Diretor: José Alberto Soares para as necessidades P. 36...

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www.justnews.pt Publicações OSPITAL Público H A PARTILHA DE BOAS PRÁTICAS Diretor: José Alberto Soares Mensal Maio 2018 Ano I Número 10 3 euros Gerir a área administrativa com bom senso e sentido de justiça para servir os doentes do CHL ROSÁRIO ÓRFÃO P. 36 Os 1300 anestesiologistas do SNS são escassos para as necessidades PUB José Borges NESTA EDIÇÃO Serviço de Patologia Clínica do CHLN Qualidade e rapidez na abordagem diagnóstica e terapêutica P. 8/10 Ortopedia do CHUC realizou 101.ª artroscopia do punho-mão P. 22 P. 28/32 Melo Cristino garante que tem 160 profissionais de saúde “motivados” e “muito competentes” a trabalhar para manter a boa capacidade de resposta do Serviço que dirige. 35.000 utentes já passaram pela Cirurgia de Ambulatório do H. de S. João da Madeira P. 13 P. 14 P. 12 Reestruturação hospitalar terá de contemplar os cuidados integrados Estevão de Pape Daniel Ferro, presidente do CA, quer vê-lo evoluir para Centro Hospitalar Garcia de Orta, integrando o H. do Seixal. Requalificação e modernização do HGO P. 16 Bayer procura soluções inovadoras para doentes e profissionais de saúde FLORIAN IBE José Delgado Alves apresenta a Unidade de Doenças Imunomediadas Sistémicas do HFF P. 18/19 Diabetes: HBA investe em educação terapêutica e protocolos de atuação P. 33 Serviço de Psiquiatria Geriátrica é mais-valia no CH Psiquiátrico de Lisboa P. 46/47 Setor da Cirurgia da Mão tratou uma rizartrose Siga-nos hospital público

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Publicações

ospitalpúblicoH

A PARTILHA DE BOAS PRÁTICAS

Diretor: José Alberto SoaresMensal • Maio 2018Ano I • Número 10 • 3 euros

Gerir a área administrativa com bom senso e sentido de justiça para servir os doentes do CHL

RosáRio ÓRfão

P. 36

Os 1300 anestesiologistas do SNS são escassos para as necessidades

orelha art final_Layout 1 3/7/18 8:59 PM Page 1

PUB

José BorgesN

ESTA

EDI

ÇÃO

Serviço de Patologia Clínica do CHLN

Qualidade e rapidez na abordagem diagnóstica e terapêutica

P. 8/10

Ortopedia do CHUC realizou

101.ª artroscopia do punho-mão

P. 22

P. 28/32

Melo Cristino garante que tem 160 profissionais de saúde “motivados” e “muito competentes” a trabalhar para manter

a boa capacidade de resposta do Serviço que dirige.

P. 48

35.000 utentes já passaram pela Cirurgia de Ambulatório do H. de S. João da Madeira

P. 13

P. 14

P. 12

Reestruturação hospitalarterá de contemplaros cuidados integrados

Estevão de Pape

Daniel Ferro, presidente do CA, quer vê-lo evoluir para

Centro Hospitalar Garcia de Orta, integrando

o H. do Seixal.

Requalificação e modernização

do HGO

P. 16

Bayer procura soluções inovadoras para doentes e profissionais de saúde

FLOriaN ibE

José Delgado alves apresenta a Unidade de Doenças

Imunomediadas Sistémicas do HFF

P. 18/19

Diabetes: HBA investe em educação terapêutica e protocolos de atuação

P. 33

Serviço de Psiquiatria Geriátrica é mais-valia no CH Psiquiátrico de Lisboa

P. 46/47

Setor da Cirurgia da Mão tratou uma rizartrose

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hospital público

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frente, antever o que vai acontecer em termos de futuras orientações e tratamentos, e é um estímulo muito motivador para irmos mais além”, acrescenta.

No fundo, existe um gabine-te de investigação na UDIMS que “não tem espaço físico concreto, mas paira paralelamente a todos os existentes”, ressalva José Delgado Alves, que destaca essencialmente três tipos de investigação: os ensaios clínicos, principalmente de fases II e III, a investigação clínica efetuada no

Grupo de Resposta Imune e Doença Vascular do CEDOC (Centro de In-vestigação em Doenças Crónicas) da Nova Medical School, pelo qual é res-ponsável, e investigação básica reali-zada também na faculdade. Todos os médicos da equipa da UDIMS fazem investigação, formação e atividade clínica, sendo que, neste momento, três estão a fazer doutoramento na área de doenças imunomediadas.

No que respeita à formação, além da UDIMS receber internos do pró-prio hospital e de outros hospitais do país, estando já planeados estágios até ao final de 2020, tal é a procura, recebem também jovens africanos, visto estarem a colaborar com a Fa-culdade de Medicina de Maputo.

“Não é por acaso que estamos a fazer colaborações com África. Aqui recebemos muitos doentes de ou-tras origens, como a africana. Eu não diria que o padrão das doenças é di-ferente por essa maior concentração populacional nesta região, mas segu-ramente que o aspeto das doenças é necessariamente distinto. Ou seja, não é que as doenças sejam outras, mas a forma como se manifestam tem aspetos particulares”, sublinha José Delgado Alves.

À hora marcada, José Delgado Alves estava pronto para re-ceber a equipa de reportagem

da Just News e falar sobre uma das “meninas dos seus olhos”, não fosse a área de doenças autoimunes, ou melhor, imunomediadas, aquela a que se dedica desde sempre.

Antes de mais, começou por ex-plicar a designação da própria Unida-de. Isto porque nem todas as doenças tratadas neste contexto são necessa-riamente autoimunes, no sentido de existir uma prova evidente de que o sistema imunológico reagiu contra si próprio.

“A expressão doenças autoimunes acaba por ser incompleta, como mui-tas outras terminologias na área da Medicina. Por isso, a denominação de Unidade de Doenças Imunomediadas Sistémicas resulta de uma tentativa, que obviamente não é perfeita, de encontrar um termo mais abrangente, que pudesse estar mais próximo da realidade do que tratamos”, explica.

Na época, já havia médicos a desenvolver atividade nesta área no hospital, mas não existia uma uni-dade estruturada, algo que para José Delgado Alves faria toda a diferença. Depois de, em meados de 2009, levar a cabo a constituição do Serviço de Medicina IV e de este estar consolida-do, quatro anos mais tarde, avançou então com a UDIMS.

Atualmente, a equipa desta Uni-dade conta com 7 internistas e uma enfermeira a tempo integral (ver caixa), além da colaboração de admi-nistrativos, da assistente social e de muitos outros especialistas, como, por exemplo, nefrologistas, neurolo-gistas, gastrenterologistas, pediatras e oftalmologistas.

“As doenças não escolhem fron-

teiras” salienta José Delgado Alves, avançando que, ao tratar patologias sistémicas, é fundamental que as especialidades se cruzem. O inter-nista defende que “esta plasticida-de das instituições, das unidades e dos grupos é uma defesa para os doentes”.

Na sua opinião, não há fron-teiras completamente estanques e vai haver sempre doentes que necessitam de ser observados por várias áreas, portanto, “este entre-cruzamento saudável deveria ser acarinhado e visto como uma mais--valia”. E dá um exemplo: numa situação de doença inflamatória in-testinal com compromisso fora do aparelho gastrintestinal, o gastren-terologista tem uma perspetiva e o internista outra. O internista não deve substituir o gastrenterologista nem vice-versa, o importante é o trabalho conjunto para encontra-rem a melhor solução possível. “No entanto, por vezes, há atitudes de cacique cujo interesse não pode ser científico”, lamenta.

Quanto à organização logística da UDIMS, o professor da Nova Me-dical School começa por relembrar o problema de espaço com que o Fer-nando Fonseca se debate, pois, dá as-sistência a três ou quatro vezes mais população do que o inicialmente previsto. “Criámos um novo conceito de colocar o Rossio na rua da Betes-

ga, colocámo-lo numa das pedras da calçada da rua da Betesga”, desabafa, entre sorrisos.

Todavia, a UDIMS tem conse-guido dar resposta a este grande desafio. No que respeita ao inter-namento, das 45 camas do Serviço de Medicina Interna IV, quatro de-las estão especificamente alocadas à Unidade, embora muitas vezes tenha de utilizar mais.

Já no que se refere ao ambulató-rio, existem três vertentes: o hospital de dia, os exames complementares e as consultas. Os tratamentos e avalia-ções programadas são efetuados no Hospital de Dia do próprio Fernando Fonseca. Por outro lado, para as situ-ações urgentes e não programadas, a UDIMS tem um Hospital de Dia es-pecífico.

“Entendemos que não faz sentido que um doente destes vá para uma qualquer urgência, daí a designação walk in clinic, uma consulta a que o doente pode ir sem marcação pré-via”, revela José Delgado Alves.

A UDIMS tem também um ga-binete de exames complementares onde são efetuados tanto os mais típicos para doenças autoimunes,

como a capilaroscopia, as provas de secreção salivar e lacrimal ou a eco-grafia articular, como outros mais transversais (caso da ecocardiografia, da punção lombar ou das biopsias).

Conciliar a atividade clínica com a investigação

Quanto às consultas, na UDIMS realizam-se as consultas gerais de doenças autoimunes e as de coorte, sendo que estas últimas, como ex-plica José Delgado Alves, “dedicam--se a áreas particulares que, pela sua importância, ou de gestão médica ou de investigação, estão colocadas à parte, nomeadamente: as consultas de terapêutica biológica, de lúpus eritematoso sistémico, de esclerose sistémica e de inflamação ocular e doença sistémica”.

Sensivelmente, metade do total de consultas decorre nos gabinetes de consultas gerais do Fernando Fon-seca e as restantes em gabinetes da própria Unidade. De referir que os doentes de consultas de coorte têm avaliações trimestrais ou quadrimes-trais protocoladas, em que são reco-lhidos dados clínicos e biológicos e

a colheita de material biológico para Biobanco, que podem ser utilizados posteriormente em investigação ou, caso haja necessidade, no tratamento do doente.

A primeira consulta de coorte desta Unidade foi dedicada à esclero-se sistémica, coordenada por Susana Oliveira, visto ser a sua área de espe-cialização. Na opinião da internista, “esta diferenciação e a possibilidade de estarem, desde 2017, dois médi-cos em exclusividade na UDIMS [o seu caso e o de Bruno Grima] são grandes mais-valias”.

E adianta: “Outro aspeto a valo-

rizar que esta Unidade tem é a nossa ligação à Faculdade de Ciências Mé-dicas de Lisboa e podermos aliar à atividade clínica a investigação, algo que não existe em muitos sítios.”

Uma opinião partilhada por Ma-risa Neves, também internista nesta equipa, até porque “na área das do-enças autoimunes há cada vez mais conhecimento, mais terapêuticas disponíveis e, para que cada grupo se consiga especializar, mais convém haver pessoas focadas nas diferentes áreas”.

“Poder conciliar a atividade clíni-ca com a investigação é fundamental, porque nos permite estar na linha da

Diferenciação e multidisciplinaridade ao serviço da excelênciaUnidade de doenças imUnomediadas sistémicas do serviço de medicina interna iv do Hospital prof. doUtor fernando fon seca

A existênciA De umA uniDADe De DoençAs imunomeDiADAs sistémicAs (uDims) e A escolhA DA suA equipA forAm conDições sine quA non pArA José DelgADo Alves AbrAçAr o DesAfio De funDAr e liDerAr o serviço De meDicinA internA iv Do hospitAl fernAnDo fonsecA. em 2013, foi então criADA oficiAlmente A primeirA uniDADe Do pAís A Desenvolver AtiviDADe nA áreA DAs DoençAs Autoimunes De formA AutónomA e com internAmento próprio.

susana oliveira

marisa neves

José Delgado Alves: “Criámos o conceito de walk in clinic. Quando têm um problema, todos os nossos doentes recorrem diretamente a nós e recebemo-los sem marcação, em qualquer dia.”

“Esta Unidade é transversal, literalmente multidisciplinar”, frisa o internista do HFF.

Números em 2017

Doentes seguidos na UDIMS

4500

Doentes internados/ano 250

Total de consultas/ano 5100

(das quais mais de 500 foram de terapêutica biológica,

cerca de 500 de lúpus eritematoso sistémico,

aproximadamente 300 de esclerose sistémica e 400 de doença inflamatória ocular)

Sessões no Hospital de Dia/ano

2000

“Ao longo dos anos, o SNS tem tido cada vez mais unidades dife-renciadas. Desde sempre que este hospital se quis diferenciar em fun-ção de jovens médicos com muita capacidade que quiseram vir aqui fazer a sua carreira. No caso espe-cífico do Prof. José Delgado Alves, foi sempre muito curiosa a forma como ele encarou o assunto. Por um lado, a constituição das equi-pas à volta da vontade de as pes-soas virem para cá trabalhar, e, por outro, a sua visão anglo-saxónica de que ao trabalhar de uma forma

integrada há uma economia de re-cursos e aquilo a que se chama o verdadeiro desafio da integração de cuidados.

A UDIMS está a fazer um tra-balho excelente, com muito bons resultados, e é uma grande refe-rência a nível nacional. Claramente, para o Conselho de Administração deste hospital, o desenvolvimento do trabalho do Prof. José Delgado Alves e da sua equipa é excelente e permite-nos dizer que queremos diferenciação e mais diferencia-ção.”

"a Udims é uma grande referência a nível nacional"francisco velez roxo, presidente do ca do Hospital fernando fonseca:

Com 14 anos de carreira, Maria Barrantes está há um ano a trabalhar exclusivamente na UDIMS do HFF. “Tem sido muito frutífero para mim, pois, esta é uma área muito rica em conhecimentos, muito importante para a nossa formação.”

Atualmente, Maria Barrantes é a única enfermeira dedicada somente a esta Unidade, mas, obviamente, conta com a colaboração de vários colegas – no total, cerca de cinco por dia –, para que seja possível dar a resposta adequada a todos os doentes.

“Muitas destas patologias têm um grande impacto nas atividades do dia-a-dia da pessoa e da própria família, que contam com o nosso apoio para lidar com situações, mui-tas vezes, complicadas”, explica Ma-ria Barrantes.

À Just News, esta interlocutora explica que criou a consulta de se-guimento de enfermagem, realizada entre as consultas médicas: “Estou a preconizar um protocolo para que façamos uma ligação telefónica aos doentes, com o intuito de perceber como está a decorrer cada situação, fazer um levantamento de eventuais problemas e ajudá-los no que for ne-cessário, antecipando até a próxima consulta médica se for caso disso.”

Vários doentes fazem medica-ções injetáveis, por exemplo, no âmbi-to da terapêutica biológica, depois do devido ensino por parte da enferma-gem, e é “muito importante que estas sejam administradas corretamente, por um lado, para que o efeito seja o desejado e, por outro, porque se trata de fármacos com um custo elevado”.

“Temos de controlar bem estes doentes porque muitos deles estão a realizar tratamentos fortes, em que o próprio sistema imunitário fica mais debilitado”, remata.

"os doentes e as suas famílias contam com o nosso apoio"maria Barrantes, enfermeira na Udims:

José delgado alves, susana oliveira, maria Barrantes, Joana caetano, filipe seguro paula, ricardo marques, marisa neves, Bruno Grima e marta amaral

José delgado alves