DissertMestradoJoanaMargaridaMacedoMartins2013

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UNIVERSIDADE DOS AÇORES DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO Mestrado em Educação Pré-Escolar e Ensino do 1.º Ciclo do Ensino Básico RELATÓRIO DE ESTÁGIO Explorar o Ensino das Expressões nas Práticas Educativas em Educação Básica uma Abordagem em Contexto do Estágio Pedagógico Mestranda Joana Margarida Macedo Martins Orientadora Professora Doutora Maria Isabel Cabrita Condessa Ponta Delgada, abril de 2013

Transcript of DissertMestradoJoanaMargaridaMacedoMartins2013

  • UNIVERSIDADE DOS AORES

    DEPARTAMENTO DE CINCIAS DA EDUCAO

    Mestrado em Educao Pr-Escolar e Ensino do 1. Ciclo do Ensino Bsico

    RELATRIO DE ESTGIO

    Explorar o Ensino das Expresses nas Prticas Educativas

    em Educao Bsica uma Abordagem em Contexto do

    Estgio Pedaggico

    Mestranda

    Joana Margarida Macedo Martins

    Orientadora

    Professora Doutora Maria Isabel Cabrita Condessa

    Ponta Delgada, abril de 2013

  • Explorar o Ensino das Expresses nas Prticas Educativas

    em Educao Bsica uma Abordagem em Contexto do

    Estgio Pedaggico

    Relatrio de Estgio apresentado Universidade

    dos Aores para cumprimento dos requisitos

    necessrios obteno do grau de Mestre em

    Educao Pr-Escolar e Ensino do 1. Ciclo do

    Ensino Bsico, sob orientao cientfica da

    Professora Auxiliar com Agregao Maria Isabel

    Cabrita Condessa

  • Agradecimentos

    Chegado ao fim de mais uma etapa muito importante da minha formao, neste ponto,

    gostaria de expressar os meus sinceros agradecimentos s pessoas que colaboraram e que

    sempre me apoiaram, de alguma forma, durante esta caminhada.

    Aos meus pais, a quem dedico este trabalho, nunca terei palavras suficientes para

    agradecer todo o apoio que me deram, todo o amor e compreenso, confiana e educao. A

    eles devo-lhes tudo o que hoje sou. Obrigada por acreditarem em mim e me darem fora para

    enfrentar a vida sempre com um sorriso no rosto.

    Aos meus familiares e amigos(as), de perto e de longe, que acreditaram no meu

    trabalho e me confortaram com carinho e uma palavra de incentivo.

    minha princesa, afilhada Beatriz, que pelo seu amor puro e inocncia de criana,

    com o seu jeito dcil e natural me alegrava nos momentos mais difceis. Agradeo os

    momentos de brincadeira, de risos, de lgrimas saudosas os beijinhos e abraos, as histrias

    e os desenhos, todos os mimos que me marcaram fortemente durante toda esta etapa.

    Ao Hugo, pelo amor, amizade e carinho, pela cumplicidade, por acreditar em mim e

    dar-me fora. Agradeo, tambm, a pacincia e compreenso nos momentos em que estive

    mais ausente.

    Anita, pela amizade e carinho, pelo apoio e pelas palavras sbias ditas nos

    momentos certos.

    Ana Paula, pela amizade, incentivo, apoio e disponibilidade prestada ao longo deste

    percurso.

    Agradeo, de uma forma muito especial, Doutora Isabel Condessa, orientadora deste

    trabalho, por me acompanhar em todo o processo, pela confiana depositada no meu trabalho,

    pela palavra amiga e por todo o apoio prestado. Estou-lhe muito grata pela compreenso e

    incentivo, pelos ensinamentos e conselhos que contriburam para o meu crescimento. Muito

    obrigada!

    orientao prestada pelo Doutor Adolfo Fialho e Mestre Ana Sequeira. Agradeo o

    apoio prestado nos momentos de estgio desenvolvido. Igualmente agradeo a orientao da

    educadora cooperante Teresa Nunes e professora Angelina Monteiro, que contriburam com a

    sua experincia e conselhos.

    No posso deixar de agradecer a todos(as) os(as) Educadores(as) de Infncia e

    Professores(as) do 1. Ciclo que colaboraram dando o seu testemunho nas entrevistas.

  • Agradeo, tambm, aos meus colegas de ncleo de estgio, Emanuel e Joana, pela

    amizade, companheirismo e apoio prestado ao longo de toda a minha formao acadmica.

    Por ltimo, e no menos importante, agradeo a todas as crianas intervenientes no

    processo de estgio que contriburam para o meu crescimento, pessoal e profissional, e

    proporcionaram momentos e experincias inesquecveis.

    A todos(as) um sincero muito obrigada!

  • ndice

    ndice de Anexos ......................................................................................................................... i

    ndice de Quadros ........................................................................................................................ i

    Resumo ....................................................................................................................................... ii

    Abstract ...................................................................................................................................... iii

    Introduo ................................................................................................................................... 1

    Captulo I - Contextualizao do Estudo .................................................................................... 4

    1. Problemtica e objetivos ..................................................................................................... 5

    2. Participantes no estudo ....................................................................................................... 7

    3. Instrumentos e procedimentos de recolha de e anlise dos dados ...................................... 8

    Captulo II - O Ensino das Expresses nos Primeiros Anos da Educao Bsica prticas e

    testemunhos do Educador/Professor ......................................................................................... 13

    1. Pensar a educao e a escola na atualidade ...................................................................... 14

    2. O perfil do educador/professor ......................................................................................... 17

    3. As expresses no currculo da educao bsica: o incio de um processo de formao

    para a vida ............................................................................................................................. 21

    3.1. - As Expresses na Educao Bsica: Testemunhos e percees reais ..................... 28

    4. A importncia da expresso e da comunicao na educao pr-escolar e no 1. ciclo do

    ensino bsico ........................................................................................................................ 37

    5. A comunicao na sala de aula e o impacto da organizao dos espaos ........................ 42

    Captulo III O Estgio Pedaggico: uma Aprendizagem entre a Teoria e a Prtica ............. 50

    1. O estgio como um processo de aprendizagem ................................................................ 51

    2. Saberes prprios formao na construo da profisso ................................................. 55

    2.1. A observao como instrumento fundamental .......................................................... 55

    2.2. O Projeto Formativo como delineador da ao a mdio prazo.................................. 61

    2.3. As sequncias didticas como anteviso da prtica pedaggica ............................... 63

    2.4. Avaliar para compreender e ajustar ........................................................................... 68

    2.5. A reflexo como tomada de conscincia e balano da prtica educativa .................. 71

    3. Caraterizao dos contextos em que se realizou o estgio ............................................... 73

    3.1. Caraterizao do meio envolvente, da escola e do grupo do Pr-Escolar ................. 74

    3.2. Caraterizao do meio envolvente, da escola e da Turma do 1. Ciclo ..................... 78

    4. Anlise das situaes educativas ...................................................................................... 81

    4.1. Anlise das situaes educativas do pr-escolar ....................................................... 82

  • 4.2. Anlise das situaes educativas do 1. ciclo do ensino bsico ................................ 90

    Consideraes Finais ................................................................................................................ 98

    Referncias Bibliogrficas ...................................................................................................... 100

  • i

    ndice de Anexos

    Anexo n. 1 Guio da entrevista

    Anexo n. 2 Transcries das entrevistas dos(as) educadores(as) e professores(as)

    Anexo n. 3 Sistema de categorizao das entrevistas

    Anexo n. 4 Exemplos de grelha de observao do Pr-Escolar

    Anexo n. 5 Exemplo da grelha da sequncia didtica do Pr-Escolar e do 1. Ciclo

    Anexo n. 6 Exemplo de lista de verificao do Pr-Escolar e do 1. Ciclo

    Anexo n. 7 Exemplo de grelha de avaliao segundo as metas de aprendizagem do Pr-

    Escolar e do 1. Ciclo.

    Anexo n. 8 Exemplo de uma ficha de verificao de conhecimentos do 1. Ciclo

    Anexo n. 9 Exemplo de grelha de avaliao da ficha de verificao de conhecimentos do

    1. Ciclo

    Anexo n. 10 Esquema da sala de atividades do Pr-Escolar

    Anexo n. 11 Esquema da sala de aula do 1. Ciclo

    Anexo n. 12 Tabelas de sistematizao das atividades em anlise

    Anexo n. 13 Recursos da atividade de Expresso Plstica: Vamos proteger o nosso

    planeta

    Anexo n. 14 Recursos da atividade de Expresso Fsico-Motora: Percurso Verdocas

    Anexo n. 15 Recursos da atividade de Expresso Dramtica: Dramatizao da Lenda das

    Sete Cidades

    Anexo n. 16 Recursos da atividade de Expresso Plstica: Vamos desenhar o nosso corpo

    Anexo n. 17 Recursos da atividade de Expresso Dramtica: As emoes

    Anexo n. 18 Recursos da atividade de Expresso Musical: Cano Na quinta do meu av

    ndice de Quadros

    Quadro n. 1 Sistematizao da categorizao da anlise das entrevistas

    Quadro n. 2 Exemplo de um excerto da grelha de observao do 1. Ciclo

    Quadro n. 3 Quadro da comunicao estabelecida na atividade de Expresso Fsico-

    -Motora: Percurso Verdocas

  • ii

    Resumo

    O presente relatrio de estgio reporta-se s prticas desenvolvidas no estgio no

    mbito da Prtica Educativa Supervisionada I e II do Mestrado em Educao Pr-Escolar e

    Ensino do 1. Ciclo do Ensino Bsico. Este documento representa, pois, o culminar do

    trabalho realizado ao longo dos dois momentos de estgio (em contexto do Pr-Escolar e em

    contexto do 1. Ciclo) e procura descrever e refletir o processo de ensino-aprendizagem

    subjacente s intervenes desenvolvidas.

    Ao longo deste trabalho, expressam-se questes relacionadas com a teoria e a prtica

    curricular, nas quais se analisa e se reflete sobre as prticas pedaggicas e as opes tomadas,

    principalmente, no que diz respeito s reas das Expresses, mobilizando dados das prticas

    de ensino e das situaes educativas com a literatura da especialidade.

    A escolha desta temtica deveu-se ao facto de as reas das Expresses serem

    verdadeiramente potenciadoras de oportunidades de a criana se expressar e comunicar

    atravs de vrias formas/meios. Acrescenta-se, ainda, que se decidiu enveredar pelo

    aprofundamento dessa temtica, uma vez que esta se revela uma rea plenamente integradora

    em termos curriculares, dado que possvel interligar as Expresses, articulando-as com

    vrios contedos e domnios e, deste modo, potenciando experincias de ensino-

    aprendizagem completas com vista ao desenvolvimento integral da criana.

    Neste sentido, contmos com testemunhos de educadores e professores sobre o ensino

    das Expresses, na escola atual. Infelizmente, estas reas continuam a ser deixadas para

    segundo plano, pelos profissionais de educao, principalmente, os professores do 1. Ciclo.

    Deste modo, averigumos a importncia que os docentes ministram a estas reas, atravs de

    entrevistas. Alm disso, foi, tambm, nosso intento perceber a importncia das Expresses,

    enquanto meio para a criana se expressar e comunicar com o outro, e compreender as

    influncias do espao no processo de ensino aprendizagem e no desenvolvimento das

    situaes educativas.

    De uma maneira geral, o presente trabalho procura descrever, analisar e refletir as

    opes tomadas no processo de ensino-aprendizagem, com principal incidncia no

    desenvolvimento das reas das Expresses, refletindo as experincias enriquecedoras, tanto a

    nvel pessoal como acadmico, vivenciadas pela estagiria.

  • iii

    Abstract

    This Teaching Practice report refers to the practices developed under the Educational

    Supervised Practice I and II, integrated in Pre-school Education and Elementary School

    Education Master Degree. This document represents the culmination of the work done during

    the two moments of Supervised Practice in pre-school and elementary school levels, and

    describes and reflects upon the teaching-learning process underlying the activities carried out.

    Throughout this work, issues concerning the theory of and curricular practice itself

    are expressed. We analyze and reflect upon the pedagogical practices and the choices made,

    especially, in relation to the areas of Expressions by mobilizing data from teaching practices

    and educational situations with readings from publications in this field of expertise.

    The choice for this theme was made on the knowledge that the Expressions truly

    represent ample opportunities for children to express and communicate through various

    ways/means. Furthermore, we decided to deepen this theme because it is an area fully

    integrated in curricular terms. You can connect the Expressions amongst themselves by

    linking them with various contents and domains and, thus, enhance the teaching-learning

    process with complete experiences which promote the integral development of the child.

    In this sense, we relied on the testimony given by educators and teachers on how the

    Expressions are currently being taught in school. Unfortunately, these areas continue to be

    pushed into second place, by educators, especially elementary teachers. We verified the

    importance teachers give to these areas through the interviews carried out. It was also our

    intention to verify the importance of the Expressions as a mean for children to express

    themselves and communicate with each other, and to understand in what way the

    surroundings/where the activities take place may influence the teaching-learning process and

    the development of educational situations.

    In general, this work seeks to describe, analyze and reflect upon the choices made in

    the teaching-learning process, focusing mainly on the development of the Expressions, and

    bringing forth the enriching experiences experienced by the trainee, both on a personal and

    academic level.

  • A criao , tal como os nmeros, ilimitada. Uma mesma histria pode ser contada de dez,

    cem, mil maneiras diferentes. Com um lpis ou um pincel ns podemos dizer tudo, mostrar

    tudo, fazer tudo, at o impossvel. Podemos explicar o que sabemos, o que amamos, o que

    amaramos. O que pensamos, o que sentimos. O que vemos e o que no vemos, o que seja

    quem for no v A lista pode ser ainda mais longa.

    (Gabey & Vimenet, 1974, pp. 13-14)

  • 1

    Introduo

    O presente relatrio de estgio, definido pelo artigo 9. do Decreto-Lei n. 43/2007, de

    22 de fevereiro, constitui uma componente da unidade curricular de Prtica Educativa

    Supervisionada II.

    O teor deste documento reporta-se s prticas pedaggicas, no desenvolvimento do

    estgio, em contexto da Educao Pr-Escolar e do 1. Ciclo do Ensino Bsico, decorrido nos

    anos letivos 2011/2012 e 2012/2013.

    Explorar o ensino das Expresses nas prticas educativas em Educao Bsica: uma

    abordagem em contexto estgio pedaggico apresenta as linhas estruturais e transversais que

    acompanharam as prticas educativas em momento de estgio pedaggico, anteriormente

    referido.

    A escolha do tema partiu, por um lado, da convico de que as reas das Expresses

    continuam, na escola atual, a no ter o devido valor, principalmente no 1. Ciclo do Ensino

    Bsico. Por outro lado, acreditamos que estas reas tm grandes potencialidades e so

    fundamentais no desenvolvimento integral da criana. O facto de as reas das Expresses se

    revelarem bastante integradoras e versteis, em termos prticos, proporciona-nos muitas

    formas de as abordarmos podendo articul-las com as restantes reas curriculares. O carter

    ldico, prprio da natureza destas reas, suscita, sem dvida, o interesse das crianas.

    Nunca se dir suficientemente que a expresso indispensvel criana e que todo o

    entrave sua manifestao um atentado sua sade e prejudicial ao seu desenvolvimento

    normal (Stern, 1974, p. 14). Assim, ao enveredar pela temtica j enunciada, de entre vrias

    consideraes, aquando da prtica pedaggica - articular a prtica pedaggica de acordo com

    a educadora/professora titular, articular e desenvolver momentos de aprendizagem de acordo

    com as diferentes reas, respeitar as caratersticas de cada criana, promover um ambiente

    educativo promotor do bem-estar da criana, proporcionar momentos para a aquisio de

    competncias e domnios de saberes, entre outros destacmos, concisamente, os seguintes

    objetivos gerais, a tratar no presente documento:

    - Justificar e fundamentar o trabalho com literatura da especialidade;

    - Promover atividades das reas das Expresses (dramtica, musical, motora e

    plstica), nos dois contextos de estgio, de modo a potenciar o desenvolvimento integral e

    aprendizagem na criana;

  • 2

    - Analisar e refletir as situaes educativas desenvolvidas no estgio pedaggico

    (Educao Pr-Escolar e 1. Ciclo do Ensino Bsico);

    - Verificar as concees e perspetivas dos educadores de infncia e professores do 1.

    Ciclo relativamente s potencialidades das Expresses, da Comunicao, e da influncia dos

    espaos na aprendizagem da criana.

    Deste modo, o presente relatrio de estgio, ser organizado em trs captulos:

    - Contextualizao do estudo;

    - O ensino das Expresses nos Primeiros Anos da Educao Bsica prticas e

    testemunhos do Educador/Professor;

    - O Estgio Pedaggico: uma Aprendizagem entre a teoria e a prtica.

    Relativamente ao Captulo I, ser feita uma breve contextualizao do nosso estudo,

    onde ser explanada a problemtica, os objetivos a atingir, os participantes que colaboraram

    na recolha de dados e os respetivos procedimentos metodolgicos utilizados para essa recolha.

    No que diz respeito ao Captulo II, faremos uma abordagem a vrios aspetos e tpicos

    presentes ao longo de todo este documento. Para isso, nesta parte do trabalho, ser

    fundamentado com literatura da especialidade no s os aspetos relacionados com o

    desenvolvimento e importncia das Expresses, como tambm os da Comunicao e

    organizao dos Espaos. de salientar que, neste ponto do documento, alm da literatura da

    especialidade, sero utilizados excertos das entrevistas dos colaboradores do estudo, de forma

    a confrontar o que os especialistas advogam com as percees e prticas dos docentes da

    escola atual. Ainda neste captulo, iremos abordar a educao e o papel da escola atual, assim

    como dos seus intervenientes, nomeadamente o perfil dos educadores de infncia e

    professores do 1. ciclo.

    Por ltimo, no Captulo III, a ateno recai sobre vrias componentes relacionadas

    com a prtica pedaggica como processo de aprendizagem. Assim, haver uma parte terica e

    fundamentada, referente aos vrios momentos do processo de estgio, e uma parte de anlise

    crtica e reflexo das atividades realizadas no decorrer do estgio, referentes ao estudo do

    ensino das expresses nas prticas educativas em contexto estgio pedaggico. Neste

    momento ser feita uma caraterizao geral das instituies acolhedoras do estgio, das

    caratersticas das turmas/crianas, e, como j referido, sero descritas e analisadas seis

    situaes educativas (trs na Educao Pr-Escolar e trs no 1. Ciclo do Ensino Bsico).

    Finalmente, este relatrio contar com algumas consideraes finais e as referncias

    bibliogrficas que suportam este trabalho. Os anexos, referenciados ao longo do relatrio,

  • 3

    encontram-se em suporte digital (CD) disponveis para consulta e complementam o

    documento.

  • Captulo I

    Contextualizao do Estudo

    1. Problemtica e objetivos

    2. Participantes no estudo

    3. Instrumentos e procedimentos de recolha e anlise dos dados

  • Captulo I Contextualizao do estudo

    5

    1. Problemtica e objetivos

    A incidncia na rea das Expresses e da Comunicao como assunto a aprofundar no

    desenvolvimento da prtica pedaggica, e respetivo relatrio de estgio, resultou das

    concees criadas sobre o ensino das artes na educao e das suas potencialidades quanto s

    oportunidades de a criana se expressar e comunicar atravs de vrios meios.

    A seleo do tema em questo justifica-se pelo facto de esta rea se revelar uma rea

    plenamente integradora em termos curriculares, j que aborda quase todas as disciplinas e

    proporciona a interligao com as restantes, revelando uma grande versatilidade em termos

    prticos. Sendo um tema bastante abrangente, possvel articular as suas potencialidades

    pedaggicas no desenvolvimento e aprendizagem da criana em idade Pr-escolar, assim

    como de 1. Ciclo tendo em conta vrias situaes.

    As artes e as atividades artsticas so pouco valorizadas por grande parte das escolas.

    Por norma, as atividades artsticas aparecem ligadas como um complemento das outras reas

    do saber ou para preenchimento de tempos mortos. considervel a discrepncia que existe

    no uso das reas de Expresses observada entre a educao Pr-escolar e o 1. Ciclo.

    Enquanto que, no Pr-escolar, os educadores recorrem significativamente s Expresses no

    desenrolar das suas prticas, os professores do 1. Ciclo apenas o fazem, geralmente, em

    pocas festivas, como: Natal, Dia do Pai, Dia da Me, Carnaval, Pscoa, etc. Deste modo, as

    reas das Expresses, atualmente, ainda no so consideradas to essenciais como as restantes

    disciplinas.

    notvel a persistente recusa de que as artes podem ser uma mais-valia no processo

    de ensino/aprendizagem e um meio atravs do qual a criana se expressa e comunica com o

    mundo que a rodeia. De acordo com Ferraz e Dalmann (2011, p. 45) Ao defender que a

    Educao Expressiva, deve ser, integrada nos currculos pedaggicos, alertamos que o homem

    moderno necessita despertar capacidades actualmente marginalizadas e menosprezadas, como

    a intuio, a inteligncia emocional, sensibilidade, alofilia, o amor, a afectividade, empatia,

    entre tantas outras competncias humanas, que esto cerceadas dentro da casca rgida, que

    transformou o homem moderno. Os mesmos autores atrs referidos acrescentam que A

    Educao Expressiva busca a integrao e o desenvolvimento pleno das capacidades

    humanas, pois busca a humanizao em todas as dimenses. Verificamos, que somente

    quando exploramos outras formas de comunicao, expresso e interaco, intrapessoal e

  • Captulo I Contextualizao do estudo

    6

    interpessoal, que levamos o expressante [aluno] a esse novo patamar consciencial (ibidem,

    p. 45).

    Deste modo, parece-nos importante apurar como o Sistema Educativo augura o

    desenvolvimento destas reas com o que, efetivamente, acontece nas escolas de hoje,

    confrontar o porqu das reas de Expresso passarem despercebidas nas salas de aula.

    Assim, o nosso intuito verificar uma hiptese j formada, ou seja, verificar a importncia

    dada rea das Expresses, significativamente desenvolvida no Pr-escolar e o seu

    desenvolvimento limitado no 1. Ciclo.

    Em virtude do que foi mencionado, o presente estudo tem os seguintes objetivos a

    alcanar:

    - Entender como o Sistema Educativo preconiza o desenvolvimento das Expresses;

    - Explorar as potencialidades prticas das reas das Expresses (dramtica, plstica, motora e

    musical) como contributo do desenvolvimento e aprendizagem da criana;

    - Perceber as limitaes/dificuldades no desenvolvimento das Expresses na escola;

    - Analisar as prticas pedaggicas, atendendo frequncia do uso de atividades de expresso

    como meio interdisciplinar na abordagens das outras reas do saber;

    - Compreender a importncia da expresso e comunicao no contexto educacional da

    Educao Pr-Escolar e 1. Ciclo do Ensino Bsico;

    - Compreender as diferenas entre a Educao Pr-Escolar e o 1. Ciclo do Ensino Bsico;

    - Perceber a influncia da organizao dos espaos no desenvolvimento e aprendizagem da

    criana.

  • Captulo I Contextualizao do estudo

    7

    2. Participantes no estudo

    De acordo com as finalidades apontadas no ponto anterior, definiu-se como

    participantes, neste estudo, para alm das crianas que deram sentido a todo o trabalho, alguns

    educadores e os professores cooperantes que acompanharam o processo de estgio dos

    formandos, que desenvolveram as suas prticas educativas no mbito das disciplinas de

    Prtica Educativa Supervisionada I e II do Mestrado em Educao Pr-Escolar e no Ensino do

    1. Ciclo do Ensino Bsico.

    Com efeito, contou-se com a colaborao de trs educadores(as) e trs professores(as)

    do 1. Ciclo, que lecionavam no arquiplago dos Aores, sendo dois sujeitos do sexo

    masculino e quatro do sexo feminino, que no total perfez seis sujeitos interpelados. A sua

    escolha foi de convenincia e por uma questo de confidencialidade, os sujeitos entrevistados

    sero identificados ao longo do documento com letras maisculas, a saber: Educador A,

    Educador B, Educador C, Professor D, Professor E e Professor F.

    de realar que os entrevistados contam com tempo de servio diferente, desde os

    sete meses aos vinte e um anos. A formao que obtiveram relativamente rea das

    Expresses foi, essencialmente, atravs da sua formao acadmica inicial, exceto dois dos

    entrevistados que tm formao na rea de teatro e msica. Alm de contarmos com o nosso

    relato de prticas, sendo sujeitos ativos do processo de estgio, contmos, ainda, com dados

    relativos ao grupo de crianas presentes no estgio do Pr-escolar (composto por 20 crianas,

    da EB1/JI Ceclia Meireles) e turma do 1. Ciclo (composta por 18 crianas, da EB1/JI de

    So Roque Canada das Maricas), perfazendo um total de trinta e oito crianas. De referir

    ainda que apenas sero apresentados os registos considerados significativos s questes

    abordadas. Similarmente confidencialidade assegurada aos educadores/professores

    entrevistados, as crianas sero referenciadas com nomes fictcios.

  • Captulo I Contextualizao do estudo

    8

    3. Instrumentos e procedimentos de recolha de e anlise dos dados

    De entre os vrios instrumentos e meios para recolha de dados, utilizados em

    investigao educacional, salientam-se: a entrevista, a anlise documental, o questionrio e a

    observao. Com vista a dar fundamento a este trabalho, com caractersticas qualitativas,

    recorreu-se entrevista como instrumento de recolha de dados. Considerou-se este

    instrumento importante e apropriado para dar resposta aos objetivos visados.

    Efetivamente, a seleo da entrevista como instrumento de recolha proporcionou o

    conhecimento das percees dos Educadores de Infncia e dos Professores do 1. Ciclo

    quanto temtica das Expresses, e no s. A entrevista , segundo Moser e Kalton (1971,

    citados por Bell, 1997, p.118), uma conversa entre um entrevistador e um entrevistado que

    tem como objectivo extrair determinada informao do entrevistado. Cunha (2007, p. 77)

    diz-nos que a entrevista () constitui uma das tcnicas mais utilizadas na metodologia

    qualitativa, resultando de uma negociao entre o entrevistador e o entrevistado com o fim de

    descobrir o significado das representaes no pensamento do professor realidades e aces.

    Deste modo, podemos classificar a entrevista em vrios tipos. Achamos pertinente

    utilizar, no caso deste estudo, o mtodo da entrevista semi-estruturada. Assim, respeitando as

    caractersticas da natureza desse tipo de entrevista, elabormos um guio de questes, como

    suporte na orientao do desenvolvimento da entrevista, a saber:

    Quais as suas habilitaes acadmicas?

    H quanto tempo exerce a profisso?

    No que concerne s reas das Expresses, em que medida encara essas reas importantes para

    o desenvolvimento e aprendizagem da criana?

    Considera as reas das Expresses integradoras/contributrias s restantes reas? Quais e

    como?

    Costuma utilizar a rea das Expresses como meio interdisciplinar na abordagem dos

    contedos de outras reas (Portugus, Matemtica, Estudo do Meio, Conhecimento do Mundo,

    etc.)? Se sim, d um exemplo.

    Com quais das reas das Expresses se identifica mais e menos? Porqu?

    Reconhece que o facto de gostar mais ou menos de uma rea influncia a sua prtica?

    Com que frequncia desenvolve, semanalmente, cada uma das reas (dramtica, plstica,

    motora, musical)?

    Que dificuldade sente aquando do momento da aula dedicado s reas de Expresses?

    Que tipo de formao possui na rea das Expresses? Como a obteve e em que reas?

  • Captulo I Contextualizao do estudo

    9

    Na sua opinio, acha que a monodocncia favorece ou dificulta o ensino das Expresses?

    Porqu?

    Na sua opinio, o que carateriza um bom educador/professor?

    Acha que o educador/professor tem de ser um bom comunicador? Porqu?

    Para si, quais os aspetos fundamentais para uma boa comunicao na sala de aula?

    Na sua opinio, a organizao dos espaos tem influncia na aprendizagem das crianas?

    Porqu?

    Sente necessidade de ajustar o espao para melhor desenvolvimento das atividades relativas

    rea das Expresses? Que limitaes sente e como as soluciona?

    Tendo em conta a sua experincia e o contato com colegas, para si, quais as maiores

    divergncias entre a Educao Pr-Escolar e o 1. Ciclo do Ensino Bsico?

    O guio de entrevistas utilizado (anexo n. 1) foi o mesmo, tanto para inquirir os/as

    educadores(as) como os/as professores(as). de salientar que as entrevistas foram realizadas

    em ambiente escolar, aps o tempo de estgio. Os contedos das entrevistas dos

    educadores/professores foi integralmente reproduzido em texto escrito (anexo n. 2).

    Para o tratamento dos dados (interpretao das informaes recebidas), o mtodo de

    anlise de contedo est sempre associado. A () anlise de contedo a expresso

    genrica utilizada para designar um conjunto de tcnicas possveis para tratamento de

    informao previamente recolhida (Esteves, 2006, p. 107). Desta forma, elabormos um

    sistema de categorizao (anexo n. 3), que inclui as categorias, subcategorias e indicadores,

    assim como as unidades de registo e de contexto relativas a cada entrevistado(a). Segundo

    Bardin (2003, p.117), As categorias, so rubricas ou classes, as quais renem um grupo de

    elementos (unidades de registo, no caso de anlises de contedo) sob um ttulo genrico,

    agrupamento esse efectuado em razo dos caracteres comuns destes elementos. As respostas

    dos educadores/professores foram submetidas a uma anlise que, posteriormente, deu origem

    s categorias, subcategorias e indicadores, sistematizados no quadro seguinte:

    Quadro n. 1 Sistematizao da categorizao da anlise das entrevistas

    Categorias Sub-Categorias Exemplos

    Dados

    Profissionais

    Habilitaes

    acadmicas

    Licenciatura em Ensino Bsico 1 Ciclo e Ps-graduao/Especializao em Educao Especial.

    Entrevistado P3

    Tempo de servio H 18 anos Entrevistado E1

    Formao na rea

    das Expresses

    A formao que tenho na rea das expresses foi a que obtive ao longo da minha licenciatura e mestrado

  • Captulo I Contextualizao do estudo

    10

    Entrevistado E2

    Potencialidades/

    Importncia das

    Expresses

    Desenvolvimento e

    aprendizagem da

    criana

    As Expresses so reas potencializadoras do desenvolvimento equilibrado e harmonioso da criana.

    Desenvolvem a ateno e concentrao, a destreza fsico-

    motora, proporcionam momentos ldicos

    Entrevistado P3

    Relao com as

    outras reas

    Logo, claro que posso concluir que as Expresses contribuem para trabalhar as outras reas mas, com uma

    grande vantagem, estimula e motiva muito mais os

    alunos. Entrevistado E2

    Condies

    implementao

    das Expresses

    Escola Acho que o mal comum A falta de material disponvel, a escassa verba para o adquirir Entrevistado E1

    Professor

    s vezes tento englobar as expresses num contedo de outra rea qualquer, mas no conheo muitas

    estratgias, nem tcnicas, nem exemplos de atividades que

    se possa fazer a nossa formao peca um pouco nesse sentido, tudo dado de uma forma muito superficial

    Entrevistado P3

    Crianas

    Uma das dificuldades , sem dvida, o barulho e a confuso que estas atividades geram. Com o tempo e

    quando estas atividades comeam a fazer parte da rotina,

    esta dificuldade vai se atenuando Entrevistado E2

    Implementao e

    uso das

    Expresses

    Interdisciplina-

    ridade

    Quando sobra tempo, por exemplo a Portugus, fazemos um jogo de mmica em que um aluno faz um movimento ou

    gesto e os restantes adivinham qual o verbo que traduz a

    ao representada Entrevistado P3

    Frequncia

    Normalmente no Pr-escolar estamos sempre a desenvolver em simultneo essas reas, pois as atividades

    centram-se quase sempre a partir das Expresses e no

    existe um tempo determinada para cada rea a

    desenvolver Entrevistado E1

    O

    Desenvolvimento

    Profissional e o

    Ensino das

    Expresses

    Vantagens da

    Monodocncia

    Acho que favorece, porque podemos trabalhar contedos de forma interdisciplinar Entrevistado E1

    Desvantagens da

    Monodocncia

    A meu ver dificulta, porque os docentes preocupam-se mais com as reas de Portugus e Matemtica, pois so

    aquelas que no final do ano so avaliadas externamente e,

    por vezes, penalizamos o tempo que deveria ser dedicado

    s expresses Entrevistado P1

    Relao positiva

    com as reas de

    Expresses

    Identifico-me mais com a rea de expresso dramtica, porque d mais liberdade da pessoa se expressar de forma

    ldica e desenvolve muito a criatividade e a imaginao. Entrevistado P1

    Relao negativa

    com as reas de

    Expresses

    Talvez a rea que me identifique menos seja a de expresso dramtica () uma atividade que requer mais preparao e trabalho e tambm no tenho muito jeitinho (). Entrevistado E2

    Perfil do

    educador/

    professor

    Um bom educador/professor aquele que consegue ir ao encontro das necessidades das crianas, nunca pondo de

    parte a aquisio das competncias delineadas para cada

    idade e nvel de ensino. Entrevistado P2

    Aspetos

    fundamentais na

    comunicao de

    sala de aula

    Professor

    Pelo menos tem de ser um bom comunicador na sala de aula. S assim conseguir captar a ateno dos seus

    alunos e transmitir a segurana necessria para o

    desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem.

    Entrevistado P3

    Ambiente da sala

    Praticar uma comunicao aberta, ter uma relao de confiana, saber ouvir, respeitar, compreender, dialogar e

    dar espao para que a criana partilhe e contribua com as

    suas conversas. Entrevistado E1

  • Captulo I Contextualizao do estudo

    11

    Crianas importante que os alunos percebam e compreendam o que lhes transmitido. Entrevistado P2

    Influncia dos

    espaos na

    aprendizagem da

    criana

    Vantagens/Influn-

    cias positivas

    -A organizao dos espaos permite criar um ambiente mais favorvel aprendizagem. Entrevistado P3

    Limitaes

    () muitas vezes tenho de ajustar o espao, desviar as mesas e as cadeiras ou ir mesmo para outra sala que me

    oferea mais espao, depende da atividade. Entrevistado

    E2

    Divergncias

    entre a Educao

    Pr-Escolar e o

    1. Ciclo

    Currculo

    O 1. Ciclo no pode fazer tudo sozinho, penso que h contedos que deveriam ser trabalhados no Pr-escolar de

    forma formal e obrigatria. Entrevistado P3

    Espao

    A primeira diferena que se v logo a sala. O Pr-escolar sempre estruturado por cantinhos e o 1. Ciclo

    s filas de cadeiras e mesas Acho que h uma quebra muito grande de ambiente de sala de aula. Entrevistado

    E2

    Uso das

    Expresses

    Eles quase todos concordam que a rea das Expresses importante, mas, quando vamos conversar sobre

    atividades e sobre aulas, nota-se que recorrem muito

    pouco s Expresses [no 1. ciclo]. Entrevistado E2

    Respeitante anlise documental, salienta-se que esta permitiu proceder pesquisa e

    anlise da temtica principal do estudo: a rea das Expresses e Comunicao. Alm das

    leituras e consultas realizadas sobre a temtica, anteriormente referidas, documentos com

    aspetos referentes s escolas que nos acolheram e s crianas com que interagimos foram,

    tambm, alvo de anlise. Entre os vrios documentos podemos destacar documentos oficiais

    (Orientaes Curriculares para o Pr-Escolar, Programa do 1. Ciclo do Ensino Bsico,

    Currculo Regional da Educao Bsica), documentos orientadores das escolas de estgio

    (Projeto Curricular de Escola, Projeto Educativo de Escola e Plano Anual de Atividades) e do

    grupo/turma (Projeto Curricular de Grupo/Turma, e Processos Individuais das crianas). Os

    documentos anteriormente mencionados permitiram-nos recolher informaes sobre a

    organizao e funcionamento da escola, sobre as rotinas do grupo/turma, as problemticas

    existentes, os interesses e motivaes das crianas, as metodologias eleitas pelas docentes,

    entre outras informaes. Livros, dissertaes, revistas e artigos publicados sobre as temticas

    j mencionadas foram tambm consultados.

    A observao tambm foi um aspeto preponderante para a recolha de informao.

    Esta, inicialmente, permitiu-nos recolher dados sobre o espao educativo, as estratgias e

    metodologias utilizadas pelo docente, sobre as crianas (comportamento, interesses, gostos,

    facilidades/dificuldades, entre outros aspetos), sobre as rotinas e funcionamento da sala de

    aula, etc. Num primeiro momento, os estagirios tiveram oportunidade de, apenas, observar e

    registar informao, o que nos permitiu inteirar de todo o ambiente educativo antes da prtica

    propriamente dita. Dias (2009, p.29) diz-nos que necessrio conhecer a(s) criana(s) e o(s)

  • Captulo I Contextualizao do estudo

    12

    contexto(s) educativo(s) que a(s) rodeia(m) para saber o que a criana j capaz de fazer, para

    ajustar respostas ao desenvolvimento da criana, para intervir (escolhendo materiais,

    esquemas de organizao, estratgias a utilizar, regras a estabelecer, exigncias a fazer). A

    autora acrescenta ainda que A observao no contexto de sala de actividades uma

    estratgia privilegiada que permite captar o processo de desenvolvimento/aprendizagem da

    criana.

    Gonalves (2006, p. 32) afirma que a observao e anlise da relao educativa, ao

    apresentarem-se na formao de professores como um instrumento de auto-regulao das

    prticas, esto a assumir-se como facilitadores da figura do professor encarado como

    construtor de xitos e no como um gestor de fracassos educativos e, ao mesmo tempo, como

    primeiro motor da sua formao. O mesmo autor tambm refere que A observao dever

    focar-se nas competncias emergentes ao invs de se focar no que a criana no capaz de

    fazer (ibidem, p.30). Aps o incio da prtica individual de cada formando, a observao

    passou a ser til para averiguar as capacidades/competncias das crianas. de realar que os

    resultados das aprendizagens das crianas repercutiam-se, de certo modo, no desempenho do

    formando, de modo que este no s se refletia no desempenho das crianas, como tambm no

    seu prprio desempenho.

    No que concerne avaliao do processo ensino-aprendizagem das crianas, as listas

    de verificao, sustentaram a recolha dos dados considerados pertinentes a observar em cada

    interveno pedaggica. As listas de verificao tm, como se sabe, mltiplas aplicaes,

    uma vez que permitem o registo da presena ou da ausncia de comportamentos, assim como

    de processos e produtos de aprendizagem (Verssimo, 2000, p.37).

    Outro recurso utilizado para a recolha de dados foi o registo fotogrfico e em vdeo

    das situaes educativas, que nos permitiram visualizar e refletir com mais tempo e pormenor

    as aes tanto das crianas como da estagiria.

    Concluindo, de modo a certificarmos a credibilidade e solidez deste estudo, contmos

    com dados de diversa ndole e provenientes de diferentes agentes educativos (crianas,

    educadores/professores).

  • Captulo II

    O Ensino das Expresses nos Primeiros Anos da Educao Bsica prticas e testemunhos do Educador/Professor

    1. Pensar a educao e a escola na atualidade

    2. O perfil do educador/professor

    3. O Ensino das Expresses na Educao Bsica

    4. A importncia da expresso e da comunicao na Educao Pr-Escolar

    e no 1. Ciclo do Ensino Bsico

    5. A comunicao na sala de aula e o impacto da organizao dos espaos

  • Captulo II O Ensino das Expresses nos Primeiros Anos da Educao Bsica prticas e

    testemunhos do Educador/Professor

    14

    1. Pensar a educao e a escola na atualidade

    Atualmente, a humanidade vivencia variadas alteraes na sociedade a diferentes

    nveis. Estamos submersos pela complexidade do mundo e pelas inmeras informaes sobre

    ele. Assim sendo, esta uma das mudanas que est presente, sem dvida, na educao,

    desencadeando novas formas de pensamento e de ao de acordo com as exigncias de

    diversas ndoles (sociais, polticas, profissionais, etc.). Segundo Patrcio Nenhuma sociedade

    humana pode prescindir da educao: em 1. lugar, para subsistir depois, para se desenvolver

    e afirmar. Na sua generalidade abstracta, esta uma posio que podemos considerar

    universalmente aceite (Patrcio, 2001, p. 235).

    Quando pensamos em educao, a figura do professor, da escola e do aluno

    indissocivel. Vrias so as definies que podemos encontrar de educao. De acordo com

    Netto (1987, p. 6) As definies convencionais de educao limitam-se espcie humana e

    caraterizam como o processo total por meio do qual o indivduo, em interao com a cultura

    em que vive, desenvolve a sua compreenso da realidade e assimila conhecimentos, tcnicas,

    crenas, atitudes e valores. Acrescenta ainda que () a educao compreende tudo o

    quanto contribui para o desenvolvimento da pessoa, sob todos os aspectos fsico e motor,

    intelectual, emocional, social, profissional, esttico, tico, religioso e no pode ser atribudo

    ao de fatores genticos (ibidem, pp. 6-7). Para Medeiros (2009, p. 67), A Educao

    complexa e no axiologicamente neutra. A Educao, para o ser em profundidade, exige

    tomada de posio, exige uma atitude axiolgica que pode ser mais ou menos unnime. A

    convergncia e divergncia, entendidas com lisura, so da essncia do pensar e do fazer

    educacional. O mesmo autor defende que a educao considerada como um projeto

    antropolgico que contribui para a formao da pessoa humana e das comunidades. nesta

    linha que encontramos as dimenses polticas, cvicas, culturais, sociais, axiolgicas,

    econmicas, entre outros valores que interagem entre si. A Educao aqui concebida em

    toda a sua complexidade (ibidem, p. 115). Patrcio (2001, p. 235) afirma que a educao

    vital para o homem. Acrescenta ainda que a instituio () mais apropriada para

    promover a educao do homem a Escola (ibidem, p. 235).

    A escola igualmente vista como um espao de aprendizagem de conhecimentos e

    saberes (instruo) e de educao, em conformidade com o que Santos afirma, na escola que

    se d a aprendizagem dos gestos, das condutas, das normas que identificam e inserem o

    aluno num grupo social determinado. Em suma, a escola potencialmente informativa e

  • Captulo II O Ensino das Expresses nos Primeiros Anos da Educao Bsica prticas e

    testemunhos do Educador/Professor

    15

    normativa do pensar, do agir e do sentir humano (Santos, 2001, p. 70). Por sua vez,

    Sebastio (2001, p. 230) considera que a escola executa funes inigualveis na nossa

    sociedade, referindo que um dos meios mais importantes ao nosso dispor para a construo

    da sociedade do amanh. A escola como estrutura pertencente da nossa sociedade ser o

    espelho de cada momento de evoluo da mesma. Consideramos, ento, que a escola um

    espao de formao do indivduo, partilhado entre alunos e professores. Estes relacionam-se

    entre si, de modo a criar um ambiente rico e harmonioso com variadas experincias visando o

    seu desenvolvimento a diferentes nveis. No entanto, importante que a escola trabalhe em

    parceria com a comunidade e abra as portas e os horizontes a projetos e planos em conjunto

    com os pais, familiares, instituies locais, entre outros, de modo enriquecer essas prprias

    experincias e potenciar diferentes vivncias. Tal facto corroborado por Morgado, que

    afirma que Os aspectos ligados ao meio familiar e sua relao com o meio escolar so

    actualmente considerados como importantes factores contributivos para o desenvolvimento de

    trajectos educativos bem sucedidos (Morgado, 2001, p. 78).

    Segundo Medeiros (2009), para que se entenda os caminhos da educao escolar e no

    escolar necessrio o seu sustento na Filosofia da Educao e na Filosofia do Currculo.

    Conforme o mesmo autor, () tambm fundamental uma Filosofia do Currculo de modo

    a entend-lo nas suas dimenses epistemolgicas, antropolgicas e axiolgicas. S assim o

    currculo pode formar pessoas, cidados e (futuros) profissionais (ibidem, p. 67).

    Por sua vez, Pacheco (1996) defende que no existe uma nica e verdadeira definio

    de currculo. Currculo j no se identifica com uma ordem de contedos e programas, mas

    sim como um dos fatores de maior influncia na qualidade de ensino. de salientar que

    quanto mais o currculo for diferenciado, flexvel e adequado ao pblico a que se destina,

    maiores sero as possibilidades de sucesso. Poder-se- dizer, segundo o Dicionrio de

    Filosofia da Educao, Carvalho (2006, p. 70) define: curriculum deriva do verbo latino

    currere, que significa correr. Nesta concepo, o currculo, na sua raiz, profundamente

    dinmico, um verbo, uma actividade permanente. Deste modo, o currculo uma tarefa

    para desenvolver ao longo da vida. Assim, o currculo constri-se ao longo de toda a vida,

    tendo em conta as experincias, decises e escolhas de cada indivduo.

    Na perspetiva de Zabalza (1994, p. 12) O currculo o conjunto dos pressupostos de

    partida, das metas que se deseja alcanar e dos passos que se do para as alcanar; o

    conjunto de conhecimentos, habilidades, atitudes, etc. que so considerados importantes para

    serem trabalhados na escola, ano aps ano. Ora, nas palavras do autor anteriormente

  • Captulo II O Ensino das Expresses nos Primeiros Anos da Educao Bsica prticas e

    testemunhos do Educador/Professor

    16

    mencionado, o currculo centra-se nas habilidades e nos conhecimentos que se esperam que os

    sujeitos alcancem.

    Quanto s definies supramencionadas, podemos extrair diferentes concees do

    conceito de currculo. Ora, este visto como metas/resultados a atingir pelo sujeito no

    processo de ensino-aprendizagem em contexto escolar, sendo considerado como fator

    permanente ao longo da vida, atendendo as experincias escolares e no escolares. Pacheco

    (1996, p. 48) alerta-nos para o facto de que () o professor o principal protagonista do

    desenvolvimento do currculo, no podendo limitar as suas funes apenas ao que deve

    executar, mais do que isso, deve pensar e refletir sobre as suas prticas, ou seja, ser um

    professor reflexivo.

    Tendo em conta as diferentes realidades e contextos a que cada escola est inerente,

    cabe aos docentes peas fundamentais nas prticas de gesto curricular - gerir o currculo de

    modo eficaz, conduzindo uma educao de qualidade, que responda s necessidades de todos

    os alunos. isto que se espera da escola na atualidade.

    Sendo que na escola que os alunos passam a maior parte do seu tempo, os

    professores/educadores tornam-se um modelo a seguir para os seus alunos. Nesse caso o

    professor, alm de formar cientificamente os seus alunos, deve form-los ao nvel pessoal e

    social. Santos (2007, p. 29) afirma que o professor deve desempenhar uma dupla funo: por

    um lado, a de transmitir e desenvolver conhecimentos, gostos, sensibilidades, perspectivas e,

    naturalmente, a de mobilizar as competncias dos alunos; por outro lado, a de motivar os

    alunos para a apropriao ou para a mudana de comportamentos e para a consciencializao

    de valores e atitudes.

    , ento, importante que os educadores/professores formem a criana em valores e

    para os valores. Seguindo a mesma linha de pensamento, Fonseca (2005, p. 108) enfatiza a

    relao existente entre educao e valores, afirmando que () educao e valor so dois

    conceitos complementares que mantm na sua essncia intrnseca e dialtica, que se

    compreende no duplo sentido: todo o acto educativo veicula valores, a educao na sua

    essncia um valor.

    De acordo com Sant'Anna & Menegolla (1991, p. 20) O objetivo da educao no

    pode ser outro seno a pessoa. Ajudar a pessoa a ser ela mesma junto ao mundo. A ser livre,

    consciente, comprometida, responsvel, dinmica e autntica com o mundo, com a vida e

    consigo mesma. A escola que se preocupa com a pessoa a escola que educa; que ajuda a ser

    feliz; que ajuda o mundo a ser melhor, a viver a paz, que promove a fraternidade e o amor.

  • Captulo II O Ensino das Expresses nos Primeiros Anos da Educao Bsica prticas e

    testemunhos do Educador/Professor

    17

    Para isso a educao dever ser planejada a partir da dimenso do homem como pessoa. S

    assim estar contribuindo para a formao do homem completo, a fim de que se torne cada

    vez mais senhor de si mesmo.

    2. O perfil do educador/professor

    Quando se fala em educao inerente a associao que se faz aos agentes a

    implicados, ou seja, aos sujeitos responsveis, em parte, por educar as geraes vindouras: a

    escola e o professor/educador.

    A escola e o professor/educador, no descurando a importncia do ambiente familiar,

    so considerados como os principais responsveis da educao das crianas.

    A conceo de que o professor um mero transmissor de saberes e conhecimentos j

    h muito que no se aplica. Com as mudanas sociais, polticas, econmicas, entre outras, o

    professor/educador tambm mudou o carter das suas funes e responsabilidades.

    Atualmente, o professor responsvel por educar as crianas em diferentes nveis, prepar-las

    e form-las como indivduos conscientes, capazes de tomar decises fundamentadas e

    informadas para o mundo que os espera. Assim, deseja-se que o professor mobilize um vasto

    leque de competncias ora cientficas, tcnicas, pedaggicas, como organizacionais e

    relacionais, entre outras.

    De acordo com as percees dos(as) entrevistados(as) um(a) educador(a) deve ser:

    - Aquele que vai ao encontro das crianas e das suas necessidades, aquele que

    motiva e proporciona aprendizagens ativas, aquele que reflete sobre as suas

    prticas e aquele que est preparado para modificar e compreender outros

    caminhos. (Educador A).

    - Aquele que faz com que cada aluno se sinta bem na sala de aula e que

    proporciona momentos de aprendizagem a todos e a cada um dos seus alunos,

    diariamente. muito importante o saber descer ao nvel dos alunos, simplificar

    as aquisies, motiv-los e captar a ateno deles. (Professor F).

    Esteve (1991, p. 100), no seu texto intitulado Mudanas Sociais e Funo Docente,

    diz-nos que No momento actual, o professor no pode afirmar que a sua tarefa se reduz

    apenas ao domnio cognitivo. Para alm de saber a matria que lecciona, pede-se ao professor

    que seja facilitador da aprendizagem, pedagogo eficaz, organizador do trabalho de grupo, e

    que, para alm do ensino, cuide do equilbrio psicolgico e afectivo dos alunos, da integrao

  • Captulo II O Ensino das Expresses nos Primeiros Anos da Educao Bsica prticas e

    testemunhos do Educador/Professor

    18

    social e da educao sexual, etc.; a tudo isto pode somar-se a ateno aos alunos especiais

    integrados na turma. Pacheco (1995, p. 28) tambm da opinio que Mais do que

    implementar um acto de ensino, o professor faz parte de uma edifcio escolar com as suas

    normas organizacionais, valores estabelecidos e expectativas criadas. Relaciona-se com

    alunos, intra e extraturma, com professores, numa partilha de opinies, num murmurar de

    frustraes e numa salvaguarda de individualismo, dilogo com agentes educativos e com

    encarregados de educao, responde perante a administrao e insere-se num territrio

    educativo. Numa palavra: o professor faz parte de uma cultura de ensino, dando-lhe sentido e

    significado a partir do momento em que interioriza e expressa as suas crenas, atitudes e

    valores.

    A produo de uma cultura profissional dos professores um trabalho longo,

    realizado no interior e no exterior da profisso, que obriga a intensas interaces e partilhas. O

    novo profissionalismo docente tem de basear-se em regras ticas, nomeadamente no que diz

    respeito relao os restantes actores educativos, e na prestao de servios de qualidade. A

    deontologia docente tem mesmo de integrar uma componente pedaggica, na medida em que

    no eticamente aceitvel a adopo de estratgias de discriminao ou de teorias de

    consagrao das desigualdades sociais (Nvoa, 1991, p. 27).

    No Decreto-Lei n. 240/2001 so realadas vrias dimenses que se esperam ser

    compreendidas pelo educador/professor. No documento anteriormente mencionado

    encontram-se explanadas as condies aprovadas do perfil geral de desempenho profissional

    do educador de infncia e dos professores do ensino bsico e secundrio. De acordo com o

    decreto supracitado, verificamos a existncia de vrias dimenses de anlise. Numa primeira,

    denominada dimenso profissional, social e tica, o professor promove aprendizagens

    curriculares, fundamentando a sua prtica profissional num saber especfico resultante da

    produo e uso de diversos saberes integrados em funo das aces concretas da mesma

    prtica, social e eticamente situada. Por sua vez, a segunda dimenso diz respeito ao

    desenvolvimento do processo de ensino aprendizagem, ou seja, o professor promove

    aprendizagens no mbito de um currculo, no quadro de uma relao pedaggica de qualidade,

    integrando, com critrios de rigor cientfico e metodolgico, conhecimentos das reas que o

    fundamentam. A terceira dimenso remete para a participao na escola e relao com a

    comunidade: espera-se que o professor [exera] a sua actividade profissional, de uma forma

    integrada, no mbito das diferentes dimenses da escola como instituio educativa e no

    contexto da comunidade em que se insere. A ltima dimenso refere-se ao desenvolvimento

  • Captulo II O Ensino das Expresses nos Primeiros Anos da Educao Bsica prticas e

    testemunhos do Educador/Professor

    19

    profissional ao longo da vida. Esta conjetura que o professor [incorpore] a sua formao

    como elemento constitutivo da prtica profissional, construindo-a a partir das necessidades e

    realizaes que consciencializa, mediante a anlise problematizada da sua prtica pedaggica,

    a reflexo fundamentada sobre a construo da profisso e o recurso investigao, em

    cooperao com outros profissionais.

    O conceito de bom professor ou professor eficaz tem valor num determinado tempo e

    num determinado lugar, de acordo com a sociedade e poca. O professor , antes de mais, um

    cidado. Deve-se respeitar e reconhecer a sua individualidade, as suas experincias,

    aspiraes H que apostar nas dimenses da prtica pedaggica e na sua formao como

    pessoa com vista a obter uma formao de qualidade.

    Corroborando o acima exposto, Costa & Santos (2005, p. 102) preconizam que A

    construo de um profissional da educao comea-se a desenvolver na formao inicial, que

    , sem dvida, uma fase importante mas no suficiente para fomentar em plenitude todas as

    suas competncias. O crescimento pessoal e profissional do professor deve ser feito ao longo

    da vida, tendo em vista o desenvolvimento das suas capacidades de investigao e reflexo,

    competncias curriculares e pedaggico-didcticas, valores e atitudes pessoais e relacionais.

    Uma das competncias essenciais do professor relaciona-se com a sua capacidade de reflectir

    e investigar, com um sentido activo e crtico, visando a modificao e melhoria das suas

    prticas.

    Ao longo de todo o processo de formao e prtica pedaggica da mxima

    importncia a ao de refletir. Dias (2009, p. 32) define: Reflectir significa meditar, cogitar,

    ponderar, considerar, absorver-se, pensar; o voltar da conscincia sobre si prpria para

    analisar o seu prprio contedo. A reflexo implica a consciencializao do vivido, do

    aprendido, do sentido, do experienciado. O professor que reflete pe constantemente prova

    o seu trabalho. Ao fazer esta anlise, acaba por ter feedback do trabalho desenvolvido, o que

    permite uma constante avaliao e reestruturao da sua prtica. o que se pretende e espera

    num profissional, que seja um profissional reflexivo, capaz de dar resposta diversidade de

    exigncias com que confrontado na escola atual e do futuro. Dias (2009, p. 32) acrescenta

    ainda que a ao de refletir () um processo atravs do qual o individuo (ou um grupo)

    pensa sobre uma experincia, ideia, produto de trabalho ou aprendizagem; um olhar para trs,

    uma reconstruo que usualmente requer a linguagem e leva a uma reviso baseada no

    pensamento. Pressupe questionar o qu, porqu e como uma aprendizagem se efectuou,

    implicando uma auto-avaliao na qual o indivduo observa o que realizar da prxima vez

  • Captulo II O Ensino das Expresses nos Primeiros Anos da Educao Bsica prticas e

    testemunhos do Educador/Professor

    20

    para melhorar, estabelecendo objectivos para o futuro. Adotar uma prtica reflexiva um

    caminho para ser um profissional de sucesso, sempre com o objetivo central de promover

    aprendizagens que visem o desenvolvimento integral dos alunos enquanto indivduos e

    cidados.

    Como nos diz Patrcio (2001, p. 238) Educar no ensinar, educar levar ou ajudar o

    outro a aprender. O ensino no faz sentido por si. Ensina-se para. Ensina-se o outro para o

    desenvolvimento do outro: para o crescimento, a expanso do outro; para o aumento do outro

    em ser (). Assim, a funo do professor o de facilitador da aprendizagem. ele que

    ajuda o aluno a ver o mundo de modo diferente, de proporcionar experincias que marcaro a

    vida do aluno e lhe ficaro na memria. Principalmente nas idades da educao pr-escolar e

    de primeiro ciclo, os professores so tidos pelos seus alunos como heris, como o exemplo

    e modelos que devem seguir. Os professores baseando-se na coerncia, um princpio a ter

    presente desde o incio (entre o que aconselham aos alunos e o que praticam), procuram

    incitar bons hbitos, bons costumes nos seus alunos, tendo como funo formar homens bons

    e tambm bons cidados. Vayer & Trudelle (1999, p. 34) afirmam que A criana

    desenvolve-se, logo aprende, num ambiente. O que significa que o que vemos exprimir-se ou

    desenvolver-se diante dos nossos olhos depende, em larga medida, do contexto no seio do

    qual vive e age presentemente a criana, um contexto de que o adulto, tanto na famlia como

    na classe, faz parte, mesmo quando no intervm na aco da criana.

    Com efeito, o professor/educador deve, alm de ensinar conhecimentos especficos,

    interagir com aluno e transmitir valores, modos de pensar e de viver em sociedade. Carrolo

    (1997, p. 163) corrobora a mesma posio anteriormente tomada, defendendo que A

    docncia lida com um dos aspectos mais delicados do ser humano, o carcter. O professor age

    junto dos alunos por forma a que eles adquiram hbitos, costumes, valores. Por forma a que

    fortaleam o carcter, se tornem pessoas que orientem a sua vida para o bem. A educao

    um dos factores de formao da conscincia moral, que se pretende autnoma e livre. O

    mesmo autor acrescenta ainda que A dimenso tica da actividade docente, seja no que

    respeita ao educador individualmente considerado, seja no que respeita ao conjunto dos

    profissionais que exercem a docncia, torna imperioso que a conduta profissional se oriente

    por uma tica. Os professores devem agir por referncia a uma deontologia e esta deve ser

    uma expresso da autonomia profissional (ibidem, p. 165).

    cada vez mais amplo o campo de ao do educador/professor. Atualmente ser

    professor e/ou seguir a profisso de docente abarca vrios desafios a vrios nveis. Com

  • Captulo II O Ensino das Expresses nos Primeiros Anos da Educao Bsica prticas e

    testemunhos do Educador/Professor

    21

    efeito, cada vez mais importante investir numa formao inicial e contnua de qualidade.

    Corroborando a opinio de Joyce e Clift (1984), Garca (1999, p. 81) cita os autores

    mencionados que nos dizem que o objectivo da formao inicial preparar os candidatos

    para: o estudo do mundo, de si mesmo, e do conhecimento acadmico ao longo da sua

    carreira; o estudo continuado no ensino superior; participar em esforos de renovao da

    escola, incluindo a criao e implementao de renovaes; enfrentar problemas gerais do seu

    local de trabalho. A formao inicial dos futuros professores deve ser delineada de modo que

    estes possam adquirir as competncias essenciais ao bom desempenho profissional. Assim, a

    mesma no deve ser encarada como um treino de tcnicas e mtodos, e sim, como auxlio dos

    futuros professores no seu desenvolvimento e autonomia profissional.

    3. As expresses no currculo da educao bsica: o incio de um processo

    de formao para a vida

    O ato educativo um ato complexo com o qual se deseja que o aluno(a)

    simultaneamente aprenda a pensar, desenvolva um pensamento autnomo e tenha acesso aos

    contedos do mundo cultural ao qual pertence, faa uma aprendizagem de experincia

    humana culturalmente organizada. Que esta apropriao seja feita de forma crtica

    naturalmente o desejo de uma posio moderna na educao (Zabalza, 1998, p. 167). Esta

    perspetiva segue a mesma linha de pensamento de Ferraz (2011, p. 15), quando afirma que

    Educar uma das aces que definem a nossa humanidade. O ser humano transcende o seu

    status animal atravs da Educao, passa a ser capaz de ir alm dos instintos j que

    compreende, re-elabora, reflecte, cria e recria, critica, aprende e capaz de ensinar.

    Face complexidade do mundo atual, o professor tem de se manter atualizado e

    renovar o seu conhecimento. Queremos com isto dizer que fundamental apostar na sua

    formao contnua e permanente, mantendo uma atitude de aprendizagem constante,

    questionando e refletindo inmeras matrias e assuntos. S assim, o educador/professor se

    manter atualizado e poder dar resposta aos alunos, escola, e prpria sociedade. Na

    perspetiva de Roldo (2005, p. 19) () essencial que o professor dos primeiros nveis

    tenha um enorme e rigorosssimo saber cientfico. Incluo no saber cientfico o saber slido

    sobre as reas de conhecimento que integram o currculo, o saber sobre os seus alunos, sobre

  • Captulo II O Ensino das Expresses nos Primeiros Anos da Educao Bsica prticas e

    testemunhos do Educador/Professor

    22

    os seus modos mltiplos de aprender e sobre o modo de ensinar, constituindo-se como um

    todo em aco e no como um somatrio de partes, cujos pesos se adicionam.

    Na educao pr-escolar, em particular, os educadores no tm, propriamente, que

    obedecer a um currculo definido, como acontece nos restantes nveis de ensino. dada a

    autonomia e flexibilidade, aos educadores, para desenharem e organizarem os seus prprios

    projetos, tendo em conta os interesses e necessidades das crianas, das famlias, em geral, do

    contexto. Comprove-se o exposto com o seguinte excerto da Lei-Quadro n.5/97, de 10 de

    fevereiro: A frequncia da educao pr-escolar facultativa, no reconhecimento de que

    cabe, primeiramente, famlia a educao dos filhos, competindo, porm, ao Estado

    contribuir activamente para a universalizao da oferta da educao pr-escolar (). No

    entanto, o Ministrio da Educao elaborou um documento, muito utilizado como orientao,

    designado de Orientaes Curriculares para a Educao Pr-Escolar. Documento este que

    constitui () um conjunto de princpios para apoiar o educador nas decises sobre a sua

    prtica() (Ministrio da Educao, 1997, p.13).

    Alm de A educao pr-escolar [ser] a primeira etapa da educao bsica no

    processo de educao ao longo da vida (), de acordo com o princpio geral do artigo 1. da

    Lei-Quadro n. 5/97, de 10 de fevereiro, esta deve ser uma etapa integrada e articulada numa

    perspetiva de continuidade com os outros ciclos do sistema educativo. A etapa inicial, a

    educao pr-escolar, surge como uma preparao base para a criana aprofundar e completar

    as aprendizagens nos anos seguintes, ou seja, nesta fase que se criam condies necessrias

    para que as crianas ganhem gosto por aprender.

    Relativamente ao 1. Ciclo do Ensino Bsico, a Lei n. 49/2005, de 30 de agosto,

    refere a universalidade, a obrigatoriedade e gratuitidade da frequncia das crianas na escola,

    tendo como exemplo um dos vrios princpios: Assegurar uma formao geral comum a

    todos os portugueses que lhes garanta a descoberta e o desenvolvimento dos seus interesses e

    aptides, capacidade de raciocnio, memria e esprito crtico, criatividade, sentido moral e

    sensibilidade esttica, promovendo a realizao individual em harmonia com os valores da

    solidariedade social (ibidem, atrigo 7., alnea a)).

    Alm de o 1. Ciclo ser obrigatrio, o mesmo obedece a uma estrutura curricular

    sustentada por vrios documentos, entre eles: o Programa do 1. Ciclo do Ensino Bsico e os

    Novos Programas de Lngua Portuguesa e de Matemtica. Segundo Zabalza (1994, p. 13), O

    Programa traduz o que, em cada momento cultural e social, definido como o conjunto de

    conhecimentos, habilidades, valores e experincias comuns desejados por todo um povo. E,

  • Captulo II O Ensino das Expresses nos Primeiros Anos da Educao Bsica prticas e

    testemunhos do Educador/Professor

    23

    na medida em que se apresenta em termos prescritivos, podemos referir-nos a ele como um

    conjunto de experincias de aprendizagem por que devem passar todas as crianas de um

    sistema escolar. O mesmo autor acrescenta ainda que no considera o programa () uma

    imposio, um acto de poder estatal ou centralizador, mas sim como um potencial de

    desenvolvimento garantido a todos e a cada um dos sujeitos e grupos sociais de um pas

    (ibidem, p. 17).

    Acrescentando aos documentos anteriormente referidos, como orientao sustentada

    da nossa prtica aquando o momento de estgio, o Currculo Regional da Educao Bsica

    (CREB) foi, sem dvida, um documento fundamental. Segundo o documento supracitado A

    primeira referncia legislativa a este conceito encontra-se no Decreto Legislativo Regional n.

    15/2001/A, que define currculo regional como o conjunto de aprendizagens e competncias

    a desenvolver pelos alunos que se fundamentam nas caractersticas geogrficas, econmicas,

    sociais, culturais e poltico-administrativas dos Aores. Esta definio significa o

    reconhecimento de que o grau de especificidade de determinadas caractersticas desta Regio

    insular suficientemente acentuado para que as mesmas sejam tidas em conta nas decises

    sobre as aprendizagens a promover nas escolas aorianas (CREB, 2011, p.4). Neste sentido,

    o CREB deve ser considerado como um complemento s orientaes oferecidas pelo

    Currculo Nacional e pelas Metas de Aprendizagem.

    Por sua vez, as Metas de Aprendizagem, para o Pr-Escolar e 1. Ciclo do Ensino

    Bsico, foram outro suporte na prtica pedaggica, pois As metas curriculares estabelecem

    aquilo que pode ser considerado como a aprendizagem essencial a realizar pelos alunos, em

    cada um dos anos de escolaridade ou ciclos do ensino bsico. Constituindo um referencial

    para professores e encarregados de educao, as metas ajudam a encontrar os meios

    necessrios para que os alunos desenvolvam as capacidades e adquiram os conhecimentos

    indispensveis ao prosseguimento dos seus estudos e s necessidades da sociedade atual. ()

    Conjuntamente com os atuais Programas de cada disciplina, as metas constituem as

    referncias fundamentais para o desenvolvimento do ensino: nelas se clarifica o que nos

    Programas se deve eleger como prioridade, definindo os conhecimentos a adquirir e as

    capacidades a desenvolver pelos alunos nos diferentes anos de escolaridade1.

    Nesta conjuntura, as competncias que se pretenderam desenvolver com as

    crianas/alunos foram ao encontro dos documentos at ento mencionados, havendo sempre o

    cuidado de respeitar os interesses e ritmo dos alunos. O educador/professor deve saber

    1 http://www.dgidc.min-edu.pt/ensinobasico/index.php?s=directorio&pid=4

  • Captulo II O Ensino das Expresses nos Primeiros Anos da Educao Bsica prticas e

    testemunhos do Educador/Professor

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    articular as exigncias e caratersticas a cada um dos nveis entre o pr-escolar e o 1. ciclo

    estabelecendo pontes entre os dois contextos, de modo a promover o desenvolvimento

    seguro e coerente da criana. Comprovando a opinio de Rodrigues (2007, p. 134), A

    educao no deve continuar a ser vista como um conjunto de degraus a transpor. Importa

    desenvolver uma viso de conjunto. Esta viso s pode construir-se com base num esforo de

    conhecimento recproco e de envolvimento democrtico. Conhecimento e envolvimento no

    apenas dos ciclos educativos e dos docentes, mas de toda a comunidade educativa.

    No decorrer do nosso estgio profissional, quer na Educao Pr-escolar, quer no 1.

    Ciclo do Ensino Bsico, proporcionmos um conjunto de contedos s crianas, de forma a

    que estas pudessem desenvolver, adquirir e aprofundar determinadas competncias, facultadas

    pelas vrias atividades desenvolvidas em cada contexto, referentes s diversas reas

    curriculares.

    Na Prtica Educativa Supervisionada I, no contexto do Pr-escolar, tivemos a

    oportunidade de desenvolver e potenciar atividades respeitantes s seguintes reas

    curriculares (propostas pelas Orientaes Curriculares para a Educao Pr-Escolar): a rea

    de Expresso e Comunicao, a rea da Formao Pessoal e Social e a rea do

    Conhecimento do Mundo. de salientar que a rea de Expresso e Comunicao comporta

    os seguintes domnios: o Domnio das Expresses (Motora, Dramtica, Plstica e Musical); o

    Domnio da Linguagem Oral e Abordagem Escrita; e, por fim, o Domnio da Matemtica.

    Tendo em conta a natureza deste relatrio e os objetivos subjacentes, enfatizar-se- as

    reas das Expresses, no descurando nem relativizando as restantes reas do saber.

    Assim sendo, e resumindo os princpios presentes nas Orientaes Curriculares, a

    rea de expresso e comunicao engloba as aprendizagens relacionadas com o

    desenvolvimento psicomotor e simblico que determinam a compreenso e o progressivo

    domnio de diferentes formas de linguagem (Ministrio da Educao, 1997, p. 56). Ao

    iniciar a educao pr-escolar, a criana j realizou algumas aquisies bsicas nos diferentes

    domnios da rea da expresso e comunicao. Estas so o ponto de partida para o educador

    favorecer o contacto com as vrias formas de expresso e comunicao, proporcionando o

    prazer de realizar novas experincias, valorizando as descobertas da criana, apoiando a

    reflexo sobre estas experincias e descobertas, de modo a permitir uma apropriao dos

    diferentes meios de expresso e comunicao (ibidem, p. 56). Deste modo, apresentamos, de

    seguida, resumidamente, os princpios propostos no documento supramencionado:

  • Captulo II O Ensino das Expresses nos Primeiros Anos da Educao Bsica prticas e

    testemunhos do Educador/Professor

    25

    - Expresso motora: Ao entrar na educao pr-escolar a criana j possui algumas

    aquisies motoras bsicas (). Tendo em conta o desenvolvimento motor da criana, a

    educao pr-escolar deve proporcionar ocasies de exerccio da motricidade global e

    tambm da motricidade fina, de modo a permitir que todas e cada uma aprendam a

    utilizar e a dominar melhor o seu prprio corpo (ibidem, p. 57);

    - Expresso dramtica: A expresso dramtica um meio de descoberta de si e do outro

    (). Na interaco com outra ou outras crianas, em actividades de jogo simblico, os

    diferentes parceiros tomam conscincia das suas reaces, do seu poder sobre a

    realidade, criando situaes de comunicao verbal e no verbal. () A aco do

    educador facilita a emergncia de outras situaes de expresso e comunicao que

    incluem diferentes formas de mimar e dramatizar vivncias e experincias das crianas.

    () A interveno do educador permite um alargamento do jogo simblico atravs de

    sugestes que ampliam as propostas das crianas, criam novas situaes de

    comunicao, novos papis e sua caracterizao (ibidem, pp.59-60);

    - Expresso plstica: As crianas exploram espontaneamente diversos materiais e

    instrumentos de expresso plstica () [isto] implica um controlo da motricidade fina

    que a relaciona com a expresso motora ().Valorizar o processo de explorao e

    descoberta de diferentes possibilidades e materiais supe que o educador estimule

    construtivamente o desejo de aperfeioar e fazer melhor. O desenho, pintura, digitinta

    bem como a rasgagem, recorte e colagem so tcnicas de expresso plstica comuns na

    educao pr-escolar. A expresso plstica enquanto meio de representao e

    comunicao, pode ser da iniciativa da criana ou proposta pelo educador, partindo das

    vivncias individuais ou de grupo (ibidem, pp.61-62);

    - Expresso musical: A expresso musical assenta num trabalho de explorao de sons e

    ritmos, que a criana produz e explora espontaneamente e vai aprendendo a identificar e

    a produzir, com base num trabalho sobre os diversos aspectos que caracterizam os sons

    (). A expresso musical est intimamente relacionada com a educao musical que se

    desenvolve, na educao pr-escolar, em torno de cinco eixos fundamentais: escutar,

    cantar, danar, tocar e criar (ibidem, pp. 63-64).

    No que respeita ao segundo momento do estgio, na Prtica Educativa Supervisionada

    II, no contexto do 1. Ciclo, tivemos a oportunidade de desenvolver e potenciar atividades

    respeitantes s reas curriculares disciplinares de frequncia obrigatria, a saber: Portugus,

    Matemtica, Estudo do Meio e Expresses Artsticas (Plstica, Dramtica, Musical e Fsico-

  • Captulo II O Ensino das Expresses nos Primeiros Anos da Educao Bsica prticas e

    testemunhos do Educador/Professor

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    Motora). importante salientar que no estgio do 1. Ciclo apoimo-nos no documento

    Organizao Curricular e Programas, onde as componentes dos domnios disciplinares so

    constitudas por princpios orientadores, objetivos gerais e blocos de aprendizagem, nos

    Novos Programas de Portugus e Matemtica, no CREB e nas Metas de Aprendizagem do 1.

    Ciclo. Nestes documentos esto presentes princpios orientadores da ao pedaggica, os

    quais os professores devero ter em conta.

    Um professor do 1. Ciclo do Ensino Bsico () desenvolve o respectivo currculo,

    no contexto de uma escola inclusiva, mobilizando e integrando os conhecimentos cientficos

    das reas que o fundamentam e as competncias necessrias promoo da aprendizagem dos

    alunos (Decreto-Lei n. 241/2001, de 30 de agosto). Como foi anteriormente referido, na

    base deste trabalho importa focalizar as competncias a desenvolver nas reas das Expresses,

    frisando sempre que o intuito no menosprezar as restantes reas, mas sim enfatizar as de

    maior interesse para o desenvolvimento das temticas e objetivos do relatrio.

    Deste modo, importa explicitar de forma sinttica as competncias a desenvolver nas

    reas das Expresses no 1. Ciclo do Ensino Bsico.

    Relativamente expresso e educao fsico-motora, que comporta oito blocos,

    definido como objetivos gerais:

    1. Elevar o nvel funcional das capacidades condicionais e coordenativas (resistncia geral,

    flexibilidade, controlo da postura, entre outros);

    2. Cooperar com os companheiros nos jogos e exerccios, compreendendo e aplicando as

    regras combinadas na turma, bem como os princpios de cordialidade e respeito na relao

    com os colegas e o professor;

    3. Participar com empenho no aperfeioamento da sua habilidade nos diferentes tipos de

    actividades, procurando realizar as aces adequadas com correco e oportunidade

    (Ministrio da Educao, 2004, p. 45).

    No que concerne expresso e educao musical, Os instrumentos, entendidos como

    o prolongamento do corpo, so o complemento necessrio para o enriquecimento dos meios

    de que a criana se pode servir nas suas experincias, permitindo ainda conhecer os segredos

    da produo sonora. A experimentao e domnio progressivo das possibilidades do corpo e

    da voz devero ser feitos atravs de actividades ldicas, proporcionando o enriquecimento das

    vivncias sonoro-musicais das crianas (ibidem, p. 73).

    De acordo com os princpios orientadores para a expresso e educao dramtica

    Pretende-se fundamentalmente que as crianas experimentem, atravs de diferentes meios,

  • Captulo II O Ensino das Expresses nos Primeiros Anos da Educao Bsica prticas e

    testemunhos do Educador/Professor

    27

    expressar a sua sensibilidade e desenvolver o seu imaginrio (ibidem, p. 83). Os jogos

    dramticos permitiro que os alunos desenvolvam progressivamente as possibilidades

    expressivas do corpo unindo a intencionalidade do gesto e/ou palavra, expresso, de um

    sentimento, ideia ou emoo. Nos jogos dramticos, as crianas desenvolvem aces ligadas a

    uma histria ou a uma personagem que as colocam perante problemas a resolver: problemas

    de observao, de equilbrio, de controlo emocional, de afirmao individual, de integrao

    no grupo, de desenvolvimento de uma ideia, de progresso na aco (ibidem, p. 83).

    Finalmente, na expresso e educao plstica declarado que A manipulao e

    experincia com os materiais, com as formas e com as cores permite que, a partir de

    descobertas sensoriais, as crianas desenvolvam formas pessoais de expressar o seu mundo

    interior e de representar a realidade. () A possibilidade de a criana se exprimir de forma

    pessoal e o prazer que manifesta nas mltiplas experincias que vai realizando, so mais

    importantes do que as apreciaes feitas segundo moldes estereotipados ou de representao

    realista (ibidem, p. 95).

    Posto isto, ser pertinente realar que a nossa prtica pedaggica teve como base os

    princpios expostos anteriormente, e no s, nos vrios documentos referidos. O realce dado

    s reas das Expresses justifica-se pelo facto desta se revelar uma rea plenamente

    integradora, em termos curriculares, e ser bastante verstil, em termos prticos, pois fornece-

    nos imensas formas de a tratarmos.

    Com a Lei de Bases do Sistema Educativo (1986), constituiu-se um quadro de

    referncia para o ensino artstico, nomeadamente atravs da implementao de linhas

    orientadoras. A importncia atribuda educao e expresso artstica vem salientar o papel

    fundamental que estas desempenham no desenvolvimento e formao integral da criana,

    especialmente no aperfeioamento das suas capacidades afectivas, ldicas, expressivas,

    cognitivas, entre outras (Seara & Silva, 2009, p. 152).

  • Captulo II O Ensino das Expresses nos Primeiros Anos da Educao Bsica prticas e

    testemunhos do Educador/Professor

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    3.1. As Expresses na Educao Bsica: Testemunhos e percees reais

    Embora o ensino das Expresses Artsticas2 seja preconizado pelo Sistema Educativo

    e considerado fundamental na educao da criana, continuam a existir profissionais que se

    mostram reticentes no seu uso e no sensibilizados quanto s potencialidades dessas reas.

    Nunca demais vincar a importncia que as reas das Expresses tm no desenvolvimento

    global da criana, sendo, sem dvida, uma mais-valia.

    Outrora, a escola dava mais destaque s disciplinas ditas tradicionais, sendo elas o

    portugus e a matemtica. Contudo, a escola atual ainda continua a privilegiar uma

    aprendizagem baseada na leitura e nos nmeros, deixando de parte o ensino das Expresses,

    que continuam muitas vezes desvalorizadas e ausentes do contexto escolar. Corroborando a

    mesma ideia, Bucho (2011, p. 32) diz-nos que As actividades ldicas e artsticas so

    afastadas do dia-a-dia escolar, em detrimento de actividades mais da era da cincia, das

    lnguas, do digital e do convencional.

    Importa aferir as causas do descrdito dessas reas e a sua inutilizao, sobretudo, no

    1. ciclo do ensino bsico. No entanto, dado valor e reconhecimento s reas das

    Expresses, por parte dos(as) entrevistados(as). A saber, de acordo com os(as)

    entrevistados(as), existem obstculos de diversas naturezas associados sua implementao,

    facto a comprovar com alguns exemplos dos excertos das entrevistas:

    Educador A: Eu acho que as expresses so reas indispensveis a vrios nveis.

    No desenvolvimento social, pessoal, afetivo Influenciam o modo como se aprende, como se comunica e como se vive o dia a dia.

    Educador C: A rea da Expresses extremamente importante na motivao

    para as aprendizagens de contedos de outras reas. A ludicidade que

    intrnseca s expresses favorece a aprendizagem de contedos mais montonos

    e tericos.

    Professor F: As expresses so reas potenciadoras do desenvolvimento

    equilibrado e harmonioso da criana. Desenvolvem a ateno e concentrao, a

    destreza fsico-motora, proporcionam momentos ldicos. Professor 3

    Nas opinies dos docentes, acima expostas, depreende-se que os educadores

    reconhecem o valor e as potencialidades do ensino das Expresses, achando-as contributrias

    e enriquecedoras, tanto no desenvolvimento como na aprendizagem da criana. Segundo

    Bucho (2011, p. 27) A ludicidade proporcionada pelos diversos jogos, tcnicas e

    metodologias expressivas, poder ser um excelente meio estimulador, incentivador e

    2 Entenda-se Expresses Artsticas consumadas em disciplinas como: a Expresso e Educao Dramtica, a

    Expresso e Educao Plstica, a Expresso e Educao Musical e a Expresso e Educao Fsico-Motora,

  • Captulo II O Ensino das Expresses nos Primeiros Anos da Educao Bsica prticas e

    testemunhos do Educador/Professor

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    facilitador de aprendizagens. Alm de proporcionar prazer na sua utilizao, despertando e

    estimulando o esprito criativo e imaginativo, permite que a transmisso de contedos tericos

    possa ser efectuada de forma diferente, atraente e apelativa.

    Contudo, segundo os entrevistados, existem alguns obstculos sua implementao,

    associados a diversas naturezas, a comprovar abaixo seguem excertos das entrevistas:

    Educador B: Uma das dificuldades , sem dvida, o barulho e a confuso que

    estas atividades geram. Outra dificuldade , sem dvida, a falta de materiais.

    Educador C: Nos momentos de expresso musical sinto mais dificuldade, porque

    no tenho grande voz nem jeito para cantar ().

    Professor E: A maior dificuldade poder ser na articulao com as restantes

    reas, dado que preciso o docente explorar as vrias valncias possveis para

    cada tema, preciso articular com coerncia e pertinncia.

    Posto isto, conclui-se, de forma sinttica, que as maiores dificuldades sentidas

    implementao das reas de Expresses tem a ver, essencialmente, com duas razes: a

    ausncia e falta de recursos materiais; uma formao pouco completa dos recursos humanos,

    no que se refere falta de apetncia para desenvolver certas reas e falta de formao e

    capacidade do docente potenciar esses momentos.

    De acordo com o testemunho do Educador A, () no pr-escolar estamos sempre a

    desenvolver, em simultneo, essas reas. Pois as atividades centram-se quase sempre a partir

    das expresses e no existe um tempo determinado para cada rea a desenvolver.

    Infelizmente, principalmente no 1. Ciclo, as Expresses so associadas como sendo

    um recurso ocupao de tempo e entretenimento das crianas, Normalmente, as reas em

    questo aparecem ligadas apenas s ocasies festivas, decorao de uma sala, aos teatros e

    danas que se fazem pelo Natal, entre outras. Posto isto, uma rea vista como fechada e sem

    contributo importante. Sousa (2003a, p. 81) corrobora esta opinio quando nos diz que a arte

    em geral considerada como uma perda til de tempo. Nas escolas no h espaos adequados

    destinados a estdios de arte, as artes tm pouca ponderao nos currculos da escolaridade

    geral e ainda se atribui, nos currculos acadmicos, um certo sentido depreciativo s

    disciplinas e aos professores de arte, como se fossem de natureza secundria, - quando

    exactamente o contrrio. Neste sentido, tambm, Condessa (2006, p. 15) menciona que Os

    dbeis recursos fsicos existentes nas nossas escolas criam na globalidade contextos

    desfavorecidos que constrangem o tipo de trabalho a realizar com as crianas quando se trata

    de criar com o corpo movimentos de ndole expressiva e ldica.

  • Captulo II O Ensino das Expresses nos Primeiros Anos da Educao Bsica prticas e

    testemunhos do Educador/Professor

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    Apesar, e como j referido, da Lei de Bases considerar importante a integrao da rea

    das expresses artsticas e educao fsico-motora, atualmente, as escolas ainda ficam aqum

    no seu uso e considerao.

    Como referiu Sousa, no