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PARANÁ

GOVERNO DO ESTADO

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO – SEED SUPERINTENDENCIA DA EDUCAÇÃO – SUED

DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS - DPPE

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE

FICHA PARA CATÁLOGO PRODUÇÃO DIDÁTICO PEDAGÓGICA

Título: A literatura em sua dimensão cultural: o nordeste em evidência

Autor Márcia Ester Santos Machado

Escola de Atuação Escola Estadual Prof. “Giampero Monacci” – Ensino

Fundamental

Município da escola Itambé

Núcleo Regional de

Educação

Maringá

Orientador Luciana Cristina Ferreira Dias Di Raimo

Instituição de Ensino

Superior

UEM

Disciplina/Área Português

Produção Didático-

pedagógica

Unidade Didática

Relação Interdisciplinar

Público Alvo Alunos de 8ª série do ensino fundamental

Localização Escola Estadual prof. “Giampero Monacci” – Ensino

Fundamental

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Apresentação

Esta Unidade Didática tem como preocupação desconstruir os estereótipos criados pela sociedade, garantindo aos/as alunos/as o direito à diversidade e à luta contra as formas de discriminação e desigualdade social.

Desse modo, este material vai oferecer oportunidades para que os educandos/as desenvolvam capacidades de crítica e questionamentos dos sistemas e das formas dominantes de representação da identidade e da diferença, promovendo, por meio de poemas escritos e cantados (Vaca Estrela e boi Fubá, Evocação do Recife e Manguetown), o encontro, a interação dos/as estudantes com a cultura nordestina e com seus representantes (Patativa do Assaré, Manuel Bandeira, Chico Science).

Este trabalho com base em textos do gênero literário/artístico tem como objetivo propiciar um desenvolvimento efetivo dos alunos, estabelecendo conexões, na abordagem da língua materna, entre a problemática da cultura nordestina compreendida como plural e marcada pela diversidade, a dimensão da língua e práticas verbais relacionadas à leitura e à escrita de textos.

Palavras-chave Identidade, diferença, cultura, língua.

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INTRODUÇÃO

A história da sociedade brasileira é marcada pela diversidade cultural.

Encontramos aqui, diferentes formas de organização social nos diferentes grupos e

regiões. O espaço rural e o espaço urbano propiciam às suas populações vivências

e respostas culturais muito diferenciadas que implicam ritmos de vida, fala, costumes

e ensinamentos de valores distintos. E é na escola que essa diversidade cultural se

faz presente e que muitas vezes tem sido ignorada, silenciada ou minimizada.

Diante disso, é consenso a importância da leitura na formação do cidadão

pensante, pois ela oferece ao homem uma ferramenta para sociabilizar-se com os

demais.

Escolhemos a leitura de poemas por acreditar que, embora o aluno deva ler e

escrever diferentes tipos de texto na escola, é preciso privilegiar, nesse momento, a

leitura e análise desses textos literários, pois “a literatura, muito mais do que um

objeto portador de mensagens e ensinamentos, é um jeito particular de enxergar o

mundo” (Paraná, 1992, p.55). Para Candido (1972), a literatura é vista como arte

que transforma/humaniza o homem e a sociedade. Sobre isso, vale recorrer ainda a

Borba (Práticas de leitura e Escrita, 2006, p.110), quando afirma: “A literatura, como

arte da palavra, nos põe diante da complexidade da vida, nos apresenta

possibilidades de repensarmos o real, o cotidiano, de reinventarmos a própria vida

ou até mesmo entender sua multiplicidade.”

Nessa perspectiva a literatura, como qualquer outra arte, é uma criação

humana, e o homem por sua vez tem anseios, necessidades e valores que se

modificam. Este comportamento humano (modo de ver a vida e de estar no mundo)

é refletido pela literatura, pois esta está ligada à vida social. Dessa forma, o aluno

tem a oportunidade de acesso ao conhecimento social, como informa o livro:

Falar da diversidade cultural no Brasil significa levar em conta a origem das famílias e reconhecer as diferenças entre os referenciais culturais de uma família nordestina e de uma família gaúcha, por exemplo. Significa, também, reconhecer que, no interior dessas famílias e na relação de umas com as outras, encontramos indivíduos que não são iguais, que tem especificidades de gênero, raça/etnia, religião, orientação sexual, valores e outras diferenças definidas a partir de suas histórias pessoais. (Gênero e Diversidade na Escola: Formação de professoras/es em Gênero, Orientação

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Sexual e Relações Étnico-Raciais. Livro de conteúdo. Versão 2009. – Rio de Janeiro: CEPESC; Brasília: SPM, 2009, P.23).

Sendo assim, a literatura vai propiciar, mediante poemas escritos e cantados

a cultura/literatura nordestina, a fim de despertar nos/as alunos/as o interesse pelo

outro, o reconhecimento da diferença e a descoberta de que há personalidades que

carregam traços da nossa identidade em seu fazer artístico.

Por isso, o material foi elaborado, tendo como pressuposto que a linguagem

não é um simples conteúdo escolar, mas uma atividade humana, histórica e social.

Portanto, o seu estudo deve contribuir para auxiliar a solução de problemas

cotidianos e propiciar o acesso aos bens culturais. Os textos literários selecionados

e os temas a serem mobilizados em nosso estudo ancoram-se numa proposta

interculturalista e discursiva apresentada por Serrani, a qual possui três

componentes, a saber: o intercultural, o língua/discurso e práticas verbais.

Estruturando nossa proposta dentro de tais componentes, apresentamos a seguir

um modelo de implementação, tomando-se como base a cultura nordestina:

1) Componente intercultural:

a) territórios, espaços e momentos: Comparação entre a Recife de outros

tempos pelo olhar de Bandeira e a Recife/Manguetown, na canção de Chico

Science.

b) pessoa e grupos sociais: a oposição entre o caos urbano da periferia em

Manguetown e a visão do campo apresentada por Patativa.

c) legados socioculturais: ênfase na poesia e música nordestinas.

2) Componente de língua-discurso

a) materialidade linguística: um exame das conjunções aditivas e adversativas

em termos de produção de efeitos de sentidos.

b) gênero discursivo: poesia, canção.

3) Componente de práticas verbais: oficinas de leitura de textos poéticos/artísticos.

Desse modo, os textos foram elaborados sugerindo um trabalho que não

dissocia a análise dos sentidos construídos no texto da análise dos recursos

linguísticos, por acreditar que essa estratégia se adapta melhor à proposta desse

trabalho: multidimensional-discursiva.

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Assim, para haver êxito nas atividades, é preciso trabalhar de forma que o

material não seja aplicado como mera transmissão de informações culturais, nem

tampouco a leitura seja para o uso restrito à prática de exercícios gramaticais, isto é,

o texto será usado com propósitos condizentes com um ensino intercultural.

Este trabalho vai oferecer possibilidades de interpretação dos textos nas

quais questões de identidade e diferença serão abordadas com o objetivo de

descobertas da cultura popular como forma de resgate da cidadania e quebra de

tabus, principalmente aqueles que envolvem o povo nordestino.

1- Na sua opinião, como o Brasil é visto pelos estrangeiros?

2- Como o povo brasileiro, principalmente os paulistanos, veem os

nordestinos?

3- Qual é a visão que você tem do Nordeste e do seu povo?

Pesquisando alguns sites (br.answers.yahoo.com/question/index?qid...,

eduardompa.wordpress.com/.../como-os-japoneses-e-outros-estrangeiros- veem-o-brasil/ ,

pergunteparaasacoleiramassagista.blogspot.com/.../qual-viso-do-estrangeiro- sobre-o-

brasil.html) sobre a visão que os estrangeiros têm do Brasil, podemos constatar por

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meio dos depoimentos de alguns brasileiros, que moram ou simplesmente foram

viajar fora do Brasil a visão estereotipada do nosso país.

O Brasil é visto como o país do futebol, do carnaval, de mulheres fáceis que

estão se prostituindo com todos os gringos. Além disso, há ainda a visão de que o

país só tem violência, drogas e favelas e que o povo brasileiro é alegre, e

principalmente o carioca, vive com pouco trabalho, muita música e dança, fazendo

trapaças, levando vantagens sobre as pessoas.

Um dos ícones responsáveis por essa imagem do Brasil no estrangeiro é o Zé

Carioca, um personagem das histórias em quadrinhos, criado pelo Walt Disney no

começo da década de 40 para representar o brasileiro. Ele é um papagaio verde,

falastrão, simpático, malandro e preguiçoso, dá sempre um jeitinho para levar

vantagem nos negócios e aprecia como ninguém uma sombra e água fresca.

Com certeza, a mídia também é a grande responsável por divulgar essa

imagem estereotipada do Brasil, por meio de documentários, filmes e até mesmo

comerciais. Exemplo o comercial das havaianas que se encontra no site

(http://www.google.com.br/#hl=PTBR&q=comercial+das+havaianas%2Bfrancesa&oq=comer

cial+das+havaianas%2Bfrancesa&aq=f&aqi=&aql=&gs_sm=e&gs_upl=8206l10951l0l9l9l0l8l

0l0l312l312l31&bav=on.2,or.r_gc.r_pw.&fp=fe1e7a62a1162ce0&biw=1003&bih=395)

Não podemos nos esquecer, ainda, do conceito que alguns gringos têm de

que todo brasileiro é pobre, trambiqueiro e que independente de onde ele tenha

nascido, “anda de cipó e mata cobra na rua”.

Assim como não gostamos do jeito que os estrangeiros nos conceituam,

tenho a certeza que o povo nordestino também se sente humilhado, desvalorizado

quanto à forma de tratamento preconceituosa que os brasileiros de outras regiões do

país tecem sobre eles.

Os preconceitos que fazemos de uma sociedade parte da falta de

conhecimento que temos sobre ela. Por isso, esse trabalho tem como objetivo

conhecer, por meio de artistas, um pouco da cultura nordestina.

Em relação ao componente cultural, esta proposta terá como ponto de

partida a diversidade de sentidos que podem ser atribuídos a uma dada cidade

(espaço geográfico), neste caso, a cidade do Recife/PE. Além disso, serão

trabalhados as oposições e choques de sentidos entre o campo e a cidade, tendo

como base as representações pessoais (grupos humanos). Ainda, pensando no

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aspecto do repertório dos alunos, em termos de legados culturais, a ênfase estará

pautada na poesia e na música nordestinas.

Texto 1

Você vai ler e cantar o poema “Vaca Estrela e boi Fubá”, do poeta Patativa do

Assaré, um dos mais importantes representantes da cultura popular nordestina. Ele

é o ponto de partida para o entendimento da vida brasileira do nordeste, pois, em

seus versos, o poeta retrata aspectos culturais necessários do homem simples do

campo.

Na interpretação do poema, procuramos mostrar como Patativa consegue

transmitir a voz do povo em seus versos. Com uma linguagem simples, porém

poética, destacou-se como compositor, improvisador e poeta.

Objetivos da aula:

Recitar o poema despertando o interesse dos outros interlocutores;

Trocar impressões com outros leitores sobre o poema;

Conhecer um pouco da vida do poeta Patativa do Assaré, assim como

também sua obra;

Reconhecer a poesia de Patativa como manifestação da cultura

caipira/sertaneja (vídeo: poesia lida e cantada);

Compreender que as marcas da oralidade (variações linguísticas)

presentes no texto se configuram como expressão cultural de um povo

e não como erros ou modo de falar errado;

Apreciar e reconhecer o valor literário do poema Vaca Estrela e boi

Fubá;

Observar e compreender o ritmo da poesia produzido pelo uso das

rimas.

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Estratégia de leitura

O poema será lido pelo professor, em seguida os alunos poderão saborear o

texto declamando juntos. Depois um vídeo com o poema cantado será exibido.

http://www.youtube.com/watch?v=267-oVtHDAI O professor deve chamar a atenção

dos alunos para a musicalidade presente nos versos, ressaltando os aspectos

culturais, poéticos e prosaicos da poesia.

Vaca Estrela e boi Fubá

(Patativa do Assaré)

Seu dotô me dê licença

Pra minha história contá

(...)

Eu tinha cavalo bom

Gostava de campeá

(...)

Mas uma seca medonha

(...)

Fez tudo se trapaiá

Não nasceu capim no campo

Para o gado sustentá

O sertão esturricô, fez os açude secá

Morreu minha vaca Estrela

Se acabou meu boi Fubá

Perdi tudo quanto eu tinha

(...)

Hoje nas terra do sul

(...)

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As água corre dos oios

(...)

Com sodade do nordeste

Dá vontade de aboiá

Ê, vaca Estrela, ô, boi Fubá

CONHECENDO O AUTOR

1. Desenvolva uma pesquisa biográfica sobre o poeta Patativa do Assaré. A

atividade poderá ser em grupos de 4 ou 5 alunos. Cada grupo produzirá um

trabalho escrito e uma apresentação oral em sala de aula. Não é necessária

uma pesquisa minuciosa sobre cada acontecimento da vida do poeta. Vocês

poderão ater-se ao que se constitui como essencial para o estudo literário do

artista.

DESCOBRINDO O TEXTO

2. Neste texto o poeta relata uma história. Descreva-a.

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3. Numere as frases, ordenando-as de acordo com a sequência em que os fatos

ocorrem na vida do narrador:

a) ( ) a seca toma conta de tudo.

b) ( ) felicidade do eu lírico por estar trabalhando em sua terra natal.

c) ( ) morte da vaca Estrela e do boi Fubá.

d) ( ) migração para o sul.

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4. Como é a paisagem representada no poema?

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5. A linguagem utilizada no poema aproxima-se muito da fala, pois reproduz

uma conversa informal do eu lírico com outra pessoa, o leitor. Para perceber

melhor o uso desse recurso, retire do texto:

a) Um verso em que apareça a interação entre o narrador e o leitor.

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b) Algumas expressões da linguagem coloquial.

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6. Copie os versos que revelam a saudade do eu lírico por sua terra natal.

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7. Destaque do texto as palavras que rimam, observando a musicalidade que

estas produzem.

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8. Nesse poema, Patativa do Assaré ressalta um problema social vivenciado

pelo povo. Descreva-o.

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9. As poesias de Patativa contam de maneira simples a vida do sertanejo, o

amor, a liberdade, a natureza, o folclore, a política, enfim todas as

manifestações importantes na vida do nordestino. Quais desses aspectos

podem ser observados no texto Vaca Estrela e boi Fubá?

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10. Por que o poeta escreve o poema respeitando a variedade linguística da

região? Se o texto fosse escrito numa linguagem padrão, será que produziria

o mesmo efeito?

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11. Você concorda que o autor contribui para a elaboração da imagem da

identidade nordestina? Que imagem é essa?

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TEXTO 2

Para continuar conhecendo o nordeste, vamos fazer uma viagem ao tempo

junto com Manuel Bandeira, recordando a cidade de Recife, numa época em que o

município estava no começo de seu desenvolvimento urbano, quando as relações

sociais e humanas eram diferentes das que se encontram no Brasil de hoje. Em

“Evocação do Recife”, Bandeira revive sua infância, o folclore e a cultura popular de

forma bem subjetiva.

Objetivos da aula:

Favorecer uma reflexão a respeito do título e do tema;

Recitar e apreciar o texto poético;

Discutir com outros leitores a intencionalidade do poema;

Conhecer um pouco da vida do poeta Manuel Bandeira, assim como

também sua obra;

Inferir e pesquisar o sentido de uma palavra.

Antes de ler o texto, responda:

O que você entende por evocação?

Qual será o assunto deste poema?

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Evocação do Recife

Manuel Bandeira

Recife Não a Veneza americana Não a Mauritsstad dos armadores das Índias Ocidentais (...) Mas o Recife sem história nem literatura Recife sem mais nada Recife da minha infância (...) A gente brincava no meio da rua Os meninos gritavam: Coelho sai! Não sai! À distância as vozes macias das meninas politonavam: Roseira dá-me uma rosa Craveiro dá-me um botão (...) Rua da União... Como eram lindos os nomes das ruas da minha infância Rua do Sol (Tenho medo que hoje se chama do Dr. Fulano de Tal) Atrás de casa ficava a rua da Saudade... ...onde se ia fumar escondido Do lado de lá era o cais da Rua Aurora... ...onde se ia pescar escondido (...) A vida não me chegava pelos jornais nem pelos livros Vinha da boca do povo na língua errada do povo Língua certa do povo Porque ele é que fala gostoso o português do Brasil (...) A vida com uma porção de coisas que eu não entendia bem Terras que não sabia onde ficavam Recife... Rua da União... A casa de meu avô... Nunca pensei que ela acabasse! Tudo lá parecia impregnado de eternidade Recife... Meu avô morto. Recife morto, Recife bom, Recife brasileiro como a casa de meu avô

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CONHECENDO O AUTOR

Manuel de Souza Bandeira Filho nasceu no Recife no dia 19 de abril de 1886. Ainda jovem, muda-se para o Rio de Janeiro, onde faz seus estudos secundários. Em 1903 transfere-se para São Paulo, iniciando o curso de Engenharia na Escola Politécnica pretendendo tornar-se arquiteto. Neste mesmo período trabalhou nos escritórios da Estrada de Ferro Sorocabana. No final do ano de 1904, interrompeu suas atividades devido a doença que o fez sofrer durante a sua vida, a tuberculose. De volta ao Rio de Janeiro, torna-se grande amigo de Mário de Andrade e essa amizade é fundamental para a expansão de sua vida literária.

Segundo a crítica, seus poemas demonstram grande sensibilidade artística e riqueza humana. Manuel Bandeira é considerado uma das mais importantes figuras da poesia brasileira moderna. Apesar de ter sido poeta brilhante foi também, cronista, ensaísta e tradutor. Seus poemas falam da luta pela vida e coisas do cotidiano. Em muitos de seus poemas cantou o cenário brasileiro: as pessoas que sofrem pelas ruas, os homens rudes, as mulheres sofridas... cantou ainda a saudade que sentia da família, o sonho da liberdade, o amor e muitos outros. Bandeira não participou diretamente da Semana de Arte Moderna, que foi um marco inicial da renovação artística, porém seu poema Os sapos, que satiriza o parnasianismo, foi declamado nesse período. O poeta mantinha amizade com os modernistas e colaborou nas revistas Klaxon, Antropofagia, Lanterna Verde, Terra Roxa e A Revista. Aos seus 87 anos de idade, na Paraíba, ele falece de hemorragia gástrica. Manuel Bandeira foi sepultado no Mausoléu da Academia Brasileira de Letras, instituição a qual ele pertenceu. Obras do autor: Cinzas das Horas, Carnaval, O Ritmo Dissoluto, Libertinagem, Estrela da Manhã, Estrela da Tarde.(fonte:www.netsaber.com.br/.../ver_biografia_c_69.html,WWW.releituras.com)

CONVERSANDO E PENSANDO SOBRE O TEXTO

Com base na biografia do autor e na poesia lida, resolva as questões:

1. De acordo com o poema, como era a infância do eu lírico na cidade do

Recife?

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2. Qual o sentimento predominante no poema que o poeta faz do Recife? ______________________________________________________________

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3. O poema inicia-se com a recusa do eu lírico a enxergar a cidade sob a visão

de qualquer um dos títulos que ela recebeu.

“Não a Veneza americana Não a Mauritsstad dos armadores das Índias Ocidentais Não o Recife dos Mascates”... No final, o poeta define o Recife que tanto ama. Descreva esse Recife.

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4. Observe o verso “Depois do jantar as famílias tomavam a calçada com

cadeiras”, o verso sugere:

a) ( ) pobreza

b) ( ) falta de espaço

c) ( ) isolamento

d) ( ) espírito comunitário; familiaridade

5. Assinale com um (X) a opção que melhor explique o significado das palavras

nas frases:

a) “À distância as vozes macias das meninas politonavam:”

( ) cantavam em vários tons

( ) falavam todas ao mesmo tempo

( ) falavam em tom estridente

b) “Foi o meu primeiro alumbramento”

( ) entendimento

( ) deslumbramento

( ) conhecimento

c) “os caboclos destemidos em jangadas de bananeiras”

( ) cuidadosos

( ) temerosos

( ) corajosos

6. Copie os versos em que o poeta valoriza a linguagem simples do povo. ______________________________________________________________

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7. Que palavras ou expressões do poema demonstram que esse Recife saudoso

não existe mais?

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8. Releia a última estrofe e identifique o tema predominante que os versos

expressam.

( ) amor

( ) morte

( ) tristeza

( ) solidariedade

TEXTO 3

Já vimos um nordeste sob a perspectiva de dois poetas. Apreciamos um

nordeste rural e simples no poema de Patativa do Assaré. Recordamos com Manuel

Bandeira um Recife urbano, porém pequeno e pacato, longe dos problemas de

Urbanização que vamos encontrar na música de Chico Science, em que ele faz um

estudo da paisagem do Recife a partir de um processo de produção cultural. Ele

revela em sua música uma Recife de condições sub-humanas de sobrevivência, em

que a sociedade encontra-se insatisfeita e descontente com o sistema.

Vamos ouvir a música que se trata de um clamor social, em que o sujeito

quer sair do isolamento do imobilismo para a luta por seus direitos.

Não fiquemos só na letra, vamos também conhecer um ritmo que resgata

elementos da cultura folclórica regional como o Maracatu, coco, embolada e mistura

com alguns ritmos da cultura pop mundial como o rock, reggae e outros.

Objetivos da aula:

Apreciar a música como meio importante de expressão cultural de um

povo;

Conhecer breves dados biográficos sobre o cantor Chico Science;

Estabelecer uma relação entre o título e o conteúdo da música;

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Manifestar opiniões oralmente sobre o texto;

Posicionar-se diante dos problemas sociais, mencionados na música, que

ocorrem em nossa sociedade;

Compreender os sentidos metafóricos da linguagem;

Comparar um nordeste do ponto de vista do campo e da cidade/do

passado e presente;

Reconhecer a importância das conjunções aditivas e adversativas em

termos de produção de efeitos de sentidos e como mecanismos que

colaboram com a coesão e coerência do texto.

Manguetown

Chico Science & Nação Zumbi

Tô enfiado na lama

É um bairro sujo

Onde os urubus têm casas

E eu não tenho asas

(...)

Andando por entre os becos

Andando em coletivos

Ninguém foge ao cheiro sujo

Da lama da manguetown

Esta noite sairei, vou beber com meus amigos... ha!

(...)

Vou sonhando com a mulher

(...)

E ela também vai andar na lama do meu quintal é

Manguetown

(...)

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Fui no mangue catar lixo

Pegar caranguejo

Conversar com urubu

http://chico-science.musicas.mus.br/letras/45209/

CONHECENDO O AUTOR

Francisco de Assis França, conhecido por Chico Science, nasceu em Olinda

no dia 13 de março de 1966 e morreu em um acidente de carro entre os municípios de Olinda e Recife no dia 2 de fevereiro de 1997. Cantor e compositor recifense participou do movimento Manguebeat (movimento musical que mistura ritmos regionais com rock, hip hop, maracatu e música eletrônica), foi líder da banda Chico Science e Nação Zumbi, deixou dois discos gravados: Da Lama ao Caos e Afrociberdelia.

O propósito de Chico Science e da banda era “resgatar os ritmos negros do Nordeste com uma visão mundial”. (Fonte:http://www.netsaber.com.br/biografias/ver_biografia_c_1610.html)

CONHECENDO O TEXTO

1. O título da canção, “Manguetown”, significa “a cidade do mangue”, o que se

relaciona a uma realidade da cidade do Recife em que encontramos a

imagem dos homens equilibrados sobre a lama, pegando caranguejos,

espéceis presentes ao longo do litoral, além da lama e do caos das favelas

ribeirinhas, mergulhadas na pobreza e caracterizadas pela fome do homem

da cidade. Porém, o mangue também representa fecundidade, criação,

diversidade, alimentação e abundância. Com base nesses múltiplos sentidos

que podem ser atribuídos à palavra mangue, que relação o título

Manguetown tem com o efeito de sentido produzido pela canção?

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2. De que maneira os elementos presentes na canção se relacionam à

representação de Recife como cidade do mangue e da lama?

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3. Em que momento histórico, político, econômico e social essa música/poema

vivencia?

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4. Como é o espaço descrito no poema?

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5. Relacione a música ao contexto barasileiro. Que crítica você consegue

inferir?

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6. Que problema da vida moderna está sendo abordado nesses versos?

“Andando por entre becos

Andando em coletivos

Ninguém foge ao cheiro sujo

Da lama da Manguetown”

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7. Qual o objetivo maior do poema?

a) ( ) retratar todo o nordeste brasileiro

b) ( ) fazer um alerta sobre a sujeira dos mangues

c) ( ) fazer uma crítica política, econômica e social.

8. Em qual estrofe o autor relata a tentativa do sujeito em construir ou manter

seus vínculos sociais, e de encontrar até mesmo um grande amor?

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9. Como você interpreta a expressão “Tô enfiado na lama”?

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10. Depois de estudar o poema “Evocação do Recife”, de Manuel Bandeira e a

música “Manguetown”, de Chico Science, que comparações podemos fazer

entre os textos em relação ao espaço e o momento vivido pelas

personagens?

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11. Em que texto o autor retrata a cidade nordestina com saudosismo?

( ) Vaca Estrela e boi Fubá

( ) Evocação do Recife

( ) Manguetown

12. Faça uma comparação entre o caos urbano da periferia em Manguetown e a

visão do campo apresentada por Patativa.

TEXTOS

CARACTERÍSTICAS DAS PERSONAGENS OU TIPOS HUMANOS

DESCRIÇÃO DO ESPAÇO

MODO DE VIDA OU REPRESENTAÇÃO

SOCIAL

VACA ESTRELA E BOI FUBÁ

MANGUETOWN

Componente língua-discurso: partindo de uma perspectiva discursiva, este

componente é concebido com base na interdependência entre a materialidade

lingüística (o sistema fono-morfo-sintático da língua) e o processo discursivo.

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(posições discursivas do sujeito que enuncia). Neste sentido, a proposta volta-se

para uma abordagem das conjunções nos textos e os efeitos de sentidos que esses

elementos produzem, considerando a relação do sujeito com uma dada posição

ideológica.

13. Pense na importância da palavra grifada no trecho: “ Mas estou aqui em

minha casa”. Diante disso, selecione uma das afirmações abaixo.

( ) A palavra poderia ser retirada, sem alteração no sentido da frase.

( ) Ela é importante, pois, além de estabelecer uma sequência das ideias,

exprime um conceito de oposição.

Você observou no exercício anterior que o conectivo MAS, que é

chamado de conjunção, ajuda no processo de sequenciação do texto, pois um

texto não deve ser visto como um amontoado de frases. Ao contrário, todas

as ideias devem se relacionar umas às outras de modo a formar uma unidade

de significado. Nesse verso, Chico Science faz uso da conjunção para

produzir um sentido: o de oposição.

Esse sentido de oposição coloca em jogo dois sentidos contrários: há

um estado no qual o sujeito encontra-se numa solidão empobrecedora e

afirma estar enfiado na lama e ao mesmo tempo notamos que esse sujeito

apresenta um sentimento de pertencimento a essa lama, a partir da

construção “minha casa”. Ele está na lama, mas essa é sua casa e parece

ser um lugar de acolhimento.

Vamos observar agora outros exemplos de conjunções, que os poetas

utilizaram para produzirem efeitos de sentidos no texto.

14. Observe os versos:

“A rua da União onde eu brincava de chicote-queimado

e partia as vidraças da casa de dona Aninha Viegas”

“Onde os urubus tem casas

E eu não tenho asas” .

Nas duas situações o uso da conjunção e indica:

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a) ( ) ideia de conclusão

b) ( ) adição de ideias

c) ( ) oposição de ideias

15. Copie do poema Vaca Estrela e boi Fubá um outro exemplo em que as

orações são ligadas pelo conectivo (conjunção) e.

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Você observou que as conjunções que estão em destaque nos exercícios

13 e 14 auxiliam a estabelecer a sequência das ideias, de maneira a tornar o

texto claro, coeso e coerente, elas, ao mesmo tempo, exprimem sentido de

adição.

Então, conjunções são palavras que usamos para relacionar, conectar

orações ou termos da oração, auxiliando a “costura” do texto de maneira a

torná-lo um bom texto.

16. Nas questões abaixo, assinale com um x, a opção cuja conjunção complete o

espaço.

a) Com as secas os campos ficam feios e áridos, ....... quando caem as chuvas,

eles tornam-se alegres e verdes.

( ) e ( ) mas

b) Saí mais cedo...... fui trabalhar.

( ) e ( ) mas

c) Minha infância foi difícil, ......... foi muito feliz.

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( ) e ( ) mas

d) Ele trabalhava ....... morava na periferia.

( ) e ( ) mas

No tocante ao componente de práticas verbais, destacamos que tal proposta

parte do princípio que as atividades de produção e compreensão de textos devem

ser interdependentes dos componentes intercultural e de língua-discurso. Com

efeito, propomos oficinas (práticas) de leituras de poesias e canções e consideramos

a importância dos gêneros discursivos, compreendendo-os como "construções

sociais que vinculam a produção de linguagem ao contexto sócio-histórico e à

situação de interlocução" (SERRANI, 2005, p. 36).

Debatendo sobre o tema:

Depois de estudar e comparar vários textos, nos deparamos com sentidos

construídos sobre a cultura nordestina nos poemas, aprendemos ainda a

importância de sentido de uma palavra ou expressão para o entendimento de um

texto e finalmente, e não menos importante, conhecemos um pouco da região do

nordeste juntamente com o seu povo.

Considerando o que você leu e aprendeu, dê sua opinião sobre a visão que

agora você tem do nordeste e seu povo.

Neste momento, o professor pode propor um debate aos alunos a respeito do tema

em questão.

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AVALIAÇÃO

De acordo com as Diretrizes Curriculares, a avaliação formativa é o melhor

caminho para garantir a evolução de todos os alunos, pois dá ênfase ao aprender.

Essa será a concepção adotada pelo professor para esse material, pois, nessa linha,

a ação avaliadora observará simultaneamente os processos individuais e os do

grupo, abrangendo não só a aprendizagem, como também o ensino.

É importante ter claro que não se avalia para qualificar ou sancionar, mas sim

para reconhecer no processo as mudanças que precisam ser feitas para que haja

aprendizagem.

A avaliação será feita por meio de algumas atividades, individuais e em

grupos, no decorrer da aplicação do material:

Partindo das perguntas que antecedem o texto, haverá uma

elaboração de um debate entre professor e alunos, mobilizando temas

culturais que serão trabalhados durante a execução da proposta

multidimensional-discursiva.

Leitura e compreensão (salientando a reflexão sobre a diversidade

cultural, bem como abrindo espaços para a implementação de uma

proposta na qual estejam relacionados os componentes cultural,

língua/discurso e práticas letradas,...) com base nos textos: Vaca

Estrela e boi Fubá, Evocação Do Recife e Manguetown.

Pesquisa e estudo biográfico dos seguintes autores: Patativa do

Assaré, Manuel Bandeira e Chico Science.

No que se refere ao trabalho com a língua, serão desenvolvidas

atividades linguísticas com as conjunções aditivas e adversativas em

termos de produção de efeitos de sentidos.

No que se refere às práticas verbais letradas, trabalharemos com

oficinas de leitura (textos poéticos e canções) e a produção de um

debate, dando ênfase ao gênero discursivo resposta argumentativa, na

sua modalidade oral.

Cabe destacar que os alunos possuem ritmos e processos de aprendizagem

diferentes, pois uma mesma ação para um aluno pode indicar avanço e, para outro,

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não. E é por isso que a avaliação será contínua e diagnóstica, para que as

dificuldades sejam apontadas, possibilitando assim que a intervenção pedagógica

aconteça a tempo, fazendo com que o professor procure caminhos para que todos

os alunos aprendam e participem mais das aulas.

REFERÊNCIAS

BANDEIRA, Manuel. Estrela da vida inteira. 11. Ed. - Rio de Janeiro: José

Olympio,1986.

BORBA, Marisa. Literatura e pluralidade cultural. In:

CARVALHO, M.A.F; MENDONÇA, R.H. práticas de leitura e escrita. Brasília:

ministério da Educação, 2006.

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Gênero e Diversidade na Escola: Formação de

professores/as em gênero, orientação sexual e relações étnico-raciais. Livro de

conteúdo. – Rio de Janeiro: CEPESC; Brasília: SPM, 2009.

PARANÁ. Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa para a Educação

Básica. Curitiba, SEED, 2008.

PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Superintendência de educação.

Língua Portuguesa e Literatura. Curitiba, 1994.

SERRANI, Silvana. Discurso e cultura na aula de língua – currículo, leitura e

escrita. Campinas: Pontes, 2005.

SILVA, Tomaz Tadeu da. Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos

culturais/ Tomaz Tadeu da Silva (org.). Stuart Hall, Kathryn Woodward. 7. Ed. –

Petrópolis, RJ: Vozes, 2007.

STERN, Hans Heinrich. Issues and options in language teaching. Oxford: Oxford

University Press, 1993.