Direito Penal Aula 02

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Direito Penal – PC-DF (ESCRIVÃO) ESCRIVÃO DE POLÍCIA Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo – Aula 02 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 1 de 97 AULA 02: CRIME. CONCEITO. ELEMENTOS (PARTE I): FATO TÍPICO; CLASSIFICAÇÃO DOS CRIMES (DOLOSO, CULPOSO, CONSUMADO, TENTADO E IMPOSSÍVEL). ERRO DE TIPO; ILICITUDE. SUMÁRIO PÁGINA Apresentação da aula e sumário 01 I - Conceito de Crime 02 II - Fato Típico 05 III – Crime doloso e culposo 17 IV – Fato típico consumado, tentado e impossível 26 V – Ilicitude 37 Resumo 49 Questões 50 Questões comentadas 63 Gabarito 97 Salve, galera! Na aula de Hoje vamos adentrar ao estudo do Crime, seu conceito e elementos, estudando os dois primeiros elementos do crime (de acordo com o conceito analítico): Fato típico e ilicitude. Além disso, vamos ver as modalidades de CRIME (Doloso, culposo, consumado, tentado e impossível), conforme as mais variadas classificações. Como temos uma aula relativamente grande, coloquei um quadrinho-resumo no final da aula, com algumas lembranças de tópicos importantes que vocês têm sempre que ter em mente. Lembrando que TODAS as questões da nossa aula de hoje são do CESPE/UnB. Nem sempre isso é possível, já que nossa matéria não cai em todos os concursos, logo, o Banco de Questões é menor. Bons estudos! Prof. Renan Araujo

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AULA 02: CRIME. CONCEITO. ELEMENTOS (PARTE

I): FATO TÍPICO; CLASSIFICAÇÃO DOS CRIMES

(DOLOSO, CULPOSO, CONSUMADO, TENTADO E

IMPOSSÍVEL). ERRO DE TIPO; ILICITUDE.

SUMÁRIO PÁGINA

Apresentação da aula e sumário 01

I - Conceito de Crime 02

II - Fato Típico 05

III – Crime doloso e culposo 17

IV – Fato típico consumado, tentado e impossível 26

V – Ilicitude 37

Resumo 49

Questões 50

Questões comentadas 63

Gabarito 97

Salve, galera!

Na aula de Hoje vamos adentrar ao estudo do Crime, seu

conceito e elementos, estudando os dois primeiros elementos do

crime (de acordo com o conceito analítico): Fato típico e ilicitude.

Além disso, vamos ver as modalidades de CRIME (Doloso,

culposo, consumado, tentado e impossível), conforme as mais variadas

classificações.

Como temos uma aula relativamente grande, coloquei um

quadrinho-resumo no final da aula, com algumas lembranças de

tópicos importantes que vocês têm sempre que ter em mente.

Lembrando que TODAS as questões da nossa aula de hoje são

do CESPE/UnB. Nem sempre isso é possível, já que nossa matéria não

cai em todos os concursos, logo, o Banco de Questões é menor.

Bons estudos!

Prof. Renan Araujo

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I – CONCEITO DE CRIME

O Crime é um fenômeno social, disso nenhum de vocês duvida.

Entretanto, como conceituar o crime juridicamente?

Muito se buscou na Doutrina acerca disso, tendo surgido inúmeras

posições a respeito. Vamos tratar das principais.

O Crime pode ser entendido sob três aspectos: Material, legal e

analítico.

Sob o aspecto material, crime é toda ação humana que lesa ou

expõe a perigo um bem jurídico de terceiro, que, por sua

relevância, merece a proteção penal. Esse aspecto valoriza o crime

enquanto conteúdo, ou seja, busca identificar se a conduta é ou não apta

a produzir uma lesão a um bem jurídico penalmente tutelado.

Assim, se uma lei cria um tipo penal dizendo que é proibido chorar

em público, essa lei não estará criando uma hipótese de crime em seu

sentido material, pois essa conduta NUNCA SERÁ crime em sentido

material, pois não produz qualquer lesão ou exposição de lesão a bem

jurídico de quem quer que seja. Assim, ainda que a lei diga que é crime,

materialmente não o será.

Sob o aspecto legal, ou formal, crime é toda infração penal a

que a lei comina pena de reclusão ou detenção. Nos termos do art.

1° da Lei de Introdução ao CP:

Art 1º Considera-se crime a infração penal que a

lei comina pena de reclusão ou de detenção, quer

isoladamente, quer alternativa ou

cumulativamente com a pena de multa;

contravenção, a infração penal a que a lei comina,

isoladamente, pena de prisão simples ou de multa,

ou ambas. alternativa ou cumulativamente.

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Percebam que o conceito aqui é meramente legal. Se a lei cominar a

uma conduta a pena de detenção ou reclusão, cumulada ou

alternativamente com a pena de multa, estaremos diante de um crime.

Por outro lado, se a lei cominar a apenas prisão simples ou multa,

alternativa ou cumulativamente, estaremos diante de uma contravenção

penal.

Esse aspecto consagra o SISTEMA DICOTÔMICO adotado no Brasil,

no qual existe um gênero, que é a infração penal, e duas espécies, que

são o crime e a contravenção penal. Assim:

Vejam que quando se diz “infração penal”, está se usando um termo

genérico, que pode tanto se referir a um “crime” ou a uma “contravenção

penal”. O termo “delito”, no Brasil, é sinônimo de crime.

O crime pode ser conceituado, ainda, sob um aspecto

analítico, que o divide em partes, de forma a estruturar seu

conceito.

INFRAÇÃO PENAL

CRIMES (Delito) CONTRAVENÇÕES

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Primeiramente surgiu a teoria quadripartida do crime, que

entendia que crime era todo fato típico, ilícito, culpável e punível.

Hoje é praticamente inexistente.

Depois, surgiram os defensores da teoria tripartida do crime, que

entendiam que crime era o fato típico, ilícito e culpável. Essa é a teoria

que predomina no Brasil, embora haja muitos defensores da terceira

teoria.

A terceira e última teoria acerca do conceito analítico de crime

entende que este é o fato típico e ilícito, sendo a culpabilidade mero

pressuposto de aplicação da pena. Ou seja, para esta corrente, o

conceito de crime é bipartido, bastando para sua caracterização que o

fato seja típico e ilícito.

As duas últimas correntes possuem defensores e argumentos de

peso. Entretanto, a que predomina ainda é a corrente tripartida. Portanto,

na prova objetiva, recomendo que adotem esta, a menos que a banca

seja muito explícita e vocês entenderem que eles claramente são adeptos

da teoria bipartida, o que acho pouco provável.

Todos os três aspectos (material, legal e analítico) estão

presentes no nosso sistema jurídico-penal. De fato, uma conduta

pode ser materialmente crime (furtar, por exemplo), mas não o será se

não houver previsão legal (não será legalmente crime). Poderá, ainda, ser

formalmente crime (no caso da lei que citei, que criminalizava a conduta

de chorar em público), mas não o será materialmente se não trouxer

lesão ou ameaça a lesão de algum bem jurídico de terceiro.

Desta forma:

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Esse último conceito de crime (sob o aspecto analítico), é o

que vai nos fornecer os subsídios para que possamos estudar os

elementos do crime (Fato típico, ilicitude e culpabilidade).

O fato típico é o primeiro dos elementos do crime, sendo a tipicidade

um de seus pressupostos. Vamos estudá-lo, então!

II – FATO TÍPICO

O fato típico também se divide em elementos, são eles:

Conduta humana (alguns entendem possível a conduta de

pessoa jurídica;

Resultado naturalístico;

Nexo de causalidade;

Tipicidade

CONCEITO DE CRIME

ASPECTO MATERIAL ASPECTO LEGAL ASPECTO ANALÍTICO

Teoria quadripartida Teoria tripartida Teoria bipartida

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A) Conduta

Três teorias buscam explicar a conduta: Teoria naturalística (ou

clássica), finalista e social.

Para a teoria naturalística, conduta é a ação humana. Assim, basta

que haja movimento corporal para que exista conduta. Esta teoria está

praticamente abandonada, pois entende que não há necessidade de se

analisar a vontade do agente nesse momento, guardando a análise da

vontade (dolo ou culpa) para quando do estudo da culpabilidade.

Para esta teoria, teríamos conduta, por exemplo, quando A, mais

forte, empurra B, mais fraco, de forma que este esbarra em C, que vem a

cair de um prédio de 20 andares. Aqui, para os adeptos dessa corrente, B

cometeu fato típico e ilícito, sendo o crime excluído apenas quando

analisada sua culpabilidade! Hoje praticamente não é aceita no mundo.

Para a teoria finalista, de HANS WELZEL, a conduta humana (não

consigo vislumbrar conduta de Pessoa Jurídica!) é a ação voluntária

dirigida a uma determinada finalidade. Assim:

Conduta = vontade + ação

Logo, retirando-se um dos elementos da conduta, esta não

existirá, o que acarreta na inexistência de fato típico.

EXEMPLO: João olha para Roberto e o agride, por livre espontânea

vontade. Estamos diante de uma conduta (quis agir e agrediu) dolosa

(quis o resultado).

Agora, se João dirige seu carro, vê Roberto e sem querer, atinge-o,

estamos diante de uma conduta (quis dirigir e acabou ferindo) culposa

(não quis o resultado).

Vejam que a “vontade” a que me referi como elemento da conduta é

uma vontade de meramente praticar o ato que ensejou o crime, ainda

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que o resultado que se pretendesse não fosse ilícito. Quando a vontade

(elemento da conduta) é dirigida ao fim criminoso, o crime é doloso.

Quando a finalidade é dirigida a outro fim (que até pode ser criminoso,

mas não aquele, o crime é culposo). Porém, por enquanto vamos ficar

apenas na “vontade” (desculpem o trocadilho) e estudar somente os

elementos do fato típico.

ESTA É A TEORIA ADOTADA PELO NOSSO CÓDIGO PENAL.

Vejamos os termos do art. 20 do CP:

Art. 20 - O erro sobre elemento constitutivo do

tipo legal de crime exclui o dolo, mas permite a

punição por crime culposo, se previsto em lei.

Ora, se a lei prevê que o erro sobre um elemento do tipo

exclui o dolo, é porque entende que o dolo está no tipo (fato

típico), não na culpabilidade. Assim, a conduta é, necessariamente,

voluntária.

No exemplo dado lá em cima, “B” não teria cometido fato típico, pois

não houve conduta, já que não teve vontade alguma (nem vontade

dirigida ao resultado – dolo, nem vontade dirigida a outro resultado –

culpa). Nesse caso, estaríamos diante do que se chama de coação física

irresistível, ou seja, B foi mero instrumento nas mãos de A, não tendo

agido com vontade.

Para terceira teoria, a teoria social, a conduta é a ação humana,

voluntária, que causa alguma espécie de abalo na relação do agente com

a sociedade, ou seja, deve ser uma conduta socialmente relevante.

Assim, um fato admitido pela sociedade (jogo do bicho), mesmo

que tipificado, não poderia ensejar conduta penal. Não é adotada

no nosso sistema jurídico.

A conduta humana pode ser uma ação ou uma omissão. A

questão é: Qual é o resultado naturalístico que advém de uma

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omissão? Naturalisticamente nenhum, pois do nada, nada surge. Assim,

aquele que se omite na prestação de socorro a alguém, pode estar

cometendo o crime de omissão de socorro, art. 135 do Código Penal (que

é um crime formal, pois a morte daquele a quem não se prestou socorro é

irrelevante), não porque causou a morte de alguém (até porque este

resultado é irrelevante e não fora diretamente provocado pelo agente),

mas porque descumpriu um comando legal.

Entretanto, o art. 13, § 2° do CP diz o seguinte:

§ 2º - A omissão é penalmente relevante quando o

omitente devia e podia agir para evitar o

resultado. O dever de agir incumbe a quem:

a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância;

b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado;

c) com seu comportamento anterior, criou o risco

da ocorrência do resultado.

Esse artigo estabelece o crime omissivo impróprio. Nesses crimes,

quando o agente se omite na prestação do socorro ele não responde por

omissão de socorro (art. 135 do CP), mas responde pelo resultado

ocorrido (por exemplo, a morte da pessoa a quem ele deveria proteger).

EXEMPLO: O Pai leva o filho de 04 anos à praia e o deixa brincando

à beira da água e sai para beber cerveja com os amigos. Quando retorna,

vê que seu filho fora levado ao mar por um maluco que pretendia mata-

lo, tendo a criança morrido. Nesse caso o Pai não responde por omissão

de socorro, mas por homicídio doloso consumado, pois tem a obrigação

legal de cuidar do filho.

Mas como se pode dizer que a conduta do pai matou o filho?

Tecnicamente falando, a conduta do pai não gerou a morte do filho. O que

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gerou a morte do filho foi o afogamento. Entretanto, pela teoria

naturalístico-normativa, a ele é imputado o resultado, em razão do seu

descumprimento do dever de vigilância.

B) Resultado naturalístico

O resultado naturalístico é a modificação do mundo real

provocada pela conduta do agente.

Entretanto, apenas nos crimes chamados materiais se exige um

resultado naturalístico. Nos crimes formais e de mera conduta não há

essa exigência.

Os crimes formais são aqueles nos quais o resultado

naturalístico pode ocorrer, mas a sua ocorrência é irrelevante para

o Direito Penal. Já os crimes de mera conduta são crimes em que

não há um resultado naturalístico possível. Vou dar um exemplo de

cada um dos três:

Crime material – Homicídio. Para que o homicídio seja

consumado, é necessário que a vítima venha a óbito. Caso isso

não ocorra, estaremos diante de um homicídio tentado (ou

lesões corporais culposas);

Crime formal – Extorsão (art. 158 do CP). Para que o crime

de extorsão se consume não é necessário que o agente

obtenha a vantagem ilícita, bastando o constrangimento à

vítima;

Crime de mera conduta – Invasão de domicílio. Nesse

caso, a mera presença do agente, indevidamente, no domicílio

da vítima caracteriza o crime. Não há um resultado previsto

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para esse crime. Qualquer outra conduta praticada a partir daí

configura crime autônomo (furto, roubo, homicídio, etc.).

Além do resultado naturalístico (que nem

sempre estará presente), há também o

resultado jurídico (ou normativo), que é

a lesão ao bem jurídico tutelado pela norma

penal. Esse resultado sempre estará

presente! Cuidado com isso! Assim, se a

banca perguntar: “Há crime sem resultado

jurídico?” A resposta é NÃO!

C) Nexo de Causalidade

Nos termos do art. 13 do CP:

Art. 13 - O resultado, de que depende a

existência do crime, somente é imputável a

quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação

ou omissão sem a qual o resultado não teria

ocorrido.

Assim, o nexo de causalidade pode ser entendido como o vínculo que

une a conduta do agente ao resultado naturalístico ocorrido no mundo

exterior. Portanto, só se aplica aos crimes materiais!

Algumas teorias existem acerca do nexo de causalidade:

TEORIA DA EQUIVALÊNCIA DOS ANTECEDENTES (OU

DA CONDITIO SINE QUA NON)– Para esta teoria, é considerada

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causa do crime toda conduta sem a qual o resultado não teria

ocorrido. Assim, para se saber se uma conduta é ou não causa do

crime, devemos retirá-la do curso dos acontecimentos e ver se, ainda

assim, o crime ocorreria (Processo hipotético de eliminação de

Thyrén). EXEMPLO: Marcelo acorda de manhã, toma café, compra

uma arma e encontra Júlio, seu desafeto, disparando três tiros contra

ele, causando-lhe a morte. Retirando-se do curso o café tomado por

Marcelo, concluímos que o resultado teria ocorrido do mesmo jeito.

Entretanto, se retirarmos a compra da arma do curso do processo, o

crime não teria ocorrido.

O inconveniente claro desta teoria é que ela permite que se

coloquem como causa situações absurdas, como a venda da arma ou

até mesmo o nascimento do agente, já que se os pais não tivessem

colocado a criança no mundo, o crime não teria acontecido. Isso é

um absurdo!

Assim, para solucionar o problema, criou-se outro filtro que é

o dolo. Logo, só será considerada causa a conduta que é

indispensável ao resultado e que foi querida pelo agente.

Assim, no exemplo anterior, o vendedor da arma não seria

responsabilizado, pois nada mais fez que vender seu produto, não

tendo a intenção (nem sequer imaginou) de ver a morte de Júlio.

Nesse sentido:

Causa = conduta indispensável ao resultado +

que tenha sido prevista e querida por quem a

praticou

Podemos dizer, então, que a causalidade aqui não é meramente

física, mas também, psicológica.

Essa foi a teoria adotada pelo Código Penal, como regra.

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TEORIA DA CAUSALIDADE ADEQUADA – Trata-se de

teoria também adotada pelo Código Penal, porém, somente em

algumas situações, que são as chamadas “concausas”.

As concausas são circunstâncias que se agregam à

conduta do agente, contribuindo para a produção do

resultado. As concausas podem ser: Absolutamente independentes

e relativamente independentes.

As causas absolutamente independentes são aquelas que

produzem por si sós o resultado, e podem ser preexistentes

(existiam antes da conduta), concomitantes (surgiram durante a

conduta) e supervenientes (surgiram após a conduta). Exemplos:

EXEMPLO I) Pedro resolve matar João, e coloca veneno em seu

drink. Porém, Pedro não sabe que Marcelo também queria matar

João e minutos antes também havia colocado veneno no drink de

João, que vem a morrer em razão do veneno colocado por Marcelo.

Nesse caso, a concausa preexistente (conduta de Marcelo)

produziu por si só o resultado (morte). Nesse caso, Pedro responderá

somente por tentativa de homicídio.

EXEMPLO II) Pedro resolve matar João, e começa disparar

contra ele projéteis de arma de fogo. Entretanto, durante a

execução, o teto da casa de João desaba sobre ele, vindo a causar-

lhe a morte. Aqui, a causa concomitante (queda do teto) produziu

isoladamente o resultado (morte). Portanto, Pedro responde somente

por homicídio tentado.

EXEMPLO III) Pedro resolve matar João, desta vez,

ministrando em sua bebida certa dose de veneno. Entretanto, antes

que o veneno faça efeito, Marcelo aparece e dispara 10 tiros de

pistola contra João, o mantando. Nesse caso, Pedro responderá

somente por homicídio tentado.

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Mas Renan, você não disse que toda causa querida por

quem pratica a conduta é causa do crime? Logo, nos dois

últimos casos, Pedro não teria querido a morte de João e sua

conduta não contribuiu para isso, já que a morte não teria

ocorrido se ele não tivesse agido? Meus caros, aí é que está.

Nessas hipóteses, o Código não adotou a teoria da equivalência dos

antecedentes, mas a TEORIA DA CAUSALIDADE ADEQUADA.

Assim, os tiros desferidos por Pedro não foram a causa

adequada da morte de João, mas sim os ferimentos do acidente.

Logo, ele não responde pelo crime de homicídio consumado, mas

apenas pelos atos praticados (homicídio tentado).

Entretanto, pode ocorrer de a concausa não produzir por si só o

resultado, mas se unir à conduta do agente e, juntas, produzirem o

resultado. Essas são as chamadas causas relativamente

independentes, que também pode ser preexistentes, concomitantes

ou supervenientes. Mais uma vez, vou dar um exemplo de cada uma

das três e explicar quais os efeitos jurídico-penais em relação ao

agente:

EXEMPLO I) Caio decide matar Maria, desferindo contra ela

golpes de facão, causando-lhe a morte. Entretanto, Caio não sabia

que Maria era hemofílica, tendo a doença contribuído em grande

parte para seu óbito. Nesse caso, embora a doença (concausa

preexistente) tenha contribuído para o óbito, Caio responde por

homicídio consumado.

EXEMPLO II) Pedro resolve matar João, e começa disparar

contra ele projéteis de arma de fogo. Assustado, João corre, e acaba

atropelado por um caminhão. Nesse caso, o que causou o resultado

(a morte de João) foi a concausa concomitante (atropelamento pelo

caminhão), mas que só ocorreu em razão dos disparos efetuados por

Pedro. Assim, Pedro responde por homicídio consumado.

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No caso das concausas supervenientes relativamente

independentes, podem acontecer duas coisas: a) A causa

superveniente produz por si só o resultado; b) A causa

superveniente se agrega ao desdobramento natural da

conduta do agente e ajuda a produzir o resultado.

EXEMPLO A) Pedro resolve matar João (insistente esse cara!),

e dispara 25 tiros contra ele, usando seu Fuzil Automático Ligeiro-Fal,

CALIBRE 7.62 (agora vai!). Pedro fica estirado no chão, é socorrido

por uma ambulância e, no caminho para o Hospital, sofre um

acidente de carro (a ambulância bate de frente com uma carreta) e

vem a morrer em razão do acidente, não dos ferimentos causados

por Pedro. Nesse caso, Pedro responde apenas por tentativa de

homicídio, pois a causa superveniente (acidente de ambulância)

produziu por si só o resultado, já que o acidente de ambulância não é

o desdobramento natural de um disparo de arma de fogo.

EXEMPLO B) No mesmo exemplo anterior, João é socorrido e

chegando ao Hospital, é submetido a um cirurgia e contrai uma

infecção hospitalar, vindo a falecer. Nesse caso, a causa

superveniente (infecção hospitalar) não produziu por si só o

resultado, tendo se agregado aos ferimentos para causar a morte de

João. Nesse caso, Pedro responde por homicídio consumado.

Segue abaixo um esquema para melhor compreensão:

CAUSAS ABSOLUTAMENTE INDEPENDENTES

PREEXISTENTES

CONCOMITANTES

SUPERVENIENTES

Agente responde somente pelos atos

praticados, não respondendo pelos

resultados decorrentes das

concausas.

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TEORIA DA IMPUTAÇÃO OBJETIVA – Para esta teoria, não

basta a mera relação de causalidade entre a conduta e um

determinado resultado naturalístico. Para esta teoria, a conduta

deve:

a) Criar ou aumentar um risco – Assim, se a conduta do agente

não aumentou nem criou um risco, não há crime. Exemplo

clássico: Ladrão rende o vigia da casa e o obriga a dizer

onde está o cofre. O Vigia mente, diz que não sabe e

entrega para o ladrão um quadro, afirmando ser obra de

arte bem mais valiosa. O ladrão aceita e vai embora, sem

saber que, na verdade, tratava-se de um quadro qualquer.

Nesse caso, por todas as outras teorias, o vigia deveria ser

punido. Pela teoria da imputação objetiva isso não ocorreria,

pois ele não aumentou um risco, ao contrário, com sua

conduta evitou que um bem jurídico de mais valor (cofre)

fosse atingido;

b) Risco deve ser proibido pelo Direito – Aquele que cria um

risco de lesão para alguém, em tese não comete crime, a

RELATIVAMENTE INDEPENDENTES

PREEXISTENTE

CONCOMITANTE

SUPERVENIENTE

PRODUZIRAM POR SI SÓ O RESULTADO

NÃO PRODUZIRAM POR SI SÓ O RESULTADO

AGENTE RESPONDE PELO CRIME CONSUMADO, NÃO APENAS PELOS ATOS PRATICADOS.

AGENTE RESPONDE SOMENTE PELOS ATOS PRATICADOS, NÃO PELO CRIME CONSUMADO.

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menos que esse risco seja proibido pelo Direito. Assim, o

filho que manda os pais em viagem para a Europa, na

intenção de que o avião caia, os pais morram, e ele receba a

herança, não comete crime, pois o risco por ele criado não é

proibido pelo Direito;

c) Risco deve ser criado no resultado – Assim, um crime não

pode ser imputado àquele que não criou o risco para aquela

ocorrência. Explico: Imaginem que José ateia fogo na casa

de Maria. José causou um risco, não permitido pelo Direito.

Deve responder pelo crime de incêndio doloso, art. 250 do

CP. Entretanto, Maria invade a casa em chamas para

resgatar a única foto que restou de seu filho falecido, sendo

lambida pelo fogo, vindo a falecer. Nesse caso, José não

responde pelo crime de homicídio, pois o risco por ele criado

não se insere nesse resultado, que foi provocado pela

conduta exclusiva de Maria.

D) Tipicidade

A tipicidade nada mais é que a adequação da conduta do agente

a uma previsão típica (norma penal que prevê o fato e lhe descreve

como crime). Assim, o tipo do art. 121 é: “matar alguém”. Portanto,

quando Marcio esfaqueia Luiz e o mata, está cometendo fato típico, pois

está praticando uma conduta que encontra previsão como tipo penal.

Não há muito o que se falar acerca da tipicidade. Basta que o

intérprete proceda ao cotejo entre a conduta praticada no caso concreto e

a conduta prevista na Lei Penal. Se a conduta praticada se amoldar

àquela prevista na Lei Penal, o fato será típico, por estar presente o

elemento “tipicidade”.

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Cuidado, meus amigos! Nem sempre a

conduta praticada pelo agente se amolda

perfeitamente ao tipo penal (adequação

imediata). Às vezes é necessário que

se proceda à análise de outro

dispositivo da Lei Penal para se

chegar à conclusão de que um fato é

típico (adequação mediata). Por

exemplo: Imaginem que Abreu (El Loco)

dispara contra Adriano (El Imperador),

que não morre. Nesse caso, como dizer

que Abreu praticou fato típico

(homicídio tentado), se o art. 121 diz

“matar” alguém, o que não ocorreu?

Nessa hipótese, conjuga-se o art. 121 do

CP com seu art. 14, II, que diz ser o

crime punível na modalidade tentada.

Isso também se aplica aos crimes

omissivos impróprios (art. 13, § 2° do

CP).

III – CRIME DOLOSO E CULPOSO

O dolo e a culpa são o que se pode chamar de elementos

subjetivos do tipo penal.

Com o finalismo de Hans Welzel, o dolo e a culpa (elementos

subjetivos) foram transportados da culpabilidade para o fato

típico (conduta). Assim, a conduta, no finalismo, não é mais apenas

objetiva, sinônimo de ação humana, mas sim a ação humana dirigida a

um fim (ilícito ou não).

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Vamos estudar cada um destes elementos separadamente.

A) Crime doloso

O dolo é o elemento subjetivo do tipo, consistente na vontade, livre

e consciente, de praticar o crime (dolo direto), ou a assunção do risco

produzido pela conduta (dolo eventual). Nos termos do art. 18 do CP:

Art. 18 - Diz-se o crime: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de

11.7.1984)

Crime doloso(Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco

de produzi-lo;(Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

O dolo direto, que é o elemento subjetivo clássico do crime, é

composto pela consciência de que a conduta pode lesar um bem jurídico

mais a vontade de lesar este bem jurídico. Esses dois elementos

(consciência + vontade) formam o que se chama de dolo natural.

Antigamente, quando o dolo pertencia à culpabilidade, a

esses dois elementos era acrescido mais um elemento, que era a

consciência da ilicitude. Esse era o chamado dolo normativo.

Atualmente, com a transposição do dolo e da culpa para o fato típico, os

elementos normativos ficaram na culpabilidade e a consciência da ilicitude

também, passando, ainda a ser meramente potencial.

Desta maneira, podemos dizer que no finalismo o dolo é

natural e no causalismo o dolo é normativo.

O dolo eventual, por sua vez, consiste na consciência de que

a conduta pode gerar um resultado criminoso, mais a assunção

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desse risco, mesmo diante da probabilidade de algo dar errado.

Trata-se de hipótese na qual o agente não tem vontade de produzir o

resultado criminoso (não o que aconteceu, embora possa ser outro), mas,

analisando as circunstâncias, sabe que este resultado pode ocorrer e não

se importa, age da mesma maneira.

Imagine que Renato, dono de um sítio, e apreciador da prática do

tiro esportivo, decida levantar sábado pela manhã e praticar tiro no seu

terreno, mesmo sabendo que as balas possuem longo alcance e que há

casas na vizinhança. Renato até não quer que ninguém seja atingido, mas

sabe que isso pode ocorrer e não se importa, pratica a conduta assim

mesmo. Nesse caso, se Renato atingir alguém, causando-lhe lesões ou

mesmo a morte, estará praticando homicídio doloso por dolo eventual.

O dolo pode ser, ainda:

Dolo genérico – Atualmente, com o finalismo, passou a ser

chamado simplesmente de dolo, que é, basicamente, a

vontade de praticar a conduta descrita no tipo penal, sem

nenhuma outra finalidade;

Dolo específico, ou especial fim de agir – Em

contraposição ao dolo genérico, nesse caso o agente não quer

somente praticar a conduta típica, mas o faz por alguma

razão especial, com alguma finalidade específica. É o

caso do crime de injúria, por exemplo, no qual o agente deve

não só praticar a conduta, mas deve fazê-lo com a intenção

de ofender a honra subjetiva da vítima;

Dolo de primeiro grau – Trata-se do dolo comum, aquele no

qual o agente tem a vontade direcionada para a produção do

resultado, como no caso do homicida que procura sua vítima e

a mata com disparos de arma de fogo;

Dolo de segundo grau – Também chamado de “dolo de

consequências necessárias”, se assemelha ao dolo

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eventual, mas com ele não se confunde. Aqui o agente possui

uma vontade, mas sabe que para atingir sua finalidade,

existem efeitos colaterais que irão NECESSARIAMENTE

lesar outros bens jurídicos. Diferentemente do dolo

eventual, aqui a ocorrência da lesão ao bem jurídico não

visado é certa, e não apenas provável. Imagine o caso de

alguém que, querendo matar certo executivo, coloca uma

bomba no avião em que este se encontra. Ora, nesse caso, o

agente age com dolo de primeiro grau em face da vítima

pretendida, e dolo de segundo grau face aos demais

ocupantes do avião, pois é certo que também morrerão,

embora este não seja o objetivo do agente;

Dolo geral, por erro sucessivo, ou aberratio causae –

Ocorre quando o agente, acreditando ter alcançado seu

objetivo, pratica nova conduta, com finalidade diversa, mas

depois se constata que esta última foi a que efetivamente

causou o resultado. Trata-se de erro na relação de

causalidade, pois embora o agente tenha conseguido

alcançar a finalidade proposta, somente o alcançou

através de outro meio, que não tinha direcionado para

isso. Exemplo: Imagine a mãe que, querendo matar o próprio

filho de 05 anos, o estrangula e, com medo de ser descoberta,

o joga num rio. Posteriormente a criança é encontrada e se

descobre que a vítima morreu por afogamento. Nesse caso,

embora a mãe não tenha querido matar o filho afogado, mas

por estrangulamento, isso é irrelevante penalmente,

importando apenas o fato de que a mãe alcançou o fim

pretendido (morte do filho), ainda que por outro meio,

devendo, pois, responder por homicídio consumado;

Dolo antecedente, atual e subsequente – O dolo

antecedente é o que se dá antes do início da execução da

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conduta. O dolo atual é o que está presente enquanto o

agente se mantém exercendo a conduta, e o dolo

subsequente ocorre quando o agente, embora tendo iniciado a

conduta com uma finalidade lícita, altera seu ânimo, passando

a agir de forma ilícita. Esse último caso é o que ocorre no

caso, por exemplo, do crime de apropriação indébita (art. 168

do CP), no qual o agente recebe o bem de boa-fé, obrigando-

se devolvê-lo, mas, posteriormente, muda de idéia e não

devolve o bem nas condições ajustadas, passando a agir de

maneira ilícita.

B) Crime culposo

Se no crime doloso o agente quis o resultado, sendo este seu

objetivo, ou assumiu o risco de sua ocorrência, embora não fosse

originalmente pretendido o resultado, no crime culposo a conduta do

agente é destinada a um determinado fim (que pode ser lícito ou não), tal

qual no dolo eventual, mas pela violação a um dever de cuidado, o agente

acaba por lesar um bem jurídico de terceiro, cometendo crime culposo.

A violação ao dever objetivo de cuidado pode se dar de três

maneiras:

Negligência – O agente deixa de tomar todas as cautelas

necessárias para que sua conduta não venha a lesar o bem

jurídico de terceiro. É o famoso relapso. Aqui o agente deixa

de fazer algo que deveria;

Imprudência – É o caso do afoito, daquele que pratica atos

temerários, que não se coadunam com a prudência que se

deve ter na vida em sociedade. Aqui o agente faz algo que

a prudência não recomenda;

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Imperícia – Decorre do desconhecimento de uma regra

técnica profissional. Assim, se o médico, após fazer todos

os exames necessários, dá diagnóstico errado, concedendo

alto ao paciente e este vem a óbito em decorrência da alta

concedida, não há negligência, pois o profissional médico

adotou todos os cuidados necessários, mas em decorrência de

sua falta de conhecimento técnico, não conseguiu verificar

qual o problema do paciente, o que acabou por ocasionar seu

falecimento;

A punibilidade da culpa se fundamenta no desvalor do resultado

praticado pelo agente, embora o desvalor da conduta seja menor, pois

não deriva de uma deliberada ação contrária ao direito.

O CP prevê o crime culposo em seu art. 18, II:

Art. 18 - Diz-se o crime: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Crime culposo(Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

II - culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia. (Incluído pela Lei nº

7.209, de 11.7.1984)

O crime culposo é composto de:

Uma conduta voluntária – Dirigida a um fim lícito, ou

quando ilícito, não é destinada à produção do resultado

ocorrido;

A violação a um dever objetivo de cuidado – Que pode se

dar por negligência, imprudência ou imperícia;

Um resultado naturalístico involuntário – O resultado

produzido não foi querido pelo agente (salvo na culpa

imprópria);

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Nexo causal – Relação de causa e efeito entre a conduta do

agente e o resultado ocorrido no mundo fático;

Tipicidade – O fato deve estar previsto como crime. Em

regra, os crimes só podem ser praticados na forma dolosa, só

podendo ser punidos a título de culpa quando a lei

expressamente determinar. Essa é a regra do § único do art.

18 do CP: Parágrafo único - Salvo os casos expressos em lei,

ninguém pode ser punido por fato previsto como crime, senão

quando o pratica dolosamente. (Incluído pela Lei nº 7.209, de

11.7.1984);

Previsibilidade objetiva - O resultado ocorrido deve ser

previsível mediante um esforço intelectual razoável. É

chamada previsibilidade do homem médio. Assim, se uma

pessoa comum, de inteligência mediana, seria capaz de

prever aquele resultado, está presente este requisito. Se o

resultado não for previsível objetivamente, o fato é um

indiferente penal. Por exemplo: Se Mário, nas dunas de Natal,

dá um chute em João, a fim de causar-lhe lesões leves, e João

vem a cair e bater com a cabeça sobre um motor de Bugre

que estava enterrado sob a areia, vindo a falecer, Mário não

responde por homicídio culposo, pois seria inimaginável a

qualquer pessoa prever que naquele local a vítima poderia

bater com a cabeça em algo daquele tipo e vir a falecer;

A culpa, por sua vez, pode ser de diversas modalidades:

Culpa consciente e inconsciente – Na culpa consciente, o

agente prevê o resultado como possível, mas acredita que

este não irá ocorrer. Na culpa inconsciente, o agente não

prevê que o resultado possa ocorrer. A culpa consciente se

aproxima muito do dolo eventual, pois em ambos o

agente prevê o resultado e mesmo assim age.

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Entretanto, a diferença é que, enquanto no dolo eventual

o agente assume o risco de produzi-lo, não se

importando com a sua ocorrência, na culpa consciente o

agente não assume o risco de produzir o resultado, pois

acredita, sinceramente, que ele não ocorrerá;

Culpa própria e culpa imprópria – A culpa própria é aquela

na qual o agente prevê o resultado, mas acredita que este

será evitado, que não ocorrerá. É a culpa propriamente dita.

Na culpa imprópria, o agente quer o resultado, mas, por

erro inescusável, acredita que o está fazendo amparado

por uma causa excludente da ilicitude ou da

culpabilidade. É o caso do pai que, percebendo um barulho

na madrugada, se levanta e avista um vulto, determinando

sua imediata parada. Como o vulto continua, o pai dispara

três tiros de arma de fogo contra a vítima, acreditando estar

agindo em legítima defesa de sua família. No entanto, ao

verificar a vítima, percebe que o vulto era seu filho de 16 anos

que havia saído escondido para assistir a um show de Rock no

qual havia sido proibido de ir. Nesse caso, embora o crime

seja naturalmente doloso (pois o agente quis o resultado), por

questões de política criminal o Código determina que lhe seja

aplicada a pena correspondente à modalidade culposa. Nos

termos do art. 20, § 1° do CP: § 1º - É isento de pena quem, por

erro plenamente justificado pelas circunstâncias, supõe situação de

fato que, se existisse, tornaria a ação legítima. Não há isenção de

pena quando o erro deriva de culpa e o fato é punível como

crime culposo.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Cuidado! Não existe a chamada “compensação de culpas” no

Direito Penal brasileiro. EXEMPLO: Imaginem que Júlio, dirigindo seu

veículo, avança o sinal vermelho e colide com o veículo de Carlos, que

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vinha na contramão. Ambos agiram com culpa e causaram-se lesões

corporais. Nesse caso, ambos respondem pelo crime de lesões corporais,

um em face do outro.

Há ainda a figura do crime preterdoloso (ou preterintencional). O

crime preterdoloso ocorre quando o agente, com vontade de praticar

determinado crime (dolo), acaba por praticar crime mais grave, não com

dolo, mas por culpa. Um exemplo clássico é o crime de lesão corporal

seguida de morte, previsto no art. 129, § 3° do CP. Nesse crime o agente

provoca lesões corporais na vítima, mediante conduta dolosa. No

entanto, em razão de sua imprudência na execução (excesso), acabou

por provocar a morte da vítima, que era um resultado não pretendido

(culpa). A Doutrina distingue, no entanto, o crime preterdoloso do

crime qualificado pelo resultado. Para a Doutrina, no primeiro caso

(preterdoloso), a conduta culposa do agente lesa um bem jurídico que

está “contém” o bem jurídico lesado mediante dolo. Assim, no crime de

lesão corporal seguida de morte há crime preterdoloso, pois só se pode

causar a morte mediante a produção de lesão corporal (trata-se de

desdobramento fático). No crime qualificado pelo resultado, ao contrário,

a lei estabelece uma forma qualificada do crime, que não

necessariamente está dentro do desdobramento natural da conduta.

Dessa forma, o crime de aborto qualificado pela morte da gestante (art.

125 a 127 do CP) seria qualificado pelo resultado e não preterdoloso,

pois o resultado mais grave (morte) não pressupõe o resultado querido a

título de dolo (aborto), pois para causar a morte de alguém não é

necessário fazê-la abortar primeiro.

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IV – CRIME CONSUMADO, TENTADO E IMPOSSÍVEL.

Todos os elementos citados como sendo partes integrantes do fato

típico (conduta, resultado naturalístico, nexo de causalidade e tipicidade)

são, no entanto, elementos do crime material consumado, que é

aquele no qual se exige resultado naturalístico e no qual este resultado

efetivamente ocorre.

Nos termos do art. 14 do CP:

Art. 14 - Diz-se o crime: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de

11.7.1984)

I - consumado, quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição legal; (Incluído pela Lei nº 7.209, de

11.7.1984)

II - tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma

por circunstâncias alheias à vontade do agente. (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Assim, nos crimes tentados, por não haver sua consumação

(ocorrência de resultado naturalístico), não estarão presentes, em regra,

os elementos “resultado” e “nexo de causalidade”.

Disse “em regra”, porque pode acontecer que um crime tentado

produza resultados, que serão analisados de acordo com a conduta do

agente e sua aptidão para produzi-los.

EXEMPLO: Imaginem que Marcelo, visando à morte de Rodrigo,

dispare cinco tiros de pistola contra ele. Rodrigo é baleado, fica

paraplégico, mas sobrevive.

Nesse caso, como o objetivo não era causar lesão corporal, mas sim

matar, o crime não foi consumado, pois a morte não ocorreu. Entretanto,

não se pode negar que houve resultado naturalístico e nexo causal,

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embora este resultado não tenha sido o pretendido pelo agente quando

da prática da conduta criminosa.

O crime consumado nós já estudamos, cabe agora analisar as

hipóteses de crime na modalidade tentada.

Como disse a vocês, pode ocorrer de uma conduta ser

enquadrada em determinado tipo penal sem que sua prática

corresponda exatamente ao que prevê o tipo. No caso acima,

Marcelo responderá pelo tipo penal de homicídio (art. 121 do CP), na

modalidade tentada (art. 14, II do CP). Mas se vocês analisarem, o art.

121 do CP diz “matar alguém”. Marcelo não matou ninguém. Assim, como

enquadrá-lo na conduta prevista pelo art. 121. Isso é o que chamamos

de adequação típica mediata, conforme já estudamos.

Na adequação típica mediata o agente não pratica exatamente a

conduta descrita no tipo penal, mas em razão de uma outra norma que

estende subjetiva ou objetivamente o alcance do tipo penal, ele deve

responder pelo crime. Assim, no caso em tela, Marcelo só responde pelo

crime em razão da existência de uma norma que aumenta o alcance

objetivo (relativo à conduta) do tipo penal para abarcar também as

hipóteses de tentativa (art. 14, II do CP). Tudo bem, moçada? Vamos em

frente!

O inciso II do art. 14 fala em “circunstâncias alheias à vontade

do agente”. Isso significa que o agente inicia a execução do crime, mas

em razão de fatores externos, o resultado não ocorre. No caso concreto

que citei, o fator externo, alheio à vontade de Marcelo, foi provavelmente

sua falta de precisão no uso da arma de fogo e o socorro eficiente

recebido por Rodrigo, que impediu sua morte.

O § único do art. 14 do CP diz:

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Parágrafo único - Salvo disposição em contrário,

pune-se a tentativa com a pena correspondente ao

crime consumado, diminuída de um a dois

terços.(Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Desta forma, o crime cometido na modalidade tentada não é punido

da mesma maneira que o crime consumado, pois embora o desvalor da

conduta (sua reprovabilidade social) seja o mesmo do crime consumado,

o desvalor do resultado (suas consequências na sociedade) é menor,

indiscutivelmente. Assim, diz-se que o CP adotou a teoria dualística,

realista ou objetiva da punibilidade da tentativa.

Mas qual o critério para aplicação da quantidade de

diminuição (1/3 ou 2/3)? Nesse caso, o Juiz deve analisar a

proximidade de alcance do resultado. Quanto mais próxima do

resultado chegar a conduta, menor será a diminuição da pena, e

vice-versa. No exemplo acima, como Marcelo quase matou Rodrigo,

chegando a deixá-lo paraplégico, a diminuição será a menor possível

(1/3), pois o resultado esteve perto de se consumar. Entretanto, se

Marcelo tivesse errado todos os disparos, o resultado teria passado longe

da consumação, devendo o Juiz aplicar a redução máxima.

A tentativa pode ser:

Branca ou incruenta – quando o agente sequer

atinge o objeto que pretendia lesar;

Vermelha ou cruenta – quando o agente atinge

o objeto, mas não obtém o resultado naturalístico esperado,

em razão de circunstâncias alheias à sua vontade;

Tentativa perfeita – O agente esgota

completamente os meios de que dispunha para lesar o objeto

material;

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Tentativa imperfeita – O agente, antes de

esgotar toda a sua potencialidade lesiva, é impedido por

circunstâncias alheias. Exemplo: Marcelo possui um revólver

com 06 projéteis. Dispara os 03 primeiros contra Rodrigo,

mas antes de disparar o quarto é surpreendido pela chegada

da Polícia Militar.

É possível a mescla de espécies de tentativa entre as duas primeiras

com as duas últimas (cruenta e imperfeita, incruenta e imperfeita, etc.),

mas nunca entre elas mesmas (cruenta e incruenta e perfeita e

imperfeita), por questões lógicas.

Em regra, todos os crimes admitem tentativa. Entretanto, não admitem

tentativa:

Crimes culposos – Nestes crimes o resultado naturalístico não é

querido pelo agente, logo, a vontade dele não é dirigida a um fim

ilícito e, portanto, não ocorrendo este, não há que se falar em

interrupção involuntária da execução do crime;

Crimes preterdolosos – Como nestes crimes existe dolo na

conduta precedente e culpa na conduta seguinte, a conduta

seguinte é culposa, não se admitindo, portanto, tentativa;

Crimes unissubsistentes – São aqueles que se produzem

mediante um único ato, não cabendo fracionamento de sua

execução. Assim, ou o crime é consumado ou sequer foi iniciada

sua execução. EXEMPLO: Injúria. Ou o agente profere a injúria e o

crime está consumado ou ele sequer chega a proferi-la, não

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chegando o crime a ser iniciado;

Crimes omissivos próprios – Seguem a mesma regra dos crimes

unissubsistentes, pois ou o agente se omite, e pratica o crime na

modalidade consumada ou não se omite, hipótese na qual não

comete crime;

Crimes de perigo abstrato – Como aqui também há crime

unissubsistente (não há fracionamento da execução do crime), não

se admite tentativa;

Contravenções penais – Não se admite tentativa, nos termos do

art. 4° do Decreto-Lei n° 3.688/41 (Lei das Contravenções penais);

Crimes de atentado (ou de empreendimento) – São crimes

que se consideram consumados com a obtenção do resultado ou

ainda com a tentativa deste. Por exemplo: O art. 352 tipifica o

crime de “evasão”, dizendo: “evadir-se ou tentar evadir-se”...

Desta maneira, ainda que não consiga o preso se evadir, o simples

fato de ter tentado isto já consuma o crime;

Crimes habituais – Nestes crimes, o agente deve praticar

diversos atos, habitualmente, a fim de que o crime se consume.

Entretanto, o problema é que cada ato isolado é um indiferente

penal. Assim, ou o agente praticou poucos atos isolados, não

cometendo crime, ou praticou os atos de forma habitual,

cometendo crime consumado. Exemplo: Crime de curandeirismo,

no qual ou o agente pratica atos isolados, não praticando crime, ou

o faz com habitualidade, praticando crime consumado, nos termos

do art. 284, I do CP.

A) Crime impossível

Nos termos do Código Penal:

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Art. 17 - Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta

do meio ou por absoluta impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de

11.7.1984)

Como podemos perceber, o crime impossível guarda

semelhanças com a tentativa, entretanto, com ela não se

confunde.

Na tentativa, propriamente dita, o agente inicia a execução do

crime, mas por circunstâncias alheias à sua vontade o resultado não se

consuma (art. 14, II do CPC).

No crime impossível, diferentemente do que ocorre na tentativa,

embora o agente inicie a execução do delito, JAMAIS o crime se

consumaria, em hipótese nenhuma, ou pelo fato de que o meio

utilizado é completamente ineficaz ou porque o objeto material do crime é

impróprio para aquele crime. Vou dar dois exemplos:

Imaginem que Marcelo pretenda matar sua sogra Maria. Marcelo

chega, à surdina, de noite, e percebendo que Maria dorme no sofá,

desfere contra ela 10 facadas no peito. No entanto, no laudo pericial se

descobre que Maria já estava morta, em razão de um mal súbito que

sofrera horas antes.

Nesse caso, o crime é impossível, pois o objeto material (a sogra,

Maria) não era uma pessoa, mas um cadáver. Logo, não há como se

praticar o crime de homicídio em face de um cadáver.

No mesmo exemplo, imagine que Marcelo pretenda matar sua sogra

a tiros e, surpreenda-a na servidão que dá acesso à casa. Entretanto,

quando Marcelo aperta o gatilho, percebe que, na verdade, foi enganado

pelo vendedor, que o vendeu uma arma de brinquedo.

Nesse último caso o crime é impossível, pois o meio utilizado por

Marcelo é completamente ineficaz para causar a morte da vítima.

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Diz-se que, no que se refere à punibilidade da tentativa, o nosso CP

adotou a teoria objetiva intermediária ou temperada, pois se entende que

a tentativa sempre é punível, somente não o sendo quando houver

inidoneidade total do objeto ou do meio empregado.

Na verdade, o crime impossível é uma espécie de tentativa,

com a circunstância de que jamais poderá se tornar consumação,

face à impropriedade do objeto ou do meio utilizado. Por isso, não

se pode punir a tentativa nestes casos, eis que não houve lesão ou sequer

exposição à lesão do bem jurídico tutelado, não bastando para a punição

do agente o mero desvalor da conduta, devendo haver um mínimo de

desvalor do resultado.

Cuidado! A ineficácia do meio ou a impropriedade do objeto

devem ser ABSOLUTAS, ou seja, em nenhuma hipótese, considerando

aquelas circunstâncias, o crime poderia se consumar. Assim, se Márcio

atira em José, com intenção de matá-lo, mas o crime não se consuma

porque José usava um colete à prova de balas, não há crime impossível,

pois o crime poderia se consumar.

O STJ já decidiu que a presença de câmeras e dispositivos

eletrônicos de segurança em estabelecimentos comerciais não

afasta a possibilidade de consumação do crime de furto. Assim, se

o agente tenta sair do local com um produto escondido (furto), mas é

detido pelos seguranças, não há crime impossível, pois havia uma

possibilidade, ainda que pequena, de que ele conseguisse burlar o

sistema e causar o prejuízo ao bem jurídico tutelado (patrimônio do

estabelecimento).

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Meus amigos, cuidado para não confundirem crime

impossível com crime putativo. O crime impossível é aquele que pode

ser cometido, em tese, mas que no caso concreto, face à absoluta

impropriedade do meio ou do objeto, nunca poderá se consumar.

Já o crime putativo é aquele no qual o agente acredita estar

praticando crime, quando na verdade há um indiferente penal. O

crime putativo pode ser de três espécies: putativo por erro de tipo, erro

de proibição e por obra do agente provocador.

O crime putativo por erro de tipo ocorre quando o agente supõe

estar praticando crime, mas na verdade não está, pois está ausente um

dos elementos do tipo. Por exemplo: Marcelo olha um belo relógio sobre a

mesa no trabalho e o furta. Mais tarde descobre que o relógio era um

presente deixado pelo chefe, ou seja, o relógio era de sua propriedade.

Assim, Marcelo acreditava estar furtando, mas por erro sobre o elemento

do tipo “coisa alheia”, fez com que na verdade o crime fosse meramente

putativo.

Parte da Doutrina entende que o crime putativo por erro de

tipo se assemelha ao crime impossível, pois é impossível se

consumar um furto, por exemplo, de coisa própria. Entretanto, a maioria

doutrinária considera serem institutos diferentes.

O crime putativo por erro de proibição ocorre quando o agente

acredita que sua conduta é crime, quando não é. Imagine o caso de

Poliana, que dirige seu carro em alta velocidade e colide com um veículo

parado, sem ninguém dentro. Assustada, Poliana foge, acreditando ter

cometido crime. Entretanto, Poliana não sabe que o crime de dano

culposo não existe no Brasil.

Por fim, o crime putativo por obra do agente provocador ocorre

quando a alguém induz o agente a praticar o crime e, ao mesmo tempo,

adota providências para evitar a consumação. É o exemplo do “flagrante

provocado”. O Policial, suspeitando de alguém, deixa um veículo com as

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portas destravadas e com a chave na ignição, e fica escondido. Quando o

agente entra no veículo para furtá-lo, o policial efetua a prisão. Nesse

caso, o agente pensa estar cometendo crime, quando na verdade este

nunca irá se consumar.

O STF editou o verbete n° 145 da sua súmula de

jurisprudência, nesse sentido: “Não há crime quando a preparação do

flagrante pela polícia torna impossível a sua consumação”.

Os dois primeiros (desistência voluntária e arrependimento eficaz)

são formas de tentativa abandonada, ou seja, o resultado não se produz

em razão da vontade do próprio agente, e não de circunstâncias alheias a

ela, como no caso da tentativa (art. 14, II do CP).

Vamos estudar estas duas modalidades primeiro.

B) Desistência voluntária e arrependimento eficaz

Embora a Doutrina tenha se dividido quanto à definição da natureza

jurídica destes institutos, a Doutrina majoritária entende se tratar de

causas de exclusão da tipicidade, pois não tendo ocorrido o resultado,

e também não se tratando de hipótese tentada, não há como se punir o

crime nem a título de consumação nem a título de tentativa.

Na desistência voluntária o agente, por ato voluntário, desiste de

dar sequência aos atos executórios, mesmo podendo fazê-lo. Conforme a

clássica FÓRMULA DE FRANK:

Na tentativa – O agente quer, mas não pode prosseguir.

Na desistência voluntária – O agente pode, mas não quer

prosseguir.

Para que fique caracterizada a desistência voluntária, é necessário

que o resultado não se consume em razão da desistência do agente.

Assim, se Poliana dispara um tiro de pistola em Jason e, podendo disparar

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mais cinco, não o faz, mas este mesmo assim vem a falecer, Poliana

responde por homicídio consumado. Se, no entanto Jason não vem à

óbito, Poliana não responde por homicídio tentado (não há tentativa,

lembram-se?), mas por lesões corporais.

No arrependimento eficaz é diferente. Aqui o agente já

praticou todos os atos executórios que queria e podia, mas após

isto, se arrepende do ato e adota medidas que acabam por impedir

a consumação do resultado.

Imagine que no exemplo anterior, Poliana tivesse disparado todos

os tiros da pistola em Jason. Depois disso, Poliana se arrepende do que

fez e providencia o socorro de Jason, que sobrevive em razão do socorro

prestado.

Ambos os institutos estão previstos no art. 15 do CP:

Art. 15 - O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na execução ou impede que o resultado se

produza, só responde pelos atos já praticados.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Para que estes institutos ocorram, é necessário que a conduta

(desistência voluntária e arrependimento eficaz) impeça a consumação do

resultado. Se o resultado, ainda assim, vier a ocorrer, o agente

responde pelo crime, incidindo, no entanto, uma atenuante de

pena genérica, prevista no art. 65, III, b do CP.

A Doutrina entende que também HÁ DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA

quando o agente deixa de prosseguir na execução para fazê-la mais

tarde, por qualquer motivo, por exemplo, para não levantar suspeitas.

Nesse caso, mesmo não sendo nobre o motivo da desistência, a Doutrina

entende que há desistência voluntária.

Se o crime é cometido em concurso de pessoas e somente um deles

realiza a conduta de desistência voluntária ou arrependimento eficaz,

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esta circunstância se comunica aos demais, pois como se trata de

hipótese de exclusão da tipicidade, o crime não foi cometido,

respondendo todos apenas pelos atos praticados até então.

C) Arrependimento posterior

O arrependimento posterior, por sua vez, não exclui o crime, pois

este já se consumou, mas é causa obrigatória de diminuição de pena.

Ocorre quando, nos crimes em que não há violência ou grave ameaça à

pessoa, o agente, até o recebimento da denúncia ou queixa, repara o

dano provocado ou restitui a coisa. Nos termos do art. 16 do CP:

Art. 16 - Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, reparado o dano ou restituída a coisa, até o recebimento

da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do agente, a pena

será reduzida de um a dois terços. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Por exemplo, imagine o crime de dano (art. 163 do CP), no qual o

agente quebra a vidraça de uma padaria, revoltado com o esgotamento

do pão francês naquela tarde. Nesse caso, se antes do recebimento da

queixa o agente ressarcir o prejuízo causado, sua pena aplicada deverá

ser diminuída de um a dois terços.

Vejam que não se aplica o instituto se o crime é cometido

com violência ou grave ameaça à pessoa.

A Doutrina entende que se a violência for culposa, pode ser aplicado

o instituto. Assim, se o agente comete lesão corporal culposa (violência

culposa), e antes do recebimento da queixa paga todas as despesas

médicas da vítima, presta todo o auxílio necessário, deve ser aplicada a

causa de diminuição de pena.

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No caso de violência imprópria, a Doutrina se divide. A

violência imprópria é aquela na qual não há violência propriamente dita,

mas o agente reduz a vítima à impossibilidade de defesa (ex. Amordaça e

amarra o caixa da loja no crime de roubo). Parte da Doutrina entende que

o benefício pode ser aplicado, parte entende que não pode.

O arrependimento posterior também se comunica aos demais

agentes (coautores).

A Doutrina entende, ainda, que se a vítima se recusar a

receber a coisa ou a reparação do dano, mesmo assim o agente

deverá receber a causa de diminuição de pena.

O quantum da diminuição da pena (um terço a dois terços) irá

variar conforme a celeridade com que ocorreu o arrependimento e a

voluntariedade deste ato.

V - ILICITUDE

Já vimos que a conduta deve ser considerada um fato típico para que

o primeiro elemento do crime esteja presente. Entretanto, isso não basta.

Uma conduta enquadrada como fato típico pode não ser ilícita perante o

direito. Assim, a ilicitude é a condição de contrariedade da conduta

perante o Direito.

Estando presente o primeiro elemento (fato típico), presume-

se presente a ilicitude, devendo o acusado comprovar a existência

de uma causa de exclusão da ilicitude. Percebam, assim, que uma

das funções do fato típico é gerar uma presunção de ilicitude da conduta,

que pode ser desconstituída diante da presença de uma das causas de

exclusão da ilicitude.

As causas de exclusão da ilicitude podem ser:

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Genéricas – São aquelas que se aplicam a todo e qualquer

crime. Estão previstas na parte geral do Código Penal, em seu

art. 23;

Específicas – São aquelas que são próprias de determinados

crimes, não se aplicando a outros. Por exemplo: Furto de

coisas comum, previsto no art. 156, §2°. Nesse caso, o fato de

a coisa furtada ser comum retira a ilicitude da conduta. Porém,

só nesse crime!

As causas genéricas de exclusão da ilicitude são: a) estado de

necessidade; b) legítima defesa; c) exercício regular de um direito; d)

estrito cumprimento do dever legal. Entretanto, a Doutrina majoritária e a

Jurisprudência entendem que existem causas supralegais de exclusão da

ilicitude (não previstas na lei, mas que decorrem da lógica, como o

consentimento do ofendido nos crimes contra bens disponíveis).

A) ESTADO DE NECESSIDADE

Está previsto no art. 24 do Código Penal:

Art. 24 - Considera-se em estado de necessidade

quem pratica o fato para salvar de perigo atual,

que não provocou por sua vontade, nem podia de

outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo

sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável

exigir-se.

O Brasil adotou a teoria unitária de estado de necessidade, que

estabelece que o bem jurídico protegido deve ser de valor igual ou

superior ao sacrificado. Exemplo:

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Marcos e João estão num avião que está caindo. Só há uma mochila

com paraquedas. Marcos agride João até causar-lhe a morte, a fim de que

o paraquedas seja seu e ele possa se salvar. Nesse caso, o bem jurídico

que Marcos buscou preservar (vida) é de igual valor ao bem sacrificado

(Vida de João). Assim, Marcos não cometeu crime, pois agiu coberto por

uma excludente de ilicitude, que é o estado de necessidade.

No caso de o bem sacrificado ser de valor maior que o bem

protegido, o agente responde pelo crime, mas tem sua pena

diminuída. Nos termos do art. 24, § 2° do CP:

§ 2º - Embora seja razoável exigir-se o

sacrifício do direito ameaçado, a pena poderá ser

reduzida de um a dois terços.

Assim, se era razoável entender que o agente deveria sacrificar o

bem que na verdade escolheu proteger, ele responde pelo crime, mas em

razão das circunstâncias terá sua pena diminuída de um a dois terços,

conforme o caso.

Os requisitos para a configuração do estado de necessidade são

basicamente dois: a) a existência de uma situação de perigo a um bem

jurídico próprio ou de terceiro; b) o fato necessitado (conduta do agente

na qual ele sacrifica o bem alheio para salvar o próprio ou do terceiro).

Entretanto, a situação de perigo deve:

Não ter sido criada voluntariamente pelo agente (ou seja,

se foi ele mesmo quem deu causa, não poderá sacrificar o

direito de um terceiro a pretexto de salvar o seu). EXEMPLO:

O agente provoca ao naufrágio de um navio e, para se salvar,

mata um terceiro, a fim de ficar com o último colete disponível.

Nesse caso, embora os bens sejam de igual valor, a situação

dse perigo foi criada pelo próprio agente, logo, ele não estará

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agindo em estado de necessidade (parcela da Doutrina entende

que mesmo nesse caso há estado de necessidade, mas é

minoritária);

Perigo atual – O perigo deve estar ocorrendo. A lei não

permite o estado de necessidade diante de um perigo futuro,

ainda que iminente;

A situação de perigo deve estar expondo à lesão um bem

jurídico do próprio agente ou de um terceiro;

O agente não pode ter o dever jurídico de impedir o

resultado.

Quanto à conduta do agente, ela deve:

Ser inevitável – O bem jurídico protegido só seria salvo daquela

maneira. Não havia outra forma de salvar o bem jurídico;

Proporcional – O agente deve sacrificar apenas bens jurídicos

de menor ou igual valor ao que pretende proteger.

O termo “voluntariamente”, com relação à provocação da situação

de perigo, é entendido pela Doutrina como dolo ou culpa. Assim, aquele

que culposamente deu origem à situação de perigo não poderá se utilizar

do instituto do estado de necessidade.

O estado de necessidade pode ser

Agressivo – Quando para salvar seu bem jurídico o agente

sacrifica bem jurídico de um terceiro que não provocou a

situação de perigo;

Defensivo – Quando o agente sacrifica um bem jurídico de

quem ocasionou a situação de perigo.

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Pode ser ainda:

Real – Quando a situação de perigo efetivamente existe;

Putativo – Quando a situação de perigo não existe de fato,

apenas na imaginação do agente. Imaginemos que no caso do

colete salva-vidas, ao invés de ser o último, existisse ainda

uma sala repleta deles. Assim, a situação de perigo apenas

passou pela cabeça do agente, não sendo a realidade, pois

havia mais coletes. Nesse caso, o agente incorreu em erro, que

se for um erro escusável (o agente não tinha como saber da

existência dos outros coletes), permanece o estado de

necessidade, excluindo a ilicitude. Já se o erro for inescusável

(o agente era marinheiro há muito tempo, devendo saber que

existia mais coletes), o agente responde pelo crime cometido,

MAS NA MODALIDADE CULPOSA, se houver previsão em lei.

Alguns pontos importantes:

ESTADO DE NECESSIDADE

RECÍPROCO

É possível, desde que ambos não

tenham criado a situação de perigo.

COMUNICABILIDADE Existe. Se um dos autores houver

praticado o fato em estado de

necessidade, o crime fica excluído

para todos eles.

ERRO NA EXECUÇÃO Pode acontecer, e o agente

permanece coberto pelo estado de

necessidade. Ex.: Paulo atira em

Mário, visando sua morte, para

tomar-lhe o último colete do navio.

Entretanto, acerta João. Nesse

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caso, Paulo permanece acobertado

pelo estado de necessidade, pois se

considera praticado o crime contra

a vítima pretendida, não a atingida.

MISERABILIDADE O STJ entende que a simples

alegação de miserabilidade não

gera o estado de necessidade para

que seja excluída a ilicitude do fato.

Entretanto, em determinados

casos, poderá excluir a

culpabilidade, em razão da

inexigibilidade de conduta diversa

(estudaremos mais à frente).

B) LEGÍTIMA DEFESA

Nos termos do art. 25 do CP:

Art. 25 - Entende-se em legítima defesa

quem, usando moderadamente dos meios

necessários, repele injusta agressão, atual ou

iminente, a direito seu ou de outrem.

O agente deve ter praticado o fato para repelir uma agressão. Essa

agressão deve ser:

Injusta – Assim, se a agressão é justa, não há legítima defesa.

Dessa forma, o preso que agride o carcereiro que o está colocando

para dentro da cela não age em legítima defesa, pois a agressão do

carcereiro (empurrá-lo à força) é justa;

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Atual ou iminente – A agressão deve estar acontecendo ou

prestes a acontecer. Veja que aqui, diferente do estado

necessidade, não há necessidade de que o fato seja atual, bastando

que seja iminente. Desta maneira, se Paulo encontra, em local

ermo, Poliana, sua ex-mulher, que por vingança ameaçou matá-lo,

e esta saca uma arma, Paulo poderá repelir essa agressão iminente,

pois ainda que não tenha acontecido, não se pode exigir que Paulo

aguarde Poliana começar a efetuar os disparos (absurdo!);

Contra direito próprio ou alheio – A agressão injusta pode estar

acontecendo ou prestes a acontecer contra direito do próprio agente

ou de um terceiro. Assim, se Paulo agride Roberto porque ele está

agredindo Poliana, não comete crime, pois agiu em legítima defesa

da integridade física de terceiro (Poliana).

Quando uma pessoa é atacada por um animal, em regra não age

em legítima defesa, mas em estado de necessidade, pois os atos dos

animais não podem ser considerados injustos. Entretanto, se o animal

estiver sendo utilizado como instrumento de um crime (dono

determina ao cão bravo que morda a vítima), o agente poderá agir em

legítima defesa. Entretanto, a legítima defesa estará ocorrendo em face

do dono (lesão ao seu patrimônio, o cachorro), e não em face do animal.

Com relação às agressões praticadas por inimputável, a Doutrina se

divide, mas a maioria entende que nesse caso há legítima defesa, e não

estado de necessidade.

Na legítima defesa, diferentemente do que ocorre no estado de

necessidade, o agredido (que age em legítima defesa) não é

obrigado a fugir do agressor, ainda que possa. A lei permite que o

agredido revide e se proteja, ainda que lhe seja possível fugir!

A reação do agente, por sua vez, deve ser proporcional. Ou seja, os

meios utilizados por ele devem ser suficientes e necessários à repelir a

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agressão injusta. EXEMPLO: se um ladrão rouba uma caneta, a vítima

não pode matar este ladrão, pois ainda que o meio utilizado seja

suficiente para que o patrimônio seja preservado, não é proporcional

sacrificar a vida de alguém por causa de uma caneta.

A legítima defesa pode ser:

Agressiva – Quando o agente pratica um fato previsto como

infração penal. Assim, se A agride B e este, em legítima defesa,

agride A, está cometendo lesões corporais (art. 129), mas não

há crime, em razão da presença da causa excludente da

ilicitude;

Defensiva – O agente se limita a se defender, não atacando

nenhum bem jurídico do agressor.

Própria – Quando o agente defende seu próprio bem jurídico;

De terceiro – Quando defende bem jurídico pertencente a outra

pessoa;

Real – Quando a agressão a iminência dela acontece, de fato,

no mundo real;

Putativa – Quando o agente pensa que está sendo agredido ou

que esta agressão irá ocorrer, mas, na verdade, trata-se de

fruto da sua imaginação. Aqui, aplica-se o que foi dito acerca

do estado de necessidade putativo!

A legítima defesa não é presumida. Aquele que a alega deve provar

sua ocorrência, pois, como estudamos, a existência do fato típico tem o

condão de fazer presumir a ilicitude da conduta, cabendo ao acusado

provar a existência de uma das causas de exclusão da ilicitude.

A legítima defesa sucessiva é possível! É aquela na qual o

agredido injustamente, acaba por se exceder nos meios pra repelir a

agressão. Nesse caso, como há excesso, esse excesso não é permitido.

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Logo, aquele que primeiramente agrediu, agora poderá agir em legítima

defesa. Se A agride B com tapas leves, e B saca uma pistola e começa a

disparar contra A, que se afasta e para de agredi-lo, caso B continue e

atirar, A poderá sacar sua arma e atirar contra B, pois a conduta de A se

configura como excesso na reação, e B estará agindo em legítima defesa

sucessiva.

Da mesma forma que no estado de necessidade, se o agredido erra

ao revidar a agressão e atinge pessoa que não tem relação com a

agressão (erro sobre a pessoa), continuará amparado pela excludente de

ilicitude, pois o crime se considera praticado contra a pessoa visada, não

contra a efetivamente atingida.

No caso de legítima defesa de terceiro, duas hipóteses podem

ocorrer:

O bem do terceiro que está sendo lesado é disponível

(bens materiais, etc.) – Nesse caso, o terceiro deve concordar

com que o agente atue em seu favor;

O bem do terceiro é indisponível (Vida, por exemplo) –

Nesse caso, o agente poderá repelir esta agressão ainda que o

terceiro não concorde com esta atitude, pois o bem agredido é

um bem de caráter indisponível.

Vocês devem ficar atentos a alguns pontos:

Não cabe legítima defesa real em face de legítima defesa

real, pois se o primeiro age em legítima defesa real, sua agressão

não é injusta, o que impossibilita reação em legítima defesa;

Cabe legítima defesa real em face de legítima defesa

putativa. Assim, se A pensa estar sendo ameaçado por B e ao

agride (legítima defesa putativa), B poderá agir em legítima defesa

real;

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Se o agredido se excede, o agressor passa a poder agir em legítima

defesa (legítima defesa sucessiva);

Sempre caberá legítima defesa em face de conduta que

esteja acobertada apenas por causa de exclusão da

culpabilidade (pois nesse caso a agressão é típica e ilícita,

embora não culpável);

NUNCA haverá possibilidade de legítima defesa real em face

de qualquer causa de exclusão da ilicitude real.

C) ESTRITO CUMPRIMENTO DO DEVER LEGAL

Nos termos do art. 23, III do CP:

Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o

fato:

(...)

III - em estrito cumprimento de dever legal ou

no exercício regular de direito.

Age acobertado por esta excludente aquele que pratica fato típico,

mas o faz em cumprimento a um dever previsto em lei.

Assim, o Policial tem o dever legal de manter a ordem pública. Se

alguém comete crime, eventuais lesões corporais praticadas pelo policial

(quando da perseguição) não são consideradas ilícitas, pois embora tenha

sido provocada lesão corporal (prevista no art. 129 do CP), o policial agiu

no estrito cumprimento do seu dever legal.

Se um terceiro colabora com aquele que age no estrito cumprimento

do dever legal, a ele também se estende essa causa de exclusão da

ilicitude. Diz-se que há comunicabilidade.

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É muito comum pessoas afirmarem que

essa causa só se aplica aos funcionários

públicos. ERRADO! O particular também

pode agir no estrito cumprimento do dever

legal. O advogado, por exemplo, que se

nega a testemunhar sobre fato conhecido

em razão da profissão, não pratica crime,

pois está cumprindo seu dever legal de

sigilo, previsto no estatuto da OAB. Esse é

apenas um exemplo.

D) EXERCÍCIO REGULAR DE UM DIREITO

O Código Penal prevê essa excludente da ilicitude também no art. 23,

III:

Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o

fato:

(...)

III - em estrito cumprimento de dever legal ou no

exercício regular de direito.

Dessa forma, quem age no legítimo exercício de um direito seu,

não poderá estar cometendo crime, pois a ordem jurídica deve ser

harmônica, de forma que uma conduta que é considerada um direito da

pessoa, não pode ser considerada crime, por questões lógicas. Trata-se

de preservar a coerência do sistema.

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Mas o direito deve estar previsto em lei? Sim! A Doutrina

majoritária entende que os direitos derivados dos costumes locais não

podem ser invocados como causas de exclusão da ilicitude.

Quando um atleta entra no octagon (aquela jaula das artes marciais

mistas, antigo vale-tudo), e agride o outro atleta, está causando-lhe

lesões corporais (art. 129 do CP). Entretanto, não comete crime, pois tem

esse direito já que ambos estão se submetendo a uma prática

desportiva que permite esse tipo de conduta.

CUIDADO! Se esse mesmo atleta descumprir as regras do esporte

(chutar a cabeça do outro atleta caído, por exemplo) e causar-lhe lesões,

poderá responder pelo crime que cometer, pois não lhe é permitido fazer

isso!

E) EXCESSO PUNÍVEL

O excesso punível é o exercício irregular de uma causa

excludente da ilicitude, seja porque não há mais a circunstância que

permitia seu exercício (cessou a agressão, no caso da legítima defesa, por

exemplo, seja porque o meio utilizado não é proporcional (agredido saca

uma metralhadora para repelir um tapa, no caso da legítima defesa). No

primeiro caso, temos o excesso extensivo, e no segundo, o excesso

intensivo. Nesses casos, a lei prevê que aquele que se exceder

responderá pelos danos que causar, art. 23, § único do CP:

“Parágrafo único - O agente, em qualquer das

hipóteses deste artigo, responderá pelo excesso

doloso ou culposo.”

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Aplica-se a qualquer das causas excludentes da ilicitude. Assim, o

policial que, após prender o ladrão, começa a desferir-lhe socos no rosto,

não estará agindo amparado pelo estrito cumprimento do dever legal,

pois está se excedendo.

Bons estudos!

Prof. Renan Araujo

RESUMO

CRIME = Fato típico, ilícito e culpável (Teoria Tripartida).

FATO TÍPICO = Conduta + resultado naturalístico + nexo de

causalidade + tipicidade. A conduta é igual à ação + vontade;

O dolo e a culpa (elementos subjetivos) integram a CONDUTA, por

isso estão situados dentro do fato típico, e não na culpabilidade

(ADOÇÃO DA TEORIA FINALISTA);

Os crimes formais e os crimes de mera conduta se consumam com

a mera prática da conduta descrita no tipo penal, motivo pelo qual

nesses crimes basta CONDUTA + TIPICIDADE para a

consumação, dispensando-se o resultado naturalístico e, claro, o

nexo de causalidade (Pois nada foi causado);

Só se pune a conduta culposa (aquela decorrente da

inobservância de um dever de cuidado) quando houver expressa

previsão legal nesse sentido. Caso contrário, somente a conduta

dolosa é punida.

O crime tentado é punido sempre com uma redução de pena em

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relação ao consumado, que varia de 1/3 a 2/3;

A tentativa pode ser perfeita ou imperfeita, branca ou vermelha.

Todas são sempre consideradas puníveis, salvo se a lei disser que

não há punição pela tentativa ou exigir que ela seja vermelha

(cruenta), ou seja, que a vítima chegue a ser lesionada;

No crime impossível, a impropriedade do objeto e a

ineficácia do meio devem ser ABSOLUTAS;

Ocorrendo desistência voluntária ou arrependimento eficaz, o

agente é punido apenas pelos atos já praticados, e NÃO PELO

RESULTADO;

No arrependimento posterior o agente responde pelo resultado,

mas com pena reduzida de um a dois terços;

As causas de exclusão da ilicitude podem ser genéricas (previstas

no CP e aplicáveis a qualquer delito) ou específicas (quando

previstas para terem aplicação a apenas um ou alguns delitos);

Em qualquer hipótese de excludente de ilicitude, o agente deve agir

moderadamente, sob pena de, ocorrendo excesso, ser por ele

PUNIDO (EXCESSO PUNÍVEL), nos termos do art. 23, § único do

CP.

QUESTÕES

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01- (CESPE – 2005 – TRT 16° RG – ANALISTA JUDICIÁRIO – ÁREA

JUDICIÁRIA – EXECUÇÃO DE MANDADOS)

Para o sistema causal-naturalista de Liszt-Beling, a parte externa do

delito, ou seja, o injusto penal, era objetivo, sendo que na sua parte

interna — a culpabilidade — é que deviam ser aferidos os elementos

subjetivos do agente, ou seja, dolo e culpa.

02 - (CESPE – 2009 – SEJUS/ES – AGENTE PENITENCIÁRIO)

A tipicidade, elemento do fato típico, é a correspondência entre o fato

praticado pelo agente e a descrição de cada espécie de infração contida

na lei penal incriminadora, de modo que, sem tipicidade, não há

antijuridicidade penal, pois, comportadas as exclusões legais, todo fato

típico é antijurídico.

03 - (CESPE – 2009 – DPE/ES – DEFENSOR PÚBLICO)

Considere a seguinte situação hipotética. Alberto, pretendendo matar

Bruno, desferiu contra este um disparo de arma de fogo, atingindo-o em

região letal. Bruno foi imediatamente socorrido e levado ao hospital. No

segundo dia de internação, Bruno morreu queimado em decorrência de

um incêndio que assolou o nosocômio. Nessa situação, ocorreu uma

causa relativamente independente, de forma que Alberto deve responder

somente pelos atos praticados antes do desastre ocorrido, ou seja, lesão

corporal.

04 - (CESPE – 2009 – DPF – AGENTE DA POLÍCIA FEDERAL)

São elementos do fato típico: conduta, resultado, nexo de causalidade,

tipicidade e culpabilidade, de forma que, ausente qualquer dos elementos,

a conduta será atípica para o direito penal, mas poderá ser valorada pelos

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outros ramos do direito, podendo configurar, por exemplo, ilícito

administrativo.

05 - (CESPE – 2011 – PC/ES – ESCRIVÃO)

A tentativa e o crime omissivo impróprio são exemplos de tipicidade

mediata.

06 - (CESPE – 2009 – OAB – EXAME DE ORDEM)

De acordo com o art. 14, inciso II, do CP, diz-se tentado o crime quando,

iniciada a execução, este não se consuma por circunstâncias alheias à

vontade do agente. Em relação ao instituto da tentativa (conatus) no

ordenamento jurídico brasileiro, assinale a opção correta.

A) O crime de homicídio não admite tentativa branca.

B) Considera-se perfeita ou acabada a tentativa quando o agente atinge a

vítima, vindo a lesioná-la.

C) A tentativa determina a redução da pena, obrigatoriamente, em dois

terços.

D) As contravenções penais não admitem punição por tentativa.

07 - (CESPE – 2009 – DPE/AL – DEFENSOR PÚBLICO)

Quanto à punição do delito na modalidade tentada, o CP adotou a

teoria subjetiva.

08 - (CESPE – 2004 – DPF – AGENTE DA POLÍCIA FEDERAL)

Marcelo, com intenção de matar, efetuou três tiros em direção a Rogério.

No entanto, acertou apenas um deles. Logo em seguida, um policial que

passava pelo local levou Rogério ao hospital, salvando-o da morte. Nessa

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situação, o crime praticado por Marcelo foi tentado, sendo correto afirmar

que houve adequação típica mediata.

09 - (CESPE – 2008 – STF – ANALISTA JUDICIÁRIO – ÁREA

JUDICIÁRIA)

Ocorre tentativa incruenta quando o agente dispara seis tiros em direção

à vítima sem, no entanto, causar qualquer lesão na vítima ou em

qualquer outra pessoa, por erro na execução.

10 - (CESPE – 2007 – TSE – ANALISTA JUDICIÁRIO – ÁREA

JUDICIÁRIA)

Em relação aos pressupostos teóricos da figura da desistência voluntária,

assinale a opção correta.

A) Para que se possa falar em desistência voluntária, é preciso que o

agente já tenha ingressado na fase dos atos de execução do delito, pois,

caso o agente se encontre praticando atos preparatórios, sua conduta

será considerada um indiferente penal.

B) A desistência voluntária, para configurar-se, necessita que o ato

criminoso não ocorra em circunstâncias que dependam diretamente da

vontade do autor do delito.

C) A concretização da desistência exige tanto a voluntariedade da conduta

do agente quanto a espontaneidade do ato.

D) Segundo a fórmula de Frank, quando, na análise do fato, se verificar

que o agente pode prosseguir mas não quer, o caso é de crime tentado e

quando o agente quer prosseguir, mas não pode, o caso é de desistência

voluntária.

11 - (CESPE – 2009 – DPE/AL – DEFENSOR PÚBLICO)

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São elementos do fato típico culposo: conduta, resultado involuntário,

nexo causal, tipicidade, ausência de previsão, quebra do dever de cuidado

objetivo por meio da imprudência, negligência ou imperícia e

previsibilidade subjetiva.

12 - (CESPE – 2012 – TJ/PI – JUIZ ESTADUAL)

Acerca do arrependimento posterior, assinale a opção correta.

A) A jurisprudência admite o arrependimento posterior no delito de roubo,

ainda que o réu devolva à vítima apenas parte da quantia subtraída.

B) Para a aplicação do arrependimento posterior, não se exige do agente

espontaneidade na devolução da coisa subtraída.

C) No arrependimento posterior, a reparação do dano ou a restituição da

coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa, ainda que efetivada

por um só agente, é circunstância objetiva e deve comunicar-se aos

demais réus.

D) A tentativa de negociação das dívidas com o possível ressarcimento

dos danos causados às vítimas do delito de apropriação indébita não

evidencia ausência de dolo, e, após a consumação, nem sequer

caracteriza arrependimento posterior.

E) Tratando-se do delito de apropriação indébita, a devolução do bem

antes do recebimento da denúncia afasta o dolo e ilide a justa causa para

ação penal.

13 - (CESPE – 2012 – MPE/TO – PROMOTOR DE JUSTIÇA)

A respeito de aspectos diversos dos crimes bem como dos princípios

aplicáveis ao direito penal, assinale a opção correta de acordo com as

disposições do CP e da doutrina penal.

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A) Caracteriza situação de arrependimento eficaz o caso do agente que,

durante a ação, diz para si "posso prosseguir, mas não quero" e encerra

sua empreitada criminosa.

B) Chama-se de dolo direto de segundo grau aquele que se dirige em

relação ao fim proposto e aos meios escolhidos.

C) Norma penal em branco homogênea, ou em sentido amplo, é aquela

cujo complemento é oriundo da mesma fonte legislativa que editou a

norma que necessita desse complemento.

D) Negligente é o agente que pratica um ato perigoso sem os cuidados

que o caso requer.

E) No erro de tipo essencial incriminador, o erro recai sobre os

pressupostos fáticos de uma causa de justificação, isto é, excludente de

ilicitude, que se encontra em tipos penais permissivos.

14 - (CESPE – 2002 – SENADO – CONSULTOR LEGISLATIVO)

A propósito da teoria geral do crime e dos crimes em espécie, julgue o

item abaixo.

As regras atinentes à relação de causalidade são aplicáveis aos tipos

penais que exigem uma modificação no mundo exterior para o seu

aperfeiçoamento, excluídos os denominados crimes formais e de mera

conduta.

15 - (CESPE – 2002 – SENADO – CONSULTOR LEGISLATIVO)

Ainda no que diz respeito à teoria geral do crime e aos crimes em

espécie, julgue o item seguinte.

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Diz-se que o crime é doloso, quando o agente quis o resultado;

preterdoloso, quando, embora não querendo o resultado, o agente

assumiu o risco de produzi-lo.

16 - (CESPE – 2010 – ABIN - OFICIAL TÉCNICO DE INTELIGÊNCIA)

Em relação à aplicação da lei penal e aos diversos aspectos do crime,

julgue o item seguinte.

Nos crimes omissivos próprios e impróprios, não há nexo causal, visto

que inexiste resultado naturalístico atribuído ao omissor, que responde

apenas por sua omissão se houver crime previsto no caso concreto.

17 - (CESPE – 2010 – ABIN - OFICIAL TÉCNICO DE INTELIGÊNCIA)

Em relação à aplicação da lei penal e aos diversos aspectos do crime,

julgue o item seguinte.

No Código Penal brasileiro, adota-se, em relação ao conceito de crime, o

sistema tricotômico, de acordo com o qual as infrações penais são

separadas em crimes, delitos e contravenções.

18 - (CESPE – 2010 – ABIN - OFICIAL TÉCNICO DE INTELIGÊNCIA)

Em relação à aplicação da lei penal e aos diversos aspectos do crime,

julgue o item seguinte.

No que se refere à relação de causalidade penal, a teoria da equivalência

dos antecedentes causais situa-se exclusivamente no terreno do elemento

físico ou material do delito, razão pela qual, por si só, não pode satisfazer

a punibilidade.

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19 - (CESPE – 2010 – ABIN - OFICIAL TÉCNICO DE INTELIGÊNCIA)

Julgue o item a seguir, referente a institutos de direito penal.

De acordo com a teoria dos elementos negativos do tipo, dado o conceito

de tipo total de injusto, as causas de exclusão da ilicitude devem ser

agregadas ao tipo como requisitos negativos deste.

20 - (CESPE – 2002 – SEFAZ/AL - FISCAL DE TRIBUTOS

ESTADUAIS)

À luz do direito penal, julgue o item abaixo.

Um dos elementos do fato típico é o nexo causal entre a conduta e o

evento, que inexiste nos crimes formais.

21 - (CESPE – 2002 – SEFAZ/AL - FISCAL DE TRIBUTOS

ESTADUAIS)

À luz do direito penal, julgue o item abaixo.

Age com dolo indireto o indivíduo que desfere golpes de faca contra a

vítima, com a intenção alternativa de ferir ou matar.

22 - (CESPE – 2002 – SEFAZ/AL - FISCAL DE TRIBUTOS

ESTADUAIS)

À luz do direito penal, julgue o item abaixo.

Considere a seguinte situação hipotética.

Em uma caçada, um indivíduo percebeu que um animal se encontrava nas

proximidades de um de seus companheiros. Confiando em sua condição

de perito atirador e acreditando que não iria acertar o colega, o indivíduo

desfechou um tiro contra o animal e matou o companheiro.

Nessa situação, o indivíduo agiu com culpa consciente.

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23 - (CESPE – 2002 – SEFAZ/AL - AGENTE CONTROLADOR DE

ARRECADAÇÃO)

À luz do direito penal, julgue o item que se segue.

São elementos do fato típico: conduta dolosa ou culposa; resultado,

mesmo nos crimes de mera conduta; nexo causal entre a conduta e o

evento.

24 - (CESPE – 2002 – SEFAZ/AL - AGENTE CONTROLADOR DE

ARRECADAÇÃO)

À luz do direito penal, julgue o item que se segue.

Age com dolo indireto, o indivíduo que desfere golpes de faca contra a

vítima com a intenção de matá-la.

25 - (CESPE – 2002 – SEFAZ/AL - AGENTE CONTROLADOR DE

ARRECADAÇÃO)

À luz do direito penal, julgue o item que se segue.

Considere a seguinte situação hipotética.

Um pedestre, agindo com imprudência e negligência, cruza a via pública

em local inadequado, vindo a ser atropelado por veículo automotor que

trafegava na contramão, em excesso de velocidade.

Nessa situação, haverá compensação de culpas, ou seja, a culpa do

pedestre afastará a culpa do motorista

26 - (CESPE – 2002 – SEFAZ/AL - AGENTE CONTROLADOR DE

ARRECADAÇÃO)

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Caso atue de forma incorreta, quem trabalha para o Estado ou com ele se

relaciona pode incidir na prática de crimes com tipos específicos, previstos

na legislação penal brasileira.

Nesse contexto, julgue o item abaixo.

Doutrinariamente, os crimes contra a administração pública dividem-se

em próprios e impróprios.

27 - (CESPE – 2002 – SEFAZ/AL - TÉCNICO DE FINANÇAS)

À luz do direito penal, julgue o item subsequente.

Todo fato típico é antijurídico; e todo fato antijurídico é típico.

28 - (CESPE – 2002 – SEFAZ/AL - TÉCNICO DE FINANÇAS)

À luz do direito penal, julgue o item subsequente.

Considere a seguinte situação hipotética.

Um indivíduo pretendia matar o seu desafeto, que se encontrava

conversando com outra pessoa. Percebeu que, atirando na vítima, poderia

também atingir a outra pessoa. Não obstante essa possibilidade,

prevendo que poderia matar o terceiro e, sendo-lhe indiferente que este

último resultado se produzisse, o indivíduo atirou contra o desafeto. Com

o disparo, o desafeto e o terceiro vieram a falecer.

Nessa situação, o indivíduo agiu com dolo direto com relação ao desafeto,

e dolo indireto com relação ao terceiro.

29 - (CESPE – 2002 – SEFAZ/AL - TÉCNICO DE FINANÇAS)

À luz do direito penal, julgue o item subsequente.

Considere a seguinte situação hipotética.

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Em face de escusável erro de diagnóstico, um estudante de medicina

empregou determinada técnica ao executar uma intervenção cirúrgica e

causou a morte do paciente.

Nessa situação, o estudante agiu com culpa comum, manifestada pela

imperícia.

30 - (CESPE – 2011 – TCU - AUDITOR FEDERAL DE CONTROLE

EXTERNO)

Acerca da tipicidade, da culpabilidade e da punibilidade, julgue o item a

seguir.

Se o juízo de adequação típica for negativo, ou seja, se não houver

subsunção da conduta ao tipo penal, verifica-se causa pessoal de

exclusão de pena.

31 - (CESPE – 2010 – ABIN – OFICIAL TÉCNICO DE

INTELIGÊNCIA)

Julgue o item a seguir, acerca das causas excludentes de ilicitude e do

concurso de pessoas.

Considere que, para salvar sua plantação de batatas, um agricultor desvie

o curso de água de determinada barragem para a chácara vizinha,

causando vários danos em razão da ação da água. Considere, ainda, que

tanto a plantação desse agricultor quanto os danos na chácara vizinha

sejam avaliados em R$ 50.000,00. Nessa situação, não se configura o

estado de necessidade, uma vez que, segundo a sistemática adotada no

Código Penal, a exclusão de ilicitude só deve ser aplicada quando o bem

sacrificado for de menor valor que o bem salvo.

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32 - (CESPE – 2010 – ABIN – OFICIAL TÉCNICO DE

INTELIGÊNCIA)

Julgue o item a seguir, acerca das causas excludentes de ilicitude e do

concurso de pessoas.

Considere a seguinte situação hipotética.

Ana estava passeando com o seu cão, da raça pitbull, quando, por

descuido, o animal soltou-se da coleira e atacou uma criança. Um

terceiro, que passava pelo local, com o intuito de salvar a vítima do

ataque, atingiu o cão com um pedaço de madeira, o que causou a morte

do animal.

Nessa situação hipotética, ocorreu o que a doutrina denomina de estado

de necessidade agressivo.

33 - (CESPE – 2010 – ABIN – OFICIAL TÉCNICO DE

INTELIGÊNCIA)

Julgue o item a seguir, acerca das causas excludentes de ilicitude e do

concurso de pessoas.

Suponha que, para se defender da injusta agressão de Abel, Braz desfira

tiros em direção ao agressor, mas erre e atinja letalmente Caio, terceiro

inocente. Nessa situação, Braz não responderá por delito algum, visto que

a legítima defesa permanece intocável.

34 - (CESPE – 2010 – ABIN – OFICIAL TÉCNICO DE

INTELIGÊNCIA)

Julgue o item a seguir, acerca das causas excludentes de ilicitude e do

concurso de pessoas.

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O estrito cumprimento do dever legal, causa de exclusão da ilicitude,

consiste na realização de um fato típico por força do desempenho de uma

obrigação imposta diretamente pela lei, não compreendendo a expressão

dever legal a obrigação prevista em decreto ou regulamento.

35 - (CESPE – 2010 – ABIN – OFICIAL TÉCNICO DE

INTELIGÊNCIA)

Julgue o item a seguir, acerca das causas excludentes de ilicitude e do

concurso de pessoas.

Além das causas legais de exclusão da ilicitude previstas na lei, há, ainda,

as chamadas causas supralegais de exclusão da ilicitude, verificadas, por

exemplo, no caso de uma mãe furar a orelha de sua filha para a

colocação de um brinco, a situação que configura um fato típico, embora

a genitora não responda pelo delito de lesão corporal, visto que atua

amparada pela exclusão de ilicitude.

36 - (CESPE – 2002 – SEFAZ/AL – FISCAL DE TRIBUTOS

ESTADUAIS)

À luz do direito penal, julgue o item abaixo.

Considere a seguinte situação hipotética.

Durante um baile, um indivíduo, com o pretexto de lesionar o seu

desafeto, provocou-o com palavras e o desafiou a uma luta. Iniciado o

entrevero corporal, o indivíduo desfechou um soco no desafeto,

causando-lhe lesão corporal grave.

Nessa situação, o indivíduo estará amparado pela excludente da legítima

defesa.

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QUESTÕES COMENTADAS

01 - (CESPE – 2005 – TRT 16° RG – ANALISTA JUDICIÁRIO – ÁREA

JUDICIÁRIA – EXECUÇÃO DE MANDADOS)

Para o sistema causal-naturalista de Liszt-Beling, a parte externa

do delito, ou seja, o injusto penal, era objetivo, sendo que na sua

parte interna — a culpabilidade — é que deviam ser aferidos os

elementos subjetivos do agente, ou seja, dolo e culpa.

CORRETA: A teoria causal-naturalista entendia (e ainda entende) que o

dolo e culpa (elementos subjetivos do crime) estavam inseridos dentro da

culpabilidade, ou seja, estavam relacionadas ao agente (parte interna) e

não ao delito (exteriorização, parte externa). Desta maneira, a questão

está correta!

02 - (CESPE – 2009 – SEJUS/ES – AGENTE PENITENCIÁRIO)

A tipicidade, elemento do fato típico, é a correspondência entre o

fato praticado pelo agente e a descrição de cada espécie de

infração contida na lei penal incriminadora, de modo que, sem

tipicidade, não há antijuridicidade penal, pois, comportadas as

exclusões legais, todo fato típico é antijurídico.

CORRETA: De fato, como estudamos, a tipicidade é um dos elementos

que compõem o que se chama de fato típico. Além disso, a tipicidade é,

como diz a questão, a adequação entre a conduta do agente e a previsão

legal da norma incriminadora. Nesse sentido, todo fato típico é um ato

ilícito, salvo se estiver presente uma causa de exclusão da ilicitude.

03 - (CESPE – 2009 – DPE/ES – DEFENSOR PÚBLICO)

Considere a seguinte situação hipotética. Alberto, pretendendo

matar Bruno, desferiu contra este um disparo de arma de fogo,

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atingindo-o em região letal. Bruno foi imediatamente socorrido e

levado ao hospital. No segundo dia de internação, Bruno morreu

queimado em decorrência de um incêndio que assolou o

nosocômio. Nessa situação, ocorreu uma causa relativamente

independente, de forma que Alberto deve responder somente

pelos atos praticados antes do desastre ocorrido, ou seja, lesão

corporal.

ERRADA: Cuidado com esta pegadinha! A questão acerta ao caracterizar

o incêndio no Hospital como uma causa superveniente relativamente

independente que por si só produziu o resultado. Entretanto, erra

gravemente ao afirmar que Alberto responderá por lesão corporal. Alberto

responderá por homicídio tentado, pois a própria questão afirma que

Alberto queria matar Bruno! Cuidado com isto!

04 - (CESPE – 2009 – DPF – AGENTE DA POLÍCIA FEDERAL)

São elementos do fato típico: conduta, resultado, nexo de

causalidade, tipicidade e culpabilidade, de forma que, ausente

qualquer dos elementos, a conduta será atípica para o direito

penal, mas poderá ser valorada pelos outros ramos do direito,

podendo configurar, por exemplo, ilícito administrativo.

ERRADA: A culpabilidade não é um elemento do fato típico, sendo

elemento autônomo do crime. Embora os demais sejam os elementos do

fato típico, como vimos, existem determinados tipos de crimes que não

exigem a presença de todos os elementos do fato típico para sua

caracterização. É o caso, por exemplo, dos crimes formais, nos quais não

se exige o resultado naturalístico para que haja crime. Obviamente, nesse

caso também não há que se falar em nexo de causalidade entre conduta e

resultado (pois este é irrelevante). Assim, é plenamente possível a

configuração de crime sem que estejam presentes todos os elementos do

fato típico.

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05 - (CESPE – 2011 – PC/ES – ESCRIVÃO)

A tentativa e o crime omissivo impróprio são exemplos de

tipicidade mediata.

CORRETA: Como vimos, Nem sempre a conduta praticada pelo agente se

amolda perfeitamente ao tipo penal (adequação imediata). Às vezes é

necessário que se proceda à análise de outro dispositivo da Lei Penal para

se chegar à conclusão de que um fato é típico (adequação mediata).

Quando alguém pratica homicídio tentado, sua conduta não está prevista

no tipo do art. 121 (“matar alguém”). Entretanto, se conjugarmos o art.

121 do CP com o art. 14, II do CP, veremos que a conduta do agente

também é considerada homicídio (adequação mediata), na modalidade

tentada. Assim, a adequação mediata é aquela na qual o intérprete deve

proceder a uma conjugação de normas penais para que se chegue à

adequação típica, não bastando a análise isolada do tipo penal

incriminador. O mesmo ocorre com os crimes comissivos por omissão

(omissivos impróprios), nos quais a conduta do agente não se amolda ao

tipo penal incriminador, mas o agente respondera por ele, em razão da

combinação do tipo incriminador com o art. 13,§ 2° do CP.

06 - (CESPE – 2009 – OAB – EXAME DE ORDEM)

De acordo com o art. 14, inciso II, do CP, diz-se tentado o crime

quando, iniciada a execução, este não se consuma por

circunstâncias alheias à vontade do agente. Em relação ao

instituto da tentativa (conatus) no ordenamento jurídico

brasileiro, assinale a opção correta.

A) O crime de homicídio não admite tentativa branca.

ERRADA: É plenamente possível a tentativa branca no crime de

homicídio, bastando que a vítima não seja atingida;

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B) Considera-se perfeita ou acabada a tentativa quando o agente

atinge a vítima, vindo a lesioná-la.

ERRADA: A tentativa é perfeita (ou acabada) quando o agente esgota

toda a potencialidade lesiva de que dispõe;

C) A tentativa determina a redução da pena, obrigatoriamente, em

dois terços.

ERRADA: A tentativa é causa de diminuição de pena que varia de um a

dois terços, conforme a proximidade com a consumação, nos termos do

art. 14, § único do CP;

D) As contravenções penais não admitem punição por tentativa.

CORRETA: Conforme estudamos, não se pune a tentativa de

contravenção, nos termos do art. 4° do Decreto-Lei 3.688/41;

07 - (CESPE – 2009 – DPE/AL – DEFENSOR PÚBLICO)

Quanto à punição do delito na modalidade tentada, o CP adotou a

teoria subjetiva.

ERRADA: O CP adotou a teoria objetiva, pois considera o desvalor do

resultado como causa de diminuição de pena. Se tivesse adotado a teoria

subjetiva, só seria levado em conta o desvalor da conduta, que é o

mesmo do crime consumado, e não haveria causa de diminuição de pena;

08 - (CESPE – 2004 – DPF – AGENTE DA POLÍCIA FEDERAL)

Marcelo, com intenção de matar, efetuou três tiros em direção a

Rogério. No entanto, acertou apenas um deles. Logo em seguida,

um policial que passava pelo local levou Rogério ao hospital,

salvando-o da morte. Nessa situação, o crime praticado por

Marcelo foi tentado, sendo correto afirmar que houve adequação

típica mediata.

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CORRETA: Como estudamos, na modalidade tentada o agente pratica o

ato executório, mas o resultado não se consuma por circunstâncias

alheias à sua vontade (no caso, o socorro recebido pela vítima). Também

há adequação típica mediata, pois a conduta do agente (Marcelo) não se

amolda perfeitamente ao tipo previsto no art. 121 do CP (“matar

alguém”), pois a vítima não morreu. Entretanto, em razão da norma de

extensão (art. 14, II), pune-se também a tentativa. Como houve

necessidade de utilização de uma outra norma penal para que houvesse a

adequação típica, diz-se que houve adequação típica mediata.

09 - (CESPE – 2008 – STF – ANALISTA JUDICIÁRIO – ÁREA

JUDICIÁRIA)

Ocorre tentativa incruenta quando o agente dispara seis tiros em

direção à vítima sem, no entanto, causar qualquer lesão na vítima

ou em qualquer outra pessoa, por erro na execução.

CORRETA: Esta é a hipótese de tentativa incruenta, ou branca. Por outro

lado, se o agente tivesse acertado a vítima, estaríamos diante de

tentativa vermelha, ou cruenta.

10 - (CESPE – 2007 – TSE – ANALISTA JUDICIÁRIO – ÁREA

JUDICIÁRIA)

Em relação aos pressupostos teóricos da figura da desistência

voluntária, assinale a opção correta.

A) Para que se possa falar em desistência voluntária, é preciso

que o agente já tenha ingressado na fase dos atos de execução do

delito, pois, caso o agente se encontre praticando atos

preparatórios, sua conduta será considerada um indiferente penal.

CORRETA: Se o agente sequer inicia os atos de execução, não há crime,

pois o crime só pode ser punido, no mínimo, a título de tentativa. O art.

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14, II do CP diz que o crime é tentado se, “iniciada a execução...”. Assim,

se a execução sequer se iniciou, não há crime algum;

B) A desistência voluntária, para configurar-se, necessita que o

ato criminoso não ocorra em circunstâncias que dependam

diretamente da vontade do autor do delito.

ERRADA: Para que a desistência voluntária ocorra, é necessário que o

ato criminoso ocorra em circunstâncias que dependam da vontade do

agente, caso contrário haverá tentativa, e não desistência voluntária;

C) A concretização da desistência exige tanto a voluntariedade da

conduta do agente quanto a espontaneidade do ato.

ERRADA: Pode haver desistência voluntária quando o agente o faz

mediante pedido da vítima, por exemplo. Assim, não é necessário que o

ato seja espontâneo, mas deve ser sempre voluntário, ou seja, o agente

deve fazer isso porque quer, não porque está temendo ser preso, por

exemplo;

D) Segundo a fórmula de Frank, quando, na análise do fato, se

verificar que o agente pode prosseguir mas não quer, o caso é de

crime tentado e quando o agente quer prosseguir, mas não pode,

o caso é de desistência voluntária.

ERRADA: A fórmula de Frank é exatamente o contrário disto. Na

tentativa, o agente quer, mas não pode; Na desistência voluntária o

agente pode, mas não quer.

11 - (CESPE – 2009 – DPE/AL – DEFENSOR PÚBLICO)

São elementos do fato típico culposo: conduta, resultado

involuntário, nexo causal, tipicidade, ausência de previsão, quebra

do dever de cuidado objetivo por meio da imprudência,

negligência ou imperícia e previsibilidade subjetiva.

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ERRADA: No crime tentado, a previsibilidade que se exige é a

previsibilidade objetiva, e não a subjetiva. A previsibilidade subjetiva só

está presente nos casos de culpa consciente. No entanto, a lei admite a

chamada culpa “inconsciente”, que é aquela na qual o agente não prevê a

possibilidade de ocorrência do resultado, embora essa previsão fosse

possível mediante um esforço intelectual razoável. Além disso, a ausência

de previsão não é elemento necessariamente integrante da culpabilidade,

só o sendo no caso de culpa inconsciente. Nos casos de culpa consciente,

o agente prevê o resultado.

12 - (CESPE – 2012 – TJ/PI – JUIZ ESTADUAL)

Acerca do arrependimento posterior, assinale a opção correta.

A) A jurisprudência admite o arrependimento posterior no delito

de roubo, ainda que o réu devolva à vítima apenas parte da

quantia subtraída.

B) Para a aplicação do arrependimento posterior, não se exige do

agente espontaneidade na devolução da coisa subtraída.

C) No arrependimento posterior, a reparação do dano ou a

restituição da coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa,

ainda que efetivada por um só agente, é circunstância objetiva e

deve comunicar-se aos demais réus.

D) A tentativa de negociação das dívidas com o possível

ressarcimento dos danos causados às vítimas do delito de

apropriação indébita não evidencia ausência de dolo, e, após a

consumação, nem sequer caracteriza arrependimento posterior.

E) Tratando-se do delito de apropriação indébita, a devolução do

bem antes do recebimento da denúncia afasta o dolo e ilide a

justa causa para ação penal.

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COMENTÁRIO: O "arrependimento posterior" é uma espécie de "prêmio"

ao infrator que repara o dano após a consumação do delito. Parte-se do

pressuposto de que o crime já foi consumado. No entanto, o agente, por

uma conduta sua voluntária, resolve reparar o dano ou restituir a coisa

violada. Nesse caso, o juiz deve reduzir a pena de um terço a dois terços.

(A) ERRADA - Não se aplica o arrependimento posterior ao crime de

roubo, pois todo roubo tem, em seu tipo penal, a violência ou grave

ameaça. O art. 157 é claro ao dizer que no roubo há a elementar da

violência e grave ameaça, o que impede a aplicação do instituto do

arrependimento posterior, nos termos do art. 16 do CP;

(B) ERRADA/CORRETA: Ao contrário do que foi dito no item, o art. 16 é

claro ao dizer que a reparação do dano ou a restituição da coisa devem

ser realizados POR ATO VOLUNTÁRIO DO AGENTE ATIVO DO CRIME. No

entanto, boa parte da Doutrina entende que é dispensada a

"espontaneidade" do ato, bastando que seja voluntário, ou seja, sem

coação;

(C) CORRETA: Vejamos a seguinte decisão:

RECURSO ESPECIAL. PENAL. PROCESSO PENAL. ESTELIONATO.

CONCURSO DE PESSOAS. REPARAÇÃO DO DANO ANTES DO

OFERECIMENTO DA DENÚNCIA POR UM DOS AGENTES.

ARREPENDIMENTO POSTERIOR CONFIGURADO. ART 16 DO

CÓDIGO PENAL. CIRCUNSTÂNCIA OBJETIVA QUE ALCANÇA OS

DEMAIS PARTÍCIPES. PENA. REFLEXOS. EXTINÇÃO DA

PUNIBILIDADE. A reparação do dano não se restringe à esfera

pessoal de quem a realiza, desde que a faça voluntariamente,

sendo, portanto, nestas condições, circunstância objetiva,

estendendo-se, assim, aos co-autores e partícipes. Precedente

(...). (RESP 199700167984, JOSÉ ARNALDO DA FONSECA, STJ -

QUINTA TURMA, DJ DATA:21/02/2000 PG:00148 JSTJ

VOL.:00014 PG:00221.). ASSIM CONCLUÍMOS QUE O

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ARREPENDIMENTO POSTERIOR DE 1 AGENTE SE COMUNICA

COM OS DEMAIS.

(D) ERRADA: Conforme a jurisprudência, a tentativa de negociação de

dívidas diante do crime de apropriação indébita pode sim caracterizar

arrependimento posterior. RHC 200601281487: "(...) alegada tentativa de

negociação das dívidas com o possível ressarcimento dos danos causados

às vítimas não evidencia ausência de dolo, não excluindo igualmente a

culpabilidade, pois, após a consumação dos crimes, tal conduta apenas

poderia caracterizar arrependimento posterior".

(E) ERRADA: O art. 16 do CP não autoriza, em nenhuma hipótese, por si

só, excluir o dolo da conduta. Há dolo e, a princípio, o delito já estaria

consumado, na medida em que o delito de apropriação indébita se

consuma com a não devolução do bem no prazo estipulado, tendo o

agente assim agido com intenção de ficar com a coisa para si (animus

rem sibi habendi).

Assim, a ALTERNATIVA C ESTÁ CORRETA, mas Banca deve ter

ANULADO a questão em razão do problema na alternativa B, que

poderia ser considerada correta também.

13 - (CESPE – 2012 – MPE/TO – PROMOTOR DE JUSTIÇA)

A respeito de aspectos diversos dos crimes bem como dos

princípios aplicáveis ao direito penal, assinale a opção correta de

acordo com as disposições do CP e da doutrina penal.

A) Caracteriza situação de arrependimento eficaz o caso do

agente que, durante a ação, diz para si "posso prosseguir, mas

não quero" e encerra sua empreitada criminosa.

B) Chama-se de dolo direto de segundo grau aquele que se dirige

em relação ao fim proposto e aos meios escolhidos.

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C) Norma penal em branco homogênea, ou em sentido amplo, é

aquela cujo complemento é oriundo da mesma fonte legislativa

que editou a norma que necessita desse complemento.

D) Negligente é o agente que pratica um ato perigoso sem os

cuidados que o caso requer.

E) No erro de tipo essencial incriminador, o erro recai sobre os

pressupostos fáticos de uma causa de justificação, isto é,

excludente de ilicitude, que se encontra em tipos penais

permissivos.

COMENTÁRIO:

A) ERRADA: Esta situação não caracteriza o arrependimento eficaz, mas

a desistência voluntária, prevista na primeira parte do art. 15 do CP;

B) ERRADA: Na verdade este é o dolo direto de primeiro grau. O dolo

direto de segundo grau é aquele no qual o agente não pretende o

resultado, mas o aceita como consequência necessária de sua empreitada

(que pode ou não ser lícita);

C) CORRETA: De fato, esta é a definição de norma penal em

branco homogênea, ou em sentido amplo. Em contrapartida, a

norma penal em branco heterogênea, ou em sentido estrito, é

aquela cujo complemento provém de fonte legislativa diversa

daquela que editou a norma penal em branco;

D) ERRADA: Este não é o agente negligente, mas o agente imprudente;

E) ERRADA: O erro de tipo essencial incriminador é o erro sobre a

existência de um dos elementos do tipo penal incriminador, que faz com

que o agente pratique um delito que não sabia estar praticando, pois

acreditava inexistir um dos elementos do tipo penal;

Portanto, a ALTERNATIVA CORRETA É A LETRA C.

14 - (CESPE – 2002 – SENADO – CONSULTOR LEGISLATIVO)

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A propósito da teoria geral do crime e dos crimes em espécie,

julgue o item abaixo.

As regras atinentes à relação de causalidade são aplicáveis aos

tipos penais que exigem uma modificação no mundo exterior para

o seu aperfeiçoamento, excluídos os denominados crimes formais

e de mera conduta.

COMENTÁRIO: O fato típico é composto de cinco elementos:

CONDUTA (AÇÃO OU OMISSÃO);

NEXO DE CAUSALIDADE;

RESULTADO;

ELEMENTO SUBJETIVO (DOLO OU CULPA);

TIPICIDADE

Entretanto, nos crimes ditos "formais" e nos de "mera conduta", o

resultado não integra o tipo penal, sendo mero exaurimento.

Não havendo resultado como integrante do fato típico, não há que se falar

em nexo de causalidade entre a conduta e o resultado.

Portanto, a afirmativa está CORRETA.

15 - (CESPE – 2002 – SENADO – CONSULTOR LEGISLATIVO)

Ainda no que diz respeito à teoria geral do crime e aos crimes em

espécie, julgue o item seguinte.

Diz-se que o crime é doloso, quando o agente quis o resultado;

preterdoloso, quando, embora não querendo o resultado, o agente

assumiu o risco de produzi-lo.

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COMENTÁRIO: O crime é considerado doloso quando o agente quis o

resultado (dolo direto) ou assumiu o risco de produzir o resultado (dolo

eventual). Vejamos a redação do art. 18, I do CP:

Art. 18 - Diz-se o crime: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de

11.7.1984)

Crime doloso(Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco

de produzi-lo;(Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

O crime preterdoloso, por sua vez, é a modalidade de crime na qual o

agente começa cometendo um crime doloso, mas por erro na execução,

acaba por, culposamente, causar um resultado não pretendido.

Portanto, a afirmativa está ERRADA.

16 - (CESPE – 2010 – ABIN - OFICIAL TÉCNICO DE INTELIGÊNCIA)

Em relação à aplicação da lei penal e aos diversos aspectos do

crime, julgue o item seguinte.

Nos crimes omissivos próprios e impróprios, não há nexo causal,

visto que inexiste resultado naturalístico atribuído ao omissor,

que responde apenas por sua omissão se houver crime previsto no

caso concreto.

COMENTÁRIO: A afirmativa peca ao colocar os crimes omissivos

próprios e impróprios na mesma situação.

Os crimes omissivos próprios são aqueles crimes omissivos propriamente

ditos, nos quais o agente se omite e a própria omissão é penalmente

relevante, independentemente da ocorrência de qualquer resultado,

sendo, portanto, crime formal.

Os crimes omissivos impróprios, por sua vez, são aqueles que são

praticados por alguém, mas o RESULTADO é imputado a uma pessoa que

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não participou do crime, exatamente porque deveria agir para evitar o

resultado, pela sua posição de garantidor. Vejamos o art. 13, §2º do CP:

Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime,

somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa

a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.

(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

(...)

§ 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente

devia e podia agir para evitar o resultado. O dever de agir

incumbe a quem:(Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Nesse último caso, portanto, o resultado é penalmente relevante e,

portanto, o nexo causal também o é.

Desta forma, a afirmativa está ERRADA.

17 - (CESPE – 2010 – ABIN - OFICIAL TÉCNICO DE INTELIGÊNCIA)

Em relação à aplicação da lei penal e aos diversos aspectos do

crime, julgue o item seguinte.

No Código Penal brasileiro, adota-se, em relação ao conceito de

crime, o sistema tricotômico, de acordo com o qual as infrações

penais são separadas em crimes, delitos e contravenções.

COMENTÁRIO: O conceito de crime pode ser analisado de diversas

formas.

Sob o aspecto legal, ou formal, crime é toda infração penal a que a lei

comina pena de reclusão ou detenção. Nos termos do art. 1° da Lei de

Introdução ao CP:

Art 1º - Considera-se crime a infração penal que a lei comina

pena de reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer

alternativa ou cumulativamente com a pena de multa;

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contravenção, a infração penal a que a lei comina, isoladamente,

pena de prisão simples ou de multa, ou ambas. alternativa ou

cumulativamente.

Percebam que o conceito aqui é meramente legal. Se a lei cominar a uma

conduta a pena de detenção ou reclusão, cumulada ou alternativamente

com a pena de multa, estaremos diante de um crime.

Por outro lado, se a lei cominar a apenas prisão simples ou multa,

alternativa ou cumulativamente, estaremos diante de uma contravenção

penal.

Esse aspecto consagra o sistema dicotômico adotado no Brasil, no qual

existe um gênero, que é a infração penal, e duas espécies, que são o

crime e a contravenção penal.

Portanto, a afirmativa ESTÁ ERRADA.

18 - (CESPE – 2010 – ABIN - OFICIAL TÉCNICO DE INTELIGÊNCIA)

Em relação à aplicação da lei penal e aos diversos aspectos do

crime, julgue o item seguinte.

No que se refere à relação de causalidade penal, a teoria da

equivalência dos antecedentes causais situa-se exclusivamente no

terreno do elemento físico ou material do delito, razão pela qual,

por si só, não pode satisfazer a punibilidade.

COMENTÁRIOS: o nexo de causalidade pode ser entendido como o

vínculo que une a conduta do agente ao resultado naturalístico ocorrido

no mundo exterior. Portanto, só se aplica aos crimes materiais!

Algumas teorias existem acerca do nexo de causalidade, mas a adotada

como regra pelo CP é a Teoria da Equivalência dos Antecedentes.

Teoria da equivalência dos antecedentes (ou da conditio sine qua non) -

Para esta teoria, é considerada causa do crime toda conduta sem a qual o

resultado não teria ocorrido. Assim, para se saber se uma conduta é ou

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não causa do crime, devemos retirá-la do curso dos acontecimentos e ver

se, ainda assim, o crime ocorreria (Processo hipotético de eliminação de

Thyrén).

O inconveniente desta teoria está no sentido de que ela pode levar ao

infinito, já que englobaria muitas condutas anteriores que são

absolutamente irrelevantes do ponto de vista subjetivo.

Portanto, a Doutrina entende que o fator limitador é o dolo, de forma que

somente as condutas anteriores que contribuíram para resultado e que

foram direcionadas para ele é que serão consideradas causas.

No entanto, esta teoria trabalha apenas o aspecto da causalidade

material, ou seja, da causalidade física, do evento físico realizado.

Algumas situações mais complexas, que exigem uma análise da relação

de causalidade jurídica não podem ser resolvidas através desta teoria,

tendo sido elaboradas outas, como a teoria da imputação objetiva.

Portanto, a afirmativa está CORRETA.

19 - (CESPE – 2010 – ABIN - OFICIAL TÉCNICO DE INTELIGÊNCIA)

Julgue o item a seguir, referente a institutos de direito penal.

De acordo com a teoria dos elementos negativos do tipo, dado o

conceito de tipo total de injusto, as causas de exclusão da ilicitude

devem ser agregadas ao tipo como requisitos negativos deste.

COMENTÁRIO: O crime, sob seu aspecto analítico, é uma figura

tripartida, composta de fato típico, ilícito e culpável.

O fato típico é a correspondência entre a conduta realizada e a previsão

legal incriminadora.

A ilicitude é o juízo de reprovação da conduta que, além de se amoldar ao

tipo penal, não está acobertada por nenhuma causa de justificação que a

torne lícita.

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Já a culpabilidade é a análise da situação pessoal do agente, relativa à

sua potencial consciência da ilicitude do fato e a possibilidade de se

comportar conforme o Direito.

O que a teoria dos elementos negativos do tipo faz é fundir em apenas

um elemento o fato típico e a ilicitude, ao pregar que o crime seria

composto de tipo total do injusto mais a culpabilidade.

O tipo total do injusto é a tese pela qual no tipo penal está implícita a

necessidade de que a conduta não seja lícita.

EXEMPLO: "Matar alguém, salvo em legítima defesa, estado de

necessidade, etc.". Para esta teoria, todo tipo penal diz isso, só que por

uma questão de praticidade, os elementos negativos (os que permitem a

conduta em determinados casos) não figuram dentro do próprio tipo

penal.

Portanto, a afirmativa está CORRETA.

20 - (CESPE – 2002 – SEFAZ/AL - FISCAL DE TRIBUTOS

ESTADUAIS)

À luz do direito penal, julgue o item abaixo.

Um dos elementos do fato típico é o nexo causal entre a conduta e

o evento, que inexiste nos crimes formais.

COMENTÁRIO: O fato típico (um dos elementos do crime, sob o aspecto

analítico), é composto de cinco elementos:

CONDUTA (AÇÃO OU OMISSÃO);

NEXO DE CAUSALIDADE;

RESULTADO;

ELEMENTO SUBJETIVO (DOLO OU CULPA);

TIPICIDADE

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A conduta nada mais é que a realização física daquilo que está previsto na

norma penal incriminadora (fazer ou não fazer alguma coisa), e está

necessariamente presente em todo e qualquer crime.

O elemento subjetivo (que pode ser o dolo ou a culpa) também são

elementos indispensáveis, pois no direito brasileiro não existe a chamada

“responsabilidade objetiva”, de forma que o agente, além de realizar a

conduta prevista no tipo penal, deverá tê-la praticado com intenção (dolo)

ou ao menos com inobservância de um dever de cuidado (culpa em

sentido estrito), por ter sido negligente, imprudente ou imperito.

A tipicidade é outro elemento indispensável, eis que é a previsão de que a

conduta praticada é um crime. A tipicidade é um juízo de subsunção entre

a conduta do agente e a norma penal incriminadora.

O resultado é a modificação do mundo exterior pela conduta do agente, e

o nexo de causalidade é o vínculo que relaciona a conduta ao resultado.

Esses dois elementos não estão presentes na caracterização do fato típico

dos crimes ditos “formais”, eis que nesses o resultado é irrelevante para a

consumação do crime, que se consuma pela simples realização da

conduta.

Portanto, a afirmativa está CORRETA.

21 - (CESPE – 2002 – SEFAZ/AL - FISCAL DE TRIBUTOS

ESTADUAIS)

À luz do direito penal, julgue o item abaixo.

Age com dolo indireto o indivíduo que desfere golpes de faca

contra a vítima, com a intenção alternativa de ferir ou matar.

COMENTÁRIO: O dolo é o elemento subjetivo por excelência, e a

definição de crime doloso está contida no art. 18, I do CP:

Art. 18 - Diz-se o crime: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de

11.7.1984)

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Crime doloso(Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco

de produzi-lo;(Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

A Doutrina divide o dolo em:

DOLO DIRETO;

DOLO INDIRETO

O dolo direto nada mais é que a intenção de produzir o resultado, ou seja,

a conduta do agente está voltada intencionalmente para a produção do

resultado. Esse é o chamado dolo direto de PRIMEIRO GRAU.

O dolo direto pode ser, ainda, de SEGUNDO GRAU, que se verifica

quando o agente, embora não pretendendo originalmente o resultado, o

aceita como consequência necessária de sua conduta:

EX: Paulo pretende matar Maria, e para tanto coloca uma bomba no avião

em que esta viajará para o Rio de Janeiro. Ora, Paulo tem dolo direto de

primeiro grau em relação a Maria, mas possui dolo direto de segundo

grau em relação a todos os demais passageiros do avião, eis que a

conduta de Paulo fatalmente causará também a morte destes (Que,

embora não pretendida, é aceita como consequência necessária).

O dolo indireto, por sua vez, pode ser alternativo, quando o agente

realiza uma conduta com a intenção de produzir um ou outro resultado

(para ele, tanto faz). Ex: Atirar para matar ou para ferir, não importa o

que aconteça.

Por outro lado, o dolo indireto também pode se apresentar na modalidade

de DOLO EVENTUAL (mais comum), que ocorre quando o agente realiza

uma conduta que não tem por finalidade a produção do resultado, mas

que provavelmente acabará o produzindo.

No entanto, o agente aceita o resultado como provável e mesmo assim

realiza a conduta, ou seja, o agente não se importa se, eventualmente, o

resultado vier a ocorrer.

Desta forma, a afirmativa está CORRETA.

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22 - (CESPE – 2002 – SEFAZ/AL - FISCAL DE TRIBUTOS

ESTADUAIS)

À luz do direito penal, julgue o item abaixo.

Considere a seguinte situação hipotética.

Em uma caçada, um indivíduo percebeu que um animal se

encontrava nas proximidades de um de seus companheiros.

Confiando em sua condição de perito atirador e acreditando que

não iria acertar o colega, o indivíduo desfechou um tiro contra o

animal e matou o companheiro.

Nessa situação, o indivíduo agiu com culpa consciente.

COMENTÁRIO: Todo fato típico necessariamente engloba um elemento

subjetivo, que pode ser o dolo ou a culpa. Vejamos o que o CP nos diz a

respeito do elemento subjetivo:

Art. 18 - Diz-se o crime: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de

11.7.1984)

Crime doloso(Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco

de produzi-lo;(Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Crime culposo(Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

II - culposo, quando o agente deu causa ao resultado por

imprudência, negligência ou imperícia. (Incluído pela Lei nº

7.209, de 11.7.1984)

Parágrafo único - Salvo os casos expressos em lei, ninguém

pode ser punido por fato previsto como crime, senão quando o

pratica dolosamente. (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

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O crime será doloso quando o agente quiser o resultado ou aceitá-lo como

CONSEQUÊNCIA NECESSÁRIA (dolo direto de primeiro e segundo grau,

respectivamente) ou, ainda, quando o agente aceitar o resultado como

provável e, mesmo não o querendo, assuma o risco de sua ocorrência,

sem se importar com a eventual ocorrência do mesmo (dolo indireto, na

modalidade de dolo eventual). Há, ainda, o dolo alternativo, que é a

modalidade de dolo indireto na qual o agente pratica a conduta visando

dois resultados alternativos, ou seja, qualquer um deles é querido pelo

autor.

O crime pode ser, ainda, culposo, quando o agente não quer o resultado

nem aceita, de forma alguma, sua ocorrência, no entanto, por violação de

um dever de cuidado, o resultado acaba por ocorrer.

A culpa pode ser consciente, quando o agente prevê a possibilidade de

ocorrência do resultado (mas acredita que poderá evitá-lo) ou

inconsciente, quando o agente sequer chega a prever a possibilidade de

ocorrência do resultado.

CUIDADO: A previsão do resultado não é necessária (pois há a culpa

inconsciente), mas a possibilidade de que o resultado fosse previsto

(também chamada de PREVISIBILIDADE) é necessária, eis que se não

havia qualquer possibilidade de prever aquele resultado, não há culpa.

No caso, tendo o indivíduo previsto o resultado, mas confiado na sua

pontaria, acreditando piamente que este não viria a ocorrer, temos uma

hipótese de culpa consciente.

Desta forma, a afirmativa está CORRETA.

23 - (CESPE – 2002 – SEFAZ/AL - AGENTE CONTROLADOR DE

ARRECADAÇÃO)

À luz do direito penal, julgue o item que se segue.

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São elementos do fato típico: conduta dolosa ou culposa;

resultado, mesmo nos crimes de mera conduta; nexo causal entre

a conduta e o evento.

COMENTÁRIO: O fato típico (um dos elementos do crime, sob o aspecto

analítico), é composto de cinco elementos:

CONDUTA (AÇÃO OU OMISSÃO);

NEXO DE CAUSALIDADE;

RESULTADO;

ELEMENTO SUBJETIVO (DOLO OU CULPA);

TIPICIDADE

A conduta nada mais é que a realização física daquilo que está previsto na

norma penal incriminadora (fazer ou não fazer alguma coisa), e está

necessariamente presente em todo e qualquer crime.

O elemento subjetivo (que pode ser o dolo ou a culpa) também são

elementos indispensáveis, pois no direito brasileiro não existe a chamada

"responsabilidade objetiva", de forma que o agente, além de realizar a

conduta prevista no tipo penal, deverá tê-la praticado com intenção (dolo)

ou ao menos com inobservância de um dever de cuidado (culpa em

sentido estrito), por ter sido negligente, imprudente ou imperito.

A tipicidade é outro elemento indispensável, eis que é a previsão de que a

conduta praticada é um crime. A tipicidade é um juízo de subsunção entre

a conduta do agente e a norma penal incriminadora.

O resultado é a modificação do mundo exterior pela conduta do agente, e

o nexo de causalidade é o vínculo que relaciona a conduta ao resultado.

Esses dois elementos não estão presentes na caracterização do fato típico

dos crimes ditos "formais" e nos "de mera conduta", eis que nesses o

resultado é irrelevante para a consumação do crime (na verdade, nos

crimes de mera conduta, sequer há um resultado físico para a conduta),

que se consuma pela simples realização da conduta.

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A questão peca ao afirmar que o resultado é elemento do fato

típico nos crimes de mera conduta.

Portanto, a afirmativa está ERRADA.

24 - (CESPE – 2002 – SEFAZ/AL - AGENTE CONTROLADOR DE

ARRECADAÇÃO)

À luz do direito penal, julgue o item que se segue.

Age com dolo indireto, o indivíduo que desfere golpes de faca

contra a vítima com a intenção de matá-la.

COMENTÁRIO: O dolo é o elemento subjetivo por excelência, e a

definição de crime doloso está contida no art. 18, I do CP:

Art. 18 - Diz-se o crime: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de

11.7.1984)

Crime doloso(Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco

de produzi-lo;(Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

A Doutrina divide o dolo em:

DOLO DIRETO;

DOLO INDIRETO

O dolo direto nada mais é que a intenção de produzir o resultado, ou

seja, a conduta do agente está voltada intencionalmente para a produção

do resultado. Esse é o chamado dolo direto de PRIMEIRO GRAU.

O dolo direto pode ser, ainda, de SEGUNDO GRAU, que se verifica quando

o agente, embora não pretendendo originalmente o resultado, o aceita

como consequência necessária de sua conduta:

EX: Paulo pretende matar Maria, e para tanto coloca uma bomba no avião

em que esta viajará para o Rio de Janeiro. Ora, Paulo tem dolo direto de

primeiro grau em relação a Maria, mas possui dolo direto de segundo

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grau em relação a todos os demais passageiros do avião, eis que a

conduta de Paulo fatalmente causará também a morte destes (Que,

embora não pretendida, é aceita como consequência necessária).

O dolo indireto, por sua vez, pode ser alternativo, quando o agente

realiza uma conduta com a intenção de produzir um ou outro resultado

(para ele, tanto faz). Ex: Atirar para matar ou para ferir, não importa o

que aconteça.

Por outro lado, o dolo indireto também pode se apresentar na modalidade

de DOLO EVENTUAL (mais comum), que ocorre quando o agente realiza

uma conduta que não tem por finalidade a produção do resultado, mas

que provavelmente acabará o produzindo.

No entanto, na questão em tela, o agente pratica a conduta visando a

ocorrência do resultado, agindo, assim, como dolo direto de primeiro

grau.

Desta forma, a afirmativa está ERRADA.

25 - (CESPE – 2002 – SEFAZ/AL - AGENTE CONTROLADOR DE

ARRECADAÇÃO)

À luz do direito penal, julgue o item que se segue.

Considere a seguinte situação hipotética.

Um pedestre, agindo com imprudência e negligência, cruza a via

pública em local inadequado, vindo a ser atropelado por veículo

automotor que trafegava na contramão, em excesso de

velocidade.

Nessa situação, haverá compensação de culpas, ou seja, a culpa

do pedestre afastará a culpa do motorista.

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COMENTÁRIO: Todo conduta penalmente relevante deve possuir um

elemento subjetivo, que pode ser o dolo ou a culpa.

No caso em concreto o agente (que lesionou a vítima) agiu com culpa, eis

que praticava conduta imprudente, mesmo que não estivesse

pretendendo a ocorrência do resultado.

Por outro lado, a vítima também concorreu para a ocorrência do

resultado, eis que agiu também com imprudência e negligência, ou seja,

violando seu dever objetivo de cuidado;

Porém, no direito brasileiro não há o que se chama de “compensação de

culpas”, de forma que o autor do delito será responsabilizado penalmente,

embora sua pena possa ser atenuada em razão da contribuição da vítima

para a ocorrência do resultado.

Assim, a afirmativa está ERRADA.

26 - (CESPE – 2002 – SEFAZ/AL - AGENTE CONTROLADOR DE

ARRECADAÇÃO)

Caso atue de forma incorreta, quem trabalha para o Estado ou

com ele se relaciona pode incidir na prática de crimes com tipos

específicos, previstos na legislação penal brasileira.

Nesse contexto, julgue o item abaixo.

Doutrinariamente, os crimes contra a administração pública

dividem-se em próprios e impróprios.

COMENTÁRIO: Os crimes contra a administração pública são

tradicionalmente divididos em crimes próprios e impróprios eis que o CP

prevê crimes contra a administração pública praticados por funcionários

públicos e crimes praticados por particulares contra a administração

pública.

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Dividir os crimes contra a administração pública em próprios e impróprios

é uma construção meramente doutrinária, pois não há essa nomenclatura

de divisão no CP.

Portanto, a afirmativa está CORRETA.

27 - (CESPE – 2002 – SEFAZ/AL - TÉCNICO DE FINANÇAS)

À luz do direito penal, julgue o item subsequente.

Todo fato típico é antijurídico; e todo fato antijurídico é típico.

COMENTÁRIO: O crime, sob o aspecto analítico, é dividido em:

FATO TÍPICO;

ILÍCITO (ANTIJURÍDICO);

CULPÁVEL

Esta divisão é a mais aceita, e é a chamada TEORIA TRIPARTIDA.

Para que o crime se complete, é necessário que os três elementos

estejam presentes, sendo que cada um depende da existência de seu

antecessor, mas não o contrário.

Assim, é possível que um fato seja típico, mas não seja ilícito

(antijurídico). Mas não é possível que um fato seja ilícito (antijurídico) e

não seja típico.

Portanto, a afirmativa está ERRADA.

28 - (CESPE – 2002 – SEFAZ/AL - TÉCNICO DE FINANÇAS)

À luz do direito penal, julgue o item subsequente.

Considere a seguinte situação hipotética.

Um indivíduo pretendia matar o seu desafeto, que se encontrava

conversando com outra pessoa. Percebeu que, atirando na vítima,

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poderia também atingir a outra pessoa. Não obstante essa

possibilidade, prevendo que poderia matar o terceiro e, sendo-lhe

indiferente que este último resultado se produzisse, o indivíduo

atirou contra o desafeto. Com o disparo, o desafeto e o terceiro

vieram a falecer.

Nessa situação, o indivíduo agiu com dolo direto com relação ao

desafeto, e dolo indireto com relação ao terceiro.

COMENTÁRIO: O dolo é o elemento subjetivo por excelência, e a

definição de crime doloso está contida no art. 18, I do CP:

Art. 18 - Diz-se o crime: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de

11.7.1984)

Crime doloso(Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco

de produzi-lo;(Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

A Doutrina divide o dolo em:

DOLO DIRETO;

DOLO INDIRETO

O dolo direto nada mais é que a intenção de produzir o resultado, ou

seja, a conduta do agente está voltada intencionalmente para a produção

do resultado. Esse é o chamado dolo direto de PRIMEIRO GRAU.

O dolo direto pode ser, ainda, de SEGUNDO GRAU, que se verifica quando

o agente, embora não pretendendo originalmente o resultado, o aceita

como consequência necessária de sua conduta:

EX: Paulo pretende matar Maria, e para tanto coloca uma bomba no avião

em que esta viajará para o Rio de Janeiro. Ora, Paulo tem dolo direto de

primeiro grau em relação a Maria, mas possui dolo direto de segundo

grau em relação a todos os demais passageiros do avião, eis que a

conduta de Paulo fatalmente causará também a morte destes (Que,

embora não pretendida, é aceita como conseqüência necessária).

O dolo indireto, por sua vez, pode ser alternativo, quando o agente

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realiza uma conduta com a intenção de produzir um ou outro resultado

(para ele, tanto faz). Ex: Atirar para matar ou para ferir, não importa o

que aconteça.

Por outro lado, o dolo indireto também pode se apresentar na modalidade

de DOLO EVENTUAL (mais comum), que ocorre quando o agente realiza

uma conduta que não tem por finalidade a produção do resultado, mas

que provavelmente acabará o produzindo. No entanto, o agente aceita o

resultado como provável e mesmo assim realiza a conduta, ou seja, o

agente não se importa se, eventualmente, o resultado vier a ocorrer.

Na questão em tela, o agente age com dolo direto em relação a seu

desafeto e com dolo eventual (modalidade de dolo indireto) em relação

ao terceiro.

Desta forma, a AFIRMATIVA ESTÁ CORRETA.

29 - (CESPE – 2002 – SEFAZ/AL - TÉCNICO DE FINANÇAS)

À luz do direito penal, julgue o item subsequente.

Considere a seguinte situação hipotética.

Em face de escusável erro de diagnóstico, um estudante de

medicina empregou determinada técnica ao executar uma

intervenção cirúrgica e causou a morte do paciente.

Nessa situação, o estudante agiu com culpa comum, manifestada

pela imperícia.

COMENTÁRIO: A questão não é simples. Vejamos:

Se o agente (estudante de medicina) realizou a cirurgia sozinho (sem

acompanhamento de um cirurgião), agiu com violação de dever

profissional, e, portanto, não estamos diante da culpa comum, que é

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aquela deriva de uma violação a um dever genérico de cuidado.

Estamos diante, no caso, da culpa específica, que é aquela na qual o

agente viola um dever específico de cuidado, que, no caso, é a

observância das normas que regulam a profissão (Pois não podia realizar

aquele ato).

Portanto, a afirmativa está ERRADA.

30 - (CESPE – 2011 – TCU - AUDITOR FEDERAL DE CONTROLE

EXTERNO)

Acerca da tipicidade, da culpabilidade e da punibilidade, julgue o

item a seguir.

Se o juízo de adequação típica for negativo, ou seja, se não houver

subsunção da conduta ao tipo penal, verifica-se causa pessoal de

exclusão de pena.

COMENTÁRIO: Se não houver tipicidade, ou seja, se o juízo de

subsunção entre a conduta realizada e a norma penal incriminadora não

for positivo, não há o que se chama de adequação típica.

Desta maneira, não existirá sequer fato típico, eis que a tipicidade é um

dos elementos do fato típico.

Assim, não há que se falar, no caso, em causa pessoal de exclusão de

pena, mas em ausência de crime.

Portanto, a afirmativa está ERRADA.

31 - (CESPE – 2010 – ABIN – OFICIAL TÉCNICO DE

INTELIGÊNCIA)

Julgue o item a seguir, acerca das causas excludentes de ilicitude

e do concurso de pessoas.

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Considere que, para salvar sua plantação de batatas, um

agricultor desvie o curso de água de determinada barragem para a

chácara vizinha, causando vários danos em razão da ação da água.

Considere, ainda, que tanto a plantação desse agricultor quanto os

danos na chácara vizinha sejam avaliados em R$ 50.000,00. Nessa

situação, não se configura o estado de necessidade, uma vez que,

segundo a sistemática adotada no Código Penal, a exclusão de

ilicitude só deve ser aplicada quando o bem sacrificado for de

menor valor que o bem salvo.

COMENTÁRIO: Está previsto no art. 24 do Código Penal:

Art. 24 - Considera-se em estado de necessidade quem pratica o

fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua

vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou

alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável

exigir-se.

O Brasil adotou a teoria unitária de estado de necessidade, que

estabelece que o bem jurídico protegido deve ser de valor igual ou

superior ao sacrificado.

Exemplo: Marcos e João estão num avião que está caindo. Só há uma

mochila com para-quedas. Marcos agride João até causar-lhe a morte, a

fim de que o para-quedas seja seu e ele possa se salvar. Nesse caso, o

bem jurídico que Marcos buscou preservar (vida) é de igual valor ao bem

sacrificado (Vida de João). Assim, Marcos não cometeu crime, pois agiu

coberto por uma excludente de ilicitude, que é o estado de necessidade.

No caso de o bem sacrificado ser de valor maior que o bem protegido, o

agente responde pelo crime, mas tem sua pena diminuída. Nos termos do

art. 24, § 2° do CP:

§ 2º - Embora seja razoável exigir-se o sacrifício do direito

ameaçado, a pena poderá ser reduzida de um a dois terços.

Assim, se era razoável entender que o agente deveria sacrificar o bem

que na verdade escolheu proteger, ele responde pelo crime, mas em

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razão das circunstâncias terá sua pena diminuída de um a dois terços,

conforme o caso.

No caso da questão, considerando que o agente não criou a situação de

perigo e os bens jurídicos em questão são de igual valor, o agente poderá

se valer da causa de exclusão da ilicitude denominada de estado de

necessidade.

Assim, a afirmativa está ERRADA.

32 - (CESPE – 2010 – ABIN – OFICIAL TÉCNICO DE

INTELIGÊNCIA)

Julgue o item a seguir, acerca das causas excludentes de ilicitude

e do concurso de pessoas.

Considere a seguinte situação hipotética.

Ana estava passeando com o seu cão, da raça pitbull, quando, por

descuido, o animal soltou-se da coleira e atacou uma criança. Um

terceiro, que passava pelo local, com o intuito de salvar a vítima

do ataque, atingiu o cão com um pedaço de madeira, o que causou

a morte do animal.

Nessa situação hipotética, ocorreu o que a doutrina denomina de

estado de necessidade agressivo.

COMENTÁRIO: O estado de necessidade está previsto no art. 24 do

Código Penal:

Art. 24 - Considera-se em estado de necessidade quem pratica o

fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua

vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou

alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável

exigir-se.

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A Doutrina divide o estado de necessidade em agressivo e defensivo.

No primeiro caso o agente sacrifica bem jurídico de terceiro (que não

provocou a situação de perigo). No estado de necessidade defensivo o

agente que age acobertado pela causa de exclusão da ilicitude acaba por

sacrificar bem jurídico da própria pessoa que causou a situação de perigo.

No caso da questão, temos o que se chama de ESTADO DE

NECESSISDADE DEFENSIVO.

Portanto, a afirmativa está ERRADA.

33 - (CESPE – 2010 – ABIN – OFICIAL TÉCNICO DE

INTELIGÊNCIA)

Julgue o item a seguir, acerca das causas excludentes de ilicitude

e do concurso de pessoas.

Suponha que, para se defender da injusta agressão de Abel, Braz

desfira tiros em direção ao agressor, mas erre e atinja letalmente

Caio, terceiro inocente. Nessa situação, Braz não responderá por

delito algum, visto que a legítima defesa permanece intocável.

COMENTÁRIO: Nos termos do art. 25 do CP:

Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando

moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão,

atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.

O agente deve ter praticado o fato para repelir uma agressão injusta,

atual ou iminente, contra direito próprio ou alheio.

Da mesma forma que no estado de necessidade, se o agredido erra ao

revidar a agressão e atinge pessoa que não tem relação com a agressão

(erro sobre a pessoa), continuará amparado pela excludente de

ilicitude, pois o crime se considera praticado contra a pessoa

visada, não contra a efetivamente atingida.

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Portanto, a afirmativa está CORRETA.

34 - (CESPE – 2010 – ABIN – OFICIAL TÉCNICO DE

INTELIGÊNCIA)

Julgue o item a seguir, acerca das causas excludentes de ilicitude

e do concurso de pessoas.

O estrito cumprimento do dever legal, causa de exclusão da

ilicitude, consiste na realização de um fato típico por força do

desempenho de uma obrigação imposta diretamente pela lei, não

compreendendo a expressão dever legal a obrigação prevista em

decreto ou regulamento.

COMENTÁRIO: Nos termos do art. 23, III do CP:

Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato:

(...)

III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício

regular de direito.

Age acobertado por esta excludente aquele que pratica fato típico, mas o

faz em cumprimento a um dever previsto em lei.

Assim, o Policial tem o dever legal de manter a ordem pública. Se alguém

comete crime, eventuais lesões corporais praticadas pelo policial (quando

da perseguição) não são consideradas ilícitas, pois embora tenha sido

provocada lesão corporal (prevista no art. 129 do CP), o policial agiu no

estrito cumprimento do seu dever legal.

A Doutrina entende que a expressão "lei" deve ser compreendida

em sentido amplo, abrangendo qualquer diploma normativo, e não

somente as leis em sentido estrito.

Portanto, a afirmativa está ERRADA.

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35 - (CESPE – 2010 – ABIN – OFICIAL TÉCNICO DE

INTELIGÊNCIA)

Julgue o item a seguir, acerca das causas excludentes de ilicitude

e do concurso de pessoas.

Além das causas legais de exclusão da ilicitude previstas na lei,

há, ainda, as chamadas causas supralegais de exclusão da

ilicitude, verificadas, por exemplo, no caso de uma mãe furar a

orelha de sua filha para a colocação de um brinco, a situação que

configura um fato típico, embora a genitora não responda pelo

delito de lesão corporal, visto que atua amparada pela exclusão de

ilicitude.

COMENTÁRIO: Quando uma mãe fura a orelha de uma criança recém-

nascida não está cometendo o crime de lesão corporal não em razão de

uma causa supralegal de exclusão da ilicitude, mas em razão da ausência

de tipicidade da conduta, eis que não há propriamente lesão corporal e,

ainda que se possa entender que há lesão corporal penalmente relevante

no caso, a mãe estaria acobertada pela excludente do exercício regular de

um direito, na medida em que os pais tomam as decisões relativas aos

filhos menores e o procedimento é minimamente invasivo.

Há possibilidade, ainda, de se entender que o fato é atípico em razão da

adequação social da conduta.

De uma forma ou de outra, não há que se falar em causa supralegal de

exclusão da ilicitude.

Portanto, a afirmativa está ERRADA.

36 - (CESPE – 2002 – SEFAZ/AL – FISCAL DE TRIBUTOS

ESTADUAIS)

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À luz do direito penal, julgue o item abaixo.

Considere a seguinte situação hipotética.

Durante um baile, um indivíduo, com o pretexto de lesionar o seu

desafeto, provocou-o com palavras e o desafiou a uma luta.

Iniciado o entrevero corporal, o indivíduo desfechou um soco no

desafeto, causando-lhe lesão corporal grave.

Nessa situação, o indivíduo estará amparado pela excludente da

legítima defesa.

COMENTÁRIO: No caso em questão, ambas as condutas (agressões) são

injustas, pois não estão amparadas por nenhuma causa de justificação

(excludente de ilicitude).

No caso em tela, ambos deverão responder pelas lesões corporais que

causarem um ao outro.

Portanto, a afirmativa está ERRADA.

1. ALTERNATIVA A

2. CORRETA

3. ERRADA

4. ERRADA

5. CORRETA

6. ALTERNATIVA D

7. ERRADA

8. CORRETA

9. CORRETA

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10. ALTERNATIVA A

11. ERRADA

12. ANULADA

13. ALTERNATIVA C

14. CORRETA

15. ERRADA

16. ERRADA

17. ERRADA

18. CORRETA

19. CORRETA

20. CORRETA

21. CORRETA

22. CORRETA

23. ERRADA

24. ERRADA

25. ERRADA

26. CORRETA

27. ERRADA

28. CORRETA

29. ERRADA

30. ERRADA

31. ERRADA

32. ERRADA

33. CORRETA

34. ERRADA

35. ERRADA

36. ERRADA