DISCURSO COMO PARANINFO DA TURMA DEZEMBRO · PDF fileDISCURSO COMO PARANINFO DA TURMA DEZEMBRO...
Embed Size (px)
Transcript of DISCURSO COMO PARANINFO DA TURMA DEZEMBRO · PDF fileDISCURSO COMO PARANINFO DA TURMA DEZEMBRO...

DISCURSO COMO PARANINFO DA TURMA DEZEMBRO DE 2000
Adayr da Silva Ilha
1. Saudação às autoridades
2. Introdução
Caros afilhados: como é bom estar aqui, ver e sentir emanar de cada um
de vocês a alegria e a felicidade. Estamos todos assim por ver vocês terem
vencido uma importante etapa em suas vidas. Vocês estão chegando a um
lugar que poucos brasileiros chegam, pois não mais do que 5% dos
brasileiros concluem o curso superior. Reconhecemos o valor desta
conquista, as dificuldades que tiveram de ultrapassar foram muitas – um
curso composto por um currículo difícil, pela complexidade e extensão de
suas teorias e modelos, ainda mais se considerando que este curso foi
realizado no período da noite, período este que normalmente se reserva
para o descanso, após um dia de trabalho. Infelizmente muitos de seus
colegas de vestibular ficaram para trás, outros desistiram definitivamente.
Por tudo isso vocês são merecedores de reconhecimentos e aplausos.
Parabéns Adenilson, Ana Maria, Daniel, Fabrícia, Jéferson, João Manoel,
Lisiani, Luciano Martins, Luciano Palma, Luiz Henrique, Metios, Michele,
Olinda, Pauline, Socorro e Valeska. A alegria que sinto ao vê-los aqui na
minha frente com estas vestes talares, tão bonitos, não é diferente da
alegria que estão sentindo os seus pais, irmãos, esposas, esposos, filhos,
namoradas, namorados, demais parentes e amigos.Somos gratos a vocês
por estarem nos proporcionando este momento.
A homenagem que me prestam, queridos afilhados, não é, com certeza,
somente pelos ensinamentos que por ventura possa lhes ter transmitido
durante esses anos de convívio. É também em muito pela amizade que aos
poucos foi sendo forjada à medida que se trocava uma saudação pelos
corredores, um bate-papo nos intervalos de aula, um conselho e orientação
que a idade nos permite fazer. Acreditamos não ter sido diferente ao
homenagear o colega Cláudio Einloft, patrono desta turma. Assim como o

fizeram aos demais professores homenageados, Carson, Elder, Gilberto,
José Maria, Luiz Antônio, Pascoal, Paulo Feistel, Ricardo Rondinel, Sergio e
Uacauan. Homenagem que também é prestada à Luciane e a Amália, pelo
eficiente apoio técnico e administrativo prestados.
3. O passo seguinte
Gostaria de dizer que a partir de agora, por terem concluído o curso
superior, teriam melhores condições de inserção no mercado de trabalho e,
portanto, melhores salários e ascensão social. No entanto, não posso fazer
essa previsão otimista para todos vocês, por questão de honestidade. A
atual situação econômica da sociedade contemporânea é desalentadora. O
desemprego, em âmbito mundial, alcança, atualmente, seu nível mais alto
desde a Grande Depressão dos anos trinta.
Computadores sofisticados, robótica, telecomunicações e outras
tecnologias de ponta têm, rapidamente, substituído seres humanos em
diversos setores da indústria, serviços e até na agricultura. Muitas funções
jamais voltarão, embora outras possam estar sendo criadas, mas estas são,
na maioria, empregos de baixa remuneração e, em geral temporários.
Jeremy Rifkin, em seu Livro – Fim dos Empregos – diz: “... o mundo está
polarizando-se em duas forças potencialmente irreconciliáveis: de um lado,
a elite da informação, que controla e administra a economia global de alta
tecnologia, e de outra, o número crescente de trabalhadores deslocados,
com poucas perspectivas e pequena esperança de encontrar bons empregos
em um mundo cada vez mais automatizado”.
Não podemos, pois, estimados afilhados, traçar outro panorama que não
esse, de dificuldades. Já foi aquele tempo em que o jovem que concluísse
qualquer curso superior adquiria facilidades diferenciadas de inserção no
mercado de trabalho. Hoje não basta o curso superior, terá que ter outras
habilidades que complementem sua formação, como domínio na área de
informática e, em pelo menos, uma língua estrangeira, além de uma boa
cultura histórica e de conhecimento da conjuntura econômica internacional.

Embora as dificuldades apontadas, temos a convicção de que saem da
Universidade com boa formação teórica, aliada a aguçado senso crítico,
qualidades essas indispensáveis a quem pretenda desempenhar a função de
economista. Alguns de vocês vão continuar estudando em nível de pós-
graduação, outros vão permanecer algum tempo na atual profissão e outros
vão a procura de emprego compatível com a formação agora adquirida.
Seja qual for à inserção que tiverem, daqui para frente, temos certeza que
estão preparados para colaborar na construção de uma sociedade melhor,
mais justa e solidária.
A conjuntura econômica atual é das mais perversas. Desde que se
disseminaram as idéias e políticas liberais no Reino Unido, com Margaret
Thatcher (1979) e nos Estados Unidos, com Ronald Reagan (1981), a
ameaça da recessão e do desemprego tem nos acompanhado. Estas idéias
propunham a retirada do Estado do aparelho produtivo, privatizações,
abertura ao capital estrangeiro, liberalização de mercados, com a economia
passando a ser regulada pelas forças do mercado.
Daí em diante as elites conservadoras que têm dirigido nosso país vêm
defendendo e implementando essas idéias no Brasil, assim como vêm sendo
seguidas por outros países latino-americanos com resultados altamente
danosos aos interesses de nossos povos. A América Latina denominou os
anos 80 de a década perdida, pelo baixo crescimento econômico obtido na
região. Ao chegar ao fim dos anos 90, se verifica que a década de 90 ainda
foi pior em termos de crescimento. O resultado de duas décadas de baixo
crescimento econômico é um contingente enorme de pessoas que a cada
ano se vêm excluídas, sem emprego e sem possibilidade de participar do
mercado como consumidores.
Após muitos fracassos com planos de estabilização econômica, veio o
Plano Real, a partir de julho de 1994, que obteve grande sucesso no
controle da inflação, no entanto, colocou-nos frente à armadilha do
crescimento: não podemos crescer, por que se isso ocorrer o déficit
comercial aumenta e os preços internos saem do controle. Juros altos e
abertura comercial desestruturaram completamente nossa indústria, que

mesmo após a desvalorização cambial não consegue adquirir o dinamismo
das exportações de períodos anteriores.
Nossa dívida pública mobiliária, conhecida como dívida interna,
aumentou de 62 bilhões de reais para 500 bilhões hoje. As privatizações de
empresas públicas não resultaram em abatimento da dívida, nem na
melhoria do atendimento da população em qualidade dos serviços e preços.
Não melhoraram também os serviços prestados pelo Estado como
segurança, saúde e educação. O capital externo que tem entrado no país
em grande quantidade não tem ajudado significativamente na geração de
novos postos de trabalho. Tem isso sim tirado do governo a autonomia na
adoção de políticas econômicas que atendam aos interesses do povo.
As estatísticas dos organismos internacionais têm mostrado que à
distância entre os países pobres e ricos aumentou na última década,
período em que se objetivou aumentar a eficiência produtiva na busca da
competitividade.
Não queremos nos estender mais com questões que vocês de certa
forma já conhecem. Queríamos apenas dar um panorama do que vos
espera, pedindo a Deus que os ilumine para que possa, cada um de vocês,
no dia a dia, colaborar na construção de um mundo melhor, com mais
solidariedade e justiça social. Obrigado.