DIAGNÓSTICO DA INADIMPLÊNCIA DA CARTEIRA DE CLIENTES DA EMPRESA X · 2019. 9. 12. · Dessa forma...

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DIAGNÓSTICO DA INADIMPLÊNCIA DA CARTEIRA DE CLIENTES DA EMPRESA X Fabiane Schmiedel de Andrade 1 Carina Inês Panke da Silva 2 RESUMO Este estudo tem foco em diagnosticar a inadimplência apurada pela área financeira da empresa “X” do ramo de refeições suas causas e também analisar formas de minimizar esta inadimplência. Metodologicamente, trata-se de um estudo de caso de natureza descritiva e exploratória e foi elaborado à partir de documentos contábeis e relatórios internos fornecidos pela empresa. Neste sentido, o objetivo geral do trabalho centrou-se em evidenciar a relevância do sistema de controles financeiros adotados pela empresa, seu desenvolvimento e resultados alcançados. Constatou-se que os índices de inadimplência encontravam-se altos, porém com a implementação de algumas medidas, como readequação do quadro funcional e inclusão de cláusulas contratuais, estes índices apresentam sensível redução . Palavras-chave: Inadimplência. Controle Financeiro. Fluxo de Caixa. ABSTRACT This study intents to analize the default indexes, searched by the financial area of the company “X”, its causes and also to analize ways of minimizing these indexes. About the motodology, this is a discriptive and exploratory case study and it has been done by using accounting documents and internal reports provided by the company. In this way, the purpose of this study was focused on showing the relevance of the financial control’s system of the company, it’s development and the results. So, we found out that the default indexes were very high, but with some measures implementation, these indexes showed significant reduction. Key-words: Searched. Financial Control’s. Credit Risk 1 INTRODUÇÃO A administração financeira representa uma das principais atividades da empresa e por isto se fazem necessários o planejamento e controle dos créditos concedidos aos clientes. 1 Acadêmica do Curso de Administração da Faculdade Dom Alberto 2 Orientadora, Professora do Curso de Administração da Faculdade Dom Alberto

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  • DIAGNÓSTICO DA INADIMPLÊNCIA DA CARTEIRA DE CLIENTES DAEMPRESA X

    Fabiane Schmiedel de Andrade1Carina Inês Panke da Silva2

    RESUMO

    Este estudo tem foco em diagnosticar a inadimplência apurada pela área financeirada empresa “X” do ramo de refeições suas causas e também analisar formas deminimizar esta inadimplência. Metodologicamente, trata-se de um estudo de casode natureza descritiva e exploratória e foi elaborado à partir de documentoscontábeis e relatórios internos fornecidos pela empresa. Neste sentido, o objetivogeral do trabalho centrou-se em evidenciar a relevância do sistema de controlesfinanceiros adotados pela empresa, seu desenvolvimento e resultados alcançados.Constatou-se que os índices de inadimplência encontravam-se altos, porém com aimplementação de algumas medidas, como readequação do quadro funcional einclusão de cláusulas contratuais, estes índices apresentam sensível redução. Palavras-chave: Inadimplência. Controle Financeiro. Fluxo de Caixa.

    ABSTRACT

    This study intents to analize the default indexes, searched by the financial area ofthe company “X”, its causes and also to analize ways of minimizing these indexes.About the motodology, this is a discriptive and exploratory case study and it hasbeen done by using accounting documents and internal reports provided by thecompany. In this way, the purpose of this study was focused on showing therelevance of the financial control’s system of the company, it’s development and theresults. So, we found out that the default indexes were very high, but with somemeasures implementation, these indexes showed significant reduction.

    Key-words: Searched. Financial Control’s. Credit Risk

    1 INTRODUÇÃO

    A administração financeira representa uma das principais atividades da

    empresa e por isto se fazem necessários o planejamento e controle dos créditos

    concedidos aos clientes.

    1 Acadêmica do Curso de Administração da Faculdade Dom Alberto2 Orientadora, Professora do Curso de Administração da Faculdade Dom Alberto

  • Porém para adaptarem-se à nova economia, as empresas precisam

    conscientizar-se de que a inovação é a chave para competitividade, exigindo-se dos

    administradores atitudes e técnicas cada vez mais eficazes.

    Neste sentido e frente a este ambiente cada vez mais competitivo, dinâmico e

    instável, justifica-se a necessidade da análise do percentual de inadimplência de

    clientes, suas causas e as medidas a serem adotadas para minimização dos

    impactos que esta inadimplência poderá causar ao setor financeiro da empresa “X”.

    do ramo de refeições.

    Diante deste cenário a administração de contas a receber tornou-se um fator

    fundamental e de relevância na busca da sustentabilidade e competitividade das

    empresas no mercado. Com base neste contexto, o problema de estudo é: Quais

    são as causas da inadimplência de clientes na Empresa “X” do ramo de refeições ?

    O objetivo geral deste trabalho resume-se em analisar causas da

    inadimplência de clientes da empresa “X”, e identificar medidas a serem adotadas

    para redução desta inadimplência, identificando até que ponto a análise de crédito e

    a política de cobrança interferem nos resultados e como deverão ser as políticas

    adotadas que visam maximizar o valor de mercado da empresa. Além disso,

    também apurar percentual de inadimplência que clientes representam em

    comparação ao total faturado em um período na empresa “X” e identificar fatores

    que possam influenciar na inadimplência de clientes.

    Nesta perspectiva é importante salientar que a realização do estudo pode

    trazer algumas contribuições e que a investigação surge pelo motivo de que o

    desenvolvimento de um comportamento operacional compatível com a estratégia

    definida é fortemente influenciado pelo acompanhamento de indicadores de

    desempenho que monitoram as atividades que agregam valor aos negócios.

    Dessa forma o tema proposto no trabalho possui relevância ao refletir o valor

    da empresa “X” do ramo de refeições no mercado, suas políticas financeiras e

    entraves comerciais.

    2 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

    Para que a empresa se torne eficaz, eficiente e efetiva, ela deve medir o

    desempenho atual da organização. Todavia, para mensurar o valor de cada

    informação o gestor precisa dispor da informação de modo que ela reduza as

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  • incertezas e que aumente a qualidade da decisão além de uma boa política de

    cobrança (DIAS et al, 2003).

    Muitos empreendedores não percebem que o controle financeiro pode ser

    mais importante quando um negócio está indo bem, do que em um momento crítico.

    Por isso, enfatizar o controle do fluxo de caixa é fundamental. A finalidade da política

    de cobrança existe para que as vendas já efetuadas efetivamente transformem-se

    em recebimentos (DIAS et al, 2003).

    2.1 Risco de Crédito

    A política de crédito de uma empresa define os parâmetros com os quais a

    empresa irá trabalhar para realizar vendas a prazo sem afetar os níveis de capital de

    giro de suas atividades e a sua rentabilidade. Nesse contexto, facilitar o fechamento

    das vendas por meio de concessão de crédito tem sido uma estratégia cada vez

    mais utilizada pelas empresas, para manter uma carteira de clientes fiéis e alavancar

    suas receitas.

    Conforme Gitman (2001), risco pode ser definido como “possibilidade de

    prejuízo financeiro”, ou seja, a possibilidade que os resultados realizados sejam

    diferentes daqueles esperados, afetando os lucros.

    Blatt (1998) complementa que os créditos mal analisados podem trazer

    grandes problemas financeiros à empresa. É na análise de crédito que uma

    empresa pode aumentar sua receita e minimizar os riscos associados às vendas a

    prazo. O prazo concedido aos clientes para fazer seus pagamentos é um dos pilares

    da política de crédito de uma empresa, pois afeta vários de seus parâmetros

    econômicos.

    2.2 Fluxo de Caixa

    No contexto mundial, em virtude da complexidade da economia, da expansão

    e competitividade dos mercados, verifica-se uma crescente necessidade das

    empresas em buscarem instrumentos que as auxiliem no planejamento e controle de

    seus recursos para que estes sejam usados de maneira adequada, a fim de alcançar

    o objetivo almejado pela empresa. O sucesso empresarial demanda cada vez mais o

    uso de práticas financeiras apropriadas, como o fluxo de caixa (SANTOS, 2001).

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  • Segundo SEBRAE (2004), o fluxo de caixa retrata o movimento real do caixa

    no mês, necessário para complementar a análise financeira da empresa, evitando

    assim ajuste de caixa por meio de empréstimos a bancos, os quais se realizados as

    pressas, acabam tornando-se dispendiosos para a empresa. É um dos instrumentos

    mais eficientes de planejamento e controle financeiro, o qual poderá ser elaborado

    de diferentes maneiras, a fim de permitir que visualize os futuros ingressos de

    recursos e os respectivos desembolsos.

    2.3Inadimplência

    O cenário contemporâneo, esta vivenciando aceleradas e profundas

    transformações, e para que as empresas adaptarem-se a nova economia é exigido

    dos administradores atitudes e técnicas cada vez mais eficientes e eficazes que

    propiciem respostas com alternativas rápidas, tangíveis e claras, pois o fracasso

    organizacional muitas vezes pode depender da aplicação desses elementos para a

    solução de problemas.

    Segundo Blatt (1998), inadimplente é quando uma pessoa não cumpre as

    suas obrigações contratuais, é a falta de cumprimento do contrato ou de qualquer de

    suas condições.

    Guimarães et al. (2002) ressalta que a inadimplência é um dos maiores

    problemas hoje enfrentados pelos administradores. É importante que se utilizem

    instrumentos de apoio às empresas para que, tanto no aspecto gerencial quanto

    financeiro, possam sanar esse mal que atinge muitas empresas.

    Para evitar alguns problemas futuros como a inadimplência, é preciso ser

    cauteloso no momento da venda, sendo necessário seguir algumas regras como:

    exigir a apresentação do CNPJ, efetuar a confirmação dos dados do cliente,

    consultar o SERASA, atualizarem dados cadastrais de clientes antigos e políticas de

    crédito bem estruturadas, onde fique assegurada à empresa o recebimento de

    créditos no futuro. O SEBRAE (2004) orienta empresários no sentido de evitarem a

    inadimplência como à cobrança instantânea onde quanto menos tempo estiver

    vencida a dívida, mais eficaz será a redução da inadimplência.

    Neste sentido, segundo Gitman (2001) política de cobrança são

    procedimentos utilizados pelas empresas para cobrar contas vencidas de seus

    clientes, e de acordo com Blatt (1998) o profissional de cobrança deve sempre estar

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  • atento a sinais de mudança no comportamento do cliente como, solicitações de

    prorrogações no vencimento, pequenos atrasos, pagamento de títulos em cartório,

    atitudes que demonstram que o cliente está passando por dificuldades financeiras,

    por outro lado a política de crédito também deve estabelecer ações a serem

    tomadas em relação aos clientes inadimplentes, como método de cobrança e

    critérios para protesto de duplicatas, bem como definir uma filosofia de negociação.

    A formalização do acordo de crédito por meio de um contrato bem elaborado é uma

    condição fundamental para assegurar ao credor o direito de receber.

    Apesar da possibilidade de que fatores inesperados e adversos possam

    ocorrer e inviabilizar o cumprimento da obrigação, não há dúvida de que a análise de

    crédito presta grande contribuição para a manutenção e o gerenciamento de uma

    carteira de crédito saudável.

    A inadimplência, esta cada vez mais presente nas organizações devido a

    fatores como: má concessão de crédito, legislação vigente, falta de adaptação das

    organizações à nova realidade de mercado, e cabe a cada empresa se organizar

    para minimizar a inadimplência de seus clientes.

    2.4 Como lidar com a inadimplência

    Para lidar com a inadimplência, é preciso antes conhecê-la bem, sabendo

    quais os fatores que a ocasionaram. A partir daí, deve-se utilizar práticas

    preventivas, podendo desta forma controlá-la. Desta maneira o empresário deve

    verificar: sazonalidade, ou seja, em que épocas do ano a inadimplência é maior ou

    menor, quantidades de faturamentos em atraso e valor médio dos faturamentos em

    atraso (BLATT, 1998).

    Conforme levantamento do SEBRAE (2004), as empresas dos setores de

    comércio e de serviços, sofrem um aumento nos índices de inadimplência de

    clientes nos três primeiros meses do ano, em decorrência das vendas efetuadas no

    mês de dezembro. E é justamente nestes meses iniciais que ocorrem as quedas nas

    atividades destes setores empresariais.

    A inadimplência pode causar dificuldades financeiras, provenientes de fluxos

    de caixa onde as operações geradas na empresa não são suficientes para cobrir as

    operações correntes, forçando a empresa a tomar providências corretivas que são

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  • diferentes das que seriam adotadas caso o fluxo de caixa fosse suficiente. (Ross et

    al, 2002).

    Segundo orientações do SEBRAE (2004), as empresas que conseguem maior

    sucesso na recuperação de crédito são aquelas que adotam "ações de cobrança”.

    Deve-se questionar o motivo do atraso, ouvir suas alegações e utilizar argumentos

    para tentar convencê-lo a quitar o débito imediatamente.

    Outro fator é a flexibilidade, a empresa deve ser flexível na hora de cobrar,

    apresentando alternativas negociais que visem facilitar a recuperação dos créditos,

    por meio de acordos e renegociações que interessem ao cliente e à empresa.

    Critérios e parâmetros muito rigorosos podem inviabilizar o recebimento.

    O objetivo principal das ações de cobrança é recuperar o crédito sem causar

    constrangimento e conflitos desnecessários.

    Uma das grandes vantagens é padronizar os procedimentos de cobrança,

    pois é a garantia de que serão utilizados mecanismos uniformes nesse trabalho,

    fazendo com que os clientes sejam atendidos da mesma forma e com os mesmos

    critérios por todos os colaboradores, o que contribui para a efetividade na

    recuperação do crédito.

    3 METODOLOGIA

    Metodologicamente, este estudo se caracteriza por ser um estudo de caso,

    onde a pesquisa será bibliográfica documental, em caráter descritivo e exploratório.

    Documental, porque se baseia em documentos contábeis e relatórios financeiros

    internos da empresa “X”, que dizem respeito ao objeto de estudo.

    Enquanto a pesquisa bibliográfica se utiliza das contribuições dos diversos

    autores sobre determinado assunto, a pesquisa documental refere-se a materiais que

    não receberam um tratamento analítico. Entende-se como sendo pesquisa

    documental a utilização de relatórios de cunho financeiro fornecidos pela empresa,

    relatórios para construção de gráficos e respectivas análises.

    Foi também realizada entrevista não estruturada, que conforme Lakatos e

    Marconi (2002) é onde o entrevistador tem liberdade para discorrer sobre cada

    situação. Neste caso a entrevista não estruturada caracterizou-se pela realização de

    diversos encontros e reuniões informais à cerca do assunto Inadimplência com

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  • gerente financeira do grupo.

    4 DESCRIÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

    De acordo com o que se pode verificar durante as visitas, foram observados

    alguns dados relevantes para este estudo como, primeiramente, que o setor de

    vendas ou comercial da empresa “X” possui um papel fundamental e de grande

    importância para a saúde financeira da própria empresa, pois é nele que todo o

    processo tem início, e é nesta fase que precisam ficar bem definidos os objetivos da

    empresa em relação às questões financeiras, como cláusulas prevendo possível falta

    de pagamento por parte dos clientes. Segundo, não havia interação entre setor

    comercial e setor financeiro para pré-análise de cada cliente novo e quais os custos

    incidentes a valores inadimplentes que estes clientes poderiam gerar a Empresa “X”

    caso não paguem seus valores na data de vencimento.

    À medida que o estudo foi avançando, já foram sugeridas pela acadêmica

    algumas medidas a serem adotadas pela empresa, medidas estas que depois de

    implantadas resultaram em melhorias nos percentuais de inadimplência da empresa.

    Para que a empresa pudesse ter uma dimensão das dificuldades foram

    criados e implantados pelo setor financeiro da empresa “X” indicadores de

    desempenho, indicadores estes que podem dar a empresa uma idéia exata dos

    níveis de inadimplência de seus clientes, as possíveis causas, além de demonstrar o

    que estes percentuais de inadimplência representam em termos de perdas de

    receita. Outro fator importante é o acompanhamento do fluxo de caixa, instrumento

    que auxilia no planejamento e controle de seus recursos para que estes sejam

    usados de maneira adequada, a fim de salvaguardar a atividade empresarial e

    alcançar o objetivo almejado pela empresa.

    A empresa também sofre com a sazonalidade dos produtos de alguns clientes,

    pois possui em sua carteira clientes que trabalham com safra e entressafra, exigindo

    assim um esforço e um planejamento focados em administrar o equilíbrio entre as

    receitas e as despesas destes períodos. Um dos instrumentos utilizado é o fluxo de

    caixa para fins de controle e planejamento, para conhecer antecipadamente o

    montante de recursos a receber e quanto disto será necessário para quitar

    compromissos e contas a pagar da empresa. Observa-se também deficiência no

    quadro de pessoas no setor de contas a receber e cobrança, para efetivarem

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  • diariamente a cobrança dos clientes inadimplentes e tentar a recuperar de forma

    mais rápida estes valores pendentes, reduzindo assim automaticamente estes

    percentuais de inadimplência. Em função disto ocorreu a divisão das áreas de

    faturamento e contas a receber, além disto, clientes inadimplentes ou com problemas

    na consulta de cadastro, só recebem o produto da empresa “X” perante pagamento à

    vista.

    Estes índices podem ser claramente vistos nos gráficos abaixo construídos a

    partir das informações e dados fornecidos pela empresa, como relatórios onde

    através do total da carteira de clientes mensais apurou-se o percentual inadimplente

    desta carteira.

    GRÁFICO 1Percentual médio mensal de inadimplência sobre carteira de clientes Empresa

    “X”

    Fonte: Dados construídos segundo financeiro Empresa “X”.

    Na empresa “X” no ano de 2007, ano em que foi mensurada a inadimplência

    dos clientes da empresa, percebe-se que durante todo o ano os percentuais de

    inadimplência se mostraram bastante elevados (gráfico 1), uma vez que a política da

    empresa é de admitir no máxima de 3 a 5% de inadimplentes, e foi constatado que

    este fator comprometia em torno de 20% do faturamento total mensal (gráfico 2).

    Para não deixar que este percentual tomasse proporções ainda maiores algumas

    atitudes foram tomadas. Foi neste ano que a empresa apurou percentuais para após

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  • inserir alguns planos de ação.

    GRAFICO 2Gráfico de média anual dos índices de inadimplência e perdas da empresa “X”

    *Ano de 2010, Primeiro semestre.Fonte: Dados construídos segundo financeiro Empresa “X”.

    Na empresa “X” em 2008, percebe-se que os meses iniciais do ano em virtude

    dos altos valores de 2007, da entressafra, de férias coletivas e recesso de final de

    ano de muitos dos clientes da empresa “X”, estes percentuais apresentam-se ainda

    bastante altos (gráfico 1). Porém nos meses de março à setembro, com a

    implantação dos indicadores, da padronização dos procedimentos de cobrança

    através da contratação de uma pessoas específica para esta área, do empenho em

    recuperar valores e da implantação de algumas normas como o alinhamento do

    contrato com as políticas de crédito da empresa, além das vendas à vista e do

    período de plena safra de vários clientes, percebe-se uma considerável queda na

    inadimplência, permanecendo em torno de 8% a média anual (gráfico 2). Mas nos

    últimos 2 meses do ano, período de entressafra para vários clientes, pela

    sazonalidade dos produtos oferecidos por estes clientes e com a chegada do final de

    ano, recesso e férias coletivas, observa-se novamente elevação destes índices.

    Na empresa “X” no ano de 2009 nos primeiros meses percebe-se que o

    reflexo das férias coletivas, causa grande elevação nos índices novamente.

    Mas verifica-se que apesar dos percentuaus ainda estarem mensalmente

    elevados com a adoção de alguns planos de ação, a média da inadimplência já sofre

    uma redução considerável, ficando assim em torno de 14% no ano (gráfico 2). Além

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  • de que nos períodos de final de ano, um grupo de clientes da empresa “X”, sofre uma

    redução na produção e no consumo, ou seja, os consumidores dos produtos

    fornecidos pelos clientes da empresa “X” diminuem consideravelmente a demanda de

    produtos durante este período reduzindo assim, também a receita do cliente da

    empresa “X”. Porém observa-se também nitidamente que nos últimos três meses do

    ano de 2008 e nos primeiros meses do ano de 2009 estes percentuais estão bastante

    altos devido à grande influência que a crise mundial causou ao mercado interno e

    externo. Clientes se utilizam desta desculpa para justificarem uma série de atrasos

    em seus pagamentos, uma vez que vários clientes têm a exportação de seus

    produtos como sua maior fonte de receita, o que afeta diretamente o fluxo de caixa

    da empresa causando assim reflexos e impactos na área financeira.

    No ano de 2010, percebe-se que nos primeiros meses do ano (gráfico 1),

    novamente os valores se apresentam elevados, mas nos meses seguintes, quando

    os clientes retornam à suas atividades (início do período de safra), estes percentuais

    sofrem grande redução. Além disso, nos percentuais de média anual, também há

    uma grande diferença ficando este percentual em torno de 6% (gráfico 2). Assim de

    ano a ano nota-se um resultado positivo na redução dos percentuais da

    inadimplência.

    No gráfico 3 fica claramente registrado que no período de janeiro/2007 a

    julho/2010 a carteira de clientes não sofreu alterações, não sendo a perda de algum

    clientes ou quantidade de clientes da empresa “X” responsável direta pela diminuição

    dos percentuais de inadimplência, pois o número de clientes praticamente se mantém

    na medida em que a oscilação dos percentuais de ano a ano é facilmente percebida.

    GRÁFICO 3 Gráfico da carteira de clientes dos anos de 2007, 2008, 2009 e 2010.

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  • Fonte: Dados construídos segundo financeiro Empresa “X”.

    Nos gráficos 1 e 2 observa-se que no ano de 2007, onde foram implantados os

    indicadores de desempenho para acompanhamento dos percentuais de

    inadimplência na empresa “X”, os percentuais apresentavam-se bastante elevados

    pelo motivo de que até então a empresa não realizar acompanhamento destes

    percentuais em relação ao faturamento mensal total, por isso não sabia o quanto

    estes percentuais estavam comprometendo do total de seus valores a receber, e

    ainda não acompanhavam o fluxo de caixa da empresa, instrumento este que auxilia

    no planejamento e controle de seus recursos para que estes sejam usados de

    maneira adequada, a fim de preservar a atividade empresarial e alcançar o objetivo

    almejado pela empresa. Mas no ano de 2008, após a implantação dos indicadores,

    demonstrando claramente os percentuais de inadimplência, algumas ações

    corretivas, ou planos de ação, foram incorporados, para isso houve a inclusão do

    setor comercial da empresa ao processo de contas a receber e cobrança. Uma das

    ações tomadas foi em relação aos contratos, pois estavam sendo mal elaborados.

    Foram incluídas cláusulas contratuais prevendo pagamento de juros e custos aos

    valores atrasados dos clientes inadimplentes através do alinhamento do contrato com

    as políticas de crédito e objetivos da empresa. A cada vencimento de contrato, as

    alterações são feitas e aos poucos estas cláusulas estão sendo inseridas a todos os

    clientes até que se atinja 100% dos contratos vigentes.

    Também em 2008 foi contratada uma pessoa específica para a recuperação

    dos valores atrasados, ficando ela responsável por todos os contatos e

    renegociações de dívidas com clientes inadimplentes, ou seja, houve a padronização

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  • do processo de cobranças. Outra medida adotada é a de antes de fecharem contrato

    com novos clientes está sendo feita uma consulta detalhada dos dados cadastrais e

    atual situação financeira deste, sem aprovação de crédito não haverá fornecimento.

    Além disto, para tornar a empresa mais eficiente estão sendo implantadas

    políticas de equilíbrio de receitas e despesas em períodos de sazonalidade dos

    clientes, ou seja, não fazer novos investimentos quando a entrada da receita diminui

    em virtude da entressafra dos clientes, evitando assim utilização de empréstimos e

    de capitais de terceiros associado a seus altos custos. Com a implantação destas

    ações os percentuais de inadimplência reduziram consideravelmente, mantendo uma

    média de 8% de inadimplência ao ano.

    Mesmo com os percentuais tendo sofrido considerável redução, ao final do

    ano de 2008 com o anúncio da crise mundial, várias foram as dificuldades

    enfrentadas pelos clientes que tem como foco a exportação, assim estes percentuais

    elevaram-se nos primeiros meses de 2009 pelo motivo de que a crise estar atingindo

    a vários setores, além de férias coletivas de vários clientes, porém reduzindo nos

    meses seguintes em virtude dos vários esforços dispensados na redução da

    inadimplência. O mercado em geral estava bastante vulnerável durante o primeiro

    semestre do ano de 2009. No segundo semestre a economia já voltava a se

    estabilizar, mas mesmo assim houve um aumento na média mensal do ano ficando

    esta em torno de 14%.

    Para os seis primeiros meses de 2010 percebe-se que novamente os meses

    de janeiro e fevereiro sofrem aumento na inadimplência, mas logo em seguida

    recupera-se boa parte destes valores levando à média mensal a casa dos 7%.

    Assim verifica-se que no ano de 2007, ou da inclusão dos indicadores, pouco

    foram os percentuais ou valores inadimplentes recuperados da empresa “X”, porém

    no ano de 2008 com a efetiva implantação de alguns planos de ação já verificou-se

    uma melhora na obtenção de resultados, ou seja, uma boa redução nos percentuais

    de inadimplência. Em 2009 apesar dos vários esforços e melhorias implantadas,

    fatores externos, como a crise mundial, tiveram uma grande influência na elevação

    dos percentuais de inadimplência, porém com a estabilização da crise, com a

    padronização da cobrança através da pessoa contratada para recuperação dos

    valores em atraso e com as novas políticas de crédito implantadas o primeiro

    semestre mostra-se bastante positivo. O que demonstra que todos os esforços

    dispensados para e redução dos percentuais de inadimplência da empresa “X” estão

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  • apresentando resultados, aumentando assim rentabilidade e boa saúde financeira da

    empresa.

    Outro fator observado e que vem ao encontro com o que foi descrito no

    referencial teórico (SEBRAE, 2004), sempre ocorre um aumento de inadimplêncianos três primeiros meses do ano, tornando-se sensivelmente menor durante o ano.

    A expansão do volume de crédito concedido, a formulação de contrato mal

    elaborado e a falta de padronização da cobrança, além da crise econômica mundial,

    combinadas com a queda no ritmo das atividades acabam sendo os principais

    responsáveis pelo crescimento da inadimplência na Empresa “X”. A empresa

    precisou adotar melhores práticas nos processos de concessão e gerenciamento de

    crédito, de forma a equilibrar riscos assumidos com o retorno desejado, atitude esta

    que foi dando resultado à medida que começaram a ser implantados os indicadores

    de desempenho.

    CONSIDERAÇÕES FINAIS

    Considerando-se que a inadimplência é prejudicial às organizações, é

    necessária a análise de suas causas para que seu índice não se eleve, para tanto se

    faz necessário adotar medidas que minimizem os efeitos negativos causados pela

    inadimplência.

    Após o estudo, foi constatado que as maiores causas da inadimplência de

    clientes da empresa “X” são:

    - a falta de organização e estruturação do setor financeiro da empresa, que

    não possuia um controle de entradas e saídas de capital (fluxo de caixa);

    - a sobrecarga de uma só pessoa que tinha a tarefa de faturar e cobrar

    clientes, deixando a desejar quanto controle e diminuição da inadimplência;

    - carência de padronização dos processos de cobrança;

    - a sazonalidade empresarial dos clientes;

    - contratos mal elaborados com a falta de cláusulas que prevêem atrasos de

    pagamento.

    Neste sentido foram mensurados os percentuais de inadimplência, para que a

    empresa pudesse ter uma medição exata destes percentuais e quanto eles

    representam do total da carteira de clientes. Foi elaborado o Fluxo de Caixa para

    verificar quais as possíveis conseqüências financeiras causadas pela inadimplência,

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  • como por exemplo, a necessidade de busca de recursos externos.

    Para sanar mais uma das causas, foi contratado um colaborador para o Setor

    Financeiro, especificamente para cobrança de forma padronizada, além da

    flexibilização e renegociações das dívidas de alguns clientes no sentido de reduzir as

    perdas nas receitas e os percentuais de inadimplência dos clientes.

    Por parte da área comercial da empresa houve a inclusão da cláusula de juros

    e custos por conta da recuperação de valores em atraso, o que acaba alinhando os

    contratos com a real política de crédito da empresa, contribuindo desta forma para a

    efetiva recuperação de seus créditos, tornando-se relevante na busca da

    sustentabilidade e competitividade da empresa “X” no mercado.

    O setor comercial tem grande importância no resultado do desempenho da

    empresa, já que deveria conhecer os clientes para quem vai fornecer, ou ao menos

    os mais capacitados a pagar em dia seus compromissos. Como apresentado neste

    trabalho, é necessário que se utilizem medidas para a minimização dos impactos

    negativos causados pelas facilidades oferecidas pelo mercado e para tornar a

    decisão de crédito mais segura para ambas as partes.

    Se, apesar de todas as precauções tomadas para a concessão de crédito,

    ainda ocorrer à inadimplência, deverão os gestores estar preparados para a

    reversão, sob pena de inviabilização do negócio, através de uma análise do

    comprometimento à rentabilidade da empresa, pois os desembolsos de caixa serão

    supridos pelos valores em disponibilidade.

    Este estudo teve a finalidade de apresentar práticas e processos que

    minimizem os riscos de inadimplência e possibilitem à empresa a sobreviver no

    mercado, proporcionando condições aos gestores para através de uma forma

    bastante simples, agir proativamente na qualidade de seus créditos, representando

    uma fonte relevante para informar os elementos necessários ao processo decisório e

    consecutivamente, ao desenvolvimento e continuidade empresarial.

    REFERÊNCIAS

    BLATT, Adriano. Dicas para conceder créditos com menores riscos. Salvador: Casa de Qualidade, 1998.

    BLATT, Adriano. Crédito Problemático e Inadimplência: um enfoque estratégico dacobrança e recuperação de crédito. 2 ed. São Paulo: Editora STS, 1998.

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    DIAS, Reinaldo; CASSAR, Maurício; ZAVAGLIA Tércia: Da Competitividade àSustentabilidade. Campinas: São Paulo, Editora Alínea, 2003.

    GITMAN, Lawrence J. Princípios de Administração Financeira. 7. Ed. São Paulo:Harbra, 2001.

    GUIMARÃES, Inácio Andruski, CHAVES, A. N. Reconhecimento de padrões:metodologias estatísticas em crédito ao consumidor. ERA Eletrônica, v. 1, n.2, 2002.

    LAKATOS, E. M. e MARCONI, M. A. Fundamentos de Metodologia Científica. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002.

    ROOS, Stephen A. WESTERFIELD, Randolph W. e JAFFE, Jefrey. CorporateFinance. São Paulo: Atlas, 2002.

    SANTOS, Edno Oliveira dos. Administração Financeira de Pequena e MédiaEmpresa. São Paulo: Atlas, 2001.

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    DIAGNÓSTICO DA INADIMPLÊNCIA DA CARTEIRA DE CLIENTES DA EMPRESA XRESUMOABSTRACT