Documento Da Assembleia 2.0

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  • DOCUMENTO DA ASSEMBLEIA

    S.O.S Estagirio

    Assembleia Aberta

    Parar o abuso, avanar nos direitos

    Porto, 11 de abril, 15h, Galeria Geraldes da Silva

    De acordo com os dados do Banco de Portugal (Boletim de Inverno), os estgios

    profissionais representaram um tero do emprego criado durante o ano de 2014,

    camuflando assim os nmeros reais de desemprego. A economia portuguesa, que recuou

    nos nveis de emprego ao ano de 1996, sofre os efeitos da austeridade e no consegue

    criar empregos estveis e com direitos. Segundo os dados do IEFP (Relatrios de

    execuo fsica e financeira), apenas no ano de 2014, 70 mil trabalhadores foram

    abrangidos pelos chamados Estgios Profissionais, na sua grande maioria sob a

    modalidade dos Estgios Emprego. Entre 2001 e 2011, a mdia anual foi de apenas

    25 mil estagirios.

    A empregabilidade dos estgios, medida pelo nmero de trabalhadores que so

    contratados pela empresa onde realizaram o estgio, diminuiu em 2014 cerca de dez

    pontos percentuais em comparao ao perodo homlogo de 2013. Observamos que o

    nmero de estagirios contratados pelas empresas no acompanhou a subida

    exponencial do nmero de estagirios que no so contratados. Isto prova que os

    estgios no so uma via para a criao de emprego estvel e atingem hoje uma

    proporo inaceitvel das relaes laborais em Portugal.

  • Fonte: Dados IEFP

    Estgios j afetam jovens e menos jovens

    Cerca de metade destes trabalhadores aceitou a realizou do estgio por terem perdido o

    emprego, enquanto que os restantes so trabalhadores procura do primeiro emprego.

    Com a criao do programa Reativar, para trabalhadores com mais de 30 anos, o

    Governo, pela mo do Ministro Pedro Mota Soares, refora a sua aposta numa poltica

    de ocupao dos desempregados, maquilhando os nmeros do desemprego e oferecendo

    solues passageiras para o problema da criao de emprego. A precariedade dos

    estgios j afeta jovens e mais velhos, trabalhadores com experincia profissional e os

    recm-licenciados, tornando-se num mecanismo cada vez mais comum de contratao e

    precarizao laboral em Portugal.

    Grandes empresas usam e abusam dos estgios

    Por lei um estgio no deve corresponder ocupao de um posto de trabalho, mas no

    isso que acontece na prtica. Todos os dias tomamos conhecimento de empresas que

    recorrem aos estgios, financiados por todos, de forma a promover uma rotao e

    precarizao do posto de trabalho, podendo inclusivamente justificar perante o IEFP a

    no contratao no fim do perodo de estgio de forma a recorrer novamente medida.

    Com o agudizar da crise, empresas como a SONAE, a EDP, a PT, unidades de sade

    privadas e bancos como o BPI, o BCP e o Banif, aumentaram o recurso aos estgios

  • profissionais, dividindo-os pelo seu universo empresarial. Grande parte destes

    trabalhadores so submetidos a um regime de sobrecarga horria e laboral, enfrentando

    muitas das vezes uma presso e assdio moral permanente por parte destas empresas.

    Processo de candidatura demorado e no protege os estagirios

    Acresce a isto o facto do IEFP demorar cerca de quatro meses no processamento do

    pedido de estgio, o que resulta, em alguns casos, em perodos de trabalho no pago, no

    qual a promessa de estgio usada como arma contra estes trabalhadores. Findo o

    estgio, o problema a impossibilidade de poder aceder ao subsdio de desemprego e a

    frias pagas.

    O Estado um dos principais promotores dos estgios precrios

    No caso do Programa de Estgios Profissionais na Administrao Local (PEPAL) e do

    Programa de Estgios Profissionais na Administrao Pblica Central (PEPAC), o

    prprio Estado a promover a precariedade associada aos estgios. Em 2015, mais de

    dois milhares de trabalhadores sero abrangidos por estes programas que no

    ultrapassam os 691 euros de remunerao, um ano em que o governo continuar o seu

    plano de despedimentos e requalificaes na funo pblica. O recurso a estes estgios

    so uma forma camuflada de substituio de trabalhadores pblicos, aumentando a

    precarizao e a instabilidade dos vnculos.

    A praga dos falsos estgios

    A aposta nos estgios por parte deste Governo legitima o seu uso no sector privado,

    muitas vezes de forma ilegal. So vrias as empresas e entidades que criam o seu

    prprio plano de estgios, oferecendo remuneraes abaixo do salrio mnimo nacional

    e submetendo os trabalhadores a condies de explorao e abuso. Este mercado negro

    dos estgios cresceu sombra das polticas de austeridade e do discurso que apresenta o

    empreendedorismo individual e a competio como nico meio para a criao de

    emprego.

  • Acreditamos que os conhecimentos tcnicos e profissionais, assim como a

    organizao laboral acumulada por geraes so um patrimnio de todos aqueles

    que vivem do trabalho. Recusamos o argumento que apresenta a experincia

    profissional como um monoplio das empresas que submetem os trabalhadores a

    uma competio onde tm pouco a ganhar e muito a perder. Em Portugal

    precisamos de empregos, por isso recusamos a precariedade dos estgios. No nos

    esquecemos dos atuais 70 mil estagirios, lutamos pelos seus direitos.

    CADERNO REIVINDICATIVO

    1. Uma maior fiscalizao por parte da ACT das condies em que so celebrados e

    desempenhados os estgios. Os casos de estgios no remunerados e de estagirios

    submetidos a condies de trabalho no previstas na lei devem resultar em sanes

    pesadas para quem os emprega. A ACT deve ainda criar uma linha de denncias

    especfica para o caso dos estgios.

    2. Reconhecimento do vnculo laboral, com celebrao de contrato de trabalho sem

    termo, em caso de desempenho de funes inerentes a um posto de trabalho por parte do

    estagirio.

    3. Fim dos PEPAC e dos PEPAL, por uma contratao pblica, decente e transparente.

    4. As empresas no podem usar os estgios como forma de rotao de trabalhadores no

    mesmo posto de trabalho. Por isso, defendemos que em caso de incumprimento do

    atual critrio de empregabilidade (Regulamento Estgios Emprego), que obriga

    contratao de um em cada trs estagirios, a entidade patronal fique obrigada

    devoluo do valor financiado pelo Estado. Este critrio deve ser vlido para todo

    universo empresarial do grupo beneficirio, impedindo que as grandes empresas possam

    dividir os estagirios pelas suas sucursais e assim camuflar o uso dos estgios.

  • 5. Extenso obrigatria em 3 meses dos atuais Estgios Emprego celebrados aps a

    entrada em vigor do novo regulamento, que encurtou de 12 para 9 meses o perodo de

    estgio, impedindo estes trabalhadores de acederem ao subsdio de desemprego.

    6. Imposio do pagamento de subsdio de frias por parte da entidade

    contratante, nos montantes e perodo correspondente ao tempo de estgio.