DECRETO Nº 56, 57, 59, 60, 61, 62, 63, 65,66/2010PORTARIA DE Nº 039/2010
Dissertação POS DEFESA com correções FINAL 1 · ï $'5,$12 62$5(6 027$ 3$3(/ '$...
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE – UFRN
DEPARTAMENTO DE ECOLOGIA – DECOL
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA – PpgEco
PAPEL DA DIVERSIDADE E IDENTIDADE DE HÁBITATS SOBRE OS
EFEITOS DA DIVERSIDADE DE DETRITOS NA DECOMPOSIÇÃO
ADRIANO SOARES MOTA
Orientador: Adriano Caliman Ferreira da Silva
NATAL – RN
2018
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE – UFRN
DEPARTAMENTO DE ECOLOGIA – DECOL
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA – PpgEco
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Central Zila Mamede
Mota, Adriano Soares. Papel da diversidade e identidade de hábitats sobre os efeitos da diversidade de detritos na decomposição / Adriano Soares Mota. - Natal, 2019. 47 f.: il. Dissertação (mestrado) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Biociências, Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Natal, RN, 2019. Orientador: Prof. Dr. Adriano Caliman Ferreira da Silva. 1. Decomposição - Dissertação. 2. Funcionamento de ecossistemas - Dissertação. 3. Diversidade funcional - Dissertação. 4. Interação entre hábitats - Dissertação. 5. Efeitos de complementaridade - Dissertação. I. Silva, Adriano Caliman Ferreira da. II. Título. RN/UF/BCZM CDU 574.1
Elaborado por Ana Cristina Cavalcanti Tinôco - CRB-15/262
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ADRIANO SOARES MOTA
PAPEL DA DIVERSIDADE E IDENTIDADE DE HÁBITATS SOBRE OS
EFEITOS DA DIVERSIDADE DE DETRITOS NA DECOMPOSIÇÃO
Dissertação de mestrado apresentada ao
Programa de Pós-Graduação em Ecologia –
PpgEco – da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte – UFRN – para obtenção do
título de Mestre em Ecologia
Natal, 28 de março de 2019
BANCA AVALIADORA
_______________________________________
Prof. Dr. Adriano Caliman Ferreira da Silva
Departamento de Ecologia
_______________________________________
Prof. Dr. Alexandre Fadigas de Souza
Departamento de Ecologia
_______________________________________
Dr. José Luiz Alves Silva
Membro externo
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AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus, arquiteto e engenheiro-mor do universo e
da vida, e que provocou uma série de modificações no meu contexto social que me
permitiram cursar o mestrado. Que os conhecimentos adquiridos nessa possam ser
usados para a edificação de uma sociedade mais justa, igualitária e ambientalmente
consciente, amém!
À minha famíia, em especial à minha mãe, Anisélia, e ao meu finado pai,
Antônio Mota, por me propiciarem um ambiente familiar saudável, onde pude estudar,
me desenvolver e assim e conseguir ser e ter tudo que tenho hoje. Num país como o
Brasil, essa é uma dádiva que não pode ser desperdiçada.
A Lidiane, mulher guerreira que soube gerir a minha ausência nesse
período de desenvolvimento da pesquisa. A Samuel e Heitor, minha prole, meu pedido
de perdão por não ter brincado mais, treinado mais karatê, passeado mais...espero
que posaam me compreender e me perdoar um dia.
A Bruna Kelly, que eu conheci numa caravana de concurseiros em 2016.
Despretensiosamente, ela me falou da seleção da pós em Ecologia, um mês antes da
prova. Se você me agradeceu por, nessa ocasião, eu ter te ajudado quando você ficou
no meio da rua, de madrugada num domingo, numa cidade estranha, eu te agradeço
mais, pois se não tivesse te conhecido, não estaria aqui.
A Ederson, Ricardo e Huáscar, chefes que eu tive nesse período, que na
medida do possível me permitiram adaptar minhas obrigações laborais e minhas
necessidades acadêmicas. A Deiseane, parceira de trabalho, agradeço pela
compreensão e por ser cobaia nos meus ensaios de defesa de qualificação e
dissertação;
A Adriano Caliman, meu orientador, que me apresentou aos estudos em
biodiversidade e funcionamento de ecossistemas. Peço perdão por minhas limitações
se por acaso elas impediram que essa pesquisa pudesse alcançar todo seu potencial.
A toda a equipe do LAPEB com a qual convivi, agradeço por toda a
convivência agradável que tivemos. Vocês são capazes de tornar as dunas do
transecto Norte menos íngremes, o Transecto Oeste menos quente e o Transecto Sul
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mais espaçoso. Menção especial aos atuais: Mery (rainha da p... toda, quando crescer
quero ser igual a ela!), André e Gabriel (amizade de dois anos que parece de
décadas), Aninha (owwwnn *_*), Duda, Eloyse, Valéria, Sibele, Geovana, Pedro,
Otávio e Jesiel.
A todo o corpo técnico, docentes, discentes e servidores do Departamento
de Ecologia, que conferem a este hábitat social um clima extretamente amistoso e
acolhedor para os novos alunos que chegam. Só amor por esse lugar!
A todos os não-mencionados que, de maneira direta ou indireta, ajudaram
ou torceram para que eu pudesse concluir essa importante etapa de minha vida.
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PAPEL DA DIVERSIDADE E IDENTIDADE DE HÁBITATS SOBRE OS
EFEITOS DA DIVERSIDADE DE DETRITOS NA DECOMPOSIÇÃO
RESUMO: Um crescente número de evidências empíricas tem apontado para a
importância da diversidade de detritos foliares como fator mediador do processo de
decomposição em ecossistemas terrestres. Paralelamente, estudos têm mostrado que
tanto a identidade quanto a diversidade de habitats também podem intereferir na
dinâmica de fatores determinantes de processos ecossistêmicos, tais como a
decomposição. Entretanto, pouco se sabe, se e como fatores como a identidade e
diversidade de habitats operam de forma individual e interativa aos efeitos da
diversidade de detritos na decomposição. Em uma floresta de restinga localizada no
litoral nordestino, nós avaliamos experimentalmente ao longo de 8 meses, se e como
os efeitos da diversidade de detritos sobre a decomposição variaram em função da
identidade e diversidade de habitats, bem como a ocorrência de efeitos não-aditivos
decorrentes da diversidade de habitats individualmente. Para isso, um gradiente de
diversidade funcional de detritos foliares foi estabelecido através da alocação de
detritos de cinco espécies arbóreas locais em microcosmos formados por
monoculturas e todas os possíveis combinações de duas espécies, totalizando 15
composições distintas (5 monoculturas + 10 biculturas). Este desenho experimental
foi replicado ortogonalmente ao longo de dois níveis de identidade (i.e. acima e abaixo
do solo) e diversidade (i.e. presença ou não de habitat adjacente) de habitas. Os
resultados mostraram que a riqueza de espécies de detrito de forma individual
explicou a maior parte da variação do processo de decomposição, mas que seus
efeitos também foram mediados significativamente pela identidade do habitat, tendo
para a maioria das espécies a diversidade de detritos exercido um efeito mais forte no
habitat acima do solo. A diversidade de habitat não apresentou efeito significativo
sobre o processo de decomposição nem de forma individual nem interativa com a
diversidade de detritos. Alem disso, a diversidade funcional, também não afetou a
decomposição de maneira sistemática em nenhum tipo de habitat e também não
interagiu com a diversidade de habitats. Nossos resultados demonstram que
característcias particulares dos habitas do solo podem mediar os efeitos da
diversidade de detritos na decomposição. Entretanto, estes efeitos aperentemente
ocorrem de forma independente a cada tipo de habitat (i.e. ausência de efeitos
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interativos entre habitats). Adicionalmente, a falta de efeitos da diversidade funcional
confirma os resultados de estudos recentes na literatura de que características da
identidade funcional (i.e. interações entre traços funcionais particulares da
comunidade) são mais preponderantes do que efeitos sistemáticos da diversidade
funcional de detritos sobre a decomposição.
PALAVRAS-CHAVE: Decomposição, funcionamento de ecossistemas, diversidade
funcional, interação entre hábitats, efeitos de complementaridade.
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SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 9
2. MATERIAIS E MÉTODOS .................................................................................. 15
2.1. ÁREA DE ESTUDO ......................................................................................................... 15
2.2. DESENHO EXPERIMENTAL E MONTAGEM DO EXPERIMENTO ............... 16
2.3. OBTENÇÃO E ESCOLHA DAS ESPÉCIES DO DETRITO ................................ 18
2.4. EXECUÇÃO DO EXPERIMENTO .............................................................................. 19
2.5. ESTIMATIVA DA MAGNITUDE DA DECOMPOSIÇÃO, EFEITOS NÃO-
ADITIVOS DA MISTURA E DIVERSIDADE FUNCIONAL .................................. 20
2.6. ANÁLISE ESTATÍSTICAS ............................................................................................. 23
3. RESULTADOS ................................................................................................... 23
4. DISCUSSÃO ....................................................................................................... 31
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 35
6. REFERÊNCIAS .................................................................................................. 36
7. APÊNDICE ......................................................................................................... 44
A. Caracterização funcional do detrito ............................................................................ 44
B. Distribuição das espécies no espaço funcional ...................................................... 44
C. Resultados de R2 dos atributos funcionais em cada hábitat .............................. 45
D. Resultados dos testes de correlação de Pearson entre as variáveis .............. 45
E. Dissimilaridade funcional das biculturas ................................................................... 46
F. Montagem e instalação dos microcosmos. .............................................................. 47
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PAPEL DA DIVERSIDADE E IDENTIDADE DE HÁBITATS SOBRE OS
EFEITOS DA DIVERSIDADE DE DETRITOS NA DECOMPOSIÇÃO
1. INTRODUÇÃO
O equilíbrio dinâmico da biosfera e sua biodiversidade dependem, entre
outras coisas, da integridade de processos ecossistêmicos que regulam os fluxos de
matéria e energia entre os compartimentos biótico e abiótico característicos dos
ecossistemas (BASILE-DOELSCH et al., 2015). Nas últimas décadas, ações
antrópicas, via diversos mecanismos, têm alterado significativamente a magnitude e
a estabilidade de diversos processos ecológicos fundamentais para o funcionamento
dos ecossistemas (BENNETT et al., 2001; LE QUÉRÉ et al., 2016; VITOUSEK et al.,
1997). Dentre vários processos ecossistêmicos, a decomposição da matéria orgânica
vem recebendo crescente atenção devido à sua relevância em promover fluxo de
carbono e nutrientes dos componentes bióticos para os abióticos, e que, se alterado
pelas modificações climáticas globais, pode desencadear grandes impactos sobre
inúmeros ecossistemas ao redor da biosfera (CHAPIN III, 2002; ODUM, 1959;
ROCKSTRÖM et al., 2009)
Em ambientes terrestres, a decomposição da matéria orgânica ocorre
majoritariamente na chamada serrapilheira, camada acima do solo na qual aporta em
média cerca de 90% de toda a biomassa vegetal produzida anualmente nestes
sistemas, além de produtos metabólicos e carcaças de animais (CEBRIAN, 1999;
DIAS & OLIVEIRA-FILHO, 1997). O detrito foliar, além de representar quase a
totalidade da necromassa presente na serrapilheira, conjuntamente se constitui nas
estruturas mais representativas e heterogêneas em termos de valor nutricional à
comunidade de decompositores (PIRES et al, 2006). Tais motivos justificam a razão
pela qual a maioria dos trabalhos experimentais sobre decomposição são realizados
com detritos foliares.
Dentre os diversos fatores que afetam a perda de massa e a decomposição
do detrito foliar nos ecossistemas terrestres, dois deles se sobressaem. O primeiro, a
qualidade do detrito, diz respeito às proporções entre constituintes recalcitrantes e
nutritivos (e.g. razão lignina:nitrogênio) e à presença de alguns compostos
secundários, como os compostos fenólicos e taninos (MAKKONEN et al., 2012).
Detritos com menor concentração relativa de compostos recalcitrantes tendem a ser
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mais nutritivos e mais palatáveis à fauna detritívora do solo e consequentemente são
decompostos mais rapidamente do que detritos com elevado percentual de compostos
recalcitrantes (CADISCH & GILLER, 1997; CORNWELL et al., 2008;
HATTENSCHWILER et al., 2005a,b; PÉREZ-HARGUINDEGUY et al., 2000). O
segundo fator é o clima, incluindo a precipitação, temperatura e incidência solar. Tais
variáveis climáticas, de forma individual e interativa, podem afetar a decomposição
tanto indiretamente, via influência sobre a abundância, diversidade e atividade
metabólica da micro e macrofauna decompositora, quanto diretamente, via processos
abióticos como a lixiviação e fotodegradação (AUSTIN & VIVANCO, 2006; CONANT
et al., 2011; COÛTEAUX et al., 1995; MAKKONEN et al., 2012; ZHILIANG et al.,
2015).
O restante da variação do processo de decomposição tem sido cada vez
mais relacionado à diversidade do detrito foliar e da biota decompositora ou, mais
precisamente, de mecanismos provenientes de diferenças funcionais do detrito (e.g.
diferenças de valor nutritivo, palatabilidade e complexidade estrutural) e diferenças de
nicho das espécies decompositoras (CHAPMAN et al., 2013; HATTENSCHWILER &
GASSER, 2005; XIE et al., 2016; GESSNER et al., 2010; HEEMSBERGEN et al.,
2004; MEIER & BOWMAN, 2008). A diversidade, tanto do detrito foliar quanto da fauna
decompositora, quando presentes, podem aumentar a magnitude (i.e. taxa) da
decomposição do detrito foliar de modo não-previsível a partir da decomposição de
cada espécie individualmente, gerando o chamado “efeito não-aditivo” da diversidade
sobre a decomposição (GARTNER & CARDON, 2004; GESSNER et al., 2010). Esses
efeitos não-aditivos podem ser originados por intermédio de dois mecanismos
distintos e não mutuamente excludentes: os efeitos de complementaridade e o efeito
de seleção (CARDINALE et al., 2002; LOREAU & HECTOR, 2001; WARDLE, 1999).
Os efeitos de complementaridade se dividem em dois mecanismos adicionais, a
partição de nicho e a facilitação. No contexto dos efeitos da diversidade de detritos
sobre a decomposição, a partição de nichos tem efeito quando uma comunidade
decompositora dotada de espécies com diferentes especializações, ao se deparar
com uma serrapilheira mista composta por detritos distintos física e quimicamente,
sofre uma redução na competição entre seus participantes, na medida em que eles
possam desfrutar de maior variedade de ítens alimentares (GESSNER et al., 2010;
HÄTTENSCHWILER et al, 2005a; VOS et al., 2013). Além disso, a serrapilheira mais
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diversa pode representar um habitat mais complexo arquiteturalmente, ampliando a
heterogeneidade ambiental e permitindo a coexistência de maior diversidade de
detritívoros (BARANTAL et al., 2004; CHAPMAN et al., 2013). Dessa forma, a
diversidade de detritos exerceria um controle ascendente sobre a diversidade de
decompositores, a qual por sua vez maximiza a decomposição do detrito (AUBERT et
al., 2010; CHAPMAN et al., 2013; HATTENSCHWILER & GASSER, 2005;
HEEMSBERGEN et al., 2004).
A facilitação na decomposição entre detritos de diferentes espécies, por
sua vez, ocorre quando a presença de detritos com características favoraveis ao
processo de decomposição (e.g. maior concentração de nutrientes e/ou maior
retenção de umidade) potencializa, por meio de transferência de nutrientes e/ou
umidade, a atuação da fauna decompositora sobre outros detritos, com características
recalcitrantes, acelerando a decomposição desses últimos. Tal processo, que pode
funcionar por meio da ação fúngica ou da lixiviação, é também amplamente conhecido
como “priming effect” (HAMER & MARSCHNER, 2005; KUZYAKOV, 2010). E,
finalmente, temos o efeito de seleção, que não depende de mecanismos de interação
entre detritos ou comunidade decompositora, mas apenas do fato de que em
comunidades mais diversas em espécies de detrito há maiores chances de ocorrência
de uma espécie cuja decomposição seja notavelmente mais alta em relação às
demais, modificando assim a magnitude média da decomposição observada para o
detrito misto. Nesse caso, o fator mais importante não seria em si a riqueza ou a
diversidade, mas a composição de espécies (BARANTAL et al., 2011; WARDLE et al,
1999).
Embora os mecanismos responsáveis por mediar as efeitos da
biodiversidade sobre o funcionamento dos ecossistemas ocorram para todos os tipos
de comunidades e processos ecossistêmicos, convém ressaltar que o detrito,
diferente de outros recursos, é morto, ou seja, diferentemente de presas, que
representam um recurso vivo, não apresenta respostas adaptativas frente à atuação
de consumidores. Desse modo, os efeitos não-aditivos da diversidade de detrito sobre
a decomposição, que são promovidos pelos mecanismos de complementaridade e de
seleção acima discutidos, dependem completamente da ação individual e interativa
dos fatores bióticos e abióticos que agem sobre o detrito e/ou sobre a comunidade
decompositora (COULIS et al., 2015; MAKKONEN et al., 2013). Logo, esses efeitos
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não-aditivos podem variar em magnitude e direção, dependendo dos fatores bióticos
e abióticos existentes em cada contexto ambiental no qual o detrito é decomposto
(HANDA et al., 2014; LECERF et al., 2011), o que podemos chamar de “identidade de
hábitat”. De maneira geral, essa mediação pelo ambiente ocorre porque a relevância
dos atributos funcionais tende a mudar entre diferentes contextos ambientais
(BARANTAL et al., 2004). Devido a isso, a decomposição de misturas de detritos com
diferenças em determinado atributo funcional pode apresentar efeitos não-aditivos em
um ambiente e em outros não, ou até mesmo diferir em magnitude e direção (i.e. efeito
positivo ou negativo sobre a velocidade de decomposição da mistura de detritos),
dependendo da relevância em cada ambiente do atributo funcional em questão
(BUTENSCHOEN et al., 2014; HOORENS et al, 2002). Por exemplo: a decomposição
de dois detritos com diferentes capacidades de retenção de umidade pode fazer
emergir efeitos não-aditivos quando ocorre em habitats ou momentos onde a umidade
seja um fator limitante, enquanto em outros contextos ambientais com maior
disponibilidade de umidade (MAKKONEN et al., 2013), ou com maior carência em
outro fator limitante à decomposição, como algum nutriente (BRETHERTON et al.,
2011; VIVANCO & AUSTIN, 2011), pode não haver efeito da diversidade. Portanto, é
o ambiente, através de seus componentes abióticos e bióticos, quem de fato
determina qual(ais) atributo(s) funcionais do detrito serão mais importantes para
mediar efeitos não-aditivos da diversidade funcional sobre a decomposição (SHI &
MARSCHNER, 2013; XIE et al., 2016).
Outro importante ponto a ser considerado sobre como o ambiente modula
os efeitos da diversidade funcional do detrito na decomposição reside no fato de que
os ecossistemas possuem graus variáveis de heterogeneidade ambiental. Em um
mesmo ecossistema há vários hábitats, que ocorrem em locais diferentes ou até num
mesmo local, mas em períodos diferentes, que podem diferir mais ou menos em suas
condições bióticas e abióticas (ALSTERBERG et al., 2017; HORTAL et al., 2009).
Essa diferença entre as condições bióticas e abióticas dos hábitats promove
diferenças na abundância e composição da comunidade decompositora, na incidência
de agentes abióticos atuantes sobre o detrito e na relevância dos atributos funcionais
do detrito para a decomposição, o que em última instância promove heterogeneidade
espacial ou temporal na emergência de efeitos não-aditivos e na decomposição como
um todo dentro do ecossistema (LANGHANS et al., 2008). Atualmente há vários
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estudos recentes, como Isbell et al. (2018) e Langenheder et al. (2012), que advogam
que o impacto da biodiversidade no funcionamento dos ecossistemas aumenta em
função do aumento da heterogeneidade temporal ou espacial do ambiente, pelo fato
de uma maior diversidade de espécies garantir a existência de um portfolio mais
diverso de características funcionais capazes de interagir de forma complementar,
gerando mais efeitos da diversidade e maximizando funções ecossistêmicas
(LEFCHECK et al., 2015; LOREAU, 2000; WILCOX et al., 2017; YACHI & LOREAU,
1999).
Uma conjectura plausível que pode contribuir para a melhora do
conhecimento dos efeitos da biodiversidade no funcionamento dos ecossistemas
emerge da possibilidade de efeitos não-aditivos dependerem não apenas de
componentes locais característicos dos hábitats, ou seja, de sua identidade, mas
também da diversidade de hábitats dentro de um ecossistema, na medida em que
essa diversidade se traduz em interação entre os mesmos. Diferentes hábitats,
separados no espaço ou no tempo, podem manter entre si fluxos de matéria e de
energia, tanto por vias abióticas, como o transporte passivo via aérea ou aquática,
como por vias bióticas, por meio dos deslocamentos e interações entre organismos
(ALSTERBERG et al., 2017). Esses aportes de nutrientes e/ou de espécies
decompositoras pode provocar novos efeitos de complementaridade e de seleção ou
alterar efeitos já eistentes localmente, assim alterando a decomposição nos hábitats,
sobretudo se houver diversidade de detrito sobre o qual esse portfólio ampliado de
características funcionais possa agir, cenário no qual poderia haver efeito interativo
entre a diversidade de detrito e a diversidade de hábitat, com consequente
maximização do uso de recursos ao longo do espaço e do tempo (ALSTERBERG et
al., 2017). Levando em conta que, mais que a diversidade meramente taxonômica, a
diversidade funcional vem sendo apontada por um número cada vez maior de estudos
como a mais capaz de predizer a emergência de efeitos da diversidade (GESSNER
et al., 2010; HEEMSBERGEN et al., 2004; MEIER & BOWMAN, 2008), é razoável
inferir que o aumento da dissimilaridade funcional dentre as espécies de detrito em
mistura possa determinar padrões de efeitos interativos entre a diversidade de detrito
e a diversidade de hábitat sobre a decomposição (FINERTY et al., 2016).
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Exemplos de locais nos ecossistemas onde podem ocorrer tais processos
interativos entre hábitats são a superfície do solo e dos sedimentos aquáticos, onde é
comum a ocorrência de espécies consideradas engenheiras de ecossistemas, as
quais promovem alterações abióticas no hábitat, por exemplo, transportando
verticalmente material entre camadas mais profundas e superficiais de solos e
sedimentos, estimulando assim a interação entre habitats subterraneos e superficiais
(MEYSMAN et al., 2006). No caso dos solos em ambientes terrestres, a camada
superficial de serapilheira pode colaborar com a manutenção da temperatura mais
amena e umidade mais elevada do habitat subterrâneo, além de proteger da erosão
e prover passivamente, via percolação, o transporte de compostos solúveis que
podem impactar a decomposição abaixo do solo. Já o subsolo, além de ser hábitat de
muitos dos detritívoros que consomem e transportam o detrito da superfície, também
pode interferir na decomposição da serapilheira acima do solo fornecendo nutrientes
e umidade estocados. Estas interações entre os habitats acima e abaixo do solo
podem resultar em efeitos não-aditivos uni ou bilaterais que poderiam potencializar ou
reduzir a decomposição da matéria orgânica no sistema solo-subsolo e no
ecossistema como um todo (HOOPER et al., 2000).
Diante do exposto, este estudo buscou avaliar de forma experimental como
a identidade e diversidade de hábitats, aqui representados pelos habitats subterrâneo
e superficial dos solos, podem mediar os efeitos da diversidade de detritos. Para tanto,
conduzimos um experimento de campo ao longo de 8 meses, onde testamos a
decomposição de detrito foliar de 5 espécies arbóreas em monoculturas e ao longo
de todos os possíveis pares de misturas (i.e. dois níveis de riqueza) em dois tipos de
hábitat (solo e subsolo) isoladamente (i.e. diversidade de detritos × identidade de
habitat) e em conjunto (i.e. diversidade de detritos × diversidade de habitats). Com
este desenho experimental nosso objetivo foi testar as seguintes hipóteses:
1. A diversidade de espécies de detrito (i.e. riqueza) afeta a
decomposição (efeito individual da diversidade de detritos)
2. O hábitat afeta o efeito da diversidade do detrito sobre a decomposição
(efeito interativo entre identidade do habitat e diversidade de detritos)
3. A diversidade de hábitats afeta a decomposição (efeito individual da
diversidade de habitat)
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4. A diversidade de hábitats modula o efeito da riqueza do detrito sobre a
decomposição (efeitos interativos entre a diversidade de habitats e
diversidade de detritos)
5. Os efeitos interativos da identidade e diversidade de hábitats com a
diversidade de detritos, irão depender da dissimilaridade funcional das
misturas de detrito.
2. MATERIAIS E MÉTODOS
2.1. ÁREA DE ESTUDO
O estudo foi conduzido em uma floresta de restinga localizada no Centro
de Lançamento de Foguetes Barreira do Inferno (5º55’S e 35º10’W), situada no
município de Parnamirim/RN (5º55’30.00’’S e 35º9’47’’O) (Figura 1). Florestas de
restingas são formações vegetacionais que ocorrem sobre a planície costeira,
formação geológica caracterizada pelo solo arenoso e pela origem sedimentar
recente, a partir de depósitos terciários e quaternários (VILLWOCK, 1994). As
condições abióticas da área de estudo, como é comum a outras áreas de restinga pelo
Brasil, sofrem efeito da salinidade e estão expostas a temperaturas tipicamente
tropicais (média anual de 26ºC) e pluviosidade anual 1746 mm, com chuvas que se
concentram entre os meses de março e agosto e que podem chegar a volumes abaixo
de 100 mm nos meses secos (INMET 2014; <http://www.inmet.gov.br>). O solo
apresenta um teor de fósforo e nitrogênio total de 16,59 e 0,67 cmolc/cm3,
respectivamente, enquanto a espessura média da serapilheira é de 3,30 cm (SILVA
et al., 2015). Porém, esses índices podem variar bastante dentro da região, devido à
já conhecida baixa capacidade de retenção de água e nutrientes dos ambientes de
restinga, o que aumenta a importância das formas orgânicas e biota para a fertilidade
do solo (MANLAY et al., 2000)
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Figura 1: Imagem de satélite do Centro de Lançamento de Foguetes da Barreira do Inferno, dentro do
qual se localiza a área do fragmento de restinga no qual foi conduzido o experimento (círculo em
vermelho). Fonte: Google Maps (acesso em 19/10/2018)
2.2. DESENHO EXPERIMENTAL E MONTAGEM DO EXPERIMENTO
O desenho experimental consistiu na manipulação ortogonal de dois níveis
de diversidade de espécies de detrito foliar (monoculturas e biculturas), dois níveis de
identidade de habitat (sub-solo e serrapilheira) e dois níveis de diversidade de habitat
(sem diversidade - habitats isolados sem conexão adjacente e com diversidade -
habitat combinados com conexão adjacente). Este desenho também permitiu testar
os efeitos da diversidade de detritos na decomposição ao longo de 4 contextos
ambientais distintos, que foram determinados pela interação entre identidade e
diversidade de habitat (i.e. decomposição na superfície do solo na ausência de sub-
solo; decomposição na superfície do solo na presença de sub-solo; decomposição no
sub-solo na ausência de serrapilheira; decomposição no sub-solo na presença de
serrapilheira) (Tabela 2). A diversidade de espécies de detritos foi manipulada através
da incubação de detritos foliares de 5 espécies arbóreas comuns no local de estudo
em monoculturas e em todos os 10 possíveis arranjos de pares (biculturas) entre elas,
totalizando 15 composições possíveis.
Cada um dos tratamentos (i.e. composição x contexto ambiental) foi
replicado 3 vezes, o que demandou o uso de 135 unidades experimentais (Tabela 1),
uma vez que em algumas delas estiveram presentes dois tratamentos (os tratamentos
“superfície com diversidade de hábitat” e subsolo com diversidade de hábitat ficaram
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na mesma unidade experimental). Cada unidade experimental consistiu em um
microcosmo construído a partir de uma garrafa plástica de 500mL, que teve seu
gargalo seccionado e substituído por uma tela de 2mm de abertura de malha.
Internamente, foram divididas, por meio de uma tela de material sintético, em dois
compartimentos, um superior e outro inferior, que representaram os hábitats superfície
do solo ou serrapilheira e subsolo. Adicionalmente, foram feitos furos de cerca de 5mm
nas laterais, para permitir acesso da macrofauna. Ilustrações e fotografias dos
microcosmos em fase de montagem e após instalados podem ser conferidas no
apêndice F.
Em cada microcosmo, foi colocado um total de 3g de massa de detrito,
sendo que em microcosmos contendo dois habitats, cada habitat recebeu 1,5g, e nos
microcosmos contendo biculturas, cada espécie contribuiu com 1,5g de detrito (Tabela
1). Dessa forma, nos microcosmos compostos por dois habitats e biculturas, cada
espécie contribuiu com 0,75g de detrito em cada habitat (Tabela 1). Os tratamentos
em superfície sem diversidade de hábitat e em subsolo sem diversidade de hábitat,
como já mencionado, foram alojados cada um em microcosmos distintos, enquanto
os tratamentos de superfície com diversidade de hábitat e subsolo com diversidade
de hábitat foram alojados no mesmo microcosmo. Nos microcosmos contendo
tratamentos em subsolo, o compartimento inferior teve os espaços vazios preenchidos
por terra peneirada oriunda do local de estudo.
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Cinco espécies Dois níveis de riqueza de detritos
5 espécies
1 Sp. (3g por habitat ou 1,5g
por habitat)
5 monoculturas
2 Spp. (1,5g por Spp/habitat
ou 0,75g por Spp/habitat)
3g de massa por
microcosmo 10 misturas
Qu
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g)
Tabela 1: Representação da configuração dos microcosmos para cada nível de diversidade (e.g.
uma e dias espécies), cada nível de identidade de hábitat (e.g. solo e subsolo) e cada nível de
diversidade de hábitat (e.g. com e sem diversidade). Cada cor representa uma espécie diferente, e
o X indica compartimento vazio
2.3. OBTENÇÃO E ESCOLHA DAS ESPÉCIES DO DETRITO
O detrito utilizado tanto na caracterização quanto na montagem do
experimento foi obtido através de coletores plásticos (área de 0,1256m2) pendurados
abaixo da copa de indivíduos das espécies utilizadas. Após alguns dias o material foi
19
coletado e depois levado ao laboratório para secagem em estufa a 40ºC (±2ºC)
durante 72 horas, para fins de estabilização de massa . As 5 espécies utilizadas no
experimento foram Byrsonima gardneriana, Coccoloba laevis, Coccoloba
ramosíssima, Guapira tomentosa e Schoepfia brasiliensis, que constituem um
subconjunto das espécies presentes na região e foram escolhidas a priori com base
em suas diferenças funcionais em relação ao percentual de saturação de água e a
área foliar espécífica do detrito. Estas características têm sido demonstradas como
capazes de agregar informações de dissimilaridade de outros atributos funcionais do
detrito reconhecidos como importantes para a decomposição em sistemas florestais
tropicais (MAKKONEN et al., 2012).
2.4. EXECUÇÃO DO EXPERIMENTO
O experimento teve início em outubro de 2017, auge da estação seca,
época em que o aporte de detrito via senescência foliar atinge seu pico na região.
Desta forma, o início do experimento coincidiu com a dinâmica fenológica natural do
aporte de detritos no local de estudo. Os microcosmos foram parcialmente enterrados
no solo, de modo que a tela divisora dos compartimentos ficasse exatamente no
mesmo nível da superfície do solo (Apêndice F). Os microcosmos foram distribuídos
de forma aleatória no local do experimento e espaçados em cerca de 20cm entre si.
O experimento durou oito meses e foi finalizado em junho/2018. Desta forma, o
experimento transcorreu sob influência dos períodos secos (outubro a Janeiro) e
úmidos (Fevereiro a junho) na região. Ao final do experimento, cada mcrocosmo foi
cuidadosamente retirado do campo e levado ao laboratório. O conteúdo de detrito
então passou por nova secagem em estufa a 40ºC (±2ºC) durante 72 horas , limpeza
cuidadosa com uso de pincéis, para evitar perda de material, e triagem das espécies
nas amostras de biculturas. Só então foi realizada pesagem em balança de precisão,
com quatro casas decimais.
20
2.5. ESTIMATIVA DA MAGNITUDE DA DECOMPOSIÇÃO, EFEITOS NÃO-
ADITIVOS DA MISTURA E DIVERSIDADE FUNCIONAL
A magnitude da decomposição foi estimada como proporção de massa
remanescente de detrito. Para tanto, a massa seca final de detrito referente a cada
espécie individualmente ou à mistura como um todo, foi dividida pela sua respectiva
massa seca inicial em cada microcosmo.
MR =
MR – Massa remanescente (proporção de massa inicial)
Mf – massa final (g)
Mi – massa inicial (g)
Nesse método, valores de massa remanescente mais baixos indicam maior
magnitude da decomposição. Para verificar a magnitude da decomposição tanto em
nível de mistura quanto em nível espécie-específico, aplicamos esse cálculo para as
massas das misturas e para cada espécie que a compôs.
Para verificar se a decomposição em uma dada mistura diferiu do previsto
pela média da decomposição obervada nas suas monoculturas constituintes,
utilizamos o cálculo de Efeito Relativo da Mistura - ERM (WARDLE et al., 1997), onde:
ERM(%) = ( )
*100
Esp – resultado esperado para a decomposição das misturas sem
assumir interação entre os detritos. Consiste na média dos valores da
decomposição das espécies em monoculturas.
Obs – Resultado da decomposição observado nas misturas, admitindo
possíveis efeitos da interação entre detritos.
Essa é uma medida capaz de avaliar, em termos percentuais, o quanto a
interação de detritos nas misturas alteram a sua decomposição em relação ao
resultado observado em suas respectivas monoculturas. Valores positivos indicam
que a mistura acelerou a decomposição, enquanto valores negativos, que a mistura
provocou desaceleração. Valores iguais a zero indicam que não houveram efeitos
não-aditivos da mistura no detrito. O módulo do valor indica a magnitude do efeito.
21
Adicionalmente, para verificar como os efeitos não aditivos provenientes da
mistura de detritos afetaram as espécies individualmente, também calculamos o Efeito
Relativo da Mistura na Espécie (ERME) para, assim como no cálculo do ERM, verificar
a magnitude e a direção do efeito não-aditivo sobre cada espécie componente das
misturas:
EREA→B (%) = BB - BAB x 100
BB
ERMEA→B – Efeito relativo da mistura das espécies A e B sobre a espécie B
BB – Resultado esperado para a decomposição da espécie B sem assumir
interação entre os detritos. Consiste no valor de decomposição de B em
monocultura
BAB – Resultado observado na decomposição da espécie B na presença do detrito
da espécie A
Valores de ERM e ERME foram calculados no software R (pacotes Car e
Vegan, Version 1.0.143 – © 2009-2016 RStudio, Inc.) para cada um dos 4 tipos de
contextos conforme descrito na tabela 1. A significância estatística de cada ERM e
ERME obtido em cada contexto avaliado foi estimada através de técnica de
bootstrapping (EFRON, 1979), que consiste em realizar os cálculos de ERM e ERME
utilizando todas as réplicas feitas, gerando um conjunto de resultados, a partir do qual
se retirou 1000 amostras aleatórias, com reposição, e se verificou o intervalo de
confiança dentro do qual se concentraram 95% das amostras retiradas. Estabelecido
o intervalo de confiança, só foram considerados significativos os efeitos não-aditivos
cujos limites do intervalo de confiança de 95% não tocaram o eixo zero.
A estimativa da diversidade funcional entre as espécies utilizadas foi feita
utilizando a Dispersão de Atributos Funcionais ou qD(TM) (SCHEINER et al., 2017),
que basicamente utiliza a distância entre as espécies, quando estas são projetadas
em um espaço funcional formado pelos atributos funcionais mais relevantes para
distinguir as espécies em um determinado contexto. Quanto a seus resultados, o valor
mínimo consiste em 1, sendo que quanto mais distantes de 1, mais diversas
funcionalmente serão as espécies em determinada comunidade ou mistura. A maior
virtude dessa métrica é o fato de ela considerar em seu cálculo a riqueza funcional (i.
e. quantidade de espécies ocupantes do espaço funcional), a uniformidade funcional
(i. e. equitabilidade da distância entre as espécies no espaço funcional) e a distinção
22
funcional (i. e. a dispersão das espécies dentro do espaço funcional), o que é bastante
vantajoso no entendimento da natureza multifacetada da diversidade funcional nos
ecossistemas. Essa descrição se faz necessária pelo fato de a escolha da forma de
se medir diversidade dos organismos é sempre um ponto de extrema relevância em
experimentos destinados a avaliar efeitos da diversidade sobre funcionamento de
ecosistemas (SCHEINER et al., 2017). As diferentes métricas de quantificação da
diversidade funcional possuem virtudes e carências particulares, o que faz com que
os resultados apontados por elas sejam possam apresentar viéses, gerando assim
controvérsias (PETCHEY & GASTON, 2007; PODANI & SCHMERA, 2006).
Os atributos funcionais a ser considerados no cálculo da diversidade foram
escolhidos dentro de um conjunto de características funcionais candidatas, que
incluiu, além das já mencionadas capacidade de saturação de umidade e área
específica foliar, outras medidas a posteriori, a saber: (1) percentual em biomassa de
Carbono orgânico total, medido por meio de combustão a alta temperatura e detecção
de CO2 por infravermelho em equipamento modelo Shimadzu TOC-5000, (2)
Nitrogênio total, medido pelo método de digestão ácida com destilação de Kjeldahl
(ALLEN et al., 1974), e (3) Fósforo total, pelo método da digestão forte e reação com
molibdato (FASSBENDER, 1973) (Apêndice A). Tais características funcionais
candidatas foram inicialmente escolhidas por serem reconhecidamente importantes
em afetar a decomposição de detrito foliar em ecossistemas
terrestres(CORNELISSEN et al., 1999; MAKKONEN et al., 2012). Pelo fato de, como
já apresentado aqui, a relevância dos atributos funcionais na determinação das taxas
de processos ecológicos poderem variar em função do hábitat considerado, nós
fizemos essa determinação para cada tipo de habitat por meio de regressões lineares.
Após a identificação dos atributos que afetaram de forma significativa o
processo de decomposição das espécies dentro de cada habitat, verificamos a
ocorrência de co-linearidade entre os atributos funcionais escolhidos através de
correlações de Pearson (Apêndice D). Atributos com coeficiente de correlação de
Pearson (r) maiories ou igual a 0,7 (R2 = 0,5) foram considerados colineares, sendo
portanto mantido o atributo que obteve maior explicabilidade (R2) na relação com as
taxas de decomposição das espécies. Finalmente , os atributos funcionais escolhidos
para o cálculo do índice de dissimilaridade funcional do detrito das diferentes
combinações foram padronizados a valores entre 0 e 1, a fim de eliminar distorções
23
entre as escalas dos atributos (Apêndice C). As espécies foram então projetadas no
espaço funcional construído, o que permitiu finalmente o cálculo da diversidade
funcional entre cada par de espécies em cada hábitat (apêndice E).
2.6. ANÁLISE ESTATÍSTICAS
Nós usamos uma série de abordagens para testar as hipóteses propostas.
O efeito individual da diversidade do detrito (hipótese 1), efeito interativo entre a
diversidade do detrito e a identidade de hábitat (hipótese 2), efeito individual da
diversidade hábitat (hipótese 3) e efeito interativo entre a diversidade de detritos e de
hábitat (hipótese 4) em nível de mistura (i.e. decomposição conjunta de ambas as
espécies presentes na mistura) e em nível espécie-específico (i.e. decomposição
individual das espécies na mistura) foram avaliados através de análise de variância
(ANOVA) fatorial. A relação entre os ERM e ERME e a diversidade funcional em cada
hábitat (hipótese 5) foi verificada através de regressões lineares. Todas as análises
estatísticas foram feitas através do Softawere STATISTICA, versão 10.0. Em todos os
casos, os resultados foram considerados significantes quando p<0,05.
3. RESULTADOS
Os valores de massa remanescente de detritos referentes as monoculturas
e biculturas variaram consideravelmente, entre os diversos tipos de espécies, misturas
e contextos experimentais manipulados (figura 4). De maneira geral a decomposição
foi maior no habitat de sub-solo comparado à superfície (Figura 4cd). Curiosamente a
magnitude relativa da decomposição entre as monoculturas variou bastante, entre os
diversos contextos. Por exemplo, a espécie Sb foi a que apresentou a maior
decomposição para os dois contextos experimentais relacionados à superficie do solo,
mas este padrão não se repetiu em relação aos contextos representados pelo sub-
solo, onde ambas as espécies do gênero Coccoloba apresentaram maior
decomposição (figura 4).
24
Figura 4: Resultados de massa remanescente para todas as composições nos quatro contextos
ambientais considerados. As médias correspondem aos traços centrais, enquanto as extremidades
delimitam o erro padrão. Abreviações: Bg – Byrsonima gardneriana, Cl – Coccoloba laevis, Cr –
Coccoloba ramosíssima, Gt – Guapira tomentosa, Sb – Schoepfia brasiliensis.
25
A diversidade de detritos, de forma geral e independente da interação com
demais fatores, afetou positivamente a decomposição a nível de mistura como um
todo (Figura 5a; Tabela 2). Entretanto, sob uma ótica espécie-específica, das cinco
espécies utilizadas no experimento, B. gardneriana, G. tomentosa e S. brasiliensis
apresentaram maiores taxas de decomposição em mistura, quando comparadas a
suas respectivas monoculturas (Figura 5bde; Tabela 2).
Figura 5: Efeitos individuais da diversidade de detritos (i.e. espécies em monocultura e em
mistura) sobre a decomposição de todas as espécies em geral e espécie-específico para cada
espécie. Pontos denotam média e barra de erros, erro padrão
26
Observamos também efeitos significativos da interação entre diversidade do
detrito e identidade do habitat sobre a decomposição das espécies B. gardneriana e
G. tomentosa. (Figura 6be). De maneira geral, esta interação se deu em função do
fato de os efeitos da diversidade de detritos sobre a decomposição destas espécies
ocorrerem de forma mais consistente na superfície do que no sub solo.
Figura 6: Efeito interativo entre a identidade de hábitat e a diversidade do detrito (i.e. espécies
em monocultura e em bicultura) sobre a decomposição de todas as espécies em geral e
espécie-espécífico para cada espécie. Pontos denotam média e barra de erros erro padrão
27
Não foram observados efeitos signficativos da diversidade de habitat e nem
de sua interação com a diversidade de detritos, tanto a nível de mistura quanto para
as espécies individualmente. Na tabela 2, está um resumo das análises de variância
fatoriais relativas aos resultados até aqui demonstrados.
Tabela 2: Sumário das análises de variância fatoriais testando os efeitos individuais da diversidade de detritos e diversidade de habitat, bem como as suas interações e interações com a identidade do habitat sobre a massa remanescente do detrito a nível de comunidade (i.e. mistura) e para espécies individualmente. Gl = graus de liberdade; MQ = média dos quadrados. Valores de P em negrito denotam efeitos significativos. Variável resposta Fator Gl MQ F P
Decomposição da
mistura
Diversidade de detrito (Dd) 1 4,48 20,30 <0,0001 Dd×Habitat (H) 1 0,69 3,12 0,08 Diversidade de habitat (Dh) 1 0,34 1,56 0,21 Dd×Dh 1 0,03 0,14 0,70 Resíduo 161 0,22
Decomposição de Byrsonima
gardneriana
Diversidade de detrito (Dd) 1 3,27 26,50 <0,0001 Dd×Habitat (H) 1 1,19 9,60 0,003 Diversidade de habitat (Dh) 1 0,14 1,15 0,28 Dd×Dh 1 0,09 0,72 0,39 Resíduo 51 0,12
Decomposição de Coccoloba laevis
Diversidade de detrito (Dd) 1 0,02 0,07 0,80 Dd×Habitat (H) 1 0,73 2,72 0,10 Diversidade de habitat (Dh) 1 0,25 0,95 0,33 Dd×Dh 1 0,01 0,04 0,84 Resíduo 49 0,27
Decomposição de Coccoloba
ramosíssima
Diversidade de detrito (Dd) 1 1,48 3,97 0,05 Dd×Habitat (H) 1 3,12 8,40 0,006 Diversidade de habitat (Dh) 1 0,25 0,66 0,42 Dd×Dh 1 0,55 1,49 0,23 Resíduo 47 0,37
Decomposição de Guapira tomentosa
Diversidade de detrito (Dd) 1 0,94 5,02 0,03 Dd×Habitat (H) 1 1,04 5,59 0,02 Diversidade de habitat (Dh) 1 <0,01 <0,01 0,93 Dd×Dh 1 <0,01 <0,01 0,99 Resíduo 51 0,19
Decomposição de Schoepfia
brasiliensis
Diversidade de detrito (Dd) 1 4,85 32,93 <0,0001 Dd×Habitat (H) 1 <0,01 <0,01 0,98 Diversidade de habitat (Dh) 1 0,06 0,41 0,52 Dd×Dh 1 0,46 3,14 0,08 Resíduo 51 0,15
Quanto à variação dos efeitos não-aditivos da mistura de detritos (i.e. Efeito
Relativo da Mistura – ERM), não observamos variação sistemática em função da
dissimilaridade funcional em nenhum dos contextos ambientais manipulados (Figura
7). Entretanto, os ERM positivos foram muito mais frequentes na superfície que no
subsolo. Além disso, considerando apenas o hábitat subsolo, ocorreram muito mais
valores de ERM positivos em contexto ambiental com diversidade de hábitat, embora
a magnitude em geral tenha se mantido a mesma, considerando todos os tratamentos
do contexto ambiental (Figura 7).
28
Figura 7: Efeito relativo da mistura em função da dissimilaridade funcional do detrito ao longo dos quatro contextos ambientais manipulados (a) superfície
sem diversidade de hábitat, (b) superfície com diversidade de hábitat, (c) subsolo sem diversidade de hábitat, (d) subsolo com diversidade de hábitat.
Símbolos representam o ERM médio de cada bicultura em relação a média de suas respectivas monoculturas. Barras de erro representam os intervalos
de confiança de ±95% (IC ±95%) calculados através de bootstrapping com 1000 aleatorizações. Valores positivos de ERM indicam que a mistura
decompôs mais rápido do que a média de suas monoculturas e valores negativos indicam que as misturas decomporam mais lentamente que a média
de suas monoculturas. Valores de ERM são considerados signficativos se os valores de IC ±95% não cruzam a linha pontilhada (ERM=zero).
29
Os efeitos não-aditivos em nível espécie-específico também não variaram
de modo sistemático em função da dissimilaridade funcional do detrito para nenhuma
das 5 espécies (Figuras 8). Entretanto, a ocorrência, magnitude e direção dos efeitos
relativos da mistura nas espécies (ERME), que indica o quão cada espécie é sensível
aos efeitos da diversidade, variaram em função do contexto e das espécies. Em geral,
nos contextos ambientais em superfície, a grande maioria dos ERME foram positivos,
enquanto no subsolo houveram relativamente mais ERME negativos. A diversidade
de hábitat, embora não tenha demonstrado padrão de efeito em um gradiente de
diversidade, afetou de modo diferenciado as diferentes composições, tanto na
superfície como no subsolo.
30
Figura 8: Efeito relativo da mistura sobre as espécies (a-d) Byrsonima gardneriana - BG, (e-h)
Coccoloba laevis – CL, (i-l) Coccoloba ramosíssima - CR, (m-p) Guapira tomentosa - GT, (q-t)
Schoepfia brasiliensis - SB. Símbolos representam a média, enquanto barras representam o intervalo
de confiança (IC95%)
31
4. DISCUSSÃO
Experimentos que visam averiguar a relação entre a diversidade do detrito
e a sua decomposição em geral não apresentam resultados sistematizados da
diversidade. Pelo contrário, os efeitos da diversidade costumam variar muito em
função de diferenças nas condições ambientais onde os experimentos são realizados
(JONSSON & WARDLE, 2008; LECERF et al., 2011), diferenças na estrutura da
comunidade decompositora (e.g. inclusão ou não de macroconsumidores -
(SCHADLER & BRANDL, 2005; SRIVASTAVA et al., 2009), duração experimental
(WARDLE et al, 1997) e composição de espécies constituintes dos detritos avaliados
experimentalmente (SWAN & PALMER, 2006). Por isso as respostas obtidas a partir
desses experimentos são ditas na literatura como idiossincráticas, o que torna difícil
traçar um cenário mais conclusivo a respeito dos efeitos da diversidade de detritos na
decomposição (LAWTON, 1994). O crescente acúmulo de evidências a respeito dos
efeitos idiossincráticos da diversidade de detritos na decomposição tem sugerido,
portanto, que a abordagem mais promissora seja talvez buscar entender as
especificidades ambientais sob as quais os efeitos da diversidade de detritos se
tornem mais fortes ou previsíveis. Neste trabalho buscamos testar o quanto da
variação dos efeitos da diversidade de detritos depende da interação com a identidade
e diversidade de habitats, uma vez que, como dito anteriormente, tais parâmetros
podem reunir fatores capazes de afetar os mecanismos pelos quais a diversidade de
detritos afeta a decomposição.
Nossos resultados confirmaram parte das hipóteses propostas, assim como
também apresentaram certo nível de convergência com o padrão geral de efeitos
idiossincráticos descritos na literatura. No que se refere aos efeitos individuais da
diversidade de detritos e à sua interação com a identidade do habitat, nossas
hipóteses 1 e 2, que cogitavam efeito individual da diversidade do detrito e efeito
interativo com a identidade de hábitat, respectivamente, foram confirmadas, fato que
vai ao encontro de vários trabalhos na literatura (GARTNER & CARDON, 2004;
HÄTTENSCHWILER et al., 2005). Porém, conforme dito anteriormente, nosso
principal objetivo foi verificar possíveis efeitos da dissimilaridade funcional, razão pela
qual utilizamos apenas dois níveis de riqueza (i.e. uma e duas espécies), sem realizar
misturas com mais de duas espécies. Por isso, tal relação entre o aumento da riqueza
32
e o aumento da magnitude da decomposição pode não se repetir em experimentos
que utilizem mais níveis de riqueza de detrito. Além disso, vale ressaltar que os efeitos
individuais da diversidade de detritos ocorreram para algumas espécies porém não
para outras, o que confirma o padrão conhecido de que tais efeitos não são universais
entre todas as espécies constituintes da serrapilheira e devem obedecer a
características funcionais específicas do detrito (SCHINDLER & GESSNER, 2009; XIE
et al., 2016). Por outro lado, nossas hipóteses 3, 4 e 5 foram refutadas, uma vez que
não observamos efeitos significativos da diversidade de habitats e da sua interação
com a diversidade de detritos e dissimilaridade funcional sobre a decomposição. Ao
invés disso, entretanto, observamos que os efeitos não-aditivos sobre a
decomposição foram mais determinados pela identidade funcional das misturas.
A variação dos efeitos da diversidade de detritos sobre a decomposição do
detrito em nível espécie-específico é um resultado bastante comum na literatura, visto
que a heterogeneidade na qualidade do detrito entre as espécies pode torná-las mais
suceptíveis ou não a efeitos não-aditivos da diversidade (HATTENSCHWILER &
GASSER, 2005; SWAN & PALMER, 2006). Dentre as cinco espécies utilizadas neste
trabalho, as duas com menor area específica foliar (padrão em geral associado com
recalcitrância), C. laevis e C. ramosíssima (Apêndice A), não demonstraram
modificação significativa na perda de massa entre monocultura e mistura, ou seja,
foram indiferentes à presença de outra espécie. A espécie que apresentou maior
sensibilidade ao aumento da riqueza foi S. brasiliensis, que por sua vez apresentou
bons indicadores de palatabilidade, como alta concentração relativa de fósforo, alta
capacidade de saturação de umidade e alta AEF. Esse padrão indica que a qualidade
do detrito foi um aspecto relevante para mediar os efeitos da diversidade de detritos
na decomposição em nosso experimento. Há na literatura uma série de trabalhos que
ressaltam o papel da identidade funcional na determinação de efeitos não-aditivos da
diversidade de detritos na decomposição, algumas vezes até mesmo em detrimento
da diversidade funcional, como Lin & Zeng (2018), Makkonen et al. (2012) e Mokany
et al. (2008).
Efeitos significativos da interação entre diversidade de detritos e identidade
do habitat foram observados apenas em nível espécie-específico, para B.
gardneriana, C. ramosíssima e G. tomentosa. Este resultado confirma dois
importantes pontos: o primeiro é que tais efeitos podem ocorrer em nível espécie-
33
específico, mas serem inexistentes em nível de mistura. Isso é possível de ocorrer
quando os efeitos espécie-específicos apresentam mesma magnitude e direções
opostas, o que gera efeito resultante nulo sobre o detrito misto. O segundo ponto
confirmado é que, como esperado, os efeitos da mistura de detritos podem ser
condicionados por particularidades do habitat que potencializem a importância relativa
da diferença em alguns atributos funcionais entre as espécies. Por exemplo: de forma
geral, os efeitos não-aditivos espécie-específicos ocorreram na superfície do solo,
mas não no sub-solo. É possível queo subsolo, por si mesmo, tenha sido fonte de
nutrientes e umidade para as espécies presentes no detrito, neutralizando possíveis
ocorrências de priming effect decorrentes das diferenças funcionais entre as espécies.
Além disso, o subsolo em geral apresenta menor abundância e diversidade de
macrofauna, que é um importante mediador dos efeitos da diversidade do detrito
(HATTENSCHWILER & GASSER, 2005; SCHADLER & BRANDL, 2005; SWAN &
PALMER, 2006).
O efeito da diversidade de hábitat sobre a decomposição não ocorreu nem
de forma individual nem interativa à diversidade do detrito, refutando nossas terceira
e quarta hipóteses e contrariando alguns estudos presentes na literatura que
ressaltam a interatividade existente entre os hábitats acima e abaixo da superfície do
solo, por meio de variados mecanismos, como o fornecimento de decompositores
oriundos do subsolo para a superfície (BARDGETT & VAN DER PUTTEN, 2014) e a
influência vinda da superfície sobre a biota do solo (BALL et al., 2009; WARDLE et al.,
2010). Desse modo, depreende-se que, pelo menos nas circunstâncias experimentais
(e.g. duração do experimento, época do ano), os fatores atuantes sobre a
decomposição em cada hábitat atuaram de modo independente entre si, seja pela
ausência de fluxo de nutrientes, umidade ou biota entre os hábitats, seja pela
neutralização das diferenças entre hábitats. Por exemplo: o solo poderia, por si
mesmo, constituir fonte de nutrientes para o detrito, suprimindo a ausência do detrito
na superfície, bem como o subsolo poderia prover umidade para a camada superficial
de detrito, assim tamponando grandes diferenças entre os hábitats.
Por fim, verificamos também que os efeitos não-aditivos (i.e. Efeito Relativo
da Mistura – ERM e Efeito Relativo da Mistura sobre a Espécie – ERME) que
emergiram foram fracos, como previu Srivastava et al. (2009), e que não houve
qualquer padrão de variação em função da diversidade funcional do detrito em
34
nenhum dos contextos ambientais. Em vez disso, houve efeito pontual sobre
determinadas composições, o que mais uma vez reforça o papel da identidade
funcional do detrito na ocorrência de efeitos de mistura (FRAINER et al., 2015;
KOMINOSKI et al., 2007; WARDLE et al., 1997). Como já destacado, os promotores
dos efeitos da diversidade do detrito são os organismos decompositores, que
consomem o detrito buscando saciar suas necessidades nutricionais (BARANTAL et
al., 2004; VOS et al., 2013). Nos contextos ambientais em superfície, onde a escasez
hídrica e de nutrientes é maior, as composições que apresentaram ERM de maior
magnitude foram as que incluíam Schoepfia brasiliensis, líder em alguns dos atributos
funcionais mais relevantes nesse hábitat (ver Apêndices A e C). Já no subsolo não
houve prevalência de espécies nas composições com ERM de maior magnitude,
provavelmente devido à supressão de carências estequiométricas promovido pelo
solo, que assim neutralizou o efeito da dissimilaridade funcional. Tal diferença na
ocorrência de efeitos não-aditivos entre os hábitats superfície e subsolo reforça a
hipótese presente na literatura de que o contexto ambiental pode regular não apenas
a taxa de decomposição, como também a magnitude e a direção do efeito da mistura
na decomposição e na dinâmica de nutrientes (JONSSON & WARDLE, 2008;
LECERF et al., 2011). Além disso, um outro ponto a ser considerado é na verdade um
fator que está presente em todos os trabalhos que abordam a decomposição: o risco
de não se levar em conta alguma variável relevante para a decomposição naquele
contexto ambiental. A escolha dos atributos funcionais é feita usualmente a priori, com
base em padrões gerais de decomposição, que em algum caso pode ser insuficiente
para explicar com máxima precisão os padrões de decomposição do detrito. Porém,
esse risco, embora possa ser minimizado, nunca é evitável, uma vez que não se há
como prever de antemão inequivocamente todas as variáveis relevantes para a
decomposição do detrito.
.
35
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesse experimento, verificamos que a diversidade de detritos aqui
manipulado (i.e. dois níveis de riqueza: uma e duas espécies) exerceu grande efeito
na perda de massa da serapilheira, e que as espécies responderam de modo diferente
ao aumento da riqueza. Vimos também que esse efeito da riqueza sobre a perda de
massa global não variou entre os hábitats nos quais trabalhamos, embora algumas
espécies tenham respondido à riqueza de modo diferente em cada hábitat. A
diversidade de hábitats ou, mais especificamente, a interação entre hábitats
adjacentes, não teve efeito significativo quando considerada isoladamente, tampouco
quando analisada em interação com a riqueza. Essa ausência de efeito significativo
da diversidade de hábitat sugerem um certo grau de independência entre efeitos da
interação de habitats subterrâneos e superficiais na decomposição bem como, nos
fatores reguladores dos efeitos da diversidade de detritos acima e abaixo do solo.
Nosso trabalho dá mais um passo para o entendimento do papel da
biodiversidade de detritos no processo de decomposição. Ele reforça algumas
hipóteses, como a de que a identidade funcional pode ser mais relevante que a
dissimilaridade funcional em algumas situações, e a de que o contexto ambiental, com
suas variáveis físicas, químicas e biológicas, modula os efeitos da diversidade.
Embora algumas hipóteses, como a importância da dissimilaridade funcional e da
diversidade de hábitat para um processo ecossistêmico como a decomposição, não
tenham sido corroboradas aqui, ainda assim recomendamos a continuidade do estudo
das mesmas, a fim de elucidar melhor como o ambiente e a biodiversidade afetam e
são afetados um pelo outro.
36
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7. APÊNDICE
A. Caracterização funcional do detrito
Espécies %C %N %P C:N C:P N:P CSU (%)
AEF
Byrsonima gardneriana
0,641 0,832 0,053 0,771 12,097 15,698 79,490 63,230
Coccoloba laevis
0,504 1,404 0,063 0,359 7,993 22,286 51,670 48,350
Coccoloba ramosissima
0,496 1,362 0,072 0,364 6,888 18,917 89,060 58,550
Guapira tomentosa
0,536 2,642 0,064 0,203 8,373 41,281 85,310 64,000
Schoepfia brasiliensis
0,488 1,456 0,104 0,335 4,694 14,000 119,930 551,680
Valores mensurados para cada espécie nos atributos funcionais considerados nesse trabalho. Abreviações: C = carbono; N = nitrogênio; P = fósforo; CSU = Capacidade de saturação de umidade, AEF = Área específica foliar.
B. Distribuição das espécies no espaço funcional
Espaço funcional de cada hábitat, contendo as cinco espécies de detrito utilizadas
nesse experimento. Ambos os espaços foram construídos a partir dos atributos
funcionais mais relevantes e mais independentes entre si.
45
C. Resultados de R2 dos atributos funcionais em cada hábitat
Hábitat %C %N %P C:N C:P N:P CSU (%) AEF
Superfície 15,83% 3,43% 43,31% 65,77% 78,33% 34,53% 29,25% 17,72%
Subsolo 24,27% 12,33% 0,37% 18,22% 54,14% 0,89% 5,92% 66,11%
Valores de coeficiente de regressão (R2) dos atributos funcionais mensurados para espécie de
detrito em cada hábitat. Os resultados foram utilizados para construção do espaço funcional
onde as espécies seriam representadas. Siglas: CSU – Capacidade de saturação de umidade,
AEF – Área específica foliar
D. Resultados dos testes de correlação de Pearson entre as variáveis
Atributos
funcionais
%C %N %P C:N C:P N:P CSU
(%)
AEF
%C -0,35 -0,66 0,83 0,93 -0,06 -0,22 -0,38
%N 0,06 -0,81 -0,28 0,92 0,08 -0,06
%P -0,43 -0,89 -0,34 0,80 0,94
C:N 0,74 -0,59 -0,15 -0,18
C:P 0,09 -0,54 -0,68
N:P -0,24 -0,42
CSU (%) 0,81
46
E. Dissimilaridade funcional das biculturas, calculada por meio da métrica de
diversidade funcional descrita em Scheiner et al. (2017).
Biculturas manipuladas no
experimento
Dissimilaridade
funcional
Superfície Subsolo
B. gardneriana – C. laevis 1,3776 1,1331
B. gardneriana – C. ramosíssima 1,3905 1,1405
B. gardneriana – G. tomentosa 1,5572 1,0971
B. gardneriana – S. brasiliensis 1,5607 1,7820
C. laevis – C. ramosíssima 1,0489 1,0114
C. laevis – G. tomentosa 1,1277 1,0314
C. laevis – S. brasiliensis 1,2858 1,8336
C. ramosíssima – G. tomentosa 1,1442 1,0345
C. ramosíssima – S. brasiliensis 1,2140 1,8119
G tomentosa – S. brasiliensis 1,2913 1,8108
47
F. Montagem e instalação dos microcosmos. (a) esquema de montagem dos
microcosmos. (b) microcosmo montado. (c) microcosmo parcialmente
enterrado, com o compartimento superior ao nível da superfície do solo e o
inferior dentro do solo. (d) Disposição dos microcosmos em campo
b
Malha de 1mm de abertura para separar os habitats e impedir a entrada de folhas pela abertura superior enquanto permite a entrada de água.
a
b c
d
Aberturas de 5mm ao fundo e nas laterais dos microcosmos para permitir fluxo de organismos e água