Dissertacao Carolina Lucena Rezende
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UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ENGENHARIA DE PROCESSOS E
TECNOLOGIAS (PGPROTEC)
UTILIZAO DA TCNICA RESPIROMTRICA PARA A AVALIAO DO
DESEMPENHO DE SISTEMAS DE LODOS ATIVADOS APLICADOS AO
TRATAMENTO DE EFLUENTES
MESTRANDA: Carolina Lucena Rezende
ORIENTADOR: Prof. Dr. Lademir Luiz Beal
CO- ORIENTADOR: Prof. Dr. Mauricio Moura da Silveira
LOCAL DE EXECUO DO PROJETO:
Laboratrio de Tecnologias Ambientais (LATAM)
Caxias do Sul, maro, 2014.
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Carolina Lucena Rezende
UTILIZAO DA TCNICA RESPIROMTRICA PARA A AVALIAO DO
DESEMPENHO DE SISTEMAS DE LODOS ATIVADOS APLICADOS AO
TRATAMENTO DE EFLUENTES
Dissertao apresentada no Programa de Ps Graduao em
Engenharia de Processos e Tecnologias da Universidade de
Caxias do Sul, como requisito parcial para obteno grau de
mestre em Engenharia de Processos e Tecnologias,
orientado pelo Prof. Dr. Lademir Luiz Beal e co-orientado
pelo Prof. Dr. Mauricio Moura da Silveira.
Caxias do Sul, 2014.
-
DEDICATRIA
Aos meus pais, aos meus colegas e amigos, pelo incentivo, compreenso e carinho, no somente na
realizao deste trabalho, mas por todo o tempo, at a concluso do curso.
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AGRADECIMENTOS
Agradeo primeiramente minha me, Jacqueline, que sempre me apoiou, me motivou, me
aconselhou e me cobrou. Ela que sempre me motivou a estudar e sempre me proporcionou
condies para que isso ocorresse.
minha famlia, tia, avs, primos, pais, por sempre estarem do meu lado me apoiando,
independente do que acontea.
Agradeo a todos os professores que contriburam para o meu crescimento pessoal e intelectual
ao longo da minha graduao e mestrado.
Agradeo principalmente aos meus orientadores, Lademir Luiz Beal e Mauricio Moura da
Silveira, por todo tempo dedicado a mim, por todo conhecimento que me passaram.
PETROBRAS pela oportunidade de realizao da pesquisa e Universidade de Caxias do
Sul.
A todos os amigos que fiz neste caminho trilhado e a todos que passaram pelo LATAM e que
de alguma forma contriburam para o meu crescimento pessoal e profissional.
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SUMRIO
1. INTRODUO 1
2. OBJETIVOS 3
2.1. OBJETIVO GERAL 3
2.2. OBJETIVOS ESPECFICOS 3
3. REVISO BIBLIOGRFICA 4
3.1. EFLUENTE PROVENIENTE DE REFINARIA DE PETRLEO 4
3.1.1. Correntes de efluentes 6
3.2. EFLUENTE PROVENIENTE DO SANITRIO E DO REFEITRIO DE UMA
INDSTRIA DE EMBALAGENS DE PAPELO ONDULADO 6
3.3. LODOS ATIVADOS 7
3.4. BIORREATORES ASSOCIADOS A MEMBRANAS 10
3.5. MICROBIOLOGIA DE LODOS ATIVADOS 13
3.6. RESPIRAO MICROBIANA 15
3.6.1. Efeito do oxignio dissolvido na respirao microbiana 19
3.6.2. Efeito do nitrognio amoniacal na respirao microbiana 20
3.6.3. Efeito do sulfeto na respirao microbiana 23
3.6.4. Efeito dos metais no lodo ativado 25
3.7. MECANISMOS DE DETERMINAO DE OUR 26
3.7.1. Respirometria aerbia 27
3.8. TIPOS DE RESPIRMETROS 30
3.8.1. Variaes no princpio de medio dos respirmetros 30
4. MATERIAIS E MTODOS 32
4.1. ESTAO DE TRATAMENTO DE GUAS RESIDURIAS EXPERIMENTAL 32
4.2. EFLUENTE PROVENIENTE DE UMA INDSTRIA DE EMBALAGENS DE
PAPELO ONDULADO 34
-
4.3. EFLUENTE E BIOMASSA 35
4.4. RESPIRMETRO 36
4.5. PREPARAO DO ENSAIO DE RESPIROMETRIA 37
4.5.1. Etapas do ensaio de respirometria 37
4.5.2. Ensaios realizados 40
4.6. METODOLOGIAS ANALTICAS 45
5. RESULTADOS E DISCUSSO 50
5.1. AVALIAO DO DESEMPENHO DO SISTEMA 50
5.1.1. Variao no tempo de deteno hidrulico da ETAR 50
5.1.2. Influncia do oxignio dissolvido 53
5.2. TESTES COM DIFERENTES COMPOSTOS POTENCIALMENTE INIBITRIOS
64
5.2.1. Testes com diferentes concentraes de nitrognio amoniacal 65
5.2.2. Teste com diferentes concentraes de sulfetos 68
5.2.3. Teste com diferentes concentraes de Fenol 79
6. CONCLUSES 84
REFERNCIAS 86
ANEXO I
I. INTRODUO I
II. METODOLOGIA III
II.1. Testes para a validao do mtodo respiromtrico III
III. RESULTADOS E DISCUSO IV
III.1. Avaliao da interferncia do headspace IV
III.1.1. Teste com headspace IV
III.1.2. Teste sem headspace VI
III.2. Teste para verificar a transferncia de oxignio para o meio lquido IX
-
IV. CONCLUSES X
REFERNCIAS X
-
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Parmetros caractersticos dos despejos de refinaria de petrleo 5
Tabela 2: Parmetros fsico e qumicos caractersticos dos efluentes sanitrios 7
Tabela 3: Valores tpicos de A/M, COV e TDH encontrados em sistemas MBR 13
Tabela 4: Metais e suas concentraes tipicamente encontradas no efluente de
refinaria de petrleo
25
Tabela 5: Tempo de deteno hidrulico para o estudo da variao do TDH na
ETAR
40
Tabela 6: Parmetros analisados durante o estudo da variao no tempo de deteno
hidrulico da ETAR
50
Tabela 7: Parmetros de projeto utilizados no estudo da variao do TDH e
resultados para os testes
51
Tabela 8: Parmetros analisados durante o primeiro estudo da influncia do oxignio
dissolvido
53
Tabela 9: Resultados de SOUR no primeiro estudo de OD 55
Tabela 10: Parmetros analisados durante o segundo estudo da influncia do
oxignio dissolvido
58
Tabela 11: Resultados de SOUR para o segundo estudo de OD 59
Tabela 12: Parmetros analisados durante o terceiro estudo da influncia do
oxignio dissolvido
61
Tabela 13: Resultados de SOUR para o terceiro estudo de OD 62
Tabela 14: Resultados de SOUR nos ensaios de toxicidade por nitrognio
amoniacal
65
Tabela 15: Resultados da anlise de metais no efluente 70
Tabela 16: Resultados de SOUR nos ensaios de toxicidade por fenol 80
Tabela I: Valores da SOUR para o teste respiromtrico com headspace IV
Tabela II: Valores da SOUR para o teste respiromtrico sem headspace VI
-
LISTA DE QUADROS
Quadro 1: Caractersticas gerais dos diferentes processos de separao por
membranas
12
Quadro 2: Comparao dos diferentes tipos de medio de OUR nos respirmetros 31
Quadro 3: Etapas de estudo de ausncia de oxignio dissolvido no reator aerbio 41
Quadro 4: Ensaios analticos relacionados aos estudos desenvolvidos 45
-
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Processo de tratamento por lodos ativados convencional 8
Figura 2: Representao de um biorreator com membrana de mdulo externo e de
um biorreator com membrana submersa
11
Figura 3: Ilustrao esquemtica de uma unidade de tratamento biolgico de
efluentes com MBR na configurao onde o tanque de membranas externo e
submerso
11
Figura 4: Relao entre a velocidade especfica de consumo de oxignio (SOUR)
e a velocidade especfica de crescimento (x)
16
Figura 5: Perfil de variao de OD em relao ao tempo no clculo da OUR 18
Figura 6: Representao do consumo energtico em um MBR 19
Figura 7: Variao da concentrao de NH3 e NH4+em funo do pH 21
Figura 8: Influncia do pH sobre o equilbrio do sulfeto na gua 23
Figura 9: Estao de tratamento de guas residurias experimental 32
Figura 10: Programa supervisrio (a) e mdulo de membrana (b) 33
Figura 11: Fluxograma da estao de tratamento de efluentes sanitrios da
indstria de fabricao de embalagens de papelo ondulado.
34
Figura 12: Reator de lodos ativados da indstria de fabricao de embalagens de
papelo ondulado
35
Figura 13: Respirmetro em garrafas de DBO, durante ensaio de OUR 36
Figura 14: Sensores de oxignio dissolvido 37
Figura 15: Tela inicial do software OD_logger 37
Figura 16: Fluxograma das etapas do ensaio de respirometria aerbia 38
Figura 17: Esquema de montagem do ensaio de respirometria 39
Figura 18: Curvas tpicas de resposta ao ensaio de respirometria aerbia 39
Figura 19: SOUR, A/M e COV em relao a cada TDH estudado durante a etapa
de variao no TDH na ETAR
52
Figura 20: Variao da concentrao de oxignio dissolvido em funo do tempo
(a) t=0 h sem OD; (b) t=24 h sem OD; (c) t=48 h sem OD; (d) t=72 h sem OD; (e)
t=96 h sem OD; (f) quando reestabelecida a aerao
54
Figura 21: Velocidade especfica de consumo de oxignio (SOUR) em funo do
tempo para o primeiro estudo de OD
55
-
Figura 22: Variao da DQO em funo do tempo durante o primeiro estudo de
OD
56
Figura 23: Variao da concentrao de oxignio dissolvido em funo do tempo
(a) t=0 h sem OD; (b) t=24 h sem OD; (c) quando reestabelecida a aerao
58
Figura 24: Velocidade especfica de consumo de oxignio (SOUR) em funo do
tempo para o segundo estudo OD
59
Figura 25: Variao da DQO em funo do tempo durante o segundo estudo de
OD
60
Figura 26: Variao da concentrao de oxignio dissolvido em funo do tempo
(a) t=0 h sem OD; (b) t=2 h sem OD; (c) quando reestabelecida a aerao
61
Figura 27: Velocidade especfica de consumo de oxignio (SOUR) em funo do
tempo para o terceiro estudo de OD
62
Figura 28: Variao da DQO em funo do tempo durante o terceiro estudo de
OD
63
Figura 29: Variao da concentrao de oxignio dissolvido em funo do tempo
(a) concentrao inicial; (b) concentrao 30 mg.L-1; (c) concentrao 40 mg.L-1; (d)
concentrao 100 mg.L-1; (e) concentrao 180 mg.L-1; (f) concentrao 240 mg.L-1
66
Figura 30: Velocidade especfica de consumo de oxignio (SOUR) em funo da
concentrao de nitrognio amoniacal
67
Figura 31: Relao da concentrao de sulfetos sobre a velocidade especfica de
consumo de oxignio (SOUR) em testes respiromtricos preliminares realizados
em sequncia
69
Figura 32: Variao do oxignio dissolvido em relao ao tempo no teste
respiromtrico realizado com gua e 50 mg.L-1 de sulfeto
70
Figura 33: Variao da concentrao de oxignio dissolvido em funo do tempo nos
testes respiromtricos do efluente com sulfeto
71
Figura 34: Velocidade especfica de consumo de oxignio (SOUR) em funo do
tempo para estudo de sulfeto
72
Figura 35: Percentual de reduo da atividade microbiana durante os testes em
relao a diferentes concentraes de sulfetos
73
Figura 36: Velocidade especfica de consumo de oxignio (SOUR) em relao a
variao da concentrao de mangans
74
-
Figura 37: Velocidade especfica de consumo de oxignio (SOUR) em relao a
variao da concentrao de nquel
75
Figura 38: Velocidade especfica de consumo de oxignio (SOUR) em relao a
variao da concentrao de zinco
76
Figura 39: Velocidade especfica de consumo de oxignio (SOUR) em relao a
variao da concentrao de cobre
77
Figura 40: Velocidade especfica de consumo de oxignio (SOUR) em funo do
tempo para estudo de feno
81
Figura 41: Percentual de inibio da atividade microbiana durante os testes em
relao a diferentes concentraes de fenol
82
Figura 42: Linearizao do percentual de inibio em relao a concentrao de
fenol
83
Figura I: Respirmetro Beluga I
Figura II: respirmetro aberto (a) e respirmetro aberto (b) II
Figura III: Respirmetro com headspace II
Figura IV: Respirmetro semi fechado com headspace III
Figura V: Teste de SOUR com headspace antes do incio do ensaio (a) e ao final
do ensaio (b)
V
Figura VI: Teste de SOUR sem headspace antes do incio do ensaio (a), aps o
primeiro consumo (b), aps o segundo consumo (c) e aps o terceiro consumo (d).
VII
Figura VII: Concentrao de oxignio dissolvido em funo do tempo durante o
teste de transferncia de oxignio do headspace para o meio lquido
IX
-
NOMENCLATURA
A/M Relao Alimento-Microrganismo
API American Petroleum Institute
ATP Adenosina Trifosfato
C Concentrao de oxignio dissolvido
Cent Concentrao de oxignio que entra
C/N Relao carbono-nitrognio
[] Concentrao do composto estudado
COV Carga orgnica volumtrica
C*O2 Concentrao de oxignio inicial
CO2 Concentrao de oxignio final
Cs Concentrao de saturao
Csai Concentrao de oxignio que sai
Cu Cobre
DBO Demanda Bioqumica de Oxignio
DEA Dietanolamina
DQO Demanda Qumica de Oxignio
DQOEB Concentrao de DQO no efluente bruto
E Eficincia de remoo do sistema
ETDI Estao de Tratamento de Despejos Industriais
ETAR Estao de Tratamento de guas Residurias Experimental
H2S Sulfeto de hidrognio
H2SO4 cido sulfrico
Kcomposto Concentrao do composto estudado que inibe a atividade das bactrias em
50%
kd Taxa de decaimento endgeno
Kla Taxa de transferncia de oxignio
Ko Constante de saturao
MBR Biorreator associado a membranas
MEA Monoetanolamina
Mn Mangans
MO Matria orgnica
-
mo Coeficiente de manuteno
NaOH Hidrxido de sdio
NH3 Amnia
NH3-N Nitrognio Amoniacal
NH4+ on amnio
Ni Nquel
OD Oxignio Dissolvido
OTR Taxa de transferncia de oxignio
OUR Velocidade de consumo de oxignio
Tempo de reteno celular
pH Potencial hidrogeninico
PVDF Fluoreto de Polivinilideno
Q Fluxo de oxignio
Qi Vazo afluente ao reator
Qs Vazo de sada do reator
S-2 Sulfeto
So Concentrao de DQO do acetato
SOUR Velocidade especfica de consumo de oxignio
SOURb SOUR no teste em branco
SOURmx Velocidade especfica mxima de consumo de oxignio
SOURt SOUR durante o teste
SST Slidos suspensos totais
[SSV] Concentrao de slidos suspensos volteis
TDH Tempo de deteno hidrulico
Vacetato Volume de acetato
Vglobal Somatrio dos volumes dos reatores
VL Volume da fase lquida
Vreator Volume do reator
X Concentrao celular
Y Rendimento da biomassa
Yo Fator de converso de oxignio para clulas
ZW ZeeWeed
Zn Zinco
-
Velocidade especfica de crescimento
%inibiomx Percentual de inibio mximo
-
RESUMO
O objetivo principal deste trabalho foi avaliar a utilizao da tcnica respiromtrica como
ferramenta para monitorar processos de lodos ativados, quando condies adversas ao processo
de tratamento so impostas ao sistema. Os efeitos estudados foram: alterao no tempo de
deteno hidrulico (TDH) da estao de tratamento de guas residurias experimental
(ETAR), ausncia de oxignio dissolvido no reator aerbio, impacto de elevadas concentraes
de nitrognio, sulfeto e fenol no lodo ativado. Valores decrescentes de TDH podem acarretar
em uma sobrecarga de alimento aplicada no sistema e promover uma reduo na eficincia do
mesmo. Tal efeito pde ser percebido nos testes de respirometria, tendo sido medidas redues
de at 51% na SOUR. Foi constatado que possvel realizar interrupes programadas ou no
no fornecimento de oxignio dissolvido para a ETAR. Quando o lodo ativado submetido a
concentraes superiores a 100 mg.L-1 de nitrognio amoniacal, observou-se a rpida adaptao
dos microrganismos, sem perda significativa de eficincia no processo de tratamento biolgico
de efluentes. Tambm foram avaliadas as influncias de metais que catalisam a reao de
oxidao do sulfeto em meios contendo este on. O metal que apresentou um maior efeito
cataltico, com consequente aumento na SOUR, foi o mangans, com 62%, e o que representou
a menor efeito cataltico foi o nquel, com apenas 9,5% de aumento no consumo de oxignio
dissolvido. Porm, foi o nquel tambm, que apresentou o maior percentual de inibio na
atividade das bactrias, cerca de 79%. Para um dos lodos ativados usados nos ensaios,
determinou-se a concentrao de fenol de 187 mg.L-1 como aquela que inibe 50% da atividade
metablica. Os resultados deste trabalho demonstraram claramente que a tcnica respiromtrica
eficaz para monitorar e detectar efeitos adversos em processos biolgicos de tratamento de
efluentes.
Palavras-chave: respirometria aerbia, lodos ativados, MBR, OUR, SOUR, inibio.
-
ABSTRACT
The main purpose of this work was to evaluate the use of the respirometric technique as a tool
to monitor the activated sludge processes when adverse conditions to the treatment process are
imposed to the system. The following effects were studied: change in hydraulic detention time
(HDT) of the experimental wastewater treatment process, absence of dissolved oxygen in
aerobic reactor, impact of high concentrations of nitrogen, sulfide and phenol in activated
sludge. When the HDT of the experimental wastewater treatment process decreases, it can result
in an overload of food applied on the system and promote a reduction in the efficiency. This
effect could be observed in the respirometry tests, which presented reductions of up to 51% in
the specific oxygen uptake rate (SOUR). It was noticed that it is possible to perform scheduled
or not interruptions in the supply of dissolved oxygen to the system. When the activated sludge
is subjected to concentrations higher than 100 mg L-1 of ammonia nitrogen, a rapid adaptation
of micro-organisms was observed, without significant loss of efficiency in the biological
wastewater treatment. The influence of metals that catalyze the reaction of oxidation of sulfide
in medium containing this ion was also evaluated. The metal which showed the higher catalytic
effect, with consequent increase in SOUR, was manganese, with 62%, and the one that
presented the lowest catalytic effect was nickel, with only 9.5% increase in the consumption of
dissolved oxygen. However, it was identified that nickel presented the highest percentage of
inhibition, around 79%. For one of the aerobic biomass used in the tests, it was determined the
concentration of phenol of 187 mg L-1 as the one which inhibits 50% of metabolic activity. The
results of this study clearly demonstrated that the respirometric technique is effective to monitor
and detect adverse effects on the biological wastewater treatment processes.
Keywords: aerobic respirometry, activated sludge, MBR, OUR, SOUR, inhibition.
-
1 INTRODUO
1. INTRODUO
Muitas pesquisas vm sendo desenvolvidas para estudar os processos de tratamento de
efluentes sanitrios e industriais, buscando a sua otimizao e, consequentemente, maior
eficincia. Neste trabalho foram avaliados dois diferentes efluentes, o primeiro foi o de refino
de petrleo e o segundo foi proveniente do sanitrio e refeitrio de uma indstria de papelo
ondulado.
O primeiro possui caractersticas particulares, apresentando elevadas concentraes de
leos e graxas de origem mineral, hidrocarbonetos e toxicidade. Compostos poluentes como
nitrognio amoniacal, cianetos, sulfetos e compostos aromticos como benzeno, tolueno,
xileno, nitrobenzeno, naftaleno esto presentes em grandes quantidades nas guas residurias
provenientes do refino de petrleo (BARROS, 2008). O efluente oriundo de refeitrios e
sanitrios apresentam concentraes de demanda qumica de oxignio (DQO), nitrognio,
slidos, turbidez e odor mais elevadas do que o efluente sanitrio normalmente possui.
Visto o potencial poluidor destes efluentes, cada vez mais, os corpos hdricos vm
sofrendo consequncias destas atividades industriais. O refino de petrleo um exemplo deste
tipo de atividade que acarreta consequncias aos corpos hdricos. Nas refinarias brasileiras, so
gerados entre 0,40e 1,6 m3 efluente por m3 de leo refinado, o que pode causar prejuzo na
qualidade do corpo hdrico receptor (VANELLI, 2004).
O refino de petrleo extremamente importante, pois a maioria dos meios de transporte
utiliza os derivados do petrleo, como gasolina, diesel e querosene, como combustvel para
locomoo. Devido ao potencial poluidor e os efeitos que estes efluentes causam na natureza e
atravs de uma mobilizao social a qual resultou em uma legislao mais restrita, a fiscalizao
ambiental est cada vez mais rigorosa, forando as refinarias e indstrias a buscarem
alternativas para que no ocorram impactos adversos ao meio ambiente como consequncia de
aes antrpicas. Atualmente o conceito de desenvolvimento sustentvel muito utilizado, pois
reflete a necessidade de conservao do meio ambiente onde os princpios cientficos e as leis
naturais e o desenvolvimento necessitam ser compatibilizados adotando medidas de preveno
de danos e de situaes de risco.
Para que isso seja possvel, diversos tipos de tratamento esto sendo utilizados para a
remoo das cargas poluidoras presentes nesses efluentes. comum as refinarias possurem
tratamentos primrio e secundrio (processos biolgicos). No tratamento primrio, so
utilizados separadores gua-leo, sendo os mais utilizados os separadores APIs propostos pelo
American Petroleum Institute; e sedimentao ou flotao. Como tratamento secundrio,
-
2 INTRODUO
diversos processos biolgicos vm sendo utilizados, destacando-se lodos ativados e, mais
recentemente, lodos ativados e biorreatores associados a membranas (MBR- Membrane
Bioreactor). Algumas refinarias utilizam um estgio adicional de tratamento de efluentes,
visando atender aos parmetros de lanamento exigidos pelos rgos ambientais. Essa etapa
pode envolver o uso de filtros de carvo ativado, antracito, processos oxidativos avanados e
membranas (MARIANO, 2001). Processos biolgicos de tratamento so os mais comumente
utilizados no tratamento de efluentes sanitrios e de refeitrios.
Em um sistema de tratamento de efluentes, os impactos gerados por substncias txicas
na maioria das vezes ocorrem de forma no controlada e podem causar prejuzos eficincia
do processo. Assim, os compostos txicos acabam sendo detectados de forma tardia, quando j
causaram danos ao tratamento.
Em biorreatores aerbios (lodos ativados) associados a membranas, a respirometria
aerbia uma tcnica de monitoramento do efluente importante para avaliar a atividade da
biomassa do reator ao longo do tempo ou sob a influncia de compostos txicos. A
respirometria a medida e interpretao da velocidade de consumo de oxignio, OUR (Oxygen
Uptake Rate). Esta tcnica atualmente vem sendo utilizada com regularidade para o
monitoramento do processo de lodos ativados, deteco de efeitos de compostos inibitrios
sobre a atividade microbiana aerbia e para a avaliao da cintica do processo.
O uso da respirometria para avaliar tanto o desempenho do processo quanto os efeitos
txicos em um sistema de lodos ativados se mostra eficaz, pois possibilita detectar em curto
perodo de tempo as variaes do processo e pode auxiliar na tomada de decises para reduzir
o efeito txico sobre o processo. Esta tcnica torna-se mais relevante quando o efluente de
origem industrial e pode ser gerado em diversos pontos do processo, contendo assim compostos
que podem conferir inibio atividade da biomassa.
Copp e Spanjers (2004) afirmam que muitas vezes o efluente a ser tratado possui algum
grau de toxicidade e o processo de tratamento no possui um protocolo de deteco ou de
mitigao destes efeitos, o que torna as atividades de controle do sistema, como a respirometria
aerbia, importante no monitoramento e desempenho do mesmo.
Visando consolidar a tcnica respiromtrica como uma ferramenta de monitoramento
de processos de tratamento de efluentes, nesta pesquisa foram realizados testes buscando
identificar a influncia da variao do tempo de deteno hidrulico, ausncia de oxignio
dissolvido, impactos causados por elevadas concentraes de nitrognio amoniacal, sulfeto e
fenol e interferncia de ons metlicos catalizadores da reao de oxidao do sulfeto, no
comportamento do teste respiromtrico.
-
3 OBJETIVOS
2. OBJETIVOS
2.1. OBJETIVO GERAL
Avaliar a utilizao da tcnica respiromtrica como ferramenta para monitorar
processos de lodos ativados, quando condies adversas ao processo de tratamento so impostas
ao sistema.
2.2. OBJETIVOS ESPECFICOS
Os objetivos especficos para esta pesquisa foram os seguintes:
avaliar o comportamento respiromtrico da biomassa atravs do impacto da variao no
tempo de deteno hidrulico dos reatores presentes na ETAR, utilizando efluente do
refino de petrleo;
verificar a influncia da interrupo no fornecimento de oxignio dissolvido na
atividade respiromtrica, no tratamento de efluentes do refino de petrleo, em MBR;
avaliar, atravs dos testes respiromtricos, a toxicidade devido ao nitrognio amoniacal
no tratamento de efluente do refino de petrleo;
avaliar, atravs dos testes respiromtricos, a toxicidade do sulfeto, na presena ou no
de metais catalisadores, no sistema de tratamento de efluentes do refeitrio e sanitrio
de uma indstria de embalagens de papelo ondulado;
avaliar, atravs dos testes respiromtricos, a toxicidade de diferentes concentraes de
fenol no tratamento de efluentes do refeitrio e sanitrio de uma indstria de embalagens
de papelo ondulado;
-
4 REVISO BIBLIOGRFICA
3. REVISO BIBLIOGRFICA
Neste captulo, apresentada uma reviso bibliogrfica que abrange a caracterizao
dos efluentes utilizados para o desenvolvimento do trabalho, bem como sobre a tcnica
respiromtrica e os compostos potencialmente inibitrios avaliados neste trabalho.
3.1. EFLUENTE PROVENIENTE DE REFINARIA DE PETRLEO
O tratamento de efluentes por si s um desafio, pois necessrio entender os diferentes
fatores que afetam a eficincia de remoo de poluentes e atender a legislao, o que visa
garantir a integridade dos corpos receptores. Simular diferentes impactos que podem ocorrer no
tratamento de efluentes com caractersticas indstrias importante para reduzir tais impactos.
O refino de petrleo um processo que envolve diversas correntes de produo, onde
so gerados considerveis volumes de efluentes. Com o aumento da visibilidade ambiental,
atualmente, os rgos ambientais esto cada vez mais rgidos no controle da poluio ambiental,
fazendo com que as indstrias busquem alternativas e novas tecnologias para o tratamento do
efluente gerado (COELHO, 2002). Os poluentes provenientes do petrleo so gerados por
diversas fontes como leo cru, refinarias e na indstria petroqumica (WISZNIOWSKI et
al., 2011).
As refinarias de petrleo utilizam gua para lavar o leo bruto cru para remover sais
inorgnicos, contaminando essas guas com sulfetos, amnio, cidos orgnicos volteis,
hidrocarbonetos (BURKS, 1982).
Braile e Cavalcanti (1979) afirmam que os despejos das refinarias de petrleo tm
origem em vazamentos ou derrames de equipamentos de refrigerao, condensados de
operaes de retificao, guas de lavagem da dessalinizao do leo cru e tratamento de
subprodutos. Ainda, segundo os autores, podem ocorrer perdas durante a abertura e fechamento
de equipamentos, equipamentos para limpeza da gua, descarga da torre de resfriamento,
despejos dos condicionadores de gua, gua escoada das chuvas, entre outras fontes.
O efluente proveniente do processo de refino de petrleo possui caractersticas
particulares, apresentando elevadas concentraes de leos, hidrocarbonetos, fenol, sulfetos,
amnia e elevada toxicidade (WAKE, 2005). Este processo demanda um consumo de gua e
energia, gerando grandes volumes de efluentes lquidos e atmosfricos (COELHO, 2002).
-
5 REVISO BIBLIOGRFICA
Segundo Braile e Cavalcanti (1979) o efluente proveniente do refino de petrleo contm
leos que podem vir separados, emulsificados ou dissolvidos; produtos qumicos, inclusive
cidos, lcalis, sulfetos, mercaptanas, amnia e fenis.
Os poluentes presentes nesse tipo de efluente dependem, alm do tipo de leo que ser
processado, da configurao da planta de tratamento e a operao dos processos
(DIYAUDDEEN et al., 2011).
Braile e Cavalcanti (1979) afirmam que no possvel generalizar as caractersticas dos
efluentes de refino. Para estes autores no existem duas refinarias semelhantes em tamanho,
tipo de leo processado e grau de complexidade. A Tabela 1 apresenta as caractersticas mais
comuns encontradas nesses despejos.
Tabela 1: Parmetros caractersticos dos despejos de refinaria de petrleo
Parmetro Valores caractersticos
Temperatura (C)
pH
DBO (mg.L-1)
DQO (mg.L-1)
Sulfetos (mg.L-1)
Dureza (mgCaCO3.L-1)
Alcalinidade (mgCaCO3.L-1)
leo (mg.L-1)
Fsforo (mg.L-1)
NH3 (mg.L-1)
Cloretos (mg.L-1)
Sulfatos (mg.L-1)
Fenol (mg.L-1)
Mnimo1
22 6,2
17
140
0
139
77
23
0
0
19
0
Mximo1
41 10,6
280
3.340
38
510
356
200
97
120
1.080
18
-
Valores Mdios2
20 a 32 -
200
800
-
6 REVISO BIBLIOGRFICA
3.1.1. Correntes de efluentes
Os efluentes provenientes do refino de petrleo necessitam ser segregados, pois sua
mistura dificulta seu tratamento, dando origem a diferentes correntes de tratamento.
Normalmente, existem cinco sistemas de coleta, conforme descrito a seguir (COELHO, 2002):
sistema de efluentes de processo, recebe os efluentes hdricos que tiveram contato
com produtos (por exemplo: lavagem de trocadores de calor, drenagem de bombas,
drenos de torres);
sistema de efluentes contaminados, recebe efluentes hdricos que podem ou no
estar contaminados por produtos (por exemplo: gua de chuva nos parques de
armazenamento, tubovias, drenagem de tanques);
sistema de esgoto sanitrio, recebe guas de banheiro, cozinhas, etc.;
sistema de soda gasta, recebe efluentes hdricos oriundos do tratamento custico de
produtos, bem como guas de lavagem do mesmo processo;
sistema de guas cidas, coleta de condensados de topo de torres de fracionamento.
Todas as correntes aps coletadas e separadas so enviadas a ETDI (estao de
tratamento de despejos industriais) onde so submetidas ao tratamento final para enquadr-las
nos padres exigidos na legislao.
3.2. EFLUENTE PROVENIENTE DO SANITRIO E DO REFEITRIO DE UMA
INDSTRIA DE EMBALAGENS DE PAPELO ONDULADO
Segundo a NBR 9648 (ABNT, 1986) esgoto sanitrio o despejo lquido constitudo de
esgotos domstico e eventual contribuio industrial, gua de infiltrao e a contribuio
pluvial parasitria. Neste caso o esgoto sanitrio oriundo das seguintes atividades: refeitrio,
a partir de atividades de higienizao de alimentos e utenslios; banheiros; pias e bebedouros
existentes na fbrica; mquinas de caf.
Seguem as principais caractersticas fsicas dos efluentes sanitrios, conforme Von
Sperling (2002):
a temperatura ligeiramente superior da gua de abastecimento e varia de acordo
com as estaes do ano. A temperatura tem influncia na atividade microbiana, pois
a velocidade de decomposio do efluente sanitrio aumenta com a temperatura;
-
7 REVISO BIBLIOGRFICA
o efluente sanitrio tm odor ftido, odor de ovo podre, desagradvel, devido ao gs
sulfdrico e a outros produtos da decomposio;
a tonalidade acinzentada tpica do esgoto fresco, enquanto que a cor cinza escuro
ou preta tpica do esgoto sptico e de uma decomposio parcial;
a turbidez devido grande variedade de slidos em suspenso.
Metcalf e Eddy (2003), classificam os efluentes sanitrios em trs tipos: forte, mdio e
fraco. A Tabela 2 apresenta as principais caractersticas encontradas nos efluentes sanitrios.
Tabela 2: Parmetros fsicos e qumicos caractersticos dos efluentes sanitrios
Caracterstica Forte1 Mdio1 Fraco1 Indstria2
DQO (mg.L-1) 1.000 500 250 592,75
Nitrognio amoniacal (mg.L-1) 50 25 12 171,13
Sulfato (mg.L-1) 50 30 20 5
Fsforo (mg.L-1) 15 08 04 16,42
leos e Graxas (mg.L-1) 150 100 50 -
Slidos Totais (mg.L-1) 1.200 720 350 10.520
Slidos Suspensos Volteis (mg.L-1) 275 165 85 -
pH - - - 6.99
Fonte: Metcalf e Eddy1 (2003); Missiaggia2 (2013).
No efluente proveniente do refeitrio e sanitrio da indstria, aqui estudado, as
concentraes mdias encontradas de DQO, fsforo, nitrognio e o pH so respectivamente:
592,75 mg.L-1, 16,42 mg.L-1, 171,13 mg.L-1 e 7. Jordo e Pessoa (1997), afirmaram que 0,08%
do efluente sanitrio composto de matria slida e 99,92% por gua.
3.3. LODOS ATIVADOS
O sistema de lodos ativados vem sendo usado rotineiramente para tratar efluentes
municipais ou de origem industrial. Segundo Metcalf e Eddy (2003) os estudos voltados a esse
tratamento iniciaram-se no ano de 1880 com Angus Smith, que investigava a aerao dos
efluentes nos tanques e a oxidao da matria orgnica.
O tratamento por lodos ativados um processo aerbio, contnuo e com reciclo de
biomassa, obtendo assim um inculo aclimatado e que opera em reduzidos tempos de deteno
hidrulica (VON SPERLING, 1997).
-
8 REVISO BIBLIOGRFICA
Metcalf e Eddy (2003), definem lodos ativados como o processo de produo de uma
massa ativa de microrganismos capazes de estabilizar aerobiamente a matria orgnica do
efluente.
As seguintes unidades fazem parte da etapa biolgica do sistema de lodos ativados:
tanque de aerao, tanque de sedimentao e recirculao do lodo (VON SPERLING, 1997):
(Figura 1)
Figura 1: Processo de tratamento por lodos ativados convencional
Fonte: Adaptado de Von Sperling, 1997.
A seguir sero apresentados alguns parmetros fundamentais no projeto do sistema de
tratamento de lodos ativados.
Relao alimento/microrganismo (A/M)
A relao A/M amplamente utilizada em projetos e controle operacional do processo
de lodos ativados, tendo como base o fato de que a quantidade de alimento adicionado no reator
relacionada quantidade de microrganismos presentes no tanque de aerao. Este parmetro
utilizado tambm para determinar o volume de biomassa utilizado no ensaio de respirometria
e a quantidade de acetato de sdio que ser acrescentada (Equao 1) (VON SPERLING, 2002).
=
Equao 1
Onde:
A/M: relao alimento/micro-organismo;
-
9 REVISO BIBLIOGRFICA
Q: vazo
So: concentrao de DQO;
V: volume do reator;
X: concentrao de matria orgnica.
Tempo de reteno celular (c)
Um parmetro de projeto importante em um processo de lodos ativados o tempo de
reteno celular, tambm chamado de idade do lodo. (Equao 2) (VON SPERLING, 2002).
=
Equao 2
Onde:
: tempo de reteno celular; Xvr = concentrao de SSV no lodo de retorno;
Xva = concentrao de SSV no efluentes;
Q: vazo.
Carga orgnica volumtrica (COV)
Outra relao a ser considerada a carga orgnica volumtrica aplicada no sistema. Esta
definida como a massa de DQO aplicada em relao ao volume do reator biolgico, que pode
variar entre 0,3 e 3,0 kgDQO.m-3.d-1 (Equao 3) (METCALF e EDDY, 2003).
= 24
1000
Equao 3
Onde:
COV: carga orgnica volumtrica;
Q: vazo de efluente bruto; DQOEB: concentrao de DQO no efluente bruto;
Vglobal: somatrio dos volumes dos reatores.
O processo de tratamento por lodos ativados sofreu aperfeioamento ao longo dos anos,
com a possibilidade, nas configuraes mais recentes, de ser feita a remoo de nitrognio e de
fsforo. Para tanto, etapas anaerbias,
anxicas e aeradas so realizadas em reatores em srie para que ocorram esses processos
(METCALF E EDDY, 2003).
Embora o sistema de lodos ativados convencional seja uma tecnologia j consagrada
para o tratamento de efluentes, a eficincia deste processo depende do funcionamento do
sedimentador secundrio para o qual necessrio um alto volume para a obteno de um bom
desempenho. Acrescente-se que, para que o efluente tratado possa ser reutilizado, geralmente
h a necessidade de um tratamento tercirio. Por esta razo, foram desenvolvidos os
AdministradorRealce
-
10 REVISO BIBLIOGRFICA
biorreatores associados a membranas, que combinam as vantagens da degradao biolgica s
vantagens dos processos de separao por membranas.
3.4. BIORREATORES ASSOCIADOS A MEMBRANAS
Biorreatores associados a membranas so uma combinao do sistema de lodos ativados
com a separao por membranas de microfiltrao, de ultrafiltrao ou de nanofiltrao. Este
sistema tem como principais vantagens a possibilidade de utilizar reatores com menores tempos
de deteno hidrulico em relao ao processo de lodos ativados convencionais e a alta
qualidade do permeado. As membranas so as nicas responsveis pela manuteno de
biomassa no sistema e possuem a funo de polimento do efluente tratado, removendo slidos
das etapas anteriores de tratamento (QIN et al., 2007).
Apesar da grande quantidade de estudos relacionando o uso de MBR para o tratamento
de efluentes sanitrios, escassa a literatura referente ao tratamento de efluentes industriais por
sistemas MBR (VIEIRO et al. 2008; QIN et al., 2007).
Os MBRs so amplamente utilizados no tratamento de efluentes domsticos e
municipais devido as seguintes vantagens: operao com cargas orgnicas mais elevadas e, por
consequncia, aumento da relao entre a quantidade de efluente a ser tratado e o volume de
reator; tempos de deteno hidrulicos (TDH) reduzidos, resultando em menor produo de
lodo; possibilidade de operar com baixas concentraes de oxignio dissolvido (OD), havendo
potencial para a realizao simultnea das etapas de nitrificao e desnitrificao em projetos
que operem com elevado TDH; produo de efluente de alta qualidade em termos de turbidez,
bactrias, slidos suspensos totais (SST) e DBO; menor exigncia de espao para o tratamento,
devido ao fato de o sedimentador secundrio no ser necessrio (LAERA et al. 2005; VIEIRO
et al., 2008).
As configuraes de MBR mais comuns relatadas so: biorreator com membrana
submersa e biorreator com membrana em mdulo externo (NG e KIM, 2007; VIEIRO, 2006)
(Figura 2).
-
11 REVISO BIBLIOGRFICA
Figura 2: Representao de um biorreator com membrana de mdulo externo e de um biorreator com
membrana submersa
Fonte: Vieiro, 2006.
No biorreator com membranas internas, a membrana est submersa no reator de lodos
ativados e o filtrado succionado atravs das paredes da membrana. A aerao do sistema evita
que ocorra acmulo de partculas na superfcie da membrana (NG e KIM, 2007).
Segundo Viana (2004), nas configuraes com membranas externas, o mdulo externo
ao reator operado em fluxo cruzado, ou seja, a soluo ou suspenso escoa paralelamente
superfcie da membrana, enquanto o permeado transportado transversalmente. A velocidade
tangencial no mdulo promove a turbulncia prxima membrana, necessria para arrastar as
partculas slidas que tenderiam a se depositar sobre a superfcie da membrana.
Existe ainda um terceiro tipo de reator associado a membranas, onde o mdulo de
membrana se encontra submerso em um tanque prprio e externo ao de aerao. Esta
configurao representada na Figura 3 (LOVATEL, 2011; VERONESE, 2013; DI FABIO
et al., 2013).
Figura 3: Ilustrao esquemtica de uma unidade de tratamento biolgico de efluentes com MBR na
configurao onde o tanque de membranas externo e submerso
Fonte: Lovatel, 2011.
membranas
membranas
-
12 REVISO BIBLIOGRFICA
Existem diversas classificaes para o processo de separao por membranas, variando
em funo de seu material construtivo, da presso aplicada, do fluxo e tambm dos compostos
retidos (METCALF E EDDY, 2003). No Quadro 1 apresentado o resumo dos processos.
Quadro 1: Caractersticas gerais dos diferentes processos de separao por membranas
Processo de
separao
Fora
aplicada
Mecanismo
de
separao
tpico
Dimetro
dos poros
(nm)
Faixa de
operao
tpica
(m)
Descrio do
permeado
Compostos
removidos
Microfiltrao
Presso
hidrosttica
diferencial
ou vcuo
Peneira >50 0,08-2,0 gua +
solutos
SST, turbidez,
protozorios,
algumas
bactrias e vrus
Ultrafiltrao
Presso
hidrosttica
diferencial
Peneira 2-50 0,005-0,2
gua +
pequenas
molculas
Macromolculas,
colides, maioria
das bactrias,
alguns vrus e protenas
Nanofiltrao
Presso
hidrosttica
diferencial
Peneira +
soluo +
difuso
-
13 REVISO BIBLIOGRFICA
Tabela 3: Valores tpicos de A/M, COV e TDH encontrados em sistemas MBR
Parmetros Valores
A/M (kgDQO.KgSSV-1.d-1) 0,01 a 0,15
COV (kgDQO.m-3.d-1) 0,10 a 1,5
TDH (h) 2 a 12
Fonte: Jordo e Pessa, 1997; Von Sperling, 2002.
3.5. MICROBIOLOGIA DE LODOS ATIVADOS
A biodegradao da matria orgnica em processos aerbios realizada por
microrganismos heterotrficos decompositores que metabolizam gorduras, protenas,
carboidratos, cidos nucleicos e outros compostos orgnicos, transformando-os em gs
carbnico e gua (CAVALCANTI, 2012).
Um sistema de lodos ativados apresenta uma grande diversidade de microrganismos,
entre eles procariontes (bactrias), eucariontes (protozorios, nematoides, rotferos e fungos) e
vrus. Os microrganismos mais importantes e numerosos presentes em processos de lodos
ativados so as bactrias, as quais so as prinicipais responsveis pela degradao da matria
orgnica (JORDO et al., 1997; VUKOVIC et al., 2006).
No processo de lodos ativados, os microrganismos so suscetveis s variaes a que
este submetido. A biomassa ativa varia quando parmetros como OD e TDH so modificados.
Tanto o tamanho de flocos como o desenvolvimento das bactrias pode variar (AHMED et al.,
2007).
Esse tipo de modificao pode informar tambm a respeito da presena ou ausncia de
alguns microrganismos que so considerados indicadores de qualidade em um sistema de lodos
ativados (VAZOLLR, 1989).
A mudana na operao da estao de tratamento ou da composio do afluente do
reator pode alterar a comunidade de microrganismos presentes no lodo ativado, influenciando
diretamente o processo de biodegradao e, por consequncia, diminuindo a qualidade do
efluente tratado (MADONI et al., 1996).
Diversos microrganismos so encontrados em processos de lodos ativados. Os
principais so listados a seguir.
Bactrias
So organismos procariticos unicelulares encontrados em processos de lodos ativados
em suspenso, podendo ser bactrias formadoras de flocos ou bactrias filamentosas. As
-
14 REVISO BIBLIOGRFICA
bactrias so os principais agentes de remoo de matria orgnica (VAZOLLR, 1989),
(CAVALCANTI, 2012).
So encontradas principalmente Pseudomonas, Achromobacter, Flavobacterium,
Citromonas, Zooglea, alm de bactrias filamentosas, tais como: Nocardia sp,
Sphaerotilusnatans, Microthrixparvicella, Thiothrix, etc. (VAZOLLR, 1989 e PESTANA,
2013).
Em um processo de tratamento de efluentes de refino de petrleo comum encontrar as
seguintes bactrias: Pseudomonas sp., Acinetobacter sp., Alcaligenes sp., Flavobacterium/
Cytophaga group, Xanthomonas sp., Nocardia sp., Mycobacterium sp., Corynebacterium sp.,
Arthrobacter sp., Comamonas sp., e Bacillus sp. (SHOKROLLAHZADEH et al., 2008).
As bactrias responsveis pelo processo biolgico e presentes no floco geralmente so
heterotrficas e pertencem a diferentes gneros. Quando ocorre a falta de oxignio em um
sistema biolgico gerido por processo aerbio rapidamente leva ao desenvolvimento de
bactrias facultativas ou bactrias anaerbias (VAZOLLR, 1989).
Fungos
Os fungos so microrganismos heterotrficos multicelulares no fotossintticos muito
comuns em um sistema lodos ativados, geralmente aerbios, sendo que os mais comuns so os
Deuteromicetos (fungos imperfeitos). Com maior frequncia so encontrados fungos do gnero
Geotrichum. Os fungos so to eficazes quanto as bactrias na estabilizao da matria orgnica
(VAZOLLR, 1989; CAVALCANTI, 2012).
Protozorios
So unicelulares e macroscpicos e so muito encontrados em processos de lodos
ativados. Alimentam-se de bactrias e de matria orgnica dissolvida e particulada. Podem ser
divididos em ciliados fixos, ciliados livres, predadores de flocos e pedunculados (VAZOLLR,
1989; PESTANA, 2013).
Vukovic et al. (2006) afirmam que um evento de falta de oxignio ou alimento no
processo de lodos ativados pode causar a perda de biomassa ativa no sistema. Em termos
microbiolgicos vrios mecanismos contribuem para a diminuio de biomassa ativa: predao,
respirao endgena, etc.
Porm vale ressaltar que em um processo de MBR as espcies microbianas encontradas
no lodo ativo so bastante similares aos processos de lodos ativados convencionais, mas
-
15 REVISO BIBLIOGRFICA
apresentam algumas particularidades devido a baixa relao A/M e alto TDH. Dessa forma as
bactrias facultativas so majoritrias, visto que apresentam rpida adaptao a condies
adversas ao processo.
3.6. RESPIRAO MICROBIANA
Geralmente o principal objetivo do processo de tratamento de efluentes a remoo da
matria carboncea atravs das bactrias heterotrficas. Estas bactrias convertem a energia das
ligaes intramoleculares do substrato em adenosina trifosfato (ATP). A converso de energia
a partir do substrato para ATP ocorre atravs de uma srie de reaes de oxidao e reduo
(SPANJERS et al., 1996). ATP transferido ao longo da cadeia de transporte de eltrons por
uma srie de reaes metablicas. Se o oxignio o aceptor final de eltrons, o processo
chamado respirao aerbia (VANROLLEGHEM, 2002).
A reao estequiomtrica da oxidao da glicose representa o consumo de oxignio para
que ocorra a oxidao da glicose, onde so necessrios 6 mols de O2 para que ocorra a oxidao
de 1 mol de glicose (SCHMIDELL et al., 2001).
6126 + 62 62 + 62
Com isso, pode-se afirmar a necessidade da constante agitao e aerao de um processo
aerbio (SCHMIDELL et al., 2001).
Porm a remoo de material carbonceo no necessariamente a nica utilizao do
oxignio nos processos. As bactrias autotrficas nitrificantes oxidam o nitrognio amoniacal
a nitrato, utilizando o oxignio como aceptor de eltrons (SPANJERS et al., 1996).
No processo aerbio de tratamento de efluentes, o oxignio dissolvido consumido
pelos microrganismos.
A Equao 4, apresenta a relao entre a velocidade especfica de consumo de oxignio
(SOUR), sigla proveniente do ingls Specific Oxygen Uptake Rate, com a velocidade especfica
de crescimento (). Esta relao estabelece a velocidade especfica de consumo de oxignio
para manter a cultura vivel (SCHMIDELL et al., 2007).
= +1
Equao 4
-
16 REVISO BIBLIOGRFICA
Onde:
mo: coeficiente de manuteno para o O2;
Yo: fator real de converso de O2 para clulas; : velocidade especfica de crescimento.
A velocidade especfica de consumo de oxignio (SOUR) funo da velocidade
especfica de crescimento (). Em funo disso a respirao microbiana afetada pelos mesmos
fatores que afetam o crescimento celular, como a concentrao de substrato e produto, a
concentrao de oxignio dissolvido, o pH e a temperatura (SCHMIDELL et al., 2001).
A Equao 4 pode ser representada pela reta apresentada na Figura 4. A Figura 4
representa que, para uma cultura microbiana se tornar vivel e ocorrer crescimento celular,
necessrio suprir determinada quantidade de oxignio dissolvido, representado pelo coeficiente
de manuteno (mo) (SCHMIDELL et al., 2001).
Figura 4: Relao entre a velocidade especfica de consumo de oxignio (SOUR) e a velocidade especfica de
crescimento (x)
Fonte: adaptado de Schmidell et al., 2001.
De acordo com Van Haandel e Marais (1999), a velocidade de crescimento de
microrganismos proporcional taxa de metabolismo ou utilizao do substrato pelos
microrganismos. Na Equao 4, pode-se considerar a velocidade especfica de consumo de
oxignio como proporcional a velocidade de crescimento dos microrganismos. Isso se deve ao
fato que nos ensaios de respirometria aerbia, determinado o consumo mximo de oxignio,
e no somente o consumo devido a respirao endgena. Desta forma o coeficiente de
manuteno desconsiderado, por ser um valor muito reduzido se comparado a SOUR.
-
17 REVISO BIBLIOGRFICA
Quando isto considerado pode-se afirmar que gerado um consumo de oxignio pelos
microrganismos, o qual pode ser descrito em funo da SOUR, descrita pela Equao 5
(SCHMIDELL et al., 2007).
=1
2
Equao 5
Onde: SOUR: velocidade especfica de consumo de oxignio;
X: concentrao celular;
dO2/dt: velocidade de consumo de O2.
Outro mtodo de interpretar os dados dos ensaios de respirometria apresentado por
Spanjers et al. (1996), onde feito o balano de massa do reator onde o ensaio conduzido.
Considera-se um sistema com uma fase lquida e uma fase gasosa, homogeneamente
misturadas, onde a concentrao de OD na fase lquida pode ser medida. O balano de massa
encontra-se na Equao 6 (SPANJERS et al., 1996).
(. ) = . . + . . ( ) .
Equao 6
Onde:
VL: volume da fase lquida;
C: concentrao de OD na fase lquida;
Qi: vazo afluente ao reator;
Ci: concentrao de OD no afluente;
QS: vazo de sada do reator;
Kla: coeficiente de transferncia de oxignio;
CS: concentrao de saturao de OD;
OUR: velocidade de consumo de oxignio.
Foi considerado que o volume de lquido no possua fluxo de gases, podendo assim,
simplificar os trs primeiros termos da equao. Considerando que ao ser interrompida a
aerao, a transferncia de oxignio para o lquido foi nula (Kla = 0), o valor da OUR foi obtido
atravs da inclinao da reta OD em funo do tempo (Equao 7) (SPANJERS et al., 1996).
=
Equao 7
A Figura 5 representa como foi calculada a taxa de respirao, destacando que a
inclinao da reta OD versus tempo o valor da OUR.
-
18 REVISO BIBLIOGRFICA
Figura 5: Perfil de variao de OD em relao ao tempo no clculo da OUR
OD
(mg/L)
Tempo
(s)
=
OUR
Aerao
interrompida
Fonte: o autor, 2012.
A SOUR foi calculada pela Equao 8.
=
[]
Equao 8
Onde:
SOUR: velocidade de consumo especfico de oxignio;
SSV: concentrao de slidos suspensos volteis.
Assim, o comportamento do sistema pode ser observado atravs do teste de
respirometria aerbia, onde a velocidade especfica de consumo de oxignio (SOUR) o
principal parmetro de monitoramento. A resposta na queda de SOUR, com diferentes
parmetros de projeto, como a COV, TDH e A/M vem a ser importante para que se obtenha um
projeto de um sistema de tratamento com elevadas eficincias de remoo de matria orgnica.
Strotmann et al. (1998) testaram, em um processo de tratamento por lodos ativados
utilizando efluente sanitrio, a variao da OUR com adio de acetato como substrato para os
testes respiromtricos. Foi verificado que em valores muito baixos de A/M, na faixa de 0,01 a
0,07 kgDQO.KgSSV-1.d-1, foram encontrados valores muito abaixo da normalidade para a
OUR. J quando estes valores se aproximaram de 0,1 kgDQO.KgSSV-1.d-1, um acrscimo
considervel na OUR foi percebido. (43 mg.L-1.h-1, 42 mg.L-1.h-1 e 58 mg.L-1.h-1
respectivamente).
Tempo (s)
OD (mg.L-1)
-
19 REVISO BIBLIOGRFICA
3.6.1. Efeito do oxignio dissolvido na respirao microbiana
No processo aerbio, o oxignio o substrato chave utilizado para o crescimento,
manuteno e sntese de produtos. Devido reduzida solubilidade, o oxignio deve ser
continuamente provido ao sistema (GARCIA-OCHOA et al., 2010).
Para a realizao do tratamento biolgico aerbio de efluentes, onde h presena de
clulas aerbias e anaerbias facultativas, sendo estas ltimas as que prevalecem em um
processo gerido por MBR, necessrio um adequado dimensionamento do sistema de
transferncia de oxignio para o meio lquido, onde o microrganismo consumir o oxignio
dissolvido para a sua respirao (SCHMIDELL et al., 2001).
O oxignio consumido geralmente depende dos seguintes fatores: respirao celular e
nitrificao. Para a realizao da aerao do processo, so geralmente utilizados aeradores
mecnicos que demandam energia para o seu funcionamento. E quando considerada a
remoo de nitrognio no processo, ocorre uma demanda de oxignio para que ocorra a
nitrificao. Isto torna o consumo de energia eltrica um dos principais fatores que acarretam
custos ao processo (COSTA et al., 2001).
Biorreatores associados a membranas ainda so vistos como opes de alto custo, tanto
pelas despesas de funcionamento e instalao quanto a demanda de oxignio dissolvido para o
tanque de membranas, o que torna a demanda energtica superior ao processo de lodos ativados
convencional (VERRECHT et al., 2010).
A Figura 6 mostra a distribuio do consumo energtico em um MBR operando em
condies normais.
Figura 6: Representao do consumo energtico em um MBR
Fonte: Verrecht et al., 2010.
Aerao das membranas Aerao para remoo biolgica Bombas de recirculao Mistura Bombas de permeao
-
20 REVISO BIBLIOGRFICA
Conforme Germain e Stephenson (2005), a tecnologia MBR uma alternativa ao
tratamento convencional de efluentes, entretanto, esse processo apresenta elevados custos,
principalmente com a aerao do sistema, usada para suprir a necessidade de oxignio
dissolvido para os microrganismos e para manter os slidos em suspenso. Para tanto
necessrio estudar a influncia do oxignio dissolvido no processo de tratamento, visando
minimizaes de custos e aumento da eficincia do processo e tambm para que possam ser
entendidas as correlaes entre os microrganismos e a falta de oxignio dissolvido no processo
de tratamento.
Pode ser observado na Figura 6 que o consumo de 11% de energia destinada aerao
para remoo biolgica o mesmo para o processo de lodos ativados convencional; j no MBR
o consumo energtico 74% superior devido aerao das membranas.
Apesar das afirmaes apresentadas, deve-se considerar que o gasto com a aerao do
sistema MBR para garantir as reaes aerbias (oxidao da matria orgnica e nitrificao)
bastante similar ao processo convencional de lodos ativados. O que diferencia os custos entre
o processo convencional e o MBR a aerao do tanque de membranas, usada para evitar a
deposio de slidos no mesmo e a incrustao de slidos nas membranas filtrantes.
3.6.2. Efeito do nitrognio amoniacal na respirao microbiana
O nitrognio representa 78% em volume na atmosfera e est presente em protenas de
essencialmente os organismos vivos e como nitratos em depsitos minerais. Na matria
orgnica, ele sofre decomposio desde protenas complexas a aminocidos, amnia, nitritos e
nitratos (CAVALCANTI, 2012).
Segundo Zarooni e Elshorbagy (2006), o nitrognio amoniacal a forma mais comum
de nitrognio presente no efluente proveniente do refino de petrleo. Este proveniente da
injeo de amnia (NH3) no topo da coluna de fracionamento para neutralizar o cido sulfdrico
(H2S) e na hidrogenao do nitrognio orgnico quando o petrleo refinado.
Grandes quantidades de amnia podem ser lanadas nos corpos receptores e influenciar
de forma direta a dinmica do oxignio dissolvido no meio aqutico, podendo causar a
eutrofizao do meio (WANG et al., 2010).
Por outro lado, em um sistema de tratamento de efluentes, o nitrognio deve ser
fornecido de forma a suprir a relao C/N para que ocorra a nitrificao e desnitrificao.
Faz- se necessrio ento, conhecer de forma detalhada, as demandas do processo biolgico de
tratamento (FANG et al., 1993).
-
21 REVISO BIBLIOGRFICA
Conforme Serra et al. (2003), necessrio, em um tratamento biolgico de efluentes
industriais, a adaptao da populao microbiana a compostos txicos, para que ela seja eficaz no
momento que necessrio degrad-los, garantindo assim um bom desempenho no processo. Na
presena de substncias orgnicas txicas, a adaptao dos microrganismos poderia levar um
perodo relativamente longo. Porm, este tempo necessrio para a recuperao da atividade
bacteriana.
Muitos estudos so relatados quanto ao impacto de altas concentraes de nitrognio
amoniacal na nitrificao. Entretanto, pouco ainda conhecido sobre a inibio e resistncia de
lodos ativados na presena de altas concentraes deste composto. (CAMPOS et al., 2002;
SPAGNI e MARSILI-LIBELLI, 2009; WANG et al., 2007).
A amnia pode existir tanto na forma livre (NH3) como na forma ionizada (NH4+)
(CAVALCANTI, 2012). Uma considerao importante a se fazer quando considerado o efeito
inibidor da amnia, o pH do meio estudado. Quanto maior for o pH maior a concentrao da
forma no ionizada da amnia (NH3) e, quanto menor o pH, maior a concentrao de on amnio
(NH4+) (TISDALE et al.,1985), conforme apresentado na Figura 7.
Figura 7: Variao da concentrao de NH3 e NH4+em funo do pH
Fonte: Cavalcanti, 2012.
Elevaes do pH deslocam o equilbrio qumico no sentido da amnia no ionizada, a
poro mais txica do composto.
Fra
o m
ola
r
pH
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22 REVISO BIBLIOGRFICA
3 +2
+
4+ +
O on amnio no txico e no causa problemas para os organismos, enquanto que a
forma no ionizada tem efeito txico (REIS E MENDONA, 2009). Erickson (1985) afirma
que uma pequena poro da toxicidade pode ser atribuda a forma ionizada da amnia, porm,
a forma no ionizada a mais txica.
Wang et al. (2010), afirmam que a microfauna do lodo ativado capaz de resistir s
elevadas concentraes de nitrognio amoniacal (cerca de trs vezes superior do que as
bactrias so aclimatadas), tornando evidente que elevadas concentraes de nitrognio, em pH
neutro, no causa o efeito txico esperado, podendo ento uma planta de tratamento receber
essas substncias sem que ocorram prejuzos significativos na eficincia do tratamento.
A remoo de nitrognio em sistemas MBR ocorre com a nitrificao da amnia e
posterior desnitrificao. Os processos, basicamente, podem contemplar duas configuraes:
uma onde o reator anxico precede o reator aerbio e outra onde o reator aerbio precede o
reator anxico.
A nitrificao da amnia ocorre em duas etapas distintas, primeiro h a oxidao da
amnia para nitrito atravs da atividade da bactria Nitrosomonas e segundo o nitrito oxidado
a nitrato atravs da atividade da bactria Nitrobacter (FANG et al., 1993).
24+ + 32
22
+ 4+ + 22
22 + 2
23
H uma competio entre as bactrias heterotrficas e nitrificantes por oxignio e espao.
Esta competio pode resultar na resistncia ao consumo e a transferncia de massa, afetando
negativamente a nitrificao e a remoo de matria orgnica (NOGUEIRA et al., 2002).
Hee-Jun et al. (2003), tambm afirmam que as substncias orgnicas so preferencialmente
utilizadas pelas bactrias heterotrficas como uma fonte de carbono, ocorrendo assim uma
competio entre as bactrias nitrificantes e heterotrficas pelo oxignio dissolvido disponvel no
reator.
-
23 REVISO BIBLIOGRFICA
3.6.3. Efeito do sulfeto na respirao microbiana
Compostos de enxofre so provenientes de despejos de inmeras atividades industriais,
tais como: curtumes, fbricas de celulose, indstrias txteis, etc. (CAVALCANTI, 2012).
Segundo Altas e Buyukgungor (2007) os efluentes provenientes do refino de petrleo
apresentam grandes fraes de hidrocarbonetos, nitrognio e enxofre, na forma de nitrognio
amoniacal e sulfeto de hidrognio (H2S), respectivamente. A concentrao de sulfeto neste
efluente pode variar de 1 a 150mg.L-1.
O H2S um composto altamente txico que pode ser formado no processo de tratamento
biolgico, prejudicial ao meio aqutico em concentraes muito baixas e tem causado a
mortalidade em massa de peixes. O limite tolerado pelos microrganismos de no mximo
0,5 ppm (ALTAS e BUYUKGUNGOR, 2007).
Considerado um gs txico e altamente corrosivo, o H2S, pode causar problemas
ambientais e econmicos como, por exemplo, na rede de esgotos, campos de petrleo e em
petroqumicas (VAIOPOULOU et al., 2005).
Os ons de sulfeto em fase lquida podem causar diversos problemas no processo de
tratamento biolgico. Tais como inibio da nitrificao, crescimento de bactrias filamentosas,
destruio dos flocos e diminuio da eficincia (VANNINI et al., 2008).
Quando busca-se estudar toxicidade do sulfeto em um processo de tratamento contendo
microrganismos deve-se levar em considerao o pH do meio. Conforme apresentado na Figura
8, no valor de pH 7,5, comumente utilizado em processos de lodos ativados, pode-se constatar
que 25% do enxofre est na forma do gs sulfdrico (H2S) e 75% est na forma ionizada HS-.
Figura 8: Influncia do pH sobre o equilbrio do sulfeto na gua
Fonte: Beal 2004, apud Aloy et al. 1976.
AdministradorRealce
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24 REVISO BIBLIOGRFICA
O pH um fator fundamental na formao do gs sulfdrico, sendo este altamente txico
aos seres vivos. Em pH superior a 9 predominam as espcies em equilbrio S2-e HS- sendo a
frao de H2S muito baixa. Ao contrrio, em pH cido, predomina o H2S voltil e txico
(CAVALCANTI, 2012). Atravs das reaes de dissociao do sulfeto, pode-se perceber a
dependncia do composto em relao ao pH.
2
1 + +
1 =[][+]
[ 2 ]
2 2 + +
1 =[2][+]
[]
O processo de remoo biolgica de sulfato composto pelos seguintes processos:
reduo de sulfato a sulfeto de hidrognio (fase anaerbia), oxidao do sulfeto de hidrognio
para enxofre elementar (fase aerbia). Este processo deve ocorrer a fim de remover o excesso
deste composto antes que ocorra o lanamento do efluente no meio ambiente. As reaes a
seguir representam o processo.
2 + 2 20 + 2
2 + 42 242 + 2+
A oxidao do sulfeto em ambientes aerbios favorecida pela presena de metais que
catalisam esta reao. Alguns destes metais esto presentes no efluente de refinaria de petrleo.
A presena desses catalisadores faz com que a oxidao do sulfeto ocorra de forma mais rpida,
podendo influenciar na velocidade de consumo de oxignio pelas bactrias. A Tabela 4
apresenta alguns dos metais tipicamente encontrados neste efluente.
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25 REVISO BIBLIOGRFICA
Tabela 4: Metais e suas concentraes tipicamente encontradas no efluente de refinaria de petrleo
Metal Concentrao mdia (mg.L-1)
Cdmio 0,04
Cromo 0,28
Cobre 0,07
Chumbo 0,23
Nquel 0,11
Zinco 0,17
Fonte: Adaptado de Braile e Cavalcanti, 1979.
Na bibliografia encontram-se estudos relatando mtodos de oxidao de sulfetos atravs
de oxidao utilizando compostos metlicos como ferro, clcio, cromo, nquel, mangans e
zinco (SILVA, 2005; GUIMARES, 2010).
3.6.4. Efeito dos metais no lodo ativado
Alm do efeito catalisador, os metais pesados como chumbo, ferro, cdmio e cobre, so
encontrados no efluente do refino de petrleo e geralmente liberados no meio ambiente,
podendo acarretar em consequncias gravssimas como: intoxicao dos microrganismos
aquticos; modificaes na fauna e flora e reduo da populao presente no meio aqutico
(MARIANO, 2001).
Com o desenvolvimento das indstrias modernas, tais como petroqumicas, produtos
qumicos e processamento mineral, grande quantidade de efluentes com altas concentraes de
metais so gerados (HAN et al., 2013). Metais como, nquel, zinco, cobre e mangans, so
frequentemente encontrados em efluentes industriais (ARICAN et al., 2002; GIKAS, 2007).
Metais pesados so txicos quase todos os microrganismos, em concentraes
especficas, e podem causar uma srie de problemas ao processo biolgico de lodos ativados.
A toxicidade depende de dois fatores primordiais, a espcie e a concentrao deste metal
(ARAGN et al., 2010).
Madoni et al. (1998), afirmam que existem muitos estudos em que relatada a
toxicidade de metais pesados no tratamento biolgico de efluentes. Brown e Lester (1982)
recomendam a remoo dos metais antes do processo de tratamento por lodos ativados, visto
que este pode prejudicar a eficincia do mesmo e tambm importante para manter a qualidade
dos corpos receptores.
Metais pesados em sistema de tratamento biolgico podem causar o decaimento da
atividade biolgica e, consequentemente, diminuir a eficincia do processo (GIKAS, 2007;
CAVALCANTI, 2012).
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26 REVISO BIBLIOGRFICA
3.6.5. Efeito do fenol na respirao microbiana
Fenis so compostos que apresentam o grupo hidroxila (OH-) ligados ao tomo de
carbono em um anel aromtico. So altamente solveis em gua, lcool, benzeno e outros
solventes orgnicos (CAVALCANTI, 2012).
Pode ser proveniente da destilao da madeira, refinarias de petrleo, siderrgicas,
plantas qumicas ou de esgotos sanitrios (CAVALCANTI, 2012).
O fenol um composto orgnico aromtico de mdio carter txico presente em
efluentes de diferentes indstrias. Quando existe a presena de nitrognio e fenol, deve-se
prever no tratamento a remoo simultnea dos dois compostos. Na presena de fenol, mesmo
em baixas concentraes, o processo de nitrificao pode ser inibido (AMOR et al., 2005).
Devido sua toxicidade, o fenol deve ser removido dos efluentes durante o processo de
tratamento. A exposio pode se dar atravs de inalao, causando dificuldades de respirao,
paralisia, irritao de mucosas; ingesto, queimaduras na boca e garganta, tremores e
convulses; contato pela pele, queimaduras e absoro, dermatites e erupes (TAKESHITA,
2003).
Fenis so geralmente considerados os poluentes orgnicos mais perigosos encontrados
no efluente de refinaria de petrleo e podem causar eventos de alta toxidez mesmo em baixas
concentraes (EL-NAAS, 2010).
Cavalcanti (2012), afirma que altas concentraes de fenis (a partir 200 mg.L-1) podem
prejudicar o processo de tratamento biolgico de efluentes, exigindo uma maior atividade das
bactrias no aclimatadas ou diminuindo a eficincia do processo. Em processos biolgicos de
tratamento de efluentes por lodos ativados, concentraes de fenis na faixa de 50 a 200 mg.L-
1trazem inibio da atividade microbiana, sendo que 40 mg.L-1 so suficientes para a inibio
da nitrificao.
3.7. MECANISMOS DE DETERMINAO DE OUR
Em processos aerbios, o oxignio fundamental na manuteno do crescimento e
sntese do produto. Devido a sua baixa solubilidade, o oxignio deve ser continuamente
fornecido, tornando assim o conhecimento da taxa de transferncia de oxignio (ORT), sigla
proveniente do ingls Oxygen Transfer Rate, necessria para o projeto de biorreatores e o scale-
up do mesmo. A concentrao de oxignio dissolvido no meio depende diretamente do OTR e
da OUR (GARCIA-OCHOA et al., 2010).
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27 REVISO BIBLIOGRFICA
Diversos mtodos so encontrados na bibliografia referente ao clculo da OUR, com
destaque para (REN, 2004; GARCIA-OCHOA et al., 2010):
balano gasoso
determinao atravs do coeficiente de rendimento
determinao atravs da velocidade de transferncia de oxignio
respirometria aerbia.
Entre estes, ser abordado de forma mais aprofundada o ensaio de respirometria aerbia.
3.7.1. Respirometria aerbia
A respirometria aerbia comumente utilizada para medir a respirao de
microrganismos em sistemas de tratamento de efluentes. De acordo com o princpio da
respirometria aerbia, a velocidade de consumo de oxignio est associada velocidade de
consumo de substrato. Este ensaio consiste na medio e na interpretao da velocidade de
consumo de oxignio, OUR, pelos microrganismos presentes na biomassa. Quando a
velocidade representada por unidade mssica de biomassa, avalia-se ento a velocidade de
consumo especfico de oxignio, SOUR, a qual mais consistente, pois independe da
concentrao de biomassa utilizada nos testes (SPANJERS et al., 1996; VANROLLEGHEM,
2002).
Na bibliografia encontra-se relatado os primeiros estudos de respirometria aerbia por
Jenkis (1960) e Montgomery (1967). Esse mtodo, no qual utilizada uma sonda para a
determinao da concentrao de oxignio dissolvido, denominado mtodo dinmico
(SCHMIDELL et al., 2001). Em um determinado instante, a aerao do sistema interrompida
de forma a anular a transferncia de oxignio, verificando-se, assim, o consumo de oxignio
pelas bactrias heterotrficas.
Este mtodo relatado na bibliografia difere da respirometria aerbia apenas pelo fato de
as medies de oxignio dissolvido serem realizadas diretamente no reator, enquanto na
respirometria aerbia as medies so realizadas, em batelada, com amostras retiradas do
processo de tratamento. O procedimento deve levar um tempo relativamente curto, dependendo
da concentrao celular existente, podendo assim supor que no ocorre alterao na
concentrao celular no interior do reator.
Nos processos de tratamento de efluentes, a remoo de matria orgnica pode ocorrer
por processos aerbios ou processos anaerbios, a partir da converso da matria orgnica em
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28 REVISO BIBLIOGRFICA
compostos mais simples. Um processo de tratamento com lodos ativados depende das reaes
microbiolgicas aerbias para a remoo do material orgnico. A taxa com que esse material
removido est ligada diretamente velocidade de consumo de oxignio, tornando o oxignio
uma varivel crtica para a operao de tal sistema (CHIESA et al., 2007).
A respirometria aerbia uma tcnica que permite medir a intensidade da respirao
dos microrganismos aerbios, indicando alteraes metablicas mediante o contato com
diversos poluentes. Segundo Vanrolleghem (2002), a respirao celular est ligada converso
do substrato e ao crescimento celular; porm, como no possvel medir a velocidade de
respirao no interior da clula, necessrio recorrer-se medio da OUR.
3.7.1.1. Ensaios de respirometria aerbia
Para a determinao da SOUR atravs dos ensaios de respirometria aerbia dois fatores
devem ser considerados:
a fonte de carbono utilizada no ensaio deve ser sempre a mesma, assim como as
concentraes de DQO para que possa ser realizada uma comparao entre
diferentes ensaios realizados em diferentes perodos de operao do processo de
tratamento. O acetato de sdio comumente utilizado neste tipo de ensaio, devido a
sua fcil biodegradabilidade pelas bactrias heterotrficas (HAGMAN E JANSEN,
2007).
pH deve ser mantido na faixa utilizada no processo de tratamento de onde a biomassa
retirada para a realizao dos ensaios (HAGMAN E JANSEN, 2007).
3.7.1.2. Fatores que devem ser considerados durante o ensaio de respirometria aerbia
Alguns cuidados devem ser tomados durante os ensaios destinados obteno dos dados
de velocidade de consumo de oxignio para o meio lquido:
o meio lquido deve ser mantido sob agitao constante para que a difuso seja o
mais homognea possvel, a fim de que no ocorra sedimentao do lodo no decorrer
do teste;
o sensor de oxignio dissolvido deve ser posicionado em local onde o difusor de ar
no crie acmulo de bolhas sobre a membrana do sensor, esse acmulo resultaria
em uma leitura que no representaria as condies do meio;
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29 REVISO BIBLIOGRFICA
deve-se evitar o derramamento do contedo dos reatores utilizados no ensaio para
que o volume de controle no seja alterado;
o reator tem que possuir a menor rea possvel de interface lquido-atmosfera, a fim
de evitar a difuso dos gases para o meio lquido.
3.7.1.3. Respirometria aerbia como ferramenta para detectar toxicidade
Pode-se utilizar o teste de respirometria aerbia como uma ferramenta para monitorar o
processo de tratamento de efluentes, detectando-se, atravs dela efeitos adversos e inibitrios
causados por compostos txicos biomassa do sistema. Desde 1960 esta tcnica vem gerando
muito interesse para o monitoramento do processo de tratamento de efluentes (COPP E
SPANJERS, 2002). A respirometria aerbia uma ferramenta til para avaliao do
desempenho do processo de tratamento, fornecendo informaes sobre as caractersticas e
degradabilidade (HAGMAN E JANSEN, 2007).
Segundo Santos (2007), a SOUR serve como parmetro fundamental para a avaliao
de efeitos txicos de determinados compostos sobre a atividade microbiana. Assim, estes efeitos
podem ser detectados atravs da alterao no valor da SOUR.
Conforme Copp e Spanjers (2004), os componentes txicos em uma planta de
tratamento, acabam sendo detectados dias depois quando outros ensaios podem ser realizados,
o que torna assim, a respirometria uma ferramenta til que fornece dados sobre toxicidade de
forma mais rpida. Deste modo, testes regulares de respirometria so necessrios para a
deteco da possvel presena destes compostos no processo de tratamento.
Algumas substncias podem se tornar txicas para os microrganismos heterotrficos
causando inibio no processo de lodos ativados. Esta diminuio pode ocorrer pela diminuio
da atividade enzimtica, o que pode acarretar em uma reduo na velocidade de consumo de
oxignio e no crescimento celular (PICKBRENNER, 2002). Fernandes et al. (2001) e Ricco
et al. (2004), afirmam que a respirometria aerbia um teste confivel para a deteco rpida
de possveis efeitos inibitrios no processo de tratamento.
A inibio ocorre em decorrncia de um impacto adverso sobre a biomassa no sistema
de tratamento biolgico, como, por exemplo, a presena de elevadas concentraes de
nitrognio amoniacal ou at de elevadas concentraes de sulfetos. Podem, assim, ocorrer
perdas da biomassa, influenciando diretamente na eficincia do processo de lodos ativados.
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30 REVISO BIBLIOGRFICA
Muitas vezes, conhecendo-se o efeito inibidor, podem-se reduzir significativamente os
problemas encontrados nas estaes de tratamento de efluentes.
Segundo Spanjers et al.(1996), desde o descobrimento do sistema de lodos ativados no
incio do Sculo XX, a velocidade de consumo de oxignio tem sido usada como um importante
indicador das condies do processo de tratamento.
Existem muitos relatos na literatura sobre a mitigao dos efeitos inibitrios em um
processo de tratamento de efluentes; porm, quando se trata do uso da tcnica respiromtrica o
volume de trabalhos publicados diminui substancialmente (COPP E SPANJERS, 2004).
3.8. TIPOS DE RESPIRMETROS
O equipamento utilizado para medir a taxa de respirao denominado respirmetro,
consistindo em uma cmara de respirao e um equipamento para avaliar a variao do oxignio
dissolvido.
Os respirmetros podem variar desde equipamentos de fcil operao, como garrafas de
DBO, at equipamentos totalmente automatizados, que realizam amostragens, calibraes e
clculos, porm todos so compostos por um reator, separados ou no do processo de tratamento
de efluentes, onde diferentes compostos (biomassa, substrato, etc.) so colocados juntos
(SPANJERS et al., 1996).
Todos os respirmetros so baseados em uma tcnica de medio do oxignio, sendo na
fase gasosa ou dissolvido na fase lquida, possuindo fluxo de lquido ou de gs, ou esttico
(VANROLLEGHEM, 2002).
Ros (1993) divide os respirmetros em dois tipos:
fechados, que no permitem a troca de material com o meio externo, podendo ser
manomtricos, volumtricos ou combinados. Como exemplo tem-se o frasco de
DBO;
abertos, que permitem trocas de material com o meio, podendo ser contnuo ou
semicontnuo.
3.8.1. Variaes no princpio de medio dos respirmetros
Alm das caractersticas dos tipos de respirmetros, pode ser variado o gs e o lquido
a ser introduzido no meio. Assim, a OUR pode ser medida de quatro maneiras diferentes
(GERNAEY et al., 2001):
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31 REVISO BIBLIOGRFICA
gs esttico e lquido esttico, que, neste caso, no possui fluxo de ar e nem de
lquido no interior dos reatores utilizados para o teste de respirometria;
gs varivel e lquido esttico, que, neste caso, possui fluxo de gs e no possui
fluxo de lquido no interior dos reatores utilizados para o teste de respirometria;
gs esttico e lquido varivel, onde no h fluxo de gs e possui fluxo de lquido
no interior dos reatores utilizados para o teste de respirometria;
respirmetro hbrido que neste caso possui fluxo de gs e fluxo de lquido no
interior dos reatores utilizados para o teste de respirometria. Estes respirmetros
so equipados com duas sondas de OD.
As vantagens e desvantagens de cada mtodo de medio esto apresentadas no Quadro
2.
Quadro 2: Comparao dos diferentes tipos de medio de OUR nos respirmetros
Tipo de medio Vantagens Desvantagens
Gs esttico e lquido esttico Facilidade de operao Pode ocorrer supersaturao do meio
Baixa frequncia de medio da OUR
pois apenas um valor obtido por
aerao
Gs varivel e lquido esttico Alta frequncia de medio da OUR necessrio estimar KLa
Gs esttico e lquido varivel No necessrio estimar KLa Baixa frequncia de medio da OUR
Respirmetro hbrido No necessrio estimar KLa
Alta frequncia de medio da OUR
pois devido as duas sondas de OD,
mais de uma OUR obtida por ensaio
necessria mais de uma sonda de
oxignio dissolvido para a medio
Fonte: adaptado de GERNAEY et al., 2001.
-
32 MATERIAIS E MTODOS
4. MATERIAIS E MTODOS
As atividades relacionadas execuo dos ensaios de respirometria aerbia foram
desenvolvidas no Laboratrio de Tecnologias Ambientais, localizado na Universidade de
Caxias do Sul.
Para a realizao dos experimentos planejados nesta pesquisa foram utilizados dois tipos
de efluentes. O primeiro um efluente de refino de petrleo e o segundo um efluente
proveniente de sanitrios e refeitrio de uma indstria de embalagens de papelo ondulado.
4.1. ESTAO DE TRATAMENTO DE GUAS RESIDURIAS EXPERIMENTAL
Uma estao de tratamento de guas residurias experimental (ETAR) foi instalada no
laboratrio para a realizao dos testes, a qual consiste em um modelo fsico reduzido da nova
estao de tratamento de despejos industriais (ETDI) da REVAP (Figura 9).
Esta ETDI utiliza biorreatores associados a membranas, sob condies de contribuies
de correntes tpicas de salmoura do tanque dreneiro, guas fenlicas, guas cidas retificadas,
soda gasta (sulfdrica e fenlica) e drenagens amnicas (monoetanolamina MEA e
dietanolamina - DEA).
Figura 9: Estao de tratamento de guas residurias experimental
Fonte: Veronese, 2013.
Reator Aerbio Reator Anxico
Tanque de
membranas
gua para
retrolavagem NaOH 0,15N
H2SO4 0,15N
-
33 MATERIAIS E MTODOS
A ETAR experimental deste trabalho (Figura 9) composta de um reator anxico, com
volume til de 1,6 litros, um reator aerbio com volume til de 3,2 litros e um tanque de
membranas com volume til 3 litros, onde esto instalados em paralelo dois mdulos de
membranas de ultrafiltrao, produzidos pela General Eletric (GE), modelo Zee Weed ZW 1-3
em PVDF (Fluoreto de Polivinilideno) (Figura 10b) com o dimetro mdio dos poros de
0,04 m (Figura 10b).
A operao da ETAR ocorre de forma automtica, conduzida por um programa
supervisrio (Figura 10a) onde este faz o controle das bombas de alimentao, agitao, aerao
e a dosagem de cido sulfrico (H2SO4) 0,15 N e hidrxido de sdio (NaOH) 0,15N para manter
o pH prximo a 7,5.
Existe um reciclo do reator aerbio para o reator anxico, um reciclo do tanque de
membranas para o reator aerbio, a suco de permeado nos mdulos de membranas e a
retrolavagem das membranas foi realizada atravs da utilizao de bombas dosadoras
peristlticas.
Foram utilizados dois agitadores do tipo ps planas com motores eltricos para a
promoo de mistura completa no interior dos reatores anxico e aerbio. No tanque de
membranas, a mistura era realizada atravs do fluxo de ar comprimido em uma pedra porosa.
Figura 10: Programa supervisrio (a) e mdulo de membrana (b)
Fonte: Veronese, 2013.
a b
-
34 MATERIAIS E MTODOS
4.2. EFLUENTE PROVENIENTE DE UMA INDSTRIA DE EMBALAGENS DE
PAPELO ONDULADO
O efluente sanitrio gerado no refeitrio, banheiros, pias, bebedouros e mquinas de caf.
A Figura 11 representa o layout do processo de tratamento.
Figura 11: Fluxograma da estao de tratamento de efluentes sanitrios da indstria de fabricao de
embalagens de papelo ondulado.
Fonte: Missiagia, 2013.
A biomassa foi coletada diretamente do reator aerbio do processo de lodos ativados.
Refeitrio
Caixa de gordura
Banheiros, pias, bebedouros e
mquinas de caf
Tanque sptico
Tanque de
equalizao
Seletor anxico
Lodos ativados com
aerao intermitente
Sedimentador
secundrio
Filtros de areia
Filtros de carvo
Filtros de carvo
Lanamento em
guas superficiais
Reuso na
elaborao de cola
Tanque de lodo
Filtro- prensa
Beneficiamento
Coleta do
efluente
para os
testes
Coleta de biomassa
para os testes
-
35 MATERIAIS E MTODOS
Na Figura 12 pode-se verificar uma imagem superior do processo de lodos ativados da
indstria.
Figura 12: Reator de lodos ativados da indstria de fabricao de embalagens de papelo ondulado
Fonte: Missiagia, 2013.
4.3. EFLUENTE E BIOMASSA
O efluente industrial foi coletado aps o separador API da ETDI da REVAP e
associado ao efluente domstico. Este efluente era armazenado em tanques com volume de 1 m3
cada.
Ao longo dos estudos foram utilizadas diferentes remessas de efluente e biomassa, visto
que, devido ao espao disponvel no laboratrio, o efluente s poderia ser armazenado por
alguns meses e a biomassa era reposta ao sistema sempre que ocorriam problemas operacionais
da ETAR. Foram realizadas caracterizaes peridicas do efluente, uma vez que seu
armazenamento causava diminuio das cargas orgnicas e nitrogenadas.
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36 MATERIAIS E MTODOS
A biomassa utilizada nos ensaios respiromtricos de avaliao dos efeitos da variao
no tempo de deteno hidrulico na ETAR e da influncia do oxignio dissolvido, foi retirada
do reator aerbio da ETAR. Para os testes que avaliaram os compostos potencialmente
inibitrios, a biomassa foi retirada da mesma ETDI e acondicionada em um tambor com aerao
contnua e alimentao diria.
Devido s dificuldades de se obter uma nova remessa de efluente e biomassa
proveniente do refino de petrleo e visando consolidar a metodologia para os testes
respiromtricos, nova biomassa e novo efluente foram utilizados para a realizao dos testes de
metais e fenol.
Esta nova biomassa foi proveniente do reator aerbio da estao de tratamento de
efluentes sanitrios e do refeitrio de uma indstria de embalagens de papelo ondulado.
4.4. RESPIRMETRO
O respirmetro utilizado nos ensaios do tipo fechado composto por garrafas de DBO5
(Figura 13) e a leitura da concentrao de oxignio dissolvido foi efetuada atravs de sondas de
oxignio dissolvido (Figura 14) da marca Mettler Toledo (InPro 6050/120) e os dados foram
obtidos atravs um equipamento denominado OD_Logger (Figura 15) desenvolvido pela
empresa TrendTech de Caxias do Sul/RS. Este equipamento foi desenvolvido para ler e registrar
automaticamente a concentrao de oxignio dissolvido de at cinco reatores, simultaneamente.
Figura 13: Respirmetro em garrafas de DBO, durante ensaio de OUR
Fonte: o autor, 2012.
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Figura 14: Sensores de oxignio dissolvido Figura 15: Tela inicial do software OD_logger
Fonte: o autor, 2012. Fonte: o autor, 2012.
4.5. PREPARAO DO ENSAIO DE RESPIROMETRIA
Previamente realizao do teste, foi necessrio um perodo de ambientao da
biomassa. Esta etapa serve para que ocorra qualquer degradao orgnica que venha a interferir
no resultado do teste e tambm para que a biomassa se adapte nova fonte de carbono que
utilizada nos ensaios (MALAMIS et al., 2011). Para tanto, uma parcela do contedo do reator
aerbio com concentrao conhecida de biomassa foi coletada e transferida para um bquer e
mantida sob aerao por um perodo de aproximadamente 12 horas, na presena de uma
quantidade de acetato de sdio determinada atravs da relao A/M de 0,1 kgDBO.kgSSV-1.d-
1. Aps, realizou-se a transferncia para uma garrafa de DBO5, juntamente com um agitador
magntico e um aerador.
4.5.1. Etapas do ensaio de respirometria
Primeiramente, foi feita a aerao da mistura biomassa/efluente at a saturao de
oxignio dissolvido e, em seguida, foi interrompida a aerao. Aps esta etapa, foi monitorado
o consumo de oxignio dissolvido o qual tende a diminuir devido atividade metablica
realizada pelas bactrias heterotrficas e autotrficas nitrificantes, caso essas no sejam
inibidas. Ao fina