Dispepsia Funcional Diagnostico e Tratamento

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Dispepsia Funcional: Diagnóstico e Tratamento Marcio Miasato Residente de 4° ano de Gastroenterologia Pediátrica Escola Paulista de Medicina - UNIFESP

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Dispepsia Funcional:Diagnóstico e Tratamento

Marcio MiasatoResidente de 4° ano de Gastroenterologia

Pediátrica

Escola Paulista de Medicina - UNIFESP

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Introdução

# Doenças funcionais do trato gastrointestinal:

- Transtornos que produzem diversos sintomas como dor, náusea, vômitos, distensão abdominal, diarréia, constipação, dificuldade da passagem da comida ou das fezes pelo trato gastrointestinal.

- Esses Transtornos são descritas como funcionais devido a não terem causa plausível de explicação ou tratamento efetivo.

- Frequentemente estão associadas a fatores psicológicos, sociais, ambientais e com impacto na rotina da vida diária dos pacientes.

- Tradicionalmente são excluídas outras causas dos sintomas referidos pelo paciente (causa inflamatória, infecciosa, neoplásica, anormalidades estruturais) para caracterizar o quadro como “ funcional”.

The functional gastrointestinal disorders and the Rome III process. Douglas A. Drossman.

Gastroenterology 2006;130: 1377- 1390

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Doenças funcionais do trato gastrointestinal

# Muitos médicos não se sentem confortáveis em realizar o diagnóstico de transtorno funcional do trato gastrointestinal por serem treinados para investigar causas orgânicas.

# Por muitas vezes o paciente também não se satisfaz com o diagnóstico, isso faz com que muitos exames sejam solicitados encarecendo o serviço de saúde.

# Em pesquisa realizada com 704 médicos gastroenterologistas pela associação médica americana (Gastroenterology 1987) a resposta mais comum para transtorno funcional do trato gastrointestinal (FGID) foi “sem anormalidades estruturais”(pela patologia/radiologia), ou causas infecciosas/metabólicas).

# Muitos atribuem as queixas dos pacientes a transtornos psicológicas e não valorizam as queixas dos pacientes, dando adjetivos pejorativos a eles.

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Transtornos funcionais do trato gastrointestinal

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Transtornos funcionais do trato gastrointestinal

# Predisposição genética

Fatores genéticos podem predispor indivíduos a desenvolver FGID e os fatores ambientais podem contribuir para a expressão fenotípica dessas condições.

# Ambiente familiar

A ocorrência na mesma família de vários indivíduos com FGID pode não ser apenas genético, mas também decorrente do aprendizado que as crianças tem com os sues pais.

# Fatores psicossociais

Estresse psicológico exacerba sintomas gastrointestinais.

Fatores psicológicos modificam a experiência que o paciente tem sobre a sua patologia e sobre o cuidado com a saúde.

FGID pode causar consequências psicossociais.

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Transtornos funcionais do trato gastrointestinal

# Motilidade anormal

Pessoas saudáveis com quadros agudos de estresse tem aumento da motilidade esofágica, gástrica e intestinal. Os pacientes que sofrem de FGID tem a resposta excessivamente aumentada da motilidade, e essa resposta motora está associada aos sintomas intestinais, particularmente diarréia/constipação e vômitos, mas não explica a dor crônica/recorrente abdominal.

# Hipersensibilidade Visceral

Acredita-se que haja uma hipersensibilidade dos receptores da mucosa intestinal e do plexo mioentérico, associados a possível aumento da atividade da serotonina, que aumentaria a excitabilidade da via central sensitiva amplificando a sensação de dor.

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Transtornos funcionais do trato gastrointestinal

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Transtornos funcionais do trato gastrointestinal em crianças

# 1.o artigo a definir critério para FGID na infância e adolescência.

# Artigo explica que criança está em pleno desenvolvimento , e muitos sintomas não podem ser reconhecidos por ela (exemplo: dispepsia).

# Muitos sintomas são característicos da idade e do desenvolvimento da criança (diarréia do lactente) e mecanismo de retenção fecal (ganho do controle esfincteriano).

# O primeiro grupo pediátrico que realizou o critério de classificação diagnóstica de FGID o fez em 199, 7 sete anos após a publicação dos critérios na população adulta.

Childhood functional gastrointestinal disorders. A Rasquin-Weber, P E Cucchiara, D R Fleisher, J S Hyams, P J Milla, A Staiano

Gut 1999, 45(suppl II): II60-II68

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Transtornos funcionais do trato gastrointestinal em crianças

Childhood functional gastrointestinal disorders. A Rasquin-Weber, P E Cucchiara, D R Fleisher, J S Hyams, P J Milla, A StaianoGut 1999, 45(suppl II): II60-II68Childhood functional gastrointestinal disorders: Child/ adolescent. Andrée Rasquin, Carlo di Lorenzo, David Forbes, Ernesto Guiraldes, Jeffrey S Hyams, A StaianoGastroenterology 2006;130:1527- 1537

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Dispepsia Funcional

# Dispepsia é definida como um distúrbio da digestão caracterizado por um conjunto de sintomas relacionados ao trato gastrointestinal superior (dor, queimação ou desconforto na região superior do abdomen), que pode estar associado àsaciedade precoce, empachamento pós prandial, náuseas, vômitos, sensação de distensão abdominal, cujo aparecimento ou agravo pode ou não estar relacionado à alimentação ou ao estresse.

# Doença ulcerosa péptica, doença do refluxo gastrointestinal, gastrites, neoplasias do trato gastrointestinal superior, doença do trato biliar e dispepsia funcional.

# Dispepsia funcional: transtorno heterogêneo caracterizado por períodos de abrandamentos e exacerbações. Diagnóstico é feito quando uma avaliação completa do paciente não permite identificar uma causa orgânica para os sintomas apresentados.

Dispepsia funcional: revisão de diagnóstico e fisiopatologia. N.M.Matsuda, C.C. Maia, L.E.A. Troncon

Diagn Tratamento. 2010;15(3):114-6

Dispepsia funcional: nuevos conocimientos em la fisiopatogenia com implicaciones terapeuticas. Ana C.H. Harder

Medicina ( Buenos Aires)2007;67: 379-388

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Nomenclature of dyspepsia, dyspepsia subgroups and functional dyspepsia: clarifying the concepts.

G Holtmann, V Stanguellini, Nicholas J Talley.

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Dispepsia Funcional

# Dispepsia funcional: dor ou desconforto no abdomen superior. Pode ser caracterizada por sensação de plenitude, saciedade precoce, distensão abdominal, náusea ou vômitos.

# Em estudos na comunidade e em escolas a prevalência da dispepsia variou entre 3,5% e 27%.

# Utilizando os critérios de Roma II a prevalência foi de 3.5% em crianças (idade média 52 meses) observada por pediatras gerais na Itália e entre 12,5-15,9% em crianças com idade entre 4- 18 anos em clínicos da América do Norte.

# Crianças mais novas podem reclamar de dor periumbilical e podem ter dor noturna que interrompe o sono e alguma associação da dor com os alimentos.

# Em lactentes as manifestações podem incluir irritabilidade, recusa alimentar, excessivos episódios de regurgitação/vômitos.

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Diagnóstico diferencial de Dispepsia

Dyspepsia in Infants and Children. Mike Thomson, John Walker Smith.

Baillière`s Clinical Gastroenterology , 1998; 12(3)

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Dispepsia Funcional

Dispepsia funcional: revisão de diagnóstico e fisiopatologia. N.M.Matsuda, C.C. Maia, L.E.A. TronconDiagn Tratamento. 2010;15(3):114-6

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Nomenclature of dyspepsia, dyspepsia subgroups and functional dyspepsia: clarifying the concepts.G Holtmann, V Stanguellini, Nicholas J Talley.

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Dispepsia Funcional: Diagnóstico

# No critério de Roma II há a afirmação que a endoscopia excluiria a possibilidade de alterações que justificariam o quadro dispéptico; no critério de Roma III o comitê eliminou a realização mandatória da EDA para a realização do diagnóstico de dispepsia funcional.

# No artigo (2) é relatado que em crianças a chance de se encontrar achados macro/microscópicos que justifiquem os sintomas dispépticos é muito menor que em adultos.

# No critério de Roma III são excluídos os subtipos de dispepsia funcional para as crianças (úlcera-like e dismotilidade-like) pois crianças pequenas não se encaixam nessa classificação.

(1)Childhood functional gastrointestinal disorders. A Rasquin-Weber, P E Cucchiara, D R Fleisher, J S Hyams, P J Milla, A StaianoGut 1999, 45(suppl II): II60-II68(2)Childhood functional gastrointestinal disorders: Child/ adolescent. Andrée Rasquin, Carlo di Lorenzo, David Forbes, Ernesto Guiraldes, Jeffrey S Hyams, A StaianoGastroenterology 2006;130:1527- 1537

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Dyspepsia in Infants and Children. Mike Thomson, John Walker Smith.Baillière`s Clinical Gastroenterology , 1998; 12(3)

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Dispepsia Funcional: Diagnóstico

# A ação do Helicobacter pylori na dispepsia funcional continua incerta.

# Vários artigos são dúbios quanto ao tratamento do H. pylori na dispepsia funcional.

# Esse estudo acompanhou durante 1 ano pacientes com H. pyloriquanto a sintomas e qualidade de vida. Esses pacientes foram tratados coma terapia de erradicação da bactéria comparados a grupo controle que utilizou apenas tratamento com omeprazolpor 3 meses.

Helicobacter pylori erradication and standardized 3- month omeprazole therapy in functional dyspepsia. J. Koskenpato, M.Farkkila, P Sipponen.

Am.Journal of Gastroent ,2001;96:10

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Dispepsia Funcional: Diagnóstico

Dispepsia funcional: revisão de diagnóstico e fisiopatologia. N.M.Matsuda, C.C. Maia, L.E.A. TronconDiagn Tratamento. 2010;15(3):114-6

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Dispepsia Funcional: Diagnóstico

Helicobacter pylori erradication and standardized 3- month omeprazole therapy in functional dyspepsia. J. Koskenpato, M.Farkkila, P Sipponen.Am.Journal of Gastroent ,2001;96:10

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Dispepsia Funcional: Diagnóstico

Helicobacter pylori erradication and standardized 3- month omeprazole therapy in functional dyspepsia. J. Koskenpato, M.Farkkila, P Sipponen.Am.Journal of Gastroent ,2001;96:10

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Dispepsia Funcional: Tratamento

# Alimentação: artigos relatam como tratamento (evitar alimentos que causem agravamento dos sintomas). Muitos artigos orientam evitar cafeína, alimentos gordurosos, chá, refrigerantes gasosos e comida condimentada.

# Agentes antisecretores (controle da secreção ácida) por 4 a 8 semanas:

Antagonistas dos receptores H2 (ranitidina, cimetidina)

Inibidores da bomba de próton (omeprazol, lansoprazol)

# Antiácidos:

Eficazes para neutralizar a acidez gástrica, produz alívio pouco tempo após ingestão, coadjuvantes na terapia antisecretora.

Childhood functional gastrointestinal disorders: Child/ adolescent. Andrée Rasquin, Carlo di Lorenzo, David Forbes, Ernesto Guiraldes, Jeffrey S Hyams, A StaianoGastroenterology 2006;130:1527- 1537Gastroenterologia pediátrica:manual de condutas. Vera Lucia Sdepanian (coordenadora).2010, Manole.

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Dispepsia Funcional: Tratamento

# Protetores de barreira de mucosa:

Prostaglandinas e sucralfato são pouco utilizados na doença acidopeptica da criança.

# Procinéticos (metoclopramida, eritromicina, domperidona)

Não há dados que suportem o uso prolongado em pediatria em crianças com dispepsia funcional.

Childhood functional gastrointestinal disorders: Child/ adolescent. Andrée Rasquin, Carlo di Lorenzo, David Forbes, Ernesto Guiraldes, Jeffrey S Hyams, A StaianoGastroenterology 2006;130:1527- 1537Gastroenterologia pediátrica:manual de condutas. Vera Lucia Sdepanian (coordenadora).2010, Manole.

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Dispepsia Funcional: Tratamento

# Metanalise de 11 estudos randomizados duplo-cego com uso de antidepressivos x placebo.

# Amitriptilina (3 estudos), clomiprimina (1), desipramina(2), doxepin (1), trimipramina (1), mianserin (2).

# Observou-se odds ratio 4.2 (com 95% intervalo de confiança) em relação ao uso de placebo, com os pacientes apresentando melhora do quadro de dor (parametro clinico de avaliação da queixa dispeptica).

# Metanalise enfatiza que novos estudos tem que ser desenvolvidos para avaliação de quadro depressivo em pacientes com quadro de dor crônica.

Treatment of Functional gastrointestinal disorders with antidepressant medications: a meta- analysis. Jeffrey L. Jackson, Patrick O’Malley, Glen Tomkins, Eric Balden, James Santoro

The American Journal of Medicine,2000;108

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Dispepsia Funcional: Tratamento

# Pacientes tratados com Bifidobacterium infantis e Lactobacillusacidophilus com sintomas de Síndrome do intestino irritavel: associação com alívio dos sintomas (dor abdominal recorrente).

# Artigo enfatiza necessidade de novos trabalhos com pacientes com constipação crônica funcional e dispepsia funcional.

Probiotics in functional gastointestinal disorders: what are the facts?Eamonn MM Quinley

Current opinion in Pharmacology2008; 8: 704-708