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MINISTÉRIO DA DEFESA EXÉRCITO BRASILEIRO
SECRETARIA DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA INSTITUTO MILITAR DE ENGENHARIA
CURSO DE MESTRADO EM ENGENHARIA DE TRANSPORTES
1° Ten KARY DE PAIVA
SUBSÍDIOS PARA IMPLEMENTAÇÃO DE UM SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL PARA OPERAÇÃO DE RODOVIAS
Rio de Janeiro 2004
2
c2004
INSTITUTO MILITAR DE ENGENHARIA
Praça General Tibúrcio, 80 – Praia Vermelha
Rio de Janeiro – RJ CEP: 222290-270
Este exemplar é de propriedade do Instituto Militar de Engenharia, que poderá incluí-
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esteja ou venha a ser fixado, para pesquisa acadêmica, comentários e citações,
desde que sem finalidade comercial e que seja feita a referência bibliográfica
completa.
Os conceitos expressos neste trabalho são de responsabilidade do autor e das
orientadoras.
P149 Paiva, Kary.de Subsídios para Implementação de um Sistema de Gestão Ambiental para Operação de Rodovias / Kary de Paiva - Rio de Janeiro : Instituto Militar de Engenharia, 2004. 107 p. : il., tab. Dissertação (mestrado) – Instituto Militar de Engenharia – Rio de Janeiro, 2004. 1. Gestão Ambiental. 2. Rodovia. I. Instituto Militar de Engenharia. II. Título.
CDD 628
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INSTITUTO MILITAR DE ENGENHARIA
1° Ten KARY DE PAIVA SUBSÍDIOS PARA IMPLEMENTAÇÃO DE UM SISTEMA DE GESTÃO
AMBIENTAL PARA OPERAÇÃO DE RODOVIAS
Dissertação de Mestrado apresentada ao Curso de Mestrado em Engenharia de Transportes do Instituto Militar de Engenharia, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Ciências em Engenharia de Transportes.
Orientadora: Profa. Maria Cristina Fogliatti de Sinay – Ph. D. Orientadora: Profa. Vânia Barcellos Gouvêa Campos - D. Sc.
Aprovada em 12 de fevereiro de 2004 pela seguinte Banca Examinadora:
Profa Maria Cristina Fogliatti de Sinay - Ph. D. do IME - Presidente
Profa. Vânia Barcellos Gouvêa Campos - D. Sc. do IME
Profa Suzana Kahn Ribeiro – D. Sc. da COPPE/UFRJ
Profº Cap QEM Sandro Filippo – M. C. do IME
Rio de Janeiro 2004
4
Aos meus pais, que tanto lutaram para me dar uma boa educação e formação moral, à minha esposa Daniela pela dedicação e compreensão em todos os momentos.
5
AGRADECIMENTOS
Ao Instituto Militar de Engenharia pela oportunidade de realização do Curso de
Mestrado em Engenharia de Transporte.
Aos professores do Curso de Mestrado em Engenharia de Transportes do IME
pelos ensinamentos transmitidos.
Às orientadoras dessa dissertação, professora Maria Cristina Fogliatti de Sinay e
Vânia Barcellos Gouvêa Campos, que acreditaram em meu trabalho e me deram a
chance de realizar um grande sonho.
À todos os amigos da turma de 2002, em particular aos amigos Isolina, Veiga,
Fernando e Chagas pelo apoio moral ao longo do mestrado.
À minha esposa Daniela pelo incentivo e apoio incondicional em todos os
momentos dessa jornada.
À todas as pessoas que direta ou indiretamente contribuíram ou torceram pelo
sucesso deste trabalho.
E, principalmente, a Deus por ter possibilitado a minha evolução intelectual e
espiritual colocando todas estas pessoas em meu caminho.
6
"Não existem princípios; apenas fatos. Não existe o bem e o mal, apenas circunstâncias. O homem superior apóia fatos e circunstâncias a fim de guiá-los. Se houvesse princípios e leis fixas, as nações não as mudaria como mudamos de camisa, e não se poderia esperar de um homem que seja mais sábio de que uma nação inteira.”
HONORE DE BALZAC,
1799 - 1850
7
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS..................................................................................... 9
LISTA DE TABELAS..................................................................................... 10
LISTA DE SIGLAS........................................................................................ 11
1 INTRODUÇÃO............................................................................. 15
1.1 Considerações Iniciais.................................................................. 15
1.2 Objetivos da Dissertação.............................................................. 15
1.3 Justificativa e Posicionamento da Dissertação............................ 16
1.4 Estrutura do Trabalho................................................................... 17
2 SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL – SGA............................. 19
2.1 Considerações Iniciais.................................................................. 19
2.2 A Evolução da Consciência Ambiental no Mundo........................ 21
2.2.1 A Evolução da Gestão Ambiental no Brasil.................................. 25
2.3 Sistema de Gestão Ambiental: Conceitos e Evolução................. 28
2.3.1 Estrutura de um Sistema de Gestão Ambiental........................... 31
2.3.2 Ferramentas de Apoio à Gestão Ambiental................................. 33
2.4 Considerações Finais................................................................... 38
3 OPERAÇÃO RODOVIÁRIA......................................................... 39
3.1 Considerações Iniciais.................................................................. 39
3.2 Síntese Histórica do Transporte Rodoviário no Mundo................ 40
3.2.1 Evolução Histórica dos Transportes Rodoviários no Brasil.......... 42
3.2.2 A Concessão de Rodovias no Brasil............................................ 45
3.3 Atividades da Operação Rodoviária............................................. 47
3.3.1 Atividades de Fiscalização........................................................... 47
3.3.2 Atividades de Controle................................................................. 49
3.3.3 Obras Rodoviárias........................................................................ 52
3.3.4 Atendimento de Emergência........................................................ 54
3.3.5 Atendimento ao Usuário............................................................... 55
8
3.3.6 Arrecadação de Pedágio.............................................................. 57
3.4 Considerações Finais................................................................... 57
4 PASSIVO AMBIENTAL DE RODOVIAS .................................... 58
4.1 Considerações Iniciais.................................................................. 58
4.2 Conceitos de Passivo Ambiental.................................................. 59
4.3 Caracterização do Passivo Ambiental Associado à Operação Rodoviária....................................................................................
63
4.4 Componentes do Passivo Ambiental Associado à Operação Rodoviária....................................................................................
65
4.4.1 Componentes do Passivo Ambiental ou Alterações Ambientais de Origem Natural........................................................................
66
4.4.2 Componentes do Passivo Ambiental ou Alterações Ambientais de Origem Antrópica.....................................................................
68
4.5 Considerações Finais................................................................... 80
5 PROPOSTA DE SGA PARA A OPERAÇÃO DE RODOVIAS.... 81
5.1 Considerações Iniciais.................................................................. 81
5.2 Proposta de SGA para a Operação de Rodovias......................... 82
5.3 Considerações Finais................................................................... 84
6 INDICADORES AMBIENTAIS PARA O TRANSPORTE RODOVIÁRIO..............................................................................
85
6.1 Introdução a Indicadores Ambientais: Antecedentes Históricos.. 85
6.2 Evolução dos Indicadores Ambientais.......................................... 88
6.3 Características de Indicadores Ambientais.................................. 89
6.4 Elaboração de Padrões ou Limites Ambientais............................ 91
6.5 Proposta de Indicadores Ambientais para Rodovias.................... 92
6.3 Considerações Finais................................................................... 96
7 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES ..................................... 98
7.1 Introdução..................................................................................... 98
7.2 Conclusões .................................................................................. 98
7.3 Recomendações .......................................................................... 99
8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................ 101
9
LISTA DE FIGURAS
FIG.2.1 Foto de Satélite – Disputa de Espaços……………………………. 34
FIG.3.1 Carro de Boi………………………………………………………….. 41
FIG.3.2 Locomotiva à Vapor…………………………………………………. 41
FIG.3.3 Pesagem de Veículos................................................................... 48
FIG.3.4 Fiscalização do Transporte de Carga........................................... 48
FIG.3.5 Execução de Obra Próximo à Rodovia........................................ 50
FIG.3.6 Centro de Controle Operacional................................................... 51
FIG.3.7 Monitoração da Via....................................................................... 51
FIG.3.8 Conservação da Pista de Rolamento........................................... 52
FIG.3.9 Manutenção de Ponte.................................................................. 53
FIG.3.10 Duplicação da Rodovia................................................................. 54
FIG.3.11 Avaria na Plataforma por Movimentação de Massa..................... 54
FIG.3.12 Atendimento Mecânico................................................................. 55
FIG.3.13 Atendimento Médico..................................................................... 56
FIG.3.14 Pórtico para Comunicação com o Usuário................................... 56
FIG.3.15 Arrecadação de Pedágio.............................................................. 57
FIG.4.1 Erosão do Tipo Boçoroca............................................................. 66
FIG.4.2 Queda de Blocos.......................................................................... 68
FIG.4.3 Avaria na via por Degradação do Solo......................................... 69
FIG.4.4 Erosão com Interferência na Via.................................................. 70
FIG.4.5 Assoreamento de Bueiro.............................................................. 70
FIG.4.6 Desmatamento da Faixa de Domínio........................................... 72
FIG.4.7 Pedreira Abandonada................................................................... 72
FIG.4.8 Depósito Irregular de Lixo............................................................ 73
FIG.4.9 Acidente com Ônibus................................................................... 74
FIG.4.10 Operação de Máquinas em Área Residencial.............................. 75
10
LISTA DE TABELAS
TAB.3.1 Estatísticas do Modal Rodoviário no Brasil……………………….. 44
TAB.3.2 Situação da Malha Rodoviária Brasileira………………………….. 46
TAB.4.1 Impactos Ambientais da Operação Rodoviária............................ 75
TAB.6.1 Tipos de Indicadores Ambientais................................................. 90
TAB.6.2 Proposta de Indicadores Ambientais............................................ 96
11
LISTA DE SIGLAS
ANA Agência Nacional de Águas
ANTT Agência Nacional de Transporte Terrestre
API American Petroleum Institute
BID Banco Interamericano de Desenvolvimento
BIRD Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento
CCO Centro de Controle Operacional
CDS Comissão de Desenvolvimento Sustentável
CEROI Cities Environment Reports on the Internet
CMA Chemical Manufactures Association
CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente
CTB Código de Trânsito Brasileiro
DBO Demanda Bioquímica de Oxigênio
DNER Departamento Nacional de Estradas de Rodagens
DNIT Departamento Nacional de Infra-estrutura Terrestre
EEA European Environmental Agency
EIA Estudos de Impactos Ambientais
EMAS Eco-Management and Audit Scheme
EMS Environmental Management System
EPA Environmental Protection Agency
EPIA Estudo Prévio de Impacto Ambiental
FRN Fundo Rodoviário Nacional
IBAMA Instituto Brasileiro de Meio Ambiente
ISO International Standardization Organization
NEPA National Environmental Policy Act
NEPP Netherlands Environmental Politic Plan
OECD Organization for Economic Cooperation and Development
ONG Organizações não Governamentais
ONU Organização das Nações Unidas
PER Programa de Exploração Rodoviária
12
PNMA Política Nacional do Meio Ambiente
PNUMA Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
PNRA Política Nacional de Recursos Hídricos
PROCOFRE Programa de Concessão de Rodovias
RIMA Relatório de Impacto no Meio Ambiente
SEMA Secretaria Especial do Meio Ambiente
SEMAM Secretaria do Meio Ambiente da Presidência da República
SGA Sistema de Gestão Ambiental
SISNAMA Sistema Nacional do Meio Ambiente
SINIMA Sistema Nacional de Informação sobre o Meio Ambiente
STEP Strategies for Today’s Environmental Partnership
UNCSD United Nations Commission for Sustainable Development
UNEP United Nations Environmental Program
US EPA United States Environmental Protection Agency
WRI World Resources Institute
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RESUMO
A operação de empreendimentos rodoviários têm levado a situações de degradação ambiental na faixa de domínio da rodovia, causando prejuízos ao próprio empreendimento e propiciando impactos ambientais, que geralmente extrapolam a área de influência direta do projeto.
Isso acarreta a redução da qualidade de vida da população lindeira, a elevação significativa e desnecessária dos custos associados ao empreendimento, bem como a redução dos benefícios gerados pelo mesmo. Medidas corretivas tendem a exigir elevado custo financeiro e social, pois os recursos necessários são normalmente vultosos, culminando em um desempenho freqüentemente insatisfatório.
A fim de criar alternativas que possam eliminar ou mitigar os impactos ambientais gerados na operação da rodovia, este estudo se propõe a fornecer subsídios para o desenvolvimento e a implantação de Sistema de Gestão Ambiental para o serviço de transporte rodoviário.
Para tanto, foram selecionados indicadores da qualidade ambiental da área de influência direta do serviço, determinados padrões a serem respeitados e identificadas formas de quantificação/ qualificação destes indicadores.
No entanto, para que o sistema de gestão ambiental fosse proposto, fez-se necessário o estudo das atividades da operação rodoviária, a identificação e a caracterização do passivo ambiental associado à mesma, assim como a seleção de indicadores ambientais para avaliar e monitorar a qualidade ambiental da área de influência da rodovia.
O presente trabalho constitui, portanto, uma ferramenta útil ao sistematizar os procedimentos que viabilizam a implementação de um Sistema de Gestão Ambiental, representando um grande benefício não só para os órgãos governamentais que podem controlar seus concessionados, mas sobretudo para as empresas do setor, já que por meio de sua adoção, tornar-se-ão capazes de gerenciar o seu desempenho ambiental.
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ABSTRACT
Environmental degradation upon the highway domain’s band results from the operation of road enterprises, causing damages to the proper enterprise and generating environmental impacts that generally surpass the project direct influence’s area.
Accordingly, those aspects reduce bordering population’s quality of life, rise the costs associated to the enterprise, as well as reduce the benefits that could be obtained from its implementation. Corrective measures tend to demand elevated financial and social cost, therefore the necessary resources are normally high, culminating in a frequently unsatisfactory performance.
In order to create alternatives that can eliminate or mitigate the environmental impacts upon the highway operation, this study provides the subsidies to the development and implantation of an Environmental Management System - EMS.
For in such a way, environmental indicators related to the direct influence’s area of the service have been selected, as well as have been also established standards to be respected and identified proper ways to quantify and qualify those indicators.
However, with the aim of proposing such EMS, it has been necessary to study the activities that compose road’s operation, to identify and characterize the environmental liabilities associated to it, as well as to select environmental indicators to evaluate and monitor the environmental quality of the highway influence’s area.
The present work constitutes, therefore, a useful tool, since it systemizes the procedures that lead up to an EMS implementation, representing a great benefit not only for the governmental organs that can control the managers of the concessions, but over all for the companies that will be able to manage its environmental performance by the EMS execution.
15
1 INTRODUÇÃO
1.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O transporte é a atividade que torna possível a integração dos diversos setores
da economia, agregando valor de tempo e espaço aos bens e satisfazendo as
crescentes demandas por viagens da sociedade atual. Um sistema eficaz de
transportes é essencial para o crescimento de um país, correspondendo ao vetor de
ocupação do solo e de desenvolvimento das principais cidades do mundo.
Sob a ótica do progresso e em função de parâmetros sócio-econômicos foram
construídas, no passado, centenas de estradas sem que fosse levado em
consideração o impacto que as mesmas causariam no ambiente. Desse modo,
atribuiu-se às gerações atuais a responsabilidade por gerenciar e recuperar toda
degradação da qualidade ambiental causada ao longo daqueles anos.
Nas décadas de 60 e 70, em virtude das graves ameaças ao meio ambiente e do
possível esgotamento dos recursos naturais, a sociedade passou a dar mais
atenção ao problema da poluição. Com o aumento da conscientização mundial
acerca da fragilidade dos ecossistemas terrestres, formou-se uma nova consciência
ambiental, caracterizada como um dos princípios fundamentais do homem moderno.
Essa nova consciência, fez com que a conservação ambiental, ao longo da
década de 90, se convertesse em um dos fatores de maior influência nos hábitos da
sociedade, fazendo com que os Estados e as organizações privadas começassem a
exigir e a apresentar soluções para compatibilizar suas atividades com a
conservação da natureza.
Considerando a importância do modo rodoviário no cenário nacional de
transportes, o crescimento da frota de veículos e o péssimo estado de conservação
das estradas federais, é imprescindível que as atividades potencialmente poluidoras,
como é o caso da operação deste modal, sejam melhor gerenciadas.
1.2 OBJETIVOS DA DISSERTAÇÃO
Esta dissertação tem como objetivo fornecer subsídios para a elaboração de
Sistema de Gestão Ambiental para a operação de rodovias.
16
Este estudo consiste na estruturação de um Sistema de Gestão Ambiental, na
escolha de indicadores da qualidade ambiental da área de influência direta do
serviço e na identificação de processos de quantificação/ qualificação destes
indicadores.
O Sistema de Gestão Ambiental proposto será de utilidade tanto para os órgãos
governamentais que poderão controlar seus concessionados, quanto para as
próprias empresas do setor, como forma de controlar seu desempenho ambiental.
1.3 JUSTIFICATIVA E POSICIONAMENTO DA DISSERTAÇÃO
Organizações de todos os tipos estão cada vez mais preocupadas em atingir e
demonstrar um bom desempenho ambiental, controlando os impactos de suas
atividades ou serviços no meio ambiente.
Este comportamento se insere no contexto de uma legislação cada vez mais
exigente, a partir do desenvolvimento de políticas econômicas destinadas à proteção
ambiental.
Neste contexto, destaca-se a Lei Nº 10.233, de 5 de junho de 2001 que
determina a compatibilização dos transportes com a preservação da natureza,
reduzindo os níveis de poluição sonora e de contaminação atmosférica, do solo e
dos recursos hídricos.
Do mesmo modo, ressalta-se também a Política Ambiental do Ministério dos
Transportes (2002) que preconiza o respeito às necessidades de preservação do
meio ambiente e considera como diretriz ambiental, a gestão ambiental dos sistemas
de transportes.
Por fim, o termo de cooperação técnica celebrado pelo Ministério dos
Transportes e o Ministério do Meio Ambiente prevê a aplicação de novos
instrumentos de comando e controle, incluindo Sistemas de Gestão e de Auditoria
Ambiental voltados para o setor de transportes.
Finalmente, a gestão ambiental de rodovias está em consonância com os
objetivos da Agenda 21, constituindo o primeiro passo para a adequação do
gerenciamento viário às normas ISO 14000.
17
1.4 ESTRUTURA DO TRABALHO
Esta dissertação encontra-se dividida em sete Capítulos, descritos a seguir:
Capítulo 1 – Introdução: Após algumas considerações iniciais apresenta-se o
objetivo e a justificativa do presente estudo. Por fim, descreve-se a forma segundo a
qual está estruturada a dissertação.
Capítulo 2 – Sistema de Gestão Ambiental: Neste Capítulo expõem-se os fatos
que motivaram a sociedade a exigir das organizações a implementação de sistemas
de gestão ambiental. É apresentada a evolução da consciência ambiental e do
gerenciamento das questões ambientais no mundo e é definido e caracterizado um
sistema de gestão ambiental.
Capítulo 3 - Operação Rodoviária: Neste Capítulo apresenta-se uma síntese
histórica da evolução dos transportes rodoviários no Mundo, com destaque para a
evolução do modo no Brasil, seguido da abordagem dos fatores que levaram à
adoção do modelo de concessão da operação de rodovias no País. Por fim, são
feitas considerações sobre as atividades que integram a operação de rodovias,
destacando-se seus reflexos no meio ambiente.
Capítulo 4 – Passivo Ambiental de Rodovias: Neste Capítulo conceitua-se e
caracteriza-se o passivo ambiental associado à operação de rodovias, bem como
são propostas medidas de prevenção e de remediação que consideram além da
própria rodovia, os impactos ambientais da área de influência direta e os eventos
externos que afetam a área de domínio da rodovia. Tais medidas podem ser
implementadas na fase de operação do empreendimento, por meio de instrumentos
de planejamento e gestão ambiental.
Capítulo 5 – Proposta de Sistema de Gestão Ambiental para a Operação de Rodovias: Neste Capítulo é apresentada uma proposta contendo as etapas que
integram o sistema de gestão ambiental para a operação de rodovias.
Capítulo 6 – Indicadores Ambientais: Neste Capítulo são definidos e
18
caracterizados os indicadores ambientais, especificando-se as categorias e os tipos
de indicadores existentes, bem como orientando-se acerca de sua geração, seleção,
análise e gestão. Ao final, são apresentados exemplos de indicadores ambientais
para a gestão ambiental de rodovias.
Capítulo 7 – Conclusões e Recomendações: Neste capítulo são apresentadas
as considerações finais acerca da presente dissertação, bem como são propostas
algumas sugestões para a elaboração de estudos posteriores.
19
2 SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL - SGA
O progresso experimentado pela humanidade neste último século foi, sem
dúvida, superior a todo progresso do homem em sua história e, paradoxalmente,
cada passo dado no campo da ciência resultou, de algum modo, em agressões ao
meio ambiente. Não se pode esquecer que, apesar de toda a tecnologia e dos
avanços para o espaço sideral, o lugar comum do homem continua ainda sendo a
biosfera.
Para que se entenda o verdadeiro papel do homem como ser vivo e social é
preciso compreender e respeitar as limitações que a natureza impõe à sua
existência. Surge então, a gestão ambiental ou processo de articulação das ações
dos diferentes agentes sociais que interagem em um dado espaço que visa garantir,
com base em princípios e diretrizes previamente acordados/ definidos, a adequação
dos meios de exploração dos recursos ambientais – naturais, econômicos e sócio-
culturais – às especificidades do meio ambiente. (IBAMA, p.16, 1995)
Neste capítulo expõem-se os fatos que motivaram a sociedade a exigir das
organizações a implementação de sistemas de gestão ambiental. Apresenta-se a
evolução da consciência ambiental e do gerenciamento das questões ambientais no
mundo. Além disso, é definido e caracterizado um sistema de gestão ambiental,
abordando os modelos de gerenciamento importantes e conceituando-se os
principais instrumentos de apoio à gestão ambiental.
2.1 CONSIDERACÕES INICIAIS
A exploração dos recursos naturais evoluiu com a história do homem sobre a
face da Terra. O homem primitivo era nômade, sua economia baseava-se na caça,
na pesca e na coleta, suas migrações não abrangiam longas distâncias. Com o
advento da agricultura, o homem tornou-se sedentário e após a produção e o
domínio do fogo suas ações passaram de fato a interferir e a alterar a natureza em
favor de sua subsistência, de sua proteção e de seu conforto.
Com uma grande capacidade imaginativa e inventiva, o homem conseguiu ao
longo de sua história tornar-se cada vez mais independente do seu ambiente
natural. Em contrapartida, ficou cada vez mais agressiva a sua atuação sobre o meio
20
ambiente. Tal agressão só começou a ganhar projeção mundial após a Revolução
Industrial (1800), a partir da consolidação da sociedade de consumo.
Com a melhoria das condições de vida proporcionada pelo progresso da
medicina e pela evolução da ciência, o problema do crescimento populacional se
agravou. A população mundial aumentou assustadoramente de 2,4 bilhões em 1950
para 6 bilhões em 2000 (BRAGA, p.2, 2002) crescendo, como conseqüência, a
demanda por recursos naturais. O resultado deste binômio associado ao
desenvolvimento tecnológico foi, sem dúvida, o desmesurado poder do homem no
sentido de interferir na natureza.
A exploração econômica irracional dos bens naturais tem resultado em
modificações relevantes em rios, lagos e florestas, promovendo a destruição em
larga escala dos recursos naturais e de espécies animais e vegetais. As emissões
atmosféricas têm causado consideráveis mudanças climáticas como o efeito estufa e
o crescimento do buraco na camada de ozônio. O lixo, em suas diferentes formas,
tem contribuído para a poluição das reservas de água doce e para a degradação do
solo. A superpopulação tem contribuído ainda para aumentar a pobreza, promover o
crescimento desordenado das cidades e acentuar as desigualdades sociais.
A possibilidade de uma catástrofe ecológica, o superpovoamento e o
esgotamento dos recursos naturais são temas que despertam grande apreensão na
atualidade. Se por um lado é inegável o estágio de evolução alcançado pela
humanidade, por outro, apesar de se estar no início do século XXI, é bem verdade
que o homem ainda age de maneira egoísta e irresponsável. Nem todo o
conhecimento conquistado ao longo dos últimos séculos foi capaz de convencê-lo
acerca da necessidade de uma mudança de postura para com o meio ambiente.
Observa-se, assim, que o grande problema da civilização moderna é o fato de
não ter percebido que ainda depende da natureza, ao menos em termos globais,
porque não é possível produzir artificialmente todo o oxigênio necessário à
manutenção da atmosfera, nem tampouco reproduzir os ciclos naturais da água de
modo a garantir a estabilidade do clima ou a constância das chuvas e a amenidade
da temperatura.
BRANCO (p.25, 1997) observa que “não basta conservar as espécies vivas, é
preciso manter seu equilíbrio e o equilíbrio do conjunto de seres vivos, que constitui
um sistema perfeitamente integrado pois, um simples desequilíbrio pode levar à
perda de todo esse sistema”.
21
A utilização dos recursos naturais é tão essencial a todas as formas de vida
quanto a sua preservação. Neste dilema, observa-se que a solução é buscar um
modelo de desenvolvimento que se coadune com a preservação da fauna, da flora,
dos rios e do ar.
A seguir serão apresentados os principais eventos internacionais que
contribuíram para a formação da doutrina ambiental, bem como será destacado o
modo pelo qual estes eventos influenciaram a política ambiental no mundo.
2.2 A EVOLUÇÃO DA CONSCIÊNCIA AMBIENTAL NO MUNDO
Com o advento da máquina a vapor e, posteriormente, da máquina à combustão
interna, o homem passou a interferir severamente no meio ambiente. Contudo, até a
década de 50, essas degradações limitavam-se a determinadas regiões do planeta.
A partir de então, como efeito da globalização, os impactos foram se intensificando e
ganhando maior mobilidade até que deixaram, definitivamente, de ter fronteiras. Este
fato tornou-se fonte de preocupação por parte dos governos, que se viram obrigados
a questionar o modelo de desenvolvimento que vinha sendo adotado e tomar
medidas que pudessem conter os efeitos negativos do mesmo.
A capacidade de auto-regulação e adaptação dos ecossistemas foi posta à
prova com os acidentes de proporções globais e catastróficas ocorridos
especialmente a partir da década de 60. Por exemplo, o vazamento do
superpetroleiro Torrey Canyon (1967) provocando o fenômeno conhecido por maré
negra e o caso da liberação acidental de uma nuvem tóxica pela indústria ICMESA
sobre a cidade Italiana de Seveso (1976), desencadearam uma onda de reflexão por
parte da comunidade científica a respeito da relação do homem com o ambiente
(SOARES, p.685, 2001). Estes estudos concluíram que os ecossistemas terrestres
são bem mais frágeis do que se imaginara e demandaram uma série de ações por
parte dos governos com relação à proteção ambiental. O caso Torrey Canyon, por
exemplo, provocou a adoção imediata da Convenção do Mar do Norte e de duas
outras convenções internacionais, a primeira relativa à responsabilidade civil e a
segunda relativa à intervenção em alto-mar nos casos de acidente com
derramamento de óleo.
Em abril de 1968, um grupo, formado por cientistas, filósofos, industriais e
economistas de diversas nacionalidades dos países do primeiro mundo, reuniu-se
22
na Academia dei Licei, em Roma, para discutir Our Common Future (Nosso Futuro
Comum). Ainda neste mesmo ano, teve início na Europa um movimento que se
preocupava com os problemas ambientais, denominado “Clube de Roma”. Seus
participantes – especialistas de várias áreas do conhecimento humano – reuniram-
se para discutir a crise daquele momento e as crises futuras da humanidade.
Em 1969, os Estados Unidos destacaram-se como o primeiro País a instituir uma
Lei de Política Ambiental, a National Environmental Policy Act – NEPA, cujo objetivo
era estabelecer diretrizes para a questão ambiental. No ano seguinte é criada a
Environmental Protection Agency – EPA para funcionar como um corpo de controle
ambiental responsável pela administração e execução dos programas federais de
controle e contaminação ambiental. Essa estrutura política-administrativa serviu de
modelo para a elaboração e implementação de políticas ambientais em diversos
países.
As políticas editadas antes da década de 70 caracterizavam-se por uma ótica
essencialmente corretiva já que buscavam a reparação do dano e não na prevenção
do mesmo.
Em 1972, o Clube de Roma publicou o seu relatório The Limits of Growth (Os
Limites do Crescimento), onde se alertava para o fato de que a humanidade teria,
obrigatoriamente, um limite de crescimento em virtude do modelo econômico
praticado até então qual seja, o consumo exacerbado e altamente concentrado em
poucas nações. Poucos meses depois, realizou-se em Estocolmo, Suécia, a
Conferência da ONU sobre o Ambiente Humano, responsável pela elaboração do
documento intitulado "Declaração sobre o Ambiente Humano".
Nessa Conferência, foram aprovados 25 princípios fundamentais que orientam
as ações internacionais na área ambiental, assim como a valorização do homem no
ambiente como ser que o transforma, mas que depende dele para sobreviver. Além
disso, foi introduzido o conceito de eco-desenvolvimento, que defendia o
crescimento baseado nas potencialidades de cada ecossistema, considerando a
participação da comunidade local, a diminuição do desperdício e a reciclagem dos
resíduos.
As duas crises de petróleo, ocorridas em 1973 e 1979, evidenciaram a
vulnerabilidade das nações frente à escassez de recursos naturais e contribuíram
para que as políticas editadas a partir da década de 80 adotassem posturas mais
preventivas. Um bom exemplo das políticas deste período foi a Diretiva Seveso nº
23
82/501 de 24/6/1982, instituída após o acidente ocorrido na cidade de Seveso
(mencionado anteriormente), constituindo um modelo de norma para a prevenção de
acidentes industriais.
Em 1975, os organismos internacionais de financiamento tais como o Banco
Interamericano de Desenvolvimento (BID) e o Banco Internacional para
Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD), condicionaram a liberação de crédito à
elaboração de estudos de impacto ambiental.
Em 1982, como resultado da Conferência de Estocolmo, surgiu o Programa das
Nações Unidas para o Meio Ambiente – PNUMA, com sede em Nairobi, com o
propósito de descrever, em um só documento, todas e quaisquer atividades relativas
à proteção ambiental.
Em 1983, a Organização das Nações Unidas – ONU encomendou à Comissão
Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, um relatório ambiental
denominado Our Common Future, que introduziu pioneiramente, em 1987, o
conceito de desenvolvimento sustentável, qual seja: “A Humanidade tem a
capacidade de atingir o desenvolvimento sustentável, ou seja, de atender às
necessidades do presente sem comprometer a capacidade das futuras gerações de
atender às próprias necessidades.” (CMMAD, p.9, 1991).
MAGRINI (1992) observa que a gestão ambiental nas décadas de 70 e 80 foi
praticada pelo Estado através da aplicação dos chamados instrumentos de comando e controle, dentro de um encaminhamento de política ambiental
essencialmente centralizada. Durante essas décadas, a política e a gestão
ambiental foram marcadas por fortes conflitos, conflitos entre interesses públicos e
privados, conflitos de competências dentro do próprio Estado e conflitos entre
empresas, Estado e sociedade civil.
Duas décadas depois da Conferência de Estocolmo, representantes de países
de todo o mundo se reuniam pela segunda vez para debater e propor formas de
desenvolvimento sustentável, desta vez no Rio de Janeiro. A Conferência das
Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, ou simplesmente Rio 92,
cujos principais objetivos foram: identificar estratégias regionais e globais para ações
referentes às principais questões ambientais, examinar a situação ambiental do
mundo e as mudanças ocorridas, bem como analisar estratégias de promoção do
desenvolvimento sustentado e de eliminação da pobreza nos países em
desenvolvimento.
24
A Rio 92 resultou em ações significativas pela aprovação de 5 documentos:
Carta do Rio, que estabelece 27 princípios que devem guiar a relação entre o
homem e a natureza; Agenda 21, um programa de ação global bastante abrangente,
que em seus 40 capítulos define metas para algumas das principais questões
ambientais do planeta; Declaração de Princípios sobre Florestas; Convenção sobre
Diversidade Biológica e a Convenção-Quadro sobre Mudanças Climáticas, que
previam um conjunto de metas a serem atingidas pelos países industrializados.
Para acompanhar os desdobramentos desses acordos, em especial os
resultados da implementação da Agenda 21, foi criada, em 1993, a Comissão de
Desenvolvimento Sustentável (CDS). A atuação do novo comitê da ONU promoveu
parcerias importantes entre ONG e governos e a criação de comissões e planos
nacionais de desenvolvimento sustentável. Apesar dos avanços, algumas das
principais mudanças planejadas na Rio 92 foram dificultadas pela reviravolta da
economia mundial na década de 90.
A Sessão Especial da Assembléia Geral das Nações Unidas que avaliou em
1997 os cinco anos da Conferência do Rio concluiu que pouco se havia avançado no
combate à pobreza e na promoção da eqüidade social, bem como algumas das
políticas traçadas, como a transferência de tecnologia e a redução dos níveis de
produção e consumo, tinham sido um fracasso.
Por outro lado, foram obtidos vários avanços científicos na produção de
tecnologias mais limpas e uma maior conscientização ambiental por parte das
organizações produtivas, donde podem ser destacadas algumas novas posturas no
campo do gerenciamento ambiental, quais sejam: o avanço de atitudes pró-ativas, o
avanço da eco-diplomacia com a realização de um número maior de convenções
sobre problemas ambientais globais, o resgate das ações pontuais em detrimento ao
processo de globalização e a reação da sociedade com a valorização das empresas
ambientalmente responsáveis.
Em 2000, a CDS sugeriu a realização de uma nova conferência mundial, desta
vez sobre desenvolvimento sustentável, realizada em Joanesburgo no ano de 2002.
Das reuniões oficiais da Cúpula de Joanesburgo, resultaram dois documentos
principais: uma declaração política, que expressa os compromissos e os rumos para
implementação do desenvolvimento sustentável e um plano de ação, que estabelece
metas e ações de forma a guiar a implementação dos compromissos assumidos
pelos países. (JURAS, p.3, 2002)
25
Atualmente, as políticas ambientais desenvolvidas procuram conciliar o
desenvolvimento com o uso sustentável dos recursos naturais, integrando os
instrumentos de comando e controle tradicionalmente aplicados, aos instrumentos econômicos. Além disso, busca-se a integração dos agentes públicos e privados na
gestão dos recursos naturais objetivando-se a implementação de ações conjuntas
de preservação ambiental.
2.2.1 A EVOLUÇÃO DA GESTÃO AMBIENTAL NO BRASIL
O gerenciamento das questões ambientais no Brasil evoluiu no tempo como
resultado do entendimento das relações do homem com o ambiente e das
conjunturas políticas e econômicas pelas quais passou. Esta evolução, segundo
MOREIRA (p.35, 2001), encontra-se dividida em três fases: a primeira, denominada
fase da alienação, ocorrida antes dos anos 70, a segunda, conhecida como fase da
gestão ambiental passiva, que vigorou nas décadas de 70 e 80 e a terceira fase, a
da gestão ambiental pró-ativa, que se deu a partir dos anos 90.
A primeira fase caracterizou-se pela industrialização com base na substituição
de importações. Nesse período, o País foi dotado de instrumentos legais e de
órgãos públicos responsáveis pelas áreas de saneamento, de conservação e
preservação do patrimônio natural, histórico e artístico e por soluções de problemas
provocados por secas e enchentes.
Em face dessas exigências, as organizações responderam, inicialmente, com
medidas paliativas como a instalação de equipamentos de controle de poluição, que,
a despeito de seu alto custo, mostraram-se insuficientes para resolver o problema da
aceleração da degradação.
Os grandes acidentes ambientais, as crises do petróleo e o surgimento das
primeiras organizações não-governamentais motivaram várias ações em defesa do
meio ambiente, das quais pode-se destacar a Conferência de Estocolmo (1972) que,
após revelar a fragilidade da vida humana na Terra, gerou repercussões em todas
as partes do mundo. Estes fatos incidiram no Brasil, que entrou na fase da gestão
ambiental passiva criando a Secretaria Especial do Meio Ambiente (SEMA), pelo
Decreto nº 73.030, de 30 de outubro de 1973, que se propôs a discutir junto à
opinião pública as questões ambientais, fazendo com que as pessoas se
preocupassem mais com o meio ambiente e evitassem atitudes predatórias. No
26
entanto, à SEMA não foi atribuído poder de polícia para atuar na defesa do meio
ambiente.
O Governo Federal, por intermédio da SEMA, instituiu pela Lei 6.938, de 31 de
agosto de 1981, a Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA), por meio da qual foi
constituído o Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA) e instituído o
Cadastro Técnico Federal de Atividades e Instrumentos de Defesa Ambiental. Por
esse Cadastro, foram definidos os instrumentos para a implementação da Política
Nacional, dentre os quais o Sistema Nacional de Informações sobre o Meio
Ambiente (SINIMA).
Juntamente com a Política Nacional do Meio Ambiente, foram aprovados os
seguintes instrumentos de gestão: estabelecimento de padrões de qualidade
ambiental, zoneamento ambiental, avaliação de impactos ambientais e
licenciamento de atividades potencialmente poluidoras. Foi criado, também, o
Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) que tem poderes para
regulamentar, estabelecendo padrões de qualidade ambiental. A Constituição Federal, promulgada em 5 de outubro de 1988, foi também um
passo decisivo para a formulação da política ambiental brasileira. Pela primeira vez
na história de uma nação, uma constituição dedicou um capítulo inteiro ao meio
ambiente, dividindo entre o governo e a sociedade, a responsabilidade pela sua
preservação e conservação. A partir daí, foi criado o programa “Nossa Natureza”,
que estabeleceu diretrizes para a execução de uma política ampla de proteção
ambiental.
O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
(IBAMA) foi criado pela Lei nº 7.735/89, a partir da fusão de quatro entidades
brasileiras da área ambiental: Secretaria Especial do Meio Ambiente (SEMA),
Superintendência da Borracha (SUDHEVEA), Superintendência da Pesca
(SUDEPE) e o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF).
Em decorrências das medidas adotadas pelo governo nesse período, as
organizações tiveram que modificar seus processos de produção a fim de
demonstrar sua preocupação com o meio ambiente, suas ações pró-ativas e
criativas. Passaram, então, a atuar na busca da redução dos resíduos e efluentes,
poupando energia, reciclando materiais, utilizando os rejeitos de sua produção. No
entanto, apesar dos esforços dedicados ao cumprimento da legislação, a redução do
impacto na saúde ambiental e a conservação ambiental nem sempre foram
27
alcançados, e mesmo quando isso ocorreu, os custos foram altos e os benefícios
algumas vezes questionáveis.
A terceira fase, no que se refere à gestão ambiental pública, caracterizou-se
como um período em que o governo procurou “colocar ordem na casa”, por meio da
edição de normas e procedimentos, bem como pela criação de órgãos cujas
competências estariam intimamente ligadas ao tema. O poder público a partir de
1988 passou a estabelecer as bases da política ambiental brasileira.
Assim, em 1990 foi criada a Secretaria do Meio Ambiente da Presidência da
República (SEMAM) que tinha o IBAMA como o órgão gerenciador da questão
ambiental, responsável por formular, coordenar, executar e fazer executar a Política
Nacional do Meio Ambiente e de preservação, conservação e uso racional,
fiscalização, controle e fomento dos recursos naturais renováveis.
Em 1992, fruto da preocupação com a repercussão internacional das teses
discutidas na Conferência Mundial sobre o Meio Ambiente, foi criado pioneiramente
no Brasil o Ministério do Meio Ambiente (MMA) órgão de hierarquia superior que
objetiva estruturar e coordenar a política ambiental no país e integrar os diversos
organismos que tratam dessas questões no governo.
Dentre as medidas tomadas pelo MMA, pode-se destacar a instituição da
Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH) pela Lei nº 9.435/97, cujo intuito era
de ordenar a exploração dos recursos naturais, além de criar também o Sistema
Nacional de Recursos Hídricos. No ano seguinte, foi editada a Lei de Crimes
Ambientais nº 9.605/98, a qual dispõe de maneira consolidada sobre as sanções
penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio
ambiente. Por fim, instituindo uma nova fase na gestão dos recursos naturais, a Lei
nº 9.984/00, criou a Agência Nacional de Águas (ANA), entidade federal responsável
pela implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos e pela coordenação
do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos.
Como resultado das pressões exercidas pelo governo, empresas ou
organizações privadas mobilizaram-se criando instrumentos de resposta como: selo
verde, auditorias ambientais e atuação responsável. Tal postura deveu-se não
somente às pressões do governo, mas também a descoberta de que investir em
meio ambiente pode gerar diversos benefícios como: melhor acesso ao mercado, à
seguros e capital de baixo custo, além de maior eficiência no processo produtivo e
melhoria na imagem pública, ou seja, redução de custos e aumento do lucro.
28
2.3 SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL: CONCEITOS E EVOLUÇÃO
Pelo exposto, verificou-se que esta nova forma de conduzir os assuntos relativos
ao meio ambiente ficou conhecida como gestão ambiental que, conforme a NBR ISO
14001 (publicada em 1996) é “parte do sistema de gestão global da organização que
inclui a estrutura organizacional, atividades de planejamento, responsabilidades,
práticas, procedimentos, processos e recursos para desenvolver, implementar,
atingir, analisar criticamente e manter a política ambiental, consistindo, em última
análise, na forma pela qual a organização gerencia suas atividades visando à
otimização do desempenho ambiental”.
VITERBO JÚNIOR (p.51, 1998), por sua vez, define gestão ambiental como a
“forma como uma organização administra as relações entre suas atividades e o meio
ambiente que as abriga, observadas as expectativas das partes interessadas”.
VALLE (p.69, 2002) estabelece que gestão ambiental “consiste em um conjunto
de medidas e procedimentos bem-definidos que, se adequadamente aplicados,
permitem reduzir e controlar os impactos introduzidos por um empreendimento sobre
o meio ambiente”
Analisando-se essas definições, observa-se que o gerenciamento ambiental é
parte da gestão global da organização, no entanto, não está dissociado desta. Por
fim, a definição de Viterbo Júnior encerra o conceito mais moderno de
gerenciamento, ressaltando a necessidade de implementação de um modelo
baseado na gestão participativa que visa atender os interesses das partes, ou seja:
o governo, a organização e as comunidades afetadas.
As primeiras iniciativas de desenvolvimento de modelos de sistemas de gestão
ambiental surgiram a partir da década de 80. Dentre elas destacam-se: Responsible
Care Program, STEP, BS 7750, EMAS e ISO 14001 que serão apresentados a
seguir.
O Programa de Atuação Responsável (Responsible Care Program) é
considerado por CAMPOS (2001) como o primeiro modelo de gestão ambiental
formal. Surgiu no Canadá em 1984, através de uma iniciativa das indústrias
químicas, formalizada pelo Chemical Manufactures Association (CMA) e, apesar de
ser um programa voluntário, é um requisito exigido àqueles que participam do CMA.
O Programa contém Princípios Diretivos, equivalentes a uma declaração de
29
propósitos, Códigos de Práticas Gerenciais, com metas genéricas que permitem a
cada organização estabelecer as formas para alcançá-las, Painel Público Consultivo,
composto por membros de diferentes segmentos da sociedade que colaboram com
a indústria química na elaboração de práticas gerenciais e Grupos de Liderança,
formados por executivos das empresas participantes para discutir experiências,
trocar informações e identificar necessidades de melhorias e assistência mútua.
Em 1990, o American Petroleum Institute (API), fundado em 1919 pela indústria
de petróleo americana, criou o Strategies for Today’s Environmental Partnership
(STEP). O principal objetivo do STEP foi o de desenvolver um guia para a indústria
de petróleo americana que possibilitasse um aprimoramento de seu desempenho
ambiental, de saúde e segurança (KUHRE, 1998). Desta forma, foi criado o
American Petroleum Institute Environmental, Health and Safety Mission and Guiding
Principles. Em linhas gerais, este documento tem como princípios: a prevenção da
poluição, a conservação dos recursos naturais e a gestão participativa.
A Norma Britânica BS 7750 - Specifications for Environmental Management
Systems - teve sua primeira edição publicada em março de 1992, entrando em vigor
em janeiro de 1994. Trata-se de um marco importante para a gestão ambiental, pois
serviu de modelo para quase todos os sistemas que foram criados posteriormente.
Essa norma foi encomendada pelo Environmental and Pollution Standard Policy
Committe of British Standard Institution a um comitê técnico formado por 38
instituições inglesas representando os mais variados setores da economia, tais
como a Associação de Consultores Ambientais, a Corporação Britânica de Carvão e
a Real Academia de Química e trata-se de uma especificação para o
desenvolvimento, implementação e manutenção de um sistema de gestão ambiental
para assegurar e demonstrar conformidade com as declarações da empresa quanto
à sua política, objetivos e metas relativos ao meio ambiente.
Esta norma preconiza o atendimento às exigências legais locais e o
comprometimento com a melhoria contínua. Estipula, ainda, que a organização
formule políticas e objetivos que levem em conta as informações relativas aos
efeitos ambientais significativos decorrentes de suas atividade.
O Sistema Europeu de Ecogestão e Auditorias (Eco-Management and Audit
Scheme :EMAS), estabelecido pelo regulamento da Comissão da Comunidade
Européia nº 1836/93, definiu os critérios para certificações ambientais de processos
industriais. A estes critérios foram incluídos posteriormente: um sistema de gestão e
30
de auditoria; padrões de desempenho; verificações por terceiros; declarações
públicas após uma revisão ambiental inicial e conclusão de cada auditoria. O
sistema entrou em operação a partir de 1995.
O EMAS permite às empresas que desenvolvem atividades industriais nos
países membros da Comunidade Européia obterem registros de suas fábricas junto
a uma comissão considerados como "certificados" de bom desempenho ambiental
geral. O EMAS, porém, não estabelece critérios específicos de desempenho
ambiental.
A principal norma de gestão ambiental da atualidade é a norma internacional
ISO 14001 (1996), que faz parte do conjunto ISO 14000 e trata da implementação
de um SGA, exigindo o cumprimento de 17 requisitos normativos que devem ser
estruturados de forma a se estabelecer um sistema de melhoria contínua. Esses
requisitos estão divididos em 5 grupos ou fases de implementação, quais sejam:
criação da política ambiental da organização; verificação de não-conformidades e
ação corretiva; planejamento do SGA; implementação do Plano de Ação e Controle
e Avaliação do Desempenho Ambiental.
A ISO 14001 especifica os requisitos de um SGA genérico, tendo sido elaborada
de forma a se aplicar em organizações com diferentes condições geográficas,
culturais e sociais. Seu sucesso depende do comprometimento de todos os níveis e
funções, especialmente da alta administração.
Segundo seus autores, um sistema de gestão elaborado a partir destes
requisitos permite que a organização estabeleça e avalie a eficácia dos
procedimentos de acordo com a sua política ambiental. A finalidade deste conjunto
de normas é promover a proteção ambiental e prevenir a poluição.
Desse modo, a política ambiental é o instrumento mais importante na
implementação de um SGA pois, ao estabelecer os objetivos e metas comuns a
serem atingidos, promove a cooperação e alinhamento de condutas entre os
diversos setores da organização.
Uma vez estabelecida a política ambiental, a organização deve identificar,
quantificar e mensurar os impactos dos seus processos no meio ambiente, a fim de
elaborar os programas de controle ambiental, os quais serão implementados a partir
da verificação de dois critérios: os objetivos estratégicos da organização e a
limitação de recursos.
Cabe ressaltar que as organizações normalmente decidem implementar
31
sistemas de gestão ambiental por motivos diversos. Algumas afirmam ou acreditam
que um certificado, como por exemplo, o da ISO 14001, facilita as relações com o
governo e com as comunidades afetadas pelo empreendimento. Outras consideram
que as melhorias no processo e redução dos riscos advindas de um controle
ambiental mais eficaz são bons motivos para sua implementação. A verdade é que
cada vez mais empresas no Brasil e no mundo estão implementando sistemas de
gestão ambiental e buscando uma certificação para esses sistemas.
Observa-se, no entanto, que os modelos apresentados anteriormente foram
desenvolvidos para o gerenciamento ambiental de processos, com foco em um
determinado produto (o petróleo no modelo STEP, por exemplo). Para a gestão de
serviços, como é o caso do transporte rodoviário, os modelos são implementados de
forma idêntica, tendo-se apenas o cuidado, nas fases de Controle e Avaliação do
Desempenho Ambiental, na análise de aspectos qualitativos, uma vez que os
produtos (tangíveis, avaliação quantitativa) são mais fáceis de serem avaliados que
os serviços (intangíveis, avaliação qualitativa).
2.3.1 ESTRUTURA DE UM SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL
A partir dos modelos apresentados anteriormente pode-se dizer que um sistema
de gestão ambiental estabelece as atividades de prevenção e recuperação
ambiental (que devem ser desenvolvidas seqüencialmente), bem como os
responsáveis por sua execução. Normalmente, abrange os impactos ambientais
mais importantes, buscando a melhoria contínua e ampliando, conseqüentemente,
com o passar do tempo, seu escopo de atuação. Deve possuir dinamismo e
flexibilidade suficientes para se adaptar às mudanças que podem ocorrer tanto no
seu ambiente imediato quanto no seu ambiente futuro.
A implantação de um SGA é uma das maneiras mais eficazes para se obter
melhorias no desempenho ambiental de uma organização por meio da execução de
4 conjuntos de ações, quais sejam: prevenção, que consiste na antecipação aos
riscos ambientais, pela análise de projetos, métodos ou processos de trabalho,
remediação, que consiste na atenuação dos danos ocorridos, uma vez que as
ações preventivas não foram suficientes para evitá-los, recuperação dos danos
remanescentes e educação, que vai além da formação profissional e do treinamento
de quadros, consistindo no principal objetivo do SGA na transformação cultural da
32
empresa.
Para que a implementação das ações propostas resulte, efetivamente, em
melhoria do desempenho ambiental da organização, devem ser adotados
procedimentos de: diagnóstico, prognóstico, plano de ação e controle.
Segundo GANDIM (1990, p.29), o diagnóstico é parte de um plano que irá
projetar um julgamento sobre a organização, resultante da comparação entre a
realidade atual desta organização e o que se pretende como modo ideal de agir e
organizar. Tal comparação é feita a partir de critérios estabelecidos previamente e
que, de modo geral, são referenciais teóricos ou práticos de como determinada
situação deve ser.
Ainda segundo o mesmo autor (GANDIM, p.31, 1990), há duas etapas neste
processo: pesquisa e juízo. Com a pesquisa surgem dados com os quais se faz a
descrição da realidade. Já o juízo, se forma pela comparação destes dados com o
que se prevê como desejável para o melhor desempenho da organização.
Após esta fase, já é possível elaborar um prognóstico, ou seja, sugerir as
medidas que irão, a curto, médio ou longo prazo, resolver problemas ou, ainda,
reforçar atitudes já adotadas. Este juízo prévio apresentará enfoque total ou parcial
em relação aos itens apontados no diagnóstico. No primeiro caso, indicará soluções
para cada problema levantado; no segundo, após destacar prioridades,
estabelecerá, de igual modo, condutas para harmonizar as irregularidades.
Para priorizar as ações poderá ser utilizada uma metodologia de gradação de
riscos que leve em consideração o dano ou o efeito nocivo potencial dos agentes e/
ou fatores de risco e a exposição desses agentes ou, no caso de acidentes, a
probabilidade de que o evento ocorra.
As recomendações dadas na fase de prognóstico deverão ser organizadas na
forma de uma versão preliminar de um plano de ação, contendo, para cada ação
sugerida, seus objetivos e metas, prioridades, estratégia e metodologia de ação.
Esta sugestão de plano servirá como instrumento de discussão com todos os
setores da empresa envolvidos no processo.
No início, as sugestões contidas no plano de ações e controle deverão seguir
critérios estritamente técnicos, não devendo ser considerados aspectos de
viabilidade econômica ou disponibilidade de soluções no mercado, que só deverão
ser considerados quando finalizada a discussão e definido o plano de ação e
controle, com a indicação de cronograma e responsáveis pela implementação.
33
De modo a garantir a eficiência das ações contidas no Plano de Ação e Controle
deverá ser realizada uma avaliação qualitativa/ quantitativa para verificação da
eficiência das medidas implantadas. As inspeções ambientais, bem como a
observância dos procedimentos implantados deverá ser feita de forma rotineira pelos
responsáveis de cada setor, no mínimo a cada seis meses para identificar a
existência de novas situações de risco e anualmente para reavaliar todo o sistema.
Convém, ainda, que seja feita uma auditoria externa para que sejam revistos os
elementos do sistema, determinar prioridades e estabelecer novos objetivos. (ABHO,
1999)
2.3.2 FERRAMENTAS DE APOIO À GESTÃO AMBIENTAL
Algumas práticas introduzidas como instrumentos da política nacional do meio
ambiente, como: zoneamento ambiental, avaliação de impactos ambientais,
licenciamento de atividades potencialmente poluidoras, auditoria ambiental e
monitoramento ambiental são essenciais par apoiar um Sistema de Gestão
Ambiental. Estas práticas são apresentadas a seguir:
-Zoneamento Ambiental
Segundo SILVA (p.182, 1988), pode-se conceituar zoneamento ambiental como
um procedimento urbanístico com o objetivo de regular o uso da propriedade do solo
e dos edifícios em áreas homogêneas no interesse coletivo do bem-estar da
população.
Extrai-se, por esse conceito, que o zoneamento tem por objetivo regular o uso e
a ocupação do solo. É o poder público que irá estabelecer os critérios básicos para a
ocupação do solo por meio de leis e regulamentos. Trata-se de uma limitação
administrativa ao direito de propriedade e deve ser observado por todos, podendo
ser alterado somente por norma de igual hierarquia. Dessa forma, é com o
zoneamento ambiental que se estabelecerão áreas específicas para cada tipo de
ocupação, observando-se sempre a função social da propriedade.(art. 5º, inc. XXIII,
da CF e SIRVINSKAS, p.59, 2002)
Compete, assim, à união “elaborar planos nacionais e regionais de ordenação do
território e de desenvolvimento econômico e social” (art. 21, IX, da CF), podendo
ainda articular sua ação em um mesmo complexo geo-econômico e social, visando
34
ao seu desenvolvimento e a redução das desigualdades regionais (art. 43, caput, da
CF). Aos estados compete, “mediante lei complementar, instituir regiões
metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões, constituídas por
agrupamentos de Municípios limítrofes, para integrar a organização, o planejamento
e a execução de funções públicas de interesse comum” (art. 25, § 1º, III, da CF). Por
fim, é de competência dos municípios “promover, no que couber, adequado
ordenamento territorial, mediante planejamento e controle do uso, do parcelamento
e da ocupação do solo urbano” (art. 30, VIII, da CF). É o município que exerce a
tarefa mais importante quanto ao uso e ocupação do solo, objetivando a ordenação
do desenvolvimento da cidade e garantindo o bem estar social, sendo o plano diretor
o instrumento adequado para tanto, estabelecendo os critérios gerais de ordenação
dos espaços urbanos. (art. 182, §§ 1º e 2º, da CF)
A figura a seguir mostra os diversos usos do solo para efeitos de zoneamento
ambiental, quais sejam: mineração (acima, direita), agricultura (centro, esquerda),
moradia (abaixo, direita) e transportes (linhas cortando a figura de cima à baixo).
FIG. 2.1: Foto de Satélite – Disputa de Espaços
FONTE: www.planeta.terra.com.br
-Estudos de Impactos Ambientais (EIAs)
Os estudos de impactos ambientais são “todos e quaisquer estudos relativos aos
aspectos ambientais relacionados à localização, instalação e operação e ampliação
de uma atividade ou empreendimento, apresentado como subsídio para a análise da
licença requerida, tais como: relatório ambiental, plano e projeto de controle
35
ambiental, relatório ambiental preliminar, diagnóstico ambiental, plano de manejo,
plano de recuperação de área degradada e a análise preliminar de risco”. (g.n.)(art.
1º III da Res. nº 237/97 do CONAMA)
O estudo prévio de impacto ambiental (EPIA) é um instrumento preventivo, por
tal razão está previsto na Constituição Federal (art. 225, § 1º, IV, da CF) que
incumbe o poder público “exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade
potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo
prévio de impacto ambiental, a qual dará publicidade”.
O EPIA teve origem na Conferência de Estocolmo (1972), que recomendava em
vários de seus princípios a adoção de medidas preventivas para o meio ambiente.
Estas diretrizes foram recepcionadas no Brasil, inicialmente, pela adoção do
Decreto-Lei 1.413, de 14 de agosto de 1975, que dispõe sobre o controle da
poluição do meio ambiente provocada pelas atividades industriais. Foi somente com
o advento da Lei nº 6.803/80, que foram estabelecidas diretrizes básicas para o
zoneamento industrial e que se exigiu claramente a necessidade da avaliação do
impacto ambiental. Em seguida, adveio a Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, que
passou a exigir de forma expressa , a avaliação de impactos ambientais, tendo sido
regulamentada pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), por meio da
Resolução nº 001/86 juntamente com o RIMA.
O órgão público estadual tem competência para exigir em relação às atividades
ou obras potencialmente causadoras de significativa degradação ambiental o estudo
prévio de impacto ambiental e seu respectivo relatório de impacto ambiental (arts. 17
e s. do Dec. Nº 99.274/90). Pode, contudo, o órgão público federal (IBAMA) exigir,
em caráter supletivo, o referido estudo na omissão do órgão estadual.
A audiência pública tem por objetivo assegurar o cumprimento do princípio
democrático. Essa audiência poderá ser marcada de ofício ou a pedido do Ministério
Público ou por requerimento subscrito por no mínimo cinqüenta interessados. É
necessário que os interessados possam manifestar-se na audiência, apresentando
suas críticas, sugestões ou discutir outros pontos não analisados pela equipe
técnica. Trata-se de uma audiência de natureza consultiva, não vinculando o órgão
ambiental que irá decidir, ao final, do procedimento administrativo.
-Licenciamento Ambiental
Licenciamento ambiental é o “procedimento administrativo pelo qual o órgão
36
ambiental confere licença a localização, instalação, ampliação e operação de
empreendimentos e atividades que demandam recursos ambientais, consideradas
efetiva ou potencialmente poluidoras ou aquelas que, sob qualquer forma, possam
causar degradação ambiental”. (art. 1º, I, da Res. nº 237/97 do CONAMA)
Também é “o ato administrativo pelo qual o órgão ambiental competente
estabelece condições, restrições e medidas de controle ambiental que deverão ser
obedecidas pelo empreendedor, pessoa física e jurídica, para localizar, instalar,
ampliar e operar empreendimentos (...) ou aquelas que, sob qualquer forma possam
causar degradação ambiental”. (art. 1º, II, da Res. nº 237/97 do CONAMA)
O licenciamento ambiental é um procedimento administrativo preventivo e
formal, cabendo ressaltar que a exigência do estudo prévio de impacto ambiental é
obrigatória. Se a licença ambiental for concedida sem a realização desse estudo,
será declarada nula.
Além desse conceito, o licenciamento ambiental está também previsto nos arts.
10, caput, da Lei nº 6.938/81 e 17 do Decreto nº 99.274/90. O licenciamento cabe,
no entanto, ao órgão estadual competente, integrante do Sistema Nacional de Meio
Ambiente - SISNAMA, e ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos
Naturais Renováveis-IBAMA, em caráter supletivo, sem prejuízo de outras licenças
exigíveis.
As licenças podem ser de três tipos: (art.8º,I,II e III, Res. nº 237/97 do CONAMA)
a) licença prévia (LP) – concedida na fase preliminar do planejamento do
empreendimento ou atividade onde são aprovadas sua localização e concepção,
atestando a viabilidade ambiental e estabelecendo os requisitos básicos e
condicionantes a serem atendidos nas próximas fases de sua implantação;
b) licença de instalação (LI) – “autoriza a instalação do empreendimento ou
atividade de acordo com as especificações constantes dos planos, programas e
projetos aprovados, incluindo as medidas de controle ambiental e demais
condicionantes, da qual constituem motivo determinante”;
c) licença de operação (LO) – “autoriza a operação da atividade ou
empreendimento, após a verificação do efetivo cumprimento do que consta das
licenças anteriores, com as medidas de controle ambiental e condicionantes
determinados para a operação”.
37
-Auditoria Ambiental
Enquanto a auditoria contábil é um instrumento básico para a indicação da
situação financeira da organização, a auditoria ambiental é o instrumento
indispensável para a avaliação da sua gestão ambiental. Em 1986, a Environmental
Protection Agency definiu auditoria ambiental como “uma análise sistemática,
documentada, periódica e objetiva por entidades regulamentadas das operações e
práticas de uma instalação, relacionadas com o atendimento dos requisitos
ambientais”.
LA ROVERE e outros (p.13, 2000) dizem que “a auditoria ambiental é um
instrumento usado por empresas para controlar o atendimento a políticas, práticas,
procedimentos e/ou requisitos estipulados com o objetivo de evitar a degradação
ambiental.(...). Define-se auditoria como o exame ou avaliação independente,
relacionada a um determinado assunto, realizada por especialistas no objeto do
exame, que faça uso de julgamento profissional e comunique o resultado aos
interessados”.
Segundo o mesmo autor, uma auditoria ambiental deve ser realizada para
verificar o cumprimento da legislação pertinente (auditoria de conformidade), após
um acidente para determinar responsabilidade penal ou civil, para estabelecer riscos
associados as atividades desenvolvidas, nos casos de fusão, absorção ou aquisição
de locais ou empresas, ou para verificar os possíveis impactos da empresa sobre o
meio ambiente.
A auditoria ambiental não é uma fiscalização uma vez que tem caráter corretivo
e não punitivo. O auditor tem como objetivo primordial identificar não-conformidades
e contribuir com a organização para que ela possa progredir em seu processo de
gestão ambiental.
Esta começou a ser adotada por empresas americanas na década de 70, em
virtude do aumento no rigor da legislação ambiental e das pressões das agências
reguladoras sobre as atividades industriais.
Atualmente, no Brasil, pela falta de recursos humanos e financeiros, o poder
público vem gradativamente absorvendo as práticas de gestão ambiental adotadas
pelas empresas privadas. Assim, a auditoria ambiental é cada vez mais utilizada
como instrumento de política pública voluntária. Os estados do Rio de Janeiro e o
Espírito Santo, por exemplo, já possuem legislação regulamentada e de caráter
compulsório.
38
-Monitoramento e Inspeção Ambiental
O monitoramento ambiental é um procedimento para medição das emissões e
do lançamento dos efluentes, realizado pela própria organização ou por órgão
público para apurar regularmente a espécie e quantidade de poluentes lançados no
meio ambiente.
Esse monitoramento auxilia o diagnóstico de não-conformidades, contribuindo
para a avaliação da eficiência das medidas de controle ambiental adotadas,
permitindo ainda, correção de rumos antes que haja um desvio significativo dos
objetivos e metas traçados na política ambiental da organização.
A inspeção ambiental, por sua vez, é realizada pelo órgão público com a
finalidade de se constatar se a organização está licenciada e se as medidas de
controle pactuadas estão sendo eficazes. É utilizada quando ocorre algum dano
ambiental ou quando há alguma reclamação perante o órgão público contra a
organização ou, ainda, em ação fiscalizadora do licenciamento ambiental.
“O EIA conterá a elaboração do programa de acompanhamento e
monitoramento dos impactos positivos e negativos, indicando os fatores e
parâmetros a serem considerados” (art. 6º, IV, Res. nº 001/86 do CONAMA). Como
se observa no texto citado, o EIA elaborará o programa de monitoramento , mas não
compreenderá a sua realização, uma vez que o monitoramento será feito após o
licenciamento da obra.
2.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Uma vez tendo sido avaliados os fatores que demandaram a criação de
sistemas de gestão ambiental, verifica-se a necessidade de implementar tais
sistemas primordialmente para o controle de atividades potencialmente poluidoras,
como é o caso dos transportes rodoviários. Desse modo, faz-se necessário o
conhecimento da evolução histórica deste modal, das atividades que integram a
operação deste serviço e seus reflexos no meio ambiente. Estas serão apresentadas
no Capítulo seguinte.
39
3 OPERAÇÃO RODOVIÁRIA
A etimologia identifica a palavra “transporte” como uma mudança de lugar. Logo,
transportar significa conduzir, levar pessoas ou cargas de um lugar para outro. “Há
de se constatar, portanto, que a atividade de transporte é instrumento essencial para
o funcionamento de qualquer economia, desde as economias embrionárias dos
tempos primitivos até a complexidade do mundo moderno, onde se evidencia, cada
dia mais, a tendência para formação de um mercado único com uma economia
globalizada”. (FARIA, p.16, 2001)
Neste Capítulo apresenta-se uma síntese histórica da evolução dos transportes
rodoviários no Mundo, com destaque para a evolução do modo no Brasil, seguido da
abordagem dos fatores que levaram à adoção do modelo de concessão da operação
de rodovias no País. Por fim, são apresentadas as atividades que integram a
operação de rodovias com seus reflexos no meio ambiente.
3.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
No funcionamento do sistema econômico, o setor de transportes desempenha
papel fundamental na prestação de serviços que são absorvidos, praticamente, por
todas as unidades produtivas. Além de prestar serviços às unidades produtivas, o
setor de transporte é também responsável por suprir as demandas dos setores de
matérias-primas, por proceder ao deslocamento da mão-de-obra, bem como por
viabilizar a distribuição da produção final. (BARAT, p.100, 1978)
Um “Sistema de Transporte” é definido como o conjunto formado pelos seguintes
elementos: meio de transporte (modo terrestre, aquaviário e aeroviário), via de
transporte (trajetória), instalações (terminais para carregamento, descarga e
armazenagem) e atividades de controle.
O surgimento do transporte terrestre se verificou nos tempos primitivos, desde
as experiências com o transporte de arrasto até o aperfeiçoamento dos primeiros
veículos sobre rodas. Caracteriza-se pelo deslocamento por terra firme, permitindo
variações tais como rodoviárias (sobre rodas), ferroviárias (sobre trilhos) e
dutoviárias (através de condutos fechados), além de modos especiais, de uso
restrito.
40
A opção rodoviária, seja como alternativa principal para pequenas e médias
distâncias, seja como mecanismo de apoio a outras modalidades de transporte, está
sempre presente com participação fundamental no escoamento das cargas e no
transporte de passageiros urbanos.
BARAT (p.375, 1978) conclui que “o transporte rodoviário constitui-se, sem
dúvida, em importante avanço tecnológico e propiciou em praticamente todos os
países, o desvio maciço de tráfego das modalidades não-rodoviárias para os
automóveis, ônibus e caminhões nas últimas décadas”.
3.2 SÍNTESE HISTÓRICA DO TRANSPORTE RODOVIÁRIO NO MUNDO
Segundo DA COSTA e FIGUEIREDO (p.1.2, 2001), a primeira estrada de que se
tem notícia foi construída há aproximadamente 2500 anos e serviu de suporte ao
transporte dos blocos de pedra constituintes da pirâmide de Keops. Até então, as
estradas eram meras trilhas de pedestres abertas na mata para o transporte de
pequenas cargas nos ombros ou na cabeça.
Os mesmos autores ressaltam que pesquisas arqueológicas indicam que na
Assíria e na Babilônia, já existiam veículos sobre rodas bastante desenvolvidos e o
homem utilizava animais domesticados para o transporte no lombo, bem como para
o tracionamento de veículos.
A partir do surgimento do Império Romano (200 a.C.) foi construída uma extensa
rede de estradas, assim como grandes obras de arte como pontes e túneis. Os
romanos muito cedo compreenderam a importância das estradas tanto para a
realização de comunicações, uma vez que à época não eram tão desenvolvidas,
como para o deslocamento de tropas e suprimentos, sem oss quais não teria sido
possível governar e manter a unidade de tão vasto Império.
Já na idade média, as estradas foram abandonadas, uma vez que o novo
sistema econômico se desenvolvia em torno do feudo, sem a necessidade de
grandes deslocamentos. Foi somente no século XIV, com o aparecimento de
grandes reinados como o da França, da Inglaterra e da Espanha, que a
preocupação com a unidade dos domínios fez renascer o interesse pela construção
de estradas. Neste período, os veículos continuavam a ser tracionados por animais
(FIG. 3.1), mas os serviços de transporte estavam bem mais intensos e organizados.
(DA COSTA e FIGUEIREDO, p.1.5, 2001)
41
FIG. 3.1: Carro de Boi FONTE: www.riogrande.com.br
No século XVIII, segundo FRAENKEL (p.1, 1980), a criação da máquina a vapor
por Watt e o transcurso da Revolução Industrial provocaram um extraordinário
desenvolvimento da ferrovia (FIG. 3.2) em detrimento da rodovia. A siderurgia e a
ferrovia desenvolveram-se simultaneamente como atividades complementares e
lançaram as bases da indústria pesada, que viria a aparecer e a servir de apoio para
o desenvolvimento industrial posterior, provocando profundas reformas de caráter
social.
FIG. 3.2: Locomotiva à Vapor
FONTE: www.ferrovie.firenze.net
As distâncias que o homem conseguia percorrer com os novos meios de
transporte cresciam rapidamente e com elas, o comércio, bem como todas as
demais atividades econômicas de um modo geral. Os custos unitários do transporte
por ferrovia e por barco a vapor, transportando grandes quantidades de
mercadorias, caíram verticalmente, tendo sido um dos principais incentivos ao
42
comércio, às atividades econômicas e ao aperfeiçoamento e expansão dos novos
meios de transporte, os quais inicialmente, eram utilizados indiscriminadamente,
sem análise das condições de cada investimento.
Foi somente com o advento da máquina de combustão interna, concebida em
1884 pelo engenheiro mecânico alemão Gottlieb Daimler, que o setor rodoviário
experimentou revolução idêntica à ocorrida no setor ferroviário. (DA COSTA e
FIGUEIREDO, p.1.8, 2001)
O aperfeiçoamento do automóvel e o barateamento da produção pelas linhas de
montagem idealizadas por Henry Ford geraram um grande incremento no uso não
só dos automóveis, mas também dos ônibus e dos caminhões. Aliando-se esse fato
à descoberta de jazidas de petróleo nas mais diversas regiões do planeta (BARAT,
p.253, 1978) conclui-se que estes fatores foram as molas mestras que
impulsionaram os transportes rodoviários em todo o mundo, garantindo a
manutenção do seu sucesso até os dias de hoje.
3.2.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS TRANSPORTES RODOVIÁRIOS NO BRASIL
Embora a primeira estrada de rodagem do País, a União Indústria (1852),
ligando Juiz de Fora à Petrópolis, tenha sido considerada a maior obra de
engenharia da América Latina em seu tempo, foi somente em 1905, que se verificou
a edição da primeira Lei brasileira a conceder auxílio federal para construção de
estradas.
Em 1919, seguindo uma tendência que já se verificava em outros países, a Ford
iniciou sua produção no Brasil, tendo sido a primeira montadora de automóveis a se
instalar no País, seguida da General Motors (GM) em 1925. A fim de acompanhar a
evolução dos transportes rodoviários, a partir de 1926 começaram a ser criados os
órgãos públicos dotados de autonomia técnica, os quais se destinavam à gestão das
rodovias.
Em 1926, foi criada em São Paulo a Diretoria de Estradas de Rodagem. Em
1927, o governo federal fundou a Comissão de Estradas de Rodagem Federais,
órgão antecessor do DNER, o qual segundo DUARTE (p.15, 2002), mediante a
criação de um “fundo especial” de financiamentos, construiu importantes obras para
a época, como a Estrada Rio-Petrópolis e a parte fluminense da primeira ligação
Rio-São Paulo, ambas tendo sido inauguradas em 1928, por Washington Luis.
43
Finalmente em 1934 foi criado o Departamento de Estradas de Rodagem.
De acordo com o mesmo autor (DUARTE, p.10, 2002), até a introdução da
cultura cafeeira no Brasil, em 1930, muitos dos caminhos construídos não eram
carroçáveis. Até a década de 40, como as cidades se concentravam ao longo da
faixa litorânea, as rodovias permaneciam não comprometendo o sistema ferrovia-
porto-navegação.
Foi somente com a intensificação do processo de industrialização e a
substituição das importações, a partir da década de 40, que houve um maior
dinamismo na economia. A partir deste momento, justificava-se a construção de
rodovias para a complementação de um novo fluxo estadual e regional de cargas,
uma vez que os produtos destinavam-se principalmente ao mercado interno.
(BARAT, p.91, 1978)
Ainda neste mesmo período foram criados o fundo rodoviário dos estados e dos
municípios pelo Decreto-Lei 2.615/40 e o Fundo Rodoviário Nacional – FRN,
Decreto –Lei 8.463/45 (Lei Joppert). Paralelamente, segundo DUARTE (p.17, 2002),
as pressões sindicais criavam sérios problemas, tanto para as atividades portuárias,
quanto para a navegação de cabotagem, o que acabou elevando os custos de
operação do sistema ferrovia-porto-navegação provocando a explosão do
“rodoviarismo” no País. A rapidez e versatilidade, contribuíram para que se tornasse
cada vez mais essencial para a economia brasileira, visto que comportava tarifas
mais flexíveis e menores custos fixos. (BARAT, p.253, 1978)
Em 1950, como conseqüência da Lei Joppert, o Brasil já contava com 968
quilômetros de malha rodoviária pavimentada, o dobro do verificado até 1945. A
disponibilidade de divisas, após a Segunda Guerra Mundial, permitiu a importação
maciça de veículos para o atendimento da demanda reprimida do País.
As receitas oriundas do Imposto Único sobre combustíveis e lubrificantes que
vigorava à época e constituía o Fundo Rodoviário Nacional, colocaram o setor
rodoviário em posição ainda mais privilegiada para a captação de recursos para
aplicação na infra-estrutura viária. Ao final dos anos 60, com exceção de Manaus e
Belém, todas as capitais dos estados encontravam-se interligadas por estradas
federais.
O processo de urbanização, por sua vez, intensificou-se aceleradamente e
tornando necessária a inclusão no espaço geo-econômico de novas áreas agrícolas
e extrativas. A rápida incorporação de novas terras à economia de mercado para
44
permitir o suprimento de matérias-primas e alimentos aos centros urbanos,
consolidou o papel preponderante do transporte rodoviário no deslocamento dos
fluxos de longa e média distâncias. (BARAT, p.92, 1978)
Em 1982, o fundo rodoviário nacional foi suspenso por 3 anos sendo extinto
definitivamente em 1988. Apesar dos incentivos criados a partir desse ano, selo
pedágio e imposto do petróleo, os investimentos em rodovias reduziram-se
gradativamente.
Em 1988, a nova constituição federal extinguiu alguns tributos e proibiu a
vinculação de recursos tributários, exceto para educação. A conseqüência disto foi a
crise do setor de transportes, tanto no que se refere aos aspectos administrativos
como também aos aspectos institucionais relacionados com a gestão da infra-
estrutura. (DUARTE, p.39, 2002)
Apesar desta crise, como o transporte rodoviário ainda constituía atividade
essencial para a economia brasileira, para que pudesse se manter na mesma
posição de destaque novas alternativas foram sendo criadas. Dentre estas
destacam-se o programa de descentralização e restauração da malha e o programa
Crema, de restauração e manutenção rodoviárias por períodos de 5 anos.
(DUARTE, p.22, 2002)
Na tabela a seguir apresentam-se estatísticas do modal rodoviário no Brasil,
donde pode-se constatar tanto sua importância no cenário nacional de transportes
de cargas e de passageiros quanto sua relevância como fator indutor de acidentes,
causa de prejuízo incalculável à nação.
TAB. 3.1 ESTATÍSTICAS DO MODAL RODOVIÁRIO NO BRASIL ESTATÍSTICA QUANTIDADE ANO
TRANPORTE DE CARGAS 60,0 % 2000 TRANSPORTE DE PASSAGEIROS 96,0 % 1999
TOTAL DA MALHA PAVIMENTADA 9,8 % 2000 TOTAL DE PESSOAS ENVOLVIDAS EM ACIDENTES 527.580 pessoas 2000
MORTOS OU FERIDOS EM ACIDENTES 37.180 pessoas 2000 CRESCIMENTO DA FROTA 300,0 % 1980/1999
FONTE: GEIPOT
Também surgiu em 1993, como alternativa para contornar os problemas
decorrentes da escassez de recursos para investimentos no setor, a adoção do
modelo de concessão rodoviária que será analisado no próximo item.
45
3.2.2 CONCESSÕES DE RODOVIAS NO BRASIL
A extinção, a partir do final dos anos 1970, do modelo de financiamento
rodoviário brasileiro baseado na aplicação de recursos oriundos de receitas
vinculadas levou à redução gradual dos investimentos na malha rodoviária nacional:
de 1,6% do PIB no período 1967 – 76, passou para menos de 0,5% no período 1980
– 96, acarretando o crítico estado de conservação em que se encontrava a malha.
(RAP, p.134, 2000)
A partir de 1979, em virtude de diversas modificações implementadas no
Sistema Tributário Nacional, a capacidade de arrecadação da União foi sendo
reduzida sem, contudo, serem reduzidas as responsabilidades e os encargos
decorrentes da manutenção da malha federal. (CONCEIÇÃO, p.35, 1997)
No início da década de 1990, o modelo de financiamento rodoviário brasileiro
encontrava-se em profunda crise. Desse modo, buscaram recursos complementares
na iniciativa privada, através de concessões de rodovias com cobranças de pedágio,
visando reverter o mau estado de conservação da malha rodoviária nacional.
De acordo com o modelo de concessão adotado, embora a rodovia continue
sendo pública, o estado atribui à iniciativa privada, por um período determinado, a
operação e responsabilidade pelo melhoramento, manutenção e conservação da
rodovia.
Este modelo levou progressivamente à descentralização para os estados das
responsabilidades pelas rodovias de interesse local ou regional e à transferência dos
encargos de novos investimentos, operação e manutenção de rodovias para as
concessionárias privadas (RAP, p.134, 2000)
A desestatização no setor de transportes tomou vulto com a implantação, em
1993, do Programa de Concessão de Rodovias (PROCOFRE), sob a
responsabilidade do Departamento de Concessões Rodoviárias do DNER. Em sua
primeira etapa, este programa incluiu a concessão ao setor privado dos trechos
rodoviários que tinham sido objeto de pedágio pelo próprio DNER. (XVI ANPET, Vol
2, p.416, 2002)
Para a viabilização desse objetivo, foi editada a Lei Federal n° 8.987/95, que
dispõe sobre o regime de concessão previsto no Artigo 175, da Constituição Federal,
instituindo o Programa de Exploração de Rodovias (PER) do DNER e os demais
46
programas estaduais de concessão, geridos pelos DER’s.
Em 2001 foi editada a Lei n° 10.233, a qual dispôs sobre a reestruturação dos
transportes terrestres e criação da Agência Nacional de Transportes Terrestres –
ANTT, estabelecendo em seu artigo 11 os Princípios Gerais do Sistema Nacional de
Viação, dentre os quais se destacam aqueles a seguir transcritos:
“V. compatibilizar os transportes com a preservação do meio
ambiente, reduzindo os níveis de poluição sonora e de contaminação atmosférica, do solo e dos recursos hídricos;
VI. promover a conservação de energia, por meio da redução do consumo de combustíveis automotivos;
VII. reduzir os danos sociais e econômicos decorrentes dos congestionamentos de tráfego; (...)”
Assim, o novo processo de revitalização das rodovias através da concessão
exige, por sua vez, a adequação da estrutura administrativa dos órgãos normativos
às suas novas funções, com atenção prioritária para as questões de caráter social,
bem como aquelas relativas à segurança nacional e ao meio ambiente, na
perspectiva do desenvolvimento integrado e sustentável.
Embora já seja possível identificar, em virtude das concessões, algumas
melhorias na operação e conservação das rodovias, os reflexos de sua implantação
só poderão ser avaliados concretamente no futuro, pois se trata de um modelo
incipiente de operação rodoviária.
Dessa forma, o “novo papel” para o qual o Estado Brasileiro Moderno se
direciona é o de Autoridade Reguladora Fiscalizadora dos serviços prestados pela
concessionária, atualmente desempenhado pela ANTT, nos termos dos Contratos
de Concessão, além de atuar como fomentador da formação de organizações
representativas dos usuários, os mais eficazes controladores de qualidade do
processo. (OLIVEIRA et al., p.72, 2003)
TAB. 3.2 SITUAÇÃO DA MALHA RODOVIÁRIA BRASILEIRA SITUAÇÃO QUANTIDADE ANO
RODOVIAS NÃO-PAVIMENTADAS 1.559.941 Km 2000 RODOVIAS PAVIMENTADAS 164.988 Km 2000
RODOVIAS ESTADUAIS CONCESSIONADAS 3.007,5 Km 2004 RODOVIAS FEDERAIS CONCESSIONADAS 1.680,1 Km 2004
RODOVIAS EM LICITAÇÃO 2.718,1 Km 2004
FONTE: GEIPOT e ANTT
47
Na Tabela 3.2 apresenta-se a extensão da malha rodoviária brasileira
subdividida em pavimentada e não-pavimentada, assim como a extensão das
rodovias federais e estaduais concessionadas e em processo de concessão.
3.3 ATIVIDADES DA OPERAÇÃO RODOVIÁRIA
Segundo o DNER (p.3, 1997), “A grande meta a ser alcançada por um
gerenciamento cuidadoso da operação da via é a de assegurar aos seus usuários,
que nela trafeguem com segurança, mantendo-os sempre bem informados a
respeito do tráfego, da via e das condições climáticas, além de garantir-lhes apoio
em caso de acidentes ou de problemas mecânicos. Equivale a dizer que este
gerenciamento se faz por meio de ações de atendimento, quando da ocorrência de
incidentes como falhas de veículos, derramamento de cargas e acidentes de
trânsito, ou senão pelas intervenções previstas na operação normal da via”.
Observa-se, no entanto, que não foram considerados na referida conceituação,
os aspectos relativos à preservação, conservação e recuperação do meio ambiente.
Ressalta-se, assim, que para operar uma rodovia, faz-se necessário o
desenvolvimento de atividades paralelas, de modo a garantir a sustentabilidade
ambiental da operação rodoviária.
Segundo recomendações do Manual de Procedimentos Básicos para Operação
de Rodovias (1997) e das Diretrizes Básicas para a Elaboração de Estudos e
Projetos Rodoviários (1999), ambos do DNIT, as atividades associadas à operação
de rodovias podem ser agrupadas em atividades de fiscalização, de controle, de
obras rodoviárias, de atendimento de emergências, de atendimento ao usuário e de
arrecadação de pedágio. Estas atividades são apresentadas a seguir:
3.3.1 ATIVIDADES DE FISCALIZAÇÃO
Fiscalizar significa vigiar os atos de outrem de modo a evitar a ocorrência de
uma ilicitude ou acidente. Portanto, é uma ação preventiva. O operador rodoviário,
por meio da fiscalização, é capaz de evitar a deterioração precoce da via e a
ocorrência de acidentes em função de não-conformidades. Quanto melhor é a
fiscalização da rodovia, menores são os impactos ambientais resultantes de sua
operação. Várias sub-atividades compõem a fiscalização rodoviária. São elas:
48
-Vigilância Patrimonial
Visa assegurar o patrimônio público, as instalações e dispositivos da rodovia e
busca garantir a integridade física dos funcionários e dos usuários que estejam
utilizando a via.
-Pesagem de Veículo
Tem como objetivo a fiscalização do excesso de carga nos veículos comerciais,
o qual acarreta substanciais danos ao patrimônio rodoviário. Os veículos que
apresentarem excesso de carga, de acordo com os limites impostos pelo Código de
Trânsito Brasileiro (CTB), serão multados e retidos (salvo as exceções previstas),
até normalizarem as condições de peso. Na figura abaixo, apresenta-se um posto de
pesagem de veículos.
FIG. 3.3: Pesagem de Veículo
FONTE: www.novadutra.com.br
-Fiscalização de Trânsito
Trata-se da ação preventiva que evita a ocorrência de acidentes ou incidentes
que possam ocasionar risco de vida aos usuários da rodovia ou dano ao patrimônio
público. Consiste basicamente na averiguação das condições do veículo, do
condutor, do seu comportamento e prestação de auxílio à Secretaria de Fazenda na
averiguação de notas fiscais e é tarefa da Polícia Rodoviária Federal.
-Fiscalização de Transporte de Carga
Consiste na verificação do tipo de carga transportada e de sua documentação
respectiva. Visa à obtenção de dados estatísticos a serem utilizados principalmente
em projetos de monitoramento de pontes e pavimentos, nas questões de
49
regulamentação e legislação e no planejamento rodoviário maneira geral. É tarefa da
Polícia Rodoviária Federal conforme observa-se na figura abaixo.
FIG. 3.4: Fiscalização Transporte de Carga
FONTE: www.gnr.pt
-Fiscalização de Transporte Coletivo de Passageiros
Seu principal objetivo é aumentar a eficiência do sistema de transporte, através
da avaliação dos serviços, segundo os aspectos básicos de regularidade,
compatibilidade e segurança. É tarefa da Polícia Rodoviária Federal.
-Fiscalização de Transporte de Produtos Perigosos
Consiste na verificação do tipo de carga transportada e de sua documentação;
da habilitação do condutor para o transporte de produtos perigosos e das condições
de segurança do veículo para o transporte desses produtos. Visa à obtenção de
dados estatísticos a serem utilizados principalmente em projetos de monitoramento
de pontos críticos e no planejamento do atendimento à incidentes. É tarefa da
Polícia Rodoviária Federal.
3.3.2 ATIVIDADES DE CONTROLE
Controlar significa fiscalizar pessoas ou processos de modo que não fujam de
um padrão preestabelecido. O controle age de forma integrada (Centro de Controle
Operacional - CCO) e pressupõe, para que se possa garantir a situação de
normalidade, um conjunto de ações a cada desvio verificado. A segurança e o
50
conforto do usuário estão diretamente ligados à capacidade do operador em
controlar a via. Assim como a fiscalização, os maiores impactos ambientais se
verificam quando as atividades de controle não são realizadas. As sub-atividades de
controle que compõem a operação da rodovia são:
-Gestão da Via
A gestão da rodovia tem como objetivo o gerenciamento diário das solicitações
em relação às vias em questão. Consiste de forma sucinta, na aprovação ou não
das solicitações de usuários, na busca das causas de interferências no cotidiano das
rodovias, ou interações nos padrões físicos como a realização de obras nas
margens da rodovia como apresentado na figura a seguir.
FIG. 3.5: Execução de Obra Próximo à Rodovia
FONTE: www.sanasa.com.br
-Inspeção da Rodovia
Consiste no patrulhamento de ronda ou inspeção da via que possibilita que
sejam detectadas anomalias interferentes na segurança e fluidez do fluxo veicular,
as quais podem causar congestionamentos ou até mesmo acidentes de trânsito
mais sérios.
-Controle e Inspeção de Tráfego
A inspeção e o controle de tráfego ao longo de toda a extensão da rodovia
deverão ser desempenhados de forma integrada aos demais sistemas, sempre de
forma centralizada, através do Centro de Controle Operacional – CCO (FIG. 3.6). Ao
51
se detectar qualquer anomalia ou ocorrência como congestionamentos, acidentes de
trânsito e falhas na conservação da via, o CCO aciona o recurso correspondente
para correção da situação.
FIG. 3.6: Centro de Controle Operacional
FONTE: www.queirozgalvão.com
-Monitoração da Via
As atividades de monitoração estão presentes em todos os aspectos da gestão
das rodovias, seja no planejamento, no projeto, na execução de obras, na prestação
de serviços, no controle e desenvolvimento operacionais, na manutenção ou na
conservação. A figura abaixo mostra a visão de uma câmera de monitoração.
FIG. 3.7: Monitoração da Via
FONTE: www.estradas.com.br
52
No caso das atividades operacionais, é incumbência da equipe de monitoração
acompanhar de forma permanente, a qualidade dos serviços prestados, não apenas
no que se refere aos sistemas operacionais, mas também no que se refere às
próprias condições operacionais das vias envolvidas. Dentre essas condições
operacionais cabem destacar-se: níveis de serviço, índices de acidentes e atrasos.
3.3.3 OBRAS RODOVIÁRIAS
As atividades associadas aos serviços e obras rodoviárias envolvem uma grande
diversidade de ações que compreendem desde serviços de limpeza e conservação
de rotina até a implantação de novos trechos de rodovia. O objetivo da realização de
obras é melhorar as condições da rodovia, no entanto, estas atividades tem um
grande potencial de causar impactos negativos. As obras são, sem dúvida, a
atividade que mais causa impactos ambientais negativos na operação de uma
rodovia. As subdivisões que compõem esta atividade são:
-Obras de Conservação da Rodovia
Compreende o conjunto de operações rotineiras e preventiva periódica
destinadas a manter as características técnicas e operacionais da rodovia como a
operação de tapa buracos apresentada na figura a seguir.
FIG. 3.8: Conservação da Pista de Rolamento
FONTE: www.terplan.com.br
53
Para que sejam preservadas as boas condições da rodovia, deve ser
considerada a realização de serviços dos seguintes tipos: reparos de pequenos
defeitos nos acostamentos e no pavimento, preservação regular dos sistemas de
drenagem, da faixa de domínio, das edificações, dos dispositivos para controle do
trânsito, da iluminação e de outros elementos acessórios, limpezas em geral,
varredura da pista, prevenção do processo de deterioração das áreas de serviços e
dos elementos de segurança e meio ambiente.
-Obras de Manutenção da Rodovia
Compreende um amplo conjunto de atividades destinadas a assegurar o
funcionamento adequado da rodovia, especialmente no que se refere a sua
durabilidade. O objetivo básico da manutenção é assegurar o prolongamento da vida
útil da rodovia mediante a proteção física da estrutura (FIG. 3.9), da superfície de
rolamento e dos seus elementos acessórios. A manutenção procura,
especificamente, evitar a destruição de partes da estrutura da rodovia e a
necessidade de uma posterior reabilitação ou recuperação da superfície do
rolamento, mantendo-se as suas características de textura, a durabilidade da
mistura asfáltica, e evitando o desenvolvimento prematuro de fissuras.
FIG. 3.9: Manutenção de Ponte
FONTE: www.celepar6.pr.gov.br
-Obras de Melhoramento da Rodovia
Representa o processo sistemático e continuado de atualização física,
tecnológica e gerencial da rodovia, incluindo a adequação de capacidade de tráfego.
Envolve todo o complexo da rodovia de natureza física e operacional, assim como
54
os sistemas de gerenciamento. Um bom exemplo desta atividade é a duplicação da
via, que é realizada quando a mesma atinge o seu limite máximo de tráfego
comprometendo a segurança e o conforto de seus usuários. A Figura 3.10 mostra
um exemplo desta operação com toda sua complexidade.
FIG. 3.10: Duplicação de Rodovia
FONTE: www.terra.com.br
3.3.4 ATENDIMENTO DE EMERGÊNCIAS
O atendimento de emergência constitui a mais importante ação direta dos
responsáveis pela operação da rodovia em relação aos usuários, caracterizando-se
pelo fornecimento de apoio e suporte em condições críticas, que podem acarretar
prejuízos à fluidez, à segurança e ao conforto no deslocamento dos usuários.
FIG. 3.11: Avaria na Plataforma por Movimentação de Massa
FONTE: www.igeológico.sp.gov.br
55
É de vital importância, portanto, o restabelecimento das condições iniciais da via,
que se faz a partir da eliminação ou redução das causas dos incidentes, como
também pela mitigação de suas conseqüências. São exemplos dessas causas:
incêndios na vegetação lindeira, animais na pista, deslizamentos de terra e avarias
na plataforma da rodovia (FIG. 3.11), congestionamentos e derramamentos de
carga.
3.3.5 ATENDIMENTO AO USUÁRIO
Esta atividade consiste no atendimento ou auxílio prestado pelo operador
rodoviário para dar mais conforto e segurança ao usuários em suas viagens. Estes
serviços são normalmente fornecidos em rodovias pedagiadas e estreitam os laços
entre o operador da via e o seu cliente. As sub-atividades que compõem esta
atividade são:
-Atendimento Mecânico
O atendimento mecânico é o auxílio prestado aos usuários cujos veículos sofrem
panes mecânicas ou elétricas, por meio da execução de pequenos reparos, como
uma troca de pneus (FIG 3.12), ou mesmo pela remoção do veículo avariado para
local onde o usuário possa obter auxílio externo.
FIG. 3.12: Atendimento Mecânico
FONTE: www.gnr.pt
-Atendimento Médico de Urgência
O atendimento médico de urgência consiste no resgate, na prestação dos
56
primeiros socorros e na remoção de acidentados para hospitais e casas de saúde
dos municípios cortados pela rodovia (FIG. 3.13). Para tanto, são firmados
convênios com as instituições de saúde do entorno.
FIG. 3.13: Atendimento Médico
FONTE: www.renovias.com.br
-Comunicação com o Usuário
A comunicação com o usuário tem como objetivo transmitir todas as informações
necessárias a uma operação segura e eficiente da rodovia. Normalmente, essas
informações provêm dos dispositivos de sinalização (FIG. 3.14), devendo ser ainda
complementadas pelas informações da Inspeção de Tráfego durante sua vistoria de
rotina e pelos dados dos Agentes de Operação encarregados do atendimento dos
acidentes rodoviários, assim como pelos dados relativos a eventos e obras previstos
que venham a interferir com a operação da rodovia.
FIG. 3.14: Pórtico para Comunicação com o Usuário
FONTE: www.renovias.com.br
57
3.3.6 ARRECADAÇÃO DE PEDÁGIO
Visa à cobrança da tarifa de uso da via. Tem como objetivo básico a viabilização
econômica da gestão, operação, manutenção e conservação da rodovia. É realizada
nas praças de pedágio que compreendem o prédio de administração e as cabinas
de cobrança como pode-se observar na figura abaixo.
FIG. 3.15: Arrecadação de Pedágio
FONTE: www.abcr.org.br
3.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Do exposto, observa-se que gerenciar uma rodovia não é uma tarefa fácil, são
muitas as atividades desempenhadas pelo operador rodoviário, bem como são
vastos e complexos os processos de alteração do meio ambiente ocasionados pelas
mesmas. Daí a importância de se compreender estas alterações ambientais assim
com caracterizar as áreas do entorno da rodovia susceptíveis à degradação, ou seja,
faz-se necessário definir e caracterizar o passivo ambiental associado ao mau
desempenho operacional das rodovias, que será feito no próximo capítulo.
58
4 PASSIVO AMBIENTAL DE RODOVIAS
Ao longo dos anos, a prática de transportes esteve estritamente estruturada em
função de parâmetros técnicos e sócio-econômicos. A partir dos anos 80, foram
disseminados conhecimentos sobre qualidade ambiental, iniciando então, a adoção
de requisitos de atendimentos a padrões de qualidade e de preservação ambiental.
Em função desse novo quadro de referência, passaram a avaliar os efeitos
resultantes das práticas anteriores, chegando-se à constatação de que há
degradação dos componentes ambientais (solo, cobertura vegetal, água e ar) e de
ecossistemas, acumulada há anos. Esse acúmulo de degradação denomina-se
passivo ambiental (DNER, p.22, 2002) e deve ser recuperado para que a operação
dos serviços de transportes possa ser realizada dentro de seus objetivos.
Neste Capítulo será conceituado e caracterizado o passivo ambiental associado
à operação de rodovias, bem como serão propostas medidas de prevenção e de
remediação de impactos na rodovia e na área de influência direta da mesma, assim
como eventos externos que afetam a área de domínio da rodovia. Tais medidas
podem ser implementadas na fase de operação do empreendimento por meio de
instrumentos de planejamento e gestão ambiental.
4.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
A implantação e a operação de empreendimentos rodoviários sem planejamento
e de forma desestruturada - projetos mal-concebidos, ausência de investigação
prévia do terreno, desconsideração dos condicionantes do meio físico, condições
precárias de infra-estrutura, análise socioeconômica insuficiente, medidas de
mitigação não efetivadas, dentre outros aspectos - têm gerado situações de
degradação ambiental, não só causando prejuízos ao próprio empreendimento, mas
principalmente causando impactos ambientais que, muitas vezes, extrapolam a área
de influência direta do projeto. Tal conduta tem como conseqüência direta um
decréscimo na qualidade de vida da população lindeira, bem como uma elevação
significativa e desnecessária dos custos internos e externos do empreendimento.
(FREITAS et al., 2001)
Os custos internos do empreendimento são aqueles tradicionais como custos
59
com matéria prima, mão-de-obra, depreciação de equipamentos e outros,
contabilizados ao longo do processo produtivo e que servem de base para a
composição do preço final. Geralmente as organizações não encontram maiores
dificuldades em identificá-los e controlá-los. (SANTOS et al., 200?)
Os custos externos, de acordo com a Agência Ambiental Americana (U.S.EPA,
p.34, 1995), “são aqueles custos gerados pelo impacto da atividade da empresa no
meio ambiente e na sociedade, pelos quais a companhia não se responsabiliza
financeiramente. Como exemplo destes custos tem-se: custo com tratamento de
doenças respiratórias ocasionadas pela poluição do ar”.
“Nunca se imputou, e ainda não se imputa à mercadoria produzida, todos os custos necessários à sua elaboração, pois a empresa agrega ao seu custo de produção somente o valor de insumos que representam desembolso financeiro por parte da empresa, ou seja, aqueles pelos quais efetivamente ela paga. Não são computados gastos futuros que a sociedade terá para repor esses bens, menos ainda o quanto a sociedade futura sofrerá para não tê-los a disposição, quando não renováveis.” (MARTINS e RIBEIRO, p.31, 1995)
Do exposto, pode-se deduzir que o passivo ambiental criado pela operação de
transportes rodoviários consiste dos débitos ambientais de um empreendimento, isto
é, aquela parcela de degradação ambiental não recuperada ou “não paga” de
alguma maneira pelo empreendedor e que se constitui um “débito” para a sociedade
e para o meio ambiente. (DER/PR, p.129, 2000)
4.2 CONCEITOS DE PASSIVO AMBIENTAL
O termo “passivo ambiental” começou a ser empregado nos últimos anos, por
conta dos prejuízos ambientais gerados por graves acidentes ocorridos, como o
vazamento de 1.200 litros de óleo na Baia da Guanabara (2000), no Rio de Janeiro,
Brasil.
Comercialmente, passivo representa tudo aquilo que é contabilizado como
débito, como negativo em qualquer empreendimento, isto é, aquele conjunto de
obrigações (trabalhistas, bancárias, fiscais, patrimoniais, etc.) não satisfeitas pela
empresa ou empreendimento e que deve ser subtraído de seu patrimônio positivo
(ativo), para obter o seu valor real. (DER/PR, p.129, 2000)
Em termos contábeis, passivos são as obrigações das empresas com terceiros,
sendo que tais obrigações, mesmo sem uma cobrança formal ou legal, devem ser
60
reconhecidas. Já o passivo ambiental representa os danos causados ao meio
ambiente, constituindo, assim, a obrigação, ou a responsabilidade social da empresa
com aspectos ambientais.
Na opinião do Instituto Brasileiro de Contabilidade (IBRACON, p.5, 1996): “O
passivo ambiental é toda agressão que se praticou e ou se pratica contra o meio
ambiente e consiste no valor de investimentos necessários para reabilitá-lo, bem
como multas e indenizações em potencial”.
Segundo D’Almeida (D’ALMEIDA, p.34, 2002), “passivo ambiental representa a
responsabilidade da organização perante terceiros, advinda de uma externalidade
ambiental negativa ocasionada pelo dano ambiental gerado pela atividade
poluidora desta organização e como as obrigações resultantes de potenciais danos ao meio ambiente, decorrentes da atividade econômica da organização, ocorridos
em eventos passados ou presentes”.
O Departamento de Edificações, Rodovias e Transportes do Espírito Santo
(DERTES, p.61, 2002) quando fala de rodovias, diz que “passivos ambientais são
externalidades nos meios físico, biótico e antrópico, como efeito de impactos e
danos ambientais provocados em função da sua implantação e operação (incluindo
conservação e manutenção), ou provocados por atividades de terceiros, que
interferem negativamente na rodovia”.
Pode-se inferir, então, que passivos ambientais são obrigações contraídas
voluntária ou involuntariamente, em decorrência de ações passadas ou presentes,
as quais envolveram ou envolvem a organização e o meio ambiente em que está
inserida e que, por conseguinte, exigirão a entrega de ativos ou a realização de
serviços de controle, preservação e recuperação do meio ambiente, originando,
como contrapartida, um ativo ou custo ambiental em um momento futuro. (LISBOA,
XVI Congresso Brasileiro de contabilidade, 2000)
Na implantação de uma rodovia, há um acordo implícito de se arcar com as
perdas e os riscos do empreendimento, uma vez que, supostamente, suas
vantagens sociais e econômicas compensarão a degradação do ambiente. Logo, é
fundamental, para a manutenção desse “acordo”, que a rodovia seja operada e
manutenida de modo a maximizar os benefícios sociais e econômicos gerados com
sua implantação.
A origem do passivo ambiental pode ser interna ou externa à Organização. Os
passivos de origem interna ou endógenos são gerados durante o processo de
61
implantação e subseqüente operação da rodovia. Consistem das alterações naturais
e/ ou artificiais ocorridas em função da inserção da rodovia no meio ambiente. Sua
recuperação está diretamente relacionada ao órgão responsável pela rodovia.
Exemplos de passivos ambientais desta classe são:
• Rios poluídos pela descarga de efluentes de uma usina de asfalto ou por
processos erosivos;
• Floresta comprometida por chuva ácida produzida por gases e particulados
emitidos pelos veículos utilizados;
• Processos erosivos desencadeados a partir da construção, pavimentação e
operação, de uma rodovia que não foram estancados ou controlados pelo
empreendedor;
• Solos e águas poluídos pelo derramamento proposital ou acidental de
combustíveis, óleos, graxas, asfaltos ou outros produtos perigosos utilizados durante
a implantação ou operação da rodovia;
• Paisagem danificada no interior da faixa de domínio;
• Pessoas acidentadas na rodovia devido à falta, à deterioração ou mesmo ao
encobrimento da sinalização pela vegetação, ou pelas condições da rodovia.
Os passivos de origem externa ou exógenos, por sua vez, são os induzidos pela
implantação da rodovia. Em geral, são ocasionados por um terceiro, ao qual pode-se
imputar a responsabilidade quando comprovado o nexo causal. No caso de não se
identificar o autor do dano, entretanto, a responsabilidade recai sobre o
empreendedor, pois é sua função zelar pelo patrimônio público para que sejam
evitados esses tipos de degradação. Na maioria das vezes é necessária uma ação
coordenada entre o órgão gestor e outros órgãos da administração pública (por
exemplo: a justiça, os órgão estaduais e municipais de meio ambiente, vigilância
sanitária, a polícia rodoviária, as prefeituras, etc.) para a recuperação do passivo
deste tipo.
São exemplos de passivos ambientais exógenos:
• Depósitos de lixo no interior da faixa de domínio efetuados por terceiros;
• Acessos e caminhos às rodovias abertos por proprietários rurais que
provocam grande aporte de sedimentos para as rodovias, colocando em risco os
usuários e deteriorando o pavimento;
62
• Solos e mananciais hídricos contaminados pelo derramamento de cargas
perigosas transportadas pela rodovia;
• Processos erosivos induzidos por moradores de áreas lindeiras à rodovia;
• Água contaminada pelo uso inadequado de defensivos e adubos agrícolas por
moradores de áreas adjacentes à rodovia.
O Manual de Informações Ambientais Básicas para Obras Rodoviárias do
Departamento de Edificações, Rodovias e Transportes do Espírito Santo (DERTES,
p.62, 2002) redigido a partir de duas outras publicações, o Manual de Conservação,
Monitoramento e Controle Ambientais do DNIT e o Manual de Instruções Ambientais
para Obras Rodoviárias do DER/PR, teve por objetivo agregar os conhecimentos
multidisciplinares e interinstitucionais sobre a questão ambiental em obras
rodoviárias.
Segundo o referido Manual, os passivos ambientais são ordenados em duas
grandes categorias, agregados em dois grupos para cada uma, conforme sua
origem e localização.
A primeira categoria corresponde às ocorrências decorrentes da construção e da
operação da rodovia, refletindo deficiências de projeto ou da conservação do corpo
estradal, conforme os grupos a seguir:
Grupo I – ocorrências internas à faixa de domínio, que interferem ou tenham
potencial para interferir com o corpo estradal, ou estejam em evolução para áreas
adjacentes;
Grupo II – ocorrências externas à faixa de domínio, em antigas faixas de apoio
(acampamentos, usinas, jazidas, caixas de empréstimos, bota-foras) utilizadas na
implantação da rodovia, que interfiram ou tenham potencial para interferir com a
rodovia ou comunidades lindeiras e sejam passíveis da retomada da utilização e ou
exploração.
A segunda categoria corresponde às ocorrências derivadas das ações antrópica,
em áreas de uso rural e áreas urbanas, conforme grupos a seguir:
Grupo III – ocorrências geradas por terceiros, em áreas adjacentes à faixa de
domínio, que interferem ou tenham potencial para interferência no corpo estradal;
Grupo IV – ocorrências geradas pela ocupação urbana consolidada ou por
modificações do uso e ocupação do solo urbano, com potencial de interferência
63
sobre as condições de segurança de tráfego aos usuários e comunidades
residentes.
4.3 CARACTERIZAÇÃO DO PASSIVO AMBIENTAL ASSOCIADO À OPERAÇÃO
RODOVIÁRIA
Para que se configure um passivo ambiental deve-se verificar a presença de
dois aspectos: o primeiro, refere-se a existência de uma fonte de poluição
decorrente de alguma forma de energia ou da emissão de resíduos sólidos, líquidos
ou gasosos e, o segundo, caracteriza-se pela afetação de um recurso natural (ar,
água, solo, clima e paisagem) numa área considerada sensível. (FERREIRA, p.43,
2003)
São áreas sensíveis de uma rodovia as áreas de proteção e preservação como
reservas biológicas, florestais e indígenas, sítios históricos, arqueológicos e
paleontológicos, reservas de recursos naturais para uso futuro ou uso alternativo
como mananciais hídricos e reservas minerais, áreas em processo de degradação
natural como áreas urbanizadas e áreas abandonadas, áreas de interesse social
como parques, praças, escolas e hospitais e, por último, áreas com a presença de
conflitos sociais como posses de terra, comunidades carentes e garimpos. (BELLIA
e BIDONE, p.78, 1993)
Como o passivo ambiental associado à operação de uma rodovia deve ser
recuperado, faz-se necessário conhecer o mesmo. Levantar o passivo ambiental de
um empreendimento significa identificar e/ ou prever e caracterizar os efeitos
ambientais adversos, de natureza física, biológica e antrópica, provocados pela
construção, operação, manutenção, ampliação ou desmobilização de um
empreendimento ou organização produtiva.
Para a realização de um levantamento de passivo ambiental devem ser
desempenhadas algumas atividades básicas. Estas atividades são:
1. Definição da área de influência a ser estudada.
2. Caracterização ambiental detalhada da área de influência do empreendimento
que permita a obtenção de segmentos homogêneos, em termos de fragilidade
ambiental da região e de suas condições em termos de ocupação humana, sendo
importante, o estabelecimento de uma equipe interdisciplinar que inclua, além de
engenheiros civis, geólogos, hidrólogos, geotécnicos e outros profissionais
64
usualmente necessários aos projetos viários, profissionais das áreas de ciências
biológicas, sociais e econômicas.
3. Identificação dos processos de transformação ambiental que deram ou darão
origem ao passivo e com potencial para interferir no corpo estradal, na segurança
dos usuários ou em propriedades contíguas de terceiros.
4. Levantamento detalhado e sistemático de todos os problemas encontrados.
5. Estabelecimento de um quadro que permita identificar claramente os
resultados da interação existente entre o meio natural e a ocupação humana
(conflitos) existentes, com base no levantamento efetuado.
6. Proposição de soluções-tipo para as diversas situações existentes, dentro de
seu contexto ambiental/ social/ ocupacional característico, a partir do
estabelecimento desse quadro.
7. Estabelecimento de ações corretivas e preventivas para cada item de passivo
identificado.
8. Detalhamento de casos particulares, não ou deficientemente incluídos, nas
soluções-tipo.
9. Composição, a partir dos elementos anteriores, de um “(ante)projeto
ambiental” da rodovia que permita, numa primeira fase, uma intervenção corretiva e,
no futuro, o seu gerenciamento ambiental.
10. Orçamento das ações propostas, considerando recursos humanos, técnicos e
logísticos necessários, assim como eventuais serviços de terceiros para
recuperação.
11. Determinação de responsáveis para recuperar cada item do passivo
ambiental.
12. Repetição periódica e sistemática dos levantamentos, visto que o processo é
dinâmico e cada levantamento representa o retrato de um momento, não permitindo
maiores avaliações sobre a evolução do mesmo, bem como sobre a eficácia das
medidas (soluções) propostas.
13. Caso verifique-se que o orçamento disponível para a recuperação do passivo
ambiental é insuficiente, os itens que compõem o mesmo devem ser hierarquizados,
em termos de sua representatividade na atividade fim.
Quando reconhecido um dano ambiental devem ser verificados a sua
sensibilidade natural pelo meio ambiente, a sua temporalidade ou período que
65
afetará as condições iniciais do ambiente, a sua influência no meio e seus
relacionamentos com outros aspectos do meio ambiente.
4.4 COMPONENTES DO PASSIVO AMBIENTAL ASSOCIADO À OPERAÇÃO
RODOVIÁRIA
Conforme salientado anteriormente, poucos serviços são tão essenciais quanto
de transportes. É inimaginável uma sociedade moderna sem os meios e modos de
transportes existentes. No entanto, a presença dos mesmos no cotidiano das
pessoas nem sempre acontece de forma pacífica, sendo, na maioria das vezes,
agressiva ao meio ambiente. (MELLO, p.59, 1996)
O incremento do número de veículos fomenta a utilização das redes viárias, que
com o passar do tempo, transformam-se em fonte de poluição e de deterioração do
ambiente, representando um exemplo típico de ruptura do sistema natural provocado
pelo homem.
Os principais impactos negativos provocados pelo tráfego rodoviário sobre o
meio ambiente e que constituem componentes do passivo ambiental quando não
controlados são: a poluição atmosférica, a poluição sonora, a vibração, a intrusão
visual, os acidentes, a segregação urbana e a perda de espaços verdes.
(BRANDÃO, p.15, 1996)
Surge, então, a necessidade de se gerenciar a operação dos sistemas de
transportes rodoviários de forma a garantir a população um ambiente sadio,
respeitando o conceito de desenvolvimento sustentável, qual seja: “atender às
necessidades presentes sem comprometer a possibilidade das gerações futuras de
atenderem às suas próprias necessidades”.
Cabe ao operador rodoviário além do gerenciamento da via como garantia da
segurança e do conforto dos usuários que nela trafegam, a responsabilidade pela
proteção ambiental, evitando ou mitigando os impactos negativos causados pelas
atividades associadas à operação rodoviária.
A seguir serão apresentados os possíveis componentes do passivo ambiental de
uma rodovia, segundo a sua origem: natural ou antrópica. Cabe ressaltar que não se
trata de uma lista completa e que nem todos os itens mencionados se aplicam de
forma generalizada.
66
4.4.1 COMPONENTES DO PASSIVO AMBIENTAL OU ALTERAÇÕES
AMBIENTAIS DE ORIGEM NATURAL
Os componentes ou alterações de origem natural e que compõem o passivo
ambiental de uma rodovia são provocados pelos processos químicos próprios da
natureza, como a chuva, o vento e o fogo que modificam e conformam o meio
ambiente e que são responsáveis pela oxidação, pela erosão, pelo assoreamento,
pela salinização dos solos e pelos movimentos de massa. Destacam-se os seguintes
componentes desta natureza:
-Processos Erosivos
A erosão do solo caracteriza-se por uma relação de estabilidade entre o grau de
coesão de suas partículas constituintes e as ações exógenas que sobre ele incidem.
Este processo provoca o transporte ou carreamento de partículas, o assoreamento e
colmatação de vales, baixios e corpos d’água conforme se observa na figura abaixo.
FIG. 4.1: Erosão do Tipo Boçoroca FONTE: OIKOS Pesquisa Aplicada S/A, 1998
Os processos erosivos em rodovias decorrem de diversos fatores. O primeiro,
sem dúvida, refere-se à natureza dos solos da região de inserção de uma rodovia,
onde se tem classe de solo mais ou menos suscetíveis à erosão, ou seja, há um
grau de pré-disponibilidade dos solos à ação dos processos erosivos.
A indução de processos erosivos ocorre em todas as etapas da vida útil de uma
67
rodovia, embora a sua manifestação seja mais evidenciada durante a construção,
onde as superfícies expostas temporariamente ficaram sujeitas às ações das
intempéries.
Na etapa de operação e conservação, as superfícies dos taludes, embora
protegidas, sofrem processos erosivos contínuos, requerendo a necessidade
permanente de manutenção e conservação.
-Assoreamentos
Os processos de assoreamento são uma seqüência dos processos erosivos e,
assim como estes últimos, constituem processos físicos permanentes e espontâneos
do ambiente que podem ou não ser acelerados por intermédio de meios e agentes
externos.
Ao se induzir a erosão criam-se, automaticamente, as condições para
aceleração dos processos ou acúmulo de sedimento em uma dada área, por força
da perda de energia de transporte destes.
O assoreamento normalmente ocorre em baixos topográficos, talvegues, calhas
dos córregos, rios, lagos, lagoas e baías pelo acúmulo de material sólido
provenientes de uma ou mais áreas fontes.
Manifesta-se em todas as etapas da vida útil de uma rodovia. No entanto, na
etapa de construção são observáveis os maiores índices de indução de processos
de assoreamento provocados pelas simplificações ambientais decorrentes de
desmatamentos, exploração de recursos naturais e outros processos já citados.
Na etapa de operação e conservação, a indução do assoreamento é reduzida,
uma vez que, pelo menos em tese, com a entrega da rodovia ao público usuário, as
áreas potencialmente geradoras de material particulado devem estar reabilitadas.
-Movimentos de Massa
Consistem na movimentação de solos e rochas, normalmente provenientes de
encostas e taludes, podendo ocorrer em qualquer etapa de uma rodovia. No entanto,
é mais evidente na etapa de operação e conservação, uma vez que, nas demais
fases construtivas, a probabilidade de ocorrência é bem mais reduzida, sendo as
ações corretivas imediatas.
68
FIG. 4.2: Queda de Blocos
FONTE: www.rio.rj.gov.br
4.4.2 COMPONENTES DO PASSIVO AMBIENTAL OU ALTERAÇÕES
AMBIENTAIS DE ORIGEM ANTRÓPICA
Os componentes ou alterações antrópicas associados ao passivo ambiental de
uma rodovia são aqueles provocados pelo homem no ambiente e que afetam o
clima, a paisagem, as características do ar, da água e do solo, gerando
perturbações nos sistemas vivos (a fauna e a flora, sem se esquecer das
comunidades antrópicas).
Os principais componentes antrópicos ou artificiais relacionados à operação
rodoviária são descritos a seguir:
-Degradação do Solo
Consiste na variação da reação normal do solo, por acomodação à presença das
cargas constituintes das obras que sobre ele são implementadas, bem como que
sobre ele são atuantes.
Este fenômeno ocorre em função das características do embasamento,
sobretudo o constituído de materiais argilosos, tufas, talus, sobre os quais são
efetuadas as fundações das obras. Este tipo de solo, por não possuir o suporte
adequado, responde de forma diferenciada ao peso dos materiais sobre ele
instalados (equipamentos rodoviários) e atuantes (veículos em geral).
A variação da qualidade do solo decorre da presença de elementos, substâncias
químicas não ocorrentes, em quantidade e qualidade, na sua conformação original.
69
No caso específico das rodovias, a qualidade do solo sofre, sobretudo, com a
operação de equipamentos de apoio à construção e manutenção das vias, além dos
acidentes com cargas perigosas ao longo da via.
Na etapa de construção os processos incidentes sobre a qualidade do solo estão
associados à operação da central de britagem; operação da usina de asfalto;
operação da central de concreto; movimentação de veículos de apoio; resíduos dos
canteiros de obras, acampamentos, vilas residenciais e esgotos domésticos,
sobretudo os provenientes das vilas livres.
FIG. 4.3: Avaria na Via por Degradação do Solo
FONTE: www1.ci.uc.pt
Na etapa de operação e conservação, a contaminação dos solos é mais
atenuada, mas merecem atenção os efeitos ocasionados por derramamento de
carga perigosa nas rodovias.
Na etapa de restauração, a variação da qualidade do solo poderá ser mais
evidente nos casos de mudanças de traçado ou duplicação de pista, apresentando
os mesmos processos e causas da etapa de construção.
No caso específico de rodovias, observam-se os efeitos do recalque diferencial
por meio das ondulações evidentes no “greide” que normalmente se ampliam com a
operação da rodovia.
-Processos Erosivos de Natureza Antrópica
A indução antrópica de processos erosivos, notadamente as ações de preparo
de terreno para receber os equipamentos rodoviários são provocados pelas
70
atividades de desmatamento, limpeza do terreno, raspagem do solo, cortes,
desmontes, aterros, jazidas e caixas de empréstimo, trilhas, acessos e caminhos de
serviço, operação de máquinas e equipamentos, enfim, pelas ações que determinam
interferências nos ecossistemas afetados pela futura rodovia. As figuras abaixo
mostram exemplos de processos erosivos de origem antrópica
FIG. 4.4: Erosão com Interferência na Via
FONTE: OIKOS Pesquisa Aplicada S/A, 1998
FIG. 4.5: Assoreamento de Bueiro FONTE: OIKOS Pesquisa Aplicada S/A, 1998
-Variação da Qualidade da Água
Consiste na alteração das propriedades físicas e químicas da água, causada
71
pelo aporte de materiais sólidos e líquidos, orgânicos e inorgânicos. Esta alteração
se manifesta em todas as etapas da vida útil da rodovia.
Na etapa de construção, a variação da qualidade da água de mananciais
decorre da geração de particulados, de processos erosivos, do aporte de carga
orgânica, sobretudo lixo e efluentes domésticos e da deposição de elementos
químicos presentes nos gases emitidos por equipamentos em geral.
Na etapa de operação e conservação, muitas das fontes geradoras de poluentes
e contaminantes já não estão operando, entretanto, as águas podem ser poluídas
pelos acidentes com o transporte de cargas tóxicas e perigosas, inclusive resíduos.
A presença de canteiro administrativo e canteiro industrial demandam a
implantação de infra-estrutura de saneamento básico, uma vez que a sua operação
acarreta a geração de efluentes e resíduos, de deverão ser tratados e dispostos de
maneira adequada conforme os procedimentos determinados pela legislação
pertinente ou por determinação do órgão ambiental responsável pelo licenciamento
ambiental da atividade.
-Variação da Qualidade do Ar
A variação da qualidade do ar decorre da presença de elementos, substâncias e
partículas não ocorrentes, em quantidade e qualidade, na sua conformação original.
No caso específico das rodovias, a qualidade do ar sofre, sobretudo, os efeitos da
geração de particulados de emissão de gases e odores.
Na etapa de construção os processos incidentes sobre a qualidade do ar estão
associados à geração de particulado na operação de máquinas e equipamentos de
terraplenagem, operação de máquinas e equipamentos de pavimentação, operação
de máquinas e equipamentos e utensílios para a exploração de jazidas, operação da
central de britagem, operação da usina de asfalto, operação da central de concreto,
movimentação de veículos de apoio e a emissão de gases provenientes (i) da
operação das usinas de asfalto, (ii) da emissão de motores à explosão, (iii) de
resíduos sólidos dos canteiros de obras, acampamentos e vilas residenciais, e (iv)
de esgotos domésticos, sobretudo os provenientes das vilas livres.
Na etapa de operação e conservação, os particulados e os odores são
decorrentes do transporte de resíduos e rejeitos mal acondicionados, de acidentes
no transporte de produtos tóxicos e perigosos e do próprio fluxo de veículos.
Na etapa de restauração, a variação da qualidade do ar poderá ser mais
72
evidente nos casos de mudanças de traçado ou duplicação de pista, apresentando
os mesmos processos e causas da etapa de construção.
-Extinção de Diversidades de Fauna e de Flora
Consiste na variação da abundância e diversidade da fauna e da flora por
atividades como: desmatamentos (FIG. 4.6), cortes e aterros e interrupções de
corredores ecológicos. Esta modificação ocorre especialmente na etapas de
implantação, porém também acontece em menor grau durante a operação da
rodovia.
FIG. 4.6: Desmatamento da Faixa de Domínio
FONTE: www.mma.gov.br
-Intrusão Visual
São alterações verificadas no ambiente provocadas pela presença de áreas
exploradas (FIG. 4.7), taludes de corte e aterro, pontes, viadutos, instalação de
sinalização, praças de pedágios e outros, criando uma paisagem agressiva para os
usuários da rodovia, bem como, para os moradores lindeiros.
FIG. 4.7: Pedreira Abandonada FONTE: www.pedreirabandeirantes.com.br
73
Da análise das áreas a reabilitar tem-se a definição da cobertura vegetal a ser
utilizada. As técnicas mais usuais de reintrodução de cobertura vegetal são a
hidrossemeadura, o plantio de grama em placas (enleivamento) ou em mudas, o
plantio de árvores e arbustos em covas e a aplicação de “mixer” de leguminosas.
-Ocorrência de Vetores ou Agentes Etiológicos
A indução à ocorrência de doenças infecto-contagiosas está vinculada ao
processo de migração espontânea do contingente populacional atraído por novas
oportunidades de trabalho e de trabalhadores trazidos pelas empreiteiras, oriundos
de outras regiões do país, sem que haja um controle sanitário adequado e um
processo de triagem dos ingressos.
A ausência de uma rotina de triagem favorece e aumenta as possibilidades de
disseminação de doenças infecto-contagiosas na região de influência da rodovia.
Este processo acontece mais fortemente na etapa de implantação da rodovia. Já na
etapa de operação e conservação, o transporte de pessoas e animais (doentes ou
não) acontece de forma não controlada, proporcionando condições para a indução
de ocorrência de doenças. Vazadouros de lixos e outros detritos, áreas com
empoçamentos de água, fossas e valões, tornam-se focos de proliferação de vetores
como se observa na Figura 4.8.
FIG. 4.8: Depósito Irregular de Lixo
FONTE: www.uol.com.br
-Acidentes
Os riscos de acidentes de tráfego estão associados ao incremento na circulação
de veículos nas rodovias e vias locais, à falta de sinalização, às más condições das
74
rodovias, etc. O número de pessoas que morrem e se ferem em acidentes a cada
ano representa mais do que uma Guerra como a do Vietnã. Considerando-se que a
maior parcela das vítimas faz parte da população economicamente ativa do País, o
prejuízo direto e indireto causados por estes acidentes e mortes é incalculável
devendo-se considerar, ainda, o impacto psicológico decorrente dos mesmos. A
figura a seguir mostra um acidente ocorrido em uma rodovia federal brasileira.
FIG. 4.9: Acidente com Ônibus
FONTE: www.unicarioca.edu.br
-Ruídos, Vibrações e Particulados
Os ruídos e particulados (partículas finas e grosseiras) são causados pelos
processos de manutenção e restauração, bem como pelo tráfego de veículos na
rodovia. As principais fontes geradoras de ruídos e vibrações associados a uma
rodovia são: as máquinas e equipamentos de terraplenagem; as máquinas e
equipamentos de pavimentação; as máquinas, equipamentos (FIG. 4.10) e os
veículos que utilizam a rodovia.
FIG. 4.10: Operação de Maquininas em Área Residêncial
FONTE: www.sobral.ce.gov.br
75
Os impactos negativos ao meio ambiente provocados pelas diversas atividades
relacionadas à operação de rodovias serão apresentados na forma de tabelas como
a seguir:
TAB. 4.1 IMPACTOS AMBIENTAIS DA OPERAÇÃO RODOVIÁRIA
IMPACTOS AMBIENTAIS ASSOCIADOS À OPERAÇÃO DA RODOVIA
IMPACTOS CAUSAS PROVÁVEIS MEDIDAS MITIGADORAS
Degradação do uso do solo; erosões; assoreamento;
inundações e represamentos
Exploração de ocorrência de materiais de construção; abandono de áreas usadas provisoriamente
sem limpeza/ recuperação; falta de recuperação ambiental de áreas exploradas; alteração de uso do solo nas bacias interceptadas;
bota-fora inadequado de materiais removidos; entupimento dos
dispositivos de drenagem; falha nos projetos da drenagem e/ ou na
implantação dos dispositivos previstos
Recuperar as áreas exploradas durante a construção; dar destino adequado aos materiais removidos; manter dispositivos de drenagem limpos; executar as obras de drenagem conforme projetos; executar obras de drenagem complementares
Incêndios
Acúmulo de lixo e restos de vegetação; uso de queimadas para eliminar a vegetação dos taludes;
queimadas provocadas em propriedades lindeiras
Estabelecer rotina de coleta de lixo e de restos vegetais e dispô-los adequadamente; evitar queimadas; manter aceiro na faixa de domínio
Poluição das águas superficiais e subterrâneas
Despejo de graxas, óleo, lixo e materiais removidos em locais
inadequados
Estabelecer e aplicar normas e dispositivos necessários para que os efluentes ou resíduos não poluam o ambiente
Ruídos e vibrações em áreas habitadas
Tráfego rodoviário e operações e movimentação de maquinismos
para a realização de obras
Não trabalhar em horários noturnos; instalar equipamentos de britagem e de usinas misturadoras afastadas de áreas habitadas
Poluição do ar próximo a áreas habitadas
Poeiras e fumaça oriundas do tráfego rodoviário ou da operações
e movimentação de maquinismos para a realização de obras
Utilizar filtros de pó em britadores e usinas; manter os trechos de estrada não pavimentados umedecidos durante o período de uso; optar pela instalação de britadores e de usinas de asfalto longe de áreas habitadas, de hospitais e escolas
Escorregamento de taludes e encostas; quedas de pedras
Deficiência no projeto/ construção; desmatamento
excessivo; incêndios em vegetação de proteção de taludes e encostas;
deficiência de conservação e manutenção de sarjetas e valetas
Elaborar e executar projetos corretamente; reflorestar encostas; manter a faixa de domínio limpa; evitar ocupação desordenada das encostas próximas à faixa de domínio
Proliferação de vetores indesejáveis (ratos, répteis,
mosquitos, baratas etc)
Deficiência na limpeza da faixa de domínio; depósito de lixo em
caixas de empréstimo, jazidas, pedreiras etc; deficiência na
drenagem de caixas de empréstimo, jazidas pedreiras etc
Manter faixa de domínio limpa, sem entulhos, restos de construção, excesso de vegetação etc; recuperar áreas exploradas
76
Conflitos nas interfaces da rodovia com áreas de proteção
ambiental
Diretriz e traçado inadequado do ponto de vista ambiental; se a rodovia é anterior à área de proteção, o traçado pode ser considerado com inadequado
atualmente
Estudos de alternativas de traçado visando variantes contornando áreas de proteção; aplicar medidas previstas de restauração; criar barreiras artificiais ou naturais para dificultar o acesso às áreas de proteção
Conflitos com áreas urbanas; surgimento de pontos críticos
Crescimento do tráfego além do previsto pelo projeto; crescimento
da mancha urbana ao redor da rodovia; intensificação de
ocupação rural, criando acessos não regulares à rodovia; acidentes
Estudos de alternativas de traçado visando variantes contornando áreas urbanas; afastamento de rodovias de áreas conflitantes (hospitais, escolas etc); implantação de dispositivos de controle de velocidade e segurança; estabelecimento de barreiras para impedir ou reduzir as interfaces veículos x pedestres e tráfego rodoviário x urbano; dimensionar trevos e interseções projetando tráfego para o futuro; cadastrar acessos dentro dos critérios de segurança necessários; criar vias coletoras laterais
IMPACTOS AMBIENTAIS ASSOCIADOS ÀS OBRAS RODOVIÁRIAS
IMPACTOS CAUSAS PROVÁVEIS MEDIDAS MITIGADORAS
INSTALAÇÕES DE CANTEIROS DE OBRAS E DESMOBILIZAÇÃO
Geração de doenças e proliferação de vetores como ratos, mosquitos
etc
Escassez de água; sistema de coleta de efluentes sanitários
deficientes; falta de controle na disposição de lixo; má escolha da
área para instalação do acampamento; limpeza e
conservação deficientes do acampamento; superpopulação no
acampamento
Escolha de local adequado para o acampamento; dimensionamento correto do acampamento, evitando superpopulação, falta d'água etc; controle da emissão de efluentes e disposição de lixo; conservação das áreas ocupadas, inclusive pontos de capturação de água e disposição de lixo
Poluição das águas superficiais e subterrâneas
Despejo de graxas, óleos, esgotos sanitários e lixo em locais
inadequados; vazamentos de combustíveis, lubrificantes etc
Estabelecer nos contratos de construções, a exigência dos dispositivos e ou cuidados necessários para que efluentes ou resíduos não poluam o ambiente
Ruídos e vibrações Funcionamento/ operação de máquinas e equipamentos nos
canteiros e acampamentos
Evitar instalações próximas de aglomerados urbanos
Degradação das áreas utilizadas com as instalações e canteiros
Abandono da área sem recuperação; abandono de sobras
de materiais de construção, equipamentos ou partes de
equipamentos inservíveis, ou de instalações; falta de recuperação e
limpeza das áreas usadas para instalação de usinas e pedreiras
Exigir a limpeza total do canteiro de obras após a conclusão das obras; exigir a recuperação das áreas utilizadas/ ocupadas durante o período das obras
77
DESMATAMENTO E LIMPEZA DO TERRENO Erosão na faixa de domínio,
atingindo ou não o corpo estradal; assoreamento de talvegues; escorregamento de taludes e
desmoronamentos
Desmatamento excessivo; limpeza excessiva do terreno
Limitar o desmatamento ao necessário às operações de construção e à proteção do tráfego; limitar a limpeza aos espaços entre "off-sets"
Umidade excessiva na estrada; queda de árvores e troncos Desmatamento insuficiente
Desmatar o suficiente para permitir boa insolação da rodovia e a proteção do tráfego
Incêndios; proliferação de vetores (roedores, insetos etc)
Falta de remoção da vegetação e restos de desmatamento e limpeza
Remoção e utilização ou incineração dos restos da vegetação; reserva do material para re-incorporação ao solo de áreas exploradas durante a construção
ABERTURA DE CAMINHOS DE SERVIÇO
Erosões da estrada e terrenos vizinhos; assoreamento de águas
superficiais Abandono de caminhos de serviço
Demolição das obras provisórias, desimpedindo fluxos e evitando a formação de caminhos preferenciais para a água; recuperação da vegetação nas áreas desmatadas e limpas para a implantação dos caminhos de serviço
TERRAPLENAGEM, EMPRÉSTIMOS E BOTA-FORAS
Acidentes envolvendo trabalhadores e transeuntes
Velocidade excessiva de veículos e equipamentos de obras;
sinalização de obras deficientes; formação de áreas enlameadas e
de nuvens de poeira
Controlar a velocidade de veículos e equipamentos; manter boa sinalização da obra; umedecer vias; garantir boa drenagem
Poluição do ar Nuvens de poeira Umedecer vias, principalmente em passagens por áreas habitadas
Vibrações e ruídos Operação de máquinas em áreas habitadas
Evitar trabalho noturno; controlar a emissão de ruídos das máquinas
Proliferação de insetos (inclusive transmissores de doenças)
Má localização e/ ou drenagem de caixas de empréstimo bota-for a, praça de pedreiras, caminhos de
serviços etc
Localização adequada das áreas; conformação do terreno de modo a não acumular água
Degradação de áreas urbanizadas ou urbanizáveis
Má disposição de bota-fora; utilização de caixa de empréstimo,
jazidas, pedreiras desativadas como depósito de lixo e outros
materiais inertes
Evitar a obtenção de empréstimos, jazidas, pedreiras em áreas urbanizáveis ou urbanizadas; recuperar as áreas exploradas; evitar o uso de áreas exploradas como depósito de lixo e de materiais inservíveis
Erosão e assoreamento
Má disposição de bota-fora; falta de recuperação de áreas
exploradas; execução do conjunto da obra em seqüência
descompassada
Dispor bota-for a em camadas compactadas; recuperar o uso das áreas exploradas; usar materiais de terceira categoria como dissipador de energia na saída de bueiros; especificar e obedecer as defasagens máximas permitidas entre as diversas frentes de serviços
78
DRENAGEM, BUEIROS, CORTA-RIOS E PONTES
Erosões das estradas e terrenos vizinhos; assoreamento de
estruturas e terrenos vizinhos; inundações à montante,
conformação de ambiente favorável à proliferação de
mosquitos e caramujos
Dimensionamento deficiente das obras (sem previsão de alteração
de uso do solo das bacias de captação); entulhamento de talvegues e entulhamento de
bueiros; desvios e captações em condições adversas; aterros
funcionando como barragens em áreas sem controle de vetores que
proliferam em meio aquático
Efetuar prognóstico do uso futuro das bacias de captação para o cálculo das vazões; construir dissipadores de energia nas saídas de bueiros, sarjeta, valetas etc, posicionando-os o mais próximo possível dos talvegues; evitar a formação de poças e piscinas; remover entulhos dos talvegues e das bocas de bueiros
Escorregamento e quedas de pedras
Sistema de drenagem mau dimensionado e/ ou localizado
Projetar a drenagem projetando toda a área de captação que sofrer seus efeitos
EXPLORAÇÃO DE MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO
Degradação de áreas exploradas; áreas abandonadas por
dificuldade de exploração; esgotamento prematuro de fontes
de materiais de construção, exigindo a abertura de novas
frentes de construção; alagamentos, com criação de ambiente com proliferação de
vetores indesejáveis
Falta de recuperação de áreas após o uso; exploração (lavra)
predatória; carreamento e depósito de material erodido; falta de
drenagem projetada antecipadamente
Recuperar áreas exploradas; executar exploração segundo preceito do código de mineração; projetar as explorações prevendo sistema de drenagem; reaproveitar o solo orgânico removido na abertura das explorações de áreas para a recuperação; evitar seqüência executiva descontínua ou descompassada,com grandes extensões entre frentes de trabalho
Intrusão visual; acidentes, inclusive envolvendo os usuários
Mau acabamento dos taludes de corte; remoção incompleta de
material detonado
Exigir acabamento adequado dos taludes; não deixar nenhum material solto ou com poucas condições de sustentação nos taludes
Degradação do uso do solo; erosões; assoreamentos;
inundações e represamentos
Exploração de ocorrências de materiais de construção; abandono
de áreas usadas provisoriamente sem limpeza /recuperação; falta de
recuperação ambiental de áreas exploradas; alteração no uso do
solo nas bacias interceptadas; bota-for a inadequado de materiais removidos; entupimento dos
dispositivos de drenagem; falha nos projetos da drenagem e /ou na implantação dos dispositivos
previstos
Recuperar as áreas exploradas durante a construção; dar destino adequado aos materiais removidos; manter dispositivos de drenagem limpos; executar obras de drenagem complementares
Incêndios
Acúmulo de lixo e de restos de vegetação; uso de queimadas para eliminar a vegetação dos taludes;
queimadas provocadas em propriedades lindeiras
Estabelecer rotina de coleta de lixo e restos vegetais e dispô-los adequadamente; evitar queimadas; manter aceiro na faixa de domínio
Poluição das águas superficiais e subterrâneas
Despejo de graxas, óleo, lixo e materiais removidos em locais
inadequados
Estabelecer e aplicar normas e dispositivos necessários para que efluentes ou resíduos não poluam o meio ambiente
Ruídos e vibrações em áreas habitadas
Operação de máquinas e equipamentos
Não trabalhar em horários noturnos; instalar equipamentos de britagem e de usinas de mistura longe de áreas habitadas
79
Escorregamento de taludes; quedas de pedras
Deficiência no projeto/construção; desmatamento excessivo; incêndios
em vegetação de proteção de taludes e encostas; ocupação desordenada
de encostas; deficiência de conservação e manutenção de
sarjetas e valetas
Elaborar e executar projetos corretamente; reflorestar encostas
Proliferação de vetores indesejáveis (ratos mosquitos etc)
Deficiência na limpeza da faixa de domínio; depósito de lixo em caixas de empréstimo, jazidas, pedreiras etc; deficiência na drenagem de caixas de empréstimo, jazidas e
pedreiras etc
Manter faixa de domínio limpa; evitar ocupação desordenada das encostas próximas à faixa de domínio
Conflitos com áreas urbanas; surgimento de pontos críticos
Crescimento dos tráfego além do previsto pelo projeto; crescimento
da mancha urbana ao redor da rodovia; intensificação de ocupação rural, criando acessos não regulares
à rodovia
Estudos de alternativas de traçado visando variantes contornando áreas urbanas; afastamento das rodovias de instalações conflitantes (hospitais, escolas, etc); implantar dispositivos de controle de velocidade e segurança; estabelecer barreiras para impedir ou reduzir as interfaces veículos x pedestres e tráfego rodoviário x urbano; dimensionar trevos e interseções projetando tráfego para o futuro; cadastrar acessos não regulares à rodovia, projetando novos acessos dentro dos critérios de segurança necessária; criar vias coletoras laterais
TRANSPORTE DE MATERIAIS
Poluição do ar Nuvem de poeira do trânsito Aspergir água permanentemente nos trechos poeirentos, usar lonas nos caminhões
Derramamento de materiais Perda durante o transporte Evitar excesso de carregamento de veículos, cobertura com lonas
Ruídos e vibrações Transporte de materiais próximo à áreas habitadas
Evitar o transporte noturno próximo à aglomerações urbanas, manter máquinas e equipamentos regulados e com silenciadores
FONTE: Departamento de Estradas de Rodagens do Espírito Santos - DERTES
Do exposto, se deduz que os componentes do passivo ambiental provocado pela
operação de uma rodovia são:
• Trechos rodoviários onde tenha sido constatada a necessidade de realização
de obras de qualquer tipo, tanto no corpo estradal quanto nos acostamentos da via;
• Trechos rodoviários onde a freqüência de ocorrências como colisões,
abalroamentos, atropelamentos, etc. seja superior a um valor pré-determinado;
• Áreas localizadas na área de influência direta ou indireta da rodovia que
apresentem níveis de poluição do ar, do solo, das águas, ruído e vibrações
80
superiores aos valores permitidos pela legislação;
• Áreas lindeiras à rodovia invadidas por pessoas ou animais;
• Trechos rodoviários onde a sinalização horizontal ou vertical deva ser
instalada, recuperada ou remanejada;
• Trechos lindeiros à rodovia onde tenham ocorrido depósitos de lixo,
desmatamentos, inundações, represamentos ou incêndios criminosos, cuja
vegetação tenha que ser recuperada;
• Áreas lindeiras ou pertencentes a área de influência da rodovia degradadas
pela utilização de recursos naturais associados à operação da rodovia como
pedreiras, jazidas, bota-foras, etc.
• Modificações agressivas na paisagem provocadas pela rodovia com a
construção de taludes de corte e aterro, pela instalação de placas de sinalização,
por pedreiras desativadas entre outras causas.
4.5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os componentes do passivo ambiental são processos/ alterações complexos
dos compartimentos ambientais, e portanto, faz-se necessário utilizar instrumentos
que os representem de forma clara e objetiva de modo a permitir as respectivas
caracterizações (quantificação/ qualificação).
O conhecimento da composição do passivo ambiental criado durante a
implantação ou associado à operação de uma via é de grande importância no
processo decisório, uma vez que a partir de critérios práticos e objetivos, podem
evitar-se perdas e minimizar-se riscos, adotando-se as medidas necessárias para
identificação das ações de recuperação ambiental.
Assim, a constituição do passivo ambiental e sua conseqüente recuperação são
passos fundamentais para o correto gerenciamento viário. No próximo Capítulo,
passar-se-á à análise de uma proposta de SGA para a operação de rodovias.
81
5 PROPOSTA DE SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL PARA A OPERAÇÃO DE RODOVIAS
Mesmo no mundo primitivo, o homem jamais encontrou em um mesmo lugar, a
oferta que pudesse atender integralmente às suas necessidades de consumo,
tornando obrigatório o deslocamento em busca do sustento.
Tais deslocamentos, no entanto, consomem muita energia e causam impactos
ambientais que afetam de forma significativa a sociedade em geral. Logo, faz-se
necessário estabelecer procedimentos de fiscalização e controle ambiental, para que
se possa alcançar o desenvolvimento sustentável.
Todavia, as definições de gestão e de sustentabilidade ambiental, embora
constituam importantes exortações morais, uma vez que ressaltam a importância do
ambiente e da responsabilidade que a sociedade têm para com a qualidade de vida
das gerações futuras, não apresentam em seu conceito a forma pela qual se deve
construir, na prática, um sistema de gestão ambiental. (TRIGUEIRO, p.20, 2003)
Sendo assim, considerando-se a necessidade de sistematizar os procedimentos
para o gerenciamento ambiental de rodovias, ao longo do presente Capítulo, após
breves considerações iniciais, apresenta-se as etapas de uma proposta de SGA
para a operação do referido modal.
5.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O ambiente interno de uma organização requer segurança, higiene e condições
sanitárias satisfatórias para que seja assegurado o cumprimento da legislação
vigente e mantidos os princípios sadios de uma política avançada. Muito tem sido
feito nesta direção, entretanto, a qualidade ambiental em uma organização não se
resume apenas à área ocupada por suas instalações.
Desse modo, para assegurar a qualidade ambiental é também necessário
controlar os reflexos das atividades operacionais sobre o ambiente externo.
“A qualidade ambiental consiste no atendimento aos requisitos de natureza física, química, biológica, social, econômica e tecnológica que assegurem a estabilidade das relações ambientais no ecossistema da organização.” (VALLE, p.37, 2002)
82
Logo, a fim de alcançar a qualidade ambiental, a organização deve planejar a
implementação de diretrizes, bem como deve também realizar as modificações
necessárias nos seus processos internos que permitam atingi-la. Compete, então, à
organização definir em sua estratégia os padrões de qualidade que pretende impor a
seus produtos, serviços e atividades.
Assim sendo, a execução de um Sistema de Gestão Ambiental deve envolver
todos os segmentos da organização na busca de soluções e na definição de
estratégias adequadas para assegurar a proteção e a integridade do ambiente, por
meio da implementação de atividades operacionais que visem o aproveitamento
eficiente dos recursos disponíveis e permitam que seja assegurada a qualidade
ambiental.
Um bom exemplo desse envolvimento ocorre no Brasil com a ECOVIAS,
primeira concessionária de rodovias do mundo a obter um Certificado de Gestão
Ambiental ISO 14000, estando responsável por operar o Sistema Anchieta -
Imigrantes, complexo rodoviário que corta boa parte do Parque Estadual da Serra do
Mar, expressiva reserva remanescente da Mata Atlântica.
5.2 PROPOSTA DE SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL PARA A OPERAÇÃO DE
RODOVIAS
Com base nos conceitos e atividades apresentados nos capítulos anteriores
apresenta-se, a seguir, as etapas que constituem a proposta de sistema de gestão
ambiental para a operação de rodovias:
ETAPA 1. Dividir a rodovia, dentro do possível, em trechos com características
ambientais homogêneas de aproximadamente 30 Km, conforme a recomendação do
documento Procedimentos Básicos para Operação de Rodovias (DNIT, p.15, 1997),
para facilitar a implementação do SGA;
ETAPA 2. Definir responsabilidades e cronograma de vistoria dos referidos
trechos, buscando o envolvimento de todos os segmentos da organização na busca
de soluções e estratégias adequadas para assegurar a qualidade ambiental e o
aproveitamento eficiente dos recursos disponíveis na implementação das atividades
de prevenção, remediação, recuperação e educação ambiental.
83
ETAPA 3. Vistoriar os trechos caracterizando-se suas áreas sensíveis e
levantando-se dados necessários à composição de informações úteis para a
elaboração de indicadores ambientais (os quais poderão ser extraídos do EIA da
rodovia). Caso a mesma não possua tal documento, devem ser realizados estudos
abordando os mesmos aspectos para a elaboração de um EIA, quais sejam:
descrição geral e técnica do empreendimento, apresentação dos planos e
programas governamentais co-localizados, compilação da legislação relacionada ao
empreendimento, definição das áreas de influência direta e indireta, diagnóstico
ambiental dos meios físico, biótico e antrópico, identificação e avaliação dos
impactos ambientais decorrentes da operação do empreendimento, bem como
elaboração de planos e programas ambientais. (VERDUM e MEDEIROS, 1995)
ETAPA 4. Analisar as condições ambientais da região, o histórico da rodovia em
estudo e de rodovias em condições semelhantes, de modo a estabelecer padrões
ambientais a serem respeitados já que é da competência da organização definir em
sua estratégia os padrões de qualidade que pretende impor a seus produtos,
serviços e atividades. Esses padrões podem até mesmo ser mais rigorosos do que
as normas em vigor e antecipar-se à legislação, como parte da Política Ambiental da
Organização. (VALLE, p.40, 2002)
ETAPA 5. Comparar os dados obtidos na etapa 2 com os padrões definidos na
etapa 3. Caso os dados levantados ultrapassem os limites considerados aceitáveis,
tem-se um item do passivo ambiental que deverá ser recuperado sob pena de
atuações externas na forma de multas;
ETAPA 6. Orçar a recuperação dos itens que compõem o passivo ambiental.
Considerando que as obras que constituem a recuperação ambiental são obras de
engenharia, não há dificuldades em que técnicos da própria organização sejam
aproveitados na realização desta tarefa;
ETAPA 7. Planejar a recuperação, levando-se em consideração os impactos
ambientais e as medidas mitigadoras associadas. Levantar os custos associados às
medidas mitigadoras a serem implementadas, definir um cronograma de execução e
um responsável por sua implementação.
84
ETAPA 8. Levantar periodicamente as características da operação rodoviária de
modo a monitorar e controlar a efetividade das medidas mitigadoras propostas bem
como a ocorrência de novos impactos ambientais de forma a garantir a melhoria
contínua do processo.
Cabe ressaltar que para garantir o sucesso do sistema proposto deve-se
considerar outros aspectos abordados ao longo desta dissertação, quais sejam: os
passivos ambientais associados as atividades operacionais da rodovia e os padrões
a serem alcançados pelos indicadores ambientais definidos a partir da
caracterização das áreas sensíveis ao longo da rodovia.
5.3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A implementação de um sistema de gestão ambiental para rodovias visa, dentre
outros aspectos, fiscalizar e controlar os impactos causados pelas atividades que
integram a operação rodoviária, a partir do gerenciamento do passivo ambiental
introduzido no Capítulo anterior.
Pode-se observar que a etapa mais complicada na implementação do sistema
proposto consiste na elaboração de ferramentas eficientes para a avaliação e
acompanhamento dos componentes do passivo ambiental. A forma proposta nesta
dissertação é o uso de indicadores ambientais que serão introduzidos no próximo
Capítulo.
85
6 INDICADORES AMBIENTAIS PARA O TRANSPORTE RODOVIÁRIO
“Um dos principais desafios da construção do desenvolvimento sustentável é o
de criar instrumentos de mensuração, tais como indicadores ambientais, que são
instrumentos essenciais para guiar a ação e subsidiar o acompanhamento e a
avaliação do progresso alcançado rumo ao desenvolvimento sustentável.” (IBGE,
p.11, 2002).
Neste Capítulo introduzem-se conceitos de indicadores ambientais, suas
características, tipos existentes, orientações para sua geração, seleção e análise.
No final, apresenta-se uma proposta de indicadores ambientais relacionados à
operação rodoviária, úteis para avaliar quantitativa ou qualitativamente o passivo
ambiental provocado pela operação deste serviço.
6.1 INTRODUÇÃO A INDICADORES AMBIENTAIS: ANTECEDENTES
HISTÓRICOS
Na década de 70, os indicadores ambientais foram utilizados pela primeira vez
para o acompanhamento de Relatórios sobre o Estado do Ambiente de governos e
organizações internacionais.
Em 1989, uma reunião de cúpula do G-7 solicitou à Organization for Economic
Cooperation and Development - OECD que desenvolvesse um conjunto básico de
indicadores ambientais. Em seguida, a Conferência Rio-92 e a Agenda 21
ressaltaram a necessidade de desenvolvimento de indicadores ambientais em um
novo patamar de integração às demais dimensões do desenvolvimento sustentável.
O governo holandês desenvolveu iniciativa pioneira no desenvolvimento de
indicadores capazes de fornecer meios para avaliar os resultados da implementação
do então novo Plano de Política Ambiental Nacional Holandesa (NEPP), publicado
em 1989.
O World Resources Institute - WRI envolveu-se com a pesquisa para o
desenvolvimento de indicadores ambientais no início dos 90. Com a colaboração do
governo holandês, publicou o relatório denominado .Environmental Indicators: A
Systematic Approach to Measuring and Reporting on Environmental Policy
Performance in the Context of Sustainable Development, o qual apresentou um
86
modelo conceitual das interações humanas com o ambiente, a partir dos conceitos
clássicos das funções que o meio ambiente desempenha em relação à economia.
O relatório do WRI apresenta, dentre outros, o framework Pressão-Estado
Resposta (PSR), originalmente proposto pelo governo canadense e adotado
internacionalmente a partir do emprego e divulgação pela OECD. Este framework
objetiva apresentar informações acerca do que está acontecendo com o meio
ambiente e com a base de recursos naturais (indicadores de estado) sobre as
razões que justificam tais ocorrência (indicadores de pressão) e sobre a descrição
do que está sendo feito a respeito (indicadores de resposta).
O Conselho da OECD aprovou em 1991 uma Recomendação sobre Indicadores
e Informação Ambiental, instruindo ao Comitê de Política Ambiental para
desenvolver conjuntos de indicadores ambientais de fácil entendimento e
mensuração e relevantes para a avaliação de políticas.
Em 1993 o Grupo em Estado do Ambiente realizou uma série de seminários
apresentando o framework conceitual e o conjunto final de indicadores. Este
conjunto e o documento conceitual publicado pelo Grupo (OECD, 1993) tornaram-se
clássicos e passaram a orientar várias organizações no desenvolvimento de
indicadores. Um exemplo é a sua utilização pela Organização das Nações Unidas na
publicação regular de Relatórios de Avaliação da performance das políticas
ambientais dos países membros.
Em sua terceira sessão, em 1995, a Comissão em Desenvolvimento Sustentável
das Nações Unidas (UNCSD), atendendo ao chamado da Agenda 21, Capítulo 40,
aprovou o programa de trabalho para a elaboração de Indicadores do
Desenvolvimento Sustentável. Revisão final do trabalho foi publicada em 1996
(UNCSD, 1996) sob o título "Indicators of Sustainable Development: Framework and
Methodologies".
Segundo FIDALGO (p.3, 2003), “por serem abrangentes, os indicadores
ambientais são utilizados como indicadores de desenvolvimento sustentável.”
Porém, ainda de acordo com FIDALGO, o uso de indicadores ambientais como
indicadores de desenvolvimento sustentável requer uma adaptação ou reavaliação
pois pode apresentar lacunas em relação a aspectos econômicos e sociais
necessários à análise do desenvolvimento sustentável, ou ainda, pode realçar
aspectos de menor importância.
No Brasil, o IBGE iniciou projeto para a produção dos indicadores de
87
sustentabilidade no país, segundo a metodologia da UNCSD. Ao todo são
compatibilizados 59 indicadores (20 sociais, 19 ambientais, 14 econômicos e 6
institucionais) de acordo com a divisão em temas e sub-temas do conjunto núcleo
proposto pela UNCSD.
Em linha com as iniciativas das demais organizações internacionais, o Banco
Mundial também desenvolveu intensa atividade no campo dos indicadores de
sustentabilidade, focada na elaboração e uso de indicadores que possibilitem a
avaliação da performance ambiental dos projetos de desenvolvimento por parte dos
países tomadores de empréstimos.
Atualmente, os esforços concentram-se em aprimorar as estruturas e métodos
de análise da grande quantidade de informação proporcionada por conjuntos de
indicadores cada vez mais numerosos e específicos.
Embora o framework PSR continue sendo utilizado para a avaliação de políticas
setoriais com reflexos sobre o Meio Ambiente, torna-se necessário agregar outros
indicadores através da inclusão de mais duas categorias. Assim, teve origem a
estrutura denominada Força-Motriz/ Pressão/ Estado/ Impacto/ Resposta (Driving
Force/ Pressure/ State/ Impact/ Response - DPSIR). Esta estrutura foi utilizada e
vem sendo objeto de aprimoramento por parte da European Environmental Agency
(EEA) na elaboração dos dois relatórios de avaliação do ambiente europeu.
Em 1997, a EEA estabeleceu um grupo de trabalho com a incumbência de
preparar diretrizes e abordagens uniformes a empregar na elaboração desses
relatórios (Expert Group on Guidelines and the State of the Environment Reporting).
Coerente com a evolução do processo de elaboração de relatórios SOE,
observou-se recentemente a operacionalização de ferramentas de preparação e
divulgação destes relatórios através da Internet. O United Nation Environmental
Program (UNEP) desenvolveu o relatório Cities Environment Reports on the Internet
(CEROI) que fornece uma biblioteca de indicadores e recursos de software para a
edição de textos, gráficos, mapas e fotos, além de hospedar o relatório no próprio
site. A biblioteca de indicadores reunida no CEROI engloba um total de 90
indicadores selecionados pela equipe do programa a partir dos conjuntos de
indicadores desenvolvidos por outras organizações internacionais.
Assim, observa-se que o tema indicadores ambientais passou por uma forte
evolução nos últimos 12 anos, tendo sido inserido nos processos de decisão
participativos e integrados, levando à ampliação e diversificação da gama de
88
usuários e dos objetivos.
Além do estudo dos antecedentes históricos que precederam a utilização dos
indicadores ambientais e que fizeram com que fossem adotados não só na esfera
governamental mas também na esfera organizacional, faz-se necessário ainda
analisar as fases que caracterizaram o desenvolvimento dos indicadores ambientais
que serão apresentadas no próximo tópico.
6.2 EVOLUÇÃO DOS INDICADORES AMBIENTAIS
O desenvolvimento dos indicadores ambientais se deu em três fases: a da
departamentalização do conhecimento, a da agregação de variáveis e a da análise
dos resultados. (MAIA, MARTOS e BARELLA, p.18, 2001)
Na primeira fase, os indicadores ambientais basearam-se em variáveis de
naturezas físicas, químicas ou biológicas consideradas importantes para descrever o
objeto (indicadores primários).
Na fase de estruturas de agregação de variáveis (somatórios, produtórios,
médias aritméticas, geométricas, harmônicas, etc.) os indicadores foram utilizados
não apenas para aglutinar informação de uma mesma natureza, mas também para
estabelecer algumas metodologias para congregar variáveis de diferentes espécies
(indicadores secundários). Desta forma produzem-se resultados que são
interpretados pela comparação com valores estabelecidos como padrões.
Na terceira fase, ao contrário das fases anteriores, em que se tem a produção de
indicadores numéricos que permitem uma interpretação unidimensional (considerado
apenas um aspecto da realidade), a análise dos resultados permite uma apreciação
multidimensional, abordando o problema sob diversos ângulos, permitindo uma
melhor compreensão de fenômenos complexos e, conseqüentemente, o controle de
seus efeitos sobre a natureza.
Assim a possibilidade de agregação da informação permitiu a estruturação de
indicadores em níveis hierárquicos diferenciados, criados para descrever os
elementos sistêmicos característicos e suas inter-relações. Com isso, dependendo
do nível de hierarquia adotado na abordagem sistêmica, indicadores terciários,
quaternários ou até de maior ordem puderam ser estabelecidos (indicadores
multinível).
Ressalta, ainda, Bolmann (in MAIA, MARTOS e BARELLA, p.16, 2001), que
89
ganham força as teorias que buscam um melhor entendimento das relações causais
entre as atividades humanas e seus efeitos na matriz dos recursos naturais. A
natureza apresenta elementos que não podem ser explicados somente pela soma
de suas partes ou seja, baseadas na interdependência dos fenômenos (estudos
reducionistas). É necessária a implementação de novos paradigmas do
conhecimento para que se possa dar um novo salto no conhecimento.
No tópico a seguir serão apresentadas algumas características de indicadores
ambientais a serem utilizadas para avaliação do desempenho ambiental de um
projeto qualquer.
6.3 CARACTERISTICAS DE INDICADORES AMBIENTAIS
Indicadores ambientais são parâmetros cujos valores proporcionam informações
e/ ou tendências das condições dos fenômenos ambientais. (INE, 1997)
Um indicador é algo que ajuda a entender onde se está, em que direção se vai e
qual a distância que separa de onde se quer chegar. (US EPA, 1998).
Diante das definições anteriormente apresentadas, pode-se concluir que um
indicador é uma característica do ambiente cujo valor (qualitativo ou quantitativo)
obtido (direta ou indiretamente) por meio de medidas, observações, estatísticas, etc.,
permite entender como esse processo é modificado (no tempo ou no espaço) pela
ação do homem, que passará a julgá-lo após análise, segundo padrões
estabelecidos.
Desse modo, o uso de indicadores ambientais permite simplificar, quantificar,
analisar e traduzir fenômenos ambientais, de modo a torná-los compreensíveis às
partes interessadas. Possibilita o planejamento e o controle da qualidade de serviços
e processos, pelo estabelecimento de padrões, pela comparação com estes e pela
apuração de desvios ocorridos, viabilizando a análise da qualidade verificada nos
diversos segmentos da organização. (OECD, 1998)
Para CUNHA (p.26, 2001), os indicadores ambientais podem ser classificados
em: indicadores absolutos, que informam os dados básicos sem análise ou
interpretação, indicadores relativos, que comparam os dados com outros
parâmetros, indicadores indexados ao uso de fatores equivalentes, utilizando-se de
bases científicas; indicadores agregados, que coletam dados ou informações do
mesmo tipo, mas de fontes diferentes e descritos como um valor combinado e
90
indicadores ponderados, que mostram a importância relativa de um indicador em
relação a outro.
Existem diversos procedimentos para seleção de indicadores. Os mesmos
apóiam-se em abordagens: causais, orientados pela noção de causa e efeito;
baseados em domínio, estruturados a partir das dimensões chave de
sustentabilidade, ou seja, ambiente, economia e sociedade; baseados em metas,
que partem da identificação das metas, por exemplo, capacidade suporte,
necessidades humanas básicas, bem-estar social, prosperidade econômica,
participação no governo, etc.; setoriais, que definem indicadores para cada setor
sob a responsabilidade do governo, como moradia, saúde, recreação, transporte,
ambiente, desenvolvimento econômico e baseados em assuntos de interesse geral como manejo do lixo, poluição do ar, educação, emprego, etc. (FIDALGO,
p.51, 2003)
Todo indicador está relacionado a sua forma de cálculo (quantitativo ou
qualitativo) traduzido para uma expressão matemática ou lingüística. Na tabela 5.1 a
seguir são apresentadas algumas formas de indicadores ambientais.
TAB. 6.1 TIPOS DE INDICADORES AMBIENTAIS FORMA TÍTULO DEFINIÇÃO
TAXA (N/M) Consumo de Combustível Consumo de combustível / n° de Km rodados
PARÂMETRO (P) Acidentes Número de acidentes
PERCENTAGEM (n/N) Cumprimento de Metas Número de metas cumpridas no prazo / número total de metas
VARIÁVEL LINGUÍSTICA Intrusão visual Muito Agradável, Agradável, Pouco Agradável, Desagradável
FONTE: o autor
Segundo KUHRE (1998), os indicadores ambientais precisam apontar os
aspectos ambientais mais importantes da atividade que, no caso do serviço de
transporte rodoviário são: mobilidade, acessibilidade, conforto e segurança.
Para REIS (1996), as organizações devem utilizar números reduzidos de
indicadores ambientais que sejam relevantes, úteis e de fácil compreensão para
avaliar o desempenho ambiental do empreendimento. Considera, ainda, que os
indicadores ambientais devem ser consistentes com a política ambiental da
organização, práticos e econômicos, tecnologicamente viáveis, objetivos, neutros,
91
verificáveis, reproduzíveis e comparáveis. Devem ainda refletir a natureza das
operações da organização na avaliação de desempenho ambiental.
Assim, por exemplo, para uma organização que realiza predominantemente
obras rodoviárias, é fator crítico para sua capacitação a eficiência de seus
equipamentos, sendo este um fator preponderante na definição de indicadores a
serem elaborados.
Como todo indicador deve ser comparado a um valor denominado padrão para
se avaliar o desempenho sobre o aspecto representado, no item a seguir será
apresentada uma forma de estabelecimento de padrões.
6.4 ELABORAÇÃO DE PADRÕES OU LIMITES AMBIENTAIS
De acordo com o apresentado no item 2.3.1 desta dissertação, para que se
possa elaborar um sistema de gestão ambiental, faz-se necessário, dentre outros
aspectos, percorrer duas etapas denominadas pesquisa e juízo. A pesquisa permite
gerar características para a descrição da realidade e o juízo, por sua vez, permite,
pela comparação dos dados obtidos na pesquisa com um dado padrão, prever o
desempenho da organização.
Considerando-se que a implantação de um SGA pressupõe o comprometimento
com a melhoria contínua, torna-se imprescindível o estabelecimento de critérios e
procedimentos de análise, bem como a definição de padrões a serem alcançados
para que se possa medir e avaliar a eficácia dos resultados obtidos com a
implantação do SGA.
Os padrões podem ser estabelecidos por legislação federal, estadual, municipal
(água, ar, solo e ruído), pela política ambiental da empresa ou podem ser extraídos
a partir da realização de métodos estatísticos primários (cartas de controle e gráficos
seqüenciais), da comparação com referenciais (benchmarking), bem como da
análise de dados históricos.
Em último caso, os padrões podem ainda ser substituídos por uma meta que se
caracteriza por ser um valor pretendido para o indicador, a ser atingida em
determinadas condições estabelecidas no planejamento.
Assim, uma vez tendo sido observado que não há como se avaliar um processo
ou serviço sem que haja critérios estabelecidos e padrões definidos, serão
apresentados a seguir os indicadores associados ao serviço rodoviário, a partir dos
92
quais poder-se-á constituir o passivo ambiental provocado pela operação das vias.
6.5 PROPOSTA DE INDICADORES AMBIENTAIS PARA RODOVIAS
Os indicadores ambientais para a operação de rodovias estão intimamente
ligados com as atividades nelas desenvolvidas e com as alterações por estas
provocadas. Estas alterações foram caracterizadas no item 5.4 desta dissertação.
Além disso, os indicadores ambientais são usados para se ter uma radiografia
da qualidade ambiental e dos recursos naturais, além de avaliar as condições e as
tendências ambientais rumo ao desenvolvimento sustentável.
Desse modo, encontram-se relacionados a seguir indicadores a serem utilizados
para a avaliação dos meios físico (solo, água, ar e clima), biótico (flora e fauna) e
antrópico (homem e seus inter-relacionamentos) considerando-se o serviço
rodoviário. Não se pretende fazer uma lista exaustiva nem particular de indicadores
a implantar, de modo que cada organização interessada em desenvolver um SGA
deverá usar este trabalho como guia para tal, incluindo novos indicadores
pertinentes e excluindo aqueles que não se aplicam para seu caso.
-qualidade da água a ser medida pelo número de coliformes por volume de
água ou pela massa de contaminante por metro cúbico de água ou pela demanda
bioquímica de oxigênio (DBO) dentre outros. Este indicador mede a poluição da
água e está regulamentado pela Resolução CONAMA n° 20/86 que estabelece uma
classificação para as águas doces, salobras e salinas, segundo seus usos
preponderantes e padrões de potabilidade e balneabilidade, segundo os fatores
físicos (µg/ m3, mg/ m3), químicos (pH, DBO, DQO, OD, °C) e biológicos da água
(coliformes fecais/ ml, coliformes totais/ ml). Por meio da utilização deste indicador,
caso os limites estabelecidos para potabilidade e balneabilidade sejam excedidos,
constata-se a existência de riscos para a fauna e a flora, já que demonstram a
ocorrência de eventos tais como: assoreamento, despejo de óleos, graxas,
combustíveis e lixo, contaminação por metais pesados, etc.
-vazão de rios a ser medido pelo volume de água por intervalo de tempo
segundo a estação do ano. Este indicador permite identificar modificações na
drenagem superficial e subsuperficial, alterações nas capacidades de armazenagem
93
e transferência das bacias de drenagem, extrações irregulares de água subterrânea,
rebaixamentos do lençol freático, bem como redução na recarga de aqüíferos, dos
depósitos lacustres e da vazão para o oceano. O padrão pode ser estabelecido pela
análise de valores amostrais.
-qualidade do ar a ser medido pela massa de contaminante por volume de ar
em µg/m3 ou mg/m3. Este indicador mede a poluição do ar e está regulamentado
pela Resolução CONAMA n° 3/90 que estabelece diversos padrões para
concentração de poluentes, tais como: dióxido de enxofre (SO²), partículas totais em
suspensão, fumaça e monóxido de carbono (CO). Na hipótese de serem
ultrapassados os limites estabelecidos, verifica-se o comprometimento da qualidade
do ar decorrente do tráfego excessivo de veículos e/ou da poeira gerada pela
movimentação de tais veículos, devendo-se propor as medidas mitigadoras a serem
adotadas.
-qualidade do solo a se medido pela massa de contaminante por volume de
solo em µg/m3 ou mg/m3. Este indicador mede a poluição do solo, pela comparação
com um padrão pré-estabelecido para os contaminantes, principalmente
hidrocarbonetos, metais pesados, fertilizantes, acidez, dentre outros. Caso os limites
estabelecidos pela organização sejam excedidos, constata-se a existência de riscos
para a fauna e a flora, já que demonstram a ocorrência de eventos como
derramamento de cargas perigosas e de óleos e graxas, devendo-se propor
medidas mitigadoras a serem adotadas.
-degradação do solo a ser medido pela área degradada por unidade de tempo
por trecho da rodovia. Este indicador mede a área degradada em razão de
desmatamentos, depósitos de lixo, bota-foras, escavações, dentre outros. Caso se
verifique que o limite estabelecido a partir de análises estatísticas foi excedido,
devem ser propostas medidas mitigadoras a serem adotadas.
-ruído a ser medido em decibel. Este indicador mede o nível de pressão sonora
percebido pelo ouvido humano e embora só existam até o momento leis Estaduais e
Municipais que disponham sobre a definição de padrões para este indicador,
encontra-se em tramitação no Congresso Nacional o projeto de Lei n° 4.260, de
94
2001, de autoria do Deputado De Velasco que se aprovado, converter-se-á em Lei
Federal que estipulará padrões para todas as atividades que envolvam ruídos,
segundo o uso do solo residencial, comercial e industrial. Quando os limites são
excedidos, há riscos para a saúde humana provocados por falhas no gerenciamento
das obras ou na manutenção da via, devendo-se propor medidas mitigadoras a
serem adotadas.
-número de ocorrências a ser medido pelo número de ocorrências por unidade
de tempo por trecho da rodovia. Este indicador, do tipo agregado, reúne todo tipo de
incidente e/ ou acidentes como: abalroamentos, colisões e atropelamentos e aponta
falhas de sinalização, de manutenção da via, a invasão da faixa de domínio por
animais e pessoas, necessidade de uso e construção de passarelas e passagens
secas, etc. Não há regulamentação que estabeleça padrões para este indicador,
portanto, cada organização deverá definir um limite de aceitabilidade coerente à
densidade do tráfego do trecho e propor medidas para melhoria contínua.
-endemismos a ser medido pelo número de casos de doenças infecto-
contagiosas por unidade de tempo por unidade médica associadas a áreas
abandonadas ou degradadas, depósitos de lixo e alagamentos na faixa de domínio
que podem causar endemismos e que, nestes casos, são de responsabilidade direta
do empreendedor.
-qualidade da flora a ser medido pela faixa de domínio da rodovia afetada por
queimadas por unidade de tempo por trecho da rodovia. Este indicador mede a área
queimada em decorrência de incêndios, a fim de que se possa avaliar, por meio de
análises estatísticas ou da comparação com dados históricos, se houve falha na
fiscalização ou na manutenção da rodovia. Em algumas situações, os incêndios
podem decorrer de causas naturais. Todavia, caso se verifique que o limite aceitável
de incêndios foi excedido, constatar-se-á a existência de incêndios criminosos ou de
falhas na manutenção dos aceiros, devendo-se propor as medidas de controle a
serem adotadas.
-faixa lindeira invadida a ser medido pela área da faixa de domínio invadida por
pessoas ou animais por unidade de tempo por trecho da rodovia. Este indicador
95
mede o número de invasões ocorridas na faixa lindeira e demonstra falhas na
fiscalização da mesma.
-movimentos de massa a ser medido pelo volume de solo movimentado por
causas geotécnicas por unidade de tempo por trecho da rodovia. Este indicador, do
tipo agregado, mede o volume de solo ou rocha movimentado em decorrência de
quedas de blocos, rastejos, solapamentos, ravinamentos, voçoroca, dentre outras
causas geotécnicas. Caso se verifique que o limite padrão estabelecido pela
organização como viável, considerando análises históricas ou estatísticas, o estudo
das características geológicas/ geomorfológicas, das condições climáticas e do uso
do solo na região, seja excedido, constata-se falhas na fiscalização e na
manutenção da rodovia, devendo-se proceder a recuperação dessas massas
imediatamente.
-predação da fauna a ser medido pelo número de espécies apreendidas em
caçadas ilegais por unidade de tempo por trecho da rodovia. Este indicador mede o
número de espécies apreendidas ou encontradas mortas em decorrência de
predação ilegal. Caso se verifique que foi excedido um limite padrão estabelecido,
por exemplo, a partir de análises históricas ou estatísticas, constata-se falhas na
fiscalização, devendo-se propor medidas mitigadoras a serem implementadas,
objetivando a redução do indicador.
Cabe ainda ressaltar que, para a implementação do sistema proposto, faz-se
ainda necessário determinar a quantidade e a localização dos pontos de controle
onde será realizado o monitoramento dos indicadores ambientais propostos. Esses
pontos devem ser determinados por especialistas, com base em critérios técnicos e
científicos, após a caracterização física e ambiental das áreas sensíveis ao longo da
rodovia, de modo a garantir que as medidas mitigadoras adotadas sejam eficientes
para garantir que a área em questão deixe de integrar o passivo ambiental da
rodovia ou não venha a constituí-lo, para o caso de uma áreas onde não se observa
a presença de danos significativos ao meio ambiente.
Encontra-se a seguir, para melhor compreensão, uma tabela com o indicadores
ambientais propostos, a forma de obtenção dos padrões a serem respeitados e suas
respectivas unidades de medida.
96
TAB. 6.2 PROPOSTA DE INDICADORES AMBIENTAIS
TÍTULO PADRÃO UNIDADE DE MEDIDA
QUALIDADE DA ÁGUA Lei Federal µg/m3 ou mg/m3
VAZÃO DE RIOS Obtido a partir de análises estatísticas Vazão em m3/s
QUALIDADE DO AR Lei Federal µg/m3 ou mg/m3
QUALIDADE DO SOLO Referências Internacionais µg/m3 ou mg/m3
DDEGRADAÇÃO DO SOLO
Obtido a partir de análises estatísticas Área medida em m2 ou ha
RUÍDO Lei Municipal ou Estadual Decibel (dB)
NÚMERO DE OCORRÊNCIAS
Obtido a partir de análises estatísticas Parâmetro
ENDEMISMOS Obtido a partir de análises estatísticas Parâmetro
QUALIDADE DA FLORA Obtido a partir de análises estatísticas Área medida em m2 ou ha
FAIXA LINDEIRA INVADIDA
Obtido a partir de análises estatísticas Área medida em m2 ou ha
MOVIMENTOS DE MASSA
Obtido a partir de análises estatísticas Volume de solo medido em m3
PREDAÇÃO DA FAUNA Obtido a partir de análises estatísticas Parâmetro
FONTE: o autor
6.6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do exposto, observa-se que o processo de geração, seleção e gestão de
indicadores ambientais merece muita atenção pelas organizações que desejam ou
devam realizar a avaliação ambiental ou controlar uma determinada condição no
ambiente. Sem tal preocupação, qualquer conclusão a respeito do seu desempenho
ambiental corre um grande risco de ser inconsistente, não estando apoiada sobre
bases científicas.
A utilização de indicadores consagrados na literatura técnica não é garantia de
97
sucesso, uma vez que estes dependem das peculiaridades ambientais da região e
das características do empreendimento. Desse modo, é imprescindível que a equipe
técnica do empreendimento esteja engajada para apreciação e identificação dos
indicadores ambientais a serem considerados no processo de avaliação de
desempenho ambiental.
98
7 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
7.1 INTRODUÇÃO
O objetivo deste trabalho foi fornecer subsídios para o desenvolvimento e a
implantação de um Sistema de Gestão Ambiental para o serviço de transporte
rodoviário, contribuindo para um melhor gerenciamento da referida atividade.
Para se chegar a proposta desse sistema foram apresentadas a evolução da
consciência ambiental no mundo, do gerenciamento das questões ambientais e do
transporte rodoviário A seguir, foram introduzidas considerações sobre as atividades
que integram a operação de rodovias com seus reflexos negativos no meio
ambiente. Para cada um destes impactos, medidas mitigadoras foram alinhavas.
Após definidos e caracterizados os itens do passivo ambiental criados pela operação
rodoviária foram selecionados parâmetros indicadores da qualidade ambiental desta
operação assim como identificados padrões ou critérios para o seu estabelecimento
a serem respeitados pelos mesmos.
7.2 CONCLUSÕES
O passivo ambiental associado à operação rodoviária é vasto e da sua
recuperação depende a qualidade da gerência da via. A adoção de critérios práticos
e objetivos nos processos de operação e manutenção de uma rodovia traz como
conseqüência a redução de risco de acidentes e de danos ambientais, assim como a
redução dos custos a serem pagos pela organização em multas e recuperações
ambientais.
A verificação da existência de áreas sensíveis aliada à proposta de indicadores
ambientais com referidos padrões de aceitabilidade tornam-se fatores valiosos no
processo de Gestão Ambiental representando os alicerces que possibilitarão o
desenvolvimento e a implementação de um Sistema de Gestão Ambiental confiável
e, sobretudo, eficaz.
O presente estudo evidenciou que o conhecimento da composição do passivo
ambiental decorrente da operação de uma via é de grande importância na avaliação
das intervenções que se fazem necessárias.
99
Este trabalho é uma ferramenta útil, uma vez que ao sistematizar os
procedimentos necessários para o estabelecimento de um Sistema de Gestão
Ambiental beneficiam-se os órgãos governamentais que passam a possuir uma
ferramenta para controlar seus concessionados e as próprias empresas do setor,
pois por meio de sua aplicação podem deixar de pagar multas XXXX, aplicando
estes valores em fins mais proveitosos para elas próprias e para a população que
usufrui das vias e que mora na vizinhança destas.
Por meio do desenvolvimento e implementação de um Sistema de Gestão
Ambiental nos moldes do proposto neste trabalho, tem-se a garantia de êxito no
desempenho das atividades que compõem a operação de uma rodovia, não só do
ponto de vista de eficiência do serviço prestado, mas especialmente do ponto de
vista da preservação da qualidade ambiental, a qual trará reflexos positivos em todo
o ciclo de vida da rodovia.
7.3 RECOMENDAÇÕES
A fim de contribuir para o aperfeiçoamento do trabalho apresentado, recomenda-
se sejam desenvolvidos os seguintes estudos:
a) Estruturação de um banco de dados contendo os indicadores ambientais
relacionados aos trechos rodoviários, de forma a tratar a recuperação do passivo
ambiental dinamicamente;
b) Elaboração de um procedimentos para definição da localização e da
quantidade de pontos de controle para avaliação da qualidade da água, do solo e do
ar;
c) Sistematização do processo de levantamento de dados referentes aos níveis
de poluição de diferentes tipos, para definir estatisticamente padrões de
aceitabilidade de diversos indicadores não estipulados por lei;
d) Correlacionar os custos associados à recuperação de cada item do passivo
ambiental de uma rodovia com a tarifa das rodovias concessionadas de forma a
definir tarifas justas;
100
e) Técnicas para hierarquizar os itens que compõem o passivo ambiental de um
trecho rodoviário, para que a programação da recuperação dos mesmos possa ser
alcançada de forma mais célere, eficiente e menos onerosa;
f) Elaboração de processo de concessão rodoviária de modo que o
concessionário tenha pleno conhecimento do passivo ambiental que está herdando.
101
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