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A Zona de Proteção Especial (ZPE) Ria de Aveiro. Ensaio metodológico para a construção de uma carta de Vulnerabilidades para apoio à gestão ecológica da paisagem 2012 3 "A verdadeira sabedoria consiste em saber como aumentar o bem-estar do mundo." (Benjamin Franklin)

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A Zona de Proteção Especial (ZPE) Ria de Aveiro. Ensaio metodológico para a construção de uma carta de Vulnerabilidades para apoio à gestão ecológica da paisagem 2012

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"A verdadeira sabedoria consiste em saber como aumentar o bem-estar do

mundo." (Benjamin Franklin)

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Agradecimentos

A elaboração deste trabalho só foi possível com a ajuda de várias pessoas, que de forma

desinteressada, direta ou indiretamente, contribuíram para o resultado final. É nestas horas

que não devemos esquecer quem nos ajudou e quem esteve connosco nos momentos mais

difíceis, não esquecendo aqueles que, de certa forma, foram privados com a minha

ausência em momentos e etapas fundamentais para a afirmação da sua educação. Nesse

sentido, o meu primeiro agradecimento não poderia deixar de ser dirigido aos meus Filhos e

à minha Esposa pelas ausências como Pai e Marido durante os cinco anos da Licenciatura e

Mestrado. Expresso, também, os meus agradecimentos, ao Professor Doutor José Gomes,

meu orientador, que mesmo nos momentos de maior trabalho, não deixou de estar presente,

e que sempre “lutou” para que não me afastasse dos objetivos propostos; ao meu amigo

Eng. Gilberto Silva, pela preciosa ajuda nas questões relacionadas com a Biogeografia e

Fitogeografia; ao Professor Gil Rito Gonçalves, Departamento de Matemática - Faculdade

de Ciências e Tecnologia, Universidade de Coimbra, pela ajuda inicial na área da Deteção

Remota; ao Professor Doutor António Campar pela ajuda na reclassificação da carta de

solos da ZPE Ria de Aveiro; ao Professor Marcello Benigno Filho, Prof. do Curso Sup. de

Tecnologia em Geoprocessamento (IFPB), pela disponibilidade mostrada sempre que

solicitado; ao Giovanni Manghi, através da lista de Portugal do fórum da OSGEO, pela

preciosa ajuda para que fosse possível utilizar, de modo correcto, os programas p.mapper e

Mapserver, e Quantum gis; ao Eng. Carlos Ferreira, pelo inestimável apoio com que nos

distinguiu, nas muitas tarefas executadas em webmapping e Arcgis Desktop; ao Dr. Carlos

Silva, Amigo e Colega de mestrado pelo levantamento fotográfico efetuado.

Um agradecimento pessoal é devido, também, à Administração da Região Hidrográfica

Centro, pela cedência dos dados relativos ao estado das massas de água da Ria de Aveiro

e fontes poluidoras e, ainda, ao ICNB pela disponibilização da cartografia dos habitats

naturais da ZPE Ria de Aveiro. Bem-hajam todos!

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PLANO NÃO PAGINADO DO TRABALHO

RESUMO

ABSTRACT

CAPíTULO I - CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

1. INTRODUÇÃO

2. METODOLOGIA

3. A RIA DE AVEIRO

3.1. Localização geográfica

3.2. Estrutura e Tectónica da Bacia

3.3. Enquadramento lito-estratigráfico

3.3.1. Complexo Xisto-Grauváquico Ante-Ordovício

3.3.2. Triásico Superior

3.3.3. Jurássico Inferior (Liásico)

3.3.4 Cretácico

3.3.5. Plio-Plistocénico

3.3.6. Holocénico - Depósitos Modernos

3.4. Dados relativos aos elementos do clima

3.5. Hidrologia

3.5.1 Hidrogeologia

3.5.2. Hidrologia

3.6. Evolução Morfologia

4. A ZONA DE PROTEÇÃO ESPECIAL RIA DE AVEIRO (PTZPE0004)

4.1. Plano sectorial da Rede Natura 2000

4.1.1. A Rede Natura 2000

4.1.2. Diretiva Aves

4.1.3. Diretiva Habitats

4.2. Caracterização da ZPE Ria de Aveiro

4.3. Valores Naturais

4.3.1 Biótopos Corine

4.4. Uso do Solo

4.4.1 Territórios artificializados

4.4.2. Áreas agrícolas e agroflorestais (bocage, campos de arroz e pequenos

bosques ripícolas)

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4.4.3. Florestas e meios naturais e seminaturais (dunas arborizadas e bosque

ripícola)

4.4.4. Zonas húmidas (Bancos intertidais e salinas, Sapais e Caniçais)

4.4.5. Corpos de água

4.4.6. Praias, dunas e areias

4.4.7. Oceano ( Zona marinha próxima da costa)

4.5. Distribuição da Fauna

4.5.1 Metodologia aplicada à classificação de espécies prioritárias para a

conservação na ZPE da Ria de Aveiro

5. CLASSIFICAÇÃO BIOGEOGRÁFICA

5.1. Índices Bioclimáticos

5.1.1. Índice de Continentalidade (Ic)

5.1.2. Índice de Termicidade (It) e Índice de Termicidade Compensado (Itc)

5.1.3. Índice Ombrotérmico (Io)

5.1.4. Índices Ombrotérmicos Estivais Compensados

5.2. Classificação Bioclimática

5.2.1. Determinação do Macroclima

5.2.2. Determinação do Bioclima

5.3. Determinação do andar bioclimático

5.5. Bioclimatologia da Ria de Aveiro

CAPITULO II - ANÁLISE MULTICRITÉRIO EM AMBIENTE SIG PARA ELABORAÇÃO

DE CARTAS DE VULNERABILIDADE

1. ANÁLISE MULTICRITÉRIO – fundamentos processuais e metodológicos

1.1. Tarefas, técnicas e procedimentos processuais em ambiente SIG para Análise

Multicritério (AM)

1.3. Analytic Hierarchy Process

1.3.1. O Processo de Hierarquização do AHP

1.4. AHP e a Gestão de Projetos

2. VARIÁVEIS E CRITÉRIOS UTILIZADOS

2.1. Habitats Naturais

2.2. Suscetibilidade à erosão

2.3. Distribuição da Fauna

2.4. Ictiofauna: rotas dos migradores

2.5. Estado das massas de água da “Ria de Aveiro”

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2.6. Proximidade à malha urbana

2.7. Proximidade à malha viária

2.8. Ponderação das variáveis

3. ANÁLISE DE RESULTADOS

4. CONTRIBUTO PARA A GESTÃO DA ZPE/SIC RIA DE AVEIRO

4.1. Orientações gerais

4.2. Orientações específicas

4.2.1. Considerações sobre boas práticas para a boa gestão das áreas

Analisadas

CAPITULO III - OS SIG E A INTERNET. CONCEÇÃO DO WEBSIG REDE-AVEIRO

1. OS SISTEMAS DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA (SIG) E A INTERNET

2. DESENVOLVIMENTO DA APLICAÇÃO

2.1. Programas utilizados no desenvolvimento do WEBSIG -RIA

2.1.1. MapServer

2.1.2. p.mapper

2.1.3. PostgreSQL/PostGIS

2.2. Configuração do WebSIG - RIA

CONCLUSÃO

BIBLIOGRAFIA

ÍNDICE

ÍNDICE DE FIGURAS

ÍNDICE DE TABELAS

ÍNDICE DE GRÁFICOS

ANEXO I - DADOS CLIMATOLÓGICOS DAS ESTAÇÕES DE ESTARREJA, S.

JACINTO E DUNAS DE MIRA

ANEXO II - TABELAS DE SINTETIZAÇÃO DOS VALORES FAUNÍSTICOS POR

BIÓTOPO E POR UTM 10X10

ANEXO III - TABELAS DE CÁLCULO DE VEE DA FAUNA DA ZPE RIA DE AVEIRO

ANEXO IV - WEBSIG – RIA. MANUAL DO UTILIZADOR

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RESUMO

A Zona de Proteção Especial Ria de Aveiro é uma importante e extensa zona húmida,

caracterizada por um sistema lagunar complexo, constituído por uma rede principal de

canais de maré permanentemente ligados e por uma zona terminal de esteiros com canais

estreitos e de baixas profundidades sendo ligada ao mar através da barra de Aveiro.

Considerada como a zona húmida mais importante do norte do país, alberga grande

diversidade de comunidades vegetais halófilas e sub-halófilas, assume-se como uma área

muito importante no país para diversas espécies de aves migratórias e para a avifauna

nidificante, verificando-se a ocorrência de diversas espécies de aves abrangidas pelo Anexo

I da Diretiva Habitats.

A necessidade de preservação dos valores naturais, quer botânicos, quer faunísticos,

assume-se, hoje, como um assunto de elevada relevância.

Pretende-se, com este estudo, elaborar um ensaio metodológico para a sua gestão

ecológica a partir da determinação de áreas prioritárias de conservação que serão,

futuramente, referenciadas a partir da elaboração da carta de vulnerabilidades.

A definição de áreas prioritárias com base em ensaios de modelação em SIG tem sido

amplamente aplicada a uma variedade de situações, entre elas, a definição de áreas ou

regiões prioritárias para espécies animais ou vegetais.

Através da análise da carta de vulnerabilidade, podem-se traçar algumas linhas orientadoras

gerais e específicas para uma gestão mais eficaz da ZPE em estudo.

Ao longo dos últimos anos a Internet tem-se assumido, no que respeita à disponibilização de

grandes quantidades de informação georreferenciada, como um meio privilegiado e com um

enorme potencial de crescimento, permitindo o acesso a diversos utilizadores de

funcionalidades SIG.

A elaboração e disponibilização de dados a partir de um websig permite uma melhor

compreensão e enquadramento da área de estudo assim como a interpretação crítica dos

resultados obtidos com base na metodologia proposta.

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ABSTRACT

The Special Protection Zone Ria de Aveiro is an important and extensive wetland lagoon

system characterized by a complex consisting of a core network of tidal channels and

permanently connected by a terminal zone of estuaries with narrow channels and shallow

depths being linked overboard through the bar Aveiro.

Considered as the most important wetland in the north, home to a great diversity of plant

communities and sub-halophilic - halophilic, assumed as a very important area in the country

for several species of migratory birds and nesting for birds, verifying the occurrence of

different species of birds listed in Annex I of the Habitats Directive.

The need for preservation of natural values, either botanical or wildlife, it is assumed today,

as a matter of high importance.

It is intended with this study, develop a test methodology for its environmental management

from the determination of priority conservation areas that will be in the future, referenced

from the drafting of the letter of vulnerabilities.

The definition of priority areas based on tests in GIS modeling has been widely applied to a

variety of situations, including the definition of priority areas or regions for animal or plant

species.

Through analysis of the vulnerability letter, one can draw some general and specific

guidelines for more effective management of the SPA study.

Over recent years, the Internet has assumed with regard, to the availability of large amounts

of geo-referenced information, as a privileged means and with a huge growth potential,

allowing users access to many features of GIS.

The development and availability of data from a web mapping allows a better understanding

and framework of the study area as well as the critical interpretation of results based on the

proposed methodology.

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CAPíTULO I

CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

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1. INTRODUÇÃO

A Ria de Aveiro1 é uma laguna costeira de pequena profundidade, separada do mar por um

cordão dunar, que que ocupa um setor litoral situado entre Ovar e a Barrinha de

Mira, desenvolvendo-se paralelamente à linha de costa (CONDE, 2007).

As massas de água da laguna ocupam diversos canais, separados por pequenas ilhas de

origem aluvionar, lagunar, marinha e fluvial. No interior de alguns canais desaguam vários

pequenos rios e também o rio Vouga, sendo este último responsável pela maior parte da

água doce que aflui à laguna. Estes rios, nos canais onde confluem, formam pequenos

estuários que acabam por se intercomunicar, prolongando-se até à proximidade da Barra.

Com uma formação recente e evolução rápida, a Ria de Aveiro é uma zona particularmente

sensível, alvo de pressões de várias ordens e, desde cedo, muito intervencionada pelo

Homem.

As características abióticas desta região (baixa profundidade, elevada turbidez, natureza

lodosa do seu substrato, flutuações de temperatura, salinidade e oxigénio),

associadas a uma elevada produtividade biológica, criam excelentes condições para a sua

colonização por diversas espécies com elevada importância económica (CONDE, 2007).

A elevada biodiversidade desta zona permite uma exploração dos recursos2 bastante

expressiva, recorrendo a uma enorme diversidade de artes e métodos de pesca, muitos dos

quais artesanais e característicos da região. A atividade piscatória assume elevada

importância sócio-económica, com vários centros piscatórios situados em redor da Ria de

Aveiro (Costa Nova, S. Jacinto, Torreira, Ovar, etc.). As condições existentes na laguna e

nas zonas limítrofes, de transição, permitem ainda a prática de outras atividades, das

quais se destacam, pelas suas características e importância, a salicultura, a agricultura, a

orizicultura e a pecuária.

A necessidade de preservação dos valores naturais, quer botânicos, quer faunísticos,

assume-se, hoje, como um assunto de elevada relevância. Neste contexto, a Comunidade

Europeia, através do projeto “Rede Natura 2000” procurou intervir, no sentido da

salvaguarda dos principais valores dos países que a constituem, pela criação de uma

rede de locais de relativo valor para a conservação, os quais foram selecionados com base

na presença de habitats naturais (Diretiva Habitats)3 e com base em valores faunísticos

(Diretiva Aves)4.

Assim, consoante a importância da área a preservar, tendo por base as duas diretivas atrás

1 Denominação que será sempre utilizada em relação à Ria de Aveiro em alternância com ZPE Ria de Aveiro consoante a

abordagem se refira especificamente à ria em si, ou à área classificada como Zona de Proteção Especial (ZPE). 2 Recursos haliêuticos – recursos resultantes da atividade da pesca.

3 DIRETIVA 92/43/CEE DO CONSELHO de 21 de Maio de 1992 relativa à preservação dos habitats naturais e da fauna e da

flora selvagens. 4 DIRETIVA 79/409/CEE DO CONSELHO de 2 de Abril de 1979 relativa à conservação das aves selvagens.

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referidas, o Plano sectorial da Rede Natura 2000 apresenta uma lista nacional de áreas

designadas por Zona de Proteção Especial5 (ZPE), áreas especialmente criadas para a

preservação da fauna, e Sítio de Importância Comunitária (SIC), onde a preservação dos

habitats naturais assume o papel de maior importância.

Para além do papel de elevada relevância para a avifauna, não só como zona de

nidificação e invernada, mas também de passagem de migradores, que determinou a

criação da Zona de Proteção Especial PTZPE004 – Ria de Aveiro por Decreto-Lei n.º 384-

B/99 de 23 de setembro de 1999, também a riqueza em habitats, nomeadamente os que se

referem ao Anexo B-I da Diretiva Habitats, “Estuários” (Código: 1130), “Prados salgados

atlânticos” (Código: 1330) e “Dunas com Salix repens ssp. argentea” (Código: 2170),

determinou a proposta de criação de Sítio de Importância Comunitária que deverá ser

publicada ainda este ano em Diário da Républica, passando assim a acumular os estatutos

de ZPE e SIC.

Devido à sua enorme complexidade, num misto de interesses públicos e privados, onde nem

sempre os interesses pela conservação regem estes espaços, e onde a complexidade de

legislação, devido à existência de uma listagem bastante grande de instituições com

diferentes jurisdições na gestão da Ria, torna-se necessário, até porque nem todos os

espaços dentro da ria são iguais ou têm o mesmo interesse para a conservação, determinar

áreas prioritárias de conservação tendo em conta as orientações de gestão definidas para a

conservação da fauna, da flora e dos habitats que determinaram a criação deste espaço

como ZPE e futuro SIC.

Com este trabalho, pretende-se desenvolver uma metodologia em ambiente SIG que, de

algum modo, permita contribuir para a definição de áreas prioritárias de conservação

aplicável não só à ZPE da Ria de Aveiro, mas a todas as áreas classificadas a nível nacional

dependendo da especificidade de cada uma delas tendo partindo de critérios definidos com

base na riqueza da fauna, flora e habitats, assim como nas orientações de gestão definidas

aquando da criação das mesmas.

5 A cada área da Rede Natura 2000 é atribuído um código que começa pela sigla PT. Para as ZPE o código inicia-se por

PTZPE e para os SIC por PTCON.

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2. METODOLOGIA

O trabalho em apreciação visa o desenvolvimento de uma metodologia que possa ser

aplicada à Rede Natura 2000 na qualidade de ferramenta de apoio à decisão,

nomeadamente na contribuição para a definição de áreas prioritárias de conservação.

A fórmula adotada para a estrutura deste trabalho caracteriza-se pela sua sub-divisão em

três capítulos distintos, sequencializados e articulados numa lógica relacional que culmina

na discussão de alguns dos resultados obtidos.

O Capítulo I corresponde à caracterização física da Ria de Aveiro, nomeadamente a área da

Zona de Proteção Especial, onde a revisão bibliográfica assume um papel fundamental

selecionando-se a informação mais relevante para este trabalho, dado que a Ria de Aveiro

se encontra bastante documentada em vários estudos de caracterização, promovidos por

várias entidades e universidades.

São ainda identificados e mapeados os valores naturais, nomeadamente habitats naturais e

uso do solo que resultam do tratamento de informação da proposta do SIC (Sítio de

Importância Comunitária) Ria de Aveiro e do tratamento da Carta Corine Land Cover do igeo

e o mapeamento da distribuição de “valores faunísticos” e “valores faunísticos prioritários”

resultantes da adaptação ao local da metodologia utilizada por Palmeirim et al. (1994), tendo

por base, dados disponíveis no portal do Instituto da Conservação da Natureza e da

Biodiversidade (ICNB), dados do “Atlas das Aves que Nidificam em Portugal” e dados

constantes no trabalho de CONDE (2007).

O Capítulo II contempla o desenvolvimento de um ensaio metodológico para elaboração de

uma “Carta de Vulnerabilidades” que permite a classificação e a identificação de áreas

prioritárias de conservação, mas serve também como documento de base para a elaboração

de propostas de gestão para a área da ZPE Ria de Aveiro, decorrente de um processo de

análise multicritério em ambiente SIG, que assentou na informação dos valores naturais,

apurados no Capítulo I, em conjunto com as definições físicas do território mais pertinentes

para o estudo, assim como a integração de fatores de perturbação para a fauna, como a

atividade do homem e a poluição.

O Capítulo III assenta na apresentação de resultados em ambiente web, que estão também

acessíveis a partir de um Websig (de nossa autoria), disponível a partir do endereço url

“http://rede-aveiro.no-ip.org/index.htm”, que reúne toda a informação geográfica utilizada no

trabalho assim como o produto final, a identificação das áreas prioritárias de conservação na

ZPE da Ria de Aveiro. A discussão de alguns dos resultados que, por qualquer razão, ou

critério, considerámos como mais importantes, foi também objecto da nossa preocupação,

que materializámos na parte final deste capítulo.

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O software utilizado para a elaboração das cartas foi o ArcGis 10.0 (ESRI). A informação de

base utilizada, em formato shapefile, de distribuição gratuita, foi retirada dos sites das

próprias entidades, IgeoE, ICNB e Agência Portuguesa do Ambiente (APA), sendo sempre

identificada a fonte de dados relativa a cada uma das cartas produzidas. Completando a

moldura relativa à bases de dados utilizados, são de referir os dados relativos ao ao estado

das massas de água da ria e fonte de poluição cedidos pela ARH Centro.

Para elaboração do “WebSIG - RIA” recorreu-se a software OpenSource com destaque para

as seguintes aplicações/serviços/protocolos:

- Quantum Gis 1.8,

- Mapserver

- p.mapper

- PostgreSQL 9.0

- PostGIS 2.0

- PgAdmin III

Foram também utilizados, ainda que a título de testes comparativos os softwares SIG

MapWindow GIS e gvSIG.

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3. A RIA DE AVEIRO

3.1. Localização geográfica

A designada “Ria de Aveiro” é um sistema lagunar complexo, constituído por uma rede

principal de canais de maré permanentemente ligados, mesmo em condições de baixa-mar,

de águas vivas e, por uma zona terminal de espraiados, com canais estreitos e de baixas

profundidades (esteiros), que funcionam como reservatórios de água e que ficam desligados

dos canais principais durante parte do ciclo de marés (fig.1).

A Laguna de Aveiro situa-se, quase na sua totalidade, no Distrito de Aveiro, entre os

paralelos 40º 52’ e 40º 30’ N, e abrange os concelhos ribeirinhos de Ovar, Estarreja,

Murtosa, Aveiro, Ílhavo e Vagos e, ainda, Mira, pertencendo já, este último, ao distrito de

Coimbra (CARRABAU, 2005). Abrange, ainda, parte dos concelhos de Albergaria-a-Velha,

Águeda e Oliveira do Bairro, estes não confinando com o espaço lagunar em si.

Figura 1 - Enquadramento geográfico da Zona de Proteção Especial Ria de Aveiro. Elaboração própria.

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A população residente nos 10 concelhos (tabela 1) cuja área espacial integra a ZPE da Ria

de Aveiro, fixou-se, em 2011 em 341 322 habitantes (INE, 2012). Deste total, estima-se que

residam dentro dos limites da ZPE entre 20000 a 25000 habitantes.

Tabela 1 - População Residente nos concelhos da Ria de Aveiro. Fonte: INE (2012)

Local de residência

População residente (N.º) por Local de residência e Sexo; Decenal (1)

Período de referência dos dados 2011

Sexo

HM H M

N.º N.º N.º

Portugal 10561614 5047387 5514227

Continente 10047083 4799593 5247490

Centro 2327580 1111400 1216180

Águeda 47729 22898 24831

Albergaria-a-Velha 25252 12229 13023

Aveiro 78450 37123 41327

Estarreja 26997 13016 13981

Ílhavo 38598 18409 20189

Murtosa 10585 5097 5488

Oliveira do Bairro 23028 10914 12114

Ovar 55377 26666 28711

Vagos 22851 10976 11875

Mira 12465 5902 6563

Total 341332 163230 178102

3.2. Estrutura e Tectónica da Bacia

A área de estudo é afetada por tectónica de natureza, predominantemente, distensiva,

provavelmente devida à reativação de falhas tardi-hercínicas, que originou a fracturação em

blocos, segundo dois eixos aproximadamente ortogonais (BENTA, 2007).

Estão presentes algumas falhas e acidentes ducteis importantes. Destacam-se a falha

Porto-Tomar a Este e o anticlinal Mogofores-Febres-Tocha, a sul (fig.2). Os dobramentos

são muito pouco acentuados, com inclinações suaves nos flancos, sendo a componente

vertical (gravítica) a mais relevante (ROCHA, 1993 apud BENTA, 2007).

Duas estruturas em abóboda, bastante fraturadas, formam o alinhamento estrutural

Palhaça-Mamarrosa-Febres, que divide a área da carta 16-C (Vagos) em duas partes

distintas: uma interior, constituída por estruturas sinclinais e anticlinais e outra exterior

(Oeste) que apenas inclina suavemente para WNW (BARBOSA, 1981 apud BENTA, 2007).

A tectonização afetou claramente todos os sedimentos até ao final do Cretácico, enquanto

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que os depósitos Quaternários, que ocorrem a oeste do alinhamento estrutural Palhaça-

Mamarrosa-Febres, se apresentam apenas ligeiramente basculados para NW (idem). De

acordo com o mesmo autor, na obra citada, a acção fracturante da tectónica está

largamente representada por falhas, geralmente subverticais, que se orientam segundo dois

sistemas ortogonais. São falhas de tipo “rotacional” e “em teclas de piano”, que provocam

compartimentação em blocos com rejeitos variáveis da ordem da dezena de metros. A

provável existência de uma falha Febres-Campanas (oculta pelos sedimentos Quaternários)

entre as Argilas de Vagos e os Grés da Palhaça, implica um rejeito entre as duas unidades,

da ordem dos 100 metros (idem).

Figura 2 - Esquema estrutural da sub-bacia norte-lusitânica. Zonas de fracturação indicadas a pontilhado (SOARES et al., 1993 apud BENTA, 2007).

A rede de drenagem é, em alguns casos, reflexo da rede de fraturação, sendo o rio Boco um

bom exemplo da sua influência (ROCHA, 1993). Para além da divisão estrutural à escala da

região, com consequências importantes a essa escala, existe um aspeto estrutural muito

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importante à escala local que importa sublinhar. Trata-se do efeito, no paleorelevo,

produzido pelo período fortemente erosivo que afetou a área após a deposição das Argilas

de Aveiro-Ílhavo-Vagos. Efetivamente, a erosão sulcou a superfície do topo desta formação,

produzindo um emaranhado de paleocanais, em tudo idêntico ao que atualmente se verifica

nas zonas mais aplanadas da bacia. Estes paleocanais foram, posteriormente, cobertos por

sedimentos muito mais recentes, não consolidados e com forte contraste geomecânico

relativamente à formação encaixante (BENTA, 2007). Este é tanto maior quanto mais

consolidadas forem as Argilas de Aveiro no local. A este aspeto tem de ser atribuída a maior

relevância, dadas as consequências geotécnicas que daí advêm, especialmente quanto ao

dimensionamento das malhas de prospeção geotécnica (idem).

Este aspeto tem particular importância nos setores Central e Ocidental da bacia, onde o

Cretácico é mais carbonatado e mais consolidado, constituídos por calcários, margas e

argilas fortemente consolidadas, e onde ocorrem os materiais de cobertura mais brandos,

areias, areias lodosas e lodos (idem).

3.3. Enquadramento lito-estratigráfico

A Bacia Sedimentar de Aveiro (denominação que utilizaremos para a Ria de Aveiro em todo

o capítulo referente ao enquadramento geológico), encontra-se implantada no setor

setentrional da Bacia Lusitânica (fig.3a) e no grande grupo de unidades sedimentares que a

Orla Meso-Cenozóica Ocidental Portuguesa constitui.

Figura 3 - Implantação da Bacia Sedimentar de Aveiro. Fonte: MARINHEIRO, 2008.

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Segundo MARINHEIRO, 2008 citando PENA DOS REIS et al., 1992; BERNARDES, 1992 e

BENTA, 2007, a Bacia Sedimentar de Aveiro (fig.3b) fica situada entre o Maciço Hespérico,

delimitado pela falha Porto-Tomar a Leste, o alinhamento Tocha-Febres-Mogofores, a Sul, e

o Oceano Atlântico, a Oeste. Segundo o mesmo autor (op. cit.), analisando TEIXEIRA &

ZBYSZEWSKY, 1976, trata-se de uma vasta bacia sedimentar depositada sobre um soco

Paleozóico.

Na evolução lito-estratigráfica da Bacia Sedimentar de Aveiro, de acordo com TEIXEIRA &

ZBYSZEWSKY (op. cit.), existem sete unidades lito-estratigráficas, referidas da mais antiga

para a mais recente:

Formações quaternárias – Aluviões; dunas e areias eólicas; areias e cascalheiras.

Formações quaternárias (depósitos modernos) - Aluviões atuais, Areias de praia e

Areias de duna;

Formações plio-plistocénicas - Depósitos de Praias Antigas e os Depósitos de

Terraços Fluviais

Formações cretácicas – Arenitos e aretinos arcósicos;

Formações carbonatadas do Jurássico Inferior (Liásico) – Conglomerados, arenitos,

calcários, calcários dolomíticos, calcários margosos, margas;

Formações Triásico superior – Grés vermelhos (de Silves), conglomerados, margas,

calcários geral/dolomíticos;

Materiais rochosos do Complexo xisto-grauváquico.

A figura 4 (a, b e c) apresenta uma proposta de evolução dos limites dos domínios de

sedimentação desde o Cabo da Roca a Ovar entre o final do Cenomaniano Superior e o

Cretácico Superior (Senoniano), de acordo com BENTA (2007).

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a) - Domínios de sedimentação b) -Domínios de sedimentação na no final do Cenomaniano Superior base do Turoniano Inferior

c) - Limites da Sedimentação no Cretácico Superior (Senoniano), adaptado deLauverjat (1982)

Figura 4 - Evolução dos domínios de sedimentação na bacia sedimentar de Aveiro. Fonte: BENTA (2007).

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A Bacia Sedimentar de Aveiro é preenchida, essencialmente, por sedimentos do Cretácico e

do Quaternário, depositados em ambientes predominantemente lagunares com episódios,

ou mais marinhos, ou mais continentais. Tudo indica que, desde o Cretácico Superior, o

sistema sedimentar Laguna-Ilha Barreira, ocupa uma parte significativa da Bacia Sedimentar

de Aveiro (BENTA, 2007). O substrato da Bacia Sedimentar de Aveiro é essencialmente

formado por xistos e micaxistos do Proterozóico, aflorantes na bordadura NE da bacia e

posicionados a profundidades crescentes para Oeste (idem).

Conforme a figura 5, as formações ocorrentes são datadas do Quaternário (Holocénico e

Plistocénico) e do Cretácico (Apciano e Maastrichtiano) e estão representadas,

respetivamente, por Depósitos Modernos (aluviões atuais, areias de praia e areias de

dunas), Depósitos do Plistocénico (depósitos de praias antigas, terraços fluviais e blocos

residuais) e Formações do Cretácico (JAPA, 1993 apud MARINHEIRO, 2008).

Figura 5 - Carta Litológica da ZPE Ria de Aveiro. Fonte: Elaboração própria a partir dos dados disponibilizados pelo Atlas do Ambiente – Agência Portuguesa do Ambiente.

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3.3.1. Complexo Xisto-Grauváquico Ante-Ordovício

Na região de Aveiro, o Complexo xisto-grauváquico está materializado pelos Xistos de

Arada, que são xistos argilosos finos sub-verticais, frequentemente, muito alterados. Afloram

a nordeste da área em estudo, e têm ocorrência mais profunda em direcção ao Atlântico.

Efectivamente, foram registados a 92,23m de profundidade em Cacia, 209m em Esgueira e

305m em Ílhavo, TEIXEIRA & ZBYSZEWSKY (1976). Sobre eles assentam os materiais

cretácicos, onde as Argilas de Aveiro-Ílhavo-Vagos, se incluem. Em áreas mais restritas, os

xistos formam o substrato subjacente ao Triásico e aos Depósitos modernos (BENTA,

2007).

3.3.2. Triásico Superior

Na região o Triásico tem expressão local. Cartografado no extremo Este-Sudeste da área de

estudo, e representado pelos Arenitos de Eirol, que são arenitos e conglomerados bem

consolidados, dispostos em bancadas, facilmente identificáveis pelas suas tonalidades

avermelhadas.

3.3.3. Jurássico Inferior (Liásico)

O Jurássico na bacia de Aveiro, compreende, essencialmente, uma extensa mancha, que é

constituída por calcários, calcários margosos e margas.

Para ROCHA, 1993, citado por BENTA, 2007, sobre as margas e os calcários Liásicos

(Jurássico inferior) assenta, discordantemente, uma formação gresosa do Cretácico.

Observa-se uma importante descontinuidade na sequência deposicional, que proporciona

considerável lacuna estratigráfica. Estão ausentes os sedimentos correspondentes ao

Jurássico Médio e Superior e parte do Cretácico Inferior, isto é, a um lapso temporal de

cerca de 55 Ma (Toarciano-Apciano), facto que sugere uma notável descida do nível do mar.

3.3.4 Cretácico

Esta é a unidade que, a par com os Depósitos Modernos, tem um desenvolvimento mais

importante na região de Aveiro (crf. Fig.5). Dela fazem parte materiais do Cretácico Médio

(Aptiano-Albiano e Cenomaniano-Turoniano), Cretácico Médio a Cretácico Superior

(Turoniano-Santoniano) e Cretácico Superior (Senoniano).

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Cretácico Médio (Aptiano-Albiano)

Os terrenos mais antigos cartografados na unidade Cretácica correspondem aos Arenitos de

Requeixo, segundo TEIXEIRA & ZBYSZEWSKY, 1976.

Trata-se de arenitos margosos ou argilosos, esbranquiçados, acinzentados ou

acastanhados que formam um complexo gresoso, com uma espessura que ultrapassa a

centena de metros, e que assenta sobre as camadas do Triásico ou sobre os xistos Ante-

Ordovícicos. No sector Sudeste da bacia, os arenitos de Requeixo assentam sobre as

margas Liásicas, anteriormente referidas.

Cretácico Médio (Cenomaniano-Turoniano)

A Norte do acidente da Nazaré, o mar aberto manteve-se durante o Cenomaniano Superior

e o Turoniano Inferior. O limite entre estes dois estádios não é marcado por nenhuma

alteração expressiva, sedimentológica ou paleogeográfica. Pelo contrário, o Turoniano

aparece como continuação do Cenomaniano. Daí que subsista alguma incerteza quanto ao

referido limite (LAUVERJAT, 1982 apud BENTA, 2007).

Cretácico Médio a Cretácico Superior (Turaniano-Santoniano)

Com a emersão da maior parte do setor setentrional, antes do Turoniano Inferior, e com a

zona de subsidência deslocada a Norte do eixo Mogofores-Tocha, apenas uma restrita área,

centrada em Mira, preserva a sedimentação marinha (BENTA, 2007).

Cretácico Superior (Senoniano)

Entre o final do Cretácico e a deposição das unidades Pós-Cretácico, interpõe-se um largo

período temporal, (cerca de 60 ± 5 MA), dominantemente erosivo, segundo Soares et al.

(1982).

A nível global, a passagem do Cretácico ao Terciário e marcada por uma "crise geológica",

com modificações climáticas abruptas, supostamente responsáveis pela extinção de grande

número de espécies, entre as quais os dinossáurios. Tais condições ambientais anómalas

desconhecidas deixaram o seu registo no chamado "limiar argiloso Cretácico-Terciário",

sobre o qual, investigações de natureza mineralógica e geoquímica têm revelado anomalias

significativas, suportando interpretações que invocam causas terrestres e extraterrestres

(ROCHA, 1996).

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3.3.5. Plio-Plistocénico

Segundo TEIXEIRA e ZBYSZEWSKI (1976), fazem parte desta unidade os Depósitos de

Praias Antigas e os Depósitos de Terraços Fluviais.

Depósitos de Praias Antigas

Os Depósitos de Praias Antigas formam o recobrimento de uma importante parcela das

formações Cretácicas, sendo que, no bordo Nordeste da bacia, ocorrem diretamente sobre

os Xistos de Arada do Complexo Xisto Grauváquico, que constitui o soco Ante-Ordovícico

(BENTA, 2007). São depósitos constituídos, essencialmente, por areias finas ou grosseiras

e cascalheiras com calhaus rolados, dispostos em leitos que podem atingir espessura

significativa. As suas cores, habitualmente, claras, e o acentuado rolamento patente nos

seus clastos, dos mais finos aos mais grosseiros, evidenciam a sua génese (idem).

Depósitos de Terraços Fluviais

Os Depósitos de Terraços Fluviais são similares aos Depósitos de Praias, distinguindo-se

destes por evidenciarem granulometria, geralmente mais grosseira e ocuparem níveis

relativamente baixos adjacentes ao rio Vouga. A sua ocorrência é, também,

geograficamente muito mais restrita (BENTA, 2007).

3.3.6. Holocénico - Depósitos Modernos

A constituição geológica da região demonstra a existência de duas zonas de características

diversas, uma a Leste e outra a Oeste da linha que, partindo de Esmoriz, Ovar, Estarreja,

Salreu, Canelas, Angeja, vai cortar o Vouga bastante a montante e segue por Cacia, Aveiro,

Vagos, Mira ate ao Cabo Mondego. A Leste ficam os terrenos mais antigos, a Oeste os

terrenos de formação recente constituídos por sedimentação marítima e fluvial. Nesta linha

aparecem calhaus rolados, como se verifica nos declives de Cacia, Esgueira, Aveiro, sinal

de que foram batidos pelo mar em época relativamente recente (PORTO DE AVEIRO, 1998

apud MARINHEIRO, 2008).

Os depósitos modernos são constituídos, essencialmente, por Aluviões atuais, Areias de

praia e Areias de duna.

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Aluviões Atuais

A área a Oeste do eixo Aveiro-Ílhavo-Vagos está ocupada, predominantemente, pelos

Depósitos Modernos, principalmente, pelas aluviões atuais, designação atribuída na carta às

aluviões que circundam a Ria de Aveiro (crf. Fig.5) e que são constituídas por lodos, por

lodos arenosos, por lodos micáceos, por lodos com conchas, por areias lodosas e por areias

grosseiras, por vezes, com calhaus rolados, que assentam sobre o substrato (BENTA,

2007). As aluviões atuais formam as regiões baixas do litoral, incluindo as margens e o leito

da laguna, e caracterizados pela predominância de areias finas e siltes. A composição

granulométrica varia de 20 a 90% de areias, 10 a 80% de silte e 0 a 30% de argila. A

distribuição destes materiais é condicionada pela hidrodinâmica lagunar (JAPA, 1993).

Areias de Praias

As areias de praia formam um extenso cordão litoral, que se estende com direção Nordeste

Sudoeste em toda a região, limitado a Leste por dunas cuja altura máxima se situa entre 11

e 15 m (JAPA, 1993) e interrompido apenas pela abertura do canal da Barra (BENTA, 2007).

Sao areias médias e grosseiras que por vezes tem algum areão. As areias de praias estão

em permanente movimento devido a variação da ondulação provocada pelo vento (FACÃO,

2009).

Areias de Duna

Como que coroando o cordão litoral, estendendo-se para Leste, surgem as areias de duna,

que, em alguns locais, formam cobertura relativamente extensa, cobertura arenosa eólica

que assenta sobre as formações sedimentares do Cretácico e do Quaternário (BARBOSA,

1981).

Segundo Nuno Pimentel do Departamento de Geologia da Faculdade de Ciências,

Universidade de Lisboa (site consultado http://metododirecto.pt), as areias de praia e de

duna têm características bastante distintas, em resultado dos processos físicos e químicos

que presidiram ao seu transporte e deposição.

Ao nível dos grãos individuais, as areias de praia apresentam-se roladas ou sub-roladas e

com superfície brilhante (em parte devido à ação química da água do mar); a areia pode ser

mais ou menos grosseira (depende da energia da praia) e a calibragem do conjunto deve

ser boa a moderada, podendo ser abundantes os bioclastos6, além do quartzo

6 Fósseis e seus fragmentos

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predominante. Nas areias de Duna, os grãos são em geralmente rolados, mas a superfície

apresenta-se baça ou picotada (devido ao choque entre os grãos), sendo a areia não

grosseira e a calibragem do conjunto sempre boa (quase só quartzo), (idem).

Segundo o mesmo autor, estas características-padrão podem ser um pouco modificadas,

em função da proveniência dos grãos, ou seja, do local ou ambiente de onde provêm e do

tempo que tiveram para evoluir no novo ambiente. Assim, um rio que lance abundantes

areias num litoral irá gerar areias de praia com características (ainda) fluviais (grãos sub-

angulosos, pouco brilhantes, pouco calibrados, com grãos de naturezas variadas

(feldspatos, micas, litoclastos) se não houver tempo suficiente para elas evoluírem na praia.

De igual modo, é frequente as areias de dunas litorais provirem da praia adjacente, podendo

apenas alguns grãos ter adquirido as novas características tipicamente eólicas.

As dunas eólicas, não obstante serem das geoformas mais típicas e conhecidas das regiões

áridas são, em simultâneo, um dos sistemas morfológicos mais representativos das regiões

litorais, mesmo sob clima húmido (ALMEIDA, 2009).

Os fatores (agentes e processos) intervenientes na génese de dunas litorais são

essencialmente:

O vento, pela sua velocidade e pelo regime e direção dominante (mais favorável

quando sopra do lado do mar) e, também, pelo transporte eólico de sedimentos que

condiciona o próprio tipo de vegetação;

O afluxo de sedimentos arenosos às praias, pela possibilidade de formar praias

largas (no norte de Portugal as dunas são mais frequentes junto a embocaduras de

rios);

A topografia, por facilitar ou dificultar a progressão das areias para o interior (idem).

Segundo o autor, das inúmeras classificações de dunas (quase uma por cada autor que se

dedica ao seu estudo) destacam-se algumas das mais diferenciadas e, eventualmente, com

melhor aplicação à nossa realidade:

A classificação ecológico-dinâmica, muito usada pelos biólogos, e que distingue as

dunas brancas, das cinzentas e das verdes, pela cobertura vegetal.

A classificação dinâmica separa as dunas longitudinais, das oblíquas e das

transversais pelo seu alinhamento face aos ventos dominantes.

A classificação morfodinâmica que divide as dunas em dois grandes grupos, as

imóveis e as transgressivas (KENNETH PYE, 1983).

A classificação topo-dinâmica a qual dá importância não só à morfologia, mas

também à inserção na topografia pré-existente e à dinâmica (GERMAN FLOR,

1998).

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“Como as dunas se formam graças à atuação conjugada de fatores como o vento, o

abastecimento em areia, a vegetação e a existência de uma topografia favorável, plana, por

exemplo, decerto um ou mais destes fatores atuam de modo distinto numa e noutra área”

(ALMEIDA, 2009).

3.4. Dados relativos aos elementos do clima

Na caracterização climática da Ria de Aveiro, foram utilizadas as Normais Climatológicas

publicadas pelo Instituto de Meteorologia, relativas às estações de Estarreja (1965-1977), S.

Jacinto (1954-1980) e Dunas de Mira (1941-1970). Com base nesses dados (Anexo I) foram

elaborados os diagramas ombrotérmicos para cada uma das estações (gráficos 1, 2 e 3).

Os valores anuais médios da temperatura são bastante semelhantes nas três estações,

13,9ºC em Estarreja, 14,2ºC em S. Jacinto e 14,8ºC nas Dunas de Mira.

A amplitude anual da temperatura média mensal é da ordem dos 10ºC em Estarreja e 8,5ºC

a 9,5ºC no litoral nas estações de S. Jacinto e Dunas de Mira.

Os valores médios da temperatura máxima diária, que ocorrem nos meses de julho e

agosto, variam entre 22ºC em São Jacinto e 24,9ºC em Estarreja e os valores mínimos entre

3,8ºC, em Estarreja e 6,3ºC em São Jacinto, nos meses de dezembro e janeiro.

O valor total anual de precipitação é da ordem dos 995,2 a 1151,6 mm, e o período chuvoso

estende-se, em regra, de outubro a março.

No período considerado, o mês de maior pluviosidade é janeiro registando-se valores das

médias mensais entre os 144 e os 173 mm. Os valores mais baixos ocorreram nas estações

do litoral - São Jacinto e Dunas de Mira, nos mêses de dezembro e janeiro respectivamente,

sendo que a variação do número de dias com precipitação elevada (R > 10,0mm) apresenta

uma variação idêntica à anterior.

A humidade relativa do ar é elevada em toda a área de estudo, com todas as estações a

apresentar valores médios anuais da ordem dos 80% a 84% às 9h7. As variações ao longo

dos meses do ano e ao longo do dia são reduzidas, em particular nas estações do litoral

(UNIR@RIA, 2007).

Nas estações do litoral os rumos dominantes do vento nos meses de primavera/verão são

sobretudo N e NW e nos meses de outono / inverno S e SE.

Os rumos que apresentam maior frequência , em termos anuais, são N nas estações de

Dunas de Mira e de São Jacinto, com 41% e 27,2%, respetivamente. As velocidades dos

ventos nas estações do litoral apresentam valores médios anuais da ordem dos 7/8 até aos

7 Segundo Intituto Nacional de Meteorologia e Geofísica (1985), o valor apresentado às 9 horas é

muito semelhante ao valor médio diário em Portugal Continental.

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18/20 km/h. Na estação de Dunas de Mira as calmas não têm expressão (0,1%) sendo que,

na estação de São Jacinto, as calmas surgem com cerca de 16,4% de frequência, valor que

não apresenta grande variação em termos anuais (idem).

Gráfico 1 - Diagrama Ombrotérmico para a Estação Climática de Estarreja. Fonte: FIGUEIREDO (2004)

Gráfico 2 - Diagrama Ombrotérmico para a Estação Climática de São Jacinto. Fonte: FIGUEIREDO (2004)

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Gráfico 3 - Diagrama Ombrotérmico para a Estação Climatológica das Dunas de Mira. Fonte: FIGUEIREDO (2004)

Os nevoeiros ocorrem com maior frequência nas estações junto do litoral, cerca de 30 dias

por ano, formando-se principalmente nos meses mais quentes, julho e agosto.

O número total de dias no ano, com nebulosidade elevada, apresenta valores da ordem dos

115 a 130 dias, tendo os valores mais pequenos ocorrido nas estações do litoral (idem).

3.5. Hidrologia

3.5.1 Hidrogeologia

Na região existem numerosas captações feitas por poços ou por furos que aproveitam as

águas dos depósitos de praias e de terraços, e das areias de dunas. A base destes

sedimentos, muito permeáveis, contacta, geralmente, com as camadas impermeáveis das

argilas cretácicas ou dos xistos anteordovícicos, proporcionando a formação de aquíferos

freáticos de baixa qualidade aproveitados, principalmente, para a irrigação agrícola.

Geralmente estas captações não apresentam, por norma, qualidade para o abastecimento

público.

Muito mais importantes como reserva aquífera para abastecimento público, são os níveis

aquíferos confinados das camadas greso-argilosas, da base do Senoniano, e das camadas

areníticas, do Cenomaniano-Albiano-Apciano (Arenitos de Requeixo). A estes níveis são

captadas águas para abastecimento público de Aveiro, de Ílhavo e de Vagos. As camadas

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aquíferas evidenciam uma depressão no substrato, de direção SE/NW, situada no intervalo

entre Aveiro e Ílhavo, aprofundando-se para NW (TEIXEIRA e ZBYSZEWSKI, 1976 apud

BENTA, 2007). Estas captações profundas encontram os níveis aquíferos a profundidades

que não ultrapassam os 300 metros (BENTA, 2007).

3.5.2. Hidrologia

A Ria de Aveiro caracteriza-se como um corpo de água baixo e ramificado, com 45km de

comprimento e 10km de largura, que cobre uma área de cerca de 47km² na maré cheia e

43km² na maré baixa. Os volumes de água do mar que entram na laguna variam entre 25 e

90 milhões de m³ , para amplitudes de maré na ordem de 1 a 3m, respetivamente

(BORREGO et al. 1994). As correntes de circulação das massas de água geram forças e

arrastamento que provocam a movimentação dos sedimentos arenosos e lodosos que a

formam, estabelecendo-se situações de equilíbrio dinâmico que condicionam a morfologia

lagunar (BORREGO et al. 1994). A sua ligação ao mar dá-se através de uma barra existente

no cordão litoral, a barra de Aveiro, aberta artificialmente em 1808.

Os principais cursos de água afluentes à ria de Aveiro são o rio Vouga, o rio Antuã, o rio

Boco e a ribeira da Corujeira, dos quais apresentamos algumas das suas principais

características:

O rio Vouga, com uma bacia hidrográfica de 2.673km², desagua no canal Principal.

Os principais afluentes são o rio Caima na margem direita e o rio Águeda na margem

esquerda, este com um importante subafluente, o rio Cértima. A área da bacia

hidrográfica do Caima é de 196,4km² e a do Águeda de 971,8km², dos quais

541,4km² pertencem ao rio Cértima.

O rio Antuã desagua na zona interior do canal de São Jacinto e a sua bacia

hidrográfica ocupa uma área de 149,2km².

As bacias hidrográficas dos rios Vouga e Antuã representam cerca de 75% da área

drenante para a Ria.

O rio Boco desagua na zona interior do canal de Ílhavo e a ribeira da Corujeira

desagua na zona interior do canal de Mira por intermédio de um conjunto afluentes e

de valas.

Mas as massas hídricas em presença permitem destacar algumas lagoas de água doce,

cujas mais significativas são a Pateira de Fermentelos e a Pateira de Frossos.

A Pateira de Fermentelos constitui um alargamento do rio Cértima, antes da sua

confluência com o rio Águeda e é alimentada também pela ribeira do Pano.

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A Pateira de Frossos é uma pequena massa de água pantanosa na margem do rio

Vouga.

A Ria tem uma tendência natural para o assoreamento, pelo que, para contrariar esta

tendência têm vindo a ser efetuadas regularmente obras de dragagem, verificando-se assim

que, em média, a profundidade da ria de Aveiro aumentou 0,4m entre 1952/53 e 1987/88.

No entanto, estas obras abrangeram principalmente as áreas portuárias, incluindo o canal

de São Jacinto/Ovar, o canal do Parrachil e o canal do Espinheiro.

Nas zonas mais espraiadas da Ria de Aveiro, onde não houve dragagens, regista-se, pelo

contrário, uma tendência geral para o assoreamento.

Estas obras de expansão do porto foram responsáveis por algumas modificações

significativas na circulação da água na laguna. O aumento da profundidade dos canais nas

áreas do porto favorece a progressão da água salina, o que se traduz por uma diminuição

da disponibilidade de água doce para irrigação, causando a salinização dos solos e

modificando, deste modo, os padrões de salinidade e condições de vida da laguna. Este

problema tem levado ao estudo de construção de diques que evitem a intrusão salina nos

campos agrícolas, sobretudo no Baixo Vouga Lagunar (CONDE, 2007).

Simultaneamente, e como aspeto positivo, a Ria de Aveiro contribui para um natural controlo

da eutrofização das águas lagunares.

Atualmente, o aprofundamento dos canais para navegação de navios de maior calado tem

provocado o aumento da amplitude das marés devido à extração de grandes massas de

areia e lodo, permitindo assim a entrada na laguna de um maior volume de água do mar.

É ainda importante notar a tendência para o recuo contínuo da linha de costa, relacionado

com o período transgressivo e acentuado pelas inúmeras ações antrópicas, entre Espinho e

cabo Mondego, verificada no período de 1954 a 1990 (BORREGO et al. 1994).

A sul da Torreira, principalmente junto do molhe Norte da Barra de Aveiro, ocorreu uma

grande acumulação até cerca de 1984 e em 1990 foi observável um ligeiro recuo entre a

praia de S. Jacinto e o molhe Norte da Barra. No troço entre a Praia da Barra até ao Sul da

Praia da Vagueira, a tendência global é para um forte recuo (CONDE, 2007).

Tratando-se de uma área topograficamente plana, ela é, todavia, contrastada pela existência

de uma escarpa que, a Nordeste, assinala a linha de costa anterior ao desenvolvimento dos

processos sedimentares que deram origem à faixa lagunar. A zona litoral formada pela

laguna, por depósitos de areias e de praia apresenta uma ligeira inclinação de Norte para

Sul ( o que ajuda a explicar o amplo desenvolvimento do canal que se estende em direção a

Mira). A Sudoeste, o rio Vouga desenvolve uma extensa planície aluvial com 3 a 5m acima

do nível do mar, que está sujeita a inundações.

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A Zona de Proteção Especial (ZPE) Ria de Aveiro. Ensaio metodológico para a construção de uma carta de Vulnerabilidades para apoio à gestão ecológica da paisagem 2012

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O cordão litoral é marcado por uma sequência de cotas superiores a 10m de altitude (10 a

16m, sensivelmente), no sentido Nordeste/Sudoeste. Este cordão dunar separa as faixas de

praias marinhas e lagunares.

A topografia suavemente ondulada da zona de transição, com cotas inferiores a 100m, é

marcada, pontualmente, por uma vertente Norte-Sul. A instalação nesta zona das linhas de

água que correm de Este para a laguna é responsável por uma sequência de perfis de vales

encaixados, por vezes de mais de 50m, alternando com secções de vales mais largos

(CONDE, 2007).

3.6. Evolução Morfologia

A Ria de Aveiro corresponde, em boa medida, a uma formação sedimentar recente cujas

formas atuais têm origem no período pós-glaciar de subida rápida do nível do mar. Durante

esta subida a faixa costeira ficou submersa e os vales dos rios foram inundados pelo mar.

Os rios, as ondas com as correntes litorais associadas e as correntes de maré transportam

sedimentos que tendem a depositar-se nas áreas mais calmas. Os estuários e as lagunas

costeiras desenvolvem-se, geralmente, em formações sedimentares nas quais predominam

processos de acumulação de materiais detríticos, e onde a acumulação pode ser rápida.

As bacias estuarinas são muito variadas, quer em termos de forma quer em termos de

génese, e podem ser classificadas de acordo com a sua morfologia ou com a sua estrutura

salina. Em ambos os casos depende, entre outros factores, do modo como a água doce do

rio se mistura com a água salgada do mar em resultado das correntes provocadas pela

descarga de água doce e pelas marés.

Segundo MARINHEIRO (2008), de acordo com a classificação dos estuários proposta por

PRITCHARD (1952)8, na década de 50, a Ria de Aveiro pode ser incluída no tipo

morfológico “Estuário fechado por barras de areia”. As suas características específicas

resultam do sistema de barras de areia ter, neste caso, um grande desenvolvimento ao

longo da costa, o qual ultrapassa muito a área onde entra o principal rio (Vouga), incluindo,

por isso, vários outros rios que desaguam na massa de água estuarina em pontos distantes

da foz do Rio Vouga. Por esta razão a Ria de Aveiro tem também características lagunares,

sendo a sua massa de água influenciada pela contribuição dos vários rios afluentes.

8 Na obra “Estuarine hydrography” publicada em 1952, Pritchard considera os seguintes tipos morfológicos:

- Estuários em planície costeira (vales submersos de rios); - Estuários fechados por barras de areia (vales de rios submersos em que a sedimentação recente foi suficientemente importante para competir com a subida do nível do mar); - Fiordes (vales profundos de origem glaciar); - Outros (origem tectónica); Por sua vez, a classificação dos estuários com base na estrutura salina estabelece os seguintes tipos: - Bem misturado (na secção transversal observa-se homogeneidade vertical da salinidade, podendo ocorrer variação lateral); - Parcialmente misturado (na secção transversal observa-se variação transversal observa-se variação vertical da salinidade);

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Analisando a morfologia da Ria de Aveiro podemos descrevê-la como um sistema de canais

de grande desenvolvimento longitudinal, e organizados em forma arborescente por

ramificações sucessivas a partir do ponto único de comunicação com o mar (cfr. fig.1). Os

extremos dos vários canais transformam-se no leito dos vários rios afluentes. Em cada um

destes canais pode observar-se a existência de um pequeno sub-estuário com

características de estrutura salina específicas e influenciando também o campo de

salinidade de todo o sistema. Digamos que, na prática, estamos perante uma estrutura do

tipo fractal, na medida em que o princípio de auto-semelhança de qualquer parte do todo

está bem presente em qualquer das sub-unidades da ria que se observe.

A Laguna de Aveiro é muito recente e apresenta uma evolução muito dinâmica, como é

característico dos sistemas litorais. Sofreu um processo evolutivo que durou

aproximadamente 800 anos e que foi interrompido no século XVIII através da ação humana.

O seu equilíbrio dinâmico tem-se mantido artificialmente, como resultado de constantes

intervenções de engenharia na embocadura e que permitiram a manutenção da ligação ao

mar.

É difícil imaginar locais como aqueles onde hoje se erguem Ovar, Estarreja, Aveiro, Mira ou

Tocha diretamente banhados pelo mar. No entanto, assim foi em tempos recuados, época

em que uma ampla baía antecedeu a laguna contemporânea. Esta última adquiriu a sua

formação atual entre os séculos X e XVII através do desenvolvimento de duas flechas

arenosas, uma progredindo de Espinho para Sul e outra, subindo em latitude a partir do

Cabo Mondego.

A baía localizada entre Espinho e o Cabo Mondego originou a Ria de Aveiro através de

processos de deposição de areias com formação de cordões dunares litorais e de um

sistema de ilhas no interior da laguna que se desenvolveram ao longo de cerca de 800 anos.

A diminuição da influência marinha e o progressivo assoreamento da laguna foram

processos que se acentuaram ao longo da sua evolução e tiveram um efeito importante na

alteração das características ecológicas e sócio-económicas da laguna (CARRABAU, 2005).

O isolamento da laguna do mar provocou profundas alterações sócio-económicas, através

de importantes reduções nas principais atividades lagunares: pesca e salicultura9.

No século XIV, a costa formava um recorte curvilíneo, colocando algumas povoações em

contato direto com o mar, como é o caso de Ovar, Estarreja, Salreu, Angeja, Cacia, Aveiro,

Ílhavo, Vagos, Portomar e Mira, assim como diversos cursos de água tais como os rios

Vouga, Águeda e Antuã. Este facto encontra-se documentado no Portulano de Petrus

Visconti de 1313.

9 É curioso constatar que esta crise económica motivou a intervenção humana numa tentativa de manter aberta a

comunicação com o oceano e assim travar o processo evolutivo natural de assoreamento e isolamento da laguna.

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Com a formação do Cordão Litoral e da Laguna Interior, que se conclui no século XVIII, os

rios Vouga e Águeda passam a desaguar na Ria “… como se fossem raios de um círculo

que nela tivesse o seu centro…” (AMORIM GIRÃO, 1935 apud RODRIGUES, 2007).

A barra foi fixada definitivamente no local onde se encontra atualmente, a 3 de abril de 1808,

marcando o fim de um processo de evolução natural da laguna (RODRIGES, 2007).

Para além da fixação da barra, a construção de um canal artificial com 1,3 km de

comprimento e 350m de largura permitiu o aumento da amplitude das marés na Ria,

facilitando a comunicação com o mar (RODRIGUES, 2007). O recurso a dragagens

frequentes do canal permitiu manter a profundidade necessária para a navegação em

direção ao porto de Aveiro, assim como controlar a evolução da Ria. Além disso, as

alterações no regime hidrológico também permitiram uma descarga rápida do escoamento

dos rios, prevenindo a ocorrência de cheias e a acumulação de sedimentos a montante

(BORREGO et al., 2006).

Entre 1949 e 1958 a barra artificial foi sujeita a várias reformulações e o molhe Norte foi

prolongado em 500m (1983-1987). Estas intervenções permitiram melhorar as condições de

navegabilidade da barra, apesar do prolongamento dos molhes ter vindo a condicionar toda

a dinâmica sedimentar local, induzindo modificações na deriva litoral e na evolução da linha

de costa - dinâmica geomorfológica da região e, consequentemente, na sua morfologia. Das

alterações induzidas pelos molhes é de salientar a acumulação de sedimentos a Norte de S.

Jacinto, o desenvolvimento de um banco externo à Ria e a intensificação do recuo da linha

de costa a Sul da barra (RODRIGUES, 2007).

O aumento progressivo do prisma da maré levou a um aumento da salinidade na Ria, de tal

forma que, no inverno durante a maré-alta, a água marinha atinge uma distância de mais

3Km a montante do ecossistema da Ria comparativamente a 1980 (BORREGO et al. 2006).

A barra artificial, que se mantém no mesmo local até hoje, continua a ser uma fonte de

problemas, na medida em que permanece a tendência para o assoreamento da laguna e da

embocadura por ação da deriva litoral que tende a repor os fundos aprofundados

artificialmente (BORREGO et al. 2006).

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4. A ZONA DE PROTEÇÃO ESPECIAL RIA DE AVEIRO (PTZPE0004)

4.1. Plano sectorial da Rede Natura 2000

A Resolução do Conselho de Ministros n.º 115-A/2008, de 21 de julho, veio aprovar o Plano

Sectorial da Rede Natura 2000 (PSRN2000) relativo ao território continental (fig.6).

Tratando-se de um plano sectorial, de acordo com regime jurídico dos Instrumentos de

Gestão Territorial (IGT), este constitui-se como um “instrumento de programação ou de

concretização das diversas políticas com incidência na organização do território”,

estabelecendo, entre outros aspetos, “a articulação da política sectorial em causa com os

demais instrumentos de gestão territorial aplicáveis”. Assim, o PSRN2000 constitui um

instrumento, de âmbito nacional, que vincula as entidades públicas (central e local),

estabelecendo princípios e regras a definir em instrumentos de gestão territorial vinculativos

para particulares.

Figura 6 - Sistema Nacional de Áreas Classificadas (SIC e ZPE). Elaboração própria. Fonte: ICNB

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Este plano foi elaborado à escala (1:100.000) para o território continental identificando uma

lista de Sítios, estabelecidos com base nos critérios da Diretiva Habitats e as áreas

classificadas como Zonas de Proteção Especial (ZPE), criadas ao abrigo da Diretiva Aves10.

Este Plano caracteriza os habitats naturais e seminaturais presentes nos Sítios e ZPE e

define as orientações estratégicas para a gestão do território abrangido por aquelas áreas

de modo a garantir a sua conservação.

4.1.1. A Rede Natura 2000

A Rede Natura 2000 pode caracterizar-se como uma rede ecológica para o espaço

Comunitário da União Europeia resultante da aplicação das Diretivas nº 79/409/CEE

(Diretiva Aves) e nº 92/43/CEE (Diretiva Habitats) que tem como finalidade assegurar a

conservação a longo prazo das espécies e dos habitas mais ameaçados da Europa,

contribuindo para estancar a perda de biodiversidade. Constitui o principal instrumento para

a conservação da natureza na União Europeia.

A Rede Natura 2000, que se aplica-se também ao meio marinho, é composta por:

Zonas de Proteção Especial (ZPE), estabelecidas ao abrigo da Diretiva Aves, que se

destinam essencialmente a garantir a conservação das espécies de aves, e seus

habitats, listadas no seu Anexo I, e das espécies de aves migratórias cuja ocorrência

seja regular;

Zonas Especiais de Conservação (ZEC), agora designadas de Sítios de Importância

Comunitária (SIC), criadas ao abrigo da Diretiva Habitats, com o objetivo expresso

de "contribuir para assegurar a Biodiversidade, através da conservação dos habitats

naturais (Anexo I)11 e dos habitats de espécies da flora e da fauna selvagens (Anexo

II), considerados ameaçados no espaço da União Europeia".

Nestas áreas de importância comunitária para a conservação de determinados habitats e

espécies, as atividades humanas deverão ser compatíveis com a preservação destes

valores, visando uma gestão sustentável do ponto de vista ecológico, económico e social.

A garantia da prossecução destes objetivos passa necessariamente por uma articulação da

política de conservação da natureza com as restantes políticas sectoriais, nomeadamente,

agrossilvopastoril, turística ou de obras públicas, por forma a encontrar os mecanismos para

que os espaços incluídos na Rede Natura 2000 sejam espaços vividos e geridos de uma

forma sustentável.

10

De ambas as Diretivas daremos conta em fase mais adiantada do trabalho. 11

Neste capítulo sempre que nos referimos a Anexo (I, II, II…) referimo-nos aos anexos das respetivas Diretivas e não a Anexos do trabalho.

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4.1.2. Diretiva Aves

A Diretiva Comunitária 79/409/CEE visa a conservação de todas as espécies de aves que

ocorrem naturalmente no estado selvagem no território europeu dos Estados-membros ao

qual é aplicável o Tratado. Para a concretização deste objetivo, cada um dos Estados

Membros tomará as medidas necessárias para garantir a proteção das populações

selvagens das várias espécies de aves no seu território da União Europeia, estabelecendo

um regime geral para a sua proteção e gestão.

Esta Diretiva, que se aplica tanto às aves como aos seus habitats, ovos e ninhos, impõe a

necessidade de proteger áreas suficientemente vastas de cada um dos diferentes habitats

utilizados pelas diversas espécies, regulamenta o comércio de aves selvagens, limita a

atividade da caça a um conjunto de espécies e em determinadas condições e períodos e

proíbe certos métodos de captura e abate

Inclui uma lista com espécies de aves que, conjuntamente com as espécies migradoras de

ocorrência regular, requerem a designação de Zonas de proteção especial, isto é, as

espécies para as quais cada Estado Membro da União Europeia deverá classificar as

extensões e os habitats do seu território que se revelem de maior importância para a sua

conservação (Anexo I).

4.1.3. Diretiva Habitats

A Diretiva 92/43/CEE tem como principal objetivo contribuir para assegurar a conservação

dos habitats naturais (Anexo I) e de espécies da flora e da fauna selvagens (Anexo II), com

exceção das aves (protegidas pela Diretiva Aves) considerados ameaçados no território da

União Europeia.

Cria uma rede ecológica coerente de Zonas Especiais de Conservação (ZEC), selecionadas

com base em critérios específicos (Anexo III) com o nome de Rede Natura 2000, que

também inclui as Zonas de Proteção Especial (ZPE) designadas ao abrigo da Diretiva Aves.

Estabelece ainda um regime de proteção estrito das espécies selvagens constantes do seu

Anexo IV, que identifica as espécies da fauna e flora selvagens que requerem uma proteção

rigorosa, mesmo fora das áreas que integram a Rede Natura 2000. Esta Diretiva regula a

captura, o abate, a colheita das espécies, a detenção, o transporte e o comércio, bem como

a perturbação da fauna e a destruição de áreas importantes para as diferentes fases do seu

ciclo de vida. No Anexo V figuram as espécies de interesse comunitário cuja captura na

natureza e exploração pode ser objeto de medidas de gestão. O Anexo VI contém uma lista

dos métodos e meios de captura e abate e meios de transporte proibidos.

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4.2. Caracterização da ZPE Ria de Aveiro

A Ria de Aveiro, pela biodiversidade que sustenta, complexidade morfológica e estrutural,

considerável dimensão e, sobretudo, por se tratar de uma região com características

biogeográficas e ecológicas únicas em Portugal, é uma importante área húmida do centro do

país, encontrando-se, por isso, classificada como Zona de Proteção Especial (PTZPE0004)

através do Decreto-Lei n.º 384-B/99, de 23 de setembro. Esta classificação abrange uma

superfície de 51.406,63 ha, 60% dos quais correspondem a área terrestre e 40% a área

marinha, ou seja, 30 669,71ha e 20 736,92ha, respetivamente (tabela 2).

Tabela 2 - Ocupação da área da ZPE por concelho. Fonte: ICNB

CONCELHO ÁREA(ha) % DO

CONCELHO OCUPADA

%DA ZPE NO CONCELHO

Águeda 2.115.476 6% 4%

Albergaria-a-Velha 1.831.804 12% 4%

Aveiro 9.574.323 49% 19%

Estarreja 2.749.201 26% 5%

Ílhavo 2.298.560 31% 4%

Mira 359.092 3% 1%

Murtosa 5.839.115 81% 11%

Oliveira do Bairro 731.323 8% 1%

Ovar 3.031.323 21% 6%

Vagos 1.512.910 9% 3%

A Ria constitui uma área importante do país, por acolher diversas espécies de aves

migratórias e avifauna nidificante, verificando-se a ocorrência de diversas espécies (Anexo I)

abrangidas pela referida Diretiva. É, como já referimos, uma importante e extensa zona

húmida, caracterizada por um sistema lagunar complexo, constituído por uma rede principal

de canais de maré permanentemente ligados e por uma zona terminal de esteiros com

canais estreitos e de baixas profundidades sendo ligada ao mar através da barra de Aveiro.

Destaca-se a existência de extensas áreas de sapal, salinas, áreas significativas de caniço e

importantes áreas de bocage, associadas a áreas agrícolas, onde se incluem as abrangidas

pelo Aproveitamento Hidro-Agrícola do Vouga. Estas áreas apresentam-se como

importantes locais de alimentação e reprodução para diversas espécies de aves, sendo que

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A Zona de Proteção Especial (ZPE) Ria de Aveiro. Ensaio metodológico para a construção de uma carta de Vulnerabilidades para apoio à gestão ecológica da paisagem 2012

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a área alberga regularmente mais de 20.000 aves aquáticas, e um total de cerca de 173

espécies, com particular destaque para o elevado número de aves limícolas.

De notar que a ZPE suporta, regularmente, mais do que 1% da população biogeográfica de

Alfaiate (Recurvirostra avosett), de Negrola Melanitta nigr), de Borrelho-grande-de-coleira

Charadrius hiaticula e de Borrelho-de-coleira interrompida Charadrius alexandrinus e

alberga ainda concentrações significativas de espécies de importância comunitária (Anexo

I). Refere-se ainda a importância da Ria de Aveiro para várias espécies de passeriformes

migradores.

4.3. Valores Naturais

No Baixo Vouga Lagunar destacam-se, fundamentalmente, quatro grandes unidades de

paisagem: o bocage, os sistemas húmidos, o campo aberto e a floresta. Esta classificação,

resulta da quantidade e qualidade da água presente na região, aspetos que determinam por

sua vez as características do solo e, consequentemente, as diferentes utilizações que dele

podem ser feitas.

A paisagem de Bocage é um tipo de habitat raro em Portugal, caracterizado pela

compartimentação do espaço rural através de sebes vivas, normalmente constituídas por

salgueiros, amieiros, carvalhos, pilriteiros e sabugueiros, e onde se pode encontrar uma

elevada diversidade faunística.

Os sistemas húmidos, pelas inúmeras funções ecológicas que desempenham, representam

um habitat de elevada importância, sendo sobretudo dominados na região, por formações

vegetais como o juncal e o caniçal.

Na paisagem de campo aberto observam-se importantes produções agrícolas, o que confere

à região grande importância socio-económica.

Já a norte de Aveiro, principalmente junto à faixa dunar é a floresta a que mais se destaca,

sendo a mancha mais importante a correspondente à Reserva Natural das Dunas de S.

Jacinto.

Associado a estas unidades de paisagem, a ria de Aveiro apresenta uma riqueza faunística

notável, estando grande parte das espécies presentes protegidas por convenções

internacionais.

De acordo com UNIR@RIA ( 2007), a fauna da ria de Aveiro possui uma vasta lista de

espécies já inventariadas entre a quais:

21 espécies de mamíferos,

173 espécies de aves,

9 espécies de répteis,

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12 espécies de anfíbios,

64 espécies de peixes.

A nível da avifauna, 80 (46%) das 173 espécies inventariadas constam do anexo II da

Convenção de Berna como "estritamente protegidas", enquanto 131 são consideradas

"protegidas" pela mesma Convenção.

Das 19 espécies de patos inventariadas, 5 são consideradas raras ou vulneráveis em

Portugal no Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal. Das 31 espécies de aves

limícolas, 3 são consideradas raras ou vulneráveis. Ambas as espécies de cegonhas são,

também, consideradas ameaçadas, bem como uma das espécies de garças. As aves de

rapina estão representadas com 3 espécies ameaçadas (uma delas "em perigo"), outras

tantas com estatuto "indeterminado" e ainda uma "insuficientemente conhecida".

A Ria alberga, ainda, mais de 1% dos efetivos da população de Alfaiate (Recurvirostra

avosetta) e de Borrelho-grande-de-coleira (Charadrius hiaticula), o que permite, por si só, a

sua inclusão na Lista das Zonas Húmidas de Importância Internacional, de acordo com a

Convenção de Ramsar12.

Quanto aos mamíferos, a Lontra (Lutra lutra), que ocorre em muitos canais da Ria, é

também considerada "estritamente protegida", sendo, por exemplo, o Ouriço-cacheiro

(Erinaceus europaeus) indicado no Anexo V considerados como espécie "protegida".

No que respeita aos anfíbios, 4 das espécies presentes são consideradas "estritamente

protegidas", e uma outra, o Tritão-de-ventre-laranja (Triturus boscai) é um endemismo na

zona oeste da Península Ibérica. Uma das espécies da repteis é, também, considerada

estritamente protegida e o Largarto-de-água (Lacerta schreiberi) é um endemismo da zona

oeste da Península Ibérica. De acordo com a Convenção de Berna, todas as espécies de

anfíbios e repteis constantes no Anexo III, são consideradas protegidas (Anexo III) .

Relativamente aos invertebrados, foram inventariados cerca de 230 espécies na

componente macrozoobentónica13 e cerca de 100 espécies na componente

macrozooplanctónica14.

12

Convenção de Ramsar é uma convenção sobre zonas húmidas e constitui um tratado inter-governamental adotado em 2 de fevereiro de 1971, na cidade iraniana de Ramsar, relativo à conservação e ao uso racional das zonas húmidas. Deste então, e até hoje, já assinaram esta convenção cerca de 150 países, entre os quais Portugal, que contribui com 17 sítios Ramsar para os cerca de 1430 existentes nos cinco continentes (Fonte: Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade). 13

As comunidades de invertebrados bentónicos são formadas por animais subaquáticos que vivem sobre ou enterrados no substrato do fundo do mar. Englobam vários grupos distintos, como os cnidários (anémonas), os anelídeos (minhocas), os moluscos (bivalves e búzios) e os artrópodes (isópodes, anfípodes, camarões e caranguejos), que constituem alimento para uma importante diversidade de peixes e aves. 14

A comunidade macrozooplanctónica é formada por pequenos crustáceos, moluscos, vermes aquáticos, entre outros. São importantes na manutenção do equilíbrio do ambiente aquático, podendo atuar como reguladores da comunidade fitoplanctônica (utilizando-a como alimento) e na reciclagem de nutrientes, além de servirem de alimento para diversas espécies de peixes.

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4.3.1 Biótopos Corine

O Projeto Biótopos Corine teve como objetivo efetuar uma compilação das componentes

físicas e biológicas mais importantes para a Conservação do Meio Ambiental na

Comunidade Europeia. Os locais incluídos no Projeto Biótopos caracterizam-se pela

existência, na área, de espécies florísticas e faunísticas vulneráveis e de unidades

fitossociológicas, pelo "valor do Sítio" relativamente a certo nível taxonómico e "valor do

Sítio relativamente a um sintaxon de unidades", assim como pelo valor geológico,

geomorfológico ou paisagístico do Sítio.

Embora os biótopos Corine não tenham valor legal, na realidade são indicativos de

sensibilidade da área como é o caso da ZPE da Ria de Aveiro, e serviram de base ao

levantamento realizado para a construção da lista da Rede Natura, sendo o seu zonamento,

em parte, coincidente com estas áreas.

A Ria de Aveiro apresenta-se na sua totalidade identificada como biótopo CORINE

(C12100019), juntamente com outros 11, assumindo estes uma posição de sub-biótopo, já

que estão integrados dentro da sua área.

4.4. Uso do Solo

Apesar da importância dos biótopos CORINE para a quantificação do valor ecológico da

área em estudo, a classificação dos biótopos da ZPE (fig.7) foi elaborada com base na carta

Corine Land Cover 2006, que atualiza a ocupação do solo entre 2000 e 2006, no

seguimento das anteriores, CLC90 e CLC00.

A classificação do uso do solo, através da carta Corine Land Cover, está dividida em 3

níveis (Nível 1 = 5 classes; Nível 2 = 15 classes; Nível 3 = 44 classes), permitindo ser

adaptada ás necessidades especificas de cada estudo, e sintetizar as suas 44 classes.

Assim, para este estudo utilizou-se a classificação de Nível 1, com a inclusão de duas

classes, “Praias, dunas e areias” (3.3.1 – classificação nível 3) e “Oceano” (5.2.3 –

Classificação nível 3), que foram separadas das suas classes de nível 1, “Florestas e meios

naturais e semi-naturais” e “Corpos de água” respectivamente.

O objectivo desta classificação adaptada prende-se basicamente com a necessidade de

adotarmos um critério único no que respeita à descrição dos valores naturais, fauna e flora,

assim como à elaboração da carta de distribuição da fauna (ponto 4.5. deste capítulo).

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Figura 7 - Carta de reclassificação do uso do solo da ZPE ria de Aveiro. Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do Corine Land Cover 2006

Assim, como resultado da nova classificação, a ZPE Ria de Aveiro foi classificada em 7

classes distintas (gráfico 4):

Territórios artificializados;

Áreas agrícolas e agroflorestais;

Florestas e meios naturais e seminaturais;

Zonas húmidas;

Corpos de água;

Praias, dunas e areias;

Oceano.

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Gráfico 4 - Área ocupada por cada biótopo na ZPE (%).

De acordo com a classificação do uso do solo e tendo em consideração os valores florísticos

e faunísticos presentes, apresenta-se de seguida uma descrição sumária duas unidades

atrás descritas

4.4.1 Territórios artificializados

Os territórios artificializados correspondem à área menos expressiva dentro dos limites da

ZPE, e dele fazem parte basicamente o tecido urbano(fig.8) e as áreas industriais.

Nos estudos consultados não há qualquer referência à fauna e à flora; no entanto, os

estudos de fauna e flora urbana podem-nos trazer algumas surpresas, nomeadamente aos

mais céticos, os que acham que o meio urbano não tem qualquer vida selvagem associada.

Figura 8 – Áreas habitacionais na Ria de Aveiro. Casa típica da Costa Nova.

3%

19%

10%

14%10%

2%

42%

Territórios artificializados

Áreas agrícolas e agro-florestais

Florestas e meios naturaise semi-naturais

Zonas húmidas

Corpos de água

Praias, dunas e areias

Oceano

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4.4.2. Áreas agrícolas e agroflorestais (bocage, campos de arroz e pequenos bosques

ripícolas)

Flora

Como consequência da intervenção humana, as espécies do bosque ripícola estão

organizadas em sebes que delimitam campos de pastagens ou de outras culturas de

regadio, formando um sistema agrícola designado por "bocage" (UNIR@RIA, 2007).

Neste tipo de sistema, nomeadamente (fig.9) a vegetação arbórea é dominada pelo Amieiro-

negro (Frangus alnus) e pelo Salgueiro-preto (Salix atrocinerea).

Figura 9 – Paisagem de “Bocage” do Baixo-Vouga lagunar

Tabela 3 - Espécies do estrato herbáceo mais frequentes

Nome comum Nome ciêntifico

Bredo-roxo Amaranthus lividus

Hera Hedera helix

Armoles-silvestres Atriplex prostrata

Mata-jornaleiros Aster squamatus

Camomila-romana Chamaemelum nobile

Leituga-dos-montes Leontodon taraxacoides

Tasneira-da-água Senecio aquaticus

Trepadeira-das-sebes Calystegia sepium subsp. Sepium

Marroio-de-água Lycopus europaeus

Erva-coelheira Lotus pedunculatus

Salgueirinha Lythrum salicaria

Alfacinha-do-rio Samolus valerandi

Erva-do-pobre Ranunculus flammula

Baldélia-ranunculada Baldellia ranunculoides

Erva-fina Agrotis stolonifera

Milhã Digitaria sanguinalis

Graminhão Paspalum paspalodes

Caniço Phragmites australis

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Nas sebes, onde a diversidade florística é maior, ocorrem espécies arbóreas como o

Carvalho (Quercus robur), o Loureiro (Laurus nobilis), o Amieiro (Alnus glutinosa), o Freixo

(Fraxinus angustifolia) e Salgueiros (Salix alba e Salix sp.). Para além das espécies

arbóreas, ocorrem algumas espécies arbustivas e trepadeiras (Crataegus monogyna, Rubus

sp, Lonicera periclymenum, Ruscus aculeatus, Calystegia sepium, Calystegia soldanella,

Cuscuta australis). No estrato herbáceo estão representadas mais de duas centenas de

espécies, sendo as mais frequentes as constantes da tabela 3.

Fauna

O “Bocage” é um sistema misto constituído por sebes e pastagens, áreas alagáveis e

arrozais, o que o torna um suporte de uma rica comunidade ornitológica, que engloba

Passeriformes, Columbiformes, Cuculiformes, Ciconiidae, Ardeidae, Accipitrioformes,

Falconiformes, Anatidae e Charadriiformes. Entre os diversos taxa referidos, salientam-se o

dos Passeriformes, pela sua maior riqueza em espécies e elevada densidade de indivíduos.

Entre eles destacam-se como grupo mais bem representado as Alvéolas (família

Motacillidae), os Chapins (família Paridae) e as Felosas (família Sylvidae). Relativamente

aos mamíferos salientam-se a Doninha (Mustela nivalis) e a Lontra (Lutra lutra).

Os “arrozais” são utilizados sobretudo como zona de alimentação, destacando-se as

seguintes espécies: Cegonha-branca (Ciconia ciconia), Garça-real (Ardea cinerea) Gaivota-

argntea (Larus argentatus), Pato-real (Anas platyrhynchos), Borelho-grande-de-coleira

(Charadrius hiatícula), o Maçarico-de-bico-direito (Limosa limosa) e Perna-longa

(Himantopus himantopus).

4.4.3. Florestas e meios naturais e seminaturais (dunas arborizadas e bosque ripícola)

Flora

As “dunas arborizadas” localizam-se numa faixa adjacente à duna primária no cordão litoral

norte, entre o Furadouro e São Jacinto e estendem-se mais para o interior sendo

classificadas como “Matas Nacionais”.

Os povoamentos das dunas arborizadas têm uma estrutura muito simplificada,

apresentando na maior parte da sua extensão unicamente espécies do estrato arbóreo,

nomeadamente o Pinheiro-bravo (Pinus pinaster). O estrato arbustivo está presente em

pequenas quantidades e é constituído por espécies tais como, a Acácia (Acacia longifolia), o

Sargaço (Cistus salvifolius), a Giesta-das-sebes (Cytisus grandiflorus), a Giesta-das-serras

Cytisus striatus), a Camarinha (Corema album), o Samouco (Myrica faya), o Tojo-bonito

(Stauracanthus genistoide) e o Tojo-arnal (Ulex europaeus). Nos locais onde o lençol

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freático se torna mais superficial, surgem salgueiros (Salix arenia e Salix atrocinerea) e o

Amieiro (Alnus glutinosa), formando no conjunto uma floresta mista de coníferas e folhosas.

O estrato herbáceo é escasso, sendo frequentes as espécies a Aira praecox (nome comum

desconhecido), a Erva-sapa (Agrostis curtisii), a Erva-pinchoneira (Corynephorus

canescens), a Perpétua-das-areias (Helichrysum italicum), o Bunho (Scirpus holoschoenus)

e a Erva-mata-pulga (Odontites tenuifolia).

Nas áreas em que o estrato arbustivo é muito pobre denota-se a presença de grandes

manchas de líquenes e musgos, no solo e nas árvores.

Os bosques ripícolas (fig.10) desenvolvem-se em solos húmidos ou margens de esteiros e

canais, com uma baixa concentração salina, ou seja, zonas não inundáveis, mas próximas

da água. Na ria de Aveiro demarca-se uma área relativamente contínua desde Salreu até ao

Baixo Vouga.

Em Salreu, a vegetação arbórea é dominada por duas espécies, Amieiro-negro (Frangula

alnus) e o Salgueiro (Salix atrocinerea). No Baixo Vouga encontram-se espécies arbóreas

tais como o Carvalho (Quercus robur), o Loureiro (Laurus nobilis), o Amieiro (Alnus

glutinosa), o Freixo (Fraxinus angustifolia), várias espécies de Salgueiros (Salix alba, Salix

sp.) e a Tamargueira (Tamarix africana), nas áreas junto ao sapal.

Figura 10 – Bosque ripícola constituido principalmente pela associação Amieiro – Salgueiro e Freixo.

Como espécies arbustivas e trepadeiras estão presentes, o Pilriteiro (Crataegus monogyna),

Rubus sp.15, a Madresilva (Lonicera periclymenum), a Gilbardeira (Ruscus aculeatus), a

Trepadeira-das-sebes (Calystegia sepium subsp. Sepium), a Couve-marinha (Calystegia

soldanella) e as Meadas (Cuscuta australis subsp. Tinei).

Fauna

Nas “dunas arborizadas” e nomeadamente na mata de São Jacinto (RNDSJ) existe uma

diversificada comunidade de aves, onde sobressaem como grupos mais representativos as

15

A abreviatura "sp." (zoologia) ou "spec." (botânica) é usada quando o nome da espécie não pode ou não interessa ser explicitado. A abreviatura "spp." (plural) indica "várias espécies".

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aves de rapina diurnas e noturnas e os Passeriformes. O Açor (Accipiter gentilis) e o Bufo

pequeno (Asio otus), têm, ambos estatuto de ameaçados destacando-se entre as aves

rapina.

Este habitat apesar de ser tipicamente florestal é ainda relevante para diversas espécies de

aves aquáticas. Até à década de 80 existiu uma colónia de nidificação mista de Garça-

boeira (Bubulcus ibis) e de Garça-branca (Egretta garzetta).

Existe há 14 anos uma pateira artificial que proporciona condições de sossego e proteção

para as aves invernantes, tendo sido inventariadas 12 espécies de Anatídeos, para além de

outras aves aquáticas. As espécies que merecem destaque são o Pato-real (Anas

platyrhynchos), o marrequinho (Anas crecca), a Piadeira (Anas penelope), a Frisada (Anas

strepera) e a Garça-real (Ardea cinerea) (UNIR@RIA, 2007).

4.4.4. Zonas húmidas (Bancos intertidais e salinas, Sapais e Caniçais)

Flora

Os sapais ocupam solos halomórficos, com quantidades importantes de matéria orgânica. A

vegetação dos sapais tem características dinâmicas e influentes no ecossistema estuarino.

Provoca o intercâmbio entre os sapais e os estuários, ao exportar a matéria orgânica sob a

forma de detritos e ao receber das águas estuarinas nutrientes minerais e orgânicos,

atuando como agente depurador. Este processo confere-lhes uma elevada produtividade, e

como tal condições favoráveis ao desenvolvimento de uma fauna diversificada. Devido ao

fluxo e refluxo da maré, o sapal fica submerso e intervém ativamente nas trocas de

nutrientes solúveis e insolúveis entre o estuário e a água do mar.

As plantas vasculares que constituem os sapais toleram a salinidade e o alagamento

periódico. As espécies que se observam com mais regularidade nos sapais dos canais de

Mira e de Ovar são:

A Gramata (Sarcocornia perennis), a Salicórnia (Salicornia ramosissima) (fig.11), a

Morraça (Spartina maritima) e a Erva-do-brejo (Triglochin maritima) no sapal baixo;

O Junco-das-esteiras (Juncus maritimus), a Erva-do-brejo (Triglochin maritima) e a

Gramata16 (Halimione portucaloides) a níveis mais elevados;

A Tamargueira (Tamarix africana) surge na transição para o meio terrestre;

O Caniço (Phragmites australis) está mais adaptada às zonas menos húmidas e de

salinidade reduzida.

Nos sapais do Baixo Vouga a diversidade existente é mais elevada quando comparada com

os acima descritos, existindo mesmo espécies não típicas. Destacam-se como espécies

16

Nome vulgar atribuído a várias espécies tais como a Sarcocornia perennis, a Salicornea europaea, a Salicornia ramosissima (mais conhecida por Salicónia) e Halimione portucaloides.

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mais abundantes e frequentes, o Malmequer-da-praia (Aster tripolium), a Serralha-da-praia

(Sonchus maritimus), a Alface-dos-rios (Samolus valerandi), o Caniço (Phragmites australis)

e vários Juncos como o Scirpus maritimus, o Juncus maritimuse e a Triglochin striata.

De acordo com a Diretiva 92/43/CEE, relativa à preservação dos habitats naturais e da

fauna e flora selvagens, os sapais com vegetação pioneira de Salicornia e outras espécies

dos lodaçais são um tipo de habitat de interesse comunitário.

Os caniçais são formações quase puras de Caniço (Phragmites australis), que ocorrem

sobretudo nas zonas da periferia nascente da laguna, em locais de baixa salinidade,

fazendo a transição para o meio terrestre e dulçaquícola. Em algumas áreas da laguna

formam grandes manchas, muito densas.

Figura 11 - Fotos da Salicórnia e do Junco.

Fauna

Os bancos intertidais mais extensos na zona central em associação com o delta do rio

Vouga, apresenta uma abundante fauna bentónica, sobretudo nas zonas de maior influência

marinha. Estas vasas são importantes como áreas de alimentação das populações de

limícolas invernantes que utilizam a Ria. As “salinas” constituem um importante habitat

alternativo para as aves limícolas invernantes, pois não só proporcionam alimento, mesmo

durante a preia-mar, como também refúgio de maré alta e abrigo contra o vento.

Da abundante fauna bentónica rica em espécies que caracteriza os bancos intertidais

destacam-se os bivalves, que constituem uma importante fonte de rendimento dos

profissionais da pesca das várias comunidades ribeirinhas. As aves, essencialmente as

limícolas, também beneficiam desta riqueza, utilizando os bancos intertidais como habitat de

alimentação.

As salinas acolhem 45% dos efetivos invernantes na Ria, embora as ilhas acolham um

maior número de espécies. As espécies Pilrito comum (Calidris. alpina), Perna-vermelha

(Tringa totanus), Maçarico-de-bicodireito (Limosa limosa) e o Maçarico-das-rochas (Actitis

hypoleucos) são as espécies a destacar nas salinas, pela importância que assumem no

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contexto dos efetivos invernantes na laguna. Registe-se que duas das três espécies que

nidificam na ria de Aveiro, utilizam como habitat preferencial, as salinas. A população

nidificante do Perna-longa (Himantopus himantopus) depende quase exclusivamente das

salinas (IDAD, 1994 apud UNIR@RIA, 2007).

Destacam-se ainda no contexto nacional as espécies que apresentaram, em 1993, efetivos

superiores a 20% dos totais nacionais, são elas o Borrelho-grande-de-coleira

(Calidris.hiaticula), o Pilrito comum (Calidris alpina), o Maçarico-das-rochas (Actitis

hypoleucos) e a Tarambola dourada (Pluvialis apricaria). Merece ainda relevo, entre as

outras espécies o Alfaiate (Recurvirostra avosetta) espécie considerada vulnerável e cuja

população invernante é importante na ria de Aveiro, mas também a nível nacional,

representando, em 1993, 7% da população.

No que diz respeito aos sapais, para UNIR@RIA, 2007 segundo o Relatório R 3.2 (IDAD,

1994), a ecologia dos “sapais” da ria de Aveiro é praticamente desconhecida,

nomeadamente no que respeita às relações tróficas. Torna-se, no entanto, evidente que

este habitat apresenta uma diversificada fonte de alimento para certas aves, nomeadamente

para a Garça-vermelha (Ardea purpurea), a Garça-real (Ardea cinerea) e a Garça-branca-

pequena (Egretta garzetta), aves de rapina como o Milhafre-preto (Milvus milvus) e Águia-

sapeira (Circus aeruginosus) e ainda algumas espécies de passeriformes. Os sapais são

também utilizados como dormitório pelas garças e como refúgio de maré alta pelas

limícolas.

O habitat “caniçais” desempenha um papel de grande importância para as aves, pois

proporciona-lhes alimento abundante, condições favoráveis para abrigo e nidificação de

várias espécies. Nos caniçais nidificam e alimentam-se diversas espécies de Rallidae17,

Motacilidae18 e Sylvidae19, o Mergulhão-pequeno (Tachybaptus ruficollis), o Pato-real (Anas

platyrhynchus), a Garça-pequena (Ixobrychus minutus), e as duas espécies consideradas

vulneráveis em Portugal a Garça-vermelha (Ardea purpurea) e a Águia-sapeira (Circus

aeroginosus). Os efetivos destas espécies, na ria de Aveiro, assumem importância no

contexto nacional, em especial a Águia-sapeira, com uma população de cerca de 30 % do

total nacional. A importância dos caniçais verifica-se também na época de inverno, onde

acolhem dormitórios de Águia-sapeira e de diversos passeriformes.

17

Rallidae é uma família de aves Gruiformes que inclui as saracuras, sanãs, galinhas-d'água, pintos-d'água, frangos-d'água e carquejas. 18

Motacilidae é a subfamília de aves passeriformes que inclui as petinhas, os caminheiros e as alvéolas. O grupo conta com cerca de 58 espécies, classificadas em cinco géneros. 19

Sylvidae é uma família de aves da ordem Passeriformes, onde se classificam a maioria das felosas e toutinegras.

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4.4.5. Corpos de água

Flora

Este habitat caracteriza-se pela existência de uma cobertura vegetal denominada moliço,

constituída por plantas vasculares e algas. O moliço apresenta uma composição variável

consoante a localização, dado os gradientes de salinidade se alterarem ao longo dos canais.

No entanto, as espécies de plantas vasculares que o constituem são basicamente a

Zostera marina, Zostera noltii, Potamogeton pectinatus, Ruppia cirrhosa e Ruppia maritima.

Para além das plantas vasculares, são também constituintes do moliço algumas algas20,

sendo as dominantes as carófitas Laprothamnium populosum e Chara sp., a rodófita

Gracillaria verrucosa e as clorófitas Ulva sp., Enteromorpha sp. e espécies filamentosas

(SILVA, 1985 apud UNIR@RIA, 2007).

A área de moliço tem vindo a decrescer, provavelmente devido ao aumento do

hidrodinamismo nos canais da Ria e ao aumento de salinidade das águas. As manchas mais

importantes ocorrem no canal de Ovar e no extremo sul do canal de Mira.

Na zona húmida das lagoas de água doce podemos distinguir dois habitats: a vegetação do

leito da lagoa e a vegetação das margens e pequenas ilhas, apenas parcialmente submersa.

No primeiro caso, a vegetação do leito é constituída por plantas vasculares, que incluem a

Serralha (Potamogeton sp), a Erva-pinheirinha (Myriophylum aquaticum), a Urticulária

(Utricularia australis), o Rabo-de-raposa (Ceratophylum demersum) e a Elódea-comum

(Elodea canadensis), para além de algas microscópicas como Chara sp e Nitella sp. A

vegetação marginal é dominada pelo Caniço (Phragmites australis) que forma manchas

densas. Para além do caniço, as espécies mais frequentes são os Juncos Eleocharis

palustris e Eleocharis multicaulis, o Bunho (Scirpus lacustris) e a Tabúa (Thypha latifolia).

Fauna

No habitat “corpos de água” apenas o zooplâncton e o necton são relativamente bem

conhecidos na Ria. Encontram-se também, interagindo com a massa de água, os

organismos que vivem associados ao leito, os bentos (ou bentonitos). Relativamente ao

holoplâncton21 verifica-se que é sobretudo constituído por copépodes e cladóceros e o

meroplâncton por estádios larvares de gastrópodes, bivalves, decápodes e poliquetas e por

ovos e larvas de peixes. A componente animal de macrobentos está representada

essencialmente por poliquetas, moluscos e crustáceos (decápodes, isópodes e anfípodes),

enquanto a componente vegetal macrobentónica é constituída sobretudo por plantas

20

Não conseguimos encontrar a denominação comum das espécies mencionadas. 21

Holoplâncton é o conjunto dos organismos que passam todo o seu ciclo de vida na coluna de água, fazendo parte do plâncton.

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vasculares e por algumas espécies de algas macroscópicas, que constituem o moliço.

Saliente-se que a meiofauna22, a microfauna e a microflora da ria de Aveiro, são

taxocenoses23 ainda desconhecidas.

Já o necton24 é bastante diversificado tendo-se registado na década de 80 cerca de 64

espécies de peixes.

Existem quatro categorias ecológicas da ictiofauna que merecem destaque, pela diversidade

de espécies e/ou abundância que apresentam:

espécies marinhas ocasionais, que entram na laguna com as marés. Neste grupo

destacam-se a Sardinha (Sardina pilchardus), o Caboz-negro (Gobius niger), o

Bodião (Symphodus bailoni), a Dourada (Sparus aurata), o Ruivo (Trigla lucerna), o

Peixe-pau-lira (Callionymus lyra), o Rodovalho (Scophtalmus rhombus) e a Galeota-

menor ( Ammodytes tobianus);

espécies marinhas dependentes do meio lagunar, que beneficiam de alimento

existente na laguna, e por outro lado, da proteção que a laguna proporciona durante

as fases juvenis do seu ciclo de vida, destacando-se os Mugilídeos, Lisa aurata, Lisa

ramada e Lisa saliens (as três espécies de Tainha), o Robalo (Dicenthrachus labrax)

e a Solha-das-pedras (Platichthys flesus);

espécies sedentárias, bem adaptadas às condições de instabilidade das

características abióticas da laguna, salientando-se a Atherina presbyter e Atherina

boyeri, ambas conhecidas como Peixe-rei;

espécies migradoras, destacando-se a Enguia (Anguilla anguilla).

Como é referido em IDAD, 1994 no Relatório R6 citado por UNIR@RIA, 2007, “A

abundância de peixe, nomeadamente de pequenas dimensões, como é o caso de espécies

sedentárias, representa um fator importante na manutenção de populações viáveis de aves

e mamíferos que dependem essencialmente deste tipo de alimento. Este é o caso de

espécies de garças, de andorinhas-do-mar e da lontra. Os organismos bentónicos também

assumem grande importância no ecossistema, como fonte de alimento para outros níveis

tróficos.”

As lagoas de água doce incluem-se neste habitat merecendo destaque, a Pateira de

Fermentelos e a Pateira de Frossos. A informação disponível sobre a Pateira é muito

escassa, verificando-se uma total ausência de referências a mamíferos, repteis e anfíbios,

22

A meiofauna ou meiobentos é o conjunto de animais que vivem enterrados no solo ou no sedimento de ecossistemas aquáticos e que ficam retidos em amostras passadas por peneiras com malhas de 0,0045 mm a 0,05 mm. Esses organismos desempenham um importante papel no ciclo de nutrientes e no fluxo de energia dos níveis inferiores para os superiores na rede trófica marinha, estuarina, dos lagos e do solo de ecossistemas terrestres. 23

Taxocenose é um grupo de espécies com identidade taxoonómica (reino, filo, classe...) que pode ou não possuir similaridade nas suas distribuições geográficas ou papéis ecológicos. 24

Em biologia marinha e limnologia chama-se nécton ao conjunto dos animais aquáticos que se movem livremente na coluna de água, com o auxílio dos seus órgãos de locomoção: as barbatanas ou outros apêndices. Fazem parte deste grupo os peixes, a maioria dos crustáceos, os mamíferos marinhos e outros.

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mas havendo, contudo, alguma informação relativa à avifauna e à ictiofauna. Nas pateiras

podem considerar-se duas unidades: a zona húmida, que engloba as águas livres e a

vegetação alagada das margens e ilhas, onde domina o caniço, juntamente com a tabúa e o

bunho e a zona marginal, que engloba o bosque ripícola associado a "bocage".

A zona permanentemente alagada da lagoa é povoada sobretudo por espécies de peixes da

família Cyprinidae como o Pimpão (Carassius sp), o Barbo (Barbus bocagei), o Ruivaco

(Rutilus sp) e a Carpa (Cyprinus carpio). É também citada a ocorrência da Enguia (Anguilla

anguilla) e do Achigã (Micropterus salmoides). As águas da pateira são ainda colonizadas

pelo Lagostim-de-água-doce (Procambarus clarkii), espécie exótica abundante que levanta

problemas ao desenvolvimento das outras espécies.

As águas livres são também utilizadas, como zona de alimentação, por algumas espécies de

aves tais como a Galinha-de-água (Gallinula chloropus), o Galeirão (Fulica atra), o Frango-

de-água (Rallus aquaticus), o Mergulhão (Tachybatus rufocolis) e o Pato-real (Anas

platyrhyncus). Estas espécies utilizam ainda a áreas de vegetação palustre como habitat de

nidificação e proteção. Para além das espécies mencionadas também a Garça-vermelha

(Ardea purpurea), a Garça-branca-pequena (Egretta garzetta), o Guarda-rios (Alcedo athis),

a Águia-sapeira (Circus aeruginosus), a Felosa-uniclolor (Locustella luscinoides) e o

Rouxinol-dos-caniços (Acrocephalus sp), utilizam a vegetação palustre como habitat de

alimentação e/ou nidificação.

Entre os mamíferos, a Lontra (Lutra lutra) merece, pelo seu estatuto de conservação,

atenção especial.

Este mamífero faz uso da zona húmida como local de alimentação, dependendo da zona

marginal da lagoa para se abrigar.

Na zona marginal ocorrem diversas espécies de aves, destacando-se pela sua grande

diversidade, os Passeriformes, entre eles o Papa-moscas (Muscicapa striata), o Pisco-de-

peito-ruivo (Erithacus rubecula), a Toutinegra-de-barrete-preto (Sylvia atricapilla), o

Verdilhão (Carduelis chloris), a Carriça (Troglodytes troglodytes) e o Chapim-real (Parus

major). Podem ocorrer ainda aves de rapina como o Milhafre-preto (Milvus migrans) e a

Águia-de-asa-redonda (Buteo buteo).

4.4.6. Praias, dunas e areias

Flora

As dunas têm características deficitárias para o desenvolvimento do biota, dado serem um

habitat arenoso instável, seco e pobre em nutrientes. Contudo existem espécies,

denominadas pioneiras, que as colonizam dado possuírem processos adaptativos para tal.

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Na faixa de areias em estabilização apenas existem espécies muito resistentes, para

suportarem a ação dos salpicos marinhos, do vento forte, da secura e da quase inexistência

de elementos nutricionais, espécies estas que se referenciam nas linhas abaixo:

O Feno-das-areias (Elymus farctus subespécie boreali – atlanticus) é a espécie

dominante que aparece junto ao limite superior da maré, ocupando locais inóspitos;

O Estorno (Ammophila arenaria subespécie arundinacea) aparece isntalado nas

dunas mais altas, com a tarefa importante de fixar as dunas através do seu sistema

radicular (fig.12).

Existem também inventariadas como espécies com características similares às anteriores, a

Eruca-marinha (Cakile maritima), a Couve-marítima (Calystegia soldanella) e os

Cordeirinhos-da-praia (Otanthus maritimus). As restantes espécies presentes neste habitat

são mais vulneráveis e como tal instalam-se nas zonas mais afastadas da praia, pois as

condições edáficas e microclimáticas favorecem o seu desenvolvimento.

As dunas móveis do cordão litoral com Ammophila arenaria e as dunas fixadas com

vegetação herbácea, são habitats naturais de interesse comunitário abrangidos pela Diretiva

92/43/CEE, relativa à preservação dos habitats naturais e da fauna e flora selvagens.

Figura 12 – Foto do Estorno, e da Couve-marítima

Fauna

As praias são utilizadas essencialmente pelas aves invernantes, pois durante o resto do ano

a perturbação neste habitat é intensa. Além das espécies de aves marinhas predominantes

nesta área do litoral português, os Laridae e Sternidae, já referidos, ocorrem neste habitat

algumas espécies de limícolas, com destaque para o Pilrito-da-areia (Calidris alba) e o

Borrelho-de-coleira-interrompida (Charadrius alexandrinus). Esta última é uma espécie

citada como nidificante nas dunas litorais, nomeadamente na Reserva Natural das Dunas de

São Jacinto.

Verifica-se ainda que a zona posterior da duna é povoada por uma comunidade de

pequenos mamíferos, que suportam predadores ativos como a Raposa (Vulpes vulpes) e

por diversas espécies de aves de rapina que nidificam na área florestal.

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4.4.7. Oceano ( Zona marinha próxima da costa)

No habitat “zona marinha próxima da costa” destacam-se duas espécies de mamíferos, o

Golfinho-comum (Delphinus delphis), o Bôto (Phocoena phocoena) e as aves marinhas,

invernantes ou com passagem migratória neste local. As famílias de aves mais bem

representadas em número de espécies e/ou número de indivíduos são os Laridae,

Sternidae, Alcidae, Sulidae e Anatidae. A população invernante do Pato-negro (Melanitta

nigra) apresenta importantes concentrações, no contexto nacional, e representa mais de 1%

da população da Europa Ocidental (UNIR@RIA, 2007).

4.5. Distribuição da Fauna

A ria de Aveiro é considerada internacionalmente como Important Bird Area (IBA) e justifica-

se pela presença de uma população residente de Águia-sapeira (Circus aeruginosus - 13

casais), populações nidificantes de Garçote (Ixobrychus minutus - frequente), Garça-

vermelha (Ardea pupurea - 150 a 200 casais), Pernilongo (Himamtopus himamtopus - 50 a

100 casais), Borrelho-de-coleira-interrompida (Charadrius alexandrinus - comum), Chilreta

(Sterna albifrons - 10 a 15 casais), e populações invernantes de Águia-sapeira (47 a 50

indivíduos), Alfaiate (Recurvirostra avosetta - 800 a 1.800 indivíduos), Borrelho-grande-de-

coleira (Charadrius hiaticula - 860 a 1.800 indivíduos), Borrelho-de-coleira-interrompida (660

a 6.000 indivíduos) e Pilrito-de-peito-preto (Calidris alpina - 7.800 a 10.700 indivíduos). Além

disso, alberga regularmente mais de 20.000 aves aquáticas invernantes, sendo de destacar

o elevado número de certas espécies de aves limícolas, tais como de Pilrito-de-peito-preto

(Calidris alpina) e de Borrelho-de-coleira-interrompida. Na zona marinha registam-se

grandes concentrações de Negrola (Melanitta nigra), (COSTA et al., 2003).

A classificação da ZPE deve-se essencialmente à riqueza de avifauna que a ria possui. Para

a elaboração da carta de distribuição da fauna utilizaram-se os dados recolhidos e tratados

por CONDE (2007), tendo sido adaptados à classificação dos biótopos seguindo a

classificação de nível 1 da carta Corine Land Cover, conforme foi descrito em capítulo

anterior , uma vez que CONDE (2007) utilizou uma classificação diferente.

A área de estudo foi dividida em 14 quadrículas 10x10km, tendo por base as cartas militares

1:25000 sendo cada quadrícula analisada de acordo com o número e tipo de

biótopos/habitats e com o número e as espécies de fauna presentes. Esta análise permite,

dentro de cada quadrícula, distinguir qual o tipo de biótopo/habitat que consegue reunir um

maior efetivo de espécies.

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A sintetização das tabelas elaboradas por CONDE (2007) e a elaboração cartográfica a

partir das mesmas, permitiu uma análise comparativa de distribuição dos valores faunísticos,

pelos biótopos da ria, isolando assim as áreas de maior quantitativo faunístico (ANEXO II).

De acordo com as orientações de gestão e as motivações que levaram à criação das ZPE’s,

o estatuto de conservação da espécie apresenta-se como um fator determinante.

Partindo da mesma metodologia em relação à distribuição da avifauna por quadrículas e

classes de uso do solo, foi elaborada uma carta de distribuição da fauna prioritária, tendo

por finalidade comparar a relação entre nº total de espécies e nº total de espécies prioritárias

por classe de uso do solo. O tratamento dos dados foi elaborado de acordo com a

metodologia descrita no ponto seguinte.

4.5.1 Metodologia aplicada à classificação de espécies prioritárias para a

conservação na ZPE da Ria de Aveiro

O método escolhido para a seleção de espécies prioritárias para a conservação na área da

ZPE - Ria é um método assenta num processo de classificação, cujo princípio radica na

utilização de critérios que têm em conta, simultaneamente, o estatuto de ameaça e a

responsabilização política que Portugal tem na sua conservação, a distribuição das espécies

em Portugal e na Europa, e a sua sensibilidade. Este método foi sugerido por PALMEIRIM

et al.,(1994) para o Plano de Ordenamento da Área de Paisagem Protegida do Sudoeste

Alentejano e Costa Vicentina, tendo sido posteriormente adaptado e utilizado no Plano de

Ordenamento da Reserva Natural das Dunas de São Jacinto (ICN, 2002).

Neste caso, utilizaram-se espécies de vertebrados terrestres – herpetofauna, avifauna,

mamofauna (Anexo II) – para a classificação, porque estas espécies têm um papel

importante nos processos e padrões da comunidade e porque é possível determinar as suas

distribuições numa escala prática e útil (JENNINGS, 2000 in AMARO, 2001 apud CONDE,

2007). De acordo com o método escolhido, foram consideradas três classes para a

avaliação das espécies:

Estatuto de Conservação (EC);

Estatuto Biogeográfico (EBg);

Sensibilidade (SEN).

Cada classe encontra-se dividida em várias categorias, correspondentes a uma pontuação

entre 0 e 10. Com base na ponderação das variáveis consideradas, das quais seguidamente

se dará conta, resulta o conceito de “Valor Ecológico da Espécie” (VEE), obtido a partir do

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somatório das três classes avaliadas e cujo contradomínio de valores corresponde ao

intervalo (0 - 100). Deste modo, tem-se,

VEE = EC + EB + SEN

Figura 13 - Sintetização do processo de classificação de espécies prioritárias.

A figura 13, dá-nos conta, de uma forma sintética, do processo de valorização ecológica da

espécie. Este processo foi aplicado a cada uma das espécies utilizadas neste estudo, e a

sua classificação individual consta das tabelas do Anexo II deste trabalho.

Estatuto de conservação (EC)

EC = LV + Berna + Bona + DH + DA + IUCN

Esta classe valoriza as espécies consideradas mais ameaçadas e as que o Estado

Português se obrigou a salvaguardar por Convenções Internacionais e por Directivas

Comunitárias (ICN, 2007). O valor do Estatuto de Conservação será obtido pelo somatório

dos seguintes parâmetros:

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a) Estatuto no Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal (LV).

10 – em perigo

8 – vulnerável ou indeterminado

6 – rara

3 – insuficientemente conhecida

0 – espécie não ameaçada

b) Convenção de Berna (Berna)

10 – espécies incluídas no Anexo II

4 – espécies incluídas no Anexo III

0 – espécies não incluídas na Convenção

c) Convenção de Bona (Bona)

10 – espécies incluídas no anexo I (espécies migradoras ameaçadas)

5 – espécies incluídas no anexo II (espécies migradoras cujo estado de conservação

é desfavorável e que devem ser objeto de acordos internacionais para a sua

conservação)

0 – espécies não incluídas na Convenção

d) Diretivas Habitats (DH)

10 – espécies prioritárias incluídas no Anexo II, onde constam as espécies animais

prioritárias de interesse comunitário, cuja conservação exige a designação de zonas

especiais de conservação

9 – espécies incluídas no Anexo II, onde constam as espécies animais de interesse

comunitário, cuja conservação exige a designação de zonas especiais de

conservação

5 – espécies incluídas no Anexo IV, onde constam as espécies animais de interesse

comunitário que exigem uma proteção rigorosa

0 – espécies não incluídas nos anexos

e) Diretiva Aves (DA)

10 – espécies prioritárias incluídas no Anexo I, relativo às espécies de aves

prioritárias de interesse comunitário, cuja conservação requer a designação de zonas

de proteção especial

9 – espécies incluídas no Anexo I, relativo às espécies de aves de interesse

comunitário, cuja conservação requer a designação de zonas de proteção especial

0 – espécies não incluídas nos anexos

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f) Estatuto no Livro Vermelho da IUCN (International Union for Conservation of Nature)

10 – em perigo

8 – vulnerável ou indeterminado

6 – rara

3 – insuficientemente conhecida

0 – espécie não ameaçada

Estatuto Biogeográfico (EBg)

Esta classe exprime a relevância das populações em função da representatividade nacional

e internacional sendo calculada através da seguinte fórmula:

EBg = G + P

em que,

G – Distribuição Global; P – Distribuição em Portugal

a) Distribuição Global (G)

10 - Península Ibérica

8 - Península Ibérica e sul de França

4 - menos de 30% da Europa

0 - distribuição alargada

b) Distribuição em Portugal (P)

10 - Localizada

6 - menos de 1/3 do país

3 - 1/3 a 2/3 do país

0 - mais de 2/3 do país

Sensibilidade (SEN)

Esta classe reflecte a fragilidade biológica das espécies através da medida de algumas

características biológicas intrínsecas que poderão potenciar o risco de extinção.

Considerando que esta avaliação se pode revestir de alguma dificuldade e/ou

subjectividade, serão utilizados apenas dois parâmetros que se consideram de maior relevo

biológico e que ainda não estão contemplados em nenhuma das classes anteriores,

eliminando-se assim algum carácter de redundância e sobretudo de subjectividade da

avaliação (ICN, 2007). É obtida pelo somatório de dois parâmetros:

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60

SEN = H+R

em que,

H – Especialização em termos de habitat ; R – Dependência para a reprodução

a) Especialização em termos de habitat (H)

10 - espécie muito especializada, dependente de biótopos pouco

abundantes

5 - espécie com uma situação intermédia

0 - espécie de elevada plasticidade, ou dependente de biótopos abundantes

b) Dependência para a reprodução (R)

10 - reprodução confirmada

8 - reprodução provável, não confirmada

6 - reprodução possível, não confirmada

Os dados tratados, que foram objecto de apresentação e apreciação (Anexo III), depois de

cartografados, permitem-nos fazer uma análise mais detalhada na definição de zonas de

maior importância para a fauna, nomeadamente para as aves (fig.14).

Figura 14 - Carta de distribuição da biodiversidade faunística por biótopo da ZPE Ria de Aveiro. Elaboração própria.

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61

A quadrícula UTM 10x10km (5) é a que apresenta o maior número de espécies (aves,

mamíferos, répteis e anfíbios). No entanto, as duas quadrículas adjacentes, 4 e 6,

apresentam um número de espécies não muito discrepante das 163 espécies que ocorrem

na quadrícula 5 (tabela 4).

Pode-se estabelecer um certo paralelismo entre esta maior variedade de ocorrências de

espécies com a maior diversidade de biótopos que as quadrículas 5 e 6 oferecem. Contudo,

o biótopo que apresenta um maior número de espécies é o dos campos agrícolas (cfr.

fig.14) que, naquela zona, estão muitas vezes próximos ou mesmo rodeadas por linhas de

água. Estas áreas de campos agrícolas, apesar da intervenção regular do homem, incluindo

as que formam as zonas de “bocage” – pequenos campos agrícolas delimitados por sebes

de árvores – servem de refúgio para muitas espécies de animais, principalmente de aves.

Tabela 4 - Sintetização de espécies da fauna por Quadrícula UTM 10x10km

Quadrícula (UTM)

Avifauna (Nº total de Espécies)

Mamofauna (Nº total de Espécies)

Herpetofauna (Nº total de Espécies)

Nº total de espécies por quadrícula

1 99 22 0 121

2 76 19 0 95

3 101 20 1 122

4 121 19 11 151

5 136 17 10 163

6 128 18 10 156

7 21 5 0 26

8 105 19 3 127

9 70 4 17 91

10 68 18 9 94

11 81 18 1 100

12 75 18 4 97

13 63 17 4 84

14 64 18 6 88

Por determinação das espécies prioritárias de acordo com o score25 final de cada uma delas

(tabela 5), selecionaram-se as 25 espécies com o score mais elevado correspondendo a 1/8

25

Para representar as áreas com maior expressão em espécies prioritárias, Conde (2008) utilizou as 25 espécies com maior valorização ecológica, seguindo a metodologia de Palmeirim et al. (1994), o que corresponde a cerca de 1/8 do total das

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do número total de espécies com que se trabalhou (199 espécies: 153 de aves, 25 de

herpetofauna e 22 de mamíferos). No entanto com o score atribuído à vigésima quinta,

temos quatro espécies ajustando-se assim para um total de 28.

Tabela 5 - Score de Espécies Prioritárias segundo a metodologia de Palmeirim et al. (1994)

Nº Espécie Total

1 Chioglossa lusitanica 64

2 Platalea leucorodia 61

3 Plegadis falcinellus 55

4 Ciconia nigra 54

5 Circus aeroginosus 54

6 Ardeola ralloides 53

7 Lacerta schreiberi 53

8 Sterna albifrons 52

9 Coracias garrulus 50

10 Rana iberica 48

11 Himantopus himantopus 46

12 Recurvirostra avosetta 46

13 Chlidonias hybrida 45

14 Ardea purpurea 44

15 Milvus milvus 43

16 Ciconia ciconia 42

17 Lutra lutra 41

18 Pelobates cultripes 41

19 Anas strepera 40

20 Charadrius alexandrinus 40

21 Ixobrychus minutus 39

22 Discoglossus galganoi 38

23 Locustella luscinoides 38

24 Sylvia undata 38

25 Circus cyaneus 37

25 Egretta garzetta 37

25 Eptesicus serotinus 37

25 Uria aalgae 37

Uma das constatações prioritárias reside no facto de as mesmas quadrículas (4, 5 e 6)

possuírem a maior variedade de espécies com maior cotação nas tabelas de

estabelecimento de espécies prioritárias de conservação, incluindo agora a quadrícula 3,

área essencialmente de sapal onde estão presentes entre 13 a 15 espécies com maior

estatudo de VEE (o número máximo de espécies com maior estatuto de VEE por quadrícula

é de 15). Assim, este núcleo de quatro quadrículas (3, 4, 5 e 6) caracteriza-se como a área

de maior importância para a conservação da avifauna, devendo assim ser levado em conta

nas orientações de gestão definidas pelo plano sectorial da rede natura 2000 para a ZPE

Ria de Aveiro.

espécies constantes das tabelas do Anexo II. Tal facto resulta da adaptação da metodologia utilizada pelo autor à metodologia sugerida por Palmeirim et al. (1996), e que aqui resolvemos respeitar.

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63

Como esperado, com a aplicação desta metodologia verificou-se que as zonas com maior

dominância de zonas de sapal, do salgado, e campos agrícolas (bocage) são, de facto, as

que merecem maior atenção para a conservação. Desta forma, e de modo objectivo, as

áreas a conservar incluem a zona do Baixo Vouga Lagunar, a área de sapal e de salgado da

parte mais central da laguna, áreas incluídas nas quadrículas UTM referenciadas por 3, 4, 5

e 6 (fig.15).

Figura 15 - Carta de distribuição da biodiversidade faunística prioritária por biótopo da ZPE Ria de

Aveiro. Elaboração própria.

5. CLASSIFICAÇÃO BIOGEOGRÁFICA

Em termos muito sintéticos, poder-se-ia dizer que a Biogeografia é o ramo da Geografia que

tem como objecto de estudo a análise e a explicação da distribuição dos seres vivos na

superfície da Terra.

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Está estreitamente relacionada com a Fitogeografia (que restringe o seu domínio às

plantas), uma vez que grande parte das suas tipologias se baseia na análise da distribuição

de táxones vegetais indígenas e respetivas comunidades (COSTA et al. 1998).

Situado na faixa ocidental da Península Ibérica, Portugal faz parte da área biogeográfica

com maior riqueza florística do continente Europeu (RIVAS-MARTÍNEZ et al., In 1999

CASTROVIEJO, 1997 apud FIGUEIREDO, 2004), podendo ser dividido em duas Regiões

pertencentes ao Reino Holártico:

Região Eurosiberiana: caracterizada por uma aridez estival nula ou muito ligeira

mas nunca superior a dois meses. Área onde o valor da precipitação média mensal é

inferior a duas vezes a temperatura média mensal (P<2Ti) e em que a precipitação

estival compensa a evapotranspiração evitando, assim, o esgotamento das reservas

hídricas do solo.

Região Mediterrânica26: região onde escasseiam as chuvas de verão, existindo pelo

menos dois meses em que a precipitação média mensal é inferior ao dobro da

temperatura média mensal (P<2Ti).

As características das áreas que constituem as Regiões determinam a vegetação climácica

existente em cada uma delas: bosques caducifólios na Região Eurosiberiana e bosques

perenifólios e marcescentes na região Mediterrânica. Assim, segundo COSTA et al., (1998),

a área de estudo localiza-se precisamente na zona de transição entre a Região

Eurossiberiana e a Região Mediterrânica e tem o seguinte enquadramento biogeográfico:

REGIÃO EUROSSIBERIANA

SUB-REGIÃO ATLÂNTICO-MEDIOEUROPEIA

SUPERPROVÍNCIA ATLÂNTICA

PROVÍNCIA CANTABRO-ATLÂNTICA

SUBPROVÍNCIA GALAICO-ASTURIANA

SETOR GALAICO-PORTUGUÊS

SUBSETOR MINIENSE

SUPERDISTRITO MINIENSE LITORAL

REGIÃO MEDITERRÂNICA

SUB-REGIÃO MEDITERRÂNICA OCIDENTAL

SUPERPROVÍNCIA MEDITERRÂNICA IBERO-ATLÂNTICA

26

Alguns autores (e.g. Fernando Rebelo) preferem utilizar o termo Mediterrâneo, defendendo tratar-se da forma gramatical mais correcta; neste trabalho, utilizaremos o termo tal como está plasmado nas obras consultadas, sem com isso anunciar a tomada de qualquer partido, embora nos pareça mais ajustada a posição de Fernando Rebelo.

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PROVÍNCIA GADITANO-ONUBO-ALGARVIENSE

SETOR DIVISÓRIO PORTUGUÊS

SUBSETOR BEIRENSE LITORAL

SUBSETOR OESTE-ESTREMENHO

SUPERDISTRITO COSTEIRO PORTUGUÊS

O Superdistrito Miniense Litoral (fig.16) inclui a maior parte do Subsetor Miniense e

compreende as áreas mais setentrionais da orla portuguesa e as áreas de baixa altitude do

NO de Portugal. Apresenta como vegetação climácica climatófila27 os carvalhais

mesotemperados e termotemperados da associação Rusco aculeati-Quercetum roboris,

embora estes se encontrem atualmente limitados a pequenas áreas. Nas zonas litorais a

vegetação característica inclui vegetação dunar atlântica do Otantho-Ammophiletum e

Iberidetum procumbentis, vegetação de zonas salgadas do Limonio-Juncetum maritimi,

Puccinellio maritimae-Arthrocnemetum perenis e Inulo crithmoidis-Elymetum pycnanthi e

vegetação de arribas do Crithmo-Armerietum pubigerae, Sagino maritimae-Cochlearietum

danicae e Cisto salvifolii-Ulicetum humilis (COSTA et al. 1998).

Figura 16 - Enquadramento biogeográfico da Ria de Aveiro de acordo com COSTA et al., (1998).

27

Em fitossociologia distinguem-se dois tipos fundamentais de vegetação climácica com papel relevante na construção da paisagem: a climatófila e a edafófila. A vegetação climácica climatófila desenvolve-se em biótopos cuja humidade edáfica depende exclusivamente do regime pluvial do território, encontrando-se, por isso, na estreita dependência do macroclima AGUIAR et al., 2000.

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Inserida na Região Mediterrânica, a Província Gaditano-Onubo-Algarviense, essencialmente

litoral, encerra uma flora e vegetação ricas em endemismos paleomediterrânicos,

paleotropicais lianóides e lauróides de folhas coriáceas. Inclui o Setor Divisório Português,

que se inicia a norte da Ria de Aveiro e se prolonga pelo vale do Mondego até à base da

Serra do Açor. Consiste num território litoral maioritariamente plano, com algumas serras de

baixa altitude, onde se encontra vegetação de grande originalidade. Destacam-se os cercais

do Arisaro-Quercetum broteroi, os sobreirais do Asparago aphylli-Quercetum suberis, os

azinhais do Lonicero implexae-Quercetum rotundifoliae, os carvalhais de carvalho-roble

Viburno tini-Quercetum roboris e os zambujais do Viburno tini-Oleetum sylvestris, que

constituem as cabeças de séries climatófilas observadas neste território (COSTA et al,.

2001). A Província Gaditano-Onubo-Algarviense inclui também o Subsetor Beirense Litoral,

essencialmente silicioso, com a exceção das “ilhas” calcárias da Serra da Boa Viagem e

Cantanhede. É a área de ótimo biogeográfico dos carvalhais termófilos de carvalho-

alvarinho do Rusco-aculeati-Quercetum roboris viburnetosum tini. Contudo, grande parte do

território é ocupada por bosques de sobreiro – Asparago aphylli- Quercetum suberis e pelas

etapas subseriais (COSTA et al., 1998).

O Subsetor Oeste-Estremenho, o Superdistrito Costeiro Português, é um território litoral

constituído por dunas, areias e arribas calcárias, que se estendem desde a Ria de Aveiro

até ao Cabo da Roca. É neste território que se verifica a transição das comunidades

atlânticas para as mediterrânicas, observando-se o Otantho-Ammophiletum australis,

Honkenio-Euphorbietum peplis e Rubio longifoliae-Coremetum albi a Norte de Peniche e o

Iberidetum procumbentis a Norte de Quiaios.

São exclusivas do território Myrico fayo-Arbutetum unedonis, Stauracantho genistoidis-

Coremetum, Dactylo marinae-Limonietum plurisquamati, Salvio scaleroidis-Ulicetum densi

variante de Daphne maritima, Cisto-Ulicetum humilis lavanduletosum luisieri.

Assinalam-se ainda no território Euphorbio paraliae-Agropyretum junceiformis, Srophulario

sublyratae-Suaedetum verae, Limonietum multifloro-virgatae, Daphne maritimae-Ulicetum

congesti e Parapholido incurvae-Catopodietum marini (COSTA et al., 2001).

5.1. Índices Bioclimáticos

A precipitação e a temperatura são elementos climáticos que mais influenciam o

desenvolvimento e distribuição das plantas na Terra sendo por isso, os parâmetros mais

utilizados no cálculo dos índices que permitem definir as relações clima/vegetação de um

território (HONRADO, 2003). Os índices mais representativos da relação clima/vegetação e

por isso, os mais correntemente calculados, são o Índice de Termicidade, o Índice de

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67

Termicidade Compensado, o Índice Ombrotérmico, os Índices Ombrotérmicos Estivais

Compensados e o Índice de Continentalidade (HONRADO, 2001 e HONRADO, 2003).

5.1.1. Índice de Continentalidade (Ic)

O Índice de Continentalidade (Ic) permite caracterizar o território relativamente ao rigor da

estação estival e invernal, isto é determina a amplitude térmica verificada entre o mês mais

quente e o mês mais frio do ano. Calcula-se pela diferença entre a temperatura média dos

meses mais quentes e mais frios do ano, em graus centígrados:

Ic = Tmáx – Tmin

Um clima é tanto mais continental quanto maior for a amplitude térmica anual verificada

(HONRADO, 2003; LOIDI et al. 1997). Mares, lagos e oceanos têm um efeito amenizador da

temperatura, atenuando a amplitude térmica, enquanto que montanhas e o distanciamento

do mar favorecem a continentalidade (RIVAS-MARTÍNEZ, 1993 apud HONRADO, 2003).

5.1.2. Índice de Termicidade (It) e Índice de Termicidade Compensado (Itc)

Índice de termicidade (It), é a soma em décimas de grau de T (temperatura média anual), m

(temperatura média das mínimas do mês mais frio) e M (temperatura médiadas máximas do

mês mais frio). Representa-se pela fórmula:

It = 10.(T+M+m)

Sendo:

T - temperatura média anual;

M - a temperatura média das máximas do mês mais frio (O mês mais frio será o que

apresentar menor valor de Ti isto é, menor temperatura média mensal);

m - a temperatura média das mínimas do mês mais frio.

Este índice pondera a intensidade do rigor invernal, factor limitante para muitas plantas e

comunidades vegetais, e mostra uma elevada correlação com a vegetação, principalmente

para os climas quentes e temperados (COSTA et al., 1993). Desta forma permitiu propor o

conceito de piso bioclimático (termotipo), como sendo um determinado espaço ambiental

que se sucede numa clisérie28 em altitude ou latitude de vegetação (RIVAS-MARTINEZ et

al., 2000) Nas zonas extratropicais da Terra (ao norte e ao sul do paralelo 23º N e S), haverá

necessidade de compensar o valor do índice de termicidade (It), devido ao excesso de frio

28

Clisérie é uma distribuição escalonada dos diferentes tipos de vegetação, que são determinadas por variações no clima.

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ou de temperança destes territórios de clima continental ou hiperoceânico acentuado; criou-

se o índice de termicidade compensado (Itc), que é dado pela expressão:

Itc = It ± C

Assim, para zonas extratropicais hiperoceânicas o valor de compensação é obtido

multiplicando-se por 15 o resultado da subtração entre 11 e o Índice de Continentalidade (Ic)

da estação:

C = 15.(11-Ic)

5.1.3. Índice Ombrotérmico (Io)

O Índice Ombrotérmico permite distinguir, dentro do mesmo termotipo, diversos tipos de

vegetação em função da precipitação local observada. Relaciona os regimes pluviométrico e

termométrico, fornecendo uma indicação aproximada da quantidade de água disponível para

ser utilizada pelas plantas.

Os intervalos de precipitação (ombrotipos) calculam-se pelo quociente, multiplicado por 10,

entre a soma da precipitação média (Pp - mm) dos meses em que a temperatura média é

superior a zero graus centígrados e a soma, em décimos de grau, das temperaturas médias

mensais superiores a zero graus centígrados (HONRADO, 2001; HONRADO, 2003):

Io = 10.Pp / Tp

5.1.4. Índices Ombrotérmicos Estivais Compensados

Estes índices relacionam os regimes pluviométrico e termométrico dos meses de verão,

fornecendo uma indicação do balanço hídrico do sistema solo-planta-atmosfera durante o

período estival. Calculam-se os índices relativos a qualquer mês do trimestre de verão (Iosi),

ao bimestre mais quente (Ios2), ao trimestre mais quente (Ios3) e ao quadrimestre mais

quente (Ios4), de acordo com as seguintes fórmulas (HONRADO, 2001; 2003):

Iosi = Pi / Ti

Ios2 = (Pjulho + Pagosto)/(Tjulho +Tagosto )

Ios3 = (Pjunho + Pjulho + Pagosto)/(Tjunho + Tjulho + Tagosto )

Ios4 = (Pmaio+Pjunho+Pjulho+Pagosto)/(Tmaio+Tjunho+Tjulho+Tagosto)

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5.2. Classificação Bioclimática

Os parâmetros e índices climáticos mencionados são utilizados na caracterização

bioclimática do território, seguindo-se normalmente uma sequência como a proposta por

HONRADO (2001 e 2003), que adiante retomaremos:

5.2.1. Determinação do Macroclima

A nível global considera-se a existência de 5 macroclimas: Polar, Boreal, Temperado,

Mediterrânico e Tropical, estando apenas representados em Portugal o Temperado e

Mediterrânico (RIVAS-MATÍNEZ et al. 1999, HONRADO, 2003). O macroclima Mediterrânico

(tabela 6) é caracterizado por um período de aridez igual ou superior a dois meses

coincidente com os meses de verão. Verifica-se um período seco de pelo menos dois

meses, em que a precipitação (mm) é inferior ao dobro da temperatura (ºC), período esse

em que se atingem os valores mais baixos do ano (HONRADO, 2003). O macroclima

Temperado apresenta aridez estival nula ou nunca superior a dois meses e um regime de

precipitações regularmente distribuído ao longo do ano (HONRADO, 2003).

Tabela 6 - Macroclimas representados em Portugal (RIVAS-MARTINEZ et al. 1999, HONRADO,

2003).

Mediterrânico Temperado

Aridez (P<2T) em pelo menos 2 meses de verão

Aridez estival nula ou nunca superior a 2 meses

Pelo menos dois dos seguintes valores: T<25ºC, m<10ºC e Itc<580

Pelo menos dois dos seguintes valores: T<21ºC, M<18ºC e Itc<470

Ios2 ≤2 e Iosc ≤2 Ios2 >2 e Iosc >2 se Ios2 ≤2

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Tabela 7 - Valores dos Índices Ombrotérmicos compensáveis que permitem discriminar os macroclimas Temperado e Mediterrânico

29.

Io Ios2 Ios3 Ios4

2,0< Io ≤3,6 >1,9 >1,9 >2,0

3,6< Io ≤4,8 >1,8 >1,9 >2,0

4,8< Io ≤6,0 >1,7 >1,8 >2,0

6,0< Io ≤8,0 >1,5 >1,8 >2,0

8,0< Io ≤10,0 >1,2 >1,6 >2,0

10,0< Io ≤12,0 >0,7 >1,4 >2,0

Io > 12,0 >2,0

Nas áreas de transição entre os macroclimas Temperado e Mediterrânico, a determinação

do macroclima é feita com recurso aos Índices Ombrotérmicos Estivais Compensáveis.

Assim o macroclima é Temperado se Ios2 >2,0; ou se Ios4 >2,0 desde que Ios2 e Ios3 se situem

acima dos valores limites indicados na tabela 7 (HONRADO, 2003).

5.2.2. Determinação do Bioclima

Os macroclimas Temperado e Mediterrânico dividem-se respetivamente em 4 e 5 bioclimas,

em função dos valores dos Índices Ombrotérmico (Io) e de Continentalidade (Ic) (RIVAS-

MARTÍNEZ et al., 1999; HONRADO, 2001; HONRADO, 2003), tal como descriminado na

tabela 8.

Tabela 8 - Bioclimas a considerar na classificação bioclimática da Península Ibérica (RIVAS-MARTINEZ et al., 1999 in HONRADO, 2003).

Macrobioclima Temperado Macrobioclima Mediterrânico

bioclima Ic Io bioclima Ic Io

Temperado hiperoceânico

<11 >3,2 Mediterrânico pluvi-estacional oceânico

≤21 >2,0

Temperado oceânico 11-21 >3,2 Mediterrânico pluvi-estacional continental

>21 >2,2

Temperado continental >21 >3,2 Mediterrânico xérico oceânico ≤21 1,0-2,0

Temperado xérico ≥7 ≤3,2 Mediterrânico xérico continental >21 1,0-2,2

Mediterrânico desértico oceânico ≤21 0,1-1,0

29

Se Ios2 > 2 o macroclima é Temperado, Ios2 <2 pode também serTemperado se Ios4 >2, desde que Ios2 e Ios3 se situem acima dos valores indicados na tabela (Rivas-Martínez et al. 1999, Rivas-Martínez et al. in Honrado 2003;).

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Em função dos critérios acima referidos, em Portugal apenas se encontram representados

os bioclimas Temperado Hiperoceânico, Temperado Oceânico, Mediterrânico Pluvi-

estacional e Mediterrânico Xérico Oceânico (HONRADO, 2001 e HONRADO, 2003).

5.3. Determinação do andar bioclimático

A divisão dos territórios em andares bioclimáticos é feita através da interceção de um

termoclima e ombroclima (fig.17). Para a determinação do termotipo são utilizados os

índices de termicidade e de termicidade compensados, ou a temperatura positiva anual no

caso dos termotipos mais frios; para o cálculo do ombrotipo é utilizado o índice

ombrotérmico anual. Cada termotipo e ombrotipo podem ainda ser subdivididos em dois

horizontes: superior e inferior (Honrado, 2001; 2003). Para a Península Ibérica foram

definidos os seguintes termotipos (tabela 9) e ombrotipos (tabela 10).

Tabela 9 - Termotipos presentes na Península Ibérica e respetivos valores de It

(RIVAS-MARTINEZ et al., 2002).

Macrobioclima Temperado Macrobioclima Mediterrânico

Intervalo de It Termotipo Intervalo de It Termotipo

355 a 410 Termotemperado

Inferior 400 a 450

Termomediterrânico Inferior

300 a 355 Termotemperado

Superior 350 a 400

Termomediterrânico Superior

240 a 300 Mesotemperado Inferior 280 a 350 Mesomediterrânico

Inferior

180 a 240 Mesotemperado

Superior 210 a 280

Mesomediterrânico Superior

100 a 180 Supratemperado Inferior 145 a 210 Supramediterrânico

Inferior

<100(800<Tp<1100) Supratemperado

Superior 80 a 145

Supramediterrânico Superior

<100(590<Tp<800) Orotemperado Inferior <80(675<Tp<900) Oromediterrânico Inferior

<100(380<Tp<590) Orotemperado Superior <80(450<Tp<675) Oromediterrânico

Superior

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Figura 17 – Modelação em SIG dos Termotipos e Ombrotipos presentes em Portugal. Fonte: MESQUITA (2005)

Tabela 10 - Ombrotipos para a Península Ibérica e respetivos valores de Io (RIVAS-MARTINEZ et al.2002)

Ombrotipo Intervalo de Io

Seco Inferior 2,0 a 2,8

Seco Superior 2,8 a 3,6

Sub-húmido Inferior 3,6 a 4,8

Sub-húmido Superior 4,8 a 6,0

Húmido Inferior 6,0 a 9,0

Húmido Superior 9,0 a 12,0

Hiper-húmido Inferior 12,0 a 18, 0

Hiper-húmido Superior 18, 0 a 24, 0

Ultra-hiper-húmido >24,0

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5.5. Bioclimatologia da Ria de Aveiro

A caracterização bioclimática de um território implica a recolha de parâmetros termométricos

e pluviométricos registados em estações climatológicas e udométricas.

De entre estes selecionam-se os mais representativos em relação à variabilidade da

vegetação e elaboram-se índices, recorrendo a fórmulas que combinam os parâmetros, e

que permitem determinar a relação entre a distribuição das comunidades vegetais e o clima

(LOIDI et al. 1997 apud FIGUEIREDO, 2004).

Nas tabelas 11, 12 e 13 estão representados os valores dos principais parâmetros

climáticos, obtidos por análise dos dados climatológicos relativos às estações de Estarreja,

São Jacinto e Dunas de Mira, e que serviram de base ao cálculo dos índices bioclimáticos,

através dos quais foi possível efetuar a diagnose bioclimática da área de estudo.

Tabela 11 - Dados climáticos calculados para a Ria de Aveiro.

Estação Tp Pp T M m Tmáx Tmin P<2T

Estarreja 1.668 1.151,6 13,9 13,8 3,8 19,1 8,8 2 meses

São Jacinto 1.704 960,6 14,2 13,6 6,3 18,6 10,0 3 meses

Dunas Mira 1.776 995,2 14,8 14,4 5 19,0 9,7 3 meses

Em que:

Tp - Temperatura positiva anual calculada pela soma das temperaturas médias dos

meses com temperatura média positiva. No caso de todos os meses terem

temperatura média positiva, este valor é numericamente igual ao produto da

temperatura média anual por 12;

Pp - Precipitação positiva anual calculada pela soma das precipitações totais dos

meses com temperatura média superior a 0ºC. No caso de todos os meses terem

temperatura média positiva, este valor é numericamente igual ao valor da

precipitação total anual;

T - Temperatura Média Anual;

M - Temperatura Média das Máximas do mês mais frio, sendo o mês mais frio o que

tiver menor valor de temperatura média mensal;

m - temperatura Média das Mínimas do mês mais frio;

Tmáx - Temperatura Média do mês mais quente;

Tmin - Temperatura Média do mês mais frio.

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Tabela 12 - Valores dos Índices Bioclimáticos calculados para as três estações analisadas

Estação It C Itc Ic Io Iosc2 Iosc3 Iosc4 Inverno Pav30

Estarreja 315 10,5 325,5 10,3 6,90 0,93 1,47 2,32 Temperado 12

São Jacinto 341 36 377 8,6 5,64 0,68 2,54 1,73 Quente 12

Dunas Mira 348 25,5 373,5 9,3 5,60 0,52 0,76 1,37 Quente 12

Tabela 13 - Diagnose bioclimática (Macrobioclima, Termotipo e Ombrotipo) relativa às estações climatológicas analisadas

Estação Altitude

(m) Macrobioclima Termotipo Ombrotipo

Estarreja 26 Mediterrânico Pluvi- Estacional Oceânico

Mesomediterrânico Inferior

Húmido Inferior

São Jacinto 8 Mediterrânico Pluvi- Estacional Oceânico

Mesomediterrânico Inferior

Sub-Húmido Superior

Dunas de Mira

14 Mediterrânico Pluvi- Estacional Oceânico

Mesomediterrânico Inferior

Sub-Húmido Superior

De acordo com os resultados obtidos pela respetiva análise e cálculo dos parâmetros e

índices bioclimáticos, pode concluir-se que a região onde se localiza a Ria de Aveiro sofre

acentuada influência oceânica, o que se reflete quer na amenidade das temperaturas

registadas quer no regime de precipitações tipicamente mediterrâneo. Os elevados valores

de Precipitação Total Anual (Pp), que variam entre 995,2 e 1151,6 mm, conferem à área um

caráter Húmido Inferior a Sub-Húmido Superior, como pode constatar-se na tabela 13. O

período seco corresponde aos três meses de verão, nas estações climatológicas de São

Jacinto e Dunas de Mira, restringindo-se a dois meses (julho e agosto) na estação

climatológica de Estarreja. Assim, de acordo com a tipologia bioclimática de RIVAS-

MARTINEZ et al,. (2002), conclui-se que a Ria de Aveiro possui um Bioclima Mediterrânico

Pluvi-Estacional Oceânico, situando-se no andar bioclimático Mesomediterrânico Inferior

Súb-Húmido Superior a Húmido Inferior.

30 Pav – n.º de meses do ano cuja temperatura média mensal é superior a 3.5ºC.

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CAPITULO II

ANÁLISE MULTICRITÉRIO EM AMBIENTE SIG

PARA ELABORAÇÃO DE CARTAS DE VULNERABILIDADE

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1. ANÁLISE MULTICRITÉRIO – fundamentos processuais e metodológicos

A ZPE - Ria de Aveiro é considerada como a zona húmida mais importante do norte do país,

albergando grande diversidade de comunidades vegetais halófilas e sub-halófilas,

representando consequentemente a área mais importante de ocorrência do habitat 1130

(Estuários). Destaca-se, também, por constituir a área onde o habitat 1330 (Juncais e

prados-juncais da aliança Glauco maritimae-Juncion maritimi) apresenta maior expressão no

território nacional (ICNB, 2011).

É uma área fundamental para espécies de lampreia e a enguia, já que lhes assegura

condições ecológicas essenciais ao sucesso das suas migrações reprodutoras, garantindo a

conectividade entre o mar e os cursos de água doce, que constituem os locais de desova

para espécies como a lampreia-marinha (Petromyzon marinus), sável (Alosa alosa) e a

savelha (Alosa fallax). Também a lampreia-de-riacho, que mesmo residente, depende

destes cursos de água para completando todo o seu ciclo de via em meio dulciaquícola

(ICNB, 2011).

Apresenta ainda uma grande variedade de espécies animais, conforme foi descrito em

capítulo anterior, justificando desta forma a classificação como Zona de Proteção Especial e

a proposta a Sítio de Importância Comunitária. É uma área sujeita a várias pressões, o que

justifica a nossa preocupação em elaborar um ensaio metodológico para a sua gestão

ecológica a partir da determinação de áreas prioritárias de conservação que nos serão

referenciadas a partir da elaboração da carta de vulnerabilidades.

A definição de áreas prioritárias com base em processos analíticos desenvolvidos em

ambiente SIG tem sido amplamente aplicada a uma variedade de situações, entre elas, a

definição de áreas ou regiões prioritárias para espécies animais ou vegetais (VALENTE,

2005). De acordo com este autor citado na obra de PIRES (2005), segundo a norma UNE

15008 EX:2000, o termo vulnerabilidade reflete a potencial afetação de pessoas, bens e

ambiente devido à ocorrência de um determinado evento. Todavia, considerando os

objetivos definidos para esta dissertação, o termo vulnerabilidade ecológica refere-se à

potencial afetação dos valores naturais presentes na área em estudo – fauna e habitats

naturais – por fatores de perturbação naturais e antrópicos.

Foram utilizadas várias cartas temáticas do Atlas do Ambiente, cartas de distribuição da

fauna (elaboração própria), cartografia de habitats naturais cedida pelo ICNB, dados do

estado das massas de água cedidos pela ARH Centro, e ainda dados sobre as estradas

disponibilizados gratuitamente pelo Projeto Openstreetmap. Toda a parte referente ao

geoprocessamento foi desenvolvida em ambiente SIG Desktop, com recurso ao Arcgis 10.0

(ESRI).

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A ponderação das variáveis foi efetuada de acordo com a Analytic Hierarchy Process (AHP)

- Análise Multicritério, utilizada por SAATY (1991) transposta para ambiente SIG e todo o

processo será descrito etapa a etapa, após uma breve revisão bibliográfica sobre esta

matéria.

1.1. Tarefas, técnicas e procedimentos processuais em ambiente SIG para Análise

Multicritério (AM)

A Análise Multicritério é um método desenvolvido por VOOGD (1983) que é constituído por

técnicas que visam o apoio à tomada de decisão com base em múltiplos critérios. Os

processos de tomada de decisão baseiam-se em assunções teóricas de considerável

grau de incerteza e subjetividade, existindo a natural dificuldade em selecionar os critérios

necessários a representação do fenómeno, e em estabelecer a relação entre os critérios

(EAKIN & BOJORQUEZ-TAPIA, apud 2008 MARTINS, 2010). Neste quadro contextual, a

AM proporciona um método transparente que fundamenta e dinamiza os modelos de

tomada de decisão.

De seguida, damos conta da definição dos conceitos básicos da AM (decisão; objetivo;

atributo; critério; fatores; exclusão;) e dos procedimentos e etapas que fundamentam a

prossecução (definição do problema, estruturação hierárquica, avaliação do pesos dos

critérios, regras de decisão, análise de sensibilidade).

A tomada de decisão é um processo apoiado na inventariação e seleção entre alternativas,

o que poderá corresponder a uma localização, a diferentes planos ou hipóteses (RAMOS &

MENDES, 2001 apud MARTINS, 2010) ou a classificação/quantificação. Os critérios são

meios de julgamento, ou regras que testam o grau de ajustamento das diferentes

alternativas ao processo de decisão (HWANG & YOON, 1981 in MALCZEWSKI, 1999 apud

MARTINS, 2010), estruturando-se em termos genéricos em objetivos e atributos.

Segundo MALCZEWSKI (1999), os objetivos descrevem o estado de condição de um

sistema, relacionando-se, e/ou derivando dos atributos, e indicando quais os objetivos ideais

no processo de decisão. A maximização do espectro do objetivo dá-se com a definição de

um conjunto amplo de atributos, dado que estes caracterizam as propriedades dos

elementos e processos do mundo real, sendo mensuráveis qualitativamente e

quantitativamente (MALCZEWSKI, 1999). Os atributos são classificados em dois grupos: os

fatores e as restrições/exclusões (RAMOS & MENDES, 2001 apud MARTINS, 2010). Os

fatores são os atributos das alternativas de decisão que são aplicados na avaliação de

desempenho de cada alternativa, e traduzem a variação da aptidão de um dado objetivo no

modelo (MALCZEWSKI, 1999; RAMOS & MENDES, 2001; RASHED & WEEKS, 2003 apud

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MARTINS, 2010). As restrições são fatores de exclusão das alternativas em ponderação.

Por exemplo, na localização de um hospital numa região sismicamente vulnerável, as

parcelas de território a determinada distância das falhas geológicas, deveriam ser excluídas

do processo de tomada de decisão.

A AM é um processo metodológico constituído por cinco fases, que se inicia com a definição

do problema. Na primeira fase o decisor define e reconhece as dimensões do modelo de

análise, e reflete sobre as diferenças entre o estado desejado e o estado atual do sistema,

de modo a considerá-lo nas condições prévias do processo de decisão (MALCZEWSKI,

1999). No nível subsequente é esquematizada a estrutura hierárquica dos critérios de

avaliação do problema de decisão, ou seja, é a fase na qual são definidos os objetivos e os

atributos (fatores/restrições) que o estruturam.

A terceira fase - de estimação do peso dos critérios de decisão, deve permitir quantificar a

importância relativa dos critérios constituintes da estrutura hierárquica do modelo. O peso

atribuído a objetivos e atributos é substanciado num principio comparativo da importância

relativa entre estes elementos. Esta é uma fase preponderante no processo de decisão,

dado que a sobrevalorização ou subvalorização dos critérios poderá repercutir-se na

(in)consistência do modelo de tomada de decisão (RAMOS & MENDES, 2001 apud

MARTINS, 2010). No âmbito do trabalho proposto, utilizámos o método desenvolvido por

SAATY (1980) - Analytic Hierarchy Process (AHP), cujo enquadramento metodológico

apresentamos no ponto seguinte.

Para MARTINS (2010), a regra de decisão é a quarta fase de implementação da AM, e de

acordo com STARR & ZELENY (1977) in MALCZEWSKI (1999), este procedimento permite

a ordenação das alternativas de decisão. As regras de decisão agregam os critérios

ordenando as alternativas, ou decidindo qual das alternativas é preferível, por comparação

com o conjunto de opções elencadas.

A quinta (e última) fase é de implementação da análise de sensibilidade, cuja orientação se

processa em prol de dois objetivos. O primeiro, determina se as ações desenvolvidas

durante o processo foram perturbadas por variações ocorridas nos inputs de entrada do

modelo e, num segundo plano, como processo exploratório que permite ao utilizador

assimilar a profundidade da estrutura do problema de decisão (MALCZEWSKI, 1999). O

processo tem a sua conclusão com a descrição das recomendações em função dos

resultados gerados na avaliação multicritério (MARTINS, 2010).

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1.3. Analytic Hierarchy Process

O AHP é um método eficaz para a tomada de decisão, pois identifica a melhor opção dentro

das alternativas possíveis e ajuda na determinação de prioridades, considerando aspetos

quantitativos e qualitativos. Através da redução de decisões complexas a decisões

comparativas par a par, o AHP divide-se em estruturação, julgamentos e síntese dos

resultados.

O decisor, para aplicar o AHP, define o objetivo geral e, assim, seleciona os atributos para

alcançar a meta. Os elementos deverão estar estruturados hierarquicamente.

Comparado a uma árvore, à medida que se afasta da raiz (objetivo), temos fatores mais

específicos, e os mais extremos (as folhas) representam os fatores ou critérios de avaliação.

Assim, quanto mais genéricos forem os atributos, mais altos eles deverão estar na

hierarquia. As alternativas ficam na base da árvore, abaixo do último nível de atributos.

Esse arranjo permite fazer com que seja possível para o decisor focalizar cada parte de todo

o complexo problema, com isso obter prioridades através de uma simples comparação par a

par baseada nos dados obtidos pelo decisor.

A grande vantagem do método AHP é permitir que o decisor atribua pesos relativos para

múltiplos critérios31, ou múltiplas alternativas para um dado critério, de forma intuitiva, ao

mesmo tempo em que realiza uma comparação par a par entre os mesmos. Isso permite

que, mesmo quando duas variáveis são incomparáveis, com os conhecimentos e a

experiência das pessoas, pode-se reconhecer qual dos critérios é mais importante (SAATY,

1991).

A forma como este processo de hierarquização se aplica será explicada no ponto seguinte,

e a sua aplicação ao caso de estudo nos pontos seguintes.

1.3.1. O Processo de Hierarquização do AHP

Como anteriormente se tentou demonstrar, o método AHP contempla um processo de

decomposição por hierarquias e síntese pela identificação de relações através de escolha

consciente. A tomada de decisões está ligada à avaliação das alternativas, todas

satisfazendo um conjunto de objetivos pretendidos. O problema está em escolher a

alternativa que melhor satisfaz o conjunto total de objetivos. Estamos interessados em obter

pesos numéricos para alternativas com relação a sub-objetivos e, para sub-objetivos com

relação a objetivos de ordem mais elevada (SAATY, 1991). O meio de estruturar

logicamente objetivos e sub-objetivos do problema de decisão é pela hierarquia, como

31

Processo por nós utilizado neste trabalho – a atribuição do peso para cada uma das variáveis ou critérios.

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descrito anteriormente. SILVA et al (2011) citando GRANDZOL (2005) descreve que,

através de comparações aos pares em cada nível da hierarquia baseadas na escala de

prioridades do AHP, os participantes desenvolvem pesos relativos, chamados de

prioridades, para diferenciar a importância dos critérios.

Para se fazer bom uso da escala de prioridades, entretanto, é preciso compreender o que

são os julgamentos no método criado por SAATY. Um julgamento ou comparação é a

representação numérica de uma relação entre dois elementos que possuem o mesmo par.

O grupo de todos esses julgamentos pode ser representado numa matriz quadrada, na qual

os elementos são comparados com eles mesmos. Cada julgamento representa a

dominância de um elemento da coluna à esquerda sobre um elemento na linha do topo

(SAATY, 1994). A escala recomendada por este autor (1991) vai de “1 a 9”, em que “1”

significa a indiferença de importância de um critério em relação ao outro, e “9” significa a

extrema importância de um critério sobre outro, com estágios intermediários de importância

entre esses níveis “1” e “9” (tabela 14). Além disso, desconsiderando as comparações entre

os próprios critérios, que representam “1” na escala, apenas metade das comparações

precisa ser feita, porque a outra metade constitui-se das comparações recíprocas na matriz

de comparações, que são os valores recíprocos já comparados.

Tabela 14 - Escala numérica de SAATY (1991): Fonte: SILVA et al (2011)

O julgamento reflete as respostas de duas perguntas: qual dos dois elementos é mais

importante com respeito a um critério de nível superior, e com que intensidade, usando a

escala de “1” a “9” É importante notar que o elemento mais importante da comparação é

sempre usado como um valor inteiro da escala, e que o menos importante, representa o

inverso dessa unidade. Se o elemento linha é menos importante do que o elemento/coluna

da matriz (tabela 15), entramos com o valor recíproco na posição correspondente da matriz.

Devido à relação de reciprocidade e à necessidade de consistência entre duas atividades ou

critérios, os recíprocos dos valores acima de zero são inseridos na matriz criada quando

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uma comparação entre duas atividades já foi realizada. O processo é robusto, porque

diferenças subtis em uma hierarquia na prática não se tornam decisivas.

As posições da diagonal serão sempre “1”, na medida em que um elemento é igualmente

importante a ele mesmo. Para preencher os outros elementos da matriz fora da diagonal,

fazem-se os julgamentos e determina-se a intensidade de importância de acordo com a

tabela 9, que apresenta a escala de comparações empregadas no método. Para as

comparações inversas, isto é, na parte inferior esquerda da matriz, colocam-se os valores

recíprocos dos da parte superior direita da mesma.

No caso da Matriz A (tabela 10), observa-se pela parte superior direita que todos os

elementos-linha eram mais dominantes do que os elementos-coluna, pois todas as posições

estão com números maiores que 1. Lê-se: A é 5 vezes mais dominante do que B e 6 vezes

mais dominante do que C.

Tabela 15 - Exemplo de matriz pareada de comparação. Fonte: VETTORAZZI (2006)

A consistência da matriz deve ser garantida, a partir de uma quantidade básica de dados,

todos os outros podem ser logicamente deduzidos. Se A é 5 vezes mais dominante do que

B, e A é 6 vezes mais dominante que C, então A=5B e A=6C. Logo, B/ C = 6/5 = posição (B,

C). Portanto, se o julgamento da posição (B, C) for diferente de 6/5, então a matriz é

inconsistente, como ocorre na Matriz A. Para avaliar a consistência da matriz deve atender-

se a:

1) Definir o problema e o que se procura saber. Expor as suposições refletidas na

definição do problema, identificar partes envolvidas, checar como estas definem o problema

e suas formas de participação no AHP.

2) Decompor o problema desestruturado em hierarquias sistemáticas, do topo

(objetivo geral) para o último nível (fatores mais específicos, usualmente as alternativas).

Caminhando do topo para a extremidade, a estrutura do AHP contém objetivos, critérios

(parâmetros de avaliação) e classificação de alternativas (medição da adequação da

solução para o critério). Cada nó é dividido em níveis apropriados de detalhes. Quanto mais

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critérios, menos importante cada critério individual se torna, e a compensação é feita pela

atribuição de pesos para cada critério. É importante certificarmo-nos de que os níveis sejam

consistentes internamente e completos, e que as relações entre eles estejam claras.

3) Construir uma matriz de comparação paritária entre os elementos do nível inferior

e os do nível imediatamente acima. Em hierarquias simples, cada elemento de nível inferior

afeta todos os elementos do nível superior. Em outras hierarquias, elementos de nível

inferior afetam somente alguns elementos do nível superior, requerendo a construção de

matrizes únicas.

4) Fazer os julgamentos para completar as matrizes. Para isso, são necessários n (n

- 1) /2 julgamentos para uma matriz n x n, sendo n o número de linhas e colunas. O analista

ou grupo participante julga se A domina o elemento B. Se afirmativo, inserir o número na

célula da linha de A com a coluna de B. A posição coluna A com linha B terá o valor

recíproco. Assim prossegue-se com o preenchimento da matriz. Os valores inseridos são os

da escala de comparação, os quais constam na tabela 9.

5) Calcular o índice de consistência (IC). Se não for satisfatório, refazer julgamentos.

De acordo com SAATY (1991), para se obter um valor para a consistência de uma matriz

positiva recíproca (matriz criada no Passo 4), o seu autovalor máximo deveria ser igual a n

(dimensão da matriz). No caso de uma matriz ser consistente, precisamos de n -1

comparações paritárias já que, a partir delas, as outras podem ser deduzidas logicamente.

O autovetor (medida de consistência do julgamento) indica a ordem de prioridade. O

método da análise hierárquica busca o autovalor máximo, λmax, que pode ser calculado

pela multiplicação da matriz de julgamentos A (Passo 4) pelo vetor coluna de prioridades

computado (w), seguido da divisão desse novo vetor encontrado (A*w), pelo primeiro vetor

w, chegando-se ao valor de λmax.

Cabe lembrar que Aw= λ w e, que no método da análise hierárquica, Aw= λmax w. Para o

cálculo de λmax, utiliza-se a fórmula abaixo:

Como regra geral, se o índice de consistência for menor do que 0.1, então há consistência

para prosseguir com os cálculos do AHP. Se for maior do que 0.1 recomenda-se que

julgamentos sejam refeitos (por exemplo, reescrevendo questões do questionário ou

recategorizando elementos) até que a consistência aumente.

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SAATY (1991) sugere também o uso da Razão de Consistência, que considera o IC e o

Índice Randómico (IR)32, que varia com o tamanho n da amostra.

Saaty (1991) propõe uma tabela com os índices randómicos (IR) de matrizes de ordem 1 a

15 calculados em laboratório, conforme exibido na tabela 16.

Tabela 16 - Identificação do Índice Randómico Médio. Fonte: SAATY (1991)

6) Analisar as matrizes para estabelecer as prioridades locais e globais, comparar as

alternativas e selecionar a melhor opção. SAATY (1994) mostra que há dois meios de

sintetizar as prioridades locais das alternativas, usando prioridades globais dos critérios: o

modo distributivo e o modo ideal. No distributivo, os pesos das alternativas somam 1. É

adotado quando há dependência entre as alternativas e uma prioridade unitária é distribuída

entre elas, ou seja, quando o objetivo é escolher uma alternativa que é melhor em relação a

outras. Segundo SILVA et al., (2011), alguns autores, como GRANDZOL (2005), defendem

que o modo distributivo é apropriado para alocação proporcional de um benefício.

Traduzindo numericamente o exemplo do autor, três alternativas com relação de

dependência A, B e C teriam prioridades como A=0.2, B=0.5 e C=0.3, que totalizam 1.0. Já

o modo ideal, é utilizado para obter a melhor alternativa entre alternativas distintas e sem

relação de dependência. Nesse modo, as prioridades locais das alternativas são divididas

pelo maior valor entre elas. Isso é feito para cada critério, e a alternativa torna-se ideal de

valor 1. Se as alternativas são suficientemente distintas, sem dependência nas definições, o

modo ideal seria o meio de síntese. No exemplo citado de A, B e C, B seria a alternativa

ideal com prioridade 1.0 (= 0.5 ÷ 0.5), C teria prioridade 0.6 (= 0.3 ÷ 0.5) e A teria prioridade

0.4 (= 0.2 ÷ 0.5).

1.4. AHP e a Gestão de Projetos Segundo SILVA et al., (2011), para GRANDZOL (2005), a metodologia do AHP agrega valor

no planeamento de um projeto, ao tratar de prioridades, de parâmetros ótimos e de seleção

de alternativas.

32

O índice randónico representa o valor que seria obtido numa matriz de comparações pareada de ordem n em que não fossem feitos julgamentos lógicos. A tabela foi obtida depois de bastantes ensaios desenvolvidos por SAATY (1980).

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O grupo de alternativas a serem escolhidas compõe a motivação da tomada de decisão que,

para SAATY (1994), é um processo que envolve os seguintes passos:

Estruturar um problema com um modelo que mostre os elementos-chave do

problema e suas relações;

Expor julgamentos que refletem conhecimento, sentimentos e emoções;

Representar os julgamentos com números significativos;

Usar esses números para calcular as prioridades dos elementos da hierarquia;

Sintetizar esses resultados para determinar um resultado geral;

Analisar a sensibilidade a mudanças de julgamento.

Com a teoria explicada nesta seção, observa-se que o método AHP atende a esses critérios

de processo de tomada de decisão. O AHP decompõe um problema em subproblemas e

depois agrega as soluções dos subproblemas em uma solução geral. Facilita a tomada de

decisão ao organizar percepções, sentimentos, julgamentos e memórias em uma estrutura

que exibe as forças influentes na decisão e que gera um resultado numérico e conclusivo.

Também por essa razão o método AHP pode ser usado pela teoria de Gestão de Projetos:

Ajuda a estruturar o Planeamento e a tomada de decisões e, ao mesmo tempo, a Gestão de

Projetos depende de Planeamento para tomada de decisões. No estudo em questão, o AHP

apoia a Gestão de Projeto na determinação de áreas prioritárias de conservação, através da

elaboração da carta de vulnerabilidade para apoio na gestão ecológica da ZPE Ria de

Aveiro.

2. VARIÁVEIS E CRITÉRIOS UTILIZADOS

Para a elaboração da carta de vulnerabilidade ecológica da ZPE - Ria, foram selecionadas

as variáveis julgadas mais pertinentes para o estudo em causa (fig.18), tendo sido

posteriormente reclassificadas segundo critérios que passaremos a definir. Importa ainda

referir que o estudo da vulnerabilidade incide unicamente na área terrestre (incluindo a área

lagunar) da ZPE - Ria. Assim, ss variáveis utilizadas foram:

1 - Habitats Naturais (importância segundo a Directiva Habitats);

2 - Suscetibilidade à erosão;

3 - Distribuição da Fauna;

4 - Ictiofauna – rotas dos migradores;

5 - Estado das massas de água da ria de Aveiro;

6 - Proximidade à malha urbana

7 - Proximidade à malha viária

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De entre as variáveis utilizadas, a valorização ecológica é dada pelas variáveis 1, 3 e 4,

sendo as condicionantes representadas pelas variáveis 2, 5, 6 e 7.

Cada um dos fatores das variáveis foi reclassificado de 1 a 5 de acordo com o seu grau de

importância para a variável (exemplo: para a suscetibilidade à proximidade da malha viária

foram criados buffers múltiplos de 50m, em que o polígono assim criado relativo aos 50m

mais próximos à malha viária corresponde ao nível 5, ou seja, ao nível mais crítico). O peso

de cada uma das variáveis será determinado de acordo com o método AHP.

Figura 18 - Esquema de elaboração da carta de vulnerabilidade. Elaboração própria.

2.1. Habitats Naturais

As classes de vulnerabilidade foram determinadas em função das tarefas processuais

anteriormente referidas e dos processos de reclassificação das variáveis consideradas,

processos que foram já igualmente referidos. Correspondem a 5 níveis/classes:

1 – Reduzida

2 – Reduzida a Moderada

3 – Moderada

4 – Moderada a Elevada

5 – Elevada

De modo a clarificar alguns dos conceitos utilizados devemos referir que, por exemplo, a

ZPE - Ria de Aveiro é considerada como a zona húmida mais importante do Norte do país

(ICNB,2011), albergando grande diversidade de comunidades vegetais halófitas e sub-

halófitas numa extensa área estuarina, representando consequentemente a área mais

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importante de ocorrência do habitat 1130 (Estuários). Destaca-se, também, o habitat 1330

(juncais e prados-juncais da aliança Glauco maritimae-Juncion maritimi) por constituir a área

onde apresenta maior expressão no território nacional (tabela 17).

Tabela 17 – Habitats Naturais e seminaturais da ZPE Ria de Aveiro. Fonte: ICNB (2008).

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Conforme mostra a figura 19, na envolvente do complexo estuarino estão representados

diversos habitats ripícolas, nomeadamente o habitat 91E0 (Florestas aluviais de Alnus

glutinosa e Fraxinus excelsior), e na zona litoral, os habitats dunares (2110, 2120, 2130,

2150, 2170, 2190, 2270 e 2330) são constituídos por comunidades vegetais raras, tais como

matagais densos de Salix arenaria em depressões dunares que sofrem habitualmente

encharcamento sazonal mais ou menos prolongado (habitat 2170). Neste habitat, que está

presente em vários países da região biogeográfica Atlântica, mas na Região Biogeográfica

Mediterrânica apenas ocorre em Portugal, de forma pontual, podemos encontrar uma fração

considerável da fauna das dunas litorais) nas Dunas de Mira, Gândara e Gafanhas e na Ria

de Aveiro. A sua posição finícola em Portugal confere a este habitat um assinalável

interesse biogeográfico e conservacionista (ICNB, 2011).

Figura 19 - Cartografia dos Habitats Naturais da ZPE Ria de Aveiro. Elaboração própria.

Fonte: ICNB (2011).

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Os critérios utilizados para a reclassificação da carta dos habitats da ZPE - Ria de Aveiro

foram de acordo com o grau de importância atribuído pela Diretiva Habitats da seguinte

forma (fig. 20):

Habitats de Conservação Prioritária

5 = Prioritários: 1150; 2130; 2150; 2270; 4020; 91E0.

4 = Ocorrência na Península Ibérica ou apenas em Portugal e ainda os pertencentes

à tabela de habitats de conservação prioritária mas da qual não há referência ao seu

caracter endémico (não definidos como prioritários): 1320; 1330; 1420; 2110; 2120;

2170; 2190; 9230

Outros

3 = 1110; 1130; 1140; 1310; 1420; 2110; 2120; 2330; 3150; 3280; 6420; 92D

Não se atribuíram valores abaixo do nível 3 por considerarmos que todos os habitats

naturais presentes na Ria de Aveiro têm a sua importância e o seu valor, quando os

consideramos isolados, em mosaico ou em associação com a fauna.

Figura 20 - Reclassificação da carta dos habitats, segundo a metodologia proposta.

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2.2. Suscetibilidade à erosão

A carta de suscetibilidade à erosão foi elaborada de acordo com os critérios da tabela 18

(cfr., por favor), tendo a sua reclassificação obedecido a critérios segundo a especificidade

de cada uma das variáveis.

Tabela 18 - Variáveis e critérios utilizados para elaboração da carta de suscetibilidade à erosão.

Fonte: NASCIMENTO & DOMINGUEZ, 2009.

Assim, para a reclassificação procedeu-se da seguinte forma:

Geologia (G) – A reclassificação fez-se igualmente numa escala de 1 a 5, onde o

valor 1, corresponde às rochas mais antigas (e mais consolidadas) e o valor 5 (valor

de maior fragilidade) às mais recentes.

Solos (S) – A reclassificação da carta dos solos fez-se de acordo com a maturidade

pedogenética onde o valor 1 corresponde a solos mais evoluídos, e o valor 5 a solos

menos evoluídos.

Declividade (D) – Esta carta não foi utilizada, dado não ter expressividade para o

estudo em questão, pelo facto de praticamente toda ela ser plana apresentando em

algumas zonas declividades mais elevadas, ainda assim abaixo dos 4%.

Classes de uso do solo (US) - Para estabelecer as classes de suscetibilidade para os

diferentes tipos de uso da terra levou-se em consideração o papel da vegetação

como manto protetor da paisagem. A cobertura vegetal responde pela estabilidade

dos processos morfodinâmicos, preconiza TRICART (1977). Para o autor, a

cobertura vegetal densa apresenta capacidade de travar o “desencadeamento de

processos mecânicos da morfogénese”. A baixa energia para a remoção de material

e transporte, favorece os processos pedogenéticos enquanto restringe os processos

morfogenéticos. Por outro lado, a falta de cobertura florestal densa contribui para a

instabilidade ambiental, com o desenvolvimento da morfogénese. De acordo com

CHRISTOFOLETTI (1974) apud NASCIMENTO & DOMINGUEZ (2009), as

características da cobertura vegetal vão influenciar na variedade das modalidades e

intensidade dos processos, contribuindo para a acumulação ou subtração de

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matéria. Ainda de acordo com os mesmos autores, referidos na obra de ROSS,

(1991) a remoção da cobertura vegetal, parcial ou total, tornando o terreno exposto,

facilita o escoamento pluvial concentrado e diminuindo a infiltração de água no solo.

Desta maneira de acordo com os critérios estabelecidos por TRICART (1977),

CREPANI et al., (1996), TAGLIANI (2002), e NASCIMENTO & DOMINGUEZ (2005),

foram adotados os valores mais baixos, entre 1 e 3 para os terrenos protegidos que

apresentam maior densidade da cobertura vegetal, enquanto e os valores de 4 e 5

para as áreas desprovidas de vegetação tais como as dunas e campos agrícolas e

ainda a área da ria sob influência das marés.

A carta de suscetibilidade foi determinada a partir da reclassificação das 3 cartas atrás

descritas (geologia, solo e classes de uso do solo), elaborada em arcmap, utilizando a

calculadora raster com a seguinte fórmula (fig.21):

G*0,33 + S*0,33 + US*0,33 = Suscetibilidade à erosão

Figura 21 - Carta de susceptibilidade à erosão, segundo a metologia proposta.

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2.3. Distribuição da Fauna

A distribuição da fauna foi elaborada de acordo com a sintetização dos valores faunísticos

por biótopo e por UTM 10X10 (Capítulo I, ponto 4.5). Os critérios utilizados para a

reclassificação da carta dos valores faunísticos da ZPE Ria de Aveiro foram a quantidade de

espécies presentes por classe de uso do solo/UTM 10x10, numa escala de 1 a 5, onde o

valor 1 assume a menor importância e o valor 5 de maior importância correspondendo aos

habitats (refira-se habitat, neste caso, como classes de uso do solo), com maior número de

espécies presentes (fig.22).

Figura 22 - Reclassificação da carta de distribuição da fauna, segundo a metodologia proposta.

2.4. Ictiofauna: rotas dos migradores

Na tabela 19 estão identificadas as espécies insuficientemente representadas cuja

ocorrência na ria de Aveiro justifica a sua classificação como Sítio. Com exceção de

Lampetra planeri são todas espécies migradoras anádromas.

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Tabela 19 - Espécies insuficientemente representadas. Fonte: ICNB (2012)

A lampreia-marinha, Petromyzon marinus Linnaeus, 1758 é uma espécie migradora

anádroma que desenvolve grande parte do seu ciclo de vida em ambiente marinho,

deslocando-se os adultos para o ambiente dulciaquícola a fim de se reproduzirem.

A ria de Aveiro é um sistema de transição entre os meios marinho e dulciaquícola,

pelo que a ocorrência de lampreia-marinha é transitória, na sua passagem em

direção ao rio ou ao mar.

Apesar de se tratar de uma espécie pouco frequente na própria ria (REBELO &

POMBO, 2001) depende em absoluto deste ecótono na sua migração reprodutora.

Segundo ALMEIDA et al. (2005), a bacia hidrográfica do Vouga apresenta

disponibilidade de zonas com condições adequadas para a sua reprodução as quais

ocorrem, sobretudo, em zonas superiores dos cursos de água doce.

A lampreia-de-riacho, Lampetra planeri é uma espécie residente1 que completa todo

o seu ciclo de vida em meio dulciaquícola de rios permanentes.

As populações existentes no rio Vouga constituem uma das três Unidades Evolutivas

Significativas, pelo que tem de ser assegurado o reconhecimento e proteção da

herança genética e manutenção do seu potencial evolutivo (ALMEIDA et al. 2004).

Cada uma das populações isoladas pode possuir adaptações específicas às

condições ecológicas do local, e os esforços de conservação devem ser dirigidos

para a preservação da integridade genética de cada grupo, porque a não

conservação destes “stocks” distintos pode reduzir o potencial evolutivo da espécie

(ALVES et al. 2001).

O sável, Alosa alosa é uma espécie migradora anádroma, que passa a maior parte

do seu ciclo de vida em ambiente marinho. O declínio da área de ocupação e da

qualidade do habitat, conduziu a um decréscimo no número de subpopulações e de

indivíduos maduros (ROGADO et al., 2005c), conferindo-lhe a categoria de ameaça

“Em Perigo” (CABRAL et al., 2005). As ameaças mais graves são as que incidem na

fase continental do seu ciclo de vida, das quais se destacam a construção de

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barragens que alteram as zonas de desova ou impedem o seu acesso, a alteração

do regime natural de caudais, a poluição, a exploração de inertes e a sobrepesca

(ROGADO et al., 2005c).

Tal como as restantes espécies anádromas, utiliza a bacia hidrográfica do Vouga

para completar o seu ciclo de vida, utilizando a ria de Aveiro para aceder às zonas de

reprodução.

A migração reprodutora inicia-se durante o mês de março e prolonga-se até ao final

do mês de julho. A maioria dos reprodutores morre após a desova.

A savelha, Alosa fallax) é uma espécie migradora anádroma cuja redução da área de

ocupação e da qualidade do habitat provocou um declínio no número de

subpopulações, conferindo-lhe a categoria de ameaça Vulnerável (CABRAL et al.,

2005). A construção de barragens que alteram as zonas de desova ou impedem o

seu acesso, a alteração do regime natural de caudais, a poluição, a exploração de

inertes e a sobrepesca são os principais fatores de ameaça para a sobrevivência

desta espécie nos rios portugueses (ROGADO et al., 2005d).

Segundo este autor (op. Cit.) a savelha reproduz-se em água doce ou, em algumas

situações, na parte superior da zona estuarina, e os juvenis passam por uma fase de

duração variável em meio estuarino. À semelhança do sável, entre maio e julho

efetua a migração para se reproduzir, efetuando contudo migrações de menor

amplitude. Após a desova migra de volta para o mar, podendo reproduzir-se mais

duas ou três vezes nos anos seguintes.

As lampreias e clupeídeos acima referidos estão insuficientemente representados na

Região Mediterrânica, sendo que em Portugal a Lampetra planeri apenas ocorre nesta

região biogeográfica.

São espécies que, para além de enfrentarem as ameaças comuns à maioria das espécies

aquícolas, apenas se reproduzem uma vez, dado que o final da desova coincide com a

morte do reprodutor. Excetua-se Alosa fallax que após a desova migra de volta para o mar,

embora sofra alguma mortalidade após este período crítico do seu ciclo de vida (ICNB,

2011).

Na ria de Aveiro estas espécies ocorrem em toda a área lagunar da ria, bem como nos seus

principais tributários, nomeadamente os rios Vouga, Águeda e Antuã.

Para o trabalho valorizaram-se os locais de ocorrência destas espécies tendo a carta sido

reclassificada de acordo com a ocorrência em duas classes:

Locais onde ocorre = 5

Locais onde não ocorre = 3

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Justifica-se a categorização 3 dos locais onde não ocorrem estas espécies devido ao facto

de existirem outras espécies da ictiofauna, cada uma com a sua importância e que

dependem destes ecossistemas para a sua sobrevivência e para completarem o seu ciclo

reprodução e de vida (fig.23).

Figura 23 - Reclassificação da carta das rotas do migradores (ictiofauna), segundo a metodologia proposta.

2.5. Estado das massas de água da “Ria de Aveiro”

A qualidade da água tem interferência direta na vida animal da ria, quer para a ictiofauna,

quer para a restante fauna, nomeadamente as aves que utilizam a ria como fonte de

alimentação, nomeadamente nas zonas de sapal, praias de vaza e no salgado. Para o

estudo em causa foi apenas utilizada informação relativa à poluição da água, disponibilizada

pela ARH Centro, referente ao estado das massas de água.

As massas de água são classificadas de “Mau” a “Excelente”. Na “Ria de Aveiro” as massas

de água estão classificadas de “Medíocre” a “Bom”.

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Assim, conforme a classificação, a reclassificação fez-se da seguinte forma (fig.24):

Bom = 2

Razoável = 3

Medíocre = 4

Figura 24 - Reclassificação da carta do estado das massas de água da Ria de Aveiro, segundo a metodologia proposta.

2.6. Proximidade à malha urbana

Apesar de considerarmos que, em termos gerais, as espécies animais conseguem

desenvolver bons mecanismos de adaptação à atividade antrópica, a proximidade às áreas

habitacionais pode ser considerada também como um fator de perturbação. Não sendo

muito certo quantificar uma distância correta em relação à malha urbana sobre o efeito de

perturbação, consideraram-se as distâncias que utilizadas em relação ao efeito das vias de

comunicação sobre a fauna, com um valor máximo de 600m.

Para o estudo em causa, criámos uma simulação de perturbação até ao 500m, com buffers

de 100m, onde o efeito de perturbação vai diminuindo à medida que nos distanciamos das

áreas habitadas (fig.25).

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Figura 25 - Reclassificação da carta de próximidade à malha urbana segundo a metodologia proposta.

2.7. Proximidade à malha viária

O efeito de perturbação foi verificado em diversas espécies de aves e em diferentes tipos de

habitats e pode atingir os 3500m, embora o valor mais razoável a considerar seja uma

distância de 1000m (REIJNEN et al. 1997 in GARCIA, 2004 apud ICNB, 2008). Em Portugal,

o estudo da influência da proximidade da A2 na distribuição e densidade do sisão

demonstrou que a densidade de machos territoriais é menor nas faixas mais próximas da

autoestrada, relativamente às faixas mais afastadas.

A abundância de machos territoriais nos primeiros 600m foi metade do valor verificado na

restante faixa da área de estudo. Verificou-se que o maior número de territórios se situava

entre os 600 e os 800m de distância à A2, e consideraram provável que o efeito de

perturbação seja exercido com maior intensidade até aos 600-800m de distância (GARCIA

2004 apud ICNB, 2008).

O nível de ruído, que se mantém elevado até pelo menos 500m da estrada, parece ser o

fator mais relevante na redução das densidades de aves junto destas (REIJNEN et al. 1995

e FORMAN & DEBLINGER 2000 in GARCIA, 2004 apud ICNB, 2008). Uma explicação

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possível para esta diminuição de efetivos é a perturbação no padrão de comunicação entre

as aves, com a consequente dificuldade dos machos atraírem as fêmeas.

Por outro lado, o ruído do tráfego pode causar stress nas aves ocorrendo um afastamento

destas relativamente à estrada, principalmente das fêmeas. Estes dois aspetos podem

causar uma diminuição no sucesso de reprodução e contribuir para uma redução da

densidade populacional de aves nidificantes.

Além da perturbação sonora, a perturbação visual poderá também ser relevante nos

primeiros 10 a 25m, e depende muito do perfil da estrada, já que nos troços em escavação

os veículos não são visíveis para as aves que se encontram no solo (GARCIA, 2004 apud

ICNB, 2008).

Elaboração da carta do efeito de perturbação pela malha viária:

Estradas Nacionais e/ou outras estradas asfaltadas, criámos buffers múltiplos com

intervalos de 50m até aos 250 metros de proximidade. Estas, são estradas de menor

tráfego, em relação às quais os seus impactos são, de algum modo minimizados

pelo efeito de barreira da vegetação (arbórea ou arbustiva).

Autoestradas e Linha de caminho de ferro, com buffers múltiplos de 120m até aos

600m de proximidade (fig.26).

Figura 26 - Reclassificação da carta de proximidade à malha viária segundo a metodologia proposta.

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Em termos muito sintéticos, a reclassificação das cartas atrás discriminadas, dão-nos conta

do grau de vulnerabilidade que cada factor representa para os valores naturais em causa.

Aqui ficamos com uma perceção representantiva da forma como cada um destes factores ou

variáveis vão determinar o resultado final (crf. Fig. 27), depois de ponderados os pesos de

cada um. Aliás, neste processo de elaboração da carta de vulnerabilidades, foi talvez o

factor correspondente à “ponderação” das variáveis, a parte mais dificil de todo o processo,

validar cientificamente o peso que cada uma das variáveis iria ter no processo de “Álgebra”

final, o que foi feito com recurso à Anállise Multicritério, nomeadamente ao Analytic

Hierarchy Process (ou análise hierárquica), conforme descrito no ponto seguinte.

2.8. Ponderação das variáveis

A metodologia utilizada foi a Analytic Hierarchy Process, teoria da análise hierárquica

introduzida por SAATY (1991), anteriormente referida de modo detalhado, que, recordando,

consiste na redução do estudo de sistemas a uma sequência de comparações aos pares,

seguindo a escala recomendada pelo autor. Foi elaborada uma matriz pareada de

comparação (tabela 20) que permitiu estabelecer o peso final de cada uma das

variáveis, tendo sido calculado o índice de consistência em 1,40%, um valor muito fiável

de acordo com o modelo proposto pelo autor (op.cit.) na medida em que, se o índice de

consistência for menor que 10% há consistência para prosseguir com os cálculos.

Tabela 20 - Matriz pareada de comparação

Matriz de Comparação

Variáveis A B C D E F G

A 1,00 3,00 1,00 3,00 0,33 0,33 0,33

B 1,00 1,00 1,00 0,33 0,20 0,20 0,20

C 1,00 1,00 1,00 1,00 0,33 0,33 0,33

D 1,00 1,00 1,00 1,00 0,33 1,00 0,33

E 3,00 1,00 3,00 1,00 1,00 1,00 1,00

F 3,00 1,00 1,00 3,00 1,00 1,00 1,00

G 1,00 3,00 1,00 3,00 1,00 1,00 1,00

Soma 11,00 11,00 9,00 12,33 4,20 4,87 4,20

Em que:

A – Suscetibilidade à erosão;

B – Proximidade à malha urbana

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C – Estado das massas de água da ria de Aveiro;

D – Proximidade à malha viária

E – Suscetibilidade dos Habitats Naturais

F – Distribuição da Fauna;

G – Ictiofauna – rotas dos migradores;

Como se referiu antes, SAATY (1991) sugere também o uso da Razão de Consistência, que

considera o Índice de Consistência e o Índice Randômico (IR), que varia com o tamanho (n)

da amostra. De acordo com os cálculos efetuados, a Razão de Consistência foi de 1.06%,

valor bem abaixo do limite dos 10%, a partir do qual devemos rever a nossa matriz. Assim,

perante os resultados apurados, validados pelos valores dos índices de Consistência e da

Razão de Consistência, utilizaram-se as ponderações já normalizadas para as variáveis,

constantes da tabela 21, correspondente ao campo “priority vetor”.

Tabela 21 - Matriz pareada de comparação normalizada

Matriz Normalizada sum Ponderação 0,091 0,273 0,111 0,243 0,079 0,068 0,079 0,866 14,43% 0,091 0,091 0,111 0,027 0,048 0,041 0,048 0,409 6,81% 0,091 0,091 0,111 0,081 0,079 0,068 0,079 0,522 8,70% 0,091 0,091 0,111 0,081 0,079 0,205 0,079 0,659 10,98% 0,273 0,091 0,333 0,081 0,238 0,205 0,238 1,222 20,36% 0,273 0,091 0,111 0,243 0,238 0,205 0,238 1,162 19,36% 0,091 0,273 0,111 0,243 0,238 0,205 0,238 1,162 19,36%

soma 1,000 1,000 1,000 1,000 1,000 1,000 1,000 6,000 100,0%

Índice de

Consistência (IC) 1,40% n = 7

Razão de

Consistência (RC) 1.06%

Estabelecido o peso de cada uma das variáveis, toda a parte de processamento dos mapas

foi elaborado em ambiente SIG (ArcGis 10) utilizando a seguinte fórmula, que permitiu a

elaboração do cartograma apresentado na figura 27:

A*0.15+B*0.07+C*0.09+D*0.11+E*0.20+F*0.19+G*0.19

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Figura 27 - Zonamento da vulnerabilidade após o processo de reclassificação, segundo o método Natural Breaks.

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101

3. ANÁLISE DE RESULTADOS

Analisando os resultados apresentados na carta de vulnerabilidade verificamos que, de um

modo geral, toda a ZPE - Ria apresenta com vulnerabilidade Moderada a Elevada,

característica que podemos atribuir às zonas estuarinas, na qualidade de unidade

biogeográfica (Habitat 1130). As áreas mais sensíveis localizam-se essencialmente em

biótopos dependentes das marés, como lodaçais e sapais associados ao Rio Vouga e seus

afluentes e ao braço Norte da Ria de Aveiro (crf. fig.15).

Estas áreas destacam-se das restantes principalmente por albergarem espécies com muito

interesse para a conservação. Refere-se, assim, que nas áreas de sapal e lodaçal, assim

como na área central da área de estudo, onde também ocorrem estes biótopos (Habitats

1110, 1140 e 1330), verifica-se a ocorrência de espécies como a Garça-vermelha ou a

Águia-pesqueira, destacando-se na linha de costa, a ocorrência da Negrola.

Também a área correspondente ao bocage, se apresenta com uma vulnerabilidade elevada,

nomeadamente devido à presença do Habitat 91E0. Esta área corresponde ao local onde foi

inventariado o maior número de espécies da fauna assim como a presença de habitats

prioritários.

A zona do antigo salgado caracteriza-se como uma área muito importante para alimentação

e refúgio de avifauna em especial limícolas e larídeos, salientando-se a ocorrência de várias

espécies com estatuto de conservação desfavorável.

A pateira de Fermentelos e toda a área envolvente apresentam igualmente uma

vulnerabilidade moderada a elevada e elevada, devido a factores tais como a proximidade à

malha viária, ao aglomerado populacional, à ocorrência de espécies migradoras da

ictiofauna, assim como local de excelência para as aves.

Ao nível do litoral, salienta-se toda a faixa litoral a norte da Torreira e alguns locais dentro da

Reserva Natural das Dunas de S. Jacinto onde ocorrem vários habitats naturais dunares

(2130, 2150+2270+2330 e 2110+2120), assim como a ocorrência de várias espécies de

aves migradoras e algumas residentes.

A Sul de Aveiro, no canal de Mira, os fatores com maior influência para a vulnerabilidade

moderada a elevada são de ordem antrópica, principalmente a perturbação provocada pela

proximidade à malha viária e urbana.

É possível comparar as similaridades no resultado final do ensaio aqui apresentado com um

estudo produzido pela DHV, S.A para POLIS LITORAL Ria de Aveiro em 2011, no capítulo

referente à análise biofísica e ambiental (Estudo de Atividades Económicas e suas

Dinâmicas – Relatório Final, 103-140), onde as áreas de maior vulnerabilidade coincidem

com as deste trabalho, havendo contudo algumas diferenças, nomeadamente no que diz

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respeito à área da pateira e Fermentelos e alguns locais da área lagunar, devido ao facto de

introduzirmos fatores de perturbação antrópica, não aconteceu nesse estudo (crf. Fig .28).

Figura 28 - Classificação da sensibilidade dos valores ecológicos. Fonte: Polis Litoral Ria de Aveiro, 2011.

4. CONTRIBUTO PARA A GESTÃO DA ZPE/SIC RIA DE AVEIRO

4.1. Orientações gerais

A “Ria de Aveiro” encontra-se numa área densamente povoada, com crescimento urbano e

industrial relevante. A poluição da água, proveniente sobretudo de efluentes industriais

constitui assim um dos principais fatores negativos a que a ria está sujeita. A redução dos

habitats naturais na região tem sido causada por drenagem e conversão de zonas húmidas

para utilização agrícola, abandono da salicultura e conversão de salinas em aquiculturas, e

também pela expansão urbano-turística que se verifica na zona litoral.

As comunidades dunares encontram-se ameaçadas pela invasão de espécies exóticas,

fundamentalmente do género Acacia, constituindo uma das principais ameaças ao equilíbrio

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ecológico dos habitats da ria. Refira-se, ainda, as intervenções que induzem alterações

significativas na dinâmica da ria, como as resultantes das dragagens, abertura de canais e

desassoreamentos efetuados no porto de Aveiro. Outras ameaças que afetam a ria,

nomeadamente as que produzem consequências para os peixes migradores, são as que

incidem na fase continental do seu ciclo de vida, das quais se destaca a construção de

barragens e açudes, que alteram as zonas de desova ou impedem o seu acesso. Também a

exploração de inertes, a limpeza das margens e do leito do rio, a alteração do regime natural

de caudais (devido à exploração dos recursos e ao regime de exploração das barragens) e a

captura de exemplares com fins comerciais (pesca profissional e furtiva) têm contribuído

para o declínio destas espécies.

Em relação aos habitats, a gestão da ZPE/SIC Ria de Aveiro deverá ser dirigida

prioritariamente para a conservação dos habitats lagunares, ripícolas e dunares, devido à

presença de habitats prioritários, assim como aos elevados graus de vulnerabilidade que lhe

são conferidos pela carta agora apresentada.

Deverá dar particular atenção à preservação dos diversos habitats associados ao

ecossistema estuarino (lodaçais, sapais, vegetação halófila), assim como à conservação ou

recuperação das zonas dulciaquícolas terrestres, promovendo, por exemplo, a manutenção

da vegetação ribeirinha autóctone e condicionado as intervenções nas margens e leito de

linhas de água, fundamentais ainda à conservação de diversas espécies da fauna.

Um dos aspetos fundamentais é a melhoria da qualidade da água, através de um correto

tratamento de efluentes industriais e domésticos, sendo igualmente relevante acautelar as

intervenções que induzem alterações significativas na dinâmica da ria, como as resultantes

das dragagens, abertura de canais e desassoreamentos. A proteção da zona húmida passa

ainda por evitar a sua redução devido a drenagem e conversão dos habitats de sapal.

Considerando a importância da manutenção da conectividade longitudinal entre o mar e as

áreas propícias para a desova (rios) das espécies de peixes migradoras diádronas, deverão

ser evitadas ou corrigidas intervenções que resultem na interrupção da continuidade

longitudinal dos cursos de água. Deverão também ser evitadas ou corrigidas algumas

práticas de pesca lesivas para os recursos haliêuticos.

É, ainda, de salientar a importância da preservação dos sistemas dunares assegurando,

nomeadamente, um correto ordenamento da ocupação urbana, agrícola e turística sobre

esta faixa costeira, de forma a conciliar o seu usufruto com a conservação dos valores

naturais em presença. Ações a privilegiar no sentido de garantir a sustentabilidade da

dinâmica natural dos habitats apontam no sentido da proteção das depressões húmidas

dunares, e da proteção e manutenção da duna secundária. Neste sentido, recomenda-se

também, o controlo de espécies invasoras, sobretudo da acácia.

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104

Em relação à fauna, as orientações de gestão deverão ser dirigidas prioritariamente para a

conservação das aves aquáticas e passeriformes migradores. Neste âmbito deverá ser

encarada como fundamental a manutenção e restauração da área húmida e do seu mosaico

de habitats, promovendo a coexistência de habitats de alimentação (vasas e salinas),

habitats de nidificação e repouso (sapais) e corredores de migração (galerias ripícolas e

bosquetes) e assegurar a sua qualidade ambiental a curto, médio e longo prazo.

Deverá também ser garantida a preservação dos habitats marinhos desta ZPE, importantes

para a preservação de algumas espécies da avifauna.

As atuais atividades que se praticam na área, sejam elas ligadas à pesca, à aquicultura,

exploração do sal ou turísticas, deverão ser compatibilizadas com os objetivos de

conservação da natureza, através da promoção de boas práticas ambientais e do

zonamento de áreas sensíveis (instrumentos de gestão territorial). Outro aspecto de

particular importância, consiste na promoção da qualidade da água ( e na sua proteção)

melhorando a eficácia de fiscalização sobre a emissão de poluentes.

Na área do Aproveitamento Hidro-Agrícola do Vouga, para além das orientações de gestão

identificadas, deverão ver-se cumpridas as exigências das boas práticas agrícolas em vigor,

complementadas pela monitorização da qualidade da água e a preservação das galerias

ripícolas. Ainda relativamente à poluição das águas causada ou induzida por nitratos de

origem agrícola, bem como à sua propagação, deve ser dado cumprimento ao programa de

ação para a zona vulnerável nº 2, de proteção ao aquífero quaternário de Aveiro (PSRN,

2000).

Assim, tendo em conta o que acabámos de descrever, podemos sintetizar as orientações

gerais nos seguintes pontos:

a) Conservação das aves aquáticas e passeriformes migradores – manutenção e

restauração da área húmida e dos seu mosaico de habitats, promovendo a coexistência de

habitats de alimentação, nidificação e repouso e corredores de migração:

Preservação dos habitats marinhos;

Compatibilização das atividades económicas com a conservação da natureza,

através da promoção de boas práticas ambientais e do zonamento de áreas

sensíveis;

Garantir a qualidade da água melhorando a eficácia de fiscalização sobre a

emissão de poluentes e monitorizando a mesma.

b) Cumprir as exigências das boas práticas agrícolas em vigor no Aproveitamento

Hidroagrícola do Vouga, monitorizando a qualidade da água, e a preservação das galerias

ripícolas:

Promover a manutenção de prados húmidos;

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Conservar/promover sebes, bosquetes e arbustos;

Manter práticas de pastoreio extensivo;

Restringir usos de agroquímicos/adotar técnicas alternativas;

Incrementar a sustentabilidade económica com interesse para a conservação das

espécies;

Condicionar a florestação;

Conservar/recuperar povoamentos florestais autóctones;

Conservar/recuperar vegetação dos estratos herbáceo e arbustivo;

Impedir introdução de espécies florestais não autóctones/controlar as existentes.

c) Outros usos e Atividades:

Condicionar a construção de infraestruturas e a expansão urbano-turística;

Reduzir a mortalidade acidental associada a linhas de transporte de energia;

Regular usos de açudes e charcas;

Manter/recuperar salinas;

Condicionar intervenções nas margens e leito de linhas de água;

Condicionar a pesca, e a apanha com artes que revolvam o fundo;

Implementar gestão cinegética compatível com a preservação das espécies,

incluindo a interdição do uso do chumbo;

Ordenar atividades de recreio e lazer.

4.2. Orientações específicas

A área da “Ria de Aveiro” é abrangida pela Zona de Proteção Especial, a Reserva Natural

das Dunas de São Jacinto e, futuramente, o SIC, assim como diversas zonas húmidas

consideradas muito sensíveis. Desta situação resultam diversos tipos de condicionantes ao

uso e ocupação do espaço, nomeadamente no que diz respeito à implantação das

atividades económicas e às formas do exercício dessas atividades, de modo a minimizar os

impactos por elas causado.

A delimitação em 9 áreas (fig.29) teve em consideração a classificação da área de estudo

quanto à sensibilidade ecológica, bem como as atuais utilizações humanas do território.

Assim, procurou-se estabelecer unidades territoriais que expressassem a importância

ecológica para as espécies e habitats.

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A Zona de Proteção Especial (ZPE) Ria de Aveiro. Ensaio metodológico para a construção de uma carta de Vulnerabilidades para apoio à gestão ecológica da paisagem 2012

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Fig.29 - Delimitação das áreas analisadas

Desta forma, cada área foi delimitada e caracterizada considerando um conjunto de fatores

ecológicos, biofísicos e sociais: sensibilidade ecológica determinada pela presença de áreas

classificadas, habitats naturais, áreas sensíveis para a avifauna e ocorrência de espécies de

flora e fauna protegidas tendo em consideração a utilização do plano de água e da margem,

nomeadamente ao nível dos canais de navegação preferenciais, biótopos e usos do solo,

em particular, os mais relevantes para a avifauna como sejam sapais e zonas entre marés,

salinas, zonas agrícolas, bosques e bosquetes, dunas e praias e galerias ripícolas.

4.2.1. Considerações sobre boas práticas para a boa gestão das áreas Analisadas

1 - Área com predominância de sapal e vários canais da ria de Aveiro, incluindo ainda áreas

de agricultura com espaços naturais e seminaturais, culturas temporárias de regadio e

floresta mista e de folhosas.

Salienta-se a importância da área de sapal como área de reprodução, abrigo e alimentação

de avifauna (como é o caso de aves limícolas, a garça-vermelha ou a águia sapeira), e

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107

áreas de nursery33 e passagem de ictiofauna (e.g. lampreia) ocorrendo diversas espécies

com estatuto de conservação desfavorável.

Pela sua sensibilidade a nível ecológico recomenda-se que este seja um local de

passagem no que concerne ao turismo náutico de recreio (em especial

embarcações motorizadas), devendo ser condicionado na altura mais sensível

para a avifauna (período de Invernada e reprodutor, sendo a época mais crítica

entre o início de março e meados de maio);

Condicionar o desassoreamento de canais/margens ao mínimo indispensável,

devendo avaliar-se caso a caso, de acordo com a sua localização, as

características e âmbito da intervenção;

Condicionar a dragagem e a substituição de zonas húmidas por práticas

agrícolas e pecuárias intensivas.

2 - Braço de ria rodeado por Sapal e culturas temporárias de regadio, circundadas por tecido

urbano descontínuo, onde se regista a presença de espécies com estatuto de conservação

desfavorável.

Pela sua proximidade a uma área muito sensível, recomenda-se que nesta área

o canal seja utilizado apenas para passagem no caso do turismo náutico (em

especial embarcações motorizadas), devendo ser condicionado na altura mais

sensível para a avifauna (período de invernada e reprodutor, sendo a época mais

crítica entre o início de março e meados de maio).

Pela sua sensibilidade recomenda-se que o desassoreamento de

canais/margens seja condicionado ao mínimo indispensável, devendo avaliar-se

caso a caso, de acordo com a sua localização, as características e âmbito da

intervenção.

3 - Extensa área de sapal (na sua maioria de vulnerabilidade elevada, segundo a nossa

carta), sendo uma das área mais importantes da Ria de Aveiro ao nível de conservação de

espécies prioritárias, nomeadamente avifauna (área muito importante para reprodução,

abrigo e alimentação), ictiofauna (funcionando como nursery tanto para espécies estuarinas

como marinhas) e invertebrados estuarinos.

Zona do antigo Salgado de Aveiro, com presença de canais da ria e predominância de

salinas e aquaculturas litorais ocorrendo também algumas áreas de sapal. A área é

atravessada pela A25. Trata-se de uma área importante para alimentação e refugio de

avifauna em especial limícolas e larídeos, classificada, segundo a nossa carta, como área

de vulnerabilidade moderada a elevada, salientando-se a ocorrência de várias espécies com

estatuto de conservação desfavorável, .

33

Áreas de desova.

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108

Área de sensibilidade máxima, atravessada por um canal cuja navegação deve ser

bastante restrita, em especial no caso de embarcações motorizadas. O período mais

crítico diz respeito ao período de Invernada e reprodutor de avifauna e reprodutor de

ictiofauna, em especialmente março e maio.

Condicionar a dragagem e substituição de zonas húmidas por práticas agrícolas e

pecuárias intensivas.

Área com enorme potencial para o turismo de natureza e cultural, podendo

desempenhar uma função importante ao nível da formação e sensibilização

ambiental, promovendo ainda atividades económicas tradicionais sustentáveis e

rentáveis.

4 - Zona mais agrícola com algum sapal, culturas temporárias de regadio, arrozais,

agricultura com espaços naturais e seminaturais, pastagens permanentes e vegetação

herbácea natural. A área agrícola com espaços naturais caracteriza-se por se tratar de

parcelas com culturas anuais e plurianuais separadas por uma rede de sebes/bosquetes.

Este mosaico rural, denominado “Bocage” é um raro habitat característico do Baixo Vouga

Lagunar (em Portugal apenas existe nesta região, e é invulgar em toda a Europa) que

contribui para a grande diversidade biológica da área, salientando-se a presença de

espécies como a águia-sapeira, a garça vermelha e diversos passeriformes invernantes.

Nesta área, podemos encontrar o Rio Vouga rodeado de pastagens permanentes, culturas

temporárias e culturas temporárias de regadio. Devido à presença de algumas espécies com

estatuto de conservação desfavorável, salientando-se a presença de aves aquáticas

importantes, tais como a garça-vermelha e a águia sapeira, estamos perante uma área de

sensibilidade elevada.

Deverá dar-se enfase à manutenção da prática agrícola e pecuária extensiva, em

especial na área de “Bocage” (área de extrema importância, tanto do ponto de

vista ecológico como cultural);

Condicionar a dragagem e a substituição de zonas húmidas por práticas

agrícolas e pecuárias intensivas.

5 - Antigos arrozais atualmente ocupados por áreas de sapal. Ocorrência de culturas

temporárias de sequeiro (zonas palustres) e área agrícola com espaços naturais e

seminaturais, rodeado por florestas mistas e de resinosas. De um modo geral, podemos

dizer que se trata de uma área rodeada por tecido urbano descontinuo..

Deverá condicionar-se a dragagem e a substituição de zonas húmidas por

práticas agrícolas e pecuárias intensivas.

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6 - Praia e sistemas dunares, matos e culturas temporárias de sequeiro e de regadio. Esta

unidade de paisagem, tal como foi caracterizada anteriormente, representa uma área menos

humanizada e já sem presença de área lagunar.

Salienta-se ainda que, toda a zona marinha, incluindo a área de praia e dunas, inclui áreas

importantes para espécies de aves marinhas com estatuto de conservação desfavorável,

como é o caso pato-negro (ou negrola) e algumas limícolas.

Entre a praia e sistemas dunares e a Ria ocorre essencialmente área agrícola com espaços

naturais e seminaturais e algumas manchas de floresta de folhosas.

A área entre as dunas e a Ria está ocupada por agricultura com espaços naturais e

seminaturais, florestas mistas e tecido urbano.

Na margem oposta do canal predominam as áreas agrícolas com culturas temporárias de

sequeiro e uma pequena área de sapal, as quais estão circundadas por uma matriz urbana.

Área que pode ser aproveitada para o turismo de natureza, recreio e lazer;

Devem ser aproveitados os caminhos e estradas secundárias existentes. A

abertura de novos caminhos ser condicionada.

A náutica de recreio, desportos náuticos, turismo de recreio e lazer deve ser

direcionado sobretudo para o eixo “rodoviário-fluviário” Norte-Sul que acompanha

as estradas N327 (São Jacinto Furadouro) e EM 592 (Barra-Vagueira), pois para

além de ser já bastante utilizado corresponde também, a área onde se regista

menos valor do ponto de vista conservacionista;

Deve ser salvaguarda toda a zona dunar que acompanha esse eixo, devendo

promover-se a conservação deste ecossistema, seus habitats e espécies,

devendo o acesso às dunas ser condicionado;

Na margem oposta do canal deve-se promover o turismo de natureza, recreio e

lazer devendo aproveitar-se os caminhos e estradas secundárias existentes. A

abertura de novos caminhos deve ser condicionada.

7 - Reserva Natural de São Jacinto. Salienta-se a ocorrência de dunas bem conservadas

(areias da praia, duna primária, zona interdunar e duna secundária) destacando-se, ao nível

de flora, a presença de comunidades dunares importantes. No interior da reserva ocorrem

algumas lagoas com elevada importância para a avifauna aquática;

Ao nível de floresta predominam as resinosas e uma grande expansão de plantas exóticas e

invasoras. Nas áreas mais baixas e húmidas ocorre ainda vegetação ripícola, salientando-se

os salgueirais, caniçais e juncais.

As Orientações de gestão neste espaço deverão cumprir o disposto no Plano de

Ordenamento em vigor aprovado pela Resolução do Conselho de Ministros nº 76/2005 de

21 de março.

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110

Promover a conservação do ecossistema dunar e dos seus habitats e espécies;

Assegurar a conservação e a valorização do património natural da área protegida

e da zona de proteção especial em que se encontra integrada;

Promover a investigação científica e o conhecimento sobre o património natural

da zona em que se insere, bem como a monitorização de espécies, habitats e

ecossistemas;

Assegurar a informação, sensibilização, formação e participação do público, bem

como incentivar e mobilizar a sociedade civil para a conservação dos

ecossistemas dunares e zonas húmidas litorais.

8 - Entre a área de dunas e a ria verifica-se predominância de matos e florestas de

resinosas com alguma presença de culturas temporária de regadio e sequeiro.

Zona dunar com predominância de florestas de resinosas, áreas de matos e culturas

temporárias de regadios, com algum tecido urbano descontinuo.

Deve ser salvaguarda toda a zona dunar que acompanha esse eixo, devendo

promover-se a conservação do ecossistema dunar, seus habitats e espécies,

devendo o acesso às dunas ser condicionado.

9 – Os principais fatores de ameaça associados à Pateira de Fermentelos prendem-se

essencialmente com a atividade agrícola e pecuária, a contaminação da água e dos solos

por efluentes tanto urbanos como industriais. Também a invasão de espécies de flora

exóticas são um problema grave nesta lagoa. Encontram-se também graves problemas

ligados à redução da área de superfícies e ao assoreamento. No caso particular da Pateira

de Fermentelos as orientações de gestão centram-se em grupos específicos de

Passeriformes, isto porque todas elas são espécies que estão inseridas em habitats que têm

vindo a sofrer com a contínua alteração do uso dos solos, com o aumento da poluição da

águas, destruição das zonas de abrigo e de nidificação como também ao aumento da

construção de infrastruturas, como linhas de alta tensão que têm vindo a contribuir para a

diminuição dos efetivos populacionais. Dentro destas espécies temos a Garça-vermelha

(Ardea purpúrea), a Garça-pequena (Ixobrychus minutos), a Andorinha-do-mar-anâ (Sterna

albifrons), passeriformes migradores das galerias ripícolas e também passeriformes

migradores de matos e bosques.

Promover a conservação do ecossistema lagunar, dos seus habitats e espécies;

promover condições tanto de refugio como de nidificação;

melhorar a qualidade da água;

restringir o uso de agroquímicos de modo a minimizar a contaminação de solo

através das águas de escoamento;

Regular o corte e a queima dos caniçais.

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CAPITULO III

OS SIG E A INTERNET – CONCEÇÃO DO WEBSIG REDE-AVEIRO

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1. OS SISTEMAS DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA (SIG) E A INTERNET

No que respeita à disponibilização de grandes quantidades de informação georreferenciada,

ao longo dos últimos anos, a Internet tem-se assumido como um meio privilegiado e com um

enorme potencial de crescimento, permitindo o acesso a diversos utilizadores de

funcionalidades SIG sem que estes necessitem, quer de possuir conhecimentos avançados

neste tipo de ferramentas, quer de ser proprietários de licenças de aplicações SIG, bastando

apenas de disporem de um computador com ligação à Internet.

Segundo YANG et al. (2004) in BARRIGUINHA (2008), “os novos mercados da Internet têm

sido apontados como uma das principais razões para a atual expansão dos SIG e da sua

utilização nas mais diversas vertentes, transformando os SIG num meio de comunicação ao

fornecerem informação e conhecimento ao público”.

Antes da difusão via Internet, os SIG encontravam-se, numa primeira fase, armazenados em

“mainframes”, acedidos via terminais remotos, tendo evoluído posteriormente para os SIG

desktop instalados em computadores pessoais, não existindo partilha de informação ou,

caso ela existisse, o acesso à mesma dependia sempre do tipo de software SIG instalado

nos servidores.

Surgem então os WebSIG que, tal como referem TANGE et al. (2003) in BARRIGUINHA

(2008), combinam “duas poderosas tecnologias: os SIG (para análise e integração de dados

geospaciais), e a Internet (garante de conectividade, gestão e partilha de informação a um

nível global)”.

Para GILLIARY (2005) in CAPUTI (2006) “WebSIG é um SIG distribuído através de uma

rede de computadores para integrar, disseminar e comunicar informações geográficas

visualmente na Web”.

Já MITCHEL (2005) preconiza que a disponibilização de mapas através da web pode

decompor-se em dois tipos: estático e dinâmico. Para este autor, a disponibilização de

mapas estáticos encontra-se presente em qualquer página web, uma vez que esses mapas

não são mais do que imagens previamente produzidas. Este tipo de mapas são muito fáceis

de obter e não implicam a utilização de quaisquer tecnologias especiais. No entanto, e tal

como refere este autor, a disponibilização de mapas dinâmicos (e interativos) exige a

utilização de tecnologias e de conhecimentos.

Nesta situação o utilizador consegue interagir com a interface web, podendo alterar a escala

de visualização, ativar ou desativar temas, etc.

Independentemente do conceito, que pode varia em função da sensibilidade dos autores e

da sua formação científica de base, um WebSIG será sempre um serviço, constituído por

cinco componentes básicos:

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Cliente (Browser Web – Internet Explorer, Firefox, Safari, etc.);

Servidor de Internet (Web Server – IIS, Apache, etc.) e/ou servidor de aplicações;

Uma linguagem de programação (PHP, Java, Python, entre outras);

Servidor de mapas (ArcIMS, GeomediaWebMap, MapServer, GeoServer, entre

outros);

Servidor de dados (PostgreSQL/PostGIS, ArcSDE, entre outros).

Um serviço WebSIG materializa-se numa forma de comunicação Cliente/Servidor (fig.30)

através de protocolos pré-definidos, onde o cliente envia um pedido ao servidor através de

um browser de Internet, recorrendo a uma aplicação programada com linguagens

compatíveis com sistemas de informação web (2). De seguida, o servidor de mapas (3)

interpreta o pedido, adquire os dados pretendidos e armazenados no servidor de dados (4),

manipula-os, produz uma imagem (5) e envia-os ao cliente via HTTP (6).

O cliente serve como interface para que os utilizadores possam interagir com os dados

espaciais e com as funções de análise fornecidas pelo WebSIG. Exemplos de clientes:

HTML, Plug-in, Java Applets, etc).

Figura 30 - Esquema de funcionamento de websig.

O servidor de Internet, usualmente designado por servidor de Hypertext Transfer Protocol

(HTTP), permite responder às requisições dos browsers de Internet via HTTP. Segundo

PENG et al. (2003) in BARRIGUINHA (2008), as principais funções do servidor de

aplicações passam pelo estabelecimento, manutenção e o termo da ligação entre o servidor

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de Internet e o servidor de mapas. O servidor de mapas pode ser definido, segundo os

autores anteriormente referidos, como o componente central, uma vez que é ele que

processa os pedidos dos clientes e gera resultados. É através do servidor de mapas que se

disponibilizam funções tradicionais dos SIG como seja, filtros de pesquisa, análise espacial,

criação de mapas, etc. A informação gerada por este servidor pode ser uma simples

imagem num formato JPEG, GIF, TIFF, etc. ou através de diversos níveis de informação

filtrada e enviada para o cliente para que o utilizador final a manipule. Por fim, o servidor de

dados que, tal como o próprio nome sugere, fornece dados (espaciais ou não).

Para recorrer a este tipo de soluções/serviços WebSIG, existem diversas tecnologias, tanto

proprietárias (ArcGIS Server, Geomedia Web Map, Autodesk MapGuide Enterprise, etc.),

como Open source (QuantumGIS, GRASS, gvSIG, PostgreSQL/PostGIS, MapServer,

GeoServer, Degree, MapBender, entre outros).

A escolha da tecnologia que melhor se adapta à solução WebSIG a implementar não é fácil;

no entanto, o custo elevado das soluções comerciais (tanto de aquisição inicial como de

manutenção e atualização de licenças), a diminuição do preço dos computadores e a

crescente popularidade dos mapas distribuídos via Internet, impulsionou o desenvolvimento

de inúmeros projetos Open Source, permitindo o acesso a tecnologias SIG a baixo custo ou

mesmo a custo zero (CALDEWEYHER et al, 2006 apud SILVA, 2008).

SILVA (2008) refere que a “proliferação de diferentes sistemas de informação proprietários,

com estruturas de base próprias, tem criado problemas significativos na partilha de

informação geográfica, devido à existência de formatos incompatíveis e à dificuldade de

acesso aos diversos recursos através de um único interface, simples e gratuito”.

Assim, importa então destacar o papel da Fundação do Software Livre (Free Software

Foundation - FSF), através do projeto GNU34 (Gnu´s Not UNIX) e, em particular, do Open

Geospatial Consortium, INC (OGC), para alterar este panorama. A FSF definiu quatro

fundamentos do software livre (UCHOA, et al. 2005 apud CONDEÇA, 2009) também

conhecidos pelas 4 liberdades:

Liberdade de executar o programa, para qualquer propósito;

Liberdade de estudar como o programa funciona, adaptá-lo para as suas

necessidades; acesso ao código-fonte é um pré-requisito para esta liberdade;

Liberdade de redistribuir cópias possibilitando o apoio a outros utilizadores/clientes;

Liberdade de aperfeiçoar o programa, de modo a que toda a comunidade beneficie.

34

GNU é um projeto iniciado por Richard Stallman em 1984, e atualmente a FSF é a principal organização que patrocina o projeto. O objetivo do projeto é criar um sistema operacional, chamado GNU, baseado em software livre. A palavra “livre” em “software livre” refere-se à liberdade, não ao preço. Podemos ou não pagar para obter software do projeto GNU, mas uma vez em sua posse, temos 4 liberdades específicas para o utilizar.

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O OGC é uma organização internacional sem fins lucrativos que foi fundada em 1994, conta

atualmente com 384 membros (empresas de software proprietário, entidades

governamentais e universidades), que em conjunto desenvolvem processos e serviços para

desenvolver especificações SIG abertas (OpenGIS® Specifications) para interfaces que

suportem soluções interoperáveis e que possam ser disponibilizadas via WebSIG, wireless

ou através de mainstreams (OGC, 2009). Segundo DAVIS (2007) esta é uma organização

que visa a definição de (open) standards para os dados geoespaciais e serviços baseados

em localização (LBS) e que tem por objetivos estratégicos:

Providenciar standards livres e abertos ao mercado e demais utilizadores;

Liderar a nível mundial a criação e o estabelecimento de standards que permitam

que conteúdos geoespaciais e serviços possam ser suavemente integrados nos

processos de negócio das empresas e do público em geral;

Facilitar a adoção de arquiteturas geoespaciais abertas, no ambiente das

empresas;

Promover standards para suportar a formação de novos mercados e de

aplicações;

tecnológicas geoespaciais;

Acelerar a assimilação por parte do mercado da interoperabilidade.

Segundo GOODCHILD et al. (1997) in SILVA (2008), interoperabilidade pode ser definida

como:

Tornar aberta a estrutura interna dos arquivos de dados;

Viabilizar a capacidade de conversão de dados entre o software;

Popularizar a interação com o utilizador.

Ainda segundo o mesmo autor, “a interoperabilidade tem como principal objetivo estabelecer

padrões que permitam o acesso e a partilha de informação geográfica num ambiente em

rede recorrendo a um interface universal”.

Neste estudo, o autor refere que a utilização da Internet para acesso e partilha da

informação geográfica veio acelerar o processo que permite ao utilizador utilizar e manipular

informação independentemente da sua origem e formato, conduzindo ao desenvolvimento

dos Web Services (interface que descreve um conjunto de operações na Internet recorrendo

a diversas normas standard, destacando-se o XML, SOAP, WSDL e UDDI1).

Com efeito, são já vários os sistemas/serviços que seguem as especificações OGC, das

quais se destacam:

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WMS (Web Map Service) – define quatro protocolos (GetCapabilities, GetMap,

GetFeatureInfo e DescribeLayer), permitindo a criação de um mapa como uma

imagem (JPG, PNG ou GIF); não permite operações de manipulação dos dados,

quer para adequar a sua simbologia quer para efetuar operações de

geoprocessamento;

WFS (Web Feature Service) – neste caso o servidor envia ao cliente dados sob a

forma vetorial, permitindo ao cliente manipular a informação recebida, gravar ou

exportar para outros formatos e efetuar operações de geoprocessamento: o

formato de receção dos dados é o GML - Geography Markup Language (standard

OGC);

WCS (Web Coverage Service) – é um serviço que fornece dados matriciais e que

podem ser, à semelhança do WFS, manipulados pelo utilizador;

GML (Geography Markup Language) – baseado em XML e que foi desenvolvido

para permitir a transferência e armazenamento de informações geográficas.

Por último, importa ainda fazer referência ao conceito Infraestrutura de Dados Espaciais

(IDE), que tem tido nos últimos anos uma forte implementação. Exemplo disso é Diretiva da

União Europeia (Diretiva n.º 2007/2/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 14 de

março de 2007 e que foi transposta para a legislação nacional, através do Decreto-Lei n.º

180/2009) que estabelece a criação de uma infraestrutura de informação geográfica na

Comunidade Europeia (INSPIRE). O objetivo da iniciativa INSPIRE é, segundo o SNIG

(2004), “promover a disponibilização de informação de natureza espacial, utilizável na

formulação, implementação e avaliação das políticas da União Europeia”.

Segundo NEBERT (2004) in FURTADO (2006), o conceito de IDE “é usado para designar

um conjunto de tecnologias, políticas e envolvimento de instituições (principalmente as

organizações produtoras de cartografia) que promovam a disponibilidade e acesso a dados

espaciais”. Com este conceito promove-se a oferta de serviços de acesso à informação

geográfica, utilizando para tal catálogos que permitam saber onde se encontra a informação

(…). Este sistema “é mais do que um simples conjunto de dados e base de dados

geograficamente distribuídos: deve fornecer serviços para a sua pesquisa, como podem ser

acedidos e possuir aplicações que permitam a sua visualização”.

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2. DESENVOLVIMENTO DA APLICAÇÃO

2.1. Programas utilizados no desenvolvimento do WEBSIG -RIA

2.1.1. MapServer

MapServer é um software de código aberto e gratuito para processamento de dados

geográficos escrito em linguagem “C+”. MapServer foi originalmente desenvolvido pela

Universidade de Minnesota (UMN) no projeto ForNet em cooperação com a NASA e com o

Departamento de Recursos Naturais de Minnesota. Mais tarde, foi hospedado pelo projeto

TerraSip, um projeto patrocinado pela NASA entre os UMN e um consórcio de gestão de

interesses terra. MapServer é agora um projeto da OSGeo (não se disse o que era este

organismo), e é mantido por um número crescente de desenvolvedores de todo o mundo. É

apoiado por um grupo diversificado de organizações que financiam melhorias e

manutenção, e administrado dentro OSGeo.

No geral uma aplicação MapServer é composta pelos seguintes elementos:

Dados;

Mapfile;

Formulário de inicialização (necessário para o funcionamento do MapServer em

modo CGI);

Template.

Os dados de entrada devem estar armazenados numa base de dados ou dentro de uma

pasta no computador. Neste projeto os dados serão armazenados no PostgreSQL/PostGIS.

Termos e conceitos

O Mapfile é um ficheiro com extensão .map, no qual se executam as definições e as

configurações para o processamento de mapas. É o ficheiro base para configuração das

aplicações (fig.31). É escrito em formato de texto puro e o ficheiro é lido pelo MapServer

para processar os mapas. É neste ficheiro que definimos os mapas a serem apresentados, o

caminho para ir buscar os dados para processar os mapas, as cores, os símbolos, as

legendas, etc. O Mapfile define como os mapas serão apresentados ao cliente (utilizador).

Um exemplo simples de um ficheiro Mapfile é mostrado na figura que se segue:

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Figura 31 - Estrutura básica de um arquivo map para representar um polígono. Fonte FILHO, 2009

Formulário de inicialização: É uma declaração em HTML que envia ao executável do

MapServer os parâmetros básicos para inicialização da aplicação (a localização do Mapfile e

o URL do MapServer CGI). O template define como é que os componentes gerados pelo

MapServer tais como, mapas, legendas, barras de escala, etc., serão apresentados ao

utilizador e de que maneira o utilizador vai interagir com a aplicação.

O MapServer pode basicamente ser utilizado de 3 maneiras: CGI, MapScript e

WebServices.

Common Gateway Interface (CGI)35: É a maneira mais simples de trabalhar com uma

aplicação MapServer. Usando o MapServer em modo CGI (fig.21) é necessário que o

ficheiro executável (mapserv.exe) esteja colocado numa pasta específica dentro do servidor

Web (cgi-bin no servidor Web Apache). O executável mapserv.exe recebe os parâmetros de

inicialização da aplicação webmapping, processa as requisições feitas solicitadas e retorna

ao navegador o resultado (mapas, legendas, barra de escala e etc.)

MapScript: O MapScript estende as funcionalidades do MapServer para as linguagens de

programação (linguagem script), disponibiliza os recursos do MapServer às linguagens de

programação. Assim, pode-se construir aplicações usando os recursos do MapServer e os

recursos da sua linguagem de programação preferida, atingindo um grau de personalização

ou customização que não é possível atingir quando usamos o Mapserver em modo CGI.

O MapServer em modo MapScript está disponível para as seguintes linguagens de

programação: PHP, Python, Perl, Ruby, TCL, Java e C#.

35

CGI é um acrónimo para a expressão inglesa Common Gateway Interface. Consiste numa importante tecnologia que permite gerar páginas dinâmicas, permitindo a um navegador passar parâmetros para um programa alojado num servidor web. Assim, designam-se por scripts CGI os pequenos programas que interpretam esses parâmetros e geram a página depois de os processar.

MAP EXTENT –54 –29.5 –48 –25.5 UNITS DD INTERLACE ON SIZE 600 400 IMAGECOLOR 224 224 224 SHAPEPATH ‘../SHAPES’

LAYER DATA ‘Municipios’ NAME ‘municipios.shp’ TYPE POLYGON

CLASS COLOR 32 210 32 OUTLINECOLOR 0 0 0

END #class END #layer END #map

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As especificações WMS, WFS e WCS do Open Geospatial Consortium (OGC) são

implementadas pelo MapServer e isto permite que se possam desenvolver aplicações que

fazem o MapServer funcionar como um serviço de mapas via Web. Assim, pode-se utilizar o

MapServer para disponibilizar dados via Web que poderão ser acedidos usando software

desktop tais como QuantumGIS, ArcView, ArcExplorer, Jump ou uDIG.

Figura 32 - Esquema de Funcionamento do Mapserver em modo CGI. Fonte: FILHO, 2009

Basicamente o MapServer funciona do seguinte modo: O utilizador através do navegador

Web faz a requisição do mapa (fig.32), o pedido é aceite pelo servidor Web Apache que

passa os argumentos ao executável do Mapserver (mapserv.exe). O MapServer acessa o

ficheiro Mapfile e com base nas definições desta executa o pedido e gera o mapa-imagem a

partir dos dados que podem estar numa base de dados, num arquivo de dados ou num local

remoto dentro de uma rede. O Apache passa ao navegador Web o HTML com o mapa

resultante.

O MapServer pode utilizar informação gesopacial em modelo de dados vetorial e em modelo

de dados raster. Entre os dados vetoriais destacamos os seguintes: shapefile, coverage-

ArcInfo, ambos da ESRI, Oracle Spatial, PostgreSQL/PostGIS, MySQL/MySQL Spatial,

Mapinfo TAB e MIF/MID, Miscrostation DGN. Dos dados matricias (ou raster) destacamos os

seguintes formatos: TIFF/GeoTIFF, GIF, PNG, ERDAS, JPEG e todos os formatos do

GDAL36.

36

GDAL (Geospatial Data Abstraction Library) é uma biblioteca para ler e escrever dados geoespaciais em formato raster, e é utilizado sob a licença X/MIT no estilo permissivo de software livre pela Open Source Geospatial Foundation.

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O MapServer pode ser instalado em diferentes sistemas operativos tais como Windows,

Linux, Solaris, Mac Os ou FreeBSD.

2.1.2. p.mapper

O p.mapper é uma aplicação que permite ao utilizador visualizar as informações e interagir

com ela. Foi desenvolvido para oferecer uma aplicação WebGIS baseada em MapServer e

em PHP/Mapscript. Funciona com todos os formatos de dados suportados pelo Mapserver e

implementa padrões OGC para WMS. Com p.mapper, de uma maneira fácil e simples,

podemos configurar um ambiente servidor/cliente, uma funcionalidade completa e várias

modalidades para facilitar a configuração de uma aplicação MapServer.

As suas características mais importantes são:

DHTML (DOM) interface zoom/pan, zoom/pan através das teclas do teclado, da roda

do rato e do mapa de referência mapa;

fácil configuração de layout;

funções de consulta e pesquisa de atributos, incluindo sugestões e caixas de

seleção; resultados de consultas com ligações à base de dados e hiperlinks;

funções de impressão em HTML e PDF;

janelas pop-up e de diálogo em DHTML, identificação pop-up com o movimento do

mouse sobre o mapa;

função de medição de distância e cálculo de área;

adição de etiquetas com pontos de interesse no mapa.

Possiu ainda outras funcionalidades de fácil configuração que podem ser adaptadas

consoante a necessidade do programador.

O p.mapper funciona em conjunto com Mapserver desde a versão 4.2 e é multiplataforma,

sendo possível instalar o framework em ambiente MS Windows, GNU/Linux e Mac OSX.

2.1.3. PostgreSQL/PostGIS

A base de dados do projeto, que designámos de WebSIG-RIA, foi construída no software

PostgreSQL/PostGIS. O PostgreSQL é um dos mais populares e avançados sistemas de

gestão de bases de dados (SGBD) relacional com código aberto. O PostgreSQL possui uma

ferramenta para administração da base de dados chamada pgAdmin III que permite, entre

outras funcionalidades, a execução e o carregamento de ficheiros de linguagem SQL. Uma

base de dados espacial é um tipo de base de dados que tem capacidades de armazenar

dados com informações de caráter espacial. O PostgreSQL por si só não consegue criar

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base de dados espaciais sendo necessário usar uma extensão que lhe permite manipular

dados espaciais. Esta extensão ou módulo é o PostGIS que, geralmente, é ser instalado

durante ou depois da instalação do PostgreSQL.

O PostGIS acrescenta aos dados de uma tabela em execução em ambiente PostGreSQL,

uma coluna chamada Coluna Geométrica na qual todos os registos têm uma descrição

espacial. Deste modo, pode-se dizer que as tabelas do PostGIS são tabelas espaciais.

O projeto WKT raster37 estende as capacidades do PostGIS, habilitando-o a trabalhar com

dados raster (matriciais).

O projeto WKT raster é um projeto bastante novo e está definitivamente incorporado à

versão PostGIS 2.0. A ideia do WKT é permitir que os utilizadores carreguem na base de

dados imagens e usem a linguagem SQL para consultar e analisar os dados. Toda a

implementação do PostGIS Raster é baseada no novo tipo de dados RASTER que

suportara operações entre dados vetoriais e matriciais sem distinção, aumentando ainda

mais a fama de "melhor extensão espacial do mundo" do PostGIS (FOSS Brasil, 2011).

2.2. Configuração do WebSIG - RIA

Os arquivos que compõem a configuração do p.mapper dependem das funções pretendidas

para o WebSIG - RIA, nomeadamente, ao nível das funções de pesquisa e de layout.

Independentemente de pretendermos desenvolver um WebSIG mais ou menos estruturado,

há dois ficheiros fundamentais para que a aplicação funcione: o ficheiro .map (utilizaremos

como o exemplo o p.mapper_demo.map – que vêm com a instalação do ms4w) e o ficheiro

config_default.xml.

p.mapper_demo.map - este é o Mapfile que contém as configurações do mapa -

projeções, a extensão do mapa, formatação, barra de escala, layers de mapas, etc;

ou seja, é neste ficheiro que estão os caminhos para toda a informação a

disponibilizar na “nossa” aplicação/webservice, assim como as configurações atrás

descritas.

Config_default.xml - ficheiro de configuração requer a edição em várias secções. É

neste ficheiro que definimos os plugin’s ativos (export, transparency,..), o caminho do

ficheiro de configuração de pesquisa para a busca de atributos exibido na Table of

Content (TOC), grupos pré-definidos (visíveis no início), o início e o fim de escala

para controlo deslizante de zoom, cor de realce para seleção, resolução de

impressão em PDF, níveis de DPI para o mapa de download, etc. Este ficheiro

37

PostGIS WKT Raster é um projeto em desenvolvimento que visa dar suporte aos dados Raster no PostGIS. O objetivo é implementar um tipo RASTER como o tipo GEOMETRY implementado no PostGIS e oferecer um conjunto de funções SQL (como Intersects) que operam de forma integrada em vetores e raster.

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contém uma lista de variáveis e parâmetros que possuem um valor predefinido e

alteramos conforme as nossas necessidades, permitindo-nos comandar a

informação contida no ficheiro .map.

A nossa, como qualquer outra aplicação semelhante, podem ser personalizadas, bastando

para isso possuir bons conhecimentos, ao nível da escrita em html, php e java. Para o

trabalho em questão, além das funções que vêm com a instalação do MapServer +

p.mapper, introduzimos ainda uma função de pesquiza avançada através do plugin “query

editor” e “hyperlink" que nos permite hyperligações com a internet com ficheiros

hospedados em qualquer local.

Para ativar as funções do “query editor” tivemos que proceder à configuração do ficheiro

js_config.php (fig.33) além das configurações nos ficheiros .map e config_default.xml

(fig.34).

js_config.php - ficheiro das definições de alguns acessórios extras como por exemplo

a definição da lista de seleção da escala, ativar o modo pan se o botão direito do rato

é pressionado, unidades de medida (distância e área), linhas e estilos de polígonos

para a medição, botões de funções entre outras definições.

Figura 33 - Configuração do código do “query editor” no ficheiro js_config.php.

Figura 34 – Configuração do código do “query editor” no ficheiro config_default.xml.

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Foram ainda elaboradas as configurações nos ficheiros de impressão que nos permitem

imprimir cartas em pdf com os conteúdos selecionados. Para melhor compreender a

utilização do WebSIG - RIA que criámos com o obejtivo de dsiponibilizar um vasto leque de

informações sobrte o assunto em estudo e sobre a área em questão, serviço que se

encontra disponível para conculta no endereço url: http://rede-aveiro.no-ip.org/index.htm - foi

elaborado um manual de utilizador que se encontra no Anexo IV.

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CONCLUSÃO

De facto, a “Ria de Aveiro” pela sua complexidade, como sistema lagunar que é, pelas suas

interações entre o meio natural e o humanizado, pela fragilidade que apresenta, em

consonância com os seus pares, os ecossistemas estuarinos, pela dependência a que está

sujeita às medidas de ordenamento territorial, numa tentativa de encontro de uma gestão

cada vez mais direcionada para a valorização do património natural, justifica, por si só, os

exercícios académicos como um meio para promover uma gestão racional do território,

tendo em vista a preservação dos valores naturais, históricos e patrimoniais

O trabalho proposto, não pretendeu apresentar propostas para a gestão da Ria, no seu

todo, antes pelo contrário, procurámos centrar-nos nos propósitos iniciais - o contributo para

a gestão da rede natura2000, e os valores naturais presentes na Ria de Aveiro.

Como área privilegiada que é, em função dos valores naturais que congrega, justifica-se por

si só, a proposta agora apresentada pelo ICNB como Sítio de Importância Comunitária,

passando a acumular o Estatuto de ZPE, IBA e SIC, não esquecendo que dela faz parte

integrante também a Reserva Natural das Dunas de S. Jacinto.

Pretendeu-se com este estudo contribuir para uma melhor gestão deste espaço, numa

perspectiva de valorização do património natural, nomeadamente ao nível da fauna e dos

habitats naturais, ao abrigo de duas diretivas fundamentais para a conservação da natureza,

a Diretiva Aves e a Diretiva Habitats.

Com o exercício apresentado, de acordo com a metodologia desenvolvida por SAATY

(1991), o Analytic Hierarchy Process, uma das formas da Análise Multicritério, conseguimos

isolar as áreas de maior vulnerabilidade no sentido ecológico. Falamos em ecológico, pois

esta análise reflete as áreas de maior vulnerabilidade não para as espécies em si, mas

numa perspectiva da sua integração com a paisagem pois não esquecemos que o homem

também é parte integrante e que suas ações interferem direta e indiretamente na evolução

da paisagem e, por conseguinte, no comportamento das espécies.

Os resultados foram bastante positivos, quando comparados com outros exercícios

desenvolvidos anteriormente. O facto de utilizarmos a metodologia AHP em ambiente SIG,

permitiu-nos modelar os cenários apresentados, com a validação científica que lhe é devida,

pois esta metodologia permite dar alguma flexibilidade ao conhecimento empírico e científico

que o técnico tem, da área. Como em todo o desenvolvimento de metodologias de análise

tivemos os nossos constrangimentos, os quais foram, todavia, ultrapassados com a

experimentação nos mais variados campos, com a revisão dos indicadores, com a

reformulação das perguntas, etc, num acurado exercício de ensaio, erro e aprendizagem.

Apesar das fragilidades que lhe reconhecemos, este trabalho pretendeu constituir apenas

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mais um ensaio metodológico para abordagem científica da gestão de unidades de

paisagem classificadas, a qual permitiu isolar os locais de maior vulnerabilidade, e traçar

linhas orientadoras de gestão otimizada, tendo em vista os valores de vulnerabilidade

obtidos e cartografados, o que permitiu a formulação de uma proposta de zonamento

geoespacial.

A transposição para ambiente web, permite uma melhor contextualização dos resultados

apurados, pois podemos sobrepor as variáveis utilizadas na elaboração do trabalho o

impondo-nos a obrigatoriedade de um exercício intelectual de fácil compreensão que nos

guia ao resultado final.

Não podemos ainda deixar de referir a enorme complexidade que é a elaboração dos

websigs. É fundamental a compreensão dos programas e sistemas utilizados, assim como a

consolidação de conhecimentos ao nível da programação e de manipulação de linguagens

fundamentais para que os objetivos propostos funcionem em ambiente web. Falamos aqui

em matérias que vão para além da aprendizagem desenvolvida neste mestrado, que se

referem a programação pura em linguagens, html, php, java, pearl, python, c++ entre outras.

Assim, perante os factos aqui apresentados, concluímos, ou melhor, confirmamos a ideia

apriorística que já nos vinculava, de que a integração dos SIG como ferramenta de apoio à

decisão, é cada vez mais um recurso metodológico imprescindível para a tomada de

decisão, e, neste caso concreto, uma peça fundamental para a contribuição da gestão dos

espaços naturais. Apesar deste exercício se referir a uma área concreta da Rede

Natura2000, pretende-se que, mutatis mutandis, a mesma possa ser utilizada em toda

Rede, e, ainda, com a devida prudência que requer qualquer processo de generalização

e/ou de extrapolação, este ensaio metodológico possa ser adaptado à análise e gestão de

outras áreas da Rede Nacional de Áreas Protegidas, atualmente sob a tutela do ICNF.

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A Zona de Proteção Especial (ZPE) Ria de Aveiro. Ensaio metodológico para a construção de uma carta de Vulnerabilidades para apoio à gestão ecológica da paisagem 2012

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ÍNDICE

RESUMO Pag.8

ABSTRACT

Pag.9

CAPíTULO I - CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

1. INTRODUÇÃO Pag.12

2. METODOLOGIA Pag.14

3. A RIA DE AVEIRO Pag.16

3.1. Localização geográfica Pag.16

3.2. Estrutura e Tectónica da Bacia Pag.17

3.3. Enquadramento lito-estratigráfico Pag.19

3.3.1. Complexo Xisto-Grauváquico Ante-Ordovício Pag.23

3.3.2. Triásico Superior Pag.23

3.3.3. Jurássico Inferior (Liásico) Pag.23

3.3.4 Cretácico Pag.23

3.3.5. Plio-Plistocénico Pag.25

3.3.6. Holocénico - Depósitos Modernos Pag.25

3.4. Dados relativos aos elementos do clima Pag.28

3.5. Hidrologia Pag.30

3.5.1 Hidrogeologia Pag.30

3.5.2. Hidrologia Pag.31

3.6. Evolução Morfologia Pag.33

4. A ZONA DE PROTEÇÃO ESPECIAL RIA DE AVEIRO (PTZPE0004) Pag.36

4.1. Plano sectorial da Rede Natura 2000 Pag.36

4.1.1. A Rede Natura 2000 Pag.37

4.1.2. Diretiva Aves Pag.38

4.1.3. Diretiva Habitats Pag.38

4.2. Caracterização da ZPE Ria de Aveiro Pag.39

4.3. Valores Naturais Pag.40

4.3.1 Biótopos Corine Pag.42

4.4. Uso do Solo Pag.42

4.4.1 Territórios artificializados Pag.44

4.4.2. Áreas agrícolas e agroflorestais (bocage, campos de arroz e

pequenos bosques ripícolas) Pag.45

4.4.3. Florestas e meios naturais e seminaturais (dunas arborizadas e Pag.46

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bosque ripícola)

4.4.4. Zonas húmidas (Bancos intertidais e salinas, Sapais e Caniçais) Pag.48

4.4.5. Corpos de água Pag.51

4.4.6. Praias, dunas e areias Pag.53

4.4.7. Oceano ( Zona marinha próxima da costa) Pag.55

4.5. Distribuição da Fauna Pag.55

4.5.1 Metodologia aplicada à classificação de espécies prioritárias para a

conservação na ZPE da Ria de Aveiro Pag.56

5. CLASSIFICAÇÃO BIOGEOGRÁFICA Pag.63

5.1. Índices Bioclimáticos Pag.66

5.1.1. Índice de Continentalidade (Ic) Pag.67

5.1.2. Índice de Termicidade (It) e Índice de Termicidade Compensado

(Itc) Pag.67

5.1.3. Índice Ombrotérmico (Io) Pag.68

5.1.4. Índices Ombrotérmicos Estivais Compensados Pag.68

5.2. Classificação Bioclimática Pag.69

5.2.1. Determinação do Macroclima Pag.69

5.2.2. Determinação do Bioclima Pag.70

5.3. Determinação do andar bioclimático Pag.71

5.5. Bioclimatologia da Ria de Aveiro

Pag.73

CAPITULO II - ANÁLISE MULTICRITÉRIO EM AMBIENTE SIG PARA ELABORAÇÃO DE

CARTAS DE VULNERABILIDADE

1. ANÁLISE MULTICRITÉRIO – fundamentos processuais e metodológicos Pag.76

1.1. Tarefas, técnicas e procedimentos processuais em ambiente SIG para

Análise Multicritério (AM) Pag.77

1.3. Analytic Hierarchy Process Pag.79

1.3.1. O Processo de Hierarquização do AHP Pag.79

1.4. AHP e a Gestão de Projetos Pag.83

2. VARIÁVEIS E CRITÉRIOS UTILIZADOS Pag.84

2.1. Habitats Naturais Pag.85

2.2. Suscetibilidade à erosão Pag.89

2.3. Distribuição da Fauna Pag.91

2.4. Ictiofauna: rotas dos migradores Pag.91

2.5. Estado das massas de água da “Ria de Aveiro” Pag.94

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A Zona de Proteção Especial (ZPE) Ria de Aveiro. Ensaio metodológico para a construção de uma carta de Vulnerabilidades para apoio à gestão ecológica da paisagem 2012

2.6. Proximidade à malha urbana Pag.95

2.7. Proximidade à malha viária Pag.96

2.8. Ponderação das variáveis Pag.98

3. ANÁLISE DE RESULTADOS Pag.101

4. CONTRIBUTO PARA A GESTÃO DA ZPE/SIC RIA DE AVEIRO Pag.102

4.1. Orientações gerais Pag.102

4.2. Orientações específicas Pag.105

4.2.1. Considerações sobre boas práticas para a boa gestão das áreas

Analisadas Pag.106

CAPITULO III - OS SIG E A INTERNET – CONCEÇÃO DO WEBSIG REDE-

AVEIRO

1. OS SISTEMAS DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA (SIG) E A INTERNET Pag.112

2. DESENVOLVIMENTO DA APLICAÇÃO Pag.117

2.1. Programas utilizados no desenvolvimento do WEBSIG -RIA Pag.117

2.1.1. MapServer Pag.117

2.1.2. p.mapper Pag.120

2.1.3. PostgreSQL/PostGIS Pag.120

2.2. Configuração do WebSIG - RIA Pag.121

CONCLUSÃO

BIBLIOGRAFIA

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1 - Enquadramento geográfico da Zona de Proteção Especial Ria de

Aveiro. Pag.16

Figura 2 - Esquema estrutural da sub-bacia norte-lusitânica. Pag.18

Figura 3 - Implantação da Bacia Sedimentar de Aveiro. Pag.19

Figura 4 - Evolução dos domínios de sedimentação na bacia sedimentar de

Aveiro. Pag.21

Figura 5 - Carta Litológica da ZPE Ria de Aveiro. Pag.22

Figura 6 - Sistema Nacional de Áreas Classificadas (SIC e ZPE). Pag.36

Figura 7 - Carta de reclassificação do uso do solo da ZPE ria de Aveiro. Pag.44

Figura 8 - Áreas habitacionais na Ria de Aveiro Pag.44

Figura 9 - Paisagem de “Bocage” do Baixo-Vouga lagunar Pag.45

Figura 10 - Bosque ripícola constituido principalmente pela associação Amieiro –

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A Zona de Proteção Especial (ZPE) Ria de Aveiro. Ensaio metodológico para a construção de uma carta de Vulnerabilidades para apoio à gestão ecológica da paisagem 2012

Salgueiro e Freixo. Pag.47

Figura 11 - Fotos da Salicórnia e do Junco Pag.49

Figura 12 – Foto do Estorno, e da Couve-marítima Pag.54

Figura 13 - Sintetização do processo de classificação de espécies prioritárias. Pag.57

Figura 14 - Carta de distribuição da biodiversidade faunística por biótopo da ZPE

Ria de Aveiro. Pag.60

Figura 15 - Carta de distribuição da biodiversidade faunística prioritária por

biótopo da ZPE Ria de Aveiro. Pag.63

Figura 16 - Enquadramento biogeográfico da Ria de Aveiro. Pag.65

Figura 17 - Modelação em SIG dos Termotipos e Ombrotipos presentes em

Portugal. Pag.72

Figura 18 - Esquema de elaboração da carta de vulnerabilidade. Pag.85

Figura 19 - Cartografia dos Habitats Naturais da ZPE Ria de Aveiro. Pag.87

Figura 20 - Reclassificação da carta dos habitats. Pag.88

Figura 21 - Carta de susceptibilidade à erosão. Pag.90

Figura 22 - Reclassificação da carta de distribuição da fauna. Pag.91

Figura 23 - Reclassificação da carta das rotas do migradores (ictiofauna). Pag.94

Figura 24 - Reclassificação da carta do estado das massas de água da Ria de

Aveiro. Pag.95

Figura 25 - Reclassificação da carta de próximidade à malha urbana. Pag.96

Figura 26 - Reclassificação da carta de proximidade à malha viária. Pag.97

Figura 27 - Zonamento da vulnerabilidade após o processo de reclassificação,

segundo o método Natural Breaks. Pag.100

Figura 28 - Classificação da sensibilidade dos valores ecológicos. Pag.102

Fig.29 - Delimitação das áreas analisadas Pag.106

Figura 30 - Esquema de funcionamento de websig. Pag.113

Figura 31 - Estrutura básica de um arquivo map para representar um polígono. Pag.118

Figura 32 - Esquema de Funcionamento do Mapserver em modo CGI. Pag.119

Figura 33 - Configuração do código do “query editor” no ficheiro js_config.php. Pag.122

Figura 34 – Configuração do código do “query editor” no ficheiro

config_default.xml. Pag.122

ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1 - População Residente nos concelhos da Ria de Aveiro. Pag.17

Tabela 2 - Ocupação da área da ZPE por concelho. Pag.39

Tabela 3 - Espécies do estrato herbáceo mais frequentes Pag.45

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A Zona de Proteção Especial (ZPE) Ria de Aveiro. Ensaio metodológico para a construção de uma carta de Vulnerabilidades para apoio à gestão ecológica da paisagem 2012

Tabela 4 - Sintetização de espécies da fauna por Quadrícula UTM 10x10km Pag.61

Tabela 5 - Score de Espécies Prioritárias segundo a metodologia de Palmeirim et

al (1994) Pag.62

Tabela 6 - Macroclimas representados em Portugal. Pag.69

Tabela 7 - Valores dos Índices Ombrotérmicos compensáveis. Pag.70

Tabela 8 - Bioclimas a considerar na classificação bioclimática da Península

Ibérica. Pag.70

Tabela 9 - Termotipos presentes na Península Ibérica e respetivos valores de It. Pag.71

Tabela 10 - Ombrotipos para a Península Ibérica e respetivos valores Io Pag.72

Tabela 11 - Dados climáticos calculados para a Ria de Aveiro. Pag.73

Tabela 12 - Valores dos Índices Bioclimáticos calculados para as três estações

analisadas Pag.74

Tabela 13 - Diagnose bioclimática relativa às estações climatológicas analisadas Pag.74

Tabela 14 - Escala numérica de SAATY (1991). Pag.80

Tabela 15 - Exemplo de matriz pareada de comparação. Pag.81

Tabela 16 - Identificação do Índice Randómico Médio. Pag.83

Tabela 17 - Habitats Naturais e seminaturais da ZPE Ria de Aveiro Pag.86

Tabela 18 - Variáveis e critérios utilizados para elaboração da carta de

suscetibilidade à erosão Pag.89

Tabela 19 - Espécies insuficientemente representadas. Pag.92

Tabela 20 - Matriz pareada de comparação Pag.98

Tabela 21 - Matriz pareada de comparação normalizada Pag.99

ÍNDICE DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Diagrama Ombrotérmico para a Estação Climática de Estarreja. Pag.29

Gráfico 2 - Diagrama Ombrotérmico para a Estação Climática de São Jacinto. Pag.29

Gráfico 3 - Diagrama Ombrotérmico para a Estação Climatológica das Dunas de

Mira. Pag.30

Gráfico 4 - Área ocupada por cada biótopo na ZPE (%). Pag.44

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A Zona de Proteção Especial (ZPE) Ria de Aveiro. Ensaio metodológico para a construção de uma carta de Vulnerabilidades para apoio à gestão ecológica da paisagem 2012

ANEXO I

DADOS CLIMATOLÓGICOS DAS ESTAÇÕES DE ESTARREJA,

S. JACINTO E DUNAS DE MIRA

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ANEXO II

TABELAS DE SINTETIZAÇÃO DOS VALORES FAUNÍSTICOS POR BIÓTOPO E POR

UTM 10X10

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A Zona de Proteção Especial (ZPE) Ria de Aveiro. Ensaio metodológico para a construção de uma carta de Vulnerabilidades para apoio à gestão ecológica da paisagem 2012

Qu

ad

rícu

la 1

Biótopo Nº esp. Avifauna Nº esp. Mamofauna Total

Territórios artificializados 0 0 0

Áreas agrícolas e agroflorestais 46 21 67

Florestas e meios naturais e seminaturais 33 9 42

Zonas húmidas 44 8 52

Corpos de água 16 0 16

Praias, dunas e areias 29 5 34

Oceano 5 2 7

Nº de espécies de Herpetofauna 0

Qu

ad

rícu

la 2

Biótopo Nº esp. Avifauna Nº esp. Mamofauna Total

Territórios artificializados 0 0 0

Áreas agrícolas e agroflorestais 46 19 65

Florestas e meios naturais e seminaturais 0 0 0

Zonas húmidas 28 7 35

Corpos de água 16 0 16

Praias, dunas e areias 0 0 0

Oceano 0 0 0

Nº de espécies de Herpetofauna 0

Qu

ad

rícu

la 3

Biótopo Nº esp. Avifauna Nº esp. Mamofauna Total

Territórios artificializados 0 0 0

Áreas agrícolas e agroflorestais 51 17 68

Florestas e meios naturais e seminaturais 38 7 45

Zonas húmidas 37 8 45

Corpos de água 17 0 17

Praias, dunas e areias 35 5 40

Oceano 5 2 7

Nº de espécies de Herpetofauna 1

Qu

ad

rícu

la 4

Biótopo Nº esp. Avifauna Nº esp. Mamofauna Total

Territórios artificializados 0 0 0

Áreas agrícolas e agroflorestais 69 15 84

Florestas e meios naturais e seminaturais 0 0 0

Zonas húmidas 53 8 61

Corpos de água 17 0 0

Praias, dunas e areias 0 0 0

Oceano 0 0 0

Nº de espécies de Herpetofauna 11

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A Zona de Proteção Especial (ZPE) Ria de Aveiro. Ensaio metodológico para a construção de uma carta de Vulnerabilidades para apoio à gestão ecológica da paisagem 2012

Qu

ad

rícu

la 5

Biótopo Nº esp. Avifauna Nº esp. Mamofauna Total

Territórios artificializados 0 0 0

Áreas agrícolas e agroflorestais 51 13 64

Florestas e meios naturais e seminaturais 37 8 45

Zonas húmidas 62 8 70

Corpos de água 27 0 27

Praias, dunas e areias 35 5 40

Oceano 5 2 7

Nº de espécies de Herpetofauna 10

Qu

ad

rícu

la 6

Biótopo Nº esp. Avifauna Nº esp. Mamofauna Total

Territórios artificializados 0 0 0

Áreas agrícolas e agroflorestais 82 18 100

Florestas e meios naturais e seminaturais 0 0 0

Zonas húmidas 65 8 73

Corpos de água 25 0 25

Praias, dunas e areias 0 0 0

Oceano 0 0 0

Nº de espécies de Herpetofauna 10

Qu

ad

rícu

la 7

Biótopo Nº esp. Avifauna Nº esp. Mamofauna Total

Territórios artificializados 0 0 0

Áreas agrícolas e agroflorestais 0 0 0

Florestas e meios naturais e seminaturais 0 0 0

Zonas húmidas 0 0 0

Corpos de água 0 0 0

Praias, dunas e areias 17 3 20

Oceano 5 2 7

Nº de espécies de Herpetofauna 0

Qu

ad

rícu

la 8

Biótopo Nº esp. Avifauna Nº esp. Mamofauna Total

Territórios artificializados 0 0 0

Áreas agrícolas e agroflorestais 42 47 59

Florestas e meios naturais e seminaturais 0 0 0

Zonas húmidas 52 8 60

Corpos de água 16 0 16

Praias, dunas e areias 16 3 19

Oceano 5 2 7

Nº de espécies de Herpetofauna 3

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A Zona de Proteção Especial (ZPE) Ria de Aveiro. Ensaio metodológico para a construção de uma carta de Vulnerabilidades para apoio à gestão ecológica da paisagem 2012

Q

uad

rícu

la 9

Biótopo Nº esp. Avifauna Nº esp. Mamofauna Total

Territórios artificializados 0 0 0

Áreas agrícolas e agroflorestais 44 18 62

Florestas e meios naturais e seminaturais 0 0 0

Zonas húmidas 12 4 16

Corpos de água 21 0 0

Praias, dunas e areias 0 0 0

Oceano 0 0 0

Nº de espécies de Herpetofauna 4

Qu

ad

rícu

la 1

0

Biótopo Nº esp. Avifauna Nº esp. Mamofauna Total

Territórios artificializados 0 0 0

Áreas agrícolas e agroflorestais 45 18 63

Florestas e meios naturais e seminaturais 0 0 0

Zonas húmidas 12 4 16

Corpos de água 21 0 0

Praias, dunas e areias 0 0 0

Oceano 0 0 0

Nº de espécies de Herpetofauna 9

Qu

ad

rícu

la 1

1

Biótopo Nº esp. Avifauna Nº esp. Mamofauna Total

Territórios artificializados 0 0 0

Áreas agrícolas e agroflorestais 40 16 56

Florestas e meios naturais e seminaturais 12 6 18

Zonas húmidas 29 4 33

Corpos de água 19 0 19

Praias, dunas e areias 19 1 20

Oceano 4 2 6

Nº de espécies de Herpetofauna 1

Qu

ad

rícu

la 1

2

Biótopo Nº esp. Avifauna Nº esp. Mamofauna Total

Territórios artificializados 0 0 0

Áreas agrícolas e agroflorestais 43 17 60

Florestas e meios naturais e seminaturais 2 7 9

Zonas húmidas 31 5 36

Corpos de água 16 0 16

Praias, dunas e areias 0 0 0

Oceano 0 0 0

Nº de espécies de Herpetofauna 4

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A Zona de Proteção Especial (ZPE) Ria de Aveiro. Ensaio metodológico para a construção de uma carta de Vulnerabilidades para apoio à gestão ecológica da paisagem 2012

Qu

ad

rícu

la 1

3

Biótopo Nº esp. Avifauna Nº esp. Mamofauna Total

Territórios artificializados 0 0 0

Áreas agrícolas e agroflorestais 42 17 58

Florestas e meios naturais e seminaturais 0 0 0

Zonas húmidas 12 4 16

Corpos de água 19 0 19

Praias, dunas e areias 0 0 0

Oceano 0 0 0

Nº de espécies de Herpetofauna 4

Qu

ad

rícu

la 1

4

Biótopo Nº esp. Avifauna Nº esp. Mamofauna Total

Territórios artificializados 0 0 0

Áreas agrícolas e agroflorestais 42 17 59

Florestas e meios naturais e seminaturais 0 0 0

Zonas húmidas 12 4 16

Corpos de água 21 0 21

Praias, dunas e areias 0 0 0

Oceano 0 0 0

Nº de espécies de Herpetofauna 6

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A Zona de Proteção Especial (ZPE) Ria de Aveiro. Ensaio metodológico para a construção de uma carta de Vulnerabilidades para apoio à gestão ecológica da paisagem 2012

ANEXO III

TABELAS DE CÁLCULO DE VEE DA FAUNA DA ZPE RIA DE AVEIRO

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A Zona de Proteção Especial (ZPE) Ria de Aveiro. Ensaio metodológico para a construção de uma carta de Vulnerabilidades para apoio à gestão ecológica da paisagem 2012

Mamofauna Est. Conserv. (EC) Est. Bio. (Ebg) Sensib. (SEN) VEE

Espécie Nome comum LV Berna Bona DH DA IUCN Total G P Total H R Total Total

Apodemus sp. Rato-do-comum 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 10 10

Arvicola sapidus Rata-de-água 0 0 0 0 0 0 0 4 0 4 5 10 15 19

Crocidura russula Musaranho de dentes brancos 0 4 0 0 0 0 4 4 0 4 0 10 10 18

Delphinus delphis Golfinho 0 10 0 5 0 0 15 ? ? ? ? ? ? ?

Eptesicus serotinus Morcego 0 10 9 5 0 0 24 4 0 4 5 8 13 37

Erinaceus europaeus Ouriço-cacheiro 0 4 0 0 0 0 4 0 0 0 0 10 10 14

Genetta genetta Gineta 0 4 0 0 0 0 4 8 0 8 0 6 6 18

Lutra lutra Lontra 3 10 0 9 0 8 30 0 0 0 5 6 11 41

Meles meles Texugo 0 4 0 0 0 0 4 0 0 0 0 8 8 12

Microtus agrestis Rato-do-campo-de-rabo-curto 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 10 10 10

Microtus lusitanicus Rato-cego 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 10 10 10

Mus musculus Rato-caseiro 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 10 10 10

Mus spretus Ratinho-ruivo 0 0 0 0 0 0 0 8 0 8 0 10 10 18

Mustela nivalis Doninha 0 4 0 0 0 0 4 0 0 0 0 8 8 12

Myotis myotis Morcego-rato-grande 8 10 5 10 0 0 33 4 ?? 5 8 13 ???

Oryctolagus cuniculus Coelho-bravo 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 10 10 10

Phoconea phoconea Boto 8 10 0 10 0 8 36 ? ? ? ? ? ? 36

Ratus sp. Ratazana 0 0 0 0 0 0 0 0 3 3 0 10 10 13

Sorex araneus Musaranho-comum - - - - - - - - - - - - - -

Talpa occidentalis Toupeira 0 0 0 0 0 0 0 4 0 4 0 8 8 12

Vulpes vulpes Raposa 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 8 8 8

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A Zona de Proteção Especial (ZPE) Ria de Aveiro. Ensaio metodológico para a construção de uma carta de Vulnerabilidades para apoio à gestão ecológica da paisagem 2012

Herpetofauna Est. Conserv. (EC) Est. Bio. (Ebg) Sensib. (SEN) VEE

Espécie Nome comum LV Berna Bona DH DA IUCN Total G P Total H R Total Total

Alytes obstretricans Sapo-parteiro-comum 0 10 0 5 0 0 15 0 6 6 5 10 15 36

Anguis fragilis Cobra-de-vidro 0 4 0 0 0 0 4 0 0 0 5 10 15 19

Bufo bufo Sapo-comum 0 4 0 0 0 0 4 0 0 0 5 10 15 19

Chioglossa lusitanica Salamandra-ibérica 8 10 0 10 0 0 28 10 6 16 10 10 20 64

Coronella girondica Cobra-lisa-meridional 0 4 0 5 0 0 9 4 6 10 0 10 10 25

Discoglossus galganoi Rã de focinho ponteagudo 0 4 0 9 0 0 13 10 0 10 5 10 15 38

Hyla arborea Rela arborícola 0 4 0 5 0 0 9 4 3 7 5 10 15 31

Lacerta lepida Sardão 0 10 0 0 0 0 10 4 0 4 0 10 10 24

Lacerta schreiberi Lagarto de água 0 10 0 10 0 0 20 10 3 13 10 10 20 53

Malpolom monspessulanus Cobra rateira 0 4 0 0 0 0 4 4 0 4 0 10 10 18

Natrix maura Cobra de água viperina 0 4 0 0 0 0 4 4 0 4 5 10 15 23

Natrix natrix Cobra de água 0 4 0 0 0 0 4 0 0 0 0 10 10 14

Pelobates cultripes Sapo de unha negra 0 10 0 5 0 0 15 8 3 11 5 10 15 41

Pelodytes punctatus Sapinho de verrugas verdes 0 4 0 9 0 0 4 4 3 7 5 10 15 24

Pleurodeles waltl Salamandra de costelas

salientes 0 4 0 0 0 0 4 10 0 10 5 10 15 29

Podarcis bocagei Lagartixa de bocage 0 4 0 0 0 0 4 10 3 13 5 10 15 32

Podarcis hispanica Lagartixa 0 4 0 0 0 0 4 8 3 11 0 10 10 25

Psammodromus algirus Lagartixa do mato comum 0 4 0 0 0 0 4 8 0 8 0 10 10 22

Rana iberica Rã ibérica 0 10 0 5 0 0 15 10 3 13 10 10 20 48

Rana perezzi Rã-verde 0 4 0 0 0 0 4 8 0 8 5 10 15 27

Salamandra salamandra Salamandra de pintas amarelas

0 4 0 0 0 0 4 0 0 0 5 10 15 19

Triturus boscai Tritão de ventre laranja 0 4 0 0 0 0 4 10 0 10 5 10 15 29

Triturus marmoratus Tritão-marmorado 0 4 0 5 0 0 9 8 0 8 5 10 15 32

Page 150: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO SOBRE ZPE RIA DE AVEIRO.pdf

A Zona de Proteção Especial (ZPE) Ria de Aveiro. Ensaio metodológico para a construção de uma carta de Vulnerabilidades para apoio à gestão ecológica da paisagem 2012

Aves Est. Conserv. (EC) Est. Bio. (Ebg) Sensib. (SEN) VEE

Espécie Nome comum LV Berna Bona DH DA IUCN Total G P Total H R Total Total

Asio flammeus Coruja-do-nabal 6 10 0 0 9 0 25 0 0 0 5 0 5 30

Asio otus Bufo-pequeno 3 10 0 0 0 0 13 0 0 0 0 10 10 23

Athene noctua Mocho-galego 0 10 0 0 0 0 10 0 0 0 0 10 10 20

Aythya ferina Zarro-comum 0 4 5 0 0 0 9 0 3 3 5 0 5 17

Aythya fuligula Negrinha 0 4 5 0 0 0 9 0 3 3 5 0 5 17

Branta bernicla ou Anser

anser Ganso-bravo 0 4 5 0 0 0 9 4 0 4 0 0 0 13

Bulbucus ibis Garça-boieira 0 10 0 0 0 0 10 4 0 4 0 0 0 14

Calidris alba Pilrito-d´areia 0 10 5 0 0 0 15 4 3 7 5 0 5 27

Calidris alpina Pilrito-comum 0 10 5 0 0 0 15 0 3 3 5 0 5 23

Calidris canutus Seixoeira 0 4 5 0 0 0 9 4 3 7 5 0 5 21

Calidris ferruginea Pilrito-de-bico-amarelo 0 10 5 0 0 0 15 0 0 0 5 0 5 20

Calidris maritima Pilrito-escuro 10 10 5 0 0 0 25 0 3 3 5 0 5 33

Calidris minuta Pilrito-pequeno 0 10 5 0 0 0 15 4 3 7 5 0 5 27

Callandrela brachydactyla Calhandrinha-comum 0 10 0 0 9 0 19 4 0 4 0 10 10 33

Caprimulgus europaeus Noitibó 3 10 0 0 9 0 22 0 0 0 0 10 10 32

Carduelis cannabina Pintarroxo-comum 0 10 0 0 0 0 10 0 0 0 0 10 10 20

Carduelis carduelis Pintassilgo 0 10 0 0 0 0 10 0 0 0 0 10 10 20

Carduelis chloris Verdilhão-comum 0 10 0 0 0 0 10 0 0 0 0 0 10 20

Carduelis spinus Lugre 0 10 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 10

Cettia cetti Rouxinol-bravo 0 10 5 0 0 0 15 4 0 4 5 10 15 15

Charadrius hiaticula Borrelho-grande-de-coleira 0 10 5 0 0 0 15 4 6 10 5 0 5 30

Charadrius

alexandrinus

Borrelho-de-coleira

interrompida 0 10 5 0 0 0 15 4 6 10 5 10 15 40

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A Zona de Proteção Especial (ZPE) Ria de Aveiro. Ensaio metodológico para a construção de uma carta de Vulnerabilidades para apoio à gestão ecológica da paisagem 2012

Est. Conserv. (EC) Est. Bio. (Ebg) Sensib. (SEN) VEE

Espécie Nome comum LV Berna Bona DH DA IUCN Total G P Total H R Total Total

Chlidonias hybrida Gaivina-dos-pauis 10 10 0 0 10 0 30 0 0 0 5 10 15 45

Chlidonias niger Gaivina-preta 0 10 0 0 9 0 19 0 0 0 0 0 0 19

Ciconia ciconia Cegonha-branca 8 10 5 0 9 0 32 4 10 14 5 10 15 42

Ciconia nigra Cegonha-negra 8 10 5 0 10 0 33 0 6 6 5 10 15 54

Circus aeroginosus Tartaranhão-ruivo-dos-pauis 8 10 5 0 9 0 32 4 3 7 5 10 15 54

Circus cyaneus Tartaranhão-azulado 8 10 5 0 9 0 32 0 0 0 5 0 5 37

Cisticola juncidis Fuinha-dos-juncos 0 10 5 0 0 0 15 4 0 4 0 10 10 29

Columba livia Pombo-das-rochas 3 4 0 0 0 0 7 0 0 0 5 10 15 22

Columba palambus Pombo-torcaz 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 10 10 10

Coracias garrulus Rolieiro 10 10 5 0 10 0 35 0 0 0 5 10 15 50

Corvus corone Gralha-preta 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 10 10 10

Delichon urbica Andorinha-dos-beirais 0 10 0 0 0 0 10 0 0 0 0 10 10 20

Dendrocopos major Pica-pau-malhado 0 10 0 0 0 0 10 0 0 0 0 10 10 20

Eemberiza schoeniclus Escrevedeira-dos-caniços 0 10 0 0 0 0 10 0 0 0 5 0 5 15

Egretta garzetta Garça-branca 0 10 0 0 9 0 19 0 3 3 5 10 15 37

Estrilda astrild Bico-de-lacre 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 10 10 10

Falco subbuteo Ógea 8 10 5 0 0 0 23 0 0 0 0 10 10 33

Falco tinnunculus Peneireiro-vulgar 0 10 5 0 0 0 15 0 0 0 0 10 10 25

Ficedula hypoleuca Papa-moscas - - - - - - - - - - - - - -

Fratercula arctica Papagaio-do-mar 0 4 0 0 0 0 4 0 0 0 5 0 5 9

Fringilla coelebs Tentilhão-comum 0 4 0 0 0 0 4 0 0 0 0 10 10 14

Fullica atra Galeirão 0 4 0 0 0 0 4 0 3 3 5 10 15 22

Fulmarus glacialis Fulmar-glacial - - - - - - - - - - - - - -

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Est. Conserv. (EC) Est. Bio. (Ebg) Sensib. (SEN) VEE

Espécie Nome comum LV Berna Bona DH DA IUCN Total G P Total H R Total Total

Galerida cristata Cotovia-de-poupa 0 4 0 0 0 0 4 0 0 0 0 10 10 14

Gallinago gallinago Narceja-comum 6 0 5 0 0 0 11 0 0 0 5 0 5 16

Gallinula chloropus Galinha-de-água 0 4 0 0 0 0 4 0 0 0 5 10 15 15

Garrulus glandarius Gaio-comum 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 10 10 10

Haemantopus ostralegus Ostraceiro 0 4 0 0 0 0 4 4 3 7 5 0 5 16

Himantopus himantopus Perna-longa 0 10 5 0 9 0 24 4 3 7 5 10 15 46

Hippolais polyglota Felosa-poliglota 0 10 5 0 0 0 15 4 0 4 0 10 10 29

Hirundo rustica Andorinha-das-chaminés 0 10 0 0 0 0 10 0 3 3 0 10 10 23

Hyla arborea Rela arborícola 0 4 0 5 0 0 9 4 3 7 5 10 15 31

Ixobrychus minutus Garça-pequena 0 10 5 0 9 0 24 0 0 0 5 10 15 39

Jynx torquilla Torcicolo 3 10 0 0 0 0 13 0 0 0 10 10 20 33

Lanius excubitor Picanço-real 0 4 0 0 0 0 4 0 0 0 0 10 10 14

Larus argentatus Gaivota-argentea 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

Larus fuscus Gaivota-de-asa-escura 0 10 0 0 9 0 19 4 6 10 0 0 0 29

Larus ridibundus Guincho-comum 0 4 0 0 0 0 4 0 6 6 0 0 0 10

Limnodromus scolopaceus Maçarico-de-bico-comprido - - - - - - - - - - - - - -

Limosa lapponica Fuselo 0 4 5 0 0 0 9 4 0 4 5 0 5 18

Limosa limosa Maçarico-de-bico-direito 0 4 5 0 0 0 9 0 0 0 5 0 5 14

Locustella luscinoides Felosa-unicolor 8 10 5 0 0 0 23 0 0 0 5 10 15 38

Loxia curvirostra Cruza-bico 8 10 0 0 0 0 18 0 0 0 0 10 10 28

Lymnocryptes minimus Narceja-galega 3 4 5 0 0 0 12 0 0 0 5 0 5 17

Malpolom monspessulanus Cobra rateira 0 4 0 0 0 0 4 4 0 4 0 10 10 18

Melanitta fusca Pato-fusco - - - - - - - - - - - - - -

Mergus serrator Merganso-de-poupa 0 4 5 0 0 0 9 0 0 0 5 10 15 24

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A Zona de Proteção Especial (ZPE) Ria de Aveiro. Ensaio metodológico para a construção de uma carta de Vulnerabilidades para apoio à gestão ecológica da paisagem 2012

Est. Conserv. (EC) Est. Bio. (Ebg) Sensib. (SEN) VEE

Espécie Nome comum LV Berna Bona DH DA IUCN Total G P Total H R Total Total

Milaria calandra Trigueirão 0 4 0 0 0 0 4 0 0 0 0 10 10 14

Milvus migrans Milhafre-preto 0 10 5 0 10 0 25 0 0 0 0 10 10 35

Milvus milvus Milhafre-real 8 10 5 0 10 0 33 0 0 0 0 10 10 43

Motacilla alba Alvéola-branca 0 10 0 0 0 0 10 0 0 0 0 10 10 20

Motacilla cinerea Alvéola-cinzenta 0 10 0 0 0 0 10 0 0 0 0 0 0 10

Motacilla flava Alvéola-flava 0 10 0 0 0 0 10 0 0 0 0 10 10 20

Numenius arquata Maçarico-real 0 4 5 0 0 0 9 0 0 0 5 0 5 14

Numenius phaeopus Maçarico-galego 0 4 5 0 0 0 9 0 0 0 5 0 5 14

Otus scops Mocho-d´orelhas 3 10 0 0 0 0 13 0 0 0 0 10 10 23

Pandion haliaetus guia-pesqueira 10 10 5 0 9 0 34 0 0 0 0 0 0 34

Parus cristatus Chapim-de-poupa 0 10 0 0 0 0 10 0 0 0 0 10 10 20

Passer domesticus Pardal-comum 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 10 10 0

Passer montanus Pardal-montês 0 4 0 0 0 0 0 0 0 0 0 10 10 14

Phalocrocorax carbo Corvo-marinho 0 4 0 0 0 0 4 4 0 4 0 0 0 8

Philomachus pugnax Combatente 6 4 5 0 9 0 24 0 0 0 5 0 5 29

Phoconea phoconea Boto 8 10 0 10 0 8 36 ? ? ? ? ? ? 36

Phylloscopues trochilus Felosinha-ibérica 0 10 5 0 0 0 15 0 10 10 0 10 10 35

Phylloscopus collybita Felosa-comum 0 10 5 0 0 0 15 0 0 0 0 0 0 15

Pica pica Pega 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 10 10 10

Picus viridis Pica-pau-verde 0 10 0 0 0 0 10 0 0 0 0 10 10 20

Platalea leucorodia Colhereiro 8 10 5 0 9 0 32 4 10 14 5 10 15 61

Plegadis falcinellus Maçarico-preto 10 10 5 0 10 0 35 0 0 0 10 10 20 55

Pluvialis apricaria Tarambola-dourada 0 4 5 0 9 0 18 4 6 10 5 0 5 33

Pluvialis squatarola Tarambola-cinzenta 0 4 5 0 0 0 9 4 6 10 5 0 5 24

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A Zona de Proteção Especial (ZPE) Ria de Aveiro. Ensaio metodológico para a construção de uma carta de Vulnerabilidades para apoio à gestão ecológica da paisagem 2012

Est. Conserv. (EC) Est. Bio. (Ebg) Sensib. (SEN) VEE

Espécie Nome comum LV Berna Bona DH DA IUCN Total G P Total H R Total Total

Podiceps nigrocolis Mergulhão-de-pescoço-preto 0 10 0 0 0 0 10 0 0 0 5 0 15 15

Prunella modularis Ferreirinha-comum 0 10 0 0 0 0 10 0 0 0 0 0 0 10

Rallus aquaticus Frango-dágua 0 4 0 0 0 0 4 0 3 3 5 10 15 22

Recurvirostra avosetta Alfaiate 8 10 5 0 9 0 24 4 3 7 5 10 15 46

Regulus regulus Estrelinha 0 10 5 0 0 0 15 0 0 0 0 0 0 15

Rissa tridactyla Gaivota-tridáctila 0 4 0 0 0 0 4 0 0 0 0 0 0 4

Saxicola torquata Cartaxo-comum 0 10 0 0 0 0 10 0 0 0 0 10 10 20

Scopolax rusticola Galinhola 3 4 5 0 0 0 12 0 3 3 5 10 15 30

Serinus serinus Chamariz 0 10 0 0 0 0 10 0 0 0 0 10 10 20

Stercorarius skua Moleiro-grande 0 4 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 4

Sterna albifrons Andorinha-do-mar-anã 8 10 0 0 9 0 27 4 6 10 5 10 15 52

Sterna hirundo Andorinha-do-mar-comum 0 10 0 0 9 0 19 0 6 6 5 0 5 30

Sterna sandvicensis Garajau-comum 0 10 0 0 9 0 19 4 3 7 5 0 5 31

Streptopelia decaoto Rola-turca 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 10 10 10

Streptopelia turtur Rola-comum 8 4 0 0 0 0 12 0 0 0 0 10 10 22

Strix aluco Coruja-do-mato 0 10 0 0 0 0 10 0 0 0 0 10 10 20

Sturnus unicolor Estorninho-preto 0 10 0 0 0 0 10 4 0 4 0 10 10 24

Sturnus vulgaris Estorninho-malhado 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

Sula bassana ou Morus

bassana Ganso-patola 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

Sylvia atricapilla Toutinegra-de-barrete

preto 0 10 5 0 0 0 15 0 0 0 0 10 10 25

Sylvia borin Toutinegra-das-figueiras 8 10 5 0 0 0 23 0 0 0 0 10 10 33

Sylvia communis Papa-amoras 0 10 5 0 0 0 15 0 0 0 0 10 10 25

Sylvia melanocephala Toutinegra-de-cabeça preta

0 10 5 0 0 0 15 4 0 4 0 10 10 29

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Est. Conserv. (EC) Est. Bio. (Ebg) Sensib. (SEN) VEE

Espécie Nome comum LV Berna Bona DH DA IUCN Total G P Total H R Total Total

Sylvia undata Felosa-do-mato 0 10 5 0 9 0 24 4 0 4 0 10 10 38

Tachybaptus ruficollis Mergulhão-pequeno 0 10 0 0 0 0 10 0 3 3 5 10 15 28

Tringa nebularia Perna-verde 0 4 5 0 0 0 9 0 0 0 5 0 5 14

Tringa ochropus Pássaro-bique-bique 0 10 5 0 0 0 15 0 0 0 5 0 5 20

Tringa totanus Perna-vermelha 0 4 5 0 0 0 9 0 3 3 5 10 15 27

Troglodytes troglodytes Carriça 0 10 0 0 0 0 10 0 0 0 0 10 10 20

Turdus merula Melro-preto 0 4 0 0 0 0 4 0 0 0 0 10 10 14

Turdus viscivorus Tordoveia 0 4 0 0 0 0 4 0 0 0 0 10 10 14

Tyto alba Coruja-das-torres 0 10 0 0 0 0 10 0 0 0 0 10 10 20

Upupa epops Poupa 0 10 0 0 0 0 10 0 0 0 0 10 10 20

Uria aalgae Airo 8 4 0 0 10 0 22 0 0 0 5 10 15 37

Vanellus vanellus Abibe 0 4 5 0 0 0 9 0 0 0 5 0 5 14

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ANEXO IV

WEBSIG – RIA

MANUAL DO UTILIZADOR

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INTRODUÇÃO

Com este manual pretende-se orientar o usuário na utilização do Visualizador de Mapas

rede-aveiro. Desta forma, os conteúdos a seguir serão apresentados de uma forma visual.

PÁGINA INICIAL

PÁGINA DO MAPA

Ao aceder à página principal do visualizador Webgis, destacam-se duas janelas:

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• Janela de conteúdo (de informação geográfica): localizada na

parte direita da tela, onde se encontram todas as camadas de

informação com os seus respetivos símbolos para a sua

representação. Para além das várias camadas de informação

estatística (incluindo os limites estatísticos), podemos visualizar

ainda cartografia de base (Limites Administrativos, tais como limites

de Concelho e Freguesia, etc.);

• Janela de visualização: localizada na parte esquerda da tela, é aqui que se visualizam os

elementos gráficos conforme a camada de informação selecionada.

MAPA PRINCIPAL

É nesta janela que são apresentadas as diferentes camadas de informação geográfica, em

diferentes escalas. Temos possibilidade de interagir, com o ponteiro do rato, utilizando

botões como ampliar, reduzir, arrastar(pan), identificar, medir, entre outros. Clicando sobre o

valor da escala aparecem diferentes opções de escolha, proporcionando-nos visualizar

mapas com maior ou menor detalhe de informação. No entanto, é possível especificar

diretamente a escala que deseja utilizar, preenchendo-a no espaço de barra fixa. Da mesma

forma, pode-se usar a barra móvel, para mudar de escala instantaneamente, deslocando-a

para cima ou para baixo.

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Barra Fixa Barra Móvel

BARRA DE FERRAMENTAS (vertical)

A barra de ferramentas contem diversas opções para uma consulta rápida e interação com o

mapa, contem opções avançadas como descarga de dados temáticos e impressão conforme

a escala.

VER EXTENSÃO TOTAL – Mostra a vista de toda a extensão do país.

VOLTAR – Regressa à vista anterior do mapa.

SEGUINTE – Regressa à vista posterior do mapa.

VER SELEÇÃO – Permite visualizar todo o resultado duma seleção.

AMPLIAR – permite visualizar uma área do mapa com maior detalhe. Depois de ter

selecionado o botão, escolha a área do mapa que pretende ampliar e faça um

“click”, ou desenhe um quadrado ou retângulo.

REDUZIR – para visualizar uma área maior do mapa. Depois de ter selecionado o

botão, escolha a área do mapa que pretende reduzir e faça um “click”.

ARRASTAR – permite mover o mapa em diferentes direções, para o qual deve

manter pressionado o botão esquerdo do rato e arrastar para a direção desejada.

IDENTIFICAR – permite consultar e exportar dados, a partir de um “click”, da tabela

de atributos das camadas de informação que estão ativas na janela de conteúdo.

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MEDIR – permite medir a distância entre dois pontos (linha), calcular o perímetro e área de

um polígono. Por exemplo, clicar com ponteiro do rato no ponto de origem e traçar uma

linha, fazendo depois duplo “click” no ponto de destino. Na parte inferior direita da janela

aparece a distância a que corresponde. Para o caso de medição de perímetro ou área deve-

se desenhar o conjunto de linhas ou o polígono desejado, finalizando com duplo “click” para

se obter a medição

AUTO-IDENTIFICAR – permite visualizar a tabela de atributo de uma camada de

informação selecionada, com uma simples localização do ponteiro do rato sobre o elemento

(polígono, linha ou ponto). Por só ser possível consultar uma camada de informação de

cada vez, o usuário deve escolher antes a camada que deseje consultar na janela “Aplicar

na camada”:

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SELECIONAR – permite selecionar, visualizar e exportar dados da tabela de atributos de

um elemento (polígono, linha ou ponto), ou conjunto de elementos de uma determinada área

do mapa. Note-se que mesmo que estejam ativadas várias camadas de informação só é

apresentada na tabela de atributo dados referentes somente da primeira camada

selecionada.

1ºPasso - Ativar a ferramenta

2ºPasso – Escolher a camada de informação que deseja consultar na janela “Aplicar

na camada”:

3ºPasso – Selecionar com o ponteiro do rato, o(s) elemento(s) a consultar. A

modalidade de seleção nesse caso pode ser um “click” ou desenhar um quadrado ou

retângulo.

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QUERY EDITOR – esta ferramenta permite ao utilizador realizar consultas sobre

atributos de uma determinada camada de informação (layer). Ela funciona sobre uma

camada de informação de cada vez.

O quadro “QueryEditor” contém 4 divisões de preenchimento:

• Spatial data: janela onde se seleciona a camada a consultar – Layer name.

• Attribute: janela onde se escolhe o nome, tipo, operadores de grandeza e valor do

atributo, sobre o qual vai-se realizar a consulta – Nome; Type; Comparison; Value.

• Operator: permite a escolha de outros operadores – NOT; AND; OR; ().

• Generated Query: janela onde é apresentada por extensão a consulta “query” que se

pretende.

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EXPORTAR DADOS

Para exportar dados, no fim da tabela de atributos, selecione o tipo de ficheiro que deseje

exportar (XLS, CSV ou PDF) clicando na bolinha do lado esquerdo e de seguida no botão

Salvar mapa. Para finalizar escolhe o local onde deseja guardar o ficheiro.

Podemos igualmente imprimir cartas com a respetiva legenda, bastando para tal clicar em

“imprimir”, a seguir clicar em “criar arquivo pdf”, depois “criar página de impressão” e o

resultado é o que aparece na imagem, uma carta com as camadas selecionadas.

Todo o layout pode ser configurado da forma e adaptado ao websig.