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Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento - RC: 17749 - ISSN: 2448-0959 https://www.nucleodoconhecimento.com.br/educacao/dislexia-na-aprendizagem Dislexia na Aprendizagem SILVA, Renan Mota [1] SILVA, Renan Mota. Dislexia na Aprendizagem. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 03, Ed. 07, Vol. 05, pp. 107-138, Julho de 2018. ISSN: 2448-0959 Resumo A Dislexia é uma perturbação ou transtorno ao nível de leitura, escrita e soletração que condiciona o fracasso escolar de muitas crianças. No ambiente escolar esse transtorno ainda é desconhecido pela maioria dos educadores, que geralmente consideram a dislexia como um resultado de má alfabetização. O objetivo desse estudo é identificar recursos e meios de auxiliar os professores a enfrentarem no seu cotidiano em sala de aula, os desafios de intervir em níveis didático-pedagógicos para minimizar os problemas da criança que sofre de dislexia. Pretendo analisar como a escola poderá implementar alternativas para assessorar os professores no reconhecimento de alunos com dislexia. Apresenta-se no estudo algumas alternativas como a importância do enfoque psicopedagógico no melhor delineamento da prática dos profissionais que atuam na educação com crianças dislexas. A metodologia da pesquisa orientou pelo método indutivo voltado para o ambiente escolar focalizando a dificuldade de aprendizagem delimitada à dislexia, envolvendo um trabalho de entrevistas com os professores em uma instituição. O estudo aponta como hipótese que a dislexia está relacionada a dificuldades de aprendizagem exigindo posturas de acompanhamento psicopedagógico especializado para a superação das dificuldades de aprendizagens que levam ao fracasso escolar do aluno. Os resultados elencados demonstraram que a dislexia pode ser um distúrbio, onde a escola poderá desenvolver ações de conscientização da família e do educando para a realização de um diagnóstico e o desenvolvimento de ações de intervenção psicopedagógica, fonoaudiológica e psicomotora. Dessa forma, contribuir na locomoção das crianças com dislexia ajudando-as a superar suas dificuldades, disfunções, limitações ou deficiências. Palavras-chave: Dislexia, Recursos, Ações Alternativas, Escola, Professores. 1. Introdução 1.1 Apresentação do tema Este trabalho é fruto de vivência nos espaços escolares com um olhar voltado para as posições de quem 1 / 23

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Dislexia na Aprendizagem

SILVA, Renan Mota [1]

SILVA, Renan Mota. Dislexia na Aprendizagem. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo doConhecimento. Ano 03, Ed. 07, Vol. 05, pp. 107-138, Julho de 2018. ISSN: 2448-0959

Resumo

A Dislexia é uma perturbação ou transtorno ao nível de leitura, escrita e soletração que condiciona ofracasso escolar de muitas crianças. No ambiente escolar esse transtorno ainda é desconhecido pelamaioria dos educadores, que geralmente consideram a dislexia como um resultado de má alfabetização. Oobjetivo desse estudo é identificar recursos e meios de auxiliar os professores a enfrentarem no seucotidiano em sala de aula, os desafios de intervir em níveis didático-pedagógicos para minimizar osproblemas da criança que sofre de dislexia. Pretendo analisar como a escola poderá implementaralternativas para assessorar os professores no reconhecimento de alunos com dislexia. Apresenta-se noestudo algumas alternativas como a importância do enfoque psicopedagógico no melhor delineamento daprática dos profissionais que atuam na educação com crianças dislexas. A metodologia da pesquisaorientou pelo método indutivo voltado para o ambiente escolar focalizando a dificuldade de aprendizagemdelimitada à dislexia, envolvendo um trabalho de entrevistas com os professores em uma instituição. Oestudo aponta como hipótese que a dislexia está relacionada a dificuldades de aprendizagem exigindoposturas de acompanhamento psicopedagógico especializado para a superação das dificuldades deaprendizagens que levam ao fracasso escolar do aluno. Os resultados elencados demonstraram que adislexia pode ser um distúrbio, onde a escola poderá desenvolver ações de conscientização da família e doeducando para a realização de um diagnóstico e o desenvolvimento de ações de intervençãopsicopedagógica, fonoaudiológica e psicomotora. Dessa forma, contribuir na locomoção das crianças comdislexia ajudando-as a superar suas dificuldades, disfunções, limitações ou deficiências.

Palavras-chave: Dislexia, Recursos, Ações Alternativas, Escola, Professores.

1. Introdução

1.1 Apresentação do tema

Este trabalho é fruto de vivência nos espaços escolares com um olhar voltado para as posições de quem

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ensina e de quem aprende no contexto mundial da atualidade. O campo da pedagogia visa, primeiramente,evitar que não aja deficiência na aprendizagem e prevenir de forma ampla, para que todos possamdesenvolver suas funções (alunos e professores) da forma mais harmônica possível. No entanto, asdeficiências acontecem e buscamos solucioná-las da melhor maneira, mas para isso é preciso,inicialmente, entender que campo é esse que se descortina na atualidade e se faz tão necessário.

Se o campo de aprendizagem desde a mais tenra infância é a escola, é neste minucioso terreno (espaço)que irei enfocar e abordar o tema “Dislexia na aprendizagem”.

A Dislexia é uma perturbação ou transtorno ao nível de leitura, escrita e soletração que condiciona ofracasso escolar de muitas crianças. No ambiente escolar esse transtorno ainda é desconhecido pelamaioria dos educadores, que geralmente consideram a dislexia como um resultado de má alfabetização. Odesconhecimento gera discriminação e não ajuda nas possíveis ações da escola para a superação desseproblema.

Os estudos de Scoz (2004) comprovaram a dislexia como distúrbio ou transtorno de aprendizagem na áreada leitura, escrita e soletração, é muito incidente nas salas de aula. A crescente expansão de alternativasque poderão atuar como fonte de auxílio pedagógico como a Psicopedagogia e a Psicomotricidade sãoainda pouco afetivas nas escolas públicas. Essa problemática contribui para dificultar o trabalho doeducador no processo de aprendizagem frente aos problemas decorrentes em lidar com crianças dislexas.

1.2 Justificativa

A motivação para a realização deste estudo partiu do reconhecimento de que poderão existir alunos comdislexia frequentando a instituições, o que torna o problema ainda mais grave. A suposição parte donúmero de alunos que apresentam dificuldades em assimilar os conhecimentos. No entanto, nestareflexão, “existem os perigos de confundir problemas de aprendizagem relativos à dislexia, com asdificuldades inerentes ao processo natural de desenvolvimento da criança”, mas também aponta para aexistência de reais problemas de aprendizagem causados pela dislexia que necessitam de uma atuaçãoespecífica da escola.

A gestão escolar não pode cruzar os braços diante dessa realidade, por isso deve procurar mecanismosque minimizem as dificuldades e promovam as condições de o educando superá-las. Como são vários osproblemas que afligem os nossos alunos, a opção de delimitação do estudo será a “Dislexia”.

O fracasso escolar, no entanto, é motivo para que os professores reflitam sobre as dificuldades deaprendizagem que um aluno possa ter e também inserir a isso, o problema da dislexia. É muito importantereconhecer que as instituições escolares precisam analisar quais são os fatores que interferem noandamento do aprendizado e no seu rendimento. Dessa pesquisa, resta a questão para a abordagem dotema proposto. Como identificar a dislexia? Quais as causas que têm levado os alunos a apresentardificuldades de aprendizagem escolar mesmo sendo considerados bons estudantes? Até que ponto apresença da dislexia no educando tem colocado em risco seu processo de ensino-aprendizagem? Quais asmedidas possíveis que podem ser tomadas pelo educador, para facilitar o processo de ensino-aprendizagem a alunos que apresentam dificuldades de dislexia?

1.3 Objetivos

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O objetivo desse estudo é identificar recursos e meios de auxiliar os professores a enfrentar em sala deaula, os desafios de intervir em níveis didático-pedagógicos para minimizar os problemas da criança quesofre de dislexia. Pretende-se analisar como a escola implementará alternativas para assessorar osprofessores no reconhecimento de alunos com dislexia; apresenta-se no estudo algumas alternativas comoa importância do enfoque psicopedagógico no melhor delineamento da prática dos profissionais queatuam na educação com crianças dislexas.

1.4 Procedimentos metodológicos

A metodologia da pesquisa orientou-se pela observação voltado para o ambiente escolar focalizando adificuldade de aprendizagem delimitada à dislexia, envolvendo um trabalho de entrevistas com osprofessores de uma instituição de ensino voltada para a Educação Infantil e Ensino Fundamental.

Neste sentido, o estudo aponta como hipótese que a dislexia está relacionada a dificuldades deaprendizagem. Contudo, aponta-se que as escolas praticamente não oferecem alternativas para que oeducador possa atender as dificuldades de aprendizagens da criança, de forma a identificar os fatores queinterferem na aprendizagem. Um enfoque psicopedagógico e/ou psicomotor no ambiente escolar poderáorientar os professores a ter clareza sobre os processos de dificuldades da criança dislexa, compreendendoas formas de articulações que deverão utilizar nas intervenções para a aprendizagem.

Justifica-se a realização do estudo com base nos pressupostos de autores sobre a dislexia, dimensiona aquestão de que os professores não devem fazer juízos errados sobre as condições do educando deaprender, e deve, portanto, conhecer as formas de amenizar as dificuldades inerentes à aprendizagem emface do transtorno na criança e a existência de seus dilemas que necessitam de uma atuação da escola.

A motivação para a escolha do tema partiu da necessidade de conhecer as formas de assessorar oseducadores a identificar a dislexia no educando, além de averiguar a contribuição da Pedagogia comoárea de atuação no ambiente escolar que poderá produzir modificações qualitativas às questões que aescola enfrenta atualmente, como a inclusão educativa.

A estrutura desta monografia está formada por quatro capítulos. A parte introdutória apresenta osobjetivos gerais, a justificativa, a relevância e motivação do estudo, assim como sua atuação enquantoobjeto de estudo.

O primeiro capítulo enfoca os aspectos gerais das dificuldades de aprendizagem na criança dislexa, osestudos e pesquisas sobre dislexia e os desafios da aprendizagem, as dificuldades no processo ensino-aprendizagem, a importância da motricidade para o corpo e sua relação com a aprendizagem da criança ea atuação da Pedagogia e da Fonoaudiologia como suporte ao aluno dislexo.

O segundo capítulo expressa as dificuldades da aprendizagem infantil quando o problema se caracterizapela dislexia, a educação da criança e os fatores que provocam dificuldades de aprendizagem.

O terceiro capítulo aponta os procedimentos e métodos de pesquisa, seus instrumentos e amostragem, suanatureza, a pesquisa de campo e os resultados estatísticos.

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O quarto capítulo apresenta a discussão dos resultados. As considerações finais apresentam uma visãogeral do estudo com base em interpretação pessoal.

2. Dificuldades da aprendizagem

2.1 Aspectos gerais da dificuldade

A necessidade de avançar nos estudos sobre os distúrbios de aprendizagem como um dos sintomas dofracasso escolar no Brasil pode ser justificado com base em várias perspectivas: o sofrimento que causa àscrianças; os prejuízos que representa ao país; a necessidade de rever a teoria e a prática educacional dianteda natureza do problema; enfim, a necessidade de repensá-lo à luz de paradigmas pós-modernos.

Hoje, em um tempo de globalização da economia e das comunicações e também de uma época deacirramento das contradições inter e intra povos e nações, o fracasso escolar não pode ser visto como algonatural. Especialmente quando se trata de medidas que dimensionem a inclusão educacional. A escolatem um novo desafio para cumprir: o desafio de aceitar as crianças que apresentam característicasdiferentes por sofrerem de distúrbios que dificultam o seu aprendizado.

Assim, notadamente em uma sala de aula, existem as diferenças de aprendizagem entre os alunos, além daheterogeneidade cultural e social existentes nas escolas brasileiras, deve-se considerar também àquelesque têm problemas para aprender. Esse desafio coloca os educadores diante da necessidade de contemplarnovos métodos e técnicas de ensino ao se depararem com uma criança diagnosticada com dislexia e ajudá-la a se desenvolver.

A construção de uma educação para a inclusão e minimização do fracasso escolar depende de posturasdiante de crianças com dificuldades. A inclusão educacional e a aceitação de crianças com distúrbios nasua vida escolar exigem dos professores, a reconstrução do saber da escola, além de melhoria naformação para trabalhar pedagogicamente com a heterogeneidade.

Considera-se que o fracasso escolar se constitui em um dos problemas que se caracteriza pela falta dereconhecimento das diferenças existentes entre os alunos nas condições de aprendizagem, na qual seobserva vários fatores de ordem psicológica, neurológicas, hereditária, econômica e social.

Nesse contexto, há duas dimensões: a dimensão interdisciplinar e a dimensão da diversidade ouheterogeneidade no processo educacional, como fatores determinantes na minimização do fracassoescolar.

Assim, compreende-se que com a utilização de métodos e técnicas variados para contemplar todas asnecessidades didático-pedagógicas dos alunos, surgirão às oportunidades de vivências de experiênciassignificativas que possam ajudar nas funções de maturação da criança nas séries iniciais.

O fracasso escolar é um elo que dimensiona a questão da tendência à seletividade da escola, adiscriminação que exclui os alunos que não se integram de imediato no aprendizado. Neste contexto, paraque o ensino possa abranger a todos e permitir que cada aluno possa vivenciar a experiência educativa deforma integral, a escola deve valorizar o conhecimento da realidade dos alunos que são consideradosfracos ou inaptos para aprender, com isso ajudar a escola a lidar com a heterogeneidade e com a dislexia o

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seu ambiente de forma a desenvolver condições favoráveis na condução da aprendizagem. Dando asmesmas oportunidades a todos os educandos.

2.2 Problemática da aprendizagem

A criança é um ser social, afetivo, cognitivo e com um desenvolvimento motor, psicomotor e perceptivo aser considerado, também. Como bem coloca Visca (2001), os problemas de aprendizagem no ser humanonão se dão apenas na realidade da organização escolar. Alguns sujeitos apresentam problemas naaprendizagem assistemática. Este estudo propõe-se analisar os problemas da aprendizagem em geral.Fica, porém, a ressalva de que qualquer aprendizagem implica em uma organização ou sistema.

Antes de definir alguns dos problemas de aprendizagem, cabe retornar ao conceito de sintoma ouproblema de aprendizagem. Para Visca (2001, p. 51) sintoma “é o que emerge da personalidade eminteração com o sistema social ou seus mediadores”. Logo, algo só vai se apresentar como problemaquando é exigido pelo meio.

Visto na linha da Psicopedagogia Convergente Visca (2001, p. 56) avalia que:

(...) o sintoma é o aspecto que põe em maior evidência como a aprendizagem é o resultado de umaconstrução (princípio construtivista) dada em virtude de uma interação (princípio interacionista quecoloca em jogo a pessoa total princípio estruturalista).

Cumpre lembrar que é diversa a fundamentação teórica que permite a análise da questão. Cada vez mais,os autores que estudam os problemas de aprendizagem insistem na necessidade da interdisciplinaridade eno seu tratamento.

Mutschele (2000, p. 97), caracteriza “o estudo como o ato de aprender e de ensinar, levando sempre emconta as realidades interna e externa da aprendizagem, tomadas em conjunto”. Nesta linha, deve-seprocurar estudar a construção do conhecimento, com os aspectos cognitivos, afetivos e sociais que lheestão implícitos.

Segundo Pain (2002), é preciso entender o sintoma de aprendizagem como um estado particular de umsistema que, para equilibrar-se precisou adotar este tipo de comportamento. Segundo ela, este deveriareceber um nome positivo, mas é caracterizado como não-aprendizagem.

Conforme a autora pode-se distinguir três etiologias patológicas e históricas que dificultam aaprendizagem: À primeira deu-se o nome de obstáculo epistêmico, no qual o problema se dá poralterações da estrutura cognitiva, quando há interrupção no desenvolvimento e lentidão, em segundolugar, ela utiliza o conceito de obstáculo epistemofílico, “vínculo afetivo que o sujeito estabelece com osobjetos e situações de aprendizagem” Pain (2002, p. 102). Assim, vê-se que os problemas afetivos podemimpedir ou dificultar a aprendizagem também. Finalmente cumpre incluir a categoria de obstáculofuncional, como sendo o levantamento de hipóteses auxiliares para a análise dos problemas surgidos. Deacordo com a mesma autora, para se chegar a uma explicação ou compreensão dos problemasapresentados por determinado sujeito, as causas a-históricas devem ser somadas às informaçõesrelacionadas com a história deste.

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Os quadros de problemas de aprendizagem geralmente diagnosticam a disgrafia, dislexia e problemas deprolação ou pronúncia, escrita irregular e dificuldade na correlação de sons com as letras. De acordo comVisca (2001), outros parâmetros devem ser utilizados, pelo profissional que lida com educação, nadefinição de problemas de aprendizagem, em determinado indivíduo. A preocupação de Pain (2002) édistinguir as dificuldades de aprendizagem que advêm de problemas de nível do sujeito dos daquelessurgidos exclusivamente na instituição escolar. Para esta autora, problemas escolares se manifestam naresistência às normas disciplinares, na má integração no grupo de pares, na inibição mental ou expressiva,etc.

Podemos então verificar que a problemática da aprendizagem está ligada diretamente a um sistema /meioestabelecido.

2.3 Fatores que provocam dificuldades de aprendizagem

Atualmente as discussões sobre “Problemas de aprendizagem”, passaram a ter um patamar significativoentre intelectuais educadores, sociólogos, pedagogos e leigos. A coexistência de uma grave crise nosistema educacional intensificou as análises acerca do tema e hoje encontramos um número razoável deliteraturas crítica sobre as mais variadas abordagens, tendo todos por objetivo entender a constituição dofracasso escolar e definir sua natureza. Porém tantas análises e questionamentos sobre métodos didático-pedagógicos, ainda não foram suficientes, para reverter o processo de crise na escola atual(contemporânea).

As questões educacionais que mais têm preocupado os profissionais ligados ao ensino, referem-se aosaltos índices de evasão e reprovação escolar que têm sido registrados nas Escolas Municipais e Estaduaise o grande número de crianças que tem recorrido ao sistema de recuperação e a tratamentospsicopedagógicos com problemas de aprendizagem.

As condições internas para a aprendizagem, na visão de Pain (2002) se dão em três planos estreitamenteinter-relacionados que envolvem o corpo, como infra-estrutura neurofisiológica ou organismo, incluídasaí as condições de alimentação, de abrigo e de sono, as condições cognitivas da aprendizagemcorrespondente e a dinâmica do comportamento.

Segundo Bettelheim (1999) vários problemas são decorrentes dos insucessos da aprendizagem, sobretudoda aprendizagem escolar: angústia, perda da auto-estima e uma variedade de outras manifestações.

Scoz (1998) chama a atenção para o fato de que certas teorias sobre a aprendizagem não admitem que ofator memória seja uma alteração do organismo; outras tendem a atribuir a tais alterações um papel menorna aprendizagem. Entretanto, o ponto de vista de que a experiência deixa alterações mais ou menospermanentes na função das unidades nervosas, oferece implicações cuja importância para a educaçãomerece que se tenha em conta. Segundo a concepção de Scoz (1998), a memória e a aprendizagem sãoprocessos dinâmicos, cujo resultado é a modificação de todas as futuras atividades do organismo.

A memória tem natureza dupla: é uma forma de organização figurativa e uma forma de organizaçãocognitiva. É figurativa, porque serve de imagem como instrumento; e cognitiva, porque usa os esquemasda inteligência para o conhecimento do já vivido (passado). Não se confunde, porém, com a imagem,porque não é simbólica como esta, nem com a percepção, por que não processa dados atuais, nem com a

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inteligência em si, porque sua função precípua não é a solução de problemas novos, embora areconstituição do passado seja um problema, cuja solução não é automática.

Ao examinar a aprendizagem como processo dinâmico, Scoz (1998) observa que defeitos menores dosistema de percepção produzem alterações de maior vulto, do que as resultantes de defeitos maiores. Istoocorre devido à interferência causada pelo defeito menor e transitório e produz, portanto, uma informaçãocontraditória, insegura, enquanto que a interferência produzida por um defeito maior afeta a percepção deum modo constante, o que facilita a compensação. É o que ocorre no caso da organização do aprendizado.

Dessa forma, observa-se que a aprendizagem é resultado de ações tanto do indivíduo (aprendente) quantodo processo (meio) ao qual está inserido o humano, com isso produzir desenvolvimento, ou seja, umapequena ação ou ausência dela refletirá numa não ação ou presença dela.

3. Tipos de dislexia

Se quanto à gênese da dislexia as opiniões são assaz divergentes, já o mesmo não se poderá dizerrelativamente à sua classificação, já que, neste aspecto, nos deparamos com pareceres bastanteconsensuais. Basicamente, os autores apresentam dois tipos de dislexia: a adquirida e ade desenvolvimento. A primeira é um distúrbio adquirido que ocorre (geralmente em adultos) devido auma lesão cerebral; na segunda, as perturbações na leitura e na escrita manifestam-se desde a infância(cfr. CUBEROS et all, 1997, p.121). Assim, podemos classificar a dislexia em três grupos distintos (ousubtipos):

dislexia disfonética(auditiva)dislexia diseidética(visual)dislexia mista(visual e auditiva)

O primeiro sinal de possível dislexia pode ser detectado quando a criança, apesar de estudar numa boaescola, tem grande dificuldade em assimilar o que é ensinado pelo professor. Criança cujodesenvolvimento educacional é retardatário podem ser bastante inteligente, porém pode sofrer de dislexia.O melhor procedimento a ser adotado é permitir que profissionais qualificados examinem-na, paraaveriguar se ela é disléxica. A dislexia não é o único distúrbio que inibe o aprendizado, mas é o maiscomum.

Ellis (1995) enfatiza a referência à dislexia-síndrome e a dislexia-sintoma. Para ele, a dislexia específicade evolução é a dislexia-síndrome, e a dislexia-sintoma, como o próprio nome sugere, é a dislexia queocorre em consequência de uma lesão cerebral, de um retardo mental, etc.

Autores como Bee (1996) e Ellis (1995) embora citem em suas obras a dislexia como “transtorno deaprendizagem” reconhecem que o termo é muito amplo e tem levado os profissionais a certa confusão,uma vez que existem muitos tipos de problemas deste gênero.

Com as publicações de Ellis (1995, p. 48), a definição foi se tornando mais consistente e científica. Porexemplo, se classificam as “discapacidades de aprendizagem” em relação a algumas capacidades quepodem ser qualificadas como especificamente humanas tais como comunicação simbólica, linguagem,leitura, escrita e cálculo matemático.

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Na visão de Drouet (2003), a dislexia específica ou dislexia de evolução, se traduz por um conjunto desintomas reveladores de uma disfunção pariental (o lobo do cérebro onde fica o centro nervoso daescrita), geralmente hereditária, ou às vezes adquirida, que afeta a aprendizagem da leitura num processocontínuo que se estende do leve sintoma ao sintoma grave. A dislexia é frequentemente acompanhada detranstornos na aprendizagem da escrita, ortografia, gramática e redação.

Segundo Pamplona (2000, p. 31), a dislexia não é uma doença, mas um fracasso inesperado naaprendizagem, que embora muitos estudiosos afirmem que sua origem está na alfabetização infantil. Nãohá índices comprobatórios que concluam a hipótese, levando-se em consideração que as causas ou aetiologia da síndrome disléxica são de diversas ordens e dependem do enfoque ou análise do investigador.

Quanto ao termo “Dislexia Específica”, parece haver, na atualidade, uma concordância internacional; emsua origem, estão os fatores constitucionais determinantes, àqueles que se traduziam por uma deficiênciaperceptiva ao nível visual, conduzindo ao transtorno da leitura-escrita e à perturbação de suas correlaçõescom a linguagem falada. Conforme Ellis (1995, p. 44):

A dislexia causa sérios problemas na aprendizagem infantil, como o atraso na aquisição das primeiraspalavras, fala inadequada, dificuldades de aprendizagem e, consequentemente, dificuldades de retençãona memória de palavras impressas, inversões e rotações dos movimentos gráficos e omissões esubstituições na leitura, repetição de erros ortográficos e outros problemas identificados no processo deaprendizagem.

Assim, compreende-se as dificuldades dos educandos para acompanhar o desenvolvimento das atividadesnas séries iniciais. A falta de maturação biológica impede o completo desenvolvimento da aprendizagem.

Conforme Bee (1996, p. 117), a Dislexia é uma disfunção genética caracterizada por uma falha nofuncionamento do processamento da linguagem, esse transtorno é um dos muitos distúrbios daaprendizagem identificados, em geral, somente na idade escolar.

Santos & Marinho (2005) define a dislexia como transtorno da aprendizagem que pode ser entendidocomo uma deficiência especial na aprendizagem. Referem-se a uma alteração em um ou mais dosprocessos psicológicos básicos para a compreensão ou o uso da linguagem escrita ou oral, que pode semanifestar como uma falta de habilidade para escutar, pensar, ler, escrever, soletrar ou desempenharcálculos matemáticos.

Para a Associação Internacional de Dislexia (IDA), dislexia é um distúrbio específico da linguagem,constitucional (neurológico), de origem genética, caracterizado pela dificuldade de decodificar palavrassimples, resultando em problemas como dificuldades de leitura e de aquisição de linguagem, além defalhas na capacidade de escrever e soletrar. Os estudiosos não a consideram uma doença, portanto não épossível falar em cura.

Drouet (2003) considera que a dislexia específica ou dislexia de evolução um conjunto, se traduz por umconjunto de sintomas reveladores de uma disfunção pariental (o lobo do cérebro onde fica o centronervoso da escrita), geralmente hereditária, ou às vezes adquirida, que afeta a aprendizagem da leituranum contínuo que se estende do leve sintoma ao sistema grave.

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Segundo Ellis (1995, p. 31), quando se fala em dislexia específica de evolução, supõe-se um quadro “comperturbações perceptivo-cognitivas que dificultam a aquisição da leitura e da escrita”. O termo“perceptivo-cognitivas” significa que as dificuldades se localizam na esfera da percepção simbólica, tantoao nível de palavras visualizadas como ao de palavras ouvidas.

Os estudos de Ellis (1995) comprovaram que existe um fator genético causador da dislexia que produz asdificuldades de fala, audição, escrita e fracasso escolar. Esses estudos permitiram a realização depesquisas mais profundas sobre a dislexia que culminaram com vários projetos específicos sobre o temanas Universidades Paulistas e Cariocas, estimulando as instituições de ensino superior a pesquisas maisabrangentes para a descoberta de outros genes vinculados à dislexia.

Nas pesquisas desenvolvidas os estudos apontaram a existência de três genes ligados a esse problema,tornando-se possível proceder ao completo mapeamento de todos os genes ligados à dislexia. Essaspesquisas abrangentes envolvem tecnologia e permitem aos profissionais investirem em procedimentos deavaliação, intervenção e orientação a pais e professores.

Assim, verifica-se que os procedimentos com a criança dislexa envolvem necessariamente uma iniciativamultidisciplinar que vai envolver, além de geneticistas, também fonoaudiólogos, pediatras, psicólogos,neurologistas, neuropsicólogos e outros colaboradores da área de pesquisa e ciência.

Salles & Parente (2002) demonstraram que os alunos que sofrem o transtorno têm dificuldade na leitura eescrita abaixo do esperado para sua idade e escolaridade. A dislexia produz na criança efeitos que causamconfusão na associação da imagem auditiva, visual e mental do som.

Os estudos de Santos & Marinho (2005) apontam que além da confusão entre imagem auditiva, visual emental do som, a criança poderá apresentar problemas com a memória e falha de percepção.

Os estudos de Pinheiro & Parente (1999) sobre a aprendizagem permitiram identificar que a dislexia setrata de um distúrbio de aprendizagem escolar, assim a pesquisa aponta que o processo de aprendizagemdesemboca numa nova modalidade funcional do organismo que se expressa com um comportamento quedifere em alguma medida do que era característico da etapa anterior ao processo de aprendizagem.

Neste contexto, compreende-se que a aprendizagem é constatada e estudada indiretamente, através deseus efeitos sobre o comportamento humano, geralmente identificado nas formas de atuação em que osujeito utiliza seus conhecimentos teórico-práticos e é conceituada como qualquer mudança relativamentepermanente no comportamento e que resulta de experiência ou prática. As mudanças permanentes decomportamento se efetivam a partir do momento que o conhecimento adquirido se transforma, a partir darealidade vivencial, unindo a experiência ou a prática e transformando-a em uma situação nova.

O aprendizado depende também da conduta motriz e da linguagem para se fazer pleno na relação sujeito-objeto. Para Pinheiro e Parente (1999, p. 31), a conduta motriz com suas numerosas implicaçõesneurológicas, considerando que a capacidade motriz da criança constitui o ponto de partida natural naestimação de sua maturação para aprender. Com isso, o processo de aprendizagem permite à criança amanipulação de objetos bem como a habilidade para usar coerentemente a capacidade motora na soluçãode problemas práticos e para realizar novas adaptações. Dessa forma, podemos dizer queindependentemente da gênese da dislexia, o que importa é o não-resultado (resultado) produzido por ela.

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É que de posse desse resultado (identificado) possa se conduzir o processo de ensino aprendizagem.

3.1 Desafios da aprendizagem

Os autores identificam que os quadros de distúrbio de aprendizagem, as falhas ou sintomas estão voltadospara a influência da maturação e para o subsequente registro dos erros específicos da leitura e da escrita.E como processos causados na aprendizagem, não devem ser encarados como doença, mas como falta deaptidão para aprender, eles dimensionam a necessidade dos educadores realizarem planejamentosdidáticos que possam estimular a normalização do processo maturativo.

Nesse contexto, os estudos de Pinheiro e Parente (1999), contribuíram para esclarecer que é possíveldesenvolver intervenções para melhorar as funções de maturação que se encontram, prejudicadas nascrianças disléxicas apontadas por Salles & Parente (2002) como falhas nos processos de senso-percepção,atenção, memória, imaginação, motricidade, esquema corporal, lateralidade, espacialidade e ritmo.

Todas essas problemáticas certamente condicionam a criança às falhas que estão vinculadas ao processode aprendizagem e são detectadas com facilidade pelos pais, professores e terapeutas; elas representam oserros cometidos na escrita e na leitura.

É importante ressaltar que estes dois grupos sintomáticos fundamentais, de maturação e de aprendizagem,nem sempre podem ser considerados separadamente. Existe entre eles uma interação, umainterdependência que obriga o profissional a estabelecer relações bastante precisas. De qualquer forma,acreditamos na fundamental prioridade do processo de maturação.

Assim, analisa-se a importância que o processo de maturação desempenha para a aprendizagem, já quesua base é a capacidade genética através dos pais e que se perpetua por toda a vida, em maior ou menorgrau, influenciando toda a aprendizagem.

Conforme Ellis (1995, p. 45) as crianças com transtornos específicos de aprendizagem apresentamalteração em um ou mais processos psicológicos básicos, envolvendo a compreensão e o uso dalinguagem falada ou escrita. As manifestações apresentam-se como transtorno de atenção, dopensamento, da fala, da leitura, da escrita, da soletração ou da aritmética.

Portanto, as crianças apresentam dificuldades de aprendizagem devido ao quadro de dislexia, que doponto de vista educacional, se constitui em um transtorno específico de aprendizagem.

Os estudos realizados por Ellis (1995, p. 59) têm a classificação específica do grupo das “dislexias” queengloba um importante conglomerado de afecções que se caracterizam, fundamentalmente, pelasdificuldades no aprendizado da linguagem lida-escrita, apesar de, aparentemente, não se observaremoutras causas que justifiquem tais dificuldades.

No processo de leitura, os disléxicos recorrem somente à área cerebral que processa fonemas. Aconsequência disso é que, disléxicos têm dificuldade em diferenciar fonemas de sílabas, pois sua regiãocerebral responsável pela análise de palavras permanece inativa. Suas ligações cerebrais não incluem aárea responsável pela identificação de palavras e, portanto, a criança disléxica não consegue reconhecerpalavras que já tenha lido ou estudado. A leitura se torna um grande esforço para ela, pois toda palavra

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que ela lê, aparenta ser nova e desconhecida.

As investigações de Santos & Marinho (2005, p. 4) comprovam que a etiologia dos distúrbios deaprendizagem é multifatorial, refletindo influências genéticas e anormalidades na função e estruturacerebrais, sendo que as ligações familiares e hereditárias são as causas mais comuns. Segundo o autor,deve-se levar em conta a interferência de fatores extrínsecos como, a conduta em relação ao dormir, saúdeem geral, nutrição e assistência à escola.

No processo de aprendizagem escolar a integração e organização da noção espacial, corporal e exteriorsão fundamentais para a criança ter acesso a um aprendizado específico, uma atenção do educador paraque o aluno possa entender de forma clara. Esse trabalho pedagógico é importante porque permite que oeducando evolua nas funções maturacionais, a partir do desenvolvimento das condutas biologicamenteherdadas e de suas exteriorizações, através de condutas adquiridas (aprendizagem), proporcionadas peloambiente escolar.

Compreende-se, portanto, que a criança precisa de estímulo para desenvolver suas habilidades noprocesso de leitura, comprovando que conforme Santos & Marinho (2005, p. 4), as manifestações clínicasdos transtornos da aprendizagem dependem notavelmente da idade da criança e do ambiente educacionalou falta do mesmo, em que ocorrem.

Estudos atuais comprovam que o desenvolvimento da dislexia está ligado a um fator genético, no entanto,para a manifestação da dificuldade na leitura, há necessidade de sobreposição de fatores genéticos evariações ambientais, o que determinarão quais serão os indivíduos afetados ou não. Os resultados dosestudos de Santos e Marinho (2005) demonstraram que os maiores riscos ambientais para a manifestaçãoda dislexia são o nível sócio-econômico; a oportunidade educacional; e o ambiente literário domiciliar.

Assim, os estímulos serão sempre o melhor caminho a ser adotado para estimular o desenvolvimento noprocesso de aprendizagem, independentemente das causas na interferência de conduta. O que de fatoimporta é como agir na hora do desenvolvimento e gerar a possibilidade para que a criança caminhe comas próprias pernas.

3.2 Especificidades da dislexia

A suspeita de dislexia pode ser levantada quando a criança demonstra alguns problemas no cotidianoescolar como: desatenção, dificuldades no relacionamento com as outras crianças, atraso nodesenvolvimento da fala e da linguagem, atraso no desenvolvimento visual, dificuldades da coordenaçãomotora, dificuldades com a linguagem e escrita, dificuldades em escrever, dificuldades com a ortografia,lentidão na aprendizagem da leitura, disgrafia (letra feia), discalculia (dificuldade com a matemática,sobretudo para assimilar símbolos e decorar a tabuada), dificuldades com a memória de curto prazo e coma organização, dificuldades em seguir indicações de caminhos e em executar sequências de tarefascomplexas, dificuldades para compreender textos escritos, dificuldade com a percepção espacial econfusão entre direita e esquerda. (Martins; 2007)

Dentre as dificuldades que pode ser demonstradas como problemas específicos da aprendizagem dacriança dislexa, podem-se apontar a defasagem no processo da linguagem simbólica, onde o educandonão consegue acompanhar devidamente o ritmo de sala de aula, especialmente por que a falta de

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conhecimento do problema por parte dos educadores, favorece a imagem de que a criança é desmotivada.

A Dislexia não consiste de uma alfabetização precária, desatenção, condição sócio-econômica ou baixainteligência, ela reduz-se em uma condição hereditária com alterações genéticas, apresentando aindaalterações no padrão neurológico, cujos fatores relacionados são: problemas de lateralidade, deorganização espacial, de organização temporal, atraso de linguagem, problemas de ordem afetiva e, alémdos antecedentes hereditários.

De acordo com Ajuriaguerra (1999), observa-se que a dislexia é frequentemente acompanhada detranstornos na aprendizagem da escrita, ortografia, gramática. A aprendizagem, a aquisição e o usoadequado da leitura e da escrita como um nível de linguagem requer condições com estímulos, mas nemsempre o aluno recebe essa estimulação específica em sala de aula, e raramente possibilitam a essascrianças as atividades lúdicas especiais para estimular o desenvolvimento da linguagem. Logo, tanto aaquisição como o desenvolvimento da linguagem dependem da adequada estimulação ambiental, sobre aspossibilidades biológicas de cada individuo. Se os aspectos biológicos e o ambiente são favoráveis,suficientemente há aprendizagem.

Conforme Santos & Marinho (2005, p. 3), a leitura envolve a integração de múltiplos fatores relacionadosà experiência do indivíduo, habilidades e funcionamento neurológico. Estudos constatam que na práticapedagógica, no cotidiano escolar a maioria das crianças e adultos com dificuldades de leituraexperimentam uma variedade de problemas com a linguagem que origina uma função cerebral alterada esecundariamente, fatores emocionais e do ambiente podem ter um efeito prejudicial no processo deaprendizagem em cada criança.

As investigações de Santos & Marinho (2005, p. 5), descrevem que a dislexia tem forte predomíniocerebral, constatando que na criança dislexa existe um notável grau de equipo-tencialidade dos doishemisférios que se perdem rapidamente quando a criança adquire a fala.

Alguns autores afirmam ainda que nem todos os indivíduos com dificuldades de leitura apresentamdeficiência na lateralidade e que muitos aprendem a ler normalmente com predomínios lateraisincompatíveis.

Alguns autores como Bee (1996) e Ellis (1995) comentam de forma restrita a questão da lateralização,mas expõem que acreditam que esses indivíduos poderão apresentar dificuldades de aprendizagem edefasagem no decurso escolar.

Por isso adotamos a visão de Santos & Marinho (2005), pois ele chegou a essa conclusão em um estudomais criterioso que permitiu a identificação e evolução da frequência em relação aos atrasos nodesenvolvimento da fala, defeitos na percepção espacial, dificuldades motoras e dos problemas relativos àdislexia, demonstrando a relação entre disléxicos totalmente destros e os fatores genéticos que poderiamser responsáveis pelo quadro. Ao mesmo tempo em que buscou as respostas para explicar as causas doatraso do desenvolvimento e o transtorno da leitura. Os resultados demonstraram que taiscomportamentos e inabilidades motoras são manifestações independentes de uma alteração generalizadada organização neurológica e não se relacionam entre si.

4. Desafios e métodos para a superação das dificuldades

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Entende-se que os desafios das dificuldades de aprendizagem por dislexia se constituem umaproblemática, cuja escola deverá ter alternativas para oferecer recursos às necessidades especiais doseducandos.

Do ponto de vista pedagógico, a situação do aluno disléxico é reversível, a orientação adequada é oacompanhamento da reeducação psicomotora. (Pamplona; 2000)

Este processo é fundamental e pode ser tratado a partir de exercícios que expressem os seguintesaspectos: diferenciação do “eu” espacial, organização e representação do esquema corporal, noção esentido de deslocamento, noção de orientação, de distância e intervalo, duração, intensidade, ritmo,coordenação dinâmica geral, associações múltiplas sensoriais e expressão corporal. Nas disgrafias, osmétodos de recuperação devem iniciar-se com exercícios de motricidade, coordenação dinâmica geral.(Cruz; 2003)

O corpo é o ponto de referência de a criança interagir com o mundo, e é esse ponto que servirá de basepara o desenvolvimento cognitivo, na aprendizagem de conceitos tão importantes para uma boaalfabetização. Um exemplo disso é gerar os conceitos de: atrás, embaixo, em cima, ao lado, à direita,esquerda... através desses conceitos ela visualiza e seu corpo capta a mensagem, posteriormente eleconsegue visualizá-lo nos objetos entre si, isso fará com que a criança domine o seu corpo, para realizardeterminada tarefa.

4.1 Esquema corporal

O corpo deve ser entendido por um conjunto, como biológico, orgânico (os cinco sentidos), em seusaspectos psicológicos, psicomotores, emocionais, cognitivos e sociais. Na realidade, a criança tem umarepresentação gráfica da imagem de si. Por esta razão, queremos conhecer a visão da criança sobre siprópria.

4.1.1 Coordenação motora

Para uma pessoa manipular os objetos que os cercam, precisam ter certa habilidade e isso depende dacapacidade de equilíbrio postural. Um indivíduo desde cedo pratica algumas atividades como: correr,pular, saltar, nadar, andar, sentar, ou seja, já possui uma coordenação global de seus movimentos. Já acoordenação fina, diz respeito à habilidade e destreza manual e constitui um aspecto particular dacoordenação global.

Brandão (1984) analisa a mão como um dos instrumentos mais úteis para a descoberta do mundo,afirmando que ela é um instrumento de ação a serviço da inteligência. Portanto, só possuir umacoordenação fina não é suficiente. É necessário que haja um controle ocular, ou seja, a visãoacompanhada com os gestos da mão, isso é chamado de coordenação viso-motora. E esta coordenação éessencial para a escrita. O desenvolvimento da escrita depende de diversos fatores como: sistema nervoso,psicomotor, em relação á coordenação dos movimentos e do desenvolvimento da motricidade fina dosdedos da mão.

4.1.2 Lateralidade

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A lateralidade é a propensão que o ser humano possui mais um lado do corpo do que o outro, e emespecial em três níveis: mão, olho e pé. Isto significa dizer, que existe um predomínio motor, umaprevalência de um dos lados. Mas não podemos dizer que a criança só vai usar um lado. Ela poderá usarum dos lados ou ainda, os dois lados, o que não é comum, é chamada de ambidestra. Podem ocorrer queem alguns casos, algumas crianças possam usar a mão não-dominante em detrimento da dominante.

São diversos os motivos que ocasionam um desvio da lateralidade, podem ocorrer também, casos em quea mudança de prevalência manual se modifique por motivo de identificação com alguém ou ainda porimposição dos pais ou professores, por motivo afetivo ou outro tipo de motivo.

4.1.3 Estrutura Espacial

É essencial que vivamos em sociedade e, portanto, é através desse espaço e das relações espaciais que nossituamos no meio em que vivemos, em que estabelecemos relações entre as coisas.

Segundo Ajuriaguerra (1988, p. 33), a escrita é uma atividade motora que obedece a exigências muitoprecisas de estruturação espacial. A criança deve compor sinais orientados e reunidos de acordo com asleis. (...) A escrita é, pois, uma atividade espaço-temporal muito complexa.

A criança move mão para pegar algum objeto qualquer e por meio dessa cinestesia a criança calcula adistância que tem que percorrer, e a partir dessa avaliação, determina a distância que se encontra o objeto.A visão nesse caso é fundamental de acordo com a nossa própria experiência. Já a percepção auditiva érepresentada pela associação do símbolo verbal a outra sensação do próprio corpo. A estruturaçãoespacial não nasce com a criança, é uma elaboração e construção mental, que se opera através dos seuspróprios movimentos em relação ao objeto que está em seu meio.

4.1.4 Estrutura Temporal

As noções de corpo, espaço e tempo têm que estar ligadas intimamente em relação ao movimentohumano. O corpo coordena-se e movimenta-se sempre dentro de um espaço determinado, em função dotempo.

A leitura exige uma percepção temporal, da mesma forma que a palavra escrita exige que se tenha umaorientação no papel, isso também vai obedecendo um certo ritmo e dentro de um tempo determinado.Para uma criança aprender a ler e escrever, é necessário que possua domínio de tempo, de ritmo, umasucessão de sons no tempo, uma memorização auditiva, uma diferenciação de sons. É a orientaçãotemporal que lhe garantirá uma experiência de localização dos acontecimentos do passado, presente, euma capacidade de projetar-se para o futuro. Nesse contexto, a criança passa a tomar consciência dasrelações do tempo.

A educação psicomotora tem muito interesse em trabalhar com os movimentos ritmados, espaço detempo, pois, além de ser um dos elementos de expressão dos sentimentos, o ritmo permite, também, umamaior flexibilidade de movimentos, um maior poder de atenção e concentração, isso também diz respeitoao espaço temporal.

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Assim, a psicomotricidade é fundamental no tratamento da criança dislexa que tem dificuldades motorascorporais. Do ponto de vista pedagógico, a situação do aluno disléxico é reversível, segundo a autoraPamplona (2000, p37):

A orientação adequada é o acompanhamento da reeducação psicomotora pode ser tratada a partir deexercícios que expressem os seguintes aspectos: diferenciação do “eu” espacial, organização erepresentação do esquema corporal, noção e sentido de deslocamento, noção de orientação, de distância eintervalo, duração, intensidade, ritmo, coordenação dinâmica geral, associações múltiplas sensoriais eexpressão corporal.

Assim, constata-se que a psicomotricidade, poderá produzir no educando dislexo um tipo de intervençãopedagógico-terapêutica para a organização do esquema corporal. Nesses casos, o uso da ludicidadeatravés do jogo e do brincar é um importante elemento pedagógico, que privilegia a criação,representação e a imaginação. Além de que essas atividades com enfoque psicomotriz poderá ser umavertente terapêutica na organização do esquema corporal de crianças dislexas.

Piaget (1969) aponta a relação entre a formação da inteligência e a experiência motriz da criança.Portanto o esquema de desenvolvimento corporal faz parte inerente da unidade biológica ou psíquica e,portanto, atua na base do desenvolvimento da personalidade da criança.

5. Procedimentos e métodos de pesquisa/observação

O presente estudo baseia-se no método indutivo, pois parte de questões particulares até chegar aconclusões generalizadas de acordo com as teorias gerais. Conforme Barros (2002, p. 34), o método épróprio das ciências naturais também aparece na Matemática através da Estatística, envolvendo resultadosmanipulação estatística dos resultados da pesquisa com os alunos e o professor pesquisados.

O método de apresentação dos resultados se constitui no método estatístico. Segundo Barros (2002, p.76), “o método estatístico compreende duas partes, o cálculo do tamanho da amostra e a análise estatísticaque são utilizados para responder as perguntas da pesquisa”.

O estudo é também de caráter exploratório. Conforme Andrade (2003, p. 124), a pesquisa exploratória é oprimeiro passo de todo trabalho científico. São finalidades de uma pesquisa exploratória, proporcionarmaiores informações sobre determinado assunto, facilitar a delimitação do estudo e a definição deobjetivos ou formulação de hipóteses. Portanto, através da pesquisa exploratória avalia-se a possibilidadede desenvolver uma boa pesquisa sobre determinado assunto.

A respeito da pesquisa exploratória Martins (2000, p. 41) descreve que “toda pesquisa bibliográfica ou decampo é também exploratória, estas pesquisas têm como objetivo proporcionar maior familiaridade com oproblema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a constituir hipóteses”. Pode-se dizer que estaspesquisas têm como objetivo principal o aprimoramento de idéias ou a descoberta de intuições.

O estudo tem a finalidade de conhecer as contribuições científicas sobre o tema, tendo como objetivorecolher, selecionar, analisar e interpretar as contribuições teóricas existentes sobre o fenômenopesquisado, com tem base descritiva das características apresentadas pelos vários autores quefundamentaram a pesquisa.

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A pesquisa tem base qualitativa, com perguntas estruturadas e respostas objetivas, onde os dados serãoanalisados qualitativamente e apresentados sob a forma gráfica com seus percentuais equivalentes.Conforme Martins (2000, p. 41):

As pesquisas quantitativas são mais adequadas para apurar opiniões e atitudes explícitas e conscientes dosentrevistados, pois utilizam instrumentos estruturados (questionários). Portanto são representativas de umdeterminado universo de modo que seus dados possam ser generalizados e projetados para aqueleuniverso. Seu objetivo é mensurar e permitir o teste de hipóteses, já que os resultados são mais concretose, conseqüentemente, menos passíveis de erros de interpretação. Em muitos casos geram índices quepodem ser comparados ao longo do tempo, permitindo traçar um histórico da informação.

A pesquisa qualitativa, segundo Lüdke (1986, p. 11) “tem o ambiente natural como sua fonte direta dedados e o pesquisador como seu principal instrumento”. Ainda segundo ao autor a pesquisa qualitativapreocupa-se mais com o processo do com o produto.

A pesquisa é também de cunho etnográfico, que segundo Azevedo (1991, p. 34), “a pesquisa etnográficaou estudos do tipo etnográfico representam o estudo e o relato de experiências de vida, em um processoque requer reflexão, habilidade na descrição e clareza, de tal forma que permita expressar em palavras,acontecimentos, comportamentos, processos sociais e contextos com vivências e experiências dossujeitos”

5.1 Instrumentos de pesquisa/observação e amostragem

O instrumento da pesquisa/observação se constituiu no questionário aberto semi-estruturado e aobservação direta tendo como sujeitos uma pequena amostragem de 20% das professoras (8) de umuniverso total de 100% representado por 40 professoras.

A técnica de observação direta compreende uma modalidade sistemática, planejada, estruturada, nãoparticipante e individual, a partir das observações realizadas no ambiente escolar. Com a realização dacoleta de dados foi possível avançar para uma análise da dislexia.

5.2 A natureza da pesquisa/observação

Quanto à natureza da pesquisa pode-se classificá-la como trabalho científico na área de Pedagogia,fundamentado nos trabalhos, interpretação e idéias concebidas por autores como DOUET (2003), ELLIS(l995); FONSECA (1995); GARCÍA (l998) e PAMPLONA (2000).

Quanto à natureza dos dados, a pesquisa teve a finalidade de contribuir com novas análises sobre o tema.

5.3 Pesquisa de campo

A população alvo se constituiu por oito professoras. A pesquisa compreendeu uma visão mais ampla doobjeto a ser observado, portanto, a escola é um microcosmo que favorece a pesquisa educacional e requercritérios de seleção de instrumentos e rigores metodológicos para investigar a realidade.

Segundo Andrade (2003, p. 127), a pesquisa de campo trata-se de “uma pesquisa com o objetivo de

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conseguir informações e/ou conhecimentos acerca de um problema, para o qual se procura uma resposta,ou de uma hipótese, que se queira comprovar ou, ainda descobrir novos fenômenos ou as relações entreeles”. Portanto para o estudo e sua gênese, a pesquisa de campo foi à principal forma de conhecer eanalisar como se dá a realização de uma técnica específica pedagógica com o uso de texto.

5.4 Resultados estatísticos da observação

1) Existem casos de alunos com dislexia na sala de aula?

Constatou-se na observação que existem três casos de criança dislexa com diagnóstico confirmado e quepoderá haver casos na escola de outras que ainda não foram identificados com o problema.

2) Foi possível identificar em sala de aula alunos que apresentam o distúrbio da dislexia?

Segundo os resultados da observação, em 80% dos casos é notório identificar esse tipo de distúrbiomultifatorial.

3) Quais as sugestões que poderiam ser dadas à escola para atender as necessidades especiais dos alunoscom dislexia?

Conforme observação, aponto como alternativas para atender as necessidades especiais dos educandos oatendimento psicopedagógico, o trabalho de fonoaudiologia, o desenvolvimento de algum tipo de ajudapsicológica e a realização de um trabalho pedagógico interdisciplinar.

4) Quais os métodos e técnicas que poderiam ser utilizados com esses alunos?

Observou-se que 42,86% das professoras utilizam como meio de facilitar o trabalho destes alunos astécnicas de leitura e caligrafia, 28,57% utilizam o método global[2] de leitura com junção de aspectosfonológicos nas palavras e 28,57% realizam atividades de caligrafia e ortografia para melhorar ascompetências linguísticas.

5) A instituição educativa oferece algum profissional para atender às necessidades especiais de alunosdislexos?

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Constatou-se na observação que a instituição oferece trabalho de orientação educacional e atendimentopsicopedagógico.

6) Os alunos dislexos ficam em classes especiais?

Foi observado que esses alunos se encontram em classes regulares.

7) É um desafio ensinar alunos com problemas de aprendizagem por dislexia?

A observação demonstrou que 100% das professoras reconhecem os desafios de educar uma criança comproblemas de aprendizagem causada por dislexia.

8) Em que campo da aprendizagem esses alunos apresentam mais necessidade de intervençãoeducacional?

Verificou-se na observação que 50% dos alunos têm dificuldades no processo de leitura e escrita; 25%têm grandes dificuldades motoras e 25% apresentam dificuldades de atenção e motivação para aaprendizagem, o que dificultaria o ensino.

6. Uma síntese dos resultados da pesquisa/observação

Constatou-se na observação que a dislexia se constitui em um distúrbio ou transtorno de aprendizagem naárea da leitura, escrita e soletração que depende de intervenções pedagógicas dos professores para que osalunos tenham uma formação educacional de mais qualidade Assim, apresentam-se através da pesquisaalgumas sugestões como o atendimento psicopedagógico, o atendimento psicológico, a atuação de açõesinterdisciplinares no ambiente escolar para minimizar os problemas de aprendizagem da criança dislexa.

A pesquisa demonstrou a importância da psicomotricidade, da psicopedagogia, e da fonoaudiologia comosuporte de apoio e recursos que obtiveram uma crescente expansão nas alternativas que poderão atuarcomo fonte de auxílio pedagógico. Portanto, a realização de intervenções pedagógicas exige a ação deapoio profissional interdisciplinar entre os educadores e a presença de profissionais que atuem emdiversas áreas que possam favorecer a criança a superar suas dificuldades de aprendizagem.

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A presença de equipes interdisciplinares, do apoio da gestão escolar e da direção em geral é importantepara evitar que os professores possam confundir problemas de aprendizagem relativos à dislexia, com asdificuldades inerentes ao processo natural de desenvolvimento da criança. Portanto, é fundamental que oseducadores tenham conhecimentos sobre a dislexia para que possam identificar os alunos que tenhamproblemas de aprendizagem relativos a esse distúrbio e necessita de uma atuação específica da escola oude profissionais adequados.

Autores como Scoz (2002); Pamplona (2000) e Fonseca (1995) avaliam a importância dos mecanismosque minimizem as dificuldades e promovam as condições de o educando superar as dificuldades,indicando que a dislexia não é uma doença, mas um distúrbio que poderá ser sanado diante de alternativasque possam favorecer as crianças dislexas os meios de reeducação dos aprendizados e eliminar osproblemas que as afligem.

Identificou, também, que vários são os indícios para reconhecer quando o educando poderá ser umdislexo no andamento do aprendizado e no seu rendimento. É importante que os educadores possamreconhecer e identificar a dislexia, estudar sobre as causas, assim como se preocuparem com as medidaspossíveis que podem ser tomadas para facilitar o processo ensino-aprendizagem.

Atualmente existem muitos recursos e meios de auxiliar os professores a enfrentarem no seu cotidiano emsala de aula os desafios de intervir em níveis didático-pedagógicos para minimizar os problemas dacriança que sofre de dislexia, bastando para isso, a boa vontade da gestão escolar de implementaralternativas para assessorar os professores no reconhecimento de alunos com dislexia e na utilização derecursos e profissionais que possam dar um apoio à criança. Os alunos disléxicos necessitam deacompanhamento pedagógico, de suporte psicomotor e de acompanhamento fonoaudiológicoespecializado para a superação das dificuldades de aprendizagens que levam ao fracasso escolar do aluno.

Considerações finais

A questão do olhar pedagógico se dá de forma cíclica. Quando a criança ou o jovem chega ao foco dopedagogo, vem acompanhando de sua história familiar, escolar e sócio-política. O que lhes trouxe, ouseja, a queixa, também vem envolvida de valores, agentes ocultos e moldada à dinâmica e aofuncionamento familiar e escolar do aprendente. O pedagogo tem como alicerce de sua intervenção, nãosomente os dados reais ou os fatos apresentados, mas sim o que está por trás, oculto e que poderá tomarforma e sentido através do olhar pedagógico, pulverizado para todos os espaços.

Ele é um instrumento de análise fundamental do pedagogo. Suas variáveis assumem valores diferentes emsituações diferentes. O diagnostico pedagógico é antes de tudo uma investigação e, nesse sentido, odiscurso, a postura, a atitude do “aprendente” e dos envolvidos são pistas importantes que ajudam achegar nas questões a serem desvendadas. É através do desenvolvimento do olhar nos espaços que oaprendente transita, além da escola, em que a ação se dá de fato. Trabalhados e incorporados peloprofissional que poderão ser lançadas as primeiras hipóteses à cerca do indivíduo. Esse olhar ultrapassa osdados reais relatados e busca as entrelinhas, a emoção, a elaboração do discurso inconsciente que oatendido diz.

Da mesma forma que o olhar e o discurso, as entrelinhas são o centro do interesse, os desdobramentosevolutivos do “aprendente” tem igual valor na busca de uma compreensão pedagógica. Busca-se o

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processo, a construção e não apenas fatos históricos congelados. Dessa forma, a compreensão pedagógicacircunda idéias em busca da abertura de novos caminhos que possibilitem a leitura articulada de como acriança ou o jovem incorpora seus conhecimentos fora e dentro do espaço escolar relacionando-se comsua produção, ou seja, suas modalidades. Essa compreensão, porém, não é construída apenas por uma viaé também e, principalmente, uma construção individual; formada pela bagagem teórica, prática e pessoalde todos os envolvidos no caso.

Assim, é através da relação dinâmica nos espaços do aprender que o pedagogo oferece um olhar deconfiança e de escuta livre de julgamentos ou idéias pré-concebidas. A postura do profissional pedagogonos espaços de aprender e ensinar, somada aos seus conhecimentos e à articulação de sua práxis serão osinstrumentos para a construção do lugar e ajuda ao outro.

Pela proposta do trabalho em desenvolvimento, o pedagogo responsável, comprometido e ético valorizasua formação continuada e, consciente de suas limitações, deve buscar um trabalho que possibilite suaauto-análise e seu conhecimento, pois este é o único caminho para a construção do olhar/saberpedagógico formado pela práxis, a supervisão e auto-análise.

Embora nem todos tenham seus diagnósticos determinados por profissionais especializados, constatou-sena pesquisa/observação a importância dos métodos e técnicas que poderão favorecer o educador a superaros desafios de ensinar alunos com dificuldades de aprendizagem provenientes de fatores que geram adislexia. Assim, a observação na instituição permitiu analisar que existem alunos que apresentam odistúrbio, embora não esteja determinado o diagnóstico de todos os alunos que enfrentam dificuldades deaprendizagem.

Verificou-se que a maioria das professoras considera que tem dúvidas quanto à identificação de alunoscom dislexia e muitas afirmaram que não estão preparadas para identificar esse tipo de distúrbiomultifatorial. Portanto, é papel da escola desenvolver ações que possam assessorar o trabalho dasprofessoras diante dos desafios de desenvolver ações pedagógicas para superar as dificuldades deaprendizagem.

As professoras apontaram que a escola deve desenvolver algumas ações com a finalidade de eliminar asdificuldades de aprendizagem, a partir de alternativas para atender as necessidades especiais doseducandos. Dentre as ações de intervenção foram apontados o atendimento psicopedagógico, o trabalhode fonoaudiologia e a realização de trabalho pedagógico interdisciplinar.

Verificou-se que os métodos e técnicas mais utilizados na instituição educativa observada são as técnicasde leitura e caligrafia, o método global e de apoio em técnicas fonológicas nas palavras durante as aulasde aprendizagem de leitura, atividades de caligrafia e ortografia para melhorar a escrita.

Neste aspecto, a observação demonstrou que a dislexia pode ser um distúrbio e que a escola poderádesenvolver intervenções a partir da conscientização da família e do educando para a realização de umdiagnóstico e a o desenvolvimento de ações de intervenção psicopedagógica, fonoaudiológica epsicomotora. As crianças com dislexia poderão superar suas dificuldades, disfunções, limitações oudeficiências.

Referências

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Apêndice:

QUESTIONÁRIO MODELO QUE PODERÁ SER APLICADO NA OBSERVAÇÃO DE UMAINSTITUIÇÃO:

1) Existem casos de alunos com dislexia na sala de aula?

2) Foi possível identificar em sala de aula alunos que apresentam o distúrbio da dislexia?

3) Quais as sugestões que poderiam ser dadas à escola para atender as necessidades especiais dos alunoscom dislexia?

4) Quais os métodos e técnicas que poderiam ser utilizados com esses alunos?

5) A instituição educativa oferece algum profissional para atender às necessidades especiais de alunosdislexos?

6) Os alunos dislexos ficam em classes especiais?

7) É um desafio ensinar alunos com problemas de aprendizagem por dislexia?

8) Em que campo da aprendizagem esses alunos apresentam mais necessidade de intervençãoeducacional?

[1] Licenciado em Pedagogia pela Universidade Estácio de Sá, Especialista em Psicopedagogia

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Institucional, Clínica e Educação Infantil pela Faculdade Venda Nova do Imigrante e Especialista emEducação a Distância / Docência do Ensino Superior também nesta Universidade. Tem experiência naárea de educação, com ênfase em capacitação de professores. Pesquisador da memória, cidadania, direitose educação da Comunidade dos Remanescentes de Quilombo da Ilha da Marambaia. Possui interesse naárea de Educação Quilombola

[2] Método de alfabetização que utiliza técnicas como a Palavração: diz respeito ao estudo de palavras,sem decompô-las, imediatamente, em sílabas; assim, quando as crianças conhecem determinadaspalavras, é proposto que componham pequenos textos; Sentenciação: formam-se as orações de acordocom os interesses dominantes da sala. Depois de exposta uma oração, essa vai ser decomposta empalavras, depois em sílabas; Conto: a ideia fundamental aqui é fazer com que a criança entenda que ler édescobrir o que está escrito. Da mesma maneira que as modalidades anteriores, pretendia-se decomporpequenas histórias em partes cada vez menores: orações, expressões, palavras e sílabas.

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