Diferença De Linguagem

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Diferença De Linguagem, Língua E Fala Qual a diferença entre linguagem, língua e fala? O termo linguagem deve ser entendido como a faculdade mental que distingue os humanos de outras espécies animais e possibilita nossos modos específicos de pensamento, conhecimento e interação com os semelhantes. É a capacidade específica à espécie humana de se comunicar por meio de um sistema de signos (ou língua). A língua é, então, entendida como forma de realização da linguagem; como sistema linguístico necessário ao exercício da linguagem na interlocução ou como instrumento do qual a linguagem se utiliza na comunicação. Apesar de a língua ser um sistema de signos específicos aos membros de uma mesma comunidade (por exemplo: língua portuguesa, língua inglesa), no interior de uma mesma língua são importantes às variações. Dentro de uma mesma língua temos, então, diversas modalidades: língua familiar; língua técnica, língua erudita, língua popular, língua própria a certas classes sociais, a certos subgrupos, em que se enquadram os

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Diferença De Linguagem, Língua E Fala

Qual a diferença entre linguagem, língua e fala? O termo linguagem deve ser entendido como a faculdade mental que distingue os humanos de outras espécies animais e possibilita nossos modos específicos de pensamento, conhecimento e interação com os semelhantes. É a capacidade específica à espécie humana de se comunicar por meio de um sistema de signos (ou língua). A língua é, então, entendida como forma de realização da linguagem; como sistema linguístico necessário ao exercício da linguagem na interlocução ou como instrumento do qual a linguagem se utiliza na comunicação. Apesar de a língua ser um sistema de signos específicos aos membros de uma mesma comunidade (por exemplo: língua portuguesa, língua inglesa), no interior de uma mesma língua são importantes às variações. Dentro de uma mesma língua temos, então, diversas modalidades: língua familiar; língua técnica, língua erudita, língua popular, língua própria a certas classes sociais, a certos subgrupos, em que se enquadram os diferentes tipos de gíria. Entre as variações geográficas temos os dialetos (como as variações específicas das diversas regiões do Brasil: nordeste, sul etc). Alguns lingüistas (conferir Silva, 2001)[1][1] preferem usar o termo dialeto para designar as variantes ou variações, de uma forma geral. Como vimos, a língua é um sistema de símbolos pelo qual a linguagem se realiza. Mas a linguagem se encontra relacionada a outros sistemas simbólicos (sinais marítimos, Morse) e torna-se, assim, objeto da semiologia ou semiótica, que deve estudar “a vida dos signos no seio da vida social”. Vemos, portanto, que o termo linguagem tem uma conotação bem mais abrangente do que língua. A fala, por sua vez, é um fenômeno físico e concreto que pode

ser analisado seja diretamente, com ajuda dos órgãos sensoriais, seja graças a métodos e instrumentos análogos aos utilizados pelas ciências físicas. Em nós ouvintes, a fala é, com efeito, um fenômeno fonético; a articulação da voz dá origem a um segmento fonético audível imediatamente a título de pura sensação. Esse fenômeno implica o aparelho fonador e a produção dos sons da fala.

Qual a importância da aquisição e desenvolvimento da linguagem para a aprendizagem? De acordo com teorias linguísticas, todo ser humano é dotado da faculdade da linguagem. Entretanto, para esta capacidade se realizar é necessário à interação do indivíduo com outros seres humanos que dominem uma língua específica. Como vimos acima, a capacidade da linguagem se concretiza no exercício da língua, na interlocução com outros. A apreensão do conhecimento (qualquer que seja a sua modalidade) é mediada pela linguagem. Isto é, o conhecimento é passado para nós através da linguagem (fala, escrita, imagens, sinais etc). Ao apropriarmos deste conhecimento, nós o reelaboramos, apoiando-nos em nosso conhecimento prévio, em nossas experiências anteriores. Nesse processo é fundamental o papel da linguagem: ela ajuda a organizar o conhecimento, a estruturar o pensamento. O nosso contato com o conhecimento é mediado pela linguagem (mediação semiótica) e pelo outro (mediação pedagógica). Sendo a língua instrumento necessária ao exercício da linguagem, a interação verbal, a interlocução com o outro é essencial tanto para a constituição e desenvolvimento desta (linguagem) quanto para a aquisição de novos conhecimentos. A melhor forma de desenvolvermos a linguagem é interagindo com outros, pois a comunicação é a finalidade primeira da linguagem. Na interlocução, enriquecemos o nosso léxico, aprimoramos a

nossa capacidade de compreensão ao procurarmos entender o outro, e somos obrigados a organizar constantemente nosso pensamento a fim de sermos compreendidos. Ao mesmo tempo, entramos em contato com novos conceitos e temos a oportunidade de explicitar nossas dúvidas. Uma vez que a linguagem se realiza através de uma língua (qualquer que seja sua natureza: fala, língua de sinais), o domínio desta é essencial para a aprendizagem de uma forma geral. Pesquisas muito sérias (conferir Fijalkow, 1989)[2][2] mostraram que os alunos que mais fracassaram na escola foram aqueles que, por um motivo ou outro, tiveram pouca oportunidade de interagir verbalmente com seus pares e professores.

LINGUAGEM E EDUCAÇÃO

Parece imensamente oportuno, pois, que se reforce o empenho pela pesquisa linguística de diferentes fenômenos, nomeadamente quando tais fenômenos recobrem o domínio amplo e significativo do texto, do discurso e de suas múltiplas incursões. Essa pretensão está visivelmente presente no livro Linguagem e Educação: fios que se entrecruzam na escola. O próprio título já aponta para a interdependência entre os domínios da linguagem e da educação, de forma a constituir um tecido feito de linhas que se cruzam, que se perpassam mutuamente. Na verdade, a proposta central do livro é pôr em destaque que não se pode pensar educação sem linguagem e que explorar a linguagem representa uma forma de desenvolver nas pessoas suas capacidades para compreenderem melhor o mundo e, assim, atuarem socialmente de forma ampla, crítica, participativa e adequada às situações concretas da interação

social. Por isso, o livro está organizado para considerar, em primeiro lugar, a relação entre "Práticas Discursivas e Ensino"; em segundo, entre "Literatura e Ensino" e, por fim, entre "Prática Pedagógica e Legislação Educacional", cumprindo, assim, de forma tão significativa, áreas ou perspectivas que transcendem em muito as estreitas visões da prescrição linguística. Dra. Irandé Antunes (UFPE/UECE). Sumário: Primeira parte - Práticas discursivas e ensino. A intertextualidade intersuportes: estratégia de quebra de expectativas na leitura e na escritura de gêneros. A produção escrita na escola: o computador como ferramenta pedagógica. Leitura e (hiper)texto: "novas" práticas contemporâneas? A leitura de hipertextos: charge. A notícia no jornal escolar: o que sabem os alunos acerca dos gêneros que produzem? O conceito de pergunta nas teorias e abordagens linguísticas: uma visão panorâmica. Segunda parte - Literatura e ensino. Pirlimpsiquice: jogo de vozes em palco dialógico. O perfume da Fulô do Mato assuense: o romantismo na obra de Renato Caldas. Os filhos da carochinha: contando e recontando histórias . Terceira parte Práticas pedagógicas e legislação educacional. Ensino de leitura e escrita: a escola primária potiguar em 1920. A prática e a teoria: uma transversalidade possível no trabalho docente. Estratégias de indagação em aulas de Matemática. Estudantes no Ensino Médio e a sua relação com as aulas de Português. A Educação Infantil na LDB: pressupostos antropológicos, éticos e sociológicos

RESUMO O presente artigo argumenta sobre a possibilidade da existência de uma linguagem crítica na educação. Em contrapartida à educação para o senso comum, do tipo bancária e padronizadora praticada pela indústria cultural e educacional capitalista, que usa “uma linguagem simplificada para ser usada pelas massas” (Tognolli), com “invariantes fixos, clichês prontos, tradução

estereotipada de tudo” (Adorno), pensamos que é possível dialogar como “intersubjetividades não-violentas”, o que envolve reconhecer a diferença, a diferença total (Gur-Ze'ev), visando despertar a consciência do “quanto os homens são enganados de modo permanente” (Adorno). Isso requer o uso de uma linguagem crítica de modo poético (Bakhtin) e dialógico-amoroso (Freire), pois, se a linguagem crítica for violenta, estará sendo utilizada a mesma lógica da dominação, não promovendo, portanto, a emancipação.

INTRODUÇÃO Apesar de toda ilustração e de toda informação que se difunde (e até mesmo com sua ajuda) a semiformação passou a ser a forma dominante da consciência atual, o que exige uma teoria que seja abrangente (ADORNO, 1996, p. 388). O presente artigo argumenta sobre a possibilidade da existência de uma linguagem crítica na educação. Em contrapartida à educação para o senso comum, do tipo bancário e padronizadora praticada pela indústria cultural e educacional capitalista, que usa “uma linguagem simplificada para ser usada pelas massas" (TOGNOLLI, 2001), com “invariantes fixos, clichês prontos, tradução estereotipada de tudo” (ADORNO, apud PUCCI, 1995), pensamos que é possível dialogar como “intersubjetividades não-violentas”, o que envolve reconhecer a diferença, a diferença total (GUR-ZE'EV, 2001), visando despertar a consciência do “quanto os homens são enganados de modo permanente” (ADORNO, 1995). Isso requer o uso de uma linguagem crítica de modo poético (BAKHTIN, 1998) e amoroso-dialógico (FREIRE, 2001), pois, se a linguagem crítica for violenta, estará sendo utilizada a mesma lógica da dominação, não promovendo, portanto, a emancipação.

Tendo por meta desenvolver uma contra-hegemonia à linguagem

autoritária e sedutora da educação bancária e padronizadora, na qual o conhecimento é considerado como mercadoria e os estudantes são sujeitos passivos, reduzindo-se a clientes nessa fase da globalização do capital, julgamos que a linguagem crítica na educação deve fazer mediações poéticas e dialógicas nos círculos de cultura, inclusive no ciberespaço, criando uma força contrária à tendência hegemônica dominante.

Para desenvolver esse argumento serão explicitadas as concepções de linguagem para Bakhtin e Freire; seu significado nas perspectivas dos Estudos Culturais e da Teoria Crítica para que se possa, enfim, estabelecer as inferências a partir da premissa geral da emancipação humana, da democracia e da não-violência, pressupostos que orientam a presente proposição. A linguagem em Mikhail Bakhtin e Paulo Freire Mikhail Bakhtin (1986) e Paulo Freire (2001) concebem a linguagem como essencialmente dialógica. Suas idéias sobre o homem e a vida são marcadas pelo princípio de que a interação entre os sujeitos é o princípio fundador tanto da linguagem como da consciência. O sentido e a significação dos signos (amplamente entendido como sons, gestos, imagens, palavras e silêncio) dependem da relação entre sujeitos e são construídos na interpretação dos enunciados. Nessa perspectiva, o centro da interlocução deixa de estar polarizado entre o eu e o tu, emissor e receptor, passando a estar inserido num movimento dialógico na comunicação em torno do significado.

Segundo Lima (2001), isso significa superar visões de um modelo redutor, marcado pela unidirecionalidade, que coloca o emissor como propositor de mensagens fechadas e o receptor passivo diante delas. Significa transformar e redimensionar o espaço da recepção como espaço de interação e transformação e modificar os papéis de emissores e receptores, para uma

dinâmica relacional co-autores/criadores.

Em última análise, significa reconhecer que o interagir é mais do que simplesmente enviar e responder mensagens; é entender emissão e recepção como espaços recursivos, já que emissor e receptor passam a fazer parte de um processo de relações interligadas por fios dialógicos. Tais relações são sempre relações em processo, isto é, estão sempre se confrontando, fazem-se e desfazem-se, constroem-se e desconstroem-se, em jogos simultâneos, dinâmicos e dialógicos.

Assumir essa ótica na educação gera desafios. No campo educacional, tradicionalmente a comunicação tem apresentado um caráter linear, impositivo e monológico. Para Bakhtin, monologia é a qualidade dos discursos autoritários em que um único sentido sobressai, impedindo que os demais venham à tona; as partes são dicotomizadas em emissor (propositor da mensagem) e receptor (receptáculo acrítico do primeiro). Na prática, percebe-se que o diálogo restringe-se a um plano inferior de detalhamento ou esclarecimento de discursos prontos, oriundos de um único emissor, e a língua passa a ser um instrumento de reprodução do sistema de dominação vigente.

Na perspectiva de Freire, para que o diálogo realmente aconteça é condição que os sujeitos tenham um campo de significados em comum. “Em relação dialógico-comunicativa, os sujeitos interlocutores se expressam, como já vimos, através de um mesmo sistema de signos lingüísticos” (FREIRE, 2001, p. 67).

Ademais, Freire (1987) critica o monologismo da comunicação, quando afirma que ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou construção. Para ele ensinar exige criticidade e respeito à

autonomia do ser do educando. Caso contrário, serão feitos comunicados, extensão e invasão cultural, e não uma verdadeira comunicação. Para Freire (2001), o homem é um ser de relações, que, desafiado pela natureza, a transforma com seu trabalho, criando o mundo da cultura. E ao criar o mundo do trabalho e da cultura ele se percebe historicamente imerso na contradição opressores-oprimidos, advindo daí a necessidade de sua superação.

É impossível, na perspectiva freireana, compreender o pensamento fora de sua dupla função: cognoscitiva e comunicativa. Em vista disso, a educação é concebida como um ato político e de comunicação – e não de extensão –, pois a comunicação “implica uma reciprocidade que não pode ser corrompida” (FREIRE, 2001, p. 67). Comunicação é educação, é diálogo, “na medida em que não é transferência de saber, mas um encontro de sujeitos interlocutores que buscam a significação dos significados” (FREIRE, 2001, p. 69).

Na visão de Freire, a educação está inserida na sociedade e não descolada e reduzida a uma função capitalista de mero treinamento/ajustamento para o trabalho. O capitalismo faz uma educação do tipo “bancária”, que representa “a inconciliação educador-educandos”. Sob essa ótica, a educação serviria para auxiliar o processo de transformação, de mudança. No livro Medo e Ousadia (1993), Freire e Shor afirmam que a mudança social seria “o estabelecimento de uma relação diferente com o conhecimento e com a sociedade” (FREIRE; SHOR, 1993, p. 48).

Assim, a mudança também se dá a partir do campo da consciência e, mais precisamente, da linguagem. No livro Pedagogia do Oprimido, Freire coloca que: “Existir,

humanamente, é pronunciar o mundo, é modificá-lo. O mundo pronunciado, por sua vez, se volta problematizado aos sujeitos pronunciantes, a exigir deles um novo pronunciar” (FREIRE, 1987, p. 78).

Dizer a palavra – que é também trabalho, é práxis, é transformação do mundo – não é privilégio de alguns, mas direito de todos. É por meio de um autêntico diálogo amoroso, crítico e reflexivo que se dá o processo de conscientização e de humanização, fim último da educação, que, para Freire, ocorre quando o homem, distanciando-se de seu mundo vivido, problematizando-o, decodificando-o criticamente, no mesmo movimento da consciência, redescobre-se como sujeito instaurador do mundo e de sua experiência.

Contudo, a conscientização não significa dissertar sobre conteúdos e doar aqueles saberes que nada têm a ver com os anseios, desejos, necessidades, esperanças e temores do povo. Para que haja uma comunicação real e não alienadora entre educador e educando é necessário que se estabeleçam, de comum acordo, aqueles conteúdos (temas geradores) que serão trabalhados; e esse processo investigativo implica uma metodologia que não pode contradizer a dialogicidade da educação libertadora.

Descobrir os temas geradores implica reconhecerem-se como homens que são, ao mesmo tempo produtos e produtores da história e, conseqüentemente, seres inacabados, e, por outro lado, reconhecer a existência daquilo que Vieira Pinto (apud FREIRE, 1987, p. 90) “chama de 'atos limites' – aqueles que se dirigem à superação e à negação do dado, em lugar de implicarem sua aceitação dócil e passiva”.

Nessa perspectiva, Freire considera essencial que o educador dialógico, atuando como membro de equipe interdisciplinar, contribua para problematizar esse universo temático recolhido na investigação, ao invés de simplesmente devolvê-lo como dissertação aos homens de quem o recebeu. Em vista disso, critica o elitismo das lideranças sobre as massas oprimidas, mesmo em situações ditas revolucionárias, pois não é revolução o que na prática se configura como dominação. Para ele, uma liderança que não seja dialógica está mantendo o “dominador” dentro de si mesma, como uma sombra.

Bakhtin (1986) aprofundou os estudos sobre a relação entre infra-estrutura e superestrutura por meio da linguagem e da consciência Para ele, ao lado dos fenômenos naturais, do material tecnológico e dos bens de consumo, “existe um universo particular, o universo dos signos” (BAKHTIN, 1986, p. 32). Por sua vez, um signo “(...) não existe apenas como parte de uma realidade; ele também reflete e refrata uma outra. Ele pode distorcer essa realidade, ser-lhe fiel, ou apreendê-la de um ponto de vista específico” (BAKHTIN, 1986, p. 32).

A partir dessa premissa, resta perguntar: de onde vem o ideológico ou o signo? Para Bakhtin (BAKHTIN, 1986, p. 36): “a consciência individual não é o arquiteto dessa superestrutura ideológica, mas apenas um inquilino do edifício social dos signos ideológicos”.

No entender de Bakhtin, a palavra é concebida como signo e, como tal, deve ser percebida como originária da relação social, e está presente em todos os atos de compreensão e de interpretação. Dessa maneira, como os signos mediam a relação do homem com sua realidade – como material semiótico de sua consciência –, toda atividade mental do sujeito pode ser expressa

sob a forma de signos, exteriorizando-se por meio de palavras, mímica, ou outro meio, decorrente do discurso interior.

O discurso não é individual, ocorre entre interlocutores. A linguagem não é falada no vazio, mas numa situação histórica concreta, em que se interpenetram a enunciação, as condições de comunicação e as estruturas sociais, nas quais seu significado se realiza – nas e pelas interações entre sujeitos. Essa tentativa de compreender as relações entre linguagem e sociedade, num complexo diálogo entre a existência e a linguagem, entre o mundo e a mente, entre o que é dado e o que é criado, entre o mundo da experiência em ação e a representação do mundo no discurso, nos possibilita compreender a impossibilidade de uma formação individual sem alteridade, numa evidência da presença do outro na delimitação do mundo interior.

Embora para Bakhtin “todo discurso ou texto seja dialógico, nem todo texto mostra as várias vozes do discurso” (BARROS apud FARACO et al., 2001, p. 36). Nos textos polifônicos, os diálogos entre os discursos são vistos ou se deixam ver. Já nos monofônicos, essas falas ou vozes são ocultadas, dissimuladas, mascaradas; como se fossem uma única voz, um único discurso. Assim, os discursos se constituem como monofônicos ou polifônicos, ou respectivamente, autoritários e poéticos. Quanto aos discursos autoritários, nestes “abafam-se as vozes”, escondem-se os diálogos e o discurso se faz discurso da verdade única, absoluta e incontestável. Já os discursos poéticos seriam aqueles em que não são encontrados vestígios de autoritarismo e coerção social, representando uma síntese que respeita as diferenças.

A LINGUAGEM NA PERSPECTIVA CRÍTICA

A partir da perspectiva dos estudos culturais de Antônio Gramsci, na sociedade capitalista a educação tem uma função política claramente definida: formar os intelectuais de diversos níveis cujas funções na sociedade civil são as de organizar a hegemonia, o “consenso espontâneo” da população (GRAMSCI, 1991; HALL, 2003). Esse “consenso” nasce do prestígio que a burguesia tem na sociedade e do aparato de coerção estatal que assegura legalmente a disciplina dos que “consentem”. Mas para ele, esse “senso comum” deve ser combatido em todas as frentes, inclusive na mídia.

Para Gramsci, assim como para Freire e Gur-Ze’ev, a política após a Revolução Industrial é marcada por conflitos de classe que se expressam objetivamente por meio da exclusão/opressão e subjetivamente por meio da ideologia, que distorce e falsifica a realidade, fazendo com que os dominados vejam como “natural” essa opressão. E a ideologia, como algo imaterial, permeia e direciona todas as esferas da sociedade, como a mídia e a educação.

Nesse sentido, a partir da concepção de ideologia desenvolvida por Marx (1986), de que a classe que é a força material dominante na sociedade é, ao mesmo tempo, sua força intelectual dominante, conforme julgamento de Darrell Moen (1998) e Stuart Hall (2003), Gramsci avançou na teoria da ideologia acrescentando à filosofia marxista o conceito de hegemonia, entendida como “falsa consciência”. A hegemonia expressa o consentimento das classes subalternas à dominação burguesa, apresentando-se como a outra face do poder: a do domínio das consciências e da linguagem pela reprodução da ideologia.

Esse “consentimento espontâneo” que as pessoas têm acerca da existência de um sistema coercitivo na sociedade é transmitido/reforçado pela escola, a qual tem a tarefa de formar os intelectuais que manterão, reproduzirão e aperfeiçoarão o sistema de opressão sob o capitalismo. Os intelectuais que a escola produz são classificados como intelectuais orgânicos ou de mais alto nível: criadores das várias ciências, filosofia, arte, etc.; e os de nível mais baixo: administradores e divulgadores da riqueza intelectual existente.

Para Gramsci, a escola na perspectiva transformadora teria o papel de formar os intelectuais que organizarão/formarão uma nova cultura, com o objetivo de contribuir com o processo de criação de uma outra hegemonia diversa da hegemonia dominante, pois para ele é na “arena da consciência” que as elites utilizam os seus intelectuais orgânicos para manter a dominação.

Análise similar é encontrada na perspectiva da Teoria Crítica, segundo a qual, onde para Adorno e Horkheimer (1994), técnicas como o cinema e o rádio mantêm coeso o todo. Não passam de um negócio a ser utilizado como ideologia destinada a legitimar a sociedade capitalista. Assim, a técnica está inserida na lógica da racionalidade instrumental enquanto dominação da indústria cultural. Para eles, é difícil escapar dessa racionalidade instrumental, técnica, onde os meios estão acima dos fins. Assim, o cinema e o rádio deixam de veicular arte e educação tornando-se um negócio, reificando as consciências das pessoas. As mais íntimas reações das pessoas estão tão completamente reificadas para elas próprias que a idéia de algo peculiar a elas só perdura na mais extrema abstração (...). Eis aí o triunfo da publicidade na indústria cultural, a mimese compulsiva dos consumidores, pela qual se identificam às mercadorias culturais

que eles, ao mesmo tempo, decifram muito bem (ADORNO; HORKHEIMER, 1994, p. 156).  

Feenberg (2004) argumenta sobre a natureza essencialmente hierárquica da técnica que, ao gerar uma administração tecnocrática, cria um sistema distópico. Críticos radicais da tecnologia, de Mumford e Marcuse até os de hoje, geralmente concordam que a emergência do poderio tecnocrático no Leste e no Oeste eclipsou a luta de classes. Também argumento que o tema central da política atual é a prevalência da administração tecnocrática e a ameaça que joga sobre a ação humana. Isso me leva a enfatizar a natureza essencialmente hierárquica da ação técnica, a relação assimétrica entre ator e objeto que, quando alcançam grandes espaços das relações humanas, tendem a criar um sistema distópico (FEENBERG, 2004, p. 4). Para Adorno, a indústria cultural – sinônimo de mídia – gera a semicultura e, como conseqüência, há a produção de uma semiformação, onde “os conteúdos objetivos, coisificados e com caráter de mercadoria da formação cultural perduram à custa de seu conteúdo de verdade e de suas relações vivas com o sujeito vivo, o qual, de certo modo, corresponde à sua definição” (ADORNO, 1996, p. 395).

E essa semiformação, em nível de linguagem, é obtida mediante:

A seqüência automatizada de operações padronizadas, a disseminação de bens padronizados para a satisfação de necessidades iguais, à tendência a uniformização, os invariantes fixos, os clichês prontos, a tradução estereotipada de tudo, se permitem uma distribuição mais acessível e universal de bens

culturais, geram, por outro lado a exclusão do novo, do diferente, do criativo”(ADORNO, apud PUCCI, 1995, p. 27). Em nível do sujeito, Tognolli (2001) teoriza que sociedades que se relacionem “só por palavras fixas e códigos de acesso em vez da mediação e dos acontecimentos sociais, gerarão indivíduos que falarão e pensarão por clichês – ou falarão e pensarão significantes sem significados” (TOGNOLLI, 2001, p. 85).

O que antes era pensamento cede lugar ao não-pensamento, à automação. Para ele, chavão de linguagem, clichê, é, antes de tudo, programação. Sua hipótese é que os computadores podem absorver palavras-chave e incentivar a cultura do superficialismo.

Apoiado nos argumentos de Eugene Provenzo, Tognolli argumenta que já temos as palavras simplificadas, os newspeaks, algo próximo à linguagem da nova Oceania, do romance 1984 de George Orwell (1977), “uma linguagem simplificada para ser usada pelas massas” (TOGNOLLI, 2001, p. 177).

E esse processo de palavras-chave e clichês pode ser apenas uma parte disso: temos uma linguagem simplificada para as pessoas consumirem, o que pode tornar a cultura de massa ainda mais superficial.

CONSIDERAÇÕES FINAIS Para Feenberg (2004) e Kellner (2004), as tecnologias da mídia e do computador estão criando profundas mudanças sociais, que exaltam ao extremo os benefícios da supervia informacional, onde se supõe que os indivíduos consigam dados e entretenimento a seu dispor, insiram-se em novas comunidades virtuais e até mesmo criem novas identidades. Contudo, eles

argumentam que sua realidade enquanto integrante das mais avançadas forças de produção cria uma nova sociedade capitalista global, a qual pode reforçar as relações capitalistas de produção e hegemonia, transformando a comunicação em espetáculo. Mas, ao mesmo tempo, essas tecnologias também contêm potencial para democratizar, humanizar e transformar as desigualdades existentes no domínio de classe, raça e gênero.

Gur-Ze'ev (2000) analisa que, apesar de o ciberespaço ser uma máquina de prazer pós-moderna que visa à reprodução da dominação capitalista em sua fase globalizada e auto-controlada, ainda há a possibilidade do imprevisível e do incontrolável. Essa possibilidade faz com que os sujeitos ressuscitem o que é esquecido ou desconstruído na Rede: o Eros, a reflexão, a transcendência e a ética em um diálogo historicamente situado. Contudo, para ele, a realização do Espírito crítico não está garantida, dado que o sujeito, assim como o diálogo não é, hoje, mais do que uma utopia.

Neste sentido, consideramos pertinente o alerta de Virilio já em 1999: Mas isso ainda não é nada comparado à inauguração, que se dará em breve, do “processamento automatizável do conhecimento”, essa generalização da amnésia que constituirá a realização definitiva da indústria do esquecimento, uma vez que o conjunto das informações analógicas (audiovisuais e outras) deve ser substituído em breve pelo digital, com a codificação do computador tomando o lugar das linguagens das “palavras das coisas”(VIRILIO, 1999, p. 119-120).   Para Adorno (1995), em oposição à massificação e à violência da indústria cultural, desbarbarizar é a tarefa mais urgente da educação. E explicita o papel emancipador, e, portanto, ético da

educação, quando alerta aos professores que comecem a despertar em seus alunos a consciência de que os homens são enganados de modo permanente. Para isso ele sugere atividades que envolvam leituras, audições e assistências conjuntas, com eles utilizando revistas, rádios, músicas e filmes comerciais (e ainda acrescentaria softwares, sites, hipertextos, etc.), mostrando-se-lhes as falsidades dos discursos ali presentes.

Na perspectiva dos Estudos Culturais, temos que para Gramsci a superação da hegemonia (ou falsa consciência) ocorre pela catarsis, entendida como a “passagem do momento puramente econômico (ou egoísta-passional) ao momento ético-político, isto é, a elaboração superior da estrutura em superestrutura na consciência dos homens” (GRAMSCI, 1991, p. 53).

E como se faz isso? Retomemos a Marx quando na sua terceira tese sobre Feurbach postula que: “A coincidência da modificação das circunstâncias com a atividade humana ou alteração de si próprio só pode ser apreendida e compreendida racionalmente como práxis revolucionária” (MARX, 1986, p.12).

Para Marx, a linguagem é tão antiga quanto a consciência – a linguagem é a consciência real, prática, que existe para os outros homens e, portanto, existe para mim mesmo; e a linguagem nasce, como a consciência, da carência, da necessidade de intercâmbio com os outros homens - Onde existe uma relação, ela existe para mim. (...) A consciência, portanto, é desde o início um produto social, e continuará sendo enquanto existirem homens (MARX, 1986, p. 43). A partir da crítica de Marx, entendemos que tanto a linguagem como a consciência são expressões da relação do homem com o mundo, tanto em nível social quanto natural. Como corolário,

tem-se que: “a consciência da necessidade de estabelecer relações com os indivíduos que o circundam é o começo da consciência de que o homem vive em sociedade” (MARX, 1986, p. 44). E a partir do momento em que o homem estabelece a consciência, primitiva num primeiro momento, mas cada vez mais refinada com o passar dos tempos, ele estabelece a divisão do trabalho material e espiritual.

No entanto, Marx afirma que “não é a consciência dos homens que determina seu ser; é o seu ser social que, inversamente, determina a sua consciência” (MARX, 1971, p. 29), salientando, dessa forma, a primazia do material sobre o imaterial, dado que sua concepção do homem, e conseqüentemente da história, é o homem concreto, aquele que tem necessidades tanto materiais como imateriais e que trabalha para satisfazê-las.

Assim, o “trabalho é a objetivação da vida genérica do homem: ao não se reproduzir somente intelectualmente, como na consciência, mas ativamente, ele se duplica de modo real e percebe a sua própria imagem num mundo por ele criado” (MARX, 2001, p. 117) (grifos do autor).

Contudo, quando o produto do trabalho é apropriado por outro homem e torna-se alienado, é roubada do homem “a sua vida genérica, a sua objetividade real como ser genérico e transforma em desvantagem a sua vantagem sobre o animal, então lhe é arrebatada a natureza, o seu corpo inorgânico” (MARX, 2001, p. 117). Assim: “A consciência que o homem tem da própria espécie altera-se por meio da alienação, de modo que a vida genérica se transforma para ele em meio” (MARX, 2001, p. 117).

A partir disso, Marx conclui que o trabalho alienado transforma

a vida genérica do homem, e também a característica enquanto sua propriedade genérica espiritual, em ser estranho, em meio da sua existência individual. Aliena do homem o próprio corpo, assim como a característica externa, a sua vida intelectual a sua vida humana (...). Uma implicação imediata da alienação do homem a respeito do produto do trabalho, da sua vida genérica, é a alienação do homem em relação ao outro homem. Quando o homem se contrapõe a si mesmo, entra do mesmo modo em oposição com outros homens (MARX, 2001, p. 117) (grifos do autor). Para Marx, a propriedade privada decorre, portanto, “da análise do conceito de trabalho alienado, ou melhor, do homem alienado, do trabalho alienado, da vida alienada, do homem estranho a si mesmo” (MARX, 2001, p. 120).

Nesse sentido, sua concepção da essência do homem tem por pressuposto a crítica da propriedade privada, a qual tornou-nos tão estúpidos e limitados que um objeto só é nosso quando o possuímos, ou seja, quando ele existe para nós como capital, quando o temos em posse imediata, quando o comemos, o bebemos, o usamos, nele vivemos, quando, numa palavra, o consumimos... É por isso que o lugar de todos os sentimentos físicos e morais foi ocupado pela simples alienação de todos esses sentimentos pelo sentimento de posse. A essência humana devia cair nessa miséria absoluta para fazer nascer de si própria sua riqueza interior (MARX, 2001, p. 142). Diante disso, pensamos que a luta pela desalienação da consciência através de uma linguagem crítica requer, sobretudo, que essa linguagem crítica não seja violenta, para que seja possível libertar os sentimentos físicos e morais dominados pela posse, pois, caso isso não aconteça, se estaria utilizando a mesma lógica do opressor.

Torna-se imprescindível, portanto, em uma educação que se queira crítica, desenvolver uma práxis educativa na qual a linguagem seja a expressão das múltiplas vozes (Bakhtin), que, por meio do diálogo amoroso (Freire), busquem superar a dominação que existe nas relações de classe (Marx). Caso contrário, continuaremos a ter o que bem analisa Adorno (1996, p. 395): “No clima da semiformação, os conteúdos objetivos, coisificados e com caráter de mercadoria da formação cultural, perduram à custa de seu conteúdo de verdade e de suas relações vivas com o sujeito vivo, o qual, de certo modo, corresponde à sua definição”.

Linguagem, língua, lingüística

É notável a semelhança nas explicações em epigrafe sobre a origem do mundo: embora formuladas em épocas remotas, associam a palavra ao poder mágico de criar. O fascínio que a linguagem sempre exerceu sobre o homem vem desse poder que permite trocar experiências. A linguagem verbal é a matéria do pensamento e o veiculo da comunicação social. Não há sociedade sem comunicação. Tudo o que se produz como linguagem ocorre em sociedade e constitui uma realidade material que se relaciona com o que lhe é exterior. Como realidade material a linguagem é relativamente autônoma. A complexidade do fenômeno lingüístico vem há muito desafiando a compreensão dos estudiosos. Retraçaremos a história dessa busca para entender como o objeto de estudo foi aos poucos se delineando e assumindo as configurações que

hoje nos estudo lingüísticos.

1. Uma breve historia do estudo da linguagem

O interesse pela linguagem é muito antigo. Foram razões religiosas que levaram os hindus a estudar sua língua, para que os textos sagrados não sofressem modificações. Mais tarde os gramáticos hindus dedicaram-se a descrever minuciosamente sua língua. Os gregos preocuparam-se em definiras relações entre o conceito e a palavra que o designa. Aristóteles desenvolveu estudos noutra direção, tentando proceder a uma analise precisa da estrutura linguística. Varrão dedicou-se a gramática, esforçando-se por defini-la como ciência e como arte. Na Idade Média, os modistas consideraram que a estrutura gramatical das línguas é uma e universal. A religiosidade ativada pela Reforma provoca a tradução dos livros sagrados em numerosas línguas. Em 1660, a Grammaire generale ET raisonnee de Port Royal, ou Gramática de Port Royal, de Lancelot e Arnaud demonstra que a linguagem se funda na razão. O conhecimento de um numero maior de línguas vai provocar o interesse pelas línguas vivas. O pensamento linguístico contemporâneo preconizava a analise dos fatos observados. O estudo vai evidenciar o fato de que as línguas se transformam com o tempo. A publicação de Franz Bopp sobre o sistema de conjugação do sânscrito é considerada o marco do surgimento da Linguística

Histórica. A descoberta de semelhanças entre essas línguas e grande parte das línguas europeias vai evidenciar que existe entre elas uma relação de parentesco. O grande progresso na investigação do desenvolvimento histórico das línguas foi acompanhado por uma descoberta fundamental que veio a alterar o próprio objeto de analise dos estudos sobre a linguagem. Os estudiosos compreenderam melhor do que seus predecessores que as mudanças observadas nos textos escritos correspondentes aos diversos períodos que levaram. A Linguística moderna considera a prioridade do estudo da língua falada como um de seus princípios fundamentais. A Linguística não era autônoma, submetia-se as exigências de outros estudos. O método cientifico supões que a observação dos fatos seja anterior ao estabelecimento de uma hipótese e que os fato observados sejam examinados sistematicamente mediante experimentação e uma teoria adequada.

2. O que é a linguagem?

As línguas naturais são manifestações de algo mais geral, a linguagem. Tal constatação fica mais patente se pensarmos em traduzi-la para o inglês, que possui um único termo – language – para os dois conceitos – língua e linguagem. O desenvolvimento dos estudos linguísticos levou muitos estudiosos a proporem definições da linguagem. Apresentadas duas propostas, a de Saussure e a de Chomsky, que pressupõem uma teoria geral da linguagem e da analise linguística. Saussure considerou a linguagem “heteróclita e multifacetada”,

pois abrange vários domínios; é, ao mesmo tempo, física, fisiológica e psíquica; pertence ao domínio individual e social; “não se deixa classificar em nenhuma categoria de fatos humanos, pois não se sabe como inferir sua unidade”. Em meados do século XX, o norte-americano Noam Chomsky trouxe para os estudos linguísticos uma nova onda de transformação “Doravante considerarei uma linguagem como um conjunto (finito ou infinito) de sentenças, cada uma finita em comprimento e construída a partir de um conjunto finito de elementos”. Toda língua natural possui um numero finito de sons (e um numero finito de sinais gráficos que os representam, se for escrita); mesmo que as sentenças distintas da língua sejam em numero infinito, cada sentença só pode ser representada como uma sequência finita desses sons (ou letras). Cabe aos linguista que descreve qualquer uma das línguas naturais determinar quais desses sequências finitas de elementos são sentenças, e quais não são, isto é, reconhecer o que se diz e o que não se diz naquela língua. A analise das línguas naturais deve permitir determinar as propriedade estruturais que distinguem a língua natural de outras linguagens. Chomsky acredita que tais propriedades são tão abstratas, complexas e especificas que não poderiam ser aprendidas a partir do nada por uma criança em fase de aquisição da linguagem. Essas propriedades já devem ser acionadas durante o processo de aquisição da linguagem. Para Chomsky, portanto, a linguagem é uma capacidade inata e especifica da espécie, isto é, transmitida geneticamente e própria da espécie humana. Assim sendo, existem propriedades

universais da linguagem, segundo Chomsky e os que compartilham de suas ideias. Esses pesquisadores dedicam-se a busca de tais propriedades, na tentativa de construir uma teoria geral da linguagem fundamentada nesse princípios. Essa teoria é conhecida como gerativismo. Assim como Saussure – que separa língua de fala, ou o que é linguístico do que não é – Chomsky distingue competência Linguística é a porção do conhecimento do sistema linguístico do falante que lhe permite produzir o conjunto de sentenças de sua língua; é um conjunto de sentenças de sua língua; é um conjunto de regras que o falante construiu em sua mente pela aplicação de sua capacidade inata para a aquisição da linguagem aos dados linguísticos que ouviu durante a infância. O desempenho corresponde ao comportamento linguístico, que resulta não somente da competência linguística do falante, mas também de fatores não linguísticos de ordem variada, como: convenções sociais, crenças, atitudes emocionais do falante em relação ao que diz, pressupostos sobre as atitudes do interlocutor etc., de um lado; e, de outro, o funcionamento dos mecanismos psicológicos e fisiológicos envolvidos na produção dos enunciados. O desempenho pressupõe a competência, ao passo que a competência não pressupõe desempenho. A tarefa do linguista é descrever a competência, que é puramente linguística subjacente ao desempenho. A língua – sistema linguístico socializado – de Saussure aproxima a linguística da sociologia ou da Psicologia Social; a competência – conhecimento linguístico interaliado – aproxima a linguística da Psicologia Cognitiva ou da biologia.

3. Existe linguagem animal?

Um estudo clássico sobre o sistema de comunicação usado pelas abelhas, publicado em 1959 por Karl Von Frisch, revela que a abelha-obreira, ao encontrar uma fonte de alimento, regressa a colméia e transmite a informação às companheiras por meio de dois tipos de dança: circular, traçando círculos horizontais da direita para a esquerda e vice versa, ou em forma de oito, em que a abelha contrai o abdome, segue em linha reta e faz uma volta completa a esquerda, de novo corre em linha reta e faz um giro para a direita, e assim sucessivamente. Se o alimento está próximo, a menos de cem metro, a abelha executa uma dança circular; se está distante, realiza uma dança em forma de oito. A mensagem transmitida pela dança em forma de oito é muito precisa, porque indica a distancia em metros: para a distancia de cem metros, a abelha percorre nove ou dez vezes em 15 segundos a linha reta que faz parte da dança. Quanto maior a distancia, menos giros faz a abelha (para 500 metros faz seis giros em 15 segundo). A direção a ser seguida é dada pela direção da linha reta em relação à posição do sol. Os dois tipos de dança apresentam-se como verdadeiras mensagens que anunciam a descoberta para a colméia: ao perceber o odor da obreira ou absorvendo o néctar que ela deglute as abelhas se da conta da natureza do alimento; ao observar a dança, as abelhas descobrem o local onde se encontra a fonte do alimento. Os estudos do zoólogo alemão fazem uma importante revelação sobre o funcionamento de uma “linguagem” animal, que

permite avaliar pelo confronto a singularidade da linguagem humana, conforma assinala Benveniste (1976). Embora seja bem preciso o sistema de comunicação das abelhas – ou de qualquer outro animal cuja forma e comunicação já tenha sido analisada – ele não constitui uma linguagem, no sentido em que o termo é empregado quando se trata de linguagem humana, como se pretende demonstrar a seguir. As abelhas são capazes de: a) Compreender uma mensagem com muitos dados e de reter na memória informações sobre a posição e a distancia; e b) Produzir uma mensagem simbolizando – representando de maneira convencional – esses dados por diversos comportamentos somáticos. Essa constatações evidenciam que esse sistema de comunicação cumpre as condições necessárias a existência de uma linguagem: há simbolismo, ou seja, capacidade de formular e interpretar um “signo” (qualquer elemento que represente algo de forma convencional); há memória da experiência e aptidão para analisá-la. Assim como a linguagem humana, esse sistema é valido no interior de uma comunidade e todos os seus membros são aptos a empregá-lo e compreende-lo da mesma forma. No entanto, as diferença entre o sistema de comunicação das abelhas e a linguagem humana são consideráveis: a) A mensagem de traduz pela dança exclusivamente, sem intervenção de um “Aparelho vocal”, condição essencial para a linguagem; b) A mensagem da abelha não provoca uma resposta, mas apenas uma conduta, o que significa que não há dialogo;

c) A comunicação se refere a um dado objetivo, fruto da experiência. A abelha não constrói uma mensagem a partir de outra mensagem. A linguagem humana caracteriza-se por oferecer um substituto à experiência, apto a ser transmitido infinitamente no tempo e no espaço. d) O conteúdo da mensagem é único – o alimento, a única variação possível refere-se a distancia e a direção; o conteúdo da linguagem humana é limitado; e e) A mensagem das abelhas não se deixa analisar, decompor em elementos menores. É esse ultimo aspecto a característica mais marcante que opõe à comunicação das abelhas a linguagem humana. Num enunciado lingüístico como “quero água” é possível identificar três elementos portadores de significado: quer –(radical verbal) + - o (desinência numero-pessoal), água, denominados morfemas. Prosseguindo a decomposição, pode-se chegar a elementos menores ainda. No enunciado “quero água”, a menor unidade, os segmentos sonoros, denominados fonemas, permitem distinguir significado, como se pode observar na substituição de (À) por (é) em água égua. Essa é a propriedade da articulação, que é fundamental na linguagem humana, pois permite produzir uma infinidade de mensagens novas a partir de um numero limitado de elementos sonoros distintivos. Em síntese, a comunicação das abelhas não é uma linguagem, é um código de sinais, como se pode observar pelas suas características: conteúdo fixo, mensagem invariável, relação a uma só situação, transmissão unilateral e enunciado indecomponível. Benveniste chama a atenção, ainda, para o fato de que essa forma de comunicação tenha sido observada

entre insetos que vivem em sociedade e é a sociedade a condição para a linguagem.

4. O que é a Linguística?

Como o termo linguagem pode ter um uso não especializado bastante extenso, podendo referir-se desde a linguagem dos animais até outras linguagens – musica, dança pintura, mímica, etc. – convém enfatizar que a Linguística detém somente na investigação cientifica da linguagem verbal humana. No entanto, é de se notar que todas as linguagens (verbais e não-verbais) compartilham uma característica importante – são sistemas de signos usados para a comunicação. Esse aspecto comum tornou possível conceber-se uma ciência que estuda todo e qualquer sistema de signos. Saussure a denominou Semiologia; Peirce a chamou de Semiótica. A Linguística é, portanto, uma parte dessa ciência geral; estuda a principal modalidade dos sistemas, as línguas naturais, que são a forma de comunicação mais altamente desenvolvida e de maior uso. Uma pintura, uma dança, um gesto podem expressar, mesmo que sob formas diversas, um mesmo conteúdo básico, mas só a linguagem verbal é capaz de traduzir com maior eficiência qualquer um desses sistemas semióticos. As línguas naturais situam-se numa posição de destaque entre os sistemas signicos porque possuem, entre outras, as propriedades de flexibilidade a adaptabilidade, que permitem expressar conteúdos bastante diversificados: emoções, sentimentos, ordens, perguntas, afirmações, como também possibilitam falar do presente, passado e futuro.

Os estudos lingüísticos não se confundem com o aprendizado de muitas línguas: o lingüista deve estar apto a falar “sobre” uma ou mais línguas, conhecer seus princípios de funcionamento, suas semelhanças e diferenças. A Lingüística não se compara ao estudo tradicional da gramática; ao observar a língua em uso o lingüista procura descrever e explicar os fatos: os padrões sonoros, gramaticais é lexicais que estão sendo usados, sem avalias aquele uso em termos de um outro padrão: moral, estético ou critico. As diferenças de pronuncia, de vocabulário e de sintaxe observadas por um habitante de São Paulo, por exemplo, ao comparar sua expressão verbal a dos falantes de outras regiões, como Rio de Janeiro, Salvador, Recife, Belo Horizonte, muitas vezes o fazem considerar “horrível” o sotaque de algumas dessas regiões; “esquisito” seu vocabulário e “errada” sua sintaxe. Esses julgamentos não são levados em conta pelo lingüista, cuja função é estudar toda e qualquer expressão Lingüística como um fato merecedor de descrição e explicação dentro de um quadro cientifico adequado. O lingüista procura descobrir como a linguagem funciona por meio do estudo de línguas especificas, considerando a língua um objeto de estudo que deve ser examinado empiricamente, dentro de seus próprios termos, como a Física, a Biologia, etc. a metodologia de analise Lingüística focaliza, principalmente, a fala das comunidade e, em segunda instancia, m a escrita. A prioridade atribuída pelo lingüista ao estudo da língua falada explica-se pela necessidade de corrigir os procedimento de analise da gramática tradicional, que se preocupava quase exclusivamente com a língua literária, como modelo único para

qualquer forma de expressão escrita ou falada. O prestigio e a autoridade da língua escrita em nossa sociedade, muitas vezes, são obstáculos para os principiantes nos estudos da Lingüística, que tem dificuldade em perceber a aceitar a possibilidade de considerar a língua falada independentemente de sua representação gráfica. É comum ouvir dizer de uma criança ainda não alfabetizada, que pronuncie mola por mora, por exemplo, que “ela troca letra”, quando na realidade ela ETA substituindo um som por outro. Os critérios de coleta, organização, seleção e analise dos dados lingüísticos obedecem aos princípios de uma teoria Lingüística expressamente formulada para esse fim. Os resultados obtidos são correlacionados as informações disponíveis sobre outras línguas com o objetivo de elaborar uma teoria geral da linguagem. Distinguem, aqui, dois campos de estudos: a Lingüística geral e a descritiva. A Lingüística geral oferece os conceitos e modelos que fundamentarão a analise das línguas; a Lingüística descritiva fornece os dados que confirmam ou refutam as teoria formuladas pela Lingüística geral. São duas tarefas interdependente; não pode haver Lingüística geral ou teórica sem a base empírica da lingüística descritiva. É possível, entretanto, que uma descrição Lingüística tenha outros objetivos, alem de oferecer elementos para analise da Lingüística geral; o trabalho de descrição de uma língua pode estar preocupado em produzir uma gramática ou um dicionário, com o objetivo de dotá-la de instrumento para sua difusão na forma escrita, como no caso de línguas indígenas, africanas ou outras que ainda não circulem no meio escrito. No século XIX os lingüistas preocuparam-se com o estudo das

transformações por que passavam as línguas, na tentativa, de explicar as mudanças Lingüísticas. A Lingüística era histórica ou diacrônica. Saussure, no inicio do século XX, introduziu um novo ponto de vista no estudo das línguas, o ponto de vista sincrônico, segundo o qual as línguas eram analisadas sob a forma que se encontravam num determinado momento histórico, num ponto do tempo. A descrição Lingüística observaria “a relação entre coisas coexistentes”, que constituiriam o sistema lingüístico. Embora defendessem a perspectiva sincrônica no estudo das línguas, Saussure reconhecia a importância e a complementaridade das duas abordagens: a sincrônica e a diacrônica. Em sincronia os fatos lingüísticos são observados quanto ao seu funcionamento, num determinado momento. Em diacronia os fatos são analisado quanto as suas transformações, pela relações que estabelecem com os fatos que o precederam ou sucederam. A descrição sincrônica analisa as relações existentes entre os fatos lingüísticos num estado de língua; os estudos diacrônicos são feitos com base na analise de sucessivos estados de língua. O estudo sincrônico sempre precede o diacrônico. Para explicar, por exemplo, como o pronome de tratamento Vossa Mercê se transformou até assumir a forma atual Você, pronome pessoal, é necessário comparar diferentes estados de língua pré Linguagem, língua, Lingüística viamente caracterizados como tais e observar as mudanças que ocorreram na expressão sonora e no uso. Muitos lingüistas tomam a separação sincronialdiacronica como um rigoroso principio metodológico: ou se investiga um estado de língua ou se investiga a historia da língua. Temos, então, dois

ramos da Lingüística: a sincrônica e a histórica. Modernamente, a Lingüística sincrônica vem sendo denominada Lingüística teórica, preocupada mais com a construção de modelos teórico do que com a descrição de estados de língua, Com muitas áreas de estudo se interessam pela linguagem, o estudo do fenômeno lingüístico na interface com outras disciplinas criou varias áreas interdisciplinares: a etnolinguistica, que trabalha no âmbito da relação entre língua e cultura; a sociolingüística, que se detém no exame da interação entre língua e sociedade; a psicolingüística, que estuda o comportamento do individuo como participante do processo de aquisição da linguagem e da aprendizagem de uma segunda língua.

5. Gramática: o ponto de vista normativo-descritivo

A gramática tradicional, ao fundamentar sua analise na língua escrita, difundiu falsos conceitos sobre a natureza da linguagem. Ao não reconhecer a diferença entre língua escrita e língua falada passou a considerar a expressão escrita como modelo de correção para toda e qualquer forma de expressão Lingüística. A gramática tradicional assumiu desde sua origem um ponto de vista prescritivo, normativo em relação à língua. A esse respeito é significativo lembrar que a primeira descrição Lingüística de que se tem noticia, a dos sânscrito, feita pelo gramático hindu Pane – em que pese seu propósito de assegurar a conservação literal dos textos sagrados culta (blasha) precisava ser estabilizada para defender-se da

“invasão” dos falares populares (pracritos), portanto num momento em que uma determinada variedade Lingüística deveria ser valorizada e difundida. Outras gramáticas antigas, como as do árabe, grego e latim, também eram prescritivas e pedagógicas; almejavam descrever a língua cuidadosamente, mas também prescreviam o uso correto. Essa tradição normativa serve de modelo ainda hoje, principalmente nos países onde há a preocupação em desenvolver e fortalecer uma língua padrão; ela fornece argumentos para se acreditar que existe uma única maneira correta de se usar a língua. Visto que a norma da correção é prescrita por uma fonte de autoridade, as demais cariedade são consideradas inferiores e incorretas. Por outro lado, as sociedades contemporâneas expressar-se segundo a norma, falar certo continua sendo valorizado, porque a correção da linguagem está associada às classes altas e instruídas, é uma das marcas distintivas das classes sociais dominantes. A tarefa do gramático se desdobra em dizer o que é a língua, descrevê-la, e ao privilegiar alguns usos, dizer como deve ser a língua. Na verdade, a conjunção do descritivo e do normativo efetuada pela gramática tradicional opera uma redução do objeto de analise que, de intrinsecamente heterogêneo, assume uma só forma: a do uso considerado correto da língua. Na maioria dos casos, é esse uso o único que vai ser estudado e definido pela escola, em detrimento de um conhecimento mais amplo da diversidade e variedade dos usos lingüísticos.

6. Linguística: o ponto de vista descritivo-explicativo

A pesquisa Lingüística desenvolvida no século XIX levou a separar cada vez mais o conhecimento científico da língua da determinação de sua norma. A Lingüística histórica, estudando em profundidade as transformações da linguagem, mostrou que as mudanças Lingüísticas freqüentemente tem sua origem na fala popular: muitas vezes o errado de uma época passa a ser consagrado como a forma correta da época seguinte. Mesmo se observarmos alguns fatos do português contemporâneo verificaremos que as formas consideradas “erradas” são freqüentes, mesmo na fala das pessoas cultas, ocorrendo de forma bastante variável em alguns casos, como nos exemplos a seguir:

1) “Fui no Ibirapuera.” 2) “Ela foi na feira.” 3) “Quero ir a Bahia”. 4) “Nunca fui ao Maracanã.” 5) “vá já para casa.”

Nesses casos, segundo a tradição gramatical, o verbo “ir de movimento” deve ser empregado apenas com as preposições “a” e “para”, observando para a escolha uma diferença sutil de sentido: a introduz numerosas circunstancias como movimento ou extensão; para indica movimento, direção para um lugar com a idéia acessória de demora ou destino. No entanto, o uso mais freqüente prefere a preposição em, com verbos de movimento, cujo emprego é considerado pelos gramáticos normativistas solecismo de regência, que deve ser evitado.

Observamos, então, três possibilidades de uso: duas variantes aceitas pelo padrão culto e uma terceira variante rejeitada por esse mesmo padrão. Convém destacar que essa forma estigmatizada já tinha ocorrido no passado, em textos arcaicos e em textos do século XIX. A visão prescritiva da linguagem não admite mais de uma forma correta, nem aceita a possibilidade de escolha, que uma forma seja mais adequada para um uso do que para outro, como seria o caso de uma expressão mais apropriada à língua escrita do que á falada, ao uso coloquial do que a uma situação formal de comunicação. A abordagem descritiva assumida pela Lingüística entende que as variedades não padrão do português, por exemplo, caracterizam-se por um conjunto de regras gramaticais que simplesmente diferem daquelas do português padrão. O termo “gramatical” é usado aqui com um valor descritivo: a gramática de uma língua ou de um dialeto é a descrição das regularidades que sustentam a sua estrutura. Assim sendo, os exemplos acima são sentenças gramaticais dentro da variedade (dialeto) coloquial. A Lingüística, portanto, como qualquer ciência, descreve seu objeto como ele é não especula nem faz afirmações sobre como a língua deveria ser. Com o objetivo de descrever a língua, a Lingüística desenvolveu uma metodologia que visa analisar as frases efetivamente realizadas reunidas num corpus representativo (conjunto de dados organizados com uma finalidade de investigação). O corpus não constituído apenas pelas frases “corretas” (como a gramática normativa), também inclui as expressões “erradas”, desde que apreçam na fala dos locutores nativos da língua sob

analise. A descrição dos fatos assim organizados não tem nenhum intenção normativa ou histórica, pretende tão somente depreender a estrutura das frases, dos morfemas, dos fonemas e as regras que permitem a combinação destes. Dessa postura teórico-metodologica diante da língua decorre o caráter cientifico da Lingüística, que se fundamenta em dois princípios: o empirismo e a objetividade. A Lingüística é empírica porque examina a língua de forma independente, livre de preconceitos sociais ou culturais associados a uma visão leiga da linguagem. As analises Lingüística efetuadas, até os anos 1950, pelo seguidores de Saussure, na Europa, e dos norte-americanos Bloomfield e Harris conformavam-se á teoria descritivista, que julgava a descrição dos fatos suficiente para explicá-los. Chomsky, a partir do final dos anos 1950, propõe que a analise Lingüística prenda-se menos aos dados e preocupa-se mais com a teoria. Para Chomsky não basta apenas observar e classificar os dados, é necessária uma teoria explicativa que preceda os dado e que possa explicar não só as frases realizadas, mas também as que potencialmente seriam produzidas pelo falante. Para esse autor e seus seguidores, um fenômeno só é explicado quando se pode deduzi-lo de leis gerias. Denomina de gramática essa teoria. A teoria da gramática, como é conhecida, trata de todas as frases gramaticais, isto é, todas as frases que pertencem á língua; na se confunde com a gramática normativa porque não dita regras, apenas explica as frases realizadas e potencialmente realizáveis na língua proposta. A intuição do falante é o único critério da gramaticalidade ou agramaticalidade da frase – conceitos que não se confundem

com a gramática normativa. É a competência do falante que vai organizar os elementos lingüísticos que constituem uma sentença, conferindo-lhes gramaticalmente. Uma seqüência de palavras é agramatical quando não respeita as regras gramaticais do sistema lingüístico, do conhecimento internalizado de que dispõe o falante, como: Problema este muito seu difícil é. A gramática é gerativa, porque de um numero limitado de regras permite gerar um numero infinito de sentenças. Reflete o comportamento do locutor que, a partir de uma experiência finita e acidental da língua, pode produzir e compreender um numero infinito de frases novas. Os gerativistas estão preocupados em depender na analise das línguas propriedades comuns universais da linguagem, que constituem a gramática universal (GU). As propriedades formais das línguas e a natureza das regras exigidas para descrevê-las são consideradas mais importante do que a investigação das relações entre a linguagem e o muno. Outra proposta de explicação do fato lingüístico é apresentada pela gramática funcional, fundamentada nos princípios do funcionalismo, que não separa o sistema lingüístico das funções que seus elementos preenchem. A gramática funcional leva em consideração o uso das expressões Lingüísticas na interação verbal; inclui na analise da estrutura gramatical toda a situação comunicativa: a propósito do evento da fala, os participantes e o contexto discursivo. Estão relacionados á Escola Lingüística de Praga os mais representativos desenvolvimentos da teoria funcionalista. A Escola de Praga teve origem no Circulo Lingüístico de Praga,

fundado em 1926. No que se refere à estrutura gramatical das línguas, os lingüistas da Escola de Praga detiveram-se na definição da perspectiva funcional da sentença. Considerando-se as sentenças:

1) José saiu ontem à noite e 2) Ontem à noite José saiu

Pode-se afirmar que (1) e (2) são versões diferentes da mesma sentença, mas pode-se dizer que a ordem das palavras é determinada pela situação de comunicação em que os enunciados são proferidos e, em particular, pelo que já é aceito ou dado como informação conhecida, e pelo que é apresentado como novo ouvinte, verdadeiramente informativo, portanto. Dentro da perspectiva funcional da sentença considera que a estrutura dos enunciados é determinada pelo uso e pelo contexto comunicativo em que ocorrem. Os diversos desdobramentos que o funcionalismo apresenta na atualidade concordam com o fato de que a língua é, antes de tudo, instrumento de interação social, usado para estabelecer relações comunicativas entre os usuários. Nesse aspecto, aproximam-se do ponto de vista do sociolinguista ao incluir o comportamento lingüístico na noção mais ampla de interação social. As possibilidades explicativas expostas não são as únicas; correspondem a diferentes abordagens da língua, que não se excluem, mas contribuem para compreender melhor o complexo fenômeno linguagem, que não se esgota no estudo das características internas à língua, em termos de

propriedades formais do sistema lingüístico, mas se abre para outras abordagens que considerem o contexto, a sociedade, a historia.

Gramática

1 A- Funções da Linguagem B- Métrica C- Ritmo 2 A- Fonemas B- Morfemas C- Regras de Acentuação D- Regras de Escrita 3 Morfologia - introdução 4 Pronomes 5 Sintaxe - introdução 6 A- Tipos de Sujeito B- Tipos de Predicado 7 A- Complementos Verbais (Objeto Direto e Indireto)B- Adjunto Adverbial C- Complemento Nominal D- Adjunto Adnominal E- Aposto F- Vocativo 8 A- Orações Subordinadas B- Coordenadas 9 Regência Nominal 10 Pontuação 11 Vozes do Verbo 12 Diversos: sinônimos, antônimos, parônimos, regras gramaticais... 13 Figuras de linguagem 14 Verbos 15 Concordância Verbal

PARTE 1

A-) FUNÇÕES DA LINGUAGEM

- são seis: emotiva, conativa, referencial, metalinguística, fática e poética. 1) Função emotiva (ou expressiva): Quando um emissor é posto

em destaque, está carregado com os próprios sentimentos do emissor, geralmente tem ponto de exclamação, verbos e pronomes na 1ª pessoa. "Eu nunca estive tão bem quanto estou agora!".

2) Função conativa (ou apelativa): ocorre quando o receptor é posto em destaque. "Você quer passar no vestibular? Entre no Site WWW.vestibularlegal.com.br.". Se organiza no sentido de convencer o receptor por meio de estímulo. É comum o uso de verbos no imperativo ou verbos e pronomes na 2ª ou 3ª pessoa. Ex.: anúncios e publicidade.

3) Função referencial: Ocorre quando o referente é o posto de destaque "os professores entrarão em greve..." - tem objetividade, pois sua finalidade é traduzir a realidade, ex.: textos jornalísticos e científicos.

4) Função metalingüística: ocorre quando o código é posto em destaque. Ex.: "A língua é um sistema de signos que exprimem idéias...", está falando dos signos lingüísticos usando os próprios, outro exemplo é um poema que reflete a criação poética. Os melhores exemplos são os livros de gramática e os dicionários.

5) Função Fática: Ocorre quando o canal é posto em destaque. Ex. As primeiras palavras de quem atende o telefone "Alô! Pronto!) os cumprimentos diários (Tudo bem? Boa tarde.)

6) Função poética: ocorre quando a própria mensagem é posta em evidência. Ocorre em textos literários, poesias e versos. Quase sempre há mais de uma função no texto, cabe ao receptor identificar na mensagem recebida a sua função predominante, e por conseguinte, a intenção do emissor.

Denotação - Sentido literal (verdadeiro) da palavra. Conotação - sentido figurado.

Linguagem referencial - preocupação fundamental é veicular, de modo objetivo, informações sobre a realidade. Linguagem literária - trata de modo pessoal, figurado e artístico uma realidade concreta ou fictícia. Recriação da realidade a partir de fatos concretos. A linguagem referencial é denotativa, a literária é conotativa.

B- ) MÉTRICA - é a medida dos versos. Escansão, processo segundo o qual o verso é dividido em sílabas poéticas, depreende-se a métrica de um verso. Por ter base na oralidade - da fala ou canto - a divisão silábica poética obedece a princípios diferentes da divisão silábica gramatical. As vogais são agrupadas numa única sílaba, e a contagem das sílabas deve ser feita até a última tônica.

Divisão gramatical: Man/das/te/ a/ som/bra/ de/ um/ bei/jo = 10 sílabas 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Divisão poética: Man/das/te a/ som/bra/ de um/ bei/jo 1 2 3 4 5 6 7 na terceira e sexta sílaba as vogais átonas agruparam-se (elisão) e a última sílaba, por ser átona, foi desprezada.

Monossílabo (uma sílaba), dissílabo (duas), trissílabo (três), etc. Os mais conhecidos são

redondilhas, a menor com cinco sílabas e a maior com sete.

Decassílabo, com dez.

alexandrino, com doze.

O verso cuja métrica se repete é chamado verso regular, só mais recentemente surgiu o verso livre, que não obedece a uma regularidade métrica.

C-) RITMO - qualquer alternância regular de elementos numa dada seqüência temporal. Em poesia, o ritmo se dá pela alternância de sílabas acentuadas e não acentuadas, o conceito poético de sílaba acentuada nem sempre coincide com o conceito gramatical de sílaba tônica. A acentuação de uma sílaba é determinada pela seqüência melódica a que ela pertence.

Tu choraste em presença da morte? Na presença de estranhos choraste? (Gonçalves Dias)

Quem dera Que sintas As dores De amores Que louco Senti! (Casimiro de Abreu)

Rima - recurso musical baseado na semelhança sonora das palavras no final dos versos, as vezes no interior dos versos (rima interna). AABB, ABAB...

Aliteração, assonância e parassonância: Aliteração - é a repetição de sons consonantais idênticos ou aproximados, normalmente no início das palavras: Vozes veladas, veludosas vozes, Volúpia dos violões, vozes veladas

Vagam nos velhos vórtices velozes Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas. (Cruz e Souza).

Assonância - é a repetição de um mesmo som vocálico: Ó Formas alvas, brancas, Formas claras (Cruz e Souza)

Parassonância - é a aproximação de palavras de um texto pela sua semelhança na forma ou no som. Tal semelhança pode envolver toda a palavra ou parte dela, como exemplifica a expressão horrendo Henrique.

PARTE 2

A-) FONEMAS - são as unidades sonoras de que uma palavra é constituída ao ser pronunciada, tradicionalmente simbolizada entre barras inclinadas (//). Assim, os fonemas da palavra pato são /p/,/a/, /t/, /u/ * considera-se a pronúncia predominante entre os falantes de português no Brasil. Na escrita a menor unidade da palavra é a letra, na fala é o fonema, a função do fonema é constituir palavras. Um mesmo fonema pode ser representado na escrita por letras diferentes: sair, sinto, cinto, caça (s,c,ç). Um mesmo fonema pode ser representado por uma só letra ou por uma combinação de duas letras.

Dígrafo - Quando uma combinação de duas letras representa um único fonema. (ascensorista, desça, vassoura, exceto)

Dífono - Uma mesma letra pode representar um só fonema ou uma combinação de fonemas (máximo, êxodo, enxame, táxi).

Na produção da fala, o ar sai dos pulmões, passa pela traquéia,

até chegar à laringe. Aí encontra as cordas vocais, que podem ser vibradas ou não. A seguir, a corrente de ar alcança a faringe até chegar à boca, onde se realizam os movimentos articulatórios da língua, dos lábios e do maxilar inferior, que modificam a forma da boca, a fim de que o som que está sendo produzido seja diferenciado em fonemas.

Quando a corrente de ar, ao passar pelo aparelho fonador encontra obstáculo parcial ou total, são produzidos os fonemas consonantais, quando encontra livre passagem, são produzidos os fonemas vocálicos.

A vogal tônica da palavra - pronunciada sempre com maior intensidade do que as outras vogais - é a responsável pela formação da sílaba tônica. Excluída a vogal tônica, as restantes são átonas.

Amor - fonema vocálico tônico é /o/ e a sílaba tônica é "mor", sílaba átona é "a". Vatapá - fonema vocálico tônico é /a/ e a sílaba tônica é "pá", sílaba átona é "va, ta".

Fonemas semivocálicos - /Y/ e /W/. boi /boy/ louco /lowku/

Ditongo - É o encontro de uma vogal e uma semivogal. Pai - pay (a = vogal e y = semivogal) Quando for semivogal + vogal é ditongo crescente. água = /agwa/ Quando for vogal + semivogal é ditongo decrescente. Pai = /pay/

Separam-se os dígrafos rr, ss, sc, sç, xc e os encontros

consonantais sç e cc: car-ro / nas-cer / ex-ce-to.

B-) MORFEMAS

- A menor unidade de uma palavra, capaz de portar um sentido é o MORFEMA. - Um primeiro nível de segmentação de um poema é a estrofe, que é segmentado em unidades menores que são os versos, que é dividido em palavras. Elemento mórfico ou morfema é a menor unidade portadora de significado de uma palavra. A palavra meninos: 3 morfemas - menin-, designando ser humano, relaciona-se com o universo da realidade; "os" morfemas -o e -s, informando respectivamente gênero e número. - morfema relacionado ao universo da realidade e os morfemas relacionados ao universo da língua. - Morfena da realidade é chamado de radical, informa o significado básico da palavra: pov-O, pobr-es. As palavras que se formam com o mesmo radical são chamadas cognatas ou da mesma família etimológica. - Morfemas relacionados ao universo da língua - São Afixo, vogal temática, desinências. Completa ou altera o sentido do radical. a) Afixos - são morfemas que se agregam ao radical, modificando seu sentido básico. Quando colocados antes do radical, são chamados de prefixos; quando depois de sufixos. Indispensável b) Vogal temática - é a vogal que sucede o radical de verbos e nomes. Em verbos, indica a conjugação a que estes pertencem: -a, que indica a 1ª conjugação; -e 2ª e -i 3ª. Fit a ndo - faz e m - sent i r

As vogais temáticas dos nomes determinam a formação de substantivos e adjetivos. -a, -e,-o ajunt a mento peix e espant o

Obs.: são atemáticas as palavras oxítonas terminadas em a,e,i, o, u, como alvará, cancomblé,tupi, avó, urubu, e palavras terminadas em consoantes, como feliz, mulher, flor, que recuperam sua vogal temática no plural: felizes. c) Tema é o radical somado a vogal temática: fit a ndo rad. + vog.tem = tema

d) Desinências são morfemas que se colocam após o radical. Nos nomes informam gênero e número: menin o s

Nos verbos informam modo, número e pessoa: apregoa va s va = imperfeito do indicativo s = 2ª pessoa do singular

Tipos de Gramáticas

Quando alguém fala em Gramática geralmente se refere à Gramática Normativa e não sabe ou esquece que há outros tipos.

A Gramática Normativa é aquela que encontramos nas escolas e em cursinhos, e trazem a forma adequada de falar e escrever. É conhecida também com Prescritiva porque dita as regras, normas para o uso correto da linguagem. Privilegia a língua escrita em detrimento da oral e não admite a existência de outra variante que não seja a língua padrão, ou seja, a língua culta.

A Gramática Descritiva é aquela utilizada pelos estudiosos e tem

o objetivo de descrever e registrar determinada variedade dialetal em um determinado tempo(análise sincrônica da língua). Além de analisar qualquer variedade existente, também privilegia a língua oral.

A Gramática Internalizada é a competência linguística do falante de determinada língua. Essa Gramática seria a responsável pelo conjunto de regras que o indivíduo domina e que permite que ele use a língua de forma satisfatória em sua comunidade.

A Gramática Contrastiva é aquela utilizada no ensino de línguas, descreve duas línguas ao mesmo tempo que  evidencia os padrões de uma língua na outra. Por isso, também é conhecida como Gramática Transferencial. Quando utilizada no ensino da língua materna, mostra os padrões parecidos entre as variedades dialetais.

A Gramática Geral ou Universal é aquela em que há uma comparação do maior número de línguas com a intenção de detectar os fatos linguísticos que podem ser realizados e condições em que podem ocorrer.

A Gramática Histórica é aquela cujo objetivo é o estudo de uma determinada língua, desde o seu surgimento até os nossos dias.

História

O interesse pela linguagem data da antiguidade clássica. Tal interesse se apresenta, na Grécia, no interior da filosofia, que se viu levada a estudar a estrutura do enunciado para poder tratar do juízo. Isto levou Platão a estabelecer a primeira classificação das palavras de que se tem conhecimento. Para ele

as palavras podem ser nomes e verbos. Depois dele Aristóteles considerou uma outra classificação das palavras: nomes, verbos e partículas. Se aqui temos a primeira divisão da cadeia de sinais linguísticos pelo reconhecimento de uma diferença de categoria entre palavras, estamos diante de uma posição que toma como interesse a relação da linguagem com o conhecimento. A divisão entre nomes e verbos procura descrever a estrutura do juízo, que deve falar de como é o mundo.

Ao lado dos estudos filosóficos, também na Grécia, desenvolveram-se os estudos retóricos e gramaticais. A Gramática pode ser considerada como elemento de uma das primeiras revoluções tecnológicas da história do Homem.

A gramática constitui-se na história como uma instrumentação das línguas que, enquanto arte (no sentido latino) ou técnica (no sentido grego), considera a gramática “um manual com regras de bom uso da língua”, isto é, trata-se de um compêndio com normas para falar e escrever corretamente . Conceito

O termo "Gramática" é usado em acepções distintas, referindo-se quer ao manual onde as regras de regulação e uso da língua estão explicitadas, quer ao saber que os falantes têm interiorizado acerca da sua língua materna.

Costuma-se classificar a Gramática em partes "autónomas, porém harmónicas entre si", afim de facilitar o seu estudo.

Uma classificação mais antiga (não significa incorreta...)

estipula as -seguintes partes:• Fonética;• Morfologia;• Sintaxe; e• Tópicos especiais (elementos de etimologia, versificação, história etc.). Uma classificação mais atual, comporta:• Comunicação e expressão;• Fonética;• Morfologia;• Sintaxe;

• Etimologia;• Semântica;• Literatura;• Lógica.

Os 3 principais tipos de gramática são:

Gramática normativa/tradicional

Chama-se gramática normativa a gramática que busca ditar, ou prescrever, as regras gramaticais de uma língua, posicionando as suas prescrições como a única "forma correta" de realização da língua, categorizando as outras formas possíveis como "erradas". A gramática hoje denominada tradicional propõe-se a sistematizar as regras de uma língua e, por meio delas, ensinar essa língua aos falantes que já a dominam.Uma das falhas apontadas para a gramática tradicional é a sistematização dos fatos lingüísticos dissociados

do uso concreto da língua. Ao ignorá-lo, outros aspectos também passam a ser desconsiderados:

1) As diferenças entre as modalidades oral e escrita;

2) A influência do contexto em condicionar o uso das variedades dialetais;

3) A interferência do ‘tempo’ no processo evolutivo da língua.

Gramática descritiva

Uma gramática descritiva é, em primeiro lugar, a DESCRIÇÃO de uma LÍNGUA da forma como ela é encontrada em amostras da fala e da escrita (em CORPUS do material e/ou extraídas dos FALANTES NATIVOS). Na tradição mais antiga, a abordagem“descritiva” se opunha à abordagem PRESCRITIVA de alguns gramáticos, que tentavam estabelecer REGRAS para o uso social ou ESTILISTICAMENTE correto da língua (Crystal, 2000:129).

Gramática internalizada

“O conjunto das regras que o falante de fato aprendeu e das quais lança mão ao falar” (Travaglia,2001:28). Segundo suas próprias palavras, a gramática pode ser definida como um “conhecimento implícito sobre o que constitui a língua materna e como ela funciona” (apud Johnson & Johnson, 1998).Perini, por exemplo, além de considerar a gramática um conhecimento internalizado da língua, utiliza o termo para designar uma área de conhecimento,bem como para se referir ao conjunto de

regras. É o tipo de conhecimento que o falente tem em si desde quando aprende a falar , podendo ser definido como um conhecimento implícito , que se aprende de acordo com o meio em que se vive.

A aquisição da linguagem pela criança é inconsciente, ela faz uma verificação de hipóteses, do que ouve e as falhas são apagadas e as hipóteses corretas são arquivadas em sua mente.A partir da gramática internalizada na criança ela esta apta para falar e construir frases.História, domínio e variedade da língua portuguesa.

 Para contar a história da língua portuguesa devemos nos deslocar até o continente europeu e voltar no tempo a oito séculos antes de Cristo. Nessa época, algumas tribos que viviam no território que hoje correspondem à Itália se uniram, formando uma cidade chamada Roma. Esse foi o ponto de partida para a criação de um dos maiores impérios da história: o Império Romano.

 Os romanos, grandes guerreiros e conquistadores, foram pouco a pouco aumentando os seus domínios a partir de disputas militares por territórios; suas conquistas avançaram cada vez mais e chegaram à sua extensão máxima no segundo século depois de Cristo, quando o Império Romano ocupava a maior parte da Europa, além do território na África e na Ásia.

 Durante a expansão do império, os guerreiros romanos chegaram à ponta ocidental da Europa, região que chamam de “Hispânia” e que hoje é a península Ibérica, onde ficam Portugal e Espanha.

 Quando conquistavam um território, os romanos implementavam nele o seu modo de viver e também a sua língua,

o latim, para facilitar a administração e a comunicação por todo o império; o domínio romano, portanto, trazia algumas alterações na economia, na política, na integração do território, no desenvolvimento das cidades, na cultura etc.

 Depois do desenvolvimento máximo, o Império Romano entrou em declínio. Surgiram crises políticas, econômicas, populacionais, que foram agravando até que, no quinto século depois de Cristo, o império se desintegrou.

 Cada um dos territórios conquistados pelos romanos passou a ter um desenvolvimento mais individual depois da queda do império. A partir dessa individualização, formaram-se aos poucos nações com governos independentes e línguas próprias. Muitas dessas línguas (principalmente as europeias) são da mesma família, pois todas se desenvolveram do latim: são línguas neolatinas, como o português, o espanhol, o francês, o italiano e o romeno.

 Portugal foi um desses territórios que se desenvolveram e unificaram, formando uma nação. Suas fronteiras terminaram de ser instauradas em 1252 e a língua portuguesa, que vinha se formando desde o fim do Império Romano, também terminou o seu estabelecimento nessa época (os textos mais antigos em português são do final do século XII).

 O próximo momento histórico importante para explicar a chegada da língua portuguesa ao Brasil, assim como a outras partes do mundo, é o século XVI. Nessa época, graças aos avanços sobre o conhecimento sobre navegação, os portugueses fizeram várias expedições, descobrindo novas terras, principalmente na África e na América. Fundaram colônias nesses lugares e, como os romanos, implantaram nela o seu modo de viver e sua língua.

 Vendo a extensão dos domínios coloniais de Portugal nessa época, podemos compreender a amplitude do domínio atual da nossa língua pelo mundo: a partir do século XIX as colônias portuguesas foram conquistando a independência. Ficando independentes, ou adotaram o português como língua oficial (como fez o Brasil), ou mantiveram suas línguas anteriores, com influências da língua dos colonizadores (como fez Goa, estado da Índia).

 A grande difusão da língua portuguesa que hoje é falada oficialmente em três continentes, não quer dizer unidade absoluta: é só compararmos o jeito de falar de um português com o de um brasileiro para percebermos que cada um dos dois usa uma variedade diferente da língua.

 Nem é preciso comparar países diferentes para perceber que a língua não é uniforme. Se observarmos apenas o vocabulário do português do Brasil, percebemos que há várias maneiras de dizer a mesma coisa, usadas em diferentes situações, por diferentes tipos de pessoas, ou com diferentes intenções.

 Para o que chamamos regularmente de alimento, ou comida, dependendo da situação, das intenções do falante, da região do país etc., pode-se usar manjar (uso formal e elogioso); pão (uso figurado); papá (uso infantil); boia, gravanço, paparoca, salgueiro ou rango (usos informais); gororoba, bodega, mistela, soquete ou grude (usos informais e depreciativos); de-comer (uso popular); mixórdia (uso depreciativo); xepa (uso informal entre militares); épula ou cibo (uso antigo); manjuba (uso informal da Bahia e de São Paulo).

 Para o que regularmente qualificamos como ótimo ou excelente, também dependendo da situação, podemos usar soberbo, excelso, luculento ou fabuloso (usos formais); superno (uso formal e figurado); legal, bonzão, genial, bacana (usos

informais); supimpa (uso informal e jocoso); maneiro, irado (gírias); mantena (uso de Goiás e Tocantins); marmo (uso do Nordeste do Brasil e de Minas Gerais).

 Da mesma forma, trabalho, ocupação ou serviço podem ser afã, labor, labuta, lida, ou mister (usos formais); andança, batalha, canseira ou suor (usos figurados); batente, bico, biscate, esfrega, galho, gregueu, quefazer, rojão, trabulança ou viração (usos informais); trampo (uso informal de São Paulo).

 Muitos outros exemplos poderiam ser dados, mas, a partir desses, você já deve ter constatado que, na unidade geral da língua portuguesa do Brasil, há espaço para uma série de variações que podem acontecer de acordo com o lugar, a situação, a identidade ou mesmo a intenção de quem fala.

 A variedade da língua faz parte da riqueza da nossa cultura. Para que essa herança cultural não fique de fora dos nossos estudos de português, devemos buscar conhecer não só a forma oficial da língua — que, sem dúvida, deve ser valorizada e preservada, pois é a referência geral, que garante a sua unidade —, mas também essas diferentes opções de uso. Alcançar o conhecimento abrangente da língua portuguesa é indispensável para dominá-la verdadeiramente.

Origem, Formação e Domínios Atuais Da Língua Portuguesa

Profª.: Mônica Orsini,

O conceito de história aplicado às línguas, particularmente à língua portuguesa, tem dois sentidos: a história externa, que se refere à sua expansão territorial, o seu contato com outras línguas, à repercussão que sobre ela tem os sucessos sociais e a história interna da língua em diacronia, referente às mudanças

fonéticas, mórficas, sintáticas, semânticas e léxicas. A história externa da língua portuguesa compreende, por exemplo, a conquista romana da Península Ibérica ( consolidada no Século I a.C. ), a invasão dos bárbaros germanos e a constituição de impérios bárbaros, como o visigótico ( Século V – Século VII ), o domínio árabe na península e a luta da reconquista cristã ( a partir do século VIII ), a formação do reino de Portugal ( século XVIII ); no Brasil, a importação de populações negras, o contato com dos portugueses com os índios, a imigração intensa, etc. Atualmente, a língua portuguesa guarda características de sua estória externa, que são utilizadas sem nos darmos conta da origem de muitos signos lingüísticos, uma vez que já se encontram completamente inseridos na língua.

ORIGEM, FORMAÇÃO E DOMÍNIOS ATUAIS DA LÍNGUA PORTUGUESA

1 – A origem da língua portuguesa

A língua portuguesa é inicialmente, um prolongamento do latim levado pelos romanos à Península Ibérica, por esse motivo há uma inter-relação entre o seu histórico e a história da península. O latim foi um simples dialeto falado pelos povos situados à margem do Rio Tibre, na península Itálica, local denominado Lácio. Os Romanos levaram sua língua aos povos por eles colonizados O português é uma língua neolatina, ou românica, do grupo itálico da grande família do indo-europeu. O português, denominada a última “flor do Lácio”, pelo poeta brasileiro Olavo Bilac ( pois foi a última língua originada do latim ), nasceu da evolução do latim vulgar. Em 197 a.C foi a levada para a Península Ibérica, área situada no continente

europeu onde se encontra atualmente Portugal e Espanha, por legionários romanos. Antes de acontecer a invasão romana na Península Ibérica, lá originavam e habitavam povos dos quais não há um total conhecimento sobre tudo o que dizia respeito a eles. Dentre esses povos, temos os mais importantes que são os íberos, celtas, fenícios, gregos e os cartagineses. Os íberos tinham características de uma população pacífica e agrícola e sofreram uma invasão dos celtas, no século VI a.C. Os celtas eram um povo guerreiro e turbulento, o oposto dos íberos. Com o passar dos séculos, esses dois povos mesclaram-se e conseqüentemente, deram origem aos povos celtíberos. Os fenícios, gregos e os cartagineses introduziram colônias comerciais em vários locais da Península Ibérica e fizeram com que o envolvimento entre esses povos, ficassem mais acentuado. Como os cartagineses, povos gananciosos, pretendessem apoderar-se dela totalmente, por ocasião do século I a.C., quando houve o cerco de Sagunto, cidade de domínio grego, na Ibéria, que deu origem à 2ª Guerra Púnica. Com isso, os celtíberos pediram desesperadamente a ajuda dos romanos.

1.1 - A expansão romana na Península Ibérica

Para impedir o crescimento de Cartago que visava subjugar toda a Península Ibérica, os romanos invadiram-na, no século III a.C. Os cartagineses apresentavam sérias ameaças que poderiam acabar de vez com os planos de Roma em dominar o mundo mediterrâneo. Realizada a vitória sobre Cartago, Roma concretizava todo o seu domínio político-militar e principalmente cultural sobre toda a Península, por volta de 197 a.C. No campo cultural, Roma foi introduzindo com a sua conquista, impondo aos povos vencidos a sua língua, o latim. No século I d.C., com a anexação da Dácia ( atual Romênia ), o

Império Romano atingiu seu apogeu, o máximo de sua expansão geográfica, sob o domínio de Trajano. Os romanos levavam para as regiões conquistadas os seus hábitos, as suas instituições, os padrões de sua cultura, ao mesmo tempo que expandiram os seus domínios. Em contato com outras terras, outras gentes e outras civilizações ensinavam, mas também aprendiam. Aprenderam muito com os gregos, por exemplo, desde as épocas antigas, através dos etruscos e, principalmente, das colônias helênicas do Sul da Itália, que formavam a Magna Grécia.

1.2- Origem do latim literário e o latim vulgar

Durante o período da invasão romana, dada no século III a.C., os romanos, sob a benéfica influência grega, foram apurando o latim progressivamente, até atingir no século I a.C., a alta perfeição da prosa de Cícero e César, ou da poesia de Virgílio e Horácio. Aperfeiçoamento da língua latina que já se iniciado com Tito Andrônico, o primeiro que tentou elevar à altura de língua poética aquele rude idioma de agricultores e pastores, que era então o latim, procurou diretamente em Homero e nos trágicos gregos os modelos para suas experiências de tradução de adaptação literárias. Ele próprio era um grego de Tarento.

A hegemonia romana durou até o século V d.C. Com a influência do grego, acentuou-se a separação entre o latim literário ( sermo ltiterarius ), língua praticada por uma elite, e a versão corrente, o latim vulgar ( sermo vulgaris ), a língua usada no colóquio diário pelos mais variados grupos sociais da Itália e das províncias. A denominação latim vulgar, embora um tanto imprópria, tornou-se termo técnico da lingüística. O latim vulgar tornou-se o idioma predominante na Península Ibérica, contudo aconteceram modificações e influências de

vários dialetos e idiomas. O idioma, trazido pelos legionários romanos, foi lentamente superando as línguas dos povos pré-latinos, como diz Estrabão, geógrafo grego: “Os turdetanos especialmente os que habitavam as margens do Bétis, haviam adotado os costumes romanos, e até já nem se lembravam da própria língua” até já nem se lembram da própria língua” e acrescentava: “não falta muito para que todos se convertam em romanos”. Neste tempo, as regiões do Norte, em terras da Galiza, das Astúrias e da Cantábria, ainda não se fazia sentir a presença de Roma, pois seus habitantes conservavam intactos os rudes costumes transmitidos de geração a geração há muitos séculos anteriormente. .

1.3- A romanização da Península Ibérica Se os romanos se tornaram discípulos atentos dos gregos, dos outros povos vencidos souberam ser os mestres imitados. Não só na Itália, mas também na Gália, na Hispânia, na Récia e na Dácia. As tribos mais diversas logo assimilaram os seus costumes e instituições, adotaram a língua latina como língua própria. É dizer romanizaram-se, inclusive os povos da Península Ibérica. O latim vulgar tendo sido adotado por povos tão diversos, em uma área tão vasta, não pode conservar a sua relativa unidade, já precária como de toda língua que serve como meio de comunicação a vastas e variadas comunidades de analfabetos. O latim difundiu o padrão literário no seu ensino, nos centros urbanos mais importantes e desta forma conseguia retardar até certo ponto os efeitos das forças de diferenciação. Mas no campo ou nas vilas e aldeias a língua, sem nenhum controle normativo, ia tornando-se autônoma, incorporando variações próprias dos dialetos utilizadas anteriormente nos locais e na formação de

neologismos. Podemos dizer que a unidade lingüística do Império não mais existia, a partir do século III da nossa era, embora os contatos políticos continuassem entre suas diversas partes, interligadas por uma certa comunidade de civilização. No périodo em que foi dado o fim da invasão dos Romanos na Península Ibérica, os povos bárbaros, de procedência germânica, em 409 da nossa era, dominaram a península. Houve o que se entende por Romania, um período de aculturação e de intercâmbio e contraste do latim, com as línguas bárbaras, a Barbaria, as regiões habitadas pelos outros povos da época. Os romanos entraram na Península Ibérica no século III a.C., por ocasião da 2ª Guerra Púnica, mas só conseguiram dominá-la por completo, ao fim de longas e cruentas lutas, em 19 a.C., quando Augusto venceu a resistência dos altivos povos das Astúrias e da Cantábria. Na Península Ibérica, bem como em todas as áreas dominadas pelos romanos, para implantar o latim e torná-lo uma língua utilizável por todos os povos da península, os romanos usaram as seguintes estratégias: abriram escolas, construíram estradas, templos e organizaram o comércio, dentre outras táticas. Foi constatado, através de pesquisas, que o latim vulgar, era de vocabulário reduzido, utilizado somente pelas baixas camadas sociais ( comerciantes, funcionários administrativos, viajantes, lavradores e soldados ). Das línguas dos povos que já existiam na península ibérica, no século III a.C., data da invasão romana, quase nada conservaram os idiomas hispânicos. Podemos atribuir, com relativa segurança, a origem pré-romana apenas a uns quantos sufixos, tais como –arra ( bocarra ), -orro ( beatorro ), -asco ( penhasco ) e –ego ( borrego ) – e algumas palavras de significação concreta: arroio, balsa, barro, braga (s), carrasco, gordo, lama, lança, lousa, manteiga tamuge, tojo, veiga, etc

1.4- O domínio visigótico

Quando a Península Ibérica foi invadida novamente, desta vez, pelos povos bárbaros Germanos ( alanos, suevos e vândalos ) que entre as principais características, a mais famosa era o vandalismo e apresentaram uma cultura inferior à dos peninsulares. O influxo dos bárbaros Germânicos, não penetrou a ponto de atingir a base da língua. A partir daí, já não havia mais a unidade lingüística do império romano, embora continuasse existindo os contatos políticos entre as suas diversas partes, por uma certa comunidade de civilização.

Os alanos desapareceram rapidamente, os vândalos, depois de haverem fixado-se na Bética, transportaram-se para a África, em 429 d.C. e os suevos estabeleceram-se na Galécia e na Lusitânia, mas no século VI d.C. foram absorvidos pelos visigodos, estes eram mais os mais civilizados dos povos germânicos e já mantinham antigos contatos com os romanos. Estavam sediados na Aquitânia, sudoeste da Gália, desde 425 de nossa era. Os visigodos logo se fundiram com a população românica. E três fatos concorreram para que isto acontecesse: A abolição da lei que proibia o casamento de godos com hispanos, ato de Leovegildo; a conversão, em 586, de Recaredo ao Cristianismo e o código, promulgado por Recesvindo me 654, que não mais distinguia os direitos das comunidades goda ehispana. Assim, quando Rodrigo, o último rei godo, não pôde deter a invasão árabe, em 711, com ele ruía não apenas o império romano-visigótico, que tinha como religião o Cristianismo e como língua o hispano-românico, legítimo continuador do latim vulgar.. Do período denominado, o domínio Visigótico, com a invasão da Península Ibérica pelos povos bárbaros mencionados conservou-se as palavras godas que se conservaram em português, divididas

em 4 grupos ( excluindo nomes próprios de pessoas e de lugares ): no 1° grupo, palavras que já pertenciam ao latim vulgar ou medieval, albergue, arrear, bramar, bando, elmo, espora, guarda, guerra, rapar, trégua; no 2º grupo, as palavras comuns a todas as regiões ocupadas primitivamente pelos Godos, aspa, espeto, espia, estala, garbo, mofo, mofino, roca, taco, ufanar-se; no 3º grupo, palavras peculiares à península e à França, ou à península e a Itália, agasalhar, brotar, estaca, fato, roupa, sítio, triscar e, finalmente no 4º grupo, as palavras privativas dos idiomas íberos-germânicos, aio, aia, aleive, enguiçar, escanção, ganso, guarecer, íngreme, luva, malada ( arcáico ), tascar. Desta forma, o latim espalhou-se pela Itália, Córsega e Sardenha, pela Gália, Espanha, norte e nordeste da Récia, pelo leste da região de Dácia. O latim disseminou, causando línguas diversas, de onde surgiram as línguas românicas ou novilatinas. Com a queda do Império Romano, o latim vulgar sofreu muitas modificações pela ação do substrato lingüístico ( língua de um povo vencido sobre a qual se superpõe a língua do vencedor ) originando dos bárbaros, com isso o romance ( conhecido como latim vulgar ). O romance era falado pelo povo e passou a se desenvolver independemente em cada região, ou seja, dialetou-se.

1.4- O domínio árabe

Depois da dissociação da monarquia dos visigodos, os árabes se apoderaram da Península Ibérica, logo após terem vencidos os visigodos. Com exceção da região das Astúrias, onde inconformados visigodos se refugiaram e planejaram a reconquista. O árabe tornou-se o idioma oficial, logo, o latim foi ainda mais alterado, porém o romance ainda era usado pelos derrotados.

Porém não duvida-se que desta convivência árabe, a língua guarda até hoje várias palavras. Nas Astúrias, formou-se um dialeto chamado de galaico-português, pois não havia diferença no falar da Galaza e da região chamada de Condado Portugalense. Da invasão ocorreu da Península Ibérica, provocada pelos Árabes, no século VIII. Algumas povoações automaticamente receberam influência na linguagem e nos costumes são os chamados moçárabes. Os árabes nos deixaram pouquíssimas influências relacionadas à Língua Portuguesa e um grande exemplo a ser citado seria o léxico: cerca de mil vocábulos de origem árabe existem no léxico português. Muitos vocábulos são caracterizados pelos prefixos ‘Al’, artigo definido árabe e alguns exemplos de palavras com este prefixo são: alcachofra, alecrim, alface, alfafa, alfazema, algodão, alcaide, alfange, alferes, algarada, alijava, alfageme, alfaiate, algibebe, almocreve, almotacel, almoxarife, alaúde, álgebra, algoritmo, álcool, álcali e etc. E ainda, palavras tais como acicate, adail, adarga, ameia, arrebatar, atalaia, ronda, zaga, açafrão, açúcar, açucena, benjoim, berinjela, aduana, armazém, arroba, quilate, quintal, califa, emir, adufe, anafil, arrabil, tambor, cifra, zênite, nadir e etc. Em alguns casos os árabes foram os intermediários de palavras que haviam tomado a outras línguas. São, por exemplo, de origem grega: alambique, alcaparra, alfândega, alquimia, acelga e arro; de origem sânscrita: alcanfor e xadrez; de origem persa: azul, escarlate, jasmim e laranja. Do próprio latim há uma série de palavras introduzidas de forma arabizada: abricó, alcácer, albornoz, almude, alporão ( in CUNHA & LINDLEY. 2007 ).

1.5- O português primitivo ( período evolutivo da língua )

À medida em que o cristãos avançaram para o sul, os dialetos do norte interagiram com os dialetos moçárabes do sul, começando

o processo de diferenciação do português em relação ao galego-português. A separação entre o galego e o português se iniciou com a independência de Portugal, em 1185 e se consolidou com a expulsão dos mouros em 1249, além da derrota dos castelhanos, em 1385, que tentaram anexar o país. Com a expansão do território mais para o sul, em 1140, o rei Afonso Henriques, faz a sua independência em relação a Espanha, proclamando-se o 1º rei de Portugal. Nessa região temos o dialeto galeziano que era uma língua estabelecida na região onde Portugal foi fundado e conseqüentemente depois de algum tempo, passou a ser conhecido como galaico-português. Foi através dessa língua é que temos a criação do primeiro documento da nossa literatura, “Cantiga de Ribeirinha”. O português arcaico originou-se a partir do século XII em que foi criado o primeiro texto totalmente redigido em português: “Cantiga da Ribeirinha”, poesia escrita por Paio Soares, no qual identificações do português arcáico se dava através de poesias trovadorescas que estão juntas em “cancioneiros”. O Português é falado nos cinco continentes e se mostra instrumento de alta eficiência da criação estética em poesia e prosa. Falado em Portugal, Brasil, Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe. A decadência do latim se deu com as invasões bárbaras, no século V, corrompendo-o É com a presença árabe, no século VIII, cuja magnífica cultura contribuiu à decadência reduzindo o latim a alguns vernáculos. Entre os séculos XIV e XVI, com a construção do império português de ultramar, a língua portuguesa faz-se presente em várias regiões da Ásia, África e América, sofrendo influências locais (presentes na língua atual em termos como jangada, de origem malaia, e chá, de origem chinesa). Com o Renascimento, aumenta o número de italianismos e palavras eruditas de

derivação grega, tornando o português mais complexo e maleável. O fim desse período de consolidação da língua (ou de utilização do português arcaico) é marcado pela publicação do Cancioneiro Geral de Garcia de Resende, em 1516.

2 – DOMÍNIOS ATUAIS DA LÍNGUA PORTUGUESA

Atualmente, a língua portuguesa é falada em área vastíssima e descontínua, do globo terrestre. O português é uma língua viva, internamente diferenciada em variedades que divergem de maneira mais ou menos acentuada quanto à pronuncia, à gramática e ao vocabulário. Embora seja inevitável a existência de tais diferenciações, ela não é suficiente para impedir a unidade superior da Língua Portuguesa. A língua portuguesa conserva harmonia entre as suas diversas variedades, por mais que sua expansão na Europa tenha sido modificada e em outros continentes e territórios excluindo o caso das línguas criolas.

2.1- Os dialetos do português europeu:

Na faixa ocidental da Península Ibérica ocupada pelo galego-português apresenta-se um conjunto de dialetos que, de acordo com certas características diferenciais de tipo fonético, podem ser classificados em três grandes grupos: os dialetos galegos; os dialetos portugueses setentrionais e os dialetos portugueses centro meridionais.

2.2- O português da África, Ásia e Oceania:

Há dois tipos de variedades no que tange à assunção da língua portuguesa na África, Ásia e Oceania: as crioulas e as não-crioulas.

As variedades crioulas são a adição dos contatos lingüísticos português e indígena. Desde a expansão portuguesa, mormente a partir do séculos XV e XVI, os protocrioulos serviram de base para a comunicação entre navegadores, mercadores e pessoas simples nas costas da Arábia, Pérsia, Índia, Malásia, China, Japão, África Ocidental e África Oriental. Os crioulos são línguas criadas pela necessidade de comunicação entre sujeitos poliglotas. Apela pelo modelo imposto da língua dominante para formar o “pidgin” ( um modelo simples, restrito e persuasivo de linguagem, que mais tarde se expandiria pelas novas gerações, originando o crioulo. Observa-se que o português de Angola, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde é embasado na variedade européia, pouco modificado portanto.

UNIDADE E DIVERSIDADE DA LÍNGUA PORTUGUESA: ENTRE O MESMO E O DIFERENTE

O presente trabalho tem por objetivo apresentar algumas considerações sobre o nosso objeto de estudo da dissertação, o Dicionário Contemporâneo da Língua Portuguesa (DCA) , de Francisco Júlio Caldas Aulete, publicado inicialmente em Portugal ePosteriormente no Brasil. Nosso trabalho inscreve-se na perspectiva teórico-metodológica da Análise de Discurso, de linha pechetiana, em articulação com a História das Ideias Linguísticas, tal como ambas vêm se desenvolvendo no Brasil. Nessa esteira, apresentaremos as noções de dicionário, de prefácio e de língua, de modo que possamos explicitar algumas considerações a partir de duas noções muito caras ao nosso estudo - unidade e diversidade linguística - e que se relacionam com as três noções anteriormente citadas. Desenvolvemos nosso

trabalho sobre essas duas noções basilares, pois, a partir delas, é possível entender a possibilidade de o diferente ser constitutivo do mesmo. Ao inscrevermo-nos na perspectiva teórica da Análise de Discurso na relação com a História das Ideias Linguísticas, cabe ressaltar que lugar é esse de onde falamos. Para tentar explicitá-lo, recorremos aos estudos de Scherer (2008) que aponta três princípios para pensar sobre a noção de lugar.O primeiro princípio, conforme a autora, toma por base os pressupostos teóricos de Lacan a partir dos quais se entende o lugar como estrutura simbólica em que “há lugar, há lugares: os lugares topológicos, os lugares na ordem da essência, e depois, há o lugar no mundo” (Ibid., p. 132). O segundo princípio proposto pela autora é pensar o lugar como domínios e fronteiras. Segundo Scherer (2008), abordar domínios e fronteiras é entender que as repetições têm certa regularidade. A partir disso, o lugar seria “fundante de domínio e de fronteira entre o histórico e o simbólico pela língua” (cf. Ibid., p. 132). No terceiro princípio, o lugar é tomado como “um jogo de força que procura manter uma certa regularização em um certo domínio” (Ibid., p. 132). Essa regularização é entendida como um espaço de estabilidade, pois, segundo a autora supracitada, as fronteiras atravessam as regularizações e o acontecimento irrompe nos domínios a cada nova circulação. Assim, ainda conforme a autora, não se pode tomar o lugar como algo estanque, delimitado por bordas que fixam as fronteiras e os domínios do conhecimento, mas ele deve ser tomado como um espaço móvel, de retomadas, deslocamentos e rupturas. Assim, o lugar em que nos inscrevemos e em que situamos o nosso trabalho é o de entremeio (Orlandi, 2002), cujas fronteiras não são delimitadas, mas fluidas. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal de Santa Maria. Bolsista Cap es. Endereço eletrônico: [email protected]

A partir disso, pensamos o domínio dicionarístico –lugar de retomadas, deslocamentos, rupturas - como um conjunto de técnicas (Auroux, 1992) que tem por objetivo a gramatização e a instrumentação de uma língua. Assim, consideramos o dicionário como um instrumento linguístico resultante do processode gramatização que constitui a segunda revolução tecnológica nas ciências da linguagem (Id.). O processo de gramatização das línguas do qual fala o autor refere-se à produção de dicionários e gramáticas das línguas existentes, tomando por base a tradição greco-latina. A partir do que nos apont a o autor supramencionado, “por gramatização deve-se entender o processo que conduz a descrever e a instrumentar uma língua na base de duas tecnologias, que são ai nda hoje os pilares de nosso saber metalingüístico: a gramática e o dicionário.” (Ibid ., p. 65). Destacamos, ainda, que a gramatização es tá relacionada “a uma transferência de tecnologia de uma língua para outras línguas” (Ibid., p. 74). Contudo, não corresponde a uma transferência independente dacultura de cada povo, pois se deve levar em conta a situação dos sujeitos. O instrumento linguístico, seja ele a gramática, seja o dicionário, representa a relação dos falantes com a sua língua, atribuindo a esta uma realidade histórica e social e garantindo sua unidade imaginária, conforme afirma Orlandi (2002a). Além de entendermos o dicionário como um instrumento linguístico e um objeto histórico, também o compreendemos como um discurso (Ibid.). Segundo a autora, os dicionários são textos produzidos em certas condições e seu processo de produção está vinculado ao imaginário que temos da língua a ser dicionarizada,normatizada. Orlandi (2002a) afirma ainda que, muitas vezes, o dicionário é tomado como o espaço que contém todas as palavras de uma língua, ele é entendido como o lugar da

completude. Essa completude, conforme a autora, pode se dar por meio de exemplos de autores consagrados, bem como através da remissão de um verbete a outros verbetes. Esse funcionamento é garantido pela noção de língua imaginária (Orlandi, 2009). A língua imaginária é entendida como a língua sistema, fixada em regras e normas, a língua sistematizada, a língua gramatical, a língua que dá unidade à linguagem, a língua dasgramáticas e dos dicionários. É isso que assegura ofuncionamento dos instrumentos linguísticos, ou seja, a imagem de que eles são completos, que comportam todas as palavras que uma língua pode conter. Quando se fala de instrumentos linguísticos, a relação que se instaura, em geral, é de estabelecer e fixar uma língua; esses são dois momentos na constituição da nacionalidade de um território. Esses dois momentos não podem excluir ahistória e a memória dos sujeitos e de suas línguas. Esses processos de estabelecimento e fixação se consolidam para acelerar a construção de uma identidade nacional una e indivisa (Silva, 1996). Entretanto, as marcas da língua outra (que não a 2Pode-se afirmar que o domínio dicionarístico é um lugar de retomadas, deslocamentos e rupturas a partir do trabalho que vimos desenvolvendo, embasados nos estudos realizados por Nunes (2006) sobre dicionários.Mais adiante, pode ser observado que o dicionário não se

constitui apenas como um objeto normativo, daí podermos falar de retomadas, deslocamentos e rupturas. UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL V SEMINÁRIO DE ESTUDOS EM ANÁLISE DO DISCURSO O acontecimento do discurso: filiações e rupturas Porto Alegre, de 20 a 23 de setembro de 2011 portuguesa) também aparecem no dicionário, estejam elas se mostrando ou se escondendo por um silenciamento/ocultação de sentidos. Conforme Petri (2010), a língua é uma “questão nacional, e, por isso, interessa ao Estado uma homogeneização pedagogicamente instituída para que se possa ensinar e aprender a língua nacional, apagando-se as diversidades” (p. 22), o diferente. Porém, esses mesmos dicionários que buscam a normatização, também apresentam saberes outros, isto é, saberes que são da ordem do local, do regional e do nacional. Assim como Petri (Ibid.) afirma que a língua é uma questão nacional, Silva (2003) ressalta também que o dicionário é um objeto de representação da nacionalidade, na medida em que “legitima uma língua nacional, ao registrar as formas, os usos e os sentidos” (p. 110). O sujeito tem o imaginário de que o dicionário é o espaço em que se pode reunir e conter todos os sentidos possíveis de uma língua. No entanto, esse é apenas um efeito de completude (Orlandi, 2002), uma ilusão necessária ao sujeito para que este possa se constituir enquanto tal na relação com a sua língua. Na medida em que se tem o “efeito da completude da

representação da língua” (Ibid., p. 103) no dicionário, esse instrumento linguístico é tomado, muitas vezes, como um objeto normativo, um espaço sem falhas, sem faltas, sem equívocos; o “espaço imaginário da certitude, sustentado pela acumulação epela repetição” (Nunes, 2006, p. 11); é o lugar do saber instituído, imutável. Quando o dicionário é abordado como o lugar dos saberes instituídos, prontos, já dados, um lugar de certezas sobre a língua,sem espaço para o sentido outro, ele caracteriza-sepor ser um objeto normativo que divide o real da língua para compor sua unidade que, no caso da língua portuguesa, é a unidade de língua de Estado, de língua nacional. Língua esta dividida pelo fato da colonização, o que faz com que a história da lexicografia no Brasil compreenda obras da lexicografia lusitana, e com que nas obras brasileiras o dizer sobre a língua seja determinado pela relação com Portugal (OLIVEIRA, 2006, p. 18). A partir dessa citação, entendemos que o dicionário, enquanto instrumento linguístico e normativo, diz respeito também à formação dos Estados nacionais. É a partir da tentativa de conter os sentidos da/na língua que se visa à unidade de um povo, de uma nação. Referente à língua portuguesa do Brasil, arriscamos dizer que essa unidade é buscada na relação com a língua portuguesa de Portugal,pois, conforme afirma Oliveira (2006), grande partedas obras brasileiras tem seu dizer na/sobre a língua determinado pela relação com Portugal – e, acrescen

taríamos, através do processo de colonização/descolonização linguística, constituindo imaginariamente o mesmo, a mesma língua. Entretanto, o funcionamento do dicionário não se dásomente como um objeto de normatização. Ele é, antes de tudo, na linha teórica a qual nos filiamos, um objeto histórico e simbólico que possibilita compreender o funcionamento da ideologia no modo como os sujeitos produtores da linguagem se relacionam com a língua. Além disso, ainda em relação à definição de dicionário na perspectiva da História das Ideias Linguísticas, destacamos o que afirma Garcia (2007), ou seja, que “os dicionários e as UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL V SEMINÁRIO DE ESTUDOS EM ANÁLISE DO DISCURSO O acontecimento do discurso: filiações e rupturas Porto Alegre, de 20 a 23 de setembro de 2011 gramáticas são objetos de conhecimentos determinados sócio-historicamente” (p. 1). A partir do que a autora explicita nessa passagem, entendemos que os dicionários são instrumentos linguísticos que se relacionam com a sociedade e a história, sendo não só determinantes dessas relações, como sendo também determinados por elas. Nunes (2006), ao tratar o dicionário como discurso,afirma que esse tem uma história, “ele constrói e atualiza uma memória, reproduz e deslocasentidos, inscrevendo-se no horizonte dos dizeres historicamente constituídos” (p. 18). O dicionário é o espaço de circulação de sentidos outros, um lugar

em que se dá a relação língua-sujeito-história. Na Análise de Discurso, sujeito e sentido se constituem simultaneamente, logo, no dicionário, os sentidos também são tomados na relação indissociável com os sujeitos. Ao aliar a perspectiva teórica da História das Ideias Linguísticas à da Análise de Discurso, Nunes (2006a) ressalta que o dicionário, e também a gramática, são vistos como “unidades textuais. Isso conduz a examinar o estatuto desta unidade, de um lado, na história do saber lingüístico e, de outro, enquanto indício de discursividades.” (p. 8). Ou seja, entende-se que o dicionário é analisado como tendo um lugar na história do conhecimento linguístico, bem como se constitui como o lugar de observação dosmodos de produção de sentidos, nos quais intervêm filiações teóricas e a memória discursiva. Além disso, o autor aponta que o dicionário considerado como um instrumento linguístico é uma “alteridade para o sujeito falante, alteridade que se torna uma injunção no processo de identificação nacional, educação e divulgação de dicionários” (Nunes, 2006, p. 43). O dicionário se configura como um objeto simbólico exterior ao sujeito, o qual faz parte da relação que este sujeito mantém com sua língua, logo, temos a diversidade, o diferente, a língua portuguesa do Brasil, e a unidade, o mesmo, a língua portuguesa de Portugal, pois cada sujeito estabelece diferentes relações com sua língua.

Isso remete ao que afirma Auroux (1992) sobre a gramática e o dicionário. Este autor aponta que a gramática não é uma simples descrição da linguagem natural, é preciso concebê-la também como um instrumento linguístico: do mesmo modo que um martelo prolonga o gesto da mão, transformando-o, uma gramática prolonga a fala natural e dá acesso a um corpo de regras e de formas que não figuram junto na competência de um mesmo locutor. Isto é ainda mais verdadeiro acerca dos dicionários: qualquer que seja minha competência lingüística, não domino certamente a grande quantidade de palavras que figuram nos grandes dicionários monolíngües (Ibid.,p. 69). Entende-se, a partir da citação, que a produção de instrumentos linguísticos altera as práticas linguísticas dos sujeitos, modificando também a relação desses com sua língua. É a partir disso, então, que o autor mencionado desenvolve o conceito de gramatização. Conforme já afirmamos anteriormente, os dicionáriosmonolíngues, caso do nosso trabalho, constituem o que Auroux (1992) denomina de segunda revolução tecnológica nos estudos da linguagem, isto é, a da gramatização. Com esse processo de gramatização das línguas, começam as mudanças quanto aos estudos lexicográficos. Segundo o autor,a lexicografia tem início com listas temáticas de UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

V SEMINÁRIO DE ESTUDOS EM ANÁLISE DO DISCURSO O acontecimento do discurso: filiações e rupturas Porto Alegre, de 20 a 23 de setembro de 2011 vocabulário, as quais constituem os mais antigos instrumentos pedagógicos da humanidade. Após, surgem as listas de palavras antigas e difíceis, que existem desde os gregos. Dando sequência a essas produções, surgem os glossários mono, bi ou n-língues (Ibid.); esses glossários são instrumentos usados, inicialmente, para o ensino e aprendizagem do latim como segunda língua. Os dicionários monolíngues, tal como os conhecemos hoje, aparecem mais tarde. Auroux (1992) pontua que O dicionário monolíngüe de uso dos nacionais, cujasentradas, pelo viés das definições, ligam-se entre si, é herdeiro inconteste desse trabalho lexical, mas corresponde a uma outra finalidade prática que é a mesma da gramatização das línguas nacionais: a normatização dos idiomas (Ibid., p. 73). Nunes (2001) afirma que “a língua nacional portuguesa, uma vez consolidada, emerge mais claramente para os brasileiros como uma alteridade que eles incorporam ou distinguem conforme o caso” (p. 80), ou seja, os sujeitos falantes da língua portuguesa do Brasil podem não se identificar com essa língua portuguesa que eles encontram nos dicionários e que, em sua maioria, representa a relação que osujeito português tem com sua língua. Isso se dá especialmente em relação às primeiras edições ainda publicadas em Portugal. Ao encontro disso, temos a noção de heterogeneidade

linguística, desenvolvida por Orlandi (1994). A autora apresenta essa noção mostrando queno Brasil e em Portugal fala-se a mesma língua, mas de forma diferente. Ou seja, ela considera a heterogeneidade linguística no sentido de que “joga em nossa língua um fundo falso em que o ‘mesmo’ abriga, no entanto, um ‘outro’, um diferente histórico que o constitui ainda que na aparência do ‘mesmo’” (Ibid., p. 31). A língua portuguesa – o mesmo – parece ser a mesma em Portugal e no Brasil, mas não é, porque há “um outro” – a variedade brasileira no português de Portugal. Petri e Surdi (2010), ao realizarem um estudo sobrea gramática, apontam para duas noções que tornam possível entender os instrumentos linguísticos como objetos normativos e também como espaço de funcionamento do sentido outro. Essas noções sãodesignadas pelas autoras como “mesmo” e “diferente”. Quando fazem “referência ao diverso, ao heterogêneo, ao variado, ao mutável” (Ibid., p. 1), utilizam o termo “diferente” e, quando se referem ao que é da “ordem do homogêneo” (Ibid., p. 2), empregam o termo “mesmo”. Ao buscarmos nessas autoras as noções de mesmoe de diferente, observamos que o DCA

não difere muito em relação à gramática analisada por elas. Explicitemos nosso ponto de vista. Qualquer que seja o instrumento linguístico – gramática ou dicionário – em nosso entendimento, constitui-se enquanto objeto normativo, centrado na busca pela unidade da língua. Assim,“a gramática [e o dicionário] é (são) resultado de um projeto de unicidade/unidade da língua, mas ela não é imune às características próprias da língua que comporta o mesmo e o diferente” (Ibid., p. 11). Partimos do princípio de que no instrumento linguístico DCAtambém se estabelece a relação entre o mesmoe o diferente, uma vez que se observa, nas edições brasileiras, uma língua veiculada que segue os moldes UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL V SEMINÁRIO DE ESTUDOS EM ANÁLISE DO DISCURSO O acontecimento do discurso: filiações e rupturas Porto Alegre, de 20 a 23 de setembro de 2011 da língua portuguesa de Portugal, mas também uma língua que é atualizada em território brasileiro e, por isso, submetida a padrões brasileiros. Quando se desenvolve um trabalho de análise do domínio dicionarístico, sob a perspectiva discursiva, leva-se em conta a historicidade e os sentidos que perpassam a constituição das discursividades. Desse modo, estabelecemos como rec

orte de análise em nossa dissertação o domínio dicionarístico prefácio, pois é a partir dele que se pode analisar as condições de produção, as quais nos possibilitam relacionar as noções de unidade e diversidade linguística às noções de mesmo e diferente.Na perspectiva discursivista em articulação com a História das Ideias Linguísticas, entendemos que o prefácio seja um texto de apresentação; um texto que antecede o principal. É o lugar em que é possívelobservar as condições de produção do discurso, o sujeito que produz o texto em sua totalidade, as concepções teóricas que permeiam a obra e também a imagem dos sujeitos leitores desse instrumento linguístico. Segundo Nunes (2006, p. 33), “sem esses textos introdutórios, o dicionário perde grande parte de sua historicização”. Sendo assim, o prefácio constitui-se como o lugar em que se pode conhecer a história, o momento de produção, o sujeito que o produz, o público leitor da obra. No caso específico de nosso trabalho, os prefácios das diferentes ediçõesdo dicionário vão atualizando sentidos, sejam elessobre a língua, sejam sobre os sujeitos produtores.Conforme afirma Petri (2009), o prefácio tem um funcionamento muito próprio, ou seja, ele antecede o texto ou a obra que vem na sequência. Além disso, a autora pontua que “nele está contido o que pode e o que não pode ser dito, bem como nele se revelam marcas da posição-sujeito que produz a obra como um todo” (p. 330).

Entendemos, com isso, que a atualização do DCA, no Brasil, esteja relacionada à aprendizagem de uma língua vinculada a interesses práticos, poiso DCA se configura como um método de colonização; busca descrever e instrumentar uma língua portuguesa tomando-se os moldes da língua de Portugal; visa incluir brasileirismos e gravuras que remetem ao Brasil para que sentidos sejam atualizados. Alémdisso, a publicação/atualização do DCA explicita que os interesses da circulação desse instrumento linguístico estejam centrados na organização e regulaçãoda língua portuguesa no/do Brasil, tendo como pressuposto a possibilidade de expandir uma língua a diferentes territórios a partir de teorias que osinstrumentos linguísticos veiculam e que, nesse caso, estão mais direcionadas aos interesses portugueses do que aos dos brasileiros.

A LÍNGUA PORTUGUESA NO BRASIL

Eduardo Guimarães

 

A língua portuguesa formou-se como língua específica, na Europa, pela diferenciação que o latim sofreu na Península Ibérica durante o processo de contatos entre povos e línguas que se deram a partir da chegada dos romanos no século II a.C., por

ocasião da segunda Guerra Púnica, no ano de 218 a.C(1). Na Península Ibérica o latim entrou em contato com línguas já ali existentes. Depois houve o contato do latim já transformado com as línguas germânicas, no período de presença desses povos na península (de 409 a 711 d.C). Em seguida, com a invasão mulçumana (árabes e berberes), esse latim modificado e já em processo de divisão entra em contato com o árabe. Na primeira fase do processo de reconquista da Península Ibérica pelos cristãos, que tinham resistido no norte, os romances (latim modificado por anos de contato com outros povos e línguas) tomaram uma feição específica no oeste da península, formando o galego-português e em seguida o português. Formou-se paralelamente o Condado Portugalense e, a partir dele, um novo país, Portugal. Toma-se como data de independência do condado do reino de Castela e Leão a batalha de São Mamede em 1128.

Essa nova língua, depois de um longo período de mudanças correspondente a todo o final da chamada Idade Média, é transportada para o Brasil, assim como para outros continentes, no momento das grandes navegações do final do século XV e do século XVI.

PORTUGUÊS: LÍNGUA OFICIAL E NACIONAL DO BRASIL Com o início efetivo da colonização portuguesa em 1532, a língua portuguesa começa a ser transportada para o Brasil. Aqui ela entra em relação, num novo espaço-tempo, com povos que falavam outras línguas, as línguas indígenas, e acaba por tornar-se, nessa nova geografia, a língua oficial e nacional do Brasil. Podemos estabelecer para esta história quatro períodos distintos, se consideramos como elemento definidor o modo de relação da língua portuguesa com as demais línguas praticadas no Brasil (2) deste 1532 (3).

O primeiro momento começa com o início da colonização e vai até a saída dos holandeses do Brasil, em 1654. Nesse período o português convive, no território que é hoje o Brasil, com as línguas indígenas, com as línguas gerais e com o holandês, esta última a língua de um país europeu e também colonizador. As línguas gerais eram línguas tupi faladas pela maioria da população. Eram as línguas do contato entre índios de diferentes tribos, entre índios e portugueses e seus descendentes, assim como entre portugueses e seus descendentes. A língua geral era assim uma língua franca. O português, como língua oficial do Estado português, era a língua empregada em documentos oficiais e praticada por aqueles que estavam ligados à administração da colônia.

O segundo período começa com a saída dos holandeses do Brasil e vai até a chegada da família real portuguesa no Rio de Janeiro, em 1808. A saída dos holandeses muda o quadro de relações entre línguas no Brasil na medida em que o português não tem mais a concorrência de uma outra língua de Estado (o holandês). A relação passa a ser, fundamentalmente, entre o português, as línguas indígenas, especialmente as línguas gerais, e as línguas africanas dos escravos. Esse período caracteriza-se por ser aquele em que Portugal, dando andamento mais específico ao processo de colonização, toma também medidas diretas e indiretas que levam ao declínio das línguas gerais. A população do Brasil, que era predominantemente de índios, passa a receber um número crescente de portugueses assim como de negros que vinham para o Brasil como escravos. Para se ter uma ideia, no século XVI foram trazidos para o Brasil 100 mil negros. Este número salta para 600 mil no século XVII e 1,3 milhão no século XVIII. O espaço de línguas do Brasil passa a incluir também a relação das línguas africanas dos escravos e o português. Com o maior número de portugueses cresce também o número de

falantes específicos do português. E isto tem uma outra característica: os portugueses que vêm para o Brasil não vêm da mesma região de Portugal. Desse modo, passam a conviver no Brasil, num mesmo espaço e tempo, divisões do português que, em Portugal, conviviam como dialetos de regiões diferentes.

Nesse período, ainda, há dois fatos de extrema importância. O primeiro deles é a ação direta do império português que age para impedir o uso da língua geral nas escolas. Esta ação é uma atitude direta de política de línguas de Portugal para tornar o português a língua mais falada do Brasil. Uma dessas ações mais conhecidas é o estabelecimento do Diretório dos Índios (1757), por iniciativa do Marquês de Pombal, ministro de Dom José I, que proibia o uso da língua geral na colônia. Assim, os índios não poderiam mais usar nenhuma outra língua que não a portuguesa. Essa ação, junto com o aumento da população portuguesa no Brasil, terá um efeito específico que ajuda a levar ao declínio definitivo da língua geral no país (4).

O português que já era a língua oficial do Estado passa a ser a língua mais falada no Brasil.

O terceiro momento do português no Brasil começa com a vinda da família real em 1808, como consequência da guerra com a França, e termina com a independência. Poderíamos utilizar, como data final desse período, 1826, pois é nesse ano que se formula a questão da língua nacional do Brasil no parlamento brasileiro.

A vinda da família real terá dois efeitos importantes. O primeiro deles é um aumento, em curto espaço de tempo, da população portuguesa no Brasil. Chegaram ao Rio de Janeiro em torno de 15 mil portugueses. O segundo é a transformação do Rio de Janeiro em capital do Império que traz novos aspectos para as relações sociais em território brasileiro, e isto inclui também a

questão da língua. Logo de início Dom João VI criou a imprensa no Brasil e fundou a Biblioteca Nacional, mudando o quadro da vida cultural brasileira, e dando à língua portuguesa aqui um instrumento direto de circulação, a imprensa. Esses fatos produzem um certo efeito de unidade do português para o Brasil, enquanto língua do rei e da corte.

O quarto período começa em 1826. Nesse ano o deputado José Clemente propôs que os diplomas dos médicos no Brasil fossem redigidos em "linguagem brasileira". Em 1827 houve um grande número de discussões sobre o fato de que os professores deveriam ensinar a ler e a escrever utilizando a gramática da língua nacional. Ou seja, a questão da língua portuguesa no Brasil, que já era língua oficial do Estado, se põe agora como uma forma de transformá-la de língua do colonizador em língua da nação brasileira. Temos aí constituída a sobreposição da língua oficial e da língua nacional.

Essas questões tomam espaços importantes tanto na literatura quanto na constituição de um conhecimento brasileiro sobre o português no Brasil. É dessa época a literatura de José de Alencar (5) que tem debates importantes com escritores portugueses que não aceitavam o modo como ele escrevia. É também dessa época o processo pelo qual os brasileiros tiveram legitimadas suas gramáticas para o ensino de português e seus dicionários (6). Dessa maneira cria-se historicamente no Brasil o sentido de apropriação do português enquanto uma língua que tem as marcas de sua relação com as condições brasileiras. Pela história de suas relações com outro espaço de línguas, o português, ao funcionar em novas condições e nelas se relacionar com línguas indígenas, língua geral, línguas africanas, se modificou de modo específico e os gramáticos e lexicógrafos brasileiros do final do século XIX, junto com nossos escritores,

trabalham o "sentimento" do português como língua nacional do Brasil (7).

Esse quarto período, no qual o português já se definira como língua oficial e nacional do Brasil, trará uma outra novidade, o início das relações entre o português e as línguas de imigrantes. Começa em 1818/1820 o processo de imigração para o Brasil, com a vinda de alemães para Ilhéus (1818) e Nova Friburgo (1820). Esse processo de imigração terá um momento muito particular na passagem do século XIX para o XX (1880-1930). A partir desse momento entraram no Brasil, por exemplo, falantes de alemão, italiano, japonês, coreano, holandês, inglês. Deste modo o espaço de enunciação do Brasil passa a ter, em torno da língua oficial e nacional, duas relações significativamente distintas: de um lado as línguas indígenas (e num certo sentido as línguas africanas dos descendentes de escravos) e de outro as línguas de imigração.

 

 

Essa diferença não é simplesmente uma diferença empírica do tipo: as línguas indígenas e seus falantes já existiam no Brasil quando da chegada dos portugueses e as línguas de imigração vieram depois. A diferença é de modo de relação. As línguas indígenas e africanas entram na relação como línguas de povos considerados primitivos a serem ou civilizados (no caso dos índios) ou escravizados (no caso dos negros). Ou seja, não há lugar para essas línguas e seus falantes. No caso da imigração, as línguas e seus falantes entram no Brasil por uma ação de governo que procurava cooperação para desenvolver o país. E as línguas que vêm com os imigrantes eram, de algum modo,

línguas nacionais ou oficiais nos países de origem dos imigrantes. Essas línguas são línguas legitimadas no conjunto global das relações de línguas, diferentemente das línguas indígenas e africanas. As línguas dos imigrantes eram línguas de povos considerados civilizados, em oposição às línguas indígenas e africanas.

Enquanto língua oficial e língua nacional do Brasil, o português é uma língua de uso em todo o território brasileiro, sendo também a língua dos atos oficiais, da lei, a língua da escola e que convive, na extensão do território brasileiro, com um grande conjunto de outras línguas (de um lado as línguas indígenas e de outro as línguas de imigrantes). Por outro lado, enquanto língua nacional, o português é significado como a língua materna de todos os brasileiros, mesmo que um bom número de brasileiros tenham como língua materna outras línguas, ou indígenas ou de imigrantes.

CARACTERÍSTICAS DO PORTUGUÊS DO BRASIL A vinda da língua portuguesa para o Brasil não se deu, como vimos, em um só momento. Ela se deu durante todo o período de colonização entrando em relação constante com outras línguas. Por outro lado, o povoamento do Brasil se fez com a vinda de portugueses de todas regiões de Portugal. Desse modo, sua vinda para o Brasil traz para esse novo espaço as diversas variedades do português de Portugal. Estas variedades se instalarão em lugares diferentes do Brasil mas, em muitos casos, elas convivem num mesmo espaço, como no Rio de Janeiro, por exemplo.

O português do Brasil vai, com o tempo, apresentar um conjunto de características não encontráveis, em geral, no português de Portugal, da mesma maneira que o português, em diversas outras regiões do mundo, terá características também específicas, em

virtude das condições novas em que a língua passou a funcionar. Há que se considerar que, se levamos em conta a língua escrita, vamos encontrar uma maior proximidade entre o português do Brasil, assim como o de outras regiões do mundo, com o português de Portugal, já que a língua escrita está mais sujeita à normatização da língua efetivada através das gramáticas normativas, dicionários e outros instrumentos reguladores da língua. Na língua oral o processo de incorporação de características específicas se faz de modo mais rápido.

Meu objetivo não é, neste texto, discutir essas diferenças internas, mas mostrar como o português do Brasil apresenta um conjunto importante de características específicas. A seguir, vou apresentar um conjunto destas características encontráveis no português do Brasil. Vou me limitar a apresentar aqui o que chamarei de diferenças gramaticais e lexicais (de vocabulário). Evidentemente que a caracterização do português do Brasil envolve a consideração efetiva das diversas divisões a que a língua portuguesa está sujeita no Brasil, tanto regionais quanto sociais e históricas (tal como mostram o artigo "Variedades do português no mundo e no Brasil" de Emílio Pagotto, para a questão das diferenças na língua, e o artigo "Língua brasileira" de Eni Orlandi, sobre os aspectos discursivos envolvidos nessa questão).

Nas características gramaticais podemos distinguir dois conjuntos de características: o das características fonético-fonológicas, o das características morfológicas e sintáticas.

CARACTERÍSTICAS FONÉTICO-FONOLÓGICAS Neste nível, a grande especificidade do português do Brasil, se comparado ao de Portugal, considerando o que Pagotto nos mostra no seu texto, é seu sistema de vogais. Para observar esse aspecto é necessário distinguir, tal como nos mostrou Câmara

(1953, 1970) a vogal na posição tônica (da sílaba com acento de intensidade), a vogal na posição átona final (como o /a/ de fuga), e a vogal na posição pretônica (como o /a/ de até).

a) Na posição tônica, o português do Brasil apresenta 7 vogais: /a/ (entrada); /é/ (deve), /ê/ (medo), /i/ (viga); /ó/ (avó), /ô/ (avô), /u/ (urubu). Note-se que a vogal /a/ é pronunciada, com timbre aberto, com a língua em repouso embaixo, na boca; que as vogais /é/, /ê/, /i/ são anteriores, elas são pronunciadas com um movimento da língua para frente; e as vogais /ó/, /ô/, /u/ são posteriores, pronunciadas com um movimento da língua para trás. Em Portugal (8), além dessas vogais, há também um /ä/, que não é aberto como o /a/. Este /ä/ é pronunciado com uma certa elevação da língua, diferentemente do /a/ aberto pronunciado com língua em repouso, embaixo na boca. Assim é que, na língua falada, se distingue /falämos/, presente do indicativo, de /falamos/ passado perfeito (9).

b) Na posição átona final, no português do Brasil, de modo geral, há três vogais /a/ (casa), /i/ (barbante, pronunciado [barbãti]), /u/ (menino, pronunciado [meninu] e mesmo [mininu]). Em Portugal são também três vogais, /ä/, /ë/ e /u/. Assim diferentemente do Brasil, /ä/ é pronunciado com a língua mais alta, com timbre mais fechado, /ë/ é pronunciado fechado, mas numa posição mais posterior do que o /ê/ do Brasil. O /u/ tem as mesmas características fonéticas do /u/ brasileiro.

c) Na posição pretônica, há no português do Brasil, em geral, 5 vogais, /a/, /ê/, /i/, /ô/, /u/, enquanto que em Portugal mantêm-se as 8 vogais da posição tônica, com a diferença de que o /ê/ passa a /ë/, numa pronúncia mais central: /a/, /ä/; /é/, /ë/, /i/; /ó/, /ô/, e /u/.

CARACTERÍSTICAS MORFOLÓGICAS E SINTÁTICAS No nível sintático, uma primeira característica geral do

português do Brasil é que ele, no que toca ao funcionamento dos pronomes átonos (me, te, se, lhe, o, a, etc) tem uma colocação mais proclítica, não sendo encontrável em Portugal, por exemplo, João se levantou, tão comum no Brasil. Isto faz com que toda a colocação de pronomes átonos no Brasil seja bastante diferente da de Portugal. Este tipo de diferença tem muito a ver com o fato de que as diferenças fonético-fonológicas, apontadas antes, levam a um outro ritmo da frase, assim como uma diferença de tonicidade nesses pronomes. Isto resulta em um outro modo de colocá-los na frase, tal como já nos mostrou Ali (1908).

No Brasil é também comum construções como está escrevendo, com estar + gerúndio, não comum em Portugal, onde se encontram expressões como está a escrever, com estar a + infinitivo. É também comum no Brasil expressões com a preposição em, que em Portugal são com a preposição a. Tem-se, comumente no Brasil, está na janela, chegou no Brasil, quando em Portugal se tem está à janela, chegou ao Brasil.

Segundo Galves (2002), a principal característica sintática do português do Brasil, é que ele é uma língua de tópico, diferentemente do português de Portugal e das demais línguas latinas (10). Esta posição se desenvolve a partir de uma formulação de Pontes (1987) que mostrou como muitas construções do português no Brasil precisam ser entendidas como construções com tópico. Para apresentar a formulação de Galves usaremos as abreviações SN e V que significam sintagma nominal e verbo. Um sintagma é um elemento lingüístico de nível inferior ao da frase e que possui na sua forma elementos lingüísticos de nível sintático ainda mais baixo, em geral ele combina pelo menos dois elementos. No caso do SN (sintagma nominal), o sintagma é constituído pelo menos por um nome e tem geralmente pelo menos um determinante para este nome,

como em o menino, onde menino é o nome e o é o determinante e o menino é o SN. A noção de verbo, para o que aqui nos interessa, é a que usualmente conhecemos.Dito isto, para Galves, a frase do português do Brasil tem como estrutura SN [SN V (SN), diferentemente do português de Portugal e as línguas latinas em geral, que têm como estrutura da frase SN [V (SN). O colchete separa o que se apresenta como o que se diz do primeiro SN.

Para entender essa diferença, consideremos duas frases: João fez o trabalho e João, ele fez o trabalho. Na primeira, com a palavra João refere-se a alguém (João) e predica-se dele algo, fez o trabalho. Neste caso, João que faz a referência a uma pessoa é também o sujeito da frase. Na segunda frase, João refere alguém, depois tem-se como sujeito o pronome ele, que retoma João (anaforiza João) do qual se predica fez o trabalho. Deste modo a seqüência sujeito+predicado (ele fez o trabalho) aparece no conjunto como dizendo algo de João, referido pela palavra João. Nesta segunda frase, João é o tópico, aquilo sobre o que se vai dizer algo. Diferentemente, na primeira frase, aquilo sobre o que se vai dizer algo é diretamente o sujeito da frase. A tese de Galves é que a estrutura sintática do português é do tipo da segunda frase que aqui usamos como exemplo: João, ele fez o trabalho.

Segundo a autora é esta característica que explica um conjunto importante de aspectos próprios do português brasileiro, tal como os que seguem.

a)uso do pronome ele como objeto

Em Portugal esta é uma construção inexistente. É comum no Brasil frases como Encontrei ele ontem; esse rapaz, eu conheci ele no trem; esse rapaz aí que eu encontrei ele no trem. Nestas

frases ele é complemento da frase, diferentemente de Portugal onde esta construção, normalmente, não aparece.

b)ele como sujeito

O funcionamento do ele como sujeito é diferente em Portugal e no Brasil. No Brasil temos, por exemplo, eu tinha uma empregada que ela respondia ao telefone e dizia..., enquanto em Portugal o que se encontra é somente algo como eu tinha uma empregada que respondia ao telefone e dizia... Para Galves esta diferença diz respeito a que no português do Brasil o ele aparece preferencialmente ao sujeito nulo (que na escola conhecemos como sujeito oculto), diferentemente do português de Portugal, onde aparece preferencialmente o sujeito nulo e em que o ele aparece quando é necessário marcar a concordância, já que a terminação verbal é a mesma entre a primeira e a terceira pessoa, ou para estabelecer um contraste.

c)ele como objeto de preposição

No Brasil é comum frases como o André, que eu gosto dele, é mais bonito, enquanto em Portugal só se encontram frases como o André de quem eu gosto. Este aspecto está diretamente relacionado com o funcionamento das relativas no português brasileiro. Tal funcionamento no Brasil se caracteriza por ter uma predominância de relativas com este pronome que retoma um nome da principal (chamado pronome lembrete, o ele (dele) do primeiro exemplo acima), e é predominante quando a retomada está em sintagma preposicional, conforme mostrou Tarallo (1996). Este funcionamento predominante no Brasil é oposto ao predominante em Portugal, onde o mais comum é o de construções como O André, de quem eu gosto, é mais bonito.

Este aspecto está ligado ao crescimento no português do Brasil de um outro funcionamento da relativa que se chama de relativa

cortadora, como em É uma pessoa que essas besteiras que a gente fica se preocupando, ela não fica esquentando a cabeça. Em Portugal a construção encontrável seria É uma pessoa que não fica esquentando a cabeça com estas besteiras que nos preocupam. No português do Brasil hoje há a predominância das construções relativas com pronome lembrete e relativas cortadoras. As análises de Tarallo (idem) mostram que essa diferença entre o funcionamento do português do Brasil e de Portugal já está instalada claramente em 1880 e se aprofunda a partir de então. Assim hoje é predominante o que no início do século XIX (1825, por exemplo) era o menos comum.

Ao lado desses aspectos, Galves também considera uma outra característica muito interessante do português do Brasil: O funcionamento do pronome se. Para a autora, no português brasileiro o se pode não aparecer em frases com tempo (o verbo nas formas finitas), diferentemente do português europeu. No Brasil há frases como Nos nossos dias, não usa mais saia; Esta camisa lava facilmente; Joana não matriculou ainda; Maria fez a lista dos convidados mas esqueceu de incluir ela; É impossível se achar lugar aqui, enquanto em Portugal só há frases como Não se usa mais saia; Esta camisa lava-se facilmente; Joana não se matriculou ainda; Maria fez a lista dos convidados mas esqueceu de se incluir. Interessante para a lingüista é que, em contrapartida, em frases com infinitivo, no Brasil, aparece consistentemente a forma se para indeterminar, em oposição a Portugal onde este se não aparece da mesma maneira. Tem-se no Brasil É impossível se achar lugar aqui, enquanto em Portugal haveria somente É impossível achar lugar aqui.

O que é interessante nessa análise de Galves é que ela não só registra a existência de construções diferentes, que poderiam ser atribuídas a uma mera diferença de uso de uma ou outra pessoa, em uma ou outra situação, como mostra que essa diferença nas

frases diz respeito a uma especificidade na estrutura mesma da sintaxe do português do Brasil, ter a estrutura SN [SN V (SN). Ser, portanto, uma língua de tópico.Ligada a essa diferença na estrutura sintática da frase, Galves nos mostra como ela está ligada a um aspecto semântico fundamental, o modo como o português do Brasil faz referência às coisas sobre às quais se fala. Observe que se tomamos a frase do português do Brasil Eu tinha uma empregada que ela respondia ao telefone e dizia... vemos que o ela retoma diretamente empregada, desfazendo o caráter anafórico do que (relativo), diferentemente de, por exemplo, Eu tinha uma empregada que atendia o telefone e dizia..., na qual o que mantém seu caráter anafórico. Em cada caso o modo de referir à empregada é um.

Ou seja, o fato de o português ter uma estrutura de tópico para suas frases diz respeito ao modo como no Brasil se faz referência às coisas, ou seja, diz respeito a como, num acontecimento enunciativo específico, refere-se a algo. Em outras palavras, esta característica de estrutura da frase está diretamente articulada a um modo de funcionamento semântico-enunciativo, outros diriam semântico-pragmático, do português no Brasil. Enfim, Galves nos mostra que o português do Brasil tem uma estrutura e funcionamento diversos do português de Portugal e das outras línguas latinas. E esta não deixa de ser uma questão a ser estudada no quadro do multilingüismo brasileiro.

CARACTERÍSTICAS DO LÉXICO Desde o início do século XIX, com o Marquês de Pedra Branca, se usa o estudo do léxico para mostrar diferenças entre o português do Brasil e o português de Portugal (11). Essas diferenças dizem respeito ao fato de que, no Brasil, muitas palavras tomaram outros sentidos ou foram incorporadas ao português a partir das línguas indígenas e africanas, com as quais o português esteve e está em relação.

Podemos observar palavras que têm um sentido em Portugal e outro no Brasil, a partir de exemplos retirados de Teyssier (1997)

PORTUGAL BRASILcomboio tremautocarro ônibuseléctrico bondehospedeira aeromoçacaneta de tinta permanente

caneta-tinteiro

corta-papeles pátulafato ternometro metrô

Por outro lado, há no Brasil um conjunto importante de palavras de origem indígena, comumente o tupi, assim como de origem africana, os exemplos são também tirados de Teyssier (idem).

Exemplos de palavras de origem indígena: capim, cupim, caatinga, curumim, guri, buriti, carnaúba, mandacaru, capivara, curió, sucuri, piranha, urubu, mingau, moqueca, abacaxi, caju, Tijuca, etc. São, em geral, palavras relativas à designação da flora, da fauna, de alimentos, assim como de lugares.

Exemplos de palavras de origem africana: caçula, cafuné, molambo, moleque; orixá, vatapá, abará, acarajé; bangüê; senzala, mocambo, maxixe, samba. São, em geral, palavras que designam elementos do candomblé, da cozinha de influência africana, do universo das plantações de cana, do universo de vida dos escravos, e mesmo outros de aspecto mais geral. Grandes listas de palavras dessas línguas que se incorporaram ao português podem ser encontradas em diversos livros de lingüística histórica do português como Silva Neto (1950), Bueno (1946, 1950) e Coutinho (1936).

CONSIDERAÇÕES FINAIS Várias outras características podem ser atribuídas ao português do Brasil, mas a melhor forma de tratar disso é observar o modo como o português se divide em falares regionais específicos ou registros distintos de acordo com situações particulares do funcionamento da língua, como o formal ou o coloquial, o íntimo e o público, etc.

Por outro lado, fica claro que o estudo do português do Brasil indica para a necessidade de se aprofundarem pesquisas históricas que dêem mais relevo à questão das relações do português num espaço multilíngüe muito particular.

DIVERSIDADE HISTORICA, LINGUISTICA E CULTURAL BRASILEIRA DIVERSIDADE BRASILEIRA

INTRODUÇÃO O reconhecimento do caráter multicultural de grande parte das sociedades, leva à constatação de muitas identidades culturais que tomam parte na constituição da diversidade histórica, cultural e linguística nas mais diversas localidades.

O documento em questão aborda tais temas sob os seguintes títulos: diversidade histórica, diversidade linguística, e diversidade Cultural. A formação histórica da sociedade bem como a diversidade Cultural na formação do Brasil, relações culturais em diferentes regiões, as relações com o tempo e com o espaço; ocupado por seres humanos de diferentes origens culturais, a diversidade em diferentes grupos humanos, o ser humano como agente e produtor de sua história, cultura, e as muitas linguagens como fator de identidade de grupos, e assim por diante.

Aponta a historia, a língua, a religião e os padrões culturais incentivando assim a conscientização crítica acerca da diversidade histórica, linguística e cultural.

DIVERSIDADE HISTORICA

A imigração e a integração de várias culturas e povos é parte importante da história de uma nação, desde sua formação. Há vários, fatores que durante os séculos foram acontecendo e miscigenando a sociedade, dentre esses fatores, a vinda do homem para América, tanto na parte pré-histórica, quanto nas grandes navegações, a chegada do europeu na América, África, Ásia... e etc.

“maneiras de agir, de pensar e de sentir que apresentam a propriedade marcante de existir fora das consciências individuais [...] são dotados de um que poder imperativo e coercitivo"(Durkheim 1973: 2). É uma ilusão acreditar podemos educar nossos filhos como queremos". Émile Durkheim (1858-1917) Sentencia no seu livro Educação e Sociologia.

. Segundo Durkheim; os fatos históricos tem grande influencia na formação do individuo, podendo este mudar seus hábitos no decorrer do tempo, de acordo com o ambiente externo. Este pensamento se confirma no Brasil um país com grande e rica diversidade histórica, composta essencialmente por três principais grupos étnicos: o indígena, o branco e o negro. Os

indígenas constituem a população nativa do país, os portugueses foram os povos colonizadores da nação, e os negros africanos foram trazidos para o trabalho escravo. Esse contexto proporcionou a miscigenação dos habitantes do Brasil, caracterizados como mulato (branco + negro); caboclo ou mameluco (branco + índio); cafuzo (índio + negro). Com o prosseguimento da miscigenação, originaram-se os inúmeros tipos que hoje compõem a nossa população. Da colonizaçao portuguesa do Brasil(1500-1822) até o final dos anos 1930, os elementos de mercado da economia brasileira basearam-se na produção de grãos para exportação. A economia do Brasil foi fortemente dependente do trabalho escravo até o final do século(XIX). Desde então, o Brasil viveu um período de crescimento econômico e demográfico, acompanhado da imigração europeia (principalmente Itália, Portugal, Espanha, e Alemanha). As estatísticas mostram que 4,5 milhões de pessoas emigraram para o país entre 1882 e 1934. Foto: Acervo Arquivo Histórico de Caxias do Sul http://www.fiec.org.br/portalv2/sites/fiec- [pic][pic] Em geral, as pessoas deslocam-se entre países ou estados à procura de trabalho e melhores condições de vida. Vemos na ilustração imigrantes praticando a agricultura no passado(imagem1); em comparação com o trabalho em industrias na atualidade.(imagem 2). No passado o trabalho era braçal, muito rústico, não requeria formação, e o trabalho infantil era considerado normal; em contrapartida na atualidade, proíbe-se o trabalho infantil, e para estar apto ao trabalho o individuo deve obter a formação necessária para concorrer ás vagas de emprego disponíveis, sabendo-se que na maioria das vezes os empregadores optam pelo candidato mais preparado.

Segundo o forum economico mundial, o Brasil foi o país que mais aumentou sua competitividade em 2009, ganhando oito posições entre outros países. Importantes passos dados desde a decada de 90 para a sustentabilidade fiscal, bem como as medidas tomadas para liberar e abrir a economia, impulsionaram significativamente os fundamentos do país em matéria de competitividade, proporcionando um melhor ambiente para o desenvolvimento do setor privado,aumentando vagas no mercado de trabalho,e melhorando assim a vida dos brasileiros.

DIVERSIDADE LINGUISTICA

A língua de um povo constitui-se como um dos seus bens mais preciosos. É na língua que se apresentam refletidas as representações e construções de uma sociedade. É pela língua que se dão as relações de poder e dominação, os consensos, as discórdias, as transmissões culturais; assim como é pela língua que o sujeito constrói seu lugar na sociedade, também é através dela que é excluído. A língua é indispensável na formação da sociedade, apesar de suas variações devido ao grupo social,a diversidade da linguagem é notada e apresenta diferenças regionais, locais e culturais. A variação linguística é um assunto muito importante. É muito comum que, quando pessoas que possuem modos de falar distintos se encontram, surjam discussões sobre quem fala certo e quem fala errado. Inclusive na educação temos discussões sobre como ensinar a linguagem culta sem ferir a cultura linguística do individuo. Conforme Preti (1982), as comunidades linguísticas são responsáveis pelos regionalismos: “ As variedades geográficas conduzem a uma oposição

fundamental: linguagem comum e linguagem rural. ...pela ação decisiva que recebe dos fatores culturais (escola , meios de comunicação de massa e literatura.) .”(PRETI, 1982 pág.19). Segundo durkheim;a língua é 'imposta' aos indivíduos pela coerção; os indivíduos, ao mesmo tempo em que são submetidos ao sistema da língua, têm consciência dele e podem fazer escolhas quanto ao estilo linguístico a adotar. Neste contexto temos diferentes faces de uma mesma língua devido á fatos relacionados ao fato histórico, cultural e regional. Todos os diferentes falares são tidos como certos, segundo o ponto de vista da comunicação, mas nem todos são aceitos socialmente. Aprendendo uma língua, aprendemos todo um sistema de ideias organizadas, classificadas, e, com isso, nos tornamos herdeiros de todo o trabalho de longos séculos, necessário a essa, organização. Há mais, no entanto; sem a linguagem, não teríamos ideias gerais, porque é a palavra que as fixa, que dá aos conceitos suficiente consistência, permitindo a compreensão e a sua aplicação, de todos os aspectos da vida social, a linguagem é um dos mais Importantes. Para Bagno (1999), não é a grande extensão territorial do país que gera as diferenças regionais e sim, as graves diferenças de “status” social que explicam a existência, em nosso país, de um real abismo linguístico entre os falantes das variedades não padrão do português brasileiro e os falantes da variedade culta. No dia a dia usamos com mais frequência a linguagem, comum e popular (coloquial), a língua culta é usada em linguagem escrita; literatura,e situações mais formais.

”A escola geralmente não reconhece a verdadeira diversidade do português falado no Brasil, impondo assim, sua linguística como se ela fosse, de fato, a língua comum a todos 160 milhões de brasileiros, independentemente de sua idade, de sua origem geográfica, de sua situação socioeconômica, de grau de escolarização. (BAGNO, 1999: 15). O autor critica a imposição da linguagem,(tida como correta) na escola, o que dificulta o aprendizado; no Brasil a língua oficial é o português, porém este português, em cada parte do país, possui uma variação característica, pelo fato do Brasil ser formado pela mistura de muitas raças. Portanto, cabe à escola e demais instituições voltadas para a educação, desmistificar o português no Brasil e assim, reconhecer a imensa diversidade linguística do país, podendo melhorar o ensino, bem como facilitar o ensino da norma culta na sala de aula. [pic] http://clickeaprenda.uol.com.br/portal/mostrarConteudo.php?idPagina=26902

A ilustração mostra a variação de linguagem em um mesmo falante. Imagine uma pessoa adulta falando com uma criança: ela terá que adequar sua linguagem à compreensão infantil. Caso isso não ocorra, ela poderá não ser compreendida, no entanto quando falar com uma pessoa adulta terá que adequar- se a compreensão do adulto. DIVERSIDADE CULTURAL Podemos definir cultura como sendo tudo aquilo que é socialmente aprendido e partilhado pelos membros de uma

sociedade. O individuo recebe cultura como parte de uma herança social e, por sua vez, pode introduzir mudanças que serão transmitidas as gerações futuras. Apesar do processo de globalização, que tenta, através dos meios de comunicação, criar uma sociedade homogênea – aspectos locais continuam fortemente presentes. A cultura é um desses aspectos: várias comunidades continuam mantendo seus costumes e tradições. O Brasil, por apresentar uma grande dimensão territorial, possui uma vasta diversidade cultural. Os escravos africanos , a população indígena e os colonizadores europeus foram os primeiros responsáveis pela disseminação cultural no Brasil. Em seguida, os imigrantes italianos, espanhóis, portugueses, alemães, entre outros, contribuíram para essa diversidade cultural. Aspectos como a culinária, danças, religião, são elementos que integram a cultura de um povo brasileiro. Tanta diversidade poderia gerar conforme o pensamento de Marx guerras sangrentas e infinitas porque para Marx a questão racial ao tema da formação nacional (nation building) nos casos clássicos de grandes nações constituídas por brancos e negros; o racismo tornado legal contra os negros é explicado pela necessidade, vista pelas elites como modo fundamental, de garantir a união entre setores brancos divergentes e garantir mão de obra barata.A especificidade do caso brasileiro, para Marx, é a construção de uma ideologia insidiosa, a da "democracia racial", fabricada pelas elites brancas, já unidas entre si, de modo a evitar o espírito de revolta dos negros que tantas vezes já havia se mostrado no período colonial. As representações culturais de cada região estão nas festas populares, na culinária, no artesanato, credo religioso, na

maneira de se vestir entre outros. . .[pic] http://www2.bomjesus.br/ensinoreligioso/noticias_exibir.vm?id=20370090.com.br

A titulo de ilustracao temos na imagem povos de diversas culturas em festas típicas á sua regiao pode-se noitar a diversidade de suas vestes, danças, musicas e etc..

Conclusão CONSIDERAÇÕES FINAIS

A aceitação da diversidade histórica, linguística e cultural tem sido imprescindível; os avanços tecnológicos, da mídia e da informática, que propiciam um intercâmbio entre culturas e línguas distintas, exige uma sensibilização para a diversidade de valores culturais e linguísticos cada vez mais presentes no cotidiano dos indivíduos. Não podemos pensar em nossa sociedade sem considerar as relações culturais que a construíram e que a modificam, sendo que a realidade existente hoje em nossa sociedade é muito diferente de trinta, quarenta anos atrás;quando havia pouca informação e conhecimento enquanto hoje a informação esta presente onde estivermos e o conhecimento se multiplicou grandemente. Grande parte de nossa identidade esta ligada a miscigenação racial e da integração cultural, um fato extremamente importante que todo individuo deve conhecer , O conhecimento da diversidade e a perspectiva de aceitação visa o desenvolvimento dos valores de tolerância das relações entre grupos culturalmente diversos.

Nesse caso, a educação torna-se extremamente importante para o desenvolvimento de uma conscientização crítica acerca da diversidade histórica, étnica, cultural, e linguística existente em nosso pais, pois através do conhecimento, podemos compreender essas mudanças e levarmos em consideração os aspectos diversificados de diferentes povos que povoam o Brasil,cada um com identidade própria e representando riquíssima diversidade sociocultural.

A variação de uma língua é a forma pela qual ela difere de outras formas da linguagem sistemática e coerentemente. Uma nação apresenta diversos traços de identificação, e um deles é a língua. Esta pode variar de acordo com alguns fatores, tais como o tempo, o espaço, o nível cultural e a situação em que um indivíduo se manifesta verbalmente"

Variedade é um conceito maior do que estilo de prosa ou estilo de linguagem. Alguns escritores de sociolinguística usam o termo leto, aparentemente um processo de criação de palavras para termos específicos, são exemplos dessas variações:dialetos, isto é, variações faladas por comunidades geograficamente definidas.idioma é um termo intermediário na distinção dialeto-linguagem e é usado para se referir ao sistema comunicativo estudado (que poderia ser chamado tanto de um dialeto ou uma linguagem) quando sua condição em relação a esta distinção é irrelevante (sendo, portanto, um sinônimo para linguagem num sentido mais geral);socioletos, isto é, variações faladas por comunidades socialmente definidaslinguagem padrão ou norma padrão, padronizada em função da comunicação pública e da educação

idioletos, isto é, uma variação particular a uma certa pessoaregistros (ou diátipos), isto é, o vocabulário especializado e/ou a gramática de certas atividades ou profissõesetnoletos, para um grupo étnicoecoletos, um idioleto adotado por uma casa.

Variações como dialetos, idioletos e socioletos podem ser distingüidos não apenas por seu vocabulários, mas também por diferenças na gramática, na fonologia e na versificação. Por exemplo, o sotaque de palavras tonais nas línguas escandinavas tem forma diferente em muitos dialetos. Um outro exemplo é como palavras estrangeiras em diferentes socioletos variam em seu grau de adaptação à fonologia básica da linguagem.Certos registros profissionais, como o chamado legalês, mostram uma variação na gramática da linguagem padrão. Por exemplo, jornalistas ou advogados ingleses frequentemente usam modos gramaticais, como o modo subjuntivo, que não são mais usados com frequência por outros falantes. Muitos registros são simplesmente um conjunto especializado de termos (veja jargão).É uma questão de definição se gíria e calão podem ser considerados como incluídos no conceito de variação ou de estilo. Coloquialismos e expressões idiomáticas geralmente são limitadas como variações do léxico, e de, portanto, estilo.

"Espécies de Variação ¨

Variação HistóricaAcontece ao longo de um determinado período de tempo, pode ser identificada ao se comparar dois estados de uma língua. O processo de mudança é gradual: uma variante inicialmente utilizada por um grupo restrito de falantes passa a ser adotada por indivíduos socioeconomicamente mais expressivo. A forma

antiga permanece ainda entre as gerações mais velhas, período em que as duas variantes convivem; porém com o tempo a nova variante torna-se normal na fala, e finalmente consagra-se pelo uso na modalidade escrita. As mudanças podem ser de grafia ou de significado.

Variação GeográficaTrata das diferentes formas de pronúncia, vocabulário e estrutura sintática entre regiões. Dentro de uma comunidade mais ampla, formam-se comunidades linguísticas menores em torno de centros polarizadores da cultura, política e economia, que acabam por definir os padrões lingüísticos utilizados na região de sua influência. As diferenças lingüísticas entre as regiões são graduais, nem sempre coincidindo com as fronteiras geográficas.

Variação SocialAgrupa alguns fatores de diversidade: o nível sócio-econômico, determinado pelo meio social onde vive um indivíduo; o grau de educação; a idade e o sexo. A variação social não compromete a compreensão entre indivíduos, como poderia acontecer na variação regional; o uso de certas variantes pode indicar qual o nível sócio-econômico de uma pessoa, e há a possibilidade de alguém oriundo de um grupo menos favorecido atingir o padrão de maior prestígio.

Variação EstilísticaConsidera um mesmo indivíduo em diferentes circunstâncias de comunicação: se está em um ambiente familiar, profissional, o grau de intimidade, o tipo de assunto tratado e quem são os receptores. Sem levar em conta as graduações intermediárias, é possível identificar dois limites extremos de estilo: o informal, quando há um mínimo de reflexão do indivíduo sobre as normas

lingüísticas, utilizado nas conversações imediatas do cotidiano; e o formal, em que o grau de reflexão é máximo, utilizado em conversações que não são do dia-a-dia e cujo conteúdo é mais elaborado e complexo. Não se deve confundir o estilo formal e informal com língua escrita e falada, pois os dois estilos ocorrem em ambas as formas de comunicação.As diferentes modalidades de variação lingüística não existem isoladamente, havendo um inter-relacionamento entre elas: uma variante geográfica pode ser vista como uma variante social, considerando-se a migração entre regiões do país. Observa-se que o meio rural, por ser menos influenciado pelas mudanças da sociedade, preserva variantes antigas. O conhecimento do padrão de prestígio pode ser fator de mobilidade social para um indivíduo pertencente a uma classe menos favorecida.

VARIAÇÃO LINGUÍSTICA E PRECONCEITO

“A norma padrão constitui o português correto; tudo o que foge a ela representa erro”. Dentro do ambiente escolar, muitos professores costumam repetir essa frase. Porém, é necessário que eles compreendam que não existe português certo ou errado, mas modalidades de prestígio ou desprestígio que correspondem ao meio e ao falante."

De acordo com Marcos Bagno, 'preconceito lingüístico é a atitude que consiste em discriminar uma pessoa devido ao seu modo de falar'. Como já dito, esse preconceito é exercido por aqueles que tiveram acesso à educação de qualidade, à “norma padrão de prestígio”, ocupam as classes sociais dominantes e, sob o pretexto de defender a língua portuguesa, acreditam que o falar daqueles sem instrução formal e com pouca escolarização é “feio”, e carimbam o diferente sob o rótulo do ”erro”.

Infelizmente, “preconceito lingüístico” é somente uma denominação “bonita” para um profundo preconceito “social”: não é a maneira de falar que sofre preconceito, mas a identidade social e individual do falante.

O bom português é o das épocas de ouro da literatura”. Primeiro, há um português culto falado e um escrito. Mas a língua escrita é mais conservadora que a falada; segundo, a norma ancora a língua no contemporâneo; terceiro, a língua é um fenômeno social, e sua existência prende-se aos grupos que a instituíram.Bagno afirma que “A mídia poderia ser um elemento precioso no combate ao preconceito lingüístico. Infelizmente, ela é hoje o pior propagador deste preconceito. Enquanto os estudiosos, os cientistas da linguagem, alguns educadores e até os responsáveis pelas políticas oficiais de ensino já assumiram posturas muito mais democráticas e avançadas em relação ao que se entende por língua e por ensino de língua, a mídia reproduz um discurso extremamente conservador, antiquado e preconceituoso sobre a linguagem”.

Programas de rádio e televisão, sites da internet, colunas de jornal e outros meios de multimídia estão cheios de “absurdos” teóricos e “distorções”, pois são feitos por pessoas sem formação científica sobre o assunto. Divulgam “bobagens” sobre a língua e discriminam os estudiosos da linguagem. Isso atrapalha a desmistificação do “certo e errado” e acaba propagando o preconceito.Em suma, para se acabar com o preconceito, seja ele racial, social ou qualquer outro, é necessário que haja uma democratização da sociedade, que dê oportunidades “iguais” à todos, reconhecendo e respeitando suas diferenças. E mais: a palavra “preconceito” significa um “pré” conceito daquilo que ainda não se conhece a fundo. A partir do momento em que se

estuda determinado assunto, que se aprende sobre ele, o que se deve adquirir é “respeito”, e não “discriminação”."

VARIEDADES DA LÍNGUA PORTUGUESA NO BRASIL Document Transcript

4. 4

De onde veio a Língua Portuguesa? O português é uma língua latina, de origem românica, desenvolvida apartir do século III a.C. na província de Lusitânia, que hoje corresponde a uma parte dos atuais territórios de Portugal e Espanha. Ao longo de formação e vida dessa língua, o contato com os outros povos gerou uma serie de influências, cuja manifestação pode se facilmente vista no vocabulário. Foram viagens às Américas, convívio intenso com africanos, interação com antigos povos e invasores da Península Ibérica, passagem pela Índia, China e Japão, sem contar inúmeros imigrantes recebidos pelos países de língua portuguesa – com destaque para o Brasil- nos últimos 200 anos. Quantas línguas ainda existem no Brasil? Incluindo o português, o idioma oficial do país, existem 192 línguas viva sem território brasileiro. O levantamento foi feito pelo Summer Institute ofLinguistics, uma ONG como sede nos Estados Unidos. As 192 línguas que restaram: • 42 são consideradas praticamente extintas, como aricapu (região do rioGuaporé, em Rondônia), o oro win (fronteira Brasil/Bolívia) e o juma (interior daAmazônia); • 91 correm alto risco de extinção, por serem línguas faladas por comunidades indígenas formadas por, no máximo, 100 indivíduos, número insuficiente oara garantir sua preservação. Casos de anambé e creie (interiordo Pará), aruá, caripuná, monde (Rondônia) e carahawiana e tora (norte doAmazonas). Entre as línguas brasileiras que não

correm risco de extinção imediataestão: Creole : 25 mil pessoas, Amapá Cangangue: 18 mil pessoas, sete estados (incluindo São Paulo eParaná) Caiwá: 15 mil pessoas, Mato Grosso do sul Terena: 15 mil pessoas, interior do Mato Grosso do Sul Ticuna: 12 mil pessoas, norte da Amazonas Guarani: 5 mil pessoas, centro-oeste Paranaense Sotaque Ao longo dos cinco séculos que se seguiram á descoberta do Brasil,povos nativos e imigrantes, assim como geografia, costumes, atividadesculturais, políticas e sociais, foram aos poucos moldando sotaques- pronúnciacaracterística de um país ou região etc. – e termos que não apenas diferencia oportuguês brasileiro do de Portugal, mas ainda geraram inúmeraspeculiaridades regionais da língua. Isso explica as diferenças nos falaremnordestinos, mineiros, nortistas, gaúchos, paulistas e cariocas.

5. 5

O linguajar Norte da Região Uma série de razões é levantada para justificar as características específicas do modo de falar do povo do norte, destacando, especialmente as influências vindas do português falado em determinadas áreas de Portugal durante a colonização. E tem muito a ver também, com termos regionalistas, com as adaptações e corruptela de palavras usadas para designar objetos, animais, fenômenos atmosférico, por influência da língua indígena predominante na região, de invasores estrangeiros (holandeses, espanhóis e franceses), de ingleses que implantaram as ferrovias, de escravos vindos de várias regiões do continente africano, de imigrantes europeus, americanos e asiáticos. O filólogo, professor Serafim da Silva neto escreveu no livro Introdução ao Estudo da Língua Portuguesa no Brasil a respeito de um dialeto intitulado: “canua cheia de cucos de pupa a prua”, que seria na língua

cultacanoa cheia de cocos de popa a proa. Esse filólogo se referiu a esse dialetoque falam amazonenses e paraenses com esse nome, por ser um dialeto cujamarca essencial é a modificação da pronuncia da vogal „o‟ tônica em „u‟. Entãoem vez de canoa, se diz canua; em vez de coco, se diz cuco; em vez de popa,se diz pupa; em vez de proa, se diz prua, explica o professor Orlando CassiqueSobrinho Alves, do departamento de língua e literatura Vernácula da UFPA(Universidade federal do Pará). Ele lembra que esse fenômeno é classificado tecnicamente comoalteamento: Quer dizer, a vogal média „o‟ passa a ser uma vogal alta „u‟.Existem em outros dialetos brasileiros, só que não é na tônica. Por exemplo,quando lá no Rio se diz „culégio‟ (no lugar de colégio). O professor da UFPA lembra ainda que haja dois outros dialetosespecíficos no Pará. ”O da zona bragantina, que era uma antiga estrada deferro velho, que ligava o estado do Pará com a cidade de Bragança, próxima doNordeste. Esse dialeto da zona bragantina é também um dialeto tradicional doPará, historicamente representativo e é falado por pessoas que ajudaram aconstruir o estado. Ele tem muita influência de cearenses e maranhenses,influencia de nordestino”. “Há outro dialeto muito difuso, amorfo neste momento, porque seconstitui no sul do Pará, nessa área onde a migração foi forte nos últimos anospor causa das riquezas do Pará, do ouro, da madeira, de fazendas etc. Eleresulta da influência de baianos, mineiros, paulistas, paranaenses, gaúchos noSul do Pará”, conclui Alves.

6. 6 O dialeto do Norte Jerimum = Abóbora na língua tupi;

Muitcho = Muito em castelhano, por causa da invasão espanhola; Chulipa = Dormente para trilhos de trem veio de “sleaper”, que era otermo usado pelos ingleses que construíram as primeiras ferrovias no Brasil; Macaxeira =

Mandioca = Maniva = termos indígenas; Tapioca = Termo indígena para goma de mandioca; Beiju = Biscoito de massa de mandioca na língua indígena; Tacacá = Mingau líquido de mandioca, nome caribenho; Tucupi = Suco temperado e apimentado da mandioca na linguagemindígena; Tracajá = Palavra tupi para designar quelônios conhecidos genericamente por tartaruga; Teiú = Nome indígena para lagarto; Caititu = Nome indígena para javali; Igará = Canoa pequena dos índios; Piroga = Canoa indígena escavada em tronco; Igarapé = Braço de rio na língua indígena; Papudinho = pessoa alcoólatra; Xibé = prato feito de farinha de mandioca com farinha; Mão-de-mucurra-assada = Sovina Goiás = da mesma raça, igual Grajaú = Pássaro que come Variedades do português no Nordeste Brasileiro Foi no Nordeste do país que, primeiramente, a língua portuguesa se fixou em nosso território. O início da colonização portuguesa se deu justamente entre os estados de Pernambuco e Bahia, enquanto outras partes do país só vieram a receber a influência lusitana bem mais adiante. "Quando nós fomos colonizados pelos portugueses, as duas primeirasvertentes da língua pode-se dizer, foram Pernambuco e Bahia, porque ficavammais perto do Velho Continente. Havia um porto em Recife, outro em Salvador.Mas era dividido por uma barreira natural, que era o Rio São Francisco.Salvador se tornou a capital do Brasil. A modalidade de português falada nessa região foi se arcaizandodurante a evolução do país. "Em Portugal o português avançou.

O que veio para o Brasil foi o português dos colonos, dos degredados, das prostitutas, queeram chamadas raparigas, jesuítas que foram para o Sul e que na maioriaeram espanhóis" lembra a Nelly Carvalho, professora do

Departamento deLetras da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco). A Bahia e o Pernambuco tiveram uma história diferenciada do resto doBrasil. Durante os dois primeiros séculos de colonização, a Bahia ePernambuco foram os dois maiores centros. Tanto que o movimento literárioBarroco foi na Bahia e Pernambuco. É importante observar que o processo de variação ocorre em todos os níveis de funcionamento da linguagem, sendo mais perceptível na pronúncia e no vocabulário. Esse fenômeno da variação se torna mais complexo porque os níveis não se apresentam de maneira estanque, eles se superpõem. Nesta dimensão, incluem-se as diferenças lingüísticas observadas entrepessoas de regiões distintas, onde se fala a mesma língua. Exemplos clarosdesta variação são as diferenças encontradas entre os diversos países delíngua portuguesa (Brasil, Portugal, Angola, por exemplo) ou entre regiões doBrasil (região sul, região norte, região centro-oeste, região sudeste e a regiãonordeste). Nesse tipo de variação, as diferenças mais comuns são as queencontramos no plano fonético (pronúncia, entonação) e no plano lexical (usode palavras distintas para designar o mesmo referente, palavras com sentidosque variam de uma região para outra). É comum nas regiões do Brasil nos deparar com os mais variados ediferentes dialetos e principalmente no Nordeste brasileiro, onde as pessoasregionais falam palavras com significado muito diferente como, por exemplo:Apetrechada-Dotada de beleza física; Aperrear - Encher o saco, perturbar; Avexado - Com pressa; Bater a caçuleta - Morrer; Bruguelo – Bebê; Brenha - Local longe de difícil acesso Cabreiro – Desconfiado;

8. 8 Cagado e cuspido - Muito parecido; Desmentir - torcer o pé;

Desmilinguido - Muito magro, sem força; Din-din - Sacolé,

chupe-chupe, gelinho; Entojo – Enjôo; Farda - Uniforme escolar. Fez mal - Engravidou alguém; Gaia - Chifre. Mangar – Ridicularizar; Pelejar - Tentar várias vezes; Visse- Certo/OK; Xodó - Amor, paixão, pessoa querida; Zambeta - De pernas tortas... Essas são alguns sotaques e palavras muitas vezes são cheias deefeitos e ate mesmo maliciosos que é uma característica do Nordestebrasileiro. Gaúcho, o Dialeto Crioulo Rio-Grandense Historicamente, o Rio Grande do Sul, estado ao extremo sul do Brasil,sempre foi uma região de conflitos e de culturas diversas. Numa áreapertencente à Espanha pelo Tratado de Tordesilhas, alguns portuguesesfincaram o pé em partes da localidade no intuito de tomar as terras dosespanhóis, mas esqueciam-se todos que os donos legítimos da terra eram osíndios. Na prática, nunca houve divisão de fato dos territórios do pampa rio-grandense, pampa argentino e pampa uruguaio, proporcionando umaintegração – nem sempre pacífica – entre os três povos. Do convívio entre osimigrantes espanhóis e portugueses com os índios surgiram muitas misturasraciais originando o que se chamou de “raça gaúcha” (cafuzos de índios je-tupi-guarani com ibero-europeus) e o surgimento involuntário de uma culturacompleta que era compartilhada pelos povos. Em conflito constante com os “castelhanos” (argentinos e uruguaios deascendência castelhana) e com os portugueses (então colonizadores doBrasil), os gaúchos continuavam ignorando os limites políticos entre osterritórios, mas criavam seu próprio isolamento cultural. Na tentativa de não se identificarem nem com os portugueses(dominadores) e, posteriormente, brasileiros, nem com os espanhóis

9. 9(invasores), os rio-grandenses criaram um modo particular de vestir, falar eagir, que pouco se diferenciava das características típicas dos “gauchos” (lê-se„gáutxos‟ em

espanhol) dos pampas cisplatino e platino. Os hábitos dochurrasco, do chimarrão, da indumentária e quase toda a tradiçãopermaneceram muito semelhantes após todo o período de ebulição, mas alíngua foi diferenciando-se. A formação do dialeto se dá, basicamente, por: 1. vocábulos hispano-luso-indígenas 2. aumentativos e diminutivos hispânicos 3. escrita lusitana 4. pronúncia baseada no português, mas lida como no espanhol 5. falta de uma gramática oficial, mantendo o dialeto constantemente mutante e flexível 6. A pronúncia do “o” e do “e” são feitas como no Espanhol quando se alterariam para “u” e “i” no Português. 7. O diminutivo “inho” quase sempre e substituído por “ito”, mas há casos onde sobrevive. Recorde-se que não há regra oficial para a fala campeira e que a maioria das pessoas sequer sabem que não falam Português nem Espanhol. 8. O pronome “lhe”, quase sempre é pronunciado “le”. 9. Há uma grande dificuldade entre os nativos para saberem quando pronunciar “b” ou “v”, pois flutuam entre a gramática portuguesa e espanhola. 10. As palavras que têm dupla escrita de “x” ou “ch”, têm no “ch” sua escrita castelhana e “x” lusitana (galega). Algumas expressões típicas da gauchada: Abichornado – acovardado, apequenado. Afeitar – espanhol – fazer a barba Alcaide – provavelmente espanhol, pois tem significado muito oposto do homônimo português, oriundo do árabe – cavalo velho, ruim inútil; serve para pessoas também. Andar a/pelo cabresto – português – o mesmo termo que designa a condução do animal, indica que alguém está sendo conduzido por outro. Bagual – crioulo – cavalo que não foi castrado; homem. Barbaridade – português – barbarismo. Tanto adjetiva como pode ser uma interjeição de espanto. Bate-coxa – português – baile, dança. Bombacha – espanhol platino – peça (calça) que caracteriza a indumentária

gaúcha. Tem origem turca e foi introduzida na América pelos comerciantes ingleses, de presença marcante no pampa platino. Capilé – francês – refresco de verão, feita com um pouco de vinho tinto, água e muito açúcar.

10. 10 Cevador – português – pessoa que prepara o chimarrão eo

distribui entre os que estão tomando. Charque – espanhol platino – carne de gado, salgada emmantas. Chucro (xucro) – quíchua – animal arisco, nunca domado;pessoa de mesmo temperamento ou sem empirismo, inexperiente. Cusco – espanhol platino, provavelmente já emprestado doquíchua – cachorro pequeno e de raça ordinária (ou sem); guaipeca. Engasga-gato – português – ensopado feito com pedaçosde charque da manta da barrigueira. Garupa – francês - A parte superior do corpo dascavalgaduras que se estende do lombo aos quartos traseiros; tambémusado para definir a mesma área no corpo humano. Gaúcho – origem desconhecida – termo, inicialmente,utilizado de forma pejorativa para descrever a cruza ibero-indígena, hojeé o gentílico de quem nasce no estado do Rio Grande do Sul. Gauderiar – espanhol platino – vagabundear, andarerrante, sem ocupação séria; haragano. Gaudério – espanhol platino – vagabundo, desocupado,nômade. Atualmente, é uma referência estadual ao povo da campanha,simplesmente, como gaúcho. Guaiaca – quíchua – invenção gauchesca que se usasobre o “cinturão europeu”. Significa bolsa em sua língua original. Guaipeca – tupi – cachorro pequeno e de raça ordinária(ou sem). Guri – tupi – criança, menino; serviçais que faziam trabalholeve nas estâncias. Japiraca – tupi – mulher de temperamento irascível,insuportável. Jururu – tupi – triste, cabisbaixo, pensativo. Mate – quíchua – bebida preparada em um porongo, comerva-mate e água quente; chimarrão. Morocha – espanhol platino – moça morena, mestiça,mulata; rapariga

de campanha. Nativismo – português – amor pelo chão onde se nasce esua tradição. Orelhano (aurelhano) – espanhol platino – animal semmarca nem sinal; também serve para pessoas. Pampa – quíchua – vastas planícies do Rio Grande do Sul,Uruguai e Argentina, coberta de excelentes pastagens que servem paracriação de gado. Em quíchua, “pampa” significa “planície”. Paisano – português/espanhol – patrício, amigo,camarada; camponês e não-militares. Pêlo duro – espanhol – crioulo, genuinamente rio-grandense; também significa pessoa ou animal sem estirpe. Poncho – origem incerta, araucano ou espanhol – espéciede capa de pano de lã de forma retangular, ovalada ou redonda, comuma abertura no centro, para a passagem da cabeça. Puchero (putchero) – espanhol – sopão com muitovegetal e carne de peito, sem tutano e sem pirão.

11. 11 Querência – espanhol – o lugar onde se vive. Derivado de “querer”, caracteriza o amor que o gaúcho tem pela sua terra. Tapejara – tupi – vaqueano, guia ou prático dos caminhos; gaúcho perito, conhecedor da região. Tchê – provavelmente espanhol – termo vocativo pelo qual se tratam os gaúchos. É o mesmo “che” („txê‟) do espanhol, que se consagrou com Ernesto Guevara, o “Che”. Topete – português/espanhol – audácia, arrogância, atrevimento; saliência da erva-mate que fica fora d‟água na cuia de chimarrão. Tropeiro – português/espanhol – condutor de tropas, de gado.

Dialeto Centro - Oeste Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e Distrito Federal. Essesquatro estados compõem a região Centro-Oeste do Brasil, que, assim como asoutras, possui características linguísticas próprias.Na colonização Centro-Oeste, as rotas bandeirantes estiveram muitopresentes, tanto no Mato Grosso quanto em Goiás e,

de alguma forma, alinguagem que eles levaram influenciou a fala local.O goiano fala com os traços muito puxados no “r” que é normalmente chamadode “r” caipira, ou linguisticamente falando, o “r” retroflexo. Como o goiano falacom esse “r” puxado, supôe-se que isso possa ter vindo ao longo da históriaum influência da linguagem utilizada pelos bandeirantes que viviam na regiãodo Estado de São Paulo. Esses bandeirantes tinham o português marcado poresses traços, já que eram das áreas mais interioranas do Brasil, principalmenteas que a gente chamaria de fala caipira.N época da colonização, os bandeirantes que penetraram pelo norte do Estadodo Mato Grosso e levaram a suposta língua geral paulista, que era de baseindígena (tupi). O contato do português colonizador com as línguas indígenaslocais resultou no dialeto cuiabano.Algumas características muito fortes nessa fala regionalizada específica doMato Grosso é que os mato-grossenses não falam chuva e peixe, com essesom de “che” que nós temos, fala-se “tchuva” e “petche”. Também não se falacaju e laranja, com esse som de “gê”, fala-se “cadju” e “larandja”.Todo esse som “che” transformado em “tchê” e todo esse som “che”transformado em “djê” existiam em uma das línguas indígenas que aindasobrevivem no Brasil e tem algumas aldeias próximas à Cuianá. que é a línguaBororó. Existe essa hipótese, que esses fonemas possam ter vindo deinfluência da indígena local, pois em outras regiões do Brasil a gente nãoencontra esse som facilmente. É uma coisa típica do dialeto mato-grossense.

A Gramática Normativa, a Linguística, a Norma Padrão, a Norma Culta, as Variações linguísticas e o Preconceito Linguístico

RODRIGUES, G. A..

Observamos que há uma grande confusão em assuntos

linguísticos até mesmo por pessoas da área da linguagem. A fim

de trazer solução, este texto visa esclarecer equívocos de forma

sucinta e objetiva sobre o que são gramática, linguística, norma

padrão, norma culta, variações linguísticas e preconceito

linguístico. Além disso, o texto tem por fim ser compreensível a

todas as pessoas.

O que é gramática normativa? A gramática normativa surgiu na

Grécia antiga quando os primeiros estudiosos da língua

sentiram a necessidade de estabelecer uma regra para a língua

escrita, dessa forma, eles observaram os melhores escritores,

oradores e as variedades de maior prestígio da época e

analisaram o que era mais frequente em seus discursos. A

gramática normativa é uma convenção e determina um modelo

a ser seguido para escrever e falar bem; tudo que estiver fora

desse padrão preestabelecido por ela é erro. É essa língua

prescrita pela gramática que é ensinada nas escolas. Uma

abordagem unicamente normativa pode levar a conclusões

equivocadas sobre a língua. Gramática normativa não é língua!

O que é linguística? A linguística moderna surgiu no início do

século XX com o linguista suíço Ferdinand de Saussure. A

linguística é uma ciência que ocupa-se principalmente em

investigar a linguagem oral humana. Diferente da gramática

(que não é uma ciência), a linguística não classifica a língua em

certo ou errado, mas procura descrever e explicar fatos de

forma lógica e científica. Ela explica, por exemplo, as variações

de pronúncias entre regiões onde se fala tal idioma. Pode

explicar, também, porque ocorre uma variação diferente da

prescrita pela gramática. Cabe ao linguista estudar toda e

qualquer expressão linguística.

O que é norma padrão? A norma padrão é a língua prescritiva

pela gramática normativa, é o ideal de língua a ser seguido. É

com essa norma padrão que se deve escrever e se comunicar

em situações muito formais. Tudo que estiver fora desse

padrão, segundo a gramática normativa, é erro. Todavia, é uma

língua artificial que ninguém fala, nem mesmo professores de

português, por mais correto que falem, o que ocorre é uma

maior aproximação dessa variedade.

O que é norma culta? Embora muitos veem a norma culta e

norma padrão como sinônimas, há diferenças. A norma culta é a

variedade de maior prestígio da língua, falada pelas classes

dominantes, pelas pessoas escolarizadas. Na norma culta

coexistem o padrão formal, utilizado na escrita, e o padrão

coloquial, utilizado na língua oral falada em conversas informais

do dia a dia. Nesta última, admite-se, sem traumas, variações

como Eu vi ela.

O que são variações linguísticas? As variações (ou variantes)

linguísticas são todas as diferenças que ocorrem em um mesmo

idioma. A língua não é um bloco fechado, todo certinho, como

muitos pensam que é; ela varia e muito. Todas as línguas

variam, sem exceção. A língua portuguesa que se fala em São

Paulo não é a mesma língua portuguesa que se fala no Rio de

Janeiro. As variações linguísticas não descritas pela gramática

normativa são consideradas erradas e por isso são

menosprezadas. O falante de uma variedade de menor

prestígio, geralmente, é de uma classe econômica mais baixa,

que teve pouco ou nenhum estudo por isso fala de um modo

diferente, e não errado. Todas as variações linguísticas seguem

uma lógica, além disso, o que era errado ontem é o certo de

hoje; o errado de hoje provavelmente será o certo de amanhã.

Os gramáticos demoram demais para aceitar como correta uma

variante que apareceu faz tempo na língua falada. O português

falado pelos nossos avós não é o mesmo que falamos hoje.

Assim é a língua, não empobrece, não se deteriora, não evolui,

simplesmente muda.

O que é preconceito linguístico? Preconceito linguístico é

menosprezar variantes que não são descritas pela gramática

normativa. Muitas pessoas desconhecem este tipo de

preconceito e o fazem sem saber, repetindo um discurso

equivocado veiculado pelos gramáticos. Uma visão unicamente

normativista pode levar ao preconceito linguístico. Geralmente,

o preconceito linguístico revela outras formas de preconceito,

como o preconceito social, racial, religioso e tantos outros.

Nosso esforço é alertar para que este tipo preconceito se

extinga, assim como os demais.

Língua e Poder: A Língua como instrumento ou estratégia política nos Países de Língua Portuguesa

 

Tamara Grisolia Fernandes - [email protected]

Graduada em geografia  pela UFF 1[1]

 

 

 

RESUMO

O presente trabalho apresenta uma discussão direcionada pela

geografia política a respeito da questão lingüística e seus

conflitos nos países membros da Comunidade de Países de

Língua Portuguesa (CPLP). Nesse contexto, são aferidas

questões a respeito do Acordo Ortográfico de Língua

Portuguesa, de 1990, levando em conta a repercussão que o

mesmo causou perante a elite intelectual de Brasil e Portugal. Ao 1

fim da discussão, os questionamentos levantados na conclusão

são colocados, de modo a representar uma conclusão não

pontual.

 

Palavras-chave: Língua portuguesa, geografia política, poder

 

ABSTRACT

This paper presents a discussion based on political geography,

about the language issue and its conflicts, placed in the member

countries of the “Community of Portuguese Language

Countries” (CPLP). In this context, questions are surveyed about

the Portuguese Language Orthographic Agreement of 1990,

bringing to light the effect that it caused on the intelligence of

Brazil and Portugal. In the end of the discussion, the questions

raised in the conclusion are placed so as to represent a non-point

agreement about the mentioned issues.

 

Key-words: Portuguese language, politic geography, power.

 

 

1. Introdução

 

O trabalho aqui realizado visa expor conceitos relacionados

à língua, linguagem, Estado, nação e poder, de modo a relacionar

tais conceitos no campo da geografia política. Com isso,

pretende-se demonstrar as formas de poder presentes na língua,

mais especificamente, na adoção de uma língua oficial, conceito

este também explicado ao longo do trabalho.

O enfoque dado para se tratar das relações de língua e poder

será dado aos países que fazem parte da CPLP (Comunidade de

Países de Língua Portuguesa): Angola, Brasil, Cabo Verde,

Moçambique, Guiné-Bissau, Portugal, São Tomé e Príncipe e

Timor Leste. No trabalho são realizados apanhados com

características importantes do país estudado, bem como, se

existir o detalhamento de seus conflitos lingüísticos internos.

Este trabalho será dividido em três eixos. O primeiro,

introdutório, contará com as já propostas definições de conceitos

relacionados ao tema “língua e poder”. O segundo discursará a

respeito dos países constituintes da CPLP e seus conflitos

lingüísticos internos. Já o terceiro será a respeito do acordo

ortográfico e sua repercussão nos países de língua portuguesa.

Como este último eixo apresenta-se como uma proposta

mais à parte dos demais, conclusões a esse respeito serão

realizadas através de questionamentos. Seria o acordo

ortográfico mais uma forma de exercício de poder? Seria ele

apenas uma tentativa de unidade entre povos de mesma língua?

Até que ponto esses dois questionamentos podem ser separados?

É importante colocar que o objetivo do trabalho não é

resolver tais questões, é só colocá-las, contando com a opinião

de teóricos da geografia, da sociologia e da lingüística. De forma

que, obviamente, a pretensão do estudo não é de alcançar novas

resoluções a esse respeito, sendo apenas uma espécie de

documentação de algumas teorias e colocação, ao longo de seu

desenvolvimento de questões importantes.

 

 

 

2. A Língua e Suas Definições

 

A língua é um organismo vivo que compreende diversos

estudos e, portanto, diversas definições. Para uma melhor

compreensão de seu conceito, será colocada a definição de

Ferdinand Saussure, um importante lingüista do início do século

XX, cujas pesquisas revolucionaram o campo da lingüística no

mundo.

Segundo Saussure, em seu livro Cours de Linguistique

Générale, a língua é um conjunto de signos que serve de meio de

compreensão entre os membros de uma mesma comunidade

lingüística. É também uma instituição social, um sistema de

valores. A esta segunda afirmação, está ligada uma visão mais

sociológica e corrobora a versão mais política dada ao

entendimento da língua.

Por outro lado, a primeira afirmação condiz com a

explicação linguística e social (não sociológica) da mesma. De

maneira que este conjunto de signos a que Saussure se refere tem

duas expressões nas concepções de gramática atuais. E é a partir

disso que é colocada a diferença de língua e fala (Langue x

Parole).

A língua é um sistema de signos compartilhados, um

sistema de combinações possíveis presentes na mente humana.

É, portanto, um conceito abstrato. Já a fala é a concretização

desse sistema; é quando escolhemos dentre as possibilidades de

combinação de sons (fones), sílabas, e assim, falamos. É,

portanto, um conceito concreto.

É importante ressaltar que ao longo deste trabalho será

utilizado tanto um conceito quanto o outro, respeitando suas

respectivas diferenças. Assim como serão tratados com diferença

os termos língua escrita e língua falada. Estes termos

representam conceitos totalmente diferentes; a língua escrita está

sujeita à norma padrão, a uma gramática normativa, que rege o

“bem escrever”. A língua falada, por outro lado, é um organismo

vivo, e pode apresentar inúmeras variações, dentro mesmo de um

sistema lingüístico comum.

Ou seja, a língua falada não é estática e deve ser estudada de

acordo com suas variações naturais, de acordo com sua

evolução. Não deve ser, portanto, ser passível de julgamentos de

certo ou errado, apenas deve-se estudar os seus desdobramentos.

Por isso, infere-se que o Acordo ortográfico pode até atuar com

mudanças significativas na língua escrita, mas não conseguirá

romper ou impedir o processo dinâmico de evolução da língua

falada, pois esta não respeita naturalmente interferências desse

tipo.

 

2.1. Língua Oficial

 

A língua oficial é aquela usada em todas as ações oficiais,

ou seja nas suas relações com as instituições do Estado. É, dessa

forma, a língua que todos os habitantes de um país precisam

saber. Sua existência é garantida por lei e, no Brasil, só a

Constituição de 1988 passou a determinar a língua Portuguesa

como a língua oficial do Brasil. Tal afirmação se encontra no

artigo 13 da atual Constituição Brasileira: "A língua portuguesa

é o idioma oficial da República Federativa do Brasil".

Esta língua em questão não deixa de ser parte do que

caracteriza a identidade de um povo e de sua nação, pois é um

importante traço de unidade. A identidade brasileira, por

exemplo, muitas vezes relacionada com a nacionalidade

brasileira, é constituída por um conjunto de elementos, e entre

eles, um dos principais é o fato de que falamos uma língua

tomada como elemento de nossa identidade.

A determinação de uma língua como oficial implica em

várias observações políticas. Uma delas é a tentativa de

unificação de um território etnicamente e culturalmente

desmembrado, através da utilização de uma língua oficial, por

exemplo, para que o mesmo país tenha soberania perante os

demais. E, a soberania, desde a revolução industrial está

totalmente ligada à formação da nação, fato este que será melhor

explicado adiante.

Outra habilidade (ainda que oculta) da língua oficial é a de

exclusão e marginalização. Além das óbvias habilidades de

controle da população e centralização política, a determinação de

uma língua oficial abafa a voz política de quem não a fala ou

escreve, pois é através dela que se travam quaisquer relações

com as instituições do Estado.

Este ponto é bem observado nos países da África, por

exemplo, nos quais a maioria da população não fala a língua

oficial ou a tem apenas como segunda língua e,portanto, perde a

voz nas suas reivindicações políticas. Mas não é só a voz que se

perde. Há também perdas de traços culturais muito importantes,

pois a língua é cultura e identidade de um povo. A criação da

língua oficial força uma substituição de culturas.

 

2.2.Língua Nacional

 

A língua nacional é a língua que representa uma unidade das

características identitárias de um determinado território. Ela

reflete, portanto, uma determinada herança étnico-cultural, e é a

representação de uma consciência nacional. Esta mesma língua,

em alguns casos, pode representar a língua de expressão literária

autônoma do país, ou seja, a língua na qual estão os registros

literários de uma cultura, sendo estes escritos em tal língua

espontaneamente, sem que ela fosse determinada por qualquer

órgão ou sob qualquer circunstância.

Em outras palavras, a língua nacional é aquela

compartilhada por um grupo populacional que compartilha de

elementos sobretudo étnicos comuns. Uma nação pode ter

diversas línguas nacionais, porém, só conta com uma língua

oficial. Normalmente, a língua Nacional é a língua materna do

indivíduo, aquela que ele aprendeu quando aprendeu a falar,

enquanto a língua oficial não é a materna, necessariamente.

Há línguas nacionais que coincidem com as línguas oficiais,

e esse é o caso do português em Portugal. Mas há casos em que

tal não acontece, uma vez que existem comunidades dentro do

Estado que também falam, ou só falam, outra língua, diferente da

oficial. Vários exemplos podem confirmar isso, pois ao redor do

mundo todo tal comportamento é recorrente, como é o caso, por

exemplo, do galego na Galiza, ou do catalão na Catalunha.

Também vemos o mesmo com grande parte das línguas não

oficiais no espaço político-geográfico em que se expandiu a

Lusofonia, que é o caso que será mostrado no trabalho em

questão.

Como foi utilizado o exemplo da garantia de uma língua

oficial pela constituição, é importante utilizar um contraponto.

Em Moçambique, por exemplo, as línguas Nacionais têm seu

espaço na constituição, que afirma: "o Estado valoriza as línguas

nacionais e promove o seu desenvolvimento". Também a

Constituição de Timor-Leste estabelece que "o tétum e as outras

línguas nacionais são valorizadas e desenvolvidas pelo Estado".

Nestes dois países, como veremos nas próximas páginas, os

falantes das línguas nacionais representam um número tão

grande, que seria praticamente impossível ignorar a força dessas

línguas politicamente e não garantir a proteção das mesmas via

algum documento de garantia de direitos.

Atualmente, as línguas nacionais vêm sendo objeto de

proteção internacional, uma vez que, sendo normalmente faladas

por minorias étnicas ou culturais (minorias nacionais), a sua

preservação é uma forma de evitar tendências hegemônicas da

maioria ou de discriminação daquelas minorias. Pensadores da

literatura e da lingüística permeiam esse debate, defendendo, na

maioria das vezes, a resistência das Línguas Nacionais como

manutenção de traços identitários. No fundo, a utilização da

língua nacional corresponde a um direito fundamental das

pessoas que integram uma comunidade nacional, seja ela qual

for.

 

3. Nação e Nacionalismo

 

Nação, segundo a definição presente em Ellery Mourão

(retirada de Anderson, 1989) é a reunião de pessoas, geralmente

do mesmo grupo étnico, falando o mesmo idioma e tendo os

mesmos costumes, formando, assim, um povo, cujos elementos

componentes trazem consigo as mesmas características étnicas e

se mantêm unidos pelos hábitos, tradições, religião, língua e

consciência nacional.

O Nacionalismo, por outro lado, seria o processo histórico

pelo qual as nações modernas têm-se estabelecido como

unidades políticas independentes. Para Ernst Gellner (1983), o

nacionalismo é a ideologia fundamental da terceira fase da

história da humanidade, a fase industrial, quando os estados

nação se tornam a forma de organização político cultural que

substitui o império. É, portanto, uma ideologia. Ideologia esta

“que justifica a nação-Estado” (Gerth e Mills, Dicionário de

Ciências Sociais, MEC).

Um elemento muito importante que constitui o

nacionalismo, mais do que a unidade é o sentimento de

pertencimento; é a vontade de querer unir-se, o desejo de

compartilhar e ser daquele grupo. E entre os fatores que

produzem consciência de grupo no nacionalismo encontram-se a

literatura, os sistemas de valores, as tradições históricas, a

identidade de governo, os símbolos e a língua, entre outros, que

as nações procuram administrar em função da manutenção da

coesão social e da unidade política.

O Estado brasileiro, por exemplo, se esforçou para podar as

línguas dos imigrantes estrangeiros, principalmente a partir do

Estado-Novo (1937-1945), que tinha uma forte política

Nacionalista. Durante essa época, as línguas estrangeiras foram

interditadas e o ensino da língua portuguesa se tornou intenso

nos locais de maior concentração de população imigrante.

Já a referência à identidade nacional consiste numa

abordagem como a tratada por Anderson (1989), que privilegia o

sentimento de pertença a uma nação, constituído por meio de

simbologias, sistemas de valores, crenças e ideologias criadas

para dar unidade à identidade coletiva. Isso sem perder de vista

que toda afirmação de identidade nacional é situada histórica e

estrategicamente, dependendo da situação vivida pelos

indivíduos. Nesse sentido, também o conceito de nação, marcado

historicamente por idéias sintetizadoras, pretende aqui ser

pensado de forma múltipla e plural, considerando-o não restrito

exclusivamente à língua, ao território, à religião ou à raça,

embora todos esses referenciais sejam construtores de identidade

nacional (Hall, 2003).

 

 

4. Língua e Linguagem na Nação

 

A língua é um dos principais aspectos do Estado-Nação,

pois além de se configurar por si só uma unidade, ela também é

instrumento de controle de massas, além de produzir

marginalizações e cortes de voz política. Foi através da língua

que os maiores e mais radicais Estados Nacionais, como o

fascismo, o nacional-socialismo e o nazismo, mantiveram sua

unidade, com a propaganda e os meios de comunicação em

massa.

É importante observar que a língua utilizada é uma só, mas

as linguagens variam. Por exemplo, temos a linguagem do jornal,

do cinema, da televisão, do teatro. Mas a língua utilizada para se

estabelecer a comunicação é apenas uma em cada comunidade,

ou, nesse caso, em cada nação.

Para Roland Barthes, "A língua, como desempenho de toda a

linguagem, não é reacionária, nem progressista; ela é

simplesmente fascista, pois o fascismo não é impedir de dizer, é

obrigar a dizer". Como a língua é uma representação do mundo,

só podemos nos expressar através dela e, portanto, estamos

presos a essa representação da realidade, somos obrigados a usá-

la para nos comunicar e, portanto, viver.

Sendo assim, a língua é local de submissão do indivíduo, ela

é local de inscrição do poder. No Português, isso é notado com

as construções, por exemplo do genérico, expresso pelo

masculino. Ainda, se utiliza a palavra homem para designar o ser

humano em geral, independente do gênero, enquanto em Latim e

Grego, por exemplo, existiam palavras para designar o ser

humano do sexo feminino e o ser humano do sexo masculino,

além de homem e mulher ( homo e ánthropos; mulier e guiné).

 

 

5. Os Países Membros da Comunidade de Países de Língua

Portuguesa (CPLP) e Suas Especificidades

 

É importante refletir, a partir da observação do mapa acima,

acerca do enquadramento geográfico dos países membros da

CPLP. Estes países são: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-

Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor Leste, e

estão espalhado por quatro continentes. Na América do Sul,

encontra-se o Brasil; na África estão localizados Angola, Cabo

Verde, Guiné Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe; na

Europa está Portugal e na Ásia localiza-se o Timor Leste.

O espalhamento desses países por esses continentes, por si

só, já representa um valor estratégico muito grande, no que diz

respeito a geopolítica. A manutenção da língua Portuguesa,

portanto, seria de se esperar por parte dos chefes de Estados. E

são esforços nesse sentido que serão observados ao longo das

próximas explicações, pelas quais serão mostrados cada país

membro e seus conflitos lingüísticos internos.

 

5.1. Angola

Em Angola, a Língua Oficial é o Português, falado por 30%

da população. As Línguas Nacionais são côkwe (pronuncia-se

tChocué), kikongo, kimbundu e o umbundu. Angola também

conta com 37 línguas indígenas e 50 dialetos. Neste país

houve intensa disseminação do Português, devido a diversos

motivos.

O principal foi a implantação, pelo regime colonial

português, de uma política assimiladora que visava a adoção,

pelos angolanos, de hábitos e valores portugueses, considerados

"civilizados", entre os quais se encontrava o domínio da língua

portuguesa. Essa política teve vigência durante o governo de

Salazar.

Por outro lado, há que ter em conta também a presença de

um elevado número de colonos portugueses, espalhados por todo

o território, bem como dos sucessivos contingentes militares

portugueses que, durante o longo período da Guerra Colonial, se

fixaram no interior do país.

A adoção do Português como língua oficial foi, como se

pôde observar, através de um processo impositivo. E embora as

línguas nacionais ainda sejam as línguas maternas da maioria da

população, o português é já a primeira língua de 30% da

população, característica muito peculiar de angola, único país da

África na CPLP com tamanha aderência ao Português.

 

5.2. Cabo Verde

Cabo Verde é um arquipélago composto por 10 ilhas, de

posição geográfica altamente estratégica e preciosa, por esta

justamente no meio do oceano atlantico, entre os continetes da

América e da África. As ilhas que compõe esse arquipélago eram

inicialmente desabitadas, por isso, não existiam línguas nativas.

A língua oficial de Cabo Verde é o Português,mas exxiste

uma língua Nacional de forte expressão, que é o Crioulo

Caboverdiano. O Crioulo Caboverdiano é de expressãotão

grande em Cabo Verde, e tem valor de identidade tão latente,

que há um projeto para a oficialização da língua. Assim, a

soberania seria reconhecida,com a aproximação de um Estado-

Nação.

A língua Portuguesa teve grande dificuldade de adoção

passiva nesse país, como mostra Juliana Braz em seu artigo, pois

a população não se identifica com ela. Uma reunião de

documentos presente no artigo de Juliana Braz mostra os

esforços de membros da população para oficializar o crioulo, que

é uma língua falada no cotidiano por quase todos os

caboverdianos e de cuja os mesmos se ressentem muito por não

utilizá-la para expressar sua voz política.

 

5.3 Guiné Bissau

Como já foi dito, a forma de organização ocidental é impor

fronteiras, impor unidade linguistica, apagando as etnias pre-

existentes.Com Guiné Bissau não foi diferente. A Língua Oficial

(o português) éfalado por menos de 10% da população. OU seja,

90% da população é marginalizada quando da participação

política oficial.

Suas principais Línguas Nacionais são o Crioulo Guineense,

Balanta, Fula, Mandiga, Manjaco, Papél.

Guiné Bissau teve sua independência conquistada em 1974,

lutando ao lado de Cabo Verde, na guerra colonial. Este país

conta com diversos conflitos étnicos e sua população não

compartilha de um única identidade. Pelo contrário sua

identidade é problemática (guineense, crioulo, ou parte de uma

etnia específica?).

A forma de organização adotada pós independência, não só

para esse país, como para todos os africanos, foi a forma de

organização ocidental predominante: a nação-estado. Apesar

dessa tentativa de unificação lingüística em torno do Português,

Guiné Bissau conta com uma pequena, porém, forte produção

literária em crioulo, que consegue transmitir costumes e

sentimentos identitários.

 

 

5.4. Moçambique

Em Moçambique, a língua oficial éo português. Porém,um

dado muito releante é o de que apenas 6% da população fala tal

língua. As principais Línguas Nacionais deMoçambique são

XiTsonga, XiChope, BiTonga, XiSena, XiShona, ciNyungwe,

eChuwabo, eMacua, eKoti, eLomwe, ciNyanja, ciYao,

XiMaconde e kiMwani.

É importante observar que apenas em 2004 a língua oficial

entra na constituição, mas ela o é desde a independência de

Moçambique em 1975. Apesar dessa adoção, o artigo 9 da

Constituição de Moçambique diz que "O Estado valoriza as

línguas nacionais como património cultural e educacional e

promove o seu desenvolvimento e utilização crescente como

línguas veiculares da nossa identidade".

Como já dito anteriormente, seria inimaginável o Estado

desconsiderar as demais línguas, quando a população conta com

apenas 6% de falantes da língua oficial num Estado que, além

das línguas Nacionais já citadas, ainda conta com mais 41

línguas Nacionais.

 

 

5.5. São Tomé e Príncipe

Em São Tomé fala-se o forro, o angolar, o tonga e o monco

(línguas nacionais), além do português (língua oficial). Assim

como Cabo verde, São Tomé e Príncipe eram duas ilhas

inicialmente desabitas, que sofreram povoação portuguesa e de

escravos vindos de várias partes da África.

O forro (ou são-tomense) é um crioulo de origem

portuguesa, que se originou da antiga língua falada pela

população mestiça e livre das cidades. No século XVI, naufragou

perto da ilha um barco de escravos angolanos, muitos dos quais

conseguiram nadar até a ilha e formar um grupo étnico a parte.

Este grupo fala o angolar, um outro crioulo de base portuguesa

mas com mais termos de origem bantu. O tonga é um crioulo

com base no português e em outras línguas africanas. É falado

pela comunidade descendente dos "serviçais", trabalhadores

trazidos sob contrato de outros países africanos, principalmente

Angola, Moçambique e Cabo-Verde.

A ilha do Príncipe fala principalmente o monco (ou

principense), um outro crioulo de base portuguesa e com

possíveis acréscimos de outras línguas indo-européias. Outra

língua muito falada em Príncipe (e também em São Tomé) é o

crioulo cabo-verdiano, trazido pelos milhares de cabo-verdianos

que emigraram para o país no século XX para trabalharem na

agricultura.

O português corrente de São Tomé e Príncipe guarda muitos

traços do português arcaico na pronúncia, no léxico e até na

construção sintática. Era a língua falada pela população culta,

pela classe média e pelos donos de propriedades. Atualmente, é o

português falado pela população em geral, enquanto que a classe

política e a alta sociedade utilizam o português europeu padrão,

muitas vezes aprendido durante os estudos feitos em Portugal.

  5.6. Timor Leste

O caso do Timor Leste é um pouco diferente dos outros

países africanos. Timor Leste é um país localizado na Ásia e,

devido à distância geográfica dos demais países de língua

portuguesa, é alvo de diversos debates a respeito da manutenção

da língua portuguesa como a Língua Oficial da Nação.

Como já foi dito, o Português é a língua oficial do Timor

Leste, mas esse país tem uma especificidade; ele tem mais uma

língua oficial: o tétum. O Tétum é uma língua austronésia, como

a maioria das línguas nacionais, com muitas palavras derivadas

do português e do malaio. É a língua de maior expressão no

Timor Leste.

Além destas, o Timor Leste ainda conta com as Línguas

Nacionais: ataurense, baiqueno, becais, búnaque, cauaimina,

fataluco, galóli, habo, idalaca, lovaia, macalero, macassai,

mambai, quémaque e tocodede;e as línguas de trabalho: Inglês e

Indonésio.

Esse país é tão linguisticamente complexo e diverso que

existem até línguas de trabalho e uma legislação própria que rege

esse sistema.

Devido a essa complexidade, são colocadas frequentes

críticas a respeito da manutenção do Português como língua

oficial. Uma delas é acerca da distância geográfica dos demais

países de língua portuguesa. Afirma-se que não não tem sentido

insistir no estabelecimento de língua cuja população vizinha não

tem conhecimento e nenhum traço de similaridade. Os

pensadores que fazem essa crítica, optam pela adoção do Inglês

ou do Indonésio.

A outra crítica refere-se à existência do Tétum, que é uma

língua nacional e é falada pela maioria da população. São

colocados questionamentos a respeito da não consideração dessa

língua como a língua oficial, o que a mairia dos estudiosos do

assunto acredita ser o desejo da população como um todo, e a

melhor saída para o problema de conflito lingüístico.

Por outro lado, o português é símbolo da unidade do país e

símbolo da resistência quando da ocupação Indonésia. Ele

representa um valor de unidade em tempos difíceis para a

população e isso é um aspecto importante para a justificativa de

sua manutenção como língua oficial.

 

5.7. Brasil e Portugal – Casos à Parte

Portugal tem sua língua materna coincidindo com a língua

oficial, portanto não apresenta problemas de conflitos

linguísticos nesse sentido.

Para Portugal e Brasil serão analisados os conflitos no

Âmbito do Acordo da Língua Portuguesa.

6. Acordo Ortográfico

O português é hoje falado no mundo por mais de 200

milhões de pessoas. Cada vez mais é considerado importante e

de grande relevância, fato esse expressado pela sua adoção como

língua de trabalho em diversas organizações internacionais.

Acredita-se que tal expressividade do Português reflete-se até no

fato de uma das portas de entrada da China em África ocorrer

por via do Fórum Macau, sustentado pela partilha da mesma

língua. O acordo ortográfico apresenta, além de todas as

possibilidades mais adiante comentadas, um passo para tirar a

força dos obstáculos que travavam uma maior expansão

linguística, para que assim, o Português possa ser assumido

plenamente como quinta língua com mais falantes no mundo, e

a prazo, como uma das línguas oficiais das Nações Unidas.

O Acordo Ortográfico foi aprovado e assinado em 1990,

mas só veio a entrar em rigor nos dias de hoje, tornando-se a sua

escrita obrigatoriamente oficial a partir deste ano. Tal acordo

toma medidas de forma a unificar as escritas de língua

portuguesa, através de mudanças na gramática de norma padrão,

de maneira que é impossível modificar através de imposições a

fala de cada indivíduo.

O texto Inicial do Acordo é assim apresentado:

“Considerando que o projecto de texto de ortografia

unificada de língua portuguesa aprovado em

Lisboa, em 12 de Outubro de 1990, pela Academia

das Ciências de Lisboa, Academia Brasileira de

Letras e delegações de Angola, Cabo Verde, Guiné-

Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe, com a

adesão da delegação de observadores da Galiza,

constitui um passo importante para a defesa da

unidade essencial da língua portuguesa e para o seu

prestigio internacional (...)” (Acordo Ortográfico,

1990).

 

O acordo é, portanto, como bem explicitado em seu texto

inicial, um passo para a defesa da unidade da língua portuguesa,

o que nos remete a uma clara estratégia política de prestígio dos

países e defesa de soberania.

Não é surpreendente que os países Africanos e o Timor

Leste não tenham repercutido muito a respeito do acordo. Foi

visto que eles já sofrem com tantas questões lingüísticas, que o

acordo ortográfico se configura como uma alternativa bem à

parte de sua realidade. Para Brasil e Portugal, o caso foi

diferente. O acordo teve grande repercussão na comunidade

acadêmica, principalmente pelos estudiosos de lingüística e

literatura, além de sociólogos.

 . Conclusão

Com esse trabalho, foi possível chegar a algumas conclusões

parciais e depois, a conclusões a respeito de todo o estudo aqui

apresentado. À princípio é importante ressaltar a marginalização

dos países africanos e do país asiático de língua portuguesa

quando da discussão do acordo ortográfico. Isso se dá

visivelmente pelo fato de tais países enfrentarem problemas

lingüísticos de ordem muito mais grave.

Estes, depois de conquistada a sua independência perante

seu antigo colonizador, Portugal, tiveram que se unificar e

proteger por trás da oficialização de um idioma para que a sua

soberania fosse reconhecida internacionalmente. A centralização

do Português como língua oficial representa a tentativa desses

países de se encaixarem num modelo de organização política que

não é o seu, porém é o vigente no ocidente.

Quanto ao acordo ortográfico, o que fica é o levantamento

de alguns questionamentos, já introduzidos anteriormente: Seria

o acordo ortográfico mais uma forma de controle do Estado e

exercício de poder? Seria ele apenas uma tentativa de unidade

entre povos de mesma língua ou uma estratégia política de

unificação? Até que ponto esses dois questionamentos podem ser

separados?

Universidade, conhecimento e opinião

A universidade existe para produzir conhecimento, gerar pensamento crítico, organizar e articular os saberes, formar cidadãos, profissionais e lideranças intelectuais. O desempenho dessas nobres e decisivas funções, porém, não é algo que se resolva no plano abstrato. Do mesmo modo que as demais instituições, a universidade está sempre historicamente determinada. Pode funcionar bem ou mal, cumprir com maior ou

menor efetividade suas atribuições, ser mais ou menos admirada e respeitada. Ela não é perfeita nem inquestionável. Não está acima da sociedade nem desconectada dela. As próprias circunstâncias internas da instituição - seu corpo docente, sua estrutura administrativa, seus dirigentes, estatutos e tradições - incidem sobre sua imagem e seu desempenho. Em certa medida, cada época, cada sociedade e cada Estado têm a universidade que podem ter, por mais que a instituição universitária, por sua própria natureza, tenha luz própria e possa, justamente por isso, operar com alguma liberdade em relação às circunstâncias histórico-sociais que lhe estão na base. Não se trata de dependência ou limitação, mas de determinação.

Nos últimos anos, a universidade brasileira tem se debatido intensamente numa crise que não parece ter data para terminar e que, dentre outras coisas, pode ser responsabilizada pelo estado de exasperação, insatisfação, “desconstrução” e experimentalismo que se instalou nos circuitos acadêmicos. Trata-se de uma crise que tumultua e desorganiza, mas que também se abre para novos horizontes e possibilidades, na medida mesma em que

se mostra essencialmente como desafio e põe por terra hábitos e procedimentos pouco funcionais ou referidos rigidamente a padrões anteriores de vida intelectual, educação e gestão.

A crise se instalou no cotidiano da instituição universitária e está revirando seus fundamentos organizacionais, pedagógicos, culturais. Confunde-se com uma mudança paradigmática nas formas de explicação do mundo, nos hábitos e comportamentos intelectuais, no modo de trabalhar e conceber o trabalho, nos modelos seguidos para organizar atividades técnicas, administrativas e educacionais. Associa-se à reestruturação produtiva em curso, à globalização capitalista, à informacionalização, ao modo como se passou a viver a vida, fatores e processos estes que estão modificando profundamente as sociedades contemporâneas, seus valores e suas instituições. Além disso, repercute os procedimentos que têm sido adotados pelos governos no campo da reforma do Estado, que seguem um sentido perigosamente hostil à comunidade política e à vida pública, ao mesmo tempo

em que cortejam perigosamente o mercado.

Neste quadro, será que a universidade continua sendo capaz de desempenhar suas históricas atribuições? Que conhecimento ela está gerando hoje? Como as opiniões geradas em seu interior entram em circulação, que função cumprem? Qual sua efetiva contribuição para o país? São muitas as interrogações. As universidades (as públicas, sobretudo) continuam a ser essenciais na vida nacional, mas não temos como fugir ao reconhecimento de que há algo estranho nesse contexto, algo que rouba protagonismo da própria instituição universitária e a expõe a uma saraivada de críticas recorrentes.

Edificada no decorrer de uma longa evolução histórica, cujos primórdios remontam à Idade Média, a universidade se consolidou como um agregado de pessoas possuidoras de certas qualidades e unidas pela “missão” de produzir e transmitir conhecimento, acumular e disseminar pensamento crítico, formar outras pessoas, jovens sobretudo, como cidadãos, profissionais e lideranças

intelectuais. Trata-se de uma instituição eminentemente social, cuja razão de ser é publicamente reconhecida e legitimada, na medida mesma em que se reporta o tempo todo à sociedade e ao Estado, à cultura, à política e à economia. De certa maneira, a universidade recebe uma “delegação” da sociedade, que transfere a ela determinadas responsabilidades e incumbências. Tudo o que é humano lhe interessa e diz respeito, tudo o que há de mais típico nas épocas históricas e nas estruturas sociais reverbera em seu interior, dando a ela uma existência dinâmica e socialmente referenciada. Seus movimentos como instituição seguem as demandas e expectativas da sociedade, ainda que não se submetam passivamente a elas.

Sustentada pelos princípios da autonomia do saber, da liberdade de expressão e da reflexão desinteressada, que só obedece a si própria, a universidade é uma instituição que se põe, diante do mundo, como sujeito simultaneamente ativo e reativo. Absorve demandas e expectativas sociais variadas, às quais precisa responder, mas ao mesmo tempo age para propor pautas

e agendas, contribuir para a construção da autoconsciência social, alargar fronteiras culturais e submeter à crítica a realidade, as estruturas sociais e as relações de dominação. Exatamente por isto, funciona tanto melhor quanto mais republicana (pública e laica) e democrática for, e quanto mais republicano e democrático for o Estado com o qual se relaciona.

Além do mais, a universidade é uma decisiva referência do Estado (comunidade política) e vincula-se ao Estado (aparato administrativo e de governo). No primeiro caso, recebe uma atribuição ética, educacional e política; no segundo, muitas incumbências e algumas restrições. Precisa ser livre, laica e autônoma para respirar e cumprir seu papel, ao mesmo tempo em que tem de se viabilizar como organização, ou seja, cuidar de si própria, administrando corretamente os recursos de que dispõe ou que recebe do poder público. Com isto, obriga-se a obedecer a determinados parâmetros legais, seguir diretrizes gerais de educação e acompanhar orientações governamentais, bem como a reproduzir determinadas exigências técnicas e operacionais, comuns

a todas as organizações complexas.

Inevitável, portanto, que a universidade reflita em si, com uma dose adicional de dramaticidade, todas as características, vantagens e adversidades da época histórica e das sociedades concretas em que está inserida. Tanto quanto as demais organizações, ela está hoje em ebulição, num momento de transição e arrumação, no qual as partes se unem com dificuldade, concebem-se a si mesmas com bastante imprecisão e vivem à procura de uma nova e melhor inserção social. Similarmente às demais organizações, a universidade flutua em um estado de sofrimento, que seguramente não a inviabiliza, mas que a desafia abertamente.

Universidade e conhecimento

Como instituição que se dedica à produção e transmissão de conhecimento, a universidade não tem como deixar de ser afetada pelo modo como as épocas históricas e as sociedades entendem o conhecimento. Por estar sempre socialmente referenciada, a ideia de conhecimento oscila conforme os movimentos da história, a correlação de forças, as disputas de hegemonia e

dominação. É ele um valor em si, voltado para o crescimento intelectual e moral das pessoas, ou um recurso para que as pessoas se adaptem melhor ao mundo? O conhecimento pode ser pensado como um fim em si mesmo, que liberta, promove e emancipa, ou como um instrumento de desenvolvimento profissional e ajuste, com o qual as pessoas melhoram sua posição relativa diante do mercado de trabalho, por exemplo. Ambas as visões evidentemente coexistem, mas as sociedades - quer dizer, as estruturas sociais, as relações de dominação, as forças e correntes que prevalecem nos diversos momentos de sua história - têm suas “preferências” e fazem “escolhas”. A maior adesão social a uma ou outra daquelas visões certamente não é sem importância.Hoje, em ritmo de globalização capitalista e informacionalização, o conhecimento também se tornou um bem de mercado: pode e deve ser “comprado” para que seja possível, às pessoas, uma melhor adaptação ao mundo. O conhecimento virou uma mercadoria e passou a integrar o mesmo circuito de produção e circulação de mercadorias. Com isto, tudo aquilo que,

na universidade, existe para produzir e transmitir conhecimento sofre uma drástica alteração: aulas, pesquisas, relações entre alunos e professores, teses e monografias, adquirem novos sentidos e significados. A produção se torna mais importante do que a transmissão, o acúmulo de informações ganha destaque diante da reflexão, os resultados passam a ser mensurados com obsessão e segundo critérios estranhos à própria lógica do conhecimento, os relacionamentos são formatados para gerar respostas no curto prazo, não para promover efetivos intercâmbios intelectuais, o quanto se faz fica mais relevante do que o como se faz e o porquê se faz. Instala-se um quadro sustentado pelo cálculo, pelo custo-benefício, por uma racionalidade “irracional”, pouco compatível com a razão crítica que alimenta a ciência.

O estreitamento das relações entre universidade e mercado afeta a finalidade mesma da universidade, o modo como ela se concebe e o lugar que nela tem a ideia de ciência e formação. Fazer ciência, hoje, muitas vezes se reduz a uma prática instrumental, pragmática, vazia de

aventura, risco e fantasia. Formar deixa de ser um processo de preparação para a vida, de articulação e totalização dos saberes, de diálogo com a história, e se converte numa operação de curto prazo destinada a instrumentalizar pessoas para uma melhor inserção no mercado de trabalho ou para um mais adequado aproveitamento das “oportunidades”. A formação e a ciência perdem contato com a dúvida, a reflexão sistemática, a curiosidade, o questionamento, em nome da aquisição de “certezas”, da necessidade de dominar tecnicamente determinados temas ou situações, do privilegiamento de carreiras e salários. No fundo, há mais capacitação que formação. Em decorrência, mudam as bases do ensino e da pesquisa, com a fragmentação dos currículos, o aumento da carga letiva, a aceleração dos ciclos de estudo, o privilegiamento da quantidade (disciplinas, matérias, informações, horas-aula, vagas, carga horária docente, artigos publicados, teses defendidas) sobre a qualidade, a valorização unilateral do pesquisador em detrimento do professor.

Com isto, também é afetada a ideia

mesma de liberdade acadêmica, com seus requisitos: uma rede de proteções e garantias para o exercício da crítica, uma específica estabilidade que se vincula à dedicação integral ao ensino e à pesquisa, uma certa “irresponsabilidade” docente. É igualmente afetado o instituto da autonomia universitária, seja em termos acadêmicos (com a “imposição” de escolhas curriculares e preferências teóricas por parte do “mercado de trabalho”), seja em termos orçamentários e financeiros, seja em termos gerenciais. A idéia mesma de autonomia sofre uma redução, chegando a ser simplificada e banalizada. Tende-se sempre a maximizar o aspecto financeiro da questão, como se a liberdade para gerir recursos financeiros esgotasse o tema da autonomia ou fosse o aspecto mais importante dele.

A organização universitária é obrigada a se reformular como um todo. Passa a se estruturar a partir de uma nova idéia de tempo, por índices de produtividade, pela busca obstinada de eficácia administrativa, racionalidade gerencial e controle do gasto. É fácil perceber como tudo isto entra em atrito com a missão histórica da

universidade e trava a reprodução de suas atribuições básicas: gerar reflexão crítica, criar condições para a formação e o enriquecimento intelectual de seus integrantes, produzir conhecimento. Arma-se um conflito de tempos, lógicas, valores. O próprio protagonista central da experiência universitária, o intelectual, muda de função. Fica recoberto por uma nova auréola de inacessibilidade e “superioridade”, pois se torna autocentrado e auto-referenciado. Busca o máximo de projeção na cena pública, mas não para cumprir uma função pública - a de interpelar a comunidade e contribuir para a formação de uma opinião democrática -, mas sim para vender a imagem da sua especialidade, da sua “corporação”. Torna-se um técnico.

Com a prevalência do conhecimento-mercadoria e da informação sobre o conhecimento profundo e o pensamento crítico, a universidade regride como instituição dedicada ao saber desinteressado e à interferência ativa nos destinos da sociedade. Sua opinião perde força e valor, diluindo-se na vala comum das opiniões em geral.

A universidade pública encontra-se na berlinda. É criticada por todos os lados e parece estar sendo abandonada pela sociedade, que, instigada por uma visão instrumental da formação superior (que deveria apenas preparar os jovens para o mercado), tende a olhar sempre com maior desconfiança para a universidade pública, onde haveria funcionários demais, ociosidade demais, “filosofia” demais. Chega-se mesmo a pensar que a época do ensino superior público já teria passado, engolida por sua incapacidade crônica de se adaptar aos novos contextos, aumentar a produtividade e a eficiência e formar profissionais com o perfil requerido. Ao longo dos anos 1990, tornou-se rotineira a acusação governamental (proveniente quase sempre da chamada área econômica) de que o ensino superior público consome uma exagerada parcela do orçamento da educação, impossibilitando um melhor atendimento aos demais estágios educacionais. Entrou-se no novo século com um governo de esquerda, eleito em 2002, mas a rotina permaneceu intocada. A universidade pública continua a ser condenada por servir apenas a uma pequena porcentagem

de “ricos”. O caminho ficou aberto, assim, no discurso governamental, para a redução dos investimentos estatais no ensino superior e, no limite, para a privatização declarada ou dissimulada da universidade pública. Deu-se um descolamento, um desencontro entre o Estado e a universidade, como se esta já não mais integrasse o núcleo estratégico de reprodução da comunidade política e devesse ser reduzida à condição de uma organização como outra qualquer. Tanto quanto as demais organizações, a universidade pública também precisaria se viabilizar no mercado. Neste ponto, a educação superior deixa de ser um direito do cidadão e se converte em um “bem” a ser adquirido.

É preciso desmontar este sistema e este modo de pensar. Não dá mais para continuar falando de universidade em termos contábeis ou a partir de preconceitos e visões impressionistas. Não faz sentido abordá-la como se fosse uma organização qualquer, parecida com um supermercado ou uma fábrica. Além de fazer a defesa intransigente da sua natureza pública, laica e republicana,

demarcando com clareza seu lugar no Estado e, portanto, suas relações com o mercado, é preciso fazer a crítica da universidade realmente existente, que é, em boa medida, a resultante tanto das políticas governamentais quanto do modo como seus integrantes assimilam os processos que estão a desafiar a instituição universitária. Devemos, decididamente, complicar o argumento.

Para sair da crise

A universidade pública, de ensino e pesquisa, laica e republicana, encontra-se em estado de sofrimento, mas seguramente está muito longe de estar em agonia. Por mais que seja insidiosa e contundente a campanha que contra ela fazem alguns setores governamentais e certos formadores de opinião, ela resiste em muito boas condições, continua cumprindo um papel de destaque e se mantém como o principal centro de reflexão da sociedade brasileira, como de resto acontece em todos os países, em maior ou menor grau. A universidade tem reservas poderosas. Seus “recursos humanos” - estudantes, professores, funcionários - mexem acima de tudo com

ideias, materiais em si mesmos explosivos, criativos e reflexivos. É um espaço categoricamente dialógico e pode, por isso mesmo, olhar nos olhos da crise, interpelá-la e reinventar a si própria como práxis e instituição.Mas é evidente que não passa imune por esta campanha, nem deixa de se ressentir das fortes mudanças que ocorrem no meio ambiente em que vive. A universidade precisa, portanto, concentrar energias em sua própria realidade, no seu modus vivendi e operandi. Fazer sua autocrítica, digamos assim.

Para recuperar a centralidade como instituição social dedicada à formação e ao conhecimento, qualificada como opinião e preparada para projetar futuros, a universidade precisa rever algumas de suas práticas atuais e muitos dos procedimentos que tipificam seu cotidiano. Precisa se reorganizar, ter coragem para se passar a limpo e se renovar.

(1) Antes de tudo, precisa valorizar com radicalidade a sua autonomia, recuperando (ou conquistando) o poder de decidir o fundamental, quer dizer, seu

modo de funcionamento, não tanto no plano administrativo-financeiro mas sobretudo no plano propriamente acadêmico. Isto significa, antes de tudo, rebelar-se contra a tirania da produtividade, dos critérios quantitativos, dos prazos curtos definidos por agências que são externas a ela, ainda que estejam sob controle da “comunidade acadêmica”. Significa também, por extensão, dar novo sentido e significado à ideia de formação e conhecimento, revendo seus currículos, sua sistemática didático-pedagógica e seus planos de estudo. Autonomia está associada evidentemente a liberdade de fazer opções, gerir recursos e tomar decisões, mas se identifica também com capacidade de traduzir as condições externas (gerais) em princípios de organização e atuação. Uma universidade é autônoma não quando se descola do Estado ou da sociedade, mas quando incorpora a si - como questões suas - as demandas, expectativas e pressões do Estado e da sociedade, sem ser tolhida por elas mas, ao contrário, sabendo respondê-las com independência, desprendimento e responsabilidade, valendo-se delas para se afirmar como instituição. Não se trata nem

de auto-suficiência, nem de fechamento, mas de uma radical e específica forma de se abrir para o exterior.

(2) É indispensável, também, que ensino e pesquisa sejam postos em relação de equivalência e complementaridade efetiva. Não há porque privilegiar unilateralmente a pesquisa, como se ela pudesse frutificar fechada em si mesma e fora das salas de aula. Não faz sentido enfatizar a pesquisa como porta de entrada no mundo da captação de recursos, até porque isto violenta a própria natureza da investigação científica. Uma instituição universitária que banaliza o ensino não progride como espaço de formação. Ensino e pesquisa são atividades fundamentais e devem integrar, em igualdade de condições e mediante articulações de reciprocidade e troca contínua, a estrutura e a cultura de todas as instituições acadêmicas, não apenas das “melhores”. Separações entre escolas de pesquisa e escolas de ensino, ou entre professores que pesquisam e professores que ensinam - ou, como se faz corriqueiramente hoje, entre professores da graduação e professores da pós-graduação -, não são apenas prova de

elitismo vulgar. São um contra-senso, uma demonstração de cegueira e alienação.

(3) Até porque é daí que vem sua maior fonte de legitimação, a universidade precisa dialogar de modo inteligente com a sociedade. Deve “ir onde o povo está”, isto é, buscar a sociedade, pôr-se em contato ativo e regular com ela, torná-la protagonista da própria dinâmica universitária. Romper com toda e qualquer tentação paternalista. Continua intocável a missão a que se arvorou a universidade, qual seja, a de colaborar dedicadamente para que a sociedade se explique a si mesma, elabore e desenvolva sua autoconsciência, conheça-se melhor e construa uma imagem de si. Permanece estratégica a sua contribuição para que se organizem as agendas nacionais, para que se defina o que precisa ser feito para que as pessoas (grupos, comunidades) vivam de modo justo e civilizado, inserindo-se com soberania e dignidade no mundo. Do mesmo modo, a universidade está chamada a interpelar todo o universo da educação, articulando-se de modo ativo com os demais níveis de ensino, para assim compartilhar experiências e,

sobretudo, promover o constante encontro do conjunto da sociedade com o que a humanidade produz de grandioso e relevante nos mais diversos campos da ciência e da arte.

(4) Em quarto lugar, a universidade terá de levar mais a sério o desafio da sua democratização: ir além do refrão “mais vagas” e “mais participação”. Democratizar não pode significar apenas ter acesso facilitado, representação paritária e eleições diretas para os cargos de direção, por mais que isto seja relevante e indispensável para a dinamização dos ambientes universitários. Antes de tudo, tais procedimentos não revitalizam a gestão propriamente dita, nem melhoram necessariamente a qualidade das decisões, podendo-se até mesmo dizer que a concentração de energias na dimensão mais simbólica e aparencial da democracia produz maior lentidão e menor rigor nos próprios processos decisórios, que se esvaziam de critérios de mérito (acadêmico, inclusive) e se congestionam de pressões e postulações eminentemente corporativas. A democratização só fará sentido se souber rever seus próprios

passos, respeitar a especificidade e a finalidade da instituição, e se traduzir em termos substantivos, quer dizer, em termos de democratização do conhecimento. Democratizar precisa significar, também, criação das condições institucionais e comportamentais (didático-pedagógicas) necessárias para uma formação de massas igualitária, baseada numa igualação categórica das oportunidades, de modo a propiciar a todos (e não apenas aos “mais capacitados”) as mesmas condições de progressão intelectual, acesso a conhecimentos e interação acadêmica.

(5) Será preciso encontrar um eixo para assimilar a massificação, equilibrando quantidade e qualidade. Forçada a se converter em fenômeno de massa, a universidade ainda não conseguiu se ajustar inteiramente a isso. Perdeu a condição de abrigo da “cultura superior”, sendo levada a ter de disputar espaço com a sociedade e a cultura de massas. Respondeu a isto com a sua própria expansão. Cresceram, assim, tanto o número de estudantes quanto o de professores e servidores administrativos,

“deselitizando” parcialmente a universidade, forçando-a a operar em outra escala de tempo e a partir de novos procedimentos organizacionais e didático-pedagógicos. O ensino e a produção de conhecimentos viram-se então alterados, na medida em que tiveram de responder a novas demandas e exigências, a abrir-se para universos mais instrumentais e aplicados, e com isso a se simplificar. Agora, a universidade (a pública, sobretudo) não tem como deixar de continuar crescendo para absorver as massas de jovens que batem às suas portas. Terá de abrir mais vagas e mais cursos, oferecer mais aulas e serviços de extensão, diversificar sua oferta. Mas não terá sucesso nesta operação e se descaracterizará se abrir mão de princípios consolidados, se postergar a qualidade para um ponto futuro não determinado, se optar por se mexer sem cessar apenas para não ficar parada.

(6) Por fim, para resumir todos estes pontos, creio ser possível dizer que a universidade superará sua crise tanto mais depressa quanto mais depressa assumir a condição de “usina” estratégica de

formação de lideranças intelectuais. Os que são por ela formados não podem ser meros “especialistas”, detentores de um saber concentrado em um ou outro ponto especifico. Precisam ter a vocação do universal, da universitas, projetando-se como personagens que reúnem especialização e capacidade de direção, conhecimento especializado e visão ético-política (Gramsci), ciência e cultura. Se optar por privilegiar este enfoque, a universidade terá de encarar seriamente o desafio de rever alguns de seus fundamentos propriamente acadêmicos, científicos e filosóficos, ou seja, aqueles que a distinguem como instituição, idéia e práxis.

Na base deste movimento, deverá estar a prevalência do mérito acadêmico, mas também a proposição consistente de um pacto democrático de convivência, a assimilação de um padrão superior de gestão e o estabelecimento de um diálogo inteligente com a sociedade. Pela via da reposição do mérito, a universidade se reencontrará com seu sentido originário e poderá deslanchar como instituição dedicada à produção e difusão de

conhecimentos. Pela via da democracia, terá como construir um pacto que solidarize os interesses, respeite as individualidades e incentive a participação de todos. Renovando a gestão, aprenderá a dar conta das rotinas sem se deixar rotinizar, inventando-se permanentemente como instituição. E, por fim, dialogando de modo inteligente com a sociedade, terá como se conhecer melhor e encontrar incentivos para não se congelar em si mesma, não respirar seu próprio ar, nem olhar apenas para seus interesses.

A universidade é um patrimônio da humanidade. Atacada ou não, em crise ou não, ela existe, e é agora, nesse momento concreto por que passam as sociedades, que precisa mostrar seu valor.

O Observatório da Vida Estudantil (OVE) atua em duas IFES do Estado da Bahia – a Universidade Federal da Bahia (UFBA) e a Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). O OVE se propõe acompanhar os diferentes modos de vivenciar a experiência de ser um estudante da educação superior, utilizando-se de metodologia e técnicas de coleta e análise flexíveis no âmbito da pesquisa qualitativa. Seu objetivo é descrever desafios encontrados e aprendizados realizados por esses jovens em seus processos formativos, guiado pelos significados que eles constroem acerca de suas próprias

experiências e por uma postura implicada com o contexto em que as pesquisas se desenvolvem: o ambiente acadêmico. Adotar esta perspectiva, entretanto, significa compreender que os estudantes não constituem um grupo homogêneo e que a diversidade de novos aspectos que afetam a vida estudantil não se limita aos modos por eles adotados para adaptar-se e dar curso à sua vida acadêmica; ela abrange igualmente hábitos e mudanças relativos à saúde, alimentação, lazer, às práticas culturais e sexuais e suas relações com a família e a comunidade.

A universidade brasileira não tem o hábito de dar visibilidade a seus atores. Docentes, gestores, estudantes e pessoal técnico-administrativo, aqueles que constroem o cotidiano acadêmico, não são objeto de estudo sistemático que utilize metodologias sensíveis para expressar aspectos de sua cultura e subjetividade que se desenvolvem no interior da vida universitária. Para melhor desempenhar suas funções e solidificar laços com a sociedade, a universidade carece de um maior entendimento dos itinerários e dilemas enfrentados por diferentes grupos de jovens e adultos que nela convivem ou que dela dependem.

Eleger a relação juventude-universidade como tema de pesquisa é enfrentar um conjunto extremamente diverso de fenômenos complexos. A universidade, historicamente, habituou-se a ver nos estudantes apenas usuários de serviços educacionais. Esteve fechada, por longo tempo, a questões emergentes relativas a esse segmento, falhando em enxergar-se como o espaço-tempo de desenvolvimento onde se dá uma das transições mais importantes da vida de um indivíduo: a passagem para a vida adulta e as tarefas que daí decorrem. Por outro lado, a convivência universitária, pulverizada desde os anos da ditadura militar, foi agravada pela situação de penúria material a que foi submetida essa instituição, impedida de dar atenção a projetos

que não fossem voltados estritamente para a formação acadêmica. Aspectos da formação integral da juventude foram negligenciados e hoje pouco se sabe do cotidiano vivido por seus estudantes.

O Observatório da Vida Estudantil surge como linha do grupo de pesquisa - Aproximações: a perspectiva ethno em Psicologia do Desenvolvimento do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da UFBA, em 2007. Nos dois anos seguintes, agregando pesquisadores, estudantes de pós-graduação, de iniciação científica e de extensão em torno da idéia de explorar diferentes aspectos da vida de estudantes universitários, constitui-se como grupo de pesquisa independente, ampliando seu raio de ação para a UFRB, em conseqüência da aproximação de pesquisadores desta nova universidade, exatamente num momento de expansão e interiorização da educação superior no Estado da Bahia.

A experiência francesa do observatoire de la vie étudiante

A iniciativa de acompanhar a inserção de jovens em sua nova vida, a partir do momento em que ingressam na educação superior, não é uma novidade. Já em 1989, o então Ministro da Educação da França, cria o Observatoire de La Vie Étudiante que tem como missão fornecer informação, o mais completa, detalhada e objetiva possível, acerca das condições de vida dos estudantes e sua relação com o desenvolvimento de seus estudos. Como projeto institucional amplo, propõe-se, igualmente, auxiliá-los em suas decisões, sem esquecer de alimentar a reflexão política e social acerca desse importante segmento da população jovem.

A criação dessa estrutura nacional, disseminada em todo o país, através de observatórios locais e regionais, se dá a partir do

extraordinário crescimento do número de estudantes franceses, considerado como verdadeira explosão da população de jovens que ingressavam no ensino superior nessa época. Efetivamente, ao menos do ponto de vista do acesso, a França conseguiu democratizar seu sistema de ensino, contando, já em 2006, com cerca de 2.250.000 estudantes universitários num país com uma população total de cerca de 63 milhões de pessoas. Ao mesmo tempo, o ensino superior francês conheceu uma multiplicação de possibilidades de formação e ampliou sua dispersão geográfica. Esses fatores levaram a mudanças importantes com diversificação cada vez maior das condições de vida e de estudo dessa população. O Observatório Nacional, que opera em permanente relação com todas as instâncias que produzem ou recolhem informações e conhecimentos sobre a vida estudantil, realiza, a cada três anos, pesquisa nacional sobre as condições de vida dos estudantes. Seus resultados ocasionam aprofundamentos temáticos e regionais a depender da prioridade dos resultados encontrados.

Institucionalizados, do ponto de vista de sua estrutura, os observatórios franceses dispõem de um conselho composto de organizações representativas dos estudantes, de personalidades e técnicos ligados ao ensino superior e representantes comunitários. Possui ainda conselho científico composto por pesquisadores escolhidos nas universidades e centros de pesquisa com a função de desenhar, orientar e controlar a qualidade dos estudos realizados pelo observatório. Tanto o conselho quanto o comitê científico são apoiados no trabalho de uma equipe operacional que assegura o funcionamento cotidiano do observatório.

No quadro do projeto Euro Student, que tem como finalidade comparar as condições européias acerca das condições de vida

dos estudantes, o observatório colabora, desde 1994, com diversos países que realizam pesquisas do mesmo tipo: Alemanha, Áustria, Bélgica, Espanha, Finlândia, Holanda, Inglaterra, Irlanda, Itália, Letônia, Noruega e Portugal. Os temas privilegiados por esses levantamentos são: características sócio-demográficas, acesso ao ensino superior, sucesso nos estudos, locais de moradia, auxílios governamentais, custo dos estudos e internacionalização. Os últimos resultados foram disponibilizados em 2005, no documento Eurostudent Report, Social and Economic Conditions of Student Life in Europe. As pesquisas realizadas entre 2005 e 2007 que, dessa vez, envolveram mais de vinte países europeus, serão divulgadas brevemente.

O Brasil, que ainda se debate com enormes dificuldades relacionadas à democratização do ensino universitário, não dispõe de volume satisfatório de estudos que fundamentem políticas para o suporte a esse público, orientados para dar consistência aos discursos que apontam para a necessidade incontornável de dotar nosso país de modos de vida acadêmica mais ampla e fértil.

É importante sublinhar que a idéia do OVE resulta de longa interlocução com pesquisadores da Universidade de Paris VIII e fundamenta-se na compreensão da universidade como ambiente de formação, mas, igualmente, espaço de desenvolvimento e transição para vida adulta.

O OVE e as políticas de ações afirmativas

Nos últimos 10 anos, uma discussão tem sido recorrente no ambiente acadêmico: a chegada às universidades públicas brasileiras de setores sociais antes excluídos. A universidade

pública não podia continuar ignorando os milhões de brasileiros pobres que reivindicavam passagem para o que é um direito de todos: a educação superior.

Mas isso não vai se dar facilmente: o debate meritocracia x justiça social continua se dando em diferentes setores da vida brasileira em torno da propriedade ou dos formatos das políticas de ações afirmativas. Entretanto, várias universidades , dentre elas a Universidade Federal da Bahia, implantaram sistemas de cotas, desenvolvendo e aprimorando políticas que ofereçam melhores condições de permanência a esse novo segmento de estudantes que, desde o seu ingresso, necessita de apoio para prosseguir e concluir com sucesso o curso de escolha .

Aberto à discussão de diferentes temas que envolvam qualquer segmento de estudantes da educação superior, o OVE privilegiou, inicialmente, uma população específica: os estudantes ingressos na universidade através das políticas de ações afirmativas. O significativo aumento do número desses estudantes e as novas e saudáveis questões pedagógicas, culturais e sociais que sua presença provoca no cotidiano acadêmico, trouxeram para o Observatório a demanda de se aproximar de suas realidades e dilemas. No momento em que a universidade brasileira ensaia os passos de uma profunda mudança, mais que nunca é necessário acompanhar as populações de jovens que nela ingressam, especialmente aqueles de origem popular, para compreender o que impacta suas vidas num período que compreende sua transição para a etapa adulta da vida.

Uma preocupação do OVE, que fortalece a relevância da realização de estudos com esse segmento estudantil, é avaliar a qualidade da sua efetiva integração a todos os aspectos

relevantes da vida acadêmica, superando a mera inclusão quantitativa. Os resultados desses trabalhos têm ainda a intenção, via divulgação científica e debates qualificados, de auxiliar os gestores a desenhar políticas adequadas que ofereçam a esses estudantes suporte e canais de comunicação ao longo de sua trajetória acadêmica sistematizando informações úteis para o aprimoramento das políticas de assistência estudantil. Importante lembrar que a universidade brasileira está convocada a empreender uma grande reforma em sua concepção e articulação com o conjunto da sociedade, especialmente com os setores historicamente dela excluídos, o que reforça a relevância do acompanhamento das populações de jovens que nela ingressam especialmente aqueles de origem popular. Avançar nessas discussões constitui importante passo em direção à democratização do bem público universitário e, portanto, parte do direito à cidadania plena.

Vale, entretanto, sublinhar que, inicial e prioritariamente voltado para essa população específica de estudantes, a continuidade dos trabalhos de pesquisa do OVE prevê sua abertura para temas e segmentos da população universitária não privilegiados nessa fase inicial. Sabemos que não apenas os estudantes pobres enfrentam dificuldades para se manter na universidade; a própria escolha do curso a seguir é objeto de insegurança para muitos estudantes que não ingressam pelas políticas de ações afirmativas, bem como os dilemas enfrentados ao longo da aprendizagem das regras que regem o trabalho intelectual requerido para prosseguir no curso escolhido. Além disso, temas como a inserção política, os modos de acesso à cultura e o pertencimento a grupos identitários baseados em cor da pele, gênero ou preferência sexual, são temas contemporâneos e que podem a vir tornar-se foco de novos estudos.

O Observatório da Vida Estudantil e suas ações atuais

O Observatório da Vida Estudantil, atualmente, trabalha em várias frentes de pesquisa, agregando pesquisadores, estudantes de pós-graduação, bolsistas de Iniciação Científica e de Extensão e, mais recentemente, bolsistas de Iniciação Científica Jr. O grupo congrega, atualmente, cerca de vinte e cinco participantes que atuam ativamente em seus diferentes projetos.

No centro das atenções atuais do OVE encontra-se o projeto Aproximando a Educação Básica da Educação Superior: uma proposta de pesquisa-ação-formação, contemplada como projeto de inovação educacional pela FAPESB, em 2009 e que representa um primeiro movimento interinstitucional do OVE, compartilhando com pesquisadores da UFRB a idéia de considerar a vida e a cultura de estudantes universitários como objeto de estudo.

Resultados de pesquisas anteriores do OVE em escolas públicas de Salvador haviam apontado a fragilidade da educação básica em promover nos alunos o interesse em continuar seus estudos, ingressando em um curso superior. É dessa forma que surge, dentro do Observatório, a linha de pesquisa “Da Educação Básica ao Ensino Superior”, que propõe estreitar os vínculos entre a universidade e as escolas de ensino médio, formula o projeto aprovado pela FAPESB e obtém, assim, recursos para o seu pleno funcionamento, na forma de consumo e capital, tanto para o grupo de pesquisa quanto para as escolas envolvidas. Seu objetivo central é promover vinculação duradoura entre universidades e escolas de ensino médio para estimular alunos, professores, gestores e famílias, a adotar a idéia da educação superior como projeto de continuidade de estudos. Esse objetivo materializa a missão da universidade de responsabilidade social e

implicação com o desenvolvimento da educação no Estado da Bahia.

A investigação realiza-se, experimentalmente, em quatro escolas de porte médio e grande em três cidades: 02 em Salvador, 01 em São Félix e 01 Santo Antônio de Jesus e reúne em torno dela, professores bolsistas de cada uma das escolas que realizam tarefas compartilhadas com a equipe do OVE.

Outra frente importante foi aberta na Universidade Federal do Recôncavo, por um projeto de pesquisa inspirado nas ações desenvolvidas pelo OVE e contemplado por edital do Ministério da Ciência e Tecnologia e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Esse projeto, voltado para fixação de recursos humanos e consolidação de novos campi e universidades, obteve financiamento e bolsistas por um período três anos.

Na perspectiva do Observatório são desenvolvidos ainda 02 projetos de mestrado, 03 projetos de doutorado, 05 planos de trabalho de Iniciação Científica, 04 de Extensão e 16 planos de Iniciação Científica Jr. Os temas dos projetos passeiam pela realidade da vida dos estudantes residentes, relações de tempo e espaço que envolvem estudantes que chegam do interior, condições dos usuários das estruturas de assistência, impacto de programas que visam a permanência de estudantes de origem popular, percurso acadêmico daqueles que ingressam em cursos de alto prestígio e aspectos do desenvolvimento social, político e afetivo de estudantes universitários.

Importante lembrar que, a tradução brasileira do livro do Professor Alain Coulon – Le Métier d’Etudiant: l’entrée dans la vie universitarie – pela EDUFBA, em 2008 , o curso A

atualidade do Interacionismo Simbólico e da Etnometodologia ministrado por ele, nesse mesmo ano, e as visitas que fez ao nosso grupo de pesquisa, à UFBA e à UFRB, se constituíram como poderosos catalisadores para os estudos sobre vida e cultura universitária que iniciávamos, propiciando a bolsistas e pesquisadores uma profusão de novas idéias. Além disso, o OVE não teria ampliado e avançado na qualidade de sua produção se, nesses anos, não vivêssemos um momento muito especial na Universidade Federal da Bahia, que amplia a oferta de cursos e de vagas, utiliza a capacidade ociosa de sua infra-estrutura com turmas em cursos noturnos, propõe novos arranjos curriculares e volta-se para a interiorização da educação superior em nosso Estado, em cujo cenário manteve-se solitária por cerca de 60 anos. Essa espécie de canteiro gigante de obras e idéias é uma mina de novas questões para a pesquisa nesse campo. É preciso, então, atribuir às propostas que nasceram na UFBA o crédito pela inovação e o sonho.

É a partir dessa itinerância acadêmica que a idéia da realização do I Colóquio Internacional do Observatório da Vida Estudantil UFBA/UFRB se consolidou. Nele, priorizamos a aproximação de pesquisadores de outras instituições brasileiras, visando com isso, conhecer e explorar novos temas, metodologias e caminhos para cooperação e pesquisa nesse campo. Essas novas experiências devem interagir, no espaço desse Colóquio, com os renomados pesquisadores estrangeiros convidados.

A escolha do formato colóquio, que reúne um público restrito e focado em estudos sobre vida e cultura universitárias, deveu-se à importância da escuta e do debate de caráter tanto teórico quanto epistemológico necessário a um campo que apenas inicia sua produção científica em nosso país. Além disso, esse Colóquio propõe, como resultado, a construção cooperativa de uma agenda

bilateral e interinstitucional de pesquisas e intercâmbios que promovam a consistência e o desenvolvimento desse campo de estudos nas instituições de origem dos trabalhos foco de sua atenção.

Escolhemos Cachoeira para sediar essa iniciativa como uma espécie de homenagem e saudação aos cantos ainda esquecidos da Bahia, após tantos anos pós-abolição.

Significado de Cultura

Cultura significa cultivar, e vem do latim colere. Genericamente a cultura é todo aquele complexo que inclui o conhecimento, a arte, as crenças, a lei, a moral, os costumes e todos os hábitos e aptidões adquiridos pelo homem não somente em família, como também por fazer parte de uma sociedade como membro dela que é.

Cada país tem a sua própria cultura, que é influenciada por vários fatores. A cultura brasileira é marcada pela boa disposição e alegria, e isso se reflete também na música, no caso do samba, que também faz parte da cultura brasileira. No caso da cultura portuguesa, o fado é o patrimônio musical mais famoso, que reflete uma característica do povo português: o saudosismo.

Cultura na língua latina, entre os romanos tinha o sentido de agricultura,que se referia ao cultivo da terra para a produção, e ainda hoje é conservado desta forma quando é referida a cultura do soja, a cultura do arroz, etc.

Cultura também é definida em ciências sociais como um conjunto de ideias, comportamentos, símbolos e práticas sociais, aprendidos de geração em geração através da vida em sociedade. Seria a herança social da humanidade ou ainda de forma específica, uma determinada variante da herança social. Já em

biologia a cultura é uma criação especial de organismos para fins determinados.

A principal característica da cultura é o mecanismo adaptativo que é a capacidade, que os indivíduos tem de responder ao meio de acordo com mudança de hábitos, mais até que possivelmente uma evolução biológica. A cultura é também um mecanismo cumulativo porque as modificações trazidas por uma geração passam à geração seguinte, onde vai se transformando perdendo e incorporando outros aspetos  procurando assim melhorar a vivência das novas gerações.

A cultura é um conceito que está sempre em desenvolvimento, pois com o passar do tempo ela é influenciada por novas maneiras de pensar inerentes ao desenvolvimento do ser humano.

Cultura na Filosofia

Cultura em filosofia é explicada como o conjunto de manifestações humanas que contrastam com a natureza ou o comportamento natural. É uma atitude de interpretação pessoal e coerente da realidade, destinada a posições suscetíveis de valor íntimo, argumentação e aperfeiçoamento. Além dessa condição pessoal, cultura envolve sempre uma exigência global e uma justificação satisfatória, sobretudo para o próprio. Podemos dizer que há cultura quando essa interpretação pessoal e global se liga a um esforço de informação no sentido de aprofundar a posição adotada de modo a poder intervir em debates. Essa dimensão pessoal da cultura, como síntese ou atitude interior, é indispensável.

Cultura na Antropologia

Cultura na antropologia é compreendida como a totalidade dos padrões aprendidos e desenvolvidos pelo ser humano. A cultura como antropologia procura alcançar ou representar o saber experiente de uma comunidade apreendido através da organização do seu espaço, na ocupação do seu tempo, na manutenção e defesa das suas formas de relação humana e conceitos médios, chegando àquilo a que podemos chamar a sua alma cultural no sentido das normas de condutas ideais estéticas e formas de apresentação, tudo concebido à sua medida. Obtém esses resultados no cotidiano tanto fortuito como regular, como ainda nas suas expressões de festa, homenagem e sacrifício.

Cultura Popular

A cultura popular é algo criado por um determinado povo, sendo que esse povo tem parte ativa nessa criação. Pode ser literatura, música, arte, etc. A cultura popular é influenciada pelas crenças do povo em questão e é formada graças ao contato entre indivíduos de certas regiões.

Os Impactos da Globalização

Autoria: Jóile Bagetti

Resumo

Este artigo apresenta alguns aspectos relacionados à

Globalização, segundo Bauman,1999 a “Globalização” está na

ordem do dia; uma palavra da moda que se transforma

rapidamente em um lema, uma encantação mágica, uma senha

capaz de abrir as portas de todos os mistérios presentes e

futuros.

Para alguns Globalização é o que devemos fazer se quisermos

ser felizes; para outros é a causa, da nossa infelicidade. Para

todos, porém, Globalização é o destino irremediável do mundo,

um processo irreversível; é também um processo que nos afeta,

a todos na mesma medida e da mesma maneira.

Estamos diante de uma nova versão de guerra, de que o modo

de produção capitalista está lançando mão. Uma guerra em

busca de maior efetividade, maior lucro e menor custo. Esta é a

guerra do sistema Global. Esta é a nova bandeira, a nova

racionalidade. Á esta ordem não importam equívocos,

sofrimentos e misérias. E isso porque o núcleo essencial deste

paradigma está protegido e nutrido pelos mesmos objetivos

econômicos e financeiros que nutrem e coordenam todo o

sistema transnacional. Essa ordem e essa racionalidade só tem

um objetivo: a eficácia e a efetividade econômicas, sem

importar-se com as conseqüências.

1. Introdução

O mundo começou a ficar globalizado no início dos anos 80,

quando a tecnologia de informática se associava a tecnologia de

telecomunicações e com a queda das barreiras comerciais.

Existe uma interligação acelerada dos mercados internacionais,

possibilitando movimentar grandes quantias de valores em

segundos, é o que chamamos de Terceira Revolução

Tecnológica, ou seja, processamento, difusão e transmissão de

informações.

As forças das mudanças atuam nas empresas de forma única e

em bloco, não diferenciando os setores econômicos em que a

empresa está envolvida. Tudo acontece ao mesmo tempo,

como um vírus que se auto-alimenta. Nenhuma atividade

econômica, em qualquer país de economia desenvolvida ou em

desenvolvimento, pode escapar à regra.

As forças de mudança são as variáveis ambientais, tais como,

economia, clima político e legal, tendências socioculturais,

tecnologia, demografia, concorrência. Enquanto estas atuam

em cada setor da economia de maneira distinta, as forças de

mudanças estão atuando e influenciando diretamente as

variáveis ambientais sem distinção de setores da economia. Não

considerar as forças de mudança, no mundo competitivo da

economia, é como desenvolver um planejamento estratégico

empresarial sem elaborar cenários ou fazer um planejamento

de marketing sem considerar o planejamento estratégico da

empresa como um todo.

A globalização é um fenômeno com ramificações industriais, de

prestação de serviços, comerciais ou financeiras, graças à queda

do custo da comunicação e as novas tecnologias de troca de

dados. A rapidez, o barateamento e a confiabilidade

caracterizam a globalização do ponto de vista tecnológico. A

Velocidade da informação pelo mundo é a característica atual

da globalização. A globalização não beneficia a todos de

maneira uniforme. Uns ganham muito, outros ganham menos,

outros perdem. Exigem-se menores custos de produção e maior

tecnologia. A mão-de-obra menos qualificada é descartada.

2. Referencial Teórico

Globalização

Existem diversas definições, variando do ponto de vista de cada

um.

Segundo alguns, a explicação mais didática está no teorema do

economista Eduardo Gianetti da Fonseca: “ O fenômeno da

globalização resulta da conjunção de três forças poderosas: 1) a

terceira revolução tecnológica (tecnologia ligada à busca,

processamento, difusão e transmissão de informações;

inteligência artificial; engenharia genética); 2) a formação de

áreas de livre comércio e blocos econômicos integrados (como

o Mercosul, a União Européia e o Nafta); 3) a crescente

interligação e interdependência dos mercados físicos e

financeiros, em escala planetária”.

O jornal francês “Le Monde” discorda. Usando o termo

“mundialização”, ele define globalização como sendo “ a

mundialização é bem mais que uma fase suplementar no

processo de internacionalização do capital industrial em curso

desde faz mais de um século”. E lembra que “o comércio entre

nações é velho como o mundo, os transportes intercontinentais

rápidos existem a vários decênios, as empresas multinacionais

prosperam já faz meio século, os movimentos de capitais não

são uma invenção dos anos 90, assim como a televisão, os

satélites, a informática”. O que “Le Monde” chama de

“novidade” é “a desaparição do único grande sistema que

concorria com o capitalismo, o comunismo soviético”. O fim do

comunismo permite globalizar o capitalismo, com todas as

implicações decorrentes: aumento no fluxo de comércio, de

informação e de expansão das empresas multinacionais em

mercados antes fechados.

O especialista Anthony McGrew lista três tendências nos

analistas da globalização: 1) os hiperglobalizantes – os que

acham que a globalização define uma nova época na história da

humanidade; 2) os céticos – os que entendem que os fluxos

atuais de comércio, investimento e mão-de-obra não são

superiores aos séculos passado; 3) os transformalistas –

admitem que os processos contemporâneos de globalização

não têm precedentes. Têm uma visão intermediária. Apontam

um novo padrão de inclusão e exclusão social na economia

globalizada.

Não há uma definição que seja aceita por todos. Ela está

definitivamente na moda e designa muitas coisas ao mesmo

tempo, define uma nova era da história humana.

Em decorrência do avanço das telecomunicações,do

intercâmbio dos negócios por meio de viagens,da troca de

informação e de ideologias,da difusão da língua inglesa e do

desmoronamento do bloco soviético,o mudo foi-se integrando e

tornando-se cada vez menor,apesar de o fosso entre ricos e

pobres não ter diminuído.Pelo contrario,quando países

tecnologicamente avançados investem em economias mais

frágeis,alarga-se o abismo econômico entre os que têm e os que

não têm.

A globalização,no entanto,faz parte de nossa realidade.Não há

como negá-la.Tanto é que os conselhos de administração das

grandes empresas estão ficando cada vez mais parecidas com

assembléias da ONU: representantes internacionais estão cada

vez mais presentes nos negócios.As fusões e

aquisições,sobretudo no setor de serviços como energia e

telecomunicação,fazem com que as empresas passem da

condição de multinacionais para a de globais.

Esse novo mundo global passa a exigir dos gerentes muito mais

agilidade e cultura em termos globais.Além de entender de

taxas de câmbio,os homens de negócio precisam ter a

capacidade de elaborar e checar estratégias globais.Precisam

compreender o movimento tecnológico transfonteira,possui

sagacidade política em países diferentes e estar cientes das

questões do comércio global e motivação subjacentes a clientes

de todo o planeta.Com a globalização,os gerentes precisam

dispor não apenas de habilidades interpessoais,mas também

interculturais.

Uma empresa que procura criar capacidade organizacional

global precisa,pois,indagar em que medida seus recursos

humanos estão preparados para atender a esse

desafio.Quantos de seus gerentes possuem essas competências

globais.Quantos são sensíveis à cultura e peculiaridade de cada

mercado.Quantos são capazes de representar adequadamente

os interesses da empresa para uma platéia global.Que

percentual poderia ficar à vontade em um jantar com clientes

importantes de outros países.Que sistemas de incentivo podem

estimular os funcionários a motivar-se pelo mando e

compartilhar as idéias em nível mundial.Como a empresa pode

criar uma mentalidade que respeite as condições locais e ao

mesmo tempo promova o pensamento global.

Ao contrario do que muitos possam imaginar,a globalização não

produz “receitas globais” que podem ser prescritas às

organizações interessadas em se inserir nessa nova ordem.A

marca registrada de uma empresa global,de acordo com Keegan

e Green (1999),é a capacidade de formular e implementar

estratégias globais que alavanquem o conhecimento

mundial,respondam plenamente às necessidades locais e façam

uso do talento e energia de cada membro da organização.Essa

é,pois,uma tarefa heróica,que exige visão global e sensibilidade

para as necessidades locais.Não há dúvida,portanto,de que as

organizações serão cada vez mais solicitadas a capacitar seus

membros para que possam desenvolver a contento essas

tarefas.

Globalização e o Mercado Financeiro

O mercado financeiro internacional tem poder, adquirido pelos

fatores da desregulamentação dos anos 80 e o avanço

tecnológico nas comunicações, fazendo com que capitais

percorram o mundo expressivamente.

Acabaram-se os controles sobre movimentação de capital, ao

mesmo tempo em que mudou a face do mercado financeiro. A

hegemonia dos bancos, como geradores de empréstimos,

acabou. Subiu o mercado de títulos, emitidos por instituições

financeiras e empresas, como os títulos comprados por diversos

investidores ao redor do mundo, especialmente por meio de

fundos de pensão e fundos de investimento, que tiveram um

crescimento vertiginoso.

O avanço das comunicações e a liberdade de fluxos de capitais

uniram os mercados. Hoje, muitas instituições financeiras

operam 24 horas por dia. Abrem o dia na Ásia, começam a

operar na Europa quando já é janta na Ásia e abrem os negócios

na América quando os Europeus estão terminando de jantar.

Por esta razão, qualquer choque sobre o mercado tende a se

propagar sem paradas.

Outro componente que torna o mercado financeiro

internacional assustador é o volume do dinheiro movimentado

por negociações derivadas de alguma outra. Negocia-se no

mercado futuro uma operação financeira de compra e venda

que tem como referência a variação do preço de um ativo. Esta

montanha de papéis e diversos investidores são capazes de

reagir, em questão de segundos, a boas e más notícias.

A globalização dos mercados financeiros torna esses

movimentos rápidos, violentos e mortais. Uma inconsistência

macroeconômica poderia se arrastar por muitos anos e

provocar uma lenta desvalorização na economia de um país em

questão de semanas. O risco da globalização financeira existe e

a multiplicação do volume de papéis financeiros em relação à

produção real pode acabar.

Existe uma lógica no movimento de capitais. Um princípio

continua válido: para países que mantêm políticas econômicas

consistentes, a globalização financeira pode ser mais uma

oportunidade do que um risco.

Globalização de Mercados

A criatividade e a inovação retroalimentam-se através do

sistema de informação e informática, tornando o processo de

aprendizado ágil, a uma velocidade imensurável (recurso

tempo). Os investimentos em telecomunicações (espaço e

tempo) estão crescendo em todo o mundo, e os satélites já

fazem parte do cenário de vários países e empresas diminuindo

a distância entre as culturas do Ocidente e Oriente.

O que é consumido por populações do leste pode ser também

desejado, em tempo real, pelos povos do oeste e vice-versa.

A informática, com programas de 1ª geração de CAD/CAM e

computadores de alta resolução para criação de designs e

decisões para projetos de engenharia, têm dinamizado e

contribuído significativamente para a inovativa e rápida

tecnologia de fabricação de produtos auxiliada por robôs

autoprogramáveis.

Em sua grande maioria, os produtos, cujos ciclos de vida antes

atingiam as quatro fases: introdução, crescimento, maturidade

e declínio, hoje já podem nascer obsoletos ou com ciclos de vida

muito curtos.

Portanto, o bom profissional executivo de marketing deve

visualizar suas ações estratégicas de modo diferente da forma

pela qual o fazia no passado, concentrando-se em: Minimizar o

risco da rápida obsolescência dos produtos (recurso tempo);

Tirar proveito das vantagens que o processo de comunicação

via satélite oferece, antecipando as necessidades das pessoas

(recursos espaço e não-matéria serviço), em vez de pesquisar as

necessidades atuais; Obter o retorno do capital investido no

produto ou serviço o mais rápido possível, distribuindo-o

amplamente nos países com potencial de compra (recurso

tempo); Oferecer um produto cujos atributos, de acordo com as

necessidade, vale o preço que o cliente ou consumidor quer

pagar, antes que o concorrente o faça com um produto melhor

e com maior valor agregado (recurso não-matéria serviço);

Planejar a melhoria contínua do produto/serviço ou sua

obsolescência . Ou, então, lançar sempre o melhor produto no

mercado (recurso não-matéria serviço).

Dessa forma,a globalização de mercados demanda as seguintes

ações nas estratégias da organização:

- Diminuir o ciclo de vida dos produtos. Lançar continuamente

novos produtos, programando sua obsolescência e

canibalização.

- Enfatizar o processo de desenvolvimento de produtos com

base na identificação do core competence.

- Concentrar-se na melhoria e no aperfeiçoamento contínuos da

tecnologia dos processos organizacionais.

- Investir continuamente em P&D ou formar alianças,

cooperações e fusões internacionais, a fim de agregar maior

competitividade entre empresas aliadas nos esforços de

globalização dos mercados.

- Enfatizar o padrão de qualidade dos produtos de classe

internacional. Usar continuamente o benchmark mudial.

(FILHO,2000, pg 12 a 14).

Tecnologia na Globalização

O mundo passou por uma integração comercial importante,

mas não podia trocar informações na velocidade e na

quantidade de hoje. O preço da chamada telefônica caiu 90%

entre os anos 70 e hoje, e a Internet pode barateá-la ainda

mais. A comunicação global ainda não foi democratizada: A

África tem menos de uma linha para cada 100 habitantes

enquanto na América do Norte, Oceania e Europa a taxa supera

25 para 100 habitantes. Fusões de empresas da área da

informática, telefonia e comunicação mudam o mercado da

informação. Avanço tecnológico andou lado a lado com o

fortalecimento do mercado financeiro.

A indústria da telecomunicação vive uma explosão sem

precedentes, somada ao barateamento e à popularidade da

informática. Paralelamente, começa a se esboçar uma

convergência entre a infra-estrutura de comunicação e a

indústria da mídia, à medida que ambas se digitalizam. É essa

conjunção que torna possível um mundo globalizado nos

moldes de hoje.

Três fatores vão derrubar ainda mais os custos de

telecomunicação: 1) avanços técnicos que reduzem o custo da

infra-estrutura; 2) o excesso de capacidade de transmissão

internacional – que acaba transbordando para ligações de longa

distância nacionais; 3) desregulamentação e erosão das

margens de lucro. A queda dos monopólios de comunicação e a

revisão dos acordos tarifários internacionais devem reduzir as

altíssimas margens de lucro das empresas telefônicas.

Embora as empresas não tenham chegado a achar um caminho

para a convergência, a infra-estrutura se aproxima dela. Até

pouco tempo havia uma distinção clara entre redes de

telefonia, de dados e de broadcast (TV e rádio).

A tendência é que telecomunicações, difusão de rádio e TV e

transmissão de dados passem a circular indiferentemente por

fibras óticas e satélites. Apesar das barreiras políticas e

econômicas à integração das comunicações, do ponto de vista

tecnológico os avanços nunca foram tão rápidos. Apontam para

uma comunicação mais ubíqua, rápida e barata.

Propagação Mundial da Tecnologia da Infomação e Informática

A propagação da tecnologia da informação tem um papel

importante na tomada de decisões das empresas e nas

mudanças organizacionais. Com o auxílio de satélites artificiais,

computadores, tecnologia celular, fax modem, internet,

equipamentos multimídia e outros, os executivos não precisam

mais se deslocar da matriz para outras unidades da empresa

(recurso tempo). Bastam vídeos, telas e teclas, e o processo de

tomada de decisão é estabelecido em tempo real (recurso

tempo e espaço).

Podemos, portanto, ter também uma idéia do nível de

transformação que vêm sofrendo os setores mundiais de

logística, comunicação dentre muitos outros. Imaginemos toda

essa tecnologia transformada em facilidades, conveniência,

entretenimento, lazer, educação e em informações sobre

produtos ou serviços produzidos por empresas de vários países,

com uma quantidade adequada e variada de atributos de

serviços (recurso não-matéria). Cada produto é melhor do que o

outro, e isso dificulta cada vez mais o julgamento e a análise de

seus valores por parte do consumidor, pois se traduz em um

verdadeiro bombardeio de influência e persuasão sobre os

consumidores no momento da decisão de compra.

Em um curto tempo, as necessidades atuais do indivíduo são

rapidamente influenciadas pelas necessidades futuras,

provocando mudanças, transformações e expectativas de

compra imprevisíveis. As constantes mudanças de atributo dos

produtos levam as pessoas a valorizá-los de forma muito

racional do que emocional. E mais, elas estabelecem

comparações entre os valores dos atributos e benefícios e o que

o dinheiro pode comprar. É possível perceber, portanto, a

existência de um enorme potencial para a agregação contínua

de benefícios intangíveis a um produto ou serviço, e isso, na

verdade, está englobado no recurso não-matéria.

Dessa forma, os profissionais, cujo objetivo é melhorar a

competitividade de suas empresas, deverão concentrar grande

parte de seus esforços nas seguintes premissas: Ter consciência

de que as necessidades atuais serão superadas pelas

expectativas das necessidades futuras; Observar continuamente

a rapidez das mudanças socioculturais do consumidor/cliente,

seu estilo de vida, principalmente seus valores, e a forma como

pensam e agem, tendo em vista a quantidade de informações e

o grau de conhecimento desse consumidor sobre produtos e

serviços de várias procedências e culturas; Investigar

continuamente as mudanças de atributo dos produtos ou

serviços junto ao cliente, a fim de conhecer com precisão o que

ele deseja em relação ao produto/serviço e que preço está

disposto a pagar; Redescobrir o cliente dentro do conceito valor

atributo/preço, pois, para a empresa sobreviver e ser

competitiva tem de “agregar valor continuamente aos seus

produtos”, ou seja, oferecer sempre mais, sem que isso

implique aumento de preço para o cliente ou consumidor;

Dinamizar as decisões de sua equipe de trabalho, bem como o

processo de integração interno das áreas da empresa,

estendendo-o para toda a cadeia de valor em que a empresa

está envolvida; Dinamizar o conhecimento individual dos

clientes por meio de inúmeros softwares criativos e inovadores

formando um banco de dados do cliente, com o objetivo de

maximizar o marketing mix da empresa.

A decisão em tempo real, por meio de redes entre

computadores formada por um super-rodovia da informação

digital, oferece às empresas e seus departamentos eficiência e

agilidade significativas na tomada de decisões em toda a cadeia

de valor.

A rede de computadores entre empresa, fornecedores e

clientes mudam totalmente o conceito de administração. Não

que a gerência deva administrar de forma diferente por estar

vivendo um novo tempo. A questão é que a própria tecnologia

digital, os computadores e seus programas impõem a mudanças

da organização. A eficiência competitiva dependerá da rapidez

com que a empresa e sua administração assimilarem essas

mudanças. Todos na empresa precisam ter acesso a um único

sistema para dinamizar a tomada de decisões e conhecer

simultaneamente o que cada equipe executa. A pior burocracia,

ou empresa burocrática, é aquela que utiliza um sistema de

informação para cada departamento, ou seja, vários sistemas

dentro de um sistema e cada departamento satisfazendo a

necessidade do outro departamento.

Tendo em vista as inúmeras transformações organizacionais e

administrativas possibilitadas pela tecnologia digital de redes de

computadores, intranet, internet, podemos formular uma série

de premissas que certamente tornarão as empresas mais

competitivas: Decisões em tempo real: uma decisão tomada

hoje nos Estados Unidos, na Europa ou no Japão pode ser

imediato executada no Brasil, com riqueza de detalhes

tecnológicos e conhecimento da matriz durante sua execução.

Caso da detecção de uma oportunidade até a concepção do

produto/serviço e seu lançamento no mercado, ajustado às

necessidades de cada país; Fluxo de informações em todo o

processo administrativo da organização utilizando-se um único

sistema operacional de informação; Cliente e fornecedores

interligados e integrados na cadeia de valor da empresa por

meio de programas computadorizados oferecidos por empresas

especializadas nestes tipos de programas; Redução do ciclo dos

processos organizacionais e dos custos administrativos em

decorrência da agilidade nas decisões proporcionada pelos

programas de software; Processos organizacionais diretamente

ligados ao cliente/consumidor para a sobrevivência da empresa

e sua eficiência para competir. Em outras palavras,

procedimentos administrativos que não agregam valor ao

cliente/consumidor deverão ser reavaliados ou mesmo

descartados pela empresa; Criatividade e inovação constantes

como base para a sobrevivência da empresa, sobrepondo-se

aos controles e limites estabelecidos pelas empresas. Ou seja, o

uso da gestão do conhecimento em base contínua. (FILHO,

2000, pg 15 a 19)

A produção da Globalização

A globalização é, de certa forma, o auge do processo de

internacionalização do mundo capitalista. Para entendê-la,

como, de resto, a qualquer fase da historia, há dois elementos

fundamentais a levar em conta: o estado das técnicas e o e o

estado da política.

Há uma tendência de separar uma coisa da outra.Dai muitas

interpretações da historias a partir das técnicas. E, por outro

lado interpretações da historia da política. .Na realidade, nunca

houve na historia humana separação entre as duas coisas..As

técnicas são oferecidas como um sistema e realizadas

combinadamente através do trabalho e das formas de escolha

dos momentos e dos lugares de seu uso. É isso que fez a

historia.

No fim do século XX e graças aos avanços da ciência, produziu-

se um sistema de técnicas presidido pela técnicas da

informação , que passaram a exercer um papel de elo entre as

demais, unindo-as e assegurando ao novo sistema técnico uma

presença planetária.

Só que a globalização não é apenas a existência desse novo

sistema de técnicas. Ela é também o resultado das ações que

asseguram a emergência de um mercado dito global,

responsável pelo essencial dos processos políticos atualmente

eficazes. Os fatores que contribuem para explicar a arquitetura

da globalização atual são: a unicidade da técnica, a

convergência dos momentos, a cognoscibilidade do planeta e a

existência de um motor único na historia, representado pela

mais-valia globalizada. Um mercado global utilizando esse

sistema de técnicas avançadas resulta nessa globalização

perversa. Isso poderia ser diferente se seu uso político fosse

outro. Esse é o debate central, o único que nos permite ter a

esperança de utilizar o sistema técnico contemporâneo a partir

de outras formas de ação.

A unidade técnica

O desenvolvimento da historia vai de para com o

desenvolvimento das técnicas. Kant dizia que a historia é um

progresso sem fim; acrescentemos que é também um progresso

sem fim das técnicas. A cada evolução técnica, uma nova etapa

histórica se torna possível.

As técnicas se dão como famílias.Nunca, na história do homem,

aparece uma técnica isolada; o que se instala são grupos de

técnicas, verdadeiros sistemas. Um exemplo banal pode ser

dado com a foice, a enxada, o ancinho, que constituem, num

dado momento, uma família de técnicas.

Essas famílias de técnicas transportam uma história, cada

sistema técnico representa uma época. Em nossa época, o que

é representativo do sistema de técnicas atual é a chegada da

técnica da informação, por meio da cibernética, da informática,

da eletrônica.Ela vai permitir duas grandes coisas: a primeira é

que as diversas técnicas existentes passam a se comunicar entre

elas. A técnica da informação assegura esse comercio, que

antes não era possível. Por outro lado, ela tem um papel

determinante sobre o uso do tempo, permitindo, em todos os

lugares, a convergência dos momentos, assegurando a

simultaneidade das ações e, por conseguinte, acelerando o

processo histórico.

Ao surgir uma nova família de técnicas, as outras não

desaparecem. Continuam existindo, mas o novo conjunto de

instrumentos passa a ser usado pelos novos atores

hegemônicos, enquanto os não hegemônicos continuam

utilizando conjuntos menos atuais e menos poderosos. Quando

um determinado ator não tem as condições para mobilizar as

técnicas consideradas mais avançadas, torna-se, por isso

mesmo, um ator de menor importância no período atual.

Na história da humanidade é a primeira vez que tal conjunto de

técnicas envolve o planeta como um todo e faz sentir,

instantaneamente sua presença.Isso, aliás , contamina a forma

de existência das outras técnicas, mais atrasadas. As técnicas

características do nosso tempo, presentes que sejam em um só

ponto do território, tem uma influência marcante sobre o resto

do país, o que é bem diferente das situações anteriores. Por

exemplo, a estrada de ferro instalada em regiões selecionadas,

escolhidas estrategicamente, alcançava uma parte do país, mas

não tinha uma influencia direta determinante sobre o resto do

território. A técnica da informação alcança a totalidade de cada

país, direta ou indiretamente.Cada lugar tem acesso ao

acontecer dosa outros.O principio de seletividade se dá também

como princípio de hierarquia, porque todos os outros lugares

são avaliados e devem se referir áqueles dotados das técnicas

hegemônicas.

As técnicas apenas se realiza, tornando-se historia, com a

intermediação da política, isto é, da política das empresas e da

política dos estados, conjunta ou separadamente.

Há uma relação de acusa e efeito entre o progresso técnico

atual e as demais condições de implantação do atual período

histórico. É a partir da unicidade das técnicas, da qual o

computador é uma peça central, que surge a possibilidade de

existir uma finança universal, principal responsável pela

imposição a todo o globo de uma mais-valia mundial. Sem ela,

seria também impossível a atual unicidade do tempo, o

acontecer local sendo percebido como um elo do acontecer

mundial. Por outro lado, sem a mais-valia globalizada e sem

essa unicidade do tempo, a unicidade da técnica não teria

eficácia.

A convergência dos momentos

A unicidade do tempo não é apenas o resultado de que, nos

mais diversos lugares, a hora do relógio é a mesma.Se a hora é a

mesma, convergem, também, os momentos vividos.Há uma

junção dos momentos como resposta àquilo que, do ponto de

vista da física, chama-se de tempo real e, do ponto de vista

histórico, será chamado de interdependia e solidariedade do

acontecer.Tomada como fenômeno físico, a percepção do

tempo real não só quer dizer que a hora dos relógios é a

mesma, mas que podemos usar esses relógios múltiplos de

maneira uniforme.

Com essa grande mudança na história, tornamo-nos capazes,

seja onde for, de ter conhecimento do que é o acontecer do

outro.Essa é a grande novidade, o que estamos chamando de

unicidade do tempo e convergência dos momentos.

A história é comandada pelo grandes atores desse tempo real,

que são, ao mesmo tempo, os donos da velocidade e os autores

do discurso ideológico. Os homens não são igualmente atores

desse tempo real. Fisicamente, isto é, potencialmente, ele

existe para todos. Mas efetivamente, isto é, socialmente, ele é

excludente e asseguram exclusividade, ou pelo menos,

privilégios de uso.

O motor único

Este período dispõe de uma sistema unificado de técnicas,

instalado sobre um planeta informado e permitindo ações

igualmente globais.

O motor único se tornou possível porque nos encontramos em

um novo patamar da internacionalização, com uma verdadeira

mundialização do produto, do dinheiro, do crédito, da dívida, do

consumo, da informação. Esse conjunto de mundializações,

uma sustentando e arrastando a outra, impondo-se

mutuamente é também um fato novo.

Um elemento da internacionalização atrai outro, impõe outro,

contém e é contido por outro. Esse sistema de forças pode levar

a pensar que o mundo se encaminha para algo como uma

homogeneização, uma vocação a um padrão único, o que seria

devido, de um lado , á mundialização da técnica, de outro, à

mundialização da mais-valia.

Tudo isso é realidade, mas também é sobretudo tendência,

porque em nenhum lugar, em nenhum país houve completa

internacionalização. O que há em toda parte é uma vocação às

mais diversas combinações de vetores e formas de

mundialização.

A cognoscibilidade do planeta

O período histórico atual vai permitir o que nenhum outro

período ofereceu ao homem, isto é, a possibilidade de conhecer

o planeta extensiva e aprofundadamente. Isto nunca existiu

antes, e deve-se, exatamente, aos progressos da ciência e da

técnica (melhor ainda, aos progressos da técnica devidos aos

progressos da ciência).

Esse período técnico – científico da historia permite ao homem

não apenas utilizar o que encontra na natureza: novos materiais

são criados nos laboratórios como um produto da inteligência

do homem, e precedem a produção dos objetos.

Com a globalização e por meio da empiricização da

universalidade que ela possibilitou, estamos mais perto de

construir uma filosofia das técnicas e das ações correlatas, que

seja também uma forma de conhecimento concreto do mundo

tomado como um todo e das particularidades dos lugares, que

incluem condições físicas, naturais ou artificiais e condições

políticas. As empresas, na busca da mais-valia desejada

valorizam diferentemente as localizações. Não é qualquer lugar

que interessa a tal ou qual firma. A cognoscibilidade do planeta

constitui um dado essencial à operação das empresas e à

produção do sistema histórico atual.

Globalização e os Blocos Comerciais

A área de livre comércio é um acordo que permite a adoção

progressiva de tarifas alfandegárias comuns entre os países-

membros. Com parceiros fora do bloco, cada país estabelece

regras próprias. Se os membros decidem adotar uma política

única com quem não integra o grupo, forma-se uma união

aduaneira. O mercado comum vai além, liberaliza o trânsito de

pessoas, bens e capitais, e não só de mercadorias. Quando

padronizam-se as políticas econômicas dos membros rumo a

uma moeda única, chega-se à união econômica.

A formação de Blocos Comerciais Regionais traz uma dúvida:

trata-se de um estágio necessário para um mundo sem

barreiras econômicas ou, pelo contrário, resultará, no futuro, na

criação de novas restrições? Há o temor de que países como o

Brasil, antes fechados economicamente voltem a reestruturar

barreiras em torno de seus grupos locais de comércio. Outro

risco é deixar países politicamente importantes fora dos Blocos,

como a China e Rússia. A resolução do impasse estaria na

capacidade de esses blocos estarem aos demais países as

vantagens que existem apenas para os seus membros. A

globalização produziu, em matéria de comércio internacional,

este dilema.

Idêntico problema cerca os acordos comerciais regionais, como

o Mercosul: grandes especialistas em comércio internacional e

até as entidades que supervisionam não têm certeza se os

blocos são apenas etapas necessárias e positivas na direção de

um mundo sem barreiras ou se minifortalezas que, no limite,

impedirão a queda de todas as fronteiras.

Esse conflito entre globalização e regionalismo é latente. Ao

liberalizar o comércio só com seus vizinhos, os países estão, por

definição, discriminando os que não têm a sorte de estar no

clube local. A questão e saber se os “clubes locais” caminham

para integrar-se a outros clubes, de forma que haja um grande

bloco, do tamanho do planeta, ou se tendem a fechar-se em

três ou quatro grandes conglomerados em guerra comercial uns

com os outros.

Na falta de um projeto global, o risco é o de que cada

superbloco se feche para os demais, o que, além do risco de

uma guerra comercial, marginalizaria países gigantescos, como

China e Rússia, que, até agora, entraram em sistema algum. É

sintomático que a União Européia e os EUA estejam

empenhando em uma surda guerra para ver qual dos dois

consegue fechar antes o acordo com o bloco sul-americano. No

Brasil também há uma surda guerra de argumentos entre os

pró-Alca e os pró-União Européia.

A “Rodada Uruguai” (marco no processo de globalização)

começou em 1986 em Montividéu, arrastou-se por quase oito

anos e terminou com o mais abrangente pacote de redução das

barreiras ao comércio planetário. Seu impacto mais visível e até

certo ponto quantificável surge da redução das tarifas

alfandegárias para importações.

A “Rodada Uruguai” foi além da negociação sobre derrubada de

barreiras para exportar mercadorias. Introduziu na agenda

mundial as chamadas áreas novas do comércio, em especial o

vastíssimo campo de serviços. É uma rubrica que cobre desde

telecomunicações a transporte marítimo, passa por serviços

financeiros e atinge até compras governamentais.

A “Rodada Uruguai” não fechou acordo algum na área de

serviços, mas estabeleceu uma agenda de negociações que vai

até o ano 2000. Já foram assinados acordos para abrir o

mercado de telecomunicações, o que prevê derrubar, até o ano

2000, todas as barreiras para importação de

equipamentos/serviços de tecnologia de informação (ou

informática).

O impacto da liberalização no setor de serviços tende a superar

o da derrubada das barreiras para mercadorias. Trata-se do

setor mais dinâmico da economia mundial e do único que ainda

gera empregos, ante a estagnação da indústria e a mecanização

da agricultura, que se torna crescentemente irrelevante.

A “Rodada Uruguai” introduziu modestas aberturas , mas jogou

as negociações definitivas para o ano 2000. Motivo óbvio: tanto

EUA como a União Européia subsidiam seus produtores

agrícolas e recusam-se a abrir mercados para a competição com

produtos do mundo subdesenvolvido ou em desenvolvimento.

Por trás dos países ricos, há um número relativamente pequeno

de empresas transnacionais que determinam a agenda. O

comércio entre filiais e matrizes de multinacionais representa

aproximadamente 1/3 do comércio mundial, e as exportações

das multis, as companhias que não são subsidiárias, delas

cobrem outro terço.

Essa concentração de poder econômico pode limitar a

concorrência, reduzindo os ganhos para os consumidores e

economias nacionais. Não abriu lugar à mesa de negociações

para os consumidores, que tanto podem ser as vítimas como os

beneficiários da globalização.

Globalização e os Estados

Na balança de poder do mundo, o Estado muitas vezes se

enfraquece diante do sistema financeiro globalizado. Fruto de

uma época ideologicamente confusa (a crença de um sistema

único e infalível, o capitalismo, que emergiu após a queda do

Muro de Berlim) a situação mostra-se instável para os Estados

emergentes.

O triunfo de 1989, ano em que o Muro de Berlim ruiu, parecia

tão certo que chegou-se a prever o fim da história. Em 1995

quando tudo se caminhava para a consolidação da onda liberal,

o capitalismo começou a investir contra si próprio; vieram a

crise do México, a quebra do Banco Barings e, agora o crash das

bolsas.

Sob os efeitos da globalização, um vírus inoculado na Bolsa de

Hong Kong espalhou-se pelo mundo em outubro/97. No Brasil

dobrou-se as taxas de juros – recurso para tentar atrair os

capitais especulativos que batiam em retirada – causando alta

dos crediários. A crise começou em Hong Kong e invadiu o lar de

cada brasileiro.

Alguns países estão sob o risco porque não seguem à risca as

regras do sistema liberal – encontram-se com a moeda

supervalorizada, deficts em suas balanças e despesas públicas

maiores do que as receitas. Evidente que o interesse que move

a gangorra das bolsas não é o social, mas o da especulação.

Cultura Global

A globalização cultural é tomada como ideologia fundamental

de um plano de instrução de formação que tomará conta do

planeta, que resultará na configuração de um mundo integrado

e organizado no modelo de um gigantesco Estado-Nação.

Essa visão é polemica internacionalmente. Não se pode

transformar o mundo sem ver o desenvolvimento da

informática, robótica, comunicações por satélite, Internet e

modernos meios de transporte. O clima de euforia flui como no

século 19, com as maravilhas inventadas nessa época. É natural

que esse mundo transformado pela internacionalização, aflora a

enpolgação da comunidade integrada.

Uma das características importantes do que se entende hoje

por cultura global é justamente a maior visibilidade de

manifestações étnicas, regionalistas ou vindas de sociedades

excluídas. Talvez as nações ocidentais jamais tenham-se visto na

contingência de conviver com a diversidade cultural no interior

de suas fronteiras.

As “Terceiras Culturas” são um conjunto de práticas,

conhecimentos, convenções e estilos de vida que desenvolvem

de modo a se tornar cada vez mais independentes dos Estados-

Nação. Formam se em diversas áreas e colocam em conflito

idéias em que as vítimas periféricas têm apenas duas

alternativas: deixar-se subjugar ou erguer forças para evitar sua

incorporação à modernidade ocidental.

Se encontra em curso uma nova etapa da internacionalização.

Não há dúvida de que o mundo e cada vez mais percebido como

um lugar; não há dúvida que as culturas nacionais geram uma

cultura global, em que os indivíduos dos quatros cantos do

planeta podem se reconhecer; não há dúvida de que essa

cultura global surge da intensificação dos contatos entre povos

e civilizações vinculados à expansão econômica e técnica.

Globalização e Marketing

Uma empresa globalizada seria aquela que opera seguindo uma

lógica operacional mundial, cujo objetivo seja maximizar

benefícios e minimizar custos não importando onde esteja a

base de produção e que obedeça uma estratégia de marketing

única para todos os países onde vende seu produto. Uma

empresa transnacional, o mercado seria uma determinada

região do mundo, enquanto para uma multinacional o mercado

seria o planeta inteiro.

Uma característica essencial da empresa global atualmente

seria a facilidade para identificar locais onde existam as

condições mais atraentes para suas operações. Fica mais fácil

tomar conhecimento sobre as condições de trabalho em um

determinado país e compará-las com a situação em outras

partes do mundo. Com os serviços de informação, o aumento

nas taxas de juros de um país (que atende a encarecer os custos

de produção e a favorecer as aplicações financeiras) chega ao

conhecimento dos investidores e empresários de forma

imediata.

Somada à crescente desregulamentação não só dos mercados

financeiros, mas também em outras áreas, inclusive no que se

refere à legislação trabalhista, ficou praticamente liberada a

movimentação de capital, trabalho e bens entre os países.

Qualquer tendência de elevação dos custos de elevação dos

custos de produção em um determinado país pode levar a

empresas a trocá-lo por outro onde seja mais barata a

fabricação.

No circuito das chamadas empresas transnacionais, o

investimento em fábrica deixou de ser privilegiado. A prioridade

passou a ser de envestir em marcas. Muitas vezes, a empresa

global compra uma campanha local apenas para ganhar uma

fatia do mercado, por causa da marca. O crescimento do

número dessas companhias e dos negócios por elas realizados é

apontado como uma das razões para a expansão do comércio

internacional.

O processo de expansão das empresas multinacionais também

provoca polêmica por causa das condições de trabalho nas

fábricas desses grupos instaladas em países que não se

destacam pelo respeito aos direitos dos trabalhadores. Muitas

vezes é o mesmo consumidor, no papel de trabalhador, que

sofre com a política da empresa transnacionais de fechar uma

determinada fábrica ou de promover demissões, alegando a

necessidade de reduzir seus custos para aumentar a

produtividade.

Globalização e os Países Ricos e Pobres

Ano a ano o fosso que separa os incluídos dos excluídos vem

aumentando: os ricos ficam cada vez mais ricos, e os pobres,

mais pobres. Em 34 anos a participação dos excluídos na

economia global diminuiu em 1,2%. São várias as causa, desde

as barreiras alfandegárias punitivas às exportações dos países

subdesenvolvidos às leis de proteção de patente que dificultam

o acesso das nações pobres a novas tecnológicas.

O comércio mundial cresceu 12 vezes no pós-guerra. Mas foi

também o vilão que mais acentuou as desigualdades entre os

países ricos e pobres no processo de globalização. Com 10% da

população do planeta, os países mais pobres detêm apenas

0,3% do comércio mundial. Para o conjunto de países em

desenvolvimento, a globalização impôs perdas comerciais.

O fantasma que ronda a economia globalizada dos países mais

ricos é o desemprego. O impacto da revolução tecnológica nas

comunicações e na economia ocasiona a perda de empregos no

Primeiro Mundo que é a contra partida da criação de postos de

trabalho nos países em desenvolvimento. Isso atribuí-se ao fato

das nações emergentes estarem avançando na educação de

seus habitantes e terem o custo de produção menores.

Existem propostas que sugerem que os governos adotem

critérios mais seletivos na hora de abrir as fronteiras à

competição internacional, invistam na educação da população

mais pobre e fomentem as pequenas empresas. Recomendam,

ainda, que formem blocos econômicos regionais para

aumentarem o comércio, facilitando o fluxo financeiro e

melhorando os meios de transporte. Destaca-se uma proposta

de um mecanismo para controle e vigilância com mais agilidade

da liquidez internacional, mudanças nas regras do comércio

mundial em benefício dos países pobres e uma associação de

empresas internacionais para fomentar a redução da pobreza.

É uma tendência em alta. Com as constantes fusões de gigantes

empresariais, vai aumentar a importância das multinacionais,

em detrimento dos Estados. E é por essa razão que já há quem

prefira chamar a globalização de era da englobação.

Os excluídos da Globalização

O sistema global apresenta sérios riscos. São diversas

armadilhas que estão vitimando milhares de pessoas em todo o

mundo, manisfestando-se através de crescente exclusão social,

que vem assolando tantos países ricos como os chamados

países da periferia. Em nome da dita ordem, várias crianças

estão morrendo de subnutrição, já são milhões os

desempregados e inúmeras pessoas vivem marginalizadas.

As armadilhas da Globalização

A globalização é uma idéia antiga no pensamento humano.Já no

século IV a.C., Alexandre Magno formulou a tese de “Homem

Mundial”: projeto de um homem maior que o homem da

cidade, “polis” grega. Assim, a través de suas conquistas, ao

estrapolar os limites desta “polis” , torna-se um “Homem-

Cosmopolita”.

Essa idéia, portanto, estava imbricada na crença de que havia

um coração total da humanidade. Dante Alighieri, inclusive, ao

afirmar que os homenssao iguais,ressaltava,no entanto,que

roma era o centro do mundo.

Depois de Alexandre Magno, muitos outros lideres ou

imperadores foram tomados pelo ímpeto de estender suaas

conquistas, e conseqüentemente dominar o mundo. Átila,

Napoleão e Hitler, são citados como classicos exemplos, ou

ainda, impérios como o Britânico e o Romano.Posteriormente a

disputa ocorreu entre sistemas politicos, como os encabeçados

pelos Estados Unidos ou pela antiga união soviética.

Através de um discurso sedutor, a globalização é codificada por

um idioma ( o inglês); tem seus próprios dirigentes ( o Grupo

dos Sete e as grandes corporações transnacionais), facilita a

concorrencia dos países mais desenvolvidos navenda de

produtos, que agregammaiot tecnologia e transforma negócios,

costumes e, culturas e legislações. Ademais, essa

ocidentalização do mundo tem se constituído na palavaras so

sociólogoOtávio Lanni em “uma espécie de holocausto” em

bebfício do lucro ( dos países e empresas que detém o controle

do processo, é lógico).

A idéia da “Aldeia Global” é antiga e genial. Produzida

diacronicamente com o homem, mas não contemplando todos

pelos seus benefícios. Uma multidão encontra-se

lamentavelmente excluída. Homens famintos, mulheres

prostituídas, croianças sem escolas, irremediavelmente fadiadas

à marginalizaçãoe que diariamente são assassinadas na ruas,

por nossas autoridades policiais.

A sociedade global cria um novo tipo de exclusão social. E esta

exclusão constitui-se, no nosso entender, como a grande

aramadilha da Globalização da economia, a qual opera não só

em nível internacional, atrvés da dependência de países como

os da América Latina em relação aos países ricos, mas também

em nível interno, quando milhares de pessoas da região

encontram-se em situação de miséria absoluta, destinadas à

sobrevivência em meio à fome, doenças desemprego e de

outros tipos de violência.

Mais especificamente, a Globalização é um fenômeno que

desafia os limites da realidade e do imaginário do nosso velho

mundo. Encontram-se não só presente em todos os cantos do

planeta como, decisivamente, insere-se em nossa vida

intelectual e social, impondo alterações na vida dos individuos e

sociedades, modificando culturas, etnias, religiões.

Assim , substitui o complexo paradigma das relações

Internacionais pelo mais recente modelo de relações

transnacionais-idealizado pelo sociólogo franc~es da escola do

Realismo Político, Raimond Aron-que, mais voltado às

interações e organizações multinacionais, passa a configurar e a

fazer presente uma nova ordem internacional.

A príncipio e de modo simplista, o termo Globalização foi

utilizado para expressar as novas tendências surgidas na

economia internacional a partri doa nos 70, envolvendo tanto a

política dos Estados Nacionais e organismos internacionais

como as estratégias de lucros articuladas pelas empresas

multinacionais.

Hoje, já podemos afirmar, que os istema global encerra, um

verdadeiro jogo de interesses economicamente articulados, ora

de natureza conflitiva, ora de interação entre os estados,

através de suas instituições oficiais e corporações trannacionais,

multinacionais e outros tantos atores internacionais.

No campo político nota-se o mais alto grau de autoritarismo

sem, contudo, ser necessária a utilização de armas. Com uma

gigantesca concentração de poder, o Grupo dos Sete (G7)

domina e decide os destinos do mundo e com um raio de

atuação extremamente ampliado resolve quanto custa o dólar,

estabelece as coordenadas necessárias à invasão do Kwait,

passando pela Chechênia , Yuguslávia ou o que fazer para deter

ações terrorisas, etc.

O capitalismo, concebido como coroação do processo evolutivo

da natureza, ou seja, como momento definitivo na história,

significa a realização de uam sociedade homogênea pela

unidade em um mercadoglobal, onde a possibilidade de

abundância e de satisfação de desejosé a base da felicidade. A

eficiência rege como princípio transformador de um processo

modernizante, através de uma cultura consumista como critério

de inclusão e de unificação. Assim, todos os países modernos,

tendem a parecer-se cada vez mais.

Este capitalismo significa a destruição da cultura e identidade

de cada país, a aniquilação lenta das especificidades de cada

região, a desvalorização de si mesmo. Implica a exclusão dos

países pobrese uam integração dos mais poderosos em níevl

mundial. Assim, cada vez mais acentua-se a interdependência

econômica em relação aos países desenvolvidos, aumentando o

abismo entre pobres e ricos.

No âmbito interno , a população excluída se vê envolta, sem

poder dimensionar-se entre o vaivém da pós-modernidade. Ao

mesmo tempo em que é levada ao mundo “encantado” do

consumo como caminho do bem-estar social, também é

desqualificada pela tirania que exercem os princípios da

eficiência e da concorrência. É ainda, ignorada pelas instâncias

de poder nacional e internacionalque decidem sobre os

destinos do mundo. Os excluídos são sacrificados em função do

“progresso da nação globalizada”

A promessa do meracdo é apenas um mecanismo ideológico e

“inconsciente” de gerar bem-estar social de todos. O egoísmo

perverso do meracdo é, na veraddee, o caminho,

transformando-se na atitude ética da indiferença e resignação

ante o sofrimento de milhões de pessoas. Para esta concepção

do modo de produção capitalista, a fome , o desemprego e a

mortalidade infantil são sacrificios necessários para alcançar o

tão sonhado progresso.

Antes “o melhorar a qualidade de vida” se definia em mais

serviços, salários e consumos. A política do Estado de Bem-Estar

se estruturava em torno do indivíduo e seus direitos sociais.

Agora se estrutura em torno do usuário que demanda uma

qualidade de vida da sociedade de consumo. Antes estava em

jogo o espaçõ político da igualdade, agora o da diferenciação

econômica.

O problema então concentra-se em o que fazer com a grande

parte da população excluída pela própria tendência natural do

sistema. A luta é para não estar fora dos benefícios da

modernidade, trabalho e dos serviços. Pois, há um grande

abismo entre os que participam destes benefícios e os que

estão condenados à miséria. Há um dramático processo de

desintegração social registrado, correndo paralelamente ao

avanço estonteante das riquezas e denvolvimento tecnológico

de poucos países.

Desemprego e Precarização

Se, por um lado, a globalização aparece como intensificadora da

economia mundial e dos modelos de integração regional, o que,

na verdade, representa mais uma extensão de mercados para

as grandes multinacionais, por outro, ao impor planos de

ajustes sacrifica não só os empregos, mas grande parte dos

direitos laborais históricos, frutos de séculos de lutas dos

trabalhadores, e o desmantelamento do tecido produtivo de

nossos países.

Desta forma, percebe-se o surgimento de duas grandes

transformações próprias das economias globalizadas e que

estão atingindo o mundo do trabalho: o desemprego e a

precarização das relações de trabalho.

O desemprego como um dos principais tipos de exclusão social

que assola o mundo globalizado, constitui-se no mais drástico

problema a ser enfrentado por nossas sociedades; um

fenômeno que se encontra presente tanto nos chamados países

ricos como nos países da periferia. Está em todos os lados e seu

alvo predileto é a população de mão-de-obra não especializada.

Também a necessidade de especialização da mão-de-obra

constitui um importante elemento propiciador da queda no

número de empregos. Assim, entra em cena o conhecido

desemprego “estrutural”, próprio da globalização e do

neoliberalismo.

O avanço das corporações transnacionais e seus imperativos de

aumento da produtividadee maximização de lucros ensejados

com o advento da revolução da microeletrônica e telemática,

está significando o aumento da desocupação e da disparidade

na distribuição de renda.

Uma das seqüelas desta falta de emprego está na mudança de

hábitos e pautas culturais, que está gernado maior

marginalidade, feminilização da mão-de-obra, necessidade de

“pluriemprego” e do trabalho de todos os membros da família,

perda de auto-estima e, conseqüente desestruturação e

aumento da violência.

Assim, ao paaso em que as relações de emprego se tornam mais

precárias”, nota-se a quebra de sindicatos e a situação de

insegurança e de temor dos trabalhadores que ainda subsistem

em empregos formais, os quais, freqüentemente , não

oferecem resistência à precarização de postos de trabalho em

suas empresas, desde que elas não afetem os seus próprios

empregos.

Tanto o desemprego como a precarização devem ser

duramente combatidos. Reconquistar o cumprimento da

legislação é o primeiro passo para barrar e depois reverter o

processo de precarização das relações de trabalho.

3. Considerações Finais

A crise que abala as Bolsas é a mais recente manifestação de

um processo em que o poder dos governos, o papel das

empresas, o destino dos empregados e as culturas nacionais são

transformados pela integração econômica e tecnológica.

Com o avanço das comunicações e a liberdade de fluxos de

capitais, muitas instituições financeiras operam 24 horas por

dia. Movimentação de derivativos, contratos que surgiram com

o objetivo para aumentar a segurança de outros investimentos,

há dez anos eram insignificantes, hoje têm razões suficientes

para transformar todo planeta em questão de segundos,

reagindo a boas e más notícias.

A globalização não beneficia a todos de maneira uniforme. Uns

ganham muitos, outros ganham menos, outros perdem. Na

prática exige menores custos de produção e maior tecnologia. O

problema não é só individual, é um drama nacional dos países

mais pobres, que perdem com a desvalorização e atraso

tecnológico.

Ao analisarmos essas forças, verificamos quanto elas têm

mudado as sociedades, as indústrias e as empresas do setor de

serviços, afetando departamentos e funções, processos

administrativos, posturas, produtos, emprego e desemprego e a

própria permanência das empresas no mercado. Essas forças

impulsionam as empresas a serem competitivas, nascerem e

dependerem do processo de globalização.

Avanço Tecnológico

TECNOLOGIA E MEIO AMBIENTEEliane Abel de Oliveira1No mundo contemporâneo, é inegável a necessidade do uso da inovação tecnológica como meio gerador de mudanças. Contudo, em meio a esse desenvolvimento há um impacto fortíssimo visto através da degradação do meio ambiente. Portanto, faz-se necessário pensarem uma inovação tecnológica que promova o respeito a um meio ambiente saudável, haja vista ser um direito de todos. Mas afinal, quais os fatores que podem ter gerado tal degradação? A resenha aqui apresentada tem o intuito de apontar alguns destes fatores, como também algumas possíveis soluções para o problema.GLOBALIZAÇÃO, NEOLIBERALISMO E MEIO AMBIENTECom o advento da globalização, a maioria dos trabalhadores tem perdido a qualidade de vida além de colaborar para o aumento da concentração de riquezas entre os mais ricos em detrimento de uma população desfavorecida economicamente e, essa minoria rica, é responsável pelo consumo excessivo que impulsiona o desequilíbrio ambiental. “Os fenômenos de transnacionalização supõem um movimento de bens,

informações, ideias, fatores ambientais e pessoas através das fronteiras nacionais, sem uma participação ou controle importante dos atores governamentais” (Leis, 2002: 18).Há um discurso da nova ordem mundial onde tudo é global: o desenvolvimento, a poluição, o comércio, o meio ambiente, o mercado e, inclusive, o governo, gerando uma interdependência e, com isso um estímulo ao superconsumo que é visto como a única saída para crises econômicas, como a que vivemos atualmente, contudo esta visão acaba por esquecer-se dos custos sociais e ambientais que tal atitude oferece. Neste sentido o neoliberalismo se coloca comofiador do progresso mundial estimulando o crescimento econômico e consolidando a democracia, partindo do pressuposto de que “quanto maior for a liberdade do mercado para operar, maior será o padrão de vida(econômico e cultural) dos indivíduos e maiores serão os benefícios para todas as partes participantes” (Leis, 2002: 23). Contudo, ainda não há mostras de que essa realidade realmente ocorra.1Graduada em Pedagogia pela UFPR e mestranda em Tecnologia pela UTFPR

O neoliberalismo provoca um avanço no desenvolvimento econômico e este por sua vez traz para o meio ambiente consequências como o efeito estufa, desmatamento e aumento da desertificação entre outros, pois em um cenário de livre comércio, as empresas e paísesque internalizam os custos ambientais em seus produtos acabam em desvantagem, criando assim um sistema que favorece aqueles que mais poluem. Isso

estimula para um avanço tecnológico que visa a maximização dos lucros em detrimento aos danos ecológicos.Com um mercado cada vez mais transnacionalizado, os governo sacabam por ficar impotentes para impedir os efeitos danosos do mercado sobre a natureza e a sociedade, chegando inclusive afacilitar tal degradação.AVANÇOS TECNOLÓGICOS DA AGRICULTURA, MISÉRIA E MEIOAMBIENTENo Brasil, os avanços tecnológicos na agricultura também colaboram para este cenário. A modernização da agricultura não levou em consideração fatores essenciais como: a utilização de tecnologias desenvolvidas para países de clima temperado o que causa umenorme impacto ambiental, pois o Brasil é um país tropical comnecessidades específicas.A modernização da agricultura também provocou, além damonocultura e grandes impactos ambientais, o êxodo rural, levandomilhares de pessoas para os grandes centros urbanos. Este fatorcontribuiu para o aumento exponencial dos aglomerados urbanos,estes por sua vez, construídos em morros e encostas, degradando osrecursos naturais como matas e rios para sua instalação.Contudo, é impossível se pensar em uma consciência ambiental comuma realidade sócio-econômica desfavorável, pois diante dessequadro “é utópico supor, ou esperar a formação de uma consciênciaecológica sobre os escombros da miséria imperante no TerceiroMundo” (Aguiar, 1994: 123).Outro impacto ambiental causado pela modernização da agriculturafoi o aumento no uso de agrotóxicos. Estes por sua vez, tambémforam desenvolvidos e pensados para a realidade de países de climatemperado. Este fator provocou e ainda

provoca desequilíbriosbiológicos que ocasionam o aumento de praga nas lavouras.POSSÍVEIS SOLUÇÕES PARA A QUESTÃO AMBIENTALA preocupação com o meio ambiente e o futuro do planeta é umatemática que inquieta a muitos. Por isso em 1992 foi realizada

Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente eDesenvolvimento, a Eco 92 que reuniu representantes de todo oplaneta que assinaram pactos e legitimaram acordos internacionaisem benefício do meio ambiente. Deste evento surgiram documentoscomo a carta da terra, a agenda 21 entre outros. Também com a preocupação em diminuir os impactos ambientais,acadêmicos canadenses elaboraram um conceito chamadopegadaecológica.Este consiste em mensurar a superfície total de terranecessária para sustentar as atividades humanas. Atualmentenecessitaríamos ter disponíveis 2,3 hectares por habitante para umdesenvolvimento sustentável, ou seja, nosso déficit está em 20% dacapacidade biológica do planeta. Basicamente o papel deste conceitoé alertar para a importância de revermos nossas atitudes em relaçãoao meio ambiente.Por isso a necessidade de se pensar em um desenvolvimentosustentável, isto é, um desenvolvimento que supra as atuaisdemandas sem comprometer as respostas das demandas dasgerações futuras. As soluções para diminuirmos nossapegadaecológica

podem ser encontradas em uma Educação e Inovação Tecnológica norteadas pela conservação ambiental, desta formapoderemos “reduzir o consumo de energia e recursos, diminuir apoluição, aumentar a produtividade com distribuição equitativa derendas e evitar desperdício de capital” (Casagrande, s/d).Para isso faz-se necessário a capacitação de professores, a revisãodas grades curriculares e dos conteúdos de ensino a fim de induzir osestudantes a uma visão crítica de seu papel na sociedade comofuturo profissional atuante no mercado de trabalho, pois à medidaque estes incorporam tais valores, em sua vida profissional,procurarão desenvolver projetos que diminuam os impactosambientais negativos.Um outro fator que também deve ser levado em consideração napreservação ambiental é a criação de uma política agrária ehabitacional que atendam as demandas existentes, pois assim haveráuma diminuição no êxodo rural e por conseguinte no inchaçopopulacional dos centros urbanos.Concluindo, a resposta para um futuro sustentável está noreconhecimento do mundo vivido e de que “em nossa inteiradiversidade somos unidade”.2Novas Relações de Trabalho no mercado Globalizado

O mercado globalizado tem gerado grandes mudanças de ordem social, política e econômica, afetando diretamente as relações de emprego, tendo em vista que o mercado consumidor tornou-se mais exigente em busca de alta qualidade e preços baixos, gerando novas formas de contratação, que precarizam as relações de trabalho e abandonam sua função social. Daí surge à flexibilização do direito do trabalho, muitas vezes com total

desrespeito ao direito legislado, deixando a sua regulamentação para a negociação entre empregados e empregadores.

O contrato de trabalho guiado pelas regras da CLT — Consolidação das Leis do Trabalho gera uma grande carga de tributos, contribuições e encargos trabalhistas, razão pela qual, os patrões e empregados se valendo de aberturas oferecidas pela legislação não específica do trabalho para empreender outras formas de arregimentação de mão de obra: a formação de sociedades simples, a contratação de prestadores de serviços individuais transformados em pessoas jurídicas e a terceirização de serviços. Para Euclides Alcides ROCHA, a TERCEIRIZAÇÃO representa "um processo de evolução dos meios de produção, necessário em estágios do desenvolvimento econômico, em que empresas optam por entregar a terceiros, a execução de determinadas tarefas ou fases do processo produtivo". O grande problema descrito, de forma irretocável pelo referido autor, é o desvirtuamento da terceirização, que passou a ser utilizada desenfreadamente, disseminando a prática do mero fornecimento de mão-de-obra, que tem como reflexo a exploração do trabalhador. Ou seja, muitas vezes a terceirização é objeto de fraude que o empregado aceita por falta de opção ou por uma proposta de salário nominal maior. Quando o empregado terceirizado se submeter à subordinação (jurídica ou econômica), exclusividade e jornada determinada, o vínculo trabalhista será reconhecido e fica configurada a fraude na terceirização. Além disso, na terceirização a prestação do serviço deve se caracterizar necessariamente como atividade meio e não atividade fim da empresa. Em algumas situações a idéia do empregador é realmente a de fraudar a legislação.Uma

alternativa mais moderna e que oferece maiores possibilidades ao trabalhador é a colocação do FUNCIONÁRIO NO QUADRO DE SÓCIOS DA EMPRESA, em vez de empregados, a empresa tem sócios, que não recebem salários, mas pró-labore. Na Sociedade Simples o objetivo social é a prestação de serviços, onde existe pessoalidade dos sócios, formada por sócios de capital e sócios de trabalho, sendo que estes últimos participam dos lucros, mas não dos riscos da empresa. Nesse caso o profissional tem autonomia no trabalho, e deve ter o “ânimo” societário, ou seja, um compromisso com os interesses da sociedade. O limiar entre o que é legal e a fraude também é muito estreito, eis que a caracterização da subordinação jurídica, com a obediência às ordens de um determinado sócio, e a impossibilidade de interferir dentro da empresa, podem caracterizar fraude. A Justiça trabalhista costuma entender que quando o individuo tem uma comissão na empresa em torno de 50% e faz o seu horário de trabalho, não terá vínculo empregatício reconhecido, entretanto, se o suposto sócio for assalariado e tinha atividades controladas, a empresa qualificou o empregado como sócio para burlar a legislação trabalhista praticando fraude, podendo ser processada criminalmente. Ademais o STF definiu que uma pessoa pode ter mais de um contrato com a empresa, um de empregado e um de sócio ao mesmo tempo, desde que não exercendo a mesma atividade. Porém, diante a essas novas questões e condições de trabalho, cabe a Justiça do Trabalho abraçar o desafio de decidir à luz da CLT sem deixar de lado a complexidade e realidade social que se apresenta. Muito usada também, para contornar impostos, é a CONTRATAÇÃO DO TRABALHADOR COMO PESSOA

JURÍDICA, ou seja, o empregado cria uma empresa, com personalidade jurídica e contabilidade próprias, que passa a ser a titular do contrato de prestação de serviços à empresa contratante. A empresa recebe a remuneração pelo trabalho e arca com impostos e contribuições, que costumam ficar bem abaixo da soma dos encargos e contribuições trabalhistas. Desta forma, o seu trabalho do empregado é configurado como “prestação de serviço” entre empresas e não relação de patrão e empregado. Os patrões, assim na demonstrada Fraude Trabalhista, explora o máximo possível dos trabalhadores para retirar o máximo de lucro e os trabalhadores acabam pagando a conta, sem direitos trabalhistas e sem amparo legal. Portanto, não basta à previsão de um contrato para afastar o vínculo empregatício, pois se este objetiva impedir a aplicação da legislação trabalhista é ‘nulo de pleno direito’, a fim de evitar as coações econômicas, que certamente levaria várias pessoas a aceitarem abrir mão dos direitos sociais em troca de empregos, gerando a “fraude na relação de emprego” que é justamente a utilização de artifícios ou contratos vários que tentam mascarar uma relação empregatícia existente na vida real. 

Novas relações de trabalho

Trata-se de uma matéria realizada com Thomas Case, criador da Catho, agência de empregos online, estando entre as maiores do Brasil neste segmento. Ele afirma que o profissional da atualidade deve estar em constante aperfeiçoamento e ligado à internet e redes sociais, mantendo um site pessoal para que todos possam analisar as qualificações do profissional. Segundo Case "O profissional não pode se esconder, tem que ter uma

presença na Web e ser coerente com seu perfil profissional".

A autora da matéria delineia o impacto da tecnologia no trabalho, afirmando que esta é responsável por acelerar as mudanças no mundo do trabalho e influencia de forma vital a procura de um novo emprego. "Todas as grandes empresas hoje estão prontas para receberem currículos pela Web", afirma Renata.

Para o fundador da empresa, não só está mais difícil de conseguir um emprego como também de se manter nele. Isso pois o mercado está cada vez mais competitivo, exigindo novas qualificações. O tempo médio que um profissional liberal especializado ficava desempregado era de, no máximo, 7 meses, hoje, entretanto, este tempo passa dos 11 meses.

Com a vinda da internet sem fio, ganhou-se uma nova maneira de ver o trabalho. Este não mais necessita, em muitas tarefas, que o profissional esteja no espaço físico da empresa, podendo realizar suas tarefas em qualquer lugar que tenha tal serviço de internet. Assim, houve uma revolução no mundo do trabalho e os profissionais mais antigos que não se adequam às novas tecnologias são dispensados e trocados por funcionários mais jovens que sabem realizar as tarefas com o auxílio da tecnologia.

Segundo a matéria, as empresas estão gradativamente eliminando os seus espaços físicos e buscando profissionais que dominem as formas de tecnologia para que trabalhem em casa, o chamado teletrabalho. Com esta nova etapa "não vai haver um fim do emprego, mas devido às mudanças, o tempo nas empresas durará menos cada vez mais", explica Case.

             Com o surgimento da internet a sociedade sofreu uma grande revolução, tudo está mais “próximo”, as relações humanas se modificaram através da mobilidade dos aparelhos digitais e a facilidade em se obtê-los. Assim, como todas as demais áreas da vida humana, a relação de trabalho também foi modificada, surgindo o teletrabalho, muito incentivado e bem visto atualmente.

            O profissional que se insere no mercado de trabalho atual deve, entre outras especializações, dominar amplamente as funções da rede de internet, sabendo como manuseá-la. Sites de busca de emprego como o citado acima, têm vagas aos milhares e em diversos setores, entretanto a falta de mão de obra especializada faz com que o mercado fique atravancado. Desta maneira, o teletrabalho surge como uma rota de fuga em que um profissional consegue monitorar diversos afazeres ao mesmo tempo, estando no conforto de sua residência. Outro importante ponto a ser frisado é o de que em meio à mobilidade caótica que enfrentamos no Brasil, esta modalidade de trabalho se mostra como uma boa alternativa.

            Entretanto, algumas críticas ao teletrabalho e a maneira com que as empresas vêm se comportando diante destas novas tecnologias devem ser feitas. Por trás de todo este avanço tecnológico e “possibilidades” dadas ao trabalhador está o interesse econômico. Um profissional que trabalha em casa, sem horários definidos, porém tendo de cumprir metas rigorosas, deve estar a serviço da empresa a qualquer hora do dia, ou seja, caso a empresa precise de um serviço seu, este deve ser feito de imediato não importando o horário. Antes se o sujeito trabalhava oito horas por dia dentro do espaço físico da

empresa, agora ele trabalha vinte e quatro horas, porém, no “conforto do seu lar”. A empresa, assim, transfere os gastos quem tem com o seu espaço físico para o profissional, pois tudo será feito através da rede. Leis trabalhistas são flexibilizadas, troca-se os empregados periodicamente. Funcionários, que antes trabalhavam a vida toda em uma única empresa, agora pulam de “galho em galho” para poderem se sustentar.

            Neste sentido, as relações/direitos trabalhistas e as novas tecnologias devem ser vistas sob o mesmo prisma e com muito cuidado para que o abismo da desigualdade social não cresça ainda mais.

Novas relações do trabalho e a empresa

A fábrica, a empresa do século XIX, nos primórdios da revolução industrial, era o eixo e o centro da produção capitalista industrial de mercadorias, lugar de construção da identidade da "consciência de classe" e da unidade dos trabalhadores. Esta fábrica, esta nova empresa, "lugar" de trabalho no século XXI, muda radicalmente seu perfil, diversidade e peculiaridades, ainda que não essencialmente sua natureza no marco atual de produção, mercado, distribuição e acumulação.

Um dos aspectos acima mencionados, que tem relação com a empresa neste quadro de mudanças, é o da "geografia do trabalho", sua referência espacial territorial, ou seja, o "lugar" onde se realiza o trabalho. Este "lugar", como vimos em relação ao trabalho temporário, já não é similar à empresa capitalista clássica. Essa mudança de lugar tirou a base de socialização do

trabalho, sua fonte de poder. Este espaço já foi muito valorizado, na perspectiva da teoria social. É valorizado, pois é nele onde se expressa uma relação social e a conseqüente gestação da identidade e consciência. Se o espaço físico, territorial muda, a natureza das relações que nele se desenvolviam tendem a mudar"(CASTELLS, 2000, p. 406-452).

Tal questão tem a ver também com a organização, representação e identidade de trabalhador frente a sua referência: o capital e a empresa. Nesta plano, o que queremos destacar no foco desta abordagem, é que o trabalho associado também pode constituir-se, comparativamente, no "balanço social", em um fator positivo frente ao trabalho clássico subordinado, tanto para o trabalhador, como eventualmente para a empresa privada com Ética social e para a sociedade. Assim, nossa tese é de que o "lugar" estratégico, no caso do trabalho associado, não é o "lugar onde se realiza o trabalho", mas o "lugar onde se organiza o trabalhador" para chegar ao mercado de trabalho. Sublinhamos aqui também a importância do tema da autonomia e o da administração do tempo, o desafio do capital global e a consolidação do trabalho local.

Algumas idéias-força sobre a empresa e suas relações com a comunidade reforçam o entendimento da importância sobre o papel do local.. "O esforço para controlar de fora o funcionamento do novo capitalismo precisa ter um raciocínio diferente: deve perguntar o valor da empresa para a comunidade, como ela serve mais a interesses cívicos que apenas ao livro-caixa de lucros e perdas.. um regime que não

oferece aos seres humanos motivos para ligarem uns para os outros não pode preservar sua legitimidade por muito tempo. As idéias de que padrões externos podem gerar mudanças internas valorizam o papel da comunidade local no estilo de empresas e desenvolvimento(SENNET, 2001, p. 164 e 176). Se o local clássico na empresa perde seu significado pela reestruturação e flexibilidade, debilitando a identidade e coesão social, é significativo o resgate do local na política, na empresa e no trabalho. O lugar se torna uma comunidade com auto-estima, auto identificação, uma ligação social a partir da consciência da mútua dependência e o reconhecimento dos limites.

Este destino partilhado gera laços de confiança a partir justamente da crise e do fracasso. Outro elemento que conforma o "pano de fundo" da viabilidade do trabalho associado como forma de inserção de qualidade superior é o entendimento de que a crise e o conflito obrigam a busca de respostas, a elaborar comunicação com mais fundamento e negociar caminhos de resultados coletivos.

Nas relações entre o trabalho e a empresa privada deverão merecer a atenção específica outros eixos, tais como:

a- A questão do contrato como base da sociedade. Avaliar a natureza do contrato de trabalho que legitima uma relação entre capital e trabalho no "mercado de trabalho" consolidando a subordinação.

b- Os "modelos de empresas" voláteis no atual contexto econômico e a adequação para uma relação de trabalho de novo tipo, negociando o ganha-ganha, ou seja, um "modelo contratual de trabalho associado"

c- A "flexibilidade organizativa" do trabalho associado em cooperativas permite ao trabalho organizado situar-se no mercado dinâmico, como uma resposta do trabalho e do local à pressão da economia global.

d- As novas formas de trabalho exigem que as proteções estejam atreladas às pessoas, e não aos vínculos empregatícios, ou seja, à pessoa e não ao emprego. É este um dos temas que evidencia a prática e experiência das cooperativas de trabalho, as quais justamente definem que o novo espaço de estabilidade no trabalho não é mais no local de trabalho, mas o local onde as pessoas se organizam para relacionar-se com o novo mercado de trabalho.

Globalização e os movimentos sociais

resultado econômico e social mundial não podia ser mais desastroso. Em 2006, mais de 15% da classe trabalhadora estão desempregadas; metade da população do Planeta passa fome; 100 mil pessoas morrem de fome por dia.

I – Introdução

É importante deixar claro que estamos aqui discutindo do ponto

de vista da militância que está preocupada em entender a sociedade a partir do olhar do povo explorado e oprimido, dos que nunca tiveram vez e nem voz.

Esta observação é importante em uma época como a atual, quando boa parte da militância da esquerda histórica não acredita ser mais possível uma sociedade sem classes. A partir daí se tornam pragmáticos e reformistas e apostam na possibilidade de dividir o poder político com os capitalistas. Sua referência é a social democracia européia que, em uma época de crise do capitalismo, teve de ceder à pressão dos trabalhadores organizados, que obtiveram grandes avanços sociais: voto censitário como direito universal, redução da jornada de trabalho, ampliação do sistema de proteção social; criação do seguro-desemprego; universalização da educação; entre outros.

Mas, foi também a social-democracia que, com algumas poucas exceções, justificou, apoiou e facilitou a carnificina de milhões de pessoas pelo mundo todo. Organizaram ou defenderam guerras na Indochina, Malásia, Indonésia e Argélia. Defenderam práticas de tortura e limitaram as liberdades democráticas na Índia, Indonésia, Egito, Iraque e Singapura. Protegeram o regime da apartheid na África do Sul. Apoiaram as diversas ditaduras na América Latina.

E, com a crise do capitalismo a partir dos anos 70, apoiaram e organizaram as políticas de austeridade monetárias e fiscais que tiveram como conseqüência o desmantelamento do Estado social, que ajudaram a construir.

II - Globalização neoliberal. Algo totalmente novo?

O que é a globalização? Globalização expressa a idéia do

mercado mundial. Sabemos que o Modo de Produção Capitalista sempre buscou a estratégia de integrar a produção e o consumo, buscando homogeneizar os espaços, transformando-os a sua imagem e semelhança, desde o período das colônias passando pelo imperialismo, até a época atual.

O que tem de novo na globalização? O ponto de partida é a internacionalização da economia com o crescimento do comércio e do investimento internacional mais rápido do que o da produção conjunta dos países, ampliando as bases internacionais do capitalismo. Para isto, é necessário garantir a mobilidade do capital financeiro especulativo e o enfraquecimento dos estados nacionais com a perda de sua soberania. Dois são os protagonistas relevantes no jogo de poder da economia mundial: as empresas multinacionais e alguns estados.

Novo conceito necessário nesta discussão: neoliberalismo, onde o mercado passa a ser visto como o local privilegiado para se realizar a coerência social das múltiplas ações individuais. O mercado não é mais o espaço de compra e venda, mas onde vai se realizar o equilíbrio das ações sociais. E, com as novas tecnologias, onde o espaço-tempo global é instantâneo, tornou-se incompatível qualquer controle social sobre suas decisões. Daí, a necessidade de igualar, em todos os paises as legislações, buscando a retirada do poder regulatório do Estado Nacional. Em outras palavras, ao menor poder regulatório por parte das sociedades nacionais - poder que necessariamente tinha que reconhecer as demandas de uma pluralidade de grupos sociais - corresponde maior poder regulatório por parte do grande capital. A globalização neoliberal ergueu o mercado como um novo deus, que decide o que produzir, com quem, para quem, com que tecnologia. Aprofunda o capitalismo e, mesmo bens como saúde, educação, água, energia e conhecimento são transformados em

mercadorias. Os seres humanos têm o seu valor rebaixado no mercado e os que não tem valor são excluídos. As mulheres são as mais intensamente atingidas. Como exemplo, vejam o caso das empresas maquiadoras, no México.

Este projeto teve seu inicio em 1971, em Davos na Suíça, a partir dos princípios já desenvolvidos por Hayek e Friedman em resposta as políticas keynesianas pós a II Guerra Mundial, e foi assumido posteriormente pelo Banco Mundial. Propunha, em grandes linhas:

1 – Disciplina fiscal, através da qual o Estado deve limitar seus gastos à arrecadação, eliminando o déficit publico.2 – Focalização dos gastos públicos em educação, saúde e infra-estrutura.3 – Reforma tributária que amplie a base sobre a qual incide a carga tributária, com maior peso nos impostos indiretos e menor progressividade nos impostos diretos.4 – Liberalização financeira, com a cessação de restrições que impeçam instituições financeiras internacionais de atuar em igualdade com as nacionais e o afastamento do Estado do setor.5 – Taxa de cambio competitiva.6 – Liberalização do comércio exterior, com redução de alíquotas de importação e estímulos à exportação, visando a impulsionar a globalização da economia.7 – Eliminação de restrições ao capital externo, permitindo investimento direto estrangeiro.8 – Privatização, com venda de empresas estatais.9 – Desregulacão, com redução da legislação de controle do processo econômico e das relações trabalhistas.10- Valorização da propriedade intelectual.

Estas orientações são organizadas em 3 etapas para sua

implantação:a) Estabilização: com prioridade de conseguir um superávit fiscal e uma ampliação das reservas internacionais.b) Reformas estruturais: abertura, desregulamentação, privatização, redução do setor público-estatal ao mínimo.c) Retomada do crescimento pela adequada alocação dos recursos produtivos. A idéia aqui contida é que o mercado dará conta desta retomada via exportação.

Estas idéias vão ser inicialmente aplicadas no Chile de Pinochet e, a partir dos anos 80, vão servir de orientação para o mundo. Em 1989 em Washington, em um encontro coordenado pelo vice-presidente do Banco Mundial, John Williamson, passa a ser uma determinação para os paises da América Latina. Aliás, o Consenso de Washington diz respeito à visão norte-americana sobre a condução da política econômica no mundo inteiro, mas obviamente de forma muito mais direta para os países periféricos e especialmente para os da América Latina que, naquele momento, eram os países mais endividados da zona de hegemonia norte-americana.No mundo desenvolvido a intensidade de aplicação destes preceitos irá ser bem menor. Além disto, outros paises não o seguem, como Índia, China, Japão, Malásia, dentre outros que são exatamente os paises que atualmente puxam o crescimento.

Em 1998, reúnem-se novamente no Consenso de Washington II para uma avaliação e concluem que o objetivo da acumulação de capital estava sendo ameaçado pela intensa exclusão social. Na África, a fragilizacao do Estado foi tão intensa que até para se fazer as políticas compensatórias haviam dificuldades. Portanto, tinham que amenizar as contradições se não quisessem ver a falência do modelo (a lógica de dar os anéis para não perder os dedos).

Nesta nova situação, o Estado tem de ser forte para, de um lado, dar conta da continuidade do processo de acumulação, e de outro, ser eficiente nas políticas sociais. O Estado não precisa crescer, mas deve buscar parcerias que possam fazer as políticas sociais localizadas e compensatórias com mais eficiência. Neste sentido, o estímulo à constituição de ONGs e OSCIPs que, juntamente com o Estado, buscariam atuar onde os problemas são maiores. Isto é, focalizar os maiores problemas e fazer políticas especificas. É nesta lógica que está o PROUNI – amenizar as contradições dos jovens, e o Bolsa Família – amenizar a pobreza extrema e a enorme concentração de renda. É também aqui que se integram centenas de militantes dos movimentos sociais que através das ongs passam a assumir parte das políticas públicas, buscando maior eficiência. E um aperfeiçoamento do neoliberalismo: mantém o modelo que exclui e desenvolve políticas públicas para amenizar a exclusão, ao mesmo tempo que mantém a população dependente “eternamente” de programas de políticas compensatórias.

III – Resultados da Globalização

O resultado econômico e social mundial não poderia ser mais desastroso. Em 2006, mais de 15% da classe trabalhadora está desempregada; metade da população do planeta passa fome; 100 mil pessoas morrem de fome por dia. A distância entre os países ricos e pobres cresceu assustadoramente. Se no final da Segunda Guerra Mundial a relação entre o Norte e o Sul era de 30 para 1, atualmente, é de 74 para 1 e não pára de crescer. O mundo tornou-se propriedade particular de meia dúzia de empresas. No ramo de supermercado, por exemplo, o Wal-Mart, considerada a maior empresa do mundo, tem seis mil fábricas produzindo para ela, das quais 80% estão na China. Na produção de sementes, a

Monsanto controla 90% das sementes transgênicas do globo. As dez maiores empresas farmacêuticas e de produtos veterinários respondem por 59% do mercado mundial. Na área de biotecnologia, a concentração da produção é ainda maior: as dez maiores empresas são donas de 73% das vendas realizadas em todo o mundo. A Bayer, Syngenta, BASF, Dow, Monsanto, Dupont, Koor, Sumitomo, Nufarm e Arista, que exploram a produção e venda de agrotóxicos, juntas, concentram 84% das vendas globais. A concentração de renda se amplia. O patrimônio das mil pessoas mais ricas do mundo em 2007 seria suficiente para pagar a divida externa dos paises empobrecidos. Em paises ricos como Franca, os gerentes das grandes corporações ganham em media 15 mil euros por dia ou 430 vezes o salário médio dos trabalhadores. Nos EUA, 15% da população é pobre ou miserável.

Os efeitos vão muito além do plano econômico e social. O planeta está se esvaindo. Amplia-se o aquecimento global, sendo que o degelo dos últimos 17 anos é equivalente aos mil anos anteriores. A floresta amazônica está sendo destruída especialmente pelo estimulo a política agromineroexportadora. Esgotam-se as fontes de energia renováveis.

Na América Latina, a globalização neoliberal ganhou corações e mentes da população, com resultados devastadores: o continente, fraturado por séculos de colonização, por ditaduras e pela desigualdade social, torna-se o laboratório ideal, sendo assim levado ao fundo do poço. Privatizações, desregulação, abertura indiscriminada das economias nacionais, inserção subordinada na economia internacional, fragilização do Estado, ataques aos direitos dos trabalhadores, desestruturação do mercado de trabalho e emigrações acentuadas caracterizam o cenário latino-americano desde os anos 90. Vejam o que aconteceu com a

Argentina a partir de suas privatizações extremadas e no México com o acordo de livre comércio, o NAFTA.

Segundo a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), em 2006, os latino-americanos que viviam em situação de pobreza chegavam a 205 milhões (38,5% da população na região), sendo 79 milhões de indigentes (14,7 % da população no continente). Um dos indicadores perversos da deterioração social foi à intensificação da migração. De acordo com os dados do Centro Latino-Americano e Caribenho de Demografia (CELADE), houve na América Latina e no Caribe, nos primeiros cinco anos do terceiro milênio, um significativo aumento do número de migrantes, passando de 21 milhões, em 2000, para 26 milhões, em 2005. Segundo o Instituto de Política de Imigração dos EUA, o número de latino-americanos cruzando a fronteira hoje é duas vezes maior que há dez anos, atingindo quase 300 mil por ano. Dois terços desse contingente são de mexicanos.

Em alguns países como Equador, Guatemala, El Salvador, República Dominicana e o México, as remessas recebidas de parentes do exterior representam parcela significativa do dinheiro em circulação e influenciam o PIB do país.

A abertura ao capital internacional e a abertura comercial, transformam os paises subdesenvolvidos em meros exportadores de commodities, perpetuando a condição de dependência frente ao mundo.

IV – Nem tudo está perdido

A reação à crescente fratura social do continente não tardou e mudanças políticas na América Latina começam a ocorrer. Os

resultados eleitorais mais recentes, apontam a eleição de vários presidentes - Lula, Néstor Kirchner, Tabaré Vázquez, Michele Bachelett - que se elegeram criticando o neoliberalismo originário. Críticas mais profundas estão por trás das vitórias de Hugo Chávez, Evo Morales e Rafael Correa. E, por muito pouco (ou por fraude), não foi eleito Manuel López Obrador, no México. O novo mapa político do continente demonstra uma inflexão na tendência até então hegemônica de orientação dos princípios originais do modelo neoliberal, mas, com exceção de Chávez, Morales e Correa, os outros vão seguir o consenso de Washington II, isto e, não tocam nos princípios gerais e amenizam as contradições através de políticas sociais compensatórias.

A mudança mais significativa foi à revisão do papel do Estado nas economias nacionais. Em todos os países, em maior ou menor grau, passou-se a uma defesa do Estado e dos seus instrumentos como um agente importante na indução do crescimento econômico A Venezuela, a Bolívia e o Equador foram os países que mais aprofundaram esse processo. Não é gratuito que os três países alteraram ou vêm alterando a sua Constituição para mudanças que visam uma maior distribuição de renda. Nos outros paises, há uma retomada do papel do Estado para fazer as políticas sociais compensatórias (caso da Bolsa Família no Brasil e do bônus social na Argentina). A Argentina e o Chile iniciaram ainda uma revisão na privatização do seu sistema previdenciário.

V - Os novos atores sociais

O movimento operário, com as profundas alterações no mundo do trabalho com o advento do neoliberalismo, tem seus sindicatos fragilizados e, em alguns casos, atrelados ao poder e,

em outros casos, transformados em agências de emprego e de auxilio aos seus filiados, com serviços médicos, odontológicos, jurídicos, empréstimos consignados, dentre outras coisas. Trocaram os projetos ideológicos de outrora pela administração do sistema na medida em que aceitam os fatos do dia-a-dia como medida do seu agir e pensar. Transformam valores necessários como o de melhorar ou salvar uma vida humana no presente, como princípio motor de suas ações futuras, não mais pensando em mudanças mais profundas. Assim, fazem do pragmatismo humanitário neoliberal uma opção ideológica. Esta “esquerda pragmática”, afirma o presente e aposta em pequenas melhorias, já que não mais acreditam em transformação, em novas formas de vida, novos valores.

Mas novos atores sociais se impõem neste processo. O principal deles é o movimento indígena. O movimento camponês é outro ator social relevante nas lutas latino-americanas. Particularmente no caso brasileiro, constitui-se como o principal movimento social e como principal articulação contra a ofensiva do agronegócio. O movimento quilombola passa a assumir uma importância nas lutas sociais. Também é retomada a luta por moradia, enquanto movimentos antiglobalização puxam lutas históricas contra o livre comercio, contra a ocupação do Iraque, e mesmo pela paz ao organizar um processo como o Fórum Social Mundial.

O movimento das mulheres, o ambiental e o homossexual, pela sua própria natureza, vão para além da esfera econômica e atuam promovendo rupturas nos arquétipos estruturados na sociedade, rompendo com preconceitos profundamente arraigados. Estão entre aqueles movimentos que se colocam à frente de seu tempo histórico, interpelando, denunciando e questionando uma sociedade que é autoritária, desigual e pouco tolerante.

Daí porque pessoas como o Lula “tem a cabeça do peão do ABC". O núcleo da preocupação do presidente "é com emprego e salário”, nas palavras de seu assessor Gilberto Carvalho, ficando de costas para questões hoje prementes e mesmo indispensáveis, como é o caso das questões ambientais. Seu assessor reconhece quando diz que “ele acha importante a preservação mas, entre o cerradinho e a soja, ele fica com a soja". O ambiente e uma questão importante, mas não decisiva. O que é decisivo é a economia. Reproduz assim a lógica histórica do capitalismo; como dizia Keynes, “a longo prazo todos estaremos mortos”, e por isso importa o lucro aqui e agora. Portanto, se cortar a floresta amazônica para vender a madeira e colocar gado for lucrativo e ajudar no crescimento do PIB, nao tenham dúvida de que isto vai ser feito.

Já os movimentos sociais que fazem a luta em torno dos temas do etanol, dos trangênicos, das usinas hidrelétricas, da transposição do São Francisco, da Reserva Raposa Serra do Sol, tem perspectivas que vão muito além dos empreendimentos do grande capital, cada vez mais transnacional e concentrador de renda.

Não surpreende portanto, que dado o caráter perturbador dos novos movimentos sociais, no sentido de que mexe com as estruturas conservadoras e concentradoras de renda, levam a uma reação dos setores conservadores quem buscam criminalizar os movimentos. Pretendem assim atrair os setores de classe média, despertando o seu medo de perder ganhos. A criminalização dos movimentos sociais normalmente vem seguida de ações violentas por parte das forças da direita. Os que defendem a intocabilidade do Estado de Direito são os primeiros que o violam.

Para nós, é incontestável o papel civilizatório dos movimentos sociais. São eles que impelem, interpelam e provocam rupturas nas estruturas conservadoras da sociedade. Mais ainda: é o movimento social que alerta para o caráter da crise civilizacional em que estamos metidos ao chamar a atenção para o fato de que o planeta Terra não suporta a pressão a que está submetido.

VI – Conclusão

Estamos aqui dialogando sobre o prisma de quem pretende uma mudança desta lógica do modelo neoliberal, de quem pretende construir uma sociedade pautada na solidariedade e não na competitividade, na relação harmônica com o meio ambiente e não em sua destruição. Estamos na lógica oposta à do Governo Lula que já manifestou que se preocupar com os pobres, com os sem-terra, com os atingidos por barragem, com os índios, com os quilombolas, significa um entrave ao desenvolvimento. Além disto, para ele, os usineiros são os grandes heróis da atualidade. E a militância histórica da esquerda que está no governo se limita a discutir as casas decimais da meta inflacionária, do superávit e das taxas de juros. Ou ainda o crescimento ridículo que tem acontecido, comparando-o com o período anterior. E ficam alardeando que “nunca antes no Brasil se cresceu tanto, nunca antes teve tanta distribuição de renda, nunca antes etc.”. Como diz Fiori, é o socialismo macroeconômico.

Dentro desta mesma lógica, sequer buscam comparar a situação atual do Brasil com o restante do mundo, pois aí, os indicadores não seriam tão favoráveis: o Brasil em 2006 cresceu 3,7% sendo que a América Latina cresceu 4,7%, a América do Sul, 5,5% e os emergentes, grupo onde o Brasil se situa, cresceram 6,7%. O mundo cresceu 5,4% - isto sem falar no Chile, Argentina ou

Venezuela. Trabalhando com os anos de Lula, entre 2003 e 2006 o Brasil cresceu 3,4% e o mundo, 4,9%. Portanto, o Brasil está ficando para trás.

No entendimento de Milton Santos, no livro "Por Uma Outra Globalização", a globalização em um mundo confuso e confusamente percebido, deve ser considerada a partir de três enfoques: o mistificado, o real e o possível. "O primeiro seria o mundo tal como nos fazem vê-lo: a globalização como fábula; o segundo seria o mundo tal como ele é: a globalização como perversidade; e o terceiro, o mundo como ele pode ser: uma outra globalização”.

O nosso projeto é o do terceiro enfoque do Milton Santos. Necessário reconquistar os corações e as mentes dos povos do mundo para um novo projeto de cunho esquerdista, recuperando a confiança na esquerda. Devemos apostar na construção de um projeto político que, deveria ser orientado por duas idéias básicas: 1) deslocar o eixo da lógica da acumulação do lucro pelo lucro para a lógica do bem estar social, e 2) incentivar a cooperação e solidariedade entre os povos.

Este é o nosso desafio.