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DINÂMICA FLUVIAL DO RIO PARAGUAI ENTRE A FOZ DO SEPOTUBA E A FOZ DO CABAÇAL LAURA APARECIDA DE ARRUDA JUSTINIANO Dissertação apresentada à Universidade do Estado de Mato Grosso, como parte das exigências do Programa de Pós-graduação em Ciências Ambientais para obtenção do título de Mestre. CÁCERES MATO GROSSO, BRASIL 2010

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DINÂMICA FLUVIAL DO RIO PARAGUAI ENTRE A FOZ DO SEPOTUBA E A FOZ DO CABAÇAL

LAURA APARECIDA DE ARRUDA JUSTINIANO

Dissertação apresentada à Universidade do Estado de Mato Grosso, como parte das exigências do Programa de Pós-graduação em Ciências Ambientais para obtenção do título de Mestre.

CÁCERES

MATO GROSSO, BRASIL 2010

LAURA APARECIDA DE ARRUDA JUSTINIANO

DINÂMICA FLUVIAL DO RIO PARAGUAI ENTRE A FOZ DO SEPOTUBA E A FOZ DO CABAÇAL

Dissertação apresentada à Universidade do Estado de Mato Grosso, como parte das exigências do Programa de Pós-graduação em Ciências Ambientais para obtenção do título de Mestre.

Orientador: Prof. Dra. Célia Alves de Souza

CÁCERES MATO GROSSO, BRASIL

2010

LAURA APARECIDA DE ARRUDA JUSTINIANO

DINÂMICA FLUVIAL DO RIO PARAGUAI ENTRE A FOZ DO SEPOTUBA E A FOZ DO CABAÇAL

Essa dissertação foi julgada e aprovada como parte dos requisitos para a obtenção do título de Mestre em Ciências Ambientais. Cáceres, 16 de março de 2010.

Banca Examinadora

Prof. Dra. Ivaniza de Lourdes Lazzarolto Cabral Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT

Prof. Dra. Maria Aparecida Pereira Pierangeli Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT

Prof. Dra. Célia Alves de Souza Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT

(Orientadora)

CÁCERES MATO GROSSO, BRASIL

2010

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho aos meus

pais, irmã, sobrinhos e a todos

que me apoiaram nessa jornada

AGRADECIMENTOS

A conquista deste trabalho foi possível graças à colaboração direta e indireta de

muitas pessoas, de forma especial manifesto minha gratidão:

A minha orientadora Professora Doutora Célia Alves de Souza, pelo

ensinamento transmitido, pela confiança depositada ao longo do trabalho e pelo

incentivo ao longo do mestrado.

Ao professor Juberto Babilônia Sousa pela colaboração nas discussões sobre

solos.

A Maria Aparecida Pereira Pierangeli e ao Luiz que contribuíram nas análises de

sedimentos e no entendimento na técnica das análises.

Ao Gustavo pela colaboração nas análises de sedimentos.

Aos meus amigos Edênio e Anderson Peretto pela colaboração nos trabalhos a

campo.

A Dayane pelo fornecimento na estrutura logística no campo.

Aos os professores do curso de pós-graduação que estavam a disposição nas

horas dos questionamentos.

Aos meus colegas de mestrado: Arlene, Ângela, Everaldo, Hébia, João, Lílian,

Maiuá, Marcelo, Marcos, Mairo, Korotowi, Rosália, Ruth e Wilkinson que

dividiram os momentos de alegria e angústia.

A todas as pessoas que não acreditaram em mim, e me fizeram eu não desistir

somente para provar que estavam errados.

As minhas amigas Cláudia, Maria Rosa, Maria e Tânia por estarem do meu lado

em todos os momentos.

Aos meus primos Eudes e Luizinho que sempre me ajudaram no meu trabalho.

Aos meus pais pela paciência nos momentos de desespero.

A minhas irmãs Valdinéia e Emanuelle pelos incentivos.

A CAPES pela concessão da bolsa de estudo que custeou parte do meu estudo.

ÍNDICE

Lista de quadros ............................................................................................... 06

Lista de figuras ................................................................................................. 07

Resumo Geral .................................................................................................. 09

Abstract ............................................................................................................ 10

Introdução Geral ............................................................................................... 11

Referências Bibliográficas ................................................................................ 13

ARTIGO I ......................................................................................................... 15

Mudanças nas feições morfológicas do rio Paraguai: entre a foz do rio

Sepotuba e a foz do rio Cabaçal ...................................................................... 15

Introdução ........................................................................................................ 16

Metodologia ...................................................................................................... 18

Resultados e Discussões ................................................................................. 21

Considerações Finais ....................................................................................... 31

Referências Bibliográficas ................................................................................ 32

ARTIGO II ........................................................................................................ 35

Evolução das margens e transporte de sedimentos no rio Paraguai entre a foz

do rio Sepotuba e a foz do rio Cabaçal ............................................................ 35

Introdução ........................................................................................................ 37

Materiais e métodos ......................................................................................... 38

Resultados e Discussões ................................................................................. 45

Considerações Finais ....................................................................................... 65

Referências Bibliográficas ................................................................................ 66

Considerações Finais Gerais ........................................................................... 70

Glossário .......................................................................................................... 71

LISTA DE QUADROS

ARTIGO I

Quadro 01 – Classificação do índice do desenvolvimento das margens ......... 21

Quadro 02 – Área do antigo canal localizado na planície de inundação do rio

Paraguai, entre a foz dos rios Sepotuba e Cabaçal em 1986 a 2008 .............. 26

Quadro 03 – Áreas das vazantes localizadas na planície de inundação do rio

Paraguai, entre a foz dos rios Sepotuba e Cabaçal em 1986 a 2008 .............. 27

Quadro 04 – Categorias e áreas dos meandros localizados na planície de

inundação do rio Paraguai, entre a foz dos rios Sepotuba e Cabaçal em 1986 a

2008 ................................................................................................................. 27

ARTIGO II

Quadro 01 – Pontos de coleta dos sedimentos de fundo e suspensão no rio

Paraguai, entre a foz dos rios Sepotuba e Cabaçal ......................................... 43

Quadro 02 – Características e dados de erosão nas margens do rio Paraguai,

entre a foz dos rios Sepotuba e Cabaçal, por meio de pinos e estacas de

erosão .............................................................................................................. 50

Quadro 03 – Composição dos sedimentos em suspensão e fundo do rio

Paraguai, entre a foz dos rios Sepotuba e Cabaçal ......................................... 61

LISTA DE FIGURAS

ARTIGO I

Figura 01 – Localização da área de estudo – rio Paraguai, entre a foz dos rios

Sepotuba e Cabaçal ......................................................................................... 19

Figura 02 – Margem do rio Paraguai, entre a foz dos rios Sepotuba e Cabaçal,

utilizada para a criação de gado ....................................................................... 22

Figura 03 – Mata ciliar preservada do rio Paraguai ......................................... 23

Figura 04 – Mapa das feições deposicionais do rio Paraguai, entre a foz dos

rios Sepotuba e Cabaçal do ano de 1986 ........................................................ 24

Figura 05 – Mapa das feições deposicionais do rio Paraguai, entre a foz dos

rios Sepotuba e Cabaçal do ano de 2008 ........................................................ 25

ARTIGO II

Figura 01 – Localização da área de estudo – rio Paraguai, entre a foz dos rios

Sepotuba e Cabaçal ......................................................................................... 39

Figura 02 – Localização das seções monitoradas no rio Paraguai, entre a foz

dos rios Sepotuba e Cabaçal ........................................................................... 40

Figura 03 – Pino inserido na margem do rio Paraguai, entre a foz dos rios

Sepotuba e Cabaçal para monitoramento da erosão do barranco ................... 41

Figura 04 – Estaca inserida na margem do rio Paraguai, entre a foz dos rios

Sepotuba e Cabaçal para o monitoramento da erosão marginal ..................... 42

Figura 05 – Margem do rio Paraguai, entre a foz dos rios Sepotuba e Cabaçal,

utilizada para a criação de gado ....................................................................... 46

Figura 06 – Confluência dos rios Sepotuba e Paraguai .................................. 47

Figura 07 – Confluência dos rios Cabaçal e Paraguai ..................................... 48

Figura 08 – Tipo de margem da seção I do rio Paraguai, entre a foz dos rios

Sepotuba e Cabaçal ......................................................................................... 49

Figura 09 – Tipo de margem da seção II do rio Paraguai, entre a foz dos rios

Sepotuba e Cabaçal ......................................................................................... 51

Figura 10 – Tipo de margem da seção III do rio Paraguai, entre a foz dos rios

Sepotuba e Cabaçal ......................................................................................... 53

Figura 11 – Tipo de margem da seção IV do rio Paraguai, entre a foz dos rios

Sepotuba e Cabaçal ......................................................................................... 54

Figura 12 – Tipo de margem da seção V do rio Paraguai, entre a foz dos rios

Sepotuba e Cabaçal ......................................................................................... 56

Figura 13 – Tipo de margem da seção VI do rio Paraguai, entre a foz dos rios

Sepotuba e Cabaçal ......................................................................................... 57

Figura 14 – Tipo de margem da seção VII do rio Paraguai, entre a foz dos rios

Sepotuba e Cabaçal ......................................................................................... 58

Figura 15 – Tipo de margem da seção VIII do rio Paraguai, entre a foz dos rios

Sepotuba e Cabaçal ......................................................................................... 59

Figura 16 – Tipo de margem da seção IX do rio Paraguai, entre a foz dos rios

Sepotuba e Cabaçal ......................................................................................... 60

RESUMO GERAL

JUSTINIANO, Laura Aparecida Arruda de. Dinâmica fluvial do rio Paraguai entre a foz do Sepotuba e a foz do Cabaçal. Cáceres: UNEMAT, 2009. 71 p. (Dissertação – Mestrado em Ciências Ambientais)1.

As pesquisas relacionadas aos canais fluviais ganharam ênfase na atualidade, sobretudo os impactos causados pelas atividades antrópicas nos rios. Diante disso, esse trabalho analisou a dinâmica fluvial do rio Paraguai no trecho entre a foz do rio Sepotuba e a foz do rio Cabaçal. O trabalho foi dividido em dois artigos. O primeiro artigo discute sobre as mudanças morfológicas do canal e da planície de inundação. Para verificação das mudanças temporais nas feições deposicionais do rio Paraguai escolheu-se dois anos (1986 e 2008), sendo realizado o mapeamento com uso do programa Spring, a partir de imagens de satélites dos respectivos anos. As mudanças observadas no rio Paraguai estão condicionadas à migração do canal, que propiciou a existência dos meandros abandonados na margem esquerda. A baixa declividade dessa margem contribuiu para a deposição de sedimento por acreção que ocorre quando o leito transborda depositando o sedimento fino na planície de inundação que auxiliou na redução, no aumento, no desaparecimento ou na divisão dos meandros abandonados. O segundo artigo discute sobre a erosão marginal. Para o monitoramento da erosão, a área foi dividida em 9 seções, englobando o período de cheia e estiagem (9 meses). O monitoramento foi realizado utilizando-se os instrumentos de pinos e estacas, também foi necessária a coleta de sedimentos da margem, do fundo e de suspensão do canal. Os sedimentos coletados foram analisados por meio do método de pipetagem e peneiramento. Os dados demonstraram que a magnitude da erosão marginal foi de 0,66 a 3,55 cm/mês, considerada alta. A erosão marginal está relacionada à composição granulométrica, à altura da margem, à presença de mata ciliar, ao uso da margem, e principalmente, à velocidade e à força hidráulica. Palavras-chave: Rio Paraguai; mudanças morfológicas; dinâmica fluvial;

erosão marginal; feições deposicionais.

1 Orientadora: Célia Alves de Souza. UNEMAT – Campus Universitário Jane Vanini.

ABSTRACT

JUSTINIANO, Laura Aparecida Arruda de. Fluvial dynamics of the river Paraguay, between the outfall of the river Sepotuba and the outfall of the river Cabaçal. Cáceres: UNEMAT, 2010. 71 p. (Dissertação – Mestrado em Ciências Ambientais)1.

The research related to fluvial channels have gained emphasis nowadays, specially the impacts of human activities on rivers. Upon this, this study analyzed the fluvial dynamics of river Paraguay, MT between the outfall of the river Sepotuba and the outfall of the river Cabaçal. The work was divided into two articles. The first article discusses the morphological changes of the channel. For verification of temporal changes depositional features in the Paraguay River, it was chosen two years (1986 and 2008), with the use of the Spring program for mapping and satellite images of the respective years. The observed changes in the Paraguay River are conditioned to the migration of the channel, which allowed the existence of the oxbow lakes on the left. Low slope of this margin contributed to the deposition of sediment by accretion that occurs when the bed overflows depositing the fine sediment in the floodplain that helped in the reduction, the increase in disappearance or the division of the oxbow lakes. The second article discusses the riverbank erosion. For monitoring of erosion, the area was divided into nine sections, covering the period of flood and drought (nine months). The monitoring was carried out using the pins and stakes instruments, it was also necessary to collect sediment from the shore, background and suspension of the channel. The collected sediments were analyzed by the method of pipetting and sieving. Data demonstrated that the magnitude of erosion was marginally from 0.66 to 3.55 cm/month, which was considered high. The riverbank erosion is related to the granulometric composition, to the height of the margin, to the presence of riparian vegetation, to the use of the margin, and especially related to the speed and to the hydraulic power.

Keywords: Paraguay River; morphological changes: fluvial dynamics; riverbank erosion; depositional features.

1 Advisor: Célia Alves de Souza. UNEMAT – Campus Universitário Jane Vanini.

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INTRODUÇÃO GERAL

A dinâmica fluvial é vista como sendo a remoção, transporte e deposição

das partículas envolvidas em toda a rede de drenagem e incide diretamente

sobre o equilíbrio do sistema fluvial. Quando acontecem distúrbios no sistema,

o canal vai se ajustando e se reajustando até encontrar um novo equilíbrio

(CHRISTOFOLETTI, 1977).

Os estudos relacionados à dinâmica fluvial nas últimas décadas

ganharam importância devido aos efeitos negativos representados pela perda

de terrenos cultiváveis, pelo comprometimento ou destruição de estrutura de

engenharia próxima ao leito do rio, pelo aumento de custo de projetos de

irrigação que contribuí para o assoreamento do canal etc. e, principalmente,

pelo comprometimento dos recursos hídricos (WALKER, 1999).

Vários estudos foram realizados sobre as mudanças no sistema fluvial,

dentre eles destacam-se o de Rozo, Nogueira e Carvalho (2005) e França

(2005) que analisaram a evolução do sistema fluvial do Amazonas, de Bayer e

Carvalho (2008) que interpretaram as morfologias da planície aluvial do rio

Araguaia.

No que se refere aos estudos sobre a erosão marginal, temos as

pesquisas de Destefani e Souza (2002), Rocha (2002) e Borges (2004)

realizadas no Alto Rio Paraná, de Casado et al. (2002) e Oliveira (2006) no

baixo Rio São Francisco e de Castro (2005) e Bayer e Carvalho (2008) no Rio

Araguaia e na bacia do Alto Paraguai, os relatórios do Departamento Nacional

de Obras e Saneamento - DNOS (1978); Souza (2004) e Silva (2006).

O rio Paraguai é o principal canal de escoamento do Pantanal. Sua

nascente principal encontra-se nas bordas do Planalto dos Parecis, na cota

altimétrica de 480 m, no município de Diamantino e percorre a depressão do rio

Paraguai com altitudes que variam de 98 a 280 m. Os rios Cabaçal e Sepotuba

deságuam na margem direita do rio Paraguai e são seus principais afluentes

neste trecho (RADAMBRASIL, 1982).

O objetivo desse trabalho foi analisar em escala temporal a dinâmica

fluvial (erosão, transporte e deposição de sedimentos) do rio Paraguai entre a

12

foz do rio Sepotuba à foz do rio Cabaçal. O conhecimento da dinâmica é

essencial para o planejamento, que contribuirá com a sugestão de medidas

que atenue os impactos.

A área de estudo corresponde um trecho da bacia hidrográfica do

Paraguai, que compreende desde a foz do rio Cabaçal à foz do rio Sepotuba,

com 13,78 Km de extensão e localiza-se entres as coordenadas geográficas

15º55’23‖ - 15º59’59‖ latitude sul e 57º39’11‖ - 57º42’30‖ longitude oeste.

O trabalho foi dividido em dois artigos. O primeiro artigo identificou as

mudanças espaço-temporal ocorridas no rio Paraguai durante o período de

1986 a 2008. O conhecimento sobre o comportamento da dinâmica fluvial em

escala de tempo de 22 anos fornece informações sobre os processos de

erosão, transporte e deposição de sedimentos.

O segundo artigo consta de informações sobre a erosão marginal e o

transporte de sedimentos de fundo e em suspensão. Os estudos dos processos

de erosão marginal têm suma importância no entendimento da dinâmica dos

canais fluviais, uma vez que registra custos ambientais, econômicos e sociais

em virtude da alteração do ambiente expressas por meio das perdas de

terrenos, do assoreamento, das enchentes etc.

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REFÊRÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BAYER, M.; CARVALHO, T. M. Processos morfológicos e sedimentos no canal do Rio Araguaia. Revista de estudos ambientais, v.10, n. 2, 2008. p. 24-31. BORGES, C. Z.; Erosão marginal no Rio Paraná após a conclusão do reservatório da Uhe Sérgio Motta (Porto Primavera) a jusante da barragem. Dissertação de Mestrado em Geografia. Maringá – PR, 2004. CASADO, A.P.B.; HOLANDA, F. S. R.; ARAÚJO FILHO. F. A. G.; YAGUIU, P.; Evolução do processo erosivo na margem direita do Rio São Francisco (perímetro irrigado Cotinguiba/Pindoba - SE). Revista Brasileira de Ciência do Solo, v. 26, 2002. p. 231-239. CASTRO, S. S.; Erosão hídrica na Alta Bacia do Rio Araguaia: distribuição, condicionantes, origem e dinâmica atual. Revista do Departamento de Geografia, v. 17, 2005. p. 38-60. CHRISTOFOLETTI, A. Geomorfologia. São Paulo. Hucitec. 1977. DESTEFANI, E. V.; SOUZA, E. E. de. Caracterização da erosão marginal no Rio Paraná na região de Porto Rico: período pré e pós barragem de Porto Primavera. XI Encontro Anual de Iniciação Científica. Universidade Estadual de Maringá. Maringá – PR, 2002. . DEPARTAMENTO NACIONAL DE OBRAS E SANEAMENTO - DNOS. Estudos hidrológicos da Bacia do Alto Paraguai. Rio de Janeiro: Programa das Nações Unidas para Desenvolvimento, 1978. 284 p. (Relatório Técnico).

FRANÇA, A. M. S. Aplicação de sensoriamento remoto no estudo da influência da dinâmica sazonal do Rio Amazonas sobre a morfologia dos sistemas lacustres. Dissertação (Pós-Graduação em sensoriamento remoto). São José dos Campos: INPE, 2005. 134 p. OLIVEIRA, V. S. de; Erosão marginal no baixo curso do rio São Francisco e seus efeitos nos agroecossistemas. Período: 1975-2005. Dissertação (Mestrado em Agroecossistemas). Universidade Federal de Sergipe – São Cristóvão, 2006. ROCHA, P. Dinâmica dos Canais no Sistema Rio-Planície Fluvial do Alto Rio Paraná, nas proximidades de Porto Rico-PR. Tese (Doutorado em Ecologia de Ambientes Aquáticos Continentais) - Universidade Estadual de Maringá, Maringá, 2002. 171 p. RADAMBRASIL. Levantamentos dos Recursos Naturais Ministério das Minas e Energia. Secretária Geral. Projeto RADAMBRASIL. Folha SD 21 Cuiabá, Rio de Janeiro. 1982. 448 p.

14

ROZO, J. M. G.; NOGUEIRA. A. C. R.; CARVALHO. A.S. Análise multitemporal do sistema fluvial do Amazonas entre a ilha do Careiro e a foz do rio Madeira. Anais XII Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto, Goiânia, Brasil, 16-21 abril 2005, INPE, p. 175-188. SILVA, A. J. Avaliação da erosão na margem direita do rio Paraguai a jusante da praia do Julião no município de Cáceres – MT. Monografia em licenciatura em Geografia. Universidade do Estado de Mato Grosso – MT. 2006. SOUZA, C. A. Dinâmica do corredor fluvial do Rio Paraguai entre a cidade de Cáceres e a Estação Ecológica da Ilha de Taiamã-MT. 2004. Tese (Doutorado em Geografia) Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2004. WALKER, J. The application of Geomorphology to the management of river-bank erosion. Journal of Chartered Institution of Water and Environmental Management. 1999, 13(4): 297-300.

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MUDANÇAS NAS FEIÇÕES MORFOLÓGICAS DO RIO PARAGUAI ENTRE A FOZ DO RIO SEPOTUBA E A FOZ RIO CABAÇAL

(Preparado de acordo com a Revista Brasileira de Geociências)

Laura Aparecida de Arruda Justiniano1 & Célia Alves de Souza2,

(1) Mestre pelo Programa de Pós-Graduação de Mestrado em Ciências Ambientais da Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT – Av. São João – Centro. CEP: 78200-000. Cáceres, MT - Brasil. Endereço eletrônico: [email protected]; (2) Professora Doutora e orientadora do Programa de Pós-Graduação de Mestrado em Ciências Ambientais da Universidade do Estado de Mato Grosso-UNEMAT. Av. São João s/nº Bairro Cavalhada CEP 78200-000 Cáceres/Mato Grosso. Endereço eletrônico: [email protected]

Resumo As mudanças espaço-temporal das feições morfológicas fluviais ocorrem principalmente devido à erosão e à deposição de sedimentos. O estudo objetivou identificar as mudanças espaço-temporal ocorridas nas feições morfológicas do rio Paraguai – entre a foz do rio Sepotuba e a foz do rio Cabaçal. Para verificar as alterações nas feições, escolheu-se dois anos, 1986 e 2008, sendo realizado o mapeamento com o uso do programa Spring a partir de imagens de satélites. As principais mudanças ocorridas foram a redução ou desaparecimento dos meandros pelo processo de erosão e deposição. Em 1986, possuía 36 meandros, reduzindo para 28 meandros em 2008 e seis meandros se dividiram. O desaparecimento e a divisão dos meandros associam-se à deposição de sedimentos, que contribuiu para a formação de bancos de sedimentos e colmatação dos meandros. Registrou-se a diminuição da área (146000 m2) dos meandros devido ao processo de deposição por acreção vertical. O aparecimento dos meandros está associado à retomada erosiva em trecho da planície. A rápida alteração nas feições morfológicas pode ser evitada se reduzido o aporte de sedimento no rio Paraguai. Para isso, é necessária a mudança de ocupação da bacia hidrográfica, principalmente das margens e a recuperação da mata ciliar. Palavras-chave: dinâmica fluvial; meandros; erosão; deposição.

Abstract The space-time changes of the fluvial morphological features occur mainly due to erosion and deposition of sediments. This study aimed to identify the space-time changes occurring in the features morphology of the Paraguay River - between the outfall of the river Sepotuba and the outfall of the river Cabaçal. To verify changes in the features, two years have been chosen, 1986 and 2008, and the mapping was done using the Spring program with the use of satellite images. The main changes were reduction or disappearance of meanders through the process of erosion and deposition. In 1986, he had 36 outs, reducing to 28 meanders in 2008 and six divided. The disappearance is

16

associated with deposition of sediments, which contributed to the clogging of the meanders. There was an appearance of two new intricacies and six divided themselves. The appearance and the division of outs are associated with the sediment load of the Paraguay River, transported in the rainy season, and deposited in the floodplain. It was recorded a decrease in the area (146,000 m2) due to the intricacies deposition process by vertical accretion. The rapid change in morphological features can be avoided if reduced the siltation in the Paraguay River. For this, it needs a change of occupation of basin, especially the margin and the recovery of riparian vegetation. Keywords: fluvial dynamic, meanders, erosion, deposition. INTRODUÇÃO

A morfologia do sistema fluvial reflete a história de denudação da

paisagem do rio, caracterizada pela hidrologia, morfologia, carga em transporte

e comunidade biótica, que mostram o resultado de todos os processos

operativos dentro do ecossistema (Petts & Foster, 1990).

As mudanças na morfologia no canal e na planície de inundação

ocorrem naturalmente pela relação do regime hidrodinâmico do canal (tipo de

carga e a força exercida pelo fluxo). A hidrodinâmica de escoamento nos

canais meândricos geram processos geomorfológicos caracterizado pela

contínua escavação da margem côncava e deposição da carga detrítica na

margem convexa, com a relação entre o canal e as planícies aluviais

adjacentes (Leopold et al., 1964; Zancopé, 2008).

O aspecto morfológico do canal fluvial depende do equilíbrio entre

erosão e deposição. Se um eventual desequilíbrio acontece entre estes

processos, o canal fluvial sofre um ajustamento de suas variáveis morfológicas,

a fim de alcançar nova forma estável compatível com as novas condições, o

que pode ocorrer em um intervalo de tempo, seja longo, médio ou curto prazo,

devido às mudanças na vazão e transporte de sedimentos (Fernandez, 1990).

As alterações nos canais fluviais dificilmente produzem respostas

imediatas. As modificações são percebidas ao longo do tempo (Brookes, 1996).

Contudo, a ação antrópica pode acelerar a mudança na morfologia do canal,

ocasionando danos ao meio ambiente, por causa do repentino desequilíbrio

entre a saída e entrada de sedimentos.

Para Riccomini et. al. (2000), a morfologia dos canais fluviais é

controlada por uma série de fatores autocíclicos (próprios da rede de

17

drenagem) e alocíclicos que afetam não apenas a rede de drenagem, mas toda

a região onde ela está inserida e apresentam relações bastante complexas.

Como fatores autocíclicos são considerados as descargas (tipo e quantidade),

a carga de sedimentos transportada, a largura e profundidade do canal, a

velocidade de fluxo, a declividade, a rugosidade do leito e a cobertura vegetal

nas margens e ilhas. Estes, por sua vez, são condicionados pelos fatores

alocíclicos, tais como as variáveis climáticas (pluviosidade, temperatura) e

geológicas (litologia, falhamentos).

Os sedimentos são temporariamente estocados na planície durante a

rota do fluxo do rio, sob a condição de equilíbrio em que a taxa de entrada de

sedimento é igual à saída. Assim qualquer alteração nesse equilíbrio pode

resultar na alteração da planície de inundação (Leopold et al., 1964).

À medida que a velocidade do fluxo da água diminui, os sedimentos vão

sendo depositados e ocorre o processo de sedimentação. Estes podem ser de

acreção lateral ou vertical, resultando, entre outras feições, na formação da

planície de inundação (Allen, 1970).

A sedimentação de acreção lateral consiste na sucessiva acumulação

lateral de sedimentos, principalmente no lado interno da curva do canal

meandrante. Em virtude da contínua erosão da margem côncava e

sedimentação na margem convexa, o canal mantém-se em constante migração

lateral, estabelecendo aspecto bastante dinâmico ao ambiente fluvial

(Christofoletti, 1981; Bigarella, 2003).

O trecho em estudo corresponde ao padrão de canal meandrante. Os

canais meandrantes são encontrados nos rios que percorrem regiões quentes e

úmidas em terrenos planos e possuem curvas sinuosas. O processo de

meandramento pode apresentar ajuste entre as variáveis hidrológicas, inclusive a

carga detrítica e a litologia, em que se instala o curso d’água (Christofoletti, 1980).

As sucessivas curvas que um rio são conhecidas como meandros que,

devido a processos de deposição (margem interna) e erosão (margem

externa), tendem a acentuar sua sinuosidade, chegando a estrangular os

meandros vizinhos acarretando a formação de lagos conhecidos como

meandros abandonados (Drago, 1976, Wetzel, 1976).

18

Na área de estudo encontram-se inúmeros meandros abandonados

decorrentes da migração do canal. Para Junk (1997), esses meandros

armazenam a água e os sedimentos transportados pelo rio no período da

cheia, o que possibilita o equilíbrio do sistema. Durante as cheias, os peixes

invadem as planícies alimentando-se dos organismos que ocupam esses

ambientes.

Os estudos relativos à evolução morfodinâmica usando como técnica o

sensoriamento remoto no Brasil são escassos. Nesse sentido, destacam-se o

trabalho de Rozo et al. (2005) e França (2005) que usaram o sensoriamento

remoto para analisar a evolução da dinâmica sedimentar no sistema fluvial do

Amazonas; de Bayer & Carvalho (2008) que interpretaram e mapearam os

depósitos sedimentares contidos na planície aluvial do rio Araguaia.

Dentre os estudos realizados no rio Paraguai usando o sensoriamento

remoto, destaca-se o de Souza (2004) que pesquisou a dinâmica fluvial do rio

Paraguai entre a cidade de Cáceres e a estação ecológica da Ilha de Taimã; de

Casarin (2007) que utilizou o geoprocessamento para a caracterização da

bacia hidrográfica Paraguai/Diamantino e de Silva (2006) que usou o

sensoriamento remoto para avaliar a erosão marginal do Rio Paraguai.

Apesar de possuir relevância ambiental, estudos relacionados às

mudanças das morfologias fluviais, ainda são escassos, principalmente no que

se refere ao rio Paraguai. Portanto, o estudo é relevante à medida que contribui

para o conhecimento das alterações morfológicas da planície de inundação

devido ao aporte de sedimentos proveniente, principalmente, do rio Paraguai.

Nesse contexto, a pesquisa teve como objetivo identificar as mudanças

morfológicas espaço-temporal ocorridas no rio Paraguai no trecho entre a foz

do rio Sepotuba e a foz do rio Cabaçal durante o período de 1986 a 2008,

sugerindo medidas que amenizem os impactos ambientais e garantam a

sustentabilidade desse recurso.

METODOLOGIA Área de estudo

A unidade de análise adotada corresponde ao trecho da bacia

hidrográfica do rio Paraguai, calha e planície que compreendem o segmento

19

entre a foz do rio Cabaçal a foz do rio Sepotuba, com 13,78 km de extensão.

Localiza-se nas coordenadas geográficas 15º55’23‖ - 15º59’59‖ latitude sul e

57º39’11‖ - 57º42’30‖ longitude oeste (Figura 01).

Figura 01 – Localização da área de estudo – rio Paraguai, entre a foz dos rios Sepotuba e Cabaçal. Fonte: elaborado pela autora, a partir de imagem de satélites Órbita 227, ponto 71, Datada 06/05/2008.

Procedimentos metodológicos

Para verificar as mudanças espaço-temporal nas feições morfológicas

(antigo canal do rio, vazantes, meandros), utilizou-se imagem de satélite obtida

20

através do site do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), fornecida

no catálogo de imagens do Landsat.

As imagens utilizadas para as análises foram dos anos de 1986 e 2008. A

escolha dessas imagens ocorreu da seguinte forma: a de 1986 foi por ser a

primeira imagem disponibilizada pelo INPE e a de 2008 por ser a última imagem

No início da pesquisa. As imagens escolhidas foram:

Órbita 227, ponto 71, Banda 3B4G5R, Datada 11/06/1986

Órbita 227, ponto 71, Banda 3B4G5R, Datada 06/05/2008

A análise das imagens foi realizada por meio da interpretação visual e,

posteriormente, a vetorização das principais feições morfológicas no trecho

analisados, ou seja, antigo canal do rio, vazantes e meandros.

Por meio do software SPRING (Sistema de Processamento de

Informação Georreferenciadas) foram mapeadas as feições morfológicas (os

meandros, antigo canal do rio e as vazantes) dos anos de 1986 e 2008. Para

classificar os meandros foi necessário calcular o índice de irregularidade do

corpo d’água, que somente é possível com os dados dos seguintes parâmetros

morfométricos: área (m2) e perímetro (m).

As áreas das feições morfológicas foram calculadas utilizando a

ferramenta operação métrica do SPRING, que permitiu selecionar o polígono

(meandro, antigo canal e vazante), e calcular o perímetro e a área de cada

meandro. Os dados foram utilizados no cálculo de índice de irregularidade

proposto por Lübbe, (1977, segundo Straskraba & Gnauch, 1982) para

expressar a forma do lago em quatro classes: circular/oval,

crescente/alongada, composto e dendríticos.

O índice de desenvolvimento da margem foi calculado pela seguinte

equação:

Em que:

21

Quanto menor o valor de F mais próximo o lago terá a forma de círculo,

qualquer variação no contorno das margens fará com que o valor de F

aumente, mudando para o grau de irregularidade do lago (Sperling, 1999). A

classificação da forma varia conforme o valor de F (Quadro 01).

Quadro 01 – Classificação do índice do desenvolvimento das margens

FORMA Nome e descriçao Limiar

Circular/Oval - possuem formas circulares, subcirculares.

1,27 < F < 2,9

Alongada - apresentam forma alongada.

2,9 < F < 3,5

Composta - não apresentam uma forma definida e são combinações de outras classes.

3,5 < F < 5,0

Dendrítica - apresenta

aspectos ramificado F > 5,0

Fonte: MELACK, 1984; SPERLING, 1999

Para fins de análise, as feições morfológicas foram divididas em 8

categorias distintas: antigo canal, vazantes, meandros colmatados, meandros

divididos, meandros que aumentaram sua áreas, meandros reduzidos de 2000

a 20000 m2 (são propício ao desaparecimento, em virtude do seu tamanho –

pequeno), meandros reduzidos de 22000 a 146000 m2 e novos meandros.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

No segmento estudado, o rio Paraguai apresenta padrão meandrante

que tem como características apresentar erosão na margem côncava e

deposição na margem convexa, o que contribui para a formação de várias

feições morfológicas provenientes da ação do próprio rio.

Na margem direita, onde o desnível em relação ao entorno varia entre 4

a 20 m, a presença de meandros abandonados é ausente, sendo que a

vegetação apresenta-se significativamente alterada devido às inúmeras ações

antrópicas. Na atualidade, à margem a vegetação se restringe a pequenos

fragmentos de mata ciliar próximos ao leito. A falta de vegetação contribui para

22

a instabilidade da margem, favorecendo a atuação da erosão fluvial (Figura

02).

Figura 02 – Margem do rio Paraguai, entre a foz dos rios Sepotuba e Cabaçal, utilizada para a criação de gado Fonte: Autora. Trabalho de campo - Agosto, 2009.

Na margem esquerda, a mata ciliar mantém-se conservada (Figura 03).

O desnível do rio, em relação ao entorno, é menor cerca 3 m, o que propicia a

inundação anual e forma grande extensão de área alagada. A baixa declividade

topográfica favoreceu o aparecimento dos meandros abandonados. As

alterações morfológicas nas planícies são causadas pelo regime de cheias do

rio Paraguai, o que provoca a remoção e a acumulação de sedimentos nas

feições meândricas.

23

Figura 03 – Mata ciliar preservada do rio Paraguai. Fonte: Autora. Trabalho de campo - Agosto, 2009.

Nas partes mais baixas, onde os materiais transportados pelo rio

Paraguai durante o período de cheia são depositados, predominam a

vegetação de gramíneas. Nas depressões acumulam-se materiais finos e

restos orgânicos em decomposição, o que possibilita e favorece as ocorrências

dos primeiros estados de sucessão vegetal, composta, principalmente, pelas

gramíneas baixas e algumas espécies arbustivas (Bayer & Carvalho, 2008).

Verificou-se, na área de estudo, a migração lateral do leito, típico de rios

meandrantes, que promove nova organização espacial e aparecimento de

novas feições como meandros abandonados, bacias de decantação ou

inundação e cordões marginais convexos. Alguns meandros abandonados

estão gradativamente sendo assoreado, o que ocasiona a sua divisão, ou seja,

a partir dessa divisão, surgiram novos meandros. Houve aqueles que foram

totalmente colmatados. Além disso, apareceram novos meandros na planície.

A influência da cheia do rio Paraguai, no trecho estudado, promove

inundações periódicas, causa erosão fluvial e aumenta a capacidade de

transporte de sedimentos. No período de estiagem ocorre a deposição de

sedimentos próximo do canal e na planície. Estes fatores provocaram

24

alterações no canal, como rompimento do colo de meandro; aparecimento de

vazantes; meandros abandonados; depósitos formados próximos ao canal

ativo, como as barras de acreção lateral, diques marginais e depósitos de

transbordamento, além de meandros colmatados.

No período analisado, devido a migração do canal, várias feições

morfológicas foram encontradas, como por exemplo, as vazantes, o antigo

canal, os meandros abandonados e os novos meandros (Figura 04 e 05).

Estas feições morfológicas possuem importância ecológica devido à contribuição

de sedimento, nutrientes para os sistemas naturais e pela proliferação de várias

espécies aquáticas que, em épocas de cheias, servem de abrigos e alimentos

para os peixes.

Figura 04 – Mapa das feições deposicionais do rio Paraguai entre a foz dos rios Sepotuba e Cabaçal, do ano de 1986. Fonte: elaborado pela autora, a partir das imagens de satélite Landsat de 1986.

25

Figura 05 – Mapa das feições deposicionais do rio Paraguai entre a foz dos rios Sepotuba e Cabaçal, do ano de 2008. Fonte: elaborado pela autora, a partir das imagens de satélite Landsat de 2008.

Verificou-se que no período de estiagem alguns meandros perderam a

conexão com o rio, e outros ficaram parcialmente conectados. Contudo, no

período chuvoso todos os meandros conectam-se ao rio Paraguai.

Os meandros apresentaram formas circulares, dendríticos ou irregulares

devido à deposição descontínua dos sedimentos. A origem e a diferentes formas

dos meandros estão associadas aos processos sedimentares e ao aporte de

sedimentos fornecido pelo rio Paraguai. A deposição de sedimentos está

associada à variação da energia cinética de fluxo, durante a cheia do rio Paraguai

e a carga fluvial que possibilitam a acumulação ou remoção de materiais na

margem dos meandros.

26

As feições localizadas na área de estudo estão sob a influência do rio

Paraguai que, ao transbordar, provoca a remoção e sedimentação nas feições, o

que causou modificações na sua morfologia.

Antigo canal

A mudança do canal e, conseqüentemente, o abandono do leito é

atividade que ocorre naturalmente, pelo próprio trabalho hidrológico do rio. De

acordo com Christofoletti (1981), o abandono de canal é comum em planícies

aluviais em virtude dos processos migratórios das curvas meândricas que é

determinado pela mudança de direção dos eixos dos meandros e das medidas

dos raios de curvatura.

A migração lateral (erosão fluvial) e o processo de sedimentação no

canal principal contribuíram para que o setor (meandros) do rio fosse

abandonado, dando origem aos antigos canais. Mesmo após a mudança de

canal, o antigo leito continuou a receber sedimentos do canal ativo, o que

possibilitou a redução da área (Quadro 02).

Quadro 02 – Área do antigo canal localizado na planície de inundação do rio Paraguai, entre a foz dos rios Sepotuba e Cabaçal em 1986 e 2008.

Antigo canal Área em 1986 m² Área em 2008 m² Redução %

01 1045000 986000 94,35

Fonte: Dados obtidos a partir das imagens de satélite Landsat de 1986 e 2008.

Vazantes

As vazantes são depressões que durante as cheias tornam-se

escoadouro natural da água entre baías e têm a características de um curso

fluvial intermitente (Carvalho, 1986).

As vazantes desempenham papel importante na conexão das águas,

pois possibilita o transporte de nutrientes na época de cheia, além de serem

utilizadas como corredores de migração para os peixes.

No trecho do rio estudado, verificou a existências de duas vazantes (01

e 02). Em 2008 no período chuvoso a primeira vazante liga quatro meandros

abandonados e a segunda vazante conecta o meandro ao rio Paraguai. Os

dados mostraram que houve aumento da dimensão das duas vazantes em

27

2008 em relação a 1986, sendo que o aumento está relacionado à erosão

marginal das vazantes (Quadro 03).

Quadro 03 – Área das vazantes localizadas na planície de inundação do rio Paraguai, entre a foz dos rios Sepotuba e Cabaçal em 1986 a 2008.

Vazante Área em 1986 m² Área em 2008 m² Aumento %

01 168000 230000 73,04

02 18000 32000 56,25 Fonte: Dados obtidos a partir das imagens de satélite Landsat de 1986 e 2008.

Na vazante 02 a deposição de sedimentos formou banco central de

sedimentos próximo à confluência com o rio Paraguai. Porém, mesmo com a

presença de banco de sedimento, registrou-se o aumento da área da vazante

(Quadro 03).

Meandros

As modificações na calha do rio ocorreram pelo processo de abandono do

canal ao longo de sua evolução. Este processo de migração deu origem a vários

meandros abandonados. Os meandros possuem ligação direta ao rio Paraguai

no período de cheias, porém, em época da seca, perdem a conexão devido ao

acúmulo de materiais transportados pelo rio e depositados no seu leito, além da

diminuição do nível da água.

Os processos erosivos e o acúmulo de sedimentos contribuíram para

alterar os meandros, os quais foram divididos em cinco categorias: colmatados,

divididos, que aumentaram a área, que diminuíram a área e os novos meandros

(Quadro 04).

Quadro 04 – Categorias e áreas dos meandros localizados na planície de inundação do rio Paraguai, entre a foz dos rios Sepotuba e Cabaçal em 1986 a 2008.

Categorias Meandros Área em 1986 (metros)

Área em 2008 (metros)

Meandros Colmatados

02, 12, 16, 18, 19, 21, 33 e 35

13000 a 61000 -

Meandros divididos

01, 03, 06, 08, 10 e 11

52000 a 1254000 23000 a 368000

Meandros com área ampliada

15, 20, 22, 25 e 28 11000 a 148000 0,020 a 151000

Meandros reduzidos de 2000 a 20000 (m2)

05,07,13,14, 26, 27, 29, 30, 34 e 36

18000 a 93000 8000 a 83000

28

Meandros reduzidos de 22000 a 146000 (m2)

04, 09, 17, 23, 24, 31 e 32

119000 a 531000 83000 a 384000

Novos Meandros 01 e 02 - 12000 e 27000

Fonte: Dados obtidos a partir das imagens de satélite Landsat de 1986 e 2008.

Meandros Colmatados

O rio Paraguai transporta sedimentos de fundo e suspensão. No período

da cheia o nível do rio aumenta, transbordando água e sedimentos para a

planície. Partes desses sedimentos não retornam ao canal principal e são

depositados na planície e nos meandros abandonados, causando a

colmatação.

Segundo França et al. (2005), nos lagos circulares a redução da área é

maior devido ao seu padrão espacial, em geral são menores e mais dispersos

que os outros tipos de lagos. Tal fato justifica a colmatação dos meandros

abandonados 02, 12, 16, 18, 19, 21, 33, e 35 (Quadro 04), que em 1986

possuíam a forma circular.

Nos locais dos meandros colmatados surgiram os primeiros estágios de

vegetação conhecidas como gramíneas. Esse tipo de vegetação é comum em

ambientes instáveis que sofrem constantes deposições sedimentares.

As formações pioneiras com influência flúvio-lacustre têm o

desenvolvimento limitado pelo regime hídrico (cheia/seca), ou então, em

depressões alagáveis durante o período de cheia, o que propicia o

aparecimento de espécie adaptadas, sem formação de estratos (Roderjan &

Kuniyoshi, 1988; Ibge, 1992; Jaster, 1995; Sema & Iap, 1996).

Meandros divididos

Quando os meandros sofrem a ação de acumulação de sedimentos,

esta ação pode estrangular o meandro com a formação de bancos de

sedimentos, dividindo-o e dando origem a novos meandros.

Os meandros abandonados sofreram acumulação de sedimentos

ocasionando o estrangulamento dos meandros 01, 03, 06, 08, 10 e 11 que se

dividiram, originando novos meandros (Quadro 04).

29

O meandro 01 teve a largura diminuída e o seu comprimento

aumentado, este apresentou forma geométrica alongada. A carga de

sedimento proporcionou o estrangulamento do meandro 01 ocasionando sua

divisão, surgindo do meandro 01 A. A cobertura vegetal próxima ao meandro é

constituída predominantemente por gramíneas, vegetação que crescem em

campos inundáveis no período da seca.

O meandro 03 possuía forma circular em 1986. Em 2008, verificou-se a

redução da área, porém continuou com a mesma forma. A redução da área é

decorrente da deposição de sedimentos que ocasionou a divisão do meandro

03 e fez surgir o meandro 03A. A espécie de vegetação encontrada no entorno

dos meandros corresponde a tipo de gramíneas.

A acumulação de sedimentos no meandro 06 mudou a sua forma de

dentrítica para alongada. O material depositado contribuiu para o

desenvolvimento de bancos de sedimentos, auxiliando na divisão do meandro,

resultando no surgimento de dois novos – meandro 6A e 6B. Nos bancos de

sedimentos, verificou-se a ocorrência de gramíneas e no entorno dos

meandros observa-se a presença de matas ciliar e de gramíneas.

O meandro 8 apresentava forma composta em 1986 e passou para

circular em 2008. A sedimentação contribuiu para dividir o meandro, dando

origem aos meandros 8A e 8B que apresentam forma circular e vegetação de

entorno do tipo gramínea.

O processo de acumulação de sedimentos ocasionou também a redução

do meandro 10 devido ao aparecimento da barra central de sedimento,

dividindo o meandro. A forma atual dos meandros (10 e 10A) é circular e a

cobertura vegetal do seu entorno corresponde à mata ciliar e nos locais onde

os sedimentos foram depositados surgiram as gramíneas.

O meandro 11 passou da forma composta para circular. Esse fato ocorreu

devido aos depósitos de sedimentos. A carga depositada ocasionou o

aparecimento de barras de sedimento em três locais, resultando na divisão do

meandro em três, ou seja, 11A, 11B e 11C. Nos locais onde a carga sedimentar

foi depositada desenvolveu a cobertura vegetal de gramíneas e no seu entorno

encontram-se algumas espécies arbustivas.

30

Meandros com área ampliada

O aumento nas áreas dos meandros 15, 20, 22, 25 e 28 está associada

à erosão marginal (Quadro 04). Esta provoca o alargamento do seu leito

devido ao desgaste da margem provocado principalmente pela força exercida

da água no período de cheia. Apesar de terem aumentados, as suas áreas,

todos os meandros mantiveram suas formas circulares originais.

Os sedimentos provenientes das margens dos meandros, em época da

seca, são depositados na sua calha, podendo, no período da cheia, ser

transportados pelo o rio Paraguai.

Outro fator que contribui para o alargamento dos meandros são os

transportes e depósitos de sedimentos trazidos pelos pulsos de inundações

que, em alguns casos, são depositados na calha dos meandros, promovendo o

alargamento do mesmo em função da elevação do fundo e da diminuição da

lâmina d’água.

A vegetação no entorno dos meandros corresponde as gramínea, exceto

nos 20, 22 e 28 que, além das gramíneas, ocorre a presença de algumas

espécies arbustivas devido a própria distancia em relação as áreas alagadas.

Meandros reduzidos de 2000 à 20000 m2

O transbordamento do rio Paraguai contribui para a deposição de

materiais na planície de inundação e nas áreas deprimidas (meandros). À

medida que a água perde energia, os materiais acumulam-se na planície,

causando a redução das áreas dos meandros. Registrou-se a redução dos

seguintes meandros 05, 07, 13, 14, 26, 27, 29, 30, 34 e 36 (Quadro 04).

Os meandros reduzidos possuem formas circulares. A vegetação

encontrada próxima aos meandros 05, 13, 14, 27 e 30 é constituída de

gramíneas e arbustivas e nos meandros 07, 26, 29, 34 e 36 a vegetação do

entorno é o conjunto florístico da mata ciliar.

Meandros reduzidos de 22000 a 146000 m2

A diminuição da área está relacionada à sedimentação por acreção

vertical e principalmente, por acreção lateral, causando redução dos meandros

04, 09, 17, 23, 24, 31 e 32 devido aos depósitos de sedimentos acumulados

em suas margens (Quadro 03).

31

O meandro 04 apresenta forma circular com banco de sedimento central.

O aparecimento do banco de sedimento foi decorrente da deposição de

material transportado pelo rio Paraguai e o mesmo encontra-se em processo

de estabilização devido ao desenvolvimento de gramíneas.

As barras de sedimentos se desenvolvem tanto nas margens, formando

barras laterais, como também podem ser depositados no eixo do canal

principal, gerando importantes acumulações, denominados bancos centrais

(mid channel bar) (Miall, 1985; Kellerhald et al. 1976).

Os meandros 09, 17, 23, 24, 31 e 32 possuem forma circular, com vegetação

de gramíneas predominante em seu entorno e com a presença de arbusto.

Novos Meandros

O aparecimento de novos meandros está relacionado a retomada

erosiva na planície de inundação durante a cheia do rio Paraguai, quando o

nível de água aumenta e transborda formando pequenos canais. Esses canais

podem evoluir para um novo meandro.

Outra possibilidade está relacionada com a dinâmica do fluxo do rio

Paraguai que, ao alcançar área deprimida, a água acumula e da origem aos

novos meandros.

Para Drago (1976), esses novos meandros, também conhecidos como

lagos de inundação - que são parte da água de inundação que fica retida nas

zonas baixas limitadas pelos sedimentos trazidos e depositados pelo

transbordamento do rio - dão origem aos lagos de inundação.

Registrou-se o surgimento de 2 novos meandros em 2008. Eles

possuem conexão com a vazante 01 durante o período da cheia, apresentam

formas circulares e a vegetação de seu entorno é caracterizada por gramíneas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As mudanças morfológicas no canal do rio Paraguai são decorrentes dos

processos naturais de erosão e sedimentação. Embora o efeito antrópico no

uso e manejo da terra na área da bacia contribui para intensificar a ação da

erosão fluvial e o aumento da carga de sedimentos.

O uso do SIG (Sistema de Informação Geográfica) mostrou-se eficiente

para descrever e analisar as mudanças ocorridas no rio Paraguai, setor entre a

32

foz do rio Sepotuba a foz do rio Cabaçal. Pelos resultados da análise espaço-

temporal das imagens de satélites dos anos de 1986 e 2008 do rio Paraguai,

verificou-se que as alterações na morfologia relacionam-se à erosão fluvial e à

deposição de sedimentos.

Em 1986 havia 36 meandros, estes foram reduzidos para 28 em 2008.

A acumulação de sedimentos na planície causou a colmatação de 8 meandros,

redução da área de 17 meandros, a divisão de 6 meandros devido à formação

de bancos de sedimentos, o que fez surgir novos meandros e também causou

a redução da área do antigo canal. A erosão provocou o alargamento de 5

meandros e das duas vazantes.

Considerando que a escala espaço-temporal é pequena (22 anos), o

acúmulo de sedimentos nos meandros passa a ser significante, visto que, a

morfologia está mudando rapidamente em curto espaço de tempo. A rápida

alteração na dinâmica fluvial pode ser evitada, desde que seja diminuída a

carga de sedimentos transportada pelo o rio Paraguai.

A realização de diagnóstico em escala temporal nas feições

morfológicas é importante para propor algumas medidas de gestão. Portanto,

recomenda-se o monitoramento das sucessivas mudanças no ambiente fluvial -

leito, margem e planície de inundação - e a implementação de medidas de

recuperação das matas ciliares, a fim de se formarem obstáculos para o

transporte de detritos.

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35

Evolução das margens e transporte de sedimentos no rio Paraguai entre a foz do rio Sepotuba e a foz do rio Cabaçal

(Preparado de acordo com a Revista Brasileira de Gestão e Desenvolvimento Regional)

Laura Aparecida de Arruda Justiniano1 Célia Alves de Souza2

Resumo O trabalho avaliou a erosão marginal e a granulometria dos sedimentos transportados pelo rio Paraguai entre a foz dos rios Sepotuba e Cabaçal. Para o monitoramento da erosão, a área foi dividida em 9 seções e foi utilizado o método de pino e estacas. Para verificação do transporte de sedimentos de fundo e suspensão foram selecionados 6 pontos. A análise granulométrica dos sedimentos utilizou o método de pipetagem e peneiramento. Os dados referentes aos sedimentos em suspensão demonstraram que o ponto 03 teve a maior ocorrência de sedimentos finos transportados (128 mg/L) devido a alta pluviosidade e a composição da margem. Quanto a erosão, os resultados demonstraram que mesmo nas seções com predominância de argila e presença de concreções a magnitude variou entre 0,66 a 3,55 cm/mês. Tal fato está relacionado com a falta da mata ciliar, o uso, a composição granulométrica e principalmente a ação da água. Palavras-chave: dinâmica fluvial; erosão; granulometria.

1 Mestre pelo Programa de Pós-Graduação de Mestrado em Ciências Ambientais da

Universidade do Estado de Mato Grosso - UNEMAT. Av. São João s/nº Bairro Cavalhada CEP 78200-000 Cáceres/Mato Grosso. Endereço eletrônico: [email protected] 2 Professora Adjunta do Departamento de Geografia e orientadora do Programa de Pós-

Graduação de Mestrado em Ciências Ambientais da Universidade do Estado de Mato Grosso-

UNEMAT. Av. São João s/nº Bairro Cavalhada CEP 78200-000 Cáceres/Mato Grosso.

Endereço eletrônico: [email protected]

36

Evolution of the banks and sediment transport on the Paraguay River between the mouth of the Sepotuba River and the mouth of Cabaçal River

ABSTRACT This study evaluated the bank erosion and sediment transported by the Paraguay River between the mouths of the Sepotuba river and Cabaçal river. For monitoring the erosion, the area was divided into nine sections and we used the method of pin and cuttings. For verification of the transport of bottom sediments and suspension 6 points were selected. The granulometric analysis of sediments utilized the method of sieving and pipetting. The data for suspended sediments showed that the point 03 had the highest occurrence of fine sediments transported (128 mg / L) due to high rainfall and the composition of the margin. Regarding the erosion, the results showed that even in sections with a predominance of clay and the presence of concretions, the magnitude ranged from 0.66 to 3.55 cm / month. This fact is related to the lack of riparian vegetation, the use, the granulometric composition and especially the action of water Keywords: fluvial dynamic, erosion, granulometry.

37

1. Introdução

Os canais fluviais são dinâmicos, envolvem um sistema complexo entre as

condições naturais (solo, vegetação, topografia, padrão de drenagens, entre

outros) e as atividades humanas. Essas interações contribuem para a alteração

da dinâmica e do regime fluvial.

Segundo Penteado (1974), o rio mantém seu equilíbrio erodindo seu

leito a montante, transportando e depositando os sedimentos para outro ponto

a jusante. O trabalho do rio em suas margens desempenha importante papel

no controle da largura do canal, contribuindo para o incremento da carga de

sedimentos no fundo dos rios.

Entre os fatores que contribuem para a mudança da paisagem no

sistema fluvial está a erosão marginal, que destrói as mesmas e aumenta a

largura dos rios (CASADO et al, 2002). A erosão contribui significativamente

para o incremento da carga de fundo dos rios e provoca destruição progressiva

da área marginal, desvalorizando os terrenos ribeirinhos e limitando o seu uso

(THORNE e TOVEY, 1981).

Na área de estudo, o rio Paraguai, apresenta a mata ciliar parcialmente

preservada, apesar das mesmas serem utilizada para diversos fins, tais como:

prática de atividades de pesca, agricultura e pecuária, acampamento de

pescadores e banhistas. A calha do rio é utilizada para a navegação de barcos

de turismo, pesca e embarcações para transportes de grãos. Tais atividades

associadas às características (composição granulométrica e o tipo de borda) do

barranco contribuem para a ocorrência dos processos erosivos.

A evolução da erosão marginal, comparada a outros processos

geomorfológicos, é rápida (HOOKE, 1979). Esse fato ressalta a importância de

monitorar os processos erosivos fluviais para o controle do mesmo e para o

planejamento das atividades relacionadas ao rio.

Os sedimentos retirados da margem são transportados em suspensão

ou em fundo para a jusante. Nos rios meandrantes, como é o caso do trecho

analisado, a erosão marginal atua na margem côncava e os materiais são

depositados nas margens convexas.

38

O deslocamento e o transporte do sedimento dependem, principalmente,

da forma, tamanho, peso e das forças exercidas pelo escoamento. Estes

sedimentos podem serem transportados em suspensão ou em fundo

(CARVALHO, 1995). Quando as forças reduzem até a condição de não

poderem continuar a deslocar o sedimento, ocorre a deposição (CUNHA,

1998).

Portanto, analisar a erosão marginal é fundamental no estudo de canais

fluviais, contudo a literatura brasileira registra poucos trabalhos referentes a

esse processo. No Brasil destacam-se os estudos realizados por Fernandez

(1990, 1995); Destefani e Souza (2002), Rocha (2002) e Borges (2004).

Especificamente no rio Paraná referenciam-se os de Fernandes e Fulfaro

(1993); Casado et al (2002) e Oliveira (2006); no rio São Francisco, o de

Castro (2005); no rio Araguaia, o de Bayer e Carvalho (2008); e na bacia do

Alto Paraguai, os de DNOS (1978); Souza (2004) e Silva (2006).

Diante disso, o trabalho buscou avaliar a erosão marginal e o transporte

de sedimentos no rio Paraguai entre a foz do Rio Sepotuba e a foz do Rio

Cabaçal, para entender a dinâmica fluvial nesse trecho e, assim, sugerir

proposta de planejamento e gestão.

2. Materiais e Métodos 2.1 Área de estudo

A unidade de análise adotada corresponde ao trecho da bacia

hidrográfica do Paraguai que compreende o trecho entre a foz do rio Cabaçal

até a foz do rio Sepotuba, com 13,78 km de extensão. Este setor do rio

Paraguai localiza-se entre as coordenadas geográficas 15º55’23‖ - 15º59’59‖

latitude sul e 57º39’11‖ - 57º42’30‖ de longitude oeste (Figura 01).

39

Figura 01 –Localização da área de estudo – rio Paraguai, entre a foz dos rios Sepotuba e Cabaçal. Elaboração: a autora, a partir da imagem de satélite Landsat Órbita 227, ponto 71. Datada 06/05/2008.

2.2 Procedimentos metodológicos

2.2.1 Trabalho de campo

O trabalho de campo foi realizado em três etapas:

a) a primeira etapa acorreu no período de estiagem (novembro de 2008),

tendo como meta colocar nas margens os pinos e estacas para o

monitoramento da erosão marginal e também a coleta de sedimentos do

barranco para análise da composição granulométrica;

b) a segunda etapa foi realizada no período de cheia, a fim de coletar

sedimentos de fundo e suspensão no canal do rio Paraguai, entre a foz do rio

Sepotuba e a foz do rio Cabaçal;

40

c) a terceira etapa ocorreu no período de estiagem (agosto de 2009) e

teve como finalidade verificar o recuo da margem, através da medida dos pinos

e estacas deixadas na etapa anterior e a coleta de sedimentos de fundo e

suspensão da calha dor rio Paraguai.

Instrumentação com pinos e estacas

Para o monitoramento da erosão marginal, foram escolhidas 9 seções,

distribuídos ao longo do trecho estudado (Figura 02). O critério da escolhas

das seções ocorreu a partir da análise do comprimento do percurso estudado,

afim de que a distância entre uma seção e outra ficasse semelhante.

Figura 02 – Localização das seções monitoradas no rio Paraguai, entre a foz dos rios Sepotuba e Cabaçal Elaboração: a autora, a partir da imagem de satélite Landsat Órbita 227, ponto 71. Datada 06/05/2008.

41

Na área de estudo foram instalados 24 pinos distribuídos nas 9 seções

selecionadas (três pinos por seção), sendo que na seção 7 não foi possível

colocar pinos devido à resistência do material do barranco.

A característica do barranco foi fator importante para estabelecer a

distância de um pino a outro, ou seja, tanto a altura como a diferença textural

percebida visualmente definiu a distância, não havendo padronização. O

primeiro pino foi colocado a 0,5 m acima da lamina d’água, os demais foram

colocados de acordo com a altura do barranco. Porém, nos locais onde a base

encontrava-se solapada não foram inseridos pinos.

O método dos pinos foi, amplamente, revisado pelos pesquisadores

Wolman (1959); Leopold et al. (1966); Knighton (1973); Fernandez (1990);

Cunha (1996), dentre outros e no Brasil foi adaptado por Fernandez (1990)

para rios tropicais. Esse método consiste na colocação de pinos ou pregos

perpendiculares à face do barranco, sendo o recuo medido pelo grau de

exposição dos pinos ou pregos.

Os pinos são vergalhões de ¾ de diâmetro com comprimento de 50 cm,

na qual 40 cm são inseridos perpendiculares à face do barranco e 10 cm ficam

expostos para o monitoramento da erosão (Figura 03). A verificação do recuo

das margens foi realizada após o período da cheia.

Figura 03 – Pino inserido na margem do rio Paraguai, entre a foz dos rios Sepotuba e Cabaçal para o monitoramento da erosão do barranco. Foto: autora. Datada: nov. 2008.

42

Estacas

O monitoramente com estacas serve para garantir o controle de erosão

caso ocorra desbarrancamentos que provoque a perda dos pinos. Essa técnica

foi adaptada por pesquisadores brasileiros para medir erosão fluvial. Entre os

pesquisadores que usaram essas técnicas, destacam-se os trabalhos de

Fernandez (1990), Souza (1998, 2004), Guerra e Cunha (1996) e Souza e Silva

(2005).

Essa técnica constitui na instalação de estacas de madeira com 10 cm

expostas na parte superior das margens e 2,0 metros longe da calha do rio,

posicionadas de forma que não sejam afetadas por prováveis

desmoronamentos e retiradas pela ação dos habitantes locais (HUGHES,

1977).

Na área de estudo foram colocadas 10 estacas, na mesma seção onde

os pinos foram inseridos. O recuo da margem foi medido pela diferença da

distância entre a estaca e a margem (Figura 04).

Figura 04 – Estaca inserida na margem do rio Paraguai, entre a foz dos rios Sepotuba e Cabaçal para o monitoramento da erosão marginal. Foto: autora. Datada: nov. 2008.

43

Coletas de sedimentos das margens

Nas primeiras seções monitoradas (I a VIII) foram coletadas uma

amostra composta, totalizando oito amostra, e na IX seção foi retirada duas

amostras simples (do topo para base). As coletas das amostras compostas

consistiram na junção dos sedimentos da base, meio e topo formando uma

única amostra. Na nona seção, foram coletadas duas amostras simples, uma

no topo e outra na base, devido à constatação visual da diferença textural do

material da margem entre a base e o topo.

As amostras compostas permitem caracterizar o material, por meio de

uma estimativa de variação, em um menor número de amostra (UNITED

STATES ENVIRONMENTAL PROTECTION AGENCY - USEPA, 1989).

Coletas de sedimentos de fundo e suspensão

As amostras de sedimentos transportados pelo rio foram coletadas em

dois períodos, que correspondem à época de cheia e seca (abril e agosto).

Para coleta de sedimentos de fundo e suspensão foram escolhidos seis pontos

de coletas: dois na foz dos rios Sepotuba e Cabaçal (na confluência com o rio

Paraguai). Os demais pontos foram ao longo do rio Paraguai (Quadro 01).

Quadro 01 – Pontos de coleta dos sedimentos de fundo e suspensão no rio Paraguai, entre a foz dos rios Sepotuba e Cabaçal.

Ponto de Coleta Localização

01 Rio Sepotuba próximo a confluência com rio Paraguai (15º55’20‖S e 57º38’55‖W)

02 Confluência do rio Sepotuba com o rio Paraguai (15º55’23‖S e 57º39’02‖W)

03 Rio Paraguai (15º55’35‖S e 57º39’17‖W)

04 Próximo a confluência do rio Cabaçal e Paraguai (15º59’48‖S e 57º42’13‖W)

05 Confluência do rio Cabaçal com o rio Paraguai (15º59’53‖S e 57º42’18‖W)

06 Abaixo da confluência do rio Cabaçal e Paraguai (16º00’01‖S e 57º42’26‖W)

Fonte: elaborado pela autora, 2009.

Para a coleta do material de fundo foi utilizado o equipamento Van Veen,

pegador de mandíbulas. Este equipamento possui um dispositivo que, ao tocar o fundo

do canal, fecha-se e permite assim, coletar o material do leito. As amostras foram

44

colocadas para secagem no laboratório e processados pelo método de peneiramento

(SUGUIO, 1973).

Para a coleta de sedimentos em suspensão, utilizaram-se garrafas

plásticas. Após coletadas, as amostras foram encaminhadas ao laboratório

onde a água é filtrada para a determinação da carga em suspensão, os filtros

são secados em estufas e posteriormente pesados (MELO, SUMMERHAYES e

TORNER, 1975).

2.2.2 Trabalho de gabinete Altura da margem

A dimensão vertical da margem é fator que influencia na intensidade de

erosão fluvial. As margens altas, quando submetidas às mesmas condições,

apresentam maior recuo em comparação às margens médias e baixas. Para

definir a altura foi utilizada a proposta de Souza (2004), a qual define padrões

de altura: a margem baixa menor que 1m, a margem média (1 a 3 m) e a

margem alta (acima de 3 m), que são geralmente íngremes ou rampeadas.

Quantificação da magnitude da erosão marginal

A quantificação da magnitude da erosão marginal, após a medição, foi

calculada utilizando-se a seguinte fórmula (FERNANDEZ, 1996):

Onde:

= Magnitude da erosão (cm/dia ou cm/mês);

= Comprimento do pino exposto pela erosão (cm);

L_ = Comprimento exposto inicialmente, padronizada em 10 cm;

t = Tempo transcorrido (dias ou meses) entre cada campanha (coleta).

A erosão acumulada foi calculada pelo grau de exposição do pino, que

possuiu inicialmente 10 cm. A diferença no recuo do pino determina a erosão

acumulada.

Para o cálculo de sinuosidade do canal, foi utilizada a proposta de Friend

e Sinha (1993). A equação para o grau de sinuosidade é o comprimento em

linha reta dividido pelo comprimento do segmento em seu curso natural.

45

Quando o resultado for inferior a 1,5, o canal possui baixa sinuosidade. Se for

superior a este número é um canal de alta sinuosidade.

2.2.3 Análise de Laboratório

As análises granulométricas foram feitas utilizando-se o método da

pipeta (EMBRAPA, 1997). Para a análise textural, as amostra dos solos foram

secadas ao ar, posteriormente pesadas (20 gramas) e colocada em bécher com

solução de hidróxido de sódio (10 mL) e água destilada (100 mL). Em seguida,

agitou-as e foram colocadas em repouso por uma noite. Passado o período de

repouso, estas amostras foram colocadas no agitador elétrico durante 5 minutos.

Após a dispersão, o material foi lavado na peneira de malha 0,053 (nº270),

passando o silte e argila para a proveta de 1000 mL e ficando retida a fração de

areia na peneira.

O material da proveta foi agitado manualmente por 20 segundos e

deixado em repouso por 3 horas e 33 minutos. Em seguida, fez-se pipetagem

do material coletado a 5 cm de profundidade. Tanto os materiais da pipeta

como os da peneira foram colocadas em bécher e, em seguida, levados à

estufa para a secagem do material. Depois de secados, os materiais foram

colocados no dessecador para esfriar e, posteriormente, foi feita a pesagem e

calculados os percentuais de argila, areia e silte (EMBRAPA, 1997).

3. Resultados e Discussões

O leito do rio Paraguai é sinuoso, e em suas margens, predominam terrenos

planos que condicionam durante o período de cheia a uma vasta área de

inundação. Por ser um rio meandrante é comum encontrar barras laterais e diques,

devido a ação da erosão e deposição fluvial

No segmento estudado, o rio Paraguai apresentou o grau de

sinuosidade de 1,4. A margem esquerda é propicia à inundação devido à baixa

declividade do entorno. Nesta margem, encontram-se terraços abandonados

que contribui para evitar o alagamento da área em época da cheia,

possibilitando a ocupação sem planejamento. Em alguns trechos, a mata ciliar

foi totalmente retirada para a prática de atividades agropecuária (Figura 05).

46

Figura 05 – Margem do rio Paraguai, entre a foz dos rios Sepotuba e Cabaçal, utilizada para a criação de gado. Foto: autora. Datada: nov. 2008.

A vazão do canal varia entre os períodos de cheia e estiagem, o que

provoca oscilação no nível da água. A vazão média mensal do rio Paraguai

(1968 a 1995) variou de 249 a 1019 m3/s na estação fluviométrica de Cáceres

(SOUZA, 2004).

Os principais tributários do rio Paraguai nesse trecho são os rios

Cabaçal e Sepotuba. Porém, existem outros afluentes de menor porte.

A bacia hidrográfica do rio Sepotuba drena 11.460 km2, com vales

estreitos e cobertos por vegetação densa. A planície de inundação é limitada,

mesmo no baixo vale. Próximo à foz, a área de inundação é extensa com

vários meandros abandonados (CARVALHO, 1986).

Na confluência do rio Sepotuba com o rio Paraguai existe uma

bifurcação do canal, formando dois canais. Também encontram-se na foz,

algumas ilhas fluviais, vários bancos de sedimentos e barras submersas. A

mata ciliar apresenta-se densa e conservada, com ampla planície de inundação

(Figura 06).

47

Figura 06 – Confluência dos rios Sepotuba e Paraguai. Fonte: adaptado GOOGLE EARTH, 2006.

O rio Cabaçal possui área de 6.040 km2, com vales íngremes. No baixo

curso, a mata ciliar chega a medir cerca de 1,05 km de largura e em sua

planície de inundação existem vários meandros abandonados (GOOGLE

EARTH, 2006).

O rio bifurca-se em dois canais pelo acúmulo de sedimentos na calha,

por isso o canal secundário encontra-se quase que totalmente obstruído, o que

dificulta o escoamento da água no período de estiagem (Figura 07).

48

Figura 07 – Confluência dos rios Cabaçal e Paraguai. Fonte: adaptado GOOGLE EARTH, 2006.

Algumas feições morfológicas são encontradas em sua foz, como por

exemplo, bancos laterais e centrais, barras submersas, ilhas fluviais e intensa

sedimentação na planície de inundação. A granulometria dos sedimentos

encontrados no leito varia de areia média (883 g/kg) a silte (79 g/kg). No

período das cheias, a força da corrente do rio Cabaçal contribui para a

formação de cordões marginais na margem esquerda do rio Paraguai.

Seções monitoradas

Seção I

A seção I, próxima da confluência do rio Sepotuba com o rio Paraguai,

fica nas coordenadas geográficas de 15º55’23‖ latitude S e 57º39’09‖longitude

W. Neste trecho do rio Paraguai, a mata ciliar encontra-se conservada.

A altura e verticalidade da margem favorecem a atuação dos processos

erosivos. A margem é alta e íngreme e se encontra na parte côncava do rio

Paraguai (Figura 08).

49

Figura 08 – Tipo de margem da seção I do rio Paraguai, entre a foz dos rios Sepotuba e Cabaçal. Fonte: elaborado pela autora, 2009.

O estudo realizado por Souza (2004) no rio Paraguai mostra que as

margens altas, quando comparadas às margens médias, e estando submetidas

às mesmas condições ambiente, apresentam maior taxa de recuo.

A análise da composição granulométrica mostrou predominância de

argila 54,73%, seguido por silte 42,05% e areia 3,21%. Apesar de a argila ser

o principal componente granulométrico e a matar ciliar estar preservada, a

margem apresentou instabilidade. A erosão nessa margem é justificada pela

presença da própria argila e do silte.

A argila desta seção possui alta plasticidade. Os estudos de Souza e

Cunha (2009) constataram que, embora a argila presente no barranco do rio

possua alto teor de plasticidade quando está molhada, no período de estiagem,

com a redução da umidade, ela se torna dura e seca, favorecendo o

aparecimento de rachaduras que podem evoluir para fendas, o que tornaria a

margem susceptível a erosão por desmoronamento em blocos.

Esse comportamento é típico de argila rico em argilominerais 2:1, com

propriedades de expansão e contração, tais como a montimolonita e

vermiculita, que tendem a dificultar a infiltração da água, favorecendo a erosão.

O comportamento da argila na alternância do período seca e cheia

favoreceu a ocorrência da erosão por desmoronamento em blocos. Além disso,

50

a altura e posição da margem (côncava) e a presença do silte, que age como

inibidor de coesão da argila, contribuíram para o recuo da margem e fez com

que a magnitude de erosão variasse entre 0,88 a 2,77 cm/mês (Quadro 02).

Quadro 02 – Características e dados de erosão nas margens do rio Paraguai, entre a foz dos rios Sepotuba e Cabaçal, por meio de pinos e estacas de erosão.

Seção

Altura da

margem (m)

Local que foram

instalados os pinos

Tempo decorrido (meses)

Pinos de erosão Erosão

por estacas

Pinos exposto inicial (cm)

Erosão acumulad

a (cm)

Magnitude de

erosão (cm/mês.)

Recuo da

margem (m)

01

4,5

Base Meio Topo

09 10 10 10

25 8 8

2,77 0,88 0,88

0,05

02

9,5

Base Meio Topo

09 10 10 10

- 29 29

- 3,22 3,22

-

03

12

Base Meio Topo

09 10 10 10

32 6 -

3,55 0,66

- -

04

10,5

Base Meio Topo

09 10 10 10

- 20 11

- 2,22 1,22

-

05

4,48

Base Meio Topo

09 10 10 10

30 30 18

3,33 3,33 2,00

0,10

06

8,2

Base Meio Topo

09 10 10 10

10 20 26

1,11 2,22 2,88

-

07 3,4 00 09 - - - 0,82

08

1,7 Base Meio Topo

09 10 - -

30 - -

3,33 - -

0,30

09

2,55

Base Meio Topo

09

10 - -

30 - -

3,33 - -

-

Fonte: elaborado pela autora.

Seção II A seção II encontra-se próximo à Baía da Salobra, nas coordenadas

geográficas de 15º56’02‖ latitude S e 57º39’42‖ longitude W. No topo da

margem a mata ciliar apresenta-se parcialmente preservada e com barranco

rampeado. O primeiro e o segundo patamar possuem material arenoso e o

51

terceiro patamar, situado próximo ao nível da água, registra a presença de

concreções ferruginosas (Figura 09).

Figura 09 – Tipo de margem da seção II do rio Paraguai, entre a foz dos rios Sepotuba e Cabaçal. Fonte: elaborado pela autora, 2009.

A ocorrência de concreções está relacionada à variação do nível d’água

que promove a redução e, posteriormente, a oxidação do ferro presentes nos

componentes do solo (CURI et al., 1993).

A oxidação ocorre principalmente nos primeiros metros da superfície,

sendo efetiva na faixa acima da zona de saturação permanente e está

estreitamente ligada à ação da água (CASSETI, 2005).

Portanto, a formação de concreções ferruginosas está relacionada à

flutuação do nível da água. As concreções são misturas de partículas finas de

quartzo e óxido de Fe na forma de grãos ou nódulos, variando no tamanho,

forma, dureza e cor (CURI et al., 1993).

Nos locais com oscilação do nível da água ocorre condições favoráveis

ao intemperismo químico, principalmente no que diz respeito ao grau de

oxidação, promovendo o surgimento de cores avermelhadas, indicando

concentração de óxido de ferro (LEPSCH, 2002) como é o caso do sedimento

da margem dessa seção.

A areia é o componente principal dessa seção, inclusive na camada

onde ocorrem as concreções. A maior flutuação de água na base, associada à

52

areia, possui poros maiores e permitiu a infiltração e a circulação do ar,

contribuindo, assim, para o aparecimento de concreções ferruginosas.

O material que compõe o sedimento da margem dessa seção é areia

90,81% (69,94 % areia fina), argila 5,86 % e silte 3,33 %. A composição

granulométrica da margem e a ausência parcial da vegetação contribuíram

para a sua erosão.

No primeiro patamar, onde foram encontradas as concreções, observou-

se intensa erosão fluvial. A força hidráulica pode ter ocasionado fissura e

provocado a erosão em blocos e a perda do pino. Em razão disso, a magnitude

não pôde ser medida (Quadro 02).

No segundo patamar e no terceiro, onde há predominância de areia,

material propenso à erosão, devido à baixa coesão, a magnitude da erosão

chegou a 3,22 cm/mês. Desse modo, pode-se dizer que a erosão dessa

margem está vinculada, principalmente, à composição granulométrica e à falta

de vegetação.

Seção III

A seção III situa-se à margem direita do rio Paraguai, na Barranqueira da

Serraria Cáceres, nas coordenadas geográficas 15º56’42‖ latitude S e

57º40’33‖ longitude W, apresenta barranco alto e rampeado na base (Figura

10). Nesse setor a mata ciliar foi totalmente retirada para o plantio madeireiro

de Tectona grandis conhecida como ―teca‖, apreciada pela qualidade de sua

madeira.

53

Figura 10 – Tipo de margem da seção III do rio Paraguai, entre a foz dos rios Sepotuba e Cabaçal. Fonte: elaborado pela autora, 2009.

De acordo com Oliveira (2006), a erosão da margem depende,

sobretudo, das características do barranco (altura, geometria, estrutura,

propriedades mecânicas de seus constituintes).

Essa margem possui características de antigos terraços fluviais que

representam planícies que foram abandonadas. Os terraços fluviais situam-se

acima do curso d’água atual, que não são recobertas até mesmo no período de

cheias. Sua origem esta vinculada à oscilação climática de diminuição de

débito, também como resultado de movimentos neotectônicas.

De acordo com o Radambrasil (1982), no trecho estudado é possível

encontrar terraços que constituem os aluviões recentes, os quais são

constituídos por vários tipos de materiais.

Nesta seção, o terraço é constituído por areia 83,94% e silte 16,42%,

sendo a fração de argila inexistente. A areia presente na margem propiciou

maior ajuste nas partículas, causando empacotamento da margem.

A predominância de areia fina induz melhor ajuste das partículas,

reduzindo, por conseguinte, o espaço poroso e aumentando o adensamento do

solo, o que torna clara a influência do tamanho das partículas no processo de

adensamento ou compactação (SILVA et al. 2001).

54

A ocorrência de concreções na base do barranco próximo ao nível da

água está relacionada à segregação de transporte e concentração dos íons de

compostos de Fe, provenientes do material de origem (terraço fluvial) ou de

áreas mais elevadas, associada à flutuação da água.

A magnitude da erosão variou entre 0,66 a 3,55 cm/mês. Verificou-se

que a erosão foi maior na base mesmo sendo as mesmas constituídas de

concreções. Em geral, as concreções são mais resistentes à erosão. No

entanto, em ambiente fluvial, a ação hidráulica da água pode causar fissura e

contribuir para aumentar a erosão acumulada (Quadro 02).

Seção IV

A seção IV situa-se à margem direita, no Estirão do Barranco Alto, nas

coordenadas geográficas 15º57’34‖latitude S e 57º41’02‖ longitude W. O

barranco apresenta rampeado na base e íngreme no topo (Figura 11).

Figura 11 – Tipo de margem da seção IV do rio Paraguai, entre a foz dos rios Sepotuba e Cabaçal. Fonte: elaborado pela autora, 2009.

A composição granulométrica das margens corresponde a 32,30% de

areia, 32,30% de silte e 35,39%. Os dados mostraram que possui equilíbrio na

granulometria dos sedimentos do barranco, porém insuficiente para fornecer

estabilidade da margem.

A expressiva fração do silte e areia reduziram a coesão da argila. Tal

fato tornou a margem vulnerável à erosão. Segundo Rezende (1985), a erosão

55

tende a ser maior em solos com maiores teores de silte e areia e menor nos

solos argilosos.

A presença de areia média (47,78%) também colaborou para reduzir a

estabilidade da argila, o que tornou essa margem susceptível à erosão marginal. No

trabalho de Casseti (1987/1988), em Palmelo de Goiás, o autor constatou que o

solo com alto teor de argila, mas com presença de areia, torna o solo friável, e

consequentemente, favorece à atuação dos processos erosivos.

Neste contexto, a característica granulométrica da margem e a altura

auxiliaram na atuação da erosão marginal, fazendo com que a magnitude

variasse entre 1,22 a 2,22 cm/mês (Quadro 02). A força hidráulica atuou na

base, retirando o material de sustentação e isso ocasionou a erosão por

solapamento.

Seção V

A seção monitorada encontra-se à margem esquerda do rio Paraguai,

acima da Boca da Piraputanga, nas coordenadas geográficas 15º58’22‖ latitude

S e 57º41’05‖ longitude W. A mata ciliar encontra-se preservada. O barranco é

íngreme com 4,48 m de altura, registrando o processo erosivo na base.

O processo de desmoronamento, que acontece nas margens está

relacionado principalmente à composição granulométrica do sedimento, o que

promove a erosão diferenciada, erodindo a parte inferior da margem durante o

período chuvoso. No período de estiagem, o excesso de peso na parte superior

provoca o solapamento da margem. As margens altas contribuem para

desencadear erosão por desmoronamento, principalmente nas faces das margens

constituídas por areias ou interestratificadas (areias e argilas) (FIGURA 12).

56

Figura 12 – Tipo de margem da seção V do rio Paraguai, entre a foz dos rios Sepotuba e Cabaçal. Fonte: elaborado pela autora, 2009.

Na análise granulométrica constatou-se a presença de argila 52,22 %,

silte 46,57% e areia 1,20%. Vale salientar que mesmo havendo predominância

de argila, material de alta coesão, a margem apresentou instabilidade.

A magnitude de erosão dessa margem varia em 2,00 a 3,33 cm/mês

(Quadro 02) e a maior magnitude ocorreu na base. A baixa resistência da

margem, associada ao fluxo hidráulico, contribuiu para a retirada dos

sedimentos da base, o que fez destruir a sustentação, ocasionando o

solapamento.

Seção VI

A seção VI situa-se à margem esquerda na Boca da Piraputanga

(abaixo), nas coordenadas geográficas 15º58’30‖ latitude S e 57º41’25‖

longitude W. A mata ciliar encontra-se parcialmente conservada. A margem

apresenta-se íngreme, com três camadas distintas: areia, concreção

ferruginosa e argila (Figura 13).

57

Figura 13 – Tipo de margem da seção VI do rio Paraguai, entre a foz dos rios Sepotuba e Cabaçal. Fonte: elaborado pela autora, 2009.

A composição granulométrica da margem registrou alta concentração de

areia 90,71 %, seguido de silte 5,15 % e argila 4,13 %. A base apresentava

maior atuação do processo erosão e, por isso, não sustentavam os pinos que

precisaram ser inseridos a partir da camada com concreções.

No primeiro pino, instalado em concreção ferruginosa, a magnitude de

erosão foi de 1,11 cm/mês. Na parte intermediária, entre as concreções e o

topo (areia), a magnitude foi de 2,22 cm/mês (Quadro 02). A presença de areia

diminuiu a resistência, fazendo com que houvesse maior erosão. No topo, onde

predomina a areia, material propenso à erosão, a magnitude chegou a 2,88

cm/mês. A areia é facilmente transportada pela água, devido a baixa coesão

das frações.

Seção VII

A seção VII encontra-se na Fazenda Ximbuva, nas coordenadas

geográficas 15º58’28‖ latitude S e 57º42’22‖ longitude W. A mata ciliar foi

retirada para a prática de atividades pecuária. O barranco apresenta-se

íngreme (Figura 14). É composto por estratos de concreções, o que sugere

sucessivas fases de deposição em diferentes momentos, com características

de antigo terraço fluvial, que não inunda no período de cheias.

58

Figura 14 – Tipo de margem da seção VII do rio Paraguai, entre a foz dos rios Sepotuba e Cabaçal. Fonte: elaborado pela autora, 2009.

Segundo Popp (1998), os estratos concordantes são uma sequência

deposicional, composta de sucessão de estratos, relacionados e limitados em

sua base e topo por discordância. Esta sequência deposicional é depositada

durante um determinado intervalo de tempo que pode ser longo ou curto,

formando camadas.

Deste modo, foi verificado que nessa margem há sequências

estratigráficas físicas, com seus limites caracterizados por discordância. Os

diferentes estágios de depósitos de sedimentos constituíram a margem em

estratos testemunhas de que, no passado, houve alternância de clima e

consequentemente, depósitos de sedimentos.

Os estratos são compostos de concreções ferruginosas, comuns em

ambientes de oscilação do nível do lençol freático, reforçando a idéia de que,

no passado, a área correspondia ao leito maior.

A composição granulométrica da margem é composta por argila 16,01%,

silte 3,76% e, principalmente, por areia 80,22%.

O recuo da margem foi de 0,82 metros no período analisado (Quadro

02). A força hidráulica e a posição da margem (côncava) contribuíram para a

59

atuação do processo erosivo por solapamento. Outros fatores que auxiliaram

foram a falta da mata ciliar e a pratica da atividade pecuária.

Seção VIII

A seção VIII localiza-se próximo ao acampamento Iuania, nas

coordenadas geográficas 15º59’23‖ latitude S e 57º41’55‖ longitude W. A mata

ciliar apresenta parcialmente conservada. O barranco apresenta rampeado na

base e íngreme no topo (Figura 15).

Figura 15 – Tipo de margem da seção VIII do rio Paraguai, entre a foz dos rios Sepotuba e Cabaçal. Fonte: elaborado pela autora, 2009.

A composição granulométrica da margem predominante neste local é

areia 79,54 g/kg, registra-se também a ocorrência de silte 12,42% g/kg e argila

8,03% g/kg.

A magnitude de erosão foi de 3,33 cm/mês (Quadro 04). A textura da

margem, a falta de vegetação e a força hidráulica podem ter auxiliado para a

ocorrência de erosão marginal. Observou-se que ocorreu maior erosão na

base, porém não foi possível calcular a magnitude devido à perda do pino.

Seção IX

A seção IX localiza-se na foz do rio Cabaçal, nas coordenadas

geográficas 15º59’59‖ latitude S e 57º42’15‖longitude W. A mata ciliar está

60

parcialmente conservada. O barranco é íngreme, com 2,55 metros de altura.

Foram identificadas visualmente três camadas: a primeira (topo), com presença

de areia; a segunda, mais coesa, constituída com frações de argila e a terceira

(base) com sedimentos finos (areia e silte) (Figura 16).

Figura 16 – Tipo de margem da seção IX do rio Paraguai, entre a foz dos rios Sepotuba e Cabaçal. Fonte: elaborado pela autora, 2009.

A composição granulométrica na base é composta por silte 43,76 %,

areia 29,23 % e argila 27%. A fração de areia predominante é areia média

44,25%. O topo tem como componente principal a areia, 98,13 % e também foi

encontrado em sua composição o silte 2,08 % e não se registrou a presença de

argila.

Observou-se que as maiores atuações dos processos erosivos

ocorreram na base e no topo, a vulnerabilidade da margem está associada à

composição granulométrica e à ausência de vegetação. A areia e o silte,

principais componentes da margem, são materiais vulneráveis ao processo

erosivo.

Por ser constituída por sedimentos finos, de fácil remoção e transporte, a

base está sendo escavado, o que provocou erosão por solapamento. A

magnitude de erosão da base foi estimada em 3,33 cm/mês (Quadro 04). No

topo, não foi possível o cálculo da magnitude devido à perda do pino.

61

Análises de sedimentos em suspensão e fundo

O rio Paraguai, no segmento estudado, transporta sedimentos de fundo

e suspensão de diversas granulometrias. O aumento de sedimento

transportado foi maior no período de cheia do que na seca em virtude da

intensa precipitação.

De acordo com Reid et al. (1997), os diferentes tipos de uso da terra, a

declividade da bacia hidrográfica, a temperatura antecedente e as condições

de umidade e descarga das vertentes e do canal irão influenciar as

concentrações de sedimentos no canal.

Tais fatores podem estar influenciando diretamente no transporte de

sedimentos na área de estudo, visto que os dados apresentados diferem da

tendência natural do rio Paraguai. Souza (2004) fez referência aos valores de

sedimentos que devem ser encontrado neste rio em época de cheia (68 a 102

mL/L) e seca (38 a 65 mL/L).

Como se pode verificar no Quadro 05, os resultados comparados com

os valores apresentados por Souza (2004) são inferiores tanto no período

chuvoso como no seco, exceto no ponto 03, onde o resultado é superior.

Quadro 03 – Composição dos sedimentos em suspensão e fundo do rio Paraguai, entre a foz dos rios Sepotuba e Cabaçal.

Ponto de

Coleta Local

Sedimentos em

suspensão (mg/l),

período da cheias

Sedimentos em

suspensão (mg/l),

período de estiagem

Sedimentos de fundo (g/kg), período de cheia

Areia grossa

Areia média

Areia fina

Silte Argila

01

Rio Sepotuba próximo a

confluência

29,1 2,0 - 782 - 159 99

02

Confluência do rio

Sepotuba e Paraguai

34,6 23,0 593 - - 327 80

03 Rio Paraguai 128,0 3,5 - 411 - 573 16

04 Rio Cabaçal Próximo a

confluência 40,5 8,0 411 - - 525 64

62

05

Confluência do rio

Cabaçal e Paraguai

33,0 28,0 - 883 - 79 38

06

Abaixo da confluência

do rio Cabaçal e Paraguai

56,0 16,0 509 - - 296 195

Fonte: elaborado pela autora.

A dinâmica do rio Paraguai justifica os baixos valores nos transporte de

sedimentos. No período de cheia, o rio Paraguai transborda e partes dos

sedimentos transportados estão sendo depositados na planície de inundação.

Também, cabe ressaltar que, no trecho estudado, apesar de ser uma

área rural onde existem práticas de atividades agropecuárias, a mata ciliar

ainda serve como obstáculo para impedir que uma grande quantidade de

detritos chegue ao rio, diminuindo a disponibilização dos sedimentos no canal.

Ponto 01

A carga em suspensão foi maior no período de cheia devido à alta

pluviosidade e ao aumento do fluxo. Os sedimentos em suspensão

transportados em época de cheia foram de 29,1 mg/L e na seca foram de 2,0

mg/L (Quadro 03).

Em geral, o sedimento de fundo é constituído por sedimentos maiores

(areia, cascalho e fragmentos de rochas), os quais são transportados por

saltação, tração ou rolamento que estão condicionados à potência do fluxo e à

declividade do canal

Na foz, os rios perdem velocidade no fluxo e diminuem a declividade,

dificultando o transporte de sedimentos maiores. Deste modo, os sedimentos

grosseiros acabam sendo depositados na montante.

Neste contexto, este ponto difere da tendência natural. A carga de fundo

deveria ser composta principalmente por sedimentos finos, visto que este ponto

se localiza no baixo curso do rio Sepotuba.

Contudo, a análise granulométrica do sedimento de fundo demonstraram

que a carga de fundo é constituída por areia média 782 g/kg. O dado revela

63

que o rio Sepotuba, mesmo no baixo curso, possui competência para

transportar materiais grosseiros.

Ponto 02

A presença de material grosseiro, neste ponto, demonstrou que os rios

Paraguai e Sepotuba possuem eficiência no fluxo para transportar partículas

maiores. Os sedimentos de fundo são compostos principalmente por areia

grossa (593 g/kg) (Quadro 03).

A presença de sedimentos grosseiros na confluência dos rios é

justificada pela própria característica dos rios e pelo aumento da velocidade do

fluxo decorrente do período da cheia.

A concentração de sedimento em suspensão apresentou valores

superiores em época da cheia. O aumento na quantidade de sedimentos finos

em suspensão nesse período está relacionado ao alto índice pluviométrico que

favorece o arrastamento de sedimentos e aumenta a quantidade desses

materiais na calha do rio.

Ponto 03 O aporte de sedimentos finos neste segmento pode ser atribuído aos

sedimentos das margens que é constituída principalmente de sedimentos finos

e também dos sedimentos oriundos da montante.

A quantidade de sedimento em suspensão chegou a 128,0 mg/L no

período chuvoso (Quadro 03). A composição granulométrica de fundo também

é constituída principalmente de sedimentos finos (silte 573 g/kg). Os dados

mostram que nesse ponto pode ter havido uma diminuição na declividade ou

na competência do rio em transportar sedimentos grosseiros.

A presença de sedimentos finos (argila e silte) aumentam a turbidez

d’água, o que afeta a entrada de luz na coluna de água e prejudica a vida

aquática.

Ponto 04

De acordo com a tendência natural, na foz dos rios encontram-se

materiais finos devido à baixa declividade e à diminuição do fluxo. Contudo, os

dados foram contra essa tendência.

64

Localizado na foz do rio Cabaçal, a composição granulometria

apresentou uma quantidade considerável de areia grossa 411 g/kg (Quadro

03). Esse dado permite concluir, que mesmo sendo no baixo curso, o rio

Cabaçal é capaz de transportar materiais grosseiros.

O sedimento de suspensão foi de 40,5 mg/L, tendência esperada no

baixo curso, visto que o rio perde declive e capacidade de transportar materiais

grosseiros na jusante.

Ponto 05

O quinto ponto localiza-se na confluência do rio Cabaçal e Paraguai. A

composição granulométrica do sedimento de fundo é composta

predominantemente de areia media 883 g/kg (Quadro 03).

Comparando esse dado como o ponto acima, o resultado demonstrou

que, embora o rio Cabaçal (no baixo curso), possua competência para

transportar materiais grosseiros, estes não chegam ao rio Paraguai.

Com esse resultado, foi possível levantar duas hipóteses, justificando a

ausência da areia grossa na confluência: a) o rio Cabaçal perdeu declividade

e competência para transportar materiais grosseiros até a confluência; b) a

declividade do rio Paraguai é menor que a do rio Cabaçal, formando dique

para os sedimentos grosseiros.

O transporte de sedimento em suspensão está dentro da tendência

esperada, sendo que a maior concentração se dá em época da cheia (33,0

mg/l) e não na da seca (28,0 mg/l).

Ponto 06

Abaixo da confluência, do rio Cabaçal e Paraguai, a análise

granulométrica do sedimento de fundo demonstrou intensa quantidade de areia

grossa 509 g/kg (Quadro 03). O aumento no tamanho do sedimento demonstra

que o rio Paraguai está recebendo sedimentos grosseiros da planície ou do

material que compõe a margem.

A carga grosseira mostra que o rio possui capacidade de transportar

materiais grosseiros. No entanto, cabe ressaltar que os materiais foram colhidos

no período de cheia, quando ocorre o aumento de fluxo, o que aumenta tanto a

capacidade de transportar sedimentos finos como grosseiros.

65

No período chuvoso, a carga de sedimento em suspensão foi maior que

em relação ao período seco (Quadro 05). Os dados demonstraram que o rio

Paraguai transporta mais sedimentos grosseiros que em suspensão. Conclui-se,

portanto, que o rio tem capacidade de transportar sedimentos grosseiros e que o

aporte de sedimentos finos a ser transportado é menor.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A magnitude de erosão fluvial chegou a 3,55 cm/mês nas seções

monitoradas. Os dados sobre a composição granulométrica mostraram que,

apesar de existirem seções com predominância de argila e com presença de

concreções ferruginosas, estas foram insuficientes para dar a estabilidade da

margem.

A argila, apesar de ser material de boa coesão, poderia ter tornado a

margem resistente ao trabalho da água. Contudo, a presença de silte nessas

seções pode ter reduzido a coesão da argila. Outro fator que pode explicar

erosão na seção é a própria característica da argila, pois ela possui alto teor de

plasticidade e, quando molhada, expande-se; e no período de seca, torna-se

dura e seca devido à redução da umidade, o que favorece o aparecimento de

fendas e, como consequência, causa a erosão marginal por desmoronamento

em blocos.

A oscilação do lençol freático contribuiu para a formação de concreções

ferruginosas. Apesar das concreções serem resistentes, a força hidráulica

ocasionou fissura, o que provocou a erosão em blocos.

A estabilidade da margem está diretamente ligada as suas propriedades

físicas que a mantém resistente à erosão. Além dessas propriedades, outros

fatores influenciam na variação da erosão fluvial, tais como: a ausência de

mata ciliar, a característica e uso da margem e, principalmente, a força

hidráulica. Esses fatores contribuem para a erosão por desmoronamento

causada geralmente pelo solapamento da margem.

A erosão causa danos econômicos, sociais e ambientais uma vez que

há perda de terras e, por sua vez, o material erodido promove o assoreamento

e colabora para a formação de bancos de sedimentos.

66

O monitoramento possibilitou avaliar a taxa de erosão marginal no rio,

mas é insuficiente para a previsão de perda anual. Isso porque o período

analisado foi extremamente pequeno. Para tanto, será necessário o

monitoramento regular, acompanhando detalhadamente os dados de

velocidade de fluxos, a fim de verificar se as taxas de erosão persistirão em ser

intensas.

Desse modo, somente com os repetitivos monitoramentos das margens,

pode-se sugerir proposta de contenção dos processos erosivos, mas desde já,

sugere-se que se mantenha a mata ciliar preservada e no caso onde está

parcialmente desmatada, urge que se faça a recuperação da mata ciliar e

monitoramento das atividades de pescas e turismos e não se permita o uso das

margens para fins agropecuários.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A abordagem realizada nesse trabalho procurou analisar a dinâmica

fluvial do Rio Paraguai, trecho que corresponde a foz do Rio Sepotuba a foz do

Rio Cabaçal. O estudo possibilitou o cálculo da magnitude de erosão marginal.

Os dados demonstraram que os fatores responsáveis pela erosão marginal são

a composição granulométrica, a característica e uso da margem e a força

hidráulica do fluxo d’água no rio Paraguai durante o período de maior vazão.

A magnitude da erosão foi intensa nas seções monitoradas. A maior taxa

de erosão encontra-se na margem que contém concreções ferruginosas.

Apesar de apresentar resistência, a força hidráulica pode ter ocasionado

fissuras que, por conseqüência, causou a erosão por desmoronamento em

blocos.

Os sedimentos retirados da margem são depositados próximos a

margens ou transportados e depositados à jusante, provocando o

aparecimento de bancos de sedimentos.

As analises temporais, com empregos de mapas dos anos de 1986 a

2008, permitiram verificar as transformações morfológicas em escala temporal.

A existência de meandros abandonados na planície de inundação está

condicionada a migração do canal, fato comum quando se trata de rios

meandrantes.

Os resultados da analises demonstraram aumento ou redução da área

dos meandros e, em alguns casos o seu desaparecimento. O aumento/redução

e o desaparecimento dos meandros estão relacionados ao processo de

acreção vertical. Na época do cheia o rio transborda para a planície de

inundação aonde os sedimentos vão sendo sucessivamente depositados.

De modo de geral, as alterações na dinâmica morfológica dos meandros

estão associadas à carga de sedimentos, que por sua vez é condicionada ao

fluxo de energia. Por ser um período curto recomenda-se a continuação do

monitoramento das sucessivas mudanças no ambiente fluvial (leito, margem e

planície de inundação) e das margens. Sugere-se também a recuperação das

matas ciliares, e impeça o uso das margens para as atividades agropecuárias.

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GLOSSÁRIO

Bancos ou barras de sedimentos – Corresponde aos depósitos de sedimentos nos canais fluviais, como os que se desenvolvem no eixo central, ou seja, os bancos ou barras centrais (mid channel bar), as barras laterais (channel side bar e point bars) e barras submersas. Pertencem a diferentes categorias.

Bifurcação (braços) - Correspondem a pequenos cursos, geralmente perenes, conectados ao rio principal.

Campo de inundação - áreas inundáveis, com predominância de gramíneas.

Colo de meandro – É o espaço ou pêndulo que separa dois braços de um meandro. Sujeito à ação erosiva em duas frentes, sua tendência é ser cortado ou estrangulado.

Depósitos aluviais – Depósitos de sedimentos relacionados à dinâmica fluvial.

Depressões – Forma de relevo que apresenta-se em posição altimétrica mais baixa.

Detrítico – Sedimentos ou fragmentos desagregados de uma rocha.

Diques – Corresponde aos bancos de sedimentos alongados, encontrados nas laterais de canal fluvial.

Fendas ou fissura – Qualquer tipo de abertura na crosta terrestre.

Flúvio-lacustre - Sedimento cuja deposição ocorreu, ora em meio fluvial, ora em meio lacustre (lago de água doce), em alternância periódica ou, então, em meio de características mistas, fluviais e lacustres.

Meandros abandonados - São os meandros que não possuem ligação direta com o canal fluvial.

Meandros ativos – Corresponde a uma faixa meandrante do canal fluvial, apresentado erosão e deposição.

Meandros colmatados - Antigos meandros (leito) que foram cobertos de sedimentos.

Padrão meândrico – Os rios meândricos possuem curvas sinuosas e largas, com erosão na margem côncava e deposição na margem convexa.

Planícies – São terrenos mais ou menos planos, cuja natureza é sedimentar.

Processo de acumulação de sedimentos – Deposição de sedimentos ou substancias que poderão ser mineralizadas.