Direito_Comunitario
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UNIVERSIDADE POTIGUAR – UnPPRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO
NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA – NEaD
Direito ComunitárioLivro-texto EaD
Natal/RN2010
R343d Rego Neto, Antonio Vaz Pereira do. Direito comunitário / Antonio Vaz Pereira do Rego Neto. – Natal: EdUnP, 2010. EdUnP, 2010. 80p. : il. ; 20 X 28 cm
Ebook – Livro eletrônico disponível on-line. ISBN XXX-XX-XXXXX-XX-X
1. Direito comunitário. I. Título.
RN/UnP/BCSF CDU 341
DIRIGENTES DA UNIVERSIDADE POTIGUAR – UnP
ReitoriaSâmela Soraya Gomes de Oliveira
Pró-Reitoria de Graduação e Ação ComunitáriaSandra Amaral de Araújo
Pró-Reitoria de Pesquisa, Extensão e Pós-GraduaçãoAarão Lyra
NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA DA UNIVERSIDADE POTIGUAR – UnP
Coordenação Geral Barney Silveira Arruda
Luciana Lopes Xavier
Coordenação PedagógicaEdilene Cândido da Silva
Coordenação de Produção de Recursos Didáticos
Michelle Cristine Mazzetto Betti
Coordenação de Produção de VídeosBruna Werner Gabriel
Coordenação de Logística Helionara Lucena Nunes
Revisão de Linguagem e Estrutura em EaDPriscilla Carla Silveira MenezesThalyta Mabel Nobre BarbosaÚrsula Andréa de Araújo Silva
Apoio AcadêmicoFlávia Helena Miranda de Araújo Freire
Assistente AdministrativoEliane Ferreira de SantanaGabriella Souza de Azevedo Gibson Marcelo Galvão de SousaGiselly Jordan Virginia Portella
Antonio Vaz Pereira do Rego Neto
Direito Comunitário1ª edição
Natal/RN2010
EQUIPE DE PRODUÇÃO DE RECURSOS DIDÁTICOS
OrganizaçãoLuciana Lopes Xavier
Michelle Cristine Mazzetto Betti
Coordenação de Produção de Recursos DidáticosMichelle Cristine Mazzetto Betti
Revisão de Linguagem e Estrutura em EaDThalyta Mabel Nobre Barbosa
Ilustração do MascoteLucio Masaaki Matsuno
EQUIPE DE PRODUÇÃO DE MATERIAL DIDÁTICODelinea - Tecnologia Educacional
Coordenação PedagógicaMargarete Lazzaris Kleis
Coordenação de EditoraçãoCharlie Anderson Olsen
Larissa Kleis Pereira
Coordenação de Revisão Gramatical e NormativaMichelle Christie Olsen
Revisão Gramatical e NormativaMorgana do Carmo Andrade Barbieri
Coordenação de DiagramaçãoAlexandre Alves de Freitas Noronha
DiagramaçãoFabrício Trindade Ferreira
IlustraçõesAlexandre Beck
PROF. ANTONIO VAZ
Olá! Como vamos? Sou o Professor Antonio Vaz. Neste
primeiro contato, cumpre realizarmos as devidas apresentações.
Sou Bacharel Graduado em Direito pela Universidade Potiguar
- UnP 2006; Especialista em Direito e Processo Tributário pela
Universidade Potiguar - UnP 2008; e Mestre em Direito Internacional
Tributário pela Universidade Federal do Estado do Rio Grande do
Norte - UFRN 2010. Leciono no Curso de Bacharelado em Direito
da Universidade Potiguar - UnP, onde sou titular das Cátedras de
Direito das Relações Internacionais públicas e privadas, além de
ensinar em diversas outras instituições de Ensino Superior, como
no Curso de Bacharelado em Direito da Faculdade de Natal - FAL e
da Estácio de Sá/Câmara Cascudo, onde sou titular das Cátedras de
Direito Internacional Público e Direito Internacional Privado. Sou
Docente e Coordenador dos Cursos de Pós-graduação em Gestão
Tributária; Projetos e Políticas Públicas; e Administração e Varejo
da Universidade Potiguar - UnP. Além das atribuições acadêmicas,
exerço o cargo administrativo de Diretor Adjunto do Curso Superior
de Tecnologia em Gestão Pública da Universidade Potiguar – UNP.
Venho desenvolvendo diversos projetos de pesquisa e obras voltadas
à análise do Direito Internacional Tributário da Integração, motivo
pelo qual me desafiei na produção deste livro, que, por certo,
contribuirá para o crescimento e desenvolvimento intelectual dos
nossos alunos. Nestes termos, muito prazer e aproveite!
CON
HEC
END
O O
AU
TOR
DIREITO COMUNITÁRIO
Esta obra objetiva o exame do Direito Comunitário como
um ramo inovador na área jurídica internacional, que se propõe
ao estudo da integração regional entre os países, fenômeno ora
denominado de Blocos Regionais Econômicos.
A integração entre os países na atualidade concede a eles diversas
vantagens nas relações internacionais, principalmente, mas não
exclusivamente, na área econômica e comercial, devido à unificação
de procedimentos legais, redução de barreiras fiscais ou alfandegárias
e diversidade na importação e exportação de bens e produtos.
Tais fases de integração, a depender do nível em que se
encontrem, recebem diferentes denominações, tais como: zonas de
preferências tarifárias, áreas de livre comércio, uniões aduaneiras
imperfeitas, uniões aduaneiras perfeitas e mercado comum.
Como exemplos dos processos integracionistas supracitados,
pode-se referir à União Europeia e ao MERCOSUL, onde existe
uma política de integração e cooperação internacional mais
aprofundada entre os países no que tange a práticas econômicas,
defesa de direitos (especialmente os humanos) e diretivas comuns
de relações exteriores, todas concretizadas por meio de um único
ordenamento jurídico internacional comum entre os países,
instrumentado pelos Tratados ou Acordos internacionais.
Portanto, o Direito Comunitário surge como um instrumento
jurídico comum de efetivação da globalização como, nos dizeres
de Martin Aaeborg, “processo por meio dos quais todos os povos
do planeta se incorporam a uma única sociedade mundial, a uma
sociedade global”.
CON
HEC
END
O A
DIS
CIPL
INA
Capítulo 1 - Introdução à Integração Internacional ................................. 131.1 Contextualizando .......................................................................................................... 131.2 Conhecendo a teoria .................................................................................................... 14 1.2.1 A atualidade .......................................................................................................... 14 1.2.2 Globalização ......................................................................................................... 16 Sistema de Preferências Tarifárias ...............................................................................................22 Zona de Livre Comércio ..................................................................................................................23 União Aduaneira .................................................................................................................................24 Mercado Comum ...............................................................................................................................25 União Econômica ...............................................................................................................................25 Integração Total ..................................................................................................................................261.3 Aplicando a teoria na prática .................................................................................... 261.4 Para saber mais .............................................................................................................. 271.5 Relembrando .................................................................................................................. 281.6 Testando os seus conhecimentos ............................................................................ 28Onde encontrar ..................................................................................................................... 29
Capítulo 2 - Processo de Integração e Direito Internacional .................. 312.1 Contextualizando .......................................................................................................... 312.2 Conhecendo a teoria .................................................................................................... 32 2.2.1 Direito Internacional e Tratados .................................................................... 32 2.2.2 Fundamento do Direito Internacional ......................................................... 38 Corrente voluntarista .......................................................................................................................38 Corrente objetivista ..........................................................................................................................39 2.2.3 Corrente Pacta sunte servanda ....................................................................... 39 Processo de integração e constituição ......................................................................................402.2.4 Monismo e Dualismo ................................................................................................. 412.3 Aplicando a teoria na prática ..................................................................................... 472.4 Para saber mais .............................................................................................................. 482.5 Relembrando .................................................................................................................. 482.6 Testando os seus conhecimentos ............................................................................ 49Onde encontrar ..................................................................................................................... 50
Capítulo 3 - O Direito Comunitário ........................................................... 513.1 Contextualizando .......................................................................................................... 513.2 Conhecendo a teoria .................................................................................................... 52 3.2.1 Considerações gerais acerca do direito comunitário ............................. 52 3.2.2 A supranacionalidade ........................................................................................ 54 Impactos da supranacionalidade sobre os Estados-membros da comunidade ........56 3.2.3 Fontes do direito comunitário ......................................................................... 57 Direito comunitário originário ......................................................................................................57 Direito comunitário derivado ........................................................................................................58 Princípios gerais do direito .............................................................................................................59 Jurisprudência .....................................................................................................................................59 3.2.4 Princípios ................................................................................................................. 60 Aplicabilidade imediata ...................................................................................................................60 Aplicabilidade direta .........................................................................................................................60 Aplicação por juízes nacionais ......................................................................................................60
SUM
ÁRI
O
Primazia do direito comunitário .................................................................................................................................61 Aplicação uniforme e harmonização ........................................................................................................................61 Subsidiariedade ................................................................................................................................................................61 3.2.5 Direito comunitário x direito internacional ......................................................................... 613.3 Aplicando a teoria na prática .............................................................................................................. 623.4 Para saber mais ....................................................................................................................................... 623.5 Relembrando ........................................................................................................................................... 633.6 Testando os seus conhecimentos ..................................................................................................... 64Onde encontrar .............................................................................................................................................. 64
Capítulo 4 - Processo de integração Europeia ............................................................. 654.1 Contextualizando ................................................................................................................................... 654.2 Conhecendo a teoria ............................................................................................................................. 66 4.2.1 O Conselho da Europa ................................................................................................................ 66 4.2.2 Aspectos históricos da integração Europeia ...................................................................... 68 4.2.3 Tratado de Paris e a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço ................................. 68 4.2.4 Tratado de Roma, Comunidade Econômica Europeia e Comunidade Europeia da Energia Atômica .............................................................................................................................................. 70 4.2.5 Tratado da Comunidade Econômica Europeia – TCEE ..................................................... 70 4.2.6 Tratado da Comunidade Europeia da Energia Atômica – TCEEA ................................. 71 4.2.7 Aspectos comuns ao TCEE eTCEEA ......................................................................................... 71 4.2.8 Europa dos Seis e a Ata Europeia Única ................................................................................ 72 4.2.9 Tratado de Maastricht e União Europeia .............................................................................. 74 4.2.10 Tratado de Amsterdã ................................................................................................................. 75 4.2.11 Tratado de Nice ........................................................................................................................... 76 4.2.12 Tratado de Constituição da Europa ...................................................................................... 784.3 Aplicando a teoria na prática .............................................................................................................. 804.4 Para saber mais ....................................................................................................................................... 804.5 Relembrando ........................................................................................................................................... 814.6 Testando os seus conhecimentos ..................................................................................................... 84Onde encontrar .............................................................................................................................................. 84
Capítulo 5 - Ordenamento jurídico comunitário ......................................................... 855.1 Contextualizando ................................................................................................................................... 855.2 Conhecendo a teoria ............................................................................................................................. 86 5.2.1 Natureza Jurídica do processo europeu de integração ................................................. 86 5.2.2 Estrutura em pilares e a personalidade jurídica da União Europeia .......................... 88 5.2.3 Competências comunitárias ..................................................................................................... 92 5.2.4 As fontes do direito comunitário ............................................................................................. 96 Fontes não obrigatórias do direito comunitário ...................................................................................................99 Os atos “sui gereris” ..........................................................................................................................................................99 As fontes complementares ........................................................................................................................................1005.3 Aplicando a teoria na prática ............................................................................................................1005.4 Para saber mais .....................................................................................................................................1015.5 Relembrando .........................................................................................................................................1015.6 Testando os seus conhecimentos ...................................................................................................103Onde encontrar ............................................................................................................................................103
Capítulo 6 - Direito Internacional Público da Integração: antecedentes da integração regional latino-americana ...........................................................................................1056.1 Contextualizando .................................................................................................................................1056.2 Conhecendo a teoria ...........................................................................................................................106 6.2.1 Antecedentes históricos da integração latino-americana ..........................................106 6.2.2 A Associação Latino-Americana de Integração ..............................................................110 6.2.3 A Comunidade do Caribe (CARICOM) ..................................................................................113 6.2.4 Sistema de Integração Centro-Americano (SICA). ...........................................................1146.3 Aplicando a teoria na prática ............................................................................................................1166.4 Para saber mais .....................................................................................................................................1176.5 Relembrando .........................................................................................................................................1176.6 Testando os seus conhecimentos ...................................................................................................119Onde encontrar ............................................................................................................................................119
Capítulo 7 - O MERCOSUL ............................................................................................1217.1 Contextualizando .................................................................................................................................1217.2 Conhecendo a teoria ...........................................................................................................................122 7.2.1 Evolução da relação bilateral entre a Argentina e o Brasil ..........................................122 7.2.2 Acordos bilaterais entre Argentina e Brasil como antecedentes do MERCOSUL ...........123 7.2.3 O Tratado de Assunção: MERCOSUL .....................................................................................124 Conselho de Mercado Comum ................................................................................................................................127 Grupo de Mercado Comum ......................................................................................................................................127 Comissão de Comércio do MERCOSUL .............................................................................................128 Secretaria Administrativa do MERCOSUL .........................................................................................128 Comissão Parlamentar Conjunta ......................................................................................................129 Foro consultivo econômico social ....................................................................................................130 7.2.4 Procedimento para tomada de decisões ............................................................................131 7.2.5 Personalidade Jurídica do MERCOSUL ................................................................................132 7.2.6 Fontes do Direito no MERCOSUL ...........................................................................................133 7.2.7 Pirâmide Jurídica do MERCOSUL ...........................................................................................135 7.2.8 Força executiva dos atos comunitários ...............................................................................135 7.2.9 Sistema de controvérsias no MERCOSUL ...........................................................................136 Direito Processual do MERCOSUL ...........................................................................................................................127 7.2.10 Regulamentação (solução) dos tratados frente às controvérsias entre Estados ...........1377.3 Aplicando a teoria na prática ............................................................................................................1397.4 Para saber mais .....................................................................................................................................1407.5 Relembrando .........................................................................................................................................1407.6 Testando os seus conhecimentos ...................................................................................................142Onde encontrar ............................................................................................................................................145
Capítulo 8 - A Integração na África .............................................................................1478.1 Contextualizando .................................................................................................................................1478.2 Conhecendo a teoria ...........................................................................................................................148 8.2.1 A União Africana (UA): Natureza e Competências ..........................................................148 8.2.2 Organização e funcionamento .............................................................................................150 8.2.3 União do Magreb Árabe: Natureza e Competências ......................................................152 Organização e funcionamento ...............................................................................................................................153 8.2.4 A Comunidade Econômica de Estados da África Central (CEEAC) ............................154
Natureza e competência ............................................................................................................................................154 Organização e funcionamento ................................................................................................................................155 8.2.5 A Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC) ..........................155 Natureza e competências ..........................................................................................................................................155 Organização e funcionamento ................................................................................................................................1568.3 Aplicando a teoria na prática ............................................................................................................1578.4 Para saber mais .....................................................................................................................................1588.5 Relembrando .........................................................................................................................................1588.6 Testando os seus conhecimentos ...................................................................................................160Onde encontrar ............................................................................................................................................160
Referências .....................................................................................................................................................161
13Direito Comunitário
Introdução à Integração InternacIonal
CAPÍTULO 1
1.1 Contextualizando
Neste capítulo, iremos, primeiramente, situá-lo na realidade que estamos
vivenciando, seja esta um mundo globalizado, em decorrência de fatores como
a evolução tecnológica e o avanço nas comunicações. Estes fatores conduzem
a uma integração entre os diversos países do mundo, eliminando as barreiras
geográficas e levando à formação de uma sociedade internacional.
A conjuntura atual e o direito comunitário estão intimamente ligados, pois
o processo de globalização fez as pessoas estarem cada vez mais “próximas”,
potencializou a integração, fazendo surgir verdadeiras comunidades entre
países, sendo estas reguladas pelo Direito Comunitário. Isto será devidamente
explicado no interior do texto.
Em um mundo globalizado, os Estados tendem a se unir em blocos para a
defesa de seus interesses. Esta integração entre os países ocorre principalmente
na área econômica e comercial, mas não exclusivamente, contemplando
também o âmbito cultural, social e político.
O processo de integração passa por diversas etapas, tais como: os sistemas
de preferências tarifárias, áreas de livre comércio, uniões aduaneiras, entre
outras, que você aprenderá no decorrer deste capítulo.
Ao final deste capítulo, você deverá ser capaz de definir:
a) o momento atual vivenciado pela sociedade;
b) a globalização, bem como os fatores que a desencadearam; e
c) a integração e seus estágios.
Capítulo 1
14 Direito Comunitário
O estudo desses temas é imprescindível ao seu desenvolvimento
acadêmico, por se tratar de uma área muito nova na Ciência jurídica, que
ganha cada vez mais relevo e importância na atualidade.
1.2 Conhecendo a teoria
1.2.1 A atualidade
Estamos vivendo em uma época, na qual as coisas acontecem em uma
velocidade crescente e impressionante. Isto resulta de uma conjuntura de
fatores, que veremos a seguir.
Entre estes, está a capacidade do ser humano de conseguir “encurtar” o
mundo, tanto em suas distâncias físicas como em seu conhecimento e percepção.
A revolução da tecnologia nas comunicações também é considerada
fator determinante, pois revolucionou as relações culturais entre as sociedades
das diversas nações. Ela propiciou a proliferação de meios de comunicação
em massa, que não atingem apenas a comunidade nacional, mas também a
comunidade internacional.
A internet, por exemplo, trouxe um fenômeno inimaginável há pelo
menos 50 anos, ou seja, a comunicação, em fração de segundos, com as
pessoas das mais diversas partes do planeta, além disso, ela propiciou o acesso
à informação em tempo real.
A internet surgiu em plena Guerra Fria, com objetivos militares. Ela seria uma das formas das forças armadas dos Estados Unidos de manter as comunicações em caso de ataques inimigos, que destruíssem os meios convencionais de comunicação.
CURIOSIDADE
A capacidade de obter instantaneamente o conhecimento do que ocorre,
não só próximo a nós, mas até mesmo nos lugares mais longínquos, muda
a nossa percepção do que somos como sociedade e sobre onde se encontra
Capítulo 1
15Direito Comunitário
o nosso próximo, suscitando a impressão de que somos membros de uma
“sociedade global”. Esses feitos da humanidade, chamados atualmente de
“globalização”, provocam uma “redução” física e mental da distância entre
as diversas comunidades do mundo. A causa é o maior conhecimento entre os
indivíduos, gerado pelos meios de comunicação modernos. Todo e qualquer
fato, seja qual for a sua natureza (política, social, econômica etc.), que ocorre
em um local do planeta, repercute instantaneamente, com maior ou menor
intensidade, nos mais variados lugares do mundo.
Hoje vivemos em conexão constante com as diversas partes do mundo. Algo que ocorre no Japão chega ao nosso conhecimento rapidamente aqui no Brasil, do outro lado do mundo. Também conseguimos nos comunicar instantaneamente com indivíduos de outras nacionalidades. Isso não gera a impressão de que somos membros de uma mesma sociedade internacional?
REFLEXÃO
Acredita-se que a chamada “nova ordem mundial”, nascida a partir do
fenômeno da globalização, teria eliminado as fronteiras entre os países e que
nos faria chegar à formação de um Estado global.
Há atualmente uma interdependência entre as nações. Por exemplo: uma
crise em algum lugar do mundo se converte em uma crise para todos. Há uma
teoria que afirma que o bater das asas de uma borboleta em determinado
lugar pode afetar a economia de um país do outro lado do mundo. Foi o que
ocorreu com a última crise que assolou o mercado imobiliário dos Estados
Unidos e acabou por repercutir em escala mundial.
Às vezes, o mundo e, consequentemente, a sociedade evoluem de forma
tão rápida que o direito não consegue acompanhar. Por inúmeras vezes, ele se
torna obsoleto, devendo então se adequar à nova realidade.
Esta interdependência entre os Estados, gerada pela globalização, suscita
a necessidade de uma nova maneira de ver o Direito, devendo este refletir a
nova realidade em que vivemos.
Capítulo 1
16 Direito Comunitário
1.2.2 Globalização
A definição do que venha a ser a globalização varia conforme os
elementos enfatizados pelo observador, seja no aspecto cultural, econômico,
político ou no jurídico. Vejamos alguns conceitos:
Segundo Martín Aalborg (apud SASSOT MATEUS, 1993, p. 143), “a
globalização se refere a todos os processos por meio dos quais todos
os povos do planeta se incorporam a uma única sociedade mundial, a
uma sociedade global”. Nos dizeres de Anthony Giddens (apud SASSOT
MATEUS, 1993, p. 143), a globalização compreende “a intensificação
das relações sociais entre as diferentes partes do mundo, de tal maneira
que acontecimentos separados por milhas de distância tenham
repercussões recíprocas.
Em suma, poderíamos nos referir à globalização como sendo um
processo que objetiva integrar as nações. Ele é gerado em decorrência
de fatores culturais (revolução tecnológica e as inovações nos meios
de comunicação) e repercute nas áreas econômicas, sociais, culturais,
políticas e, por último, no universo jurídico, já que ocorreram mudanças
na realidade social, tornando necessário que o Direito se atualize e passe
a refleti-la.
EXPLORANDO
Acesse o site <http://aacastro.tripod.com/integra.htm> e leia o artigo intitulado A Integração Econômica e os Interesses da Globalização, de autoria de Márcio Rogério Silveira.
Diversos fatores nos últimos anos concorreram para a potencialização
deste fenômeno e levaram os Estados a buscar, em conjunto, as soluções para
questões que, sendo de caráter internacional, seriam solucionadas com maior
êxito por medidas que também sejam internacionais.
Na atualidade, o planeta possui aproximadamente sete bilhões de
pessoas. Este número só tende a crescer, especialmente nos países menos
favorecidos economicamente. Se forem conservadas as formas atuais
Capítulo 1
17Direito Comunitário
de distribuição de riquezas, as desigualdades existentes entre os países
desenvolvidos (com crescimento inexpressivo da taxa de natalidade)
e aqueles em desenvolvimento (com índices de taxa de natalidade
expressivos), somar-se-ão às necessidades que estes últimos terão em termos
de alimentos, moradia, educação etc., para as suas novas populações. Tudo
isso potencializará o processo de desequilíbrio.
Este desnível vai gerar perigo à paz e ao desenvolvimento, não só dos
ditos países subdesenvolvidos, mas também das potências mundiais, a menos
que a comunidade internacional, por meio de uma economia globalizada,
consiga levar o sucesso de suas conquistas às nações mais pobres. Isto sustaria
os problemas decorrentes da escassez de alimentos, água e outros fatores
indispensáveis à sobrevivência humana.
Podemos destacar que a globalização é um fenômeno irreversível,
pois surgiu de modo manifesto e independente de nossa vontade.
Por outro lado, ela é uma ideia filosófica, que orienta a criação de um
mercado econômico supranacional, de uma comunidade supranacional e
de uma organização política supranacional, necessitando, para tanto, da
vontade política da sociedade atual, que crie ou não meios políticos para a
sua implementação.
Sob o enfoque jurídico, o que se deve discutir é o modo mais acertado
para que os direitos fundamentais do homem (vida, liberdade, saúde etc.)
possam ser devidamente resguardados na globalização, de modo a preservar
o respeito à soberania das nações e inserir os princípios da democracia em uma
sociedade transnacional.
É importante alertar a você, leitor, que alguns termos, como
supranacionalidade e transnacionalidade, serão devidamente esmiuçados no
interior do livro-texto.
Neste sentido, grandes convenções internacionais, principalmente as da
ONU (Organização das Nações Unidades), que geram respeito à consciência
da sociedade internacional, positivaram a proteção aos Direitos Humanos,
dotando, inclusive, em situações especiais, a autoridade da qual emana a
norma e o poder de sancionar violações àqueles.
Capítulo 1
18 Direito Comunitário
EXPLORANDO
Acesse o site <www.onu-brasil.org.br> e observe os documentos que objetivam a proteção dos direitos humanos.
1.2.3 Sistemas de integração econômica
Relembrando, o fenômeno da globalização é um processo desencadeado,
principalmente, pela evolução tecnológica e pelo avanço das comunicações,
que tende a uma interligação entre os países, provocando consequências
nas áreas econômicas, sociais, culturais e políticas. Dentro deste contexto,
surge um dos fenômenos mais expressivos da sociedade internacional na
atualidade, a integração.
A palavra integração, que vem latim integratio, segundo o dicionário
Aurélio, refere-se à ação e ao efeito de integrar-se, constituir parte de um
todo, unir-se a um grupo para dele fazer parte.
A integração de que tratamos ocorre no âmbito internacional. Ela é uma
forma de interação entre os países, fundada em um sistema de normas de
Direito, para a constituição progressiva de uma sociedade transnacional.
Tal processo integracionista possibilita duas formas de envolvimento entre
os atores internacionais (sujeitos de direitos e deveres): ou eles se relacionam
preservando suas soberanias – fenômeno da intergovernamentalidade
(caso do MERCOSUL – Mercado Comum do Cone Sul); ou realizam a sessão
de parcela de soberania para um ente dotado de personalidade jurídica
internacional e competências comuns entre os Estados-Partes – denominado
de supranacionalidade (União Europeia).
Obviamente não se está dizendo que a União Europeia encerrou a
soberania estatal, ao contrário, os Estados-Partes continuam representados
por suas constituições. Todavia, algumas matérias – especificamente as
que são de interesse dos Estados-membros europeus - passaram a ser de
competência regulamentar de um conjunto de Estados e não mais de um só
país de forma isolada.
Capítulo 1
19Direito Comunitário
Como exemplos, citam-se as normas sobre a circulação de mercadorias,
os estabelecimentos de créditos, de concorrência, agrícola, de transportes,
energética, industrial e de harmonização fiscal.
Os processos de internacionalização do Direito – ocorrem quando o
Direito deixa de ser criado e aplicado apenas no âmbito interno de cada país
e passa a ser criado e aplicado em âmbito internacional – e o aumento da
interdependência global inegavelmente conduzem a uma maior integração
entre os Estados.
O movimento integracionista ganhou força com o fim da Guerra
Fria e o avanço da globalização. Eles levaram os Estados a minimizar
os efeitos negativos da instabilidade mundial e a buscar maximizar os
proveitos que possam ser extraídos no mundo globalizado, por meio da
ampliação dos mercados nacionais e da “união” entre os Estados para a defesa
de seus interesses.
Os fatores que motivam um Estado a adotar uma política de integração
são diversos. Trivialmente, deve haver a convicção de que o processo de
integração beneficia não só o interesse nacional, mas também é considerado
positivo para o conjunto de Estados que integram o processo.
A conveniência de realizar um processo de integração emana, a
priori, do fato de que um grupo, no âmbito comercial, terá mais influência
e poder de negociação do que cada nação individualmente, podendo
garantir, de forma mais eficaz, o resguardo dos interesses de cada membro
e do grupo.
Há uma forte tendência a um fechamento de mercados nacionais em um
futuro bem próximo. Diante disto, um processo de integração irá garantir aos
seus membros acesso a mercados de outros países.
O processo pode ocorrer em proporções mundiais, onde podemos
falar em integração global (exemplo disto é a OMC – Organização Mundial
do Comércio). Em função disto, os Estados se unem com dezenas de outros
para a formulação de processos comuns de integração ou, em proporções
mais restritas, nos subsistemas regionais, que compreendem a integração
regional (União Europeia, MERCOSUL etc.), à qual daremos ênfase no
decorrer desta obra.