Flávio Augusto Gomes Lacerda DISSERTAÇÃO DE MESTRADO Nº ...
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Flávio Augusto Gomes Lacerda
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO Nº 1030
UTILIZAÇÃO DE GERAÇÃO FOTOVOLTAICA EM PROCESSOS INDUSTRIAIS
ALIMENTADOS EM CORRENTE CONTÍNUA
Belo Horizonte - MG
Fevereiro de 2018
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
ESCOLA DE ENGENHARIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA ELÉTRICA
UTILIZAÇÃO DE GERAÇÃO FOTOVOLTAICA EM PROCESSOS INDUSTRIAIS
ALIMENTADOS EM CORRENTE CONTÍNUA
Flávio Augusto Gomes Lacerda
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em
Engenharia Elétrica da Universidade Federal de Minas Gerais
como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em
Engenharia Elétrica.
Orientador: Prof. Dr. Braz de Jesus Cardoso Filho
Belo Horizonte - MG
Fevereiro de 2018
Lacerda, Flávio Augusto Gomes. L131u Utilização de geração fotovoltaica em processos industriais
alimentados em corrente contínua [manuscrito / Flávio Augusto Gomes Lacerda. – 2018.
109 f., enc.: il.
Orientador: Braz de Jesus Cardoso Filho.
Dissertação (mestrado) Universidade Federal de Minas Gerais, Escola de Engenharia. Apêndices: f. 97-109. Bibliografia: f. 93-96.
1. Engenharia elétrica - Teses. 2. Geração de energia fotovoltaica - Teses. 3. Eletrólise - Teses. 4. Geração de energia fotovoltaica - Aplicações industriais - Teses. I. Cardoso Filho, Braz de Jesus. II. Universidade Federal de Minas Gerais. Escola de Engenharia. III. Título.
CDU: 621.3(043)
Dedico este trabalho à memória do meu avô, Bito
Minha grande referência de integridade, caráter e valores.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus por me dar forças e permitir realizar tão extenuante, porém gratificante
trabalho.
À minha esposa Juliana, por estar sempre ao meu lado, apoiando e incentivando, sem a qual
este trabalho não teria sido concluído.
À minha família, que sempre me deu condições de me dedicar aos estudos e que se orgulha
tanto das minhas conquistas.
Ao professor Braz, que escolheu dedicar seu tempo ao meu crescimento acadêmico e a me
orientar, dentre outras coisas, na elaboração deste trabalho.
Aos demais professores e colegas do Laboratório Tesla; Prof. Sidelmo, Prof. Igor, Prof.
Danilo, Carlos, Arlete, Helio, Tamires, Fernando, Gideon, Rodrigo, Alysson, Reginaldo,
Camila e todos os demais: sou grato pelo período de nossa convivência e pelos ensinamentos
sem os quais este trabalho não seria o mesmo.
Agradeço ainda aos colegas de outros departamentos, prof. Matheus Porto, prof. Daniel
Majuste e Rodrigo Gomes, que compartilharam comigo parte do seu conhecimento em outras
áreas da engenharia, enriquecendo ainda mais esta dissertação.
Por fim, dedico também um agradecimento especial à Votorantim Metais, que buscou na
universidade uma parceria para investigar um problema tão relevante à indústria, e ao CNPq,
por me conceder uma bolsa de estudos para me dedicar a este trabalho.
RESUMO
O presente trabalho propõe uma forma alternativa para o uso de usinas de geração
fotovoltaica no meio industrial. Dado que a energia é gerada nos painéis solares em corrente
contínua, ela pode ser consumida por uma carga da mesma natureza sem que sejam
necessárias etapas intermediárias de conversão para corrente alternada. Isso implica na
redução de perdas elétricas em comparação com as usinas convencionais, o que aumenta a
eficiência global da instalação e melhora a viabilidade econômica da aplicação da geração
solar fotovoltaica. No entanto, o aproveitamento direto dessa energia traz consigo algumas
limitações, como o possível aumento das perdas de condução devido à operação em baixa
tensão c.c., e às dificuldades para manter estabilizada a corrente na carga frente às variações
meteorológicas. No meio industrial, existem processos que consomem corrente contínua em
grande escala, como por exemplo a eletrólise, utilizada na produção de metais, de hidrogênio
e em tratamentos de superfícies. Uma planta de eletrólise real conhecida é utilizada como
estudo de caso, onde o conceito proposto pode ser avaliado do ponto de vista de sua
viabilidade técnica. Um projeto de usina fotovoltaica de grande porte é realizado, cobrindo as
principais etapas como a utilização de área, a associação de painéis em série e paralelo, e os
níveis de tensão e corrente de operação. É constatado que a melhor alternativa em termos de
conversor eletrônico é o uso de conversores c.c. - c.c. típicos operando em uma estrutura
descentralizada, que favorece a redução das correntes e, por conseguinte, a redução das perdas
de condução. Tais conversores devem se comportar como fontes de corrente, injetando
potência no nó de alimentação do processo, complementando a potência proveniente da rede
elétrica c.a. através de retificadores. O conversor c.c. – c.c. é então projetado, com o intuito de
estabelecer técnicas e metodologias para especificação e dimensionamento de seus
componentes. O conceito proposto é avaliado através de simulações computacionais e
conclui-se que, respeitadas as limitações impostas, é viável tecnicamente e pode representar
grande atrativo para a indústria, visto que agrega valor à geração de energia renovável e
sustentável.
Palavras-chave: Geração fotovoltaica. Aplicações industriais. Conversores c.c. – c.c.
Eletrólise. Geração distribuída.
ABSTRACT
The present work proposes an alternative way for the use of photovoltaic generation plants in
the industrial environment. Since the energy is generated in the solar panels in direct current,
it can be consumed by a load of the same nature without the need for intermediate stages of
conversion to alternating current. This implies in the reduction of electrical losses in
comparison to conventional plants, which increases the overall efficiency of the installation
and improves the economic viability of the application of solar photovoltaic generation.
However, the direct utilization of this energy brings some limitations, such as the possible
increase of the conduction losses due to the operation in low voltage d.c., and the difficulties
to maintain stabilized the load current during meteorological variations. In the industrial
environment, there are processes that consume large-scale direct current, such as electrolysis,
used in the production of metals, hydrogen and in surface treatments. A known real
electrolysis plant is used as a case study, in which the proposed concept can be evaluated from
the point of view of its technical viability. A large photovoltaic plant project is carried out,
covering the main steps such as land use, the association of panels in series and parallel, and
the voltage and current levels of operation. It is verified that the best alternative in terms of
electronic converter is the use of d.c. - d.c. topologies operating in a decentralized structure,
which favors the reduction of the currents and, consequently, the reduction of conduction
losses. Such converters should behave like current sources, injecting power into the process
feeding node, complementing the power coming from the a.c. grid through rectifiers. The d.c.
- d.c. converter is then designed with the purpose of establishing techniques and
methodologies for specification and dimensioning of its components. The proposed concept is
evaluated through computational simulations and it is concluded that, given the limitations
imposed, it is technically feasible and can represent a great attractive for the industry, since it
adds value to the generation of renewable and sustainable energy.
Keywords: Photovoltaic generation. Industrial applications. D.c. - d.c. converters.
Electrolysis. Distributed Generation.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1.1 - Mapa da irradiação horizontal global no mundo [3]. ............................................ 30
Figura 2.1 - Exemplos de células de eletrólise reais em aplicações industriais. ...................... 36
Figura 2.2 - Incremento anual da capacidade mundial instalada de energia fotovoltaica,
dividida entre sistemas isolados, conectados descentralziados e conectados centralizados [2].
.................................................................................................................................................. 38
Figura 2.3 - Estrutura de módulos típica de um inversor solar................................................. 39
Figura 2.4 - Curva I-V (a) e curva de potência (b) do painel Yingli YL250P-29b. ................. 40
Figura 2.5 - Diagrama elétrico simplificado de um processo de eletrólise de exemplo (a) e o
mesmo processo quando inserida uma usina de geração solar fotovoltaica em paralelo (b). .. 43
Figura 2.6 - Diagrama elétrico simplificado de um processo de eletrólise com alimentação
direta em c.c. de uma usina solar fotovoltaica. ......................................................................... 43
Figura 2.7 - Ponto de conexão da usina fotovoltaica à montante da medição de corrente (a) e a
jusante - corrente precisa ser informada ao controle do processo via rede de dados (b). ......... 46
Figura 3.1 - Vista aérea da barragem de rejeitos desativada (a) e estimativa de sua área total
(b). ............................................................................................................................................ 52
Figura 3.2 - Diagrama unifilar simplificado do sistema elétrico existente da eletrólise. ......... 53
Figura 3.3 - Exemplo de sombreamento ocasionado por fileiras de painéis de 2,5 m de largura
instaladas sem o espaçamento adequado (medidas em mm). ................................................... 55
Figura 3.4 - Relação entre área total e área de instalação de painéis no projeto de Sete Lagoas.
.................................................................................................................................................. 56
Figura 3.5 - Relação entre área total e área de instalação de painéis no projeto de São
Lourenço da Mata. .................................................................................................................... 57
Figura 3.6 - Mapa de todas as usinas fotovoltaicas avaliadas no relatório do NREL [16]....... 58
Figura 3.7 - Distâncias da área de instalação dos painéis solares até os conversores (em m).. 62
Figura 3.8 - Demarcação das áreas em função da distância (comprimento dos cabos em m). 64
Figura 3.9 - Divisão da área em clusters menores e seu arranjo de painéis. ............................ 66
Figura 4.1 - Gráfico de potência por tensão do cluster simulando variação da irradiância (a) e
da temperatura dos painéis (b). ................................................................................................. 70
Figura 4.2 - Temperatura ambiente e temperatura medida diretamente nos painéis solares de
uma usina fotovoltaica real em um dia de operação (dados da UFV Tesla - UFMG). ............ 71
Figura 4.3 - Topologia básica do conversor Buck (Step Down) [21]. ..................................... 72
Figura 4.4 - Topologia adotada no projeto para módulo conversor Buck. .............................. 73
Figura 4.5 - Organização dos conversores por cluster e separação em três módulos Buck em
paralelo. .................................................................................................................................... 74
Figura 4.6 - Esquema elétrico do Buck durante condução da chave (a) e do diodo (b). ......... 75
Figura 4.7 - Formas de onda da tensão e corrente no indutor durante o chaveamento do Buck.
.................................................................................................................................................. 75
Figura 4.8 - Modelo esquemático das chaves contidas no módulo IGBT
SEMiX653GD176HDc. ........................................................................................................... 77
Figura 4.9 - Circuito térmico de dissipação de calor do conversor completo. ......................... 78
Figura 4.10 - Circuito representando o estado do Buck durante dT (a) e (1-d)T (b). .............. 82
Figura 4.11 - Modelo de pequenos sinais do conversor projetado. .......................................... 83
Figura 4.12 - Lugar das raízes (a) e resposta em frequência (b) do conversor projetado em
malha aberta. ............................................................................................................................ 84
Figura 4.13 - Lugar das raízes (a) e resposta em frequência (b) do conversor projetado em
malha fechada com o controlador. ........................................................................................... 85
Figura 4.14 - Fluxograma do algoritmo MPPT Perturba & Observa [31]. .............................. 87
Figura 4.15 - Exemplo de funcionamento do controle com interleaving. ............................... 88
Figura 4.16 - Circuito de potência implementado do conversor para simulação computacional.
.................................................................................................................................................. 89
Figura 4.17 - Diagrama de blocos do sistema de controle do conversor implementado em
ambiente de simulção (Matlab Simulink). ............................................................................... 89
Figura 4.18 - Tensão (a) e corrente (b) de entrada do conversor operando em condição
nominal..................................................................................................................................... 90
Figura 4.19 - Corrente de saída do conversor (a) e potência de saída (b) em condição nominal.
.................................................................................................................................................. 90
Figura 4.20 - Corrente no indutor (a) e no capacitor (b) de um dos módulos Buck, em
condições nominais. ................................................................................................................. 91
Figura 4.21 - Corrente no IGBT (a) e no diodo (b) durante um período de chaveamento, em
condições nominais. ................................................................................................................. 92
Figura 4.22 - Gráfico da variação da condição meteorológica (a) e subsequente potência de
saída observada no conversor (b). ............................................................................................ 92
Figura 4.23 - Tensão (a) e corrente (b) de entrada do conversor durante as variações
meteorológicas. ........................................................................................................................ 93
Figura 4.24 - Corrente de saída do conversor, corrente fornecida pela rede e corrente na carga,
durante as variações meteorológicas. ....................................................................................... 93
Figura 5.1 - Barras de saída dos retificadores e respectivos medidores de corrente (créditos:
Votorantim Metais). ................................................................................................................. 98
Figura 5.2 - Diagrama unifilar simplificado do sistema elétrico após inclusão da usina solar
fotovoltaica e conversor c.c. ..................................................................................................... 99
Figura 5.3 - Corrente de saída de uma string da Usina Fotovoltaica Tesla durante o dia
23/02/2017. ............................................................................................................................. 100
Figura 5.4 - Corrente de carga da planta de Três Marias após um comando para redução da
corrente de 200 kA para 120 kA (créditos: Votorantim Metais). ........................................... 100
Figura 0.1 - Curva V x I e característica de potência de um filme de 100 m de OPV com o
equivalente a 126.000 células conectadas em série [40]. ....................................................... 117
Figura 0.2 - Variação na característica V x I com sombreamento parcial para células de silício
(a) e OPV (b) [44]. .................................................................................................................. 118
Figura 0.1 - Sistema de controle proposto para o conversor. ................................................. 121
Figura 0.2 - Visão geral do sistema de controle em conjunto com a planta do conversor. .... 122
Figura 0.1 - Resultados mês a mês da simulação PVsyst considerando conexão através de
inversor. .................................................................................................................................. 125
Figura 0.2 - Diagrama de perdas anuais considerando conexão com rede c.a. através de
inversor. .................................................................................................................................. 125
Figura 0.3 - Resultados mês a mês da simulação PVsyst considerando conexão através do
conversor c.c. - c.c. ................................................................................................................. 126
Figura 0.4 - Diagrama de perdas anuais considerando conexão direta com processo através de
conversor c.c. - c.c. ................................................................................................................. 126
LISTA DE TABELAS
Tabela 2.1 - Comparação entre sistema convencional e conectado diretamente em c.c. para
variação de parâmetros. ............................................................................................................ 44
Tabela 2.2 - Comparação entre sistemas fotovoltaicos convencionais e conceito proposto para
alimentação de um processo industrial e c.c............................................................................. 48
Tabela 3.1 - Dados da irradiância média mensal (kWh/m²/dia) para a microrregião de Três
Marias. ...................................................................................................................................... 51
Tabela 3.2 - Características elétricas principais do painel Yingli YL250P-29b. ..................... 54
Tabela 3.3 - Dados preliminares de dimensionamento da usina. ............................................. 61
Tabela 3.4 - Características elétricas principais dos cabos solares dos fabricantes General
Cable, Nexans e Prysmian. ....................................................................................................... 62
Tabela 3.5 - Relação entre comprimento dos cabos, área da usina e perdas de condução
associadas, para condição de cabos de 240 mm² limitados a 30% da sua máxima capacidade
de corrente. ............................................................................................................................... 64
Tabela 3.6 - Comparativo entre dimensionamento máximo da usina e o praticado. ................ 65
Tabela 3.7 - Sumário do projeto da usina solar fotovoltaica. ................................................... 67
Tabela 4.1 - Variação da tensão de máxima potência e valor da máxima potência de um
cluster conforme mudança na temperatura e irradiância. ......................................................... 70
Tabela 4.2 - Características elétricas do conversor e módulos Buck projetados. ..................... 73
Tabela 4.3 - Sumário de perdas calculadas para o IGBT e o diodo de um módulo Buck do
conversor operando em condição nominal. .............................................................................. 78
Tabela 4.4 - Produção de energia e economia financeira esperados. ....................................... 95
Tabela 0.1 - Levantamento de mercado sobre painéis solares de silício policristalino. ......... 119
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
c.c. Corrente contínua
c.a. Corrente alternada
MPPT Maximum Power Point Tracking, ou Rastreamento do Ponto de Máxima
Potência
MPP Maximum Power Point, ou Ponto de Máxima Potência
OPV Organic Photovoltaic, ou Fotovoltaico Orgânico
STC Standard Test Conditions, ou Condições Padrão de Teste
NREL National Renewable Energy Laboratory, ou Laboratório Nacional de
Energias Renováveis
ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas
MOSFET Metal-Oxide-Semiconductor Field-Effect Transistor, ou Transistor de Efeito
de Campo Metal-Óxido-Semicondutor
IGBT Insulated-Gate Bipolar Transistor, ou Transistor Bipolar de Gate Isolado
MCC Modo de Condução Contínua
MCD Modo de Condução Descontínua
RMS Root Mean Square, ou valor eficaz
PI Proporcional-Integral
PWM Pulse-Width Modulation, ou Modulação por Largura de Pulso
PR Performance Ratio
EPBT Energy Pay-Back Time, ou Tempo de retorno de Energia
LISTA DE SÍMBOLOS
P Potência
η Eficiência
Vcc Tensão em corrente contínua
Pmax Potência máxima
Voc Tensão de circuito aberto (Open Circuit)
Isc Corrente de curto-circuito (Short Circuit)
Vmp Tensão de máxima potência (Maximum Power)
Imp Corrente de máxima potência (Maximum Power)
PCE Eficiência (Power Conversion Efficiency)
Wp Watt-pico
Wca Potência em W do lado c.a. da instalação
Wcc Potência em W do lado c.c. da instalação
Vi Tensão de entrada (input)
Vo Tensão de sáida (output)
fsw Frequência de chaveamento (switching)
T Período de chaveamento
d Razão cíclica (duty cycle)
L Relativo ao indutor L
C Relativo ao capacitor C
∆I Ripple de corrente pico-a-pico
ÎL Corrente média no indutor
VCE Tensão coletor-emissor
IC Corrente de coletor
VF Queda de tensão de polarização direta no diodo (forward)
IF Corrente de polarização direta no diodo (forward)
Eon Energia de comutação desligado-ligado
Eoff Energia de comutação ligado-desligado
Err Energia de recuperação reversa do diodo
Ts Período de simulação
Veq Tensão equivalente de Thevenin da usina
Req Resistência equivalente de Thevenin da usina
∆V Incremento de tensão do método Perturba & Observa
di/dt Derivada da corrente no tempo, ou taxa de variação da corrente
Imax-fv Máxima corrente nominal admissível para a usina fotovoltaica
∆Imax-pr Máxima variação de corrente tolerada pelo processo
∆Imax-fv Máxima variação de corrente estimada para a usina fotovoltaica
∆tpr Duração da variação da corrente do processo
∆tfv Duração da variação da corrente da usina fotovoltaica
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 29
1.1 Contextualização e relevância .................................................................................... 29
1.2 Objetivos .................................................................................................................... 32
1.3 Contribuições.............................................................................................................. 32
1.4 Organização do texto .................................................................................................. 32
2 CONEXÃO DE GERAÇÃO FOTOVOLTAICA EM PROCESSOS
INDUSTRIAIS DE CORRENTE CONTÍNUA ................................................................... 35
2.1 Processos industriais de corrente contínua: a eletrólise ............................................. 35
2.2 Sistemas fotovoltaicos convencionais ........................................................................ 37
2.2.1 A tecnologia orgânica fotovoltaica (OPV) ................................................................. 41
2.3 Sistemas fotovoltaicos e cargas em corrente contínua ............................................... 41
2.3.1 Requisitos da injeção direta de geração fotovoltaica em processos c.c. .................... 45
2.4 Análise comparativa ................................................................................................... 47
2.5 Conclusão do capítulo ................................................................................................ 48
3 PROJETO DE UMA USINA FOTOVOLTAICA PARA ALIMENTAÇÃO DE
PROCESSO INDUSTRIAL EM CORRENTE CONTÍNUA ............................................. 51
3.1 Caso de estudo ............................................................................................................ 51
3.1.1 Características ambientais .......................................................................................... 51
3.1.2 Sistema elétrico existente ........................................................................................... 52
3.1.3 Seleção do painel solar ............................................................................................... 53
3.2 Premissas de projeto ................................................................................................... 54
3.3 Concepção da planta fotovoltaica............................................................................... 54
3.3.1 Determinação do fator de utilização de área .............................................................. 55
3.3.2 Dimensionamento da usina solar fotovoltaica ............................................................ 59
3.3.3 Dimensionamento dos cabos ...................................................................................... 61
3.3.4 Distribuição e arranjo dos painéis .............................................................................. 65
3.4 Concepção do conversor eletrônico ........................................................................... 66
3.5 Conclusão do capítulo ................................................................................................ 67
4 TECNOLOGIA DA SOLUÇÃO ............................................................................ 69
4.1 Topologia do conversor ............................................................................................. 69
4.1.1 Funcionamento do conversor Buck ........................................................................... 74
4.2 Dimensionamento e especificação de componentes .................................................. 76
4.2.1 Seleção dos semicondutores ...................................................................................... 76
4.2.2 Dimensionamento dos elementos passivos ................................................................ 79
4.3 Estratégia de controle ................................................................................................. 80
4.3.1 Modelagem do sistema .............................................................................................. 80
4.3.2 Cálculo do controlador ............................................................................................... 83
4.3.3 Alternativa para projeto do controlador ..................................................................... 85
4.3.4 Algoritmo de rastreamento de máxima potência (MPPT) ......................................... 85
4.3.5 Configuração Interleaving ......................................................................................... 87
4.4 Resultados de simulação ............................................................................................ 88
4.4.1 Operação em condições nominais .............................................................................. 90
4.4.2 Operação no cenário de mudanças meteorológicas ................................................... 92
4.5 Simulação PVsyst ...................................................................................................... 94
4.6 Conclusão do capítulo ................................................................................................ 96
5 INTEGRAÇÃO DA USINA FOTOVOLTAICA COM O PROCESSO
INDUSTRIAL......................................................................................................................... 97
5.1 Conexão com o processo ........................................................................................... 97
5.2 Regulação de corrente ................................................................................................ 99
5.2.1 Alternativas para a regulação de corrente ................................................................ 102
5.3 Conclusão do capítulo .............................................................................................. 103
6 CONCLUSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................. 105
6.1 Propostas de continuidade ....................................................................................... 107
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................... 109
APÊNDICE A - A TECNOLOGIA ORGÂNICA FOTOVOLTAICA ........................... 113
APÊNDICE B - LEVANTAMENTO DE MERCADO SOBRE PAINÉIS SOLARES DE
SILÍCIO POLICRISTALINO ............................................................................................ 119
APÊNDICE C - ALTERNATIVA DE IMPLEMENTAÇÃO DE CONTROLE PARA
CONTINUIDADE DE ESTUDOS ...................................................................................... 121
APÊNDICE D - CÓDIGO DE IMPLEMENTAÇÃO DO ALGORÍTMO PERTURBA &
OBSERVA ............................................................................................................................. 123
APÊNDICE E - RESULTADOS DA SIMULAÇÃO NO PVSYST ................................. 125
29
1 INTRODUÇÃO
1.1 Contextualização e relevância
A busca por fontes renováveis de energia se intensifica cada vez mais no mundo. Quer seja
por seu caráter de "energia limpa", quer seja pelos benefícios da diversificação da matriz
energética, este segmento de geração tem alcançado ano após ano uma posição de maior
destaque frente às alternativas convencionais, como as provenientes da queima de
combustíveis fósseis. Ao fim de 2015, as energias renováveis representavam 23,7% da
produção mundial de eletricidade, sendo que em 2016 esse número chegou a 24,5% [1], [2]. E
dentre as alternativas de energia renovável, a que tem apresentado maior crescimento nos
últimos anos é a enegia solar fotovoltaica.
No mesmo período (final de 2015 a final de 2016), a participação global na geração de
energia do segmento solar passou de 1,2% para 1,5%, sendo que dos 312 bilhões de dólares
registrados como investimentos no setor de renováveis no mundo todo em 2015, mais da
metade foram destinados à energia fotovoltaica (o restante dividido entre eólica,
biocombustíveis, geotérmica, e até mesmo hidroelétrica) [3]. A capacidade instalada global de
energia fotovoltaica subiu de 228 GW em 2015 para 303 GW em 2016, um aumento de 33%,
ou 75 GW, em apenas 1 ano. Para se ter esse número em perspectiva, o valor é superior à
capacidade total instalada no mundo ao final de 2011, que era de apenas 70 GW, e representa
a instalação de cerca de 31 mil painéis solares a cada hora. No ano de 2016 também foi
alcançado o valor de 0,41 dólares por watt, menor valor já registrado para esta tecnologia,
representando queda de 29% em relação ao ano anterior.
Todos estes dados demonstram que a energia fotovoltaica deve ser observada como uma fonte
de geração sólida na matriz energética mundial para os próximos anos. Sua participação tem
avançado de forma exponencial, e diversos aspectos demonstram que a tecnologia ainda está
em tendência de crescimento, uma vez que os custos continuam diminuindo, a eficiência dos
painéis aumentando, e governos tem progressivamente desenvolvido legislações de incentivo
a esse processo.
Neste cenário, contudo, o Brasil não ocupa posição de destaque no mundo. Embora
classificado como o terceiro maior produtor de energia renovável do planeta (quando
incluídas as hidrelétricas), o setor fotovoltaico ainda não representa nem 1% da matriz
energética brasileira. Na contramão desse fato, a Figura 1.1 mostra que o país apresenta um
30
dos maiores potenciais para produção de energia solar
países considerados grandes produtores na Europa, e
mundial de geração fotovoltaica,
Brasil). Esses números corroboram
ao mercado mundial, possui um enorme potencial a ser explorado
alternativa.
Figura 1.1 - Mapa da irradia
Um aspecto importante sobre a energia fotovoltaica é que ela é intrinsecamente gerada em
corrente contínua (c.c.) nos painéis solares
predominantemente concebidos para corrente alternada (c
tipicamente dotadas de conversores eletrônicos
Estes conversores permitem que a energi
rede da concessionária, uma vez que é compatível com os sistemas e
Todavia, no meio industrial existem diversos processos que utilizam energia elétrica em larga
escala e em sua forma de c.c. A
de metais como cobre, alumínio ou zinco
contínua que são obtidos através do uso de transformadores associados a retificadores. Desta
forma, uma empresa que possua uma planta de eletrólise e que deseje utilizar a energia
fotovoltaica para contribuir como uma geração de energia local, invariavelmente
conectar essa geração à rede c.a., uma vez que as soluções comerciais de mercado
somente baseadas em inversores. Assim, a energia seria gerada em c
convertida para c.a. no inversor, transmitida pela rede c
novamente para c.c. pelo retificador. Sabendo
dos maiores potenciais para produção de energia solar do mundo, sendo maior que diversos
grandes produtores na Europa, e até mesmo superior ao da
com capacidade instalada de 43.050 MW (contra 21 MW do
corroboram a afirmativa de que o Brasil, embora atrasado em relação
possui um enorme potencial a ser explorado nesse tipo de energia
Mapa da irradiação horizontal global no mundo [3].
aspecto importante sobre a energia fotovoltaica é que ela é intrinsecamente gerada em
nos painéis solares. Porém, sendo os sistemas elétricos do mundo todo
predominantemente concebidos para corrente alternada (c.a.), as aplicações
tipicamente dotadas de conversores eletrônicos do tipo c.c. - c.a., os chamados "inversores".
Estes conversores permitem que a energia gerada seja facilmente consumida ou reintegrada à
rede da concessionária, uma vez que é compatível com os sistemas e as cargas já existentes.
Todavia, no meio industrial existem diversos processos que utilizam energia elétrica em larga
c. A eletrólise, por exemplo, um processo utilizado na fabricação
como cobre, alumínio ou zinco, normalmente requer altos valores de corrente
que são obtidos através do uso de transformadores associados a retificadores. Desta
rma, uma empresa que possua uma planta de eletrólise e que deseje utilizar a energia
fotovoltaica para contribuir como uma geração de energia local, invariavelmente
, uma vez que as soluções comerciais de mercado
somente baseadas em inversores. Assim, a energia seria gerada em c.c. nos painéis solares,
no inversor, transmitida pela rede c.a. até o transformador, e convertida
pelo retificador. Sabendo-se que o inversor, a rede de transmissão
maior que diversos
ao da China, líder
contra 21 MW do
, embora atrasado em relação
nesse tipo de energia
aspecto importante sobre a energia fotovoltaica é que ela é intrinsecamente gerada em
os sistemas elétricos do mundo todo
as aplicações solares são
, os chamados "inversores".
a gerada seja facilmente consumida ou reintegrada à
cargas já existentes.
Todavia, no meio industrial existem diversos processos que utilizam energia elétrica em larga
letrólise, por exemplo, um processo utilizado na fabricação
, normalmente requer altos valores de corrente
que são obtidos através do uso de transformadores associados a retificadores. Desta
rma, uma empresa que possua uma planta de eletrólise e que deseje utilizar a energia
fotovoltaica para contribuir como uma geração de energia local, invariavelmente teria que
, uma vez que as soluções comerciais de mercado para tal são
nos painéis solares,
até o transformador, e convertida
a rede de transmissão, o
31
transformador e o retificador, todos são elementos não-ideais do sistema elétrico, e que
portanto possuem perdas associadas, chega-se naturalmente à conclusão de que parte
significativa da energia gerada nos painéis solares é perdida antes mesmo de ser
disponibilizada para o processo.
O presente trabalho propõe para o caso de tais processos industriais a conexão da geração
fotovoltaica com o processo seja feita diretamente na forma de c.c., através do uso de
conversores c.c. - c.c. mais simples. Pretende-se assim apresentar à indústria um conceito de
utilização da energia fotovoltaica mais viável financeiramente, através do melhor
aproveitamento da energia gerada e da redução de perdas elétricas. Os benefícios
mencionados serão observados especialmente pelos seguintes fatores: diminuição da corrente
proveniente da rede elétrica nos momentos de incidência solar, reduzindo assim perdas no
transformador e retificador; diminuição das perdas associadas à energia solar gerada em
relação à solução tradicional com inversor, pois esta não irá fluir pela rede elétrica c.a.; e
redução nas perdas de conversão, uma vez que o conversor c.c. - c.c. necessário será mais
simples e eficiente do que os inversores típicos.
Esta mudança de paradigma certamente está vinculada a uma série de restrições e limitações
que não são observadas nas aplicações comerciais vigentes. Questões como a transmissão da
energia por longas distâncias sem permitir o uso de transformadores para elevar a tensão, e a
estabilidade da corrente c.c. no processo de eletrólise mesmo durante oscilações
meteorológicas, serão investigadas e analisadas de forma a não representarem um
impedimento para a alternativa proposta.
Alguns estudos encontrados na literatura já endereçaram o tema do uso da energia solar
fotovoltaica diretamente em c.c., contudo com abordagens diferentes. A maior parte das
referências encontradas trata do tema como uma variação topológica para conversores
eletrônicos utilizados no contexto de microrredes [4], [5], [6], [7], [8]. Nesse caso, o foco é na
alimentação de cargas menores, usualmente em um cenário de consumo em menor escala e
ainda sem muita viabilidade prática. Outras referências tratam de aplicações em sistema
isolados, onde a energia solar pode ser a única fonte viável da localidade [9]. E há ainda
alguns artigos que sugerem o uso de energia solar fotovoltaica na alimentação de processos de
eletrólise, mas em pequena escala e autônomos, sem que haja a possibilidade de alimentação
paralela pela rede elétrica [10], [11].
Por sua vez, o presente trabalho se diferencia ao sugerir um conceito que pode ser
amplamente utilizado em uma aplicação prática, industrial e de grande porte. Não há a
pretenção de a proposição ser vista como uma alternativa excludente à alimentação elétrica
32
proveniente da concessionária, mas sim um complemento que propicie economia financeira
para seu investidor. O conceito sugerido será desenvolvido através de um estudo de caso,
considerando uma planta real de eletrólise, que possibilite demonstrar os passos para o projeto
de uma usina solar com conexão direta ao processo, seus benefícios frente à abordagem
convencional e suas restrições.
1.2 Objetivos
Os objetivos desse trabalho são:
Propor um conceito inovador para o uso da energia fotovoltaica que propicie maior
retorno sobre investimento e favoreça sua viabilidade econômica;
Destacar as vantagens de utilização da tecnologia frente às alternativas convencionais
e oferecidas pelo mercado;
Identificar as restrições, limitações e dificuldades da implantação da tecnologia;
Propor uma forma de implementação do conceito que aborde todas as restrições
mapeadas;
Demonstrar, através de um estudo de caso e simulações computacionais, a viabilidade
técnica da solução.
1.3 Contribuições
As principais contribuições que se espera alcançar através desse trabalho são:
Introduzir um conceito viável para o uso da energia solar fotovoltaica no meio
industrial que ofereça maior vantagem em relação às alternativas disponíveis;
Servir como referência técnica para futuros projetos na implementação desse conceito
em aplicações reais;
Incentivar a diversificação da matriz energética e o uso de fontes renováveis de
energia no Brasil e no mundo.
1.4 Organização do texto
Este trabalho se organiza em seis capítulos. No Capítulo 1 são apresentadas as motivações
para o estudo, seus objetivos, suas contribuições pretendidas e a estrutura do texto. O Capítulo
2 aborda o conceito apresentado em detalhes, contrastando-o com a solução típica de mercado
e identificando benefícios e restrições. No Capítulo 3 se discute como colocar o conceito
proposto em prática, projetando uma usina solar fotovoltaica através de um estudo de caso
33
baseado em uma planta real. O Capítulo 4 é dedicado à implementação do caso de estudo
através da especificação do hardware de potência e concepção dos conversores, apresentando
desde a especificação dos componentes, as técnicas de controle utilizadas e resultados de
simulação. O Capítulo 5 se trata especificamente da integração da usina de geração
fotovoltaica com o processo, e das restrições a serem observadas para que essa conexão se dê
de forma compatível com as necessidades industriais. Por fim, o capítulo 6 tece as conclusões
e propostas de continuação do trabalho.
34
35
2 CONEXÃO DE GERAÇÃO FOTOVOLTAICA EM PROCESSOS INDUSTRIAIS
DE CORRENTE CONTÍNUA
Este capítulo é dedicado à contextualização do leitor para detalhes da implementação de
plantas de eletrólise e usinas de geração fotovoltaica conforme tipicamente disponível no
mercado, e a fazer um paralelo com o novo conceito proposto, que prevê a conexão direta em
processos industriais em corrente contínua. Pretende-se, dessa forma, explorar os principais
benefícios esperados e as restrições que deverão ser endereçadas durante um projeto prático
desta natureza.
2.1 Processos industriais de corrente contínua: a eletrólise
A eletrólise é um processo eletroquímico no qual uma reação química ocorre em decorrência
da passagem de uma corrente elétrica contínua. No meio industrial, ela é em geral utilizada na
produção de metais como cobre, zinco e outros, e em alguns tratamentos de superficie. O
processo consiste basicamente na condução de corrente contínua por placas que funcionam
como eletrodos anodo e catodo, separadas através de um meio líquido chamado eletrólito. A
condução de corrente provoca o depósito do elemento químico nos eletrodos que, após um
período determinado, podem ser retirados do meio aquoso para raspagem do material. A
Figura 2.1 mostra duas fotos de células de eletrólise reais utilizadas para esse propósito, para
referência (fonte: google images).
(a)
36
(b)
Figura 2.1 - Exemplos de células de eletrólise reais em aplicações industriais.
Eletricamente, uma planta industrial de eletrólise pode ser modelada como uma bateria em
processo de recarga, ou seja, uma impedância em série com uma fonte de tensão ideal com
polaridade oposta ao sentido da corrente. Na prática, isto quer dizer que uma determinada
célula de eletrólise deverá apresentar pouca variação de tensão em função da corrente de
carga. A planta de eletrólise é dimensionada com base na produção do material que se busca,
portanto, é necessário determinar as dimensões das placas de anodo e catodo, o espaçamento
entre elas, a quantidade, a concentração do material no eletrólito, e com base nesses dados, os
parâmetros elétricos são calculados.
A corrente elétrica, responsável pelo depósito do material a ser produzido, é a principal
responsável pela qualidade e produtividade do processo. Correntes abaixo do valor ótimo
calculado irão proporcionar uma produtividade menor que a máxima para aquelas
circunstâncias, enquanto correntes acima do valor ótimo podem causar má formação do
material e perda de qualidade. Além disso, oscilações no valor dessa corrente acarretarão
variações na deposição do material que, por sua vez, também prejudicam a formação do
depósito e sua qualidade. Por essa razão, a eletrólise só pode ser feita com corrente contínua.
Ao longo da vida útil de uma célula de eletrólise, a tensão observada em seus terminais pode
sofrer pequenas oscilações com consequente aumento do consumo elétrico, fruto da variação
da resistividade causada pela deterioração natural dos contatos dos eletrodos. Similarmente,
ao longo de um período de depósito, a tensão observada nos terminais também está sujeita a
37
flutuações em decorrência da variação da resistividade causada pelo aumento do depósito.
Isso faz com que os sistemas elétricos de alimentação de tais processos precisem de um
mínimo controle de corrente, de forma a compensar tais oscilações e proporcionar, na maior
parte do tempo possível, a corrente calculada para maior produtividade e melhor qualidade do
produto.
Tipicamente, plantas de eletrólise são alimentadas através de transformadores conectados à
rede elétrica c.a. Esses, por sua vez, suprem retificadores de grande porte. O controle da
corrente de saída normalmente é feito por uma dentre duas opções distintas: a primeira,
através do uso de retificadores tiristorizados, que podem regular sua corrente de saída pela
variação do ângulo de disparo de condução; a segunda, mediante transformadores com
regulação de tap sob carga. Ambas as tecnologias permitem a regulação da corrente
dinamicamente, acompanhando a necessidade elétrica à medida que as condições evoluem.
2.2 Sistemas fotovoltaicos convencionais
Geração Fotovoltaica é o nome dado ao fenômeno físico-químico conhecido desde o século
19 que trata da conversão de luz em eletricidade, e que pode ser observado em materiais
semicondutores por decorrência do chamado "efeito fotovoltaico". Embora as primeiras
células de silício monocristalino capazes de gerar energia através da luz solar datem da
década de 1950, somente a partir da década de 1990 é que essa tecnologia se tornou acessível
ao mercado, através da produção em série dos primeiros inversores solares [12].
Os inversores são elementos essenciais à produção de energia solar fotovoltaica na forma
convencional porque convertem a energia c.c. gerada nas células solares para c.a., tornando-a
compatível com os sistemas de distribuição e de consumo mais amplamente utilizados no
mundo. Os inversores solares podem ser classificados de acordo com sua aplicação, conforme
abaixo [12]:
1. Inversores integrados a painéis solares, tipicamente com potências da ordem de 50 a
400 W, para aplicações geralmente isoladas e com somente um painel;
2. Inversores de strings (para uma associação de painéis em série), tipicamente com
potências da ordem de 0,4 a 2 kW, para plantas solares residenciais pequenas;
3. Inversores multistring (com mais de uma string em paralelo), tipicamente com
potências da ordem de 1,5 a 6 kW, para plantas solares residenciais médias ou
grandes;
4. Inversores de mini centrais, normalmente com topologia trifásica e utilizados de forma
modular em plantas de até 100 kW, com valores unitários entre 6 e 15 kW;
38
5. Inversores centrais, empregados em grandes centrais solares com capacidade total da
ordem de MW, e cujos inversores unitários alcançam de 100 a 1.000 kW.
Embora a energia solar fotovoltaica tenha emergido dos seus primórdios como uma
alternativa indicada para sistemas isolados (tipicamente para locais remotos e até mesmo em
aplicações espaciais), ela só alcançou um maior destaque no mercado convencional quando as
pequenas centrais geradoras residenciais se tornaram viáveis. Houve assim a expansão do que
é chamado de "geração descentralizada", onde os produtores entregavam à concessionária a
energia gerada em troca de abatimento na conta. Todavia, com o passar do tempo, esse
conceito também foi se mostrando pouco representativo, ao passo que nos últimos anos a
geração descentralizada vem perdendo relevância frente às grandes usinas fotovoltaicas
centralizadas. Conforme mostra a Figura 2.2, o percentual de novas instalações no mundo
provenientes de grandes usinas centralizadas cresceu de menos de 10% em 2006 para mais de
70% em 2016. No mesmo período, o incremento das instalações associadas aos sistemas
isolados, que já não era grande em 2006, passou a ser quase irrisória ao fim da década. Estes
números demonstram que a energia fotovoltaica apresenta atualmente uma forte tendência
para os empreendimentos de grande porte e com uso de topologias de inversores centrais.
Figura 2.2 - Incremento anual da capacidade mundial instalada de energia fotovoltaica, dividida entre
sistemas isolados, conectados descentralziados e conectados centralizados [2].
Existem no mercado diversos fabricantes de inversores solares, os quais oferecem produtos
com as mais variadas características e potências nominais. Entretanto, essencialmente, estes
equipamentos possuem a mesma estrutura básica, apresentada em destaque na Figura 2.3. Os
inversores solares possuem basicamente três estágios principais, sendo eles o conversor c.c. -
c.c., o barramento c.c. e a ponte inversora (conversor c.c. - c.a.). O conversor c.c. - c.c. de
39
entrada é responsável por realizar o algoritmo de rastreamento de máxima potência (ou
MPPT, do inglês Maximum Power Point Tracking) e entregar a energia gerada nos painéis
solares ao barramento c.c. de forma estável, ou seja, no nível de tensão definido por projeto e
de forma independente das condições meteorológicas (irradiação, temperatura etc.). Já a ponte
inversora tem a função de injetar a energia gerada na rede c.a., transformando a corrente
contínua em alternada através do chaveamento de dispositivos semicondutores.
Figura 2.3 - Estrutura de módulos típica de um inversor solar.
Os inversores solares, portanto, disponibilizam a energia gerada em um nível de tensão c.a.
fixo e predeterminado, mas que nem sempre está adequado à conexão direta com as cargas
consumidoras ou com a rede elétrica. Nesses casos, faz-se necessário acrescentar à estrutura
típica da instalação apresentada na Figura 2.3 um transformador, que será responsável por
compatibilizar os níveis de tensão de saída do inversor com a rede elétrica.
É importante salientar que em aplicações convencionais a conexão do sistema de geração
solar quase sempre se dará diretamente com a rede da concessionária. Isso ocorre porque a
geração é intermitente e depende de condições meteorológicas. Logo, não é uma fonte
confiável para aplicação direta à carga. Dessa forma, a conexão direta com a rede da
concessionária possibilita que toda energia gerada por uma determinada usina solar seja
consumida por outras cargas do sistema, eliminando portanto a necessidade de dispositivos
armazenadores de energia. Caso contrário, sem que houvesse conexão com a rede ou
elementos armazenadores, a usina solar estaria limitada a somente gerar energia nos
momentos onde o consumo estivesse habilitado, o que pode nem sempre ser verdade devido
ao caráter variável das condições meteorológicas. Por esse motivo, diz-se que o sistema de
geração solar convencional, com inversores injetando a energia gerada na rede em c.a., possui
a rede como um "armazenador de energia", em analogia ao que seria realizado por exemplo
por um banco de baterias. Já os sistemas com conexão direta à carga, em geral, são utilizados
em aplicações isoladas onde a fonte solar é a única responsável pela alimentação da carga, e
na maior parte dos casos possuem baterias como armazenadores de energia.
40
Os painéis solares, por sua vez, possuem um comportamento elétrico usualmente descrito pela
chamada "Curva I-V". A Figura 2.4(a) apresenta como exemplo a curva I-V de um painel
solar do modelo YL250P-29b do fabricante Yingli Solar em condições nominais (irradiância
de 1.000 W/m² e temperatura 25°C) [13]. Este gráfico mostra que o painel solar possui uma
relação de corrente e tensão que não tende ao infinito quando a outra variável tende a zero, e
que apresenta um ponto cujo produto é máximo. Sabendo que o produto da tensão pela
corrente é definido como a potência elétrica, o ponto de máximo é chamado de "ponto de
máxima potência", ou MPP (do inglês, maximum power point). O gráfico apresentado na
Figura 2.4(b) mostra a potência de saída do referido painel em função da tensão em seus
terminais, onde se nota claramente que para uma dada condição de irradiância e temperatura,
o painel só possui um ponto de operação em que sua potência de saída é máxima.
(a)
(b)
Figura 2.4 - Curva I-V (a) e curva de potência (b) do painel Yingli YL250P-29b.
Já o comportamento elétrico de uma usina solar fotovoltaica completa nada mais é que o
somatório dos gráficos apresentados na Figura 2.4 para cada painel, com a exceção de que os
arranjos em série e paralelo dos painéis devem ser levados em conta. Painéis associados em
série estão sujeitos às mesmas correntes, mas o conjunto apresenta uma tensão total que é a
soma das tensões individuais, ao passo que conjuntos em paralelo possuem a mesma tensão
entre si, mas agregam suas correntes de forma incremental em um mesmo nó. De forma
41
simplificada, tem-se que para uma dada condição meteorológica, uma curva similar à
apresentada na Figura 2.4(b) indica qual a máxima potência a ser extraída da usina. Assim
funciona o algoritmo de rastreamento de máxima potência, através do controle da tensão ou
da corrente de entrada do conversor, o ponto de operação na curva pode ser variado, até que a
potência máxima seja alcançada.
Entretanto, há que se destacar que, dependendo da formação dos arranjos série e paralelo e da
quantidade de painéis, sombreamentos parciais podem levar à limitação da corrente de um
arranjo série e à criação de máximos locais na curva da Figura 2.4(b), mesmo que essa
condição só seja observada em um painel. Tal efeito pode ser evitado aumentado-se o número
de entradas com MPPTs nos conversores, sendo que a condição ótima seria a da instalação de
um conversor com MPPT por cada painel solar (o que em geral não é viável
economicamente).
As usinas de geração fotovoltaca convencionais são, portanto, um valioso recurso para
extração de energia renovável e distribuída. Destacam-se entre suas vantagens a possibilidade
de geração próxima ao consumo, o uso da rede c.a. como armazenador de energia e a
possibilidade de se empregar transformadores elevadores para transmitir a energia gerada por
longas distâncias com menos perdas de condução. Em contrapartida, o uso da conversão c.c. -
c.a. e de transformadores diminuem a eficiência da geração, bem como representam um custo
considerável para a implantação do sistema, o que prejudica o retorno do investimento.
2.2.1 A tecnologia orgânica fotovoltaica (OPV)
Uma tendência recente no mercado de energia fotovoltaica é o uso da tecnologia de materiais
orgânicos (chamada OPV, do inglês Organic Photovoltaic). No entanto, o presente trabalho
não dará ênfase a esse tipo de aplicação, uma vez que a tecnologia ainda se encontra em fase
experimental e com poucos resultados práticos e aplicações comerciais disponíveis. Ainda
assim, uma breve discussão técnica do assunto é apresentada no APÊNDICE A - A
TECNOLOGIA ORGÂNICA FOTOVOLTAICA para referência do leitor.
2.3 Sistemas fotovoltaicos e cargas em corrente contínua
Conforme apresentado na seção anterior, as usinas de geração solar fotovoltaicas no mundo
todo são majoritariamente implementadas utilizando-se inversores (conversores c.c. - c.a.).
Isso se deve ao fato de que os sistemas elétricos de distribuição e, por conseguinte, a grande
maioria das cargas elétricas, são estabelecidos para alimentação em c.a. Mesmo no meio
42
residencial, onde grande parte das cargas é originalmente em c.c. (como computadores,
televisões, carregadores de celular, dentre outros), a alimentação deve ser feita em c.a., pois
os dispositivos não suportam c.c. diretamente. Por esse motivo, conversores eletrônicos c.c. -
c.c. para aplicações solares não são encontrados no mercado, uma vez que não são
diretamente aplicáveis no contexto atual.
No entanto, num cenário onde uma grande indústria metalúrgica pretenda construir uma usina
solar fotovoltaica para contribuir na alimentação elétrica de seu processo de eletrólise, o uso
de conversores c.c. - c.c. ao invés dos inversores solares típicos pode representar uma
vantagem no que tange ao ganho de eficiência energética [14]. E sendo um empreendimento
de grande porte, a fabricação dos conversores c.c. - c.c. não convencionais pode ser algo
viável financeiramente. Considere como exemplo uma indústria dotada de um processo de
eletrólise alimentado através de um conjunto transformador e retificador. O diagrama elétrico
simplificado desse sistema é apresentado na Figura 2.5(a), onde os valores de eficiência do
transformador e do retificador foram arbitrados, mas representam uma boa aproximação para
valores reais nessa aplicação. Como mostra a figura, se em determinado instante a carga
consome uma potência de 100%, a potência que é efetivamente demandada da rede elétrica é
de 107,4%. Isto quer dizer que as perdas no transformador e no retificador totalizam 7,4% da
potência consumida pela carga (perdas de condução estão sendo negligenciadas nesse
exemplo ilustrativo).
Considere agora a situação ilustrada na Figura 2.5(b), onde uma planta solar fotovoltaica é
conectada ao sistema, gerando nesse instante uma potência equivalente a 30% da consumida
pela carga. Levando-se em conta que a usina está conectada da forma convencional, ou seja,
através de um inversor em série com um transformador (eficiências novamente arbitradas), e
que a energia gerada será abatida daquela consumida pela carga, então conclui-se que a
demanda da concessionária para alimentar o processo é de 79,5%. Naturalmente, há uma
redução drástica no consumo da concessionária devido à instalação da usina solar. Entretanto,
as perdas elétricas totais que eram de 7,4% na situação original agora se elevaram para 9,5%.
43
(a) (b)
Figura 2.5 - Diagrama elétrico simplificado de um processo de eletrólise de exemplo (a) e o mesmo
processo quando inserida uma usina de geração solar fotovoltaica em paralelo (b).
Por sua vez, a Figura 2.6 exibe a solução alternativa proposta neste trabalho. O inversor solar
é substituído por um conversor c.c. - c.c. mais eficiente, e a energia gerada é injetada
diretamente no nó de alimentação do processo. O transformador não é mais necessário, uma
vez que o conversor realiza a compatibilização entre as tensões da geração e da carga. Nessas
circunstâncias, a demanda da concessionária cai para 75,8%, o que significa que as perdas
totais caem para 5,8% e são menores que nas duas situações descritas anteriormente.
Figura 2.6 - Diagrama elétrico simplificado de um processo de eletrólise com alimentação direta em c.c. de
uma usina solar fotovoltaica.
O conceito proposto, portanto, promove a redução das perdas globais do sistema pois atua em
três aspectos distintos: em primeiro lugar, o conversor c.c. - c.c. é mais eficiente que o
inversor c.c. - c.a. equivalente, uma vez que constitui apenas o primeiro módulo de um
inversor solar comercial típico; em segundo lugar, a energia gerada na usina solar não precisa
fluir pelo transformador e pelo retificador, diminuindo assim as perdas associadas a esses
44
dispositivos; e em terceiro lugar, o controle de corrente do processo pode identificar a injeção
de energia proveniente da geração solar e reduzir a demanda da rede elétrica, reduzindo
também a corrente que passa pelo conjunto transformador e retificador, novamente gerando
menores perdas nesses equipamentos.
Ainda que o exemplo utilizado para demonstrar as vantagens do conceito proposto tenha se
valido de valores arbitrários, é seguro dizer que, em relação à aplicação convencional com
inversores, será sempre mais vantajoso do ponto de vista de eficiência energética. A título de
ilustração, a Tabela 2.1 mostra os resultados obtidos para esse mesmo exercício ao se variar
os valores arbitrados para a potência de geração da usina, a eficiência do inversor e a
eficiência do conversor c.c. - c.c. Como pode ser visto, em qualquer situação a solução
proposta apresenta ganhos quando comparada à solução convencional com inversor, sendo
tais ganhos maiores quanto maior for a geração da usina fotovoltaica, quanto menor for a
eficiência dos inversores e quanto maior for a eficiência do conversor c.c. - c.c. Como
exemplo, suponha o caso apresentado na última coluna da tabela, onde assume-se que a
potência de geração da usina é de 50%, a eficiência do inversor c.c. - c.a. é de 98% e a
eficiência do conversor c.c. - c.c. alternativo é de 95%. Nesse caso, a demanda da rede no
cenário convencional seria de 59,4%, contra 56,4% da abordagem proposta, uma diminuição
de 3% do consumo de energia proveniente da concessionária.
Tabela 2.1 - Comparação entre sistema convencional e conectado diretamente em c.c. para variação de
parâmetros.
P (carga) 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%
η trafo 98% 98% 98% 98% 98% 98% 98% 98% 98%
η retific. 95% 95% 95% 95% 95% 95% 95% 95% 95%
Demanda 107,4% 107,4% 107,4% 107,4% 107,4% 107,4% 107,4% 107,4% 107,4%
P (usina) 30% 30% 30% 10% 10% 10% 50% 50% 50%
η inv. 95% 98% 98% 95% 98% 98% 95% 98% 98%
η trafo 98% 98% 98% 98% 98% 98% 98% 98% 98%
Demanda 79,5% 78,6% 78,6% 98,1% 97,8% 97,8% 60,9% 59,4% 59,4%
η conv. 98% 98% 95% 98% 98% 95% 98% 98% 95%
Demanda 75,8% 75,8% 76,8% 96,9% 96,9% 97,2% 54,8% 54,8% 56,4%
Ganho 3,6% 2,8% 1,8% 1,2% 0,9% 0,6% 6,1% 4,6% 3,0%
45
2.3.1 Requisitos da injeção direta de geração fotovoltaica em processos c.c.
O conceito proposto traz consigo, no entanto, alguns requisitos que precisam ser observados
para que sua implementação seja viável. O primeiro deles diz respeito ao fato de que a carga,
no caso a planta de eletrólise, será alimentada agora por duas fontes distintas em paralelo.
Para que isso seja possível é necessário que o conversor c.c. - c.c. opere como fonte de
corrente, garantindo que toda energia gerada na usina solar será injetada no nó de alimentação
do processo. Com isso, o conversor deve cumular, no mínimo, as seguintes funções:
Compatibilizar os níveis de tensão na geração e na carga;
Realizar o rastreamento de máxima potência; e
Operar como fonte de corrente.
O segundo requisito diz respeito ao controle da corrente total que será injetada na carga.
Conforme exposto anteriormente, é requerido que essa corrente seja aproximadamente
constante em um determinado valor, e uma vez que se propõe a inclusão de novas fontes de
corrente contribuindo para a alimentação de uma mesma carga, surge a necessidade de se
equalizar tais valores para não prejudicar o processo. Sabendo-se que a corrente total na carga
será o somatório das correntes provenientes da rede e da geração fotovoltaica, e ainda que se
deseja extrair a máxima energia possível da usina solar, há que se reduzir a corrente originária
da rede de maneira proporcional à contribuição da energia vinda da geração.
As unidades industriais que operam tais processos possuem um sistema de controle que
possibilita ao operador determinar um valor de corrente desejado (set-point). Assim, o sistema
incrementa ou decrementa a corrente fornecida à carga através de algum mecanismo próprio
(por exemplo, variação de taps do transformador ou ângulo de disparo de tiristores em
retificadores), até que o valor desejado seja observado no ponto de medição. Logo, uma forma
de se viabilizar o conceito proposto é fazendo com que a injeção de corrente proveniente da
fonte de geração fotovoltaica seja feita à montante do ponto de medição original do sistema.
Dessa forma, o controle do processo corrigirá a corrente da carga em função da injeção da
parcela solar, atuando na parcela proveniente da rede da concessionária.
Alternativamente, caso não haja meio físico para que esta injeção da corrente da geração seja
implementada à montante do ponto de medição, a compensação da corrente pode ser realizada
por meio de sinais de comunicação, informando-se ao sistema de controle o valor medido da
corrente da usina fotovoltaica. Assim, o sistema de controle pode fazer a compensação entre o
set-point determinado pelo operador, subtraindo-se o valor registrado pela geração distribuída,
gerando um novo set-point a ser utilizado somente pela fonte proveniente da rede elétrica. A
46
Figura 2.7 apresenta uma ilustração de como deveriam se dar essas duas possibilidades de
conexão, sendo que foi considerado que o sistema de conversão da rede é feito por um
transformador com variação de taps e um retificador a diodos.
(a) (b)
Figura 2.7 - Ponto de conexão da usina fotovoltaica à montante da medição de corrente (a) e a jusante -
corrente precisa ser informada ao controle do processo via rede de dados (b).
O terceiro requisito trata da compatibilização das dinâmicas do controle de corrente original
do processo e da planta solar. Essa necessidade decorre do fato de que em usinas fotovoltaicas
existe a possibilidade constante de variações bruscas e inesperadas na geração de energia, o
que requer reações do sistema de controle do processo nas mesmas proporções. Tome-se
como exemplo o caso de uma usina de geração fotovoltaica que contribui para a alimentação
de uma planta de eletrólise. Caso haja um sombreamento repentino sobre a usina, a corrente
fornecida ao processo por essa fonte de energia tende a cair rapidamente, necessitando que o
sistema de controle do processo recomponha essa perda através do aumento da parcela
proveniente da rede. Isso gera uma necessidade de que o controle tenha a capacidade de se
adaptar a diferentes valores de set-point em um tempo que pode ser relativamente curto.
A referida compatibilização de dinâmicas deve ser aferida da seguinte forma: em primeiro
lugar, determina-se a máxima capacidade dinâmica do sistema de controle do processo de se
adaptar a um novo set-point de corrente. Em seguida, verifica-se a máxima variação de
corrente que pode ser observada na usina fotovoltaica. Nos casos onde o processo tiver uma
capacidade de taxa de variação de corrente superior à da geração distribuída, o requisito está
validado e a solução é possível. Já nos casos em que o sistema não tiver condições de se
adaptar nas mesmas taxas de variações de corrente esperadas para a geração distribuída, então
47
algumas alternativas devem ser consideradas para que não ocorram variações indesejadas no
valor da corrente total que flui pela carga.
A primeira alternativa nesse caso é a limitação da capacidade máxima da usina solar em um
valor que, em termos absolutos, nunca supere a taxa de variação de corrente limite do
processo. Contudo, essa opção pode ser indesejada nos casos em que se procura obter a
máxima capacidade de produção de energia com a geração fotovoltaica. Uma segunda
alternativa seria não limitar a capacidade total, mas sim a produção de energia de forma a não
se extrair a máxima potência possível nos momentos em que a dinâmica desse evento supere a
dinâmica do processo. Como exemplo, após a passagem de nuvens, não aproveitar toda a
energia da reincidência do sol imediatamente até que o processo equalize sua corrente nos
níveis compatíveis. Nesse exemplo, uma forma de se melhorar essa dinâmica se daria com o
uso de algoritmos de previsão de tempo (forecasting), que ajudariam o sistema a prever a
dinâmica da geração solar fotovoltaica, suavizinado suas variações.
Por fim, uma terceira alternativa seria o uso de elementos armazenadores de energia, tais
como bancos de baterias. Dessa forma, a energia gerada pelos regimes de dinâmica mais
acelerada poderia ser armazenada para, paulatinamente, ser provida de volta ao processo
dentro de uma dinâmica mais lenta e que atenda ao limite imposto pelo sistema de controle.
Nessa hipótese, a solução é tecnicamente adequada, mas possui um viés de custo que não
seria observado se as duas primeiras alternativas puderem ser utilizadas.
Respeitados os três requisitos listados, o conceito apresentado não só é tecnicamente viável,
como pode gerar benefícios de redução de custos de aquisição (conversores mais baratos),
diminuição de perdas e economia de energia.
2.4 Análise comparativa
A Tabela 2.2 a seguir sumariza os principais aspectos de comparação entre os sistemas
fotovoltaicos convencionais e o conceito proposto, no contexto de alimentação elétrica de um
processo industrial de grande porte por corrente contínua.
48
Tabela 2.2 - Comparação entre sistemas fotovoltaicos convencionais e conceito proposto para alimentação
de um processo industrial e c.c.
Sistema convencional Sistema proposto
Energia gerada é submetida à rede de distribuição c.a.
Geração fotovoltaica é conectada diretamente à carga c.c.
Corrente no transformador e retificador permanecem iguais
Redução da corrente demandada da rede c.a. (redução de perdas)
Uso de inversores Uso de conversores c.c. - c.c. mais baratos e
mais eficientes (redução do custo e de perdas)
Podem necessitar de transformadores para equalização de tensão
Não utilizam transformadores (redução de custo e de perdas)
Transformadores permitem transmissão em alta tensão
Transmissão é feita em tensões mais baixas - alternativas devem ser exploradas para
diminuir perdas de condução
Utiliza a rede c.a. como armazenador de energia
Armazenadores de energia muito caros (bancos de bateria) - alternativa é consumir
toda a energia gerada
Inversores solares facilmente encontrados no mercado
Novo conceito, conversores precisam ser fabricados sob encomenda
2.5 Conclusão do capítulo
Neste capítulo foi feita uma contextualização do leitor aos conceitos de processo industrial
alimentado em c.c., em particular a eletrólise, e a aspectos gerais da geração fotovoltaica. Em
seguida, foi explicada a proposta de solução alternativa para a conexão de usinas solares para
alimentação de tais processos e demonstradas suas vantagens.
O principal ganho mapeado foi o aumento da eficiência global do sistema, obtido não só pela
diminuição das perdas relativas à energia gerada, mas também das perdas associadas aos
transformadores e retificadores, essenciais aos processos dessa natureza. Além do incremento
da eficiência, é esperada também uma redução do custo de implantação, uma vez que os
conversores c.c. - c.c. são mais simples e não requerem transformadores, quando comparados
à solução dotada de inversores. Observou-se ainda que quanto maior o porte da usina
fotovoltaica, maior a vantagem da nova abordagem sobre a convencional.
Por outro lado, algumas restrições de uso dessa tecnologia foram levantadas. Tais limitações
foram discutidas e chegou-se a alternativas para contorná-las, que serão melhor investigadas
nos capítulos subsequentes.
49
Todo esse cenário leva a um contexto de aumento da viabilidade econômica do
empreendimento e redução do período de retorno, parâmetros estes cruciais para análise de
uma indústria que pretenda investir em formas de geração distribuída e renovável, em especial
a fotovoltaica. Logo, o conceito proposto tem potencial para aumentar a atratividade de
investimentos no setor, levando a uma maior diversificação da matriz energética e
contribuindo para o crescimento das fontes de geração de energia não poluentes.
50
51
3 PROJETO DE UMA USINA FOTOVOLTAICA PARA ALIMENTAÇÃO DE
PROCESSO INDUSTRIAL EM CORRENTE CONTÍNUA
Neste capítulo são discutidos os passos necessários para o projeto de uma usina solar
fotovoltaica de grande porte a ser utilizada na alimentação de uma planta de eletrólise
industrial, conforme conceito proposto anteriormente.
3.1 Caso de estudo
No intuito de se investigar mais a fundo o conceito sugerido neste trabalho, é desenvolvido
um estudo de caso onde uma usina fotovoltaica de grande porte é projetada para fornecer
energia a uma planta de eletrólise real. Para que a análise tenha mais materialidade, uma
unidade industrial conhecida é utilizada como objeto de exemplo. Pretende-se dessa forma
estabelecer etapas para projetos similares no futuro, investigar alternativas para problemas
encontrados e aferir a viabilidade técnica de sua execução.
3.1.1 Características ambientais
A planta industrial em que esse estudo se baseia está localizada no município de Três Marias,
MG, a cerca de 270 km à noroeste da capital Belo Horizonte. A latitude do local é de 18° sul e
a altitude é de aproximadamente 570 m. A região apresenta uma precipitação média anual de
1200 a 1300 mm e uma irradiância média diária anual de 5,3 kWh/m²/dia. A Tabela 3.1
apresenta as médias diárias de irradiância mês a mês. Os dados foram obtidos do Atlas
Solarimétrico de Minas Gerais - Volume II, publicado em 2016 [15], e indicam que a região é
apropriada para a geração de energia fotovoltaica, tendo irradiação solar alta e índices de
chuva baixos, em comparação com outras regiões do Brasil (a baixa precipitação pode
sinalizar menores períodos de sombreamento por nuvens, o que favorece a geração de
energia).
Tabela 3.1 - Dados da irradiância média mensal (kWh/m²/dia) para a microrregião de Três Marias.
Microrregião Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Três Marias 5,4 5,9 5,3 5,3 4,9 4,8 4,9 5,6 5,8 5,8 5,1 5,2
O local escolhido para a construção da usina compreende toda a área de uma barragem de
rejeitos atualmente desativada, incluindo-se os trechos alagados que deverão passar por
drenagem. O espaço fica entre os limites da planta industrial e o prédio da eletrólise, local
52
para onde será destinada a energia gerada.
enquanto a Figura 3.1 (b) mostra
(informações do site Google Maps
(a) Figura 3.1 - Vista aérea da barragem de rejeitos desativada (a) e estimativa de sua área total (b).
Conforme os dados apresentados na
ordem de 550 mil m², sendo que seu perímetro é de aprox. 3,16 km. Apesar da imprecisão no
método utilizado para medição dessa área, considera
do projeto.
3.1.2 Sistema elétrico existente
A planta industrial em questão conta atualmente
capacidade de produção de uma delas é muito superior do que a da outra. Como o objetivo
inicial desse projeto é a economia de energia, decidiu
de maior consumo, possibilitando assim um melhor aproveitamento da energia gerada.
A unidade em questão é alimentada por uma linha de 13,8 kV. São utilizados dois
transformadores, cada um fornecendo energia a um retificador de meia onda a diodos, com
capacidade máxima de 115 kA a
conjunto de barras, projetadas para a capacidade máxima de 230 kA, e que distribuem a
energia para as células de eletrólise.
para onde será destinada a energia gerada. A Figura 3.1 (a) apresenta uma vista aérea do local,
(b) mostra a mesma vista com uma estimativa de sua área total
informações do site Google Maps).
(b) Vista aérea da barragem de rejeitos desativada (a) e estimativa de sua área total (b).
Conforme os dados apresentados na Figura 3.1, a área total da barragem de rejeitos é da
mil m², sendo que seu perímetro é de aprox. 3,16 km. Apesar da imprecisão no
método utilizado para medição dessa área, considera-se a estimativa adequada para esta etapa
conta atualmente com duas unidades de eletrólise, sendo que a
capacidade de produção de uma delas é muito superior do que a da outra. Como o objetivo
inicial desse projeto é a economia de energia, decidiu-se por utilizar a planta solar
litando assim um melhor aproveitamento da energia gerada.
A unidade em questão é alimentada por uma linha de 13,8 kV. São utilizados dois
transformadores, cada um fornecendo energia a um retificador de meia onda a diodos, com
a 310 Vcc. As saídas dos retificadores são interligadas por um
conjunto de barras, projetadas para a capacidade máxima de 230 kA, e que distribuem a
energia para as células de eletrólise.
apresenta uma vista aérea do local,
uma estimativa de sua área total
Vista aérea da barragem de rejeitos desativada (a) e estimativa de sua área total (b).
, a área total da barragem de rejeitos é da
mil m², sendo que seu perímetro é de aprox. 3,16 km. Apesar da imprecisão no
se a estimativa adequada para esta etapa
com duas unidades de eletrólise, sendo que a
capacidade de produção de uma delas é muito superior do que a da outra. Como o objetivo
utilizar a planta solar na unidade
litando assim um melhor aproveitamento da energia gerada.
A unidade em questão é alimentada por uma linha de 13,8 kV. São utilizados dois
transformadores, cada um fornecendo energia a um retificador de meia onda a diodos, com
. As saídas dos retificadores são interligadas por um
conjunto de barras, projetadas para a capacidade máxima de 230 kA, e que distribuem a
53
Os transformadores tem relação de transformação nominal de 13,8 para 0,32 kV e comutador
de taps sob carga no primário. Uma vez que o retificador a diodos não é capaz de regular sua
corrente de saída, o controle de corrente do processo (essencial para a produção em vários
aspectos) é realizado através da variação dos taps dos primários dos transformadores.
Em condições normais de operação, essa unidade de eletrólise trabalha em ciclos de depósito
de 48h e com corrente aproximadamente constante no valor de 200 kA. Para esse nível de
corrente, a tensão desenvolvida pela eletrólise e, por conseguinte, a tensão de saída do
retificador, é de cerca de 280 Vcc. A Figura 3.2 apresenta o diagrama unifilar simplificado da
instalação elétrica descrita. O controle de corrente atualmente não é feito de forma automática
e integrada com a medição de corrente, porém os operadores são capazes de alterar o setpoint
de corrente remotamente da sala de controle.
Figura 3.2 - Diagrama unifilar simplificado do sistema elétrico existente da eletrólise.
3.1.3 Seleção do painel solar
Os painéis solares a serem considerados nesse projeto serão baseados no modelo YL250P-29b
do fabricante Yingli Solar [13]. Trata-se de um painel de silício policristalino facilmente
encontrado no mercado, e cujas principais características elétricas para condição STC (do
inglês, Standard Test Conditions, irradiância de 1000 W/m², temperatura do módulo de 25°C,
distribuição espectral de acordo com a norma EN 60904-3, redução média de 3,3% de
efciência relativa de 200 W/m² de acordo com EN 60904-1) são apresentadas na Tabela 3.2.
54
Tabela 3.2 - Características elétricas principais do painel Yingli YL250P-29b.
Descrição Símbolo Quantidade Unidade
Potência máxima Pmax 250 W
Tensão de circuito aberto Voc 37,6 V
Corrente de curto-circuito Isc 8,92 A
Tensão à Pmax Vmp 29,8 V
Corrente à Pmax Imp 8,39 A
Eficiência PCE 15,4 %
As dimensões dos painéis supracitados são 0,99 m x 1,64 m (1,62 m²).
3.2 Premissas de projeto
As seguintes premissas foram escolhidas como fundamentais para o desenvolvimento deste
projeto:
1. Deve-se prezar pela eficiência geral do sistema, visando reduzir o consumo de energia
proveniente da concessionária, diminuir as perdas do sistema existente (transformador
e retificador) e ainda extrair a máxima potência com as menores perdas possíveis do
sistema fotovoltaico;
2. Deve haver o máximo aproveitamento da área disponibilizada para a instalação de
painéis e, por conseguinte, possibilitar a máxima geração de energia para a área,
respeitando-se obviamente os espaços necessários às demais infraestruturas auxiliares
à usina;
3. O custo total do empreendimento deve ser minimizado de forma a ampliar sua
viabilidade econômica, haja vista seu caráter inovador em relação a outros possíveis
investimentos a serem avaliados pela diretoria da empresa.
3.3 Concepção da planta fotovoltaica
A usina solar fotovoltaica deve ser projetada de forma tal que atenda a todas as premissas de
projeto, bem como forneça uma solução viável para a instalação do ponto de vista técnico e
econômico. Dentre os aspectos que devem ser discutidos estão o aproveitamento do terreno, a
determinação dos níveis de tensão e corrente, o dimensionamento dos cabos de forma a
minimizar perdas de condução e a associação dos painéis em conjuntos menores.
55
3.3.1 Determinação do fator de utilização de área
Embora exista uma área de aproximadamente 550.000 m² para a construção da usina, essa
área não pode ser usada em sua totalidade para a instalação de painéis, pois parte do espaço
precisa ser destinado a funções auxiliares, tais como: circulação de veículos e pessoal (para
instalação e manutenção), infraestrutura de cabeamento, iluminação, construção de abrigos
para equipamentos em campo etc. Outro fator que limita o uso do espaço é o fato de fileiras
de painéis fazerem sombra sobre fileiras adjacentes, o que pode ocorrer dependendo da
inclinação dos painéis e da posição do sol. A Figura 3.3 ilustra um caso hipotético onde
fileiras de 2,5 m de largura são instaladas a 18º do plano horizontal e a irradiação apresenta a
mesma inclinação. Observa-se que o espaço linear efetivamente ocupado para a instalação da
fileira é de 2,378 m, porém, devido ao ângulo de incidência da irradiação solar, é necessária
uma distância de 251 mm a mais entre uma fileira e a outra para que não haja sombreamento.
Figura 3.3 - Exemplo de sombreamento ocasionado por fileiras de painéis de 2,5 m de largura instaladas
sem o espaçamento adequado (medidas em mm).
Em suma, somente um projeto detalhado, que leve em conta além desses fatores a topografia
do terreno, poderia determinar qual a parcela da área total seria destinada diretamente à
instalação dos painéis. Como um estudo com esse nível de profundidade não poderia ser
realizado nessa etapa do projeto, foi feita uma pesquisa na literatura no sentido de se tentar
identificar parâmetros realistas para o fator de utilização que relaciona a área total da usina
com a área efetivamente empregada para a instalação de painéis. Contudo, não se identificou
nenhuma recomendação ou norma que sugira qual deve ser esse valor. Percebeu-se que o uso
da área para instalação de painéis é uma relação muito própria de cada empreendimento,
56
sendo que em alguns casos a área disponibilizada é até maior do que aquela necessária para a
construção da usina com a capacidade1 pretendida.
Dessa forma, considerando que no caso deste projeto a máxima área possível deverá ser
utilizada para a instalação de painéis (conforme segunda premissa de projeto, seção 3.2),
optou-se por identificar um fator de utilização viável através da análise de outros
empreendimentos, possibilitando-se adotar um valor alcançável e baseado em casos reais.
A primeira fonte dessa pesquisa foi o projeto de uma usina fotovoltaica convencional de 3,3
MWp que seria construída no município de Sete Lagoas, MG. A análise foi realizada com
base nos desenhos de projeto, uma vez que a usina não foi implantada. A relação obtida nesse
empreendimento foi de 34,9%, e a área analisada é apresentada na Figura 3.4, onde os vários
retângulos indicam os locais onde as fileiras de painéis seriam instaladas.
Figura 3.4 - Relação entre área total e área de instalação de painéis no projeto de Sete Lagoas.
Outro projeto analisado nesse sentido foi o da usina fotovoltaica de São Lourenço da Mata,
PE, de capacidade aproximada 1 MWp. Para esta análise, uma parte da área que era destinada
a pesquisa de painéis de outras tecnologias foi descartada para não prejudicar o resultado
final. A Figura 3.5 ilustra a área analisada, na qual se obteve um fator de utilização de 50,9%.
1 Define-se "capacidade" de uma usina fotovoltaica sua potência nominal, normalmente em valores de pico, sendo que em referência ao lado c.c. da instalação esse valor é dado pelo somatório das potências nominais dos painéis solares, e do lado c.a. pelo somatório das potências nominais dos inversores.
57
Figura 3.5 - Relação entre área total e área de instalação de painéis no projeto de São Lourenço da Mata.
Além dos dois projetos citados, outra fonte de informações dessa pesquisa foi o relatório do
NREL denominado "Land-Use Requirements for Solar Power Plants in the United States",
publicado em 2013 [16]. Esse relatório compila uma lista com quase 200 empreendimentos de
energia solar nos Estados Unidos, dentre eles instalações fotovoltaicas fixas, com rotação de
um ou dois eixos, e também instalações de concentradores solares (que geram energia não
pelo efeito fotoelétrico, mas por aquecimento). O objetivo do relatório era relacionar a área
das usinas com seus valores de capacidade (MW) e produção (MWh) e, embora essa não seja
exatamente a relação que se está buscando (que é da área efetiva para instalação de painéis
sobre a área total), algumas considerações puderam ser feitas de forma a obter resultados
estimados para essa relação.
A análise realizada diz respeito ao fator de utilização estimado para as usinas fotovoltaicas de
eixo fixo. O relatório analisou 43 empreendimentos desse tipo e concluiu que tais usinas
apresentavam uma relação entre capacidade e área de 45 MWca/km². Isso quer dizer que, em
média, as usinas apresentavam potência nominal instalada do lado c.a. de 45MW para cada
km² de sua área total útil. Para se obter a potência do lado c.c., ou seja, aquela diretamente
relacionada ao número de painéis, o relatório sugere que se divida o valor anterior por 85%,
que representa um fator típico médio observado em diversos projetos.
Para prosseguir nessa análise, foi necessário estimar a potência média e o tamanho dos painéis
utilizados nesses 43 projetos. Como o relatório não fornecia tais dados, realizou-se uma
pesquisa de mercado com 21 modelos de 5 fabricantes distintos, obtendo-se os valores de
potência de 220 Wp e área de 1,63 m² (os dados dessa pesquisa podem ser consultados no
APÊNDICE B - LEVANTAMENTO DE MERCADO SOBRE PAINÉIS SOLARES DE
SILÍCIO POLICRISTALINO).
58
Outra consideração a ser feita diz respeito ao ângulo de inclinação dos painéis dessas usinas.
Usinas de eixo fixo normalmente são projetadas de forma que os painéis sejam instalados com
o ângulo de inclinação próximo à latitude do local. Isso faz com que, na maior parte do dia e
do ano, a incidência solar ocorra de forma direta (perpendicular), proporcionando melhor
aproveitamento da energia pelos painéis. E conforme ilustrou a Figura 3.3, a área projetada
sobre o plano de um painel instalado inclinado é menor do que sua área real. Em outras
palavras, para se obter o fator que relaciona o número de painéis pela área total ocupada, é
necessário estabelecer o ângulo de inclinação de instalação, que determina a área do painel
projetada no plano. Com vistas à localização das usinas consideradas no estudo do NREL,
estimou-se um ângulo de instalação dos painéis de 37º, correspondente à média aproximada
das latitudes onde tais empreendimentos estão situados, conforme ilustra a Figura 3.6 extraída
do próprio relatório. Embora a figura mostre que as latitudes variem muito, a adoção de um
valor médio não prejudica demasiado o cálculo, visto que numericamente tem pouco impacto
no valor da área projetada no plano.
Figura 3.6 - Mapa de todas as usinas fotovoltaicas avaliadas no relatório do NREL [16].
Com base em todos os dados apresentados, foi possível estimar um fator de utilização médio
de 31,4%. Porém, esse valor carrega consigo uma incerteza muito grande, uma vez que foram
feitas considerações importantes e que talvez não reflitam o universo de projetos analisados,
especialmente ao se considerar que o estudo é datado de 2013 e os projetos são anteriores a
59
essa data (empreendimentos mais antigos podem utilizar painéis de potência mais baixa). A
título de ilustração, se a mesma projeção fosse refeita com painéis de 170 Wp, o fator de
utilização estimado passaria a 40,6%.
Sumarizando, foram analisados dois projetos reais e o relatório do NREL, que
proporcionaram três estimativas para o fator de utilização de área em usinas fotovoltaicas. Os
valores obtidos foram, respectivamente, 34,9%, 50,9% e 31,4%. Levando-se em conta os
resultados, e também a premissa de projeto de maximizar o uso da área para a instalação de
painéis, arbitrou-se utilizar o fator de 50% para este estudo. Embora este valor pareça alto em
relação aos resultados observados, há de se considerar que nem todos os projetos analisados
podem ter optado por explorar o máximo de suas áreas para a instalação de painéis, além do
fato de que o número verificado quase se igualou ao valor de pelo menos uma das instalações
reais estudadas. Logo, 50% constitui um fator de utilização de área para instalação de painéis
realista e que tende ao máximo aproveitamento da área.
3.3.2 Dimensionamento da usina solar fotovoltaica
Uma usina fotovoltaica pode ser caracterizada por sua potência de pico (capacidade) e níveis
de tensão e corrente desenvolvidos pelos arranjos de painéis. Para o caso da usina projetada,
sabe-se que a área disponível é de 550.000 m² e que 50% dessa área poderá ser empregada
diretamente para a montagem de painéis. Tendo em conta que os painéis devem ser instalados
com uma inclinação do plano horizontal igual à latitude aproximada da instalação, de forma a
proporcionar um melhor aproveitamento da incidência solar, os painéis ocuparão uma área
projetada no plano de 1,54 m² (produto da área real dos painéis de 1,62 m² pelo coseno do
ângulo de inclinação que é de 18º). Isto posto, chega-se que a usina terá uma quantidade
máxima de 178.093 painéis, o equivalente a 44,52 MW de potência de pico do lado c.c.
considerando-se o uso dos painéis apresentados na Tabela 3.2.
Os painéis precisam ser organizados em arranjos em série e paralelo de forma a definir os
níveis de corrente e tensão de projeto da usina. Em particular, o nível de tensão deve ser
definido levando-se em conta dois fatores principais. O primeiro deles diz respeito à tensão de
operação dos conversores eletrônicos, que está ligada à tensão de bloqueio dos dispositivos
semicondutores empregados em tais equipamentos. Atualmente, existem no mercado
dispositivos semicondutores com tensões de bloqueio elevadas, da ordem de alguns kV,
embora tais dispositivos ainda sejam consideravelmente mais caros que os de uso
convencional. Levando-se em conta a premissa de número 3 desse projeto, que prevê que o
60
custo deve ser reduzido ao máximo, define-se que a tensão da usina deve ser mais baixa
possível, de modo a possibilitar o uso de semicondutores mais baratos.
O segundo fator a ser levado em conta neste projeto para definição do nível de tensão da usina
se refere às perdas de condução nos cabos. Uma vez que a proposta do conceito é de não
utilizar c.a., por conseguinte impedindo o uso de transformadores elevadores de tensão,
devem-se estabelecer níveis de tensão mais altos possível de forma a minimizar as perdas de
condução. Isto se dá pois, como se sabe, tensão e corrente possuem uma relação inversa de
proporcionalidade, enquanto as perdas de condução são diretamente proporcionais ao
quadrado da corrente - logo, as perdas decrescem com o quadrado da tensão.
A tensão de operação da usina solar, portanto, deve ser tal que seja mínima possível, de forma
a reduzir o custos dos conversores, e máxima possível, de forma a diminuir as perdas de
condução. Analisando-se o compromisso entre estas duas restrições, define-se para este
projeto uma tensão máxima da usina da ordem de 1.000 Vcc, possibilitando o uso de
semicondutores de classe de isolação 1.700 V (não tão caros) e reduzindo-se perdas de
condução se comparado a tensões inferiores. Considerando-se as características elétricas dos
painéis, determina-se que eles deverão ser organizados em conjuntos de 27 unidades em série
(as chamadas strings), tendo portanto a tensão máxima de circuito aberto de 1.015,2 Vcc e
tensão de operação em máxima potência de 804,6 Vcc.
Definidas a potência total e o nível da tensão de operação da usina, constata-se imediatamente
que a corrente de operação em máxima potência da usina pode ser de até 55,3 kA. Este valor é
equivalente à colocação de 6.596 strings em paralelo. Pensando-se agora do ponto de vista do
conversor eletrônico, uma corrente de 55,3 kA é um valor demasiado alto para ser manipulado
por apenas um equipamento, ao passo que a divisão desse valor em 6.596 conversores
individuais iriam representar um custo financeiro muito elevado. Logo, conclui-se que devem
ser estabelecidos agrupamentos de strings em paralelo, de forma a atingir um bom
compromisso entre quantidade de conversores e magnitude da corrente manipulada, sem
desconsiderar em tal análise as perdas de condução associadas.
A Tabela 3.3 a seguir apresenta um resumo dos dados de dimensionamento da usina
apresentados nesta seção.
61
Tabela 3.3 - Dados preliminares de dimensionamento da usina.
Descrição Valor Unidade
Área total considerada 550.000 m²
Fator de utilização máximo 50 %
Número máximo de painéis 178.093
Potência máxima da usina 44.523.298 Wp
Máxima tensão nos conversores 1.000 V
Comprimento da string 27 painéis
Tensão de circuito aberto da string 1.015,2 V
Tensão de máxima potência da string 804,6 V
Corrente de máxima potência da usina 55,3 kA
Número total de strings em paralelo 6.596
3.3.3 Dimensionamento dos cabos
De forma simplificada, perdas de condução em cabos podem ser reduzidas das seguintes
maneiras: utilizando-se tensões mais elevadas, utilizando-se cabos com maior seção reta ou
utilizando-se comprimentos mais curtos. Para o caso específico desse projeto, a terceira
alternativa não é viável, uma vez que o processo consome corrente com tensões na casa dos
280 V e a usina solar irá operar em valores ao redor de 800 V. Isso faz com que seja preferível
estabelecer os conversores em local mais próximo ao consumo (processo) do que à geração,
pois transmitir a energia gerada por longos trechos a 280 V proporcionaria maiores perdas de
condução do que em 800 V. A Figura 3.7 apresenta novamente a área onde os painéis serão
instalados, destacando-se algumas distâncias aproximadas até o ponto onde os conversores
serão localizados (vértice inferior da área, que coincide com o prédio da eletrólise em
questão). Vê-se portanto que haverá painéis instalados em distâncias a até cerca de 1.000 m
dos conversores.
62
Figura 3.7 - Distâncias da área de instalação dos painéis solares até os conversores (em m).
Não sendo possível reduzir os comprimentos
estabelecida em seu valor máximo para a aplicação
chega-se que a única forma de reduzir as perdas de condução é através do uso de cabos de
maior seção reta. Esse tipo de cabo, embora tenha um custo de aquisição
compensa pelo fato de proporcionar uma maior
conseguinte, melhor payback para o investimento. A
levantamento feito no mercado por cabos
fotovoltaica. Os cabos considerados foram o
[17], o Energyflex BR do fabricante Nexans
[19]. Além dos dados dos catálogo
(capacidade de condução de corrente) conforme norma AB
Tabela 3.4 - Características elétricas principais
Rdc @20ºC [Ω/km]
Seção [mm²] General Nexans Prysmian
1,5 13,7 N.D.
2,5 8,21 8,21
4 5,09 5,09
6 3,39 3,39
10 1,95 1,95
16 1,24 1,24
25 0,795 0,795
2 N.D.: dado Não Disponível.
Distâncias da área de instalação dos painéis solares até os conversores (em m).
os comprimentos dos cabos, e sendo que a tensão já está
estabelecida em seu valor máximo para a aplicação (conforme explicado na
se que a única forma de reduzir as perdas de condução é através do uso de cabos de
Esse tipo de cabo, embora tenha um custo de aquisição
proporcionar uma maior eficiência da geração de energia,
para o investimento. A Tabela 3.4 apresenta os resultados de um
levantamento feito no mercado por cabos específicos para aplicações de geração solar
. Os cabos considerados foram o ExZHellent Solar do fabricante General Cable
do fabricante Nexans [18], e o Afumex Solar do fabricante Prysmian
catálogos, foram considerados também os valores de ampacidade
(capacidade de condução de corrente) conforme norma ABNT NBR 5410, Tabela 39
Características elétricas principais dos cabos solares dos fabricantes General Cable, Nexans e
Prysmian2.
/km] Rdc @90ºC [Ω/km] Ampacidade informada [A]
Prysmian Nexans General Nexans
N.D. N.D. 25 N.D.
N.D. 10,469 34 37
5,09 6,49 45 50
3,39 4,323 57 65
1,95 2,486 79 90
1,24 1,581 105 121
N.D. 1,014 140 161
Distâncias da área de instalação dos painéis solares até os conversores (em m).
dos cabos, e sendo que a tensão já está
explicado na seção anterior),
se que a única forma de reduzir as perdas de condução é através do uso de cabos de
Esse tipo de cabo, embora tenha um custo de aquisição mais elevado,
geração de energia, e por
esenta os resultados de um
aplicações de geração solar
do fabricante General Cable
do fabricante Prysmian
, foram considerados também os valores de ampacidade
, Tabela 39 [20].
dos cabos solares dos fabricantes General Cable, Nexans e
Ampacidade informada [A]
Nexans Prysmian 5410
N.D. 27
N.D. 37
42 50
53 65
74 90
97 121
N.D. 161
63
Rdc @20ºC [Ω/km] Rdc @90ºC [Ω/km] Ampacidade informada [A]
Seção [mm²] General Nexans Prysmian Nexans General Nexans Prysmian 5410
35 0,565 0,565 N.D. 0,72 174 200 N.D. 200
50 0,393 0,393 N.D. 0,501 219 242 N.D. 242
70 0,277 0,277 N.D. 0,353 273 310 N.D. 310
95 0,21 0,21 N.D. 0,268 328 377 N.D. 377
120 0,164 0,164 N.D. 0,209 385 437 N.D. 437
150 0,132 0,132 N.D. 0,168 443 504 N.D. 504
185 0,108 0,108 N.D. 0,138 506 575 N.D. 575
240 0,0817 0,0817 N.D. 0,1042 606 679 N.D. 679
300 0,0654 N.D. N.D. N.D. 700 N.D. N.D. 783
Em uma situação convencional de dimensionamento de cabos, estes seriam selecionados com
base nos critérios de condução de corrente, queda de tensão e curto-circuito. Entretanto, para a
aplicação em questão, deve-se selecioná-los tendo em vista a diminuição das perdas. Estas são
proporcionais à resistência, logo, deve se optar por cabos com menor resisitividade (Ω/km).
A Tabela 3.4 mostra que a resistividade, além de ser menor quanto maior for a seção reta dos
cabos, é maior para o caso onde a temperatura do cabo é mais alta. Como a temperatura de
20ºC não é realista para a aplicação, e apenas o cabo do fabricante Nexans apresentou
resistividade para uma temperatura mais alta (90ºC), este foi o dado selecionado para a
continuação desse estudo. Além disso, conforme se observa, os dados de ampacidade desse
cabo estão de acordo com os dados obtidos da norma NBR 5410, corroborando portanto com
sua seleção. Trata-se de um cabo que pode ser utilizado em tensões de até 1.800 Vcc, o que
também está adequado ao projeto.
Escolhido o cabo, deve ser feito um cálculo iterativo de forma a verificar a melhor
combinação entre a seção do cabo, perdas percentuais e número de condutores em paralelo.
Suponha por exemplo a utilização de um cabo de 10 mm². Se utilizado a plena carga (90 A),
sua perda estimada no caso dos painéis mais distantes (1.000 m) é de cerca de 30%. Por outro
lado, um cabo de 240 mm² nas mesmas condições apresentaria perda de cerca de 10%.
Fazendo-se diversas simulações semelhantes com o propósito de minimizar as perdas de
condução, chega-se que a melhor opção é a de se utilizar cabos de seção reta 240 mm² com
corrente de operação de apenas 30% de seu valor nominal. Nessas condições, obtém-se a
perda máxima de condução da ordem de 3% para os painéis mais distantes (considerado
1.063m + 10% para cobrir eventuais manobras no percurso). A Tabela 3.5 relaciona os
comprimentos dos cabos com suas respectivas áreas cobertas, a área total acumulada
64
conforme distância e a perda associada a aquele lance de cabos. Como pode ser observado,
cerca de 80% da área da usina estará sujeita a perdas de condução de até 2%, sendo que para
cerca de 20% da usina as perdas serão inferiores a 1%. A Figura 3.8 ilustra a divisão
considerada para a obtenção dos dados da Tabela 3.5.
Tabela 3.5 - Relação entre comprimento dos cabos, área da usina e perdas de condução associadas, para
condição de cabos de 240 mm² limitados a 30% da sua máxima capacidade de corrente.
Compr. (m) Área (m²) Área acum. (m²) Área acum. (%) Perdas de cond. (%)
0 0 0 0 0
150 22.026 22.026 3,9% 0,4%
300 66.078 88.104 15,6% 0,9%
408 75.318 163.422 28,9% 1,2%
517 98.401 261.823 46,3% 1,5%
633 126.719 388.542 68,7% 1,8%
724 69.322 457.864 81,0% 2,1%
888 76.017 533.881 94,4% 2,5%
1.063 31.543 565.424 100,0% 3,0%
Figura 3.8 - Demarcação das áreas em função da distância (comprimento dos cabos em m).
65
3.3.4 Distribuição e arranjo dos painéis
No tópico anterior foi determinada a seção dos cabos a serem utilizados no projeto. A
restrição de utilizá-los com somente 30% de sua capacidade de condução de corrente faz com
que sejam necessários, pelo menos, 272 condutores em paralelo para que toda a corrente da
usina alcance os conversores (valor nominal de projeto). Essa divisão sugere que cada cabo
será responsável por conduzir a corrente de um grande grupo de painéis, por sua vez
organizados em conjuntos em série e paralelo. Tais grupos de painéis serão denominados
clusters, e serão utilizados como um artifício para reduzir a complexidade do projeto.
Cada cabo, portanto, será responsável por conduzir a potência de cada cluster, sendo este
formado por um conjunto de strings em paralelo. Para que todos esses agrupamentos de
painéis se deem com valores inteiros, respeitando as restrições impostas, chega-se aos
seguintes números:
Comprimento da string: 27 painéis em série;
Número de strings em paralelo: 24 por cluster;
Total de clusters da usina: 274;
Total de painéis por cluster: 648;
Potência de pico nominal do cluster: 162 kWp.
Definidos estes números, é possível agora estabelecer os valores práticos para a usina como
um todo, uma vez que os valores máximos não foram utilizados devido às divisões não-
inteiras das associações entre painéis. Ou seja, de forma a permitir que todas as strings
tivessem a mesma quantidade de painéis em série, e que todos os clusters possuíssem a
mesma quantidade de strings em paralelo, uma parcela da área total aproveitável deixou de ser
utilizada. O objetivo dessa padronização é a otimização de custos, tanto para a construção de
conversores idênticos entre si, quanto para cabos, encaminhamentos elétricos e outros
aspectos do projeto. A Tabela 3.6 apresenta um comparativo entre os valores práticos e
máximos. Conforme pode ser observado, mesmo após a redução a usina ainda ocupará quase
que totalmente a área disponível, o que está de acordo com a primeira premissa do projeto.
Tabela 3.6 - Comparativo entre dimensionamento máximo da usina e o praticado.
Máximo teórico Valor praticado
Capacidade da usina 44,52 MWp 44,38 MWp
Número de painéis 178.093 177.552
Corrente de máxima potência da usina 55,33 kA 55,17 kA
Fator de utilização 50% 49,8%
66
A Figura 3.9 exemplifica a divisão proposta da área em clusters menores, e como se
organizam os painéis solares em cada cluster.
Figura 3.9 - Divisão da área em clusters menores e seu arranjo de painéis.
3.4 Concepção do conversor eletrônico
Estabelecidos os níveis de operação de tensão e corrente e as potências de pico da usina e dos
clusters, deve-se definir os requisitos básicos para o conversor eletrônico a ser utilizado.
Conforme discutido anteriormente, este conversor deverá desempenhar pelo menos as
seguintes funções básicas:
Compatibilizar os níveis de tensão entre a produção de energia nos painéis e o
consumo no processo de eletrólise;
Extrair a máxima potência dos painéis solares através de algorítmos de rastreamento
(MPPT); e
Operar como fonte de corrente, de forma a possibilitar a injeção de potência no
processo de forma paralela e complementar à rede da concessionária.
Além desses fatores, há que se acrescentar que a usina como um todo apresenta um valor de
potência de pico muito elevado para ser manipulado por um único conversor central, e
portanto uma divisão em vários conversores menores, numa arquitetura descentralizada, se faz
necessário. Logo, estes conversores serão dimensionados de forma a atender o compromisso
entre limitações técnicas dos dispositivos semicondutores e o aspecto econômico, uma das
premissas fundamentais do projeto.
Detalhes da implementação destes conversores serão explorados no capítulo seguinte,
Tecnologia da Solução.
67
3.5 Conclusão do capítulo
No presente capítulo demonstrou-se uma metodologia de projeto de usina solar fotovoltaica
de grande porte através da análise de um estudo de caso. O cenário base foi apresentado para
que então as diversas análises e dimensionamentos fossem feitos, fornecendo assim insights
para outros projetos similares.
Com foco no projeto em questão, a Tabela 3.7 sumariza os principais parâmetros e resultados
obtidos.
Tabela 3.7 - Sumário do projeto da usina solar fotovoltaica.
Descrição Valor Unidade
Área total considerada 550.000 m²
Fator de utilização máximo 50 %
Número máximo de painéis 178.093
Potência máxima da usina 44.523.298 Wp
Comprimento da string 27 painéis
Tensão de circuito aberto da string 1.015,2 V
Tensão de máxima potência da string 804,6 V
Seção do cabo do cluster 240 mm²
Fator de capacidade de corrente do cabo 30 %
Número de strings em paralelo por cluster 24
Número de clusters 274
Número de painéis por cluster 648
Potência por cluster 162 kWp
Área coberta por cluster 2.007 m²
Número de painéis da usina 177.552
Potência total da usina 44.388.000 Wp
Fator de utilização obtido 49,8 %
Perda máxima para o cluster mais distante 3,0 %
Alguns dos resultados apresentados são especialmente relevantes, tais como o fator de
utilização de área para instalação de painéis, determinado em cerca de 50%, e a análise sobre
o comprimento dos cabos e as perdas de condução associadas. Em particular para esse
segundo, estabeleceu-se uma importante ferramenta para o investidor, que passa a poder
escalonar a implantação dos painéis partindo das regiões que oferecem menores perdas,
portanto favorecendo a viabilidade do projeto.
68
69
4 TECNOLOGIA DA SOLUÇÃO
Neste capítulo será discutida a implementação prática do sistema proposto no estudo de
caso. O conversor será projetado, determinando-se desde sua topologia, até o
dimensionamento de componentes, estratégia de controle e especificação. Resultados de
simulação são apresentados de forma a validar o projeto realizado.
4.1 Topologia do conversor
Definidas as características da usina solar fotovoltaica para o caso de estudo no capítulo
anterior, pode-se agora discutir no detalhe o conversor eletrônico a ser empregado. A primeira
definição a ser feita decorre da divisão do conversor em unidades menores. O uso de uma
topologia descentralizada é essencial para o caso, pois tendo a usina projetada uma
capacidade nominal de mais de 44 MWp, não seria viável utilizar somente um conversor
central por causa da elevada potência e correntes a serem manipuladas. Uma forma de divisão
conveniente é a utilização de um conversor por cluster, pois este além de ter um cabo de força
único dedicado a transmitir a energia dos painéis até o ponto de conversão, também apresenta
um nível de potência que é coerente a conversores desta natureza (162 kWp).
O segundo aspecto mais relevante de definição para o conversor diz respeito a sua topologia.
Conforme o estudo de caso, o processo deve ser alimentado à tensão nominal de 280 V, sendo
que na prática sabe-se que essa tensão pode oscilar em +/- 5% (logo, de 266 a 294 V). Já a
geração fotovoltaica apresentará níveis de tensão que poderão variar de acordo com as
condições meteorológicas. Idealmente, a tensão desenvolvida nos terminais de um painel solar
(e analogamente de um conjunto de painéis), é a chamada tensão de máxima potência, obtida
através da atuação de um sistema de controle que desenvolve algum algoritmo de
rastreamento de máxima potência (MPPT). Isso faz com que a tensão desenvolvida possa
assumir diferentes valores durante o dia, conforme condições instantâneas.
A Figura 4.1 ilustra através de uma simulação computacional quais seriam os valores
esperados para a tensão e potência de saída de um cluster da usina fotovoltaica projetada
operando no ponto de máxima potência. Na Figura 4.1(a) observa-se o gráfico de potência por
tensão do cluster conforme variação da irradiância para temperatura fixa em 25°C, enquanto a
Figura 4.1(b) apresenta o mesmo gráfico mas com variação da temperatura dos painéis e
irradiância constante de 1.000 W/m². A Tabela 4.1 sumariza os valores apresentados na
simulação.
70
(a)
(b)
Figura 4.1 - Gráfico de potência por tensão do cluster simulando variação da irradiância (a) e da
temperatura dos painéis (b).
Tabela 4.1 - Variação da tensão de máxima potência e valor da máxima potência de um cluster conforme
mudança na temperatura e irradiância.
Temperatura (°C) Irradiância (W/m²) Vmp (V) Pmax (kW)
25 1.000 804,6 162
25 500 817,9 82
25 100 794,6 16
45 1.000 739,0 148
65 1.000 671,8 135
Conforme pode ser observado da Figura 4.1 e da Tabela 4.1, a tensão de máxima potência do
cluster não apresenta grande variação com a irradiância, que é o parâmetro meteorológico
sujeito a variações mais rápidas. No entanto, o aumento na temperatura dos painéis pode
provocar uma queda de tensão significativa. Do contrário, a irradiância provoca as maiores
variações na potência de saída, ainda que o aumento de temperatura também cause perda da
produção de energia mas proporcionalmente menores.
apresenta a medição de temperatura durante um dia de operação de uma usina solar
fotovoltaica real, onde a curva em azul apresenta a temperatura ambiente e a verde apresenta a
temperatura medida diretamente nos painéis (dados da UFV Tesla
MG). Como pode ser visto, durante o período em que os painéis estão efetivamente gerando
energia, sua temperatura dificilmente fica abaixo dos 30°C, passando a maior parte do tempo
útil acima dos 40°C e podendo chegar a até 65°C em dias mais quentes.
Figura 4.2 - Temperatura ambiente e temperatura me
fotovoltaica real
O principal aspecto no entanto para a presente etapa é a definição da topologia do conversor.
Sabe-se que este terá uma tensão de entrada
desde cerca de 700 V até pouco mais de 800 V, enquanto sua tensão de saída nominal deverá
ser de 280 V, podendo oscilar
deve ser uma topologia abaixa
aplicáveis a esse caso, oferecendo desde topologias não isoladas
Ćuk e SEPIC, quanto galvanicamente isoladas, como o
[24].
Partindo das premissas do projeto apresentadas na seção
em alta eficiência e baixo custo, a topologia que mais se adequa é a do conversor Buck
(também conhecida como
topologia, onde a chave está modelada por um dispositivo MOSFET e um capacitor é
mas proporcionalmente menores. A título de ilustração, a
apresenta a medição de temperatura durante um dia de operação de uma usina solar
a curva em azul apresenta a temperatura ambiente e a verde apresenta a
temperatura medida diretamente nos painéis (dados da UFV Tesla - UFMG
). Como pode ser visto, durante o período em que os painéis estão efetivamente gerando
sua temperatura dificilmente fica abaixo dos 30°C, passando a maior parte do tempo
útil acima dos 40°C e podendo chegar a até 65°C em dias mais quentes.
Temperatura ambiente e temperatura medida diretamente nos painéis solares de uma usina
fotovoltaica real em um dia de operação (dados da UFV Tesla - UFMG).
O principal aspecto no entanto para a presente etapa é a definição da topologia do conversor.
se que este terá uma tensão de entrada nominal de 804,6 V, normalmente excursionando
desde cerca de 700 V até pouco mais de 800 V, enquanto sua tensão de saída nominal deverá
oscilar de de 266 a 294 V. Logo, a topologia de conversor escolhida
ser uma topologia abaixadora. A literatura é farta no que diz respeito às opções
aplicáveis a esse caso, oferecendo desde topologias não isoladas como o
, quanto galvanicamente isoladas, como o Forward ou
Partindo das premissas do projeto apresentadas na seção 3.2 de que a solução deve ter foco
em alta eficiência e baixo custo, a topologia que mais se adequa é a do conversor Buck
como Step Down). A Figura 4.3 apresenta o diagrama típico dessa
topologia, onde a chave está modelada por um dispositivo MOSFET e um capacitor é
71
A título de ilustração, a Figura 4.2
apresenta a medição de temperatura durante um dia de operação de uma usina solar
a curva em azul apresenta a temperatura ambiente e a verde apresenta a
UFMG - Belo Horizonte -
). Como pode ser visto, durante o período em que os painéis estão efetivamente gerando
sua temperatura dificilmente fica abaixo dos 30°C, passando a maior parte do tempo
dida diretamente nos painéis solares de uma usina
UFMG).
O principal aspecto no entanto para a presente etapa é a definição da topologia do conversor.
normalmente excursionando
desde cerca de 700 V até pouco mais de 800 V, enquanto sua tensão de saída nominal deverá
de de 266 a 294 V. Logo, a topologia de conversor escolhida
A literatura é farta no que diz respeito às opções
como o Buck, Buck-Boost,
ou DAB [21], [22], [23],
que a solução deve ter foco
em alta eficiência e baixo custo, a topologia que mais se adequa é a do conversor Buck
apresenta o diagrama típico dessa
topologia, onde a chave está modelada por um dispositivo MOSFET e um capacitor é
72
utilizado para filtragem da tensão de saída.
para a aplicação é que ela apresenta
componentes (dispositivos semicondutores e indutâncias acopladas
sensivelmente o custo do conversor
exigências de tensão e corrente sobre os
Figura 4.3 - Topologia básica do conversor Buck (Step Do
Definida a topologia básica do conversor, é importante que se faça algumas adaptações para
que ele possa atender as necessidades de projeto. Conforme descrito na seção
projetado precisa não só compatibilizar as tensões entre geração e processo, mas deve
realizar o rastreamento de máxima potência e operar como fonte de corrente. É sabido que o
conversor Buck possui uma característica de
chave S encontra-se aberta não há caminho de circulação para a corrente de alimentação
Sendo esta alimentação feita por painéis de uma usina solar fotovoltaica, é importante que a
corrente não seja intermitente, pois isso prejudicaria a extração de máxima potência e também
mudaria o ponto de operação dos painéis. Sendo assim, deve ser acrescentada à topologia
apresentada na Figura 4.3 um capacitor de entrada, que funcionará como um caminho
alternativo para a corrente dos painéis durante a parcela do período de chaveamento em que S
não estiver conduzindo. Analogamente, uma vez que o conver
corrente e a tensão de saída será estabelecida pelo processo (característica da carga de bateria
sob recarga), não há necessidade de se utilizar um capacitor para filtragem da tensão de saída,
tornando desnecessária a utilização do capacitor C apresentado na
Outra definição topológica para o conversor proposto diz respeito ao paralelismo de módulos.
Conforme explicado anteriormente, o cluster terá potência nominal de 162 kW
essa potência possa ser manipulada por componentes mais eficientes e com menor custo, será
proposta uma divisão em três unidades distintas operando em paralelo em uma configuração
interleaved (detalhes desta estratégia de controle serão apresentados na seção
divisão se faz conveniente porque permite o uso de
em conjunto, que apresentam um bom custo benefício em relação às chaves simples e
menores indutâncias parasitas, uma vez que s
utilizado para filtragem da tensão de saída. O motivo desta configuração ser a mais i
para a aplicação é que ela apresenta um bom compromisso entre baixo
dispositivos semicondutores e indutâncias acopladas), portanto reduzindo
sensivelmente o custo do conversor e as perdas associadas, e ao mesmo tempo tem
sobre os componentes em comparação às demais opções.
Topologia básica do conversor Buck (Step Down) [21].
Definida a topologia básica do conversor, é importante que se faça algumas adaptações para
que ele possa atender as necessidades de projeto. Conforme descrito na seção
projetado precisa não só compatibilizar as tensões entre geração e processo, mas deve
realizar o rastreamento de máxima potência e operar como fonte de corrente. É sabido que o
conversor Buck possui uma característica de corrente de entrada pulsante, pois quando a
se aberta não há caminho de circulação para a corrente de alimentação
feita por painéis de uma usina solar fotovoltaica, é importante que a
corrente não seja intermitente, pois isso prejudicaria a extração de máxima potência e também
mudaria o ponto de operação dos painéis. Sendo assim, deve ser acrescentada à topologia
um capacitor de entrada, que funcionará como um caminho
alternativo para a corrente dos painéis durante a parcela do período de chaveamento em que S
Analogamente, uma vez que o conversor deverá operar como fonte de
corrente e a tensão de saída será estabelecida pelo processo (característica da carga de bateria
sob recarga), não há necessidade de se utilizar um capacitor para filtragem da tensão de saída,
ação do capacitor C apresentado na Figura 4.3.
Outra definição topológica para o conversor proposto diz respeito ao paralelismo de módulos.
Conforme explicado anteriormente, o cluster terá potência nominal de 162 kW
sa potência possa ser manipulada por componentes mais eficientes e com menor custo, será
proposta uma divisão em três unidades distintas operando em paralelo em uma configuração
(detalhes desta estratégia de controle serão apresentados na seção
divisão se faz conveniente porque permite o uso de módulos semicondutores de seis chaves
em conjunto, que apresentam um bom custo benefício em relação às chaves simples e
, uma vez que são fabricados sobre a mesma pastilha
O motivo desta configuração ser a mais indicada
um bom compromisso entre baixo número de
, portanto reduzindo
ao mesmo tempo tem baixas
em comparação às demais opções.
Definida a topologia básica do conversor, é importante que se faça algumas adaptações para
que ele possa atender as necessidades de projeto. Conforme descrito na seção 3.4, o conversor
projetado precisa não só compatibilizar as tensões entre geração e processo, mas deve também
realizar o rastreamento de máxima potência e operar como fonte de corrente. É sabido que o
sante, pois quando a
se aberta não há caminho de circulação para a corrente de alimentação [25].
feita por painéis de uma usina solar fotovoltaica, é importante que a
corrente não seja intermitente, pois isso prejudicaria a extração de máxima potência e também
mudaria o ponto de operação dos painéis. Sendo assim, deve ser acrescentada à topologia
um capacitor de entrada, que funcionará como um caminho
alternativo para a corrente dos painéis durante a parcela do período de chaveamento em que S
sor deverá operar como fonte de
corrente e a tensão de saída será estabelecida pelo processo (característica da carga de bateria
sob recarga), não há necessidade de se utilizar um capacitor para filtragem da tensão de saída,
Outra definição topológica para o conversor proposto diz respeito ao paralelismo de módulos.
Conforme explicado anteriormente, o cluster terá potência nominal de 162 kW e, para que
sa potência possa ser manipulada por componentes mais eficientes e com menor custo, será
proposta uma divisão em três unidades distintas operando em paralelo em uma configuração
(detalhes desta estratégia de controle serão apresentados na seção 4.3). Esta
módulos semicondutores de seis chaves
em conjunto, que apresentam um bom custo benefício em relação às chaves simples e
ão fabricados sobre a mesma pastilha
semicondutora. A especificação detalhada deste componente será apresentada na seção
mas trata-se de um módulo de seis IGBTs organizados em três pares em série
isolados dos demais. Neste caso, o diodo D apresentado na topologia original seria substituído
pelo diodo de roda livre presente no módulo IGBT, e este
em bloqueio.
A Figura 4.4 apresenta então a estrutura
enquanto a Tabela 4.2 consolida
Figura 4.4 - Topologia adotada no projeto para
Tabela 4.2 - Características elétricas do conversor e módulos Buck projetados.
Descrição
Número de conversores
Potência nominal de cada conversor
Corrente nominal de entrada do conversor
Número total
Potência nominal de cada Buck
Corrente nominal de
Tensão de entrada nominal
Tensão de entrada típica
Tensão de saída nominal
Variação da tensão de saída
Razão cíclica (duty cycle
Corrente nominal de saída de cada Buck
Corrente nominal de saída do conversor
Definida a topologia do conversor, sendo cada unidade composta por três mó
paralelo, a Figura 4.5 ilustra como se dará essa divisão. Cada cluster estará associado a um
conversor, e todos eles se conectam em paralelo para então seguir para o nó de alimentação do
processo. Devido à altíssima
nominal de aproximadamente 158 kA)
semicondutora. A especificação detalhada deste componente será apresentada na seção
se de um módulo de seis IGBTs organizados em três pares em série
os demais. Neste caso, o diodo D apresentado na topologia original seria substituído
pelo diodo de roda livre presente no módulo IGBT, e este seria comandado para estar sempre
apresenta então a estrutura do conversor Buck a ser utilizada no projeto,
consolida as características elétricas nominais de cada módulo.
Topologia adotada no projeto para módulo conversor Buck
Características elétricas do conversor e módulos Buck projetados.
Descrição Valor
Número de conversores 274
Potência nominal de cada conversor 162
minal de entrada do conversor 201,3
total de módulos Buck 822
Potência nominal de cada Buck 54
Corrente nominal de entrada de cada Buck 67,12
Tensão de entrada nominal 804,6
Tensão de entrada típica > 700
Tensão de saída nominal 280
Variação da tensão de saída +/- 5
duty cycle) nominal 0,348
Corrente nominal de saída de cada Buck 192,9
Corrente nominal de saída do conversor 578,6
Definida a topologia do conversor, sendo cada unidade composta por três mó
ilustra como se dará essa divisão. Cada cluster estará associado a um
conversor, e todos eles se conectam em paralelo para então seguir para o nó de alimentação do
processo. Devido à altíssima corrente esperada para o nó de saída dos conversores
nominal de aproximadamente 158 kA), a transmissão até o processo deverá ser feita
73
semicondutora. A especificação detalhada deste componente será apresentada na seção 4.2,
se de um módulo de seis IGBTs organizados em três pares em série (half bridges),
os demais. Neste caso, o diodo D apresentado na topologia original seria substituído
seria comandado para estar sempre
do conversor Buck a ser utilizada no projeto,
as características elétricas nominais de cada módulo.
conversor Buck.
Características elétricas do conversor e módulos Buck projetados.
Unidade
kW
A
kW
A
V
V
V
%
A
A
Definida a topologia do conversor, sendo cada unidade composta por três módulos Buck em
ilustra como se dará essa divisão. Cada cluster estará associado a um
conversor, e todos eles se conectam em paralelo para então seguir para o nó de alimentação do
corrente esperada para o nó de saída dos conversores (valor
, a transmissão até o processo deverá ser feita
74
utilizando-se dutos de barras. Mais detalhes sobre a conexão com o processo serão dados no
Capítulo 5.
Figura 4.5 - Organização dos conversores por cluster e separação em três módulos Buck em paralelo.
4.1.1 Funcionamento do conversor Buck
Diversas fontes na literatura detalham a operação do conversor abaixador Buck [21], [26].
Conceitualmente, seu funcionamento se dá através da imposição da tensão de entrada à carga
de maneira fracionada durante um período de chaveamento. Por exemplo, se a cada fração de
20% do período de chaveamento a tensão de entrada é imposta à saída, então na média, a
tensão de saída será equivalente à 20% da tensão de entrada.
Na prática, isso pode ser obtido sempre que a corrente de saída do conversor não for
descontínua, ou seja, durante o período de chaveamento ela nunca chegar ao valor zero. Desta
forma, há uma continuidade da alimentação da carga, e por isso a essa forma de operação é
dado o nome de Modo de Condução Contínua (MCC). O conversor Buck também pode ser
operado no Modo de Condução Descontínua (MCD), mas esse método não possui aplicação
para o presente projeto e por isso não será explorado nesse trabalho.
Tome como exemplo um conversor Buck como o da Figura 4.4 com tensão de entrada Vi,
tensão de saída Vo, operando a uma determinada frequência de chaveamento fsw e cujo período
de chaveamento é dado por 1/fsw = T. Suponha que durante uma fração d do período a chave
S1 é comandada a conduzir e S2 é bloqueada. A Figura 4.6(a) apresenta a topologia do
circuito nessas condições, onde o diodo de S2 está polarizado reversamente por Vi e portanto
não conduz. Nessa situação, a tensão sobre os terminais do indutor
o conversor é um abaixador, então
Analogamente, durante o restante do período
levando à topologia mostrada na
a -Vo, e portanto, o diodo em S2 fica diretamente polarizado e conduz
pelo indutor (S2 continua sendo comandado para bloqueio)
(a)
Figura 4.6 - Esquema elétrico do Buck durante condução da chave (a) e do diodo (b)
As formas de onda de tensão e corrente observadas no indutor
podem ser vistas na Figura
Figura 4.7 - Formas de onda da tensão e corrente no indutor durante o chaveamento do Buck
Tendo que a tensão no indutor
Logo, durante o intervalo de condução
a tensão VL nesse instante também é positiva
situação, a tensão sobre os terminais do indutor L é
o conversor é um abaixador, então Vi - Vo > 0.
Analogamente, durante o restante do período (1 - d)T a chave S1 é comandada para bloqueio,
levando à topologia mostrada na Figura 4.6(b). Nessas condições, a tensão no indutor é igual
, e portanto, o diodo em S2 fica diretamente polarizado e conduz a corrente armazenada
(S2 continua sendo comandado para bloqueio).
(b)
Esquema elétrico do Buck durante condução da chave (a) e do diodo (b)
As formas de onda de tensão e corrente observadas no indutor L nas duas situações descritas
Figura 4.7.
Formas de onda da tensão e corrente no indutor durante o chaveamento do Buck
Tendo que a tensão no indutor VL é dada pela seguinte equação:
�� = ������
durante o intervalo de condução dT a corrente IL apresenta uma derivada positiva, pois
nesse instante também é positiva e L é uma constante. Analogamente, durante a
75
é Vi - Vo, e sabendo que
é comandada para bloqueio,
, a tensão no indutor é igual
a corrente armazenada
(b)
Esquema elétrico do Buck durante condução da chave (a) e do diodo (b).
nas duas situações descritas
Formas de onda da tensão e corrente no indutor durante o chaveamento do Buck.
Eq. 1
apresenta uma derivada positiva, pois
. Analogamente, durante a
76
condução do diodo, a corrente apresenta uma derivada negativa, uma vez que a tensão nos
terminais do indutor também é negativa. Operando em MCC, o aumento da corrente no
indutor no período deverá ser sempre igual à redução, possibilitando assim que o conversor
desenvolva uma corrente média de saída ÎL constante.
Para que essa condição de operação ocorra, é correto dizer que a integral da tensão no indutor
durante um período de chaveamento deve ser nula, ou em outras palavras, que a área descrita
pela curva positiva da tensão na Figura 4.7 seja igual a área da curva negativa. Isso leva que:
��(�� − ��) = (1 − �)� ∙ (−��) Eq. 2
Simplificando a Eq. 2 chega-se na relação de transformação do conversor Buck:
�� = ��� Eq. 3
Onde d é a razão cíclica do conversor (também chamado duty cycle), e representa a fração do
tempo que o conversor estará disponibilizando à saída sua tensão de entrada.
4.2 Dimensionamento e especificação de componentes
4.2.1 Seleção dos semicondutores
De acordo com a discussão do tópico anterior, o conversor projetado irá utilizar um módulo
de seis IGBTs para a implementação dos três conversores Buck. O primeiro passo para a
seleção desse módulo semicondutor é a definição da frequência de chaveamento. Para esta
aplicação, é desejável que a frequência de chaveamento seja a mais elevada possível, pois este
parâmetro contribui para a diminuição dos elementos passivos e para a redução do ripple de
corrente. Em contrapartida, frequências de chaveamento altas para conversores de potência
dessa ordem de grandeza provocam perdas de chaveamento igualmente elevadas, fato a ser
evitado uma vez que se deseja construir um equipamento de alta eficiência. Na prática, essa
definição deve ser feita a partir de um processo iterativo em que vários modelos de mercado
são testados em um ambiente de simulação, até que o conjunto de condições obtido satisfaça
às necessidades do projeto.
Transcorrido esse processo, foi selecionada a frequência de 2,5 kHz que, embora represente
um valor relativamente pequeno para as aplicações de fontes chaveadas, está coerente quando
se comparado a outros conversores do mesmo nível de potência nominal. Adicionalmente, há
que se pontuar que sendo o conversor projetado para operar com três módulos em
configuração interleaving, então sua corrente total de saída será o somatório das três
individuais, apresentando um ripple reduzido e com o triplo da frequência de chaveamento.
77
O módulo selecionado foi o modelo SEMiX653GD176HDc, utilizando um dissipador modelo
P16 com ventilação forçada SKF16B-230-01, todos do fabricante Semikron [27], [28]. O
modelo esquemático das chaves contidas nesse módulo é apresentado na Figura 4.8. A
validação do uso desse dispositivo foi feita com base no seu projeto térmico, pelo qual se
aferiu as perdas esperadas para a condição nominal a fim de verificar se as temperaturas
estimadas estarão dentro dos limites de funcionamento do componente.
Figura 4.8 - Modelo esquemático das chaves contidas no módulo IGBT SEMiX653GD176HDc.
O cálculo de perdas deve levar em conta duas situações principais: condução e chaveamento.
As perdas de condução são dadas pela queda de tensão no IGBT e no diodo em função da
corrente que passa por eles. Elas podem ser calculadas como a integral do produto da corrente
pela tensão em um período, dividido pelo período [21]. Os valores de queda de tensão nos
dispositivos são dados, respectivamente, pelos gráficos de VCE x IC e VF x IF no catálogo do
IGBT. Já para o cálculo das perdas de chaveamento, deve ser consultado o gráfico de IC x E.
A cada instante que o IGBT muda do estado "desligado" para "ligado", ocorrem as perdas
denominadas Eon (no IGBT) e Err (no diodo), sendo que quando ele passa de "ligado" para
"desligado" ocorre Eoff (também no IGBT). Essas perdas podem ser consultadas no gráfico do
catálogo em questão, embora deva ser observado que a tensão utilizada pelo fabricante foi de
1200 V, ao passo que neste projeto será de cerca de 800 V. Dessa forma, os valores das perdas
tiveram que ser ajustados linearmente antes de serem computados.
Isto posto, foi implementada uma planilha Excel que calcula para cada passo de simulação Ts
de 1·10-6 as perdas de condução e chaveamento do IGBT e do diodo, sempre levando-se em
conta qual dos dois estaria em condução e se havia mudança de estado "ligado" e "desligado".
Os valores de corrente são dados conforme mostram as Figura 4.6 e Figura 4.7, ou seja,
durante o intervalo dT o IGBT conduz a corrente média de saída e em (1-d)T é o diodo quem
a conduz. O valor desta corrente é apresentado na Tabela 4.2 e equivale a 192,2 A, sendo que
nos momentos em que não estão conduzindo, a corrente nos dispositivos é nula.
78
Calculadas as perdas e fazendo-
divisão por T, linearização das perdas de chaveamento), chega
Tabela 4.3. Como pode ser visto, as perdas
das de condução, indicando que a escolha do semicondutor está adequada para a aplicação.
Além disso, a perda total de 709,4 W representa menos de 1,3% da potência nominal de 5
kW de um módulo Buck, um resul
elevada.
Tabela 4.3 - Sumário de perdas calculadas para
Perdas (W) Condução
IGBT
Diodo
Total
De posse das perdas de cada
simulação o circuito térmico equivalente da montagem, onde as resistências térmicas
junções dos IGBTs e diodos para o
para o ambiente foram também obtidas dos catálogos
considerada foi de 40ºC. O circuito térmico equivalente para o
visto na Figura 4.9 a seguir.
Figura 4.9 - Circuito térmico de dissipação de calor do conversor completo
Através da simulação do circuito térmico, obteve
IGBT 145ºC; junção do diodo 148ºC
temperatura de junção estarem muito próximos do limite do dispositivo (150ºC), considera
nesse caso que a condição nominal para a qual o conversor está sendo projetado é bastante
-se as devidas adequações numéricas (multiplicação por
, linearização das perdas de chaveamento), chega-se ao resultado apresentado na
. Como pode ser visto, as perdas totais de chaveamento são relativamente próximas
das de condução, indicando que a escolha do semicondutor está adequada para a aplicação.
Além disso, a perda total de 709,4 W representa menos de 1,3% da potência nominal de 5
kW de um módulo Buck, um resultado desejável para que o conversor tenha eficiência
Sumário de perdas calculadas para o IGBT e o diodo de um módulo Buck
operando em condição nominal.
Condução Chaveamento Total
120,6 333,3 454,0
188,8 66,7 255,4
309,4 400,0 709,4
De posse das perdas de cada semicondutor, foi implementado também em software de
simulação o circuito térmico equivalente da montagem, onde as resistências térmicas
junções dos IGBTs e diodos para o case, bem como do case para o dissipador e do dissipador
para o ambiente foram também obtidas dos catálogos [27], [28]. A temperatura ambiente
considerada foi de 40ºC. O circuito térmico equivalente para o conversor completo
Circuito térmico de dissipação de calor do conversor completo
Através da simulação do circuito térmico, obteve-se as seguintes temperaturas: junção do
junção do diodo 148ºC; case 120ºC; dissipador 91ºC. Apesar dos valores de
temperatura de junção estarem muito próximos do limite do dispositivo (150ºC), considera
nesse caso que a condição nominal para a qual o conversor está sendo projetado é bastante
se as devidas adequações numéricas (multiplicação por Ts,
se ao resultado apresentado na
totais de chaveamento são relativamente próximas
das de condução, indicando que a escolha do semicondutor está adequada para a aplicação.
Além disso, a perda total de 709,4 W representa menos de 1,3% da potência nominal de 54
tado desejável para que o conversor tenha eficiência
diodo de um módulo Buck do conversor
Total
454,0
255,4
709,4
, foi implementado também em software de
simulação o circuito térmico equivalente da montagem, onde as resistências térmicas das
para o dissipador e do dissipador
. A temperatura ambiente
conversor completo pode ser
Circuito térmico de dissipação de calor do conversor completo.
se as seguintes temperaturas: junção do
91ºC. Apesar dos valores de
temperatura de junção estarem muito próximos do limite do dispositivo (150ºC), considera-se
nesse caso que a condição nominal para a qual o conversor está sendo projetado é bastante
79
improvável, uma vez que prescinde de altos valores de irradiância e baixas temperaturas, uma
situação que é rara na localidade onde os conversores estarão instalados. Portanto, o
dimensionamento pode ser considerado adequado.
4.2.2 Dimensionamento dos elementos passivos
A indutância em um conversor Buck deve ser tal que garanta, ao mesmo tempo, a corrente
média desejada na saída, e que seu valor não se anule durante um período de chaveamento.
Ao se analisar o gráfico de IL na Figura 4.7, observa-se que durante o período de condução do
IGBT a corrente apresenta uma derivada positiva que, conforme a Eq. 1, tem valor (Vi - Vo)/L.
Sabendo-se que a derivada de uma reta é sua própria inclinação, e que esta também pode ser
expressa pela relação trigonométrica da tangente, então
(�� − ��)
�=∆�
�� Eq. 4
onde ∆I é o ripple total de corrente, dado na Figura 4.7 como o intervalo entre os valores
mínimo e máximo da corrente IL. Logo, da Eq. 4 surge a expressão a seguir, que relaciona a
indutância necessária a um conversor Buck para que este desenvolva um determinado ripple
máximo de saída:
� =(�� − ��)��
∆� Eq. 5
Conforme mencionado anteriormente nesse trabalho, para a aplicação em questão é desejável
que a corrente seja a mais estável possível, de forma a geração fotovoltaica não prejudicar a
produção do material pela eletrólise. Sabendo disso, determinou-se o ripple máximo
admissível para cada módulo Buck de até 5%, sendo que devido à topologia interleaving, o
ripple resultante de cada conversor será 1/3 desse valor, e portanto, inferior a 2%. Baseando-
se nessa definição, utilizou-se a Eq. 5 para calcular a indutância numa condição de pior caso,
considerando tensão de entrada de 900 V, e com isso chegou-se que L = 8 mH. Conforme o
equacionamento proposto, esta indutância também irá garantir que o conversor opere em
MCC, uma vez que o valor mínimo da corrente durante um período de chaveamento só será
cerca de 2,5% menor do que seu valor médio.
O capacitor, por sua vez, está inserido na topologia apresentada na Figura 4.4 com propósito
exclusivo de fornecer um caminho alternativo para a corrente dos painéis solares durante a
parcela do período de chaveamento em que o IGBT estiver em bloqueio. Nesse caso, seu
dimensionamento deve ser feito com base nos dispositivos de mercado e nas condições a que
estará sujeito a operar.
80
Através de simulações computacionais, observou-se que a corrente eficaz (RMS) a fluir pelo
capacitor de cada módulo Buck é de aproximadamente 90 A. Dessa forma, selecionou-se o
modelo B25620D1707K103 do fabricante Epcos / TDK de 700 µF [29], que é um modelo
apropriado para uso em conversores eletrônicos, para tensão de trabalho de até 1.100 V,
resistência série de 0,9 mΩ e resistência térmica para o ambiente de 2,0 K/W. Com essas
características, este capacitor pode operar nas condições nominais do conversor sem entrar em
condição de derating devido à elevação de temperatura (aumento de temperatura de cerca de
10ºC em condição nominal, sendo que o início do derating só acontece após cerca de 57ºC).
4.3 Estratégia de controle
O sistema de controle do conversor deve ser projetado de modo a atender aos seguintes
requisitos:
Ter como variável controlada a tensão de entrada (ou seja, a tensão sobre o capacitor),
e utilizar técnicas de MPPT para garantir a máxima extração de energia dos painéis
solares;
Basear-se em modulação por largura de pulso (PWM, do inglês, Pulse Width
Modulation), permitindo a implementação da configuração interleaved conforme
mencionado anteriormente; e
Conferir ao conversor boa rejeição a perturbações de suas variáveis de entrada.
Isto posto, pode-se dividir o controlador em 3 blocos distintos: o MPPT, que irá gerar a
referência para a tensão do capacitor; o PWM, que irá converter a tensão de controle em
comandos de comutação para chaves semicondutoras; e o controlador em si, que irá fazer com
que a tensão de referência seja traduzida num sinal para o PWM que confira ao controlador
uma resposta dinâmica robusta.
4.3.1 Modelagem do sistema
O objetivo da malha de controle de um conversor é aumentar sua rejeição a perturbações, isto
é, fazer com que sua saída sofra pouca influência de oscilações nas entradas. Para projetar
uma malha com essa característica é necessário obter a função de transferência do sistema, e
sendo os conversores estáticos sistemas não-lineares, se faz premente realizar a modelagem
por espaço de estados. Esta aproximação é válida sempre que a frequência de chaveamento
for muito superior à banda passante da malha projetada, e nessas condições, torna-se razoável
modelar o sistema através dos valores médios das variáveis [21], [26], [30].
81
Deseja-se, portanto, obter a função de transferência de pequenos sinais �(�) = ���(�)/���(�) do
conversor, onde ���(�) e ���(�) são pequenas perturbações na tensão de entrada �� e na razão
cíclica �, respectivamente, ao redor de seus valores de regime permanente c.c. �� e �. Durante
cada estado, o circuito linear deve ser descrito em função do vetor de variáveis de estado
�(�), no caso, consistindo da tensão ��(�) no capacitor e da corrente ��(�) no indutor. Uma
vez que a tensão de entrada do conversor é a mesma tensão no capacitor, tem-se que �� = �� .
Para cada estado, as seguintes equações podem ser estabelecidas:
Durante ��:
��(�)
��= ���(�) + ���(�) Eq. 6
�(�) = ���(�) + ���(�) Eq. 7
Durante (1 − �)�:
��(�)
��= ���(�) + ���(�) Eq. 8
�(�) = ���(�) + ���(�) Eq. 9
Onde �(�) é o vetor de estados, �(�) é o vetor de entradas, �(�) é o vetor com as variáveis de
saída, e �, �, � e � são matrizes com os parâmetros do sistema. O modelo de espaço de
estados médio que descreve a condição de equilíbrio do conversor não-linear ao redor de um
ponto de operação é dado pelas equações a seguir:
0 = �� + �� Eq. 10
� = �� + �� Eq. 11
Onde as matrizes médias são:
� = ��� + �′�� Eq. 12
� = ��� + �′�� Eq. 13
� = ��� + �′�� Eq. 14
� = ��� + �′�� Eq. 15
A solução das Eq. 10 e Eq. 11 é:
� = −����� Eq. 16
� = (−����� + �)� Eq. 17
Considere agora cada uma das variáveis de interesse modeladas como sendo resultado da
soma de seu valor médio mais suas pequenas perturbações, dadas por exemplo pela expressão
�(�) = � + ��(�). Substituindo nas Eq. 10 e Eq. 11, e fazendo algumas simplificações, tem-se
o modelo de espaço de estados para pequenos sinais:
���(�)
��= ���(�) + ���(�) + [(�� − ��)� + (�� − ��)�]��(�) Eq. 18
82
��(�) = ���(�)
Para a aplicação da referida metodologia ao conversor Buck projetado, considerou
estados apresentados na Figura 4.
a fonte ��� e a resistência ���eq
fotovoltaica conectados a este conversor
(a)
Figura 4.10 - Circuito representando o estado do Buck durante
Com base nos circuitos apresentados na
com os seguintes parâmetros:
Durante ��:
�
�����(�)��(�)
� =
⎣⎢⎢⎡ 0
−1
� �
���(�)
��=
[��(�)] = [0
(�(�) =
Durante (1 − �)�:
�
�����(�)��(�)
� = �
0
0−
�
���(�)
��=
[��(�)] = [0
(�(�) =
( ) + ���(�) + [(�� − ��)� + (�� − ��)�]��(�)
aplicação da referida metodologia ao conversor Buck projetado, considerou
.6. A montagem completa pode ser vista na Figura
eq modelam o equivalente de Thevenin dos painéis
a este conversor.
(b)
Circuito representando o estado do Buck durante dT (a) e (1-d)T
Com base nos circuitos apresentados na Figura 4.10, a modelagem em espaço de estados se
1
�−1
����⎦⎥⎥⎤
���(�)��(�)
� +
⎣⎢⎢⎡ 0
−1
�1
����0⎦⎥⎥⎤
����(�)
��(�)�
���(�) + ���(�)�
[ 1] ���(�)
��(�)� + [0 0] �
���(�)
��(�)�
���(�) + ���(�))
�
0−1
����� ���(�)��(�)
� +
⎣⎢⎢⎡ 0
−1
�1
����0⎦⎥⎥⎤
����(�)
��(�)�
���(�) + ���(�)�
[ 1] ���(�)
��(�)� + [0 0] �
���(�)
��(�)�
���(�) + ���(�))
� Eq. 19
aplicação da referida metodologia ao conversor Buck projetado, considerou-se os dois
Figura 4.10, onde
dos painéis da usina
d)T (b).
, a modelagem em espaço de estados se dá
Eq. 20
Eq. 21
Eq. 22
Eq. 23
83
Resolvendo-se as Eq. 20 a Eq. 23 utilizando a abordagem apresentada na Eq. 18, obtem-se a
seguinte expressão para o modelo de pequenos sinais do conversor:
�
������(�)���(�)
� =
⎣⎢⎢⎡ 0
�
�−�
�
−1
����⎦⎥⎥⎤
����(�)���(�)
� +
⎣⎢⎢⎡ 0
−1
�1
����0⎦⎥⎥⎤
����� (�)
���(�)� + �
������
���(�) Eq. 24
Onde �, �� e �� representam respectivamente os valores médios de �(�), ��(�) e ��(�). Da
Eq. 24 deduz-se as duas expressões abaixo, que representam o modelo de pequeno sinais do
conversor mostrado na Figura 4.11.
�
�����(�) =
�
����(�) −
1
����(�) +
�����(�)
Eq. 25
�
�����(�) = −
�
����(�) −
1
�������(�) +
1
�������� (�) −
�����(�) Eq. 26
Figura 4.11 - Modelo de pequenos sinais do conversor projetado.
4.3.2 Cálculo do controlador
Baseado no modelo da planta apresentado na Figura 4.11, partiu-se então para a
implementação do sistema de controle utilizando o auxílio de ferramentas numéricas
computacionais. Atribuindo valores aos parâmetros conforme dimensionamento efetuado nas
seções anteriores, pode-se utilizar as Eq. 18 e Eq. 19 para chegar à seguinte função de
transferência para o conversor:
�(�) =
���(�)
��(�)=
−1,234��� − 7,447��
�� + 70,92� + 3,221�� Eq. 27
De posse da Eq. 27, o software de simulação Matlab pode ser utilizado para se avaliar o
comportamento dinâmico do sistema através da função sisotool. A Figura 4.12 mostra que,
84
em malha aberta, o conversor projetado é instável, pois sua função de transferência possui um
zero positivo no eixo real. A mesma ferramenta pode então ser utilizada para se projetar um
controlador clássico PI que confira estabilidade ao sistema.
(a) (b)
Figura 4.12 - Lugar das raízes (a) e resposta em frequência (b) do conversor projetado em malha aberta.
Após algumas iterações, os ganhos do controlador foram determinados de forma a
proporcionar ao sistema a frequência de corte de 785 rad/s (1/20 da frequência de
chaveamento) e a margem de fase de 82º, valores que garantem a estabilidade do conversor e
o emprego de polos reais (e não complexo-conjugados). Os ganhos obtidos para o controlador
foram:
�� = −5,97176���P �� = −0,074647I
O resultado da resposta em frequência do conversor operando em malha fechada com o
controlador projetado pode ser observado na Figura 4.13.
85
(a) (b)
Figura 4.13 - Lugar das raízes (a) e resposta em frequência (b) do conversor projetado em malha fechada
com o controlador.
A Figura 4.13 mostra que, operando com o controlador, o conversor passa a apresentar
comportamento estável, sendo que o valor de referência para o duty cycle obtido estará mais
robusto frente a perturbações na tensão de entrada do conversor.
4.3.3 Alternativa para projeto do controlador
Outra abordagem para o projeto do controlador proposto na seção anterior pode ser vista no
APÊNDICE C - ALTERNATIVA DE IMPLEMENTAÇÃO DE CONTROLE PARA
CONTINUIDADE DE ESTUDOS. Tal alternativa poderá ser explorada na continuidade dos
estudos relacionados ao presente trabalho.
4.3.4 Algoritmo de rastreamento de máxima potência (MPPT)
As técnicas de rastreamento de máxima potência são essenciais para os sistemas fotovoltaicos,
tendo em vista a característica elétrica dos painéis solares (curva I-V, conforme apresentada
na Figura 2.4) e a baixa eficiência intrínseca desses dispositivos. Estes algoritmos visam
portanto obter a máxima potência extraível daquele painel ou arranjo de módulos para dadas
condições meteorológicas.
Os algoritmos de MPPT tem sido amplamente estudados nos últimos anos e a literatura é farta
no que diz respeito a sua caracterização e comparação entre métodos [31], [32]. Dentre os
mais simples, destacam-se o da razão cíclica fixa, que não apresenta nenhum tipo de
realimentação, e o da tensão ou corrente constante, que se baseam na determinação pretérita
86
do ponto de operação da curva I-V em que o arranjo de painéis irá operar, independente das
condições meteorológicas. Contudo, embora de simples implementação, ambos não oferecem
um bom rastreamento do ponto de máxima potência, e portanto não serão considerados para
este projeto.
Os métodos que apresentam melhor desempenho segundo a literatura são os chamados de Hill
Climbing. Em particular, o método Perturba & Observa é um dos mais amplamente utilizados,
tendo apresentado bons resultados experimentais sob condições dinâmicas de sombreamento
parcial [33], e por isso será utilizado neste projeto.
A técnica Perturba & Observa consiste na aplicação de uma variação mínima intencional na
tensão de saída dos painéis, ao passo que se monitora a variação subsequente na potência.
Como pode ser assimilado da curva I-V, quando o incremento de tensão é positivo e a
potência de saída apresenta um aumento, então deve-se continuar aplicando incrementos de
tensão. Alternativamente, um incremento de tensão que provoque uma queda na tensão de
saída, sinaliza que o ponto de máxima potência foi ultrapassado, e que a tensão precisa
retroceder em pelo menos uma variação.
Este tipo de método permite a localização de um ponto de máxima potência, mas não garante
que seja necessariamente o ponto de máximo global. Para tal, pode ser necessário estabelecer
uma rotina de varredura a intervalos fixos de tempo, em que a tensão pode ser variada de zero
a seu limite máximo. Como esse procedimento modifica o ponto de operação do arranjo de
painéis e por conseguinte abre mão de produzir energia no MPP, ele deve ser utilizado em
uma frequência reduzida de vezes.
O método Perturba & Observa apresenta como principal desvantagem o fato de que a tensão
de saída dos painéis ficará sempre oscilando, mesmo em uma condição meteorológica
aproximadamente estável. Uma forma de mitigar essa oscilação é estabelecendo um valor
baixo para o incremento de tensão, embora tenha como contrapartida o fato de que
incrementos baixos irão tornar mais lenta a convergência do algoritmo para novos pontos de
operação em caso de mudanças bruscas nas condições. Dessa forma, deve ser avaliado o
compromisso entre estes dois fatores.
A Figura 4.14 apresenta o fluxograma típico para o algoritmo da técnica de rastreamento
Perturba & Observa. Esta é a técnica que foi implementada na simulação computacional que
se segue, sendo que adotou-se o incremento ∆V de 1 V. O algoritmo foi implementado através
de um bloco de função no Matlab que calcula uma referência de tensão para cada 10 períodos
de chaveamento. Seu código fonte pode ser visto no APÊNDICE D - CÓDIGO DE
IMPLEMENTAÇÃO DO ALGORÍTMO PERTURBA & OBSERVA.
Figura 4.14 - Fluxograma do algoritmo MPPT Perturba & Observa
4.3.5 Configuração Interleaving
A técnica de interleaving baseia
operando em conjunto. Diversos estudos propõem sua utilização em várias topologias de
distintas de conversores [34]
será utilizada de maneira análoga ao efeito gerado por um conversor trifásico em relação a um
monofásico. O fato de se utilizar três conversores ao in
além de reduzir as demandas elétricas no
harmônico com o triplo da frequência original de cada conversor.
A Figura 4.15 exemplifica a forma de implementação do interleaving nesse projeto. O
algoritmo MPPT irá gerar uma re
sua vez, irá gerar uma tensão de controle equivalente ao duty cycle a ser imposto aos
conversores. Essa tensão, apresentada como a linha
então comparada às portadoras
de comando, mostrados nos gráficos
inferior à tensão de controle.
Fluxograma do algoritmo MPPT Perturba & Observa
Configuração Interleaving
baseia-se no defasamento de controladores PWM
. Diversos estudos propõem sua utilização em várias topologias de
[34], [35], [36], sendo que no trabalho em questão, a configuração
será utilizada de maneira análoga ao efeito gerado por um conversor trifásico em relação a um
monofásico. O fato de se utilizar três conversores ao invés de um para a mesma potência,
além de reduzir as demandas elétricas nos componentes, proporciona uma saída com conteúdo
triplo da frequência original de cada conversor.
exemplifica a forma de implementação do interleaving nesse projeto. O
algoritmo MPPT irá gerar uma referência de tensão para uma malha de controle PI, que por
sua vez, irá gerar uma tensão de controle equivalente ao duty cycle a ser imposto aos
conversores. Essa tensão, apresentada como a linha em ciano no gráfico inferior da figura, é
portadoras triangulares, defasadas entre si de 120°. A
de comando, mostrados nos gráficos superiores, se dá sempre que o valor da portadora for
inferior à tensão de controle.
87
Fluxograma do algoritmo MPPT Perturba & Observa [31].
se no defasamento de controladores PWM em conversores
. Diversos estudos propõem sua utilização em várias topologias de
balho em questão, a configuração
será utilizada de maneira análoga ao efeito gerado por um conversor trifásico em relação a um
vés de um para a mesma potência,
s componentes, proporciona uma saída com conteúdo
exemplifica a forma de implementação do interleaving nesse projeto. O
ferência de tensão para uma malha de controle PI, que por
sua vez, irá gerar uma tensão de controle equivalente ao duty cycle a ser imposto aos
no gráfico inferior da figura, é
defasadas entre si de 120°. A geração dos sinais
, se dá sempre que o valor da portadora for
88
Figura 4.15 - Exemplo de funcionamento do controle com
Como pode ser observado, os sinais de comando ocorrem somente uma vez a cada período de
chaveameto, e com as mesmas durações, embora defasados entre si. Isto faz com que a
corrente de saída tenha uma forma
comandassem simultaneamente
instante com subsequente queda acentuada no restante do período de chaveamento. Logo, esta
técnica é especialmente interessante para
uma vez que promove uma maior estabilidade da corrente de saída.
4.4 Resultados de simulação
Para demonstrar o funcionamento do conversor projetado foi elaborada uma simulação
computacional no software Matlab Simulink.
(perdas) foram desconsiderados. O
tensão ideal em série com uma resistência
pelos transformadores e retificadores,
ideal, ajustada para complementar a corrente na carga no valor nominal com um atraso muito
curto. O cluster da usina solar que alimenta o conversor foi modelado util
próprio para tal, fornecido pelo software.
descrever com exatidão o processo existente, mas são suficientes para avaliar o projeto do
conversor e da usina fotovoltaica realizados.
Exemplo de funcionamento do controle com interleaving
Como pode ser observado, os sinais de comando ocorrem somente uma vez a cada período de
chaveameto, e com as mesmas durações, embora defasados entre si. Isto faz com que a
forma de onda mais suave, ao passo que se os três conversores
suas chaves, haveria uma concentração da corrente nesse
instante com subsequente queda acentuada no restante do período de chaveamento. Logo, esta
mente interessante para uso na alimentação de um processo de eletrólise
uma maior estabilidade da corrente de saída.
Resultados de simulação
Para demonstrar o funcionamento do conversor projetado foi elaborada uma simulação
al no software Matlab Simulink. Por simplificação, os elementos dissipativos
(perdas) foram desconsiderados. O processo da eletrólise foi modelado como uma fonte de
resistência. Já a alimentação proveniente da rede,
pelos transformadores e retificadores, foi modelada como uma fonte de corrente
ajustada para complementar a corrente na carga no valor nominal com um atraso muito
O cluster da usina solar que alimenta o conversor foi modelado utilizando
próprio para tal, fornecido pelo software. Estas simplificações e modelos podem não
descrever com exatidão o processo existente, mas são suficientes para avaliar o projeto do
conversor e da usina fotovoltaica realizados. A Figura 4.16 apresenta o circuito
interleaving.
Como pode ser observado, os sinais de comando ocorrem somente uma vez a cada período de
chaveameto, e com as mesmas durações, embora defasados entre si. Isto faz com que a
mais suave, ao passo que se os três conversores
, haveria uma concentração da corrente nesse
instante com subsequente queda acentuada no restante do período de chaveamento. Logo, esta
uso na alimentação de um processo de eletrólise,
Para demonstrar o funcionamento do conversor projetado foi elaborada uma simulação
Por simplificação, os elementos dissipativos
processo da eletrólise foi modelado como uma fonte de
alimentação proveniente da rede, que passa
como uma fonte de corrente controlável
ajustada para complementar a corrente na carga no valor nominal com um atraso muito
izando-se o bloco
Estas simplificações e modelos podem não
descrever com exatidão o processo existente, mas são suficientes para avaliar o projeto do
apresenta o circuito de potência
89
implementado para realização da simulação, onde os parâmetros utilizados foram conforme o
dimensionamento apresentado nas seções anteriores.
Figura 4.16 - Circuito de potência implementado do conversor para simulação computacional.
A Figura 4.17 mostra a implementação em ambiente de simulação do sistema de controle,
também descrito nas seções anteriores.
Figura 4.17 - Diagrama de blocos do sistema de controle do conversor implementado em ambiente de
simulção (Matlab Simulink).
90
4.4.1 Operação em condições nominais
Primeiramente, estabeleceu-se o cenário onde as condições nominais eram atendidas, quais
sejam, temperatura 25ºC e irradiância 1.000 W/m². O resultado obtido para a tensão e a
corrente de entrada do conversor, ou seja, a tensão e a corrente de saída do cluster da usina,
pode ser visto na Figura 4.18. A parte inicial da simulação foi descartada devido à
acomodação do sistema, e são apresentados 10 períodos de chaveamento (4·10-4 s cada).
(a) (b)
Figura 4.18 - Tensão (a) e corrente (b) de entrada do conversor operando em condição nominal.
Nota-se dos gráficos apresentados que a tensão e a corrente se mantiveram dentro dos valores
esperados e com ripple adequado. Para referência, os valores médios de projeto para a tensão
e a corrente nominais de cada cluster da usina são, respectivamente, 804,6 V e 201,3 A
(conforme Tabela 4.2). O resultado obtido mostra que o algoritmo MPPT implementado
funcionou de forma satisfatória, pois foi capaz de levar o cluster ao ponto de operação de
máxima potência, ainda que uma oscilação seja vista por causa do chaveamento do conversor.
A corrente de saída do conversor para um período de chaveamento pode ser vista na Figura
4.19(a) adiante, onde o valor médio esperado era de 578,6 A. Já a Figura 4.19(b) mostra a
potência de saída desenvolvida pelo conversor.
(a) (b)
Figura 4.19 - Corrente de saída do conversor (a) e potência de saída (b) em condição nominal.
Como mostra o gráfico à esquerda, a corrente de saída do conversor está bem próxima do
valor médio esperado e apresenta um ripple com frequência do triplo da frequência de
chaveamento, resultado obtido devido ao uso da técnica de controle interleaving. Além disso,
91
o valor do ripple está abaixo de 1%, também graças a essa técnica de controle e ao indutor
dimensionado para a condição de pior caso (tensão de entrada mais baixa que a nominal). A
potência de saída, por sua vez, está bem próxima do valor calculado para máxima potência,
que é de 1,62·105 W. Isso corrobora o argumento de que o algorítmo de MPPT funcionou a
contento, e tal resultado só pôde ser obtido porque as perdas de condução e as inerentes ao
conversor foram desconsideradas.
A corrente no indutor de um dos módulos Buck pode ser vista na Figura 4.20(a). O valor
médio esperado era de 192,9 A e, como pode ser visto, o conversor está operando em MCC
pois o valor da corrente não se anula durante um período de chaveamento. O ripple obtido foi
de cerca de 4,8%, o que também está de acordo com o limite de projeto de 5%.
(a) (b)
Figura 4.20 - Corrente no indutor (a) e no capacitor (b) de um dos módulos Buck, em condições nominais.
Já a Figura 4.20(b) mostra a corrente no capacitor. Os valores negativos mostram que quando
o IGBT está em bloqueio a corrente da usina solar circula pelo capacitor, sendo que esta
energia é acumulada e devolvida ao conversor quando a chave muda para o estado em
condução. A linha vermelha mostra o valor eficaz da corrente, utilizado para a especificação
do componente (90 A). Os resultados apresentados na Figura 4.20 mostram que os elementos
passivos dimensionados estão de acordo com os critérios que foram estabelecidos para tal.
A Figura 4.21, por sua vez, mostra as formas de onda da corrente no IGBT e no diodo, para
um período de chaveamento, também identificados na topologia do conversor Buck da Figura
4.4 como S1 e S2. Conforme mencionado na etapa de dimensionamento dos módulos
semicondutores, a corrente assume valor igual à corrente de saída no IGBT quando este está
em condução, passando ao diodo quando ele entra em bloqueio (192,9 A). Mais uma vez aqui,
o resultado obtido da simulação está de acordo com as premissas adotadas para
dimensionamento dos dispositivos.
92
(a) (b)
Figura 4.21 - Corrente no IGBT (a) e no diodo (b) durante um período de chaveamento, em condições
nominais.
Os resultados obtidos para os sinais de controle são aqueles já apresentados na Figura 4.15.
4.4.2 Operação no cenário de mudanças meteorológicas
O comportamento dinâmico do conversor foi avaliado através da simulação de uma condição
meteorológica variável. A Figura 4.22(a) ilustra tal variação, em que a irradiância passa de
1.000 W/m² até os 2 s de simulação para 800 W/m², enquanto a temperatura se eleva de 25°C
para 55°C aos 4 s. A Figura 4.22(b) mostra qual foi a potência extraída dos painéis no
período, sendo que até os 1,2 s de simulação o sistema ainda estava se acomodando à
condição nominal.
(a) (b)
Figura 4.22 - Gráfico da variação da condição meteorológica (a) e subsequente potência de saída
observada no conversor (b).
Como pode ser observado da Figura 4.22(b), mesmo a irradiância se mantendo constante após
os 3 s de simulação, a potência apresentou novo decréscimo depois dos 4 s devido ao aumento
da temperatura. Isso pode ser explicado pelos resultados apresentados na Figura 4.23.
93
(a) (b)
Figura 4.23 - Tensão (a) e corrente (b) de entrada do conversor durante as variações meteorológicas.
Desconsiderando-se o intervalo até a acomodação do circuito aos 1,2 s, a Figura 4.23(a)
mostra que a tensão de entrada do conversor (por conseguinte, a tensão de saída da usina
fotovoltaica) ficou no seu patamar nominal de aproximadamente 800 V até pouco mais dos 4
s de simulação. Por outro lado, a corrente apresentada na Figura 4.23(b) experimentou
decréscimo já aos 2 s de simulação com a redução da irradiância. No entanto, apesar do
transitório durante a variação da temperatura, se manteve aproximadamente constante após os
5 s. Esse resultado corrobora a avaliação apresentada na Tabela 4.1, na qual observou-se que a
temperatura é o parâmetro que exerce maior influência sobre a tensão dos painéis, ao passo
que a irradiância afeta mais a corrente. O baixo valor da potência de saída após os 5 s de
simulação pode ser explicado, portanto, devido ao fato de que ela é dada justamente pelo
produto da tensão pela corrente, e por conseguinte, tanto a diminuição da irradiância quanto o
aumento da temperatura exercem influência negativa sobre a potência máxima extraível dos
painéis fotovoltaicos.
Uma das maiores preocupações referentes ao conceito proposto neste trabalho é retratada na
Figura 4.24. O gráfico mostra a evolução das correntes de saída do conversor, de alimentação
da carga pela rede (transformadores e retificadores) e o valor total conferido à carga.
Figura 4.24 - Corrente de saída do conversor, corrente fornecida pela rede e corrente na carga, durante as
variações meteorológicas.
Vê-se da figura que o comportamento da corrente de saída do conversor é similar ao da
potência, apresentado na Figura 4.22(b). Ou seja, alcança seu patamar máximo até os 2 s de
simulação, quando sofre o primeiro decréscimo pela diminuição da irradiação, e outro aos 4 s
94
com o aumento na temperatura. A corrente proveniente da rede, por sua vez, apresenta um
comportamento inverso, compensando cada um dos decréscimos conferidos à corrente da
usina fotovoltaica instantaneamente. Dessa forma, nota-se que a corrente na carga se manteve
estável por todo o período da simulação.
Naturalmente, tal resultado foi obtido porque a alimentação proveniente da rede foi modelada
como uma fonte de corrente ideal programada para realizar essa compensação em um tempo
muito curto. Conforme será discutido no Capítulo 5, em situações reais, há que se aferir qual é
a capacidade do sistema de controle do transformador e retificador de variação da corrente.
Em alguns casos, pode ser que as variações impostas pelas condições climáticas não possam
ser suprimidas na mesma velocidade pelo sistema de controle do processo, fazendo com que a
corrente na carga apresente instabilidade. Para estes casos, algumas medidas devem ser
tomadas. Mas de maneira geral, respeitadas essas medidas, a Figura 4.24 mostra que o
conceito proposto é viável e seguro do ponto de vista do processo.
4.5 Simulação PVsyst
Dado que a alternativa de conectar uma usina de geração solar fotovoltaica diretamente a um
processo de eletrólise é tecnicamente viável, conforme descrito nas seções anteriores, então as
vantagens de se realizar essa conexão podem ser aferidas com base na produção de energia e
na economia financeira esperada.
Para tal, uma simulação foi realizada utilizando-se o software PVsyst 6.67, especializado no
estudo de sistemas fotovoltaicos. Implementou-se a mesma usina projetada no Capítulo 3,
sendo que dois cenários distintos foram comparados: o primeiro utilizando inversores solares
típicos conectados diretamente à rede c.a., e o segundo utilizando a conexão direta em c.c. da
usina fotovoltaica através de um conversor c.c. - c.c. Por simplificação, as eficiências
nominais de cada dispositivo foram consideradas conforme ilustram as Figura 2.5 e Figura
2.6, uma vez que conforme já mencionado, são valores típicos e dados mais precisos iriam
requerer uma investigação muito detalhada do problema. Além disso, considerou-se no caso
do inversor que sua eficiência seria a eficiência global dos dispositivos no caminho da
corrente, ou seja, dos transformadores e retificador, de forma a possibilitar a comparação com
o cenário onde a eficiência do conversor c.c. - c.c. seria diretamente injetada ao processo. O
software então utiliza o sistema implementado com um conjunto de dados históricos para
aquela região geográfica (como por exemplo condições climáticas, temperaturas típicas,
irradiância etc) para determinar a produção de energia média por ano e o PR, do inglês
95
performance ratio, que é um parâmetro de desempenho usado na comparação de instalações
solares fotovoltaicas no mundo todo.
O resultado obtido para a geração média de energia por ano foi de 67.060 MWh para o caso
do inversor contra 77.186 MWh para a conexão direta com conversor c.c. - c.c., um valor
15% maior que na abordagem tradicional. Já o PR obtido foi de 70,6% para a aplicação com
inversor contra 81,3% no caso do novo conceito proposto. Os resultados completos destas
simulações podem ser vistos no APÊNDICE E - RESULTADOS DA SIMULAÇÃO NO
PVSYST.
Para se ter esses números em perspectiva, observe a Tabela 4.4 onde o consumo aproximado
da carga foi calculado com base na operação em condição nominal (280 V, 200 kA, 24h/dia e
365 dias/ano). Além disso, foi adotado o custo médio do MWh de R$ 492,24, conforme dados
de 2016 para o estado de Minas Gerais [37].
Tabela 4.4 - Produção de energia e economia financeira esperados.
Descrição Quantidade Unidade
Consumo da carga 490.560 MWh/ano
Geração com inversor 67.060 MWh/ano
Geração com conversor c.c. - c.c. 77.186 MWh/ano
Custo com energia total da carga 241.473.254 R$/ano
Economia com geração com inversor 33.009.614 R$/ano
Economia com geração com conversor 37.994.036 R$/ano
De acordo com a Tabela 4.4, a construção de uma usina solar fotovoltaica conforme projetada
neste trabalho pode gerar economia nos gastos com energia elétrica de cerca de 13,7%, caso
utilizada a abordagem convencional com inversores, ou até 15,7% se adotado o conceito da
conexão direta com o processo em c.c. Em termos absolutos, a economia é de mais de 30
milhoes de reais por ano, sendo que a simples opção pela abordagem do conversor c.c. - c.c.
representa uma economia de quase 5 milhões por ano a mais.
Por mais que os resultados tenham sido obtidos utilizando-se eficiências arbitrárias (mas de
valores típicos), mostram que a diferença nas aplicações é relevante e que justificam este
trabalho. Ressalta-se que nessa comparação as perdas de condução foram negligenciadas para
ambos os cenários, uma vez que o intuito principal era de se fazer uma comparação entre eles,
e pode-se assumir que essas perdas são similares entre eles.
96
4.6 Conclusão do capítulo
Neste capítulo discutiu-se a implementação prática do sistema de conversão necessário para
fazer a conexão do processo com a usina projetada no capítulo anterior. Definiu-se desde a
topologia do conversor, até quais componentes de mercado utilizar. A estratégia de controle
foi detalhada de forma a adequar o conversor para operação com os requisitos do projeto.
De posse de todas estas definições, o conversor pôde ser implementado em um ambiente de
simulação para que seu funcionamento e viabilidade fossem aferidos. Os resultados obtidos
foram todos satisfatórios e corroboram as premissas de projeto que o originaram. Em
particular, observou-se que no cenário de variações meteorológicas a carga não apresentou
oscilação de corrente, ainda que o algorítmo de MPPT implementado tenha feito com que a
corrente de saída do conversor variasse. Isso se deveu ao fato de que o processo foi modelado
como uma fonte de corrente variável ideal, e mais detalhes sobre esse aspecto serão discutidos
no próximo capítulo desse trabalho.
Outro aspecto relevante foi o emprego da configuração interleaving no controle dos módulos
Buck. Isto permitiu uma maior modularidade dos conversores, permitindo o uso de
componentes mais simples e de menor custo, além de ter proporcionado uma corrente de saída
com menor ripple do que seu equivalente em um sistema de controle tradicional.
Por fim, o capítulo apresentou ainda uma simulação no software especializado em energia
solar fotovoltaica, o PVsyst, onde o emprego da usina fotovoltaica projetada pôde ser
comparado entre a forma tradicional (com inversores injetando a energia na rede c.a.) e o
novo conceito proposto (com conversores c.c. - c.c. injetando a energia diretamente no
processo). As análises mostraram uma vantagem de cerca de 15% na geração de energia com
a abordagem proposta, ou o equivalente a cerca de 5 milhões de reais a mais de economia,
quando comparado com o método convencional (naturalmente, resultados obtidos com base
nas premissas definidas na simulação).
97
5 INTEGRAÇÃO DA USINA FOTOVOLTAICA COM O PROCESSO
INDUSTRIAL
O presente capítulo trata dos aspectos práticos da interligação da usina fotovoltaica
projetada ao processo de eletrólise, desde sua conexão física, até a comunicação dos
sistemas de controle. Em seguida, é discutida a regulação de corrente, essencial para a
estabilidade do processo frente às variações da geração solar, e as limitações que ela pode
impor ao sistema.
5.1 Conexão com o processo
Plantas de eletrólise em geral são projetadas para elevadas correntes nominais, uma vez que o
valor da corrente está diretamente associado à produtividade. Desta forma, conectar a geração
de uma usina fotovoltaica a esse processo conforme sugere a Figura 2.7 é uma tarefa com
relativa complexidade.
Para a planta do estudo de caso em questão, tem-se que a corrente nominal do processo é de
200 kA e a corrente de projeto da usina fotovoltaica é de aproximadamente 158 kA. Para se
ter esses números em perspectiva, a norma NBR 5410 define que a ampacidade (capacidade
de condução de corrente) de cabos de seção 300 mm², em condições ideais, gira em torno de
500 a 900 A, dependendo do modo de instalação. Isto quer dizer que, para se conectar a usina
projetada ao processo existente utilizando-se os maiores cabos tipicamente encontrados no
mercado, seriam necessários centenas de condutores em paralelo, o que seria inviável tanto do
ponto de vista financeiro quanto por restrição de espaço.
A condução de correntes desta ordem de grandeza, especialmente em tensões baixas como a
do processo do estudo de caso, em geral é feita através de dutos de barras, que são barras
sólidas de material condutor (normalmente cobre ou alumínio). A planta de eletrólise em
questão utiliza desse dispositivo. Estas barras são capazes de conduzir elevadas correntes
apresentando um nível baixíssimo de perdas de condução, mas no entanto, não possuem a
mesma flexibilidade de instalação dos cabos. Em primeiro lugar, é necessário um projeto
detalhado para sua infraestrutura de suportação, sendo que todo o trajeto desde a saída dos
conversores até o ponto de conexão com o processo deve ser preparado para esta finalidade.
Em segundo lugar, a conexão dessas barras com um conjunto de barras já existente demanda
uma obra de substituição e intervenção sobre o processo, o que causa parada de produção e
prejuízos financeiros.
98
Isto posto, a Figura 5.1 mostra duas fotos das barras de saída da referida planta. Estas barras
conectam os retificadores, localizados dentro de uma sala específica em alvenaria, com as
células de eletrólise, situadas em um galpão anexo. Como pode ser observado, os dispositivos
de medição de corrente se encontram dentro da sala, sendo que o local também abriga outros
equipamentos elétricos e encaminhamentos de cabos.
(a) (b)
Figura 5.1 - Barras de saída dos retificadores e respectivos medidores de corrente (créditos: Votorantim
Metais).
Conforme exposto anteriormente, para a aplicação proposta neste trabalho seria desejável que
o ponto de conexão da geração fotovoltaica fosse feito à montante do ponto de medição de
corrente do processo. Todavia, conforme ilustra a Figura 5.1, tal conexão seria muito difícil
de ser realizada, devido às diversas interferências que seriam encontradas. Logo, a solução
adotada deve ser aquela sugerida na Figura 2.7(b).
Assim, os conversores Buck deverão se concentrar em uma nova estrutura em alvenaria, a ser
construída nas proximidades do galpão da eletrólise. Este prédio deverá ter um fácil acesso
tanto para os cabos provenientes dos clusters de painéis, quanto para as barras de condução de
saída do retificador, que alimentam o processo. A usina fotovoltaica terá seu próprio medidor
de corrente global, a ser instalado nas barras de saída dos conversores. A conexão das barras
da usina com as do processo devem se dar no ambiente externo ao galpão.
Além disso, um novo sistema de controle deve ser concebido para impor automaticamente os
set-points de corrente que comandam os taps dos dois transformadores, baseado nas leituras
de corrente de saída dos retificadores e da usina solar. Atualmente, o sistema só pode ser
ajustado manualmente pelo operador. Entretanto, como todos os dados já são adquiridos
digitalmente, um sistema dessa natureza seria de fácil implementação.
99
O diagrama unifilar simplificado do sistema, originalmente apresentado na Figura 3.2, ficaria
então conforme ilustra a Figura 5.2.
Figura 5.2 - Diagrama unifilar simplificado do sistema elétrico após inclusão da usina solar fotovoltaica e
conversor c.c.
5.2 Regulação de corrente
Um dos principais aspectos para a aplicação sugerida nesse trabalho é a estabilidade da
corrente de carga. Conforme discutido anteriormente, processos como a eletrólise necessitam
que sua corrente de carga sejam o mais estáveis e precisas o possível, uma vez que este
parâmetro irá afetar a produtividade e a qualidade do material a ser produzido. Logo, a
variação intrínseca da corrente de saída da usina fotovoltaica deve ser acomodada pelo
controle de corrente originalmente projetado para o processo - neste caso de estudo, através da
operação do comutador de taps sob carga no primário dos dois transformadores.
A referida variação se dá pelo fato de que o algorítmo MPPT força a saída de corrente da
usina a seguir o mais próximo possível a irradiância, buscando extrair a máxima potência em
cada condição meteorológica. Tal comportamento, combinado com um tempo chuvoso, com
ventos e muita nebulosidade, pode provocar altos di/dt (oscilações de corrente elevadas em
um curto período de tempo). A Figura 5.3 mostra como exemplo a medição da corrente de
saída de uma string em uma usina fotovoltaica real durante um dia de operação (UFV Tesla -
UFMG - Belo Horizonte - MG). Este gráfico foi obtido dentre uma base de dados com
centenas de dias, no intuito de se identificar um que apresentasse o maior di/dt, e observa-se
na linha marcada em vermelho uma elevação de 25% para 100% da corrente nominal no
100
intervalo de apenas 5 min. Apesar de representar a medição de um even
mostra que usinas fotovoltaicas podem
condições meteorológicas. Vale ressaltar que o
análises de fenômenos meteorológicos,
armazenamento os dados coletados com maior frequência de amostragem
um processo de filtragem / média
nesta base de dados.
Figura 5.3 - Corrente de saída de uma string da Usina Fotovoltaica Tesla durante o dia 23/02/2017
Por sua vez, o processo industrial possui um sistema de controle de corrente com uma
capacidade limitada de di/dt, geralmente de aco
dizer que, quando comandado pelo operador para um determinado nível de corrente, o sistema
leva algum tempo para concluir a tarefa. Uma amostra desse comportamento pode ser visto na
Figura 5.4, que mostra uma medição real da planta do estudo de caso ao ter seu set
corrente comandado de 200 kA para 120 kA. A operação é realizada em cerca de 1 minuto.
Figura 5.4 - Corrente de carga da planta de
200 kA para 120 kA (créditos: Votorantim Metais).
Os dois comportamentos expostos demonstram que para se utilizar uma fonte fotovoltaica na
alimentação de uma planta de eletrólise com êxito
intervalo de apenas 5 min. Apesar de representar a medição de um evento particular, a figura
mostra que usinas fotovoltaicas podem produzir di/dt substancialmente elevados
Vale ressaltar que o período de 5 min é elevado
de fenômenos meteorológicos, mas que devido a uma limitação de espaço de
coletados com maior frequência de amostragem precisam
um processo de filtragem / média, e as variações mais rápidas acabam não sendo registradas
Corrente de saída de uma string da Usina Fotovoltaica Tesla durante o dia 23/02/2017
Por sua vez, o processo industrial possui um sistema de controle de corrente com uma
, geralmente de acordo com a tecnologia empregada. Isto quer
pelo operador para um determinado nível de corrente, o sistema
leva algum tempo para concluir a tarefa. Uma amostra desse comportamento pode ser visto na
, que mostra uma medição real da planta do estudo de caso ao ter seu set
corrente comandado de 200 kA para 120 kA. A operação é realizada em cerca de 1 minuto.
planta de Três Marias após um comando para redução da corrente de
200 kA para 120 kA (créditos: Votorantim Metais).
Os dois comportamentos expostos demonstram que para se utilizar uma fonte fotovoltaica na
alimentação de uma planta de eletrólise com êxito, é necessário que as variações esperadas na
to particular, a figura
substancialmente elevados sob certas
de 5 min é elevado para se realizar
uma limitação de espaço de
precisam passar por
não sendo registradas
Corrente de saída de uma string da Usina Fotovoltaica Tesla durante o dia 23/02/2017.
Por sua vez, o processo industrial possui um sistema de controle de corrente com uma
rdo com a tecnologia empregada. Isto quer
pelo operador para um determinado nível de corrente, o sistema
leva algum tempo para concluir a tarefa. Uma amostra desse comportamento pode ser visto na
, que mostra uma medição real da planta do estudo de caso ao ter seu set-point de
corrente comandado de 200 kA para 120 kA. A operação é realizada em cerca de 1 minuto.
Três Marias após um comando para redução da corrente de
Os dois comportamentos expostos demonstram que para se utilizar uma fonte fotovoltaica na
, é necessário que as variações esperadas na
101
corrente proveniente da fonte solar possam ser acomodadas pela capacidade de di/dt do
processo. Em outras palavras, pode se estabelecer um limite para a máxima corrente nominal
da usina fotovoltaica de forma a garantir que o processo tenha sempre condições de equilibrar
as rápidas variações meteorológicas. Tal afirmação pode ser traduzida na seguinte equação:
������� =
∆�������∆���
�
∆�������∆���
� Eq. 28
Onde Imax-fv é a máxima corrente nominal admissível para a usina fotovoltaica em A, ∆Imax-pr é
a máxima variação de corrente tolerada pelo processo em A, ∆tpr é o período de duração da
variação da corrente do processo em s, ∆Imax-fv é a máxima variação de corrente considerada
para a usina fotovoltaica em pu e ∆tfv é a duração dessa variação em s. Com base na Eq. 28 e
nos parâmetros apresentados nas Figura 5.3 e Figura 5.4, então:
������� =
80.00060�
0,75300�
= 533,33�� Eq. 29
O resultado apresentado na Eq. 29 demonstra que a usina projetada pode ser utilizada para
alimentar potência c.c. diretamente ao processo sem causar perdas de produtividade devido à
variações meteorológicas. De fato, a planta fotovoltaica poderia ter uma corrente nominal de
até 533 kA, mesmo que a área tenha limitado esse valor a apenas 158 kA.
No entanto, deve-se ponderar que os resultados obtidos pela Eq. 28 serão tão precisos quanto
forem os dados utilizados para seu cálculo. Em particular, um dado com ∆tfv menor traria uma
projeto mais robusto para a aplicação, uma vez que o período de 5 minutos é um tempo
relativamente longo para se medir variações meteorológicas. Assim, o resultado obtido deve
ser visto apenas como uma referência e um exemplo para a utilização do método apresentado,
ao passo que a análise real para a usina fotovoltaica projetada deve ser feita de forma mais
profunda, considerando dados mais precisos.
Há que se levar em conta nesse estudo que a variação buscada para a geração fotovoltaica
deve ser a somatória de todas as variações provenientes de todos as strings em paralelo. É de
se esperar que esta oscilação seja mais atenuada em usinas de grande porte do que em strings
isoladas, uma vez que existe uma grande área com diversos painéis solares sob diversas
condições de temperatura e irradiância. Além disso, com relação ao controle de corrente do
processo, é importante que seja estudado seu real limite de di/dt, não levando-se em conta
102
apenas um exemplo de operação como o apresentado na Figura 5.4, mas sua máxima
capacidade.
5.2.1 Alternativas para a regulação de corrente
A seção anterior apresentou a Eq. 28, que permite calcular a máxima corrente nominal para
uma dada usina de geração solar fotovoltaica a ser empregada na alimentação de um processo
em c.c. Esta é uma forma de se garantir que a carga não sofrerá variações decorrentes de
mudanças meteorológicas, entretanto, e nos casos onde a equação não é satisfeita?
Naturalmente, a primeira alternativa para se evitar que o processo seja impactado é limitar a
capacidade máxima da usina solar. Considere que no exemplo citado o resultado obtido fosse
de 100 kA. Logo, a quantidade total de painéis da usina deveria ser reduzida, deixando
portanto de se aproveitar grande parte da área, apenas para possibilitar que a energia fosse
diretamente aplicada a carga c.c sem que houvesse prejuízo do processo produtivo.
Porém, outras opções também podem ser avaliadas. Uma delas baseia-se na alteração da
estratégia de controle de forma a se inserir atrasos no algoritmo MPPT. Isso faz com que a
dinâmica da corrente da usina solar seja desacelerada, mas tem como contrapartida a perda de
uma parcela considerável da energia, já que os painéis não estarão operando no ponto de
máxima potência real. Outra alternativa parecida é através do uso de dispositivos de
forecasting, que são câmeras que permitem ao sistema de controle da usina prever com
antecedências mudanças das condições meteorológicas, permitindo ao sistema se antecipar às
mudanças com uma dinâmica mais suave [38].
Por fim, outra alternativa viável é a utilização de elementos armazenadores, tais como baterias
ou até mesmo capacitores. Desta forma, a energia seria armazenada à medida que fosse
produzida com sua máxima potência nos painéis, mas entregue ao processo com uma taxa
máxima pré-definida. Esta opção é a que permite o maior aproveitamento da energia gerada,
mas no entanto, é a que apresenta o maior custo de implantação.
Outra possibilidade seria alterar a dinâmica do processo para permitir mudanças de corrente
mais rápidas. Contudo, considera-se que projetos dessa natureza serão desenvolvidos em
plantas existentes, e que interferências no sistema original devem ser evitadas por razões de
custo e estabilidade do processo.
103
5.3 Conclusão do capítulo
Neste capítulo foram discutidos detalhes da conexão da usina fotovoltaica com o processo de
eletrólise, contextualizando através de dados reais da planta do estudo de caso as limitações e
dificuldades relacionadas. Em particular, levantou-se a necessidade do uso de barras para a
conexão, o que exige um projeto detalhado e uma interferência relativamente grande sobre o
processo já estabelecido. Além disso, viu-se que a conexão não poderia ser feita à montante
do ponto de medição de corrente do processo, motivo pelo qual se torna imprescindível a
existência de um novo sistema de controle, que atue automaticamente no ajuste de taps dos
transformadores.
Outra limitação importante observada foi a necessidade de se compatibilizar as dinâmicas de
corrente da usina fotovoltaica e do controle de corrente do processo. Tal aspecto é essencial
para a aplicação, à medida que garante que mudanças de ordem meteorológicas não afetem a
corrente do processo, e por conseguinte, sua produtividade e qualidade. Essa compatibilidade
pode ser aferida conforme a Eq. 28 e, não sendo verificada, algumas ações sugeridas podem
ser tomadas de forma a ainda viabilizar o uso da geração solar fotovoltaica.
É importante ressaltar que não se pretendeu utilizar o resultado apresentado na Eq. 29 como
um parâmetro realista para a usina projetada no caso de estudo. Tratou-se, portanto, de um
exemplo ilustrativo de como utilizar a metodologia para analisar um processo existente.
Recomenda-se que nas etapas de engenharia de um projeto detalhado desta natureza os dados
de entrada da equação sejam investigados em profundidade, de forma a dar mais segurança ao
resultado obtido e, consequentemente, à operação do processo.
104
105
6 CONCLUSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS
A utilização de usinas de geração fotovoltaica diretamente na alimentação de processos
industriais de corrente contínua se mostrou um conceito não só viável tecnicamente, mas
também vantajoso quando comparado à abordagem convencional. Isto é particularmente
interessante no contexto atual, onde a demanda por energia elétrica é crescente, a busca por
fontes renováveis atrai investimentos e incentivos fiscais, e as empresas procuram cada vez
mais reduzir despesas e ser mais eficientes. A aplicação desta tecnologia em uma indústria
vem como uma forma de investimento que visa além do retorno financeiro, uma maior
independência das oscilações de preço do mercado de energia. Por conseguinte, contribui para
a diversificação da matriz energética e para a produção de eletricidade por meios não
poluentes.
Foi demonstrado numericamente que os benefícios do conceito proposto sobre a alternativa de
mercado irá variar de acordo com as condições do sistema, mas que no entanto, em
praticamente qualquer cenário, terá maior eficiência. Isso se deve ao fato de que,
nominalmente, os conversores c.c. - c.c. empregados terão perdas associadas inferiores às dos
inversores c.c. - c.a. Além disso, a injeção direta no processo faz com que parte da corrente da
carga não precise fluir pelos transformadores e retificadores, o que novamente garante uma
maior eficiência global do sistema.
Como contrapartida, observa-se algumas dificuldades que não são verificadas na aplicação
tradicional, a maior delas sendo certamente o fato de não haver a rede como um armazenador
de energia. Em uma solução com inversores, a energia gerada seria transferida para a rede
c.a., qualquer que fosse seu valor, e ao mesmo tempo a rede poderia prover qualquer que
fosse a demanda da carga. Isto garante que a máxima energia seja gerada e que a demanda da
carga seja integralmente atendida, independentemente das condições meteorológicas. Já com
o uso de conversores c.c. - c.c. para injeção direta ao processo, isso só seria possível com
sistemas de armazenamento de energia, tais como capacitores ou baterias, que todavia
encareceriam demais a solução. Portanto, alternativas viáveis tecnicamente e financeiramente
tiveram de ser exploradas.
Com o objetivo de dar mais materialidade a esta análise, foi realizado um estudo de caso onde
projetou-se uma usina solar fotovoltaica de grande porte para implantação do sistema
sugerido em uma planta de eletrólise real. Sendo este um trabalho estritamente teórico, cabe
mencionar que não se esperava desenvolver um projeto de engenharia detalhada com vistas à
construção imediata do empreendimento, mas sim uma reflexão técnica a nível de engenharia
106
conceitual a servir como referência para futuros projetos de mercado. Dessa forma,
estabeleceu-se uma metodologia com diretrizes e restrições a serem observadas, como por
exemplo, a preocupação no dimensionamento dos cabos para garantir baixas perdas de
condução, e a avaliação da máxima capacidade da usina para uma dada área de instalação de
painéis.
Em seguida, desenvolveu-se o conversor adequado para a aplicação, destacando-se desde o
dimensionamento e seleção de componentes até as técnicas de controle requeridas. Uma
simulação confirmou que o hardware projetado estava de acordo com o funcionamento
esperado, tanto em regime permanente quanto durante transitórios das condições
meteorológicas. Este conversor foi concebido utilizando-se somente técnicas, soluções e
topologias já conhecidas e amplamente divulgadas na literatura, portanto, não se trata de um
trabalho que sugira a invenção de um conversor, mas sim da análise de qual conjunto de
características melhor se adaptam a um conversor a ser utilizado na aplicação em particular. E
a conclusão que pode se chegar após os resultados de simulação é que a proposta atende às
necessidades do projeto.
Além da simulação realizada do aspecto eletrônico, também foi realizada uma simulação do
ponto de vista da usina fotovoltaica e sua geração de energia. Obteve-se uma estimativa de
produção anual de energia, que permitiu deduzir qual a economia financeira esperada com a
realização do empreendimento. Comparou-se também o cenário onde a mesma usina fosse
utilizada da maneira tradicional ou conectada diretamente ao processo. Os benefícios, que já
eram esperados conforme demonstrados no início desse texto, puderam ser confirmados e
quantificados numericamente (naturalmente, levando-se em conta premissas estabelecidas de
eficiência para cada cenário). A conclusão desse ponto foi que o benefício esperado com a
utilização da nova abordagem é relevante à ponto de justificar sua investigação por parte de
uma empresa que pretenda realizar tal investimento.
Quanto à restrição do uso da tecnologia pela ausência do elemento armazenador de energia,
constitui-se um aspecto técnico a ser verificado em cada projeto. Devem ser avaliadas as
máximas variações de corrente esperadas da usina fotovoltaica e a máxima capacidade de
variação de corrente do controle do processo. Sendo estes valores compatíveis, a solução irá
funcionar sem maiores problemas. Caso contrário, o projetista fica condicionado à utilização
de artifícios que garantam o pleno atendimento da demanda da carga, sendo eles desde a
limitação da máxima potência da geração solar, até o uso de sistemas de controle com
capacidade de previsão do tempo (forecasting) ou armazenadores de energia. O ponto chave
dessa questão é que numa análise rápida sobre o uso da energia solar diretamente em c.c. para
107
alimentação de processos industriais, muitas pessoas sequer investigariam a possibilidade a
fundo devido à esta restrição. Este trabalho, entretanto, estudou as possibilidades com cautela,
chegando à conclusão que há, sim, condições técnicas que viabilizam essa utilização e
permitem obter os ganhos de eficiência sugeridos.
Em síntese, a presente dissertação apresentou um novo conceito não explorado
comercialmente, verificou sua viabilidade, explorou seus benefícios e estabeleceu um
processo de alto nível que permite projetos futuros a desenvolver um sistema prático real.
Logo, é correto afirmar que os objetivos pretendidos através deste estudo foram alcançados, e
que se espera que suas contribuições sejam a breve implementação prática da tecnologia.
Este trabalho resultou na publicação do artigo "Directly feeding large DC loads through PV
power plants: A new concept applied to industry", apresentado na Industry Applications
Society Annual Meeting, Cincinnati, OH, USA, 1-5 de outubro de 2017, e também no
depósito de uma patente verde junto ao INPI - Instituto Nacional da Propriedade Industrial -
ainda pendente.
6.1 Propostas de continuidade
Diversos aspectos podem ser levantados como continuidade do presente trabalho. Em
primeira instância, sugere-se explorar o conceito através de uma planta experimental de
pequena escala. Tal experimento já vem sendo conduzido atualmente através de uma parceria
entre UFMG e Votorantim Metais, e deverá gerar resultados experimentais em breve. Neste
estudo, deve se explorar especialmente as questões de estabilidade de corrente, garantindo
portanto uma boa formação do produto na célula de eletrólise durante variações
meteorológicas.
Já com vistas aos sistemas de grande porte, sugere-se a realização de um novo estudo, bem
mais aprofundado, para a construção de uma usina solar fotovoltaica na planta da Votorantim
Metais em Três Marias - MG. Este estudo deve ter como foco principal o aspecto financeiro,
levando-se em conta custos com preparação do terreno, terraplanagem, obras civis de
suportação dos painéis solares e encaminhamento dos cabos. O conversor projetado neste
trabalho também precisa ser submetido a um estudo aprofundado, partindo desde seu projeto
mecânico em 3D, até a construção e a obtenção de resultados experimentais. Seu sistema de
controle deve passar por um estudo aprofundado, conforme sugerem a Seção 4.3.3 e o
APÊNDICE C - ALTERNATIVA DE IMPLEMENTAÇÃO DE CONTROLE PARA
CONTINUIDADE DE ESTUDOS.
108
Realizado este detalhamento, sugere-se investigar também mais a fundo a comparação
sugerida entre a nova abordagem e o uso de inversores de frequência, desta vez levando em
conta as eficiências reais obtidas para os conversores e as perdas de condução e de
transformadores. Uma nova simulação no PVSyst poderá trazer resultados mais precisos no
que tange à geração de energia, e naturalmente, servir de subsídio para uma análise de
viabilidade financeira. A título de ilustração, a literatura hoje considera o custo de
implantação de uma usina solar de grande escala e eixo fixo da ordem de US$ 1,03/Wcc [39],
mas isto considera a abordagem típica utilizando inversores. Um valor similar precisa ser
estimado para usinas com conexão direta à carga c.c.
Por último, ressalta-se a importância de uma investigação mais aprofundada sobre as
dinâmicas das correntes em usinas solares e em processos de eletrólise. Pode-se promover
uma medição experimental de corrente em uma usina solar real utilizando-se um período
amostral mais curto (por exemplo, 1s). Analogamente, um processo industrial deve ser
investigado para se medir e entender, em que medida, é possível aumentar sua capacidade de
variação di/dt após concebido.
109
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1417–1422.
113
APÊNDICE A - A TECNOLOGIA ORGÂNICA FOTOVOLTAICA
Uma das mais recentes tecnologias em termos de materiais na energia solar fotovoltaica é o
chamado OPV, da sigla em inglês Organic Photovoltaic. O OPV nada mais é do que um
análogo do painel fotovoltaico convencional, dito de "primeira geração", com a ressalva de
que as células ao invés de utilizarem o silício como material semicondutor utilizam compostos
orgânicos. Talvez por ser uma tecnologia ainda tão recente, a composição das células OPV
disponíveis até hoje difere muito, pois cada laboratório ou fabricante utiliza uma formulação
que favoreça uma determinada característica. Entretanto, de maneira geral, as células OPV
são compostas pelas seguintes camadas: a camada ativa, composta por dois componentes, um
doador que absorve a luz e um receptor que extrai o eletron; duas camadas de transporte,
sendo uma responsável pelo transporte de elétrons e outra responsável pelo transporte de
lacunas; e duas camadas de eletrodos negativo e positivo, sendo que pelo menos um deles seja
de material transparente, para permitir a passagem da luz para as camadas interiores. Essas
camadas geralmente são produzidas dissolvendo-se polímeros em solventes orgânicos, e
devem ser depositadas (ou impressas) com precisão de suas espessuras e na ordem correta,
sobre um substrato que será responsável por garantir rigidez e durabilidade à celula (sendo
normalmente de vidro ou plástico).
Os estudos sobre a tecnologia OPV datam de cerca de 20 anos atrás, e tem seu principal
marco na descoberta de que compostos orgânicos poderiam se comportar como um material
semicondutor, descoberta esta que rendeu a Alan J. Heeger, Alan MacDiarmid e Hideki
Shirakawa o prêmio Nobel de Química no ano 2000. A primeira instalação OPV conectada è
rede foi reportada em 2009 [40], e foi a primeira vez que o OPV pôde ser diretamente
comparado à tecnologia convencional de silício. As células OPV foram manualmente
instaladas em painéis com as mesmas dimensões e estrutura dos convencionais, portanto,
utilizando molduras metálicas, vidro protetor, selantes, além das conexões internas entre
células em cada painal. Como resultado, constatou-se que o OPV não seria financeiramente
viável, pois sua baixa eficiência na conversão de energia elétrica associada ao elevado custo
(que nesse caso era primordialmente devido à estrutura mecânica dos painéis), faria com que
os painéis convencionais fossem muitas vezes mais atrativos. Por outro lado, o estudo foi
efetivo no sentido de demonstrar que, para ser viável, o OPV deveria adotar uma abordagem
diferente da utilizada para os painéis de silício.
A tecnologia fotovoltaica de silício existe desde 1954, quando os laboratórios Bell
produziram a primeira célula de silício monocristalino [41]. A grande vantagem da utilização
114
do silício como material semicondutor é que suas propriedades elétricas o garantem uma
melhor eficiência na conversão de energia e mais estabilidade. Traduzindo isso em números,
painéis fotovoltaicos de silício podem alcançar eficiências da ordem de 15 a 20% e
durabilidade da ordem de 20 a 25 anos (período pelo qual a eficiência decai além de 80% do
seu valor original). Contudo, embora o silício seja um material abundante e barato, para sua
utilização na geração fotovoltaica é necessário que ele esteja em elevadíssimo grau de pureza,
o que requer um processo em altíssimas temperaturas, caro e que de forma geral, demanda
muita energia. Uma alternativa muito utilizada atualmente é o chamado silício policristalino,
que sacrifica um pouco da eficiência da célula para permitir o uso do silício com menor
pureza, reduzindo custos de produção. De qualquer modo, a energia solar fotovoltaica de
silício (inorgânica) é tida como uma solução cara e cujo processo produtivo demanda muita
energia.
Nesse cenário, o OPV figura como uma alternativa viável e com potencial para até mesmo
substituir o silício em alguns anos. Como foi observado na experiência dos painéis OPV
conectados à rede em 2009, a exploração dessa tecnologia deve ter como foco o baixo custo
de produção, propiciado pelo uso de materiais abundantes e processos que não requerem
elevadas temperaturas. Além disso, é de se esperar que mais avanços sejam feitos com relação
à eficiência e durabilidade das células, dado que esta tecnologia não tem nem metade do
tempo de maturação que tem por exemplo a tecnologia fotovoltaica a silício. Portanto, o OPV
se coloca como um caminho promissor no que tange à energia solar fotovoltaica.
Desde sua concepção, por volta da década de 1990, uma das maiores preocupações dos
pesquisadores com relação à tecnologia OPV era sua eficiência de conversão de energia.
Eficiências alcançadas inicialmente ao redor de 1% pareciam não ser capazes de viabilizar o
uso das células orgânicas, de modo que os esforços científicos nessa área se concentraram por
alguns anos na melhoria desse índice. Desenvolvimentos na química dos compostos orgânicos
utilizados e alterações físicas nas camadas foram então sendo testadas, até que valores cada
vez mais elevados foram obtidos. Atualmente, o valor mais alto já reportado na literatura para
eficiência de conversão é de 11,1% [42], numa célula composta por três subcélulas de um
composto conhecido como "moléculas pequenas".
Contudo, ao passo que bons resultados eram obtidos para a eficiência da célula, testes
experimentais demonstravam que as células desenvolvidas não tinham uma boa estabilidade,
isto é, não mantiam seus patamares de eficiência de conversão após um longo tempo de uso.
Assim, há pouco menos de uma década, o estudo da durabilidade das células OPV se
intensificou. Diversos estudos reportados na literatura indicam que o T80 (ou tempo em que a
115
célula em uso leva até decair para 80% de sua eficiência original) é, nos melhores casos, ao
redor de 1 ano [43]. Isso se deve ao fato de que, por serem feitas de material orgânico, as
células se degradam muito em condições ambientais. Por outro lado, protegê-las com
anteparos físicos tais como o vidro nos painéis inorgânicos eleva muito seu custo,
inviabilizando o uso da tecnologia.
Este cenário levou à proposta de uso do OPV que é a mais aceita atualmente, de que o OPV
deve ter seu custo muito reduzido, de forma a viabilizá-lo financeiramente frente ao silício. E
isso pode ser obtido porque o OPV pode ser fabricado utilizando-se somente materiais
abundantes, baratos, e cujo processo de produção não necessite de etapas de alta energia. Esta
constatação levou à criação do conceito do OPV "infinito", que consiste na fabricação de um
filme ou película plástica com células OPV que pode ser produzido continuamente de forma
linear num processo rolo-a-rolo. Dessa forma, cada camada da célula é depositada no
substrato como num processo de impressão de jornal, onde as tintas são os materiais
orgânicos empregados. Esse processo pode ser feito com precisão das espessuras
nanométricas das camadas a uma taxa relativamente alta de produção e sem uso de etapas de
altas temperaturas.
Utilizando-se essas premissas de processo de produção, estudiosos acreditam que o OPV
poderá ser, num futuro próximo, viável em aplicações específicas. O filme OPV pronto para
ser instalado já foi produzido em escala laboratorial a uma velocidade de 1 m/min, mas
estima-se que seu potencial seja semelhante ao da indústria de impressão de jornal, que chega
de 60 a 300 m/min. Uma produção da ordem de 10 m/min seria suficiente para produzir o
equivalente a 1GWp de filme OPV por dia, o que demonstra que em termos de produção e
escala, o OPV tem potencial para ser uma tecnologia incomparável. Além de apresentar um
baixo custo de materiais e de produção, o OPV também apresenta um baixo custo de
instalação e desinstalação, pois esse processo consiste apenas em aplicar a película orgânica
(que pode ser adesiva) à superfície de captação solar. Por ser leve, ele não demanda uma
estrutura específica ou mais cara, e a mão de obra envolvida também é reduzida. Numa
instalação experimental, foi obtida a taxa de instalação de 100 m/min, o que equivalia a
instalação de mais de 200 Wp/min, sendo que os estudiosos acreditam que esse valor pode até
triplicar sob certas condições.
Todavia, a premissa de baixo custo do OPV vem com restrições no que tange à eficiência das
células. Eficiências reportadas da ordem de 5 a 10% não podem ainda ser alcançadas
utilizando-se produção de larga escala, pois utilizam materiais ou processos que não se
enquadram na tecnologia de fabricação rolo-a-rolo. Instalações experimentais utilizando-se o
116
OPV produzido em escala apresentaram eficiência da ordem de 3 a 4% e durabilidade ao
redor de 1 ano. Portanto, o uso dessa tecnologia deve observar suas limitações e ser aplicado
onde poderá apresentar melhores resultados, ou seja, locais com grande área onde haja
facilidade de acesso para instalação e substituição dos filmes.
A tecnologia fotovoltaica orgânica ainda não é uma tecnologia totalmente consolidada no
mercado, motivo pelo qual as características das células de um fabricante ainda podem diferir
muito das de outros. Mas apesar dessa grande variabilidade, alguns pontos podem ser
levantados como sendo comuns a qualquer aplicação. Como exposto anteriormente, o OPV é
uma tecnologia que atinge baixo custo quando produzido e instalado na forma de um rolo
contínuo de um filme plástico. A separação de partes desse produto em painéis menores exige
um trabalho de corte e reconexão das células que não pode ser feito na mesma velocidade e
custo de produção do rolo, portanto, instalações OPV tipicamente devem utilizar o máximo
possível do comprimento da área de captação solar para minimizar a intervenção humana
durante a instalação. Como resultado, as instalações podem ter um elevado nível de tensão,
pois o filme OPV é produzido colocando-se todas as células em série, o que gera um novo
paradigma para o manuseio e concepção de usinas solares fotovoltaicas.
Apesar de ter baixa eficiência de conversão (e portanto baixa corrente), um rolo de 100 m de
OPV pode chegar à tensão de circuito aberto de mais de 10 kV, conforme ilustra a Figura 0.1.
Isso gera uma necessidade especial no que tange à segurança pessoal e da instalação,
demandando profissionais mais qualificados para seu manuseio e operação, limites mais
amplos de espaço de circulação e isolamentos de maior capacidade. Outra quebra de
paradigma nesse sentido diz respeito aos conversores e demais equipamentos a serem
utilizados, que podem ser de níveis de tensão mais elevados do que instalações fotovoltaicas
convencionais. Pelo fato de a eficiência de conversão já ser inerentemente muito baixa nessa
tecnologia, faz-se ainda mais importante o uso de um algoritmo de rastreamento de máxima
potência, o que requer um conversor estático para operação numa faixa muito específica de
tensões altas e correntes baixas. Logo, para se tornar mais eficiente em custos, é possível que
a geração de energia proveniente de OPV necessite de conversores específicos que não os
mesmos utilizados para painéis de silício atualmente.
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Figura 0.1 - Curva V x I e característica de potência de um filme de 100 m de OPV com o equivalente a
126.000 células conectadas em série [40].
Outra particularidade da priorização do uso das células OPV em série é o manuseio de
correntes menores. Desta forma, serão requeridos condutores de menor seção reta (portanto
mais baratos), e o sistema incorrerá em menores perdas de condução, contribuindo para uma
melhoria da eficiência geral da instalação. Vale ressaltar que as camadas condutoras
impressas no filme plástico podem ser feitas de material orgânico, mas em geral são feitas de
prata (para reduzir perdas de condução). Com isso, ao priorizar-se o emprego do maior
número de células em série, também está se reduzindo o uso de prata, que é um insumo caro
na produção do OPV. Essa prata pode ser recuperada após a vida útil do filme OPVe
empregado novamente após um processo de reciclagem.
Um problema que surge imediatamente quando se pensa na associação de células
fotovoltaicas em série advém do fato de que, para painéis convencionais de silício, o
sombreamento de uma célula já comprometeria o funcionamento de todo o painel. Entretanto,
foi observado que o OPV apresenta uma uma perda de desempenho menor para variações de
irradiação do que as células de silício [44]. A explicação desse fenômeno vem do fato de que
tipicamente células OPV tem um fator de forma da ordem de 50 a 60%, enquanto as de silício
podem chegar a 80%. Isso quer dizer que o desempenho de uma célula isoladamente pode ser
118
pior no OPV, mas para o caso de várias células conectadas em série seu funcionamento se
torna mais robusto. A Figura 0.2 ilustra essa afirmação.
(a) (b)
Figura 0.2 - Variação na característica V x I com sombreamento parcial para células de silício (a) e OPV
(b) [44].
Outro forte argumento dos defensores do OPV é sua vertente ambientalmente sustentável.
Estima-se que que filmes orgânicos produzidos atualmente possuam EPBT - Energy Pay-
Back Time (ou tempo em que as células produzem a mesma quantidade de energia que foi
empregada na sua fabricação) de apenas 90 dias. Esse desempenho é proporcionalmente
melhor do que todas as outras opções de energia fotovoltaica, e se equipara ao índice obtido
na geração eólica. Além disso, acredita-se que o OPV tenha potencial para chegar ao valor de
EPBT de apenas 1 dia, considerando a melhoria dos índices de eficiência e o emprego de
energia renovável no processo de fabricação.
Em resumo, o OPV pode ser uma alternativa interessante na geração de energia fotovoltaica,
observadas suas particularidades. Presume-se que sua utilização será viável em áreas grandes
que não poderiam ser utilizadas para outros fins, como áreas rurais estéreis, leitos de
barragens de hidrelétricas ou fachadas de prédios, por exemplo. Apesar de sua baixa
eficiência de conversão e curta durabilidade, seu processo de fabricação possibilita a produção
em massa, o que reduz custos e pode viabilizar sua instalação
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APÊNDICE B - LEVANTAMENTO DE MERCADO SOBRE PAINÉIS SOLARES DE
SILÍCIO POLICRISTALINO
A Tabela 0.1 a seguir apresenta a pesquisa realizada no dia 25/10/2016 no site
http://www.rensmart.com/Products/SolarPV.
Tabela 0.1 - Levantamento de mercado sobre painéis solares de silício policristalino.
Fabricante Área (m²) Eficiência % Potência de pico (Wp)
Sharp 1,63 13,74 224
Romag 1,63 14,42 235
Romag 1,63 14,11 230
Romag 1,63 13,8 225
Romag 1,63 13,5 220
Romag 1,63 12,88 210
Romag 1,63 12,58 205
Schott 1,67 13,45 225
Schott 1,67 13,15 220
Schott 1,67 12,97 217
Schott 1,67 12,55 210
Yingli 1,63 12,86 210
Yingli 1,63 13,16 215
Yingli 1,63 13,47 220
Yingli 1,63 13,77 225
Yingli 1,63 14,08 230
Yingli 1,63 14,39 235
Yingli 1,63 12,86 210
Yingli 1,63 14,08 230
Suntech 1,65 13,64 225
Suntech 1,65 13,33 220
120
121
APÊNDICE C - ALTERNATIVA DE IMPLEMENTAÇÃO DE CONTROLE PARA
CONTINUIDADE DE ESTUDOS
O modelo da planta apresentado na Figura 4.11 sugere um sistema de controle que empregue
basicamente três abordagens distintas. A primeira delas seria o desacoplamento dos termos
em amarelo, através da injeção do valor medido de �� dividido pelo � médio estimado e de
��, ambos com sinais invertidos ao que apresentam no ponto de soma. A segunda seria uma
malha interna de realimentação para controle de corrente, atuando nos blocos do sistema
marcados em azul. Por último, a terceira abordagem seria uma segunda malha de controle,
esta atuando na tensão de saída, sinalizados pelos blocos marcados em verde. Uma forma de
implementação desse sistema de controle pode ser observado na Figura 0.1.
Figura 0.1 - Sistema de controle proposto para o conversor.
No sistema de controle proposta na Figura 0.1, os blocos marcados em amarelo representam
os sinais a serem utilizados para desacoplamento da realimentação interna de �� e da
perturbação ��. Já os blocos em azul representam a malha de controle de corrente onde os
valores de �, ��, � e �� utilizados devem ser estimados pelo próprio sistema de controle, e ��
representa o ganho do controlador Proporcional, que deve ser obtido para uma faixa de
passagem de 1/10 da frequência de chaveamento (no caso, 250 Hz). Os blocos em verde por
sua vez mostram o controlador PI (Proporcional-Integral) proposto para a malha de controle
da tensão, cujos ganhos �� e ��� deverão ser calculados de forma a conferir um polo em 25
Hz e outro 2,5 Hz, respeitando o espaçamento de uma década para a resposta em frequência
de cada malha. Por fim, o algoritmo MPPT deve prover uma referência de tensão com base
nas grandezas medidas na entrada do conversor com frequência de amostragem de 0,25 Hz,
para permitir que cada malha de controle possa de fato funcionar sem que haja influência da
122
outra. Uma visão geral desse sistema de controle acoplado ao modelo da planta pode ser visto
na Figura 0.2 a seguir.
Figura 0.2 - Visão geral do sistema de controle em conjunto com a planta do conversor.
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APÊNDICE D - CÓDIGO DE IMPLEMENTAÇÃO DO ALGORÍTMO PERTURBA &
OBSERVA
A técnica de MPPT Perturba e Observa implementada para a simulação do conversor
projetado nesse trabalho foi feita através de um bloco de função do Matlab Simulink com o
seguinte código fonte:
function Vref = MPPT_PO(Vpv,Ipv,deltaV) % Controlador MPPT baseado no método Perturba & Observa persistent Vold Pold Iold; if isempty(Vold) Vold = 0; Pold = 0; Iold = 0; end P = Vpv*Ipv; dI = Ipv - Iold; dP = P - Pold; if dP ~= 0 if dP < 0 if dI < 0 Vref = Vold - deltaV; else Vref = Vold + deltaV; end else if dI < 0 Vref = Vold + deltaV; else Vref = Vold - deltaV; end end else Vref = Vold; end if Vref >= 1000 Vref = 1000; else if Vref <= 500 Vref = 500; end end Iold = Ipv; Vold = Vref; Pold = P;
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APÊNDICE E - RESULTADOS DA SIMULAÇÃO NO PVSYST
As figuras a seguir apresentam os resultados obtidos nas simulações do PVsyst para a planta
projetada, sendo que as Figura 0.1 e Figura 0.2 mostram os valores para o cenário com
inversor e as Figura 0.3 e Figura 0.4 com conexão direta ao processo por conversor c.c. - c.c.
Figura 0.1 - Resultados mês a mês da simulação PVsyst considerando conexão através de inversor.
Figura 0.2 - Diagrama de perdas anuais considerando conexão com rede c.a. através de inversor.
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Figura 0.3 - Resultados mês a mês da simulação PVsyst considerando conexão através do conversor c.c. -
c.c.
Figura 0.4 - Diagrama de perdas anuais considerando conexão direta com processo através de conversor
c.c. - c.c.