Diferenças entre Poliamor e Relações Livres
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Diferenas entre Poliamor e Relaes Livres delineando alguns conceitos
13 Comentrios Publicado por amoreslivres em 24 de julho de 2013
(Por Yasmin Teixeira, em colaborao com Daniki e Polietc)
Quando entrei em contato pelas primeiras vezes com o universo da no-monogamia
descobri logo que havia diferentes formas e vertentes, cada qual com suas
especificidades prticas e suas singulares concepes tico-polticas.Para comear, acho
interessante pontuar que existe uma enorme diferena entre a cultura no-monogmica
da contemporaneidade ocidental e a tradicional poligamia das culturas orientais ou
antigas. Na poligamia tradicional a objetificao da mulher e a assimetria de poder entre
as pessoas da relao so claras, a forma mais usual a do homem que possui um
harm, ou seja, que casado com vrias mulheres e possui uma espcie de direito de
propriedade sobre elas.
Para ns, no-monogmicxs (evitamos, inclusive, usar poligamia como sinnimo de
no-monogamia), da mais fundamental importncia que todxs xs envolvidxs na
relao estejam cientes e de acordo, por livre e espontnea vontade, com a configurao
que ela assume ou assumir. Honestidade e transparncia so bsicos. Pois bem, dado
que estas so semelhanas fundamentais entre xs no-monogmicxs, faamos uma
tentativa de refinar melhor alguns outros conceitos. Existem, como eu havia dito,
diversas formas de no-monogamia, entre as quais podemos destacar o poliamor, as
relaes livres (RLi), o swing e as relaes abertas. Neste texto me limitarei a falar do
poliamor e do RLi (futuramente poderemos abordar as outras).
Tive dificuldades em entender o que poliamor por bastante tempo, mas nas conversas
que tive com poliamoristas e depois de algumas leituras, o que ficou compreendido para
mim que poliamor uma forma de no-monogamia onde existe uma infinidade de
possveis formas e configuraes de relacionamento sexual-afetivo entre vrias pessoas,
duas ou mais, definidas pela explicitao de regras consensuais (e mutveis). Xs
parceiros envolvidos decidem como ser o relacionamento por meio de muito dilogo,
deixando claro a todo momento o que confortvel ou seguro para cada um(x) e que
concesses e demandas sero aceitas isto o que elxs chamam de acordos.
As configuraes possveis de relacionamento poliamoroso podem ir das mais abertas e
horizontais at aquelas que incluem polifidelidade (acordo de que haver exclusividade
de envolvimento sexual-afetivo entre um nmero limitado de parceirxs) ou hierarquia
entre relacionamentos (ex: primrio e secundrio).Na prtica, isso resulta no fato de que
poliamoristas podem possuir dois, trs ou mais namoros/unies (ou outros nomes que
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cada grupo escolhe) com nmero indeterminado de pessoas. Inclusive a maioria dxs xs
adeptxs do poliamor no se opem ao casamento, pelo contrrio, h aquelxs que
reivindicam o direito de se casar com mais de uma pessoa.
Do ponto de vista poltico o poliamor no tem nenhuma posio definida enquanto
movimento, surgiu internacionalmente nos anos 1990 definindo-se apenas como um
estilo de vida no-monogmico (poliamor traduo de polyamory), de maneira
que existem poliamoristas de quaisquer opinies e orientaes polticas possveis.
O RLi , assim como o poliamor, uma forma consensual de no-monogamia, mas
possui algumas especificidades. RLis no negociam sua liberdade sexual-afetiva, o
nico imperativo de nossos relacionamentos o desejo (sexual e/ou afetivo) e, assim,
no h regras ou acordos de nenhum tipo. No existe, jamais, hierarquia entre os
relacionamentos e todos so necessariamente abertos. O grau de intimidade, a durao e
a configurao de cada relao so determinados nica e exclusivamente pelos
sentimentos e emoes que se conjugam entre xs parceirxs, nos deixamos guiar pela
atrao sexual, a paixo ou o amor e julgamos que comportamentos derivados destes
sentimentos e sensaes no so passveis de nenhum tipo de regulamentao.
A autonomia emocional e financeira de cada RLi necessria pra que as relaes se
concretizem sem que sentimentos de insegurana e medo as invadam e sem que isso
resulte em cime ou posse da mais fundamental importncia eliminar a noo de
direito de propriedade privada que subjaz as relaes monogmicas, xs companheirxs
relacionam-se ou deixam de faz-lo porque assim desejam e no por causa de
obrigaes supostas por alguma moral ou por direito sobre o outro. No dividimos nem
subtramos nada de ningum, no exigimos que parceirxs nos completem ou deem conta
de nossas angstias, enxergamos as relaes como soma e doao, como cooperao e
companheirismo e isso vale tanto para algum com quem nos envolvemos por algumas
horas quanto para algum com quem estamos h anos, j que todo contato humano
uma experincia nica e valiosa.
RLis pautam-se pela defesa da liberdade sexual e amorosa incondicional e empreendem
uma crtica contundente s estruturas patriarcais, portanto so firmemente contra o
casamento e contra qualquer forma de monogamia ou mononormatividade posies
tico-polticas que derivam da constituio original do RLi enquanto movimento social,
no s como estilo de vida pessoal.Ademais, todx RLi , necessariamente, feminista,
posto que defendemos que a liberdade deve ser a mesma para pessoas de todos os
gneros e orientaes sexuais, do contrrio no liberdade, e posto que primordial
combater a cultura do estupro e adquirir a sensibilidade do respeito tanto ao sim
quanto ao no. Observamos, portanto, que o RLi tambm uma poltica, em geral
prxima de posies mais libertrias, cujas pautas e ideias originais surgiram com
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o Coletivo Rede de Relaes Livres de Porto Alegre h mais ou menos 10 anos (sim, o
RLi made in Brazil).
Bom, este assunto extenso e eu pincelei vrios outros temas complexos aqui que
merecem textos parte. Para finalizar, eu gostaria s de dizer que, do ponto de vista das
experincias pessoais, cada um opta pelo tipo de relacionamento com o qual se sente
melhor, no cabendo a ningum dizer que esta ou aquela forma intrinsecamente mais
adequada que a outra. Todos ns estamos numa situao semelhante, margem de uma
cultura ainda completamente mononormativa e patriarcal que o estilo de vida no-
monogmico desafia.