Diagnóstico Dos Custos Na Fabricação De Embarcações Artesanais De Pequeno Porte

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Enxó 2012 | Encontro Nacional de Pesquisa & Ação em Construção Naval Artesanal São Mateus | Brasil | Dezembro de 2012 Diagnóstico Dos Custos Na Fabricação De Embarcações Artesanais De Pequeno Porte MENEZES, Gigllliara S. de; Graduanda; Universidade Federal do Espírito Santo [email protected] SIMÕES, Aline H.; Graduanda; Universidade Federal do Espírito Santo [email protected] OLIVEIRA, Romero; Graduando; Universidade Federal do Espírito Santo Romeroliveira0@hotmail.com WALTER, Yuri; Mestre; Universidade Federal do Espírito Santo [email protected] TOSTA, Marielce C. Ribeiro; Doutora; Universidade Federal do Espírito Santo [email protected] Palavras-chave: Custo, construção, embarcação. Com o objetivo de diagnosticar e propor soluções aos problemas da cadeia produtiva da pesca está sendo desenvolvido no TPA Norte-ES um projeto cujo objetivo é identificar os principais custos diretos, indiretos, fixos e varíaveis no processo de construção de embaracações artesanais, bem como a viabilidade econômica desta atividade. Este resumo, apresenta os resultados parciais obtidos por meio de visitas tecnicas e revisão de bibliografia realizadas. Para testar a aplicabilidade da planilha de custos que vem sendo trabalhada foi utilizado os dados para a construção de uma pequena embarcação. Para dar acontinuidade ao projeto serão realizadas outras visitas técnicas para compilação e análise dos dados com base no detalhamento de custos obtidos para Conceição da Barra. Espera-se desta forma minimar a falta de dados que permeia este problema. Keywords: cost, building, crafts. Aiming to diagnose and propose solutions to the problems of the production chain of fishery is being developed in TPA Norte-ES a project whose goal is to identify the main direct and indirect, fixed and variable costs in the process of building handmade crafts, as well as economic viability of this activity. This summary presents the partial results obtained through visits and technical review of the literature. To test the applicability of the cost spreadsheet has been crafted, it was used data to building a small boat. To provide the continuity to the project will be carried out other technical visits for compilation and analysis of data based on detailed cost obtained for Conceição da Barra. It is expected therefore minimize the lack of data that permeates this problem. 1 Introdução Estima-se que os primeiros construtores navais foram os humanos pré-históricos. Suas técnicas eram simples e eficientes para atender as suas necessidades. Desde amarrações de madeira com cipó à escavações em trocos de árvores (FILHO, 2003; BARBOZA, 2007). Para Barboza (2007) as primeiras civilizações a transformarem suas técnicas de construção em serviços de manufatura, para atender seu povo, foram os egípcios e os fenícios. “Entre a antiguidade e o fim do Império Romano, marcaram presença, primeiramente, os egípcios e fenícios, com embarcações em papiro, sendo creditados aos egípcios as primeiras construções modulares e primeiros estaleiros, isto já na fase das embarcações em madeira, tipicamente mercantes,

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Diagnóstico Dos Custos Na Fabricação De Embarcações Artesanais De Pequeno Porte

MENEZES, Gigllliara S. de; Graduanda; Universidade Federal do Espírito Santo [email protected] SIMÕES, Aline H.; Graduanda; Universidade Federal do Espírito Santo [email protected] OLIVEIRA, Romero; Graduando; Universidade Federal do Espírito Santo [email protected] WALTER, Yuri; Mestre; Universidade Federal do Espírito Santo [email protected] TOSTA, Marielce C. Ribeiro; Doutora; Universidade Federal do Espírito Santo [email protected] Palavras-chave: Custo, construção, embarcação.

Com o objetivo de diagnosticar e propor soluções aos problemas da cadeia produtiva da pesca está sendo desenvolvido no TPA Norte-ES um projeto cujo objetivo é identificar os principais custos diretos, indiretos, fixos e varíaveis no processo de construção de embaracações artesanais, bem como a viabilidade econômica desta atividade. Este resumo, apresenta os resultados parciais obtidos por meio de visitas tecnicas e revisão de bibliografia realizadas. Para testar a aplicabilidade da planilha de custos que vem sendo trabalhada foi utilizado os dados para a construção de uma pequena embarcação. Para dar acontinuidade ao projeto serão realizadas outras visitas técnicas para compilação e análise dos dados com base no detalhamento de custos obtidos para Conceição da Barra. Espera-se desta forma minimar a falta de dados que permeia este problema.

Keywords: cost, building, crafts.

Aiming to diagnose and propose solutions to the problems of the production chain of fishery is being developed in TPA Norte-ES a project whose goal is to identify the main direct and indirect, fixed and variable costs in the process of building handmade crafts, as well as economic viability of this activity. This summary presents the partial results obtained through visits and technical review of the literature. To test the applicability of the cost spreadsheet has been crafted, it was used data to building a small boat. To provide the continuity to the project will be carried out other technical visits for compilation and analysis of data based on detailed cost obtained for Conceição da Barra. It is expected therefore minimize the lack of data that permeates this problem.

1 Introdução

Estima-se que os primeiros construtores navais foram os humanos pré-históricos. Suas técnicas eram simples e eficientes para atender as suas necessidades. Desde amarrações de madeira com cipó à escavações em trocos de árvores (FILHO, 2003; BARBOZA, 2007).

Para Barboza (2007) as primeiras civilizações a transformarem suas técnicas de construção em serviços de manufatura, para atender seu povo, foram os egípcios e os fenícios.

“Entre a antiguidade e o fim do Império Romano, marcaram presença, primeiramente, os egípcios e fenícios, com embarcações em papiro, sendo creditados aos egípcios as primeiras construções modulares e primeiros estaleiros, isto já na fase das embarcações em madeira, tipicamente mercantes,

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incluindo as de passageiros, a remo e à vela; seguiram-se gregos, romanos e cartagineses, povos que muito se sobressaíram, inclusive na aplicação militar da construção naval (BARBOZA, 2007).

No entanto só foi no fim do século XVII que surgiram as grandes embarcações de madeira, nos principais países na Europa nessa época, pois estava despontando o início das grandes navegações e para isso as evoluções das técnicas de construção de barcos acompanharam o nível de complexidade que precisaria para enfrentar os mares até então desconhecidos. Essas formas de trabalhar a embarcação, foram organizadas em um livro, Traité du navire (1746), escrito pelo francês Pierre Bougue, que revolucionou a engenharia naval, trazendo novos conhecimentos que foram denominados Teoria do Navio. Entre os conceitos abordados está a alusão do metacentro, proporções, estabilidade, efeitos das ondas e ventos, utilização de materiais, dimensões e regras que auxiliavam o desenho e construção de diferentes tipos de barcos (BARBOZA, 2007).

Corroborando este pensamento, Salorte (2010) conclui ainda que a evolução da construção naval está correlacionada de forma positiva com as com necessidades das civilizações, que estavam em busca de soluções para garantir um maior domínio bélico, com perspectivas de estabelecer novos mercados para seus comércios e em busca de matérias-primas. Foi então que desenvolveram conhecimentos e métodos na confecção de embarcações que atravessaram épocas. Entretanto não é difícil encontrar estaleiros que fabricam apenas com o conhecimento empírico dos carpinteiros e com mecanismos de manufatura quase totalmente artesanais. Isso mostra que ainda não se extinguiu as formas antigas de construção naval. Deste modo, assim como antigamente, o que garante a continuidade dessas técnicas de construção é a transmissão do saber-fazer, entre as gerações de carpinteiros, através de observações e experiência reunidas (SALORTE, 2010).

Essa atividade artesanal tem sua função social em várias regiões do Brasil, por ser fonte de renda para os funcionários que trabalham nos estaleiros e por fazer parte de um importante elo da cadeia da pesca artesanal. Porém analisar, identificar as características e os custos de fabricação dessas embarcações não é algo fácil. Muitos dos estaleiros existentes são informais, trabalham sob condições precárias, sem embasamento científico e sem os registros e controles dos seus gastos na fabricação dos barcos artesanais de madeira.

No Espírito Santo não é diferente. O Estado pertence à região sudeste e possui vasta área costeira, na qual se desenvolve a cultura da pesca, com grande potencial em produção, consumo e comercialização. A cidade de Conceição da Barra, é responsável por grande parte da captura do camarão, e suas variadas espécies, tendo como petrecho principal a rede de arrasto. As embarcações responsáveis por esse tipo pesca têm como características: o pequeno porte, variando de 9m a 12m de comprimento e a capacidade de transportar apenas de 3 a 4 tripulantes em sua estrutura.

Dada a importância da pesca e a relevância da construção das embarcações está sendo desenvolvido no TPA Norte um projeto cujo objetivo é identificar os principais custos diretos, indiretos, fixos e varíaveis no processo de construção de embaracações artesanais. Além disso, pretende-se estabelecer a viabilidade econômica desta atividade. Ressalta-se que este resumo, trata dos resultados parciais e que até o presente momento foi trabalhado o município de Conceição da Barra. Para testar a aplicabilidade do método foi utilizado os dados para a construção de uma pequena embarcação obtidos por meio de uma visita técnica realizada.

2 Construção De Barcos De Madeira

2.1 Sistema Produtivo E Suas Características

O sistema de produção é caracterizado pela transformação de recursos de entrada (inputs), através de operações e processamentos, em bens e serviços (outputs). A natureza de cada processo vai depender do objetivo e função de cada empresa, ou seja, produção de manufaturados, produção de serviços ou a fusão dos dois tipos. Segundo Slack (2009) a

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combinação dos recursos transformados, que são os materiais, as informações, os consumidores, produzem uma mistura de produtos e serviços. Além disso, Shingo (1996) estabelece uma separação na sequência lógica que define o sistema produtivo, entre processos e operações, sendo respectivamente: o fluxo de materiais a serem transformados, e o fluxo de trabalho que envolve as atividades de operadores e máquinas. Portanto pode-se dizer que o sistema de produção é formado por uma rede de processos e operações.

A classificação dos tipos de processos de manufatura dependem do volume dos produtos finais e de seus métodos de padronização das atividades. Logo existe a necessidade de separar os processos pelas diferentes posições volume-variedade das operações, pois para cada tipo de produto há uma exigência de etapas de processamentos e tecnologias diferentes (SLACK, CHAMBERS e JOHNSTON, 2009; LUSTOSA, et al. 2008; DAVIS et al., 1990). Sendo assim, a fabricação de produtos que necessitam de trabalhos específicos e detalhados, que possuem um lead time longo e um período entre o término de cada produto, é chamada de processo por projeto, onde cada realização de produto pode ser única. O processo de jobbing sustenta a fabricação de produtos específicos, porém existe a possibilidade de repetição no método de produção, por isso os recursos de operações são compartilhados. Quando a fabricação é dada em lotes, ou seja, o processamento de mais de uma unidade por ciclo, tem-se que o volume produzido dependerá exclusivamente do seu tamanho e da sua baixa variação que permite períodos de repetições, esse é denominado processo em lotes. As características de um processo de produção em massa são o seu alto volume de produção e a sua pouca variedade, dos quais se segue uma sequência de fabricação quase que totalmente repetitiva. Além desses tipos de processos existe o de produção contínua, que se diferencia do de produção em massa por apresentar volumes ainda maiores e uma variedade mínima nos produtos a serem fabricados.

A forma de analisar a utilização de tecnologias em um sistema de produção traz a definição do seu nível de automação. Para Antunes (2008) o trabalho de máquinas e operários podem ser separados, a fim de estabelecer o grau de utilização dos recursos materiais e humano. A substituição do trabalho totalmente manual por máquinas começou em atividades que eram consideradas perigosas e repetitivas, e gradativamente a porcentagem de participação do homem no desenvolvimento das atividades foi diminuindo e a participação das máquinas se tornou a principal forma de agregar valor ao produto final. Por isso, Shingo (1996) e Antunes et al (2008) estabeleceram estágios para caracterizar o nível de automação de um sistema produtivo. São eles:

Estágio 1- Trabalho Manual: Os operários realizam suas atividades sem utilização de máquinas.·.

Estágio 2- Alimentação manual com usinagem automatizada: Exige um trabalho manual, na realização de setups, porém com etapas realizadas nas máquinas.

Estágio 3- Alimentação e usinagem automáticas: O processamento é realizado por completo por máquinas, o operador apenas controla o funcionamento da máquina.

Estágio 4- Semi-Automáticos: os setups são automáticos, a única participação do operário é na detecção e resolução de anomalias no processamento, caso necessário.

Estágio 5- Pré-automatizado: As máquinas são programadas para o processamento completo, além de identificar locais com possíveis defeitos, o operário só conserta.

Estágio 6- Automação: Todas as funções são realizadas pelas máquinas. Para Slack, Chambers e Johnston (2009) a maneira como os recursos transformadores são

posicionados uns em relação aos outros e como as tarefas da operação são alocadas a esses recursos transformadores, é chamado de arranjo físico. Juntas, essas duas características ditam o padrão do fluxo dos recursos transformados à medida que eles progridem pela operação ou processo. Como cada processo produtivo exige sequências de atividades operacionais diferentes existem quatro tipos básicos de arranjo físico: por produto, por processo, posicional e o híbrido (KRAJEWSKI E RITZMAN 2004; SLACK, 2009). No arranjo físico posicional (posição fixa) o produto permanece fixo em um local; os funcionários, juntamente com suas ferramentas e equipamentos, dirigem-se ao produto para trabalhar nele. Esse arranjo é adotado quando o produto em questão é volumoso ou difícil de movimentação. Em todo sistema produtivo é necessário analisar e avaliar os fatores de produção em unidades monetárias. Está é uma forma de equiparar os gastos com insumos utilizados na

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fabricação do produto. Mas estes atuam com diversos objetivos no processo de transformação. Portanto é importante saber as quantidades de cada recurso em valores expressos em moeda corrente para facilitar a administração, as análises e os modelos de tomada de decisões (PADOVEZE, 2003; FERREIRA 2007).

Não obstante, Padoveze (2003) classifica os custos de acordo com seu volume de produção ou venda que são os custos fixos e os custos variáveis, e de acordo com seu objetivo, que são os custos diretos e indiretos. Os custos diretos podem ser facilmente identificados no produto final, por possuir participação plena em sua composição. Os custos indiretos são os gastos não condicionados à composição do produto, ou seja, apenas auxiliam a sua produção. Tanto os custos diretos como os indiretos podem ser classificados como fixos ou variáveis. Esses por sua vez, estão em função da quantidade que será produzida. Os custos variáveis são diretamente proporcionais ao volume de produção, já os fixos, em curto prazo, não se alteram com o aumento ou redução da quantidade que foi demanda à empresa. A Tabela1 relaciona os tipos de custos conforme sua classificação por volume e por objetivo.

Tabela 1: Relações dos custos Cutos Fixos Custos Variáveis

Custos Diretos

Mao-de-Obra 1: Valor dos salários pagos aos trabalhadores que operam as máquinas ou processam produto.

Mão-de-Obra 1: É o material que irá ser processado (componentes do produto).

Custos Indiretos

Mao-de-Obra 2: Valor dos Salários pago a gerência e diretoria da fábrica.

Mao-de-Obra 2: É o material que auxilia a continuação do processo de transformação da Mao-de-Obra 2.

Fonte: Dados da pesquisa.

2.2 Processo De Construção De Embarcações De Madeira

Analisando o processo produtivo da construção de uma embarcação artesanal em Conceição da Barra, é possível classificá-lo como um processo por projeto. Os estaleiros recebem o pedido do cliente com as definições e características desejadas para o barco que será construído. O processo é considerado artesanal, pois os processamentos (fabricação/montagem) do produto são realizados pela mesma pessoa. As etapas de construção de quilha, construção de caverna e na colocação de tablado, demandam uma matéria-prima trabalhada de acordo com as especificações do cliente, sendo assim, existe a necessidade de usinagem em máquinas. O seu arranjo físico é fixo e suas demais especificações dependem da formalidade dos estaleiros. Essa atividade tem como perfil o produto fixo e os funcionários, as máquinas e ferramentas localizadas em torno do mesmo.

A parte do planejamento para realização do projeto, de certa forma não existe, o que é mais comum é o carpinteiro ter o conhecimento empírico, que foi adquirido ao logo de sua experiência, e executar a fabricação do barco sem projetos, dimensões, design e capacidade, que deveriam ser estudas e escritas antes de qualquer ação.

A produção começa com o pedido do cliente, em seguida há a parte de encomenda das matérias-primas para estoque. Essa etapa exige um valor de custo incial alto, por isso a previsão da quantidade total a ser utilizada para a fabricação do barco, não devem nem subestimar (quantidade menor), pois há risco de atraso no processo, fora os valores de custos por pedido que poderão aumentar por ser uma encomenda com lotes pequenos de insumos.

Também nem superestimar a compra dos materiais, (quantidade maior), pois o excesso pode acarretar prejuízos para o fabricante do barco, uma vez que o valor investido nesse material poderia ser utilizado em outra parte do processo. Antes de mostrar as etapas típicas de produção e os inputs que compoem os custos, é importante entender alguns conceitos sobre as embarcações:

Casco - É o corpo do navio sem mastreação, ou aparelhos acessórios, ou qualquer outro arranjo. O casco não possui uma forma geométrica definida, e a principal característica de sua forma é ter um plano de simetria (plano diametral) que se imagina passar pelo eixo da quilha. Da forma adequada do casco dependem as qualidades náuticas de um navio: resistência mínima à propulsão, mobilidade e

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estabilidade de Plataforma. Proa - É extremidade anterior do navio no sentido de sua marcha normal. Tem a forma exterior adequada para mais facilmente fender o mar. Popa - É a extremidade posterior do navio. Tem a forma exterior adequada para facilitar a passagem dos filetes líquidos que vão encher o vazio produzido pelo navio em seu movimento, a fim de tornar mais eficiente à ação do leme e do hélice (REOCITIES, 2009).

A Figura 2 mostra as etapas que normalmente existem no processo de construção das embarcações artesanais em Conceição da Barra.

Figura 2: Processo típico de contrução de barcos de madeira

Fonte: Dados da pesquisa.

Para identificação e classificação dos custos em cada etapa do processo é importante

decompor o produto, seguindo a ordem das suas necessidade de inputs. Na Figura 3 o barco é descrito de acordo com os componentes usados para a fabricação de uma embarcação pequena em Conceição da Barra.

3 Estudo De Caso: Construção De Uma Pequena Embarcação

O estaleiro é localizado no bairro Santo Antônio, município de Vitória, Espírito Santo e o responsável e o mestre Eliseu, que opta por trabalha sozinho. Por ser o principal produto, o objeto de estudo é a baitera, pequena embarcação de madeira para motor de popa com as dimensões: 6 m de comprimento, 1 m de boca (largura do barco), 0,8 m de fundo (parte que fica submersa) e 0,4 cm de altura. A duração de todo o processo de fabricação fica em média de 1 semana a partir do pedido do cliente. Na Figura 5 a imagem da baitera.

Figura 5: Bateira de 6 metros de comprimento

Fonte: Dados da pesquisa.

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Figura 3: Detalhamentos das etapas de produção de uma embarcação pequena em Conceição da Barra.Fonte: Dados da pesquisa.

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O processo começa com na etapa de construção das laterais, para isso é necessário ter a madeira que será o bico do barco e as madeiras utilizadas para as laterais com as dimensões de 6 m x 0,4 m. O Mestre prega as laterais no bico e trabalha galgando (moldar o formato do barco). Em seguida um pedaço de madeira de 4 cm de espessura, 1 m de comprimento, 0,4 cm de largura é trabalhado para fazer a popa da embarcação que depois é pregada. A próxima atividade exige que o mestre vire o barco para baixo para a construção da estrutura do casco, portanto ele prega os caibros para formar as cavernas, antes disso os caibros são trabalhados e colocados nos tamanhos e formatos corretos. Na etapa seguinte, há a preparação e os cortes da madeira, 2 chapas de compensado naval, que irão compor o fundo da embarcação. Depois de prontas o mestre faz a montagem do fundo na estrutura. A calafetagem é o processo de vedar as frestas existentes entre as madeiras, primeiro o mestre coloca o calafeto (espécie de corda) com auxílio de uma ferramenta e para concluir ele passa a cola araudite. Para terminar a parte de construção da estrutura, o barco recebe 3 madeiras que são trabalhadas e cortadas para servirem como bancos no barco. O acabamento é dividido em: aplicação das bordas, superiores e inferiores, feito com as madeiras que sobram nas outras etapas do processo, a aplicação da cola araudite no casco, esse método serve como proteção contra a degradação da madeira feita proliferação das colônias, sujeiras e lodo. Última é a aplicação da tinta, pintura do barco.

Os custos do processo da construção (que variam com o volume e estão relacionados diretamento a fabricação do produto) da embarcação podem se separados por etapas. Identificando os que são variáveis e os que estão relacionados aos materiais diretos, são eles: Madeira angelim pedra, calafeto, tinta, prego, e cola para calafetagem. O custo relacionado à mão-de-obra direta, foi estipulado pelo próprio mestre Elizeu. O custo variável e direto teve um total de R$ 2.798. A Tabela 1 mostra o detalhamento dos custos. Tabela 1: Custos Variáveis e diretos na construção do barco

Custos Etapas do processo Subprocessos Custo Total

Bico Madeira Angelim pedra 1 R$ 70,00

Colocar madeiras na

lateralMadeira( 6 m x 0,4 m)

Angelim pedra 5 m² 350,00R$

Construção da popa Madeira m² 80,00R$

Construção das

cavernas

Construçãos dos

caibros Madeira 15 m² 300,00R$

Preparação do fundoPreparação das chapas

e montagem Madeira

Chapa de compensado

naval 2 unidade 280,00R$

Calafeto 80,00R$

Cola para calafetagem Araudite 60,00R$

Colar os bancos Madeira (1m x 0,2 m) Angelim pedra 0,6 m² 40,00R$

Construção das bordas

superiores Madeira

Banho de araudite Cola para calafetagem

Pintura Tinta 100,00R$

20 kg 38,00R$

R$ 1.398,00

Mão-obra-direta 700,00R$

700,00R$

R$ 2.798,00

Materiais diretos

CUSTO TOTAL COM MATERIAIS

Construtor mestre Elizeu

CUSTO TOTAL COM MÃO-DE-OBRA

CUSTO TOTAL DA FABRICAÇÃO

Acabamento

Pregos gastos no processo todo

Quantidade gasta

Construção das laterais

Componentes

Calafetagem

As ferramentas e máquinas usadas no processo são usadas para calcular o valor do investimento de se montar um estaleiro como o do Mestre Elizeu, o valor desse custo inicial foi de R$ 1449,67. Os equipamentos usados no estaleiro são: martelo, plaina elétrica, serra circular, formão, furadeira, serrote, espátula, corda e trena.

4 Conclusão

Com relação ao diagnóstico do processo de construção da baitera, pequena

embarcação, no município de Vitória. Pode-se identificar os elementos que possuem maior representatividade sobre os valores dos custos do produto. Os resultados mostram que 67% do custo total representa os gastos com materiais diretos e 33% são gastos com mão-de-obra direta. A madeira angelim pedra foi o item responsável por 86% dos valores com matérias-primas. Os

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custos inditeros com mão-de-obra não foram identificados por ser uma atividade realizado apenas pelo mestre Elizeu. O valor de venda da embarcação é baseado no critério de acrescentar R$700 aos custos obtidos com os materiais, essa valor é o custo com mão-de-obra. Sendo assim, a dificuldade principal para o diagnóstico das embarcações de pequeno porte em Conceição da Barra será a separação dos materiais usados em cada etapa do processo, uma vez que não há registro das operações, apenas o conhecimento empírico do artesão. Por isso o método de levantamento de custos necessitará de várias visitas técnicas aos estaleiros e aplicação de entrevistas para melhor respladar os valores obtidos na pesquisa. Além disso com a constatação do custo inicial necessário para o funcionamento do estaleiro será possível fazer análises econômicas como: VPL( Valor presente Líquido, usado para analisar a viabilidade do empreendimento) e Payback ( Prazo de recuperação do investimento).

5. Referências

ANTUNES, J. et al. Sistemas de Produção: Conceitos e Práticas para Projetos e Gestão da Produção Enxuta. São Paulo: Bookman, 2008. BARBOZA, T. L. O Atual Cenário da Construção Naval Civil e Militar No Mundo, Incluindo o Subcenário Brasileiro. 2003. Disponível em :< http://www.basemilitar.com.br/forum/viewtopic.php?f=24&t=2873&start=30>. Acesso em: 16 Out. 2012 DAVIS, M. M.; AQUILANO, N,J; CHASE, R.B. Fundamentos da Administração da Produção. 3. ed. Porto Alegre : Bookman,1999. FILHO, D. V. Construção Naval Tradicional no Brasil: Canoas. 2003. Disponível em: < http://www.mao.org.br/fotos/pdf/biblioteca/vieira_01.pdf>. Acesso em: 15 out. 2012.

JIAMBALVO, J.Contabilidade Gerencial. 3. ed. São Paulo: Ltc, 2009. KRAJEWSKI,J. L.; RITZMAN, L. P. Administração da Produção e Operações. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2004. LUSTOSA, L. et al. Planejamento e Controle da Produção. Rio de Janeiro : Elsevier, 2008. PADOVEZE, C.L. Gerencial De Custo. São Paulo: Atlas, 2003

SALORTE, L. M. L. Carpinteiros dos Rios: O saber da construção naval no município de Novo Airão/AM. Manaus , 2010. Disponível em: <http://ppgsca.ufam.edu.br/attachments/132_Vers%C3%A3o_PDF_B.pdf>. Acesso em: 14 Out. 2012. SHINGO,S. O Sistema Toyota de Produção: Do ponto de vista da Engenharia de Produção. 2. ed. Porto Alegre : Bookman, 1996. SLACK, N.; CHAMBERS, S.; JOHNSTON, R. Administração da Produção. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2009. REOCITES. Nomenclatura do Navio. 2009. DISPONÍVEL EM: < http://www.reocities.com/Pentagon/base/2844/constemb.htm >. Acesso em: 14 de Out. 2012.