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Textos sobre os fenômeno e processos na dinâmica da MOS.

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  • EM SISTEMAS CONSERVACIONISTAS

    DINMICA DA

    Modelagem Matemtica e Mtodos Auxiliares

    DO SOLO MATRIA ORGNICA

  • Dourados, MS

    2006

    Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria

    Embrapa Agropecuria Oeste

    Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento

    Editores: Renato Roscoe

    Fbio Martins Mercante

    Jlio Cesar Salton

    EM SISTEMAS CONSERVACIONISTAS

    DINMICA DA

    Modelagem Matemtica e Mtodos Auxiliares

    DO SOLO MATRIA ORGNICA

  • Todos os direitos reservados.

    A reproduo no-autorizada desta publicao, no todo ou em parte,

    constitui violao dos direitos autorais (Lei N 9.610).

    CIP-Catalogao-na-Publicao.

    Embrapa Agropecuria Oeste.

    Exemplares desta publicao podem ser adquiridos na:

    Embrapa Agropecuria Oeste

    BR 163, km 253,6 -

    Trecho Dourados-Caarap

    Caixa Postal 661

    79804-970 Dourados, MS

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    Fax: (67) 3425-0811

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    E-mail: [email protected]

    Comit de Publicaes da Unidade

    Presidente: Renato Roscoe

    Secretrio-Executivo: Jlio Cesar Salton

    Membros: Augusto Csar Pereira Goulart, Clarice Zanoni Fontes, Edvaldo Sagrilo,

    Eli de Lourdes Vasconcelos, Francisco Marques Fernandes, Guilherme Lafourcade

    Asmus, Mrcia Mayumi Ishikawa e Walder Antonio de Albuquerque Nunes

    Superviso editorial, Reviso de texto e Editorao eletrnica:

    Eliete do Nascimento Ferreira

    Normalizao bibliogrfica: Eli de Lourdes Vasconcelos

    Foto da capa: Renato Roscoe

    1 edio

    (2006): online

    Embrapa 2006

    Roscoe, Renato

    Dinmica da matria orgnica do solo em sistemas conservacionistas:

    modelagem matemtica e mtodos auxiliares / Editores: Renato Roscoe, Fbio

    Martins Mercante, Jlio Cesar Salton. Dourados: Embrapa Agropecuria

    Oeste, 2006.

    304 p. : il. color. ; 21 cm.

    ISBN 85-7540-014-2

    1. Solo - Matria orgnica - Modelagem. 2. Matria orgnica - Solo -

    Modelagem. I. Mercante, Fbio Martins. II. Salton, Jlio Cesar. III. Embrapa

    Agropecuria Oeste. IV. Ttulo. V. Srie.

  • Alexandre Fonseca d'Andra

    Eng. Agrn., Professor, Dr.,

    Centro Federal de Educao Tecnolgica de Uruta,

    Departamento de Desenvolvimento Educacional,

    Coordenao Geral de Ensino,

    Fazenda Palmital Km 2,5 , Zona Rural, 75790-000 - Uruta, GO.

    Telefone: (64) 465-1900, Fax: (64) 465-1900

    E-mail: [email protected]

    Arminda Moreira de Carvalho

    Eng. Agrn., Pesquisadora, Dra.,

    Embrapa Cerrados,

    Caixa Postal 08223, 73310-970 - Planaltina, DF.

    Fone: (61) 388-9898, Fax: (61) 388-9879

    E-mail: [email protected]

    Beta Emke Madari

    Eng. Agrn., Pesquisadora, Ph.D.,

    Embrapa Arroz e Feijo,

    Caixa Postal 179, 75375000 - Santo Antonio de Gois, GO.

    Fone: (62) 3533-2110, Fax: (62) 3533-2100

    E-mail: [email protected]

    Bruno Jos Rodrigues Alves

    Eng. Agrn., Pesquisador, Dr.,

    Embrapa Agrobiologia,

    Caixa Postal 74.505, 23851-970 - Seropdica, RJ.

    Fone: (21) 2682-1500, Fax: (21) 2682-1230

    E-mail: [email protected]

    Autores dos Captulos

  • Carlos Alberto Silva

    Universidade Federal de Lavras,

    Departamento de Cincia do Solo,

    Caixa Postal 3037, 37200-000 - Lavras, MG.

    Telefone: (35) 3829-1122, Fax: (35) 3829-1100

    E-mail: [email protected]

    Cludia Pozzi Jantalia Sisti

    Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro,

    Departamento de Fitotecnia,

    BR 465, km 7, 23890-000 - Seropdica, RJ.

    Telefax: (21) 2682-1353, Fax (21) 3787-3684

    David V. de Campos

    Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro,

    Departamento de Solos,

    BR 465, km 7, 23890-000 - Seropdica, RJ.

    Fone: (21) 2682-1308, Fax: (21) 2682-1308

    Eduardo de S Mendona

    Eng. Agrn., Ph.D., Professor Adjunto da

    Universidade Federal de Viosa,

    Departamento de Solos,

    Avenida P. H. Rolfs s/n - Campus UFV, 36571-000, Viosa, MG.

    Fone: (31) 3899-1047, Fax: (31) 3899-2648

    E-mail: [email protected].

    Fbio Bueno dos Reis Jnior

    Eng. Agrn., Pesquisador, Dr.,

    Embrapa Cerrados,

    Caixa Postal 08223, 73310-970 - Planaltina-DF.

    Fone: (61) 388-9898, Fax: (61) 388-9879

    E-mail: [email protected]

    Fbio Martins Mercante

    Eng. Agrn., Pesquisador, Dr.,

    Embrapa Agropecuria Oeste,

    Caixa Postal 661, 79804-970 - Dourados, MS.

    Fone: (67) 3425-5122, Fax: (67) 3425-0811

    E-mail: [email protected]

  • Flvia Aparecida de Alcntara

    Eng. Agrn., Pesquisadora, Dra.,

    Embrapa Hortalias,

    Caixa Postal 218, 70359-970 - Braslia, DF.

    Fone: (61) 3385-9000 Fax: (61) 3556-5744

    E-mail: [email protected]

    Ida de Carvalho Mendes

    Eng. Agrn., Pesquisadora, Dra.,

    Embrapa Cerrados,

    Caixa Postal 08223, 73310-970 - Planaltina, DF.

    Fone: (61) 388-9898, Fax: (61) 388-9879

    E-mail: [email protected]

    Jlio Cezar Franchini dos Santos

    Eng. Agrn., Pesquisador, Dr.,

    Embrapa Soja,

    Caixa Postal 231, 86001-970 - Londrina, PR.

    Fone: (43) 3371-6000, Fax (43) 3371-6100

    E-mail: [email protected]

    Jlio Cesar Salton

    Eng. Agrn., Pesquisador, Dr.,

    Embrapa Agropecuria Oeste,

    Caixa Postal 661, 79804-970 - Dourados, MS.

    Fone: (67) 3425-5122, Fax: (67) 3425-0811

    E-mail: [email protected]

    Luiz Fernando Carvalho Leite

    Eng. Agrn., Pesquisador, Dr.,

    Embrapa Meio-Norte,

    Caixa Postal 01, CEP 64006-220 - Teresina, PI.

    Fone: (86) 3225-1141/3214-3000, Fax: (86) 3225-1142

    E-mail: [email protected]

    Mariangela Hungria

    Eng. Agrn., Pesquisadora, Dra.,

    Embrapa Soja,

    Caixa Postal 231, 86001-970 - Londrina, PR.

    Fone: (43) 3371-6000, Fax (43) 3371-6100

    E-mail: [email protected]

  • Marx Leandro Naves Silva

    Eng. Agrn., Dr.,

    Universidade Federal de Lavras,

    Departamento de Cincia do Solo, UFLA-DCS.

    Caixa Postal 3037, 37200-000 - Lavras, MG.

    Telefone: (35) 3829-1122, Fax: (35) 3829-1100

    E-mail: [email protected]

    Pedro Luiz Oliveira de Almeida Machado

    Eng. Agrn., Pesquisadora, Ph.D.,

    Embrapa Arroz e Feijo,

    Caixa Postal 179, 75375000 - Santo Antonio de Gois, GO.

    Fone: (62) 3533-2110, Fax: (62) 3533-2100

    E-mail: [email protected]

    Renato Roscoe

    Eng. Agrn., Pesquisador, Ph.D.,

    Embrapa Agropecuria Oeste,

    Caixa Postal 661, 79804-970 - Dourados, MS.

    Fone: (67) 3425-5122, Fax: (67) 3425-0811

    E-mail: [email protected]

    Robert Michael Boddey

    Pesquisador, Ph.D,

    Embrapa Agrobiologia,

    Caixa Postal 74.505, 23851-970 - Seropdica, RJ.

    Fone: (21) 2682-1500, Fax: (21) 2682-1230

    E-mail: [email protected]

    Rmulo Penna Scorza Jnior

    Eng. Agrn., Pesquisador, Ph.D.,

    Embrapa Agropecuria Oeste,

    Caixa Postal 661, 79804-970 - Dourados, MS.

    Fone: (67) 3425-5122, Fax: (67) 3425-0811

    E-mail: [email protected]

    Segundo Urquiaga

    Eng. Agrn., Pesquisador, Dr.,

    Embrapa Agrobiologia,

    Caixa Postal 74.505, 23851-970 - Seropdica, RJ.

    Fone: (21) 2682-1500, Fax: (21) 2682-1230

    E-mail: [email protected]

  • A manuteno de sistemas agrcolas produtivos, garantindo o

    suprimento de alimentos, fibras e energia para a sociedade, sem

    prejudicar a capacidade de sustentao e sobrevivncia das geraes

    futuras, representa grande desafio para a humanidade. Nesse contexto,

    a conservao do solo e da gua ganha especial destaque, por

    representarem os recursos bsicos da produo agrcola.

    A matria orgnica est envolvida com os diversos processos

    qumicos, fsicos e biolgicos relacionados com qualidade do solo. A

    dinmica da matria orgnica do solo (MOS) determina o fluxo de

    matria e energia no sistema solo, definindo entre a tendncia a

    situaes sustentveis ou a processos de degradao. O entendimento

    dessa funo reguladora da MOS fundamental na busca de sistemas

    conservacionistas.

    Diante de sua grande complexidade estrutural e dinmica, o

    estudo da MOS exige a combinao de tcnicas especficas de anlise

    e abordagens integradoras, atravs de ferramentas de modelagem

    matemtica e simulao de sistemas. Essas abordagens vm sendo

    empregadas em vrios ecossistemas, com destaque para a regio

    temperada. Trabalhos em solos tropicais e subtropicais vm

    aumentando significativamente nos ltimos anos, mas ainda no h

    uma tentativa de sintetizar as informaes e conhecimentos obtidos at

    o momento.

    Apresentao

  • O presente livro, ao trazer informaes valiosas sobre a dinmica

    da matria orgnica do solo em sistemas conservacionistas, enfatizando

    tcnicas modernas de anlise e de simulao de sistemas, uma

    importante contribuio para a gerao de conhecimentos visando

    manuteno de produtividades elevadas, ao mesmo tempo em que se

    preservam os recursos naturais.

    Neste sentido, a Embrapa Agropecuria Oeste, juntamente com

    seus parceiros nessa importante publicao, espera que esse material

    contribua para o uso sustentvel dos sistemas agrcolas tropicais e

    subtropicais.

    Mrio Artemio Urchei

    Chefe-Geral

    Embrapa Agropecuria Oeste

  • Este livro foi idealizado a partir do workshop Modelagem da

    Matria Orgnica do Solo no Sistema Plantio Direto realizado na

    Embrapa Agropecuria Oeste, em fevereiro de 2003, quando se notou a

    falta de um material que sintetizasse os conhecimentos sobre matria

    orgnica do solo (MOS) em ambientes tropicais e subtropicais.

    Inicialmente, pretendia-se elaborar uma publicao que contemplasse

    os diversos aspectos relacionados modelagem matemtica e

    simulao de sistemas. Ao longo de trs anos, o material foi evoluindo e

    ficou clara a necessidade de nivelamento do conhecimento sobre

    alguns mtodos auxiliares utilizados na definio dos parmetros

    essenciais aos simuladores. Desta forma, este livro foi organizado em

    duas partes. Na Parte 1, quatro captulos discutem a dinmica da

    matria orgnica do solo em sistemas conservacionistas, com nfase

    modelagem matemtica e simulao de sistemas. Os dois primeiros

    so de contextualizao e reviso conceitual, sendo os dois seguintes

    voltados para a discusso sobre as ferramentas de modelagem e

    simulao de sistemas.

    O Captulo 1 concentra-se no embasamento terico sobre como

    a dinmica da MOS est relacionada com a sustentabilidade dos

    sistemas de produo e como o tipo de manejo pode influenci-la.

    Discute-se, ainda, como a modelagem matemtica e a simulao de

    sistemas podem auxiliar na melhoria desse entendimento.

    No Captulo 2 discute-se a questo de mudanas climticas

    globais e como o solo de sistemas agrcolas conservacionistas, a

    exemplo do sistema plantio direto, pode servir de reservatrio para o

    Prefcio

  • carbono atmosfrico, principal responsvel pelo aumento do efeito

    estufa causado pela atividade antrpica. Utilizando o sistema plantio

    direto como modelo, discute-se a viabilidade de contabilizar o seqestro

    de carbono no solo como atividade mitigadora em tratados

    internacionais. Destaca-se a necessidade de utilizao de simuladores

    da dinmica da MOS para que tal mecanismo compensatrio seja

    adequadamente monitorado e incorporado em inventrios de

    emisses.

    Uma discusso sobre as bases tericas da simulao de

    sistemas complexos e as diferentes abordagens utilizadas pelas

    ferramentas de modelagem matemtica feita no Captulo 3.

    No Captulo 4, so apresentados os principais simuladores da

    dinmica da MOS em uso atualmente, destacando as suas

    caractersticas e pressupostos. Especial ateno dispensada ao

    simulador Century, por se tratar do mais utilizado e com as melhores

    perspectivas para adaptao a condies tropicais.

    A Parte 2 do livro compreende seis captulos, organizados de

    forma a revisar o estado da arte sobre importantes procedimentos

    metodolgicos, fundamentais ao entendimento da dinmica da MOS e

    correta parametrizao dos simuladores.

    No Captulo 5 discutem-se as principais vantagens e

    desvantagens de diferentes mtodos de fracionamento fsico da MOS.

    Os reservatrios mensurveis so comparados aos tericos dos

    simuladores da dinmica da MOS, discutindo-se as possibilidades de

    padronizao de um esquema de fracionamento que permita a efetiva

    validao dos reservatrios simulados.

    13

    As bases da utilizao do istopo estvel do C na definio de

    parmetros da dinmica da MOS so revisadas no Captulo 6, sendo

    apresentados vrios exemplos de aplicao da tcnica.

    O Captulo 7 apresenta uma reviso sobre biomassa microbiana

    do solo, englobando os principais estudos publicados para condies

    brasileiras. Comparam-se as duas principais metodologias de

    determinao da biomassa microbiana, destacando suas vantagens e

    desvantagens, os principais pontos onde h necessidade de avano no

  • conhecimento e propondo um procedimento padro para os estudos de

    MOS.

    No Captulo 8 discutem-se os principais mtodos utilizados para

    estimar as emisses de CO do solo, utilizando uma srie de exemplos 2

    para diferentes sistemas de uso da terra, em condies brasileiras.

    O Captulo 9 e o Captulo 10 discutem duas importantes tcnicas

    de caracterizao estrutural da MOS, a ressonncia magntica nuclear 13

    do C e a pirlise associada cromatografia gasosa e espectrometria

    de massa. So revisados trabalhos realizados com solos brasileiros, os

    quais contribuem para o entendimento do comportamento e da

    dinmica da MOS, em ambientes tropicais e subtropicais.

    Os trabalhos apresentados no presente livro demonstram que as

    metodologias de anlise da MOS e as ferramentas de modelagem

    matemtica e simulao de sistemas tm elevado potencial para

    aumentar a compreenso de sua dinmica em solos tropicais e

    subtropicais. H a necessidade, no entanto, de maior padronizao de

    mtodos e um esforo concentrado na expanso dos trabalhos com

    simuladores promissores, como o Century.

    Os Editores

  • Sumrio

    1. Sistemas de Manejo e Matria Orgnica do Solo

    Renato Roscoe, Robert Michael Boddey, Jlio Cesar Salton

    2. O Seqestro de Carbono no Sistema Plantio Direto:

    Possibilidades de Contabilizao

    Renato Roscoe

    3. Modelagem Matemtica e Simulao de Sistemas: uma

    Importante Ferramenta na Pesquisa Agropecuria

    Rmulo Penna Scorza Jnior

    4. Modelagem Matemtica e Simulao da Dinmica da

    Matria Orgnica do Solo

    Eduardo de S Mendona, Luiz Fernando Carvalho Leite

    17

    43

    63

    75

    PARTE 1.

    Dinmica da Matria Orgnica do Solo em

    Sistemas Conservacionistas:

    Modelagem Matemtica e Simulao de Sistemas

  • PARTE 2.

    Mtodos Auxiliares Utilizados no Entendimento

    da Dinmica da Matria Orgnica do Solo

    5. Fracionamento Fsico do Solo na Obteno de

    Compartimentos Mensurveis para Uso em Simuladores da

    Dinmica da Matria Orgnica

    Renato Roscoe, Beta Emke Madari, Pedro Luiz Oliveira de

    Almeida Machado

    13

    6. Emprego do Istopo Estvel C para o Estudo da

    Dinmica da Matria Orgnica do Solo

    Bruno Jos Rodrigues Alves, David V. de Campos, Cludia Pozzi

    Jantalia Sisti, Segundo Urquiaga, Robert Michael Boddey

    7. Biomassa Microbiana do Solo: Frao mais Ativa da

    Matria Orgnica

    Renato Roscoe, Fbio Martins Mercante, Ida de Carvalho

    Mendes, Fbio Bueno dos Reis Jnior, Jlio Cezar Franchini dos

    Santos, Mariangela Hungria

    8. Emisses de CO do Solo: Mtodos de Avaliao e 2

    Influncia do Uso da Terra

    Alexandre Fonseca d'Andra, Marx Leandro Naves Silva, Carlos

    Alberto Silva

    13

    9. Ressonncia Magntica Nuclear de C em Estudos de

    Caracterizao Estrutural da Matria Orgnica do Solo

    Flvia Aparecida de Alcntara, Arminda Moreira de Carvalho

    10. Pirlise Associada Cromatografia Gasosa e

    Espectrometria de Massa Aplicada a Estudos de Caracteri-

    zao Qumica da Matria Orgnica do Solo

    Flvia Aparecida de Alcntara

    133

    163

    199

    243

    281

    107

  • Resumo - A matria orgnica do solo (MOS) desempenha funes fundamentais para o adequado funcionamento do solo, estando envolvida em

    processos fsicos, qumicos e biolgicos. Na degradao do solo, a perda de

    MOS representa o ponto de partida, influenciando diversos outros atributos,

    em uma reao em cadeia. O sistema plantio direto (SPD) tende a preservar a

    MOS, principalmente por reduzir a sua taxa de decomposio e, quando

    adequadamente adotado (incluindo a rotao de culturas), por promover uma

    maior entrada de resduos no sistema. A integrao lavoura-pecuria (ILP), ao

    incluir ciclos de cultivos de forrageiras no esquema de rotao, aumenta a

    quantidade de resduos aportados ao SPD e, em conseqncia, aumenta a

    MOS. O presente captulo tem como objetivo revisar os principais aspectos

    relacionados ao papel da matria orgnica no fluxo de matria e energia para

    o solo, e analisar as conseqncias do uso de diferentes sistemas de manejo,

    sobre este fluxo. Discute-se como o manejo inadequado do solo pode

    provocar a perda de MOS e promover a sua degradao, e como, por outro

    lado, a utilizao de sistemas conservacionistas pode proporcionar um fluxo

    adequado de matria e energia aos agroecossistemas, favorecendo

    processos de ordenao e qualidade do solo. A partir de uma anlise dos

    dados disponveis na literatura, observa-se que o plantio convencional tem o

    potencial de reduzir os teores totais de MOS ou, em alguns casos, somente

    Sistemas de Manejo e

    Matria Orgnica do Solo

    Renato Roscoe

    Robert Michael Boddey

    Jlio Cesar Salton

    1

  • nos seus reservatrios mais dinmicos, mas sempre favorecendo a perda de

    qualidade do solo. O SPD apresenta-se como uma alternativa para se evitar

    perdas de MOS, podendo at mesmo promover o seu acmulo, o que

    depende sobremaneira da utilizao de rotao de culturas. O sistema de

    rotao deve conter culturas ou plantas de cobertura, que produzam elevada

    quantidade de resduos e ao mesmo tempo proporcionem um balano positivo

    de N no sistema. Um balano negativo de N parece impedir o acmulo de

    MOS. A ILP representa uma alternativa interessante de manejo dos solos,

    principalmente nas regies com ocorrncia de clima que impe dificuldades

    para formao de massa seca para cobertura do solo no SPD.

    18 Dinmica da Matria Orgnica do Solo em Sistemas Conservacionistas

  • Abstract - Soil organic matter (SOM) has fundamental functions related to an adequate soil functioning, being involved in physical, chemical, and

    biological processes. During soil degradation, losses of SOM represent the

    starting point, affecting several parameters in a typical chain reaction. No-

    tillage systems (NTS) tend to preserve SOM, mainly because they reduce

    SOM decomposition rate and, when NTS is properly adopted (including crop

    rotation), increase residue production in the system. Pasture and crop

    integrated systems (PCI) include grass production in the rotation, increasing

    the amount of plant residue to NTS. In this chapter, we reviewed the major

    aspects related to organic matter role on matter and energy fluxes in soil, and

    evaluated the consequences of different management systems on those

    fluxes. We also discussed how the inadequate soil management can cause

    SOM losses and promote soil degradation, and how, on the other hand, the use

    of conservationist systems may provide an adequate organic matter flux in the

    agro ecosystem, favoring ordination processes and soil quality. Analyzing

    literature data, we observed that conventional tillage has the potential of

    reducing total SOM or, in specific situations, only some of its more reactive

    fractions, but always provokes soil quality losses. NTS represents a good

    alternative to avoid SOM losses or even increase its content, which strongly

    depends on crop rotation. The rotation system should include cash crops and

    cover-crops with high residue production and should maintain a positive N

    balance in the system. A negative N balance seems to limit SOM accumulation.

    The PCI represents an interesting alternative of soil management, especially

    in regions where climate conditions difficult the maintenance of soil mulching.

    Management Systems and Soil

    Organic Matter

    Sistemas de Manejo e Matria Orgnica do Solo 19

  • Introduo

    A importncia da matria orgnica do solo (MOS) para os diversos processos

    fsicos, qumicos e biolgicos amplamente reconhecida na literatura. A MOS

    desempenha diversas funes no ambiente, estando ligada a processos

    fundamentais como a ciclagem e reteno de nutrientes, agregao do solo e

    dinmica da gua, alm de ser a fonte bsica de energia para a atividade

    biolgica. Sua perda pode interferir drasticamente nesses processos,

    dificultando o desempenho das funes do solo, provocando desequilbrios no

    sistema e, conseqentemente, desencadeando o processo de degradao.

    Em decorrncia do grande impacto dos sistemas de uso do solo nas

    condies ambientais, sistemas conservacionistas tm sido propostos com o

    intuito de reduzir as modificaes no ambientes necessrias ao processo de

    produo de alimentos, fibras e energia. Neste contexto, destaque tem sido

    dado ao sistema plantio direto (SPD) e integrao lavoura-pecuria (ILP),

    como alternativas de produo sustentvel para as regies tropical e

    subtropical. Esses sistemas combinam a ausncia do revolvimento do solo e

    elevado aporte de resduos, seja pela rotao de culturas anuais ou mesmo

    pela combinao de lavouras com pastagens. Tratam-se de sistemas

    extremamente conservacionistas, com efeitos diretos na reduo da eroso.

    Devido a esse carter e s vantagens decorrentes dos menores custos de

    produo e maior praticidade, a adoo do SPD tem crescido

    exponencialmente no Brasil nos ltimos 30 anos. De uma rea inexpressiva

    em 1975, estima-se que tenham sido cultivados no Brasil, na safra 2003/2004,

    mais de 20 milhes de hectares sob SPD (Federao Brasileira..., 2005).

    No SPD, os teores de MOS podem ser preservados, pois h uma reduo na

    taxa de decomposio, em funo da no-fragmentao dos resduos e do

    no-revolvimento do solo. Desta forma, os resduos permanecem na

    superfcie, tendo uma menor rea de contato com o solo. Entretanto, no

    somente a reduo na taxa de decomposio se faz importante, mas tambm

    a capacidade do sistema em suprir carbono para o solo. Para que haja um

    efetivo acmulo de MOS no sistema, deve-se ter uma taxa de entrada de C

    superior taxa de decomposio. Buscam-se, portanto, esquemas de rotao

    que resultem em elevada produo de resduos. Como em condies

    tropicais essa elevada produo de resduos tem-se mostrado um problema,

    cresce a utilizao de gramneas forrageiras com o intuito de formar cobertura

    de solo, ao mesmo tempo em que possibilita a diversificao da produo

    20 Dinmica da Matria Orgnica do Solo em Sistemas Conservacionistas

  • agrcola, inserindo animais no sistema. A ILP combina a vantagem de

    fornecer grandes quantidades de resduos para formao de cobertura do

    solo para a lavoura subseqente sob SPD. Ao mesmo tempo, perodos com

    culturas anuais bem manejadas melhoram as condies das pastagens, com

    aumento da fertilidade do solo, permitindo maior carga animal e produo de

    biomassa.

    O presente captulo tem como objetivo revisar os principais aspectos

    relacionados ao papel da matria orgnica no fluxo de matria e energia para

    o solo, e analisar as conseqncias do uso de diferentes sistemas de manejo

    sobre esse fluxo. Discute-se como o manejo inadequado do solo pode

    provocar a perda de MOS e promover a sua degradao, e como, por outro

    lado, a utilizao de sistemas conservacionistas pode proporcionar um fluxo

    adequado de matria e energia para os agroecossistemas, favorecendo os

    processos de ordenao e a qualidade do solo.

    O Sistema Solo e a Matria Orgnica

    Adiscott (1995) descreve o solo como um sistema aberto, onde o fluxo de

    matria e energia controlado por seus processos internos e, sobretudo, por

    suas relaes com o ambiente externo (Fig. 1). As caractersticas atuais do

    solo so resultantes de um longo processo de formao, no qual so

    combinados os fatores: material de origem, clima, topografia, organismos e

    tempo (Resende et al., 1997). O material de origem serve de base para a

    formao da frao mineral, constituda por partculas de tamanho variado

    (areia, silte e argila), contendo uma combinao de minerais primrios e

    secundrios. Seguindo o processo de intemperismo, os minerais primrios

    (aqueles encontrados nas rochas de origem) vo sendo gradativamente

    transformados em minerais secundrios. Nos solos tropicais, a frao argila

    dominada por minerais secundrios de baixa atividade, como argilas

    silicatadas do grupo das caulinitas e xidos e hidrxidos de Fe e Al. A frao

    areia, por sua vez, dominada por minerais primrios resistentes ao

    intemperismo, como o quartzo, e por concrees ferruginosas (em solos

    muito ricos em Fe). A frao silte tem uma composio intermediria. A

    matria orgnica do solo (MOS) composta por todo o carbono orgnico

    presente no solo, sendo considerados trs importantes reservatrios: a MOS

    transitria, composta, sobretudo, por resduos de plantas e organismos do

    Sistemas de Manejo e Matria Orgnica do Solo 21

  • solo de fcil decomposio e materiais orgnicos produzidos pela microbiota

    e razes (cidos de baixo peso molecular e polissacardeos); a MOS

    humificada, composta por materiais recalcitrantes, os quais passaram por um

    processo intenso de transformao, como cidos hmicos e flvicos, alm de

    matrias carbonizados; e a biomassa, formada pela meso e macrofauna, alm

    da microbiota do solo (Roscoe, 2005).

    Fig. 1. Representao esquemtica do processo de ordenao do solo, destacando os

    principais sub-processos e fluxos de energia e matria.

    Quando o fluxo de entrada de energia e matria no Sistema Solo resulta em saldo positivo, ocorre

    a organizao do sistema em um nvel de ordem superior. Quando o fluxo reduzido e o saldo

    negativo, ocorre o inverso, com organizao do sistema em um nvel de ordem inferior.

    22 Dinmica da Matria Orgnica do Solo em Sistemas Conservacionistas

    oxidao

    Frao mineral

    (areia, silte,argila)intemperismo

    Sistema SoloSistema SoloMaterial

    de

    origem

    C plexos

    organo-minerais

    macroagregados

    MOSMOS

    humificadahumificada

    MOSMOS

    transitriatransitria

    eroso

    lixiviao

    gua

    matria

    energia tempo

    tempo

    CO2energia

    matria

    nveis

    ordem

    Matria

    Energia

    fotossntese

    Biota do solo

    decomposio

    MOS

    gua, CO2,

    energia

    tempo

    oxidao

    Frao mineral

    (areia, silte,argila)intemperismo

    Sistema SoloSistema SoloMaterial

    de

    origem

    C plexos

    organo-minerais

    macroagregados

    MOSMOS

    humificadahumificada

    MOSMOS

    transitriatransitria

    eroso

    lixiviao

    gua

    matria

    energia tempo

    tempo

    CO2energia

    matria

    nveis

    ordem

    Matria

    Energia

    fotossntese

    Biota do solo

    decomposio

    MOS

    gua, CO2,

    energia

    tempo

    oxidao

    Frao mineral

    (areia, silte,argila)intemperismo

    Sistema SoloSistema SoloMaterial

    de

    origem

    Material

    de

    origem

    Complexos

    organo-minerais

    macroagregados

    MOSMOS

    humificadahumificada

    MOSMOS

    transitriatransitria

    eroso

    lixiviao

    gua

    matria

    energia tempo

    tempo

    CO2energia

    matria

    nveis

    ordem

    nveis

    ordem

    Matria

    Energia

    fotossntese

    Biota do solo

    decomposio

    MOS

    Matria

    Energia

    fotossntese

    Biota do solo

    decomposio

    MOS

    gua, CO2,

    energia

    gua, CO2,

    energia

    tempo

    microagregadosde

    microagregadosde

    microagregadosdede

  • Como um sistema aberto, o solo interage com outros sistemas externos, como

    as plantas e o clima (atmosfera e energia solar), conforme a Fig. 1. As plantas

    so as responsveis em transformar a energia luminosa do sol e a matria

    fornecida pela atmosfera na forma de CO e gua (proveniente das chuvas, 2

    mas que deve ser armazenada no solo para o seu aproveitamento pelas

    plantas), em energia qumica e compostos orgnicos, atravs da fotossntese.

    O solo pode absorver diretamente energia solar, a qual extremamente

    importante para regulao da temperatura e o processo de evaporao.

    Entretanto, a principal fonte de energia e matria para a biota do sistema solo

    vem da deposio de resduos de plantas e animais e de exsudatos

    radiculares (Roscoe, 2005). Os diversos resduos que entram no solo so

    gradativamente transformados em MOS, podendo interagir com a frao

    mineral no processo de agregao do solo. Em uma primeira etapa, ocorre a

    interao da frao mineral com MOS humificada, formando complexos

    organo-minerais. Em uma segunda fase, com a incluso de mais MOS

    humificada e parte de MOS transitria, h a formao de microagregados.

    Finalmente, os ltimos so unidos uns aos outros, formando

    macroagregados. A energia necessria para a formao desses agregados

    maiores vem, sobretudo, do crescimento de razes e hifas fngicas e da ao

    mecnica de organismos da macrofauna (formao de tneis, retrabalho em

    mandbulas e trato intestinal), sendo que a estabilizao, por sua vez,

    promovida por MOS transitria (principalmente polissacardeos). Nessa

    reao em cadeia tem-se, como resultado, o incremento no grau de

    ordenao do solo e de complexidade das relaes no Sistema Solo; tal

    processo possibilita o surgimento de propriedades emergentes, que conferem

    maior capacidade ao sistema resistir a perturbaes, como melhor infiltrao

    e armazenamento de gua, maior aerao, menor resistncia ao crescimento

    de razes, melhores condies para o desenvolvimento da biota do solo e das

    prprias plantas (Bayer, 2004). O processo de ordenao do solo depende

    diretamente da atividade biolgica, a qual a responsvel por intermediar o

    fluxo de energia e matria no sistema, a partir da transformao dos resduos

    orgnicos.

    Processos dissipativos ocorrem, por sua vez, quando h um

    comprometimento do fluxo de energia e matria ao sistema, com ruptura de

    agregados e ao aumento na taxa de oxidao da MOS (Fig. 1). Como

    conseqncia, tem-se uma reduo na energia armazenada e alteraes na

    organizao dos componentes do sistema em um nvel inferior, culminando

    Sistemas de Manejo e Matria Orgnica do Solo 23

  • em compactao, baixa resistncia eroso, menor infiltrao e reteno de

    gua e, conseqentemente, menor produtividade do sistema vegetal

    (Roscoe, 2005).

    A Matria Orgnica do Solo e o Processo

    de Degradao do Solo

    Em ambientes tropicais, o processo de degradao dos solos encontra-se

    intimamente relacionado dinmica da matria orgnica (Feller & Beare,

    1997). Diversos autores tm ressaltado que a converso da vegetao nativa

    em rea de produo agrcola pode reduzir drasticamente os teores de MOS,

    devido ao menor suprimento de resduos e ao aumento na taxa de

    decomposio, assim como a elevao nas perdas das camadas superficiais

    do solo por eroso (Andreux, 1996; Feller & Beare, 1997; Bayer & Mielniczuk,

    1999; Christensen, 2000, 2001; Carter, 2001). Desta forma, h uma reduo

    no fluxo de matria e energia no solo, favorecendo processos dissipativos

    (Fig. 1). Em virtude de suas importantes funes nos processos fsicos,

    qumicos e biolgicos no solo, a perda de MOS retro-alimenta o processo de

    degradao, promovendo a desorganizao do sistema (Fig. 1), resultando

    em menores produes de biomassa e maiores perdas de nutrientes, gua e

    solo (Fig. 2).

    Os sistemas convencionais de cultivo, envolvendo arao e gradagem, so

    considerados os de maior poder de degradao, resultando na maioria das

    vezes na reduo dos teores de MOS (Bayer & Mielniczuk, 1999; Resck et al.,

    1999). Segundo Bayer & Mielniczuk (1999), as perdas da MOS so

    favorecidas, principalmente, pelo revolvimento do solo e conseqente

    destruio dos agregados, maior fragmentao e incorporao dos resduos

    vegetais e diminuio da cobertura do solo, que resultam em alteraes na

    temperatura, umidade e aerao do solo. Silva et al. (1994) trabalharam com

    220 amostras de trs diferentes classes de solo da regio do Cerrado,

    cultivados continuamente com soja e utilizando grade pesada. Os autores

    observaram elevadas perdas de MOS em cinco anos de cultivo. As redues

    foram de 80% em relao aos teores iniciais para Neossolos Quartzarnicos

    (< 15% de argila), 76% para Latossolos Vermelho Amarelos textura mdia

    (15-30% de argila) e 41% para Latossolos Vermelho Amarelos argilosos

    (> 30% de argila). Entretanto, nem todos os estudos registram perdas de

    24 Dinmica da Matria Orgnica do Solo em Sistemas Conservacionistas

  • MOS com o cultivo convencional. Freitas et al. (2000) no registraram perdas

    de MOS aps 25 anos de cultivo de culturas diversas (hortalias, arroz, milho e

    feijo), em um Latossolo Vermelho distrfico. Roscoe & Buurman (2003),

    tambm em um Latossolo Vermelho distfico muito argiloso, observaram

    estoques de carbono similares em reas sob vegetao nativa de cerrado

    sensu-stricto e cultivadas com milho e feijo em sucesso por 30 anos. A alta

    estabilidade da matria orgnica em Latossolos muito argilosos vem sendo

    atribuda presena de altos teores de oxi-hidrxidos de ferro e alumnio, que

    complexariam a MOS, estabilizando-a (Resende et al., 1997; Roscoe et al.,

    Menor

    aporte de C

    (energia) ao solo

    Monocultivo

    Solo descoberto

    Uso de grades de discos

    Maior

    escorrimento

    superficial

    Selamento

    superficial

    Manejo inadequado do Manejo inadequado do

    agroagro--ecossistemaecossistema

    Reduo da produtividade

    das plantas

    Menor cobertura do

    solo

    Menor suprimento de

    Matria Orgnica

    Reduo da

    CTC

    Menor formao

    de agregados

    Reduo da MO transitria

    (MOP ou MO leve)

    Reduo da estabilidade

    dos agregados

    Reduo da

    infiltrao

    Desagregao e

    disperso do solo

    Aumento no arraste

    de partculas

    Perda de

    nutrientes

    Perda de

    nutrientes

    ErosoEroso

    Menor atividade

    biolgica

    Reduo da MO humificada

    (MO em COM ou pesada)

    Reduo da

    permeabilidade e

    aerao

    Perda de guaPerda de gua

    Fig. 2. Esquema representativo do processo de degradao do solo ligado perda de

    matria orgnica. O uso do agro-ecossistema de forma inadequada reduz a

    fotossntese e o aporte de carbono ao solo, resultando na perda de MOS e da cobertura

    do solo. O solo descoberto recebe a ao direta das gotas de chuva, desencadeando o

    processo de eroso e contribuindo para perda de gua e nutrientes. A reduo da MOS

    afeta os processos de formao e estabilizao de agregados do solo, atividade

    biolgica e ciclo de nutrientes, contribuindo para a perda de nutrientes, solo e gua.

    Essas perdas, por sua vez, retro-alimenta o processo de degradao, reduzindo o

    potencial produtivo do agro-ecossistema (este feedback positivo representado pelas

    setas em semicrculo).

    Sistemas de Manejo e Matria Orgnica do Solo 25

  • 2000a). Isso pode ser evidenciado pelas altas percentagens de C nas fraes -3

    pesadas (densidade > 1,7 g cm ), aquelas representadas pela MOS ligada

    matriz mineral (Gregorich & Ellert, 1993). Geralmente, em torno de 90% do C

    encontra-se nesta frao em Latossolos argilosos (Roscoe et al., 2001;

    Roscoe & Machado, 2002).

    Mesmo sem haver decrscimo acentuado nos teores de MOS, a ocorrncia de

    redues em alguns de seus compartimentos pode desencadear o processo

    de degradao. No estudo de Roscoe & Buurman (2003), embora no tenham

    detectado alteraes nos teores totais de MOS aps 30 anos de cultivo, os

    autores detectaram significativa reduo nos estoques de C na frao leve -3

    livre (densidade < 1,7 g cm ) da MOS, ressaltando que a frao orgnica que

    no estava ligada frao mineral (livre) foi a mais sensvel s alteraes no

    ambiente. Segundo Roscoe & Buurman (2003), o erro experimental nas

    medies dos teores totais de MOS foi, em termos absolutos, maior que as

    variaes observadas nas fraes leves, mascarando o efeito de reduo do

    C orgnico nessa frao especfica, na rea cultivada. Outros estudos

    mostraram que o sistema de plantio convencional reduz significativamente a

    biomassa microbiana e a atividade enzimtica do solo (Roscoe et al., 2000b).

    A reduo de fraes mais ativas da MOS, como a frao leve livre e o C na

    biomassa microbiana, pode afetar diversas de suas funes no solo. A

    manuteno da produo de polissacardeos, por exemplo, fundamental

    para a manuteno da agregao (Golchin et al., 1997), sendo que estes

    compostos so transitrios no solo e so degradados rapidamente

    (Stevenson & Cole, 1999). A manuteno de seus nveis depende da atividade

    biolgica. Portanto, uma reduo nas fraes leve livre e C na biomassa

    microbiana, que representam as fraes mais ativas da MOS, favoreceria a

    desorganizao do sistema, deslocando-o para um nvel de ordem inferior,

    resultando em uma menor estabilidade de agregados, desencadeando o

    processo de degradao (Fig. 1 e 2).

    Conforme observado, no somente os teores totais de MOS so importantes

    para o entendimento dos processos de degradao do solo. Faz-se

    necessrio o estudo detalhado de suas diferentes fraes, relacionando

    alteraes quantitativas e qualitativas dessas fraes, aos distrbios

    provocados em suas funes na manuteno da qualidade do solo. Quando

    se faz tal anlise, pode-se concluir que os sistemas convencionais de cultivo

    promovem degradao e perda de qualidade do solo, mesmo em Latossolos

    ricos em oxi-hidrxidos de ferro e alumnio, nos quais so observadas

    26 Dinmica da Matria Orgnica do Solo em Sistemas Conservacionistas

  • alteraes pequenas (ou mesmo nenhuma reduo) nos teores totais de

    MOS.

    Sistemas Conservacionistas como Alternativa Degradao

    O sistema plantio direto (SPD) representa uma alternativa de manejo

    altamente conservacionista, apresentando vantagens como o controle da

    eroso hdrica e a melhoria na qualidade do solo e da gua. Por no revolver o

    solo, deixando os resduos vegetais na superfcie, o SPD interfere menos na

    taxa de decomposio da MOS, o que favorece a manuteno e at o acmulo

    da mesma (Bayer & Mielniczuk, 1999; Resck et al., 1999). Como a MOS est

    relacionada a importantes atributos de qualidade do solo, como atividade

    biolgica, ciclagem de nutrientes, agregao do solo, dinmica da gua,

    resistncia eroso, etc., sua preservao, atravs do SPD, constitui-se em

    uma das principais vantagens da adoo desse sistema.

    Resultados de pesquisa, no entanto, no tm sido conclusivos quanto ao

    acmulo de C no SPD. Enquanto em alguns trabalhos observaram-se

    incrementos significativos nos teores de MOS, quando comparados a

    sistemas convencionais (Bayer & Mielniczuk, 1997a,b; Tognon et al., 1997;

    Bayer & Mielniczuk, 1999; Resck et al., 1999; Bayer et al., 2000a,b), em outros

    estudos nenhuma diferena significativa foi observada entre os tratamentos

    (Maria & Castro, 1993a,b; Freitas et al., 2000; Roscoe et al., 2000b; Roscoe &

    Buurman, 2003). A discrepncia nos resultados de pesquisa vem sendo

    atribuda s diferenas entre as condies experimentais e ao que se

    convenciona chamar de SPD. Primeiramente, muitos trabalhos avaliam

    sistemas com tempos de usos diferentes. O acmulo de MOS no SPD tende a

    ocorrer lentamente, sendo necessrios alguns anos para que se mostrem tais

    tendncias (Bayer & Mielniczuk, 1999). Outro fator o clima, sendo que os

    resultados referentes Regio Sul do Brasil geralmente apresentam

    incrementos significativos nos teores de C para SPD (Bayer & Mielniczuk,

    1997a,b; 1999). Isso pode estar relacionado s condies climticas da regio

    subtropical, onde as taxas de decomposio de C so menores, em

    comparao com a regio tropical como ocorre no Cerrado a na Amaznia

    (Feller & Beare, 1997; Bayer & Mielniczuk, 1999). Experimentos realizados na

    regio do Cerrado, em geral, no apresentam teores significativamente

    Sistemas de Manejo e Matria Orgnica do Solo 27

  • maiores de C para o SPD em comparao ao sistema convencional, o que

    vem sendo atribudo maior intensidade do processo de decomposio da

    MOS, em funo das altas temperaturas (Freitas et al., 2000; Roscoe et al.,

    2000b; Roscoe & Buurman, 2003).

    Outro fator a ser considerado para explicar os diferentes resultados obtidos

    entre a Regio Sul e o Cerrado seria o histrico de utilizao das reas. A

    produo de gros no Cerrado um fenmeno relativamente recente e,

    freqentemente, as reas convertidas para lavouras substituram pastagens,

    em sua maioria de Brachiaria spp. Existe ampla literatura cientfica, tanto na

    Amaznia (e.g.; Koutika et al., 1997; Trumbore et al., 1995; Neill et al., 1997;

    Bernoux et al., 1999) como nas regies da Mata Atlntica e do Cerrado

    (Corazza et al., 1999; Freitas et al., 2000; Tarr et al., 2001; Boddey et al.,

    2002), que mostra que as pastagens promovem a manuteno dos estoques

    do MOS no solo, e no caso de pastagens mantidas produtivas com boas

    prticas de manejo (adubao de manuteno e lotao animal apropriada),

    s vezes superam queles originalmente observados no solo sob a vegetao

    nativa. Em contraste, na Regio Sul, a maioria das reas onde foram

    conduzidos esses estudos encontrava-se sob plantio convencional (PC) e os

    estoques do C no incio dos estudos eram inferiores aos nveis encontrados no

    solo sob a vegetao nativa. Quando os solos continuaram sob PC, os nveis

    de MOS abaixaram numa taxa bem menor, em comparao com reas

    recentemente desmatadas ou aps vrios anos de pastagem. Desta forma, a

    implantao do SPD, em solos manejados sob PC h muitos anos tenderia a

    acumular C mais rapidamente, enquanto em regies do Cerrado, onde as

    reas estavam sobre vegetao nativa ou pastagens, seria mais demorado

    para os estoques do C sob SPD superassem o da vegetao anterior.

    Tambm importante considerar a produo de massa vegetal e aporte de

    resduos. Na Regio Sul, os cultivos de outono/inverno, com espcies para

    cobertura do solo, vm sendo utilizados com sucesso, devido ao regime de

    chuvas mais bem distribudo, quando comparado regio do Cerrado. Nesta,

    as culturas de safrinha so relativamente recentes e as semeaduras de

    inverno viabilizam-se somente sob irrigao, na maior parte da regio. Isso

    garante um maior potencial para a produo de resduos nos sistemas de

    rotao da Regio Sul. No obstante, mesmo neste ambiente, tratamentos

    que no incluam, no esquema de rotao de culturas, materiais com alto

    aporte de resduos, tendem a apresentar incrementos discretos nos estoques

    de C, ou mesmo ausncia de qualquer diferena em relao a sistemas

    28 Dinmica da Matria Orgnica do Solo em Sistemas Conservacionistas

  • convencionais (Bayer & Mielniczuk, 1997a,b; 1999). importante considerar

    tambm que nestas condies as taxas de decomposio dos resduos so

    maiores, favorecidas pela presena de umidade no solo. Sendo assim, no

    basta dispor uma cultura dentro do sistema de rotao com alto aporte de

    resduos. Na realidade, o sistema de culturas como um todo que deve retornar

    quantidades elevadas de resduos para o solo, de forma a possibilitar saldo

    positivo no balano entre entrada e sada de C no solo. Bayer (1996) obteve

    quantidades crescentes de material orgnico fornecidos por sistemas de -1 -1

    rotao envolvendo aveia/milho (14 Mg ha ), aveia + trevo/milho (18 Mg ha ) e -1

    aveia + trevo/milho + caupi (21 Mg ha ). Bayer & Mielniczuk (1997a) relataram

    que, nas reas com esses tratamentos e sob SPD por 5 anos, houve aumento

    no teor de MOS seguindo a mesma ordem. Comparando o tratamento com

    menor aporte de resduos (sucesso aveia/milho), sob sistema convencional,

    ao de maior aporte (rotao aveia + trevo/milho + caupi), sob SPD, os autores -1

    observaram uma diferena de 6 Mg ha de carbono em favor do SPD, na

    camada de 0-17,5 cm.

    Entretanto, nem sempre maiores quantidades de resduos culturais

    depositadas resultam em uma maior acumulao de MOS no solo. Por

    exemplo, Maria et al. (1999) comparou os efeitos na acumulao de MOS (0-

    30 cm) de 9 anos de milho ou soja no vero, ambos com aveia no inverno sob -1

    SPD e PC. Apesar dos rendimentos de milho (5,6 a 5,7 Mg ha ) terem sido -1

    mais do que o dobro dos rendimentos de soja (2,1 a 2,4 Mg ha ), esta

    contribuio muito maior de resduos do milho no proporcionou uma

    acumulao maior de MOS sob PC, nem sob SPD. Em ambas as sucesses

    sob SPD e PC os nveis de MOS diminuram em todos os tratamentos.

    Resultados recentes (Alves et al., 2002, 2003; Sisti et al., 2004) indicaram que

    o balano de nitrognio no sistema um determinante crucial na acumulao

    de MOS sob SPD. Os resultados de Alves et al. (2002) mostraram que, alm

    de a soja manejada sob SPD ser capaz de acumular at 80 % do seu N da

    fixao biolgica de nitrognio (FBN), a proporo do N da cultura exportada

    , freqentemente, muito semelhante, deixando, no solo, baixas quantidades

    de N para as culturas subseqentes. bvio que a MOS contm no somente

    carbono, mas tambm outros nutrientes, sendo nitrognio quantitativamente -1

    o mais importante. Para acumular 1 Mg ha de C no solo na forma de MOS -1

    necessrio pelo menos 80 kg N ha (Alves et al., 2002). Como aps o cultivo

    da soja o saldo praticamente nulo de N para a formao de MOS,

    improvvel que o solo sob sucesses de soja/trigo ou soja/aveia acumule

    MOS ao longo do tempo. Machado et al. (2001) e Freixo et al. (2002)

    Sistemas de Manejo e Matria Orgnica do Solo 29

  • registraram resultados semelhantes na avaliao dos estoques de MOS sob

    sucesses de soja/trigo manejadas com SPD em dois estudos de longo prazo

    conduzidos na Embrapa Trigo (Passo Fundo, RS) e Embrapa Soja (Londrina

    PR). Isso foi confirmado no mesmo experimento de longo prazo em Passo

    Fundo por Sisti et al. (2004), mas em outros tratamentos no mesmo

    experimento onde foi incorporada nas rotaes a leguminosa ervilhaca no

    inverno, registrou-se uma diferena em estoque do C de 17 Mg C (0-100 cm)

    em favor do SPD, quando comparado ao PC, em um perodo de 13 anos.

    Quase todos os outros estudos feitos no Rio Grande do Sul (Bayer e

    Mielniczuk, 1997; Bayer e Bertol, 1999; Amado et al., 1999, 2001; Bayer et al.,

    2000a,b; Diekow et al., 2005), que registraram maiores estoques de MOS sob

    SPD comparado a PC, uma leguminosa fixadora de N , alm da soja, estava 2

    presente nas rotaes sob estudo. No caso do estudo de Maria et al. (1999)

    mencionado anteriormente, uma das sucesses foi soja/aveia e a outra -1

    milho/aveia. Mesmo tendo sido o milho adubado com 91 kg N ha , o N retirado -1 -1

    no gro provavelmente foi mais de 70 kg N ha (5,6 Mg ha x 1,3% N);

    portanto, assumindo que teriam algumas perdas de N do fertilizante ou da

    mineralizao rpida dos resduos de soja (de baixa ralao C:N), em ambos

    as sucesses o balano do N teria sido nulo. Isso sugere que, para uma maior

    obteno de resduos e, conseqentemente, um acmulo de MOS, o sistema

    de rotao deve incluir culturas com alto aporte de resduos (como as

    gramneas) e outras que teriam a funo de inserir nitrognio no sistema (as

    leguminosas). O que explicaria tal tendncia seria o fato de as gramneas

    serem extremamente responsivas a nitrognio. Assim, tendo uma boa

    quantidade de N entrando no sistema atravs das leguminosas, a produo

    de biomassa das gramneas subseqentes estariam sendo favorecidas.

    Em contraste Regio Sul, a menor durao da estao de chuvas da regio

    do Cerrado raramente permite que sejam includas outras leguminosas alm

    da soja no esquema de rotaes. Por esse motivo, muito pouco provvel que

    as rotaes apresentem um balano anual de N positivo e portanto um

    acmulo de MOS. Embora o SPD conserve mais a MOS do que o PC, espera-

    se que, caso no sejam adicionadas via fertilizantes quantidades de N

    superiores s exportadas nos gros, o SPD somente mantenha os nveis

    existentes. No entanto, quando as quantidades de C aportadas so elevadas,

    como no caso de pastagens de braquiria, expressivos aumentos no estoque

    de C no solo foram verificados para Latossolos de Mato Grosso do Sul, com a

    rotao soja-pastagem em PD (Salton et al, 2005).

    30 Dinmica da Matria Orgnica do Solo em Sistemas Conservacionistas

  • Os resultados anteriores sugerem que o aporte de resduos um componente

    fundamental no processo de manuteno e acmulo de MOS no SPD.

    Entretanto, limitado o que se sabe sobre o potencial produtivo de diferentes

    espcies, em sistemas de rotaes/sucesses de cultura no SPD. So

    poucas as informaes quantitativas e, sobretudo, qualitativas. Resultados

    preliminares, obtidos em campos experimentais da Embrapa Agropecuria

    Oeste (Dourados, MS), demonstraram que os teores de lignina e

    hemicelulose na palhada de aveia podem variar significativamente entre o

    sistema convencional (grade pesada), SPD e integrao lavoura

    (SPD)/pastagem (Mercante et al., dados no publicados). Estudos adicionais

    so necessrios para elucidar o potencial de produo dos diferentes

    resduos e como os mesmos estariam influenciando a dinmica da MOS no

    SPD.

    Mesmo sem alterar os teores de C, o SPD pode alterar a distribuio relativa

    de suas fraes ou reservatrios funcionais, interferindo na qualidade do solo

    e nas produtividades das culturas. O fracionamento fsico da MOS possibilitou

    a execuo de vrios trabalhos em diferentes ambientes, demonstrando entre

    outras coisas a sensibilidade da frao lbil, que corresponde MO

    particulada ou leve, respectivamente para os mtodos granulomtricos ou

    densimtricos. Variaes no estoque desta frao podem detectar alteraes

    na qualidade do sistema de manejo adotado, o que nem sempre perceptvel

    ao avaliar apenas o estoque de COT no solo (Diekow et al., 2005; Salton,

    2005).

    Roscoe et al. (2000b) avaliaram, em um Latossolo Vermelho distrfico muito

    argiloso, o efeito do sistema de preparo do solo no teor de MOS, atividade da

    enzima urease, teores de nitrognio na biomassa, recuperao do N-uria

    aplicado e produtividade de milho. Os autores observaram que, embora no

    houvesse diferena no teor de matria orgnica entre os tratamentos, o SPD

    apresentou os maiores valores para as demais variveis avaliadas, quando

    comparado a dois outros sistemas convencionais (arado de disco e de

    aiveca). A atividade da urease correlacionou-se positivamente com a

    produo de matria seca total e produo de gros de milho, sendo que as -1

    produtividades mximas de milho foram maiores para o SPD (6.177 kg ha ) do -1

    que para os demais sistemas (4.640-5.045 kg ha ).

    Estudos conduzidos na Embrapa Agropecuria Oeste, num Latossolo

    Vermelho distrofrrico tpico, demonstraram teores de C da biomassa

    microbiana mais expressivos no sistema natural (mata nativa), seguido pelo

    Sistemas de Manejo e Matria Orgnica do Solo 31

  • sistema integrado lavoura-pecuria, SPD, pastagem contnua e sistema

    convencional de cultivo. Anlises em trs pocas de avaliao (florescimento,

    pr-plantio e plantio de culturas de inverno) evidenciaram uma reduo nos

    teores de C da biomassa microbiana no sistema convencional em relao ao

    SPD, em torno de 10%, 28% e 10%, respectivamente, embora nenhuma

    alterao no teor total de C foi observada (Mercante et al., 2000). De maneira

    similar, Balota et al. (1998) observaram, em solos do Paran, que o SPD

    proporcionou maiores incrementos na biomassa microbiana, na respirao

    basal e na relao entre o C microbiano e C orgnico total do solo.

    Uma alternativa promissora para a regio tropical refere-se combinao de

    ciclos de culturas anuais com pastagens (integrao lavoura-pecuria - ILP),

    garantindo grandes aportes de resduo e elevada taxa de acmulo de MOS

    (Vilela et al. 2003; Salton, 2005). Nas pastagens bem manejadas, as elevadas

    produes de resduos, associadas ao no-distrbio do solo, favorecem o

    processo de acmulo de MOS (Roscoe, 2005). A produtividade das pastagens

    e, consequentemente, a sua produo de resduos, est associada a vrios

    fatores como os inerentes prpria espcie, sistema radicular, nveis de

    adubao, disponibilidade de N (Fagundes et al, 2005) e, principalmente, ao

    manejo das pastagens (Schunke, 2000; Franzluebbers, 2005). Silva et al.

    (2004), estudando o acumulo de carbono em pastagens sob diferentes tipos

    de manejo em solos de Cerrado, observaram taxas de acmulo variando de -1 -1 -1 -1

    negativas (-0,87 Mg ha ano de C) a altamente positivas (3 Mg ha ano de

    C). Segundo os autores, pastagens bem manejadas, com adubao de

    manuteno e consrcio com leguminosas, favorecem o acmulo de C no

    solo, enquanto pastagens degradadas e superpastejadas tendem a perder

    carbono. Na ILP, as culturas antecessoras pastagem podem favorecer a sua

    produtividade, pois h uma tendncia de melhor aproveitamento dos

    nutrientes residuais das adubaes pelas forrageiras (Machado et al., 1999).

    Salton (2005), trabalhando com trs experimentos de longa durao em Mato

    Grosso do Sul, obtiveram uma seqncia relativa ao acmulo de carbono no

    solo, em funo de diversos sistemas de uso, partindo de valores negativos

    para soja em sistema convencional, passando por valores neutros com a ILP e

    culminando com valores superiores vegetao nativa para pastagens bem

    manejadas (Fig. 3). Esse trabalho ilustra bem a possibilidade de elevao nos

    nveis de carbono no solo atravs da adoo de sistemas de manejo

    integrando lavouras e pastagens.

    32 Dinmica da Matria Orgnica do Solo em Sistemas Conservacionistas

  • Fig. 3. Valores relativos de estoques mdios de carbono orgnico (COT) no solo, em

    sistemas de manejo ordenados em funo do aporte de C via fitomassa (fluxo de

    energia), em experimentos de longa durao na regio Centro Oeste do Brasil.

    Fonte: Salton, (2005).

    Vegetao natural = 100%, as barras indicam o valor do desvio padro da mdia, quando

    n>1. L-PC: soja em plantio convencional; L-PD: soja em plantio direto; S4P4: rotao soja por

    4 anos pastagem (P. maximum) por 4 anos; S1P3: rotao soja por 1 ano pastagem (B.

    brizantha) por 3 anos; S2P2: rotao soja por 2 anos pastagem (B. decumbens) por 2 anos; PP:

    pastagem permanente (B. decumbens); e PP+L: pastagem permanente (B. decumbens)

    consorciada com leguminosa.

    Produo de fitomassa/Fluxo de energia

    120

    100

    110

    90

    80

    70

    60

    L-PC S4P4 S1P3 S2P2 PP PP + LL-PD

    0

    Sistemas de Manejo e Matria Orgnica do Solo 33

  • Consideraes Finais

    O cultivo convencional promove uma significativa perturbao na dinmica e

    no desempenho das funes da MOS, podendo reduzir os seus teores totais

    ou, como em solos argilosos ricos em oxi-hidrxidos de Fe e Al, somente de

    algumas de suas fraes mais dinmicas, como a leve-livre ou particulada e a

    biomassa microbiana. Tal perturbao pode desencadear o processo de

    degradao e de perda da qualidade do solo.

    O sistema plantio direto, devido a sua caracterstica de no-revolvimento do

    solo, tem o potencial de reduzir os efeitos danosos do sistema convencional,

    preservando a MOS. Entretanto, esse potencial afetado por particularidades

    do sistema de manejo adotado, as quais resultam no aporte e na qualidade

    dos resduos adicionado ao sistema. Evidncias apontam para uma efetiva

    manuteno da MOS em sistemas de rotao com elevado aporte de

    resduos, envolvendo culturas de inverno. Os trabalhos avaliados sugerem,

    ainda, que as maiores quantidades de resduos esto sempre relacionadas

    presena de mais de uma cultura fixadora de nitrognio no esquema de

    rotao. Sucesses contendo somente soja, seguida de aveia ou milho

    safrinha, parecem no fornecer nitrognio suficiente para o sistema. Cabe

    ressaltar que o balano positivo de N no sistema ir favorecer o acmulo de

    MOS, no pelo maior aporte de resduos da prpria leguminosa fixadora, mas

    sim pela maior produtividade das gramneas presentes no esquema de

    rotao, visto que essas so extremamente responsivas ao N. Em esquemas

    de rotao onde no ocorra o devido suprimento de N pela fixao biolgica

    necessria a utilizao de fertilizantes minerais para a manuteno de

    balano positivo de N no sistema.

    A integrao lavoura pecuria surge como uma alternativa interessante para

    reas onde h dificuldades de estabelecimento de sistemas de rotao de

    culturas que sejam capazes de fornecer grandes aportes de resduos para o

    solo, situao observada para a maior parte do Centro-Oeste do Brasil.

    Entretanto, vale ressaltar que, mesmo nesses sistemas, o suprimento de

    resduos dependente de um manejo adequado das pastagens.

    34 Dinmica da Matria Orgnica do Solo em Sistemas Conservacionistas

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    42 Dinmica da Matria Orgnica do Solo em Sistemas Conservacionistas

  • Resumo - Nas ltimas duas dcadas, os ecossistemas terrestres vm sendo considerados to importantes quanto os oceanos na retirada e no

    armazenamento de carbono da atmosfera, mitigando o efeito estufa. Embora

    no seja considerado no mbito do Protocolo de Kyoto como uma atividade

    elegvel para as compensaes de emisses, o sistema plantio direto vem

    sendo apontado como uma alternativa promissora no seqestro de carbono

    atmosfrico, ao promover a manuteno e o aumento da matria orgnica do

    solo. Entretanto, existem ainda vrias restries metodolgicas para uma

    efetiva contabilizao do seqestro de carbono no solo sob sistema plantio

    direto. Uma das alternativas viveis para tal contabilizao a modelagem

    matemtica e simulao da dinmica da matria orgnica do solo. Desta

    forma possibilitaria a incluso do seqestro de carbono no solo sob sistema

    plantio direto nos inventrios nacionais de emisses e a incluso de tal

    alternativa mitigadora em acordos internacionais. No entanto, avanos so

    ainda necessrios para adaptao dos simuladores para as condies

    tropicais e subtropicais.

    Renato Roscoe

    Seqestro de Carbono no

    Sistema Plantio Direto:

    Possibilidades de Contabilizao

    2

  • Abstract - In the last two decades, terrestrial ecosystems have been considered as important as oceans in fixing and accumulation atmospheric

    carbon, mitigating greenhouse effect. Although not eligible as an activity for

    emission compensation in the Kyoto Protocol, no-tillage system has been

    considered as an promising alternative to atmospheric carbon sequestration,

    since it promotes soil organic matter maintenance and increase. Nevertheless,

    there are still several methodological restrictions for an effective assessment

    of carbon sequestration under no-tillage system. Mathematical modeling and

    simulation of soil organic matter dynamics has a great potential as a suitable

    alternative for such a assessment, which would allow the inclusion of carbon

    sequestration under no-tillage system in the national emission inventories.

    This would allow the inclusion of such a mitigating alternative in international

    agreements. However, improvements are still necessary for the adaptation of

    models to tropical and subtropical conditions.

    Carbon Sequestration on No Tillage

    System: Accounting Possibilities

    44 Dinmica da Matria Orgnica do Solo em Sistemas Conservacionistas

  • Introduo

    As mudanas no ambiente causadas pelas atividades humanas tm

    provocado srios problemas ambientais, como a reduo da biodiversidade e

    a degradao do solo e da gua. Mais recentemente, com o avano dos

    conhecimentos cientficos, pesquisadores comearam a perceber que a

    atividade humana tem afetado, ainda, a atmosfera. Estudos iniciados no final

    da dcada de 70 e intensificados nos ltimos 20 anos acumularam evidncias

    de que o homem vem causando alteraes significativas na composio da

    atmosfera, emitindo quantidades crescentes de gases causadores de efeito

    estufa (GEE). O aumento da temperatura na superfcie terrestre est

    associado elevao da concentrao destes gases, o que gera alteraes

    significativas no clima do planeta.

    Dentre os GEEs emitidos pelas atividades antropognicas, o gs carbnico

    responsvel por cerca de 70% do potencial de elevao da temperatura

    terrestre. Nos ltimos 250 anos, a concentrao de CO na atmosfera 2

    aumentou 31%, alcanando os atuais 366 ppm, mais alto nvel observado nos

    ltimos 420 mil anos (Watson et al. , 2001).

    O carbono emitido pelo homem vem, sobretudo, da queima de combustveis

    fsseis e da mudana no uso da terra. O petrleo, carvo mineral e gs natural

    representam a base da produo de energia na sociedade atual, respondendo

    por dois teros de toda a energia consumida mundialmente. Por essa razo,

    as emisses de CO provenientes da queima de combustveis fsseis 2

    atingiram valores quatro vezes superiores quantidade emitida pela mudana

    no uso da terra, nas ltimas duas dcadas. No obstante, ao longo da histria

    da humanidade, a substituio de florestas por pastagens ou culturas anuais

    foi responsvel por grandes redues nos estoques de carbono nos

    ecossistemas terrestres, ao longo da histria da espcie humana. Como as

    mudanas na matriz energtica tm um custo econmico extremamente

    elevado, acredita-se que a recuperao dos estoques de carbono em

    ecossistemas terrestres, que sofreram perda ao longo de sua histria de

    utilizao, possa mitigar os efeitos das atividades humanas, re-absorvendo

    carbono no solo e na vegetao. Adotando-se estratgias conservacionistas,

    os ecossistemas terrestres poderiam armazenar o excesso de carbono

    emitido para a obteno de energia, permitindo o desenvolvimento

    tecnolgico e a substituio da matriz energtica por fontes renovveis.

    Seqestro de Carbono no Sistema Plantio Direto: Possibilidades de Contabilizao45

  • Neste contexto, tem-se avaliado o potencial de sistemas conservacionistas

    em retirar o carbono da atmosfera, armazenando-o no solo. O sistema plantio

    direto (SPD), por no promover o revolvimento do solo e a incorporao dos

    resduos vegetais, tende a preservar a matria orgnica do solo, mantendo ou

    at elevando os estoques de carbono neste reservatrio. Entretanto, existem

    processos importantes envolvidos, os quais determinam ou no o acmulo de

    carbono nos sistemas. O entendimento de tais processos, em um sistema

    complexo como o solo, exige a integrao de conhecimentos em uma

    abordagem sistmica.

    Neste captulo, apresenta-se o ciclo global do carbono e os processos

    envolvidos em seu balano nos ambientes terrestres. O objetivo foi o de

    discutir o papel do sistema plantio direto no contexto da mitigao das

    emisses de gases de efeito estufa, assim como, a importncia da

    modelagem matemtica e simulao da dinmica da matria orgnica do solo

    para o entendimento deste papel.

    Ciclo Global do Carbono

    As quantidades de CO na atmosfera resultam do balano entre fontes e 2

    sumidouros nos seus principais reservatrios: os ecossistemas terrestres, os

    oceanos e a litosfera (Fig. 1). O maior reservatrio de carbono na Terra

    encontra-se nas rochas sedimentares, sendo estimado em 66 bilhes de Gt

    de C (German Bundestag, 1989). Os fluxos de carbono entre a atmosfera e

    esse imenso reservatrio ocorrem lentamente, com taxas anuais

    extremamente baixas. O CO atmosfrico, por sua vez, pode ser absorvido 2

    1

    nos ecossistemas terrestres, principalmente, pela fotossntese e, nos

    oceanos, atravs da fotossntese e da dissoluo na forma de carbonatos

    (Schlesinger, 1997; Wigley & Schimel, 2000). Nos ecossistemas terrestres, o

    CO fixado pela vegetao segue vrios caminhos, sendo parcialmente 2

    consumido pela respirao dos prprios autotrficos e, posteriormente,

    servindo de fonte bsica de energia para os demais sistemas heterotrficos.

    Esses organismos consomem parte do carbono pela respirao e repassam

    (1)

    Solos alcalinos tambm podem fixar pequenas quantidades de CO atmosfrico na forma de 2

    carbonatos. Porm este processo restringe-se a solos de regies semi-ridas e tem uma

    contribuio irrisria quando comparado fotossntese.

    46 Dinmica da Matria Orgnica do Solo em Sistemas Conservacionistas

  • Fig. 1. Ciclo biogeoqumico do carbono: o C flui entre a atmosfera, oceanos,

    sedimentos e ecossistemas terrestres (biomassa + solo). Em seu ciclo geoqumico, as

    molculas de CO da atmosfera so dissolvidas nos oceanos na forma de carbonatos e 2

    so lentamente depositadas como sedimentos, retornando naturalmente atmosfera

    somente com a movimentao de placas tectnicas, no processo de subduco,

    levando um tempo mdio de 400 milhes de anos. O C atmosfrico pode ainda ser

    absorvido por plantas e algas pela fotossntese, entrando no ciclo biolgico do C, no

    qual o tempo de ciclagem bem menor (100-1000 anos). As setas vermelhas

    representam os fluxos criados pelo homem, pela mudana no uso da terra e pela

    queima de combustveis fsseis. Valores em Gt (bilhes de toneladas) representam os -1

    tamanhos dos reservatrios de C e, em Gt ano , os fluxos anuais na dcada de 90.

    Fonte: Watson et al. (2001).

    outra parte para os diferentes nveis trficos, terminando, finalmente, por ser

    consumido pelo processo de decomposio, no qual, parte do carbono

    acumula-se no solo, formando a matria orgnica do solo (MOS). A MOS

    tambm decomposta, porm em taxas bastante lentas, o que permite que este

    seja um importante reservatrio de C nos sistemas terrestres. Por essa razo,

    calcula-se que as quantidades de carbono armazenadas nos solos sejam

    quatro vezes superiores s encontradas na vegetao (Watson et al., 2000).

    O tempo de permanncia do C nestes reservatrios terrestres varia entre dias

    a alguns poucos milhares de anos (Wigley & Schimel, 2000).

    Sedimentos/Litosfera

    66.000.000 Gt

    guas Superficiais 700 Gt

    guas Profundas

    38.000 Gt

    Ecossistemas

    Terrestres

    2.000 Gt (Solos)

    500 Gt (Biomassa)

    Combustveis

    Fsseis

    5.000 Gt

    Combustveis

    Fsseis

    5.000 Gt

    -1

    0,2 Gt ano

    -1

    - 2,3 Gt ano

    -1

    - 2,3 Gt ano

    Atmosfera

    760 Gt

    -1

    + 1,6 Gt ano

    -1

    + 6,3 Gt ano

    -1

    < 0,1 Gt ano

    Oceanos

    Seqestro de Carbono no Sistema Plantio Direto: Possibilidades de Contabilizao47

  • Nos oceanos, o CO pode seguir duas rotas principais, a orgnica, na qual 2

    fixado pela fotossntese de algas, e a mineral, na qual se dissolve na forma de

    cido carbnico, com posterior precipitao de carbonatos. O C fixado na

    forma orgnica segue a mesma rota daquele dos ecossistemas terrestres,

    passando por diferentes nveis trficos, sendo parcialmente perdido por

    respirao e decomposio, em um ciclo relativamente rpido. Parte deste C

    orgnico e, principalmente, os carbonatos (inorgnicos) vo sendo

    lentamente acumulados no fundo dos oceanos, formando depsitos

    sedimentares. Em condies naturais, o retorno para a atmosfera do carbono

    aprisionado neste reservatrio sedimentar ocorre somente atravs de

    emisses vulcnicas e hidrotrmicas, o que leva em mdia 400 milhes de

    anos (Schlesinger, 1997).

    Balano de Carbono

    As emisses atuais de carbono para a atmosfera sofrem grande interferncia

    da atividade antrpica. Os maiores fluxos so decorrentes da queima de

    combustveis fsseis e da utilizao de rochas carbonatadas para a produo

    de cimento. A queima de combustveis fsseis se refere utilizao de

    petrleo, carvo e gs natural. Nas ltimas duas dcadas, a queima de

    combustveis fsseis e produo de cimento contriburam com,

    aproximadamente, 75% das emisses antropognicas (Fig. 1), ou seja, -1 -1

    6,3 0,6 Gt C ano (Watson et al., 2001). O restante, 1,6 0,8 Gt C ano , vem

    da mudana no uso da terra, principalmente em funo do desmatamento em

    regies tropicais (Watson et al., 2001).

    Fazendo um balano das emisses nos ltimos 150 anos, observa-se que as

    emisses devido a mudanas no uso da terra (136 55 Gt C) foram, quase

    que totalmente, equilibradas por processos de reabsoro pelos prprios

    ecossistemas terrestres (Watson et al., 2000). Por outro lado, a queima de

    combustveis fsseis e produo de cimento emitiu o dobro (270 30 Gt C)

    para a atmosfera. Deste total, os oceanos conseguiram absorver cerca de um

    tero, sendo o restante acumulado na atmosfera, elevando as concentrees

    de CO de 285 ppm, antes da Revoluo Industrial, para os 366 ppm atuais 2

    (Watson et al., 2000).

    48 Dinmica da Matria Orgnica do Solo em Sistemas Conservacionistas

  • Mitigando as Emisses

    Na ltimas duas dcadas, os ecossistemas terrestres vm funcionando como

    um dreno de carbono to eficiente quanto os oceanos, em termos

    quantitativos (Watson et al., 2000), o que vem sendo atribudo,

    principalmente, ao crescimento de florestas em altas latitudes (Sarmiento,

    2000). Entretanto, as respostas destes ecossistemas a alteraes no clima

    podem afetar significativamente o seu potencial de seqestro de C no prximo

    sculo (Sarmiento et al., 1998; Sarmie