diálise peritonial

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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-ÁRIDO DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS ANIMAIS CLÍNICA MÉDICA DE PEQUENOS ANIMAIS OSIRIS MARQUES FRANCO DIÁLISE PERITONEAL EM PEQUENOS ANIMAIS: RELATO DE CASO SÃO PAULO SP 2012

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diálise peritonial

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-RIDO

    DEPARTAMENTO DE CINCIAS ANIMAIS

    CLNICA MDICA DE PEQUENOS ANIMAIS

    OSIRIS MARQUES FRANCO

    DILISE PERITONEAL EM PEQUENOS ANIMAIS:

    RELATO DE CASO

    SO PAULO SP

    2012

  • OSIRIS MARQUES FRANCO

    DILISE PERITONEAL EM PEQUENOS ANIMAIS:

    RELATO DE CASO

    Monografia apresentada Universidade Federal Rural

    do Semi-rido UFERSA, como exigncia final para

    a obteno do ttulo de especializao em Clnica

    Mdica Veterinria de Pequenos Animais

    Orientador: MSc Paulo Felipe Izique Goiozo

    SO PAULO SP

    2012

  • OSIRIS MARQUES FRANCO

    DILISE PERITONEAL EM PEQUENOS ANIMAIS:

    RELATO DE CASO

    Monografia apresentada Universidade Federal Rural

    do Semi-rido UFERSA, Departamento de Medicina

    Veterinria, para a obteno do ttulo de Especialista

    em Clnica Mdica Veterinria de Pequenos Animais

    APROVADA EM ___/___/___

    BANCA EXAMINADORA

    _______________________________

    Profo.

    Presidente

    ________________________________

    Profo.

    Primeiro Membro

    _________________________________

    Profo.

    Segundo Membro

  • AGRADECIMENTOS

    Agradeo minha esposa Mrcia, companheira de todos os momentos, e Yasmin, nossa

    filha querida cuja chegada mudou e alegrou nossas vidas.

    minha me, fonte de amor e doao incondicional.

    Ao Dr. Paulo Goiozo, pela orientao e apoio.

    equipe da Clnica Bontratto.

  • RESUMO

    A dilise peritoneal (DP) uma tcnica de substituio renal utilizada na Medicina,

    dependendo do pas, por aproximadamente 10 a 30% dos pacientes em tratamento para

    doena renal crnica em estgio terminal. Em Medicina Veterinria ainda pouco conhecida

    e pouco aplicada. A DP compreende a utilizao da membrana do peritnio para realizar

    trocas de solutos e gua entre o compartimento sanguneo e o meio externo, conseguindo

    assim a reduo sangunea de impurezas como a uria e a creatinina, e a reposio de

    potssio, lactato e aminocidos. Devido a seu custo baixo e fcil acesso, comparada

    hemodilise (HD), se apresenta como um importante recurso em casos de insuficincia renal

    aguda ou crnica, em intoxicaes, distrbios eletrolticos e cido-bsico e de temperatura

    corporal. Este trabalho tem por objetivo relatar um caso atendido na Clinica Veterinria

    Bontratto, em Jacare - SP, no ms de outubro de 2011. Foi tratado um canino com

    insuficincia renal aguda (IRA) consequente a leptospirose, que apresentava anria e sinais

    clnicos de uremia. O animal foi submetido a tratamento com dilise peritoneal, alm de

    fluidoterapia e tratamento medicamentoso. O tratamento com DP foi realizado durante dois

    dias, quando ocorreu a obstruo do cateter. O canino apresentou reduo dos nveis sricos

    de uria e creatinina, recuperao da anria e teve alta aps duas semanas. O resultado

    endossa a literatura de que a DP uma tcnica eficaz para a reduo da azotemia e pode ser

    aplicada mais amplamente na clnica de pequenos animais.

    Palavras-chave: Dilise Peritoneal, Insuficincia Renal Aguda em Ces, Insuficincia Renal

    Crnica em Ces.

  • ABSTRACT

    The peritoneal dialysis (PD) is a renal replacement technique used in the Medicine, depending

    on the country, by approximately 10 to 30% of patients in treatment for chronic kidney

    disease in end-stage. In Veterinary Medicine it is still little known and little applied. The PD

    includes the use of the peritoneum membrane to perform the exchange of solutes and water

    between the blood compartment and the external environment, thereby reducing blood flow of

    impurities such as urea and creatinine, and the replacement of potassium, lactate and amino

    acids. Due to its low cost and easy access, compared to the hemodialysis (HD), presents itself

    as an important tool in cases of renal failure, acute or chronic, in intoxications, electrolytes

    and acid-base disturbances and of body temperature. This work aims to report a case assisted

    in the Bontratto Veterinary Clinic, in Jacare SP, in October, 2011. It was treated a dog with

    acute renal injury (ARI) caused by leptospirosis, which showed anuria and clinical signs of

    uremia. The animal was submitted to treatment with peritoneal dialysis, and fluid and drug

    treatment. PD treatment was conducted for two days, occurring clogging of the catheter. The

    dog showed a decrease in serum urea and creatinine, anuria recovery and was discharged after

    two weeks. The result corroborates the literature that the PD is an effective technique for

    reducing azotemia and can be applied more widely in the clinic of small animals.

    Key words: Peritoneal Dialysis, Acute Renal Injury in Dogs, Chronic Kidney Disease in

    Dogs.

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1a Estrutura do peritnio ...........................................................................................13

    Figura 1b Modelo dos trs poros ...........................................................................................13

    Figura 2 Taxa de entrada de uria, creatinina e vitamina B12 na soluo de dilise deixada

    no abdome. Os resultados so expressados como a razo entre D:nvel no dialisato e P: nvel

    no plasma. So mostradas razes D/P tpicas para a uria aos 40 minutos, s 2 horas e s 4

    horas..........................................................................................................................................15

    Figura 3 Possibilidades de combinaes entre a parte IP e EP dos cateteres .......................18

    Figura 4 Principais vasos sanguneos da regio abdominal. Os quadrados em branco

    indicam a regio mais segura para fixao do cuff interno nos procedimentos de implantao

    cirrgica. Os quadrados pretos indicam o ponto mais adequado para a colocao s cegas ou

    por peritonioscopia....................................................................................................................19

    Figura 5 Colocao do cateter de Tenckhoff, com os pontos de fixao do cuff interno na

    parede abdominal e do cuff externo no subcutneo..................................................................20

    Figura 6 Procedimentos de drenagem, infuso e permanncia de dialisato no abdome .......23

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 - Exames de hemograma, uria, creatinina, fosfatase alcalina, alanina transferase

    (ALT) e protenas totais do animal Laika no dia 07/10/2011...................................................27

    Tabela 2 - Exames sanguneos de uria, creatinina, fosfatase alcalina e alanina

    transferase do animal Laika no perodo de 07/10/11 a 18/10/11..............................................29

  • LISTA DE ABREVIATURAS

    aa Aminocidos

    BUN blood urea nitrogen (uria sangunea nitrogenada)

    Ca clcio

    Cl cloro

    DP Dilise Peritoneal

    DPAC Dilise Peritoneal Ambulatorial Contnua

    DRC Doena Renal Crnica

    EP Extraperitoneal

    EUA Estados Unidos da Amrica

    Fig. Figura

    HD Hemodilise

    ICC Insuficincia Cardaca Congestiva

    IP Intraperitoneal

    IRA Insuficincia Renal Aguda

    IV Intravenosa

    K potssio

    Mg magnsio

    mOsm miliosmol

    Na sdio

    nm nanmetro(s)

    PVC Presso Venosa Central

    RL Ringer Lactato

    SC Subcutneo(a)

  • SUMRIO

    RESUMO

    ABSTRACT

    LISTA DE FIGURAS

    LISTA DE TABELAS

    LISTA DE ABREVIATURAS

    1 INTRODUO 10

    2 REVISO DE LITERATURA 12

    2.1 FISIOLOGIA DA DP 12

    2.2 INDICAES DA DP 15

    2.3 CONTRA-INDICAES DA DP 16

    2.4 CATETERES E SUA COLOCAO 16

    2.5 SOLUES DE DIALISATO 20

    2.6 TCNICA E PROCEDIMENTOS PARA INFUSO 22

    2.7 MONITORAO 24

    2.8 COMPLICAES 24

    3 RELATO DE CASO 27

    4 DISCUSSO 31

    5 CONCLUSES 33

    REFERNCIAS

  • 10

    1 INTRODUO

    A dilise peritoneal (DP) uma tcnica de substituio renal utilizada na medicina

    humana desde 1923. Com a introduo da dilise peritoneal ambulatorial contnua (DPAC) h

    quase trs dcadas sua popularidade aumentou muito, principalmente por causa de sua

    simplicidade, convenincia e custo relativamente baixo. A DP utilizada atualmente, no

    mundo, por aproximadamente 120.000 pessoas (BLAKE; DAUGIRDAS, 2010).

    Do total de pacientes renais crnicos em tratamento com terapias renais

    substitutivas, a DP representa 12% nos EUA (PENDSE et al., 2010), de 20 a 30% no Canad

    (PENDSE et al., 2010) e 9,3% no Brasil (BUI, 2007).

    A principal indicao da DP em pacientes humanos a doena renal crnica

    (DRC) em estgio terminal, j que para a insuficincia renal aguda (IRA) e intoxicaes, a

    hemodilise (HD) apresenta melhores resultados. Vrios estudos em diversos pases foram

    realizados no intuito de determinar a eficincia da DP e a comparao entre a DP e a HD. A

    eficincia da DP mostra-se equivalente a HD na maioria dos casos, exceto em populaes

    especiais como pacientes mais idosos e diabticos. A maioria dos estudos aponta para a

    integrao entre as duas tcnicas, analisando qual a melhor indicao para cada caso em

    particular (ALLOATTI et al., 2000, HARRIS et al., 2002, VONESH et al., 2006, SANABRIA

    et al., 2008 e HUANG et al., 2008).

    Os pacientes que so frequentemente beneficiados pela DP so: lactentes ou

    crianas muito pequenas, pessoas com doena cardiovascular grave, pacientes com acesso

    vascular difcil e pacientes que desejam maior liberdade para viajar (PENDSE et al., 2010).

    Em medicina veterinria a maior indicao da DP na IRA, j que na maioria dos

    casos no se dispe de um centro de hemodilise de fcil acesso, alm de ser uma tcnica

    mais dispendiosa. com o mesmo raciocnio que se usa a DP para tratamento de

    intoxicaes como, por exemplo, etanol, etilenoglicol e barbituratos (COOPER; LABATO,

    2011). Outras aplicaes importantes da DP so nos casos de hipotermia, hipertermia,

    hiperidratao, hipercalemia e outros distrbios eletrolticos (COOPER; LABATO, 2011).

  • 11

    Existem relatos sobre o uso da DP em ces e gatos (CRISP et al.,1989, DORVAL;

    BOYSEN, 2009 e COOPER; LABATO, 2011b). Embora o resultado final tenha variaes,

    todos apontam a eficcia da DP na reduo da azotemia e aprovam a aplicao da tcnica na

    IRA.

    Em contrapartida, o emprego da DP na DRC ainda parece no despertar o

    interesse dos profissionais veterinrios. Entretanto, crescente a exigncia dos proprietrios

    de animais de estimao pela sobrevida e qualidade de vida de seus animais em doenas

    crnicas e terminais. Devido a essa procura, temos hoje especialidades como cardiologia,

    oncologia e endocrinologia mantendo os pacientes com boa qualidade de vida e com maior

    sobrevida. A DP pode ser uma ferramenta importante para colocar a nefrologia entre estas

    especialidades.

    Este trabalho tem por objetivo relatar um caso clnico de IRA consequente

    Leptospirose onde foi empregada a tcnica da DP e confrontar os dados obtidos com a

    literatura disponvel sobre a DP em pequenos animais.

  • 12

    2 REVISO DE LITERATURA

    2.1 FISIOLOGIA DA DP

    O peritnio a membrana serosa que envolve a cavidade abdominal. dividido

    em duas partes: o peritnio visceral, que envolve todos os rgos abdominais e que representa

    cerca de 80% da superfcie peritoneal; e o peritnio parietal, que representa 20% da rea total

    e circunda as paredes da cavidade abdominal. Este ltimo o mais importante na DP

    (BLAKE; DAUGIRDAS, 2010). Numa pessoa adulta a rea total de superfcie do peritnio

    aproximadamente igual rea de superfcie corprea, de 1 a 2m2. Em crianas a rea

    peritoneal proporcionalmente maior (BLAKE; DAUGIRDAS, 2010).

    A membrana peritoneal composta por uma monocamada de clulas mesoteliais

    que possuem microvilosidades e produzem um filme de glicosaminoglicanas com a funo de

    lubrificar e proteger o abdome (FLESSNER, 2009 e COOPER; LABATO, 2011). Sob o

    mesotlio fica a camada intersticial, constituda por uma matriz de mucopolissacardeos com

    fibras de colgenos, capilares peritoneais e linfa (Fig. 1a). Entre o mesotlio e o interstcio

    existe uma membrana basal composta por colgeno tipo IV. O interstcio descrito como um

    sistema de duas fases, onde intercalada uma fase rica em gua-pobre em colide com uma

    fase rica em colide-pobre em gua (FLESSNER, 2009 e COOPER; LABATO, 2011). Todas

    estas estruturas agem como barreira entre o fluido instilado na cavidade peritoneal e a

    superfcie endotelial dos capilares (COOPER; LABATO, 2011).

    O modelo dos trs poros (Fig. 1b) sugere que o capilar peritoneal a barreira

    crtica ao transporte peritoneal. O transporte de gua e solutos mediado por poros de trs

    tamanhos diferentes: poros grandes, com raio de 20-40nm, presentes em pequena quantidade,

    so responsveis pelo transporte de macromolculas como protenas, atravs do mecanismo

    de conveco; poros pequenos, com raio de 4-6nm e presentes em grande quantidade, so

    responsveis pelo transporte de pequenos solutos, como uria, creatinina, potssio e sdio, em

    associao com gua; ultraporos, com raio

  • 13

    DAUGIRDAS, 2010). O transporte nos ultraporos determinado pelo gradiente osmtico, em

    contraste com os poros pequenos, que so afetados principalmente por fatores no osmticos

    (COOPER; LABATO, 2011).

    Figura 1a) estrutura do peritnio. Figura 1b) modelo dos 3 poros

    (Fonte: FLESSNER, 2009)

    O transporte peritoneal compreende trs processos diferentes: difuso,

    ultrafiltrao e absoro de fluidos. Difuso o mecanismo mais importante no transporte de

    solutos; atravs dele, solutos com alta concentrao no sangue como uria, creatinina e

    potssio so carreados para o dialisato, enquanto o bicarbonato e lactato presentes no lquido

  • 14

    peritoneal migram para a corrente sangunea, corrigindo distrbios cido-base (BLAKE;

    DAUGIRDAS, 2010).

    A ultrafiltrao o movimento da gua ao atravessar uma membrana

    semipermevel. regulado pelas foras hidrosttica e osmtica. Na DP, um dialisato

    altamente osmolar (glicose) faz com que a gua passe do sangue para o dialisato por osmose.

    Ao atravessar a membrana peritoneal, a gua carrega pequenas molculas, uria e creatinina,

    num processo chamado conveco (BLAKE; DAUGIRDAS, 2010). A importncia clnica da

    ultrafiltrao que atravs dela controlamos o aporte de fluido no paciente (COOPER;

    LABATO, 2011).

    A absoro de fluidos ocorre atravs dos vasos linfticos; pequena parcela pelos

    vasos linfticos subdiafragmticos e o restante pelo peritnio parietal, onde passa para os

    tecidos da parede abdominal e posteriormente os linfticos locais (BLAKE; DAUGIRDAS,

    2010).

    Em humanos existe grande variao individual na taxa de transporte de solutos.

    Altos transportadores tm boa difuso e baixa ultrafiltrao. Baixos transportadores tm alta

    ultrafiltrao e baixa difuso. Utiliza-se o teste de equilbrio peritoneal (peritoneal

    equilibration test PET) para avaliao deste transporte. Em pequenos animais no h

    estudos sobre as variaes individuais (COOPER; LABATO, 2011).

    Apesar da grande variao individual na taxa de transporte de solutos possvel a

    determinao de uma curva para determinada a taxa de entrada de solutos conforme ilustrado

    na Fig. 2.

  • 15

    Figura 2 Taxa de entrada de uria, creatinina e vitamina b12 na soluo de dilise deixada no abdome. Os

    resultados so expressados como a razo entre D: nvel no dialisato e P: nvel no plasma. So mostradas razes

    D/P tpicas para a uria aos 40 minutos, s 2 horas e s 4 horas.

    (Fonte: BLAKE; DAUGIRDAS, 2010).

    2.2 INDICAES DA DILISE PERITONEAL

    Existem diversas indicaes para a DP em pequenos animais. Na doena renal o

    principal uso na IRA anrica ou oligrica, no responsiva a fluidoterapia e medicamentos

    vasodilatadores renais (LUCENA; MANNHEIMER, 2005). Pode ser ainda utilizada em casos

    de IRA no anrica com sintomas de uremia severa, onde a uria est acima de 100mg/dL e a

    creatinina acima de 10mg/dL. Em humanos o principal uso da DP na DRC em estgio

    terminal. Em pequenos animais existem poucos relatos sobre esta aplicao, a maioria

    referindo-se a DRC agudizada (COOPER; LABATO, 2011).

    A DP pode ainda ser utilizada em uroabdome e obstruo do trato urinrio

    anteriormente anestesia e cirurgia (COOPER; LABATO, 2011). A DP tem grande utilidade

    nas intoxicaes por produtos dializveis como etanol, etilenoglicol, barbitricos, propoxifeno

    e hidantona (LUCENA; MANNHEIMER, 2005 e COOPER; LABATO, 2011). Tambm est

    indicada na correo de distrbios eletrolticos (hipercalemia, hipercalcemia ) (LUCENA;

    MANNHEIMER, 2005 e COOPER; LABATO, 2011. Nestas duas situaes a HD a tcnica

    mais indicada, sendo que a DP tem uma eficincia de 1/8 da HD na remoo de solutos do

  • 16

    sangue e da eficincia da HD na remoo de fluidos. Apesar da eficcia menor,

    considerando que a DP tem uma atuao contnua, num perodo de 24 horas de terapia

    consegue-se atingir o mesmo nvel de filtrao que a HD, que pode ser realizada no mximo 4

    horas por dia (COOPER; LABATO, 2011).

    No que concerne hipotermia, o dialisato aquecido na temperatura de 42 a

    43oC, instilado no abdome com o objetivo de reaquecer por volta de 1 a 2

    oC por hora. Nos

    casos de hipertermia maligna utiliza-se o dialisato em temperatura ambiente (COOPER;

    LABATO, 2011).

    A DP pode ser aplicada em casos de insuficincia cardaca congestiva (ICC)

    refratria a tratamento medicamentoso e que apresentam sobrecarga de volume sanguneo.

    Nestes casos utiliza-se um dialisato hiperosmtico (glicose a 4,5%) (LUCENA;

    MANNHEIMER, 2005 e COOPER; LABATO, 2011).

    2.3 CONTRA INDICAES DA DP

    A DP est contraindicada em processos onde ocorre a inflamao da parede

    abdominal e possvel fibrose do peritnio, tais como cirurgias extensas, adeses peritoneais,

    fibroses e metstases. Tambm no indicada em cirurgias recentes, principalmente

    gastrointestinais, pelo risco de deiscncia dos pontos e extravasamento de lquido pelo local

    da inciso. Outra contraindicao nos casos de queimaduras extensas ou pacientes em

    estado nutricional muito debilitado, pelo risco de perda protica, j que uma das complicaes

    da DP a ocorrncia de hipoproteinemia (LUCENA; MANNHEIMER, 2005, COOPER;

    LABATO, 2011).

    2.4 CATETERES E SUA COLOCAO

    O cateter ideal deve permitir fluxos interno e externo eficientes, ser

    biocompatvel, resistente infeco do peritnio e tnel subcutneo e impedir o

  • 17

    extravasamento de fluido no local de sua sada do peritnio (LUCENA; MANNHEIMER,

    2005 e ROSS; LABATO, 2007).

    Na DP aguda, onde a expectativa de uso de at trs dias, so utilizados cateteres

    mais simples, constitudos de uma extremidade intraperitoneal (IP) com vrios furos e outra

    extremidade extraperitoneal (EP) sem furos. So desenvolvidos para ter o implante mais fcil,

    com o paciente acordado, somente com uso de anestesia local. Sua colocao percutnea,

    com o uso de trocarte ou fio guia metlico. Empregando-se tcnica assptica, o cateter

    introduzido por uma inciso de 3-5 cm lateralmente ao umbigo, em direo pelve. O trocarte

    introduzido vrios centmetros no tecido subcutneo, atravs dos msculos abdominais, ao

    abdome. Em seguida o cateter introduzido pelo trocarte at alcanar a cavidade abdominal.

    realizada uma sutura em bolsa para fixar o cateter musculatura, e um esparadrapo tipo

    borboleta para prend-lo pele do abdome lateral (ROSS; LABATO, 2007).

    Na DP crnica existem vrios modelos, todos eles objetivando promover uma

    aderncia maior e evitar a infeco e o extravasamento. A maioria dos modelos fabricada

    com cuffs de Dacron. O objetivo principal dos cuffs promover o crescimento de fibroblastos

    provocando uma aderncia musculatura abdominal e no subcutneo, evitando assim a

    infeco e o extravasamento. Para tanto desejvel um perodo de repouso de 10 a 14 dias

    entre a colocao e o incio da dilise. Isto facilmente conseguido em pacientes humanos

    onde j se programa a DP. Em pacientes veterinrios comumente no se tem esse tempo.

    Pode-se diminuir a incidncia de extravasamento introduzindo nos primeiros trs dias cerca

    de um quarto a metade do volume ideal de dialisato (COOPER; LABATO, 2011).

    A fig. 3 ilustra as combinaes possveis entre a parte intraperitoneal (IP) e

    extraperitoneal (EP) do cateter, originando assim diversos modelos.

  • 18

    Figura 3 Possibilidades de combinaes entre a parte IP e EP dos cateteres

    (Fonte: ASH, 2008)

    O modelo mais usado na medicina humana o cateter de Tenckhoff. Trata-se de

    um tubo de silicone, reto ou levemente encurvado, fenestrado na extremidade distal, com um

    ou dois cuffs. Permite bom influxo, mas apresenta problemas no efluxo e devido a esta

    desvantagem foram desenvolvidos os novos modelos. Ainda no foi determinado o grau de

    melhora dos novos cateteres sobre os cateteres de Tenckhoff e estes continuam sendo o

    padro para novos desenhos (ASH; DAUGIRDAS, 2010).

    Outro modelo que tem apresentado bons resultados o cateter em formato de T ou

    cateter canelado (Advantage Ash fluted T cateter). Este modelo apresenta volume de efluxo

    mais uniforme e com menos falha, menos aderncia ao omento, menos hrnia pericateter e

    no apresenta extruso do cuff profundo e superficial. Os pequenos orifcios nas junes

  • 19

    podem coagular e necessita ateno (ASH; DAUGIRDAS, 2010 e COOPER; LABATO,

    2011).

    O cateter Missouri ou swan-neck (pescoo de cisne) apresenta um arco em V

    pr-formado com 120 entre os dois cuffs. Este recurso visa a diminuir a contaminao do

    sistema (ASH; DAUGIRDAS, 2010 e COOPER; LABATO, 2011).

    O cateter de Toronto-Western utiliza dois discos de silicone perpendiculares para

    manter o omento e o intestino longe dos orifcios de sada. Possui tambm um cuff

    modificado para assegurar o posicionamento da extremidade intraperitoneal (ASH;

    DAUGIRDAS, 2010 e COOPER; LABATO, 2011). Sua implantao um pouco mais difcil

    que os modelos anteriores.

    O ponto de introduo do cateter no abdome obedece anatomia dos vasos

    sanguneos e dos msculos abdominais, conforme demonstrado na fig.4.

    Figura 4 Principais vasos sanguneos da regio abdominal. Os quadrados em branco indicam a regio mais

    segura para fixao do cuff interno nos procedimentos de implantao cirrgica. Os quadrados pretos indicam o

    ponto mais adequado para a colocao s cegas ou por peritonioscopia.

    (Fonte: ASH, 2008).

  • 20

    A implantao do cateter de DP crnico pode ser atravs de peritonioscopia ou

    cirurgia, com animal sob anestesia ou sedao mais anestesia local. O cuff interno colocado

    no msculo reto do abdome, e o cuff mais externo posicionado no tnel subcutneo.

    aconselhvel a omentectomia para se evitar a obstruo do fluxo. Para evitar a aderncia de

    fibrina aplicado um flush de heparina (1000UI) com soluo salina imediatamente aps a

    insero (ASH; DAUGIRDAS, 2010).

    Figura 5 Colocao do cateter de Tenckhoff, com os pontos de fixao do cuff interno na

    parede abdominal e do cuff externo no subcutneo.

    (Fonte: ASH, 2008).

    2.5 SOLUES DE DIALISATO

    Na medicina humana esto disponveis diversas formulaes comerciais de

    dialisatos, a maioria delas acondicionada em bolsas de 1,5, 2,0, 2,25, 2,5 ou 3,0L dependendo

    do fabricante. Existe diferena entre as solues no que diz respeito a eletrlitos, base

    geradora de bicarbonato e agente osmtico (HEIMBURGER; BLAKE, 2010).

    A base geradora de bicarbonato mais utilizada o lactato (HEIMBURGER;

    BLAKE, 2010). O efeito tampo do lactato gerado atravs de seu metabolismo no fgado

    pelo ciclo de Krebs ou via gliconeognese, gerando como produto final o bicarbonato.

    Entretanto, estudos mostram que o lactato combinado ao baixo pH das solues de dilise

    txico para as clulas mesotelias (COOPER; LABATO, 2011).

  • 21

    As solues de bicarbonato tem pH normal, portanto causam menos desconforto

    na infuso do que as solues a base de lactato. Teoricamente so mais biocompatveis e

    espera-se que melhorem a longevidade da membrana peritoneal. Entretanto ainda no h

    evidncias de bons resultados em longo prazo (HEIMBURGER; BLAKE, 2010). As solues

    de bicarbonato vm acondicionadas em duas bolsas que so misturadas imediatamente antes

    da infuso, para evitar a precipitao do clcio e magnsio e a caramelizao da glicose

    devido ao pH alto (HEIMBURGER; BLAKE, 2010). Solues a base de acetato foram

    utilizadas inicialmente, mas foram abandonadas devido ao pH baixo causar muito desconforto

    durante a infuso (COOPER; LABATO, 2011).

    Solues de dialisato comercialmente disponveis contem Na, Mg, Ca e Cl em

    concentraes variadas. Geralmente o K no est includo, mas pode-se adicionar em

    pacientes com hipocalemia (COOPER; LABATO, 2011).

    Os agentes osmticos podem ser agrupados em agentes de baixo peso molecular

    ou alto peso molecular. Agentes com baixo peso molecular incluem glicose, aminocidos (aa),

    glicerol, sorbitol, xilitol e frutose. O agente osmtico mais utilizado a glicose. Nas solues

    de dialisato est disponvel em trs concentraes: 1,5%, 2,5% e 4,25%. Para a DP onde o

    objetivo remover toxinas urmicas utiliza-se a concentrao de 1,5%. Concentraes mais

    altas so reservadas para pacientes hiperidratados (COOPER; LABATO, 2011). A DP pode

    ser realizada com as formulaes comerciais ou adicionando dextrose a uma soluo de

    Ringer Lactato (RL). Adicionando 30 ml, 50 ml e 85 ml de glicose 50% a 1 litro de RL

    obtm-se respectivamente uma soluo de 1,5%, 2,5% e 4,25% de glicose (VILA et al.,

    2008). As vantagens da utilizao da glicose so: segura, efetiva, barata e facilmente

    disponvel. Desvantagens de seu uso: distrbios de hiperglicemia, hiperlipidemia,

    hiperinsulinemia e obesidade. Alm disso, a glicose txica ao endotlio e est envolvida

    com a neoangiognese peritoneal, que causa a perda da ultrafiltrao e do gradiente osmtico

    (COOPER; LABATO, 2011).

    Como alternativa ao uso da glicose tem-se investigado outros agentes osmticos.

    Soluo de aminocidos a 1,1% funciona osmoticamente similar soluo de glicose a 1,5%.

    uma alternativa interessante quando se quer melhorar o estado nutricional do paciente.

    Entretanto esta soluo s pode ser infundida uma vez ao dia, devido ao risco de aumentar o

    nvel de uria e piorar a acidose (COOPER; LABATO, 2011).

  • 22

    A icodextrina um agente osmtico de alto peso molecular que vem sendo

    utilizada na medicina humana principalmente na sesso de dilise noturna ou diurna longa,

    sobretudo em pacientes com falha na ultrafiltrao (HEIMBURGER; BLAKE, 2010). Trata-

    se de um polmero da glicose com peso molecular de 16.800, isosmolar (285 mOsm/kg) e que

    produz ultrafiltrao via efeito onctico. A icodextrina produz a ultrafiltrao atravs dos

    grandes poros via efeito onctico colide, ao contrrio das solues de dextrose que

    promovem a ultrafiltrao atravs dos pequenos e microporos. A absoro da icodextrina

    ocorre via sistema linftico, o que mantem seu efeito onctico muito mais prolongado. Em

    humanos tem-se relatado peritonite estril devido a seu uso. Em veterinria no se tem

    estudos sobre o uso da icodextrina (ROSS; LABATO, 2007).

    2.6 TCNICA E PROCEDIMENTOS PARA INFUSO

    O emprego de tcnica assptica fundamental durante a infuso do dialisato, a

    fim de minimizar o risco de peritonite, j que sua maior causa a contaminao dos

    conectores da bolsa. Cada conexo do equipo deve ser recoberto com gaze estril umedecida

    com povidona-iodo ou clorexidina (ROSS; LABATO, 2007).

    A soluo deve ser previamente aquecida a 38-39oC. O mtodo de aquecimento

    ideal com bolsa de aquecimento. Aquecimento da soluo em banho-maria deve ser evitado

    devido ao risco de contaminao. O uso de micro-ondas pode superaquecer a soluo e

    induzir a caramelizao e consequente inativao da glicose, alm de ser potencialmente

    sujeita a acidentes (ROSS; LABATO, 2007).

    Nas primeiras 24 a 48 horas aps a colocao do cateter o volume de dialisato

    deve ser de a do volume ideal calculado, a fim de avaliar o grau de distenso abdominal,

    o efeito na funo respiratria e o possvel extravasamento do dialisato. Depois deste perodo

    o dialisato infundido num volume de 30 a 40 ml/kg, durante o perodo de 10 minutos. Em

    seguida tem-se o perodo de permanncia do dialisato na cavidade peritoneal durante 30 a 40

    minutos e ento drenado por gravidade em uma bolsa coletora durante 20 a 30 minutos.

    Espera-se a recuperao de 90 a 100% do dialisato (HEIMBURGER; BLAKE, 2010).

  • 23

    O uso de sistema de fluxo fechado em Y est associado a menor ndice de

    infeco comparado ao sistema de infuso reto (COOPER; LABATO, 2011). No sistema de

    tubos em Y a bolsa de dialisato colocada numa altura acima do paciente e um recipiente

    de drenagem colocado abaixo do paciente. As duas bolsas so conectados no sistema Y e ao

    paciente. (fig. 7). Inicialmente injetada uma pequena quantidade de soluo diretamente da

    bolsa nova para a bolsa de drenagem; em seguida a cavidade peritoneal drenada; aps a

    drenagem faz-se a infuso do dialisato novo. Este procedimento reduz muito a ocorrncia de

    peritonite em pacientes humanos (ROSS; LABATO, 2007).

    A DP na IRA tem por objetivo primrio a estabilizao hemodinmica do paciente

    e o equilbrio cido-base e de eletrlitos. A reduo da azotemia conseguida num perodo de

    24 a 48 horas, buscando atingir valores de BUN menores de 60-100mg/dL (30-50mg/dL de

    uria) e creatinina de 4-6mg/ dL. Os ciclos de dilise so realizados de forma contnua at se

    atingir os nveis desejados, quando ento o paciente pode ser submetido a protocolo de DP

    crnica, onde so realizados ciclos com durao de 3 a 6 horas, e quando restabelecida a

    funo renal passa-se a trs ou quatro trocas por dia. (COOPER; LABATO, 2011).

    Figura 6 Procedimentos de drenagem, infuso e permanncia de dialisato no abdome.

    (Fonte: COOPER; LABATO, 2011).

  • 24

    A dilise peritoneal ambulatorial contnua (DPAC) o protocolo mais adotado em

    pacientes humanos. Existem variantes em relao ao nmero de trocas e tempo de espera;

    opes entre espera cheia e espera seca e a opo da troca ser realizada por mquina

    (automatizada). A opo por determinada modalidade considera o estilo de vida, aspecto

    econmico e acesso ao hospital e equipamentos. A DPAC em pacientes humanos tem a

    vantagem de tratamento ambulatorial, buscando que o paciente retome suas atividades o mais

    prximo do normal possvel. Na medicina veterinria ainda no se tem a adeso de muitos

    profissionais a esta modalidade e no se tem relatos de experincia (COOPER; LABATO,

    2011).

    2.7 MONITORAO

    Os volumes de dialisato infundido e retirado do abdome durante cada permuta

    devem ser anotados cuidadosamente. Nas primeiras trocas o volume retirado menor que o

    volume infundido. No decorrer da dilise o volume drenado deve se aproximar ou ultrapassar

    o infundido (ROSS; LABATO, 2007).

    O peso corpreo e grau de hidratao devem ser verificados antes de cada sesso.

    A frequncia cardaca e respiratria deve ser monitorada a cada 2 horas, sendo a presso

    arterial sistmica medida a cada 6 a 8 horas e a presso venosa central (PVC) a cada 4 a 6

    horas. Volume urinrio deve ser mensurado a cada 4 horas. A funo renal, protenas totais e

    albumina, eletrlitos e parmetros cido-base devem ser determinados a cada 4-6 horas no

    incio, e assim que o paciente estabilizar, diariamente. Magnsio deve ser checado a cada trs

    dias (COOPER; LABATO, 2011).

    2.8 COMPLICAES

    As complicaes na DP so frequentes, porm se detectadas precocemente so

    possveis de correo. As complicaes mais comuns na DP incluem a ocluso do cateter,

  • 25

    extravasamento subcutneo de dialisato, distrbios eletrolticos, hipoalbuminemia e peritonite

    (CRISP et al, 1989 e LUCENA; MANNHEIMER, 2005).

    A reteno do dialisato ocorre pela ocluso do cateter devido aderncia do

    omento ao cateter e deposio de fibrina. Como medida preventiva indica-se a

    omentectomia e a infuso de heparina (250-1000UI/L) nas primeiras infuses. Quando da

    suspeita de obstruo pode-se tentar um flush de soluo salina com adio de 15000 UI de

    uroquinase ou estreptoquinase (ROSS; LABATO, 2007).

    O extravasamento de dialisato para o subcutneo est associado ao incio de

    dilise imediatamente aps a colocao do cateter. Em medicina humana isto pode ser evitado

    respeitando o intervalo de 2 a 4 semanas antes da instituio da DP (COOPER; LABATO,

    2011).

    Hipoalbuminemia tem sido relatada com grande variao (CRISP et al, 1989).

    Vrios fatores contribuem: perda para o dialisato, baixa ingesto proteica devido anorexia,

    perdas gastrointestinal e renal e perdas devido a doenas intercorrentes. Uma sesso de DP

    com aminocidos uma vez ao dia contribui para a suplementao nutricional, alm de se fazer

    uso da nutrio parenteral e enteral. Distrbios eletrolticos so encontrados sendo importante

    o monitoramento para sua correo (CRISP et al, 1989 e COOPER; LABATO, 2011).

    Peritonite diagnosticada quando o animal apresenta dois dos trs seguintes

    critrios: dialisato efluente turvo; mais que 100 clulas inflamatrias /ml ou cultura positiva; e

    sinais clnicos de peritonite. O meio mais comum de contaminao durante o procedimento

    de troca do dialisato e, portanto a adoo de tcnica assptica e o uso do sistema em Y

    diminuem o seu risco. A peritonite pode ainda ser de outra origem, como hematgena ou

    intestinal. Para o tratamento deve-se fazer cultura e antibiograma, utilizando antibiticos via

    sistmica com ou sem antibiticos via intraperitoneal e a lavagem peritoneal (CRIPS et al,

    1989 e COOPER; LABATO, 2011).

    Efuso pleural e dispnia so incomuns e normalmente so associados

    hiperidratao ou hrnia pleuroperitoneal. A monitorao cuidadosa do paciente pode evitar

    este problema. No caso de hrnia pleuroperitoneal a DP est contraindicada e deve ser

    suspensa. O desequilbrio dialtico raro na DP, sendo mais comum na HD, e se apresenta

    como uma vantagem da DP sobre a HD (COOPER; LABATO, 2011).

  • 26

    Na medicina humana considervel parcela dos pacientes desenvolve a perda da

    ultrafiltrao devido a mudanas na membrana peritoneal. Tal condio no relatada em

    animais. No se sabe ainda se ela no encontrada em nossos pacientes, se a sobrevida curta

    deles no permite o desenvolvimento da condio ou se, ao aprimorarmos a tcnica e os

    mtodos de avaliao de eficcia da DP, comearemos a detectar esta condio em nossos

    pacientes (COOPER; LABATO, 2011).

  • 27

    3 RELATO DE CASO

    Em outubro de 2011, foi atendido na Clnica Veterinria Bontratto, em Jacare,

    estado de So Paulo um paciente canino, nome Laika, fmea castrada, com seis anos de idade,

    onde havia a indicao de DP e o proprietrio autorizou o uso da tcnica.

    O paciente foi atendido dia 07/10/11 com quadro de prostrao severa, anorexia,

    vmitos, diarria sanguinolenta e dor abdominal acentuada. Histrico de contato recente com

    ratos. No exame clnico constatou-se febre (temperatura de 40,0C), mucosas congestas e

    ictricas, desidratao, dor abdominal intensa e bexiga vazia. A suspeita clnica foi de

    Leptospirose e coletou-se amostra de sangue para exames.

    Os exames laboratoriais foram realizados na prpria clnica atravs de

    equipamentos automticos, Coulter para hemograma e Bioplus para exames de bioqumica

    (uria, creatinina, fosfatase alcalina, alanina transferase-ALT e protenas totais). Tambm

    foram realizados no Tecnovet, em So Jos dos Campos-SP, o laboratrio externo de apoio.

    Imediatamente aps a coleta de sangue instituiu-se fluidoterapia intravenosa com

    Ringer Lactato, administrao de analgsicos (cloridrato de tramadol e dipirona), antiemtico

    (metoclopramida), inibidor H2 (ranitidina) e antibitico (ampicilina). O animal foi submetido

    sondagem uretral, com a drenagem de 50 ml de urina, e manteve-se com a sonda de espera

    para acompanhar a diurese. Os exames iniciais apontaram para srias leses renal e heptica

    conforme a tabela 1.

    Tabela 1- Exames de hemograma, uria, creatinina, fosfatase alcalina, alanina transferase (ALT) e protenas

    totais do animal Laika no dia 07/10/2011.

    Hemcias: 6,82 milhes/mm3 Hematcrito: 46,5 % Volume corpuscular mdio: 68,2 u3 Plaquetas: 44 mil/mm3 Leuccitos: 12.100 clulas/mm3 Uria: 109 mg/dL Creatinina: 3,9 mg/dL Fosfatase alcalina: 1766 U/L Alanina transferase: 607 U/L Protenas totais: 7,0 g/dL

    Fonte: Acervo do autor

  • 28

    O resultado dos exames foi entregue uma hora aps a coleta. Adicionou-se ao

    tratamento complexo B e ornitina. Aps 6 horas de fluidoterapia o animal se apresentava em

    anria e foi iniciado tratamento com medicamento vasoativo renal (dopamina) em infuso

    contnua.

    Aps 24 horas de tratamento com fluidoterapia e medicamento vasoativo renal, o

    animal continuava em anria e com sinais de acidose severa, com hiperventilao, taquipnia,

    alm de vmitos no responsivos ao tratamento e muito desconforto. Os exames mostraram

    um aumento importante nas concentraes sanguneas de uria e creatinina do dia 08/10/11,

    numa amostra coletada imediatamente anterior ao incio da DP, conforme a Tabela 2.

    O proprietrio autorizou a utilizao da DP. A primeira tentativa foi a implantao

    do cateter com o uso somente de anestesia local, aplicando-se 2 ml de lidocana na pele e

    subcutneo, procurando aprofundar at a musculatura. Porm o animal apresentou dor logo no

    incio do procedimento e optou-se pela anestesia geral.Como medicao pr-anestsica foi

    aplicado morfina via IM, seguido de induo anestsica com propofol IV, intubao e

    manuteno da anestesia com isoflurano. O procedimento de implante do cateter foi realizado

    no centro cirgico, sendo respeitadas as normas de assepsia do veterinrio e auxiliar, bem

    como do paciente e campo cirrgico. Com o animal em plano anestsico, assumindo a posio

    ventro-dorsal, foi realizada a inciso na linha Alba, dois centmetros caudalmente cicatriz

    umbilical. A inciso foi praticada na pele, subcutneo e musculatura abdominal, ganhando o

    espao intraperitoneal, com um corte longitudinal de um centmetro, o suficiente para a

    introduo do cateter. Como cateter foi utilizado uma sonda uretral nmero 10, com a

    confeco de vrios furos em sua extenso intraperitoneal. Para o fechamento da musculatura

    foi realizada sutura em bolsa com fio de nylon, fixando este ao cateter. Seguiu-se o

    fechamento do subcutneo com ponto simples e fechamento da pele com sutura em bolsa,

    sendo que neste ltimo se fez a continuidade do ponto no cateter e sutura do fio no mesmo

    com ponto de bailarina, para a fixao mais eficaz do cateter pele.

    Aps a fixao do cateter j foi iniciada a primeira infuso de dialisato. A soluo

    utilizada foi RL, na forma de bolsas disponveis para fluidoterapia intravenosa. A soluo foi

    aquecida em forno micro-ondas at a temperatura de 38C. Aps o aquecimento foi acrescido

    soluo o agente osmtico, neste caso a glicose a 50%, na dose de 15 ml para um frasco de

    RL de 500 ml, obtendo-se assim um dialisato de glicose a 1,5%.

  • 29

    O volume de dialisato infundido inicialmente foi de 40 ml/Kg. Foram realizadas

    trocas de dialisato num intervalo de 3 a 4 horas durante um perodo de 24 horas. Na primeira

    drenagem foi obtido um volume de 20 ml/Kg, ou seja, 50% do volume infundido, e nas

    drenagens seguintes j se obteve um volume de 90 a 100% do volume infundido. Ao trmino

    de 24 horas do incio da DP o animal j apresentava um quadro clnico estvel, com a

    recuperao da diurese, reduo da dor e apatia, ainda com vmitos e os exames ainda no

    indicaram a reduo da azotemia (tabela 2).

    Tabela 2 - Exames sanguneos de uria, creatinina, fosfatase alcalina e alanina

    transferase do animal Laika no perodo de 07/10/11 a 18/10/11.

    Fonte:Acervo do autor

    Aps 24 horas de DP, devido ocorrncia de extravasamento de dialisato para o

    subcutneo, o intervalo de troca do dialisato foi espaado para cada 6 horas, durante mais 24

    horas. Aps 48 horas do incio da DP ocorreu a reteno de dialisato, foi realizado manobra

    de flushing de soluo fisiolgica com heparina, porm sem sucesso, e foi necessrio a

    interrupo da DP.

    O cateter no foi retirado imediatamente devido necessidade de anestesiar o

    animal, que ainda se apresentava em estado crtico. O cateter foi mantido e foi retirado cinco

    dias depois, quando o animal j se apresentava melhor e pde ser anestesiado. Para a anestesia

    foi utilizado o mesmo protocolo do momento da colocao do cateter, com morfina de

    medicao pr-anestsica, propofol para induo, intubao do animal e manuteno com

    isoflurano. Utilizando-se tcnica assptica foi aberta a sutura da pele e subcutneo, cortado o

    fio que prendia o cateter musculatura, retirado o cateter, reparado o espao deixado na

    musculatura com dois pontos simples e refeita a sutura do subcutneo e pele com ponto

    simples separado.

    07/10 08/10 09/10 10/10 11/10 13/10 18/10

    Ureia (mg/dL) 109 170 164 106 55 30 29 Creatinina (mg/dL) 3,9 6,0 5,7 1,9 - - - Fosfatase alcalina (U/L) 1766 - - - 1236 663 845 Alanina transferase (U/L) 607 - - - 261 256 251

  • 30

    Como mostra a tabela 2, aps 48 horas de DP houve decrscimo significativo das

    concentraes sanguneas de uria e creatinina (dia 10/10/11). O animal j apresentava o

    restabelecimento da funo renal e diurese adequada. Nos dias seguintes o animal foi

    monitorado com as medies de uria, fosfatase alcalina e ALT, sendo que a creatinina no

    foi mais utilizada devido ictercia do soro, que se tornou muito acentuada e no fornecia

    resultado confivel pelo mtodo utilizado.

    Apesar do restabelecimento da funo renal o animal ainda apresentava anorexia,

    vmitos (com menor frequncia) e apatia. O quadro clnico foi atribudo insuficincia

    heptica que se intensificou conforme mostrado na tabela 2 pela mensurao da fosfatase

    alcalina e ALT.

    O animal continuou o tratamento de fluidoterapia com RL IV, ampicilina,

    tramadol, metoclopramida, complexo B e ornitina. Devido ao jejum prolongado foi

    acrescentado infuso IV de aminocidos e glicose. Aps 10 dias de internao o animal

    comeou a se alimentar voluntariamente e teve alta no 12 dia de internao.

  • 31

    4 DISCUSSO

    A melhora nos sintomas clnicos da uremia obtida neste caso, bem como a

    reduo significativa dos nveis sanguneos da uria e creatinina, se assemelham a resultados

    obtidos por Crisp et al. (1989) e Dorval; Boysen (2009). A IRA consequente leptospirose

    um dos tratamentos com DP com resultados mais favorveis segundo Crisp et al. (1989). Na

    experincia do autor, onde o tratamento para estes casos era apenas com fluidoterapia e

    medicamentos vasoativos, observava-se alto ndice de mortalidade entre os animais anricos

    h mais de 24 horas, portanto credito parte do sucesso utilizao da DP.

    A utilizao de um cateter simples est previsto na literatura (ASH;

    DAUGIRDAS, 2010) e por ter a colocao mais rpida, pde ser aplicado mesmo num

    paciente muito crtico. No presente relato o animal demonstrou dor na tentativa de

    implantao apenas com o uso de anestsico local, no momento de acesso musculatura, no

    sendo possvel a utilizao da tcnica descrita por Lucena; Mannheimer (2005). Foi

    necessria a anestesia do animal, sendo bem tolerada apesar do estado crtico do paciente,

    como utilizada por Crisp et al (1989).

    A inciso abdominal ventral a tcnica descrita para pequenos animais

    (LUCENA; MANNHEIMER, 2005, ROSS; LABATO, 2007 e COOPER; LABATO, 2011) e

    tem sua origem na analogia com o modelo humano descrito por Ash (2008). Entretanto,

    devido posio quadrpede, esta linha fica sujeita ao da gravidade, facilitando o

    extravasamento de dialisato. Na opinio do autor, a abordagem abdominal medial ou dorso-

    medial poderia evitar o extravasamento de dialisato.

    Outra possvel causa para o extravasamento do dialisato a ausncia de cuff no

    cateter utilizado. Entretanto, o benefcio do cuff no impedimento do extravasamento de

    dialisato obtido somente aps a aderncia e proliferao de fibroblastos, cerca de 10 a 14

    dias aps a insero do cateter (ASH; DAUGIRDAS, 2008).

    A diminuio do dialisato recuperado em cada drenagem, seguido da obstruo

    total do cateter, tambm foi observado por Crisp et al (1989), no perodo de dois dias aps a

    implantao do cateter. Neste trabalho (CRISP et al, 1989) os animais no foram

  • 32

    omentectomizados. No presente relato, a razo para no se realizar a omentectomia foi a

    preocupao com a demora do tempo anestsico. Outros autores citam a necessidade ou

    vantagem em realizar a omentectomia (LUCENA; MANNHEIMER, 2005, ASH;

    DAUGIRDAS, 2008 e COOPER; LABATO, 2011).

    O intervalo de trocas de dialisato escolhido inicialmente foi de 4 horas. Este

    intervalo foi determinado considerando-se a viabilidade de manejo na clnica, devido

    disponibilidade de pessoas treinadas para fazer o procedimento. Analisando a Fig. 2, descrita

    por Blake; Daugirdas (2010), o tempo de 4 horas o perodo onde atingido a

    isoconcentrao de uria e creatinina entre o dialisato e o plasma sanguneo. Aps 24 horas de

    DP fez-se necessrio o espaamento para 6 horas devido ao extravasamento de dialisato.

  • 33

    5 CONCLUSES

    A DP mostrou-se uma tcnica efetiva para tratamento de doena renal aguda

    consequente leptospirose.

    A DP acessvel tecnicamente, bastando um preparo mnimo da equipe e o

    domnio da tcnica. No exige alto investimento em equipamentos e pode ser realizada em

    qualquer clnica com centro cirrgico bsico.

    A DP uma tcnica de dilise barata em relao a custos materiais. Em

    contrapartida, a DP uma tcnica muito laboriosa, elevando os custos em honorrios, o que

    torna o custo final para o proprietrio considervel, apesar de aqum dos custos da HD.

    A aplicao da DP exige dedicao do veterinrio e proprietrio. Se no for

    cumprida esta exigncia o resultado pode ser frustrante.

    O uso da DP na DRC subestimado na medicina veterinria. Muitos pacientes

    veterinrios com DRC poderiam ser beneficiados por essa tcnica. No existem protocolos de

    DPAC para animais, nem exames para avaliao de possveis candidatos a seu uso. A DPAC

    mostra-se vivel, mas h necessidade de selecionar muito bem o caso: o animal deve ser dcil

    e permitir fcil manejo; e o proprietrio deve ter disponibilidade de tempo e habilidade para

    praticar os cuidados de enfermagem.

  • REFERNCIAS

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