecem.Zurram. E' um modo de dizer quenão teem nada com Isso.

Se foram à guerra, foram leva-dos Combateram os fíllsteus, re-sumidos numa caveira, que Sansàobrandiu, criando o mais puro dossímbolos.

Mandaram representante ao nas-cimento de Jesus Cristo e fornece-ram o andor para entrada festl-va em Jerusalém, como prova deque acreditavam na palavra dosprofetas, mas com certeza nãoacreditavam.

Não é fácil julgar criaturas detamanha discreção. Dos burros,além dos nossos pontos de vista,só possuímos a aparência. Apa-rencia que varia conforme os nos-sos pontos de vista. Há quem osache ridículos. Há quem os achesublimes. São bonitos e são feios deacordo com os temperamentos.

Já existe tanta crítica, de tan-ta coisa. Para que crítica dos bur-ros? Bom é lhes querer bem, ad-mití-los tais quais se revelam, in-capazes de aborrecer os outros, ini-migos da publicidade, calmos si-lenciosos, delicados.

Talvez, no mundo interior, con-servem a alegria da infância, mui-to escondida, e continuem brincan-do com ela. O aspecto que vemos,vivido, será para uso externo: ainocência deteriorada.

Quanto ao coice... quem nuncadeu um coice, que atire nos burrosa primeira pedra...

A Víãa é de cabeça baixa — Au-tores e Livros — 15-3-942.

escritores: Alfhonsos Reyges, Ani-bal Machado, Astrogildo Pereira,Carlos Lacerda, Carlos Drumond deAndrade, Ewil Farbat, FranciscoKareau, Genolino Amado, José Linsdo Rego, Ma?iuel Bandeira, Máriode Andrade, Moacir W. de Castro,Murilo Mendes, Murilo Miranda,Osório Borba, Rossini Guarnieri.

Velho Sobrinho — DcionárioBio-bibliogrãfíco brasileiro.

BIBLIOGRAFIA DE ÁLVARO* MOREIRADegenerada (plaguette)Casa desmoronada (plaquete).Legenda ãa Luz e d aViãa —

Impressa na Liga Marítima Bra-siicira — Setembro — 1911 — Rio.

Lenda das Rosas — Prmieiraedição — Rio — 1916.

Lenda ãas Rosas — ColeçãoOs mais belos poemas ãe amor —2.a edição — Coop. Editora Nacin-nal — S. Paulo — 1928.

Circo — Editora Pimenta deMelo — Rio — 1929 — 94 páginascom uma charge do autor.

Um sorriso para tuâo — Pri-meira edição, Rio 1915; segundaedição, Rio, 1917; terceira edição,S. Paulo, 1919.

O outro lado da Vida — Rio1919.Cocaína — Rio — 1925.A Ciáaáe Mulher — Rio —

1926.A boneca vestida de Arlequim

161 páginas — Pimenta de Me-lo — Rio — 1927.

Aãão, Eva e outros membrosdo família (comédia)Rio — 1930.

Caixinha ãos três segredos(livro para crianças) — Rio 1932.

O Brasil contínua... — Rio

MÃOS POSTASTodas as manhãs, todas as tar-

des, aquele homem era certo aU,na pequena sala do museu, ao ladoda catedral. Havia de ser multovelho. Tinha os cabelos brancos,longos, cahidos em ondas; a ca-beca, vista de frente, parecia ador-mecida sobre eles, como sobre umaalmofada de seda.

Eu o encontrava sempre no mes-mo lugar, diante da parede do fun-do, a olhar para uma tela azul,côr do céu noturno, onde duasmãos postas, mãos serenas de mu-lher, serenamente apareciam.

O homem não tirava os olhosdessa tela e, às vezes, os seus bra-;os desalentados faziam um es-forço, tentando erguer-se até ela.Mas tombavam logo. O homem fl-cava a olhar, deserto, perdido, nassombras de um grande sonho semaurora.

Máos postas eram a obra-primado museu. A princípio, julgueiaquele homem um antigo amorosode coisas belas, a quem a pinturaideal das duas mios em súplicade tal maneira prendesse que, oi-

vldado, extatlco, não achasse ™canto senão em ve-las ""Ou talvez fosse, pensei de**»*,um devoto das mãos, um fiSentes místicos e sensual*; 2maior prazer da alma e do corno 2a_caricia enlanguescida nu» *

mãos tem, elas que abençoam ™infância, coroam de rosas na mnídade, e são, na velhice, uma aZdolente, acenando ainda Uo m.sado... *¦""¦"Vim a saber, afinal, que atme,.homem era o autor do quadro Pntouquecera, ia já em muitos anosDeitara fogo à casa. "*Nas cinzas do atelter, por mito

gre, encontrou-se intacta a têlãazul.O tempo tinha andado, o doidofurioso tornára-se um triste velho

sem memória. E todas as manhãstodas as tardes, vinha para ali mlra a pequena sala do museu, aolado da ctedral, e quedava a olharInconsciente, a sua obra mais puraa mais perfeita.

R era tudo que lhe restava davida: duas mãos postas...Illustração Brasileira, 21-4-932)

ALGUMAS MEDITAÇÕESDiagnóstico

E' difícil afirmar quais são osdoidos. Há tantas escolas! LauroMuller, por exemplo, quando ouviaque alguém enloquecera, pergun-tava sempre, para ter certeza:

Já rasgou dinheiro?Destino

Não, não nasci para chefe. Chefemanda. Eu peço. Peço que não memandem.Cultura

O escritor Nestor Vitor, já fale-cido, ia pela praia do Flamengocom o escritor Augusto FredericoSchmidt, ainda vivo. Calados osdois. Nestor pensando. Schmidtemagrecendo. De repente, o amigode Cruz e Souza parou e pôs-se arir num grande gozo.

Que é, mestre? — quis saber ofuturo autor do "Mar Descolhe-cido".

O mestre informou:Lembrei-me agora de que foi

aquele patife do Taine quem melevou a Platão.

José do Patrocínio FilhoSobretudo era um grande ator.

Um grande ator brasileiro. Nun-ca sabia o papel. Andava sempreimprovisando. Os vários pontos queteve punham as mãos na cabeça,desanimados de soprar o texto cer-to. Sorria desses funcionários dasombra. Criava. Surpreza. Balbur-dia. Os espectadores ficavam ton-tos, delirantes, não compreendiam.Não compreendiam que era Josédo Patrocínio Filho que estavaassistindo, e eram eles que estavamrepresentando. A morte apanhou-ocom covardia. Se não fosse por umadoença que o estarreceu todo, nãovè que a morte levava aquele ho-mem mais fino do que um lápis,mais rápido do que uma alegria!A morte chegava, José lhe ofereciaum cigarro da caixa que lhe tinhamandado o Príncipe de Gales, umlicor, presente da Rainha da Ru-mania, principiava a conversar, depiteira na boca, braços magríssimosacabando no ar as histórias espar-ramadas... Enganava a morte co-

Tempo perdido — 233 pá-ginasLivraria José Olímpio — Rio —1936.

O mesmo sangue (tradução de"Cercle de Pamille, de A. Manrois)Biblioteca da Mulher ModernaRio — 1936.A vida é de cabeça baixa —

iliiíores e titiros, vol. 1.°, pás. 4155, 56, 86, 184, 234, 237, 269: 291;315; 342; 343; 373, 376, 399, 400; Vol.2,o — págs. 16, 45, 48, 79; Ul; 140;245; 275.

A moça que não voltou do Car-naval — Idem Vol. 2.° pág. 93.

mo enganou a vida. A vida queriaque ele fosse um homem máu. Elefoi um dos melhores deste mundoTranqüilamente. O vagabundo José!

(Autores e Livros 10-5-942).

EPITAFIO

Eu também devia ter ido emboracomo cheguei.

Não foi possível.Caminho da volta. Até aos cin-

quenta anos, a gente vai. Depoisdos cinqüenta anos, regressa. Paraonde? Naturalmente para o céu,onde os anjos — irmãos remotos,que não se arriscaram a descer aisto — estão, com a mesma infân-cia e as mesmas asas. Eu não levoas asas que trouxe. Desmanchei-aspela estrada. Levo as penas que so-braram. E uns óculos.

Retorno, pois... E no percursoas avessas, encontro logo "um cer-to reino, á esquina do planeta.,."Dele me vieram as primeiras imagi-nações. Descanso junto das som-bras que me formaram assim, umaespécie de exilado que terminou emturista...

A minha educação sentimentalpartiu toda do século 19, cíaquelefim do século 19, com naturalismo,parnasianismo, simbolismo, e ain-da romântico.

Se eu quisesse confessar do quefui construído, teria que cli^er: -do colégio dos Jesuítas e d;1 algunspoetas de Portugal. O into loiornato. Bastante me pintaram.Bastante me rebocaram. Fiquei in-tacto sobre os velhos alicerces, nomesmo pé direito, com o estilo pri-mitivo, de janelas abertas para a

¦luz e para o ar. E no meu olhadoas andorinhas continuam íazencloverão...

Dos Jesuítas, não conservei ne-nhuma influência separada, ex-clusiva. Sinto-os em gerai. Lem-bro-me de um a um, fora de mjm*Em mim, estão todos confundidos-Sem perceber, cumpro as ordensque me dão. Carrego o iníeniatocomigo, há trinta e três anos. Amarca é tão profunda, que me a£°*ra me acontece acordar, ceiu •• lliarnhãs, Ia na casa enorme e triste, abeira do rio dos Sinos...

Neto de Portugueses, ,P;»r'"?aIera, no meu sangue, a pátria ojs*tante. As suas paisagens, antes qaeos meus olhos houvessem pousa»sobre elas, passavam em evocaçãopela minha alma. Quantas vezesandei na Serra da Estrela, comfrio! Quantas vezes dansei na I»ta do Senhor de Matosinho! Quan-tas vezes, no Choupal, em noitesiwlua cheia, escutei os sinos de sanwClara! As aldeâs, muito branemcurvadas para o chão, gostavam amim, da minha voz ingema, aumeu coração de marinheiro...

Como eu tinha de amar Ha"»d^Almcida! Como eu tinha dc an»Antônio Nobre! E Cesàrio Veras

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Dezembro de 10SÒ — Vol, XI, n.° 12 AUTORES E LÍVROS Página 141

Antologia da Literatura Brasileira ContemporâneaSegunda série • Antologia da prosa XXIX • Álvaro Moreyra

id'

José do Patrocínio Filbo(Continuação da página anterior)

que, com um verso, um dia me es-eanc.aruu o mundo:"Madrid, Paris, Berlim, São Pe-tesburgo, o mundo!"

Silva Pinto foi visitá-lo, umatarde, no cemitério dos Prazeres,íua n, 7, em sua morada nova: "ossoluços se despedaçaram contra agniaanta" do grande amigo, "nu-ma aflição imensa e cruel." De sú-bico, "a voz rouca e enfraquecidaae Cesário pronunciou distinta-mente: — Sê natural, meu amigo,sé natural!"

Nunca mais me esqueci dessa li-J Ninguém mais natural do queFialho d'Almeida! Era da terra,irmão do trigo, irmão da uva, e da-va pão e dava vinho.

Fialho d'Almeida é hoje um es-critor quasi ignorado. Não o admi-raram tiveram medo dele. Ele diziao que pensava. Recordam ainda oócüo que soube mostrar. Ninguémmais fala no amor que não soubeesconder. No Brasil, onde foi tão li-rio, apenas o releem uns raros ho-mens já na metade do século, como espírito cheio de saudades boas.Son<!.ades, por exemplo, de Marta,"a donete 27, uma dessas tisicas

is, que parecem Choplm em es-.amaria..." Saudades do violon-calista Sérgio, que ia dar concer-tos, rodas as noites, "a um café defadistas." Mal começava a tocar,na saia aglomerada de vícios e des-graças, um silêncio religioso es-tasiava tudo... o silêncio que amúsica envolvia. Saudades do ra-paz que roubou uma camisa: "umrapaz talvez de dezoito anos,.."Vida d'acaso... adolescência deenxurro... essa figura que haviao direito de ser faclnorosa, e de vingar na felicidade dos outros o des-prezo terrível de sua própria con-dição, essa figura ao sofrer os apu-pos, o que parece pedir é mlserl-úórdia, Quando o seu olhar passano meu, Deus me perdoe, conheçonele o olhar de um meu irmão maisnovo. daquilo que eu seria nas con-(lições determinantes do ser dele— e hoje todo o dia me tem sidoimnossivel dominar a crise de cho-10 em mim provocada por esseolhar de ladrão que eu nunca maisverei, e de quemhei de ter penaeternamente... por que no fim decontas, qual é de nós o que nãotem roubado uma camisa? E daRuiva: "Como você já anda!" Per-¦ ms Disfarces. E do próprio¦Finlho, confessado: "De uma oca-si 'o sevinho no meu quarto, eu considerava uma rosa branca, queriiichecia num copo, tão triste!Disse-lhe assim: — Tu sofres! —Ela curvou-se mais sobre a haste,rrroiioscendo, e vi-lhe duas láerl-mas pétalas. Nunca pude saberoutra fosse essa mulher". Não que-na narecer sensível. Quando as lá-'rimos lhe punham um brilho di-terente nas frases, loeo a garga-nioda de escárneo passava porcima delas e as secava. E era entãomais dolorosa a ternura nelo poe-ta se esquivando, o esoalhador detodos os oerdões que, nara se mas-carar, castigava... nersuadira-seae oue a posteridade não se impor-

JOAO RIBEIRO

Âttjuns artigos sôbreFerreira de Araújo

À Ferreira de AraújoQuintino Bocaiúva.

Recordando com saudoso afeto° teu nobre espírito, rendo à suamemória ilustre a homenagem domeu carinhoso apreço.Como soldado da mesma legião,curvo reverente, diante do teu tú-mulo, a minha pena, saudando-tecomo ao mais brilhante e ao maiscompleto dos jornalistas da minhaépoca.Rio de Janeiro, 21 de setembro

Se 1800.<Oazeta de Noticias, 21-8-1900).

Por fora, os lugares comuns dotempo fizeram nele o que fazemem geral nos outros.Mas a velhice brasileira, que an-da no ar á procura de todos os en-dereços, não conseguiu encontrarJoão Ribeiro.João Ribeiro, por dentro, perma-neceu novo em folha.Não se arquivou.Nunca sentiu que chegara àidade de usar pensamentos stan-

taria de saber que ele tinha nas-cido em Vila de Frades, no largo daMisericórdia, numa casinha de tai-pas construída por pedreiros da suagente. Por enquanto, a posteridadeanda meio atrapalhada. Um diaporém, há de ir biscá-lo no largoda Misericórdia. E contará a histó-ria de Fialho d'Almeida, uma his-toria de principio e fim iguais aoprincípio e ao fim d'"A Velha":"Entretanto, os senhores ficamavisados de que esta história é umpouco triste." "Eu bem dizia aossenhores: esta história é um poucotriste".

E chego perto de você, AntônioNobre, meu querido Anlonio Nobre,como se lhe rezasse, como se lhepedisse perdão de estar vivo, enve-lhecendo, com esta saúde escan-dalosa, — eu que tanto desejavamorrer na sua idade e deixar, talqual você, uma imagem doce demelancolia... Apesar de tudo, na-da mudou. Foi o vento, foi a chu-va, foi a vida... coisas que eacumulam... Sempre lhe quero omesmo bem. A minha juventudeescondida é a Purinha, que tam-bém nâo morreu..."...os homens, quasi todos, teemsido e são multo mais maus do queeu..."

Você queria a paz, Antônio No-bre. Você alcançou o que queria.Será que você está feliz?Minha terra... E' um céu tãoazul que eu nunca mais vi um céutão azul. E' um rio chamado Ouaí-ba, que tem uma ilha cnaiuttua

Pintada. E' uma casa grande, deonde eu vi a primeira lembrança:uma revolução... Minha terra...Aquela procissão de noite. O circode Paulo Cirini. A estação da Es-trada de Ferro. O trem de São Leo-poldo... As férias... O Riacho, ossalgueiros... Os sinos... A bandade música da Floresta Aurora... OAsilo dos Pobres... Vocês... Minhaterra cabe toda dentro de mim. Elaé do tamanho da minha infân-cia,.. Porto Alegre! Ah! terra bemamada! Que carícia te chamar:minha terra... te repetir: mi-nha... minha... minha...

Isabel... Mais tarde, com a mes-ma idade, eu a encontrei na "Co-média dell'Arte" foi a que ficousendo. Da outra, o tempo tirou arealidade. Mas, por causa da outra,meu pai se enfureceu e decidiu quea vida de externo não me servia:"Para o convento!" Na manhã doembarque, enquanto as minhas lá-grimas purificavam os meus olhos,êle rugia, excitado, andando deum lado p„ara outro, entre gestossoltos, que tropeçavam nas pala-vras: "Um fedelho sem elra nembeira e já metido com mulheres!Começas bem, não há dúvida! Kua tentar erguer cada vez mais omeu nome e tu a esfregá-lo nalama!" Meu pai, antes de sêr isso,tinha representado numa socieda-de particular, e, não perdeu aocasião de recordar as suas glóriasde amador dramático. Eu ignorava(e até hoje não sei) qual era a la-ma à qual êle estava se referindo eque era que o nome dele vinha fa-zer naquilo. Guardei do caso umasuspeita para sempre, da justiça edos sentimentos por obrigação. Es-tive cinco anos no Colégio NossaSenhora da Conceição. Saí de lá,desconfiado de tudo, tímido, donode um diploma de bacharel emciências e letras, e não aprendi adansar...

Entretanto, a primeira paixãoque eu tive foi Santa Cecília. Elanunca soube.

(A vida é de cabeça baixa —Autores e Livros — 31-8-941). /

dardizados, opiniões prontas, semdireitos autorais, idéias de domi-nio público.

Aprendeu muitas coisas durantea vida.

E ficou sorrindo, com a lgnorân-cia da vida.

Tinha o encanto de ver, tinhaa surpresa de ouvir.

A gente podia botar no túmulode João Ribeiro aquele epitáfio deoutro João, que não foi ribeiro, foida fonte, Jean de La Fontaine, quetambém contou fábulas neste mun-do, — epitáfio tão bonito na Fran-ça como n oBrasil:Jean s'en alia comme il était venu...João foi-se embora como Unha vin-do.

No destino de João Ribeiro, aAcademia não passou de um acl-dente; simples acidente na estradade rodagem; e que o divertia muitoFoi um acadêmico; não se fan-tasiou com a farda da imortali-

dade;"A farda é ridícula, mas o ri-dículo faz parte da glória acade-mica".

Cada vez que morria um imortal,João Ribeiro gozava; não pela mor-te do coitado; pela caça á vagai queia começar.

Pouco antes de morrer, entre in-timos, contou:"Para obterem o voto, os can-didatos se sujeitam a todas ashumilhações. Nenhum, porém, che-ao exagero do que veio cá em casarogar que eu escrevesse o nome

dele, ao menos na cédula de umdos escrutínios. Respondi: — Jáestou comprometido, doutor... —Poz as mãos: — Mestre! Quem lhepede o voto não sou eu, é sua ma-drlnha, Santa Maria Pia! — Nãosei de que modo, talvez por umpapel que publiquei há muitosanos, ele tinha descoberto que mi-nha mãe, devota da santa maisamada de Sergipe, me dera SantaMaria Pia por madrinha... Infe-llzmente, era verdade, eu estavacomprometido, ü candidato foieleito. Mas minha madrinha nãoteve culpa.

João Ribeiro não desprezava nin-guém; amava alguns; admiravaoutros; cultivava todos.

Não creio que deixasse memó-rias completas.

Era delicado demais.De certo, desejou conservar, au-

sente, a mesma atitude que man-teve presente.

As suas observações, as suas ex-perièncias realizadas, partiram comele, no caixão que o levou.

Nunca lhe importaram as ternu-ras alheias.

Entretanto, evitou as malqueren-ças, para que não lhe estragassema, biografia.

E' com prazer que os que anda-ram perto de João Ribeiro se lem-bram dele.

Não foi uma morte triste, por-que foi o fim de uma viagem lon-ga e bela, com as impressões guar-dadas em livros ótimos.

Da religião católica, gostou prin-cipalmente de um pedacinho dereza:

...Vida, doçura, esperança nos-sa...

Eu acho que João Ribeiro foipara o paraíso.

Se não foi, a estas horas, tam-bém já se acostumou no inferno.

No purgatório é que não está.Detestava as situações provisó-

rias...Disseram que era gramático, por

haver escrito gramática.Disseram que era historiador, por

haver escrito história.Disseram que era critico, poi

escrito criticas.Escreveu poemas, e não disse-

ram que era poeta.Pois poeta, sé poeta era.Um grande poeta que escreveu

gramática, história, criticas, acre-ditando apenas na poesia.

jf pilltülL újipil jf Ú/fiitt^

Ho Mio...

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Autografo de Álvaro Moreyra

Pregões do Rio de JaneiroOs guerreiros das tabas sagra-

das, os portugueses descobridores,os pretos trazidos da África, emuitos outros turistas fizeram umaraça nesta terra de sol, das monta-nhas e do mar. A nosso raça doBrasil. Ela anda nas mulheres bo-nitas, nos homens ágeis, na poesiaque fala como se fosse música,na música que é poesia desfo-lhada...

Todas as manhães e de tarde enoite, a raça brasileira passa pelaminha porta na voz dos pregõescariocas que escrevem no ar o poe-ma da cidade.

Alguns, cheios de madrugadaainda:

"Vai frangoVai gatinha gorda..."Olha a laranja sulétra...Olha a boa tangerina..."E vêm vindo, cada um com o seu

tom diferente, o seu ritmo incon-fundivel:

"ai fregueza guer ovos?""Jabotícaba mineira... minei-ra... mineira..."

"Flores... floristas.,.""Garrafvezie...""Abacaxi...E' ãe Vila Nova..."Soldaâoooo,, ,oor...""Quttanâeiró...""Vassouras..."spanaáoir's...""Pire...Pixe....Pitoló..."(Pixe é peixe; pitoló, não sei

por que, é camarão).Vem o correio que traz notícias

para uns; o jornaleiro que traznotícias para todos; o homem coxo,de bolsa na mão:

"Consertam-se máquinas de cos-tura..."

E o que conserta as finanças dagente:

"Compra-se poupa velhasapato velho,,chapeú,Qualquer objeto usado..."Vem o doceiro. O pregão dele

parece um schottisch:"Olha o duceiro,Olha o duceiro,olha o duceiro,pertícular..."E o negro velho das cocadas, com

uma saudade pobre da vida quefoi un dia:

"Cocada...Preta e branca...

Preta e branca,e cor de rosa..."E o caboclo de baú gostoso:"Soberano, gargalhada, 'Biscoito fino, bananada...

. Ninguém me chama, ¦;..Vou-m'ímboratDaqui a pouco nâo tem mais

nada!

Quando o sol se apaga e as Iam-padas se acendem:

"Sorvetinho, sorvetâo,sorvetinho de ilusãolQuem nâo tem duzentos reisnão toma sorvete nãoíSorvete, Yayâ!E' ãe quatro côliâade..."E já veio o angu da bahiana,

veio "a sorte corre hoje", veio omelado de Campo Grande, e o óleode coco, óleo de babosa, o sabão daCosta, pregador de roupa, saquinhode café

Veio:"Barateiró..."Vem então, triste, triste:"Mínãuim... torradinho...Tá quentinko...Vem o italiano que vende as

canções em voga; o italiano alèl-jado com a filha de sete anos. Elefaz o prólogo:

"Mamãe escuta,Avre a janela.Parece um gramofone,é una gaiittga bela.Io trabalhavanuma pedréra,perdi o braço direitoe fiquei desta manera.Tenho seis filhasdesde a primera,e a menina que vai cantar 'é a terceira.,." fE a menina canta:"Qui vantage Maria leva?E'boa...Como é qui Maria vive?Atoa.,.400 réis as canções da moda... t

400 réis!..." ¦ m,Depois, há um intervalo em quetodos os planos, rádios, e fonogra- 5

fos da vlslnhança agem... 'Afinal, perdido no silêncio dò '

bairro adormecido, o último pregão'anuncia, longe, que a vida cotia;tlnua: tVS

"il Noite... .A /'riO Globo... "-1"*O Diário..." ' "'"" ''

Page 36: Dezembro de 1950 — Vol. XI, n.° ia AUTORES B LIVRO Página ...memoria.bn.br/pdf/066559/per066559_1950_00012.pdf · Dezembro de 1950 — Vol. XI, n.° ia AUTORES B LIVRO Página

Página 143 AUTORES E LIVROS Dwwnbro de 1950 — Vol XI, n." 12

PEDIDO A UM OFICIALDE GABINETE

Cassiano Bicardo.

Na manhã azul ferreteAinda com a estrela d'alvaEntrou no teu gabineteComo nas asas de um pássaroO teu Diário Oficial,sobre a mesa um telegramaA xícara de cafée uma rosa matinal.

Estás mais contente, agora,Do que um pássaro de cristal.Tua fala é mais sonoraE sabe a um secreto sal;E o teu andar adquiriuJá um certo ritmo especial.

Mas, se a vida é assim, festiva,Para alguns, a outros doiComo ferro em carne viva.(Vivê-la lá é ser herói!Ah, os que vivem no escuroDa competição brutalQue é a vida sem futuro,Sem o Diário Oficial,Sem xícara de caféE sem rosa matinal

Desses uma pobre viúvaCom os seus três órfãos de guerraTrês anjos sujos de terra,Virá ao teu gabineteContar-te o que tem sofridoNeste mundo desigual

Uma professora IngênuaTe trará as suas queixas,Olhos azuis de quimeraDe tanto esperar governoNuma sala azul de espera(O' esperança nacional).

E mesmo o chefe políticoCheio de santa inocênciaVirá em nome do povoCom os seus pedidos em flor,Com o barro municipalQue lhe ficou no sapatoOs olhos cheios de amorPedir pontes e colégiosPra sua terra natal,Madrugador como a estrelaMas nem sempre venturosoComo a rosa matinal.

Rostos diários, em série,Pés amigos de tapete,Desfilarão, afinal:O obediente funcionário,Os candidatos a emprego,O orador do sindicato,A mulher de perfil grego,O que vem, ainda bisonhoPedir a primeira audiênciaPrevista entre rosa e sonhoO que visita o governoPor vocação oficial,O que só acredita em lágrimaquando lágrima oficial,E só acredita em sorrisoQuando sorriso oficial,E só acredita em anjosDe Ceu que seja oficial.

A todos — peço-te agora —Bê paciente, sè cordial.Principalmente se um diaPor um atalho da vidaEntrar no teu gabinete,Triste como um caramujo,Com uma rosa na mão,Que furtou ao edital,O homem que amanheceuNum banco de jardim públicoA' espera da sua horaNuma súplica final.

A esse — o desconhecido —Sem alberque ou hospital.Filho do pó e da ruaCom residência na luaE cujo nome não consta,Por errado, ou ilegível,(Pois a dor é analfabeta)Entre as nomeações do diaDo teu Diário Oficial;A esse, que amanheceuNum banco de Jardim público,E viu como, de manhã,Se apaga a última estrelaDa constelação austral;A esse, o desconhecido,O que te traz uma rosaMais que as outras, matinal;Mais que aos outros, sè cordial.Extremamente cordial.

Que o poder náo diz: "não posso",Ao que, talvez, no outro diaEm decúbito dorsal,Estás arriscado a ver,Com retrato no Jornal(O teu "nâo" foi-lhe um punhal)Diante de ti, por um vãoDo teu Diário Oficial,Entre a xicara de caféB uma rosa matinal...

0 SONHO DE UM SONHOA Américo taco.

Sonhei que estava sonhandoe que no meu sonho haviaum outro sonho esculpido.Os três sonhos superpostosdir-se-iam apenas elosde uma infindável cadeiade mitos organizadosem torno de um pobre eu.Eu, ai de mimi sonhava.Sonhava que no meu sonhoguardava uma zona lúcidapara concretar o fluídoe abstrair o maciço.Sonhava que estava alerta,e mais do que alerta, lúcido,receptivo, magnético,e em torno a mim se dispunhampossibilidades claras,e o ouro do tempo, plástico,vinha cingir-me e dourar-mepara todo o sempre, paraum sempre que ambicionavamas de todo o ser temia...Ai de mimi que mal sonhava.Sonhei que os entes cativosdessa livre disciplinaplenamente floresciampermutando com o universouma pura substânciae um desejo apaziguadode ser um com ser milhares.O centro era eu de tudo.como era cada um dos raiosdesfechados para longe,alcançando além da terraIgnota região lunar,na perturbadora rotaque antigos não palmilharammas ficou traçada em branconos mais velhos portulanose no pó dos marinheirosafogados em mar alto.Sonhei que meu sonho eraa realidade mesma.Sonho que de sonho se formanão do que desejaríamosnem do que silenciamosem melo a ervas crescidas,mas do que vigia e fulgeem cada ardente palavraproferida sem malícia,aberta como uma florse abre: radiosamente.Sonhei que o sonho existianão dentro, fora de nós,e era tomá-lo e colhê-lo,e sem demora sorvê-lo.gastá-lo sem vão receiode que um dia se gastara.Sonhei um espelho límpidocom a propriedade mágicade refletir o melhorsem azedume ou friezapelo que fosse obscuro,antes o iluminando,mansamente o convertendona fonte mesma da luz.Obscuridade! Cansaço!Oclusão de formas meigas!

. Terra sobre diamantes!Já vos libertais, sementes,germinando à superfíciedeste solo resgatado!Sonhava, ai de mim, sonhandoque não sonhava... Mas viana treva em frente ao meu sonho,nas paredes degradadas,na fumaça, na Impostura,no riso mau, na inclemência,na fúria contra os tranqüilos,na estreita clausura física,no desamor à verdade,na ausência de todo amor,eu via, ai de mim, sentiaque o sonho era sonho, e falso.

Carlos Drumonâ ãe Andrade.

BOLETIM SENTIMENTALDA GUERRA NO RECIFE

AS TRÊS MAR1ASManuel fiandeira.

NaDIRSérgio Velozo.

Na folha branca Nadir,um nome canta — Nadir!Só eu que não sou feliz,..Se os meus olhos se levantamnão ouso fitar Nadir.Nada sinto ou vejo agora... nadir.Nadir. que te fez nadir?O lindo verbo — nadiré a ação do nada, Nadir.Não é pessoa nem nome;é só nadir! Só nadir!Se quero chorar, não me deixamo mundo é seco, Nadir.Não vejo nada, não queroa tristeza, o tédio, o tédio...O tédio é tédio, nadir...Se respiro, o ar é quentee as mãos, no rosto, tão frias...Tudo é tão ôco... nadir...E o meu próprio pensamentoE' triste e morto,... nadirE a minha própria tristezaé toda abstrata... nadir...E só vejo em tudo, tudo,o nada, nada, Nadir!

Mauro Mota.

Meninas, tristes meninas,de mão em mão hoje andaisSois autênticas heroinasda guerra, sem ter rivais.Lutastes na frente internacom bravura e destemor.A vitória aliada desteso sangue do vosso amor.

Por recônditas feridas,Nào ganhastes as medalhas,terminadas as batalhasde glórias incompreendidas.Ereis tão boas pequenas,Ereis pequenas tão boas!de várias nuances morenas,ó filhas de Pernambuco,da Paraíba e Alagoas.

Tlnhels de quinze a vinfanos,Tipos de colegiais,Diante dos americanos,dos garbosos oficiaise o segundo "team" vastodos fuzileiros navaisprontos a entregar a vidapara conseguir a paz,varrer da face do mundoRegimes ditatoriaise democratizar todospaíses continentaisa começar pelos sexosdas meninas nacionais,Iniciou-se então a fasede treino e convocaçãotodos os dias na base.Ah! com que pressa aprendlelsSó pela conversa quasi Identro de menos de um mês,

Sabeis falar Inglês.E os presentes? os presentesEram vossa tentação.Cousas que causavam aquiinveja e admiração.Bolsas plásticas, a blusade alvas rendas de Hawal,bicicletas Made In USA,verdes óculos Ray Ban,era um presente de noitee outro dado de manhã,verdadeiras maravilhasda Indústria do Tio Sam.E as promessas? as promessaseram vossa sedução.Acreditáveis que elasnão eram mentira, não.Um "Prazer" no aniversário,Passeios de "Constellatlon",Num pulo alcançar Miaml,Almoçar na Casa-Branca,Descer na Quinta-Avenida,Fazer "Piquet" pela Broadway,Ver a "Premiére" na CineJunto dos artistas, comEles todos na platéia.Ouvir, na "Opera House",Numa noite, Toscanini,na outra noite, Liü Pons,Com tanto "it" e juventudePoderieis testes ganhar,ser estrela de Hollywood,Ciúmes de Heddy Lamaar.Ali! bom tempo em que currieis"Pés descalços, braços nús,Atrás das asas ligeiraDas borboletas azues".ó prematuras mulheresfostes na velocidadedos "Jeeps" às "Garçonnieres"na praia da PiedadeQuasi que se rebentavamvossos uteros InfantisQuando veio o telegramada tomada de Paris.Ingênuas meninas grávidas,O que é que fostes fazer?Apertai bem os vestidosP'ra família não saber,que os indiscretos vizinhosvos percam também de vista.Saistes do Pediatrapara o ginecologista."Babies" saxonisados,Que só mamam vitaminas,São vosso "Babies" meninas,em vários cantos gerados,nas "Mapples" dos automóveis,No interior das cantinas,da praia na branca areianas noites sem lua cheia.

Meninas, tristes meninas,vossos dramas recordaiquando eles no armistíciovos disserem "Good By".Ouvireis a vida todaA ressonância do chorodos vossos filhos sem pai.

Atrás destas moitas,Nos troncos, no chão,VI, traçado a sangue,O sino-salmâo!

líá larvas, há lêmuresAtrás destas moitas.Mulas sem cabeça,Vlsagens afoitas.

Atrás destas moitasVeto a Moura TortaComer as mâozinhasDa menina mortal

Há bruxas luéttca»Atrás destas moitas,Seoredando à aragemAmorosas coitas.

Atrás destas moitasVi um rio de fundasÁguas deletérias,Paradas, Imundasf

Atrás destas moitas...— Que importa? Irei vi-laslRegiões mais sombriasConheço. Soupoeta,Dentro d'alma levo,Levo três estrelas,Levo as três Marlasl

Duas cançõesde Sônia ReginaCANÇÃO DA MORTE NO MAR

Nâo importa ondenem quando será.Pressinto que a morteme estreita no mar...Não que eu queira a morteque teve Alfonsina;ou o fim olímpicode Safo, a divina;mas bem sei que as ondaslavam o sofrimento,e por onde passamo esquecimento.

Não importa ondenem quando será.A morte me espreitano fundo do mar.Mesmo nas montanhassinto o seu apelono passar das nuvens,no gemer das frondes:Volto... e o mar me envolvecom furor ciumentocomo se exigissemeu último alento.Não importa onãenem quanáo será.A morte me esperano fundo do mar...Sou como uma escravapois adoro as pérolas,a canção das conchas,o gosto de sal;não temo água-viva,brinco com os mariscose tenho uma ilhatoda de coral.Não importa ondenem ímnorta guandoSê bendita, ô mortesê eu morrer no mar!

INGÊNUA CANÇÃO DE ORIGEM

Portugal deu-me a saudade:era o que tinha de seu.

Mas esta fôrça obscura,que me impele à aventura,foi a Espanha que me deu...Portugal deu-me a saudade:era o que tinha de seu.

Mas esta côr tão morena,estes meus olhos brejeiros,esta voz tímida e baixamurmúrio de fio dágua —o riso que, de tão claro,espanta a sombra da mágua ;esta paixão pelo verde,esta loucura de sol,este desejo de mar,transformados em poesiafonte pura de harmonia —que é tudo quanto possuo,que posso chamar de meu.não importei do estrangeiro:foi o Brasil que me deu.

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