Dissertação MCTA Nalba Lúcia Gomes da...

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA MESTRADO EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA AMBIENTAL NALBA LÚCIA GOMES DA SILVA ZOOTERÁPICOS UTILIZADOS EM COMUNIDADES RURAIS DO MUNICÍPIO DE SUMÉ, SEMIÁRIDO DA PARAÍBA, NORDESTE DO BRASIL E AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE ANTIBACTERIANA DA GORDURA DA JIBÓIA Boa constrictor (Linnaeus, 1758) CAMPINA GRANDE 2010

Transcript of Dissertação MCTA Nalba Lúcia Gomes da...

UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA

CENTRO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA

MESTRADO EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA AMBIENTAL

NALBA LÚCIA GOMES DA SILVA

ZOOTERÁPICOS UTILIZADOS EM COMUNIDADES RURAIS DO

MUNICÍPIO DE SUMÉ, SEMIÁRIDO DA PARAÍBA, NORDESTE D O BRASIL

E AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE ANTIBACTERIANA DA GORDURA DA

JIBÓIA Boa constrictor (Linnaeus, 1758)

CAMPINA GRANDE 2010

NALBA LÚCIA GOMES DA SILVA

ZOOTERÁPICOS UTILIZADOS EM COMUNIDADES RURAIS DO

MUNICÍPIO DE SUMÉ, SEMIÁRIDO DA PARAÍBA, NORDESTE D O BRASIL

E AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE ANTIBACTERIANA DA GORDURA DA

JIBÓIA Boa constrictor (Linnaeus, 1758)

Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Ciência e Tecnologia Ambiental da Universidade Estadual da Paraíba em cumprimento às exigências para obtenção do título de mestre.

ORIENTADOR: Dr. RÔMULO ROMEU DA NÓBREGA ALVES

CO-ORIENTADOR: Dr. HENRIQUE DOUGLAS MELO COUTINHO

CAMPINA GRANDE 2010

É expressamente proibida a comercialização deste documento, tanto na sua forma impressa como eletrônica. Sua reprodução total ou parcial é permitida exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, desde que na reprodução figure a identificação do

autor, título, instituição e ano da dissertação

FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL-UEPB

S586z Silva, Nalba Lúcia Gomes da.

Zooterápicos utilizados em comunidades rurais do município de Sumé, semiárido da Paraíba, Nordeste do Brasil e avaliação da atividade antibacteriana da gordura da jibóia Boa constrictor (Linnaeus, 1758) [manuscrito] / Nalba Lúcia Gomes da Silva. – 2010.

102 f. : il. color. Digitado Dissertação (Mestrado em Ciência e Tecnologia Ambiental),

Centro de Ciências e Tecnologias, Universidade Estadual da Paraíba, 2010.

“Orientação: Prof. Dr. José Rômulo Romeu da Nóbrega

Alves, Departamento de Biologia”. “Co-orientação: Pro. Dr. Henrique Douglas Melo Coutinho”. 1. Etnobiologia. 2. Etnozoologia. 3. Zooterapia. 4. Animais.

I. Título.

22. ed. CDD 591.7

NALBA LÚCIA GOMES DA SILVA

ZOOTERÁPICOS UTILIZADOS EM COMUNIDADES RURAIS DO

MUNICÍPIO DE SUMÉ, SEMIÁRIDO DA PARAÍBA, NORDESTE D O BRASIL

E AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE ANTIBACTERIANA DA GORDURA DA

JIBÓIA Boa constrictor (Linnaeus, 1758)

Banca Examinadora:

_________________________________________________ Prof. Dr. Rômulo Romeu da Nóbrega Alves

(Orientador)

__________________________________________________ Prof. Dr. Henrique Douglas Melo Coutinho

(Co-Orientador)

_________________________________________________ Prof. Dr. José da Silva Mourão

(Examinador interno)

__________________________________________________ Prof. Dr. Alberto Kioharu Nishida

(Examinador externo)

Dedicatória

Ao meu pai, por estar tão presente na minha vida, mesmo depois da sua ausência física.

A minha mãe, por seu exemplo de coragem e companheirismo, minha grande inspiração.

Aos meus irmãos, Normando e Ana Célia, por me deixarem fazer parte de suas vidas.

Aos meus irmãos e irmãs da Comunidade São Miguel Arcanjo, por me ajudarem na busca do Reino.

Agradecimentos

• A Deus, pelo dom da vida e por todas as pessoas que amo;

• Ao prof. Rômulo Romeu da Nóbrega Alves, pela orientação, compreensão e

dedicação a este trabalho;

• Ao prof. Henrique Douglas Melo Coutinho, pela co-orientação nesta pesquisa;

• Aos professores e colegas do Mestrado em Ciência e Tecnologia Ambiental –

UEPB, por todo o aprendizado;

• A todos os entrevistados nesta pesquisa, por compartilharam conosco seus

conhecimentos, experiências e sabedoria;

• As agentes comunitárias de saúde Zenilda Maria Ramos da Silva, Tânia Maria

Silva e Euda Maria Chaves, por todo o apoio e companheirismo no trabalho de

campo nas comunidades rurais de Sumé/PB;

• Ao Laboratório de Zoologia da Universidade Regional do Cariri – URCA;

• A Felipe Ferreira, pela valorosa participação neste trabalho;

• A Cinthia Costa, Vivyane Falcão, Wedson Souto e Cássio Oliveira, pela

colaboração, e presteza quando foi necessário;

• Aos professores José da Silva Mourão e Alberto Kioharu Nishida, por suas

participações nesta banca;

• A professora Dilma Trovão, por todo incentivo que me dispensou em minha

vida acadêmica;

• A toda a minha família e amigos, pelo incentivo e apoio durante este trabalho;

• A todas as pessoas que de alguma forma contribuíram para a realização deste

trabalho;

• A todos os aqueles que se dedicam a formação de cidadãos mais conscientes e

responsáveis com o meio ambiente e com a sociedade.

SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS

LISTA DE TABELAS

1. INTRODUÇÃO GERAL..................................................................................... 10

1.2 REFERENCIAL TEÓRICO.............................................................................. 14

1.2.1 Bioma Caatinga............................................................................................... 14

1.2.2 Etnobiologia e Etnozoologia........................................................................... 14

1.2.3 Etnofarmacologia ........................................................................................... 17

1.2.4 Etnomedicina.................................................................................................. 18

1.2.5 Zooterapia ...................................................................................................... 19

1.2.6 Répteis............................................................................................................. 21

2. CAPÍTULO I – ZOOTERÁPICOS UTILIZADOS EM COMUNIDA DES RURAIS DO MUNICÍPIO DE SUMÉ, SEMIÁRIDO DA PARAÍBA, NORDESTE DO BRASIL.....................................................................................

23

RESUMO................................................................................................................. 24

ABSTRACT............................................................................................................. 25

2.1 INTRODUÇÃO................................................................................................. 26

2.2 MATERIAIS E MÉTODOS.............................................................................. 29

2.2.1 Descrição da área de estudo............................................................................ 29

2.2.2 Coletas de dados.............................................................................................. 31

2.2.3 Análise dos dados............................................................................................ 32

2.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO....................................................................... 34

2.3.1 Recursos zooterápicos..................................................................................... 34

2.3.2. Doenças e remédios....................................................................................... 37

2.3.3 Aspectos culturais dos zooterápicos............................................................... 46

2.3.4 Perfil sócioeconômico dos informantes.......................................................... 48

2.3.5 Implicações ecológicas................................................................................... 50

2.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................ 62

3. CAPÍTULO II – AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE ANTIBACTERI ANA DA GORDURA DA JIBÓIA Boa constrictor (Linnaeus, 1758).........................

63

RESUMO................................................................................................................. 64

ABSTRACT............................................................................................................. 65

3.1 INTRODUÇÃO................................................................................................. 66

3.2 MATERIAIS E MÉTODOS.............................................................................. 70

3.2.1 Material zoológico.......................................................................................... 70

3.2.2 Preparação do óleo de Boa constrictor (OBC)............................................... 70

3.2.3 Cepas............................................................................................................... 70

3.2.4 Drogas............................................................................................................. 71

3.2.5 Teste de suscetibilidade as drogas.................................................................. 71

3.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO....................................................................... 72

3.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................. 79

REFERÊNCIAS....................................................................................................... 80

ANEXOS................................................................................................................. 98

Termo de compromisso livre e esclarecido.............................................................. 99

Termo de compromisso dos pesquisadores.............................................................. 100

Formulário de coletas de dados................................................................................ 101

LISTA DE FIGURAS

Capítulo I

Figura 1. Localização geográfica da área de estudo.................................................... 30

Figura 2. Classificação taxonômica das espécies utilizadas como zooterápicos na

área estudada..................................................................................................

34

Figura 3. Tupinambis merianae – Tejuaçú, animal usado como zooterápico no

município de Sumé, Paraíba..........................................................................

38

Figura 4. Quantitativo das matérias-primas animais usadas para fins medicinais........ 42

Figura 5. Animais usados para fins medicinais nas comunidades pesquisadas.

Acima (esquerda) Conepatus semistriatus (tacaca); acima (direita)

Callithrix jacchus (Sagui); abaixo (esquerda) Meleagris gallopavo (peru)

e Gallus domesticus (galinha); abaixo (direita) cauda de Euphractus

sexcinctus (Tatu-peba) e Dasypus novemcinctus (tatu-

verdadeiro).....................................................................................................

43

Figura 6. Recipientes contendo mel de Apis mellifera (esquerda) e Partamora

cupira (direita)...............................................................................................

46

Figura 7. Iguana iguana – Camaleão, réptil utilizado para fins medicinais no

município de Sumé/PB..................................................................................

47

Figura 8. Distribuição por faixa etária dos informantes da pesquisa............................ 48

Figura 9. Distribuição por nível de renda mensal dos informantes da pesquisa........... 49

Figura 10. Distribuição por grau de escolaridade dos informantes da pesquisa............. 49

Capítulo II

Figura 1. Boa constrictor, animal usado na medicina tradicional................................. 67

LISTA DE TABELAS

Capítulo I

Tabela 1.

Lista de doenças e agravos tratados com zooterápicos de acordo com CID

10 – Classificação Internacional de Doenças e Agravos Relacionados à

Saúde. (OMS, 2000)......................................................................................

39

Tabela 2.

Fator de Consenso dos informantes por categorias de doenças.....................

44

Tabela 3. Animais usados para fins medicinais em comunidades rurais do Cariri

Paraibano.......................................................................................................

53

Tabela 1.

Capítulo II

Concentração Inibitória Mínima de Óleo de Boa Constrictor (µg/mL)........

70

Tabela 2. Concentração Inibitória Mínima de Óleo de Boa Constrictor isolado e

associado à aminoglicosídeos (µg/mL).........................................................

70

10

1. INTRODUÇÃO GERAL

Fatores sociais, econômicos e culturais têm um papel fundamental em

determinar como os indivíduos e comunidades usam os recursos naturais (NAZAREA

et al. 1998), de forma que, a ação das diversas sociedades modela a natureza e seus

diversos habitats, construindo um território (DIEGUES et al. 1999). Ao longo dos

tempos a humanidade foi adquirindo um grande e diversificado conhecimento sobre a

utilidade das espécies e estabelecendo interações com recursos biológicos, o que tem

sido estudado através da etnociências. Nos últimos anos, informações etnoecológicas

têm representado importante ferramenta para estudos conservacionistas, auxiliando no

conhecimento da flora, fauna, e ecologia dos ambientes, indicando vários elementos

úteis para o desenvolvimento de uma região (FERNANDES-PINTO; MARQUES,

2004).

No Bioma Caatinga, recursos naturais vêm sendo utilizados de diversos modos,

tais como na alimentação, tratamento de doenças (medicinal), madeira (energia e

construção) e forragem. O uso de animais para tratamento de doenças é comum na

região, embora poucos trabalhos tenham sido realizados sobre o assunto (ALVES;

ROSA, 2007). A escassez de trabalhos sobre zooterapia no Brasil, assim como ocorre

em todo o mundo, tem contribuído para que a importância dos recursos zooterápicos

venha sendo subestimada no país (ALVES, 2006).

A conservação de animais e plantas de importância medicinal usados

popularmente gera questões relevantes com respeito à sustentabilidade. Algumas das

espécies usadas na medicina popular encontram-se ameaçadas de extinção (SILVA et

al., 2001; ALVES; ROSA, 2005; 2007) e a demanda criada pela medicina tradicional é

considerada uma das causas de exploração irracional de algumas espécies. Neste

11

contexto, evidencia-se a necessidade de estudos que enfoquem não somente a

documentação dos usos tradicionais de animais e plantas para fins terapêuticos, mas

também os aspectos culturais e ecológicos associados a tais práticas (ALVES; ROSA,

2005).

O uso de animais medicinais ou seus produtos, não se restringe a utilização

popular tradicional, mas estender-se à utilização pela indústria farmacêutica. Uma

porção significante das drogas atualmente disponíveis são derivados de animais

(ALVES; ROSA, 2005). O mercado mundial de medicamentos obtidos de produtos

naturais atinge hoje vários bilhões de dólares (COUTINHO, 2008). Com valor

econômico incalculável em diversas atividades, o maior potencial da biodiversidade

brasileira está, atualmente, na área de desenvolvimento de novos fármacos. A

terapêutica atual, com medicamentos de ações específicas sobre receptores, canais

iônicos e enzimas não teria sido alcançada sem a contribuição dos produtos naturais de

plantas, das toxinas animais e dos microrganismos (CRAGG et al., 1997; PANDEY,

1998; SHU, 1998). Como aponta Pieroni et al. (2002), os constituintes químicos e ações

farmacológicas de produtos medicinais de origem animal são conhecidos e os estudos

etnofarmacológicos focados nesse tipo de remédio são importantes a fim esclarecer a

sua eventual utilidade terapêutica.

No Semi-árido brasileiro, animais são amplamente usados para fins medicinais

(Alves 2009), de forma que a região pode ser usada como um estudo de caso buscando

aumentar nosso conhecimento acerca dos recursos faunísticos usados na medicina

tradicional, alertando para a necessidade de proteger a biodiversidade e o conhecimento

tradicional. É importante ressaltar ainda que a grande maioria dos animais medicinais

vem sendo consumida com pouca ou nenhuma comprovação de suas propriedades

farmacológicas, propagadas por usuários ou comerciantes. O presente estudo tem como

12

finalidade obter informações relativas aos vários aspectos da zooterapia, bem como,

uma caracterização do contexto sócio-cultural em que se dá a utilização dos recursos

zooterápicos no semiárido paraibano, além de realizar a investigação farmacológica de

uma espécie selecionada (Boa constrictor).

O trabalho está composto por esta Introdução Geral, que também apresenta

uma breve revisão da literatura, no tópico Referencial Teórico. Os resultados do

trabalho são apresentados e discutidos em capítulos distintos: Zooterápicos utilizados

em comunidades rurais do município de Sumé, semiárido da Paraíba, Nordeste do

Brasil e Avaliação da atividade antibacteriana da gordura da jibóia Boa constrictor

(Linnaeus, 1758)

13

1.2 REFERENCIAL TEÓRICO

1.2.1 Bioma Caatinga

O Nordeste do Brasil é coberto em sua maior parte por uma vegetação xerófila,

de fisionomia e florística variadas, denominada Caatinga (RODAL et al., 1992),

apresentando espécies arbóreo-arbustivas, cactáceas e ervas, dispersas por toda parte. A

Caatinga engloba uma área de aproximadamente 910.000 Km², incluindo, além do

Nordeste, onde ocupa mais de 70%, áreas marginais de Minas Gerais e Espírito Santo,

equivalendo em torno de 11% do território nacional (EMBRAPA, 1996). De acordo

com Rodal et al (1992), o clima é dominado por uma longa estação seca, as chuvas são

caracterizadas como torrenciais e irregulares, havendo períodos de extrema deficiência

hídrica, denominados de seca, que têm ocorrido com freqüência irregular a cada 10 a 20

anos. A região se caracteriza por apresentar temperaturas elevadas e ser a região mais

seca do país. A sua variabilidade espacial e temporal de precipitação é elevada, o que é

característico de climas semi-áridos. Os índices, de um ano para outro, apresentam

desvio de até 200% (ARRUDA, 1997).

As heterogeneidades dos ecossistemas presentes na caatinga demonstram o alto

grau de especialização que a comunidade foi submetida a se adaptar. As plantas

pertencentes à vasta zona de domínio das Caatingas não possuem características

uniformes, mas cada espécie detêm características intrínsecas que associadas aos fatores

ambientais que as permeiam, as distribuem de modo que suas áreas de ocorrência têm

um grau de sobreposição razoável. Tal fato permite identificar áreas nucleares, que se

diferenciam de áreas marginais justamente por terem maior número de características

14

consideradas básicas (SILVA et al, 2004). O conjunto florístico apresenta altos índices

de endemismo (ANDRADE-LIMA, 1966), com cerca de 30% da flora descrita de

caráter endêmico (GIULIETTI et al., 2002).

Na fauna da Caatinga, já há registros de 187 de abelhas (ZANELLA;

MARTINS, 2003), 240 de peixes (ROSA et al., 2003), 167 de répteis e anfíbios

(RODRIGUES, 2003), 62 famílias e 510 espécies de aves (SILVA et al., 2003) e 148

espécies de mamíferos (OLIVEIRA et al., 2003) cujo o grau de endemismo varia de 3 a

57% (LEAL et al., 2005). Estes valores demonstram que a caatinga possui uma

biodiversidade igual ou superior às demais florestas secas do mundo (LEAL et al.,

2003).

O semi-árido nordestino se apresenta como um dos mais populosos em nível

mundial se comparado com demais domínios semi-áridos, o adensamento humano,

atípico para uma região semi-árida, acentua a debilidade do seu ecossistema, e exigi

maior preocupação com a escassez dos recursos naturais (FRANCELINO et al, 2003).

1.2.2 Etnobiologia e Etnozoologia

A espécie humana possui uma interdependência com os demais elementos

bióticos do meio, que tem sido explicada pela hipótese da biofilia, segundo a qual o

homem teve 99% de sua história evolutiva intimamente envolvida com outros seres

vivos, tendo desenvolvido um significativo sistema informacional acerca das espécies e

do ambiente, que se traduz nos saberes, crenças e práticas culturais relacionados com a

fauna de cada lugar (SANTOS-FITA; COSTA-NETO, 2007). “Desse modo, as atitudes

15

do homem direcionadas aos animais evoluíram bem antes das primeiras tentativas de

representá-los tanto nas artes e na história quanto nas ciências” (SAX, 2001).

A etnobiologia parte da visão compartilhada da ciência sobre o mundo natural,

conforme definição de Posey (1987a):

A etnobiologia é essencialmente o estudo do conhecimento e das

conceituações desenvolvidas por qualquer sociedade a respeito da

biologia. Em outras palavras, é o estudo do papel da natureza no sistema

de crenças e de adaptação do homem a determinantes ambientais. Neste

sentido, a etnobiologia relaciona-se com a ecologia humana, mas

enfatiza as categorias e conceitos cognitivos utilizados pelos povos em

estudo (p. 15).

No Brasil, os modos de interação homem/fauna vêm sendo registrados desde a

época colonial (PISO, 1957). No entanto, de acordo com Costa-Neto (2004), os estudos

de etnozoologia ainda são escassos quando comparados com aqueles devotados à

etnobotânica.

O prefixo etno tem sido utilizado por designar, de maneira sintetizada, os modos

que as sociedades compreendem o mundo (MARTIN, 1995). Assim, o termo

etnobiologia significa “forma com que as diferentes populações humanas percebem,

classificam e entendem os recursos naturais” (CLÉMENT, 1998); quando o prefixo etno

é usado seguido do nome de uma ciência, como biologia ou zoologia, dá a entender que

os pesquisadores dessas áreas estão buscando as percepções de sociedades locais dentro

desses contextos (HAVERROTH, 1997).

O processo de formação do campo da etnobiologia e, por conseguinte, da

etnozoologia, foi estudado por Clément (1998). “Para este autor, três fases,

denominadas pré-clássica, clássica e pós-clássica, testemunham tanto as mudanças de

16

atitude quanto o enfoque teórico metodológico dos pesquisadores ao longo do tempo”

(SANTOS-FITA; COSTA-NETO, 2007).

De acordo com Nolan & Robbins (2001), a percepção, identificação e

classificação dos elementos faunísticos por parte de uma dada sociedade são

influenciadas tanto pelo significado emotivo quanto pelas atitudes culturalmente

construídas direcionadas aos animais. O comportamento humano frente aos animais é

formado pelo conjunto de valores, conhecimentos e percepções, bem como, pela

natureza das relações que os seres humanos mantêm com esses organismos (DREWS,

2002). Incluindo-se diferentes manifestações humanas frente à fauna, sejam estas,

inspiradas pela afeição, repúdio, reverência ou desprezo, indicando, por vezes, crendices

e aspectos cinegéticos locais (ROCHA-MENDES et al, 2005).

Tendo em vista, que o conhecimento zoológico tradicional é o resultado de

muitas gerações de saberes acumulados, experimentação e troca de informação

(ELLEN, 1997), espera-se que os conhecimentos que sociedades tradicionais possuem

sobre o comportamento, hábitos alimentares, reprodução e propriedades terapêuticas de

animais possam ser aproveitados tecnicamente para acumular informação zoológica e

iniciar ensaios de manejo e uso sustentável das espécies (MARTÍNEZ, 1995).

É imprescindível reafirmar que o conhecimento zoológico tradicional é sempre

situacional e modificável. Ele pode variar qualitativa e quantitativamente, inclusive de

acordo com o gênero, faixa etária e nível de empatia com o animal (ELLEN, 1997).

Porém, diante da escassez de registros de caráter biológico sobre a zooterapia, destaca-

se a possibilidade da perda de informações que poderiam subsidiar pesquisas

etnobiológicas, com formulações de hipóteses, inclusive no aspecto etnofarmacológico,

além de programas de saúde pública culturalmente planejados (SILVA et al, 2004).

17

Ao mostrar os diferentes modos em que o conhecimento sobre o mundo natural

está organizado em todo grupo humano, a etnobiologia oferece um tipo de relativismo

pelo qual é possível reconhecer outros modelos de apropriação da natureza não

necessariamente baseados no racionalismo e pragmatismo da ciência vigente. A

etnobiologia também serve de mediadora entre as diferentes culturas ao assumir seu

papel como disciplina dedicada à compreensão e respeito mútuo entre os povos

(POSEY, 1987).

1.2.3 Etnofarmacologia

A etnofarmacologia compreende uma divisão da etnobiologia, sendo uma

disciplina voltada para o estudo do complexo conjunto de relações entre plantas,

animais e sociedades humanas presentes ou pretéritas (BERLIN, 1992). Como

estratégia na investigação de animais e plantas usados para fins medicinais, a

abordagem etnofarmacológica consiste em combinar informações adquiridas junto às

comunidades que fazem uso da fauna ou flora local com estudos químicos e

farmacológicos realizados em laboratórios especializados. Neste aspecto, a seleção

etnofarmacológica de espécies animais e vegetais para pesquisa e desenvolvimento

baseados na informação de um efeito terapêutico, pode se constituir num valioso atalho

para descoberta de fármacos. Por se basear em informações de utilidade terapêutica, a

etnofarmacologia pode levar a identificação de produtos com mecanismos de ação

desconhecidos, ao contrário da abordagem mecanicista, que se baseia na interferência

dos produtos em teste com mecanismos farmacodinâmicos predeterminados

(ELISABETSKY, 1993).

18

Alguns problemas dificultam o aproveitamento da biodiversidade no Brasil para

o desenvolvimento de novos fármacos, o que cria a necessidade do estabelecimento de

políticas e ações de caracterização, conservação e proteção da diversidade genética

vegetal, como também a criação de indústrias de base tecnológicas, além da formação e

qualificação de recursos humanos. Não menos importantes são as ações relacionadas à

propriedade intelectual e industrial, cujas leis vigentes são passíveis de alterações para

melhor adequação ao panorama atual, visando oferecer melhor controle e vigilância os

processos de bioprospecção no território nacional (COUTINHO, 2008). Nesse sentido,

a Convenção da Diversidade Biológica (CDB), assinada durante a Conferência das

Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada na cidade do Rio

de Janeiro em junho de 1992, deu ensejo a uma ampla discussão sobre o assunto. A

CDB têm como objetivos a conservação da diversidade biológica, a utilização

sustentável de seus componentes e a repartição justa e eqüitativa dos benefícios

derivados da utilização dos recursos genéticos, mediante o acesso a estes recursos e a

transferência de tecnologia da forma adequada, levando em conta todos os direitos sobre

tais recursos e tecnologias através do financiamento adequado (STROBL, 2000).

1.2.4 Etnomedicina

A Organização Mundial da Saúde estima que mais de 80% das necessidades

com cuidados de saúde nos países em desenvolvimento são resolvidas através das

práticas tradicionais (WHO, 2002). O uso de animais e plantas na atenção primária à

saúde corresponde uma necessidade para muitos que não dispõe de recursos para outras

formas de tratamento (ALVES, 2006). O Nordeste do Brasil apresenta uma das menores

rendas per capita do país (BRASIL, 2006), refletindo, conseqüentemente, no

19

desenvolvimento de atitudes em relação à saúde que inclui o uso de recursos biológicos

como alternativa terapêutica. Embora, de acordo com Costa-Neto (1999), a

etnomedicina tem tido um papel importante nas práticas de saúde de pessoas

pertencentes às diferentes classes sociais em todo Brasil.

Etnomedicina é a totalidade de saúde, conhecimento, valores, crenças,

habilidades e práticas de membros de uma sociedade incluindo todas as atividades

clínicas e não-clínicas que relatam para os necessitados de saúde (WHO, 2002). Na

etnomedicina, também considerada medicina tradicional são utilizados produtos da

fauna e flora. O uso de produtos silvestres como medicamento é uma característica inata

do homem, tanto quanto em outros animais (COSTA-NETO, 1996).

Ainda segundo a OMS, as práticas da medicina tradicional expandiram-se

globalmente na última década do século passado e ganharam popularidade. Essas

práticas são incentivadas tanto por profissionais que atuam na rede básica de saúde dos

países em desenvolvimento, como por aqueles que trabalham a medicina convencional é

predominante no sistema de saúde local (BRASIL, 2006).

1.2.5 Zooterapia

Desde épocas antigas os animais e os produtos derivados de seus órgãos e de

diferentes partes de seus corpos constituem parte do inventário das substâncias

medicinais usadas em muitas culturas, e tais usos ainda existem na medicina popular

dos dias atuais. Os arquivos, os papiros, e outras fontes históricas escritas de tratados de

medicina, demonstram como é antiga a prática de usar animais e seus derivados para

fins medicinais (LEV, 2003).

20

Documentos históricos indicam que o uso de animais medicinais no Brasil vem

desde a colonização (ALMEIDA, 2005). Entretanto, somente a partir dos anos 80,

estudos vêm demonstrando a importância da zooterapia para comunidades tradicionais

em diferentes regiões do Brasil (ALVES, 2006). Uma revisão recente sobre o tema

aponta que 287 espécies animais usadas na medicina tradicional no Brasil, embora esse

número possa ser ainda maior, se considerarmos que ainda são incipientes os estudos

sobre o tema (ALVES et al., 2007). A título de comparação, enquanto 3722 trabalhos

foram publicados acerca do uso de plantas medicinais no Brasil (CALIXTO, 2005),

apenas 28 trabalhos que tratam especificamente sobre o uso de animais para fins

medicinais foram publicados até o momento. A escassez de trabalhos sobre zooterapia

no Brasil, assim como ocorre em todo o mundo, tem contribuído para que a importância

dos recursos zooterápicos venha sendo subestimada no país.

Embora até mesmo o Ministério da Saúde através da Política Nacional de

Medicamentos reconheça a importância das pesquisas nessa área, como parte essencial

da Política Nacional de Saúde, no âmbito de suas diretrizes para o desenvolvimento

tecnológico, preconiza que “[...] deverá ser continuado e expandido o apoio às pesquisas

que visem ao aproveitamento do potencial terapêutico da flora e fauna nacionais,

enfatizando a certificação de suas propriedades medicamentosas” (BRASIL, 1998).

O uso de animais medicinais ocorre tanto em áreas rurais quanto em áreas

urbanas. Nas cidades, os animais medicinais são comercializados por erveiros em

mercados e feiras livres espalhados por todo o país (COSTA-NETO, 1999; ALMEIDA

& ALBUQUERQUE, 2002; SILVA et al., 2003; ALVES, 2007). Algumas espécies

animais comercializadas para uso medicinal estão registradas em livros e listas de

espécies raras ou ameaçadas e uma das causas se atribui à pressão exercida pelo

excessivo extrativismo (ALVES & ROSA, 2007). São evidentes as implicações

21

ecológicas, culturais, sociais e de saúde pública associadas a tal modalidade de uso da

fauna, a necessidade de estudos que visem inventariar as espécies animais utilizadas

para fins medicinais são fundamentais, assim como o contexto sócio-cultural associado

a esses usos.

Por outro lado, é importante salientar que o uso de animais devido ao seu valor

medicinal é uma das formas de utilização da diversidade biológica (CELSO, 1992). Por

séculos, povos indígenas vêm coletando plantas e animais sem ameaçar a dinâmica

populacional das espécies devido ao baixo nível de exploração (ANYINAM, 1995).

Begossi e Braga (1992) sugerem que animais utilizados na medicina caseira podem

estar sendo preservados como fonte de remédios. Embora algumas das espécies

medicinais estejam ameaçadas e o uso seja um fator adicional de pressão sobre essas

espécies, pode-se perceber que o impacto dessa prática é pouco expressivo nas áreas

estudadas, sobretudo quando comparado a outros fatores, como a degradação de habitat

e captura desses animais para outros fins que não medicinais, causas evidentes do

declínio populacional de algumas espécies (ALVES, 2006). Desse modo, é importante

deixar claro que, apesar da prática da etnomedicina por populações tradicionais não

estar dissociada da degradação ambiental, ela é uma parte integral da cultura de povos

indígenas em muitas partes do mundo, tendo uma interface fechada com ecossistemas

locais, conforme explicita Anyinam (1995).

1.2.6 Répteis

O Brasil possui uma das maiores diversidades biológicas do mundo em répteis, e

deve ocupar a terceira colocação na relação de países com maior riqueza de espécies,

atrás somente da Austrália e do México (BENÍCIO et al, 2009) No Brasil são

22

encontradas 708 espécies de répteis naturalmente ocorrentes e se reproduzindo em

nosso país, sendo: 36 quelônios; 06 jacarés; 237 lagartos; 64 anfisbênias; e 365

serpentes (SBH, 2009).

Sendo que, diversas espécies de répteis são utilizadas para fins terapêuticos,

tanto na medicina tradicional, quanto na medicina convencional. Vários trabalhos vêm

sendo realizados com o intuito de descrever as propriedades clínico-farmacológicas de

substâncias isoladas a partir de répteis. Liu et al. (2008) demonstram o efeito anti-tumor

de extratos do lagarto Gecko japonicus (Boulenger, 1885) amplamente utilizado na

medicina tradicional chinesa. As lisozimas das tartarugas Trionyx sinensis (Wiegmann,

1835), Amyda cartilagenea (Boddaert, 1770) e Chelonia mydas (Linnaeus, 1758)

demonstraram uma alta atividade bactericida (Thammasirirak et al., 2006). Morais et al.

(2009) relataram a atividade anti-coagulante da anti-trombina do veneno da serpente

Bothrops jararaca (Wied,1824). Ciscotto et al. (2009) descreveram a atividade

bactericida e antiparasitária do ácido L-amino oxidase proveniente do veneno de B.

jararaca.

Dentre os diversos répteis utilizados na medicina popular no Brasil, encontra-se

a Boa constrictor (Linnaeus, 1758), usada em diversas regiões do país (COSTA-NETO,

1999; ALVES et al., 2009). Segundo Fordham et al. (2007) e Todd & Andrews (2008),

as jibóias apresentam um tamanho variável, podendo chegar a quatro metros de

comprimento, com corpo cilíndrico e ligeiramente comprimido nas laterais,

evidenciando uma forte musculatura constritora. O sistema de acasalamento conforme

descritos por Isaza et al. (1993); Bertona & Chiaraviglio (2003) e Chiaraviglio et al.

(2003) é poligâmico. Sendo sua gordura utilizada na medicina popular, para tratar

doenças como: reumatismo, dor de ouvido e de garganta, entre outras (ALVES, 2009;

ALVES; ROSA, 2006).

23

CAPÍTULO I

2- ZOOTERÁPICOS UTILIZADOS EM COMUNIDADES

RURAIS DO MUNICÍPIO DE SUMÉ, SEMIÁRIDO DA

PARAÍBA, NORDESTE DO BRASIL.

24

ZOOTERÁPICOS UTILIZADOS EM COMUNIDADES RURAIS DO

MUNICÍPIO DE SUMÉ, SEMIÁRIDO DA PARAÍBA, NORDESTE D O BRASIL.

RESUMO

O presente capítulo objetivou documentar e analisar o uso de animais para fins

medicinais em comunidades rurais do município de Sumé/PB, semiárido nordestino, A

pesquisa foi realizada de dezembro de 2008 a setembro de 2009, através de

questionários semiestruturados, sendo entrevistados 92 informantes. Foram

identificadas 57 espécies de animais usadas para fins medicinais, destas, 40 vertebrados

e 17 invertebrados, distribuídas em 08 categorias taxonômicas, destacando-se, com

maior número de citações: mamíferos (16), aves (12) e insetos (13) As espécies mais

citados pelos informantes foram: Tupinambis merianae (Duméril & Bibron, 1839) –

Tejuaçú (86 citações); Partamora cupira - Abelha cupira (84 citações); Gallus

domesticus (Linnaeus, 1758) - Galinha (76 citações); Apis mellifera (Linnaeus, 1758) -

Abelha italiano (58 citações); Phrynops geoffroanus (Schweigger, 1812) – Cágado (55

citações); Foram citadas 93 doenças e agravos tratadas com animais medicinais. A

categoria de doenças com maior número de citações de uso foi: doenças do aparelho

respiratório (443 citações). Os resultados sugerem que a prática do uso de zooterápicos

na região é persistente e que o conhecimento popular sobre essas práticas de cura é parte

integrante da cultura da região. Assim, é evidente a necessidade de um aprofundamento

nos estudos referentes à zooterapia, no sentido da compreensão da interação

homem/ambiente/cultura, buscando conciliar a cultura regional e a conservação da

fauna.

Palavras-chave: Etnozoologia, Zooterapia, Medicina tradicional.

25

ABSTRACT

The present chapter aimed to document and analyze the use of animals for medical

purposes in rural communities from the country of Sumé/PB, which is located in the

northeastern semiarid. The research was realized from December 2008 to September

2009, through semi-structured questionnaires, and 92 informants were interviewed. 57

animal species used for medical purposes were identified, among these, 40 vertebrate

and 17 invertebrate ones, distributed in 08 taxonomic categories, being posted, with the

largest number of citations: mammals (16), birds (12) and insects (13). The most cited

species by the informants were: Tupinambis merianae (Duméril & Bibron, 1839) –

“Tejuaçú” (86 citations); Partamora cupira – “Cupira bee” (84 citations); Gallus

domesticus (Linnaeus, 1758) - Hen (76 citations); Apis mellifera (Linnaeus, 1758) –

“Italian bee” (58 citations); Phrynops geoffroanus (Schweigger, 1812) – Tortoise (55

citations). 93 diseases and injuries treated with medical animals were cited. The

category of diseases with the largest number of citations of use was the respiratory

diseases (443 citations). The results suggest that the practice of using zootherapeutic in

the mentioned region is frequent and that the popular knowledge about these healing

practices is part of the culture of the region. Thus, it is evident the need of a deepening

in the studies that refer to the zootherapy, towards understanding the interaction

man/environment/culture, seeking to conciliate the regional culture and the wildlife

conservation.

Key words: Ethnozoology, Zootherapy, Traditional Medicine

26

2.1 INTRODUÇÃO

A ligação entre biodiversidade e a saúde humana é especialmente

importante em países subdesenvolvidos. A biodiversidade é uma fonte inestimável de

informação e matéria-prima que suporta sistemas de saúde. A medicina tradicional é

amplamente disponível e geralmente acessível à maioria de povos. Em muitos países em

desenvolvimento, grande parte da população, especialmente em áreas rurais, depende

principalmente da medicina tradicional para os cuidado básicos com saúde, porque é

mais barato e acessível do que a medicina oficial (SOFOWORA, 1993; LUOGA et al.,

2000; WHO, 2002). Além disso, a medicina tradicional é também mais aceita porque se

insere no contexto sócio-cultural das pessoas (TABUTI et al., 2003).

O Brasil é reconhecido por sua biodiversidade, possuindo uma riqueza biológica

que torna-se ainda mais importante quando associada a sua sociodiversidade, que

envolve vários povos e comunidades, com visões, saberes e práticas culturais próprias

(BRASIL, 2009).Dentre as diferentes formas de uso da biodiversidade pelas

comunidades tradicionais destaca-se a sua utilização como recurso terapêutico

(ANYINAM, 1995; SOUTO et al, 1999; ALMEIDA, 2005; COSTA-NETO, 1999;

2004; ALMEIDA; ALBUQUERQUE, 2002; LEV, 2003; SILVA et al, 2004; ALVES et

al , 2008; ALVES; ROSA, 2005; FERREIRA et al, 2009).

No Brasil, desde 1980 várias publicações mostram a importância de zooterápicos

para comunidades tradicionais de distintos contextos ambientais, sociais e culturais

(ALVES; ROSA; SANTANA, 2007a). Atualmente, sabe-se que pelo menos 290

animais são usados para propósitos medicinais no país (ALVES, 2008). Este número

está certamente subestimado, visto que a quantidade de estudos no tema é muito

27

limitada e se concentra principalmente em algumas localidades do Norte e Nordeste do

país, sobretudo em áreas costeiras e região Amazônica (por exemplo, ALVES; ROSA,

2007; BRANCH; SILVA, 1983; FIGUEIREDO, 1994; COSTA-NETO; MARQUES,

2000). Comparativamente, os biomas menos conhecido são a Caatinga e o Cerrado, dois

ecossistemas com graus de impacto bastante elevados (LEAL et al, 2005), para os quais

poucas informações sobre espécies medicinais estão disponíveis (ALVES et al, 2008),

embora nos últimos dois anos os trabalhos sobre o tema vem sendo realizados na

caatinga. Esse bioma, altamente ameaçado, cobre uma área vasta do Nordeste do Brasil,

sendo fonte de muitos recursos naturais pouco estudados, muitos dos quais usados para

fins medicinais (LEAL et al, 2005; ARAÚJO; CASTRO; ALBUQUERQUE, 2007;

ALBUQUERQUE et al, 2007).

Estudos sobre usos tradicionais de recursos faunísticos são de grande

importância para assuntos ligados à biologia de conservação, políticas de saúde pública,

manejo sustentável dos recursos naturais e prospecção biológica (ALVES, 2008). No

Nordeste do Brasil, especialmente na região semi-árida, animais e plantas são

extensamente usadas na medicina tradicional e tem papel significante em práticas

curativas (ALVES, 2009). A zooterapia forma uma parte integrante da cultura local, e

informações sobre animais e os seus usos são passadas de geração a geração através do

conhecimento de oral.

Nesse contexto, o objetivo desta pesquisa é documentar práticas zooterápicas em

comunidades rurais do Cariri Paraibano, mais especificamente do município de Sumé,

bem como, caracterizar o contexto sociocultural em que se dá a utilização dos recursos

zooterápicos nessas localidades. O estudo será desenvolvido em torno dos seguintes

questionamentos: Quais espécies animais são usadas como remédios? Quais são as

28

partes usadas para preparar os remédios? Quais são as doenças tratadas? Discute ainda

as implicações associadas a conservação das espécies exploradas.

29

2.2 MATERIAIS E MÉTODOS

2.2.1 Descrição da área de estudo

A pesquisa foi realizada em comunidades rurais do município de Sumé, que está

localizado na mesorregião da Borborema e microrregião do Cariri Ocidental, centro do

estado da Paraíba. O município limita-se ao Norte com São José dos Cordeiros, Amparo

e Itapetim (PE); ao Sul com Camalaú e Monteiro; a Leste com Serra Branca e Congo; e

a Oeste com Ouro Velho, Prata e Monteiro. Possui uma área de 864 Km², representando

1,53 % da área do estado. Distante 276 Km da capital do estado, João Pessoa/PB

(Figura 1). Suas coordenadas geográficas são 07º 40' 18" de latitude Sul e 36º 52' 48" de

longitude Oeste (EMBRAPA, 2006). A vegetação é basicamente composta por Caatinga

hiperxerófila com trechos de Floresta caducifólia, com o clima caracteristicamente do

tipo tropical semi-árido, com a pluviosidade média anual de cerca de 695mm e

temperatura média anual de 26,5ºC (ALBUQUERQUE et al., 2002).

A população do município é de 17.085 habitantes (IBGE, 2009), sendo o

segundo maior município de Cariri Ocidental Paraibano, em termos populacionais.

Destes habitantes, aproximadamente 66% residem na zona urbana e 34% na zona rural.

Apresenta Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,658 (ADH, 2004).

Os primeiros habitantes da região onde hoje está localizado o município foram

os índios Sucurús. Sumé surgiu a partir de um povoado chamado São Thomé, habitado

por colonos interessados em instalar fazendas de gado, utilizando estrutura já existente

deixada pelos índios Sucurús. Estes, aliados dos portugueses, participaram na defesa da

capitania contra a tribo dos Tapuias. O povoado de São Thomé foi elevado a Vila em

1819, com o lançamento da pedra fundamental da Capela de Nossa Senhora da

Conceição. (SILVA, 2008). O município teve sua emancipação política no ano de

1951, quando até então, era distrito da cidade de Monteiro.

30

Figura 1. Localização da área de estudo. Município de Sumé (07º 40' 18" S 36º 52' 48" W)

Sumé

31

2.2.2 Coletas de Dados

O trabalho de campo foi realizado de dezembro de 2008 a setembro de 2009,

junto a comunidades rurais do município de Sumé/PB. Durante os primeiros contatos

com a população local, foram identificados “especialistas locais”, ou seja, pessoas da

comunidade que são reconhecidas como detentoras de maior conhecimento acerca do

uso de animais para fins medicinais. Além dos especialistas, também foram

entrevistadas pessoas que demonstravam utilizar estes recursos. As informações foram

obtidas através de questionários semi-estruturados, complementadas por entrevistas

livres e conversas informais (ALBUQUERQUE; LUCENA, 2004). Antes de cada

entrevista foi explicada a natureza e os objetivos da pesquisa e solicitada à permissão

aos entrevistados para registrar as informações. A presente pesquisa foi aprovada pelo

Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual da Paraíba – CEP/UEPB

(Protocolo n° 0126.0.133000-09).

As entrevistas foram realizadas individualmente, abordando os seguintes

aspectos: nome do animal medicinal, partes utilizadas, doenças tratadas, forma como o

animal foi adquirido, a percepção dos informantes sobre a disponibilidade daquele

recurso (animal) no ambiente, a forma de aquisição do conhecimento sobre os animais

medicinais e os motivos pelos quais, essa forma de tratamento é escolhida. Além das

questões relacionadas ao perfil socioeconômico dos informantes, como: grau de

escolaridade, estado civil, atividade profissional, renda mensal e assistência médica

disponível.

A identificação das espécies foi realizada de forma semelhante ao procedimento

realizado por Alves e Rosa (2006), onde os animais foram identificados das seguintes

32

formas: 1) análise dos espécimes doados pelos entrevistados; 2) fotografias ou 3)

através dos nomes vernaculares, com o auxílio de taxonomistas familiarizados com a

fauna das áreas de estudo do Departamento de Sistemática e Ecologia da Universidade

Federal da Paraíba (UFPB).

2.2.3 Análise dos Dados

De início foi organizada uma lista dos animais citados e suas indicações

terapêuticas. Subseqüentemente, uma listagem com todas as espécies identificadas e

suas respectivas famílias. Todas as doenças tratadas pelos zooterápicos citados foram

agrupadas em categorias e codificadas (Tabela 1), com base na Classificação Estatística

Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde – CID-10 (OMS, 2000): 1)

Algumas Doenças Infecciosas e Parasitárias; 2) Neoplasias; 3) Doenças do sangue e dos

órgãos hematopoéticos e alguns transtornos imunitários; 4) Doenças Endócrinas,

Nutricionais e Metabólicas; 5) Transtornos Mentais e Comportamentais; 6) Doenças do

Sistema Nervoso; 7) Doenças do Olho e Anexos; 8) Doenças do Ouvido e da Apófise

Mastóide; 9) Doenças do Aparelho Circulatório; 10) Doenças do Aparelho Respiratório;

11) Doenças do Aparelho Digestivo; 12) Doenças da Pele e do Tecido Subcutâneo; 13)

Doenças do Sistema Osteomuscular e do Tecido Conjuntivo; 14) Doenças do Aparelho

Geniturinário; 15) Gravidez, Parto e Puerpério; 16) Sintomas, Sinais e Achados

Anormais de Exames Clínicos; 17) Lesões, Envenenamento e Algumas Outras

Conseqüências de Causas Externas. Foi ainda adicionada uma categoria, denominada de

“doenças indefinidas”, onde foram agrupadas as doenças com sintomas não específicos.

33

Fator de consenso

Para estimar a variabilidade de uso dos animais citados foi calculado o “Fator de

consenso dos informantes” (FCI), adaptado de Heinrich et al. (1998), (Tabela 2). Essa

análise permite identificar quais categorias de doenças apresentaram maior importância

nas comunidades pesquisadas. O FCI foi calculado através da seguinte fórmula:

1

nar naFCI

nar

−=−

Onde: FCI = Fator de consenso dos informantes; nar = somatório de usos registrados

por cada informante para uma categoria; na = número de espécies indicadas na

categoria.

Valor de uso

Para cada animal citado, calculou-se o seu respectivo valor de uso (adaptado da

proposta de PHILLIPS et al., 1994), (Tabela 3). O valor de uso demonstra a importância

relativa da espécie conhecida localmente, e é calculado através da seguinte fórmula:

UVU

n=∑

Onde: VU = valor de uso da espécie; U = número de citações por espécie; n = número

de informantes.

34

2.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

2.3.1 Recursos zooterápicos

No presente estudo, foram entrevistados 92 informantes, sendo 67 do sexo

feminino e 25 do sexo masculino, todos residentes na zona rural do município de

Sumé/PB. As localidades pesquisadas foram os sítios Caititu, Olho D’Água do Padre,

Conceição, Porteiras, Riacho das Porteiras, Cachoeirinha de Cima, Cachoeirinha de

Baixo e o Distrito de Pio X. Foram identificadas 57 espécies de animais usadas para fins

medicinais, destas, 40 são vertebrados e 17 invertebrados, distribuídas em 08 categorias

taxonômicas (Figura 2), dentre as quais destacam-se, com maior número de citações:

mamíferos (16 citações), insetos (13 citações), aves (12 citações) e répteis (9 citações).

13

1

2

1

3

9

12

16

0 2 4 6 8 10 12 14 16

Número de espécies

Insecta

Arachnida

Amphibia

Mollusca

Peixes

Reptilia

Aves

Mammalia

Cat

egor

ia ta

xonôm

ica

Figura 2. Classificação taxonômica das espécies utilizadas como zooterápicas na área estudada.

As espécies mais citadas pelos informantes foram: Tupinambis merianae

(Duméril & Bibron, 1839) – Tejuaçú (86 citações); Partamora cupira - Abelha cupira

(84 citações); Gallus domesticus (Linnaeus, 1758) - Galinha (76 citações); Apis

35

mellifera (Linnaeus, 1758) - Abelha italiana (58 citações); Phrynops geoffroanus

(Schweigger, 1812) – Cágado (55 citações); Bos taurus (Linnaeus, 1758) – Boi (46

citações); Crotalus durissus (Linnaeus, 1758) - Cascavel (41 citações); Ovis aries

(Linnaeus, 1758) – Carneiro (41 citações); Nasutitermes macrocephalus (Silvestri,

1903) - Cupim (32 citações); Melipona scutellaris (Latreille, 1811) - Abelha uruçu (28

citações); Conepatus semistriatus (Boddaert, 1785) - Tacacá (gambá, jarita) (27

citações).

O número de espécies animais registrados nesta pesquisa é relevante, sobretudo,

quando comparado a outras pesquisas sobre zooterapia, como em: Branch & Silva

(1983) que relatam 33 espécies animais usadas em Alter do Chão no Estado do Pará;

Begossi (1992) que reporta o uso de 10 espécies na Ilha de Búzios em São Paulo;

Marques (1995) registrou o uso de 56 espécies em Várzea de Marituba/AL e Freitas

(1996) indica 17 espécies usadas em Maceió também no Estado de Alagoas. Costa-Neto

(1999) relata 16 espécies em Feira de Santana e 23 espécies usadas no município de

Remanso também na Bahia (COSTA-NETO, 2000). Seixas & Begossi (2001) reportam

16 espécies utilizadas para fins medicinais na Ilha Grande no Rio de Janeiro. No Estado

do Pernambuco destacam-se as pesquisas de Almeida & Albuquerque (2002) com 18

espécies usadas em Caruaru; Silva et al. (2004b) com também 18 espécies no Recife e

37 espécies em Santa Cruz do Capibaribe registradas por Alves et al (2008). Rodrigues

(2006) reporta o uso de 29 espécies no Parque Nacional de Jaú, Amazonas, e Ferreira et

al (2009) relatam a utilização de 41 espécies nas cidades do Crato e Juazeiro do Norte

no Ceará.

Assim como em outros trabalhos de zooterapia realizados no Brasil

(MARQUES, 1995; C0STA NETO, 1999b; SOUTO; ANDARADE & SOUZA, 2001;

ALVES, 2006) foram registrados animais de múltiplo uso medicinal, como é o caso do

36

Bos taurus, cujas partes derivadas (banha, urina, manteiga, fel e tutano), são utilizados

para tratar enfermidades como: conjuntivite, resfriado, tosse, picada de abelha,

ferimento, inflamação garganta, inchação, frieira, rachadura nos pés, anemia, dor

muscular, sinusite, dor de cabeça, rouquidão, problemas de visão, ferida de boca,

estrepada, furúnculo, diabetes, queimadura. Outro animal de potencialidades múltiplas é

o Tupinambis merianae (Figura 3), cuja banha, língua e carne são utilizadas no

tratamento de tosse, crise garganta, mordedura de cobra, gasto, ferimento, dor de

ouvido, gastrite, reumatismo, ferimento, dores nas juntas, congestão, rouquidão,

problemas de audição, problemas de visão. Destacamos ainda espécies como espécies

de múltiplas indicações terapeuticas: Apis mellifera, Phrynops geoffroanus, Crotalus

durissus, Gallus domesticus, Ovis aries, Partomora Cupira., Melipona scutellaris,

Iguana iguana .

Ficou evidenciado durante as entrevistas que os animais medicinais são obtidos

nas áreas dos ecossistemas próximos as residências dos entrevistados, e raramente as

espécies são obtidas em localidades distantes. De acordo com Alves (2006), “o uso dos

recursos locais e facilmente acessíveis certamente está relacionado a aspectos históricos

(ou seja, conhecimento medicinal focado em espécies locais, refletindo a transmissão do

conhecimento através de diferentes gerações) e às restrições financeiras que limitam o

acesso à recursos alóctones”. Uma tendência similar foi registrada por Adeola (1992),

que observou que uso de animais para medicina preventiva e curativa estava relacionado

à zona ecológica nas quais os usuários vivem, bem como, a relativa abundância das

espécies em cada zona. Da mesma forma, Apaza et al. (2003), em estudo realizado em

florestas tropicais bolivianas, constataram que a abundância dos animais estava

correlacionada com a maior probabilidade de uso. De fato, é esperado que em

comunidades que vivem próximas a uma maior diversidade de ambientes, com uma

37

maior acessibilidade de recursos zooterápicos, o consumo de animais seja mais

acentuado para os diferentes usos, inclusive para fins medicinais.

Alguns dos animais relatados, neste trabalho, também são utilizados na medicina

tradicional de outros países. No Sudão, A. mellifera é usado para o tratamento de úlceras

gástricas, G. domesticus é usado para tosses e Ovis aries é usado no tratamento de

gengivite (EL-KAMALI, 2000). No México, C. durissus e Coragyps atratus são

utilizados para auxiliar partos, falta de ar, inchaço e ataque epilético (VÁZQUEZ et al.,

2006). Na Índia Pavo cristatus é usado para tratar infecções na orelha e dores

musculares, Sus scrofa e G. domesticus são utilizados para o tratamento de reumatismo,

mordida de cobra, queimaduras e impotência sexual (KAKATI et al., 2006;

MAHAWAR; JAROLI 2006, 2007, 2008; NEGI; PALYAL, 2007).

2.3.2 Doenças e remédios

Na medicina popular, o termo “doença” é utilizado de forma ampla para se

referir tanto às enfermidades de origem personalística (provocadas por um agente

humano ou sobrenatural) quanto àquelas de origem naturalística (provocadas pela

intervenção de causas ou forças naturais), incluindo-se desde estados dolorosos a

perturbações de ordem psíquica (FOSTER, 1983).

Nesta pesquisa, foram indicadas 93 doenças e agravos relacionados à saúde

tratadas com animais medicinais (Tabela 1). As categorias de doenças com maior

número de citações de uso foram: doenças do aparelho respiratório (443); doenças do

sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo (108); Sintomas, Sinais e Achados

Anormais de Exames Clínicos (76); Lesões, Envenenamento e Algumas Outras

Conseqüências de Causas Externas (74). Esses dados corroboram com outras pesquisas

realizadas sobre o uso de zooterápicos, como no estudo de Alves (2006), realizada nas

38

regiões do Norte e Nordeste Brasileiro onde doenças do aparelho respiratório e doenças

do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo aparecem respectivamente como as

mais citadas. Costa-Neto (1999), também constatou em estudo realizado no Estado da

Bahia que animais medicinais são freqüentemente usados para tratar doenças

respiratórias. Resultado semelhante foi encontrado por Silva et al, (2004), em pesquisa

realizada em mercados públicos na cidade do Recife/PE.

Entre as categorias de doenças mais importantes tratadas com zooterápicos

citadas na presente pesquisa, algumas coincidem com categorias tratadas com plantas

medicinais, principalmente doenças do sistema respiratório (ALMEIDA;

ALBUQUERQUE, 2002; GAZZANEO et al., 2005; ALVES, 2006), para as quais é

comum o uso associado de produtos derivados de plantas e animais (ALVES; ROSA,

2007).

Figura 3. Tupinambis merianae – Tejuaçú, animal usado como zooterápico no

município de Sumé, Paraíba. (Foto: David Barkasy)

39

Tabela 1. Lista de doenças e agravos tratados com zooterápicos de acordo com CID 10 – Classificação Internacional de Doenças e Agravos Relacionados à Saúde (OMS, 2000).

Categorias

Doenças e agravos citados pelos informantes e respectivo CID

N° de citações

Total de doenças

Algumas Doenças Infecciosas e Parasitárias

Amebíase (A06.9), caxumba (B26.9), coqueluche (A37.9), diarréia (A09), sarampo (B05.9), rubéola (B06.9), erisipela (A46), frieira (B35.3), verruga (B07)

61 09

Neoplasias Câncer (C80), câncer de próstata (C61)

17 02

Doenças do sangue e dos órgãos hematopoéticos e alguns transtornos imunitários

Anemia (D64.9)

08 01

Doenças Endócrinas, Nutricionais e Metabólicas

Diabetes (E14), desnutrição (E46)

10 02

Transtornos Mentais e Comportamentais

Depressão (F32.9), alcoolismo (F10.), Impotência sexual (F52.2), insônia (F51.0)

21 04

Doenças do Sistema Nervoso

Epilepsia(G40.9), enxaqueca (G43.9)

09 02

Doenças do Olho e Anexos Cegueira (H54.7), conjuntivite (H10.9)

28 02

Doenças do Ouvido e da Apófise Mastóide

Dor de ouvido (H92.0), inflamação no ouvido (H83.9), surdez (H91.9)

41 03

Doenças do Aparelho Circulatório

Hemorróidas (I84.8), febre reumática (I00), varizes (I83.9)

18

03

Doenças do Aparelho Respiratório

Tosse (R05), dor de garganta (R07.0), inflamação na garganta (J02.9), gripe (J11.1), asma (J45.9), bronquite(J40), resfriado (J00), tosse brava, falta de ar (R06.8), sinusite (J32.9)

433 10

40

Tabela 1. Continuação

Categorias

Doenças e agravos citados pelos informantes e respectivo CID

N° de citações

Total de doenças

Doenças do Aparelho Digestivo

Congestão (K31.8), constipação intestinal (K59.0), dor de dente (K08.9), dor no estômago (R10.1), gastrite (K29.7), úlcera gástrica (K25), hepatite (K73.9), indigestão (K30), hérnia (K46.9), Ferida de Boca (Afta) (K12.0)

47

10

Doenças da Pele e do Tecido Subcutâneo

Eczema (L30.3), dermatite (L30.9), furúnculo (L02.9), coceira (L29.9), pano branco

21 05

Doenças do Sistema Osteomuscular e do Tecido Conjuntivo

Reumatismo (M79.0), artrose (M19.9), artrite (M13.9), dor nos ossos (M89.8), torcicolo (M43.6), Dor na coluna (M54.9), dor reumática (M79.1), dores musculares (M79.1), esporão (M77.3), inflamação no pé (M86.7)

108 10

Doenças do Aparelho Geniturinário

Inflamação de útero (N71.9), inflamação na uretra (N36.9)

04 02

Gravidez, Parto e Puerpério Dor de parto (O64)

03 01

Sintomas, Sinais e Achados Anormais de Exames Clínicos

Edema (R60.9), tontura (R42), rouquidão (R49.0), falta de apetite (R63.0), dor de cabeça (R51), fraqueza (R53), rachadura nos pés (R23.4)

76 07

Lesões, Envenenamento e Algumas Outras Conseqüências de Causas Externas

Mordedura de serpente (T63.0), picada de abelha (T63.9), queimaduras (T30.0), fratura (T14.2), luxação (T14.3), machucado (T14.0), pancada (T14.2), ferimento (T14.1)

74 08

41

Tabela 1. Continuação

Categorias

Doenças e agravos citados pelos informantes e respectivo CID

N° de citações

Total de doenças

Doenças Indefinidas Ferimento com espinho, estrepada, ferida, cansaço, nariz entupido, “coração lento”, dores em geral, “reima de dente”, “ferida de tira”, “puxado de criança”, memória fraca, crescimento dos ossos dos pés

69 12

TOTAL 93

A obtenção dos remédios se dá mediante a utilização do espécime inteiro, de

partes dos seus corpos ou produtos extraídos deles (Figura 4), como a banha e sebo

(gordura), mel, leite, manteiga, cera, urina, fezes, sangue, carne, pele, ossos, cauda,

pêlos, penas, dente, unha, abdome, cabeça, “moela”, língua, testículos, estômago, “fel”

(bílis), vísceras e fígado. Dentre esses produtos a banha destacou-se como o mais

citado, tendência também encontrada em outros estudos (ALVES; SOUTO, 1998;

COSTA-NETO, 1999a, 1999b; SOUTO et al,1999; LIMA, 2000; ALMEIDA, 2001). A

maioria dessas matérias-primas tem sido registrada em outros trabalhos acerca da

utilização humana dos recursos zooterápicos no Brasil (MARQUES, 1995; BEGOSSI &

BRAGA, 1992; COSTA-NETO, 1999b, ALVES, 2006), o que sugere que essa prática é

amplamente disseminada não apenas na região, mas também em outras partes do país.

Isto evidencia a importância de compreender as práticas zooterápicas no contexto da

conservação da biodiversidade no Brasil.

Os recursos zooterápicos identificados na pesquisa apresentaram valor de uso

(VU) que variou de 0,01 a 0,93. A maioria das espécies registradas apresentou baixo

VU, sendo que, 62% destas, foram inferior a 0,10 (Tabela 3). Tais dados indicam uma

considerável variação no uso das espécies. Aquelas que apresentaram maior valor de

42

uso foram o Tupinambis merianae, com VU = 0,93, Partamora cupira VU = 0,84 e

Gallus domesticus VU = 0,83

0

50

100

150

200

250

300

350

Ou

tro

s

Lín

gu

a

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gu

e

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as

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a

Car

ne

Mel

Ban

ha

Partes usadas

Núm

ero

de c

itaçõ

es

Figura 4. Matérias-primas animais usadas para fins medicinais no município de Sumé, Paraíba.

As categorias de doenças citadas que apresentaram um maior número de

espécies animais usados foram: doenças do aparelho respiratório (n=31), Sintomas,

Sinais e Achados Anormais de Exames Clínicos (n=15) e Algumas Doenças Infecciosas

e Parasitárias (N=13). Já as categorias menos citadas foram: Gravidez, Parto e

Puerpério (1 espécie, 3 citações de uso), ,Doenças do Aparelho Geniturinário (2 espécie,

4 citações de uso); Doenças do sangue e dos órgãos hematopoéticos e alguns transtornos

imunitários (2 espécie, 8 citações de uso).

O consenso cultural das diferentes categorias registradas foi consideravelmente

alto, variando entre 0,66 e 0,93, sendo que 72% das categorias apresentaram FCI > 0,80.

As categorias que apresentaram os valores de consenso mais elevados foram: Gravidez,

Parto e Puerpério com FCI = 1,0; Doenças do Aparelho Respiratório com FCI = 0,93;

43

seguido por Lesões, Envenenamento e Algumas Outras Conseqüências de Causas

Externas e Doenças do Olho e Anexos com FCI = 0,92 para as duas categorias e ainda

Doenças do Sistema Osteomuscular e do Tecido Conjuntivo apresentando FCI = 0,91.

As categorias que apresentaram menos consenso entre os informantes foram: Doenças

Endócrinas, Nutricionais e Metabólicas e Doenças do Aparelho Geniturinário, ambas

com FCI = 0,66; e Doenças da Pele e do Tecido Subcutâneo com FCI = 0,70 (Tabela 2).

Figura 5. Animais usados para fins medicinais nas comunidades pesquisadas. Acima (esquerda)

Conepatus semistriatus (tacaca); acima (direita) Callithrix jacchus (Sagui); abaixo (esquerda)

Meleagris gallopavo (peru) e Gallus domesticus (galinha); abaixo (direita) cauda de

Euphractus sexcinctus (Tatu-peba) e Dasypus novemcinctus (tatu-verdadeiro) (Fotos: Nalba

Gomes).

44

Tabela 2 - Fator de Consenso dos informantes por categorias de doenças.

Legenda: A - Algumas Doenças Infecciosas e Parasitárias; B - Neoplasias; C - Doenças do sangue e dos órgãos hematopoéticos e alguns

transtornos imunitários; D - Doenças Endócrinas, Nutricionais e Metabólicas; E - Transtornos Mentais e Comportamentais; F - Doenças do

Sistema Nervoso; G - Doenças do Olho e Anexos; H - Doenças do Ouvido e da Apófise Mastóide; I - Doenças do Aparelho Circulatório; J -

Doenças do Aparelho Respiratório; L - Doenças do Aparelho Digestivo; M - Doenças da Pele e do Tecido Subcutâneo; N - Doenças do Sistema

Osteomuscular e do Tecido Conjuntivo; O - Doenças do Aparelho Geniturinário; P - Gravidez, Parto e Puerpério; Q - Sintomas, Sinais e Achados

Anormais de Exames Clínicos; R - Lesões, Envenenamento e Algumas Outras Conseqüências de Causas Externas; S – Doenças Indefinidas.

Categorias de Doenças

A B C D E F G H I J L M N O P Q R S

Espécies

13 03 02 04 04 03 03 08 03 31 12 07 11 02 01 15 07 09

% das espécies

9,42 2,17 1,45 2,89 2,89 2,17 2,17 5,79 2,17 22,46 8,69 5,07 7,97 1,45 0,72 10,87 5,07 6,52

Citações de uso

61 17 08 10 21 09 28 41 18 433 47 21 108 04 03 76 74 69

% das citações de uso

5,82 1,62 0,76 0,95 2,0 0,86 2,71 3,91 1,72 41,32 4,49 2,0 10,31 0,38 0,29 7,25 7,06 6,58

FCI 0,80 0,87 0,86 0,66 0,85 0,75 0,92 0,82 0,88 0,93 0,76 0,70 0,91 0,66 1,0 0,81 0,92 0,88

45

Um importante aspecto associado ao uso de animais medicinais está relacionado

à saúde pública (ALVES & ROSA, 2006). Alves (2006), em seu trabalho sobre

zooterapia nas regiões Norte e Nordeste do Brasil, observou que as condições sanitárias

de manutenção e estocagem dos produtos zooterápicos mostraram-se precárias,

evidenciando a possibilidade de contaminações microbiológicas e alertando para o risco

que isso pode acarretar a saúde dos usuários. Visitas domiciliares evidenciaram

estocagem inadequada de alguns produtos sem os devidos cuidados com a higiene

(Figura 6). Esta prática não parece preocupar boa parte dos usuários, que demonstram

desconhecerem as graves conseqüências que a manipulação inadequada de um

zooterápico ou qualquer produto utilizado como remédio pode trazer a saúde. Alves &

Rosa (2005) recomendam a implementação de medidas sanitárias para controle do uso

medicinal de produtos zooterápicos, tendo em vista suas implicações para saúde

pública.

Um outro aspecto importante diz respeito as possíveis reações adversas causados

por zooterápicos. Sabe-se que alguns produtos naturais (derivado de plantas, animais e

minerais) usados na medicina tradicional podem causar sérios efeitos adversos (DE

SMET, 1991). Porém, neste estudo, a grande maioria dos entrevistados não relatou

efeitos adversos relacionados ao uso dos animais medicinais.

46

Figura 6. Recipientes contendo mel de Apis mellifera – Abelha italiana (esquerda) e

Partamora cupira – Abelha cupira (direita), (Foto: Nalba Gomes).

2.3.3 Aspectos culturais dos zooterápicos

Além dos aspectos biológicos, os fatores econômicos e sócio-culturais

influenciam a relação dos povos locais e o uso dos recursos zooterápicos. As atividades

cotidianas das comunidades humanas também parecem influenciar na escolha das

espécies medicinais (ALVES, 2006).

Na medicina popular um aspecto muito presente é o componente mágico-

religioso, traduzido na forma das chamadas “simpatias”. As simpatias são definidas por

Sales (1991) como o emprego da força do pensamento, através de um ritual, para ajudar

a resolver problemas do cotidiano e possível cura para problemas de saúde. Neste

trabalho foram registradas simpatias com a utilização de animais, partes deles ou ainda

restos de sua alimentação, onde os informantes enfatizam que a pessoa acometida da

doença que vai ser tratada através da simpatia não pode saber o que esta ingerindo ou o

que está sendo usado no ritual, “se a pessoa soube o que tá tomando, o remédio não

serve”. Um exemplo é o Cyanocorax cyanopogon, ave cujos restos de sua alimentação

47

é dada a criança para curar asma, sendo que a mesma não pode saber do que se trata. A

mesma simpatia é associada a Leptotila rufaxilla, sendo usada para o tratamento da

bronquite. A espécie Gryllus assimilis é utilizada no combate a verruga, conforme

descrito no depoimento de um dos informantes: “a pessoa esfrega o grilo na verruga, e

dispois solta o bicho ainda vivo”. Tanto a crença na eficácia dos produtos animais,

como o componente místico do fenômeno zooterápico estariam incluídos em uma

dimensão ideológica (MARQUES, 1999).

A interrelação entre crenças populares e zooterapia tem sido registrada em

diferentes localidades do Brasil (BRANCH & SILVA, 1983; BEGOSSI & BRAGA,

1992; MARQUES, 1995; COSTA- NETO, 1999a; ALVES & ROSA, 2007), revelando

que essa “ligação” deve ser considerada na realização de estudos científicos, e ao se

projetar programas da saúde pública para comunidades humanas que utilizam a

medicina tradicional. Em alguns casos, a compreensão dos fatores culturais relacionadas

a determinadas doenças pode ser essencial para um tratamento eficaz (ALVES, 2006).

Figura 7. Iguana iguana - Camaleão, réptil utilizado para fins medicinais no município de Sumé/PB (Foto: Nalba Gomes)

48

2.3.4 Perfil sócioeconômico dos informantes

Os entrevistados possuem idade entre 26 e 85 anos, distribuídos em várias

faixas etárias (Figura 8), com média de idade de 57 anos. Um total de 87% dos

informantes possui mais de 40 anos, destacando-se a faixa etária acima de 70 anos com

o maior número de informantes (30). Estes resultados ratificam o que se preconiza na

medicina popular, uma vez, que o conhecimento adquirido ao longo dos tempos por

comunidades locais é transmitido por aqueles mais experientes, os mais idosos,

conforme vários informantes relataram quando indagados sobre a forma de aquisição do

conhecimento sobre os zooterápicos afirmando ter aprendido com os “mais velhos”.

Alguns também relataram que as gerações mais jovens não demonstram interesse em

aprender “essas coisas de antigamente”, (“ esse povo novo não quer sabê dessas coisa”).

Vários foram os relatos sobre como as gerações mais jovens menosprezam o

conhecimento popular das gerações mais velhas.

2

12

23

10

17

30

0

5

10

15

20

25

30

35

20 - 29 30 - 39 40 - 49 50 - 59 60 - 69 70 e mais

Faixa etária

N. d

e in

form

ant

es

Figura 8. Distribuição por faixa etária dos informantes da pesquisa.

49

No que diz respeito à atividade ocupacional, 74% dos indivíduos entrevistados,

declaram como profissão agricultor, sendo ainda registradas a participação de outras

profissões, como: auxiliar de serviços gerais (3), merendeira (2), vaqueiro (2), agente

comunitário de saúde (6), professora (2). Com relação ao aspecto financeiro, a renda

salarial mensal ficou com prevalência em torno de 1 salário mínimo (Figura 9), o que

possivelmente deve estar relacionado com o fato de 45% dos entrevistados serem

aposentados.

34

41

10

0

7

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

Menos de 1 saláriomínimo

1 salário mínimo 2 a 3 saláriosmínimos

Mais de 3 saláriosmínimos

Não declarou

Renda mensal

N. d

e in

form

ant

es

Figura 9. Distribuição por nível de renda mensal dos informantes da pesquisa.

O grau de escolaridade dos entrevistados é baixo, 41 % destes não são

alfabetizados, sendo que 17 se declararam analfabetos e 21 afirmaram saber apenas

assinar o nome, a prevalência foi de pessoas com o ensino fundamental incompleto (25)

(Figura 10), e apenas 2 informantes possuíam curso superior.

50

17

2118

25

2 1

6

2

0

5

10

15

20

25

30

Analfabeto Apenas escreve

o nome

Lê e escreve Ensino fund.

incomplento

Ensino fund.

complento

Ensino médio

incompleto

Ensino médio

completo

Curso Superior

Grau de escolaridade

N. d

e in

form

ant

es

Figura 10. Distribuição por grau de escolaridade dos informantes da pesquisa.

2.3.5 Implicações ecológicas

Dos animais citados nesta pesquisa, apenas 11 espécies são provenientes de

criação doméstica (galinha, peru, carneiro, boi, porco), sendo os demais animais

silvestres. A zooterapia, como qualquer outra forma de uso da fauna pelos seres

humanos, tem implicações ecológicas, considerando que muitas espécies protegidas por

lei e outras ameaçadas de extinção são utilizadas na confecção de remédios, sendo

capturadas em seus habitats e muitas vezes vendidas livremente em mercados públicos.

Uma grande preocupação no uso de zooterápicos é que na maioria das vezes o

animal tem que ser sacrificado para que possa ser utilizados como “remédio”, ao

contrário dos fitoterápicos, prática em que muitos dos “remédios” são feitos a partir das

folhas e frutos ou partes do caule, o que não causa a morte do espécime. Porém, um

aspecto observado foi que raramente os animais são mortos, exclusivamente com o

intuito de se obter as matérias primas para os remédios. Em muitos casos, estes são

apenas subprodutos aproveitados, como exemplo, podemos citar o Tejuaçú (Tupinambis

merianae), cuja carne é considerada por muitos como uma iguaria, sendo o objetivo

51

principal de sua captura. Seus subprodutos tais como banha e língua são utilizados

como remédios. Outro exemplo é a cobra cascavel (Crotalus durissus), considerada um

animal que oferece risco ao ser humano e as “criações”, de forma que é geralmente

abatida apenas por precaução ou controle (ALVES et al, 2009), e seus subprodutos são

aproveitados na zooterapia. Tal observação concorda com Moura e Marques (2008),

que destacam que uma característica comum em frações de animais, ou mesmo em

animais inteiros usados como medicinais, é a sua inutilidade para outros fins. Em

pesquisa realizada em Remanso, Bahia, esses autores observaram que mais da metade

(55%) das frações/produtos utilizados são subprodutos de animais. Esses autores

destacam ainda que, embora estudos sobre a zooterapia popular brasileira ainda não

tenham se voltado para a análise quantitativa de uso de sobras ou subprodutos animais,

a prática é bem documentada em listagens de zooterápicos obtidas com populações

tradicionais em diferentes estados do Brasil (ALMEIDA, 2005; SOUTO et al, 1999;

ALVES; ROSA, 2005, 2006; ALVES, 2009; SILVA et al, 2004; POSEY, 1987b;

LIMA, 2000; COSTA-NETO, 1996, 1999b). Essa prática já havia sido observada por

Holanda (1984) para a primeira metade do século XX, quando o autor relata o uso,

como amuletos e remédios, de partes de animais silvestres consideradas impróprias para

a alimentação ou manufatura de couros, afirmando que a utilidade medicinal destas

partes era bastante arraigada na mentalidade popular da época. Cita, entre as partes

passíveis de uso, os chifres, os dentes, as unhas, os ossos, os cascos, as couraças e as

gorduras.

Nos estudos sobre zooterapia é muito comum o relato de obtenção de

zooterápicos através de comercialização em mercados públicos (SOUTO et al, 1999;

ALMEIDA; ALBUQUERQUE, 2002; SILVA et al, 2004; ALVES, 2007; ALVES;

ROSA, 2007; ANDRADE; COSTA-NETO, 2006), o que resulta em uma pressão

52

adicional sobre espécies exploradas. Porém, nas entrevistas realizadas nesta pesquisa,

foram poucos os relatos de pessoas que compram o zooterápico, sendo que a grande

maioria captura os animais próximo a sua residência e prepara o “remédio” de forma

caseira, exceção apenas para os zooterápicos supostamente feitos à base de óleo de

baleia e banha do peixe boi, zooterápicos de uso tradicional no Brasil, mas que em

virtude do status de conservação e grau de dificuldade de sua obtenção podem estarem

sendo adulterados, sendo portanto substituídos por produtos derivados de animais

domésticos .

Foi possível verificar, que a maioria dos informantes (80%) percebe a

diminuição na disponibilidade dos recursos faunísticos da região, conforme

depoimentos: “Tudo diminuiu, a nação tá aumentado de mais, não sobra nada”, “ Hoje

as coisas (recursos naturais) tão mais limitada”. A percepção do risco de extinção de

algumas espécies ficou bem evidenciada por alguns entrevistados “tem bicho que você

quase não acha mais, tá muito difícil de encontrá”. Por outro lado, alguns entrevistados

(15%) afirmaram de que disponibilidade de animais continuam “quase” a mesma,

conforme depoimento: “os bicho tão por aí, procurando agente acha, num é como

antigamente, mais ainda tem”.

53

Tabela 3. Animais usados para fins medicinais em comunidades rurais do Cariri Paraibano.

Família/Espécie/Nome popular N° de citações

Valor de uso Partes ou produtos usados

Doenças tratadas

INSECTA Apidae Apis mellifera (Linnaeus, 1758) Abelha italiano

58 0,63 Mel Tosse, gripe, garganta, amebíase, úlcera, gastrite, fraqueza, bronquite, câncer, resfriado

Scaptotrigona sp. Abelha canudo

14 0,15 Mel Hérnia, tosse, impotência sexual

Espécie não identificada Abelha capucho

02 0,02 Ferrão “Coração lento”

Partamora cupira (Smith, 1863). Abelha cupira

84 0,91 Mel, cera Tosse, gripe, garganta, ferida de boca, enxaqueca, doenças de olhos, rouquidão, carnosidade nos olhos, sinusite, hemorróidas

Lestrimelitta limao (Smith, 1863) Abelha limão

01 0,01 Cera Tontura

Melipona marginata (Lepeletier, 1836) Abelha manduri

01 0,01 Mel Tosse

Melipona scutellaris (Latreille, 1811) Abelha uruçu

28 0,30 Mel Tosse, gripe, problemas dos nervos, fraqueza, garganta, ferida de boca, gasto

Scaptotrigona tubiba (Smith, 1863) Abelha tubiba

02 0,02 Mel Tosse, amebíase, hemorróidas

54

Tabela 3. Continuação

Família/Espécie/Nome popular N° de citações

Valor de uso Partes ou produtos usados

Doenças tratadas

Formicidae Atta cephalotes (Linnaeus, 1758) Tanajura

12 0,13 Abdome Inflamação na garganta, câncer

Blattidae Periplaneta americana (Linnaeus, 1758) Barata

01 0,01 Corpo inteiro Fraqueza, diarréia

Isoptera Nasutitermes macrocephalus (Silvestri, 1903) Cupim

32 0,35 Corpo inteiro Asma, cansaço, sarampo, tosse, rubéola, falta de ar, dor de cabeça, coqueluche

Gryllidae Gryllus assimilis (Fabricius, 1775) Grilo

01 0,01 Corpo inteiro (simpatia)

Verruga

Família e espécie não identificadas Zebrinha (Maria de barro) 06 0,06 Cera, casa Caxumba

AMPHIBIA Bufonidae Rhinella jimi (Stevaux, 2002). Sapo

01 0,01 Banha Dor na coluna

Ranidae Leptodactylus labyrinthicus (Spix, 1824) Rã

04 0,04 Carne Inflamação na garganta

55

Tabela 3. Continuação

Família/Espécie/Nome popular N° de citações

Valor de uso Partes ou produtos usados

Doenças tratadas

MOLLUSCA Família não identificada Lesma , espécie não identificada

01 0,01 Corpo inteiro Pano branco

ARACHNIDA Família não identificada Lasiodora sp. Caranguejeira

01 0,01 Dente (simpatia) Reima de dente

PEIXES Erythrinidae Hoplias malabaricus (Bloch, 1794) Traíra

01 0,01 Banha Problemas de audição

Prochilodontidae Prochilodus argenteus (Spix & Agassiz, 1829) Curimatã

02 0,02 Banha, carne Ferida, tosse

Sciaenidae Cynoscion leiarchus (Cuvier, 1830) Pescada branca

03 0,03 Cabeça Falta de ar

REPTILIA Testudinidae Chelonoidis carbonaria (Spix, 1824) Jabuti

06 0,06 Urina Eczema

56

Tabela 3. Continuação

Família/Espécie/Nome popular N° de citações

Valor de uso Partes ou produtos usados

Doenças tratadas

Chelidae Phrynops geoffroanus (Schweigger, 1812) Cágado

55 0,59 Banha, urina Garganta, gasto, queimadura, gastrite, ferida, asma, cansaço, puxado, dor de ouvido, ferida de boca, eczema, diarréia, rouquidão, reumatismo, úlcera varicose

Família e espécie não identificadas Tartaruga

01 0,01 Urina Erisipela, eczema

Teiidae Tupinambis merianae (Duméril & Bibron, 1839) Tejuaçú

86 0,93 Banha, língua, carne Crise garganta, tosse, mordedura de cobra, gasto, ferimento, dor de ouvido, gastrite, reumatismo, corte, ferimento, dores nas juntas, congestão, rouquidão, problemas de audição, problemas de visão

Viperidae Crotalus durissus (Linnaeus, 1758) Cascavel

41 0,44 Banha Asma, ferimento, reumatismo, puxado, gastrite, dor de ouvido, dor nos ossos, câncer, bronquite, câncer de próstata, dor nas juntas, estrepada, dor de dente, fratura, crescimento dos ossos do pé, artrose, artrite, hemorróidas

Boidae Epicrates cenchria (Linnaeus, 1758) Salamanta

01 0,01 Banha Inflamação na garganta

Boa constrictor (Linnaeus, 1758) Jibóia

01 0,01 Banha Reumatismo, inflamação na garganta

57

Tabela 3. Continuação

Família/Espécie/Nome popular N° de citações

Valor de uso Partes ou produtos usados

Doenças tratadas

Iguanidae Iguana iguana (Linnaeus, 1758) Camaleão

19 0,21 Carne, banha, pele Tosse, coqueluche, tosse brava, erisipela, mordedura de cobra, ferida, dor na coluna

Tropiduridae Tropidurus hispidus (Spix, 1825) Lagartixa

04 0,04 Pele Pano branco, crise de garganta

AVES Phasianidae Gallus domesticus (Linnaeus, 1758) Galinha

76 0,83 Banha, ovos, fígado, sangue, penas, pele da moela

Garganta, asma, desnutrição, febre reumática, nariz entupido, constipação intestinal, hepatite, má digestão, fraqueza, dor de parto, garganta, congestão, tosse, estrepada, rouquidão

Pavo cristatus(Linnaeus, 1758) Pavão

02 0,02 Penas Asma

Coturnix coturnix (Linnaeus, 1758) Cordoniz

13 0,14 Penas mordedura de cobra

Meleagrididae Meleagris gallopavo (Linnaeus, 1758) Peru

01 0,01 Escova Asma

Numida meleagris (Linnaeus, 1758) Guiné

01 0,01 Carne Tosse comprida

58

Tabela 3. Continuação

Família/Espécie/Nome popular N° de citações

Valor de uso Partes ou produtos usados

Doenças tratadas

Anatidae Anas platyrhynchos (Linnaeus, 1758) Pato

17 0,18 Ovos Bronquite, fraqueza, asma, falta de apetite, problemas de nervos, epilepsia, falta de memória, fraqueza sexual, dor de parto

Netta erythrophthalma (Wied-Neuwied, 1833 Paturi

01 0,01 Ovos Insônia

Anser sp. Ganso

16 0,17 Fezes Asma

Trochilidae Beija-flor

02 0,02 Ninho Asma

Corvidae Cyanocorax cyanopogon (Wied, 1821) Cancão

02 0,02 Resto da alimentação (simpatia)

Asma

Cathartidae Coragyps atratus (Bechstein, 1793) Urubu

04 0,04 Ossos, fígado Asma, bronquite, alcoolismo

Columbidae Leptotila rufaxilla (Richard & Bernard, 1792) Juriti

07 0,08 Pele da moela Doenças de olhos, viridia

59

Tabela 3. Continuação

Família/Espécie/Nome popular N° de citações

Valor de uso Partes ou produtos usados

Doenças tratadas

MAMMALIA Trichechidae Trichecus manatus (Linnaeus, 1758) Peixe boi

05 0,05 Banha Dor nos ossos, dor de ouvido, dor nas juntas, reumatismo

Família e Espécie não identificadas Baleia

01 0,01 Óleo Problemas intestinais

Canidae Cerdocyon thous (Linnaeus, 1766) Raposa

09 0,10 Banha Reumatismo, eczema, inflamação de útero

Canis familiaris (Linnaeus, 1758) Cachorro

09 0,10 Fezes, urina Sarampo, verruga

Dasypodidae Dasypus novemcinctus (Linnaeus, 1758) Tatu-verdadeiro

03 0,03 Cauda Surdez, dor de ouvido

(Euphractus sexcinctus) (Linnaeus, 1758) Tatu-peba

02 0,02 Cauda Surdez, dor de ouvido

Mustelidae Conepatus semistriatus (Boddaert, 1785). Tacacá (gambá, jarita)

27 0,29 Carne, banha, ossos Reumatismo, febre reumática, dor nos ossos

60

Tabela 3. Continuação

Família/Espécie/Nome popular N° de citações

Valor de uso Partes ou produtos usados

Doenças tratadas

Caviidae Kerodon rupestris (Wied, 1820) Mocó

04 0,04 Carne, fezes, cabeça, Fraqueza, inflamação na uretra, gasto, dor de ouvido, nascimento de dente

Cavia aperea (Erxleben, 1777) Preá

01 0,01 Carne Dentição

Callithricidae Callithrix jacchus (Linnaeus, 1758). Sagüi

09 0,10 Carne Bronquite, puxado de criança, asma

Suidae Sus scrofa (Linnaeus, 1758) Porco

02 0,02 Banha, testículos Ferimento a tiro, epilepsia, asma, bronquite

Myrmecophagidae Tamandua tetradactyla (Linnaeus, 1758) Tamanduá

01 0,01 Ossos Reumatismo

Bovidae Bos taurus (Linnaeus, 1758) Boi

46 0,54 Urina, manteiga, bucho, fel, tutano, banha

Conjuntivite, resfriado, tosse, picada de abelha, ferimento, inflamação garganta, inchação, frieira, rachadura nos pés, anemia, dor muscular, sinusite, dor de cabeça, rouquidão, visão, ferida de boca, estrepada, furúnculo, diabetes, queimadura

61

Tabela 3. Continuação

Família/Espécie/Nome popular N° de citações

Valor de uso Partes ou produtos usados

Doenças tratadas

Ovis aries (Linnaeus, 1758) Carneiro

41 0,44 Banha, sebo Machucado, pancada, corte, estrepada, ferimento, dores nas juntas, reumatismo, dor nos músculos, esporão, luxação, inchaço, rachaduras nos pés, edemas, torcicolo

Equidae Equus asinus (Linnaeus, 1758) Jumento

09 0,10 Leite Gasto, hepatite, desnutrição, anemia, fraqueza

Felidae Puma yagouaroundi (Geoffroy, 1803) Gato do mato

01 0,01 Carne Inflamação na garganta

62

2.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados nos possibilitam concluir que o uso de animais para fins

medicinais nas comunidades pesquisadas é bastante acentuado, e que estas demonstram

possuir um relativo conhecimento acerca da fauna local e a utilização da mesma no

processo saúde-doença.

Evidenciou-se também, que o uso de zooterápicos é mais comum em doenças

que acometem a população com mais frequência, como é o caso das doenças do

aparelho respiratório (inflamação na garganta, tosse, gripe e asma).

Dentre os animais mais utilizados na medicina popular destacaram-se tanto

animais de criação doméstica, quanto, animais silvestres.

O conhecimento popular sobre essas práticas de cura, referenciando-a como

parte integrante da cultura da região, mostra a necessidade de um aprofundamento nos

estudos referentes à zooterapia, no sentido da compreensão da interação

homem/ambiente/cultura, tendo em vista a provável existência de fontes de substâncias

farmacologicamente ativas, e principalmente, buscando conciliar a cultura regional e a

conservação da fauna.

63

CAPÍTULO II

3- AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE ANTIBACTERIANA DA

GORDURA DA JIBÓIA Boa constrictor (Linnaeus, 1758)

64

AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE ANTIBACTERIANA DA GORDURA DA

JIBÓIA Boa constrictor (Linnaeus, 1758)

RESUMO

O presente capítulo objetivou avaliar a atividade antibacteriana da gordura

corporal da jiboia (Boa constrictor) quando empregado isoladamente ou em combinação

com antibióticos e discute as implicações ecológicas do uso deste remédio tradicional.

Os exemplares de Boa constrictor foram coletados no município de Crato, Estado do

Ceará, Brasil, durante o mês de novembro de 2009. Óleo de Boa constrictor (OBC) foi

extraído da gordura localizada na região ventral da serpente. Os experimentos foram

realizados com isolados clínicos de Escherichia coli (EC27) e Staphylococcus aureus

358 (SA358), assim como cepas padrões de Escherichia coli (EC - ATCC25922), de

Staphylococcus aureus (SA- ATCC12692), de Proteus vulgaris (PV-ATCC 13315) e de

Pseudomonas aeruginosa (PA-ATCC 15442). As drogas utilizadas foram gentamicina,

canamicina, amicacina, neomicina. A concentração inibitória mínima (CIM) dos

antibióticos e OBC foram determinadas por ensaios de microdiluição. Para a avaliação

do óleo como modulador da atividade antibiótica, a CIM dos antibióticos foram

determinados com a presença do óleo (32 µg/mL) em concentrações sub-inibitórias, e as

placas foram incubadas por 24 horas a 37 º C. No presente estudo foi evidenciada a

ineficácia de OBC, do ponto de vista clínico, contra doenças causadas por agentes

bacterianos quando aplicado isoladamente. Porém, o OBC possui uma atividade

sinérgica quando associado a antibióticos aminoglicosídeos com exceção a canamicina,

para EC27, e gentamicina, para SA358. A CIM de amicacina contra EC27 foi de 156

µg/mL, mas quando associado a OBC foi de 4,9 µg/mL. O CIM de neomicina contra

EC27 foi de 625 µg/mL, mas quando associado a OBC foi de 4,9 µg/mL. A CIM de

gentamicina contra EC27 foi de 19,5 µg/mL, mas quando associado a OBC foi de 2,4

µg/mL. A CIM de canamicina contra SA358 foi de 312,5 µg/mL, mas quando associado

a OBC foi de 4,9 µg/mL. A CIM de amicacina contra SA358 foi de 312,5 µg/mL, mas

em associação a OBC foi de 2,4 µg/mL. A CIM de neomicina contra SA358 foi de

312,5 µg/mL, mas quando associado a OBC foi de 2,4 µg/mL.

Palavras-chave: Etnofarmacologia, Boa constrictor, zooterapia.

65

ABSTRACT

The present chapter aimed to evaluate the antibacterial activity of the jiboia (Boa

constrictor) body fat when used alone or combined with antibiotics, and discusses the

ecological implications of this traditional medicine use. Specimens of Boa constrictor

were collected in the city of Crato, Ceará State, Brazil, during the month of November

2009. Boa constrictor oil (BCO) was extracted from the body fat located in the ventral

region of the snake. The experiments were performed with clinical isolates of

Escherichia coli (EC27) and Staphylococcus aureus 358 (SA358), as well as

Escherichia coli (EC - ATCC25922), Staphylococcus aureus (SA- ATCC12692),

Proteus vulgaris (PV-ATCC 13315) and Pseudomonas aeruginosa (PA-ATCC 15442)

strains patterns. The drugs used were gentamicin, kanamycin, amikacin, and neomycin.

The minimum inhibitory concentration (MIC) of the antibiotics and BCO were

determined by microdilution tests. For the evaluation of the oil as a modulator of the

antibiotic activity, the MIC of antibiotics were determined in the presence of oil (32

µg/mL) in sub-inhibitory concentrations, and the plates were incubated for 24 hours at

37° C. In the present study, it was evidenced the inefficiency of BCO, from the clinical

point of view, against diseases caused by bacterial agents when applied alone. However,

the BCO has a synergistic activity when associated with aminoglycoside antibiotics

except for kanamycim to EC27, and gentamicin, to SA358. The MIC of neomycin

against EC27 was 625 µg/mL, but when combined with BCO, it was 4,9 µg/mL. The

MIC of gentamicin against EC27 was 19,5 µg/mL, but when associated with BCO, it

was 2,4 µg/mL. The MIC of kanamycin against SA358 was 312,5 µg/mL, but when

associated with BCO, it was 4,9 µg/mL. The MIC of amikacin against SA358 was 312,5

µg/mL, but in association with BCO, it was 2,4 µg/mL. The MIC of neomycin against

SA358 was 312,5 µg/mL, but when associated with BCO, was 2,4 µg/mL.

Key-words: Ethnopharmacology, Boa constrictor, zootherapy.

66

3.1. INTRODUÇÃO

A biodiversidade vem sendo uma fonte de recursos para o tratamento de doenças

e, dessa forma, populações humanas têm desenvolvido várias práticas e técnicas sobre o

uso da biodiversidade e acumulando um amplo conhecimento acerca das propriedades

terapêuticas e medicinais de animais, plantas e minerais, que representam uma

importante alternativa na substituição de medicamentos alopáticos (KURSAR et al.,

2007; ALVES, 2009).

Animais, e os produtos deles derivados, são ingredientes essenciais na

preparação de muitos remédios tradicionais e provavelmente são usados desde épocas

pré-históricas (LEV, 2003; SILVA et al., 2004; ALMEIDA, 2007; FERREIRA et al.,

2009a). Alves (2008) documentou o uso de pelo menos 290 diferentes espécies de

animais utilizados na medicina popular no Brasil, dentre a quais Boa constrictor

(Linnaeus, 1758), uma das serpentes mais freqüentemente utilizada em diferentes

regiões do país (COSTA-NETO, 1999; ALVES et al., 2007a,b, 2009).

B. constrictor (família Boidae) é uma serpente que pode apresentar um

comprimento médio de 3,5 m; de hábito arborícola, mas podendo apresentar hábitos

terrestres; possuem atividade noturna e diurna (VANZOLINI et al., 1980). Alimenta-se

de mamíferos, aves (VITT; VANGILDER, 1983; MARTINS; OLIVEIRA, 1998) e

lagartos. São encontradas nas áreas neotropicais (México, Américas Central e do Sul,

Antilhas, Ilhas Dominica e St. Lucia). São serpentes vivíparas e geralmente a cópula

acontece do outono até o inicio do inverno. O tamanho da prole pode variar de 18 a 41

embriões (PETERS et al., 1986).

67

B. constrictor é amplamente utilizada por comunidades tradicionais como

matéria prima de muitos remédios populares (COSTA-NETO, 2000; ANDRADE;

COSTA-NETO, 2006; ALVES et al, 2007b; ALVES et al., 2008a,b; ALVES et al

2009a), e produtos medicinais derivados da espécie são vendidos nos mercados públicos

em todo nordeste do Brasil (PINTO; MADURO, 2003; ALVES; ROSA 2007a).

Figura 1. Boa constrictor, animal usado na medicina tradicional. (Foto: Wayne Lynch)

O produto mais utilizado para fins zooterápicos de B. constrictor é a sua gordura

(ALVES, 2009). Entre as várias aplicações atribuídas a este óleo estão os tratamentos

de: reumatismo, doença pulmonar, trombose, furúnculos, tuberculose, dor de estômago,

edema, picada de cobra, câncer, dor, inchaço, prevenção de aborto, dor no corpo,

inflamação, pé de atleta, calos, tumores, rachaduras na sola dos pés, bócio, dor de

ouvido, dor de garganta, artrose, picada de inseto, mordida de cão, erisipela, trombose,

asma, tensão no pescoço, tensão muscular (ALVES, 2009; ALVES; ROSA, 2006,

2007a, b).

68

Muitas das doenças tratadas com produtos obtidos a partir de B. constrictor estão

associadas a infecções bacterianas, o que sugere que eles podem conter componentes

antibacterianos. Entretanto estudos laboratoriais de avaliação da eficácia deste remédio

popular ainda não foram realizados.

Nos últimos anos, vem aumentando a atenção dada aos animais tanto

vertebrados quanto invertebrados, como fontes de novos medicamentos (CHIVIAN,

2002). Animais têm sido testados pelas companhias farmacêuticas como fontes de

drogas para a ciência médica moderna (COX, 1999) e o percentual de substâncias de

origem animal utilizadas para a produção de medicamentos essenciais é bastante

significativo (ALVES; ROSA, 2007). Hunt & Vicent (2006) e Mayer & Gustafson

(2008) afirmam que os recursos faunísticos vêm sendo testados para a produção e/ou

isolamento de compostos bioativos. Rashid et al. (2009) isolou e purificou um

polissacarídeos da esponja Celtodoryx girardae que possui uma importante atividade

anti-viral contra Herpes simplex. Stankevicins et al. (2008) avaliaram a atividade anti-

mutagênica, de extratos da esponja Arenosclera brasiliensis. Barros et al. (2007) isolou

um tipo de heparina da ascidia Styela plicata com um alto poder anestésico.

Por outro lado estudos também apontam a ineficácia de alguns produtos

utilizados na medicina tradicional no tratamento de algumas doenças e/ou sintomas.

Ferreira et al., (2009c) mostram que a gordura de Tupinambis merianae não inibe

crescimento bacteriano, ou seja, não e recomendado para o tratamento de doenças tipo

dor de ouvido e infecções, para as quais são popularmente utilizadas. De cerca de

25.000 pedidos de registro de medicamentos tradicionais, que foram analisados pelas

autoridades da Malásia, cerca de 37,3% foram rejeitados com base em considerações de

segurança ou da sua eficiência (ANG; LEE, 2006). Esses resultados apontam a

69

necessidade de avaliar a atividade biológica dos produtos naturais utilizados na

medicina tradicional.

Estudos sobre usos tradicionais de recursos de origem animal devem levar em

consideração aspectos de biologia da conservação e de políticas de saúde pública. No

campo da gestão sustentável dos recursos naturais, têm tido destaque a bioprospecção,

pela sua importância primordial para a utilização sustentável (ALVES, 2009;

FERREIRA et al., 2009b).

O presente trabalho avalia a atividade antibacteriana da gordura corporal de Boa

constrictor quando empregado isoladamente ou em combinação com antibióticos e

discute as implicações ecológicas do uso deste remédio tradicional.

70

3.2 MATERIAIS E MÉTODOS

3.2.1. Material zoológico

Os exemplares de Boa constrictor foram coletados no município de Crato (7 º 14

'03 "S x 39 º 24' 34" W), Estado do Ceará, Brasil, durante o mês de novembro de 2009.

Os animais foram anestesiados com Ketamina (50 mg / ml), sacrificados para remover a

gordura do corpo, e seus restos mortais depositados no Laboratório de Zoologia da

Universidade Regional do Cariri – URCA.

3.2.2 Preparação do óleo de Boa constrictor (OBC)

Óleo foi extraído da gordura localizada na região ventral da serpente. A extração

foi realizada por quatro horas em um aparelho de Soxhlet, utilizando hexano como

solvente. Após a mistura ser decantada e filtrada, o óleo foi seco em banho-maria a 70 º

C por 2 horas e, posteriormente, armazenadas em um freezer para as análises

posteriores. A solução de teste de gordura purificada foi preparado a partir de 10 mg da

amostra congelada dissolvido em 1 mL de dimetilsulfóxido (DMSO - Merck,

Darmstadt, Alemanha), produzindo uma concentração inicial de 10 mg / mL, esta

solução foi então diluída para 1024 µg/mL.

3.2.3. Cepas

Os experimentos foram realizados com isolados clínicos de Escherichia coli

(EC27), resistentes a baixos níveis de neomicina e gentamicina, bem como, a

tobramicina, gentamicina e canamicina, e com isolados de Staphylococcus aureus 358

(SA358) resistente a diversos aminoglicosídeos (FREITAS et al, 1999; COUTINHO et

al., 2005). As linhagens padrões de Escherichia coli (EC - ATCC25922), de

71

Staphylococcus aureus (SA- ATCC12692), de Proteus vulgaris (PV-ATCC 13315) e de

Pseudomonas aeruginosa (PA-ATCC 15442) foram utilizados como controles positivos

e foram mantidos em heart infusion agar slants (HIA, Difco). Antes dos ensaios, as

células foram cultivadas durante a noite a 37 º C em brain heart infusion (BHI, Difco).

3.2.4 Drogas

Gentamicina, canamicina, amicacina, neomicina foram obtidos da Sigma

Chemical Corp, St. Louis, MO, USA. Todas as drogas foram dissolvidas em água estéril

antes do uso.

3.2.5 Teste de suscetibilidade as drogas

A concentração inibitória mínima (CIM) de OBC em BHI foram determinadas

por ensaios de microdiluição utilizando suspensões de 105 cfu/ml e as concentrações de

drogas que vão de 1 to 1024µg/mL (em duas diluições de série) (JAVADPOUR et al.,

1996). A CIM é definida como a menor concentração da droga na qual nenhum

crescimento bacteriano é observado. Para a avaliação do óleo como modulador da

atividade antibiótica, o CIM dos antibióticos foram determinados com a presença do

óleo (32 µg/mL) em concentrações sub-inibitórias, e as placas foram incubadas por 24

horas a 37 º C, numa faixa de 2500 a 2,4 µg/mL.

72

3. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados indicam que OBC não apresentou atividade antibacteriana

relevante contra as linhas bacterianas padrão ou multi-resistentes (Tabela 1),

demonstrando que não existe fundamentação farmacológica para o uso desses

zooterápico como um antibiótico para o tratamento de doenças como dores de ouvido

ou dores de garganta geralmente causados por agentes bacterianos.

Tabela 1. CIM de OBC (µg/mL) EC27 EC ATCC

25922 SA 358 SA ATCC

12692 PV ATCC

13315 PA ATCC

15442 OBC 512 512 512 512 256 512

Foi avaliado se OBC poderia demonstrar um atividade bactericida, contra

linhagens bacterianas multirresistentes, quando combinado com antibióticos (Tabela 2).

Os resultados mostram que OBC possui uma atividade sinérgica quando associado a

antibióticos aminoglicosídeos com exceção a canamicina, para EC27, e gentamicina,

para SA358. Os resultados indicam a eficiência do uso da gordura de B. constrictor em

associação com antibióticos para o tratamento de doenças causadas por agentes

bacterianos.

Tabela 2. CIM de OBC isolado e associado a aminoglicosídeos (µg/mL)

Antibióticos MIC EC27 OBC(32 µg/mL) + antibiótico

MIC SA358 OBC(32 µg/mL) + antibiótico

OBC 512 - 512 - Canamicina 1250 1250 312,5 4,9 Amicacina 156 4,9 312,5 2,4 Neomicina 625 4,9 312,5 2,4 Gentamicina 19,5 2,4 4,9 4,9

A busca por novos fármacos derivados de produtos naturais se intensificou nos

últimos anos (KONG et al., 2009). Harvey (2008) relatou que 225 medicamentos de

73

fontes naturais estavam em estágios de desenvolvimento e, destas, 24 foram extraídos

de animais. Deve-se ressaltar que a busca de medicamentos naturais deve ser promovida

associada ao uso não-destrutivo do habitat e promova a saúde humana, bem como, o

apoio ao desenvolvimento econômico e a conservação (KURSAR et al., 2007).

No presente estudo foi evidenciada a ineficácia de OBC, do ponto de vista

clínico, contra doenças causadas por agentes bacterianos quando aplicado isoladamente.

A menor concentração de inibição de OBC foi de 256 µg/mL contra a linhagem de P.

vulgaris. Para as demais linhagens bacterianas o CIM de OBC foi de 512 µg/mL.

Falodum et al. (2008) avaliaram a atividade bactericida da gordura de B. constrictor

contra linhagens de S. aureus, B. subtilis, Streptococcus spp, E. coli, P. aeruginosa

utilizando disco de difusão. Estas concentrações são consideradas clinicamente

ineficazes, pois seria necessário uma dose muito elevada para atingir esta concentração

a nível plasmático (HOUGHTON et al., 2007).. Nesse trabalho os autores afirmam que

a gordura de B. constrictor possui atividade antibacteriana. Porém, essa metodologia

utilizada não permite determinar a concentração em que a gordura inibe o crescimento

bacteriano, como pode ser deduzido através da técnica de diluições seriadas

(HADACEK; GREGER, 2000). Dessa forma, a atividade antibacteriana pode ser

indicada, mas não comparada com os dados obtidos nesse trabalho.

Quantos aos testes de atividade bactericida de OBC associado a

aminoglicosídeos, os resultados obtidos mostram uma significativa atividade

moduladora de OBC quando combinado aos antibióticos aminoglicosídeos. Nos

ensaios realizados com EC27 somente não houve sinergismo a associação de OBC e

canamicina (ambos com CIM de 1250 µg/mL). O CIM de amicacina contra EC27 foi de

156 µg/mL, mas quando associado a OBC foi de 4,9 µg/mL. O CIM de neomicina

contra EC27 foi de 625 µg/mL, mas quando associado a OBC foi de 4,9 µg/mL. O CIM

74

de gentamicina contra EC27 foi de 19,5 µg/mL, mas quando associado a OBC foi de 2,4

µg/mL.

Nos ensaios realizados com SA358, não houve sinergismo na associação de

gentamicina a OBC (ambos com MIC de 4,9 µg/mL). O CIM de canamicina contra

SA358 foi de 312,5 µg/mL, mas quando associado a OBC foi de 4,9 µg/mL. O CIM de

amicacina contra SA358 foi de 312,5 µg/mL, mas em associação a OBC foi de 2,4

µg/mL. O CIM de neomicina contra SA358 foi de 312,5 µg/mL, mas quando associado

a OBC foi de 2,4 µg/mL. Esses são os primeiros dados sobre a atividade moduladora da

gordura de B. constricitor contra linhagens bacterianas.

Os ácidos graxos podem mostrar atividade antibacteriana, principalmente os

insaturados, por afetar a síntese bacteriana endógena de ácidos graxos (ZHENG et al.,

2005). A gordura corporal de B. constrictor apresenta 62,34% e 37,66% de insaturados

e ácidos graxos saturados, respectivamente. A composição do OBC foi: ácido mirístico,

ácido palmítico, ácido esteárico, ácido palmítico, ácido oléico, vacênico, ácido linoleico,

ácido araquidônico (McCUE, 2008).

Os resultados obtidos para Boa constrictor diferem daqueles obtidos para outros

répteis. Por exemplo, Ferreira et al. (2009c) avaliaram a atividade moduladora da

gordura de Tupinambis merianae frente a linhagens bacterianas. Os resultados

indicaram que a gordura corporal de T. merianae não aumenta a eficácia dos

aminoglicosídeos contra as linhagens de bactérias testadas. A CIM de amicacina e

neomicina combinado com a gordura corporal do T. merianae. não demonstrou

nenhuma potenciação dos antibióticos contra E. coli ou S. aureus. Os aminoglicosídeos

testados (canamicina e gentamicina), demonstraram uma redução na sua eficácia contra

a E. coli ou S. aureus quando combinada com a gordura corporal do T. merianae.

75

Vários produtos provenientes de animais vêm sendo testados contra agentes

bacterianos mostrando uma eficiente atividade biológica. Bosch et al. (2009)

identificaram e isolaram um peptídeo denominado hidramacina-1 de Hydra com

atividade contra bactérias. Li et al. (2009) isolou um nova quinona sesquiterpeno,

proveniente da esponja Dysidea villosa, com potencial de atividade contra bactérias.

Adhya et al (2009) isolou uma lectina, massa molecular de 47 kDa, de um bivalve

Macoma birmanica que inibe o crescimento de bactérias gram-positivas e gram-

negativas. Stow & Beattie (2008) revisam os mecanismos de defesa de insetos sociais

contra microorganismos e afirmam que alguns destes compostos como terpenóides e

peptídeos podem ser utilizados na medicina no combate contra bactérias patógenas.

Duas proteínas retiradas de Branchiostoma belcheri demonstraram uma atividade

antibactericida (FAN et al., 2008; JU et al. 2009). Wang et al. (2009) isolou uma

proteína (hepcidina) do sistema imune do peixe Pseudosciaena crocea demonstrando

uma atividade antibactericida e antifúngica. Conlon et al., (2006) relatam peptídeos, do

tipo japonicina-2, com atividade antibactericida proveniente de extratos da pele do sapo

Rana chaochiaoensis. Park et al (2009) isolou proteína do tipo lactoforicina do leite de

Bos taurus com atividade contra bactérias.

Em relação a atividade moduladora de antibióticos poucos trabalhos mostram a

ação de zooterápicos para essa finalidade. Coutinho et al. (2009, 2010) relatam a

atividades de decoctos do cupim Nasutitermes corniger contra linhagens bactérias

multirresistentes. Nesses trabalhos, os decoctos apresentaram atividade sinergística

quando associado a neomicina, canamicina e gentamicina.

Chin et al. (2006) afirmam que 87% das categorias de doenças quem acometem

humanos são tratados com produtos naturais. Alves et al. (2007a, b) e Alves et al.

(2009a) alertam sobre exploração dos recursos naturais utilizados na medicina

76

tradicional. Hunt & Vincent (2006) advertem que a bioprospecção de recursos naturais

para a produção de novos fármacos pode resultar na exploração da biodiversidade, com

impactos diretos e negativos sobre estas fontes.

Várias espécies de animais utilizadas na medicina tradicional estão ameaçadas

de extinção e são comercializadas abertamente. Não há dados sobre a atividade

biológica desses recursos embora o tráfico dessas espécies seja comum (ALVES;

ROSA, 2005, 2007c).

Servheen (1999) afirma que 14 espécies de ursos, presentes em lista da IUCN,

são comercializadas dentro e fora da China para o uso medicinal. No Brasil, Alves et al.

(2009) listou um total de 44 espécies de répteis utilizados para medicamentos ou fins

mágico/religiosos, e 23 (52,3%) são consideradas ameaçadas de extinção. A realização

de testes farmacológicos dos produtos provenientes de animais ameaçados de extinção é

de extrema importância, pois validar ou não essa prática e propor medidas para um uso

racional e sustentável é imprescindível para a manutenção das espécies

(ALBUQUERQUE et al, 2007; ALVES et al., 2009). O caso dos rinocerontes é

exemplar. O uso de chifres de rinocerontes na medicina tradicional tem sido apontado

como uma das principais causas de declínio populacional desses animais (SHEELINE,

1987). Embora produtos zooterápicos derivados dessa espécie tenham eficácia

comprovada, como aponta a pesquisa de But (1990), que demonstrou uma importante

atividade anti-pirética dos chifres de rinoceronte, o impacto de tais usos sobre as

populações naturais desses animais deve ser melhor analisado, e alternativas

terapêuticas devem ser consideradas.

Muitos répteis são usados pelos seres humanos para diversos fins, tais como:

alimentos, medicamentos, ou como animais de estimação. Alves et al., (2009) listou

nove espécies de répteis (incluindo B. constrictor) que são utilizados no Brasil, para fins

77

alimentares e medicinais. Embora a legislação brasileira proíba a comercialização de

animais silvestres, animais inteiros ou suas partes podem ser facilmente encontradas à

venda em mercados públicos para diferentes finalidades (ALVES; PEREIRA-FILHO

2007, ALVES et al 2007a). Os múltiplos usos humanos desses animais representam

uma fonte adicional de pressão ambiental sobre estas espécies, embora o grau exato de

impacto deva ser bem avaliado e contextualizado (ALVES; ROSA 2006; ALVES et al,

2007b, ALVES et al 2009b). De acordo com McMichael & Beaglehole (2000), muitos

dos problemas atuais de saúde pública têm suas raízes na desigualdade sócio-econômica

e nos padrões de consumo imprudente que põem em risco a sustentabilidade futura. Há

a necessidade de promover a conservação e proteger as espécies utilizadas para fins

medicinais tendo em vista todo o potencial dessas espécies, pois a bioprospecção prevê

um incentivo para a conservação das mesmas (KURSAR et al., 2007).

Esta situação demonstra a importância da produção de estudos mais detalhados

enfocando as interações entre seres humanos e répteis, objetivando avaliar as

verdadeiras implicações do uso destes animais para fins medicinais e para desenvolver

estratégias viáveis para a sua conservação (FERREIRA et al., 2009c).

A caça e o comércio de animais silvestres, entre essas B. constrictor, é proibido

no Brasil. Porém, o comércio para uso dessas espécies como animais de estimação pode

ser realizado através da obtenção de espécies criadas em cativeiro, reduzindo assim a

pressão em populações selvagens (MAREŠOVÁ & FRYNTA, 2008). Segundo Alves et

al. (2009), uma proposta viável poderia ser a criação de cooperativas nas comunidades

rurais para produzir estes répteis para o mercado de medicamentos e fins

mágico/religiosos. Estas cooperativas produziriam um certo número de espécies de

répteis para fins comerciais, com a devida autorização e regulamentação das agências

78

governamentais e orientação dos especialistas da área (biólogos, veterinários e

zootecnistas).

Diante do exposto, estratégias para o uso racional de produtos de B. constrictor

devem ser idealizadas para a conservação dessa espécie. Faz-se necessário também, que

as agências governamentais de meio ambiente e saúde intensifiquem o controle sobre a

comercialização de produtos derivados de animais em mercados públicos, considerando

que o uso comercial indiscriminado de espécies nativas para fins medicinais tem sido

citado como uma das prováveis causas do declínio de populações de muitas plantas e

espécies animais (ALVES; ROSA, 2005, 2007a, b).

79

3.5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados apontam que a gordura de Boa constrictor não possui atividade

bactericida, do ponto de vista clínico, porém quando associado a antibióticos, a gordura

demonstrou uma significativa atividade sinérgica (com exceção a canamicina, para E.

coli, e gentamicina, para S. aureus).

O uso e comércio de produtos derivados de Boa constrictor exercem uma

pressão adicional sobre as populações selvagens da espécie, dessa forma fica evidente a

necessidade de: desenvolvimento de planos de gestão para o uso racional e sustentável

desta espécie; e a realização de mais pesquisas sobre a utilização da gordura corporal de

Boa constrictor no tratamento outras doenças.

80

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98

ANEXOS

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TERMO DE COMPROMISSO LIVRE E ESCLARECIDO

Pelo presente Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, eu

_______________________________________, em pleno exercício dos meus direitos

me disponho a participar da pesquisa “USO DE ANIMAIS PARA FINS MEDICINAIS

POR COMUNIDADES RURAIS DO MUNICÍPIO DE SUMÉ/PB”, sob a

responsabilidade do pesquisador Rômulo Romeu da Nóbrega Alves.

O meu consentimento em participar se deu após ter sido informado pelo pesquisador, de

que:

1. A pesquisa se justifica pela necessidade de se compreender o contexto sócio-

cultural em que se dá o uso de animais para fins terapêuticos e avaliar as

implicações ecológicas sobre as espécies potencialmente exploradas, buscando

assim a utilização sustentável das mesmas.

2. Seu objetivo é caracterizar o contexto sócio-cultural em que se dá a utilização

de recursos zooterápicos nas comunidades rurais avaliadas no município de

Sumé/PB.

3. Minha participação é voluntária, tendo eu a liberdade de desistir a qualquer

momento sem risco de qualquer penalização.

4. Será garantido o meu anonimato e guardado sigilo de dados confidenciais.

5. Caso sinta necessidade de contatar o pesquisador durante e/ou após a coleta de

dados, poderei fazê-lo pelo telefone 87217354.

6. Ao final da pesquisa se for do meu interesse, terei livre acesso ao conteúdo da

mesma, podendo discutir os dados com o pesquisador.

Não haverá riscos ou benefícios aos entrevistados em decorrência desta

pesquisa.

Sumé, ____ de ____________ de _______.

__________________________ _________________________ Participante Pesquisador ________________________

Orientanda

100

TERMO DE COMPROMISSO DOS PESQUISADORES

Por este termo de responsabilidade, nós abaixo-assinados, respectivamente, autor

e colaboradores da pesquisa intitulada “USO DE ANIMAIS PARA FINS

MEDICINAIS POR COMUNIDADES RURAIS DO MUNICÍPIO DE SUMÉ/PB”,

assumimos cumprir fielmente as diretrizes regulamentadores emanadas da Resolução n°

196/96 do Conselho Nacional de Saúde/MS e suas Complementares, outorgada pelo

decreto n° 93833, de 24 de janeiro de 1987, visando assegurar os direitos e deveres que

dizem respeito a comunidade científica, ao(s) sujeito(s) da pesquisa e ao Estado, e a

Resolução/UEPB/CONSEPE/10/20011 DE 10/10/2001.

Reafirmamos, outrossim, nossa responsabilidade indelegável e intransferível,

mantendo em arquivo todas as informações inerentes à presente pesquisa, respeitando a

confiabilidade e sigilo das fichas correspondentes a cada sujeito incluído na pesquisa,

por um período de cinco anos após o término desta. Apresentaremos semestralmente e

sempre que solicitado pelo CEP/UEPB (Conselho de Ética em Pesquisa/Universidade

Estadual da Paraíba), ou CONEP (Conselho Nacional de Ética em Pesquisa) ou, ainda,

as curadorias envolvidas no presente estudo, relatório sobre andamento da pesquisa,

comunicando ainda ao CEP/UEPB, qualquer eventual modificação proposta no

supracitado projeto.

Declaramos ainda que o presente projeto não será desenvolvido em instituição,

mas em áreas rurais do município de Sumé, Paraíba.

Campina Grande, 15 de Abril de 2009.

___________________________________ Rômulo Romeu da Nóbrega Alves

___________________________________ Nalba Lúcia Gomes da Silva

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FORMULÁRIO DE COLETAS DE DADOS

USO MEDICINAL DE ANIMAIS

Cidade/Sítio:________________________________________Data:___/____/_____. N° do entrevistado: __________________________Idade: _______ Sexo: _______ Atividade principal: _______________________ Outras: _______________________

PARA CADA ANIMAL RESPONDER AS QUESTÕES SEGUINTES

1. Nome do animal medicinal__________________ Parte do animal______________ Doença(s): ___________________________________ Modo de uso: Existe alguma planta que pode substituir (serve pra mesma doença) ( ) Sim ( ) Não. Como consegue adquirir o remédio (animal)? ( ) Captura ( ) Compra ( )Pede pra alguém conseguir Lugar de coleta do animal: Petrechos de captura (Com que pega o animal): Disponibilidade do animal: ( ) Tem muito ( ) Tem pouco ( ) Antes tinha mais Se ta diminuindo, por quê? Conhece alguém que usou e ficou curado? ( ) sim ( ) não ( ) o próprio 2. Nome do animal medicinal__________________ Parte do animal______________ Doença(s): ___________________________________ Modo de uso: Existe alguma planta que pode substituir (serve pra mesma doença) ( ) Sim ( ) Não. Como consegue adquirir o remédio (animal)? ( ) Captura ( ) Compra ( )Pede pra alguém conseguir Lugar de coleta do animal: Petrechos de captura (Com que pega o animal): Disponibilidade do animal: ( ) Tem muito ( ) Tem pouco ( ) Antes tinha mais Se ta diminuindo, por quê? Conhece alguém que usou e ficou curado? ( ) sim ( ) não ( ) o próprio 3. Nome do animal medicinal__________________ Parte do animal______________ Doença(s): ___________________________________ Modo de uso: Existe alguma planta que pode substituir (serve pra mesma doença) ( ) Sim ( ) Não. Como consegue adquirir o remédio (animal)? ( ) Captura ( ) Compra ( )Pede pra alguém conseguir Lugar de coleta do animal:

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Petrechos de captura (Com que pega o animal): Disponibilidade do animal: ( ) Tem muito ( ) Tem pouco ( ) Antes tinha mais Se ta diminuindo, por quê? Conhece alguém que usou e ficou curado? ( ) sim ( ) não ( ) o próprio

PERGUNTAS GERAIS

01. O uso desses produtos medicinais (animais e plantas) é antigo (opinião dos entrevistados)?

( ) Sim ( ) Não 02. Hoje se usa menos animais medicinais que antigamente?

( ) Sim ( ) Não ( ) Mesma coisa Porquê? __________________________.

03. Como você aprendeu que esse remédio curava as doenças citadas? 04. Sempre usou algum animal como remédio? ( ) Sim ( ) Não 05. Porque você usa animais medicinais como remédio? ( ) São fáceis de adquirir ( ) Acha melhor que remédio de farmácia ( ) Não tem dinheiro para comprar remédios de farmácia 06. O senhor (a) prefere usar animais medicinais ou se tratar usando remédios de farmácia? Por quê?

PERFIL SÓCIO-ECONOMICO Estado Civil ( ) casado ( ) solteiro ( ) separado ( ) desquitado ( ) divorciado. Grau de instrução ( )analfabeto ( ) apenas escreve o nome ( ) apenas lê ( ) lê e escreve ( )1ºgrau incompleto ( ) completo ( )2º grau incompleto ( ) completo Dados da atividade mensal, Renda mensal. Em que trabalha atualmente?________________________ Qual a renda mensal?______________ Assistência médica Costuma ir ao medico? ( )sim ( )não ( )às vezes / Com que freqüência?_____________________ Como você analisa o atendimento médico disponível?

Obrigado!