Dissertação Vitor Scarpelli Parte2ão Vitor Scarpelli Parte2
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Capítulo II � Balsas 23
2.1 � O município de Balsas
A cidade de Balsas situa-se na mesorregião do Sul Maranhense, microrregião
dos Gerais de Balsas e ocupa uma área de 13.141,64 km21
. Em 2000, a população total
era de 69.662 habitantes, sendo 59.113 habitantes localizados na Zona Urbana e 10.549
localizados na Zona Rural2. Está localizada a aproximadamente 800 km¹ da capital São
Luis, 650 km de Teresina², 400 km de Imperatriz e 270 km de Araguaína. O acesso ao
município é feito, principalmente, por duas rodovias federais: a BR 230 e a BR 163 �
Belém-Brasília.
A região é predominantemente composta por cerrado tropical subcaducifólico e,
nas margens dos rios e córregos, é possível encontrar campo higrófico de várzea e mata
ciliar.
O clima na região é característico da região central do Brasil, e é denominado
AW (tropical chuvoso), segundo a classificação Koppen. A precipitação pluviométrica
acontece entre os meses de outubro e abril, variando em torno de 1.300 mm/ano. Entre
os meses de dezembro e março, acontecem cerca de 65% do total anual das chuvas. A
temperatura mantém-se entre 24ºC a 28ºC, durante o ano, com algumas oscilações. Os
valores de nebulosidade variam entre 3,7 a 5,0 horas/dia, na maior parte do ano. Os
ventos alcançam a velocidade média de 1,5m com poucas variações durante o ano. O
vale do rio Balsas apresenta-se heterogêneo no ponto de vista do zoneamento
hidrológico. A bacia não possui nenhum açude, a qualidade das águas no vale do rio
Balsas é de boa qualidade para o aproveitamento agrícola, característica que incentiva a
agricultura local.3
A mesorregião do Sul Maranhense tem como vegetação predominante o cerrado.
Este tipo de vegetação estimula a atividade tradicional da região, a pecuária bovina na
modalidade extensiva, atividade que teve papel significativo no povoamento da
mesorregião. A partir da segunda metade da década de 1970, a ocupação dispersa e de
baixa densidade demográfica inicia um processo de transformação, principalmente com
a entrada de imigrantes, proprietários e arrendatários do sul do país. Essa transformação
prioriza a agricultura, principalmente o cultivo da soja e do arroz, e caracteriza-se por 1 IBGE, 2007 2 Arquivo Cultural de Balsas, 2007 3 Ibidem
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24
apresentar um número elevado de pequenas fazendas, embora possam ser encontradas
fazendas com 1000 ou mais hectares.
A diminuição dos cultivos tradicionais e a expansão de uma rizicultura
mecanizada, são os principais elementos responsáveis pela diminuição da produção
animal na região que, apesar de ainda ser muito significativa na região, é menos
intensiva que a da capital.
Balsas tem aumentado sua atuação econômica na região sul do Maranhão
gradualmente a partir da década de 1980, principalmente pelo crescimento do setor de
serviços e implantação de novos estabelecimentos industriais. O número elevado de
gaúchos que compraram terras e implantaram empresas rurais de médio e grande porte
na mesorregião Sul Maranhense, foi um elemento fundamental para o aumento
populacional e desenvolvimento das produções de soja e arroz no estado. Nessa mesma
década, a produção desses grãos aumentou consideravelmente devido à mecanização
das terras cultivadas, emprego de fertilizantes e corretivos.
A história do município de Balsas tem início em meados de 1815. Sargento
Alencar, um viajante comprador de peles de animais, transportava suas mercadorias
com cavalos e burros. Durante o trajeto, seus animais sofreram de uma infecção da qual
morreram. Devido à necessidade de voltar à cidade em que morava, construiu uma
Balsa para transportar sua mercadoria até o comércio de Floriano e Teresina. A partir
desse momento, houve um aumento no transporte fluvial através do rio Balsas. As
balsas serviram, durante muito tempo, como meio de transporte para pessoas e
mercadorias, principalmente cereais, coco, babaçu, couro de boi, porcos, arroz, frutas e
peles de animais silvestres. As viagens para Teresina e Floriano duravam em média de
15 a 20 dias.
No final do século XIX, diversos fazendeiros possuíam fazendas às margens
direitas do rio Balsas. O ponto mais acessível para chegar até as fazendas era o Porto
das Caraíbas, no rio Balsas, devido ao movimento constante de fazendeiros, vaqueiros e
viajantes. O primeiro morador da região foi o canoeiro, que fazia as passagens no rio e
administrava uma pequena quitanda, que oferecia aos viajantes, principalmente farinha,
rapadura, querosene, remédios e cachaça. Em seguida, estabeleceu-se na região um
mercador de fumo e músico Antônio Ferreira Jacobina. Os registros destacam diversos
personagens músicos ou pertencentes à vida boêmia nesse período da história de Balsas,
25
quase sempre exercendo uma função de cativar as pessoas da região.4 A partir desse
momento, novos casebres foram se agrupando às margens do rio Balsas.
Antônio Ferreira Jacobina organizava festas e pagodeiras. Com isso ganhou a
simpatia do povo e tornou-s o primeiro chefe do povoado, que foi chamado de Vila
Nova. Em 1879, havia duas ruas em Vila Nova. Nesse período, havia, na região, uma
capela, pequenos comércios que traziam a maioria das mercadorias de Terezina e muitas
vezes utilizavam o escambo, usando peles de animais silvestres, couro de boi espichado,
carnes secas e cereais como pagamento. Muitas famílias cearenses habitavam Vila Nova
durante esse período. Uma cadeira de primeiras letras é criada em Santo Antônio de
Balsas, no ano de 1882.
No ano de 1892, o Deputado Estadual, Padre Balduíno Pereira Maya, assume a
liderança política na região, agora chamada Santo Antônio de Balsas. O povoado foi
elevado à categoria de vila em 9 de agosto do mesmo ano. A demanda comercial
aumentava e fazia-se necessário um maior número de embarcações no porto de Balsas.
O Governo Estadual publicou, em 11 de Maio de 1896, o orçamento estadual
para uma Escola Mista, com a importância de 840,00 réis anuais. Nesse período,
também através do governo estadual, entra em funcionamento uma escola pública, que
se tornaria, em pouco tempo, a Escola Agrupada Arthur de Azevedo e, mais tarde, se
transformou no Grupo Escolar Luiz Rêgo, que recebia apoio da Paróquia de Balsas.
No dia 26 de abril de 1911, a empresa Oliveira, Pearce e Cia., dirigida pelo
Coronel Pedro Tomás de Oliveira Pierce, chega a Santo Antônio de Balsas. Utilizando
um guincho a vapor removeu tocos de madeira que obstruíam o rio Balsas. A partir de
11 de julho de 1911, a navegação do rio Balsas se estabelece e desloca para si o eixo do
comércio do sertão.
A partir desse período, acentua-se o movimento de balsas e vapores através do
rio Balsas, e a cidade se desenvolve com rapidez. Em 1918, o representante da Zona
Sertaneja no congresso estadual, o deputado Thucydides Barbosa, apresentou um
projeto que foi convertido em lei, no dia 22 de março do mesmo ano, e elevou Santo
Antônio de Balsas à categoria de cidade. A mesma lei permitia se dirigir à cidade pelo
nome de Balsas.
4 Ibidem
Com o constante crescimento da cidade e um grande volume de transações
comerciais com São Luís e Piauí, estabelece-se na cidade a linha telegráfica. No mesmo
26
ano, foi criada a primeira associação de futebol, que foi denominada Associação
Esportiva Balsense, sob a presidência de Thucydides Barbosa.
Devido ao grande fluxo de viajantes, a maioria originária do Piauí e Goiás, surge
a Pensão do Comércio, que, alguns anos depois, se tornaria um hotel de médio porte, o
Hotel Santo Antônio.
Durante o ano de 1925, houve uma passagem da coluna Prestes no município de
Balsas, sob o comando dos coronéis Siqueira Campos, Luis Carlos Prestes, João Alberto
e Cordeiro de Farias. Na época, Thucydides Barbosa era o prefeito da cidade e alojou a
tropa em um antigo prédio, onde havia funcionado a prefeitura, e abasteceu a tropa com
mantimentos e munições. No ano seguinte, no dia 21 de fevereiro, a Polícia Militar do
Maranhão tomou conhecimento de dois remanescentes da tropa e fuzilou-os em praça
pública.
Thucydides Barbosa cria, em 1925, o primeiro Jornal impresso de Balsas, A
Evolução, dirigido pelo ex-repórter do jornal Província do Pará, Ascendino Pinto. No
final de 1931, Thucydides Barbosa organiza a Empresa Tipográfica de Balsas, que se
torna o Jornal de Balsas. A primeira edição do jornal foi publicada em 27 de janeiro de
1932 e foi vendido em grande parte da zona sertaneja. O vasto serviço telegráfico
facilitava o recebimento de notícias de São Luís e do Rio de Janeiro.
Em 1926, diversas famílias sírias e libanesas se estabeleceram em Balsas,
motivadas pelo período de prosperidade econômica em que vivia Balsas. A colônia
Sírio-Libanesa convida o professor João Joca Rêgo para fundar na cidade o Instituto
Sírio Brasileiro. João Joca Rêgo também foi co-fundador do Instituto Gil Pires e do
Educandário Coelho Neto.
A década de 1930 foi de estagnado crescimento econômico para o município de
Balsas. A navegação a vapor praticamente desapareceu devido às obrigações sociais e à
rigorosa fiscalização da Capitania dos Portos de Parnaíba. Outros agravantes desta
situação foram o surgimento das primeiras estradas de rodagem, administradas pelo
departamento de obras contra as secas, e a facilidade de adquirir caminhões importados
dos Estados Unidos. Com a estagnação econômica, muitas famílias de Balsas
aventuraram-se nos Garimpos de Diamante e Cristais de Rocha, localizados no estado
de Goiás. Nesta mesma década, foi instalado o 13º Distrito Sanitário na cidade de
Balsas. No final da década, houve diversas sondagens e perfurações com o objetivo de
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encontrar petróleo, mas os poços encontrados na cidade não compensavam o
investimento.
Na Década de 1950, a criação do Ginásio Balsense começava a ser planejada. O
projeto foi colocado em prática no dia 28 de fevereiro de 1953 com o objetivo de prover
formação educacional e cultural. Foi criado, então, o primeiro estabelecimento de
ensino médio gratuito na cidade de Balsas e na região sertaneja.
A Prelazia de Santo Antônio de Balsas é criada, também, na década de 1950, sob
a experiência de evangelização na África e Portugal, no dia 12 de junho de 1952,
véspera do dia do padroeiro Santo Antônio. A ordem dos Combonianos chega a Balsas,
vinda do Rio de Janeiro. Essa missão religiosa tinha como locais de atuação a cidade de
Balsas e outras cidades da zona sertaneja.
Durante a década de 50, o comércio no município de Balsas tinha como
principal produto o sal, que chegava a Balsas em embarcações vindas de Parnaíba.
Comerciantes de municípios do sul de Goiás, hoje Tocantins, compravam sal e
remédios e vendiam crina de cavalos, peles de animais silvestres e couro de boi.
A Associação Recreativa Balsense constrói, em 1952, um espaço para realização
de bailes, uma cópia do Ideal Clube Fortaleza, que foi chamado de Clube Recreativo
Balsense, que passou por diversas modificações até o ano de 2005. Hoje, o clube
continua em funcionamento.
Entre os anos de 1954 e 1958, foi construída a Ponte de Madeira, uma obra
destinada a facilitar o acesso para os moradores da região da Tresidela e das fazendas
vizinhas. A ponte tem 75 metros de comprimento, 4,5 metros de largura e
aproximadamente 12 metros de altura a partir do nível da água.
Em 1959, Monsenhor Diogo Parodi se torna bispo da Prelazia de Balsas,
nomeado pelo Papa João Paulo XXIII. Monsenhor Diego Parodi lidera a construção do
Hospital São José de Balsas, Seminário São Pio X e a Escola Normal Dom Gabriel
Comboini. Nesse período, foram intensificados os programas de obras sociais e
assistenciais.
A década de 1960 foi marcada no município de Balsas pelo cinema. O primeiro
cinema da cidade foi chamado de Cine Santo Antônio, conhecido como cinema dos
padres. Em seguida, surge o Cine Éden, onde as sessões aconteciam quase que
diariamente. Além da exibição de filmes, o cinema servia como meio de comunicação
28
das notícias locais, graças a um sistema de amplificadores que informava os transeuntes
e fazia anúncios dos estabelecimentos comerciais locais.
Durante a década de 1970, houve um grande fluxo de migrantes de diversas
partes do Brasil, a maioria do Rio Grande do Sul. Esses migrantes se estabeleceram,
principalmente, na região da Chapada dos Gerais de Balsas, localizada no sul do
município de Balsas, próxima à fronteira com o Tocantins. Esses migrantes vieram
selecionados através de uma empresa responsável por selecionar famílias de colonos
dos estados de Mato Grosso, Goiás e Maranhão e assentá-las no município de Balsas.
Com a divulgação das terras férteis para o plantio da soja, outros migrantes também se
alojaram em Balsas, vindos principalmente do Paraná, Mato Grosso, Mato Grosso do
Sul, Minas Gerais, São Paulo, Pernambuco, Tocantins e Goiás. Também na década de
1970, inicia-se um processo de mecanização na agricultura do município de Balsas. As
plantações nas fazendas são, a partir desse momento, principalmente de arroz.
A televisão tem início no município de Balsas no ano de 1979. A primeira
emissora de televisão no município foi a TV Rio Balsas, retransmissora da Rede Globo
de Televisão. No período inicial de funcionamento, a retransmissora possuía um
pequeno transmissor e um VT, que permitiam a retransmissão principalmente das
novelas e do Jornal Nacional, que era transmitido em Balsas uma semana depois,
quando chegavam as fitas gravadas de São Luis, transportadas por ônibus.
As primeiras antenas parabólicas chegam a Balsas em 1982, popularizando a
televisão entre os moradores da cidade. Em 1989, a TV Rio Balsas é inaugurada como a
primeira estação geradora do município, filiada à Rede Globo de Televisão.
O movimento teatral na cidade de Balsas inicia uma atuação mais intensa
durante a década de 1980. Na década seguinte, o primeiro festival de teatro do estado é
criado no município de Balsas.
O Bairro Bacaba
O primeiro morador do bairro Bacaba foi Agostinho Neves, filho de Tiburcio
Neves e Maria Neves. Agostinho Neves nasceu na Serra da Limpeza, na microrregião
dos Gerais de Balsas, no dia 28 de agosto de 1909. Agostinho Neves tinha nove anos,
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quando seu pai faleceu. Após o ocorrido, Maria Neves mudou-se para a cidade de
Balsas.
No ano de 1928, aos 19 anos, Agostinho Neves trabalhava e estudava. No
mesmo ano, foi morar com Thucydides Barbosa e, graças a esse fato, conseguiu um
emprego de oficial de justiça.
No dia 04 de novembro de 1934, Agostinho Neves, que estava com 25 anos,
casou-se com Arcângela de Sousa e construiu uma casa de palha em uma região
afastada do centro da cidade de Balsas. Em 1935, Arcângela de Sousa Neves e
Agostinho Neves tiveram sua primeira filha. O casal teve mais 13 filhos. Com a
chegada da filha, as despesas aumentaram e Agostinho Neves precisou de um segundo
emprego, ajudando um fazendeiro da região a cuidar do gado em troca de um litro de
leite. Com o passar dos anos, Antônio, empregador de Agostinho Neves, presenteou-o
com uma bezerra, para que Agostinho Neves pudesse retirar o leite em casa.
O apelido de Agostinho Neves entre os oficiais de justiça era Canário, e, devido
à quantidade de árvores de bacaba na região onde ele residia, o local ficou conhecido
como bairro da Bacaba do Canário.
A filha mais velha de Agostinho Neves e Arcângela de Sousa Neves, Zenite,
casou-se com José Alves da Silva. Construíram sua casa no bairro da Bacaba do
Canário e tiveram sete filhos.
Isomar de Sousa Neves, filho de Zenite da Silva e José Alves da Silva conta que,
a partir da segunda metade da década de 1950, o número de moradores no bairro Bacaba
começou a aumentar significativamente. �Rapaz, aqui quando eu me entendi, aqui era
só uma estradinha aqui para o centro, sabe? Em 57, aí foi começando a chegar vizinho,
foi indo, foi indo, chegando e se tornou hoje estar morando na cidade�.
Antonieta Neves da Silva Matos é a filha mais velha do casal José Alves da
Silva e Zenite Silva. Antonieta foi professora de catequese e, após essa experiência
quando tinha entre 15 e 16 anos, seu pai e seu avô montaram uma pequena escola na
própria casa da família, que atendia de 1ª a 4ª série.
A escolinha nossa aqui começou lá na casa mesmo da minha mãe. Eu
trabalhava como catequista ali no bairro Nazaré, na igrejinha, na
capelinha, como chamava, a capelinha. Fui a primeira professora de
catequese de lá; aí, como aqui tinha necessidade dos alunos ali da
rua, avenida Tito Coelho, no bairro Nazaré, que só tinha uma rua, eu
na idade de 15 a 16 anos, o papai foi mais o meu avô e formaram a
30 escolinha, que era sentar de varão, era palmatória, a campainha era
um chocalho e era turma multisseriada, que é da primeira a quarta
série que ensinava.5
Alguns anos depois, uma equipe do Edurural6 visitou a saudade de Balsas com o
objetivo de capacitar professores que não tinham magistério. Antonieta Neves da Silva
Matos teve um encontro com a equipe do Edurural, que financiou a construção de uma
escola no bairro Bacaba.
Passado tempo, o pessoal de São Luís, vieram aqui, me viram nesse
sofrimento e perguntaram se eu queria ter uma escola. Ai nós saímos
lá da casa, que era um ranchinho de palha, ai viemos entramos aqui
nessa mata, porque aqui era mata, viemos para essa mata aqui e ai
construíram essa escola, que ficou como uma homenagem ao meu avô
Agostinho Neves. E eu como a primeira professora, Antonieta.7
A nova escola do bairro Bacaba foi inaugurada no ano de 1976 e possuía duas
salas de aula, três banheiros e um auditório. As famílias que habitavam o bairro, em
constante crescimento, participaram ativamente na escola nos primeiros anos de
funcionamento.
Ah, quando começou era bom demais, que os pais vieram atrás de
mim, para ter começado essa escola, a escola na zona rural. Ai os
pais vieram atrás de mim, para começar essa aula e eu lecionava com
toda garra, e os pais, nós fazíamos brincadeiras, os pais eram
participativos demais.8
No ano de 1978, o bairro Bacaba deixa de ser um bairro pertencente à Zona
Rural e passa a pertencer à Zona Urbana. Atualmente, a escola Agostinho Neves é
composta por 13 salas de aula, uma biblioteca, uma sala dos professores, uma secretaria
e três banheiros.
5 NEVES, Antonieta. 2009. Entrevista concedida a V.P. Scarpelli 6 Programa de expansão e melhoria da educação no meio rural do nordeste 7 NEVES, Antonieta. 2009. Entrevista concedida a V.P. Scarpelli 8 Ibidem
O bairro Bacaba está localizado na periferia de Balsas. Poucas casas do bairro
são construções de grande porte, e a maior parte das ruas do bairro é de terra batida. O
acesso ao bairro, pelo transporte público, está limitado a ônibus que circulam em poucos
horários do dia. O transporte de pessoas, no bairro, é feito basicamente por motos.
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Os estabelecimentos comerciais são, muitas vezes, extensões ou a parte frontal
da casa do proprietário. Os atendimentos nesses estabelecimentos são feitos sem
nenhuma pressa por parte dos atendentes e não raramente esses interrompem ou
diminuem a velocidade do atendimento para manter conversas casuais com pessoas que,
naquele momento, não estão comprando um produto ou solicitando um serviço
oferecido pelo estabelecimento. Segundo Hoggart, os trabalhadores de comunidades
menos favorecidas economicamente não possuem grande senso de competição no
trabalho, pois as chances de ascensão são quase nulas. Para ele, esses trabalhadores:
(...) sabem que não têm quaisquer possibilidades de promoção ou de
fazer carreira. As tarefas dispõe-se num leque horizontal, e não numa
hierarquia vertical, a vida não é concebida em termos de uma
ascensão, e o trabalho não é o principal interesse. O respeito pelo
trabalho bem feito mantém-se, mas o homem que está no lugar do
lado não é considerado em termos de competição.9
Devido à falta de perspectiva de crescimento profissional, a carreira passa a
figurar em segundo plano, os laços do trabalhador são mais fortes com o local onde
reside do que com o local onde trabalha. Hoggart(1973, p.76) afirma que o membro do
proletário �(...) muda mais facilmente de local de trabalho do que de residência:
pertence mais ao bairro do que à fábrica.�
Os meios de comunicação em Balsas
No município de Balsas existem cinco retransmissoras de televisão, duas rádios
e dois jornais impressos. Há uma quantia considerável de rádios não-legalizadas, porém,
quantificar essas rádios é uma tarefa complexa devido às constantes mudanças de
frequência, nomes e localização dessas emissoras. Como o objetivo da descrição dos
9 HOGGART, 1973, p.100
meios de comunicação é apresentar os meios mais acessíveis aos moradores do bairro
Bacaba, as rádios não legalizadas aqui apresentadas estão localizadas, uma, no bairro
Bacaba e outra, em um bairro vizinho, e ilustram o modo de funcionamento de algumas
dessas rádios.
32
As retransmissoras de televisão representam a Rede Globo, Rede TV!, SBT,
Rede Record e Rede Vida. Essas retransmissoras possuem um número muito reduzido
de funcionários, se comparadas às emissoras que representam. Por isso, nas emissoras
do município de Balsas, com menor número de funcionários, é comum o acúmulo de
funções.
A TV Açucena é afiliada da Rede Record e possui duas horas diárias de
programação local. Essa programação é composta por um telejornal, veiculado de
segunda à sexta-feira, e programas dirigidos principalmente às pessoas oriundas do Rio
Grande do Sul ou pessoas que tenham ascendência gaúcha. A TV Açucena possui sete
funcionários.
A TV afiliada à RedeTV!, no município de Balsas, é a TV Capital. A
programação local da TV Capital baseia-se em um telejornal local de três horas de
duração, que vai ao ar às segundas, quartas, quintas e sextas-feiras. Na terça-feira, é
veiculado um programa que provê assistência a uma ou mais famílias de baixa renda.
Aos sábados, a programação local é formada por um programa de variedades, dirigido
especificamente ao público feminino, e um programa que apresenta talentos locais. Aos
domingos, é apresentado um programa direcionado ao público gaúcho. A TV Capital
possui uma equipe de 13 funcionários.
A TV Rio Balsas retransmite a programação da Rede Globo. Um telejornal local
de aproximadamente 40 minutos é produzido com fatos locais e exibido durante o dia,
de segunda a sábado. À noite, uma versão reduzida de aproximadamente 20 minutos,
com o resumo do telejornal diário, é exibida. A TV Rio Balsas possui uma estrutura
consideravelmente maior que as outras emissoras com um quadro de 45 funcionários.
O SBT tem como emissora afiliada em Balsas a TV Liberdade. A programação
local, de segunda a sexta-feira, é composta por um telejornal de uma hora e quinze
minutos, seguido de um programa de variedades. Aos, sábados são exibidos três
produções locais: uma sobre esportes, uma sobre saúde e outra sobre agricultura.
Apoiada pela Diocese de Balsas, a Fundação Brasil de Balsas possui uma
emissora de televisão, TV Boa Notícia, filiada à Rede Vida. A fundação também possui
uma rádio, a Rádio Boa Notícia. A programação local acontece de segunda a sábado.
Um noticiário de 45 minutos de duração é veiculado no início da tarde e é reprisado no
início da noite. Ao contrário do que acontece na TV Boa Notícia, a programação
religiosa veiculada na Rádio Boa Notícia compõe apenas uma pequena parte da grade
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de programação, uma hora e 45 minutos diários. O resto da programação tem,
principalmente, cunho social. A Rádio e TV Boa Notícia têm um conjunto de 14
funcionários.
A Rádio Cultura FM fica 18 horas diárias no ar. A programação tem início às 6h
e é encerrada às 24h. As participações dos ouvintes basicamente se limitam a pedidos de
músicas pelo telefone.
As rádios Nativa e Cidade têm suas programações compostas principalmente de
músicas e anúncios de estabelecimentos comerciais locais. Acontecimentos sobre o
bairro e a cidade se misturam com anúncios comerciais e são transmitidos no período da
manhã. Essas rádios se autodenominam comunitárias, porém não se encaixam no
conceito de rádio comunitária nem possuem nenhum tipo de legalização. Essas rádios
contam com um número extremamente reduzido de funcionários. Em alguns casos, o
locutor exerce outras funções, como técnico de áudio, repórter e realiza a manutenção
nos equipamentos da rádio.
Os carros de som são um meio de comunicação encontrado com facilidade na
cidade de Balsas. Esses carros veiculam, principalmente, anúncios sobre
estabelecimentos comerciais locais e eventos, como festas e shows. Os motoristas dos
carros possuem um convênio com um estúdio local, onde gravam as mensagens que
serão veiculadas nos carros.
No município de Balsas existem dois jornais impressos: o Correio de Balsas e o
Jornal Popular Balsense.
O jornal Correio de Balsas é semanal e tem 12 páginas. As notícias sobre a
cidade raramente incluem o bairro Bacaba.
O outro jornal da cidade, o Jornal Popular Balsense, tem 20 páginas por edição e
a periodicidade é mensal. As notícias do Jornal Popular Balsense abrangem
principalmente política.
A comunidade do bairro Bacaba tem acesso muito limitado à internet. Em um
questionário aplicado em 100 moradores do bairro, XX dizem nunca ter utilizado a
internet, e embora XX reconheçam a internet como fonte de conhecimento, apenas XX
utilizam a internet para alguma atividade que não esteja relacionada a programas de
comunicação instantânea e sites de relacionamento pessoal.