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HUDSON CRISTIANO WANDER DE CARVALHO
TRADUÇÃO, ADAPTAÇÃO E VALIDAÇÃO FATORIAL
DO INVENTÁRIO DE EXTERNALIZAÇÃO PARA O
CONTEXTO DE UNIVERSITÁRIOS MINEIROS
Belo Horizonte
Departamento de Pós-Graduação em Psicologia
Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas
2007
HUDSON CRISTIANO WANDER DE CARVALHO
TRADUÇÃO, ADAPTAÇÃO E VALIDAÇÃO FATORIAL
DO INVENTÁRIO DE EXTERNALIZAÇÃO PARA O
CONTEXTO DE UNIVERSITÁRIOS MINEIROS
Dissertação apresentada à Faculdade de Filosofia e
Ciências Humanas da Universidade Federal de
Minas Gerais, como parte dos requisitos para a
obtenção do título de Mestre em Psicologia.
Área de Concentração: Personalidade e Desenvolvimento Sócio-Afetivo
Orientadora: Profa. Dr.a Ângela Maria Vieira Pinheiro
Belo Horizonte
Departamento de Pós-Graduação em Psicologia
Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas
2007
150 Carvalho, Hudson Cristiano Wander de C331t Tradução, adaptação e validação fatorial do inventário de 2007 externalização para o contexto de universitários mineiros / Hudson Cristiano Wander de Carvalho. -2007
147 f. : il Orientador: Ângela Maria Vieira Pinheiro Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Filosofia.
.
1. Psicologia - Teses 2.Psicopatologia - Teses 3.Personalidade – Teses . 4. Psicometria - Teses I. Pinheiro, Ângela Maria Vieira Pinheiro II. Universidade Federal de Minas Gerais. Faculdade de Filosofia. III.Título
À Gentileza,
o sentimento que permitiu que todas as
pessoas citadas compartilhassem comigo
algo de si para a execução deste trabalho.
AGRADECIMENTOS
À minha orientadora Professora Doutora Ângela Maria Vieira
Pinheiro pela paciência, sinceridade, gentileza, por me acolher em
um momento tão delicado da minha vida profissional e,
principalmente, por ter estado sempre disponível quando eu
precisei.
Ao meu orientador informal Professor Doutor Christopher John
Patrick pela oportunidade de estagiar em seu laboratório, pela
colaboração, paciência e por mostrar-me que o mundo é um pouco
maior e possível.
Ao meu querido amigo Ricardo Napoleão pela tradução do
Inventário de Externalização para o português Brasileiro.
Ao colega Kristian Erik Markon pelas incansáveis indicações e
orientações sobre estatística.
Ao Professor Doutor Robert Krueger pelos inúmeros pareceres
acerca da adequação semântica dos itens traduzidos do Inventário
de Externalização.
Ao Fábio pelas incontáveis correções ortográficas e sintáticas que
pacientemente fez no texto dessa dissertação.
À Professora Doutora Elizabeth do Nascimento e ao Professor
Doutor Jader Sampaio pelas ótimas sugestões concedidas na
qualificação do projeto que deu origem a esta dissertação.
Aos meus alunos de iniciação científica, Débora, Érica, Isabela e
Filippe pelo excelente trabalho, determinação e apoio,
principalmente quando eu estava longe.
Às minhas queridas amigas Patrícia e Marimília pelo profundo
sentimento de amizade e, especialmente à Patrícia, pelas excelentes
dicas com relação à revisão ortográfica do texto e pelo carinho
com que sempre me ajuda.
Aos meus pais pelo incentivo, amor e apoio incondicional de
sempre.
A todas as pessoas que voluntariamente participaram desta
pesquisa, respondendo ao Inventário de Externalização ou cedendo
seu horário de aula para que os dados pudessem ser coletados.
RESUMO
Externalização pode ser definida como uma dimensão psicobiológica, ampla e
contínua das diferenças individuais que explica a covariância (comorbidade) entre
transtornos mentais – caracterizados pelo abuso/dependência de substâncias e pela
conduta anti-social – e traços de personalidade relacionados ao controle de impulsos e à
autocomiseração. Esta dissertação objetivou contribuir para a conceitualização do modelo
espectral de externalização por meio da tradução, adaptação e validação fatorial do
Inventário de externalização para o contexto de universitários mineiros. As análises do
estudo de tradução e adaptação indicaram que o inventário é adequadamente bem
compreendido pela população avaliada e bastante consistente com sua versão original. A
análise de consistência interna indicou que o inventário é uma medida precisa do fator de
externalização na amostra coletada, no que diz respeito tanto à totalidade dos itens
presentes no inventário, quanto às suas subescalas isoladamente. Assim como esperado, a
análise exploratória de fatores comuns resultou em um modelo de um fator de segunda-
ordem com três subfatores. O Inventário de Externalização se mostrou um instrumento
válido e preciso no que concerne à mensuração da dimensão de externalização em
estudantes universitários mineiros.
Palavras chave: Externalização, Personalidade, Psicopatologia, Comorbidade,
Psicometria, Avaliação Psicológica, Validade de Construto.
ABSTRACT
Externalizing is defined as a broad and continuous psychobiological dimension of
individual differences that explains the covariance among psychopathological disorders –
characterized by substance abuse/dependency and antisocial behavior – and personality
traits related to impulse control and conscientiousness. This dissertation aimed to
contribute to the conceptualization of the Externalizing Spectrum Model by means of the
translation, adaptation and factorial validation of the Externalizing Inventory to the
context of Minas Gerais. The results of the translation and adaptation study indicated that
the inventory is perfectly comprehensible to the evaluated sample and it is also highly
consistent to its original version. The internal consistency analysis indicated that the
inventory is a homogenous measure of the externalizing factor, not only in regard to its
general score but also in regard to its facets. As expected, the common factor analysis
extracted a one second-order with three subfactors structure. The Externalizing Inventory
is a valid and reliable measure of the externalizing dimension among university stundents
of Minas Gerais.
Keywords: Externalizing, Personality, Psychopathology, Comorbidity, Psichometrics,
Psychological Assessment, Construct Validity.
LISTAS DE ILUSTRAÇÕES
FIGURA 1 MODELO DE INTERNALIZAÇÃO E EXTERNALIZAÇÃO
PROPOSTO POR KRUEGER
FIGURA 2 REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DE UM MODELO HIERÁRQUICO DE
UM FATOR COM DOIS SUBFATORES.
FIGURA 3 REPRESENTAÇÃO VISUAL DO MODELO ESPECTRAL DE
EXTERNALIZAÇÃO
FIGURA 4 MODELO DE VALIDADE DE CONSTRUTO
FIGURA 5 GRÁFICO DE SCREE BASEADO NOS AUTOVALORES INICIAIS
FIGURA 6 ESTRUTURA FATORIAL ENCONTRADA PARA A VERSÃO
BRASILEIRA DO INVENTÁRIO DE EXTERNALIZAÇÃO
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 MODELO HIERÁRQUICO DE UM FATOR COM DOIS SUBFATORES
PARA O INVENTÁRIO DE EXTERNALIZAÇÃO
TABELA 2 EXEMPLO DE UM ITEM REFORMULADO TRÊS VEZES DURANTE
O PROCEDIMENTO DE TRADUÇÃO DO INVENTÁRIO DE
EXTERNALIZAÇÃO
TABELA 3 ESTATÍSTICA DESCRITIVA DA AMOSTRA TOTAL E POR ÁREA DE
ESTUDO UTILIZADA NA ETAPA DE ANÁLISE DE CONSISTÊNCIA
INTERNA E ANÁLISE DE FATORES COMUNS
TABELA 4 ANÁLISE DE CONSISTÊNCIA INTERNA DAS SUBESCALAS DO
INVENTÁRIO DE EXTERNALIZAÇÃO E DE SEU ESCORE TOTAL
TABELA 5 COMUNALIDADES BASEADA NOS AUTOVALORES INICIAIS
PARA UMA SOLUÇÃO COM TRÊS FATORES
TABELA 6 COMUNALIDADES BASEADAS NOS AUTOVALORES INICIAIS
PARA UMA SOLUÇÃO COM QUATRO FATORES
TABELA 7 ESTRUTURA FATORIAL ROTADA PARA UMA SOLUÇÃO DE TRÊS
FATORES CORRELACIONADOS
TABELA 8 MATRIZ FATORIAL ESTRUTURA FATORIAL ROTADA PARA UMA
SOLUÇÃO DE QUATRO FATORES CORRELACIONADOS
TABEL 9 CORRELAÇÕES ENTRE OS FATORES EXTRÍDOS NA SOLUÇÃO
TETRAFATORIAL
SUMÁRIO
RESUMO EXPANDIDO........................................................................................ 14
1 REVISÃO TEÓRICA........................................................................ 19
1.1 INTRODUÇÃO................................................................................... 19
1.2 COMORBIDADE, HETEROGENEIDADE E VALIDADE DAS
CATEGORIAS PSICOPATOLÓGICAS............................................. 22
1.2.1 DSM-IV-R: CARACTERIZAÇÃO E CONCEITOS........................... 22
1.2.2 COMORBIDADE INTER E INTRA-EIXO........................................ 24
1.2.3 HETEROGENEIDADE CLÍNICA...................................................... 28
1.2.4 VALIDADE DE CONSTRUTO DAS CATEGORIAS
PSICOPATOLÓGICAS....................................................................... 28
2 A ESTRUTURA DOS TRANSTORNOS MENTAIS E O
DESENVOLVIMENTO DO MODELO ESPECTRAL DE
EXTERNALIZAÇÃO........................................................................ 30
2.1 ESTUDOS EPIDEMIOLÓGICOS....................................................... 31
2.2 ESTUDOS DE GENÉTICA COMPORTAMENTAL......................... 34
2.3 ESTUDO PSICOFISIOLÓGICO......................................................... 38
2.4 ESTUDOS PSICOMÉTRICOS............................................................ 40
3 EXTERNALIZAÇÃO: DEFINIÇÃO E IMPLICAÇÕES PARA A
PSICOPATOLOGIA E PARA A PSICOLOGIA DA
PERSONALIDADE............................................................................ 48
4 OBJETIVOS........................................................................................ 51
5 ESTUDO I: TRADUÇÃO E ADAPTAÇÃO CULTURAL DO
INVENTÁRIO DE EXTERNALIZAÇÃO....................................... 52
5.1 PARTE I: TRADUÇÃO DO INVENTÁRIO DE
EXTERNALIZAÇÃO.............................................................................. 56
5.1.1 MÉTODO............................................................................................. 56
5.1.2 RESULTADOS.................................................................................... 57
5.2 PARTE II: ADMINISTRAÇÃO DAS VERSÕES AMERICANA E
BRASILEIRA DO INVENTÁRIO DE EXTERNALIZAÇÃO A UMA
AMOSTRA DE BILÍNGÜES............................................................... 59
5.2.1 PARTICIPANTES................................................................................. 59
5.2.2 MÉTODO.............................................................................................. 60
5.2.2 RESULTADOS................................................................................... 60
5.3 PARTE III – ANÁLISE DA INTELIGIBILIDADE DOS ITENS POR
MEIO DA TÉCNICA DE BRAINSTORMING...................................... 62
5.3.1 MÉTODO.............................................................................................. 62
5.3.2 PARTICIPANTES................................................................................ 63
5.3.3 RESULTADOS.................................................................................... 63
5.4 DISCUSSÃO DO ESTUDO I.............................................................. 64
6 ESTUDO II: ANÁLISE DE REPRESENTAÇÃO DO
CONSTRUTO ..................................................................................... 67
6.1 MÉTODO............................................................................................. 70
6.1.1 PARTICIPANTES................................................................................ 70
6.1.2 PROCEDIMENTOS............................................................................. 71
6.1.3 ANÁLISE DOS DADOS...................................................................... 72
6.1.4 ANÁLISE DE FIDEDIGNIDADE....................................................... 72
6.1.5 ANÁLISE EXPLORATÓRIA DA ESTRUTURA FATORIAL........... 75
6.2 RESULTADOS DA ANÁLISE PSICOMÉTRICA DO INVENTÁRIO
DE EXTERNALIZAÇÃO....................................................................... 83
6.2.1 ANÁLISE DE FIDEDIGNIDADE....................................................... 83
6.2.2 ANÁLISE DA ESTRUTURA FATORIAL......................................... 86
6.2.2.1 ANÁLISE DAS COMUNALIDADES................................................ 88
6.2.2.2 ANÁLISE DAS SOLUÇÕES FATORIAIS: CARGAS FATORIAIS E
INTERPRETABILIDADE DOS FATORES...................................... 90
6.2.2.3 ANÁLISE DE FATORES COMUNS DE SEGUNDA-ORDEM......... 95
6.3 DISCUSSÃO SOBRE ESTUDO II – ANÁLISE DE
REPRESENTAÇÃO DO CONSTRUTO.............................................. 98
7 DISCUSSÃO GERAL....................................................................... 101
7.1 DESTAQUES..................................................................................... 102
7.2 LIMITAÇÕES................................................................................... 105
7.3 APLICAÇÃO DO INVENTÁRIO DE EXTERNALIZAÇÃO:
DIAGNÓSTICO PSICOPATOLÓGICO E O ESTUDO DAS
DIFERENÇAS INDIVIDUAIS NO CONTEXTO
BRASILEIRO...................................................................................... 106
REFERÊNCIAS..................................................................................................... 113
APÊNDICE A CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO......... 123
APÊNDICE B INVENTÁRIO DE EXTERNALIZAÇÃO VERSÃO
AMERICANA.................................................................. 125
APÊNDICE C INVENTÁRIO DE EXTERNALIZAÇÃO VERSÃO
BRASILEIRA.................................................................... 142
RESUMO EXPANDIDO
O conhecimento científico é fortemente caracterizado por um constante processo
de reconstrução, passando de um momento de organização, acumulação e coerência
para um outro em que o pensamento se torna divergente e múltiplo. Kuhn (1962)
nomeou esses dois momentos históricos de ciência normal (ou paradigmática) e de
ciência revolucionária (ou pré-paradigmática). A ciência normal seria caracterizada por
um constante processo de acumulação de conhecimento, em que a adoção de um
paradigma dominante não somente dita o que deve ser estudado, mas, principalmente,
como estudá-lo. Todavia, as pesquisas começam a produzir arbitrariedades, de maneira
que se torna insustentável o paradigma dominante. Nesse momento, começam a surgir
novas perguntas e pesquisas extraordinárias que subvertem a tradição existente e que
possibilitam a renovação de um campo de investigação, constituindo-se, assim, uma
revolução científica.
O estudo científico da psicopatologia e do comportamento anormal está, sem
sombra de dúvidas, em um período revolucionário. Um conjunto de avanços científicos
e tecnológicos como a Genética Molecular, a Neurociência Comportamental, estatísticas
estruturais e softwares com elevado poder de análise auxiliam os pesquisadores de
campo a investigar de maneira extraordinária a natureza, a estrutura e a etiologia do
sofrimento mental (KRUEGER; MARKON, 2006). A utilização desses novos recursos
vem possibilitando o desenvolvimento de modelos teóricos que, sistematicamente, têm
desafiado o modelo psicopatológico dominante, cujo diagnóstico, operacionalizado pelo
14
DSM-IV-TR1 da Associação Americana de Psiquiatria (2002), dá-se por meio de
categorias nosológicas.
As atuais críticas ao modelo categorial e, portanto, ao DSM-IV-TR, apontam
para várias de suas limitações e imprecisões. Clark, Watson e Reynalds (1995), por
exemplo, ressaltam que as elevadas taxas de comorbidade e a heterogeneidade clínica
entre transtornos mentais são incompatíveis com um modelo conceitualizado a partir de
diagnósticos categoriais. Outros autores, como Widiger e Sankis (2000), ressaltam não
somente o problema do relativismo cultural referente ao próprio conceito de transtorno
mental, mas também a impossibilidade de se generalizar certos diagnósticos para
sociedades não ocidentalizadas. Widiger e Clark (2000) apontam para a inconsistência
do construto “anormalidade mental” (ou psicopatologia), assim como para o fato de o
próprio sistema de classificação das psicopatologias ser o principal norteador da
produção científica relacionado ao fenômeno psicopatológico. Em comum, todos esses
pesquisadores reconhecem que um modelo baseado em categorias é uma representação
insuficiente do fenômeno natural designado pela sigla “comportamento anormal”.
Todavia, até então, pouca atenção tinha sido direcionada à ciência de classificação
psicopatológica, em outras palavras, à taxonomia dos transtornos mentais.
Esse contexto motivou diferentes grupos de pesquisa (KRUEGER, CASPI,
MOFFIT; SILVA, 1998; KRUEGER, 1999; VOLLEBERGH, LEDEMA, DE GRAAF,
SMIT; ORMEL, 2001; KENDLER, CAROL, PRESCOTT, MYERS; NEALE, 2003) a
investigar a estrutura latente comum dos transtornos mentais. De maneira consistente,
esses grupos têm encontrado que o padrão de co-ocorrência entre diversos transtornos
mentais pode ser explicado por dois fatores latentes de vulnerabilidade correlacionados:
1 O Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais é uma publicação da American Psychiatrical Association, Washington D.C., sendo a sua 4ª edição revisada conhecida pela designação “DSM-IV-R”. Esse manual fornece critérios de diagnóstico para a generalidade dos transtornos mentais, incluindo componentes descritivos, de diagnóstico e de tratamento, constituindo um instrumento de trabalho de referência para profissionais da saúde mental.
15
o fator de externalização e o de internalização. Enquanto o primeiro (fator de
externalização) explica a variância comum entre transtornos relacionados ao uso de
substâncias e ao comportamento anti-social, o segundo (fator de internalização) trata da
variância comum entre os transtornos fóbicos e de humor.
Esses estudos sugerem que os transtornos mentais são mais adequadamente
conceitualizados como dimensões contínuas do que por categorias nosológicas baseadas
em agrupamentos sintomáticos, como é feito atualmente. A adoção e o desenvolvimento
desses modelos para o contexto clínico necessitam de mais pesquisas, replicações e de
avanços significativos, principalmente no tangente à sua aplicabilidade (FIRST, 2005).
Todavia, já é perceptível o seu impacto nas pesquisas científicas de ponta, de tal
maneira que o periódico mais influente da área – Journal of Abnormal Psychology –
dedicou seu último volume de 2005 à reflexão sobre modelos dimensionais de
classificação psicopatológica. As dimensões de externalização e internalização foram
amplamente exploradas (KRUEGER, BARLOW; WATSON, 2005; KRUEGER,
MARKON, PATRICK; IACONO, 2005; WATSON, 2005), assim como a relação entre
dimensões de temperamento e categoriais psicopatológicas (CLARK, 2005).
Esta dissertação objetivou contribuir para a conceitualização do Modelo
Espectral de Externalização por meio da tradução, adaptação e validação fatorial do
Inventário de Externalização desenvolvido por Krueger, Markon, Patrick, Bening e
Kramer (submetido) para o contexto de Minas Gerais. Conceitua-se externalização
como uma ampla dimensão psicobiológica das diferenças individuais que unifica e
antecede transtornos mentais relacionados ao uso de substâncias e à conduta anti-social
a traços de personalidade caracterizados pelo controle de impulsos (busca de sensações,
impulsividade, etc.) e pela autocomiseração (alienação, culpa externalizante, etc.).
16
A tradução e a adaptação do Inventário de Externalização (Estudo I) ocorreram
por meio de um processo interativo e estratificado, cujos objetivos foram o de traduzir o
inventário, adaptar o seu conteúdo para o contexto cultural local, avaliar a equivalência
semântica entre os itens originais e suas versões em português e, por fim, garantir que o
uso da linguagem seria apropriado a indivíduos com diferentes níveis educacionais. O
procedimento utilizado se baseou em diferentes fontes (PASQUALI, 2000;
CARVALHO, MANSUR; FLORES-MENDOZA, 2004; VAN DE VIJVER;
HAMBLENTON, 2006), de maneira que se propôs um procedimento constituído por
seis fases, a saber: tradução, tradução reversa, apreciação dos autores, reescrita de itens
inadequados, avaliação do inventário em bilíngües e, por fim, análise de inteligibilidade
dos itens.
As análises do estudo de tradução e de adaptação indicaram que o inventário é
adequadamente bem compreendido pela amostra avaliada e bastante consistente com
sua versão original. Devido ao uso de linguagem coloquial, acredita-se que este
instrumento será de grande serventia para a avaliação do fator de externalização em
estratos cognitivos e educacionais, tanto superiores quanto inferiores.
O segundo estudo consistiu em analisar psicometricamente o Inventário de
Externalização por meio de duas técnicas clássicas de representação do construto:
análise de consistência interna e análise exploratória de fatores comuns.
A análise de consistência interna, realizada através do cálculo do coeficiente
alpha (Alpha de Crombach), indicou que o inventário é uma medida precisa do fator de
externalização na amostra coletada, no que diz respeito tanto à totalidade dos itens
presentes no inventário quanto às suas subescalas isoladamente.
A análise exploratória de fatores comuns, viabilizada através do estimador
Unwieghted Least Squares, resultou em um modelo de um fator de segunda-ordem com
17
três subfatores (ou três fatores de primeira-ordem). O fator de segunda-ordem foi
nomeado de fator de externalização, enquanto que os três fatores de primeira-ordem
foram nomeados de fator de vulnerabilidade anti-social, fator de vulnerabilidade ao
uso noscivo de substâncias e fator de controle de impulsos e autocomiseração.
Assim sendo, o Inventário de Externalização se mostrou um instrumento válido
e preciso no que concerne à mensuração da dimensão de externalização. Por outro lado,
os resultados apresentados fortalecem a própria concepção desse modelo teórico, cujo
eixo principal é a máxima de que a relação entre uma série de traços de personalidade e
de sintomas psicopatológicos é explicada por uma dimensão latente de vulnerabilidade.
18
1 REVISÃO TEÓRICA
1.1 INTRODUÇÃO
Problemas relacionados ao uso de substâncias e ao comportamento anti-social
co-ocorrem significativamente na população, de maneira tal que a ocorrência do
diagnóstico de Transtorno de Personalidade Anti-Social (TPA) se torna duas vezes mais
provável ao se passar de um diagnóstico de dependência/abuso de substâncias de grau
leve para um de grau severo (FLYN, CRADDOCK, LUCKEY, HUNBBART;
DUNTENMAN, 1996). Analogamente, estudiosos da personalidade têm
constantemente averiguado associações entre traços “desinibidos” de personalidade –
como busca de sensações, busca de novidades, psicoticismo, cordialidade,
responsabilidade, entre outros – e os diagnósticos de Abuso de Substâncias, de
Dependência de Substâncias e de Transtorno de Personalidade Anti-Social
(DESRICHARD; DANIRIÉ, 2005; ROBERTI, 2004; CLONINGER, 1987; EYSENCK,
1992; COSTA; MCCRAE, 1990; 1992). Entretanto, poucas foram as reais tentativas de
se criar um modelo que integrasse a taxonomia da personalidade ao estudo e aos
diagnósticos psicopatológicos.
A co-ocorrência (ou comorbidade, como é comumente referida na literatura)
entre síndromes psicopatológicas representa uma grande limitação para a atual
conceitualização e avaliação do comportamento anormal. Não havendo soluções fáceis
para esse problema – que, segundo alguns autores (CLARK, WATSON; REYNOLDS,
1995; KENDALL; CLARKIN, 1992), é o maior desafio contemporâneo dos
pesquisadores e profissionais de saúde mental – há duas possíveis perspectivas que,
segundo Clark (2005) e Jang, Wolf e Larstone (2006), procuram explicar tal fenômeno:
19
a primeira sugere que a co-ocorrência entre duas ou mais síndromes psicopatológicas se
dá por meio de uma relação temporal; já a segunda que a co-ocorrência entre transtornos
mentais se dá por eles compartilharem de algo, como uma dimensão latente de
vulnerabilidade ou variáveis etiológicas.
Segundo Clark (2005), a perspectiva que teoriza uma relação temporal de co-
ocorrência entre duas ou mais síndromes pode ser subdividida em duas vertentes
principais. A primeira é conhecida como o Modelo de Vulnerabilidade ou
Predisposição, que propõe que a existência prévia de uma síndrome aumenta a
probabilidade da ocorrência de uma outra síndrome. A segunda vertente é conhecida
como Modelo de Patoplastia (Pathoplasty). Esse modelo propõe que a existência prévia
de uma psicopatologia interfere no curso, na severidade e na resposta ao tratamento de
uma outra psicopatologia que tenha apresentado seu início posteriormente à primeira.
Ambos os modelos, o de Vulnerabilidade ou Predisposição e o de Patoplastia, pressupõe
uma relação de dependência entre o aparecimento de síndromes comórbidas, seja pelo
aumento da probabilidade de ocorrência de uma síndrome após o aparecimento de outra,
seja pelo efeito que a primeira cause sobre a segunda (ou terceira, quarta, etc.).
A perspectiva que explica a co-ocorrência entre síndromes a partir de processos
latentes ou variáveis etiológicas comuns também pode ser subdividida em duas
principais vertentes. A primeira é chamada de Modelo de Fator Comum. Esse modelo
pressupõe que duas ou mais síndromes co-ocorrem por compartilharem fatores
genéticos comuns. E a segunda vertente, chamada de Modelo Espectral, propõe que um
grupo de síndromes co-ocorrentes seja a manifestação (fenótipo) de uma mesma
dimensão latente contínua que varia em intensidade e pode ou não apresentar uma
distribuição normal, indo de uma leve até uma severa tendência psicopatológica.
20
Clark (2005) ressalta que esses modelos não são mutuamente excludentes, mas,
sim, que cada um deles pode estar “parcialmente correto ou simplesmente incompleto”
(p. 506). O fato é que para cada um desses modelos há evidências empíricos que, por
vez, evidenciam um modelo ou outro. Flyn et al. (1996) apresentam evidências de que o
diagnóstico de dependência química aumenta em duas vezes a predisposição de um
indivíduo apresentar um TPA comórbido. Além disso, Clark et al. (1995), baseando-se
em dados epidemiológicos, argumentam que é possível se concluir que quanto maior o
número de co-ocorrências diagnósticas em um indivíduo, maior é a probabilidade de
esse mesmo indivíduo apresentar mais uma outra síndrome psicopatológica comórbida.
Logo, se a presença de uma ou mais síndromes parece predizer a ocorrência de uma
outra síndrome no mesmo indivíduo, então o Modelo Vulnerabilidade ou Predisposição
apresenta suporte empírico, por exemplo.
Por outro lado, estudos de genética comportamental indicam que o
abuso/dependência de substâncias e a conduta anti-social em adultos e adolescentes
apresentam variáveis genéticas comuns e que sua variância pode ser modelada em um
fator latente chamado de fator de externalização (KENDLER et. al, 2003; KRUEGER et
al, 1998; KRUEGER, 1999). Esse tipo de evidência oferece suporte para a idéia de que
transtornos que co-ocorrem apresentam carga genético-etiológica comum e podem ser
descritos em termos de um modelo de traço latente, deflagrando, desse modo, um
Modelo Espectral.
A posição de Clark (2005) é a de que esses modelos etiológicos podem ser
utilizados para se compreender a relação entre traços temperamentais e síndromes
psicopatológicas. Por conseguinte, a personalidade pode ser compreendida como um
fator que aumenta a probabilidade de ocorrência de um transtorno mental, como o
abuso/dependência de substâncias, ou vice-versa (Modelo de Vulnerabilidade ou
21
Predisposição). A personalidade pode ainda interferir no curso, na severidade ou na
resposta ao tratamento de um organismo diagnosticado com TPA, ou um diagnóstico
clínico pode interferir na manifestação de um determinado traço de personalidade a
curto e longo prazo (Modelo de Patoplastia). De forma semelhante, a co-ocorrência
entre transtornos mentais e traços de personalidade pode sugerir que ambos
compartilhem variáveis genético-etiológicas (Modelo de Fator Comum) e/ou que
também podem ser descritas sob a forma de um modelo hierárquico espectral (Modelo
Espectral).
Assim como há pesquisas que fundamentam cada um dos quatro modelos de co-
ocorrência para síndromes psicopatológicas, há uma extensa literatura que dá suporte à
hipótese de Clark (2005), como Watson, Kotov e Gamez (2005), Jang, Wolf e Larstone
(2005), Krueger (2006), entre outros.
1.2 COMORBIDADE, HETEROGENEIDADE E VALIDADE DAS
CATEGORIAS PSICOPATOLÓGICAS
A seguir, será realizada uma breve caracterização do DSM-IV-TR e serão
apresentadas as principais limitações do modelo de classificação categorial representado
por ele.
1.2.1 DSM-IV-TR: CARACTERIZAÇÃO E CONCEITOS
O DSM-IV é definido pela Associação Americana de Psiquiatria (APA) como
“uma classificação categórica que divide os transtornos mentais em tipos, com base em
conjuntos de critérios com características definitórias” (p. 28, APA, 2002). O
22
diagnóstico é, portanto, realizado por meio de critérios relevantes à categoria nosológica
em questão, de maneira que um transtorno alvo é identificado a partir da exclusão de um
outro que apresente um fenótipo semelhante.
Na estrutura do DSM-IV, encontram-se cinco eixos temáticos que organizam as
síndromes em grupos heterogêneos. Seu propósito é o de permitir uma avaliação ampla
e sistematica do funcionamento mental do indivíduo, auxiliando, desse modo, o clínico
a planejar o tratamento e estimar o prognóstico. O eixo I se refere ao agrupamento de
síndromes categorizadas sob o rótulo de “Transtornos Clínicos e Outras Condições que
Podem Ser Foco de Atenção Clínica”. O eixo II se refere ao agrupamento nosológico
rotulado de “Transtornos de Personalidade e Retardo Mental”. O eixo III apresenta um
grupo de “Condições Médicas Gerais” que são fundamentais para o manejo e o
entendimento do transtorno mental no indivíduo. O eixo IV representa os “Problemas
Psicossociais e Ambientais” aos quais os indivíduos podem estar expostos e que afetam
de maneira significativa o seu diagnóstico, tratamento e prognóstico. Por fim, o quinto
eixo se refere à “Avaliação Global do Funcionamento”, sua mensuração se dá por meio
da Escala de Avaliação Global do Funcionamento cujo objetivo é o de estimar o nível
de funcionamento do indivíduo com o foco em sua adaptação social, psicológica e
ocupacional.
Os transtornos mentais são definidos “como síndromes ou padrões
comportamentais ou psicológicos clinicamente importantes, que ocorrem e estão
associados com sofrimento ou incapacitação ou com risco significativo aumentado de
sofrimento, morte, dor, deficiência, ou perda importante da liberdade” (Ibid, p. 28). A
síndrome, por sua vez, deve ser considerada como “uma manifestação de uma disfunção
comportamental, psicológica ou biológica no indivíduo. Nem o comportamento
desviante (p.ex., político, religioso ou sexual), nem conflitos entre indivíduos ou a
23
sociedade são transtornos mentais, a menos que o desvio ou o conflito seja sintoma de
uma disfunção no indivíduo...” (Ibid, p.28).
O modelo diagnóstico utilizado pelo DSM-IV-TR é pretensamente ateórico, de
forma que seu principal fator norteador está em criar “um formato conveniente para
organizar e comunicar informações clínicas... (Ibid, p. 59)”. A partir de então, pode-se
concluir que tanto a organização do manual em termos de eixos temáticos, como a
utilização de categorias nosológicas e a própria definição de psicopatologia se justifica
pela utilidade clínica e não por outros fatores. Assim sendo, transtornos de
personalidade e retardo mental são agrupados em um mesmo eixo sem que
compartilhem fatores etiológicos e mesmo de características fenotípicas. De maneira
semelhante, síndromes que apresentam elevada taxa de co-ocorrência, etiologia comum
e critérios semelhantes – como o TPA e o abuso/dependência de substâncias – são
codificados em eixos diferentes.
Uma série de críticas vem sendo sistematicamente direcionada ao modo como o
DSM-IV-TR conceitualiza e classifica as síndromes psicopatológicas: as altas taxas de
comorbidade inter-eixo e intra-eixo (CLARK, 2005; WIDIGER; CLARK, 2000;
CLARK et al., 1995; WINDIGER; SANKIS, 2000), a definição do construto
“psicopatologia” (WINDIGER, SANKIS, 2000; WIDIGER; CLARK, 2000) e o uso de
categorias versus o de dimensões diagnósticas (WIDGER; SAMUEL, 2005) são as mais
relevantes e recorrentes críticas ao modelo DSM-IV-TR.
1.2.2 COMORBIDADE INTER E INTRA-EIXO
As taxas de comorbidade entre os transtornos mentais são tão elevadas que sua
ocorrência não pode ser justificada pelo mero acaso (KRUEGER et al., 1998). De fato,
24
uma série de pesquisas aponta para níveis extremamente elevados de co-ocorrência
entre transtornos mentais agrupados no mesmo eixo e em eixos diferentes. Clark (2005)
relata que uma busca realizada no PsycINFO2 revelou três principais tendências de
pesquisas sobre comorbidade intra-eixo I: (1) investigações sobre a seqüencialidade de
diagnósticos; (2) desordens menos prevalentes (p. ex., transtorno de corpo disforme) e
(3) pares de desordens com elevada freqüência de co-ocorrência. A busca no PsycINFO
também indicou que os transtornos de personalidade – síndromes do eixo II –
apresentam taxas de comorbidade elevadas tanto em amostras clínicas, quanto em
amostras não-clínicas, mesmo quando avaliadas utilizando métodos diferentes em
diversas culturas ocidentais.
Com relação à comorbidade inter-eixo (entre transtornos agrupados nos eixos I e
II), Clark (2005) afirma que podem ser três as razões que causem a co-ocorrência entre
pares de desordem: (1) as desordens podem ser diferentes manifestações do mesmo
espectro (p.ex., transtorno de personalidade anti-social e dependência de substâncias);
(2) pode haver um cruzamento entre sintomas (p.ex., transtorno de personalidade
borderline – traz aspectos similares a outros transtornos de personalidade e a transtorno
de humor) e, por fim, (3) sobreposição entre critérios (p.ex., TPA compartilha critérios
com abuso de substâncias).
Independentemente da explicação dada à comorbidade, o fato é que, ao se
examinar populações clínicas e não clínicas, focando transtornos de ambos os eixos ou
de um eixo apenas, “pode ser difícil de encontrar um caso diagnóstico puro que também
não sofra de outros tipos de psicopatologia” (CLARK et al., 1995, pp. 128). Com
relação à comorbidade, os estudos são contundentes:
2 Sítio virtual de busca de trabalhos científicos indexados da área de Psicologia
25
Pacientes diagnosticados com transtorno de personalidade histriônica também
apresentam o diagnóstico de transtorno de personalidade borderline em 46% das
vezes (TYREZ, CASEY; FERGUSON, 1991).
Em um estudo epidemiológico recente, Grant, Hasin, Chow, Stinson e Dawson
(2004) avaliaram uma amostra representativa da população americana (43.093
participantes), com o objetivo de estimar o impacto do uso de tabaco na
população americana entre homens e mulheres, por meio da análise da co-
ocorrência entre o diagnóstico de Dependência de Tabaco e o de desordens
psiquiátricas. Os resultados apontam que 12,8% da população americana adulta
é dependente de nicotina e que o diagnóstico de dependência de tabaco
apresentou correlações significativas com todas as síndromes descritas no eixo I
e II do DSM-IV.
Em um outro estudo epidemiológico significativo realizado com adolescentes
infratores institucionalizados nos Estados Unidos (ABRAN, TEPLIN,
MCCLELLAND; DULCAN, 2003), encontraram-se elevadas taxas de
comorbidade entre diversos diagnósticos – incluindo transtorno de conduta,
dependência e abusos de substâncias, transtorno opositivo-desafiador, transtorno
de déficit de atenção/hiperatividade, transtorno de ansiedade generalizada,
transtorno obsessivo compulsivo, entre outros – de maneira que 56,5% da
amostra feminina e 45,9% da amostra masculina apresentaram critério para duas
ou mais síndromes psiquiátricas. Quatorze por cento (14%) das adolescentes e
onze por cento (11%) dos adolescentes apresentavam associação entre algum
transtorno mental grave (psicose, transtorno bipolar ou episódio depressivo
26
maior) e dependência de substâncias e 30% das adolescentes e mais de 20% dos
adolescentes apresentaram algum transtorno mental grave associado ao uso de
substâncias.
Clark et al. (1995) citam, dentre outros, um estudo epidemiológico realizado por
Galbaud, Newman e Blanc (1993) em uma amostra representativa não clínica da
população canadense, que apresentou taxas de comorbidade que variavam de
moderadas a elevadas entre diversas síndromes, incluindo depressão maior
(48%), fobia (48%), transtorno obsessivo-compulsivo (74%), abuso e
dependência de álcool (77%) e transtorno de personalidade anti-social (93%).
Esse quadro ressalta a importância da co-ocorrência entre diversos diagnósticos
mentais, tanto em populações clínicas quanto não clínicas.
Razzouk (1998) encontram elevada taxa de comorbidade entre 50 usuários de
cocaína não endovenosa com transtornos dos eixos I e II diagnosticados por
meio dos critérios descritos no DSM-III-R. A presença de transtornos mentais ao
longo da vida foi de 69%: 33 % de transtornos dos eixos I e II; 29% apenas do
eixo II; 7% apenas do eixo I e 31 % sem transtornos dos eixos I ou II. Os
transtornos ansiosos (30%) e depressivos (18%) foram os mais comuns. Os
transtornos de personalidade do tipo histriônico (36%), esquizóide (15%),
narcísico (13%) e evitativo (13%) foram os transtornos do eixo II mais
prevalentes e co-ocorrentes.
As taxas apresentadas nesses estudos ressaltam a elevada co-ocorrência tanto
entre diagnósticos de diferentes eixos quanto do mesmo eixo, em amostras clínicas e
27
não-clínicas. Os estudos realizados no Brasil são difíceis de encontrar e, ao exemplo do
trabalho de Razzouk (1998) orientado por Jorge, o alcance de seus resultados é restrito e
de baixo poder de generalização, além disso, muitos não estão publicados em periódicos
indexados.
1.2.3 HETEROGENEIDADE CLÍNICA
O diagnóstico psicopatológico resulta da somatória de critérios relevantes a uma
condição psiquiátrica, de maneira que, ao se alcançar um ponto de corte, diagnostica-se
alguém como doente mental. Segundo os critérios adotados no DSM-IV-TR (APA,
2002), o diagnóstico de TPA pode ser aferido a alguém que apresente pelo menos três
de sete critérios caracterizados pelo desrespeito às normas ou violação aos direitos
alheios. Assim, é possível encontrar indivíduos que apresentem o mesmo diagnóstico
sem compartilharem nenhum critério relevante (CLARK et al., 1995; KRUEGER et al.,
2005). Conseqüentemente, o mesmo diagnóstico codifica casos clínicos
qualitativamente muito diferentes.
1.2.4 VALIDADE DE CONSTRUTO DAS CATEGORIAS PSICOPATOLÓGICAS
A utilização do termo validade de construto como uma maneira de se atestar
validade a uma medida psicológica data de 1955 (CRONBACH; MEEHL, 1955). Em
sua formulação original, validade de construto é um método de validação recomendável
sempre que a medida de um determinado atributo não apresente critério externo
confiável ou este não possa ser definido operacionalmente, devendo-se utilizar medidas
indiretas para se assegurar a validade. Atualmente, o termo é utilizado como um
28
sinônimo do processo de validação de uma teoria que pressupõe o uso sistemático de
medidas quantitativas (MAHER; GOTTESMAN, 2005; SMITH, 2005).
A utilização de um modelo categorial para o diagnóstico da saúde mental traz
uma série de problemas ao conceito de psicopatologia (WIDIGER; SANKS, 2000).
Primeiramente, um padrão de comportamento somente é considerado anormal se este
pode ser reduzido a uma disfunção no indivíduo (APA, 2002). Dessa maneira, exclui-se
o diagnóstico de TPA se o comportamento anti-social emergir após o
abuso/dependência de alguma substância. Isto se explica pelo fato de se supor que,
nessa situação, a causa do TPA se localiza no uso da substância, e não no indivíduo.
Entretanto, se o uso de uma determinada substância é capaz de causar um padrão
persistente de desrespeito às normas sociais, à propriedade privada e à integridade de
outras pessoas, é muito provável que isso já reflita uma tendência interna à manifestação
da conduta anti-social.
Em segundo lugar, a validade da utilização de categorias diagnósticas em outras
culturas tem sido questionada. Segundo Widiger e Sanks (2000), há duas principais
críticas endereçadas às variações culturais: a primeira resulta do fato de que a cultura
pode enviesar a maneira como se constrói a teoria e o diagnóstico psicopatológico; a
segunda é a de que o próprio conceito de psicopatologia pode refletir uma tendência
ocidental de se classificar como anormal tudo aquilo que foge às normas locais.
Em terceiro lugar, é fundamental para um sistema diagnóstico a capacidade de
diferenciar a anormalidade da normalidade. Entretanto, o modelo diagnóstico
representado pelo DSM-IV-TR (2002) apresenta uma série de limitações com relação a
esse quesito (WIDIGER; CLARK, 2000; WIDIGER; SANKS, 2000). O diagnóstico de
depressão maior, por exemplo, não pode ser conferido a uma pessoa que perdeu um ente
querido recentemente, uma vez que os sintomas referentes a esse diagnósticos seriam
29
causados por um acontecimento extrínseco ao indivíduo. Todavia, não há critérios de
exclusão diagnóstica para perdas significativas de outra natureza, como a amputação de
membros, perdas materiais, entre outras.
2 A ESTRUTURA DOS TRANSTORNOS MENTAIS E O
DESENVOLVIMENTO DO MODELO ESPECTRAL DE
EXTERNALIZAÇÃO
A elevada taxa de comorbidade entre transtornos mentais, a excessiva
heterogeneidade clínica e o advento de técnicas estatísticas modernas motivaram
pesquisadores a estudar a estrutura latente dos transtornos mentais. Trabalhos de
diferentes grupos de pesquisa (KRUEGER et al., 1998; KRUEGER, 1999; KENDLER
et al., 2003; VOLLEBERGH et al., 2001) têm consistentemente encontrado que o
padrão de comorbidade entre diversas síndromes psiquiátricas pode ser explicado em
termos de duas dimensões de vulnerabilidade conhecidas como fator de externalização e
fator de internalização. Essas dimensões têm sido estudadas tanto do ponto de vista da
Epidemiologia Clínica (KRUEGER et al., 1998; KRUEGER, 1999), da Genética
Comportamental (KENDLER et al., 2003), da Psicofisiologia (PATRICK, BERNAT,
MALONE, IACONO, KRUEGER; MCGUE, 2005) como, no caso do Fator de
Externalização, da Psicometria moderna (KRUEGER et al., no prelo; KRUEGER et al.,
2005).
Devido ao foco da presente dissertação, a dimensão de externalização será
enfatizada em relação à dimensão de internalização. Entretanto, a fim de se manter uma
perspectiva mais ampla do estado da arte, o modelo proposto para as síndromes de
internalização também será brevemente considerado.
30
2.1 ESTUDOS EPIDEMIOLÓGICOS
Krueger et al. (1998) publicaram o primeiro estudo epidemiológico desenvolvido
com o objetivo explícito de investigar a estrutura latente de transtornos mentais por
meio de modelagem de equações estruturais. Nesse estudo, um delineamento
epidemiológico longitudinal foi utilizado para avaliar a estrutura latente de dez
transtornos mentais e a estabilidade dessa estrutura ao longo de três anos. Para tanto,
uma amostra representativa da cidade de Dunedin (Nova Zelândia) foi avaliada em dois
momentos, aos 18 e aos 21 anos, por meio de uma entrevista psiquiátrica estruturada
baseando-se nos critérios diagnósticos descritos no DSM-III-R. Nessa pesquisa, apenas
os diagnósticos de depressão maior, distimia, transtorno de ansiedade generalizada,
agorafobia, fobia social, fobia simples, transtorno obsessivo-compulsivo, transtorno de
conduta, dependência de cannabis e dependência de álcool foram utilizados.
Os resultados indicaram que um modelo de dois fatores correlacionados era o
que melhor representava as correlações entre as dez síndromes avaliadas. Estes fatores
foram nomeados de fator de internalização e de fator de externalização. Enquanto
depressão maior, distimia, transtorno de ansiedade generalizada, agorafobia, fobia
social, fobia simples e transtorno obsessivo-compulsivo apresentaram substanciais
cargas fatoriais no primeiro fator, transtorno de conduta/personalidade anti-social,
dependência de cannabis e álcool o fizeram no segundo. Depressão maior e transtorno
de conduta/personalidade anti-social foram as síndromes que apresentaram mais intensa
associação com seus respectivos fatores. Além disso, ambos os fatores apresentaram
elevada estabilidade temporal, mas o fator de externalização se mostrou levemente mais
estável que o fator de Internalização.
31
Em um estudo epidemiológico subseqüente, Krueger (1999) examinou o padrão
de comorbidade entre 10 síndromes psiquiátricas em uma amostra representativa e
probabilística de indivíduos americanos não institucionalizados (N = 8098). Os dados
foram analisados por meio de análises fatoriais confirmatórias para a amostra total,
separadamente para homens e mulheres e para uma subdivisão da amostra que buscava
auxílio relativo à saúde mental paralelamente ao momento em que a coleta de dados
ocorreu. Quatro modelos fatoriais foram propostos (um modelo unifatorial, um modelo
de dois fatores, um modelo com três e um com quatro fatores) e, então, comparados em
termos de sua adequação aos dados. O modelo de três fatores foi o que apresentou
melhor equilíbrio entre adequação estatística e parcimônia, de maneira que os
diagnósticos de dependência de álcool, dependência de drogas e comportamento anti-
social foram explicados pelo primeiro fator (Externalização), depressão maior
episódica, distimia e transtorno de ansiedade generalizada pelo segundo fator
(ansiedade/sofrimento) e fobia simples, agorafobia e transtorno de pânico pelo terceiro
fator (medo). Entretanto, a elevada intercorrelação entre os fatores de
ansiedade/sofrimento e de medo (.73) sugeriram que estes seriam mais apropriadamente
compreendidos como indicadores latentes (subfatores) de um fator de ordem-superior
(fator de internalização). Assim sendo, o modelo foi reestruturado de maneira a incluí-lo
(ver Figura 1 para visualização do modelo proposto por KRUEGER, 1999).
32
FIGURA 1
MODELO DE INTERNALIZAÇÃO E EXTERNALIZAÇÃO PROPOSTO POR
KRUEGER, 1999.
.82 .81 .81 .93 .73 .72 .78 .77 .76 .74 .51
.79
.84
.74
Episódio Depressão Maior
Distimia
T. Ansiedade Generalizada
Fobia Social
Fobia Simples
Agorafobia
Transtorno de Pânico
Dependência de Álcool
Dependência de Drogas
T. Personalidade Anti-social
Ansiedade - Sofrimento
Medo
Externalização
Internalização
Reproduzido sob a permissão do autor
Os resultados apresentados por Krueger (1999) são consistentes, inequívocos e
contribuíram significativamente para o estado da arte, uma vez que esta foi a primeira
investigação epidemiológica a aplicar um modelo de análise fatorial confirmatória a
dados coletados por meio de entrevistas psiquiátricas estruturadas em uma amostra
ampla, representativa e probabilística da população americana. A replicação do modelo
encontrado (representado pela Figura 1) em subdivisões da amostra contribuiu
significativamente para a validade fatorial do modelo proposto, principalmente por se
tratar de uma amostra casual e, portanto, generalizável para toda a população americana.
Outro importante fato é que essa pesquisa amplia e complementa os achados de Krueger
et al. (1998).
33
Vollebergh et al. (2001) replicaram os achados de Krueger (1999) e Krueger et
al. (1998) em uma amostra representativa e aleatória da população dos Países Baixos.
Nesse estudo, a estrutura e a estabilidade de 09 diagnósticos (depressão maior, distimia,
transtorno de ansiedade generalizada, fobia social, fobia simples, agorafobia, transtorno
de pânico, dependência de álcool e dependência de droga) foram analisadas por meio de
equações estruturais em um delineamento epidemiológico longitudinal. Os resultados
replicaram perfeitamente a estrutura encontrada por Krueger (1999) e, além disso, os
fatores de internalização e de externalização se demonstraram altamente estáveis por um
intervalo de um ano, sendo que o de externalização se demonstrou levemente mais
estável que o fator de internalização e seus subfatores.
2.2 ESTUDOS DE GENÉTICA COMPORTAMENTAL
A estrutura das contribuições genéticas e ambientais para os fatores de
externalização e internalização foi examinada em uma série de outras pesquisas.
Entretanto, antes de descrever alguns desses estudos, é necessário fazer uma breve
explanação acerca do objetivo e dos métodos de estudo mais comumente empregados na
genética comportamental.
O propósito da genética comportamental populacional é estudar a extensão em
que as diferenças individuais em um determinado construto psicológico se dão em
função de variáveis genético-hereditárias ou ambientais (JANG et al., 2005). As
influências ambientais podem ser divididas em efeito do ambiente
compartilhado/familiar e efeito do ambiente específico/não-compartilhado. Entretanto,
nem todos os delineamentos de pesquisa são capazes de separar adequadamente o efeito
do ambiente e da genética.
34
Os estudos de genética comportamental que focam a investigação das diferenças
individuais na população apresentam três principais delineamentos de pesquisa
(PLOMIM, DEFRIES; MCCLEARN, 1980): estudos familiares, estudos de gêmeos e
estudos de adoção. De maneira simplificada, estudos familiares objetivam confirmar a
hipótese genética, de maneira que o grau de proximidade na família descreve a
freqüência com que determinadas características ocorrem. Todavia, estudos familiares
são incapazes de dissociar entre os efeitos do ambiente e da hereditariedade. Estudos de
gêmeos têm o objetivo de responder à seguinte pergunta: em média, duas pessoas que
foram criadas juntas e que são geneticamente idênticas – gêmeos monozigóticos – são
mais semelhantes em um determinado traço psicológico (externalização, por exemplo)
do que pessoas que compartilham o mesmo ambiente e apenas metade dos seus genes –
gêmeos dizigóticos? Esses estudos são capazes de diferenciar o efeito do ambiente
compartilhado/familiar do efeito da influência da genética. Além disso, técnicas
estatísticas modernas são capazes de examinar os resíduos e o erro padrão das medidas
como evidência do efeito do ambiente não compartilhado. Por fim, estudos de adoção
de gêmios, também chamados de estudos “geneticamente informativos” (MATHEWS et
al., 2003), examinam o efeito médio do ambiente e da genética em uma determinada
dimensão psicológica contrastando gêmeos monozigóticos criados separadamente
(adotados por outras famílias) de gêmeos monozigóticos criados na mesma família.
Esses estudos são os mais capazes dentre os citados em isolar, com alguma clareza, os
efeitos do ambiente e os da genética sobre a dimensão psicológica relevante para o
estudo.
Em um estudo de adoção, Krueger et al. (2002) estudaram a estrutura das
contribuições genéticas e ambientais para o desenvolvimento do fator externalizante em
uma amostra de 626 pares de gêmeos (411 pares monozigóticos e 215 pares dizigóticos)
35
adolescentes de ambos os sexos com relação aos diagnósticos de transtorno de conduta,
transtorno de personalidade anti-social, dependência de álcool, drogas e o traço de
personalidade incontida (unconstrained). Três modelos biométricos foram testados por
meio da utilização de equações estruturais: o modelo de decomposição triangular
(triangular decompositional model), o modelo de caminho independente (independent
pathway model), e o modelo de caminho dependente (dependent pathway model).
O modelo de decomposição triangular (também conhecido como o Modelo de
Cholesky), o modelo de caminho independente e o modelo de caminho dependente
apresentam pressupostos básicas com relação ao modo como são estimadas a variância e
covariância referentes à determinação genética e à ambiental. Segundo Krueger et al.
(2002), o modelo de decomposição triangular permite que toda variância e covariância
genética e ambiental possivelmente presentes nos dados sejam livremente estimadas e,
por essa mesma razão, este modelo, quando comparado aos outros dois, é o menos
parcimonioso, uma vez que não há qualquer restrição estrutural sobre a variância e às
covariâncias genética e ambiental. O modelo de caminho independente é mais
parcimonioso que o anterior por impor uma estrutura à variância e às covariâncias
genética e ambiental, já que as estas não são livremente estimadas. Nesse modelo, o
efeito ambiental (ambiente compartilhado e não compartilhado) e genético estimado são
estruturados de maneira a permitir que as variâncias comum e específica (ou única)
sejam diretamente atribuídas às variáveis observadas. Semelhantemente ao modelo de
caminho independente, o modelo de caminho comum estrutura o efeito do ambiente
(compartilhado e não compartilhado) e da genética em termos gerais (variância comum
a todas as variáveis medidas) e específicos. Entretanto, o efeito comum da genética e do
ambiente não é atribuído diretamente às variáveis observadas, mas sim a um fenótipo
latente extraído por meio da variância comum obtida entre as variáveis observadas. O
36
modelo de caminho comum é o mais parcimonioso dentre esses, por utilizar apenas uma
variável latente para explicar toda a variância genética e ambiental comum às variáveis
empíricas.
Os três modelos apresentaram adequação estatística aos dados empíricos. Porém,
ao se utilizarem diferentes índices de comparação de modelos, o modelo de caminho
comum apresentou melhor equilíbrio entre adequação e parcimônia que os modelos
concorrentes. Além disso, o modelo proposto é invariante em relação ao sexo e
variáveis genéticas aditivas explicam a maior parte da variância (81%) no nível do traço
latente. Com relação aos determinantes ambientais e genéticos específicos (variância
não compartilhada entre as variáveis observadas), observou-se um efeito significativo
do ambiente compartilhado sobre a manifestação de transtorno de conduta na amostra,
um efeito genético específico sobre a manifestação do traço de personalidade incontido
e um efeito do ambiente não compartilhado sobre todas as variáveis examinadas. Outro
fato relevante dessa pesquisa para o desenvolvimento do Modelo Espectral de
Externalização é que, pela primeira vez, variáveis de personalidade foram modeladas
junto a diagnósticos psiquiátricos como indicadores latentes comuns do Fator de
Externalização.
As implicações desse estudo para a maneira como se investiga e se define a
etiologia dos transtornos mentais são de alta relevância, pois a herança genética passa a
não determinar o desenvolvimento de uma ou outra síndrome específica, mas sim a ser
uma tendência geral de vulnerabilidade à externalização. Apenas o traço de
personalidade mensurado apresentou determinação genética específica, o que mostra
que o mesmo gene ou grupo de genes que predispõe o uso ou a dependência de cocaína
também determinam conduta anti-social e impulsividade. Porém, um indivíduo pode
apresentar um diagnóstico de dependência química na ausência de conduta anti-social
37
devido ao efeito diferencial do ambiente na manifestação da externalização, por
exemplo.
Kendler et al. (2003) replicaram parcialmente os achados de Krueger et al.
(1998, 2002) em uma amostra de 5.600 gêmeos monozigóticos e dizigóticos de ambos
os sexos com médias de idade significativamente superiores ao do estudo anteriormente
descrito. O modelo apresentado por eles identificou dois fatores genéticos comuns,
sendo que o primeiro explicou a variância entre os padrões de comorbidade dos
diagnósticos de dependências de álcool, dependência/abuso de drogas, comportamento
anti-social em adultos e transtorno de conduta (fator externalizante) e o segundo
explicou a variância comum entre os diagnósticos de depressão maior, transtorno de
ansiedade generalizada e fobia (fator de internalização). Apesar de os resultados
apontarem para diferenças de sexo significativas em relação à incidência de certas
síndromes (as síndromes externalizantes sendo mais freqüentes entre homens e as
internalizantes mais freqüentes entre mulheres), a estrutura latente proposta é invariante
em relação ao sexo. Todavia, o modelo biométrico proposto por Kendler et al. (2003)
difere daquele proposto por Krueger et al. (2002), pois, desta vez, a estrutura que mais
bem acomodou o efeito da genética e do ambiente foi um modelo de caminho
independente e não o modelo de caminho comum.
2.3 ESTUDO PSICOFISIOLÓGICO
Até o momento em que esta dissertação foi escrita, Patrick et al. (2005) realizaram o
único estudo psicofisiológico publicado que avaliava a relação entre o fator
externalizante e a amplitude do potencial evocado, conhecido como P300. O P300 é
descrito como um potencial evocado positivo que ocorre em resposta à apresentação de
38
novos estímulos. Segundo os autores, diversas pesquisas têm associado o P300 ao uso e
à dependência de substâncias, especialmente à dependência de álcool, ao
comportamento anti-social e a déficits neurocognitivos relacionados ao funcionamento
executivo. Esse tipo de evidência os levou a hipotetizar que (1) o fator de externalização
deve ser capaz de predizer a amplitude do P300, (2) as conexões entre externalização e
P300 explicariam as relações entre álcool e P300 e, por fim, (3) a amplitude do P300
pode ser considerada um indicador das tendências a externalização.
O fator de externalização foi mensurado por meio de uma entrevista diagnóstica
avaliativa do uso de substâncias, da dependência de substâncias, comportamento anti-
social e de traços de personalidade incontidos, de forma que a soma dos escores resultou
em uma estimativa do fator de externalização. Os resultados mostraram uma clara
associação entre externalização e menores amplitudes do P300 na amostra estudada
(969 adolescentes do sexo masculino). A relação entre os diagnósticos específicos
avaliados (dependência de álcool, drogas e nicotina, transtorno de conduta e transtorno
de personalidade anti-social) e a amplitude do P300 foi explicada pela variância comum
entre as síndromes avaliadas (fator de externalização) e não pela variância específica de
cada uma delas. Além disso, ao se computarem os diagnósticos e amplitude do P300 em
uma matriz e rodar uma análise de componentes principais, observou-se que apenas um
componente era capaz e suficiente para explicar a maior parte da variância. Por
conseguinte, pode-se afirmar que o P300 mensura o fator de externalização. Esses
resultados evidenciam a natureza biológica do fator de externalização em um nível
fisiológico e sua validade como uma vulnerabilidade comum a uma série de domínios
psicopatológicos.
39
2.4 ESTUDOS PSICOMÉTRICOS
Krueger, Markon, Patrick e Iacono (2005) testaram se a covariância entre
transtornos externalizantes (transtorno de conduta, transtorno de personalidade anti-
social, dependência de álcool, dependência de maconha e dependência de drogas) seria
empiricamente mais bem descrita como indicadora de uma dimensão contínua que
apresentasse distribuição normal (modelo de traço latente) ou como de categorias
diagnósticas que co-ocorrem diferencialmente em função do agrupamento sintomático
(modelo de classe latente).
O modelo de traço latente e o modelo de classe latente são diferentes aplicações
da teoria de resposta ao item (para especificações estatísticas desses modelos ver
Krueger et al., 2005). O modelo de traço latente verifica se o padrão de comorbidade
entre síndromes psicopatológicas e seus sintomas seria mais bem descrito em termos de
uma dimensão latente contínua, em que os sintomas são explicitados em termos de
severidade e de discriminação. Assim, segundo esse modelo, um sintoma é severo se
sua localização se aproxima do extremo direito da distribuição normal. Assim sendo, os
sintomas mais severos discriminam melhor os indivíduos com fortes tendências
externalizantes e sintomas mais moderados discriminam indivíduos com capacidade
moderada de controle dos impulsos.
O modelo de classe latente divide os padrões de comorbidade em termos de
classes ou conglomerados sintomáticos e em termos de co-ocorrência probabilística.
Um grupo de indivíduos pode, dessa maneira, apresentar elevada propensão a
desenvolver dependência de alguma substância e apresentar baixa propensão ao
desenvolvimento de comportamento anti-social ou vice-versa. Entretanto, diante da real
40
possibilidade de o teste do modelo indicar que a presença de um diagnóstico ou a
elevada propensão em desenvolvê-lo, prediz o mesmo padrão para outro diagnóstico,
então, o modelo de classe latente não é apropriado, sendo mais indicado o modelo de
traço latente.
Os resultados de Krueger et al. (2005) indicaram que a comorbidade entre
síndromes externalizantes é mais bem descrita em termos de um modelo de traço latente
que apresente distribuição normal e que seja invariante em relação ao sexo. A
covariância entre transtornos externalizantes é, desse modo, deflagrada por uma
dimensão latente que apresenta diferentes níveis de severidade (leve, moderada e
severa) distribuídos ao longo da curva normal.
Apesar de tantas evidências acerca da validade do construto “externalização”, até o
momento, apenas um estudo psicométrico foi desenvolvido com o intuito de investigar
de maneira compreensiva e empírica esse construto. Assim sendo, Krueger et al. (no
prelo) buscaram desenvolver um método que avaliasse os principais elementos
candidatos ao fator de externalização por meio de uma avaliação de auto-relato. Esse
estudo apresenta destaque para os interesses dessa dissertação, uma vez que culminou
no desenvolvimento do Inventário de Externalização, cuja adaptação e validação é o
objetivo principal da mesma.
O método proposto por Krueger et al. (no prelo) consiste em um método misto entre
pesquisas exploratória e confirmatória. A construção de um modelo empírico e
compreensivo de um construto psicológico recente demanda que, primeiramente, se
examinem todas as possibilidades de manifestação do fenômeno e de seus elementos
constitutivos em um nível comportamental básico (fase exploratória), e somente então
que se testem hipóteses mais elaboradas acerca de sua estrutura latente e distribuição na
população (fase confirmatória). A construção de inventários torna isso possível por
41
colocar todos os elementos componentes do fator de externalização em um mesmo nível
de mensuração e por permitir uma coleta eficiente em um grande número de indivíduos.
Chegou-se à identificação dos elementos ou das facetas da externalização, assim
como ao conteúdo dos itens, através de um processo interativo, envolvendo a revisão da
literatura especializada, critérios diagnósticos e definições operacionais propostas pela
equipe da pesquisa. A coleta de dados foi realizada em três etapas, utilizando três
amostras clínicas (homens e mulheres em situação de cárcere) e três amostram não
sobrepostas de estudantes universitários, contabilizando um total de 1.787 participantes.
Na primeira e segunda etapas da coleta de dados, 11 domínios foram focalizados e na
terceira etapa quatro novos domínios foram adicionados ao inventário. Em cada uma
das etapas, cada domínio foi analisado com o objetivo de se encontrar e confirmar
agrupamentos unidimensionais e com características psicométricas adequadas, o que
resultou nas seguintes 23 facetas, derivadas originalmente de 15 domínios teóricos:
Agressão relacional, Agressão física e Agressão destrutiva constituíram três escalas
derivadas do domínio agressividade. O nome de cada uma delas reflete com acurácia o
seu conteúdo. A escala de Agressão relacional (19 itens) apresenta itens que avaliam a
tendência de se espalhar boatos e mentiras a respeito de outra pessoa, insultar e
interferir na vida de outrem. Comportamentos representados na escala de Agressão
física (21 itens) refletem agressão e contenção física de um terceiro, uso de armas,
crueldade com animais, etc. Agressão destrutiva (19 itens) refere-se ao vandalismo, à
destruição de propriedade e ao comportamento incendiário.
Empatia (31 itens) mede a capacidade do indivíduo de se colocar no lugar de outro,
de apresentar remorso diante de atos cometidos que possam prejudicar outra pessoa, etc.
Essa escala foi derivada do domínio falta de remorso, e seu conteúdo é bipolar:
42
respostas em uma direção deflagram tendências à frieza e ausência de remorsos, e na
direção oposta, compaixão para com o próximo.
Culpa externalizante (14 itens) avalia a tendência de um indivíduo de negar a
autoria de atos indesejados ou inconseqüentes e a sensação de ser acusado injustamente.
Um alto escore nessa faceta refletiria uma tendência a se descrever como indivíduo
inocente que tem sido culpado injustamente.
Alienação (09 itens) avalia o grau em que a pessoa não consegue atribuir a si as
conseqüências de seu comportamento social. O conteúdo inclui a noção de ter sido
“usado” ou manipulado pelos outros. Além disso, a falta de confiança no outro e
sentimentos de se ter sofrido maus-tratos estão igualmente representados.
Uso de álcool (23 itens) e Problemas com álcool (30) foram originalmente
derivadas do mesmo domínio. Os itens da escala Uso de álcool refletem a experiência
com o prazer proporcionado pelo uso de álcool e as situações em que este ocorre. Os
itens da escala de Problemas com álcool refletem a tendência ao abuso/dependência de
álcool, assim como as conseqüências do uso de álcool, inclusive o uso em situações de
risco.
As escalas Uso de maconha (17 itens) e Problemas com maconha (18 itens)
originaram-se do mesmo domínio. A escala de uso avalia a quantidade e as situações em
que o uso da maconha ocorre. A escala de problemas reflete as conseqüências negativas
do uso da maconha, abuso/dependência da substância, além do uso em situações de
risco.
Uso de drogas (13 itens) e Problemas com drogas (25 itens) originaram-se do
mesmo domínio. A escala de uso avalia a experiência com o uso de drogas sem se fazer
referência a conseqüências negativas. A escala de problemas reflete as conseqüências
43
negativas do uso, abuso e dependência de substâncias, inclusive o uso em situações de
risco. Os itens não fazem referência a drogas específicas.
Impulsividade problemática (20 itens) tem como alvo o domínio impulsividade.
Essa escala associa falta de autocontrole a suas possíveis conseqüências negativas.
Controle/planejamento (11 itens) tem como alvo o domínio impulsividade. Os itens
avaliam capacidade de postergação, planejamento e controle dos impulsos. Altos
escores descreveriam pessoas com alto poder de ponderação e ação planejada.
Urgência impaciente (12 itens) avalia o domínio impulsividade. Os itens refletem
impaciência diante da necessidade de realização de desejos. Elevados escores
descreveriam um indivíduo com desejos difíceis de serem domados.
Furto (15 itens) e Fraude (14 itens) são duas escalas derivadas do domínio
comportamento anti-social. A escala de Assalto avalia várias formas de crime de furto.
A escala de Fraude avalia a tendência à fraude, mentira e outras formas de
desonestidade com o intuito de conseguir dinheiro, sexo ou status social.
Honestidade (15 itens) avalia o domínio comportamento anti-social. Seus itens
refletem uma tendência geral à honestidade e confiança. Altos escores descreveriam um
indivíduo altamente confiável e que raramente mente.
Irresponsabilidade (25 itens) avalia várias formas de irresponsabilidade, inclusive
falha em se honrar compromissos sociais e monetários e obrigações formais.
Confiança (23 itens) avalia uma tendência geral do indivíduo em ser consciencioso
e confiável.
Rebeldia (15 itens) avalia a tendência a desobedecer às regras e aos outros.
Busca de excitação (18 itens) e propensão ao tédio (12 itens) originaram-se do
mesmo domínio. Busca de excitação reflete a tendência de um indivíduo em buscar por
44
excitação, emoções e aventura. Os itens de propensão ao tédio refletem uma tendência
geral a se sentir entediado facilmente diante de tarefas cotidianas.
A precisão de cada escala e do inventário foi calculada pelo índice ρ, que estima a
proporção em que o escore total do teste reflete variância do traço latente na amostra
avaliada. Todas as escalas apresentaram índices substancialmente elevados, de maneira
que a maioria alcançou índices acima 0.9.
A estrutura latente foi determinada por meio de análises fatoriais exploratórias e
análise hierárquica de conglomerados, seguida de análise fatorial confirmatória (AFC).
Todos os índices de adequação, de parcimônia e de comparação de modelos utilizados
indicaram que o modelo que melhor representa os dados coletados no estudo do
desenvolvimento do Inventário de externalização, dentre os três propostos (um modelo
unifatorial, um modelo de um fator de ordem-superior com dois subfatores e um modelo
hierárquico de um fator com dois subfatores), é um modelo hierárquico de um fator com
dois subfatores. O modelo representado pela Figura 02 descreve adequadamente o
modelo hierárquico encontrado: um fator latente (f0 – fator de externalização) satura a
variância comum entre todas as variáveis mensuradas (as 23 subescalas do Fator de
Externalização) e dois subfatores saturam a variância específica entre agrupamentos
dessas variáveis (o primeiro subfator referente às facetas que medem o domínio
agressividade/comportamento anti-social e o segundo subfator às facetas que medem o
domínio uso/problemas relacionado a substâncias; ver Tabela 1 para visualização da
estrutura fatorial encontrada por KRUEGER et al., no prelo).
45
FIGURA 2
REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DE UM MODELO HIERÁRQUICO DE UM FATOR COM DOIS SUBFATORES.
Legenda: no modelo, F0 representa o fator que satura a covariância das variáveis empíricas (v1 – V6) e dois subfatores (f1 e f2) que explicam a variância específica de agrupamentos entre as variáveis empíricas.
46
TABELA 1
CARGAS FATORIAIS NO MODELO HIERÁRQUICO DE UM FATOR COM DOIS
SUBFATORES PARA O INVENTÁRIO DE EXTERNALIZAÇÃO.
Facetas de Externalização λ1 λ2 λ3 Θ Agressão Relacional 0,619 0,676 0,000 0,198 Agressão Física 0,740 0,412 0,000 0,311 Agressão Destrutiva 0,654 0,551 0,000 0,301 Empatia -0,482 -0,554 0,000 0,485 Culpa Externalizante 0,508 0,238 0,000 0,697 Alienação 0,487 0,012 0,000 0,763 Problemas com Álcool 0,690 0,000 0,237 0,478 Uso de Álcool 0,449 0,000 0,357 0,681 Problemas com Maconha 0,751 0,000 0,476 0,232 Uso de Maconha 0,727 0,000 0,613 0,125 Problemas com Drogas 0,870 0,000 0,303 0,168 Uso de Drogas 0,790 0,000 0,490 0,160 Assalto 0,872 0,000 0,129 0,230 Fraude 0,870 0,264 0,000 0,195 Honestidade -0,541 -0,305 0,000 0,629 Irresponsabilidade 0,925 0,000 -0,011 0,143 Confiança -0,661 -0,152 0,000 0,549 Impulsividade Problemática 0,913 0,000 -0,036 0,164 Controle -0,661 -0,074 0,000 0,562 Urgência Impaciente 0,726 0,215 0,000 0,441 Rebeldia 0,794 0,305 0,000 0,300 Propensão ao Tédio 0,593 0,283 0,000 0,584 Busca de Excitação 0,555 0,457 0,000 0,506
Legenda: as cargas no fator geral de externalização estão descritas na coluna λ1; as cargas fatoriais nos dois subfatores estão descritas nas colunas λ2 e λ3; a variância residual está descrita na coluna Θ. Os índices em negrito destacam cargas fatoriais significativas
As propriedades psicométricas das facetas do inventário de externalização
apresentam distribuição normal e, quando observadas separadamente, cada uma
apresenta sensibilidade diferenciada para avaliar a tendência à externalização em
indivíduos com diferentes níveis de severidade. A escala uso de maconha parece ser
capaz de diferenciar bem as pessoas que se encontram na distribuição média do traço
latente; já as escalas problemas com drogas e agressividade destrutiva demonstram-se
mais sensíveis às diferenças individuais quando avaliam pessoas no extremo direito da
47
curva normal. Outras escalas, como busca de excitação ou impulsividade problemática,
mostram-se capazes de diferenciar indivíduos ao longo da distribuição de maneira
semelhante. Assim sendo, pode-se projetar que o fator de externalização apresenta
diferentes manifestações dependendo da severidade do traço. Um indivíduo com uma
intensidade média de externalização pode ser um cidadão normal que busca emoções,
com uso moderado de substâncias, relativamente confiável e que, eventualmente, se
coloca como “a vítima das injustiças do mundo”. Por outro lado, uma pessoa com alta
vulnerabilidade externalizante pode desenvolver dependência de substâncias, engajar-se
em atividade criminal, buscar inconseqüentemente emoções e se colocar
persistentemente como a “eterna e indefesa vítima de um mundo inescrupuloso”.
3 EXTERNALIZAÇÃO: DEFINIÇÃO E IMPLICAÇÕES PARA A
PSICOPATOLOGIA E PARA A PSICOLOGIA DA PERSONALIDADE
O fator de externalização é uma ampla dimensão psicobiológica das diferenças
individuais que predispõe um indivíduo ou o torna vulnerável a desenvolver um
transtorno mental do espectro de externalização. De maneira semelhante, o
desenvolvimento de certos traços de personalidade relacionados à busca de
sensações/novidades, impulsividade e (baixa) conscienciosidade são também
interpretados como fenótipos do construto externalização. Krueger et al. (1998) ainda
descrevem a externalização como uma orientação geral que coloca o indivíduo contra o
mundo, seja pela criminalidade, seja pelo desrespeito às regras.
O modelo de externalização (a Figura 3 traz uma ilustração do modelo espectral
de externalização) é concebido como um modelo espectral e hierárquico que unifica
transtornos externalizantes a determinados traços de personalidade por meio de um fator
48
latente de ordem superior (KRUEGER et al. 2002; KRUEGER et al, no prelo). Isso
significa que a covariância (ou comorbidade) entre síndromes psicopatológicas – como
transtorno de personalidade anti-social e dependência de substâncias – e traços normais
de personalidade que refletem o controle de impulsos são as manifestações de uma
mesma dimensão latente, cujo principal determinante é a herança genética. O modelo
hierárquico, entretanto, ainda pressupõe que variáveis específicas interagem sobre os
indivíduos de maneira a moldar essa tendência, tornando a manifestação de uma
síndrome mais provável que outra. Dessa maneira, um fator psicobiológico
vulnerabiliza indivíduos com semelhantes tendências externalizantes a desenvolver um
ou mais transtornos ou traços de personalidade. Por outro lado, variáveis específicas
tornam a manifestação de uma ou mais de suas facetas mais provável que de outras.
Assim, pode-se diagnosticar um indivíduo como dependente de cocaína sem que ele
necessariamente apresente comportamento anti-social, ao mesmo tempo em que se pode
localizá-lo em um contínuo em relação à população.
49
FIGURA 3
REPRESENTAÇÃO VISUAL DO MODELO ESPECTRAL DE EXTERNALIZAÇÃO.
Externalização
E1 En
…
Dependência de substâncias
Conduta Anti-social
Traços de Personali-
dade
E,sd,1 E,sd,n E,ab,1 E,ab,n E,dp,1 E,dp,n Mais específico
Mais amplo
Legenda: E1 e Em representam variáveis etiológicas comuns ao modelo de externalização. E, sd, 1/n; E, ab,1/n; E, dp, 1/n representam variáveis etiológicas especificas a cada um dos domínios que compõe o modelo
As implicações da utilização de um modelo espectral que unifica traços de
personalidade a transtornos mentais são nada menos que revolucionárias. Deary et al.
(2003) estabelece com muita clareza que o estudo da personalidade e o da
psicopatologia foram até meados da década de 80 tratados como áreas independentes de
pesquisa. Se por um lado a personalidade era mensurada por meio de modelos
dimensionais que apresentavam distribuição normal, por outro, as psicopatologias
sempre foram ― e até o momento ainda o são ― definidas como categorias
independentes que se ligam diretamente ao funcionamento anormal do psiquismo.
O desenvolvimento de modelos teóricos que unifiquem as áreas de estudo
“traços de personalidade” e “transtornos mentais” e que ao mesmo tempo dissequem os
determinantes dos diversos níveis (biológico, sócio-cultural, etc.) de cada área podem
trazer uma série de avanços tanto para a compreensão do comportamento normal quanto
do anormal. Outro aspecto fundamental reside na parcimônia e praticidade de se estudar
50
uma dimensão latente ampla que em grande parte é responsável pela manifestação de
uma série de problemas relevantes do ponto de vista social e individual. Por exemplo,
ao invés de se desenvolver um tratamento que foque unicamente a recuperação de
dependentes químicos, pode-se tentar programas terapêuticos que cerquem o fator de
externalização de maneira mais ampla, constituindo assim um tratamento focado no
controle de impulsos e com implicações para um grupo maior de pessoas com
problemas semelhantes, porém não idênticos.
A perspectiva tradicional passou a sofrer influência das séries de pesquisas que
começaram a estabelecer relações entre traços normais de personalidade e transtornos
mentais, como busca de sensações e uso de substâncias (STEPHENSON, HOYLE,
PALMGREEN; SLATER, 2003) ou comportamento de risco (DESRICHARD;
VIRGINIE, 2005). Todavia, tais relações, expressas por meio de índices de correlação,
apenas evidenciavam a co-ocorrência entre duas variáveis, de maneira que qualquer
relação causal ou de outra natureza não passariam de especulações. Dessa forma,
diferentes teóricos postularam e procuraram testar diferentes hipóteses acerca da
natureza da relação entre esses construtos (traços de personalidade e vulnerabilidade
psicopatológica) por meio de modelos estatísticos que permitem o estabelecimento de
relações causais entre os mesmos.
4 OBJETIVOS
O objetivo central do presente estudo é o de adaptar e validar fatorialmente o
Inventário de Externalização para um contexto cultural de Minas Gerais. Além disso,
pretende-se contribuir para o aprimoramento da conceitualização clínica e avaliação
51
psicológica de indivíduos altamente externalizantes – indivíduos com problemas
severos de controle de impulsos.
Essa dissertação será dividida em dois estudos principais que se ocuparão em:
descrever o processo de tradução e adaptação do Inventário de Externalização para o
contexto cultural local e discutir as implicações desse estudo para o procedimento geral
de adaptação de inventários de auto-relato, e analisar o instrumento do ponto de vista
psicométrico, por meio de análises de representação de construto – análise de
consistência interna e análise exploratória de fatores comuns.
5 ESTUDO I: TRADUÇÃO E ADAPTAÇÃO CULTURAL DO
INVENTÁRIO DE EXTERNALIZAÇÃO
A adaptação de instrumentos psicológicos – inventários, questionários ou testes
– de uma língua para outra requer uma série de cuidados, incluindo uma adaptação
cultural da língua de partida para a cultura da língua alvo. Dessa forma, garante-se a
equivalência entre a versão original e a versão adaptada do instrumento em questão. No
entanto, nota-se na literatura que, na maioria das vezes, os instrumentos psicológicos
são traduzidos de forma a negligenciar o impacto cultural (HAMBLETON; PATSULA,
1998; VAN DE VIJVER; HAMBLETON, 1996).
A importância de se levar em consideração o uso da língua no processo de
tradução e adaptação de um instrumento se dá por duas razões centrais. A primeira se
refere aos aspectos lingüísticos: não somente a linguagem se encontra inextricavelmente
ligada à cultura que possibilitou seu uso e articulação (OCHS; SCHIEFFELIN, 1995),
mas também os diferentes códigos lingüísticos não são isomórficos (HARKNESS;
SHOUA-GLUSBERG, 1998), de tal forma que uma expressão em inglês americano
52
pode não apresentar uma correspondência perfeita no português brasileiro, por exemplo.
A segunda razão se refere diretamente ao procedimento de validade de construto. Smith
(2005) pondera que o termo validade de construto não se limita unicamente aos
procedimentos de validação de instrumentos psicológicos, mas sim, e prioritariamente,
ao processo de validação de um modelo teórico por meio de métodos quantitativos.
Dessa maneira, todo e qualquer estudo científico que utiliza medidas psicológicas
padronizadas contribui significativamente para o status científico da teoria que motivou
e deu suporte para o desenvolvimento dessas mesmas medidas. Assim, o procedimento
de adaptação e validação de instrumentos para contextos culturais diferentes daquele em
que os mesmos foram desenvolvidos tem tido grande destaque por trazer informações
acerca da universalidade dos modelos psicológicos. Uma forte evidência disso é o
crescente número de publicações científicas com o objetivo de se verificar a estabilidade
da estrutura fatorial desses modelos em diversas culturas (MCCRAE; COSTA, 1997;
TERRACCIANO et al., 2005; BARRETT, PETRIDES, EYSENCK; EYSENCK, 1998,
por exemplo).
Assim sendo, uma preocupação ao se traduzir e adaptar o Inventário de
Externalização para o português brasileiro foi a de se garantir a equivalência entre o
conteúdo dos itens da versão original e da traduzida. Para tanto, o delineamento de
pesquisa utilizado se baseou no método postulado por Pasquali (2000 apud GRASSI-
OLIVEIRA, STEIN; PEZZI, 2006), em suas recomendações acerca da análise
semântica dos itens (PASQUALI, 1998) e, por fim, na própria da pesquisa de Carvalho,
Mansur e Flores-Mendoza (2004).
O procedimento proposto para o presente estudo se divide em seis etapas, a
saber: (1) tradução da versão estrangeira de um instrumento para a língua alvo, no caso,
tradução do inglês para o português brasileiro; (2) tradução reversa do português
53
brasileiro para a língua de partida (inglês); (3) comparação da tradução reversa, gerada a
partir da versão em português, com a versão original (em inglês) e identificação dos
itens cuja tradução não reflete exatamente o sentido original em inglês e que, em
decorrência, apresentam necessidade de adequação semântica; (4) reescrita dos itens
que apresentam necessidade de adequação semântica; (5) administração da versão
original e traduzida do instrumento, no caso, o Inventário de externalização, a uma
amostra de bilíngües com um intervalo de quinze dias entre uma aplicação e a outra; (6)
análise da inteligibilidade dos itens realizada a partir do desenvolvimento de uma lista
com os itens que apresentam problemas semânticos identificados na etapa cinco (etapa
bilíngüe).
O método proposto por Pasquali (2000) inspirou as etapas de tradução, tradução
reversa, conferência da correspondência semântica e reescrita dos itens inadequados. A
quinta etapa foi motivada pela pesquisa de Carvalho e colaboradores (2004), que
administraram o Big Five Questionnaire for Children (BARBARANELLI, CAPRARA;
RABASCA, 1998) em uma amostra de adolescentes brasileiros bilíngües – falantes de
italiano e de português – para a validação da tradução do questionário do italiano para o
português brasileiro. Esse procedimento consistiu em dividir a amostra bilíngüe em dois
grupos com igual número de participantes. Em um primeiro momento, aplicou-se em
um dos grupos a versão italiana do instrumento e, no outro, a sua versão traduzida.
Após 15 dias, inverteu-se a ordem de aplicação. O grupo que havia sido submetido à
versão original recebeu a versão traduzida e vice-versa, de modo que todos os
participantes tivessem respondido a ambas as versões do instrumento. A seguir,
analisou-se a consistência entre as respostas dadas à versão original e à traduzida por
meio de análises de correlação de Spearman. De maneira análoga, o Inventário de
Externalização foi ministrado a um grupo de estudantes universitários brasileiros
54
bilíngües, falantes de inglês e de português, a fim de se constatar a consistência entre as
respostas dadas à versão original e à traduzida.
A sexta etapa – análise de inteligibilidade dos itens – que utilizou a técnica de
brainstorming, recomendada por Pasquali (1998). Essa técnica consiste em reunir de
três a quatro pessoas do estrato educacional mais baixo da população-alvo e, em
seguida, apresentar-lhes um conjunto de itens – um de cada vez – e lhes pedir que
reproduzam o conteúdo dos itens com suas próprias palavras. Se o pesquisador julgar
que há apreensão adequada do significado do item por parte dos participantes, assegura-
se que o instrumento é inteligível. Caso sejam identificadas incongruências entre o que
é compreendido pelos participantes e o sentido que se esperava que o item transmitisse,
solicitaria aos participantes que sugerissem reformulações mediante a uma explicação
do conteúdo que supostamente deveria ser explicitado pelo item em questão.
O Estudo I tem como objetivo central a tradução e adaptação do Inventário de
Externalização para o português brasileiro. Para alcançar esse fim, ele foi estruturado
em três partes interdependentes, porém com diferentes objetivos. Na primeira parte,
apresentou-se o detalhamento das etapas 1-4, cujo principal objetivo foi o de assegurar o
maior paralelismo possível entre os itens traduzidos e suas versões originais, inclusive
no que tange ao nível de dificuldade de leitura e uso da língua, marcadamente coloquial.
Na segunda parte, apresentou-se o detalhamento referente à etapa cinco (etapa bilíngüe)
que teve como objetivo verificar a consistência entre as respostas dadas a cada item da
versão americana do inventário e o seu correspondente na versão brasileira, por meio de
análise correlações de Spearman. Essa fase culminou com a identificação dos itens que
apresentaram baixas correlações com o seu correspondente estrangeiro (item 1 em
português com o item 1 em inglês, por exemplo), revelando, assim, problemas com a
sua tradução e/ou adaptação para o contexto brasileiro, com o nível de competência em
55
inglês por parte de alguns dos participantes bilíngües ou com relação à sua adequação
cultural no que tange à mensuração do fator de externalização na população estudada.
Na terceira parte, foi pedido a um grupo de oito indivíduos com educação formal
máxima equivalente ao segundo grau que, por meio da técnica de brainstorming,
reproduzissem, com suas próprias palavras, o conteúdo dos itens problemáticos
identificados na fase anterior. Dessa forma, a compreensão desses itens por essa amostra
específica foi utilizada para orientar a sua reescrita.
5.1 – PARTE I: TRADUÇÃO DO INVENTÁRIO DE EXTERNALIZAÇÃO
5.1.1 – MÉTODO
A tradução da versão em inglês do Inventário de externalização para o
português brasileiro (etapa 1) foi realizada por um lingüista brasileiro (professor de
inglês) que também possui o título de bacharel em Psicologia. Cuidou-se que o referido
tradutor recebesse, juntamente com o material a ser traduzido, informações referentes às
características da população-alvo e a definição constitutiva do construto externalização.
Assim que a tradução foi concluída, o autor da presente dissertação e sua orientadora
conferiram, independentemente, a acurácia da tradução e propuseram as modificações
que julgaram necessárias.
A tradução reversa, do português brasileiro para o inglês (etapa 2), foi executada
por um falante de inglês britânico como língua materna, professor de ensino de inglês
como língua estrangeira na Faculdade de Letras da UFMG, altamente proficiente em
português. Este foi um procedimento cego, de forma que o tradutor não teve acesso à
versão original do inventário. Essa etapa teve como objetivo avaliar a correspondência
56
da versão traduzida com a versão original do inventário. Quando concluída, a tradução
reversa foi enviada ao grupo de Krueger, autores da versão americana do inventário,
para apreciação da semântica dos itens.
5.1.2 RESULTADOS
Os resultados consistiram dos dados qualitativos obtidos a partir da análise da
tradução reversa do Inventário de Externalização pelo grupo de Krueger (etapa 3). Após
cuidadosa análise, Krueger e colegas identificaram no corpo de itens traduzidos um
pequeno conjunto – 80 itens (19,2% do total de itens) – cuja tradução julgaram
inadequada por não parecer refletir exatamente o sentido original em inglês. A
apreciação feita sobre cada um desses itens foi tomada como referência para a sua
reescrita em português (etapa 4). Os itens reescritos foram novamente traduzidos para o
inglês por uma lingüista americana altamente proficiente em português – novamente por
meio de um procedimento cego – e reenviados ao grupo de Krueger para nova
apreciação. Desses 80 itens, 67 necessitaram de ajustes semânticos adicionais, sendo
reformulados e, então, novamente traduzidos por uma lingüista brasileira e reenviados
para uma terceira apreciação. Por fim, foram identificados 23 itens que necessitavam de
ajustes mínimos, sendo reformulados com base nas sugestões dos autores.
Ao se analisar o conteúdo dos itens que necessitaram ser reformulados três
vezes, identificou-se que, em todos os casos, havia presença de gírias cuja
correspondência cultural nem sempre apresentava o mesmo coloquialismo. A Tabela 2
mostra o detalhamento do procedimento de tradução e tradução reversa de um item,
dentre aqueles que necessitaram ser reformulados três vezes, em suas três versões: o
item original em inglês, suas versões em português e inglês (tradução reversa) e as
57
explicações dos autores sobre o significado do item mediante a incompatibilidade entre
o significado contido na versão original e na traduzida do item.
TABELA 2:
EXEMPLO DE UM ITEM REFORMULADO TRÊS VEZES DURANTE O
PROCEDIMENTO DE TRADUÇÃO DO INVENTÁRIO DE EXTERNALIZAÇÃO.
ESTÁGIOS DA TRADUÇÃO
VERSÕES EM INGLÊS, TRADUÇÕES PARA O PORTUGUÊS E TRADUÇÕES REVERSAS
Versão original em inglês
Primeira tradução
Tradução reversa
I enjoy pushing people around sometimes. Eu gosto de provocar as pessoas de vez em quando. I like to tease people sometimes
Explicação dos autores sobre o significado do
item
Segunda tradução
Tradução Reversa
I enjoy pushing people around …“means” I like to pressure and dominate people sometimes Eu gosto de pressionar e dominar as pessoas às vezes Sometimes I like to put pressure on people and to dominate them.
Nova tentativa dos autores de esclarecer o significado
do item
Terceira tradução
Tradução Reversa
I enjoy pushing people around…“means” I enjoy forcing people to do what I want…" Às vezes, eu gosto de pressionar as pessoas e fazer com que elas me obedeçam. Sometimes I like to put pressure on people and to make them obey me
58
5.2 PARTE II: ADMINISTRAÇÃO DAS VERSÕES AMERICANA E
BRASILEIRA DO INVENTÁRIO DE EXTERNALIZAÇÃO A UMA
AMOSTRA DE BILÍNGÜES.
Essa parte teve como objetivo avaliar a consistência entre as respostas dadas ao
Inventário de Externalização em sua versão original e na versão traduzida por um grupo
de jovens tidos como proficientes em sua língua materna, o português, e em inglês, a
língua na qual o instrumento em questão foi formulado – o chamado grupo bilíngüe. A
expectativa é a seguinte: se as duas versões do Inventário de Externalização – a
americana e a brasileira – são equivalentes, e se os participantes apresentarem um nível
aproximado de proficiência nas duas línguas, correlações significativas serão
encontradas nas respostas dadas pelos participantes nas duas versões do instrumento,
desde que se tratem de versões equivalentes.
5.2.1 PARTICIPANTES
Participaram dessa etapa 24 bilíngües, selecionados por meio da indicação de
professores de inglês do curso de Letras da UFMG (habilitação em inglês) e de um
curso particular de inglês, ambos situados em Belo Horizonte. Todos os participantes
tinham certificados reconhecidos de proficiência em inglês como língua estrangeira e 11
deles já haviam tido experiência mínima de seis meses de moradia em um país de língua
inglesa. A idade média dos participantes era de 22 anos e todos estavam cursando ou já
haviam completado o ensino superior.
59
5.2.2 MÉTODO
A administração das versões americana e brasileira do Inventário de
externalização ocorreu coletivamente nas salas de aulas do curso de inglês e no
Laboratório Computadorizado de Processos Psicológicos da UFMG. O intervalo entre a
aplicação das duas versões do inventário foi de 15 dias, de maneira que a metade dos
participantes respondeu primeiramente à versão americana e, após 15 dias, à versão
brasileira e a outra metade seguiu a ordem inversa (primeiro a versão brasileira e depois
a americana). Com esse controle, evitou-se um possível efeito que a ordem de aplicação
do inventário poderia ter causado nas respostas dadas aos itens. Com relação à
administração da versão americana, uma explicação padrão em inglês foi gerada para
cada um dos itens que continham gírias; essas explicações eram oferecidas caso o
participante manifestasse incompreensão quanto ao significado do item em questão.
Os protocolos referentes aos 24 participantes bilíngües foram tabulados em uma
matriz de dados do SPSS para Windows 14ª versão. A consistência entre cada item da
versão americana do inventário e seu correspondente na versão brasileira foi analisada
por meio de análise de correlação de Spearman, totalizando 415 correlações.
5.2.3 RESULTADOS
De um total de 415 correlações efetuadas entre os itens originais e os traduzidos,
69 (cerca de 16,6% do total) apresentavam índices não significativos (menores que 0,4),
313 (cerca de 75,42% do total) mostravam índices significativos (entre 0,4 e 0,99) e 33
(cerca de 7,95% do total) evidenciaram índices perfeitos de correlação.
60
Para se obter uma maior compreensão dos 69 itens com índices não significativos
de correlação, efetuou-se uma segunda análise em que apenas os dados referentes aos 11
participantes que haviam morado por minimamente seis meses em algum país de língua
inglesa foram utilizados. O resultado dessa análise mostrou, então, que apenas 36 itens
apresentaram correlações menores que 0,4, 29 itens apresentaram correlações entre 0,4 e
0,99 e 4 itens apresentaram índices perfeitos de correlação. Como houve diminuição do
número amostral de 24 para 11, levou-se em consideração apenas as correlações que
apresentassem um coeficiente de correlação acima de 0,4, desconsiderando-se o nível de
significância, já que, com essa redução de sujeitos, para se obter resultados
significativos ao nível de 0,05, a correlação deveria ser muito elevada.
Três hipóteses foram levantadas com o objetivo de se identificar a razão pela
qual 36 itens não apresentaram índices de correlação acima de 0,4: (1) os participantes
bilíngües não compreenderam adequadamente o conteúdo do item em inglês; (2) o seu
equivalente em português pode ter sido mal formulado ou mal traduzido e (3) o
conteúdo do item não se mostrou culturalmente válido para a estimação da tendência à
externalização.
Essas hipóteses foram verificadas por meio da análise de correlação do item com
o escore total no inventário (correlação item-total). Dessa maneira, se um item em
português apresentasse uma correlação significativa com o escore total em português,
teríamos evidência de que o item mede o mesmo construto que o teste como um todo e,
portanto, provavelmente, o problema relativo à baixa correlação estabelecida entre um
item e o seu correspondente em inglês está na compreensão do item em inglês por parte
dos respondentes. Se o padrão oposto for o encontrado, ou seja, um item em inglês
apresentar elevada correlação com o escore total em inglês e o seu correspondente um
baixo índice em português, teríamos, então, um indicativo de que o item em inglês mede
61
o mesmo domínio que o inventário e a baixa correlação com o seu correspondente em
português é fruto de sua má formulação/tradução. Caso fossem encontradas baixas
correlações item-total em ambas as versões do inventário, a hipótese três, de
inadequação cultural do item, confirmar-se-ia.
Dos 36 itens assim avaliados, somente seis geraram baixas correlações com o escore
total em português, atestando sua má formulação ou tradução, sendo reformulados
previamente à etapa de inteligibilidade dos itens. Outros sete itens geraram baixas
correlações com ambos os escores, indicando inadequação cultural. Todo o restante (23
itens) apresentou elevada correlação item-total em português e baixo em inglês,
demonstrando incompreensão do item em inglês pela amostra. Além disso, o escore
total da versão americana foi correlacionado (r de Pearson) ao escore total da versão
brasileira e encontrou-se um escore significativo, ao nível de 0,05, equivalente a 0. 96.
5.3 PARTE III – ANÁLISE DA INTELIGIBILIDADE DOS ITENS POR
MEIO DA TÉCNICA DE BRAINSTORMING
5.3.1 MÉTODO
Objetivou-se nesse momento a investigação do nível de compreensão dos 13 itens
identificados como problemáticos na análise bilíngüe. Esses itens se referem à versão
reformulada dos seis itens classificados como mal traduzidos e aos sete itens
considerados culturalmente inadequados. Em conjunto, eles serviram de base para se
compor a lista que foi exposta aos participantes do procedimento de brainstorming a
fim de que a inteligibilidade de cada item fosse avaliada.
62
5.3.2 PARTICIPANTES
Participaram dessa fase oito indivíduos com nível educacional equivalente ao
segundo grau, naturais de Belo Horizonte, selecionados pela equipe de pesquisa. A
cada participante foi solicitado que relatasse, individualmente, o que entendia sobre
cada um dos itens da lista. Com base na qualidade e na unanimidade das respostas
obtidas, averiguou-se se o significado do item foi apreendido por parte de cada
participante conforme o esperado.
5.3.3 RESULTADOS
Os resultados apontaram para a necessidade de reformulação semântica de apenas
três itens dentre os 13 que compunham a lista, levando à modificação de eu sou uma
pessoa que faz planos para eu sou uma pessoa que faz planejamentos, de eu já restringi
alguém fisicamente para eu já forcei alguém fisicamente e de às vezes, eu gosto de
pressionar as pessoas e fazer com que elas me obedeçam para às vezes, eu gosto de
mandar (controlar) nas pessoas. Nos três casos, os itens faziam parte daqueles
identificados na análise bilíngüe como “culturalmente inadequados”.
O trabalho de tradução – Parte I – e de ajuste da tradução original – Partes II e III –
culminou na versão brasileira do Inventário de Externalização, cujos itens foram
submetidos à análise de consistência interna.
63
5.4 DISCUSSÃO DO ESTUDO I
A presente pesquisa teve como objetivo geral traduzir e adaptar o Inventário de
Externalização desenvolvido por Krueger e colaboradores (no prelo) para o português
brasileiro de modo a possibilitar sua utilização em adultos, independentemente de seus
perfis educacionais e psicológicos. Esse instrumento possibilitará a avaliação de toda a
amplitude do espectro de externalização, desde suas manifestações mais tênues e
normais até de suas manifestações mais intensas e patológicas. Esse objetivo foi
atingido por meio de três estudos interdependentes que, por sua vez, apresentaram metas
específicas. Na parte I do Estudo I, o procedimento de tradução do Inventário de
Externalização para o português brasileiro é descrito. Na parte II do Estudo I, as versões
americana e brasileira desse inventário foram aplicadas em uma amostra de bilíngües
com o objetivo de verificar a validade da tradução do inventário para o português e
identificar itens possivelmente mal formulados ou culturalmente inadequados. Na parte
III do Estudo I descreveu o procedimento realizado para se avaliar a inteligibilidade dos
itens adaptados para o português que apresentaram inconsistência no estudo anterior e, a
partir das informações sobre a inteligibilidade desses itens, reformulações foram
propostas a fim de torná-los compreensíveis a indivíduos com diferentes níveis
educacionais.
Com relação ao Parte I, merece destaque o procedimento cego de tradução da
versão brasileira do Inventário de Externalização para o inglês (tradução reversa) e a
participação ativa dos autores da versão original do inventário durante todo o processo
de tradução de seu instrumento para o português. Por meio da tradução reversa, Krueger
e colaboradores puderam constatar a acurácia dos itens traduzidos para o português e
oferecer explicações adicionais sobre o significado dos itens cuja tradução não revelou o
significado sutil e subjacente de seus equivalentes na versão original. Assim, pôde-se
64
construir a versão em português do Inventário de Externalização que não somente
manteve-se fiel ao significado das informações contidas no original, mas também
preservou o seu mesmo formato.
A Parte II do estudo I permitiu a verificação da acurácia da tradução dos itens do
Inventário de Externalização para o português por meio da utilização de sujeitos
bilíngües. A avaliação desses sujeitos se mostrou proveitosa na identificação de seis
itens que necessitavam de reformulações e de outros sete que seriam, possivelmente,
inadequados para a mensuração do fator de externalização no contexto de universitários
mineiros e, possivelmente, de brasileiros de maneira geral.
Esses resultados, todavia, não puderam ser considerados como inequívocos, uma
vez que a maioria dos itens avaliados nessa etapa (23 em 36) apresentaram baixas
correlações item-total com a versão em inglês e altas correlações com a versão em
português, indicando limitações de compreensão do inglês por, pelo menos, parte dos
bilíngües. Além disso, o número reduzido de participantes bilíngües e a dificuldade de
se controlar o efeito de teste-reteste indicam a presença de variáveis intervenientes
importantes. A análise de inteligibilidade dos itens – relatada na Parte III – contribuiu
para a reformulação de mais três itens identificados como “culturalmente inadequados”
anteriormente à coleta de dados, garantindo, assim, a inteligibilidade do conteúdo do
instrumento em camadas educacionais menos privilegiadas.
Com base nos procedimentos descritos, considera-se que o método utilizado
para a tradução e adaptação cultural do Inventário de Externalização foi bem sucedido
por ter permitido que os itens originalmente formulados em inglês e traduzidos para o
português brasileiro apresentassem equivalência semântica, de forma que ambas as
versões refletissem o uso cotidiano da linguagem em seus respectivos contextos
culturais. Todavia, recomenda-se cautela no que se refere ao uso de participantes
65
bilíngües como uma maneira de se estimar a equivalência entre itens por duas razões
principais, a saber: em primeiro lugar, é muito difícil se estimar adequadamente o nível
de proficiência lingüística dos participantes na língua-alvo, principalmente no que
concerne ao conhecimento de gírias e de linguagem cotidiana; em segundo lugar, essa
experiência mostrou que é relativamente difícil se encontrar um número suficientemente
grande de participantes verdadeiramente proficientes em língua estrangeira que permita
análises mais complexas e inequívocas.
Essas razões são particularmente relevantes dependendo da similaridade das
línguas em questão. Possivelmente, o sucesso de Carvalho e colaboradores (2004) no
uso de bilíngües para averiguar a consistência entre a versão original e a traduzida do
Big Five Questionnaire for Children deveu-se à semelhança do italiano e do português e
pela intensa presença de descendentes de italianos em Minas Gerais, o que facilitou a
identificação de bilíngües verdadeiros de português e italiano em Belo Horizonte.
Adicionalmente, o uso de participantes bilíngües poderia ter sido mais proveitoso caso
fosse possível se realizar um delineamento como o de, por exemplo, Sireci e Berberoğlu
(2000) que analisaram a equivalência dos itens, em duas amplas amostras paralelas
aleatórias de estudantes universitários turcos tendo o inglês como segunda língua, por
meio da aplicação da teoria de resposta ao item. Este procedimento permitiu testar
equivalência dos itens originais e traduzidos tendo-se como parâmetro índices
estatísticos e inferências acerca do funcionamento diferencial dos itens em ambas as
línguas.
66
6 ESTUDO II: ANÁLISE DE REPRESENTAÇÃO DO CONSTRUTO
Assim como pontua Strauss (1995), o período compreendido entre as décadas de
quarenta e cinqüenta do século passado foi fundamental para o crescimento da avaliação
psicológica. Em grande parte, esse crescimento se deveu à formulação e elucidação do
conceito de Validade de Construto por Cronbach e Meehl (1995). Em sua formulação
original, validade de construto era tida como um meio pelo qual era possível validar
instrumentos cujo construto não poderia ser operacionalmente definido por um critério
externo definitório. Dessa maneira, fazia-se necessário utilizar medidas indiretas para se
assegurar a validade da medida em questão.
É importante ressaltar que até meados do século passado a psicologia era
profundamente marcada pelo modelo comportamental e, portanto, a psicometria
também era fortemente influenciada por um modelo ambientalista (PASQUALI, 2003).
Como uma psicologia pré-cognitivista não poderia utilizar de teorias e conceitos
mentalistas para explicar a origem e/ou a manutenção de um domínio psicológico, um
critério externo – e não a teoria psicológica – era tido como parâmetro de validade.
Atualmente, o conceito de validade de construto não se limita unicamente aos
procedimentos de validação de instrumentos psicológicos, mas, sim, e prioritariamente,
ao processo de validação de uma teoria por meio de métodos quantitativos (SMITH,
2005), já que a medida de um atributo psicológico depende diretamente da precisão, da
consistência, da replicabilidade e do nível de detalhamento em que uma teoria é
construída.
Smith (2005) propõe um método de cinco etapas para o estudo da Validade de
Construto, a saber: (1) especificação cuidadosa da teoria que dá suporte ao construto em
questão; (2) articulação da teoria em termos de hipóteses testáveis; (3) especificação do
67
delineamento de pesquisa a ser implementado; (4) articulações de como os dados
confirmam as hipóteses propostas; e (5) revisão da teoria e do construto avaliado com
base nos resultados produzidos pela pesquisa. Essas cinco etapas foram precedidas por
uma ampla e detalhada revisão da teoria central (Modelo Espectral de Externalização) e
das teorias periféricas (Psicologia da Personalidade, Psicopatia, entre outras) que dão
suporte ao construto examinado, de maneira que essa revisão é tida como o marco
norteador para cada uma das cinco etapas. Desse modo, tanto o delineamento da
pesquisa quanto a própria operacionalização do construto em termos das cinco etapas
descritas por Smith dependem desse referencial teórico.
As quatro primeiras etapas são caracterizadas pela presença de desafios cuja
solução condicionará ou não o sucesso do procedimento adotado para se validar um
determinado construto. O primeiro desafio refere-se à etapa de especificação teórica do
construto e tem como objetivo verificar a consistência lógica e empírica do modelo
teórico que embasa o construto. Enquanto um modelo teórico consistente e
empiricamente evidenciado propicia a construção de definições constitutivas
inequívocas, modelos teóricos fracos podem motivar definições constitutivas profusas e
difíceis de serem operacionalizadas. O segundo desafio relaciona-se à geração de
hipóteses que possam, efetivamente, falsear o construto operacionalizado. O terceiro
desafio concentra-se na possibilidade de se programar um método que isole
adequadamente as hipóteses a serem testadas. O quarto desafio centra-se no modo como
as observações empíricas obtidas interagem com o corpo teórico que circunda o
construto estudado. A quinta etapa não se caracteriza por um desafio; sua função reside
no modo como a teoria outrora revisada será confirmada ou modificada diante das
evidências produzidas pela pesquisa realizada. A Figura 2 traz uma reprodução do
modelo proposto por Smith (2005).
68
FIGURA 4
MODELO DE VALIDADE DE CONSTRUTO SEGUNDO SMITH (2005).
Revisão Teórica
Especificação
Teórica Delineamento da Pesquisa
Observação Empírica
Geração de Hipóteses
Desafio: clareza e consistência da
teoria
Desafio: desenvolvimento de
hipóteses que permitam testar a
teoria
Desafio: desenvolvimento
de um delineamento que permita isolar e testar a hipótese
Desafio: integração das observações empíricas ao
corpo hipotético
Revisão Crítica
O estudo de validação do Inventário de Externalização proposto para essa
dissertação contempla, com alguma limitação, todos os passos propostos por Smith
(2005). Entretanto, por se tratar de um estudo inicial, exploratório e que se limita ao
formato e alcance de uma dissertação de mestrado, não se pressupõe que os resultados
apresentados sejam definitivos, principalmente no que se refere à última etapa, em que
se avalia o impacto dos achados sobre o estado da arte.
A análise de representação do construto pode ser considerada como um grupo de
procedimentos cujo objetivo repousa em se verificar se a consistência interna e a
estrutura latente da medida utilizada representam o construto estudado (PASQUALI,
69
2003). Há dois procedimentos estatísticos principais aplicados a esse propósito: a
análise de consistência interna e a análise de fatores comuns. A aplicação desses
procedimentos será especificada na próxima seção.
6.1 MÉTODO
6.1.1 PARTICIPANTES
A amostra contou com a participação voluntária de 258 universitários (39,1% de
homens) que responderam coletivamente, durante o período letivo, à versão brasileira
do Inventário de Externalização. Os respondentes eram originários de diferentes áreas
de formação e de diferentes instituições universitárias, de maneira que 16,7% eram
estudantes da área de saúde (fonoaudiologia e fisioterapia e terapia ocupacional), 45,7%
da área de ciências humanas (psicologia, letras, antropologia e comunicação) e 37,6%
da área de artes (artes cênicas, design gráfico e design de produtos). A Tabela 1 traz
uma descrição mais detalhada da amostra.
Previamente à coleta dos dados, procurou-se obter não somente o consentimento
dos diretores das unidades onde foram coletados os dados, mas também dos professores
que permitiram a utilização de seu horário de aula para realizá-la. Os dados foram
coletados, tanto em cursos matutinos como noturnos.
70
TABELA 3
ESTATÍSTICA DESCRITIVA DA AMOSTRA
Área N (%) Sexo
♂ ♀
Idade média (desvio
padrão)
Saúde 43 (16,7%) 05 (5%) 38 (24,2%) 23,1 (4,8)
Humanas 118 (45,7%) 35 (34,7%) 83 (52,9%) 24,2 (5,1)
Artes 97 (37,6%) 61(60,4%) 36 (22,9%) 23,8 (6)
Total 258 (100%) 101(39,1%) 157(60,9%) 23,5 (5,1)
Legenda: a totalidade da amostra e sua divisão por área de estudo é descrita na Tabela 3. Essa foi a base amostral utilizada na etapa de análise de consistência interna e análise de fatores comuns.
6.1.2 PROCEDIMENTOS
Os dados foram coletados voluntariamente por quatro estudantes do curso de
graduação de psicológia da UFMG que já haviam concluído as disciplinas obrigatórias
de avaliação psicológica, tendo, desse modo, concluído a métade da graduação. Além
disso, foi delineado um procedimento padrão para a aplicação do Inventário de
Externalização que consistia de uma instrução que deveria ser lida anteriormente à
aplicação do inventário:
“Esta pesquisa objetiva avaliar o padrão do uso de substâncias químicas e de
alguns comportamentos relacionados em estudantes universitários. O questionário que
vocês acabaram de receber cosiste de 415 afirmações que avaliam o seu uso de
substâncias, como álcool e/ou drogas ilícitas, além de o seu modo cotidiano de agir e
pensar. Respondam espontaneamente a todos afirmativas na ordem em que elas
aparecem no questionário. Para cada afirmação existem quatro alternativas: V=
verdadeiro, v = em grande parte verdadeiro, f= em grande parte falso, F= falso.
71
Marque a alternativa que melhor lhe descreva, não há respostas certas ou erradas,
escolha apenas a resposta que melhor descreve você.”
6.1.3 ANÁLISE DOS DADOS
A análise da consistência interna pelo método Alpha de Cronbach e a análise
exploratória de fatores comuns foram as duas técnicas estatísticas escolhidas para se
analisar a consistência interna/homogeneidade e a dimensionalidade (ou estrutura
latente) do Inventário de Externalização, respectivamente. Esses procedimentos
psicométricos são considerados os métodos clássicos para a investigação da
representação empírica de um construto (PASQUALI, 2003). Ambos os procedimentos
destacados serão explicados de forma a contextualizar sua relevância para o estudo da
validade de construto.
6.1.4 CONSIDERAÇÕES ACERCA DA ANÁLISE DE FIDEDIGNIDADE
A análise de consistência interna é um método clássico de estimação da
fidedignidade ou precisão de um teste psicológico que se resume em calcular as
correlações existentes entre cada par de itens e o escore total da medida. O seu uso
como uma medida de homogeneidade se justifica pela premissa de que se os itens de
uma escala têm por objetivo a mensuração de elementos de um mesmo construto, estes
devem estar correlacionados uns com os outros e com o escore total (PASQUALI,
2003; ANASTASI; URBINA, 2000). O coeficiente alpha (também conhecido como
Alpha de Cronbach) é uma maneira eficiente de se examinar a intensidade dessas
72
correlações em medidas que utilizam itens com possibilidades múltiplas de resposta,
como é o caso do Inventário de Externalização.
Para medidas psicológicas, existe uma convenção de que o coeficiente alpha
deve ser superior ou minimamente igual a 0,7, de maneira que coeficientes acima de 0,8
e 0,9 são considerados muito bons e admiráveis, respectivamente (HAIR et al, 2005).
Entretanto, o cálculo subjacente ao coeficiente alpha depende de duas variáveis que, se
não interpretadas cuidadosamente, podem levar a uma superestimação ou subestimação
da real magnitude da consistência da medida. A primeira delas se refere à extensão da
medida (número de itens) e a segunda à heterogeneidade da amostra, manifestada por
meio da variabilidade de respostas dada aos itens. A fórmula do coeficiente alpha
(extraída de ANASTASI, URBINA, 2000) está detalhada abaixo:
rtt = (n/n – 1)DPt2 – Σ(DPt
2) / DPt2
O coeficiente de fidedignidade do teste (rtt) é calculado por meio do produto
entre número de itens presentes no teste (n) e a soma das variâncias dos escores dos
itens (DPt2). Assim sendo, mesmo que a intensidade das correlações entre os itens se
mantiver inalterada, o coeficiente alpha será maior com a ampliação do número de itens.
Se por um lado, um maior número de parâmetros (itens) para a estimação de um
construto amplia a probabilidade de que ele seja mensurado mais precisamente e,
portanto, justifique um coeficiente alpha mais elevado, por outro lado, o mesmo pode
representar uma estimação inflada da real consistência interna da medida. De maneira
análoga, a heterogeneidade da amostra (representada na fórmula pela soma dos desvios
padrões) pode afetar a consistência interna, já que o cálculo da correlação depende da
variabilidade das respostas dadas aos itens, de tal modo que uma elevada
homogeneidade amostral pode produzir um coeficiente baixo devido não às
características métricas do instrumento, mas sim às características da amostra.
73
No que tange à análise da consistência interna do Inventário de Externalização,
ambas as limitações descritas devem ser levadas em consideração. O elevado número de
itens que compõem o inventário (415 itens) pode provocar uma superestimação do
coeficiente alpha e, de maneira oposta, a homogeneidade da amostra – composta
somente por estudantes universitários – uma subestimação do mesmo. Há, todavia,
maneiras de se saber se a extensão da medida e a suposta homogeneidade da amostra no
construto estudado afetam, de fato, o coeficiente alpha encontrado.
Ao se realizar uma análise de consistência interna, outras informações relevantes
além do coeficiente alpha total são disponibilizadas, a saber: a correlação item-total e o
coeficiente alpha if item deleted, caso um determinado item fosse excluído. Esses
indicadores permitem uma análise qualitativa do alpha encontrado, uma vez que a
presença substancial de correlações item-total baixas e de itens cuja exclusão
contribuiria para o melhoramento do coeficiente de consistência interna indicaria que,
apesar de um alpha adequado, o instrumento necessita de reformulações e que o alpha
deve ser cuidadosamente interpretado.
Assim sendo, devido à amplitude do Inventário de Externalização, a
interpretação da magnitude do coeficiente alpha será um pouco mais severa do que é
recomendado pela literatura, de maneira que apenas um coeficiente acima de 0,8 será
considerado como um indicador adequado de fidedignidade da medida. Além disso,
serão estimados os coeficientes alpha de cada uma das escalas e, devido ao reduzido
número de itens que compõem algumas delas (09 itens da escala de alienação, por
exemplo), serão utilizadas as recomendações de Hair et al. (2005) de que alphas acima
de 0,7 são adequados.
74
6.1.5 CONSIDERAÇÕES ACERCA DA ANÁLISE EXPLORATÓRIA DA
ESTRUTURA FATORIAL
A análise exploratória de fatores comuns3 (AEFC) é uma ferramenta estatística
multivariada que trabalha com a suposição de que uma série de variáveis empíricas
correlacionadas pode ser explicada por um número menor de variáveis hipotéticas,
chamadas de fatores (PASQUALI, 2003; HAIR, ANDERSON, THATAN, BLACK,
2005). Seu valor para a psicometria reside em sua capacidade de definir a estrutura
latente de uma matriz de dados, reduzindo-a e maximizando o seu poder explicativo
(HAIR et al., 2005). Além disso, esse método estatístico tem sido comumente utilizado
como um instrumento de validação de construto em diversas áreas da psicologia, com
especial ênfase no estudo psicométrico da personalidade.
A matemática subjacente à AEFC é bastante complexa, envolvendo tanto
conhecimentos avançados em estatística inferencial como em álgebra linear, de forma
que discussões aprofundadas a esse respeito fogem completamente dos objetivos do
presente trabalho (para uma discussão aprofundada desse tema, ver McDonald, 1985).
Todavia, pode-se dizer que a lógica por detrás do uso da AEFC reside na necessidade de
se explicar o motivo da correlação entre determinadas variáveis empíricas. “A AEFC
assume que existe um número de variáveis não observadas (fatores comuns) que
explicam as correlações entre variáveis empíricas, de modo que, ao se controlar
estatisticamente essas variáveis, a correlação parcial entre as variáveis empíricas será
equivalente zero” (McDonald, 1985, p.50). A porção da variância de cada variável que
não puder ser explicada pelos fatores comuns é chamada de variância específica ou
3 Análise exploratória de fatores comuns é mais comumente encontrada na literatura sob a rúbrica de “análise fatorial exploratória”. Entretanto, esse termo é ambíguo, já que seu uso não implica necessariamente na aplicação da análise de fatores comuns, podendo ser muito facilmente confundido com a análise de componentes principais.
75
única e, do ponto de vista da álgebra linear, essa variância não está correlacionada com
os demais itens e, assim, não contribui para a explicação de um modelo baseado em
fatores comuns.
Apesar de ser ampla a utilização da AEFC em pesquisas psicológicas, o seu
emprego tem refletido, em diversas fontes, a desinformação de pesquisadores acerca de
sua aplicação, de seus pressupostos e de como reportar seus resultados (RUSSEL, 2002;
FABRINGER, WEGENER, MCCALLUN, STRAHEN, 1999; COSTELLO,
OSBORNE, 2005). Fabringer et al. (1999) ressaltam cinco passos que devem ser
tomados no momento em que se decide pela utilização da AEFC:
primeiramente, deve-se decidir quais variáveis serão incluídas na análise e o
tamanho e a natureza da amostra a ser utilizada;
em segundo lugar, deve-se avaliar se a AEFC é a técnica mais apropriada a ser
utilizada, levando-se em consideração os objetivos da pesquisa;
em terceiro lugar, ao se assegurar de que a AEFC é apropriada, o pesquisador
deve ser capaz de decidir qual é o método de extração a ser utilizado;
em quarto lugar, o pesquisador deve ter uma hipótese acerca do número de
fatores a serem extraídos;
finalmente, faz-se necessário utilizar um método de rotação para a solução
fatorial inicial.
De maneira geral, regras pontuais com relação ao número amostral sugerido para a
realização da AEFC quase que desapareceram totalmente na literatura (COSTELLO;
OSBORNE, 2005). Entretanto, há autores (HAIR et al., 2005) que aconselham um
número mínimo de cinco sujeitos por variável. Assim sendo, o número de variáveis a
76
ser incluído nessa análise é equivalente ao número de escalas (ou facetas) presentes no
Inventário de Externalização, perfazendo um total de 23 variáveis. Esse estudo contou
com um total de 11,2 observações por variável (258 participantes/23 variáveis). Além
disso, outros indicadores foram utilizados para avaliar a adequação da amostra para a
implementação da AEFC, como a matriz de anti-imagem, o coeficiente de Kaiser-
Meyer-Olkin (KMO), o teste Barttlet de esfericidade e a medida de adequação da
amostra (MSA). Essas medidas quantificam o grau de intercorrelação das variáveis
computadas, de forma que coeficientes de KMO e de MSA acima de 0.6 são aceitáveis,
acima de 0.7 são moderados e acima de 0.8 são admiráveis, e resultados significativos
no teste Barttlet de esfericidade indicam a existência de correlações significativas na
matriz de dados (HAIR et al., 2005).
Como já especificado, a AEFC é utilizada sempre que há necessidade de se
identificar a estrutura latente de um conjunto das variáveis empíricas correlacionadas.
Os objetivos do presente estudo estão em perfeita consonância com os pressupostos da
análise de fatores comuns, sendo o seu uso, dessa forma, altamente recomendado.
Diferentes métodos de extração fatorial são oferecidos por pacotes estatísticos
usados por psicólogos. O SPSS 14ª versão, por exemplo, dispõe de sete diferentes
métodos de extração (ou estimação), dentre os quais os mais utilizados na pesquisa
psicológica são a análise de componentes principais (ACP) e os estimadores fatoriais de
máxima verossimilhança (Maximun Likelihood, ML) e o de eixos principais (Principal
Axis Factoring, PAF) (FABRINGER et al., 1999). Além destes, unweighted least
squares (ULS) também será considerado devido à sua superioridade estatística sobre
ML no que tange à recuperação de fatores fracos e devido à ausência de pressupostos
ligados à distribuição da amostra (BRIGGS; MCCALLUM, 2003).
77
A ACP não se trata de um procedimento de análise de fatores comuns, mas sim de
um método de redução de dados. Esse tipo de análise fixa as comunalidades (o
quadrado das correlações múltiplas entre as variáveis empíricas e os fatores comuns
extraídos) iniciais como iguais a 1.0. Isso significa que a variância presente em cada
variável da análise é inteiramente explicada pelos componentes extraídos, sem que haja
qualquer diferenciação entre variância comum e específica. Por essa razão, a ACP
apenas reduz um grupo de variáveis empíricas correlacionadas em termos de variáveis
compostas, com o intuito de maximizar o seu poder explicativo, sem que haja a
necessidade de uma suposição teórica acerca da representação de um construto.
PAF é um método de análise de fatores comuns matematicamente muito semelhante
à ACP, de forma que sua única diferença reside na maneira como são calculadas as
comunalidades. Diferentemente da ACP, a PAF usa o quadrado das correlações
múltiplas (squared multiple correlations) como estimativa das comunalidades e, então,
as dispõe na diagonal da matriz de correlações que servirá de base para a extração
fatorial. Em outras palavras, o método discrimina aquilo que é variância comum,
extraindo fatores por meio dela, daquela variância que é única (Russel, 2002). Apesar
desse método ser legitimamente um procedimento de extração de fatores comuns, ele
não será utilizado devido à sua inferioridade estatística em relação aos estimadores de
ML e de ULS.
ML constitui um tipo de estimação fatorial utilizada para fazer inferências acerca
dos prováveis parâmetros (fatores comuns, no caso da análise fatorial) subjacentes a um
conjunto de dados correlacionados e cuja distribuição é ou se aproxima da normal
(McDonald, 1985). De maneira simplificada, o estimador de máxima verossimilhança
objetiva adequar os dados de modo que a discrepância entre a correlação existente nos
dados empíricos (derivados da amostra) e a estimativa dessa correlação na população
78
seja o mais próximo possível de zero (se a distância for igual a zero, tem-se um perfeito
ajuste do modelo). Dessa maneira, a melhor utilização de ML se dá quando a
pressuposição de normalidade multivariada não é violada e, então, é possível se estimar
a adequação do modelo (goodness of fit) por meio de diferentes tipos de índices de
adequação, mesmo no caso de uma análise exploratória. Caso o pressuposto da
normalidade multivariada seja fortemente violado (skewness > 2 e kurtosis > 7),
distorções nos resultados serão esperadas, como casos em que a carga fatorial de uma
variável em um determinado fator excede 1, o que, na literatura, é conhecido como
“Heywood cases” (Fabringer et al., 2002). Briggs e McCalum (2003) ainda ressaltam
que uma importante característica desse método de extração fatorial é que a distância
entre correlações baixas e altas é amplificada, ressaltando fatores fortes (fatores que
apresentam um padrão elevado de cargas fatoriais) em detrimento de fatores mais fracos
(fatores que apresentam um padrão de magnitude relativamente baixo de cargas
fatoriais). Em modelos psicológicos multivariados, entretanto, pode haver fatores fracos
que são teoricamente relevantes e que devem ser ressaltados apesar de sua
vulnerabilidade estatística.
No que diz respeito à distribuição das facetas do Inventário de externalização e,
conseqüentemente, à aplicação do estimador ML, quatro deles (agressividade
destrutiva, problemas com maconha, problemas com drogas, roubo) violam fortemente
o pressuposto da distribuição multivariada. Por essa razão, ML não será implementada
e, portanto, nenhuma consideração adicional será feita.
Por fim, ULS ou Ordinary Least Squares (como é geralmente referido na
literatura) é um método de estimação fatorial cuja noção de melhor adequação (best fit)
obedece ao princípio matemático de quadrados mínimos. Esse princípio procura adaptar
um conjunto de dados empíricos (as correlações entre as variáveis mensuradas, as
79
cargas fatoriais e a variância única na amostra coletada) a um segundo conjunto de
dados estimados (as correlações entre as variáveis mensuradas, as cargas fatoriais e a
variância única na população da qual a amostra foi extraída) (McDonald, 1985). Assim,
esse método disponibilizará uma matriz fatorial cuja discrepância entre as cargas
fatoriais e a variância única estimada na população (best estimate) e as cargas fatoriais e
a variância única presentes nos dados coletados será a menor possível dentro de uma
margem de erro, conferindo legitimidade e poder de generalização ao modelo fatorial
proposto.
Além disso, ULS não é baseado em nenhuma pressuposição a respeito da
distribuição das variáveis mensuradas. Ainda, segundo Briggs e McCalum (2003), ULS
apresenta uma outra vantagem sobre ML por ser capaz de recuperar com mais precisão
fatores fracos que estão presentes na população e que são importantes para a
compreensão do construto estudado. Assim sendo, por não apresentar pressuposições
relacionadas à distribuição das variáveis mensuradas e por ser eficiente na identificação
tanto de fatores fortes quanto fracos, a utilização de ULS como o estimador fatorial para
este estudo é mais recomendada em comparação aos modelos de ML e PAF.
Com relação ao número de fatores a serem extraídos, encontra-se, no estudo
original (KRUEGER et al., no prelo), uma estrutura hierárquica de um fator com dois
subfatores. No entanto, esse procedimento demanda a utilização de técnicas estatísticas
mais sofisticadas – modelagem por equações estruturais – o que vai além da proposta
dessa dissertação. Assim, realizou-se apenas um procedimento exploratório dos dados, o
número de fatores a ser retido foi determinado com base nos critérios do teste de scree,
de percentagem da variância explicada, de inteligibilidade dos fatores e através da
análise das comunalidades. Também se privilegiou soluções fatoriais mais simples, com
o mínimo possível de cargas multifatoriais.
80
Neste ponto, torna-se necessário fazer considerações adicionais sobre o valor da
análise das comunalidades em relação ao número de fatores a serem extraídos. As
comunalidades são computadas a partir do quadrado das correlações múltiplas que uma
variável apresenta com todos os fatores comuns extraídos (MCDONALD, 1985). As
comunalidades podem apresentar valores que variam entre 0 e 1, de modo que uma
variável com uma comunalidade cujo valor equivale a 1 é totalmente prevista pelos
fatores comuns extraídos na análise, e uma variável cuja comunalidade é igual a 0
apresenta uma relação de total independência com os fatores comuns presentes nos
dados. Em uma análise de fatores comuns, as comunalidades são a base da extração
fatorial e, portanto, sua interpretação pode ser fundamental tanto para a decisão de se
implementar a AEFC quanto para se determinar quantos fatores devem ser retidos e
qual é o grau de estabilidade da solução proposta. Segundo Velicer e Fava (1998, apud
COSTELLO; OSBORNE, 2005), comunalidades acima de 0.8 são consideradas altas e
tendem a produzir soluções fatoriais estáveis mesmo com amostras reduzidas. Todavia,
tais magnitudes são raramente encontradas em pesquisas psicológicas, de forma que
índices minimamente iguais a 0.4 são aceitáveis (outros autores, como HAIR et al.,
sugerem que comunalidades abaixo de 0.5 têm poder explicativo muito baixo).
Comunalidades menores que 0.4 podem indicar que o número de fatores extraídos é
insuficiente, sugerindo a existência de um fator adicional ao modelo proposto, ou
podem indicar que a variável cuja comunalidade é menor que 0.4 não esteja,
linearmente relacionada às outras e que deva, portanto, ser excluída da análise
(COSTELLO; OSBORNE, 2005). Por essas razões, o padrão de comunalidades obtido
após a extração de fatores será considerado tanto com relação ao número de fatores,
quanto com relação à validade da solução fatorial encontrada.
81
Neste estudo, utilizou-se rotação Promox (kappa = 4), seguindo-se as sugestões
de Fabringer et al. (1999), Russel (2002) e Costello e Osborne (2005). Segundo esses
autores, a rotação obliqua traz uma representação mais verossímil da relação latente
entre dimensões psicológicas, já que, em sua grande maioria, apresentam algum nível de
covariância. Rotações oblíquas do tipo Promox também não pré-estabelecem que
fatores sejam correlacionados. Caso a estrutura fatorial seja ortogonal (ou não
correlacionada), o índice de correlação entre os fatores será próximo de zero. Além
disso, a existência de correlações entre fatores pode ser um indicativo da existência de
um fator de ordem-superior. Assim sendo, as correlações entre os fatores extraídos
foram reparametrizadas como indicadores latentes de um fator de segunda ordem, a
saber, o fator de externalização.
Hair et al. (2005) estabelecem que com um número amostral de 250
participantes de pesquisa, um poder de 80% e um nível de significância de 0,05,
somente cargas fatoriais iguais ou maiores que 0,35 são significativas. Neste estudo,
foram consideradas significativas as cargas fatoriais que se mostraram maiores que
0.32. Segundo Tabachnick e Fidell (2001, apud COSTELLO; OSBORNE, 2005),
cargas fatoriais dessa magnitude mostram que o item compartilha minimamente 10% de
variância comum com os outros itens do fator (0,322 = 0,1024). Além disso, a escolha
por se considerar cargas fatoriais acima de 0,32 como significativas justifica-se por uma
razão estratégica que será retomada no momento em que os resultados forem discutidos.
Em consideração ao que foi comentado até agora, os resultados apresentados na
próxima seção foram extraídos por meio de uma análise exploratória de fatores comuns,
utilizando o procedimento de ULS como estimador e rotação oblíqua Promox (kappa =
4), por meio da 14ª versão do aplicativo SPSS para Windows. A análise de segunda
ordem foi realizada por meio do aplicativo Mplus (MUTHEN; MUTHEN, 2002), por
82
permitir a exploração da estrutura latente de segunda ordem com base nas correlações
encontradas entre os fatores.
6.2 RESULTADOS DA ANÁLISE PSICOMÉTRICA DO INVENTÁRIO DE
EXTERNALIZAÇÃO
Os dados coletados foram tabulados e analisados por meio da 14ª versão do
aplicativo SPSS para Windows e da 2ª versão do aplicativo Mplus (MUTHÉN;
MUTHÉN, 1998-2004). Os itens foram recodificados de maneira que escores mais
elevados representassem maior tendência à externalização. Assim, todos os itens
apresentariam a mesma direcionalidade, mesmo aqueles pertencentes a escalas que
avaliam a polaridade oposta da externalização. Por exemplo, se o item “eu já roubei
dinheiro de membros de minha família” for respondido como verdadeiro, isso significa
que o indivíduo apresenta um comportamento altamente externalizante, entretando
verdadeiro seria codificado como 1 em uma escala de 1 a 4 (verdadeiro (1), em grande
parte verdadeiro (2), em grande parte falso (3) e falso (4)), assim o procedimento de
recoficação de variáveis permite que itens como este sejam invertidos na matriz de
dados, de modo que ao se responder verdadeiro obtêm-se o escore “mais
externalizante”.
6.2.1 ANÁLISE DE FIDEDIGNIDADE DOS ITENS
A consistência interna do Inventário de Externalização, levando-se em
consideração os 408 itens analisados para esse fim, mostrou-se admirável, alcançando
um coeficiente alpha total de 0,983. A redução do número de itens de 415 para 408 se
83
justifica pela ausência de variabilidade presente nos itens de número 61 (Eu já usei uma
arma em uma briga), 86 (Eu já injetei drogas), 101 (Eu já deixei de pagar a pensão
alimentícia), 117 (Eu já comprei coisas usando um cartão de crédito ou seu número
roubado), 208 (Eu já usei uma arma para conseguir algo que eu desejava), 271 (Eu já
fui indiciado(a) por agressão) e 387 (O meu hábito de beber já me causou problemas
com a lei).
O conteúdo dos itens excluídos descreve comportamentos com grau
relativamente alto de tendências externalizantes. Por conseguinte, um indivíduo que faz
uso de drogas injetáveis, que já usou uma arma em uma briga, que já foi indiciado por
agressão ou que já comprou algo com um cartão de crédito roubado provavelmente não
se encontra entre universitários. A não variabilidade de respostas a esses itens se deu,
provavelmente, devido à inexistência de indivíduos na amostra coletada que pudessem
se localizar no extremo de severidade da distribuição do traço na população. Assim,
acredita-se que esses itens possam ser sensíveis com relação à identificação das
diferenças individuais em amostras clínicas (dependentes químicos, indivíduos
diagnosticados com transtorno de personalidade anti-social) ou em situações especiais
(como no sistema carcerário).
A inspeção visual das correlações item-total e do coeficiente alpha if item
deleted indica que o alpha do inventário não está superestimado, uma vez que, de
maneira geral, os itens apresentam correlações item-total moderadas e altas, não
havendo contribuição significativa para o melhoramento do coeficiente alpha total, caso
algum item, dentre os 408 analisados, fosse excluído.
Além disso, a análise de consistência interna das 23 escalas que compõem o
Inventário de Externalização resultou em coeficientes alpha muito bons (acima de 0,8)
e admiráveis (acima de 0,9) para 19 delas, de maneira que o coeficiente mais robusto foi
84
o da escala de Uso de álcool (0,959). As escalas de Agressão Destrutiva, Agressão
Física, Assalto e Fraude obtiveram alphas moderados, estando eles entre 0,75 e 0,764.
A Tabela 4 apresenta os coeficientes alpha, o número de itens e um exemplo de item
para cada uma das escala Inventário de Externalização.
85
TABELA 4
ANÁLISE DE CONSISTÊNCIA INTERNA DAS SUBESCALAS DO INVENTÁRIO
DE EXTERNALIZAÇÃO E DE SEU ESCORE TOTAL
Nome Alpha Exemplos
Agressão Destrutiva (19 itens) 0,764 Eu já destruí propriedade pública só pela diversão.
Agressão Física (21 itens) 0,759 Eu já comecei uma briga porque era excitante.
Agressão Relacional (19
itens)
0,869 Eu falo mal de pessoas que me causam problemas.
Empatia (31 itens) 0,909 Eu realmente sinto as emoções dos outros.
Culpa Ext. (14 itens) 0,896 As pessoas freqüentemente me usam de bode expiatório.
Alienação (09 itens) 0,8 As pessoas me usam.
Problemas com Álcool (30
itens)
0,898 Eu já tive problemas médicos por beber.
Uso de Álcool (23 itens) 0,959 Eu gosto de tomar um drinque para relaxar.
Problemas com Maconha (18
itens)
0,925 Eu ficava “doido” com uma menor quantidade de maconha do
que é preciso hoje.
Uso de Maconha (17 itens) 0,926 Eu nunca na minha vida usei maconha.
Problemas com Drogas (25
itens)
0,897 Eu já abandonei coisas que eu gostava por causa de drogas.
Uso de Drogas (13 itens) 0,883 Eu já usei remédios para “ficar doido” .
Impulsividade Probl. (20
itens)
0,859 Minha falta de autocontrole me traz problemas.
Controle-plano (11 itens) 0,876 Eu penso antes de fazer as coisas.
Impaciência (12 itens) 0,859 Quando quero algo, quero para já.
Furto (15 itens) 0,76 Eu já fui pego(a) roubando em lojas.
Fraude (14 itens) 0,755 Eu já menti para obter vantagens no emprego.
Honestidade (15 itens) 0,847 Eu falo a verdade mesmo quando isso me traz problemas.
Irresponsabilidade (25 itens) 0,836 Eu já dei o bolo em amigos.
Confiança (23 itens) 0,876 Eu concluo projetos que começo.
Rebeldia (15 itens) 0,864 Eu não sou muito obediente.
Busca de Excitação (18 itens) 0,896 Eu faço várias coisas só pela emoção.
Propensão ao Tédio (12 itens) 0,857 Eu fico entediado quando tento relaxar.
Total (408 itens) 0,983
Diante disso, pode-se dizer que o inventário é bastante preciso e homogêneo no
que tange tanto ao escore total do inventário, quanto às subescalas na amostra estudada.
86
Além disso, pode-se afirmar que, diante dos padrões consistentemente altos de
correlação item-total e dos alphas referentes às facetas do inventário, o alpha total não
se encontra superestimado. Assim sendo, mesmo diante das limitações quanto à
extrapolação desses resultados para a população geral, os resultados apresentados foram
considerados consistentes.
6.2.2 ANÁLISE DA ESTRUTURA FATORIAL
Todos os indicadores utilizados mostram que há variabilidade e
multicolinearidade suficientes na matriz de dados para a utilização da AEFC. O
coeficiente de KMO apresentou magnitude admirável (0,872) e o teste Barttlet de
esfericidade foi significativo (p = 0.000). Os coeficientes obtidos por meio do cálculo da
MSA se mostraram acima de 0,7 em todas as escalas, de forma que o índice menos
expressivo foi o da escala de Problemas com maconha (MSA = 0,785) e o mais
expressivo o da escala de Busca de excitação (MSA = 0,933).
Como discutido na seção anterior, o número de fatores retidos na análise foi
determinado pelos critérios do teste de scree e de percentagem da variância explicada,
pela inteligibilidade dos fatores e pela análise das comunalidades. Entretanto, nenhum
desses métodos são procedimentos estatísticos inferenciais, não se podendo, assim,
extrair uma solução fatorial inequívoca. Diante disso, cada critério foi balizado pelos
outros a fim de se propor um modelo fatorial plausível aos dados.
A quebra no screeplot (Figura 5), baseada nos autovalores iniciais, sugere a
presença de quatro componentes principais que, juntamente, explicam 64,179% da
variância total na matriz de dados. Após a extração de fatores comuns e, portanto, após
a separação de variância comum da específica, os quatro fatores juntos explicam
87
56,941% da variância. Apesar de o teste de scree indicar a presença de quatro fatores
comuns, percebe-se, ao se analisar o padrão de variância explicada individualmente por
cada fator, que os dois primeiros explicam 47,446% da variância total e os dois últimos
somados apenas 9,496%, de maneira que o quarto fator explica somente 3,996%.
Assim, serão extraídas e comparadas uma solução fatorial de três fatores e uma de
quatro fatores a fim de se encontrar a melhor representação possível para os dados
coletados.
FIGURA 5
GRÁFICO DE SCREE BASEADO NOS AUTOVALORES INICIAIS
2322212019181716151413121110987654321
Número de Fatores
10
8
6
4
2
0
Auto
-Val
or
Scree Plot
88
6.3.2.1 ANÁLISE DAS COMUNALIDADES
O modelo de três fatores produziu um padrão geral de comunalidades moderadas
e altas, com exceção das comunalidades referentes às escalas de Empatia (0,265),
Honestidade (0,313) e Confiança (0,387). A Tabela 5 reporta as comunalidades para
uma solução de três fatores, utilizando rotação oblíqua (promox, kappa = 4) e ULS
como estimador. Comunalidades com valores inferiores a 0,4 foram ressaltadas.
TABELA 5
COMUNALIDADES BASEADAS EM UMA SOLUÇÃO COM TRÊS FATORES.
Escalas Inicial/Antes da extração Extração/Após a extração Agressão destrutiva 0,547 0,562 Agressão relacional 0,650 0,599 Agressão física 0,533 0,491 Uso de maconha 0,812 0,736 Problemas com maconha 0,818 0,689 Uso de Drogas 0,854 0,870 Problemas com Drogas 0,822 0,645 Uso de Álcool 0,648 0,406 Problemas com Álcool 0,635 0,494 Irresponsabilidade 0,627 0,515 Impulsividade problemática 0,728 0,726 Alienação 0,558 0,415 Empatia 0,417 0,265 Assalto 0,551 0,504 Planejamento/Controle 0,582 0,412 Urgência impaciente 0,630 0,596 Confiança 0,572 0,387 Rebeldia 0,585 0,519 Busca de Excitação 0,538 0,466 Propensão ao tédio 0,520 0,443 Culpa Externalizante 0,580 0,433 Fraude 0,653 0,582 Honestidade 0,489 0,313 Legenda: índices baseados nos Autovalores iniciais e após a extração de fatores por meio do estimador ULS para uma. Índices inferiores a 0,4 estão destacados em negrito Como ressaltado anteriormente, recomenda-se, em ciências humanas,
comunalidades acima de 0,4 como sendo minimamente necessárias para que a solução
89
fatorial apresente alguma estabilidade (COSTELLO; OSBORNE, 2005).
Comunalidades menores que 0,4 podem indicar que: a solução fatorial proposta não é
totalmente adequada aos dados, devendo-se, portanto, extrair um fator adicional, ou que
as variáveis cujas comunalidades são baixas devem ser excluídas da análise. Assim, o
padrão de comunalidades em uma solução tetrafatorial foi gerado (ver Tabela 6).
TABELA 6
COMUNALIDADES BASEADA EM UMA SOLUÇÃO COM QUATRO FATORES.
Escalas Inicial/Antes da extração Extração/Após a extração
Agressão destrutiva 0,547 0,561 Agressão relacional 0,650 0,664 Agressão física 0,533 0,490 Uso de maconha 0,812 0,740 Problemas com maconha 0,818 0,688 Uso de Drogas 0,854 0,870 Problemas com Drogas 0,822 0,642 Uso de Álcool 0,648 0,421 Problemas com Álcool 0,635 0,541 Irresponsabilidade 0,627 0,533 Impulsividade problemática 0,728 0,728 Alienação 0,558 0,459 Empatia 0,417 0,361 Assalto 0,551 0,499 Planejamento/Controle 0,582 0,617 Urgência impaciente 0,630 0,626 Confiança 0,572 0,642 Rebeldia 0,585 0,516 Busca de Excitação 0,538 0,478 Propensão ao tédio 0,520 0,471 Culpa Externalizante 0,580 0,470 Fraude 0,653 0,578 Honestidade 0,489 0,502 Legenda: índices baseados nos Autovalores iniciais e após a extração de fatores por meio do estimador ULS para uma. Índices inferiores a 0,4 estão destacados em negrito
As comunalidades para uma solução de quatro fatores mostraram um padrão
superior às comunalidades geradas em uma solução trifatorial, de maneira que, em todas
90
as facetas do inventário, foram encontradas magnitudes acima de 0.4, com exceção da
escala de Empatia (0.361) que, ainda assim, apresentou uma importante melhoria. A
melhoria na magnitude das comunalidades pode ser considerada como um indicativo de
que uma solução tetrafatorial pode ser mais adequada. Entretanto, ainda é necessário
verificar como se comportam as cargas fatoriais em ambas as soluções, assim como a
interpretabilidade dos fatores para ambas.
Apesar de a solução tetrafatorial parecer mais indicada com base nas
comunalidades obtidas e no teste de scree, o modo como as cargas fatoriais se
comportam pode trazer informações sobre a natureza desse quarto fator. Por exemplo, a
presença de heywood cases (casos em que a carga fatorial excede 1), a polarização da
matriz em fatores negativos e positivos e/ou a presença de cargas multifatoriais são
indicativos de que a solução fatorial proposta é inadequada. Entretanto, na ausência de
métodos estatísticos inferenciais, a inteligibilidade do conteúdo do fator em termos
teóricos é o melhor parâmetro para se resolver dúvidas relativas à estrutura fatorial.
6.2.2.1 ANÁLISE DAS SOLUÇÕES FATORIAIS: CARGAS FATORIAIS E
INTERPRETABILIDADE DOS FATORES
O modelo de três fatores correlacionados produziu uma solução fatorial
parcimoniosa, inteligível e com apenas uma carga cruzada (crossloading). O primeiro
fator foi determinado pelas escalas que avaliam o uso de substâncias e problemas com
substâncias, assim como pelas escalas assalto e rebeldia, de maneira que a escala que
apresentou a carga mais expressiva foi a de uso de drogas (0,973) e a menos expressiva
a de Assalto (0,377). O segundo fator foi composto pelas escalas de personalidade,
sendo que urgência impaciente foi a escala que mais fortemente o caracterizou (0,890),
91
e busca de excitação (0,336) a que apresentou menor associação com o fator. O terceiro
fator foi composto pelas escalas que avaliam diferentes tipos de agressividade e traços
anti-sociais, de maneira que a escala que apresentou mais forte associação ao fator foi a
escala de agressividade destrutiva (0.867) e a que menor associação apresentou foi a de
Fraude (0.481). As correlações foram moderadas entre o primeiro e o segundo fatores
(0.402) e entre o primeiro e o terceiro fatores (0.488), mas foi mais substancial a
correlação entre o segundo e o terceiro fatores (0.65). A Tabela 7 traz a matriz fatorial
rotada (approximate simple structure). As cargas fatoriais acima de 0.32 foram
consideradas significativas e, por essa razão, destacadas.
92
TABELA 7
ESTRUTURA FATORIAL ROTADA PARA UMA SOLUÇÃO DE TRÊS FATORES
CORRELACIONADOS
Escalas
FatoresFator 1 Fator 2 Fator 3
Uso de Drogas 0,973 -.189 .048 Uso de Maconha 0,950 -.130 -.136
Problemas com Maconha 0,899 .070 -.240 Problemas com Drogas 0,814 .068 -.085 Problemas com Álcool 0,549 .063 .197
Uso de Álcool 0,506 -0,037 0,239 Rebeldia 0,396 0,162 0,312
Urgência Impaciente -0,111 0,890 -0,143 Impulsividade Problemática 0,109 0,846 -0,066
Controle e planejamento 0,154 0,715 -0,254 Alienação -0,147 0,683 0,009
Propensão ao Tédio -0,105 0,661 0,061 Culpa Externalizante -0,206 0,584 0,195
Irresponsabilidade 0,237 0,468 0,152 Confiança 0,188 0,373 0,183
Busca de Excitação 0,301 0,336 0,195 Agressividade Destrutiva -0,074 -0,144 0,867 Agressividade Relacional -0,132 0,146 0,729
Agressividade Física -0,092 0,093 0,678 Empatia -0,021 -0,179 0,622
Furto 0,377 -0,134 0,531 Honestidade 0,007 0,072 0,506
Fraude 0,109 0,288 0,481
O modelo de quatro fatores correlacionados produziu uma solução fatorial mais
complexa de ser analisada que a de três fatores. O primeiro fator manteve-se bastante
semelhante ao primeiro fator da solução de três fatores, com exceção do fato de que, ao
contrário do modelo trifatorial, a escala de busca por excitação apresentou carga
significativa no modelo tetrafatorial (0.343). O segundo fator foi composto por algumas
das facetas do inventário de externalização que avaliam traços de personalidade
(alienação, urgência impaciente, propensão ao tédio, culpa externalizante, busca de
excitação e impulsividade problemática) e pela escala de agressividade relacional. A
93
escala que mais fortemente se associou ao fator foi a escala de urgência impaciente
(0,855) e a que apresentou menor associação foi a escala de busca de excitação (0.357).
O terceiro fator é formado pelas escalas de agressividade, fraude, assalto e honestidade,
de modo que agressividade destrutiva é a faceta que apresentou a carga fatorial mais
expressiva com o terceiro fator (0.755) e fraude (0.433) a escala com a carga fatorial
menos expressiva. O quarto fator é composto pelas facetas de confiança, controle e
planejamento, honestidade, busca de excitação e irresponsabilidade, de modo que as
duas primeiras apresentam cargas fatoriais expressivas (0.69 para ambas) e as restantes
cargas fatoriais moderadas. Esse quarto fator parece formar um fator de anti-
externalização, uma vez que as facetas que mais intensamente se relacionam a ele são
conceitualmente o inverso do fator de externalização. As correlações entre todos os
fatores foram moderadas, com exceção do segundo com o terceiro fator, cuja correlação
foi um pouco mais substancial, chegando a 0,565.
O modelo tetrafatorial é mais complexo de ser interpretado devido ao maior
número de cargas fatoriais cruzadas. Apesar da análise das comunalidades e de
considerações baseadas no screeplot sugerirem a extração de um quarto fator, este
parece ser um “fator difícil”, determinado ou por erro de mensuração ou por
desejabilidade social ou por uma idiossincrasia da amostra. A Tabela 8 traz a matriz
fatorial rotada (approximate simple structure). Cargas fatoriais acima de 0.32 foram
destacadas. A Tabela 9 traz a matriz de correlações entre os fatores.
94
TABELA 8
MATRIZ FATORIAL ESTRUTURA FATORIAL ROTADA PARA UMA
SOLUÇÃO DE QUATRO FATORES CORRELACIONADOS
Escalas
FatoresFator 1 Fator 2 Fator 3 Fator 4
Uso de Drogas 0,978 -0,195 0,036 -0,018 Uso de Maconha 0,960 -0,147 -0,135 -0,034
Problemas com Maconha 0,901 0,001 -0,226 0,029 Problemas com Drogas 0,794 -0,030 -0,074 0,107 Problemas com Álcool 0,627 0,175 0,142 -0,147
Uso de Álcool 0,550 0,038 0,198 -0,087 Rebeldia 0,398 0,135 0,274 0,104
Urgência Impaciente -0,057 0,855 -0,177 0,084 Alienação -0,078 0,729 -0,039 -0,016
Propensão ao Tédio -0,047 0,682 .0,018 0,021 Culpa Externalizante -0,139 0,655 0,138 -0,025
Impulsividade Problemática 0,067 0,607 -0,056 0,381 Busca por Excitação 0,343 0,357 0,147 0,020
Agressividade Destrutiva -0,008 0,069 0,755 -0,141 Empatia -0,119 -0,303 0,654 0,264
Agressividade Relacional -0,041 0,368 0,638 -0,185 Agressividade Física -0,044 0,219 0,590 -0,040
Honestidade -0,149 -0,208 0,585 0,484 Assalto 0,370 -0,111 0,481 0,061 Fraude 0,117 0,276 0,433 0,117
Confiança 0,005 -0,040 0,254 0,690 Controle e planejamento 0,001 0,302 -0,224 0,690
Irresponsabilidade 0,183 0,276 0,157 0,332
TABELA 9
CORRELAÇÕES ENTRE OS FATORES EXTRAÍDOS NA SOLUÇÃO
TETRAFATORIAL
Fatores FATOR 1 FATOR 2 FATOR 3 FATOR 4 Fator 1 1.000 0,364 0,475 0,427 Fator 2 0,364 1.000 0,565 0,460 Fator 3 0,475 0,565 1.000 0,374 Fator 4 0,427 0,460 0,374 1.000
95
Diante do que foi exposto, optou-se por um modelo trifatorial por este ter
produzido uma solução fatorial mais parcimoniosa, com menor presença de cargas
fatoriais cruzadas e correlações mais expressivas entre os fatores. Além disso, o modelo
de três fatores produziu uma solução inteligível do ponto de vista da teoria, sendo que o
primeiro pode ser definido como um fator de vulnerabilidade ao uso problemático de
substâncias, o segundo como um fator composto por traços de personalidade
relacionados ao controle de impulsos e à autocomiseração e o terceiro como um fator de
vulnerabilidade anti-social. Todos os fatores apresentam em comum a tendência ao
desrespeito por normas sociais, o que justifica as correlações encontradas entre eles.
Outro fato que chama atenção é a de que a estrutura trifatorial apresenta um fundo
metodológico: dois fatores se caracterizam pela mensuração direta de comportamentos
(uso de substância e comportamento anti-social), e um terceiro avalia traços de
personalidade ou a maneira corriqueira e preferencial de ação, como a maneira
individual de se sentir ou pensar em uma série de situações-alvo.
6.2.2.2 ANÁLISE DE SEGUNDA-ORDEM DE FATORES COMUNS
Assim como estabelecido previamente, o uso da análise fatorial pressupõe que
correlações entre variáveis indicam que elas mensuram algo em comum. Dessa forma,
fatores correlacionados podem ser interpretados como indicadores latentes de uma
dimensão ou como um fator de segunda-ordem. De fato, o modelo do espectro de
externalização pressupõe que as variáveis operacionalizadas pelo Inventário de
Externalização mediriam um fator geral latente: o fator de externalização.
Os três fatores encontrados foram salvos por um procedimento estatístico em
que cada variável passou a apresentar uma carga fatorial em cada um dos fatores (de
96
fato, essa carga representa o peso da regressão de uma variável sobre os fatores
presentes no modelo extraído). Esses três fatores foram correlacionados (correlações
produto-momento) de maneira que a matriz resultante serviu de base para a análise
fatorial de segunda-ordem desempenhada pelo aplicativo Mplus (MUTHÉN;
MUTHÉN, 2002). Os resultados a seguir são os produtos de uma análise de fatores
comuns de segunda-ordem, utilizando ULS como estimador.
Apenas um fator foi capaz de explicar 58,871% da variância total nos fatores de
primeira-ordem. O fator de vulnerabilidade anti-social apresentou a mais intensa
associação, seguido pelo fator de vulnerabilidade ao uso problemático de substâncias e,
em terceiro lugar, pelo fator composto por traços de personalidade relacionados ao
controle de impulsos e à autocomiseração. A Figura 6 sumariza a estrutura fatorial
encontrada: um fator de segunda-ordem, nomeado de fator de externalização, explica a
variância comum entre os três fatores correlacionados de primeira-ordem.
97
FIGURA 6
ESTRUTURA FATORIAL ENCONTRADA PARA A VERSÃO BRASILEIRA DO
INVENTÁRIO DE EXTERNALIZAÇÃO..
0,871 0,668 0,531
0,488 0,402
Fator de Externalização
Fator de vulnerabilidade ao uso Problemático de
substâncias
0,65
Fator de vulnerabilidade
anti-social
Fator de controle de impulsos e
autocomiseração
Legenda: as setas pontilhadas indicam a correlação entre os fatores de primeira-ordem e os índices ao lado a intensidade dessas correlações. As setas contínuas indicam as cargas fatoriais presentes dos fatores de Vulnerabilidade ao uso problemático de substâncias, vulnerabilidade anti-social e ao de controle de impulsos e autocomiseração.
A estrutura fatorial encontrada reflete de maneira acurada as expectativas
teóricas acerca do construto externalização. Um fator, o de externalização, explica a
variância comum entre o uso de substâncias, o comportamento anti-social e traços
impulsivos de personalidade. Pode-se concluir que o Inventário de externalização é
uma medida que operacionaliza o fator de externalização de maneira válida e precisa, já
que representa o construto adequadamente.
98
6.3 DISCUSSÃO SOBRE ESTUDO II – ANÁLISE DE REPRESENTAÇÃO DO
CONSTRUTO
O objetivo do Estudo II foi o de estabelecer critérios para a validade de construto
do Inventário de Externalização por meio de duas técnicas psicométricas clássicas de
representação de construto, a saber: análise de consistência interna e análise exploratória
de fatores comuns. A análise de consistência interna foi possibilitada pelo cálculo do
coeficiente alpha – Alpha de Crombach – cujo resultado pode ser interpretado como
uma medida de homogeneidade/fidedignidade do construto operacionalizado pelo
instrumento sob estudo. A análise exploratória de fatores comuns é um instrumento
estatístico que permite a investigação da estrutura latente de um conjunto de variáveis
correlacionadas, de modo que, se o objetivo do estudo é a validação de construto de um
instrumento psicométrico, obtêm-se sucesso sempre que as expectativas teóricas são
compatíveis com a estrutura fatorial extraída a partir da matriz de dados.
Os resultados apresentados pela análise de consistência interna indicaram que o
Inventário de Externalização é uma medida fidedigna do fator de externalização na
amostra estudada, no que diz respeito tanto à totalidade dos itens contidos no inventário
quanto aos itens contidos em suas subescalas isoladamente. Outra importante
implicação desses achados se refere à noção de homogeneidade do construto implícita
no cálculo do coeficiente alpha. O Inventário de Externalização é uma medida de ampla
e diversificada do fator de externalização, sendo que o conteúdo de suas 23 escalas vai
do uso de substâncias à propensão ao tédio, da honestidade a diferentes manifestações
do comportamento agressivo. Além disso, a estruturação dos itens é diversificada, de
forma que alguns deles estabelecem afirmações sobre a maneira cotidiana de agir e
pensar e outros a respeito de eventos pontuais que podem, até certo ponto, ter ou não
99
ocorridos. Assim sendo, o elevado alpha encontrado para o referido instrumento não
pôde ser ter sido causado pela semelhança entre o conteúdo dos itens – que poderia ter
ocorrido devido ao efeito de sobreposição de conteúdo – ou à homogeneidade da sua
estrutura, mas, sim, ao fato de eles refletirem diferentes manifestações de uma mesma
dimensão psicológica, o fator de externalização.
A AEFC resultou em uma estrutura fatorial de dois níveis, em que um fator de
segunda-ordem foi capaz de explicar a variância comum entre três fatores de primeira-
ordem. Os três fatores localizados no estrato inferior do modelo foram nomeados de:
fator de vulnerabilidade anti-social, fator de vulnerabilidade ao uso problemático de
substâncias e fator de controle de impulsos e autocomiseração. A palavra
“vulnerabilidade”, usada para caracterizar os fatores relacionados ao uso de substâncias
e à conduta anti-social foi adequadamente empregada, uma vez que os escores nessas
escalas apenas servem como um “índice de intensidade” que mensura a tendência
individual ao desenvolvimento de uma síndrome psicopatológica condizente ao
conteúdo dos fatores. Assim sendo, mesmo que se realizasse um estudo de
normatização do Inventário de Externalização para a população brasileira, não seria
possível diagnosticar um indivíduo como portador de uma das referidas síndromes com
base, unicamente, na posição desse indivíduo com relação à norma. Para tanto, é
necessário se fazer cumprir os critérios diagnósticos reconhecidos e validados para esse
fim, mais especificamente, os modelos diagnósticos operacionalizados atualmente pelo
DSM-IV-TR e pelo CID-10. O terceiro fator foi composto pelas escalas construídas a
partir de definições operacionais de construtos de personalidade como busca de
excitação ou impulsividade problemática, por exemplo. Assim, o terceiro fator não
descreve as diferenças individuais em termos de uma vulnerabilidade psicopatológica.
Embora seja plausível argumentar que a intensa manifestação de traços de
100
personalidade está relacionada à emergência ou ao curso desenvolvimental de
determinadas psicopatologias (CLARK, 2005), esse fator pode apenas ser interpretado
como um indicativo da posição relativa de um indivíduo em relação à norma no quesito
controle de impulsos.
As correlações encontradas entre os três fatores de primeira-ordem foram
reanalisadas por meio da AEFC sem qualquer restrição quanto ao número de fatores a
em ser extraídos. Assim como esperado, apenas um fator foi extraído e, com base no
modelo teórico que embasa está dissertação, o fator foi nomeado de fator de
externalização, uma vez que sua estrutura reflete perfeitamente a definição constitutiva
do construto externalização.
Considera-se, diante dos resultados da análise de consistência interna –
operacionalizado pelo coeficiente alpha – e os da AEFC – operacionalizada pela
estrutura fatorial – que o Inventário de Externalização é uma medida válida e fidedigna
da dimensão de externalização. Esse resultado é bastante significativo uma vez que a
operacionalização do fator de externalização por meio do referido inventário teve como
objetivo inicial o delineamento quantitativo do espectro de externalização que
representa, do ponto de vista da psicologia do traço e da psicopatologia, um avanço na
compreensão da natureza da associação entre traços de personalidade e síndromes
psicopatológicas. Apesar do caráter exploratório do estudo realizado, que não permitiu a
verificação de outros pressupostos relativos sobre Modelo Espectral de Externalização
(de que este seria um modelo hierárquico de um fator com dois subfatores, cuja natureza
é psicobiológica, e que a distribuição do fator de externalização e de suas subescalas
seguiria a um princípio de normalidade multivariada), os resultados apresentados são
significativos, pois mostram a viabilidade do modelo teórico operacionalizado pelo
Inventário de Externalização em uma cultura diferente daquela para a que ele foi
101
desenvolvido e por permitir a utilização futura do mesmo em outras pesquisas
relevantes para a área.
7 DISCUSSÃO GERAL
O objetivo dessa dissertação foi o de traduzir, adaptar e validar o Inventário de
Externalização para o português brasileiro por meio de um procedimento interativo de
tradução e adaptação cultural do conteúdo dos itens do referido instrumento e da
aplicação de técnicas psicométricas clássicas de representação do construto. Todavia, a
validação do construto de um instrumento psicométrico somente se completa, como
propõe Smith (2005), quando as informações produzidas a partir de sua administração
em pesquisas científicas são integradas ao corpo de conhecimento prévio. Desse modo,
é possível avaliar não somente a precisão e a validade da medida psicológica
padronizada em questão, mas também, e principalmente, a validade científica do
modelo teórico operacionalizado por essa medida.
Assim como estabelece Popper (1969), a teoria científica deve ser estruturada de
uma forma tal que permita a proposição de hipóteses que, ao serem testadas,
corroborem ou falsifiquem a própria teoria. Em uma pesquisa psicométrica que tem por
objetivo a adaptação e a validação de uma medida padronizada por meio de técnicas de
representação do construto, a hipótese a ser testada consiste em verificar se a estrutura
latente encontrada a partir da administração do instrumento a um grupo amostral
corresponde, efetivamente, ao modelo teórico que motivou o seu desenvolvimento.
Assim, essa última parte da dissertação objetiva explicitar o modo como os resultados
encontrados confirmam ou refutam as expectativas prévias acerca da estrutura do
Inventário de Externalização, colocando em perspectiva tanto os avanços quanto as
102
limitações deste estudo. Além disso, reserva-se aqui o espaço para ir um pouco além da
concretude dos dados, destacando-se, então, elaborações intelectuais e planos futuros de
pesquisa possibilitados pela validação do Inventário de Externalização para o português
brasileiro.
Esta seção irá seguir o seguinte roteiro: em primeiro lugar, serão ressaltados os
aspectos que foram considerados como destaque na dissertação; em segundo lugar, suas
limitações serão colocadas em perspectiva; em terceiro e último lugar, a viabilidade das
futura da aplicação do Inventário de Externalização no que diz respeito à sua
aplicabilidade assim como a do Modelo Espectral de Externalização será brevemente
considerada.
7.1 DESTAQUES
Acredita-se que o procedimento utilizado para se adaptar o conteúdo dos itens
contidos no Inventário de Externalização – Estudo I – merece destaque por ter tido
sucesso em atingir uma equivalência semântica entre o conteúdo dos itens da versão
americana original e versão traduzida para o português do Brasil. Ainda, como
ressaltado anteriormente, os procedimentos cegos de tradução e de tradução reversa dos
itens permitiram o acompanhamento e a intervenção direta da equipe de pesquisa que
idealizou o Inventário de Externalização. Os membros dessa equipe desempenharam
duplo papel no processo de tradução e adaptação de seu instrumento: emitiram
pareceres que serviram de base para a reestruturação de itens que não haviam captado o
significado sutil e subjacente de seu correspondente em inglês, e atuaram como “juizes”
na validação do modo como os itens acabaram por ser estruturados. Um exemplo desse
duplo papel foi a adaptação do item I’ve stood friends up. Ao ser traduzido para o
103
português brasileiro, I’ve stood friends up tomou a forma de Eu já dei “o bolo” em
amigos, mantendo tanto ao caráter da linguagem cotidiana, quando o mesmo
significado. Quando Eu já dei “o bolo” em amigos foi traduzido para o inglês ele voltou
a sua formulação original. Assim, apesar de não se tratar de uma tradução lexical
literal, o referido item apresentou uma estrutura semântica perfeitamente condizente a
sua versão original. O parecer favarável diante do paralelismo óbvio entre os itens
original e traduzido confere validade de conteúdo à versão brasileira.
A etapa do Estudo I que utilizou participantes bilíngües para a análise da
consistência entre os itens em inglês e os traduzidos do Inventário de Externalização foi
particularmente importante, uma vez que apresentou inovações com relação ao
tratamento dos dados realizado no estudo de Carvalho et al. (2004), que motivou a
realização desta etapa. Nesse estudo, uma amostra de adolescentes bilíngües respondeu
às versões italiana e brasileira do questionário de personalidade Big Five for Children
(Barbaranelli et al., 1998). Apenas as correlações entre os itens em italiano e os seus
correspondentes em português foram geradas para fins de validação da tradução, de
modo que os itens em português que apresentaram correlações não significativas com
seus correspondentes italianos foram automaticamente considerados como
inadequadamente traduzidos e, assim, foram reformulados. Não houve interesse em
testar hipóteses a respeito da causalidade das correlações não significativas entre
determinados itens, ou mesmo em verificar se o item traduzido apresentaria uma
correlação significativa com o escore total de sua escala em português, o que poderia
assegurar que o item traduzido, apesar de não equivalente ao original, seria homogêneo
em relação à sua escala (Extroversão, por exemplo). Já no presente estudo, o
procedimento utilizado para a averiguação da consistência entre as respostas dadas por
respondentes bilíngües aos itens das versões americana e brasileira do Inventário de
104
Externalização, incluiu análises qualitativas para se testar três hipóteses, a saber: (1) os
participantes bilíngües não compreenderam adequadamente o conteúdo do item em
inglês; (2) o seu equivalente em português pode ter sido mal formulado ou mal
traduzido e (3) o conteúdo do item não se mostrou culturalmente válido para a
estimação da tendência à externalização. O teste dessas hipóteses apontou para a
dificuldade de se assegurar o nível de proficiência em língua estrangeira de
respondentes bilíngües e, desse modo, para a fragilidade desse tipo de método.
Considerou-se a análise de inteligibilidade dos itens fundamental, já que permitiu
a construção de itens mais simplificados e que poderiam ser compreendidos por estratos
sociais com educação formal menor que aquela utilizada para a validação do Inventário
de Externalização – estudantes universitários. Acredita-se que a utilização desse
procedimento se mostrará mais útil no futuro, quando a versão reduzida do referido
inventário for utilizada para a mensuração do fator de externalização de indivíduos em
situação de cárcere ou em comunidades com elevada vulnerabilidade social.
O Estudo II – intitulado de Análise de Representação do Construto – chama a
atenção pelo modo como foi conduzida a análise de fatores comuns. Como ressaltam
vários autores (RUSSEL, 2002; FABRINGER et al., 1999; COSTELLO; OSBORNE,
2005), o uso do termo “análise fatorial” tem sido utilizada na literatura psicológica de
modo impreciso e, muitas vezes, incorreta do ponto de vista dos pressupostos dessa
ferramenta estatística. Assim, o uso dessa técnica para a análise da estrutura latente dos
dados coletados por meio da administração do Inventário de Externalização refletiu o
uso informado e rigoroso da análise de fatores comuns.
Outro aspecto desta dissertação que merece destaque é a própria temática de
estudo. O Modelo Espectral de Externalização é um modelo teórico atual e que
apresenta grande interesse por parte de pesquisadores em âmbito internacional. Além
105
disso, esta é a primeira tentativa formal de se avaliar tal proposição teórica no contexto
nacional, o que, claramente, destaca a contemporaneidade da presente investigação.
7.2 LIMITAÇÕES O Inventário de externalização foi construído com o intuito de se delinear um
modelo quantitativo do Modelo Espectral de Externalização (Krueger et al., no prelo).
Teoricamente, a validação desse inventário e, portanto, do referido modelo teórico
deveria colocar à prova os outros pressupostos relacionados ao modelo e não somente a
presença de um fator geral – fator de externalização – no topo da estrutura latente
extraída a partir dos dados coletados. Pressupostos quanto à normalidade da distribuição
e a unidimensionalidade tanto das facetas da externalização – representadas pelas 23
três subescalas – quanto do fator de externalização – representado pelo escore total do
Inventário de externalização – deveriam ter sido testados. Além disso, segundo Krueger
et al. (no prelo), o modelo estrutural que melhor se adapta aos dados é um modelo
hierárquico de um fator com dois subfatores. Por fim, Krueger et al. (no prelo)
produzem informações quanto ao funcionamento diferencial de cada uma das facetas do
fator de externalização em relação à severidade e ao poder de discriminação na amostra
coletada. Esses procedimentos não foram efetuados no presente estudo, pois – devido a
limitações de tempo e espaço – testar todos os pressupostos acerca do referido modelo
teórico por meio da aplicação do Inventário de Externalização vai muito além dos
objetivos de uma dissertação de mestrado.
106
7.3 APLICAÇÃO DO INVENTÁRIO DE EXTERNALIZAÇÃO:
DIAGNÓSTICO PSICOPATOLÓGICO E O ESTUDO DAS
DIFERENÇAS INDIVIDUAIS NO CONTEXTO BRASILEIRO
Como mostrado por meio da revisão da literatura especializada realizada para se
fundamentar esta dissertação, uma diversidade de pesquisas advoga a substituição do
modelo psicopatológico atual – operacionalizado pelo DSM-IV-TR (APA, 2002) – por
um modelo diagnóstico dos transtornos mentais que tenha como eixo estruturante
dimensões psicopatológicas como, por exemplo, as dimensões de externalização e de
internalização. A princípio, a proposta parece simples de ser implementada e, acima de
tudo, justificável, empírica e teoricamente. Além disso, vários autores já discutiram
amplamente as vantagens de um modelo dimensional sobre um categorial. Widger e
Samuel (2005) argumentam que o uso de um modelo dimensional para a classificação e
para o diagnóstico psicopatológico solucionaria os problemas relacionados à
comorbidade clínica, às dificuldades em se estabelecer com clareza os limites entre um
diagnóstico e outro e de replicá-los em contextos culturais não ocidentalizados, entre
outros. Clark (2005) enfatiza que a utilização de dimensões psicopatológicas traria
maior consistência científica ao modo como se classifica os transtornos mentais, uma
vez que a comorbidade intra e inter-eixo seria acomodada pelo modelo como a
manifestação comum de traços temperamentais que antecedem e subjazem os
fenômenos psicopatológicos. Em contra partida, o sistema diagnóstico vigente
compreende a comorbidade como um fenômeno estranho ao sistema, além de separar
arbitrariamente os transtornos clínicos (eixo I) dos transtornos da personalidade e
retardo mental. Por fim, Krueger et al. (2005) argumentam que a co-ocorrência entre o
uso de substância, a conduta anti-social e traços de personalidade relacionados ao
107
controle de impulsos podem ser explicada por uma dimensão latente de externalização e
que a organização dos diagnósticos em eixos com base em dimensões psicopatológicas
traria a vantagem de associar transtornos que, comprovadamente, apresentam uma
etiologia comum, evoluindo de um modelo puramente descritivo para outro, mais
explicativo.
Para a perfeita implementação de um modelo dimensional, Widiger e Samuel
(2005) propõem a construção de instrumentos que avaliem as dimensões comuns entre
os transtornos mentais – como as dimensões de externalização e internalização ou uma
baseada no modelo dos cinco grandes fatores de personalidade, por exemplo – e a partir
da normatização desses instrumentos estabelecer pontos de corte para cada uma das
síndromes que pertençam ao especificado espectro. No que se refere à versão brasileira
do Inventário de Externalização, poderia ser criado um ponto de corte para o escore
total, com o intuito de verificar a presença de um transtorno do espectro da
externalização, e também poder-se-ia criar pontos de corte para cada agrupamento
primário ou fator de primeira-ordem, a fim de se especificar o transtorno principal. Por
exemplo, o escore total de um indivíduo no Inventário de Externalização identificaria
uma tedência relativamente alta à vulnerabilidade externalizante. Já os escores obtidos
por esse indivíduo nas suescalas do inventário, assim como nos escores fatoriais
(representados pelos três fatores de primeira-ordem), poderiam ajudar a especificar qual
dentre os transtornos externalizantes que mais bem caracterizaria o seu estado mental.
Caso fosse encontrado um escore acima do ponto de corte nas escalas de uso de
substâncias e problemas com substância e, conseqüentemente, no fator de
vulnerabilidade ao uso problemático de substância, poder-se-ia atribuir um diagnóstico
de dependência ou abuso de substâncias. Algumas avaliações extras refinariam o
diagnóstico. Dessa forma, ao indivíduo seria atribuído não somente um diagnóstico
108
diferencial (baseado em uma categoria nosológica), mas também sua posição relativa
em um espectro psicopatológico e uma constelação de informações a cerca de seu
funcionamento social e afetivo.
O procedimento descrito, segundo Widger e Samuel (2005), ofereceria uma
solução às limitações inerentes ao modelo categorial por representar com maior
verossimilhança o fenômeno psicopatológico. Todavia, isso não basta para que um
modelo seja amplamente aceito e utilizado pelos profissionais de saúde. Segundo First
(2005), um modelo diagnóstico dos transtornos mentais deve ser prático acima de tudo,
facilitando não somente a tomada rápida e eficiente de decisão em um contexto clínico,
mas também sendo capaz de auxiliar o desenvolvimento de pesquisas, livros didáticos e,
principalmente, facilitar o diálogo entre profissionais com diferentes formações em
áreas de atuação multidisciplinares – como o advogado, o psicólogo jurista e o
psiquiatra forense, por exemplo.
A utilização de categorias diagnósticas é útil pela praticidade de sua avaliação.
Em uma entrevista bem conduzida por um profissional habilitado, é possível se chegar a
um diagnóstico em apenas uma sessão. Ainda, por ser o diagnóstico mental realizado de
modo análogo ao diagnóstico físico – por meio de critérios observáveis – tem-se uma
impressão concreta acerca do diagnóstico, tornando fácil a compreensão do mesmo e de
seus critérios por parte das pessoas interessadas. Desse modo, um diagnóstico de
Transtorno de Personalidade Anti-Social ou Dependência de Cocaína seria de fácil
compreensão para um assistente social ou advogado, o que evidenciaria, assim, o
sucesso comunicativo dessas categorias nosológicas. Por outro lado, o uso desse sistema
produz diversas anomalias, como a presença de elevadas taxas de comorbidade, e se
mostra inverossímil ao fenômeno que pretende descrever, como mostrado por diversos
109
autores (CLARK, 2005, WIDIGER; SAMUEL, 2005; KRUEGER et al., 2005, CLARK
et. al, 1995, entre outros)
A implementação de um modelo diagnóstico misto dos transtornos mentais (um
sistema que inclui dimensões psicopatológicas e categorias nosológicas obtidas a partir
de pontos de corte nessas dimensões) elevaria, sobremaneira, a complexidade do
procedimento de avaliação e diagnóstico psicopatológico. First (2005) argumenta que
tal sistema dificultaria significativamente a comunicação entre profissionais e que sua
adaptação ao sistema de saúde resultaria em investimentos excessivos, tanto de capital
humano como financeiro. O treinamento de profissionais de saúde mental e áreas
relacionadas no referido sistema seria profundamente dispendioso e longo, uma vez que
não seria um terinamento meramente técnico que visaria a adapatação dos profissionais
a um novo modo diagnóstico, mas principalmente implicaria na introdução desses
profissionais a uma complexa, abstrata e nova forma de pensar sobre noções básicas de
saúde mental como normalidade, anormalidade, comorbidade, entre outras. Ainda, seria
estabelecida uma quebra clara entre doenças físicas que existiriam em um plano
concreto (“João é diabético”) e doenças mentais em um plano abstrato de
vulnerabilidade (“João apresenta uma tendência externalizante medianamente alta que
se manifiesta, principalemnte, em termos de um transtorno relacionado à dependência
de álcool”).
First (2005) sugere que um sistema dimensional deveria ser gradualmente
integrado ao DSM-V, começando pelo modo como se classificam os transtornos da
personalidade. O diagnóstico de transtorno de personalidade consistiria em atribuir
escores de severidade (baseados na contagem dos sintomas) em 10 dimensões básicas
de personalidade. Para tanto, poder-se-ia desenvolver inventários padronizados para a
avaliação de tais dimensões. Apesar de esse procedimento ser mais próximo do atual e,
110
dessa maneira, facilitar a familiarização dos profissionais a um modelo dimensional,
isso trairia o argumento em favor da adoção de dimensões para a avaliação clínica: a
superioridade teórica. O modelo dimensional se justifica por representar mais
adequadamente o comportamento anormal e a criação de 10 dimensões para a
personalidade não se justifica do ponto de vista da teoria. Assim, não são fáceis as
decisões no que tange à essa temática. Pesquisas futuras podem ajudar a esclarecer o
modo como esse problema poderia ser solucionado.
No Brasil, as críticas mais comuns ao modelo psicopatológico contemporâneo se
relacionam às suas implicações sociais, jurídicas e terapêuticas do que propriamente ao
modo como se define e organiza os transtornos mentais. Assim, as discussões que se
encontram na literatura especializada nacional se diferem das estrangeiras por não se
basearem, na maioria das vezes, em pesquisas empíricas cujo objetivo é o de verificar a
adequação da taxonomia psicopatológica ao fenômeno psicopatológico, mas, sim, o de
ressaltar a inconsistência de sua aplicabilidade a áreas técnicas típicas de atuação dos
agentes de saúde mental, como, por exemplo, a Psiquiatria Forense, a Psicologia
Jurídica, o planejamento de políticas públicas de reabilitação social de delinqüentes,
entre outras (GONÇALVES; BRANDÃO, 2005).
Neste sentido, Arantes (2005) e Carvalho (2005) avaliam, por exemplo, que os
diagnósticos aferidos a adolescentes ou adultos infratores têm um caráter constitutivo ou
personalista. Um indivíduo infrator seria, desse modo, um produto de sua própria
biologia ou de tendências inconscientes que, por sua vez, seriam independentes do
ambiente sociocultural em que se desenvolveram. As categorias psicopatológicas
seriam, portanto, compreendidas pelas esferas do poder (peritos, juízes, entre outros) e
legitimadas pela sociedade como aspectos inerentes e específicos de indivíduos que
111
desviam da normalidade e que devem, compulsoriamente, ser recolocados na linha
dessa normalidade.
Neste sentido, Foucault se torna uma das principais bases de referência nacional,
uma vez que propõe uma análise desconstrutiva da própria noção de normalidade, mais
ligada à coerção social e cultural do que, propriamente, a uma realidade natural.
Foucault (1977) propõe que o sistema carcerário seria um local substitutivo, em que o
infrator não é avaliado como um indivíduo, ou mesmo por sua vida, ou pelos seus atos
pregressos, mas sim enquadrado na categoria de “delinqüente” pela lei. Assim, o
psicólogo, munido de seu instrumentário teórico e prático, trabalha como uma espécie
de “biógrafo” cujo intuito é tão somente confirmar o estado de delinqüente do infrator
por meio de alguma categoria nosológica e de traços de personalidade incompatíveis
com uma vida produtiva em sociedade. O trabalho da avaliação psicológica não
funcionaria, então, como uma ferramenta que permitiria a compreensão da conduta do
indivíduo, levando-se em consideração toda a sua complexidade, mas sim a de
classificar o indivíduo como diferente do resto da sociedade.
Apesar de relevantes às práticas de psicólogos e psiquiatras, as referidas
críticas se relacionam ao modo indevido como o diagnóstico psicopatológico é
assimilado pelos referidos profissionais e pelo sistema social. Em momento algum é
discutida ou criticada a validade do modo como se conceitualiza e se diagnostica os
transtornos mentais ou mesmo da adequação do modelo teórico ao fenômeno
“comportamento anormal”. Assim, a crítica se perde do ponto de vista científico e se
concentra no universo da política e da ética.
De acordo com o sistema DSM-IV, o comportamento anormal é medido por
meio do agrupamento de sintomas que codificam uma síndrome mental, uma categoria.
Desse modo, um indivíduo apresenta ou não uma determinada nosologia psiquiátrica
112
que o identifica como doente mental. Assim, o “delinqüente” ou “alcoólatra” é um
indivíduo diferente do resto da sociedade e, por isso, torna-se legitimo interpretá-lo
como incompatível com o sistema social que produz e é produzido pelas pessoas de
bem e que. O Modelo Espectral de Externalização traz uma noção mais ampla e
quantitativa do “comportamento anormal”. A dimensão de externalização seria um traço
psicopatológico comum a todos os indivíduos que os diferenciaria pela intensidade com
que se manifesta. Desse modo, o “delinqüente” não seria alguém diferente de todos e
sim um indivíduo com um alto grau de vulnerabilidade à manifestação de condutas
socialmente consideradas como inadequadas e que, diante de fatores protetivos, poderia
não manifestá-las.
Se a adoção do Modelo Espectral de Externalização, do Inventário de
Externalização ou de outro modelo dimensional para o diagnóstico formal das
psicopatologias irá solucionar os problemas ressaltados no decorrer dessa dissertação,
não é possível e não cabe aqui responder. O fato é que a implementação de modelos
dimensionais está relativamente longe de ocorrer. Ainda assim, a perspectiva trazida por
tal visão é, certamente, uma revolução científica na área e que, como toda revolução,
trará modificações tanto teóricas como práticas.
113
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123
APÊNDICE A
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
“Adaptação e validação do inventário externalizante para um contexto brasileiro”
Orientadora: Ângela Maria Vieira Pinheiro
Mestrando: Hudson de Carvalho
Consentimento Livre e Esclarecido
Eu, voluntariamente, concordo em participar dessa pesquisa, realizada pelo Laboratório
Computadorizado dos Processos Psicológicos do Departamento de Psicologia da
UFMG, cujo objetivo e o desenvolvimento de um instrumento psicológico avaliativo do
comportamento impulsivo e do uso de substâncias químicas.
Minha participação se resume a responder, com sinceridade, às afirmativas dos
questionários ministrados (Inventário Externalizante e Inventário Resumido dos Cinco
fatores de Personalidade).
Minha participação é anônima e os dados obtidos serão utilizados exclusivamente para
fins de pesquisa pelo Laboratório Computadorizado dos Processos Psicológicos.
Sei que posso me recusar a participar desse estudo ou que posso abandoná-lo a qualquer
momento, sem precisar me justificar e sem qualquer constrangimento.
124
Sei que não está prevista qualquer forma de remuneração e que todas as despesas
relacionadas com o estudo são de responsabilidade do pesquisador – UFMG.
Esclareci todas as dúvidas e se durante o andamento da pesquisa novas dúvidas
surgirem tenho total liberdade para esclarecê-las com a equipe responsável.
Compreendo também que os pesquisadores podem decidir sobre minha exclusão do
estudo por razões científicas.
Portanto, concordo com o que foi exposto acima e dou o meu consentimento.
Belo Horizonte, de 2006
_______________________________________ Assinatura do voluntário
Declaro que expliquei os objetivos desse estudo, dentro dos limites dos meus
conhecimentos científicos.
_______________________________________ Assinatura do pesquisador responsável
Telefone de contato do pesquisador (31) 9683-9764 – 3499-6268 ou
E-mail do conselho de ética da UFMG: [email protected]
125
APÊNDICE B
INVENTÁRIO DE EXTERNALIZAÇÃO VERSÃO AMERICANA
Directions: This questionnaire contains statements that different people might use to
describe themselves. Most of these statements are followed by four choices: τ Τ Φ φ.
The meaning of these four different choices is given below:
τ = True Τ = mostly true Φ = mostly false φ = False
For each statement, fill in the bubble next to the choice that describes you best. There
are no right or wrong answers; just choose the answer that best describes you.
Remember: Fill only one bubble per statement.
Answer all of the items. Please work rapidly and do not spend too much time on any one
statement.
1. I've vandalized public property just for kicks. τ Τ Φ φ
2. I am a truthful person. τ Τ Φ φ
3. I have broken someone’s things to prevent them from being used.
τ Τ Φ φ
4. I've smoked marijuana before going to work or school. τ Τ Φ φ
5. I have had problems at work because I was irresponsible. τ Τ Φ φ
6. If I could control my impulses, my life would be much better. τ Τ Φ φ
7. People have avoided blame by taking advantage of me. τ Τ Φ φ
8. I tell the truth even when it gets me in trouble. τ Τ Φ φ
9. I’m sensitive to the needs of others. τ Τ Φ φ
126
10. There have been periods when I kept using drugs even though it caused me harm.
τ Τ Φ φ
11. I have been arrested or charged for drunk driving. τ Τ Φ φ
12. Others’ feelings are important to me. τ Τ Φ φ
13. I enjoy pushing people around sometimes. τ Τ Φ φ
14. Things are more fun if a little danger is involved. τ Τ Φ φ
15. I've enjoyed getting drunk now and then, just for fun. τ Τ Φ φ
16. I sympathize with others’ problems. τ Τ Φ φ
17. I don't see the point in getting high. τ Τ Φ φ
18. There have been periods when I kept drinking even though it caused me harm.
τ Τ Φ φ
19. I have made someone angry with me by doing something without thinking.
τ Τ Φ φ
20. I have lied to avoid paying back loans. τ Τ Φ φ
21. After cutting down on alcohol, I saw or heard things that weren't really there.
τ Τ Φ φ
22. I think carefully about what to do in most situations. τ Τ Φ φ
23. I care deeply about how others feel. τ Τ Φ φ
24. I have snorted drugs. τ Τ Φ φ
25. I have rarely (or never) been in a physical fight. τ Τ Φ φ
26. I’ve forgotten about a date I had with my spouse or partner. τ Τ Φ φ
27. I have felt guilty because of my drinking. τ Τ Φ φ
28. I have done things that put others in danger. τ Τ Φ φ
29. I pride myself on being responsible. τ Τ Φ φ
30. I have damaged someone's things to get something I wanted. τ Τ Φ φ
31. I have done things on impulse that led to others getting badly hurt or killed.
τ Τ Φ φ
32. I tried an illegal drug at a party. τ Τ Φ φ
33. I've insulted someone because they annoyed me. τ Τ Φ φ
34. I’ve rarely let people down. τ Τ Φ φ
35. At some point in my life, I couldn't get a buzz anymore from just a few drinks.
τ Τ Φ φ
36. I go along with the rules. τ Τ Φ φ
127
37. I've told lies about someone just to see how it would affect them.
τ Τ Φ φ
38. When someone gets hurt, I experience his/her pain. τ Τ Φ φ
39. I follow through on promises, even small ones. τ Τ Φ φ
40. I've had urges to use marijuana that were hard to resist. τ Τ Φ φ
41. I've never used marijuana in my life. τ Τ Φ φ
42. I have been late on my school assignments. τ Τ Φ φ
43. I have stolen something out of a vehicle. τ Τ Φ φ
44. I crave excitement. τ Τ Φ φ
45. I get in trouble for not considering the consequences of my actions.
τ Τ Φ φ
46. It’s easy for me to relate to other people’s emotions. τ Τ Φ φ
47. I almost always tell the truth. τ Τ Φ φ
48. I’ve used hard drugs. τ Τ Φ φ
49. I've smoked marijuana at parties. τ Τ Φ φ
50. My marijuana use has hurt my relations with family or friends.
τ Τ Φ φ
51. I have been unfairly blamed when I was just taking advantage of others' mistakes.
τ Τ Φ φ
52. I control myself and think before I do something. τ Τ Φ φ
53. It doesn’t bother me to see someone else in pain. τ Τ Φ φ
54. I have had to spend a lot of time getting over the effects of alcohol.
τ Τ Φ φ
55. I have run up big debts that I had trouble paying. τ Τ Φ φ
56. I'm not easily bored. τ Τ Φ φ
57. The faster over the speed limit the more fun the ride. τ Τ Φ φ
58. I've been hurt so many times I can't trust anymore. τ Τ Φ φ
59. I don't see any point in worrying if what I do hurts someone else.
τ Τ Φ φ
60. I’ve stood friends up. τ Τ Φ φ
61. I have brought a weapon into a fight. τ Τ Φ φ
62. I do not question authority. τ Τ Φ φ
63. I have borrowed money with no thought of paying it back. τ Τ Φ φ
128
64. I've ruined lives because I couldn't resist doing something I wanted.
τ Τ Φ φ
65. If something doesn't make my heart race a little, it's not as fun.
τ Τ Φ φ
66. I have bought expensive things without figuring out how I would pay for them.
τ Τ Φ φ
67. I have lied to get out of things I didn't want to do. τ Τ Φ φ
68. I have no problem waiting for things I want. τ Τ Φ φ
69. I have rolled a marijuana joint. τ Τ Φ φ
70. I tell the truth whenever others are involved. τ Τ Φ φ
71. I’m rarely late. τ Τ Φ φ
72. I have missed work without bothering to call in. τ Τ Φ φ
73. I seek out thrills almost everywhere I go. τ Τ Φ φ
74. I often feel a need to tell the truth. τ Τ Φ φ
75. When I drink alcohol, I drink at any time of the day. τ Τ Φ φ
76. I've asked someone to help bail me out of debt. τ Τ Φ φ
77. After trying to cut down on alcohol, I've had physical problems like sweating or feeling shaky.
τ Τ Φ φ
78. I do lots of things just to get a thrill. τ Τ Φ φ
79. I have not lived up to my end of a contract. τ Τ Φ φ
80. I've told lies about someone who upset me. τ Τ Φ φ
81. I've made big decisions without thinking them over. τ Τ Φ φ
82. I finish projects I start. τ Τ Φ φ
83. I'm not very obedient. τ Τ Φ φ
84. I have stolen money from family members. τ Τ Φ φ
85. At some point in my life, I needed more drugs to get the same effect.
τ Τ Φ φ
86. I have injected drugs. τ Τ Φ φ
87. I'm a planful person. τ Τ Φ φ
88. I have had strong urges I could not control. τ Τ Φ φ
89. I become bored when I try to relax. τ Τ Φ φ
90. I've had a hard time concentrating on things when I stopped using drugs for a while.
τ Τ Φ φ
129
91. My drug use led to problems at work or school. τ Τ Φ φ
92. My life would be better if I planned things ahead of time more.
τ Τ Φ φ
93. I have thrown something at a person who angered me. τ Τ Φ φ
94. I have never bought marijuana. τ Τ Φ φ
95. I've done all sorts of physical stunts. τ Τ Φ φ
96. Many problems in my life are caused by doing things without thinking.
τ Τ Φ φ
97. I have robbed a bank, store, or other business. τ Τ Φ φ
98. I'm very good at controlling my impulses. τ Τ Φ φ
99. I've injured people to see them in pain. τ Τ Φ φ
100. I have blacked out (couldn't remember what happened) as a result of drinking alcohol.
τ Τ Φ φ
101. I’ve missed a child support payment. τ Τ Φ φ
102. People have told me they're worried about my drinking too much alcohol.
τ Τ Φ φ
103. I sometimes insult people on purpose to get a reaction from them.
τ Τ Φ φ
104. I don't like to do risky things for fun. τ Τ Φ φ
105. People often abuse my trust. τ Τ Φ φ
106. I would enjoy a party more if people were not smoking marijuana.
τ Τ Φ φ
107. I try to fill my life with action and excitement whenever possible.
τ Τ Φ φ
108. I feel bored a lot of the time. τ Τ Φ φ
109. I have enjoyed smoking marijuana with friends. τ Τ Φ φ
110. I've quit a job without giving two weeks notice. τ Τ Φ φ
111. I don't understand why people do risky things for a thrill. τ Τ Φ φ
112. I get bored easily. τ Τ Φ φ
113. I've had to drink more than I used to in order to get the same buzz.
τ Τ Φ φ
114. It's easy for me to resist temptation. τ Τ Φ φ
115. I've often ended up using more marijuana than I meant to. τ Τ Φ φ
116. I have gotten things from people by making them feel sorry for me.
τ Τ Φ φ
130
117. I have bought things using a stolen credit card or credit card number.
τ Τ Φ φ
118. When I haven’t used drugs in a while, I get restless. τ Τ Φ φ
119. I don't buy beer or liquor. τ Τ Φ φ
120. I have taken a drug like LSD or magic mushrooms. τ Τ Φ φ
121. I'm a victim of betrayal. τ Τ Φ φ
122. I don't lie very much. τ Τ Φ φ
123. I have rarely or never bought beer, wine, or liquor. τ Τ Φ φ
124. Others have told me they are concerned about my lack of self-control.
τ Τ Φ φ
125. I’ve used downers like Valium or Xanax for non-medical reasons.
τ Τ Φ φ
126. I plan my life carefully. τ Τ Φ φ
127. I find it hard to resist temptation. τ Τ Φ φ
128. I've made fun of someone who annoyed me. τ Τ Φ φ
129. I have used a weapon against someone who insulted me. τ Τ Φ φ
130. I don't enjoy drinking alcohol. τ Τ Φ φ
131. It doesn’t bother me when people around me are hurting. τ Τ Φ φ
132. People are always trying to unfairly pin the blame on me. τ Τ Φ φ
133. I have inhaled the fumes of something to get high, like paint or glue.
τ Τ Φ φ
134. I've never gotten drunk. τ Τ Φ φ
135. Truthfulness is important in all that I do. τ Τ Φ φ
136. I often get bored quickly and lose interest. τ Τ Φ φ
137. I've kept using marijuana even though it caused problems with my memory or health.
τ Τ Φ φ
138. I've often ended up drinking more than I should. τ Τ Φ φ
139. I am not a real caring person. τ Τ Φ φ
140. I am an understanding person. τ Τ Φ φ
141. At times I kept drinking alcohol even though it caused problems with family or friends.
τ Τ Φ φ
142. I have talked a stranger into giving me money. τ Τ Φ φ
143. I usually let people know when I'll be late. τ Τ Φ φ
131
144. I have taken items from a store without paying for them. τ Τ Φ φ
145. When I am at parties, I prefer drinks without alcohol. τ Τ Φ φ
146. I’ve let people down who trusted me. τ Τ Φ φ
147. When I want something, I want it right now. τ Τ Φ φ
148. I have robbed someone. τ Τ Φ φ
149. My wants often feel more like needs. τ Τ Φ φ
150. I taunt people just to stir things up. τ Τ Φ φ
151. I sometimes like to smash things just for the fun of it. τ Τ Φ φ
152. I've gotten in trouble because I missed too much school. τ Τ Φ φ
153. I have hurt an animal for fun. τ Τ Φ φ
154. I often do things just to keep from being bored. τ Τ Φ φ
155. I've gotten drunk. τ Τ Φ φ
156. I have tried smoking marijuana. τ Τ Φ φ
157. I've been mistreated too many times to remember. τ Τ Φ φ
158. I almost never miss work, even when I'm sick. τ Τ Φ φ
159. I've gone on drinking binges. τ Τ Φ φ
160. I have missed a final exam. τ Τ Φ φ
161. I have taken money from someone's purse or wallet without asking.
τ Τ Φ φ
162. I've spent more money on marijuana than I should have. τ Τ Φ φ
163. I have started a fight because it was exciting. τ Τ Φ φ
164. I’ve lost control of my alcohol use. τ Τ Φ φ
165. I have hit someone in the face or head in anger. τ Τ Φ φ
166. If I agree to do something, I almost always do it. τ Τ Φ φ
167. I have never bought drugs. τ Τ Φ φ
168. I gave up things I used to enjoy because of marijuana. τ Τ Φ φ
169. I have usually found my jobs and classwork to be boring. τ Τ Φ φ
170. I don't care about other people's problems. τ Τ Φ φ
171. I've made fun of someone to impress other people. τ Τ Φ φ
132
172. Sometimes I threaten people. τ Τ Φ φ
173. I've been accused of things I never did. τ Τ Φ φ
174. I gave up things I used to enjoy because of drugs. τ Τ Φ φ
175. I have lied to get someone to sleep with me. τ Τ Φ φ
176. People I’ve worked for would describe me as highly reliable. τ Τ Φ φ
177. I let others know if I’m running behind. τ Τ Φ φ
178. My drinking led to problems at home. τ Τ Φ φ
179. I’m good at understanding how others feel. τ Τ Φ φ
180. I lose control of myself and do things I probably shouldn't. τ Τ Φ φ
181. I’ve held someone down to get what I wanted from them. τ Τ Φ φ
182. I return insults. τ Τ Φ φ
183. I've done fun things that others thought were too dangerous. τ Τ Φ φ
184. I have written a check knowing it would not cash. τ Τ Φ φ
185. I've done risky things to get marijuana. τ Τ Φ φ
186. I have broken into a house, school, or other building. τ Τ Φ φ
187. I enjoy a good physical fight. τ Τ Φ φ
188. I've gone way out of my way to get alcohol. τ Τ Φ φ
189. I spent a long time recovering from the effects of marijuana. τ Τ Φ φ
190. Sometimes I use my wits to take advantage of people. τ Τ Φ φ
191. If someone hit me, I would probably walk away without fighting.
τ Τ Φ φ
192. At times, marijuana has been more important to me than work, friends, or school.
τ Τ Φ φ
193. I've used drugs when it might be hazardous, like while driving a car.
τ Τ Φ φ
194. I don’t like the effects of alcohol. τ Τ Φ φ
195. I've felt nervous or uptight after trying to cut down on drinking alcohol.
τ Τ Φ φ
196. People think of me as dependable. τ Τ Φ φ
197. I quickly get bored if I don't have something to do. τ Τ Φ φ
198. I take time to listen to others. τ Τ Φ φ
133
199. I keep appointments I make. τ Τ Φ φ
200. I have used physical force to take something from someone. τ Τ Φ φ
201. One or more times in my life, I have beaten someone up for bothering me.
τ Τ Φ φ
202. I hate waiting to get things that I want. τ Τ Φ φ
203. I have spread rumors about people who were competing with me.
τ Τ Φ φ
204. I have broken things because I was bored. τ Τ Φ φ
205. I’ve taken an illegal drug that gave me a rush and made me more awake.
τ Τ Φ φ
206. I have lost a friend because of irresponsible things I've done. τ Τ Φ φ
207. I have snuck marijuana or hash into a public event. τ Τ Φ φ
208. I have used a weapon to get something I wanted. τ Τ Φ φ
209. I've used marijuana when it might be hazardous, like while driving a car.
τ Τ Φ φ
210. I get blamed for things that are really other people’s fault. τ Τ Φ φ
211. I rarely lie. τ Τ Φ φ
212. When I feel a need for something, it's hard to say no. τ Τ Φ φ
213. I rarely tell even little lies. τ Τ Φ φ
214. It takes a lot to keep me entertained. τ Τ Φ φ
215. I’ve told lies about someone else to make myself look better. τ Τ Φ φ
216. I can be counted on by others to keep my word. τ Τ Φ φ
217. I don't have much sympathy for people. τ Τ Φ φ
218. I've started a fire that caused damage, just for fun. τ Τ Φ φ
219. I lie sometimes without even thinking about it. τ Τ Φ φ
220. I usually think a lot about decisions before I make them. τ Τ Φ φ
221. When I say I’ll do something, I always follow through. τ Τ Φ φ
222. I've bought items used for smoking marijuana. τ Τ Φ φ
223. I've accidentally overdosed on drugs. τ Τ Φ φ
224. Most of the time, I have good self control. τ Τ Φ φ
225. I've had legal problems because of my drug use. τ Τ Φ φ
134
226. I've had more than five alcoholic drinks at one time. τ Τ Φ φ
227. I keep people waiting for me. τ Τ Φ φ
228. I have more fun when I'm not drunk. τ Τ Φ φ
229. I've had legal problems because I couldn't resist my impulses. τ Τ Φ φ
230. At times I've drunk enough alcohol to pass out. τ Τ Φ φ
231. I tried to stop doing drugs, but couldn't manage it. τ Τ Φ φ
232. Sometimes I cause trouble by not following the rules. τ Τ Φ φ
233. At times I have been controlled by my desires. τ Τ Φ φ
234. Many people consider me a rule breaker. τ Τ Φ φ
235. Even when I don’t do anything wrong, I still get blamed for it. τ Τ Φ φ
236. Having rules hasn't kept me from breaking them. τ Τ Φ φ
237. I don’t mind if someone I dislike gets hurt. τ Τ Φ φ
238. I've gotten high using marijuana. τ Τ Φ φ
239. I lose interest in things if they're not exciting. τ Τ Φ φ
240. I've had to use more marijuana to get the same high. τ Τ Φ φ
241. I've ruined the friendships of people who made me angry. τ Τ Φ φ
242. I keep my word. τ Τ Φ φ
243. When someone upsets me, I make sure no one else will have anything to do with them.
τ Τ Φ φ
244. I prefer not to drink alcohol. τ Τ Φ φ
245. I've driven while drunk. τ Τ Φ φ
246. I sometimes enjoy it when other people get left out. τ Τ Φ φ
247. I have lied to get ahead at work. τ Τ Φ φ
248. I have good control over myself. τ Τ Φ φ
249. I've spent big parts of my day using marijuana. τ Τ Φ φ
250. I’ve never taken illegal drugs. τ Τ Φ φ
251. I have a hard time waiting patiently for things I want. τ Τ Φ φ
252. Others have told me I'm a rebellious person. τ Τ Φ φ
135
253. I have been in trouble with the police for physically hurting someone who angered me.
τ Τ Φ φ
254. I have problems with being on time for things. τ Τ Φ φ
255. I don't like being around people who are using drugs. τ Τ Φ φ
256. I think lots of things are boring. τ Τ Φ φ
257. I usually end up taking more of the blame than I deserve. τ Τ Φ φ
258. My impulsive decisions have caused problems with loved ones.
τ Τ Φ φ
259. At some point in my life, I couldn't get high from a drug dose that worked before.
τ Τ Φ φ
260. I hardly ever drink alcohol. τ Τ Φ φ
261. I have gotten money from people by threatening to tell their secrets.
τ Τ Φ φ
262. I have been charged for crimes that weren't my fault. τ Τ Φ φ
263. I was never one to skip school. τ Τ Φ φ
264. My drinking has caused medical problems. τ Τ Φ φ
265. I've never used street drugs. τ Τ Φ φ
266. I think about things before I do them. τ Τ Φ φ
267. I usually don't do what I'm told. τ Τ Φ φ
268. When someone hits me, I hit back. τ Τ Φ φ
269. How other people feel is important to me τ Τ Φ φ
270. I’ve taken prescription medicine to get high. τ Τ Φ φ
271. I have been charged with assault. τ Τ Φ φ
272. My marijuana use led to legal problems. τ Τ Φ φ
273. I can relate to the feelings of others. τ Τ Φ φ
274. I've taken breaks from work or school to get high on marijuana.
τ Τ Φ φ
275. I used to get high on less marijuana than it takes now. τ Τ Φ φ
276. I've gotten hurt doing something for the thrill. τ Τ Φ φ
277. Stopping my drug use has put me in a bad mood. τ Τ Φ φ
278. I'm not one who drinks much. τ Τ Φ φ
279. I have a habit of breaking rules. τ Τ Φ φ
136
280. I have talked someone into having sex with me. τ Τ Φ φ
281. I've missed a rent or mortgage payment. τ Τ Φ φ
282. I have never smoked marijuana by myself. τ Τ Φ φ
283. I have more self-restraint than most people. τ Τ Φ φ
284. I've never lied to get someone in bed with me. τ Τ Φ φ
285. I don't think about the outcomes of my decisions enough. τ Τ Φ φ
286. I don’t drink. τ Τ Φ φ
287. I have lost valuable goods or money because I decided things too quickly.
τ Τ Φ φ
288. I've been greatly harmed by people who betrayed me. τ Τ Φ φ
289. I get upset when people are treated unfairly. τ Τ Φ φ
290. I like having a drink of alcohol to relax. τ Τ Φ φ
291. I have taken a purse or wallet from someone who was carrying it.
τ Τ Φ φ
292. I have failed to pay my taxes on time. τ Τ Φ φ
293. I get blamed for things that I don't do. τ Τ Φ φ
294. I have set up my day around getting and using drugs. τ Τ Φ φ
295. I've done things that were illegal just because they were exciting.
τ Τ Φ φ
296. I often disobey rules. τ Τ Φ φ
297. I have lied to get benefits I didn’t deserve. τ Τ Φ φ
298. I don't care much if what I do hurts others. τ Τ Φ φ
299. I've thought a lot about drinking. τ Τ Φ φ
300. I have no interest in trying drugs. τ Τ Φ φ
301. For me, honesty really is the best policy. τ Τ Φ φ
302. I don't need alcohol to have a good time. τ Τ Φ φ
303. I've thought about doing physical harm to someone who hurt me.
τ Τ Φ φ
304. I follow the rules less often than most people. τ Τ Φ φ
305. I rarely feel used. τ Τ Φ φ
306. I care about the effects of my actions on others. τ Τ Φ φ
137
307. Sometimes I function better with marijuana than without it. τ Τ Φ φ
308. I’m not someone who breaks the rules. τ Τ Φ φ
309. I have damaged someone’s things because it was exciting. τ Τ Φ φ
310. I care deeply about how my actions affect other people. τ Τ Φ φ
311. I have lied to the police. τ Τ Φ φ
312. I jump into things without thinking. τ Τ Φ φ
313. I have quit a job without having another source of support lined up.
τ Τ Φ φ
314. I often get in trouble for breaking rules. τ Τ Φ φ
315. A little alcohol makes a good time even better. τ Τ Φ φ
316. I would enjoy being in a high-speed chase. τ Τ Φ φ
317. I gave up things I used to enjoy because of my drinking. τ Τ Φ φ
318. My marijuana use has led to problems at home, work, or school.
τ Τ Φ φ
319. I have failed to show up to court when I was supposed to. τ Τ Φ φ
320. I have lied on a job application. τ Τ Φ φ
321. I don’t care much about how my actions affect other people. τ Τ Φ φ
322. I've gone out of my way to get marijuana. τ Τ Φ φ
323. I started using drugs earlier than most of my friends. τ Τ Φ φ
324. I have damaged someone’s property because I was angry with them.
τ Τ Φ φ
325. I've broken something belonging to someone else to get back at them.
τ Τ Φ φ
326. When I’ve stopped using drugs, I have had problems sleeping. τ Τ Φ φ
327. At times I don’t really care how others feel. τ Τ Φ φ
328. I'm a caring person. τ Τ Φ φ
329. I've hurt someone's feelings on purpose to get back at them. τ Τ Φ φ
330. I've failed to make payments on a loan. τ Τ Φ φ
331. I don't hesitate to complicate the lives of people who upset me.
τ Τ Φ φ
332. I vandalized someone's house or things because they were rude to me.
τ Τ Φ φ
333. I have stolen a car or truck. τ Τ Φ φ
138
334. My drug use has caused problems with my family. τ Τ Φ φ
335. I have knocked someone’s things to the ground for fun. τ Τ Φ φ
336. I plan before I act. τ Τ Φ φ
337. I sometimes enjoy hearing someone get chewed out. τ Τ Φ φ
338. There has been at least one time in my life where I couldn't function without alcohol.
τ Τ Φ φ
339. I've made a fool of someone because it made me feel good. τ Τ Φ φ
340. If I hurt someone, it's only because they're weak. τ Τ Φ φ
341. I have used more drugs for longer than I meant to. τ Τ Φ φ
342. I'm honest when I do business. τ Τ Φ φ
343. I have been in trouble with the law for something I did on impulse.
τ Τ Φ φ
344. I've tried to cut down on my marijuana use but couldn't seem to manage it.
τ Τ Φ φ
345. I've used alcohol to stop the shakes I got when I wasn't drinking.
τ Τ Φ φ
346. I've always picked up my children or family members on time.
τ Τ Φ φ
347. I have a strong sense of duty. τ Τ Φ φ
348. I have smacked someone who upset me. τ Τ Φ φ
349. I get blamed for things that I did not do wrong. τ Τ Φ φ
350. I avoid risk. τ Τ Φ φ
351. People use me. τ Τ Φ φ
352. I pay back loans. τ Τ Φ φ
353. Getting high doesn't appeal to me. τ Τ Φ φ
354. I spent a long time recovering from the effects of drugs. τ Τ Φ φ
355. I’m a person who follows the rules. τ Τ Φ φ
356. I've taken drugs to get over the bad effects of quitting a drug. τ Τ Φ φ
357. I've made rules about how much alcohol to drink but ended up drinking more anyway.
τ Τ Φ φ
358. I have failed to pay a traffic fine. τ Τ Φ φ
359. I don’t drink at parties. τ Τ Φ φ
360. My lack of self-control gets me in trouble. τ Τ Φ φ
139
361. I have not tried drinking hard liquor. τ Τ Φ φ
362. I often seem to be paying for other people's wrongs. τ Τ Φ φ
363. I've never had any desire to try an illegal drug. τ Τ Φ φ
364. Keeping people’s trust has always been a top priority for me. τ Τ Φ φ
365. It's difficult for me to tell a lie. τ Τ Φ φ
366. I get treated more unfairly than others. τ Τ Φ φ
367. The effects of my actions are other people's problems, not mine.
τ Τ Φ φ
368. I have been called a bully. τ Τ Φ φ
369. I’ve felt tired or run down after not using drugs for a while. τ Τ Φ φ
370. I get unfairly blamed for things. τ Τ Φ φ
371. I have destroyed property just for kicks. τ Τ Φ φ
372. I've often missed things I promised to attend. τ Τ Φ φ
373. I’m serious about the commitments I make. τ Τ Φ φ
374. I have been in treatment for my drug use. τ Τ Φ φ
375. It’s easy for me to ignore someone else’s pain. τ Τ Φ φ
376. I have conned people to get money from them. τ Τ Φ φ
377. I have broken into someone's home and taken things. τ Τ Φ φ
378. I usually do what I’m supposed to do. τ Τ Φ φ
379. I have no trouble blocking out the feelings of others. τ Τ Φ φ
380. At times, I've drunk enough alcohol to make me sick. τ Τ Φ φ
381. It does not take long for me to get tired of doing something. τ Τ Φ φ
382. I am sensitive to the feelings of others. τ Τ Φ φ
383. I've broken the law to get money for drugs. τ Τ Φ φ
384. I always tell the truth. τ Τ Φ φ
385. I've skipped work or meetings to satisfy sudden urges. τ Τ Φ φ
386. I've started a fire that caused damage to get back at someone who hurt me.
τ Τ Φ φ
387. My drinking has caused legal problems. τ Τ Φ φ
140
388. I have been caught shoplifting. τ Τ Φ φ
389. I truly feel others' emotions. τ Τ Φ φ
390. I'm not a drinker. τ Τ Φ φ
391. I have left a restaurant or gas station without paying my bill. τ Τ Φ φ
392. I often act on immediate needs. τ Τ Φ φ
393. I've missed work or school because of a hangover. τ Τ Φ φ
394. I've been blamed for things that are not my fault. τ Τ Φ φ
395. People often use me as a scapegoat. τ Τ Φ φ
396. I have set up my day around getting and drinking alcohol. τ Τ Φ φ
397. I have bought marijuana. τ Τ Φ φ
398. I like risky activities. τ Τ Φ φ
399. I've gotten into trouble after blindly going after what I wanted.
τ Τ Φ φ
400. I do not use physical force to get what I want. τ Τ Φ φ
401. People have told me they were worried about my marijuana use.
τ Τ Φ φ
402. I have stolen something worth more than $10. τ Τ Φ φ
403. I have often been disappointed by placing too much trust in others.
τ Τ Φ φ
404. I'll take my chances at getting hurt if it means having more fun.
τ Τ Φ φ
405. I talk badly about people who cause me trouble. τ Τ Φ φ
406. I have done something illegal just to see if I could avoid getting caught.
τ Τ Φ φ
407. I've tried to cut down on my drinking but couldn't seem to manage it.
τ Τ Φ φ
408. When I want something, nothing else seems important. τ Τ Φ φ
409. I've been fired from more than one job. τ Τ Φ φ
410. I am almost always on time for appointments. τ Τ Φ φ
411. After trying to cut down on drinking alcohol, I've felt sad or irritable.
τ Τ Φ φ
412. I'm honest with others. τ Τ Φ φ
413. My drinking led to problems at work or school. τ Τ Φ φ
414. I've hit someone because they made fun of me. τ Τ Φ φ
141
415. I’ve trembled and gotten sweaty when I stopped using drugs. τ Τ Φ φ
142
APÊNDICE C
INVENTÁRIO DE EXTERNALIZAÇÃO VERSÃO BRASILEIRA
Dados pessoais
Idade: _________ Curso/Profissão __________________ Sexo: Masculino ( ) Feminino ( )
Instruções: Este questionário contém afirmações que pessoas diferentes usariam para
descreverem a si mesmas. As afirmações são seguidas de quatro alternativas: V v f F. Os
significados dessas siglas são os seguintes:
V= Verdadeiro, v = em grande parte verdadeiro, f = em grande parte falso, F= Falso
Para cada afirmação, marque a alternativa que melhor descreve quem você é. Não há
respostas certas ou erradas, escolha apenas a resposta que melhor te descreve.
Atenção: marque apenas uma alternativa por afirmação.
Responda a todos os itens. Responda rapidamente e procure não gastar muito tempo em cada
item individual.
1. Eu já destruí propriedade pública só pela diversão. V
v
f
F
2. Eu sou uma pessoa verdadeira. V
v
f
F
3. Eu já quebrei as coisas de alguém para impedi-las de serem usadas.
V
v
f
F
4. Eu já fumei maconha antes de ir para o trabalho ou escola. V
v
f
F
5. Eu já tive problemas no trabalho porque fui irresponsável. V
v
f
F
6. Se eu pudesse controlar meus impulsos, minha vida seria muito melhor.
V
v
f
F
7. As pessoas já se livraram de culpa se aproveitando de mim. V
v
f
F
8. Eu falo a verdade mesmo quando isso me traz problemas. V
v
f
F
143
9. Eu sou sensível às necessidades dos outros. V
v
f
F
10. Já houve períodos em que eu continuei usando drogas ainda que isso tenha sido prejudicial para mim.
V
v
f
F
11. Eu já fui multado ou preso por dirigir embriagado. V
v
f
F
12. Os sentimentos dos outros são importantes para mim. V
v
f
F
13. Às vezes, eu gosto de mandar (controlar) nas pessoas. V
v
f
F
14. As coisas são mais divertidas se há um pouco de perigo envolvido.
V
v
f
F
15. Eu já gostei de ficar bêbado, vez ou outra, só pela diversão. V
v
f
F
16. Eu me solidarizo com os problemas dos outros. V
v
f
F
17. Eu não vejo razão em “ficar doido” de maconha. V
v
f
F
18. Já houve períodos nos quais eu continuei bebendo ainda que isso tenha me causado problemas.
V
v
f
F
19. Eu já fiz alguém ter raiva de mim ao fazer algo sem pensar. V
v
f
F
20. Eu já menti para evitar pagar empréstimos. V
v
f
F
21. Após diminuir o consumo de álcool, eu vi ou ouvi coisas que não existiam realmente.
V
v
f
F
22. Eu penso muito sobre o que fazer na maioria das situações. V
v
f
F
23. Eu me importo profundamente com a maneira como os outros se sentem.
V
v
f
F
24. Eu já cheirei drogas. V
v
f
F
25. Eu raramente (ou nunca) me envolvi em brigas corporais. V
v
f
F
26. Eu já me esqueci de compromissos com meu (minha) namorado(a) ou esposo(a).
V
v
f
F
27. Eu já me senti culpado por beber. V
v
f
F
28. Eu já fiz coisas que colocaram os outros em perigo. V
v
f
F
29. Eu me orgulho de ser responsável. V
v
f
F
30. Eu já danifiquei as coisas dos outros para conseguir algo que eu queria.
V
v
f
F
31. Eu já fiz coisas impulsivamente que acarretaram em pessoas se machucando gravemente ou morrendo.
V
v
f
F
32. Eu já experimentei uma droga ilegal em uma festa. V
v
f
F
144
33. Eu já insultei alguém porque ele/ela me irritou. V
v
f
F
34. Eu raramente decepciono as pessoas. V
v
f
F
35. Em algum ponto da minha vida, eu não consegui mais ficar “alegre” só com alguns drinques.
V
v
f
F
36. Eu cumpro regras. V
v
f
F
37. Eu já menti sobre alguém só para ver que efeito isso produziria nessa pessoa.
V
v
f
F
38. Quando alguém se machuca, eu sinto a sua dor. V
v
f
F
39. Eu cumpro promessas, até mesmo as pequenas. V
v
f
F
40. Eu já tive impulsos de usar maconha aos quais foi difícil resistir.
V
v
f
F
41. Eu nunca na minha vida usei maconha. V
v
f
F
42. Eu já atrasei a entrega de meus trabalhos escolares. V
v
f
F
43. Eu já roubei alguma coisa de um veículo. V
v
f
F
44. Eu anseio por agitação. V
v
f
F
45. Eu me envolvo em problemas por não pensar nas conseqüências das minhas ações.
V
v
f
F
46. Para mim, é fácil me relacionar com as emoções dos outros. V
v
f
F
47. Eu quase sempre falo a verdade. V
v
f
F
48. Eu já usei drogas pesadas. V
v
f
F
49. Eu já fumei maconha em festas. V
v
f
F
50. Meu uso de maconha feriu minhas relações com a família ou amigos.
V
v
f
F
51. Eu já fui culpado injustamente por tirar vantagem dos erros dos outros.
V
v
f
F
52. Eu me controlo e penso antes de fazer alguma coisa. V
v
f
F
53. Não me incomoda ver alguém sofrendo. V
v
f
F
54. Eu já tive que gastar muito tempo para me recuperar dos efeitos do álcool.
V
v
f
F
55. Eu já acumulei grandes dívidas às quais eu tive dificuldades para pagar.
V
v
f
F
56. Eu não fico entediado(a) facilmente. V
v
f
F
145
57. Quanto mais acima do limite de velocidade, mais divertido é o passeio.
V
v
f
F
58. Eu já fui magoado tantas vezes que não posso mais confiar em ninguém.
V
v
f
F
59. Eu não vejo porque me preocupar se o que eu faço puder machucar alguém.
V
v
f
F
60. Eu já “dei o bolo” em amigos. V
v
f
F
61. Eu já usei uma arma em uma briga. V
v
f
F
62. Eu não questiono a autoridade. V
v
f
F
63. Eu já peguei dinheiro emprestado sem pensar em pagar. V
v
f
F
64. Eu já arruinei vidas porque não pude resistir em fazer algo que eu queria.
V
v
f
F
65. Se algo não faz meu coração bater mais forte, não é tão divertido.
V
v
f
F
66. Eu já comprei coisas caras sem pensar em como pagaria por elas.
V
v
f
F
67. Eu já menti para me livrar de coisas que não queria fazer. V
v
f
F
68. Eu não tenho problemas em esperar por aquilo que eu quero. V
v
f
F
69. Eu já enrolei um cigarro de maconha. V
v
f
F
70. Eu digo a verdade sempre que há outras pessoas envolvidas. V
v
f
F
71. Eu raramente me atraso. V
v
f
F
72. Eu já faltei ao trabalho sem me importar em avisar. V
v
f
F
73. Eu corro atrás de emoções em quase todos os lugares que eu vou.
V
v
f
F
74. Na maioria das vezes, eu sinto necessidade de falar a verdade. V
v
f
F
75. Quando eu bebo álcool, eu bebo a qualquer hora do dia. V
v
f
F
76. Eu já pedi a alguém para me ajudar a sair de uma dívida. V
v
f
F
77. Ao tentar diminuir o consumo de álcool, eu tive problemas físicos, como ficar suando ou ter tremores.
V
v
f
F
78. Eu faço várias coisas só pela emoção. V
v
f
F
79. Eu já não cumpri a minha parte de um contrato. V
v
f
F
80. Eu já contei mentiras sobre alguém que me aborreceu. V
v
f
F
146
81. Eu já tomei grandes decisões sem pensar sobre elas. V
v
f
F
82. Eu concluo projetos que eu começo. V
v
f
F
83. Eu não sou muito obediente. V
v
f
F
84. Eu já roubei dinheiro de membros da minha família. V
v
f
F
85. Em algum ponto da minha vida, eu precisei de mais drogas para obter o mesmo efeito.
V
v
f
F
86. Eu já injetei drogas. V
v
f
F
87. Eu sou uma pessoa que faz planejamentos. V
v
f
F
88. Eu já tive fortes impulsos que foram difíceis de controlar. V
v
f
F
89. Eu fico entediado(a) quando tento relaxar. V
v
f
F
90. Por um período de tempo, já foi difícil me concentrar quando parei de usar drogas.
V
v
f
F
91. Meu uso de drogas causou problemas no trabalho ou escola. V
v
f
F
92. Minha vida seria melhor se eu planejasse as coisas com antecedência.
V
v
f
F
93. Eu já joguei algo em alguém que me fez raiva. V
v
f
F
94. Eu nunca comprei maconha. V
v
f
F
95. Eu já participei de todo tipo de atividade que envolve riscos físicos.
V
v
f
F
96. Muitos dos problemas na minha vida são causados por fazer as coisas sem pensar.
V
v
f
F
97. Eu já roubei um banco, uma loja ou outro tipo de negócio. V
v
f
F
98. Eu consigo controlar muito bem meus impulsos. V
v
f
F
99. Eu já feri pessoas para vê-las sofrendo. V
v
f
F
100. Eu já “apaguei” (não consegui lembrar o que aconteceu) em conseqüência da ingestão de álcool.
V
v
f
F
101. Eu já deixei de pagar a pensão alimentícia. V
v
f
F
102. As pessoas já me disseram que estão preocupadas com a minha ingestão de álcool.
V
v
f
F
103. Às vezes, eu insulto as pessoas de propósito, para obter uma reação delas.
V
v
f
F
104. Eu não gosto de fazer coisas arriscadas por diversão. V
v
f
F
147
105. As pessoas muitas vezes abusam da minha confiança. V
v
f
F
106. Eu aproveitaria muito mais as festas se as pessoas não estivessem fumando maconha.
V
v
f
F
107. Eu tento preencher minha vida com agitos e aventura sempre que possível.
V
v
f
F
108. Eu me sinto entediado(a) a maior parte do tempo. V
v
f
F
109. Eu já gostei de fumar maconha com amigos. V
v
f
F
110. Eu já saí de um emprego sem dar o aviso prévio. V
v
f
F
111. Eu não entendo porque as pessoas fazem coisas arriscadas buscando emoção.
V
v
f
F
112. Eu me entedio facilmente. V
v
f
F
113. Eu já tive que beber mais do que eu costumo para obter os mesmos efeitos.
V
v
f
F
114. Para mim, é fácil resistir às tentações. V
v
f
F
115. Muitas vezes, eu já acabei fumando mais maconha do que eu havia planejado.
V
v
f
F
116. Eu já consegui coisas das pessoas fazendo-as sentirem pena de mim.
V
v
f
F
117. Eu já comprei coisas usando um cartão de crédito ou seu número roubado.
V
v
f
F
118. Quando eu não uso drogas por um tempo, eu fico inquieto. V
v
f
F
119. Eu não costumo comprar cerveja ou destilados. V
v
f
F
120. Eu já usei drogas como LSD ou chá de cogumelo. V
v
f
F
121. Eu sou vítima de traição. V
v
f
F
122. Eu não minto muito. V
v
f
F
123. Eu raramente ou nunca comprei cerveja, vinho ou destilados. V
v
f
F
124. As pessoas já me falaram que se preocupam com a minha falta de autocontrole.
V
v
f
F
125. Eu já usei calmantes como Valium ou Lexotan por motivos não médicos.
V
v
f
F
126. Eu planejo minha vida cuidadosamente. V
v
f
F
127. Eu acho difícil resistir à tentação. V
v
f
F
128. Eu já gozei alguém que me irritava. V
v
f
F
148
129. Eu já usei uma arma contra alguém que me insultou. V
v
f
F
130. Eu não gosto muito de beber álcool. V
v
f
F
131. Não me incomoda quando pessoas ao meu redor estão sofrendo.
V
v
f
F
132. As pessoas estão sempre tentando pôr a culpa em mim injustamente.
V
v
f
F
133. Eu já inalei fumaça de alguma substância como cola ou tinta para “fazer a cabeça”.
V
v
f
F
134. Eu nunca fiquei bêbado(a). V
v
f
F
135. A honestidade é importante em tudo que eu faço. V
v
f
F
136. Eu, muitas vezes, fico entediado(a) e perco o interesse. V
v
f
F
137. Eu já continuei a usar maconha mesmo tendo me causado problemas de memória ou saúde.
V
v
f
F
138. Muitas vezes, eu já acabei bebendo mais do que devia. V
v
f
F
139. Eu não sou uma pessoa que realmente se importa com os outros.
V
v
f
F
140. Eu sou uma pessoa compreensiva. V
v
f
F
141. Já houve tempos em que eu continuei bebendo ainda que isso causasse problemas com a família ou amigos.
V
v
f
F
142. Eu já convenci um estranho a me dar dinheiro. V
v
f
F
143. Eu geralmente aviso quando vou me atrasar. V
v
f
F
144. Eu já peguei coisas de lojas sem pagar por elas. V
v
f
F
145. Quando eu vou a festas, prefiro drinques sem álcool. V
v
f
F
146. Eu já decepcionei pessoas que confiavam em mim. V
v
f
F
147. Quando eu quero algo, quero para já. V
v
f
F
148. Eu já assaltei alguém. V
v
f
F
149. Na maioria das vezes, sinto aquilo que quero como se fosse uma necessidade.
V
v
f
F
150. Eu gozo as pessoas só para “dar um agito” nas coisas. V
v
f
F
151. Às vezes, eu gosto de quebrar as coisas só pelo gosto de fazê-lo.
V
v
f
F
152. Eu já me meti em problemas por faltar muito à aula. V
v
f
F
149
153. Eu já machuquei um animal só pela diversão. V
v
f
F
154. Eu freqüentemente faço coisas só para não me sentir entediado(a).
V
v
f
F
155. Eu já fiquei bêbado(a). V
v
f
F
156. Eu já tentei fumar maconha. V
v
f
F
157. Eu já fui maltratado(a) tantas vezes que nem me lembro quantas.
V
v
f
F
158. Eu quase nunca falto ao trabalho, mesmo quando estou doente.
V
v
f
F
159. Eu já me envolvi em longas bebedeiras. V
v
f
F
160. Eu já perdi uma prova final. V
v
f
F
161. Eu já peguei dinheiro da carteira ou da bolsa de alguém sem pedir.
V
v
f
F
162. Eu já gastei mais dinheiro em maconha do que eu devia. V
v
f
F
163. Eu já comecei uma briga porque era excitante. V
v
f
F
164. Eu já perdi o controle do meu uso de álcool. V
v
f
F
165. Eu já bati na cabeça ou rosto de alguém por raiva. V
v
f
F
166. Se eu concordo em fazer algo, eu quase sempre o faço. V
v
f
F
167. Eu nunca comprei drogas. V
v
f
F
168. Eu já desisti de coisas das quais eu gostava por causa da maconha.
V
v
f
F
169. Muitas vezes, eu já achei meus empregos ou trabalhos de escola chatos.
V
v
f
F
170. Eu não ligo para os problemas dos outros. V
v
f
F
171. Eu já gozei alguém para impressionar outras pessoas. V
v
f
F
172. Eu ameaço as pessoas às vezes. V
v
f
F
173. Já fui acusado de coisas que eu não tinha feito. V
v
f
F
174. Já abandonei coisas que eu gostava por causa de drogas. V
v
f
F
175. Eu já menti para levar alguém para cama. V
v
f
F
176. As pessoas com quem eu já trabalhei me descrevem como altamente confiável.
V
v
f
F
150
177. Eu aviso às pessoas se eu estou atrasado. V
v
f
F
178. O meu hábito de beber me levou a ter problemas em casa. V
v
f
F
179. Eu sou bom em entender o que os outros sentem. V
v
f
F
180. Eu perco o controle de mim mesmo e faço coisas que eu provavelmente não deveria.
V
v
f
F
181. Eu já forcei alguém fisicamente para conseguir o que eu queria dele.
V
v
f
F
182. Eu revido insultos. V
v
f
F
183. Eu já fiz coisas divertidas que os outros achavam ser perigosas demais.
V
v
f
F
184. Eu já fiz cheques sabendo que estavam sem fundos. V
v
f
F
185. Eu já fiz coisas arriscadas para conseguir maconha. V
v
f
F
186. Eu já invadi uma casa, escola ou outro edifício. V
v
f
F
187. Eu gosto de uma boa briga. V
v
f
F
188. Houve momentos em que eu já fiz de quase tudo para conseguir álcool.
V
v
f
F
189. Eu já gastei muito tempo me recuperando dos efeitos da maconha.
V
v
f
F
190. Às vezes, eu uso minha esperteza para tirar vantagem das pessoas.
V
v
f
F
191. Se alguém me batesse, eu provavelmente iria embora sem brigar.
V
v
f
F
192. Já houve vezes em que a maconha foi mais importante para mim que o trabalho, amigos ou a escola.
V
v
f
F
193. Eu já usei drogas quando isso seria arriscado, como quando eu dirigia.
V
v
f
F
194. Eu não gosto dos efeitos do álcool. V
v
f
F
195. Eu já me senti nervoso(a) e estressado(a) após tentar diminuir o consumo de álcool.
V
v
f
F
196. As pessoas me acham digno(a) de confiança. V
v
f
F
197. Eu me entedio rapidamente se não tenho nada para fazer. V
v
f
F
198. Eu escuto os outros pacientemente. V
v
f
F
199. Eu cumpro os compromissos que eu assumo. V
v
f
F
200. Eu já usei de força física para tirar algo de alguém. V
v
f
F
151
201. Uma ou mais de uma vez na minha vida, eu já espanquei alguém por ter me amolado.
V
v
f
F
202. Eu detesto esperar para conseguir as coisas que eu quero. V
v
f
F
203. Eu já espalhei boatos sobre pessoas que estavam competindo comigo.
V
v
f
F
204. Eu já quebrei coisas por estar entediado(a). V
v
f
F
205. Eu já usei uma droga ilegal que me deu uma “acelerada” e me fez ficar mais "ligadão".
V
v
f
F
206. Eu já perdi um(a) amigo(a) por ter agido de forma irresponsável.
V
v
f
F
207. Eu já fui a um evento público com baseado escondido. V
v
f
F
208. Eu já usei uma arma para conseguir algo que eu desejava. V
v
f
F
209. Eu já usei maconha quando isso seria arriscado, como quando eu dirigia.
V
v
f
F
210. Culpam-me por coisas que, na realidade, são culpa de outros. V
v
f
F
211. Eu raramente minto. V
v
f
F
212. Quando eu sinto necessidade de algo, é difícil dizer não. V
v
f
F
213. Eu quase nunca conto mentiras, nem mesmo pequenas mentiras.
V
v
f
F
214. É preciso muito para que eu me mantenha entretido(a). V
v
f
F
215. Eu já contei mentiras sobre outra pessoa para melhorar a minha imagem.
V
v
f
F
216. As pessoas podem contar com a minha palavra. V
v
f
F
217. Eu não tenho muita solidariedade pelas pessoas. V
v
f
F
218. Eu já pus fogo em algo causando danos, só pela diversão. V
v
f
F
219. Às vezes eu minto sem nem perceber. V
v
f
F
220. Eu geralmente penso muito sobre as decisões antes de tomá-las.
V
v
f
F
221. Quando eu digo que vou fazer algo, eu sempre cumpro. V
v
f
F
222. Eu já comprei objetos que são usados para fumar maconha. V
v
f
F
223. Eu já tive uma overdose acidentalmente. V
v
f
F
224. Eu tenho um bom autocontrole na maior parte do tempo. V
v
f
F
152
225. Eu já tive problemas legais pelo uso de drogas. V
v
f
F
226. Eu já tomei mais de cinco drinques com álcool numa ocasião. V
v
f
F
227. Eu deixo as pessoas esperando por mim. V
v
f
F
228. Eu me divirto mais quando não estou bêbado(a). V
v
f
F
229. Eu já tive problemas com a lei porque eu não pude resistir aos meus impulsos.
V
v
f
F
230. Já aconteceu de eu ingerir tanto álcool que eu desmaiei. V
v
f
F
231. Eu tentei parar de usar drogas, mas eu não consegui. V
v
f
F
232. Às vezes, eu causo problemas por não seguir regras. V
v
f
F
233. Já aconteceu de eu ter sido controlado por meus impulsos. V
v
f
F
234. Muitas pessoas me consideram uma pessoa que quebra as regras.
V
v
f
F
235. Mesmo quando eu não faço nada de errado, ainda sim recebo a culpa.
V
v
f
F
236. A existência de regras não me impediu de quebrá-las. V
v
f
F
237. Eu não ligo se uma pessoa de quem eu não gosto se machuca. V
v
f
F
238. Eu já “viajei” usando maconha. V
v
f
F
239. Eu perco interesse pelas coisas se elas não são estimulantes. V
v
f
F
240. Eu já tive de usar mais maconha para obter o mesmo efeito. V
v
f
F
241. Eu já destruí a amizade entre pessoas porque elas me fizeram raiva.
V
v
f
F
242. Eu mantenho minha palavra. V
v
f
F
243. Quando alguém me magoa, eu me asseguro de que ninguém mais tenha contato com essa pessoa.
V
v
f
F
244. Eu prefiro não consumir álcool. V
v
f
F
245. Eu já dirigi quando estava bêbado(a). V
v
f
F
246. Às vezes, eu gosto quando as pessoas são excluídas de algo. V
v
f
F
247. Eu já menti para obter vantagens no emprego. V
v
f
F
248. Eu tenho um bom controle sobre mim mesmo(a). V
v
f
F
153
249. Eu já passei grande parte do meu dia usando maconha. V
v
f
F
250. Eu nunca usei drogas ilegais. V
v
f
F
251. Para mim é difícil esperar pelas coisas pacientemente. V
v
f
F
252. Já me disseram que eu sou uma pessoa rebelde. V
v
f
F
253. Eu já me meti em problemas com a polícia por machucar fisicamente alguém que me fez raiva.
V
v
f
F
254. Eu tenho dificuldade em ser pontual com as coisas. V
v
f
F
255. Eu não gosto de estar presente quando as pessoas usam drogas.
V
v
f
F
256. Eu acho um tanto de coisas chatas. V
v
f
F
257. Geralmente, eu acabo levando mais culpa do que mereço. V
v
f
F
258. As minhas decisões impulsivas já causaram problemas com pessoas queridas.
V
v
f
F
259. Em alguma ocasião da minha vida, eu não consegui ter a mesma “onda” com a quantidade de droga que funcionava antes.
V
v
f
F
260. Eu quase nunca consumo álcool. V
v
f
F
261. Eu já consegui dinheiro de pessoas ameaçando contar seus segredos.
V
v
f
F
262. Eu já fui acusado(a) de crimes que na verdade não eram minha culpa.
V
v
f
F
263. Eu nunca fui de matar aula na escola. V
v
f
F
264. Eu já tive problemas médicos por beber. V
v
f
F
265. Eu nunca usei drogas de rua (crack, merla, cola, etc.). V
v
f
F
266. Eu penso antes de fazer as coisas. V
v
f
F
267. Eu geralmente não faço o que me mandam fazer. V
v
f
F
268. Quando alguém me bate, eu bato de volta. V
v
f
F
269. O modo como os outros se sentem é importante para mim. V
v
f
F
270. Eu já usei remédios para “ficar doido”. V
v
f
F
271. Eu já fui indiciado(a) por agressão. V
v
f
F
272. O meu uso de maconha já me levou a ter problemas com a lei. V
v
f
F
154
273. Eu consigo me relacionar com os problemas dos outros. V
v
f
F
274. Eu já saí do trabalho ou da aula para fumar maconha e “fazer a cabeça”.
V
v
f
F
275. Eu ficava “doido” com uma menor quantidade de maconha do que é preciso hoje.
V
v
f
F
276. Eu já me machuquei fazendo algo só pela emoção. V
v
f
F
277. Interromper meu uso de drogas já me deixou de mal-humor. V
v
f
F
278. Eu não sou alguém que bebe muito. V
v
f
F
279. Eu tenho o hábito de quebrar regras. V
v
f
F
280. Eu já convenci alguém a transar comigo. V
v
f
F
281. Eu já deixei de pagar o aluguel ou a hipoteca. V
v
f
F
282. Eu nunca fumei maconha sozinho(a). V
v
f
F
283. Eu tenho mais autocontrole que a maioria das pessoas. V
v
f
F
284. Eu nunca menti para levar alguém para a cama. V
v
f
F
285. Eu não penso o suficiente sobre os resultados das minhas ações
V
v
f
F
286. Eu não bebo. V
v
f
F
287. Eu já perdi dinheiro ou coisas de valor por ter tomado decisões rápido demais.
V
v
f
F
288. Eu já fui muito prejudicado(a) por pessoas que me traíram. V
v
f
F
289. Eu fico incomodado(a) quando pessoas são tratadas injustamente.
V
v
f
F
290. Eu gosto de tomar um drinque para relaxar. V
v
f
F
291. Eu já tomei uma carteira ou bolsa de alguém. V
v
f
F
292. Eu já deixei de pagar os impostos na data certa. V
v
f
F
293. As pessoas me culpam por coisas que eu não faço. V
v
f
F
294. Meu dia já girou em torno de conseguir e usar drogas. V
v
f
F
295. Eu já fiz coisas ilegais apenas porque era emocionante. V
v
f
F
296. Eu muitas vezes desobedeço a regras. V
v
f
F
155
297. Eu já menti para obter benefícios que eu não merecia. V
v
f
F
298. Eu não ligo muito se o que eu faço machuca as pessoas. V
v
f
F
299. Eu já pensei muito em beber. V
v
f
F
300. Eu não tenho interesse em experimentar drogas. V
v
f
F
301. Em minha opinião, a honestidade é a melhor política. V
v
f
F
302. Eu não preciso de álcool para me divertir. V
v
f
F
303. Eu já pensei em ferir alguém que me machucou. V
v
f
F
304. Eu sigo as regras com menos freqüência que a maioria das pessoas.
V
v
f
F
305. Eu raramente me sinto usado(a). V
v
f
F
306. Eu me importo com os efeitos das minhas ações sobre os outros.
V
v
f
F
307. Às vezes, eu funciono melhor com maconha do que sem. V
v
f
F
308. Eu não sou uma pessoa que quebra regras. V
v
f
F
309. Eu já quebrei as coisas de alguém porque era emocionante. V
v
f
F
310. Eu me importo profundamente com os efeitos das minhas ações sobre os outros.
V
v
f
F
311. Eu já menti para a polícia. V
v
f
F
312. Eu me precipito nas coisas sem muita reflexão. V
v
f
F
313. Eu já larguei um emprego sem ter outra possível fonte de renda.
V
v
f
F
314. Muitas vezes, eu me meto em encrencas por quebrar as regras.
V
v
f
F
315. Um pouco de álcool torna o divertimento ainda mais divertido.
V
v
f
F
316. Eu iria gostar de participar de uma perseguição em alta velocidade.
V
v
f
F
317. Eu já abandonei coisas que eu gostava por causa da bebida. V
v
f
F
318. O uso de maconha já me causou problemas em casa, no trabalho ou na escola.
V
v
f
F
319. Eu já deixei de me apresentar ao tribunal quando deveria. V
v
f
F
320. Eu já menti num formulário de emprego. V
v
f
F
156
321. Eu não ligo muito sobre como minhas ações afetam os outros. V
v
f
F
322. Algumas vezes, eu já fiz de quase tudo para conseguir maconha.
V
v
f
F
323. Eu comecei a usar drogas antes da maioria dos meus amigos. V
v
f
F
324. Eu já danifiquei a propriedade de alguém por estar com raiva dessa pessoa.
V
v
f
F
325. Eu já quebrei algo de alguém para me vingar dessa pessoa. V
v
f
F
326. Quando eu parei de usar drogas, tive problemas para dormir. V
v
f
F
327. Às vezes, eu realmente não ligo para como as pessoas se sentem.
V
v
f
F
328. Eu sou uma pessoa que se importa com os outros. V
v
f
F
329. Eu já magoei alguém com o propósito de me vingar. V
v
f
F
330. Eu já deixei de pagar um empréstimo. V
v
f
F
331. Eu não hesito em complicar a vida de pessoas que me machucaram.
V
v
f
F
332. Eu já destruí a casa ou os pertences de alguém por essa pessoa ter sido rude comigo.
V
v
f
F
333. Eu já roubei um carro ou caminhão. V
v
f
F
334. O meu uso de drogas já causou problemas com a minha família.
V
v
f
F
335. Eu já joguei as coisas de alguém no chão pela diversão. V
v
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F
336. Eu planejo antes de agir. V
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337. Às vezes, eu gosto de ouvir alguém levando uma bronca. V
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338. Já houve pelo menos uma vez na minha vida em que eu não funcionei sem álcool.
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339. Eu já ridicularizei alguém para me sentir bem. V
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340. Se eu machuquei alguém, foi porque essa pessoa era fraca. V
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341. Eu já usei mais drogas por mais tempo do que eu planejava. V
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342. Eu sou honesto(a) quando faço negócios. V
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343. Eu já tive problemas com a lei por algo que fiz de impulso. V
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344. Eu já tentei diminuir o consumo de maconha, mas eu não consegui dar conta.
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345. Eu já usei álcool para diminuir as tremedeiras que eu tive quando não estava bebendo.
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346. Eu sempre busquei meus filhos ou pessoas da família na hora. V
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347. Eu tenho um forte senso de dever. V
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348. Eu já bati ou dei um tapa em alguém que me chateou. V
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349. Culpam-me por coisas que eu não fiz errado. V
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350. Eu evito riscos. V
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351. As pessoas me usam. V
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352. Eu pago os empréstimos que faço. V
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353. Ficar “doido” de maconha não me atrai. V
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354. Eu gastei muito tempo para me recuperar dos efeitos das drogas.
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355. Eu sou uma pessoa que segue as regras. V
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356. Eu já usei drogas para superar os efeitos do abandono do uso de uma droga.
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357. Eu já estabeleci limites para o meu consumo de álcool, mas, de todo jeito, acabei bebendo mais.
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358. Eu já deixei de pagar uma multa de trânsito quando deveria. V
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359. Eu não bebo álcool em festas. V
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360. Minha falta de autocontrole me traz problemas. V
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361. Eu nunca tomei bebidas fortes. V
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362. Muitas vezes, eu pareço pagar pelos erros de outras pessoas. V
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363. Eu nunca tive vontade de experimentar uma droga ilegal. V
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364. Manter a confiança das pessoas sempre foi uma prioridade para mim.
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365. Eu acho difícil mentir. V
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366. Eu sou tratado(a) mais injustamente que os outros. V
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367. Os efeitos das minhas ações são problemas dos outros, não meus.
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368. Eu já fui chamado de valentão/valentona. V
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369. Eu já me senti cansado(a) ou exausto(a) depois de usar drogas.
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370. Culpam-me injustamente pelas coisas. V
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371. Eu já destruí uma propriedade só pela diversão. V
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372. Muitas vezes, eu perdi eventos aos quais tinha prometido ir. V
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373. Eu levo a sério os compromissos que eu assumo. V
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374. Eu já estive (ou estou) em tratamento pelo uso de drogas. V
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375. Para mim, é fácil ignorar a dor de outra pessoa. V
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376. Eu já enganei uma pessoa para ganhar dinheiro dela. V
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377. Eu já invadi a casa de alguém e levei objetos. V
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378. Eu geralmente faço o que devo. V
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379. Para mim, é fácil ignorar os sentimentos dos outros. V
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380. Já aconteceu de eu beber tanto que fiquei passando mal. V
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381. Não leva muito tempo para que eu me canse de algo. V
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382. Eu sou sensível aos sentimentos dos outros. V
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383. Eu já infringi a lei para conseguir dinheiro para comprar drogas.
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384. Eu sempre digo a verdade. V
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385. Eu já faltei ao trabalho ou a reuniões para satisfazer anseios urgentes.
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386. Eu já comecei um incêndio que causou danos para me vingar de alguém que me magoou.
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387. O meu hábito de beber já me causou problemas com a lei. V
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388. Eu já fui pego(a) roubando em lojas. V
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389. Eu realmente sinto as emoções dos outros. V
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390. Eu não consumo bebidas alcoólicas. V
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391. Eu já saí de um restaurante ou posto de gasolina sem pagar. V
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392. Muitas vezes, eu ajo em resposta às minhas necessidades momentâneas.
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393. Eu já faltei ao trabalho ou à aula por causa de uma ressaca. V
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394. Já me culparam de coisas que não eram minha culpa. V
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395. As pessoas freqüentemente me usam de bode expiatório. V
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396. Meu dia já girou em torno de conseguir e consumir álcool. V
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397. Eu já comprei maconha. V
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398. Eu gosto de atividades arriscadas. V
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399. Eu já me meti em confusão após ter feito de tudo para conseguir o que queria.
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400. Eu não uso de força física para conseguir o que quero. V
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401. As pessoas já me disseram que se preocupam com o meu uso de maconha.
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402. Eu já roubei alguma coisa com valor superior a 10 reais. V
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403. Eu me decepciono freqüentemente por confiar demais nas pessoas.
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404. Eu me arriscarei a me machucar se isso significar ter mais diversão.
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405. Eu falo mal de pessoas que me causam problemas. V
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406. Eu já fiz algo ilegal só para ver se poderia evitar ser pego V
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407. Eu já tentei diminuir o consumo de álcool, mas não fui capaz. V
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408. Quando eu quero algo, nada mais parece ter importância. V
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409. Eu já fui demitido(a) de mais de um emprego. V
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410. Eu quase sempre sou pontual nos meus compromissos. V
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411. Após tentar diminuir o consumo de álcool, eu já me senti triste ou irritável.
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412. Eu sou honesto(a) com os outros. V
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413. Meu consumo de álcool já causou problemas no trabalho ou escola.
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414. Eu já bati em alguém por essa pessoa ter gozado de mim. V
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415. Eu já fiquei tremendo e suando quando eu parei de usar drogas.
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