Dissertação Mestrado Augusto Amaral PUC2001

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AUGUSTO CARLOS PATTI DO AMARAL ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO DE UMA COOPERATIVA DE TRABALHO MÉDICO: UM ESTUDO DE CASO DA UNIMED CUIABÁ. MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO PUC/SP SÃO PAULO 2001

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AUGUSTO CARLOS PATTI DO AMARAL

ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO DE UMA COOPERATIVA DE TRABALHO

MÉDICO: UM ESTUDO DE CASO DA UNIMED CUIABÁ.

MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO

PUC/SP

SÃO PAULO

2001

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AUGUSTO CARLOS PATTI DO AMARAL

ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO DE UMA COOPERATIVA DE TRABALHO

MÉDICO: UM ESTUDO DE CASO DA UNIMED CUIABÁ.

Dissertação apresentada a Banca Examinadora

da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

como exigência parcial para obtenção do título de

MESTRE em Administração, sob a orientação da

Profa. Dra. Neusa Maria Bastos Fernandes dos

Santos.

PUC/SP

SÃO PAULO

2001

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Ficha catalográfica elaborada pela Bib. Nadir Gouvêa Kfouri - PUCSP

DM 658 Amaral, Augusto Carlos Patti do A485e Estrutura e funcionamento de uma cooperativa de trabalho médico: um estudo de caso da Unimed Cuiabá. - São Paulo: s.n., 2001. viii, 76 f.; il. fig., quadros; 31 cm.

Dissertação (Mestrado) - PUCSP Programa: Administração de Empresas Orientador: Santos, Neusa Maria Bastos Fernandes dos

1. Cooperativismo. 2. Sociedades cooperativas - Cuiabá, MT.

Palavra-Chave: Cooperativismo de trabalho médico - UNIMED - Receitas e custos - Distribuição de renda

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AUGUSTO CARLOS PATTI DO AMARAL

ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO DE UMA COOPERATIVA DE TRABALHO

MÉDICO: UM ESTUDO DE CASO DA UNIMED CUIABÁ

Banca Examinadora

_____________________________________

_____________________________________

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À Gisela, João e Julia

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AGRADECIMENTOS

À Profa. Dra. Neusa Maria Bastos Fernandes dos Santos, pela atenta orientação.

Aos Profs. Drs. Antonio Vico Manâs e Onésimo de Carvalho pelas

sugestões recebidas na qualificação. À UNIMED Cuiabá Cooperativa de Trabalho Médico, em especial ao ex-

Presidente, Dr. Dergan Antonio Baracat, ao atual Presidente Dr. Alencar Farina, e a todos os cooperados, pela oportunidade de desenvolvimento do trabalho.

À Pedro Carlos Miler e João Luiz Derkoski pelas sugestões de bibliografia. À José Herculano, Robinson Pinheiro, e Marilene Martins de Oliveira, pelo

auxílio na digitação. Ao Dr. José Carlos Amaral Filho, pela sugestão da dissertação de N. W.

Luz, sobre a Cooperativa Unimed, singular de Florianópolis. À Joel Pola, pelo incentivo, e ao Dr. João Carlos Regado e a AMICO

Assistência Médica, pelo financiamento parcial. À Shirlei Cristina dos Santos, pelo interesse em ajudar os mestrandos. À Vera Sakamoto, pela ajuda na reta final. Ao colega, Fernando Roberto Santini, pela boa vontade em resolver as

pendências burocráticas, e pelo animado coleguismo. Aos colegas de curso, Susan, Wanderley, Anne, Raimundo e Patrícia, pela

saudável convivência.

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RELAÇÃO DE FIGURAS

FIGURA 1 – Organização Estrutural das Cooperativas.........................................29 FIGURA 2 - Comparativo dos Resultados dos Exercícios 94 / 98 da Unimed Cuiabá.....................................................................................................................47 FIGURA 3 – Organograma de Unimed Cuiabá......................................................51 FIGURA 4 – Distribuição Percentual do N.º de Cooperados em Relação à Renda Mensal no Ano de 1999..........................................................................................66

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RELAÇÃO DE QUADROS

QUADRO 1 – Quadro comparativo : Empresas Privadas x Empresas Estatais x Cooperativas........................................................................................34

QUADRO 2- Comparativo de Custos entre Singulares Unimed’s..........................53 QUADRO 3 – Quantidade e Percentual de Cooperados, segundo o Tempo

de Cooperativa .................................................................................61

QUADRO 4 – Quantidade e Percentual de Cooperados, segundo o Motivo de Ingresso na Cooperativa............................................................62

QUADRO 5 - Quantidade e Percentual de Cooperados em relação a Aumento de Renda.......................................................................................63

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RESUMO

O cooperativismo nasceu há mais de cento e cinqüenta anos, agregando idéias de equidade e justiça social. Desenvolveu-se em todo o mundo, como uma alternativa de trabalho e inclusão social.

Em nosso país existem atualmente 5.652 cooperativas, congregando mais

de cinco milhões de cooperados, movimentando a economia em diversos setores, tais como crédito, consumo, agropecuária, trabalho e saúde.

O presente trabalho faz um histórico do cooperativismo, e apresenta a

estrutura e funcionamento de uma Cooperativa de Trabalho Médico, e as diferenças entre empresas privadas e sociedades cooperativas.

No estudo de caso da Unimed Cuiabá Cooperativa de Trabalho Médico,

no tocante a melhoria da renda dos cooperados, evidenciou-se uma grande oportunidade de trabalho para quase mil médicos cooperados, com o aumento de renda.

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ABSTRACT

The Cooperativism was born more than one hundred and fifty years ago, adding ideas of equality and social justice. Was developed in the whole world as an alternative of work and social inclusion. In our country, exists 5652 cooperatives; with more than five million cooperated, putting into motion the economy in diverse sectors such as credit, consumption, farming, work and health. The present work makes a description of the cooperativism and introduces the structure and functioning of a Cooperative of Medical Work, and the differences between private companies and cooperatives. In the case study of Unimed Cuiabá Cooperative of Medical work, in relation of improvement of income of the cooperated, ones almost proves a great chance of work for a thousand doctors, with increase of income.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 1

1 – O COOPERATIVISMO ......................................................................................6

1.1 Origens e evolução ...........................................................................................6

1.2 O Cooperativismo no Brasil ............................................................................13

1.3 O Cooperativismo de Trabalho........................................................................16

1.4 A Cooperativa de trabalho como meio alternativo de trabalho e renda...........19

2 – ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO DAS COOPERATIVAS ........................22

2.1 Natureza jurídica............................................................................................22

2.2 Características : cooperativas x empresas privadas.....................................31

3- COOPERATIVISMO DE TRABALHO MÉDICO ..............................................37

3.1 A Medicina Liberal e Profissional Médico.........................................................37

3.2 A Unimed Cuiabá Cooperativa de Trabalho.....................................................42

3.3 Receitas e Custos em uma Cooperativa de Trabalho Médico.........................53

3.4 Distribuição de renda na Cooperativa de Trabalho Médico..............................58 4- CONSIDERAÇÕES E RECOMENDAÇÕES FINAIS........................................69

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.....................................................................72

ANEXO.................................................................................................................77

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INTRODUÇÃO

O atual contexto de globalização em que se encontra a economia

moderna, fez com que as organizações, quaisquer que sejam suas atividades,

dirigissem esforços para a melhoria de seus produtos e em particular na busca da

excelência na prestação de serviços.

O fator globalização, não distingue categorias de organizações. A ênfase

no aprimoramento, para continuar na competição, nivela empresas públicas,

privadas e organizações sem fins lucrativos. A busca por novos modelos

produtivos, a inovação tecnológica com introdução maciça da informática, e a

mudança nas relações de emprego e trabalho são transformações que as

organizações têm experimentado nesta última década, com uma velocidade

bastante grande, mas com resultados nem sempre significativos para o

trabalhador, uma vez que diversos postos de trabalho, simplesmente deixaram de

existir (ALVES, 1997:24).

Quando falamos em mudanças na relação de emprego, ou em novas

formas de organização econômica, necessariamente estaremos abordando as

relações humanas que permeiam a dinâmica das organizações, e o modo de

interação entre os trabalhadores e a sociedade.

O homem como ser social assume desde sua origem uma tendência a

ajuda mútua como princípio de subsistência e força para dominar e disponibilizar a

natureza a serviço da humanidade.

Com a evolução dos tempos, o homem passou a agrupar-se e conviver

socialmente, organizando não só o espaço físico, mas também as tarefas a serem

cumpridas. Como conseqüência dos agrupamentos sociais, famílias, clãs, tribos e

comunidades passaram a enfrentar os problemas que surgem a partir desta

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representação social e até econômica, pois na dinâmica destes relacionamentos,

estavam incluídos as trocas ou escambo. Necessariamente o homem estava

aprendendo a lidar com as dificuldades da vida em comum e procurando

estabelecer princípios que coordenassem as relações entre pessoas e

coletividade.

Mais forte do que a solidariedade, o instinto de sobrevivência iria

impulsionar o homem a estabelecer relações de ajuda mútua, para enfrentar as

intempéries em um primeiro momento, e o mercado e o sistema capitalista logo a

seguir, conforme anunciava MARX (1998:48), em seu Manifesto Comunista:

“Os pequenos industriais, pequenos comerciantes e pessoas que possuem

rendas, artesões e camponeses caem nas fileiras do proletariado: uns porque

seus pequenos capitais, não lhes permitindo empregar os processos dos

grandes industriais, sucumbem na concorrência com os grandes capitalistas;

outros pelos novos métodos de produção”.

Decididamente, o iniciar da Revolução Industrial, fez florescer os instintos

de sobrevivência e solidariedade do homem, e o incentivou a buscar novas formas

de relacionamento econômico. Neste momento surgiram movimentos que iriam

motivar o aparecimento do Cooperativismo.

Atualmente, enquanto as políticas econômicas conduzidas por ideais

neoliberais, traduzido pelo que se denominou chamar de globalização, pretendem

solapar conquistas sociais alcançadas, surge, com maior ênfase ainda, a

necessidade de retomar os princípios e valores de cooperação, democracia e

solidariedade, que deram origem e sustento ao Cooperativismo, segundo PÉRIOS

(1997:17).

Para IRION, (1997:49) o Cooperativismo nasce então, com a base em

valores tais como justiça social e equidade. Seria desta forma, uma nova via de

participação social e econômica de fácil acesso, pois independe de capital, e se

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cumpridos os seus valores e princípios, deverá contribuir para uma melhor

distribuição de riqueza.

ANTONI (1980:27) sintetiza a conceituação de Cooperativa. “Uma

cooperativa é um agrupamento de pessoas que perseguem objetivos econômicos,

sociais e educativos comuns, mediante uma empresa, cujo funcionamento é

democrático, sendo a propriedade coletiva”.

O ideal cooperativista disseminou-se em todo o mundo e em todas as

áreas, sendo aceita como uma forma justa, equânime e democrática de atender as

necessidades dos trabalhadores, sendo inclusive considerada como uma melhor

alternativa de combate ao desemprego, e ainda, a Cooperativa atuaria como

intermediária entre o mercado e o trabalhador, sem visar o lucro ou qualquer outra

vantagem. (QUEIROZ, 1998.21).

IRION, em relação ao cooperativismo médico (1994:12), afirma que este

foi conseqüência da evolução de ciclos ocorridos em mudanças sócio-

econômicas, em todo o mundo. Esta evolução na medicina ocorreu, segundo o

autor, em quatro ciclos:

Medicina Liberal: quem pode paga, quem não pode pagar é atendido pela

benemerência.

Medicina Estatal: o Estado é responsável pelo bem estar social e por isso

deve avocar para si toda a responsabilidade pela assistência médica.

Medicina Mercantil: a doença passa a ser tratada como mercadoria e

explorada com objetivo de lucro

Medicina Cooperativa: o homem (médico e paciente) é o fulcro das

atenções. A sociedade deve se organizar e complementar a ação do Estado.

Em verdade, houve realmente o esgotamento destas modalidades de

assistência médica: A medicina liberal praticamente desapareceu não só pelo

empobrecimento da população, como também pela majoração imposta por

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inovações tecnológicas. A benemerência, sustentada indiretamente por toda a

sociedade também teve a mesma sorte, praticamente pelos mesmos motivos. A

medicina estatal, além da deficiência no gerenciamento, caiu junto com a

tendência de queda mundial do wellfare state, até mesmo em países de cunho

socialista. A mercantilização da medicina conseguiu provocar o descontentamento

entre todos os partícipes: prestadores de serviço, usuários e principalmente os

médicos que tiveram seus ganhos aviltados.

Nos dias de hoje, o Cooperativismo está integrado em nossa economia de

forma significativa. Segundo dados da OCB - Organização das Cooperativas

Brasileiras - existem atualmente em nosso País, 5.652 cooperativas, com

5.014.016 cooperados, empregando 167.378 funcionários.1

Resta saber se o advento do cooperativismo, com toda esta expressão na

economia Brasileira, garantindo trabalho para mais de cinco milhões de pessoas,

veio efetivamente contribuir para a melhoria nas relações de emprego e trabalho,

como também da renda do cooperado.

O objetivo geral desta dissertação, é portanto discutir o funcionamento de

uma cooperativa de trabalho médico, e as relações entre esta e seus cooperados,

em um estudo de caso da Unimed Cuiabá Cooperativa de Trabalho Médico.

Como objetivo específico, busca-se identificar a influência do sistema

cooperativista na distribuição de renda dos cooperados. Se há de fato uma

melhora nos ganhos dos participantes dessa modalidade de representação

econômica, ou simplesmente repete-se o modelo concentrador de renda verificado

em empresas mercantis.

A metodologia deste trabalho será o estudo de caso, conforme descrito

por RUDIO (1990:57): “... no estudo de caso faz-se uma pesquisa de um

determinado indivíduo, família, grupo ou comunidade com o objetivo de realizar

1 www.ocb.org.br

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uma indagação em profundidade para se examinar o ciclo de sua vida ou algum

aspecto particular desta.”

Na coleta de dados utilizou-se a pesquisa documental, através da leitura

de atas do Conselho de Administração, e demais conselhos, atas das

Assembléias Gerais da Unimed Cuiabá, relatórios da gerência financeira, e

relatório do Balanço Anual, publicado em jornais de circulação, entrevistas com

diversos dirigentes cooperativistas, e cooperados, membros da diretoria e

funcionários, e questionário dirigido aos cooperados.

No primeiro Capítulo apresenta-se uma abordagem teórica sobre a história

do cooperativismo em geral, suas origens e o momento atual, bem como a

evolução do cooperativismo no Brasil. São também abordadas algumas

considerações sobre o cooperativismo de trabalho, e este como forma alternativa

de geração de renda, e como flexibilização das relações trabalhistas.

No Capítulo II são abordadas a natureza jurídica das cooperativas,

algumas de suas características, e as comparações entre as sociedades

cooperativas, e as empresas privadas. No Capítulo III, será apresentados o

cooperativismo de trabalho médico, suas origens, peculiaridades, e a empresa a

ser estudada: UNIMED Cuiabá Cooperativa de Trabalho Médico. Será discutidas

esta forma de atividade econômica, e as relações entre cooperativa e cooperados,

e de que forma o cooperativismo influi na renda de seus cooperados.

A contribuição desta pesquisa é conhecer a importância do sistema

cooperativista, e em particular do cooperativismo de trabalho médico, e a sua

influência nos parceiros que atuam nesta atividade econômica.

A escassez de dissertações e teses e até mesmo bibliografia versando sobre o

Cooperativismo de Trabalho Médico, também nos motivou a realizar este trabalho,

que esperamos possa contribuir para um melhor entendimento deste tema de

grande relevância, e cuja importância na economia está em franca expansão.

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De acordo com PINHO (1991:156), “há um verdadeiro círculo vicioso: a falta de

publicações cooperativas não estimula a realização de estudos e a escassez de

estudos cooperativistas não permite a ampliação do mercado de obras sobre

cooperativismo”.

A maioria da bibliografia disponível versando sobre o tema aborda

invariavelmente o cooperativismo agrícola ou mais recentemente, o associativismo

ligado a movimentos populares.

Em relação ao cooperativismo de trabalho médico, a bibliografia existente é em

sua maioria de pessoal pertencente ao Sistema UNIMED.

Outra contribuição será alertar sobre um possível distanciamento que poderá

estar ocorrendo, dos princípios e valores cooperativistas que originaram este

movimento, e buscar uma reflexão sobre estes acontecimentos.

CAPÍTULO 1 - O COOPERATIVISMO

1.1 Origens e Evolução

Antes de falar-se em Cooperativismo, há que se citar o que CARNEIRO

(1978:19) chama de os Reformadores Sociais. Estes seriam em verdade os

precursores do Cooperativismo, uma vez que um conjunto de idéias, pensamentos

e tendências fervilhavam no final do Século XIX, em contraposição à dura

realidade que a Revolução Industrial lhes impunha: jornadas de trabalho

extenuantes até mesmo para mulheres e crianças, condições precárias de

habitação, alimentação inadequada e insuficiente, etc.

Estes reformadores sociais foram pensadores ingleses e franceses, que

primeiro levaram à frente suas inconformidades com o sistema Capitalista. Dentre

eles destacam-se o bretão Robert Owen, que tendo começado como aprendiz em

tecelagem, chegou a ser próspero industrial da área têxtil. (PERIOS, 1997:32).

Owen demonstrava grande preocupação com o bem estar dos

trabalhadores conseguindo, por sua iniciativa, melhorar as condições ambientais e

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pecuniárias de seus empregados. Foi também por sua influência que o governo

inglês aprovou uma Lei em 1819, limitando o trabalho de mulheres e crianças. Não

era por outra razão, que Robert Owen foi considerado o “pai do cooperativismo”,

atribuindo-lhe inclusive a criação do termo COOPERATIVISMO.

Em verdade, não só as idéias, mas principalmente o legado de realizações

de Owen, tais como a “Bolsa de Intercâmbio de Trabalho”, ou ainda uma

“Associação de Todas as Classes e de Todas as Nações”, segundo MILLER

(1999:13), teria sido a precursora da atual ACI, Aliança Cooperativista

Internacional.

Outro reformador social seria o francês Charles Fourier, este com um

cunho mais próximo ao comunismo, sugeria a formação de colônias que

produziriam em comum bens e serviços, com especial ênfase na agricultura. (A

estes locais denominava de “Falanges” ou “Falanstérios”). Fourier acreditava que

a industrialização seria responsável pelas desigualdades econômico-sociais.

Acredita-se que a prática apregoada por ele, assemelhava-se ao atual

Cooperativismo.

Além destes dois podem-se citar outros pensadores, que segundo alguns

autores (CARNEIRO, 1978; OLIVEIRA, 1984; MILLER, 1999), tiveram influência

sobre a experiência de Rochdale. São eles:

William King (1768-1865) médico inglês, que se dedicou ao

cooperativismo de consumo, Philippe Buchez (1812-1882) francês, advogado e

político, ligado a questões trabalhistas, e Louis Blanc (1811-1882) belga de

nascimento, incentivou a criação de cooperativas de produção na França.

“Toad Lane”

Em 21 de Dezembro de 1844, na “Travessa do Sapo” (Toad Lane), no

bairro de Rochdale, região industrial de Manchester, na Inglaterra, vinte e oito

artesões cansados da exploração a que estavam sendo submetidos, tais como a

extensa jornada de trabalho a que eram obrigados a cumprir, inclusive mulheres e

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crianças, bem como o aumento do desemprego cuja origem advinha da crescente

onda causada pela Revolução Industrial, reuniram-se com o propósito de criar

condições dignas de remunerar os seus trabalhos e conseguir levar até o mercado

as peças que produziam, além de instalar um armazém que lhes proporcionasse

alimentos, vestuário, ferramentas, e material necessário à execução de diferentes

trabalhos. Durante um ano, juntaram com grande sacrifício, a quantia de 28 Libras

esterlinas, que foi utilizada na abertura do armazém.

Foram os chamados “Pioneiros de Rochdale”, ou a “Sociedade dos

Probos de Rochdale” que, liderados pelo artesão Charles Howart, estavam

lançando as bases do Cooperativismo, e cujo sucesso iria impulsionar diversas

outras iniciativas. (POLONIO, 1999:22).

Os fundamentos da Doutrina Cooperativista ganharam impulso, após

Rochdale, com o Francês Charles Gide (1847-1932), que desenvolveu seus

postulados na Europa no que ficou conhecida como a “Escola de Nimés”, que

enxergavam a possibilidade de eliminar certos “males” da sociedade capitalista

através da implantação dos princípios cooperativistas.

Esta nova vertente, também chamada de Economia Social, deveria

promover em ambiente democrático, a produção, distribuição e o consumo de

bens e serviços de tal modo que todos fossem beneficiários.

É neste sentido que surgem as novas formas de relacionamento

econômico, o Mutualismo, o Associativismo e o Cooperativismo.

O Mutualismo, cuja origem é o empréstimo de coisas fungíveis, isto é, o

contrato pelo qual uma das partes transfere uma coisa/objeto fungível à outra,

obrigando-lhe esta lhe restituir coisa do mesmo gênero, da mesma qualidade e na

mesma quantidade. Tem como características:

a) Real: entrega efetiva da coisa/objeto

b) Unilateral: somente o mutuário contrai obrigações.

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c) Gratuito: o mútuo é naturalmente gratuito

d) Temporário: é da essência do mútuo a restituição

O Associativismo, que é o processo pelo qual dois ou mais indivíduos se

integram em um esquema estável nas relações, tem duas formas fundamentais de

associação:

a) A integração movida por um impulso natural, quase instintivo, não

deliberado, que dá origem às chamadas associações comunitárias, ou

simplesmente comunidades. Esta forma leva a constituição das

famílias e das pequenas comunidades rurais e urbanas.

b) Os homens também se integram por determinação deliberada,

geralmente sobre uma base contratual ou estatutária. Daí surgem às

associações, ou sociedades. È a forma que cria diversos modelos de

relações estáveis, como por exemplo, sociedades comerciais,

esportivas ou culturais, onde ninguém experimenta um impulso natural

de participar desta ou daquela sociedade anônima ou clube recreativo.

Entra efetivamente em um deles, na medida em que uma reflexão

deliberada lhe mostra haver interesse nisso.

O Cooperativismo foi motivado por um conjunto de princípios e valores

que preconizavam uma mudança na organização da economia. Enquanto o

Capitalismo privilegia o Capital, o Cooperativismo visa privilegiar o Indivíduo.

Os princípios originais, constantes no estatuto de fundação em Rochdale,

são assim enunciados: (IRION, 1997:51).

1) Adesão Livre;

2) Controle Democrático;

3) Devolução ou Retorno sobre as Compras;

4) Juros Limitados ao Capital;

5) Neutralidade Política e Religiosa;

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6) Vendas a Dinheiro e a Vista;

7) Fomento ao Ensino.

Em que pese ter sido a iniciativa de Rochdale, uma cooperativa de

consumo, os princípios serviram para todos os tipos de cooperativas e foram

adaptados no Congresso da Aliança Cooperativista Internacional (ACI), realizado

em Paris em 1937 para as demais cooperativas. Este mesmo Congresso, reunido

desta vez em Manchester, Inglaterra, no ano de 1995, fez uma última revisão cujo

enunciado sintético passou a ser:

1) Princípio da Adesão Livre e Voluntária;

2) Princípio do Controle Democrático pêlos Sócios;

3) Princípio da Participação Econômica dos Sócios;

4) Princípio da Independência e Autonomia das Cooperativas;

5) Princípio da Educação, Treinamento e Formação;

6) Princípio da Cooperação entre Cooperativas;

7) Princípio da Preocupação com a Comunidade;

Este conjunto de princípios é a base da doutrina cooperativista e a

atuação na cooperativa passa pelo entendimento, e comprometimento destes

princípios.

O primeiro princípio, “da adesão livre e voluntária”, significa que as

cooperativas são abertas a todas as pessoas aptas a usar seus serviços, sem

discriminação social, racial, política ou religiosa e de gênero. É o “princípio da

porta aberta” (IRION, 1997:59). O que não significa que a cooperativa seja

obrigada a acolher todos os que têm condições de nela ingressar, o que por vezes

possa ser confundido, podendo por em risco a situação da cooperativa.

Em verdade o princípio manifesta a possibilidade de ingresso sem

restrições que não sejam eminentemente técnicas ou estatutárias como, por

exemplo, candidato a sócio que participe de empresas concorrentes. Não parece

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lógico um associado de uma cooperativa de produtores de leite entregar a sua

produção leiteira para outra empresa concorrente, que não a sua cooperativa.

No segundo princípio, “Controle Democrático dos Sócios”, fica

assegurado a participação decisiva na condução do destino da cooperativa. É o

princípio do “Um homem um voto” (IRION, 1997: 65), ou seja, a titularidade do

controle da cooperativa é da pessoa e não do capital. Todo o associado tem

igualdade de votos independente do seu capital aplicado na sociedade.

O princípio que mais nos interessa, pois diz respeito diretamente ao objeto

deste estudo é o terceiro, cujo anunciado é: “Participação Econômica dos

Sócios”. É neste princípio que fica evidente a diferenciação entre empresa

capitalista e sociedade cooperativa, enquanto na primeira a distribuição do

excedente (lucro ou dividendos) se faz em função da participação acionária dos

associados, oriundas de em lucro extraído do trabalho de assalariados, na

cooperativa, o que existe são sobras liquidas, que serão divididas, após a dedução

de despesas administrativas.

Nas empresas mercantis o capital existe para explorar determinado

negócio e para ser remunerado, multiplicando-se pelo lucro que produz. Isto dá ao

capital caráter de investimento, e consequentemente faz do capital um fim.

RIOS (1989:31) estabelece uma conexão que dá sentido à dinâmica da

cooperativa:

”Existe, portanto uma conexão direta entre a necessidade dos sócios,

de um lado e as operações da cooperativa de outro e entre a participação

dos associados nas atividades da cooperativa, de um lado e o

funcionamento da cooperativa de outro”.

Esta conexão define que os associados não são apenas os co–

proprietários, mas também usuários. Disso resulta que a única finalidade de uma

cooperativa consiste em prestar serviços a seus próprios associados.

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No 4º princípio, “Autonomia e Independência”, fica explícito a vontade

de autogestão, sem interferências externas até mesmo do poder público.

Respeitadas as leis em vigor, a independência e autonomia da cooperativa são

definidas pela relação entre seus associados. IRION (1997:117), alerta que nem

sempre este quarto princípio seja fator critico de sucesso para a cooperativa, ás

vezes, muito ao contrário: “a natureza democrática das cooperativas, cujas

assembléias são compostas por leigos, poucas vezes bem informados sobre

doutrinas e a natureza do negócio, e nem sempre preparadas para decisões

técnicas ou políticas, além da transitoriedade das direções compostas por pessoas

que não são profissionais de administração e negócios, fazem da independência

ou autonomia de muitas cooperativas, alvos vulneráveis”.

O 5º princípio, “Da Educação, Treinamento e Formação”, teve sua

origem em Rochdale (LUZ FILHO, 1961:18), com o objeto de perpetuar o ensino

do cooperativismo entre seus associados e descendentes, formando desta

maneira uma sociedade sensível aos princípios cooperativistas.

Este princípio está presente até hoje na legislação pertinente, que obriga

destinar um percentual da sobras auferidas a um Fundo de Assistência Técnica

Educacional e Social (FATES).

A “Cooperação entre Cooperativas” é o 6º princípio, que pressupõe

que haja integração entre as cooperativas, com o intuito de fortalecer o

cooperativismo.

O 7º princípio, “Preocupação com a Comunidade”, demonstra a

necessidade de interação e preservação da comunidade aonde a cooperativa

desenvolve o seu trabalho, cumprindo também uma função social, integrando a

cooperativa no meio sócio-econômico. Estes são, em suma os princípios que

norteiam as ações das cooperativas.

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1.2 O Cooperativismo no Brasil

CARNEIRO (1978), atribuiu a “dificuldades de assimilação de raças

condicionadas ao primitivismo”, como causa para a não implantação de uma base

histórica do cooperativismo em nosso País.

Segundo este autor, o regime escravocrata teria influenciado além da

raça negra, os indígenas, impedindo a assimilação dos princípios associativos. Tal

afirmativa é também defendida por MILLER (1999:22), que acrescenta que os

princípios associativos eram combatidos pelos governantes da época.

Em verdade, temos a convicção de que a influência da Igreja Católica, em

particular a ação dos padres jesuítas, no trato com os índios, e na conversão ao

catolicismo, incentivou as práticas de ajuda mútua, que são próprias de povos

primitivos. A evolução, assim como a propagação de práticas cooperativistas,

entretanto, somente seriam institucionalizadas, mais tarde, com a imigração.

No Brasil, a iniciativa de movimentos cooperativistas coincide com a

chegada dos imigrantes europeus que trazem a experiência bem sucedida em

seus países de origem, bem como o ideal de construir uma nova sociedade.

Excetuando-se a experiência da Colônia Teresa Cristina no Paraná, em

1847, fruto das idéias do francês Charles Fourier, personificadas no médico

também patrício, Jean Maurice Faivre, juntamente com um grupo de europeus

recém chegados ao País, constam como primeiras iniciativas, a dos trabalhadores

da Cia. Telefônica de Limeira, em São Paulo (1891), a Cooperativa Militar de

Consumo no Rio de Janeiro (1894) e a Cooperativa de Consumo de Camaragibe,

em Pernambuco (1895).

No mesmo ano de criação da Cooperativa de Consumo em Pernambuco,

foi fundada uma entidade internacional, com sede em Genebra, Suíça, para

coordenar as atividades das cooperativas em todo o mundo: a Aliança

Cooperativista Internacional (ACI).

Page 25: Dissertação Mestrado Augusto Amaral PUC2001

14

No início do século XX, em Minas Gerais, foram organizadas as primeiras

cooperativas, do ramo agrícola, incentivado pelo Governo do Estado, com o

objetivo de incentivar a cafeicultura, até então dominada pelos imigrantes.

João Pinheiro, Governador à época, garantiu isenções fiscais e estímulos

materiais para a criação de cooperativas agrícolas, exclusivas para o café, em

razão de sua importância econômica para o Estado.

No sul do País começavam a surgir cooperativas agropecuárias, em

especial formadas com imigrante alemães e italianos. Este tipo de cooperativa,

provavelmente em razão da quantidade, e do sucesso do empreendimento é a

mais conhecida e difundida nos dias de hoje.

No Rio Grande do Sul, em 1902, com base na experiência alemã,

surgiram as primeiras cooperativas de crédito, incentivadas pelo padre jesuíta

Theodor Amstad, cujo fundamento era a honestidade de seus cooperados. A

atuação deste tipo de cooperativa veio complementar a necessidade de capital

dos pequenos produtores, responsáveis pelas cooperativas agropecuárias.

O desenvolvimento das cooperativas de crédito no Rio Grande do Sul foi

bastante auspicioso, e em pouco tempo foi criada uma cooperativa central,

agrupando mais de cinqüenta cooperativas.

Em 1913, no Rio de Janeiro, surgem a Cooperativa dos Empregados e

Operários da Fábrica de Tecidos da Gávea, e a Cooperativa de Consumo

Operária do Arsenal de Guerra.

Na mesma data em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, é fundada a

Cooperativa de Consumo dos Empregados da Viação Férrea, que existiu até

1964, tendo sido considerada como a maior Cooperativa de Consumo da América

do Sul (STAUBER, 1996:45).

Em nosso País, a evolução da legislação tentava acompanhar o

crescimento dessas novas experiências. O primeiro governo a amparar tais

Page 26: Dissertação Mestrado Augusto Amaral PUC2001

15

iniciativas, foi o do Marechal Deodoro, em 1890, incentivando a Cooperativa

Militar. Em seguida já nos primeiros anos do novo século, foram introduzidos

alguns decretos que regulamentavam as atividades cooperativistas, garantindo a

sua constituição, bastando para tanto o registro em junta comercial.

A rigor, o primeiro dispositivo legal, dispondo de forma abrangente sobre

as atividades cooperativistas no Brasil, foi o Decreto n. º 979 de 6 de Janeiro de

1903, que regulava as atividades dos sindicatos de profissionais da agricultura e

das atividades rurais e de cooperativas de produção e consumo.

Posteriormente foi promulgado o Decreto n. º 1637 de % de Janeiro de

1907, com 26 artigos, dos quais 16 eram destinados às sociedades cooperativas.

Em 19 de Dezembro de 1932, com a promulgação do Decreto n. º 2239,

conseguiu-se uma definição mais consistente sobre os princípios cooperativistas,

transformado em Estatuto do Cooperativismo, considerando-se então o marco da

formalização legal da atividade no Brasil (MILLER 1999).

Na época do regime militar, com base no Ato Institucional n. º 2, foi

baixado o Decreto-Lei nº60, criando o Banco Nacional de Crédito Cooperativo.

Diversos ajustes na legislação foram realizados a seguir, sempre

priorizando o caráter agrícola do cooperativismo. Os órgãos governamentais que

se dispuseram a fomentar e incentivar estas iniciativas foram em primeiro lugar a

Secretaria Nacional de Agricultura e posteriormente o Ministério de Agricultura.

Somente em 16 de Dezembro de 1971, foi promulgado o estatuto geral do

cooperativismo: A Lei 5764, elaborada pelos técnicos da Organização das

Cooperativas Brasileiras – OCB, e ajustada pela tecnocracia estatal. Com riqueza

de detalhes, a nova lei definiu a Política Nacional de Cooperativismo, e instituiu o

regime jurídico das sociedades cooperativas.

Page 27: Dissertação Mestrado Augusto Amaral PUC2001

16

Após a constituição de 1988, a intervenção estatal sobre as sociedades

cooperativas terminou, e estas passaram a ser criadas livremente, sem

interferências de órgãos estatais.

Apesar da diminuição da ingerência do Estado, com a nova constituição,

conseguiu-se aproveitar boa parte da Lei 5764/71, e incluem-se diversos artigos

apoiando e incentivando tanto o associativismo, quanto o cooperativismo, em

setores como a agropecuária, trabalho, mineração e crédito.

1.3 O Cooperativismo de Trabalho

As cooperativas variam segundo a sua atividade e podem ser

classificadas nos seguintes tipos; (QUEIROZ 1998:51).

Cooperativa Agropecuária: voltada para a produção rural, com objetivos

de reunir esforços e obter maior tecnologia e preços para seus produtos.

Cooperativa de Consumo: com a finalidade de adquirir bens de consumo

para seus cooperados.

Cooperativa de Crédito: agregam poupadores e tomadores de

empréstimos, com taxas mais acessíveis. Também estimulam a poupança. Muitas

acabam tornando-se Bancos Cooperativos, como é caso do BANCOOP e

BANSICREDI, outrora cooperativas de crédito.

Cooperativa Educacional: formada em geral de pais e mestres, visa

capacitar seus cooperados e dependentes a um custo acessível.

Cooperativa Especial: aberta para o atendimento a necessidades

especiais, tais como portadores de deficiências, menores, incapazes. Esta

cooperativa é parcialmente autogerida pelos seus cooperados.

Cooperativa Habitacional: visam prover moradias para parcelas da

população, a preço de custo.

Page 28: Dissertação Mestrado Augusto Amaral PUC2001

17

Cooperativa de Mineração: permite a categoria de mineradores,

partilharem bens de produção ou outros recursos.

Cooperativa de Produção: em geral voltada para a área industrial, aonde

os cooperados são responsáveis pela produção e comercialização dos bens

produzidos.

Cooperativa de Serviços: para prestar serviços exclusivamente aos

cooperados.

Cooperativa de Trabalho: são cooperativas que reúnem pessoas de

diversas atividades ou profissões para vender o seu trabalho. Podem ser de

Médicos, Contadores, Programadores, Engenheiros, Enfermeiros, etc.

De todas as atividades exercidas até hoje, através das sociedades

cooperativas, talvez o segmento trabalho seja o que mais esteve presente na raiz,

como pedra fundamental do cooperativismo mundial, culminando com a formação

da primeira cooperativa em Rochdale.

O desemprego já preocupava, e a união daqueles tecelões em

cooperativa, era enxergada como um meio de se conseguir trabalho, e como

tentativa de dar equilíbrio ao estrangulamento social propiciado com a substituição

da fiação artesanal pela industrial.

O Cooperativismo atua em diversos segmentos: de consumo, de crédito,

de habitação, de produção, de ensino, entre outros, e o de trabalho, sendo este

último objeto de nosso interesse, em particular o Cooperativismo de Trabalho

Médico, representado pelo Sistema Unimed.

A presença das cooperativas de trabalho em nosso País foi consolidada

em 1932, com a promulgação do Decreto-Lei n. º 22.232, cujo artigo 24 era assim

redigido:

“Art. 24: São cooperativas de trabalho aquelas que, constituídas

de operários de uma determinada profissão ou ofício ou de ofícios

Page 29: Dissertação Mestrado Augusto Amaral PUC2001

18

vários de uma mesma classe, tem como finalidade primordial

melhorar os salários e as condições de trabalho pessoal de seus

associados e dispensando a intervenção de um patrão ou

empresário, se propões contratar obras, tarefas, trabalhos, ou

serviços públicos ou particulares, coletivamente por todos ou por

grupos de alguns”.

Através deste Decreto, promulgado pelo governo de Getúlio Vargas, ficava

facilitado o acesso a formação de cooperativas, pois estava prevista a

possibilidade de contratação através das cooperativas de trabalho, junto aos

tomadores dos seus serviços.

Mais tarde, em 1943 ao se decretar a Consolidação das Leis do Trabalho,

manteve-se inalterados os artigos que citavam as cooperativas, sendo válido até

1966, com uma primeira modificação, e em seguida em 1971, com a efetivação da

“Lei Cooperativista”, o Decreto-Lei 5764/71.

As Cooperativas de trabalho são constituídas por profissionais da mesma

ocupação (uniprofissionais) ou de diversas profissões do mesmo ramo de

atividade (multiprofissionais).

LIMBERGER (1969:42), explicita a essência do que é uma cooperativa de

trabalho:

“A cooperação supõe necessariamente a liberdade de trabalhar em

comunidade. Assim, a cooperação possui duas condições importantes

e imprescindíveis: liberdade e comunidade; trabalho livre e grupal.

Igualmente se opõe à competição e concorrência (...). Concebe-se a

cooperativa, então, como associação e empresa, com base na

cooperação. Associação porque constitui a reunião de pessoas, que

trabalham juntas, livremente e com o mesmo objetivo. Empresa

porque representa a conjugação dos fatores de produção: trabalho,

Page 30: Dissertação Mestrado Augusto Amaral PUC2001

19

capital, administração, tecnologia e natureza (...). Destacam-se as

duas dimensões caracterizadoras da cooperativa: econômica e social.

Se faltar uma, já não é cooperativa”.

As cooperativas de trabalho atuam na contratação de serviços para seus

associados. É ela quem vai ao mercado e consegue o cliente, no entanto este é

automaticamente repassado a um cooperado para que este efetivamente realize

os serviços desejados. Os serviços podem ser prestados na cooperativa, nas

dependências de terceiros, em locais públicos ou nos estabelecimentos dos

tomadores de serviços.

Os objetivos das cooperativas de trabalho são basicamente os seguintes

(QUEIROZ, 1998:25):

1) Melhoria de renda de seus associados, conseguindo valorizar o

trabalho e obtendo melhor negociação com referência à remuneração.

Atuando como um todo, o sistema cooperativista, fiel a seus princípios,

devolve o excedente gerado pelo trabalho coletivo de seus associados,

na mesma proporção da quantidade e da qualidade do trabalho

prestado.

2) Incrementos nas condições de trabalho, uma vez que a cooperativa

transforma os trabalhadores (cooperados), em empresários,

determinando de forma democrática as regras de atuação da

cooperativa.

1.4 O Cooperativismo como meio alternativo de trabalho e renda

Atualmente o cooperativismo tem demonstrado ser uma resposta a

situação econômica do País, no que diz respeito à disponibilidade de mão de obra,

gerada pelo desemprego. As cooperativas de trabalho são os meios com grande

potencial e possibilidades para gerar uma mudança social importante e útil,

Page 31: Dissertação Mestrado Augusto Amaral PUC2001

20

quando atuam como intermediadora de negócios, podendo gerar trabalho,

valorizar atividades profissionais e tentar emancipar trabalhadores.

Sendo a cooperativa pessoa jurídica, organiza e orienta o trabalho de seus

associados, negocia melhor os contratos de fornecimento de serviços, ordenando

as categorias profissionais, e os orientado no sentido de atender as demandas de

mercado.

È importante, entretanto, que as cooperativas estejam fortalecidas

internamente, e sejam integradas no sistema cooperativista, aliando-se entre

outras singulares ou federações, com o propósito de angariar força política e

econômica, de vital importância para sua sobrevivência e atendimento das

necessidades de seus cooperados e da sociedade.

A terceirização experimentada pelas empresas, com especial ocorrência

na última década, nem sempre alcançou os objetivos propostos, entre eles o de

diminuição de custos para as empresas, pois todas as iniciativas são alicerçadas

na legislação trabalhista, exceto as cooperativas de trabalho, que baseadas na

doutrina e princípios do cooperativismo, vem ao encontro tanto do interesse de

empresas quanto trabalhadores, pois reduz os encargos trabalhistas para o

empresário, mas atende aos anseios do trabalhador, uma vez que mantém o

posto de trabalho, com outro viés.

Desta forma, através da terceirização com as cooperativas de trabalho,

existe a possibilidade de expansão das empresas, sem aumento de custos

trabalhistas, e gerando novos postos de trabalho.

SANTOS (1999:72) evidencia que a mudança na legislação brasileira,

versando sobre cooperativismo, e o aumento da confiança do empresariado nas

cooperativas de trabalho, propiciaram um incremento na quantidade de

cooperativas em nosso país.

Esta evolução, segundo o autor, motivou a transferência de empregados

antes regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), para a uma situação

Page 32: Dissertação Mestrado Augusto Amaral PUC2001

21

de trabalhador autônomo, consolidando uma mudança na relação de trabalho nas

empresas, favorecendo inclusive o Estado, que não tem capacidade de absorver

esta mão de obra.

Na realidade o que ocorre é uma flexibilização nas relações de trabalho,

uma vez que nas cooperativas existe a possibilidade de alternância na

substituição de mão de obra (cooperados), sem que a atividade sofra solução de

continuidade. Ou seja, substitui um trabalhador por outro, que irá desempenhar as

atividades com a mesma eficácia e interesse.

Outro aspecto que definitivamente contribui para esta flexibilização, e

consequentemente para um aumento da absorção de mão de obra é no tocante

aos encargos trabalhistas. Considerando-se que a atividade cooperada tem

relação civil e não trabalhista, a remuneração do trabalhador cooperado poderá

ser maior do que a do empregado, uma vez que não existem os encargos normais

de uma vinculação trabalhista.

Para os tomadores de serviço de cooperativas, há uma sensível

otimização econômica e financeira considerando-se que o reembolso para

remunerar uma atividade terceirizada via cooperativa é menor tendo em vista não

ser uma relação vinculada à Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT),

desobrigando neste caso dos recolhimentos tradicionais observados em uma

relação trabalhista.

QUEIROZ (1998:125) alerta, entretanto para os riscos jurídicos dos

tomadores de serviços de cooperativas, quando as cooperativas se revestem de

condições irregulares, caracterizando o que êle chama de “fraudoperativa” ou

“gatoperativa”, que são as cooperativas que deixam de cumprir suas obrigações

previdenciárias ou ainda quando há a clara intenção de somente burlar a justiça

trabalhista, na transformação de ex-empregados em cooperados que prestam

serviços unicamente para a o empregador anterior.

Page 33: Dissertação Mestrado Augusto Amaral PUC2001

22

A cooperativa de trabalho é acima de tudo, uma alternativa essencial para

o desemprego. Qualquer grupo de pessoas, com objetivo comum, e com poucos

recursos financeiros conseguem criar o seu meio de trabalho e renda através da

cooperativa.

A Organização Internacional do Trabalho (OIT), desde 1966, durante a

Conferência Internacional do Trabalho, realizada em 21 de Junho, já expressava

preocupação e a importância devida ao cooperativismo e as cooperativas de

trabalho, conforme consta da Recomendação 127, daquela Conferência:

“Com a finalidade de melhorar as oportunidades de emprego, as

condições de trabalho e as receitas dos trabalhadores agrícolas sem-

terras, deveriam estes ser ajudados, quando for conveniente, a

organizarem-se, voluntariamente, em Cooperativas de Trabalho”.

Se naquela época, há mais de 30 anos as Cooperativas de Trabalho já eram

consideradas fonte alternativa de emprego e renda, atualmente a iniciativa está

mais presente do que nunca, principalmente com as mudanças que

aceleradamente vem ocorrendo na economia mundial.

CAPÍTULO 2 – ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO DAS COOPERATIVAS

2.1 Natureza jurídica

Em sua natureza jurídica, as cooperativas estão regulamentadas através

da Lei n. º 5764, de 16/12/71, a chamada “Lei Cooperativista”, que institui o regime

jurídico das sociedades cooperativas, e da outras providências.

Obrigatoriamente, segundo a citada Lei, as características que devem

estar presentes nas sociedades cooperativistas, são o que relacionam os incisos I

a XII, artigo 4º:

Page 34: Dissertação Mestrado Augusto Amaral PUC2001

23

Art. 4º - As cooperativas são sociedades de pessoas, com forma e

natureza jurídica próprias, de natureza civil, não sujeitas à falência,

constituídas para prestar serviços aos associados, distinguindo-se das

demais sociedades pelas seguintes características:

I- Adesão voluntária, com número ilimitado de associados, salvo

impossibilidade técnica de prestação de serviços.

II- Variabilidade do capital social, representado por quotas-partes;

III- Limitação do número de quotas-partes do capital para cada associado,

facultado, porém o estabelecimento de critérios de proporcionalidade, se

assim for mais adequado para o cumprimento dos objetivos sociais;

IV- Inacessibilidade das quotas-partes do capital a terceiros, estranhos à

sociedade;

V- Singularidade de voto, podendo as cooperativas centrais, federações e

confederações de cooperativas, com exceção das que exerçam atividade

de crédito, optar pelo critério da proporcionalidade;

VI- “Quorum” para o funcionamento e deliberação da Assembléia Geral

baseado no número de associados e não no capital;

VII- Retorno das sobras líquidas do exercício, proporcionalmente às operações

realizadas pelo associado, salvo deliberação em contrário da Assembléia

Geral;

VIII- Indivisibilidade dos fundos de Reserva e de Assistência Técnica,

Educacional e Social;

IX- Neutralidade política e não discriminação religiosa, racial e social;

X- Prestação de assistência aos associados, e, quando prevista nos estatutos,

aos empregados da cooperativa;

Page 35: Dissertação Mestrado Augusto Amaral PUC2001

24

XI- Área de admissão de associados limitada às possibilidades de reunião,

controle, operações e prestações de serviços.

XII- Nota-se com clareza, a influência dos princípios de ROCHDALE, na Lei

Cooperativista. A diferença básica entre uma empresa Capitalista e uma

Sociedade Cooperativista está expressa no inciso V, da singularidade de

voto: “Um homem, um Voto”. O privilégio é da pessoa e não do capital.

O Inciso VII traz também outra diferença típica: é quanto ao resultado do

final do exercício. Ao prestar serviços aos seus associados, a sociedade

cooperativa movimenta, em nome destes, recursos que são entregues em

trabalho. Ao final do exercício, é levantado um balanço que demonstra o resultado

obtido. Em caso de sobras, estas são retornadas aos associados, de acordo com

a proporção da sua movimentação. O cooperado que mais produz, por

conseguinte, participa da maior fatia das sobras. As sobras resultam quando a

parcela apropriada dos associados supera os custos e as despesas da

administração.

A denominação “sobras” expressa na lei, quer dizer que o resultado

positivo, nas sociedades mercantis denominado de lucro, não pertence à

cooperativa e sim aos seus cooperados.

É quando o cooperado emprega seu trabalho, e por ele recebe em forma

de adiantamento a maior, para dar cobertura às despesas administrativas e

operacionais.

As sociedades cooperativas visando atender suas finalidades sociais

realizam diversas atividades, interagindo ora com o associado cooperado, ora com

o terceiro isoladamente ou com ambos em um mesmo ciclo operacional. Em uma

cooperativa de trabalho, este ciclo é o de contratação e prestação de serviço do

trabalhador.

O artigo 79 da Lei 5746/71, definiu a distinção entre os ciclos, como atos

cooperativos e atos não cooperativos:

Page 36: Dissertação Mestrado Augusto Amaral PUC2001

25

“Art. 79 Denominam-se atos cooperativos os praticados entre as

cooperativas e seus associados, entre esses e aquelas pelas cooperativas

entre si quando associadas, para consecução dos objetivos sociais”.

FRANKE (1973:26), diferencia o ato cooperativo do não cooperativo,

denominando o primeiro de “negócio-fim”, aquele que é realizado entre o

associado e a cooperativa, e “negócio-meio”, o realizado entre a cooperativa e o

mercado.

Esta distinção é importante, pois há implicações tributárias diferenciadas:

não há incidência de tributos sobre o ato cooperativo.

As Assembléias de Cooperados

A Assembléia é o órgão máximo da cooperativa. Pode ser geral, ordinária

ou extraordinária. Nas assembléias, dentro dos limites legais e estatutários é que

se deliberam os destinos da sociedade, tomando resoluções convenientes ao

desenvolvimento e à defesa da cooperativa. As decisões tomadas em

assembléias pelos cooperados, atingem a todos os sócios, independentes de seu

comparecimento ou não.

É necessário cumprir alguns trâmites para que a assembléia surta efeito

legal. São eles: convocação prévia de 10 dias, publicada em editais e jornais de

circulação normal, quorum de 2/3 do número de associados, em primeira

convocação ou de dez associados em terceira e última convocação. Não poderá

haver representação individual do cooperado.

Em assembléia ordinária, obrigatoriamente realizada nos três primeiros

meses do ano seguinte do balanço, os associados são obrigados a deliberar pelo

retorno das sobras. Licitamente, por exemplo, depois de rateadas as sobras, em

vez de receber em espécie, podem optar por deixá-las no caixa da cooperativa, a

título de aumento de capital, ou ainda, decidir pela constituição de fundos.

Page 37: Dissertação Mestrado Augusto Amaral PUC2001

26

Do mesmo modo, em não havendo “sobras”, mas “perdas”, estas deverão

necessariamente ser rateadas, caso não haja cobertura do fundo de reservas,

dentro do exercício seguinte em que ocorreu, na exata proporção das operações

que houveram sido realizadas com a cooperativa, após a aprovação do balanço

pela Assembléia Geral Ordinária.

A Administração de uma cooperativa seja de qualquer natureza, é de

responsabilidade total de seus cooperados. Para conduzir os trabalhos de uma

cooperativa, são eleitos em Assembléia Geral, um Conselho de Administração, e

um Conselho Fiscal.

O Conselho de Administração é o órgão superior na administração da

Cooperativa, e é formado por cooperados no gozo de seus direitos sociais, com

mandatos de duração e renovação, funções e atribuições estabelecidas pelo

Estatuto Social. É de sua competência a decisão sobre qualquer interesse da

cooperativa e de seus cooperados, nos termos da legislação, do Estatuto Social, e

das determinações da Assembléia Geral.

O Conselho Fiscal é constituído por três membros efetivos e três

suplentes, também eleitos em Assembléia Geral para a função de fiscalização da

administração, das atividades e das operações da cooperativa devendo examinar

livros e documentos, entre outras atribuições. È um órgão independente da

administração, que representa a Assembléia Geral no desempenho de suas

funções estabelecidas no Estatuto Social, com duração prevista de doze meses.

No uso de suas atribuições, o Conselho de Administração poderá

contratar técnicos para assessoramento na condução dos negócios da

Cooperativa. Assim, os cooperados que são eleitos para conduzir a Cooperativa,

organizam um corpo funcional, de não cooperados, para gerir o cotidiano

operacional, e em muita das vezes dotam a cooperativa de uma administração

profissional, recrutada no mercado de trabalho, para garantir não somente uma

padronização de procedimentos administrativos, mas a sobrevivência da

organização frente ao competitivo ambiente em que atuam. Não é pelo fato de

Page 38: Dissertação Mestrado Augusto Amaral PUC2001

27

uma cooperativa não visar lucros, que a sua administração possa ser relegada a

leigos ou curiosos. Uma gerência eficaz e profissional pode ser o diferencial entre

a perpetuação no mercado ou o desaparecimento da iniciativa cooperativista.

A Organização das Cooperativas do Brasil (OCB), mostra como elas são

organizadas, seguindo o artigo 6º, do Capítulo III, da Lei 5764 de 16/12/71: As

sociedades cooperativas são consideradas:

I- Singulares, as constituídas pelo mínimo de 20 pessoas físicas, sendo

excepcionalmente permitida a admissão de pessoas jurídicas que tenham

por objeto as mesmas ou correlatas atividades econômicas das pessoas

físicas ou, ainda, aquelas sem fins lucrativos;

II- Cooperativas centrais ou Federações de cooperativas, as constituídas de

no mínimo três singulares, podendo excepcionalmente admitir associados

individuais.

III- Confederações de cooperativas, as constituídas de pelo menos três

federações de cooperativas ou cooperativas centrais, da mesma ou de

diferentes modalidades.

IRION (1997.227), divide em termos de hierarquia o funcionamento da

organização estrutural de uma cooperativa, conforme demonstrada na figura 1:

- Superestrutura

- Macroestrutura

- Estrutura Funcional

- Infra-estrutura

A Superestrutura, órgão máximo na organização estrutural, é composta

pela totalidade de seus associados, que quando reunidos, formam a Assembléia

Geral.

Page 39: Dissertação Mestrado Augusto Amaral PUC2001

28

A Macroestrutura, também formada exclusivamente de seus associados,

mas somente aqueles eleitos ou designados pela Assembléia Geral, a quem são

delegados funções de administração.

A Estrutura Funcional tem natureza funcional, com atribuições distribuídas

em organograma próprio. De modo geral é composta por um corpo técnico de não

associados, com os quais se mantém vínculo trabalhista.

A Infra-estrutura é composta pelos sócios (cooperados) individualmente,

de onde provém os negócios da cooperativa oriundo dos sócios na qualidade de

produtores, fornecedores, ou consumidores dos bens e serviços cooperativados.

Além da estrutura interna de uma singular, há também uma organização

em rede que atua em conjunto com os cooperados, as singulares, as federações e

a confederação.

Pelo seu valor democrático, o sistema cooperativista, garante autonomia

aos escalões intermediários, componentes do sistema: singulares e federações.

É essencial a participação do médico cooperado, através de seus

representantes, no cotidiano da cooperativa, pois as decisões que envolvem

valores, métodos de trabalho, maneira de atendimento do usuário, e uma série de

outras que atingem o trabalho do médico, são decididos no âmbito da

macroestrutura, e irão afetar os componentes da infra-estrutura.

Deve-se, entretanto, evitar o gigantismo da estrutura, com início em

representações da classe cooperativista e reproduz-se em federações e

confederações, conforme anuncia MACEDO, in CRUZIO (2000:59) sob pena de

haver um distanciamento dos associados e da própria associação.

Nesta relação, não há uma hierarquia imposta, com ordens emanando da

cúpula, para as bases, como ocorre na relação matriz x filial. Existem apenas

orientações a serem seguidas, oriundas de um consenso entre os atores do

processo.

Page 40: Dissertação Mestrado Augusto Amaral PUC2001

29

ASSEMBLÉIA GERAL

CONSELHO FISCAL

ADMINISTRAÇÃO DIRETA E INDIRETA

QUADRO FUNCIONAL

SÓCIO

INDIVIDUALMENTE

Figura 1

ORGANIZAÇÃO ESTRUTURAL DAS COOPERATIVAS

Fonte : IRION (1997:229)

SUPER

ESTRUTURA

MACRO

ESTRUTRURA

ESTRUTURA

FUNCIONAL

INFRA

ESTRUTURA

Page 41: Dissertação Mestrado Augusto Amaral PUC2001

30

2.2 Características: cooperativas x empresas privadas

A definição de empresa, segundo D’AVILA (1972:264), ”é uma unidade de

produção na qual se combinam os diversos fatores produtivos para o fornecimento

de bens ou serviços à comunidade”.

Entre os fatores, segundo este autor estão: o trabalho, a direção e o

capital, compreendendo também máquinas e instalações, e matéria prima.

Em sua natureza jurídica, poderá ser: pública; de propriedade do Estado;

privada, de propriedade de pessoa ou grupo; mista, combinando as duas formas

anteriores; ou ainda de caráter social, como no caso de uma cooperativa, cuja

propriedade é dividida igualitariamente entre os membros de uma comunidade.

A empresa moderna nasceu com a revolução industrial, resultante

basicamente da convergência de três fatores:

1º) a ruptura das corporações da idade média;

2º) o avanço da tecnologia, aplicada a novas formas de produção,

descoberta de novas fontes de energia;

3) a ampliação dos mercados, levando a substituição da produção

artesanal pela industrial.

Em uma fase inicial, chamada de capitalista, (HUNT & SHERMAN 1998:

107) a empresa segrega capital e trabalho, com unidades de produção cada vez

maiores, e uma concentração dos meios produtivos, em um ambiente de

concorrência acirrada. Era a época de exploração do trabalhador, com jornadas

extenuantes e salários vis. Situação esta que iria motivar novas formas de

relacionamento no trabalho, entre exata o cooperativismo.

Page 42: Dissertação Mestrado Augusto Amaral PUC2001

31

Uma segunda fase há uma evolução para o neocapitalismo, quando surge

certa humanização da empresa e melhoria das condições de trabalho, embora a

hegemonia do processo produtivo continue detida unilateralmente pelo capital.

Atualmente existem novas formas de participação do capital e trabalho,

criando mecanismos que estimulem a participação de todos no processo

produtivo, assumindo, desta forma, uma função social e de prestação de serviços

na comunidade onde está inserida.

Entre as sociedades cooperativas e as sociedades anônimas, alguns são

os pontos de divergências, destacamos os principais:

Quanto à expectativa de remuneração do capital aplicado: Nas sociedades

anônimas os acionistas assumem o papel de investidores, esperando uma

retribuição financeira como remuneração do capital investido. Nas sociedades

cooperativas, o investimento efetuado pelos cooperados deixa de ter importância

em relação ao benefício que lhes é proporcionado. Nas cooperativas, o cooperado

assume dois papéis: associado e cliente, sendo este último o mais importante,

pois é a cooperativa que irá gerar trabalho para êle.

Quanto à participação nas operações da sociedade: Nas cooperativas, é

condição sine qua non que os cooperados participem das operações como

beneficiários dos serviços por ela prestados. Já nas sociedades anônimas não há

esta necessidade. Em geral os acionistas só participam nas assembléias.

Quanto à responsabilidade dos cooperados: A responsabilidade dos

cooperados pode ser limitada ou ilimitada, conforme o estatuto da cooperativa.

Nas sociedades anônimas, a responsabilidade será sempre limitada ao capital

integralizado.

Quanto à distribuição dos resultados: A distribuição dos lucros, nas

sociedades anônimas é calculada com base na participação de cada acionista no

capital social, ao passo que nas cooperativas a distribuição das sobras é calculada

de acordo com a produção de cada cooperado, realizada na cooperativa.

Page 43: Dissertação Mestrado Augusto Amaral PUC2001

32

Quanto ao direito de voto: Nas sociedades anônimas o direito de voto está

relacionado com o tipo de ação pertencente ao sócio, se preferencial ou ordinária.

A ação preferencial, via de regra não dá direito de voto a seu titular, enquanto que

na ação ordinária este direito está implícito. Nas cooperativas não há distinção

entre os sócios, todos possuindo o mesmo direito a voto.

As diferenças que separam as sociedades cooperativas das sociedades

anônimas são significativas. As empresas têm finalidades mercantilistas e

sobreviverão se obtiverem lucros. As cooperativas têm como foco a promoção do

trabalho de seus associados, sem visar lucro e efetivando-se pela contribuição e

colaboração mútua de seus sócios.

QUEIROZ (1998:53), faz um comparativo entre os encargos despendidos

pelas empresas e pelas cooperativas, chegando a um diferencial de 18,96% a

favor destas, pois não há recolhimento de FGTS, férias e seus respectivos

encargos, 13º salário mais encargos, e aviso prévio: como também o recolhimento

ao chamado sistema ”S”, ou seja, SESC, SENAC, SENAT, SENAI, dependendo

do ramo de atividade da cooperativa.

Da mesma forma, este autor credita as cooperativas o feito de poder

remunerar de forma mais vantajosa seus cooperados, tendo em vista a economia

gerada com a não incidência dos tributos trabalhistas, e em tese, o cooperado

deva ser mão de obra mais valorizada, pois há estatutáriamente, e previsto em lei,

o uso de recursos do FATES, fundo de assistência educacional e social, para

treinamento e capacitação do cooperado.

Cabe observar, entretanto, que o trabalhador que não está em uma

cooperativa apesar de receber menos, conta com a segurança que lhe confere as

leis trabalhistas, em caso de demissão involuntária.

Page 44: Dissertação Mestrado Augusto Amaral PUC2001

33

Em um quadro demonstrativo elaborado por PINHO (1982), in (IRION

1997:22), são comparadas as características existentes entre instituições públicas,

privadas e sociedades cooperativas, conforme mostrado no quadro 1, com

adaptações do autor.

As vantagens apresentadas, em termos da legislação trabalhista e da

facilidade de constituição, além do objetivo social diferenciam acentuadamente as

sociedades cooperativas das demais.

Em que pese às cooperativas guardarem alguma semelhança na gestão,

com as empresas estatais, talvez pela característica da administração envolver

democraticamente um número maior de pessoas na tomada de decisão ou ainda

pela dependência das cooperativas do Estado, em grande parte, no início de suas

atividades, as demais características, são bastante diferentes.

Em especial, no tocante a propriedade, e participação na distribuição da

renda, pontos fundamentais, e que constam como princípios da doutrina

cooperativista.

Quadro 1: Comparativo: Empresas Privadas x Empresas Estatais x Cooperativas

Page 45: Dissertação Mestrado Augusto Amaral PUC2001

34

INSTITUIÇÕES

VARIÁVEIS

EMPRESA PRIVADA

EMPRESA ESTATAL

COOPERATIVA

1. Propriedade É privada. Pertence aos capitais que investem dinheiro

É estatal ou pública. Pertence ao Estado.

É social. Pertence ao conjunto de usuários ou trabalhadores sócios

2. Que é? (forma) Uma sociedade capitalista

Uma atividade econômica organizada pelo Estado.

Uma associação de pessoas que organizam uma atividade econômica em benefício comum

3. Que busca? (objeto) O máximo benefício econômico do capital ou do dinheiro investido (lucro).

O máximo do benefício econômico para o bem comum.

O serviço ao homem e à sociedade em geral

4. Renda (como se distribui)

Em função do capital. Quem tem mais capital financeiro recebe maior lucro.

Para o Estado. Em função do trabalho aportado e/ou do serviço realizado

5. Gestão (governo administração e fiscalização)

Em função do capital e em forma autoritária vertical e descendente.

Pelo Estado. Através dos funcionários públicos

Democrática: exercida pelos sócios.

6. Trabalho É uma mercadoria a serviço do capital.

A serviço do Estado. Forma de realização do homem

7. Capital Submete e domina o homem. (Em poucas mãos)

Em mãos do Estado A serviço do homem. Não submete o homem.

8. Homem Considerado objeto dividido: proprietário e trabalhador.

A serviço do Estado. Considerado como sujeito ativo – livre igualitário e solidário

9. Número de membros

Limitado: aos que podem investir grande soma de dinheiro.

O Estado: o único associado.

Ilimitado: limitado apenas pela capacidade humana.

Fonte: adaptado de PINHO (1982), in IRION (1997: 22).

Page 46: Dissertação Mestrado Augusto Amaral PUC2001

35

ZYLBERSTAJN (1997:81), no XI Congresso Brasileiro de Cooperativismo,

indicava os principais problemas da empresa cooperativista, reunidos em

consenso:

a) A falta de profissionalização na gestão,

b) A incipiente organização do sistema,

c) As dificuldades de capitalização,

d) A ausência de um sistema financeiro próprio, e

e) O nível de educação cooperativista do associado.

Estas dificuldades apontadas, que são comuns nas cooperativas em

geral, e que vivenciamos na Cooperativa de Trabalho Médico, acreditamos ter

influência na origem doutrinária do cooperativismo, e na sua eficiência em gerir a

empresa.

A falta de agilidade nas tomadas de decisão é uma decorrência natural

das estruturas democráticas de decisão, assim como o fato do cooperado ser ao

mesmo tempo “usuário” e “proprietário” de seu negócio, sem uma nítida separação

entre propriedade e controle, faz com que o cooperado questione qualquer

decisão tomada por que m possui o controle, com base na afirmativa de que

afinal, êle é “dono” da empresa.

Não raro os questionamentos são realizados por decisões empresariais

necessárias e acertadas, mas que contrariam interesses pessoais ou de grupos.

Seria necessário repensar a cooperativa com orientação exclusivamente

voltada para o associado, e manter o foco também no mercado e no usuário,

buscando novas possibilidades de capitalização, e reorientar os objetivos de

negócio.

Page 47: Dissertação Mestrado Augusto Amaral PUC2001

36

A exigência do mercado levará inexoravelmente para este caminho. Seria

importante que a empresa cooperativa esteja preparada para este novo desafio, e

não se deixe atropelar pelo ambiente de negócios, que exige eficiência e

competitividade.

O cooperativismo somente sobreviverá se a empresa cooperativa

sobreviver forte, e competitiva.

CAPÍTULO 3 - O COOPERATIVISMO DE TRABALHO MÉDICO

3.1 A Medicina Liberal e o Profissional Médico

A disseminação das escolas médicas em todo o mundo, e a nova

formação do profissional médico, baseado além das práticas tradicionais, no

advento da tecnologia e no uso de máquinas para auxílio diagnóstico, passou a

exigir do futuro médico, condições de técnicas especializadas que só lhe davam

credenciais após anos de estudo e para os quais se exigia a sua responsabilidade

econômica para provisão desses estudos.

È neste contexto que se propicia a prática da medicina liberal,

distanciando-se da medicina antiga, ligada ao humanismo e a benemerência.

Ao longo do tempo, o relacionamento médico-paciente sofreu

consideráveis modificações, em razão da evolução social. A auréola de respeito

que cercava o médico e a medicina foi perdendo importância na medida em que a

medicina foi afastando-se da filosofia e se aliando à ciência.

DONNANGELO (1975), observa que um dos fatos notórios para o

afastamento do médico foi à instituição do consultório, que marcaria o primeiro

passo para afastar o cliente das relações familiares do médico, tornando o

diagnóstico, a terapêutica e a prevenção antes um conjunto de aplicações técnico-

científicas do que uma influência pessoal do médico.

A livre escolha de seu médico pelo paciente é uma das molas mestras

desta relação, e da própria essência da profissão liberal do médico. Torna-se,

Page 48: Dissertação Mestrado Augusto Amaral PUC2001

37

entretanto difícil exercer esta livre escolha em um sistema Capitalista aonde há

gigantesca diferença de classes sociais, praticamente excluindo desta opção,

parcela significativa de população.

Em verdade, a dificuldade está exatamente no preço desta escolha, e não

na escolha em si. Para vencer este obstáculo, é necessário colocar produtor e

consumidor, em contato direto sem intermediários. Mas não basta isto, é

necessário que haja algo mais, uma ideologia, valores e princípios que norteiem

esta relação.

CARNEIRO (1978:75), afirma que o Cooperativismo médico propõe

manter a livre escolha do médico, mas não o preço livre dos honorários. De fato, o

sistema cooperativista busca uma saída para o mercantilismo. Sem dúvida

alguma, esta saída esbarra em uma questão: como garantir a livre escolha do

médico, sem que a demanda force um preço inacessível, e tampouco obrigue o

médico a vender sua força de trabalho a empresas mercantilistas que o comprarão

a preço vil?

Se de um lado da balança tenta-se manter os preços da medicina baixos,

de outro se pode querer explorar o trabalho médico, com o fulcro de auferir lucros

para as empresas contratantes.

A chave para esta equação encontramos em CARNEIRO (1978:77): “o

preço justo defendido pelo cooperativismo é aquele que possa ter finalidade social

para o usuário e propósito econômico para o cooperado”.

Desta maneira, através da cooperativa, estaria estabelecido o vínculo

ligando o médico ao paciente. Como cooperado ele é escolhido livremente, e

presta ele mesmo um serviço a cada usuário.

O sistema cooperativista é quem determina o preço do serviço, que foi

previamente estabelecido com o conhecimento de cooperados e usuários,

preservando médico e paciente, de suas condições econômicas e o direito de

livre-escolha.

Page 49: Dissertação Mestrado Augusto Amaral PUC2001

38

È bem verdade, entretanto, que para o funcionamento e a regulação deste

mercado, foi necessário retirar do médico a capacidade de livre oferta de preços,

mas não a de livre oferta de trabalho.

Algumas premissas necessitam existir no sistema de cooperativismo

médico, para garantir coerência as suas finalidades essenciais:

1º) o sistema visa se antepor ao mercantilismo, isto é propõe-se a evitar a

exploração do médico por grupos econômicos, que o assalariam para auferir

lucros. Esta é a maneira mais encontrada, presente em empresas de medicina de

grupo, seguradoras e clínicas.

2º) deve ser também evitado pelo sistema, a medicina liberal, na qual não

há limitação para o custo do serviço médico. O sistema é quem deve arbitrar o

custo do serviço, com base em um preço justo, acordado entre tomador e

prestador de serviço.

O cooperativismo médico é um sistema cujo objetivo é possibilitar a

divisão eqüitativa e social do trabalho médico. È uma associação de médicos

organizada nos princípios do cooperativismo, união esta que possibilita atender o

usuário dentro de uma finalidade social, uma vez que o mesmo participa do

sistema.

O interesse do médico ao se agrupar na cooperativa é evitar tornar-se

assalariado de uma empresa ou grupo econômico, mas também poder oferecer

seus serviços diretamente ao interessado e ter um público cativo, que será

proporcional ao serviço prestado pelo cooperado, possibilitando desta forma que

se pratique um preço justo, pois haverá volume e quantidade de trabalho

suficiente.

Da parte do usuário o interesse está em ser atendido com hora marcada,

em consultório do médico, sabendo de antemão quanto e quando vai pagar,

podendo fazer um orçamento de suas despesa com antecedência.

Page 50: Dissertação Mestrado Augusto Amaral PUC2001

39

A administração da cooperativa deve estar voltada ao mesmo tempo para

o trabalho médico e para os serviços que são comuns em outras empresas. Esta

não é apenas a diferença entre cooperativas e empresas mercantis, mas seu

principal desafio.

Os interesses, por vezes são antagônicos: quanto mais trabalho o médico

tiver realizado, sejam consultas, exames ou internações, maior será seu

rendimento. Maior também será a despesa da cooperativa, uma vez que o usuário

paga uma quantia fixa por mês, independente de sua utilização.

Por esta razão existe a necessidade em haver uma co-participação dos

usuários na sua utilização. Desta forma o uso passa a ser mais racional, e o

usuário assume junto com a cooperativa a responsabilidade pelo seu uso.

A primeira experiência em nosso País

Vislumbrando uma resposta aos anseios de uma nova ordem econômica,

e sob forte influência do sucesso das cooperativas na Europa, cerca de 20

médicos de Santos, em São Paulo, liderados por Edmundo Castilho e pelo

advogado do Sindicato dos Médicos, Reginaldo Ferreira Lima, fundaram em 18 de

Dezembro de 1967, a pioneira Cooperativa de Trabalho Médico, com o intuito de

“defender os interesses econômicos dos médicos”.

O registro da cooperativa foi realizado no Departamento de Assistência ao

Cooperativismo (DAC), no Ministério da Agricultura, que até hoje abriga a maioria

das cooperativas, excetuando-se as da área da saúde, vinculadas ao Ministério da

Saúde, através da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), e as de crédito

ligadas ao Ministério da Fazenda, através do Banco Central.

A princípio a causa foi confundida com reivindicação salarial, e tanto

Sindicato dos Médicos, quanto Associação Médica relutavam em encampar a

idéia, mas em pouco tempo, a habilidade dos dirigentes da cooperativa na época,

bem como a realidade das dificuldades vividas pela classe médica, com o

crescimento das empresas de medicina de grupo na região, impulsionou os ideais

Page 51: Dissertação Mestrado Augusto Amaral PUC2001

40

cooperativistas, e a prática de uma empresa cooperativista. (CARNEIRO 1978,

IRION 1983).

Denominada de UNIMED, que significa “união de médicos” e contando

com o apoio de entidades de classe, como a Associação Medica de Santos, o

Sindicato dos Médicos e o Conselho Regional de Medicina, a cooperativa logo se

engaja na luta contra as chamadas medicinas de grupo ou mercantilistas, e em

1968, Edmundo Castilho divulga um manifesto em defesa das cooperativas e em

repúdio a estes “grupos fechados de pré-pagamento” (CARNEIRO, 1978:39):

“(...) Grupos fechados de pré-pagamento são aqueles formadas por 2

ou 3 médicos que se unem em sociedade comercial com a finalidade de

auferir lucro, na prestação de serviços médicos hospitalares (...)”.

“(...) As Cooperativas assistenciais foram criadas como a antítese dos

grupos fechados de pré-pagamento, representando a maioria em todas

a comunidades médicas e rompendo as tutelas, intervenções de

intermediários e explorações; eles procuram fundamentalmente

defender os padrões éticos e cientifico (...)”.

No início foram realizados contratos do tipo particular, com a propaganda

sendo feita diretamente pelo médico cooperado. Foi também conseguido um

empréstimo junto ao Banco Nacional de Crédito Cooperativo, e em pouco mais de

dois anos de funcionamento a UNIMED de Santos já estava adquirindo sede

própria para a cooperativa.

Passados mais dois anos, em meados de 1972, o sistema já contava com

35 singulares em todo o Estado de São Paulo. Com o sucesso alcançado em São

Paulo, a Associação Médica Brasileira (AMB), através de seu presidente, Paulo

Kassab, e de Edmundo Castilho, que acumulava a presidência da UNIMED, com a

diretoria de saúde da AMB, passaram a realizar caravanas por todo o País,

divulgando o cooperativismo médico e a experiência bem sucedida de São Paulo.

Page 52: Dissertação Mestrado Augusto Amaral PUC2001

41

Em pouco tempo, Edmundo Castilho, e o advogado Reginaldo Ferreira

Lima, passaram a atender associações médicas de todo o País, para auxiliar na

montagem de cooperativas médicas em boa parte do Brasil. Foi assim que Juiz de

Fora, Uberaba, Uberlândia, Varginha e Montes Claros em Minas Gerais iniciaram

as atividades logo em seguida.

São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, formaram as três

primeiras federações, garantindo base legal e estrutura doutrinária para a

fundação da Confederação das UNIMED’S do Brasil.

Ressalvados os arroubos do momento da criação da UNIMED, e os

excessos do discurso fervoroso contra a “medicina mercantilista”, que perduram

até os dias de hoje, Edmundo Castilho, estava determinando uma nova fase no

conceito de assistência médica em nosso País.

Dificilmente este médico estaria vislumbrando o gigantesco complexo que

se tornaria o Sistema Unimed: 351 Cooperativas em todo o Brasil, 86.000 médicos

cooperados, 16.500 funcionários e 12 milhões de usuários atendidos, atingindo

quase 80% dos municípios brasileiros.2

3.2 A Unimed Cuiabá Cooperativa de Trabalho Médico

Como objeto de nosso estudo escolhemos esta Cooperativa de Trabalho

Médico, pela facilidade de acesso aos dados e pela inquietação que nos causava

verificar uma prática de distribuição de renda distante do modelo cooperativista

apregoado na literatura, e nos discursos. O histórico passamos a relatar:

Aos vinte dias do mês de Outubro de 1975, reunidos no auditório do

Hospital Geral e Maternidade de Cuiabá, vinte e dois médicos fundaram a Unimed

Cuiabá Sociedade Cooperativa de Serviços Médicos e Hospitalares, tendo sido

eleito como Presidente, o Dr. Artur Sebastião Bastos Jorge.

2 www.unimed.com.br/nacional

Page 53: Dissertação Mestrado Augusto Amaral PUC2001

42

Na época, a maioria dos pacientes ainda era particular, categoria que

praticamente inexiste atualmente, quer pelo surgimento de inúmeros planos e

seguros de saúde ou pelo empobrecimento da população, ou ainda pelos altos

preços da tecnologia médica, ou provavelmente por todos estes fatores em uma

cadeia de causa e efeito.

Vinte e quatro anos depois a Unimed Cuiabá Cooperativa de Trabalho

Médico é a nona empresa do Estado de Mato Grosso, com um faturamento anual

de mais de R$ 76.000.000 (Setenta e Seis Milhões de Reais), segundo dados do

balanço anual da Gazeta Mercantil da edição de 1999, ficando atrás, em termos

de faturamento, apenas para as estatais estaduais de energia, água, telefonia

móvel e celular, e das empresas de agribussiness, que ocupam 45% (quarenta e

cinco por cento) da economia do Estado (Atlas do Mercado Brasileiro, Gazeta

Mercantil, 1999).

Com certeza, aqueles médicos não imaginavam que estariam criando uma

sociedade cooperativa com tal pujança econômica. Em termos de mercado, a

Unimed é responsável por uma fatia de 75% (setenta e cinco por cento), segundo

dados do IEL, Instituto Evaldo Lodi, da FIEMT, Federação das Indústrias de Mato

Grosso (1996).

Realmente a situação da Unimed Cuiabá é peculiar: para uma população,

segundo dados do IBGE (1997), na chamada “Grande Cuiabá”, que abriga além

de seu município com 453.904 habitantes, o município vizinho, Várzea Grande,

com 214.668 habitantes, totalizando então 668.572 habitantes, os usuários da

Unimed Cuiabá, somavam em fins de Outubro de 1999, cerca de 160.000 (cento e

sessenta mil) usuários (Departamento de Mercado, Unimed Cuiabá, 1999),

portanto a cooperativa tem entre seus usuários, 24% (vinte e quatro por cento) de

toda a população da Grande Cuiabá.

Tradicionalmente as Cooperativas de Trabalho Médico são fortes em

cidades do interior, aonde há um boa relação e interação entre os médicos,

facilitando a formação de cooperativas, permitindo assegurar uma fatia

Page 54: Dissertação Mestrado Augusto Amaral PUC2001

43

considerável de mercado. Além disso, a boa relação da Cooperativa com os

médicos acaba criando certa reserva de mercado, dificultando a entrada de outros

planos de saúde na cidade, como ocorreu em Cuiabá.

Atualmente, a Unimed Cuiabá conta além da carteira de 160.000 usuários,

e com 157 funcionários. Em complemento ao plano de saúde, a Cooperativa

possui uma farmácia para venda de medicamentos com desconto de 25% (vinte e

cinco porcento) exclusivamente para os usuários, bem como atendimento médico

domiciliar para pacientes, o Home Care, e um Núcleo de Atendimento em

Medicina Ocupacional para o atendimento à legislação trabalhista.

A área de atuação da Unimed Cuiabá, além do município de Cuiabá,

abrange também os seguintes municípios: Campo Verde, Chapada dos

Guimarães, Jaciara, Primavera do Leste, e Várzea Grande.

O quadro de associados ou cooperados é de 897 (oitocentos e noventa e

sete) médicos. O que eqüivale dizer que a cooperativa tem quase novecentos

donos, traduzindo-se em uma grande complexidade para administrar.

Tradicionalmente, o modus operandi das singulares Unimed’s é bastante

similar. Os médicos que ocupam os cargos de direção da cooperativa, raramente

tem experiência administrativa anterior ou ainda “queda” para os negócios. È

natural que assim o seja, pois este profissional foi preparado por longos anos para

o cuidado com o paciente, e não para atuar em um ambiente de negócios, ou para

a gestão organizacional.

O que ocorre então é uma tentativa de administrar a cooperativa como o

médico administra o seu consultório. Em verdade, o trabalho do profissional

médico pode ser comparado ao de um artesão. Êle o executa em geral sozinho, e

de forma manual. Ao transportar esse modo de administrar para a cooperativa, em

especial as de grande porte, aparecem às dificuldades no dia a dia.

Outro fator, que em nosso entendimento contribui para dificultar a

dinâmica da tomada de decisões, é o caráter democrático da cooperativa.

Page 55: Dissertação Mestrado Augusto Amaral PUC2001

44

As decisões são sempre em colegiado, por votação, sendo vitoriosa a

maioria simples. Este fato acontece nas Assembléias Gerais, e também no

cotidiano organizacional, obedecendo ao que prescreve a Lei 5764/71, e os

estatutos:

“Art. 47- A sociedade será administrada por uma Diretoria ou um

Conselho de Administração, composto exclusivamente de

associados eleitos em Assembléia Geral, com mandato nunca

superior a 4 (quatro) anos, sendo obrigatória a renovação de no

mínimo 1/3 (um terço) do Conselho de Administração.

O estatuto da Unimed Cuiabá, que guarda semelhança com diversas

outras singulares, diz em seu Art. 39º:

Parágrafo 2º- O Conselho de Administração rege-se pelas

seguintes normas:

A) Reúne-se ordinariamente uma vez por semana, e

extraordinariamente sempre que necessário, por convocação do

presidente, da maioria do próprio Conselho de Administração, ou

ainda por solicitação do Conselho Fiscal;

B) Deliberar validamente com a presença da maioria de seus

membros, proibida a representação sendo as decisões tomadas pela

maioria simples dos votos dos presentes, reservado ao presidente o

exercício do voto de desempate.

C) As deliberações serão consignadas em atas circunstanciadas,

lavradas em livro próprio, lidas, aprovadas e assinadas no final dos

trabalhos pelos membros presentes.

Este ritual não seria impeditivo, ou prejudicial ao ritmo da tomada de

decisões, caso acontecesse somente nas Assembléias Gerais ou em reuniões

extraordinárias.

Page 56: Dissertação Mestrado Augusto Amaral PUC2001

45

Entretanto, ao atender aos estatutos, não se estabelece uma hierarquia de

necessidades prementes e urgentes, tampouco uma segregação de relevância

para a tomada de decisões.

O que a nossa prática, enquanto dirigente de cooperativa nos mostra, é

uma lentidão excessiva e um apego legalista exagerado aos estatutos.

Acreditamos que parte deste modus operandi está na origem democrática

da constituição das cooperativas, aonde todos são donos do negócio, onde um

homem, um voto e no aparelho fiscalizador, personificado pelo Conselho Fiscal,

que entre suas atribuições, conforme o Art.53º, (item e), do estatuto social da

Unimed Cuiabá prevê:

“Certificar se o Conselho de Administração vem se se reunindo

regularmente e se existem cargos vagos na sua composição”.

Ocorre na prática então, além da morosidade na tomada de decisões,

certa negligência nas tarefas maiores de um Conselho de Administração, que

conforme LODI (1998:5), seriam a de proteger o patrimônio e maximizar o retorno

do investimento, zelar pela observância de valores, e propósitos nas atividades

das empresas, além da formulação de políticas e estratégias corporativas.

Ao ver-se estatutáriamente obrigado as reuniões semanais, e tão somente

a elas, o cotidiano de pouca relevância acaba assumindo papel de destaque nas

atribuições do Conselho de Administração.

Analisando as atas semanais das reuniões do Conselho de Administração,

verifica-se decisões de suma importância, como o descredenciamento de hospitais

ou a aprovação de campanha de marketing para o lançamento de um novo plano

de saúde, ocupando o mesmo espaço, e com igual importância que decisões tão

prosaicas quanto a solicitação da compra de uniforme para um time de futebol de

uma escola do bairro, ou ainda o pedido de compra de rifa para ajudar a festa de

formatura de algum funcionário.

Page 57: Dissertação Mestrado Augusto Amaral PUC2001

46

LUZ (1998), em um estudo inédito sobre análise de gestão em

cooperativas de trabalho médico, faz severas críticas sobre a administração de

uma singular, relatando as dificuldades que os médicos enfrentam para gerir o

negócio, os conflitos de interesse que surgem, a pouca disponibilidade e o

despreparo dos dirigentes cooperativistas.

Este autor afirma que três são as bases para a gestão da cooperativa:

Informação, Comunicação e Decisão (LUZ 1998:42).

Sobre a informação, seriam necessários conhecimentos sobre

cooperativismo e medicina supletiva. Na experiência daquele autor, o

conhecimento sobre cooperativismo da singular estudada é precário, e restrito aos

conselhos diretores; A comunicação também deixa a desejar, e um dos motivos

seria o tamanho da cooperativa, que tem cerca de 1.000 médicos cooperados. Em

relação à decisão, esta costuma ser morosa e de pouca flexibilidade.

A partir de 1996, forçado pelo crescimento acentuado da Cooperativa, e o

acirramento no contexto mercadológico e consequentemente em uma maior

complexidade administrativa, o Conselho de Administração da Unimed Cuiabá

optou por imprimir um ritmo arrojado nas ações da organização, e decidiu

profissionalizar a sua administração, contratando no mercado de trabalho

profissionais do ramo, com experiência em administração de planos de saúde.

Redirecionou seu negócio, e contratou Diretor Executivo, Gerente

Administrativo-Financeiro e Contador, todos profissionais recrutados no mercado

de trabalho local e nacional, não sendo sócios da cooperativa, mas integrantes do

corpo técnico da estrutura funcional da mesma.

Os resultados apurados nos balanços dos últimos três anos mostram uma

tendência animadora, após alguns anos de perdas amargadas pela cooperativa,

conforme mostrado na figura de número 02 (dois).

Page 58: Dissertação Mestrado Augusto Amaral PUC2001

47

Figura 02: Comparativo dos Resultados dos Exercícios de 1994/ 98 da Unimed

Cuiabá.

R$ 1000

Fonte: Balanços Anuais / 1994-98 da Unimed Cuiabá

Administrar uma empresa de convênio médico não chega ser um exercício

de futurologia, mas as dificuldades em estabelecer as bases para um

planejamento de médio e longo prazo são consideráveis, pois a receita é

previsível, através da carteira de clientes.

Como o sistema é de pré-pagamento, isto é, o cliente paga no início do

mês para ter direito ao uso ao longo do período, as receitas são facilmente

reconhecidas, salvo a inadimplência, que neste tipo de negócio não é

considerável, pois sem o pagamento, o cliente perde direito a utilização do plano

de saúde.

Page 59: Dissertação Mestrado Augusto Amaral PUC2001

48

Os custos assistenciais, entretanto, estão sujeitos a variáveis tão diversas

como: mudanças climáticas, que podem influir em aumento de atendimentos

médicos ou internações hospitalares. Inovações tecnológicas na medicina, que se

traduz em modernos equipamentos de diagnósticos, elevando o gasto com o

paciente. Avanços de técnicas cirúrgicas, que tratam patologias anteriormente não

tratadas, regulamentações governamentais ampliando a cobertura de planos de

saúde, com contratos já em vigor, entre outras.

Entendemos que são mudanças benéficas para o consumidor, mas que

encarecem o custo final, e dificultam a realização de um planejamento eficiente.

Apesar das dificuldades, acreditamos que os últimos dois anos apontam

não só uma recuperação, mas uma tendência, conforme mostram os resultado

dos exercícios anteriormente mostrados.

Para o gerenciamento do cotidiano da organização, foi então proposto

pela consultoria externa, em meados de 1996, um modelo de organograma, o qual

foi adaptado e atualmente encontra-se na versão mostrada na figura 03 (três),

conforme o Regimento Interno da Cooperativa.

A idéia básica transmitida era a de fixar um quadro profissional, (Estrutura

Funcional), subordinado ao Conselho de Administração, responsável por gerir e

cuidar do negócio da organização, quadro este composto por funcionários

contratados, e não por sócios ou cooperados eleitos, garantindo uma continuidade

do trabalho.

O nível imediatamente superior, a macro-estrutura, seria eleita e renovada

periodicamente, conforme o estatuto, sendo responsável pelas diretrizes políticas,

e estratégicas de longo prazo, bem como sendo a visão do associado, do dono,

dentro da empresa.

Esta estrutura organizacional efetivamente agilizou o processo de tomada

de decisões uma vez que a cooperativa é composta de diversos donos, e as

Page 60: Dissertação Mestrado Augusto Amaral PUC2001

49

decisões importantes são historicamente decididas em assembléias, quase

sempre burocráticas e demoradas, e de caráter pouco pragmático.

Uma vez aprovada e legitimada a nova estrutura organizacional -através

de assembléia- o Conselho de Administração ganhou autonomia para delegar a

tomada de decisões para um nível hierárquico abaixo, que está em completa

sintonia com o cotidiano das operações, e tem além do perfil profissional indicado,

tempo para dedicar-se à organização.

O exemplo adotado pela Unimed Cuiabá, encontra semelhança entre

outras singulares: Unimed Paulistana, em São Paulo; Curitiba, Campinas,

Federação das Unimed do Centro-Oeste, entre outras.

A consultoria também evidenciou a necessidade de uma revisão nos

processos e uma maior informatização para garantir agilidade e confiabilidade na

tomada de decisões, conforme aponta o relatório finalizado em Junho de 1996

(TREVISAN, 1996:28).

Foi também realizado pela consultoria, em conjunto com o Conselho de

Administração, e com o Diretor Executivo contratado, o planejamento estratégico,

e a definição de missão e visão da cooperativa:

Missão:

“PRESTAR ASSISTÊNCIA MÉDICA DE QUALIDADE, A PREÇO JUSTO,

DE FORMA ÉTICA, GARANTIDO TRABALHO PARA O COOPERADO, COM

REMUNERAÇÃO CONDIZENTE, MANTENDO O EQUILÍBRIO FINANCEIRO DA

COOPERATIVA”

Visão:

“SER RECONHECIDA COMO REFERÊNCIA REGIONAL NA

PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE ASSISTÊNCIA MÉDICO-HOSPITALAR, E

EXEMPLO DE COOPERATIVISMO.”

Page 61: Dissertação Mestrado Augusto Amaral PUC2001

50

Em verdade os a consultores que realizaram o trabalho na Unimed Cuiabá

mostraram-se surpresos com a gestão pouco profissional, principalmente face aos

recursos movimentados.

Começava, então uma nova fase na cooperativa, com uma gestão

profissionalizada, e com rumos definidos.

Page 62: Dissertação Mestrado Augusto Amaral PUC2001

51

Figura 03: ORGANOGRAMA DA UNIMED CUIABÁ

Recursos Financeiros

Contabilidade

Assembléia Geral

Conselho Fiscal

CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO

PRESIDENTE VICE-

PRESIDENTE

DIRETOR DE MERCADO

DIRETOR SECRETÁRIO

DIRETOR FINANCEIRO

Centro de Estudos

Comissão Técnica

Comissão

de Ética

Diretoria Executiva

Ass. Técnica Estatística

Assessoria Jurídica

Serviço

Social

Auditoria Médica

Administ. RH

Apoio e Serviços

Gestão de

Contas Ass.

Cooperado

Gestão de Contas Ass. Prestador

Gestão de Contas

Intercâmbio

Atend. ao Cooperado

Tele Atendimento

Atend. Local

Departamento de Mercado

Departamento de Atendimento

Núcleo de Sist.

de Informação

Departamento Adm. Financeiro

Adm.. Contratos

Vendas

NSO HOME CARE

Page 63: Dissertação Mestrado Augusto Amaral PUC2001

52

3.3 Receitas e Custos em uma Cooperativa de Trabalho Médico

A cooperativa coloca o mercado, à disposição de seus associados

(cooperados), para que estes possam entregar a produção de seu trabalho. Da

mesma forma, os cooperados disponibilizam seus consultórios, através da

cooperativa, para a população que é conveniada da cooperativa.

Esta transação é efetivada através de convênios realizados pela

cooperativa, e da venda de serviços que serão prestados pelos cooperados. Estes

serviços são os Planos de Saúde, que abrangem o atendimento médico e

hospitalar, incluindo desde a consulta médica em consultório particular do médico

cooperado, a realização de exames diagnósticos, e a internação hospitalar.

A venda dos Planos de Saúde é realizada diretamente a cada indivíduo ou

família ou através de grupos ou associações de classe ou de interesse comum, o

ainda adquirido pela empresa onde o trabalhador esteja empregado, uma vez que

atualmente o benefício de Plano de Saúde é concedido pela maioria das

empresas, e com custo mínimo para o trabalhador, possibilitando o acesso ao

tratamento medico-hospitalar a um grande número de trabalhadores.

Da venda destes serviços, é que são originadas as receitas da

cooperativa. Há também as receitas que são oriundas, não da comercialização

dos planos de saúde, mas de outros serviços, agregados ao produto principal, que

é a prestação de serviços médico-hospitalares. Na Unimed Cuiabá, há também

receitas advindas da venda de medicamentos da farmácia, de receitas financeiras.

Na Unimed Cuiabá, segundo o relatório anual de 1999, a receita líquida do

ano anterior foi de R$ 94.500.843,30 (noventa e quatro milhões, quinhentos mil,

oitocentos e quarenta e três reais e trinta centavos), colocando-a entre a sete

maiores empresa do Estado.

A Lei Cooperativista, n.º 5764 de 16.12.71, em seu capítulo IV, seção II,

“DO ESTATUTO SOCIAL”, preconiza o conteúdo mínimo em cada estatuto, e um

dos itens obrigatórios em todos os estatutos é o ”objetivo”.

Page 64: Dissertação Mestrado Augusto Amaral PUC2001

53

No estatuto social da Unimed Cuiabá, em seu capitulo II, artigo 2º, está

explicitado o objetivo desta cooperativa:

“A Cooperativa, sociedade de natureza civil e jurídica própria, sem fins

lucrativos, terá por objetivo a defesa econômica e social dos médicos

cooperados, através do aprimoramento do serviço de assistência médico-

hospitalar que será prestado sob a forma coletiva ou individual”.

Para este fim as cooperativas de trabalho médico, firmam contratos com

os hospitais, laboratórios, clinicas de exames diagnósticos e assemelhadas, para

atender aos associados. Em muitas vezes as Cooperativas arrendam, compram

ou constróem seus próprios serviços, o que é chamado de “recursos próprios”,

quando a Cooperativa é dona do hospital ou laboratório. São nestes itens que se

dá a divisão dos custos de uma Cooperativa.

No quadro 02 (dois), fez-se uma comparação entre nove Cooperativas, de

todo o Brasil, mostrando a similaridade desta composição. Os itens constantes

foram uniformizados para facilitar a comparação. Os dados foram obtidos nos

relatórios anuais de cada cooperativa, no ano de 1999.

Quadro 2 : Comparativo de custos entre Singulares

Singular H.M. Hosp. SADT Adm e

Com

Desp.

Pessoal Interc. Outros Total

Cuiabá 34% 22% 20% 4% 5% 10% 5% 100%

Campinas 35% 19% 28% 7% 3% 8% - 100%

Londrina 37% 16% 16% 8% 4% 9% 10% 100%

Recife 18% 46% 12% 4% 6% 8% 6% 100%

Rio 31% 30% 13% 5% 5% 15% 1% 100%

Salvador 32% 32% 7% 10% 5% 10% 4% 100%

Uberaba 41% 24% 19% 6% 3% 6% 1% 100%

Curitiba 40% 23% 12% 7% 4% 10% 4% 100%

Rib. Preto 39% 23% 16% 7% 5% 10% - 100%

Fonte: Relatórios Anuais das Singulares Unimed’s 1999

Page 65: Dissertação Mestrado Augusto Amaral PUC2001

54

Convenção das abreviaturas utilizadas no quadro anterior:

HM – Honorários Médicos

Hosp. – Hospital

SADT- Serviços Auxiliares de Diagnóstico e Tratamento

Adm e Com.- Despesas Administrativas e Financeiras

Interc. - Intercâmbio

Estes são os itens que compõe a estrutura de custos das singulares,

cooperativas de trabalho médico. Apesar de não haver ainda um plano de contas

comum entre as diversas singulares, estes itens são iguais em todas elas, pois

fazem parte do cotidiano de comprar serviços de terceiros, pagar honorários

médicos, etc.

Honorários médicos:

É todo o ato médico realizado pelo cooperado. Estão inclusos a consulta

médica, que é a chave ou porta de entrada para os demais serviços, as cirurgias

que são realizadas, bem como os pequenos atendimentos realizados em

consultórios ou prontos-socorros, tais como: curativos, suturas, engessamentos,

etc. Incluem-se também, os atos anestésicos, isto é, as anestesias realizadas em

cirurgias ou outros procedimentos que requeiram analgesias.

Este, com toda razão, é considerado o “ato nobre”, pois é fruto do

trabalho do médico, e realizado personalizadamente e necessariamente pelo

médico, exigindo o emprego direto de sua mão-de-obra, ao contrário, por exemplo,

da maioria dos exames diagnósticos, que podem ser realizados por terceiros, ou

até mesmo por máquinas.

Hospitais:

Page 66: Dissertação Mestrado Augusto Amaral PUC2001

55

Estão aqui alocadas todas as despesas hospitalares oriundas da

internação do paciente, excetuando-se os honorários médicos. São elas: diárias e

taxas hospitalares, gases medicinais (oxigênio, óxido nitroso, etc.), alimentação,

materiais e medicamentos, e outros itens. Os gastos com os pequenos

atendimentos, ou aqueles realizados em pronto socorro, sem a necessidade de

internação do paciente, também aqui estão incluídos.

SADT (Serviços Auxiliares de Diagnóstico e Tratamento)

Esta sigla é comumente usada na área de saúde. Aqui estão agrupados

os exames de análises clínicas, mais conhecidos como exames de laboratório:

sangue, urina, fezes, etc., como também os exames de diagnósticos por imagens:

Ultra-sonografias, Raios-X, Densitometria, Tomografia Computadorizada,

Ressonância Nuclear Magnética, etc. São chamados de Serviços Auxiliares, pois

são complementares ao trabalho do médico que prescreve ou não a sua

utilização.

Despesas administrativas e comerciais:

Neste grupo fazem parte as despesas típicas para gerir o negócio,

decorrente de atividades meio, tais como: aluguéis, taxas e impostos, despesas

com manutenção, despesas financeiras, contas de águas, luz, telefone, materiais

permanentes e demais materiais de consumo.

Nas despesas comerciais estão alocadas as propagandas, publicidade,

marketing, despesas com vendas e comissões.

Despesas com pessoal:

Obviamente este item contém as despesas com funcionários

administrativos e técnicos da Cooperativa, com seus respectivos encargos sociais.

Page 67: Dissertação Mestrado Augusto Amaral PUC2001

56

Estão também aqui contidos os honorários de pró-labore dos Conselhos de

Administração, Comissão Técnica e demais membros de Conselhos eleitos em

Assembléia Geral.

Intercâmbio:

Como as Cooperativas de Trabalho Médico, UNIMED’S, são de atuação

nacional, o sistema adota um mecanismo denominado de Intercâmbio, que se

referem as despesas efetuadas dos usuários de uma singular em outra localidade.

Por exemplo, o usuário da Unimed Cuiabá, que em viagem para São Paulo

necessita de serviços médico-hospitalares, usa o serviço sem desembolsar nada,

e a conta é enviada para a Unimed de origem, no caso, Cuiabá, através de

câmaras de compensação regionais. Assim, o usuário pode ser atendido em todo

o País. Este item representa, então, todos as despesas decorrentes destes

acontecimentos.

Outros:

Por tratar-se de percentual de pouca expressão agrupamos em “outros”, aquelas

despesas não contempladas nos itens anteriores, tais como gastos com

fisioterapia, despesas com médicos não cooperados, etc.

Pode-se observar que o maior percentual de custos é com honorários médicos, ou

seja, os gastos com os médicos cooperados, demonstrando coerência com os

objetivos de uma cooperativa de trabalho médico.

Salvo em alguns raros casos, como na singular de Recife, que o gasto com

honorários médicos é de 18%, a média deste item é em torno de 36% do custo

total.

No caso de Recife, é notório o alto custo hospitalar, elevando a média de gastos

com este item de 23% para 46%, o dobro da média que gastam as demais

singulares.

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57

Deve-se ainda considerar que os gastos com exames diagnósticos (SADT), cuja

média é em torno de 16% revertem em alguns casos para os médicos

cooperados, para aqueles que realizam exames, cuja autoria é de exclusividade

do médico, como por exemplo, os exames de anatomia patológica.

Na análise dos gastos, fica evidente o privilégio garantido ao médico cooperado,

da remuneração do seu trabalho.

3.4 Distribuição de renda na Cooperativa de Trabalho Médico

A distribuição de renda e consequentemente a sua desigualdade tem sido motivo

de estudo pelos economistas há muito tempo. Desde o final do século XIX, o

fenômeno da concentração de renda surge como conseqüência do crescimento do

processo industrial, e da formação de cartéis, fusões e aglomerações de

empresas que o mundo estava experimentando após a revolução industrial. Esta

última metade do século XIX foi marcada pelo capitalismo das grandes

corporações, que incluíam as indústrias de bens de capital, máquinas, navios, e

produtos químicos.

Os efeitos do capitalismo e da livre concorrência, além da concentração

do poder corporativo, influenciou no aumento das desigualdades sociais e da

concentração de renda. O economista liberal clássico, David Ricardo sugere uma

teoria para o processo de distribuição de renda, dividindo em três os principais

fatores de produção: trabalho, capital e terra.

Tal teoria, em especial no tocante a trabalho, é também a mesma visão de

Marx: os trabalhadores recebem um salário que seria para a subsistência, e os

capitalistas se apossam da mais-valia. Assim, o capital se acumula e geram-se

novos empregos, impedindo que o salário suba, não só pelo “exército de reserva”,

mas em decorrência da incorporação de novas tecnologias. (HUNT e SHERMAN,

1998:113).

Em verdade a discussão sobre distribuição de renda, é permeada de

controvérsias até os dias de hoje. BELLUZZO (1973:15-25), explica em seu

Page 69: Dissertação Mestrado Augusto Amaral PUC2001

58

trabalho versando especificamente das controvérsias, que tudo depende da forma

como está segmentada a sociedade, e que tendo como pano de fundo a situação

das classes sociais no momento da produção, os limites de distribuição de renda

estariam evidentes para cada classe social. Assim o modelo capitalista estaria

assegurando continuamente o seu quinhão.

CASTRO, prefaciando CAMARGO & GIAMBIAGI (1991:10), também

anuncia o desafio em estudar o tema e aponta como uma das dificuldades, a única

fonte de dados disponível para análises, que são as PNAD’s Pesquisa Nacional

por Amostragem de Domicílios, que não contemplam o total das rendas que

compõe as contas nacionais, e que poderiam subestimar algumas rendas, tais

como as auferidas dos lucros das empresas, podendo mascarar uma

concentração que seria ainda maior.

CACCIAMALI, in PINHO (1998:454), também faz restrições quanto a

mensuração da concentração de renda, e sugere que sejam complementadas pôr

análise da evolução de outros indicadores sociais.

O que há de comum entre todos os autores citados é a certeza de que a

distribuição de renda em nosso País é péssima e está entre as piores do mundo.

Como os limites deste trabalho encerram em uma análise da distribuição

de renda dos cooperados da Unimed Cuiabá, não é de nosso interesse aprofundar

uma discussão sobre distribuição de renda em geral, mas apenas contextualizar

esta análise.

Conforme descrito por PINHO (1992:25), em seu quadro demonstrativo,

apresentado neste trabalho, uma das diferenças entre cooperativas e empresas

privadas, é no tocante a distribuição de renda. Enquanto nas empresas privadas a

renda é em função do capital, nas sociedades cooperativas, a renda deve ser

Page 70: Dissertação Mestrado Augusto Amaral PUC2001

59

distribuída em função do trabalho aportado, ou do serviço realizado em caso de

cooperativas de consumo.

Isto significa dizer que aquele cooperado que mais produz, deverá

receber maior remuneração. Quando se fala em produção em uma cooperativa de

trabalho médico está se falando no trabalho que o médico realiza, ou seja:

consultas, atos cirúrgicos, exames, procedimentos, e internações.

Ao analisarmos os princípios inspiradores do cooperativismo, em especial

o terceiro princípio, “da participação econômica dos sócios” verificamos que a

intenção daqueles realizadores do princípio era a de remunerar de forma justa o

trabalho do cooperado, e em caso de sobras que essas revertessem ao próprio,

resguardando-se os ditames da legislação pertinente (IRION, 1997:73).

O profissional da área médica, ao procurar o ingresso em uma cooperativa

de trabalho, está buscando, além de manter o vínculo de profissional liberal não

assalariado, uma renda que lhe seja razoável.

A alternativa da cooperativa traz em seu bojo uma esperança de dias

melhores. POLONIO (1999:38), afirma que o caráter que inspirou o surgimento

das cooperativas era eminentemente social e que “estas não nasceram para fazer

frente ao sistema Capitalista, mas para reduzir os efeitos perniciosos que este

exercia sobre os cidadãos.”

Em verdade o Cooperativismo guarda em si, até os dias de hoje, muito do

pensamento utópico em suas origens. HENRIQUES DE MIRANDA (1973:23),

afirma que a Doutrina Cooperativista, apoia-se em princípios teóricos

neoclássicos, sem, contudo abdicar de suas pretensões de transformação da

sociedade.

As finalidades e objetivos das cooperativas, segundo QUEIROZ (1998:25)

seriam:

Page 71: Dissertação Mestrado Augusto Amaral PUC2001

60

a) Melhoria da renda de seus associados, conseguindo valorizar o trabalho e

obtendo melhor negociação com referência à remuneração.

b) Incremento nas condições de trabalho na medida em que a cooperativa

transforma trabalhadores em “empresários”, determinando em conjunto, e de

forma democrática, as regras de atuação da cooperativa.

De fato, a busca de um aumento de renda foi identificado em 83% dos

cooperados entrevistados da UNIMED Cuiabá, conforme aponta a tabulação de

pesquisa realizada.

Realizamos 165 (cento e sessenta e cinco) entrevistas, utilizando o

formulário que se encontra em anexo, que objetivou identificar o tempo que o

médico é cooperado, os motivos de ingresso na cooperativa, e em especial se o

futuro cooperado vislumbrava obter um aumento em sua renda, e em caso

positivo, quanto isso significou.

A amostra foi obtida através dos cooperados que frequentaram durante o

ano de 1998, as Assembléias Gerais Ordinárias ou Extraordinárias, que são os

órgãos máximos em uma cooperativa. Foram realizadas quatro Assembléias, três

Extraordinárias e um a Ordinária, para prestação e aprovação de contas do

exercício anterior.

A freqüência de cooperados em Assembléias gira em torno de 150 a 200

médicos, conforme consta de lista de presença das atas das AGO’s.

Em geral os freqüentadores são os mais interessados na gestão da

Cooperativa, pois as AGO’s são o fórum indicado, estatutariamente para

deliberações e tomada de decisões.

Nestas Assembléias, são debatidos e deliberados assuntos que irão

influenciar diretamente na vida do cooperado, na relação deles com a cooperativa

e com terceiros, e certamente no que diz respeito a seus ganhos. Embora o

Conselho de Administração tenha autoridade para decidir sobre matérias do

Page 72: Dissertação Mestrado Augusto Amaral PUC2001

61

cotidiano, sempre que uma medida venha trazer um impacto maior sobre a

cooperativa ou cooperados, é de praxe realizar-se uma Assembléia Geral

Extraordinária (AGE), para esclarecimento e respaldo da decisão tomada.

Desta maneira acreditamos ter conseguido os dados daqueles

cooperados mais atuantes ou interessados na Cooperativa.

Os quadros apresentados a seguir de números 3, 4 e 5, apontam os

resultados obtidos nestes questionários.

O questionário aplicado que se encontra anexado no final deste trabalho,

é composto basicamente de três questões, visando identificar o tempo que o

cooperado está atuando na cooperativa, os possíveis motivos que o levaram a

ingressar no sistema cooperativista e se houve aumento de sua renda a partir da

sua entrada na cooperativa. Em caso positivo, há um sub-item, visando quantificar

este aumento.

Quadro 3 – Quantidade e percentual de cooperados, segundo o tempo de

cooperativa.

Tempo de Cooperativa N.º de Cooperados %

Até 2 anos 20 12,0

De 2 a 4 anos 38 23,0

De 4 a 8 anos 72 44,0

Mais de 8 anos 35 21,0

Total 165 100

Page 73: Dissertação Mestrado Augusto Amaral PUC2001

62

A maioria dos cooperados entrevistados, representando 65% do total, situa-se

com mais de quatro anos de tempo de cooperativa.

A amostra indica uma população de cooperados com experiência na cooperativa,

e também com interesse, pois estes são os partícipes das Assembléias Gerais,

cuja presença é voluntária.

O indicativo de apenas 12% de cooperados novatos, com até dois anos de

cooperativa demonstra que no início das atividades não há uma participação mais

efetiva nas Assembléias.

O cooperado recém chegado à cooperativa está preocupado em montar seu

consultório, ampliar sua clientela, conforme demonstra o quadro a seguir, para

posteriormente dedicar-se, ou perceber a importância da cooperativa em seu

negócio.

Quadro 4 - Quantidade e percentual de cooperados, segundo o motivo de

ingresso na Cooperativa.

MOTIVO DE INGRESSO N.º de Cooperados %

Aumento da Renda 137 83,0

Garantia de Trabalho 32 19,0

Defesa da

Profissão/Classe

26 16,0

Manutenção do Vínculo

de Profissional liberal

28 17,0

Ampliar a Clientela 78 47,2

Page 74: Dissertação Mestrado Augusto Amaral PUC2001

63

Outros 9 5,4

A pesquisa apontou que 83% dos cooperados entrevistados assinalaram

como motivo de ingresso na Cooperativa o aumento de renda.

Se incluirmos os cooperados que atribuíram o quesito “Ampliar a

Clientela” (as respostas foram múltiplas, com o cooperado assinalando mais de

um quesito), que também traduz um aumento de renda, podemos constatar que a

grande motivação de ingresso na Cooperativa, é a de buscar um incremento na

renda do cooperado.

Verifica-se também que esta preocupação não é apenas do cooperado

que recém entrou na Cooperativa, pois conforme indica o quadro 03, na página

anterior, a maioria dos cooperados que responderam a pesquisa, estão na faixa

de mais de quatro anos de cooperativa.

Quadro 5 – Quantidade e percentual de cooperados em relação a

aumento de renda

Aumento de Renda N.º de Cooperados Percentual

Não houve aumento _____ _____

Até 10% 28 17,0%

Entre 10 % e 20% 71 43,0%

Mais de 20% 66 40,0%

TOTAL 165 100%

Page 75: Dissertação Mestrado Augusto Amaral PUC2001

64

A totalidade de cooperados que respondeu a pesquisa afirmou ter

aumento em sua renda mensal, sendo que quarenta por cento dos cooperados

indicou em acréscimo de mais de 20% em sua renda.

De fato, a expectativa de aumento de renda, quando da entrada na

cooperativa foi concretizada, em que pese haver ainda uma concentração na

distribuição desta renda, conforme demonstrado na figura 04, da página 53.

Esta expectativa é de certa forma natural, uma vez que o profissional

médico dispõe de seu consultório, para a cooperativa, e em contrapartida a

cooperativa oferece o trabalho do médico cooperado para os associados.

O fato de não haver, nos questionários respondidos, qualquer cooperado

mencionando que não houve aumento de renda quando da entrada na

cooperativa, é um indicativo relevante de comprovação da eficácia do sistema

cooperativista de trabalho médico, no tocante a aumento de renda.

A fonte de referência dos dados que se utilizou para esta análise, foram os

relatórios emitidos pela gerência administrativo-financeira da Cooperativa, os

balancetes mensais, e o Balanço Anual de 1999.

Para analisar a distribuição de renda entre os médicos cooperados da

Unimed Cuiabá, realizou-se uma classificação por faixas de ganho com intervalos

de R$1.000,00 (um mil reais) até R$10.000,0 (dez mil reais) e após isto mais duas

faixas com intervalos de R$5.000,00 (cinco mil reais), em razão de um intervalo

menor não ser significativo. O total são 13 faixas de renda.

Os cooperados que operaram com a cooperativa durante o ano de 1999

foram em número de 804.

Isto é, do total de 897 cooperados, que são sócios da Unimed Cuiabá,

804 efetivamente produziram naquele ano, ou seja, realizaram consultas, exames

e demais atos médicos. Os demais (93 cooperados), não produziram por motivos

Page 76: Dissertação Mestrado Augusto Amaral PUC2001

65

diversos, tais como: licenças médicas, licenças para estudos, aposentadorias,

licenças para exercer cargos públicos, etc.

O item analisado é honorários médicos, que corresponde ao que foi

produzido pelo cooperado no período correspondente.

O montante despendido para pagamento de honorários médicos no ano

de 1999 foi de R$ 33.732.000,00 (trinta e três milhões, setecentos e trinta e dois

mil reais), representando 34% do total dos custos com a cooperativa durante o

ano, sendo a média mensal de R$2.811.000,00 (dois milhões, oitocentos e onze

mil reais).

Analisou-se a distribuição da renda entre os cooperados da Unimed

Cuiabá Cooperativa de Trabalho Médico durante o ano de 1999, e pode-se

observar uma concentração de renda da seguinte ordem:

1) 27% (vinte e sete por cento) do total de cooperados, ou seja, 217

médicos recebem até R$ 1000,00 por mês.

2) 45% (quarenta e cinco) dos total cooperados, ou 360 (trezentos e

sessenta) médicos, recebem até R$ 2.000,00 (dois mil reais), por mês, como

produção de seu trabalho.

3) 58% (cinqüenta e oito por cento) dos cooperados, ou seja 464

(quatrocentos e sessenta e quatro) médicos recebem até R$3.000,00 (três mil

reais), por mês, atingindo a terceira faixa de renda , conforme demonstrado na

figura 04.

Page 77: Dissertação Mestrado Augusto Amaral PUC2001

66

Figura 04 - Distribuição percentual do número de Cooperados em relação a renda mensal no

ano de 1999.

Fonte: Relatório Anual de 1999, Unimed Cuiabá.

Nas últimas cinco faixas, isto é, cooperados com renda acima de

R$6.000,00 (seis mil reais) encontram-se somente 81(oitenta e um) cooperados,

representando somente 10% do total.

Por outro lado, estes 81 (oitenta e um) cooperados concentram 35% da

despesa total com a produção dos cooperados.

Pela análise dos dados, evidencia-se uma concentração de renda, que

pode significar um distanciamento do que preconiza o sistema cooperativista, e

com tendências a repetir o modelo capitalista encontrado em empresas de saúde

de cunho mercantilista, combatidas pelo cooperativismo.

Não foi possível identificar uma relação entre tempo de cooperativa e

renda do cooperado, mas em relação a especialidade em que o médico atua, foi

identificado uma concentração de alocação de recursos, em três especialidades

Page 78: Dissertação Mestrado Augusto Amaral PUC2001

67

básicas: ginecologia/obstetrícia, cardiologia e pediatria. Não é por outra razão que

estas são chamadas de especialidades básicas, pois concentram o maior volume

de atendimento.

De acordo com o Relatório Financeiro de 1999, as três especialidades

representaram 30% do dispêndio de custos com a produção médica. As demais

51 especialidades tiveram um comportamento similar, distribuindo eqüitativamente

o restante do gasto.

Somente os gastos com produção médica, representando atos médicos,

isto é, consultas, cirurgias e exames realizados exclusivamente e diretamente

pelos médicos cooperados é que estão contemplados nesta análise de renda dos

cooperados.

Os demais procedimentos, mesmo que realizados em ambiente hospitalar

ou ambulatorial, como sessões de fisioterapia ou ainda os exames laboratoriais de

análises clínicas, não estão computados, por tratarem de procedimentos, em que

a presença do médico não é requerida diretamente.

Page 79: Dissertação Mestrado Augusto Amaral PUC2001

68

4 - CONSIDERAÇÕES E RECOMENDAÇÕES FINAIS

Passados mais de cento e cinqüenta anos da experiência de Rochdale,

podemos observar que a contribuição de Robert Owen foi inestimável, não só para

a nossa economia, mas para a melhoria das relações entre trabalhadores e

patrões.

As relações de trabalho foram flexibilizadas, e surgiram oportunidades

para a criação de novos postos de trabalho.

O Cooperativismo tem o mérito de conseguir seus feitos, sem se

contrapor frontalmente com o Capitalismo, mas mostrar-se como opção. Em boa

parte, por causa da existência e simplicidade de seus valores e princípios.

É como diz o presidente da Aliança Cooperativista Internacional (ACI), o

engenheiro agrônomo brasileiro Roberto Rodrigues, (1998):

“... Na margem esquerda corre o Comunismo ortodoxo, na margem direita

o Capitalismo selvagem, enquanto o Cooperativismo é o leito caudaloso

do rio como única opção. Atualmente êle é a ponte entre o mercado e a

satisfação dos cooperados, a felicidade...”

Em verdade o cooperativismo consegue promover a geração de riqueza,

sem a exclusão social, figurando efetivamente como uma forma alternativa de

trabalho e renda, na medida em que consegue reter para o grupo associado a

mais-valia, que em uma relação de trabalho fica em poder do empregador.

Também contribui para a melhoria das condições de trabalho, uma vez

que as cooperativas transformam empregados em empresários, atuando de forma

democrática, embora esta atuação apresente as dificuldades que uma gestão

democrática representa, com a necessidade de realização de assembléias de

associados, com uma regular freqüência, que seria desnecessário em uma

empresa mercantil.

Page 80: Dissertação Mestrado Augusto Amaral PUC2001

69

Possibilitam, desta forma que os próprios associados exerçam a direção e

fiscalização da cooperativa.

O estudo do funcionamento de uma Cooperativa de Trabalho Médico

permitiu uma visão geral de sua gestão, bem como evidenciou a

representatividade do Cooperativismo em nossa economia.

As relações entre a cooperativa e os seus cooperados mostram também

uma singularidade em relação as demais empresas. Não apenas na quantidade

de sócios que é maior, no caso da Unimed Cuiabá, são quase oitocentos, mas na

atuação deles no cotidiano que também é diferente.

O sentimento de “dono” mostra-se mais presente nesta relação, embora

em boa parte das vezes, este sentimento não é traduzido em ações eficazes para

a organização, em virtude da pouca visão de conjunto, ou do negócio, ou ainda

por entender que por ser ”dono”, tem o direito de administrar como melhor lhe

convier, conforme sua experiência própria, em geral oriunda da administração de

seu consultório.

Ficou claro também que a Unimed Cuiabá Cooperativa de Trabalho

Médico pôde oportunizar trabalho para quase mil médicos, que tiveram facilitados

o seu acesso ao mercado, tendo como respaldo, uma empresa consolidada e

estabelecida, como também uma marca forte e a tradição de um mais de um

quarto de século de existência.

Assim sendo, o sistema cooperativista efetivamente contribuiu para uma

melhoria de renda dos médicos cooperados da Unimed Cuiabá, na medida em

que houve a oferta da sua produção, ou seja, do trabalho, para os associados do

plano de saúde comercializado pela cooperativa.

Devemos, entretanto questionar, se a concentração de renda verificada

entre os cooperados da Unimed Cuiabá, significa um afastamento daqueles

princípios do cooperativismo, e se há de fato uma distorção.

Page 81: Dissertação Mestrado Augusto Amaral PUC2001

70

É também patente, que o profissionalismo da gestão cooperativista é vital

para a manutenção da cooperativa no mercado.

O ganho advindo com a profissionalização da Unimed Cuiabá, está bem

representado nos resultados financeiros apresentados, e na melhoria da gestão

organizacional, cuja deficiência foi apontada em relatório apresentada pela

consultoria contratada.

Talvez o maior desafio, seja administrar uma cooperativa, preservando os

princípios e valores do cooperativismo, e manter a empresa cooperativa saudável

financeiramente.

È manter o equilíbrio entre os ganhos dos cooperados, a qualidade dos

serviços prestados, e a satisfação dos usuários, que com freqüência apresentam

objetivos e interesses antagônicos: quanto maior a produção, maior ganho do

médico cooperado, mas maior custo para a cooperativa.

Uma certeza temos pela frente: a solução não é pessoal, mas coletiva.

Acreditamos que como sugestão para futuros trabalhos, poderia ser

aprofundada a discussão sobre o afastamento dos princípios cooperativistas, na

relação empresa cooperativa e sociedade cooperativista.

Também seria de utilidade tentar estabelecer uma relação entre as

especialidades médicas que eventualmente concentram a renda da produção da

cooperativa

Um estudo sobre a tomada de decisão em cooperativas, em comparação

com empresas mercantis, seria da mesma forma útil para entender melhor a

gestão cooperativista.

O impacto de novas tecnologias na área de saúde e sua repercussão nos

custos assistenciais, também seria de interesse um estudo neste sentido.

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ANEXO I

QUESTIONÁRIO

1)- Há quanto tempo você está na Cooperativa?

( ) até 2 anos ( ) de 2 a 4 anos ( ) de 4 a 8 anos ( ) mais de 8 anos

2)- Assinale os motivos que o levaram a ingressar na Cooperativa:

SIM NÃO

a)Aumento da Renda ( ) ( )

Se sim, em que percentual?

( ) até 10%

( ) entre 10% e 20%

( ) mais de 20%

b)Garantia de Trabalho ( ) ( )

c)Defesa da Profissão/Classe ( ) ( )

d)Manutenção do vínculo de Profissional Liberal ( ) ( )

(Não Assalariado)

e)Ampliação da clientela ( ) ( )

f)Outro(s):_________________________________________________________

__________________________________________________________________