Diário Do Pará - Sertão: A Imensidão Da Palavra-mundo

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Sertão: a imensidão da palavra-mundo Por que ser inspirado a escrever sobre o sertão, quando se vive na Amazônia? Guimarães Rosa nos dá uma pista: o sertão está em todo lugar, diria o mineiro em sua obra-prima, “Grande Sertão: Veredas”. Sertão este que ecoou longe, e veio dar na floresta daqui. “Sertão! Há um acento épico e uma ressonância bárbara nesta palavra”, exclamou Eidorfe Moreira, um dos maiores pensadores da Amazônia, em seu livro “Sertão – A Palavra e a Imagem”. Ao confluir suas múltiplas raízes, entre a floresta selvagem e a aridez do nordeste, na obra, lançada em 1959, Eidorfe se viu tomado pela poética das narrativas de Rosa e de Euclides da Cunha, e projetou na sua terra adotiva o sertão, que trouxe de memória antiga de sua terra natal, Paraíba. Foi de lá que saiu ainda muito menino, aos dois anos, para vir morar em Belém. No ano de centenário de vida do geógrafo, o DIÁRIO resgata parte da obra do Eidorfe Moreira, e reedita o título, dentro da coleção “Pará de Todos os Versos, de Todas as Prosas”, terceira fase do projeto “Orgulho de ser do Pará”, promovido pelo grupo RBA de Comunicação. “Mas, afinal, que é ‘sertão’? Que amplitude tem a significação desta palavra? Que riqueza ou que variedade de sentido ela pode comportar?”, questiona Eidorfe. Muito além de um ambiente geográfico, o estudioso aponta outras respostas: o sertão, para Eidorfe, pode significar um complexo estado mental; uma relação topológica, um tipo paisagístico, uma noção de grandeza ou uma situação jurídico-social. “É uma verdadeira ‘palavra-mundo’, digamos assim, porque o seu sentido está em função de uma ideia ou representação de imensidade”, nota o autor. Sob uma análise geográfica e historiográfica, Eidorfe se propõe a descortinar as tantas possibilidades abarcadas no tema, capazes de descrever e se aproximar da complexa realidade brasileira, no campo ou na cidade, em seu estudo atemporal. “‘Sertão’, neste caso, é onde manda o mais forte; onde as questões e disputas se resolvem com frequência à arma branca ou de fogo; onde, finalmente, a vida se apresenta desnuda de roupagens e aparências legais. ‘Sertão é a lei do gatilho’; ‘Sertão é o manda quem pode’”. O AUTOR “Ele foi um ativo defensor das causas ambientais, sociais, militante político, e um excelente professor de geografia”, diz o secretário de Cultura do Pará, Paulo Chaves Fernandes, sintetizando a trajetória de um dos mais completos intelectuais da Amazônia. Lugar onde viveu até sua morte, em 1989, aos 77 anos, e que investigou como poucos. Diário do Pará - Sertão: a imensidão da palavra-mundo 1 of 2 http://www.diariodopara.com.br/impressao.php?idnot=149657 5/17/15 6:45 PM

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Sertão: a imensidão da palavra-mundoPor que ser inspirado a escrever sobre o sertão, quando se vive na Amazônia?Guimarães Rosa nos dá uma pista: o sertão está em todo lugar, diria o mineiro em suaobra-prima, “Grande Sertão: Veredas”. Sertão este que ecoou longe, e veio dar nafloresta daqui. “Sertão! Há um acento épico e uma ressonância bárbara nesta palavra”,exclamou Eidorfe Moreira, um dos maiores pensadores da Amazônia, em seu livro“Sertão – A Palavra e a Imagem”.

Ao confluir suas múltiplas raízes, entre a floresta selvagem e a aridez do nordeste, naobra, lançada em 1959, Eidorfe se viu tomado pela poética das narrativas de Rosa e deEuclides da Cunha, e projetou na sua terra adotiva o sertão, que trouxe de memóriaantiga de sua terra natal, Paraíba. Foi de lá que saiu ainda muito menino, aos dois anos,para vir morar em Belém.

No ano de centenário de vida do geógrafo, o DIÁRIO resgata parte da obra do EidorfeMoreira, e reedita o título, dentro da coleção “Pará de Todos os Versos, de Todas asProsas”, terceira fase do projeto “Orgulho de ser do Pará”, promovido pelo grupo RBA deComunicação.

“Mas, afinal, que é ‘sertão’? Que amplitude tem a significação desta palavra? Queriqueza ou que variedade de sentido ela pode comportar?”, questiona Eidorfe. Muitoalém de um ambiente geográfico, o estudioso aponta outras respostas: o sertão, paraEidorfe, pode significar um complexo estado mental; uma relação topológica, um tipopaisagístico, uma noção de grandeza ou uma situação jurídico-social.

“É uma verdadeira ‘palavra-mundo’, digamos assim, porque o seu sentido está emfunção de uma ideia ou representação de imensidade”, nota o autor.

Sob uma análise geográfica e historiográfica, Eidorfe se propõe a descortinar as tantaspossibilidades abarcadas no tema, capazes de descrever e se aproximar da complexarealidade brasileira, no campo ou na cidade, em seu estudo atemporal. “‘Sertão’, nestecaso, é onde manda o mais forte; onde as questões e disputas se resolvem comfrequência à arma branca ou de fogo; onde, finalmente, a vida se apresenta desnuda deroupagens e aparências legais. ‘Sertão é a lei do gatilho’; ‘Sertão é o manda quempode’”.

O AUTOR

“Ele foi um ativo defensor das causas ambientais, sociais, militante político, e umexcelente professor de geografia”, diz o secretário de Cultura do Pará, Paulo ChavesFernandes, sintetizando a trajetória de um dos mais completos intelectuais da Amazônia.

Lugar onde viveu até sua morte, em 1989, aos 77 anos, e que investigou como poucos.

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Em suas palavras, a Amazônia é “um anfiteatro de forma excessivamente alongada quesintetiza para o homem amazônida uma realidade com dupla função: uma imediata,lógica, objetiva fonte de vida e subsistência e outra mediata, mítica, mágica, plena deencantos e encantamento, responsável por todos os seus sonhos e devaneios. Aintersecção dos dois espaços resulta numa síntese complexa e ao mesmo temposimbólica, em que residem os substratos mais legítimos da cultura amazônica”.

Experimentou o jornalismo ainda estudante, quando começou a publicar seus escritosno já extinto jornal “Folha do Norte”, onde saiu seu primeiro trabalho de maior relevância,“O problema demográfico nacional”. Graduado em Direito, em 1938, se dedicou à vidaliterária, obra reunida em oito volumes, lançados pela Editora Cejup. Entre os destaques,os estudos “A Amazônia: O Conceito e a Paisagem”, “Belém e a sua expressãogeográfica”, “Roteiro Bibliográfico do Marajó” e “Os Sermões que Vieira pregou no Pará”.

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