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    UNIVERSIDADE DE SO PAULO

    NARA ANGLICA POLICARPO

    TRATAMENTO DE SOLOS CONTAMINADOS COM BIFENILAS

    POLICLORADAS (PCBs)

    So Paulo2008

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    NARA ANGLICA POLICARPO

    TRATAMENTO DE SOLOS CONTAMINADOS COM BIFENILAS

    POLICLORADAS (PCBs)

    Dissertao apresentada EscolaPolitcnica da Universidade de So Paulopara obteno do Ttulo de Mestre emEngenharia

    So Paulo

    2008

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    NARA ANGLICA POLICARPO

    TRATAMENTO DE SOLOS CONTAMINADOS COM BIFENILAS

    POLICLORADAS (PCBs)

    Dissertao apresentada EscolaPolitcnica da Universidade de So Paulopara obteno do Ttulo de Mestre emEngenharia

    rea de Concentrao:

    Engenharia Qumica

    Orientador: Prof. Dr. Cludio AugustoOller do Nascimento

    So Paulo2008

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    FICHA CATALOGRFICA

    Policarpo, Nara AnglicaTratamento de solos contaminados com bi fenilas

    policloradas (PCBs) / N.A. Policarpo. -- So Paulo, 2008.p.72

    Dissertao (Mestrado) - Escola Politcnica da Universidadede So Paulo. Departamento de Engenharia Qumica.

    1. Solos contaminados (Remediao) 2. Oxidao qumica3. Reagente de fenton I. Universidade de So Paulo. EscolaPolitcnica. Departamento de Engenharia Qumica II. t.

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    mainha por todo o esforo e amor dedicado minha educao.

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    AGRADECIMENTOS

    Ao amigo e engenheiro da Lubnor, Joo Augusto, que possibilitou o contatocom o meu orientador, e por isso, permitiu que eu desenvolvesse esse trabalho.

    Ao Prof. Dr. Claudio Nascimento pela orientao e apoio.

    Ao Prof. Dr. Jos Ermrio pela co-orientao e disponibilidade incondicionais.

    FUSP e ao CNPq, que atravs do Departamento de Engenharia Qumica da

    POLI/USP, financiaram a pesquisa.

    Ao Grupo de Pesquisas em Separaes por Adsoro (GPSA) da

    Universidade Federal do Cear (UFC) pela realizao das anlises das amostras desolo.

    A Deus que sempre esteve comigo em todos os momentos da minha vida.

    mainha e My que sempre estiveram ao meu lado me incentivando com seu

    amor.

    A Gerby, Gil, Helena e Thiago que se tornaram a minha segunda famlia,

    dando fora nos momentos difceis.

    A todos os meus amigos pela fora e amizade, sem a qual eu no viveria. Em

    especial a James, Flvia, Denise, Beatriz, Ayres e Vanio.

    Aos queridos amigos viciados em volei do CEPE pelos divertidos momentos,

    especialmente Marcelo.

    queles que contriburam de alguma forma para a execuo desse trabalho.

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    Para cada esforo disciplinado h uma retribuio mltipla.

    Jim Rohn

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    RESUMO

    Devido alta toxicidade, a produo e comercializao dos PCBs (PolychlorinatedBiphenyls Bifenilas Policloradas) esto proibidas no mundo todo. Esses compostosforam utilizados principalmente como base de misturas comerciais em leosdieltricos para transformadores e capacitores. Hoje existem diversas reascontaminadas com essas substncias que so de difcil degradao ocasionada pelasua elevada estabilidade trmica e qumica. H diversos estudos sobre diferentestcnicas de tratamento de reas contaminadas por PCBs. A tcnica proposta nessetrabalho foi a de oxidao qumica atravs do reagente de Fenton. Para isso, foisimulado em laboratrio experimentos de tratamento de solo contaminadosartificialmente por ascarel (mistura comercial de PCBs). A oxidao foi realizada

    segundo a tcnica do planejamento experimental fatorial de dois nveis e duasvariveis. Manteve-se constante a concentrao do contaminante em torno de6000 mg de PCB/ kg de solo e variou-se a concentrao de Fe2+ (0,04 a 0,1mol/L) e H2O2(2,07 a 4,15 mol/L). Os ensaios foram realizados ainda nos seguintestempos de reao: 0, 5, 24 e 48 horas. A anlise dos dados foi realizada atravs decromatografia gasosa acoplada a um espectrmetro de massa GC/MS. Dosresultados, concluiu-se que o experimento cuja concentrao do reagente de Fentonera 4,15 mol/L de H2O2 e 0,04 mol/L de Fe

    2+, apresentou melhor percentual deremoo, em torno de 76% para o pentaclorobifenila, 67% para o hexaclorobifenila e72% para o heptaclorobifenila. Alm disso, observou-se que, dentro da regioexperimental estudada, o efeito da concentrao de ons ferrosos foi mais

    significativo do que o causado pela concentrao de perxido de hidrognio e que omesmo tem um efeito negativo pois aumentando a concentrao dos ons ferrososdiminui-se a remoo dos contaminantes.

    Palavras-chave: Solos. Bifenilas Policloradas. Reagente de Fenton.

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    ABSTRACT

    Production and trading of polychlorinated biphenyls (PCBs) are prohibited at wholeworld due to their high toxicity. They were used mainly as dielectric oils fortransformers and capacitors. Recently there are many contaminated areas with thesecompounds. The high thermic and chemistry stability of PCBs are responsible fortheir hard degradation. Many studies have been conducted about several techniquesof soil remediation. The main purpose of this research is to study chemical oxidationusing Fentons reagent to soils treatment. It was simulated in laboratory experimentsof soil treatment which was artificially contaminated with Ascarel (PCBs commercialmixture). Process oxidation was made according to factorial experimental planningtechnique of two levels and two variables (22). The contaminant concentration was

    constant 6000 mg PCB/ kg soil and it was varied the Fe2+

    concentration (0,04mol/L to 0,10 mol/L) and H2O2 concentration (2,07 mol/L to 4,15 mol/L). The timesreaction of experiments were: 0, 5, 24 and 48 hours. It was used gaschromatography coupled with mass spectrometer GC/MS. The better result shownremoval rate of 76% to pentachlorobiphenyl, 67% to hexachlorobiphenyl and 72% toheptachlorobiphenyl, experimental conditions were Fe2+concentration of 0,04 mol/Land H2O2concentration of 4,15 mol/L. Besides it was observed that studied regionthe concentration effect of ferrous ions was more significant than concentration effectof hydrogen peroxide. The concentration effect of ferrous ions was negative onsystem because removal rate of contaminants decreases when [Fe2+] increases.

    Keywords: Soils. Polychlorinated Biphenyls. Fentons Reagent.

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    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1:Relao de reas contaminadas no Estado de So Paulo (CETESB, 2007)

    .................................................................................................................................. 20

    Figura 2:Grupos de contaminantes encontrados nas reas contaminadas no Estado

    de So Paulo (CETESB, 2007) ................................................................................. 20

    Figura 3:Frmula estrutural dos PCBs .................................................................... 24

    Figura 4:Comportamento de contaminante orgnico em subsolo (Costa et al., 1999)

    .................................................................................................................................. 29

    Figura 5:Estrutura molecular de uma dioxina e de um furano (Mesquita, 2004) ..... 31Figura 6:Equipamento Autosorb da Quantachrome para determinao de rea

    superficial especfica (BET) ....................................................................................... 37

    Figura 7:Clulas de reao ..................................................................................... 39

    Figura 8:Extrator Soxhlet da TECNAL ..................................................................... 40

    Figura 9:Extrator Soxhlet da Gerhardt ..................................................................... 40

    Figura 10: Vialpara anlise cromatogrfica do extrato ............................................ 40

    Figura 11:Cromatgrafo da Shimadzu utilizado nas anlises das amostras ........... 41Figura 12:Cromatograma tpico dos PCBs .............................................................. 42

    Figura13:Amostra de solo utilizado nos experimentos ............................................ 43

    Figura 14:Extrao dos congneres de PCBs (pentaclorobifenila, hexaclorobifenila

    e heptaclorobifenila) ao longo do tempo de extrao ................................................ 50

    Figura 15:Intensidade dos picos de PCBs na extrao em solo mido ................... 51

    Figura 16:Intensidade dos picos de PCBs na extrao em solo seco ..................... 51

    Figura 17:reas dos picos para os congneres penta, hexa e heptaclorobifenila

    resultantes da extrao da amostra mida com diferentes solventes hexano,

    hexano/acetona e etanol ........................................................................................... 53

    Figura 18:reas dos picos para os congneres penta, hexa e heptaclorobifenila

    resultantes da extrao da amostra seca com diferentes solventes hexano,

    hexano/acetona e etanol ........................................................................................... 54

    Figura 19:reas dos picos para os congneres hexa e heptaclorobifenila

    resultantes da extrao das amostras seca e mida com diferentes solventes

    hexano, hexano/acetona e etanol ............................................................................. 55

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    Figura 20:Degradao do hexaclorobifenila, com 24 h de reao e diferentes

    quantidades de H2O2e Fe2+...................................................................................... 56

    Figura 21:Degradao dos congneres penta, hexa e heptaclorobifenila com 5, 24

    e 48 horas de reao e 2,07 mol/L de H2O2e 0,04 mol/L de Fe2+............................ 57

    Figura 22:Planejamento experimental fatorial de dois nveis e duas variveis (22) . 58

    Figura 23:Grfico de barras dos efeitos das variveis e suas interaes para o

    pentaclorobifenila ...................................................................................................... 60

    Figura 24:Percentual de remoo de congneres de PCBs em 48 horas de reao

    nas condies F, G, H e I do planejamento experimental ......................................... 61

    Figura 25:Percentual de remoo dos congneres de PCBs no experimento na

    condio do ponto central para 48 horas de reao ................................................. 62Figura 26:Modelos 1, 2 e 3 propostos para ajuste dos dados do pentaclorobifenila

    .................................................................................................................................. 66

    Figura 27:Modelos 1, 2 e 3 propostos para ajuste dos dados do hexaclorobifenila 67

    Figura 28:Modelos 1, 2 e 3 propostos para ajuste dos dados do heptaclorobifenila

    .................................................................................................................................. 67

    Figura 29:Superfcie de resposta referente ao pentaclorobifenila ........................... 68

    Figura 30:Superfcie de resposta referente ao hexaclorobifenila ............................ 68Figura 31:Superfcie de resposta referente ao heptaclorobifenila ........................... 69

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    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1:Alguns nomes comerciais dos PCBs (Ambicare, 2005) ............................ 22

    Tabela 2:Distribuio dos congneres de PCBs (C12H10-zClz) (Rice et al., 2003) .... 23

    Tabela 3:Grau de clorao dos possveis congneres de PCBs (adaptado de

    Mesquita, 2004). ........................................................................................................ 24

    Tabela 4:Dados referentes ao clculo da umidade do solo ..................................... 45

    Tabela 5:Dados referentes ao clculo do teor de orgnicos do solo ....................... 46

    Tabela 6:Caractersticas texturais do solo ............................................................... 47

    Tabela 7:Dados experimentais do ensaio de tempo de extrao ............................ 49

    Tabela 8:Parmetros adotados para a extrao dos PCBs em solo para trs

    diferentes solventes .................................................................................................. 52

    Tabela 9:Variveis absolutas e normalizadas do planejamento experimental .......... 59

    Tabela 10:Resultados do planejamento experimental ............................................. 59

    Tabela 11: Percentuais de remoo na condio experimental do ponto central para

    os trs congneres (penta, hexa e heptaclorobifenila) .............................................. 62

    Tabela 12:Percentuais de remoo experimental e calculados para o

    pentaclorobifenila ...................................................................................................... 64

    Tabela 13:Percentuais de remoo experimental e calculados para o

    hexaclorobifenila ....................................................................................................... 65

    Tabela 14:Percentuais de remoo experimental e calculados para o

    heptaclorobifenila ...................................................................................................... 65

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    SUMRIO

    1 INTRODUO ....................................................................................................... 172 OBJETIVOS ........................................................................................................... 21

    3 REVISO BIBLIOGRFICA .................................................................................. 22

    3.1 BIFENILAS POLICLORADAS (PCBs) ................................................................. 22

    3.1.1 Histrico .......................................................................................................... 22

    3.1.2 Caracterst icas Fsico-Qumicas ................................................................... 23

    3.1.3 PCBs no Meio Ambiente ................................................................................ 25

    3.1.4 Legislao Especfica para os PCBs ............................................................ 263.2 SOLOS ................................................................................................................ 28

    3.2.1 Remediao de Solos .................................................................................... 30

    3.2.1.1 Remediao de Solos Contaminados por PCBs ........................................... 31

    4 MATERIAIS E MTODOS ..................................................................................... 34

    4.1 SOLO .................................................................................................................. 34

    4.1.1 Preparao do Solo ........................................................................................ 34

    4.1.2 Caracterizao do Solo .................................................................................. 344.1.2.1 Medida do pH ................................................................................................ 34

    4.1.2.2 Teor de Umidade ........................................................................................... 35

    4.1.2.3 Teor de Carbono Orgnico ............................................................................ 35

    4.1.2.3 Teor de Carbono Inorgnico do Solo ............................................................ 36

    4.1.2.4 rea Superficial Especfica ............................................................................ 36

    4.2 DEGRADAO DAS BIFENILAS POLICLORADAS .......................................... 37

    4.2.1 Contaminao Simulada do Solo .................................................................. 38

    4.2.2 Oxidao com o Reagente de Fenton........................................................... 38

    4.2.3 Extrao do Contaminante ............................................................................ 39

    4.2.3 Cromatografia Gasosa / Espectrmetro de Massa (CG/MS) ....................... 41

    5 RESULTADOS E DISCUSSO ............................................................................. 43

    5.1 CARACTERIZAO DO SOLO .......................................................................... 43

    5.1.1 Determinao do pH do Solo ........................................................................ 44

    5.1.2 Umidade do Solo ............................................................................................ 44

    5.1.3 Determinao do Teor de Orgnicos do Solo .............................................. 45

    5.1.4 Granulometria do Solo ................................................................................... 46

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    5.1.5 rea Superfic ial Especfica ........................................................................... 46

    5.2 EXTRAO SOXHLET ....................................................................................... 47

    5.2.1 Tempo de Extrao ........................................................................................ 48

    5.2.2 Influnc ia da Umidade na Extrao .............................................................. 50

    5.2.3 Teste de Solventes de Extrao .................................................................... 52

    5.3 ENSAIOS DE OXIDAO FENTON ................................................................... 55

    6 CONCLUSES ...................................................................................................... 70

    REFERNCIAS ......................................................................................................... 72

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    1 INTRODUO

    A revoluo industrial ofereceu a sociedade incontveis benefcios, mas

    trouxe consigo vrios inconvenientes, dentre eles a contaminao macia do meio

    ambiente por substncias nocivas para a sade do planeta e de todos os seres

    vivos.

    Vrias so as substncias malficas aos seres vivos e ao ambiente, mas

    algumas delas tm destaque devido sua alta toxicidade, so os chamados

    Poluentes Orgnicos Persistentes (POPs). Fazem parte desse grupo 12 compostos:

    dioxinas, furanos, bifenilas policloradas (PCBs), hexaclorobenzenos (HCBs), aldrin,

    dieldrin, endrin, clordano, toxafeno, mirex, dicloro-difenil-tricloroetano (DDT) e

    heptacloro.

    Os POPs so compostos orgnicos sintticos altamente estveis,

    semivolteis, gerados intencionalmente ou no e surgem atravs de diversos

    processos industriais, entre eles (Greenpeace, 2005):

    Produo do cloreto de polivinila (PVC): plstico utilizado em embalagens de

    alimentos, brinquedos, utenslios domsticos, tubos e conexes, etc.;

    Produo de papel: atravs do processo de branqueamento com cloro; Gerao e composio de produtos agrcolas: um grande nmero de herbicidas,

    inseticidas e fungicidas;

    Incinerao de lixo: domstico, industrial e hospitalar;

    Processos industriais: todos os que empregam cloro e derivados de petrleo.

    Quando esses contaminantes orgnicos e seus subprodutos atingem o meio

    ambiente atravs de transformaes fsicas, qumicas e biolgicas eles sofrem

    processos de volatilizao, biodegradao, transferncia para organismos, ligaesentre as partculas do solo e percolao para o lenol fretico (Mesquita, 2004).

    Sabe-se que os POPs percorrem longas distncias atravs da atmosfera pois foram

    encontrados em lugares remotos do globo terrestre (regies polares) que nunca

    entraram em contato com tais substncias (Breivik et al., 2004). Por causa disso, a

    eliminao desses compostos um problema de carter mundial.

    Nesse contexto, para ratificar a proibio do uso dos POPs e sua reduo no

    meio ambiente, vrios pases assinaram o acordo proposto pela Conveno de

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    Estocolmo sobre Poluentes Orgnicos Persistentes realizada em 2001 (UNEP,

    2006).

    Estima-se que, dos POPs estocados, mais de um milho de toneladas sejam

    de PCBs distribudos globalmente. No h estimativas sobre o quanto dos solos e

    sedimentos contaminados est associado a esses estoques existentes de PCBs

    (Greenpeace, 1998). Inmeros so os episdios de contaminao de solos por

    bifenilas policloradas em todo o mundo, alguns dos quais esto ilustrados a seguir.

    Em 1998, a Eletropaulo transferiu um de seus imveis localizado na Zona Sul

    de So Paulo para a Empresa Metropolitana de guas e Energia (Emae). No

    referido imvel, a Eletropaulo armazenava leo ascarel (mistura comercial de PCBs)

    em gales dentro do terreno. Por causa disso, o leo infiltrou no terrenocontaminando cerca de 21 mil m2de solo (Baeta, 2003).

    Um estudo de caso apresentado por Leuser et al.(1990) relata o tratamento

    de 8500 toneladas de solos contaminados com PCBs no estado americano de

    Illinois. Na rea contaminada existiam cerca de 400 transformadores e mais de 75

    capacitores abandonados e, dentre eles, alguns apresentavam vazamento de leo

    base de PCBs.

    A contaminao do ar, da gua e do solo tem sido causa de preocupaoconstante j h alguns anos por parte da sociedade e governos. A poluio da gua

    e do ar um problema que j possui uma legislao bem definida. Porm, o

    problema da contaminao do solo vem recebendo ateno nos ltimos anos.

    Alguns pases do mundo j possuem uma legislao especfica para tais situaes.

    Entre elas as mais conhecidas so a americana e a holandesa que servem de

    modelo para vrios pases que ainda no possuem legislao para amparar tais

    casos. No Brasil, o problema ainda no possui legislao especfica. Isso fica clarono trecho do artigo escrito por Gabeira (2003):

    Uma srie de denncias sobre reas contaminadas pelaindstria ou minerao acabou inspirando o trabalho daComisso de Meio Ambiente. Ao invs de fazer uma lei,estudaram-se as principais reas (Santo Amaro, na Bahia, eCidade dos Meninos, em Duque de Caxias, RJ). O resultado foiuma presso sobre o governo para que formulasse uma polticade descontaminao.

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    Apesar do pas no possuir leis regulamentadoras especficas para o controle

    e remediao de reas contaminadas, j existem iniciativas pontuais para sanar

    esses problemas, o caso da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental

    (CETESB) ligada Secretaria de Meio Ambiente do Estado de So Paulo. Esse

    rgo responsvel pela fiscalizao, monitaramento e licensiamento das atividades

    que geram poluio, tentando preservar a qualidade do meio ambiente. Aplicando

    diferentes tcnicas de remediao, esse rgo ambiental tem efetuado diversas

    atividades de recuperao de algumas das reas contaminadas (ACs) existentes no

    Estado. Vale destacar que, das tcnicas de remediao aplicadas para solos, as

    mais utilizadas pela CETESB so a extrao de vapores e a remoo do

    solo/resduo (CETESB, 2006).De 2002, data da primeira divulgao pela CETESB, at o ltimo relatrio de

    novembro de 2007, o nmero de reas contaminadas aumentou de 255 para 2.272,

    somente no Estado de So Paulo. Das reas contaminadas cadastradas, apenas 94

    tem remediao concluda, 884 tem remediao iniciada, 146 tem proposta de

    remediao em andamento e 1.148 no possuem sequer proposta de tratamento. A

    Figura 1 mostra um grfico da evoluo ao longo dos anos das reas contaminadas

    do Estado de So Paulo (CETESB, 2007).Dos grupos de contaminantes, encontram-se solventes aromticos e/ou

    halogenados, metais, combustveis e hidrocarbonetos aromticos policclicos

    (PAHs), como pode ser visto na Figura 2. Vale destacar que, do total de reas

    contaminadas no estado, 21 esto contaminadas por bifenilas policloradas (PCBs)

    (CETESB, 2007).

    Ao redor do mundo, o nmero de reas contaminadas alarmante e poucos

    so os pases que possuem esses dados contabilizados. Alguns nmeros de ACs nomundo so: cerca de 60.000 na Holanda (VROM, 2007), at 2001 eram 55.000 na

    Alemanha (UMWELTBUNDESAMT, 2006), 3.500 na Frana (CETESB, 2007) e at

    2000 eram 63.000 nos Estados Unidos (ELI, 2001).

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    Figura 1:Relao de reas contaminadas no Estado de So Paulo (CETESB, 2007)

    Figura 2: Grupos de contaminantes encontrados nas reas contaminadas no Estado de So Paulo(CETESB, 2007)

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    2 OBJETIVOS

    Diante do exposto, o objetivo geral deste trabalho estudar o tratamento desolos contaminados por bifenilas policloradas utilizando o processo de oxidao

    qumica avanada denominado Fenton.

    Para compreender melhor a dinmica do sistema solo-contaminante-oxidante,

    pretende-se propor uma metodologia experimental, em escala de laboratrio, para a

    degradao desse contaminante em solo. Como a metodologia inclui diversas

    etapas, tem-se que compreender na ntegra todas elas.

    A etapa primordial a de oxidao do contaminante em solo. Para tal,utilizou-se o Reagente de Fenton. Nesses experimentos, pretendeu-se estudar a

    influncia da concentrao dos reagentes de Fenton (perxido de hidrognio e sal

    de ferro) sobre o sistema alm do tempo de reao.

    Uma outra etapa a extrao do contaminante aps a oxidao do mesmo.

    Essa etapa torna-se fundamental no procedimento pois se a mesma no for eficiente

    ir causar erros grosseiros na quantificao da degradao do poluente. Alm disso,

    a extrao por solventes tm sido uma tcnica usada h algum tempo tanto emescala comercial como em laboratrio como alternativa de tratamento de solos

    contaminados por contaminantes orgnicos. Por isso, foram feitos alguns de

    extrao enfatizando dois pontos:

    1) o tempo de extrao, ou seja, o tempo timo em que se obtm o mximo

    de contaminante extrado do solo;

    2) e o tipo de solvente (polar e apolar).

    Definida uma metodologia experimental adequada, quantificou-se

    relativamente a degradao do contaminante e com isso foi possvel dar um parecer

    sobre a viabilidade tcnica do processo.

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    3 REVISO BIBLIOGRFICA

    3.1 BIFENILAS POLICLORADAS (PCBs)

    3.1.1 Histr ico

    As bifenilas policloradas (Biphenyl Polychlorinated PCB) so substncias

    que foram sintetizadas pela primeira vez antes da virada do sculo XX por volta de1881 por Schmidt e Schulz, mas s em 1929 comearam a ser produzidas em

    escala industrial (Tanabe, 1988). O crescimento da produo ocorreu devido

    necessidade de se encontrar um leo de resfriamento e isolante estvel e eficiente

    para equipamentos eltricos. Dessa forma, o pico de produo ocorreu em 1970

    com um volume de 50.000 toneladas (Penteado e Vaz, 2001). Em 1966, o qumico

    suo Soren Jansen determina que os PCBs so um contaminante ambiental e

    desde ento a utilizao dos mesmos comeou a ser restringida no mundo todo(Wikipdia, 2005).

    Para fins prticos, os PCBs foram misturados com outros fluidos (carrier

    fluids) tais como clorobenzenos ou leo mineral (Kueper et al., 2003). Dessa forma,

    dependendo do pas onde eram fabricados ou comercializados, essas misturas

    receberam uma denominao (Tabela 1).

    Tabela 1:Alguns nomes comerciais dos PCBs (Ambicare, 2005)

    Marca Fabricante Pas de Origem

    Aroclor Monsanto EUA

    Piranol General Eletric EUA

    Clophen Bayer Alemanha

    Aceclor ACEC Blgica

    Piroclor Monsanto Reino Unido

    Kaneclor Kanegafuchi/Mitsubichi Japo

    Piralene Prodelec Frana

    Phenoclor Prodelec Frana

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    No existem registros de produo de PCBs no Brasil. Todo o PCB existente

    no pas foi importado dos Estados Unidos e da Alemanha. Ascarel o nome

    comercial do produto usado no Brasil e constitudo, aproximadamente, de 75% do

    Aroclor 1254 e 25% de triclorobenzeno (Antonello et al., 2005).

    Por vrias dcadas esses compostos foram usados como fluido de troca

    trmica em trocadores de calor, lubrificantes em equipamentos hidrulicos e

    principalmente como leos dieltricos em transformadores e capacitores eltricos

    (USEPA, 2000). De forma menos intensa, eles ainda estiveram presentes na

    formulao de adesivos, tintas, pesticidas, corantes e graxas (Borja et al., 2005).

    3.1.2 Caractersticas Fsico-Qumicas

    Bifenila policlorada (Biphenyl Polychlorinated PCB) o nome genrico de

    uma classe de hidrocarbonetos aromticos clorados que formam, teoricamente, um

    conjunto de 209 compostos qumicos diferentes (Tabela 2), chamados de

    congneres, cuja frmula C12H(10-z)Clz, onde z = x + y, variando de 1 a 10. A Figura3 mostra a frmula estrutural dos PCBs.

    Tabela 2: Distribuio dos congneres de PCBs (C12H10-zClz) (Rice et al., 2003)

    Homlogo

    (Baseado no nmero de cloros)Possveis Congneres

    Monocloro- 3

    Dicloro- 12

    Tricloro- 24Tetracloro- 42

    Pentacloro- 46

    Hexacloro- 42

    Heptacloro- 24

    Octacloro- 12

    Nonacloro- 3

    Decacloro- 1

    TOTAL 209

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    Figura 3: Frmula estrutural dos PCBs

    Todo o PCB existente no mundo foi sintetizado, no existindo, portanto, fontes

    naturais dessas substncias (Rahuman et al., 2000). De forma resumida, o processo

    de sntese de uma molcula de PCB consiste na formao da bifenila pela

    desidrogenao de duas molculas de benzeno a 800C seguido da clorao do

    ncleo de bifenila com cloro gasoso anidro a 100C catalisado por cloreto frrico ou

    limalha de ferro. A reao ocorre com aumento do volume de massa da mistura

    devido ao incremento na concentrao do cloro. Quando esse volume atinge o teor

    de cloro desejado, a reao interrompida (Mesquita, 2004). A Tabela 3 mostra

    caractersticas dos possveis congneres de PCBs de acordo com o grau de

    clorao.

    Tabela 3:Grau de clorao dos possveis congneres de PCBs (adaptado de Mesquita, 2004).

    Frmula Estrutural Grau de Clorao Massa Molecular

    (g/mol)

    Cloro (%)

    C12H9Cl1 1 188,65 18,79

    C12H8Cl2 2 233,10 31,77

    C12H7Cl3 3 257,54 41,30

    C12H6Cl4 4 291,99 48,56

    C12H5Cl5 5 326,43 54,30

    C12H4Cl6 6 360,88 58,93

    C12H3Cl7 7 395,32 62,77

    C12H2Cl8 8 429,77 65,98

    C12H1Cl9 9 464,21 68,73

    C12Cl10 10 498,66 71,10

    Os PCBs existem na forma de lquidos (leos) e slidos (resinas/graxas), com

    a cor variando de incolor a amarelo claro. No possuem sabor nem cheiro. So

    compostos de elevada estabilidade trmica e qumica, baixa presso de vapor a

    temperatura ambiente e alta constante dieltrica o que possibilitou o uso intenso

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    em equipamentos eltricos. So insolveis em gua, porm extremamente solveis

    em leos vegetais, gorduras animal e em solventes orgnicos (Borja et al., 2005).

    Por causa dessas caractersticas, os PCBs so compostos altamente

    resistentes degradao e uma vez liberados no ambiente, tendem a se acumular

    nos organismos e tambm a se biomagnificar ao longo da cadeia alimentar. So

    altamente txicos sade humana e provocam diversas doenas tais como: cncer,

    problemas reprodutivos, neurolgicos, dermatolgicos e endcrinos (so conhecidos

    como disruptores endcrinos) (Vorhees, 2004; Penteado, 2000).

    3.1.3 PCBs no Meio Ambiente

    O uso freqente dos PCBs aliado prticas inadequadas de manuseio, alm

    de acidentes industriais, resultaram na crescente contaminao do ar, da gua e do

    solo por esses compostos.

    Segundo Rahuman et al.(2000), os PCBs podem percorrer longas distncias

    quando entram em contato com o ar e ali permanecerem por aproximadamente 10dias. Esse fato comprovado pela presena desses compostos em regies polares

    como o rtico e que nunca estiveram em contato com esse tipo de produto. No ar,

    eles aparecem tanto na forma gasosa como na particulada (Vorhees, 2004). Muitos

    trabalhos abordam essa problemtica seja na forma experimental, como no trabalho

    de Eckhardt et al. (2007), ou simulada como em Garca-Alonso e Prez-Pastor

    (2003).

    Quando se trata de gua e solo, o problema fica intimamente ligado, poisquando uma quantidade de PCBs atinge uma fonte de gua somente uma pequena

    quantidade dissolvida, o resto fica aderido a partculas orgnicas, sedimentos e

    animais aquticos (Kile et al., 1995). Os PCBs so altamente adsorvidos no solo,

    ligando-se matria orgnica, devido sua alta hidrofobicidade e baixa volatilidade.

    Por isso, acredita-se que no haja migrao de PCBs para reas distantes da fonte

    de contaminao (Sedlak e Andren, 1994). Inmeros so os casos relatados em

    todo o mundo de contaminao de cursos de gua (Penteado, 2000) e solos por

    PCBs (Backe et al., 2004), concentrados principalmente em regies industrializadas.

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    3.1.4 Legislao Especfica para os PCBs

    As primeiras preocupaes com o controle da produo e utilizao dos PCBs

    s surgiram depois da ocorrncia de alguns acidentes que causaram a

    contaminao do meio ambiente e de seres humanos. O primeiro acontecimento

    relatado aconteceu em 1966 na Sucia com a morte de uma guia sem causa

    aparente (Ambicare, 2005). Embora o caso tenha ocorrido na Europa, foram nos

    EUA, em 1978, que surgiram as primeiras leis regulamentadoras sobre o uso dessas

    substncias (Penteado e Vaz, 2001).

    No Brasil, a regulamentao somente se deu em 1981 com a aprovao daPortaria Interministerial n 19 entre o Ministrio do Meio Ambiente, IBAMA e o

    Ministrio de Minas e Energia. Essa portaria proibe a produo e comercializao

    da substncia no pas mas no exige a substituio de equipamentos eltricos que

    estejam em bom funcionamento e que ainda utilizem leo isolante a base de PCBs

    (Luna e Braga, 1997). Em 1986 decretada a Norma ABNT/NBR-8371 que

    estabelece orientaes para o manuseio, acondicionamento, rotulagem,

    armazenamento, transporte, procedimentos para equipamentos em operao eeliminao dos PCBs. Em 2002, a Resoluo n 313 do CONAMA obriga s

    concessionrias de energia eltrica apresentaram aos rgos Estaduais de Meio

    Ambiente um inventrio do seu estoque de PCBs (PNUMA/UNEP, 2006). No Estado

    de So Paulo foi promulgada recentemente a Lei n 12.288 de 22 de fevereiro de

    2006. Essa Lei regulamenta a eliminao controlada dos PCBs e dos seus resduos

    considerando como tal qualquer material que contenha teor da substncia acima de

    50 mg/kg a descontaminao e a eliminao dos equipamentos eltricos quecontenham PCBs, e d providncias correlatas. A Lei determina ainda que os

    equipamentos eltricos que contenham PCBs e que estejam em uso sejam

    eliminados at dezembro de 2020 (TECORI, 2006). Portanto, para os PCBs, a

    legislao existente especfica somente no que se refere destinao dos

    equipamentos eltricos e manuseio da substncia em si.

    Quanto regulamentao de reas contaminadas s existem algumas

    medidas que abordam o problema indiretamente e propostas em tramitao. Por

    exemplo, a Lei Estadual n 13.564 de abril de 2003 em So Paulo determina que,

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    antes da construo de novos empreendimentos em reas contaminadas ou

    suspeitas de contaminao, o local dever passar por uma avaliao tcnica para a

    deteco da possvel contaminao (ABETRE, 2004). Ainda nesse contexto,

    tambm no Estado de So Paulo, a CETESB o nico rgo ambiental licenciado

    para o gerenciamento de reas contaminadas no pas at o momento.

    Nesse sentido, as legislaes mundiais de carter preventivo e corretivo mais

    forte so a dos Estados Unidos, Alemanha e Holanda. Nos Estados Unidos foi

    criado, em 1980, um programa chamado de Superfund a partir do decreto

    Comprehensive Environmental Response, Compensation, and Liability Act

    (CERCLA). O programa tem como objetivo aplicar aes corretivas sobre as reas

    contaminadas, dando prioridade para aquelas reas cadastradas na NationalPriorities List (NPL), as quais precisam de uma medida urgente de remediao

    (USEPA, 2005). Seguido dos Estados Unidos vem a legislao holandesa. De

    acordo com Mesquita (2004), os valores orientadores para interveno de rea

    contaminada por PCBs, segundo a Norma Holandesa, so:

    0,2 mg/kg, em peso seco, para solo com 0% de argila e 0% de matria

    orgnica;

    1,0 mg/kg, em peso seco, para solo com 25% de argila e 10% de matriaorgnica.

    Os valores orientadores para solos adotados pela CETESB para bifenilas

    policloradas so mais rigorosos que os aplicados pela Norma Holandesa. Tais

    valores esto listados abaixo (CETESB, 2005).

    Preveno: 0,0003 mg/kg de solo seco;

    Interveno: 0,01 mg/kg de solo seco em rea agrcola, 0,03 mg/kg de

    solo seco em rea residencial e 0,12 mg/kg de solo seco em reaindustrial.

    Para finalizar, a ausncia de legislao especfica de controle dos estoques

    de PCBs no Brasil reflete na inexistncia de inventrios contabilizando a quantidade

    desses compostos. O que existem so estimativas, e estas mostram que devam

    existir em torno de 68.000 toneladas de PCBs no pas (PNUMA/UNEP, 2006).

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    3.2 SOLOS

    O impacto da contaminao no solo no to bvio. Por muito tempo o solofoi considerado um local seguro para a disposio de lixo e tambm um local onde a

    degradao de contaminantes ocorria naturalmente. Por causa da sua capacidade

    de armazenamento (buffer) e baixa velocidade no transporte de substncias,

    passaram-se alguns anos sem que houvesse notcia sobre os efeitos malficos da

    contaminao do solo (Otten et al., 1997).

    Sparks (2003) define o solo como uma mistura heterognea composta de ar,

    gua, slidos orgnicos, slidos inorgnicos e matria viva (microorganismos eplantas). Os componentes inorgnicos do solo representam mais de 90% da

    composio do mesmo. Estruturalmente, o solo pode ser dividido em trs fases:

    slida, lquida e gasosa.

    A fase slida a matriz do solo e constitui-se dos componentes minerais e

    orgnicos. A frao mineral constituda de partculas que variam de tamanho e

    composio. Podem ser agrupadas em trs principais grupos de acordo com a

    granulometria: argila (0-2 m), silte (2-63 m) e areia (63-2000 m). A frao

    orgnica do solo contm vrios tipos de partculas orgnicas. O hmus, parte da

    frao orgnica mais importante, a matria orgnica morta advinda de plantas e

    animais e consiste de um grande nmero de compostos diferentes que variam desde

    um simples cido orgnico a um composto macromolecular complexo (Otten et al.,

    1997). Segundo Weiner (2000), a composio da parte hmica do solo composta

    dos seguintes elementos: C (45-55%), O (30-45%), H (3-6%), N (1-5%) e S (0-1%).

    As fases aquosa e gasosa do solo so complementares entre si, pois ambas

    preenchem o volume dos poros. A composio da fase aquosa depende da idade e

    origem da gua, dos constituintes da fase slida e da presena ou ausncia de

    microorganismos e razes de plantas. Naturalmente, a fase gasosa s est presente

    na zona vadosa do solo. A composio do gs do solo influenciada pelos

    processos fsico-qumicos e biolgicos. Na presena de oxignio os materiais

    reduzidos se oxidam. Os carbonatos e os minerais so dissolvidos, e o carbonato

    dissolvido pode escapar para a fase gasosa na forma de dixido de carbono (Otten

    et al., 1997).

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    Quando um contaminante atinge o solo por meio de vazamentos ele sofre a

    ao de fenmenos geoqumicos e biolgicos e se distribuem em subsuperfcie da

    seguinte forma, como mostra a Figura 4: fase vaporizada, fase residual ou

    adsorvida, fase livre e fase dissolvida. A distribuio do contaminante em tais fases

    depender de suas caractersticas fsico-qumicas e ainda do tipo de solo (Silva et

    al., 2004).

    Figura 4:Comportamento de contaminante orgnico em subsolo (Costa et al., 1999)

    Dentre os fatores que determinam a ligao dos contaminantes ao solo est a

    rea superficial especfica das partculas (m2/g) disponvel. Alm disso, as cargas

    eltricas das partculas da matriz do solo tambm influenciam na adsoro dos

    contaminantes ao meio. Vale ressaltar que quanto s propriedades fsico-qumicas,

    os contaminantes so classificados como DNAPL (dense non-aqueous phase liquid),

    quando a substncia mais densa que a gua, e LNAPL (light non-aqueous phase

    liquid) quando menos denso (Otten et al., 1997). O PCB classificado como um

    DNAPL, ou seja, um contaminante orgnico de reduzida solubilidade e mais denso

    que a gua e que, por isso, ao atingir o solo se apresenta como fase livre

    (Kueper et al., 2003).

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    3.2.1 Remediao de Solos

    Os processos geoqumicos e biolgicos que determinam mobilizao e

    transformao dos compostos no meio poroso envolvem inmeras variveis,

    tornando o processo de remediao uma tarefa complexa. Portanto, para que a

    remediao seja satisfatria e atenda legislao ambiental, faz-se necessrio o

    conhecimento das tecnologias de tratamento disponveis, suas limitaes, relaes

    custo-benefcio, aplicabilidade quanto hidrogeologia do stio e da natureza do

    contaminante (Nobre e Nobre, 2003).Vrias so as tcnicas existentes para o tratamento de solos contaminados

    por compostos orgnicos. As tcnicas podem ser agrupadas conforme a

    transformao do contaminante em:

    Tecnologias de destruio;

    Tecnologias de separao fsica.

    Ou ainda de acordo com o local onde ocorre o tratamento como:

    Tcnicas ex situ, em que h a necessidade de escavao do local e posteriortratamento;

    Tcnicas in situ, em que a remediao ocorre no local contaminado.

    A depender da situao, a tcnica escolhida pode ser usada tanto ex situ

    quanto in situ. Ambas tm vantagens e desvantagens. A principal vantagem do

    tratamento ex situsobre o in situ o tempo de remediao que menor no primeiro

    tratamento. J a vantagem do tratamento in situ sobre o ex situ a economia do

    processo, pois em um caso de tratamento in situ os custos com transporte eremoo do solo contaminado so evitados (FRTR, 2007).

    Existem inmeros trabalhos que relatam o uso de diversas tecnologias de

    tratamento de solos contaminados por orgnicos. Algumas j aplicadas em escala

    comercial, outras ainda em fase de testes.

    As tecnologias de destruio se baseiam principalmente no uso de altas

    temperaturas e mtodos qumicos. Dentre elas esto: a incinerao, a reduo

    qumica, a vitrificao in situ, oxidao qumica, fotlise, biorremediao, entreoutras. As tcnicas de separao fsica tm como objetivo reter ou isolar a rea

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    contaminada. Como exemplos dessas tcnicas, tem-se: dessoro trmica, lavagem

    do solo, extrao por solvente, extrao supercrtica, etc (Almeida, 2005).

    3.2.1.1 Remediao de Solos Contaminados por PCBs

    No caso dos PCBs, a incinerao ainda o mtodo mais utilizado at o

    presente momento para a destruio de solos contaminados por essas substncias.

    O processo opera em temperaturas que variam entre 1.100C e 1.300C (Stow,

    1997; Tooge, 2004). Este mtodo, porm, apresenta certas inadequaes pelo fatode ser relativamente caro, alm de formar policloro dibenzodioxinas (PCDD) e

    policloro dibenzofuranos (PCDF) (Figura 5), compostos secundrios muito mais

    txicos ao ambiente, devido queima incompleta dos PCBs. A legislao mundial

    exige que a eficincia de destruio e remoo da incinerao para esses

    compostos seja o mais prxima de 100% para evitar a formao dos PCDDs/PCDFs

    (Kastnek e Kastnek, 2005). Esse motivo impulsionou o desenvolvimento de outras

    tecnologias mais limpas.

    Figura 5:Estrutura molecular de uma dioxina e de um furano (Mesquita, 2004)

    Outro mtodo bastante estudado e aplicado para a remediao de solos

    contaminados por PCBs a biorremediao que tanto pode ser via aerbia quanto

    anaerbia (Borja et al., 2005). A depender da extenso dos danos rea, os

    microrganismos utilizados podem ser os j existentes no meio. Otten (1997) explica

    que o curso da degradao atravs da biorremediao guiado principalmente

    pelas condies do solo que so principalmente o pH, a disponibilidade denutrientes, a presena de outros contaminantes e a temperatura.

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    Uma tcnica de separao de orgnicos em solos muito abordada a

    extrao por solventes orgnicos. Nesses casos, o contaminante orgnico extrado

    do stio contaminado e levado para um posterior tratamento de destruio como

    apresentado por Valentin (2000). Nesse trabalho foi realizada a extrao in situde

    PCBs de um solo utilizando alguns solventes. A remoo atingiu 99% quando foram

    utilizados os solventes etil acetato e metil isobutil cetona.

    A oxidao qumica tem se mostrado uma das tcnicas promissoras para a

    remediao de solos contaminados por compostos orgnicos (Watts e Teel, 2006).

    Esta tcnica se baseia na aplicao de fortes agentes oxidantes para degradar o

    orgnico. Ela tem sido aplicada tanto in situ quanto ex situ, mas tem ganhado

    popularidade como uma tcnica in situ. E assim, a partir dos anos 90 surge umanova classe de tcnicas denominadas In Situ Chemical Oxidation(ISCO).

    Assim como todos os outros processos, a ISCO tambm tem suas limitaes

    que so principalmente: a reatividade do agente oxidante com o contaminante e a

    transferncia de massa entre as fases adsorvida e aquosa que onde normalmente

    ocorre a reao de oxidao (Watts, 1998).

    Os agentes oxidantes mais utilizados em processos ISCO so o oznio (O3),

    o perxido de hidrognio (H2O2) e o permanganato de potssio (KMnO4). Cada umdeles possui vantagens e desvantagens, e a aplicao depende do meio a ser

    tratado e do orgnico a ser degradado (EPA, 2005).

    Dentre os agentes oxidantes utilizados numa remediao ISCO, a oxidao

    com o reagente de Fenton foi o primeiro processo estudado e desenvolvido em

    grande escala e continua sendo estudado por vrios pesquisadores (Stow, 1997;

    Higarashi, 1999; Yeh et al., 2002; Mesquita, 2004).

    Pesquisas recentes tm mostrado que os processos mais eficazes nadestruio de poluentes orgnicos so os denominados de Processos Oxidativos

    Avanados (POAs). Os POAs so caracterizados pela gerao de radicais hidroxila

    (HO), que apresentam um alto potencial padro de oxidao (E0= 2,8 V), superior

    aos de outras espcies oxidantes, tais como O3(E0= 2,1 V), H2O2(E0= 1,77 V) e Cl2

    (E0 = 1,5 V) (Mattos et al., 2003). O sistema Fenton, um dos mais conhecidos

    processos oxidativos avanados, consiste na combinao de perxido de hidrognio

    e ons ferrosos formando radicais hidroxila (Equao 1). Os radicais hidroxila

    gerados ento oxidam os compostos orgnicos do meio (RH), conforme a Equao

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    2, gerando intermedirios que novamente so atacados por outros radicais hidroxila

    podendo chegar a completa mineralizao (CO2 e H2O). Este sistema tem sido

    largamente estudado na oxidao de compostos orgnicos de alta toxicidade

    (Sedlak e Andren, 1994; Yeh et al., 2003; Wang e Lemley, 2006).

    Fe2++ H2O2 Fe3++ OH-+ HO (1)

    HO+ RH CO2+ H2O (2)

    Os reagentes que compem o sistema Fenton tm algumas vantagens que se

    sobressaem diante de outros: so compostos relativamente baratos e no-txicos,

    alm da reao ocorrer em temperatura e presso ambientes.

    Sabe-se que o radical hidroxila oxida efetivamente compostos orgnicos em

    fase aquosa (Moraes, 2003), incluindo os PCBs (Stow, 1997). Porm, DNAPLs como

    os PCBs so muito insolveis em gua, devido a isso espera-se que a eficincia da

    oxidao qumica seja baixa e que ocorra atravs de um mecanismo indireto (o da

    dissoluo do composto em fase aquosa), causando um acrscimo no tempo e no

    custo da remediao (Yeh et al., 2003). Acredita-se que a maioria dos compostos

    em fase adsorvida no pode ser oxidado diretamente porque os radicais hidroxilagerados so rapidamente consumidos na fase aquosa. Yeh et al.(2002) props que

    um dos mecanismos de degradao entre o oxidante, a matria orgnica do solo e o

    contaminante adsorvido durante a oxidao por perxido catalizada por ferro era

    oxidao-dessoro-oxidao. Isso se deve ao fato de que a oxidao da matria

    orgnica causada pelos radicais gerados libera o contaminante adsorvido para a

    fase aquosa que ento oxidado pelos radicais restantes.

    A eficincia da oxidao qumica em solo influenciada, principalmente, pelosseguintes fatores: tipo e concentrao de ferro (Yeh et al., 2003), concentrao de

    perxido (Flotron et al., 2005), presena de outros compostos orgnicos competitivos

    pela hidroxila (Lindsey e Tarr, 2000) e pH (Wang e Lemley, 2006).

    Por ser um problema de grande complexidade, para que a tcnica de

    remediao de solo por oxidao qumica seja aplicada na prtica, h que se fazer

    estudos iniciais em escala de laboratrio para o completo entendimento da situao,

    e somente depois ser ampliada para escala comercial (Watts e Teel, 2006).

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    4 MATERIAIS E MTODOS

    Nesse trabalho foram realizados ensaios experimentais com o objetivo deentender melhor o comportamento do sistema solo-contaminante-oxidante. Com

    esse intuito, foram feitos ensaios para a caracterizao do solo utilizado, extrao do

    contaminante da matriz do solo e reaes de oxidao usando o sistema Fenton

    para verificar a remoo do contaminante em estudo as bifenilas policloradas.

    4.1 SOLO

    4.1.1 Preparao do Solo

    O solo utilizado nos experimentos foi obtido atravs de uma sondagem a trado

    manual feita por uma empresa contratada pela Eletropaulo. A amostragem do solo

    foi feita na Rua Alvarenga em So Bernardo do Campo, Estado de So Paulo. No

    momento da sondagem, em campo, a amostra foi caracterizada quanto cor e

    textura.

    Antes de ter sido usado em qualquer ensaio experimental, o solo foi macerado

    e passado em peneira de 2 mm (#10 mesh) para que o mesmo ficasse homogneo,

    ou seja, com uma granulometria uniforme (Wang e Lemley, 2006; Rissato et al.,

    2006).

    4.1.2 Caracterizao do Solo

    4.1.2.1 Medida do pH

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    O pH do solo foi determinado utilizando-se um mtodo baseado em Silva et

    al. (2006). O procedimento consistia em colocar 100 mL de gua destilada sobre

    uma amostra de 10 g de solo. O solo ficou em contato com a gua por 1 hora em

    repouso e, em seguida, usando papel de pH foi determinado o valor do pH do solo.

    Esse procedimento foi realizado para duas amostras de solo, ou seja, em duplicata.

    4.1.2.2 Teor de Umidade

    Esses experimentos tinham como objetivo determinar o teor de umidade dosolo utilizado nos experimentos para que esse valor fosse descontado nos clculos

    da degradao do contaminante no solo.

    Inicialmente, em cadinhos de porcelana, 5 diferentes amostras de solo bruto

    (1 g) foram pesadas em balana analtica. Em seguida, essas amostras de solo

    foram colocadas numa estufa a 100C por 1 hora. Aps secagem na estufa, as

    amostras ficaram no dessecador at atingirem a temperatura ambiente, que era de

    aproximadamente 25C. Por ltimo as amostras foram pesadas novamente. O teorde umidade foi ento calculado por mdia simples da diferena gravimtrica. O

    mtodo foi baseado em Silva et al., 2006.

    4.1.2.3 Teor de Carbono Orgnico

    Para eliminar mais uma varivel de erro no clculo da degradao do PCB no

    solo, foi determinado o teor de carbono orgnico do solo. Para tal, semelhante ao

    procedimento anterior, 5 diferentes amostras de solo bruto (1 g) foram pesadas em

    cadinhos de porcelana em balana analtica. Em seguida, essas amostras de solo

    foram colocadas em um forno mufla a 1000C por 1 hora. Aps a calcinao na

    mufla, as amostras ficaram no dessecador at atingirem a temperatura ambiente,

    que era de aproximadamente 25C. Por fim, as amostras foram pesadas novamente.

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    O teor de orgnicos foi calculado atravs de mdia simples da diferena

    gravimtrica.

    4.1.2.3 Teor de Carbono Inorgnico do Solo

    Esse ensaio tinha como objetivo determinar o teor de carbono inorgnico, os

    cabornatos, do solo utilizado nos experimentos para que esse valor fosse

    descontado nos clculos da degradao do contaminante no solo.

    Para isso, uma amostra de 10 g de solo no seu pH natural (pH = 5,0) foi postaem contato com 100 ml de gua. O conjunto ficou sob agitao de 110 rpm por 24

    horas em um agitador orbital. Em seguida deixou-se a amostra em repouso para que

    a gua sobrenadante fosse amostrada e analisada em TOC. O mesmo procedimento

    foi aplicado para uma amostra de solo com pH cido igual a 3,0. O pH foi ajustado

    com cido sulfrico concentrado (H2SO4, 1 M). Para ambas as amostras no foi

    obtido resultado satisfatrio, pois o equipamento no conseguiu detectar nenhuma

    substncia.

    4.1.2.4 rea Superficial Especfica

    O solo um adsorvente natural e heterogneo. Em funo disso, um dos

    fenmenos que rege a disponibilidade do contaminante orgnico para um tratamentoefetivo de degradao a adsoro. Esse fenmeno pode ser representado atravs

    da rea superficial especfica que uma caracterstica textural do solo e indica a

    rea disponvel do solo para adsoro do contaminante. Inmeros so os trabalhos

    que tentam modelar o fenmeno (Breus et al., 2006; Filimonova et al., 2006).

    Usando um Quantachrome Autosorb Automated Gas Sorption System(Figura

    6), o solo foi caracterizado atravs da isoterma de adsoro do nitrognio gasoso

    (N2) a 77 K. A rea superficial especfica foi determinada automaticamente pelo

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    equipamento que gera o valor pelo ajuste do modelo de Brunauer-Emmett-Teller

    (BET).

    Figura 6:Equipamento Autosorb da Quantachrome para determinao de rea superficial especfica(BET)

    O ensaio foi realizado pelo Grupo de Pesquisas em Separaes por Adsoro

    (GPSA) localizado no Departamento de Engenharia Qumica da Universidade

    Federal do Cear (UFC).

    4.2 DEGRADAO DAS BIFENILAS POLICLORADAS

    Nesse trabalho, prope-se o uso da oxidao qumica com Reagente deFenton para o tratamento de solos contaminados por PCBs. Esse mtodo consiste

    em adicionar ao sistema uma quantidade desejada de perxido de hidrognio e sal

    de ferro para gerar radicais hidroxila, os quais iro degradar o contaminante

    orgnico.

    O clculo das quantidades dos reagentes oxidantes aplicados ao solo

    perxido de hidrognio (H2O2, 30%) e sulfato de ferro heptahidratado (FeSO4.7H2O)

    foi baseado no monoclorobifenil (C12H9Cl) de massa molecular 188,7 g/mol, pois

    estequiometricamente ele o congnere de PCB que exige maior quantidade de

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    reagentes oxidantes. Portanto, foi considerado que todo o ascarel utilizado era

    composto exclusivamente de monoclorobifenil.

    Para eliminar o mximo possvel de interferncias externas e melhorar os

    resultados, a metodologia experimental foi sendo ajustada ao longo do trabalho. O

    procedimento experimental consistia basicamente de trs etapas: etapa de

    contaminao do solo, etapa da reao de oxidao Fenton e por fim, a etapa da

    quantificao dos resultados (extrao Soxhlet e anlise em Cromatografia Gasosa

    acoplada a Espectrmetro de Massa (CG/MS)). Tais etapas esto detalhadas a

    seguir.

    4.2.1 Contaminao Simulada do Solo

    O procedimento de contaminao simulada do solo foi determinado atravs

    de um apanhado de trabalhos de outros autores como Riaza-Frutos et al. (2007),

    Wang e Lemley (2006) e Bogan e Trbovic (2003).

    Inicialmente, uma amostra de solo limpo (20 g) foi pesada em um bquer de100 mL. Em um balo volumtrico de 100 mL pesou-se 0,12 g de ascarel (amostra

    comercial de PCBs), aproximadamente, e completou-se o volume com n-hexano

    (VETEC, 99% P.A.). Devidamente homogeneizada, esta soluo foi adicionada ao

    solo contido no bquer, agitada em um agitador orbital (Kline Sppencer Scientific

    modelo 109-1TC) por 2 horas e deixada em repouso at que todo o solvente (n-

    hexano) evaporasse a temperatura e presso ambientes. Tinha-se, portanto, um

    solo contaminado com uma quantidade conhecida de ascarel, com concentraoinicial em torno de 6000 mg de ascarel/kg de solo, ou seja, 6000 ppm.

    4.2.2 Oxidao com o Reagente de Fenton

    A etapa de oxidao dos contaminantes em solo foi definida a partir das

    condies disponveis em escala de laboratrio, tomando como referncia outros

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    trabalhos (Watts et al., 2000). O sistema reacional operou em batelada com uma

    nica aplicao dos reagentes, cujas concentraes variaram de acordo com as

    condies experimentais impostas.

    O solo contaminado foi dividido em alquotas de 3 g e colocados em frascos

    de cor mbar de 125 mL (Figura 7). A cada frasco, 10 ml de gua destilada era

    adicionada, formando uma pasta. E s depois era adicionado o reagente de Fenton,

    H2O2 (30%) e FeSO4.7H2O, na quantidade desejada. Os frascos fechados ficaram

    sob agitao em agitador orbital por um perodo de tempo pr-determinado (tempo

    de reao). Em cada experimento tambm foi realizado um ensaio denominado

    branco (B), com a parcela do solo contaminado com ascarel que no possua o

    agente oxidante.

    Figura 7: Clulas de reao

    4.2.3 Extrao do Contaminante

    Com o trmino da reao, as amostras de solo foram filtradas, por filtraosimples. Em seguida, foram deixadas a temperatura ambiente por 24 horas,

    aproximadamente, at que a umidade evaporasse o mximo possvel.

    Aps a filtrao, as extraes foram realizadas em extrator Soxhlet

    automtico. No incio foram realizadas no extrator da TECNAL modelo Te-044-8/50

    (Figura 8). As ltimas extraes foram executadas em um outro extrator tambm

    automtico da Gerhardt modelo Soxtherm Multistat / SX PC (Figura 9).

    A primeira etapa consistia em adicionar s cubetas de extrao 100 mL de umdeterminado solvente. Na maioria dos experimentos foi utilizado n-hexano como

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    solvente. Mas outros ensaios foram feitos usando lcool etlico e n-hexano/acetona

    (1:1) como solvente de extrao. Aps dosado o solvente, as amostras de solo

    eram colocadas no equipamento dentro de cartuchos de celulose. O sistema era

    ento programado para operar na temperatura desejada, a depender do solvente

    utilizado, sendo finalmente iniciado o processo de extrao. Aps 7 horas de

    extrao, o extrato era padronizado para 100 mL. Por fim, era retirada uma alquota

    de 1 mL desse extrato, agora contendo os poluentes extrados, e colocada em

    frascos apropriados (vials), mostrados na Figura 10, para ser analisada via CG/MS.

    Figura 8:Extrator Soxhlet da TECNAL Figura 9: Extrator Soxhlet da Gerhardt

    Alm de fazer parte da etapa analtica do processo de obteno dos

    resultados da degradao atravs da oxidao qumica, a extrao tambm pode

    ser utilizada como uma tcnica de remoo de contaminantes orgnicos de solos e

    sedimentos, sendo muitas vezes utilizada como uma primeira fase do processo de

    remediao de reas contaminadas (Valentin, 2000).

    Figura 10: Vialpara anlise cromatogrfica do extrato

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    4.2.3 Cromatografia Gasosa / Espectrmetro de Massa (CG/MS)

    O extrato, contendo os possveis orgnicos no degradados pela reao, foi

    analisado qualitativamente usando a tcnica de cromatografia gasosa acoplada a

    espectrmetro de massa (CG/MS). As anlises de CG/MS foram realizadas em um

    cromatgrafo GC-17A da Shimadzu (Figura 11). O espectrmetro operou com

    ionizao por impacto eletrnico de 70 eV e varredura de 10 a 9200 u.m.a.. As

    bases de dados usadas para comparao de espectros de massa foram as da NIST

    (National Institute of Standards and Technology) de 1990, com 60.000 espectros. Foi

    utilizada uma coluna capilar do tipo VF-1301MS (30 m x 0,25 mm x 0,25 m; 6%-cyanopropylphenyl/ 94%- methylpolysiloxano).

    As condies do mtodo de anlise cromatogrfica, adaptadas de Shu et al.

    (1994), foram:

    Volume injetado: 1 L;

    Fluxo na coluna: 0,7 mL/min;

    Temperatura do Injetor: 280C;

    Programao de temperatura da coluna: 60C (3 min)/ 60 250C (10C/min por15 min)/ 250 300C (5C/min por 10 min);

    Gs de arraste: hlio.

    Figura 11:Cromatgrafo da Shimadzu utilizado nas anlises das amostras

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    O mtodo utilizado no o mais indicado pela literatura, que recomenda o

    uso de CG acoplado a um detector de captura de eltrons (ECD) (USEPA,2000),

    especfico para compostos organoclorados.

    As anlises cromatogrficas realizadas nas amostras de PCBs geram

    cromatogramas semelhantes ao da Figura 12. composto basicamente de trs tipos

    de congneres de PCBs e seus ismeros: pentaclorobifenilas, hexaclorobifenilas e

    heptaclorobifenilas. O tempo de reteno dos picos ocorre normalmente entre 20 e

    40 minutos.

    20 25 30 35 40

    0,0

    2,0x105

    4,0x105

    6,0x105

    8,0x105

    1,0x106

    heptaclorobifenilas

    hexaclorobifenilas

    pentaclorobifenilasIntensidade(mV)

    Tempo de Reteno (min)

    Figura 12:Cromatograma tpico dos PCBs

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    5 RESULTADOS E DISCUSSO

    Os resultados dos ensaios foram divididos em trs grupos:1. Ensaios de caracterizao do solo utilizado nos experimentos;

    2. Ensaios da etapa de extrao do contaminante do solo;

    3. E ensaios de oxidao do contaminante na matriz do solo.

    Cada um deles est detalhado nos itens que se seguem.

    5.1 CARACTERIZAO DO SOLO

    O solo estudado tem sua origem em So Bernardo do Campo, Estado de So

    Paulo, e foi amostrado de uma profundidade de 1,80 2,15 m. Quanto cor, foi

    caracterizado em campo como amarelo claro, como pode ser visto na Figura 13,

    pela empresa que realizou a sondagem. Essa caracterstica nos faz inferir que se

    trata de um solo que possui pequena quantidade de xidos de ferro e compostos

    hmicos, pois essas substncias so fundamentais na determinao da cor escura

    de um solo (Weiner, 2000).

    Os outros dados de caracterizao do solo esto detalhados a seguir.

    Figura13: Amostra de solo utilizado nos experimentos

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    5.1.1 Determinao do pH do Solo

    A determinao do pH do solo importante pois esse parmetro de

    fundamental importncia quando se est trabalhando com o reagente de Fenton,

    pois o mesmo muito sensvel ao pH do meio reacional (Yeh et al., 2002). Um pH

    cido normalmente favorece a oxidao atravs do sistema Fenton, porm a acidez

    em solo pode causar impactos ecolgicos dramticos (Flotron et al., 2005).

    Yeh et al.(2002) trabalharam com sistemas semelhantes sem alterar o pH do

    meio e obtiveram remoes com resultados em torno de 90% para solos

    contaminados com clorofenis, que so valores satisfatrios na remoo depoluentes orgnicos. Watts et al. (1994) mostraram que com a reduo do pH do

    meio reacional obtm-se tambm resultados da ordem de 90%.

    Usando o procedimento do item 4.1.2.1, verificou-se que o pH do solo

    estudado era levemente cido e igual a 5,0 em ambas as amostras. Esse fato

    coerente pois o pH cido promove com maior eficincia a oxidao usando o

    sistema Fenton, j que em meio bsico os ons ferrosos tendem a precipitar e assim

    impedem a ocorrncia da reao (Kuo, 1992). Portanto, nos ensaios realizadosoptou-se por no alterar o pH natural do meio.

    5.1.2 Umidade do Solo

    De acordo com o procedimento experimental descrito no item 4.1.2.2, asamostras foram secadas em estufa por 1 hora a uma temperatura de 105C. Foram

    utilizadas 5 amostras para o clculo da umidade atravs de mdia simples. Os

    dados referentes aos clculos esto mostrados na Tabela 4. Pelas anlises, o solo

    possui 0,016 g de H2O/ g solo, ou seja, 1,628% de umidade.

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    Tabela 4:Dados referentes ao clculo da umidade do solo

    Amostras Solo Bruto (g) Solo Seco (g) Umidade (g) Umidade (%)

    1 1,025 1,005 0,020 1,951

    2 1,082 1,066 0,016 1,479

    3 1,007 0,992 0,015 1,490

    4 1,016 0,999 0,017 1,673

    5 1,030 1,014 0,016 1,553

    Mdia 1,032 1,015 0,017 1,628

    5.1.3 Determinao do Teor de Orgnicos do Solo

    A quantidade de substncias orgnicas originalmente presentes no solo bruto

    uma caracterstica bastante relevante, pois elas podem competir com o

    contaminante pelo reagente oxidante, e assim diminuir a eficincia do processo deoxidao qumica. Sedlak e Andren (1994) e Flotron et al. (2005) relataram a

    importncia da quantidade de matria orgnica do solo em processos de

    descontaminaoqumica.

    Na determinao de compostos orgnicos do solo, procedeu-se similarmente

    ao mtodo de Stow (1997). Uma amostra de 1 g de solo foi calcinada a 1000C em

    forno mufla, para garantir que todos os compostos orgnicos fossem calcinados. Os

    dados podem ser vistos na Tabela 5.Portanto, o solo possui 9,944 % de orgnicos e gua. Subtraindo o valor da

    umidade determinado no item 5.1.2 que de 1,628 %, o teor de orgnicos do solo

    de, aproximadamente, 8,316%, que um valor tpico. Bogan e Trbovic (2003)

    usaram seis tipos diferentes de solos em seus experimentos de degradao de

    hidrocabonetos poliaromticos (PAHs) que possuam teor de carbono orgnico

    (TOC) variando, aproximadamente, entre 3% e 24%.

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    Tabela 5: Dados referentes ao clculo do teor de orgnicos do solo

    Amostras Solo Bruto (g) Solo Seco (g) Orgnicos (g) Orgnicos (%)

    1 1,025 0,918 0,107 10,478

    2 1,082 0,979 0,103 9,556

    3 1,007 0,911 0,096 9,533

    4 1,016 0,914 0,102 10,000

    5 1,030 0,925 0,105 10,165

    Mdia 1,032 0,929 0,103 9,944

    5.1.4 Granulometria do Solo

    A caracterizao granulomtrica do solo foi determinada por Rodriguez (2006)

    que utilizou o mesmo solo em seus experimentos. A granulometria foi obtida atravs

    do mtodo quantitativo da pipeta de Robinson, no laboratrio de Geoqumica noInstituto de Cincias da USP. Essa propriedade textural importante pois infere

    sobre outras propriedades do solo como a porosidade, permeabilidade e capacidade

    de adsoro de contaminantes (Otten et al., 1997).

    A granulometria determinada foi a seguinte: 39,93% de argila, 9,01% de silte

    e 49,22% de areia. Portanto, segundo a granulometria obtida, o solo utilizado um

    solo arenoso, pois possui maior frao de areia.

    5.1.5 rea Superficial Especfica

    A adsoro dos contaminantes orgnicos matriz do solo est ligada

    diretamente rea superficial especfica das partculas (m2/g). Esta rea superficial

    especfica decresce sensivelmente com o aumento do dimetro das partculas.

    Portanto, a capacidade de adsoro de partculas arenosas negligencivel se

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    comparada fraes minerais menores como as argilas ou fraes orgnicas (Otten

    et al., 1997).

    Os dados das caractersticas texturais determinadas pela isoterma de

    adsoro de nitrognio a 77 K utilizando o modelo de BET encontram-se na Tabela

    6.

    Tabela 6:Caractersticas texturais do solo

    Caracterstica Textural Valor

    rea Superficial Especfica 24,52 m2/g

    Volume de Poros 0,1398 cm3/g

    Dimetro Mdio de Partcula 228,1

    Os valores das caractersticas texturais do solo apresentados na Tabela 6

    encontram-se em concordncia com um solo de caractersticas semelhantes

    utilizado no trabalho de Bogan e Trbovic (2003), cujo valor de rea superficial

    especfica de 24, 49 m2/g de solo.

    5.2 EXTRAO SOXHLET

    Tradicionalmente, a extrao do tipo Soxhlet tem sido o mtodo mais utilizado

    na extrao de PCBs da matriz de solos e sedimentos (Sporring et al., 2005). o

    mtodo 3541 de 1994 sistematizado e recomendado pela Environmental Protection

    Agency(EPA).

    A etapa de extrao na metodologia proposta para tratamento do solo

    contaminado com PCB de fundamental importncia, pois se a mesma no for

    eficiente no possvel quantificar fielmente a degradao ocorrida.

    A extrao uma etapa complexa no processo estudado. A eficincia da

    extrao utilizada para a determinao dos PCBs depende de vrios fatores que

    so: mtodo de extrao (Sporring et al., 2005), tempo de extrao (Valentin, 2000),

    tipo de solvente (Jakher, 2007) e composio da matriz (Bandh et al., 2000).

    Portanto, para adaptar o sistema estudado a fim de se obter resultadossatisfatrios foram realizados testes de extrao para determinar o melhor tempo de

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    extrao e o melhor solvente entre n-hexano, n-hexano/acetona (1:1, v/v) e lcool

    etlico.

    5.2.1 Tempo de Extrao

    Esses experimentos tinham como objetivo estudar a influncia do tempo na

    extrao, etapa imprescindvel para as anlises em CG/MS. Com esses resultados,

    desejava-se determinar um tempo timo de extrao, ou seja, o tempo mnimo para

    obter uma quantidade mxima de poluentes orgnicos extrados.Para esse fim, uma massa de solo foi pesada e dividida em duas partes

    iguais, sendo uma delas contaminada com uma quantidade conhecida de leo

    ascarel. Dessa parcela contaminada, foram retiradas as amostras para extrao.

    As extraes foram realizadas em um extrator automtico da TECNAL modelo

    Te-044-8/50. A primeira etapa consistia em pesar as cubetas de extrao, s quais

    foram adicionados 100 mL de n-hexano, que foi utilizado como solvente. Cerca de 2

    g do solo contaminado foram ento pesadas e colocadas em cartuchos de celulose,sendo finalmente iniciado o processo de extrao. Aps o final do tempo de

    extrao, as cubetas foram pesadas. Uma amostra do solvente, agora contendo os

    poluentes extrados, era ento retirada e analisada via cromatografia gasosa. A

    extrao foi conduzida de forma que somente o vapor de n-hexano circulava atravs

    da amostra de solo, variando-se o tempo de extrao (1, 2, 3 e 4 horas). Tambm foi

    realizado um experimento de extrao, denominado branco (B), com a parcela do

    solo que no foi contaminada com leo ascarel, usando tambm uma massa de 2 g.Os resultados do experimento encontram-se na Tabela 7.

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    Tabela 7:Dados experimentais do ensaio de tempo de extrao

    Amostrasmcubeta(g)

    pr-ext

    mcubeta(g)

    ps-extmsolo(g) mextrato (g)

    Tempo de

    Extrao (h)

    1 130,9495 130,9514 2,0498 0,0019 1

    2 137, 8176 130,8202 2,0148 0,0026 2

    3 130, 2720 130,2777 2,0146 0,0057 3

    4 133,4570 133,4586 2,0057 0,0016 4

    B 131,5640 131,5635 2,0274 0,0000 4

    A massa terica de leo ascarel, presente em 2 g do solo contaminado,

    corresponde a 0,018 g. Entretanto, pela Tabela 7, pode-se perceber que a extraorealizada exclusivamente com o vapor do n-hexano circulando atravs da amostra

    no foi satisfatria, pois as massas de contaminante obtidas ao fim da extrao

    foram bem inferiores ao valor terico.

    Nesse contexto, o procedimento para a extrao foi ento modificado, sendo

    as amostras de solo imersas no solvente, facilitando a migrao dos contaminantes

    da fase slida para o solvente. Foram realizados experimentos com os seguintes

    tempos de durao: 1, 2, 3 e 4 horas. Para avaliar o desempenho do processo de

    extrao foram escolhidos trs congneres de PCBs, sendo um pentaclorobifenila,

    um hexaclorobifenila e um heptaclorobifenila, caracterizados pelos respectivos

    tempos de reteno: 24,5, 27,5 e 32,5 minutos. Observando-se as reas dos picos

    na Figura 14 dos referidos congneres de PCBs obtidos dos cromatogramas dos

    extratos das amostras, pode-se concluir que entre 3 e 4 horas as reas dos

    congneres de PCBs apresentaram os valores mximos e tendem constncia.

    Diante dessa observao, optou-se por realizar todas as extraes seguintes com

    um tempo de 7 horas de operao, garantindo que seria extrado o mximo possvel

    de orgnicos.

    Dependendo das variveis do sistema de extrao como tipo de

    contaminante, umidade do solo e tipo de solvente, o tempo de extrao pode durar

    poucas ou muitas horas. Por exemplo, Sporring et al. (2005) obtiveram resultados

    prximos de 100% de recuperao de PCBs em solo usando n-hexano/acetona (1:1,

    v/v) em 18 horas de extrao Soxhlet.

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    50

    0 1 2 3 4 5

    0.0

    2.0x105

    4.0x105

    6.0x105

    8.0x105

    1.0x106

    rea

    Tempo de Extrao (h)

    pentaclorobifenila

    hexaclorobifenila

    heptaclorobifenila

    Figura 14:Extrao dos congneres de PCBs (pentaclorobifenila, hexaclorobifenila e

    heptaclorobifenila) ao longo do tempo de extrao

    5.2.2 Influncia da Umidade na Extrao

    A reao de oxidao Fenton extremamente facilitada em meio aquoso, pois

    promove a dessoro do contaminante favorecendo o ataque dos radicais hidroxila.

    Por essa razo recomenda-se que se adicione gua ao sistema de reao formando

    uma lama (Villa e Nogueira, 2006). Porm, a umidade residual aps o fim da reao

    aparece como uma barreira para a etapa de extrao.

    Em experimentos realizados inicialmente, suspeitava-se que a gua utilizada

    nos experimentos em batelada poderia interferir na extrao, impedindo que o

    contaminante fosse extrado ao mximo. Para confirmar tal hiptese foram feitos

    ensaios com o mesmo procedimento das extraes anteriores, porm com a adio

    de gua ao solo contaminado formando uma pasta, seguida de filtrao das

    amostras e s depois a extrao com n-hexano. Os resultados obtidos para duas

    das amostras podem ser vistos nas Figuras 15 e 16.

    Pode-se observar que as reas dos picos de cada congnere de PCB para o

    experimento em meio aquoso (solo mido) foram menores que as do experimento

    em ausncia de gua (solo seco).

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    51

    25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 350,0

    2,0x104

    4,0x104

    6,0x104

    8,0x104

    1,0x105

    1,2x105

    1,4x105

    1,6x105

    1,8x105

    2,0x105

    2,2x105

    2,4x105

    Intensidade(mV)

    Tempo de Reteno (min)

    mido

    Figura 15:Intensidade dos picos de PCBs na extrao em solo mido

    25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35

    0,0

    2,0x104

    4,0x104

    6,0x104

    8,0x104

    1,0x105

    1,2x105

    1,4x105

    1,6x105

    1,8x1052,0x105

    2,2x105

    2,4x105

    Intensidade(mV)

    Tempo de Reteno (min)

    Seco

    Figura 16:Intensidade dos picos de PCBs na extrao em solo seco

    Stow (1997) realizou um balano de massa referente reao de Fenton para

    a degradao de PCBs e concluiu que a extrao dos contaminantes usando o

    sistema Soxhlet ineficiente para solos com umidade residual, pois a gua podeinibir o contato entre o solvente orgnico e o poluente. No caso apresentado pelas

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    Figuras 15 e 16, o fenmeno justificado pois a gua e o n-hexano so substncias

    imiscveis.

    5.2.3 Teste de Solventes de Extrao

    To importante quanto o tempo de extrao a escolha do solvente. Para

    melhorar a eficincia da extrao dos PCBs do solo decidiu-se por testar outros

    solventes. Apesar de a literatura indicar o n-hexano como o solvente mais utilizado

    nos processos de extrao de materiais contaminados com PCBs, foram realizadosalguns ensaios experimentais utilizando, alm do n-hexano, outros solventes: n-

    hexano/acetona (1:1, v/v) e lcool etlico.

    Os experimentos foram realizados em um extrator automtico, modelo

    Soxtherm Multistat da Gerhardt, com os parmetros de operao listados na Tabela

    8.

    Tabela 8:Parmetros adotados para a extrao dos PCBs em solo para trs diferentes solventes

    Tipo de Solvente Vol Solvente (mL) Temp Extrao (C)

    n-hexano 100 180

    n-hexano/acetona 50 / 50 180

    lcool etlico 100 180

    Para os trs solventes, foram feitos experimentos com dois tipos de amostras:

    solo contaminado seco e solo contaminado mido. Para o solo contaminado mido o

    melhor resultado obtido, considerando-se os mesmos trs congneres de PCBs do

    item 5.2.1, foi utilizando o etanol como solvente, que pode ser observado no grfico

    da Figura 17.

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    53

    PENTA HEXA HEPTA0,0

    5,0x105

    1,0x106

    1,5x106

    2,0x106

    2,5x106

    3,0x106

    3,5x1064,0x10

    6

    4,5x106

    5,0x106

    rea

    Composto

    BRANCOHEXANO

    HEX/ACETETANOL

    Figura 17:reas dos picos para os congneres penta, hexa e heptaclorobifenila resultantes daextrao da amostra mida com diferentes solventes hexano, hexano/acetona e etanol

    A literatura (USEPA, 1994) normalmente recomenda a utilizao da mistura

    de solventes hexano e acetona na proporo 1:1 para a extrao do tipo Soxhlet de

    PCBs de solos e sedimentos. Pela Figura 17 vimos que a diferena na intensidadeda rea dos picos para os trs congneres foi praticamente igual para ambos os

    solventes (hexano e hexano/acetona).

    Para as amostras de solo contaminado seco o comportamento dos solventes

    foi semelhante ao das amostras midas, evidenciando o etanol como melhor

    solvente de extrao. Essa observao pode ser vista analisando-se o grfico da

    Figura 18.

    O fato de o lcool etlico ter se apresentado melhor que os outros doissolventes inovador, pois em nenhuma das bibliografias consultadas recomendava-

    se o uso do mesmo para executar extrao de PCBs de amostras de solo. Isso se

    torna interessante pois, comparado aos outros dois solventes, o etanol um

    solvente mais barato e menos txico.

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    PENTA HEXA HEPTA0,0

    5,0x105

    1,0x106

    1,5x106

    2,0x106

    2,5x106

    3,0x106

    3,5x1064,0x10

    6

    4,5x106

    5,0x106

    rea

    Composto

    BRANCOHEXANOHEXACETETANOL

    Figura 18:reas dos picos para os congneres penta, hexa e heptaclorobifenila resultantes da

    extrao da amostra seca com diferentes solventes hexano, hexano/acetona e etanol

    Comparando ainda as amostras seca e mida para um mesmo solvente, foi

    visto que a umidade no foi um fator to limitante na extrao como ocorria com o

    equipamento da TECNAL, mostrando que o equipamento da Gerhardt possui umsistema de extrao mais eficiente. A Figura 19 mostra os valores das reas dos

    picos de hexaclorobifenila e heptaclorobifenila nas amostras de solo seco e mido

    para os trs solventes utilizados. Observamos ainda que para o solvente

    hexano/acetona, a amostra mida apresentou intensidade de pico maior para ambos

    os congneres. Isso pode ser explicado pela polaridade da mistura de solventes que

    maior dos que a dos outros dois solventes. Para os outros dois solventes, hexano

    e etanol, as reas dos picos foi praticamente constante para ambos os tipos deamostra.

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    55

    HEXANO HEX/ACET ETANOL

    0.0

    5.0x105

    1.0x106

    1.5x106

    2.0x106

    2.5x106

    3.0x106

    3.5x106

    4.0x106

    HEXACLOROBIFENILA

    rea

    Solvente de Extrao

    MIDOSECO

    HEXANO HEX/ACET ETANOL

    0.0

    5.0x105

    1.0x106

    1.5x106

    2.0x106

    2.5x106

    3.0x106

    3.5x106

    4.0x106

    HEPTACLOROBIFENILA

    rea

    Solvente de Extrao

    MIDOSECO

    Figura 19:reas dos picos para os congneres hexa e heptaclorobifenila resultantes da extrao dasamostras seca e mida com diferentes solventes hexano, hexano/acetona e etanol

    5.3 ENSAIOS DE OXIDAO FENTON

    Com o objetivo de degradar o contaminante ascarel em solo usando o

    processo de oxidao qumica por meio dos radicais hidroxila gerados pela reao

    de Fenton, considerou-se a Equao 3 como a reao genrica de degradao

    calculada a partir do balano estequiomtrico das espcies envolvidas.

    C12HnCl(10-n)+ (n+19) H2O212CO2+ (2n+14) H2O + (10-n) HCl n = 1, 2, ..., 10. (3)

    Dessa forma, foi admitido que todo ascarel era composto somente de

    monoclorobifenila (C12H9Cl), que era o congnere que exigia a maior quantidade de

    perxido de hidrognio, e que esse se mineralizasse em dixido de carbono (CO2) e

    gua (H2O). Partindo-se dessas suposies, calculou-se a quantidade

    estequiomtrica de H2O2suficiente para degradar 1 mol de C12H9Cl. O valor obtido

    foi triplicado, ou seja, foi aplicado ao sistema H2O2 em excesso para garantir que

    todo o contaminante fosse degradado. Determinada a quantidade dos reagentes, os

    mesmos foram aplicados ao sistema reacional uma nica vez em regime de

    batelada, deixando que a reao ocorresse pelo tempo desejado.

    Inicialmente, uma batelada de experimentos exploratrios de degradao foi

    realizada para avaliar a remoo do ascarel do solo em estudo. Para isso, os

    ensaios foram feitos variando-se a proporo entre os reagentes oxidantes H2O2e

    Fe2+. Os valores da razo Fe2+:H2O2, nessa ordem, utilizados foram: A (1:122), B

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    56

    (1:60), C (3:122), D (3:60) e E (2:90). Alm disso, os experimentos foram realizados

    nos tempos de reao de 0, 5, 24 e 48 horas. Para avaliar a eficincia do processo

    de oxidao dos PCBs, tambm foram escolhidos os mesmos trs congneres

    (pentaclorobifenila, hexaclorobifenila e heptaclorobifenila) indicados no item 5.2.1. A

    Figura 20 mostra a remoo de um hexaclorobifenila, que um dos congneres de

    PCB, para os experimentos realizados com 24 horas de reao.

    A (1:122) B (1:60) D (3:60) E (2:90)

    0

    20

    40

    60

    80

    100

    91%

    13%

    82%66%Remoo(%)

    Experimento

    HEXACLOROBIFENILA - 24 h

    Figura 20:Degradao do hexaclorobifenila, com 24 h de reao e diferentes quantidades de H2O2e

    Fe2+

    Pelos resultados obtidos, a pior remoo aconteceu no experimento D, no

    qual foi usado Fe2+e H2O2na proporo de 3:60. Isso porque tinha-se, no sistema,

    menos ferro disponvel para a gerao de radicais hidroxila que so as espcies

    oxidantes. J no experimento E conduzido com os parmetros de concentrao de

    0,04:2,07 mol/L (Fe2+:H2O2= 2:90) e com o tempo de reao de 24 h houve uma

    remoo significativa (em torno de 90%).

    Vale salientar que para o melhor experimento, condio E, conseguiu-se

    atingir significativos percentuais de remoo como indicado no grfico de barras da

    Figura 21. Comparando-se os valores dos picos das reas para os trs congneres

    penta, hexa e heptaclorobifenila para o intervalo de 5 a 48 horas de reao

    houve remoes iguais ou maiores que 90%, o que promissor para o processo

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    estudado.

    A anlise cromatogrfica realizada nas amostras foi de carter qualitativo,

    pois devido ausncia de padres adequados, no foi possvel quantificar os

    compostos presentes na mistura. A concentrao do contaminante usado foi

    extremamente elevada, aproximadamente 6000 ppm, se comparada com os valores

    que orientam a execuo de medidas de tratamento e destruio para qualquer

    material que contenha um teor acima de 0,12 ppm de PCBs em rea industrial

    (CETESB, 2005).

    pentaclorobifenila hexaclorobifenila heptaclorobifenila

    0.0

    2.0x106

    4.0x106

    6.0x106

    8.0x106

    1.0x107

    1.2x107

    1.4x107

    1.6x10

    7

    96%88%

    98%91%

    90%86%

    rea

    Composto

    5 h24 h48 h

    Figura 21:Degradao dos congneres penta, hexa e heptaclorobifenila com 5, 24 e 48 horas dereao e 2,07 mol/L de H2O2e 0,04 mol/L de Fe

    2+

    Aps a anlise dos resultados dos experimentos exploratrios, foi realizada

    uma srie sistemtica de ensaios experimentais de acordo com a tcnica do

    planejamento experimental fatorial completo 22 (dois nveis e duas variveis com

    ponto central) conforme a Figura 22, considerando como nveis mnimos as

    condies do experimento E ([H2O2] = 2,07 mol/L e [Fe2+] = 0,04 mol/L).

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    58

    1,55 2,07 2,59 3,11 3,63 4,150,02

    0,03

    0,04

    0,05

    0,06

    0,07

    0,08

    0,09

    0,10

    0,11

    0,12

    I

    H

    G

    PC

    F

    [Fe

    2+],mol/L

    [H2O

    2], mol/L

    Figura 22:Planejamento experimental fatorial de dois nveis e duas variveis (22)

    O planejamento experimental teve como objetivo analisar a importncia dos

    efeitos das concentraes de perxido de hidrognio e ferro, alm do efeito de

    interao entre essas duas variveis. Foram ento realizados experimentos com 5(cinco) condies diferentes, como apresentado na Tabela 9, com duplicatas nas

    condies F, G, H, I e PC (ponto central), para os tempos de reao de 0, 5, 24 e 48

    horas, com dois brancos (amostras que no tinham reagente), totalizando 32

    ensaios. A concentrao de leo ascarel permaneceu constante para todos os

    experimentos (6000 ppm = 0,018 gramas de leo ascarel em 3 gramas de solo).

    Os percentuais de remoo obtidos com os experimentos do planejamento

    experimental encontram-se na Tabela 10. Esses valores foram calculados para o

    intervalo 0 48 horas de reao de oxidao do contaminante. Na referida tabela,

    esto apresentados os valores para os trs congneres modelo: pentaclorobifenila,

    hexaclorobifenila e heptaclorobifenila.

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    Tabela 9:Variveis absolutas e normalizadas do planejamento experimental

    Condio

    Experimental

    Valores Absolutos Valores Normalizados

    [H2O2] (mol/L) [Fe2+] (mol/L) [H2O2] [Fe

    2+]

    F 2,07 0,04 -1 -1

    G 2,07 0,10 -1 +1

    H 4,15 0,04 +1 -1

    I 4,15 0,10 +1 +1

    PC 3,11 0,07 0 0

    Tabela 10:Resultados do planejamento experimental

    Condio

    Experimental

    Variveis

    EstudadasVarivel Resposta

    [H2O2] [Fe2+]

    Remoo (%)

    pentacloro

    Remoo (%)

    hexacloro

    Remoo (%)

    heptacloro

    F -1 -1 63,09 59,07 64,75

    G -1 +1 39,29 28,37 28,82

    H +1 -1 76,04 67,51 72,01

    I +1 +1 64,69 53,62 56,39

    PC 0 0 60,06 49,48 50,01

    PC 0 0 53,55 42,90 46,83

    PC 0 0 70,24 62,53 66,36

    PC 0 0 51,98 41,37 43,85

    Analisando a varivel resposta para o pentaclorobifenila, ou seja, o percentual

    de remoo exposto na Tabela 10 para esse congnere verifica-se que quando se

    usa o perxido de hidrognio na concentrao de 2,07 mol/L e eleva-se a

    concentrao de ferro de 0,04 mol/L para 0,10 mol/L, a remoo passa de 63,09%